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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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AS CONTRIBUIÇÕES DO DESENHO INFANTIL


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LIVIA RIO LIMA FRAGOSO


DO

ORIENTADORA
PROF.ª PRISCILA BARCELLOS

RECIFE
JUNHO / 2010
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PRO-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AS CONTRIBUIÇÕES DO DESENHO INFANTIL

LIVIA RIO LIMA FRAGOSO

Apresentação de monografia à Universidade


Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Educação
Infantil e Desenvolvimento.

RECIFE
JUNHO / 2010
3

AGRADECIMENTOS

A minha amiga: Joelma, por indicar esta instituição e encorajar-me para


a realização deste curso de especialização.

A gestora: Nancy, que possibilitou meu acesso a turma de educação


infantil, observando, registrando e manuseando atividades de desenho livre das
crianças.

A professora: Janice, por possibilitar meu acesso a sua turma


conhecendo um pouco sobre suas praticas na realização de atividades de
desenho livre com seus alunos.

A estagiária: Adrielly, pela ajuda prestada na seleção de atividades de


desenho livre dos alunos.

Aos alunos da Escola Municipal São Vicente de Paulo, por me


receberem de braços abertos, por me proporcionarem momentos de
aprendizagem e possibilitarem minha pesquisa.

A orientadora professora: Priscila Barcellos, pelos esclarecimentos e


apoio na realização desta monografia.
4

DEDICATÓRIA

Aos meus pais: Fragoso e Luzia, por todo o esforço na tentativa de


oferecer-me uma educação de qualidade durante toda a minha infância.

Ao meu marido: Gustavo, pelo apoio e paciência durante todo estudo e


pesquisas.

Aos meus filhos: Thiago e Matheus, por tanto me aguardarem para


diversão, enquanto estava nos momentos de estudo.

Aos alunos, professora e estagiária da turma de educação infantil da


Escola Municipal São Vicente de Paulo por proporcionarem aprendizagem e
possibilitarem o enriquecimento desta pesquisa.
5

"O desenho começa como uma escrita, e a


escrita como um desenho, depois a criança cria
formas de diferenciação e de coordenação
entre elas..."
Autor desconhecido
6

RESUMO

Este estudo tem como objetivo apresentar as contribuições que o desenho traz
para o processo de integração social e alfabetização para a vida da criança em
sua fase escolar inicial; considerando que o desenho representa na integra, a
primeira forma de expressão que a criança apresenta, antes mesmo de atingir
as fases da escrita. Por meio do desenho, a criança expressa seus sentimentos
e mostra com certa exatidão como se dará o seu aprendizado gráfico. À
medida que o tempo vai evoluindo, com o avançar gradativo de sua idade
cronológica e emocional a criança vai externando por meio de seus desenhos
sentimentos e emoções, bem como sua forma de perceber e conceber o
mundo que a cerca de acordo com o que está constituído em sua mente. Esta
evolução é mais frequente dos dois aos seis anos de idade. No momento em
que desenha, a criança se depara com seu próprio mundo, sem máscaras, mas
como ela a percebe de fato.

Palavras chave: Desenho Infantil, Educação Infantil, Alfabetização.


7

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e


pesquisa descritiva através do estudo de caso de análise de uma turma de
Educação infantil da rede Municipal de Camaragibe, Escola Municipal São
Vicente de Paulo, no período de fevereiro a maio de 2010. Onde foi realizada a
observação da evolução dos desenhos livres de 20 crianças com 04 e 05 anos
de idade e as contribuições destes desenhos para o processo de alfabetização
destas.

O Estudo de Caso foi realizado mediante o observação, coleta de


atividades de desenhos livres e registro fotográfico destas crianças, que
enriquecem todo o corpo do trabalho, afim de:

• Observar a condução da professora na realização de atividades com as


crianças de desenho livre;

• Identificar, nas atividades coletadas, as fases do desenho infantil


segundo Philippe Greig e se houve evolução neste período;

• Constatar o aparecimento espontâneo da escrita convencional ou não;

• Confirmar, através das atividades coletadas e observações realizadas,a


hipótese de que o desenho livre contribui para o processo de integração
social e de alfabetização.
8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................09

CAPÍTULO I
A ORIGEM DO DESENHO INFANTIL F..........................................................13
1.1 ABORDAGENS DO DESENHO INFANTIL.................................................17
1.1.1 ABORDAGEM QUE ENFATIZA O INTELECTO......................................18
1.1.2 ABORDAGEM QUE ENFATIZA PERCEPÇÃO.......................................18

CAPÍTULO II
AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
SEGUNDO PHILLIPE GREIG ..........................................................................20

CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL PARA
O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO F.........................................................39

CAPÍTULO IV
A ATITUDE DA ESCOLA A FIM DE DESENVOLVER
O DESENHO INFANTIL F................................................................................45

CAPÍTULO V
ESTUDO DE CASO: A EVOLUÇÃO DO DESENHO
DE CRIANÇAS COM 04 E 05 ANOS F...........................................................59

CONCLUSÃO F................................................................................................71

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA F.....................................................................75


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INTRODUÇÃO

O tema desta monografia: O desenho infantil e suas contribuições para


o processo de alfabetização, busca compreender como o desenho infantil
contribui com o processo de alfabetização das crianças.

Vivemos em um mundo de imagens que se modificam a todo instante.


Vemos, através dos meios de comunicação, as representações antes de
conhecermos os objetos reais. Para a criança, este mundo assustadoramente
irreal precisa ser aprendido, e seu desenho pode se tornar um forte aliado no
processo de compreensão desta realidade.

O desenho faz parte do magnífico universo infantil. Nele as crianças


criam e recriam o seu mundo, brincam com as linhas, traçados e cores. Usam
da imaginação e das observações que fazem sobre o mundo para reproduzir
nos seus desenhos. Assim, o desenho surge como forma de comunicar os
aspectos do mundo que o cerca, mostrando fragmentos de sua percepção e
experiência de mundo. É uma linguagem que, por meio de símbolos
organizados e de traços constitui um meio de expressão, através dele se revela
o seu sentido e ainda situações que até mesmo não foram reveladas pela
linguagem verbal.

Toda criança desenha. Pode ser com um lápis sobre o papel ou em


outro suporte, é algo que aprende por imitação ao ver os adultos escrevendo
ou os irmãos desenhando, por exemplo. Este ato de desenhar representa para
a criança uma dimensão em seu crescimento, pois ampliam suas hipóteses
sobre a realidade a sua volta. Quando a criança, realiza sua produção artística,
podemos observar uma serie de elementos indicativos de seu desenvolvimento
emocional, intelectual, perceptivo e social.
10

O desenho livre contribui para desenvolver a capacidade criadora,


intelectual, e para que a criança livre-se dos bloqueios e das angustias,
resgatando a auto confiança e criando condições para que esteja mais apta a
enfrentar situações novas. Além de favorecer o processo de alfabetização
destas.

O desenho é a primeira manifestação da escrita pela criança, e que


sendo estimulada e incentivada pelas mediações do professor passará pelas
fases de construção da escrita com segurança e tranquilidade.

Desenhar e se expressar é algo natural de toda criança e cabe a


escola e aos professores criar estratégias para que a criança goste cada vez
mais de desenhar, de representar o que vê no seu mundo.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9. 394/96,


no título V, capitulo II, seção II, artigo 29, a educação infantil é considerada a
primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até 06 anos de idade. O texto marca ainda a
complementaridade sobre as instituições de educação infantil e a família.
Determinando que o ensino da Arte é um componente curricular obrigatório nos
diversos níveis da educação básica.

Embora atualmente, as artes venham sendo apontadas como forma de


expressão importante para o bom desenvolvimento infantil, muitos professores
e escolas não dispensam a elas o tratamento devido, considerando-as muitas
vezes como algo supérfluo nas atividades escolares. Assim, permitem aos
alunos o manuseio de diversos materiais artísticos, quando se quer mantê-los
entretidos por algum tempo, sem considerar sua importância no processo
educacional.
11

Diante do exposto o objetivo principal desta pequisa é verificar a


importância do desenho infantil para o processo de alfabetização. Para tanto,
será descrito as etapas de evolução do desenho infantil segundo Philippe
Greig; destacado a importância do estímulo ao desenho livre das crianças no
âmbito escolar; constatado as formas de expressão das crianças através do
desenho e analisado como o desenho infantil pode contribuir com o processo
de alfabetização das crianças.

