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O EMBATE POLÍTICO: ANÁLISE DISCURSIVA DE SIGNOS VERBAIS DA

ESFERA POLÍTICA BRASILEIRA

Fernando Lucas Leandro de Lima


Claudiana Nair Pothin Narzetti Costa

Resumo: O presente trabalho possui como tema o estudo acerca do confronto político entre
esquerda e direita através dos signos ideológicos, como proposto pelo Círculo de Bakhtin.
Valendo-se de signos verbais como esquerda, direita, socialismo, comunismo – e suas
variantes morfológicas esquerdista, comunista, socialista, etc – busca-se compreender com
este tudo o processo de luta de classes através destes signos ideológicos-verbais. Além do
mais, quer-se analisar os índices socais em confronto, com o objetivo de compreender quais
os sentidos estas palavras assumem quando inseridas em enunciados de políticos de diferentes
posicionamentos políticos-ideológicos. Todas essas reflexões e proposições buscam ainda
verificar se estes enunciados estão ativamente participando de uma cadeia dialógica de
interações e se essas palavras são empregadas efetivamente em enunciados de esquerda e de
direita. Valeremos nos aqui de conceitos próprios da Análise do Discurso Dialógica (ADD)
para fomentar toda a nossa reflexão, tais como: sentido, significação, tema, índices de valor,
acentuação, enunciado concreto e valoração.

Palavras-chave: Signos ideológicos. Círculo de Bakhtin. Enunciado concreto. Análise


dialógica do discurso. Luta de classes.

1. O CÍRCULO DE BAKHTIN E A PERSPECTIVA DIALÓGICA DA LINGUAGEM

O Círculo de Bakhtin surge na Rússia em um momento de intensa efervescência e


agitação política. Dentre os principais integrantes do círculo pode-se aqui destacar: Mikhail
Bakhtin (1895-1975), Valentin Volóchinov (1895-1936) e Pavel Medviédev (1892-1938). Os
membros citados anteriormente, de diferentes formações, reuniam-se na Rússia,
especialmente entre anos de 1919 a 1929, a fim de que pudessem discutir seus postulados e
reflexões, especialmente no que dizia respeito à linguagem, principal interesse de Bakhtin,
Volóchinov e Medviédev.
O Círculo de Bakhtin pressupõe a linguagem como um fator que ocorre mediante a
interação social, ou seja, para o Círculo a linguagem é o lugar em que convivem as mais
diversas diferenças e divergências. É justamente diante desta perspectiva social acerca da
linguagem que o Círculo de Bakhtin construirá sua reflexão. E partindo dessas reflexões
surgirão, a partir da inquietação dos membros do círculo, conceitos como: dialogismo, signo
ideológico, enunciado concreto. É importante ressaltar que todos esses conceitos encontram
hoje um solo epistemológico denominado Análise Dialógica do Discurso (ADD).
Vislumbrando uma perspectiva sociológica da linguagem, Bakhtin e os membros
propõem uma reflexão que acaba gerando um entendimento dialógico da linguagem. A partir
desta ideia o círculo compreende que toda a linguagem é permeada a partir de diálogos, ou
seja, os enunciados produzidos por um determinado enunciador, dialogam/conversam com
enunciados já existentes, bem como suscitam outras respostas e/ou colaborações para o seu
enunciado, a assim chamada réplica. Isto comprova a bilateralidade do discurso, acerca da
seguinte reflexão Volóchinov (2019b) pontua:

[...] o discurso humano é um fenômeno bilateral: a existência de todo enunciado


pressupõe não só a presença de um falante como também de um ouvinte. Toda
expressão linguística das impressões do mundo exterior [...] sempre está orientada
para o outro, para o ouvinte, mesmo que esse outro esteja, de fato, ausente.
(VOLÓCHINOV, 2019b, p. 267)

É imperativo ressaltar que esse elo entre eu e o outro repercute nos diversos textos do
círculo, uma vez que para os membros do círculo esta relação está pautada na
indissociabilidade. Como afirmamos anteriormente, os enunciados conversam entre si, ora
como respostas a enunciados anteriores, ora suscitando uma réplica que pode ser de apoio ou
de recusa. E é justamente essa atitude responsiva vigente entre os enunciados que nos
possibilita observar a relação indissociável entre o eu e o outro, reflexão pertinente e assídua
nos escritos de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev.
A seguir esmiuçaremos algumas das proposições as quais integram o pensamento dos
intelectuais russos aqui citados acerca da linguagem. Nas seções seguintes conceitos como
signo ideológico, enunciado concreto e dialogismo serão detalhados a partir da perspectiva de
Bakhtin e Volóchinov, a exposição desses conceitos fomenta e integra o aporte teórico desta
pesquisa acerca do discurso. Os seguintes tópicos comporão as próximas seções:
Comunicação verbal e enunciado concreto, gêneros discursivos e signos ideológicos.

