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-- Introdução a citopatologia
A citopatologia é uma área de conhecimento, dentro das ciências da saúde que
compreende o estudo das células e suas alterações em processos patologicos. É
através dela que estudamos as patologias humanda e animais do ponto de vista
celular levando em consideração as características do núcleo e do citoplasma. O
advento de técnicas de coloração para o estudo das células em citologia, e a
introdução de novas tecnologias como o microscopio óptico, possibilitaram um melhor
detalhamento da célula e de suas estruturas internas. Alguns métodos complementares
como técnicas de biologia molecular e sistemas computacionais auxiliam o exame
citológico tradicional, trazendo maior qualidade e confiabilidade diagnóstica. O
holandes Antonie Von Leeuwenhoek (1632-1723) é considerado por muitos como o pai da
microscopia optica, mas foram os holandeses Hans Janssen e Zacharias Janssen,
fabricantes de óculos que inventaram o microscópio no final do século XVI. As
observações realizadas por eles demonstraram que a montagem de duas lentes em um
cilíndro possuia a capacidade de aumentar o tamanho das imagens, permitindo dessa
forma que objetos invisíveis a olho nu fossem observados de forma detalhada. A
atribuição equivocada dessa descoberta a Leeuwenhoek se deve ao fato dele ter sido
o primeiro a utilizar o microscópio óptico para fins científicos. Leeuwenhoek
observou e descreveu os procariontes; o espermatoozoide de insetos, cães e humanos;
fibras musculares; globulos vermelhos; capilares sanguíneos; protozoários;
rotíferos e o pararita intestinal Giardia lamblia, isolado de suas próprias fezes,
através de um microscópio de fabricação própria. Com certeza Leewenhoek deixou um
grande legado para o estudo das ciencias médicas e biológicas.
-- Estudo da citopatologia
A citopatologia estuda as alterações, estruturas e funções celulares. Núcleo,
citoplasma, membrana e matriz extracelular constituem os quatro elementos básicos
para o estudo do diagnóstico citológico. Enquanto o núcleo representa o estado de
saúde da célula, demonstrando se ela está normal, com inflamação, se está havendo
degeneração ou alterações hiperplásicas, metaplásicas, o citoplasma representa a
origem da célula e sua função, como células grandulares que produzem muco ou
células escamosas que protegem.
- Mama
A mama humana fica localizada na parte anterior do tórax e apresenta uma auréola e
uma papila na região central. É formada por um lóbulo, um grande sistema ductal e
divide-se em quinze a vinte lobos mamários separados por tecidos fibroso. Os lobos
possuem via de drenagem que utilizam o sistema ductal para convergir até a papila.
A mama é composto por dois tipos celulares, as células epiteliais e mioepiteliais.
As células epiteliais possuem função de secreção e absorção, e sua espessura é
composta por uma ou duas células. Já as células mioepiteliais são contráteis e, ao
realizarem a contração movem o leite (produto da secreção) através do sistema
dictal.
- Tireóide
A glândula tireoide é constituida por dois lobos laterais conectadas por um istmo.
O folículo é sua unidade funcional que é composto por células epiteliais
foliculares (ao redor) e glicoproteína coloide (no centro). Produz hormonios
tireoidianos e os armazena. Esses hormônios são responáveis pelo metabolismo do
organismo. Para uma adequabilidade da amostra é necessário que haja pelo menos seis
grupos de células foliculares bem visualizadas, ou seja, bem coradas, sem
sobrepopsição ou distorção. Com pelo menos dez células por grupo.
- Pulmão
O tecido pulmonar possui dentre os principais componentes vistos nos preparadps
citológicos, células do epitélio respiratório e macrófagos. É importante entender e
saber como o espécime foi obtido, como foi feito o processamento da amostra e qual
o tipo de amostra utilizada para a interpretação citológica do trato respiratório.
