Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
tradução
Mônica Saddy Martins
INTRODUÇÃO A O
DOCUMENTÁRIO
O cinema possui hoje uma din!iniica que muitas vezes extrapola as tr{ldiçõcs
históricas dentro das quais se formou. O Campo In1agético, assi111 pcnsndo, abre-se
sobre horizontes diversos da expressiio artística: a fotogra.fií1, a televisll.o, a videoartc,
as 1nídias digitais, o dorn111entário, o fi.ln1e de ficção. Esta coleção pretende explorar o
eixo cinen111tográfico em rna tradição clássica ou de vanguarda, em sua ex.pressão
autoral ou industrial, em sua fornza documcntárin ou ficcional, em sua dilllcnsão
historiográfica ou analítica. Interagindo com o conjunto das ciências lzumanas e com
••
as artes, o cinema situa-se em vórtice privilegiado pnm. se pensar a criação artísticí1
que tem como matéria a image1n/som mediada pela cá.mera.
O modo poético
o poétíco cornp o r t i l h a um
C o m o vimos n o Capítulo 4, o d o cum entári
ista. O m o d o poético sacrÍfic as
!erreno comum cmn a vanguarda m o d e rn
e, e a idéia de localizaç ã o muito Zciot
·-· ..
cin Lir·/11
- :,·p,.el·. e-/
)( m,nr.:.,
- iver5s, ,;:rr1u (· l 9 3 0 h' d e Lasz 1o l\Iohoh·-
convenções da montagen1 em co nti n u idad es e
. . . . , '- ·
a dela, para explorar associaç õ :\aov c-., p o r exemll]
, o , ap1esenta v a n o s anoulos v · J e uin·, < d.,. . . - cscu1tur,c1s
1.: :::-uas . ,
específica no tempo e n o espaço derivad O s atores ,.·me'tl.cas, para enfatizar
- .
justaposições esp a c i a i s . . as" Vond-=i -0 es d e l uz que passan1 pelo _ filme. en1 vez de
padrões que enYolvem ritmos temp o ra is e
< < \
vigoro s a d o s p e r s o n a g e n s com i oc 1n1en:ar a forn1a concreta da escultura em si. O efeito desst: i,ouo de .luz
sociais raramente assun1em a f o r m a ::;ob1 e e::,pectador assun1e mJis in1portJncia do q u e o obj"to:
definida d o mundo. As p e s s o a s . ·"'º se 1e.e1c
J qtJ... . f. .
complexidade psic o l ó g ica e uma v i s ã o
_e:,
igualdade de condições c o m outros no m u n d o hist'o 11Co -·-- . . -\ na 1ogamcntt:-, Pnnflc .· 231 (·- 1944) , de )e". , 11 ,\ l 1't 1., ., , en 1
funcionam, mais cuacteristicamente, en1 · ·e
Iven s , por exemp l o , n1as real m ente S1-<lli ua,1 mente ganha velocid J die e" ti 1spa1 · .a l.umn_ a seu destmo i ignorado LA,
dos atores sociais de Ch u v a ( 1929), d e Joris ·
de uma chuva de verão q u e p a s s a 111.onta 0º en1 1ea,ça
. ] ntn10 . e form,1 mais do qw',. du,_1c 11h a os n1ec.r n 1sn1o ·s d e u P· rd
aprecian1os a impressão lírica que Ivens cria 1 _ •
io1..oi1iotn'a . .
propn<.1n1ente ditos.
sobre Amsterdá.
e m possibi1itar formas , : dimens_clo docurnent,.1! do n1odo p_n tico de representJclo orioin,-1-
v .
O n1odo p o é t i c o é particuiarn1ente hábil ,
inforn1açõcs direta1nente, dar se, en1 ooa med i da ' d o _vcrrau t, l -i l q u e os t-11 mes n1odernistas se b:.iseidm no
alternativ a s de conhecimento p::ua transferir
de \'ÍSL.1 específico ou apresentar , . corno tont,é> .\lot1n'- fl...
·1·l ll 1.l d o h.1stonco l 1,1es e :l-e \.,rnguarda, cornn f:on;po.,itiQ1;
prosseguimento a uni argumento o u ponto
• -. • • ·;:;, , ,
confus as ou ambígu as em seus efeitos. Embor a alguns filmes explore m ial perspect1_va era o 0bJet1vo comum a muitos que a postenon se identificaram mais especificamente co-mo
concep ções mais clássica s do poético como fonte de ordem, integrid ade e documentaristas ou cineastas expenmenta1s
unidad e, essa ênfase na fragme ntação e na ambigü idade continu a sendo un1
traço importa nte en1 muitos docume ntários poético s. Em contrap osição, obras con10 Song ( f Ccy/011 ( 1934), de Basil \Vright
Um cao andalu z (Luis Buiíue l e Salvado r Dali, 1928) e A idade de ouro - s o b r e a beleza intocad a do C e i l ã o (atual Sri Lanka) apesar da inYa;ào
(Luis Buiíuel , l 9 3 0 ) , por e x e m p l o , dão a i m p r e s s ã o de u m a realida de c01nerc ial e do colonia lismo-, Glnss ( 1958), de Bert Ha a nstra - u1n t r ibuto à
docum ental, mas povoam essa realida de com persona gens surpree ndidos en1 habilid ade dos soprado res de \·idro tradicionais e à beleza de seu trabalh o- ou
desejos incontr oláveis, com 1nudan ças abrupta s de tempo e espaço e com A.!1vays for pfc{is11rc (1978), de Les Blank - uma exaltac ão das festivid ades da
m a i s enigma s q u e respost as. Cineas tas c o m o Kennet h A n g e r deran1 terç_a-feira gorda (J\.1ardi Grns) cn1 New Orleans -- Yol;am-se para uma idéia
continu idade a aspecto s do n1odo poético en1 filn1es como Scorpío rising n1a1s clássica de unidad e e b e l e z a e descobr e1n traços delas no mundo
(1963 ), mna represe ntação dos atos rituais dos membr os de un1a gangue de históric o. O modo poético tem n1uitas facetas, e todas enfotizan1 as maneiras
motoci clistas, con10 fez Chris ?v1arker em Sans solei! (1982), u m a reflexJo p e l a s quais a Y0Z d o cineasta d á a fragme ntos d o n1undo históric o urna
c o m p l e x a sob r e cinema , men1ó ria e pós-col onialis mo. (A é p o c a de seu integrid ade formal e estética peculia r ao filme.
