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Tabus e superstições alimentares

Por Thayse Hanne Câmara Ribeiro


Publicado em 13/08/2004 - 02:00
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O consumo alimentar de uma população encontra-se vinculado aos diversos valores e
sentimentos que se relacionam com aspectos da vida cultural, transpondo o ato
biológico de comer e preenchendo funções simbólicas na vida dos indivíduos.

Sabe-se que por mais culto e civilizado que um homem seja, no fundo ele é
supersticioso e, dentro do campo alimentar esta superstição possui a capacidade de gerar
diversas restrições. Estas exclusões alimentares são antigas e descritas desde o início da
história da alimentação.

A relação entre a dimensão fisiológica e psicossocial da alimentação determina o


aparecimento de restrições alimentares denominadas:

TABUS - representam dogmas religiosos, ou seja, restrições vinculadas a fatores de


ordem religiosa;

CRENÇAS - supostas ações nocivas de alimentos, as quais são passadas de geração a


geração e tornam-se "verdades" culturalmente aceitas;

PRECONCEITOS ? são decorrentes de impressões causadas pelas características


organolépticas dos alimentos, ou seja, desuso de algum alimento devido a cor ou odor
do mesmo, por exemplo; Muitos livros abordam o assunto destacando inclusive alguns
ditados populares muito conhecidos (porém sem embasamento científico).

No cotidiano, conceitos populares sobre a alimentação são construídos, representando a


forma mais simples dos indivíduos explicarem a "comida" e as necessidades do corpo a
partir da forma como o mesmo se encontra inserido na organização social. Ressalta-se
que restrições alimentares podem não interferir no estado nutricional de um indivíduo,
como por exemplo, quando o mesmo não consome vitamina de fruta, mas utiliza frutas,
leite e derivados separadamente. No entanto, restrições específicas em determinados
períodos críticos da vida, onde os indivíduos encontram-se mais vulneráveis (como na
infância), geram repercussões sobre o estado de saúde que pode ser irreversível.

O ensino de bons hábitos alimentares é de máxima importância, tanto para as


populações carentes (destituídas do saber e em condições financeiras inadequadas), bem
como para as comunidades que convivem com a abundância. Deve-se, no entanto,
intervir na alimentação considerando-a como representação de fatores bio-psico-sociais
e compreendendo o universo de seus significado

Tabus alimentares: superstições que sobrevivem ao


tempo?

Tabus alimentares são crenças que ouvimos desde a


infância e geralmente se referem à alimentação e à
combinação de certos tipos de alimento que seriam
prejudiciais à saúde. Esse tipo de informação passa de pai
para filho e, às vezes, não apresenta nenhuma verdade.
Não devemos, no entanto, confundir tabus alimentares
com hábitos culturais ou mesmo com algumas proibições
provenientes de dogmas religiosos, como o fato de os
judeus não comerem carne suína, de alguns protestantes
serem adeptos das dietas vegetarianas ou de os católicos
não comerem carne vermelha na Sexta-Feira Santa. Os
tabus geralmente se originam da cultura de um povo ou de
uma região e acabam se tornando "verdades". Essas
proibições são, segundo Marvin Harris, "respostas culturais
a problemas de adaptação ecológica". Além disso, esse
antropólogo afirma que "muitos estudiosos de culturas e
superstições afirmam que as sociedades proíbem certas
classes de alimentos, pois classificá-las em comestíveis e
não-comestíveis significa classificar uma experiência no
mundo". Vamos verificar as origens e as verdades de
alguns tabus.

• Manga com leite mata? Na época da escravatura, a


alimentação dos escravos era muito precária. Para matar a
fome, eles costumavam colher frutas dos pomares e comê-
las à noite, longe dos olhares dos feitores das fazendas.
Quando os senhores descobriram esse fato, aproveitaram-
se da ingenuidade dos escravos e passaram a ensinar-lhes
uma quadrinha que dizia: "Fruta de manhã é prata, de
tarde é ouro e de noite mata!" E como eles recebiam leite
como alimentação noturna, a mistura desses dois
alimentos se tornou um tabu. Mas, do ponto de vista da
nutrição, a combinação de manga com leite é muito
saudável, pois a manga é rica em vitaminas e minerais e o
leite, em proteínas e vitaminas, formando, assim, uma
bela dupla.