1.1. Comunicação verbal e enunciado concreto

Para o Círculo de Bakhtin a linguagem possui uma natureza social, portanto, toda a
nossa comunicação efetiva-se no ato da interação discursiva entre os membros participantes
de uma dada comunidade linguística. Além disso, o Círculo defende ser a linguagem o lugar,
em que as mais diversas diferenças e divergências, convivem. Faria e Silva (2013) corrobora
com essa ideia ao afirmar que “[...] os enunciados estão sempre ligados a uma atividade
humana, desempenhada por um sujeito que tem lugar na sociedade e na história, ou seja, um
sujeito que sempre está em interação com outros sujeitos.” (FARIA E SILVA, 2013, p. 51)
Para Bakhtin (2016) a comunicação social realiza-se por meio de enunciados
concretos, sejam eles orais ou escritos, enunciados esse que são gerados no interior de uma
das ideologias. Tem-se então nas palavras de Bakhtin: “O emprego da língua efetua-se em
forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse
ou daquele campo da atividade humana.” (BAKHTIN, 2016, p. 11)
Sendo assim, o mesmo ocorre com os enunciados-concretos, como afirma Faria e
Silva (2013) e também Volóchinov (2017) esses enunciados são gerados no seio das relações
sociais, na comunicação discursiva e entre interlocutores socio-político-historicamente
situados e organizados, nas palavras de Volóchinov (2019b, p.267) “É na comunicação
discursiva (um dos aspectos da comunicação mais ampla: a social) que são elaborados os mais
variados tipos de enunciados, correspondentes aos diferentes tipos de comunicação social.”
É justamente pelo fato de nascerem a partir de relações socialmente mediadas que todo
enunciado é orientado socialmente para o outro, espera e suscita uma resposta bem como já
são uma resposta a enunciados anteriores, sobre isso afirma Faria e Silva (2013) “[...] quando
falamos, sempre nos dirigimos a outro, ainda que não saibamos quem esse outro é; ao mesmo
tempo, sempre estamos retomando o que outros já disseram.” (FARIA E SILVA, 2013, p. 52).
Ademais, essa orientação social do enunciado possui importante papel, já que atua como uma
força reguladora/organizadora que juntamente com a situação do enunciado influencia
diretamente no estilo e estrutura gramatical dos enunciados (VOLÓCHINOV, 2019b).
O enunciado é justamente essa unidade real da língua e da comunicação verbal que é
formado por uma parte verbal (os signos verbais, as palavras) e uma parte extraverbal que
corresponde ao contexto de produção, ao espaço, ao tempo, ao tema e as relações que os
interlocutores possuem com determinado fato.
Volóchinov (2019a) afirma que os atos valorativos compreendem junto com a palavra
todos os aspectos extraverbais. Todos esses aspectos extraverbais configuram a situação do
enunciado. Situação essa a qual é estritamente determinada pelo contexto que se encontra fora
dos aspectos linguísticos, ou seja, além da língua. Para a melhor compreensão da situação de
um enunciado concreto completo, é fundamental o entendimento de quem são os
interlocutores e como eles preenchem o auditório do qual participam, bem como é necessária
a compreensão do contexto socioeconômico de que faz parte essa coletividade.
Além do mais, são exatamente esses enunciados e a troca que ocorre entres que acaba
por acarretar o que Volóchinov determina como interação discursiva, o que por sua vez
resulta em um discurso dialógico. Em seu texto “A construção do enunciado” Volóchinov
(2019b) aponta os dois momentos intrínsecos à comunicação discursiva, temos então nas
palavras de Volóchinov (2019b, p. 272) “a comunicação discursiva [...] é composta por dois
momentos: o enunciado do falante e a compreensão desse enunciado pelo ouvinte.”
Dando continuidade à sua reflexão Volóchinov (2019b) nos apresenta à atitude
responsiva presente na troca de enunciados. Ou seja, os enunciados concretos completos
esperam ser respondidos, aceitos, criticados ou ainda ironizados.

Habitualmente, respondemos a todo enunciado do interlocutor, se não com palavras,


ao menos com gestos: o movimento das mãos, o sorriso, o balanço da cabeça etc. É
possível falar que toda comunicação ou interação discursiva ocorre na forma de uma
troca de enunciados, isto é, na forma de um diálogo. (VOLÓCHINOV, 2019b, p.
272)

É justamente nesse fio emaranhado de diversos enunciados que podemos observar as


relações de sentido intrínsecas ao enunciado, portanto, as relações dialógicas. E que mesmo
estando distantes um do outro no tempo e no espaço os enunciados podem assim estabelecer
entre relações de sentido.

