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Vitória
2022
ALTIERRY BARBIERO DE JESUS OLIVEIRA
Vitória
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
CDD 21 – 370.19
Elaborada por Bruno Giordano Rosa – CRB-6/ES - 699
ALTIERRY BARBIERO DE JESUS OLIVEIRA
COMISSÃO EXAMINADORA
COMISSÃO EXAMINADORA
Agradeço a todos que contribuíram para que esse trabalho pudesse ser realizado.
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Diemerson da Costa Sacchetto e ao coordenador
do PPGEH, Prof. Dr. Leonardo Bis dos Santos por não terem permitido que eu
desistisse. Agradeço a todos os meus colegas de turma e a todos que me ajudaram.
Sererei eternamente grato. Obrigado!
RESUMO
We developed this work within the line of Educational Practices of the Graduate
Program in Humanities Teaching at the Federal Institute of Espírito Santo, Campus
Vitória, with the support of FAPES. The object of the proposed investigation is the
teaching of Constitutional Rights in basic education as a contribution to an
emancipatory education. In view of this, it seeks to address the following questions:
what is the understanding that basic education students have of topics related to
fundamental rights and human dignity? Can the introduction of new educational
practices help in the study of these concepts? Its general objective is to investigate the
educational potential of fundamental rights, human rights and the Federal Constitution
itself. This objective unfolds in the specific objectives of understanding the Social
Representations that the subjects have about their own rights, functions and roles of the
State; Produce and publish educational material that serves as a support for teaching
work in basic education on Constitutional Law as a contribution to the emancipation of
the subject in the face of state domination apparatuses touched on by the lack of
knowledge of the subject; Contribute to the advancement and knowledge of Social
Representations in Education and the advancement of learning about rights in basic
education. To do so, it uses Dialectical Historical Materialism and Liberation Pedagogy
as a theoretical contribution. From Dialectical Historical Materialism he takes the
definition of man as a producer of material and intellectual life and whose non-
recognition of himself as a producer operates alienation, fetishizing the world and
perpetuating relations of exploitation. From the Pedagogy of Liberation assumes
education as a liberating element, if carried out in a dialogical way. To undertake the
research, we used the Theory of Social Representations in its structural approach, that
is, the Theory of the Central Core in order to identify the understanding that students
have of themes related to Justice. As research subjects, it focuses on Elementary and
High School students from public schools in Espírito Santo and Minas Gerais. After
data collection and analysis, we noticed that there is not a total lack of knowledge of the
subjects on topics related to state functions, justice and human rights, for example. Your
understandings are simple, but important. There is a need for greater clarification and
for working with the understanding that rights are not static, they are human production
and must change as society changes. For this, individuals must participate in this
transformation and education in rights can provide the awakening of conscience. The
educational material produced is a small basic manual on what rights are entitled “The
story of Antigone or what you need to know about rights”, inspired by the play
Antigone, by Sophocles. It is the quest to rescue the educational function of Greek
tragedies for our days.
INTRODUÇÃO .............................................................................................................12
CAPÍTULO I .................................................................................................................17
1 DIÁLOGO COM PESQUISAS NA ÁREA ..............................................................17
1.1 ÂMBITO LOCAL .....................................................................................................17
1.1 ÂMBITO EXTERNO ................................................................................................19
CAPÍTULO II ................................................................................................................23
2 REFERENCIAL TEÓRICO .....................................................................................23
2.1 MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO .......................................................23
2.2 O DIREITO COMO PRODUTO HUMANO .......................................................26
2.3 ANTROPOLOGIA FREIRIANA: EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE
LIBERTAÇÃO ......................................................................................................28
2.4 O ENSINO DE DIREITOS CONSTITUCIONAIS COMO PRÁTICA DE
LIBERTAÇÃO .......................................................................................................30
2.4.1 Direito Natural, Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988 ...........31
CAPÍTULO III ..............................................................................................................38
3 MATRIZ METODOLÓGICA ..................................................................................38
3.1 O CONTEXTO E DO DESENVOLVIMENTO DAS REPRESENTAÇÕES
SOCAIS ..............................................................................................................38
3.1.1 O Conceito de Representações Sociais ................................................................39
3.1.2 A Abordagem Estrutural Representações Sociais ............................................41
3.1.2 A Metodologia do Grupo de Midi ......................................................................41
CAPÍTULO IV...............................................................................................................43
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................43
4.1 PARTICIPANTES ....................................................................................................43
4.2 INTRUMENTO .........................................................................................................43
4.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS........................................................43
4.4 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ......................................................44
4.5 RESULTADOS........................................................................................................ 44
4.5.1 Categoria 1: Você sabe o que são direitos constitucionais? Disserte sobre
os elementos que acredita constituírem o conceito de direito constitucionais 46
4.5.1.1 Representação Social de “Direitos Constitucionais”.......................................... 46
4.5.2 Categoria 2: Você sabe qual a função de uma Constituição? Disserte
sobre o que você acredita serem essas funções.................................................. 47
4.5.2.1 Representação Social de “Constituição” ............................................................48
4.5.2.2 Representação Social de “Abuso de Poder”........................................................50
4.5.3 Categoria 3: Você seria capaz de dizer alguns direitos presentes
na Constituição? Se sim, quais?.......................................................................... 52
4.5.4 Categoria 4: Você acha que a Constituição e os direitos constitucionais
afetam sua vida? Se sim, de que modo?............................................................. 53
4.5.5 Categoria 5: E sobre deveres? Você acredita que devam existir deveres
para o livre exercício da cidadania? Se sim, quais os mais importantes........ 54
4.5.6 Categoria 6: Na sua opinião: o que é ser cidadão, e o que seria cidadania?.. 55
4.5.7 Categoria 7: O que seriam os direitos fundamentais?..................................... 58
4.5.7.1 Representação Social de “Direitos Fundamentais” ............................................58
4.5.8 Categoria 8: Você seria capaz de dizer alguns direitos fundamentais?
Se sim, quais? .......................................................................................................59
4.5.9 Categoria 9: Na sua opinião, o que são os Direitos Humanos? .......................60
4.5.9.1 Representação Social de “Direitos Humanos” ...................................................60
4.5.10 Categoria 10: Para você, os direitos humanos afetam sua vida? Se sim,
de que modo? .....................................................................................................62
4.5.11 Categoria 11: Todas as pessoas têm direitos humanos? Nos explique
sua resposta........................................................................................................ 63
4.8.12 Categoria 12: Você seria capaz de dizer alguns direitos humanos? Se
sim, quais? ..........................................................................................................63
4.5.13 Categoria 13: Na sua opinião, por que os direitos humanos foram
criados? ...............................................................................................................64
4.5.14 Categoria 14: Para você, o que seria o Estado?.............................................. 64
4.5.14.1 Representação Social de “Estado” ....................................................................65
4.5.15 Categoria 15: O que é o Supremo Tribunal Federal (STF) ...........................66
4.5.15.1 Representação Social de “STF” ........................................................................67
4.5.16 Categoria 16: Para você, o que é a Câmara dos Deputados e qual a
função de um deputado?....................................................................................68
4.5.16.1 Representação Social de “Congresso Nacional” ..............................................68
4.5.17 Categoria 17: Na sua opinião, o que é o Senado e qual a função
de um senador?...................................................................................................69
4.5.18 Categoria 18: Na sua opinião, o que é um Ministério e qual a função
de um ministro? ................................................................................................70
4.5.19 Categoria 19: Na sua opinião, o que é uma lei? .............................................70
4.5.20 Categoria 20: Para você, lei e direito têm alguma relação?
Explique sua resposta .......................................................................................71
4.5.21 Categoria 21: Para você, o que é justiça? .......................................................71
4.5.21.1 Representação social de “Justiça” ....................................................................72
4.5.22 Categoria 22: Para você, o que é ser justo? ....................................................73
4.5.23 Categoria 23: Na sua opinião, justiça e direito têm alguma relação?
Explique sua resposta. .......................................................................................73
4.6 PRODUTO EDUCACIONAL ..................................................................................74
4.6.1 Capítulos do Produto Educacional .....................................................................77
4.5.1.1 A História de Antígona .......................................................................................77
4.5.1.2 Todos contra todos .............................................................................................77
4.5.1.3 Não afastai de mim esse cálice ...........................................................................78
4.5.1.4 O rei sempre esteve nu ........................................................................................78
4.5.1.5 Cidadãos de bem... Cidadãos do mal ..................................................................79
4.5.1.6 O ser o que se pe e Ser Mais ...............................................................................80
4.5.1.7 O mínimo que você precisa saber sobre direitos ................................................80
CAPÍTULO IV...............................................................................................................81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................81
ANEXO A – Informações aos Participantes ..............................................................84
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido / Termo de
Assentimento ............................................................................................87
ANEXO C – Dados do Participante .............................................................................. 88
ANEXO D – Questionário .............................................................................................. 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................97
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa teve por escopo ser desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Humanidades do Instituto Federal de Ciência e Tecnológica
do Espírito Santo, Campus Vitória. Se vincula à linha de pesquisa de Práticas
Educacionais. Dessa forma, tem por objeto a reflexão sobre o ensino de direitos
fundamentais na Educação Básica e a compreensão das Representações Sociais de
direitos e as funções do Estado, com vistas a emancipação dos sujeitos e a uma
formação dos conceitos de dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. A
Pedagogia da Libertação e o Materialismo Histórico-Dialético são tomados como
fundamentos teóricos e a Teoria das Representações Sociais como matriz metodológica,
uma vez que fornecem instrumentos para a compreensão da realidade e o desejo de
superação das relações de dominação através da educação.
O caminho da concepção dessa proposta de reflexão se inicia em 2006, quando
ingressei na Escola Estadual Prefeito Joaquim Pedro Nascimento, na cidade de
Governador Valadares-MG, para cursar o Ensino Médio. Havia uma rotatividade
frequente de professores, sobretudo nas disciplinas da área de humanidades. Sendo
assim, entre 2006 e 2008 tive inúmeros professores de História, Filosofia e Sociologia,
o que dificultava o aprendizado. Entretanto eu me interessava por rock e movimento
punk e isso me estimulou a estudar política, filosofia e história por conta própria. Assim,
mesmo não tendo uma base política e jurídico-filosófica oferecida pela escola, ao me
formar eu tinha consciência do que eram os direitos humanos, as garantias individuais, a
Constituição Federal, movimentos sociais e sua importância para o aprimoramento da
ideia dignidade da pessoa humana. Já em 2009 ingressei no curso de Licenciatura Plena
em História, na Universidade do Vale do Rio Doce. Minha opção por História se deu
por conta da afinidade com temas histórico-políticos explorados na música punk e o
caráter interdisciplinar da História. Durante a faculdade, ao estudar temas como
absolutismo, totalitarismo e ditaduras não foram raras as vezes que colegas expressaram
pontos de vista favoráveis a tais modelos de sociedade, algo que me espantava, uma vez
que eu tinha consciência de que tais modelos não contribuíam para o aperfeiçoamento
da dignidade da pessoa humana, além de constituírem ameaça aos direitos
fundamentais. Quadro preocupante de se encontrar num curso de formação superior.