lançam ento, obras como a de A n g e r parecian1 finnem ente enraiza das na As not.l\·eis refornn ilaçfKS d e Péter Forgács de filmes an1adores en1
tradiçã o do cinema experim entat contudo , retrosp ectivam ente, podemo s ver docun1 entos históric os enfatizan1 qualida des poética s e associativas em vez de
c o m o elas combin am elemen tos experim entais e docume ntais. A maneir a Yeicula r informa ções ou conven cer-nos de um deterrn inado ponto de vi t;:..
pela qual as classifica1nos depend e n1uito das suposiç ões que adotam os sobre Az i5n·ény (1998), p o r exemplo, narra o destino d e judeus europeu s nos anos
categor ias e gêneros .) 30 e 40, por m io d o s filmes caseiro s de um hon1en1 de negócios de suct.>sso,
G y o r g y Peto; Exodo do Danúbio ( 1999) segue a s viagens de un1 navio de
O modo expositivo
n1ostrou ser a marca de autenticidade do n1odo expositivo, en1bora alguns dos \ oz- a' ,-t._, es· , t.n11ora -, t
ouçan1os a de Hcmingway.)
filmes mJis irnpressiona ntes tenham e s c o l h i d o vozes n1enos educadas,
precisamente e m nome da credibilidade que obtinham evitando tanto treino. _ _ O docun1ent:ír ios expositivos di?pendem
muito d e ll'11., ,. '1_'1o":_....
·_;::, ! '-'1·
1ntorm<.1tn·;1 transmitida verbaln1ente-. •1n1,1
O grande fi1n1e d e Joris lve:ns que pedia apoio para os àefensores republicanos :\' .. ' inv"'i·,.-,0t _, _
.
, _ ct'-
«, • e.
en1ase tr;:1cic101Ll 1
-· n ,,
d e) c1"e"1J, .a:.-,_ :in1agcns _
da democracia espanhola, A terra espanhola ( 1937), por exernplo, existe em desen1penha m p·111e\ 'i- ".:;e'- L·ndúi
1 , o-. EI a . 1·1 u s t r a n 1 '
e·cf-, -,-,, _ _
p d o menos três versões. Nenhuma tem narrador profissional. Tod::1s as três
:, . « J s . L t l l l , t'\(_ican1 ou contr- p õ
·-'1 · e.,.(,
- r 1 , que.. -, e: e1·Jto. O · (Ollk'ntúrio
e'. ,.---1· -, ,"' .,1'-
, . ·11' 1,,'''-"
J nr r e s. 't:n t ·, l Jl n con10 c,1strnto i- · d a s in1·t1•Cps
tên1 trilhas d e iinagens idênticas, mas a versão francesa usa o cornentário ';::, '· d o ll''llld · - , ':
<
· o 111stonco que:- 0
•1co·
< 111pan, . hJ l l l . 1-_-.. 1e sern_' Dr J r a o r o " ! I1.7.d, ., . . aten<.,no
i - ,. .J,Ossa .- e - - •
irn.prnv1sado do fan1oso diretor de cinema francês Jean Renoir, a o passo que as _ v' entat1zc.1 alf.:,uns dns
. _ ·
.
l1,t 1t o 1_s.1,d_1·1os_ .,: rntcrprct,:içôcs de urn fotogrmn:i. Portanto,
versões i n g k s a s usam Orson \Ve11es e Ernest Hemingway. Ivens escolheu nr::-t:n,(.:-:-.:c
q u t o comcnrano scia . de orden1 ,sup"' .
. -' 1.:r ( ) i. a: (_1·as llllaQ:cns
\Velles prln1eiro, mas seu 111odo de folar n1ostrou-sc elegante demais; ele , '
- que
• o ?' C O P' tl 'P' •1 1r l·1,' l ,,' " ,_
c"1· e p r m' · ,t : l l l ei e um .ug:ir J i· g n o r a d o mc1-; -1, , 0 -1·1 d. 0 a· (),._J)e-tl\"JOJOt.
1 ·
conferia con1paixão humJ.nística aos acontecimen tos em q u e Ivens esperava '- <.., ' ' · '- · , \.. ,
· - , ,
OU
conhecin1ento, mas não desafia ou subverte as categorias q u e orga n i z a m esse '"º · gran de 1-:arte d e seu em defesa dos n1otiYos por qL:c os
), an_1zar 1rgu 11ento
conhecimento. O bo1n senso constitui a base perfeita p a r a esse t i p o de _1men norte-amenc.1nos dev e riam mgressar de bom grado na lutJ, durante d
t
sacrificar a m o ato específico de filinar as pessoas, para construir p a d r õ e s alteram o significado das tomadas históricas incorporada ne.-s. ; : Aq_u1. os do,s ,.ct ,1lmes utn;zam-nas com ob1etivos
formais ou argun1entos persuasivos. O cineasta reunia a n1atéria-p r i m a que só são possiv<>is oa a aque:es ' aue •o'let em so re O sigrn:icado do passado em vez de re l atar os
· · '-'·
acoritecimentos da ép ca'.
necessária e, com elas, e m seguida, dava forma a un1a reflexão, urna p e r s p e t iv a
ou un1 argumento. E se o cineasta apenas observ a s se o que se p a s s a diante da
cân1cra sem u m a intervenção explícita? ?\ão s e r i a essa urna nova e '.:)ran: sacr fi_cadas ú observação espontànea cfa experiência vivida. O respeito
convincente forn1a de documentação? '; esse esp'.'110 d e observação, t 3 n t o na montagem pós-producão co,;w
Os avanços tecnológicos n o Canadá, na Europa e nos Estados Unidos, cu a1.1te a tilma?em, resultou em filn1es sem con1entário com \·07· ,1,·cr ' · , "' 'Cn, -l r·
nos a n o s que se seguiram à S e g u n d a Guerra 1V1undial, c u l i n i n a r a m , ' L' t 'L.i t O S s o n o r 0 s. con1p ]em1:'ntares, sem l e g e n d a s , scrn
i l l U S, i C 8-. O l '_
:. . ..
,tcons 1tu1çoes h1stoncas, , . sem situações repetidas para a cán;era' e '·'- ·1;/2 -'s"'m
-
aproximadamente c m 1960, em várias câmeras de 16 mm, cmno Arriílex e .
