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REFLEXÕES SOBRE CIDADANIA E EFETIVIDADE DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE NOS 20 ANOS DA
CONSTITUIÇÃO DE 1988
Ana Stela Vieira Mendes....................................................................................................................................................... 153
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA COMO INSTRUMENTO PARA EFETIVAR O DIREITO
AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO
Azor El Achkar; Renato Miranda Pellegrini........................................................................................................................... 229
DESCOLONIALIDADE, ECOLOGIA POLÍTICA E JUSTIÇA AMBIENTAL: Pela defesa das ecologias e culturas locais
Eloise da Silveira Petter Damázio......................................................................................................................................... 444
RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS POR CRIME AMBIENTAL: A evolução do entendimento do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina
Fábio Lorensi do Canto; Felipe Mottin Pereira de Paula....................................................................................................... 516
NORMAS DE LICENCIAMENTO DO PLANTIO DE PINUS E EUCALIPTOS EM MINAS GERAIS: Análise Legal Desta
Política Estrutural Crescente
Gladstone Leonel da Silva Júnior.......................................................................................................................................... 610
NUTRIGENÔMICA: Efeitos do Ácido Fólico e Vitamina B12 nas Frequências de Micronúcleos em Células da Medula
Óssea de Camundongos Expostos a Ação Genotóxica
Luciana Farias Mezzomo; Valquíria Machado Cardoso........................................................................................................ 748
A OBRIGATORIEDADE DA AUDIÊNCIA PÚBLICA AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO PARA UMA GESTÃO
DEMOCRÁTICA DOS RISCOS AMBIENTAIS
Luiza Landerdahl Christmann; Luiz Ernani Bonesso de Araujo............................................................................................ 764
AS INCONSTITUCIONALIDADES DECORRENTES DO ARTIGO 114 DO CÓDIGO AMBIENTAL CATARINENSE
Marcela Viríssimo Maciel....................................................................................................................................................... 779
IMPRESCRITIBILIDADE DA REPARAÇÃO AMBIENTAL: Uma das formas de proteção de um meio ambiente saudável
para as hodiernas e futuras gerações
Myrtha Wandersleben Ferracini............................................................................................................................................ 903
POR UMA COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE O DIREITO À MORADIA E O DIREITO AMBIENTAL NO SISTEMA NACIONAL DE
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Natalia Schul Pacheco.......................................................................................................................................................... 943
MOVIMENTO S.O.S. GRAVATÁ: uma Experiência de Participação Cidadã na Tutela Jurisdicional do Meio Ambiente
Local no Município de Florianópolis/SC
Renato Miranda Pellegrini, Msc.; Robson Correa; Rogério Portanova, Dr........................................................................... 985
GESTÃO AMBIENTAL NA SOCIEDADE DE RISCO: Notas sobre a apropriação do discurso ecológico pela empresa
Thaís Emília de Sousa Viegas.............................................................................................................................................. 1042
ERVANDIL C. COSTA 1
ADAYR DA S. ILHA 2
JULIANO R. FARIAS 3
1 INTRODUÇÃO
O homem nos primórdios de sua civilização teve que se adaptar ao meio
ambiente para poder sobreviver. Neste contexto, houve a necessidade da
produção de alimentos dentro de uma organização primitiva (não evoluída).
Este procedimento, sem duvida, estava atrelado ao crescimento gradativo da
população somado ainda ao esgotamento progressivo das reservas naturais, o
que o obrigava ao contínuo deslocamento. Em decorrência destes aspectos o
homem optou pelo cultivo de seus próprios víveres para suprir suas
necessidades de sobrevivência.
Gradativamente foi surgindo uma agricultura, a princípio primitiva e
rudimentar, em todos os sentidos, mas que, ao longo do tempo ocupou um
novo cenário no sentido organizacional e produtivo. Entretanto, até a chamada
“Revolução Verde” os avanços técnico-científicos nesta área, foram poucos
significativos Entende-se que a “Revolução Verde” era a autêntica
globalização, pois já podiam ser detectados diferentes pontos de conexão em
comum com a moderna globalização. A partir da década de 60, criou-se a
necessidade de produzir, em termos quantitativos e, conseqüentemente, o
crescimento estava centrado na “economia”, produzir para o mercado, era,
portanto o lema proposto era a fatídica mercantilizarão. Para que houvesse
crescimento com fundamentação no desenvolvimento econômico foi
necessário aplicações de volumes significativos de insumos agrícolas tais
1
Prof. Titular da Universidade Federal de Santa Maria e Mestrando do curso de pós-graduação em
Integração Latino-Americana (UFSM). E-mail: ervandilc@gmail.com
2
Prof. Associado da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: adayrsmail@gmail.com
3
Mestrando do programa de pós-graduação em Agronomia. E-mail: julianofarias@gmail.com
2
Acredita-se que hoje o homem esteja mais ciente das limitações dos
bens ambientais tanto dos exauríveis como dos renováveis e, preocupado com
a qualidade alimentar, a vida dos animais e o ambiente, como um todo,
estabeleceu determinadas técnicas que visam atingir os preceitos
constitucionais pertinentes a um ambiente de qualidade e em equilíbrio. Uma
das técnicas proposta é o SPD. O cultivo sobre palha ou plantio direto, como é
também chamado está perfeitamente embasado num fator fundamental que é a
proteção do meio ambiente. Em toda a estrutura deste sistema o foco central é
a preservação ambiental determinada pela Constituição Federal no inciso I, §
1º, do artigo 225, que determina “preservar e restaurar os processos ecológicos
essenciais e promover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas”.
Neste sentido convêm lembrar que em âmbito internacional, houve diferentes
convenções, declarações, tratados, relatórios ou acordos entre Estados onde a
tônica dominante, em alguns casos, foi à discussão da preservação do meio
ambiente. Portanto, o histórico do SPD teve como ponto de origem o novo
paradigma proposto pelo “Relatório de Brundtland”.
Nesta análise histórica relata-se que a Dra. Gro Harlem Brundtland foi
ministra do Meio Ambiente da Noruega, então presidente da Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e, que por iniciativa das Nações
Unidas sugeriu a constituição conceitual de “desenvolvimento sustentável”. A
partir deste momento histórico houve significativa preocupação com todo o
processo lesivo e predatório que estava sendo imposto ao meio ambiente em
decorrência do modelo econômico vigente na época. Com fundamentação
nestes fatos foi elaborado um documento que levou o nome de “Relatório
Nosso Futuro Comum”, publicado em 1987, e que, em razão dos esforços
despendidos em prol do meio ambiente pela Dra. Gro foi denominado de
“Relatório Brundtland” (MOUSINHO, 2003; MELLO, 2006). Este documento
certamente orientou o constituinte de 1988, a cunhar na Constituição Federal
brasileira o artigo 23, inciso IV, quando pontualmente e, de forma mandamental
determina “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
suas formas”.
11
Anexo I, do PQ) que não atingiram a meta proposta pelo Protocolo de Quioto, é
o que possibilita o artigo 6º, parágrafo 1º, alíneas a, b, c e d, do referido
protocolo.
O SPD não deixa de ser, no entanto uma moeda de duas faces. De um
lado a técnica abordada oferece vantagens excepcionais, trazendo benefícios
significativos para o meio ambiente, principalmente para um processo
extremamente agressivo à qualidade ambiental, como é a agricultura extensiva
em monocultivo. Na outra face se visualiza alguns aspectos negativos. O SPD,
em regiões tropicais, comparado a regiões temperadas, apresenta certa
dificuldade ou até mesmo, incapacidade de incorporar/acumular carbono ao
solo, em função das elevadas temperaturas e precipitação. Este fato faz com
que, a emissão de carbono para a atmosfera seja elevada, assim como
também a de gases que afetam a camada de ozônio e interfere no
aquecimento global (GEE) em função da ciclagem muito rápida da matéria
orgânica em clima tropical. Portanto, o SPD quanto à abordagem desenvolvida
e sob o ponto de vista da conservação ambiental, deveria ser recomendado
somente para áreas de clima temperado.
Na conjuntura ora posta, quem deveria ter entrado em cena seria a
tutela ambiental através do Princípio da Precaução que é o instrumento
devidamente adequado para o caso. Foram abordados somente os pontos
positivos do SPD, porém, os possíveis problemas que poderiam surgir, com
sua adoção ao longo do tempo, não foram analisado, discutido e dado
publicidade. O Princípio da Precaução é pontual quanto ao uso e o momento
de seu emprego é o que pode ser deduzido em razão da Declaração do Rio de
Janeiro quando da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1972 (Eco-92). O Princípio
15, objetiva tão somente determinar um rumo para as ações antrópicas em
caso da proposição de novos cenários ambientais enfatizando que se deve:
“[...] proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente
observado pelo Estado, de acordo com sua capacidade. Quando houver
ameaça de danos sérios ou irreversíveis, ausência de absoluta certeza
científica não deve ser utilizada como razão para proteger medidas eficazes e
13
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
No desenvolvimento deste trabalho pode-se verificar que o modelo
agrícola, num sentido amplo, apresenta por natureza, ou na sua estrutura
conceitual ação preponderantemente negativa ao meio ambiente,
determinando com urgência medidas compensatórias de cada cenário
proposto. No entanto, na concepção dos autores cada ação antrópica exercida
na execução de uma nova atividade gera conseqüentemente ganhos marginais
negativos e, que somados apresentam efeito cumulativo seguindo uma linha
reta ascendente.
No processo de mediadas compensatórias para danos ambientais,
independente da aplicação dos princípios da Precaução e da Prevenção
haverá sempre uma parcela de dano que não será possível uma compensação,
portanto os danos ambientais não são 100% compensados ou mitigados. Neste
sentido os instrumentos tuteladores do meio ambiente são remédios
importantes somente na prolongação da vida útil da “aldeia global”. Entretanto,
esta visão cosmológica não é justificativa plausível para a não devida aplicação
dos princípios já consagrados nos processos antropocêntricos.
Incorporando uma visão num sentido sistêmico focado para o modelo
agrícola praticado no Brasil, constata-se que ele se ajusta perfeitamente ao
eixo determinado pela globalização. Os países do Norte buscam suprir suas
necessidades de produtos primários nos países em desenvolvimento em
decorrência de mão de obra barata, grandes glebas cultiváveis e retorno rápido
das culturas em função do tipo de clima. Contudo, este processo provoca uma
degradação ambiental extremamente preocupante. Em resumo os países do
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Resumo: O fenômeno urbanização e ocupação pelo homem nunca foi antecedido de normas
urbanísticas de sustentabilidade ambiental, econômica e social, sendo a cidade mais um
projeto de exclusão social do que de garantia da cidadania.
Palavras-chaves: urbanização, exclusão social, sustentabilidade e cidadania.
Abstract: The phenomenon urbanization and occupation by the man was never preceded of
town planning standards of environmental, economical and social sustainability, being the city
one more project of social exclusion of which of guarantee of citizenship.
Key words: urbanization, social exclusion, sustainability and citizenship
1
Mestre em Direito Ambiental. Especialista em Direito Ambiental e Imobiliário. Advogada. E-mail:
naraorci@terra.com.br
2
Mestre e Doutor em Direito Público. Professor de Direito Urbanístico Ambiental do Mestrado em
Direito Ambiental na Universidade de Caxias do Sul. E-mail: Rechadvogados@pro.via-rs.com.br
17
como cidadãos a grande parcela da população que mora na zona rural, eis que
totalmente desprotegida de normas urbanísticas.
Na realidade o fascínio que a cidade exerce sobre os homens sempre foi
utilizado como poder dos “donos das cidades”, em garantia de seus privilégios
e do seu bem-estar. Nunca houve preocupação em definir um projeto de
cidade, a curto, médio e longo prazo, mais abrangente, que contemplasse
todos os aspectos do desenvolvimento sustentável e indistintamente todas as
classes sociais, urbanas e rurais. A ampliação do perímetro urbano, prática
adotada depois que encostas, morros e arredores foram ocupados de forma
desordenada, em total desrespeito ao meio ambiente, tem mais a finalidade de
cobrar tributos, especialmente o IPTU, antes de ser um gesto concreto de
inclusão social e de melhoria das condições de infra-estrutura, qualidade de
vida e reconhecimento do direito de cidadania.
O centralismo do poder no Estado moderno, e de forma particular no
Brasil, sem dúvidas, prejudicou o desenvolvimento das cidades. Mas, apesar da
restrita autonomia dos municípios, é de sua competência e responsabilidade a
iniciativa de criar normas definidoras de uma cidade sustentável, e não-
excludente. No entanto, a exclusão social praticada hoje, com o advento do
Estatuto da Cidade, fora ou dentro dos “muros” ou do perímetro urbano, é
histórica e cultural. Não começou com o Imperialismo e o Absolutismo, mas
nasceu na origem das próprias cidades, contrariando sua intrínseca função
antropológica. Ao contrário do que afirmou Rousseau de que no pacto social de
formação do Estado, mesmo desiguais em força ou talento, os homens se
tornam iguais por convenção de direito, 3 na formação das cidades,
historicamente e até os dias atuais, sempre houve, na verdade, um pacto de
exclusão social, tendo como instrumentos normas urbanísticas informais
adotadas pela elite dominante e transformadas em direito nos nossos
municípios. Por isso, a correção dessa prática começa nas próprias cidades e
não pode ser apenas atribuída ao centralismo, como desculpa de que a
iniciativa deve partir da União e não dos municípios.
3
ROUSSEAU, O contrato social.São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 30
18
4
NICZ, Alvacir Alfredo. Estudos de direito administrativo. Curitiba: JM, p. 8.
19
5
HARDOY apub SOLANO, Francisco. Estudios sobre la ciudad iberoamericana. 2. ed. Madrid: CSIC,
p. 316.
6
FUSTEL, Colanges de. A cidade antiga, Trd. Cretella Júnior e Agnes Cretella. São Paulo: RT, p. 183.
Afirma que exilar o homem, segundo a fórmula empregada pelos romanos, era privá-lo do direito de
cidadania, afastá-lo da cidade, por ser impuro e indigno.
7
HARDOY apud SOLANO, Francisco. op. cit. , p. 317.
20
8
Ibidem op. cit., p. 320. (Ver a cartografia da cidade do México.) Já na p. 326-329 afirma que a coleção
contemporânea de planos de cidades antigas e pouco numerosas. Existem coleções de cartografia das
cidades de Lima, Cartagena, Caracas, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Buenos Aires, México, etc. o
que dá a idéia exata de como nasceram e se desenvolveram as mais recentes cidades. Mas, dos 134 planos
conhecidos, a maioria segue o modelo clássico, sendo que apenas 14,95% não têm esquema definido. O
fato de não ter nem o projeto inicial definido demonstra a despreocupação com a definição de normas,
sequer de nascimento, muito menos de crescimento.
9
HARDOY apud SOLANO, op. cit., p. 343.
21
10
FUSTEL, op. cit., p. 175.
11
Ibid., p. 174-175.
12
Ibid., p. 221.
13
Ibid., p. 129-223, define patrício como aquele que mora na pátria, na cidade, e plebeu aquele que mora
fora da cidade, que não tem pátria, não é cidadão.
22
17
COSTA apud SOLANO, Francisco. op. cit., p. 397.
18
ARANOVICH apud SOLANO, Francisco. op. cit., p. 388.
19
COSTA apud SOLANO, Francisco op.cit., p. 46.
24
A constatação feita é tão velha (mas tão nova), que se verifica, nas
atuais legislações, total despreocupação com um projeto de cidade para todos.
Nessa mesma direção vai a afirmativa de Costa:
20
OSÓRIO; MENEGASSI. Estatuto da cidade e reforma urbana; novas perspectivas para as cidades
brasileiras. Porto Alegre: S. Fabris, p. 43.
21
COSTA apud SOLANO, Francisco, op. cit., p . 399.
22
Idem.
23
HARDOY apud SOLANO, Francisco, op. cit., p. 316, 321.
25
olhar omisso das autoridades, ou ainda junto a uma igreja, escola ou mina, sem
nenhuma preocupação com sua expansão mais ordenada. De outra parte,
conforme Aranovich, as primeiras cidades brasileiras representavam para os
habitantes a segurança (ou ilusão de segurança), de que pudessem viver ou
continuar a viver com os mesmos costumes de sua pátria mãe.
O que se constata é que, durante muitos séculos, insistiu-se no fato de
que a cidade restringia-se a um centro urbano culturalmente herdado da
colonização, ignorando o em torno que se expandia de forma diversa,
espontaneamente subindo morros e descendo vales, sem nenhuma legislação
que pudesse ordenar e adequar seu crescimento. Hardoy reforça o já dito,
afirmando que,
Continua o pensador:
24
Ibid., p. 344.
25
HARDOY apud SOLANO, Francisco, op. cit., p 344.
26
Idem.
26
27
OSÓRIO, MENEGASSI, op. cit., p. 43.
28
ARANOVICH apud SOLANO, Francisco op. cit., p. 383.
29
OSÓRIO,MENEGASSI, op. cit., p. 42.
27
30
Veja a Lei Federal 6.766, de 19 de dezembro de 1979, art. 4º, inciso II.
31
Pesquisa do autor em mais de uma centena de municípios brasileiros. Exemplos: Caxias do Sul-RS área
mínima 360m², Curitiba-PR, 360m², Bento Gonçalves,360m2, Farroupilha-RS 360m², Gramado-RS,
360m². Rio de Janeiro, 360m² e São Paulo, 360m².
28
32
RECH, Adir Ubaldo. A exclusão social e o caos nas cidades. Caxias do Sul: EDUC, p. 142.
29
significa que vamos continuar ver crescendo nas periferias, novas cidades sem
nenhuma norma urbanística.
Também se verifica nos novos planos diretores, por falta de
conhecimento, que os nossos municípios não tiveram preocupação alguma
com a forma de ocupação da área rural, ordenando, por exemplo, o
desenvolvimento de vilas, comunidades, capelas, identificando e definindo os
pólos produtivos de determinadas culturas, regulando à agroindústria,
estabelecendo zoneamentos de interesse local com respeito ao meio ambiente,
paisagens e potencialidades naturais e criadas. Sem regras urbanísticas e de
ocupação sustentável na maior parte do território do município, simplesmente
estamos permitindo e incentivando a expansão urbana desordenada,
especialmente das classes mais pobres para as periferias 33.
O que se percebe, na realidade é que nossos governantes tem
sensibilidade, mas carecem de entendimento e que nas suas intenções há um
enorme idealismo de realizar, mudar, possibilitar bem-estar à população, mas
que defrontam-se com um realismo brutal, que exige muito mais do que
idealismo, mas planejamento concreto e racional mediante normas de direito,
que vão muito além do tempo dos seus mandatos, que respeite o espaço, o
tempo e as diversidades, reforçando valores permanentes, mas também
apontando caminhos cientificamente seguros.
Kant afirma “que o tempo e o espaço são duas fontes de
conhecimento”, 34 mas que “sem a sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado;
sem o entendimento, nenhum seria pensado 35.” As referências,
contextualizadas no presente, nos levam a concluir que os prefeitos
demonstram sensibilidade, mas falta-lhes o entendimento. Mas o que é o
entendimento? Uma concepção individual de como fazer, que dura enquanto
prefeito, limitada portanto no tempo, que parte do empírico conhecimento das
33
Em pesquisa realizada pelo autor, foram encontradas apenas referências a Planos Diretores de distritos,
mas nenhum plano efetivo. Com relação à zona rural e comunidades do interior, os Planos Diretores não
abordam absolutamente nada, exceto a preservação de algumas capelas históricas. Com o advento do
Estatuto da Cidade, trazemos como exemplo de Plano Diretor Municipal, que trata de forma completa a
zona rural, o Plano Diretor do Município de Bento Gonçalves, RS.
34
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tad. De Manuela Pintos dos Santos. 4. Ed. Lisboa: Coimbra,
1.997,p. 80.
35
Ibid., p. 89.
30
36
Ibid., p. 300.
37
KANT, Immanuel op. cit., p. 302.
38
ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 29.
31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HALL, Peter. Ciudades del mañana: história del urbanismo em el siglo XX.
Trad. De Consol Feixa . Barcelona: Serbal, 1996.
KANT, Emmanuel. Crítica da razão pura. Trad. De Manuela Pintos dos Santos.
4. ed. Lisboa: Coimbra, 1996.
RECH, Adir Ubaldo. A exclusão social e o caos nas cidades. Caxias do Sul:
EDUCS, 2007.
ROUSSEAU, J-J. O contrato social. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
1 INTRODUÇÃO
A presente investigação tem como temática uma abordagem sobre os
riscos oriundos da nanotecnologia no Brasil por grandes empresas fabricantes
de pesticidas, cosméticos e medicamentos. Esta situação tem ocasionado
muita preocupação no meio científico, visto que não se sabe exatamente os
impactos que podem causar sobre a biodiversidade e aos seres humanos.
Diante desse fato e cientes de que no Brasil essa tecnologia é utilizada
na fabricação de vários produtos, preocupa-se com o fato da ausência de
legislação que regulamente a nanotecnologia e isso poderá ocasionar a falta de
amparo jurídico às pessoas que porventura sejam afetadas por essa
tecnologia. Por isso, aponta-se o princípio da precaução como instrumento
jurídico para auxiliar nas questões oriundas dos riscos que a nanotecnologia
oferece.
Do ponto de vista metodológico a abordagem prevista pode ser realizada
com a utilização de informações secundárias, especialmente considerando a
extensão no tempo desta polêmica e o volume de dados disponíveis em jornais
e revistas. Para atingir o escopo proposto faz-se uma análise a partir das
1
Mestre em Direito Ambiental. Doutoranda em Ciências Sócias pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos- UNISINOS. E-mail: cmhansel@terra.com.br.
2
Mestre em Direito pela Universidade Luterana do Brasil. E-mail: adrianelopes@terra.com.br.
3
Pós-Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora em Direito pela
Universidade Federal do Paraná, professora no Departamento de Estudos Jurídicos da Unijuí e no
Departamento de Direito Público do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Caxias do
Sul e nos programas de Mestrado em Desenvolvimento Gestão e Cidadania da Unijuí e no Mestrado em
Direito da Universidade de Caxias do Sul, professora pesquisadora no CNPq. E-mail:
rsberguer@unijui.edu.br
33
3 NANOTECNOLOGIA
envolvidos, o Estado tende a ser eficaz de uma forma isolada, razão pela qual
ganha relevância toda a ação dos segmentos da sociedade civil.
A corroboração de políticas públicas possui, na conexão entre sociedade
civil, esfera pública e Poder Público, locus de qualificação e a mais adequada
efetivação. Essa colaboração, mesmo em meio a expressões conflitantes,
circunscreve também amplos e sinuosos processos educativos, cujas
características situam-se no jogo das regras democráticas.
Entende-se que podem ser medidas preventivas: a educação ambiental,
os programas de gestão ambiental e as certificações ambientais, pois através
destas, as empresas primam pela utilização de tecnologias limpas, coleta e
tratamento adequando de resíduos e de emissão zero, visto que visam a
preservar e proteger os cidadãos e o meio ambiente. Entretanto, para que
esses instrumentos de precaução sejam efetivados na sociedade, faz-se
necessário manter uma ampla atuação de organizações da sociedade civil e a
interação por parte do Poder Público, ao elaborar e ao aplicar políticas públicas
condizentes à preservação e à proteção ambiental.
6 CONCLUSÕES
O homem no seu processo evolutivo distanciou-se da natureza, não
mais se identificando com ela. Os recursos existentes na natureza passaram a
ser concebidos como insumos (matéria-prima) no processo de produção de
bens de consumo, provocando a redução desses recursos naturais e a
degradação ambiental. Ocorre que toda ação antrópica acarreta danos
ambientais, todavia, a natureza nos últimos anos, não está conseguindo
autopurificar-se devido à quantidade de resíduos sólidos, efluentes líquidos e
emissões gasosas que são lançadas diariamente no ambiente.
O consumo inadequado dos recursos naturais originou-se do modelo
econômico vigente voltado para acumulação de riquezas e do lucro, pois a
extração e exploração dos recursos naturais se aproximam da condição de
serem exauridos. Ainda, a geração atual é vítima dessa busca incessante pelo
acúmulo de riqueza e de bem-estar a qualquer custo, pois para alcançá-los
utilizam-se os recursos naturais, desencadeando não só a redução desses
47
REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo global. Madrid: Siglo Veintiuno, 2002.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9.ed. rev., atual
e ampl. São Paulo: Malheiros, 2001.
PIVA, Rui Carvalho. Bem ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2000.
1 INTRODUÇÃO
Os desenvolvimentos no conhecimento humano estão cada vez mais
presentes, bem como, possuem maiores repercussões na sociedade. Os
sucessivos avanços científicos acarretam numa competição não apenas entre
empresas, mas entre países pela supremacia tecnológica e industrial. 2
De uma forma cada vez mais evidente, fica clara a dependência do
próprio sistema econômico de uma inovação constante que venha a abastecer
o mercado de novos produtos e novas “necessidades” aos indivíduos.
Daniela Zaits 3 e Luis Otávio Pimentel 4 ressaltam a importância
econômica da Tecnologia para os processos econômico-produtivo, sendo esta
um conhecimento aplicado e fator decisivo para o crescimento econômico dos
países acarretando quase sempre um aumento dos índices de produção.
Contudo, essa extrema relevância política e econômica não deve estar
dissociada de um compromisso ético com o meio ambiente. Com efeito, a
Declaração das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972) já
identificava no seu princípio 18 a necessidade de que o conhecimento científico
e tecnológico seja usado para a gestão responsável do meio ambiente em
benefício de toda a humanidade.
Assim, é necessário rememorar esse compromisso ambiental em uma
atual e importante fronteira do desenvolvimento tecnológico que é a
nanotecnologia.
1
Mestre em Direito pela UFC. Pós-graduando MBA em Direito Empresarial pela FGV/Rio. Ex-
Advogado da PETROBRAS. Pesquisador colaborador do Programa “Casadinho”/CNPQ entre UFC e
UFSC. E-mail: afnsrocha@gmail.com.
2
FILHO, Calixto Salomão. Regulação da Atividade Econômica. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 120.
3
ZAITS, Daniela. Direito & Know-How. Uso, Transmissão e Proteção dos Conhecimentos Técnicos
ou Comerciais de Valor econômico. Curitiba: Juruá Editora, 2005, p. 23.
4
PIMENTEL, Luiz Otávio. Direito industrial: As funções do direito de patentes. Porto Alegre:
Síntese, 1999, p. 27-28.
53
6
LIN, Albert C. Size Matters: Regulating Nanotechnology. UC Davis Legal Studies Research Paper
Series. Research Paper No. 90. University of California – UCDavis. Oct/2006.
7
BREGGIN, Linda K.; CAROTHERS, Leslie. Governing Uncertainty: The Nanotechnology
Environmental, Health, and Safety Challenge. In. Columbia Journal of Environmental Law. Vol. 31.
Issue 2. p. 285-329. p. 288.
55
8
Mandel, Gregory N. Nanotechnology Governance. Legal Studies Research Paper Series. Research
Paper No. 2007-28. Temple University. 2007. p. 4.
9
Woodrow Wilson International Center for Scholars. Nanotechnology and Regulation. Foresight and
Governance Project. Publication 2003-6 Discussion Paper. 2003.
56
Este procedimento, contudo, seria uma falácia, uma vez que o sistema
atual de regulação de produtos e substâncias leva em consideração o
comportamento químico em macroescala. O que é exatamente revolucionário
com a nanotecnologia é que essas propriedades são completamente alteradas
porque se trabalha em nível microscópico, molecular.
Um exemplo de situação concreta é a utilização de nanopartículas em
protetores solares na Austrália. O uso de nanopartículas de dióxido de titânio e
de óxido de zinco permite a elaboração de protetores solares com maior
facilidade de espalhamento e translúcidos, o que se traduz num maior apelo
estético e cosmético aos produtos. O órgão regulatório da qualidade e
segurança para utilização humana de produtos adotou uma política de não
diferenciar o uso de nanoparticulas do uso de componentes de moléculas
equivalentes, porém em nível macroscópico. Isso revela uma não utilização do
necessário princípio da precaução, uma vez que existem evidências científicas
de que não há equivalência nos efeitos e propriedades físico-químicas, mesmo
de moléculas iguais. 11
Há inegavelmente um novo paradigma tecnológico que demandará uma
regulação própria, contudo, da mesma maneira que pode ser desastroso tentar
forçar fórmulas passadas aos novos contornos da realidade, é igualmente
improdutivo pensar que se faz necessário uma nova ética ambiental. Deve-se
resistir à tentação de equacionar novas potencialidades tecnológicas com
novos desafios éticos.
Com feito, apesar de serem situações novas do ponto de vista da
tomada de decisão dos poderes públicos e da própria sociedade o problema é
fundamentalmente o mesmo: qual o nível de risco se está disposto a assumir?
Mais ainda: quais são e qual a quantidade de estudos sobre estes novos
elementos são necessários para a sua utilização?
Toda a história de desenvolvimento do direito ambiental traduz-se numa
lição importante para a postura que deve ser tomada em face do futuro,
11
FAUNCE, Thomas; MURRAY, Katherine; NASU, Hitoshi; BOWMAN, Diana. Sunscreen Safety: The
Precautionary Principle, The Australian Therapeutic Goods Administration and Nanoparticles in
Sunscreens. In NanoEthics. Neatherlands: Spring. nº 2. 2008. p. 231-240. p. 235.
58
12
PADDOCK, LeRoy C. Keeping pace with nanotechnology: a proposal for a new approach to
Environmental accountability. In ELR News and Analysis, George Washington University Law School,
Vol. 36, No.10943, 2006.
59
13
A virtual ausência de previsões sobre uma investigação e pesquisa dos impactos ambientais no campo
da nanotecnologia pode ser verificada no próprio sítio eletrônico do programa nacional:
<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/27137.html>.
60
que estas mesmas são vistas como elementos de diferencial competitivo entre
as empresas.
A proteção comercial ofertada pela doutrina dos segredos de negócio
(trade secrets) é especialmente problemática, uma vez que permite a
manutenção do sigilo de informações essenciais relacionadas a um produto ou
processo produtivo.
A idéia de que produtos baseados em nanotecnologia são
essencialmente equivalentes aos tradicionais, como no caso do protetor solar,
é uma falácia que pode comprometer a obtenção de informações essenciais
para uma tomada de decisão informada por parte dos poderes públicos e da
própria sociedade.
Para um sistema de governança ambiental adequado da nanotecnologia,
o princípio da informação ambiental deve ser densificado de uma nova forma,
de modo a fazer frente até mesmo à tutela da propriedade intelectual.
A regra de conduta deve ser a do conhecimento pleno dos processos e
elementos que constituem do nanomateriais e as nanomáquinas, embora tal
regra certamente venha a sofrer resistência das empresas. Nesse momento
deve-se sopesar o interesse social em face do mero interesse econômico, que
deve preponderar para o primeiro.
5 CONCLUSÕES
As breves considerações traçadas no presente estudo são sugestivas de
algumas conclusões relevantes:
1. As aplicações da nanotecnologia já são uma realidade e apresenta
uma tendência de se tornar cada vez mais um grande nicho de pesquisas e
desenvolvimentos industriais em diversos segmentos econômicos;
2. Os debates sobre as potencialidades e efeitos deletérios dessa
tecnologia tendem a ser polarizados, o que, por sua vez, propicia posições
extremadas;
3. Faz-se necessário um sistema de governança ambiental, ou seja, um
sistema informado de tomadas de decisão quanto as regras e políticas públicas
aplicáveis à nanotecnologia;
61
REFERÊNCIAS
LITTON, Paul. ‘Nanoethics’? What’s New? Hastings Center Report. Vol 37,
nº. 1, Jan-Fev/2007. p. 22-25.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo analisa a nanotecnologia enquanto técnica decisiva
para uma nova revolução tecnológica, que ao mesmo tempo pode trazer
grandes benefícios e põe a sociedade diante de riscos sociais, econômicos e
ambientais.
Diversos são os desafios para a formulação de políticas de
desenvolvimento tecnológico no âmbito da nanociência e nanotecnologia:
desenvolvimento tecnológico e sustentabilidade, independência tecnológica
nacional, o balanço entre financiamento público e privado das pesquisas, a
questão do direcionamento do fomento da ciência, definição legal e ética do
limite para as pesquisas e da inserção no meio ambiente de nanoprodutos e
nano partículas e intervenção em organismos vivos
(biossegurança/nanossegurança), apropriação imaterial das inovações em
nanotecnologia, além da democratização do acesso a informação e o
fortalecimento participação da sociedade.
Como até o presente não existem normas jurídicas específicas que
diferenciem a nanotecnologia e imponham limites à sua utilização, busca-se
aproximar a analise do princípio da precaução como importante fundamento
para a tomada de decisões diante das incertezas e, também, refletir sobre as
sua aplicação pelo sistema jurídico.
Dentre as diversas questões suscitadas acerca da regulamentação da
nanotecnologia merecem destaque as indagações quanto aos riscos
decorrentes tanto da decisão de legislar, quanto da inércia do legislativo em
1
Mestre em Direito Ambiental pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), professor de Direito Ambiental e Direito
Internacional na UCS.
2
Bacharel em Direito pela Universidade de Caxias do Sul.
64
2 NANOTECNOLOGIA
O conceito de nanotecnologia deriva do prefixo grego “nános”, que
significa anão e de téchne equivale a ofício e logos, a conhecimento. O ponto
de partida o termo nanotecnologia refere-se ao tamanho da intervenção
humana sobre a matéria. Segundo Durán, Matoso e Morais (2006, p.19):
3 RISCOS DA NANOTECNOLOGIA
A Organização não Governamental canadense Erosion, Technology and
Concentration, conhecida como Grupo ETC, em diversas publicações na
Internet e publicações impressas analisa os diversos impactos da
nanotecnologia sobre a sociedade, a economia e o meio ambiente. A partir de
uma perspectiva ampla, segundo os pesquisadores do ETC (2009), podemos
agrupar quatro grandes problemas para a coletividade decorrentes do uso da
nanotecnologia:
1. O controle tecnológico na nano escala como elemento fundamental
para o controle corporativo. Conforme ETC as tecnologias em nano escala
fazem parte da estratégia operativa para o controle corporativo da indústria,
dos alimentos, da agricultura e da saúde no século XXI. A nanotecnologia
protegida pelos Direito de Propriedade Intelectual pode significar o avanço na
privatização da ciência e uma terrível concentração de poder corporativo, pelas
grandes empresas transnacionais.
2. Controle social a partir convergência entre informática, biotecnologia,
nanotecnologia e ciências cognitivas: “A convergência ocorre quando a
nanotecnologia se funde com a biotecnologia (permitindo o controle da vida
através da manipulação de genes) e com Tecnologia da Informação
67
3
ECCHCP/ European Commission Community Health and Consumer Protection. Nanaotechnologies: a preliminary
Risk Analisis. Workshop Organizado em Bruxelas 1-2 de março de 2004 por Health and Consumer Protection
Directorate Genereal of the European Commission.
Disponível em: http://europa.eu.int/comm/health/ph_risk/events_risk_en.htm>. Acesso em 24 de
abril de 2007.
68
4 DIREITO E NANOTECNOLOGIA
O Direito serve para equilibrar interesses, para afirmar limites da atuação
do Estado e dos particulares (empresas, cientistas, laboratórios etc.). Na
sociedade contemporânea à norma tem um importante papel para distribuição
do ônus e dos benefícios da prevenção dos riscos para o meio ambiente e
sociedade. O sistema jurídico é fonte, fundamento para legitimar a resolução
de conflitos sociais, ambientais e econômicos com base em princípios e
normas que estruturam o Estado democrático de Direito.
No debate da nanociência e nanotecnologia o sistema jurídico é
“chamado” a dar sua “contribuição ao delicado equilíbrio entre o desejo por
novas tecnologias e a preocupação com os riscos que isso comporta.”
(Moreira, 2005, 310) Entre os desafios para o sistema jurídico, diante do
avanço da nanotecnologia na saciedade se destacam:
a)Servir de fonte normativa para a estruturação e estabelecimento de
diretrizes norteadoras de políticas públicas de Ciência e tecnologia.
b)Definir questões patrimoniais sobre a apropriação imaterial da
nanotecnologia, especialmente a partir do sistema de direitos de propriedade
intelectual, internacionalmente reconhecido.
c)Estabelecer normas que estruturem a limitação, monitoramento e
dêem respostas adequadas aos riscos da nanotecnologia.
Todavia, conforme Moreira (2006) o Direito ainda não se estruturou
adequadamente para responder aos desafios propostos pelas novas
tecnologias. Isso se deve a diversos fatores, dos quais destacamos:
a) A proximidade da ciência com as grandes corporações gera uma forte
pressão sobre o poder político para evitar qualquer regulamentação contra os
interesses do mercado.
b) A dificuldade na definição dos riscos das diferentes aplicações da
nanotecnologia, decorrente da falta de pesquisa sobre os impactos das
nanotecnologias na saúde humana, no meio ambiente e na sociedade.
70
5
O debate sobre os desafios decorrentes da inserção social da nanotecnologia e da nanociência
permanece restrito a um número reduzido de pessoas e instituições. Entretanto, a Convergência
Tecnológica que envolve a nanotecnologia “impõe dilemas éticos importantes demais para que seu
monopólio pertença a quem quer que seja, inclusive a cientistas.” (Cavalheiro, 2007, p 23)
71
gestão dos riscos, com base em critérios legais e normas de conduta não
jurídicas:
a) Regulamentação legal:
i) A Utilização da legislação Estatal existente e de tratados
internacionais internalizados (ratificados).
(1) É necessário inserir novos artigos nos textos legais já existentes,
tratando de forma diferenciada a nanotecnologia? ou
(2) As normas existentes são suficientes para gerir os riscos das
nanotecnologias?
(3) Seria necessário a proposição da inserção de preceitos relativos
à “nanossegurança” em ratados internacionais já existentes - sejam eles
cogentes (hard law) ou não cogentes (soft law)? ou
(4) Os tratados ratificados pelo Brasil são suficientes?
ii) A criação de uma marco legal nacional para a nanossegurança:
(1) Além do marco regulatório geral o ordenamento necessitaria de
normas específicas para cada especificidade apresentada pelas diferentes
formas de nanotecnologia?
(a) As especificidades sobre diferentes pesquisas, produtos e
processos e, portanto, diferentes riscos seriam positivadas em normas jurídicas
específicas e cogentes? ou
(b) As especificidades ficariam a cargo da auto-regulação das
próprias empresas e do marcado, ou da normatização e da certificação como
ocorre com a ISO 14001e o FSC? ou
(2) Seria necessária a criação de uma estrutura própria com uma
instituição nos mesmos moldes do estabelecido para a Biossegurança, uma
“Comissão Técnica Nacional de Nanosegurança”? 6
iii) A elaboração de um tratado internacional específico para a
nanotecnologia:
6
Tal instituição teria entre suas competências a possibilidade de regulamentação da matéria via
resoluções, a criação de um “Certificado de Qualidade em Nanossegurança” e análise dos casos concretos
de liberação de pesquisa e a comercialização de produtos.
75
(1) O tratado deve ser uma norma obrigatória (hard law), como a
proposta feita pelo Grupo ETC, a Convenção Internacional para Avaliação de
Novas Tecnologias (ICENT)? ou
(2) Teria melhor resultado a elaboração de um tratado ou de tratados
internacionais ou recomendações de organizações internacionais, protocolos
facultativos não obrigatórios, não cogentes (soft law) com Códigos de Conduta,
Diretrizes de Boas Práticas para que ocorra um avanço gradual na
regulamentação internacional de novas tecnologias.
5 PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
Segundo a declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
de 1992, Princípio 15: “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da
precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com as
suas necessidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a
ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para
postergar medidas eficazes e economicamente viáveis par prevenir a
degradação ambiental”.
Antunes (2006, p. 34) afirma que “a dúvida sobre a natureza nociva de
uma substância não deve ser interpretada como se não houvesse risco.” No
caso das partículas nanotecnológicas, existe essa dúvida, existe o risco,
portanto, existe campo para a aplicação do princípio da precaução.
Todavia, o princípio não determina necessariamente, a paralisação da
atividade. Em alguns casos, a aplicação restritiva do princípio tem lugar,
entretanto, muitas vezes a precaução impõe que a atividade seja “realizada
com os cuidados necessários, até mesmo para que o conhecimento
científico possa avançar e a dúvida ser esclarecida.” (Antunes, 2006, p. 34)
O princípio da cautela é o princípio jurídico ambiental apto a lidar com
situações nas quais o meio ambiente venha a sofrer impactos causados por
novos produtos e tecnologias que ainda não possuam uma acumulação
histórica de informações que assegurem, claramente, em relação ao
conhecimento de um determinado tempo, quais a conseqüências que
poderão advir de sua liberação no ambiente (Antunes, 2006, p.33).
Na dívida sobre os riscos de uma determinada ação para o meio
ambiente, segundo Aragão (2002, p.19), podem existir em três circunstâncias
que justificam a aplicação do princípio da precaução:
77
6 CONCLUSÕES ARTICULADAS
a) O risco da nanotecnologia se potencializa na medida em que
avançam suas aplicações, sem ocorrer o mesmo com as pesquisas voltadas
79
REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. World Risk Society. 2. ed. Londres: Polity Press, 1999
ALCEU CERICATO 1
CLÁUDIO ZORZI 2
DIRLEI BERTOCHI 3
SIMONE SEHNEM 4
1 INTRODUÇÃO
O planeta sente os efeitos da emissão do monóxido de carbono no meio
ambiente, lançado pelo homem com maior intensidade na era da revolução
industrial (por volta de 1800). Estamos entrando em outra era, da biomassa e
da bioenergia. Um novo horizonte começa a se abrir para o desenvolvimento
de um novo modelo de agricultura, não apenas alimentar, mas sim,
responsável pela produção de matéria prima alimentar e também energias
renováveis 5.
A agricultura terá a incumbência de produzir boa parte da energia usada
no planeta, que irá substituir gradativamente o uso de carvão mineral e
petróleo, por um produto mais limpo, possibilitando o lançamento de volumes
menores de gazes de efeito estufa. O preço dos combustíveis fósseis alcançou
patamares que justificam a procura intensa por novas fontes de energia limpas.
No limiar do processo de reconversão da matriz energética global, a
agricultura é desafiada a produzir de maneira sustentável coexistindo com o
meio ambiente. Nesse sentido, o Brasil é um país promissor, pois apresenta
dimensões continentais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de superfície.
Tem quase todos os climas necessários para produzir alimentos e agroenergia.
Um dos maiores índices de insolação e ainda possui 12% da água doce do
planeta. Todos estes fatores fazem do Brasil o país com o maior potencial
comparativo para a produção de alimentos e agroenergia do mundo.
Diante desse contexto, o presente estudo acadêmico, tem por objetivo
de servir como uma contribuição efetivamente para com a sociedade, de modo
especial, com os pequenos agricultores que, em muitas circunstâncias, se
encontram a margem da inovação tecnológica, bem como, das possibilidades
de inserção em um novo modelo agrícola calcado na agroenergia.
O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: 1º) o conceito
de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres no
5CERICATO, Alceu. A Agroenergia sob a perspectiva da sustentabilidade nas pequenas propriedades agrícolas e a influência para o
desenvolvimento regional: uma análise e proposta para a região Oeste de Santa Catarina - SC. Pesquisa em andamento. 2008.
84
mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2º) a noção das limitações
que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente,
impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. Em seu sentido
mais amplo, a estratégia de desenvolvimento sustentável visa promover a
harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza.
Para Goldemberg e Villanueva 6 uma das energias renováveis em
evidência é o óleo vegetal (biodiesel). É um substituto com potencial importante
para o diesel convencional. São muitas as plantas de oleaginosas que
apresentam potencial para produção no Brasil, sendo que o processo de
extração do óleo vegetal é relativamente simples. Importante destacar também
que em testes com 100% de biodiesel em motores a diesel apresentaram
sucesso na combustão desta substância.
6 GOLDEMBERG, José. VILLANUEVA, Luz Dondero. Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento. São Paulo: editora da USP, 2003.
7 ENERGIAS RENOVÁVEIS – O que são e porque utilizá-las? Disponível em: <http// www.aondevamos.eng.br>. Acesso em: 29 maio 2008.
85
2 MÉTODO
A pesquisa foi realizada junto aos associados da Cooperfronteira,
localizada em Linha Riqueza do Oeste Município de Bandeirante – SC.
Consiste em uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem
qualitativa, pois buscou o entendimento das relações entre a cooperativa e os
seus cooperados. Basicamente, “a pesquisa aplicada objetiva gerar
conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas
específicos. Envolve verdades e interesses locais” 8.
Quanto aos seus objetivos, classifica-se como sendo exploratória, tendo
como procedimento o levantamento de dados, por meio da aplicação de
entrevistas junto a cinco agricultores associados da cooperativa Regional
Cooperfronteira do município de Bandeirante – SC.
As informações coletadas foram analisadas e interpretadas de forma
qualitativa, fazendo uso da técnica de análise de conteúdo, com destaque para
as informações mais relevantes.
3 RESULTADOS
A Cooperfronteira é uma organização virtual (sem a existência de
estrutura física, apenas uma ferramenta legal para fazer as transações dentro
das normas legais). Caracteriza-se por ser uma entidade de base, criada em 25
de março de 2008, para atender uma necessidade que os agricultores têm de
mudança no modelo agrícola para melhorar a renda dos mesmos. O endereço
da Cooperativa é a Comunidade de Linha Riqueza do Oeste S/n, CEP: 89905-
000, Bandeirante – SC.
Tudo começou em 2005 quando os acadêmicos do curso de
Agronegócios da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Dirlei Bertocchi e
José Pivetta iniciaram um projeto de pesquisa e desenvolvimento para
adaptação de motores a diesel ao uso de óleo vegetal.
A partir de meados de 2006 quando o projeto de utilização do óleo
vegetal como combustível foi posto em prática, juntamente com o
8 RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
86
pois, na grande maioria das propriedades é comum o fato dos jovens saírem de
casa em busca de oportunidades nos centros urbanos. Oportunidades estas
que, na maioria dos casos se traduz em serviço braçal e mal remunerado.
A resposta que os agricultores buscam nada mais é do que um
trabalho que lhes dê a remuneração digna pelo esforço empenhado, com
respeito ao meio ambiente e a terra que sempre sustentou a família desde sua
ocupação, essa proposta é muito clara nos objetivos da criação da cooperativa.
3.5 SUSTENTABILIDADE
Foi possível identificar junto aos associados que não existe muita
clareza em relação ao tamanho do mercado que eles poderão atuar, pois esse
mercado será proporcional ao número de associados que a cooperativa terá,
bem como, o potencial de consumo que cada sócio tiver. Dependerá muito da
capacidade de articulação dos próprios associados da cooperativa em buscar o
maior número de sócios possíveis, para que esse universo de consumidores
represente a capacidade de produção de biocombustíveis dos agricultores
associados.
Quando se fala em sustentabilidade é preciso um olhar sobre as
questões ambientais, econômicas e sociais. Por fomentar uma iniciativa que
não agride o meio ambiente, através da produção e consumo responsável de
energias renováveis, a cooperativa está dando um importante passo no sentido
de apontar caminhos que ajudem na solução de problemas ambientais graves
que a humanidade deverá enfrentar daqui em diante. Em relação às questões
econômicas o grande diferencial que a cooperativa vai ter em relação ao
mercado tradicional será o ato cooperativo (produzir para consumo próprio).
Este mecanismo legal, que isenta de tributação as operações que ocorrem
dentro do sistema cooperativo, fundamentada no artigo 79 § primeiro da lei nº
5.764, de 16 de dezembro de 1971, apresenta uma vantagem comparativa e
competitiva. Comparativa por que o produtor e o consumidor estabelecem uma
relação de confiança onde as duas partes ganham. Competitiva por que a
margem de impostos que incidem sobre as operações comerciais dos
combustíveis é pouco significativa nesta modalidade operacional, aumentando,
dessa maneira, consideravelmente a margem de ganhos dos produtores que,
por sua vez, poderão repassar parte disso ao cooperado consumidor.
Por fim, é um projeto de cunho social, pois, em seu princípio
fundamental, a cooperativa prima pelo bem estar das pessoas que estão em
processo de exclusão social, oportunizando a eles (os agricultores) a
91
4 CONCLUSÃO
“Para obter algo que nunca teve, precisa fazer algo que nunca fez”
(autor desconhecido). Essas palavras expressam um pouco do sentido de
existência da Cooperativa Regional Cooperfronteira. Pioneira na formatação de
uma modalidade capaz de integrar produtor e consumidor em torno de um
objetivo comum, de economizar, de contribuir com o meio ambiente e com a
redução de problemas sociais.
Na ocupação da região do Extremo-Oeste de Santa Catarina, todo o
crescimento econômico foi baseado na exploração de recursos naturais.
Primeiro a mata, depois a fertilidade natural do solo e por último a água. Uma
forma de ocupação altamente impactante sobre o meio ambiente e sem a
menor sustentabilidade. Fato esse, comprovado ao longo da ocupação da
região. Isso nos remete a necessidade de pensar alternativas capazes de
coexistir com o meio ambiente dentro de um modelo sustentável de
desenvolvimento.
As pequenas propriedades sofrem com o empobrecimento do solo,
êxodo rural e o conseqüente envelhecimento da população que reside na meio
rural. Esses problemas que aliados a um modelo agrícola inadequado para as
pequenas propriedades trazem conseqüências que se agravam a cada ano que
passa. Dentre os principais problemas constatados estão à falta de renda,
necessidade de recuperação do solo, introdução de novas tecnologias que
possam se adequar a realidade dos pequenos agricultores.
Nos objetivos específicos do trabalho foi elencada a identificação das
potencialidades de produção de agroenergia nas propriedades dos agricultores
associados da Cooperfronteira. Nesse sentido, é necessário salientar que a
agricultura familiar, historicamente é conhecida como grande produtora de
alimentos. De acordo com Fuchs 9 as sementes possuem a maior concentração
desconto dos impostos será de R$ 1,20 (um real e vinte) para o biodiesel e R$
1,08 (um real e oito centavos) para o álcool. Imaginando que tem todos os
custos estão embutidos no preço dos produtos, sem os impostos para que eles
cheguem a estes valores antes da tributação, nos faz pensar que o agricultor
ao produzir matéria prima para produção de biocombustível e atendendo uma
demanda de consumo próprio, estará agregando, além dos valores dos
processos industriais com suas respectivas margens de lucro bem como, boa
parte da carga tributária que incide sobre o modelo tradicional de
comercialização.
Com a evolução tecnológica de máquinas e equipamentos para
produção em pequena escala, bem como a evolução da eficiência técnica
destes equipamentos, comparativamente ao processo industrial de grande
porte, é possível afirmar que as máquinas de pequeno porte têm demonstrado
capacidade igual ou até mesmo superior as de grande escala de produção.
Este fator nos dá convicção de que, produzir biocombustível em pequenas
unidades, também tem viabilidade técnica.
Exemplo disso é o equipamento de produção de álcool combustível e da
prensa de oleaginosas da Prefeitura Municipal de Bandeirante que será
repassada em comodato para a Cooperativa. A unidade de produção de álcool
tem possibilidade de fabricação de álcool com pureza de 98%, enquanto as
normas de comercialização prevêem a comercialização de álcool hidratado em
postos de com pureza em torno de 94%. Já a prensa de oleaginosas consegue
retirar 93% do óleo contido nas sementes, comparando-se com o processo
industrial em grande escala a eficiência é basicamente a mesma.
Dessa maneira, constata-se que a contribuição desse trabalho como
forma de potencializar as ações da organização cooperativa é a proposição de
que a cooperativa deve buscar parcerias com diversas entidades
governamentais e não governamentais, a fim de conseguir os recursos
humanos e financeiros necessários para que a pesquisa e desenvolvimento
seja algo ininterrupto.
Como é uma unidade piloto e o trabalho é desenvolvido em uma área
que a tecnologia deve aprimorar constantemente, entendemos que esta deve
94
ser uma política de estado, como forma de incentivo aos que estão
marginalizados pelo modelo agrícola inadequado a pequena propriedade e por
falta de políticas públicas voltadas a melhoria das condições de vida da
população que mais precisa.
REFERÊNCIAS
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
95
ALFIO CONTI 1
MARGARETE MARIA DE ARAÚJO SILVA 2
MARCO ANTONIO SOUZA BORGES NETTO 3
DANILO BOTELHO 4
1 INTRODUÇÃO
O objetivo desse texto é apresentar uma experiência de requalificação
ambiental urbana em curso no município de Nova Lima. O objeto de estudo é
uma área lindeira ao condomínio “Jardins de Petrópolis”, localizado na parte
central do município de Nova Lima, a sudoeste da mancha urbana
correspondente ao núcleo urbano sede do município, que é afetada por graves
processos de degradação físico-ambiental. São encontradas nela, de maneira
difusa e generalizada: erosões com ravinamento e voçorocamento, atingindo o
lençol freático e as redes de mesoestruturas implantadas, com o assoreamento
dos cursos d’água e a destruição da cobertura vegetal.
O processo de requalificação ambiental urbana é direcionado por um
projeto de extensão financiado pela Pro-Reitoria de Extensão da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais – PROEX/PUC-MINAS, que tem, entre
outros, o objetivo de implementação de uma cooperação tecnológico-cultural
entre a Associação dos Moradores do Bairro Jardins de Petrópolis e o
Escritório de Integração do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
1
Arquiteto Urbanista Doutor em Geografia Tratamento da Informação Espacial no Programa de Pós-graduação em Geografia -
Tratamento da Informação Espacial da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, Coordenador do Escritório
de Integração – DAU/PUC/Minas. E-mail: integra@pucminas.br.
2
Arquiteta Urbanista Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas
Gerais, Coordenadora Adjunta do Escritório de Integração – DAU/PUC/Minas. E-mail: integra@pucminas.br.
3
Bacharel em Direito Especialista em Planejamento Ambiental Urbano (PUC Minas), Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da
PUC Minas. E-mail: integra@pucminas.br.
4
Arquiteto Urbanista Especialista em Planejamento Ambiental Urbano (PUC Minas). E-mail: integra@pucminas.br.
Também participam do projeto os alunos da PUC Minas: Alecsandra Cunha (Geografia), Lisandra Silva (Arquitetura e Urbanismo),
Luana Maíra (Direito), e Renata Duarte (Arquitetura e Urbanismo).
96
5
MOURA, Heloísa Soares de. Habitação e produção do espaço em Belo Horizonte. IN: Belo Horizonte:
Espaços e tempos em construção, CEDEPLAR/PBH, Coleção BH 100 anos, Brlo Horizonte, 1994.
97
6
Milaré, Edis. Direito do Ambiente : doutrina, pratica, jurisprudência, glossário / Edis Milaré. – 2. ed.
rev. atual. e ampl. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais,2001
101
4 CONCLUSÃO
A visão equivocada, mas ainda muito presente nas propostas de
intervenção ambiental, de elaborar um projeto que solucione e reequilibre
quase que instantaneamente uma situação que veio se conformando ao longo
de anos, não faz parte das intenções desta proposta. Como foi apontado, a
área já foi objeto de uma intervenção que adotou a visão equivocada
mencionada anteriormente e ficou materialmente evidente como isto não deu
certo, tornando-se, paradoxalmente, um fator a mais de risco. A idéia
norteadora é a implantação de um processo que incorpore dimensão do
monitoramento, controle e gestão, diluindo, ao longo dele, os impactos das
soluções propostas, através dos necessários ajustes vistos como etapas
estratégicas para o re-equilíbrio ambiental do lugar. Com isso, não se pretende
não atacar a situação atual de emergência, pelo contrário, para ela serão
previstas medidas de impacto necessárias para estancar as situações mais
graves. As medidas consideradas de impacto nesta fase emergencial nada
terão a ver com as medidas de impacto previstas em propostas consideradas
usuais, mas deverão utilizar tecnologias ambientalmente sustentáveis, que
possam aproveitar dos recursos renováveis presentes no local da intervenção,
buscando, assim, reequilibrar o sistema das águas, desenvolvendo soluções de
drenagem pluvial que priorizem a dispersão e a infiltração; minimizando seus
104
BIBLIOGRAFIA
BOFF, Leonardo, 1938- Saber cuidar : ética do humano, compaixão pela terra
/ Leonardo Boff 6. ed.,Rio de Janeiro : Vozes, 2000. 199p..
CARVALHO, Edézio Teixeira. Geologia urbana para todos; uma visão de Belo
Horizonte. Belo Horizonte: s.n., 1999. 176p.
WEIL, Pierre, 1924- Sementes para uma nova era: um livro de emergência
para uma situação de emergência/Pierre Weil.- Petropolis, RJ: Vozes, 1984.
191p.: il.
110
1 INTRODUCCIÓN
Brasil se constituye actualmente como el tercer gran productor y
consumidor de biodiesel mundial, con un total de producción anual
correspondiente al año 2008, evaluada en 1,2 billones de litros. 3 La importancia
del tema aquí abordado se encuadra en el marco de la crisis energética
mundial, los cambios climáticos y ambientales, y la actuación del Estado a
través de los distintos instrumentos de política económica, en particular de
incentivos públicos para la producción y uso de biodiesel 4 en Brasil y en el
mercado internacional, conformando así una “política energética cualitativa” 5.
Como principal medida paliativa a la problemática climática, es de orden insistir
en el cumplimiento del Protocolo de Kyoto y en la progresiva disminución de
1
El trabajo se presenta como sencillo homenaje al distinguido maestro Don Ramón Martín Mateo, con
profundo agradecimiento por sus valiosas y generosas enseñanzas, y a sabiendas que el tema sobre el
que ya predijera -como es su costumbre- es una de sus principales ocupaciones.
2
Profesora de Derecho Ambiental (FUNIBER y Universidad de Montevideo).
Abogada (UDELAR/Uruguay). Máster en Derecho Administrativo Económico (Universidad de
Montevideo/ Uruguay). Postgrado en Derecho Ambiental (U. Austral de B. Aires). Doctoranda
Programa Derecho Ambiental (Universidad de Alicante/ España). (Correo electrónico:
alina.celi@gmail.com)
3
Información tomada de: www.anp.gov.br, acceso de 1º de junio de 2009.
4
Tomamos la definición de biodiesel dada por la Ley Nº 11.097 de 13 de enero de 2005 (art. 4º), como:
“(…) biocombustible derivado de biomasa renovable para uso en motores a combustión interna con
ignición por compresión, o conforme reglamento para la generación de otro tipo de energía que pueda
sustituir parcial o totalmente combustibles de origen fósil”. Antes la Medida Provisoria nº 214, de 13 de
setiembre de 2004, que altera dispositivos de la Ley Nº 9.478 de 6 de agosto de 1997 y 9.847 de 26 de
octubre de 1999, definía el biodiesel como, “combustible para motores a combustión interna con ignición
por compresión, renovable e biodegradable, derivado de aceites vegetales o de gorduras animales, que
pueda sustituir parcial o totalmente al aceite diesel de origen fósil.”
5
El concepto de política energética cualitativa, es tomado de la obra de R. Martín Mateo: El marco
público de la economía de mercado, concepto que encierra los desafíos mundiales en particular de los
mercados de energía y sus respectivas regulaciones delante de las urgencias ambientales planetarias
(Editorial Thomson- Aranzadi, 2003, p. 170)
111
6
En términos conceptuales son energías alternativas, las que excluyen como fuente los combustibles
fósiles; energías renovables las derivadas de fuente solar directa, eólica, hidráulica y mareomotriz; son
nuevas energías las correspondientes al nuevo uso en la producción de electricidad como la biomasa y
energías limpias todas las categorías anteriormente mencionadas. (R. Martín Mateo, Tratado de
Derecho Ambiental, tomo IV, EDISOFER S.L., Madrid, 2003, p. 98. El autor señala la paradoja de la
nomenclatura utilizada para las nuevas energías refiriendo a la biomasa como los más antiguos recursos
energéticos).
7
El tema también se encuadra dentro de las medidas técnicas y de promoción que en ocasión del cambio
climático está desarrollando Brasil. En tal sentido conviene citar la aspiración de “Fomentar aumento
de eficiencia en el desempeño de sectores productivos en la búsqueda constante de alcance de mejores
prácticas”, incluida bajo este título en el Plan Nacional sobre Cambio Climático, PNMC, Decreto Nº
6.263 de 21 de noviembre de 2007.
8
Puede al respecto consultarse los informes del Panel Intergubernamental de expertos para el Cambio
Climático en: http://www.ipcc.ch/ipccreports/index.htm.
9
La Ley Nº 11.097 de 13 de enero de 2005 (art.4º), define al biocombustible como: “combustible
derivado de biomasa renovable para uso en motores a combustión interna o, conforme reglamento, para
otro tipo de generación de energía, que pueda sustituir parcial o totalmente combustibles de origen fósil”
112
10
A. DUFEY, Producción y comercio de biocombustibles y desarrollo sustentable: los grandes temas,
IIED, 2006, p.58.
11
Ibídem, p.2.
12
Publicada en el DOU el 14 de enero de 2005. Esta norma viene a alterar las leyes 9.478 de 6 de agosto
de 1997, la nº 9.847 de 26 de octubre de 1999 y la nº 10.636 de 30 de diciembre de 2002.
114
13
R. MARTIN MATEO, El marco público de la economía de mercado, Thomson- Aranzadi, 2003, p.91
14
E. GARCIA DE ENTERRÍA, Curso de Derecho Administrativo, tomo I, Décima Edición, Madrid,
Civitas, p. 407.
15
Ibídem.
16
Ibídem, p. 406.
115
17
M. R. BRITO, Derecho administrativo, su permanencia, contemporaneidad, prospectiva,Montevideo,
Universidad de Montevideo, 2004, p. 306.
18
Ibídem, p. 302. El autor recrea el concepto de pluralismo administrativo dado por Karl Lowenstein
19
J. JORDANO FRAGA, La Administración en el Estado Ambiental de Derecho, en Revista de
Administración Pública, núm. 173, Madrid, mayo-agosto (2007), ps.101-141.
20
Ibídem.
21
El tema del debate universal de la reforma del Estado no se ha visto lo suficientemente incidido y
penetrado por la cuestión ambiental. Este dato a nuestro juicio ha tenido una fuerte incidencia negativa
en el régimen público de tutela ambiental.
22
Ibidem ps. 311-312
116
29
Literalmente el artículo 1 de la CF, expresa: “La República Federativa de Brasil, formada por la
unión indisoluble de los Estados y Municipios e del Distrito Federal, se constituye en Estado
Democrático de Derecho y tiene como fundamentos: (…) IV – los valores sociales del trabajo y de la
libre iniciativa. Y el artículo 170 de la CF, expresa: “La orden económica, fundada en la valorización
del trabajo humano y en la libre iniciativo, tiene por fin asegurar a todos existencia digna, conforme a
los dictámenes de la justicia socia, observados los siguientes principios: I – soberanía nacional; II –
propiedad privada; III – función social de la propiedad; IV – libre concurrencia; V – defensa del
consumidor; VI – defensa del medio ambiente, inclusive mediante tratamiento diferenciado conforme al
impacto ambiental de los productos y servicios y de sus procesos de elaboración y prestación; VII –
reducción de las desigualdades regionales y sociales; VII – busca del pleno empleo; IX – tratamiento
favorecido para las empresas de pequeño porte constituidas sobre las leyes brasileñas y que tengan su
sede y administración en el País. Parágrafo único. Es asegurado a todo el libre ejercicio de cualquier
actividad económica, independientemente de autorización de órganos públicos salvo en los casos
previstos en la ley.” (Traducción propia)
30
Con modificaciones parciales de las Leyes Nos. 8.656/93; 8.073/93; 9.008/95; 9.298/96.
120
33
Ibidem, p. 1078.
122
4 CONCLUSIONES
123
BIBLIOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende, inicialmente, analisar de maneira sucinta
os aspectos biológicos dos ecossistemas de dunas, restingas e mangues.
Posteriormente, tratar da proteção legal concernente aos referidos
ecossistemas, bem como verificar a problemática em que repousa o projeto de
continuação da Avenida Litorânea, localizada no Município de São Luís, no
Estado do Maranhão, em contraposição à tutela do meio ambiente.
Para tanto será abordado o amparo legal dispensado às áreas de
preservação permanente.
1
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: A_KCB@hotmail.com.
2
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: AP.teixeira@hotmail.com.
3
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: jorgefernando_84@hotmail.com.
4
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: izabela_slz@hotmail.com.
5
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: natfernandes_1@hotmail.com.
6
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: suellensouzapereira@gmail.com.
7
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: thathacavalcanti@hotmail.com.
8
Graduanda do 9º período do curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
Email: vivianny_lima@hotmail.com.
126
9
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 17ed. rev., atual e ampl.. São Paulo:
Malheiros, 2009. p. 922.
10
WATANABE, Shigeo (coord.). Glossário de Ecologia. 2ed. Rio de Janeiro: ACIESP. n. 103. 1997.
127
Posto isto, a proteção dos manguezais é condição sine qua non para
preservação do equilíbrio ecológico da Zona Costeira. Além do que, são
imprescindíveis para a subsistência das comunidades tradicionais dos
mesmos.
