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Cinema antropológico: uma arte empírica

David MacDougall - Nascido em 12 de novembro de 1939, é um antropólogo


visual, acadêmico e documentarista americano/australiano, que é conhecido
por seu trabalho de filme etnográfico na África, Austrália, Europa e Índia.
O cinema mudo
imagens e intertítulos
Filmes sonoros
fala e sons naturais

Lançamento de O Cantor de Jazz


(1927), Nova York

Luzes de Nova York (1928)


cinema antropológico

 A partir de 1930 – os diálogos foram inseridos, com sincronização manual na sala de edição;

 trilhas sonoras, sons naturais, músicas, imagens filmadas anteriormente;

 O maior desafio era a gravação do som junto com a imagem (síncrono);

 Limitação para fazer cinema no sec. XIX: precariedade de recursos;

 Preocupação com o visual e o não – visual: a gravação surge para explorar as experiências
humanas (ideias, sentimentos, expressão verbal e não verbal, estética etc.).
Antropologia e cinema
 Aspectos comuns entre antropologia e cinema: experiência subjetiva dos indivíduos, desempenho social,
ambientes construídos;

 Ao considerar o potencial do cinema para a pesquisa antropológica, precisamos olhar mais de perto para
os tipos de conhecimento que os filmes podem criar e como eles o criam;

 Interpretação do filme: subjetividade do espectador;

 Diferença de comunicação entre cinema e escrita: Livro - imaginação do leitor/ cinema -experiência visual
e auditiva;

 Objetivo: difundir o cinema antropológico como método de pesquisa que alcance a profundidade do
objeto do estudo;

 A filmagem pode se tornar parte integrante do processo de trabalho de campo.


Vantagens do filme como método

 apresentar múltiplos casos para comparação;

 explorar o caso individual em detalhes, não apenas visualmente, mas também


em suas dimensões temporais, físicas e emocionais;

 Investigar: movimento, fala, o visual, o auditivo, o material, o corpóreo etc;

 Cinema no contexto atual: globalização, migração, gênero, emoção, identidade


individual e grupal e cultura visual.
EX: Filme Valentina NETFLIX

O filme retrata os desafios de uma jovem


menina trans que enfrenta dificuldades para
que sua identidade seja respeitada após
mudar para uma pequena cidade.

Foi produzido de forma independente pela


empresa Campo Cerrado Audiovisual, com
apoio da Secretaria do Audiovisual e do
edital de Longas de Baixo Orçamento 2016.

As gravações ocorreram nas cidades


de Uberlândia e Estrela do Sul.
Filmagem como método de pesquisa

 filmar é em si uma forma de investigação (método primário de coleta de dados);


 A "pesquisa visual" é o registro de imagens para análise posterior;
 método que explora os fenômenos sociais;
 Um cineasta pode querer ilustrar um tópico específico, criar um estudo de caso, apresentar
um conjunto de variações sobre um tema ou construir uma narrativa de eventos;
 necessita de pesquisa preliminar, antes da filmagem;
 Não demorar para filmar após a pesquisa de campo para não perder o sentido;
 Se o cineasta está constantemente chamando atenção para o processo de filmagem, ou
interferindo nas coisas por razões técnicas, a câmera naturalmente permanecerá o centro
das atenções;
Escolha do estilo de câmera

 Responsiva: somente retrata o que captura, não interfere;

 Interativa: intervém e registra sua própria interação com o sujeito;

 Construtiva: apresenta ao espectador uma intervenção de um tipo diferente, focada


desta vez nas imagens do filme.
O triângulo cinematográfico

A maioria dos filmes antropológicos anuncia implicitamente três relações separadas:

 (1) entre o cineasta e os espectadores;

 (2) entre o cineasta e os sujeitos;

 (3) entre os sujeitos e os espectadores.


