Você está na página 1de 9

Citopatologia - Unidade 01

-- Introdução a citopatologia
A citopatologia é uma área de conhecimento, dentro das ciências da saúde que
compreende o estudo das células e suas alterações em processos patologicos. É
através dela que estudamos as patologias humanda e animais do ponto de vista
celular levando em consideração as características do núcleo e do citoplasma. O
advento de técnicas de coloração para o estudo das células em citologia, e a
introdução de novas tecnologias como o microscopio óptico, possibilitaram um melhor
detalhamento da célula e de suas estruturas internas. Alguns métodos complementares
como técnicas de biologia molecular e sistemas computacionais auxiliam o exame
citológico tradicional, trazendo maior qualidade e confiabilidade diagnóstica. O
holandes Antonie Von Leeuwenhoek (1632-1723) é considerado por muitos como o pai da
microscopia optica, mas foram os holandeses Hans Janssen e Zacharias Janssen,
fabricantes de óculos que inventaram o microscópio no final do século XVI. As
observações realizadas por eles demonstraram que a montagem de duas lentes em um
cilíndro possuia a capacidade de aumentar o tamanho das imagens, permitindo dessa
forma que objetos invisíveis a olho nu fossem observados de forma detalhada. A
atribuição equivocada dessa descoberta a Leeuwenhoek se deve ao fato dele ter sido
o primeiro a utilizar o microscópio óptico para fins científicos. Leeuwenhoek
observou e descreveu os procariontes; o espermatoozoide de insetos, cães e humanos;
fibras musculares; globulos vermelhos; capilares sanguíneos; protozoários;
rotíferos e o pararita intestinal Giardia lamblia, isolado de suas próprias fezes,
através de um microscópio de fabricação própria. Com certeza Leewenhoek deixou um
grande legado para o estudo das ciencias médicas e biológicas.

No ano de 1838, Johannes Mulles obteve um raspado de tumores e o visualizou no


microscópio identificando células malignas. Mais adiantes o frances Lebert utilizou
o microscópio para avaliar citologicamente espécimes de secreções, efusões, urina e
traqueobrônquico. Os estudos de Julius Vogel em 1843 representam o primeiro relato
da aplicação da citologia no meio diagnóstico. Ele identificou células malignas em
líquido de uma fístula drenando um grande tumor mandibular. Henri Lebert registrou
o apecto morfológico de células aspiradas de tumores, em 1845. Em 1853 Donaldson
descreveu as características citológicas de amostras obtidas da superfície de corte
de tumores num reporte sobre a aplicação prática do microscópio para o diagnostico
de câncer. Os patologistas Aurel Babes, George Papanicolau e James Ewing no ano de
1920 utilizaram a citologia esfoliativa e aspirativa dando um grande avanço na
citopatologia. Aurel Babes estabeleceu que o método era aplicável no diagnóstico de
canceres precoces, que ainda não tinha invadido o estroma. Ele descreveu claramente
as alterações citológicas no cancer cervical. Dez anos depois, em 1930 o exame
citológico já estava sendo utilizado como método diagnóstico de tumores de diversos
órgãos. George Papanicolau (1883-1962) desenvolveu o método conhecido pelo seu nome
para a detecção de lesões pré-malignas e câncer de colo uterino.

A citopatologia tem uma grande importancia na identificação através dos esfregaços