11
RESTINGAS: conceito. Disponível em: <http://litoralbr.vilabol.uol.com.br/restingas.htm>. Acesso
em: maio 2009.
12
INSTTITUTO ECOMARIS. A vegetação da praia: a importância, processos e preservação.
Disponível em < http://www.ecomaris.org.br/images/sabedoriarestinga.pdf> Acesso em: maio de 2009.
13
SERAFINI, Leonardo Zagonel. Os manguezais, seu regime jurídico e sua proteção sócio-ambiental.
Revista de Direito Ambiental, São Paulo, n.51, p.111, ano 13, jul.-set/2008.
128
14
FERNANDES, Edésio. A nova ordem jurídico-urnbanística no Brasil. In: FERNANDES, Edésio;
ALFONSIN, Betânia (coord. e co-autores). Direito urbanístico: estudos brasileiros e
internacionais.Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 3-23, p. 3.
15
FERNANDES, Edésio. A nova ordem jurídico-urnbanística no Brasil. In: FERNANDES, Edésio;
ALFONSIN, Betânia (coord. e co-autores). Direito urbanístico: estudos brasileiros e
internacionais.Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 3-23, p. 4.
16
FERNANDES, Edésio. A nova ordem jurídico-urnbanística no Brasil. In: FERNANDES, Edésio;
ALFONSIN, Betânia (coord. e co-autores). Direito urbanístico: estudos brasileiros e
internacionais.Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 3-23, p. 4.
17
Informações obtidas por meio de entrevista realizada com o Procurador da República Alexandre
Soares. Entrevista: 15 de maio de 2009.
129
18
Informações obtidas por meio de entrevista realizada com o Procurador da República Alexandre
Soares. Entrevista: 15 de maio de 2009.
19
GRANZIERA, M.L.M. Meio ambiente urbano e sustentabilidade. Revista de Direito Ambiental, São
Paulo, n.48, p.180, out.-dez. 2007.
20
Informações obtidas por meio de entrevista realizada com o Procurador da República, Alexandre
Soares. Entrevista: 15 de maio de 2009.
21
Informações obtidas por meio de entrevista realizada com o Procurador da República Alexandre
Soares. Entrevista: 15 de maio de 2009.
130
22
OBRAS na Litorânea em Xeque. O Estado do Maranhão, São Luís, 9 de maio.2009. Caderno
Cidades, p.1.
23
OBRAS na Litorânea em Xeque. O Estado do Maranhão, São Luís, 9 de maio.2009. Caderno
Cidades, p.1.
131
em seu § 1º, inciso III, na parte final expõe que “[...] sendo a alteração e
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”.
A partir disto, vislumbra-se que a Constituição pátria prevê a
possibilidade de áreas especialmente protegidas, como por exemplo, as APP´s,
sejam de alguma maneira suprimidas.
Sendo as dunas, mangues e restingas áreas de preservação
permanente, como já ilustrado, o Código Florestal dispõe no art. 4º ser possível
a supressão da vegetação nestas áreas quando se tratar de “utilidade pública”
ou “interesse social”. O referido dispositivo expõe ainda que a autorização para
a supressão somente poderá acontecer quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto.
Outra questão que merece ser suscitada refere-se ao §5º do art. 4º do
Código Florestal que estabelece que a supressão de vegetação nativa
protetora de “[...] dunas e mangues” somente poderá ser autorizada em casos
de utilidade pública, fazendo ainda remissão ao art. 2º, alíneas “c” e “f”,
importando para o trabalho em questão a alínea “f”, uma vez que a mesma
trata de restingas, como fixadoras de dunas e estabilizadoras de mangues.
Desta maneira, cabe ressaltar, segundo Edis Milaré, que as obras
realizadas em áreas de preservação permanente somente poderão ser
exeqüíveis se não houver outras alternativas locacionais para tal
empreendimento. É neste sentido que o já exposto art. 4º do Código Florestal
estabeleceu tal excepcionalidade ao ditame legal da não intervenção e da não
supressão das APP´s, configurando-se tal situação como sui generis à
especificação da obra como de utilidade pública e de interesse social. 24
No que pertine ao significado dos termos “utilidade pública” ou “interesse
social”, o art. 1º da Lei nº 4.771/65, condizente ao Código Florestal, em seus
incisos IV e V, esclarece ser de utilidade pública as atividades de segurança
nacional e de proteção sanitária; as obras essenciais de infra-estrutura
destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia; e
24
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5ed. ref., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 697.
132
25
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10 ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2007. p. 295.
26
Disponível em: <http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias-do-site/meio-ambiente-e-patrimonio-
cultural/mpf-ma-requer-audiencia-publica-para-discutir-continuidade-de-obras-na-avenida-litoranea>.
Acesso em maio de 2009.
27
Disponível em: http://acordameupovo.blogspot.com/2008/03/estrada-ilhus-itacar.html. Acesso em maio
de 2009.
28
LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Transdisciplinaridade e a Proteção Jurídico-
ambiental em Sociedades de Risco: Direito, Ciência e Participação. In: LEITE, José Rubens Morato;
BELLO FILHO, Ney de Barros. Direito Ambiental Contemporâneo. São Paulo: Manole, 2004. p. 99-
125, p. 101.
134
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10 ed., rev., ampl. e atual. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
O Estado na função de agente regulador da atividade econômica, que
sob a égide da Constituição Federal exerce o poder de estabelecer diretrizes
para o desenvolvimento nacional, deve impor medidas no campo energético
que promova o desenvolvimento sustentável, sendo um exemplo disso o
investimento em fontes renováveis de energia como o as políticas públicas de
incentivo a produção e uso do biodiesel no Brasil.
Diante deste panorama, o objetivo desta da pesquisa é o estudo do
Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB frente ao princípio
da eficiência da Administração Pública.
3
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 655.
4
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva, 2002. p
183.
5
FRANÇA, Vladimir da Rocha. Eficiência Administrativa na Constituição Federal. Revista Eletrônica
sobre a Reforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, nº10, junho/julho/agosto, 2007.
Disponível na Internet :<www.direitodoestado.com.br/redae.asp>. Acesso em: 20 de julho de 2008.
139
uma boa administração, servindo a sua nomeação no art. 37, após a Emenda
Constitucional 19/1998, apenas como adorno 6.
Todavia, acredita-se que ao colocar a eficiência no plano constitucional,
à condição de princípio básico da atividade administrativa, buscou-se dar
destaque ao desejo de maximizar sempre os resultados em toda e qualquer
atuação do Poder Público, impondo-se uma atuação dentro de padrões
aceitáveis de presteza, perfeição e rendimento.
Portanto, este princípio deve ser interpretado juntamente com a
qualidade dos serviços prestados pelos entes estatais, agilizando o
atendimento dos interesses coletivos sem descurar da excelência das
atividades realizadas. A eficiência tomada no sentido exclusivo de rapidez é
inadmissível, devendo, para a verificação do cumprimento constitucional, ser
conjugada com o princípio da razoabilidade, verificando-se se os fins se
adequam aos meios 7.
Ser eficiente, portanto, exige primeiro da Administração Pública o
aproveitamento máximo de tudo aquilo que a coletividade possui, em todos os
níveis, ao longo da realização de suas atividades. Significa racionalidade e
aproveitamento máximo das potencialidades existentes. Mas não só isso. Em
seu sentido jurídico, a expressão também deve abarcar a idéia de eficácia da
prestação, ou de resultados da atividade realizada. Uma atuação estatal só
será juridicamente eficiente quando seu resultado quantitativo e qualitativo for
satisfatório, levando-se em conta o universo possível de atendimento das
necessidades existentes e os meios disponíveis 8.
Tem-se, pois, que a idéia de eficiência administrativa não deve ser
apenas limitada ao razoável aproveitamento dos meios e recursos colocados à
disposição dos agentes públicos. Deve ser construída também pela adequação
lógica desses meios razoavelmente utilizados aos resultados efetivamente
6
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 17 Edição. São Paulo: Malheiros
Editores, 2004.p. 111-112.
7
AGRA,Walber de Moura. Manual de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2002. p. 329.
8
CARDOZO, José Eduardo Martins. Princípios Constitucionais da Administração Pública (de acordo com
a Emenda Constitucional n.º19/98). In MORAES, Alexandre. Os 10 anos da Constituição Federal. São Paulo: Atlas,
1999. p. 166.
140
mas sim qualitativo, que abrange o próprio crescimento, como têm se referido
diversos economistas contemporâneos.
Na Constituição Brasileira de 1988, os quatro primeiros artigos tratam
dos "princípios fundamentais", sendo estes, ao lado do preâmbulo, o
embasamento de toda a ordem jurídica brasileira. Destaca-se o art. 3o, que é a
diretriz política adotada pelo Estado brasileiro. Interessa observar que, nesse
ponto, os princípios constitucionais possuem uma dimensão funcional de
programa de ação (função dirigente e impositiva), impondo, prospectivamente,
tarefas e programas aos poderes públicos, que devem, de qualquer forma,
buscar a sua concretização, justamente por essas tarefas serem imposições
normativo-constitucionais, ou seja, serem o núcleo fundamental da Constituição
Dirigente 9.
Neste contexto, garantir o desenvolvimento implica também na
instituição de políticas públicas direcionadas para tal fim, justificadas e
fundamentadas no art. 3º, II da Constituição, haja vista a situação atual de
subdesenvolvimento apontada nos principais indicadores econômicos
brasileiros.
Ao estabelecermos relações entre a necessidade de desenvolvimento,
com seus desdobramentos econômicos e sociais, e a necessidade de proteção
ao meio-ambiente, todos direitos assegurados pelo texto constitucional,
evidencia-se o pressuposto de situações em que a ocorrência de casos difíceis
demandará a utilização de técnicas de ponderação e razoabilidade para
assegurar a efetividade do mesmo texto constitucional.
Embora a definição de desenvolvimento sustentável do Relatório
Brundtland não se limite ao impacto da atividade econômica no meio ambiente,
também abarcando as conseqüências dessa relação na qualidade de vida e no
bem-estar da sociedade, é na preocupação ambiental que ela se manifesta de
forma mais aparente e concreta.
9
Utilizamos aqui a classificação de Canotilho de princípios constitucionais impositivos. Porém, conforme
exposto são várias as classificações dos princípios constitucionais propostas. Nesse sentido ver: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: Almedina, 2003; BARROSO, Luis
Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 6ª ed.São Paulo: Saraiva, 2004; SILVA, José Afonso da. Curso
de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2003.
143
10
Jurisprudência do STF. ADI-MC 3540 / DF - DISTRITO FEDERAL. MEDIDA CAUTELAR NA
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. CELSO DE MELLO. Julgamento:
01/09/2005. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-
00528
145
11
BARCELOS, Ana Paula de. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais – O Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana. Rio de Janeiro: RENOVAR, 2002. p.25.
12
BUCCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva, 2002. p
241.
146
16
O Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL) foi criado com o objetivo de incentivar a produção e o
consumo de álcool como combustível no Brasil após a crise do petróleo da década de 1970 e obteve relativo sucesso.
17
MCT. O Programa. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. Disponível em:
<http://www.biodiesel.gov.br>. Acesso em: 11 abr. 2007.
18
Apesar da inserção recente, vale destacar que o biodiesel já vinha sendo estudado no país a bastante
tempo. Uma prova disto é que a PI 8007957 requerida ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI pelo
Prof. Expedito Parente foi a primeira patente – em nível mundial – do biodiesel e do querosene vegetal de aviação, a
qual entrou em domínio público pelo tempo e desuso, fato lamentável para a pesquisa tecnológica brasileira.
19
Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997.
149
20
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 655.
151
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O princípio da eficiência determina que a Administração não deve
apenas cumprir a lei, mas sim deve buscar a forma mais eficiente de cumprir a
lei, deve buscar ainda, entre as soluções teoricamente possíveis, aquela que,
diante das circunstâncias do caso concreto, permita atingir os resultados
necessários à melhor satisfação do interesse público.
Acreditamos que a Carta Constitucional Brasileira elevou o
desenvolvimento sustentável à condição de princípio, uma vez que o
desenvolvimento previsto do art. 3º deve ser interpretado conjuntamente com
os artigos 170 e 225. Nesse sentido podemos dizer que o único
desenvolvimento possível a ser previsto pela Constituição é o desenvolvimento
sustentável, já que o Brasil participou da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) – mais conhecida como Rio-92
– e participou na elaboração e aprovação da Agenda 21, documento que
endossa o conceito fundamental de desenvolvimento sustentável e combina as
aspirações compartilhadas por todos os países ao progresso econômico e
material com a necessidade de uma consciência ecológica.
Verificou-se que estão intimamente relacionados os princípios da
eficiência administrativa e do desenvolvimento sustentável na elaboração de
políticas públicas no setor energético brasileiro.
Acreditamos que o ponto de entrelaçamento da ponderação entre o
princípio da preservação do meio ambiente e desenvolvimento econômico está
no entendimento da promoção de políticas públicas sob o conceito de
desenvolvimento sustentável.
Com a Lei nº 11.097/05 e a Lei nº 11.116/05 o Brasil deu um passo
importante para a construção de ferramentas para a introdução do biodiesel na
matriz energética brasileira. O Programa Nacional de Produção e Uso do
152
1 INTRODUÇÃO
Diante de debates acerca da crise ecológica mundial, a Constituição
brasileira de 1988 foi a primeira a reconhecer o direito fundamental ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, inaugurando um novo paradigma
organizacional: o Estado de Direito Democrático e Ambiental.
Entendemos que, para esta conquista, além da natural atuação do poder
público, foi fundamental a participação da sociedade civil, enquanto titular de
direitos e deveres ambientais, concomitantemente.
Hoje, decorridos pouco mais de 20 anos daquele marco histórico,
sentimos a necessidade de compreender melhor como vem acontecendo a
participação popular e sua contribuição potencial e efetiva para a concretização
do direito fundamental ao meio ambiente.
Parece-nos, pois, didaticamente interessante destacar três momentos
históricos e políticos, que guardam certa unidade, quando individualmente
considerados, e algumas diferenças quando reciprocamente comparados: o
primeiro, que vai do período das discussões anteriores à promulgação, até a
Rio 92; o segundo, que dura até o início do século XXI; e o seguinte, que vem
até a atualidade.
Nossa expectativa é, pois, a partir daí, tecer algumas considerações
acerca dos obstáculos vencidos e dos desafios vindouros.
1
Mestranda em Direito do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará.
Bolsista do CNPq. Professora Substituta da Universidade Federal do Ceará. E-mail:
anastela_ufc@yahoo.com.br
154
2
DINIZ, Márcio Augusto Vasconcelos. Constituição e hermenêutica constitucional. 2 ed. Belo
Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 94.
3
DINIZ, Márcio Augusto Vasconcelos. Constituição e hermenêutica constitucional. 2 ed. Belo
Horizonte: Mandamentos, 2002, p. 94.
4
BORÓN, Atilio. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In Pós-neoliberalismo: As políticas
sociais e o Estado democrático. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 71.
155
5
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição:
contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira
Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1997, p. 12-13.
6
BENJAMIN, Antônio Herman. In Direito constitucional ambiental brasileiro. J.J. Gomes Canotilho e
José Rubens Morato Leite (org). São Paulo: Saraiva, 2008, p. 60.
7
Além de um Capítulo específico, (art. 225), é possível encontrar outras passagens do texto
constitucional que cuidam da matéria (art. 5º, LXXIII, art. 23, VI, 24, VI e VIII, art. 129, III, art. 170, VI,
art. 186, II, art. 200, VIII, art. 220, II), sendo possível falar, assim, em um fenômeno de
constitucionalização ampla do direito fundamental ao meio ambiente.
8
Cf. CANOTILHO, José Joaquim Gomes e LEITE, José Rubens Morato (org). Direito constitucional
ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008.
156
9
SILVA-SÁNCHEZ, Solange S. Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo:
Annablume/Humanitas, 2000, passim.
10
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In. Pós-neoliberalismo: As políticas sociais e o
Estado democrático. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 9-11.
157
11
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Ecocivilização: ambiente e direito no limiar da vida. 2 ed. rev. at. ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 55-74.
12
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In. Pós-neoliberalismo: As políticas sociais e o
Estado democrático. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p.23.
13
BORÓN, Atilio. A sociedade civil depois do dilúvio neoliberal. In Pós-neoliberalismo: As políticas
sociais e o Estado democrático. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 105.
158
14
DIMOULIS, Dimitri e MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007, p.37.
159
15
Cf. o endereço eletrônico oficial do Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br/sitio. Acesso:
10.05.2009.
16
THERBORN, Göran. Pós-neoliberalismo. A história não terminou. In Pós-neoliberalismo: As políticas
sociais e o Estado democrático. 8 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008, p. 182.
17
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica constitucional. A sociedade aberta dos intérpretes da Constituição:
contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Tradução: Gilmar Ferreira
Mendes. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1997, p. 15.
160
5 CONCLUSÕES
A sociedade civil teve responsabilidade fundamental para a emergência
do novo paradigma do Estado de Direito Democrático e Ambiental brasileiro,
161
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Num mundo cercado pelos avanços científicos, a humanidade encontra-
se em um novo estágio da história; o crescimento exacerbado da tecnologia
1
Graduando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Membro do
Grupo JUSNANO (UNISINOS), cadastrado junto ao CNPQ. Grupo que busca investigar os reflexos que
as pesquisas nanotecnológicas provocarão na sociedade, pois se trata de uma área com grandes
possibilidades, muitas das quais desconhecidas. Pretendendo-se, pois, aproximar a área tecnológica com a
área humana, a fim de propor uma regulamentação jurídica para as pesquisas e os resultados em escala
nano (regulamentação que terá sua base fixada nos Direitos Humanos - diretriz ética para as investigações
que estão sendo processadas. - endereço eletrônico: sf_andre@hotmail.com
2
Advogado com Graduação em Direito pela UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) em
2000, Especialização em Direito Ambiental pela Feevale (2004) e Mestrado em Direito pela UNISINOS
(2007), no qual desenvolveu pesquisa tratando do aquecimento global, Protocolo de Kyoto e energia
eólica através de uma perspectiva sistêmica. Professor de Direito Civil e Ambiental na UNISINOS e
professor de Direito Ambiental na ESADE-POA. Integrante do grupo de pesquisa JUSNANO-
UNISINOS. Doutorando em Direito pela Unisinos desenvolvendo tese na área ambiental e energética. -
endereço eletrônico: Andrerw@brturbo.com.br
3
Graduado em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1988), Mestre em Direito pela
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2000) e Doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (2005). Atualmente é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos nas seguintes atividades
acadêmicas: (a) Graduação em Direito: Introdução ao Estudo do Direito, Teoria Geral do Direito e
Filosofia do Direito; (b) Programa de Pós-Graduação em Direito: Direitos Humanos; (c) Diversos Cursos
de Especialização: Método Jurídico e Metodologia da Pesquisa Jurídica. Líder do Grupo de Pesquisa
JUSNANO (CNPq/Unisinos). Integrante da Comissão de Coordenação do Curso de Graduação em
Direito da Unisinos. - endereço eletrônico: wengelmann@unisinos.br
164
4
Conforme Alexandre Aragão: “ o princípio da precaução funciona como uma espécie de princípio ‘in
dubium pro ambiente’: na dúvida sobre a perigosidade de uma certa actividade para o ambiente, decide-se
a favor do ambiente e contra o potencial poluidor, isto é, o ônus da prova da inocuidade de uma acção em
relação ambiente é transferido do Estado ou do potencial poluído para o potencial poluidor. Ou seja, por
força do princípio da precaução, é o potencial poluidor em que tem o ônus da prova de que um acidente
ecológico não vai ocorrer e de que adoptou medidas de precaução específicas” (CANOTILHO, José
Joaquim Gomes Canotilho; MORATO LEITE, José Rubens. Direito Constitucional Ambiental brasileiro.
2. Ed: Saraiva, 2008. p.42).
5
Expressão cunhada por Winfred Weier, cfe. FARIA COSTA, José de. Linhas de Direito Penal e de
Filosofia: alguns cruzamentos reflexivos. Coimbra: Coimbra Editora, 2005, p. 27.
165
átomo. Não seria uma violação da lei; é algo que, teoricamente, pode ser feito,
mas que, na prática, nunca foi levado a cabo porque somos grandes de mais”
(FEYNMAN, 2006. p.1)”, previu o futuro. O futuro das nanotecnologias.
Feynman quando referiu a possibilidade de inserir o conteúdo de 24
volumes da Enciclopédia Britânica na cabeça de um alfinete, lançou o início
das nanotecnologias. Uma verdadeira ciência transdisciplinar, relacionada à
manipulação de átomos e moléculas em escala nanométrica objetivando formar
novos produtos, criar dispositivos que permitam trazer, aos produtos já
existentes, novas funções, ou até mesmo criar seres vivos novos 6, que possui
vasto campo de desenvolvimento na era global e traz perspectivas
extremamente grandes concernentes a avanços medicinais, eletrônicos e
biotécnicos.
A nanotecnologia engloba as tecnologias da informação (bits), a
manipulação de átomos, a neurociência e a biotecnologia, portanto, a
nanotecnologia encontra-se em processo de convergência. O gráfico abaixo
mostra o desenvolvimento econômico da tecnologia nos maiores pólos
mundiais – dados que demonstram a efetiva valorização desta nova tecnologia
no início do século XXI.
6
Nanotecnologia: o futuro é agora (filme). Disponível em:
<http://nanotecnologia.incubadora.fapesp.br/portal/referencias/assista-o-documentario-em-video-
201cnanotecnologia-o-futuro-e-agora/. Acesso em: 4 de abril de 2009.
7
Dados da Fundação Nacional de Ciências (NSF) dos Estados Unidos. NANOTECNOLOGIA.
Disponível em: < http://www.nsf.gov/>. Acesso em: 4 de abril de 2009.
166
ambiente será alterada por esta nova tecnologia. Isso porque ao realizarem-se
manipulações atômicas e moléculas individuais, a nanotecnologia permitirá
maior controle sobre a tecnologia atual, admitindo, inclusive, controlar a
poluição, a destruição ambiental e a reciclagem de tudo que se possa imaginar.
Em um futuro não muito distante, a nanotecnologia poderá ser o
instrumento ideal para a criação de uma medicação que será o modelo perfeito
do próprio processo da doença. Segundo Lampton (1994, p. 72) “uma
nanomáquina de combater às doenças, com objetivos múltiplos, poderia
assumir a forma de uma miniatura de um submarino que navegaria pela
corrente sanguínea”. Nesse submarino estaria um poderoso computador.
Esses “computadores” poderiam ser destinados a cuidados com a saúde, como
por exemplo: desbloqueamento de artérias, dissolução de tumores
cancerígenos, etc.
Atuais pesquisas desenvolvem a construção de: nano-reatores que
reforçam o metabolismo, fazendo com que as células lutem contra o câncer;
nanopropulsores, que acionados por luzes, operam no interior de células vivas,
conseguindo localizar células cancerosas, carregando e liberando
medicamentos em pontos específicos do organismo (sendo possível, inclusive,
a utilização por controle remoto); Biochips que detectam células cancerosas
entre um bilhão de células sadias, identificam grupos sanguíneos por meio de
seqüenciamento genético, diminuindo o risco de reações adversas em
transfusões de sangue – atingindo uma precisão de 99,8% de acerto, e
capazes de fazer diagnósticos automáticos de doenças, e permitem estudo
detalhado de neurônios; máquinas de costura microscópica capazes de
costurar longas cadeias de DNA sem quebrá-las que poderão ser utilizadas em
sequenciamento genético, bem como na eletrônica molecular; mecanismos que
permitem a criação de açúcares de forma automatizada, construindo organelas
artificiais que finalizam o processo de síntese de proteínas, recobrindo-as com
açúcares em arranjos altamente especializados, que se assemelham ao
complexo golgiense; entre outros 8.
8
Disponível em: www.inovaçãotecnologica.com.br. Acesso em: 19 de maio de 2009.
167
9
Exposição de peixes a uma quantidade muito baixa de (nano)fluoreto em 48 horas desencadeou na
penetração da substância no organismo do animal desenvolvendo danos ao cérebro desses animais.
10
Coelhos tiveram aumento na suscetibilidade à coagulação do sangue após a ingestão de fulerenos
(terceira forma mais estável do carbono, após o diamante e o grafite).
11
Estudos sobre a inalação de nanopartículas de dióxido de titânio com ratos, no período de um a três
semanas, constataram que os ratos apresentaram um quadro inflamatório moderado, porém significante,
especialmente nos pulmões
12
Submissão de peixes ao contato de nanotubos de carbono acarretou em consequências na formação dos
embriões, diminuindo a procriação dos animais, comprovando a toxicidade das pequeníssimas partículas
(grifo nosso).
168
13
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
40422004000600031&script=sci_arttext&tlng=pt. Acessado em: 4 de abril de 2009.
169
14
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12. ed. São Paulo: Malheiros,
2007.CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Introdução ao direito do ambiente. Lisboa: Universidade
Aberta, 1998. CANOTILHO; MORATO LEITE, José Rubens. Direito Constitucional Ambiental
brasileiro. 2. Ed: Saraiva, 2008. CARVALHO, Délton Winter de. Dano Ambiental Futuro: A
responsabilização civil pelo risco ambiental. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
170
15
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, reunida em Estocolmo, Suécia, entre os dias
05 e 15 de junho de 1972. Naquela ocasião, ficou assentado: Na longa e tortuosa evolução da raça
humana neste planeta chegou-se a uma etapa na qual, em virtude de uma rápida aceleração da ciência e da
tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, por inúmeras maneiras e numa escala sem
precedentes, tudo quanto o rodeia. Os dois aspectos do meio humano, o natural e o artificial são
essenciais para o bem-estar do homem e para que ele goze de todos os direitos humanos fundamentais,
inclusive o direito à vida.
171
16
“Em que pese sejam ambos os termos (“direitos humanos” e “direitos fundamentais”) comumente
utilizados como sinônimos, a explicação corriqueira e, diga-se de passagem, procedente para a distinção é
de que o termo “direitos fundamentais” se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e
positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão
“direitos humanos” guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas
posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com
determinada ordem constitucional, e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e
tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional (internacional).” SARLET, Ingo
Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2001. p. 33.
17
Canotilho destaca que “os mais importantes princípios de Direito do Ambiente, relativamente aos quais
há um amplo consenso entre a doutrina, são o princípio da prevenção, o princípio da correção na fonte, o
princípio da precaução, o princípio do poluidor-pagador, o princípio da integração, o princípio da
participação e o princípio da cooperação internacional”.CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Introdução
ao direito do ambiente. Lisboa: Universidade Aberta, 1998. p. 44.
172
18
Anthony Giddens refere que o Princípio da Precaução, “na sua forma mais simples propõe que devem
ser tomadas medidas de proteção contra riscos ambientais (e, por inferência, contra outras formas de
risco), mesmo que não haja dados científicos seguros sobre eles. Foi assim que, durante a década de 1980,
vários países europeus iniciaram programas para conter as chuvas ácidas, enquanto na Grã-Bretanha a
falta de provas conclusivas foi usada para justificar a ausência de medidas de defesa contra este e também
outros problemas de poluição.” GIDDENS, Anthony. O mundo na era da globalização. Lisboa: Presença,
2000. p. 40.
19
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576
173
20
Conforme Alexandra Aragão: “o princípio da precaução distingue-se, portanto, do da prevenção, por
exigir uma protecção antecipatória do ambiente ainda num momento anterior àquele em que o princípio
da prevenção impõe uma actuação preventiva. [...] Enquanto a prevenção requer que os perigos
comprovados sejam eliminados, o princípio da precaução determina que a acção para eliminar possíveis
impactes danosos no ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido estabelecido com uma
evidência científica absoluta” (CANOTILHO; MORATO LEITE, José Rubens. Direito Constitucional
Ambiental brasileiro. 2. Ed: Saraiva, 2008, p.43).
Nesse mesmo diapasão, Marcos Catalan adverte sobre a necessidade de distinção entre a prevenção e a
precaução: “[...] ambos têm por escopo tutelar preventivamente as consequências do provável e do
desconhecido. [...]”. No entanto, a prevenção visa riscos conhecidos, enquanto a precaução, por sua vez,
há de permear as atitudes tomadas pelos cidadãos em um mundo recheado de dúvidas, trazendo os saberes
à prova, e, em mundo precavido, há de se indagar sempre se existe relativo grau de perigo nas
consequências da ação a ser iniciada (CATALAN, 2008, p. 65-6)
174
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A incerteza parece ser um sentimento bastante significativo no mundo
projetado pelas conquistas em escala nano. Nela se apresentam muitas
possibilidades de avanços para melhorar a vida das pessoas. Entretanto, é
necessária a precaução, por ser o desvelamento de uma força natural, com
enorme potencialidade e para trabalhar com ela, se tem dúvidas sobre a
capacidade do controle. Há um grande potencial de risco, por ser uma
investigação científica que desce a níveis nunca antes alcançados
(CARVALHO, 2008, p. 120).
Assim sendo, o princípio da precaução exige a tomada de decisões em
momentos fundamentais da pesquisa, ou seja, no seu início e na identificação
do estágio em que se deve parar para avaliação. Por isso,
REFERÊNCIAS
FARIA COSTA, José de. A Linha. IN: Linhas de Direito Penal e de Filosofia:
alguns cruzamentos reflexivos. Coimbra: Coimbra Editora, 2005.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 2. ed. rev. atual.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 33.
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 2. ed. Ver. São Paulo:
Malheiros, 1997.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como pretensão analisar a questão da Reserva Legal,
no âmbito do Estado de São Paulo, levantando algumas questões trazidas pelo
Decreto nº 53.939/09 do Estado de São Paulo, como a questão do
georreferenciamento e a averbação da área de Reserva Legal na matricula do
imóvel, bem como os conflitos e tendências trazidos com a entrada em vigor do
Decreto nº 6.514/08, que regulamentou a Lei 9.605/98, conhecida como Lei
dos crimes ambientais.
Não obstante a enorme quantidade de material tratando do assunto e as
mais divergentes e respeitadas opiniões sobre o tema, por uma questão
metodológica, este ficou restrito as questões inovadoras e polêmicas
1
Mestrando em Direito Ambiental pela Universidade Católica de Santos – UNISANTOS - Área de Concentração:
Direito Ambiental. Advogado em São Paulo. Bolsa Capes. endereço eletrônico: aleixoecandidoadv@terra.com.br.
179
2 CONCEITO
Reserva Legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou
posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso
sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e
flora nativas 2.
2
Extraído do Código Florestal, Lei nº 4.771/65, artigo 1º, § 2º, inciso III
180
3
Lei nº 4.771/65, art.16, § 4º, incisos de I a V.
4
Lei nº 4.771/65.
181
5
Código Florestal, art.16, § 6º, incisos I, II e III.
6
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15.ed. São Paulo: Malheiros, 2007. 759-
763p.
182
7
Art. 16 § 8º da Lei nº 4.771/65 (Código Florestal)
8
Obra citada, 760p.
183
176, acrescentando os parágrafos 3º e 4º, cujas redações foram dadas pela lei
10.267/2001 11.
O legislador necessitou de elementos técnicos para proceder a
averbação da Reserva Legal no Registro de Imóveis competente, aparecendo,
assim, a figura do georreferenciamento, que será tratado com mais detalhes,
no item 6.1 deste trabalho.
12
Decreto Estadual n° 53.939/09, artigo 2°, incisos de I a VII.
13
Decreto Estadual n° 53.939/09, artigo 6°, § 2°.
14
Decreto Estadual n° 50.889/06.
15
Decreto Estadual n° 53.939/09, artigo 14.
186
16
Decreto Estadual nº 53.939/09, artigo 7º , incisos de I a VIII, §§ 1º e 2º.
17
Cartilha Sobre Georreferenciamento. Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais – FAEMG,
disponibilizada no site http://www.faec.org.br/Arquivos/CARTILHA-GEOREFERENCIAMENTOdoc. Consultado
em 08/08/2008.
187
18
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, autarquia federal criada pelo decreto-lei n.º 1.110,
de 09 de julho de 1970, alterado pela lei n.º 7.231, de 23 de outubro de 1984.
19
Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispões sobre os registros públicos.
Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001, que estabelece a obrigatoriedade do georreferenciamento de imóveis rurais.
Decreto nº 4.449, de 30 de outubro de 2002, que regulamenta a Lei Nº 10.267.
Portaria INCRA/P/nº 954, de 13 de novembro de 2002, que estabelece o indicador da precisão posicional a ser
atingida em cada par de coordenadas.
188
Código Florestal que previu a utilização deste instrumento para dar publicidade
à reserva legal.
O desenvolvimento do Registro de Imóveis nos últimos anos, está
permitindo que as informações registrarias possuam cada vez mais
correspondência com a realidade econômica do imóvel, sendo que qualquer
direito ou fato que diminua ou aumente o valor da propriedade deve constar da
matrícula do imóvel.
20
Art. 55 “Deixar de averbar a reserva legal:
Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais).
§ 1º No ato da lavratura do auto de infração, o agente autuante assinará prazo de sessenta a noventa dias para o
autuado promover o protocolo da solicitação administrativa visando à efetiva averbação da reserva legal junto ao
órgão ambiental competente, sob pena de multa diária de R$ 50,00 (cinqüenta reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais)
por hectare ou fração da área da reserva.
21
Engenheiro agrônomo, foi superintendente do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em
Santa Catarina, Diretor da Secretária de Agricultura de Santa Catarina. Superintendente Nacional das Cooperativas.
Quatro vezes deputado federal. Atualmente exerce a Presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária no
Congresso Nacional.
22
Engenheiro Agrônomo, Administrador Rural e Extensionista Agrícola, foi Assessor para Assuntos Especiais do
Governo do Paraná, Presidente da Comissão Nacional de Grãos e Fibras, CNA, Brasília, DF. Cinco vezes deputado
federal. Atualmente é titular nas Comissões de agricultura, pecuária, abastecimento e desenvolvimento rural.
189
propriedades tem alto custo e será repassada para o preço final dos alimentos
e, ainda, a redução da área de produção terá impacto sobre a arrecadação de
tributos.
Quinze organizações de representação do agronegócio e do
cooperativismo brasileiro encaminharam ofício ao Ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, solicitando revisão no Decreto 6514/08, que regulamenta a lei dos
crimes ambientais.
O artigo 55 que trata da averbação da Reserva Legal é um dos artigos
contestados pelo estudo da Ocepar 23. Dos 162 artigos do Decreto, 15 deles,
foram alvo das 60 sugestões e críticas apresentadas pelos ruralistas. Boa parte
delas, foram parcial ou integralmente assimilada 24. As mais importantes dizem
respeito ao valor das multas e ao prazo para averbação das reservas legais.
No dia 10 de dezembro de 2008, foi publicado o Decreto nº 6.686, que
alterou e acrescentou dispositivos ao Decreto no 6.514/2008, trazendo em seu
bojo uma reivindicação dos produtores rurais, consubstanciada no aumento do
prazo para averbação da reserva legal em suas propriedades.
Duas significativas mudanças, trazidas pelo Decreto 6.686/2008, foram,
respectivamente, a multa por deixar de averbar a reserva legal, que deixou de
ser multa simples de R$ 500,00 a R$ 100.000,00, para ser multa diária de R$
50,00 a R$ 500,00, exigível somente depois do dia 11 de dezembro de 2009; e
o beneficio da advertência anterior à multa concedendo ao proprietário do
imóvel o prazo de 120 dias para averbação da reserva legal, sob pena de
incidir em multa.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Reserva Legal, é obrigatória vez que decorre de lei, que tem por
objetivo a preservação do Meio Ambiente, não sendo a floresta e as demais
formas de vegetação, bens de uso comum, mas trata-se de bens de interesse
comum a todos, conforme preceitua o artigo 1º do Código Floresta 25.
23
Ocepar: Organização das Cooperativas do Estado do Paraná.
24
http://www.mma.gov.br/ascom/ultimas/index.cfm?id=4392, acessado em 13/10/2008.
25
Código Floresta. Lei nº 4.771/65. Art. 1º - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de
vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do
190
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
País exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei
estabelecem.
191
SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 6ª ed. São Paulo:
Melheiros, 2007.
SITES VISITADOS
www.mundogeo.com/geobrasil/oleo-gas/19-07-confiabilidade%20geo.pdf
Acesso em 17/10/2008.
http://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/deprn/reserva_legal.asp
192
Acesso em 15/08/2008.
Acesso em 16/10/2008.
http://www.ambiente.sp.gov.br/verNoticia.php?id=36
Acesso em 13/10/2008.
193
KLAUS FREY 1
ANTONIO RODNEY VEIGA RODRIGUES 2
1 INTRODUÇÃO
Já é fato visualizar as grandes mudanças ambientais que ocorreram no
planeta desde o século passado. Com os avanços alcançados no âmbito da
pesquisa e das tecnologias, em praticamente todas as áreas, a sociedade foi
capaz de elevar a sua qualidade de vida e sua perspectiva de vida, porém, a
Pegada Ecológica do homem vêm se tornando cada vez maior, colocando
em questão a própria sobrevivência do homem no planeta (WWF, 2008).
Em função do processo de industrialização, do constante crescimento
econômico e do avanço tecnológico – entendido habitualmente como progresso
– a Terra, sobretudo no século passado, se transformou num objeto ou produto
da cobiça do homem, explorando com crescente voracidade os recursos
naturais em benefício próprio. A vida acabou se resumindo em o quê você
tem, não no quê você é, ou seja, o ter se sobrepõe cada vez mais ao ser. A
procura e oferta de bens e a busca incontrolável por lucros são elementos
constitutivos do capitalismo contemporâneo – um sistema econômico há
muito demonstrando sua insustentabilidade – mas que ainda permanece
dominante e norteador de nosso desenvolvimento, baseado na aposta, cada
vez menos realista, na capacidade de adaptação do homem a condições em
acelerada transformação.
Cabe ressaltar nessa discussão, a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 no Rio de Janeiro (ECO-92),
cuja ênfase foi, de um lado, empreender uma reflexão sobre a
1
Professor do Mestrado e Doutorado em Gestão Urbana (PPGTU) e do Curso de Engenharia Ambiental da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná – PUCPR – klaus.frey@pucpr.br
2
Graduando em Engenharia Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR –
rodneyveiga@hotmail.com
194
3
Fonte: http://www.polis.org.br/institucional_objetivos.asp
201
4 CONCLUSÃO
Conforme mostramos neste trabalho, existe uma crescente preocupação
por parte de instituições nacionais e internacionais em repensar os atuais
padrões de desenvolvimento das cidades diante dos desafios da
sustentabilidade e, especificamente, dos crescentes riscos que colocam em
questão não apenas a qualidade de vida nas cidades, mas inclusive a
sobrevivência das culturas urbanas contemporâneas. Observamos diferentes
abordagens e propostas encaminhadas pelas instituições examinadas que,
apesar de suas divergências e ênfases diferenciadas, muitas vezes
relacionadas às funções e particularidades de cada uma das instituições,
trazem no conjunto importantes contribuições para a perspectiva da cidade
sustentável.
202
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
O paradigma da modernidade, enquanto projeto sócio-cultural constituiu-
se, para Santos (2003, p. 78-79), entre o século XVI e finais do século XVIII.
Caracterizado por sua riqueza, complexidade e eivado de muitas contradições
o projeto sócio-cultural da modernidade assentou-se em dois pilares
fundamentais: o pilar da regulação e o pilar da emancipação. Cada um desses
pilares funda-se em princípios próprios: a regulação funda-se no princípio do
Estado, do mercado e da comunidade; enquanto a emancipação constitui-se
por três lógicas de racionalidade – a racionalidade estético-expressiva da arte e
da literatura, a racionalidade moral-prática da ética e do direito, e, por fim, a
racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e da técnica.
Sendo fundados em lógicas próprias, cada um dos pilares tem
aspirações de autonomia e diferenciação funcional, o que gerou uma tendência
de maximização, mas também conduziu ao déficit de sua proposta. Destarte, a
modernidade cumpriu algumas de suas promessas e as cumpriu em excesso,
por outro lado, “está irremediavelmente incapacitada de cumprir outras das
suas promessas” (SANTOS, 2003, p. 76). Santos (2003, p. 79) afirma que a
trajetória da modernidade está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento do
capitalismo nos países centrais, analiticamente dividido em três períodos
1
Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, doutorando em Direito pela
UNISINOS – arnaldobsneto@yahoo.com.br
2
Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Goiás, pesquisadora de Iniciação Científica
(PIBIC/CNPq) – luanarh@yahoo.com.br
3
Professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Goiás, doutora pelo Centro de
Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB) – vilmafmachado@gmail.com
204
2 DESENVOLVIMENTO
Para Beck (apud MACHADO, 2005) a degradação ambiental é o mais
sistemático e abrangente de todos os riscos e perigos que as sociedades
modernas criaram. E conforme os riscos vão sendo produzidos no bojo dos
conflitos e disputas de interesses que permeiam e caracterizam a dinâmica das
formações sociais, amplia-se o grau de incerteza, medo e insegurança no seio
das sociedades contemporâneas.
206
4
Numa perspectiva sistêmica, a partir de Niklas Luhmann risco deve ser entendido sempre como
decorrente de uma tomada de decisão, como elemento interno ao sistema, “o risco de uma decisão
jurídica provocar conseqüências capazes de produzir expectativas normativas de variação em suas
premissas decisórias, que podem ser posteriormente aceitas ou negadas como progresso ou corrupção”
207
(SIMIONI, 2009, p. 5). Contrariamente, o perigo consiste nos efeitos que uma decisão jurídica pode
provocar nos outros sistemas, como por exemplo na economia, política, ecologia, etc. Assim, o risco
relaciona-se a um efeito intra-sistêmico, enquanto que o perigo trata-se de um efeito extra-sistêmico.
208
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
A partir da percepção de uma crise do projeto sócio-cultural da
modernidade que culmina no período atual de crise marcado pelos riscos
generalizados, conclui-se que:
a) Na sociedade de risco, marcada pela ausência de certeza científica, a
ciência não pode ser vista como detentora do monopólio da verdade e do
conhecimento, devendo-se pautar a gestão do meio ambiente e dos riscos por
critérios participativos, informativos, democráticos, plurais, preventivos e
cautelosos e não meramente por perícias e pareceres técnico-científicos.
212
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZOR EL ACHKAR 1
1 INTRODUÇÃO
A clássica separação dos poderes, isolados no tripé executivo,
legislativo e judiciário, formulado inicialmente na antiguidade clássica por
Aristóteles e aperfeiçoado na idade contemporânea por Montesquieu, cai, na
modernidade ou pós-modernidade, conforme prefiram os mais atualizados,
num relativismo desmedido.
A alteração do contexto das diferentes épocas dos autores revela
estrangulamentos que a sociedade do presente legará para a sociedade futura.
Não parece duvidoso que um dos tripés restou sobrecarregado: o Poder
Executivo. A era dos preceitos constitucionais determinou a este poder
responsabilidades além de sua capacidade de atendimento e cumprimento.
Devido ao aumento das demandas a serem atendidas pelo Poder
Executivo acrescido de inadequado planejamento de eleição de prioridades,
que espaços vazios vão sendo deixados, impelindo os administrados a
buscarem o socorro do poder judicial para concretização dos direitos e deveres
constitucionalmente assegurados. Movidos pela descrença da ação daqueles
encarregados de executar as leis, os administrados impelem o judiciário para
ver cumpridas as responsabilidades do Poder Executivo.
Tais direitos e deveres materializam-se em políticas públicas. Diante da
sua ausência, originada como conseqüência da omissão do poder responsável
pela sua formulação e implementação, o Poder Judiciário sub-roga-se da
responsabilidade do executivo, e ao contrário de dizer e determinar a lei, passa
1
Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE/SC, Advogado de Direito Ambiental e de Direito do
Terceiro Setor, mestre em Direito Ambiental CCJ/CPGD/UFSC.
215
2
MATTOS, Nahiane Ramalho de; BASSOLI, Marlene Kempfer. Controle judicial na execução de
políticas públicas. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/direitopub/pdfs/vol_03/ANO1_VOL_3_04.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2007.
216
3
ARENHART, Sergio Cruz. As ações coletivas e o controle das políticas públicas pelo Poder Judiciário.
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7177&p=2>. Acesso em: 19 set. 2007.
4
GASTALDI, Suzana. A implantação de políticas públicas como objeto juridicamente possível da ação
civil pública. Disponível em: <http://www.juristas.com.br/mod_revistas.asp?ic=124>. Acesso em: 19 set.
2007.
5
BARROS, Marcus Aurélio de Freitas. Ponderações sobre o pedido nas ações coletivas e o controle
jurisdicional das políticas públicas. Disponível em:
<http://www.lex.com.br/noticias/doutrinas/titulo_doutrina.asp>. Acesso em: 19 set. 2007.
6
GONÇALVES, Leonardo Augusto. O ministério público e a tutela dos direitos sociais. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/artigos/2006/leonardoaugustogoncalves/oministeriopublico.htm>. Acesso
em: 19 mar. 2007.
217
7
GONÇALVES, op. cit., p. 12.
218
8
ARENHART, op. cit., p. 7.
9
Id. ibid., p. 8.
10
Id. ibid., p. 12.
219
11
BRASIL. Supremo Tribunal Federal, Pleno. ADI 3.046/SP. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. DJU 28
maio 2004. p. 492.
12
FERREIRA, op. cit., p. 9.
220
3.3 DISCRICIONARIEDADE
O ato administrativo discricionário é aquele em que uma porção do ato é
entregue ao juízo de conveniência e oportunidade do administrador. A
existência desta margem de liberdade implica aceitar que a escolha da opção
cabe ao administrador, não havendo espaço para sobreposição de outra
determinada judicialmente 13.
O espaço para discricionariedade deve ser visto como a escolha da
solução mais adequada, da melhor opção para o caso concreto, a mais perfeita
e mais correta, aquela que realize superiormente o interesse público almejado
pela lei, regra, princípio, pois existe para a administração um dever jurídico de
boa administração.
Neste caso, quando a opção do administrador for ruim diante do caso
concreto, pelo fato de se distanciar das melhores opções ao seu alcance,
cabível será o controle judicial desta medida. Ou quando a administração agir
em confronto com as normas vigentes, contra os princípios constitucionais que
a regem e quando constatado abuso de direito.
Em termos ambientais, constata-se, exemplificativamente, que impedir a
poluição dos cursos d´água pelo lançamento de esgoto in natura é um poder-
dever do ente público, configurando-se como ato vinculado. Esta afirmação
corrobora-se com o seguinte entendimento da lavra do douto Wallace Paiva
Martins Júnior 14:
13
BARROS, op. cit., p. 7.
14
Id. ibid., p. 10.
221
15
ARENHART, op. cit., p. 8.
222
16
TOPAN, Luiz Renato. O Ministério Público e a ação civil pública ambiental no controle dos atos
administrativos. Revista Justitia, São Paulo, n. 56, p. 41-63, jan./mar. 1994. p. 14.
17
Id. ibid., p. 15.
223
18
BARROS, op. cit., p. 9.
224
19
ARENHART, op. cit., p. 8.
20
Id. ibid., p. 9.
225
4 ATIVISMO JUDICIÁRIO
Indo ao encontro desta ampliação do Poder Judiciário e da integração
entre os três poderes, APPIO constata um novo fenômeno junto ao poder que
tem a função de dizer o direito, chamado de ativismo judiciário. Configura-se
nos casos onde o Poder Judiciário, através de decisões, interfere diretamente
em uma política pública, de forma a determinar a adoção de providências de
ordem prática que demandam um ato de vontade política dos demais
poderes 22.
As condições para exercício do ativismo judiciário são colocadas pelo
autor, segundo a lógica de que a intervenção positiva do Poder Judiciário sobre
o executivo se revela como excepcional e vinculada aos casos previstos na
Constituição, no que toca a preservação e implementação dos direitos
fundamentais sociais e ambientais.
Somente caberá revisão judicial no sentido de controle da execução das
políticas públicas nos casos em que não exista uma prerrogativa constitucional
erigida em favor do executivo, ou seja, quando não houver uma disposição que
21
BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de Instrumento n° 2004.04.010207990, Rel.
Des. Amury Chaves de Athayde. Decisão publicada no DJU em: 01 nov 2006. p. 712.
22
APPIO, Eduardo. Limites à atuação do poder executivo na gestão dos recursos para a educação.
Disponível em:<http://www.cjf.gov.br/revista/numero26/artigo02.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2007.
226
6 CONCLUSÕES ARTICULADAS
AZOR EL ACHKAR 1
RENATO MIRANDA PELLEGRINI 2
1
Auditor Fiscal de Controle Externo do TCE/SC, Advogado de Direito Ambiental e de Direito do
Terceiro Setor, mestre em Direito Ambiental CCJ/CPGD/UFSC.
2
Mestre em Engenharia Ambiental e Doutorando no Programa de Pós Graduação em Eng. E Gestão do
Conhecimento
3
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
4
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os
processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a
diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e
seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias
que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
230
fiscalização quando houver uso dos recursos naturais (art. 2°, III e art. 11, § 1°
e § 2°).
Sobre o dever de fiscalização, nos ensina Vital Moreira, na sua obra A
ordem jurídica do capitalismo, que "no exercício de seu dever da manutenção
da ordem pública, o Estado pode tomar certas medidas de polícia” que
contendem com intuito de manter a ordem e a saudável convivência entre os
cidadãos. Trata-se de uma intervenção administrativo-policial. É neste poder de
polícia que o embasamento da fiscalização ambiental se assenta.
O saudoso mestre administrativista, Celso Antônio Bandeira de Mello,
explica que o poder de polícia administrativo é "a atividade da Administração
Pública, expressa em atos normativos ou concretos, de condicionar, com
fundamento em sua supremacia geral e na forma da lei, a liberdade e a
propriedade dos indivíduos, mediante ação ora fiscalizadora, ora preventiva,
ora repressiva, impondo coercitivamente aos particulares um dever de
abstenção (non facere) a fim de conformar-lhes os comportamentos aos
interesses sociais consagrados no sistema normativo”. (Curso de Direito
Administrativo, 2000).
Falando especificamente em poder de polícia ambiental, Paulo Affonso
Leme Machado, um dos grandes nomes em Direito Ambiental no país, entende
que é "a atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito,
interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão
de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos
ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades dependentes de concessão, autorização/permissão ou licença do
Poder Público de cujas agressões possam decorrer poluição ou agressão à
natureza”. (Direito Ambiental Brasileiro, 2002). A competência para exercício da
atividade de fiscalização é comum e está ao alcance de todas as instâncias da
administração pública, conforme preceitua ao art. 23 da CF/88. De acordo com
este dispositivo, cabe à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, de forma cooperativa: proteger o meio ambiente e combater a
poluição em qualquer de suas formas, preservar as florestas, a fauna e a flora,
entre outras atribuições. Desta feita, o poder público, por meio de seus órgãos
231
Missão: A FATMA tem como missão maior garantir a preservação dos recursos
naturais do estado.
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
BIBLIOGRAFIA
LA ROVERE, Emílio Lèbre et. al. Manual de auditoria ambiental. 2 ed. Rio de
Janeiro: Qualitymark, 2001.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14ed. rev. atual.
ampl. Malheiros: São Paulo, 2006.
1 INTRODUÇÃO
Busca-se hoje o modelo ideal para tudo. A melhor tecnologia, o país
mais poderoso, a ciência mais avançada. Contudo, os resultados desse mundo
ideal não são calculados. A mentalidade da sociedade atual é um dos
principais problemas enfrentados nas lides ambientais.
Para tanto, imprescindível compreender a nova sociedade, a sociedade
de risco, em que a preocupação não deve mais se limitar à produção do dano e
sua reparação, mas também à criação de mecanismos que impeçam seu
aparecimento. Tal apreensão deriva do próprio conceito de dano ambiental,
muitas vezes irreversível. Por conta disso, fala-se em dano ambiental futuro.
A proposta do trabalho é demonstrar como uma sociedade que,
aparentemente, está em evolução pode entrar em colapso e, principalmente,
comprovar que essa tarefa é apenas um exercício de conscientização.
2 A SOCIEDADE DE RISCO
A Teoria da Sociedade de Risco foi elaborada pelo sociólogo alemão
Ulrich Beck e é uma característica da fase seguinte ao período industrial
clássico. Representa a tomada de consciência do esgotamento do modelo de
1
Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina; membro do Grupo de Pesquisa de
Direito Ambiental na Sociedade de Risco; endereço eletrônico: bruninhagraziano@hotmail.com
242
2
FERREIRA, Heline Sivini. A biossegurança dos organismos trangênicos no direito ambiental
brasileiro: uma análise fundamentada na teoria da sociedade de risco. Tese, 2008, pgs. 27-30
243
3 O RISCO DO DANO
Com o panorama da nova sociedade, importante atentar para os casos
em que esses riscos concretizam-se em danos. A partir dessa perspectiva, a
preocupação deve ser voltada para o (im)possível gerenciamento desses
danos. Tal concepção torna obrigatório raciocinar de acordo com a “profecia da
desgraça”, ou seja, pensar no pior resultado possível na tomada de decisões.
Para Hans Jonas 3, “a acusação de ‘pessimismo’ contra os partidários da
‘profecia da desgraça’ pode ser refutada com o argumento de que maior é o
pessimismo daqueles que julgam o existente tão ruim ou sem valor a ponto de
assumir todo o risco possível para tentar obter qualquer melhora potencial”.
Além disso, o autor 4, com muita propriedade, afirma que
3
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de
Janeiro: Contraponto: Ed. PUC- Rio, 2006, p. 81.
4
Idem. Ibidem, p. 78.
244
5
LEITE, José Rubens Morato Leite; AYALA, Patrick de Araújo. Direito Ambiental na Sociedade de
Risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 71.
6
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileir. São Paulo: Saraiva, 2007, pgs. 43-45.
245
7
LEITE, José Rubens Morato Leite; AYALA, Patrick de Araújo. Direito Ambiental na Sociedade de
Risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 74-94.
8
CARVALHO, Délton Winter de. Dano Ambiental Futuro: a responsabilização civil pelo risco
ambiental. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008, p. 158.
246
9
Idem. Ibidem, p. 159.
10
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileir. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 181.
247
5 DANO AMBIENTAL
O dano ambiental é aquele que atinge interesses individuais e
transindividuais, afeta tanto o ambiente natural, como também os elementos
ambientais antrópicos. Possibilita uma classificação quanto aos interesses
lesados e outra quanto à natureza do bem violado, sendo que uma
classificação não exclui a outra.
A primeira classificação diferencia danos ambientais individuais ou
reflexos de danos ambientais coletivos.
Os danos individuais ou reflexos são aqueles que, ao atingirem o
ambiente, lesam indiretamente o patrimônio ou a saúde do indivíduo.
Carvalho 11, explica que
13
Idem. Ibidem, 99.
14
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000, p. 101.
15
CARVALHO, Délton Winter de. Dano Ambiental Futuro: a responsabilização civil pelo risco
ambiental. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008, p. 123.
249
16
Idem. Ibidem, p. 129.
17
Idem. Ibidem, p. 132.
250
19
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato. Direito Constitucional Ambiental
Brasileir. São Paulo: Saraiva, 2007, pgs. 6-7.
20
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio
de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC- Rio, 2006, p. 170.
21
JONAS, Hans. O princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio
de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC- Rio, 2006, p. 171.
252
8 CONCLUSÕES ARTICULADAS
22
Idem. Ibidem, pgs. 185-186.
23
Idem. Ibidem, p. 187.
24
Idem. Ibidem, p. 180.
25
OST, François. A natureza à margem da Lei: a ecologia à prova do direito. Lisboa: Instituto Piaget,
1995, p. 310.
253
8.3 Pelo fato de a sociedade estar em constante evolução, nos casos em que
não houver previsão legal, os princípios constitucionais ambientais devem ser
aplicados e respeitados;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEITE, José Rubens Morato Leite; AYALA, Patrick de Araújo. Direito Ambiental
na Sociedade de Risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9. ed. ver. atual.
e ampl. São Paulo: Malheiros, 2001.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo:
Malheiros, 2002.
Resumo: Focalizamos neste estudo os novos fins a que se propõe o direito na sociedade pós-
moderna que as políticas públicas possuem, dimensionando as interfaces de seu conteúdo
programático, para a efetiva proteção ambiental. Após delimitarmos os conceitos de Meio
Ambiente como Direito Fundamental partimos para os modos de implementação destes
direitos, nos quais encontramos as políticas públicas e o planejamento, cada qual em sua
dimensão. Derradeiramente, elencamos alguns obstáculos que o atual modelo de justiça
enfrenta para a efetivação do paradigma da proteção ambiental.
Palavras-chave: MEIO AMBIENTE – CONSTITUCIONALISMO – POLÍTICAS PÚBLICAS –
PLANEJAMENTO – CONTROLE JUDICIAL.
1 INTRODUÇÃO
O ordenamento jurídico deixou de se prender ao aspecto lógico-
subsuntivo e individual, como no vasto período em que predominou a aplicação
mais enraizada do positivismo pela escola exegética, passando para uma
reaproximação entre fato e moral, permitindo uma leitura mais ligada da
realidade pelo mundo jurídico 3.
Figurando entre essas novas preocupações sociais, institucionalizadas
através das políticas públicas e dos princípios constitucionais, encontra-se a
questão ambiental. Esta tem merecido amplo destaque mundial, partindo da
simples constatação de que o desenvolvimento econômico e social, baseado
na concepção moderna de progresso ilimitado, tem sido atingido através da
1
Graduando em Direito da PUCPR. Bolsista PIBIC/CNPq na temática “Meio Ambiente: uma análise
comparativa dos mecanismos econômicos de proteção”; orientado pelo prof. Dr. Roberto Catalano
Botelho Ferraz. Email: bruno.cherubino@yahoo.com.br
2
Graduando em Direito da PUCPR. Email: gui.berlinck.costa@gmail.com
3
Neste sentido temos HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. 4. ed.
Vol. 1. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 3 v.
256
2 A QUESTÃO AMBIENTAL
O meio-ambiente surgiu como tema de preocupação do ordenamento
jurídico brasileiro a partir da década de 30, com o Código de Águas (1937).
Entretanto, ainda lastreado no paradigma de proteção de recursos naturais,
visto como riqueza e produto nacional, revelou-se uma concepção do meio-
ambiente como fonte de recursos naturais que deveria ser protegida
unicamente por causa de sua vantajosa posição econômica ou estratégica.
No início da década de 60, o paradigma ecológico já havia iniciado uma
melhora de concepção. Por sua vez, a Declaração de Estocolmo de 1972
subordinou o mundo ambiental à necessidade imperiosa do desenvolvimento,
lastreando-se em três fundamentais linhas de atividades aos países
signatários, quais sejam: a criação uma política de educação ambiental, o
estabelecimento de marcos para uma responsabilidade ambiental e a criação
de uma política ambiental nacional.
Os efeitos deste debate puderam ser sentidos durante a Ditadura Militar
no Brasil (1964-1984), durante a qual foram promulgadas variados estatutos
normativos inseridos nesta concepção. São dessa época leis como o Código
Florestal (1965) e a lei de proteção à fauna (1967) 4.
4
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. São Paulo: Fundação Peirópolis Ltda 2005 p.-
26-27.
257
5
Constituição da República Federativa do Brasil
258
6
Neste sentido se têm no preâmbulo do capítulo 1, aprovado no texto da ECO-92, a seguinte assertiva
“Com a perpetuação das disparidades existentes entre as nações e no interior delas, o agravamento da
pobreza, da fome, das doenças, e do analfabetismo e com a deteriorização contínua dos ecossistemas de
que depende o nosso bem-estar Preâmbulo do capítulo 1 da Agenda 21)”
7
Como ensina J.J. Gomes Canotilho “os princípios são normas jurídicas impositivas de uma optimização,
compatíveis com vários graus de concretização, consoante os condicionalismos fáticos e jurídicos.”
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, p. 1034.
8
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15º ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
p.117-130
259
9
MELLO, Celso de Voto no Mandado de Segurança 22.164-0 SP julgamento em 30.10. 1995 DJU:
17.11.1995
10
A divisão legal impõe o conceito os direitos coletivos, destinados ao gênero humano mesmo, em um
momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta”de
direito difuso aquele quês que de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e
ligadas por circunstâncias de fato (artigo 82 inciso do Código de Defesa do Consumidor)
11
A caracterização do meio ambiente equilibrado como direito fundamental implica em reconhecer as
características decorrentes desta categoria jurídica, ou seja, imprescritibilidade, a inalienabilidade,
indivisibilidade e unicidade neste sentido citamos “ Passa ele a gozar de interpretação favorável em
caso de conflitos normativos,obtém imprescritibilidade, inalienabilidade e irrenunciabilidade, bem como
é classificado como cláusula pétrea (...) elevando também o seu grau de efetividade, inclusive no campo
programático” ALONSO JÚNIOR, Hamilton Direito Fundamental ao Meio Ambiente e ações coletivas
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006 pg. 280.
12
MIRRA, Álvaro Luiz Valery O problema do controle judicial das omissões estatais lesivas ao meio
ambiente in: Revista de Direito Ambiental p 64-65
13
Neste sentido coloca o principio 13 da Declaração do Rio de Janeiro de 1992 o seguinte: “Os estados
devem cooperar de forma explicita e determinada para o desenvolvimento de normas de Direito
Ambiental relativas à responsabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados,
em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou seu controle”
260
14
MIRRA, Álvaro Luiz Valery O problema do controle judicial das omissões estatais lesivas ao meio
ambiente in: Revista de Direito Ambiental pg. 65
15
Consideráveis reflexões sobre a questão da tutela do direito e ação estatal dentro do tempo são
encontradas no estudo de OST, François O tempo do Direito Florianópolis: EDUSC 2005 p.410
16
Neste sentido já observamos os precedentes judiciais, como exemplo citamos o emblemático julgado do
TJSP- 2º Câmara Civil – Apelação Civil 158.646-1/0- julgado 26.05.1992 relator Des. Cezar Peluso;
17
GUARESCHI, Neuza; COMUNELLO, Luciele Nardi; NARDINI, Milena; HOENISCH, Júlio César.
Problematizando as práticas psicológicas no modo de entender a violência. p.180, In: Violência,
gênero e Políticas Públicas. Organizadores: Strey, Marlene N.; Azambuja, Mariana P. Ruwer; Jaeger,
Fernanda Pires. Porto Alegre EDIPUCRS, 2004.
18
OLIVEIRA, José Antônio Puppin de Desafios do Planejamento em políticas públicas: Diferentes
visões e práticas in: Revista de Administração Pública Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas
Nov/Dez. 2006 p. 285
261
19
BUCCI, Maria Paula Dallari O conceito de política pública em direito in: Políticas Públicas: reflexões
sobre o conceito jurídico BUCCI, Maria Paula Dallari(org.) São Paulo: Saraiva 2008, p. 38-40.
20
BUCCI, Maria Paula Dallari O conceito de política pública em direito in: Políticas Públicas: reflexões
sobre o conceito jurídico BUCCI, Maria Paula Dallari(org.) São Paulo: Saraiva 2008, p. 12
262
21
Essas marcadas por sua dimensão preventiva de ações em torno de um tríplice processo (assegurar
sustentabilidade às bases ecológicas da economia, superar a pobreza e exclusão social e obter incrementos
produtivos)
22
Neste sentido já tem sido noticiado em CUSTODIO, Vanderli A Retomada do Planejamento Federal
e as Políticas Públicas no Ordenamento do Território Municipal: A Temática Das Águas e do
Saneamento in: Revista do Departamento de Geografia, 16 (2005). Disponível em:
<www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/RDG_16/Vanderli_CustC3B3dio.pdf> acessado em 28 de
agosto de 2008.
23
OLIVEIRA, José Antônio Puppin de Desafios do Planejamento em políticas públicas: Diferentes
visões e práticas in: Revista de Administração Pública Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas
Nov/Dez. 2006 p. 285
263
24
Até mesmo em nome da harmonia dos poderes posto que o artigo 5º §1º da Constituição Federal
preceitua que “As normas definidoras dos direitos fundamentais têm aplicação imediata”
25
COSTA, Flávio Dino de Castro A função realizadora do Poder Judiciário e as Políticas Públicas
Brasília: CEJ n.º 28 jan/mar. 2005 p. 46
264
26
FREIRE JÚNIOR, Américo Bedê O controle judicial de políticas públicas São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2005 p.67
27
Referendando esta posição temos JUNIOR ALONSO, Hamilton Direito Fundamental ao Meio
Ambiente e Ações Coletivas São Paulo: Editora Revista dos Tribunais 2006 p. 282-284
28
JUNIOR ALONSO, Hamilton Direito Fundamental ao Meio Ambiente e Ações Coletivas São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais 2006 p. 284
29
MEIRELLES, Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 33º ed. São Paulo: Malheiros Editores
2007 pg. 119
265
30
Nestas podemos encontrar as ações populares, civil pública e mandado de segurança coletivo, todos
reconhecidos como instrumentos de acesso à justiça e proteção dos interesses meta-individuais.
