Você está na página 1de 12

INTRODUÇÃO À LINGUAGEM

CINEMATOGRÁFICA

AULA 01
Professor Rodrigo Carreiro
OBJETIVO DA DISCIPLINA

Como funciona a linguagem audiovisual? O que faz exatamente o diretor de


arte de um filme? Qual a diferença entre edição e mixagem de som? Como
estruturar a focalização narrativa de um roteiro em três atos?

Oferecer um panorama geral da maneira como se dá a construção da narrativa


em todos os aspectos criativos do filme.

Abordaremos todas as etapas da preparação de um filme (planejamento,


execução e finalização), mostrando como os profissionais envolvidos em cada
uma delas colaboram para construir a narrativa.

OS FILMES

A metodologia utilizada intercala momentos expositivos (principais conceitos)


com trechos de filmes para exemplificá-los.

Serão utilizados cerca de 120 filmes no decorrer do semestre.


A DISCIPLINA
2. Como se faz um filme: funções dos profissionais envolvidos nas três etapas da
produção.

3. O texto fílmico. Padrões narrativos. O subtexto. Diálogos e monólogos.


Estrutura narrativa dividida em atos.

4. Construção de personagem. O trabalho do ator. A jornada do herói. Os


arquétipos. Funções dramáticas dos personagens. Caracterização e estudo de
personagem.

5. Mise-en-scéne e pré-produção: cenários e locações, maquiagem e figurinos.


Direção de arte e design de produção. A importância dos conceitos visuais para a
unidade e a evolução narrativa.

6. Mise-en-scéne e fotografia I: A câmera: tipos de planos e movimentos para


construir efeitos narrativos. Conceitos acessórios.

7. Mise-en-scéne e fotografia II: enquadramento, composição visual,


movimentação dentro do quadro. O plano-seqüência.
8. Mise-en-scéne e fotografia III: estilos de iluminação e uso de cor. A hora
mágica. Ensinando o público a ver. Guiando a atenção do espectador com a
câmera.

9. Montagem I: Efeito Kuleshov. Pudovkin x Eisenstein. Continuidade clássica:


raccord e continuidade. A regra dos 180 graus (o eixo).

10. Montagem II: Manipulação do tempo fílmico. Elipse e compressão do


tempo; suspense e dilatação do tempo. Códigos da construção fílmica: clichês
e convenções.

11. Montagem III: Pontos de corte (Walter Murch). Cortes dentro da ação.
Como e onde cortar. A aceleração da montagem (estilo MTV). O jump cut.
Montagem paralela. Continuidade intensificada.

12. Som I: A música nos filmes (história e funções, estética e narrativa).


Principais compositores.
13. Som II: Efeitos sonoros e voz. ADR, foley e sonoplastia. Sons fora da tela
(offscreen sound). O papel do sound designer. Tecnologias de projeção.

14. O diretor: tarefas e responsabilidades. Marcas autorais. A Teoria do Autor


(François Truffaut e Andrew Sarris). O produtor como autor (David O.
Selznick). Mudanças históricas no trabalho do diretor dentro do sistema de
produção. Tipos de diretor: o planejador (Hitchcock), o improvisador (Wong
Kar-Wai), o montador (Fernando Meirelles). Intertextualidades – citações,
paródias e pastiches.

15. Analisando a linguagem audovisual: exibição comentada de filme.

16. Entrega do segundo trabalho para nota.

17. Avaliação final (apenas para quem ficou com média abaixo de 7): entrega
de trabalho de análise da linguagem audiovisual para filme à escolha do
estudante.

18. Segunda chamada.


AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA

Cada aluno deve entregar dois trabalhos no semestre.

O primeiro deve ser entregue na 7ª aula. Pode ser feito individual ou em dupla:
uma análise dos aspectos narrativos relacionados ao roteiro (estrutura,
personagens, diálogos, texto e subtexto, arquétipos, etc.) de um filme, trecho de
filme ou conjunto de filmes.

O segundo deverá ser entregue na 16ª aula do semestre. Pode ser feito em dupla.
Uma análise completa de qualquer filme/trecho/grupo de filmes desejado (pode
ser uma continuação do trabalho anterior).

Participação nas aulas, interesse e presença também são condicionantes na nota.

Os trabalhos podem ser feitos por escrito (o primeiro em torno de 5 páginas, o


segundo de 10-15 páginas, formato ABNT), em áudio (podcast) ou vídeo.
BIBLIOGRAFIA

CARREIRO, Rodrigo. A linguagem do cinema: uma introdução. Recife: Editora


da UFPE, 2017.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR SUGERIDA

BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução.


