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0044
Vítimas: Andreia da Silva Prado, Larissa da Silva Prado dos Santos e Pedro Vinícius da Silva
SENTENÇA
suas atribuições constitucionais e legais, ofereceu denúncia, aos 05/02/2020, em desfavor de Adão
Pereira dos Santos, vulgo Cigano, qualificado, imputando-lhe a prática das condutas tipificadas no
art. 121, § 2º, inciso I (motivo torpe), IV (recurso que dificultou a defesa a vítima) e VI (contra a
mulher por razões das condições do sexo feminino) c/c art. 14, inciso II, com relação à vítima
Andreia da Silva Prado, art. 121, inciso IV (recurso que dificultou a defesa a vítima) c/c art. 14,
inciso II, com relação à vítima Larissa da Silva Prado dos Santos e art. 121, inciso IV (recurso que
dificultou a defesa a vítima) c/c art. 14, inciso II e art. 61, alínea h, todos do Código Penal, quanto à
A prisão preventiva foi decretada na cautelar apensa n.º 1925.72, cumprida aos
71/74.
164/166.
O acusado foi citado à fl. 170 e apresentou resposta à acusação às fls. 181/183.
oportunidade em que foram ouvidas as testemunhas Maria, Roque, Leandro, Waldir, Marina, José
Humberto e o réu foi qualificado e interrogado. As partes apresentaram alegações finais orais. O
MP requereu a pronúncia do acusado por todos os crimes, tendo em vista que são suficientes as
nulidades e observados os princípios inerentes ao devido processo legal (art. 5º, incisos LIV e LV,
Da detida análise destes autos, entendo ser o caso de pronunciar o réu por todos os
delitos imputados.
disposto no art. 413, caput, do Código de Processo Penal, no momento de pronunciar o acusado é
defeso ao magistrado adentrar no mérito da questão, por ser esta atribuição do Júri Popular, por
“Na decisão de pronúncia, o que o juiz afirma, com efeito, é a existência de provas no
sentido da materialidade e da autoria. Em relação à materialidade, a prova há de ser
segura quanto ao fato. Já em relação à autoria, bastará a presença de elementos
indicativos, devendo o juiz, tanto quanto possível, abster-se de revelar um
convencimento absoluto quanto a ela. É preciso considerar que a decisão de pronúncia
somente deve revelar um juízo de probabilidade, e não o de certeza.” (Curso de
Processo Penal, 10 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 575).
De modo que, se diante das provas colhidas até então, o magistrado se convencer da
submetendo-o, pois, ao julgamento perante o Tribunal do Júri. Este é o caso destes autos.
DA MATERIALIDADE
No que toca à materialidade dos três delitos imputados ao acusado, entendo que não
pairam dúvidas quanto à existência das práticas criminosas narradas na inicial acusatória.
Ora, a existência material dos crimes tentados ficou comprovada pelos seguintes
às fls. 25/33 e da vítima Larissa às fls. 37/40; Laudo de Exame de Corpo de Delito – Lesões
Corporais da vítima Andreia às fls. 71/74 e da vítima Larissa às fls. 164/166; documentos médicos
da vítima Larissa às fls. 80/89; e Laudo de Local de Crime às fls. 113/120. Todas essas provas
documentais e periciais apontam que as vítimas Andreia e Larissa foram atingidas por disparos de
arma de fogo.
Com relação à vítima Pedro, não houve lesões, todavia, ficou comprovada a existência
depoimentos das próprias vítimas, consubstanciam provas da ocorrência material dos delitos.
