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Dicas e técnicas para escrever livros e roteiros para cinema e tv
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Como usar a Jornada do Herói para escrever
histórias de ficção?
By Diego Schutt on 29/04/2014 in destaque, técnicas
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Texto da escritora convidada Cláudia Campos

Quem escreve profissionalmente sabe que, às vezes, recorrer a certas técnicas de escrita ajuda a
estruturar e desenvolver um texto, ou pelo menos a encontrar um ponto de partida para se começar a
colocar uma ideia no papel.

Na criação de histórias de ficção, uma técnica bastante usada é a famosa Jornada do Herói, um padrão
narrativo identificado pelo estudioso de mitologia Joseph Campbell. Esse padrão pode ser encontrado em
histórias populares, contos de fada, mitos, rituais religiosos, e até mesmo no desenvolvimento
psicológico do ser humano. Ele descreve a aventura típica do arquétipo conhecido como O Herói, uma
pessoa corajosa que enfrenta grandes desafios para alcançar algo importante na sua vida.

A aventura do herói está dividida em três fases: a partida, a iniciação e o retorno.

A partir disso, Joseph Campbell definiu as 17 etapas do percurso de transformação do homem comum
em herói, ressaltando os conflitos que ele enfrenta ao longo do caminho. O resultado pode ser encontrado
no livro “O Herói de Mil Faces”.

Ao ter contato com essa obra nos anos oitenta, Christopher Vogler, o analista de roteiros dos estúdios
Walt Disney, percebeu que a estrutura narrativa que ele tinha criado a partir da análise de diversos
filmes era a mesma da Jornada do Herói de Campbell.

Tentando entender os princípios de uma boa história, daquelas que deixam o público com a sensação de
ter vivido uma experiência significativa, Vogler aplicou a estrutura de Campbell a roteiros de cinema,
reduziu a jornada para 12 etapas, e escreveu o livro “A Jornada do Escritor – Estrutura Mítica para
Escritores”.

No Brasil, o primeiro a utilizar a metodologia foi o professor do Núcleo de Epistemologia do Jornalismo
da USP, Edvaldo Pereira Lima. Quando conheceu o trabalho de Vogler, na década de noventa, ele viu
potencial de aplicação da Jornada do Herói na construção de textos jornalísticos sobre a vida de pessoas
reais. Foi ele quem orientou Monica Martinez na sua tese de doutorado que resultou no livro “Jornada do
Herói: a estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em jornalismo”.

A autora propõe uma nova formatação para a Jornada do Herói, combinando três propostas diferentes: a
do mitólogo Joseph Campbell, a do analista de roteiros Christopher Vogler e a do pesquisador e docente
da Escola de Comunicações e Artes da USP, Edvaldo Pereira Lima. Apesar de Martinez aplicar o
método à não­ficção, ele também pode ser muito útil na elaboração de histórias de ficção, já que a
melhor forma de construir personagens complexos é pensando neles como pessoas reais.

Ainda que os passos da Jornada do Herói sejam apresentados em uma sequência, não é preciso segui­los
em uma ordem específica para que a narrativa funcione. Também não é necessário que todas as etapas
estejam presentes na história.

A Jornada do Heróis não é um modelo fechado. Ela apresenta possibilidades que
servem como ponto de apoio e orientação para a criação de histórias e personagens
mais envolventes.

Abaixo, um resumo de cada uma das 12 etapas propostas por Monica Martinez. Eu usei o filme “Up –
Altas Aventuras” para ilustrar cada uma das etapas com os principais acontecimentos que sustentam a
estrutura narrativa da animação da Pixar.

Aviso de SPOILERS: se você não assistiu ao filme, leia apenas o que está destacado em BOLD.

