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8. Noções básicas da estrutura de um lme Introdução

A primeira noção importante para compreender um lme é a forma como as imagens e os O que é cinema?
sons estão organizados dentro do todo. Quando os primeiros lmes foram produzidos, tanto
os irmãos Lumiére, na França, quanto Thomas Edison, nos Estados Unidos, utilizaram a A turma e a importância do
trabalho coletivo
linguagem cinematográ ca em seu nível mais simples.

Os três núcleos básicos da


Eles colocavam o lme virgem (que ainda não recebeu a imagem) dentro da câmera e, com o realização de um lme
auxílio de uma manivela, “rodavam” o lme até ele acabar, o que geralmente acontecia depois
de um minuto. À medida que o lme passava na frente da objetiva, era exposto à luz. Graças Dinheiro, espaço e tempo
ao obturador, cada pedaço do lme registrava uma imagem, que chamamos até hoje de
“fotograma”. Nas câmeras de vídeo digital, os fotogramas correspondem, grosso modo, aos Com o quê se faz um lme?
arquivos individuais de imagem que vemos quando damos um “pause” na imagem contínua.
Para que serve a linguagem do
cinema?
Cinema e vídeo digital têm uma palavra em comum para essas imagens individuais:
QUADROS. O ritmo das imagens no cinema, desde que foi inventado o som sincronizado, em
Noções básicas da estrutura de
1927, é de 24 quadros por segundo. Quando a imagem eletrônica da televisão foi lançada, o um lme
seu ritmo foi padronizado em 30 quadros por segundo, mas hoje há muitas outras
possibilidades, inclusive a de usar o mesmo ritmo do cinema. Na prática, o que interessa é Enquadramentos: planos e
que o ritmo seja superior a 11 imagens por segundo, para que tenhamos a ilusão de ângulos
movimento.
Movimentos no quadro, da
câmera e da objetiva
Voltando às origens do cinema: quando os irmãos Lumiére retiravam o lme já exposto da
câmera, simplesmente o revelavam (um processo químico) e o projetavam inteiro numa sala
Níveis da linguagem
escura. Eles chamaram esse espetáculo de “Cinematographo”. O tempo de todo o lme cinematográ ca
virgem dentro da câmera, aproximadamente um minuto, virava o tempo do lme exibido
publicamente. Os irmãos Lumiére lmaram a saída dos operários de uma fábrica, a chegada Corte, montagem, pontuação,
continuidade
de um trem na estação, um bebê sendo alimentado pelos pais e uma série de outras ações
simples. Não tinham a intenção de contar uma história, e sim registrar movimentos. Esses
lmes também eram chamados de “vistas animadas”, por razões óbvias. Vamos agora dar
nomes contemporâneos para alguns dos procedimentos dos irmãos Lumiére.

Chamamos de TOMADA (em inglês, “TAKE”) tudo que é registrado pela câmera desde o
momento em que ela é ligada (REC) até o momento em que ela é desligada (PAUSE ou STOP).

Chamamos de PLANO (em inglês, “SHOT”) tudo que é mostrado para o espectador de forma
contínua, isto é, como uma sucessão de imagens em movimento sem interrupção de qualquer
tipo.

* Cada vez que um plano é repetido, dizemos que trata-se de uma nova tomada. Isso ca
registrado na claquete da seguinte forma: Plano 27 / Tomada 1; Plano 27 / Tomada 2; Plano 27
/ Tomada 3…; e as repetições acontecem até que o plano esteja corretamente lmado (na
opinião do diretor).

Chamamos de CENA (em inglês, “SCENE”), um conjunto de planos que acontecem no mesmo
lugar e no mesmo momento.
Chamamos de FILME um espetáculo de imagens em movimento (mais tarde acompanhadas
por som), formado por uma ou mais cenas, que tem começo, meio e m, e “mostra” alguma
coisa acontecendo numa sucessão temporal.