No primeiro capítulo, será enfatizado as origens do desenho infantil


trazendo o surgimento do desenho e a visão da criança em diferentes tempos
históricos. Bem como formas de abordagem do desenho associadas a períodos
históricos distintos (Abordagem que enfatiza o intelecto; Abordagem que
enfatiza a percepção). Afinal o desenho é uma linguagem tão antiga quanto a
História da Humanidade, tão permanente que atravessa as fronteiras
geográficas e temporal, instantaneamente, nova como tudo que nos é
contemporâneo.

Posteriormente, será destacado as etapas de evolução do desenho


infantil segundo Phillipe Greig, onde encontraremos as fases de
desenvolvimento do desenho infantil e suas principais características conforme
enfatiza este autor, além de desenhos que destacam cada uma destas fases
realizados pelas crianças acompanhadas no Estudo de caso que será
abordado nesta monografia. Pois é necessário conhecer e compreender como
a criança passa pelas divesas etapas da evolução grafica, para ter a dimensão
de como ela esta desenvolvendo, percebendo e interagindo com o seu meio,
através de suas produções artísticas.

No terceiro capítulo aborda-se a importância do desenho infantil para o


processo de alfabetização. Visto que após o instinto da alimentação, a primeira
12

necessidade que a criança manifesta é a do movimento. Quando a mão


começa a agarrar alguns objetos, surge a necessidade de aperfeiçoar o
movimento, ou seja, o instinto plástico. O desenho evolui com a criança, sendo
um instrumento indispensável para o seu desenvolvimento integral. As
vantagens que advêm do desenho são consideráveis.

No capítulo quatro, será explanado atitudes que a escola e seus


professores, responsáveis por estimular em seus alunos o desenvolvimento
cognitivo, psicomotor, cultural e afetivo, devem tomar para que o
desenvolvimento do desenho infantil e o processo de alfabetização ocorra com
respeito aos ritmos e formas individuais de expressão; pois na pratica diária
de nossas escolas ainda não se dá uma ênfase e devida importância às
atividades expressivas das crianças, principalmente no que se refere ao
desenho livre.

No ultimo capitulo será descrito o Estudo de Caso realizado em uma


unidade escolar da rede Municipal de Camaragibe de educação infantil, bem
como os avanços alcançados pelas crianças com 04 e 05 anos de idade no
que se refere a evolução de seus desenhos e as contribuições destes no
processo de alfabetização, realizada no período de fevereiro a maio do ano de
2010.
13

CAPÍTULO I
A ORIGEM DO DESENHO INFANTIL
14

A ORIGEM DO DESENHO INFANTIL

O desenho é uma linguagem tão antiga quanto a História da


Humanidade, tão permanente que atravessa as fronteiras geográficas e
temporal, instantaneamente, nova como tudo que nos é contemporâneo.

A atividade de rabiscar, deixar marcas, representar figuras surge com o


próprio homem e parece continuar sendo uma necessidade até hoje, quando
temos, ao invés das paredes das cavernas, os muros urbanos cheios de
pichações, reafirmando a passagem do homem em seu tempo e espaço, como
também sua forma de comunicar e expressar sentimentos.

A ciência reconhece a arte como sendo um estado do conhecimento.


No entanto a arte não só representa uma forma específica de saberes como,
também, constitui a base do conhecimento humano. Por exemplo, o alfabeto foi
criado a partir da evolução dos hieróglifos,ou seja, a escrita surgiu dos
ideogramas e esta forma de conhecimento se encontra presente na origem da
Arquitetura e da Geometria. Sendo assim, pode-se afirmar que o desenho
contribuiu com o surgimento da História e da Matemática, mesmo que
indiretamente (DERDYK, 1989).

Na prática educacional o ensino de Artes apresenta características


peculiares em determinados períodos, evoluindo de acordo com as
transformações sociais e culturais. Dessa forma, podemos citar algumas
tendências (IAVELBERG, 2006):

• Na escola tradicional:
15

O desenho relacionava-se com a preparação do aluno para o trabalho,


enfatizando a linha, o contorno e a reprodução de modelos propostos pelo
professor.

• Na escola nova:
A arte defendia a livre expressão e a expressão espontânea, os alunos tinham
liberdade de desenhar livremente sem precisar seguir modelos ou técnicas;

• Na escola libertadora:
A arte segue ações interdisciplinares como forma de enfatizar a ligação entre
os conteúdos abordados;

• Na escola crítico-social dos conteúdos:


O professor tem domínio sobre o assunto sabendo ensinar a arte ou ser
professor de Arte, dominava as técnicas de representação, desenho e pintura;

• Na escola construtivista:
A arte passa a ser obrigatória nas instituições de ensino como expressão de
ideologias, sentimentos e linguagem.

A arte possui uma extensa jornada, mas foi amparada em lei


somente na década de 70 através da Lei nº 5692, de 11 de agosto de 1971,
que tornou obrigatória a disciplina de Educação Artística nos estabelecimentos
de 1º e 2º graus. Segundo o entendimento dessa lei, a arte era considerada
apenas uma atividade educativa, não efetivamente uma disciplina. Em 20 de
dezembro de 1996, essa lei foi revogada pela Lei nº 9394 que, em seu artigo
26 parágrafo 2º, menciona o ensino da arte como componente curricular
obrigatório, nos diversos níveis da educação básica (IAVELBERG, 2006).
16

É imprescindível revisitar as origens no tempo para entender as noções


básicas do desenho infantil.

Na Europa até o século XVIII não havia a noção de criança no sentido


de uma fase específica do desenvolvimento humano. O historiador Áries (1981,
p.55) resume o contexto com estas palavras:

A criança não tinha suas especificidades reconhecidas, sendo


considerada como um adulto em miniatura. O seu cotidiano era
inteiramente ministrado ao dos adultos, seja no trabalho, nos
passeios ou em brincadeiras. Não se tinha consciência que a
infância era um período diferenciado da vida humana. Assim,
logo cedo os pequenos eram integrados ao mundo adulto,
sendo deles exigidas atitudes correspondentes.

Nessa época não havia espaço para a infância, seja no âmbito da


família, da escola ou da sociedade. A infância era vista como o inicio da vida
humana, onde as crianças, os infans, seriam incapazes e não se expressavam.

A mudança de sentido deste referido conceito deve-se em grande


parte a Jean-Jacques Rousseau, pois ele tornou-se o principal questionador
dos princípios que embasavam a sociedade da época, particularmente quanto
ao modo como se viam os infans. A ruptura com o antigo paradigma ocorre a
partir da publicação das obras: Do contrato Social e Emílio ou da Educação,
em 1762 (CERIZARA, 1990).

Rousseau defende que a educação deve começar pelos sentidos e


que, na criança, as imagens chegam primeiro que as ideias. A questão do
desenho é vista do seguinte modo em Rousseau (apud CERIZARA, op. cit., et
seq.):

Emílio desenhará para tornar seu olho justo e sua mão flexível.
Nada de professores de desenho, que só levam as crianças a
17

“imitar imitações e a desenhar segundo desenhos: quero que


ele não tenha outro professor senão a natureza, nem outro
modelo senão os objetos. [...] bem sei que desta maneira ele
rabiscará durante muito tempo sem nada fazer de
reconhecível, que aprenderá tarde a elegância dos contornos e
do traço leve do desenhista, talvez nunca o discernimentos dos
efeitos pitorescos e o bom gosto do desenho; em
compensação contrairá certamente um golpe de vista mais
preciso, uma mão mais segura, o conhecimento das
verdadeiras relações de forma e tamanho que existem entre os
animais, as plantas, os corpos naturais e uma mais rápida
experiência do jogo da perspectiva. (p. 148)

Rousseau parece ter consciência do percurso gráfico da criança, pois,


além de referir-se à questão do tempo, afirma que a criança inicialmente
apenas rabisca, “ele rabiscará durante muito tempo sem nada fazer de
reconhecível” (Id.). Essa afirmação serve para demonstrar que Rousseau não
estava preocupado em exigir da criança o realismo, isto é, a representação fiel
da realidade.

O pensamento de Rousseau, provavelmente junto ao de Darwin, além


de causar rupturas com a visão político-religiosa de mundo e de homem,
influenciou escritores, artistas plásticos, críticos, sociólogos, psicólogos,
psicanalistas e pedagogos ocasionando um vasto número de teorias e
interpretações neste campo que apontam formas de abordagem do desenho
associadas a períodos históricos distintos.

