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D ISCIPLINA : L ÍNGUA P ORTUGUESA E L ITERATURA B RASILEIRA I


C URSO : T ÉCNICO DE N ÍVEL M ÉDIO I NTEGRADO EM ___________________________
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D OCENTE : W ILLAME S ANTOS DE S ALES

GÊNEROS DISCURSIVOS E OUTROS CONCEITOS RELACIONADOS

Willame Santos de Sales 1

Caro/a estudante,
Além das concepções básicas em linguagem e dos conhecimentos necessários à leitura e
à produção de textos, convém rememorarmos a concepção de gêneros discursivos e outros
conceitos a ela relacionados. Essas concepções também foram discutidas em sala de aula com
base em materiais detalhados e listas de exercícios. Portanto, sug erimos que releia os textos
teóricos anteriormente disponibilizados e revise a s listas de exercícios. Dito isso, pass emos à
discussão.

Gêneros discursivos
Assim como o átomo é, de certo modo, uma unidade básica na química , o bit o é na
informática, e a célula pode ter esse mesmo status na biologia, a unidade básica da linguagem
é o texto, e não a palavra, a frase, a oração, o parágrafo ou a estrofe . Apesar disso, devemos
reconhecer que uma palavra, uma frase, uma oração, um parágrafo e uma estrofe , em
determinados contextos, podem constituir um texto, casos em que serão considerados
unidades básicas da interação. O texto é a unidade básica em linguagem porque ele constitui a
unidade mínima necessária para promover interação, diálogo entre os sujeitos falantes de uma
língua. Estamos, a todo instante, lendo e produzindo textos e, em última análise, dois ou mais
sujeitos não interagem socialmente a não ser por meio de texto s, sejam eles orais, escritos,
verbais, não verbais, verbo-visuais, audiovisuais, produzidos em linguagem padrão ou não
padrão, ou a partir de outras mesclas de linguagens.
Diante disso, a experiência humana se encarregou de criar “modelos de textos ” para
promover essa interação social entre os sujeitos. Por meio desses modelos, somos capazes de
realizar inúmeras intenções comunicativas: informar, criticar, convencer, persuadir, contar uma
história, emocionar, promover reflexões, orientar, entre muitas outras. Assim, podemos veicular
nossas opiniões, nossas crenças, nossos valores, em síntese, to dos os nossos discursos e
também ter acesso aos discursos dos outros sujeitos . A esses “modelos” de textos chamamos
gêneros discursivos, e talvez os conheçamos como gêneros textuais. Aqui não iremos
problematizar eventuais diferenças entres gêneros discurs ivos e gêneros textuais. Iremos
considerá-los como equivalentes. Portanto, o que aprendemos sobre gênero textual valerá para
gêneros discursivos, embora saibamos que muito do que abordaremos adiante será novidade.
Em resumo, os gêneros discursivos são “modelos” de texto relativamente estáveis,
criados, ao longo da história humana, para atender às necessidades de interação social
dos sujeitos. Esses modelos, apesar de estáveis, variam de acordo com o tempo e o espaço, de
modo que um determinado gênero pode deixar de existir em um dado momento da história ou
existir somente em determinada região, ou apenas sofrer modificações. São exemplos de
gêneros discursivos: a reportagem, a notícia, o artigo de opinião, a charge, a tirinha, o cartum, o
anúncio publicitário, a campanha comunitária, o manual de instruções, o requerimento, o
atestado médico, o sermão, a carta de alforria (que, aliás, não existe mais), a fábula, o conto, a
novela, o poema, a canção, entre muitos outros. Não é possível listar todos os gênero s

