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OS MOVIMENTOS DE CÂMERA: PARTE 1


Curso Online de Cinema - AULA 020

INTRODUÇÃO

Um movimento de câmera corresponde a qualquer situação em que a câmera se move ao


filmar algo. É um elemento essencial na decupagem de um filme. O diretor pode usar esse
movimento para reforçar alguma ideia na cena e tornar a sua decupagem mais expressiva
de modo geral.

Para facilitar a leitura do resumo, iremos separar um movimento de câmera por página.
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PLANO FIXO

O plano fixo é o mesmo que a ausência de movimento da câmera. Nesse caso, a câmera
geralmente fica sobre um tripé - equipamento usado para estabilizá-la e elevá-la -, parada
enquanto filma algo.

David Fincher e Quentin Tarantino são cineastas que usam uma decupagem mais clássica
que se alterna muito bem entre planos fixos e movimentos de câmera. Entretanto, existem
cineastas mais radicais que propõem um uso mais extremo dos planos fixos.

Que Horas São Aí? (2001) - Tsai Ming-Liang

Tsai Ming-Liang filmou ​Que Horas São Aí? (2001) inteiramente em planos fixos. Ele nem
mesmo segue os personagens com a câmera, sequer corrige os enquadramentos.

O Dinheiro (1983) - Robert Bresson

Robert Bresson usa planos fixos muito expressivos. Ele até movimenta a câmera em alguns
momentos, mas é muito rigoroso nas composições dos planos. O francês gosta de
evidenciar os gestos dos personagens.

No longa ​O Dinheiro ​(1983) isso fica bem evidente. Bresson faz planos fixos e fechados nos
quais, por exemplo, uma mão segura uma nota de dinheiro ou uma mão usa um telefone,
para salientar essas ações.
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PAN

A pan é um movimento no qual a câmera, enquanto está acoplada no tripé, se move na


horizontal (para a direita ou para a esquerda). A câmera se move na horizontal sobre o
próprio eixo.

Esse movimento pode ter o objetivo, por exemplo,de fazer o espectador seguir o
personagem em um cenário. A pan “corrige” o enquadramento quando um personagem se
movimenta pelo espaço.

Parasita (2019) - Bong Joon Ho

Em ​Parasita (2019) existe um plano no qual o pai da família pobre sai do porão, caminha
em direção à câmera, se vira para entrar na sala da casa, e a câmera faz uma pan para a
esquerda para seguir o personagem. Então a câmera para e o filma de longe encontrando
seu filho.

WHIP PAN (CHICOTE)

Quando o movimento de pan é mais rápido, ele pode ser chamado de whip pan ou chicote.
Em alguns casos a pan pode ser tão rápida que o espectador perde a perspectiva da cena.

Bastidores de La La Land (2016)

Em uma cena de ​La La Land ​(2016), Damien Chazelle usa um whip pan para alternar o
plano entre a imagem de Ryan Gosling tocando piano e de Emma Stone dançando.

O diretor dá um toque no ombro do operador de câmera quando quer que ele faça uma
whip pan para alternar a imagem. Em casos assim, o operador ou o fotógrafo devem ter um
controle muito bom do tripé e calcular muito bem esse movimento.
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TILT

Enquanto a pan move a câmera para o lado, a tilt move a câmera verticalmente (para cima
ou para baixo) enquanto ela está acoplada em um tripé. Ou seja, a câmera se move para
cima ou para baixo sobre o seu próprio eixo.

Garota Exemplar (2014) - David Fincher

Esse movimento pode parecer simples ou inexpressivo, mas alguns diretores usam a tilt de
forma bem reveladora.

Últimos Dias (2005) - Gus Van Sant

Em uma cena de ​Últimos Dias ​(2005), Gus Van Sant começa filmando a calça e os tênis do
protagonista, que tem um visual grunge. Depois faz um tilt para cima e mostra o homem
olhando um par de sapatinhos de criança.

Durante todo o filme o personagem quase não fala, e essa é uma das poucas cenas em que
temos a impressão de que ele se faz presente. A forma como o diretor mostra esse outro
lado do indivíduo é bem expressiva
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TRAVELLING

No travelling a câmera se move pelo espaço paralelamente ao que acontece na cena.