31
BUGLIONE, Samantha O desafio de Tutelar o Meio Ambiente in: Revista de Direito Ambiental n.º 17
2005 p. 217
266
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
32
Para mais neste sentido indica-se OLSEN, Ana Carolina Lopes Direitos Fundamentais Sociais:
efetividade frente à reserva do Possível Curitiba:Juruá 2008
267
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15º ed. São
Paulo: Malheiros, 2007.
MEIRELLES, Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 33º ed. São Paulo:
Malheiros Editores 2007 pg. 119
1
BRUNO LOFHAGEN CHERUBINO JUNIOR
2
JANAINA CAMILE PASQUAL
1 INTRODUÇÃO
O aumento da preocupação mundial com as questões ambientais e o
consenso sobre a necessidade do desenvolvimento das empresas em bases
sustentáveis tem incentivado a realização de pesquisas na área de
desenvolvimento tecnológico visando à utilização de fontes renováveis de
energia e a possível redução dos custos de geração dessas tecnologias na
matriz energética global.
No Brasil, o setor elétrico sempre foi, em sua predominância, hídrico. Em
1999, cerca de 94% da energia no país foi gerada pelas hidrelétricas,
1
Graduando em Direito pela PUC/PR Bolsista PIBIC/CNPq na temática “Meio Ambiente: uma análise
comparativa dos mecanismos econômicos de proteção”; orientado pelo prof. Dr. Roberto Catalano
Botelho Ferraz. Email: bruno.cherubino@yahoo.com.br
2
Graduada em Relações Internacionais pela UNICURITIBA e em Administração de Empresas pela FAE
Business School. Email: janainapas@yahoo.com.br
270
3
FERREIRA, Omar Campos. O Sistema Elétrico Brasileiro. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino
Superior, SECTES, Brasil. 2002. Disponível em <http://www.ecen.com/eee32/sistelet.htm>
4
Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia
(MME). Diretrizes e Prioridades da Política Energética. Fórum ABCE, realizado no Rio de Janeiro em
31/03/2009.
5
Artigo 2º da lei 9.427, de 26 de dezembro de 1996, que institui a ANEEL, disciplina o regime de
concessões e dá outras providências.
271
6
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9478.htm>
273
7
Disponível em < http://www.cidadessolares.org.br/downloads/leis/pl523-2007.pdf >
275
energia gerada e consumida no Brasil, devendo, até 2030, subir para 35%; d)
Até 2020, o Poder Público promoverá o inventário do potencial para a
construção, reativação ou o repotenciamento de PCHs por meio da realização
de inventário de bacias de médio e pequeno porte existentes, além de estudos
para a otimização de controles de carga/freqüência destas, prospectando o
potencial gerador; e) Até 2030, a União destinará 25% dos recursos
orçamentários federais (destinados anualmente ao desenvolvimento científico e
tecnológico) à pesquisa e à inovação de tecnologias, processos e produtos
relacionados à geração, transmissão e distribuição de energia produzida a
partir de fontes alternativas, à racionalização e à conservação de energia.
Importante mencionar, também, que em março de 2009, no Fórum
ABCE, realizado no Rio de Janeiro, a Secretaria de Planejamento e
Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia deu grande
ênfase quanto às Diretrizes Energéticas para a geração de energia elétrica com
fontes alternativas, estipulando como metas (i) o aproveitamento da geração
eólica, com um aumento de 5GW até 2030; (ii) o planejamento, até 2030, de
uma geração de energia elétrica de cerca de 1.300 MW com resíduos urbanos,
cerca de 7.000 MW com PCH e cerca de 6.000 MW com Biomassa da cana-
de-açúcar; (iii) a promoção de um mercado sustentável para fontes alternativas
de energia com sinergia das políticas energética e industrial.
1
A Oferta Interna de Energia também é conhecida como matriz energética, que representa toda energia
disponibilizada para poder ser transformada, distribuída e consumida nos processos produtivos do Brasil.
9
Disponível em: http://www.mme.gov.br
276
12
Fonte: La Farge, B. LeBiogaz –Procedes de Fermentation Méthanique. Paris: Masson, 1979.
279
13
Segundo informações do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.
Disponível em: http://www.ces.fgvsp.br
14
As emissões de gases do efeito estufa são expressas em toneladas de CO2 equivalente (tCO2e), que é a
medida padronizada pela ONU para quantificar as emissões globais.
280
5 CONCLUSÃO
15
Itaipu Binacional. Disponível em http://www.itaipu.gov.py/index.php?q=pt/node/435&id_noticia=2473
283
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMILA COPETTI 1
RAQUEL FABIANA SPAREMBERGER 2
1
Bacharel em Direito. Especialista em Gestão Ambiental. Mestranda em Desenvolvimento. Direito,
Política e Cidadania pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
2
Pós-Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora em Direito pela
Universidade Federal do Paraná, professora no Departamento de Estudos Jurídicos da Unijuí e no
Departamento de Direito Público do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Caxias do
Sul e nos programas de Mestrado em Desenvolvimento Gestão e Cidadania da Unijuí e no Mestrado em
Direito da Universidade de Caxias do Sul, professora pesquisadora no CNPq.
286
parasita, tomando o que dele deseja com pouca atenção pela saúde de seu
hospedeiro, isto é, do sistema de sustentação da sua vida” 3.
Estamos diante de uma verdadeira crise ambiental, a crise da percepção
da natureza pelo homem. Uma crise que não se limita apenas a aspectos
físicos, químicos ou biológicos das alterações do meio ambiente, mas uma
crise de valores culturais e espirituais que aflige toda a civilização moderna.
Modernidade que, na busca de um desenvolvimento sustentável não
deseja uma natureza-sujeito tampouco uma natureza-objeto. Ost 4 propõe um
conceito de natureza-projeto visando um desenvolvimento sustentado e um
futuro possível.
Neste novo estilo, sustentável, de desenvolvimento o movimento
ambientalista assume preponderantemente a formulação e implementação de
políticas públicas voltadas à proteção ambiental em lugares, tempos e por
motivos diferentes. Segundo MacCormick 5 o movimento ambientalista passou
dos movimentos nacionais para ser um movimento multinacional. Cresce a
percepção dentro do movimento ambientalista de que o discurso ambiental não
se encontrava efetivamente disseminado na sociedade brasileira.
Cresce a cultura ambientalista brasileira na exata medida que o
socioambientalismo se torna parte constitutiva de um universo cada vez maior
de organizações não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais. Isto se dá
ao passo que os grupos ambientalistas acabam por influenciar diversos
movimentos sociais que, embora não tenham como seu eixo central a temática
ambiental, acabam por incorporar gradativamente a proteção ambiental como
uma dimensão extremamente relevante ao seu trabalho desenvolvido. É um
movimento que se situa num cenário bastante amplo de direitos e
reivindicações.
Sem dúvida, em diversos países, principalmente os da América Latina
que se encontram em processo de industrialização, grupos ambientalistas
3
ODUM, Eugene P. Fundamentos da Ecologia. Lisboa: Fundação Clouste Gulbenkian, 1997, p.811.
4
OST, François. A natureza à margem da lei. Lisboa: Piaget, 1995.
5
McCORMICK, John. Rumo ao Paraíso. A história do Movimento Ambientalista. Cap. I, III, IV e V. Rio
de Janeiro: Relume-Dumerá, 1992.
288
6
CASTELLS, Manuel. O verdejar do ser: o movimento ambientalista. In O Poder da Identidade.
Tradução de Klauss Brandini Gerherd. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 141-168.
7
Op. cit.
289
8
Op. cit., p. 07-24.
9
Édis Milaré, em sua obra: Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005, p. 131, afirma que a corrida armamentista e as guerras, em regra, não passam de
dimensões entre países que buscam a conquista da hegemonia sobre os bens essências e estratégicos da
natureza. A questão ideológica nada mais é do que um biombo a esconder esta verdade. De fato, a
290
possibilidade de conflitos tende a aumentar, já que o mundo, depois de enfrentar a crise do petróleo na
segunda metade do século XX, prepara-se agora para enfrentar a crise da água. Lembre-se por exemplo,
que a paz no Oriente Médio estará sempre em risco pela ameaça de uma bomba-d’água. Aliás, um dos
motivos da guerra entre Israel e seus vizinhos ( a Guerra dos Seis Dias), em 1967, foi justamente a
ameaça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo da rio Jordão, que juntamente com seus afluentes,
fornece 60% da água consumida em Israel.
10
Lorenzetti, Ricardo Luis. Fundamentos de Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p.
557-558.
291
13
Apud PENA-VEGA, Alfredo. O Despertar Ecológico: Edgar Morin e a ecologia complexa. Tradução:
Renato Carvalheira do Nascimento e Elimar Pinheiro do Nascimento. Rio de Janeiro: Garamond, 2003, p.
25.
293
14
LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araujo. Direito ambiental na sociedade de Risco.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 14.
294
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Houve tempos em que os recursos naturais eram explorados pelos
homens visando a seus benefícios próprios, sem que se evitassem os
desperdícios, os danos ao ambiente e à sua saúde. Pode parecer que esse
discurso descreva também a atualidade, mas isso seria inaceitável. Nos últimos
séculos evoluímos numa velocidade assustadora na produção de tecnologia,
chegando ao nível de que no século XXI as máquinas estão muito acessíveis.
Se por um lado a ciência tem esse poder, qual seja o de inovação, é na
consciência que o homem determina como usar o que aprende.
Vislumbra-se uma nova forma de gestão do planeta, em que participam
profissionais de todas as áreas porque se preocupam com o bem estar e
entendem que ele decorre do equilíbrio ambiental. Estudam-se vários conceitos
novos, impensáveis há algumas décadas atrás, como “sociedade de risco” e
“Estado de Direito Ambiental”. A compreensão desses conceitos contribui para
a criação de meios de contornar os prejuízos ao meio ambiente.
3 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO AMBIENTE
Ao mesmo tempo, o contexto era favorável a que o tema meio ambiente
estivesse presente na Constituição. A consciência ecológica da comunidade
internacional era uma influência. Desde essa época, já havia uma pressão dos
Estados e organizações internacionais para que os governos tomassem parte
na tarefa de preservar a natureza. Além disso, não só a comunidade científica
constatava os danos com maior precisão, como também a informação chegava
ao cidadão comum. No Brasil, ouvia-se falar em derrubada sistemática de
florestas, várias espécies ameaçadas de extinção, falta de planejamento
urbano e conseqüente destruição de ecossistemas para a habitação, aumento
da poluição dos rios.
Até a década de 1980, os movimentos ambientalistas brasileiros, assim
como outros movimentos sociais, não haviam deixado de fomentar idéias, mas
297
viam sufocadas suas ações. Conforme relata Juliana Santilli 2, não era interesse
do governo militar desenvolvimentista que fossem divulgados, por exemplo,
dados sobre os impactos ambientais de suas obras. Porém, à medida que os
militares perdiam o domínio do país, surgiu a oportunidade que os
ambientalistas estavam esperando e que não poderia ser desperdiçada.
Assim, a Assembléia Constituinte de 1988 não só “abriu espaço” para a
proteção do meio ambiente no novo texto, mas entendeu a importância de
tomar duas medidas distintas. A primeira é tratar do meio ambiente em artigos
espalhados, dada a diversidade dos fatores que dele fazem parte. Alguns
exemplos do que a Constituição regulamenta são a propaganda de tabaco
(impondo restrições), o transporte de gás natural e de petróleo e derivados, a
defesa do solo e recursos naturais, o saneamento básico e a responsabilidade
civil por danos nucleares (artigos 220, §4°; 177, IV; 24, VI; 23, IX; 21, XXIII).
A segunda medida é concentrar no capítulo “Do meio ambiente” os
deveres que incumbem ao Poder Público. O artigo 225 logo de início afirma
que "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”. Fica claro que há um direito-dever. De acordo
com Canotilho 3: Como o patrimônio natural não foi criado por nenhuma
geração e como, dentro de cada geração, se deve assegurar igualdade e
justiça ambientais, o direito ao ambiente de cada um é também um dever de
cidadania na defesa do ambiente.”
O artigo 225 representa grande progresso, pois traz a perspectiva de
construir uma sociedade sem precedentes, que se preocupa com o bem estar
de todos, inclusive das próximas gerações. Rodrigo César Rebello Pinho 4
explica que a atual Constituição brasileira foi a primeira a inserir em seu texto a
tutela dos chamados direitos difusos. Em tempos de globalização, fala-se em
2
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 27
3
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada.
Disponível em: http://www.unifap.br/ppgdapp/biblioteca/Estado_de_direito.doc . Data de acesso:
15/05/09.
4
PINHO, Rodrigo César Rebello. Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 71
298
4 ESTADO DE DIREITO
Para que se tenha uma melhor compreensão da importância do
exercício pleno dos direitos humanos, um conceito que deve ser introduzido é o
de Estado de Direito. Conforme CANOTILHO (1999),
5
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e novos direitos. São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 59
299
6 SOCIEDADE DE RISCO
Na sociedade atual, nos Estados de Direito, observa-se acentuado
crescimento da riqueza. Faz-se a ressalva de que a riqueza é concentrada nas
mãos de poucos. Tal produção social de riqueza, conforme salienta Ulrich
Beck, vem acompanhada por uma produção social de riscos.
“Risco pode ser definido como um modo sistemático de lidar com
perigos e inseguranças da própria modernidade 6” (tradução nossa). O risco, na
sua leitura denotativa, que pode ser facilmente compilada à conotativa, significa
expor à má fortuna, sujeitar ao arbítrio da sorte algo que, com o devido
cuidado, poderia ser preservado e não o é, seja por ação ou negligência. A
sociedade de risco originou-se após a sociedade industrial, datando de um
período pós século XVIII.
6
BECK, Ulrich. Esta definição vem de Risk Society, p. 21: “Risk may be defined as a systematic way of
dealing with hazards and insecurities introduced by modernization itself”
300
7 JUSTIÇA AMBIENTAL
No que tange às contrapartidas à defesa de um Estado de Direito
Ambiental e o conseqüente movimento ambientalista que lhe é inerente existe
a chamada “Justiça Ambiental” (Environmental Justice). Trata-se de um
movimento surgido nos EUA na década de 80 do séc. XX., em resposta ao
movimento ambientalista e às primeiras leis de proteção ambiental
(especialmente o Clean Air Act e o Clean Water Act). O movimento era
composto pelas pessoas de baixa renda e, geralmente, de raça negra, motivo
pelo qual era conhecido com a bandeira de “racismo ambiental”. Acusava as
leis de proteção como sendo iniciativa de classe média, que atingiam
negativamente as classes sociais desfavorecidas e as minorias raciais. Tal
movimento transformou-se em protesto após os governos estaduais instalarem
aterros de resíduos tóxicos próximos a bairros de predominância negra.
Atualmente, relaciona-se o tema da Justiça Ambiental com a distribuição
desigual, não equânime, de benefícios e malefícios diretamente decorrentes da
legislação ambiental, ou até da diferença de afetação dos problemas
ambientais entre os diversos grupos socioeconômicos. Segundo os defensores
do tema ora abordado, haveria uma maior vulnerabilidade de alguns grupos da
sociedade à legislação ambiental. Dessa forma, a população de baixa renda,
grupos étnicos ou raciais estariam mais sujeitas aos deméritos dessa
legislação. Para modificar tal panorama, deveria ser conferido a eles o direito
de participar efetivamente das decisões que os afetem e pleitear medidas
compensatórias pelos gravames por eles suportados.
8 CONCLUSÃO
Em verdade, pode-se constatar que, de fato, o Estado de Direito
Ambiental ainda não existe plenamente. In casu, a teoria diverge da prática. Na
303
7
GUERRA, Sidney. Desenvolvimento Sustentável na Sociedade de Risco Global: Breves Reflexões sobre
o Direito Internacional Ambiental. Disponível em: http://www.conpedi.org/anais_manaus.html. Data de
acesso: 18/05/09
304
1 INTRODUÇÃO
Diante das perspectivas de esgotamento das reservas de combustíveis
fósseis e dos compromissos com a questão ambiental assumidos com o
Protocolo de Quioto, renasce a atenção por fontes alternativas de energia,
dentre elas os biocombustíveis. O trabalho objetiva analisar os biocombustíveis
e os possíveis impactos ambientais resultantes da produção em larga escala
no país. Por fim, frente às pesquisas apresentadas, estuda-se o princípio da
precaução e a aplicação deste aos programas governamentais denominados
Programa Nacional do Álcool e Programa Nacional de Produção de Biodiesel.
2 BIOCOMBUSTÍVEIS
2.1 CONCEITO
O IPCC define biocombustível como qualquer combustível líquido,
gasoso ou sólido produzido por matéria orgânica animal ou vegetal, como, por
exemplo, o óleo de soja, o álcool de fermento de açúcar, a madeira como
combustível, entre outros. 3
O ordenamento jurídico pátrio, através do art. 6º, XXIV, da Lei n.
9.478/97, alterado pela Lei n. 11.097/05, conceitua biocombustível como o
1
Graduado em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (2007);
graduando do Curso de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista do CNPq/PIBIC
desde 2007.
2
Graduanda do curso de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina e bolsista pelo CNPq no
programa iniciação científica.
3
Traduzido pela autora: Any liquid, gaseous, or solid fuel produced from plant or animal organic matter.
E.g. soybean oil, alcohol from fermented sugar, black liquor from the paper manufacturing process, wood
as fuel, etc. In: IPCC. Glossary. Disponível em: <http://www.ipcc.ch/pdf/glossary/ar4-wg3.pdf>. Acesso
em: 29 fev. 2009.
306
4
COELHO, Jorge Cals. Biomassa, biocombustíveis, bioenergia. Brasília: Ministério de Minas e
Energia, 1982. p. 19.
5
KAREKESI, S., COELHO, S. T., LATA, K. Status of Biomass Energy in Developing Countries and
Prospects for International Collaboration. In GFSE-5 Enhancing International Cooperation on
Biomass. Background Paper. Áustria, 2005. p. 3.
307
6
LE HIR, Pierre. As microalgas podem constituir a fonte ideal para os biocombustíveis do futuro.
Tradução: Jean-Yves de Neufville. Le Monde, Paris, out. 2008. Disponível em:
<http://www.biodieselbr.com/noticias/em-foco/microalgas-constituir-fonte-ideal-biocombustiveis-futuro-
27-10-08.htm>. Acesso em: 04 abr. 2009.
7
CENPES e PETROBRÁS, Agroenergias – Novas Fronteiras da Pesquisa nos Biocombustíveis.
SBIAgro, 2007. Disponível em: < http://www.sbiagro2007.cnptia.embrapa.br/apresentacoes/
palestras/PETROBRAS.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2009.
308
8
Biodiesel de algas a passos lentos no Brasil. Gazeta Mercantil, São Paulo, 13 ago. 2007. Disponível
em: <http://www.biodieselbr.com/noticias/em-foco/biodiesel-algas-passos-lentos-brasil-13-08-07.htm>.
Acesso em: 04 abr. 2009.
9
TRINDADE, Riomar. Produção de biodiesel com microalgas está sendo pesquisado pela Petrobrás.
Agência Brasil, Brasília, mar. 2009. Disponível em: <http://www.biodieselbr.com/noticias/em-
foco/producao-biodiesel-microalgas-pesquisada-petrobras-15-03-09.htm>. Acesso em: 04 abr. 2009.
10
Biodiesel das algas a passos lentos no Brasil, op. cit.
309
2.3.2 Biodiesel
De acordo com o art. 6º, XXV, da Lei n. 9.478/97, alterado pela Lei n.
11.097/05, biodiesel é:
11
BNDES e CGEE (Org.). Bioetanol de cana-de-açúcar : energia para o desenvolvimento
sustentável. Rio de Janeiro : BNDES, 2008. p. 41.
12
Id. Ibid. p. 41 e 43.
310
13
ANP. Resolução ANP Nº 7, de 19.3.2008. Disponível em: <http://www.anp.gov.br>. Acesso em 23
mar. 2009.
14
LEAL, Manoel Régis L. V.; LEITE, Rogério Cezar de C. O biocombustível no Brasil. Revista Novos
Estudos, São Paulo, n. 78, p. 15-21, julho 2007.
15
AGARWAL, Avinash Kumar. Biofuels (alcohols and biodiesel) applications as fuels for internal
combustion engines. Progress in Energy and Combustion Science, United Kingdom, v. 33, n.3, p. 233-
271, 2007.
16
DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 167.
17
Id. Ibid. p. 167.
18
. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Malheiros, 2009. p. 70.
311
19
BARROS-PLATIAU, Ana Flavia; VARELLA, Marcelo Dias. O princípio de precaução e sua aplicação
comparada nos regimes da diversidade biológica e de mudanças climáticas. Revista de Direitos Difusos,
São Paulo, v.12, abr. 2002. p. 1587.
20
LEITE, José Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2. ed., rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 209.
21
Barros-Platiau et al. p. 1588.
22
ANTUNES, Paulo D. Bessa. Princípio da precaução: breve análise de sua aplicação pelo Tribunal
Regional Federal da 1ª Região. Interesse Público, Porto Alegre, v.9, n. 43, maio/jun. 2007. p. 43.
23
LEITE, 2003, op. cit., p. 49.
24
FREESTONE, 1992, p. 24 Apud ARAGÃO, Maria Alexandre de Sousa. O princípio do poluidor-
pagador: pedra angular da política comunitária do ambiente. Coimbra: Coimbra, 1997. p. 68.
312
25
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de Direito Ambiental (parte geral). São Paulo: Max
Limond, 2002. p. 150.
26
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 17 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Malheiros, 2009. p. 81.
27
CARVALHO, Simone Pereira de; MARIN, Joel Orlando Bevilaqua. As contradições presentes no
discurso do atual Programa Nacional de Agroenergia. In: XLVI Congresso da Sociedade Brasileira de
Economia, Administração e Sociologia Rural, 2008, Acre. Anais do XLVI Congresso. Rio Branco :
SOBER, 2008/ AGARWAL, Avinash Kumar. Biofuels (alcohols and biodiesel) applications as fuels for
internal combustion engines. Progress in Energy and Combustion Science, v. 33, n.3, 2007./ Bioetanol
313
29
ARIMA, E.; BARRETO, P.; BRITO, M. Pecuária na Amazônia: tendências e implicaçõoes para a
conservação. Belém, Imazon, 2005.
30
PICENTE, Fabrício José. Agroindústrias canavieira e o sistema de gestão ambiental: o caso das
usinas localizadas nas bacias hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. 177 f. Universidade
Estadual de Campinas. Instituto de Economia. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento
Econômico. Dissertação de Mestrado. p. 22-23.
315
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
Como visto linhas acima, o ponto nodal na temática dos biocombustíveis
decorre das incertezas que, todavia, cercam os aspectos ambientais inerentes
a produção e utilização dos mesmos. Se por um lado, parte da comunidade
científica afirma que a substituição dos combustíveis fósseis por
biocombustíveis traz consigo um grande ganho ambiental, outros estudiosos
31
LIMA, Paulo César Ribeiro. Biocombustíveis, renda e alimentos: estudo junho/2007. Brasília:
Consultoria Legislativa, 2007. p. 28.
32
Id. Ibid. p. 17
33
ABRANCHES, Sérgio. Para onde irão os biocombustíveis? Texto publicado em 05/12/2008.
Disponível em: <http://www.oeco.com.br/sergio-abranches/35-sergio-abranches/20444-para-aonde-irao-
os-biocombustiveis>. Acesso em: 07 maio 2009.
317
1
CARLOS EDUARDO LEVY
2
NATALIA JODAS
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho retrata a importância do princípio da Precaução no
Direito Ambiental e por outro lado a sua não aplicação em casos concretos no
contexto judiciário brasileiro. Demonstra e critica decisões dos Tribunais que
permitem o Fato Consumado e se acomodam na irreversibilidade de danos sob
a tutela do Judiciário, diante de situações de danos irreparáveis à sociedade,
quais sejam aqueles que lesionam o meio ambiente e seus elementos e
atributos mais relevantes à sociedade, como a qualidade da água, as
populações tradicionais e a biodiversidade. Por fim, expõe um caso concreto
sob análise: a construção da Usina Hidrelétrica Mauá, no rio Tibagi, Estado do
Paraná.
2 O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
Precaução, substantivo do verbo “Precaver-se”, do Latim prae = antes e
cavere = tomar cuidado, consiste em “cuidados antecipados”, cautela para que
uma atividade ou ação não venha a resultar efeitos indesejáveis. 3 A idéia
central no contexto do Direito Ambiental Brasileiro está na adoção de uma
postura muito anterior à eliminação ou redução de um dano ambiental já
existente ou iminente, enfocado, na verdade, na consciência de que qualquer
1
Advogado da ONG Meio Ambiente Equilibrado, especialista em direito ambiental pela PUC-PR e
mestre em geografia, meio ambiente e desenvolvimento pela UEL carloseduardolevy@gmail.com
2
Estudante do quinto ano de Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), membro do Grupo
de Estudos em Direito Ambiental da ONG Meio Ambiente Equilibrado. najodas@gmail.com
3
MIRRA, A. L. V. Direito Ambiental: O Princípio da Precaução e sua Abordagem Judicial. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo: Revista dos Tribunais, Ano 06, nº 21, p. 92-102, Jan-Mar. 2001.
319
tipo de risco, ainda que não comprovado cientificamente, deva ser combatido
desde o início, de seu “exórdio”.
O princípio 15 da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e Desenvolvimento – Rio de Janeiro - 1992, esculpiu a concepção do
supracitado princípio ao ditar: “De modo a proteger o meio ambiente, o
princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de
acordo com as suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou
irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada
como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para
prevenir a degradação ambiental”.
O intuito do princípio norteador do Direito Ambiental, qual seja o da
Precaução, vincula-se à proteção imediata de um bem coletivo absoluto em
face da incerteza ou da controvérsia científica atuais. Desta forma, existindo
dúvida sobre a possibilidade futura de dano ao homem e ao meio ambiente, a
solução deve ser favorável ao ambiente e não ao lucro imediato - por mais
4
atraente que seja para as gerações presentes.
4
MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 6ª ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 507.
320
5
BARBOSA, C. M. Poder Judiciário: reforma para quê ? Documento acessado eletronicamente em
12/03/09. Disponível em www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2339. p.7.
321
6
CAMPILONGO.C.F. Política, Sistema Jurídico e Decisão Judicial. São Paulo: Max Limonad, 2002.
p.61.
7
CAMPILONGO. Op. cit. p.63.
8
BRASIL. Constituição Federal de 1988, artigo 225, caput: “Todos têm o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras
gerações.”
322
9
FARIA. J. E. O Poder Judiciário no Brasil: paradoxos, desafios e alternativas. Brasília: Conselho da
Justiça Federal,1995.Série Monografias do CEJ. p.15. apud MOREIRA. H. D. R. F. Poder Judiciário no
Brasil – Crise da Eficiência. 1ªed. Curitiba: Juruá Editora, 2004. p.83.
10
MEDRI, M. E. et al. (Ed.) A Bacia do Rio Tibagi. Londrina: Eduel, 2002.
323
7 CONCLUSÕES ARTICULADAS
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Cláudia Maria. Poder Judiciário: reforma para quê?. Disponível em:
www.ambito-
juridico.com.br/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2339 .
RESUMO: O presente artigo tem como objetivos analisar a Lei estadual nº 14.675/09, que
instituiu o Código Ambiental em Santa Catarina, em face do princípio da proibição do
retrocesso ecológico, apresentando os principais aspectos desse novo principio, abordando a
partilha constitucional da competência legislativa em matéria ambiental e discutindo alguns
dispositivos do novo Código Ambiental à luz da Constituição Federal de 1988, da legislação
infraconstitucional e dos princípios de direito ambiental.
1
Doutoranda em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisadora do Cnpq e membro do Grupo de
Pesquisa Direito Ambiental e Ecologia Política na Sociedade de Risco - GPDA. E-mail:
carolmbahia@hotmail.com .
2
Doutorando em Direito Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro de Ciências
Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina, pesquisador do Cnpq e membro do Grupo de
Pesquisa Direito Ambiental e Ecologia Política na Sociedade de Risco - GPDA. E-mail:
sarauvirtual@gmail.com
3
Advogado e membro do Grupo de Pesquisa Direito Ambiental e Ecologia Política na Sociedade de Risco
- GPDA. E-mail: carijós.2006@gmail.com
332
4
De acordo com o site http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1084086-5598,00-
GOVERNADOR+DE+SC+SANCIONA+LEI+QUE+CRIA+CODIGO+AMBIENTAL+DO+ESTADO.h
tml, o ministro Carlos Minc chegou a afirmar que: “Nós vamos dar uma orientação muito clara ao Ibama
que desconheça essa lei. O Ibama em Santa Catarina fará valer a lei federal, ou seja, quem desmatar ou
fizer um empreendimento a dez metros de um rio, que a lei federal diz que tem que ser preservado, terá o
projeto embargado. Se o responsável insistir, será preso e, em suma, será tratado como um transgressor da
lei, um criminoso ambiental”.
335
supletiva, pode criar formas mais rígidas de controle. Não formas mais flexíveis
ou permissivas.”
Se a repartição constitucional da competência legislativa tivesse caráter
horizontal, como ocorre na matéria administrativa (competência comum),
poder-se-ia falar em relativa igualdade no exercício legislativo entre Estado de
Santa Catarina e União. Como a competência concorrente é vertical por
definição, as regras do Código Ambiental de Santa Catarina em desacordo com
normas federais devem ser consideradas inválidas (conseqüentemente,
inconstitucionais, por estarem ferindo as referidas regras de repartição de
competências) ou, na melhor hipótese, inaplicáveis, por recaírem sobre o
mesmo espaço geográfico normas federais válidas e eficazes, ambientalmente
mais restritivas. Tal argumentação é coerente com a declaração do Ministro
Carlos Minc, referida anteriormente, de que o IBAMA irá desconhecer a lei
Estadual, para efeito do cumprimento das normas florestais. Em seguida, serão
abordados alguns dos pontos mais questionáveis da nova legislação estadual.
O artigo 118, por sua vez, prevê o uso econômico sustentável da APP, a
partir de autorização do órgão estadual competente em inúmeros casos,
incluindo, por exemplo (I) manejo agroflorestal sustentável, (IV) pesquisa e
extração de argila, saibro e cascalho, (VII) implantação de trilhas para
desenvolvimento turístico, (XII) instalação de equipamentos para captação de
água, dentre outros.
343
5 CONCLUSÕES
Efetivar o direito constitucional de todos ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado requer não agredir a natureza além da sua capacidade de recuperação.
Contudo, os efeitos da ação humana sobre o ambiente – consumo desequilibrado
de matéria-prima e energia e eliminação de rejeitos além das capacidades de
assimilação do ecossistema – são sentidos por meio do panorama estatístico, vide
dados sobre proliferação de queimadas e no próprio cotidiano, vide situações
crônicas de deterioração da qualidade do ar e carência de água. Algumas vezes,
tais efeitos são sentidos em circunstâncias dramáticas, como nas enchentes que
recentemente assolaram várias regiões do Estado de Santa Catarina e cuja
gravidade dos danos deve-se, em grande parte, à ocupação urbana desordenada e
à inobservância das normas de proteção da cobertura vegetal, muito embora não
existam dados conclusivos sobre o tema.
Tal cenário carece ser debatido juridicamente sob a luz do princípio da
proibição do retrocesso ecológico, a partir do qual se reputa inadmissível
recuar, especialmente em âmbito normativo, para níveis de proteção ecológica
inferiores aos anteriormente consagrados, em uma temática específica de
forma global. O princípio, como exposto, encontra suporte especialmente no
artigo 225 e no artigo 5º. da Constituição Federal, bem como em documentos
internacionais, além de estar implícito no ordenamento. Cabe, pois, falar em
um limite para a atuação Estatal, isto é, de uma obrigação de não rever ou
revogar normas no sentido de torná-las ambientalmente menos restritivas, a
menos que as circunstâncias que motivaram a adoção daquelas normas
tenham se alterado drasticamente.
345
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 13. ed. São
Paulo: Malheiros.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19.ed. São
Paulo: Malheiros, 2001.
347
1
CECILIA DE LARA HADDAD
2
MARIA ELISA DE PAULA EDUARDO GARAVELLO
1 INTRODUÇÃO
O Direito, como uma das manifestações culturais de uma determinada
sociedade, reflete os valores que estão em sua base, por este motivo, afirma-
se que, em cada período histórico da civilização ocidental, dominou um tipo
diferente de ordenação jurídica, a qual, segundo constata Wolkmer (2001) está
diretamente vinculado a um certo tipo de produção econômica, bem como a
uma determinada estrutura de poder dominante.
No presente trabalho pretende-se elaborar uma análise do Direito
Moderno, já que parte-se do pressuposto de que o Direito Contemporâneo, por
ainda estar atrelado àquele modelo de legalidade, passa por uma grave crise,
pois, em geral, têm se mostrado ineficaz em sua tentativa de regular, de forma
homogênea, um contexto complexo e diversificado como o atual.
Para realizar um estudo aprofundado sobre a ineficácia jurídica no
cenário Pós-Moderno, pretende-se focar, especificamente, no embate travado
entre o modo de subsistência adotado pelas comunidades quilombolas e a
obrigatoriedade de conservação das Áreas de Preservação Permanente
(APPs), instituídas pelo Código Florestal.
1
Advogada e Doutoranda em Ecologia Aplicada Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da
Universidade de São Paulo- chaddad@esalq.usp.br
2
Doutora em Antropologia e Professora do PPGI em Ecologia Aplicada e do Departamento de Economia,
Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São
Paulo – mepegara@esalq.usp.br
348
2 DESENVOLVIMENTO
A Era Moderna, no conceito proposto por Guiddens (1991), é um período
histórico compreendido entre os séculos XVII e XIX, que ensejou um conjunto
de transformações: políticas, sociais, culturais e econômicas, que foram
produzidas e sustentadas por ideais de liberdade e racionalidade, o que
resultou numa reconfiguração das relações humanas e sociais na Europa
Ocidental que, pouco a pouco, foram se tornando universais.
O ideal de liberdade da modernidade foi relacionado a uma sociedade
que aspirava ser livre dos dogmas da Idade Média, principalmente nos
aspectos: econômico, intelectual, religioso, o que se acreditou ser somente
obtido através da razão.
Deste modo, a fé religiosa e a crença em valores espirituais como
determinantes da vida temporal, que imperavam na mentalidade e no
pensamento medievais, foram, aos poucos, substituídos por uma fé racional,
pela crença no conhecimento científico como verdade maior.
Esclarece-se que, entre os séculos XVI e XVII, deu-se início a um
período intenso de racionalização, denominado de Revolução Científica,
oportunidade em que as realizações de Copérnico, Galileu, Bacon, Descartes e
Newton culminaram em mudanças profundas na Ciência.
Descartes propôs um método analítico que consiste em decompor
pensamentos lógicos e problemas em suas partes componentes. No entanto, a
excessiva ênfase dada ao mesmo, resultou na fragmentação do pensamento
349
regra jurídica enquanto momento da conduta. Neste sentido, tem a ver com
cumprimento, reconhecimento e efeitos da mesma no plano social. Assim, para
o mesmo autor (1999), para uma regra ser eficaz é necessário que a sociedade
viva o direito e como tal o reconheça, pois uma vez reconhecido, ele será
facilmente incorporado à maneira de ser e de agir da coletividade.
Por este motivo, Castro (2001) conclui que a ineficácia de uma norma se
dá pela sua não correspondência às necessidades do grupo social ao qual é
dirigida, situação que para Bittar (2005), espelha o não comprometimento do
ordenamento jurídico com a cultura a qual se insere.
Neste sentido, importante esclarecer que o não cumprimento do Código
Florestal pelas comunidades quilombolas analisadas não se dá por descaso,
mas por necessidade, já que se situam em um relevo acidentado, o que implica
em maior dificuldade de acesso e de plantio nos morros, por este motivo é
dado preferência às áreas de várzeas, que são mais planas e mais férteis.
Ademais, ao contrário do que possa parecer, o cultivo desse tipo de
agricultura, pode ser denominado de sustentável, já que segundo explica
Hernani (1986), ela auxilia no aumento das taxas de decomposição de matéria
orgânica em camadas superiores do solo, decorrentes da liberação dos
nutrientes através das cinzas, bem como reduz pragas e doenças.
No mesmo sentido, Sampaio (1998) esclarece que após a queima do
local, os nutrientes ficam disponíveis por um ou dois anos, por conseguinte,
essas áreas, ao serem abandonadas por um período de pousio, contribuem
para que haja o crescimento rápido de nova vegetação já que esta aproveita os
nutrientes remanescentes do solo.
Gomez- Pompa e Kaus (2000) ressaltam a sustentabilidade deste tipo
de agricultura ao atribuírem à intervenção humana por meio do cultivo
itinerante, importante papel na composição da biodiversidade em florestas
tropicais.
No mesmo sentido, Balée (1998), Diegues (2000) e Posey (2000)
afirmam que muitas das áreas habitadas por populações tradicionais se
conservam com cobertura florestal e com alta biodiversidade em virtude do
manejo ligado ao modo de vida dessas comunidades.
359
3 CONCLUSÃO
Ante o exposto, urge compreender que o descumprimento do Código
Florestal pelos remanescentes de quilombos não é uma crise pontual do
ordenamento jurídico brasileiro, mas traduz um problema estrutural capaz de
significar a desrazão de toda a arquitetura jurídica projetada para sua aplicação
sobre a realidade social.
Trata-se, portanto, da falência de um sistema jurídico baseado nos
valores modernos, onde a lei, fruto da razão, é universal, portanto deve ser
igual em todos os lugares, em todos os tempos e para todos os grupos sociais,
o que provoca sua total inadequação, e consequentemente, inobservância,
haja vista não ser compatível com as particularidades culturais locais.
Nestes termos, a crise de ineficácia do Direito, em seu modelo legalista
e positivista do século XIX, toma proporções cada vez maiores já que a
sociedade Pós-Moderna é essencialmente plural e diversificada, deste modo,
portadora de diferentes carências e necessidades que não podem, portanto,
serem resumidas em uma única proposta legal.
Deste modo, no tocante, especificamente, às Comunidades
Quilombolas, que ainda preservam sua cultura tradicional, ou seja, moldam-se
a um tipo de organização social e de práticas produtivas que poderia ser
identificada como uma economia de subsistência, é necessário a elaboração
de novas normas, direcionadas a efetivar a tutela da diferença, enquanto
diferença, através da integração tanto de aspectos ligados à conservação da
natureza (artigo 225 da C.F/88), como também dos aspectos relacionados à
preservação da cultura quilombola (artigo 215 c/c 216, ambos da CF/88), por
meio de uma interpretação sistêmica e, portanto, socioambiental, da
Constituição Federal de 1988.
361
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
As questões ambientais ganham espaço para maiores reflexões e
estudos principalmente com o desenvolvimento das atividades agroindustriais
canavieiras que empregam, lamentavelmente, o uso de métodos e substâncias
massivas e nocivas ao meio ambiente bem como sobre as condições dos
trabalhadores e pequenos produtores rurais a mercê do propalado
desenvolvimento econômico global.
Qualquer estratégia de desenvolvimento que não traduz em seu bojo as
sustentabilidades ambiental, econômica e social, trará conseqüências para o
setor produtivo empresarial, para a sociedade e para o meio ambiente. Altvater
(1995) preleciona que o desenvolvimento econômico e o meio ambiente
deverão ser recíprocos, porque as atividades econômicas transformam o meio
ambiente e, este alterado pode constituir em restrição para o futuro, pois seus
1
* Mestre em Direito na área de Integração e Relações Empresariais pela Universidade de
Ribeirão Preto/ UNAERP-SP. Professora e pesquisadora da Universidade Paulista UNIP.
Pesquisadora do Núcleo de Patentes e Transferência de Tecnologia-NUPATTE-GO e da Rede
Ibero Americana de Propriedade Intelectual e Gestão da Inovação – RIAPIGI-GO. Endereço:
Rua C-257, n. 80, Edifício Suíça Park, Bairro Nova Suíça, Goiânia-GO, cep: 74.280-200.
E.mail: charlene_plaza@hotmail.com.
2
** Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP. Professor
Doutor UFG/UCG. Coordenador Geral do Núcleo de Patentes e Transferência de Tecnologia-
NUPATTE-GO. Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito,
Relações Internacionais e Desenvolvimento-UCG-GO. Coordenador da Rede Estadual de
Pesquisa em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia – REPPITTEC-FAPEG-GO
E.mail: nivaldo@ucg.br.
3
*** Acadêmica de Direito da Universidade Federal de Goiás. Pesquisadora do Núcleo de
Patentes e Transferência de Tecnologia-NUPATTE-GO e da Rede Ibero Americana de
Propriedade Intelectual e Gestão da Inovação – RIAPIGI-GO.
Fomento: CNPq, FUNADESP, FAPEG, CAPES, FUNAPE.
365
4
De acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – ÚNICA – a última safra finalizada
em abril passado deverá ter um salto de 17,8 bilhões de litros para 38 bilhões de litros até 2012. Neste
período, 76 novas usinas deverão se somar às 325 atualmente em operação, e as terras ocupadas com
canaviais aumentarão e 6,5 milhões de hectares para 10 milhões.
367
5
O Cerrado é um bioma que abrigam mais de 10 mil espécies de plantas, das quais 4.400 são endêmicas,
847 espécies de pássaros e quase 300 e mamíferos. Fonte da Organização não-governamental
Conservação Internacional.
370
6
A média salarial variava entre dois a dois salários mínimos e meio. Atualmente, 1 salário mínimo
mensal. Com relação à produtividade laboral, o trabalhador cortava 6 toneladas dia de cana e hoje a média
é de 10 toneladas a 12 t diárias.
374
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAO. Food and Agriculture Organization. Sugar cane used in the production of
the biofuel, ethanol. Disponível em: http://www.fao.org/. Acesso em: 22/04/07.
378
FAO. Food and Agriculture Organization. Para FAO o petróleo afeta mais o
preço dos alimentos. Jornal Valor Econômico. Caderno Especial. Abril/2008.
1 INTRODUÇÃO
O meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia
qualidade de vida vem, há muito, sofrendo a ação indiscriminada do homem.
Protegido de longa data em nosso ordenamento jurídico foi erigido à condição
de direito fundamental pela Constituição Federal de 1988 2. SARLET (1998, p.
52) o considera um direito difuso de terceira geração, acompanhado de outros
1
Professora efetiva no curso de Direito da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
Mestranda em Direito pela UNITOLEDO – Centro Universitário Toledo de Araçatuba. Especialista em
Direito Civil e Direito Processual Civil. Endereço eletrônico: claudiabatista@uems.br
2
Art.225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
381
autores 3.
Não obstante as Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1947 já
apresentassem alguns dispositivos regulando a exploração de recursos
naturais, SÁ e CARREIRA (1999, p.37) apontam que as previsões
constitucionais não se pautavam no intuito de preservação ambiental, mas
representavam disposições de caráter utilitarista, destinadas a regular os
aspectos econômicos que envolviam a exploração de recursos naturais. A
regulação do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado na Carta
Magna de 1988 tem estreita relação com a Declaração de Estocolmo de 1972,
cujos ideais encontram origem na Declaração Universal dos Direitos
Humanos 4. Ao contrário das que lhe antecederam, a atual constituição
estabelece normas de direito ambiental fundadas em princípios
preservacionistas. CANOTILHO (2008, p. 81) explana que o caráter de direito
fundamental é verificado no aspecto formal e material. Formalmente o direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado passa a ser fundamental porque
assim considerado pelo legislador constituinte. É materialmente fundamental
por ser parte integrante da estrutura elementar do Estado.
Embora a preservação ambiental tenha ganhado maior conotação a
partir de sua importância revelada no texto constitucional, a origem de sua
proteção, segundo MILARÉ (2001, p.79), é classificada em remota e próxima.
Tratando da origem próxima da preocupação ambiental, a evolução legislativa
data de pouco mais de um século, embora tenha se tornado objeto de maior
importância em razão do desejo desenfreado de crescimento no pós-guerra.
Quanto à origem remota, já se verifica preocupações ambientais com proibição
de corte de árvores em Deuteronômio 5.
3
SARLET, Ingo. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livravia do Advogado, 1998;
FREITAS, Vladimir Passos de. A Constituição Federal e a efeitividade das normas ambientais. São
Paulo: RT, 2000, p.25; TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Direitos Humanos e meio ambiente:
paralelo dos sistemas de proteção internacional.. Porto Alegre: Sergio Fabris,1993, p.51.
4
Declaração de Estocolmo
Princípio I “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade, e ao desfrute de condições de
vida adequadas em um meio cuja qualidade lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar e tem
a solene obrigação de proteger e melhorar esse maio para as gerações presentes e futuras”.
5
Deuteronômio 20:19 “Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar,
não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado, porque dele poderás comer; pelo que não o
cortarás; porventura a árvore do campo é homem, para que seja sitiada por ti ?”
382
6
Art. 3º. Para fins previstos nesta lei entende-se por:
I [...]
II – Degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente.
384
como responsável solidário por todo e qualquer dano ambiental provocado por
terceiro, sob o fundamento de que ao Estado compete o cumprimento do dever
constitucional de promover a defesa do meio ambiente. Esta postura enseja em
diversas conseqüências danosas que ao final serão expostas.
8
Helli Marques de Oliveira, apud SILVA, sustenta que a responsabilidade do Estado por dano provocado
por seu agente é objetiva e a responsabilidade solidária decorrente de dano de terceiro depende da prova
da atuação culposa do agente estatal, sendo, portanto, subjetiva. O próprio José Afonso da Silva analisa
com reservas a responsabilidade objetiva e solidária do estado por dano ambiental provocado por
terceiros, tanto sob o aspecto político quando pelo temor de socialização do dano. Entretanto o autor
considera de difícil sustentação a responsabilidade civil subjetiva do Estado por dano decorrente de
terceiro, posto que implicaria em restrição do dever imposto pela Constituição ao Estado de zelar pelo
meio ambiente e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. SILVA, José Afonso da. Direito
ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 317.
389
mesmo entendimento “eis que a omissão estatal é causa direta do dano” (2003,
p. 205).
Feitas as considerações acerca da responsabilidade do Estado por dano
provocado por seu próprio agente e dano provocado por terceiro, cumpre
analisar a responsabilidade do Estado decorrente da falha no dever de
fiscalizar, ainda que o ato danoso provocado por terceiro não tenha chegado ao
conhecimento do agente público. Pertinente se faz um questionamento: poderia
o Estado ser compelido a responder solidariamente por todo e qualquer dano
ambiental com fundamento no descumprimento do dever constitucional de agir,
sendo responsabilizado objetivamente inclusive pelo dano ambiental praticado
na clandestinidade?
Embora possa parecer hipótese semelhante à do policial que deixa de
atuar sendo conhecedor do dano, no segundo caso não há identidade de
condutas ante o desconhecimento da existência de ação danosa por parte do
agente público. No primeiro caso, o policial que deixa de agir diante de uma
agressão conhecida ou esperada comete omissão injustificável que caracteriza
culpa grave e culmina com a conseqüente inclusão do Estado no pólo passivo
da ação, mediante a prova da omissão no poder de polícia. No segundo, a
responsabilidade do Estado advém de evento danoso intentado na
clandestinidade. Entende-se por dano cometido na clandestinidade aquele em
que o Estado, atuando diligentemente com os contingentes de fiscalização
disponíveis não possa identificar ante a vastidão da área territorial sob guarda,
por exemplo.
A adoção da teoria da culpa grave ou a do risco integral é determinante
para o afastamento ou não da responsabilidade solidária do Estado no caso.
Pela teoria da culpa grave ter-se ia a responsabilidade solidária do Estado
mediante a comprovação da culpa do policial que deixa de agir conhecendo o
dano e a não responsabilização Estado no caso do dano provocado na
clandestinidade, por ausência de culpa grave.
A aplicação da teoria do risco integral implica, por sua vez, na identidade
de tratamentos jurídicos conferidos aos dois casos, incluindo-se o Estado no
pólo passivo da ação com fundamento na responsabilidade objetiva e solidária.
391
A teoria do risco integral supõe que a mera existência do risco gerado pela
atividade, intrínseco ou não a ela, deverá conduzir a responsabilização. [...] Basta que
o dano possa estar vinculado à existência do fator risco, o qual será imputado “causa”
do dano, pelo qual qualquer evento condicionante é equiparado à causa do prejuízo,
sem a exigência de que este seja uma conseqüência necessária, direta e imediata do
evento. Fundamenta-se na adoção do mero fator risco (STEIGLEDER, 2004, p. 204)
9
Amelise Monteiro Steigler aponta que Benjamim, Athias, Cavalieri Filho, Milaré, Nery Junior e Ferraz
393
5 CONCLUSÃO
A pesquisa realizada permite concluir que:
REFERÊNCIAS
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e reparação do dano ao meio
ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.
1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A evolução da proteção ambiental guarda estreitos laços com a
Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de
1948, em resposta aos horrores da Segunda Guerra Mundial, a Declaração tem
por ideais, entre outros, a valorização da vida e da dignidade da pessoa
humana, ideais estes que embasam e justificam a importância do meio
ambiente. É nesse contexto que se objetiva estudar a evolução do direito
ambiental no cenário internacional e pátrio, discorrendo acerca da importância
e eficácia de sua tutela, para a conquista da chamada Justiça Ambiental.
1
Professora efetiva no curso de Direito da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
Mestranda em Direito pela UNITOLEDO – Centro Universitário Toledo de Araçatuba. Especialista em
Direito Civil e Direito Processual Civil. Endereço eletrônico: claudiabatista@uems.br
397
2
Deuteronômio 20:19 “Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar,
não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado, porque dele poderás comer; pelo que não o
cortarás; porventura a árvore do campo é homem, para que seja sitiada por ti?” Deuteronômio 20:20
“Somente as árvores que souberes não serem árvores cujo fruto se pode comer, é que destruirás e
cortarás[...]”
398
3
Princípio 1 - O Homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de
vida adequada, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de
bem estar e é portador da solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
presentes e futuras.
399
abrangente pela Carta Magna de 1988, que erigiu o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado como direito fundamental que, não obstante não
formalmente previsto no rol do artigo 5º, desfruta de verdadeiro status de direito
fundamental. A Constituição Federal tutela o meio ambiente no artigo 225 e
seguintes, definindo-o como bem de uso comum do povo e impondo ao Estado
e aos indivíduos o dever de preservá-lo 4. A importância atribuída ao tema pelo
Legislador Constitucional de 88, a exemplo de outras constituições em diversos
países, está diretamente relacionada aos efeitos nefastos da atuação humana
averiguados empiricamente em todo o planeta. Entretanto a estruturação do
ordenamento jurídico ambiental na forma atualmente conhecida decorre de
uma longa trajetória, percorrida pelo direito pátrio e alienígena que reitera os
princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos e nela encontra
amparo.
Em 1992 é realizada no Rio de Janeiro a Conferência da ONU sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra,
Rio-92 ou ECO-92. O encontro resultou na elaboração da Agenda 21, firmada
por 178 países, cujo conteúdo apresentava proposituras de modelos de
desenvolvimento sustentável para o século 21. Foi nesta conferência que se
solidificou a idéia de solidariedade entre as nações para o desenvolvimento,
mundialmente conhecida pela expressão “Aldeia Global”.
No ano de 2002 realizou-se em Joanesburgo a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Cúpula da Terra II,
destinada a implementar as propostas da Agenda 21.
Firmado no Japão em 1997 e ratificado em 1999, o Protocolo de Kyoto
tem por objetivo a redução na emissão de gazes de efeito estufa, notadamente
pelos países desenvolvidos. Cumpre ressaltar que a recusa dos Estados
Unidos da América e Alaska em ratificarem o protocolo foi objeto de grande
celeuma e descontentamento entre os líderes mundiais as organizações não
governamentais de proteção e defesa do meio ambiente.
4
At.225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
401
5
Reza o princípio: “Para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser largamente
aplicadas pelos Estados segundo suas capacidades. Em caso de riscos de danos graves ou irreversíveis, a
ausência da certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para procrastinar a adoção de medidas
efetivas visando prevenir a degradação do meio ambiente”.
408
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi determinante para a
409
REFERÊNCIAS
ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela inibitória na vida privada. São Paulo: RT,
2000.
MARINONI, Luis Guilherme. Novas linhas do processo civil. 4.ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.
______. Tutela inibitória individual e coletiva. 2.ed. São Paulo: RT, 2000.
1 INTRODUÇÃO
A resolução de conflitos ambientais tem-se demonstrado uma tarefa de
difícil persecução na jurisdição brasileira. As divergências entre aqueles cujos
interesses visam o desenvolvimento sem sustentabilidade e os que buscam a
preservação do meio ambiente, aliadas ainda à complexidade da questão
ambiental, têm gerado complexidade à prestação jurisdicional do Estado,
ensejando o emprego de meios processuais adversos que conciliem as
vontades de todos (MIO; FILHO; CAMPOS, 2005, p. 92-93).
Neste ínterim, cada vez mais o Ministério Público tem-se recorrido a
instrumentos que impliquem em consenso das partes interessadas ao
cumprimento da lei e, por seguinte, à preservação do meio ambiente.
Encontraram-se, assim, nos inquéritos civis e, principalmente, nos termos de
ajustamento de conduta, ferramentas eficazes na defesa do meio ambiente.
No entanto, o Órgão Ministerial do Estado de São Paulo,
especificamente, na representação de seu Conselho Superior, editou a súmula
n.º 29 que prevê, expressamente, o arquivamento de procedimentos
administrativos de investigação de supressão de vegetação em perímetros
rurais, de forma não continuada, em áreas cuja extensão não seja superior a
1
Dmitri Montanar Franco. Advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil
do Estado de São Paulo sob n.º 159.117, mestre em geociências pela Universidade
Estadual de Campinas. E-mail: dmf@aquarium.com.br.
2
Enéas Xavier de Oliveira Junior. Bacharel em ciências jurídicas e pós-
graduando, lato senso, em direito ambiental pela Universidade Metodista de Piracicaba.
E-mail: exojr@yahoo.com.
412
3
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 41: (...) em português também ocorre o mesmo fenômeno, mas essa
necessidade de reforçar o sentido significante de determinados termos, em expressões
compostas, é uma prática que deriva do fato de que o termo reforçado tenha sofrido
enfraquecimento no sentido a destacar, ou, então, porque sua expressividade é muito
mais ampla ou mais difusa, de sorte a não satisfazer mais, psicologicamente, à idéia
que a linguagem quer expressar. Este fenômeno influi no legislador, que sente a
imperiosa necessidade de dar, aos textos legislativos, a maior precisão significativa
possível, daí porque a legislação brasileira também vem empregando a expressão
‘meio ambiente’, em vez de ambiente, apenas.
413
4
A Constituição da República Federativa do Brasil constitui, em seu artigo 216 e
respectivos incisos, o patrimônio cultural brasileiro, permitindo uma ampla visão do que
se trata o meio ambiente cultural.
5
BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988, Capítulo VI do Título VIII (Da Ordem Social).
414
6
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Mandado de Segurança n.º 22.164,
Relator Ministro Celso de Mello, julgamento em 30-10-95, DJ de 17-11-95: O direito à
integridade do meio ambiente – típico direito de terceira geração – constitui
prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de
afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído, não
ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente
mais abrangente, à própria coletividade social. (...).
7
BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988, artigo 1º, inciso III.
8
BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado, 1988, artigo 225, caput: “Todos tem direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, (...), impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e de preservá-lo (...)”.
415
9
ARAÚJO, Lílian Alves de. Ação Civil Pública Ambiental. Rio de Janeiro:
Lumem Juris, 2001, p. 18-19: O elemento definidor, entre um e outro direito, é a
possibilidade, ou não, da determinação dos titulares do bem. Enquanto que os titulares
dos interesses ou direitos difusos, como, por exemplo, o interesse à pureza do ar
atmosférico, ou o interesse na preservação ambiental, encontram-se em estado fluido,
dispersos pela sociedade civil como um todo, onde é impossível destacar cada
integrante, isoladamente, do grupo que integra, os titulares dos interesses coletivos, ao
contrário, quando não forem determinados, são determináveis, como por exemplo, a
desobediência a padrões sonoros que, ao serem extrapolados, venham a perturbar os
moradores de um determinado condomínio, ou de um bairro representado por sua
associação de moradores. (...)
O meio ambiente se insere ora na categoria dos interesses coletivos, ora na categoria
dos interesses difusos, pois é um bem de uso comum do povo (art. 225), ou seja, um bem
público de uso comum (...).
416
10
ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Termo de Ajustamento
de Conduta Disponível em:
www.esmp.sp.gov.br/estagiarios/material_apoio/termo_ajustamentoconduta.doc.
Acessado em 10 de maio de 2008.
418
11
MIO, Geisa Paganini de; FILHO, Edward Ferreira; CAMPOS, José Roberto. O
Inquérito Civil e o Termo de Ajustamento de Conduta para Resolução de Conflitos
Ambientais. In: BENJAMIN, A. H. V.; MILARÉ, E. (coord.). Revista de Direito
Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 39, ano 10 – Julho-Setembro, 2005, p.
96-97: (...) verifica-se que a utilização de abordagem alternativa e construção de
consenso na resolução de conflitos ambientais tem apresentado grande vialibidade na
Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de São Carlos-SP, pois os
valores totais no período estudado demonstram que a maioria dos conflitos vem sendo
resolvida por meio de Inquérito Civil (IC) e assinatura de TAC (...).
Esse resultado é bastante importante porque comprova que o IC em conjunto com o
TAC são instrumentos efetivos, se bem aplicados, na resolução de conflitos ambientais.
420
12
CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Regimento Interno e Normas de Interesse. Ato n.º005/94 de 18 de outubro
de 1994, artigo 13, inciso XII, 4.
13
ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO. Súmulas. Disponível em:
<http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/conselho_superior/sumulas/SUMULAS%
20PARA%20E-MAIL_0.doc>. Acessado em 18 de maio de 2009.
421
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
O meio ambiente é bem de direito difuso. Ao exercer suas prerrogativas
de defesa da natureza, o Ministério Público não age em interesse próprio, mas
sim, em interesse de toda a coletividade – verdadeira titular do meio ambiente.
Qualquer degradação ambiental – representada por uma alteração
adversa das características do meio ambiente 14 – reveste-se de complexa
mensuração da extensão de suas seqüelas e, conseqüentemente, de difícil
valoração em termos econômicos (MILARÉ, 2007, p. 815). Nesta perspectiva,
considerando a própria complexidade ambiental, o Ministério Público tem-se
refutado a cumprir suas prerrogativas constitucionais, renunciando-se à defesa
do meio ambiente sob a justificativa pífia de acúmulo de denúncias ambientais
e de priorização dos trabalhos a serem realizados.
Ocorre que a indisponibilidade do meio ambiente implica na atuação
ímpar do Órgão Ministerial em apurar suas circunstâncias de fato e autoria.
Não pode – jamais – uma Instituição que representa os anseios sociais – ainda
mais o Ministério Público, fiscal da lei que é – abrir mão do bem ambiental,
considerando-se o não vislumbramento imediato de impacto significativo.
A súmula n.º 29 do Conselho Superior do Ministério Público do Estado
de São Paulo é contrária à Constituição Federal de 1988; compactua com
ilegalidades praticadas contra o meio ambiente ao longo do território do Estado
de São Paulo. Trata-se de uma verdadeira condescendência do Órgão paulista
com infratores ambientais.
Sua revogação se demonstra imperativa, devendo o Ministério Público
se pautar pelo princípio da legalidade constante no artigo 37, caput, da
14
BRASIL. Política Nacional do Meio Ambiente. Lei nº 6.938 de 31 de agosto
de 1981, artigo 3º, inciso II.
422
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Lílian Alves de. Ação Civil Pública Ambiental. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2001, 281p.
MIO, Geisa Paganini de; FILHO, Edward Ferreira; CAMPOS, José Roberto. O
Inquérito Civil e o Termo de Ajustamento de Conduta para Resolução de
Conflitos Ambientais. In: BENJAMIN, A. H. V.; MILARÉ, E. (coord.). Revista de
Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, n. 39, ano 10 – Julho-
Setembro, 2005; p.92-103;
424
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 6 ed. São Paulo:
Malheiros, 2007, 471p.;
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo analisará os recentes incidentes da “gripe suína” –
novo subtipo de vírus da gripe “A/H1N1” – tendo como marco teórico a teoria
da sociedade de risco, do sociólogo Ulrich Beck.
O estudo se desenvolverá a partir de uma breve apresentação das
mudanças sociais que se seguiram ao período da revolução industrial, com
base na teoria da sociedade de risco de Beck. A seguir, será estudado o
desenvolvimento da Biotecnologia aplicada ao agronegócio, enfatizando a
questão das incertezas quanto aos riscos e ameaças dessa atividade. Por
último, se descreverá o histórico da gripe A no mundo, até o surgimento do
novo subtipo do vírus A/H1N1.
Quanto à gripe suína, cujas futuras consequências ainda se
desconhecem, há suspeitas de que manipulações genéticas estejam
relacionadas ao surgimento do novo vírus, embora tais teorias ainda não
tenham sido comprovadas ou divulgadas. Independentemente desse aspecto,
se demonstrará que a revolução na criação de animais transformou
fundamentalmente a ecologia da gripe e acelerou a evolução de novos
recombinantes interespécies, evidenciando o elo entre os novos riscos e as
decisões humanas.
1
Mestranda em Direito, Estado e Sociedade pela UFSC. Bolsista do CNPQ. Integrante do Grupo de
Pesquisa Direito Ambiental na Sociedade de Risco – GPDA, coordenado pelo Professor Dr. José Rubens
Morato Leite. Especialista em Direito do Estado e Direito Tributário pela UFRGS. Email:
elenaaydos@gmail.com.
2
Discente do curso de graduação em Direito pela UFSC. Bolsista da Fapesc. Integrante do Grupo de
Pesquisa Direito Ambiental na Sociedade de Risco – GPDA, coordenado pelo Professor Dr. José Rubens
Morato Leite. Email: kamilagmoraes@hotmail.com.
426
4
Para fins do presente artigo, se denominará “perigos” as ameaças naturais, características do período
pré-industrial e primeira fase da industrialização. O termo “risco” servirá para designar as ameaças
condicionadas diretamente à atividade humana.
5
Redação no original: “We don’t know, what it is we don’t know - but from this dangers arise, which
threaten mankind!”.
428
artigo procederá a seguir a uma análise crítica dessas novas tecnologias, com
base na teoria da sociedade de risco e da irresponsabilidade organizada.
6
Davis (2006, p. 23) define “gripe pandêmica”, como “a emergência ou o reaparecimento de um subtipo
de HA (Hemaglutinina) contra o qual a maioria das pessoas não tem imunidade prévia”. HA seria a
proteína localizada na parte externa do vírus que tem a função de proporcionar a entrada do vírus em
células hospedeiras.
434
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
A humanidade vive um momento de crise, em que as maiores ameaças
à vida como hoje se apresenta estão diretamente relacionadas ao processo de
tomada de decisões. Essas decisões não são feitas pela população, mas por
um grupo de peritos e instituições ligadas à ciência, que atualmente definem os
“padrões aceitáveis” de risco.
Com a revolução na criação de animais e o surgimento da biotecnologia,
desenvolveu-se uma indústria de animais para consumo, que aplica técnicas
cruéis e que representam riscos à saúde humana. Os riscos decorrentes
destes modos de criação já podem ser constatados em determinados
acontecimentos, tais como as transformações e mutações do vírus da gripe e a
evolução acelerada de novos recombinantes interespécies, como no caso da
gripe suína.
Os efeitos da gripe suína, por sua vez, não estão localizados no espaço
(em menos de dois meses já atingiu 53 países), no tempo (imprevisões quanto
ao controle/alastramento da doença ou a estabilizaçã/fim das contaminações),
e tampouco restritos a determinada classe social (há previsão de que países do
Sul e do Norte serão afetados). Ademais, as dimensões da doença são
desconhecidas, inclusive quanto à possibilidade de mutação do vírus, sendo
que já existem previsões catastróficas. Todas essas características confirmam
a análise da sociedade de risco, formulada por Beck.
9
Nesse sentido, ler: WYNNE, MACNAGTHEN e GROVE-WHITE, 2000; WYNNE, 2001; e
MACNAGHTEN, 2004.
441
REFERÊNCIAS
BECK, Ulrich. Living In The World Risk Society. British Journal of Sociology
Centennial Professor. London School of Economics and Political Science.
February 2006.
DAVIS, Mike. O monstro bate à nossa porta. Rio de Janeiro: Recorde, 2006.
442
JONES, D.D. Advisory considerations on the scientific basis of the food safety
evaluation of transgenic animals. In: Holland, A., Johnson, A. (Eds.). Animal
Biotechnology and Ethics, p. 265–275. London: Chapman and Hall, 1998.
______. MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 11a. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008b.
1 INTRODUÇÃO
Hoje em dia muitos ambientalistas argumentam que existe uma crise
ecológica generalizada. Ecologistas com pensamento filosófico argumentam
que a crise ecológica é uma crise mais ampla, trata-se de uma crise dos
sistemas modernos de pensamento. Nesse sentido as perguntas
epistemológicas são fundamentais, pois podem revelar que há também uma
colonialidade da natureza na modernidade que precisa ser esclarecida.
