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MEC -SETEC- SESU

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARÁ
COORDENAÇÃO DE LICENCIATURA PLENA EM FÍSICA

DISCIPLINA: EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS (40h)

JUSTIFICATIVA

Considerando o contexto das políticas públicas em torno das relações étnico-


raciais, o CEFET-PA está implementando a Disciplina Educação e Relações Étnico-
Raciais, com carga horária de 40h. A iniciativa está amparada na lei federal
10.639/2003 e na Resolução CNE/CP 003/2004, que estabelecem as diretrizes
curriculares nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino
da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, a serem observadas nas instituições da
educação básica, nas diversas modalidades, e na educação superior.
O reconhecimento das discriminações por que passam os negros numa
sociedade hierarquizada e desigual, seja depreciativamente por palavras e atitudes,
seja por condições estruturais e objetivas de vida, é o primeiro passo para o
rompimento com posturas impositivas do mito de que vivemos numa democracia
racial. No âmbito escolar, esse mito traduz-se na formação docente – tanto no nível
universitário como no espaço das redes de ensino – geralmente pautadas num
silenciamento a respeito das questões relativas à diversidade étnico-racial e à
afirmação da cultura afro-brasileira.
Tal lacuna emperra as possibilidades de abordagens pedagógicas que
valorizem a identidade, a história e a cultura dos afro-brasileiros, assim como o
enfrentamento de situações de racismo na escola. Daí, a importância de se rever os
currículos escolares e as práticas sociais.
Nesse caso, a identificação de práticas de discriminação racial no contexto da
escola representa a necessidade de uma análise ampla da questão e a urgência em
desvelar o discurso pedagógico que mesmo indicado a linha da igualdade, sustenta
ações que lhe são contraditórias. Essa abordagem, por ser diferenciada, vem
contribuir para a identificação das formas pejorativas de construção das imagens e
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auto-imagens de negros e negras, o que certamente exerce influência nas formas de


relacionamento interpessoal e intergrupal.
A existência de um currículo monocultural, que ignora a identidade cultural do
povo negro e perpetua uma espécie de escravidão mental, é a revelação de uma das
principais falácias em que está alicerçada a educação brasileira. Assim sendo,
podemos afirmar a existência de um não-racismo de ocasião, explicitado em ações
equivocadas que, por serem pontuais, não representam provocações suficientes na
luta pela conquista de espaços travada há tempos pela comunidade negra.
Há também que se considerar a abordagem do povo negro nos livros
didáticos em circulação no mercado editorial brasileiro, os quais freqüentemente
retratam imagens pejorativas. Ao reafirmar tais estereótipos, os livros didáticos
também perpetuam o discurso falacioso e desvirtuam a abordagem da questão da
negritude, a partir da ilusão de que não expressam o preconceito.
Faz necessário, entretanto, reconhecer a raiz do problema. A análise da
gênese do Estado Republicano Brasileiro coloca-nos diante do reconhecimento do
interesse oficial em ratificar uma sociedade desigual. Não há como esquecer as
diversas políticas implementadas (no pós-abolição) no sentido de restringir ao máximo
os diversos direitos dos afrodescendentes: formas de violência cultural, negação do
acesso ao trabalho remunerado, política imigratória de caráter racista. Daí podemos
lançar outro olhar para a realidade excludente atual, a qual estabelece um "apartheid"
disfarçado.
Certamente a partir da consideração de tais aspectos, é que o Governo
Federal Brasileiro implementou a lei 10.639/03 complementando a lei 9394/96 e
instituindo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no âmbito da
Educação Básica. Tal medida – acrescida das Diretrizes Nacionais para a Educação
das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e
Africana – representa um decisivo passo no reconhecimento da existência de relações
raciais assimétricas no seio da sociedade brasileira, assim como uma grande
contribuição à luta histórica dos movimentos sociais na defesa dos direitos da
comunidade negra. Assim, o Brasil passa a concretizar compromissos sociais e
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políticos firmados em nível internacional, principalmente por ocasião da III Conferência