Exemplo: Filmar um artesão fazendo um objeto pode
registrar

a) mostrar o processo tecnológico (como é feito o objeto);


b) mostrar o conhecimento e a habilidade do artesão;
c) mostrar um ponto específico sobre o trabalho;
d) revelar o caráter do artesão;
e) refletir uma passagem de tempo;
f) recriar um ambiente sensorial;
g) descrever uma função cultural ou tradição artística, e assim por diante.
Posicionamento do cineasta frente ao público

 Nos filmes, essas relações são refletidas no trabalho de câmera, edição e conteúdo das imagens

Questionamentos
 Os cineastas ficam distantes ou registram suas interações no filme?
 Os cineastas ficam distantes ou registram suas interações com as pessoas no filme?
 A linguagem fílmica é familiar ou reflete uma sensibilidade particular?
 Quanto do assunto o público já sabe?
 O cineasta espera que os espectadores entendam ou faz esforços explícitos para guiá-lo?
Filmagem atual

 Ajuda da tecnologia (celular, câmeras de alta resolução);

 Antes era preciso ajuda de uma segunda pessoa para segurar o microfone ou gravador;

 2 pessoas intimidam mais o entrevistado do que somente o cineasta gravando;

 incentivo simultâneo ao cinema indígena e transcultural.


Conclusão:

 O cinema permitiu que os antropólogos inspecionassem certos aspectos: expressão facial,


postura e gesto, processos tecnológicos, rituais, usos sociais do espaço.

 Espera-se que os filmes antropológicos sejam neutros e abrangentes;

 os cineastas antropológicos nunca podem apresentar a realidade como um único fato


objetivo;

 O filme ganha um novo ambiente e começa a ser visto como um documento histórico, e até
mesmo um objeto de nostalgia;

 O cinema antropológico pode dar uma contribuição importante para a compreensão das
formas culturais visuais;
Pesquisando Cinema e História: Fontes, Métodos,
Abordagens

James Chapman (nascido em 1968) é professor


de Estudos de Cinema na Universidade de
Leicester. Ele escreveu vários livros sobre a
história da cultura popular britânica, incluindo
trabalhos sobre cinema, televisão e quadrinhos.
UMA BREVE HISTÓRIA DO CINEMA
primeiras exibições públicas de filmes

1985
Os irmãos Lumière revelaram seu
Cinematógrafo em Paris.

Registravam uma série de instantâneos


fixos, em (fotogramas), criando a ilusão
do movimento.

22nd March 1895: The Lumière brothers stage thei


r first film screening in Paris - Bing video
01 de novembro de 1895

Bioscópio (Bioskop), um primitivo projetor de filmes


que os irmãos Skladanowsky usavam para exibir as
primeiras figuras em movimento para um público
pagante, em Berlim
1896

Primeira exibição em fevereiro de 1896 no Finsbury Technical


College (Londres) com problemas técnicos, que foram com a
estreia do seu projetor Theatrograph.

Robert William Paul (1869-1943)


Georges Méliès (1861-1938) "mágico de cinema”

Popularizou técnicas como o stop-motion e foi um


dos primeiros cineastas a usar exposições
múltiplas, a câmera rápida, as dissoluções de
imagem e o filme colorido.

50 Best Georges Méliès Movies, Ranked | by Tristan Ettleman


| Medium
Primeiras histórias do cinema

1926 - A Million and One Nights (Terry Ramsaye)

1930 - The Film Till Now (Paul Rotha)


Década de 1960

 O cinema passa a ser ensinado como um assunto em universidades americanas e


britânicas;

 Criação de associações profissionais para pesquisadores de cinema, como a Society for


Education in Film and Television (Grã-Bretanha), a Society for Cinema Studies (EUA) e a
International Association for Media and History;

 Publicação de importantes textos acadêmicos que moldaram a natureza da disciplina;

 1965 - primeiro texto em língua inglesa a adotar a "politique des auteurs" francesa e
aplicá-la ao estudo de um cineasta popular.
Faroeste americano e o filme de gângsteres