Tendo em vista que a morfologia das células e sua precisão diagnóstica variam de
acordo com cada item citado. As amostras podem ser escarro ou espécimes brônquicas.
- Líquidos
O pulmão é revestido por uma membrana serosa delicada, chamada pleura visceral, e
possui a pleura parietal que reveste a parede interna torácica. As pleuras estão em
continuidade e formam um espaço virtual entre elas. A pleura normal é composta por
uma única camada de células mesoteliais e uma pseudomembrana em que repousa o
tecido conjuntivo. No espaço pleural há uma pequena quantidade de líquido que atua
como lubtificante para facilitar os movimentos respiratórios. No tecido conjuntivo
há a presença de arteríolas, vênulas e nervos periféricos, simpáticos e
parassimpaticos. O pericárdio e peritônio possuem estruturas e funções similares as
da pleura.
- Cérvice-vaginal
A cérvice é representada pela extocérvice, que é revestida por epitélio escamoso
estratificado não queratinizado, e pela endocérvice que é revestida por epitélio
colunar simples. Também há a presença de células endometriais e elementos não
celulares, como hemácias e piócitos. A junção escamocolunar (JEC) é a união entre
esses dois epitélios. A colheita das amostras citológicas no teste de Papanicolau é
realizada na ectocévice e endocérvice, na maioria das vezes.
- Punção
Método simples e seguro com boa precisão diagnóstica. É de rápida realização e
complicações não são comuns (sangramento, hematomas, processos inflamatórios).
Antes de realizar o procedimento é necessária a preparação do paciente e a
realização da antissepsia do local a ser puncionado. Para órgãos mais profundos
pode-se utilizar anestesia. A punção não deve ser feita caso haja a presença de
distúrbios de coagulação e/ou uso de anticoagulantes, tosse (em punção de tireoide
ou transtorácica), cisto hidático (fígado) e tumor do corpo carotídeo (pelo risco
de hemorragia). A punção pode ser feita de forma aspirativa por agulha fina (PAAF)
ou por capilaridade.
- Raspagem
Obtém-se os raspados de superfícies cutâneas ou mucosas (pele, boca, uretra, canal
anal), utilizando-se swabs, lâminas de bisturi, espátulas ou escovas apropriadas. É
bastante utilizada em canais ou fístulas, regiões inacessíveis a outros métodos de
coleta. Recomenda-se não fazer assepsia prévia na lesão, nem usar medicações
tópicas, pois poderá prejudicar a qualidade das amostras. O material deverá ser
colhido através de duas a três respagens da lesão, de uma forma que não cause
sangramentos, e deverá ser suavemente estendid sobre uma lâmina de vidro limpa, em
uma fina camada, e imediatamente fixado em alcool a 95% ou com spray fixador.
Lesões vesiculares devem ser rompidas com uma pequena incisão, fazendo a raspagem
de susa margens, já que o material existente na base dificulta o diagnóstico devido
ao fato de ser mal preservado. Ao aplicar previamente uma compressa de solução
fisiológica, em lesões não ulceradas, causará uma maior descamação e melhor
preservação celular. Faz-se a distensão sobre a lâmina de vidro ou corta-se a
cabeça da escova para imergir em solução salina ou em conservante apropriado.
-- Processo Pós-coleta
Fatores que interferem na adequabilidade da amostra: vaginismo, obesidade,
posicionamento da cérvice uterina, fixação inadequada, escassez de material, etc.
- Pré-fixação
A pré-fixação vai garantir a preservação de espécimes por dias ou mesmo meses, se
necessário, mantendo a morfologia celular até a confecção do esfregaço. Entretanto
pode ocorrer coagulação de proteínas, condensação da cromatina, obter menor adesão
celular e limitação ao uso de certas técnicas de coloração. O etanol 50% é o mais
utilizado para este fim.
