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INTRODUÇÃO A LINGUAGEM

CINEMATOGRÁFICA

AULAS 6 e 7
Professor Rodrigo Carreiro
» A câmera: ângulos e tipos de plano

“A linguagem cinematográfica sugere os caminhos que uma mente segue ao lidar


com os acontecimento do qual toma parte”. Michael Rabiger

A câmera tenta reproduzir o modo como funciona a percepção do ser humano,


controlando a sua atenção e conduzindo seu olhar.

O conceito de decupagem, aplicado à encenação, significa a divisão de uma cena


em planos, com a câmera registrando a ação da forma mais adequada para a
compreensão do acontecimento.

Onde esta pessoa fictícia deve se posicionar para compreender claramente tudo o
que ocorre? Como a percepção dela é afetado pelos eventos?

Mais importante ainda: para qual (ou quais) elementos da composição esta
pessoa deve dirigir sua atenção, a fim de entender com clareza o evento?
» Ângulos de câmera

- PLANO/CONTRAPLANO: Sistema de corte muito popular no cinema, a partir


dos anos 1950, para filmar diálogos. Consiste em intercalar imagens dos
personagens que estão conversando, alternando entre os pontos de vista de
ambos. Podem ser dois ou mais atores.

- PLONGÉ: A câmera filma a ação de cima para baixo. Em geral, este ângulo expressa
visualmente uma relação desigual de dominação entre os personagens que estão sendo
mostrados. Quem olha para baixo domina; quem olha para cima é dominado.

- CONTRA-PLONGÉ: É exatamente o contrário do anterior, ou seja, a câmera filma a


ação de baixo para cima. O personagem focalizado neste ângulo tende a ser dominado
pelo outro.

- CÂMERA NO NÍVEL DO OLHO: Este ângulo é, em geral, escolhido para enfatizar uma
relação estável entre os personagens, em que nenhum deles exerce dominação sobre o
outro. Portanto, trata-se de um ângulo objetivo. É preferível em documentários e
reportagens de TV.
FILME: A SOMBRA DE UMA DÚVIDA
FILME: O LEITOR 1 E 2
FILME: A BANDA DE UM HOMEM SÓ
» Tipos de planos

PLANO GERAL ABERTO: Câmera fica muito distante. O objetivo dramático é


localizar a ação dentro do ambiente em que ela se insere. Este ângulo é muito
comum no início de uma nova cena, em particular se esta cena se localiza numa
locação ainda não mostrada dentro do filme. O ângulo ajuda o espectador a se
localizar geograficamente no espaço cênico.
PLANO GERAL FECHADO: A câmera filma os pessoas de corpo inteiro. Indica
a necessidade de prestar atenção para os personagens que protagonizam a
cena, mas ainda insere estes personagens dentro do ambiente.
PLANO AMERICANO: Mostra os personagens da cintura para cima. Garante
atenção total do espectador para os personagens, ressaltando ainda sua
expressão corporal. Isola-o do ambiente (ou seja, o personagem é mais
importante do que o ambiente neste momento da cena em particular).
PLANO MÉDIO: Focaliza apenas o tórax e a cabeça dos personagens. Eles são
bem mais importantes do que o ambiente (que quase não aparece dentro da
composição). Sinaliza a grande importância do que está sendo dito.
CLOSE UP: Filma-se apenas o rosto do personagem. É o ângulo preferido dos
cineastas para sinalizar que o espectador deve dar importância máxima ao que
está sendo dito. Usa-se em momentos de grande intensidade emocional. É
desvalorizado se, numa conversa, for usado o tempo inteiro. Usado com
economia, mostra ao espectador os momentos mais tensos e dramáticos de um
diálogo. Despreza a expressão corporal dos personagens, e enfatiza a
expressão facial.
PLANO-DETALHE: Normalmente, é um plano que tem pequena duração. Muito
usado para destacar alguma ação pequena que, no entanto, tem importância
dramática central para a compreensão da cena. O detalhe pode ser um objeto,
uma parte do corpo ou do rosto (uma mão, os olhos) ou ainda uma ação
(esconder um objeto atrás de si).
» Movimentos de câmera

TRAVELING: A câmera é colocada sobre trilhos e se movimenta em qualquer


direção (frente, trás, lados, em trajetória oblíqua ou circular).

PAN: A câmera gira horizontalmente em torno do próprio eixo. Simula o olhar


de uma pessoa que acaba de chegar a um novo ambiente e o está
reconhecendo.

TILTS: Câmera gira verticalmente, de cima para baixo ou o contrário. É muito


usado no início de uma nova cena, por exemplo para simular o efeito de uma
pessoa que olha (ou um prédio, uma casa, um novo ambiente) de cima a baixo.