Auricon, e em gravadores de áudio, como o Nagra, que podian1 ser facilmente entrcnstas Oqu-:.'Ycnios,,; -·
- t: () <1. l .1 L, tstavc1 1,a, o u J.ssm1 n o s parece, en1 Primâr:a.:; 1 •
i.........
dos Hell's Ang e l s é p a Ar i a l m e n t e d e atrações" e não científico. O cineasta procura o con s cntin1c n to informado
que a inorte de u m homem nas mãos
back (1967)) s o b re a tu.rne 1ngl e s,a .de d o s pa_rticipantes e possibilita q u e esse consentimento informado seja
registrad a pela câmera; em Don't look
(1968), sobre um festival d e musica n t end ! ,º e.c o n cedid o?_1 té q u e ponto pode un1 cineJsta explicar as possíveis
B o b Dvlan em 1965; em Montercy pop
Hendrix, Jefferson Ai r pl a n e e outros; ou t..onsequenoas d e perm1t1r q u e o comportarncnto .seja observado por outros e
co n1 o'tis Redding, Janis Jop1in, }i1ni
se preparando p a r a un1 p a p e l numa representado parâ outros?
ein Jane (1962}, que apresent a Jane Fonda
peça d a Broadv,·ay. Fred \Viseman, por exc1nplo, pede conscniimento vcrbai auando
e zes, a obra dos neo-realistas fi.hna, supõ e que, quando filnrn em instituições públicas, tenha o,direito
As imagens resultantes Je1nbram, muit a s v _mas
momento em qu e ela é v_ivida. Os d e registrar o q u e acontece; ele nunca dá aos participantes qualquer controle
italianos. Olh:mos para dentro d a vida no
outros, ignorando o s o n easta s . s bre resultad o . ?,..1esmo assin1, n1uitos participantes de A escola acharam 0
a t o r e s sociais i n t e r a g e m uns c o m os
o s em ocupaç õ e s urg e n t e s f i l m JUSto e represent a t iv o , e m b ora a n1ai o ria dos c r í t i c o s O tenha
Freqüentemente, o s personagens são surpreendid
afastando a da p r e s e n ça dos considerado u m a acusação g r a v e contra a o roan izacã
. o rea,·,nent a1 ( a
ou n u m a crise p e ss o al, que exig e m sua atenção, _ _ .
b o
revelar traços d e c a ráter e d1sc1plma escolar e s. Uma ab o rd agen1 radicahnent e diferente ocorre cm Iivo
cineastas. Com o n a ficção, as cenas costuman1
o s co n clusõ es baseados n o laivs (1981 ), s o b re os direitos fundiários dos aborígines, en1 q u e os cineastas
individualidade. Fazemos inferências e tira1n
do qual ouvimos. O isolamento não filmam nada sem o consentime n to e a co]aboraçâo dos participantes.
comportamento q u e observamos o u a respeito pe l
o e sp ecta dor assuma um p a Tudo, do conteúdo às lentes, foi a b erto à discussão e ao entendimento.
do cin e asta na p o sição de observador pede que
que se diz e faz.
mais ativo na detenninação da i m p o rtâ ncia do Já que o cineasta obscrvativo adota u m 1nodo especial d e presença " n a
considerações éticas q u e cena", em qu e parece s er invisível e não-parti c ipante , também surgem as
O modo observativo p r o p õ e uma série d e
de s e us afazeres. É esse at o questões: quando o cineasta te1n a responsabilidade de intervir? E se ac ntec e r
incluem O ato de o b s e rvar os outros ocupando-se alguma cois a q u e prejudique o u fira um dos atores sociais? Deve u m operador
mes1n o ? Ele coloca o espectador
v o y eu rístico en1 si mesmo ou voyeur de si d e câmera filmar a im o laçã o de u m monge vietnamita que, sabendo que h á
do q u e o filme de ficç ã o ?
n u m a posição nec e ssariamente m e n o s confortável câmeras presentes para gravar o acontecimento, ateia fogo ao próprio corpo,
veja1nos e ouç a in o s tudo, ao
N a ficcão, as cenas são arquitetadas par a que para protestar contra a guerra? Deve o d m e r a se recusar, ou n ã o se recusar, a
a exp e r i ê n c i a de pe s s o a s
passo 9ue as cenas do documentár i o representam dissuadir o monge? Deve o cin e asta aceitar u1n a faca de present e de u m
posição de ficar olhando '\ e l o
reais qu e , por acaso, test e mu nh an10 s. Es s a participante, durante a filmagen1 de um julgamento de assassinato, e depois
el , s e o prazer d e olhar tiver
b u r a c o da fechadur a " pode s e r d e sconfortáv e ntregar esse prese n te à polícia quando descobre sangue n e l e ( como fizeram
aq u e l e q u e é visto e de
prioridad e sobre a oportunidad e de reconhecer
a 111aior qu a n d o a p e s s o a nào Joe B e rliner e Bruce Snofsky e m seu Paradise lost, de 1996 ) ' Este último
inter a gir com ele. Esse desconfort o pode ser a ind exemplo nos desloca na direção de uma f o r m a inesperada e in a dvertida de
p r ó p r i a em s e r o b s e r v a d a
é u m ; atriz q u e concordou p o r vontade participação, e não de obs e rv a ção, assim co m o tan1bém traz questões mais
dese1npenha n d o u m papel nu1na ficção.
a b r a ngentes s o b re a relação d o cineasta con1 seus temas.
um con1portamento
A imoressão de que o cineasta não está impondo
não admitida ou indir e ta . Os filn1es observativ o s mostram mna força especial ao dar uma idéia
a o s o utros t;mbén1 suscita a questão da intron1issão d a duração real dos acontecirnentos. Eles r o n1p e m com o ritmo dramático
nossa percepção a re sp i t o
As pessoas con1portam-se de n1aneira que matize d o s film e s de ficção convencionais e com a montagem, às vezes apressada, das
um cineasta que nJo diz o
dela s , para me lh o r ou para pior, a fin1 de satisfazer imagens que sustentam o s docun1entários expositivos o u p o éticos. Por
representar porq u e clJ.s
q u e quer? O cin e asta procura o ut ras pessoas p ra
a
pelas razões erradas? exemplo, quando Fred \Viseman observa a filn1agem de u m comercial de
possuem qualidades que poden1 fasci n ar os espectadores televisã o de 30 segundos dur a n te aproximadarnente 25 minutos, em J.\1odelo
q u e obser 'a, en1
Essa pergu nta geraln1ente \ ' C l T I à tona no fihT1e etnográfico, ( 1980), ele transmit e a sensação de haver observado tudo o que era digno de
a contextualizaç ã o
o u t r a s cult u ras , comportainent o s que pode1n, sem ser observad o n a filmagem.