Por sua vez, os indícios suficientes de autoria encontram-se também presentes, com
relação a todos os crimes (três tentativas de homicídio) e a todas as vítimas (Andreia, Larissa e
Pedro), conforme se constata pelo Inquérito Policial, pelos documentos e perícias acostados ao
O réu, em seu interrogatório judicial, relatou que não se recordava dos fatos,
entretanto, informou que tinha uma arma velha em sua casa, embora não tenha se lembrado o que
aconteceu com a arma. Ainda, relatou que a vítima Andreia contou o que ele havia feito, no dia
Interrogatório judicial:
“Estava de 03 a 04 dias bebendo, virado; tinha uma arma velha em casa; não
lembra de nada; ficou esses 03/04 cheirando cocaína também; o relacionamento
dele estava bom, normal, nunca discutiu com ela (Andreia); nunca bateu nela,
ou ameaçou os filhos; quando for solto pretende voltar com ela; não sabe o que
foi feito com a arma; a arma era um revólver, era velha e estava lá, era do seu
bisavô; não é verdade que ele já a agrediu antes; não chegaram a casar, nesse
período não morava junto com ela; se dava bem com todos os filhos dela
(Andreia) e a mãe dela; mesmo usando álcool nunca discutiu com ela; ela
(Andreia) foi para Ribeirão Preto com ele para internação dos vícios da cocaína
e álcool; não sabe dizer se foi ele que deu os disparos; foi preso na casa de um
amigo; antes de ser preso conversou com Andreia, não acreditou que tinha
feito aquilo; seu problema de saúde é água no pulmão; antes de ser preso já
tinha problema no pulmão, estava fazendo tratamento; relacionou com a
Andreia por 05 anos; não confirma que tinha ciúmes, vivia muito bem com a
Andreia; estava fazendo o tratamento de saúde em novembro, antes de ser
preso; perdeu um pulmão, só tem um; os médicos falaram que era para voltar
para ver a água do pulmão; sente dor nas costas falta de ar, não consegue ficar
em pé no banho de sol; foi ao hospital 01/02 vezes depois de preso; pediu
outras vezes para ir ao hospital, mas falaram para esperar; fez exames esses
dias; está com uma coceira na pele; depois da bebida usava drogas; há 02 (dois)
anos usa álcool e drogas; nas duas vezes que fez tratamento Andreia estava
com ele; usa bombinha para asma e bronquite.”
A vítima Andreia relatou como os fatos ocorreram. Ainda, informou sobre o seu
interesse de retomar o relacionamento com o réu e que não havia sofrido nenhum tipo de
agressão anterior a esse fato. Ela negou o que havia sido relatado por ela própria na fase policial
(fls. 60/62). A vítima não explicou a motivação do crime, mas explicou ter pedido um tempo em
“foi amigada com Adão por 05 (cinco) anos; começaram a ter problema
quando ele começou a beber, ele usava droga, cocaína; quando ele (acusado)
estava sóbrio era uma ótima pessoa; estavam na casa ela, sua filha e o Pedro;
Na fase policial (fls. 60/62) Andreia prestou depoimento diferente e, em razão disso,
Andreia, evidenciam detalhes dos fatos, inclusive, ambos informaram que sua genitora sofreu sim
agressões físicas e ameaças ao longo do relacionamento, o que era contado pela própria Andreia
para os filhos. Além disto, a vítima Larissa relatou que, no momento em que o acusado entrou
armado na residência, Andreia gritou que ele foi até lá para pegá-la.
A vítima Larissa descreveu o momento em que foi atingida pelos disparos de arma
sua genitora e, em seguida, a tentativa em desfavor de seu irmão Pedro. Larissa também contou
sobre o relacionamento de sua mãe com o réu e que ele a agredia e ameaçava anteriormente.
“Mora com sua avó há 06 (seis) anos; sua mãe e Adão nunca moraram juntos;
no dia tinha chegado para visitar a sua mãe; estava dormindo na cama com
Pedro e sua mãe no tapete na sala; ouviu um barulho muito forte no portão e
já acordou com sua mãe gritando e falando que ele (acusado) tinha ido lá para
pegar ela, ele já entrou armado; o barulho foi porque ele tinha passado o carro
por cima do portão; ele (acusado) já chegou armado e falando que queria ela e
sua mãe se trancou no banheiro e Pedro correu para o quarto; ela foi conversar
com ele (acusado) para ela não fazer nada e disse que não o deixaria passar ele
(acusado) deu um tiro no seu peito; estava tipo ‘peitada’ com ele na hora do
tiro, estava muito próximo; ele (acusado) atirou e logo foi atrás da sua mãe; ele
(acusado) deu um tiro na trinca do banheiro e depois deu mais 02 (dois) nela;
depois ele saiu, foi no quarto atrás do Pedro mandou ele ajoelhar e rezar,
colocou a mão na cabeça do Pedro e quando ele (acusado) foi atirar ‘mascou’;
quando levou o disparo caiu, mas estava consciente vendo tudo que ele estava