GRUA: Movimento anteriormente planejado, podendo subir a câmera, descer,


girar em qualquer direção e fazer todo tipo de combinação. Normalmente, tem
a função narrativa de exercer um efeito dramático poderoso.
ZOOM: Efeito obtido pela manipulação da lente, podendo ser de aproximação
(ZOOM IN) ou afastamento (ZOOM OUT). A câmera, em si, permanece fixa, de
modo que a relação de profundidade de campo permanece inalterada.

CÂMERA NA MÃO: Técnica nascida dos documentários feitos a partir dos anos
1960, quando o equipamento passou a ser mais leve e portátil. Permite
agilidade nas filmagens e permite certos movimentos de câmera que seriam
impossíveis com equipamentos mais pesados. Por outro lado, a estabilidade da
imagem é prejudicada (sacolejos, tremidas e chicotes). Técnica muito popular a
partir do início do século XXI, mesmo em filmes de ficção, porque agrega
realismo e tensão.

STEADICAM: Câmera acoplada a um sistema de pesos que pode ser


manuseada com as mãos e elimina o sacolejo da imagem.
» Conceitos acessórios

PROFUNDIDADE DE CAMPO: Espaço coberto pelo


foco da lente utilizada pelo fotógrafo em determinada
cena. CIDADÃO KANE foi um filme pioneiro no uso
de uma técnica (DEEP FOCUS) em que, combinando
luz forte, lente grande-angular e película mais
Sensível à luz, o fotógrafo obtinha grande
profundidade de campo.

Orson Welles gostava de usar o segundo plano para


comentar o que estava acontecendo no primeiro
plano.

Existem basicamente três tipos de lente: grande-angulares (distância focal


curta), teleobjetivas (distância focal longa) e zoom (distância focal variável, em
diversos comprimentos).

A lente grande-angular permite maior profundidade de campo e reforça


volumes e linhas diagonais, mas distorce nos cantos e reduz a amplitude do
espaço lateral captado. Ao contrário, a teleobjetiva não distorce, mas tem
pouca profundidade de campo e “achata” os volumes. As lentes zoom tem
menos nitidez.
ESTABLISHING SHOT: Tomada (ou conjunto de tomadas) utilizada no princípio
de uma nova cena. Tem a função primordial de ajudar a platéia a assimilar a
geografia do novo ambiente.

MASTER SHOT: Tomada (ou conjunto delas) panorâmica que localiza


geograficamente o ambiente de uma cena. Pode ser (ou não) um establishing
shot.

COBERTURA: O ato de “cobrir uma cena”


significa, no jargão do cinema, filmar a mesma
ação dramática de diversos ângulos diferentes,
a fim de permitir ao montador diversas opções,
na hora de reunir os diversos planos de uma
Determinada cena.

Até os anos 1950, era normal filmar com pelo menos duas câmeras,
sendo que uma delas permanecia gravando tudo à distância, num longo
MASTER SHOT, enquanto a outra filmava a ação de perto.
FILME: TUBARÃO
» Luz e quadro

A fotografia em cinema diz respeito, principalmente, à luz. O enquadramento e a


composição dos elementos dentro da cena (mise-en-scéne) também são
atribuições do fotógrafo.

O fotógrafo ilumina os cenários, posiciona a câmera, decide como movê-la


(seguindo as instruções do diretor) e cuida para que haja continuidade na luz de
determinada cena.

Por exemplo, se só é possível registrar uma parte da cena em determinado dia


de filmagem, o fotógrafo deve garantir que no dia em que o restante da cena for
registrada, a luz esteja exatamente igual.

Junto com o diretor, o fotógrafo


pode construir todo um conceito
para expressar visualmente a
evolução dramática de uma
história (DOZE HOMENS E UMA
SENTENÇA).

Esta é uma característica da


continuidade intensificada.
Outro exemplo: CIDADE DE DEUS (três estilos de fotografia para três tempos
cronológicos, cada um expressando visualmente a atmosfera da nova época).

Durante a fase de produção propriamente dita, o fotógrafo é a segunda pessoa


mais importante nos sets. Para cada cena, ele decide que tipo de película vai
ser utilizada (16 mm, 35 mm, digital), a lente (grande angular, alongadas), os
filtros (tampões coloridos para estilizar as cores), os processos de revelação (O
RESGATE DO SOLDADO RYAN). Também supervisiona a correção de cores
em laboratório ou computador.