fossem pa r t e de um "cine1na
adequada, parec e r exóticos o u bizarros, con10 se
Introdução ao d o c u m e n t á r i o 155
154 ·Papirus Editora
Crônicn de um verlío, por exen1plo, tem cena s resultantes das interações
d e colaboração entre cineastas e representantes de seus ternas, um eclético
grup o de pessoas que vivia cn1 Paris no ,;crão de 1960. En1 um dos casos,
:tv1arce11ine Lorid an, uma jov e n1 que, mais tard e , casou-se com o ci neasta
holan dês Joris lvens , fala de s u a experiência de judi a dep o r t a d a da Franç;:1 e
envia da a um can1po de conc entra ção alen1ão durante a Segu n d a Guerra
fv1und i aL A cân1era segue lv1arcel1ine, enquanto ela atravessa a Plac e de la
Conc orde e, dep o is, o antigo rnercado paris iense , Les Halle s. Ela faz uni
rnonólogo basta nte comovente de suas experiências, mas só porq u e Rouch e
fv1orin planej a ram a cena corn ela e deram a el a o gravador par a carrega r . Se
tivessem esperado que tudo ;1conte c esse por si m e smo, para entã o observar,
nada teria acont e cido. Eles perse guira m essa idéia de colaboraç ã o ainda alén1,
exibindo partes do filme para o s participantes e filmando a discussão q u e se
seguia. Rouch e fv1orin també1n aparecem no filme , discutindo s e u objetivo d e
estud ar "e s sa tribo estranha q u e vive e m Paris" e avaliando, no fim do fihne, o Crumb (Terry Zwigoff. 1994)
Terry Zw; off ad_ota uma relação extremamente particip
que aprenderam. ativa com o cariunista R. Crumb. Muitas das conversac:.
-mteraçoes ev:dentemente nà? teriam _aconte como aconteceram se Zwigoff não estivesse !á com ;
cido
.. amera. C!umb assume uma atitude mais reflexiva a
Analogament e , em N o t a !ove story ( 1981 ), Bonnie Klein , a cineasta, e respeito de si mesmo. e mais investigativa em relacàc
seuds 1ra0Cs. enquanto coiabora com Zwigoff, que tem o
Lind a Lee Tracy, uma ex-stripper, discutem suas reações a vária s formas de daa V! a oe rumb. desejo de examinar as comp!exidad"S e co trad,·co' es,
·
pornografia enqu anto entrevista1n participantes da indústria do sexo. E m
uma cena, Linda Lee posa para un1a fotografia de nu e discu t e como se senti u
c01n a experiência. As duas n1ulheres embarcam numa viage m p a r c i a l m e n t e
exploratória, n u m espírito sernelhante ao de Rouc h e 1'v1orin, e p a r c i a l m e n t e
confessional/redentora, num senti do completa1nente diferente. O ato de fazer
o filme desen1penha um pape l catártico, reden tor, em suas vidas ; o mun do
delas n1uda mais do que o daqu eles que aparecen1 no filme.
Em algun s casos, c01T10 em Le chagrin et la pitié ( l 970) , de lv1arcel
Ophuls, sobre a colaboração entre França e Alemanha na S e g u n d a Guer ra
Iv1undial, a voz do cineasta ernerge, principalmente, como uma pe r s pe c t iv a
sobr e o tema do filme. O cinea sta serve c o m o pesq uisad or ou rep ó r t e r
investigativo. E m outros caso s, a voz do cinea sta emerge do envolvin1 e nto
direto, pessoal, nos acontecin1entos, enqu anto eles ocorrem. Talvez isso se
man tenh a n a órbi ta do r e p ó rter inve stiga tivo, que f a z seu p r ó p r i o
envolvimento na história ser cru c ial para o desenrolar dos acontecimentos.
Um exemplo é a obra do cinea sta canadense 1v1ichael Rubbo. Em seu Sad song as ma res de_fa P!aza de Mayo (Susana Munõz e Lourdes Porti!lo. "1985).
1-otogra11a gentilmente cedida por Lourdes Portii!o.
o f yellmv skin ( 1970), ele expl ora as ramificações da guerra do Vietnã e ntre a
ssas duas ineastas otam u r.1:laçào extre:11arnente participativa com as mães que arrisCôvam a 'Jic.la em
popu lação civil d a quele país . Um outro exem plo é a obra de Nich olas aºs"'seatas _"ur nte a guerra ::,UJa__na Argen!ma. Os fi!hos e filhas dessas mulheres estavam entre os
Broomfie]d, que adota um estilo mais imprudente, mais conf ront ador - senã o C,.:aparecidos que o governo sequestrou e muitas vezes
· · matou_ sem qualquer avic:.o ' - m· -o n•o
- ou p'oced1 , •,o- ca'
· '·
Munoz p- Port'I1'. o nao
- pu deram molaar as m rnfestações públicas. mas conseç.uiram resgatar as história
_
di:!S maes. s pessda is
cuia coragem as levou a desa;1ar um regime brutalmente repress
ivo.
156 Papir-us Editor-a
• Introdução ao documentário 157
L_
E! diablo nunca duerme (Lourdes
Porti!io. 1995). Fotografias
gentilmente cedidas por Lourdes
Portillo.
A diretora Lourdes Portil!o no papel
de detetive calejada. O filme reconta
sua viagem ao México pam
investigar a morte suspeita de um
tío. Às vezes reflexiva e irônica.
Portil\o, todavia. deixa em aberto se
o tio foi vítima de um jogo sujo.
possivelmente pelas mãos de um
parente.
