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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO

DIREITO PROCESSUAL PENAL I


2022/2023 – 1.º semestre
Época de Recurso

GRELHA DE CORREÇÃO

I.

Elementos a considerar
Contextualização do estatuto de sujeito do arguido num processo de estrutura acusatória, por
contraposição à sua posição de “objeto” nos modelos inquisitórios.
A atribuição do estatuto de arguido como garantia (art. 60.º). A distinção entre a figura do
arguido e a do suspeito (art. 1.º, al. e)): o suspeito como objeto de medidas de investigação,
o arguido como titular de direitos e deveres processuais (art. 61.º)
Os momentos-critério da constituição como arguido (arts. 57.º, 58.º e 59.º). Construção de
uma tipologia de situações-fundamento: a dedução de acusação ou o requerimento para
abertura de instrução (art. 57.º); a comunicação de uma suspeita com um mínimo de
densidade (art. 58.º, n.º 1, als. a) e d), e 59.º, n.º 1); a prática de atos limitadores da liberdade
e que reclamem imediata defesa (art. 58.º, n.º 1, als. b) e c)).
Em especial, a constituição como arguido a pedido do próprio suspeito (art. 59.º, n.º 2).
Os formalismos da constituição como arguido: sua obrigatoriedade mesmo nos casos de
constituição ope legis (art. 57.º). Consequências da omissão das formalidades ou do
retardamento da constituição como arguido (art. 58.º, n.º 6).

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II.

a)

Elementos a considerar
Problema da sucessão temporal de leis processuais penais
Princípio da aplicação imediata (tempus regit actum): art. 5.º, n.º 1. Desvios: art. 5.º, n.º 2.
Normas processuais materiais e normas processuais formais: conceptualização.
Enquadramento da disciplina dos impedimentos no conceito de normas processuais
materiais: está em causa a garantia da imparcialidade do julgamento.
Referência à discussão doutrinal a este propósito: a posição de Taipa de Carvalho; a “teoria
das expectativas” de Mario Chiavario. A solução legal: o início do processo como momento-
critério e a ultratividade da LA (art. 5.º, n.º 1, al. a)).
No caso, poderá dizer-se que a LN “agrava” a posição processual do arguido, ainda que seja
discutível se o faz de forma “sensível”, sobretudo tendo em conta que a previsão de
impedimentos injustificados viola, por seu turno, o princípio do juiz natural ou legal.
Ponderar a aplicação da lei em vigor no momento do início do processo e da autorização da
busca domiciliária (ainda que pudesse afastar-se essa solução, fundamentando devidamente
a resposta)

b)

Elementos a considerar
A publicidade do processo como regra, sob pena de nulidade (art. 86.º, n.º 1). A tutela
constitucional da publicidade da audiência (art. 206.º da CRP) e do segredo de justiça (art.
20.º, n.º 3, da CRP). O segredo interno e o segredo externo: conceptualização e fundamentos.
A possibilidade de sujeitar o inquérito a segredo de justiça: competência para a decisão (art.
86.º, n.ºs 2 e 3). As proibições decorrentes do segredo de justiça (art. 86.º, n.º 8): em especial,
a limitação de consulta dos autos pelos próprios sujeitos processuais (art. 89.º). O regime
excecional do interrogatório de arguido e da aplicação de medidas de coação (arts. 141.º, n.º
4, e 194.º, n.ºs 4, 6 e 8).
O levantamento excecional do segredo interno (com manutenção do segredo externo) findos
os prazos normais de duração do inquérito (art. 89.º, n.º 6): explicação da solução.
Possibilidade excecional de adiamento do acesso aos autos que se encontrem em segredo de
justiça.
No caso, o inquérito não corria sob segredo de justiça, sendo muito discutível que a sujeição
a segredo possa ser determinada depois de esgotados os prazos normais do inquérito. Não
poderia, assim, adiar-se o acesso aos autos com esse fundamento. O defensor poderia reagir,
fazendo o requerimento presente ao juiz, que decidiria por despacho irrecorrível (art. 89.º,
n.º 2)

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III.

a)

Elementos a considerar
O princípio da livre apreciação da prova (art. 127.º): sentido e limites. Os limites normativos
à livre apreciação da prova: regras probatórias legais negativas e positivas.
A prova pericial como limite positivo à livre apreciação da prova. Explicitação do sentido e
alcance do artigo 163.º: a liberdade do juiz no plano jurídico; a vinculação do juiz ao juízo
estritamente técnico, científico ou artístico; a possibilidade de afastar esse juízo por apelo a
conhecimentos da mesma espécie ou em caso de vício metodológico na condução da perícia.
No caso, o juízo técnico inerente à perícia financeira circunscrevia-se à identificação e
explicação dos circuitos financeiros detetados, sendo o mais matéria conclusiva ou de direito.

b)

Elementos a considerar
O princípio da acusação e o problema do objeto do processo. Conceito unitário e diferenciado
de objeto. Princípios definidores do objeto: identidade, unidade ou indivisibilidade,
consunção. Em especial, a identidade subjetiva e objetiva do objeto do processo.
O arguido refere, em audiência, factos novos que perturbam a identidade subjetiva do objeto.
Não se trata propriamente de uma alteração substancial dos factos, no sentido pressuposto
pelo artigo 1.º, al. f), mas da imputação do crime acusado a outra pessoa em comparticipação.
Não poderia conhecer-se da responsabilidade de B naquele processo, sob pena de violação
grosseira do princípio da acusação (determinante do vício de inexistência jurídica da eventual
condenação subsequente).
Por analogia com o artigo 359.º, n.º 2, ou diretamente, por força do artigo 262.º, n.º 2, a
notícia do envolvimento de B no esquema corruptivo determinaria a abertura de novo
inquérito pelo MP. A apensação desse novo processo ao que já corria contra A seria inviável
por existir obstáculo à conexão superveniente (art. 24.º, n.º 2).

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