São Paulo: Ed. USP/Unicamp, 2014.

LUMET, Sidney. Fazendo filmes. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1998.

MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Ed. Brasiliense,


1985.
QUESTÕES CENTRAIS DA DISCIPLINA

- Qual a cadeia completa de produção do audiovisual? Quem são os


profissionais que trabalham no filme? Como e quando eles atuam?

- Como a equipe criativa responsável pelo filme se articula, nos níveis de pré,
pós e produção, para construir coletivamente a narrativa audiovisual?

- Quais as ferramentas que os cineastas têm a disposição para usar a fim de


para contar a história da maneira que consideram mais adequada?

- Por que os espectadores têm opiniões diferentes sobre os mesmos filmes?


O CINEMA: UMA LINGUAGEM?

Christian Metz: semiólogo francês cujo projeto teórico consistia em provar que o
cinema era uma linguagem. Para isso, ele precisava planificar os sistemas de
significação que ajudam a construir os sentidos dentro dos filmes.

Daí surgiu a “Grande Sintagmática”, uma espécie de “gramática” contendo toda a


sintaxe do cinema.

Conclusão do projeto semiológico estruturalista: o cinema funciona como


linguagem, mas não chega a ser uma linguagem. A construção de significado
não se dá de maneira estável em todos os filmes. Determinada música, por
exemplo, pode ter significados distintos quando usada em dois filmes diferentes.

Em 1968, Metz afirmou que a “matéria de expressão” do


cinema é constituída de cinco camadas de conteúdo fílmico:

» Imagem
» Diálogos e narração em off (voz)
» Efeitos sonoros (ruídos e som ambiente)
» Música (diegética ou não)
» Sinais gráficos (placas, textos escritos, legendas)
A PERCEPÇÃO: HUGO MÜNSTERBERG

Os primeiros críticos/teóricos de cinema surgiram na década de


1910. Um dos primeiros e mais importantes foi Hugo
Münsterberg. Alemão radicado nos EUA e professor de
Psicologia na Universidade de Harvard, escreveu um dos
primeiros livros sérios sobre cinema (The Photoplay, 1916), e
nele expôs a teoria que está na fundação de quase toda a teoria
do cinema contemporânea.

Para escrever o livro, Münterberg freqüentou cinemas de bairro durante dois


anos. Entrava escondido nas salas de projeção. Foi o primeiro crítico a
identificar semelhanças entre a linguagem dos filmes e a lógica dos sonhos
(descontinuidade espacial e temporal), e elaborou conceitos muito explorados
nas décadas seguintes, por outros estudiosos.

Münsterberg foi atraído por um aspecto peculiar do cinema: por que as reações
das pessoas diante dos filmes são tão divergentes? Por que alguns gostam de
determinados filmes, e outros detestam esses mesmos filmes? Münsterberg
considerou que o filme provoca um fenômeno de identificação diferente em cada
espectador. Para ele, este fenômeno é individual porque cada
espectador adiciona ao filme pelo menos dois aspectos subjetivos:
(1) suas memórias e imaginação;

(2) sua bagagem cinematográfica pessoal.

É por isso, para Münsterberg, que pessoas diferentes atribuem significados


diferentes ao mesmo filme. É que as mentes das pessoas organizam as
informações contidas no filme de formas distintas, de acordo com o conteúdo
anterior pré-existente dentro de cada mente.

A lógica é bastante
semelhante aos testes de Rorschach, em que
supostas manchas de tinta são
mostradas a pacientes psiquiátricos para que eles
identifiquem formas dentro dos
borrões.
Depois de Münsterberg, outros estudiosos deram seqüência aos estudos e
mostraram que muitas outras camadas de significado interferem na percepção
do filme, por cada espectador:

(3) o marketing em torno do filme (se o espectador se informou muito sobre um


filme, pode ter criado uma expectativa positiva ou negativa sobre ele);

(4) o contexto cultural (social, político, ideológico) em que ele é produzido (como
a crença de que tudo que vem de Hollywood é comercial e, portanto, já nasceu
ruim);

(5) o contexto cultural em que ele é assistido (o fato de assistir a “Titanic”


quando o filme arrastava multidões aos cinemas pode ter ajudado muita gente a
gostar, ou desgostar, do filme);

(6) o contexto específico da projeção no momento em


que o espectador o vê (se um moleque sentou do seu
lado no cinema e passou o filme inteiro conversando
no celular, há boa chance de que tenha lhe provocado
o mau-humor que lhe fez detestar uma comédia);

e muitos outros.

Você também pode gostar