Me formei no ano de 2011 e em 2012 iniciei o curso de Bacharel em Direito na
Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce. Uma segunda graduação, sendo na esfera
12
jurídica, me pareceu oportuna para lapidar meu entendimento acerca daquela ideia que
me parecia tão cara: a dignidade da pessoa humana. Durante o dia eu trabalhava como
professor com o intuito de poder bancar minha segunda graduação. Logo no primeiro
ano de docência lecionei Filosofia para alunos do 3º ano do Ensino Médio no Colégio
Interescolar Dr. Raymundo Albergaria Filho, em Governador Valadares/MG. Encontrei
grande dificuldade em trabalhar com conceitos como liberdade, verdade, direito,
humano e humanidade devido à pouca base histórica e nenhuma base jurídico-filosófica
que os discentes apresentaram. Em pouco tempo me dei conta de aqueles alunos se
formariam e em breve estariam em cursos superiores manifestando opiniões favoráveis
a regimes de exceção. Cabia a mim enquanto professor lhes fornecer um melhor
referencial teórico para que seus conceitos de liberdade, igualdade, direitos e pessoa
humana estivessem assentados sobre bases mais racionais.
Ao longo do curso de Direito me deparei com estranhas afirmações de colegas
que almejavam advogar. Afirmações veementes acerca da falta de utilidade dos direitos
humanos e necessidade de advir uma nova ditadura. Meu espanto se devia ao fato de
que a própria profissão de advogado depende da preexistência de direitos que assegurem
a dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. Encontrar essa contradição num
curso superior me causou espanto e me levou a refletir novamente sobre as razões disso.
Durante os 5 anos do curso de direito, entre 2012 e 2017, trabalhei como professor de
História e Filosofia do ensino básico em escolas públicas. O cenário não havia mudado
em relação ao período em que fui aluno da educação básica: a alta rotatividade de
professores, especialmente nas disciplinas de humanidades, prejudicavam o aprendizado
dos estudantes e impossibilitavam a introdução de conceitos importantes, como
democracia e Constituição. Tal quadro era agravado pela falta de formação específica
de professores substitutos, muitos deles formados em áreas como Direito e Engenharia e
cuja atividade docente era apenas um complemento de renda.
Por ocasião do TCC, no ano de 2016 estudei o tema do Direito enquanto
legitimador de discurso. Em meu trabalho final realizei um estudo de caso do Projeto de
Lei do Senado nº 193/2016 que busca incluir na Lei de Diretrizes Básicas da Educação
o famigerado Programa Escola Sem Partido. À época, tal proposta de legislação gozava
da atenção da mídia e Congresso Nacional, portanto a escolha do tema para o meu
trabalho final fora oportuna. Discutir a Escola enquanto Aparelho Ideológico do Estado,
o Direito enquanto legitimador das ideias da classe dominantes e realizar um estudo de
caso do referido projeto de lei à luz dessas questões me despertou para a problemática
13
da ausência de ensino de direitos constitucionais e do conceito de pessoa humana no
ensino básico.
Além disso, no cenário político atual, grupos bolsonaristas erguem bandeiras
estrangeiras e cartazes diante do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal
clamando pela instauração de um regime ditatorial que, obviamente, suprimiria os
direitos e garantias individuais, incluindo a liberdade de realizar manifestações. Esta
contraditória realidade torna ainda mais imperiosa a análise a respeito das
Representações Sociais de justiça, direitos fundamentais e Constituição e demanda uma
discussão de meios de inserção do estudo desses conceitos na educação básica de modo
a preservar uma saudável e coerente consciência democrática. Tal demanda se alia à
existência de poucos trabalhos desenvolvidos no campo do ensino dos direitos
fundamentais na Educação Básica. Ora, trata-se de um campo de pesquisa carente de
expansão e cujos resultados são salutares para entendimento e enfrentamento das
contradições político-econômicas que se manifestam na forma de ideologias de cunho
antidemocrático e totalitário.
Deste modo, convencido da relevância da pesquisa acerca do ensino de direitos
constitucionais para uma melhor compreensão dos direitos fundamentais e do conceito
de pessoa humana, este projeto propõe a elaboração de novas práticas educativas a
partir da introdução do estudo de direitos fundamentais no Ensino Básico em
articulação com as disciplinas de humanidades como meio de emancipação. Neste
sentido, busca-se responder aos seguintes questionamentos: qual a compreensão os
alunos da educação básica possuem de temas relacionados à direitos fundamentais
e dignidade da pessoa humana? A introdução de novas práticas educacionais pode
ajudar no estudo desses conceitos?
Assim, priorizamos a seguinte questão: como o estudo de direitos fundamentais
no âmbito das Humanidades pode contribuir para uma melhor compreensão dos direitos
fundamentais e da dignidade da pessoa humana na Educação Básica? É com a intenção
de responder a esse questionamento que formulamos os objetivos norteadores dessa
pesquisa.
14
OBJETIVO GERAL:
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
15
processo de esvaziamento do humano e suas implicações para a estrutura
socioeconômica. Seguimos para uma apresentação do direito enquanto objeto cultural,
isto é, realização humana, e da alienação do homem em relação ao direito como
reprodutor da estrutura de dominação. Partimos então para uma discussão acerca do
caráter emancipador da educação proposto por Paulo Freire através de sua proposta de
uma Pedagogia da Libertação e finalizamos discutindo o caráter emancipatória de uma
educação em direitos.
Para o terceiro capítulo trazemos uma discussão acerca da matriz metodológica
que auxilia nossa pesquisa, a saber a Teoria das Representações Sociais. Apresentamos
seu desenvolvimento histórico, que remonta aos anos 1970 a partir das reflexões de
Serge Moscovici, e a Abordagem Estrutural, que se desdobra na Teoria do Núcleo
Central. Através de questionários disponibilizados para os sujeitos participantes de
nossa pesquisa, ensejamos identificar suas Representações Sociais acerca de seus
próprios direitos e das funções e papeis do Estado. O software EVOC será utilizado para
o processo de identificação do Núcleo Central das Representações Sociais.
16
CAPÍTULO I
17
resultados, dos quais 3 são dissertações e 7 são teses. Porém, nenhum é consonante ao
tema aqui proposto, pois abordam questões que, embora orbitem a área da educação, se
mostram específicos, como a discussão do conceito de criança especial na educação
infantil. Para o descritor “educação e justiça” 8 trabalhos foram listados, sendo 4
dissertações e 4 teses. Dentre eles nenhum dialoga com o objeto aqui delineado, visto
que embora se encontrem em diversas áreas do conhecimento, tratam da educação
enquanto direito.
Nessa fase da análise de literatura local os trabalhos encontrados que tem
potencial diálogo com nosso objeto são os seguintes (QUADRO 1):
18
justiça deve ser inculcado em cada um para a formação de uma moral individual. Desse
modo, Couto (2013) verifica práticas de ensino impositivas e pouco reflexivas, isto é,
que não ajudam na construção de um conceito de dignidade da pessoa humana uma vez
que têm por base um aprendizado mecânico do que é ser humano.
Tais conclusões dialogam com nossa proposta na medida em que buscamos as
Representações Sociais de Justiça, Direitos Constitucionais, Direitos Fundamentais a
fim de elaborar produto pedagógico que se adeque à proposta freiriana de humanização
através da educação (FREIRE, 1994). Em última análise, esperamos que com nossa
pesquisa possamos propor novas práticas de ensino que contribuam para o aprendizado
em direitos de forma emancipadora.
O trabalho de Adriana Müller (2008) caminha no mesmo sentido de Couto
(2013), investigando como ocorreu o aprendizado de professoras do 6º ao 9º ano em
valores morais e de que modo esse aprendizado e a concepção que possuem desses
valores infere em suas práticas de ensino sobre justiça. A conclusão a que Müller (2008)
chega é de que o ambiente onde se obtém a base educacional a respeito de justiça é no
âmbito familiar. No que tange às práticas pedagógicas, são práticas impositivas, nos
mesmos moldes que aprenderam. A conclusão de Müller (2008) nos permite perceber
que, embora haja um período temporal entre sua pesquisa e a de Couto (2013), as
práticas impositivas e pouco reflexivas sobre o ensino de justiça continuam sendo o
principal método de ensino. Por tais práticas entenda-se o aprendizado mecânico, a
repetição, as atividades não dialógicas. Com nossa pesquisa e seu resultado final que
pretendemos obter, isto é, a elaboração de produto educacional que auxilie na prática
docente, tencionamos contribuir para uma educação dialógica e que eduque para o Ser
Mais.
19
tantos se concentram em justiça na órbita da atuação do Poder Judiciário ou de
propostas de resolução de questões processuais.
Devido ao limitado número de resultado na pesquisa local foi necessário utilizar
vários descritores. No entanto, para a pesquisa no âmbito externo não foi necessário
devido a abundância de resultados. Desta forma, as pesquisas que se ajustam ao nosso
objeto são as seguintes (Quadro 2):
20
educação básica a fim de que esse saber faça parte do capital cultural dos indivíduos
formados pela escola. Nesse ponto, nossa proposta tem relevância para expandir o
campo de estudos a respeito da integração do ensino jurídico na escola básica, já que
enseja, através de produto pedagógico, uma articulação da temática do campo do direito
e o ensino das humanidades. A concepção de Castigio e Monteiro (2017) do direito
como conteúdo a integrar currículo escolar está assentada sobre a cidadania enquanto
horizonte educacional, isto é, a cidadania como fim último da educação em direito e
cuja escola é espaço para o ensinamento desse conteúdo. Aqui nosso entendimento se
distancia do de Castigio e Monteiro (2017), visto que buscamos trabalhar com a
educação para a libertação do indivíduo e não para sua integração numa sociedade onde
será apenas um cidadão, ou seja, um sujeito inserido na lógica do sistema capitalista
liberal e que agora goza de cabedal jurídico. Em última análise, propomos a educação
em direitos como elemento libertador para que o educando se torne capaz de se
reconhecer enquanto agente de transformação social e não como mais uma peça
integrante da engrenagem.
Tal entendimento que sustentamos da educação em direitos como elemento de
libertação encontra respaldo na tese de Sandro de Castro Pitano (2008). Através de uma
leitura da obra de Paulo Freire e Jürgen Habermas, sua pesquisa aponta a insuficiência
da cidadania como horizonte educacional, o que significa a deficiência desse conceito
para que seja apontado como fim último do ensino. Nessa perspectiva, a cidadania
implica em mera reforma da sociedade, não necessariamente na superação das relações
de dominação e exploração. O conceito mais adequado para exprimir o potencial
transformador da educação é o de sujeito social, que é indivíduo ativo, capaz de
transformação. Nós propomos uma investigação acerca do ensino dos direitos
constitucionais com foco educação para a emancipação, que é a formação do indivíduo
ativo, do sujeito social.
Ainda tratando do potencial transformador da educação, Larissa Messias Moraes
(2015) e Nilda da Silva Pereira (2012) trabalham com a necessidade de ampliação do
ensino de direitos humanos na escola e o aprendizado de tais preceitos como forma de
superação da barbárie e promoção da tolerância. Moraes (2015) advoga que o ensino de
direitos humanos é importante para a coexistência das diferenças. Ora, novamente há
um ponto de aproximação e distanciamento entre nossa proposta e essas pesquisas. A
aproximação se dá na medida em que advogamos a necessidade de introdução do ensino
dos direitos na educação básica, mas o distanciamento ocorre quando entendemos que
21
tal estudo não deve ser voltado para a cidadania, visto que, como apontado no trabalho
de Pitano (2008), essa ideia participa da perspectiva de reforma social e não de
transformação e superação das contradições e relações de exploração, como aqui
buscamos através da educação em direitos.
