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º CURSO
PROVA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
GRELHA DE CORREÇÃO
AUTOCARRO
GRUPO I
Factos Notas de Correção Valor
1-8 ANTONINO, condutor da Rodoviária A conduta de A é subsumível no crime de
Internacional, irritado com um condutor (de condução perigosa de veículo rodoviário,
nome CAMÕES) de um veículo ligeiro que já previsto e punido pelo artigo do Código Penal
o tinha ultrapassado por três vezes decide, já a [viola de forma grosseira as regras estradais, pois
perder a paciência, ultrapassá-lo pela quarta faz a manobra de ultrapassagem transpondo traço
vez. contínuo) e desse modo cria perigo para a vida e
integridade física do condutor da bicicleta, do
Confiando que nenhum veículo seguia em condutor do veículo que ultrapassou e dos
sentido contrário – já que era de noite e não ocupantes do autocarro). A conduta (condução) é
havia sinais de quaisquer luzes vindas da dolosa, mas a criação do perigo é negligente,
direção oposta –, ANTONINO iniciou a artigo 291.º, n.º 3, do CP, com a agravação
prevista no art. 294.º, n.º 1. É também aplicável 1 valor
manobra de ultrapassagem, embora ciente que
a pena acessória de proibição de conduzir,
para o efeito transpunha o traço contínuo que prevista no artigo 69.º, n.º 1, al. a), do CP.
separava os dois sentidos de trânsito daquela Esta conduta é subsumível, ainda, ao crime de
via (facto que constitui a prática de uma homicídio por negligência, previsto e punido
contraordenação grave prevista e punida no pelo art. 137.º, n.º 1 e 2 do CP e ao crime de
Código da Estrada). ofensa à integridade física por negligência,
previsto e punido pelo artigo 148.º, n.º 1 ou 2, do
Durante essa manobra, e quando o autocarro Código Penal [A viola um dever objetivo de
que conduzia se encontrava já na faixa de cuidado, causa um resultado que podia e devia 1+1
rodagem contrária, embateu numa motorizada prever e que era evitável: art. 15.º, al. a) do CP]. valores
que seguia na sua mão de trânsito sem A relação de concurso entre estes crimes será
quaisquer luzes ligadas. tratada infra.
A conduta negligente de A deverá ser qualificada
Esta motorizada era conduzida por como grosseira: praticou a contraordenação
BERNARDINO que, sendo portador de uma identificada na prova, sendo que sobre si recaía
taxa de álcool no sangue de 2,5 gr/litro, se tinha um especial dever de cuidado considerando a sua
esquecido de as acender. profissão de motorista.
De notar que B (cuja responsabilidade penal se
Em resultado do embate, BERNARDINO foi extinguiu por falecimento), também viola um
projectado a cerca de 10 metros, tendo sofrido dever objetivo de cuidado, pois encontrava-se em
várias lesões físicas que lhe determinaram, estado de embriaguez e, por isso, conduzia sem
directa e necessariamente, a morte. luzes. Tal conduta é também causa do embate do
seu veículo no autocarro conduzido por A e no
Perdendo o controlo do veículo por força deste embate no veículo de C. Coloca-se, assim, o
embate, ANTONINO não conseguiu evitar que problema de causalidade (e culpa) cumulativa 1 valor
o autocarro capotasse. entre a conduta de B de A. De acordo com a
teoria da conexão do risco, que tem sido acolhida
Embora do capotamento não tivessem pela jurisprudência nacional, a causalidade
resultado lesões físicas visíveis para cinco dos cumulativa não afeta a responsabilidade penal de
passageiros, dois outros sofreram lesões graves A (neste sentido, veja-se o Ac. TRL de
que lhes provocaram direta e necessariamente 06/06/2018, proc. 341/14.0GALSD.P1, Pedro
a morte, ao passo que os restantes quatro Vaz Patto).
sofreram apenas ligeiras escoriações em Quanto a A, por seu turno, há que apreciar a
diversas partes do corpo. relação de concurso de crimes (efetivo/aparente),
em dois planos:
1) entre o crime de condução perigosa e os de
homicídio/ofensas negligentes.
Os bens jurídicos são distintos (o bem jurídico
pessoal da “segurança rodoviária” no da
condução perigosa e os bens jurídicos “vida e
integridade física” nos crimes negligentes
referidos).
A cria perigo concreto para a vida e integridade
física de terceiros (os não atingidos) (e atinge a
vida e a integridade física de outros que foram
vítimas efetivas da sua conduta).
Cremos que a resposta correta será a que defende
a prática em concurso efetivo dos crimes
referidos, desde logo porque não há dúvida
quanto à colocação em perigo concreto dos bens
jurídicos vida e ofensa à integridade física, além
dos que efetivamente foram atingidos em tais
bens jurídicos, caso em que poderiam colocar-se
mais dúvidas quanto à sua relação de consunção
(neste sentido, FIGUEIREDO DIAS e NUNO
BRANDÃO, Comentário Conimbricense ao
Código Penal, Tomo I, Coimbra: Coimbra
Editora, 2.ª edição, p. 187; PAULA RIBEIRO
DE FARIA, Comentário Conimbricense ao
Código Penal, Tomo II, Coimbra: Coimbra
Editora, p. 1091, Ac. STJ 22-11-2007, proc.
05P3638, Arménio Sottomayor). Note-se, ainda, 1,5 valor
que não se justifica, assim, a agravação do crime
de condução perigosa pelo resultado morte (art.
