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DE
ACUSAÇÃO
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
João Alves
Procurador-Formador
Novembro de 2013
ÍNDICE
Fls
2- Prazos ........................................................................................................ 9
1
A- Introdução
1
É um prazo ordenador, o incumprimento não tem consequências processuais.
2
A acusação é um pressuposto indispensável da fase de julgamento, fixa
o objecto do processo – é nula a sentença que condenar por factos diversos
dos constantes da acusação ou sua alteração, se a houver (art. 286º, al. b)
CPP).
2
Por definição, indícios são sinais, marcas, indicações de ocorrência de um crime, são
circunstâncias que têm conexão verosímil com o facto incerto de que se pretende a prova], são
factos que embora não demonstrando a existência histórica do factum probandum (facto a
provar), demonstram outros factos, os quais, de acordo com as regras da lógica e da
experiência, permitem tirar ilações quanto ao facto que se visa demonstrar.
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A avaliação da suficiência exige, assim, um juízo prognóstico sobre a
possibilidade de condenação no final da fase do julgamento. O que pressupõe
um raciocínio de conjugação entre todos os indícios, de forma a fundamentar
esse juízo de prognose.
Esta definição, porém, continua a não ser esclarecedora. O que significa
uma possibilidade razoável de condenação? Qual o grau de probabilidade que
este conceito comporta?
Fundando-se o conceito de indícios suficientes na possibilidade razoável
de condenação ou de aplicação de uma pena ou medida de segurança, deve
considerar-se existirem indícios suficientes para efeitos de despacho de
acusação quando:
2ª- Se não for conhecido o agente do crime (art. 235º, nº 1, al. b) CPP).
Esta situação verifica-se quando existe um crime mas, não é possível
identificar o autor(es), são conhecidos como os inquéritos contra
desconhecidos.
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3ª- Se for legalmente inadmissível o procedimento criminal (art. 235º, nº
1, al. c) CPP).
Abrange situações em que o procedimento criminal é legalmente
inadmissível (essencialmente por razões processuais). Esta alínea aplica-se a
situações diversas, geralmente classificadas como pressupostos, ou
impedimentos processuais:
- É o caso do ne his in idem (art. 31º, n. 4, da Constituição).
- Da prescrição (arts 110º e seg. do C. Penal).
- Da amnistia (art. 120º do C. Penal).
- Da falta de queixa (art. 49º, nº 2 do CPP).
- Das imunidades prevista na Lei.
- Da despenalização do crime (art. 3º, nº 1 do C. Penal).
- Facto não é crime (art. 1º, nº 1 C. Penal)
- O arguido morreu (art. 119º C. Penal).
- Causas de exclusão da ilicitude (art. 43º e seg., do C. Penal).
- Da declaração de incompetência (art. 29º, nº 2, do CPP).
Nestes casos, mesmo que existam indícios suficientes da prática de um
crime e de quem foi o seu agente, o M. Público não pode promover a acção
penal, devendo arquivar o inquérito.
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Com uma redacção igual no CPP português têm-se entendido que «A reapreciação é
limitada, e razoavelmente, a um grau na estrutura hierárquica. A lei apenas refere o imediato
superior hierárquico; a decisão deste não será suscetível de reapreciação por outro magistrado
colocado em grau superior da hierarquia» - Ministério Público, hierarquia e processo penal,
Revista do Ministério Público, Cadernos 6, pág. 88, e ainda na RMP, Ano 13, Janeiro-Março,
1992, n.º 49, Impugnação das decisões do Ministério Público no inquérito, pág. 77.
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Exemplo 1 (desconhecidos):
Conclusão em …./…./2013
*
Notifique (art. 237° do CPP).
Díli, ...../..../2013
O Procurador da República
..................
Conclusão em …./…./2013
*
Notifique (art. 237° do CPP).
Díli, ...../..../2013
O Procurador da República
..................
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Exemplo 3 (falta de indícios):
Conclusão em …./…./2013
Díli, ...../..../2013
O Procurador da República
..................
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2. Prazos.
3. Conteúdo da acusação.
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Se existir muito atraso, pode acontecer a prescrição do crime.
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A omissão na acusação de alguma dessas matérias contidas nas referidas alíneas é
cominada com nulidade que, porém, não é insanável, uma vez que não está taxativamente
enumerada no art. 103º, CPP. Daí que tenha de ser arguida, nos termos do art. 104º, nº 2,
CPP.
