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Estudantes pesquisadores
Giovanna Karen TAKAHARA²
Igor Rodrigues PAES³
Heloisa Hess NERY4
Matheus Almeida MORIKAWA5
Luiz Gustavo PARAISO6
Renato Yuji INOUE7
Guilherme Assunção VIEIRA8
RESUMO
O presente artigo refere-se às etapas de desenvolvimento de Carne, um filme de curta-
metragem feito como trabalho de conclusão de curso que aborda temas sobre conscientização
de alimentação carnívora retratada em forma de animação em fantoches. A história mostra a
trajetória de Davi, um estudante que ao decorrer dos dias seu desejo por carne vai se tornando
cada vez maior até chegar o ponto em que ele acaba matando sua mãe para consumir carne.
___________________________
1
Carne desenvolvido pela equipe na Kimera Filmes, Produtora Audiovisual Experimental da AECA.
2
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: karentk03@gmail.com
3
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: igorrpaes13@gmail.com
4
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: helohessn@gmail.com
5
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: matheusmorikawa@gmail.com
6
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: lgustavo1406@gmail.com
7
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: renatoiyuji31@gmail.com
8
Estudante do 8º. Semestre do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: guimbas2013@icloud.com
9
Orientadora do trabalho. Coordenadora do Bacharelado em Cinema e Audiovisual do CEUNSP, email: lilian.santiago@ceunsp.edu.br
1
1. INTRODUÇÃO
O projeto de filme curta-metragem Carne teve início de desenvolvimento no ano de
2020 como um projeto de AECA (Agência experimental de comunicação e arte do Centro
Universitário Nossa Senhora do Patrocínio). Todavia com o agravamento da pandemia
mundial do covid-19 o projeto foi congelado e passou a ser realizado no ano de 2021 como
trabalho de conclusão de Curso desenvolvido pelos estudantes formandos do curso de Cinema
e Audiovisual do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio localizado na cidade de
Salto-SP, sob orientação da coordenadora e professora Lilian Solá Santiago.
O projeto foi escrito e dirigido por Karen Takahara, com produção executiva de
Heloisa Hess, primeira assistente de direção de Igor Paes, direção de fotografia de Matheus
Morikawa, direção de arte de Luiz Paraíso, direção de som de Renato Yuji e montagem de
Guilherme Vieira.
Tendo em visto o tema proposto, será abordado e explicado toda a visão do filme além
das questões técnicas e estéticas de cada uma das áreas cinematográficas. Além de apresentar
os conceitos definidos especificamente para esta obra usando como base filmes e livros como
referência da pesquisa bibliográfica durante todo o desenvolvimento do projeto.
2. OBJETIVO
O objetivo do artigo é mostrar as etapas de desenvolvimento que foram realizadas até
o momento pelas pessoas envolvidas no projeto Carne. Em cada área de desenvolvimento é
explicado à técnica e o passo a passo de cada uma, assim, é possível entender e compreender
como é feito o processo dentro de um filme de curta-metragem.
2
3. JUSTIFICATIVA
A decisão de se tornar vegetariano ou vegano tem crescido muito nos últimos tempos.
O último levantamento do IBOPE Inteligência sobre o tema, em 2018, apontou que cerca de
29 milhões de brasileiros não comem carne, o que representa 14% da população. Essa
mudança no comportamento do consumidor fez com que empresas de alimentos adotassem
linhas inteiras voltadas aos segmentos plant-based ‘sem carne e sem origem animal’ e ainda
buscassem por certificações que validassem que o processo produtivo da marca está de acordo
com os valores do movimento. Atualmente no Brasil, existem mais de 3.523
estabelecimentos que oferecem pelo menos uma opção vegana no cardápio. Nos
supermercados brasileiros também já é possível encontrar muitas versões veganas de produtos
cárneos ou lácteos, como nuggets, presuntos, kibes, coxinhas, salsichas, linguiças, sorvetes e
requeijões.
Assim como muitas empresas inovaram no seu processo produtivo, foi pensado em
abranger mais esse gênero no cinema que ainda é pouco explorado e existe um público
abrangente no mundo todo. É muito importante falar de assuntos como este nos dias de hoje
comparando com o seu crescimento em escala, em relação a 2012, o crescimento de
vegetarianos e veganos subiu em 75% no Brasil segundo o IBOPE. Os dados do Google
Trends mostram que o crescimento no volume de buscas pelo tema tem aumentado de duas a
três vezes a cada ano, em relação ao ano anterior e a percepção de empresários do setor,
conforme reportagem da Folha de S. Paulo, é de que o mercado crescerá 40% ao ano. Com
dados como este é impossível não notar e ver um grande potencial sobre o vegetarianismo e o
veganismo.
3
Um roteirista cria ou adapta histórias para a realização de uma produção audiovisual
de qualquer tipo para filmes, séries, novelas, peças de teatro, documentários, videoclipes,
entre outras. O trabalho do roteirista depende do projeto em que ele está envolvido. Em filmes
de ficção, por exemplo, geralmente um roteirista está envolvido nas fases iniciais, chamadas
de pré-produção, em que ele desenvolve o roteiro da obra e a entrega para o contratante. Em
documentário, o trabalho do roteirista costuma ser necessário tanto na fase de pré-produção
quanto na de pós-produção, em que ele cria o roteiro de edição.
A ideia da criação do roteiro de Carne surgiu de Don’t hug me I’m scared (Becky
Sloan e Joseph Pelling, 2011) e analises de séries como Happy Tree Friends (Aubrey
Ankrum, Rhode Montijo Kenn Navarro, 1999.) e Frango Robô (Seth Green, 2005.). Foi
pensado que seria muito interessante assistir a um filme onde apesar da temática parecer
infantil, contém cenas mais chocantes que não são indicadas ao público mais novo. Foi então
que surgiu a ideia do tema do filme de curta-metragem, um choque de realidade no público
juntando a fantasia com terror gore (um subgênero de terror mais explicito com cenas
contendo sangue e restos mortais de humanos), para refletir como a comida em geral,
principalmente advinda de animais, não tem mais um sentimento de gratidão pelo alimento,
como se vê em povos mais antigos, virou apenas uma forma de comércio. O objetivo é
conscientizar e valorizar mais os alimentos que consumimos.
