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FAVENI

FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA

DEURIJANE PINTO CHAVES

A PRÁTICA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA DENTRO DA SALA DE AULA

CARNAUBAL - CEARÁ
2020
A PRÁTICA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA DENTRO DA SALA DE AULA

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de violação aos direitos
autorais.

RESUMO- O presente trabalho, intitulado como: “A prática da cultura afro-brasileira dentro da sala de
aula” transporta a necessidade de haver um caráter social e político dentro da escola na busca por
desenvolver nas crianças, desde cedo, uma consciência crítica capaz de gerar ações e atitudes positivas
sobre a cultura afro-brasileira, por meio de uma disciplina. Como objetivo geral da pesquisa na busca por
identificar a importância do estudo da cultura Afro-Brasileira, fortalecendo a importância da aplicação da
mesma em sala de aula e observar como a ausência de discussões sobre esse assunto e suas práticas
afetam no aprendizado dos alunos. E como objetivos específicos descrever como o aluno recebe e
compreender a o estudo da cultura afro-brasileira em sala de aula, demonstrar a importância da aplicação
da mesma em sala para a formação de identidade, promover também a manutenção dos valores culturais
e sociais resultantes da influência negra dentro da formação da sociedade brasileira; demonstrar a
importância da escola participar do processo de desenvolvimento social da sociedade tornando-os então
cada vez mais capazes de identificar, conhecer e assumir suas origens, além de buscar proporcionar
diferentes tipos de atividade desde as teóricas (debates e palestras) e as práticas (oficinas e amostras),
de forma a envolvê-los na cultura Afro-Brasileira e ainda buscar diferenciar a postura dos alunos frente as
atitudes de preconceito e mantidos em sala-de-aula. A metodologia da pesquisa se dá como bibliográfica,
baseada em livros e outros trabalhos realizados de acordo com o tema. Concluindo assim que o objetivo
pôde ser alcançado, pois os alunos precisam conhecer sobre a diversidade da cultura Afro-brasileira e
então saber que a História da África não pode ser limitada, tão menos estereotipada e contada por
apenas um único ponto de vista.

PALAVRAS-CHAVE: Aluno. Cultura Afro-Brasileira. Escola. Negro.


INTRODUÇÃO

O presente trabalho, intitulado como: “A prática da cultura afro-brasileira dentro