22
CAPÍTULO II
2 REFERENCIAL TEÓRICO
23
resultado da sua ação. A transformação consciente da realidade é própria do ser
humano, como bem afirma Marx:
24
em relação aos animais. A atividade laborativa é reduzida à um meio de obter o mínimo
possível para se manter vivo e é realizada de forma cada vez mais mecânica e
irrefletida. Deste modo, o trabalho que antes era o meio de humanização do Homem, o
desumaniza através da alienação.
Da alienação decorre a fetichização do mundo, que se apresenta como algo
mágico, que tem existência em si mesmo e cujo ser humano é simples contemplador,
como se todas as coisas que existem sempre tivessem existido ou surgido por processos
alheios à interferência humana, sendo um fim em si mesmas. Nesse esteio, as
mercadorias geradas pelo trabalho circulam na sociedade como que dotadas de um valor
intrínseco, como bem explicam Márcia Gardênia Monteiro de Oliveira e Tânia
Quintaneiro:
Isso quer dizer que as relações sociais aparecem aos olhos dos homens
encantados sob forma de valor, como se este fosse uma propriedade natural
das coisas. Através da forma fixa em valor-dinheiro, o caráter social dos
trabalhos privados e as relações sociais entre os produtores se obscurecem. É
como se um véu nublasse a percepção da vida social materializada na forma
dos objetos, dos produtos do trabalho e de seu valor. (QUINTANEIRO;
OLIVEIRA, 2003, p. 55)
25
Também integra a superestrutura o direito, como produto da divisão do trabalho e
atividade cultural.
26
direito enquanto Aparelho Ideológico e Aparelho Repressivo do Estado, portanto, meio
de perpetuação da ideologia naturalizadora das relações de dominação e manutenção do
status quo. Marilena Chauí comenta que:
Essa premissa entende que o direito constitui um dos meios pelos quais a classe
dominante assegura seu domínio e manutenção da estrutura social, tal como possibilita
que condições de exploração que se prolongam. Isso se verifica no direito de
propriedade que, segundo o Materialismo Histórico-Dialético (CUNHA, 2014), legitima
a posse privada dos meios de produção, tal como a apropriação da mais-valia pelo
capitalista à medida em que o trabalhador, inconsciente desse processo, se vê cada vez
mais distante do produto de seu trabalho, e por fim, alienado. Isso ocorre sob os
auspícios do Estado, que sacramenta a propriedade através da lei.
Ainda nesse raciocínio, se o direito é resultado do labor humano, isso quer dizer
que o Homem pode não se reconhecer enquanto seu criador. A alienação não se dá
apenas em relação ao produto material do trabalho, ela também ocorre em relação ao
produto intelectual, ou melhor, à superestrutura da qual a esfera jurídica é integrante. A
complexidade dos dispositivos normativos, os inúmeros trâmites burocráticos e a
formalidade dos ambientes judiciários e legislativos dão a impressão de que o direito é
algo que existe em si mesmo, fora da experiência histórica, que se produz sozinho e que
nada tem a ver com a realidade cotidiana.
Assim como da alienação do trabalho decorre a fetichização da mercadoria, da
alienação em relação ao direito decorre a fetichização dos cargos e carreiras que
compõem todo o sistema jurídico-político. O magistrado, o advogado, o promotor, o
delegado, o policial, o senador, o deputado se tornam figuras divorciadas da razão
última da criação de tais cargos e ofícios: a administração da coisa pública para o bem
comum. A burocracia Estatal, divorciada do cotidiano do homem comum, passa a
constituir uma casta acessível à poucos escolarizados. Ser ministro torna-se um fim em
si mesmo.
O status social proporcionado por esses ofícios distancia ainda mais o homem
comum da percepção de que toda a estrutura jurídica é criação humana. Devido aos
elevados custos para se ter uma boa formação em Direito, por exemplo, uma parcela
27
mínima da população tem a perspectiva de se formar e trabalhar na esfera judiciária.
Desse modo, o advogado, o promotor, o juiz têm um prestígio social mais elevado que o
assalariado. Tal alienação vai se perpetuando, sobretudo, com a contribuição da
educação, que segue os ditames do capital.
28
“hospedeiros” do opressor poderão contribuir para o partejamento de sua
pedagogia libertadora. Enquanto vivam em dualidade na qual ser é parecer e
parecer é parecer com o opressor, é impossível fazê-lo. A pedagogia do
oprimido, que não pode ser elaborada pelos opressores, é um dos
instrumentos para esta descoberta crítica – a dos oprimidos por si mesmos e a
dos opressores pelos oprimidos, como manifestações da desumanização.
(FREIRE, 1994, p. 17)
29
uma construção do conhecimento em conjunto ao invés da mera reprodução sistemática
de informações.
Essa concepção é sustentada pela ideia de um ser humano cujo agir no mundo o
é de maneira consciente, que reconhece a si mesmo como potência criadora e
transformadora. A educação libertadora tem por finalidades o aprimoramento do
conceito de ser humano e o rompimento do ciclo de reprodução das relações de
explorações por meio do despertar para a consciência de que a realidade social não é
natural, é moldada pela ação humana num processo histórico e pode ser modificada pelo
agir humano. O fim último da educação libertadora é fazer emergir o sujeito ativo,
transformador do mundo. Em última análise, a educação libertadora é problematização
do que a ideologia normaliza, é um processo de emancipação do Homem, ou ainda, de
eliminação da realidade enquanto propositura alienada.
Tem-se aqui, portanto, uma antinomia, um direito contra outro direito, ambos
igualmente apoiados na lei da troca de mercadorias. Entre direitos iguais
quem decide é a força. E assim a regulamentação da jornada de trabalho se
apresenta, na história da produção capitalista, como uma luta em torno dos
limites da jornada de trabalho – uma luta entre o conjunto dos capitalistas,
i.e., a classe capitalista, e o conjunto dos trabalhadores, i.e., a classe
trabalhadora. (MARX, 2013, p. 394)
A emersão dos direitos trabalhistas é fruto desse embate. Por um lado, tem-se o
direito do capitalista de se apropriar do produto do trabalho, por outro se tem o direito
do trabalhador de gozar do produto de seu trabalho. A duração das jornadas de trabalho,
o estabelecimento de um salário-mínimo e seus reajustes, férias remuneradas e outros
institutos do Direito do Trabalho são oriundas do antagonismo entre a classe proletária e
a classe burguesa.
É verdade que o modo de produção e as relações de exploração permanecem,
mas o enfretamento através da esfera jurídica constitui lugar de resistência, uma vez que
as conquistas realizadas acontecem no sentido de aproximar o trabalhador do produto de
30
seu trabalho, o que por consequência vai ao encontro da recuperação da natureza
ontológica conferida pela atividade laborativa. Além disso, o direito é objeto cultural,
isto é, influenciado por movimentos ocorridos ao longo da trajetória histórica da
sociedade. Não se pode separar a luta ocorrida fora dos tribunais e casas parlamentares
do que ocorre em seu interior.
Portanto, podemos concluir, com base na concepção Freiriana de educação
libertadora, que uma educação em direitos pode transcender a percepção do direito
como mero instrumento de reprodução e fazê-lo instrumento de emancipação. Tememos
como objeto os direitos constitucionais para discutir tal proposta.
O início da formação dos direitos constitucionais se dá a partir do
Constitucionalismo, movimento político-filosófico com influência de ideais do
Iluminismo (ALEXANDRINO; PAULO, 2013). O intuito constitucionalista era impor
uma limitação ao poderio estatal, que se manifestava na forma do Absolutismo, por
meio de uma carta de direitos que subordinasse a atuação do Estado aos ditames legais,
impondo ao soberano restrição de poderes. O que fomentou a discussão acerca da
criação de uma Carta Magna limitadora do poderio Estatal foram os recorrentes abusos
cometidos por parte de monarcas, como João Sem Terra, Henrique VIII e, mais tarde,
Luís XVI.
Dois grandes eventos de importância crucial para a consolidação dos desígnios
constitucionalistas foram a Revolução Americana, em 1777, que culminou com a
redação da Constituição dos Estados Unidos, e a Revolução Francesa, 1789, que
culminou na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (ALEXANDRINO;
PAULO, 2013).
Ambos os documentos inspiraram cartas constitucionais brasileiras, porém,
devemos nos debruçar sobre os preceitos da Constituição Federal de 1988, ainda em
vigor, sobretudo dos Direitos e Garantias Fundamentais que têm um imenso valor
histórico e social, uma vez que foram conquistados depois de um longo período de
repressão empreendida pela Ditadura Militar (1964-1984).
31
propriedade formavam o binômio que conferia ao direito sua razão de existir, ou seja, a
lei, de caráter principalmente punitivo, buscava assegurar aos indivíduos o gozo de sua
propriedade e a certeza de que sua vida não corria riscos.
Entretanto o direito de propriedade se sobrepunha até mesmo ao direito à vida,
dada à concepção restrita de ser humano. Na Antiguidade a noção de humano dependia
da estrutura social de uma determinada civilização. Na Babilônia, por exemplo, a
sociedade se dividia entre os homens livres, que gozavam de plena proteção do Código
de Hamurabi, e os escravos, que embora fossem serem humanos segundo a concepção
contemporânea, naquela civilização eram entendidos como propriedade. Flávia Lages
Castro aduz:
Definir escravidão não é somente considerar que todo aquele que trabalha
sem receber é escravo: muitos de nós seríamos, até mesmo os honrados
voluntários que existiram e existem no mundo, colocados nesta posição, que
não é verdadeira no caso deles. Escravo é propriedade, bem alienável, ou
seja, algo que pode ser comprado, vendido, alugado, dado, eliminado...
Escravo é, portanto, coisa. (CASTRO, 2007, p.16)
32
fato de nascer confere ao indivíduo a capacidade de gozar de certas faculdades
denominadas direitos naturais. Assim definem o jusnaturalismo Gianfranco Pasquino,
Nicola Matteucci e Norberto Bobbio:
A ideia de haver um direito oriundo da própria natureza e que por vezes se opõe
ao direito que está escrito na lei tem raízes na Antiga Grécia. Antes que Platão
escrevesse o diálogo em que Sócrates é condenado a sorver um cálice de cicuta, fruto de
uma sentença flagrantemente tendenciosa, já encontramos a discussão sobre os direitos
naturais na tragédia de Antígona, escrita por Sófocles. O enredo traz o seguinte
questionamento: é justiça porque está na lei ou é lei porque é justiça? Tal é o
pensamento de Paulo Nader:
33
Os direitos naturais são de suma importância para a evolução do conceito de ser
humano, uma vez que põem em questionamento a contradição que pode haver entre o
ideal de justiça e a lei do Estado, alargando o entendimento de pessoa humana, do
essencial para que se viva com dignidade a fim de poder realizar o potencial de sua
personalidade e se transmutam em direitos humanos e, posteriormente, direitos
fundamentais.
Os direitos humanos são tributários dos direitos naturais e seu surgimento está
intimamente ligado ao processo de limitação do poder político do soberano, outrora
encarnado na figura rei e mais tarde na figura do Estado. A Carta Magna inglesa, de
1215, pode ser considerado um marco inicial para a elaboração do que mais tarde viriam
a ser os direitos humanos. Em seus dispositivos se consagrava uma série de direitos do
indivíduo contra o Estado a fim de se limitar o poderio deste e salvaguardar aquele dos
arbítrios cometidos pelo soberano. Ainda na Inglaterra, a Petition of Rights, de 1628, é
outro documento elaborado com o objetivo de impor limitações ao poderio monárquico
(ECHTERHOFF, 2016).