Há vários pontos de convergência entre a ecologia política e os estudos
sobre a colonialidade, entre eles a questão da análise de diferentes formas de
pensar, diferentes formas de ler a modernidade e um destaque relevante para
questão do conhecimento. È com o propósito de verificar essa articulação entre
ecologia política, justiça ambiental e descolonialidade que o presente trabalho
se desenvolve, pois acreditamos que a partir daí pode ser possível abrir
caminhos teóricos que possibilitem a defesa das ecologias e culturas locais.
1
Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
Endereço eletrônico: eloisepetter@yahoo.com.br
445
2
PORTO, Marcelo; MARTINEZ ALIER, Joan. Ecologia política, economia ecológica e saúde coletiva:
interfaces para a sustentabilidade do desenvolvimento e para a promoção da saúde. Cadernos de Saúde
Pública (FIOCRUZ), v. 23, p. S503-S512, 2007, p. S508.
3
ALIER, Joan Martinez. O ecologismo dos pobres. São Paulo: Ed. Contexto, 2007, p. 113.
4
ESCOBAR, Arturo. Más allá del tercer mundo. Globalización y diferencia. Bogotá: Instituto
Colombiano de Antropología e Historia, 2005, p. 126.
5
ESCOBAR, 2005, p. 127.
446
6
ALIER, Joan Martinez. Da economia ecológica ao ecologismo popular, Blumenau, ed. FURB,1998, p.
37.
7
ALIER, Joan Martinez. Justicia ambiental, sustentabilidad y valoracíon. In: ALIER, Joan Martinez;
MOLINA, Manuel Gonzáles de. Naturaleza transformada. Barcelona: Icaria Editorial, 2001, p. 289.
8
ALIER, Joan Martinez. Cientista defende justiça ambiental para equilíbrio ecológico (Entrevista).
Informe ENSP. Boletim eletrônico diário da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.
Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/informe/materia.cfm?matid=1945>. Acesso em: 10 maio
2009.
447
9
ESCOBAR, 2005, p. 127.
10
ESCOBAR, 2005, p. 129.
11
ESCOBAR, 2005, p. 102.
448
3 COLONIALIDADE E DESCOLONIALIDADE
A proposta descolonial, a partir do grupo
modernidade/colonialidade/descolonialidade, realiza uma reflexão sobre as
heranças coloniais dos impérios espanhol e português na América durante os
séculos XVI ao XX. Procura-se intervir decisivamente na discursividade própria
das ciências modernas para configurar outro espaço para a produção de
conhecimento, uma forma distinta de pensamento, “um paradigma outro”, a
possibilidade de falar sobre “mundos e conhecimentos de uma outra
maneira”. 12
Na base da análise descolonial há uma leitura desconstrutiva da visão
tradicional da modernidade e uma análise da subalternização cultural e
epistêmica das culturas não-européias. Podem ser considerados como autores
vinculados a esta corrente, o filósofo Enrique Dussel, o antropólogo e teórico
literário e cultural Walter Mignolo, o sociólogo Aníbal Quijano, o filósofo
Santiago Castro-Gómez, o sociólogo Ramón Grosfoguel, entre outros.
O termo colonialidade, central nos estudos descoloniais, é distinto de
colonialismo. Enquanto que este diz respeito a uma relação política e
econômica entre dois povos, aquele se refere a um padrão de poder que
emergiu como resultado do colonialismo moderno e organiza a forma como o
trabalho, o conhecimento, a autoridade e as relações intersubjetivas articulam-
12
ESCOBAR, 2005, p. 63-64. Escobar utiliza e define a expressão "Mundos y conocimientos de otro
modo" a partir de um duplo aspecto: no sentido de construir políticas a partir da diferença colonial,
particularmente no nível do conhecimento e da cultura, e também de imaginar e construir mundos
verdadeiramente diferentes. ESCOBAR, 2005, p. 38.
449
se entre si. 13 . A primeira descolonização que foi iniciada no século XIX foi
incompleta, já que se limitou à independência política das periferias. Ao
contrário, a segunda descolonização, a que diz respeito à categoria
descolonialidade, deverá dirigir-se as múltiplas relações (de gênero, sexuais,
lingüísticas, epistêmicas, etc.) que a primeira descolonização deixou intactas.
Ao problematizar a modernidade a partir da colonialidade a proposta
descolonial distingue-se das teorias tradicionais da modernidade. Dussel 14
considera que há dois conceitos de modernidade. O primeiro deles é
eurocêntrico, provinciano e regional, a modernidade é uma emancipação da
imaturidade por um esforço da razão, tal processo teria ocorrido na Europa,
essencialmente no século XVIII. Ao contrário dessa visão, o autor mostra que a
modernidade não é produto de fenômenos intra-europeus, mas que é uma
experiência mundial. A modernidade “aparece quando a Europa se afirma
como ‘centro’ de uma História Mundial que inaugura, e por isso a ‘periferia’ é a
parte de sua própria definição”.
Uma noção chave para a proposta descolonial é a colonialidade do
poder. A colonialidade do poder pode ser entendida segundo Quijano 15, como a
classificação social da população mundial de acordo com a idéia de raça. Diz
respeito a uma “construção mental que expressa a experiência básica da
dominação colonial e que desde então permeia as dimensões mais importantes
do poder mundial, incluindo sua racionalidade específica, o eurocentrismo.” A
idéia de raça foi assumida pelos conquistadores como o principal elemento
constitutivo, fundacional, das relações de dominação que a conquista exigia.
Assim foi classificada a população da América e, posteriormente, do mundo, a
partir desse novo padrão de poder.
Trata-se do princípio organizador que estrutura as múltiplas hierarquias
do sistema-mundo a partir de centros de poder e regiões subalternas.
13
MALDONADO-TORRES, Nelson. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un
concepto. In: CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL, Ramón. El giro decolonial. Reflexiones
para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre-Iesco-Pensar.
2007, p. 131.
14
DUSSEL, Enrique. 1492 – O encobrimento do outro. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 7-15.
15
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, Edgardo
(Org.). A colonialidade do saber. Eurocentrismo e Ciências Sociais. Perspectivas Latino-Americanas.
Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 227-228.
450
20
Abya Yala é o nome cunhado pelos cunas do Panamá para se referir ao território e os povos indígenas
das Américas. Significa "terra em plena maturidade.” WALSH, 2007, p. 112
21
WALSH, 2007, p. 106.
22
GROSFOGUEL, Ramón. Dilemas dos estudos étnicos norte-americanos: multiculturalismo identitário,
colonização disciplinar e epistemologias descoloniais. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 59, n. 2, 2007,
p. 33-34.
452
não implica descartar por completo esta racionalidade, mas sim observar suas
pretensões coloniais e imperiais e questionar seu posicionamento como única.
Na mesma perspectiva que os estudos descoloniais, a ecologia política
sublinha o caráter civilizatório da crise ambiental atual. Esta crise é, segundo
Escobar 23, uma crise da modernidade, posto que a modernidade fracassou em
possibilitar mundos sustentáveis. É também uma crise do pensamento, já que o
pensamento logocentrista alimenta as práticas ecologicamente destrutivas da
modernidade.
Leff 24 sustenta que a crise ambiental é uma crise do pensamento e, mais
concretamente, do conhecimento ocidental logocêntrico que criou um mundo
cada vez mais economicista, tecnificista e destrutivo do ambiente. Esse mesmo
conhecimento é incapaz de dar a solução aos problemas que criou.
Escobar argumenta que um dos espaços mais interessantes para a
construção de uma filosofia ambiental é a defesa de modelos locais de
natureza por parte de certos movimentos sociais. Estes movimentos podem ser
vistos como tentativas de criação de mundos econômica, ecológica e
culturalmente diferentes e, portanto, como projetos de modernidade alternativa
e possivelmente de alternativas à modernidade. 25
O regime de natureza capitalista, conforme Escobar 26, subalternizou
todas as outras concepções de biologia, história, natureza e sociedade,
particularmente aquelas que representavam, através de seus modelos e
práticas locais de natureza, uma continuidade culturalmente estabelecida
(oposta a uma separação) entre os mundos naturais, humanos e sobrenaturais.
Estes modelos locais do natural são a base das lutas ambientais de hoje. Deste
modo, estas lutas precisam ser entendidas como lutas pela defesa da diferença
cultural, ecológica e econômica.
A ecologia política latino-americana tenta construir uma ética e uma
cultura da sustentabilidade. Isto inclui repensar a produção orientada para uma
nova racionalidade ambiental e também desenvolver um diálogo entre outras
23
ESCOBAR, 2005, p. 87.
24
LEFF apud ESCOBAR, 2005, p. 146.
25
ESCOBAR, 2005, p. 147.
26
ESCOBAR, 2005, p. 88.
453
4 CONCLUSÃO
Com os recentes movimentos sociais, observa-se que muitos grupos
resistiram à completa destruição por parte dos regimes individualistas liberais.
Para ter uma possibilidade de continuar estas lutas eles têm que articular-se
com movimentos mais amplos pela justiça, pela redistribuição dos recursos
econômicos e ecológicos, e contra a individualização. Com o passar do tempo
esses movimentos devem dirigir-se no sentido de propor alternativas mais
populares contra o neoliberalismo. Ao fazer ênfase em sua própria alteridade
radical, podem contribuir para a definição de um novo marco para outras
identidades populares e outras atitudes sociais. De fato, este
redimensionamento é essencial para a sobrevivência das formas étnicas
comprometidas com a justiça social. 28
Apesar das forças negativas que se opõem a tais movimentos, eles
podem representar uma real defesa das paisagens sociais e biofísicas,
mediante formas que não estão atravessadas pelo reducionismo genético, pelo
individualismo e economicismo que caracterizam as tendências predominantes.
Os movimentos mostram que a vida, o trabalho, a natureza e a cultura podem
se organizar de maneira distinta aos modelos hegemônicos de cultura e
economia. 29
O fato de um número crescente de movimentos sociais lutarem pelo
direito a suas próprias culturas, economias e ecologias já não pode ser negado,
27
ESCOBAR, 2005, p. 88.
28
ESCOBAR, 2005, p. 134.
29
ESCOBAR, 2005, p. 139.
454
REFERÊNCIAS
A TEORIA DE GAIA:
repensando a ecotoxicologia
1 INTRODUÇÃO
Não é nova a idéia de que a Terra é viva. Na Grécia Antiga acreditava-
se que a Terra era uma deusa viva, Gaia. Tomaria também parte dessa idéia
as crenças mitológicas e os rituais religiosos de tempos passados: nossos
ancestrais sentiam a presença de vida em praticamente todos os elementos do
planeta Terra: nas pedras, nos rios, nos oceanos e nos céus. Porém, a ciência
que surgiu a partir de Bacon, Descartes e Newton desferiu um duro golpe na
noção de um planeta vivo. Alquimia e vitalidade foram sacrificadas em prol da
mecanicidade e da implacável lei do movimento. A vida era dissociada do
planeta e obedecia às leis fundamentais da Física.
Teoria de Gaia inovou e, com esta, a ciência Contemporânea retomou a
idéia de um planeta vivo. Na década de 1960, James Lovelock propõe que a
Terra e a vida constituem-se num processo inseparável, indo um pouco ao
encontro às crenças religiosas e da magia dos alquimistas medievais. Apesar
das pedras, águas e “céus” da superfície da Terra não estarem exatamente
impregnados de vida, eles são vistos, na Teoria de Gaia, como totalmente
integrados aos processos da vida, não sendo assim, apenas componentes
passivos, mas ativos e participantes. Lovelock (1979, p. 13) escreve: “assim
como a concha é parte de um caracol, as rochas, o ar e os oceanos são parte
de Gaia”.
1
Profª Drª do Curso de Geografia, UNIFRA. E-mail: elsbethleia@terra.com.br.
2
Prof. Titular da Universidade Federal de Santa Maria e Mestrando do Curso de Pós-graduação em
Integração Latino-Americana (UFSM). E-mail: ervandilc@gmail.com
457
ser desastrosos para a saúde do solo e das pessoas, para as relações sociais
e para todo o ecossistema do planeta”.
Porto-Gonçalves (2004) alerta para soluções paliativas e, por vezes, até
mascaradas vindas do complexo oligárquico agroquímico, entre estas,
campanhas publicitárias e novos conceitos que mitigam o efeito psicológico
para o uso excessivo e predominante de agrotóxicos. Tomemos por exemplo
as empresas de agroquímicos chamadas, conforme seus critérios de
“defensivos agrícolas” o que legalmente são os agrotóxicos. O uso da palavra
defensivo procura inverter o significado. Assim, aquele que é acusado de
agressor do meio ambiente procura ser visto como defensor. Neste aspecto, a
ecotoxicologia também pode repensar o seu papel diante de uma nova
concepção de vida para a Terra. A ecotoxicologia estuda os efeitos causados
pelos agentes físicos, químicos e biológicos sobre organismos vivos,
particularmente, sobre populações e comunidade em seus ecossistemas.
Estudos toxicológicos são utilizados para detectar e avaliar a capacidade
inerente do agente tóxico em produzir efeitos deletérios nos organismos vivos e
objetivam permitir a avaliação ambiental de substâncias nocivas ao ambiente,
como por exemplo, agrotóxicos, preservativos de madeira, produtos biológicos,
dispersantes químicos, organismos geneticamente modificados. Por
conseguinte, combater os insetos, combater as ervas daninhas, combater as
doenças, implica, necessariamente, numa visão que há de se matar o inimigo
e, para isso, é preciso usar inseticidas, herbicidas e fungicidas entre outros
produtos que matam e, sabemos, não só os insetos, fungos, ervas daninhas,
mas também, pessoas, plantas, peixes, enfim o conjunto de elementos que
constituem o meio ambiente global.
Porto-Gonçalves (2004) comenta que combater ou matar é parte de uma
lógica técnico-produtiva que se funda na idéia de dominar, e mais numa
relação contra a natureza do que numa relação com a natureza. Neste
contexto, a ecotoxicologia surge como forma de estudar os efeitos causados
pelos produtos da indústria agroquímica e, possivelmente, indicar formas de
amenizar os efeitos e por sua vez, ratificando a visão fragmentada de ver e
estudar a vida no Planeta.
467
5 CONSIDERAÇÕES ARTICULADAS
O desafio ambiental coloca-se além das fragmentações geográficas,
histórias, políticas e econômicas, na medida em que implica uma verdadeira
renovação cultural. Caso contrário, sob o signo da incerteza se marchará
incontinente para o apocalipse ambiental, caso não haja um tropeço na
“história futura” do meio ambiente.
Resume a idéia de que há limites para a relação da humanidade com a
natureza e sugere que só poderá ocorrer melhoria, nessa relação, se houver a
efetivação da tutela jurisdicional ambiental.
Ademais, considerando que, a vida, tanto a do homem como a da Terra
só terá continuidade se, a sociedade, como um todo, tomar consciência da
forma desastrosa como está sendo proposto e conduzido o desenvolvimento
econômico na área da produção primária, quando para produzir
necessariamente se reduz a diversidade biológica, provocando
conseqüentemente a depredação dos vetores ambientais.
Nesse contexto, sustentado na teoria de Gaia, se propõe uma profunda
reflexão de caráter filosófico para o significado da vida numa visão holística.
Reafirma-se, porém que a Teoria de Gaia não evita ou suprime o desafio, pelo
contrário, certamente ajudará a revelá-lo e, por vezes, mesmo a ultrapassá-lo.
REFERÊNCIAS
DORST, J. Antes que a natureza morra. São Paulo: Edgard Blücher. 1973.
meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier. 2003. 318 p. p.271-
289.
1 INTRODUÇÃO
O sepultamento ou enterramento dos corpos humanos parece remontar
a 100 mil anos antes da nossa era. A partir dos 10 mil a.C., as sepulturas são
agrupadas e, assim, aparecem os primeiros cemitérios com túmulos individuais
e sepulturas coletivas.
Os cemitérios nada mais são do que depósito de corpos humanos, que
necessitam de uma destinação correta, pois a degradação dos mesmos pode
se constituir em focos de contaminação. A decomposição dos corpos depende
das características físicas do solo onde o cemitério está implantando ou será
implantado.
O crescimento populacional tem gerado a necessidade de construção de
mais cemitérios, sendo que existem locais totalmente inadequados utilizados
como tal finalidade. Devido à falta de planejamento e metodologia adequada,
cemitérios que se situavam em locais distantes das cidades, hoje fazem parte
dela, propiciando o aparecimento de áreas de risco potencial ao meio
ambiente.
No Brasil, quase sempre, a implantação dos cemitérios tem sido feita em
terrenos de baixo valor imobiliário, não garantindo condições geológicas,
hidrogeológicas e geotécnicas adequadas. Este cenário poderá propiciar a
ocorrência de impactos ambientais (alterações físicas, químicas e biológicas do
meio onde está implantado o cemitério) e fenômenos conservadores como a
saponificação.
A localização e operação de necrópoles em meios urbanos podem
provocar a contaminação dos mananciais. Podendo tornar-se fonte geradora
1
emanuelebb@hotmail.com Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Graduanda de
Engenharia Ambiental
473
2 DESENVOLVIMENTO
A análise dos riscos envolve metodologias de caráter qualitativo a fim de
identificar potenciais riscos à saúde e o meio ambiente devido à geração de
necrochorume dos cemitérios da Palhoça. Devido ao caráter exploratório do
trabalho, a análise consiste na realização de visitas exploratórias, realizar
entrevistas pré-estruturadas, registrar potenciais fontes de riscos por meio de
fotografias e filmagens, realizarem levantamentos de dados geológicos,
hidrogeológicas e geotécnicas da área dos cemitérios, elaborarem mapa de
risco ambiental para a região e recomendar medidas de redução ou eliminação
dos riscos observados.
475
1. Nome do cemitério:
2. Localização:
3. Zoneamento conforme Plano Diretor:
4. Data de fundação:
5. Área do cemitério:
6. Número de túmulos:
7. Licença Ambiental:
8. Aprovação da autoridade de saúde:
9. Estudo topográfico, planialtimétrico e hidrogeológico:
10. Estudo demonstrativo do nível máximo do aqüífero freático:
11. Sondagem mecânica para caracterização do subsolo:
12. Distância entre a área de fundo das sepulturas e o nível do lençol
freático:
13. Drenagem e tratamento adequado de eventuais efluentes gasosos:
14. Drenagem dos percolados (necrochorume):
15. Recuo entre a área de sepultamento e o perímetro do cemitério (respeitar
a distância de 5m de afastamento):
16. Distância dos corpos d’água (córregos e mananciais de abastecimento):
17. Aspectos construtivos dos túmulos (horizontal/tradicional
vertical/gavetas):
a) Material utilizado na construção dos túmulos:
478
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
No final deste projeto se desejou contribuir com a construção de um
documento que devesse constar de um mapa de risco para a região do entrono
dos cemitérios. Este documento deve conter a síntese dos dados coletados
durante as visitas exploratórias, a análise das respostas obtidas nas entrevistas
pré-estruturadas, registro fotográfico e filmagens, e o levantamento de dados
geológicos, hidrogeológicas e geotécnicas da área dos cemitérios junto aos
órgãos responsáveis pelos cemitérios (prefeitura e/ou particular). Porém não foi
obtido com sucesso devido à falta de muitos dados importantes para compor o
trabalho.
Seria possível obter tais dados faltantes, no caso do projeto ter mais
tempo para pesquisa, pois neste caso o estudo teve durabilidade de apenas 9
meses.
O documento visava compor de sugestões as quais podem servir para
tomada de decisões no sentido de iniciativas para minimizar os impactos e
riscos que o necrochorume pode vir a causar a população e o meio ambiente
em curto ou em longo prazo.
Com o pouco de informações coletadas, pode-se sugerir que se inicia
uma organização responsável da administração dos cemitérios. Pessoas
qualificadas no assunto que possam passar a frente um plano de trabalho de
recuperação e manutenção dos cemitérios.
Sugere uma padronização dos túmulos a fim de vedá-lo dificultando a
infiltração do necrochorume; junto ao órgão da saúde, regularizar as
instalações sanitárias dos cemitérios, tais como coleta e tratamento dos
líquidos e gases cadavéricos; e para novos cemitérios indica-se um estudo
prévio do local com dados topográficos, geológicos, hidrogeológicas e
geotécnicas além dos itens acima.
Já existe no mercado um produto feito de polietileno a base de celulose
e gel em formato de manta utilizada para forrar o caixão antes do depósito do
cadáver impedindo a infiltração do necrochorume absorvendo todo o líquido. O
produto não é biodegradável, garantindo sua resistência por bastante tempo,
onde pode ser descartado em lixo hospitalar.
482
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
A estrutura do sistema econômico vigente, assentada na ultrapassada
idéia da infinitude dos recursos naturais, gerou, pode-se dizer assim, um
estágio em que, ou há uma mudança de postura por parte daqueles que dos
recursos naturais usufruem/dependem, ou a espécie humana estará à mercê
de uma insegurança, seja provocada por mudanças climáticas, seja originida
por disputas políticas cujas causas sejam os bens naturais.
Assim, cumpre observar o Direito Ambiental como o instrumento
balizador desse clima de incerteza, isto é, as normas ambientais tentam
colocar o homem dentro dos limites suportados pelo meio ambiente sadio, os
quais não se traduzem, de forma alguma, em abandono às práticas
econômicas de que o homem necessita para a sua sobrevivência, mas, de
outra sorte, em compatibilização dessas atividades à capacidade suportada
pela natureza, de forma a assegurar o desenvolvimento sustentável, por meio
da prevenção, que é o seu objetivo maior.
Na elaboração deste trabalho, utilizou-se como metodologia a revisão
bibliográfica dos autores especializados nas áreas do Direito Tributário, Direito
Econômico e do Direito Ambiental, bem como daqueles que já propõem o
1
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004),
professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) e
coordenadora da especialização em licenciamento ambiental on shore do Programa de Mobilização da
Indústria Nacional e do Petróleo – PROMINP e IFRN (erika@cefetrn.br).
2
Tecnóloga em Gestão Ambiental pelo IFRN (2009) e estudante de direito da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (lilisluz@gmail.com).
485
lei e cobrado por atividade administrativa lastreada pela lei. Para este trabalho,
relevante é a discussão do seu aspecto não sancionador de ato ilícito, já que,
por vezes, o tributo ambiental é considerado sanção para os poluidores, o que
não pode ser verdade, até pela natureza do princípio do poluidor-pagador, a
qual será elucidada a seguir.
Quando se fala que a base da tributação ambiental reside no princípio
do poluidor-pagador, e na sua variante chamada usuário-pagador
(RODRIGUES, 2002), pensa-se de pronto na sanção por ato ilícito, tornando
tênue a linha diferenciadora entre multa e tributação ecológica. Mas, no
entanto, há que se ter em consideração, no dizer de Machado (2005), que
cadeia produtiva. Ademais, ele faz com que o agente econômico seja
verdadeiramente induzido a melhorar sempre, já que o imposto, como não
possui sua receita vinculada, pode, a qualquer momento, respeitado o princípio
da legalidade estrita, ser suspenso ou ter sua alíquota minorada, o que
configuraria um ganho significativo para o sujeito passivo, tanto para a sua
imagem corporativa, quanto em termos de concorrência financeira. Ele é,
portanto, mais maleável, em termos de utilização com finalidade extrafiscal, do
que todas as outras modalidades, as quais atuam em momento específico e
determinado (contribuições de melhoria), possuem caráter corretivo
(contribuições sociais), além de se vincularem a um serviço público específico
(taxas). Atribui-se ao imposto, assim, a caracterização do tributo extrafiscal por
excelência, porque previne atitudes poluidoras, que é o objetivo do direito
ambiental.
9 CONCLUSÃO
Pelo exposto, verifica-se que aumentar a função arrecadatória dos
tributos não é o melhor caminho para promover a indução de comportamentos
desejáveis, principalmente em matéria de meio ambiente, mas, de outra sorte,
devem-se utilizar os instrumentos fiscais já existentes, ecológicos por natureza
ou não, através da função extrafiscal que deles pode ser extraída, com vistas à
consecução do direito ao desenvolvimento sustentável; o aparente conflito
“ecologia versus economia” há muito já foi superado pela noção real, gerada
pela experiência histórica, de que ambas as matérias se complementam, se
entrecruzam, com esta primando por aquela, porquanto a base da economia é
indubitavelmente ecológica. Essa superação, no direito brasileiro, está muito
bem demarcada quando da elevação da defesa do meio ambiente ao posto de
princípio da ordem econômica nacional.
A revolução social que poderá ocorrer por meio do tributo, cujos
resultados se evidenciam pela conscientização ambiental de todos os que
desfrutam/dependem do meio ambiente, não pode prescindir, portanto, da
extrafiscalidade tributária como um de seus principais instrumentos, mudando,
497
REFERÊNCIAS
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo:
Malheiros, 2002.
498
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 13. ed. São
Paulo: Malheiros, 2005.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 30. ed.
rev. e atu. São Paulo: Malheiros, 2008.
1 INTRODUÇÃO
A existência de um delito encontra-se condicionada à constatação de
uma conduta humana típica, antijurídica e culpável. O respeito aos direitos e
garantias fundamentais do homem impõe, em um Estado de Direito
democrático e social, a vinculação da lei penal às ações ou omissões regidas
pela vontade e orientadas à lesão ou perigo de lesão de bens jurídicos
essenciais. Além de atuar como um elemento de ligação entre as várias
categorias delitivas e de permitir a intervenção do Direito Penal quando viola as
regras de convívio social anteriormente fixadas, o comportamento humano
também desempenha um importante papel após o aperfeiçoamento da conduta
delitiva. Noutro dizer: além de motivar a atuação do Direito Penal através da
imposição de uma conseqüência jurídico-penal, o comportamento humano,
quando posterior ao delito, enseja ainda importantes conseqüências, a saber: a
atenuação, a diminuição da pena ou mesmo sua isenção total quando
presentes determinados requisitos.
O Código Penal brasileiro e a legislação penal extravagante consignam
várias hipóteses de atenuação e isenção de pena, estabelecidas em função da
realização de um comportamento pós-delitivo pelo sujeito ativo do delito. Esse
comportamento pós-delitivo penalmente relevante pode ocorrer antes ou
depois da consumação delitiva. São exemplos da primeira hipótese a
desistência voluntária e o arrependimento eficaz (art.15, CP), e da segunda,
diversos dispositivos previstos pelo legislador com fins de atenuação (art.65, III,
b, d, CP) ou isenção de pena (v.g. arts.143, 342, § 2º, CP, entre outros). Alguns
desses preceitos têm aplicação irrestrita a todos os delitos do Código Penal e
1
Doutora em Direito Penal pela Universidad de Zaragoza (Espanha). Professora Adjunta de Direito Penal
na Universidade Estadual de Maringá; erikamendes@terra.es.
500
2
Sobre a reparação extrapenal do dano, vide, por exemplo, as obras fundamentais de LEITE, José
Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo, extrapatrimonial. São Paulo: RT, 2000;
BESALÚ PARKINSON, Aurora V. S. Responsabilidad por daño ambiental. Buenos Aires:
Hammurabi/Depalma, 2005; e PIGRAU SOLÉ, Antoni (Coord.). Nuevas perspectivas de la
responsabilidad por daños al medio ambiente. Madrid: Ministerio del Medio Ambiente, 2006.
501
3
Cf. CARVALHO, Érika Mendes de. Punibilidade e delito. São Paulo: RT, 2008, p.70 ss.
502
4
Vide JESCHECK, H-H. Tratado de Derecho Penal, PG, trad. José Luis Manzanares Samaniego.
Granada: Comares, 1993, p.500 ss.; ROXIN, Claus. Derecho Penal, PG, t. I, Fundamentos. La estructura
de la teoría del delito, trad. Diego-Manuel Luzón Peña, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de
Vicente Remesal. Madrid: Civitas, 1997, § 23, nº 4, p.971-972; MAURACH/ZIPF, Derecho Penal. t. I.
Buenos Aires: Astrea 1994, § 35, V, p.594 ss.; WESSELS, J. Derecho Penal. Buenos Aires: Depalma,
1980, p.142-143.
5
Cf. DE VICENTE REMESAL, Javier, El comportamiento postdelictivo. León: Universidad de León,
1985, p.55; FARALDO CABANA, Patrícia, Las causas de levantamiento de la pena. Valencia: Tirant lo
Blanch, 2000, p.26 ss..
503
3º, 1ª parte, 342, § 2º, e 249, § 2º, CP) ou em leis especiais (v. g. arts.28, I, Lei
9.605/98, e 9º, § 2º, Lei 10.684/03). Por outro lado, figuram como causas de
suspensão parcial da pena, na Parte Geral do Código Penal brasileiro, as
circunstâncias atenuantes genéricas constantes do artigo 65, III, b e d. Na
Parte Especial do Código Penal, destaca-se a previsão constante do artigo
312, § 3º, 2ª parte e, na legislação especial, merece particular atenção o
disposto no artigo 14, II, III e IV, da Lei 9.605/98.
Todas as escusas absolutórias – anteriores ou posteriores – apresentam
um caráter pessoal, dado que a eventual extensão aos demais co-autores ou
partícipes da isenção de pena dependerá de que também reúnam as
características pessoais exigidas pelo preceito em questão – no caso das
causas de exclusão de pena – ou de que realizem pessoalmente um
determinado comportamento pós-delitivo positivo – no caso das causas de
supressão de pena. Daí que tanto nas hipóteses de supressão total de pena
como nos casos de isenção parcial os efeitos benéficos afetarão tão-somente
aqueles que tenham, com o seu comportamento pós-delitivo positivo e
voluntário, realizado a conduta capaz de exonerar a punibilidade delitiva ou
colaborado – direta ou indiretamente – nesse sentido. O próprio fundamento
das circunstâncias em apreço corrobora esse entendimento, visto que as
razões de prevenção geral e especial que freqüentemente abonam a
supressão total ou parcial de pena do sujeito que realizou o comportamento
pós-delitivo positivo não podem se projetar sobre aqueles que não tenham
decidido retornar à legalidade, de modo que cada interveniente “deve
conquistar por si mesmo a supressão de pena, embora, evidentemente, é
imaginável e admissível uma atuação conjunta de todos eles” 6.
Cumpre observar, no entanto, no que concerne à reparação do dano,
que o montante da reparação poderá ser integrado nos custos da atividade
empresarial, o que impede que seus efeitos recaiam diretamente sobre o
sujeito ativo do delito. Entretanto, isso não obsta que a atenuação da pena pela
reparação ou sua supressão tenha efeitos pessoais, isto é, que se aplique
unicamente ao responsável que tenha realizado atos de reparação. A
6
FARALDO CABANA, Patrícia, op.cit., p.192.
506
7
Daí que – diversamente do que opina SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Delitos contra el medio
ambiente. Valencia: Tirant lo Blanch, 1999, p.180-181 – não é possível ‘presumir’ a anuência de todos os
intervenientes, sobretudo porque essa presunção contrariaria um dos fundamentos da atenuação –
concretamente, a satisfação parcial dos fins da pena – e tampouco é possível afirmar que a realização de
uma reparação significativa por um dos intervenientes impediria que os demais pudessem efetuar atos de
reparação, obstaculizando a aplicação da atenuação ou da isenção de pena, posto que sempre poderão
somar seus esforços à reparação alheia, mesmo que seja através da contribuição com o correspondente
valor econômico.
507
reconhecimento ainda que não tenha sido constatada uma reparação completa
e efetiva do dano ambiental causado, mas apenas sua limitação ‘significativa’.
Entretanto, a atenuante genérica do artigo 65, III, b, do Código Penal, exige
que o sujeito efetivamente consiga reparar o dano ou diminuir suas
conseqüências com eficiência, o que significa que seu âmbito de aplicação
estará restrito aos fatos produzidos após a consumação. Em todo caso, a
circunstância atenuante em apreço não se relaciona com o injusto culpável,
visto que a reparação do dano ocorrerá após a configuração daquele. Essa
opinião, porém, não é unânime, já que alguns autores divisam na reparação do
dano uma atenuação da culpabilidade do agente. Desse modo, a atenuante em
questão importaria em uma menor reprovação pessoal da ação típica e
antijurídica, isto é, em uma menor gravidade da culpabilidade, ou pelo menos
em um indício desta. Não obstante, o injusto culpável se realiza plenamente
com a consumação delitiva ou com a configuração do injusto da tentativa, de
forma que a reparação do dano não pode repercutir sobre a magnitude da
culpabilidade ou funcionar como um indício ou presunção de uma menor
culpabilidade.
A reparação do dano é uma circunstância que sucede a consumação do
delito, e quando se exige sua efetividade – e não uma mera tentativa de
reparação – pode-se concluir que sua realização não fundamenta a exclusão
das categorias delitivas. Com efeito, com a consumação delitiva – isto é, com a
plena realização dos elementos objetivos do tipo – encerra-se o iter criminis, e
os juízos posteriores – a antijuridicidade e a culpabilidade – incidirão sobre a
conduta típica já realizada. A reparação do dano ocorre após a configuração
dos elementos essenciais do delito, de modo que não atua sobre nenhum
deles. Para uma parte da doutrina, porém, o fato de que a reparação não possa
se encaixar nessas categorias centrais não elide sua localização na teoria
jurídica do delito. Tudo isso dependeria da concepção sustentada a respeito do
conceito analítico de delito. Assim, quando se considera que o delito consiste
na ação ou omissão típica, antijurídica e culpável, está claro que a reparação
não teria qualquer repercussão na esfera da teoria do delito. Todavia, quando
se sustenta que o delito se configura tão-somente quando aos elementos
509
4 CONCLUSÕES
1. O comportamento pós-delitivo positivo previsto no artigo 28, I, da Lei
9.605/98, não constitui uma autêntica causa extintiva de responsabilidade
penal – ou da punibilidade, como prefere a doutrina dominante -, mas sim uma
causa de supressão de punibilidade (ou uma escusa absolutória posterior),
visto que tem como pressuposto a punibilidade de um delito perfeitamente
estruturado em todos os seus elementos. Trata-se de uma hipótese específica
de reparação do dano comumente qualificada como “arrependimento
ecológico” ou “ambiental”, que tem seu âmbito de atuação circunscrito aos
delitos contra o meio ambiente.
9
Assim, por exemplo, HIGUERA GUIMERÁ, Juan Felipe. Las excusas absolutórias. Madrid: Marcial
Pons, 1993, p.167.
512
BIBLIOGRAFIA
CARVALHO, Érika Mendes de. Punibilidade e delito. São Paulo: RT, 2008.
JESCHECK, H-H. Tratado de Derecho Penal, PG, trad. José Luis Manzanares
Samaniego. Granada: Comares, 1993.
1 INTRODUÇÃO
Com evidentes sinais de colapso, a questão ambiental tem ocupado
cada vez mais uma posição de destaque nas discussões sobre o futuro do
planeta e da sociedade, não apenas no âmbito interno, mas, sobretudo nas
discussões político-econômicas de relevo internacional. O atual modelo
capitalista de produção e desenvolvimento se mostra inadequado para
manutenção da vida que desejamos hoje e para as futuras gerações.
Nessa perspectiva, diversos setores da sociedade têm buscado
alternativas e soluções para os muitos problemas que se apresentam, exigindo,
principalmente do Poder Público, uma posição mais atuante em prol de um
desenvolvimento econômico aliado a preservação ou utilização racional do
meio ambiente, o chamado desenvolvimento sustentável.
Infelizmente, no entanto, o anseio pela extrema lucratividade por
determinadas empresas, somado a precariedade e ou a omissão dos órgãos
da administração pública responsável pela fiscalização ambiental, causam
prejuízos e, muitas vezes, danos irreparáveis ao meio ambiente.
Desta forma, com o objetivo de coibir e punir essas práticas, o legislador
constituinte de 1988 instituiu uma série de garantias ao meio ambiente,
destinando de forma inédita em nosso ordenamento jurídico, um capítulo
específico para regulamentação da matéria, elevando o meio ambiente à bem
jurídico constitucionalmente protegido. Entre essas garantias, destaca-se uma
1
Acadêmico da 7ª Fase do Curso de Graduação em Direito do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina -
CESUSC. <fabio@cesusc.edu.br>.
2
Acadêmico da 7ª Fase do Curso de Graduação em Direito do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina –
CESUSC. Estagiário do Ministério Público de Santa Catarina. <felipemottin@gmail.com>.
517
3
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a natureza. 6. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2000. p. 60-61.
518
4
SANTOS, João R. F. Anotações sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica no direito ambiental brasileiro.
Revista Jurídica, Sapucaia do Sul, ano 53, n. 335, set. 2005. p. 95.
5
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. v. 1. p. 289.
6
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 1. p. 288.
519
7
Ibid., p. 288-289.
8
PRADO, 2007, p. 271.
9
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2007. p. 428.
520
10
Luis Roberto Barroso insere nessa ordem de considerações, idéias como interpretação evolutiva, leitura moral e
interpretação pragmática da constituição. BARROSO, Luis Roberto. Curso de direito constitucional
contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 272.
11
BARROSO, 2009, p. 283-284.
12
VIVIANI, Rodrigo Andrade. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 2008. p. 59.
521
13
SHECAIRA, Sérgio Salomão. A Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas e o Direito Ambiental. In:
VARELLA, Marcelo Dias; BORGES, Roxana C. B. O novo em Direito Ambiental. Belo Horizonte: Del Rey,
1998. p. 133.
14
Ibid., 134.
522
15
BELLO FILHO, Ney de Barros. A responsabilidade criminal da pessoa jurídica por danos ao ambiente. In: LEITE,
José Rubens Morato; BELLO FILHO, Ney de Barros (orgs.). Direito ambiental contemporâneo. Barueri:
Manole, 2004. p. 135.
16
Ibid., p. 128.
17
SZNICK, Valdir. Direito penal ambiental. São Paulo: Ícone, 2001. p. 57.
18
SANSEVERINO, Carlos Alberto Maluf; CARDOSO, Débora Motta. Peculiaridades do Direito Penal Ambiental no
mundo contemporâneo. Revista do Advogado, São Paulo, ano 29, n. 102, mar. 2009. p. 26.
523
19
SANSEVERINO; CARDOSO, 2009, p. 25.
20
SHECARIA, Sérgio Salomão. A responsabilidade penal da pessoa jurídica e nossa recente legislação. In: GOMES,
Luiz Flávio. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e medidas provisórias e direito penal. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999. p. 140-141.
524
21
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 00.004656-6, de Descanso. Rel. Juiz Torres
Marques, Segunda Câmara Criminal, 12/09/2000.
22
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso criminal n. 2003.014959-7, de Videira. Rel. Des. Irineu João
da Silva, Segunda Câmara Criminal, 07/10/2003.
525
23
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso criminal n. 2005.000496-2, de Joaçaba. Rel. Des. Sérgio
Paladino, Segunda Câmara Criminal, 29/03/2005.
24
CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (Orgs.). Direito Constitucional Ambiental
Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 390. e também VIVIANI, Rodrigo Andrade. Responsabilidade penal da
pessoa jurídica: aspectos controvertidos no Direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2008. p. 87.
25
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 00.020968-6, de São Miguel do Oeste. Rel. Des.
Solon d'Eça Neves, Primeira Câmara Criminal, 13/03/2001.
526
26
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 2003.015432-9, de Videira. Rel. Des. José
Gaspar Kubic, Primeira Câmara Criminal, 16/09/2003.
27
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 2005.007862-0, de Joaçaba. Rel. Des. Solon
d'Eça Neves, Primeira Câmara Criminal, 10/05/2005.
527
28
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 2006.022946-4, de Joaçaba. Rel. Des. Irineu
João da Silva, Segunda Câmara Criminal, 08/08/2006. Destaca-se que essa decisão foi objeto de recurso especial
ao Superior Tribunal de Justiça, que reformou a decisão do tribunal catarinense.
29
RMS 16696, Min. Hamilton Carvalhido, 09/02/06; REsp 610114, Min. Gilson Dipp, 17/11/05.
30
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 2007.000868-1, de Joaçaba. Rel. Des. Jorge
Mussi, Segunda Câmara Criminal, 24/04/2007.
31
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Recurso Criminal n. 2007.061969-7, de Seara. Rel. Des. Irineu João
da Silva, Segunda Câmara Criminal, 11/04/2008.
528
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
O Direito Penal Ecológico é uma área ainda recente no direito brasileiro,
e por conseqüência, depende de maior estudo, de avanço legislativo e
aplicação nos tribunais, pois se trata de um instrumento essencial para garantia
do meio ambiente, haja vista a sua eficácia na tutela dos bens jurídicos
essenciais à sociedade.
Nesse sentido, a Lei dos Crimes Ambientais, passados mais de dez
anos de vigência, embora seja um grande passo para evolução do direito
ambiental brasileiro, ainda está longe de alcançar os fins pretendidos, visto que
não regulamentou adequadamente a matéria, gerando sérias duvidas quanto a
sua aplicabilidade.
No entanto, apesar das omissões legislativas, a questão ambiental
demanda urgência na tutela jurisdicional, em que pese os graves efeitos
gerados pelos danos causados pela degradação ecológica. Outrossim, cabe ao
poder judiciário suprir tais lacunas e efetivar o direito fundamental ao ambiente
ecologicamente equilibrado, alicerce para a formação de um Estado de Direito
Ambiental, que constitui a nova tendência do direito constitucional.
Desta feita, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, progressivamente,
vem reconhecendo a importância de sua atuação em defesa do meio ambiente.
Após anos de divergência entre a Primeira Câmara Criminal, que abriu o
primeiro precedente para reconhecimento da legitimidade passiva da pessoa
jurídica em tribunais brasileiros, e a Segunda Câmara Criminal, que se
mantinha irredutível em posição contrária, pacificou-se a possibilidade de se
responsabilizar criminalmente as pessoas jurídicas.
Percebe-se, portanto, a evolução do Tribunal catarinense no trato com o
Direito Penal Ambiental, uniformizando o seu entendimento e seguindo a
tendência do Superior Tribunal de Justiça, em prol da proteção ambiental.
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006. v. 1.
______. Tratado de direito penal: parte especial. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2006. v. 2.
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro. 7. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007. v. 1.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Júris, 2007.
RESUMO: Boa parte da poluição dos recursos hídricos o Brasil é causada pela remessa nas
águas de esgoto doméstico não tratado. Muito embora tenha ocorrido um recente incremento
de investimentos públicos na área de saneamento básico, um novo desafio tem sido enfrentado
pelos administradores, em decorrência da resistência dos indivíduos em conectar seus imóveis
à rede de coleta de esgotos. Tal fato gera consideráveis danos ao meio ambiente, razão pela
qual devem ser responsabilizados os agentes poluentes, no caso, os proprietários dos imóveis
não conectados à rede pública de esgoto, sendo-lhe possível, inclusive, a imposição judicial da
obrigação de realizar a ligação.
PALAVRAS CHAVES: SANEAMENTO BÁSICO – RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL –
COLETA DE ESGOTO
1 INTRODUÇÃO
O déficit de saneamento básico no Brasil constitui um dos grandes
causadores da poluição dos recursos hídricos e do solo. O enfrentamento
destes desafios exige investimentos do poder público, por intermédio de
políticas públicas estrategicamente articuladas com as necessidades de cada
região do país.
Os recentes investimentos observados no âmbito do Ministério das
Cidades trouxeram uma nova perspectiva para a amenização de um quadro
nacional crítico nesta área. Estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas,
publicado em novembro de 2007, indicava que seriam necessários cerca de 56
anos para que o déficit do acesso ao serviço de tratamento de esgoto ser
reduzido à metade (verificado o ritmo até 2006).
1
Advogado, especializando em direito ambiental pela Universidade Federal de Pelotas e mestrando em
Ciências Sociais pela mesma Universidade. Contato pelo e-mail felipefw@gmail.com.
531
2
Trata Brasil: Saneamento Básico e Saúde. Coordenado por Marcelo Côrtes Neri. Rio de Janeiro:
GV/IBRE, CPS, 2007, p. 5.
3
Ibidem., p. 18.
4
Trata Brasil: Saneamento Básico e Saúde. Coordenado por Marcelo Côrtes Neri. Rio de Janeiro:
GV/IBRE, CPS, 2008, p. 51.
5
Ibidem., p. 17.
532
6
Muito embora a lei 11.445 refira-se à cobrança de tarifa para o serviço de coleta de esgoto, o Supremo
Tribunal de Justiça firmou entendimento de que tal remuneração é feito a título de taxa, tendo em vista a
sua compulsoriedade. Neste sentido: REsp 848287; REsp 818649 e Resp 665738.
533
7
Neste sentido: Recurso Inominado nº 71001441393 TJ/RS, de cujo voto se transcreve o seguinte trecho:
(...) Assim, tratando-se de rede de esgoto posta à disposição dos usuários, visando a manutenção da
saúde pública, de utilização compulsória, há obrigatoriedade do pagamento, sendo irrelevante se há ou
não utilização do serviço prestado ou se o contribuinte requereu ou não a ligação à rede, sendo a taxa
devida, pela utilização efetiva ou potencial do serviço, que está a sua disposição. (...)
8
Em sentido contrário o posicionamento do Tribunal de Justiça de São Paulo: Apelação com Revisão nº
996.465-0/5, da qual se transcreve o seguinte trecho:
(...) É incontroverso que a autora não utiliza a rede de esgoto e que sua residência está em desnível com
a rua. Ou seja, não há ramal de ligação do imóvel com a rede pública.
Conclui-se que a apelante cobrou por serviços não prestados. Os limites da demanda se impõem, eis que
não se discute sobre a obrigatoriedade da autora de fazer a ligação da rede de esgoto, tampouco de
multa em caso de inércia. Logo, não há falar em serviços prestados1. Ademais, há uma questão técnica
alegada que inviabiliza a ligação direta e que a prestadora de serviços sequer contestou. (...) Repita-se:
se não há ligação interna, não se pode cobrar por um serviço inexistente.(...)
9
Informação retirada do site http://www.pelotas.rs.gov.br/noticia/noticia.htm?codnoticia=15631, na data
de 10 de fevereiro de 2009.
534
10
LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 103.
535
11
Ibid., p. 98.
536
15
Ibid., p. 186-187.
538
16
Tal afirmação não pode ser tida de forma absoluta. Não descartamos a existência de elementos
químicos nos esgotos domésticos, porém entendemos ser insignificante tal presença, principalmente
quando comparadas com o patamar observado nas emissões de resíduos industriais.
539
5 CONCLUSÃO
A questão do saneamento básico ainda se mostra crítica no Brasil. Muito
embora tenha ocorrido um aumento considerável de investimentos públicos
nesta área, estudos indicam que ainda estamos infinitamente distantes de um
quadro de universalidade destes serviços, como objetiva nossa legislação.
O percentual da população brasileira que possui acesso a este serviço
ainda é insignificante, de modo que a maior parte dos resíduos domésticos
produzidos pela população é remetida diretamente aos cursos de água ou no
solo.
Além do mais, a construção de estações de tratamento de esgoto e da
rede pública de coleta pelo poder público não significam uma garantia de que o
esgoto não será despejado diretamente no meio ambiente. Para que ocorra o
devido tratamento é necessário que o proprietário do imóvel realize a conexão
de sua habitação à referida rede, fato gerador de custos, os quais são supridos
pelo particular. Em razão disso, não são raros os casos em que, muito embora
esteja à disposição do indivíduo o serviço de tratamento de esgoto, o benefício
que tal investimento traz ao meio ambiente é insignificante, haja visto que a
maior parte da população não o utiliza.
A legislação brasileira impõe expressamente ao proprietário de imóvel a
ligação de sua propriedade à rede publica de coleta de esgoto doméstico
quando a mesma estiver disponível.
A omissão do indivíduo gera um dano ambiental de caráter coletivo, pelo
qual pode ser responsabilização todo aquele particular que se mostra omisso
em seu dever de realizar a conexão aqui em foco. Não devem ser acatadas as
alegações de ausência de nexo causal ou de resultado certo. A
responsabilização civil pelos danos ambientais não pode ser analisada apenas
pelos elementos tradicionais elencados pela doutrina, tendo em vista a
complexidade dos danos ambientais observada na sociedade contemporânea.
Constatado, portanto, o dano ambiental, a ação civil pública e a ação
popular se apresentam como os instrumentos jurídicos mais adequados para
fazer cessar a lesão ao meio ambiente. O rol de legitimados ativos é
extremamente amplo, de modo que deve o poder público disponibilizar à
541
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. – 15ª Ed. rev,
atual. e amp. – São Paulo: Malheiros, 2007.
1 INTRODUÇÃO
Apesar do amplo mercado representado pelo setor de eletro-eletrônicos,
não existe ainda, no Brasil, uma legislação efetiva que regulamente as
atividades de produção, comercialização, uso e descarte destes equipamentos,
como computadores, telefones celulares, televisores, rádios, lâmpadas, pilhas,
baterias e outros. Nenhum dispositivo legal estabelece responsabilidades
definindo a destinação adequada de sucatas eletrônicas.
Hoje, o chamado resíduo sólido tecnológico (RST) tem como destino
mais comum os lixões, aterros sanitários, ou ainda, é enviado a países
subdesenvolvidos como incentivo à inclusão digital. No entanto, estes resíduos
são classificados como perigosos (segundo a série NBR 10004:2004),
acarretando diversos riscos e até mesmo prejuízos para a saúde humana e
para o meio ambiente.
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo expor a atual situação
dos pontos de vista ambiental e legal dos RST, além de alertar a comunidade
científica para este problema eminente.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Após o seu descarte, os RST fluem em uma cadeia pós-consumo que se
estabelece espontaneamente a partir de uma demanda por serviços, materiais
recicláveis, componentes e produtos de segunda mão, mas a simples
1
Acadêmica de Eng. Ambiental da Universidade da Região de Joinville – nanda_staf@hotmail.com
² Doutoranda em Ciência e Engenharia de Materiais – PGMat/UFSC – tatiana.cunha@univille.net
2
543
Isto pode ser confirmado pelo artigo Lixo High-Tech, de Chris Carrol,
para a Revista National Geographic de janeiro de 2008, que retrata o que
acontece com os RST que sofrem este descarte transfronteiriço:
3 CONCLUSÃO
Os resíduos eletro-eletrônicos constituem uma ameaça real a qualidade
ambiental, bem como um nicho de mercado a ser explorado. No entanto, faltam
informações sobre procedimentos corretos e seguros para realizar a
reutilização/reciclagem dos destes, de forma que este tipo de resíduo acaba
entrando na zona da economia informal, onde é tratado sem qualquer medida
de segurança para os trabalhadores envolvidos e nenhum controle ambiental.
No caso das legislações nacionais vigentes, nota-se que há uma lacuna
a ser preenchida referente ao ciclo de vida desses produtos. Isso pode ser
facilmente notado quando da interpretação da Resolução 401 do CONAMA,
que trata de pilhas e baterias, mas não de eletro-eletrônicos em geral.
Para estes a situação é crítica, pois verifica-se apenas a Convenção de
Basiléia, que proíbe o transporte transfronteiriço de resíduos eletrônicos, mas
não refere-se sobre o que deve ser considerado resíduo ou não, tampouco
549
apresenta caráter de lei, sendo muito mais um acordo diplomático que uma
legislação a ser seguida.
Assim, observa-se uma grande carência no setor quanto as etapas finais
do ciclo de vida desses produtos, uma vez que governos, empresas e usuários,
que deveriam dividir a responsabilidade sobre esses resíduos, acabam por
esperar um pelo outro e, pela falta de uma legislação adequada, acabam por
apenas entulhar esses resíduos.
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo faz uma análise crítica da figura do licenciamento
ambiental, como um instrumento de gestão ambiental que possui muitos pontos
que devem ser aprimorados. Com base no estudo de caso do Projeto Mexilhão
de Gás, da Petrobras, no Litoral Norte de São Paulo, os conflitos
socioambientais que surgiram, e uma inovação onde se estabeleceu um
processo de diálogo entre os diferentes atores envolvidos nos conflitos,
fazendo assim a negociação ambiental, como uma estratégia para a
sustentabilidade.
2 FERRAMENTAS CONCEITUAIS
A definição de licenciamento ambiental foi trazida pela resolução
CONAMA nº237 de 19 de dezembro se 1997, em seu artigo º1, inciso I:
1
Estudante de Direito da Unisantos- Universidade Católica de Santos. Vice-presidente do Grupo de
Estudos de Direito Ambiental – GEDA Unisantos. Endereço eletrônico: fernandapennas@hotmail.com.
552
2
LITTLE, P. Os Conflitos Socioambientais: um Campo de Estudo e Ação Política. In Bursztin, M. (org.)
A difícil sustentabilidade - política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Editora Garamond,
2001.
553
3 DESENVOLVIMENTO
3
SACHS, I. Estratégias de transição para o Século XXI – Desenvolvimento e Meio Ambiente. São Paulo:
Estudio Nobel / FUNDAP, 1993.
554
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
De acordo com os dados levantados podemos verificar que os
instrumentos de comando e controle, como o licenciamento ambiental
associado às audiências públicas, oferecem grandes limitações para uma
gestão ambiental integrada e completa, falta esclarecimento ao público,
incorporação de propostas e reivindicações. Como existem diferentes
interesses e direitos, a burocracia ambiental aumenta os conflitos e não traz
instrumentos para a sustentabilidade.
Nas iniciativas voluntárias de negociação ambiental, com a criação do
processo de diálogo, as partes envolvidas tem ganhos mútuos e convergência
de interesses.
No Projeto Mexilhão de Gás, as partes envolvidas se propuseram a dar
prosseguimento à discussão extra-licenciamento, esta experiência só trouxe
bons resultados, superou as tensões iniciais e está desenvolvendo uma gestão
ambiental mais integrada, trazendo instrumentos para um posicionamento
empresarial em prol da sustentabilidade.
558
BIBLIOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
A recente discussão acerca dos impactos ambientais causados pela
construção de garagens subterrâneas no Município de Curitiba 2 reafirma um
antigo embate: o objetivo de ordenamento das construções e preservação dos
recursos naturais locais e a possibilidade de aproveitamento econômico e
construtivo dos terrenos. Os empreendedores alegam que, para um maior
aproveitamento dos locais de construção, necessitam escavar para a
construção de garagens, já que a lei municipal permitiria tal prática sem o
cômputo no potencial construtivo do terreno. No entanto, devido à topografia e
hidrografia da região do município de Curitiba, as escavações causariam a
supressão de milhares de nascentes, o que ocasionaria um significativo dano
ambiental.
Se partirmos do pressuposto da existência de danos ambientais na
situação descrita, resta discutir o regime jurídico municipal destinado à
construção das ditas garagens subterrâneas. A análise deverá estar centrada
na ponderação entre os seguintes fatores: a) o dano ambiental que seria
causado pela eliminação das garagens no cômputo do potencial construtivo
permitido; b) os danos causados pela permissibilidade de garagens
subterrâneas sem o cômputo no respectivo potencial construtivo e c) o
cumprimento dos objetivos básicos da legislação municipal quanto à proteção
ao meio ambiente.
5 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 8ª ed. Rev. Atual. e
ampliada. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. pág. 43.
6 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14ª Ed. Rev. e atual. São
Paulo: Malheiros Editores, 2006. pág. 74.
565
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 14ª ed. Rev. e
atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2006.
1 INTRODUÇÃO
O carvão mineral é proveniente de uma vegetação primitiva, oriunda de
locais pantanosos, os quais sofreram alterações bióticas e abióticas, como a
desidratação, pressão, calor e ação microbiana, proporcionando assim um
enriquecimento progressivo de carbono e empobrecimento de oxigênio, por um
processo de diagênese denominado de intracarbonização. A composição
orgânica do carvão é predominantemente carbono e hidrogênio e em menores
quantidades oxigênio, nitrogênio e enxofre e a inorgânica composta por
silicatos incorporados na fase de deposição do material vegetal (LENZ;
RAMOS 1984).
Segundo Abreu (1978) o principal atributo do carvão nacional é
principalmente na produção de energia termoelétrica (carvão a vapor) e de
coque (carvão metalúrgico). Para os fins comerciais, a finalidade de sua
utilização, bem como a procedência do carvão e a natureza de seu resíduo são
classificados quanto à produção de matéria volátil. Assim sendo, para a
produção de energia termoelétrica o carvão deve possuir um bom rendimento
térmico, contendo um baixo teor de cinzas e uma considerável quantidade de
matéria volátil. Já para a produção do coque metalúrgico, o carvão deve
apresentar propriedades aglomerantes, possuindo um teor não muito elevado
de matéria volátil, baixo teor de cinzas e de enxofre, além de produzir um
coque com propriedades mecânicas apropriadas ao seu uso nos altos-fornos.
A poluição ambiental resultante da produção dos efluentes ácidos,
resíduos provenientes da mineração afetam muitos países em todo o mundo. A
1
Graduando em Ciências Biológicas. E-mail: gabidelabary@hotmail.com
2
Doutorando em Microbiologia. E-mail: marcus.silva@univali.br
569
efeitos tóxicos aos seres vivos (LIJINSKY et al. 1963) e terem a capacidade de
se bioacumularem em diferentes cadeias alimentares (GODSY et al., 1983).
Para Rawlings e colaboradores (1999), bactérias quimiolitotróficas
de ambientes ácidos compreendem dois grupos: bactérias oxidantes do
ferro e oxidantes do enxofre. Algumas das bactérias quimiolitotróficas
fazem ambos os processos, outras se restringem a um dos dois tipos de
metabolismo. Das bactérias quimiolitotróficas, as espécies mais
comumente encontradas têm sido caracterizadas como Acidithiobacillus
ferrooxidans, A. thiooxidans, Leptospirillum ferrooxidans, Sulfolobus e
mais recentemente A. caldus. Existem ainda bactérias heterotróficas que
também podem oxidar os mesmos elementos citados anteriormente.
Devido a sua forma de metabolismo, estas bactérias têm sido
encontradas em ambientes de DAM (JOHNSON et al., 2001).
Em ambientes antropogênicos, como em águas provenientes de
processos de mineração, o microrganismo mais estudado é provavelmente o A.
ferrooxidans. Este microrganismo, além de oxidar ferro ferroso, também tem a
habilidade de oxidar enxofre e reduzir compostos ricos em enxofre, podendo
ainda usar o ferro férrico como aceptor de elétrons reduzindo novamente a
ferro ferroso, em ambientes sem oxigênio (GONZÁLEZ-TORIL, 2003).
Em 22 de junho de 2007, o Superior Tribunal Justiça (STJ) condenou a
União, bem como as mineradoras que degradaram áreas no sul de Santa
Catarina, a recuperar os ambientes impactados por duas décadas. O STJ
concluiu que houve responsabilidade solidária entre o poder público e as
empresas poluidoras, onde todos respondem pela ação. A decisão foi
argumentada na Lei n. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio
Ambiente, estabelece que sócios e administradores respondam pelo
cumprimento da obrigação de reparação ambiental de forma solidária com as
empresas. O prazo para recuperação das bacias hidrográficas e lagoas foi de
10 anos e de três anos para a recuperação da área terrestre, a partir da liminar
concedida pelo juízo de primeiro grau, no ano 2000 (MESSERSCHMIDT,
2007).
Devido aos problemas causados pela mineração de carvão, existe um
interesse crescente em entender os destinos e as formas de desaparecimento
de todos os compostos provenientes desta atividade, incluindo compostos
572
2 DESENVOLVIMENTO
Coleta de amostras. As amostras de água e sedimento utilizadas para
o isolamento dos microrganismos foram coletadas em locais impactados pela
mineração do carvão, localizados no município de Criciúma no rio Sangão, e
em zonas de depósitos de rejeitos. Todas as amostras (seis no total) foram
coletadas em frascos previamente esterilizados em autoclave (121ºC, por 20
minutos). Após coletadas, as amostras serão mantidas refrigeradas até o
momento do processamento (APHA/AWWA/WEF, 1999).
Isolamento de bactérias degradadoras do naftaleno. As bactérias
degradadoras de naftaleno foram isoladas pela técnica de enriquecimento,
seguido de inoculação em meios sólidos. Para isto, 10g ou 10ml de amostra
foram inoculados em frascos do tipo Erlenmeyer contendo 90ml de Meio
Mineral (formulação em gramas por litro de água destilada: (NH4)2SO4, 0,15;
MgSO4*7H2O, 0,5; KCl, 0,1; Ca(NO3)2, 0,01; pH, 3,0; (JOHNSON, 1995).
Após inoculação, alguns cristais de naftaleno foram suspensos sobre o meio de
cultura líquido de maneira que se forme uma atmosfera saturada deste
composto no frasco de cultivo, essa atmosfera permitirá a seleção de
organismos degradadores deste composto. Os frascos inoculados foram
incubados por até um mês a 30ºC de forma estática. A cada semana, alíquotas
573
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
Organismos dos gêneros Clavibacter, Arthrobacter e Acidocella são
capazes de crescerem em ambientes de baixo pH e solos contaminados por
naftaleno, segundo Dore e colaboradores, 2003, porém Harrison (1980 e 1981)
propuseram um novo gênero de bactérias heterotróficas acidofilicas
provenientes de ambientes contaminados pela mineração do carvão, o nome
escolhido foi Acidiphilium, sendo os membros deste grupo Gram-negativos
obrigatórios, não crescem em presença de metanol, normalmente as colônias
possuem pigmentação, embora colônias desprovidas desta já terem sido
encontradas e são aeróbios estritos (WAKAO, 1993).
Outro grupo de pesquisa realizou experiências em ambientes ácidos e
descreveu o gênero isolado e até então desconhecido, denominado Acidocella.
As descrições desde grupo são baseadas em trabalhos realizados Wichlacz et
al. 1986, Kishimoto et al. 1993 e Kishmoto et al.1995. Segundo estes, são
células gram- negativas, são estritamente aeróbios usando metabolismo com
oxigênio como aceptor final de elétrons, crescem em temperaturas de 25 a
37ºC e pH de 3 a 6, são catalase positiva e oxidase negativa (KISHMOTO et
al.1995)
Organismo
Código
2 3 4
Morfologia Bacilo Bacilo Bacilo
Motilidade - - -
Coloração de Gram ND - -
Anaerobiose - - -
Oxidase - - +
Catalase + + +
Acetato - + -
Lactato - + -
Lactose - - -
Succinato - - -
575
Maltose - + -
Sorbitol - + -
ND- Não Determinada
REFERÊNCIAS
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São Paulo: Edbard Blücher. 1978. p. 321-450.
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126, 2007
576
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´Leptospirillum´-like species rather than Thiobacilllus ferrooxidans are the
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578
1 INTRODUÇÃO
A crise ambiental que ora se enfrenta acarreta o comprometimento da
própria sobrevivência humana. Assim, à medida que a sociedade reclama por
anteparos, em virtude dos problemas ecológicos, o Direito e o Estado precisam
se manifestar com o intuito de tentar resolver ou, pelo menos, elaborar
possíveis soluções, o que fundamenta a construção do Estado de Direito
Ambiental.
No entanto, ao adotar o referido paradigma estatal, é necessária uma
nova lente para ver a ordem jurídica, ou seja, uma Hermenêutica Jurídica
Ambiental.
A metodologia desta pesquisa é bibliográfica, descritiva e exploratória. O
objetivo deste artigo, portanto, é analisar a emergência do Estado de Direito
Ambiental, pautado em princípios e valores fundantes que se irradiam por toda
a ordem jurídica de forma holística. Pretende-se, ademais, investigar a
possibilidade de uma Hermenêutica Jurídica Ambiental com o intuito de auxiliar
o intérprete, em especial, o Judiciário, na construção de uma norma jurídica de
decisão que torne efetivo o meio ambiente sadio.
Por conta da limitação própria de um artigo científico, não se busca
abordar com profundidade a temática. A proposta é traçar elementos básicos
1
Mestranda em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Professora do curso
de graduação em Direito da Faculdade Christus – Fortaleza, onde orienta o grupo de pesquisa “Meio
Ambiente e Direitos Humanos: desafios e perspectivas”. Pesquisadora do Projeto Casadinho (CNPQ),
desenvolvido entre o PPGD – UFC e o PPGD – UFSC. E-mail: germana_belchior@yahoo.com.br.
2
Doutor em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Doutorando em
Direito Comercial pela Universidade de São Paulo – USP. Mestre em Direito Constitucional pela
Universidade Federal do Ceará – UFC. Professor e Coordenador do Programa de Pós-graduação em
Direito da UFC. Juiz Federal na Seção Judiciária do Estado do Ceará. Coordenador do Projeto Casadinho
(CNPQ), desenvolvido entre o PPGD – UFC e o PPGD – UFSC. E-mail: joaoluisnm@uol.com.br.
580
3
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: uma difícil tarefa. In: Inovações em
Direito Ambiental. LEITE, José Rubens Morato (org.). Florianópolis: Fundação Boiteaux, 2000, p.13.
4
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Tradução de Daniela
Beccacia Versiani. São Paulo: Manole, 2007, p. 43-45.
581
5
MATIAS, João Luis Nogueira; BELCHIOR, Germana Parente Neiva. Direito, Economia e Meio
Ambiente: a função promocional da ordem jurídica e o incentivo a condutas ambientalmente desejadas.