de células atípicas cancerosas ou de células pré-cancerosas, ou seja, nos seus
estágios de desenvolvimento. As doenças potencialmente cancerosas podem ser
definitivamente curadas quando diagnosticadas em suas fases iniciais, impedidndo
sua progressão para malignidade. O cancer do colo ce útero é o terceiro mais
incidente na população feminina brasileira, excetuando-se os casos de cancer de
pele não melanoma. O exame colpocitológico é pouco invasivo e é utilizado para
detectar nas mulheres tumores de colo de útero. O exame permite identificar a
existencia de lesões ou patologias previamente a realização da biópsia determinando
se há a necessidade de realizar a punção ou não. É uma ferramenta importante no
diagnostico de tumores, função hormonal e infecções parasitárias. A citologia
permite a análise individual das células do tecido coletado e diferente dos exames
histopatologicos, não possibilita visualizar a organização das células, apenas as
características de cada uma e os componentes encontrados na lâmina. O resultado da
biópsia é mais preciso, entretanto, a amostra citológica pode ter bastante
precisão. A biópsia excisional, o u seja, a remoção do tumor inteiro na maioria das
vezes é o tratamente necessário para remoção de um câncer. Para alguns tipos
tumorais uma amostra citológica ou uma biópsia, seja endoscópia, por agulha ou
incisional, pode ser a melhor opção a ser escolhida. Deve-se lebar em consideração
o tipo específico tumoral e o órgão em que está instalado. A citopatologia está
envolvida diretamente com a histologia, suas técnicas auxiliam no diagnóstico de
doenças que acometem tanto os serem humanos, quanto os animais. As técnicas
citólogicas se assemelham as técnicas histólogicas, havendo diferenciação de acordo
com o tipo de material e sua forma de coleta, fixação da amostra, processamento,
coloração e leitura de lâminas. Enquanto a citopatologia avalia as alterações
celulares, a histologia observa a arquitetura tecidual, possibilitando verificar se
há perda da organização tecidual e a relação do tumor com os tecidos adjacentes.
Sendo assim, as duas áreas trabalham juntas contribuindo para o diagnóstico,
conduta terapeutica e prognostico das patologias tumorais. Ela também está
associada a microbiologia, tendo em vista que as técnicas citologicas permitem a
visualização da microbiota presente em diversos órgãos, quando são analisados. Além
de detectar patógenos especóficos de diferentes sítios do organismo.

-- Estudo da citopatologia
A citopatologia estuda as alterações, estruturas e funções celulares. Núcleo,
citoplasma, membrana e matriz extracelular constituem os quatro elementos básicos
para o estudo do diagnóstico citológico. Enquanto o núcleo representa o estado de
saúde da célula, demonstrando se ela está normal, com inflamação, se está havendo
degeneração ou alterações hiperplásicas, metaplásicas, o citoplasma representa a
origem da célula e sua função, como células grandulares que produzem muco ou
células escamosas que protegem.

-- Padrões citológicos em diversos órgãos

- Mama
A mama humana fica localizada na parte anterior do tórax e apresenta uma auréola e
uma papila na região central. É formada por um lóbulo, um grande sistema ductal e
divide-se em quinze a vinte lobos mamários separados por tecidos fibroso. Os lobos
possuem via de drenagem que utilizam o sistema ductal para convergir até a papila.
A mama é composto por dois tipos celulares, as células epiteliais e mioepiteliais.
As células epiteliais possuem função de secreção e absorção, e sua espessura é
composta por uma ou duas células. Já as células mioepiteliais são contráteis e, ao
realizarem a contração movem o leite (produto da secreção) através do sistema
dictal.

- Tireóide
A glândula tireoide é constituida por dois lobos laterais conectadas por um istmo.
O folículo é sua unidade funcional que é composto por células epiteliais
foliculares (ao redor) e glicoproteína coloide (no centro). Produz hormonios
tireoidianos e os armazena. Esses hormônios são responáveis pelo metabolismo do
organismo. Para uma adequabilidade da amostra é necessário que haja pelo menos seis
grupos de células foliculares bem visualizadas, ou seja, bem coradas, sem
sobrepopsição ou distorção. Com pelo menos dez células por grupo.

- Pulmão
O tecido pulmonar possui dentre os principais componentes vistos nos preparadps
citológicos, células do epitélio respiratório e macrófagos. É importante entender e
saber como o espécime foi obtido, como foi feito o processamento da amostra e qual
o tipo de amostra utilizada para a interpretação citológica do trato respiratório.
Tendo em vista que a morfologia das células e sua precisão diagnóstica variam de
acordo com cada item citado. As amostras podem ser escarro ou espécimes brônquicas.
- Líquidos
O pulmão é revestido por uma membrana serosa delicada, chamada pleura visceral, e
possui a pleura parietal que reveste a parede interna torácica. As pleuras estão em
continuidade e formam um espaço virtual entre elas. A pleura normal é composta por
uma única camada de células mesoteliais e uma pseudomembrana em que repousa o
tecido conjuntivo. No espaço pleural há uma pequena quantidade de líquido que atua
como lubtificante para facilitar os movimentos respiratórios. No tecido conjuntivo
há a presença de arteríolas, vênulas e nervos periféricos, simpáticos e
parassimpaticos. O pericárdio e peritônio possuem estruturas e funções similares as
da pleura.

