Você está na página 1de 9

CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

OS MOVIMENTOS DE CÂMERA: PARTE 2


Curso Online de Cinema - AULA 021

INTRODUÇÃO

Na aula anterior, exploramos alguns movimentos de câmera, sendo eles: pan, tilt, travelling,
dolly in e dolly out. Além dos movimentos, também falamos sobre os planos fixos.

Nessa aula serão abordados outros movimentos de câmera e o zoom. Embora o zoom não
seja um movimento de câmera, mas um ajuste da lente, ele gera um efeito de movimento
na cena.

Para facilitar a leitura do resumo, iremos separar um movimento de câmera por página.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

ZOOM

No zoom a câmera não se move, porém a distância focal da lente é ajustada. A lente de
uma câmera define o tamanho da imagem que é capaz de captar. Uma lente com distância
focal menor, como uma grande angular, capta uma área maior de imagem, ou seja, faz um
enquadramento mais aberto. Por outro lado, uma lente com distância focal maior enquadra
uma área menor.

No cinema são usados dois tipos de lente: as fixas, que só possuem uma distância focal, e
as lentes zoom, que possuem mais de uma distância focal.

Quando há uma lente zoom na câmera e o assistente de câmera mexe na distância focal,
isso pode produzir dois efeitos. Ou um zoom in, quando a imagem se aproxima e o
enquadramento se fecha. Ou um zoom out, que é quando a imagem se afasta e o
enquadramento se abre.

O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick

Stanley Kubrick é um dos cineastas que faz melhor uso desse artifício. Por muitas vezes ele
deixa os personagens parados e faz um zoom in, fechando o enquadramento, ou o contrário
(faz um zoom out, abrindo a imagem). Ele reenquadra muito bem, tanto personagens como
paisagens, enquanto aproxima ou afasta a imagem.

Kill Bill: Volume 1 (2003) - Quentin Tarantino

Tarantino faz um uso mais extremo do zoom em seus filmes, o crash zoom. Ele aproxima
ou afasta a imagem de modo muito rápido, como em um plano de ​Kill Bill: Vol. 1 ​(2003), no
qual faz um crash zoom nos olhos da personagem de Uma Thurman, ou quando fecha
rapidamente no rosto dela no momento em que a personagem acorda do coma.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

DOLLY ZOOM

O dolly zoom é uma combinação do movimento de dolly ​com o zoom. A câmera é puxada
para trás ao mesmo tempo em que se realiza um zoom in na lente. Hitchcock faz isso para
dar uma sensação de vertigem em ​Um Corpo que Cai (1958), quando distorce a imagem no
momento em que um homem olha para baixo nas escadas.

Tubarão (1975) - Steven Spielberg

É um efeito que ficou ainda mais famoso quando Spielberg o usou em ​Tubarão ​(1975).
Existe um momento no qual um personagem está sentado na praia e percebe que os
banhistas estão sendo atacados pelo tubarão. A câmera faz um dolly zoom mostrando a
reação do personagem. Através do efeito, temos a impressão que o cenário oprime o
personagem.

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) - Peter Jackson

Em uma cena de ​O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel ​(2001), Frodo e os hobbits
estão em uma estrada, quando Frodo percebe algo de errado. Ele olha pra estrada, que fica
distorcida pelo dolly zoom, e se esconde com seus amigos. Então descobrimos que um
cavaleiro negro estava atrás deles. O diretor usou o dolly zoom para ilustrar a intuição de
Frodo.

É um recurso que geralmente passa a ideia de opressão do cenário em relação ao


personagem, ou que gera uma distorção que culmina em mudança de perspectiva.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

CÂMERA GIRANDO AO REDOR DOS PERSONAGENS

Esse é um movimento bastante expressivo, que pode ser usado para evidenciar a presença
dos personagens na amplidão de um espaço.

Um Corpo que Cai (1958) - Alfred Hitchcock

Hitchcock fez um giro de 360° graus ao redor dos personagens que se beijam em uma cena
de ​Um Corpo que Cai.​ Ele faz um jogo entre as cores e o cenário, evidenciando o ato do
beijo, como se o espaço inteiro se desestabilizasse em um estado de transe amoroso do
casal.

Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) - Christopher Nolan

Christopher Nolan abre uma cena do diálogo entre Batman, o comissário Gordon e Harvey
Dent com um giro da câmera ao redor dos personagens. A cena, gravada no topo de um
edifício, mostra que os personagens não se destacam tanto em relação ao fundo, que
também está nítido.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

PEDESTAL

O movimento da câmera que se move na vertical, para cima ou para baixo, sem que seja
sobre o próprio eixo, é chamado de pedestal. Diferente de uma tilt, nesse movimento a
câmera inteira se movimenta na vertical.

Parasita (2019) - Bong Joon Ho

Bong Joon-Ho utiliza esse movimento no primeiro e no último plano de ​Parasita (​ 2019). O
primeiro mostra um varal com algumas meias, com a rua ao fundo por trás do vidro de uma
janela, enquanto o personagem tenta usar a wi-fi.

No último plano, após uma voz off desse personagem falar com o pai sobre o plano que ele
tinha de enriquecer e comprar a mansão, a câmera faz o mesmo movimento, mostrando
meias no varal, ao passo que ele continua no mesmo lugar em que iniciou o filme. Ou seja,
esse movimento talvez reforça a ideia de permanência do estado em que a família pobre se
encontra.

