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SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE SÃO VICENTE

INSTITUTO PROCOR

FABIANA MOREIRA BRITO

AÇÕES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA PARA


CONSCIENTIZAÇÃO E ELIMINAÇÃO DO PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO CONTRA AFRODESCENDENTES

SÃO VICENTE
2023
FABIANA MOREIRA BRITO

AÇÕES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA PARA


CONSCIENTIZAÇÃO E ELIMINAÇÃO DO PRECONCEITO E
DISCRIMINAÇÃO CONTRA AFRODESCENDENTES REGULAR

Projeto de conclusão apresentado ao Curso Formação


do Instututo Procor paara obtenção do certificado.

SÃO VICENTE
2023
AÇÕES INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA PARA CONSCIENTIZAÇÃO E
ELIMINAÇÃO DO PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO CONTRA
AFRODESCENDENTES

Adriane Aparecida de Oliveira Matos

RESUMO
O preconceito e a discriminação contra o negro e sua influência na construção da
sociedade moderna é algo que precisa ser discutido na escola e na sociedade para
minimizar os efeitos negativos dessas práticas, promovendo relações sociais mais
saudáveis e harmoniosas. Desse modo, o objetivo desse trabalho foi de refletir sobre
os processos de construção da identidade cultural e como lidar com a diversidade
em um espaço constituído por uma pluralidade étnica e cultural, a partir da
compreensão de aspectos históricos, sociais, econômicos e religiosos, além de
hábitos e costumes da comunidade africana e afrodescendente e seus processos de
dominação e resistência perante o preconceito e a discriminação de suas crenças e
demais manifestações culturais. Os alunos puderam assim conhecer sobre a cultura
africana e perceber sua importância na criação da sociedade no Brasil, mas
puderam perceber também que o preconceito e a discriminação ainda fazem parte
da ida de todos em diversos espaços sociais e isso ainda precisa ser revisto.
Palavras-chave: história; escola; cultura africana; discriminação e preconceito.

INTERDISCIPLINARY ACTIONS AT THE SCHOOL FOR AWARENESS AND


ELIMINATION OF PREVENTION AND DISCRIMINATION AGAINST
AFRODESCENDANTS

Adriane

ABSTRACT

Prejudice and discrimination against the black and its influence on the construction of
modern society is something that needs to be discussed in school and in society to
minimize the negative effects of these practices, promoting healthier and harmonious
social relations. In this way, the objective of this work was to reflect on the processes
of construction of cultural identity and how to deal with diversity in a space
constituted by ethnic and cultural plurality, from the understanding of historical,
social, economic and religious aspects, besides habits and customs of the African
and Afrodescendant community and their processes of domination and resistance in
the face of prejudice and discrimination of their beliefs and other cultural
manifestations. The students were able to learn about African culture and realize its
importance in the creation of society in Brazil, but also realized that prejudice and
discrimination are still part of everyone's journey in various social spaces and this still
needs to be revised.

Keywords: history; school; African culture; discrimination and prejudice.