1969

1971
Histórias sociais do cinema - filmes populares como
reflexos das correntes culturais e ideológicas

1970

1973

1975
Cinema como instrumento de persuasão em massa

1979 - primeira análise comparativa de como agiam as


indústrias cinematográficas controladas pela União Soviética e
Alemanha nazista.
Primeiras tentativas de teorizar a natureza da
representação histórica

1977

1980
Screen theory ( teoria da tela)

 tentativa de construir uma teoria totalizante do cinema;

 criticado por sua tendência a homogeneizar os filmes;

 via o espectador de cinema como uma construção teórica e não como grupos de
indivíduos históricos

Meados da década de 1980

 Descongelou a guerra fria ideológica entre a teoria do cinema e as escolas de história do


cinema e seus proponentes.
A nova História do Cinema

1) maior nível de sofisticação metodológica – possui artefatos culturais complexos


cujo conteúdo e estilo são determinados por uma série de processos históricos;
2) a importância das fontes primárias (os próprios filmes e fontes não fílmicas,
como registros da empresa, documentos pessoais, roteiros, diários, cartas,
materiais de publicação, resenhas e recibos de bilheteria);
3) competência cultural na leitura de filmes por meio de conteúdo narrativo visual.
Preservação e arquivamento de filmes

Alguns filmes sobrevivem apenas em fragmentos/ versões restauradas por arquivistas e


historiadores, mas que podem ser diferentes dos filmes como foram originalmente exibidos.

1926

1927
Meados da década de 1930

Museu de Arte Moderna de Nova York,


a Biblioteca Nacional de Cinema em
Londres e a Cinemateca Francesa
começaram a coletar impressões de
filmes para a posteridade.
Vídeo Participativo Baseado em Ação Social em
Comunidade Rural da África do Sul

Claudia Mitchell

Naydene de Lange
 Estudo de caso da produção e uso de Izindaba Yethu (Nossas Histórias) dentro de um
distrito em uma comunidade rural em KwaZulu-Natal, uma província da África do Sul.

 Documentário em vídeo focado em HIV e AIDS;

 O ponto de entrada para a comunidade rural foi facilitado pelo Centro para o
Programa de Pesquisa em AIDS na África do Sul (CAPRISA);

 A produção é baseada em 4 ou 5 anos de trabalho com uma clínica de saúde e duas


escolas secundárias e faz parte de uma série de atividades participativas visuais
realizadas com membros da comunidade;

 O catalisador para a reflexão crítica foi a participação dos jovens como


informantes/entrevistados no próprio vídeo e como codiretores na determinação dos
temas-chave a serem abordados;

 Os participantes se envolveram em todos os aspectos do processo de criação de


vídeos, escolhendo temas, decidindo imagens e fazendo edição, usando o Adobe
Premier.
Situações enfrentadas

 A morte de pacientes e amigos, crianças chefiando famílias, absenteísmo de alunos e


professores da escola, e assim por diante;

 O exemplo de um posto de gasolina transformado em funerária: a morte se tornou comum;

 A infecção pelo HIV/AIDS acentuou o estigma, a pobreza, as dificuldades para manter a


qualidade de vida;

 Problemas psicossociais trazidos com o contexto do HIV e AIDS;

 Falta de serviço de aconselhamento individual (tradições).


O que é a comunidade ?

“ pessoas em uma área geográfica e tempo específicos; pode referir-se a um sistema


social; à construção de um modo de vida ou a uma organização sociopolítica”

"sistema complexo de interações entre elementos culturais, sociais, políticos, psicológicos e


ecológicos"

(Visser, 2007: 5−6, 7)


O vídeo na pesquisa em ciências sociais

 vídeo colaborativo: que o pesquisador ou agente comunitário trabalha com um grupo de


participantes para criar uma produção de vídeo

 vídeo participativo: o processo envolve um grupo de participantes construindo sua própria


realidade em vídeo com assistência mínima da equipe de pesquisa.