Bastardos Inglórios (2009) - Quentin Tarantino

No início de ​Bastardos Inglórios (​ 2009) um oficial alemão interroga um fazendeiro francês


para saber se ele está escondendo judeus em sua casa. A câmera se move para baixo, em
um plano que começa mostrando os dois conversando em uma mesa, e vai até o porão
onde a família está alojada. Da forma que foi gravada, Tarantino constrói uma tensão a
partir da proximidade aparente entre o nazista na sala e a família logo abaixo dele.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

GRUA

A grua é um equipamento que funciona como um guindaste. A câmera é posicionada na


extremidade desse equipamento, e assim pode percorrer grandes extensões e altitudes. A
grua não é um movimento, mas um equipamento usado para fazer diversos movimentos.

A Ilha (2005) - Michael Bay

Um movimento bem característico desse equipamento é quando a câmera se move na


vertical em diagonal (para cima ou para baixo) para mostrar um cenário.

Kill Bill: Volume 1 (2003) - Quentin Tarantino

Na cena do massacre no restaurante de ​Kill Bill: Vol. 1,​ em determinado momento a


personagem está dentro de um círculo formado por capangas que querem matá-la. A partir
de um movimento usando uma grua, câmera passa de um plano americano para um plano
filmado por cima dela, que a mostra no meio desse círculo.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

STEADICAM

A steadicam um equipamento relativamente novo, criado na década de 70 pelo inventor e


fotógrafo Garrett Brown. Consiste em um equipamento que possibilita que a câmera seja
acoplada ao corpo do operador de câmera por meio de um colete e de um braço mecânico.
Dessa forma a imagem se mantém estável, independente do movimento que o operador
faça.

O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick

Garrett Brown testou os limites do seu equipamento em ​O Iluminado.​ Ele mesmo operou a
steadicam no filme de Kubrick. A decupagem longa é baseada nessa câmera que vai
flutuando pelos ambientes e que segue os personagens pelo hotel. Na cena em que Danny
corre pelo hotel, Brown usou uma cadeira de rodas para filmar na altura da criança.

Na cena final no labirinto, a câmera faz movimentos rápidos sobre um terreno muito
instável. A imagem permanece estável, o que não aconteceria se fosse filmada com uma
câmera no ombro ou na mão.

Parasita (2019) - Bong Joon Ho

Na cena de ​Parasita e ​ m que a mãe da família pobre descobre o porão, ela desce as
escadas e a steadicam vai atrás dela em um plano sequência. Não seria possível manter
essa estabilidade visual se o plano fosse gravado com a câmera na mão. Nessa sequência,
a steadicam possui uma qualidade imersiva. O espectador descobre aquele novo ambiente
junto com a personagem.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

CÂMERA NA MÃO

A câmera na mão ou no ombro não é exatamente um movimento de câmera, mas um


método de filmagem que gera um efeito mais realista e menos contemplativo.

O Ultimato Bourne (2007) - Paul Greengrass

​ sa muito a câmera na mão, no entanto exagera a


Paul Greengrass, na franquia ​Bourne, u
ponto de as cenas ficarem tão tremidas e com tantos cortes que o espectador se perde. Ele
confunde o espectador sem criar um efeito expressivo com essa deslocalização.

Dançando no Escuro (2000) - Lars von Trier

Lars von Trier usa a câmera na mão como um recurso dramático. Ele grava vários takes da
mesma cena e na hora de montar faz jump cuts no meio dos diálogos, usando takes
diferentes na montagem das falas. Assim, o diretor recusa uma noção de continuidade. Ele
torna o drama mais realista e as cenas soam como registros documentais.
CURSO ONLINE DE CINEMA - MATERIAL EXCLUSIVO

CONCLUSÃO

Os movimentos apresentados nessas duas aulas são alguns dos mais essenciais do
cinema. Equipamentos como a grua ou a steadicam podem fazer movimentos mais
específicos, que mudam de acordo com a cena e com a decupagem do diretor.

CITAÇÕES DA AULA

FILMES

O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick


Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick
Barry Lyndon (1975) - Stanley Kubrick
Nascido para Matar (1987) - Stanley Kubrick
Kill Bill: Volume 1 (2003) - Quentin Tarantino
Como você sabe tudo (2009) - Hong Sang-soo
Tubarão (1975) - Steven Spielberg
Os Bons Companheiros (1990) - Martin Scorsese
Um Corpo que Cai (1958) - Alfred Hitchcock
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) - Peter Jackson
Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) - Christopher Nolan
A Ilha (2005) - Michael Bay
Invocação do Mal 2 (2016) - James Wan
Últimos Dias (2005) - Gus Van Sant
Parasita (2019) - Bong Joon Ho
Bastardos Inglórios (2009) - Quentin Tarantino
Ilha do Medo (2010) - Martin Scorsese
Magnólia (1999) - Paul Thomas Anderson
1917 (2019) - Sam Mendes
O Resgate do Soldado Ryan (1998) - Steven Spielberg
O Ultimato Bourne (2007) - Paul Greengrass
Hacker (2015) - Michael Mann
Dançando no Escuro (2000) - Lars von Trier

Você também pode gostar