1. INTRODUÇÃO

A África como berço da civilização humana deve ter destaque no âmbito


social e educacional no intuito de promover a disseminação do conhecimento sobre
a origem das sociedades e de seus pressupostos, visto que os primeiros registros da
espécie humana na história foram encontrados nesse continente. Dessa forma,
todas as nações atuais e já extintas acabam sendo direta ou indiretamente
consideradas como afrodescendentes, apesar da grande diversidade cultural e
pluralidade étnica existente atualmente e sua evolução através das gerações.
Assim, um olhar criterioso no estudo da cultura africana, explicitando seu
surgimento, dispersão e sua influência na origem de todas as outras se torna de
extrema importância para reduzir ou acabar com a discriminação, preconceito,
estigmas e estereótipos associados a etnia e cultura negra no decorrer da história. O
termo “etnia” está relacionado à noção de raça, religião, língua, uma história comum,
um território comum, uma origem comum e uma consciência de pertencimento
(LOPES, 2008; KRETZMANN, 2007), de forma que um grupo étnico constrói sua
identidade a partir do reconhecimento de outros grupos, pois a identidade se afirma
no reconhecimento das próprias origens, que no caso da espécie humana teve a
cultura africana como ponto de partida (NETO e BEZZI, 2008).
Entende-se que as identidades não se limitam a uma origem étnica, mas
revelam-se a partir da tomada de consciência das particularidades históricas,
culturais, religiosas, sociais e regionais e o reconhecimento da diversidade cultural
pode também levar à discriminação e ao racismo quando se defende a preservação
das culturas a partir da separação e distanciação dos grupos étnicos e culturais.
Apenas com o reconhecimento do valor de todas as culturas, com o respeito a todos
os grupos étnicos pode-se pensar em uma construção de uma identidade baseada
na diversidade e entendendo a partir do reconhecimento da diversidade como todo,
seja ela étnica, cultural, religiosa ou outras (SILVA, 2008; KRETZMANN, 2007).
Dessa maneira, o conhecimento e a valorização da cultura africana e sua influência
na formação da afro-brasileira favorece mais facilmente a aceitação e respeito à
diversidade, bem como reduzir drasticamente o preconceito e demais aspectos
negativos estigmatizados no decorrer da história.
O preconceito e a discriminação contra o negro e sua influência na construção
da sociedade moderna é algo que precisa ser discutido na escola e na sociedade
para minimizar os efeitos negativos dessas práticas, promovendo relações sociais
mais saudáveis e harmoniosas.
Desse modo, o objetivo desse trabalho foi de refletir sobre os processos de
construção da identidade cultural e como lidar com a diversidade em um espaço
constituído por uma pluralidade étnica e cultural, a partir da compreensão de
aspectos históricos, sociais, econômicos e religiosos, além de hábitos e costumes da
comunidade africana e afrodescendente e seus processos de dominação e
resistência perante o preconceito e a discriminação de suas crenças e demais
manifestações culturais.

2. A DISCUSSÃO SOBRE A CULTURA AFRO NA ESCOLA

A escolha deste enfoque foi motivada pelas Leis nº 10.639 e 11.645 que
determinam o ensino obrigatório da história e cultura de povos indígenas e
afrodescendentes e pela política nacional de combate ao racismo, preconceitos e
discriminação. Sendo assim, pretende-se estudar e investigar as diferentes
contribuições da cultura “afro” para a formação da cultura local e regional,
contextualizando os fatos que ocorreram desde a criação do bairro dentro no
Município de São Vicente-SP até o presente.
Uma das formas de trabalhar com essa temática dentro dessa realidade de
modo a integrar todos da escola refere-se a prática interdisciplinar, visto a
importância de realizar projetos educacionais contextualizados e interdisciplinares
que envolvam vários professores e toda a comunidade escolar, podendo se estender
para toda a comunidade local de acordo com os resultados preliminares. A
interdisciplinaridade pode ser uma importante ferramenta para a abordagem de
temáticas que sejam menos trabalhadas no âmbito escolar e no contexto social,
devido a inúmeros fatores. A interdisciplinaridade sempre irá requerer a
contextualização e a interação entre todos os participantes, por isso é importante
que a comunidade escolar participe do processo em todas as suas etapas para que
ocorra a troca de conhecimentos e experiências.
Como a educação constitui-se um dos principais mecanismos de
transformação na vida de um povo, é papel da escola, de forma democrática e
comprometida com a promoção do ser humano e de sua integralidade, estimular a
formação de valores, hábitos e comportamentos que respeitem as diferenças e as
características próprias de grupos sociais e minorias. Ou seja, a educação é
essencial no processo de formação de qualquer sociedade e abre caminhos para a
ampliação da cidadania (ARANTES e SILVA, 2010).
Em diversos estudos realizados em nosso país foi possível observar que a
maioria dos alunos de etnia negra apresentam um grau de dificuldade e, em alguns
casos, de completo impedimento de aceitar ou afirmarem-se como negros
principalmente gerados pelo preconceito e pela ausência de referencias positivas no
ambiente familiar e social a sua volta e esse cenário se propaga no decorrer da
história das transformações sociais brasileiras. Isso mostra o quanto os jovens não
conhecem as suas origens históricas, não sendo diferente na realidade da escola a
partir dos relatos dos professores durante o planejamento das atividades.
Por essa razão, é necessário o trabalho com essa comunidade escolar em
questão para verificar a presença de discriminação e preconceito na sua realidade
prática, pois a ausência de referências da comunidade acaba por gerar preconceito
e pela discriminação através de ações preconceituosas, piadas, estereótipos que no
decorrer do tempo gerou nas pessoas negras um sentimento de impotência,
inferioridade, subserviência e baixa autoestima. Isso gera a repercussão de um
legado que desconhece as suas origens familiares e históricas e assim minimiza sua
cultura, musicalidade e religiosidade, que muitas vezes são reduzidas a termos e
afirmações minimalistas que dificultam a consolidação de uma identidade pautada
em saberem concretos e confiáveis.
Dessa forma, a utilização dessa metodologia dentro da realidade que convive
rotineiramente com a violência e a miscigenação com pessoas negras e de outras
partes do país pode favorecer a discussão e quebra de paradigmas discriminatórios
no tocante da cultura africana e afro-brasileira, na busca de reduzir o preconceito, os
estigmas e estereótipos gerados pelo desconhecimento e/ou má interpretações de
seus preceitos.