1.2. Gêneros discursivos

Refletindo acerca da linguagem Bakhtin (2016, p. 11) nos guia ao seguinte raciocínio
“Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem”. Para
Bakhtin (2016) é através dos enunciados concretos que ocorre de maneira efetiva o uso da
língua. Justamente porque os enunciados são essas unidades reais da língua, e por serem reais
refletirão as condições das esferas da atividade humana de onde eles advêm.
Dessa forma os enunciados são reflexos dos campos em que estão inseridos. Cada
campo da atividade humana elabora seus respectivos enunciados, acerca disto refletem
Volóchinov “Em condições e em um ambiente diferente, esse enunciado sempre terá sentidos
distintos.” (VOLÓCHINOV, 2019, p. 283) e Bakhtin:

Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido


campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela
seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua, mas, acima de
tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos - o conteúdo
temático, o estilo, a construção composicional estão indissoluvelmente ligados no
conjunto do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um
campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas
cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso.” (2016, p. 11-12).
É dessa maneira que cada campo da criação ideológica (seja ele científico,
religioso, político ou moral) criará os seus “[...] tipos relativamente estáveis de enunciados
[...]” (BAKHTIN, 2016, p. 12) o que Bakhtin denomina como os gêneros do discurso, isto
porque fazem parte de uma determinada coletividade organizada social e historicamente. Por
isso é que o estilo, a forma e a estrutura desses enunciados produzidos nesse ou naquele
campo da atividade humana, serão inteiramente determinados por essas esferas da criação
ideológica.
E é este fato, citado anteriormente, que determina que os gêneros discursivos são
relativamente estáveis, sejam eles orais ou escritos do ponto de vista bakhtiniano. Dessa
maneira, todo enunciado concreto pertence a um gênero, bem como toda a nossa comunicação
e interação discursiva é organizada a partir dos gêneros discursivos. Logo, a nossa
comunicação social é intrinsecamente mediada pelos gêneros do discurso.
E justamente porque estes enunciados emergem através da interação discursiva
entre seres participantes de uma ou de outra esfera da criação ideológica, que devemos
considerar toda a forma de diálogo cotidiano, bem como aqueles mais sistematizados e
organizados (como as esferas política e científica). Postulando esta visão, Bakhtin nos
direciona para uma distinção entre gêneros primários, os quais ele determina como simples e
gêneros secundários, aqueles os quais ele diz serem complexos.
Assim, os gêneros primários seriam aqueles formados em situações mais
imediatas e informais, em encontros casuais e do cotidiano. Enquanto que os gêneros
secundários seriam aqueles mais elaborados e aqueles produzidos em esferas ideológicas mais
sistematizadas e organizadas. Como afirma Bakhtin:

Os gêneros discursivos secundários [...] surgem nas condições de um convívio


cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado
(predominantemente o escrito) – ficcional, científico, sociopolítico, etc. No processo
de sua formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros primários (simples),
que se formaram nas condições da comunicação discursiva imediata. (2016, p. 15)

Ainda nesta reflexão, como já mencionamos anteriormente, cada uma das esferas da
criação da atividade humana apresentará sua forma específica de olhar para a realidade
através de seus signos e seus enunciados concretos produzidos por membros dessas esferas
ideológicas. É justamente na ideologia do cotidiano que estão presentes os gêneros primários,
é essa ideologia do cotidiano que atua como ponto de partida para a formação das esferas
ideológicas, de onde surgem os gêneros secundários. E ao mesmo tempo que age como esse
ponto de partida, a ideologia do cotidiano sofre também a influência dessas esferas
ideológicas constituídas e sistematizadas.

