indenização, incluindo-se o fundo de comércio, quando desapropriado o imóvel comercial locado, independentemente das relações jurídicas entre o proprietário e o inquilino. Precedentes citados do STF: RE 96.823-SP, DJ 1º/10/1982; do STJ: REsp 1.000-SP, DJ 21/6/1993. REsp 406.502-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, julgado em 23/4/2002.”
FRANCISCO FABIANO BRITO SENA, já qualificado nos
termos dos autos do processo em epígrafe, comparece perante Vossa Excelência, por seu advogado, para apresentar RÉPLICA À CONTESTAÇÃO, o que ora faz nos seguintes termos:
O Município de Fortaleza apresentou contestação às páginas 98 e
seguintes dos autos, arguindo, preliminarmente, (1) impugnação ao valor da causa, (2) impugnação à gratuidade judiciária e (3) ilegitimidade ativa, no mérito, pugna pela improcedência da ação por entender ausentes a demonstração nexo causal e do dano sofrido pelo Autor. As alegações contidas na contestação apresentada pelo Município de Fortaleza, são improcedentes, servindo, no entanto, como confissão e reforço dos fatos alegados na petição inicial, senão vejamos:
SOBRE O VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA
É improcedente a alegação do Município promovido sobre a impugnação ao valor da causa, posto que apesar de o autor ter relatado prejuízos quanto às BENFEITORIAS, DANOS EMERGENTES, LUCROS CESSANTES, FUNDO DE COMÉRCIO, tal foi informado como mera estimativa do valor de cada prejuízo, de forma meramente ilustrativa e exemplificativa, e não como CAUSA PEDIR.
Tal circunstância (meramente ilustrativa), foi informado na inicial
e que os prejuízos deveriam ser apurados mediante laudo pericial judicial, a ser oportunamente realizado, quando do momento processual oportuno, na instrução processual.
SOBRE A GRATUIDADE JUDICIÁRIA
Realmente, Excelência, o Autor trata-se de “empresário do ramo de venda de confecções”, sendo locatário de um imóvel cujo valor do aluguel chegou ao importe de 13.768,50, no ano de 2022, conforme indicam os demonstrativos por ele apresentados (Id 39099574, 39099567, 39099830, 39099826 e 39099569). No local (objeto da desapropriação), funcionava “mini-shopping”, com cerca de 30 boxes para lojistas, construído por ele durante a vigência do contrato de locação, pois é sócio-administrador da sociedade limitada denominada “FEIRÃO DOS IRMÃOS LTDA” (Id 39553020).
Acontece, Excelência, que em função da perda do ponto
comercial (prédio objeto da desapropriação), o autor sofreu inúmeros prejuízos, acumulando dívidas que arruinaram a sua situação financeira, em função de ter que procurar organizar o seu negócio em outro local, com todos os dispêndios, não tendo condições de arcar com custas e despesas processuais sem que haja prejuízo ao sustento próprio ou da sua família. Portanto, é improcedente o pedido de impugnação à gratuidade judiciária, posto que a desapropriação do prédio onde mantinha o seu negócio gerou a ruína da situação econômica do autor.
SOBRE A LEGITIMIDADE ATIVA
Alega o Município de Fortaleza que o Autor seria para ilegítima
para pleitear a indenização pelos motivos que elencou da seguinte forma: “i) a despeito de ter realizado as benfeitorias, elas não lhe pertencem, por força do próprio contrato de locação, incorporando-se ao imóvel locado e, assim, sendo de propriedade do locador;
ii) o fundo de comércio, se existente, pertenceria à
pessoa jurídica que desenvolve a atividade empresarial no local, mas não ao Requerente.”
Ao assim se defender, na realidade, o Município de Fortaleza
confessa a existência das benfeitorias realizadas pelo Autor e a existência do fundo de comércio.
Ora, Excelência, o fato de existência de cláusulas contratuais no
contrato de locação do imóvel objeto da desapropriação, preverem a renúncia de indenização sobre as benfeitorias realizadas no imóvel, não afastam o dever de ente público arcar com a obrigação de indenizar ao locatário.
Portanto, a alegação de ilegitimidade ativa, por motivo de
cláusulas contratuais entre locador e locatário, não prejudica o direito do Autor de buscar indenização pelos danos sofridos em decorrência da desapropriação do prédio locado. O Supremo Tribunal Federal - STF, inclusive, possui jurisprudência consolidada no sentido de que é ASSEGURADO O DIREITO DE INDENIZAÇÃO AO LOCATÁRIO, vejamos:
“STF - É assegurado ao locatário o direito à
indenização, incluindo-se o fundo de comércio, quando desapropriado o imóvel comercial locado, independentemente das relações jurídicas entre o proprietário e o inquilino. Precedentes citados do STF: RE 96.823-SP, DJ 1º/10/1982; do STJ: REsp 1.000-SP, DJ 21/6/1993. REsp 406.502-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, julgado em 23/4/2002.”