1.1 Abordagens do desenho infantil

As referidas modalidades foram agregadas em dois grandes blocos:

1.1.1 Abordagem que enfatiza o intelecto


18

Esta abordagem pressupõe que o desenho da criança progride em


estágios sequenciais equivalentes de desenvolvimento. Faz-se uso da coleta
de desenhos espontâneos acompanhados por uma descrição e classificação
dos mesmos, sendo seu grande objetivo estabelecer uma taxonomia do
desenho infantil e diagnosticar a capacidade mental da criança através do
desenho, diagnosticando e explorando desajustes psicológicos. Parece que os
primeiros trabalhos desta vertente sofreram limitações porque os estágios
foram fixados de modo empírico. Tal problema teria sido resolvido por Piaget,
desde que foram estabelecidas cientificamente as etapas do desenvolvimento
cognitivo (ARIES, 1981).

Dos autores que adotaram esta abordagem destaca-se: Burt (1922),


Eng (1931), Griffiths (1935), Krotzch (1917), Kerschensteiner (1905), Levinstein
(1905), Luquet (1913; 1927). Rouma (1913), Stern (1910), Sully (1895), Wulff
(1927).

1.1.2 Abordagem que enfatiza a percepção

Esta abordagem prima pelo desenho livre como expressão interior,


estimulando o desenvolvimento das atividades representacionais na escola.
Sobre esta vertente, Coutinho, S. (Op. cit.) diz:

Duas vertentes são importantes nesta abordagem: uma


que emergiu no campo da Arte educação tendo como
expoente máximo Löwenfeld em 1939; e outra no campo
da percepção visual com Arnheim nos anos 50 (Thomas &
Silk 19930:30; Selfe 1983:9; Michael & Morris 1985:103).
Löewnfeld acreditava que a expressão individual da arte
seria essencial para um saudável desenvolvimento
emocional e pessoal. Ele encorajava o desenho livre
19

como expressão interior, estimulando a atividade pictórica


e as maneiras de desenvolvimento da mesma nas
escolas.

Nesta abordagem defende-se que a criança desenha não uma réplica,


mas um equivalente do original. As linhas, os contornos e os pontos não estão
presentes no objeto, mas são utilizados para representá-lo. Sendo assim,
quando uma criança desenha um círculo para representar uma pessoa, é
porque ela assim o vê e não porque não consegue reproduzir uma imagem
mais realista. “[...] O desenho da criança é a procura de algumas
características formais do objeto, e não uma tradução gráfica de tudo que ela
sabe sobre o objeto” (COUTINHO, 2005).

Dentre estes autores destacam-se as contribuições de Phillipe Greig


(2004) que apresenta o resultado de uma pesquisa realizada na França,
através do levantamento de milhares de consultas e da observação de cerca
de cinquenta mil desenhos referentes à produção anual completa de algumas
classes de educação infantil.
20

CAPÍTULO II
AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
SEGUNDO PHILLIPE GREIG
21

AS ETAPAS DE EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL


SEGUNDO PHILLIPE GREIG

A criança apresenta em cada idade caracteristicas diferentes em seu


desenvolvimento, mostrando novas maneiras de expressar suas emoções,
tanto fisicamente quanto em seus aspectos cognitivos, emocionais e sociais.
Essas manifestações não se regem pelos padrões estéticos dos adultos. A
evolução é semelhante na maioria das crianças, estando, no entanto,
dependente de diferenças individuais de temperamento e sensibilidade, bem
como da estimulação e reforço que são dados pelas pessoas que a rodeiam.
Greig(2004, p. 15), enfatiza:

Seu desenho á apenas uma forma particular da emergênciade


linguagem, um reflexo de seu crescimento psiquico.

Desde muito cedo, a criança começa a estabelecer noções de


aprendizagem, pois os primeiros anos de vida são momentos decisivos e
importantes para ela; tudo irá, a partir de agora, refletir em sua vida inteira.

No final do 1º ano de vida, a criança já é capaz de produzir os primeiros


traços gráficos, uma vez que já há domínio da sua motricidade e coordenação
visual e motora. A criança é capaz de agarrar o lápis e exercer pressão sobre a
folha de papel, deixando a sua marca.

O desenho é apenas uma ação sobre uma superfície, a criança sente


prazer ao constatar os efeitos visuais que a sua ação produz.

É necessário conhecer e compreender como a criança passa pelas


divesas etapas da evolução grafica, para ter a dimensão de como ela esta
22

desenvolvendo, percebendo e interagindo com o seu meio, através de suas


produções artísticas.

Eis um resumo das etapas de evolução gráfica da criança, segundo


apresenta o mencionado autor com destaque de atividades de desenho livre de
crianças com 04 e 05 anos de idade observadas para realização do Estudo de
caso presente nesta pesquisa.

A criança por volta de 01 a 02 anos de idade começa a andar e a falar,


com evidente prazer pelo gesto. Greig (2004, 12) explica que “[...] Por volta dos
18º mês, o olho da criança começa a seguir o movimento da mão, mesmo que
ainda não o oriente. Aos 02 anos, começa o controle visual do traçado.” Neste
período são capazes de traçar rabiscos primitivos (figuras 01) .

Figura 01 – Rabiscos Primitivos

Fonte: Crianças com 04 anos de idade –Estudo de Caso


23

Figuras 02 e 03 – Rabiscos Primitivos

Fonte: Crianças com 04 anos de idade –Estudo de Caso

As crianças fazem desenhos por simples prazer de seus movimentos,


sem tentar representar o seu meio nesse período do seu desenvolvimento.

Na passagem do gesto ao traçado encontramos uma nova fase do


desenho denominada de rabiscos de base, neste os primeiros movimentos
tendem a ser circulares e de vaivém como varredura.

Greig (2004, p. 19) explica que: “As primeiras palavras acompanham os


primeiros passos, e os rabiscos mais primitivos começam a deixar sua marca,
depois as primeiras frases encerram o segundo ano junto com os dois
desenhos de base”. Relacionando, assim, a origem do grafismo com a fala.

A esse respeito cita Silva (1993, p.17):

A fala ordena o desenho; quando a criança diz ‘vou fazer um


carro’ e dirige sua ação gráfica nesse sentido, é orientada pela
palavra. Ao mesmo tempo, o desenho organiza a fala quando
determinado grafismo sugere um rio, por exemplo, e a criança
assim denomina seu traçado, estimulada pela marca gráfica.
24

Ao dar nome aos desenhos, mesmo que ainda não sejam


reconhecíveis, elas as denominam, indicando uma transformação em seus
pensamentos. Pois, sua satisfação, até então, era o simples movimento ao
desenhar, agora começa a ligar esses movimentos com sua realidade.

Figuras 04 e 05 – Rabiscos de base com movimentos circulares e de vaivém

Fonte: Crianças com 04 anos de idade –Estudo de Caso

A falta de interesse dos adultos e até de inúmeros profissionais pelos


rabiscos faz com que se prossigam e se sobrecarreguem os traços até se
tornarem ilegíveis. Algumas crianças têm o costume de riscar toda a pagina
escondendo o desenho expressado.
25

Quando o controle visual assume a direção da mão, o movimento


desencadeado em espiral com argolas superpostas formam o rabisco
circular(figura 04).

Por volta dos 02 anos de idade a criança inicia o controle visual do


traçado, marcando o inicio da intencionalidade. Aos poucos a criança adquire o
duplo controle sobre o ponto de chegada e o ponto de partida, ou seja, os
movimentos circulares nos seus desenhos passam a constituir desenhos de
círculos. A verdadeira figura fechada aparece aos poucos e apresenta falhas
constantes, muito características da intenção da criança de fechar
completamente o círculo.

Figura 06 – Tentativa de constituir uma figura circular fechada

Fonte: Criança de 04 anos de idade – Estudo de Caso.


26

Figura 07 – Evolução dos movimentos circulares para construção de círculos.

Fonte: Criança com 04 anos de idade - Estudo de Caso

No período da intenção representativa, por volta dos 03 anos de idade,


segundo Greig (2004, p.31) coincide com a explosão da sociabilidade e da
linguagem. “[...] o circulo e os 03 anos associam-se em nossa exploração do
grafismo infantil como um marco de referência muito rigoroso”. Assim, quando
os rabiscos de base chegam ao apogeu do circulo, surgem as primeiras figuras
compostas:

• Figura continente: forma circular fechada, cujo interior a criança


sobrepõe ou preenche com formas variadas (pontos, rabiscos, outros
círculos ou combinação destes).
27

Figura 08 – Figura Continente

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de Caso

• Figura irradiante: formas circulares ou ovais acrescidas de raios, que se


expandem para fora. Neste caso a criança justapõe seus dois
conhecimentos adquiridos: a linha e o círculo.

