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PROVA ESCRITA
DE
DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Via profissional
Grelha de correção
Nota:
O conteúdo da presente grelha reflete de forma tópica as abordagens jurídicas que, do ponto de vista da forma
e da substância, se reputam as mais corretas em função dos elementos disponibilizados e que devem, na prova do
candidato, mostrar-se devidamente enquadradas e fundamentadas.
Sem embargo, outras abordagens, de forma ou de substância, que sejam razoáveis e plausíveis face aos dados
facultados e que se revelem suportados em fundamentos consistentes, serão igualmente valorizados, na medida do
respetivo mérito.
Aquisição, por usucapião, de direito de servidão de vistas sobre o prédio da Ré e a favor do prédio
do Autor, sua eventual violação pela Ré e demolição da obra edificada pela Ré:
Artigos 1360.º. e 1362.º, 1258.º e seguintes, 1287.º e seguintes, 70.º e seguintes, 334.º,
e 342.º, todos do Código Civil; artigo 414.º do Código de Processo Civil.
Com a limitação ao direito de propriedade consagrada no artigo 1360.º do Código Civil,
pretende-se evitar que o prédio vizinho seja facilmente objeto da indiscrição de estranhos
e, por outro lado, impedir que ele seja facilmente devassado com o arremesso de objetos.
Não foi, nomeadamente, intenção do legislador evitar as vistas que se podem desfrutar
sobre o prédio vizinho ou sobre a paisagem circundante.
Não estão assim sujeitas a tal restrição as construções que não permitam o devassamento
do prédio vizinho, as quais, consequentemente, não permitem a constituição do direito
de servidão de vistas previsto no artigo 1362.º do Código Civil.
Mesmo a admitir que a cobertura da dependência existente no prédio do Autor poderia
ser vista como terraço para efeitos dos artigos 1360.º e 1362.º do Código Civil – sendo
certo que, atendendo às suas características, em especial o tipo de revestimento e a
finalidade do murete ali colocados, tal qualificação se apresenta como questionável –,
afigura-se que, de todo o modo, tal murete, com apenas 60 centímetros de altura, não
pode ser considerado como parapeito para os efeitos previstos nos normativos acima
referidos. Tal murete, para uma pessoa de estatura média, eleva-se pouco acima do
joelho, não tendo assim a virtualidade de conferir segurança às pessoas contra o perigo
de quedas, para além de não permitir que alguém nele se debruce com a finalidade de
devassar o prédio vizinho.
Não estão assim reunidos os pressupostos de que os normativos mencionados fazem
depender o reconhecimento do direito real de servidão de vistas invocado pelo Autor.
Por outro lado, não parece resultar dos factos provados que a atuação da Ré, ao construir
até ao limite do seu prédio, constitua abuso de direito nos termos do artigo 334.º do
Código Civil, seja em atenção à sua atuação anterior (não se demonstrando factos que,
nomeadamente, permitam a convocação das figuras da supressio ou do venire contra
factum proprium), seja em atenção a direitos de personalidade do Autor (não resultando
da nossa lei um direito subjetivo à paisagem, igualmente não ficou demonstrado que a
construção edificada pela Ré viole o direito à saúde do Autor).
Consequentemente, devem ser julgados improcedentes os pedidos formulados nas als. b)
a f) da parte final da petição inicial – artigo 342.º, n.º 1, do Código Civil e artigo 414.º do
Código de Processo Civil.
Litigância de má-fé:
Artigos 542.º e seguintes do Código de Processo Civil.
Não parece justificar-se a condenação do Autor como litigante de má-fé, seja porque não
ficou evidenciado que tenha alterado, com dolo ou culpa grave, a verdade dos factos nem
que, por outro lado, tenha deduzido pretensão cuja falta de fundamento seja manifesta.
Improcedência do pedido de condenação como litigante de má-fé, incluindo a condenação
em indemnização à Ré.