- Centrifugação
A centrifugação inicia o processamento de líquidos de qualquer espécie, com o
objetivo de concentrar os elementos celulares no sedimento que se forma no fundo do
tubo da centrífuga. Podem ser utilizadas a centrífuga convencional ou a
citocentrífuga, a depender do tipo de material.
- Fixação
As amostras utilizadas precisam ser fixadas para que as características
morfológicas e das células e suas afinidades tintoriais sejam preservadas, visando
facilitar a permeabilidade dos corantes, prevenir ressecamento, além de conservar a
composição química presente. Existem alguns tipos de fixação, dentre eles: Fixação
seca - é utilizada para a coloração de May Grunwald-Giemsa, com a ação do metanol
como fixador na solução corante. É utilizada para distensão de células sanguíneas
imprit de baço, gânglios linfáticos, entre outros. O fixador citológico mais
utilizado é o etanol 95% que vai desidratar a célula, fazendo que haja uma
diferenciação entre núcleo e citoplasma após a coloração.; Fixação por líquidos;
Fixação por revestimento - são constituídos de polietilenoglicol (carbowax) e
álcool e fixam por gotejamento ou por spray, sendo que deve ser respeitada uma
distância mínima de 15cm de spray para que não haja perda de material. As amostras
são secas em temperatura ambiente, visto que o álcool fixa e evapora, enquanto o
polietilenoglicol forma uma película que protege e preserva a amostra.
- Coloração de Papanicolau
A coloração de Papanicolau está dividida em várias etapas: hidratação, coloração
nuclear, desidratação, coloração citoplasmática, desidratação, clarificação e
selagem. Esse método utiliza um conjunto de corantes e tem como objetivo a
evidenciação do graus de maturidade e de atividade metabólica celular e das
variáveis na morfologia. Baseia-se nas ações de um corante básico, a Hematoxilina
de Harris, que possui afinidade pelo núcleo das células, um corante ácido, o Orange
G, que tem afinidade com o citoplasma das células queratinizadas, e um corante
policromático, EA-65, que oferece tonalidades de cores diferentes no citoplasma das
células.
- Coloração de Shorr
É um método com resultado semelhante ao Papanicolau, porém é menos utilizada por
conta da perda dos detalhes nucleares e da transparencia citoplasmática. Fatores
que influenciam na reação da coloração: Tipo de fixador, fórmula dos corantes,
duração dos banhos, características da água corrente, pH do espécime.
- Colorações especiais
Métodos de coloração que permitem visualizar determinadas substancias ou
estruturas, auxiliando no diagnóstico de certas, condições patológicas.
Alcia Blue: coloração de carboidratos, cora os núcleos em azul claro.
PAS (Ácido Periódico de Schiff): cora carboidratos e fungos, conferindo-lhes a cor
magenta. Os núcleos coram-se em preto e o fundo do esfregaço em verde.
Prata metanamina (método de Grocott): identifica fungos e Pneumocystis carinii,
corados em preto. Glicogênio e mucina são corados em rosa a cinza e o fundo em
verde.
Azul da Prússia (método de Perls): demonstra depósitos de hemossiderina, corando-os
em azul. O núcleo e outras estruturas se coram em vermelho.
Gram: identifica bactérias classificando-as em Gram positivas ou negativas.
Ziehl-Neelsen: identifica os bacilos álcool-ácidoresistentes (BAAR).
-- Montagem
Protege o materia celular contra o dessecamento e contra retração celulares, além
de prevenir o desbotamento dos corantes nas células. Também protege a amostra para
o armazenamento adequado e possibilita melhor a visualização dos detalhes
celulares. Os materiais mais utilizados são o Bálsamo do Canadá e o Entellan, que
permitem a ligação entre a lâmina e a lamínula. Após retirar a lâmina do xilitol,
colorar 1-2 gotas do meio de montagem sobre a lamínula. Colocar suavemente a
lamínula sobre a lâmina exercendo uma leve pressão. Escorrer o excesso do meio de
montagem e limpar com xilito. Afastar as bolhas que se formaram com bastão de vidro
ou pinça. Deixar secar por alguns minutos antes de iniciar a leitura microscópica.