fazendo; teve uma hora que fingiu de morta, quando ele passou por ela para ir
para o quarto; quando ele foi no quarto ela ouviu ele (acusado) falando com o
Pedro; ele saiu, sua mãe saiu correndo e ela ficou lá dentro; não viu ele saindo;
até a cirurgia estava consciente, fez a cirurgia em Brasília, ficou 15/16 dias
hospitalizada; passou por 02 (duas) cirurgias, a bala ainda está no seu corpo,
explicaram que não tem como tirar; deformou sua barriga, teve que retirar
parte do seu intestino; cortou a sua barriga abaixo do peito até o umbigo; ficou
uns 02 (dois) meses para se recuperar, não conseguia andar direito, ia ter que
fazer fisioterapia; sua mãe saiu no outro dia do hospital, o tiro acertou na
barriga e saiu do outro lado e no cotovelo; depois disso voltou a ter contato
com ela, depois disso não tem boa convivência com ela; fez isso para salvar a
vida dela e é assim que ela recompensa, entrando em contato com ele na
cadeia e ligou para ela e falou que ficaria do lado dele na audiência; é uma
falta de consideração da própria mãe porque ela iria perder uma filha e um
filho de 11 (onze) anos por causa desse homem e ela ainda está se
comunicando com ele na cadeia; sua mãe quer retomar o relacionamento com
ele (acusado); ela não visita ele (acusado) porque ele não pode, mas ele tem
um celular lá e fala com ela (Andreia); ela (Andreia) ligava chorando e
contava, teve um dia que ele (acusado) trancou ela no quarto e bateu nela com
uma faca, espancou ela; sabia disso porque ela mesma contava; ele (acusado)
sempre ameaçou ela; ele (acusado) avisava que ele ia fazer e ela (Andreia)
desacreditou; hoje não tem medo dele, mas depois que aconteceu isso não é
mais a mesma pessoa; ela (Andreia) falou que se ela contasse que ela estava se
comunicando (em audiência) com ele (acusado) ia mandar uma pessoa para
matar ela e sua família; ela (Andreia) quer voltar com ele porque ela tem um
amor doentio por ele, igual ele por ela; depois que aconteceu isso, elas
começaram a se comunicar mais e ela mostrou até foto dele (acusado) dentro
da cadeia; ela (Andreia) pegou auxílio do governo e comprou biscoito e papel
higiênico e deixou na casa da mãe dele (acusado) para levar para a cadeia; no
dia pegou um rodo para defender sua mãe, mas não chegou a usar, estava
frente a frente com ele e com o pedaço de pau; ele (acusado) falou para ela sair
da frente que ele queria sua mãe, mas ela se recusou e falou para conversarem;
ele (acusado) estava drogado e bêbado; ele estava drogado, ele não estava
normal, estava muito ruim; tem ódio dele (acusado) pelo que ele fez; não
consegue perdoar pelo que ele fez com ela e com seu irmão; ele (acusado) não
tinha feito nada com ela antes, não a tratava mal, não convivia com ele; ele
(acusado) tratava sua mãe muito mal; sua mãe já apareceu na casa da sua avó
com o olho roxo e a boca, e ela disse que havia sido ele (acusado); a sua mãe
está negando tudo porque ela disse que ficaria do lado dele até o final, mas vai
falar a verdade, esse homem não pode sair, ele (acusado) vai fazer uma
‘merda’ se ele sair”.
Da mesma forma foi o depoimento judicial da vítima PEDRO, que esclareceu que o
acusado também disparou contra ele, mas não o atingiu, pois não havia mais balas:
“Tem 12 (doze) anos; estava dormindo com sua irmã no quarto e sua mãe na
sala; ele (acusado) chegou dando a ré no carro e derrubou o portão; sua mãe se
trancou no banheiro, sua irmã ficou na frente e ele foi para o quarto; ele
(acusado) falou para sua irmã sair da frente porque ele queria pegar sua mãe,
sua irmã falou que ele não iria fazer nada com ela não; ele (acusado) deu um
tiro no peito da sua irmã; sua irmã caiu no chão e ele (acusado) começou a dar
chute na porta e dar tiro e pegou na barriga da sua mãe e no braço; ele
(acusado) foi lá no quarto e apontou a arma para ele, mas não tinha mais bala ;
acha que ele (acusado) apertou o gatilho, viu que ele não tinha mais bala e foi
embora; ele (acusado) o tratava ele mais ou menos bem; não gostava dele,
ninguém da sua família gosta dele, só sua mãe; antes do ocorrido ele (acusado)
não tinha feito nada de mal com ele não, só xingava; ele (acusado) fez um
buraco e pelo buraco deu 02 (dois) tiros nela; a porta não chegou a abrir, ele
deu tiro na fechadura, mas não abriu; ele (acusado) estava bebendo; o que
falou na Delegacia é verdade; ele (acusado) já tinha agredido sua mãe, ele já
quebrou o nariz da sua mãe; toda vez que ele (acusado) batia nela ninguém
estava perto, sua mãe que contava; ele (acusado) já agrediu sua mãe outras
vezes; fez tratamento com psicólogo, mas não gostou, já parou de ir”.