!....._
aqueles tern.pos, por Em Reagrupamento (l 982), a declaração d e Trinh 1\li n h -h a , de que vai
, .i1JS. ',.,J,u\ 1ct, d a q ucks que viYcra:rn
"' 1,, .,..,,,s .
p o d e n.a ser r e c n n ,e~ -1da
" f a l a r próxima" d a Africa, em v e z de falar ''sobre a Africa", simboliza a
escolhe a :-;cgun d a opçao.
i ,,.,
o material de
. p o r intermédio d o s documentários, os documentários reflexivos pedem-nos
. . _, . d"',.; f-ic1d
. ·
e Emile de .-\nton10,,. . -\d·._ Jli decide manter . ,
co11L1ano : . -
c...om b ase para ver o documentário pelo que ele é: um construto ou representação. Jean-
, - '.' e l C C. ]a b o r a e sua história princ1pa1mente
ap o 10
.
nmn n.1; 1,
1 . , · 11 ,· o p ü S " l \ C I , -
Luc Godard e Jean-Pierre Go r in levam isso ao extremo en1 Letter to Jane
conseguem _ expressar
,. . com suas propnas
nas " ca b cç, as f11v1tcs"
' , < . daqueles q u e . .
· . . . - soe1a ( 1972), uma "carta" de 45 minutos, e m que exan1inan1 minuciosam e nte uma
-
cap i t u 1, o d a h 1stor1a . l no1, 1 1 1 · · Da rn.esma maneucl
·•e -a·1·er'car1a
p a l a v r a s esse · · ' .. •tas para serYir coino um tipo fotografia jornalística de Jane Fonda durante m n a visita ao Vietnã do Norte.
que as h1stonas . , . orais, q 1. '°' são 0orava d as e traj1scn N e n h u m aspecto dessa fotografia aparentemente objetiva fica sem s e r
i-...
. , . f
- o r m a se .i)are ce , n1as da
qual ta1nbéln difere
de fonte p n m a n a , co1n a Q' J 1al
" 'c . essa -
d maten·al à e entrevista, a clareza e a examinado.
na seleção e no arran,1;o c11dadosos ·O l, ,
dão aos filn1es testen1unhais uma Assim c o m o o modo o b se rv a tivo do d o c u m entá r io depende da
franqueza em o c io n al daqueles q u e f a 1an1
ausência aparente o u da não-intervenção do cineasta nos acontecimentos
característica convincente. .
. encontro direto com filmados, o documentário em geral depende do descaso do espectador por sua
u pi-óorio .
O s L. ;u,!· c' a.. ç�a s que buscam represcncar se - . : situação real, diante da tela do cinema, interpretando um filn1e, e m favor de
,
o. s cerra - e os c1neasla
· s q lle busca1n representar questoes soe1a1s .
o rnunco q u º e . .,
. um acesso imaginário aos acontecimentos mostrados na tela, c o m o se apenas
históricas com entrev .. :;SL s <.,: i,11acrens
., • 0. de arcuwo
abrang
, c .·1•1LLS - -
..,
Y0,sricctivas
'-- • r . ) , esses acontecimentos exigissem interpretação, e não o filme. O lema segundo
. r- • • tes d""
11nnorLa11 'v ,-i--.odo .,xtrt1c1natrvo. '---om _._1
•
constituem uo,::. .:r > 1..0in1 _ . n o nentes · 1·' •
e .e
.. ,
o qual um docun1entário só é bon1 quando seu conteúdo é convincente é o
. te-1110s a ScDSu.çao - , - d e aí u e testcrnu• nllanlosn:-.-.:C1formadect1a]ogo
. -' , ·""'-'- ,._
espectadores, c aliza do, a que o modo reflexivo do documentário questiona.
q u e en1a t'JZJ o e11aa:,a,11ento
b . " l o
entre cme<..ls, - -" 1 e p a r (ci'iante 1 r · e
, _
carreg«..,d-0 de ,.. ,., n o cão. Essas caractenstKas Uma das questões trazidas para o primeiro p l ano nos d o c u m e n tário s
-'- '"'. e .o encontro
1 ,
1nteraçao nev0 0 "--iad·i
. - _
.
d .o cinema documentário ter un1 apelo mmto . reflexivos é aquela c o m que comcça1nos este livro: o que fazer con1 as pessoas?
fazen1 o mo d' º P art·opo.tivo 1 • .
, .
JJ , q p _, e urna aran
v d e ,,ane
. . dade de assuntos d o s n1a1s pessoais Alguns filmes, c o m o Reagrupanzento, Daughter rite (1978), Homenagem a
an1p l o u e e r c o
corno
u...e n eia esse n1odo de1nonstra Bontoc (1995) ou Farfronz Poland ( 1984), tratam dessa questão di r etamente ,
aos n1ais históricos. Na verdade, cdom.f req históric
. • p r• o uz1r represe ; t a c,õ e s do n1undo o questionando os m e i o s usuais de representação: Reagrupamento rompe com
o s dois se entre"'l aç a m !nara -
quanto
continoentes as convenções realistas da etnografia para questionar o poder d o olhar fixo da
. . , d e persnect1vas e s p c o'f.icas, t a n t o u
-
proven1enlt:S
câmera de representar, ou descrever enganosamente, os outros; Daughter rite
cmnprometidas.
subverte o apoio n c s atores sociais ao usar duas atrizes profissionais para
representar os papéis d e duas irn1ãs q u e refleten1 sobre sua relação com a mãe,
usando idéias colhidas em entrevistas com un1a ga1na variada d e mulheres,
o modo reflexivo mas escondendo as vozes das entrevistadas; Honzenagem a Bontoc reconta a
, · de história familiar d o avô do cineasta levado das Filipinas para atuar numa
1stonco p r o v ê o ponto
., no n1odo P articipativo, o . mundo h.
SL, - . exposição sobre a v i d a filipina na St. Louis World Fair, em 1904, por mei o d e
ra· entre cineasta e part1opante do
encontro pa .-·a o s 1rocessos d e negociar o reconstituições encenadas e men1órias imaginadas que questlonan1 as regras
-
tilme, no :no. d O r eflexrvo .,
_ o s p,ocessos
F · . - ' sao _ de n e voociaçâo entre cmeasta e
O cineasta en1
costu1neiras de cornprovação; a dfretora de" Far fron1 Poland, Jill Godmilmv,
. . E,,1 vez de se(Tuir
espectador q u e se lorna1•11 o foco d.e atencao. a
o fala diretamente conosco para pondera r os problemas da representação <lo
·
seu relaconan1ento com ou .Lros atores soc1a1 v " acompanhamos
, ·. ·s , no' s acror--a
movünento Solidariedade na Polônia, quando s ó tinha acesso parcial aos
- ' , , d o nao . so, d·o n1-111do
,._ histórico
relaclonamento do cmeasta conosco, falan acontecimentos. E s s e s filmes t e n t a m aumentar nossa consciE'ncia dos
representaçao.
c01110 també-111 d o s problemas e questões da
L
Sobrenome Viet nome de batismo Nam (Trinh T_
Minh-ha. 1 989). Fotografias gentilmente cedidas por
Trinh T. Minf,-ha.