da sala de aula” mostra a necessidade de ter um caráter político e social no ambiente
escolar na busca por desenvolver desde cedo, uma consciência crítica capaz de gerar
ações e atitudes positivas sobre a cultura afro-brasileira. Já que a escola se torna a
ferramenta responsável pelo processo de socialização, é necessário gerar relações
amigáveis e respeitosas entre crianças brancas e negras, viabilizando a convivência
entre as diversas raças e gêneros existentes dentro daquele ambiente, além da
construção da identidade. Ao vivenciar toda essa proposta a observação é voltada para
as diferenças como características e abandonam-se os preconceitos que ao decorrer
do tempo serviam como maneira de desvalorização dos atributos individuais.
Dessa forma, como acadêmica, estima-se que o trabalho a curto prazo, possa se
desdobrar na aplicação de uma disciplina específica da área, além de outras atividades
e manifestações que busquem o exercício da cidadania, a concepção positiva da
identidade étnico-racial dentro da escola, o aumento da sua autoestima e a inclusão
social. Como problemática foi idealizada a seguinte questão em relação ao tema: Qual
o olhar do aluno em relação a disciplina da cultura Afro – Brasileira trabalhada em sala
de aula?
A proposta inicial do artigo tem como finalidade abordar sobre a Cultura Afro-
brasileira através de uma disciplina específica incluindo atividades que envolvam:
exposição de atividades em relação ao tema, amostragem da Dança Afro-brasileira,
textos, filmes, canções populares e até mesmo reportagens. Dessa forma é necessário
proporcionar a preservação de todos os valores culturais e sociais decorrente da
influência negra em plena formação dentro da sociedade brasileira; potencializando
ainda a participação da escola nesse importante processo de desenvolvimento social,
econômico e político da sociedade tornando-os cada vez mais capazes de identificar,
assumir e compreender suas origens, para diante de tais ações afirmar a identidade e a
cidadania do povo Afro-Brasileiro.
Durante o desenvolver do Trabalho foi possível analisar a importância de todas
essas atividades a serem realizadas no ambiente escolar da qual irão ajudar de forma
significativa para a ampliação do conhecimento e valorização da diversidade cultural
negra que vai desde sua história, valores e crenças, todas elas vivenciadas e
compreendidas entre os alunos e a escola. E para todos os alunos, o trabalho deixará
de ser um simples meio de expressão e sociabilização, e passará a ser meios concreto
de comunicação e transformação para essas crianças, pois suas atitudes e seu
comportamento perante seus familiares, colegas e até mesmo com as pessoas
desconhecidas passarão a ser de caráter positivo e mais harmônico. Pois será através
dessas atividades expressivas que as crianças mostrarão sua real sensibilidade em
relação as diferenças, pois, conhecerão melhor o seu próprio corpo, mente e assim
aprenderão a respeitar e a aceitar o corpo e mente do outro.
Como objetivo geral da pesquisa na busca por identificar a importância do estudo
em relação a cultura Afro-Brasileira, fortalecendo a importância da aplicação da mesma
em sala de aula e observar como a ausência de discussões sobre esse assunto e suas
práticas afetam no aprendizado dos alunos. E como objetivos específicos descrever
como o aluno recebe e compreende o estudo da cultura afro-brasileira no ambiente
escolar, demonstrar a importância da aplicação para a formação da identidade negra,
promover também a preservação dos valores culturais e sociais resultantes da
influência negra dentro da formação da sociedade brasileira; demonstrar a importância
que a escola possui ao participar do processo de desenvolvimento social da sociedade
tornando-os então cada vez mais capazes de identificar, conhecer e assumir suas
origens, além de buscar proporcionar diferentes tipos de atividade desde as teóricas
(debates e palestras) e as práticas (oficinas e amostras), de forma a envolvê-los na
cultura Afro-Brasileira e ainda buscar diferenciar a postura dos alunos frente as atitudes
de preconceito e mantidos em sala-de-aula.
A metodologia da pesquisa se dá como bibliográfica, baseada em livros e outros
trabalhos realizados de acordo com o tema. Para o desenvolvimento do mesmo, foi
realizada uma leitura minuciosa, a fim de obter informações acerca do assunto e então
traçar um paralelo diante das falas dos autores e das ideias expostas pelo idealizador
do trabalho. Boccato (2006, p. 266) “descreve a pesquisa bibliográfica como se tratando
de uma resolução de um problema (hipótese) por meio de referenciais teóricos já
publicados, buscando fazer uma análise e discursão das diversas contribuições
científicas. ” Esse tipo de pesquisa traz as contribuições necessárias para o
conhecimento sobre o que está sendo pesquisado, como e sob todo o enfoque e as
perspectivas da qual foi tratado o assunto apresentado dentro da literatura científica.

1. CONCEITO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA

A cultura afro-brasileira é designada como se tratando de um conjunto de


manifestações culturais que o Brasil passou ao longo dos anos, com um maior nível de
influência da cultura africana que vai desde os tempos do Brasil colônia até atualmente.
A cultura da África teve início no Brasil, e a maioria originária da escravidão africana
que acontecia na época o tráfico transatlântico de escravos. No Brasil essa cultura
africana passou por uma importante atuação de outras culturas, como a europeia e a
indígena, de forma que as características da cultura africana dentro da cultura brasileira
encontram-se de forma complexa em relação a outras referências culturais (BENJAMIN,
2004).
Alguns traços fortes da cultura africana podem ser encontrados em diversos
aspectos da cultura brasileira, como a religião, música popular, a culinária, as
festividades populares e o folclore. Muitos estados Brasileiros foram influenciados pela
cultura africana, tanto referente a grande quantidade de escravos que foram trazidos
durante a época do tráfico como também pela migração dentro do país dos escravos
após o fim do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste.
Ainda que a tradição estivesse desvalorizada desde a época colonial até o
século XIX, as concepções da cultura brasileira de origem africana atravessaram um
longo processo de revalorização com a chegada do século XX que continua até os dias
de hoje.
2. INOVAÇÃO DA LDB - LEI 10.639/03

As Diretrizes Curriculares Nacionais (Referente ao Parecer nº 04 CNE/ CEB/ 98)


possui os princípios, procedimentos e fundamentos que serão exercidos na Educação
Básica, instituídos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação que orienta as escolas no Brasil quanto sua organização, propostas
pedagógicas etc. E em uma das diretrizes onde está a questão do “reconhecimento da
identidade pessoal de alunos, professores entre todos os profissionais e a identidade de
cada unidade escolar além de seus respectivos sistemas de ensino”, mostrando mais
uma vez a importância da verificação das individualidades diversas ou particularidades
dentre os sujeitos na escola, sejam elas referentes as diferenças de gênero, culturais,
étnicas, sócio/ econômicas .