In: NOMOS: Revista do Curso de Mestrado em Direito da UFC, v. 27, jul./dez., 2007, Fortaleza, p. 155-
176.
6
BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus,
1992, p. 6.
7
NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. O Estado Ambiental de Direito. Revista de Informação
Legislativa, Distrito Federal: Senado Federal, p. 295-307, a. 41, n. 163, jul./set. 2004. p. 299.
8
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional Ambiental Português: tentativa de
compreensão de 30 anos das gerações ambientais no direito constitucional português. In: Direito
582
Constitucional Ambiental Brasileiro. CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens
Morato (org.). São Paulo: Saraiva, 2007, p. 6.
9
CANOTILHO, op. cit., p. 149-154.
10
MOLINARO, Carlos Alberto. Direito Ambiental: proibição de retrocesso. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007, p. 104-105.
11
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito público do ambiente. Coimbra: Faculdade de Direito de
Coimbra, 1995.
12
LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de risco e Estado. In: Direito Constitucional Ambiental
Brasileiro. CANOTILHO, José Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (org.). São Paulo: Saraiva,
2007, p. 49.
13
LEITE, op. cit., p. 151.
583
14
que legalidade), marcado pelo valor segurança jurídica. E o “Ambiental” é
visualizado no suporte da balança. Afinal, qual é a balança que pode ousar em
cumprir com seu objetivo, ou seja, equilibrar, se não tiver um suporte, uma
base fundante que a torna sólida e segura? Assim, o “Ambiental”, ao ser esse
suporte, traz o princípio da solidariedade, tendo como valor a sustentabilidade.
Em outras palavras, se o meio ambiente não for sadio e equilibrado haverá o
comprometido de toda a balança, e por que não dizer, de toda a ordem jurídica.
É interessante destacar que o Estado de Direito Ambiental continua
sendo um Estado de Direito e um Estado Democrático ao possuir três valores-
base: justiça, segurança jurídica e sustentabilidade. O que ocorre são
acréscimos de novo princípio e valor-base, implicando numa visão holística e
sistêmica, ou seja, partindo do todo, do “meio”, para buscar efetivar os demais
elementos.
Diante desse tripé axiológico fundamental (justiça, segurança jurídica e
sustentabilidade), é que se propõe a construção do Estado de Direito
Ambiental. O princípio da solidariedade e o valor sustentabilidade irradiam toda
a ordem jurídica por conta da Ecologização do Direito.
Como se vê, o princípio da solidariedade é o marco jurídico-
constitucional e o valor sustentabilidade o fundamento axiológico-constitucional
do Estado de Direito Ambiental, uma vez que se manifestam como um novo
viés normativo que estrutura o novel paradigma estatal, assim como iluminam
toda a ordem jurídica em um processo de dialética. Ambos são captados de
forma indutiva da crise ambiental, nascendo da realidade e penetrando em
todos os ramos de conhecimento, inclusive nas ciências jurídicas. A ordem
jurídica deve ser relida no sentido de efetivar o meio ambiente sadio,
demandando, por conseguinte, a necessidade de uma Hermenêutica
Ambiental.
14
O Direito não se limita apenas às regras, uma vez que o Pós-Positivismo traz à baila o caráter
normativo dos princípios, cujos conteúdos se manifestam por meio dos valores. É o Direito por regras e
princípios, defendido por Alexy, Dworkin, Canotilho e Bonavides.
584
15
LAMEGO, José. Hermenêutica e jurisprudência. Lisboa: Fragmentos, 1990, p. 135.
16
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método II. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes,
2002, p. 74-81.
585
17
FALCAO, Raimundo Bezerra. Hermenêutica. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 57.
18
Objeto cultural é toda modificação que o homem faz na natureza, agregando-lhe um sentido. O Direito
é objeto cognoscível cultural, pois limita a liberdade humana (que é natural, o homem nasceu livre) em
níveis externos, por meio da conduta, para dar-lhe um sentido de convivência pacifica entre os homens.
19
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 22.
586
magistrado, irá captar de acordo com o caso concreto. Ponto que precisa ser
observado é que quando a norma jurídica é criada pelo legislador, permanece
tão-somente no âmbito deôntico, sem uma força impositiva específica, como
uma espécie de moldura. No entanto, ela só irá modificar a realidade, de forma
coercitiva, no momento em que é aplicada pelo juiz, quando da criação de uma
norma de decisão que preenche essa moldura com os sentidos convenientes
de acordo a pré-compreensão de cada julgador.
20
Os princípios nascem de um movimento jurídico de indução, ou seja, do individual para o geral,
emanando a justiça. A doutrina e, em especial, a jurisprudência realizam referido processo de abstração
na teorização e aplicação do Direito. Vê-se que, neste momento, eles já são normas jurídicas,
condensando valores e orientando o intérprete, uma vez que o Direito não só a lei, como queria o
Positivismo Jurídico. Com a sua reiterada aplicação e permanência no seio social, o legislador, a fim de
lhe garantir também segurança jurídica, ampara-o em uma lei, ou na própria Constituição, por meio de um
raciocínio jurídico por dedução.
21
Por conta da limitação do artigo, não se tem como abordar com afinco cada uns dos princípios
estruturantes. A idéia deste trabalho é tão-somente contatar, por meio de elementos básicos, a necessidade
de uma Hermenêutica Jurídica Ambiental como forma de efetivar o Estado de Direito Ambiental.
588
22
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da Silva. São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 255.
23
SILVA, Solange Teles da. Direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: avanços
e desafios. In: Revista de Direito Ambiental, a. 12, n. 48, out./dez., p. 225-245, Revista dos Tribunais:
São Paulo, 2007, p. 230.
589
24
CRISTÓVAM, José Sérgio da Silva. Colisões entre Princípios Constitucionais: razoabilidade,
proporcionalidade e argumentação jurídica. Curitiba: Juruá, 2006, p. 215.
25
STUMM, Raquel Denise. Princípio da Proporcionalidade no Direito Constitucional Brasileiro.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1995, p. 79.
26
STUMM, op. cit., p. 79-80.
27
CRISTÓVAM, op. cit., p. 217.
590
28
GUERRA FILHO, Willis Santiago. Processo Constitucional e Direitos Fundamentais. 3. ed. São
Paulo: Celso Bastos Editor, 2003, p. 50.
29
HESSE, Konrad. A força normativa da Constituição. Tradução de Gilmar Ferreira Mendes. Porto
Alegre: SAFE, 2001.
591
5 CONCLUSÃO
A crise ambiental demanda de forma emergencial um novo papel do
Estado e do Direito. O fenômeno da Ecologização da ordem jurídica
fundamenta a tese do Estado de Direito Ambiental, por meio de um raciocínio
jurídico dialético com predominância indutiva. Ao adotar referido paradigma
estatal, é necessária uma nova lente para ver o Direito, ou seja, uma
Hermenêutica Jurídica Ambiental capaz de orientar o intérprete na busca de
captar um sentido da norma jurídica conveniente para efetivar o meio ambiente
sadio.
A especialização de varas ambientais é um movimento que já se iniciou
na Justiça brasileira. No entanto, é preciso ter cautela, uma vez que não são
todos os magistrados que têm uma pré-compreensão ecológica para tratar de
dissídios que envolvem a tutela ambiental. A educação e a ética ambiental são
instrumentos imprescindíveis para a reconstrução de valores que irão refletir
nos preconceitos dos julgadores.
Não há dúvida de que o dever ambiental efetivamente prestado implica
no direito ao equilíbrio ambiental concretizado. Se a sociedade (incluindo os
poderes públicos) tomasse a real consciência da importância da natureza,
refletindo sobre o descaso que lhe foi ofertado por tanto tempo, certamente
diminuiriam os impactos negativos ecológicos, além de amenizar o ajuizamento
de tantas demandas judiciais de natureza ambiental.
Em verdade, a tutela judicial acaba sendo a última saída, como se o
magistrado fosse o salvador do planeta, e porque não dizer, de todos nós.
Como o julgador é um ser humano, faz parte da sociedade, ele também tem a
obrigação não só de buscar a justiça – e por que não dizer justiça ambiental -
no caso concreto, mas ainda de promover a tutela ambiental por ser um dever
fundamental. Conclui-se, por conseguinte, que a proposta de uma
Hermenêutica Jurídica Ambiental é possível e adequada, a fim de proporcionar
aos julgadores cânones de interpretação que busquem concretizar o Estado de
Direito Ambiental.
593
REFERÊNCIAS
230.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva analisar a relevância do princípio da
precaução no processo de introdução de organismos transgênicos nos mais
variados ecossistemas, considerando que o meio ambiente ecologicamente
equilibrado, previsto no caput do artigo 225 da Constituição Federal de 1988, é
um direito difuso e fundamental que deve ser assegurado, através de um
sistema de responsabilidades compartilhadas, tanto para as presentes como
para as futuras gerações.
Parte-se inicialmente de uma breve análise da teoria da sociedade de
risco, formulada pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, e dos riscos abstratos
associados à introdução de organismos transgênicos na natureza para, em
seguida, ressaltar a importância do princípio da precaução para a proteção do
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no contexto
do Estado de Direito Ambiental.
1
Pesquisadora Visitante da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR/Fundação Araucária);
Professora Colaboradora da Universidade Federal de Santa Catarina; Doutora em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com estágio de doutoramento realizado na ‘Macquarie
University’, em Sidney, Austrália; Mestre em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina;
Pesquisadora do Grupo de Pesquisa sobre Direito Ambiental e Ecologia Política na Sociedade de Risco,
cadastrado junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do Grupo de
Investigação Jurídica e Ambiental do Centro de Estudos Jurídicos, Económicos e Ambientais da
Universidade Lusíada de Lisboa; Membro do Instituto O Direito por um Planeta Verde, da ‘Commission
on Environmental Law’ (‘World Conservation Union’/IUCN) e do Conselho Editorial da Revista
Brasileira de Direito Ambiental; Autora de livros e artigos na área de Direito Ambiental.
2
Mestranda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)
596
3
Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX,
promovendo um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo,
refletindo nos setores econômicos e sociais.
4
Essa nova fase, iniciada no final do século XX, apresenta processos tecnológicos decorrentes de uma
integração física entre ciência e produção, também chamada de revolução tecnocientífica.
597
5
Outros exemplos de riscos ambientais associados à introdução de organismos transgênicos no meio
ambiente são: a transferência horizontal de genes; formação de plantas daninhas e insetos invasores
resistentes; efeitos nefativos sobre a microbiota do solo; redução ou perda da diversidade biológica;
ameaça ao bem-estar dos animais; riscos alimentares, dentre outros. Para mais detalhes, cf. FERREIRA,
Heline Sivini. A biossegurança dos organismos transgênicos no direito ambiental brasileiro: uma
600
análise fundamentada na teoria da sociedade de risco. 2008. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
601
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
Diante do que foi exposto até o presente momento, pode-se concluir
que:
• A sociedade industrial, ou primeira modernidade, caracteriza-se por riscos
que são passíveis de previsão e controle (concretos). A contínua intervenção
do homem sobre a natureza, no entanto, transforma gradativamente esses
riscos, fazendo surgir uma nova fase da ‘idade de ferro planetária’: a
sociedade de risco;
• Distintamente da sociedade industrial, a segunda modernidade pode ser
particularizada pelo surgimento de riscos incalculáveis e imprevisíveis
(abstratos). Isso se deve ao fato de que, com o acelerado avanço da técnica,
da indústria e da ciência, as ameaças se tornaram demasiadamente
complexas para o tradicional conhecimento linear e fragmentado;
• Os riscos associados à introdução de organismos transgênicos no meio
ambiente decorrem propriamente da revolução tecnocientífica iniciada no final
do século XX. São potencias danos que não podem ser antecipados em sua
plenitude, mas cujos efeitos podem ser ilimitados em função do espaço e do
607
REFERÊNCIAS
ALCAMO, Edward I. DNA technology: the awesome skill. 2. ed. United States:
Academic Press, 2000.
BECK, Ulrich. Risk society and the provident state. In: LASH, Scott;
SZERSZYNSKI, Bronislaw; WYNNE, Brian (orgs.). Risk, environment and
modernity: towards a new ecology. London, Sage, 1998a.
BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Trad.
Jorge Navarro, Daniel Jiménez, Maria Rosa Borrás. Barcelona: Paidós, 1998b.
Sivini; LEITE, José Rubens Morato; BORATTI, Larissa Verri. Estado de Direito
Ambiental: tendências. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, no prelo.
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2001.
MORIN, Edgar; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Trad. Paulo Azevedo Neves
da Silva. Porto Alegre: Sulina, 1995.
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo vem analisar a existência ou não de normas de
licenciamento ambiental, que regulam o plantio de árvores para o mercado,
mais especificamente, o pinus e o eucalipto. Ademais, busca-se avaliar as
conseqüências desta regulamentação, indo além desta, e ponderando
aspectos quanto á política agrícola e ambiental, atualmente implementada em
todo território nacional, sobretudo no Estado de Minas Gerais.
A pesquisa, em um primeiro momento, consistiu em uma busca por
normas de licenciamento através do órgão estadual e demais dispositivos
normativos, responsáveis pela regulamentação deste tipo de empreendimento
de acordo com a própria Resolução do CONAMA (Conselho Nacional de Meio
Ambiente) nº 001, de 23 de Janeiro de 1986, como assim está disposto;
1
Advogado, graduado em Direito pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), especialista em Sociologia
Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestrando em Direito pela Universidade Estadual
Paulista (UNESP) e bolsista de mestrado sob o financiamento da CAPES/CNPQ. Endereço eletrônico:
gleoneljr@gmail.com.
611
2
Silvicultura é a ciência dedicada ao estudo dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os
povoamentos florestais com vistas a satisfazer as necessidades do mercado e, ao mesmo tempo, é
aplicação desse estudo para a manutenção, o aproveitamento e o uso racional das florestas.Silvicultura
também está relacionada à cultura madeireira. Busca ainda auxiliar na recuperação das floresta através do
plantio de espécies nativas, preferencialmente de caráter regional, de forma a ampliar as possibilidades de
manutenção dos biomas locais visando a recuperação de recursos hídricos e manutenção de
biodiversidade, de forma a aumentar a eficiência do processo. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Silvicultura> - Acesso em: 20 de Maio de 2009.
612
(...)
Art.16 - As normas estabelecidas pelo COPAM referentes à
classificação de empreendimentos conforme a Deliberação
Normativa n.º1, de 22 de março de 1990 passam a incidir
segundo a seguinte correspondência:
(grifo nosso)
ANEXO ÚNICO 3
CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES DE POLUIÇÃO
G-03-02-6 Silvicultura
Porte:
3
O artigo 1° da Deliberação Normativa n°82, de 11 de maio de 2005, (Publicação - Diário do Executivo -
"Minas Gerais" - 31/03/2005), alterou alguns itens contidos nas listagens do Anexo Único desta
Deliberação Normativa. Posteriormente, o artigo 1° da Deliberação Normativa n°85, de 08 de junho de
2005 (Publicação - Diário do Executivo - "Minas Gerais" - 08/06/2005), alterou alguns dispositivos desta
Deliberação Normativa, que tinham sua redação determinada pela Deliberação Normativa n° 82, de 11 de
meio de 2005.
614
(grifo nosso)
Discriminação Área
Há %
Eucalyptus spp 1.08 93,1
0.000
Florestas para energia e 920. 79,3
termorredutor 000
Florestas para celulose 140. 12,1
000
Florestas para outros 20.0 1,7
usos 00
Pinus spp 80.0 6,9
00
Total em Minas Gerais 1.16 100,0
0.000
Total no Brasil 5.00 23,2 (em relação
0.000 a MG).
(grifo nosso)
4
RELATÓRIO Sucinto: Ocupação na UFV. CMI- Vitória. 02 maio 2007. Disponível em:
<http://lists.indymedia.org/pipermail/cmi-vitoria/2007-May/0502-g8.html>, adaptado de Carvalho et al.
2005. Acesso em: 20 maio 2009.
617
5
SIDERÚRGICAS investirão em reflorestamento em Minas. Gazeta Mercantil, São Paulo, 18 set. 2007.
Disponível em: <http://indexet.gazetamercantil.com.br/arquivo/2007/09/18/88/Siderurgicas-investirao-
em-reflorestamento-em-Minas.html >. Acesso em: 20 maio 2009.
618
6
Fábricas de celulose – da monocultura à poluição industrial. Movimento Mundial pelas florestas
Tropicais (WRM), 2005, p. 84.
619
7
UNS sim, outros não. Isto é. São Paulo, 15 jul. 1998. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/istoe/politica/150213.chtm.>. Acesso em 20 de Maio de 2009.
8
PEC 75-100/04.
9
Informações obtidas e disponíveis em: <http://www.tse.gov.br/internet/index.html.>. Acesso em 20 de
Maio de 2009.
620
4 CONCLUSÃO
Certamente, este estudo vai além da mera análise, da existência ou não
de normas que regulamentassem o plantio de pinus e eucaliptos em Minas
Gerais. O Direito é mais amplo e apresenta-se sob várias facetas e muitas
vezes de forma desigual entre as partes, como disposto na obra de Bourdieu;
O conteúdo prático da lei que se revela no veredicto é o
resultado de uma luta simbólica entre profissionais dotados de
competências técnicas e sociais desiguais, portanto, capazes
de mobilizar, embora de modo desigual, os meios e recursos
jurídicos disponíveis, pela exploração das ‘regras possíveis’, e
de os utilizar eficazmente, quer dizer, como armas simbólicas,
para fazerem triunfar a sua causa (2007, p. 224).
621
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNS sim, outros não. Isto é. São Paulo, 15 jul. 1998. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/istoe/politica/150213.chtm.>. Acesso em 20 de Maio
de 2009.
623
1 INTRODUÇÃO
Constitucionalmente a proteção das comunidades tradicionais se dá por
interpretação analógica e extensiva dos dispositivos de proteção aos indígenas
para dar-lhes a tutela da organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam
(no caso dos que as possuem, tais quais os índios).
Como populações tradicionais, podemos entender as comunidades
locais distintas por suas condições culturais, que se organizam,
tradicionalmente, por gerações sucessivas e costumes próprios, e que
conservam suas instituições sociais e econômicas; aquelas com modo de vida
e inter-relações sociais e materiais indissociáveis à diversidade biológica e à
reprodução dos conhecimentos tradicionais a ela associados (pescadores
artesanais, seringueiros, quilombolas, indígenas e a população ribeirinha, são
exemplos de tais populações).
Os conhecimentos oriundos dessas comunidades, os conhecimentos
tradicionais, podem ser entendidos como patrimônio imaterial, que abrange
todas as formas tradicionais e populares de cultura, transmitido oralmente ou
por gestos, englobando manifestações eminentemente intangíveis, dotadas de
caráter processual e caracterizadas pela sensível fluidez, pluralidade de
1
Graduado em Direito pela Universidade Federal de Goiás (1985), mestre em História das Sociedades
Agrárias pela Universidade Federal de Goiás (1992) e doutor em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1999). Professor titular da Universidade Católica de Goiás e Universidade Federal
de Goiás. Coordenador do Núcleo de Patentes e Transferência de Tecnologia do estado de Goiás. Email:
nivaldodossantos@bol.com.br;
2
Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Goiás. Email: tjhugo@pop.com.br;
3
Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Goiás. Email: vitorius.ufg@gmail.com
624
2 DESENVOLVIMENTO
Tradicionalmente, no Brasil, a política oficial de preservação do
patrimônio cultural, revelou-se centrada na identificação de monumentos,
objetos e documentos tidos como verdadeiros ícones de uma identidade
histórico-cultural que se buscava erigir para a nação. Tal fez arraigar nos
brasileiros a idéia de que o patrimônio histórico e artístico a ser protegido eram
os edifícios ou as obras de arte pura e aplicada; bens, pois móveis e imóveis
ou, como comumente se convencionou chamar, “a pedra e o cal”, que ainda
hoje são o principal objeto de tombamento.
Entretanto, rompendo com a limitação da ordem pretérita, o constituinte
de 1988 amplia a idéia de patrimônio cultural, ao dizer que “Art. 216.
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de
criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as
obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor
histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico” (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988).
Entretanto, no ordenamento jurídico brasileiro, não há legislação
específica no que se refere à proteção dos conhecimentos tradicionais,
entendidos em sua totalidade. O que se figura em nossa ordem jurídica é a
Medida Provisória nº. 2.186-16, de 23 de Agosto de 2001, que “Regulamenta o
inciso II do § 1º e o § 4º do art. 225 da Constituição, os arts. 1º, 8º, alínea "j",
10, alínea "c", 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade
Biológica, dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso
ao conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o
acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para sua conservação e
utilização, e dá outras providências”(grifo nosso).
Referida legislação trata do conhecimento tradicional associado, ou seja,
aquela informação ou prática individual ou coletiva de comunidade indígena ou
626
3 CONCLUSÃO
Percebe-se o caráter transindividual e meta-temporal da tutela ao
conhecimento tradicional.
Entretanto, no ordenamento jurídico brasileiro, não há legislação
específica no que se refere à proteção dos conhecimentos tradicionais,
entendidos em sua totalidade, limitando-se essa apenas àquele tido por
636
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:
Malheiros, 2006.
1 INTRODUÇÃO
A degradação ambiental ganha contornos inquietantes, as catástrofes
ambientais tornam-se cada vez mais comuns e complexas. Atos que retiram o
equilíbrio natural do meio ambiente acontecem, simultaneamente, sobre várias
áreas: desmatamentos desenfreados, aquecimento global, poluição do ar,
perda da biodiversidade, caça e pescas predatórias etc. A resposta da
natureza, ainda que propositalmente ignorada pela sociedade, não poderia ser
diferente: chuvas torrenciais, secas, temperaturas extremas, derretimento de
geleiras e tantas outras.
Diante deste cenário, resta evidente a necessidade de estudar os
mecanismos processuais previstos pelo ordenamento jurídico para a proteção
ambiental. Entre eles estão a Ação Civil Pública Ambiental (ACPA) e o Termo
de Ajustamento de Conduta (TAC). Todavia, há que se considerá-los em
conjunto, há que se meditar sobre a implicação da existência de um na
possibilidade da utilização do outro, sem perder o foco do direito ambiental: a
preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
No caso em tela, analisar-se-á se a existência de um TAC,
extrajudicialmente firmado, na seara ambiental, é um óbice à rediscussão da
matéria, via Ação Civil Pública Ambiental, por legitimados ad causam
descontentes com as soluções resultantes deste termo. Ou seja, aqueles que
não participaram da celebração do TAC e enxergam que o mesmo ficou aquém
das necessidades ambientais, têm espaço para propor uma ACPA sobre a
1
Graduanda do 5° ano de Direito da UFSC; Bolsista-pesquisadora do Pibic/CNPq em Direito Ambiental,
orientada pelo Prof. José Rubens Morato Leite; Membro do Grupo de Pesquisa de Dano Ambiental na
Sociedade de Risco. E-mail: belkoneski@hotmail.com
640
mesma questão? Para tanto, será analisado, de forma breve, antes de entrar
no mérito, os conceitos de TAC extrajudicial e da Ação Civil Pública Ambiental.
Ademais, não se pode estudar qualquer tentativa de controle dos riscos
e danos ambientais ignorando o estágio em que o desenvolvimento humano se
encontra: vive-se hoje, sob o prisma da Teoria da Sociedade de Risco proposta
por Ulrich Beck, a chamada Modernidade Reflexiva. Assim, a pesquisa parte da
premissa de que hoje se convive com riscos incalculáveis, danos irreversíveis e
catástrofes iminentes, conforme se verá.
2 SOCIEDADE DE RISCO
Conforme a Teoria da Sociedade de Risco proposta por Ulrich Beck em
1986 2, vive-se hoje a 'segunda modernidade', um estágio do desenvolvimento
humano, posterior ao período industrial clássico, no qual as consequências do
desenvolvimento humano desordenado passam a ser sentidas e a ameaçar
todo o planeta. O modelo adotado e exaustivamente praticado acabou por
colocar toda a coletividade à mercê de um permanente risco de desastres e
catástrofes (LEITE, 2003, p. 22). Para Beck (1997, p. 36) "A modernização não
entrou no seu próprio Pós, mas voltou-se contra si mesma".
Enquanto na primeira modernidade os riscos podiam ser taxados de
'calculáveis', na segunda modernidade, ou 'modernidade reflexiva', os riscos se
revestem de uma nova roupagem, tornando-se incalculáveis (LEITE et al., p.
150, 2009). Beck distingue risco e perigo. Para o pensador alemão, a
sociedade atual seria caracterizada pela existência de riscos, consequências
indesejadas produzidas pela atividade do homem, oriundos de seus processos
de decisões. Já o conceito de perigo se traduz por consequências indesejadas
produzidas não pelo homem, mas provenientes do próprio ambiente. (BECK,
1998, p. 21)
Quando se trata de riscos ecológicos o que está em pauta é o meio
ambiente e, consequentemente, a vida humana, a despeito de maiores
implicações. O problema desse tipo de risco é que os danos causados são,
muitas vezes, irreversíveis ou de difícil reparação, de modo que a única forma
2
Risikogesellschaft - Auf dem Weg in eine andere Moderne, de 1986, traduzida para o idioma espanhol
em 1998 – La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad.
641
3
“Ao lado dos direitos sociais, que foram chamados de direitos de segunda geração, emergiram hoje os
chamados direitos de terceira geração, que constituem uma categoria, para dizer a verdade, ainda
excessivamente heterogênea e vaga, o que nos impede de compreender do que efetivamente se trata, o
mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num ambiente
não poluído”. (BOBBIO, 1992, p. 5)
4
Preâmbulo da Lei n° 7.347/85: “Disciplina a Ação Civil Pública de responsabilidade por danos causados
ao Meio Ambiente, ao Consumidor, a Bens de Direitos do Valor Artístico, Estético, Histórico, Turístico e
Paisagístico e dá outras providências”.
642
5
“Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a
Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia,
empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente: a)
esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades
institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou
ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”. (BRASIL, Lei n° 7.347/85)
6
O Compromisso de Ajustamento de Conduta é, necessariamente, tomado por termo. Daí o nome pelo
qual é muito conhecido: Termo de Ajustamento de Conduta, ou, simplesmente, TAC.
644
7
“Art. 5° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento
de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial.” (BRASIL, Lei n° 7.347/85)
645
8
Neste mesmo sentido Chateaubriand: De nada serviria aquele instrumento extrajudicial se não tornasse
preclusa a rediscussão do mérito da situação jurídica acertada e, com maior razão, não se teria sequer
como justificativa a sua executoriedade que a lei somente vincula a documentos que atestam um estado de
satisfatória certeza. (CHATEAUBRIAND apud RODRIGUES, 2008, p. 212)
648
Com efeito, apenas duas situações não podem ocorrer nesta ACPA
proposta após o TAC celebrado: (i) que ela dispense ou diminua a abrangência
do TAC (ou seja, vedada uma reformatio in pejus contra o meio ambiente); (ii)
os co-legitimados não poderão ajuizar uma ACPA com um pedido que já foi
contemplado no TAC, no tocante àquilo que o termo assegura, por carência de
interesse de agir (MAZZILLI, 2006, p. 26).
Resta, portanto, evidenciado o árduo papel do Judiciário: não permitir
que o TAC extrajudicial frustre os objetivos constitucionais de preservação
ambiental e não tolher este mecanismo, possibilitando, ao máximo, que ele
cumpra sua função.
capital, que são os recursos naturais, como se eles fossem eternos. O poder de
auto purificação do meio ambiente está chegando ao limite.
Assim, se o atual sistema de desenvolvimento não for revisto, em um
futuro onde a água potável seja ainda mais escassa, onde as temperaturas
sejam insuportáveis de fato, onde a perda da biodiversidade seja a regra e
onde os recursos energéticos estejam esgotados, dilemas como os levantados
nesta pesquisa talvez já não sejam mais pertinentes.
10 CONCLUSÕES ARTICULADAS
10.1 Vive-se hoje, sob o prisma da Teoria da Sociedade de Risco, proposta por
Ulrich Beck, a chamada Modernidade Reflexiva. Nesta lida-se com riscos
incalculáveis, danos irreversíveis e catástrofes iminentes
10.2 Quanto ao pedido mediato da Ação Civil Pública, ele abrange, além da
defesa do patrimônio público e cultural, do meio ambiente e dos direitos do
consumidor, a defesa de quaisquer interesses difusos, coletivos ou individuais
homogêneos. Já quanto ao seu pedido imediato, tem-se que apenas quando a
reparação do dano mostrar-se inviável é que a solução será o pagamento do
correspondente em pecúnia.
10.3 O TAC destina-se a prevenir o litígio, quando a ACP ainda não foi
proposta, ou a extingui-lo, quando a ACP está em andamento. Ademais, a
existência do TAC certifica a responsabilidade civil assumida pelo obrigado
para prevenir o risco de dano ou reparar os prejuízos.
BIBLIOGRAFIA
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Tribunais, 2008. 220 p.
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BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 232 p
_____. Tutela dos interesses difusos e coletivos. 6. ed. São Paulo: Damásio de
Jesus, 2007.184 p.
_____. _____. 4. ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. 1119 p.
655
_____. Ação Civil Pública: Lei 7.347/1985 – 15 anos. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2001. 846 p.
_____. Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional. São Paulo: Saraiva,
1990. 206 p.
MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio
ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. 399 p.
RESUMO: O presente artigo faz uma análise sobre a eficácia dos métodos de fiscalização do
Ministério Público Federal diante da problemática da ocupação desordenada que ocorre na
Lagoa da Conceição. Estes mecanismos de fiscalização são eficientes diante do crescimento
desordenado na região? A hipótese sugere que os instrumentos de fiscalização não são
suficientes para assegurar o desenvolvimento sustentável no local, exigindo a necessidade de
se reavaliar os mecanismos atuais. Contudo, demonstra, também, que a educação é elemento
essencial para combater o avanço das habitações ilegais, mostrando a necessidade de
implementação de medidas sócio-educativas, considerando o problema de modo
multidisciplinar. Desta forma, faz-se necessário a conjugação dos mecanismos de fiscalização
com medidas educativas, analisando a questão de forma mais ampla e integrada.
Palavras-chave: Fiscalização, Ministério Público Federal, ocupações ilegais, desenvolvimento
sustentável, educação, multidisciplinar.
1
Estudante da oitava fase do curso de graduação em direito da Universidade do sul de Santa Catarina e
bolsista de iniciação científica da Fapesc/PMUC, pesquisadora do grupo de pesquisa Direito Ambiental
na Sociedade de Risco, GPDA\UFSC. Email: bebel82floripa@gmail.com
2
Professor titular da Unisul, doutor em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina e orientador
do projeto Fapesc/PMUC “A Problemática das Habitações Ilegais na Lagoa da Conceição”, pesquisador
do grupo de pesquisa Direito Ambiental na Sociedade de Risco, GPDA\UFSC. Email:
roney@pge.sc.gov.br
3
ACIF Ano da Ética e Participação Comunitária: Missão, Visão e Objetivos. Disponível
em:<http://www.acif.org.br/> Acessado em: 15/09/2008
657
4
BARBOSA, Tereza Cristina Pereira. Ecolagoa: Um breve documento sobre a Ecologia da Bacia
Hidrográfica da Lagoa da Conceição. Florianópolis: Editora Gráfica Pallotti, 2003, p.65.
658
5
Idem ibidem p. 58.
659
Tabela 1- Número de ações civis públicas em andamento, por região, na Lagoa da Conceição,
em março de 2009.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lagoa da Conceição como um estudo de caso faz parte de trabalho de
iniciação científica realizado desde agosto de 2008, por meio de bolsa de
pesquisa. Os resultados apresentados neste artigo são atuais e sinalizam a
necessidade de uma transformação na política de desenvolvimento da Lagoa
da Conceição. A especulação imobiliária e a ênfase no turismo tornam a região
vulnerável, fazendo com que o problema das ocupações ilegais persista.
Mais do que medidas de fiscalização, faz-se necessário investimentos
em atitudes que considerem o problema de forma multidisciplinar. Ou seja, que
sejam implementadas políticas sócio-educativas que ampliem a questão sobre
diferentes enfoques, abrangendo os dilemas sociais dos habitantes
tradicionais, o aspecto da cultura local, a necessidade de se respeitar os limites
da natureza e que seja cumprida e observada como dever, a legislação
urbanística e ambiental sobre o tema. A partir destas medidas, a fiscalização
tenderá a se tornar um instrumento que terá por função principal a averiguação
de que se está caminhando para a solução dos dilemas das ocupações ilegais
do que como um meio de se corrigir os danos advindos destes.
666
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005
Periódicos:
Sites:
JERÔNIMO S. TYBUSCH 1
VINÍCIUS GARCIA VIEIRA 2
LUIZ ERNANI BONESSO DE ARAUJO 3
1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Em decorrência da “generalização discursiva” impressa ao modus
operandi da Globalização Econômica é necessária uma postura reflexiva frente
aos efeitos desta prática nas culturas, políticas, sistemas jurídicos e mercados
dos países da América Latina, Índia e África que sofreram processos de
“colonização” “assujeitadores” da sua organização Econômico-Política, seu
modo de vida e consumo. Tais práticas hegemônicas foram fundamentadas por
discursos filosóficos importados, na grande maioria das vezes, pelos setores
empresariais e de produção do conhecimento.
O conceito de Pós-Modernidade vai na esteira dessa definição. Sua
apologia à desestruturação e liquefação de centros constituídos como
referência na modernidade é interessante para uma reflexão da problemática
sistêmica atual. Porém, padroniza e desconsidera as diversidades locais e
diferenças culturais em todo o globo. Importar modelos construídos implica em
uma aceitação da ingerência de quem os constrói e gera, em contrapartida,
uma não adequação com a história e cultura dos povos envolvidos, cujas
conseqüências se revelam em problemas estruturais como fissuras nos
1
Doutorando da Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação
Interdisciplinar em Ciências Humanas, PPGICH-UFSC. Professor dos Cursos de Direito da
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM e Faculdade de Direito de Santa Maria –
FADISMA. E-mail: jeronimotybusch@yahoo.com.br.
2
Mestrando da Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado em Integração Latino-
Americana, MILA-UFSM. E-mail: vigarciavieira@gmail.com.
3
Professor Doutor do Curso de Direito e do Mestrado em Integração Latino-Americana, MILA,
da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Brasil. E-mail: ernani@smail.ufsm.br.
668
5
CHESNAIS, François. A Mundialização do capital. Traduzido por Silvana Finzi Foá. São
Paulo: Xamã, 1996. p. 17-25.
6
SANTOS, Boaventura de Sousa. Os processos de globalização. In: ______(Org.). A
Globalização e as ciências sociais. 3. ed. São Paulo, Cortez, 2005. cap. 1. p. 25-31.
670
7
DUPAS, Gilberto. Propriedade intelectual: tensões entre a lógica do capital e os interesses
sociais. In: VILLARES, Fábio (Org.). Propriedade intelectual: tensões entre o capital e a
sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 17.
671
8
SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio
ambiente. Traduzido por Magda Lopes. São Paulo: Studio Nobel e Fundação do
desenvolvimento administrativo, 1993. p. 15-18.
9
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992). Disponível em:
<http://www.interlegis.gov.br/processo_legislativo/copy_of_2
672
12
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. p. 240.
13
Idem, p. 238.
14
Idem, p. 241.
15
Idem, p. 247.
675
16
BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. p. 257.
17
Etnobioprospecção é a prática de corporações multinacionais para investigação de
conhecimentos de povos autóctones, notadamente indígenas, sobre os usos que fazem da
fauna e flora em suas tradições culturais, de forma a identificar substâncias que possam ter
propriedades terapêuticas ou cosméticas para posterior extração e comercialização privada.
676
6 DIGRESSÕES FINAIS
A Complementaridade de Saberes é essencial para uma compreensão
do modus operandi da globalização atual. É necessário identificar os discursos
de “assujeitamento” e padronização no que concerne à prática hegemônica de
grandes conglomerados empresariais e sua perspectiva transnacional
opressiva e dominante na apropriação de conhecimentos e recursos naturais.
Igualmente importante é perceber a dominação discursiva no “nível micro”, ou
seja, nas relações de consumo. É inegável que todo consumo produz
externalidades, reflexos e impactos ambientais negativos. Porém, algumas
correntes do pensamento pós-moderno, com embasamento filosófico, tornam a
visão da sociedade contemporânea como “coexistência errática de impulsos e
22
SHIVA, Vandana. Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e da
biotecnologia. São Paulo: Gaia, 2003. p. 114-115.
680
23
CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e Cidadãos. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
2006, p. 64.
24
Ibidem, p. 63.
681
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
WACQUANT, Loïc. Mapeando o Habitus, IN: Habitus, Goiânia, v.2, n.1, p-7-
10, jan/jun.2004.
FPTO%2Fsearch-
bool.html&r=3&f=G&l=50&co1=AND&d=PTXT&s1=6380164&OS=6380164&RS
=
1 INTRODUÇÃO
O Brasil destaca-se no cenário internacional pelo caráter inovador e
rigoroso de sua legislação ambiental, especialmente a partir da previsão
expressa do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado no artigo 225
da Constituição Federal.
A necessidade de um controle rigoroso das intervenções humanas na
natureza exige uma participação cada vez maior dos mecanismos normativos e
coercitivos do Estado. Neste sentido, o Direito Ambiental tem evoluído muito
nas últimas décadas, não apenas quanto à tecnicidade de suas normas, mas
especialmente quanto à preocupação com sua efetividade.
As normas de proteção à flora, com destaque para as vegetações de
margens de rios – matas ciliares – e nascentes, sofreram várias alterações
desde sua criação pelo Código Florestal de 1965. Entre estas alterações, o
aumento da metragem das áreas de preservação permanente de acordo com a
largura do rio ou córrego é uma das que mais gerou conseqüências. Somente a
partir de 1989 a extensão mínima das áreas de preservação permanente
passou a ser de trinta metros.
Esta alteração do Código Florestal inseriu várias construções e lotes
urbanos numa situação de ilegalidade, apesar dos respectivos loteamentos
terem sido criados legalmente, com base na legislação então vigente.
Movidos pelo princípio da intervenção estatal obrigatória, os órgãos
ambientais de fiscalização e o próprio Ministério Público têm exigido o
1
O autor é advogado, Professor de Direito Ambiental do curso de Direito da Unioeste (Campus de Foz do
Iguaçu); atual coordenador do curso e pesquisador líder do Grupo de Pesquisas em Direito Ambiental e
Internacional da Unioeste (GEDAI); é mestre em Direitos Supraindividuais pela Universidade Estadual
de Maringá. Email: jcgconsultoria@gmail.com
685
5 LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA
As áreas de preservação permanente possuem a natureza jurídica de
limitações administrativas, na medida em que impõem limitações de uso, de
forma genérica, aos proprietários de áreas no território brasileiro que
contenham córregos, rios e nascentes.
Vários autores brasileiros apresentam conceitos da limitação
administrativa. Para Diógenes Gasparini, considera-se limitação administrativa
“toda imposição do Estado de caráter geral, que condiciona direitos dominiais
do proprietário, independentemente de qualquer indenização”. 5
No entendimento de Maria Sylvia Zanella:
5
GASPARINI, Diógenes; Direito administrativo; 3.ed.; São Paulo: Saraiva, 1993.
691
6 DIREITO ADQUIRIDO
A Constituição Federal brasileira garantiu em seu artigo 5º, inciso
XXXVI, que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito, e a
coisa julgada.
Para Celso Bastos, o direito adquirido:
Constitui-se num dos recursos de que se vale a Constituição
para limitar a retroatividade da lei. Com efeito, esta está em
6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella.; Direito administrativo; 8. Ed.; São Paulo: Atlas, 1997.
7
MEIRELLES, Hely Lopes; Direito administrativo brasileiro; 22. ed.; São Paulo: Malheiros, 1997.
692
O que se diz com boa razão é que não corre direito adquirido
contra o interesse coletivo (qual o dos consumidores, seja-nos
permitida a ênfase), porque aquele é manifestação de
interesse particular que não pode prevalecer sobre o interesse
geral. 9
8
BASTOS, Celso. Dicionário de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994; p. 43.
9
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13. ed.; São Paulo: Malheiros, 1997;
p. 414.
693
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que,
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
9 CONCLUSÕES
a. A falta de uma política ambiental nacional efetiva, a despeito da
existência da Lei Federal nº 6.938/81, conjugada com a omissão histórica do
Estado brasileiro no tratamento da flora nacional, em especial das áreas de
preservação permanente criadas pela Lei Federal nº 4.771/65, resultaram em
várias situações de conflitos evitáveis entre os direitos fundamentais da
propriedade privada e do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
b. Os proprietários e adquirentes de lotes urbanos localizados em
loteamentos regularmente instalados e aprovados antes da publicação da Lei
Federal nº 7.803 de 18 de julho de 1989, e que passaram a ser obrigados a
demolir construções localizadas a pelo menos quinze metros da margem do
córrego ou ainda impedidos de construir nestas áreas, sofreram verdadeiro
ataque ao direito constitucional da propriedade privada.
c. Estes proprietários adquiriram suas áreas com estrita observação dos
princípios da boa-fé e da legalidade, investindo muitas vezes durante toda uma
vida no pagamento de prestações para a aquisição da única propriedade para
passar os últimos anos da vida com um mínimo de dignidade. São estes
mesmos proprietários que passaram, de uma hora para a outra, a serem
considerados ocupantes ilegais de áreas de interesse ambiental e mesmo
infratores e criminosos ambientais, ameaçados de despejo por uma ordem
judicial.
d. Deve ser demonstrada, obrigatoriamente, a retirada do valor e uso
econômico de toda a área, no caso dos lotes urbanos, com função residencial
ou comercial. É irrelevante a existência de algumas permissões da legislação
florestal para o aproveitamento econômico das áreas de preservação
permanente pelos pequenos proprietários, até mesmo porque a previsão legal
se restringe aos proprietários de pequenas áreas rurais.
e. Antes de qualquer ordem ou pedido de demolição e reflorestamento
destas áreas de preservação permanente, deve ser precedido o devido
699
REFERÊNCIAS
MEIRELLES, Hely Lopes; Direito administrativo brasileiro; 22. ed.; São Paulo:
Malheiros, 1997.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 13. ed.; São
Paulo: Malheiros, 1997.
701
1 INTRODUÇÃO
O intuito do presente artigo é estimular as reflexões sobre a importância
da água para a sobrevivência dos seres bióticos, buscando aproximar a
sociedade dos debates ecológicos. A utilização consciente e racional dos
recursos hídricos, no futuro, poderá fazer a diferença entre a vida e a morte.
Inicialmente abordar-se-ão questões atinentes à relevância dos recursos
hídricos para a sobrevivência dos seres bióticos e a possibilidade de adaptação
destes à escassez hídrica. Num segundo momento, versar-se-á acerca da
escassez quanti-qualitativa da água e os rumos da humanidade, sob o prisma
da modernidade. Por fim, estudar-se-á a escassez hídrica na ótica da pós-
modernidade, onde a única constância é a incerteza do futuro.
1
Advogada. Bacharel em Direito, Pós-Graduada em Direito Ambiental e Mestranda em Direito
Ambiental e Sociedade, na linha de pesquisa: Direito Ambiental e Novos Direitos -, ambos pela
Universidade de Caxias do Sul (UCS), Rio Grande do Sul. Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Pesquisadora do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ, Direito Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Ecologia jurídica e legislação ambiental). Contato: kmflores@terra.com.br.
2
Advogado. Pós-Graduando em Direito Tributário e Mestrando em Direito Ambiental e Sociedade, na
linha de pesquisa: Direito Ambiental, Trabalho e Desenvolvimento-, ambos pela Universidade de
Caxias do Sul (UCS), Rio Grande do Sul. Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPQ, Direito Meio Ambiente e Desenvolvimento. Contato:
micaelmeurer@hotmail.com.
702
qualitativa.
A dependência humana para com a água inicia antes mesmo do
nascimento, no período gestacional com o desenvolvimento do feto no saco
amniótico. 3 O corpo humano é constituído em grande parte por água, apenas
variando sua quantidade de indivíduo para indivíduo, enquanto os recém são
formados por 78% de água, na fase adulta esse percentual se reduz a 60%
(SEED, 1994). 4
O ser humano obtém água necessária à sua sobrevivência através do
consumo direto (47%), por meio do próprio organismo com a respiração celular
(14%) e alimentação (39%); sendo eliminada pela respiração (15%),
transpiração (20%), urina e fezes (65%). Quando o corpo humano perde 2% de
água o mesmo sinaliza, por vezes, através da sede que precisa de reposição;
quando atinge o percentual entre 6% e 10% o volume sangüíneo diminui e a
temperatura pode subir de forma perigosa, causando a desidratação; por fim,
atingindo 15% o ser humano não sobreviverá por muito tempo (BEI, 2003).
Os que mais sofrem com escassez quanti-qualitativa da água são os
seres humanos, vez que, as plantas e animais se adaptam mais facilmente. Os
animais que vivem no deserto, podem passar semanas sem água e para não
desidratarem muitos se escondem em tocas durante o dia. Outros, fisicamente
adaptados ao clima, como a raposa e o coelho do deserto possuem orelhas
enormes que irradiam calor, evitado à transpiração e, portanto, perda de água.
Há, ainda, os camelos, campeões em armazenar água, que chegam a beber 80
litros de água de uma só vez, ou, o correspondente a um terço do seu peso,
podendo, inclusive engolir suas próprias secreções nasais e excrementos e
transformar parte de sua gordura em líquido, evitando assim a perda de água
(SEED, 1994).
Outrossim, as plantas do deserto desenvolvem mecanismos de
proteção. Os caules impermeáveis impedem a perda de água, como nos
3
O líquido amniótico é composto de células epiteliais fetais descamadas, sais orgânicos e inorgânicos e,
aproximadamente, 99% de água - podendo variar de acordo com o tempo de gestação
(GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Disponível em: <http://gineco.amerhuec.org.br/html/
patologia_do_liquido_amniotico.html>. Acesso em: 27 jan. 2009).
4
Importante salientar que tal índice refere-se a um homem adulto magro, sendo menor entre mulheres,
obesos e idosos (BEI (coord). Como cuidar da nossa água. Coleção entenda e aprenda. São Paulo: Bei
Comunicação, 2003, p.64).
703
cactos; as plantas, que contém folhas são recobertas com uma espécie de cera
para evitar que a água evapore. Curiosamente, muitas destas plantas passam
grande parte da vida em forma de sementes a espera de água para germinar,
quando a chuva cai, transforma a paisagem colorindo o deserto; porém,
quando a seca retorna, as plantas morrem e as sementes voltam a ficar
adormecida a espera da próxima chuva (SEED, 1994).
Dos bens ambientais, somente o ar compara-se a sua importância, por
serem ambos essenciais à sobrevivência dos seres bióticos. O ser humano,
racional e capaz de identificar suas ações e omissões possui maior grau de
responsabilidade na preservação e conservação do meio ambiente, ainda mais
num período de incertezas como é a transição entre modernidade e pós-
modernidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do presente estudo procurou-se de forma clara e objetiva trazer
à baila a essencialidade dos recursos hídricos, tanto no que se refere aos seres
humanos, como aos animais e vegetais.
708
REFERÊNCIAS
BEI (coord). Como cuidar da nossa água. Coleção entenda e aprenda. São
Paulo: Bei Comunicação, 2003.
________. O debate global sobre a terceira via (org.). Tradução: Roger Maioli
dos Santos. São Paulo: Editora UNESP, 2007.
MORATO LEITE, Rubens José; BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito
ambiental contemporâneo. Barueri, São Paulo: Manole, 2004.
POLIDO, Walter. Seguro para riscos ambientais. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2005.
1 INTRODUÇÃO
Os conflitos ambientais vêm ganhando destaque em diversos processos
administrativos e judiciais, onde se observa um número crescente de pessoas
físicas e jurídicas interessadas na apropriação dos bens ambientais, muitas
vezes provocando degradação ambiental, ou ainda, pondo em risco o meio
ambiente e a saúde pública. Neste contexto, o terceiro setor ambientalista,
essencialmente através das ONGs, entra com uma atuação cada vez mais
sólida no que diz respeito a tais conflitos, até mesmo assumindo funções que
seriam de atribuição original do Estado, como a fiscalização.
Recentemente, verifica-se que o conhecimento e a prática acumulados
pelos trabalhos das entidades sem fins lucrativos, através da experimentação
de formas inovadoras de enfrentamento dos problemas ambientais constituem
uma fonte de aprendizagem para toda sociedade. Diversas experiências bem
sucedidas merecem destaque, através da divulgação que busca multiplicar
seus resultados por meio de estímulos sistemáticos para o estabelecimento de
relações de parceria com órgãos públicos, visando a sustentabilidade
ambiental e a prevalência da legislação ambiental em face dos interesses
particulares.
A tutela eficaz do meio ambiente esbarra em inúmeras dificuldades,
especialmente aquelas relacionadas à compreensão de relações ambientais
que envolvem conhecimentos científicos complexos, fator fundamental para a
tomada de decisões, e o direcionamento do desenvolvimento humano. Ao
1
Bióloga, Especialista em Direito Público, Mestranda Gestão do Conhecimento da Sustentabilidade na
Universidade Federal de Santa Catarina (EGC-UFSC) - karinavasco@hotmail.com
2
Administrador, Mestre em Engenharia Ambiental, Doutorando em Gestão do Conhecimento da
Sustentabilidade na Universidade Federal de Santa Catarina (EGC-UFSC) - renatop@egc.ufsc.br
712
3
“A obra de Alexis de Toqcqueville (1979), A Democracia na América é considerada um clássico da
análise do papel da Sociedade Civil Organizada e do processo de formação das associações civis.
Segundo o autor, associações têm importância singular no processo de fortalecimento da Sociedade Civil,
uma vez que elas rompem com o individualismo, não só presente nas sociedades democráticas, mas
também originário destas formas de governo. Na explicação do autor, as sociedades aristocráticas
baseavam-se na permanência, durante séculos, das gerações em suas posições sociais. Os indivíduos eram
ligados por seus vínculos familiares que os tornavam equivalentes entre si. Já nas sociedades
democráticas, houve um rompimento dessa lógica. As famílias mudam de face, de espaço social, de
acordo com o passar de gerações. O tempo rompe com os vínculos sociais, com a hereditariedade das
posições políticas e sociais, fazendo com que os precedentes de uma geração e os que seguirão não
interfiram na realidade dos que vivem o presente” (VIANA, 2003)
714
incorporar uma visão mais ampla das disciplinas tradicionais, para atingirem
resultados mais eficientes.
Morato Leite & Ayala (2004, p.117) defendem a transdisciplinaridade no
Direito Ambiental como uma alternativa para a organização jurídica do futuro,
pois, diante dos efeitos negativos do desenvolvimento econômico e
tecnológico, percebe-se a impossibilidade de atingir uma compreensão integral
ou suficiente de conflitos tão complexos, que envolvem as escolhas que a
sociedade precisa fazer, relativas a problemas para os quais a perspectiva
disciplinar não encontra soluções satisfatórias.
Vale lembrar que quando se trata de ações judiciais relacionadas a
danos ambientais a instrução torna-se delicada, pois envolve comprovação de
lesão atrelada a dados técnicos, muitas vezes dotados de margem de erro ou
de incertezas científicas, e pode haver uma dificuldade em se apontar o nexo
causal quando os danos ambientais se perdem em complexidades ou dúvidas
técnicas, além de implicações espaço-temporais, do que decorre alguma
insegurança para o julgamento adequado (Leite, 2000).
O parecer técnico requisitado pelo juiz no processo, sendo então
denominado laudo pericial, tem como finalidade apurar as circunstâncias
relativas a fatos sobre os quais o magistrado não é capaz de emitir opinião
técnica, com vistas ao esclarecimento da verdade. Sobre a perícia judicial
Almeida et. al., (2000 pp. 41-42) esclarece: “O laudo se destina, em última
análise, à leitura de juízes e advogados, desconhecedores da matéria
ambiental” e continua “O laudo deve ser o mais abrangente possível dentro do
objeto da perícia, e para ser eficaz tem que ser bem fundamentado, em face
dos fatos observados, pesquisas, informações, princípios e normas
pertinentes”.
Para Lazzarini (2005), a perícia ambiental é dotada de relevante
interesse social, dando suporte ao Poder Judiciário, possuindo natureza
complexa que exige a prática multidisciplinar de profissionais qualificados, e
havendo necessidade de estudos dos aspectos jurídicos, técnicos e
metodológicos envolvidos. Araújo (1998) ainda enfatiza que a função de perito
judicial exige a soma dos conhecimentos específicos da atividade pericial a
conhecimentos básicos do processo de jurisdição civil.
717
5 CONCLUSÕES
A crise ambiental em que se encontra a humanidade está diretamente
relacionada com a crise da racionalidade cartesiana que dominou a ciência de
forma geral até o presente momento, e a transdisciplinaridade aparece cada
vez mais como uma das soluções possíveis para os problemas complexos que
envolvem esta crise, exigindo mais do que o diálogo, uma associação e soma
de conhecimentos.
O direito ambiental é, certamente, um dos ramos jurídicos que mais se
identifica com esta constatação na medida em o meio ambiente é um sistema
complexo onde se verifica aquela interdependência dos conhecimentos,
técnicos e jurídicos, desde a formulação das normas até sua aplicação e
solução de conflitos.
Muitos são os segmentos da sociedade que têm interessa na utilização
do espaço natural e dos recursos naturais. As organizações, associações e
outros tipos de entidades ambientalistas têm ganhado força no papel de
719
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J.R. OLIVEIRA, S.G. & PANNO, M., Perícia Ambiental. Rio de
Janeiro: Thex Ed., 2000
ARAÚJO, L.A. Perícia Ambiental em Ações Civis Públicas in: CUNHA, S.B.,
GUERRA, A.J.T. (ORGS), Avaliação e Perícia Ambiental, Rio de Janeiro:
Bertrand, 1998.
RESUMO: o presente artigo objetiva explanar uma visão critica reflexiva da realidade de
questões relacionadas ao meio ambiente e a economia - a crise ambiental e a crise econômica
– bem como, as conseqüências daquelas sobre a vida do nosso planeta, quais tem gerado
sérias preocupações, tendo em vista que o progresso econômico sob perspectiva ecológica
está sujeito aos condicionamentos e limites impostos pelas leis da natureza. Vale dizer que
existe ou já existiu uma determinada suportabilidade de recursos naturais para realização do
processo/progresso econômico, entretanto, as vidas dos ecossistemas estão ameaçadas. Não
está mais havendo equidade entre as condições econômicas e ambientais, ou seja, a natureza
não responde mais de forma sustentável às exigências da economia. Primordial redefinir os
conceitos de progresso e desenvolvimento sob a égide de qualidade de vida sustentável.
Palavras-chave: Consumo. Globalização. Meio ambiente.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem como objetivo geral demonstrar um desenvolvimento
em fase embrionária e percepção da problemática crise global ambiental e
econômica, identificando a necessidade de desenvolvimento de novos modelos
de compreensão do meio ambiente sustentável, para se resgatar um meio
ambiente sadio.
Ao se falar do confronto da relação entre homem e natureza, realça-se a
noção de uma economia da (in) sustentabilidade. Uma análise multidimensional
sobre esta relação ou globalização x natureza, consumo x natureza e etc., nos
remete a idéia de dar ênfase ao compromisso com a preservação do meio
1
Autora. Graduada em Direito pelo Centro Universitário Franciscano. Especialista em Direito Contratual
e Responsabilidade Civil. Advogada e professora universitária das disciplinas de Direito de Família e
Sucessões na Universidade Luterana do Brasil. Mestranda em Direito Ambiental pela Universidade de
Caxias do Sul. Pesquisadora do CNPq. Grupo de Pesquisa: Direito, Meio ambiente e Desenvolvimento.
2
Co-autora. Graduada em Direito pela Universidade Luterana do Brasil. Especialista em Direito
Ambiental e Agrário. Advogada.
723
3
A crise ambiental apresenta-se a nós como um limite real que ressignifica e reorienta o curso da história:
limite de crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades
de sustentação de vida; limite de pobreza e da desigualdade social [...] (LEFF, 2002, p.191)
724
4
Como refere Leonardo Boff , “há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais esta sistemática
exploração de seus recursos e a ofensa continuada da dignidade de seus filhos e filhas, os seres humanos,
excluídos e condenados, aos milhões, ao morrer de fome” [...] “A mãe Terra é um ser vivo que vibra,
sente, intui, trabalha, engendra e alimenta a todos os seus filhos e filhas” (BOFF, 2008)
5
No sentido de uma teoria social e de um diagnóstico de cultura, o conceito de sociedade de risco designa
um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas até então no caminho
da sociedade industrial. (BECK, 1997, p.17).
No mesmo sentido, “Ainda que Beck não se detenha em definições detalhadas do que se entende por
risco, com este conceito ele abrange os ecológicos, químicos, nucleares e genéticos, produzidos
industrialmente, externalizados economicamente, individualizados juridicamente, legitimados
cientificamente e minimizados politicamente (BECK, 1992). Eles podem trazer conseqüências
incontroláveis, sem limites espaciais, temporais ou sociais, apresentando, assim, sérios desafios às
instituições dedicadas a seu controle. Em síntese, trata-se de riscos com efeitos globais, invisíveis e, às
vezes, irreversíveis” (GUIVANT, 1998, p. 20)
725
6
A sociedade do hiperconsumo é o império narcíseo da amplificação do “self”. As necessidades pela
eterna jovialidade presente nas propagandas publicitárias de diversos meios midiáticos sugerem que a
felicidade somente é possível quando se é jovem e, portanto, deverá ser vivida a exaustão com a “total
liberdade possível”. Novamente, o tempo é o agora, ou seja, “não deixe de fazer agora o que você só
poderá fazer agora”! A vida cotidiana luta contra o relógio e a excelente performance física se postulam
como uma outra face da escravidão pelo imaterial consumista. Nesta batalha pela supremacia do “self”, o
“outro” deverá vir a se constituir no encontro frenético do próprio espelho moldado pelo “eu”. E esse
“outro” somente terá interesse se for constituído pelo próprio “eu”. Quando o “eu” não é previamente
reconhecido no semblante alheio, o “outro” é esvaziado e descartado. Portanto, é urgente a necessidade
imperiosa e angustiada do “par perfeito”, o descarte da rapidez dos “refugos” transitórios e a permanente
busca pelo “elemento encantado” que brotará e fertilizará a felicidade por toda a longa curtíssima
existência. (MENEZES, 2008)
726
Vale ressaltar outro fato que vem ocorrendo e merece destaque que é a
manipulação da atenção da população global – propulsionada por uma mídia
medíocre comandada por líderes políticos/chefes de Estado – apenas para
aspectos econômicos da crise atual, ou melhor, para o fantasma da recessão e
da queda no consumo, ansiado pelo capitalismo incutido pela globalização 7
que nada mais originou senão um estreito relacionamento de dependência
entre os Estados e econômia estrangeira, em um sistema de fluxo/ refluxo de
capital, em que se pode verificar uma subordinação da ordem política-social
interna à internacional.
No âmbito de uma economia transnacionalizada, as relações entre os
problemas internos de cada país vão sendo progressivamente invertidas, de tal
forma que os primeiros já não são mais apenas parte dos segundos; pelo
contrário, os problemas internacionais não só passam a estar acioma dos
problemas nacionais, como tambeém a condicioná-los (FARIA, 1999, p. 32)
Quem dita as ordens não é mais o Estado, a economia interna, e sim um
mercado sem fronteiras quem levanta a bandeira do consumo exacerbado, da
livre circulação de capital, com consequências imprevisíveis e incalculáveis
para o planeta. Os Estados, com seu poder de soberania infraquecido, são
apenas “marionetes” utilizadas pelas grandes potências mundias que
exercerem os seus objetivos de expansão econômica. Entretanto, as bases de
fundamentação da soberania não deixarão de ser lembradas e revividas na pós
modernidade, pelo simples fato de uma ordem cronológica: modernidade/pós
modernidade 8, qual não foi estabelecida por ninguém.
7
O termo ”globalização da economia mundial” tem sido utilizado para contextualizar uma multiplicidade
de fenômenos que,sobretudo a partir da década de 1970, estariam configurando uma redefinição nas
relações internacionais em diferentes áreas da vida social, como a economia, as finanças, a tecnologia, as
comunicações, a cultura, a religião etc. Em termos organizacionais, de acordo com as escolas de
administração norte-americanas, o qualificativo global significaria que os grandes grupos empresariais
multinacionais deveriam aproveitar as oportunidades surgidas com a liberalização e a desregulamentação
das economias nacionais; para tanto, seria necessária a reformulação de suas estratégias internacionais a
partir de uma reorganização produtiva e comercial de suas organizações. (CATTANI, 1997)
8
Pós-modernidade é a condição sócio-cultural e estética do capitalismo contemporâneo, também
denominado pós-industrial ou financeiro. O uso do termo se tornou corrente, embora haja controvérsias
quanto ao seu significado e pertinência. Tais controvérsias possivelmente resultem da dificuldade de se
examinarem processos em curso com suficiente distanciamento e, principalmente, de se perceber com
clareza os limites ou os sinais de ruptura nesses processos. Segundo um dos pioneiros no emprego do
termo, o francês François Lyotard, a "condição pós-moderna" caracteriza-se pelo fim das metanarrativas.
Os grandes esquemas explicativos teriam caído em descrédito e não haveria mais "garantias", posto que
727
mesmo a "ciência" já não poderia ser considerada como a fonte da verdade. Para o crítico marxista norte-
americano Fredric Jameson, a Pós-Modernidade é a "lógica cultural do capitalismo tardio",
correspondente à terceira fase do capitalismo, conforme o esquema proposto por Ernest Mandel. Outros
autores preferem evitar o termo. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um dos principais
popularizadores do termo Pós-Modernidade no sentido de forma póstuma da modernidade, atualmente
prefere usar a expressão "modernidade líquida" - uma realidade ambígua, multiforme, na qual, como na
clássica expressão marxiana, tudo o que é sólido se desmancha no ar. O filósofo francês Gilles
Lipovetsky prefere o termo "hipermodernidade", por considerar não ter havido de fato uma ruptura com
os tempos modernos - como o prefixo "pós" dá a entender. Segundo Lipovetsky, os tempos atuais são
"modernos", com uma exarcebação de certas características das sociedades modernas, tais como o
individualismo, o consumismo, a ética hedonista, a fragmentação do tempo e do espaço. Já o filósofo
alemão Jürgen Habermas relaciona o conceito de Pós-Modernidade a tendências políticas e culturais
neoconservadoras, determinadas a combater os ideais iluministas. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3s-modernismo. Acesso em 10 jan. 2009
728
10
“[...] a iniquidade da distribuição da riqueza mundial se agravou nas duas últimas décadas: 54 dos 84
países menos desenvolvidos viram o seu PNB per capita decrescer nos anos 80; em 14 deles a diminuição
rondou os 35%; segundo as estimativas das Nações Unidas, cerca de 1 bilhão e meio de pessoas (1/4 da
população mundial) vivem na pobreza absoluta, ou seja, com um rendimento inferior a um dólar por dia e
outros 2 bilhões vivem apenas com o dobro desse rendimento. Segundo o Relatório do Desenvolvimento
do Banco Mundial de 1995, o conjunto dos países pobres, onde vivem 85,2% da população mundial,
detém apenas 21,5% do rendimento mundial, enquanto o conjunto dos países ricos, com 14,8% da
população mundial, detém 78,5% do rendiemento mundial”. (SANTOS, 2002, p. 33-4)
11
Sobre as divergências apresentadas entre o mundo oriental e ocidental no mundo pós moderno,
constata-se prevalência em relação aos motivos de integração: “ enquanto os afluxos dos valores que
medram no cenário das relações internacionais continuar situado no âmbito das diferenças, certamente, as
oposições serão maiores que os motivos de integração, o que trará a desagregação, a discriminação, a
exploração, entre outros fatores de exclusão” (BITTAR, 2005, p.350)
731
3 CONCLUSÃO
É bem verdade que nunca consumimos tanto, nunca tivemos tanto
acesso ao ter. Passamos por aprovoções diárias na ansia pelo encontro da
felicidade que não mais se encontra exclusivamente no consumo e sim no
poder, na conquita. Com certeza, mais cedo ou mais tarde isso tudo terá um
fim e um novo repensar será imprencíndivel à luz das consequências oriundas
de prazer = consumo para que novos conceitos de felicidade ou gozo de uma
boa vida orientem a humanidade. Assim, podemos partir da idéia de que
reduzindo a necessidade de satisfação dos desejos de consumo, reduz-se
também a necessidade de dinheiro para adquiri-los, o que casa perfeitamente
com uma distribuição mais eqüitativa da riqueza.
Trata-se sem mais nem menos de articular um novo padrão de produção
e de consumo com uma repartição mais equânime dos benefícios naturais e
tecnológicos, respeitando a capacidade de suporte de cada ecosistema, do
conjunto do sistema-Terra, buscando-se uma vida harmonioza com base na
instauração de um processo de re-introdução do homem à natureza, debate já
bastante desenvolvido pelos Ambientalistas, uma vez que o homem é a
Natureza, como explanada pelo renomado François Ost (2005) .