Com o tema definido, foi pensado nos personagens. O personagem principal seria o
“vilão” do filme. Então foi traçado sua necessidade dramática, o que ele mais quer é comer
carne, mas é impedido pela sua mãe que tenta adaptá-lo ao vegetarianismo. Sua maior
necessidade é ter o prazer de comer mais carne e isso vai conduzindo-o até o final da história.
Foi escrito uma biografia do personagem para entender como ele iria reagir aos eventos da
história e tracei vários pontos de suas relações familiares.
5
Uma vez que concluído, o que fazer com o roteiro? Primeiramente, você deve
descobrir se ele “funciona” ou não, se você deve esculpir o texto em rochas ou se
deve usar as folhas para forrar a parede de sua casa. Em outras palavras, você
precisa de alguma espécie de feedback que o ajude a descobrir se o roteiro deu certo,
se saiu como planejado. (SYD FIELD, 2014, p.301)
Com o roteiro finalizado, foi enviado para o pitching da faculdade em 2020 como
AECA. Durante os doctorings, com a professora Lilian Santiago, o roteiro foi esculpido com
algumas alterações. Após o projeto virar um TCC para 2021, o roteiro foi revisado inúmeras
vezes com feedbacks de todos os cabeças de equipe até chegar ao roteiro final, onde ele
consegue transmitir a ideia que foi pensada no inicio do planejamento de forma clara.
Conseguir terminar um roteiro é uma conquista tremenda. Você partiu de uma ideia,
expandiu-a em uma linha narrativa dramática ou cômica e depois passou semanas,
ou até meses colocando tudo no papel. Do inicio ao fim. É uma experiência
gratificante e prazerosa; é seu melhor amigo e seu pior inimigo. É o que lhe fez ficar
noites e noites acordado, e também o que lhe fez dormir feito pedra. “A arte de
verdade está na execução”, como já dizia Renoir. (SYD FIELD, 2014, p.320).
4.2 Direção
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Existe a pressão de conduzir esse processo do início ao fim, sem deixar que o conceito
narrativo se perca. Por isso, um bom diretor precisa ter consciência de que verá nascer o filme
de forma mais completa do que qualquer outro profissional no set, mas que sem a colaboração
e o trabalho dessas outras pessoas, isso não é possível.
Assim como qualquer linguagem, a dos filmes está evoluindo para tonar possíveis as
histórias que queremos no formato em que as queremos. Ela usa justaposição de
imagens, ações e sons, assim como a língua falada e escrita. Os aspectos visuais e
comportamentais do filme são universalmente acessíveis porque os seres humanos
de qualquer lugar do mundo possuem processos de percepção e emoção comuns.
(RABIGER, 2007, p.31)
Dirigir e escrever um projeto ao mesmo tempo é mais fácil do que dirigir um roteiro
de outra pessoa, pois como roteirista e diretor, é possível seguir o roteiro na sua visão de
modo mais simples, sem conflitos. Mas também existe seu lado negativo, onde algumas ideias
que diferem do roteiro possam ser mais exploradas do que apenas segui-lo à risca.
O filme é uma reprodução de consciência, e tudo que existe dentro do ser humano
tem uma expressão externa e física. Da mesma forma, o movimento externo de uma
pessoa, quando é genuíno, sempre expressa seu estado interior. O filme acontece no
aqui e agora e expressa sentimentos humanos por meio da visão, da audição e de
movimentos. (RABIGER, 2007, p.32)
Traduza cada cena de seu filme em uma breve descrição do conteúdo e, a seguir,
anote como deseja que o público se sinta a respeito, e você terá um começo sólido.
Se possível, transforme a lista em um gráfico ou storyboard mostrando o que o
público deve sentir em cada cena, e então você pode pensar sobre como o Narrador
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deve contar a história para que isso aconteça. Depois de ter uma estratégia geral,
você pode passar a projetar cenas individuais. (RABIGER, 2007, p.254)
Com base no roteiro, foi criado um rascunho do storyboard para ter uma direção na
decupagem de direção, com base nisso, criou-se a ideia mais sólida para a proposta de direção
que consistiu por partes, na fotografia foi pensado em luzes artificiais, pois tudo será gravado
em interior. A imagem será puxada para tons lavados e será destacada a cor vermelha. O
vermelho também estará presente no tom de iluminação da última cena. Na parte da arte, Davi
será movimentado com duas pessoas, uma movimentará com a mão direita dentro da cabeça e
a mão esquerda dentro da mão do boneco, outra pessoa movimentará somente a outra mão. O
tamanho de sua cabeça será um pouco maior do que a de um humano e sua estatura de uma
criança de seis anos para não ser preciso fabricar as roupas. Para os animais foi pensado em
alguém com uma fantasia de porco, uma galinha sem as pernas e a cabeça da vaca. A cabeça
do porco, a galinha e a vaca serão feitas de espuma assim como Davi, a parte do corpo do
porco será costurado em um tecido de lã batida rosa claro. Para o cenário, primeiro serão
organizados os objetos que serão usados e depois serão replicados em versões de pano. Todos
os objetos com exceção da carne serão de pano, isso inclui geladeira, prato, vegetais, frutas,
mesa, fone de ouvido, etc. Em relação aos órgãos que serão reais, serão utilizados os órgãos
descartados dos açougues.
Cada um dos eventos têm um significado diferente, de modo que cada um tende a
notar coisas diferentes. Essa forma de perceber permite ao público inferir a natureza
e o dilema de cada personagem. O ponto de vista, portanto, limita e molda de
maneira útil a suas decisões e a escolha de lentes, posições de câmera, ângulos e
iluminação contribuem para a impressão cumulativa que você está criando para o
público. (RABIGER, 2007, p.232)
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No som, não haverá falas além das músicas e dos barulhos dos animais, que serão
retirados de sites com foleys sem direitos autorais. Serão comprados os direitos de alguns
efeitos voltados ao terror ou se necessário serão criados. Não haverá som direto, outros
elementos serão implementados durante a pós-produção. Uma das referências é o curta
animado Looking Glass (Erik Rosenlund, 2012.).
