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A Educação Infantil

Reafirmando seu compromisso de assegurar uma Educação Infantil de qualidade, a Secretaria


Municipal de Educação do Município de Ji-Paraná/RO apresenta as suas ORIENTAÇÕES
CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
Este documento tem o objetivo de reformular o Currículo da Educação Infantil do Município,
adequando-o às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) e ao Referencial Curricular de Rondônia e dar subsídio para
os Centros de Educação Infantil da cidade de Ji-Paraná/RO na elaboração, organização,
desenvolvimento e avaliação de seus Projetos Pedagógicos Escolares.
Para a primeira versão da elaboração deste documento, tomou-se como ponto de partida as
observações dos planejamentos e Projetos Pedagógicos Escolares das instituições de Educação
Infantil da Rede Municipal de Ensino e as referências dos títulos contidos no Programa Nacional
Biblioteca na Escola do Ministério da Educação(MEC), encaminhada para a Secretaria Municipal
de Educação e para os Centros de Educação Infantil. Consultou-se ainda documentos que ao longo
da história da Educação Infantil, vem subsidiando a forma de pensar e organizar o atendimento.
Para a versão atual foi considerado os estudos da BNCC, revisão da literatura sobre os estudos das
infâncias, feito pelo grupo de profissionais que pesquisam e que atuam com a Educação Infantil.
O Referencial Curricular para a Educação Infantil- RCNEI, MEC (1998), representa um
marco nas discussões do conceito de cuidar e educar e da forma de organização das práticas
pedagógicas nesta etapa de ensino.
Os Critérios para o Atendimento em Creches que Respeitam os Direitos Fundamentais da
Criança (Rosemberg e Campos, 1994) e Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (MEC,
2009), reafirmam a importância de se garantir a qualidade do atendimento à criança de 0(zero) a
5(cinco) anos de idade.
As Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, MEC (2009), é o documento
imprescindível e orientador mais recente para esta etapa de ensino. Fruto de ampla discussão de
especialistas e profissionais que atuam na Educação Infantil tem como objetivo estabelecer
diretrizes a serem observadas na organização, elaboração, planejamento, execução e avaliação de
Propostas Pedagógicas.
A BNCC é documento normativo que aborda um novo arranjo curricular para a Educação
Infantil brasileira, materializando o indicativo já posto nas DNEIs, uma organização curricular
por Campos de Experiências e garantias de Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento no
cotidiano da Educação Infantil.
Considerando as orientações das DCNEIs, a Secretaria Municipal de Educação do
Município de Ji-Paraná/RO, na perspectiva de repensar a organização das práticas pedagógicas
que compõem a proposta curricular das instituições de Educação Infantil, tendo como eixos
estruturantes as interações e brincadeira, propõe a organização curricular em cinco Campos de
Experiências: O eu, o outro e nós, Corpo, gestos e movimentos, Traços, sons, cores e formas,
Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação e Espaço, tempos, quantidades, relações e
transformações.
Consequentemente isso implica em mudanças efetivas na forma de pensar e organizar a
Educação Infantil, neste sentido é importante que as instituições (re)elaborem seus Projetos
Pedagógicos Escolares, embasadas nas abordagens construtivista e sociointeracionista, em
conformidade com as orientações contidas neste documento.
A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) afirma que esta é a primeira etapa
da educação básica e tem como objetivo o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos
físico, cognitivo, emocional, cultural e social. Dessa forma, precisa-se pensar a Educação Infantil
como um espaço que considera a criança como um sujeito histórico e social e que lance novos
olhares para as necessidades de Aprendizagens e Desenvolvimento desta etapa do ensino.
A criança que frequenta a escola de Educação Infantil de qualidade amplia suas
possibilidades de desenvolvimento integral. Vários pesquisadores de infância afirmam que dos
0(zero) aos 5(cinco) anos de idade é o período das chamadas “janelas de oportunidades”, fase que
se caracteriza pela necessidade da criança em vivenciar experiências significativas e conviver em
um ambiente que oportunize situações que privilegie seus interesses e suas potencialidades.
Nessas faixas etárias, as vivências e experiências necessárias nesta etapa, como os circuitos
sensoriais, afetivo, cooperação, conhecimento de si , do outro e do nós, competências sociais,
serão alicerces e conceitos que se perpetuarão para vida, daí a importância de se pensar uma
escola de Educação Infantil que seja capaz de ofertar as mais variadas possibilidades de
experimentações, interações e brincadeiras para que a criança possa construir sua
aprendizagem. Neste contexto, o desafio é construir um espaço educacional que considere as

especificidades destas faixas etárias, bem como as singularidades da criança.