1. Cotidiano
Apresenta o herói em seu mundo comum e introduz conflitos que serão desenvolvidos ao longo da
narrativa, ressaltando as motivações do personagem para embarcar na aventura.
Up: Esta fase aparece no início do filme, dividida em duas partes. Primeiro, assistimos a uma
retrospectiva da vida do protagonista, Carl Fredricksen, que nos mostra os acontecimentos entre o dia
em que ele, ainda criança, conheceu sua esposa Ellie e o momento em que ela adoeceu e faleceu. A
animação começa com uma cena em um cinema, onde o pequeno Carl assiste a um filme sobre seu ídolo
Charles Muntz, um lendário explorador que viaja pelo mundo para descobrir plantas e animais exóticos
e relíquias históricas de valor inestimável.

Ao sair do cinema, Carl passa em frente a uma casa abandonada e a voz de uma criança que brinca
imitando o aventureiro Muntz chama sua atenção. Ao entrar, ele se depara com Ellie, uma garota
entusiasmada e falante que também tem enorme admiração por Charles Muntz e sonha em viajar pelo
mundo. Ellie mostra a Carl uma espécie de diário que ela fez, chamado “Meu Livro de Aventuras”, para
colocar fotos das aventuras que ela pretendia viver no futuro. A principal delas era conhecer o Paraíso
das Cachoeiras, na América do Sul, e Ellie faz Carl prometer que um dia eles viajarão juntos para lá.

Depois disso, a animação pula para o dia em que eles se casam e, a partir daí, vemos uma sequência de
cenas da vida de casados de Carl e Ellie, que mostram os dois reformando a casa abandonada onde
haviam se conhecido, Ellie trabalhando no zoológico e Carl como vendedor de balões, a tentativa (e a
impossibilidade) de ter filhos e a ideia de economizar dinheiro para visitar o Paraíso das Cachoeiras,
sonho que era sempre adiado por conta de imprevistos que obrigavam o casal a gastar suas economias,
como consertar o carro ou o telhado da casa.

Quando Carl finalmente compra passagens para a América do Sul com a intenção de surpreender sua
esposa, ela fica muito doente e morre. A segunda parte tem início após a morte de Ellie. Nesse momento,
o filme mostra o cotidiano “sem vida” de Carl, que fica bastante amargurado ao se ver sozinho na casa
que construíra com sua esposa. Aos 78 anos, Carl acorda pontualmente às 6h, toma café e vai para a
varanda, onde fica observando a grandiosa construção que está sendo feita ao redor de sua casa, a
única que restou intacta no bairro.

2. Chamado à aventura
Uma situação que provoca mudanças significativas na vida do herói e abre possibilidade para ele
viver uma experiência fora do seu cotidiano.

Up: No filme, o gatilho que desencadeia a aventura acontece por fatores alheios à vontade de Carl.
Muito apegado à casa, por conta dos momentos felizes que vivera ali com Ellie, e sem nenhuma
disposição para morar num asilo, Carl não cede aos apelos da construtora, que insiste em comprá­la.
Até que um dia, um funcionário da construtora atropela sua caixa de correio com um caminhão e,
quando tenta se desculpar, leva uma bengalada na cabeça.

Após agredir o rapaz com seu andador, Carl responde a um processo e é obrigado a deixar sua casa e ir
para um asilo. Porém, um dia antes de ser retirado de sua casa, ele abre o “Meu Livro de Aventuras”
de Ellie e, enquanto lamenta o fato de eles nunca terem conseguido ir para o Paraíso das Cachoeiras,
tem uma excelente ideia.

3. Recusa

O personagem decide ignorar a oportunidade de se aventurar fora do seu cotidiano porque não
quer assumir as responsabilidades envolvidas. Problemas materiais, emocionais ou espirituais
fazem ele abrir mão da possibilidade de aventura. Um mentor faz ele mudar de ideia.

Up: Quando Carl recebe o primeiro chamado à aventura da história, ou seja, quando se vê obrigado a
abandonar sua casa, não existe a etapa da recusa, pois é ele quem toma a iniciativa de amarrar
milhares de balões ao telhado de sua casa para fugir do asilo e realizar o antigo sonho de voar até o
Paraíso das Cachoeiras.