Geralmente está acoplada sobre um carrinho em um trilho, porém existem vários
equipamentos diferentes que fazem a mesma função.

O Sacrifício (1986) - Andrei Tarkovski

No início de ​O Sacrifício (​ 1986), Tarkovski faz um travelling que segue os personagens que
caminham por um campo aberto. Tarkovski fazia planos bem longos em travellings que
ditavam o ritmo contemplativo de seus filmes.

Parasita (2019) - Bong Joon Ho

Existe um plano em ​Parasita no qual o casal rico está na cozinha, a câmera faz um
travelling para a esquerda, filma a extensão do espaço e, ao final do movimento, mostra a
filha da família pobre ouvindo a conversa.

O diretor resolve a cena de forma muito dinâmica com o travelling e a mudança de foco
para revelar a personagem escutando a conversa.
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DOLLY IN

No dolly in a câmera faz um movimento de aproximação. Esse movimento pode ser feito
quando a câmera está sobre um carrinho, uma steadicam ou outro equipamento que
permita essa estabilidade.

Na cena de ​Parasita na qual o filho da família pobre conversa com a mãe da família rica, a
câmera vai se aproximando bem lentamente do rosto dela. O movimento é quase
imperceptível.

Parasita (2019) - Bong Joon Ho

Já na cena em que a filha da família pobre pega o celular para olhar a mensagem do pai, o
movimento é mais veloz. Demonstra uma urgência maior sobre os acontecimentos da
sequência.

Magnólia (1999) - Paul Thomas Anderson

Paul Thomas Anderson, em ​Magnólia (1999), usa o dolly in de maneira bem brusca e
repetitiva. Em alguns momentos faz isso com sucesso, mas na minha perspectiva torna-se
apelativo depois de um tempo.

Como convenção, a função do dolly in é reforçar a presença ou a importância de alguém ou


de algum objeto em cena. Mas isso pode ser subvertido de acordo com o cineasta.
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DOLLY OUT

Enquanto no movimento de dolly in a câmera se aproxima da pessoa ou do objeto, no dolly


out ela se afasta.

Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick

O primeiro plano de ​Laranja Mecânica (1971) mostra um close em Alex. Esse close
transforma-se em um zoom out integrado a um dolly out. O zoom é um ajuste na lente, que
muda a distância focal e resulta em uma mudança de enquadramento. Nesse plano não é
possível saber quando acaba o zoom out e se inicia o dolly out. A câmera se afasta até
mostrar o cenário no qual os personagens estão.

Últimos Dias (2005) - Gus Van Sant

Últimos Dias p ​ ossui um plano sequência em dolly out que dura mais de cinco minutos. Nele,
o diretor filma o personagem através de uma janela enquanto ele toca alguns instrumentos
musicais de forma aleatória. Essa cena transmite a sensação de transe pela qual o
personagem está passando.
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CONCLUSÃO

Os movimentos apresentados nessa primeira aula são os mais essenciais. A nomenclatura


pode mudar de acordo com a referência, mas os termos mais comumente usados são os
expostos nessa aula.

CITAÇÕES DA AULA

FILMES
Que Horas São Aí? (2001) - Tsai Ming-liang
Bastardos Inglórios (2009) - Quentin Tarantino
Dragged Across Concrete (2018) - S. Craig Zahler
O Dinheiro (1983) - Robert Bresson
Garota Exemplar (2014) - David Fincher
Parasita (2019) - Bong Joon Ho
Persona (1966) - Ingmar Bergman
O Grande Hotel Budapeste (2014) - Wes Anderson
Magnólia (1999) - Paul Thomas Anderson
Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997) - Paul Thomas Anderson
La La Land: Cantando Estações (2016) - Damien Chazelle
Últimos Dias (2005) - Gus Van Sant
O Sacrifício (1986) - Andrei Tarkovsky
O Iluminado (1980) - Stanley Kubrick
The Spielberg Face (2011) - Kevin B. Lee
Laranja Mecânica (1971) - Stanley Kubrick

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