3. ABORDAGEM DOS SABERES DO COMPONENTE DE HISTÓRIA NA ESCOLA.

Para trabalhar com as questões históricas acerca da cultura africana e afro-


brasileira nas aulas de história, foram feita discussões direcionadas aos seguintes
temas em sala de aula que poderiam contribuir para a aprendizagem dessas
culturas, mas tiveram enfoque voltado para a interdisciplinaridade ao abordar cada
tema com a visão conjunta das disciplinas de geografia, artes, educação física e
língua portuguesa durante a explanação dos temas, sendo eles: * Noções de história
africana (Divisão política e Colonização da África), * Grandes navegações, * História
da escravidão (Escravização no Brasil e a formação de quilombos), * Formação da
cultura afro-brasileira (intelectualidade negra, a desconstrução de conceitos e termos
referente à cultura afrodescendente e a cultura afro-brasileira na atualidade), *
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, * Sistema Racial de
Cotas, * Centros de religião afro-brasileira no bairro de localização da escola, *
Festas, expressões artísticas, poemas e contos, palavras de origem africana e
musicais.

4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NAS AULAS DE HISTÓRIA PARA ABORDAR


ASPECTOS DA CULTURA AFRO

O referido trabalho conta de um projeto interdisciplinar, cuja aplicação se dará


no primeiro semestre do ano de 2019, a partir do mês de fevereiro. Ele foi
desenvolvido em uma Unidade Escolar de Ensino Fundamental de 6º ao 9º anos,
sendo a escola situada no Bairro Vila Margarida no município de São Vicente,
pertencente à Rede Municipal de Ensino, sendo as atividades desenvolvidas em
uma turma de 6º, 7º, 8º e 9º ano da escola, nos dois turnos de funcionamento.
Foram desenvolvidas as seguintes atividades nas aulas de história para que
houvesse melhor abordagem dos aspectos da cultura afro junto aos alunos de forma
interdisciplinar:

 Pesquisa bibliográfica na cultura africana e afro-brasileira em fontes diversas


(literatura especializada e internet);

 Confecção de artesanatos típicos em argila e outros materiais;

 Elaboração de cartazes, painéis e mapas;

 Apreciação de vídeos educativos, apresentações de slides, filmes,


documentários, músicas, outros;

 Palestras e dramatização de aspectos culturais dos grupos em estudo;

 Jogos e brincadeiras com regras baseadas na representação dos momentos


de lazer e das atividades praticadas na cultura afro;

 Degustação e exposição de pratos típicos;

 Leitura e produção de contos e poemas;

 Leitura de textos e definição de conceitos: cultura, identidade cultural,


diversidade cultural, etnia, raça, racismo, preconceito, discriminação,
interdisciplinaridade;

 Planejamento de feira de cultura para exibição de todos os materiais


produzidos.

5. RESULTADOS OBSERVADOS

Durante as aulas de história, os professores da escola trabalharam de forma


interdisciplinar para mostrar aos alunos a importância das origens africanas e como
elas influenciaram a cultura no Brasil após a vinda dos escravos no período do Brasil
colonial.
Inicialmente foram mostrados vídeos educativos sobre a África e a cultura do
seus povos para os alunos observassem e refletissem o que aspectos do passado
estariam presentes em nossa cultura atual. Quanto a isso, os alunos destacaram
alguns aspectos e estes são destacados na figura 1.