Deveria se ter como regra a visão de que a crise ambiental é uma
oportunidade da humanidade parar, pensar e perceber onde se cometeram
erros, como evitá-los e que rumos novos devemos conjuntamente construir
para sair da crise, preservando a natureza e projetando um horizonte de
733
12
A concepção de sistemas vivos como redes fornece uma nova perspectiva sobre as chamadas
hierarquias da natureza. Desde os sistemas vivos, em todos os níveis, são redes, devemos visualizar a teia
da vida como sistemas vivos (redes) interagindo à maneira de rede com outros sistemas (redes). Por
exemplo, podemos descrever esquematicamente um ecossistema como uma rede com alguns nodos. Cada
nodo representa um organismo, o que significa que cada nodo, quando amplificado, aparece, ele mesmo
como uma rede. Cada nodo na nova rede pode representar um órgão, o qual, por sua vez, aparecerá como
uma rede quando amplificado, e assim por diante. (CAPRA, 2001,p 44-45)
734
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Beck, Ulrich. A Reinvenção da Política. Em: Giddens, A., Beck, U. & Lash, S.:
(Orgs.). Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social
moderna . São Paulo: UNESP, 1997.
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. 6.ed. São. Paulo: Cultrix, 2001.
LEITE, José Rubens Morato;. BELLO FILHO, Ney de Barros (org.). Direito
ambiental contemporâneo. Barueri: Manole, 2004.
MORIN, Edgar & Kern, Anne Brigitte. Terra-pátria. Trad. Paulo Azevedo Neves
da Silva, Porto Alegre: Sulina, 1995
1 INTRODUÇÃO
O acesso ao saneamento básico é essencial para a construção das
cidades sustentáveis. Especificamente a ausência de saneamento básico é
apontada como o fator de maior impacto na qualidade de vida da população. O
IBGE divulgou, em maio de 2005, o primeiro levantamento ambiental, em nível
de Municípios, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC,
realizada em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, em 2002. 2 A
pesquisa revela que, dentre os problemas de degradação ambiental, a falta de
saneamento básico é o que mais afeta a qualidade de vida das pessoas, no
maior percentual de Municípios, 46%. A notícia não causa nenhuma surpresa,
mas inacreditável é a informação de que nove dos 33 Municípios com mais de
500 mil habitantes informaram não ter alterações ambientais afetando a
população: Belém, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Guarulhos e Porto Alegre.
O saneamento ambiental refere-se ao saneamento do meio,
considerando-o como um todo integrado, compreendendo atividades que
considerem as especificidades do ambiente a ser saneado 3. Muito embora
parte da ciência jurídica se refira ao saneamento ambiental como um sinônimo
de saneamento básico, esse entendimento não considera a composição
1
Mestre e Doutora em Direito das Relações Sociais, Sub-área Direitos Difusos e Coletivos – pela PUC/SP. Especialista em Direito
Sanitário pela Faculdade de Direito e pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Professora do Programa de Mestrado em Direito e
do Programa de Mestrado em Meio Ambiente Desenvolvimento Urbano da Universidade da Amazônia - UNAMA.
2
Todas as informações constantes da pesquisa estão divulgadas no site do IBGE, www.ibge.gov.br. Acesso em 15 de maio de 2005.
3
Na pesquisa Direito Fundamental ao Saneamento Básico na Região Metropolitana de Belém, desenvolvida na Universidade da
Amazônia-UNAMA, com o financiamento da FIDESA, analisaremos os aspectos jurídicos referentes ao desenvolvimento das
políticas públicas de saneamento básico na Região Metropolitana de Belém e o cumprimento da legislação ambiental, urbanística e
sanitária pertinente e a atuação Ministério Público Estadual e do Poder Judiciário do Estado do Pará.
737
4
FONSECA. Luciana Costa da. Tese de Doutorado “O Direito Fundamental ao Saneamento Básico”
defendida em junho de 2006 na Pontifícia Universidade de São Paulo.
739
5
Suméria era a parte meridional da Mesopotâmia antiga, onde floresceu, durante o IV e o II milênios a.C.
uma das mais importantes civilizações da antiguidade. Algumas de suas Cidades-estados, como Erech,
Uruk, Kish, Nipur e Ur, foram grandes centros políticos e comerciais, possuindo, inclusive, canais de
irrigação. Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Vol. 22. São Paulo. Ed. Nova Cultural Ltda., 1998.
6
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Vol. 6. São Paulo. Ed. Nova Cultural, 1998, pág. 1401.
7
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Ed. Nova Fronteira, pág.
1111.
740
parágrafo 1º, do CTN, entende-se como zona urbana, aquela definida em Lei
Municipal, observados os requisitos mínimos da existência de melhoramentos,
indicados em pelo menos dois dos requisitos indicados, construídos ou
mantidos pelo poder público.
O meio ambiente urbano, disciplinado, principalmente pelo art. 225, da
CF, consagra do direito ao meio ambiente equilibrado e essencial à sadia
qualidade de vida, e pelos arts. 182 e 183, que dispõem acerca da política
urbana.
O meio ambiente onde habitam 81,25% da população brasileira é o
espaço urbano. Portanto, proporcionar a sadia qualidade de vida para as
presentes e futuras gerações, através do desenvolvimento sustentável,
significa implementar uma cidade sustentável: uma cidade capaz de se
desenvolver organizadamente, de forma a atender a sua população em suas
necessidades básicas, através dos 8.514.876,599 km2, sem esgotar os
recursos para tanto.
As cidades têm crescido de forma desordenada, tomando o meio
ambiente natural rapidamente como uma “mancha urbana” 8 que se desenvolve
segundo interesses distintos dos interesses e objetivos ambientais. 9 Fatores
como loteamentos clandestinos e invasões em áreas de mananciais, além dos
riscos concernentes à segurança e à saúde da população, comumente
apresentam um prejuízo ambiental em função do incremento da poluição dos
recursos hídricos, assoreamentos, etc.; e, geram uma considerável elevação
nos custos das obras de saneamento básico.
A ausência de saneamento básico nas cidades acarreta graves danos à
saúde pública, meio ambiente e organização da cidade como um todo, além de
riscos referentes à segurança pública, gerados pela ineficiência ou ausência de
drenagem urbana e infra-estrutura para o desenvolvimento. As desejadas
8
A expressão “mancha urbana” é utilizada pelos profissionais do setor como uma referência aos mapas
acerca da urbanização nas cidades que identificam as áreas urbanizadas no espaço territorial,
demonstrando o seu desenvolvimento. Nas cidades de maior desenvolvimento, quando comparados os
mapas atuais com mapas de 5 a 10 anos anteriores, verifica-se o avanço da mancha identificadora do
espaço urbanizado. A movimentação da mancha urbana no Estado de São Paulo é algo de impressionante
e, extremamente preocupante. Especificamente acerca da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, a
movimentação da mancha urbana aproxima-se rapidamente de toda a sua extensão.
9
Marcelo Lopes de Souza desenvolveu uma profunda pesquisa acerca da problemática socioespacial das
metrópoles brasileiras, em especial, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Curitiba,
abordando diversos problemas sociais, além da questão ambiental. O Desafio Metropolitano. Rio de
Janeiro. Ed. Bertrand Brasil, 2000.
741
10
Sobre o tema ver Simone Wolff. O Direito a Cidades Sustentáveis: Breve Análise da Lei 10.257/2001.
In: Fórum de Direito Urbano e Ambiental. Editora Fórum. Ano 3, nº 13, jan./fev. 2004. pág. 1.354.
742
11
Marçal Justen Filho. Parecer fornecido à Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, acerca da
conformidade jurídica do anteprojeto de lei da Política Nacional de Saneamento Básico, disponível no site
do Ministério das Cidades www.cidades.gov.br. Acesso em 4 de junho de 2005.
745
12
O meio ambiente urbano e a proteção ambiental. A questão metropolitana. In: Fórum de
Direito Urbano e Ambiental. Ano 1, n. 2, pág 107.
746
4 CONCLUSÃO
O Direito ao Saneamento Básico tem natureza de direito fundamental
prestacional, na medida em que deve ser concretizado através de políticas
públicas.
O saneamento básico deve ser executado e regulamentado de forma a
atender aos princípios de direito ambiental, em especial os princípios da
prevenção, da precaução e do desenvolvimento sustentável, considerando o
impacto causado, não só em virtude da ausência de saneamento básico, mas
também em virtude da própria implantação do mesmo.
A Constituição Federal disciplinou o saneamento básico de forma a
possibilitar a sua execução integrada aos princípios, programas e ações de
saúde e princípios e ações de proteção ambiental.
13
Op. Cit., pág. 108.
747
BIBLIOGRAFIA
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Vol. 6. São Paulo. Ed. Nova Cultural,
1998
NUTRIGENÔMICA:
Efeitos do Ácido Fólico e Vitamina B12 nas Frequências de Micronúcleos em
Células da Medula Óssea de Camundongos Expostos a Ação Genotóxica
1 INTRODUÇÃO
A espécie humana tem atravessado sua evolução sendo exposta a uma
infinidade de genotóxicos pela ingestão de alimentos e bebidas (contaminantes
naturais da dieta), pela inalação de fumaças e irradiações diversas do meio
ambiente. A exposição a agentes genotóxicos pode ser natural e ambiental, por
contaminação não específica ocupacional ou por acidentes industriais.
A exposição ocupacional a vários tipos de agentes cancerígenos, como
exposição à radiação ionizante, fertilizantes, praguicidas, fungicidas, herbicidas
e outros produtos químicos, têm contribuído para que esse seja um dos
principais problemas de saúde pública nos países pouco desenvolvidos
(Paumgartten et al., 1998). Populações de centros industriais são expostas
intensivamente a substâncias químicas. Em alguns lugares, na produção de
grãos (trigo, soja), grandes quantidades de agroquímicos (fungicidas,
inseticidas e herbicidas) são utilizadas. Em muitas partes do mundo alguns
processos industriais ainda fazem uso controlado do benzeno ou usam-no em
uma mistura, por exemplo, em gasolina e como solvente adesivo em fábricas
de colagem e de sapato, sendo que a população geral é exposta ao benzeno
das emissões automotrizes.
A região amazônica, onde há extração de ouro, é o alvo do
monitoramento dos níveis de mercúrio na água, terra, atmosfera, alimentos e
1
Mestre em Genética e Toxicologia Aplicada pela Universidade Luterana do Brasil/ULBRA. E-mail:
lucianamezzomo@hotmail.com.
2
Bacharel em Biologia pela Universidade Luterana do Brasil/ULBRA . E-mail:
valquiria.m.cardoso@hotmail.com.
749
2 OBJETIVOS
Este trabalho tem por objetivo avaliar o papel da dieta suplementada
com os micronutrientes folato e vitamina B12 em relação aos danos
espontâneos que ocorrem no genoma, analisar a resposta à ação de agentes
alquilantes monofuncional metilmetanossulfonato (MMS) e bifuncional,
cisplatina à condição micronutricional, baseadas nas diferentes dietas
propostas, através do teste de micronúcleos em células da medula óssea de
camundongos, e incentivar pesquisadores a buscar na nutrigenômica
alternativas para a prevenção de doenças causadas pela exposição a agentes
genotóxicos.
3 MÉTODOS
Foi avaliado o efeito modulador sobre a ação genotóxica de agentes
alquilantes mono e bifuncionais na freqüência de micronúcleos da medula
óssea de camundongos submetidos a dieta com diversos tipos de rações
(comercial, deficiente e suplementadas com folato e vitamina B12).
753
e 6 fêmeas. O uso dos dois sexos tem sido recomendado devido à diferença de
sensibilidade entre machos e fêmeas para diferentes tipos de drogas. O
protocolo utilizado foi de acordo com as normas do Comitê de Ética, aprovado
pela Universidade Luterana do Brasil.
As rações preparadas no laboratório estão baseadas numa dieta
normoproteica, ou seja, a 25% de proteína. Foram consideradas as
concentrações padrões de ácido fólico de 0,20 mg/100g e vitamina B12 de
0,003 mg/100g. No caso da ração deficiente, o ácido fólico e a vitamina B12
não foram adicionados e eventuais traços de folato e vitamina B12 foram dados
como contaminantes. A ração comercial utilizada (NUVILAB) apresenta
concentrações de ácido fólico de 1,00 mg/Kg e vitamina B12 de 20µg/Kg.
As composições das diferentes dietas utilizadas no experimento:
5 RESULTADOS
Resultados da determinação de folato e vitamina B12 no soro dos
diferentesgrupos de camundongos, machos e fêmeas, nutridos com diferentes
tipos de ração:
Os animais, machos e fêmeas, nutridos com ração deficiente em folato e
vitamina B12, apresentaram níveis séricos destas vitaminas significativamente
menores do que os encontrados nos grupos que receberam ração comercial,
suplementada 15 vezes e 30 vezes com folato e vitamina B12. Embora os
grupos nutridos com ração deficiente apresentem um nível menor de folato no
soro do que os nutridos com ração comercial, considerados níveis normais,
verificou-se que este nível de folato foi suficiente para a manutenção da
estabilidade do genoma, uma vez que a freqüência de micronúcleos não foi
alterada, sendo da mesma ordem de grandeza do que aquela observada após
tratamento com ração comercial; esses resultados demonstram claramente que
estes animais não podem ser classificados como severamente deficientes.
Comparando os grupos, machos e fêmeas, alimentados com ração
comercial com os grupos suplementados 15 e 30 vezes com folato e vitamina
B12, observa-se que, nestes últimos, os níveis de folato no soro foram
significativamente maiores. No entanto, em relação à vitamina B12, não se
encontra diferenças significativas. Os grupos suplementados 15 e 30 vezes
com folato e vitamina B12 também não mostram diferenças estatisticamente
significantes em relação ao teor de vitamina B12. Estes dados sugerem
claramente que o teor de vitamina B12 encontrado na ração comercial já
contempla o máximo de absorção aproveitável. Os níveis de folato nos grupos
757
6 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
Vive-se numa sociedade marcada pela existência de riscos mundiais
que interferem no dia-a-dia das comunidades, ainda que as mesmas não
percebam. Nesse contexto, a ciência e as instituições que lhe deram origem
perderam a capacidade de gerir os riscos criados pelas decisões humanas,
adentrando-se numa era de incertezas. A questão ambiental é uma das esferas
dessa realidade, a qual se mostra agravada, tendo em conta a
indispensabilidade do meio ambiente para a sobrevivência da vida na terra.
Diante disso, impõe-se a criação de novas ferramentas que busquem o
tratamento dessa questão de forma mais eficaz. Nesse contexto, este trabalho
procura salientar a indispensabilidade da participação comunitária no processo
de decisão que consistir na assunção de riscos ambientais, trazendo como
instrumento para tal a obrigatoriedade da audiência pública existente no
processo de licenciamento ambiental.
1
Acadêmica / Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista Pibic/CNPq.
2
Prof. Doutor / Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria.
765
3
Destaca-se o seguinte trecho: “O aquecimento do sistema climático não é um equívoco, sendo agora
evidente de acordo com as observações de aumento global do ar e das temperaturas dos oceanos,
derretimento de gelo e neve em larga escala, e aumento global do nível dos oceanos”. ONU, Grupo de
Trabalho I. Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática - Mudança climática
2007: a base da ciência física, Paris, 2007. Disponível em: www.ecolatina.com.br. Acesso em: 12 fev
2009, p. 5. E, relacionando a atuação humana com tais alterações climáticas: “A maioria dos aumentos
das temperaturas médias globais observadas desde a metade do século 20 é provavelmente devido à
concentração de gás estufa antropogênico. (...) As influências humanas perceptíveis agora se estendem a
outros aspectos do clima, incluindo o aquecimento dos oceanos, as temperaturas médias continentais, as
temperaturas extremas e os padrões de vento”. ONU, Op. cit, 2007, p. 9.
4
Ao abordar a temática paz versus guerra, o documento traz a questão da disputa pela água – recurso
natural em paulatina escassez no mundo: “Agricultores, geradores hidrelétricos, usuários recreativos e
ecossistemas freqüentemente competem por mananciais finitos, tanto intra quanto inter nações. Apesar
disto, a água raramente é a única – e quase nunca a principal – causa de conflito violento. Porém pode
agravar tensões existentes e, assim, deve ser considerada dentro do contexto macro de guerra e paz”.
ONU. Capítulo 5: Gerindo Disputas e Cooperação Hídricas. In: Estado do Mundo 2005. Disponível em:
http://www.wwiuma.org.br/edm2005.htm. Acesso em: 20 mar 2009.
5
Renè Descartes preconiza a construção de um pensamento filosófico cuja essência foi extraída de um
método matemático, o qual busca explicações empíricas para os fatos. Este previa o desmembrando do
objeto de análise em suas partes com o intuito de analisá-las. O resultado dessa concepção foi a visão
mecanicista de mundo: este passa a ser um conjunto de matéria que funciona com base em leis naturais
para domínio humano. Para saber mais, ver: CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix,
2006.
6
GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; SCOTT, Lash. Modernização Reflexiva. São Paulo: UNESP,
1995, p. 16.
766
7
BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo. Barcelona: Paidós, 2002, p. 27, grifos do autor.
8
Idem, p. 28.
9
Ibidem, p. 28.
10
AYALA, Patryck de Araujo; LEITE, José Rubens Morato. Direito ambiental na sociedade de risco.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 12-13. Surgem, portanto, da transformação das incertezas
e dos perigos em decisões.
11
Antes da sociedade de risco, “as formas de reação perante as ameaças sempre estiveram vinculadas a
processos dependentes da definição de padrões, de programas e políticas eminentemente institucionais, de
restrita participação e publicidade”. AYALA & LEITE, Op. cit., p. 16.
12
AYALA & LEITE, Op. cit., p. 17.
13
AYALA & LEITE, Op. cit., p. 22.
767
14
A aplicação do princípio da prevenção dá-se diante de situações em que as conseqüências das ações
(riscos) são conhecidas, de modo que se impõe a atuação de modo a evitar a ocorrência dos mesmos.
MACHADO, Op. cit.
15
“Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não
será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a
degradação ambiental”. ONU. Declaração do Rio sobre meio ambiente e desenvolvimento, 1992,
princípio número 15. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576. Acesso
em: 16 mai 2009.
16
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
17
BOBBIO, Op. cit., p. 90-91.
18
Ao defender a participação popular no domínio do meio ambiente não se tem a pretensão de afirmar
qualquer ineditismo no reconhecimento da importância desse fator, mas buscar um novo status para a
participação popular, de modo que ela passe de princípio orientador das políticas ambientais (art. 2º, X,
Lei 6938/81) para direito subjetivo, alvo de uma principiologia e de uma legislação própria que o
regulamente, de modo a estabelecer instrumentos específicos a sua implementação.
768
19
Reconhecendo o déficit de legitimidade do poder na atualidade, defende o alargamento das
possibilidades de participação popular, citando algumas: “a instituição de órgãos de decisão popular fora
dos institutos clássicos do governo parlamentar (...); a democracia direta ou assembleísta (...); o controle
popular dos meios de informação e de propaganda”. BOBBIO, Op. cit., p. 159.
20
AYALA & LEITE, Op. cit., p. 25.
21
GONÇALVES, Maria Eduarda. Europeização e direitos dos cidadãos. In: SANTOS, Boaventura de
Sousa (org.). A Globalização e as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002, p. 358.
22
Destaca-se, também, que a implementação satisfatória de tais instrumentos está relacionada com a
possibilidade de uma participação autônoma e bem fundamentada por parte da população, ganhando
relevo para tal intento o direito à informação ambiental e o direito à educação ambiental. Vide:
CHRISTMANN, Luiza Landerdahl; ARAUJO, Luiz Ernani Bonesso de. Direito à informação e direito à
769
26
COMISIÓN ECONÓMICA PARA EUROPA. Convención sobre el acceso a la información, la
participación Del público en la toma de decisiones y el acceso a La justicia en asuntos ambientales,
1999. Disponível em: http://www.unece.org/env/pp/documents/cep43s.pdf. Acesso em: 15 mai 2008.
27
COMISIÓN ECONÓMICA PARA EUROPA, Op. cit.
28
Como exemplo, tem-se a gestão democrática do ensino público (art. 206, VI, CF/88) e a colaboração da
comunidade na proteção do patrimônio cultural (art. 216, § 1º, CF/88). Para saber mais: DI PIETRO,
Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2008.
29
Assim dispõe a legislação sobre processo administrativo. BRASIL. Lei sobre o processo
administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L9784.htm. Acesso em: 14 mai 2009.
771
30
GONÇALVES, Maria Eduarda. Europeização e direitos dos cidadãos. In: SANTOS, Op. cit., p. 347.
31
Não cabe, nos limites desse trabalho, abordar profundamente a temática do significado completo do
termo “Estado Democrático de Direito”, trazendo-se apenas alguns elementos indispensáveis ao
desenvolvimento do objeto de estudo.
32
Nesse sentido, entre um dos elementos essenciais à configuração do Estado Democrático de Direito,
tem-se: “(6) Realização da democracia – além da política – social, econômica e cultural, com a
conseqüente promoção da justiça social”. SILVA, Enio de Morais. O Estado Democrático de Direito.
Revista de Informação Legislativa. Ano 42, número 167, 2005. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/Pdf/pdf_167/R167-13.pdf. Acesso em: 26 mar 2009.
33
ARAUJO, Luiz Ernani Bonesso de. O acesso à terra no Estado Democrático de Direito. Frederico
Westphalen: URI, 1998, p. 34.
34
Outro elemento indispensável ao Estado Democrático de Direito, é a participação efetiva da população:
“(2) A necessidade de providenciar mecanismos de apuração e de efetivação da vontade do povo nas
772
decisões políticas fundamentais do Estado, conciliando uma democracia representativa, pluralista e livre,
com uma democracia participativa efetiva”. SILVA, Op. cit., 2005.
35
Não é possível democracia sem direitos humanos e vice-versa. BOBBIO, Op. cit.
36
O licenciamento ambiental, ainda que em sede administrativa, configura-se um instrumento de tutela
ambiental: “assim, EIA/RIMA, licenças e autorizações ambientais, auditorias ambientais, manejo
ecológico, zoneamento, tombamento, ação civil pública, ação penal pública, ação popular, direito de
antena, etc., estariam, inexoravelmente, formando o ‘continente’: instrumentos de tutela ambiental”.
FIORILLO, Celso Antonio; RODRIGUES, Marcelo Abelha; NERY, Rosa Maria Andrade. Direito
Processual Ambiental Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 53. Grifos do autor.
37
“... estamos perante um Impacto Ambiental quando as estruturas e os fluxos do sistema ecológico,
social ou econômico são alterados profundamente no decorrer de um espaço de tempo muito reduzido. O
termo ‘reduzido’ deve ser analisado em função da escala temporal e das dimensões ou grandezas das
alterações ocorridas.” MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Impacto Ambiental: aspectos da legislação
brasileira. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 31.
38
O licenciamento ambiental, ao ser exigido também para atividades “apenas” potencialmente poluidoras,
institui-se como um instrumento de efetivação do princípio da precaução. Assim, “a palavra
‘potencialmente’ abrange não só o dano de que não se duvida, com o dano incerto e o dano provável”.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: MALHEIROS, 2007, p. 81.
39
BRASIL. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, 1981. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/L6938.HTM. Acesso em: 28 jan 2009.
773
40
O art. 225, §1º, IV, exige para instalação de obra ou atividade potencialmente poluidora a realização de
estudo prévio de impacto ambiental.
41
MIRRA, Op. cit.
42
Definida nos termos do artigo 19, I, do Decreto 99274/90. BRASIL. Decreto sobre a criação de
Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental, 1990. Disponível em:
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/109146/decreto-99274-90. Acesso em: 12 mai 2009.
43
Caso o estudo não contemple algum desses aspectos ou o faça de forma inadequada, haverá uma
irregularidade de natureza substancial que acarretará a invalidade do licenciamento ambiental concedido.
MIRRA, Op. cit.
44
Conteúdo definido pelo artigo 6º. CONAMA. Resolução 1, 1986. Disponível em:
http://www.mp.ro.gov.br/c/document_library/get_file?p_l_id=49484&folderId=153723&name=DLFE-
37752.pdf. Acesso em: 20 mar 2009.
774
49
MIRRA, Op. cit., p. 81.
776
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
1. A realidade da sociedade de risco ambiental demanda uma nova
forma de gestão dos riscos baseada na participação da comunidade envolvida
por meio de instrumentos que possibilitem essa atuação, visando à promoção
do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
2. A audiência pública ambiental existente no âmbito do procedimento de
licenciamento ambiental de atividades potencialmente poluidoras é um
instrumento que possibilita a participação da população na tomada de decisões
na seara ambiental, de forma a ser realizada uma gestão democrática dos
riscos ambientais.
3. Diante do exposto, defende-se o estabelecimento da obrigatoriedade
da audiência pública ambiental a fim de converter tal ferramenta em prática
corriqueira na vida dos cidadãos, de forma a se alcançar uma atuação
contundente por parte dos mesmos na administração dos riscos ambientais.
REFERÊNCIAS
50
Certamente, não se ignora as imensas dificuldades que existem na implementação de tal objetivo,
considerando como premissa para tal a efetivação do direito à informação ambiental e do direito à
educação ambiental para a capacitação da participação da comunidade. Para saber mais: CHRISTMANN
& ARAUJO, Op. cit.
777
1 INTRODUÇÃO
A degradação do meio ambiente devido à exploração desordenada dos
recursos naturais é um grave problema contemporâneo em todo o mundo. Com
o recente advento do Código Ambiental Catarinense, reforçou-se esta
discussão especialmente em Santa Catarina - Estado brasileiro ultimamente
em constante conflito entre a preservação de seu rico bem ambiental e um
pretenso crescimento econômico.
Neste trabalho, a análise proposta é acerca dos novos limites que o
novo Código Catarinense institui para as áreas de preservação permanente ás
margens de rios. Neste contexto, primeiramente far-se-á uma analise da
entrada em vigor da referida legislação, bem como das discussões acerca de
sua legalidade e constitucionalidade. Estudar-se-á também os conflitos de
competência entre do Código Ambiental Catarinense com outras legislações
brasileiras, mormente o Código Florestal e a Constituição Federal. Por fim, se
analisar-se-á as possíveis conseqüências a longo prazo da aplicação da
legislação catarinense, sob o prisma dos princípios dos princípios de Direito
Ambiental, com ênfase na proibição do retrocesso ecológico e no direito
fundamental intergeracional do meio ambiente ecologicamente equilibrado.
1
Graduanda do Curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, membro do Grupo de
Estudos de Direito Ambiental da UFSC, bolsista da FAPESC. E-mail: cecelam@hotmail.com
780
tal projeto foi sancionado pelo atual governador de Santa Catarina, Luiz
Henrique da Silveira, sem nenhum veto em quaisquer dos seus artigos 2.
Deste modo, passou a vigorar recentemente a polêmica lei estadual n º
14.675/09, que alterou de forma menos restritiva disposições presentes em
outras legislações acerca de áreas ambientalmente protegidas, bem como
desafiou normas de competência entre os entes federativos.
Mesmo antes de sua entrada em vigor, existiram diversos embates entre
entidades ambientalistas e grupos ligados à agricultura de Santa Catarina, em
virtude de tal lei contrariar legislações anteriores com o claro escopo de
favorecer a atividade agrícola no Estado. Ambientalistas e estudiosos jurídicos
alertam sobre a inconstitucionalidade do Código Ambiental Catarinense, ao
permitir uma proteção ao meio ambiente de forma menos restritiva do que a
anteriormente prevista. Por sua vez, agricultores catarinenses alegam que a
aplicação da legislação federal (Código Florestal) dificulta em demasia a sua
atividade econômica, por restringir grande parte das terras utilizáveis para a
atividade.
Neste contexto, após a sanção do Governador, o Ministério Público de
Santa Catarina encaminhou uma representação pedindo o ajuizamento de uma
Ação Declaratória de Inconstitucionalidade, além de pedir cautela ao governo
de Santa Catarina em aplicar o Código Ambiental Catarinense enquanto não
fosse legitimada a sua constitucionalidade nos tribunais superiores. Contudo, o
Poder Executivo de Santa Catarina mostrou-se irredutível ao negar tal, e
defendeu integralmente a aplicação do Código Ambiental Catarinense.
A principal mudança instituída pelo Código Ambiental Catarinense está
prevista em seu art. 114, ao diminuir drasticamente áreas de preservação
permanente nas margens dos rios. Assim, grande parte do que é considerado
pela norma federal como matas ciliares, áreas de preservação permanente
com especial importância na proteção dos recursos hídricos; passam a ser
área possível de exploração econômica, sem nenhuma proteção específica.
3 S.Miguel do Oeste: juiz federal nega aplicação do Código Ambiental de SC. Portal da Justiça
Federal da 4 º Região, Florianópolis. Disponível em
<http://www.jfsc.gov.br/index.php3?vtitulo=Notícias&varquivo=http://certidao.jfsc.gov.br/jfsc2003/coms
oc/noticias_internet/mostranoticia.asp?vcodigo=13552>. Acesso em 23 mai 2009.
782
3 CONFRONTOS NORMATIVOS
4 Ministro do Meio Ambiente vai invalidar Código Ambiental de Santa Catarina. Diário
Catarinense, 13 abr. 2009. Disponível em
<http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jsp?uf=2&local=18&newsID=a2474963.htm>.
Acesso em 25 mai 2009.
5 Ministério Público de SC sugere ao Governador veto parcial ao projeto que institui o Código
Ambiental. Ministério Público de Santa Catarina, 8 abr. 2009. Notícias do MPSC. Disponível em
<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/Portal_detalhe.asp?campo=8991&secao_id=369>. Acesso
em 29 abr. 2009.
6 Órgãos ambientais devem seguir a legislação federal e não o Código Estadual, recomenda
MPSC. Ministério Público de Santa Catarina, 13 abr. 2009. Notícias do MPSC. Disponível em
<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/Portal_detalhe.asp?campo=8995&secao_id=369>. Acesso
em 30 abr. 2009.
783
longo dos rios ou de qualquer curso d’ água desde o nível mais alto em faixa
marginal, variando de 30 metros até 500 metros em função da largura dos
cursos d’água. Por sua vez, a lei estadual estabeleceu recuos de apenas 5 a
10 metros para as mesmas situações.
Deste modo, pressupondo a aplicação do Código Ambiental
Catarinense, será possível a minoração de certas áreas consideradas de
preservação permanente pela lei federal em até 495 metros. Neste contexto,
APP’s anteriormente de 500 e 30 metros (de acordo com a lei federal n.
4.771/65), passarão a ter a distância de apenas 10 e 5 metros, conforme o
numero de hectares do terreno e a largura do rio que o imóvel margear.
Contudo, uma simples análise dos dispositivos da Lei n º 4.771 basta
para encontrar na própria legislação o porquê dos recuos do art. 2 º, bem como
o motivo de tais áreas serem consideradas de preservação permanente. Tais
regras não foram criadas ao arbítrio do legislador com o intuito de obstar o
desenvolvimento de atividades econômicas, mas visam a proteção de algo
imensamente mais importante, expresso no art. 1, parágrafo 2, inc. II:
7
Segundo Fiorillo, alguns dos incisos do art. 2 º da Lei n º 4771/65
visam proteger além da vegetação ao redor, outros recursos naturais vitais
para o ser humano, como o ar ou água. Neste ínterim, o Código Florestal
prescreve tais limites tendo como escopo a adequada preservação de bens
ambientais necessários para a manutenção de toda a vida na Terra.
Ademais, a referida faixa de proteção serve também para espraiamento
das águas nos tempos de cheia, protegendo o homem e suas casas de
eventuais alagamentos e inundações. Esta última função torna-se
7 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 5 ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2004. p. 88.
784
8 Entenda o que causou a as enchentes no estado. Revista Veja, São Paulo, 29 nov. 2008.
Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/entenda-causou-enchentes-estado-405921.shtml>.
Acesso em 25 mai. 2009.
9 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 14 ed São Paulo: Editora
Saraiva, 2004. p. 150.
785
10 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores,
12ª ed., 2004, p. 264.
11 MORAES, Alexandre. Direito Constituicional Positivo. São Paulo: Editora Atlas, 2002.
786
12 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros
Editores, 12ª ed., 2004, p. 638.
787
13 Ministério Público de SC sugere ao Governador veto parcial ao projeto que institui o Código
Ambiental. Ministério Público de Santa Catarina, 8 abr. 2009. Notícias do MPSC. Disponível em
<http://www.mp.sc.gov.br/portal/site/portal/Portal_detalhe.asp?campo=8991&secao_id=369>. Acesso
em 29 abr. 2009.
788
14 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 5 ed. São Paulo:
Saraiva,2004. p 25.
16 Idem. p. 80 e 81.
17 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 14 ed, Editora Saraiva,
2004. p. 151.
18 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros
Editores, 12 ed., 2004, p. 326-327.
790
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
O Código Ambiental Catarinense, aprovado recentemente pelo
Governo de Santa Catarina, foi questionado acerca de sua
constitucionalidade e legalidade por diversas autoridades especializadas no
assunto, como o Ministério Público e o Ministro do Meio Ambiente.
Restou consignado que o Código Ambiental Catarinense, lei estadual,
dispôs contrariamente ao Código Florestal, lei federal e hierarquicamente
superior. Tal conduta é vedada expressamente em matéria de competência
constitucional, consoante o art. 24 da Carta Magna. Tal dispositivo expressa
que, em se tratando de competência concorrente, cabe ao ente federativo
hierarquicamente inferior apenas suplementar o que está instituído pela
União. Entretanto, a lei estadual foi de encontro a tal preceito constitucional
e confrontou diversos artigos da Lei n º 4.771/65, salientando as minorações
propostas em relação ás áreas de preservação permanente nas margens
dos rios.
Neste norte, o Código Florestal constitui-se no instrumento adequado
para preservação das matas ciliares, pois, além se ser a lei correta do ponto
de vista formal, consoante os preceitos constitucionais de competência; seu
conteúdo visa a proteção de uma necessária porção de terra da intervenção
humana, com o fim de resguardar o bem ambiental em si mesmo e a vida
humana, prevenindo desastres como as recentes enchentes de Santa
Catarina.
23 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Dto Ambiental Brasileiro. 5 ed. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 25.
793
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MELARÉ, Edis. Direito do Meio Ambiente. 3. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004, p. 626.
1 INTRODUÇÃO
No alvorecer do Século XXI, um novo desafio se impõe não só as
cidades brasileiras, mas as cidades de todo o mundo: o de conciliar
crescimento urbano, desenvolvimento econômico sustentável e a proteção ao
meio ambiente. A isso chamamos de sustentabilidade urbana.
Dentre os problemas ambientais que podem impedir o desenvolvimento
desta sustentabilidade urbana é a poluição sonora que afeta de um modo geral
os grandes urbanos.
A idéia do presente trabalho é apresentar o serviço desenvolvido pela
Secretaria do Meio Ambiente de Vitória no tocante combate à poluição sonora
através de uma Coordenadoria específica (chamada Disque Silêncio), como
fator fundamental para tornar Vitória uma cidade sustentável, apresentar os
problemas enfrentados e buscar soluções. Mostrar que os problemas
enfrentados em Vitória são comuns a todos os centros urbanos brasileiros e
que, com a experiência desenvolvida ao longo de mais de uma década,
podemos tentar apresentar soluções que podem ser aplicadas, respeitando-se
as características específicas de cada uma. Não temos a pretensão de
tornarmos modelo, mas que a nossa experiência possa servir de base para que
cada uma possa desenvolver um modelo próprio.
1
Marcelo Franco de Almeida, graduado em Direito pela Universidade Federal do Espírito Santo em 2006,
pós-graduado nos cursos de especialização em Direito Público e no curso de especialização de
Hermenêutica Jurídica e Prática Judicial, e, atualmente, servidor público municipal de Vitória, Espírito
Santo. Telefones: (27) 3241 8245, (27) 9977 2154. Endereço eletrônico: marfral@hotmail.com
796
2
Estimativa do IBGE para 2008. Dados disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE: www.ibge.gov.br. Acesso em 09 de abril de 2009.
3
Megacidade é um termo empregado para aglomerações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes.
4
Dados disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: www.ibge.gov.br.
Acesso em 09 de abril de 2009.
5
Ibid.
6
Ibid.
797
7
Disponível no site da Prefeitura Municipal de Vitória: www.vitoria.es.gov.br. Acesso em 09 de abril de
2009.
8
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. p. 1252 apud
MACHADO, 2003. p. 615.
9
GERGES, 1992. p. 6
798
10
Cf. o tópico três e seus sub-tópicos da NBR 10151:2000 que fixa os procedimentos para a medição de
ruído.
11
OMS apud MACHADO, p. 616-617.
12
GERGES, p. 51.
13
Leis disponíveis em: http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/busca.cfm. Acesso em 09 de abril de
2009.
799
14
Em Vitória 11% das denúncias são realizadas por menores de 25 anos, 41% são feitas por pessoas entre
26 e 40 anos e 48% das reclamações são feitas por pessoas de mais de 40 anos. Todos os dados
relacionados a faixa etária, escolaridade e o índice de satisfação são referentes às denúncias realizadas
desde 18 de outubro de 2007 até 31 de dezembro de 2008.
15
8% dos usuários possuem até o ensino fundamental completo, 28% possuem o ensino médio e 64%
possuem ensino superior completo.
16
O índice de satisfação com o serviço varia com a faixa etária e com o nível de escolaridade. O serviço
possui aprovação de 88% na faixa etária inferior a 25 anos. 83% entre 26 e 40% e acima de 40 anos, 81%.
Quanto a escolaridade, quem tem até o ensino fundamental completo, o índice de satisfação é de 90%,
quem possui o ensino médio o índice é de 84% e a aprovação por quem tem o ensino superior completo é
de 81%.
17
Lei Municipal n° 4.167, de 27 de dezembro de 1994, publicado em 06 de janeiro de 2005. Porém, há
um novo Plano Diretor Urbano vigente no município de Vitória desde 2006, instituído pela Lei Municipal
n° 6.705, de 13 de outubro de 2006, publicado em 16 de outubro do mesmo ano. Disponível em:
http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/busca.cfm. Acesso em 09 de abril de 2009.
800
18
Os dados referentes as reclamações de poluição sonora de Vitória são referentes aos dados existentes
no banco de dados existente no Disque Silêncio, onde, no período 01/01/2005 até 31/12/2008 foram
registradas 19.906 denúncias.
19
Cf. o artigo 110, I e V do Código Municipal de Meio Ambiente (Lei Municipal 4438/1997). Disponível
em: http://sistemas.vitoria.es.gov.br/webleis/busca.cfm. Acesso em 09 de abril de 2009.
801
20
VITÓRIA, 2003, p. 109
21
A carta acústica ou mapeamento sonoro é um mapa acústico baseado em um levantamento dos níveis
de ruído de uma cidade através da medição ou do uso de método predicional, sendo representadas por
meio de curvas isofônicas (pontos de ruído com a mesma intensidade) de uma determinada área
geográfica, sendo mapeamento um ferramenta fundamental para o estudo do ruído ambiental. Interessante
trabalho apresentado no XXII Encontro da Sociedade de Acústica (realizado em Belo Horizonte nos dias
26 a 29 de novembro de 2008) aborda o mapeamento sonoro como importante instrumento para o estudo
do ruído ambiental nas cidades, demonstrando através do projeto-piloto realizado em Florianópolis, a
necessidade de se adequar a gestão de ruídos urbanos com a legislação ambiental das cidades. Cf.
VENTURA, 2008
22
O Professor Paulo de Bessa Antunes faz interessante conceituação de cidade sustentável, o qual a
coloca como princípio da política urbana e que o mesmo seria “entendido como direito à terra urbana, à
moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao
trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações” (CF. BESSA, p. 303). Interessante estudo de
cidade sustentável também pode ser encontrado na publicação do Ministério do Meio Ambiente, “Cidades
Sustentáveis: subsídios à Agenda 21 Brasileira”. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Cidades
Sustentáveis: Subsídios à Elaboração da Agenda 21 Brasileira. Brasília: Ministério do Meio
Ambiente, 2000.
802
agora também o que estaria na carta acústica. A criação desta ferramenta seria
condição para a implementação também no disposto no primeiro tópico acima
e no artigo 110, V do Código de Meio Ambiente local, ou seja, delimitar as
chamadas zonas sensíveis a ruído, o qual impediria a localização de
estabelecimentos industriais, fábricas, oficinas ou outros que produzam ou
possam vir a produzir ruídos nestas áreas e nas áreas denominadas “unidades
23
territoriais residenciais”. De certo modo, isso acabará por tornar mais
rigoroso o processo de licenciamento ambiental para implementação de
qualquer estabelecimento comercial ou industrial no município, pois agora se
levaria em conta se tal estabelecimento poderia ou não ser instalado em
determinada área, sendo a zona sensível à ruído a mais restritiva. Com a carta
acústica, isso já estaria pré-definido, pois os estudos prévios para a sua
elaboração já levariam em conta os impactos que a poluição sonora provoca
em toda a área territorial municipal. Portanto, as limitações definidas e
compiladas em seu zoneamento seria pré-requisito essencial para a obtenção
do licenciamento ambiental.
Já com relação ao segundo tópico é necessário fazer as atualizações e
adaptações necessárias da legislação existente com a atual realidade,
incluindo o zoneamento da Carta Acústica e suas especificações nela.
Transformar a Resolução 10/98 do COMDEMA em lei municipal seria um
passo importante, tal como fez a cidade de Curitiba ao aprovar em 2002 a Lei
Municipal 10.625, onde está disposto o controle e o combate à poluição sonora
daquele município.
6 CONCLUSÃO
Portanto, o combate à poluição sonora é uma das formas de se
conseguir a tão almejada sustentabilidade urbana e Vitória, através do serviço
Disque Silêncio possui um dos melhores projetos de combate à poluição
sonora do país. Diante desse quadro, impõe necessário o zoneamento urbano
23
Interessante como o professor Paulo de Bessa Antunes coloca o papel do município no estabelecimento
do seu zoneamento urbano através do Plano Diretor Urbano, sendo este para o autor “o instrumento
básico da política de desenvolvimento e da expansão urbana. É através do plano diretor que as cidades
podem planejar o seu desenvolvimento e fixar critérios jurídico-urbanísticos para a correta ocupação do
solo e do território”. Cf. ANTUNES, 2002, p. 322.
803
BIBLIOGRAFIA
24
Cf. Lei Federal n° 10.257, de 10 de julho de 2001.
804
1 INTRODUÇÃO
Pretende-se, a partir da análise das normas e princípios relacionados à
responsabilidade civil e improbidade administrativa, estabelecer uma ligação
entorno dos danos causados ao meio ambiente, a responsabilização e eficácia
da reparação de danos ambientais por parte das condutas praticadas por
agentes públicos, verificando o emprego da responsabilização objetiva do
degradador ambiental, se ela é realmente eficaz para se estabelecer o statu
quo ante, para que se tenha um meio ambiente reequilibrado em sua forma
natural.
Nota-se que evolução da sociedade juntamente com o avanço
tecnológico e o aumento do poder econômico da sociedade, causando um
consumismo desenfreado, faz com que passamos a viver em uma sociedade
de risco onde indústrias trabalham com sua produção máxima,
conseqüentemente poluindo mais, porque passam a produzir em grande escala
para satisfazer as novas necessidades da população, que passa a ser
extremamente consumista, faz ainda com que ao pé desta evolução, surjam
problemas causados ao meio ambiente, e além dos causados ao meio
ambiente, traz consigo um descompasso com os meios de proteção ambiental
que evoluem a passos lentos. O dever do Estado como responsável em
relação a tudo isso parte desde a educação do individuo até a fiscalização e
implementação de projetos que garantam um meio ambiente ecologicamente
equilibrado, sob pena da improbidade administrativa por meio de ação de
responsabilidade civil para que assim sejam apurados os responsáveis na
tentativa de se estabelecer o Statu quo ante.
806
2 DESENVOLVIMENTO
O mundo em que vivemos assim como a ciência do Direito vive em
constante transformação e com um eterno problema, a velocidade da evolução
da sociedade aliado a necessidade de um constante aperfeiçoamento do
mundo jurídico, para regular as relações e conflitos daí advindos. Esta
transformação tem-se mostrado cada vez mais célere, na medida em que a
cada dia nos são apresentadas novas tecnologias, sem, contudo, haver uma
prévia regulamentação sobre o seu uso. Dessa forma, verifica-se a
necessidade de adaptação de normas e princípios frente às constantes
mudanças de valores adotados pela sociedade atual que ao deparar-se com
ditas novidades tecnológicas, esquece de seus deveres e direitos básicos para
uma vida digna e saudável.
Nesse sentido a Constituição Federal Brasileira de 1988 foi expressa, no
art. 225 ao determinar que direitos e deveres do Poder Público e da
coletividade: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os
presentes e futuras gerações.
Diante da necessidade de uma regulamentação acerca dos danos
causados ao meio ambiente vem à Lei nº 6.938/81, a chamada Lei de Política
Nacional do Meio Ambiente estabelecer a responsabilidade objetiva do
poluidor. Portanto se o Estado, “Agente Público” ou terceiros, na medida em
que tem o Estado o dever de fiscalização, vierem a causar qualquer dano ao
meio ambiente, sua responsabilidade independe de culpa.
Partindo da fundamentação constitucional disposta no artigo 225 caput e
parágrafos, da Constituição Federal de 1998 , fica caracterizado o supracitado
sobre a violação ao direito a um meio ambiente equilibrado que constitua uma
qualidade de vida sadia a todos, e as futuras gerações, também fica claro a
responsabilização pelos danos ao meio ambiente, assunto que se desenvolve
ao longo desta pesquisa. Faz-se necessário estabelecer um debate crítico a
entorno do assunto, de modo a delimitar a aplicação da reparação e da
responsabilização dos agentes públicos frente ao Direito Ambiental.
807
O conceito de meio ambiente e sua proteção pelo direito, que logo mais
seria incorporado pela constituição Federal de 1988, surge juridicamente em
1981 com a lei 6.938 em seu artigo 3º inciso I, que dispõe:
do dano pessoa física ou jurídica, agindo por ação ou omissão. Segundo Rui
Stoco:
1
Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta lei.
2
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da
existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua
atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal, por danos causados ao meio ambiente.
810
3 CONCLUSÃO
Diante do estudo realizado podemos afirmar que nosso meio ambiente
muitas vezes é deixados de lado, sendo priorizados interesses econômicos
esquecendo-se de direitos e deveres fundamentais, garantias da dignidade
humana. Poderes Públicos e coletividade, ambos degradadores do meio
ambiente devem ser responsabilizados por suas ações ou omissões.
Não obstante o desrespeito a nossa lesgislação, ainda temos o
desrespeito de agentes públicos com a coletividade, afetando assim direitos
fundamentais como a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a saúde
e a dignidade humana.
BIBLIOGRAFIA
LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzaglo; MIRRA, Álvaro Luiz
Valery (Coord.) Aspectos processuais do direito ambiental. 2. Ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2004.
1 INTRODUÇÃO
Nos ambientes aquáticos os nutrientes orgânicos e inorgânicos estão em
uma forma solúvel, facilitando a absorção pelos organismos, principalmente os
autotróficos. Estes ecossistemas, nas regiões lóticas, são constituídos por
plâncton e nécton, sendo a comunidade planctônica formada por bactérias, algas
e invertebrados que são capazes de flutuar na água, ao contrário do nécton, que
possui movimentos próprios representado principalmente por peixes e crustáceos
(ESTEVES, 1998).
O metabolismo em sistemas aquáticos compreende três etapas: produção,
consumo e decomposição. Bactérias e fungos desempenham um papel
fundamental como organismos decompositores e remineralizadores. Estes
organismos convertem fibras e paredes celulares em matéria saprofítica e gás
carbônico (PINTO-COELHO, 2000; SUREN & LAKE, 1989).
Os ecossistemas de rios e riachos estão sofrendo intervenções e
modificações em suas paisagens, decorrentes de ações antropogênicas,
principalmente pela urbanização e atividades industriais. O uso incorreto dos
recursos hídricos modifica as características físico-químicas e ambientais destes
ecossistemas, sendo poucos os rios e riachos que mantêm preservadas e
íntegras suas condições naturais (ALLAN, 1995).
As estamparias são caracterizadas como indústrias têxteis de
beneficiamento que produzem no material têxtil, cores ou desenhos localizados,
diferindo do tingimento. É a técnica têxtil que mais se aproxima da arte. Para
1
Graduanda em Ciências Biológicas. e-mail: pamy_felipim@hotmail.com
2
Doutorando em Microbiologia. e-mail: marcus.silva@univali.br
3
Bacharel em Ciências Biológicas. thiago.melo@univali.br
813
o local e os mecanismos que regulam tal degradação ainda não são bem
entendidos (ROSLEV et al, 1998).
Querosene é um líquido resultante da destilação do petróleo, com faixa de
ebulição entre 175°C e 325°C, formada por uma combinação de alcanos,
cicloalcanos, benzenos e naftalenos (SOLOMONS & FRYHLE, 2005). Esta
substância apresenta alto poder de solvência sendo comumente utilizada como
solvente de resinas. Segundo BENTO (2005), constituintes de petróleo
apresentam baixa solubilidade em água, contribuindo para sua persistência no
meio ambiente, a bioacumulação nas cadeias alimentares e têm um grande efeito
sobre as propriedades do ambiente contaminado, com processos de toxidade
sobre os microrganismos e mortandade de alguns organismos.
Já foi constatado por Buckley et al, (1976), a habilidade dos
microrganismos degradarem os hidrocarbonetos naturais e derivados do petróleo.
Uma das possibilidades de tratamento seria a biorremediação, que, segundo
Baird (apud BENTO, 2005), é “o uso de microrganismos vivos para degradar ou
eliminar resíduos ambientais”, processo que aumenta a biodegradação de
substâncias no meio ambiente.
Seabra (2001) verificou que em uma mistura complexa de
hidrocarbonetos, são biodegradados por culturas microbianas mistas, de maneira
simultânea, com taxas que variam em função do desaparecimento de certos
componentes e conseqüentemente a mudança da biota. Porém, o sucesso do
tratamento por biorremediação depende de inúmeros fatores como a
característica e concentração do resíduo, temperatura, umidade, pH, salinidade e
nutrientes do meio, e a distribuição e presença dos microrganismos do meio.
Outra opção de tratamento seria a produção de biossurfactantes. Estas
são moléculas com porções hidrofóbicas e hidrofílicas, produzidas por
microrganismos, que são capazes de reduzir a tensão superficial e interfacial de
compostos insolúveis, aumentando a mobilidade, a biodisponibilidade e a
biodegradação. (BANAT, MAKKARN e CAMEOTRA, 2000 apud PIRÔLLO, 2006).
Consequentemente, a capacidade do biossurfactante emulsificar misturas de
hidrocarboneto/água tem sido muito bem documentada. Esta propriedade é
demonstrada pelo aumento significativo de degradação de hidrocarbonetos e por
isso é utilizado na biorremediação de solos e mananciais contaminados
(LOBATO, 2000; CRAPEZ et al, 2002 apud BENTO, 2005).
815
2 DESENVOLVIMENTO
sendo que foram colocados meios com diferentes fontes de carbono em cada
poço. Foram feitos controles não inoculados para cada fonte de carbono, controle
negativo (Meio M9 sem nenhuma fonte de carbono) e controle positivo (caldo
nutriente). As microplacas inoculadas foram incubadas por 1 semana.
Transcorrido o tempo de incubação, a densidade óptica de cada cultura será
determinada e comparada em relação com o controle para verificar o
crescimento, sendo registrado positivo ou negativo, de acordo com o resultado
obtido. A partir dos resultados obtidos, as bactérias isoladas foram avaliadas pela
análise de agrupamentos, para verificar a existência de grupos de similaridade
presentes, buscando estabelecer diferenças entre as amostras coletadas antes e
depois do ponto de despejo do efluente.
Os organismos formaram três grupos distintos que apresentam 70% de
similaridade entre eles conforme a utilização das fontes de carbono (Figura 1). O
primeiro grupo é composto somente por organismos do ponto a montante do
despejo, o que pode estar indicando que são organismos que não resistiram à
influência do efluente no ecossistema. O segundo grupo é formado por
organismos do ponto amostral onde ocorre o do despejo do efluente. Estes
organismos podem ocorrer no local devido à presença do efluente no ambiente. E
por fim, o terceiro grupo é formado por organismos encontrados em ambos os
pontos amostrais, podendo ser considerados organismos que não sofreram
influência da presença do efluente no ambiente, sendo comuns aos dois pontos
amostrais.
Testes de monitoramento como utilizado no presente trabalho, fornecem
detalhes sobre a mudança na diversidade funcional e composição estrutural das
comunidades microbianas. Demonstram-se adequados para a detecção de
efeitos espaciais em alguns casos de contaminação, caracterizando uma
resposta da comunidade ao estresse sofrido (Engelen et al, 1998; Garland e Mills,
1991).
818
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
A análise dos organismos heterotróficos mostrou que o efluente não
exerce grande efeito sobre os grupos funcionais, já que o maior grupo com
similaridade é formado por organismos de ambos os pontos amostrais. Os grupos
que apresentaram alterações supostamente pela presença do efluente são
formados por poucos indivíduos, não podendo ser considerado uma grande
alteração das comunidades que compõe o ambiente.
As amostras apresentaram bactérias capazes de degradar a querosene, e
através dos testes morfológicos e bioquímicos foi possível identificar que existem
duas espécies, pertencentes provavelmente ao mesmo gênero Microbacterium.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SUREN, A.M.; LAKE, P.L., 1989. Edibility of fresh and decomposing macrophytes
to three species of freshwater invertebrate herbivores. Hydrobiologia 178:165-
178.
824
1 NOTA INTRODUTÓRIA
Pretende-se com este texto um breve exame de como o “direito ao
desenvolvimento” evoluiu para um “direito ao desenvolvimento sustentável”
operando mudanças no perfil do Estado que também evoluiu de um “Estado
Social” para um “Estado Socioambietal de Direito” e, ao mesmo tempo, (re)
afirmar a necessidade desse Estado Socioambietal - garantidor do direito a um
desenvolvimento sustentável balizado pela Constituição - a despeito da atual
crise engendrada pelo capitalismo e pelos defensores do“Estado mínimo”.
9 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 19ª. ed. São Paulo: Malheiros, 2006
829
10 RAMONET Ignacio. Le marché contre l’Etat. In: “Les dossiers de la mondialisation”, Manière de voir
de Le Monde Diplomatique – janeiro-fevereiro de 2007 também disponível em http://www.monde-
diplomatique.fr
11EBERHARD, Christoph. Droit, gouvernance et développement durable- quelques réflexions
préliminaires In: Revue Interdisciplinaire d’Études Juridiques, n° 53, dezembro de 2004, p 81-12. Apud
RANDERIA Shalini. Protecting the Rights of Indigenous Communities. In:The New Architecture of
Global Governance : The Interplay of International Institutions and Postcolonial States- PRADHAN
Rajendra (ed. ), Legal Pluralism and Unofficial Law in Social, Economic and Political Development.
Volume III, ICNEC, Kathmandu, p.175-189, 2002.
830
12 idem
13 Empregamos a expressão «somam-se» justamente no sentido de recapitular o tema já abordado da
indivisibilidade e interdependência dos direito fundamentais.
831
14 NUNES JUNIOR, Amandino Teixeira. Estado ambiental de Direito In: Jus Navigandi, n. 589,
fevereiro/2005. Disponível em: http://www1. jus. com. br/doutrina/texto Acesso: 31/01/2008.
15 MORATO LEITE, José Rubens. Estado de Direito do Ambiente: uma difícil tarefa. In: MORATO
LEITE, José Rubens (Org. ). Inovações em Direito Ambiental. Florianópolis:Fundação Boiteux, 2000,
p.13-40.
16 PORTANOVA, Rogério. Direitos humanos e meio ambiente: uma revolução de paradigma para o
Século XXI. In: BENJAMIN, Antônio Herman (Org.). Anais do 6º Congresso Internacional de Direito
Ambiental (10 anos da ECO-92: o Direito e o desenvolvimento sustentável). São Paulo: Instituto O
Direito por um Planeta Verde/Imprensa Oficial, 2002, pp.681-694.
17 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada. In:
SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Direitos Fundamentais Sociais: estudos de Direito Constitucional,
Internacional e Comparado. Rio de Janeiro/São Paulo: Renovar, 2003, pp.493-508.
18 Expressão adotada por PEREIRA DA SILVA, Vasco. Verde Cor de Direito: lições de Direito do
Ambiente. Coimbra: Almedina, 2002, p.24.
832
7 CONCLUINDO
- O direito ao desenvolvimento e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado são direitos fundamentais de terceira dimensão que
se cruzam no domínio do desenvolvimento sustentável e constroem um
dialético e inseparável caminho, especialmente, a partir do momento em que a
Declaração do Rio adicionou a variável ambiental às demais variáveis do
desenvolvimento, operando uma verdadeira mudança de paradigma, visto que
a questão do desenvolvimento passa, necessariamente, pela sustentabilidade
ambiental;
- Esse processo de ampliação de direitos amplia também a tarefa do
Estado na garantia dos mesmos e renova o constitucionalismo. Assim, o
Estado Liberal, mesmo conservando sua adesão à ordem capitalista, assume
os contornos de um Estado social no momento em que os direitos da dimensão
social somam-se aos direitos da dimensão individual-liberal e, ao incorporar a
tutela dos direitos de terceira dimensão – nos quais se incluem os direitos ao
desenvolvimento e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – o Estado
assume os contornos de Estado Sociambiental;
- Em tempos de crise do capitalismo, quando os ferrenhos defensores do
“Estado mínimo” servem-se do Estado para tentar salvar a crise sistêmica por
eles criada , é preciso reafirmar o papel desse Estado Socioambiental como
indutor do desenvolvimento e garantidor do direito a um desenvolvimento
sustentável balizado pela Constituição.
REFERÊNCIAS
22 POCHMANN, Marcio. A tarefa dos progressistas In: Agência Carta Maior disponível em
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15945 acesso em 2/05/2009
835
1 INTRODUÇÃO
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi consagrado
constitucionalmente, atribuindo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defender e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Além do sistema
de responsabilidades compartilhadas, alguns deveres foram incumbidos
especificamente ao Poder Público. Dentre eles, destaca-se o de controlar a
produção, a comercialização e o emprego de substâncias que comportem risco
para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Os agrotóxicos são substâncias que devem ser controladas pelo Poder
Público em virtude da magnitude dos danos que podem ocasionar a exemplo
dos prejuízos causados pela ampla e antes irrestrita utilização do inseticida
dicloro-difenil-tricloro-etano (DDT), substância, hoje, sabidamente considerada
carcinogênica.
O procedimento do registro de agrotóxicos, estabelecido pela Lei n.
7.802, de 11 de julho de 1989, é o ato através do qual o Poder Público libera a
produção, exportação, importação, comercialização e utilização dessas
substâncias, uma vez cumpridas as exigências dos órgãos federais
responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e de agricultura. Em
virtude dos riscos que os agrotóxicos podem gerar, urge verificar se o
procedimento do registro tem sido realizado de maneira a se garantir que as
substâncias liberadas para uso comercial no Brasil sejam seguras para o meio
ambiente e para a saúde humana. Igualmente, faz-se necessário averiguar
quais as falhas da legislação brasileira no tocante ao procedimento de registro
desses produtos químicos, uma vez que se trata de instrumento indispensável
1
Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Membro do Grupo de Pesquisa de
Direito Ambiental na Sociedade de Risco. Endereço eletrônico: marialeonorf@hotmail.com.
838
7
FERRARI, Antenor. Op. cit. p. 42.
8
CAMERON, Heather L.; FOSTER, Warren G. Developmental and Lactational Exposure to Dieldrin
Alters Mammary Tumorigenesis in Her2/neu Transgenic Mice. Disponível em:
<http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0004303>. Acesso em: 10 de
mar. de 2009.
9
CARSON, Rachel. Op. cit. p. 38.
10
CARSON, Rachel. Op. cit. p. 35.
11
Fischer, Gert Roland. Menos veneno no prato: alternativas aos agrotóxicos. Florianópolis: Paralelo
27, 1993. 2. ed. p. 20.
840
12
CARSON, Rachel. Op. cit. p. 45.
13
BENACHOUR, Nora; SÉRALINI, Gilles-Eric. Glyphosate Formulations induce apoptosis ande
necrosis in human umbilical, embryonic and placental cells. Chemical research in toxicology.
Washington: American Chemical Society, 2008. p. 97-105. Disponível
em:<http://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/tx800218n?cookieSet=1>. Acesso em: 24 de abril de 2009.
14
RELYEA, Rick A. (2005) The lethal impact of roundup on aquatic and terrestrial amphibians.
Ecological Applications. Ecological Society of America: Washington,, 2005. Vol. 15, No. 4, p. 1118-
1124.
15
NARLOCH, Leandro. Revista Veja. 07 de janeiro de 2009. Editora Abril. Edição 2094. Ano 42. n° 1.
p. 62.
16
GIBSON, Gerusa; KOIFMAN, Sergio. Consumo de agrotóxicos e distribuição temporal da
proporção de nascimentos masculinos no Estado do Paraná, Brasil. Rev Panam Salud Publica
[online]. 2008, v. 24, n. 4, pp. 240-247. ISSN 1020-4989. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S102049892008001000003&lng=en&nrm=i
so&tlng=pt>. Acesso em: 10 de mar. de 2009.
841
17
Conforme art. 225, § 1°, inc. V, da Constituição Federal.
18
FERRARI, Antenor. Op. cit. p. 51 e 52.
19
FERRARI, Antenor. Op. cit. p. 52.
842
20
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 10. ed. Malheiros: São Paulo, 2002.
p. 560.
843
21
TERRA, Op. cit. p. 13.
844
22
FERRARI, Antenor. Op. cit. p. 54 e 55.
23
FERRARI, Antenor. Op. cit. p. 55.
845
24
FERRARI, Antenor. Op. cit..p. 73.
25
Dispõe o art. 19, do Decreto 4.047/2002: “Quando organizações internacionais responsáveis pela
saúde, alimentação ou meio ambiente, das quais o Brasil seja membro integrante ou signatário de acordos
e convênios, alertarem para riscos ou desaconselharem o uso de agrotóxicos, seus componentes e afins,
caberá aos órgãos federais de agricultura, saúde e meio ambiente, avaliar imediatamente os problemas e
as informações apresentadas. Parágrafo único. O órgão federal registrante, ao adotar as medidas
necessárias ao atendimento das exigências decorrentes da avaliação, poderá: I - manter o registro sem
alterações; II - manter o registro, mediante a necessária adequação; III - propor a mudança da formulação,
dose ou método de aplicação; IV - restringir a comercialização; V - proibir, suspender ou restringir a
produção ou importação; VI - proibir, suspender ou restringir o uso; e VII - cancelar ou suspender o
registro”.
846
preconizadas nesses incisos pressupõem que o registro de
agrotóxico já tenha sido feito. Contudo, poderá ocorrer que o
pedido de registro esteja ainda sendo processado. A
suspensão do procedimento deverá ser efetuada26.
3 CONCLUSÕES ARTICULADAS
1. Os agrotóxicos são substâncias que possuem incrível potência para
produzir danos, pois se acumulam nos tecidos dos seres vivos, penetrando,
inclusive, nas células germinativas e, por conseguinte, provocando alteração do
próprio material genético cuja hereditariedade se consubstancia e de que
depende a forma do futuro.
2. Embora exista uma lei no Brasil obrigando as autoridades
competentes a levarem em consideração os posicionamentos das
organizações internacionais responsáveis pela saúde, alimentação ou meio
ambiente e proibindo o registro de substâncias que revelem características
teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas, substâncias com essas
características estão sendo importadas pelo Brasil, colocando em risco a
população brasileira.
26
MACHADO, Op.cit. p. 561.
27
PINHO, Angela. Brasil importa agrotóxico vetado no exterior. Folha de São Paulo. Seção Cotidiano.
São Paulo, 22 de agosto de 2008.p. C1.
847
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARIANA FLORES 1
VANESSA MORAES GOUVEA 2
RICARDO STANZIOLA VIEIRA 3
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho faz parte do projeto de pesquisa básica da
FAPESC, “ Direitos da criança e do adolescente e desenvolvimento social
sustentável: uma análise desde uma perspectiva socioambiental para uma
proposta teórico-prática de cidadania e novos direitos.” Uma das etapas do
projeto foi a elaboração do curso de formação para a cidadania socioambiental
e os direitos da criança e do adolescente. O objetivo do curso é fomentar o
conhecimento em prol da formação do cidadão, criança e adolescente, os quais
são parte, consideravelmente, vulneráveis no meio ambiente. Para isto, o curso
foi direcionado aos professores da rede regular de ensino, pois estão
diretamente ligados á formação da criança e do adolescente e, aos lideres
comunitários do município de São José, já que tem participação direta nos
problemas enfrentados por suas comunidades. Para atingir o objetivo proposto,
o curso foi dividido em quatro sábados, em período integral. O primeiro
encontro dedicou-se a introdução da cidadania socioambiental, situando a
questão relacionada ao ser cidadão de maneira participativa. Já, no segundo
encontro, abordou-se a temática dos direitos da criança e do adolescente numa
1
Graduanda do Curso de Direito – UNIVALI/SJ, colaboradora do projeto de pesquisa básica da
Fundação de Apoio à pesquisa científica e tecnológica - FAPESC: Direitos da criança e do adolescente e
desenvolvimento social sustentável: uma análise desde uma perspectiva socioambiental para uma
proposta teórico-prática de cidadania e novos direitos, e-mail: floresmari@ig.com.br.