Em 2003, essa temática ganhou um importante avanço, frente á uma inovação


da LDB na Lei de n° 10.639, a qual “altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e as bases da educação nacional, buscando a inclusão do
currículo oficial da Rede de Ensino em relação a obrigatoriedade do tema “História e
Cultura Afro-Brasileira’”, onde no artigo 26 contém que “nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, é obrigatório o ensino sobre a História e
Cultura Afro-Brasileira”, no parágrafo 1° discorre que:
“O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo está incluido
todo estudo referente a História da África e dos Africanos, a luta dos negros no
Brasil, a cultura negra brasileira e a figura do negro dentro da formação de toda
a sociedade nacional, buscando resgatar a contribuição do povo negro nas
áreas social, política e econômica referentes à História do Brasil” (BRASIL,
2003)
Em seguida o parágrafo 2° conclui que “Todos os conteúdos relativos à História
da Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no domínio de todo o currículo escolar, em
especial dentro das áreas de Educação Artística e Literatura e História Brasileiras”.
Em 10 de março de 2004 foi aprovado um Parecer CNE/CP 003/2004, pelo
Conselho Nacional de Educação, com o objetivo de adotar as finalidades inclusas na
Indicação CNE/CP 6/2002, da mesma forma em que regulamenta e reforça a alteração
que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional fez, através da Lei 10.639/200.
Neste mesmo ano são estabelecidas relativamente as “Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação de Relações Étnico Raciais e do Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira”, através da Resolução Nº 1, de 17 de junho de 2004,
objetivando marcar tais diretrizes.
Dessa maneira, diante de todo o respaldo legal, foi possível ampliar e garantir as
possibilidades precisas de se trabalhar o ensino da cultura afro-brasileira em sala de
aula, especialmente com as crianças nos anos iniciais, as questões referentes à esta
diversidade cultural.

2.1 A PRÁTICA DA DISCIPLINA DENTRO DA ESCOLA

Por meio de relatos como que em 22 de abril a frota de Pedro Álvares Cabral
chegou ao Brasil e o país é, então, descoberto ou que em 13 de maio de 1888, a
princesa Isabel assinava a Lei Áurea, os escravos seriam libertos, e após todos esses
acontecimentos pouco se ouviu falar sobre os destinos dos milhões de negros
brasileiros, e durante décadas a população negra e os grupos indígenas não passaram
de meros coadjuvantes no currículo escolar brasileiro, com todos esses relatos e essas
histórias se tratavam de importantes protagonistas da nossa história.
Depois de anos de dívida, a situação mudou na década de 20, com a aprovação
de duas importantes leis da qual garantiam a manutenção do estudo e aplicação da
história e cultura afro-brasileira em todas as escolas que tinham o ensino fundamental e
médio no país. A primeira lei surgiu em 2003, a lei nº 10.639 da qual acrescentava dois
artigos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e determina que é
necessário ter o ensino de história e cultura afro-brasileira por meio de temas como a
história da África e dos africanos, a cultura negra brasileira, a luta do povo negro no
País e até mesmo a formação do negro na sociedade nacional. Passada cinco anos, foi
criada a lei nº 11.645 da qual incluía também as populações indígenas nesse estudo.
Conforme o texto, o ensino precisava ser fundamentado em três princípios: a
compreensão política e histórica da diversidade cultural, a fortificação das identidades,
o ensino dos direitos e das ações educativas que combatem o racismo e às
discriminações. Os conteúdos precisam ser ministrados de maneira transversal em todo
o currículo, de forma especial nas áreas de artes, história e literatura.
Segundo Rodrigues, uma das responsáveis pelo Núcleo de Estudos Afro-
Brasileiros da (UFSCar) Universidade Federal de São Carlos:
‘’as duas alterações presentes na LDB são complementares. "Ambas anseiam
pluralizar o currículo e proporcionar a dois grupos étnicos que até então
estavam presentes somente do ponto de vista do colonizador sejam vistos com
outros olhos". (RODRIGUES ,2005, p.17)
Para ajudar na prática, em 2004, o MEC divulgou todas as diretrizes precisas
para a implementação da lei. Conforme Douglas Verrangia, que também é um dos
pesquisadores do núcleo:

‘‘ o documento confirma que as instituições educacionais precisam tratar o tema


de maneira interdisciplinar e transversal, buscando não se restringir em relação
as datas comemorativas e a criação de disciplinas. Pois isso não se trata
apenas de inserir um novo conteúdo no currículo, mas também de fazer uma
reflexão em relação aos alunos sobre a democracia racial e a formação de toda
a sociedade brasileira e sua cultura. Se trata de uma mudança no sentido de
colocar as relações humanas no centro”. (VERRANGIA, 2010, p. 15)

Dentro das escolas, a aplicação da lei ainda se encontra com grandes


adaptações e está longe do esperado. Para Verrangia, a lei desenvolve o aumento da
discussão dentro das salas de aula e a mudança em relação aos materiais didáticos,
porém o ensino ainda se restringe a diversas ações pontuais. Segundo Pereira (2004):
"Há escolas e redes educacionais que possuem trabalhos bem avançados, mas
a maior parte consegue encarar a educação dentro das relações étnico-raciais
como se tratando de uma questão que precisa ser trabalhada apenas nas
comemorações do Dia da Consciência Negra ou no Dia do Índio", aponta. Só
que o compromisso deve ser institucionalizado para não se apresentar apenas
nas ações individuais de alguns professores. "É necessário que os gestores e
as secretarias municipais e estaduais consigam estabelecer o tema como uma
política pública". Para os especialistas, o grande desafio para a implementação
da lei de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo MEC se encontra na
formação dos professores, "Existe muito trabalho a ser feito tanto para os
docentes que já se formaram quanto para com aqueles que se encontram no
ensino superior" (PEREIRA ,2004, p.6)

Desde 2003, as universidades, acima de tudo as públicas, aumentaram a oferta


em relação as disciplinas que tratam da questão étnico-racial. Mas a mudança anda a
passos lentos. Muitas das instituições ainda não estabeleceram lembretes e disciplinas
que realmente atuem a temática de maneira ampla.
3. A RELEVÂNCIA DO NOVO ENSINO PARA OS ALUNOS

Vivemos dentro de uma população em que uma pequena parte da população é


contida de pretos e de pardos (que, juntos, constituem a categoria “negros”). Entre os E
os demais, que se trata da maior parte são brancos miscigenados. Tornando-se
importantíssimo tratas dessas questões, do respeito e da não discriminação a esse
povo, pois merecem o respeito igualitário. A importância de tratar a fundo desse
assunto com os alunos e de suma relevância para a vivencia da cultura e dos
resultados positivos em relação ao estudo como um todo.
Discutir essas relações étnico-raciais da qual foram responsáveis por construir
esse país, se torna obrigatório para todos os cidadãos, independente da origem ou
etnia. O estudo dessa disciplina pode causar interesse e grandes resultados de
discussão gerados a partir do estudo minucioso de uma cultura significante dentro da
sala de aula, pois a miscigenação do estudo em si é algo maior que tratar apenas de
simples atividades tratadas em datas comemorativas apenas. Á prática da cultura pode
trazer atividade lúdicas e resultados positivos em relação ao preconceito presente até
então.
São esforços que não só somam na luta contra o racismo, como ainda na
consolidação da democracia, no reforço à igualdade social e racial e da promoção da
cidadania cultural. Sendo assim a escola se torna o local privilegiado para a
transmissão desses conhecimentos, tornando-se também um dos focos do movimento
negro, trazendo o currículo escolar à tona. Esse e o objetivo da Lei 10.639/03 – que
posteriormente foi complementada e referenciada pela Lei 11.645/08 para incluir
também a cultura indígena.

3.1 A ATUAÇÃO DOS ESTUDANTES

Conhecer uma história de estado mundial é algo essencial que busca entender o
que é o Brasil dentro de um contexto das relações globais. Porém, da maneira como é
questionada hoje, o que se levou a chamar de História Geral se tornando basicamente
uma narrativa europeia ou euro-americana (do Norte). Nem dentro da América Latina,
nosso próprio continente, ela é discutida adequadamente. Quanto mais um continente é
levado a uma imagem folclorizada, estereotipada e pejorativa como é a África.
Compreender mais a fundo a História da África e da Cultura Afro-Brasileira é um se
trata de uma espécie de espelho para se entender de uma melhor forma o Brasil e suas
diversidades.
Além do mais, compreender a África desfaz toda a noção primária de que, no
continente africano, só existe miséria, doenças endêmicas, fome, guerras “tribais” e um
atraso em todos os âmbitos. A riqueza cultural, linguística, étnica, artística, intelectual,
assim como as nuances de uma história vista de forma tão complexa quanto o
problema que reconhecemos em uma Europa ou Estados Unidos, acabam sendo
deixados de lado. A África, sem dúvida alguma, torna-se o ponto expiatório de nossa
cegueira internacional, do total “ignorância” que se torna orgulhosamente ostentada em
forma de preconceitos. Dessa forma, já se passou da hora de olhar toda a história
mundial com outros olhos, até mesmo na busca por entender a situação presente com
maior cuidado, respeito e atenção. Gomes (2008, p. 72) então sugere que:
“Essa revisão histórica de todo o passado de um povo e o estudo da
participação da população negra brasileira atualmente vivenciada”,
(...), “poderão contribuir também na busca pela superação de preconceitos
criados em nosso imaginário social e que buscam tratar a cultura negra e
africana como lemas exóticos e/ou fadados em sofrimento e miséria”.