• Melancia com vinho empedra no estômago? A


melancia é uma fruta rica em água, vitaminas A e C,
potássio e outros minerais. A crença de que a melancia
seria uma fruta indigesta provém da sua composição, pois
ela contém fibras insolúveis que estão presentes na polpa
e que possuem a propriedade de aumentar a peristalse, ou
seja, os movimentos intestinais, dando a sensação de que
a digestão é complicada. Mas nada disso é verdade. A
maior parte da melancia é composta de água, e as fibras
presentes em sua polpa ajudam a melhorar o
funcionamento do intestino.
• Comer carne e peixe na mesma refeição encurta a
vida? Tanto a carne bovina como o peixe são ótimas
fontes de proteínas e, portanto, indispensáveis para uma
alimentação equilibrada e saudável. Comê-los na mesma
refeição não fará nenhum mal à nossa saúde. Mas o
excesso de proteína na nossa alimentação, como ocorre na
dieta das proteínas, é nocivo, pois, como tudo na vida que
é feito com exagero, pode fazer mal. A sobrecarga dos
rins, por exemplo, é uma das conseqüências desse tipo de
dieta. O mesmo se aplica às pessoas que ingerem uma
quantidade enorme de ovos, como os fisiculturistas, que,
segundo a literatura, podem chegar a consumir 30 ovos
por dia. Entretanto, é importante saber que a falta desse
tipo de alimento pode causar desnutrição, anemia e outras
doenças provenientes da carência de nutrientes e
vitaminas.

• Cachaça com leite talha dentro da gente? Esse


ditado se originou do espanhol: la leche con el vino
tornase venino. O leite era considerado pelos europeus um
alimento completo. E misturá-lo a qualquer outro não era
muito agradável ao estômago estrangeiro. Pensava-se que
o álcool "talharia" o leite, que ficaria petrificado nas
entranhas, atrapalhando o curso do sangue, obstruindo a
circulação e causando congestão e asfixia. Esses são
alguns tabus alimentares, entre outros que existem por aí.
Se você tem ou conhece algum, escreva-me contando.

• Para saber mais Alguns sites que trazem mais


informações a respeito desse tema:

1. Artigo de Veríssimo de Melo sobre seu livro Xarias


e canguleiros; ensaios de folclore e antropologia
social aplicada. Clique aqui para ver o site.

2. Site especializado em artigos sobre nutrição.


Clique aqui para ver o site.

3. Artigo sobre hábitos alimentares e fatores que os


influenciam. Clique aqui para ver o site.

4. Site sobre folclore português que mostra alguns


ditados relacionados com alimentação que também
são usados no Brasil. Clique aqui para ver o site.
• Drauzio – De acordo com os padrões atuais, a dieta do passado era pouco
saudável. As pessoas cozinhavam com banha, punham lingüiça no feijão e
comiam carne vermelha sem nenhum remorso. Isso para não falar do
torresminho e das frituras (batata frita era servida em quase todas as refeições).
Entretanto, por paradoxal que possa parecer, as pessoas não engordavam. Por
que, apesar de todos os cuidados, o número de obesos está aumentando
atualmente?

Sonia Tucunduva – Sou descendente de europeus. Meus avós eram russos e


tomavam um café da manhã reforçado, comiam carne e muita fritura. Entretanto,
naquele tempo, a atividade física era intensa. As pessoas caminhavam,
percorriam longas distâncias a pé. Hoje, o modo de viver é outro; praticamente
tudo está automatizado. Como conseqüência, as pessoas deixaram de
movimentar-se e, por isso, não gastam as calorias que ingerem e acumulam
peso.
Outro fator importante foi a inserção da mulher no mercado de trabalho (fato
que se tem discutido muito atualmente), pois afastou das casas quem preparava a
comida e sentava com os filhos à mesa para fazerem uma refeição calma,
tranqüila. Atualmente, a pressa, a vontade de resolver os problemas acabaram
sufocando os cuidados com a alimentação e elevaram o estresse a tal ponto que a
composição corporal não só dos brasileiros, mas da população do mundo inteiro,
mudou. A obesidade é uma epidemia mundial que requer atenção também no
Brasil.

No passado, quando se tratava de alimentação saudável, as coisas pareciam mais fáceis. Todos
almoçavam e jantavam em casa, as crianças comiam os alimentos que os pais escolhiam e
preparavam e ninguém contestava o cardápio que seguia as normas ditadas pela tradição
familiar. As dietas passavam de geração para geração e os casos de obesidade eram poucos.
Hoje, a confusão está instalada. Quem se preocupa em comer alimentos saudáveis fica
aturdido com as orientações que variam de acordo com a moda. De repente, nos jornais e
revistas, aparece uma dieta que proíbe a ingestão de carne vermelha porque é um veneno
para a saúde. Logo a seguir, surge outra que recomenda não só a carne vermelha, mas
também a gordura, dizendo que os carboidratos são os grandes vilões, porque elevam os
níveis de colesterol e engordam. Não tarda a aparecer uma terceira, que contradiz as duas
anteriores e, no final, as pessoas não sabem mais o que devem comer.
A escolha de alimentos inadequados para compor a dieta é responsável pela obesidade que
vem acometendo, especialmente, as pessoas que vivem nas grandes cidades.