Os depoimentos judiciais das duas vítimas acima (Larissa e Pedro) são harmônicos,
inclusive com aqueles prestados na fase policial (fls. 75/76 e 101/104), e demonstram a existência
de indícios suficientes de autoria delitiva para o acusado com relação aos três delitos e são
suficientes, por si sós, para levarem Adão a julgamento pelo Tribunal do Júri desta Comarca.
amoroso com o réu e até o defendeu em audiência, Larissa e Pedro relataram os fatos de modo
objetivo, sendo imperioso que as versões apresentadas por todos sejam levadas ao crivo dos
Larissa e Pedro. Maria ratificou o depoimento dos netos e questionou muitos fatos afirmados por
“Mãe e avó das vítimas; sua filha e o Adão tiveram envolvimento por 04
(quatro) anos; o relacionamento deles era difícil, um dia ele estava bom, outro
dia ele (acusado) surtava, batia muito nela; ela corria para sua casa e ela ficava
na sua casa 03/04 dias, ele (acusado) ligava para ela e ameaçava, ouviu os
áudios ela (Andreia) a colocava para ouvir; soube do fato quando a vizinha
ligou para ela umas 02h da manhã; quando chegou foi direto no hospital de
Formosa, ela falou para que ela voltasse no hospital de Planaltina porque a
Larissa estava em estado grave; quando chegou lá Larissa estava no centro
cirúrgico; ela (Andreia) falou que estava dormindo quando ele (acusado)
começou a bater no portão dela até fazer um buraco e já entrou atirando nas
portas, nos portais; ele (acusado) quebrou a porta do banheiro, queria pegar
ela (Andreia) dentro do banheiro; a verdade é que ele (acusado) queria pegar
ela (Andreia), mas sua neta atravessou na frente para socorrer ela; sua neta
estava meio tonta porque a mãe tinha dado um remédio para alergia e ela
falou para ele (acusado) ‘não mata minha mãe, não mata minha mãe’; ele
(acusado) gritava na porta do banheiro ‘Larissa, eu não quero você, quero a
sua mãe’; ela atravessou na frente e ele deu logo um tiro no peito dela (Larissa)
e ela caiu, depois ele colocou seu neto de joelho e falou para ele colocar as
mãos para o céu e engatilhou a arma na cabeça dele, só que não tinha mais
bala; isso ela ouviu do seu neto e da sua neta; ouviu da sua neta que fingiu de
morta, que viu tudo que ele fez com o seu neto; ele (acusado) estava batendo
com o carro no portão, quando ele entrou no portão ele já entrou atirando na
porta; a vizinha falou que o portão chegou a cair; o primeiro tiro pegou na sua
neta, porque a mãe dela correu para o banheiro e se trancou; ele (acusado)
atirou na porta do banheiro para pegar ele; ele (acusado) batia muito nela, não
chegou a presenciar, mas ela chegava em casa muito machucada e ela falava
que ele quase matava ela; a mãe dele já presenciou ele batendo nela; ele
(acusado) cheirava muito pó; ela falava que ele cheirava no prato, ele saía de
si, virava outra pessoa; ela levou ele na sua casa e estava bom, mas ele surtou
na sua casa e gritava com ela, muito ciumento, não deixava ela (Andreia) ir no
salão; nunca teve um bom relacionamento porque ele judiava muito dos seus
netos, ele (acusado) falou que queria ela (Andreia) sozinha; nunca gostou com
ele, devido a ele judiar dos seus netos nunca deu certo; não tem ódio dele
(acusado), ele já está pagando; nunca ouviu falar que ele (acusado) tinha
problema de saúde; soube só que ela viajou com ele para São Paulo fazendo
tratamento com ele de droga; antes dela ter ele (acusado) o relacionamento
delas duas era bom; confirma que ela (Andreia) disse que ele prendeu ela no
quarto com várias armas e facão e estava com medo dele agredir ela com o
facão, mas ela conseguiu correr para rua e escondeu no mato; o nome que
conheceu ele foi por Rodrigo, depois que aconteceu isso que descobriram que
o nome dele era Adão; essas coisas aconteceram antes desse fato, não sabe
como ela (Andreia) não morreu ainda; ela (Andreia) ameaça elas, ela fala que
vai mandar a família dele ir matar eles; ela (Andreia) se afastou delas, falou
que elas não são mais da família porque elas falam a verdade; as fotos
juntadas foi ela mesma que tirou da casa; ele (acusado) tinha ciúmes da família
dela, até do Pedro; ele (acusado) fazia ameaçar os meninos de morte, eles
foram morar com o pai por causa disso”.