2
Bacharel em Direito pela UNIVALI/ São José, e em História pela UDESC, mestranda do Programa de
pós- Graduação em História pela UDESC, colaboradora do projeto de pesquisa básica da Fundação de
Apoio à pesquisa científica e tecnológica - FAPESC: Direitos da criança e do adolescente e
desenvolvimento social sustentável: uma análise desde uma perspectiva socioambiental para uma
proposta teórico-prática de cidadania e novos direitos. E-mail: moraesgouvea@gmail.com
3
Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo; Mestre em Filosofia do Direito pela Universidade
Federal de SantaCatarina; Doutorando em Ciências Humanas (Universidade Federal de Santa Catarina);
Professor da Universidade do Valedo Itajaí (Direito Ambiental e Prática em Direitos Metaindividuais).
850
4
Disponível em, www.planalto.gov.br, acesso em 15.05.09.
852
5
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coordenadora). Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: aspectos teóricos e práticos, 3º ed, lúmen júri, 2008, p. 11.
853
6
SAMPAIO, José Adércio Leite. Direitos Fundamentais: retórica e historicidade. Belo Horizonte: Del
Rei, p. 23, 2004.
854
7
LIBERATI, Wilson Donizete, Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo:
Malheiros Editores LTDA, 2002, p. 21.
8
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade (coordenadora). Curso de Direito da Criança e do
Adolescente: aspectos teóricos e práticos, 3º ed, lúmen júri, 2008, p. 42.
855
9
OLIVEIRA, Ana Claudia Delfin Capistrano de. Diretrizes teóricas do caderno de cidadania: cidadania e
direitos humanos, estatuto da criança e do adolescente e cidadania ambiental. Florianópolis: ALESC,
2008, p. 110.
856
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vislumbra-se que o Direito das Crianças e Adolescentes consiste em
uma boa alusão para a prática do Socioambientalismo, uma vez que, a fim de
propiciar a devida qualidade de vida, às crianças e adolescentes, antes se faz
necessário zelar pelo ambiente que as circuncreve. Nota-se que a realidade tal
como nos é colocada, atualmente, demonstra que a necessidade constante de
grande parte da população está focada na sua própria subsistência e as
consequências oriundas a partir disso, aliadas muitas vezes à ignorância
(deficiência educacional) e a forte influência dos meios de comunicação de
massa, são fatores que influenciam, diretamente e negativamente, nas suas
capacidades físicas, mentais e políticas. Reforçando, novamente, a
necessidade de se pensar e implementar políticas públicas capazes de dar
conta dos anseios sociais, de forma coletiva e difusa, e não tão somente,
destinadas a atender a viciada lógica assistencialista e paternalista, vivenciada
em toda sua dialogicidade pela sociedade brasileira .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho parte de um resumo histórico da legislação
ambiental brasileira, demonstrando alguns dos avanços/retrocessos
enfrentados pelo Estado brasileiro no processo de construção e evolução de
um Estado de Direito Ambiental. A constante tensão entre os valores
desenvolvimentistas e os valores ecológicos acirra-se na sociedade de risco,
provocando situações de insegurança não só jurídica como vital. Nesse modelo
social de riscos é que surgem as várias materializações da irresponsabilidade
organizada, cujo Código Ambiental Catarinense é exemplo cristalino. Assim,
através de uma sucinta análise de alguns pontos deste diploma normativo
estadual, pretende-se demonstrar o longo caminho a ser percorrido para que o
Estado de Direito Ambiental possa atingir níveis satisfatórios de efetividade,
tanto no âmbito político quanto jurídico.
1
Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da área de concentração
“Direito, Estado e Sociedade”, com ênfase na área de Direito Ambiental. O presente trabalho foi realizado
com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES-Brasil. E-mail
para contato: matheusmillencolin@yahoo.com.br .
860
razão pela qual foram editados inúmeros atos normativos sobre a exploração
madeireira. Em resumo, esta época destacou-se pela impunidade 6.
Já o Período Republicano deu início à fase eminentemente brasileira de
uma legislação ambiental com a promulgação do Código Civil de 1916, no qual
foram regulamentados por ricochete alguns temas ambientais. Isso se deu
porque na realidade envolviam temas de direito privado, eminentemente sobre
conflitos de vizinhança como mau uso da propriedade, utilização da água,
dentre outros. Ora, ao fazer das riquezas naturais brasileiras um mero depósito
de matérias-primas portuguesas, notável fora a grande devastação das matas
brasileiras, e o pior, a nefasta herança deixada pelos portugueses ao povo
brasileiro: a idéia de abundância e indiferença com o meio ambiente natural.
Arruda e Piletti, dois estudiosos da História do Brasil, afirmam que:
6
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glosário. 3ªed.ª São Paulo, RT,
2004, p.118: “Nossa história, infelizmente , é de uma depredação ambiental impune. Na prática, somente
eram punidos os delitos que atingissem a Coroa ou os interesses fundiários das classes dominantes. O
patrimônio ambiental coletivo, como o conhecemos hoje, era inimaginável.Não por falta de doutrina que
se encontrava alhures, mas por força do estreito e fechado círculo dos interesses familiares, feudais ou
oligárquicos”.
7
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e História do Brasil.
7ªed. São Paulo: Ática, 1997, p.149.
862
8
FELDMANN, Fábio José; CAMINO, Maria Ester Barreto. O direito ambiental: da teoria à prática.
Revista Forense, Rio de Janeiro, v.317, jan./mar.1992, p.92.
9
BENJAMIN, Antônio Herman. Direito Constitucional Ambiental brasileiro. In: CANOTILHO, José
Joaquim Gomes; LEITE, José Rubens Morato (Orgs.). Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São
Paulo: Saraiva, 2007, p.67.
10
GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito do direito. 2ªed.
São Paulo: Malheiros, 2003, p. 40; IDEM. A ordem econômica na Constituição de 1998. 11ªed. São
Paulo: Malheiros, 2006. p.166; ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios:.da definição à aplicação dos
princípios jurídicos. 6ªed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 30. Para compreender a interpretação
sistemática: CANARIS, Claus-Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na Ciência do
Direito. Introdução e tradução de A. Menezes Cordeiro. 3ªed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
2002, especialmente p. 157 a 167.
863
11
Art.2º, §1º, alínea “c” do Estatuto da Terra: “c) assegurar a conservação dos recursos naturais;”.
12
LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Ambiental na Sociedade de Risco.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p.116.
13
LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. As novas funções do Direito
Administrativo em face do Estado de Direito Ambiental. In: CARLIN, Volnei Ivo (Org.). Grandes Temas
de Direito Administrativo. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2009, p.430.
864
14
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Juridicização da ecologia ou ecologização. Revista Jurídica do
Urbanismo e do Ambiente. Coimbra: Almedina, n.4, dez.1995, p.75.
15
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I - a
soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da
livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
16
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
17
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: uma difícil tarefa. In: LEITE, José
Rubens Morato (Org.). Inovações em Direito Ambiental. Florianópolis: Fundação José Arthur Boiteux,
2000, p.21.
18
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Juridicização da ecologia ou ecologização. Revista Jurídica do
Urbanismo e do Ambiente. Coimbra: Almedina, n.4, dez.1995, p.74.
865
20
BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo. Traducción Daniel Jiménez, Jorge Navarro e Mª Rosa Borras.
Barcelona: Paidós, 1998, p.13.
21
BOURG, Dominique; SCHLEGEL, Jean-Louis. Anteciparse a los riesgos: el principio de precaución.
Barcelona: Ariel, 2004, p.59.
22
GOLDBLATT, David. Teoria social e ambiente. Lisboa: Piaget,1996, p.241.
867
23
BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: BECK,
Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: UNESP, 1997, p.15.
24
LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. As novas funções do Direito
Administrativo em face do Estado de Direito Ambiental. In: CARLIN, Volnei Ivo (Org.). Grandes Temas
de Direito Administrativo. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2009, p.439.
25
Salienta-se que esta lei mineira teve os artigos julgados inconstitucionais pelo TJMG em ação direta de
inconstitucionalidade proposta pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais (Procurador Geral de
Justiça) em face do Governo do Estado de Minas Gerais e a Assembléia Legislativa do Estado de Minas
Gerais. “EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 17, INCISOS V, VI
868
27
MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 5ªed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005,
p.21.
28
Assim estabelece o §2º do art. 24 da CF: “§ 2º A competência da União para legislar sobre normas
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados”.
29
“Art. 123. No caso de área de terra existente no meio rural tornar-se uma Reserva Particular do
Patrimônio Natural - RPPN ou outra Unidade de Conservação, 100% (cem por cento) dessa área poderá
ser utilizada para fins de compensação da área exigida de reserva legal”.
870
6 CONCLUSÕES ARTICULADAS
6.1 O estudo histórico da legislação ambiental brasileira permite
compreender a forma pela qual a natureza foi relegada a segundo plano pelos
30
LEITE, José Rubens Morato; FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. As novas funções do Direito
Administrativo em face do Estado de Direito Ambiental. In: CARLIN, Volnei Ivo (Org.). Grandes Temas
de Direito Administrativo. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2009, p.440.
871
REFERÊNCIAS
ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral
e História do Brasil. 7ªed. São Paulo: Ática, 1997.
LEITE, José Rubens Morato. Estado de Direito do Ambiente: uma difícil tarefa.
In: LEITE, José Rubens Morato (Org.). Inovações em Direito Ambiental.
Florianópolis: Fundação José Arthur Boiteux, 2000, p.13-40.
1 INTRODUÇÃO
O município de Blumenau está localizado na região do Vale do Itajaí no
Estado de Santa Catarina e ao longo de sua história foi palco de desastres
naturais onde restam como incalculáveis os prejuízos (sentido amplo)
adquiridos pela população.
No ano de 2008, especificamente no mês de novembro, ocorreu o maior
desastre natural de sua história 2. Além das fortes e constantes chuvas,
deslizamentos e inundações trouxeram, além de prejuízos materiais, elevado
número de óbitos e pessoas feridas.
Ocorre que o município, por meio de sua defesa civil, estava preparado
apenas para ocorrências de inundações, comuns para essas épocas. Porém,
infelizmente não foram somente as enchentes que causaram os mencionados
prejuízos, mas sim a ocorrência de fortes deslizamentos.
A grande discussão que paira sobre o caso diz respeito às reais causas
do desastre. Á que considerar que o território do município de Blumenau
1
Advogado, professor universitário, mestrando em Direito Ambiental pela Universidade Católica de
Santos, especialista em Direito do Estado pela Universidade Cândido Mendes-RJ e especialista em
Direito Civil e Processo Civil pela Universidade Gama Filho-RJ.e-mail:duartesantista@hotmail.com.
2
Jornal Zero Hora, “A pior tragédia de Blumenau”: “(...) Não identifiquei nada igual nos arquivos da
cidade. É a pior situação de toda história – avalia Sueli Petri, diretora do arquivo histórico”; matéria
veiculada no dia 28 de novembro de 2008, pag. 3.
875
3
Cf. CPTEC. Climanálise. Boletim de Monitoramento e Análise Climática. Vol. 19 - N.12 -
Dezembro/2004. Disponível em http://www.cptec.inpe.br/products/climanalise/1204/zcas.html Acesso
em 09 de março de 2009.
4
Uma das regiões mais afetadas por enchentes e deslizamentos foi o complexo do Morro do Baú, situado
no triângulo formado pelos municípios de Ilhota, Luiz Alves e Gaspar. Trata-se de uma área estritamente
rural, onde se concentram produtores de arroz, banana, algumas granjas de aves e propriedades com
florestas plantadas de pinheiro e eucalipto. Cf. SOUZA, Juliana Mio de; VIANNA, Luiz Fernando de
Novaes. Relatório sobre o levantamento dos deslizamentos ocasionados pelas chuvas de novembro de
2008 no complexo do morro do baú municípios de Ilhota, Gaspar e Luiz Alves. Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.: Florianópolis, 2009. Disponível em
http://ciram.epagri.sc.gov.br/portal/website/arquivos/areas_risco/Relatorio_Morro_Bau.pdf Acesso em 04
de março de 2009.
876
5
Cf. SWISSINFO, Geraldo Hoffmann. A culpa não é só da mudança climática. Disponível
http://www.swissinfo.ch/por/capa/A_culpa_nao_e_so_da_mudanca_climatica.html?siteSect=105&sid=10
072413&cKey=1229081299000&ty=st Acesso em 15 de março de 2009.
6
Ibidem.
7
Disponível em www.blumenau.sc.gov.br/bnu2050. Material adquirido junto ao secretário adjunto de
planejamento do município de Blumenau no dia 23/02/2009.
877
8
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional 6ªed. São Paulo, 2007, p. 21.
9
Relatório “Nosso Futuro para Todos”. Documento elaborado na Assembléia Geral das Nações Unidas
também denominado com relatório Brundtland.
10
Lei 10.257 de 10.07.2001
11
A mais alta ocorrência de chuvas acontece historicamente na região central que possui o maior índice
de densidade populacional do município diante de estudos apresentados pelo Instituto de Pesquisas
Ambientais da Universidade Regional de Blumenau Estudo das correlações entre precipitações e os
escorregamentos em áreas de risco em Blumenau – SC; disponível em
http://www.blumenau.sc.gov.br/novo/site/imagens/conteudo/file/defesacivil/risco.pdf consulta realizada
em 13/03/2009.
12
Lei Complementar nº 142, de 04 de março de 1997.
878
13
Foi interposta pelo Ministério Público Estadual Ação Direta de Inconstitucionalidade perante o
Tribunal de Justiça de Santa Catarina (n.º 2009.008941-2)
14
Redação dada pela Lei nº 7.803 de 18 de julho de 1989.
879
15
Artigo 24 da Constituição Federal.
16
SILVA, José Afonso da. ob. cit. p. 79.
17
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 2ª edição, RT, 2001, p. 170.
880
18
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 11 edição. São Paulo: Malheiros.
2003 p. 385-386.
19
Inciso III do artigo 4º da Lei nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979.
20
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas 2009 p. 336.
881
21
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvim de. Função Ambiental da Propriedade Urbana in Paisagem,
Natureza e Direito; org. ed. BENJAMIN, Antonio Herman; Instituto o Direito por um Planeta Verde 9º
Congresso Internacional de Direito Ambiental, 2006 pag. 315.
22
A empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina-EPAGRI apresentou estudos
onde apontam que em outubro choveu 275, 3 mm sendo que a média nos últimos 25 anos era de 151,7
mm e em novembro choveu o equivalente a 725,1 mm sendo que a média daquele mês era de 144, 8mm
também nos últimos 25 anos. Informação adquirida junto à secretaria de planejamento de Itajaí; visita
realizada em 25 de fevereiro de 2009.
882
23
Decreto Municipal 8.820 de 23 de novembro de 2008.
24
Decreto municipal 8.902 de 08 de abril de 2009.
883
25
Vale lembrar que a expressão ecologicamente equilibrado é voltada para própria convivência
harmoniosa entre os indivíduos e figura desde a promulgação da Declaração Universal de Direitos
Humanos de 1947.
26
“Quando a Constituição Federal impõe a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo, a mensagem subjacente consiste no dever de prevenir a ocorrência de qualquer
fato que venha causar dano a esse macro bem, considerando o interesse público nele contido” cf.
GRANZIERA. Ob. Cit. p. 589.
884
responsabilidade pelo dano ambiental também incorrer de forma moral 27, e não
seria controverso levantar tal possibilidade ao caso trazido no presente artigo.
O intuito aqui não é a imputação de culpabilidade ao município de
Blumenau, mas sim fomentar a reflexão para algumas atitudes que tanto o
município em tela quanto outros da federação podem adotar para que seja
evitado desastres naturais decorrentes de danos ambientais.
Neste passo, cumpre apresentar em conjunto no presente tópico a
relação atual do projeto “BNU2050” com a responsabilidade do município.
O projeto corresponde a um planejamento que infelizmente não se faz
comum na realidade dos municípios brasileiros, pois visa estruturar e
estabelecer um plano de diretrizes e projetos para o município, no que diz
respeito ao planejamento territorial, com previsão de implantação até 2050.
Pretende-se que seja a agenda do planejamento territorial e o documento-base
para os próximos governantes 28.·.
O BNU2050 foi dividido em cinco eixos: uso e ocupação do solo; sistema
de circulação e transporte; intervenções para o desenvolvimento econômico, o
turismo e o lazer; habitação e regularização fundiária; saneamento e meio
ambiente.
Documentos como este figuram como instrumentos de prevenção a
desastres e consequentemente podem isentar o Poder Público (desde que
aplicado de forma eficaz) de sua responsabilidade direta por prejuízos
decorrentes de desastres naturais.
Tendo a participação de 19 entidades distribuídas em 75 partcipantes 29,
o projeto foi desenvolvido através de um seminário que enfatizou
resumidamente a pertinência do planejamento, a experiência sobre
27
“Atualmente, ainda que de forma discreta, vem sendo admitida a possibilidade de configuração de um
dano moral afeto à coletividade como um todo ou mesmo a um grupo de indivíduos determinados ou
determináveis. Neste sentido, Paccagnella argumenta ‘ Em resumo, sempre que houver um prejuízo
ambiental objeto de comoção popular, com ofensa ao sentimento coletivo, estará presente o dano moral
ambiental. A ofensa ao sentimento coletivo se caracteriza quando o sofrimento é disperso, atingindo
considerável numero de integrantes de um grupo social ou comunidade’” LEITE,José Rubens Morato.
Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.
2000. p. 300.
28
BLUMENAU, Prefeitura de, BNU2050 CIDADE DE BLUMENAU; Revista de divulgação do
Programa de Desenvolvimento Urbano de Blumenau: ano 1-junho 2008. p. 5. Material adquirido junto ao
secretário adjunto de planejamento urbano do município de Blumenau no dia 23/02/2009.
29
Idem. p. 11.
885
4 CONCLUSÕES
1. A Constituição Federal de 1988 e o Código Florestal aparecem como
normas norteadoras para proteção das Áreas de Preservação Permanente no
município de Blumenau.
2. O município de Blumenau ao estabelecer legislação contrária a estes
regramentos pode incorrer em consequências prejudiciais a seus cidadãos,
pois quando tratamos de meio ambiente ecologicamente equilibrado devemos
respeitar prioritariamente o desenvolvimento sustentável;
3.No conflito de competência normativa quanto a prevenção de
desastres naturais nos municípios deverá sempre prevalecer a legislação que
trate de normas gerais sobre as de interesse local.
4. O instituto da responsabilidade civil ambiental acerca de danos
ambientais causadores de desastres naturais não poderá ser interpretado de
forma absoluta quanto a responsabilidade subjetiva do Poder Público. Esta
interpretação poderá acarretar acomodamento às pessoas jurídicas de direito
público à necessidade de estabelecerem planejamentos que evitem desastres
naturais decorrentes de atividade antrópica.
5. O projeto BNU2050 tem como fundamento estabelecer uma cidade
sustentável, pode controlar o intuito de se legislar contrariamente a
Constituição Federal e o Código Florestal, pode impedir que o município de
Blumenau incorra em erros passíveis de condenação por dano ambiental e
desastres naturais e certamente deverá servir como exemplo para outros
municípios brasileiros.
30
Ibidem. p. 42.
886
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas 2009;
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 11ª edição. São
Paulo: Malheiros. 2003;
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional 6ªed., São Paulo,
Malheiros, 2007;
MERY CHALFUN 1
1 INTRODUÇÃO
Fauna, flora, minerais, recursos naturais, cada grupo, e todos juntos
desempenham papel fundamental para o equilíbrio do ecossistema, formando
uma estruturada cadeia capaz de manter a vida e futuro do planeta. Entretanto,
apesar de toda importância desempenhada por cada um destes grupos,
diversos são os abusos, práticas cruéis e exploratórias, que por interesses
econômicos, desnecessários, ignorância, colocam em risco a vida planetária, a
sustentabilidade do planeta e de toda vida que nela habita.
O presente artigo destaca a problemática dos animais na prática do
tráfico, atividade ilegal que ameaça suas vidas, o equilíbrio do meio e a
existência da biodiversidade.
O respeito pela vida animal tanto no aspecto ético como para o meio
ambiente é fundamental. Além da questão da preservação das espécies e
respeito pela vida, cada animal desempenha uma atividade que acaba por
torná-lo responsável pela existência de outras espécies, sejam as vidas
humanas, dos próprios animais ou vegetais. Juntos com toda natureza e vida
existente formam uma rede complexa e bem estruturada, de modo que cada
espécie retirada da natureza ou extinta provoca graves riscos a todo sistema,
ao ecossistema, a biodiversidade, acarretando prejuízos que talvez não
possam ser recuperados.
No entanto, apesar de toda sua importância, seja em decorrência de
suas próprias vidas, que merecem e devem ser respeitadas em visão que
ultrapassa o antropocentrismo, ainda que alargado, para alcançar uma visão
1
Advogada. Graduada pela PUC-RJ, Mestre em direito pelo programa de Pós Graduação em Direito na
Universidade Estácio de Sá – RJ, na linha de pesquisa Direitos Fundamentais e Novos Direitos, bolsista
CAPES Mestrado. e-mail: merychalfun@hotmail.com
888
2 RISCO À BIODIVERSIDADE
A biodiversidade ou diversidade biológica 2 definida pela Convenção da
Biodiversidade como “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens
e os complexos ecológicos de que fazem parte: compreendendo ainda a
diversidade dentro das espécies, entre espécies e de ecossistemas” 3 é
essencial para que haja o equilíbrio do meio ambiente, do ecossistema, e vida
de todas as espécies.
O ecossistema brasileiro rico em animais e vegetais é formado por
unidades como a Floresta Amazônica, o Pantanal Mato-Grossense, a Mata
Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, Domínio das Araucárias entre outras
fundamentais ecologicamente e para vida do planeta, constituem-se em
2
Normalmente os termos biodiversidade e diversidade biológica são usados como sinônimos ou
indistintamente, no entanto, como esclarece Èdis Milaré a palavra biodiversidade traduz melhor a
vinculação profunda entre todos os seres, indivíduos, espécies na unidade, pluralidade e teia da vida em
que estão inseridos, demonstra não apenas uma pluralidade aritmética de animais e vegetais como parece
estar mais ligada a expressão diversidade biológica, mas sim um caráter essencial de unidade entre as
espécies que demonstram um ecossistema.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 173.
3
Esta definição foi proposta pela Convenção sobre Diversidade Biológica em 05 de junho de 1992, no
Rio de Janeiro – ECO-92. Assinada por vários países, inclusive o Brasil, a Convenção foi ratificada pelo
Decreto legislativo n. 2 em 1994, promulgada pelo Decreto n. 2.159 em 1998.
889
4
WWF - (World Wildlife fund) Fundo Mundial para vida selvagem, criado em 1961 e juntamente UICN
(União Internacional para a Conservação da Natureza e dos seus recursos) criada em 1948 pela UNESCO
como organização científica não-governamental, monitoram sobre o ritmo de desaparecimento de várias
espécies, possuindo projetos importantes neste campo.
890
5
BECHARA, Érika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez de Oliveira,
2003. p. 47.
6
Disponível em <http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=7938> Acesso em 06.04.09.
891
3 TRÁFICO DE ANIMAIS
O tráfico de animais silvestres, ou seja, a retirada ilegal desses animais
de seus habitats, para posterior negociação seja no mercado interno ou
internacional, para colecionadores, consumo de carnes raras, para
domesticação, zoológicos particulares, multinacionais da indústria química e
farmacêutica, etc., através de caça e também da pesca predatória põe em risco
a sobrevivência de muitas espécies e o equilíbrio da biodiversidade.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), e a Renctas (Rede
Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres) esta prática ilegal é a
terceira atividade ilícita mais lucrativa do planeta, estando atrás apenas do
tráfico de armas e drogas, movimentando o valor aproximado de 20 bilhões de
dólares por ano, sendo que 15% desta participação é do Brasil.
7
SZPILMAM, Marcelo. Disponível em <http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=18657>
Acesso em 06.04.09.
892
8
Entre os animais ameaçados estão o peixe-boi da Amazônia, a jaguatirica, o lobo-guará, o cairara, o
Tatu-bola, Mãe-de-taoca-pintada, besouro-de-chifre, verme-de-fogo, carangueijo.
O livro vermelho classifica os animais em risco de extinção em três categorias: vulnerável, em perigo e
criticamente em perigo. Entre os animais incluídos no livro estão animais como a baleia azul, cachalote e
albatroz. No rol dos mamíferos permanecem o tamanduá-bandeira, o mico-leão-dourado, o lobo-guará e a
onça pintada. Entre as aves, a ararinha-azul também permaneceu, além de diversos tipos de lagartixas,
lagartos, cobras e tartarugas.
893
insetos, no entanto, muitos dos animais do Tinguá estão sendo extintos por
ação de caçadores. Animais como o porco do mato, a cutia, paca, tatu, onça
parda estão entre os animais caçados, além disso, animais como a onça
pintada, a anta, a jacutinga (ave preta de grande porte) estão sendo
consideradas extintas por ação dos traficantes.
Além dos requintes de crueldade, em que são usados trabucos para
captura dos animais, espécie de armadilha com efeito semelhante a uma mina,
que são espalhadas pela reserva, soma-se à problemática, a extinção das
espécies e desequilíbrio da cadeia alimentar, já que muitas vezes as onças
concorrem com os caçadores pelas mesmas presas; por exemplo. Some-se a
estes fatos que a reserva é fundamental para conservação de mananciais
responsáveis pelo abastecimento de parte do Rio de Janeiro e de cerca de
40% da Baixada Fluminense. A reserva foi criada para proteger uma área de
grande representatividade da mata atlântica, rica em recursos naturais, flora e
fauna, porém, está sendo devastada pelos caçadores que vendem para
consumo de carnes exóticas, mas também em feiras que ocorrem em alto
número no Rio de Janeiro.
O IBAMA e a Renctas apontam o Rio de Janeiro como um dos estados
com maior grau de tráfico de animais, com a ocorrência de cerca de 100 feiras,
como as de Caxias, Honório Gurgel e São Gonçalo. A cada 12 minutos, um
animal é retirado das matas das regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste ou
Sudeste, para serem revendidos nas feiras.
As pessoas que realizam estes crimes em geral são reincidentes, e
apesar de algumas constantes blitz nos locais, a ação policial ainda não é
suficiente para acabar com esta prática que põe em risco milhares de vidas e o
equilíbrio da natureza.
4 PROTEÇÃO NORMATIVA
No aspecto normativo, a Constituição Brasileira pode ser considerada
como uma das mais avançadas, com capítulo específico dedicado ao meio
ambiente, observa-se a preocupação do legislador em proibir qualquer prática
que coloque em risco a preservação da fauna, sua função ecológica, além de
895
5 TOLERÂNCIA DO JUDICIÁRIO
O meio ambiente; bem difuso de interesse de toda coletividade, deve ser
protegido pelo poder público, pelo judiciário, órgãos competentes, ONGs, bem
como por toda sociedade, não há dúvidas de que a biodiversidade que integra
o ecossistema, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito e
dever fundamentais, intimamente ligados ao direito à vida digna e sadia tanto
do homem como dos animais, direito este não apenas das presentes gerações,
mas também das futuras, a ser protegido de forma ampla pelo direito
ambiental.
Ao direito ambiental torna-se imprescindível uma consciência ecológica,
caráter de multidisciplinaridade com íntima relação com outras áreas da
ciência, sejam exatas, humanas ou biológicas, portanto, um caráter mais
complexo, que ultrapassa a mera interpretação legal, para alcançar conotações
morais, a ética da vida, parâmetros que ultrapassam o mero antropocentrismo
legal. Em conseqüência, as decisões judiciais envolvendo práticas que afetam
o meio ambiente, necessitam mais que o simples critério subjetivo do juízo, de
forma a se auferir o real prejuízo para natureza, para toda sociedade, para vida
do planeta atual, bem como futura.
Assim para que a prática do tráfico, caça e pesca predatória possam ser
efetivamente combatidas nas decisões judiciais, por exemplo, é preciso que se
ultrapasse os constantes julgamentos com base no princípio da insignificância.
A tolerabilidade da sociedade e principalmente do judiciário em relação a
certas práticas tidas como crimes de bagatela, insignificantes e sem efetivo ou
897
6 CONCLUSÃO
1. A retirada de animais silvestres de seu habitat, das reservas
ambientais, áreas de proteção, constitui-se como um dos crimes mais graves
contra a natureza, prática cruel que coloca em risco a vida de diversas
espécies e da biodiversidade;
2. Dada as previsões legais, notadamente a determinação constitucional
de proteção a fauna (art. 225, § 1º, inciso VII) e a Lei 9.605/98 (art. 29 e 32)
não restam dúvidas do dever de proteção aos animais e conseqüente combate
ao tráfico, como forma de preservação da vida tanto das presentes como das
futuras gerações, seja vida humana ou não-humana;
3. Os animais merecem e devem ser respeitados, livres de maus tratos e
crueldade, é preciso que se adote uma ética biocêntrica, respeito pela vida de
todas as espécies, ultrapassando antigos paradigmas antropocêntricos.
4. A ignorância, miséria, interesses econômicos não devem servir como
desculpa para prática de crimes contra os animais, contra a natureza,
colocando em risco a vida de todo planeta.
5. O Poder Judiciário juntamente com a sociedade deve ultrapassar a
posição de tolerabilidade que permeia o tratamento conferido aos animais, os
crimes que os envolve, a concepção de que a natureza e os animais são meros
objetos a disposição do homem. Esta tolerabilidade ameaça a vida de todas as
espécies, se não no presente, com certeza no futuro.
6. Compete ao homem, seja individualmente ou em sociedade, um
comprometimento com a natureza e sua conservação, assegurando a
preservação das demais espécies, da biodiversidade, o respeito a todas as
espécies.
7. O direito e todos os ramos do saber devem atuar conjuntamente, de
forma a alcançar a efetiva proteção ambiental, assegurando o habitat das
demais espécies, ultrapassando visões que consideram apenas a atualidade,
9
LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Ambiental na sociedade de risco. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p. 240.
900
BIBLIOGRAFIA
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 11ª ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2008.
EBOLI, Evandro. Espécies sob risco. O Globo, Rio de janeiro, 05.11.08, p. 10.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes contra a
natureza. 6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos Animais. 2.ed. Campos do Jordão, SP:
Mantiqueira, 2004.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.
SITES ACESSADOS:
http://www.ambientebrasil.com.br
http://www.ibama.gov.br
http://www.renctas.org.br
903
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca apresentar, em um primeiro momento, como
se procede a reparabilidade do dano ambiental por meio dos pressupostos da
responsabilidade civil, e dos preceitos inseridos no Código Civil, para que a
seguir, seja enfocado o assunto principal, ou seja, a prescrição no direito
ambiental, mesmo que o entendimento sobre essa questão não esteja
pacificado, embora presente na legislação brasileira.
*
Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), área de concentração
Direito, Estado e Sociedade; especialista em Direito Ambiental pela UFSC; myrthaf@bol.com.br
904
3 RESPONSABILIZAÇÃO AMBIENTAL
A reparação do dano ambiental é peça fundamental, quando da
conscientização e preservações das questões ambientais. A responsabilidade
civil ambiental busca delinear um ponto de equilíbrio que permita gerar bens
para o homem e, concomitantemente, resguardar os recursos naturais para as
atuais e futuras gerações.
Desta forma, tratando-se de legislação, mais nomeadamente, da
brasileira, a responsabilidade civil em termos ambientais ganhou guarida no
plano infraconstitucional, com o art. 14, §1167, da Lei 6.938de 1981, e,
destaque com o art. 225, § 3º, da Constituição Federal. Igualmente deve ser
observado que a Carta Magna faz incidir sobre o causador de determinada
ação danosa ao meio ambiente, a obrigação de restaurá-lo (§1º, I) e recuperá-
lo (§2º).
Destaca-se que a reparabilidade do dano ambiental também se encontra
nas seguintes leis esparsas:
Desta maneira, diante de tudo o que foi exposto podemos concluir que a
reparabilidade do dano ambiental é indispensável, não somente em termos de
reparação, como igualmente em aspectos e objetivos de prevenções e
conscientizações que velam pelo meio ambiente.
4 A REPARAÇÃO OBJETIVA
A responsabilidade civil na legislação brasileira tem por fundamento a
culpa do causador do dano, conforme a regra do art. 927 do Código Civil. No
entanto, essa norma não se aplica quando se trata de direito ambiental, pois a
responsabilidade tradicional subjetiva, baseada na culpa, é insuficiente para a
proteção do meio ambiente.
Sabe-se que os danos ambientais atingem diretamente uma
coletividade, e somente em alguns casos se resumem em dano individual,
sendo que muitas vezes são de difícil reparação, e o simples pagamento de
uma soma em dinheiro não pode suprir o estrago que já foi feito. Todavia,
infelizmente, esse falso entendimento ainda impera na sociedade, ou seja, toda
obrigação não cumprida se restringe, ao final, em dinheiro.
Assim, para a reparação ambiental interessa o retorno ao estado anterior
e uma condenação em dinheiro (uma não exclui a outra), pois, não basta
indenizar, mas recuperar aquele bem natural que foi danificado. Lembra-se que
somente se recorrerá exclusivamente à indenização quando não há
perspectivas de recuperação.
A Lei 6.938, de 31.08.1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente)
inovou a legislação brasileira ao tratar da responsabilidade objetiva, sendo que
no seu art. 3º, IV, traz o conceito de poluidor a pessoa física ou jurídica, de
direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente por atividade
causadora da degradação ambiental. Assevera-se que o Estado igualmente
pode ser responsabilizado, respondendo toda a sociedade com o ônus que isso
ocasiona.
A Lei em anotação é de suma importância na preservação do meio
ambiente porque traz como um dos seus objetivos a “imposição ao poluidor e
ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados” (art.
910
Porém, não podemos somente tratar dos danos futuros, pois existem os
passados também, estando estes relacionados ao passivo ambiental, que
surge pelo uso de uma área, lago, rio, mar ou outros espaços do meio
ambiente, inclusive o ar que respiramos, e que de alguma forma estão sendo
degradados. “A ocorrência de passivo ambiental assume relevância especial
diante da contaminação do solo por resíduos industriais”. (STEIGLEDER, 2004,
p. 149). Esse o passivo aludido corresponde ao investimento que uma empresa
deve fazer para conseguir endireitar os impactos ambientais adversos
suscitados em decorrência de suas atividades e que não tenham sido
controlados ao longo dos anos.
Entretanto, essas lesões pretéritas apresentam algumas dificuldades
quando da sua reparação, pois algumas degradações ocorreram antes da
entrada da Lei 6.938/81 em vigor, que prevê a responsabilidade civil objetiva.
Daí a defesa de muitos “degradadores” afirmando que não podem ser
responsabilizados, mesmo sendo os danos atuais, com o argumento de que a
913
legislação que prevê tal sanção ainda não vigorava. Igualmente surge a
discussão se a lei deve ou não retroagir no tempo.
Desta forma, vê-se que os danos, tanto passados como futuros, de certa
forma, muitas vezes encontram-se interligados, já que o dano pretérito que teve
início há um tempo pode continuar se propagando por muitos anos mais,
tornando-se futuro e até se qualificando em danos progressivos.
Assim, pode ser afirmado, com veemência, que pior do que um dano
ambiental é um dano ambiental que não foi revertido, retificado ou
compensado, conquanto a partir desta inércia é que novos danos virão, sempre
mais graves e “mais irreversíveis”. (RODRIGUES, 2005, p, 244).
Pois, qualquer tentativa de se dar um cunho egoístico ao bem ambiental
seria golpear mortalmente o princípio da igualdade e, por outro lado, seria
impedir que outros possam exercer o mesmo direito de uso e gozo desses
bens. De outra maneira, não é à toa que o legislador fala em “bem de uso
comum”. (RODRIGUES, 2005, p. 83).
Na legislação, infelizmente, não existem normas específicas à prescrição
do dano ambiental, gerando certa insegurança em relação à aplicabilidade
916
7 CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi explanado, devemos ponderar e chegar à
incontestável conclusão da imprescritibilidade da pretensão à reparação dos
danos ambientais, já que todos têm direito a um meio ambiente equilibrado,
bem comum de todos. Bens estes que são indisponíveis, indivisíveis e não
devem ter natureza patrimonial, mesmo que os danos ora acenados sejam
passíveis de reparação por meio de valoração econômica.
REFERÊNCIAS
FREITAS, Gilberto Passos de. Ilícito penal ambiental e reparação do dano. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra et al. Direitos metaindividuais. São Paulo: Ltr,
2004.
LEITE, José Rubens Morato; BELLO FILHO, Ney de Barros. Direito ambiental
contemporâneo. Barueri: Manole, 2004.
LEME MACHADO, Paulo Affonso. Direito ambiental brasileiro. 12. ed. São
Paulo: Malheiros, 2004.
MONBIOT, George. Heat. How to stop the planet burning. London: Allen Lane,
2006
MORAIS, Alexandre de. Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
p. 61/62
1 INTRODUÇÃO
Os organismos geneticamente modificados (OGM) foram apresentados no
cenário brasileiro com a entrada ilegal da soja transgênica, round up ready
(resistente ao herbicida Roundup, à base de glifosanato), no Rio Grande do Sul
vinda da Argentina, gerando um posicionamento jurídico quanto a sua autorização
para a comercialização da soja transgênica plantada na safra do ano de 2002/2003,
assim seguindo pela aprovação da Lei 11.105/2005 quanto à finalidade de
comercialização da safra ilegal. Aprovado o comércio desta safra, foram dados os
primeiros passos da demonstração da necessidade de uma análise mais abrangente
dos efeitos do OGM.
Tal procedência levou em consideração os efeitos para o meio ambiente e
para a saúde humana ou foi norteada por motivos econômicos, evitando que
houvesse o prejuízo dos agricultores e, por conseguinte das empresas que
investiram no mercado de sementes transgênicas? Resta a dúvida, portanto quanto
à observância do princípio da precaução, tendo em vista que visa garantir de uma
vida digna e saudável aos cidadãos diante dos avanços da biotecnologia. Enquanto
os aspectos econômicos provocam a violação de princípios do Direito Ambiental,
logicamente, às empresas que lideram o mercado de manipulação genética apenas
interessa destacar os aspectos positivos dos OGMS.
2 DESENVOLVIMENTO
A soja é uma planta originária da Ásia que pode ser utilizada na alimentação
humana, bem como na alimentação de animais. Destarte, devido ser a única
matéria-prima oleaginosa produzida no Brasil encontra franca colocação no mercado
internacional. Não deve ser olvidado a importância do cultivo da soja para o Brasil,
1
Acadêmica de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail:
natachabublitz@gmail.com
920
eis que compõe como matéria prima para a industria de produtos alimentícios,
consistindo em produto de exportação. 2
Não por acaso, a soja foi uma das primeiras culturas geneticamente
modificadas a ser comercializada. Posto o interesse das empresas transnacionais,
em desenvolver novas técnicas que ajudassem a população e gerassem lucros.
Fruto de transgenia, a soja transgênica round up ready, da Monsanto, foi
comercializada pela primeira vez por agricultores dos Estados Unidos e da
Argentina, em meados de 1996, 3 sendo introduzida no país, pela Argentina, através
do contrabando. Conforme esclarece Luciana da Silva Pacheco Perry, em sua
dissertação do programa de pós-graduação em extensão rural: “embora oficialmente
proibido o cultivo da soja transgênica no Brasil correspondia a 20% da safra
nacional, sendo que de 70% do cultivo ilegal estava no Rio Grande do Sul.” Gerando
assim, uma necessidade de manifestação do ordenamento jurídico quanto à
liberação e comercialização da safra de 2003/2004, tendo em vista a pressão dos
produtores e o peso da soja na exportação brasileira. 4
É notório que o direito surge de uma sucessão de fatos, onde a norma jurídica
será criada de acordo com estes fatos que sucedem. Não tendo sido diferente com a
liberação e comercialização da soja transgênica round up ready. Onde, somente
posterior ao contrabando das sementes e da expansão das lavouras ilegais foi
criada a discussão da finalidade desta safra ilegal e a necessidade de uma nova Lei
no ordenamento jurídico, disciplinando os organismos geneticamente modificados.
A soja transgênica round up ready produzida pela Monsanto é tolerante a
herbicida à base de glifosato, usado para dessecação pré e pós-plantio, conhecido
por sua eficiência em eliminar qualquer tipo de planta daninha. O que significa, o
agricultor poder livremente eliminar as ervas daninhas sem afetar a soja, fazendo
com que ao aplicar apenas esse herbicida sobre a soja, reduza seus custos de
produção e o número de aplicações. Outros benefícios prometidos são o aumento
2
FREDO. Domingos José. Produção e Comercialização de Soja na Região Sul do Brasil. Soja. Secretaria de
Coordenação e Planejamento: Departamento Estadual de Estatística: Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro:
28 de novembro de 1969.
3
GREENPEACE. Soja um tesouro nacional chinês ameaçado pela engenharia genética. Disponível em:
<http://www.greenpeace.org/raw/content/brasil/documentos/transgenicos/greenpeacebr_040830_transgenicos_d
ocumento_soja_china_port_v1.pdf>. Acesso em: 23 março 2009.
4
PERRY, Luciana da Silva Pacheco. Novas tecnologias e percepção do risco: análise da opiniões sobre os
transgênicos publicadas na imprensa brasileira. 2007, f. 111. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal
de Viçosa. 2007.
921
5
MONSANTO. Disponível em: <http://www.monsanto.com.br/sementes/monsoy/soja_rr/soja_rr.asp>. Acesso
em 23 março 2009.
6
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas transgênicas: as
evidências e as incertezas. Agroecol. E Desenv. Rur. Sustent. Porto Alegre. v. 2, n. 3, p. 30-41. jul/set, 2001.
7
CASTRO, Bianca Scarpeline. O processo de institucionalização da soja transgênica no Brasil nos anos de
2003 e 2005: A partir da perspectiva das redes sociais. Dissertação (mestrado) f. 152. Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, 2006.
8
ANDRIOLI, Antonio Inácio. Transgênicos: As sementes do mal: a silenciosa contaminação de solos e
alimentos. São Paulo: Expressão popular, 2008.
9
GREENPEACE. Soja Transgênica Roundup Ready da Monsanto. O que mais pode dar errado?
Disponível em:
<greepeace.org/raw/content/brasil/documentos/transgenicos/greenpeacebr_040716_transgenicos_documento_ro
undup_port_v1.pdf>. Acesso em 23 março 2009.
10
NODARI, Rubens Onofre. Biossegurança, Transgênicos e Risco ambiental: os Desafios da Nova Lei de
Biossegurança. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as
Novas Tecnologias na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2007. p. 17-44.
922
11
GREENPEACE. Soja Transgênica Roundup Ready da Monsanto. O que mais pode dar errado?
Disponível em:
<greepeace.org/raw/content/brasil/documentos/transgenicos/greenpeacebr_040716_transgenicos_documento_ro
undup_port_v1.pdf>. Acesso em 23 março 2009.
12
Op. Cit. GREENPEACE.
13
FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. O direito à informação e a liberação comercial da soja
transgênica round up ready no Brasil: um breve estudo de caso. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ,
Paulo Roney Ávila (Org.). Aspectos Destacados da Lei da Biossegurança na Sociedade de Risco.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 529-562.
14
MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: Doutrina, Jurisprudência, Prática, Glossário. São Paulo: RT, 2000.
923
15
WHO. 20 Questions On Genetically Modified (Gm) Foods
Disponível em: <http://www.who.int/foodsafety/publications/biotech/20questions/en/>. Acesso em: 01 abril
2009.)
16
TEIXEIRA, Pedro; VALLES, Silvio. Biossegurança: Uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Fio
Cruz, 1996. p. 313-327.
17
Artigo 2°, §2°, Convenção da Biodiversidade, Rio de Janeiro, 1992.
18
CARVALHO, Délton Winter de. As Novas Tecnologias e os riscos ambientais. In: LEITE, José Rubens
Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as Novas Tecnologias na Sociedade de
Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 71-90.
924
19
NODARI, Rubens Onofre. Biossegurança, Transgênicos e Risco ambiental: os Desafios da Nova Lei de
Biossegurança. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as
Novas Tecnologias na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2007. p. 17-44.
20
FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. O direito à informação e a liberação comercial da soja transgênica
round up ready no Brasil: um breve estudo de caso. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney
Ávila (Org.). Aspectos Destacados da Lei da Biossegurança na Sociedade de Risco. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2008. p. 529-562.
21
MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: Doutrina, Jurisprudência, Prática, Glossário. São Paulo: RT, 2000.
22
PEDRO, Maria de Fátima Alves São. Meio ambiente: o respaldo constitucional para políticas públicas de
desenvolvimento sustentável. In: SILVA. Bruno Campos (Org.) Direito Ambiental: Enfoques Variados. São
Paulo: Lemos e Cruz, 2004. p. 83-100.
23
Ibidem.
925
26
IDEC. Relatório Transgênicos. Disponível em: <www.idec.org.br/files/relatorio_transgenicos.doc>. Acesso
em: 12 de abril de 2009.
27
FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. O direito à informação e a liberação comercial da soja
transgênica round up ready no Brasil: um breve estudo de caso. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ,
Paulo Roney Ávila (Org.). Aspectos Destacados da Lei da Biossegurança na Sociedade de Risco.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 529-562.
27
DOCUMENTO enviado pela central de associações da agricultura familiar do oeste do Paraná – a CTNBio e
ministérios do conselho nacional da biossegurança. Coexistência impossível: contaminação transgênica na
produção de soja no Brasil. Disponível em: <transgenicosnao.blogspot.com/2008_04_01_archive.html>. Acesso
em: 10 março 2009.
27
Op. Cit. FERREIRA.
927
vindo assim a liberar a comercialização sem averiguar possíveis danos ou risco que
pudessem ocorrer.
O Governo desconsiderou que não havia preparação por parte dos
agricultores de separar a soja transgênica da produção convencional conforme a
exigência da liberação comercial. Nesse sentido:
28
DOCUMENTO enviado pela central de associações da agricultura familiar do oeste do Paraná – a CTNBio e
ministérios do conselho nacional da biossegurança. Coexistência impossível: contaminação transgênica na
produção de soja no Brasil.
29
FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. O direito à informação e a liberação comercial da soja transgênica
round up ready no Brasil: um breve estudo de caso. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney
Ávila (Org.). Aspectos Destacados da Lei da Biossegurança na Sociedade de Risco. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2008. p. 529-562.
29
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas transgênicas: as
evidências e as incertezas. Agroecol. E Desenv. Rur. Sustent. Porto Alegre. v. 2, n. 3, p. 30-41. jul/set, 2001.
29
Op. Cit. FERREIRA.
30
Op. Cit. GUERRA; NODARI. p. 30.
928
31
Op. Cit. FERREIRA.
32
Op. Cit. GUERRA; NODARI.
33
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito Ambiental e Transgênico: Princípios Fundamentais da
Biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
34
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas transgênicas: as
evidências e as incertezas. Agroecol. E Desenv. Rur. Sustent. Porto Alegre. v. 2, n. 3, p. 30-41. jul/set, 2001.
929
35
FERREIRA, Maria Leonor Paes Cavalcanti. O direito à informação e a liberação comercial da soja transgênica
round up ready no Brasil: um breve estudo de caso. In: LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney
Ávila (Org.). Aspectos Destacados da Lei da Biossegurança na Sociedade de Risco. Florianópolis: Conceito
Editorial, 2008. p. 529-562.
36
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In: LEITE, José
Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as Novas Tecnologias na
Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p.45-70. p.
59.
37
Ibdiem.
37
Op. Cit. GUERRA; NODARI.
38
Op. Cit. DUTRA.
930
Assim, no caso da round up ready pode-se dizer que o estado violou princípio
da precaução na medida administrativa da CTNBio que libera a comercialização das
sementes de soja round up ready ao não aplicar o referido princípio tendo em vista
haver incerteza científica acerca dos danos ocasionados pelos organismos
geneticamente modificados. De modo, que a não aplicação do princípio da
precaução no referido caso implica na preponderância dos interesses econômicos.
O novo milênio trouxe juntamente com os avanços científicos e tecnológicos
os riscos para os quais o conhecimento científico existente ainda não tem o alcance
de sua previsibilidade, gerando a necessidade de critérios específicos para a tomada
de decisões em razão do contexto de incerteza científica. Decisão esta que deve ser
imparcial. 40
Nas palavras de Délton Winter Carvalho: “Na era da globalização (pós-
industrialismo), tanto as consequências positivas, quanto às negativas
desencadeiam efeitos de dimensões globais.” 41 Desta maneira, a necessidade da
criação de uma consciência social acerca da irreversibilidade dos danos ambientais
fortalece e legitima a exigência da análise quanto aos riscos, bem como pressiona
os processos de tomada de decisão antes da ocorrência dos danos.
39
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In: LEITE, José
Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as Novas Tecnologias na
Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p.45-70. p.
59.
40
CARVALHO, Délton Winter de. As Novas Tecnologias e os riscos ambientais. In: LEITE, José Rubens
Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as Novas Tecnologias na Sociedade de
Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 71-90. p. 76.
41
Ibidem.
931
3 CONCLUSÃO
1. A liberação ao meio ambiente da soja round up ready foi permitida pela
CTNBio mesmo contrariando decisões que utilizam o princípio da precaução como
diretriz para as tomadas de decisões. Evidenciando a ambivalência nas tomadas de
decisões para liberação dos organismos geneticamente modificados entre os
interesses econômicos e a aplicação do princípio da precaução, ambos assegurados
pela Constituição Federal.
2. Os interesses econômicos, normalmente centralizados mãos de poucos,
como as empresas e os agricultores, utilizam o discurso que privilegia os avanços da
ciência, destacando sua importância para a vida em sociedade, uma vez que
aumentam a qualidade de vida dos cidadãos. Entretanto, é de se questionar se
realmente a produção de transgênicos é imperiosa para aumentar a qualidade de
vida e se todos terão acesso aos alimentos ou se estamos diante de uma questão
com fundo econômico.
3. Por fim, o princípio da precaução é fundamental em todas as ações,
principalmente nas que envolvam a engenharia genética, como garantia de vida
saudável não só para as atuais gerações, mas também para as gerações vindouras.
Quando se fala em proteção ao meio ambiente, não se deve pensar em economia
como fim, mas na conjunção desta com a proteção da vida.
REFERÊNCIAS
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas
transgênicas: as evidências e as incertezas. Agroecol. E Desenv. Rur. Sustent.
Porto Alegre. v. 2, n. 3, p. 30-41. jul/set, 2001.
PEDRO, Maria de Fátima Alves São. Meio ambiente: o respaldo constitucional para
políticas públicas de desenvolvimento sustentável. In: SILVA. Bruno Campos (Org.)
Direito Ambiental: Enfoques Variados. São Paulo: Lemos e Cruz, 2004. p. 83-100.
1 INTRODUÇÃO
A tecnologia e a ciência têm avançado em um ritmo desenfreado nas
últimas décadas, criando a necessidade de um limite para suas descobertas. O
avanço exacerbado da ciência impulsiona a evolução técnico-científica, tendo
sua utilização imediata pelo sistema econômico. Gerando uma sociedade de
risco em que a explosão evolutiva da ciência, não é acompanhada por uma
compreensão segura acerca das consequências nocivas de sua utilização
massificada. Compreendendo a liberação e comercialização dos organismos
geneticamente modificados, onde embora o avanço possa trazer benefícios à
sociedade, ainda traz a dúvida de seus reais efeitos a longo prazo. O desafio
do presente trabalho é apresentar impactos dos ogms na agricultura, estrutura
agrária e soberania alimentar, para o despertar da consciência quanto a
incertezas decorrente desta nova tecnologia.
2 DESENVOLVIMENTO
Os organismos geneticamente modificados surgem com a promessa de
benefícios para humanidade como o combate à fome, às doenças e à
desertificação. Contíguo com os benefícios surgem os riscos quanto à
introdução dos OGM no meio ambiente, uma vez que são desconhecidos os
seus efeitos sobre a biodiversidade e no ambiente. 2
Embora, a biotecnologia seja reconhecida como uma nova tecnologia
que possibilita grandes avanços para a humanidade, ainda é incerta quanto
aos resultados. Portanto, é imprescindível a avaliação dos riscos dentro do
1
Acadêmica de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail:
natachabublitz@gmail.com
2
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito ambiental e transgênico: princípios fundamentais
da biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
935
contexto geral, e não somente por uma vertente, evitando que os resultados
sejam prejudiciais para a sociedade.
Os impactos negativos dos OGM podem ser de âmbito ecológico, devido
a redução da biodiversidade e a contaminação 3 do solo ou de aquíferos, bem
como no âmbito sanitário, em razão do surgimento de efeitos alérgicos e
difusões de novas infecções. 4 No entanto, cabe ressaltar que tantos os
impactos negativos como positivos não são unânimes na doutrina como em
outros campos da sociedade.
Diferente de João Carlos de Carvalho Rocha que caracteriza as alergias
e difusões de novas infecções como uma possibilidade de impacto negativo,
segundo Denise Hammerschmidt a utilização dos OGM na produção de
fármacos elimina os riscos de alergias e de infecções. Neste sentido a autora
afirma que as aplicações dos OGM são mais puras e seguras por serem
provenientes de um gene humano, assim eliminando os riscos de alergias e
rejeições, sustenta ainda, que por serem provenientes de bactérias cultivadas
em condições idôneas é eliminado o risco de infecções. 5
Entretanto, Denise Hammerschmidt também denomina os efeitos
alérgicos e de alteração do metabolismo humano como um potencial risco
decorrente dos organismos geneticamente modificados. Aduz que a toxidade e
alergicidade dos alimentos transgênicos podem ser causadas por um novo
gene acrescentado, que seja em si mesmo tóxico ou alérgico, ou ser derivada
dos efeitos provocados na inserção no genoma receptor. 6
Além dos potencias riscos a saúde humana, não deve ser olvidado “os
efeitos relativos à liberdade de escolha do consumidor, a dependência
tecnológica, e ao aumento das desigualdades no comércio internacional e nas
7
relações Norte Sul.”
3
A contaminação genética é causada por pólen transgênico que se transferem para espécies
não alvo. (GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas
transgênicas: as evidências e as incertezas. Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto
Alegre, v. 2, n. 3, p. 30-41, jul/set, 2001.)
4
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito Ambiental e Transgênico: Princípios
Fundamentais da Biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
5
HAMMERSCHMIDT, Denise. Transgênicos e Direito Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
6
HAMMERSCHMIDT, Denise. Transgênicos e Direito Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
7
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito Ambiental e Transgênico: Princípios
Fundamentais da Biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. p. 127.
936
8
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas
transgênicas: as evidências e as incertezas. Agroecol. e Desenv. Rur. Sustent., Porto
Alegre, v. 2, n. 3, p. 30-41, jul/set, 2001.
9
HAMMERSCHMIDT, Denise. Transgênicos e Direito Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
10
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito Ambiental e Transgênico: Princípios
Fundamentais da Biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
937
11
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In: LEITE,
José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as Novas Tecnologias
na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007.
p.45-70. p. 57.
12
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In:
LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as
Novas Tecnologias na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 45-70. p. 57-58.
13
GREENPEACE. Transgênicos são inseguros e têm que ser banidos. Disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/transgenicos/entrevistas/transg-nicos-s-o-inseguros-e>.
Acesso em: 11 maio 2009.
938
14
GREENPEACE. Transgênicos são inseguros e têm que ser banidos. Disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/transgenicos/entrevistas/transg-nicos-s-o-inseguros-e>.
Acesso em: 11 maio 2009.
15
ROCHA, João Carlos de Carvalho. Direito Ambiental e Transgênico: Princípios
Fundamentais da Biossegurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
16
GREENPEACE. Transgênicos são inseguros e têm que ser banidos. Disponível em:
<http://www.greenpeace.org/brasil/transgenicos/entrevistas/transg-nicos-s-o-inseguros-e>.
Acesso em: 11 maio 2009.
939
17
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In:
LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as
Novas Tecnologias na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 45-70.
18
HAMMERSCHMIDT, Denise. Transgênicos e Direito Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
19
SILVA, Lígia Dutra. A Biotecnologia Agrícola e o Discurso da Superação da Pobreza. In:
LEITE, José Rubens Morato; FAGÚNDEZ, Paulo Roney Ávila (Org.). Biossegurança e as
Novas Tecnologias na Sociedade de Risco: aspectos jurídicos, técnicos e sociais.
Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 45-70 p. 59.
20
HAMMERSCHMIDT, Denise. Transgênicos e Direito Penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2006.
21
GUERRA, Miguel Pedro; NODARI, Rubens Onofre. Impactos ambientais das plantas
transgênicas: as evidências e as incertezas. Agroecol. E Desenv. Rur. Sustent., Porto Alegre,
v. 2, n. 3, p. 30-41, jul/set, 2001. p. 35.
940
3 CONCLUSÃO
1. É papel fundamental do direito na proteção ambiental, sendo de suma
importância principalmente para controlar os avanços tecnológicos
desenfreados, que por vezes acarretam danos irreversíveis à natureza.
2. Conforme o artigo 225 §1º, inciso V, é evidente a importância do
Estudo de Impacto Ambiental para as atividades que possam causar
degradação ao meio ambiente, bem como a análise dos riscos para evitar
danos à saúde humana.
3. Embora o princípio da precaução conste em documentos
internacionais, bem como na legislação pátria a sua imperatividade jurídica
ainda é colocada em xeque. Sendo necessário o surgimento de uma nova
consciência mundial que passa a considerar o homem parte do meio ambiente
e não mais externo. Devendo serem analisadas todas as vertentes para
descobrir a solução mais coerente para os organismos geneticamente
modificados, desta maneira visando o bem coletivo.
Nascendo assim, a preocupação com a garantia do meio ambiente e a
saúde do homem para as presentes e futuras gerações, junto com uma
mudança de paradigma a nível global.
25
LISBOA, Maijane. Transgênicos no Brasil: O Descarte da Opinião Pública. In: DERANI.
Cristiane. (Org.). Transgênicos no Brasil e Biossegurança. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris Ed, 2005. p. 55-78. p. 78.
942
REFERÊNCIAS
Resumo: A presente tese aborda o conflito entre o direito à moradia e o direito ambiental na
Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Após uma breve abordagem dos
direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988, analisa a presença das comunidades
tradicionais nas áreas protegidas. Ao final, propõe um modo de compatibilização dos direitos.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente trabalho trata do conflito existente entre os direitos sociais e
ambientais, dentro das áreas protegidas, qual seja a preservação do meio
ambiente em conflito com o direito à moradia das populações tradicionais que
habitam essas áreas. Para isso, analisaremos, em um primeiro momento, como
são tratados os direitos fundamentais na nova Constituição Federal de 1988,
em especial os dois direitos, à moradia e ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, e qual a relevância dada a esses princípios no patamar
constitucional.
Em um segundo momento, estudaremos os conflitos entre direitos
fundamentais para a compreensão da questão estudada, já buscando algumas
formas de resolução dos conflitos em geral. Assim, chegamos à análise da Lei
do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, em que vamos estudar as
suas características gerais e posteriormente faremos uma breve analise das
suas categorias.
Em um terceiro momento, verificaremos a presença das comunidades
tradicionais nas áreas protegidas, trazendo à discussão qual o valor dos seus
conhecimentos e práticas para a preservação do meio ambiente. Por fim,
∗
Este trabalho foi realizado com a orientação da Professora Me. Caroline Vieira Ruschel.
1
Estudante da graduação de direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Endereço eletrônico: nataliaschul@hotmail.com.
944
2
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 9. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2007. p. 80.
3
Ibidem, p . 76.
945
4
SOCIOAMBIENTAL, Instituto. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: Editores Gerais Beto
Ricardo e Maura Campanili, 2007. p. 69.
946
5
OSÓRIO, Letícia Marques. Direito à moradia adequada na América Latina. In: ALFONSIN, Betânia;
FERNANDES, Edésio (orgs.). Direito à Moradia e Segurança da Posse no Estatuto da Cidade: Diretrizes,
Instrumentos e Processos de Gestão. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2004. p. 18.
6
OSÓRIO, Letícia Marques. Direito à moradia adequada na América Latina. In: ALFONSIN, Betânia;
FERNANDES, Edésio (orgs.). Direito à Moradia e Segurança da Posse no Estatuto da Cidade: Diretrizes,
Instrumentos e Processos de Gestão. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2004. p. 31.
947
7
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Aspectos de teoria geral dos direitos fundamentais. In: MENDES,
Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Hermenêutica
Constitucional e Direitos Fundamentais. 1. ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2002. p. 182.
948
8
OST, François. A Natureza à Margem da Lei: a ecologia a prova do direito. Lisboa: Instituto Piaget,
1995. p. 09.
9
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e Novos Direitos: Proteção jurídica à diversidade biológica e
cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005. p. 34.
949
10
SANTILLI, Juliana. Socioambientalismo e Novos Direitos: Proteção jurídica à diversidade biológica e
cultural. São Paulo: Peirópolis, 2005. p . 155.
11
ALIER, Joan Martínez. Da Economia Ecológica ao Ecologismo Popular. Blumenau: Editora da FURB,
1998. p. 37.
12
ALIER, Joan Martínez. Da Economia Ecológica ao Ecologismo Popular. Blumenau: Editora da FURB,
1998. p. 31.
956
los, de modo a que um não impeça a existência do outro, a partir de uma visão
do meio ambiente, englobando o homem e suas culturas.
Conforme ressalta a autora Juliana Santilli, esses novos direitos
socioambientais impõem a superação de conceitos velhos, como o direito de
propriedade, absoluto e ilimitado, impõem a superação do paradigma
individualista e economicista, rompendo com as dogmáticas jurídicas
tradicionais, contaminadas pelo apego ao excessivo formalismo, pela falsa
neutralidade política e científica e pela excessiva ênfase nos direitos
individuais, de conteúdo patrimonial e contratualista, de inspiração liberal.
Assim, esses novos direitos conquistados têm natureza emancipatória,
pluralista, coletiva e indivisível. 16
Para que essas idéias socioambientalistas, nas quais o homem faz parte
do meio ambiente e com ele convive sem o destruir, é necessária uma
mudança de paradigma. Mudança nos valores da sociedade, no modo de
pensar e se organizar socialmente, de modo que se comece a pensar no
coletivo e não só no individual, a valorar os direitos difusos e sociais, além dos
patrimoniais. Está claro que o sistema anterior não funciona, a natureza está
sendo destruída e a exclusão social chegou a um nível de miséria que não se
pode mais ignorar; mostra-se urgente a mudança no paradigma, para dar
eficácia a esses novos direitos.
4 CONCLUSÕES
A partir dos estudos feitos, retiram-se as seguintes conclusões:
1 INTRODUÇÃO
O dano ao meio ambiente está cada vez mais freqüente em nossa
sociedade global, que pode ocorrer tanto em âmbito nacional quanto
internacional. O dano transfronteiriço é aquele em que há o envolvimento de
dois Estados ou mais, sendo um Estado causador do dano e o outro ou demais
Estados os atingidos pela conduta negligente ou dolosa do primeiro.
O objetivo desse trabalho é abordar dois aspectos do dano ambiental
transfronteira, o primeiro quanto à possibilidade de dano ambiental na fronteira
de dois Estados delimitada com águas fluviais, e o segundo quando o dano
pode ocorrer em águas subterrâneas transfronteiriças. Desta forma,
utilizaremos dois exemplos para ilustrar essas hipóteses, na primeira “o caso
das papeleras” onde já existe discussão sobre a gestão dos recursos hídricos,
levantando a possibilidade de um dano acontecer e, para segunda hipótese, o
aqüífero guarani, procurando abordar a legislação para esse caso e algumas
considerações atuais sobre o aqüífero.
1
Mestranda em Direito- UFSC, Especialista em Comércio Exterior e Negócios Internacionais - FGV e
Direito Internacional Público, Privado e da Integração - UFRGS. Professora e pesquisadora da
Universidade de Passo Fundo- UPF. E-mail: pgnoschang@hotmail.com.
960
2
SOARES, Guido Fernando Silva. Direito Internacional do Meio Ambiente: emergência, obrigações e
responsabilidades. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.575
3
A demanda foi protocolada na CIJ em 04 de maio de 2006. O Estatuto do Rio Uruguai prevê a jurisdição
obrigatória da CIJ no art. 60.
961
4
CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Pulp Mills on the River Uruguay (Argentina v.