1.1. O signo ideológico

O signo tal como compreendido por Bakhtin e Volóchinov é um fenômeno que nasce e
se desenvolve no interior das esferas ideológicas, isto porque como afirma Volóchinov “O
campo ideológico coincide com o campo dos signos. Eles podem ser igualados. Onde há
signo há também ideologia.” (VOLÓCHINOV, 2017, p. 93). É necessária também a
compreensão do surgimento dos signos no meio social. Os signos existem mediante uma
coletividade social inteiramente organizada, ou seja, os signos surgem a partir de indivíduos
que estejam socio-historicamente inseridos em uma dada coletividade, somente dessa maneira
os signos emergem como um fator externo, vinculado à realidade social na qual eles surgem,
assim:

O signo é um fenômeno do mundo externo. Tanto ele mesmo, quanto todos os


efeitos por ele produzidos, ou seja, aquelas reações, aqueles movimentos e aqueles
novos signos que ele gera no meio social circundante, ocorrem na experiência
externa. (VOLÓCHINOV, 2017, p. 94)

Faraco (2009) também reflete sobre este aspecto social do signo e corrobora com a
visão do círculo no que tange a realização dos signos e sua posição social. Acerca deste
aspecto, Faraco nos aponta o seguinte:
[...] os signos são intrinsicamente sociais, isto é, são criados e interpretados no
interior dos complexos e variados processos que caracterizam o intercâmbio social.
Os signos emergem e significam no interior de relações sociais, estão entre seres
socialmente organizados; não podem, assim, ser concebidos como resultantes de
processos apenas fisiológicos e psicológicos de um indivíduo isolado; ou
determinados apenas por um sistema formal abstrato. Para estudá-los é
indispensável situá-los nos processos sociais globais que lhes dão significação.
(2009, p. 48)

Como abordado anteriormente, os signos são produzidos por sujeitos histórico-


socialmente organizados e que se inserem em uma determinada classe e dessa maneira,
inevitavelmente, expressarão, no processo da interação discursiva, distintos acentos
valorativos, distintas opiniões as quais refletem e refratam as posições ideológicas da classe
na qual este falante está inserido em dado momento. Os signos ideológicos produzidos por
esses integrantes de uma coletividade organizada, surgem a partir de uma das esferas
ideológicas existentes seja ela científica, moral ou política. De acordo com Volóchinov:
[...] esse falante pertence a alguma classe, tem uma profissão, possui algum nível de
desenvolvimento cultural. Por fim, ele pronuncia uma palavra [...] em algum
ambiente, diante de um ouvinte, presente ou presumido. Graças a todas essas
condições, a essas forças (“fatores”) que organizam tanto o conteúdo quanto a forma
do seu enunciado, a palavra do falante sempre está repleta de olhares, opiniões,
avaliações que, no fim das contas, são inevitavelmente condicionadas pelas relações
de classe. (2019c, p. 315)

Dessas esferas ideológicas anteriormente citadas emanas inúmeras divergências, isso


deve-se ao fato de que cada uma das esferas ideológicas existentes enxergará, refletirá e
refratará a realidade a seu modo. Acerca disso Volóchinov diz o seguinte:

No interior do próprio campo dos signos [...] no interior da esfera ideológica, há


profundas diferenças, pois fazem parte dela a imagem artística, o símbolo religioso,
a fórmula científica, a norma jurídica e assim por diante. Cada campo da criação
ideológica possui seu próprio modo de se orientar na realidade, e a refrata de seu
modo. Cada campo possui sua função específica na unidade da vida social. (2017, p.
94)

Então, para que se constitua um sistema de signos, é fundamental que os indivíduos


atuantes no processo da interação social formem uma unidade social, ou seja, é imperativo
que estejam socialmente organizados e façam parte de uma coletividade. É necessário que
eles circulem entre as esferas ideológicas reais.
Ademais, a propriedade central do signo para que seja caracterizado como ideológico,
é o processo de reflexão e refração destes signos, isto porque no processo de referenciação
eles apontam para outra realidade que se encontra além dos seus limites. Os signos
representam algo para além deles mesmos, eles apontam para algo que está fora deles, assim o
signo “[...] não é somente uma parte da realidade, mas também reflete e refrata uma outra
realidade, sendo por isso mesmo capaz de distorcê-la, ser-lhe fiel, percebê-la de um ponto de
vista específico e assim por diante.” (VOLÓCHINOV, 2017, p. 93). Para Faraco (2009) a
refração é:
o modo como se inscrevem nos signos a diversidade e as contradições das
experiências históricas dos grupos humanos. Sendo essas experiências múltiplas e
heterogêneas, os signos não podem ser unívocos (monossêmicos); só podem ser
plurívocos (multissêmicos). A plurivocidade (o caráter multissêmico) é a condição
de funcionamento dos signos nas sociedades humanas. (2009, p. 50)

Outro fator a ser abordado, é o fato de Volóchinov (1929) ter dado especial atenção ao
signo ideológico verbal (palavra). Isto porque para o autor a palavra caracteriza-se como o
signo ideológico por excelência, tendo em vista a sua flexibilidade ideológica, marcada por
sua onipresença social. Isto quer dizer que dentre a diversidade de signos existentes (verbais e
não-verbais) a palavra é a única capaz de preencher as inúmeras esferas ideológicas
existentes. Sejam elas religiosa, política, cientifica, moral, estética etc. Em outras palavras, as
esferas ideológicas existentes possuem seus signos específicos, cumprindo funções também
específicas dentro da ideologia da qual fazem parte. De acordo com Volóchinov:

Todos os demais materiais sígnicos são especializados em campos particulares da


criação ideológica. Cada campo possui seu próprio material ideológico e forma seus
próprios signos e símbolos específicos que não podem ser aplicados a outros
campos. Nesse caso, o signo é criado por uma função ideológica específica e é
inseparável dela. (2017, p. 99)

Enquanto signo ideológico par excellence (VOLÓCHINOV, 2017, p. 99) ela (a palavra) não
se transforma em signo, a palavra já nos é dada como signo por sua essência. Nas palavras de
Volóchinov (2019c, p. 312):

A palavra não existe inicialmente como um objeto da natureza ou da tecnologia para


só depois, por meio de uma certa “transformação”, tornar-se um signo. Pela sua
própria essência, a palavra revela-se, desde o início, o mais puro fenômeno ideológico.
Toda a realidade da palavra dissolve-se por inteiro em sua finalidade de ser signo. Na
palavra não há nada que seja indiferente a essa finalidade e que não tenha sido gerado
por ela.

Como já mencionado anteriormente, toda a visão do Círculo de Bakhtin acerca da


linguagem é de base social. Exatamente por isso, defendem os membros do círculo, que os
signos são criados na coletividade e para essa coletividade, é por isso mesmo que os signos
são inevitavelmente um reflexo da realidade na qual emergem, mas não somente refletem,
eles também refratam essa realidade, apresentam uma visão fiel ou deturpada dessa realidade,
Volóchinov afirma que “em um mesmo signo refletem-se e revelam-se diferentes relações de
classe.” (VOLÓCHINOV, 2019c, p. 314) . Além do mais, Volóchinov aponta o seguinte
acerca deste aspecto de referenciação do signo:
O signo não é somente uma parte da realidade, mas também reflete e refrata uma
outra realidade, sendo por isso mesmo capaz de distorcê-la, ser-lhe fiel, percebê-la
de um ponto de vista específico e assim por diante. As categorias de avaliação
ideológica (falso, verdadeiro, correto, justo, bom etc.) podem ser aplicados a
qualquer signo. O campo ideológico coincide com o campo dos signos. Eles podem
ser igualados. Onde há signo há também ideologia. Tudo o que é ideológico possui
significação sígnica. (2017, p. 93)

É justamente na palavra como signo ideológico por excelência que se revelarão os


diferentes índices socias de valor que se confrontam no nível da linguagem viva e situada.
Diferentes classes sociais, diferentes índices sociais de valor, justamente porque cada ato
valorativo é característico de cada uma dessas diferentes classes. Assim, para Volóchinov
(2019c, p. 317) “[...] a palavra torna-se uma arena para a luta de classes, um palco para a
disputa de opiniões e interesses de classe diversamente orientados.”
A imagem transposta pelo signo ideológico é uma imagem carregada dos mais
distintos acentos valorativos, por isso mesmo essa imagem é refratada, ou seja, atravessada
por lutas de classes, por disputas. Assim revela-se por intermédio dos signos ideológicos uma
imagem refratada e submersa em índices sociais conflitantes. Ao mesmo tempo que se
revelam também através dos signos ideológicos, em específico a palavra, as lutas de classes.