de indícios suficientes de que Adão tenha efetuado disparos de arma de fogo contra Andreia,
Larissa e Pedro, não sendo possível afastar, neste momento, o dolo de matar, que não foi
atingindo ela e a filha dela; a filha dela estava internada em Brasília; foram no
hospital na parte da manhã, era dia; a Andreia estava sendo medicada dentro
da UTI; ela (Andreia) estava bem acordada”.
para que os jurados tenham acesso a eles. As oitivas esclareceram quanto à personalidade do
acusado, sendo explanado o seu comportamento com uso de drogas. Nenhuma delas presenciou
os fatos.
Os dois relatos acima, porque nada dizem a respeito dos fatos imputados, não são
autor dos três delitos (vítimas Andreia, Larissa e Pedro) contra a vida tentados que lhe foram
atribuídos, posto que as provas carreadas aos autos são suficientes para tanto.
É por isso que as condutas descritas na denúncia devem ser submetidas ao crivo dos
DAS QUALIFICADORAS
(MOTIVO TORPE), com relação à vítima Andreia, a partir da prova produzida mostra-se
plausível a tese acusatória de que a conduta do acusado tenha sido motivada diante de seu
Apesar de a vítima Andreia não informar a motivação do crime em sua oitiva judicial,
em seu depoimento na fase policial relatou que o acusado não aceitou o término do
relacionamento (fl. 60). Em seu depoimento em Juízo a vítima apenas explicou que havia pedido
Destaco parte do depoimento judicial de Andreia: “eles estavam juntos na época, mas no
dia que aconteceu ela disse que ia dar um tempo; não tinha outro relacionamento e que sabe ele também
não.”. Já no depoimento policial (fl. 60): “(...) resolveu se separar de Adão no dia 26.12.2019, pois estava
cansada de sofrer ameaças e agressões; que não satisfeito com a separação, Adão passou a enviar áudios para
a declarante dizendo: ‘onde eu te ver, vou te dar seis tiros na nuca (...)”.
demonstrada a possibilidade de que o réu tenha agido por motivo repugnante, imoral e abjeto,
(RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DAS VÍTIMA), com relação às vítimas Andreia,
Larissa e Pedro, dos relatos prestados ao longo da instrução probatória infere-se a possibilidade de
que as vítimas tenham sido atacadas de surpresa e de forma repentina, sem qualquer chance de se
defenderem.
Adão; escutou um barulho muito forte e quando foi ver o portão estava afastado acha que chegou a bater o
carro no portão”.
Do mesmo modo foi o depoimento da vítima Larissa: “estava dormindo na cama com
Pedro e sua mãe no tapete na sala; ouviu um barulho muito forte no portão e já acordou com sua mãe
gritando e falando que ele (acusado) tinha ido lá para pegar ela, ele já entrou armado”.
No mesmo sentido o Laudo de Local de Crime (fls. 118/120), o qual concluiu que o
portão da casa foi colidido por um veículo e havia sinais de arrombamento nas portas da sala e do
banheiro, o que mostra que o réu entrou na residência sem conhecimento/consentimento das
vítimas. Ainda, no item E o laudo aponta que uma vítima foi atingida dentro do banheiro. Ainda,
o item G assim conclui: “A ausência de sinais de luta corporal, bem como o arrombamento da porta do
banheiro, apontam que a(s) vítima(s) tentou/tentaram proteção/fuga e não esboçaram reação contra o(s)
agressor(es), este(s) por sua vez perseguiu/perseguiram a(s) vítima(s) até o banheiro, o que sugere que o(s)
autor(es) tinha(m) segurança de que a(s) vítima(s) no interior do cômodo não ofereciam risco”.