“ a noção de vídeo participativo baseado na comunidade também se refere ao engajamento com


uma determinada comunidade e às relações que são construídas ao longo do tempo e, como tal,
contribuem, acreditamos, para a mudança social” (Shratz e Walker, 1995)
Três áreas-chave sustentam o vídeo participativo baseado na comunidade
1. Os valores e objetivos da psicologia comunitária;
2. A 'exteriorização' da história;
3. Reflexividade através da coletividade.

Os valores e objetivos da psicologia comunitária

 Centra-se na interação entre o indivíduo e o seu contexto social;

 Baseia-se em conhecimentos e habilidades psicológicas para melhorar o bem-estar das pessoas;

 Usar o vídeo participativo para que a comunidade "exteriorize seus problemas", colabore com
eles e preveja soluções.
IZINDABA YETHU — NOSSAS HISTÓRIAS
começou com um workshop de criação de vídeo de 1 dia e motivou discussões em
pequenos grupos e exibições da comunidade ao longo de vários meses.

Processos de criação do vídeo participativo

1. Descrição do processo de produção de vídeo;


2. Envolvimento dos participantes na visualização dos seus próprios vídeos curtos;
3. Compilação de um vídeo editado (esforço criativo próprio);
4. Levar o vídeo editado para visualização dos participantes;
Participantes
19 alunos do ensino secundário, 3 professores, 3 agentes comunitários de
saúde e vários pais;

Divisão em grupos:
 exclusivo para meninos;

 exclusivo para meninas;

 grupo misto de meninos e meninas;

 grupo de professores;
 grupo composto por agentes comunitários de saúde e pais.
Questionamentos

pobreza, doença, HIV e AIDS, abuso


infantil, estupro, crime, assassinato e
roubo, desemprego, gangues,
segurança escolar, gravidez juvenil,
abuso de substâncias e falta de
instalações recreativas.

Resultados:
Os três grupos de jovens: estupro e violência
Os participantes "votam" para identificar a questão- de género
chave que desejam abordar em seu vídeo. (DE LANGE,
2010) Os dois grupos de adultos: a pobreza
Fazendo o vídeo
 Divisão de papeis dentro de cada
grupo: diretor, cinegrafista etc;

 Cada grupo gravou as cenas após


fazer o roteiro com os temas
definidos;

 Sessão sobre o uso da câmera foi


dada a todo o grupo
(inexperiência com o
equipamento);

 Os grupos tiveram cerca de uma


hora para gravar um vídeo de 3 a
5 minutos;

Os participantes usam uma câmera de vídeo para filmar


a história que criaram para apresentar visualmente a
edição selecionada. ( De Lange, 2010)
 Títulos provocativos

 Estupro na escola: Não confie em ninguém;


 Como o estupro me trouxe HIV&AIDS;
 Estupro;
 Efeito da pobreza na escola;
 Tudo começou com a pobreza.

Estupro na escola: Não confie em ninguém

 Contexto: um aluno interpreta o personagem principal – um professor que


estupra uma menina depois de atraí-la para sua sala de aula prometendo aulas
extras.
Compartilhamento e discussão

Discutir o trabalho um do outro elevou o nível de reflexão e engajamento entre a


comunidade de participantes.

Revendo os próprios vídeos

 Você gostou do vídeo?


 Quais imagens que ficam na sua mente?
 Se você tivesse uma cópia do vídeo, para quem você gostaria de mostrá-lo e por
quê?
 Como você acha que isso poderia ajudar a lidar com a violência baseada em
gênero?
 Como a questão principal neste vídeo ajudaria a escola e a comunidade ?
Resultados

 Os participantes destacaram a importância e a necessidade de seu próprio engajamento


no processo. Eles sentiram que o trabalho em vídeo abriu oportunidades para se envolver
com questões que raramente são faladas;

 O próprio processo de sair da “zona de conforto” para produzir os vídeos pode criar
sentimentos de desconforto e vulnerabilidade para alguns participantes;

 Vídeo participativo baseado na comunidade pode oferecer a possibilidade de discussões


ricas e texturizadas.
Diretrizes práticas para o trabalho em vídeo
"Sem necessidade de edição"

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