1
Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – Campus Nova Cruz
discursivos que circulam na sociedade, pois eles são em número virtualmente infinito, estão, a
todo tempo, sendo criados e/ou transformados.
Mas, afinal, o que define os gêneros discursivos? O que diferencia um gênero de outro?
São três os fatores definidores do gênero discursivo: o conteúdo, a forma e o estilo. A seguir,
apresentaremos, sucintamente, cada um desses fatores. Mas antes precisamos ressaltar que
cada gênero discursivo tem um conteúdo, uma forma e um estilo próprios, ou seja, que o
caracterizam, de modo a diferenciá-lo de outros gêneros.
1. O conteúdo do gênero: esse fator diz respeito aos temas que são mais propícios a cada
gênero e à intenção comunicativa que se pode realizar com cada um desses gêneros .
Precisamos ter em mente que nem todo tema é passível de ser desenvolvido em qualquer gênero
discursivo assim como nem toda intenção comunicativa pode ser alcançada por qualquer gênero.
Desse modo, para produzir um artigo de opinião, é necessário um tema que suscite controvérsia;
afinal, quem defenderia uma opinião relacionada a um tema sobre o qual todos pensam da
mesma forma? Não faria sentido algum. Por exemplo:
a) se o tema é a situação política do país e a intenção é criticar, pode -se produzir uma charge;
b) se o tema é a situação política do país e a intenção é convencer, pode -se escrever um artigo
de opinião;
c) se o tema é o amor e a intenção comunicativa é emocionar, pode -se produzir um poema;
d) se o tema é o amor e a intenção é refletir, pode -se escrever uma crônica.
Notemos que cada gênero discursivo aceita – mais ou menos – determinados temas e
realiza – mais ou menos – determinada intenção comunicativa. Compete ao leitor/produtor do
texto selecionar o gênero discursivo mais adequado (i) ao tema que pretende discutir e (ii) à
intenção comunicativa que pretende realizar.
2. A forma do gênero: esse fator diz respeito à composição do gênero discursivo, às partes
que o constituem. Ressaltamos que cada gênero apresenta um conjunto de características
composicionais que lhe são próprias. Por exemplo:
a) o poema normalmente é composto em estrofes (mas, às vezes, ele pode formar uma imagem);
na maioria das vezes, contém título, mas, às vezes, não ;
b) o artigo de opinião normalmente é composto em parágrafos (em geral, mais de um); sempre
apresenta título e autoria explícita (às vezes, a autoria vem abaixo do título; outras vezes, ao
final do texto); é organizado a partir de uma tese, geralmente apresentada na introdução; em
seguida, no desenvolvimento, constroem -se argumentos para a defesa dessa tese; os
argumentos apontam para uma conclusão lógica, normalmente apresentada e/ou ratificada no
último parágrafo;
c) a carta pessoal normalmente é composta em parágrafos (em geral, mais de um); apresenta um
cabeçalho com local e data; em seguida, contém um vocativo; depois, o desen volvimento do
texto, que é o espaço destinado ao fornecimento de informações a respeito do enunciador ou do
que se passou com ele; em seguida, uma despedida; e, por último, a assinatura do enunciador.
Notemos que algumas características composicionais estão presentes em alguns gêneros
e em outros não. Além disso, uma característica que é própria de determinado gênero pode não
aparecer em todos os textos daquele gênero; afinal, o gênero discursivo é um “modelo” apenas
relativamente estável de texto, isto é, pode apresentar variações na composição.
3. O estilo do gênero: esse fator diz respeito às escolhas e aos procedimentos de
linguagem próprios de cada gênero discursivo . Por exemplo:
a) o poema normalmente é escrito em primeira pessoa; pode apresentar uma linguagem padrão
ou menos formal; os versos podem conter rimas ou não;
b) o artigo de opinião normalmente é escrito em primeira pessoa, embora seja admissível a
impessoalização; adota uma linguagem padrão; é normalmente escrito em prosa;
c) a carta pessoal é sempre escrita em primeira pessoa ; tende a uma linguagem menos formal, é
escrita em prosa.
Notemos que, a depender do gênero discursivo, o estilo da linguagem varia. Cada gênero
tem um estilo particular, de modo que não se deve m realizar escolhas e adotar procedimentos de
linguagem inadequados ao gênero ou muito distantes do que dele se espera. No entanto,
devemos considerar que, assim como a forma do gênero, o estilo também não é ab solutamente
rígido e admite variações, a depender da intenção e da habilidade de escrita do enunciador bem
como das liberdades que lhe são dadas pelo contexto de produção do texto.