Estes três fotogramas sucessivos, cada um
consistindo num primeíríssimo plano que omite
partes do rosto da entrevistada. correspondem ao
s!oryboard desenhado pelo cineasta antes da
produçào. Eles violam as convenções das
entrevistas cinematográficas, chamando nossa
atençào tanto para a formalidade e o
convencionalismo das entrevistas como para os
sinais de que essa não é uma entrevista (normal).
L
164 Papirus Editora
Introdução ao documentário 165
Outr os filme s,com o David Holzman's diary (196 8), No lies (197 3) e
Daughter rite ( 1978), r e p resentam a si mesm os, em ú l t i m a análise, como
ficções di s farçadas. Eles se apóia m em atore s treinados p a r a desemp e n h a r os
papéis q u e , inicialmente, a c redit a mos serem a auto- repre senta ção de p e s s o a s
env o lv id as e m seu cotid iano. Nossa perc epçã o do e n g a n o - às v e ze s, em
alusões e indíc ios no deco rrer do filme o u no fim, quan do os créditos revel am
a natur eza fabri cada das perfonnances a q u e a s sistimos - leva- n o s a qu e s t i o n a r
a aute ntici dade do docu men tário e m geral : que " v e r d a d e " reve lam os
d o cum e n t ár io s sobre o eu? No q u e a auten ticid ade é difer e nte de u m a
performance e n cenada o u plane jada? Q u e convenções nos le v am a crer na
auten ticid ad e da performance docu ment al? E co mo p o d e essa crenç a ser
subv ertid a de m a neira prod utiv a ?
O m o d o reflexivo é o modo de representação m a i s co nscien te de si
mesm o e aque le que m a i s s e qu e sti o n a . O acesso reali sta ao m u n d o , a
capac idade de prop orcio nar indíci o s c o nv incentes, a possi bilid ade de p r o v a
inconte s táv el, o vínculo index ador e solen e entre imag em index a dora e o q u e
ela repre senta - todas essas idéias passan1 a ser suspe i ta s . O fato de q u e ess a s
idéias p o d e m forçar mna crenç a fetich ista inspira o d0Cl.1n1entário refle x i vo a
exam inar a natur e za de tal crenç a en1 v e z de atestar a valid ade daq u i l o e m q u e
s e crê. N a melh or das hipó teses , o d o c u m entário refle xivo estim ula no
espec tador u m a forma 1nais elevada d e consciência a respe ito de sua r e laç ã o
com o docu ment ário e a q u il o que ele repre senta . Vertov faz isso em O homem
da câmera, par a demo nstra r como cons truím os n o s s o conh ecim ento do
mund o ; Buflu el faz isso e m Terra sem pão, para satir izar as sup o s i ç õ e s qu e
acom panh am esse con h e cim ento; Trin h faz iss o e m Reag r u p a m e n t o , p a r a
ques tion a r as s u p o s i ç õ e s s u b j a c e n t e s a um d e t e r m i n a d o c o r p o de
conh ecim e ntos ou mod o de inves tigaç ão (etnog rafia) , coITIO faz Chri s Mark er
em Sans solei!, para quest i o n ar as supo siçõe s subja cente s ao ato de faz e r fi l mes
sobre a v i d a dos outros, n u m mund o divid ido por limit es raciais e p o l í t i c o s .
A l c a n ç a r uma f o r m a m a is e l e v a d a de con s c iê ncia envo lve urna
mud ança nos graus de perce pção . O docu ment ário refle xivo tenta reaju star as P/2do'1ng camels (David e Judith MacDou
ai! 1q3r,\ - ·o a ,
su pos i ç õ e s e expect a tiv a s de seu públ i co e não acres centa r conh e cim e nto "� �os turkana
i\Jessa tri!ogia de filmes sr•"'r"' . g;, d.o. no,
,- •.te-'v,.drm g . ,_ia ger,t,lrnente cedida por David ív'1acDoua.~aii
es!íatégias reflexivas para nos conscientizar
o Q uen1a ·· : 1.
r:;:i •1 •rv1,acDougan. adotam varias
.1v ·1d e .i'u d;'h
no vo a categ orias exist entes . Por essa razão , os docu n1en tário s p o d e m ser d,., "' , 1,;_-me : ;o a,1vo dos crneastas na elaboracão
a que ass:stimos. Às vezes. é uma oer;u ia -,;:, ;"\o\ pe10s .. ,neaslas qt.Je intcia a discussão.
das cenas
reflex ivos tant o da persp ectiv a formal quan t o política. íegendas escritas OU"' lembram do _ as vezes. são
,,O · - nos
· ' ., c'
o mo,le·-
,, xo ·'ªprocesso d"'- ·'ep '- - · r os memb
."'S"'nta ' •
íma que membros de wPa ruii•u·ra e:~ngi.o·,,o·na possam ros outra cu 1lura de
D e uma persp e ctiv a formal, a refl e x ão desvia noss a atenção p a r a n o ss as • •
persp ec t iv a política, a refle xão apon ta para nossas supo siçõe s e exp e c t a t i v a s ao de cineasta e participante
·
F, 1, .1 .c·s C"f,·'.l·,Tzam a comnlexi dade emocional da cxperiéncia. d a perspcctn·a
.
,._ L l l > • 1 e, • '- !
_ se . . . " de acontecim entos passados traumáti cos (o "desapar ecimento " d o
do oróprio cineasta. L:rn ton1 autobiog ráfico con1pôe es es lrncs, q u t tcr:n.
