Você está na página 1de 4

Ao Juízo da ___ Vara da Comarca de X

R EQUERIMENTOS PRELIMINARES Tutela de urgência

NOME COMPLETO DO ADVOGADO, nacionalidade, Advogado inscrito na OAB/UF sob o nº xxx,


com endereço profissional no xxxxxxx, CEP xxxxxxx, na cidade de xxxx/xx, vem
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, inciso LXVIII, da
Constituiçã o Federal, e nos artigos 647 e 648, inciso I, do Có digo de Processo Penal, impetrar:

HABEAS CORPUS C/C PEDIDO LIMINAR

Em favor de MARIA, nacionalidade, profissã o, portadora do RG nº xxxx, e do CPF/MF xxxxxx, nascida


em xxx, natural de xxxxx, residente e domiciliada xxxxxxx, CEP xxxxxxx, na cidade de xxxx/xx, contra
ato ilegal praticado pelo MM. Juiz da xx Vara Cível da Comarca de xx, pelos fatos e fundamentos a
seguir transcritos.

 DOS FATOS
A paciente, MARIA, encontra-se atualmente presa em razã o de suposta depositá ria infiel,
conforme decisã o proferida por esse r. Juízo nos autos da açã o de busca e apreensã o, ora
convertida em açã o de depó sito pelo agente financeiro.
Ocorre que, à época da decretaçã o de sua prisã o, a paciente já havia alienado o veículo objeto
do contrato de arrendamento mercantil (leasing) a PEDRO.
Em decorrência dessa alienaçã o, a responsabilidade sobre as prestaçõ es em atraso e demais
obrigaçõ es contratuais passaram a ser de Pedro. No entanto, este ú ltimo deixou de cumprir
suas obrigações, o que, por sua vez, resultou na suspensão dos pagamentos e, por fim, na
tentativa de busca e apreensão do veículo por parte do agente financeiro.
Diante da impossibilidade de efetivar a busca e apreensã o do veículo, a açã o foi convertida em
açã o de depó sito, e Maria foi erroneamente considerada depositá ria infiel, levando à sua prisã o.
Além disso, a paciente sofreu prejuízos consideráveis em razã o da medida ilegal e arbitrá ria,
tendo perdido seu emprego em decorrência da prisã o.
Desta forma, trata-se de nítida violência e coaçã o em sua liberdade, por ilegalidade e abuso de
poder praticado pelo MM. Juiz, motivando o presente pedido.

 DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS


Conforme preceitua o rt. 5º, inciso LXVIII, da Constituiçã o Federal:

“Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar


ameaçado de sofrer violência ou coaçã o em sua liberdade de locomoçã o,
por ilegalidade ou abuso de poder.”
Nesse mesmo sentido ,o Art. 647 do Có digo de Processo Penal estabelece a cabimento do habeas
corpus sempre que houver lesã o ou ameaça à liberdade de locomoçã o, como ocorre na presente
situaçã o em que MARIA foi indevidamente considerada depositá ria infiel, resultando em sua
prisã o sem a posse do veículo objeto do contrato de arrendamento mercantil.

Cumpre ressaltar ainda o Pacto de Sã o José da Costa Rica, incorporado ao nosso ordenamento
jurídico, que em seu art. 7º, preconiza que toda pessoa possui o direito à liberdade, vedando o
encarceramento arbitrá rio.

Deste modo, para a restriçã o da liberdade de qualquer indivíduo, é imperativo observar os


princípios e garantias consagrados na Constituiçã o, os quais foram flagrantemente violados no
presente caso.

 DA NULIDADE DA DECISÃO

É importante ressaltar que a decisão que determinou a prisão de Maria é nula, pois viola
princípios constitucionais fundamentais. A detençã o foi fundamentada na suposiçã o de que
MARIA era depositá ria infiel do veículo, o que nã o encontra respaldo legal e contraria
entendimento consolidado do Supremo Tribunal Federal. .

Convém mencionar o entendimento do STF, segundo o qual:

Súmula 37.”É ilícita a prisã o civil de depositá rio infiel, qualquer que seja
a modalidade de depó sito.”