Ainda assim, podemos dizer que o livro de Ellie fez o papel de mentor, dando um empurrãozinho em
Carl, e levando o personagem a elaborar seu plano mirabolante. Ele não demonstra nenhuma
insegurança nesse momento e não reluta em partir para sua jornada. Mas durante o filme, Carl não
recebe apenas um chamado para a aventura e, sendo assim, mais para frente, o personagem vai ter um
outro momento de recusa.

4. Travessia do primeiro limiar
O herói ainda não sabe se está fazendo a coisa certa, e precisa abrir mão de algo importante para
iniciar uma nova fase da vida, que vai dar início a uma série de aprendizados emocionais e
intelectuais profundos.

Up: Antes do incidente com o funcionário da construtora, Carl recebe uma visita inesperada. Um garoto
de oito anos, que se parece com um escoteiro e diz ser um “Explorador da Natureza”, bate à sua porta
para perguntar se ele precisa de algum tipo de ajuda.

Diante da recusa de Carl, Russell explica que o Distintivo de Ajuda ao Idoso é o único que falta para
sua coleção e que, por isso, ele precisa aceitar sua oferta. Impaciente, Carl diz que um animal selvagem
está atacando seu jardim e que ele ficaria muito grato se Russell o encontrasse.

Pensando ter se livrado do menino, no dia seguinte, Carl parte sossegado rumo a sua jornada, deixando
para trás dois funcionários do asilo encarregados de buscá­lo. Porém, enquanto ele desfruta de sua
viagem voando em sua casa­balão, é surpreendido por batidas na porta. É Russell que, procurando pelo
tal animal selvagem, acabou ficando escondido na varanda de Carl. A princípio, o velho resiste e fecha
a porta na cara do garoto, mas, depois, deixa­o entrar.

Neste momento, podemos dizer que Carl fez a travessia do primeiro limiar porque ele abre mão de sua
individualidade, de sua solidão e, de certa forma, de seu luto, para permitir que outra pessoa entre em
sua vida. A atitude de deixá­lo entrar em sua casa e em sua vida o levará a um nível de aprendizado
emocional mais elevado ao final da história.

Mais uma vez, vale reforçar que este não é o único momento do filme em que percebemos a travessia de
um limiar, ou seja, ao longo da animação, Carl viverá outras situações que vão obrigá­lo a abrir mão
de coisas importantes, especialmente alguns aspectos de sua personalidade.

5. Testes, aliados e inimigos

Aqui, aparecem os personagens secundários da história, que podem ser:

Mentor: pessoa que transmite conhecimentos essenciais para o desenvolvimento do herói 
Guardião do Limiar: testa o real comprometimento do herói com a nova etapa 
Aliado: ajuda o herói a desempenhar suas tarefas 
Vira­casaca: amigo que parece ser adversário ou vice­versa 
Inimigo: obriga o herói a superar seus limites 
Adversário: competidor que bloqueia o caminho 
Bufão: usa ironia e humor para não deixar o herói se levar muito a sério

Up: Considerando que a história gira em torno de Carl, os personagens secundários são: Ellie, Russell,
Charles Muntz, Dug (o cão), Kevin (a ave) e a Matilha (com destaque para os cães Alfa, Beta e Gama).
Durante o filme, eles assumem os seguintes papéis:

Ellie: Apesar de o filme nos mostrar a vida de casados de Carl e Ellie em uma breve retrospectiva,
podemos perceber que ela é uma verdadeira aliada para o marido, ajudando­o nas tarefas do dia a dia,
compartilhando sonhos com ele e inspirando­o a ser mais feliz. Depois que Carl fica viúvo, Ellie
continua sendo sua aliada, de certa forma, e passa também a desempenhar o papel de mentora, o que
fica evidente nos momentos em que o resgate da memória da esposa provoca em Carl uma mudança de
comportamento positiva. Assim, mesmo não estando mais presente em sua vida, Ellie continua
transmitindo ensinamentos valiosos para o marido, e até tem a oportunidade de fazer o último chamado
à aventura do filme, que acontece quando Carl descobre que o “Meu Livro de Aventuras” de Ellie não
está em branco, como ele imaginava, pelo fato de eles nunca terem visitado o Paraíso das Cachoeiras,
mas sim repleto de fotografias de momentos felizes que eles compartilharam. Além disso, ao lado da
última foto do livro, Ellie havia deixado uma mensagem para Carl, agradecendo­o por ter dividido sua
jornada com ela e encorajando­o a viver uma nova aventura.