O que se observa é que desde os tempos antigos os indivíduos são
descaracterizados enquanto humanos e caracterizados como propriedades de outros
indivíduos, no caso da escravidão, ou submetidos a uma ordem hierárquica que os anula
enquanto sujeitos dotados de individualidade, no caso de servidão típica da Idade
Média, restringindo drasticamente o que se entende por ser humano. O Iluminismo
consagrou ideias essenciais para a formação definitiva de um conceito de direitos
comuns a todos os homens e da postulação de liberdades e garantias individuais através
da limitação do poderio estatal por meio de uma corrente de pensamento denominada
liberalismo clássico. Segundo Ari Ricardo Tanki Brito:
34
plasmados num documento culminante da Revolução Francesa denominado Declaração
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Há de se fazer a devida distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais.
Os direitos humanos são aqueles inerentes à pessoa humana, atribuídos por sua própria
natureza. Em certa medida se confundem com os direitos naturais e podem, dependendo
do contexto, até lhes ser sinônimo. Segundo João Batista Herkenhoff (1994, p. 30) “São
direitos que não resultam de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são
direitos que a sociedade política tem o dever de consagrar e garantir.” Já os direitos
fundamentais são os direitos cujo objetivo é proteger e assegurar a dignidade da pessoa
humana e que se encontram positivados na legislação de cada Estado. Em outras
palavras, são os direitos humanos plasmados na legislação pátria (ALEXANDRINO;
PAULO, 2013)
A Constituição de 1988 traz entre seus artigos 5º a 17 os Direitos e Garantias
Fundamentais. Trata-se de um conjunto de direitos e deveres individuais e do Estado
para com os cidadãos a fim de construir uma sociedade harmônica e fraterna que
potencialize aos indivíduos desenvolver sua personalidade. O contexto da introdução
dos direitos fundamentais na Constituição de 1988 se dá em decorrência do fim da
Ditadura Militar, período da história nacional marcada pelas práticas arbitrárias e
violentas do Estado a fim de silenciar, prender e eliminar opositores políticos.
Dessa forma, é essencial não perder de vista que a gênese do surgimento da ideia
de direitos humanos, tal como do movimento constitucionalista, assim como do
liberalismo clássico, é a limitação do poderio estatal, outrora manifesto na figura do rei
absolutista e que praticara recorrentes abusos contra seus súditos.
Com base nas preposições dialéticas marxistas, pensamos o direito como criação
humana a partir das relações de produção que derivam do modo de produção vigente, a
saber, o modo capitalista. Nesse esteio, o direito é parte integrante da superestrutura e
opera fundamentalmente segundo a lógica do capital. Entretanto, embora possa
contribuir para a reprodução das relações de exploração, também se adapta às demandas
sociais e se modifica a partir da ação humana. O art. 5º da Constituição Federal de 1988
(BRASIL, 1988) é resultado de conquistas realizadas por meio de luta e não concessões
estatais ou dádivas divinas. É culminante de longo processo histórico que demandou
enfrentamento e resistência, impossíveis sem a consciência de si enquanto produtor do
direito.
35
Em se tratando de educação, sobretudo em direitos, com vista a uma
emancipação, a compreensão das nuances entre direito natural e direito positivo, o
conceito de direitos humanos e direitos fundamentais é potente para evocar a discussão
sobre o conceito de justiça e sobre a correspondência das leis do Estado com os anseios
da sociedade. O entendimento desses conceitos e dos dispositivos que os
regulamentam, tal como o aprendizado a respeito das razões que justificam sua
existência são campo fértil para a educação política nos moldes propostos por Paulo
Freire, rompendo com a lógica da aprendizagem para a mera reprodução do sistema e
despertando a consciência de si enquanto potência transformadora. Em outras palavras,
o ensino de direitos é essencial para o Ser Mais.
Assim, o Materialismo Histórico-Dialético e a Pedagogia da Libertação
auxiliam na tarefa de refletir sobre o ensino de direitos na educação básica com vistas à
emancipação e formação da concepção de dignidade da pessoa humana na medida em
que formulam conceitos que nos permitem compreender a realidade dos educandos e
formular estratégias de intervenção.
Por meio da Pedagogia da Libertação, podemos pensar o ensino de direitos de
modo a suplantar o caráter de aparelho ideológico/repressivo e bancário da escola. O
método dialógico prioriza a educação para a humanização dos indivíduos, isto é, o
despertar para a consciência de que são sujeitos criadores da realidade vivida e,
portanto, podem e devem atuar.
Isso significa que uma educação em direitos pode ser libertadora, pois não
consiste em decorar textos legais e as minúcias processuais. É sobretudo uma educação
política se pensada a partir dos pressupostos da pedagogia freiriana. Nessa linha, o
educar tem por finalidade o despertar da consciência para o entendimento de que o ser
humano é agente transformador e toda a vida cultural é resultado de sua ação. Educar
em direitos para a liberdade é demonstrar as normas e as instituições como resultado da
atuação humana, num processo histórico e político que tem uma conexão com a vida
prática do educando. Educar em direitos é, sobretudo, politizar
Para realizar o estudo proposto, o referencial teórico apontado é de grande valia,
pois seus postulados são instrumentais para pensar a vida em sociedade e, sobretudo,
pensar sobre o que é o Homem e o que é esse mundo ao seu redor. No entanto, para
além do refletir, o referencial teórico servirá de ponto de partida para elaboração de
produto educacional que atenda ao intento de um ensino de direitos constitucionais que
supere o aspecto ideologizados da escola e do direito e desperte no educando a
36
consciência crítica voltada para a prática, tão essencial para a ampliação da noção de ser
humano e dignidade humana.
37
CAPÍTULO III
3 MATRIZ METODOLÓGICA
38
A nova matriz de pensamento, cujas bases foram dadas pela obra de Moscovici,
se contrapunha à visão hegemônica na medida em que sustentava a premissa de que o
indivíduo e a sociedade se atravessam, se influenciam mutuamente, não havendo
dicotomia, mas interdependência, dialética e dialógica, sendo impossível que a
Psicologia sozinha explicasse as mudanças sociais originadas da relação sujeito-grupo,
uma vez que se concentrava no singular, assim como era impossível que sozinhas as
ciências sociais lhe explicassem todas as nuances, posto que se concentravam no
coletivo (SÁ, 2002). Dessa forma, para Moscovici não era possível compreender o
individual sem o social no qual se está inserido, tal como não é possível compreender o
social sem compreender o individual dos sujeitos que permeiam o social.
39
apropriado no contexto atual a fim de fornecer estabilidade e viabilidade para as
interações entre os diversos componentes de um dado grupo.
A Teoria das Representações Sociais se desenvolveu a partir da retomada do
conceito de representações coletivas, de Émile Durkheim (SÁ, 2002), que era pouco
usado por volta da década de 1960, sendo empregado por historiadores da corrente dos
Annales que pesquisavam a história das mentalidades (MOSCOVICI, 2001). A partir da
rediscussão desse conceito, Moscovici desenvolveu sua concepção de Representações
Sociais, que se difere das representações coletivas no que diz respeito à interação com
as representações individuais. Durkheim opõe ambas as noções e confere primazia às
coletivas por sobre as individuais. Já a Teorias das Representações Rociais entende que
há uma interdependência entre o individual e o coletivo, como bem reflete Marcelo
Alexandrino de Souza Gomes:
40
sequencial das proposições, próprios do conhecimento especializado, dão lugar a uma
lógica diferente, porém não irracional, cujo objetivo é tornar determinados temas
possíveis de serem compreendidos à nível de comunicação interpessoal de forma a
poder emitir opiniões e tomar posicionamentos diante deles.
41
importância que os elementos encontrados possuem para a formação e estabilidade da
representação.
Por último temos a etapa da verificação da centralidade, que aponta os elementos
principais, ou seja, inegociáveis, da representação e que lhe conferem existência e
significado. Desse modo pode-se assinalar os componentes do sistema central e o
sistema periférico de uma representação, distinguindo aquilo que é rígido, inflexível,
imutável e aquilo que é maleável, adaptável e negociável.
É nessa identificação em que consiste o cerne do significado que uma
Representação Social possui para um grupo e o modo como os indivíduos do grupo se
articulam a fim de ajustar suas particularidades ao núcleo central e então constituir uma
unidade coletiva.
A abordagem estrutural tem como princípio norteador da metodologia de análise
pedir ao sujeito participante da pesquisa que pondere, compare, hierarquize os dados
produzidos por ele mesmo. O objetivo desta diretriz é proporcionar uma melhor
interpretação dos dados captados, uma vez que as Representações Sociais são
produzidas pelos indivíduos coletivamente, sendo fruto de uma interação que se dá pelo
meio cultural, a interpretação que o sujeito faz dos dados que ele mesmo produz tem
como base suas representações que são despertadas no decorrer do processo das 3
etapas (SÁ, 2002).
No Brasil as Representações Sociais têm conquistado espaço no meio acadêmico
e podemos observar isso através do crescente número de eventos dedicados à temática
que contam com o aumento do número de participantes e contribuição de variados
campos do conhecimento. Desde a realização da 2º Internacional Conferece on Social
Representations, em 1994 no Rio de Janeiro, até 2009, com a IV Conferência Brasileira
sobre Representações Sociais, no Rio de Janeiro (ALMEIDA, 2009).
Assim, é inegável que a Teoria das Representações Sociais hoje constitua aporte
teórico-metodológico para a pesquisa científica, pois apresenta bem desenvolvida uma
base teórica para a explicação da realidade e métodos de verificação de seus postulados
em constante aperfeiçoamento por suas ramificações. Portanto, em combinação com sua
abordagem estruturalista, concebemos essa proposta de investigação sobre a educação
em direitos constitucionais para identificar as Representações Sociais envolvidas para
posterior concepção de produto pedagógico que se harmonize com a prática de uma
educação libertadora.
42
CAPÍTULO IV
4.1 PARTICIPANTES
4.2 INSTRUMENTO
43
anos, ou de responsáveis para menores de 18 anos e do Termo de Assentimento Livre e
Esclarecido (TALE) para menores de 18 anos; manter-se-á sigilo quanto às informações
identitárias/personalidade jurídica.
4.5 RESULTADOS
44
coerentes com os pressupostos da Teoria Geral do Estado, Teoria Geral do Direito e
Ciências Políticas.
Para auxiliar na interpretação dos dados, submetemos ao software EVOC-2003
(Ensemble de Programmes PermettantI’ Analyse dês Évocations) as respostas de livre
associação nas quais os participantes foram convidadados a enumerar 5 palavras que lhes
viessem a mente sobre um determinado assunto, como por exemplo, 5 palavras sobre justiça.
Ao serem processados pelo EVOC, as respostas nos permitiram identificar o Núcleo
Central as Representações Sociais, além dos elementos periféricos que a compõe
organizados num quadro como o seguinte:
Quadrante 3 Quadrante 4
45
modificação. A elaboração do produto educacional buscou dialogar com esses
elementos da Primeira Periferia e Periferia Distante a fim de lograr um maior êxito ao
tratar da educação em direitos.