Uruguay). Disponível em: < http://www.icj-cij.org >. Acesso em: 19 de mai. 2009
5
FRANCIONI, Francesco. International co-operation for de Protection of the Environment: The
Procedural Dimension. Environmental protection and international law. I. Title. II London: Graham &
Trotman/Martin Nijhoff, 1991. p. 205
6
FRANCIONI, Francesco. International co-operation for de Protection of the Environment: The
Procedural Dimension. Environmental protection and international law. p.220
962
7
HANDL, Güther. Environmental Security and Global Change: The Challenge to Internacional Law.
Environmental protection and international law. I. Title. II London: Graham & Trotman/Martin
Nijhoff, 1991. p. 80
963
do Mercosul. Desta forma, a gestão dessas águas é realizada por cada país,
tornando ainda mais provável a possibilidade de contaminação e o dano
ambiental.
No Brasil as águas subterrâneas pertencem, segundo a Constituição
Federal, à União que não fiscaliza com afinco sua utilização, até porque a
Carta Magna não prevê expressamente, as águas subterrâneas. A organização
político-administrativa é exercida nas esferas nacional, estadual e municipal,
cada uma com sua autonomia e independência. Em 1997 foi promulgada a Lei
da Política Nacional de Recursos Hídricos, demonstrando a preocupação com
as próximas gerações.
No Brasil a quantidade de poços artesianos perfurados no interior das
propriedades é imensa e a maioria o faz sem o devido cuidado, para não haver
futuro dano ambiental. Mas isso também depende de uma consciência do
individuo em preocupar-se com o meio ambiente, sendo raros os casos em que
isso ocorre.
Estudos demonstram que o Aqüífero Guarani não se encontra
contaminado. Ainda, eis que se estima que 15 milhões de pessoas vivam em
cima do Aqüífero Guarani, expondo-o ao risco de contaminação através do uso
de pesticidas e da construção de poços artesianos. Dada a baixíssima
velocidade de fluxo das águas do aqüífero, acredita-se que uma eventual
poluição transfronteiriça leve anos ou até mesmo décadas para se concretizar.
De qualquer forma, deve-se ter em mente que a despoluição de um aqüífero é
um processo extremamente complicado. 8
A preocupação da sociedade internacional em regulamentar o uso das
águas subterrâneas é recente, visto que o conhecimento sobre elas era pouco
explorado e disso decorria também a falta de informação se eram fronteiriças
ou não. A iniciativa em regulamentar da Comissão de Direito Internacional da
ONU – (CDI), durou mais de duas décadas e “[...] consiste no único tratado
internacional (embora ainda não em vigor) aplicável a águas subterrâneas. [...]
8
BENJAMIN, Antonio Herman; MARQUES, Claudia Lima; TINKER, Catherine. Symposium of
Waterbanks, Piggybanks, and Bankruptcy: Changing Directions in Water Law: VII. Transformative
Politics, Alternative Policy Regimes: The Water Giant Awakes: An Overview of Water Law in
Brazil. Texas Law Review, June, 2005, p. 2.185-2.244.
964
9
BENJAMIN, Antonio Herman; MARQUES, Claudia Lima; TINKER, Catherine. Symposium of
Waterbanks, Piggybanks, and Bankruptcy: Changing Directions in Water Law: VII. Transformative
Politics, Alternative Policy Regimes: The Water Giant Awakes: An Overview of Water Law in
Brazil. Texas Law Review, June, 2005, p. 2.185-2.244.
10
Segundo grande parte da doutrina, não há uma definição determinada para o que seja o soft law. Os
autores traduzem como direito “fluído”, ligado aos compromissos políticos internacionais firmados entre
os Estados, podendo ser reconhecido até mesmo na forma de gentlemen’s agreements. A efetividade
desses compromissos, por vezes, não tem um caráter impositivo nem aplicação direta ou exigibilidade de
cumprimento pelas partes
11
NASSER, Salem Hikmat. Soft Law e a transformação do Direito Internacional. Estudos de direito
internacional: anais do 2o. Congresso Brasileiro de Direito Internacional. Wagner Menezes (Org).
Curitiba: Juruá, 2004. p.253-258.
965
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
A gestão conjunta dos Estados para evitar a possibilidade de dano
ambiental é notável tanto em águas que estão na superfície quanto nas
subterrâneas. No entanto, são necessários dois requisitos para que isso ocorra,
a cooperação entre os Estados envolvidos, esquecer o lado econômico e
pensar em desenvolvimento sustentável para as próximas gerações e, a
elaboração de normas que também dependerá da vontade dos Estados para
confeccioná-las e cumpri-las primando sempre por um meio ambiente saudável
para todos.
12
BENJAMIN, Antonio Herman. A Proteção do Meio Ambiente nos países menos desenvolvidos: O caso
da América Latina. Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais. v.1, n 0, out-dez
.1995. p.83-105.
13
BRAVO, Alvaro A. Sánchez. La protección legislativa de las aguas subterrâneas em la Unión Europea.
Seqüência, n°56. jun. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2008. p.115-116
966
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo discute os aspectos que constituem e norteiam a
nanotecnologia e o mercado consumidor, demonstrando benefícios e impactos
sociais nas mais diversas áreas.
Destaca que a humanidade produz continuamente novos conhecimentos
científicos, com a intenção marcante de tentar melhorar seu bem-estar, mas
sempre com fulcro em conhecimento científico que seja economicamente
viável, principalmente na contemporaneidade.
Enfatiza algumas preocupações com as pessoas que serão diretamente
atingidas por esse “tsunami” tecnológico, pois a exemplo desse fenômeno
natural, o mercado encontra-se inundado de produtos que contenham
nanotecnolgia envolvidos, no entanto, a população encontra-se a margem
desse acontecimento. Dessa forma, indaga-se como amenizar tal efeito e
principalmente tornar pública a discussão, que ainda encontra-se no meio
acadêmico, em torno dos benefícios e precauções acerca dessa nova
tecnologia.
1
Pós-Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, Doutora em Direito pela
Universidade Federal do Paraná, professora no Departamento de Estudos Jurídicos da Unijuí e no
Departamento de Direito Público do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade de Caxias do
Sul e nos programas de Mestrado em Desenvolvimento Gestão e Cidadania da Unijuí e no Mestrado em
Direito da Universidade de Caxias do Sul, professora pesquisadora no CNPq.
2
Graduado em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) – Núcleo Universitário de Guaporé/RS,
Mestrando em Direito pela UCS, membro do Grupo de Pesquisa Direito, Meio Ambiente e
Desenvolvimento, certificado pela UCS e inserido no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq.
968
3
ROCHA, PÊPE, 2007, p. 35.
4
2005, p.13
5
2005, p.16
969
6
apud MARTINS, 2006, p. 148.
970
7
apud MARTINS, 2006, p35-41
8
GRUPO ETC, 2004, p. 120.
9
2004, p. 120.
971
10
GRUPO ETC, 2005, p. 79.
11
Apud MARTINS, 2006, p. 37.
972
5 NANOTECNOLOGIA E A MEDICINA
Como anteriormente foi citado, são impossíveis de calcular os benefícios
da nanotecnologia, principalmente na “nanomedicina”. Reportando algumas
referências na área da saúde, pode-se aduzir o aumento da qualidade de vida
e sua duração, através de nanosensores incorporados ao próprio organismo, e
viajando pelo organismo como se fossem vírus pelo sangue, poderão detectar
doenças antes que se expandam e combatê-las eficazmente. As drogas
deixariam de ser genéricas para assumirem fins específicos contra
enfermidades, de acordo com a composição genética individual, o sexo, a
idade, entre outras características. Com sensores artificiais a pessoa passará a
ter características biônicas, melhorando suas capacidades biológicas e
desenvolvendo outras.
As expectativas são, segundo o Grupo ETC 12, de poder desenhar
partículas e dispositivos em nanoescala, que interagem com materiais
biológicos de forma direta, eficiente e preciso. Com a vantagem de ter o seu
tamanho diminuto, com acesso a qualquer parte do organismo vivo, e no ser
humano inclusive, em áreas como células do cérebro, ou qualquer outra célula
em particular, que a tecnologia atual não tem acesso.
Ainda de acordo com o Grupo ETC 13, a nanotecnologia permite que a
indústria da saúde manipule as propriedades do envoltório exterior de uma
cápsula, a fim de controlar o momento exato da liberação de substâncias
ativas. Essas formas de liberação controlada são altamente valorizadas na
medicina, pois proporcionam que os fármacos sejam absorvidos mais
lentamente, em locais específicos do corpo. Exemplos de nano e
microcápsulas:
Liberação lenta, a cápsula libera sua carga lentamente por um período
mais prolongado (por exemplo, para a liberação lenta de uma substância no
corpo).
Liberação específica, o envoltório é projetado para se abrir quando um
receptor molecular liga-se a um químico específico (por exemplo, ao encontrar
um tumor ou proteína no corpo).
12
2006, p.15.
13
2006, p. 15.
973
14
GRUPO ETC, 2005, p. 109-110.
974
15
2008, p. 30.
16
VIDA e SAÚDE, 2009.
17
GRUPO ETC, 2006, p. 21-22.
18
2006, p. 183/190.
975
19
2005, p. 39.
976
20
2005, p. 48.
21
2006, p. 195-200.
22
2005, p. 59
977
23
GRUPO ETC, 2005, p. 63.
978
24
GRUPO ETC, 2005, p. 100.
25
DURÁN, MATTOSO E MORAES, 2006, p. 196.
979
26
2005, p. 78/79.
980
27
2005, p. 72.
28
2006, p. 199.
981
29
Apud MARTINS, 2006, p. 229.
982
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer deste artigo tratou-se da importância do estudo minucioso
da nanotecnologia nas mais diversas áreas, passando pelos seus possíveis
impactos sociais e precauções a serem exaustivamente estudadas e
publicamente expostas. Mas também restou claro que a humanidade sempre
está em movimento e dessa forma sempre haverá novas tecnologias a serem
estudadas.
983
BIBLIOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
O processo democrático no Brasil vivenciado pelo Brasil nas últimas 3
décadas, entre avanços e retrocessos, inegavelmente vem abrindo
oportunidades de participação popular na tentativa de garantir a seus cidadãos
a possibilidade de discutir assuntos relacionados a interesses meta-individuais,
incluindo temas ligados a questão ambiental, ou mesmo reivindicar seus
direitos seja contra seus concidadãos, pessoas jurídicas ou contra o próprio
Estado. Sendo a valorização da Política Local e a Descentralização tendências
irreversíveis, transferindo gradualmente atribuições e competências para os
Municípios, aumenta a responsabilidade deste ente federativo e sua gestão
pública. A fim de garantir a constante evolução do processo democrático cabe,
então, aos Poderes, Servidores e Agentes Públicos Municipais envidarem
esforços para que tornem-se claros à sociedade os procedimentos tomados por
estes e que estejam direta, ou mesmo indiretamente, ligados ao processo de
licenciamento ou autorizações urbanísticas/ambientais de atividades
potencialmente degradadoras. Estas possibilidades são, nas palavras de
Bodnar (2007) 4, “formalmente garantidas ao cidadão” e representam
mecanismos de transparência administrativa, controle social, plena efetividade
do conceito de “função social da propriedade”, além de fomentar a percepção
1
Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade
Federal de Santa Catarina – EGC/UFSC
2
Professor do Centro de Pós-Graduação em Direito da UFSC
3
Estudante de Direito da UNISUL
4
BODNAR, Zenildo. Audiência Judicial Participativa como Instrumento de acesso à Justiça Ambiental.
in Anais do 12º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo, 2007.
986
5
MASSON, Ivanete. A Gestão Ambiental Participativa: Possibilidades e Limites de um Processo de
Múltiplas Relações. Dissertação de Mestrado. Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas,
Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004
6
CECCA – Centro de Estudos Cultura e Cidadania. Uma cidade numa ilha: relatório sobre os problemas
sócio-ambientais da Ilha de Santa Catarina. Ed. Insular. Florianópolis, 1996
7
“Tem sido aceita pela doutrina constitucional a existência de um principio de proibição do retrocesso no
que pertine aos direitos fundamentais que, apesar de não ser expresso, decorre do sistema jurídico-
constitucional. Este princípio vincula o legislador infraconstitucional, impedindo que a norma
infraconstitucional possa retrogredir em matéria de direitos fundamentais declarados pelo poder
constituinte” - SANTOS, Janaina de C. dos S. e FICHTNER, Cláudio S. A Aplicação do Princípio da
Proibição do Retrocesso na Tutela Ambiental in Anais do 12º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
987
8
BENJAMIM, Antônio Herman. Constitucionalização do Ambiente e Ecologização da Constituição
Brasileira in Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. José Joaquim Gomes canotilho, José Rubens
Morato Leite (Orgs.). São Paulo: Saraiva, 2007.
988
11
MONEDIAIRE, Gérard. A Propos de la Dècision Publique en Matière Environnementale in Les
Transformations de la Reglémentation Juridique, v5, Paris, Recherches et Travaux du RED&S à la
Maison des Sciences de L’Homme/ Libraire Génerale de Droit et Jurisprudence, 1998.
12
Notas de aula
13
DE GIORGI, Raffaele. Problemas da Governabilidade Democrática in Direito, Democracia e Risco:
Vínculos com o Futuro. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998
990
14
LEITE, José Rubens Morato, AYALA, Patrick. Transdisciplinariedade e a Proteção Jurídico-
Ambiental em Sociedades de Risco: Direito, Ciência e Participação in Direito Ambiental
Contemporâneo. LEITE, José Rubens Morato e Bello, Ney de Barros Filho (Orgs.). São Paulo: Manole,
2004.
15
ALVARENGA, Luciano José. Participação Cidadã e Justiça Ambiental: um Estudo sobre as Tensões
entre Regulação e Emancipação na Distribuição dos Riscos Ecológicos no Espaço Social in Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Direito Ambiental. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.
991
16
MELLO, Celso A. B. de. Curso de Direito Administrativo. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006.
17
LEITE, José Rubens Morato. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. Florianópolis: UFSC, 2002
18
ALVARENGA, Luciano José. Participação Cidadã e Justiça Ambiental: um Estudo sobre as Tensões
entre Regulação e Emancipação na Distribuição dos Riscos Ecológicos no Espaço Social in Anais do 10º
Congresso Brasileiro de Direito Ambiental. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.
992
19
CAMPOMAR, Marcos Cortez. Do uso de “estudo de caso” em pesquisas para dissertações e teses em
Administração. Revista de Administração v. 26. São Paulo: FEA, 1991.
20
Yin, Robert. Case Study research: design and methods. EUA: Sage Publications, 1990.
993
21
A chamada Operação Moeda Verde foi deflagrada em maio de 2007 pela Polícia Federal, por
determinação da Justiça Federal, para combater uma quadrilha de que praticava crimes ambientais,
incluindo venda de licença para construções em Áreas de Preservação Permanente em Florianópolis.
Dentre os investigados estavam funcionários do primeiro escalão de órgãos ligados ao Executivo
Municipal de Florianópolis, incluindo a SUSP - Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos, IPUF -
Instituto de Planejamento Urbano e FLORAM - Órgão Municipal de Meio Ambiente.
995
22
BODNAR, Zenildo. Audiência Judicial Participativa como Instrumento de acesso à Justiça Ambiental.
in Anais do 12º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de
996
4 CONCLUSÕES ARTICULADAS
1 INTRODUÇÃO
A partir do desastre da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, a
sociedade se viu às voltas com um mundo que oferece mais riscos à medida
que se moderniza. O projeto de uma sociedade controladora dos efeitos
colaterais oriundos do processo de industrialização é frustrado na Segunda
Modernidade. Foi a partir desta constatação, extraída do acidente em
Chernobyl, que o sociólogo alemão Ulrich Beck elevou o risco para o centro da
teoria social. Com efeito, em sua construção teórica, Beck considera o risco
como um elemento-chave para o entendimento do mundo contemporâneo.
Além de transformações políticas, sociais e econômicas, os riscos
engendraram mudanças jurídicas. Os instrumentos tradicionais de imputação
de responsabilidade, por exemplo, foram modificados substancialmente com
vistas a acompanhar as novas propriedades dos riscos oriundos do processo
de radicalização da modernização. Os princípios da precaução e da prevenção
tornaram-se vetores interpretativos imprescindíveis para a aplicação da
legislação ambiental. A inclusão dos leigos no debate acerca dos riscos
também foi ampliada através da possibilidade de participação em audiências
públicas, conselhos e comitês e enquanto legitimados para propor ação
popular.
Em que pese esta mudança ontológica por que passou o Direito
Ambiental – do dano ao risco – ainda existem riscos desconhecidos oriundos
de novas tecnologias que permanecem à sua margem. O presente artigo tem
como escopo analisar os riscos advindos da nanotecnologia e as
conseqüências que sua permanência à margem do debate jurídico traz para os
fundamentos do Direito Ambiental contemporâneo.
1
Acadêmico do décimo período do Curso de Direito da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco
(UNDB), em São Luís (MA). e-mail: roberto.almeida@msn.com
1003
2 MODERNIDADE E RISCO
A modernização impõe o confrontamento das premissas fundamentais
do sistema social e político da sociedade industrial. Esse choque não se
constitui uma revolução ou crise. Em verdade, o sucesso da modernização
inicia um processo de destruição criativa da civilização industrial, o que Beck
denomina de modernização reflexiva, que provoca uma dissolução das
premissas e dos contornos da sociedade, abrindo sendas uma nova
modernidade.
Por reflexividade deve-se entender uma autoconfrontação com os efeitos
da sociedade de risco. Isto se deve pelo fato de que a transição da sociedade
industrial para o período de risco da modernidade ocorre de maneira
despercebida, não constituindo uma opção que se possa escolher ou rejeitar
no decorrer dos processos de disputas políticas. Assim, diante dessa transição
autônoma, despercebida e indesejada, são verificados efeitos da sociedade de
risco que não são assimilados pelos padrões institucionais da sociedade
industrial. Nesta, os conflitos acerca da distribuição de bens (empregos, renda,
seguridade social) constituíam um tema central. Na sociedade do risco, ao
contrário, surgem conflitos de responsabilidade distributiva, isto é, conflitos
acerca da distribuição, controle, prevenção e legitimação dos riscos
decorrentes do avanço tecnológico e científico. 2
O processo de modernização torna-se um problema na medida em que
as instabilidades e riscos são oriundos das novidades tecnológicas e
organizacionais introduzidas de forma não refletida na sociedade. Começam a
tomar corpo, na sociedade de risco, as ameaças produzidas no desenvolver da
sociedade industrial, levando ao surgimento da necessidade de redefinir os
padrões relativos à responsabilidade, segurança, controle e distribuição das
conseqüências dos danos. Nesta nova época, devem ser levadas em conta
também as ameaças potenciais, que escapam à percepção sensorial e não
podem ser determinadas pela ciência.
2
BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: BECK,
Ulrich; GIDDENS, Anthony; LASH, Scott. Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.
p. 17.
1004
3
Cf. BECK, Ulrich. La Sociedad del Riesgo: hacia una nueva modernidad. Ed. Paidós Ibérica:
Barcelona, 1998.
4
BECK, Ulrich. Liberdade ou capitalismo: Ulrich Beck conversa com Johannes Willms. Trad. Luiz
Antônio Oliveira de Araujo. São Paulo: Editora UNESP, 2003, p. 115.
5
LEITE, José Rubens Morato, AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. 2.
ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 13.
1005
6
THE ROYAL SOCIETY AND THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING. Nanoscience and
nanotechnologies: opportunities and uncertainties. Plymouth: Latimer Trend Ltd., 2004. p. 5. Disponível
em: http://www.nanotec.org.uk/finalReport.htm. Acesso em: 25/03/2009.
7
SWISS REINSURANCE COMPANY. Nanotechnology: small matter, many unknowns. Zurich:
SwissRe, 2004. p. 5. Disponível em:
http://www.swissre.com/INTERNET/pwsfilpr.nsf/vwFilebyIDKEYLu/ULUR-
5YNGET/$FILE/Publ04_Nanotech_en.pdf. Acesso em: 25/03/2009.
1006
8
Ibid., p. 13.
9
Ibid., p. 12.
10
THE ROYAL SOCIETY AND THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING, 2004, op. cit., p. 7.
11
GREENPEACE ENVIRONMENTAL TRUST. Future Technologies, Today’s Choices:
Nanotechnology, Artificial Intelligence and Robotics; A technical, political and institutional map of
emerging technologies. Londres: Greenpeace Environmental Trust, 2003, p. 28. Disponível em
http://www.greenpeace.org.uk/MultimediaFiles/Live/FullReport/5886.pdf. Acesso em: 25/03/2009.
1007
12
THE ROYAL SOCIETY AND THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING, 2004, op. cit., p. 10.
13
GREENPEACE ENVIRONMENTAL TRUST, 2003, op. cit., p. 22.
14
THE ROYAL SOCIETY AND THE ROYAL ACADEMY OF ENGINEERING, 2004, op. cit., p. 11.
15
GREENPEACE ENVIRONMENTAL TRUST, 2003, op. cit., p. 30.
1008
16
SWISS REINSURANCE COMPANY, 2004, op. cit., p. 16.
17
Idem.
1009
18
Ibid., p. 20.
19
Ibid., p. 22.
1010
20
Ibid., p. 29.
21
Ibid., p. 30.
1011
22
SANTOS JUNIOR, J. L.; SANTOS, W. L. P.. Nanotecnologia e riscos ambientais: uma reflexão
sobre a ingerência das ciências humanas sociais na construção de um debate crítico. In: Anais do IV
Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ambiente e Sociedade. Brasília-DF:
Anppas, 2008, p. 6.
23
Ibid., p. 8.
1012
24
LEITE e AYALA, 2004, op. cit., p. 202-203.
25
Ibid., p. 204.
26
BENJAMIN, Antonio Herman de V. e SICOLI, José Carlos Meloni. (Orgs.). Anais do 5º Congresso
Internacional de Direito Ambiental, de 4 a 7 de junho em 2001. O futuro do controle da poluição e da
implementação ambiental. São Paulo: IMESP, 2001, p. 61.
27
LEITE e AYALA, 2004, op. cit., p. 209.
1013
28
PORTANOVA, Rogério. Direitos Humanos e Meio Ambiente: Uma Revolução de Paradigma para o
século XXI. In: LEITE, José Rubens Morato, BELLO FILHO, Ney de Barros. (Orgs.). Direito
Ambiental Contemporâneo. Barueri: Manole, 2004, p. 622-623.
29
STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Responsabilidade civil ambiental: as dimensões do dano
ambiental no direito brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 142.
30
GIORGI, Raffaele de. Direito, Democracia e Risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor, 1998, p. 158.
1014
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
1. O processo de modernização reflexiva, além de engendrar mudanças
políticas e sociais, tem como conseqüência a necessidade de adequação dos
instrumentos jurídicos ortodoxos à nova realidade dos riscos ambientais.
2. A nanotecnologia, a despeito da potencialidade de causar danos à
saúde humana ou ao meio ambiente, ainda é pouco debatida não é objeto de
lei federal ou regulamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, o que denota
a invisibilidade do tema para o discurso jurídico.
3. A permanência da nanotecnologia à margem do debate jurídico e o
seu não reconhecimento enquanto risco demonstram a obsolescência dos
instrumentos de proteção ora estabelecidos, impondo, ao Direito, a
necessidade de revisão dos seus paradigmas epistemológicos de racionalidade
com vistas a uma nova segurança jurídica e social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
31
LEMOS, Marco Antônio da Silva. O Direito como regulador da sociedade de riscos. In: VARELLA,
Marcelo Dias (Org.). Direito, Sociedade e Riscos: a sociedade contemporânea vista a partir da idéia de
risco: Rede Latino-Americana e Européia sobre Governo dos Riscos. Brasília: UniCEUB, UNITAR,
2006, p. 328.
1015
Resumo:O presente trabalho percorre três caminhos complementares, tendo, sempre o meio
ambiente como pano de fundo: de início o estado de risco, focado no risco ambiental, que é
algo inerente às sociedades modernas; como tentativa de diminuir os riscos ou colocá-los sob
uma margem permitida, a importância de mecanismos estatais para a sua prevenção e
previsão; por fim, ante a tentativa de otimização da eficácia de diversos mecanismos estatais
para controlar o estado de risco, somado à importância da participação efetiva da sociedade
para o maior controle, versa sobre o Estado de direito ambiental.
1 INTRODUÇÃO
Pretender falar sobre o meio ambiente hodiernamente não é uma
questão meramente jurídica. A necessidade de um estudo em consonância
com as demais ciências do conhecimento se faz necessário para entender
esse todo complexo ambiental, sobretudo quando em crise. De modo que a
análise técnica e dogmática não se demonstra suficiente e requer a análise sob
a ótica multidisciplinar do risco, importado das demais ciências do
conhecimento.
Depois de reconhecido o objeto, no entanto, se faz necessário o máximo
empenho jurídico para a preservação ambiental, por se tratar de um direito
fundamental indispensável à vida. Entretanto, devido à complexidade inerente
ao Estado de Risco, é necessária a mobilização social, científica e jurídica para
a sua consecução, de modo a modificar paradigmas e a amplitude desses
conceitos. Da crescente mobilização somada ao profundo respeito aos valores
ético-ambientais, eis que surge, na teoria política, a idéia do Estado de Direito
Ambiental.
1
Acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Uberlândia; bolsista da FAPEMIG sob
orientação do professor Doutor Edihermes Marques Coelho. e-mail: ruanespindolaferreira@yahoo.com.br
1018
2 ESTADO DE RISCO
Da obsolescência da sociedade industrial, apontamos duas
características fundamentais: I - de um lado a modernização 2 caracterizada
como um processo de inovação autônoma, II - de outro, a emergência do
estado de risco 3. Ambos os conceitos são as duas faces da pós-modernidade.
A sociedade de risco, objeto mais pormenorizadamente debatido neste artigo,
representa “a tomada da consciência do esgotamento do modelo de produção,
sendo esta marcada pelo risco permanente de catástrofes” 4.
O risco é algo decorrente, portanto, da própria sociedade, inerente a ela.
Noutras palavras, é a “[...] expressão característica das sociedades que se
organizam sob a ênfase da inovação, da mudança e da ousadia” 5, ou seja, das
sociedades que buscam evoluir social, jurídica e economicamente. Por ser
inerente, no entanto, não quer dizer que não se deve preocupar, pois, além da
sua complexidade, o risco, também, carrega consigo o agravante da
imprevisibilidade.
O conceito de sociedade de risco designa um estágio da modernidade
em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas até então no caminho
da sociedade industrial. Isto [...] [leva à] questão de redeterminar padrões [...]
atingidos até aquele momento, levando em conta as ameaças potenciais.
Entretanto, o problema que aqui se coloca é o fato de estes últimos não
somente escaparem à percepção sensorial e excederem à nossa imaginação,
mas também não poderem ser determinados pela ciência. A definição do
perigo é sempre uma construção cognitiva e social. Por isso, as sociedades
modernas são confrontadas com as bases e com os limites do seu próprio
2
Modernização, nesse ponto, traz em seu bojo a idéia de modernização reflexiva, que “significa a
possibilidade de uma (auto)destruição criativa para toda uma era: aquela sociedade industrial. O ‘sujeito’
dessa destruição criativa não é a revolução, não é a crise, mas a vitória da modernização ocidental.”
GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Modernização Reflexiva: política, tradição e estética
na ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997. p. 12.
3
Ibidem. p. 15.
4
LEITE, José Rubens Morato . In: Sociedade de Risco e Estado. CANOTILHO, José Joaquim Gomes;
LEITE, José Rubens Morato (Orgs). Direito constitucional ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva,
2007. p. 131
5
GIDDENS, Anthony. Apud: LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 132.
1019
modelo até o grau exato em que eles se modificam, não refletem sobre seus
6
efeitos e dão continuidade a uma política muito parecida.
Não obstante essa imprevisibilidade dos riscos que permeiam a
sociedade, José Rubens Morato Leite 7, com apoiado em Ulrich Beck, distingue
duas formas de riscos ecológicos possíveis, que o Estado busca atuar, de
forma paliativa, são elas: I- Risco concreto ou parcial (visível e previsível
pelo conhecimento humano); II - Risco abstrato (invisível e imprevisível pelo
conhecimento humano). Referente a este último, se percebe que, mesmo com
a sua invisibilidade e imprevisibilidade, o risco existe via verossimilhança,
justificando, assim, a necessidade de atuação positiva do poder público para a
tentativa de determinar o indeterminado.
É justamente nessa possibilidade, embora defeituosa, que deve o direito,
também, atuar no sentido de melhorar e fiscalizar as políticas públicas. No
escopo de otimizar a previsibilidade tanto dos riscos concretos quanto
abstratos, o Estado agirá de acordo com o princípio da eficiência 8 que lhe é
inerente.
Embora a necessária intervenção estatal, Ulrich Beck nos atenta ao fato
de que:
Pode-se demonstrar que não somente as formas e medidas
organizacionais, mas também os princípios e categorias éticos e legais, [...] não
são adequadas para compreender ou legitimar este retorno da incerteza e da
falta de controle. 9
De modo que o ordenamento jurídico bem como o uso de medidas
políticas para tanto não são considerados suficientes. Entretanto, para outra
corrente, o uso dessas ferramentas para a consecução desse objetivo
fundamental à manutenção da ordem deve ser feito de modo que “os
processos de análise, avaliação e decisão sobre risco têm sido continuamente
transferidos para agências executivas, que assumem essa competência
6
GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Op. cit. p. 17.
7
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 133
8
Nesse sentido, Cf. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de
Janeiro: Lumen & Juris, 2009. p. 27-30
9
GIDDENS, Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Op. Cit. p. 22.
1020
10
MAURÍCIO JÚNIOR, Alceu. O Estado de risco e a burocratização do Espaço democrático.
Disponível em: < http://estadoderisco.org/artigos/> Acesso em: 01/05/2009
11
PEÑA, Francisco Garrido. La ecologia política como política Del tiempo. Granada: Comares, 1996.
p. 329.
1021
12
MAURÍCIO JÚNIOR, Alceu. Op. Cit.
13
O termo “Estado” aqui deve ser visto sob o enfoque mais amplo possível, de modo que se refere tanto
ao Estado independente, quanto a comunidades menores e, inclusive, a ordem internacional.
1022
mais amplo, uma vez que o meio ambiente é um sistema, e, por assim ser, a
modificação de uma pequena parte carrega efeitos a outras maiores e ao todo
ecológico, e II – a ameaça à vida é direta, uma vez que a preservação ao meio
ambiente, por se tratar de um direito fundamental à vida, é diretamente
relacionado à preservação da espécie humana.
Há de se frisar, ademais, que a presença do terrorismo ecológico é
conseqüência direta da ausência de políticas públicas eficientes e do ineficaz
jogo político existente para a manutenção da ordem entre grupos que adotam
política radical. Sempre, para diferenciar, com o objeto focado no meio
ambiente.
14
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 132
1023
15
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. Cit., p. 18
16
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008. p. 85-144.
17
CANOTILHO. José Joaquim Gomes. Apud: LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 154
18
ALEXY, Robert. Op. Cit. p. 450
19
Ibidem. p. 450
20
Ibidem. p. 451
1024
Para Juarez Freitas, por seu turno, “a diferença reside apenas no grau
estimado de probabilidade da ocorrência do dano irreversível ou de difícil
24
reversibilidade (certeza versus verossimilhança).”
A importância dos princípios da prevenção e da precaução se avulta
quando, frente aos riscos previsíveis, são utilizados pelo poder público como
mecanismos para evitá-los, ou seja, são institutos estatais fundamentados
constitucionalmente com o escopo de assegurar confiança ao ordenamento
jurídico decorrente da incerteza frente à imprevisão inerente ao Estado de
risco. Em assim sendo, são instrumentos extremamente importantes para
proteger a segurança jurídica e manter o Estado de Direito.
Ademais, nas sociedades modernas, consubstanciada pela sociedade
de risco, “nada passou a ser mais importante do que a previsão e
monitoramento, até mesmo para que se torne possível uma aplicação dos
instrumentos de prevenção e de controle proporcionados pela política e pelo
direito.” 25 Decorrente disso, o ator social que garantirá a sua execução, uma
vez que o direito ambiental está incluído no ramo de direito difuso, será a
coletividade em consonância com o poder público. Em outras palavras, as
21
FREITAS, Juarez. Princípio da precaução e o direito fundamental à boa administração pública. In:
CARLIN, Volnei Ivo (org.) Grandes Temas de Direito Administrativo: Homenagem ao Professor
Paulo Henrique Blasi. Florianópolis: Conceito Editorial Millennium, 2.009. p. 450
22
FREITAS, Juarez. Op. Cit. p. 451
23
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p.172
24
FREITAS, Juarez. Op. Cit. p. 453
25
MOREIRA NETO, Diego de Figueiredo. O paradigma do resultado. In: CARLIN, Volnei Ivo (org.)
Op. Cit. p. 227.
1025
26
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p.158
27
Ibidem. p. 165
28
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 165
1026
4.1 CONCEITO
Cabe citar a definição de Capella acerca do Estado ambiental:
29
CAPELLA, Vicente Bellver. Apud: LEITE, José Rubens Morato; AYALÁ, Patrick de Araújo. Novas
tendências e possibilidades do direito ambiental no Brasil. In: WOLKMER, Antônio Carlos; LEITE, José
Rubens Morato (Orgs.). Os “novos” direitos no Brasil; natureza e perspectivas – uma visão básica
das novas conflituosidades jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 189.
30
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estado de Direito. Lisboa: Gradiva, 1999. p. 44
31
Ibidem.
1027
32
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 150
33
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p.172
34
Transpolítica, neste sentido, utilizado como “uma representação conceitual do ‘poder político’ com um
conjunto de práticas descentralizadas, transversais, plurais e relativistas”. PEÑA, Francisco Garrido. Op.
Cit.. p. 15
35
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p.153
1028
36
Para Peña, possuímos sete obrigações moral de garantir condições minimamente dignas para as
gerações futuras. Em assim sendo, pautados nessa obrigação moral, teríamos os seguintes deveres: “a)
Las generaciones futuras desean recibir unas condiciones de vida que le garanticen la superveniência; b)
las generaciones futuras desean recibir unas condiciones más cómodas posibles; c) las generaciones
futuras desean recibir um patrimônio natural mayor y mejor conservado. De esse conjunto de preferências
se derivan La obrigatoriedad moral y biológica, biológica y moral de eligir estratégias de desarrollo que
garanticen La satisfacción de estas preferências. El cumplimento de estas obligaciones es La condición
posible Del futuro”. PEÑA, Francisco Garrido. Op. Cit. . p. 6,7.
37
SANTOS, Boaventura de Sousa. Apud: LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. 149
38
Cf., nesse sentido, LECHNER, Norbert. Os novos perfis da política: um esboço. Disponível em http://
www.scielo.br/scielo .php?pid=S0102-6445200400200002&script=sci_arttext. Acesso em 07/04/09.
39
LEITE, José Rubens Morato. Op. Cit. p. 146
1029
5 CONCLUSÃO
O Estado, ao optar de institutos que tragam justiça social, não está se
referindo a instrumentos que virem as costas para o indivíduo de modo que o
Estado faria o papel interveniente para a regulação do campo político. A justiça
social deve servir de base a todo o campo político e jurídico para que sejam
asseguradas, aos cidadãos, garantias mínimas de vida digna.
Nesse diapasão, percebe-se a relação existente entre o Estado de risco,
fato notório e palpável nas sociedades modernas, e princípios adotados pelo
Estado para diminuírem a incidência desses riscos, ou, no máximo, colocá-los
dentro de um padrão aceitável. A exaltação dos princípios resulta no Estado de
Direito ambiental.
A preservação ao meio ambiente é um valor intrínseco à vida e sua
preservação. É inconcebível pensar no ser humano desarraigado da natureza.
Não obstante isso, deve se levar em conta que a preservação ambiental não se
justifica somente perante uma óptica antropocêntrica, pois restringiria um todo
40
Ibidem. p. 146
1030
complexo ao homem; ao contrário, deve ser visto em sua mais ampla forma e
conceituação.
Embora ainda sejam projetos políticos tímidos, é notório na doutrina que,
nos últimos anos, está ganhando corpo o fortalecimento dos institutos
normativos em preservação ambiental. Para tanto, o direto ambiental é visto
como um direito fundamental, que é “resultado de fatores sociais que
permitiram e até mesmo impuseram a sua cristalização sob forma jurídica,
explicitando a sua relevância para o desenvolvimento das relações sociais.” 41.
Portanto, fruto de uma adoção política de garantia e preservação da vida em
suas mais diversas formas.
BIBLIOGRAFIA
1 INTRODUÇÃO
A servidão ambiental no Brasil está regulada pela Lei n. 11.284 de 2 de março
de 2006, que dispõe sobre a Gestão de Florestas Públicas para a Produção
Sustentável no Brasil, e acrescentou alguns dispositivos nas Leis n. 6.938/1981 e
6.015/1973.
Essa possui semelhanças com as servidumbres ecológicas da Costa Rica,
porém, dessa distingue em classificação, características e efeitos jurídicos, diante do
que, busca-se adentrar com o presente estudo na análise das afinidades dessas
duas categorias jurídicas de conservação ambiental no sentido de fazer surgir a
discussão doutrinária, contribuindo assim, com a melhoria da capacidade de
preservação do Patrimônio Ambiental.
1
Doutora e Mestre em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora da
graduação e pós-graduação em Direito da Universidade Estadual de Maringá. Procuradora Geral da
Universidade Estadual de Maringá/UEM. E-mail: sl@wnet.com.br
2
A implantação da servidão ecológica ou ambiental na Costa Rica ocorreu graças aos estudos e análises de um
grupo de advogados da organização privada sem fins lucrativos, Centro de Derecho Ambiental y de los Recursos
Naturales - CEDARENA - que contou com a iniciativa e apoio da organização norte-americana The Nature
Conservancy (TNC), e tem por finalidade proteger terras privadas por seu valor natural, recreativo, cênico,
histórico ou produtivo. Disponível em: <http://www.cedarena.org>. Acesso em: 20 out. 2007.
3
O direito real de servidão, consoante o Código de Napoleão, foi adotado na Espanha e também na Costa Rica.
E nesta, por meio do Código Civil de 1885. Código Civil da Costa Rica. Ley n. 30, de 19 de abril de 1885,
entrou em vigência a partir de 1º de janeiro de 1888, mediante Ley n. 63 de 28 de setembro de 1887.
1033
princípios que possam substituir ou prevalecer sobre muitos dos modelos existentes,
regulados e tutelados pelo Direito. 4
Tem-se, portanto, que servidumbre ecológica é um acordo legal e voluntário
firmado entre dois ou mais proprietários de terras, segundo o qual ao menos um
deles decide limitar o uso de sua propriedade em favor de outro ou outros imóveis.
Esse ajuste tem por finalidade a preservação dos atributos naturais, as belezas
cênicas, os aspectos históricos, arquitetônicos, arqueológicos ou culturais dos
imóveis, para as atuais e futuras gerações. O contrato que cria a servidão ecológica,
como direito real, deve ser inscrito no registro de imóveis e obriga os subseqüentes
adquirentes da propriedade aos seus termos. Registre-se que a servidumbre
ecológica pode ser perpétua ou temporária. 5
Embora o Código Civil da Costa Rica não estabeleça uma definição expressa
do direito de servidão, o aproveitamento de todo o potencial de aplicação à
servidumbre ecológica é delimitado pelo Código Civil, que, em seu art. 370 e
seguintes 6, apresenta as servidões prediais, ou seja, aquelas que têm, como um de
4
CRUZ, Agustín Atmetlla; QUESADA, Silvia E. Chaves. Manual de Servidumbres Ecológicas (principalmente
para abogados y notarios). Costa Rica: CEDARENA, 1997. p. 5.
5
Nesse sentido: MACK J. D., Stephen A. Conservación de tierras privadas: las servidumbres ecológicas. In:
CHACÓN MARÍN, Carlos M.; CÓRDOBA, Rolando Castro (Ed.). Conservación de tierras privadas en
América Central. Utilizando herramientas legales voluntarias. Iniciativa Centroamericana de Conservación
Privada-Centro de Derecho Ambiental y de los Recursos Naturales (CEDARENA). San José, Costa Rica:
CEDARENA, 1998. p. 3; CRUZ, Agustín Armella; QUESADA, Silvia E. Chaves. Manual de Servidumbres
Ecológicas (principalmente para abogados y notarios). Costa Rica: CEDARENA, 1997. p.5.
6
CAPÍTULO I. Disposiciones generales. Artículo 370. - Las servidumbres no pueden imponerse en favor ni á
cargo de una persona, sino solamente en favor de un fundo o a cargo de él. Artículo 371.- Las servidumbres son
inseparables del fundo a que activa o pasivamente pertenecen. Artículo 372.- Las servidumbres son indivisibles.
Si el fundo sirviente se divide entre dos o más dueños, la servidumbre no se modifica, y cada uno de ellos tiene
que tolerarla en la parte que le corresponde. Si el predio dominante es el que se divide, cada uno de los nuevos
dueños gozará de la servidumbre, pero sin aumentar el gravámen al predio sirviente. Artículo 373.- El dueño del
predio sirviente no puede disminuir, ni hacer más incómoda para el predio dominante, la servidumbre con que
está gravado el suyo; pero respecto del modo de la servidumbre, puede hacer a su costa cualquiera variación que
no perjudique los derechos del predio dominante. Artículo 374.- El que tiene derecho a una servidumbre, lo tiene
igualmente a los medios necesarios para ejercerla, y puede hacer todas los obras indispensables para ese objeto,
pero a su costa, si no se ha estipulado lo contrario; y aun cuando el dueño del predio sirviente se haya obligado a
hacer las obras y reparaciones, podrá exonerarse de esa obligación, abandonando la parte del predio en que
existen o deban hacerse dichas obras. Artículo 375.- La extensión de las servidumbres se determina por el título.
CAPÍTULO II - .De la constitución y extinción de las servidumbres. Artículo 376.- Los predios todos se
presumen libres hasta que se pruebe la constitución de la servidumbre. Artículo 377.- El propietario de un fundo
no puede constituir servidumbre alguna sobre éste, sino en cuanto ella no perjudique los derechos de aquel a
cuyo favor esté limitada de algún modo su propiedad. Artículo 378.- Las servidumbres que son continuas y
aparentes á la vez, pueden constituirse por convenio, por última voluntad o por el simple uso del uno y paciencia
del otro. Artículo 379.- Las servidumbres discontinuas de toda clase y las continuas no aparentes, sólo pueden
constituirse por convenio o por última voluntad. La posesión, aun la inmemorial, no basta para establecerlas.
Artículo 380.- La existencia de un signo aparente de servidumbre continua entre dos predios, establecido por el
propietario de ambos, basta para que la servidumbre continúe activa o pasivamente, a no ser que al tiempo de
separarse la propiedad de los dos predios, se exprese lo contrario en el título de la enajenación de cualquiera de
ellos. Artículo 381.- Las servidumbres se extinguen:1º.- Por la resolución del derecho del que ha constituido la
1034
servidumbre.2º.- Por la llegada del día o el cumplimiento de la condición, si fue constituida por determinado
tiempo o bajo condición. 3º.- Por la confusión, o sea la reunión perfecta é irrevocable de ambos predios en
manos de un solo dueño.4º.- Por remisión o renuncia del dueño del predio dominante.5º.- Por el no uso durante
el tiempo necesario para prescribir.6º.- Por venir los predios a tal estado que no pueda usarse de la servidumbre;
pero ésta revivirá desde que deje de existir la imposibilidad, con tal que esto suceda antes de vencerse el término
de la prescripción. Artículo 382.- Se puede adquirir y perder por prescripción un modo particular de ejercer la
servidumbre, en los mismos términos que puede adquirirse o perderse la servidumbre.
TÍTULO V. De las cargas o limitaciones de la propiedad impuestas por la ley. CAPÍTULO I. Disposiciones
generales. Artículo 383.- La propiedad privada sobre inmuebles está sujeta a ciertas cargas ú obligaciones que la
ley le impone en favor de los predios vecinos, o por motivo de pública utilidad. Artículo 384.- Las obligaciones a
causa de utilidad pública, se rigen por los reglamentos especiales. También se rigen por leyes especiales las que
se refieren al ramo de aguas, aunque se establezcan en interés o beneficio directo de particulares. Artículo 385.-
Lo dispuesto en el título de servidumbres se aplicará a las limitaciones de la propiedad impuestas por la ley, en
cuanto no se oponga a las prescripciones especiales sobre dichas cargas.
7
CHACÓN MARÍN, Carlos M.; CÓRDOBA, Rolando Castro (Ed.). Conservación de tierras privadas en
América Central. Utilizando herramientas legales voluntarias. Iniciativa Centroamericana de Conservación
Privada-Centro de Derecho Ambiental y de los Recursos Naturales (CEDARENA). San José, Costa Rica:
CEDARENA, 1998. p. 7-8.
8
CRUZ, Agustín Atmetlla; QUESADA, Silvia E. Chaves. Manual de Servidumbres Ecológicas (principalmente
para abogados y notarios). Costa Rica: CEDARENA, 1997. p. 5-9.
9
Cf. Código Civil da Costa Rica, “Artículo 370.- Las servidumbres no pueden imponerse en favor ni á cargo de
una persona, sino solamente en favor de un fundo o a cargo de él”.
10
CRUZ, Agustín Atmetlla; QUESADA, Silvia E. Chaves. Manual de Servidumbres Ecológicas (principalmente
para abogados y notarios). Costa Rica: CEDARENA, 1997. p. 6.
1035
pertencem 11 e, por isso, são indivisíveis. 12 Desse modo, se existir uma propriedade
com servidumbre ecológica e for dividida em várias partes, cada uma tem o dever de
cumprir a referida servidão.
A servidumbre ecológica deve, necessariamente, ter alguma utilidade, como a
de proporcionar vantagem ao fundo dominante por meio do fundo serviente. A
utilidade recai sobre o fundo, nunca sobre uma pessoa, e deve ser real e objetiva,
entendendo-se que tem que ser uma vantagem que não poderia ser conseguida
senão por meio da servidão. A utilidade é uma qualidade do fundo e está unida à
propriedade. O Código Civil da Costa Rica não contém nenhuma norma que
estabeleça a utilidade como uma característica da servidão. No entanto, no caso das
servidumbres ecológicas, sua utilidade se apresenta como um meio de obter o
equilíbrio entre a proteção e a conservação dos recursos ambientais, e a produção e
o desenvolvimento socioeconômico. Com a instituição da servidão ecológica, é
possível a criação de corredores biológicos, a conservação de parques e bosques
que servem também de habitat às diversas espécies de animais, dentre outros
valores ecológicos. 13
Convém, a propósito, salientar que na Costa Rica a melhor forma de constituir
as servidumbres ecológicas seja por meio de uma organização especializada em
conservação perpétua de recursos naturais, denominada Organização para
Conservação de Terras (OCT). Esta organização tem por finalidade assessorar e
prestar informações científicas e legais aos proprietários privados, bem como
recomendar a melhor forma de atividades sustentáveis pertinentes a propriedade. 14
Tem-se, portanto, que este tipo de organização é a responsável, o garantidor, do
contrato de servidumbres ecológicas, pois tem a função de verificar o cumprimento
dos termos do contrato.
Cumpre ressaltar a importância dos objetivos das Organizações para
Conservação de Terras (OCT), termo adotado para a versão latino-americana dos
11
Cf. Código Civil da Costa Rica, em seu “Artículo 371.- Las servidumbres son inseparables del fundo a que
activa o pasivamente pertenecen”.
12
Cf. Código Civil da Costa Rica, “Artículo 372.- Las servidumbres son indivisibles. Si el fundo sirviente se
divide entre dos o más dueños, la servidumbre no se modifica, y cada uno de ellos tiene que tolerarla en la parte
que le corresponde. Si el predio dominante es el que se divide, cada uno de los nuevos dueños gozará de la
servidumbre, pero sin aumentar el gravámen al predio sirviente”.
13
CRUZ, Agustín Atmetlla; QUESADA, Silvia E. Chaves. Manual de Servidumbres Ecológicas (principalmente
para abogados y notarios). Costa Rica: CEDARENA, 1997. p. 6-8.
14
CHACÓN, Carlos Marin; MEZA, Andrea. Servidumbres ecológicas para la protección ambienta en tierras
privadas costarricenses. Disponível em: <http://www.una.ac.cr/ambi/Ambien-Tico/90/cchacon.htm. Acesso em
20 jan. 2008.
1036
17
Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. “Art. 9º. São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I –
o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos
ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V – os
incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a
melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas; VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII – o Cadastro
Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares o
compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental; X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; XI – a garantia da prestação
de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadores dos recursos
ambientais”
18
Lei n. 11.284/2006: “Art. 85. O inciso II do caput do art. 167 da Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973,
passa a vigorar acrescido dos seguintes itens 22 e 23: “Art. 167. [...] II – [...] 22. da reserva legal; 23. da servidão
ambiental”.(NR)
19
Lei n. 11.284/2006. “Art. 86. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”
1038
precisa e não omissa como a lei em análise. Nesse diapasão, questiona-se se foi ou
não revogada a servidão florestal, prevista no art. 44-A da Lei 4.771/1965. 20
Diante desse quadro, entende-se que houve a revogação da servidão
florestal, mais precisamente a derrogação do art. 44-A, pois o dispositivo que se
refere à servidão ambiental compreendeu a servidão florestal. Basta comparar
ambos (art. 9º-A da Lei n. 6.938/2006 e art. 44-A do Código Florestal
respectivamente). 21 Note-se que foram utilizados termos distintos: “servidão
florestal” e “servidão ambiental”.
Portanto, constata-se que a servidão ambiental é extremamente similar à
florestal, com alguns avanços para a servidão ambiental, pois, em vez de proteção à
“vegetação nativa”, trata da proteção dos “recursos naturais”. No entanto, deveria ter
abarcado a proteção dos “recursos ambientais”, proporcionando um maior alcance e
englobando todos os bens ambientais, naturais e artificiais. Logo, outra não pode ser
a conclusão de que realmente houve a revogação da servidão florestal pela servidão
ambiental.
20
A Lei n. 11.284/2006, por meio do seu art. 84, acrescenta a servidão ambiental à Lei n. 6.938/1981, nos
seguintes termos: “Art. 9º - A. Mediante anuência do órgão ambiental competente, o proprietário rural pode
instituir servidão ambiental, pela qual voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, total ou
parcialmente, a direito de uso, exploração ou supressão de recursos naturais existentes na propriedade. § 1º. A
servidão ambiental não se aplica às áreas de preservação permanente e de reserva legal. § 2º. A limitação ao uso
ou exploração da vegetação da área sob servidão instituída em relação aos recursos florestais deve ser, no
mínimo, a mesma estabelecida para a reserva legal. § 3º. A servidão ambiental deve ser averbada no registro de
imóveis competente. § 4º. Na hipótese de compensação de reserva legal, a servidão deve ser averbada na
matrícula de todos os imóveis envolvidos. § 5º. É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a
alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento o de
retificação dos limites da propriedade”. Por sua vez o Código Florestal (Lei 4.771/1965) prevê a servidão
florestal com esse teor: “Art. 44-A. O proprietário rural poderá instituir servidão florestal, mediante a qual
voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, os direitos de supressão ou exploração da
vegetação nativa, localizada fora da reserva legal e da área com vegetação de preservação permanente. § 1º. A
limitação ao uso da vegetação da área sob regime de servidão florestal deve ser, no mínimo, a mesma
estabelecida para a Reserva Legal. § 2º. A servidão florestal deve ser averbada à margem da inscrição de
matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, após anuência do órgão ambiental estadual competente,
sendo vedada, durante o prazo de sua vigência, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão a
qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites da propriedade”. Redação dada pela Medida
Provisória n. 2.166/01-67, de 24 de agosto de 2001, com prazo de validade estendido pelo Art. 2º, da Emenda
Constitucional n. 32/2001.
21
Segundo Maria Helena Diniz “a revogação é o gênero, que contém duas espécies: ab-rogação e a derrogação.
A ab-rogação é a supressão total da norma anterior, e a derrogação torna sem efeito uma parte da norma. Logo,
se derrogada, a norma não sai de circulação jurídica, pois somente os dispositivos atingidos é que perdem a
obrigatoriedade” (Curso de Direito Civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 79). No mesmo sentido:
TELLES JÚNIOR, Goffredo. Iniciação na ciência do Direito. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 205. RÁO, Vicente.
O direito e a vida dos direitos. 5. ed. anotada e atual. por Ovídio Rocha Barros Sandoval. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999. p. 338.
1039
4 CONCLUSÕES
A servidão ambiental decorre dos princípios consagrados na Constituição
Federal de 1988 e dos que são responsáveis pelo fundamento do direito ambiental,
compreendendo os seguintes: princípio do direito fundamental da pessoa humana;
princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado; princípio da função
socioambiental da propriedade; princípio do desenvolvimento sustentável; princípio
da prevenção ou precaução; princípio do poluidor-pagador; princípio da participação
da coletividade; princípio da cooperação internacional em matéria ambiental; e
princípio da natureza pública da proteção ambiental.
Ela tem como um de seus paradigmas as servidumbres ecológicas, do Direito
costarriquenho que deriva da servidão civil e exigem um fundo serviente e um imóvel
dominante resultado de acordo legal, voluntário, firmado entre dois ou mais
proprietários de terras, mediante o qual, ao menos um deles decida limitar o uso de
sua propriedade em favor de outro ou de outros imóveis, por período temporário ou
permanente.
As servidumbres ecológicas costarriquenhas têm aplicabilidade em
decorrência de seus inúmeros benefícios, tais como vantagens econômicas ao
proprietário que a institui mediante o recebimento de valores pagos pelo proprietário
do imóvel dominante ou de ONGs, ou ainda em razão de incentivos fiscais do
Estado; aumento do valor econômico da terra, na medida em que os espaços com
florestas se tornam mais escassos; possibilidade de estabelecimento de
servidumbres ecológicas recíprocas; proteção de pequenos bosques de significativa
importância ecológica, além de não depender, para seu cumprimento, da
administração pública e de poder ser constituída como mecanismo para a mitigação
ou compensação de impacto ambiental. Enfim, o maior benefício é a garantia da
proteção dos recursos naturais das terras privadas e a contribuição para o
desenvolvimento sustentável do país.
No caso específico do Brasil, a servidão ambiental deverá ser instituída,
mediante anuência do órgão ambiental competente, somente por proprietário rural,
que renuncia voluntariamente a seus direitos de uso, exploração ou supressão de
recursos naturais existentes em sua propriedade, por período temporário ou
permanente, sobre a área total ou parcial da propriedade, devendo ser averbada na
matrícula do título de propriedade no cartório de registro de imóveis. Cumpre
1040
REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro. São Paulo: Saraiva,
1997.
1041
RÁO, Vicente. O direito e a vida dos direitos. 5. ed. anotada e atual. por
Ovídio Rocha Barros Sandoval. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
REALE. Miguel Lições preliminares de Direito. 24. ed. São Paulo: Saraiva.
2004.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo:
Malheiros, 2004.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A paulatina consideração do tema ambiental pela indústria refletiu a
consolidação do processo de construção social que redundou na inserção dos
problemas ecológicos na agenda pública. De fato, o reconhecimento social e a
existência de certo consenso científico em torno dos problemas ambientais
compeliu a indústria a pensar o processo produtivo a partir de uma exigência
até então inédita: a de considerar os custos ambientais no balanço de sua
atuação empresarial.
Partindo-se de uma perspectiva analítica construtivista, tem-se que os
problemas ambientais são formulados socialmente e sua legitimação resulta de
um processo de definição social que se desenvolve nas esferas pública e
privada.
Sob tal viés, os chamados riscos de graves conseqüências, de que são
exemplos os riscos ambientais, são tecidos no contexto de complexas e
intricadas redes de negociação social, que definiram e articularam as
condições ambientais como sendo inaceitavelmente arriscadas.
A percepção teórica de que os problemas ambientais alcançaram
proporções de crise foi conduzida pelo trabalho do sociólogo alemão Ulrich
Beck, cuja teoria da sociedade de risco dá lastro às reflexões ora
apresentadas.
Dentre as diversas abordagens teóricas possíveis, a sociologia dos
riscos apresenta uma análise novidadeira da sociedade contemporânea, por
1
Graduada em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (USFC). Professora dos Cursos de Graduação em Direito e de
Pós-Graduação lato sensu em Direito Ambiental da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB),
em São Luís (MA). Assessora no Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão.
1043
percepção pública de que se vive uma crise ecológica 2 é modelada por outras
considerações como, por exemplo, a extensão da cobertura dos meios de
comunicação social (HANNIGAN, 1995).
Tal perspectiva centra-se, portanto, nos processos sociais, políticos e
culturais por meio dos quais uma questão ambiental alcança a agenda pública,
tornando-se objeto de políticas institucionais, de preocupação legislativa e de
inquietação jurídica. Contudo, até atingirem a arena política e serem
legitimados em amplas sendas, as exigências ambientais precisam vencer uma
série de etapas. Assim é que a formulação social dos problemas ambientais
abrange as tarefas de reunião, apresentação e contestação das exigências
(HANNIGAN, 1995).
Reunir exigências ambientais envolve a descoberta e a elaboração de
um problema inicial. Aqui, a ciência aparece como foro central, sem se
descurar, obviamente, das experiências de vida, do conhecimento prático e do
cotidiano.
A tarefa seguinte é apresentar a exigência, quer dizer, tornar o problema
ambiental, ainda em estado latente, em algo novo e compreensível, chamando
atenção para sua importância e legitimando-o em amplas frentes, como nos
meios de comunicação social, por exemplo.
Finalmente, para que um acontecimento origine um problema ambiental,
é necessário transportar a questão para o âmbito institucional, promovendo
ações e políticas de implementação, ao mesmo tempo em que se produz um
arsenal normativo voltado ao problema (HANNIGAN, 1995).
Na condição de problema ambiental, o desastre de Chernobyl, em 1986,
tornou inelutavelmente visíveis os riscos nucleares. Apoiado em sólida
constatação empírica, o evento logrou exitosa construção social, pelo que foi
2
Para fins deste estudo, consideram-se sinônimas as expressões “crise ambiental” e
catástrofes em nível planetário, surgidas a partir das ações degradadoras do ser humano na
3
Pondere-se que este esforço de contingenciamento de danos ambientais aparta-se da idéia de precaução
dos riscos, os quais se constituem ameaças que nem a ciência, tampouco o empresariado, consegue
mensurar ou compensar. A rigor, os sistemas de gestão empresarial não contemplam os riscos de graves
conseqüências, aqueles que qualificam a sociedade contemporânea. O referencial teórico da sociedade de
risco, contudo, não se torna imprestável a uma análise crítica da gestão ambiental empresarial, na medida
em que retrata um complexo e intrigado sistema de acordos sociais em torno da formulação das
exigências ambientais a serem consideradas pelo setor produtivo. De igual modo, serve para retratar que,
nada obstante o discurso de legitimação da responsabilidade ambiental das empresas, seus sistemas de
controle e gestão ainda estão deveras vinculados a danos cuja limitação territorial, ainda que
reconhecidamente dificultosa, é plausível, bem como mensurável e passível de contrato de seguro. Tudo
isso respalda a marginalização, no âmbito das empresas, da consideração dos riscos ambientais de sua
atuação. Aqui, apresentam especial relevância as atividades empresariais relacionadas a nanotecnologia,
agrotóxicos e organismos geneticamente modificados.
1048
5 CONCLUSÕES
BIBLIOGRAFIA
______. Risk society and the provident state. In: LASH, Scott, SZERSZYNSKI,
Bronislaw, WYNNE, Brian (ed.). Risk, environment and modernity: towards a
new ecology. Londres: Sage, 1996. p. 27-43.
______. A sociedade global do risco: uma discussão entre Ulrich Beck e Danilo
Zolo. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/ulrich.htm>. Acesso em: 23
set. 2004.
1052
COSTA NETO, Nicolao Dino de. Proteção jurídica do meio ambiente: florestas.
Belo Horizonte: Del Rey, 2003.
VIVIAN C. K. DOMBROWSKI 1
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho será pautado na crise ambiental que assola a
sociedade, já denominada de risco, do séc. XXI, a qual requer a elaboração de
novos modelos de ação na prevenção do dano ecológico.
Tendo por base o início da referida crise, já no séc. XVIII, com a
revolução industrial, estudar-se-á a influência do capitalismo e da economia na
eclosão do problema ambiental, bem como na evolução da sociedade moderna
para a sociedade de risco.
A partir da conceitualização da sustentabilidade, procurar-se-á visualizar
sua importância e sua aplicação no cenário atual, bem como a sua
necessidade de se tornar o pilar basilar de proteção ambiental.
Ainda, abordar-se-á a educação ambiental não formal, como viés
essencial para se buscar a sustentabilidade, a partir de considerações sobre a
importância da interdisciplinaridade desse tema.
Por fim, será estudada a questão da construção da racionalidade
ambiental, a qual aliada a metodologias de educação ambiental, poderá servir
para a criação de novos paradigmas para a solução dos conflitos ambientais
atuais, bem como a prevenção de futuros danos, a partir da adoção da
sustentabilidade como requisito imprescindível para a ambiência urbana.
1
Bel. em Direito e especialista em Direito Sócioambiental pela PUC-PR; mestranda em Direito pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC. Bolsista CAPES.
Contato: vivian.dombrowski@hotmail.com
1055
dos currículos” (ANTUNES, 2006), isto é, que ocorre no ensino escolar, seja
público ou privado. Por sua vez, a educação ambiental não formal aborda as
práticas e ações de natureza educativa que visam sensibilizar a comunidade
sobre as questões ambientais e a sua organização e participação na defesa do
meio ambiente (ANTUNES, 2006), ou seja, vai atuar na coletividade, agente
responsável na defesa dos ecossistemas, fazendo com que a população
contribua na gestão do meio urbano, permitindo que a cidade se torne
sustentável a partir da educação para a sustentabilidade fornecida aos
cidadãos. A educação ambiental não formal, acrescenta Fiorillo, “porquanto
realizada fora do âmbito escolar e acadêmico, o que, todavia, não exclui a
participação das escolas e universidades na formulação e execução de
programas e atividades vinculadas a esse fim” (FIORILLO, 2006, p. 45).
No entanto, trazer a temática ambiental para o contexto não escolar,
implica em um grande esforço intelectual (BARCELOS, 2008). Embora já se
tenha evoluído consideravelmente quando se trata da produção de
conhecimentos acerca da questão ecológica, é necessário haver a ruptura com
os antigos paradigmas educacionais para haver a criação de um novo modelo,
uma vez que “nossa tradição filosófica de copiar, ao invés de criar, não mais
consegue dar conta dos desafios contemporâneos” (BARCELOS, 2008, p. 25).
Para se romper os velhos paradigmas educacionais, seja na aplicação
formal ou não formal, Barcelos propõe a criação não apenas de uma
metodologia, mas sim de metodologias, as quais deveriam promover a ruptura
com as visões dogmáticas e cristalizadas de uma metodologia única, tida como
verdadeira (BARCELOS, 2008). Na seqüência, o referido autor argumenta:
entranhável dos nossos saberes e para dar curso ao inédito” (LEFF, 2002, p.
196).
Quando se estuda uma nova construção de saber ambiental, ou, a
efetiva construção do saber ambiental, é inevitável a tentativa de visualização
de tal conceito na prática, de aventurar-se além da teoria. Uma vez que a
questão ambiental é gerada por processos econômicos, políticos, jurídicos,
sociais e culturais, a sua interdisciplinaridade é obrigatória, o que,
conseqüentemente, permite que suas metodologias possam ser aplicadas a
todas as áreas que com ela se relacionem.
Ao se abordar a temática da educação ambiental não formal, temos
como escopo de estudo o universo não escolar, o que inclui empresas e
indústrias, principais agentes causadores da crise ambiental. Entretanto, ao se
mencionar comércio e indústrias, remonta-se à temática abordada inicialmente:
economia e capitalismo. Considerando que ambos são os propulsores da
evolução da sociedade moderna, como realizar a desconstrução da
racionalidade econômica moderna para a construção da racionalidade
ambiental, sem ir de encontro aos resistentes princípios capitalistas?
Primeiramente, se faz essencial mencionar o que observa Layrargues:
5 CONCLUSÕES ARTICULADAS
O trabalho em análise foi baseado no estudo da construção de novos
paradigmas educacionais como vetores de proteção ambiental, na construção
de uma racionalidade ambiental a ser aplicada na sociedade de risco moderna.
É sabido que a crise ambiental sofrida na atualidade tem como ponto de
origem a Revolução Industrial, ocorrida no séc. XVIII. Com o crescente avanço
tecnológico e a produção em série de artigos manufaturados, a utilização dos
recursos naturais, na forma de matéria prima, foi sendo brutal e ilimitado.
Com o advento da sociedade moderna, arraigada pelos princípios
capitalistas de consumismo, a natureza foi sendo degradada, até se instaurar a
crise ambiental que assola o Planeta e cujo meio de reparação vem sendo
buscados, haja vista à proporção que as conseqüências da industrialização
efervescente provocaram.
1068
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECK, U. La sociedad del riesgo global. Madrid: Siglo XXI de España, 2002.