- Inflamação Exsudativa
É caracterizada pela saída de elementos do sangue (plasma e células) para o espaço
do interstício, levando ao acúmulo de líquido na região da inflamação - exsudato.
Os exsudatos serão classificados de acordo com as suas características. Quando o
exsudato produzido é aquoso, límpido e pobre em células é classificado como seroso.
Os exsudatos serosos podem ser subdividir em vesícula e bolha. Quando a inflamação
tem elevação na superfície de diâmetro igual ou inferior a 5mm e é circunscrita de
epitélio de revestimento, gerando um exsudato seroso, é conhecida como vesícula. Já
quando ocorre essa mesma inflamação, porém com diâmetro superior a 5mm, é conhecida
como bolha. O exsudato é catarral ou mucosal quando é viscoso com alto teor de
mucina, e sua cor e celuridade são variáveis. Quando o exsudato é cremoso, amarelo-
esverdeado, com muitos PMNs e células necróticas é conhecido como purulento ou
supurado. O processo inflamatório de uma pericardite viral, no seu início, será
chamado seroso, porque teremos predomínio somente de água e eletrólitos, que é como
começam os processos inflamatórios de origem viral.
- Inflamação alterativa
As inflamações alterativas se caracterizam pela ocorrencia de degeneração e necrose
tecidual e podem ser classificadas em:
Erosivas: quando é advindo de epitélio de revestimento, com degeneração e necrose.
A descamação não atinge a submucosa.
Ulcerativa: quando é advinda de epitélio de revestimento com degeneração,
descamação e necrose profunda, atingindo a submucosa. Provoca hemorragias.
Atrofiante/hipotrofiante: quando a inflamação é crônica, com tendencia a involução.
Comum em mucosas e glândulas, com proliferação ou não de tecido conjuntivo fibroso
e metaplasia escamosa.
Necrosante: quando a necrose atinge uma maiot parte do foco da inflamação de forma
primária ou secundária por ação do agente agressor ou em consequencia da própria
reação inflamatória.
Gangrenosa: quando os tecidos inflamados e necrosados, por consequencia de
inflamações necrosantes, sofrem ação de agentes exógenos em partes do organismo em
comunicação com o exterior, havendo contaminação.
- Inflamação produtiva/proliferativa
É a fase final da inflamação e caracteriza-se pela proliferação local de vazos e
células. É a tentativa do organismo de reparar as alterações causadas pela agressão
e pela fase exsudativa. Pode ser classificada em:
Hipertrofiante/Hiperplasiante: é uma inflamação cronica, acomete com mais
frequencia as mucosas, tem proliferação conjuntiva-vascular podendo evoluir para
crescimento papilares e poliposos. As vezes possui aspecto tumoral vegetante,
papilar ou poliposo.
Esclerosante: inflamação cronica, acomete com maior frequencia parenquimas. Antes
de encerrar o processo inflamatório, com o processo de reparação, ocorre a produção
excessiva de colágeno, o que resulta em alterações na morfologia e fisiologia dos
órgãos.
Granulomatosa: caracteriza-se pela formação de estruturas nodulares com arquitetura
histólogica de nódulo. É uma reação de macrófagos a agentes não imunogenicos ou a
agentes imunogenicos. Muitas vezes permite o diagnóstico da patologia. A inflamação
tem graus de intensidade. Pode ser leve ou discreta quando o tecido ou órgão afetao
tem sua função alterada levemente, de modo a não comprometer seriamente o
organismo; moderada se o tecido/orgão afetado tem sua função alterada de modo a
comprometer razoavelmente o organismo, sem risco de vida; e grave/severa quando o
órgão afetado tem sua função muito alterada, comprometendo seriamente o organismo.