Aprender a fazer filmes é como aprender a tocar um instrumento. Você não pode
usar apenas as nãos ou o intelecto. Precisa ser esclarecido, levar jeito para outros
tipos de arte e precisa de muita prática para interiorizar o que aprende. (RABIGER,
2007, p.x)
Com todas as etapas prontas, será visado realizar o projeto após a pandemia, mesmo
depois do término da faculdade. No momento o projeto está sendo enviado para editais
regionais e nacionais, caso seja selecionado, faremos a execução na data estipulada do edital.
O projeto participou do prêmio estímulo do PROAC No25/2021 (Audiovisual, produção de
curtas) e terminou com nota 8.06.
4.3.1 Introdução.
Primeiro Assistente de Direção é o profissional que transita entre os dois pilares de
uma produção audiovisual, a Direção e a Produção. Segundo Pierre Malfille (1970) o
Primeiro Assistente é “colaborador imediato do Diretor que lhe assiste do triplo ponto de vista
material, técnico e artístico durante a preparação e filmagem. Mas é também, antes de tudo, o
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homem de ligação e de coordenação entre a Direção de um lado, a Produção e o conjunto da
equipe do outro lado. Seu papel é prever, organizar e pôr em execução tudo que é necessário
para criar as condições de trabalho as mais favoráveis possíveis para a direção e realização do
filme”.
Isso faz com que quem esteja nesse cargo precise de algumas características essenciais
para um bom desempenho, como ter um olhar amplo em todas as situações, saber trabalhar
em equipe, ser organizado, ser diplomático e quando necessário ter uma voz firme que faça
com que os demais respeitem seu posicionamento. O Primeiro Assistente de Direção está
além de ser o cabeça da área de direção, ele é o cabeça para gravação, desde a pré-produção
do projeto onde ele monta os documentos que serão guias para a gravação, até o set de
filmagem, onde ele deve estar preparado para resolver qualquer imprevisto que possa
atrapalhar seu planejamento de gravação. O Primeiro Assistente de Direção deve estar atento
a tudo que acontece dentro e fora de set para tentar deixar tudo mais harmônico e fluído nas
filmagens.
Quem carrega o cargo deve sempre ter a noção da proporção do seu trabalho e como
ele reflete no projeto, saber que qualquer problema que afete o plano de filmagem pode
atrapalhar todo andamento e consequentemente a conclusão das gravações.
4.3.2 Documentos
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Analise técnica é documento que contém a junção de informações extraídas das
decupagens das demais áreas, dividido por cada cena. Com a Análise técnica o primeiro
assistente pode ter o controle de tudo que demanda naquela cena. Por exemplo: saber os
equipamentos necessários, personagens presentes na cena, local, período, maquiagem,
figurino e etc.
A Ordem do dia é um documento feito para cada dia de filmagem e que fica exposto
para todos do set, ela é a junção resumida dos outros dois documentos anteriores somados às
informações de equipe, atores e horários. Esse documento basicamente é o guia que toda
equipe precisa seguir à risca para que o dia termine como programado. Por esse motivo esse
documento tem que ser de fácil entendimento para todos da equipe e não somente para o
assistente de direção, tendo em vista que o mesmo já deve andar com uma pasta com todos os
outros documentos.
É um documento preparado diariamente a partir do plano de trabalho e do
detalhamento com o objetivo de fornecer a cada participante das filmagens
(técnicos, atores, trabalhadores) todas as informações práticas e úteis às filmagens
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do dia seguinte: elementos a prever, horas de convocação etc. É o plano de trabalho
da jornada de trabalho. (Malfille, 1970, p.118)
Com a volta do projeto, houve algumas reuniões com a equipe para atualização,
mudanças e estipular prazos.
A partir daí é montada uma primeira tabela separando quantos planos cada cena tem, a
minutagem final de cada uma delas, mais as informações descritas no roteiro, como período e
ambiente. Essa primeira tabela serve de apoio para o plano de filmagem e para análise técnica.
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Quadro 1 - Detalhamento do Curta Carne
Esse projeto tem dois aspectos importantes. O primeiro são dois planos (4.7 e o 4.8),
que são cenas repetidas introduzidas em outra parte do filme, então para a logística de
gravação eles não precisam ser gravados duas vezes, isso é algo que se resolve na montagem.
O segundo são os créditos do filme que utilizarão do artificio de fotografias inéditas, o que
demanda algum tempo para ser feito, então precisa entrar no plano de filmagem.
Depois dessa primeira tabela, uma segunda tabela é criada para elaborar uma proposta
de plano de filmagem. Nessa parte é necessário saber em quantas diárias o projeto será
gravado e quanto tempo há disponível em cada diária, para assim conseguir estipular quanto
tempo cada plano pode receber para não exceder o tempo disponível.
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Para definir quanto tempo cada cena demoraria para ser gravada, foi estipulado para os
planos que resultam até 10 segundos, 20 minutos de gravação e 30 minutos para os planos que
resultam mais de 10 segundos. Com isso, há um resultado de horas totais que a gravação pode
precisar e dá para saber se o que foi disponibilizado é suficiente. Lembrando que é preciso
deixar o tempo de chegada e desprodução, mais o tempo de alimentação separado, ou seja, se
há 9 horas na locação, no mínimo é necessário deixar 2 horas para essas coisas, ficando com 7
horas de filmagens. Esse processo de estipular quanto tempo cada plano pode receber para ser
gravado varia por projeto, pois cada um exige uma demanda diferente. No Carne o processo
foi um pouco mais simples, pois não há elenco, então não é preciso pensar na preparação do
ator para trazer a carga dramática de cada cena, tudo é muito técnico.