Por fim, encerra o aludido laudo: “Após o Levantamento Pericial em Local de crime contra
a vida, o Perito Criminal que subscreve esta peça conclui que ao menos uma pessoa esteve ferida naquele
local e apresentou sangramento abundante e que não havia sinais que indicassem que a(s) vítima(s)
Diante de tal cenário é possível que as vítimas tenham sido atacadas de forma
relação à vítima Andreia, relativa ao feminicídio, também deve ser levada a julgamento pelos
jurados, pois está nos autos como fato incontroverso que vítima e réu mantinham relacionamento
amoroso por alguns anos e estavam, segundo a própria vítima, com a relação rompida. Além
disso, segundo os familiares da vítima Andreia, o relacionamento com o réu era conturbado e ele a
agredia e ameaçava. A informante Maria citou em depoimento judicial que Adão era muito
ciumento, o que também já havia sido dito por Andreia no inquérito policial (fl. 60). Desse modo,
Repito que foi narrado pelas outras vítimas e pela informante Maria que a vítima
Andreia sofreu diversas agressões e ameaças no decorrer de seu relacionamento, inclusive, em seu
depoimento policial a própria Andreia relata que sofreu agressões verbais e físicas, embora tenha
negado em Juízo tais fatos. De qualquer forma, ficou demonstrada a possibilidade de sua situação
de submissão e vulnerabilidade em razão de seu gênero feminino, o que se conclui até mesmo pela
quando totalmente descabidas e dissociadas do acervo probatório, o que não é o caso destes autos.
Por isso, diante de sua possibilidade, compete aos jurados decidir sobre sua efetiva
ocorrência.
(TJGO, RESE 277936-61.2017.8.09.0175, Rel. Des. Ivo Favaro, 1ª CC, DJe 2907 de
13/01/2020)
definitiva tais circunstâncias, cabendo aos jurados decidir sobre sua efetiva ocorrência.
autoria quanto aos três delitos, de rigor seja o acusado Adão pronunciado.
Sua versão defensiva de que tenha agido sob estado de embriaguez avançado, que
possivelmente impediu o seu raciocínio completo, não encontra guarida nos demais elementos de
prova produzidos, em especial a oitivas prestadas na fase judicial, haja vista os relatos de que a
culposa, como neste caso, não exclui a imputabilidade. Não consta nos autos que o acusado tenha
sido colocado nessa situação de forma fortuita, e nem se a embriaguez era completa, pelo
contrário, já que está comprovado que ele tinha vício em álcool e droga (cocaína).
Por tudo isso, as teses defensivas deverão ser apresentadas aos jurados para que eles
Repito que a defesa não trouxe argumentos suficientes para afastar a improcedência
necessitando para essa decisão interlocutória que o juiz tenha a mesma certeza necessária para a
condenação.
impronúncia, necessário que a situação não deixe margem para qualquer controvérsia, diante de
prova estreme de dúvida, o que não acontece neste caso in concreto, não merecendo prosperar,
Assim é a jurisprudência:
DISPOSITIVO
Ante o exposto, e por tudo o que consta dos autos deste processo, com fundamento
no art. 413 do Código de Processo Penal, diante de prova da materialidade dos crimes, bem como
clara e evidente, ACOLHO a pretensão contida na inicial acusatória e PRONUNCIO Adão Pereira
dos Santos, qualificado, submetendo-o a julgamento pelo Egrégio Tribunal do Júri desta
a)- art. 121, § 2º, incisos I (motivo torpe), IV (recurso que dificultou a defesa a vítima)
e VI (contra a mulher por razões das condições do sexo feminino) c/c art. 14, inciso II, ambos do
CP (vítima ANDREIA);
b)- art. 121, inciso IV (recurso que dificultou a defesa a vítima) c/c art. 14, inciso II,
c)- art. 121, inciso IV (recurso que dificultou a defesa a vítima) c/c art. 14, inciso II,
De acordo com o que preceitua o art. 413, § 3º, do Código de Processo Penal, tenho
por bem MANTER a prisão preventiva do réu, vez que ainda constato a presença dos requisitos
que legitimaram sua decretação, nos termos do art. 312 do CPP, notadamente a necessidade de
garantia da ordem pública (em especial para garantir a integridade da mulher vítima Andreia,
presente evidente situação de vulnerabilidade, e também para evitar a prática de novos crimes
contra ela - diante dos relatos de que ele praticou agressões e ameaças anteriores em desfavor dela,
e contra seus filhos), sendo inviável a sua liberdade, ainda mais depois de pronunciado pela
prática de delitos graves, todos hediondos. Ademais, o acusado tem outras passagens criminais
(fls. 307/311).
prisional), seu defensor constituído e o órgão de acusação, nos termos do disposto no art. 420 do
CPP.
art. 422 do CPP, desde já determino a intimação das partes para, no prazo de 05 (cinco) dias,
apresentarem o rol de testemunhas que irão depor em Plenário, até o máximo de 5 (cinco),
Juíza de Direito
Assinado eletronicamente