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Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Centro de Artes e Comunicação (CAC)


Departamento de Letras
Leitura e Produção de Texto Acadêmico (LPTA) - 2023.1

Nome: Kaue Melo dos Santos


Data de envio: 04/08/2023
Professor: André Cavalcante

FIORIN, José Luiz. O dialogismo. In: FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de
Bakhtin. São Paulo: Ática, 2011.

O capítulo “O dialogismo”, do livro de José Luiz Fiorin, tem por objetivo tratar
sobre o dialogismo segundo a percepção do filósofo russo Mikhail Bakhtin. Conforme
Bakhtin, a língua, em sua totalidade concreta, viva, em seu uso real, tem a propriedade
de ser dialógica, isto é, ela é limitada no processo de comunicação, sendo consumada
a partir das premissas. O autor enfatiza também que o dialogismo são as relações de
sentido que se estabelecem entre dois enunciados.
Fiorin afirma que para Bakhtin não há nenhum objeto que não apareça cercado
em discursos, ou seja, todo discurso que refere-se a qualquer objeto não está voltado
para realidade em si, mas para os discursos que o cercam. Com isso, é válido
mencionar que, não são as unidades da língua que são dialógicas, mas os
enunciados. Assim, torna-se claro que os os enunciados são acontecimentos únicos,
e cada vez tendo uma apreciação, uma entonação. O que diferencia é que o
enunciado é a réplica de um diálogo, pois cada vez que se produz um enunciado o
que se está fazendo é participar de um diálogo com outros discursos. O que delimita,
pois, sua dimensão é a alternância dos falantes. Portanto, o que é peculiar do
enunciado é que ele não existe fora das relações dialógicas.
O autor reflete, de acordo com Bakhtin, que as unidades da língua são
completas, mas não têm um acabamento que permita uma resposta. Em outras
palavras, as unidades da língua não são dirigidas a ninguém, já os enunciados têm
um destinatário e levam em conta emoções, juízos de valor, paixões, etc.
Desse modo, o dialogismo é o modo de funcionamento real da linguagem, é o
princípio constitutivo do enunciado. Todo enunciado estabelece-se a partir de outro
enunciado, é uma réplica a outro enunciado. Por exemplo, quando se afirma “Negros
e brancos têm a mesma capacidade intelectual”, esse enunciado só faz sentido porque
ele se constitui em contraposição a um enunciado racista, que preconiza a
superioridade intelectual dos brancos em relação a outras etnias (p.19).
Segundo Fiorin, a teoria bakhtiniana leva em conta não somente as vozes
sociais, mas também as individuais. Ela permite examinar do ponto de vista das
relações dialógicas, não apenas as grandes polêmicas filosóficas, políticas,
econômicas, pedagógicas, mas também fenômenos da fala cotidiana, como a
modelagem do enunciado pela opinião do interlocutor imediato ou a reprodução da
fala do outro com uma entonação distinta diferente da que foi utilizada, irônica,
indignada, reprovadora, etc.
Em conformidade com Bakhtin, Fiorin afirma que, a opinião dos indivíduos, em
sua maioria, é social. E, que todo enunciado não se dirige somente a um destinatário,
mas também a um superdestinatário. Entretanto, a teoria não se resume apenas aos
discursos sociais. A singularidade de cada pessoa ocorre na interação com o social,
assim, cada ser humano é social e individual. Além disso, um enunciado se constitui
em relação aos enunciados que o precedem e que o sucedem na cadeia de
comunicação. Com efeito, um enunciado busca uma resposta que ainda não existe.
O autor apresenta também o dialogismo que vai além das formas
composicionais, mostrando o modo de constituição do enunciado. Em todos os casos
o discurso do outro é demarcado por contornos exteriores bem nítidos: no discurso
direto, por um verbo introdutor e pelo travessão; no discurso indireto, pelo verbo
introdutório e pela conjunção integrante; na negação, pelo advérbio negativo; nas
aspas, pelos sinais gráficos. Até mesmo na linguagem oral, marcam-se as aspas,
fazendo o gesto com as mãos.
Para Fiorin, Bakhtin definia o estilo como dialogicamente, o que quer dizer que
ele depende dos parceiros da comunicação verbal, dos discursos dos outros. O estilo
constitui-se em oposição a outros estilos. Como mostra Bakhtin, se o estilo é
constitutivamente dialógico, ele não é o homem, são dois homens. Com qualquer
enunciado, ele revela o direito e o avesso. Assim, é diferente fazer um enunciado
dirigido a um amigo ou a um desconhecido, a uma autoridade ou a um colega de
trabalho.
O dialogismo é o princípio de constituição do indivíduo e o seu princípio de
ação. Entende-se, então, que a realidade é heterogênea, ou seja, o sujeito não
absorve apenas uma voz social, mas várias, que estão em relação diversas entre si.
Portanto, o sujeito é integralmente social e integralmente singular. Ele, o sujeito, é um
evento único, porque responde às condições do diálogo social de forma específica.

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