Nos lmes dos irmãos Lumiére, essas quatro noções se fundem. O FILME se constitui de uma
única CENA, formada por um único PLANO, que é exatamente a TOMADA registrada pela
câmera.

Faltava um elemento essencial para a linguagem cinematográ ca começar a se desenvolver, e


esse elemento chama-se CORTE. Imagine que você, lá em 1895, teve uma idéia: juntar o lme
sobre a saída da fábrica com o lme sobre a chegada do trem na estação. Para isso, você
imagina que um operário em particular sai da fábrica e vai receber um amigo que está
chegando no trem. Agora o esquema TOMADA = PLANO = CENA = FILME não pode mais ser
usado. Você terá que fazer as coisas mais ou menos assim:

(1) lmar (apenas uma vez) a saída do operário da fábrica;

(2) lmar (apenas uma vez) a chegada do trem na estação, com o operário recebendo o amigo.

ATENÇÃO – não é preciso lmar nessa ordem! Você poderia começar lmando a estação, e
depois lmar a fábrica.

(3) juntar (com durex, por exemplo) as duas tomadas, colocando antes a saída da fábrica e
depois a chegada do trem.

(4) projetar o resultado como um lme único, que conta a história de um operário que sai da
fábrica e vai receber um amigo que está chegando de trem na estação.

O momento em que a última imagem da fábrica é sucedida, instantaneamente, pela primeira


imagem da estação, chamamos de CORTE.

Na sua produção, temos DUAS TOMADAS, que são utilizadas inteiras como os DOIS PLANOS (e
também as DUAS CENAS) de UM FILME. A articulação entre os dois planos é feita pelo CORTE.
Pronto: você acaba de criar a MONTAGEM CINEMATOGRÁFICA, pela manipulação de dois
planos diferentes, unidos pelo corte, que agora constituem uma única narrativa.

Agora imagine que você, ao ver o lme, percebe que o começo da tomada da fábrica tem um
defeito qualquer (o operário demora a abrir a porta e sair, por exemplo). O mesmo acontece
com a tomada do trem (o operário e o amigo já estão juntos, apertam as mãos e nada mais de
interessante acontece; tá chato). O que você pode fazer para tornar seu lme mais
interessante? Continuar montando.

Você pega a tomada da fábrica e retira (corta fora) os cinco primeiros segundos. Você pega a
tomada da estação e retira os últimos cinco segundos. Assiste de novo ao lme. Ficou melhor!
Mas agora você percebe que também pode melhorar o nal da tomada da fábrica e o começo
da tomada da estação. Novos cortes. O durex (ou a ilha de edição) volta a funcionar. Pronto:
você acaba de criar a manipulação do ritmo cinematográ co, uma das principais tarefas da
montagem. E, no nal das contas, você acaba de criar também os rudimentos da linguagem
cinematográ ca.

Resumindo, agora numa outra ordem:

PLANO – é tudo que está entre dois cortes. Previsto no roteiro, adquire sua constituição nal
na montagem.

TOMADA – é tudo que a câmera registra, desde o momento em que é ligada até o momento
em que é desligada. É uma noção de lmagem. Um mesmo plano pode ser lmado várias
vezes, gerando, assim, várias tomadas.

CORTE – é a passagem instantânea entre dois planos.

CENA – conjunto de planos que acontecem no mesmo lugar. Sempre que a ação muda de
lugar, troca a cena.

Uma outra noção interessante é:


SEQUÊNCIA – conjunto de planos (ou cenas) que estão interligados pela narrativa. O lugar
pode variar, mas a ação tem continuidade lógica.

Poderíamos dizer, por exemplo, que o seu lme tem duas cenas (a cena da fábrica e a cena da
estação), mas uma única sequencia (a sequencia em que o operário sai da fábrica e recebe
seu amigo na estação).

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Este site é um complemento ao livro "Primeiro Filme:


Descobrindo - Fazendo - Pensando" de Carlos Gerbase,
publicado pela editora Artes e Ofícios.

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