,
filho de uma das mães que protestav am contra a repressão governam ental na
Se.1: ..., ,1 ·n, ,·, J , '-,- «-, '-
,·oni a forma d e dí3.rio do m o d o p a r t i c p a t l v o . Os 11Jmes
1 ;, L
. . , Argentin a, e o estupro de Jean Donovan e três outras mulheres por militares
·._. J. 0 1 , l<.1. • ' - . s d ã o ainda rnais ênfase 3.s caracter ísticas subJct1Y as da
ner'· , ,1 1 ; : , i,-o salvadore nhos, respectiv amente), mas o traço organizad or don1inan te desses
·e· n c ª; ,..,' "' d a menio' r,· a que se afastam do relato obietivo. lvíarion R"1ggs, 1
C X D e n ç (, ' - •
filn1es gira em torno de uma história linear q u e inclui esses acontecim entos.
". O ; · , . tº:X . ºL.l1 1 0 1 • 0 , _.,, 1 tiliza poemas recitados e cenas cnsaiadJs q u e tratam .. os r-1
~• O s documen tários performá ticos dirigem-se a nós de maneira emociona l e
randes ri cos pessoais envolvido s na identidade negra e hon1ossexua1;1 o hlme significat iva en1 vez de apontar para nós o m u n d o objetivo q u e temos en1
d e On,\·urah desenvol ve-se a t é uni encontro sexual ence:;1ad o entr.e s· a
, · ;;
comum.
propna mu:e e l 1•i 11 bonito• :ioYcm·' e Fuentes encena uma fantasia a respelto cta
1.1ª S_l... L O l l \:or1d Esses filmes nos envolvern menos com ordens ou imperativ os retóricos
. . . _
fuga de seu avô do cativeiro, q u a n d o erJ obJeto d e ex1b1çao T • ,
1 _'
-.ra1r,e D'1 ;1 904 • o -::, ,.., c 0 , ,.,,...;,-.,e,1tos reais são arnplifica dos pelos 1n1agmanos. , \
. i , .... , _ _ , , _ , . ,
d o que com un1a sensação relaciona da co1n sua nítida sensibilid ade. A
co:nbina ção livrt:' do real e d o in1aginado é u m J caractens tica comcrn do
• . sensibilid ade d o cineasta busca estimular a nossa. Envolven 10-nos em sua
doo-1mc ntjrio performá tico. represent ação d o mundo histórico , n1as fazemos isso de maneira indireta, por
interméd io da carga afetiva aplicada ao filme e que o cineasta procura tornar
o
que esses filmes con1pJ.r tilham é uni de ,:io, a ênfas . que nossa.
, . -ren•' a·,' 1·0
COCL1l.i a'·;u. .•, represent·•cào realista do n1undo h1sto:-:co para :ICença::,
L ... '
L
· , · part1c1pat · d individua l ao coletivo e o político ao pessoal. A dimensJo expressiYa pode
ctocumen tanos · · o s anos, 80 , co1no Las madres de la Plaza de
· · no:::.
1 7 0 Papiros E d i t o r a
Introduçã o ao d o c u m e n t á r i o 171
tradicionais da etnografia ocidental, con10 as numerosas fitas grJ\"aJ,1s pelo
pü\"O caiapó da bJcia d o rio Amazonas e pelos aborígines da Austrália'). No
entanto, ele não contrapõe o erro ao fato, a informação errônea 3. inforrnação;
ele Jdota un1 n1odo de representação distinto, que sugere que conhccirnento;;;
compreensão exigem un1a forma intciran1cntc diferente de cnYolvirnento.
Con10 os prin1ciros documentjrios, antes que o n1odo obserYafr,:o
p r i o r i z a s s e a filmJgcn1 direta do e n c o n t r o soci 11, o docun1cnLl.rio
pcrforn1ático rnistura livren1ente as técnicas cxprcssi\·as que dao textura e
d e n s i d a d e à ficção ( p l a n o s de p o n t o de vista, n ú m e r o s m u s i c a i s ,
repre_sentações de e s t a d o s subjetÍ\ ºOS d a mente, retrocessos, fotograrnas
congelados etc.) com técnicas oratórias, para tratar das questões sociais que
nem a ciência nem a razão conseguen1 resolvem.
O documentário performático aproxima-se do domínio do cincrna
experin1ental, ou d e v a n g u a r d a , m a s , finaimentc, enfatiza n1cnos J
cJrJcterística independente do filme ou vídeo do que sua dimensão expressiva
relacionada. com representações que nos enviam de n)lta ao mundo hi,stórico
em busca d e seu significado essencial. Continuamos a reconhecer o 111undo
histórico cn1 pessoJ.s e iugares fami]i;1rcs (Langsto;--i Hughes, vist;1s cL· Detroit,
a ponte sobre a baía de San FíJ.ncisco, e assin1 por di;:mtc), no tt:stcrnunho de
outras pessoas (os participantes J c Línguas desatndos, que descrcven1 35
experiências de homens negros homossexuais; as confidências pessoais fora
i º
1
n qual jo:1e s se ag r uP. 85 de campo feitas por N gozi Onwurah sobre sua rchçJo con1 a mãe, çm O carpo
; ;: i b::�� i; g ( ; ' e l : : ! : : i ra distinta. homossexual. .negra. e ran,a_s1a r:os . ai,e
1
•
outras em ,,.anas categorias de m1m:ca belo) e a s cenas c o n s t r u í d a s em t o r n o dos m o d o s d e reprcscn t a ç a o
,::, . ,e r ,n tem umas com as
.: ·:·ct sa Paris is bummg
• · exolicar essa subcultura aos não-participantes. ergu1Gha-nvs
vr"=!a n i ?:a· qd ou• e:· · p. - e · oara · : nem
• cue · 1,5 m Weos 1er roves participativo e observativo (entre\·istas con1 váriJs pessoas em Khush e J'rn
. de uma ,1orma
performaiicamente na característica e na textura desse munao british hut . . . ; momentos observados na vida cotidiana e m Forestofb!i:::.s).