2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

O corpus desta pesquisa conta com 95 postagens coletadas na rede social Twitter. A
escolha da rede social justifica-se pelo fato de a rede em questão oferecer uma ferramenta de
pesquisa a qual facilita a coleta dos dados para a análise deste estudo. A rede social em
questão nos deu uma maior facilidade no que diz respeito a coleta de dados, já que ao acessar
o perfil de cada um dos candidatos o Twitter apresenta uma ferramenta de pesquisa indicada
por uma lupa, isto nos permitia pesquisar no perfil de cada um dos candidatos escolhidos para
esta pesquisa, as palavras que compõem o corpus deste trabalho. Além dessa ferramenta, o
Twitter nos possibiliza fazer um recorte temporal, tornando assim o nosso trabalho de coleta
de dados mais prático e fácil.
Assim, usamos a rede social para que pudéssemos coletar enunciados concretos
completos de políticos de esquerda e de direita em que constassem os signos verbais a serem
analisados nesta pesquisa. Em relação ao recorte de tempo, os enunciados coletados deveriam
corresponder ao período de 2019 a 2022, período no qual tínhamos como presidente do Brasil
o deputado Jair Messias Bolsonaro.
Justifica-se este recorte temporal pelo fato de que neste período os signos verbais que
compõem o corpus desta pesquisa, tais como: polarização, esquerda, direita, comunismo,
socialismo, etc. Passam a circular de maneira assídua nos enunciados de diversos políticos
brasileiros. Como o nosso objetivo pretende analisar a construção de enunciados por políticos
de esquerda e de direita que possuam essas palavras mencionadas anteriormente, fez-se
necessário que nós estipulássemos alguns candidatos que bem representassem ambos os
espectros políticos-ideológicos, bem como fossem candidatos assíduos nas campanhas
eleitorais. Dessa forma, dividimos os políticos em espectro da direita com os seguintes
candidatos: Jair Messias Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Kim Kataguari, Joice Hasselmann, e
Abraham Weintraub e espectro da esquerda com os políticos a seguir: Guilherme Boulos,
Manuela d’Ávila, Lula e Fernando Haddad.
A escolha destes candidatos e destas palavras deu-se também pelo fato de estes
políticos em questão representarem a intensa polarização que se inicia nesse contexto político
e social a partir de 2018 entre esquerda e direita, quando o deputado Jair Messias Bolsonaro
demonstrava grande interesse em concorrer ao cargo de maior representação política brasileira
e também pelo fato de o deputado em questão, com um discurso conservador e
anarcocapitalista, começar a despontar nas redes e nas mídias sociais como um possível
salvador da pátria brasileira.
Nesse contexto, imediatamente a ideologia política de esquerda encontrava como seu
maior representante o professor e advogado Fernando Haddad, que irrompia como uma
grande força de oposição ao deputado Bolsonaro. Assim, a esquerda brasileira naquele
momento de grande tensão e efervescência política insurgia-se para combater os discursos
conservadores, pautados na moral e na ética, postulados por Bolsonaro e seus seguidores.
Partindo destas questões acima mencionadas, buscamos com este estudo responder
alguns questionamentos pertinentes à nossa pesquisa, nomeadamente: Políticos de ambos os
partidos empregam efetivamente as palavras estipuladas aqui para análise? Em caso positivo,
há índices contraditórios nelas, isto é, acentuação distinta quando empregadas nos enunciados
concretos de um e de outro partido? Há um sentido homogêneo nessas palavras conforme o
partido (uma única acentuação) que as emprega ou há variações dentro do mesmo grupo
social? Ou estas palavras compõem os enunciados de um grupo bem mais que de outro? Os
sujeitos dos partidos de esquerda e de direita estabelecem relações dialógicas, por meio de
seus enunciados, em relação aos acentos/índices sociais de valor que imprimem nas palavras
em questão?

A pesquisa justifica-se, por um lado, pela contribuição que pode fornecer acerca da
configuração ideológico-discursiva do discurso político brasileiro atual e, por outro, pela
contribuição à teoria bakhtiniana acerca do sentido. Esperamos que os problemas encontrados
no corpus conduzam a questões para a teoria de modo que ela possa ser colocada à prova.