4.5.1 Categoria 1: Você sabe o que são direitos constitucionais? Disserte sobre os
elementos que acredita constituírem o conceito de direito constitucionais.
Das 108 respostas, 28 responderam que não sabem o que são direitos
constitucionais, enquanto 74 afirmaram saber o que são direitos constitucionais e
dissertaram sobre o tema e 6 não responderam. Das 74 respostas afirmativas a mais
completa foi “São direitos previstos na constituição como por exemplo saúde, educação,
trabalho, lazer, moradia.”. Já a menos completa foi “direitos igualitários.”.
Há algo importante a ser observado nas 74 respostas afirmativas. Muitos dos
participantes, ao dissertar sobre elementos que acreditam compor a definição de direitos
constitucionais, enumeraram direitos e garantias fundamenais, o que significa que há
uma confusão entre direitos constitucionais e direitos e garantias fundamentais, que
estão previstos na Constituição, mas não esvaziam o conceito. Vejamos o que os
participantes entendem por “Direitos Constitucionais”.
Foi pedido aos 108 participantes que listassem as primeiras palavras que lhes
viesse à mente ao ouvir a expressão “direitos constitucionais”. No Quadrante 1
observamos a palavra “constituição” com o maior número de evocações, algo que se
explica na medida em que os participantes identificaram no termo “constitucionais”
uma referência à Constituição. No entanto, os demais elementos que compõe o Núcleo
Central são palavras associadas à direitos e garantias fundamentais, como “educação”,
“saúde”, “vida” e “moradia”. Já no Quadrante 2, observamos a ocorrência de
“cidadania”, “deveres”, “igualdade” e “segurança” como componentes da Primeira
Periferia, o que se justifica quando analisamos as respostas dissertativas sobre o tema e
constatamos que os participantes tendem a apontar os direitos constitucionais como
direitos que garantem uma vida digna.
A tabela a seguir mostra os componentes do Núcleo Central da Representação
Social de “Direitos Constitucionais”:
46
TABELA 1: REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “DIREITOS CONSTITUCIONAIS”
SEGUNDO 108 ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
4.5.2 Categoria 2: Você sabe qual a função de uma Constituição? Disserte sobre o
que você acredita serem essas funções.
47
Dentre as 83 respostas afirmativas, mais da metade relaciona Constituição com
garantia de direitos. Vejamos o que mostra a Representação Social de “Constituição” a
esse respeito.
No Quadrante 1 o Núcleo Central formado por apenas 2 palavras, que são “leis”
e “regras”. Isso se explica ao analisarmos a questão dissertativa e identificarmos que as
respostas partem do pressuposto de que a Constituição serve para criar as leis e regras
que regem a sociedade. Isso se confirma ao observarmos o Quadrante 2. As palavras
“deveres” e “direitos” são as que apresentam o maior número de evocações na Primeira
Periferia: O Quadrante 3 traz a palavra “normas”, enquanto podemos encontrar a
48
palavra “artigo” no Quadrante 4. São todos termos que fazem referência ao aspecto
jurídico-legislativo da Constituição. Em outras palavras, a Constituição é interpretada
como uma lei.
A exaustiva repetição imposta ao aluno pelo aparato educacional reforça as
condições de exploração, cumprindo a função de Aparelho Ideológico (ALTHUSSER,
1985). Assim também pensa Paulo Freire (1994, p.41) ao conceber a educação bancária
como aquela voltada apenas para a repetição e inculcação de valores que reforçam as
condições de opressão na sociedade. Ao tomarmos por base essas acepções da educação
como mecanismo de reforço do status quo, podemos verificar o quão empobrecida é a
concepção da Constituição como uma mera lei. Mais uma lei dentre as muitas leis, se
destacando apenas por ser a que está no topo da hierarquia jurídica. Essa interpretação
sobre o que é a Constituição realiza o propósito da educação enquanto Aparelho
Ideológico do Estado e Educação Bancária devido à Carta Magna ser reduzida à uma
categoria de coisas estranhas ao cotidiano dos educandos. A lei, esse baluarte da
civilização moderna, é decorada, recitada. Os artigos de um Código Penal ou Código
Civil repetidos como mantras. Os operadores do direito elevados à categoria de
sacerdotes, enquanto os leigos, na condição de estudantes ou não, assistem a um
espetáculo que não lhes parece dizer respeito. É a lei em sua forma mais pura e
autônoma, separada do ser humano, que é seu criador.
Diante disso, a Constituição parece estática. Os direitos parecem estáticos,
sempre ali à disposição, cedidos por algum deus ou entidade acima dos humanos. A lei
parece estática e divina. Desse modo, cada um pode continuar sua vida, pois a lei
salvaguarda a todos.
Ora, o direito é criação humana e como tal demanda a ação de humanos. A lei e
seus postulados foram elaborados por uma razão e compreender essa razão é o essencial
para se compreender o que é uma Constituição, por exemplo. Somente quando a
educação se pretende como algo além de uma exaustiva repetição, quando se propõe
dialógica (FREIRE, 1994), isto é, conversar com a realidade e a experiência dos
educandos é que pode existir esse despertar da consciência para o que de fato é uma
norma e do porquê ela é uma norma. Para além disso, é quando, inclusive, torna-se
possível se questionar sobre a efetivação ou não de um determinado postulado legal e
das razões de seu fracasso ou sucesso.
A identificação da Constituição como uma norma que rege a sociedade ou de
onde emanam direitos e deveres é uma noção maculada pela educação como mecanismo
49
de perpetuação do status quo, uma vez que o histórico movimento constitucionalista se
insurgiu contra a os abusos do Estado, sendo a Constituição um instrumento essencial
para a proteção dos indivíduos diante dos arbítrios estatais. A lei é sempre algo além da
lei e enseja fins que estão além da lei em si mesma. Paulo Nader aduz:
O direito tem e deve ter sempre uma finalidade social, do contrário o fim de
pacificação e melhoria da vida humana não poderá ser alcançado. Essa atualização à que
se refere Paulo Nader só é possível através da ação humana, que é a verdadeira criadora
da lei. Passemos à análise do que nos diz a Representação Social de “Abuso de Poder”.
Solicitamos aos 108 participantes que listassem as 5 primeiras palavras que lhes
viessem à mente ao ouvir a expressão “abuso de poder”. Ao analisarmos o Núcleo
Central da Representação Social de “Abuso de Poder” constatamos que três palavras
compõe o núcleo, sendo elas “corrupção”, “crime” e “polícia”, como podemos observar
na Tabela 3. Dentre as palavras, “corrupção” apresenta o maior número de evocações, o
que ressalta a influência do cenário político atual cujo tema da corrupção esteve em alta.
Embora as palavras “crime” e “polícia” também componham o núcleo da
Representação Social de “Abuso de Poder”, na Representação Social de “Constituição”
mostrada na Tabela 2, a Constituição é vista como regra e não como proteção, inclusive
contra os abusos de poder. Para os participantes os conceitos de Constituição e Abuso
de Poder estão distantes um do outro, com a Constituição demonstrando ser uma lei pela
lei, sem uma função que extrapole o limite da esfera da concessão de direitos e
regulamentação da sociedade, não havendo noção de como o constitucionalismo e abuso
de poder se relacionam.
50
Tabela 3 – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “ABUSO DE PODER” SEGUNDO 108
ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
51
A violência institucional perdura também pela repetição do padrão de
comportamento e pensamento proporcionado por um sistema educacional que só
reproduz os valores do opressor, como bem lembra Paulo Freire:
52
Em relação aos direitos presentes na Constituição as respostas de modo geral
apontam os direitos à vida, à liberdade, à saúde e a educação. Os sujeitos relacionam
Constituição a garantias e direitos fundamentais. Em algumas respostas o direito ao voto
também foi lembrado. Os participantes demonstram ter consciência de que a
Constituição traz em seu escopo a proteção dos indivíduos, embora seja algo que
precise ser mais bem trabalhado. Dizer alguns direitos presentes na Constituição é algo
de grande valia, entretanto não se afasta da natureza bancária o modo como esse
conhecimento é construído. Sobre a construção bancária do saber, Paulo Freire afirma:
Uma educação dialógica em direitos, que tem por horizonte a emancipação dos
sujeitos, isto é, a libertação da consciência aprisionada na lógica de mundo do opressor,
como propõe Paulo Freire, não se trata apenas de conseguir balbuciar alguns direitos, se
trata de ser capaz de identificar o modo intrínseco ao qual os direitos afetam a vivência
cotidiana dos indivíduos. Na categoria seguinte buscamos compreender a percepção dos
sujeitos sobre o quanto suas vidas são afetadas pelos direitos contitucionais e pela
Constituição.
53
guisa de exemplo, contatar na resposta “Sim, eu estudo porque a constituição me dá
esse direito.”. Muitas respostas foram dadas apontando a educação como garantida
constitucionalmente.
Certamente à vivência cotidiana numa sala de aula à qual os alunos do Ensino
Médio participantes da pesquisas estão submetidos desde à infância lhes proporcionou
um melhor entendimento da educação. Ao invés de pensar na educação como dever,
como obrigação, os sujeitos conseguem identificá-la como algo que deve ser protegido e
garantido pelo Estado. Mas e a moradia? E a saúde? E o trabalho? E o saneamento
básico? E o meio ambiente? Há outros direitos constitucionais que carecem de serem
conhecidos e efetivados. É nesse sentido que deve caminhar uma educação em direitos,
no de ampliar o horizonte do indivíduo. Essa ampliação de horizonte demandará a
práxis, a ação. Não a ação irrefletida e mecânica, mas a ação consciênte e
transformadora do mundo, que conduz à realização da natureza ontológica do ser
humano. A construção de uma sociedade melhor, de um mundo melhor, passa pelo
despertar do indivíduo para a ação transformadora, como lembra Paulo Freire:
4.5.5 Categoria 5: E sobre deveres? Você acredita que devam existir deveres para o
livre exercício da cidadania? Se sim, quais os mais importantes.
54
Em sua maioria, as respostas relacionam deveres ao respeito pelo próximo, ou
seja, o dever de respeitar outra pessoa, como por exemplo na resposta “Sim, respeitar o
próximo, não destruir patrimônio público e privado, etc.” . Em pouquíssimas respostas o
dever enquanto obrigação a cumprir perante o Estado Brasileiro apareceu. Quando
muito, estava relacionado à obrigação de votar e pagar impostos, o que demonstra uma
necessidade de maior esclarecimento sobre o que são e quais são os deveres do cidadão.
Mas para além de o que são e quais são, é importante que se compreenda o porquê são.
Os pais e responsáveis, por exemplo, têm o dever de prover educação à criança sob sua
tutela. Não seria um exercício de cidadania cumprir tal dever? Não é sobre a criança em
si, ou sobre o voto ou sobre a propriedade alheia. Se trata de ser capaz de reconhecer o
outro como humano e de conviver com esse outro nos melhores termos possíveis. É o
que lembra Paulo Frere ao tecer linhas acerca da condição dos opressores:
Onde não se reconhece o outro como humano, impera a violência civil, reina a
violência institucional, que traduzem a vida num esquema de “cidadão de bem” frente
ao “vagabundo”, que por sua vez é identificado sempre com as minorias.
Os direitos de cidadania e os deveres refletem no uso do espaço público, no uso
da cidade. A definição de cidadão e o entendimento de cidadão incidem sobre o
entendimento da cidade, do estado federado e do país. Vejamos a seguir.