Depois de pronta, a Produção Executiva e Direção recebem uma cópia para que os
pensamentos referentes a gravação possam estar alinhados. Caso sugiram algo que possa ser
alterado sem prejudicar todo planejamento, a proposta pode mudar, mas caso a sugestão seja
inviável, a organização segue como foi planejada. Nesse projeto, não houve nenhuma
alteração no planejamento, então o plano de filmagem rapidamente foi entregue. Segue
abaixo, parte dele como exemplo.
15
Fonte: PAES, IGOR (2021)
16
Fonte: PAES, IGOR (2021)
Inicialmente parece uma análise técnica comum, mas se reparar nos campos
específicos referentes à Arte, Fotografia e Som, são notáveis algumas diferenças. Em
CENOGRAFIA há apenas “COZINHA”, isso porque esse será o ambiente montado do zero
para a cena, toda descrição detalhada do ambiente está na decupagem de arte. Em Objeto e
Adereços, tudo que é descrito no roteiro é colocado lá, porque são objetos feitos com técnica
“amigurumi” importantes para a cena. Também há uma diferença no campo de Fotografia,
que não é divido com MAQUINARIA e ELÉTRICA, já que o Diretor de Fotografia optou por
separar os equipamentos em dois grupos, o grupo “EQUIPAMENTO COMPLETO” e
“EQUIPAMENTO CAMPO”, para isso ele fez uma lista que descreve cada grupo de
equipamentos. Tudo isso é descrito no campo de OBSERVAÇÕES. Já no campo de Som está
“Pós-Produção” porque é quando será realizado, então não é importante para o momento das
filmagens.
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Fonte: PAES, IGOR (2021)
4.3.5 Conclusão
4.4 Produção
As características necessárias para ser um bom produtor executivo são; ter capacidade
de negociação, possuir sensibilidade artística, ser comunicativo, ter bons conhecimentos em
administração e principalmente ser uma pessoa organizada. Segundo Rabiger, um produtor
executivo ideal é uma pessoa de negócios culta, inteligente e sensível, cujo objetivo de vida é
fomentar bons trabalhos apoiando, sem obstruções, os artistas e os técnicos contratados para
produzi-los.
Produzir um filme é possibilitar sua realização, mas também só fazê-lo e, ao mesmo
tempo, causa-lo, motiva-lo, até cria-lo. (...) Muitos dos filmes que foram feitos e das
soluções encontradas diante de problemas durante e após as filmagens se devem aos
produtores. (MARQUES, 2007, p.60)
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Além de organizar o projeto e a equipe técnica durante a fase de desenvolvimento do
filme, o produtor ajuda com ideias criativas. Com isso, um produtor precisa ter autoridade,
cuidado e criatividade, acompanhando o projeto do começo ao fim.
20
Fonte: NERY, HELOISA (2021)
21
Durante o tempo de espera por conta da pandemia global, foram realizadas diversas
reuniões com as lideranças das equipes técnicas (direção, produção, arte, fotografia, som e
montagem), para debater sobre as possibilidades de gravação e o andamento das atualizações
das propostas e decupagens das áreas.
4.5 Fotografia
O cinema é uma arte coletiva então o trabalho em equipe e bom relacionamento com
os colegas são imprescindíveis. Uma equipe de cinema quando é escalada, são levadas em
consideração suas capacidades pessoais quanto técnicas para se chegar ao resultado que
deseja todos devem estar em sintonia, terem compromisso, saber ouvir e levar em
consideração ideias dos outros membros da equipe. Um filme ou vídeo bem preparado técnica
e artisticamente tende a superar todos os problemas que surgirem nas filmagens. Uma bela
imagem não surge do acaso. Ela é o resultado de uma boa preparação, de uma reflexão
artística e um suporte técnico previamente pensado. “O segredo é ter uma linguagem comum
e linhas de comunicação e responsabilidade claramente entendidas”. (RABIGER, 2007, p.
243)
22
de ferramentas técnicas como iluminação, filtros, lentes, movimentos de câmera,
enquadramento, cor, exposição.
A fotografia do filme tem como objetivo, utilizar os seus elementos, trazer uma visão
de mundo que cause um estranhamento no espectador, por meio de um mundo novo criado
exclusivamente para esta história, não sendo uma realidade transposta.
Além do conceito que passa pela luz, existe um outro que passa pela câmera e pelas
lentes. Este depende do fotógrafo e do diretor. Do acordo que existe entre os dois. E
desse acordo que nasce o enquadramento de um filme. Ele exige a visão de um
mundo. De um outro mundo. (MOURA, 2001, p. 265).
A fotografia conta com planos médios e fechados, para maior detalhamento dos
fantoches e mostrar elementos importantes do roteiro e objetos da direção de arte. Enquanto
nas sequências da fazenda são planos gerais e abertos para a ambientação, assim
estabelecendo a geografia.
Storaro se impôs como fotógrafo autor e criou essa posição de fotógrafo atuante,
intervindo no texto do filme. O segundo conceito dele é mais específico. Trata
diretamente de fotografia. Ele o chama de cores psicológicas. Usa as cores para
passar emoções inconscientes que ele acha que influenciam a compreensão da
história. (MOURA, 2001, p. 254).
A fotografia é responsável por criar uma atmosfera texturizada com o uso de névoa na
cena final, auxiliando a iluminação e acentuando a forma e direção da luz. Também
complementa o clima de tensão da cena final.
24
Figura 4 – Referência de enquadramento
25
Fonte: Don't Hug Me I'm Scared, 2011 – 2016
26
Fonte: Fear of Flying,2012
Então, durante a primeira leitura do roteiro, o fotógrafo deve anotar tudo que lhe
passar pela cabeça, do técnico e do artístico, e isso enquanto vai lendo. Deve anotar
as coisas mais evidentes e as mais simples. É dessas primeiras sensações que sairá o
conceito. (MOURA, 2001, p. 238).
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O mapa de luz é uma representação visual de como será feita a iluminação do filme,
assim contendo para a equipe de fotografia e demais que necessitarem, quais fontes de
iluminação serão utilizadas, além de objetos que também possam vir a ser utilizados (filtros,
difusores) e suas funções.