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As indicações tendentes à identificação do arguido, que não se deve
confundir com a menção concreta da sua verdadeira identificação visam evitar
que haja dúvidas sobre quem é a pessoa acusada e vai ser submetida a
julgamento, é um problema de identidade da pessoa a julgar, mas também da
pessoa que se vai defender, por lhe ser imputada uma acção delituosa, e visa
exactamente possibilitar a essa pessoa, o arguido, defender-se, incluindo não
ser ele o autor dos factos, pondo desde logo em causa a sua qualidade de
arguido.
Mais decidiram que seriam exibidas armas e exercida força física contra
as vítimas,
Foi no âmbito do plano prévio traçado entre todo o grupo, que o arguido
com os demais indivíduos concordaram na prática dos factos que a seguir se
descrevem..........».
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efectividade implica uma definição clara e precisa do objecto do processo (art.
34º, nº 1 e 3, da Constituição).
A vinculação do tribunal, porém, quer no que concerne aos factos
descritos na acusação quer ao enquadramento jurídico dos mesmos ali
operado, não é absoluta. Com efeito, em certos casos e situações, por razões
várias, já depois de deduzida a acusação, algumas vezes no decurso do
julgamento, outras já na fase de recurso, vêm -se a descobrir novos factos ou a
constatar que os factos constantes da acusação foram deficientemente ou
insuficientemente descritos ou deficientemente ou incorrectamente
qualificados, possibilitando a lei, limitadamente, desde que salvaguardadas as
garantias de defesa do arguido, a alteração dos factos e ou a alteração da sua
qualificação jurídica, para que o processo possa alcançar o seu concreto fim,
isto é, a descoberta da verdade e a realização da justiça (cfr, arts. 273º e 275º
CPP).
O art. 14º do C. Penal diz-nos que «Só é punível o facto praticado com
dolo, ou nos casos especialmente previstos na lei, com negligência».
Por outro lado o art. 15º do C. Penal adianta que:
«1- Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo
de crime, actuar com intenção de o realizar.
2 -Age ainda com dolo quem representar a realização de um facto que
preenche um tipo de crime como consequência necessária da sua conduta.
3- Quando a realização de um facto que preenche um tipo de crime for
representada como consequência possível da conduta, há dolo se o agente
actuar conformando-se com aquela realização» e o artigo 15º refere que “Age
com negligência quem, por não proceder com o cuidado a que, segundo as
circunstâncias, está obrigado e é capaz:
a) Representar como possível a realização de um facto que preenche
um tipo de crime mas actuar sem se conformar com essa realização; ou
b) Não chegar sequer a representar a possibilidade de realização do
facto.»
Daqui resulta que só pode ser condenado pela prática de um ilícito o
agente que preencha os seus elementos objectivos e subjectivos do tipo legal
de crime.
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A acusação tem que conter os elementos objectivos e também
subjectivos do crime imputado, porque não existe crime/responsabilidade penal
sem que todos eles se encontrem preenchidos. A prática de um ilícito criminal
importa o preenchimento não só do elemento objectivo, mas também do
elemento subjectivo, este por sua vez, subdivide-se nos elementos cognitivo e
volitivo6.
A falta de preenchimento do elemento subjectivo, na sua completude,
radica na falta de punibilidade da conduta. A imputação tem que ser absoluta
em si, com efeito, se se imputam factos donde resulte a existência do elemento
subjectivo, na sua integralidade, esses factos tem que vir claramente
discriminados, para que o acusado deles se possa defender.
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Elemento cognitivo, isto é, o conhecimento, por parte do acusado, de que a sua conduta era
proibida e punida por lei. Sem este conhecimento, os factos não constituem qualquer crime.
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comunicação da acusação e da protecção global e completa dos direitos de
defesa (art. 34º da Constituição).
Só assim o arguido poderá preparar e organizar a sua defesa de forma
adequada. É que o arguido não tem que se defender apenas dos factos que lhe
são imputados na acusação. A vertente jurídica da defesa em processo penal
é, em muitos casos, mais importante. E esta para ser eficaz pressupõe que o
arguido tenha conhecimento do exacto significado jurídico-criminal da
acusação, o que implica, evidentemente, lhe seja dado conhecimento preciso
das disposições legais que irão ser aplicadas.
Por isso, qualquer alteração que se verifique da qualificação jurídica dos
factos feita na acusação nomeadamente, qualquer alteração que importe um
agravamento, terá necessariamente de ser dada a conhecer ao arguido para
que este dela se possa defender.
d) A data e a assinatura.
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M. Público, para que este reformule, rectifique, complemente, altere ou deduza
acusação.
Assim, ao Juiz do julgamento está vedado ultrapassar o objecto que lhe
é submetido, sendo certo que este compreende também, os meios de prova
que serão perante si produzidos e examinados.