Figura 09 – Figura Irradiante

Fonte: Criança com 05 anos de idade – Estudo de Caso


28

Greig (2004, p.43) enfatiza o egocentrismo comum na fase infantil


sendo também expressa, inconscientemente, pelo desenho:

A figura irradiante é uma expressão de exteriorização e de


afirmação, enquanto a figura continente aparece como um
modelo do apego e da segurança. O “eu sou” da figura fechada
é respondido em eco por um “eu me expresso e eu me afirmo”
da figura irradiante e por um “eu cuido e eu me protejo da figura
continente. A figura girino incorpora tudo isso: “eu sou, eu me
protejo e eu me afirmo”, como uma verdadeira bandeira da
individualização.

Figura 10 – Constituição da figura irradiante

Fonte: Extraída de Greig (2004, p. 44)


29

Após a descoberta destes traçados começam a surgir expressões onde


há uma junção de características da figura continente e da figura irradiante no
mesmo desenho organizam-se normalmente a partir da figura circular fechada.

Figura 11 – Figura continente irradiante

Fonte: Criança com 05 anos de idade – Estudo de Caso

Por volta dos 03 anos e meio há o inicio da figuração, surge a figura-


girino (uma forma de representação primitiva da figura humana).
30

Figura 12 – Primeiras tentativas da figura humana – Figura girino

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de caso

A criança agora busca criar, com mais consciência, os modelos que


tem alguma relação com seu meio circundante, relacionando com os objetos
visuais com os quais a criança esteja envolvida, começando a estabelecer uma
relação com o que quer representar.

A figura-girino é assim descrita por Greig (2004,p. 36):

[...] Esse esforço conduz, aos 03 anos e meio em média, a


figura-girino verdadeira, que rapidamente vai enriquecendo de
precisão e detalhes. [...] Mas, em todos os casos, a figura-girino
é irradiante, continente e nela se reconhecem seus dois olhos:
é a combinação mental e a condensação no papel dos três
grafemas fundamentais que marcam a entrada na figuração.

A criança já faz desenhos reconhecíveis pelos adultos, representando


pessoas, casas, árvores, depois começa a desenhar temas mais identificáveis.
O tema preferido é a figura humana, fazendo inicialmente, uma representação
“cabeça e pés”, (fase do girino) onde a criança desenha um circulo como
31

cabeça e duas linhas verticais para desenhar as pernas. Nota-se, nesse


período, que a criança está interessada nela própria. Depois vai acrescentando
e fazendo inclusão final do corpo humano.

Greig destaca vários tipos de figuras-girinos ou bonecos-girinos:

• Arcaicos

Figura 13 – Girinos arcaicos

Fonte: Criança de 05 anos de idade – Estudo de Caso

Os girinos mais precoces são do tipo arcaico sem riqueza de detalhes


e de composição da figura humana.

• Primitivos
32

Figura 14 – Figura girino primitivo

Fonte: Criança com 05 anos de idade – Estudo de caso

As figuras girino primitivos são difíceis de reconhecer, mas sua


característica principal é a existência de aspectos das figuras continente,
irradiantes e com dois olhos.

• Clássicos

Com o aparecimento da boca, nariz ou sobrancelhas, orelhas ou


cabelos, pernas e braços, ás vezes com os pés ou com as mãos estamos
diante de uma figura girino clássica.
Figura 15 e 16 – Figura girino clássica
Figura 15 e 16 – Figura girino clássica
33

Figura 15 e 16 – Figura girino clássica

Fonte: Criança de 04 anos de idade – Estudo de Caso


34

• Prolongados

Nas figuras girino prolongadas o círculo é fechado de modo perfeito,


como também os membros se inserem nele. Encontramos
frequentemente as orelhas, cabelos, características mais detalhadas da
figura humana.

Figuras 17 e 18 – Figura girino prolongada


35

Fonte: Crianças de 05 anos de idade – Estudo de Caso

A partir dos 04 anos de idade, surge o quadrado, para representar a


casa; e a estruturação do espaço, cenário. Ao mesmo tempo, a representação
do animal também começa pela forma fechada.
36

Figuras 19 e 20 – Representações de uma casa


Fonte: Crianças de 05 anos de idade – Estudo de caso

Já aos 05 anos, considerada por Greig a Fase da Idade de Ouro,


ocorre a estruturação do esquema corporal no desenho das crianças. Surge a
37

personagem com corpo e cabeça definidos. Aos poucos, este esquema


corporal começa a ser mais detalhado, inclusive com a distinção de sexo, pelos
diferentes cabelos, roupas; começam a aparecer orelhas, sobrancelhas, cílios,
entre outros.

A criança nesse período de evolução busca constantemente novos


conceitos e formas para representar o mundo. Quando ela realiza o desenho,
realiza contando o que fez, verbaliza sua atividade para dar mais vida,
tornando-a uma tarefa mais rica e criativa.

Nesse momento, as crianças se interessam em registrar tudo que


sabem sobre o modelo ao qual se referem no desenho, e é possível verificar o
uso de recursos como a transparência (um bebê dentro da barriga da mãe, por
exemplo – figuras 21).

Figuras 21 e 22 – Representações de Figuras humanas

Fonte: Crianças com 05 anos de idade - Estudo de Caso

A partir dos 06 anos de idade, coincidindo normalmente com o inicio da


vida escolar do ensino fundamental, surge à fase do esgotamento onde Greig
(Op. cit., p. 12):
38

[...] e eis que chegando ao fim da educação infantil; tem inicio o


ensino fundamental, com prioridade para a escrita e com a
curiosidade sobre o mecanismo das coisas e a precisão de sua
representação. [...] À medida que cresce, a criança perde o
gosto de desenhar e o pretexto é que não sabe mais: a
dimensão técnica agora suplanta a espontaneidade [...] Poucos
jovens entram na adolescência com um ‘traço’ reconhecido por
seus colegas, e para todos os outros esse é o momento de
abandono total do desenho.

Na medida em que necessita afirmar-se e ser reconhecida neste


mundo simbólico, a criança se interessa por conhecer e dominar seus códigos,
em especial os códigos visuais. Isto ocorre porque antes de frequentar a escola
propriamente dita, a criança já convive com essa forma de representação. A
criança explora os grafismos desde os dois anos de idade. Então, à medida
que se desenvolve, interage com o mundo e é regulada pelo mesmo.

Ao desenhar, a criança mantém uma relação mais reflexiva e


imaginativa, possibilitando um grande exercício mental. A sua linguagem
gráfica e verbal interagem na sua produção. “Então, começa a colocar em seus
desenhos suas primeiras tentativas de comunicação escrita. Vão aparecer
nessa fase, novas formas: bolinhas e traços para reproduzir e imitar o ato de
escrever, e com a escrita, vão surgindo novas possibilidades de comunicar e
exercitar o seu mundo” (Derdik, 1990).

O desenvolvimento progressivo do desenho infantil evidencia


mudanças significativas que vão dos primeiros rabiscos aos desenhos mais
elaborados contribuindo não só para sua evolução gráfica, mas
concomitantemente com os aspectos cognitivos e emocionais.
39

CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL PARA
O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
40

A IMPORTÂNCIA DO DESENHO INFANTIL PARA


O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Após o instinto da alimentação, a primeira necessidade que a criança


manifesta é a do movimento. Quando a mão começa a agarrar alguns objetos,
surge a necessidade de aperfeiçoar o movimento, ou seja, o instinto plástico. O
desenho evolui com a criança, sendo um instrumento indispensável para o seu
desenvolvimento integral. As vantagens que advêm do desenho são
consideráveis. Entre elas podemos considerar o desenvolvimento emocional,
intelectual, perceptivo e social e da psicomotricidade, com especial destaque
para a psicomotricidade fina, bem como o desenvolvimento de competências
que posteriormente serão úteis para a aprendizagem da leitura e da escrita.

Quando a criança desenha, busca demonstrar seus interesses e


também suas angustias. O desenho assume na infância um marco em seu
desenvolvimento; a cada estágio pelo qual passa, ela estabelece novas
relações com a realidade (Moreira, 1996).

Ao desenhar a criança sente uma grande satisfação, fazendo


movimentos constantes que até então, não são compreendidos pelos adultos;
aos poucos, surgem formas mais reconhecíveis. Nesse exercício de
movimentos a criança não se preocupa com cores, geralmente pega o que
estiver mais próximo delas sem ter nenhuma necessidade para relacioná-la
(Moreira, op. cit.).