Tabus e superstições alimentares


O consumo alimentar de uma população encontra-
se vinculado aos diversos valores e sentimentos
que se relacionam com aspectos da vida cultural,
transpondo o ato biológico de comer e
preenchendo funções simbólicas na vida dos indivíduos.

Sabe-se que por mais culto e civilizado que um homem seja, no fundo ele é
supersticioso e, dentro do campo alimentar esta superstição possui a
capacidade de gerar diversas restrições. Estas exclusões alimentares são
antigas e descritas desde o início da história da alimentação.

A relação entre a dimensão fisiológica e psicossocial da alimentação determina


o aparecimento de restrições alimentares denominadas :

TABUS - representam dogmas religiosos, ou seja, restrições vinculadas a


fatores de ordem religiosa;

CRENÇAS - supostas ações nocivas de alimentos, as quais são passadas de


geração a geração e tornam-se "verdades" culturalmente aceitas;

PRECONCEITOS – são decorrentes de impressões causadas pelas


características organolépticas dos alimentos, ou seja, desuso de algum
alimento devido a cor ou odor do mesmo, por exemplo;

Muitos livros abordam o assunto destacando inclusive alguns ditados populares


muito conhecidos (porém sem embasamento científico).

No cotidiano, conceitos populares sobre a alimentação são construídos,


representando a forma mais simples dos indivíduos explicarem a "comida" e as
necessidades do corpo a partir da forma como o mesmo se encontra inserido
na organização social.

Ressalta-se que restrições alimentares podem não interferir no estado


nutricional de um indivíduo, como por exemplo, quando o mesmo não consome
vitamina de fruta, mas utiliza frutas, leite e derivados separadamente. No
entanto, restrições específicas em determinados períodos críticos da vida, onde
os indivíduos encontram-se mais vulneráveis (como na infância), geram
repercussões sobre o estado de saúde que pode ser irreversível.

O ensino de bons hábitos alimentares é de máxima importância, tanto para as


populações carentes (destituídas do saber e em condições financeiras
inadequadas), bem como para as comunidades que convivem com a
abundância. Deve-se, no entanto, intervir na alimentação considerando-a como
representação de fatores bio-psico-sociais e compreendendo o universo de
seus significados.

TABUS ALIMENTARES

Tabus de procedência portuguesa, negra e indígena confluíram aqui no


Nordeste. O homem desta região é um pobre ser tolhido por superstições
as mais estranhas, relacionadas com todos os aspectos da vida.

O comer e o beber, principalmente, os usos e costumes alimentares estão


impregnados dessas sobrevivências. Algumas ainda se justificam. Têm
uma certa lógica. Outras, porém, já se fossilizaram. Perderam a razão de
ser, o fundamento mesmo da existência. Embora persistam ainda,
relembradas na voz do povo, provocam mais riso do que medo.

Por uma espécie de reflexo condicionado, o homem nordestino não as


desobedece. Sempre as observou, em criança, quando jovem, homem
feito. Por que vai, agora, afrontá-las?

Uma vez, numa patuscada, insurgi-me contra este tabu: "Não coma fel de
caranguejo, que faz mal". Por que? Antes nunca ouvira falar que ninguém
tivesse adoecido por saborear um pouco de fel. Resolvi quebrar o tabu. E
paguei caro, muito caro, a desobediência! (Quem duvidar que
experimente).

Aqui estão alguns tabus alimentares, que fui anotando sem preocupação
de cotejá-los com tradições semelhantes noutras áreas. Todos foram
registrados em Natal, faz anos.

Quando alguém está com muita fome, reclamando a hora do almoço ou do


jantar, costuma-se perguntar:

- Comeu galinha choca ?

É alusão a uma velha crendice, segundo a qual "comer galinha choca faz
fome canina".

A MESA - Acima da sua utilidade, a mesa das refeições representa para o


homem do povo um objeto quase sagrado. Assim, faz mal sentar em cima.
Deitar ou dormir em cima faz mal ainda maior, porque atrasa o dono da
casa. Não se deve também botar dinheiro em cima, porque traz
infelicidade. Sentar-se na mesa 13 pessoas, é certo que uma delas
morrerá em breve. E esta última superstição está ligada à Ceia Larga de
Jesus Cristo. Foram doze apóstolos e Cristo. O resultado é que Judas traiu
o Mestre.

Do episódio bíblico é que decorre a fatalidade do número 13.

TOALHA - Quem almoça com toalha pelo avesso não enche a barriga.