Mundial de combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata, ocorrida em Durban, África do Sul, no ano de 2001.
Se por um lado há um notável avanço na implementação de políticas públicas
de caráter étnico-racial no Brasil, não podemos perder de vista as inúmeras
dificuldades enfrentadas para a operacionalização de tais medidas legais. A esse
respeito, consideramos o contexto da formação docente que – seja em nível
universitário ou no espaço das redes de ensino - geralmente indica um silenciamento a
respeito das questões relativas à diversidade étnico-racial e à afirmação da cultura
afro-brasileira. Tal lacuna emperra as possibilidades de abordagem pedagógica da
questão racial, assim como o enfrentamento de situações de racismo na escola.
Este contexto coaduna com as ações do NEAB/CEFET-PA, que buscam a
democratização do acesso e permanência na instituição, entendidas aqui como a
própria ressignificação das relações étnico-raciais travadas no espaço escolar
integrando Ensino Superior e Educação Básica e que contribuem para a reflexão-ação
nos dois níveis educacionais. Ressaltamos ainda que a colaboração do NEAB será
importante para o desenvolvimento do curso, tendo em vista a trajetória de estudo da
cultura afro-brasileira que este núcleo tem traçado.
O combate ao racismo e ao racismo institucional constitui-se num grande
desafio para toda a sociedade. O respeito à diversidade étnico-racial e o
desenvolvimento de uma educação anti-racista deve fazer parte da instituição escolar
e, conseqüentemente do trabalho pedagógico. A instituição e seus rituais conseguem
prevalecer sobre as atitudes das pessoas humanas, que atuam no cotidiano de acordo
com suas crenças, valores, idéias preconcebidas e percepções. Alguns trabalhos
acadêmicos identificaram a existência e persistência do racismo na escola, levando as
taxas de abandono e fracasso escolar a serem bastante elevadas no segmento negro
da população brasileira.
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COMPETÊNCIAS:
 Contribuir para desvelar o discurso pedagógico, buscando levantar e analisar as
representações sociais sobre os negros na sociedade brasileira e seus reflexos
no contexto escolar.
 desnaturalização do que vem sendo chamado de normal, sob pena de que os
conceitos se cristalizem a ponto de inviabilizar as tentativas de mudança.
 Problematizar os currículos da Educação Básica contribuindo substancialmente
para uma abordagem ampla da questão, além de revelar a matriz ideológica do
fazer educação.
 Promover a capacitação de profissionais da Educação Básica, assegurando-
lhes formação político-pedagógica adequada ao planejamento, à análise,
orientação e avaliação de propostas que corresponda aos avanços do
conhecimento no campo da diversidade étnico-racial e da afirmação da cultura
negra, tanto em relação ao exercício da docência quanto na concretização de
pesquisas e práticas – formais ou alternativas – que valorizem a história e a
cultura dos afro-brasileiros e dos africanos.
 Estudar a Lei 10.639/03 refletindo sobre a sua implementação na escola;
 Favorecer uma reflexão sobre os conceitos de racismo, preconceito,
discriminação, auto-estima e autoconceito, entre outros;
 Contextualizar a situação sócio-econômica e cultural dos afro-brasileiros no
Brasil; identificar e visibilizar práticas pedagógicas exitosas realizadas por
profissionais de Educação, com vistas à construção de uma educação anti-
racista e pluri-étnica.

TEMA: RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS


SUBTEMAS:
- Conscientização, Inclusão e Análise sobre as relações Étnico-Raciais.
- Etnocentrismo e o contexto anti-racial
- Conceitos básicos para o entendimento da questão anti-racista
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- O resgate dos valores afro-descendentes na História do Brasil contemporâneo


- Desconstrução do racismo no contexto da sociedade no século XXI

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