Ilustrações de
crianças do Pré II
CMEI Zilda Arns, 2019.
Criança

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DCNEI, Resolução CNE/CEB nº


5/2009, em seu Artigo 4º, apresenta a concepção de criança como sujeito histórico e de direitos que, nas
interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva,
brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos
sobre o mundo físico, natural e social, produzindo cultura.
Podemos observar essas práticas infantis, por exemplo, durante as brincadeiras, interações e
discussões, a criança busca soluções, demonstra sua forma de ver, sentir e entender o mundo nas
vivências e experiências, como diálogo a seguir:

Sim, acho que foi


a tia Gecilda.

Por que? Não sei, ela é


Porque ela está bem E como ela conseguiu
grande.
cheia. pegar a lua?

Diálogos sobre a lua


Pré-Escolar II –CMEI Pedro Gonçalves
2018

Diálogos sobre a lua


Pré-Escolar II –CMEI Pedro Gonçalves
2018
Cada criança tem o seu modo próprio de interpretar o mundo. Para isso elas usam a
imaginação, a curiosidade, manifesta seu modo de enxergar o mundo nas mais variadas linguagens.
Pois possuem um pensamento sincrético.

O pensamento infantil é regido por uma lógica diferente da do adulto: as


crianças pensam de maneira sincrética, exprimindo as cores dos afetos, da
imaginação, das lembranças e de tantas relações que são capazes de fazer. O
sincretismo do pensamento infantil se assemelha, aos ouvidos do adulto, às
metáforas e aos jogos de palavras dos poetas. Assim, ao se referir a colméia
diz-se “bilu tetéia”, tagarela é “pizza de mozzarela”, caracol é “uma casa que
se carrega nas costas”, amorido é o namorado que um dia vai se casar.
(CARVALHO; KLISYS; AUGUSTO, 2006. p.26)

No diálogo estabelecido acima, por uma criança fica evidente a perspectiva dela em relação a
lua e ao tamanho da tia. Para que as crianças possam ampliar seus saberes é importante que tenham
acesso a um mundo grande, interessante e cheio de informações ao seu alcance.
As interações do adulto com a criança
pequena na Educação Infantil

O docente é o profissional da Educação Infantil responsável por criar todas as condições para
que as crianças exerçam seus direitos fundamentais e possam avançar em seu percurso de
aprendizagem e desenvolvimento. Isso implica em conhecer às crianças, como se expressam e o que
gostam de fazer para ser capaz de propor desafios que façam sentido para elas. Observar com atenção
as produções infantis, garatujas, desenhos e perceba a intenção, o prazer ou outra sensação que está por
trás dos traços e dos gestos delas.
É o docente que planeja, prepara os espaços e materiais, cria contextos interessantes e cheios de
possibilidades para as descobertas e investigações das crianças. Manter o ambiente sempre vivo e
interessante, com novas fontes de pesquisa, de informação, de exploração, tudo para estimular a
experimentação e a vivência das crianças. É importante é alimentar a surpresa, o humor, a atenção e a
curiosidade da turma, ingredientes essenciais para a aprendizagem e o desenvolvimento. Para isso, é
necessário ser um docente pesquisador, reflexivo e propositivo.
Criar situações de interações, de trocas entre elas, assegurar as condições para que elas
brinquem, criem e troquem experiências, respeitando os diferentes ritmos de aprendizagem, assegurar
condições para que elas façam explorações livres ou orientadas. Assim, ajudar as crianças a
construírem estratégias de convivências para viverem bem em grupo.

É importante se interessar e compreender o que as crianças dizem, pensam e produzem.