Por isso, verificada a falta de indicação na acusação dos meios de prova
que devem ser produzidos e examinados, ela deverá ser conhecida pelo juiz do
julgamento, impondo-se-lhe a rejeição da acusação por manifestamente
infundada.
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Se a questão focada na acusação for juridicamente controversa, o juiz no despacho do
presente artigo não pode considerar a mesma (acusação) manifestamente improcedente.
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Esta alínea inclui todas as causas de direito substantivo susceptíveis de
inviabilizar a acusação, designadamente a insuficiência de indícios probatórios
dos factos, a não punibilidade dos mesmos por variadas razões, inclusive, a
inimputabilidade do acusado, a prescrição do procedimento criminal, etc.. A
formula usada nesse preceito tem a vantagem de abranger essas causas sem
referir, concretamente, nenhuma delas, não se correndo, assim, o risco da
omissão de alguma.
Exemplo de despacho:
«Os factos imputados ao arguido, de acordo com o descrito na
acusação, traduziram-se em o mesmo ter dito ao queixoso em voz alta «não
ponhas a música alta».
Com base nestes factos foi imputado ao arguido a prática em autoria
material de um crime de ameaças previsto e punido no art. 157º, nº 1 C. Penal.
A ameaça tem de ser adequada a provocar no ameaçado medo ou
inquietação ou a prejudicar a sua liberdade de determinação: o crime de
ameaça é (actualmente) um crime de perigo concreto, isto é, exige-se apenas
que a ameaça seja susceptível de afectar a liberdade de determinação e que
na situação concreta, seja adequada a provocar medo ou inquietação, não
sendo necessário que, em concreto tenha provocado medo ou inquietação, ou
afectado a liberdade de determinação, sendo que, o critério da adequação da
ameaça a provocar medo ou inquietação ou a prejudicar a liberdade de
determinação é um critério objectivo individual, isto é, o critério do homem
comum, médio (pessoa adulta e normal), tendo em conta as características
individuais do ameaçado; assim, ameaça adequada é a ameaça que, de
acordo com a experiência comum, é susceptivel de ser tomada a sério pelo
ameaçado (tendo em conta as características do ameaçado e conhecidas do
agente).
Ameaçar alguém significa anunciar a intenção de cauar um mal
Ora, a frase proferida pelo arguido não é uma ameaça, não integrando o
elemento objectivo do tipo do crime, pelo que, nos termos do art. 239º, al. b) do
CPP, rejeito a acusação deduzida pelo M.Público.
Notifique.»
Assim, por exemplo, o juiz não pode rejeitar a acusação se a questão for discutível, só o
poderá fazer se for inequívoco e incontroverso que os factos não constituem crime.
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Quando o Juiz recebe a acusação (art. 239º e 240º CPP):
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Nulidades insanáveis que constam das alíneas do art. 103º, nº 1 do CPP.
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Questões prévias são as que respeitam à validade ou regularidade da relação processual e
sejam impeditivas do conhecimento do mérito da causa, exigindo desde logo resolução para
que o processo não siga para julgamento com vícios (prescrição, amnistia, caso julgado,
litispendência, falta de legitimidade do M.Público, morte do arguido.
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A acusação é notificada ao arguido e lesado (art. 237º, nº 1 CPP) e
implica a suspensão e interrupção do procedimento criminal (art. 112º, nº 1, al.
c) do C. Penal).
A falta de notificação da acusação constitui nulidade dependente de
arguição (art. 104º, nº 1 e 2 CPP).
A contestação não está sujeita a formalidades especiais, porém, deve ter
uma estrutura lógica mínima. As contestações deficientes dificultam ou
impossibilitam que o tribunal perceba quais são as "razões" do arguido e onde
começam as razões de direito e as razões de facto.
A contestação deve ter conclusões. São estas conclusões contidas na
contestação que o tribunal deve sumariar no relatório da sentença (art. 281º, nº
1, al. c) CPP).
c) As conclusões da contestação.
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indemnização. Assim, as testemunhas poderão ser inquiridas sobre estes
factos.
Exemplo de contestação:
Proc. nº ......./2013
Tribunal de Díli
Exmº Sr. Juiz de Direito
1º
O arguido não praticou os factos que constam da acusação,
2º
Pelo que, não cometeu o crime que lhe é imputado.
3º
Com efeito, o arguido entrou na garagem do seu vizinho e tirou o pneu
de mota porque, o seu vizinho lhe deu o pneu, autorizando-o a ir buscá-lo à
garagem.
4º
Assim, não está preenchido o elemento objectivo e subjectivo do crime
de furto do art. 251º, nº 1 do C. Penal.
Prova testemunhal:
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