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Um dos grandes avanços históricos dos movimentos indígenas foi adquirir o direito
a sua autodeclaração. Isso é, o direito de se declararem indígenas, denominando
a si mesmos. No Brasil, por exemplo, o primeiro grande marco para a
autodeterminação indígena foi a Constituição de 1988. A partir da organização dos
povos indígenas, a Carta Magna reconheceu os povos como capazes de se
representarem. Até então, o Estado exercia “tutela” sobre povos originários, para
“integrar” os indígenas à sociedade, a partir de instrumentos como o Diretório dos
Índios, as políticas ditas indigenistas e órgãos como o Serviço de Proteção ao
Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPI).
Foram anos de empenho para poderem se autodeclarar, nomear a si e não
depender da heteroidentificação - quando não-indígenas definem quem é indígena
ou não. Até mesmo porque, para não-indígenas, o critério de definição da
indigenidade requer uma pureza inexistente, que ignora todas as violências,
escravizações e assédios sofridos ao longo dos séculos. Ao contrário do que se
prega, a partir de uma visão de mundo hiperindividualista, a ideia de “identidade”,
para povos indígenas, tem um cunho coletivo e comunitário. Está ligada ao
pertencimento, à memória, à cultura e às línguas. É a partir desses elementos que
povos indígenas relembram e vivem a memória histórica de seus ancestrais e dão
continuidade a projetos coletivos de vida, buscando valores que são expressos por
meio de rituais e crenças. Viver a memória dos ancestrais significa projetar uma
ideia de desenvolvimento e de futuro a partir das riquezas, dos valores, dos
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conhecimentos e das experiências do passado e do presente adquiridas a partir
da conexão com o território. E isso, em última análise, é o que permite que as
identidades indígenas resistam e persistam. Portanto, a identidade indígena nunca
está solta, ela faz parte de uma comunidade, de um povo, conectada
ancestralmente a saberes milenares e parâmetros coletivos de auto-organização.
Para pensar o acesso ao direito à identidade sob esta perspectiva, é urgente
romper com uma maneira única de ver o mundo, de pensar as experiências entre
os seres vivos e de produzir conhecimento. Segundo Gersem Baniwa, uma forma
única, padronizada e hegemônica de pensar rege a ideia de identidade, o que
corresponde a uma epistemologia forjada pela Ciência Moderna no contexto da
colonização de territórios, povos e culturas, iniciada no século XV e ainda não
cessada. Trata-se de uma herança que perdura “nos corações e nas mentes”.
Segundo o autor, “essa herança da colonialidade está expressa de diferentes
formas e tempos por meio do racismo e de um modo de pensamento baseado no
evolucionismo que, por sua vez, hierarquiza, categoriza, elabora e processa
seletivamente pessoas, grupos, sociedades”.
Perguntas orientadoras - GT Acesso ao direito à identidade
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XII Consulta Pública
Foro de Participación Social del IPPDH
Participación de Pueblos Indígenas en las Políticas Públicas
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del pasado y presente adquiridos a través de la conexión con el territorio. Y esto,
en última instancia, es lo que permite que las identidades indígenas resistan y
persistan. Por lo tanto, la identidad indígena nunca está suelta, es parte de una
comunidad, de un pueblo, ancestralmente conectado a conocimientos ancestrales
y parámetros colectivos de auto-organización.