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A definição dos planos foi feita em conjunto com a direção do projeto, no cenário da
cozinha sendo muito utilizados planos médios e fechados para maior detalhamento dos
fantoches e mostrar elementos importantes do roteiro e objetos da direção de arte. Todavia o
cenário da fazenda contará com enquadramentos mais abertos, assim estabelecendo a
geografia mostrando o ambiente e a composição do quadro trará um desequilíbrio, alterando o
peso visual dos planos, trazendo uma sensação de perigo e desconforto.
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4.6 Arte
Antes de se aprofundar nas características profissionais e todo o processo de criação
da Direção de Arte, é válido entender o que é a Arte, pois a partir de sua definição será
possível compreender com maior clareza tudo o que preenche essa função de grande
importância no meio audiovisual.
Em suma, talvez a definição mais correta e mais aceita para a compreensão do que é a
Arte seja a própria arte.
(…) pois a obra artística emerge do interior do artista e de sua própria linguagem
natural. Valoriza-se a sensibilidade e a fantasia. Arhur Schopenhauer afirmou que a
arte é uma via de escape do estado de infelicidade do próprio homem, já que a arte é
30
a reconciliação entre a vontade e a consciência, entre o objeto e o sujeito,
alcançando um estado de contemplação, de felicidade. (LEÃO, 2020)
Embora já muito difundida atualmente, a Direção de Arte não nasceu junto com o
cinema lá no início do século XIX. O que antes eram filmes experimentais que retratavam
momentos cotidianos, ao longo do tempo começou a ser uma oportunidade de negócio, e
consequentemente, logo foi recebendo mais investimento e ganhando destaque entre o
público.
Para os filmes continuarem gerando cada vez mais o interesse do público, diretores de
arte começaram a surgir promovendo a sua visão artística para as películas, a fim de aumentar
a imersão do público para com o material fílmico.
O que antes era comum em espetáculos cênicos, aos poucos começou a permear a
chamada sétima arte, gerando assim ainda mais vida para o que era visto em tela.
Ainda tratando sobre a cenografia e sua relação com a Direção de Arte, segundo Jean
Polieri, cenógrafo francês de teatro e cinema, a cenografia pode ser definida como:
31
“(…) conjunto de elementos de pintura, técnicos e teóricos que permitem a criação
de uma imagem, de uma construção bi ou tridimensional, colocada no lugar de uma
ação particularmente espetacular” (POLIERI, 1990, p.9).
Por que tal objeto está onde está? Por que o ambiente é do jeito que é? Essas são
algumas perguntas que o Diretor de Arte precisa responder de forma que, o que é visto em
tela seja real, por mais subjetivo e fantasioso que o material final seja. Conceito e sentido são
elementos de grande importância para a Arte.
É necessário que o espectador se sinta dentro daquele ambiente e, através das técnicas
visuais promovidas pela Direção de Arte, possa também sentir as características daquele lugar
em tela, como o clima, o sabor, o ambiente, o peso, o psicológico, e vários outros detalhes não
verbais, mas que estão ali corroborando com a progressão narrativa do projeto.
32
filme Carne. Os elementos presentes na referência vão além dos personagens e cenários.
Aqui, o Gore é um elemento de extrema importância para a produção.
O objetivo por trás do filme é chocar, mostrando toda a violência e abusos que
permeiam a indústria alimentícia. A ideia principal é trazer um clima de forte impacto e
contraste para o espectador. Em um ambiente aparentemente amigável e com personagens
inocentes à primeira vista, a inserção do clima de terror é progressiva e acompanha os demais
detalhes da composição audiovisual.
Os cenários são compostos por cores frias e claras, auxiliando assim na imersão do
espectador em um ambiente com pouca vida e um tanto quanto sombrio. Tal escolha ainda
contribui para o forte contraste com o vermelho de sangue que toma conta de boa parte do
cenário ao longo do filme, além de auxiliar na acentuação do terror proposto.
33
Fonte: GUSTAVO, LUÍZ (2021).
As referências para essas escolhas que buscam forte contraste recaem sobre cenas de
The Shining (Stanley Kubrick, 1980) e Carrie (Brian de Palma, 1976).
Fonte: The Shining (Stanley Kubrick, 1980)
34
Fonte: The Shining (Stanley Kubrick, 1980)
A escolha das cores busca a transição das sensações de inocência e tranquilidade para
algo mais estranho, violento e perturbador, misturando elementos supostamente infantis com
elementos do Gore e splatter
Não se pode contemplar um projeto de direção de arte com sua cenografia, seus
desenhos, plantas, maquetes, croquis de figurinos como se contempla uma exposição
de um pintor, de um fotógrafo, de um escultor, etc., sem que se pergunte qual o
desígnio desse projeto, a que proposta ele está intrinsecamente ligado, quem são as
personagens que por aquele cenário se locomoverão, usarão aqueles figurinos,
enfim, que enredo ajudará a contar, a que filme ou espetáculo se destinará
(PEREIRA, 2016, p.45)
Todo o filme conta com dois cenários. São eles, uma cozinha, onde a maior parte da
história se desenvolve, e uma fazenda/campo, local onde alguns inserts serão apresentados,
mostrando definitivamente o lado violento da indústria alimentícia.
Para a produção, a base cenográfica é composta por duas bases laterais flexíveis e uma
parede principal, produzida com MDP pela equipe de cenotecnia. Esse modelo de cenário
permite a criação de dois ambientes em um. De um lado temos a cozinha e todos seus
elementos, do outro temos o campo. A referência principal para a elaboração desse cenário
recai novamente sobre a série Don’t Hug Me, I’m Scared.
Fonte: CLÁUDIO PAIVA, GUEL ARRAIS, 2001.
36
Fonte: CLÁUDIO PAIVA, GUEL ARRAIS, 2001.