A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de gesticular, de se


afirmar. O grafismo que daí surge é essencialmente motor,
orgânico, biológico, rítmico. Quando o lápis escorrega pelo
papel, as linhas surgem. [...] é um prazer auto-gerado, diferente
do prazer sentido pela obtenção de alimento, de calor, de
carinho. A autoria da magia depende exclusivamente da
criança. (Derdyk, 1989, p. 56.).
41

Desenhando livremente a criança aprende a desenvolver, de forma


descontraída e prazerosa, a noção de espaço, tempo, quantidade, sequencia,
apropriando-se do próprio conhecimento, que é construído respeitando seu
ritmo.

Quando, em um desenho, os braços de uma figura humana saem da


cabeça e não do tronco, por exemplo, significa que a criança ainda não tem
construído interiormente, em seu pensamento, o esquema corporal de uma
figura humana. Isso nada tem a ver com o fato de ela não estar
enxergando direito, de estar com problemas de motricidade fina, ou ainda, de
não estar apta a desenhar com destreza. Desenhar figuras humanas possibilita
à criança estruturar suas idé ias sobre a figura humana. No mesmo sentido,
quando as crianças escrevem letras e algarismos espalhados, representa o
que têm construído sobre as relações espaciais, se direita/esquerda ou em
cima/embaixo. Não existe “o todo” integrado em seu pensamento; o desenho
ou a escrita refletirá a forma que ela tem de ver o mundo, e não aquela
que a maioria dos adultos considera correta.

A criança começa, muito cedo, a se expressar de forma verbal; logo em


seguida, ela começa a fazer seus primeiros registros assumindo a forma de
garatujas, fazer na qual conduzirá a criança não só ao desenho, mas também a
escrita, ou seja, ela adquire as primeiras noções da função social da escrita,
pois sua comunicação feita através do desenho pode ser compreendida por
outras pessoas antes que ela aprenda a escrita convencional.
A evolução do grafismo é compreendida como dependente da evolução
perceptiva e da compreensão da atividade simbólica. Sendo assim, à medida
que cada etapa é alcançada, a criança é capaz de representar através de
signos, convencionais, figuras geométricas, letras e de evoluir no domínio
gráfico, ate a escrita alfabética.
42

Segundo Silva (1991) os primeiros rabiscos e desenhos são


representações envolvidas, mas não muito claras, que proporcionam nas
crianças brincadeiras simbólicas de faz-de-conta interpretadas no seu dia-a-
dia, contribuindo na percepção da escrita.

Diante disto, o autor compreende que as brincadeiras simbólicas


relacionadas ao desenho desenvolvem nas crianças o interesse pela escrita,
agindo de forma intermediária para que a crianças por meio desses rabiscos,
sinais gráficos e imagens construam o seu próprio aprendizado relacionado à
escrita.

As crianças produzem tentativas de escrita de duas maneiras um de


traços ondulados, estilo um conjunto de ondas ou de formas circulares e linhas
na vertical, esses traços por mais que não se consiga interpretação do que a
criança produz, nesses tipos de traçados podemos perceber que existem um
tipo de escrita, pois, a criança escreve esses traços, com intuito de dar algum
significado a objetos já conhecidos.

Figuras 23 e 24 – Tentativa de escrita espontânea


43

Fonte: Crianças com 05 anos de idade – Estudo de Caso

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1999) as crianças desde cedo


possuem tentativas de escrever tanto através de ondulados contínuos como de
círculos ou linhas verticais descontínuas.

As produções das crianças antes da vida escolar são vistas como


riscos circulares ou traços sem significação, mas como afirma a teoria
piagetiana “(...)as crianças fazem explorações ativas sobre os objetos de
conhecimento” (AZENHA, 1995, p.60).

A criança tenta fazer as representações de objetos que já conhecem e


procura por meio de seus rabiscos, traços e riscos circulares construir, um
significado a essas produções; a criança adquire o ato de escrever produzindo
tentativas de cópias e aperfeiçoando-as a partir do estimulo do adulto.

O adulto ou professor deve agir de forma mediadora e estimuladora


que levem as crianças a produzirem suas escritas respeitando a maneira,
línguas e ambientes culturais, no qual gostariam de escreverem. Garantindo
uma evolução e aperfeiçoamento na alfabetização das crianças.

A criança, inicialmente, procura escrever as palavras de acordo com o


tamanho, largura do que consegue perceber na sua realidade, fazendo ligação
44

com o objeto concreto. A dificuldade das crianças neste período esta


relacionada a identificar o desenho e a escrita, pois apresentam dificuldades
instantâneas em distinguir o que é para escrever e desenhar.

]Figura 25 – Tentativa de escrita ocupando todo o espaço da linha

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de caso


45

CAPÍTULO IV
A ATITUDE DA ESCOLA A FIM DE
DESENVOLVER O DESENHO INFANTIL
46

A ATITUDE DA ESCOLA A FIM DE DESENVOLVER


O DESENHO INFANTIL

Na pratica diária de nossas escolas ainda não se dá uma ênfase e


devida importância às atividades expressivas das crianças, principalmente no
que se refere ao desenho livre. Em algumas escolas, fazem algumas atividades
como modelagem, desenho e pintura (normalmente de desenhos
estereotipados), desprovidas de algum significado, sem objetivos sociais
construídos e sem atingir a compreensão das crianças.

Os profissionais de educação, principalmente de Educação Infantil,


precisam compreender e utilizar o desenho como uma pratica educativa
benéfica ao desenvolvimento da criança e à sua aprendizagem.

Conforme apontado nos Referenciais Curriculares Nacionais da


Educação Infantil(1998, vol. 03) e detalhado na Proposta curricular da
Prefeitura Municipal de Camaragibe(2009), o desenho é uma das linguagens
visuais, cujo trabalho deve ter como suporte uma tríade:

▪ Fazer Artístico (expressão e produção);

Elaborar desenhos, pinturas, gravuras, cenas, historias, movimentos,


sons; construir bonecos, esculturas, instrumentos musicais; expressar
emoções, conhecimentos, percepções; exercitar e manipular diferentes
materiais, diferentes objetos sonoros; conhecer meios e instrumentos, materiais
e técnicas; interpretar uma canção; tocar instrumentos; criar e representar
personagens e/ou historias; improvisar e compor dança, inventando e recriando
sequencias de movimentos.
47

▪ Apreciação (construção de sentido, gosto estético);

Ver imagens, coreografias; escutar sons do ambiente, obras musicais e


historias; tocar nas superfícies, pegar em objetos de formas e texturas
variadas; observar paisagens, movimentos, gestos e situações do cotidiano,
encenações; perceber volumes, cores, formas, sons, movimentos; sentir
emoções, identificar tempo, espaço, luz, sombra; reconhecer estilos, artistas,
culturas; comparar imagens, sons, movimentos; relacionar obras de diferentes
linguagens ou de diferentes autores, descrever, interpretar, analisar, julgar
sons, imagens, expressões faciais, gestos e movimentos coreografados.

▪ Reflexão (pensar sobre os conteúdos, compartilhar ideias).

Conhecer pintores, dramaturgos, músicos, poetas, escultores,


cineastas, fotógrafos, orquestras, atores; pesquisar sobre as diferentes
culturas, tempos históricos e espaços nos quais as obras estão inseridas;
refletir, analisar, comparar fatos históricos e movimentos artísticos; relacionar e
sistematizar informações sobre os bens artísticos e culturais; conhecer e
comentar sobre coreógrafos, bailarinos e mestres da cultura popular, suas
obras e fatos da historia da dança de diferentes culturas, em diferentes épocas.

No entanto o nosso sistema educacional em geral encontra-se ainda


voltado para o ensino baseado na acumulação e aquisição de conhecimentos,
mesmo que atualmente a sociedade exija e busque pessoas cada vez mais
criativas e capazes de tomar decisões inteligentes. No inicio deste sistema
educacional temos a educação infantil e para a criança, o desenho é uma
forma de se apropriar do mundo, e é um ato de inteligência por tal
representação.
48

O desenho é uma das diversas formas para expressar suas


experiências, e colaboram com o crescimento e mudanças sociais, emocionais
e intelectuais.

Ao se expressar numa atividade artística, a criança desenvolve


o conceito de “EU”, merecendo uma atenção especial, pois, por
meio dessa atividade ela revela seu intimo, seu pensamento,
consegue elaborar e descobrir coisas novas (THIESSEN,
1986).