Russell: O garoto de apenas oito anos desempenha um papel fundamental na jornada de Carl,
funcionando como mentor, aliado e bufão. Apesar da pouca idade (e talvez exatamente pelo fato de ser
uma criança), Russell ensina muitas coisas ao velho Carl, fazendo com que ele abandone sua
personalidade ranzinza e amargurada e volte a ser um homem mais tranquilo, feliz e de bem com a vida.
Além de a espontaneidade e o entusiasmo de Russell não deixarem Carl se levar tão a sério, é o garoto
que encoraja Carl a dizer sim às aventuras que aparecem ao longo da história.

Kevin: Chamado de Kevin por Russell (que acha que o pássaro é macho), esta ave extremamente rara e
incapaz de voar está escondida do mundo em seu remoto habitat no Paraíso das Cachoeiras. Com penas
multicoloridas e brilhantes, Kevin, que na verdade é fêmea e luta para proteger seus filhotes, tem um
valor inestimável para a ciência, mas poucos sabem que a ave existe. Carl e Russell, porém, dão de cara
com ela quando chegam ao Paraíso das Cachoeiras e o garoto conquista sua amizade ao lhe oferecer
chocolate. Assim, apesar da relutância de Carl, Kevin passa a segui­los pela floresta, e acaba
desempenhando o papel de guardião do limiar, pois testará o real comprometimento de Carl com uma
nova aventura que está por vir.

Dug: Assim como os outros cães de Charles Muntz, utilizados pelo explorador para encontrar um
pássaro raro que vive no Paraíso das Cachoeiras, Dug usa uma coleira de última geração que
transforma seus pensamentos em voz, fazendo dele um cachorro falante. Ridicularizado por toda a
matilha, que o considera bobão e atrapalhado, Dug é enganado pelos cães Alfa, Beta e Gama que, para
se livrarem dele durante a missão, mandam­no procurar pelo pássaro sozinho. Contrariando todas as
expectativas, o dócil e amigável Dug acaba achando o pássaro, que está seguindo Carl e Russell, mas
não consegue fazer dele seu prisioneiro. Apesar de ser desprezado por Carl no início, que não
demonstra nenhum afeto pelo cão e só quer se livrar dele, Dug pode ser visto como aliado e mentor do
protagonista. Ou ainda, se considerarmos que, mesmo sendo naturalmente dócil e amigável, Dug, na
verdade, pertence à matilha de Charles Muntz e, portanto, apresenta­se como um inimigo de Carl,
podemos dizer que o cão desempenha o papel de vira­casaca, ou seja, aparenta ser um adversário, mas
é um amigo do herói.

Charles Muntz: Viajando pelo mundo em seu dirigível, que ele mesmo projetou, Charles descobre
tesouros incríveis. Porém, quando traz para casa o esqueleto de uma fantástica ave encontrada em uma
montanha da América do Sul, Muntz é desacreditado pelos cientistas. Para provar que todos estão
errados, o explorador retorna ao Paraíso das Cachoeiras jurando que não voltará até encontrar um
espécime vivo do animal. Por conta de sua obsessão, Muntz passa a morar nas montanhas e “dá um
jeito” em todos os exploradores que aparecem por lá para capturar a ave. Ao descobrir sobre a
chegada de Carl e Russell, a princípio, ele se sente ameaçado, pois imagina que eles estejam atrás do
pássaro. Mas, quando ouve a história de Carl, acredita que não seja o caso e convida os inesperados
visitantes para conhecer seu dirigível. Durante o jantar, porém, Russell fala sobre Kevin e Muntz muda
de opinião, ainda mais quando avista a ave no telhado da casa de Carl. Quando isso acontece, Charles,
e sua matilha, tornam­se inimigos e adversários de Carl.
 

