Você está na página 1de 10

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE

DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Autos de nº: XXXXXXXXXXXXXX

O advogado NOME DO ADVOGADO, inscrita na Ordem dos


Advogados do Brasil sob o nº XXX.XXX, com endereço profissional na Avenida
XXXXXXX, nº XXXX, Sala XXXX, Bairro XXXXXXXXX, CIDADE E ESTADO,
CEP nºXXXXXXXXX, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência
impetrar:

HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR

com base no artigo 5º, inciso LXVIII, da CF/88,combinado com o artigo 647 do
Código de Processo Penal, contra ato do JUIZ PLANTONISTA DA CENTRAL
DE RECEPÇÕES DE FLAGRANTES (CEFLAG) DE BELO HORIZONTE/MG
em favor de CICLANA DE TAL, brasileira, portadora do nº de CPF
XXXXXXXXX, filha de NOME DO PAI e NOME DA MÃE, domiciliada na Rua
XXXXXXX, nº XXXX, Apto XXX, Bairro XXXXXX, CIDADE E ESTADO – Cep:
XXXXXXXX, pelos fatos e fundamentos juridicos a seguir expostos:

I – DA SÍNTESE DOS FATOS OBJETO DO PRESENTE WRIT

No dia 17 de Julho de 2020, a Paciente fora presa em flagrante


por suposta prática dos crimes previstos nos arts. 33, caput, da Lei 11.343/06
c/c art. 14, inciso I, do Código Penal Brasileiro. (DOC 8 – CÓPIA INTEGRAL
DO APFD)
Após a distribuição do APFD, essa D. Defesa apresentou o
pedido de Liberdade Provisória, bem como juntou documentos que
demonstram claramente as condições pessoais da Paciente de responder o
processo em liberdade.

Contudo, o Douto Juízo a quo homologou o respectivo auto de


prisão em flagrante e converteu a prisão em flagrante da Paciente em prisão
preventiva, sob tais fundamentos: (DOC 8 – ATO COATOR).

“(...) As substâncias entorpecentes apreendidas totalizaram 1.355,0g de crack,


188,0g de maconha e 137,0g de cocaína, quantidade, diversidade e natureza de
droga que revela a gravidade concreta do delito e aponta para o periculum libertatis.

(...)

A gravidade concreta dos fatos corrobora a necessidade da conversão da prisão em


flagrante em preventiva, para a garantia da ordem pública e da instrução criminal”.

Em que pese o notável respeito a decisão do Juízo a quo, a


fundamentação utilizada pela Autoridade Coatora para fins de conversão da
prisão em flagrante em preventiva encontra-se totalmente irregular, uma vez
que foram utilizados argumentos genéricos e superficiais, não havendo análise
afunda dos quesitos objetivos e subjetivos da Paciente.

Logo, dar fim ao constrangimento ilegal ocasionado pela


decisão que negou o pedido de liberdade provisória, é o objeto do presente
writ.

II – DA AFRONTA AO ART. 310 E ART. 282 DO CÓDIGO DE PROCESSO


PENAL

Nobre Julgador, estamos tratando de uma situação


excepcional envolvendo uma autuada, pessoa jovem, primára, de bons
antecedentes, possuidora de trabalho lícito, residência fixa, estudante de
ensino superior e que segundo consta nos autos do APFD, lhe foi
atribuída a prática do crime de tráfico de drogas, por ter supostamente,
sido apreendida ínfima quantidade de droga, mais precisamente, 02
(duas) porções de maconha e 01 (uma) porção de cocaína.

Pois bem!

Como é sabido, após receber o auto de prisão em flagrante, no


prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o
juiz deverá, fundamentadamente, relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão
em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.
312 do CPP, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas
cautelares diversas da prisão, ou, conceder a liberdade provisória, com ou sem
fiança, conforme art. 310 do Código de Processo Penal.

Ocorre que, o Juízo a quo quando da análise das


circunstâncias da prisão em flagrante sequer se atentou quanto a
possibilidade de se aplicar medidas cautelares diversas a prisão à
Paciente. Tanto é verdade que em sua decisão, não houve manifestação
ainda que implícita quanto o não cabimento de alguma medida, seja para
preservar a garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal
ou para assegurar a aplicação da lei penal.