NO MÉRITO
Alega o Município de Fortaleza, que a desapropriação do imóvel
localizado na Rua Deputado João Lopes, nº 138, Bairro Centro de Fortaleza, seguiu todos os procedimentos legais pertinentes, previstos na Constituição Federal e no Decreto-Lei nº 3.365/1941, uma vez que o Decreto Municipal nº 15.307, de 18 de abril de 2022, declarou a utilidade pública o referido imóvel, à ser utilizado para fins de implantação de equipamento para Administração Pública de Apoio ao Paço Municipal.
Erroneamente, o Município de Fortaleza alega para se eximir da
obrigação de indenizar que “ainda que tenha feito benfeitorias no imóvel, elas não lhe pertencem por expressa previsão contratual, cabendo a indenização pela desapropriação no que se refere a elas somente ao proprietário do imóvel, a qual já foi depositada em juízo conforme os valores estipulados como justa indenização pela SEINF”.
Por fim alega que de fato o empreendimento do Autor não
existe e que por isso não houve a demonstração de danos passíveis de serem reparados. Algumas das fotos apresentadas pelo Município de Fortaleza em sua contestação são antigas e, portanto, anteriores à reforma e realização das benfeitorias no prédio desapropriado desembolsadas pelo Autor.
Contudo, percebe-se que há uma enorme diferença entre as
fotografias que foram apresentadas, posto que não exibem todo o complexo empreendimento, mas a parte exterior do prédio, sem os boxes e pavimento superior onde funcionavam o comercio e o setor de fabricação das confecções do negócio do Autor.
Ora, Excelência, o Autor em sua inicial pleiteia a indenização por
danos decorrentes não só das benfeitorias que realizou no imóvel, mas também, decorrentes da PERDA DO EMPREENDIMENTO NO LOCAL, COMO O LUCRO CESSANTE, DANO EMERGENTE, PERDA DO FUNDO DE COMÉRCIO.
A alegação do Município de Fortaleza de que não existia o
empreendimento funcionando no local além de ser contraditória, é descabida, posto que há um CONTRATO DE LOCAÇÃO COMERCIAL DO PONTO, que remonta mais de 05 (cinco) anos consecutivos.
Como se isso não bastasse, há o reconhecimento por parte dos
proprietários do prédio e da imobiliária que locou o imóvel da autorização da realização das benfeitorias para fins comerciais.
DEMOLIÇÃO PARCIAL DO PRÉDIO - TEMERIDADE
Denote, Excelência, que o Município de Fortaleza já foi imitido
na posse do imóvel, e tão logo isso aconteceu, sem que fosse realizada perícia judicial no local, procedeu a demolição parcial do prédio comercial, prejudicando uma avaliação justa dos danos experimentados pelo Autor. Tal atitude por parte do Município de Fortaleza, demonstra um temeridade e cometimento de danos ao Autor, pois, o Município promovido deveria ter respeitado os prazos legais para ter realizado a destruição do prédio, ou, ao menos ter realizado uma vistoria ou laudo pericial da forma como foi recebido o imóvel objeto da desapropriação.
Há entendimento na nossa jurisprudência de que a demolição de
prédio, antes de sua avaliação por perito judicial, ainda na fase de imissão de posse, sem decisão definitiva, é causadora de prejuízos, vejamos: “PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEMOLIÇÃO DE IMÓVEL DESAPROPRIADO ANTES DE SUA AVALIAÇÃO POR PERITO DO JUIZO. DESCABIMENTO. 1. Trata-se de agravo de instrumento manejado pelo Departamento Nacional de infra-estrutura de Transporte (DNIT) postulando a reforma de decisão interlocutória pela qual foi indeferida sua pretensão à imissão provisória na posse para fins de demolição de imóvel nele construído; 2. A agravante fundamenta sua pretensão necessidade de imissão imediata na posse da área objeto de desapropriação para fins de demolição de imóvel nele existente, viabilizando a continuidade das obras de adequação da rodovia BR- 101/RN, trecho viaduto Ponta Negra - Entrada para Ares, numa extensão de 46,2 km. Prossegue aduzindo que o proprietário do imóvel recusou-se a aceitar administrativamente o preço ofertado - R$ 579.098,03 - e que os bens existentes foram devidamente avaliados, conforme comprovam os registros fotográficos constantes nos autos; 3. Na verdade, embora não o diga expressamente ao formular seu pedido de liminar recursal, o DNIT pretende que lhe seja assegurado o direito de demolir o imóvel existente na área objeto de expropriação; 4. Ocorre que a demolição do imóvel antes de sua avaliação por perito do juízo, que certamente identificará e avaliará minuciosamente o imóvel e as benfeitorias nele existentes, é prematura. Se a discussão entre as partes no feito expropriatório versa sobre o que deve ser indenizado, autorizar a demolição antes de perícia realizada por profissional imparcial, eqüidistante das partes, seria temerário; 5. Agravo de instrumento improvido.