6. Caverna profunda
O herói precisa cuidar dos preparativos finais para passar pela provação central da aventura,
avaliando suas reais chances e estudando seu adversário. Ele vivencia um intenso processo de
metamorfose, o que pode colocar em cheque alguns de seus atributos psicológicos.

Up: A viagem de Carl e Russell ao Paraíso das Cachoeiras é bastante turbulenta. Além de uma
tempestade, da qual conseguem sair graças aos conhecimentos e ao GPS do garoto, os dois enfrentam
um pouso complicado nas montanhas, pois, quando acreditam estar bem longe do solo, a casa começa a
se chocar contra as rochas. Devido ao incidente, Carl e Russell têm que caminhar pela montanha,
puxando a casa por uma mangueira, para levá­la ao Paraíso das Cachoeiras. No caminho, mesmo
contra a vontade de Carl, Kevin e Dug juntam­se ao grupo, e as coisas voltam a ficar complicadas
quando os cães de Muntz localizam Dug pelo GPS e descobrem que ele deixou a ave escapar, pois ela
partiu em busca de seus filhotes.

Desconfiados, os cães tentam obrigar o velho e o menino a os acompanhar, mas, como Carl não
pretende desistir de levar a casa até a cachoeira, Alfa, Beta e Gama chamam o restante da matilha para
intimidá­los. Encurralados, Carl e Russell são surpreendidos pela presença de Muntz, que só fica
tranquilo depois de descobrir o que o velho e o menino estão fazendo ali. Apesar de a história de Carl
parecer improvável, Muntz acredita que ele e a falecida esposa Ellie eram mesmo seus admiradores e
que Carl só deseja levar a casa­balão até a cachoeira para cumprir o que prometeu a sua mulher.
Assim, Muntz os convida para jantar, mas acaba desconfiando das verdadeiras intenções de Carl (e
mostrando seu lado sombrio e ameaçador) quando Russell fala que eles estavam com Kevin. A situação
piora quando o explorador olha pela janela do dirigível e vê que Kevin está no telhado da casa de Carl.

Temendo pela vida da ave, pois Carl sabe que Muntz quer capturá­la, ele e Russell fogem para a casa­
balão e são perseguidos pela matilha. Durante a fuga, Dug ajuda Carl e Russell a despistar os cães,
mas um deles morde a pata de Kevin. Mesmo assim, eles não desistem de sua jornada e seguem
carregando a casa pela mangueira até encontrarem os filhotes da ave. Mas, quando isso acontece, a
matilha aparece, joga uma rede sobre Kevin e a leva para o dirigível, e Muntz coloca fogo na casa­
balão antes de fugir. Carl consegue apagar o fogo, mas fica muito irritado e acaba discutindo com
Russell, pois o menino o acusa de não ter evitado que Muntz levasse a ave. Dug tenta confortar Carl,
mas também leva uma bronca.

Extremamente nervoso e frustrado, Carl pega a mangueira e, com bastante esforço, leva a casa até a
cachoeira, completando sua aventura original. Ao chegar, ele ajeita as poltronas onde costumava se
sentar com Ellie, na sala, e começa a folhear seu Livro de Aventuras. Nesse momento, ele descobre que
as páginas do livro não estão em branco, como ele imaginava, mas repletas de fotografias dele e de sua
esposa no dia de seu casamento, no parque, em comemorações de seus aniversários, tomando chá em
casa ou simplesmente sentados em suas poltronas na sala. Ao lado da última foto, ele lê a seguinte
mensagem: “Obrigada pela aventura. Agora vá ter uma nova”. Carl, então, recebe um novo chamado à
aventura e percebe que sua jornada não se resumia apenas a levar sua casa até o Paraíso das
Cachoeiras.

Decidido a vencer seus medos e entraves emocionais, Carl resolve dizer sim à aventura de lutar contra
Muntz e resgatar Kevin. Mas quando vai contar a Russell, vê o menino sair voando do telhado da casa
amarrado a alguns balões, dizendo que vai salvar a ave sozinho. Desesperado, Carl tira alguns móveis
da casa, para que ela fique mais leve e possa voar novamente, e parte em direção ao dirigível de Muntz.
Pouco antes de levantar voo, Dug, que estava escondido na varanda, bate à sua porta e, pela primeira
vez, Carl recebe o cão com alegria e trata­o com carinho, dizendo que aceita ser seu mestre.