Verifica-se que o que de fato ocorreu foi uma análise genérica e


superficial dos fatos, não havendo por parte da Autoridade Coatora a destreza
de se acurar a fundo todas as possibilidades e necessidades que o caso
necessita, o que é lamentavél.

Assim, não há nos autos indícios de que a Paciente em liberdade


colocaria em risco a eventual instrução criminal, a ordem pública e, tampouco à
ordem econômica, uma vez que conforme já mencionado, estamos tratando de
uma autuada jovem, honesta, trabalhadora, estudiosa e que JAMAIS teve
envolvimento em situações similares.

Excelência, tratar a paciente como mera estatistica


corriqueira é ignorar os princípios constitucionais, em especial, a
individualidade da conduta praticada, que é extremamente importante
para este caso, uma vez que estamos tratando de autuada primária presa
por estar na posse de pequena quantidade de droga.
Em verdade, o que há nos autos é que concretamente a Paciente
não representa nenhum risco ao andamento processual. Isso se demonstra
facilmente, pois, a Paciente:

a) Reside em CIDADE (DOC 2 - COMPROVANTE RESIDÊNCIA)


b)Trabalho lícito (DOC 3 – CERTIFICADO MEI) (DOC 4 – OPTANTE
SIMPLES NACIONAL)
c) Estudante de ensino superior (DOC 5 – BOLETO DE FACULDADE)
(DOC 6 – CERTIDÃO DA OAB)
d) Mora com o genitor
e) Primária e de bons antecedentes

Dessa forma, verifica-se que a Paciente é uma pessoa de boa


conduta social, sendo primária, trabalhadora e estudante (conforme registro
anexos), o que leva a concluir que não é uma pessoa corriqueira no que tange
atividades criminosas.

Acrescente-se a isso ser PEQUENA a quantidade de drogas


apreendidas, supostamente, na bolsa da Paciente, mostrando-se
desarrazoada a manutenção da prisão.

Da mesma forma, não há indícios de que a Paciente em liberdade


ponha risco a instrução criminal, a ordem pública e, tampouco, traga risco à
ordem econômica.

Portanto, não há risco à aplicação da lei penal e, destarte, não há


fundamento que sustente a manutenção do cárcere, uma vez que não há nos
autos sequer indícios de qualquer das circunstâncias que autorizam a
decretação da prisão preventiva, quais sejam: garantia da ordem pública,
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
tendo em vista que a quantidade de droga apreendida com a Paciente é
PEQUENA e que não consta aos autos que a mesma ameaçou as
testemunhas.

Outrossim, cumpre chamar atenção ao fato que a reforma


promovida pela Lei nº 12.403/2011 no Código de Processo Penal, inseriu no
seu regramento uma série de medidas cautelares diversas da prisão, a serem
aplicadas observando-se a sua necessidade para aplicação da lei penal, para a
investigação ou para a instrução criminal e, nos casos expressamente
previstos, para evitar a prática de infrações penais, bem como a adequação da
medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
indiciado ou acusado (artigo 282, do CPP).

Logo, considerando o disposto no art. 282, do CPP, não há


necessidade da prisão cautelar da Paciente. Ao contrário, a situação pessoal
da mesma afasta a manutenção da segregação cautelar.

Sobretudo quando considerada a previsão do art. 319 do CPP,


que prevê medidas cautelares alternativas que concretamente fulminam, no
caso concreto, qualquer risco à garantia da ordem pública e conveniência da
instrução criminal, considere-se por exemplo as previstas no art. 319, I, IV e V
do CPP.

Veja-se que a prisão no caso em questão está sendo utilizada


como um vazio discurso contra a impunidade do Paciente, como uma
modalidade de punição antecipada. O que é inaceitavél e não deve
prosperar, haja vista que a prisão preventiva deve ser decretada apenas
quando as medidas cautelares diversas da prisão não são adequadas ou
suficientes.

Sendo assim, não deve permanecer a segregação cautelar da


Paciente em questão, haja vista que as medidas cautelares diversas da prisão,
são suficientes e totalmente adequadas ao caso em questão.

III – DA PANDEMIA MUNDIAL E DO PÁTRIO ENTENDIMENTO DOS


TRIBUNAIS SUPERIORES
Ultrapassado estes pontos, entende-se necessário mencionar
sobre a situação excepcional e preocupante do nosso país com a chegada do
novo CORONAVÍRUS (COVID-19).