- Cérvice-vaginal
A cérvice é representada pela extocérvice, que é revestida por epitélio escamoso
estratificado não queratinizado, e pela endocérvice que é revestida por epitélio
colunar simples. Também há a presença de células endometriais e elementos não
celulares, como hemácias e piócitos. A junção escamocolunar (JEC) é a união entre
esses dois epitélios. A colheita das amostras citológicas no teste de Papanicolau é
realizada na ectocévice e endocérvice, na maioria das vezes.

-- Técnicas de coleta de materiais biológicos


-- A escolha do método adequado
Os materiais biológicos possuem diferentes composições e características e, devido
a isso, existem métodos específicos para coleta de cada um deles. A quantidade e
qualidade do material citologico são fatores determinantes na precisão diagnóstica
e estão diretamente relacionados ao uso de técnicas adequadas de amostragem e ao
processamento apropriado dos espécimes. Os materiais biológicos utilizados para o
exame popdem ser divididos de acordo com a sua obtenção.

Punção: Líquido pleural, peritoneal ou ascético, pericárdio, estomacal, sinovial;


Lavados brônquico, vesical; Abscessos, massas necroticas, sangue, líquor espinhal.
Raspagem: Colpocitologia, olhos, lavado bronquico.
Imprints: Lesão cutâneas, biópsias, peças cirurgicas.
Lavados: Lavados broncoalveolar, brônquico, peritoneal, gastríco, esofágico.
Escovados: Líquidos sinovial, peritoneal ou ascítico.
Espontâneo: Escarro, urina, secreção mamária.

- Punção
Método simples e seguro com boa precisão diagnóstica. É de rápida realização e
complicações não são comuns (sangramento, hematomas, processos inflamatórios).
Antes de realizar o procedimento é necessária a preparação do paciente e a
realização da antissepsia do local a ser puncionado. Para órgãos mais profundos
pode-se utilizar anestesia. A punção não deve ser feita caso haja a presença de
distúrbios de coagulação e/ou uso de anticoagulantes, tosse (em punção de tireoide
ou transtorácica), cisto hidático (fígado) e tumor do corpo carotídeo (pelo risco
de hemorragia). A punção pode ser feita de forma aspirativa por agulha fina (PAAF)
ou por capilaridade.

- Punção aspirativa por agulha fina - PAAF


Obtem-se amostras de nódulos ou tumores, seja de órgãos superficiais (mama,
tireoide, linfonodos e glanduas salivares) ou seja de orgãos profundos (pulmão e
fígado). Órgãos como pâncreas e retroperitônio são guiados por métodos de imagem
para a adequada localização (ultrassonografia, tomografia computadorizada). Foi
utilizado pela primeira vez em 1926 pelos americanos Martin e Ellis para a análse
de 65 casos de tumores em diferentes órgãos humanos. Utilizam-se agulhas de pequeno
calibre (0,5 a 0,7mm) porém em materiais mais espessos ou purulentos, podem ser
utilizadas agulhas de 0,8mm. Seringa plástica descartavel de 10 ou 20mL, luvas
cirurgicas, gaze estéril, solução de álcool iodado para antissepsia, lâminas de
vidro para microscopia com extremidade fosca e fixador integra o restante do
material necessário para realizar o procedimento.
Para realizar a técnica da PAAF deve-se manter o êmbolo na posição zero, introduzir
a agulha na lesão perpendicularmente a superficie da pele, promover forte pressão
negativa no interior da seringa, deslocando o êmbolo para estabelecer vácuo,
mantendo-o; efetuar movimento de "vai e vem" com a agulha na lesão, em diversas
direções e profundidades, mantendo a pressão negativa, até aparecer material no
início da seringa. Soltar o êmbolo na posição zero. Puxar o êmbolo da seringa,
fazendo vácuo, acoplar a agulha na seringa empurrando o êmbolo para em seguida
depositar o material na lâmina e preparar o esfregaço, fixando-o em seguida.
Materiais líquidos necessitam de centrifugação prévia para utilizar o sobrenadante
na confecção do esfregaço. A técnica de confecção dos esfregaços será escolhida de
acordo com o tipo de amostra obtida.

