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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE SÃO VICENTE

INSTITUTO PROCOR

FABIANA MOREIRA BRITO

AÇÕES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA PARA


CONSCIENTIZAÇÃO E ELIMINAÇÃO DO PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO CONTRA AFRODESCENDENTES

SÃO VICENTE
2023
FABIANA MOREIRA BRITO

AÇÕES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA PARA


CONSCIENTIZAÇÃO E ELIMINAÇÃO DO PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO CONTRA AFRODESCENDENTES REGULAR

Projeto de conclusão apresentado ao Curso Formação


do Instututo Procor paara obtenção do certificado.

SÃO VICENTE
2023
1. INTRODUÇÃO

A África como berço da civilização humana deve ter destaque no âmbito


social e educacional no intuito de promover a disseminação do conhecimento sobre
a origem das sociedades e de seus pressupostos, visto que os primeiros registros da
espécie humana na história foram encontrados nesse continente. Dessa forma,
todas as nações atuais e já extintas acabam sendo direta ou indiretamente
consideradas como afrodescendentes, apesar da grande diversidade cultural e
pluralidade étnica existente atualmente e sua evolução através das gerações.
Assim, um olhar criterioso no estudo da cultura africana, explicitando seu
surgimento, dispersão e sua influência na origem de todas as outras se torna de
extrema importância para reduzir ou acabar com a discriminação, preconceito,
estigmas e estereótipos associados a etnia e cultura negra no decorrer da história. O
termo “etnia” está relacionado à noção de raça, religião, língua, uma história comum,
um território comum, uma origem comum e uma consciência de pertencimento
(LOPES, 2008; KRETZMANN, 2007), de forma que um grupo étnico constrói sua
identidade a partir do reconhecimento de outros grupos, pois a identidade se afirma
no reconhecimento das próprias origens, que no caso da espécie humana teve a
cultura africana como ponto de partida (NETO e BEZZI, 2008).
Entende-se que as identidades não se limitam a uma origem étnica, mas
revelam-se a partir da tomada de consciência das particularidades históricas,
culturais, religiosas, sociais e regionais e o reconhecimento da diversidade cultural
pode também levar à discriminação e ao racismo quando se defende a preservação
das culturas a partir da separação e distanciação dos grupos étnicos e culturais.
Apenas com o reconhecimento do valor de todas as culturas, com o respeito a todos
os grupos étnicos pode-se pensar em uma construção de uma identidade baseada
na diversidade e entendendo a partir do reconhecimento da diversidade como todo,
seja ela étnica, cultural, religiosa ou outras (SILVA, 2008; KRETZMANN, 2007).
Dessa maneira, o conhecimento e a valorização da cultura africana e sua influência
na formação da afro-brasileira favorece mais facilmente a aceitação e respeito à
diversidade, bem como reduzir drasticamente o preconceito e demais aspectos
negativos estigmatizados no decorrer da história.
O preconceito e a discriminação contra o negro e sua influência na construção
da sociedade moderna é algo que precisa ser discutido na escola e na sociedade
para minimizar os efeitos negativos dessas práticas, promovendo relações sociais
mais saudáveis e harmoniosas.
Desse modo, o objetivo desse projeto será de propor uma reflexão sobre os
processos de construção da identidade cultural e como lidar com a diversidade em
um espaço constituído por uma pluralidade étnica e cultural, a partir da
compreensão de aspectos históricos, sociais, econômicos e religiosos, além de
hábitos e costumes da comunidade africana e afrodescendente e seus processos de
dominação e resistência perante o preconceito e a discriminação de suas crenças e
demais manifestações culturais.