4.5.6 Categoria 6: Na sua opinião: o que é ser cidadão, e o que seria cidadania?
Das 108 respostas, 7 não apresentaram resposta alguma e 101 respostas foram
afirmativas, dentre as quais a mais completa foi “Cidadãos são indivíduos com uma
série de deveres a cumprir e direitos a eles que devem ser garantidos. Portanto,
cidadania é a prática de direitos e deveres dos cidadãos.” e a menos completa foi “As
pessoas”. A maioria das respostas relaciona ser cidadão com fazer parte de um povo ou
nação. A ideia de cidadania aqui aparece atrelada a pertencer a pertencimento. Uma
55
resposta que ressalta bem isso foi “Todo ser vivo que nasce é automaticamente cidadão
e sua nacionalidade individual impõe direito à cidadania”.
A cidadania enquanto um vínculo jurídico que proporciona direitos e impõe
deveres ao indivíduo é pouco entendida como tal, há uma carência de esclarecimento
sobre as diferenças entre povo, cidadão e habitante, especialmente no que tange ao
conceito de povo, uma vez que este é apontado como elemento constituinte do Estado.
A cidadania sugere um vínculo mais profundo, ao passo que o habitante tem um vínculo
mais frágil. Na Grécia Antiga a cidadania se expressava pelo envolvimento do indivíduo
nos assuntos referentes à administração da polis. Aqueles com status de cidadão
deveriam obrigatoriamente participar dos debates e reuniões essenciais para definir os
rumos da cidade. Para isso a cidade promovia uma educação que compactuasse com a
foramção de um cidadão apto para exercer os valores da polis.
A cidade educava na Grécia Antiga e ainda educa em nossos dias. A cidade em
si é um contexto educativo (FREIRE, 2001). Isso significa que é apta para educar o
indivíduo e sua organização pode operar para integração ou exclusão, libertação ou
perpetuação de um sistema de dominação. Além disso, a cidade é resultado da ação dos
indivíduos e nela observamos o processo histórico que a formou, transformou e a
modifica mesmo agora. Seus monumentos, praças, ruas, nomes de locais, ambientes ao
ar livre ou cobertos, ruas calçadas ou ainda de terra batida são testemunhos de como o
cidadão se relacionou com aquele lugar.
Há uma recíproca atividade educativa: a medida em que a cidade transfere aos
indivíduos um saber, uma cosmovisão, a cidade também é “educada” por esses
indivíduos, uma vez que eles agem nesse espaço, se apropriam e se relacionam com ele
de um modo peculiar a cada um.
Um aspecto ressaltado por Freire (2001, p. 14) é de que “A Cidade somos nós
também”. Para muito além de prédios, praças, postes e pontes, a cidade é um corpo
político formado pelos seus habitantes, que nela agem e interagem, realizam seus
negócios e moldam sua identidade. Portanto, a cidade jamais será igual para todos,
tendo um feitio peculiar para cada um que com ela se relaciona.
Ainda dentro da perspectiva freiriana, pensando sobre a cidade que educa, é
importante refletir sobre concepção de educação em Paulo Freire tal como sua função.
Para Freire (1994, p. 33) a educação pode constituir instrumento de perpetuação das
desigualdades quando se propõe a não dialogar com a realidade do educando, apenas
transmitindo-lhe uma visão de mundo que advém de uma classe dominante. Entretanto,
56
quando a educação se propõe a dialogar com a realidade do educando e a construção do
conhecimento se dá num processo conjunto, em que:
[...] educador já não é apenas o que educa, mas o que, enquanto educa, é
educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa.
Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em
que os “argumentos de autoridade” já, não valem. Em que, para ser-se,
funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com a liberdade, e
não contra elas. (FREIRE, 1994, p. 39)
57
4.5.7 Categoria 7: O que seriam os direitos fundamentais?
Solicitamos aos 108 participantes que listassem as 5 primeiras palavras que lhes
viessem à mente ao ouvir a expressão “direitos fundamentais”. Submetemos a listagem
ao softwere EVOC e obtivemos a tebela de quadrantes demonstrando as palavras que
formam a Representação Social de “Direitos Constitucionais”. Em seu Núcleo Central
há palavras como “educação”, “saúde”, “vida” e “moradia”, algo que, como ressaltado,
advém do fato de que os participantes têm consciência de alguns dos direitos
fundamentais. Entretanto, existe uma necessidade de maior alargamento da
compreensão e conhecimento do que são os direitos fundamentais e quais são esses
direitos, uma vez que se concentrar em saúde, educação, moradia e vida não é o bastante
para a uma vida humana digna, é apenas o básico do básico. E o meio ambiente? E a
cultura? E a autodeterminação? E a garantia de não sofrer racismo? Também são
essenciais, mas pouco ou nunca são apontados pelos participantes como direitos, como
se oberva na tabela seguinte:
58
Tabela 4 – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “DIREITOS FUNDAMENTAIS”
SEGUNDO 108 ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
É evidente que os participantes enumeraram aqueles direitos que lhes são mais
constantes em seu cotidiano, isto é, aparecem em discussões, reportagens ou que fazem
parte de sua realidade, como o direito à educação é familiar para quem está no Ensino
Médio. Passemos à categoria seguinte, onde pedimos aos participante para enumerar
alguns direitos fundamentais caso lhes fosse possível.
4.5.8 Categoria 8: Você seria capaz de dizer alguns direitos fundamentais? Se sim,
quais?
59
desses direitos e tê-los efetivamente garantidos, protegidos e exercidos, tal qual se passa
com direitos humanos. Vamos analisar as Representações Sociais dos sujeitos da
pesquisa acerca de assuntos referentes aos direitos humanos.
Das 108 respostas, 2 responderam não saber, 7 não deram resposta alguma e 99
responderam afirmativamente. Das 99 respostas afirmativas, a resposta mais completa
foi “Aqueles que garantem o mínimo de dignidade a qualquer ser humano.” e menos
completa foi “Justiça”.
Podemos observar que as 99 respostas afirmativas relacionam os direitos
humanos a uma classe de direitos cujos destinatários são toda e qualquer pessoa e cujo
objetivo é assegurar a existência digna. Não há um total desconhecimento do que sejam
os direitos humanos e qual sua função, embora esse conhecimento careça de
aprofundamento, como podemos constatar quando observamos a Tabela 5, que trata da
Representação Social de “Direitos Humanos”.
60
Tabela 5 – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “DIREITOS HUMANOS” SEGUNDO
108 ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
61
A desumanização, que não se verifica, apenas, nos que têm sua humanidade
roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a roubam, é
distorção da vocação do ser mais. É distorção possível na história, mas não
vocação histórica. Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é
vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar
uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo
trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas,
como "seres para si", não teria significação. Esta somente é possível porqie a
desumanização, mesmo que um fato concreto da história, não é porém,
destino dado, mas resultado de uma "ordem" injusta que gera a violência dos
opressores e esta, o ser menos. (FREIRE, 1994, p. 16)
4.5.10 Categoria 10: Para você, os direitos humanos afetam sua vida? Se sim, de
que modo?
62
4.5.11 Categoria 11: Todas as pessoas têm direitos humanos? Nos explique sua
resposta.
4.8.12 Categoria 12: Você seria capaz de dizer alguns direitos humanos? Se sim,
quais?
63
dieritos fundamentais. Agora observemos o que dizem sobre a razão da criação dos
direitos humano.
4.5.13 Categoria 13: Na sua opinião, por que os direitos humanos foram criados?
Das 108 respostas, 2 afirmaram não saber, 7 não deram resposta alguma e 99
ofereceram resposta afirmativa para a questão. Dentro das 99 respostas afrmativas, a
mais completa foi “para proteger as pessoas da crueldade e violencia e injustiças,
garantir mais equidade” e a menos completa foi “Para ajudar a todos.”.
De modo geral as respostas apontaram como motivo para a criação dos direitos
humanos a proteção ou manutenção da dignidade humana. É algo que reforça a
percepção de que em se tratanto de direitos humanos é predominante a consciência de o
que são e para o que servem. Existe, entretando a necessidade de um aprofundamento
sobre o tema para que outros direitos se tornem de conhecimento comum, como o
direito ao trabalho, à cultura e ao meio ambiente.
Os direitos mais frequentementes evocados são os que incidem de forma mais
explícita na vida cotidiana dos indivíduos. É entendível, portanto, que vida, saúde e
educação sejam lembrados. Porém o que deve ser ressaltado é que assim como
Constituição, Direitos Constitucionais e Direitos Fundamentais possuem relação com
Abuso de Poder, os direitos humanos também não podem ser pensados longe dessa
lógica. Antes de conceder a cada ser humano o direito de viver e de ser livre, por
exemplo, os direitos humanos buscam garantir que o Estado não irá se insurgir contra o
indivíduo, matando-o, prendendo-o, torturando-o. Também constitui uma violação de
direitos humanos quando a polícia ou o Exército entram em periferias de modo a
colocar em risco a vida de pessoas comuns, que nada tem a ver com o tráfico de drogas
ou milícias. Diante disso, investigamos também o que pensam os participantes sobre o
Estado e suas funções.
64
“Mandato”. Quando se trata de Estado, muitos relacionaram Estado a Governo e outros
identificaram a palavra com unidades federativas, como também mostra a
Representação Social de “Estado” a seguir.
Os 108 participantes elaboram listas com 5 palavras que lhes vinham à mente
diante do termo “Estado”. Ao analisar o Núcleo Central da Representação Social de
“Estado”, a palavra “governo” aparece com o maior número de evocações, reforçando o
que pudemos observar na questão dissertativa em que inúmeros participantes
relacionaram Estado a governo. Além disso, também compõe o núcleo as palavras
“poder”, “política”, “país”, “corrupção” e “presidente”. O Estado é compreendido como
núcleo de poder, como núcleo de política, como instituição que governa a sociedade,
como centro de corrupção, mas há a carência de compreender o Estado também como
instrumento de redução das desigualdes sociais.
Ora, o Estado possui o monopólio da violência e da positivação do direito. Todas
as leis da nossa sociedade advém da chancela do Estado. Existe um procedimento para
65
que essa chancela aconteça. A percepção do Estado como antro de corrupção, centro de
poder ou identificado com a figura presidencial afasta o indivíduo do entendimento que
a instituição deve seguir normas. Tais normas passam por um processo legislativo. Este
processo é conduzido por pessoa que são eleitas pelo povo. É essencial que uma
educação em direitos seja capaz de resgatar o interesse pela política, pois somente esta é
instrumento de mudanças e transformações. Se por um lado há a violência institucional
proporcionada pelo Estado defensor do status quo, por outro é importante reconhecer o
Estado também como capaz de proporcionar a efetivação de direitos. As políticas
públicas de transferência de renda, a educação, a saúde, o transporte, por exemplo, são
fornecidos pelo Estado. Evidentemente que não como beneces, mas como resultado de
um longo processo de luta de movimentos sociais. Somente uma educação em direitos
pode proporcionar esse alargamento da compreensão do Estado. Vejamos o que pensam
os participantes sobre as suas funções estatais.