(AG 00108976220104050000, Desembargador Federal
Paulo Roberto de Oliveira Lima, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::19/10/2010 - Página:56.)” Como se pode perceber, Excelência, houve prejuízos ao Autor com a demolição das benfeitorias que realizou no prédio desapropriado, quando era imprescindível a realização de perícia judicial que estabelecesse a justa indenização com base nas condições do imóvel, restando prejudicada a avaliação pericial, por culpa, exclusiva do Município de Fortaleza, que agiu de modo temerário.
Todos os requisitos para ensejar a responsabilidade civil objetiva
do Município de Fortaleza estão presentes, conforme se pode observar da petição inicial, eis que temos o ato do decreto expropriatório (conduta), os danos (perda do fundo de comércio, lucros cessantes e danos emergentes) por parte do Autor, que detinha a posse do imóvel por força do contrato de locação comercial, e, o nexo de causalidade, não fosse a desapropriação do Autor estaria lucrando no seu empreendimento comercial que funcionava no imóvel desapropriado.
Conclui-se, Excelência, que os danos experimentados pelo Autor
não se resumem às benfeitorias realizadas no imóvel desapropriado, mas especialmente, no fato de que o Poder Público Municipal , ao promover essa desapropriação da forma que fez, causou a perda do fundo de comercio do negócio do Autor, pois os consumidores sempre procuravam comprar os produtos fornecidos naquele local, causando, em consquencia, danos emergentes e lucros cessantes.
Deve, portanto, o Município de Fortaleza indenizar ao Autor
(locatário) pelos prejuízos causados com essa desapropriação, conforme entendimento pacífico do STF.
PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA - RETENÇÃO DOS
VALORES DAS BENFEITORIAS NO VALOR DEPOSITADO EM JUÍZO “CPC - Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,
conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente
ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será
concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Art. 301. A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser
efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.”
Denote, Excelência, que com a contestação apresentada pelo
Município de Fortaleza ficou evidente a probabilidade do direito do Autor.
Por outro lado, a demolição parcial do prédio, objeto da
desapropriação, antes da realização da perícia judicial ou qualquer avaliação, de forma temerária pelo Município de Fortaleza, o perigo de dano, ou, o risco ao resultado útil do processo ficou EVIDENTE, sendo necessária uma tutela de urgência para resguardar o direito do Autor.
Por isso, reitera aqui o pedido da inicial de tutela de urgência, no
sentido de que a parte dos valores depositados pelo Município de Fortaleza, fiquem retidos. O Autor não pretende a retenção dos valores atribuídos ao preço do imóvel em si, nem do terreno, mas somente dos valores das benfeitorias no imóvel, a fim de que sejam postos à disposição deste Juízo, para evitar a liberação indevida dos valores das benfeitorias para o proprietário do imóvel.
Denote, Excelência, que o Município de Fortaleza alegou em sua
defesa a existência de benfeitorias, inclusive, consta do LAUDO DE AVALIAÇÃO (pagina 70 dos autos) o preço das benfeitorias realizadas no imóvel da desapropriação, vejamos:
Ora, é fato que foi o Autor quem realizou tais benfeitorias
realizadas no imóvel, confirmadas na própria contestação e comprovadas no laudo de avaliação do imóvel.
Dessa forma, se faz necessário que o valor referente,
exclusivamente, a esse tópico das benfeitorias, não sejam liberadas agora ou repassadas indevidamente ao proprietário do imóvel, pois trata-se de verba sob a qual TEM CONTROVÉRSIA PENDENTE. Não é justo, nem legal, que o proprietário do imóvel obtenha essa vantagem de forma indevida, pois as benfeitorias reconhecidas pelo Município de Fortaleza e comprovados no laudo de avaliação foram realizadas, exclusivamente, pelo Autor.
Por isso, justo é a retenção SOMENTE dos valores descriminados
no laudo de avaliação como sendo referente às BENFEITORIAS.
DO PEDIDO
Diante do exposto, é a presente para o fim de requerer a Vossa
Excelência, que se digne em REJEITAR os argumentos contidos na contestação do Município de Fortaleza, julgando procedente o pedido do autor em todos os seus termos.
Reitera o pedido de tutela da evidência/urgência a fim de que os
valores depositados à título de indenização das benfeitorias no imóvel (objeto da desapropriação) sejam bloqueados até o montante de R$ 869.848,74 (oitocentos e sessenta e nove mil, oitocentos e quarenta e oito reais e setenta e quatro centavos), conforme consta do Laudo de Avaliação do Município de Fortaleza, até que se apure através de PERÍCIA TÉCNICA, quais benfeitorias o laudo de avaliação do Município de Fortaleza se refere, e, se tais benfeitorias são aquelas mesmas realizadas pelo Autor (inquilino) do imóvel (objeto da desapropriação)
Requer a designação de audiência de instrução e julgamento.
Pede deferimento. Fortaleza (CE), 20 de setembro de 2023.
P.p. Jefferson Rodrigues dos Santos P.p. Eduardo Cerqueira Mascarenhas