2.1. A luta de classes através dos signos verbais


No contexto de efervescência sociopolítico de 2018, em um momento no qual
podemos observar uma alta carga de polarização entre direita e esquerda, determinadas
palavras (signos ideológicos por excelência) passam a incorporar de maneira expressiva os
discursos/enunciados dos políticos representantes das duas vertentes ideológicas em disputa.
Portanto, palavras como comunista, direita, esquerda, polarização, etc., passavam a
circular de maneira altamente expressiva na esfera política-ideológica. Nesse contexto, o que
ocorre é o seguinte: duas classes proporcionalmente distintas passam a disputar e duelar,
numa dialética, pela significação desses signos ideológicos. Ou seja, esquerda e direita
acentuam a polarização socio-econômica-política através dessas palavras.
Isso ocorre, porque segundo o Círculo de Bakhtin, cada uma das classes existentes está
fazendo o uso de um mesmo código linguístico. Ambas as classes, em uma disputa
acentuadamente ideológica, servem-se das mesmas palavras. No entanto, essas palavras são
afetadas por acentuações valorativas contrastantes, as quais diferem entre em si no plano
socio-axiológico. Ao mesmo tempo que esses signos verbais-ideológicos já estão carregados
de avaliações imediatamente anteriores a esse contexto histórico, no âmbito dessa disputa
ideológica, as novas e as antigas avaliações vão se incorporando ao objeto, neste caso, as
palavras.
É necessário frisarmos, que esses signos, aos quais nós nos referimos, são produtos
gerados diretamente por essas lutas sociais travadas entre indivíduos que se apresentam
histórico, hierárquico e socialmente organizados. E esses mesmos signos estão refletindo um
acentuado e profundo processo de mudança no que tange o aspecto social e econômico no
Brasil a partir de 2018. Isso nos mostra como os signos ideológicos (e por excelência, os
signos verbais) são atuantes e comentam e acompanham todo e qualquer ato ideológico. Ou
seja, eles estão presentes e representam as mudanças ideológicas e políticas que se
desenvolvem em uma determinada sociedade e num determinado período de tempo.
E é justamente através das palavras polarização, esquerda, direita, comunismo,
socialismo, etc. e suas variações morfológicas (esquerdista, socialista, comunista...) que
evidenciamos uma mudança significativa na esfera política daquele momento, porque
podemos observar o crescimento político da direita brasileira representada naquele momento
pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Isso nos faz perceber uma classe que desponta
rumo a uma ascensão política, o que a colocará no papel de uma classe dominante. E nesse
jogo entre uma classe dominante e uma outra classe que se encontrará dominada,
evidenciamos reflexos e refrações os quais remontam e demonstram o crescimento da direita
brasileira rumo ao papel de dominância. É esse motivo que nos permite visualizar a
linguagem articulada à ideologia e aos processos político-econômicos brasileiros desse
momento, diante dessas práticas sociais as quais se encontram socio-historicamente situadas.
Para contextualizar as nossas reflexões apresentadas anteriormente, apresentaremos
quatro exemplos: duas postagens de dois políticos da direita e duas postagens de dois políticos
da esquerda. As postagens do Twitter apresentam as palavras constituintes da nossa pesquisa,
as quais fomentam a nossa reflexão.
Enunciado de direita 1: No momento em que a ditadura comunista cubana ataca duramente o
seu povo que pede o fim do regime que o mantém na miséria, no atraso e até hoje sufoca sua
liberdade, o ditador Maduro promove ataque armado ao PR Juan Guaidó. Que Deus proteja
nossos irmãos cubanos e venezuelanos!
Enunciado de direita 2: A dicotomia não é esquerda vs direita. É quem roubou vs quem não
roubou. É quem mente para angariar adeptos vs quem fala a verdade e transmite sinceridade.
É quem faz de tudo pelo poder vs quem pensa no Brasil e no próximo. Enfim, quem não
acredita no Brasil vs quem acredita.
Enunciado de esquerda 1: Sabe qual o país vizinho que também taxa livros igual Guedes e
Bolsonaro querem? O Chile. A ditadura de Pinochet admitiu a queima de 15 mil livros. Até
obras sobre pintura "cubista" foram destruídos por medo da Cuba comunista. Qualquer
semelhança é mera coincidência.
Enunciado de esquerda 2: Importante a consolidação do bloco de esquerda na Câmara para
oposição a Bolsonaro. PSOL, PT, PSB e Rede já definiram. Esperamos que se amplie ainda
mais. Unidade por democracia e direitos!
Ao observamos os signos verbais comunista e esquerda em diferentes enunciados, é
possível perceber uma clara diferença em dois elementos da língua idênticos. A diferença
pode ser evidenciada porque se trata justamente de duas classes opostas disputando pelo uso
do mesmo material semiótico. No entanto, é evidente a dialética presente nos quatro
enunciados mostrados acima, ou seja, há um conflito existente entre esquerda e direita, um
claro embate político ideológico que se faz perceber através do uso dos signos verbais, desses
signos ideológicos, que como postulados por Volóchinov são justamente um palco no qual se
atravessam as lutas de classes.
A contradição entre os princípios ideológicos de esquerda e de direita no que tange o
signo ideológico, é notada pela disputa de sentido e de valores que cada vertente imprime à
palavra, ao fazer o uso dela em seus respectivos enunciados. Ou seja, os índices socais de
valor empregados às palavras apresentam-se de formas opostas. É possível notar nos
enunciados de direita, ao fazerem o uso de palavras como comunista e esquerda, um tom
valorativo marcado por uma certa negatividade, acrescido de outras palavras que fomentem
essa visão negativa como roubo, ditadura, fome, miséria, etc.
Já nos enunciados de esquerda, contendo os mesmos signos ideológicos,
contemplamos uma grande diferença, o que nos mostra claramente uma disputa pelo sentido
no território sociopolítico brasileiro. Uma vez que a esquerda imprime às palavras comunista
e esquerda um tom avaliativo mais natural e neutro, menos denso e menos violento. As
palavras demonstram uma posição de integridade, fraternidade e um caráter de bem-estar
social. Logo, fica mais do que evidente o confronto de duas ideologias distintas dentro da
cadeia ininterrupta do discurso.
2.2. Relações dialógicas ou relações monológicas?