Excelência, sabemos que foram criadas diversas medidas


paliativas com o intuito de amenizar a catástrofe na saúde pública do Brasil, a
qual passa-se a apontar a que vem insurgir no âmbito carcerário. Vejamos:

No dia 17 de Março de 2020, fora publicada a Recomendação nº


62 do Conselho Nacional de Justiça que recomenda aos magistrados com
competência para a fase de conhecimento criminal que, com vistas à redução
dos riscos epidemiológicos e em observância ao contexto local de
disseminação do vírus, considerem as seguintes medidas:

III - a máxima excepcionalidade de novas ordens de prisão


preventiva, observado o protocolo das autoridades sanitárias;
(Grifei)

Ocorre que, ao decretar a prisão preventiva da Paciente em


questão, o Douto Juízo a quo não se atentou ao disposto na Resolução nº 62
do Conselho Nacional de Justiça.

Segundo as condições legislativas e sanitárias, assim podemos


dizer, a Paciente poderia estar aguardando o tramitê processual em liberdade
com aplicação de alguma das medidas cautelares que possui caráter punitivo
suficiente para o caso em questão.

REPITA-SE: Estamos tratando de uma Paciente, pessoa


primária, de boa conduta social e que jamais se envolveu em qualquer
outra situação similar.

Vale mencionar que apesar da prisão preventiva não estar ligada


diretamente com a presunção de culbalidade, segundo entendimento pátrio do
STJ, a prisão não pode ser usada como forma de antecipação de pena e
sequer poderá ser fixada como caráter abstrado do crime/ato praticado.
Além disso, a decisão deve se basear em motivos e fundamentos
concretos, nos quais demonstram que há perigo quanto a liberdade plena do
autuado, o que não é o caso dos autos.

Ante a crise mundial do novo Coronavírus e, especialmente, a


magnitude do panorama nacional, intervenções e atitudes mais ousadas são
demandadas das autoridades, inclusive do Poder Judiciário. A segregação ante
tempus é o último recurso a ser utilizado, de forma a preservar a saúde de
todos - conforme prescreve a recente Recomendação n. 62/2020 do CNJ.

Ora Nobre Julgador, a pequena quantidade de drogas


apreendidas em posse da Paciente não se mostra bastante, em juízo de
proporcionalidade, para manter a ré sob o rigor da cautela pessoal mais
extremada, sobretudo diante da ausência do emprego de violência ou
grave ameaça na prática das infrações narradas no ADPF e da
primariedade da Paciente.

À luz do princípio da proporcionalidade, do necessário


enfrentamento da emergência atual de saúde pública, das novas alternativas
fornecidas pela Lei n. 12.403/2011 e das alterações ao Código de Processo
Penal determinadas pela intitulada "Lei Anticrime" (Lei n. 13.964/2019), há
razoabilidade na opção, pela autoridade judiciária, por uma ou mais das
providências indicadas no art. 319 do CPP como meio bastante e cabível para
obter o mesmo resultado - a proteção do bem jurídico sob ameaça - de forma
menos gravosa.

Portanto, verifica-se que a segregação imposta pelo Juízo a quo,


torna-se totalmente inaquedada quando se analisa todos os elementos
pertinentes do caso em questão, tratando-se, pois, de uma de coação ilegal.

Ante o exposto, REQUER seja, com a devida urgência,


CONCEDIDA A ORDEM DE HABEAS CORPUS para substituir a prisão
preventiva da Paciente pelas providências cautelares previstas no art. 319, do
CPP, sem prejuízo do restabelecimento da constrição provisória, se houver
violação das medidas cautelares ou sobrevier situação que configure a
exigência da cautelar mais gravosa.
Eventualmente, como forma subsidiária, requer que seja
CONCEDIDA A PRISÃO DOMICILIAR em face da Paciente, pelos fatos e
fundamentos apresentados e como forma de solidariedade judicial em face da
pandemia que vivemos, evitando assim, situação catastrófica obituária em
nosso sistema prisional que já é degradante e desumano.

IV – DO PEDIDO DE LIMINAR

Não há necessidade da prisão cautelar da Paciente, conforme


art. 282, do CPP. Ao contrário, a situação pessoal a afasta, pois, como
demonstrado, a Paciente é primária, de bons antecedentes, com residência fixa
em CIDADE E ESTADO, tem trabalho lícito, mora com o genitor e é estudante
do 10º período do ensino superior.