Alimentar as crianças com referências culturais do entorno social delas e de outros contextos também,
sempre com a preocupação de ampliar o diálogo com as crianças com as diferentes culturas. Nessas
experimentações devemos nos preocupar mais com a qualidade dos processos do que com o resultado
aparente do produto final.
Fundamentos Pedagógicos da Educação
Infantil

A proposta curricular da educação infantil envolve uma perspectiva política, social e


cultural, ou seja, o modo como se compreende as crianças, os adultos, a educação e a sociedade,
refletindo um modelo ideológico (SACRISTÁN, 1999, p.15). Está, portanto, orientada por
princípios éticos, políticos e estéticos que visa a formação integral da criança, contribuindo para a
construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Para a materialização dos fins sociais e culturais na educação infantil o currículo deve
ser um percurso a ser construído conjuntamente com a comunidade escolar composta por
crianças, funcionários e pais, refletindo a cultura no contexto local. Em conformidade com as
DCNEI que compreende o currículo como, “a articulação das experiências e os saberes das
crianças com os conhecimentos que parte do patrimônio cultural, artístico, científico e
tecnológico da sociedade por meio de práticas planejadas e permanentemente avaliadas que
estruturam o cotidiano das instituições”. (Brasil, 2009, p.12).
A pesquisa social em educação contribuiu para ampliar o olhar sobre o currículo da
educação infantil e apresentou os aportes teóricos da Sociologia da infância (SARMENTO;
CORSARO; QUADRUVT, ABRAMOWICZ, MAGALUZZI) , filosofia (ARENDET, DEWEY),
Antropologia (LARAIA, COHN) e a psicologia (VIGOTSKI), que concebem a criança como
sujeito, protagonista da história e dos processos de socialização e que tem apontado a importância
dos interesses infantis em questões que diretamente lhes afetam. Compreendendo a criança como
sujeitos biopsicossocial, que aprende em sua inteireza. Concepções estas que fundamentam o
currículo da educação infantil em Ji-Paraná/RO.
Deste modo, o papel do CMEIs e escola em todos os seus espaços é apoiar, provocar e
propor situações em que as crianças possam ampliar sua visão de mundo, partindo dos
conhecimentos e interesses das crianças para abranger outros saberes, mais sistematizados e
científicos.
As formas como as crianças, nesse momento de suas vidas, vivenciam o mundo,
constroem conhecimentos, expressam-se, interagem e manifestam desejos e curiosidades de
modo bastante peculiares, devem servir de referência e de fonte de decisões em relação aos fins
educacionais, aos métodos de trabalho, à gestão das unidades e à relação com as famílias.
(BRASIL, 2009)
A intencionalidade deve permear todas as ações cotidianas de experiências corpóreas,
sensíveis, sociais, afetivas, criativas e cognitivas das crianças Vigotski (2000). Compete ao
professor em sua prática pedagógica a responsabilidade de observar, escutar e envolver a
participação das crianças em suas proposições, na seleção de materiais, na composição de
espaços de investigação, proporcionando as possibilidades de ampliar seus conhecimentos sobre
si, sua cultura e sobre o mundo.
Competências Gerais na Educação
Infantil
As práticas pedagógicas dos Currículos devem garantir o pleno desenvolvimento dos
estudantes de maneira progressiva durante toda a Educação Básica, se dará à luz de fundamentos
pedagógicos da BNCC e Referencial Curricular de Rondônia para a Educação Infantil que
aponta o desenvolvimento de competências e Educação Integral, que, com relação a Educação
Infantil tem sua centralidade nas DCNEIs.
Esses fundamentos orientarão as experiências de aprendizagens oportunizadas às
crianças nas instituições, de maneira que favoreça o protagonismo infantil, respeitando a
centralidade curricular na criança pequena, a faixa etária e suas necessidades educativas para
suas aprendizagens e desenvolvimento.