Toda a reflexão proposta pelo Círculo de Bakhtin e especificamente por Volóchinov


(2019) acerca da comunicação discursiva aponta para uma teoria dialógica da linguagem. Ou
seja, todo discurso, toda fala e todo enunciado está direcionado para um potencial auditório.
Além do mais, os enunciados engendrados por um determinado campo da atividade humana
possuem sempre uma posição bilateral, tendo em vista que é o enunciado do falante, seguido
por uma compreensão ativa daquele ouve, e parte sempre desse que ouve uma compreensão
avaliativa.
É a partir dessa reflexão, que torna-se possível a compreensão do dialogismo, ou
ainda, das relações dialógicas. Porque os enunciados são marcados por uma bilateralidade, e
isto significa dizer que todos os enunciados já formados e mesmo aqueles que ainda não
existem, participam de um diálogo, estão constantemente em relações dialógicas, existe a todo
momento uma colisão de sentido entre os enunciados. Logo, há uma contínua troca de
enunciados através dos sujeitos participantes do discurso, ainda que esses estejam distantes
uns dos outros no tempo e no espaço.
No âmbito da nossa pesquisa, temos um espaço bem definido e bem demarcado, já que
os nossos enunciados pertencem ao Twitter. O Twitter é uma rede social que permite curtidas,
respostas e compartilhamentos, e como as outras redes funciona através de seguidores. Tendo
isto em vista, fica claro que há nos enunciados recolhidos para a nossa pesquisa muitas
respostas e reações, mas não somente por isso é que se torna viável a percepção de um
dialogismo.
Todos os enunciados os quais foram coletados mesclam elementos de uma ideologia
mais sistematizada – a política – com elementos de uma ideologia do cotidiano – a internet. A
hibridização de ambas as ideologias enforma o todo do enunciado, ou seja, a parte verbal e a
parte extraverbal. Desse modo, os enunciados refletem em sua estrutura, em seus temas e nos
seus estilos, marcas próprias desses sistemas ideológicos.
Os enunciados concretos dos quais estamos falando partilham de assuntos e sentidos
que tratam especificamente da política brasileira a partir de 2018. O que ocorre é que esses
sentidos dados aos enunciados por uma ou outra posição ideológica marcam um confronto no
que diz respeito ao plano do sentido. Logo, é visível que os enunciados concretos completos
participam ativamente de uma cadeia ideológica, isto porque estão sempre retomando o já-
dito e dando espaço para que outras inferências sejam feitas, podendo ter essas novas
inferências e respostas um caráter de desacordo ou acordo, paródia ou ridicularização, etc.
Portanto, observamos os enunciados evocando sempre uma resposta do outro, o que
vai corroborar para a construção de um fio emaranhado de discursos, numa alternância de
vozes sociais. Mas, esses enunciados não somente suscitam uma reação, como ele próprio se
apresenta como uma réplica aos enunciados anteriores. É justamente essa dinamicidade do
discurso dialógico que observamos ao empreendermos essa pesquisa. Através dos enunciados
formulados com palavras como comunista, esquerdista, polarização, entre outras, que fica
evidente que tanto a direita, quanto a esquerda estão a todo momento replicando os
enunciados uns dos outros. Assim, observa-se uma postura de desacordo, de contradições,
confrontos de sentido. E é necessário afirmar que esses diálogos nunca se repetem, estão
constantemente mudando e se renovando, renovando as marcas históricas e sociais.
Referências

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de


Paulo Bezerra; notas da edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016.

FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do círculo de


Bakhtin. Curitiba: Parábola, 2009.

FARIA E SILVA, Adriana P. P. de. Bakhtin. In: OLIVEIRA, Luciano A. Estudos do


discurso: perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola, 2013.

MIOTELLO, Valdemir. Ideologia. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2005.

VOLÓCHINOV, Valentin. A palavra na vida e a palavra na poesia: para uma poética


sociológica. In ______. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios, artigos, resenhas e
poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de Sheila Grillo e Ekaterina
Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019a.

______. A construção do enunciado. In ______. A palavra na vida e a palavra na poesia:


ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de
Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019b.

______. A palavra e sua função social. In ______. A palavra na vida e a palavra na poesia:
ensaios, artigos, resenhas e poemas. Organização, tradução, ensaio introdutório e notas de
Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo: Editora 34, 2019c.

______. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método


sociológico na ciência da linguagem. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova
Américo. São Paulo: Editora 34, 2017.

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