Figura 15 - Cocoricó
Fonte: TV Cultura 1996
37
Fonte: FIFTH, DAVID (2004)
Outra referência para a equipe de arte é um dos personagens principais da série Crash
e Bernstein.
Figura 17 - Crash
38
Fonte: Crash and Bernstein, FRIEDMAN, ERIC (2012)
Figura 18 - Julia
39
Fonte: HOWARD, RON. 2000.
Fonte: HOWARD, RON. 2000.
40
Fonte: Fabio “Clown” Taddi, 2021.
41
Em conclusão, a Direção de Arte, desde o seu início, nas peças teatrais gregas até o
cinema contemporâneo, está totalmente ligada às várias outras áreas de produção de um
espetáculo cênico ou um projeto audiovisual. No cinema, com ideias e conceitos que são
concebidos durante todo o processo de realização (preparação, pré-produção, filmagem e pós-
produção), a Direção de Arte é indispensável, afinal é responsável por auxiliar na
compreensão narrativa e transmitir sentimentos através do visual que se encontra em todo e
qualquer detalhe visto em tela. Tudo segue conceitos e estéticas elaboradas e promovidas pela
Arte, com a finalidade de tornar real e palpável aquilo que já fora apenas uma ideia.
Até o momento da escrita deste artigo, ainda estamos em período pandêmico, graças a
isso, em comum acordo com todos os envolvidos na realização do projeto, foi decidido que, a
melhor solução para a concretização do projeto seria aguardar a melhora da situação
pandêmica mundial, garantindo assim mais segurança e qualidade em todas as áreas de
técnicas, bem como, em todas as etapas de produção (preparação, pré-produção, filmagem e
pós-produção), a fim de entregarmos um projeto de grande qualidade e relevância.
4.7 Sons
‘’Sound Design’’ (ou desenho de som) está mais relacionado ao ofício da área do que
a um cargo propriamente dito. Em geral trata-se da concepção, captação e pontuação de todos
os elementos sonoros a fim de que se tornem uma unidade: o som do filme. Normalmente
estes processos são divididos em funções de acordo com a fase de produção e o Sound
Designer é o cabeça responsável por supervisionar todo o processo e trabalho da equipe.
Além de gerir sua equipe, o Sound Designer também é responsável pela criação do
conceito de som juntamente com o diretor na etapa de pré-produção, o que requer abertura
para diálogo e escuta para convergir as duas visões. Em produções com equipes reduzidas é
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comum o trabalho ser acumulativo, por conta disso o Sound Designer precisa ter
conhecimento técnico sobre todas as facetas de som, para que além de conceituar, tenha
aptidão para realizar a parte prática.
Figura 18 – Organograma
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imagem sutil inicialmente projetada. Os demais elementos sonoros com texturas sujas visam
pontuar as linhas de ação de forma brusca, marcando a ruptura do silêncio e acompanhando a
mudança violenta de ritmo do filme.
As séries Don’t Hug Me I’m Scared (Bekcy Sloan e Joseph Pelling, 2011-2016) e Mr.
Pickles (Will Carsola e Dave Stewart, 2013-2019) são duas referências de linguagem, em
como o som de maneira geral pode incorporar e agregar o conceito de gore dentro das
animações: ampliando as funções dramáticas, criando atmosferas e ditando o ritmo das ações.
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Fonte:‘’Mr. Pickles’’ (Will Carsola e Dave Stewart, 2013-2019)
Do ponto de vista técnico uma das escolhas cruciais foi renunciar ao som direto,
metodologia de captar o som durante o set de filmagem, já que o roteiro não possui diálogo e
os materiais escolhidos pelo departamento de Arte para confeccionar o cenário e os figurinos
não produziriam o timbre para conferir a textura desejada.
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Fonte: YUJI, RENATO (2021).
Após o desenho e a captação de todo material sonoro inicia-se a fase de mixagem, que
separa suas camadas em canais ou pistas e tem como objetivo unir todos os áudios se em um
só. Neste processo se nivela o ganho em volume de cada pista, posiciona os sons no campo
estéreo e se aplica processamentos como efeitos de equalização, reverberação, delay ou
compressão, dando mais ‘’cor’’, margem dinâmica e refinamento de frequências aos áudios.
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4.7.2 Foleys como pontuação
O Foley surge como solução para os filmes ainda mudos em fase de finalização que
ficariam defasados com o lançamento de O Cantor de Jazz (Alan Crosland – 1927), primeiro
longa a conseguir a façanha de sincronizar áudio com imagem utilizando a tecnologia do
vitaphone. Mas se tornou uma das técnicas mais usuais durante a pós-produção de áudio para
cinema.
Jack Foley era um editor de som da Universal Studios que foi o percursor na arte de
regravar o som de passos, gestos e atitudes das pessoas em cena [...]. Daí nasceu o
foley, que é a técnica de se reproduzir em estúdio todo o som gerado pela atividade
física dos personagens, por meio da mímica dos seus movimentos. (BECHMANS,
2012, p. 176)
Além do sincronismo outro ponto chave para os foleys são suas texturas, a identidade
sonora de cada ação. Para trabalhar neste campo é necessário controle sobre o timbre e o
alcance de frequência dos sons reproduzidos. É o uso destas duas propriedades que permitem
o espectador conferir qualidades e adjetivos aos sons através da percepção auditiva, como um
som com muitos agudos pode ser chamado de ‘’brilhante’’ ou um som sem definição pode ser
percebido como ‘’opaco’’.
A sinestesia entre o som e a imagem, aqui utilizando o termo no sentido de sua inter-
relação, tem aspectos naturais (neurológicos, digamos) que aproximam ambos os
suportes, uma vez que são estruturas vibratórias reconhecíveis dentro de certas
faixas pelo cérebro. Mas têm também aspectos psicológicos, na medida em que as
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relações entre estas freqüências são arbitrárias e não correspondem a uma escala
comparativa termo-a-termo. (SALLES, 2002. p. 6)
Opolski (2009) separa o foley em três categorias: clothes (roupas), steps (passos) e
props (objetos de cena). No caso de Carne, os clothes e step se encarregam pelo ritmo
enquanto os props são responsáveis pela percepção da ação. Davi e sua mãe são figuras
humanoides, logo sua anatomia e movimentos se assemelham a atividade humana.