Em outras palavras, a sociedade iria se beneficiar de diferentes formas e


sentidos: tanto pedagógicos, quanto no tocante referente à uma visão mais afirmativa
da diversidade étnico-racial, quanto políticos, ou até na problematização das relações
de poder que marcam esses diferentes segmentos da população.
E será justamente nessas relações de poder – que os brancos se salvam em um
estatuto de neutralidade, acima de quaisquer suspeitas, e associarão os espaços de
prestígio – possuindo assim um efeito direto na constituição de subjetividades dos
negros. Resumindo assim que as desigualdades herdadas nessa sociedade podem
influenciar no modo pelo qual os negros (e brancos) se veem como sujeitos. Sendo
demonstrado que, mesmo dentro dos contextos sociais proporcionais, as experiências
entre brancos e negros em busca de sua cor/raça são distintas. Poderia até não ser,
mas o estrago já está feito e cabe a nós fazer esforços contínuos e profundos que
anseiam a reparação.
Voltando ao conteúdo da qual relatamos sobre questão racial na escola, é
importante ressaltar que reduzir a abordagem desta questão ao fenômeno da
escravidão é algo bastante problemático e que acarretará em diversas ações de
preconceito e desvalorização cultural. A impressão que fica é que os negros surgiram
dentro de um ambiente sem uma cultura prévia, tomados da escuridão de um algum
lugar da “África”, e trazidos para o Brasil na condição naturalizada assim chamada de
“escravos”. Onde se tratavam apenas de homens e mulheres que eram forçados a
trabalhar em condições degradantes até o século XIX e não passavam apenas
de escravos ou escravizados – seres humanos retirados à força para alimentar um
mercado deplorável.
É esse tipo de noção e visão que não queremos dentro do ambiente escolar e
social vivenciados pelas crianças e adolescentes, pois tratar desse assunto e algo
muito importante e que seja estudado de forma clara e substanciada em relação a
realidade existente.
Então a proposta da educação étnico-racial nos currículos escolares nos traz
uma nova abordagem em relação a história africana e dos escravizados, buscando
apresentar e investigar uma história da qual ainda não foi contada da maneira correta
além de não ter sido estudada, e vista sob uma ótica eurocêntrica. Sendo importante
também salientar que a exclusão desses conteúdos culturais impede a humanização de
todos, se tornando o compromisso maior da educação escolar.
O ensino acerca da história da África e da cultura afro-brasileira contribuirá de
forma a conhecer a história da educação do negro brasileiro, em seus diferentes
aspectos de exclusão, inclusão e resistência em relação ao exercício de seus direitos. A
história da educação do negro também é a história de um conjunto de acontecimentos,
pois parte da geração de exclusão ao negro; percorrendo os caminhos de articulação
da consciência dos seus direitos; expressando a função social da escola; recuperando
os movimentos, de forma a organizar suas experiências educativas e então escrever
uma história social nova da educação do negro; além de revelar as imagens que não
conhecemos apesar dos indicadores sociais e educacionais nos passem muitas pistas
próximas da moldura do quadro desejado.
O Brasil é conhecido como um país multicultural, e desta forma se mostra a
necessidade de trabalhar todas as culturas que contribuíram para a formação da cultura
do povo brasileiro dentro das escolas. Assim, é possível concluir que se houver práticas
de exclusão dessas culturas ou um tratamento diferenciado (também chamado de
menosprezado) em relação a um aluno advindo de alguma cultura, as crianças tomarão
as mesmas atitudes, permanecendo um ambiente de exclusão e preconceito. Devido
estes e outros motivos é necessário trabalhar a multiculturalidade dentro da sala de
aula, especialmente quando trabalhado incialmente na educação infantil.
(...) A multiculturalidade não é composta apenas da coincidência de culturas,
tão pouco do poder exacerbado de uma sobre outras, mas sim da liberdade
conquistada, do direito assegurado de mostrar cada cultura com respeito uma
da outra, correndo risco de forma livre e mostrando a diversidade sempre, sem
medo de ser diferente, sendo possível crescerem juntas e não pela experiência
da tensão permanente, da qual é provocada pelo poder de uma sobre as
demais, proibindo assim de serem como é. (FREIRE, 1992, p. 156).