66
4.5.15.1 Representação Social de “STF”
Foi solicitado aos 108 participantes que listassem 5 palavras que lhes vinham à
mente ao ouvir a sigla “STF”. A listagem foi submetida ao EVOC e o resultado que
obtivemos nos permitiu identificar que o Núcleo Central da Representação Social de
STF é formado por palavras como “justiça”, “leis”, “tribunal”, “corrupção”, que
inclusive foram usava na questão dissertativa para definir o que é o Supremo Tribunal
Federal:
67
4.5.16 Categoria 16: Para você, o que é a Câmara dos Deputados e qual a função
de um deputado?
Das 108 respostas, 28 responderam que não sabem, 8 não apresentaram resposta
alguma e 72 responderam apresentando alguma explicação sobre o tema, dentre as quais
a mais completa foi:
Câmara dos Deputados é uma das casas que compõem o Legislativo federal
do Brasil. Suas funções são legislar, representar os interesses da população e
fiscalizar o Executivo, função mais básica de um deputado federal é legislar,
isto é, propor leis. É função do deputado federal, portanto, propor leis que
apresentem melhorias para o país.
68
Tabela 8 – REPRESENTAÇÃO SOCIAL DE “CONGRESSO NACIONAL”
SEGUNDO 108 ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO
Embora o Congresso Nacional seja formado por duas casas legislativas, a saber a
Câmara dos Deputados e o Senado, os participantes evocaram apenas os deputados
como legisladores relacionados ao Congresso Nacional. Ao observar a Tabela 8 não há
menções a senadores ou Senado. Agora observemos os resultados da próxima categoria
para compreender melhor a questão.
Das 108 respostas, 39 afirmaram não saber, 8 não apresentaram resposta alguma
e 61 responderam apresentando alguma explicação. Do total de respostas, a mais
completa foi “O Senado Federal é a câmara alta do Congresso Nacional do Brasil e, ao
lado da Câmara dos Deputados, faz parte do Poder Legislativo da União. Senador é o
cargo responsável pela aprovação das operações (executivo).” e a menos completa foi
“Sinceramente, não tenho muito conhecimento sobre o assunto.”.
As respostas confundem deputados e senadores. Em algumas, senadores e
deputados são a mesma coisa, sendo a palavra “senador” apenas uma outra designação
69
para o que chamamos de deputados. Outras afirmam não conseguir distinguir Senado de
Câmara dos Deputados. O que mais salta aos olhos é o grande número de participantes
que afirma não saber o que é o Senado e nem as funções de um senador que em
linguagem percentual é representado por 33,3%.
Isso reforça a demanda por um esclarecimento sobre a Tripartição dos Poderes,
as funções do Legislativo, o funcionamento do Congresso Nacional e de cada uma das
Casas Legislativas. As mudanças não podem acontecer sem uma consciência de que
precisa haver mudanças. E tal consciência depende de uma educação dialógica, que
aproxime temas como Congresso Nacional e suas funções, STF e suas funções ao
cotidiano dos sujeitos. Abrir um código de leis e decorar cada dispositivo legal pode ser
o bastante para passar num concurso público e integrar a burocracia estatal. Porém não é
o bastante para transformar conscientemente a realidade e tão pouco resgatar o sentido
de ser humano.
Ainda sobre o Estado e suas funções, procuramos saber sobre o que entendem os
participantes sobre assuntos relacionados aos ministérios e ministros. Das 108 respostas,
28 afirmaram não saber, 8 não apresentaram resposta alguma e 72 apresentaram
respostas que traziam alguma explicação sobre o tema. Das 72 respostas, a mais
completa foi “Ministério são organizações do poder executivo responsáveis por cuidar
de certas áreas da sociedade. Ministros são os representantes dessas organizações.” e a
menos completa foi “Administrar o dinheiro”.
Há muitos participantes, 25,9% que não sabem o que é um Ministério e nem a
função de um ministro. Além disso, embora cerca de 66,7% saibam o que é um
Ministério e um ministro, as respostas mostram carência de aprofundamento, uma vez
que são vagas ou superficiais.
70
erradas. Mostra os direitos e deveres. Algo obrigatório.” e E a menos completa foi “uma
regra”.
Observamos que a lei é entendida como uma norma que deve ser seguida e que,
se violada, o violador deve ser punido, realizando então a justiça. Não há
questionamentos se a lei é justa ou injusta. As respostas demonstram que o
entendimento majoritário é o de que a lei é sempre justa e que deve ser seguida por ser
lei.
4.5.20 Categoria 20: Para você, lei e direito têm alguma relação? Explique sua
resposta
Das 108 respostas, 7 disseram que não ou que não sabem, 8 não apresentaram
resposta alguma e 93 disseram que sim e apresentaram alguma explicação, dentre as
quais a mais completa foi “Sim porque para ter direito tem que ter a lei a lei vai provar
que você tem direito” e a menos completa foi “Sim. Os dois andam juntos”.
Observamos que há a interpretação de que os direitos são gerados pela lei e que sem a
lei, os direitos podem não existir.
Mas será? É justamente esse o postulado do direito natural ao conceber um
direito instrínseco aos seres humanos e que não fora concedido por nenhum Estado ou
governante exceto a natureza ou o criador da natureza, como acontece no caso da
perspectiva judaico-cristã. A noção dos direitos existirem porque existe a lei que os
concede não se difere muito da interpretação do direito como conceção de um soberano
ou da benevolência de rei. Em outras palavras, desse modo o direito é algo que existe
em si mesmo na medida em que é identificado com a lei pura. Como analisamos ao
longo dos capítulos, cada direito, cada dispositivo de lei, cada código tem uma razão de
ser e demandou um processo sócio-histórico do qual os seres humanos não estão
excluídos. Muito pelo contrário, os seres humanos são o motor desse processo, tal como
criadores e destinarários dos direitos.
71
estado ideal de interação social em que há um equilíbrio que, por si só, deve ser
razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e oportunidades entre as pessoas
envolvidas em determinado grupo social.” e a menos completa foi “Leis”.
A justiça é associada a cumprir a lei ou a punir quem descumpre a lei. Não há
questionamentos sobre a possibilidade ou não de leis injustas. A justiça é associada ao
cumprimento da lei. É necessário um esclarecimento sobre a justiça enquanto virtude,
não necessáriamente plasmada em forma de lei escrita, mas como valor construído
socialmente.
72
Isso demonstra a carência de um melhor esclarecimento sobre o conceito de
justiça a fim de proporcionar uma perspectiva desvinculada da lei enquanto única fonte
do justo.
Das 108 respostas, 12 disseram não saber, 8 não apresentaram reposta alguma e
88 apresentaram respostas que traziam alguma explicação para a questão, dentre as
quais a mais completa foi “Buscar sempre o melhor caminho para resolver um conflito,
sem prejudicar ou favorecer nenhum dos lados.” e a menos completa foi “Fazer o
certo”.
Observamos que as respostas relacionam ser justo à prática de fazer o que é
certo ou ser imparcial. O ser justo é apresentado como atributo individual, da
consciência ética do indivíduo. Curiosamente o ser justo não é identificado com o
realizar o que a lei determina, uma vez que na categoria anterior a justiça estava
identificada com o realizar a vontade da lei.
4.5.23 Categoria 23: Na sua opinião, justiça e direito têm alguma relação?
Explique sua resposta.
Das 108 respostas, 11 disseram que não ou não sabem, 8 não apresentaram
resposta alguma e 89 responderam afirmativamente. Dentre as respostas afirmativas a
mais completa foi “Sim, a meu ver direitos e justiça devem caminhar juntos, todos os
cidadãos devem ter acesso aos dois. E um possibilita o exercício do outro” e a menos
completa foi “Sim.”.
Podemos observar que as respostas são capazes de identificar uma distinção
entre justiça e direito, apontando que ambos andam juntos e o direito deve ser o mais
justo possível.
Essa concepção atrela justiça ao mundo jurídico, de modo a justiça parecer algo
capaz de existir apenas no mundo das leis. E a justiça social? E a justiça enquanto valor
ético? E a justiça enquanto virtude? São categorias de justiça que parecem eclipsadas
pela percepção da justiça como essencialmente do mundo do jurídico.
73
4.6 PRODUTO EDUCACIONAL: A TRAGÉDIA E A EDUCAÇÃO
74
antigos, educar era transferir valores de modo que esses valores se realizassem e se
eternizassem através dos atos da nova geração, receptora de tal conhecimento.
Devido a esse entendimento da educação enquanto legado de uma construção
coletiva, a polis se apresenta como ponto agregador: no convívio comunitário há
confluência de gerações através do diálogo, através do treinamento militar, através da
participação em celebrações religiosas, de representações dramáticas de episódios da
mitologia que constituíam passagens basilares para a religião grega. Transitar nas
praças, comparecer à Ágora, visitar templos, fundar um monumento em homenagem a
um deus ou herói consistem em atividades verdadeiramente educativas, posto que
colocam o indivíduo diretamente em contato com a cidade e com os valores cultivados
na polis.
No caso ateniense, o ostracismo era uma penalidade para aquele que cometesse
algum crime contra a cidade (CARDOSO, 2015). Desse modo, ser privado da vida em
comunidade e condenado a vagar como estrangeiro em outras terras consistia em ser
impedido de ser completo, posto que o homem grego só era completo em sua pátria e
nela honrado. Toda a epopeia de Ulisses para retornar a Ítaca não se deve ao amor por
Penélope, mas por amor à sua polis, por amor à sua condição de homem completo que
só se realiza na convivência com seus compatriotas no dia a dia da cidade.
Por isso, levando em conta a concepção de educação enquanto transmissão de
valores de uma geração anterior para a geração futuro e a completude do ser humano
que só poder ser alcançada na cidade, é importante refletir acercar do papel dos poetas
para a perpetuação da cultura comum, ou seja, os valores que conectam os antepassados
a seus descendentes. Em outras palavras, trata-se de refletir sobre o aedos enquanto
verdadeiros educadores.
Nesse sentido, Homero é o maior expoente da poesia como arte e como
transmissão de legado, isto é, como educação. Otto Maria Carpeux ressalta que:
[...] As epopeias homéricas eram consideradas como cânone fixo, ao qual não
era lícito acrescentar outras epopeias, de origem mais moderna. A Ilíada e a
Odisseia eram usadas, nas escolas gregas, como livros didáticos; não da
maneira como nós outros fazemos ler aos meninos algumas grandes obras da
poesia para educar lhes o gosto literário; mas sim da maneira como se
aprende de cor um catecismo. Para os antigos, Homero não era uma obra
literária, leitura obrigatória dos estudantes e objeto de discussão crítica entre
os homens de letras. Na Antiguidade também, assim como nos tempos
modernos, Homero era indiscutido: mas não como epopeia, e sim como
Bíblia. Era um Códice. Versos de Homero serviam para apoiar opiniões
literárias, teses filosóficas, sentimentos religiosos, sentenças dos tribunais,
moções políticas. (CARPEUX, 2008, p. 46)
75
Na Grécia Antiga, os cantos dos aedos cumpriam a função de testemunhar sobre
os deuses e sua relação com os seres humanos. Sendo assim, aqueles que ouviam os
cantos de Homero criam em sua veracidade tal qual cristãos nos dias hoje creem na
transubstanciação. As peças encenadas nos anfiteatros da polis grega eram encenações
de episódios religiosos com o mesmo peso transcendental com que assistimos
anualmente encenações da Paixão de Cristo.