Os passos buscam ter uma curta duração e uma definição aguçada no panorama,
visando a localização de cada um. A textura é dada pelo material do piso dos cenários, mas
também pela intensidade do passo dos personagens. Davi, por exemplo, vai ficando
gradativamente mais violento, logo, pisa com mais força no chão da cozinha.
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Fonte: Make me a Sandwich (Denman Hatch – 2019)
Acusmática [...] significa ‘que ouvimos sem ver a causa originária do som’, ou ‘que
faz ouvir sons sem a visão das causas’. A rádio, o disco ou o telefone, que
transmitem sons sem mostrarem o seu emissor, são por definição media
acusmáticos. (CHION, 2011. P. 61)
Dentro desta definição, é possível traçar um mapa onde o som pode se projetar em um
filme, podendo por vezes transitar entre suas fronteiras. Existe a zona visualizada, dentro de
quadro e a zona acusmática, que pode ser fora de campo ou simplesmente não diegética (o
caso de efeitos sonoros).
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Fonte: CHION, MICHEL 2011.
Em casos até mais simples como na cena inicial de Meia-Noite no Jardim do Bem e
do Mal, do diretor Clint Eastwood, a ambiência, apesar de realista, desempenha um
papel dramático no filme, com a supervalorização do lindo som do vento batendo
nas folhas das árvores do Cemitério. Aqui a ambiência sonora deixa de ser apenas
uma sugestão de realidade e passa a ter um valor quase poético na cena.
(BECHMANS, 2012. P. 177)
O curta de horror Teeth (Daniel Gray e Tom Brown – 2019) é uma clara referência de
como causar desconforto utilizando o som ambiente de forma densa.
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Fonte: ‘’Teeth’’ (Daniel Gray e Tom Brown – 2019)
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compor uma música inteiramente original para o filme King Kong (Merian C. Cooper e
Ernest B. Schoedsack – 1933), inspirada na música romântica de Wagner.
Hoje a trilha musical é conhecida como score e algumas técnicas de composição como
mickeymousing e leitmotif fazem desta uma poderosa ferramenta descritiva, tanto
espacialmente quanto emocionalmente. No segundo caso é possível notar duas formas de
descrição emocional:
No filme Carne a trilha será usada de forma moderada, tanto por conta disposição de
recursos para composição quanto pela curta duração do filme. A trilha musical trabalha em
formato de vinheta, abrindo o filme de forma empática, reaparece na cena final em que Davi
alcança o ápice da violência variando seu estilo musical e fecha o filme da mesma forma que
começou, mas funcionando de forma anempática.
Durante a cena final a música varia para o formato de horror, os instrumentos de base
são os mesmos, mas compostos por notas dissonantes e acidentes musicais. Alguns elementos
percussivos e os grunhidos de animais incrementam no ritmo da cena, a tornando cada vez
mais intensa.
O primeiro episódio de Don’t Hug Me I’m Scared é uma referência em como fazer
essa transição do infantil para o horror através da adição de dissonância e efeitos
complementares, mas mantendo os instrumentos que antes eram base.
Para produzir a música de forma simples e viável foi escolhido utilizar sintetizadores
digitais como base os tocando por um teclado MIDI, assim é possível compor com diferentes
timbres instrumentais mesmo que com poucos equipamentos de captação ou instrumentos
musicais. Os sons de variação como loops de bateria ou harmonia complementar serão
provenientes de samples, amostras musicais já existentes.
4.7.5 Vozes
Mesmo que sem diálogos no roteiro, a mãe de Davi múrmura cantos no início da
maioria das cenas. Ainda que a voz não tenha papel semântico, para o espectador ela ainda se
destaca dos demais sons, já que o cinema é vococêntrico.
Como o canto possui muitas possibilidades de melodia, voz da mãe de Davi pede por
uma captação original, já que o filme não possui som direto a escolha foi utilizar a técnica de
ADR que ‘’nada mais é do que uma gravação de voz feita em estúdio, após a conclusão da
filmagem da cena. ’’ (BECHMANS, 2012. P. 178).
Para a gravação será escolhido uma locução com timbre de mulher adulta, replicando
com murmuro a melodia principal da trilha sonora. A utilização de efeitos exagerados de
afinação e mudança de pitch tira um pouco do caráter humanístico da voz, mas sem que soe
algo diferente do que é conhecido como timbre vocal.
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Neste caso, uma referência é o filme Alvin e os Esquilos (Tim Hill - 2007) que
manipula os ADR’s e os deixam em um pitch agudo, mas afinado. Assim as performances
musicais seguem agradáveis, mas com a impressão de que são vozes de esquilos e não
pessoas.
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4.8 Montagem
Os primeiros filmes da história duravam menos de um minuto e eram extremamente
simples, como por exemplo, A saída dos operários das usinas lumière (Louis Lumière -1895).
Neste início a montagem era inexistente ou mínima como no caso dos filmes de Meleis.
Muitos desses filmes pioneiros era apenas um plano, ou uma seria de planos simples
enfileirados.
O que é surpreendente sobre o período mudo e que em apenas 30 anos os princípios
da montagem clássica foram desenvolvidos. No entanto, no nascimento do cinema, a
continuidade, o trabalho da direção e a ênfase dramática em sua relação com a
montagem não eram sequer consideradas. (DANCYGER, 2003, p.3)
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O montador por não estar presente nas filmagens, ele entra com um olhar imparcial
quanto ao material bruto, trazendo uma visão mais pura a obra. Um montador deve ser
organizado, calmo, paciente, disposto a aceitar e experimentar, mas também impor sua
vontade visão. Este é um processo que exige que você, veja ouça, imagine e reproduza
enquanto tenta trazer sentido e emoção ao filme, fazendo parte do processo de
desenvolvimento do projeto.