Para a criança o desenho é um texto que não pode ser reduzido,


simplesmente a palavras segmentadas, assim como um texto verbal também
não é um amontoado de palavras soltas, mas sempre articuladas e dentro de
um contexto, para expressar os seus pensamentos.

Ao desenhar livremente, a criança indica o seu desenvolvimento


cognitivo, emocional e físico, que contribuirá para desenvolver sua capacidade
criadora e intelectual, a qual irá contribuir para que ela livre-se dos bloqueios e
das angustias, resgatando sua autoconfiança e criando condições para que
seja mais apta a enfrentar situações novas.

Para Cunha (2002), é na Educação Infantil que as crianças começam a


procurar por formas e cores especificas para cada elemento formal, porém
essa busca tende a se esgotar quando as crianças encontram formas mais
semelhantes aos elementos observados. É nesse momento que a intervenção
do professor se faz mais necessária no sentido de estimular novos olhares,
fornecer oportunidades para a criança relacionar e comparar, desafiar.

O trabalho do educador deve favorecer para que o processo de


educação se realize de forma integral, articulando o sentir e o simbolizar, ou
seja, desenvolvendo os aspectos afetivos de forma complementar entre razão
e emoção, para que o individuo possa interferir, transformar e rever a realidade.
49

A criança vive cercada de imagens e apelos sedutores da sociedade de


consumo. A mídia se faz forte com seus modelos estereotipados, tornando-se
uma concorrência desleal e trazendo obstáculos para a construção do
conhecimento mais significativo. Diante disso a criança começa a criar
insegurança em relação aos seus desenhos, acha-se incapaz de fazer tais
reproduções. O estereotipado fica cada vez forte, pois ela acha que é uma
forma mais segura para não se expor com suas próprias representações.
Busca sempre uma resposta para saber se sua produção esta certa ou errada,
bonita ou feia, resultando em atividades sem nenhum prazer.

Na escola, acontece muito frequentemente, a realização de atividades,


aonde já vem estabelecido o que a criança deverá fazer, ou seja, atividades
com modelos mimeografados e estereotipados, para que a criança possa
colorir, sem despertar seu envolvimento e sua criatividade, causando até
mesmo, inibição e falta de interesse em suas tarefas. Para que isso não
aconteça, é importante que o educador procure não intervir na atividade
artística da criança, pois neste momento ela esta em pleno desenvolvimento de
sua auto-expressão, e qualquer situação que a leve a inibir e frustrar suas
produções será muito marcante, deixando a criança sem prazer na realização
de suas atividades.

A importância de não usar dos desenhos estereotipados, ou seja, as


cópias feitas pelo adulto para a criança colorir, porque levam as crianças ao
desinteresse nas suas próprias criações, pois levam a criança a pensar “se
tenho algo bonito para colorir porque irei criar rabiscos sem significação”.
“O desenho consiste numa imitação do real, consequentemente
a capacidade de observação dos objetos e da natureza é uma
maneira de favorecimento.” (ASSIS, M., 2004, p. 284).
50

Então trazer produções prontas não auxilia as crianças a descobrir


suas próprias vontades e criações, levam os alunos a serem acríticos
aceitando sempre as coisas como são não os estimulando a modificar e nem
recriar sua realidade. Por isso cabe aos professores despertar em nossos
alunos o interesse por suas produções artísticas garantindo assim o interesse
pela escrita e futuramente a vontade de descobrir o mundo da leitura.

Dessa forma é importante que o educador saiba apreciar e também


compreender a criação do outro, ou seja, perceber como a criança se envolve
numa atividade criativa, para que ele tenha condições de valorizar a criação
infantil. Sua auto-expressão pela atividade criadora é a forma pela qual a
criança exterioriza o que ela esta sentindo.

O papel do professor é extremamente importante nesse processo. É


ele que está sempre presente, observando o desenvolvimento de cada criança,
orientando-o, direcionando-o e apresentando possibilidades em relação a
exploração dos desenhos, cores e suportes para que a criança elabore com
prazer suas atividades.

Segundo Lowenfeld e Brittain, o professor deve ter sempre em mente


que não se deve impor padrões e regras a serem seguidos, estabelecer algo
supostamente correto, “bonito” ou “feio”. Essas seriam restrições à capacidade
criadora e, consequentemente, inibiriam a expressão individual da criança e
sua auto-afirmação. É preciso ajudar as crianças a desenvolver a confiança na
auto-afirmação, propiciada pela expressão artística.

Para “tornar-se sensível ao universo gráfico infantil é preciso que o


professor se instrumentalize em relação a linguagem gráfica” (DERDYK, 1989,
p. 13).
51

Defender uma pratica efetiva de produção artística com as crianças,


implica em pensar na formação do educador, uma vez que o professor terá que
abandonar alguns aspectos que compõem seu referencial pedagógico e fazer
aflorar sua linguagem gráfico plastica, pois “educar o educador para o trabalho
criador significa resgatar sua infância e possibilitar-lhe a exploração de
materiais sem medo de mostrar-se, mergulhando na aventura de criar
acompanhando o processo expressivo das crianças, ao mesmo tempo que
descobre os seus. (CUNHA, 2002, p. 12).

Mesmo que os desenhos não possam ser interpretados com significado


pelo professor e a criança mude de ideia a cada vez que se pergunte o que ela
desenhou, o desenho deve sempre ser valorizado pelos educadores e a
importância dessa valorização deve ser compreendida e compartilhada com os
pais, uma vez que toda aprendizagem tem seu valor. Quando a criança é
valorizada em algo que sabe, tem prazer e sente-se estimulada a fazer e
aprender mais.

Desta forma, é preciso o professor repensar sua pratica, se auto-


avaliar, buscar fundamentação teórica, e envolver-se pessoalmente com o
trabalho pedagógico.

Cabe a escola considerar a vivência do aluno, para ampliar e


aprofundar suas experiências, incentivando, cada vez mais, a expressão de
novas descobertas e possibilitar uma participação mais ativa no processo de
construção do conhecimento.
Entretanto, Greig (Id. loc. cit., p.64) observa que:

[...] a constatação de uma pobreza gráfica é, portanto, muito


mais característica do que a do atraso gráfico propriamente
dito.
52

Essa explicação deixa claro a importância e a responsabilidade da


instituição escolar, pois, é bem provável que as causas da pobreza gráfica do
aluno sejam uma consequência direta do despreparo do professor da educação
infantil em relação ao conteúdo Arte e a exploração do desenho livre dos
alunos. Portanto, a ocorrência de tal problema seria atrelada a carência na
formação docente.

O conhecimento das etapas de evolução do desenho infantil fornece ao


educador mais um instrumento para compreender as crianças. Somando esse
conhecimento à análise constante dos seus trabalhos e considerando sempre o
significado mais profundo do ato de desenhar como expressão de ideias e
sentimentos, o educador poderá orientar suas ações pedagógicas relacionadas
às atividades de desenho elaborando propostas de trabalho que incorporem as
atividades artísticas.

Algumas atitudes do professor são básicas para o desenvolvimento e


passagem autônoma pelas etapas de evolução do desenho infantil (PILLAR,
1996):

• É muito importante que a atividade seja acessível e significativa, que


seja proposta de forma que a criança expresse seus pensamentos
livremente, tendo a autonomia necessária para criar.
53

Figura 26 – Desenho livre com tinta

Fonte: Lívia Fragoso – Estudo de caso

• O desenho infantil deve ser estimulado não com a intenção de ensinar


as técnicas para as crianças, mas pelo fato de este ser um importante
processo de aprendizagem. É a oportunidade dela se expressar, de
expor de forma concreta seus pensamentos e sentimentos. À medida
que a criança desenha, ela aprende, pois assim ela organiza e
concretiza seus pensamentos. Ao mesmo tempo em que lhe dá
autoconfiança por estar construindo e se expressando livremente.
54

Figura 27 – Exposição das atividades na sala de aula

Fonte: Lívia Fragoso – Estudo de caso

• Um dos caminhos a perseguir na mudança do olhar sobre o desenho na


escola deve ser o olhar sobre o próprio espaço da sala de aula.
Normalmente os professores preocupam-se no inicio do ano letivo em
decorar a sala de aula para receber os alunos. Materiais com motivos
infantis feitos de isopor ou desenhos mimeografados colaboram com os
desenhos estereotipados que são apresentados às crianças. Valorizar a
criação infantil pode ser uma alternativa para decoração do espaço que
será delas. Por exemplo usar as fotografias das próprias crianças,
ampliação dos próprios desenhos das crianças para serem pintados e
fixados nas paredes compondo um painel.
55

• A atitude dos professores frente às atividades de produção artística dos


alunos deve ser de interesse pelos desenhos dos alunos, indagando-os
sobre o desenho. Com certeza as crianças vai ensinar-lhes muitas
coisas e estes momentos de interação são muito importantes para a
criança. Alem de guardar algumas das suas obras de arte com a data
em que foram feitas para mais tarde lhe mostrar, ou pendurem-as na
parede da sala de aula.

