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39.

º Curso de Formação para os Tribunais Judiciais

PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL

(artigo 16.º, n.º 3, da Lei n.º 2/2008, de 14/1)

Via profissional

1.ª Chamada – 21 de maio de 2022

Grelha de Correção

Nota:

O conteúdo da grelha disponibilizada reflete as abordagens jurídicas que, do ponto de vista da forma e da
substância, se reputam as mais corretas em função das peças facultadas e dos dados do processo e que devem, na
prova do candidato, mostrar-se devidamente enquadradas e fundamentadas.
Sem embargo, outros tipos de abordagem, de forma ou de substância, que sejam razoáveis e plausíveis face
aos dados facultados e que se revelem suportados em fundamentos consistentes, serão igualmente valorizados, na
medida do respetivo mérito.

COTAÇÃO TOTAL DA PROVA 20 valores

1. Estrutura, organização e coerência da peça processual


4 valores
(partes I e II)
2. Fundamentação da(s) proposta(s) formulada(s) 16 valores
COTAÇÃO TOTAL DA PROVA (20 VALORES)

1.ESTRUTURA,
ORGANIZAÇÃO E COTAÇÃO PARCELAR (até 2 valores)
COERÊNCIA DA PEÇA
PROCESSUAL – parte I

Enunciação sumária dos pedidos formulados na ação e dos factos que


constituem a causa de pedir.

Enquadramento jurídico dos pedidos formulados na ação no âmbito do


regime do maior acompanhado e dos pressupostos de aplicação de uma
medida de acompanhamento, considerando, nomeadamente:
a) o enquadramento constitucional do instituto jurídico (art.ºs 1º, 18º,
nº 2 e 26º, n.º 1 da Constituição da República Portuguesa).
b) o âmbito de aplicação do instituto e o seu objetivo (art.ºs 138º e
140º, nº 1 do Código Civil).
c) os princípios que norteiam o decretamento de uma medida de
acompanhamento (art.ºs, 140º, nº 2, 141º, 143º, nº 1 e 145º, nº 1
do Código Civil e art.º 898º do Código de Processo Civil).

2.FUNDAMENTAÇÃO
DA(S) PROPOSTA(S) COTAÇÃO PARCELAR (até 16 valores)
FORMULADA(S)

Aplicação, ao caso concreto, das considerações gerais acima enunciadas:


a) Concluir pela demonstração, na matéria de facto fornecida, de que
a Requerida padece de uma doença, com manifestações atuais,
suscetíveis de, em tese, limitar o seu bem-estar e a sua aptidão para,
de forma plena, pessoal e consciente, exercer os seus direitos e
cumprir os seus deveres (nºs 5 a 8, 29 a 33, 38 da factualidade
provada e art.º 138.º do Código Civil).
b) Equacionar a necessidade do acompanhamento na situação
concreta, ponderando os dois planos sobre os quais incidem as
medidas peticionadas (art.º 145º, nº 1 do Código Civil):
b.1) o plano patrimonial – confronto desse pressuposto com os
factos fornecidos na prova, nos seguintes termos:

a) Negando a aplicação de medidas de representação geral ou


especial, bem como de administração total de bens (art.º
145º, nº 2, alíneas b) e c)).
b) Problematizando a estrita necessidade de uma medida de
acompanhamento com incidência patrimonial e
ponderando, no limite:
b.1. a necessidade de um regime de administração parcial,
por referência a um conjunto, devidamente identificado, de
bens da Requerida (art.º 145º, nº 2, alínea c), in fine e 1967º
e seguintes do Código Civil);
b.2. a necessidade de um regime de assistência, mediante
autorização prévia para a prática de atos mais gravosos,
como seriam, exemplificativamente, os de oneração e de
disposição de bens de valor superior a certo montante (artº.
145º, nº 2 alínea d) do Código Civil).
c) Equacionar a desnecessidade de aplicação de qualquer
medida de acompanhamento neste plano patrimonial.

b.2) o plano pessoal – confronto do pressuposto da necessidade


com os factos fornecidos, considerando, designadamente:
(i) as características da doença de que padece a Requerida, que
inculcam a necessidade de medicação regular e de atenção à
aproximação de crises (nºs 5, 6 e 29 da matéria de facto
provada);
(ii) a falta de crítica da Requerida para a doença, a falta de toma
regular, pela Requerida, da medicação e os riscos que a
sintomatologia da doença apresenta para a integridade física
e psíquica da mesma (nºs 30, 31, 33, 37 e 38 dos factos
provados).