nem Oead birds conseguem
N o entanto, p e l o n1undo representado nos document.irios pcr-
,·necíficos , n1"·1S estern..1e-sic para ab;1rcar un1a
cstar <.rncoracl a en1 ·1 1 1Ju.1 \•·•\ lj u 0 -:-, t::-,, • ,
formáticos, espalhan1-sc tons e\·ocativos e nuanç:as expressivas, q u e
forma de reacão subidiYa social ou comp,1rtilh 1da. constante111ente nos lc111bran1 de que o nrnndo é mais do que a son-i.a das
'2, muitas vezes, J l'.os sub-
Em ol ras rcc nks, essa subjcti\·idade social e\'idências visíveis que deduzin10s dele. Un1 outro excn1p1o parcial do con1eço
ou das 0tn_1G1S: '-:�s
represei tados ou mal representados, da mul,h 1Ts .1 1 nori:s do modo performático, .l'·I11it et Úrouillard ( 1955), de Alain Resn;:lis, sobre o
('."{)1'5 e das lésbicas. O docun1cntJrio
perforn1atico pode ag i !_L n10 um o r r d l \ Holocausto, defende c o m vigor esse ponto. O comentário em voz-uvcr e as
des
_;; r;.1 os filn1es em que " n ó s
falamos sobre eles para n s ·. Em vez db o, imagens ilustrati\'as do filn1e conduzcrn-no para o m o d o expositin), n1as a
ot_1 "nós ta a111 0s S )b n ) >
' p a
proclamani "nós fobmns sobre nós ara \'Ocês" : característica obsessiva e pessoal do con1ent3rio l e v a - o na direção do
uma tenden1..1.'. 1t.:eq u 1
nós". O doc:un1cnt,\rio performático con1part1lh<.1
1
perforn1ático. O filme é n1enos sobre história que sobre n1cmória; n1enos
(a obra etnog ·ahc;;11 1ente
líbradora e corretiva con1 a auto-etnografia sobre história das classes don1inantcs - o que aconteceu, quando e por q u ê - e
que SJO o s te1nas
1n.orn1-1L
· ,· . :l·, 1 , r e,, r u r rnc.·mbros das c:on1uni<.fades
'"1,· z. ·,i c:h, n mJis sobre história das bases - o que un1a pessoa poderia expcrirncntar e
como poderia ser a passJ.gem por aquela e.xpcriênci L No tom evocativo e
• Introdução a o d o c u m e n t â r i o 173
172 Papil"US Editora •
-· -
Nuit el brouillard (Alain Resnais, 1955)
Grande parte das imagens apresentadas em Nuit et brouiflard loi filmada por oficiais dos campos de
concentraçào e descoberta depois da guerra pelos Aliados. Alain Resnais compiia essas imagens históricas
num chocante testemunho dos horrores da falta de humanidade, Esse filme proporciona muito mais do que
uma comprovação visual das atrocidades nazistas. Ele nos exorta a lembrar. e nunca esquecer, o que
aconteceu há muito 1empo nesses campos. Liga o passado ao presente e entrega à memória o fardo de
sustentar uma consciência moral.
~ c:
. · ,
--·
caseiros reorganizados como representações perfonnáticas da agitação social Quadro 6.1
causada pela Segunda Guerra JVíundial: A z Orvény ( 1998) reconta a vida de um O s m o d o s do documentário
Principais características
ben1-succdido homen1 de negócios judeu na década de 1930, Gyorgy Feto,
- Deficiências
que acaba sendo pego pela decisão da Alemanha, no fin1 da guerra, de aplicar
a "solução final" aos judeus húngaros; Êxodo do Danúbio (1999) conta as Ficção hollywoodiana [anos 10]: narrativas ficcionais de mundos imaginários
migrações forçadas de judeus - que descem o Danúbio rumo à Palestina, - ausência de "realidade"
diante da resistência britânica à chegada de quaisquer outros refugiados- e de
alemães - que fogem da Romênia, rio acima, de volta para a Alemanha, Documentário poético [anos 20]: reúne fragmentos do mundo de
modo poético
quando o exército soviético os expulsa de seus domínios. O filme baseia-se, - falta de especificidade, abstrato demais
principalmente, em filmes caseiros feitos pelo capitão do navio de cruzeiro
que estava envolvido no transporte desses dois grupos pelo Danúbio. Documentário expositivo [anos 20]: trata diretamente de
questões do mundo histórico
Êxodo do Danúbio não tenta contar toda a história da Segunda Guerra
- excessivamente didático
I\-1undial. Ao enfocar acontecimentos específicos, vistos por um participante e
não por um historiador, Forgács, todavia, sugere alguma coisa sobre o tom Documentário observativo [anos 60]: evita o comentário
geral da guerra: sugere como, p a r a certos participantes, a guerra foi e a encenação; observa a s coisas conforme
principaln1ente un1 enorn1e fluxo de povos, entrando e saindo de váüo · elas acontecem
países, por uma variedade imensa de razões. Ocorrem perdas, com o - falta de história, de contexto
deslocamento. O peso da guerra fez-se sentir não só nos b_ombardeios; m-as Documentário participativo [anos 60]: entrevista
também nesses casos de êxodos de civis que transformaram a face da Europa. os particpantes ou interage com eles; usa
Forgács quer deixar a avaliação e o julgamento para nós, mas também imagens de arquivo para recuperar a
história
postergar esse tipo de reflexão, enquanto experimentan1os um encontro mais
·- fé excessiva em testemunhas,
direta111ente subjetivo com os acontecimentos históricos. Ele invoca o afeto história ingênua, invasivo demais
em vez do efeito, a emoção em vez da razão, não para rejeitar a análise e o
julgamento, mas para colocá-los numa base diferente. Como Resnais, Vertov e Documentário reflexivo [anos 80]:
Kalatozov antes dele, e corno tantos de seus conte1nporâneos, Forgács evita questiona a forma do documentário.
posições convencionais e categorias pré-fabricadas. Ele nos convida, como tira a familiaridade dos outros
modos
fazem todos os grandes documentários, a ver o mundo com novos olhos e a
- abstrato demais, perde de
repensar nossa relação com ele. O documentário performático restaura uma vista a s questões concretas
sensação de magnitude no que é local, específico e concreto. Ele estimula o
pessoal, de forma que faz dele nosso porto de entrada para o político. Documentário performático [anos
80]: enfatiza aspectos
Podemos resumir esse esboço geral dos seis modos de representação subjetivos de um discurso
documental no quadro seguinte. O documentário, como a vanguarda, classicamente objetivo
cc1neça como uma resposta à ficção. (As datas neste quadro significam - a perda d e ênfase
quando um modo se torna uma altern;:itiva comum; cada m o d o tem na objetívidade pode
antecessores e cada um continua até ho,ie.) relegar e s s e s filmes
à vanguarda; uso
"excessivo" de estilo.