2. A DISCUSSÃO SOBRE A CULTURA AFRO NA ESCOLA

A escolha deste enfoque foi motivada pelas Leis nº 10.639 e 11.645 que
determinam o ensino obrigatório da história e cultura de povos indígenas e
afrodescendentes e pela política nacional de combate ao racismo, preconceitos e
discriminação. Sendo assim, pretende-se estudar e investigar as diferentes
contribuições da cultura “afro” para a formação da cultura local e regional,
contextualizando os fatos que ocorreram desde a criação do bairro dentro no
Município de São Vicente-SP até o presente.
Uma das formas de trabalhar com essa temática dentro dessa realidade de
modo a integrar todos da escola refere-se a prática interdisciplinar, visto a
importância de realizar projetos educacionais contextualizados e interdisciplinares
que envolvam vários professores e toda a comunidade escolar, podendo se estender
para toda a comunidade local de acordo com os resultados preliminares. A
interdisciplinaridade pode ser uma importante ferramenta para a abordagem de
temáticas que sejam menos trabalhadas no âmbito escolar e no contexto social,
devido a inúmeros fatores. A interdisciplinaridade sempre irá requerer a
contextualização e a interação entre todos os participantes, por isso é importante
que a comunidade escolar participe do processo em todas as suas etapas para que
ocorra a troca de conhecimentos e experiências.
Como a educação constitui-se um dos principais mecanismos de
transformação na vida de um povo, é papel da escola, de forma democrática e
comprometida com a promoção do ser humano e de sua integralidade, estimular a
formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças e as
características próprias de grupos sociais e minorias. Ou seja, a educação é
essencial no processo de formação de qualquer sociedade e abre caminhos para a
ampliação da cidadania (ARANTES e SILVA, 2010).
Em diversos estudos realizados em nosso país foi possível observar que a
maioria dos alunos de etnia negra apresentam um grau de dificuldade e, em alguns
casos, de completo impedimento de aceitar ou afirmarem-se como negros
principalmente gerados pelo preconceito e pela ausência de referencias positivas no
ambiente familiar e social a sua volta e esse cenário se propaga no decorrer da
história das transformações sociais brasileiras. Isso mostra o quanto os jovens não
conhecem as suas origens históricas, não sendo diferente na realidade da escola a
partir dos relatos dos professores durante o planejamento das atividades.
Por essa razão, é necessário o trabalho com essa comunidade escolar em
questão para verificar a presença de discriminação e preconceito na sua realidade
prática, pois a ausência de referências da comunidade acaba por gerar preconceito
e pela discriminação através de ações preconceituosas, piadas, estereótipos que no
decorrer do tempo gerou nas pessoas negras um sentimento de impotência,
inferioridade, subserviência e baixa autoestima. Isso gera a repercussão de um
legado que desconhece as suas origens familiares e históricas e assim minimiza sua
cultura, musicalidade e religiosidade, que muitas vezes são reduzidas a termos e
afirmações minimalistas que dificultam a consolidação de uma identidade pautada
em saberem concretos e confiáveis.
Dessa forma, a utilização dessa metodologia dentro da realidade que convive
rotineiramente com a violência e a miscigenação com pessoas negras e de outras
partes do país pode favorecer a discussão e quebra de paradigmas discriminatórios
no tocante da cultura africana e afro-brasileira, na busca de reduzir o preconceito, os
estigmas e estereótipos gerados pelo desconhecimento e/ou má interpretações de
seus preceitos.

3. ABORDAGEM DOS SABERES DO COMPONENTE DE HISTÓRIA NA ESCOLA.

Para trabalhar com as questões históricas acerca da cultura africana e afro-


brasileira nas aulas de história, foram feita discussões direcionadas aos seguintes
temas em sala de aula que poderiam contribuir para a aprendizagem dessas
culturas, mas tiveram enfoque voltado para a interdisciplinaridade ao abordar cada
tema com a visão conjunta das disciplinas de geografia, artes, educação física e
língua portuguesa durante a explanação dos temas, sendo eles: * Noções de história
africana (Divisão política e Colonização da África), * Grandes navegações, * História
da escravidão (Escravização no Brasil e a formação de quilombos), * Formação da
cultura afro-brasileira (intelectualidade negra, a desconstrução de conceitos e termos
referente à cultura afrodescendente e a cultura afro-brasileira na atualidade), *
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, * Sistema Racial de
Cotas, * Centros de religião afro-brasileira no bairro de localização da escola, *
Festas, expressões artísticas, poemas e contos, palavras de origem africana e
musicais.

4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NAS AULAS DE HISTÓRIA PARA ABORDAR


ASPECTOS DA CULTURA AFRO

O referido trabalho conta de um projeto interdisciplinar, cuja aplicação se dará


no primeiro semestre do ano de 2024, a partir do mês de fevereiro. Ele foi
desenvolvido em uma Unidade Escolar de Ensino Fundamental de 6º ao 9º anos,
sendo a escola situada no Bairro Vila Margarida no município de São Vicente,
pertencente à Rede Municipal de Ensino, sendo as atividades desenvolvidas em
uma turma de 6º, 7º, 8º e 9º ano da escola, nos dois turnos de funcionamento.
Serão desenvolvidas as seguintes atividades nas aulas de história para que
houvesse melhor abordagem dos aspectos da cultura afro junto aos alunos de forma
interdisciplinar:

 Pesquisa bibliográfica na cultura africana e afro-brasileira em fontes diversas


(literatura especializada e internet);