Figura 28 - Professora apreciando os alunos na atividade

Fonte: Livia Fragoso – Estudo de Caso

• A atenção que der aos desenhos irá contribuir para a construção de uma
boa auto-estima. O importante é respeitar os ritmos de cada criança e
permitir que ela possa desenhar livremente, explorando diversos
materiais e suportes. O gozo e a correção por parte dos adultos vão
diminuir a confiança da criança, frustrando-a e afastando-a dessa
atividade, por pensar que não sabe desenhar. Nenhum rabisco é feito ao
56

acaso, todos têm um sentido e demonstram a forma de pensar e de


interpretar o mundo da criança.

• Permitir-lhes o acesso a materiais de diferentes texturas e cores ajudará


o desenvolvimento das suas capacidades e favorecerá a evolução da
motricidade fina. Para as crianças mais novas são mais adequados os
lápis de cor pois são mais grossos e, por isso, mais fáceis de segurar, e
a linha que deixam na folha é mais visível.

Figura 29 - Pintando em papéis grandes

Fonte: Livia Fragoso – Estudo de caso

• As pinturas com as mãos dão-lhes muito prazer, pois é uma experiência


muito estimulante que lhes permite conhecer diferentes texturas. Uma
outra atividade interessante é colocar sobre o chão cartolinas grandes e
57

papeis em formatos e texturas diferentes deixar que desenhem sobre


elas.
Figura 30 – Riqueza de detalhes ao pintar

Fonte: Livia Fragoso – Estudo de caso

• Para os mais crescidos, as canetas, os lápis de cor e as aguarelas são


os materiais mais adequados, pois permitem dar mais relevância a
certos pormenores. As colagens com diversos materiais (por exemplo,
com massas, folhas, papel de revista) são também recomendáveis e
permitem-lhes expressar a sua criatividade. O desenho infantil é um
universo cheio de mundos que devem ser explorados.

• A interdisciplinaridade pode ser trabalhada com facilidade na arte, por


possibilitar a ligação com outras áreas do conhecimento. O professor
poderá trabalhar com a arte e através dela as diversas áreas do
conhecimento, como, por exemplo, História, Geografia, Língua
Portuguesa, Literatura, Matemática, Ciências, etc.
58

A importância de não usar dos desenhos estereotipados, ou seja, as


cópias feitas pelo adulto para a criança colorir, porque levam as crianças ao
desinteresse nas suas próprias criações, pois levam a criança a pensar “se
tenho algo bonito para colorir porque irei criar rabiscos sem significação”.

“O desenho consiste numa imitação do real, consequentemente


a capacidade de observação dos objetos e da natureza é uma
maneira de favorecimento.” (ASSIS, M., 2004, p. 284).

Então trazer produções prontas não auxilia as crianças a descobrir


suas próprias vontades e criações, levam os alunos a serem acríticos
aceitando sempre as coisas como são não os estimulando a modificar e nem
recriar sua realidade. Por isso cabe aos professores despertar em nossos
alunos o interesse por suas produções garantindo assim o interesse pela
escrita e futuramente a vontade de descobrir o mundo da leitura.
59

CAPÍTULO V

ESTUDO DE CASO:
A EVOLUÇÃO DO DESENHO DE CRIANÇAS
COM 04 E 05 ANOS
60

ESTUDO DE CASO:
A EVOLUÇÃO DO DESENHO DE CRIANÇAS
COM 04 E 05 ANOS

Este Estudo de Caso é fruto das observações, coleta e registro


fotográfico de atividades de desenho livre de 20 crianças com 04 e 05 anos de
idade da Escola Municipal São Vicente de Paulo, localizada na cidade de
Camaragibe, realizado no período de fevereiro a maio do corrente ano.

Estas atividades e fotográficas coletadas foram utilizadas como


exemplos e ilustração dos assuntos abordados no corpo de toda esta
monografia.

A Escola Municipal São Vicente de Paulo atende a comunidade do


Loteamento Cosme Damião nos níveis de ensino compreendidos pela
Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Educação de Jovens e Adultos.

Para realização deste Estudo de Caso foi observado o desenvolvimento


de aulas com atividades de desenho livre das crianças, sendo direcionadas
pela professora com auxílio da estagiária da turma. Nestas aulas foram
disponibilizados diferentes materiais para os alunos, como: papel oficio, papel
A3, cartolinas, lápis de cor, lápis de cera, tinta a dedo, pinceis, entre outros.

Durante as aulas observamos o desenvolvimento da atividade, o


interesse manifestado pelos alunos, a participação, a troca entre eles, a
condução da atividade pela professora e estagiária, as falas das crianças
durante o processo. Coletamos, com autorização da instituição, algumas
atividades dos alunos e registramos fotograficamente estes momentos a fim de
61

alcançar os objetivos definidos nesta monografia acreditando que o


desenvolvimento do grafismo infantil é um processo de construção do sistema
de representação que culmina com a produção da escrita como um instrumento
de comunicação e expressão.

A partir da análise dos desenhos livres das crianças podemos destacar


que algumas desenham de modo a reproduzir uma paisagem ou uma ideia e
que outras utilizam o papel para reproduzir elementos variados, elementos que
conhecem ou gostam de desenhar e ainda apenas exploram todo o espaço do
papel realizando movimentos de vaivém ou circulares.

Figura 31 – Desenho Livre

;
Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de Caso
62

Através das atividades coletadas durante o período de três meses foi


possível observar a evolução do desenho destas crianças. Algumas
apresentaram, nitidamente, a evolução nas fases descritas por Phillipe Greig.

Figuras 32, 33, 34, 35 – Evolução do Desenho de um aluno com 04 anos de idade

Fonte: Lívia Fragoso – Estudo de Caso


63

No inicio do ano letivo, segundo relato e dados fornecidos pela


professora, foi realizado com os alunos uma avaliação dos níveis de escrita
que se encontravam, conforme orientação da Secretaria de Educação da
cidade de Camaragibe, chamado de Mapeamento de Aprendizagens, cujos
níveis são estabelecidos pelas nomenclaturas apontadas por Emília Ferreiro e
Ana Teberosky (1999).

Esta avaliação foi realizada através de uma atividade onde os alunos


deveriam escrever três palavras pronunciadas pela professora, sendo estas
palavras da vivência das crianças.

Os resultados desta avaliação apontaram que entre estes 20 alunos


pesquisados 11 alunos encontravam-se na fase de escrita denominada pré
silábica desenho, ou seja, utilizaram desenhos para nomear as palavras
sugeridas pela professora. Neste nível de escrita não estabelecem
correspondência sonoro entre grafemas e fonemas. As crianças reproduzem
marcas gráficas que concebem como escrita.

Figura 36 – Fase de Escrita Pré silábica Desenho

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de caso


64

Apenas 08 encontravam-se na fase de escrita denominada pré silábica


rabisco. Há um predomínio de rabiscos ou pseudo letras. A criança já varia a
quantidade de rabiscos para diferenciar as palavras.

Figura 37 – Fase de Escrita Pré silábica Rabisco

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de caso

Apenas 01 na fase de escrita pré silábica letra. Neste nível há


diferentes categorias e variações, conforme Simonetti (2007):
• As crianças utilizam uma só grafia para cada grafia, podendo ser a
mesma grafia ou uma diferente. A criança escreve a palavra com uma
simples marca gráfica. Faz uma marca diferente para cada palavra;

• Repetem a mesma grafia até o limite da folha para representar a


palavra. Para palavras diferentes, a criança utiliza grafias diferentes;
65

• A criança organiza diferentes séries utilizando as mesmas letras para


escrever palavras diferentes;

• Uma mesma série de letras serve para escrever várias palavras.