O entendimento nos tribunais é pacifico, como corroborado por recente decisã o proferida pela
Segunda Turma do STF, a qual destacou que a prisã o civil nã o pode ser utilizada como medida de
coerçã o para compelir o devedor inadimplente, em respeito aos princípios da legalidade e da
proporcionalidade:

Habeas corpus. 2. Só cio de sociedade empresá ria que nã o cumpre a


determinaçã o judicial de repassar ao Juízo porcentagem do faturamento
bruto, realizada em processo de execuçã o. Denú ncia por apropriaçã o
indébita. Inocorrência. 3. O só cio-administrador, nomeado depositá rio
judicial, que deixa de depositar, em Juízo, parte do faturamento da
sociedade empresá ria, nã o comete o crime de apropriaçã o indébita,
porquanto falta a elementar do tipo “alheia”. Princípio da legalidade.
Atipicidade da conduta. 4. Caso equiparado à prisão do depositário
infiel. Violação à Súmula Vinculante 25. O ordenamento jurídico
prevê outros meios processual-executórios postos à disposição do
credor-fiduciário para a garantia do crédito, de forma que a prisão
civil, como medida extrema de coerção do devedor inadimplente,
não passa no exame da proporcionalidade como proibição de
excesso, em sua tríplice configuração: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito. 5. Ordem concedida para
restabelecer a decisã o do Juízo de primeiro grau, de modo a rejeitar a
denú ncia por atipicidade da conduta. (STF, HC 203217, Relator(a):
GILMAR MENDES, Segunda Turma, Julgado em: 25/10/2021, PROCESSO
ELETRÔ NICO DJe-216 DIVULG 03-11-2021 PUBLIC 04-11-2021) (grifos
nossos)

É fundamental compreender que a prisã o civil é cabível apenas em relaçã o ao verdadeiro


depositá rio infiel, nã o sendo admissíveis equiparaçõ es que visam solucionar obrigaçõ es civis
através da privaçã o da liberdade.

As normas infraconstitucionais devem ser interpretadas de acordo com a Constituiçã o. Permitir


a prisã o do alienante fiduciá rio, equiparado ao depositá rio infiel, constitui uma interpretaçã o
distorcida da Carta Magna, contrá ria ao princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado
no art. 1º, III da Constituiçã o.

Além disso, a prisã o foi determinada sem que Maria tivesse a oportunidade de exercer seu
direito à ampla defesa e ao contraditó rio, garantidos pelo art. 5º, LV, da Constituiçã o Federal.
Assim, a decisã o que ordenou a prisã o de Maria é manifestamente nula, por violar tais preceitos
constitucionais.

Portanto, é inquestioná vel a necessidade de anulaçã o da referida decisã o e a imediata restituiçã o


da liberdade de Maria, em consonâ ncia com os princípios e garantias constitucionais.

 DA MEDIDA LIMINAR QUE SE REQUER


Presente, assim, ao lado da plausibilidade do direito invocado, o perigo na demora ensejadora da
nã o concessã o da medida liminar inaudita altera pars, requer seja o presente Habeas Corpus
recebido para, liminarmente, determinar a revogaçã o da ordem de prisã o expendindo-se o
competente alvará de liberdade em favor da paciente. Tal medida visa possibilitar que a mesma
retorne ao convívio social e ao trabalho, assegurando seus direitos fundamentais.

Ademais, a manutençã o da paciente sob custó dia ilegal resulta em danos irrepará veis, incluindo
a perda de seu emprego, o que agrava ainda mais sua situaçã o de vulnerabilidade econô mica e
social. Portanto, estã o presentes os requisitos do fumus boni iuris, considerando a ilegalidade da
prisã o, e do periculum in mora, dada a urgência em garantir a liberdade e a reintegraçã o da
paciente à sociedade.

Dessa forma, a concessã o da medida liminar é imprescindível para garantir a efetividade do


direito de liberdade da paciente e para evitar prejuízos irrepará veis decorrentes de uma prisã o
injusta e ilegal.

 DOS PEDIDOS

Isto posto, é a presente para requerer a Vossa Excelência:


A. Seja determinada a notificaçã o da autoridade coatora;
B. Seja concedida a tutela de urgência, determinando a expediçã o do alvará de soltura, e
que posteriormente seja confirmada a concessã o do presente remédio.
C. A nulidade de pleno direito da decisã o do juiz a quo nos termos do art. 93, inciso IX da
Constituiçã o Federal.
D. Seja intimado o representante do Ministério Pú blico a se manifestar sobre a presente
impetraçã o.

Advogado
OAB/UF

Você também pode gostar