Na abordagem global da factualidade fornecida na prova,


equacionar a necessidade de uma medida de acompanhamento, no
plano pessoal, para assistência da Requerida na toma regular da
medicação e na comparência às consultas de psiquiatria (art.º 145º,
nº 2, alínea e) do Código Civil).

c) Confronto do pressuposto da supletividade com os factos


fornecidos:
Considerar que os deveres gerais de cooperação e de assistência
que poderiam recair sobre os familiares da Requerida não
asseguram o objetivo que se visa alcançar com o acompanhamento,
por se demonstrar que a Requerida, nos períodos de crise, recusa a
ajuda de terceiros (nºs 30, 32, 38, 41, 42 e 43 dos factos provados)
(art.º 140º nº 2, do Código Civil).

d) Indicação do acompanhante:
Na falta de escolha da Requerida, identificar o irmão António
Manuel como a pessoa sobre a qual devem recair as funções de
acompanhante, considerando que a factualidade provada
demonstra preocupação, da sua parte, com o bem-estar da
Requerida, bem como proximidade afetiva e confiança entre ambos
(nºs 41, 42, 52 e 53 dos factos provados) (art.º 143º, nº 2, alínea i)
do Código Civil).

e) Analisar o pedido de limitação de direitos pessoais, considerando,


nomeadamente, o seguinte:
(i) O princípio legal, segundo o qual o exercício de direitos
pessoais é livre – art.º 147º, nº 1 do Código Civil.
(ii) Qualquer restrição ao exercício dos direitos pessoais só pode
decorrer de disposição da lei ou de decisão judicial com um
fundamento fáctico bastante que justifique a limitação -
art.º 147º, nº 1, in fine, do Código Civil.
a. Face à matéria de facto provada e aos princípios que
regem a restrição de direitos pessoais, concluir pela
inexistência de fundamento para a colocação de um
implante contracetivo (alínea c) do pedido).
b. A factualidade provada não suporta, de acordo com os
princípios constitucionais acima referidos, a proibição de
contrair casamento. Admite-se a problematização, em
coerência com as conclusões atingidas quanto aos riscos
da doença para o património da Requerida, da proibição
de casar sob o regime de comunhão geral de bens e do
impedimento de alguns dos efeitos patrimoniais da
união de facto. Concluir, em conformidade, com
proposta de indeferimento total ou deferimento parcial,
de acordo com o acima exposto.
c. A factualidade provada não parece suportar, igualmente,
o impedimento da faculdade de testar
(iii) O internamento de maior acompanhado deve ser precedido
de autorização expressa do tribunal, podendo, em situações
de urgência, esse internamento ser solicitado pelo
acompanhante, com sujeição a ratificação do tribunal – art.º
148º, nºs 1 e 2 do Código Civil. A pré-autorização para
internamento que vem requerida deverá ter-se como
proibida pela necessidade de intervenção judicial casuística
na verificação dos pressupostos do internamento.

3. ESTRUTURA,
ORGANIZAÇÃO E COTAÇÃO PARCELAR (até 2 valores)
COERÊNCIA DA PEÇA
PROCESSUAL – parte II
Análise das restantes questões que devem ser objeto de pronúncia na
sentença judicial, de forma coerente com as conclusões do parecer,
nomeadamente:
(i) A fixação da data a partir da qual a(s) medida(s) se tornou(aram)
conveniente(s)
(ii) O prazo de revisão da(s) medida(s);
(iii) A publicidade da sentença;
(iv) A responsabilidade pelas custas da ação.

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