Um ambiente multicultural se torna empenhado em proporcionar aos alunos que


ali convivem, a renovação de sua mentalidade, a vitória do preconceito, combater as
ações discriminatórias, e para isto é necessário que exista uma nova ética respaldada
dentro do respeito às diferenças. É onde existe o papel central da escola, apesar de
isso não acontecer de fato em algumas instituições. Numa sala de aula onde predomina
um ensino que é capaz de privilegiar diversas culturas, incentivando o desenvolvimento
da autoestima dos alunos, fazendo com que percebam que eles são parte integrante da
história do Brasil, isso poderá garantir que exista igualdade e a ausência do
preconceito. Estas ações podem levar, por consequência numa melhoria da qualidade
de ensino, e assim preparar o educando para a cidadania.
Partindo nesse contexto Candau (2002, p. 85) afirma que: “(...) o que é
necessário ser mudado não é a cultura do aluno, mas sim a cultura da escola, que é
constituída a partir de um único modelo cultural, o hegemônico, mostrando um caráter
mono-cultural”.
Numa sala de aula onde se prevalece um ambiente capaz de favorecer a
multiculturalidade, a educação passar a ser um fator de coesão e deixa de ser um fator
de exclusão. Segundo Candau ainda (2002), “a educação multicultural compreende
alguns paradigmas, dentre eles alguns se destacam como o desenvolvimento do
autoconhecimento, no qual a função seria o sucesso acadêmico dos educandos que
continham uma minoria étnica e o conhecimento de sua própria identidade, vindo a ser
praticado diante dos centros de estudos étnicos, dos quais são de relevância e
contribuição para os grupos, e das unidades que retratam temas sobre heróis étnicos.”

4. CONCLUSÃO

Discutir acerca do ensino da História da cultura afro-brasileira nas escolas é


recordar que o exercício da cidadania não pode ser construído como privilégio para
poucos, é preciso promover políticas de igualdade, solidariedade e justiça. Se um lugar
como a escola representa os dilemas da sociedade e consideravelmente ela é capaz de
formar cidadãos ativos e cada vez mais conscientes de sua prática, torna-se essencial
ampliar o debate, capacitar os educadores e determinar as experiências modificadoras
que promovam o não preconceito, o respeito, o autoestima e bem-estar das pessoas
que estudam e fazem parte dessa cultura.
Combater o racismo dentro da sociedade brasileira, dentro das escolas em
especial se torna um dos pontos primordiais a ser tratado. Sendo necessário
desenvolver um espaço e a disciplina que seja capaz de estabelecer, ensinar e discutir
a melhor forma de ser trabalhada é a melhor maneira. Portanto o estudo bibliográfico
demonstrou que é necessário ter sujeitos sociais ativos para a efetivação de todas as
atividades capazes de estudar e respeitar a cultura Afro-brasileira.
O planejamento curricular já passou por um grande avanço em relação sua
construção baseada nos fundamentos que valorizam a cultura dentro do ambiente
escolar e assim propõem a execução diante das novas estratégias e de novos
conceitos que permitirão um novo conhecimento curricular acerca da cultura Afro-
Brasileira e sua população negra, ajudando assim seus referenciais da identidade e
gerar uma educação menos excludente.
Concluindo ainda que o objetivo pôde ser alcançado, pois os alunos precisam ter
conhecimento sobre a diversidade da cultura Afro-brasileira e assim perceber que a
História da África não pode ser limitada, tão menos estereotipada e contada por apenas
um único ponto de vista. É evidente a necessidade de aprofundar ainda mais o debate
através de uma ampla reflexão sobre buscar melhorias e um direcionamento de todas
as ações para dentro de todas as escolas, surgindo uma constante busca por melhores
ferramentas para os serviços educacionais prestados pelos docentes incluídos em
relação a temática em estudo, dando ênfase para estudos futuros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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