 Confecção de artesanatos típicos em argila e outros materiais;

 Elaboração de cartazes, painéis e mapas;


 Apreciação de vídeos educativos, apresentações de slides, filmes,
documentários, músicas, outros;

 Palestras e dramatização de aspectos culturais dos grupos em estudo;

 Jogos e brincadeiras com regras baseadas na representação dos momentos


de lazer e das atividades praticadas na cultura afro;

 Degustação e exposição de pratos típicos;

 Leitura e produção de contos e poemas;

 Leitura de textos e definição de conceitos: cultura, identidade cultural,


diversidade cultural, etnia, raça, racismo, preconceito, discriminação,
interdisciplinaridade;

 Planejamento de feira de cultura para exibição de todos os materiais


produzidos.

5. RESULTADOS ESPERADOS

Durante as aulas de história, os professores da escola trabalharão de forma


interdisciplinar para mostrar aos alunos a importância das origens africanas e como
elas influenciaram a cultura no Brasil após a vinda dos escravos no período do Brasil
colonial.
Inicialmente serão mostrados vídeos educativos sobre a África e a cultura dos
seus povos para os alunos observassem e refletissem o que aspectos do passado
estariam presentes em nossa cultura atual. Quanto a isso, os alunos destacarão
alguns aspectos.
Diante da especificidade do tema abordado, é necessária uma reflexão mais
prolongada e sistematizada sobre o papel, que nós, professores, de todos os níveis
de ensino, deveremos construir junto com os nossos alunos, sobre o nosso país e
sobre o nosso povo. O respeito à diversidade e as diferenças vão além de um
problema escolar, porém, é a escola o local com maior capacidade de empreender
alternativas de solução, ou ao menos, de diminuição dessa desigualdade.
A partir do que será trabalhado e discutido em sala de aula através de filmes,
confecção de materiais, cartazes, leitura de textos, entre outros, os alunos poderão
perceber a proximidade da cultura africana em seu cotidiano deforma direta e
indireta, seja através da televisão, de filmes, de artesanatos, roupas, pinturas,
religiosidade e outros.
Em relação à cultura afro-brasileira, os alunos terão a oportunidade de
perceber que ela está viva na atual sociedade desde a vinda dos escravos africanos
ao Brasil e suas transformações no decorrer da história do Brasil, fazendo parte
desse contexto histórico e do atual cenário social do país, da mesma forma que
poderão observar o quanto o povo africano e sua cultura influenciaram e ainda
influenciam a cultura do Brasil que é um país extremamente grande e que sofreu
influencias da África e de vários países do mundo.
Os alunos serão oportunizados a conhecer sobre a cultura africana e
perceber sua importância na criação da sociedade no Brasil, mas puderam perceber
também que o preconceito e a discriminação ainda fazem parte da ida de todos em
diversos espaços sociais e isso ainda precisa ser revisto. Isso se revelou durante as
atividades quando se falava em religiões africanas e aspectos relacionados a ela,
sendo o momento de maior impasse.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, A. S; SILVA, F. C. da. História e cultura africana e afro-brasileira:


repercussão da Lei 10.639 nas escolas municipais da cidade de Petrolina – PE.
Educação e diversidade. 2010. Disponível em: http://www.innovatio.
org.br/download/cursos/historia%20da%20africa/Leitura%2010.pdf. Acesso em 08
de abril de 2019.

BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Brasília, 2008.

________. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais.


Ministério da Educação e Cultura/ Secretaria da educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade Brasília: MEC/SECAD, 2006.
________. Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília,
2004.

________. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003.


Brasília, 2003.

________. Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação para temas


transversais: pluralidade cultural. Brasília: MEC, 1997.

________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Brasília, 1996.

________. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado


Federal, Centro Gráfico, 1988.

KRETZMANN, C. G. Multiculturalismo e diversidade cultural: comunidades


tradicionais e a proteção do Patrimônio Comum da Humanidade. 2007. Dissertação
(Mestrado em Direito) – Universidade Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul, 2007.

LOPES, N. História e cultura africana e afro-brasileira. São Paulo: Barsa Planeta,


2008.

NETO, H. B; BEZZI, M. L. Regiões culturais: a construção de identidades culturais


no Rio Grande do Sul e sua manifestação na paisagem gaúcha. Sociedade &
Natureza, Uberlândia, v. 20. nº 2. p. 135-155, dez, 2008.

SILVA, A. M. de P. e. História e cultura afro-brasileiras. 2. ed. Curitiba: Expoente,


2008.

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