 
7. Provação suprema

O herói confronta o vilão, símbolo dos atributos temidos ou odiados por ele, ou seja, dos aspectos
negativos de sua personalidade projetados no outro. Ao vencer o vilão, ele acerta as contas com
suas próprias sombras e abandona porções obsoletas de sua personalidade.

Up: Quando Carl chega perto do dirigível de Muntz com sua casa, vê que a matilha prendera Russell e
está prestes a jogá­lo para fora pela plataforma, mas consegue alcançar o menino a tempo. Preocupado
com a segurança de Russell, Carl pede para que o garoto fique na casa enquanto ele e Dug vão salvar
Kevin. Ao encontrarem a ave em uma gaiola, Carl e Dug despistam a matilha jogando as bolas de tênis
do andador de Carl para que os cães corram atrás delas e saiam da sala onde Kevin está presa.

Mas, enquanto isso, Muntz ordena que alguns de seus cães atirem na casa­balão, onde está Russell,
para derrubá­la. No meio da confusão, Dug consegue assumir o comando da matilha e Carl acaba
lutando com Muntz, que cai de seu dirigível. Ao vencer Muntz, Carl está, na verdade, vencendo seus
próprios medos e abandonado aspectos obsoletos de sua personalidade, como solidão, amargura,
impaciência, tristeza e mau humor.

Além disso, como sua casa­balão acaba voando para longe depois que ele tira Russell de lá, podemos
dizer que Carl também consegue fazer as pazes com seu passado, libertando­se da frustração que sentia
por não ter realizado o sonho de visitar o Paraíso das Cachoeiras com Ellie e preparando­se
emocionalmente para prosseguir sua jornada com alegria e tranquilidade.

8. Encontro com a deusa

Neste ponto, o herói entra em contato com os arquétipos do masculino e do feminino e tem a
oportunidade de assimilar atributos opostos. Se for homem, o encontro com uma mulher pode
levá­lo a desenvolver sensibilidade, criatividade, ternura e paciência. Caso seja mulher, a união
afetiva será externada na forma de autoconfiança e intelectualidade forte, mas flexível.

Up: Enquanto foi casado com Ellie, provavelmente Carl foi transformado pelo relacionamento, ou seja,
pelo contato com o arquétipo do feminino representado por sua esposa. Porém, depois que fica viúvo e
perde “sua razão de viver”, Carl se afasta dos atributos de sua personalidade (sensibilidade, ternura e
paciência) desenvolvidos e aprimorados durante a vida de casado, estimulados pela convivência com
sua esposa Ellie.

Dessa forma, podemos dizer que o encontro com a deusa da história, na verdade, é um reencontro, pois
acontece quando Carl se reencontra com sua esposa (e com os atributos do arquétipo do feminino) ao
descobrir que ela havia preenchido seu “Livro de Aventuras” com fotos do casal. Por meio desse
reencontro com Ellie (deusa), Carl percebe que pode ser feliz novamente, mesmo sem a companhia de
sua esposa, e se permite viver novas aventuras ao lado de seus amigos Dug e Russell.

9. Recompensa

Após sobreviver às provas finais, o protagonista pode se orgulhar do título de herói, pois deixa de
pensar apenas em si para se dedicar à sociedade como um todo, adquire maior consciência de sua
realidade externa (conexão entre as coisas) e interna (quem ele é e como se encaixa nesta conexão)
e passa a desfrutar do cotidiano de forma mais simples e realista.

Up: Depois de derrotar Muntz, Carl assume o controle do dirigível e da matilha, que está sob o
comando de Dug, e leva Kevin até seus filhotes antes de retornar para casa. A partir desse ponto da
história, percebemos que Carl está mais leve, paciente e compreensivo.