Outros conceitos relacionados a gêneros discursivos e textos


1. Esfera discursiva: diz respeito aos campos da atividade humana em que os gêneros
discursivos são mais comumente produzidos e circulam. Exemplos: a) a esfera familiar (ou do
cotidiano) é propícia à produção e à circulação de bilhetes, sermões, avisos, fofocas, con versas
informais; b) a esfera jornalística é rica em reportagens, notícias, charges, artigos de opinião;
c) a esfera publicitária é profícua em anúncios e filmes publicitários; d) a esfera médica
apresenta atestados médicos, receitas médicas, bulas; e) a esfera jurídica é rica em petições,
audiências, recursos, sentenças; f) a esfera literária apresenta contos, fábulas, poemas,
novelas, romances; g) esferas profissionais são propícias à existência de currículos, cartas de
apresentação, exposições orais; h) a esfera escolar/acadêmica é profícua em seminários,
provas, requerimentos, aulas; e assim sucessivamente. Assim como os gêneros discursivos, as
esferas existem em número virtualmente infinito, pois são criadas e extintas a depender do
desenvolvimento humano no tempo e no espaço.
2. Intenção comunicativa: diz respeito ao objetivo ou propósito que se pretende alcançar com
determinado texto. Há dois tipos de intenções comunicativas: a) a dominante, que é a principal,
isto é, o mais importante propósito que se pretende alcançar com a produção do texto; e b) as
secundárias, que são aquelas acessórias, alcançadas em decorrência ou acessoriamente à
dominante. Exemplos de intenções comunicativas : informar, criticar, convencer, persuadir,
contar uma história, emocionar, promover reflexões, orientar, sentenciar, expor, ensinar, noticiar,
avisar, requerer, entre inúmeras outras. Importante: cada gênero discursivo apresenta uma
intenção comunicativa diferente. Não existem dois gêneros com a mesma intenção comunicativa;
por isso, dizemos que, em última análise, o fator mais importante na determinação do gênero é a
intenção comunicativa.
3. Contexto de produção: diz respeito à situação imediata que gerou a necessidade de
produção de um texto. Por exemplo, a) um artigo de opinião é produzido em resposta à
necessidade ou ao desejo de emitir mos uma opinião sobre determinado tema controverso na
época da produção do texto; b) um anúncio ou um filme publicitários são produzi dos pela
necessidade da marca em divulgar/vender seus produtos; c) uma crônica é produzida a partir de
um acontecimento, aparentemente sem importância, ocorrido na vida real do cronista; d) uma
charge é produzida em resposta a um fato político, social, eco nômico marcante na sociedade em
um dado momento; e assim por diante. O contexto , mais do que circundar o texto, o constitui, faz
parte dele, sendo de suma importância à sua produção.
4. Enunciador: é o autor do texto (aquele que o assina) ou o responsável indireto pela sua
produção (a marca do produto ou serviço, no caso, por exemplo, de um anúncio publicitário
produzido por uma agência de publicidade).
5. Coenunciador: é o leitor/ouvinte do texto, isto é, a quem o texto se dirige diretame nte.
6. Público-alvo: é o leitor preferencial do texto, ou seja, aquele para o qual o enunciador
direciona a produção textual. Não estamos afirmando que público-alvo é aquele sujeito que,
porventura, venha a ler o texto. Afinal, qualquer pessoa pode ler um texto, bastando dispor dos
conhecimentos necessários para tal. O público -alvo é, por assim dizer, o conjunto de leitores que
o enunciador considerou no momento de produzir seu texto. Normalmente, esse público -alvo
pode ser definido com base em determinados fatores: a) a temática e a intenção comunicativa
dominante no texto (por exemplo, uma campanha comunitária cuja intenção dominante é
incentivar a denúncia de casos de violência contra a mulher deve ter como público -alvo as
mulheres vítimas de violência); e b) o veículo no qual o texto é publicado (um artigo de opinião
publicado no jornal Tribuna do Norte deve ter como público-alvo o conjunto de leitores desse
jornal; já um aviso publicado em um mural do IFRN deve ter como público -alvo estudantes e
servidores dessa instituição).
7. Suporte textual: é um lugar, um meio físico ou virtual, utilizado para a veiculação do texto.
Exemplos: jornal, revista, livro, mural, TV, rádio, blog, redes sociais, sites, muros, corpo humano,
árvores etc.
8. Sequências, tipologias ou tipos textuais: dizem respeito à organização interna do texto, à
macroestrutura básica, que se repete em diferentes gêneros discursivos , ordenando seus
elementos estruturais. Por exemplo, a sequência narrativa organiza gêneros como o conto, a
crônica, a notícia, o relatório; por sua vez, a sequência argumentativa organiza gêneros como o
artigo de opinião, a carta aberta, o debate, a redação do ENEM. O conceito de sequência textual
difere do de gênero discursivo: a maioria dos autores admite a existência de apenas 6
sequências textuais (narrativa, descritiva, dialogal, explicativa, injuntiva e argumentativa), ao
passo que os gêneros discursivos são em número virtualmente infinito.
9. Registro de linguagem: está relacionado ao estilo da linguagem e diz respeito ao grau de
formalidade ou de informalidade exigido por um gênero discursivo. Varia do registro formal ao
informal, passando por estilos intermediários. Um gênero pode tender ao registro formal, mas
admitir marcas de informalidade (a crônica, por exemplo) ou vice -versa; outros adotam o registro
informal (a charge e a tirinha, por exemplo); outros, o registro formal (o relatório e a notícia, por
exemplo).

REFERÊNCIAS

ADAM, Jean-Michel. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São
Paulo: Cortez, 2008.

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.

KOCH, Ingedore Villaça; Elias, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São
Paulo: Contexto, 2013.

KOCH, Ingedore Villaça; Elias, Vanda Maria . Ler e escrever: estratégias de produção textual.
São Paulo: Contexto, 2012.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão . São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.

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