Seguindo as emergentes demandas da sociedade contemporânea, o currículo da


Educação infantil adota o enfoque no desenvolvimento de competências. E o que isso muda nas
práticas pedagógicas de todos os docentes do município? Certamente implica na forma como a
instituição de Educação Infantil vai se organizar para promover o desenvolvimento de tais
competência, o que remete também ao planejamento docente que será pensado de maneira que
possibilite a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores pelas crianças e,
sobretudo, do que devem “saber fazer”. Nesta perspectiva, não é instituída de apenas inteligência
cognitiva, mas tem sentido mais amplo, consistindo em junção e coordenação de conhecimentos,
habilidades, atitudes e valores, que se perpetuarão por toda a vida, influenciando na vida
cotidiana e participando de forma plena em sua cidadania.
É importante que seja oportunizado às crianças, ao longo de suas experiências e
vivências no cotidiano do Centros Municipais de Educação Infantil, o desenvolvimento das
seguintes competências:
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências

construídos sobre o mundo físico, social, cultural e culturais e apropriar-se de conhecimentos e

digital para entender e explicar a realidade, continuar experiências que lhe possibilitem entender as relações

aprendendo e colaborar para a construção de uma próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas

sociedade justa, democrática e inclusiva. alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e

abordagem própria das ciências, incluindo a responsabilidade.

investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação 7. Argumentar com base em fatos, dados e

e a criatividade, para investigar causas, elaborar e informações confiáveis, para formular, negociar e

testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que

soluções (inclusive tecnológicas) com base nos respeitem e promovam os direitos humanos, a

conhecimentos das diferentes áreas. consciência socioambiental e o consumo responsável

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas em âmbito local, regional e global, com

e culturais, das locais às mundiais, e também participar posicionamento ético em relação ao cuidado de si

de práticas diversificadas da produção artístico- mesmo, dos outros e do planeta.

cultural. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou e emocional, compreendendo-se na diversidade

visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros,

visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

das linguagens artísticas, matemática e científica, para 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de

se expressar e partilhar informações, experiências, conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e

ideias e sentimentos em diferentes contextos e promovendo o respeito ao outro e aos direitos

produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. humanos, com acolhimento e valorização da

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus

informação e comunicação de forma crítica, saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem

significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas preconceitos de qualquer natureza.

sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia,

acessar e Disseminar informações, produzir responsabilidade, flexibilidade, resiliência e

conhecimentos, resolver problemas e exercer determinação, tomando decisões com base em

protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. princípios éticos, democráticos, inclusivos,


sustentáveis e solidários.
Educação Integral na
Educação Infantil
Ao pensar na palavra integral, nos deparamos com os seus sinônimos: “inteiro,
total, absoluto e completo”. É conveniente reflexão sobre essas palavras quando se afirma que se
efetiva a educação integral, e por que essa reflexão? Para que a instituição de ensino não caia no
equívoco de apenas afirmar que contempla a educação integral em seus Projetos Pedagógicos e
práticas cotidianas, é preciso transpor o discurso e texto, impregnando toda a organização escolar
para a sua efetivação.

A educação integral está diretamente ligada com a concepção de educação infantil,


infâncias e criança. A criança como sujeito potente e protagonista, requer um espaço escolar que
dialogue com as concepções, os tempos, as vivências, experiências contemplando todos os
direitos de aprendizagens e desenvolvimento da criança pequena.

Como o CMEI pode ser um espaço de educação integral? A priori, sendo espaço que
possibilite as relações, inter-relações, afetividade, explorações, descobertas, democracia,
vivências em grandes grupos e pequenos grupos, criações, colaborações, favorecendo ambiente
investigativos e imaginativos no ato de brincar.

A criança contemporânea necessita de um CMEI aberto ao novo, que oportunize a


participação, autonomia, aprender a conviver na diversidade, se apropriar e construir cultura e a
desenvolver a resiliência, habilidade para lidar com suas emoções. A ética e valores devem está
presente cotidianamente, bem como o foco curricular nas experiências cotidianas, o que implica
em refletir sobre o acúmulo de informações, muitas vezes desligadas da realidade concreta.

Neste sentido, um CMEI para assegurar e efetivar a educação integral, há a necessidade