Ele consegue se relacionar com Russell mais facilmente, sem se irritar com seu comportamento
impulsivo e hiperativo, desfrutando da alegria e inocência do menino. Além disso, ele se abre para o
amor incondicional oferecido por Dug, demonstrando carinho e gratidão por ter a companhia do
adorável cãozinho.

10. Caminho de volta
Depois de atingir sua meta, celebrar a vitória e assimilar as lições, o herói inicia o caminho de
“volta para casa” para contar o que viu e aprendeu. Seu desafio final é transmitir seu aprendizado
para pessoas que não viveram a jornada, beneficiando a todos.

Up: No filme, esta etapa é representada pelo retorno de Carl (juntamente com Russell, Dug e a matilha)
para o local onde vivia antes de começar sua jornada. Porém, apesar de voltar para a mesma cidade,
Carl deixa para trás sua casa, o que simboliza a ruptura com amarguras do passado e atributos
negativos de sua personalidade.

11. Ressurreição

Este ponto é como um ritual que prepara o herói para reingressar na sociedade de onde ele partiu,
onde ele  demonstra compaixão pelas alegrias e tristezas vividas pelos homens e mulheres de sua
comunidade, e aceitar que suas visões podem não ser compreendidas ou respeitadas pelos demais.

Up: A mudança de comportamento de Carl fica ainda mais evidente quando ele acompanha Russell na
cerimônia dos Exploradores da Natureza e lhe concede o distintivo “Ellie”, por ajudar um idoso e fazer
muito mais do que o seu dever. Ao participar desse evento que é tão importante para o menino e
condecorá­lo com um distintivo, Carl está vivenciando o ritual que o prepara para reingressar na
sociedade.

12. Retorno com elixir
O herói volta para a mesma casa ou cidade, mas enfrenta o seguinte paradoxo: ao mesmo tempo
em que tem uma visão mais ampla do que seus contemporâneos e privilegia sua missão em
detrimento de suas próprias ambições, ele ainda está no mundo e precisa lidar com suas
imperfeições. Aqui, deve­se ressaltar o elixir, ou seja, o tesouro trazido pelo herói de sua jornada,
que pode ser concreto (dinheiro) ou abstrato (sabedoria e paz).

Up: O elixir que Carl traz de sua trajetória é a capacidade de voltar a ser um homem mais tranquilo,
sensível e feliz, que consegue deixar de lado as tristezas do passado e se abrir para o novo, sentindo­se
alegre por ter novos amigos (Russell e Dug) e poder começar uma nova jornada.

A cena final da animação deixa isso bem claro ao mostrar Carl, Russell e Dug sentados na calçada,
tomando sorvete e contando os carros azuis e vermelhos que passam na rua. Uma cena simples, mas que
diz muito sobre o que nosso herói conquistou em sua jornada e o que ainda está por vir.

Tente identificar a Jornada do Herói em outros filmes e livros que você gosta. Desconstrua essas
histórias a partir das 12 etapas propostas por Monica Martinez e avalie se a teoria faz sentido para você.
Depois, pense em como esse padrão narrativo pode ajudar você a construir universos de ficção mais
envolventes.

Sobre a autora: Cláudia Campos é jornalista, especialista em Revistas Segmentadas e Gestão de
Marketing de Serviços e escritora iniciante. Já trabalhou como professora de inglês e redatora de uma
revista de variedades e, hoje, atua na área de Comunicação Empresarial. Este ano, motivada a voltar a
escrever textos de ficção e não­ficção, decidiu fazer um curso de Escrita Criativa e, em breve, pretende
lançar um projeto em parceria com amigos que estão começando ou voltando a se aventurar no
universo das narrativas.

Clique aqui para saber mais sobre o curso.
 

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Diego Schutt é publicitário, escritor, e especialista em storytelling e criação de universos de ficção. Sua
formação técnica em escrita criativa inclui cursos na Austrália, Suíça, Estados Unidos, Inglaterra,
Alemanha e até mesmo no Brasil. Há 6 anos, ele escreve e edita o Ficção em Tópicos, o site mais
completo sobre storytelling em Português.
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