De outro lado, resta evidente que o ato coator ocasiona flagrante


constrangimento ilegal, mantendo a decisão que se pauta em premissas que
são rejeitadas pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal,
especialmente por I) motivação genérica e II) não avaliou idoneamente a
possibilidade concreta de substituição da prisão por cautelares
alternativas.

Sobretudo quando considerada a previsão do art. 319 do CPP,


que prevê medidas cautelares alternativas que concretamente fulminam, no
caso concreto, qualquer risco à garantia da ordem pública e conveniência da
instrução criminal, considere-se por exemplo as previstas no art. 319, I, IV e V
do CPP.

SUPOSTO RISCO CAUTELAR INDICADA MOTIVO

1) Reiteração delitiva I – Comparecimento mensal em Juízo; 1)Possibilitar que o Judiciário controle e


fiscalize, efetivamente, a locomoção,
2)Ameaça de testemunhas e destruição II – Proibição de contato com
24 horas por dia, da Paciente;
de provas testemunhas e investigadores;
2)Possibilitando que o Judiciário possa
III – Proibição de ausentar-se da
evitar qualquer contato da Paciente
Comarca de Belo Horizonte/MG sem
autorização judicial; com as testemunhas do processo.

IV – Recolhimento domiciliar no período


noturno.

Importante lembrar que o descumprimento de qualquer das


condições alternativas impostas redundará imediatamente no retorno ao
cárcere, maior castigo possível de ser sofrido pela Paciente, nos termos do art.
282, §4º, do CPP o que mais uma vez evidencia que inexiste risco do
descumprimento ocorrer que tais medidas serão adequadas e eficientes para
resguardar o livre tramitar do processo originário.

Noutro giro, o periculum in mora decorre do fato que a Paciente


encontra-se presa preventivamente em virtude de decisão manifestamente
ilegal, vez que a Paciente é primária, de bons antecedentes, está no 10º
período do ensino superior, tem residência fixa, é microempreendedora
individual, mora com o genitor, bem como que há possibilidade concreta da
substituição da prisão preventiva por medidas cautelares alternativas aptas a
resguardar o andamento processual.

Além do mais, a pequena quantidade de drogas apreendidas


em posse da Paciente não se mostra bastante, em juízo de
proporcionalidade, para manter a Paciente sob o rigor da cautela pessoal
mais extremada, sobretudo diante da ausência do emprego de violência
ou grave ameaça na prática das infrações narradas no ADPF e da
primariedade da Paciente.

Desse modo, REQUER seja, com a devida urgência,


CONCEDIDA A ORDEM DE HABEAS CORPUS para substituir a prisão
preventiva da Paciente pelas providências cautelares previstas no art. 319, do
CPP, sem prejuízo do restabelecimento da constrição provisória, se houver
violação das medidas cautelares ou sobrevier situação que configure a
exigência da cautelar mais gravosa.
V – DOS PEDIDOS

Por todas estas razões elecandas, REQUER:

a) Seja concedida a medida liminar, ante a existência de


fumus boni iuris e periculum in mora, bem como da
pandemia (COVID-19), determinando a substituição da
prisão preventiva da Paciente pelas medidas cautelares
previstas no art. 319, do CPP, sem prejuízo do
restabelecimento da constrição provisória, se houver
violação das medidas cautelares ou sobrevier situação
que configure a exigência da cautelar mais gravosa;

b) Seja concedida a Ordem de Habeas Corpus, ratificando-se


a liminar para reconhecer o direito da paciente de
responder as investigações e/ou eventual ação penal EM
LIBERDADE, com fulcro na situação fatica e de direito
acima listada, no entendimento dos Tribunais Superiores
e Recomendação nº 62 do CNJ, tendo em vista a pandemia
mundial (COVID-19) e as condições pessoais da Paciente;

c) Subsidiariamente, não sendo aceito o pedido acima,


requer seja concedida a PRISÃO DOMILICIAR, com fulcro
no entendimento dos Tribunais Superiores e
Recomendação nº 62 do CNJ, tendo em vista a pandemia
mundial (COVID-19).

Termos em que, Pede e espera deferimento

COMARCA, DIA, MÊS E ANO.

NOME DA ADVOGADA

NÚMERO DA OAB

Você também pode gostar