Normalmente, um fotógrafo não gosta de filmar em locação. É muito mais


difícil, porque não dá para controlar todos os aspectos do meio ambiente
(CARANDIRU). Filmar em locação é mais lento e, até por isso, bem mais
caro (O CÓDIGO DA VINCI – locação do Louvre).
Existem diversas maneiras de decupar visualmente uma cena. Essa
decupagem cabe ao diretor, mas o fotógrafo também desempenha um papel
importante nesse trabalho.

A forma clássica de decupar a cena é iniciá-la com establishing shots. A


câmera se aproxima gradualmente dos personagens que protagonizam a cena.
A forma como se dá essa aproximação depende do estilo do diretor, e também
da época de produção do filme.

Na Hollywood clássica (até o final dos anos 1950),


tendia-se a usar tomadas amplas no início da cena. Os
cortes eram mais demorados e a mise-en-scéne, mais
elaborada. A câmera se aproximava dos personagens
em cortes sucessivos: do master shot para um plano de
conjunto, deste para um plano geral, daí para um plano
médio, e só então para o sistema plano-contraplano.

Atualmente, por causa de uma série de fatores (velocidade da montagem,


tecnologia, variedade de sistemas de projeção, etc.), pode-se realizar esse
procedimento de decupagem de muitas maneiras. O modo clássico continua
comum, mas os cortes tornaram-se mais freqüentes e mais fragmentados, com
a câmera freqüentemente colocada mais próxima dos atores.

Esta é mais uma característica da continuidade intensificada


FILME: DOZE HOMENS E UMA SENTENÇA
» Iluminando um set

São três as fontes de luz principais: a LUZ-CHAVE, a LUZ ATENUANTE e a


CONTRALUZ.

- LUZ-CHAVE: Ilumina
diretamente os atores e objetos.

- LUZ ATENUANTE: Remove


as sombras geradas pela luz principal.

- CONTRALUZ: Define os
contornos dos objetos iluminados e os destaca
do fundo, aumentando a
impressão de imagem tridimensional.
Luz-chave frontal, sem luz Luz-chave na diagonal esquerda,
de enchimento ou contraluz. luz de enchimento na diagonal
direita, sem contraluz

Luz-chave na diagonal
traseira esquerda; luz de Todas as luzes atrás (mais
enchimento na diagonal luz do lado esquerdo).
direita; sem contraluz.
» Estilos de fotografia

REALISMO: É o estilo de iluminação mais comum.


Simula a realidade, mas não a copia inteiramente.
O objetivo central é evitar as sombras, deixando
todo o cenário bem iluminado, com a imagem
límpida e clara, sem contrastes muito fortes.

NATURALISMO: Tenta captar a realidade da


locação exatamente da maneira que ela é, sem
retoques, mesmo que isso signifique dificultar a
visualização de certas cenas. Muito comum em
documentários e filmes de ficção que busvam esse
tipo de visual documental.

EXPRESSIONISMO: Estilo que foge do realismo e


enfatiza a subjetividade. Dá preferência às sombras
e áreas escuras da imagem, com pouca ou
nenhuma luz atenuante. Inspiração na pintura de
Rembrandt e Caravaggio. Fortes contrastes claro-
escuro(SIN CITY, todo o film noir, O PODEROSO
CHEFÃO).
» O uso da cor

As cores predominantes são definidas pelo diretor antes das filmagens. O


fotógrafo deve estar ciente desta decisão antes de planejar a iluminação do
filme (bem como o desenhista de produção e sua equipe).

A cor que aparece no resultado final é trabalho do fotógrafo em parceria com


os diretores de arte e figurinistas.

A cor possui várias funções, estéticas e narrativas. As segundas são sempre


mais importante. A cor é um elemento fundamental para guiar o olho do
espectador, e por isso deve ser pensada tanto na hora da composição de cada
tomada quanto no momento da montagem final.

Exemplos: MATRIX (azul e verde). O PODEROSO CHEFÃO (sépia). O


FABULOSO DESTINO DE AMELIE POULAIN (verde, vermelho, azul e
amarelo). TRAFFIC (três histórias convergentes, com uma cor predominante
para cada uma).
FILME: AMELIE POULAIN
» Ensinando o olho a ver

Uma das funções mais complexas do diretor de fotografia é ajudar a conduzir o


olho do espectador para o ponto da tela que ele deseja ser focalizado primeiro.
Há certas regras fisiológicas que podem ajudar:

(1) o olho é atraído para o movimento;

(2) o olho é atraído pela luz;

(3) cores e contrastes fortes atraem o olho instantaneamente.

(4) Os Pontos de Fuga (setores da imagem para onde convergem os raios de


luz) atraem o olho.
FILME: CONTO DE INVERNO
FILME: LAWRENCE DA ARÁBIA

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