Figura 1 – Aspectos da cultura africana levantados pelos alunos nos vídeos que tem relação com seu
cotidiano atual.

Após a exibição dos vídeos e das discussões em sala, percebeu-se que os


alunos ainda enxergam as religiões africanas como a forma de maior proximidade
com sua realidade, de maneira que alguns dos alunos e seus familiares
frequentavam cultos de umbanda e candomblé. Isso gera certo preconceito no
contexto social, visto que as religiões africanas ainda são popularmente
denominadas de “macumba” e com associações com rituais satânicos e de magia
negra, sendo esse motivo que a religiosidade foi um aspecto da cultura africana
mais citado, em seguida do artesanato.
Mesmo com as mudanças provindas da era globalizada e das tecnologias,
cada vez mais avançadas, como a internet, por exemplo, as manifestações de
discriminação ainda existem em vários espaços virtuais ou reais. No meio
escolar/educacional, os professores enfrentam dificuldade para agir frente às formas
de preconceito e da não aceitação da diversidade/diferença (BONFIN e
NASCIMENTO, 2017).
Ao tratar as religiões africanas na escola, os professores devem trabalhar
com os alunos sobre como as suas matrizes se enraizaram na cultura brasileira em
todos os seus aspectos e, no tocante da religiosidade, mostrar seus aspectos
característicos desmistificando a reação com satanismos e culto ao diabo.
Em relação aos cultos religiosos, para quebrar o mito e as más impressões, a
professora de história exibiu um vídeo mostrando as festas religiosas do candomblé
e da umbanda, além de mostrar histórias em animação que retratava a existência
dos orixás, sendo assim possível que os alunos entendessem como essa
religiosidade se encaixa no cotidiano atual quanto ao culto à natureza.
Não obstante as dificuldades detectadas pelo professor, ele deverá procurar
recursos e estratégicas para um bom desenvolvimento de seu trabalho e objetivos
pedagógicos, mesmo que para isso faça uma adaptação em sua didática de ensino,
juntamente com uma mudança em sua metodologia e, se necessário, uma
flexibilização no currículo com temas transversais e até mesmo com a inter e
multidisciplinaridade. Não com surpresa, os docentes se deparam com a questão
étnico-religiosa, isto é, não se pode abordar o assunto acerca da cultura de um
povo, sem considerar, do mesmo modo, sua religião. A questão da religiosidade é
controversa e em uma sociedade cuja maior parte da população é cristã, abordar
religiões diferentes tem se tornado difícil, especialmente quando a mídia apresenta,
em seu noticiário, casos como o apedrejamento de alunos adeptos de religião de
matriz africana, bem como o afastamento de professores que, por sua vez, também
professam essa fé (BONFIN e NASCIMENTO, 2017).
Sobre o artesanato, os alunos citaram as pinturas no corpo, esculturas, as
máscaras e os artefatos. Para exemplificar essa proximidade com o artesanato, a
professora sugeriu a confecção de mascaras africanas para expor na escola.
Durante esse processo, os alunos constataram que as máscaras são as formas mais
conhecidas da plástica africana na abordagem escolar e constituem importantes
elementos simbólicos variados que se convertem em expressões da vontade
criadora do africano, de maneira que os professores destacaram que suas funções
seriam o disfarce, símbolo de identificação, transfiguração, representação
de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais interação com
dança ou movimento, sendo alguns exemplos mostrados nas figuras 2.
Figuras 2 – Amostra de máscaras africanas confeccionadas pelos alunos e expostas na escola.

Os alunos também puderam perceber a cultura africana através de


vestimentas no que se referem aos vestidos, tocas, lenços de cabelos, além das
roupas e ornamentos típicos da África. Isso também se refletiu na percepção de
aspectos da cultura africana na televisão em novelas e filmes e isso os alunos
destacaram ser possível enxergar na sua realidade no que tange as pessoas negras
e afrodescendentes.
Um fator bem enfatizado pelos alunos que está bem enraizado na cultura
africana se referiu a questão da escravidão, ao qual através dos vídeos e discussões
eles puderam perceber como surgiu e se espalhou pelo mundo e durou até meados
do século XIX no Brasil e sessou antes de outras partes do mundo.
Santos (2008) descreve que apesar desse fato incontestável de que somos,
em virtude de nossa formação histórico-social, uma nação multirracial e pluriétnica,
de notável diversidade cultural, a escola brasileira ainda não aprendeu a conviver
com essa realidade e, por conseguinte, não sabe trabalhar com as crianças e jovens
dos estratos sociais mais pobres, constituídos, na sua grande maioria, de negros e
mestiços.
Os alunos pudera perceber em todas as atividades que a cultura africana esta
presentes em vários aspectos que caracterizam nossa cultura, sendo os afro-
brasileiros bem evidentes no contexto social, mas ainda vítimas de discriminação e
preconceito como se não fizessem parte da sociedade, mesmo estando em nichos
sociais diferentes diante das diferentes camadas sociais desiguais.
Quanto a isso, Santos (2012) relata que:

Vivemos em um país onde a miscigenação e a diversidade


multicultural aconteceram de "forma vitoriosa", apesar de nesse
processo de construção da sociedade os negros contribuírem
com suor e trabalho não remunerado e receberem como fruto
do esforço físico a segregação e os maus tratos. O sistema
educacional baseia-se nesses preconceitos, pois é focado em
uma visão eurocêntrica e reproduz esses valores no espaço
escolar, ora negando a contribuição negra para o progresso
brasileiro, ora distorcendo como "exótica" essa contribuição
(SANTOS, 2012, p. 7).

Só em janeiro de 2003, com a aprovação da Lei 10.639, que alterou a Lei de


Diretrizes e Bases da educação Nacional, nº 9394/96 para incluir no currículo oficial
a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-brasileira e africana é que se
assinala a intenção do estado brasileiro em eliminar o racismo e a discriminação
racial nas escolas. Porém, sabemos que uma lei não implica necessariamente uma
mudança de práticas historicamente constituídas de desvalorização da história e da
cultura do povo negro nas salas de aula. E, mesmo no caso de se inserir a temática,
sabemos que o enfoque dado pelos professores pode até reforçar ainda mais a
situação de exclusão do povo negro do sistema oficial de ensino (ARANTES e
SILVA, 2010).
É preciso, então, estimular o respeito e a prática da convivência na
diversidade, já que toda religião é iminentemente social, todas nascidas no seio de
grupos sociais que, embora distintos, têm o intuito de suscitar, refazer ou manter
certos estados mentais desse grupo (BONFIN e NASCIMENTO, 2017).
Educadores devem ser desafiados a desenvolver junto com seus alunos e
colegas de profissão uma conscientização crítica em torno do fenômeno racial que
atormenta nações, inclusive o Brasil, construindo uma nova consciência em torno
da identidade cultural e social, que venham a desestruturar concepções racistas e
discriminatórias (SANTOS, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da especificidade do tema abordado, é necessária uma reflexão mais


prolongada e sistematizada sobre o papel, que nós, professores, de todos os níveis
de ensino, deveremos construir junto com os nossos alunos, sobre o nosso país e
sobre o nosso povo. O respeito à diversidade e as diferenças vão além de um
problema escolar, porém, é a escola o local com maior capacidade de empreender
alternativas de solução, ou ao menos, de diminuição dessa desigualdade.
A partir do que foi trabalhado e discutido em sala de aula através de filmes,
confecção de materiais, cartazes, leitura de textos, entre outros, os alunos puderam
perceber a proximidade da cultura africana em seu cotidiano deforma direta e
indireta, seja através da televisão, de filmes, de artesanatos, roupas, pinturas,
religiosidade e outros.
Em relação à cultura afro-brasileira, os alunos perceberam que ela está viva
na atual sociedade desde a vinda dos escravos africanos ao Brasil e suas
transformações no decorrer da história do Brasil, fazendo parte desse contexto
histórico e do atual cenário social do país. Os alunos perceberam o quanto o povo
africano e sua cultura influenciaram e ainda influenciam a cultura do Brasil que é um
país extremamente grande e que sofreu influencias da África e de vários países do
mundo.
Os alunos puderam assim conhecer sobre a cultura africana e perceber sua
importância na criação da sociedade no Brasil, mas puderam perceber também que
o preconceito e a discriminação ainda fazem parte da ida de todos em diversos
espaços sociais e isso ainda precisa ser revisto. Isso se revelou durante as
atividades quando se falava em religiões africanas e aspectos relacionados a ela,
sendo o momento de maior impasse.

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