Nada em nossa experiência de vida parece nos preparar para tal coisa. Ao contrário,
do momento em que acordamos de manhã até fecharmos os olhos à noite à realidade
visual que percebemos é um fluxo continuo de imagens interligadas. De fato, por
milhões de anos – dezenas, centenas de milhões de anos- a vida na terra transcorreu
desta forma. Então de repente no começo do século XX, os seres humanos foram
confrontados com algo diferente: o filme editado. (MURCH, 2004, p.18)
Utilizando capítulos da série referência Don't Hug Me I'm Scared (Rebecca Sloan, Joe
Pelling. 2011 – 2016), foi observado uma carga rítmica divertida e bem estravagante nas
partes musicais, onde entram os diálogos entre os personagens, tudo é feito de uma forma bem
tranquila e bem relaxante fazendo assim o espectador consumir mais e mais episódios. Para o
Carne, a montagem seguirá um caminho oposto, utilizando a vontade de comer carne.
Também contará com outra característica que pode ser vista em todos os episódios de Don't
Hug Me I'm Scared (Rebecca Sloan, Joe Pelling. 2011 – 2016) que existem lições sobre a vida
ensinados por meio de um conteúdo perturbador, em conjunto com a fotografia que usará
diferentes ângulos nos fantoches para causar essa ideia perturbadora.
Após a conversa sobre o roteiro com os chefes das equipes, foi entendido todas as
necessidades e quais eram as ideias de cada área. A partir deste momento iniciou-se uma
breve pesquisa para ter o melhor resultado na montagem tendo como base series, filmes,
animações e livros. Para a sua realização optamos por escolher o Pacote Adobe e nele estão os
dois programas que serão usados, Adobe Premiere 2022 e After Effects 2022.
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A escolha de ambos foi pela facilidade, pelo tempo de montagem e pela junção de
ambos os programas, assim sendo da mesma plataforma de trabalho temos a compatibilidade
de trabalho e tudo se torna mais fácil. O ritmo do filme acompanha o personagem principal,
que toma força conforme sua vontade de comer carne vai crescendo cada vez mais.
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Fonte: Adobe After Effects, 2021.
Montagem métrica é um estilo de montagem simples, cujo conceito foi criado pelo
montador soviético Serguei Eisenstein, em que as cenas longas são encurtadas tornando cenas
rápidas e com cortes abruptos que não têm continuidade, mas dá sentido a cena final. Assim
será utilizado o estilo de montagem métrica, quando for necessário causar o desconforto
vamos sair do tempo do personagem, da música ou dos efeitos sonoros. Na série Don't Hug
Me I'm Scared (Rebecca Sloan, Joe Pelling. 2011 – 2016) existem gráficos que aparecem
(como na figura 21 e 22) em certos momentos para realçar alguma informação ou fala
importante ou engraçada, já em Carne gostaríamos de usar esses gráficos, textos e imagens
como um reforço de informações subliminares dando a entender algumas informações com
um duplo sentido, ou com algo mais pesado que não aparece em cena.
Fonte: Don't Hug Me I'm Scared, 2011 – 2016
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A cor é uma parte muito importante do filme afinal é a alma dele, assim utilizaremos
de cores vivas. Carne vai ser colorido com altos tons de saturação, mas nada a exagerado,
tudo vai ficar muito bem calibrado usando como base Don't Hug Me I'm Scared (Rebecca
Sloan, Joe Pelling. 2011 – 2016) com seus tons mais escuros com índice forte de sombras
muito bem acentuadas. No quesito cor de “pele” será baseada The Muppets (James Bobin,
2011) que por se tratar de um filme ao mundo aberto e diferente de outros mencionados aqui
que são feitos em cenários em pequena escala, assim realçando os seus personagens como se
fossem pessoas deixando assim uma cor mais sutil em seus fantoches.
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Fonte: The Muppets, 2011
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção do projeto é gerar uma discussão sobre o consumo excessivo de carne, que
geralmente leva ao desperdício. Apesar de não haver grandes alterações do roteiro inicial até a
versão final, o projeto recebeu muito apoio da Orientadora Lilian Solá Santiago, que não só
orientou em questões técnicas e criativas, mas sempre incentiva levar o projeto pra frente em
todos os encontros que a equipe tem com ela. A equipe se mantém desde o inicio do projeto
em 2020, unidos e com a mesma meta de filmar o filme em 2022. Todos são compreensivos e
se colocam disponíveis ao projeto sempre que necessário.
O projeto ainda não foi filmado por consequência da pandemia, o resultado dessa
situação alterou e adaptou o modo de trabalhar e as demandas para realização de um set
seguro. Essa foi uma escolha em consenso, visto que a equipe entendeu a gravidade e deu
prioridade a saúde e bem estar de todos, até que haja condições de trabalho seguro e que siga
todas as normas de prevenção ao COVID-19 apresentadas no site do SINDCINE. Ainda com
objetivo principal de apresentar uma história que levante essa discussão sobre o tema, todos
os problemas enfrentados durante todo processo, fez a equipe amadurecer e seguir se
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preparando até que as gravações sejam possíveis, pra tentar assim trazer um resultado à cima
do esperado.
REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS
BAPTISTA, Mauro. A pesquisa sobre design e cinema: o design de produção. 2008, p.113
BECHMANS, Tony. A Música do Filme: Tudo que você gostaria de saber sobre a música de
cinema. 4. ed São Paulo: Escrituras Editora, 2012.
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COMPARATO, Doc. Roteiro: arte e técnica de escrever para cinema e televisão> Rio de
Janeiro, Nordica, 1983.
DANCYGER, Ken. Técnicas de edição para cinema e vídeo: História, teoria e prática. Rio de
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GERBASE, Carlos. Cinema. Direção de Atores. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2003.
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62
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RABIGER, Michael. Direção de cinema: técnicas e estética. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
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Janeiro: Summus Editorial, 1999.
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sistema da arte. Rio de Janeiro: Record, 1998.
FERRAZ, M. H.; FUSARI, M. F. Arte na educação escolar. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
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