contínua de reflexão em seu papel responsivo no atendimento e proposições para a criança
pequena em sua integralidade.
O Cuidar e o Educar
O educar e o cuidar são indissociáveis, uma vez que envolve todo o trabalho dos Centros
Municipais de Educação Infantil (CMEIs). De acordo com o Referencial Curricular para a
Educação Infantil, “a base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se
desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades
(BRASIL, p.24, 1998)”. Capacidades essas que não são apenas biológicas ou físicas, mas tudo
que envolve o trabalho com crianças dentro dos CMEIs e que venham a proporcionar o
desenvolvimento integral da criança.
Cabe aos CMEIs romper com os paradigmas que fazem ou provocam distanciamento
entre os dois conceitos, sobretudo porque o cuidar é um ato educativo no qual as crianças irão
desenvolver capacidades de cuidar de si e do outro. O equívoco de desvincular um do outro
resulta na limitação de interações e brincadeiras, sobretudo por vincular o cuidado
essencialmente ao cuidar físico. Nas práticas cotidianas de educar e cuidar de crianças pequenas
há um encadeamento de aprendizagens e desenvolvimento que se relacionam, claramente, às
necessidades das crianças que desde os primeiros meses até os três anos, em média, necessitam
para manter o seu bem-estar precisam da ajuda de adultos com quem convivem para cuidados
que se centram nas necessidades vitais.
A ação conjunta dos professores e demais membros da equipe da instituição é essencial
para garantir que o cuidar e o educar aconteçam de forma integrada e cotidianamente.
Requerendo que ambos os profissionais tenham os mesmos objetivos em suas ações, de modo
que juntos proporcionem o desenvolvimento infantil em sua totalidade, livre de preconceitos e
ideologias de caráter dominante.
Princípios Éticos, Políticos e Estéticos
Três princípios são fundamentais para orientar o trabalho junto às crianças. São eles:

Princípios éticos de valorização da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem


comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Eles lembram às equipes
escolares a importância de:
❏ Apoiar a conquista de autonomia pelas crianças para escolher brincadeiras, materiais, atividades e para a
realização de cuidados pessoais diários;
❏ Fortalecer a autoestima e os vínculos afetivos de todas as crianças, combatendo preconceitos: relativos
ao pertencimento étnico racial, classe social, religião etc.
❏ Estimular as crianças a respeitar todas as formas de vida, incluindo a integridade de cada ser humano, a
preservação da flora, da fauna e dos recursos naturais;
❏ Enfatizar com as crianças valores como os da liberdade, da igualdade de direitos de todas as pessoas, da
igualdade entre homens e mulheres, assim como da solidariedade com pessoas de grupos sociais
vulneráveis.

Princípios políticos que asseguram à criança, desde o nascimento, os direitos de cidadania, o exercício da
criticidade e o respeito à ordem democrática. Para concretizar estes princípios políticos, o CMEI/escola
precisa:
❏ Promover a participação crítica das crianças em relação ao cotidiano da unidade e em relação a fatos
ocorrendo na comunidade que lhes chamem a atenção;
❏ Possibilitar às crianças a expressão de seus sentimentos, desejos, ideias, questionamentos;
❏ Garantir uma experiência bem-sucedida de aprendizagem a todas as crianças.

Princípios estéticos de valorização da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade da criança, e da


diversidade de manifestações artísticas e culturais, imprime a necessidade de:
❏ Valorizar o ato criador de cada criança e a construção por elas de respostas singulares em experiências
diversificadas;
❏ Possibilitar que todas as crianças possam apropriar-se de diferentes linguagens e ter disponível materiais
para se expressar.

Fonte MEC/Campos de Experiências


Brincadeira, Interações e Relações

Como pode um peixe vivo viver fora da água fria


Como pode um peixe vivo viver fora da água fria...
Milton Nascimento

Quando se pensa em brincadeira, não há como não se pensar em infância, em criança,


sublinhando que o brincar é para a criança, o que a água fria é para o peixe vivo. Essa analogia
se refere ao modo próprio de a criança viver, aprender e ser. A criança é um ser que está
constantemente brincando: construindo brincadeiras, reconstruindo-as e modificando-as,
aproveitando-se das possibilidades disponíveis e oferecidas no ato de brincar. Assim a criança
constrói sua identidade e amplia seus saberes.
É nesse ato de brincar que vão se estabelecendo as interações e relações com o outro,
através das trocas de saberes, da cooperação, das investigações coletivas referentes às
possibilidades de brincadeiras, bem como nas resoluções de problemas (nas escolhas, nas
decisões, nos conflitos). As brincadeiras e interações devem acontecer em um ambiente
organizado, acolhedor, imaginativo, rico em materiais, inconcluso, criativo, tornando-se um
espaço relacional.