294.º, n.º 3 e 285.º, do CP), sendo tal resultado já
tutelado pelo crime de homicídio por negligência
(entendimento diverso viola o pr. ne bis in idem).
2) Há ainda que apreciar a existência ou não
de concurso efetivo entre os crimes
negligentes.
Em consequência do sinistro rodoviário,
morreram 3 pessoas e 4 ficaram com lesões não
graves.
No essencial, a opção por um concurso aparente
ou efetivo, é sobretudo fruto da valoração da
vertente de culpa e da violação de um único dever
objetivo de cuidado (vertente subjetiva) OU do
resultado objetivo (os diversos bens jurídicos
pessoais efetivamente atingidos).
Ambas as posições são defensáveis (conforme
revela a diversa doutrina e jurisprudência),
consoante se entenda prevalente a vertente
subjetiva ou a vertente objetiva (no sentido do 1 valor
concurso aparente, vejam-se Ac. STJ
13/07/2011, proc. 1659/07.3GTABF.S1,
Henriques Gaspar e Ac. TRL de 04/04/2019,
proc. 15/14.1GTALQ.L1-9; no sentido do
concurso efetivo veja-se, entre outros,
FIGUEIREDO DIAS, Direito Penal, Parte Geral,
T. 1, 3.ª ed., p. 1172-1174).
Nestes termos, sustentando-se o concurso
aparente, A é responsável por um único crime de
homicídio com negligência grosseira a que
acrescerá o supra aludido crime de condução
perigosa. Em caso de defender-se o concurso
efetivo, teremos 3 crimes de homicídio por
negligência grosseira, 4 crimes de ofensa à
integridade física por negligência e um crime de
condução perigosa.
9-10 ANTONINO, que sofrera também apenas A pratica um crime de homicídio simples, na
escoriações na face, logrou sair do autocarro e forma tentada (arts. 131º, nº 1 e 22º, nº1, nº2, al.
vendo o veículo de CAMÕES, que parara uns b) , 23º, nº1, todos do CP); admite-se a discussão
metros mais à frente, dirigiu-se-lhe. quanto ao privilegiamento previsto no art. 133.º–
“emoção violenta”, ainda que para o afastar,
Constatando que CAMÕES se encontrava considerando ter sido a situação provocada pelo
ainda sentado no banco do condutor e falava ao próprio, não sendo assim a mesma minimamente
telemóvel que tinha na mão, ANTONINO, “compreensível”; admite-se a alusão à
possibilidade da sua qualificação nos termos do
absolutamente fora de si, e imputando
art. 132.º, n.º 1 do CP (não se vislumbrando,
mentalmente a CAMÕES todo o todavia, qualquer dos exemplos-padrão
circunstancialismo que motivara o acidente, constantes do seu n.º 2, pelo que a qualificação
abriu a porta do lado do condutor e apertou-lhe sempre teria de se alicerçar num exemplo-padrão
o pescoço com toda a força que lhe restava. não típico, que permita afirmar sobretudo a 1 valor
“especial censurabilidade” referida no n.º 1).
11-12 Sentindo-se asfixiado, CAMÕES largou o A conduta de C integra a previsão do crime de
telemóvel, e conseguindo pegar na garrafa de ofensa à integridade física grave (art. 144.º, al. b)
vinho que tinha comprado para o jantar, que do CP), no entanto, numa atuação ao abrigo de 1 valor
tinha a seu lado, vibrou com ela um forte golpe legítima defesa (art. 32.º do CP), pelo que fica
na cabeça de ANTONINO que caiu caído assim afastada a ilicitude da sua conduta.
inanimado no chão.
Em resultado dessa pancada, ANTONINO
sofreu lesões que lhe provocaram uma
hemorragia interna, o que viria a deixá-lo
incapacitado para o exercício da sua profissão
de motorista.
II Parte (6 valores)
Responda às questões:
Há, desde logo, a notícia de um crime, que deverá ser levada ao conhecimento do MP
(art. 241.º do CPP), que é de denúncia obrigatória (art. 242.º, n.º 1, al. a) e 248.º do CPP), que
deverá originar a elaboração de um auto de notícia, nos termos previstos no art. 243.º (sendo
relevantes todos os seus números); considerando a aparência da substância existente no saco
plástico, o agente policial deveria proceder de acordo com o que se dispõe no art. 249.º, n.os 1, 2,
al. a) e c), com referência aos arts. 171.º, n.º 2, 173.º e 178.º, n.º 1, 5 e 6, todos do CPP.
DUARTE, com 21 anos, vivia com a mãe MIQUELINA, em casa desta. Foi
MIQUELINA que deu o consentimento para a realização da busca domiciliária referida
já que, nessa altura, DUARTE não se encontrava presente.
O produto apreendido deve ser apresentado pelo OPC nos termos do disposto no art. 178.º, n.º 6
do CPP, à entidade competente para se pronunciar sobre a validade da apreensão, que é o titular da
investigação, portanto, o Ministério Público (arts. 178.º, n.º 3, 263.º e 267.º do CPP), cabendo-lhe avaliar
da sua relevância para efeitos probatórios; com efeito, não está em causa qualquer ato da competência
exclusiva do Jic previstos nos arts. 268.º e 269.º do CPP, sendo que, no que diz respeito às apreensões
somente lhe cabe, em exclusivo, as referidas nos arts. 268.º, n.º 1, al. c) e d) e 269.º, n.º 1, al. d) do CPP.
2.2. Qual deveria ser o sentido do despacho a proferir por essa entidade? (1 valor)