Deste modo podemos pensar em Homero, Sófocles e Aristófanes, por exemplo,
como educadores e nos elementos de suas obras como um ideal de ser humano ao qual
se pretende alcançar transmitindo um legado cultural às novas gerações. A transmissão
de cultura pode ser pensada a partir dos valores encarnados por seus personagens,
personagens estes que passam a constituir arquétipos de comportamento para os quais o
aprender e o ensinar convergem. Não obstante os heróis homéricos eram celebrados
como seres reais, tais como reais eram os deuses e os semideuses. Assim, a educação
para moldar um homem virtuoso encontra nas obras homéricas seu ponto de apoio.
Toda a trama de Ilíada trata da polis. Os troianos lutam para garantir que possam
continuar sendo troianos, ou seja, livres, humanos em sua cidade. Os demais gregos,
reunidos numa confederação, lutam para subjugar Tróia em busca de glória e feitos
legendários. Mas ao fim tudo conflui para o tema amplamente explorado em Odisseia: o
retorno ao lar. Este retorno é sempre necessário porque somente em seu lar o homem
grego será cidadão, será livre, será humano.
Tal qual Ilíada, Odisseia, de Homero, e Teogonia e Os trabalhos e os dias, de
Hesíodo, a tragédia de Antígona, representada exaustivamente em anfiteatros da Antiga
Grécia cumpre uma função coletiva de educar, de formar o homem grego. Observamos
na tragédia em Antígona um potencial para introduzir a discussão sobre direitos
constitucionais, direitos e garantias fundamentais e direitos humanos, principalmente se
trabalhada no contexto da Literatura, da Filosofia, da Sociologia e da História. Esse
potencial se manifesta a partir da trama que dialoga com vários temas tratados pelas
áreas de Humanas, como a questão “é justo porque é lei ou se é lei porque é justo?”,
presente no enredo, e que conduz a jovem Antígona a contrariar o decreto de Creonte a
fim de sepultar seu irmão Polínice, abre margem para se discutir a opressão estatal,
regimes totalitários e absolutismo monárquico, por exemplo; a desobediência de
Antígona, que coloca em questão o próprio conceito de tece uma linha de abordagem
que possibilita a discussão a respeito dos Direitos Humanos e do conceito de Dignidade
da Pessoa Humana.
76
A concepção de tal material tem por fim mediar a relação dos profissionais de
educação e seus educandos para o aprendizado em direitos como elemento libertador,
uma vez que possibilita o reconhecimento do ser humano enquanto produtor do mundo
jurídico e de toda a realidade material e, portanto, único capaz de transformá-la a fim de
efetivar direitos e criar novos.
77
Hobbes em que o filósofo traz a ideia da guerra de todos contra todos no estado de
natureza. O propósito dessa sessão é introduzir os conceitos essenciais da Teoria Geral
do Estado e proporcionar um entendimento sobre como a concepção de cidadão que
cada forma de governo tem afeta na concepção que um dado Estado tem sobre o que é o
ser humano. O capítulo faz um apresenta alguns pensadores que influenciaram no
desenvolvimento dos direitos constitucionais.
78
A tripartição dos poderes tem por objetivo dividir as funções dos Estado em três
a fim de limitar o poder do governante, evitando que a concentração de funções abra
margem para abusos típicos dos governantes absolutistas. O título O rei sempre esteve
nu é uma provocação baseada na diminuição dos poderes dos governantes à medida em
que o Estado Moderno e a democracia avançam. Os direitos fundamentais concedem
aos cidadãos uma série de proteções contra os arbítrios do Estado, além de garantirem
que a relação Estado-indivíduo cumpra o propósito de proporcionar aos sujeitos que
desenvolvam o potencial de sua personalidade sem prejuízos para a sociedade. A
concepção de Constituição enquanto lei maior do de um país tem por função regular as
ações do Estado de modo que aquele que governa não extrapole os limites impostos e o
Estado não se torne um açoite para os próprios cidadãos.
79
4.6.1.6 O ser o que se é e Ser Mais
No capítulo final, de nome O mínimo que você precisa saber sobre direitos, a
narradora se despede fazendo considerações finais sobre os temas tratados. O propósito
aqui é fazer um apanhado sobre o que foi discutido. O encerramento procura levantar a
importância da prática para a efetivação e ampliação dos direitos, tal como para o
alargamento da concepção de cidadão.
80
CAPÍTULO IV
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
81
O mero saber o que é um deputado ou o que ele faz não é o bastante. O mero
saber alguns direitos fundamentais ou o que um ministro faz não é o bastante. O mero
repetir artigos de lei não é o bastante. O direito estar plasmado na lei não é o bastante.
Somente a prática pode proporcionar uma transformação consciente do mundo de forma
a possibilitar o Ser Mais.
Nesse diapasão, a educação em direitos se torna essencial e deve ser feita de
modo dialógico. A lei como algo escrito em velhos livros de biblioteca não se apresenta
aos indivíduos como nada além de verborragia. Uma educação em direitos se faz
necessária não para que se conheça os direitos, mas para que se compreenda que eles
não estão prontos e acabados e nem nasceram assim. Eles demandam que os seres
humanos se organizem, reivindiquem e que se permitam imaginar novos direitos. Porém
isso só é possível a partir do momento em que os indivíduos compreendam a vocação
transformadora do ser humano, que produz o mundo em que vive. O direito é parte
desse mundo em que vive o ser humano e o propósito da educação em direitos é
despertar para a consciência de que uma transformação conscinte do próprio direito é
possível e necessária para atender mais e mais humanos.
O produto educacional que concebemos, um e-book de título A história de
Antígona ou O que você precisa saber sobre direitos, navega nessa direração, a de
apresentar os direitos como algo mais profundo que a simples norma jurídica e que é
resultado de um longo processo histórico, com a participação de pessoas. Ser cidadão e
ser justo vai além do mundo jurídico. O que a pesquisa revela é que há uma necessidade
de contextualizar o surgimento dos direitos e garantias fundamentais, da Constituição e
dos direitos humanos a fim de que sejam compreendidos como produtos de um
desenvolvimento histórico e que não estão acabados.
Nosso produto educacional pode ser aplicado pelo docente como material
auxiliar em temas que demandam transversalidade e insterdisplinaridade, como origem
da sociedade, democracia, guerras mundiais, por exemplo. Porém, tomamos o cuidade
pra que o material produzido também pudesse ser manuseado pelo educando de forma
solitária, como que para satisfazer uma curiosidade sua ao se deparar com o título.
Buscamos dialogar com as Representações Sociais encontradas, que demonstraram
haver uma carência de melhor explanação de temas referentes ao Estado, suas funções,
a democracia e os direitos.
Novas práticas educacionais podem contribuir para uma melhor aprendizagem
em direitos. Uma melhor aprendizagem em direitos pode contribuir para uma
82
transformação social mais consciente. É nisso que nos pautamos para desenvolver nossa
pesquisa e o material educativo resultante. Esperamos que nos próximos anos as
pesquisas tratando da educação em direito enquanto objeto possam aflorar, uma vez que
encontramos poucos trabalhos desenvolvidos nesse sentido.
O caminhos para desenvolver essa pesquisa foi árduo. A fase aguda da pandêmia
foi o ponto mais crítico. Entretanto, também foi de grande aprendizado. A adaptação a
uma nova realidade, uma realidade virtual e a descoberta de novas ferramentas de
pesquisa e comunicação puderam também deixar um legado: uma crescimento pessoal.
Entender que os sujeitos participantes não são tábuas lisas, folhas em branco, mas que
têm vivência, experiências pessoais e que essas experiências puderam ser captadas pelas
Representações Sociais que encontramos foi de grande importância para que obra de
Paulo Freire fizesse sentido. Ainda mais em tempos como esses, cuja democracia e a
educação têm sido alvo dos mais severos ataques por parte da extrema-direita. Não
foram raros os ataques à figura de Paulo Freire. Entretanto, após viver essa experiência
e poder entender melhor suas palavras, entender a educação como potencial
emancipador do ser humano se torna algo mais real e menos ideal.
83
ANEXO A – Informações aos Participantes
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
2 – Convite:
84
Se você der sua autorização para participar da pesquisa, VOCÊ IRÁ PREENCHER
ALGUNS BREVES QUESTIONÁRIOS que têm por objetivo captar as Representações
Sociais que os indivíduos possuem sobre os próprios direitos, a funções e papéis do
Estado.
10 – Remunerações financeiras:
Nenhum incentivo ou recompensa financeira está previsto por sua participação nesta
pesquisa.
85
Quaisquer informações podem ser prestadas pelos telefones (27) 3149-0476 ou (27)
99526-1293 ou ainda, pelos e-mails: diemersons@ifes.edu.br ou
altierry.barbiero@hotmail.com
86
ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido / Termo de
Assentimento
( ) Sim
( )Não
87
ANEXO C – Dados do Participante
Dados do Participante
Idade: _________
Gênero: ________
Escola: _____________________________________________________________
Professor ou aluno:
( ) Professor
( ) Aluno
( ) Ensino fundamental
( ) Ensino Médio
Série: __________
88
ANEXO D – Questionário
1 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm a sua mente quando você ouve a
palavra “direitos”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente quando você ouve a
palavra “Constituição”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente quando você ouve o
termo “direitos constitucionais”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 - Você sabe o que são direitos constitucionais? Disserte sobre os elementos que
acredita constituírem o conceito de direito constitucionais.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 - Você sabe qual a função de uma Constituição? Disserte sobre o que você
acredita serem essas funções.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
89
6 - Você seria capaz de dizer alguns direitos presentes na Constituição? Se sim,
quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8 - E sobre deveres? Você acredita que devam existir deveres para o livre exercício
da cidadania? Se sim, quais os mais importantes.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10 - Quais as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente quando você ouve o termo
“direitos fundamentais”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
90
12 - Você seria capaz de dizer alguns direitos fundamentais? Se sim, quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
13 - Quais as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente quando você ouve a
expressão “direitos humanos”?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
15 - Para você, os direitos humanos afetam sua vida? Se sim, de que modo?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
91
___________________________________________________________________
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19 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir a palavra
“Estado”?
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20 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir a sigla
“STF”?
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21 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir “Congresso
Nacional”?
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22 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir “Direitos
políticos”?
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39 - Para você, lei e direito têm alguma relação? Explique sua resposta.
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40 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir “judiciário”?
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41 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir “abuso de
poder”?
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42 - Quais são as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente ao ouvir “habeas
corpus”?
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44 - Quais as 5 primeiras palavras que vêm à sua mente quando você ouve a
palavra "Justiça"?
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47 - Na sua opinião, justiça e direito têm alguma relação? Explique sua resposta.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRITO, Ari Ricardo Tanki. O Liberalismo Clássico. In: FRATESCHI, Yara; MELO,
Rúrion; RAMOS, Flamarion Caldeira (Orgs.). Manual de Filosofia Política: para
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São Paulo: Saraiva, 2012.
CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e Brasil. 5º ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2007.
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CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
COUTO, Leandra Lúcia Morais. Aprendendo Direito: reflexões para um ensino que
garanta o conhecimento jurídico para a cidadania. Dissertação (Mestrado) –
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Estado do Espírito
Santo. Vitória, 2013.
CUNHA, José Ricardo. Direito e Marxismo: é possível uma emancipação pelo direito?.
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JAEGER, Werner. Paideia: A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes,
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NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 36º ed. Rio de Janeiro: Forense,
2014.
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SÁ, Celso Pereira. Núcleo Central das Representações Sociais. 2º ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 2002.
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