Figura 38 – Fase de Escrita Pré silábica Letra

Fonte: Criança com 05 anos de idade – Estudo de caso

O segundo Mapeamento de Aprendizagens, referente a avaliação do


nível de escrita em que cada aluno encontra-se, foi realizado no inicio do mês
de maio. A atividade realizada pela professora e estagiária, com esta finalidade,
constava imagens de brinquedos como: bola, boneca, pipa, carro, velocípede.
Os resultados apontados neste Mapeamento de Aprendizagens foram:

• 03 alunos no nível pré silábico desenho;

• 04 alunos no nível pré silábico rabisco;

• 12 alunos no nível pré silábico letra;

• 01 aluno em inicio de fonetização.


66

Com base nestes resultados podemos observar que houve avanços no


que se refere aos níveis de escrita dos alunos, avanços também alcançados
pelo processo de incentivo ao desenho livre e consequentemente o
aparecimento espontâneo da escrita.

Figura 39 – Atividade do Mapeamento de Aprendizagens 1

Fonte – Criança de 05 anos de idade – Estudo de Caso

Neste último Mapeamento de Aprendizagens realizado observamos


que um aluno já iniciou o processo de consciência fonológica, ligando a escrita
ao padrão sonoro e fazendo uso de uma letra para representar uma sílaba da
palavra, nível pré silábico quantitativo. No entanto é de práxis que as crianças,
nesta faixa etária, apresentem idas e voltas no que se refere a estes
resultados.
67

Figura 40 – Atividade do Mapeamento de Aprendizagens 2

Fonte – Criança de 05 anos de idade – Estudo de Caso

Com a evolução deste sistema de representação, a evolução do


desenho, as crianças passam a diferenciar o desenho da escrita. Chegam a
conclusão que as formas das letras nada têm a ver com a organização das
partes do objeto ao qual referem. Além disso, elas percebem que as letras são
68

utilizadas como forma de comunicação escrita padrão onde todos são capazes
de compreender o registro, que deve ser organizado de forma linear.

A partir desse momento, as crianças procuram representar a escrita do


objeto de maneira interpretável e legível. Inicialmente acreditando que é
necessário utilizar todo o espaço disponível para a escrita.

Figura 41 – Escrita preenchendo todo espaço disponível

Fonte: Criança com 04 anos de idade – Estudo de Caso

Passando pelo princípio da quantidade mínima e, em seguida, pelo


principio das variações qualitativas internas. Inicialmente as crianças percebem
que para escrever legivelmente elas devem ser compostas por uma quantidade
mínima de letras (três). Posteriormente, estabelecem que, para se ter uma boa
representação de uma palavra, as letras utilizadas na sua construção devem
ser diferentes entre si, esta fase de escrita é denominada de pré-silábica letras.

Na fase seguinte (silábica quantitativa) as crianças começam a colocar


o mesmo número de letras que a palavra tem de sílabas, isto é, percebem que
a representação escrita de uma palavra está ligada ao seu padrão sonoro.

O surgimento da escrita alfabética é uma tentativa de representar a


ideia na forma de linguagem. Ao chegar a este nível, as crianças demostram
69

que compreenderam que cada um dos caracteres (letras) corresponde a sons


menores que a sílaba (FERREIRO e TEBEROSKY, 1999).

Assim, com o estudo de caso pudemos notar a interação e a


socialização de conhecimentos entre as crianças. Em contato com a arte, a
crianças adquiram mais conhecimento e desenvolveram um olhar mais crítico
do mundo. Seus conhecimentos corresponde ao seus interesses internos de
aprender, juntamente com o estímulo proporcionado pela professora e
estagiária. Desse modo, as atividades propostas foram realizadas com
satisfação. As crianças relacionaram e utilizaram elementos internalizados de
seus cotidianos. Em algumas atividades demonstraram possuir uma
coordenação motora apurada.

No decorrer das atividades, os alunos ultrapassaram expectativas,


navegando em várias áreas do conhecimento, sem interferência da professora
ou da estagiária; ao serem indagados, estimulados demonstraram seus
conhecimentos e a curiosidade por novas informações.

A partir dos trabalhos recolhidos podemos perceber que as crianças


evoluíram na clareza e riqueza de seus desenhos. Em algumas crianças foi
possível perceber o surgimento e superação de cada uma das fases descritas
por Phillipe Greig.

As crianças que desenvolveram suas expressões através do desenho


com maior naturalidade e desempenho pudemos observar o aparecimento da
escrita de maneira muito espontânea; muitas vezes a escrita espontânea está
acompanhada por desenhos que complementam a ideia representada.
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No entanto há crianças com atrasos no desenvolvimento da


coordenação motora ampla e fina, necessitando a realização de mais
atividades afim de proporcionar o amadurecimento de seus desenhos.

Com este Estudo de Caso concluímos que o estímulo e incentivo ao


desenho livre diário das crianças em idades entre 04 e 05 anos:

• Acarretou a melhoria de suas coordenações motoras;

• Auxiliou a integração social;

• Facilitou a evolução de seus desenhos;

• Ocasionou o aparecimento da escrita espontânea;

• Contribuiu com o inicio do processo de Alfabetização destas crianças.


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CONCLUSÃO
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CONCLUSÃO

Sabemos desde os primórdios de nossa história, que o desenho exerce


grande influência sobre os seres humanos. Inicialmente, funcionava como
forma de comunicação entre as tribos ainda nômades de nosso povo e em
seguida foi se aprimorando com seus traços mais delineados e passando a ser
visto como uma expressão de arte. Mais tarde, vai ganhando sentindo nas
expressões humanas de cada ser em desenvolvimento e hoje, já compõe o
quadro educacional escolar, pois a partir dos desenhos vai se demonstrando as
habilidades que cada criança possui e, consequentemente, sua forma de
perceber o mundo em que está inserida.

O desenho espontâneo, por se tratar de uma atividade não dirigida,


propicia conhecer o universo simbólico, temático e conceitual da criança, é ela
que vai escolher o que vai desenhar, de acordo com os interesses próprios
naquele momento.

A educação é responsável pelo desenvolvimento social e cognitivo da


criança pode utilizar-se da arte para auxiliar nesse processo. A arte contribui na
construção do conhecimento, onde oportuniza a criança o domínio das diversas
linguagens.

Se há segurança sobre a capacidade da criança e sobre a necessidade


de oferecermos um ambiente estimulador ao seu desenvolvimento cada
pequeno ato pode representar uma grande conquista com respeito a cada um
dos ritmos, caminhos de descobertas e modos de apropriação de cada criança.
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Nessa modalidade de desenho, o professor encontra um importante


instrumento para perceber a etapa de evolução do desenho de seu aluno,
conhecer um pouco da sua visão de mundo, o desenvolvimento de sua
psicomotricidade e da sua personalidade.

Vimos que é necessário chamar a atenção dos educadores para uma


educação infantil baseada na espontaneidade e na capacidade criadora da
criança, uma vez que a escola deverá contribuir para a formação de indivíduos
mais conscientes e responsáveis pelo seu desenvolvimento.

A arte não é uma mera atividade de reproduzir desenhos


estereotipados ou colorir desenhos mimeografados, sem significado, e sim uma
maneira de observar e relacionar formas, interpretando e analisando, de modo
critico e construtivo o espaço que nos rodeia.

A escola deve ver a criança como um ser ativo que pensa e age
concretamente sobre os objetos. A formação como sujeito em processo vai se
estruturando, a partir das experiências assimiladas em interação com outras
pessoas. É, pois, inserida no ambiente afetivo e cultural que a criança vai
desenvolver seu processo de socialização e construção do conhecimento.

O desenho precisa ser valorizado na educação infantil, pelos


educadores, e a importância dessa valorização precisa ser compreendida e
compartilhada também pelos pais.

Dessa forma o processo de alfabetização se torna mais acessível e


atrativo quando a criança desenha livremente apoiada pelos educadores e
pais, pois a criança vai aprendendo a partir do seu desenvolvimento motor e
das experiências lúdicas a expressar seus sentimentos, desejos e sonhos além
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dos conhecimentos que possui previamente e os que adquire no processo de


ensino e aprendizagem.

O aprendizado se torna mais atrativo, a partir do momento em que a


criança se sente ativa neste processo. Com o auxilio desse recurso a educação
escolar se torna um espaço muito mais significativo e prazeroso para a criança,
pois esta respeitando seus ritmos e interesses sem forçar as crianças a
registrar e escrever no papel o que ainda não estão prontas para fazer. No
momento em que a escola acompanha a evolução do desenho das crianças ela
é capaz de perceber as ideias que as crianças querem transmitir por estes
registros gráficos, bem como o momento mais adequado de iniciar o processo
de alfabetização propriamente dito.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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