HORA DO ALMOÇO - Negar esmola na hora do almoço ou do jantar atrasa


a pessoa.

TALHERES E LOUÇA - Se o sujeito está comendo e cai um talher, o fato


tem uma significação. É aviso de visita próxima. Se for um garfo será um
homem; se for uma faca, mulher. Também quando se bota na mesa uma
xícara de um tipo e o pires de outro, diz-se que não se deve aceitar, para
não ser mal casado.

COMER COM A MÀO - Quem come com as mãos e lambe os dedos fica
sovina.

OUTROS AVISOS - Quando se oferece uma comida qualquer e o alimento


cai da mão, - é porque a pessoa deu com pena. Se a comida cai da boca,
algum parente está passando fome. Engasgar-se com saliva é anúncio de
contrariedade ou comida boa. Comer cantando faz mal. E quem come e
não se benze, tudo quanto é mal lhe vem.
ÁGUA - A pessoa que está engomando não deve beber água fria, para não
estoporá. Quem quiser ficar com a fala fina, que beba água quente ao
meio-dia. Tomar água e coalhada em seguida não faz mal nenhum. Mas,
se tomar coalhada e beber água é o mesmo que está tomando veneno.
Chupar cana e beber água dá diabete. Não se deve beber água com vela
acesa na mão e nem dormir com sede porque faz mal. E para descobrir
segredos de outra pessoa não há como beber sobejo.

CAFÉ - Beber café e água em seguida, além de estragar os dentes, pode


estoporá. Quem toma café, fica preto. Tomar café e sair ao vento também
pode se estoporá. E para tirar o sono, de noite, o café é infalível.

LEITE - Tomar leite e chupar manga, faz mal como o diabo. Envenena.
Outros alimentos perigosos são, por exemplo, comer batata com leite ou
leite com laranja. Leite com cavala (peixe) já tem morto gente.

SAL - Comprar sal à noite, traz desgraça para o comprador e vendedor.


Faz mal emprestar sal ou agulha ao vizinho. Para botar visita fora, não há
como sal no fogo ou chapéu de sol virado de cabeça para baixo. E quem
quiser brigar com o vizinho, que empreste sal ou dê fogo em dia de sexta-
feira.

AÇÚCAR - Coisa boa é derramar açúcar. Traz felicidade.

QUEIJO - Quem come casca de queijo fica burro.

PÃO - Jogar pão no chão faz mal. A pessoa acaba na miséria. Mas, se
quiser jogar, beije antes o pão.

BEBIDAS - Não beba na boca da garrafa, para não ficar beberrão, Vinho
derramado na mesa é anúncio de felicidade. Mas, quem quiser morrer, que
coma fígado com cachaça ou peixe com cachaça.

Queijo de coalha com aguardente é perigoso. Mas há também quem diga


que panelada sem cachaça faz mal...

CARNE PEIXE E GALINHA - Dá congestão , comer carne verde e deitar-se


em seguida. Comer carne verde e peixe em seguida dá uma doença de
descascar. Dizem também que faz crescer as orelhas. E tenham medo de
chupar os ossos das costelas de porco, porque dá fome canina. Quando há
carne e peixe na mesa, deve-se comer primeiro carne, porque diz o
ditado: "Se quer que a morte o deixe, coma carne, depois peixe". Para
ficar bonita, as moças comem cabelo louro (uma parte do boi) atrás da
porta. Há uma parte da galinha que, quem come, fica sem vergonha. E
para saber quem morre primeiro, deve-se verificar , quando se come
galinha, a quem coube o osso em forma de Y. A pessoa manda que outra
segure numa das extremidades do osso e puxa, como para abrir a perna
do Y. Quem ficar com a parte menor, - adeus tia Chica ! Está frito.

FRUTAS - Cuidado com a manga bacuri, com ovos, que dá febre tifo. E se
quiser embriagar-se, basta chupar cana pela manhã. Para evitar de cortar
a boca, não coma a rodela do abacaxi. Quem come flor de coco fica bonito.
Mas, se moça soubesse como limão faz mal, não passava nunca debaixo
de um pé de limoeiro. Come a honra. Limão é como cebola: Não gosta de
moça. Em compensação, abacate e amendoim, excitantes sexuais, - diz o
povo, - estão aí mesmo.
DEPOIS DA REFEIÇÃO - Não esqueçam que faz muito mal, depois do
almoço, fazer barba, cortar unha e cabelo.

(MELO, Veríssimo de. Xarias e canguleiros; ensaios de folclore e


antropologia social aplicada)

http://www.aprendebrasil.com.br/falecom/nutricionista_bd.asp?codtexto=262

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