HORN (2017) contribui fazendo-nos refletir sobre a


diferença entre os termos espaços e ambiente. O primeiro se
refere ao local onde acontecem as vivências e que se se
caracteriza pela presença de vários elementos como objetos,
móveis, materiais, etc.. Ambiente são o conjunto desses espaços
e as relações que nele se estabelecem. O ambiente bem
organizado e provocativo é capaz de nos atravessar, afetar,
desafiar e instigar.
É importante ter a clareza que as relações
acontecem no cotidiano, articuladas com o
brincar e o interagir, mas que precisa ser pensada
a qualidade das relações que se estabelece entre
crianças, das crianças com o ambiente, das
crianças com os objetos, das crianças com a
pesquisa, bem como com os adultos. Neste
sentido, a brincadeira, interações e relações que
se entrelaçam e se estabelecem cotidianamente
no CMEI se constituem como elementos
fundamentais do currículo, pois assim é
possibilitado que as crianças brinquem e
interajam protagonizando, se desenvolvendo e
construindo suas aprendizagens, por meio das
experimentações, explorações, curiosidades e
descobertas no ambiente como espaços para as
relações e subjetividade infantil.
Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento

Hoje a legislação nacional assegura à criança o direito de aprendizagem e


desenvolvimento. O que o CMEI/Escola podem fazer para de fato efetivá-los? Partindo do
entendimento que “direitos de um sujeito” devem ser assegurados, o desafio posto é que cada
instituição deve em suas ações planejadas garanti-los no cotidiano. Os quais se relacionam com a
criança viver a infância, dando-lhes condições de aprender e se construir ao longo da Educação
Infantil.
Para que o CMEI garanta direitos de aprendizagens e desenvolvimento, antes, é
necessário que desenvolva um olhar sensível para quem é a criança, como aprende, como se
desenvolve e concepção de criança como um ser integral e que na organização das situações
significativas de aprendizagem constrói seus conhecimentos.
Os direitos de aprendizagens e desenvolvimento estão intrinsecamente interligados com
os campos de experiências, o que significa que não devem acontecer isoladamente, mas juntos e
dentro dos campos, que serão todos articulados, interligados numa perspectiva de
“intercampos”, que permeará e imprimirá as intencionalidades educativas e de cuidados em todo
o tempo que a criança permanecer no CMEI/Escola.
Para compreendermos um pouco mais sobre o que são os Direitos de Aprendizagens e
Desenvolvimento da criança, apresentamos a seguir itens básicos que estão elencados no texto da
BNCC que podem ser ampliados no contexto de cada CMEI/Escola em conformidade com a
política nacional para a educação infantil e que estes devem orientar as intencionalidades
pedagógicas na Educação Infantil:
Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento

Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes
linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às
diferenças entre as pessoas.

Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes


parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus
conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais,
sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.

Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola
e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana,
tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes
linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.

Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações,
relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus
saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.

Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos,
dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.

Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem
positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados,
interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto
familiar e comunitário.
Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento
Conforme a BNCC, “Parte do trabalho do educador é refletir, selecionar, organizar,

planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e interações, garantindo a pluralidade de


situações que promovam o desenvolvimento pleno das crianças”. (BRASIL, 2017, p. 37). É
necessário que o professor seja um observador, pesquisador que media e potencializa as
investigações, as descobertas, por meio de ações planejadas, articulando os saberes das crianças
com o patrimônio cultural e científico produzido pela humanidade.
Neste sentido esses direitos garantem uma concepção de criança como ser potente e
protagonista, que precisa da organização ou reorganização do CMEI para que a elas sejam
asseguradas dentro do seu tempo de infância.
Nesta perspectiva, os CMEI/Escolas necessitam estruturar-se para organizar seus
objetivos, suas ações e seus espaços, suas intencionalidades pedagógicas para garantir eticamente
que estes direitos sejam vividos pelas crianças. O que demanda ações coletivas da equipe escolar
e famílias, e não ações solitárias de docentes. Neste sentido é necessária a compreensão de que
gestores e supervisores devem também ter sensibilização da importância de seus papéis como
mediadores quanto a esses direitos, numa perspectiva de mediar, oportunizar, organizar, garantir
as experiências e vivências infantis, considerando as necessidades específicas das faixas etárias e
concepção de criança.

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