- Punção por capilaridade


Também conhecida como punção por agulha fina, é uma técnica não apirativa, de
sensibilidade diagnostica semelhante a PAAF, porém deve ser priorizada como método
de escolha para os tecidos muito vascularizados, a fim de minimizar a contaminação
por sangue periférico e hemodiluição da amostra. Os aparatos utilizados neste
procedimento são os mesmos empregados na PAAF, sem uso da seringa acoplada. A
técnica da punção por capilaridade consiste nos seguintes passos: 1. Localizar o
nódulo a ser coletado; 2. Fazer assepsia do local; 3. Introduzir a agulha e fazer
movimentos rápidos de "vai e vem" em várias direções; 4. Remover a agulha quando
perceber a presença do material no bisel; 5. Acoplar a agulha com o material numa
seringa de 10mL e distribuir pequenas quantidades do material em várias lâminas.

- Raspagem
Obtém-se os raspados de superfícies cutâneas ou mucosas (pele, boca, uretra, canal
anal), utilizando-se swabs, lâminas de bisturi, espátulas ou escovas apropriadas. É
bastante utilizada em canais ou fístulas, regiões inacessíveis a outros métodos de
coleta. Recomenda-se não fazer assepsia prévia na lesão, nem usar medicações
tópicas, pois poderá prejudicar a qualidade das amostras. O material deverá ser
colhido através de duas a três respagens da lesão, de uma forma que não cause
sangramentos, e deverá ser suavemente estendid sobre uma lâmina de vidro limpa, em
uma fina camada, e imediatamente fixado em alcool a 95% ou com spray fixador.
Lesões vesiculares devem ser rompidas com uma pequena incisão, fazendo a raspagem
de susa margens, já que o material existente na base dificulta o diagnóstico devido
ao fato de ser mal preservado. Ao aplicar previamente uma compressa de solução
fisiológica, em lesões não ulceradas, causará uma maior descamação e melhor
preservação celular. Faz-se a distensão sobre a lâmina de vidro ou corta-se a
cabeça da escova para imergir em solução salina ou em conservante apropriado.

-- Processo Pós-coleta
Fatores que interferem na adequabilidade da amostra: vaginismo, obesidade,
posicionamento da cérvice uterina, fixação inadequada, escassez de material, etc.

- Pré-fixação
A pré-fixação vai garantir a preservação de espécimes por dias ou mesmo meses, se
necessário, mantendo a morfologia celular até a confecção do esfregaço. Entretanto
pode ocorrer coagulação de proteínas, condensação da cromatina, obter menor adesão
celular e limitação ao uso de certas técnicas de coloração. O etanol 50% é o mais
utilizado para este fim.

- Centrifugação
A centrifugação inicia o processamento de líquidos de qualquer espécie, com o
objetivo de concentrar os elementos celulares no sedimento que se forma no fundo do
tubo da centrífuga. Podem ser utilizadas a centrífuga convencional ou a
citocentrífuga, a depender do tipo de material.

- Cell Blocks (bloco celulares)


Um dos métodos mais antigos, complementando o estudo dos fluidos, permite
visualizar histologicamente as patologias, devido a presença da arquitetura
tecidual. Permite a realização de múltiplos cortes, além de fornecer amostras
adicionais para coloração especiais. Os blocos celulares podem ser processados
pelos métodos do ágar, sedimento fixado e plasma-trombina.

- Fixação
As amostras utilizadas precisam ser fixadas para que as características
morfológicas e das células e suas afinidades tintoriais sejam preservadas, visando
facilitar a permeabilidade dos corantes, prevenir ressecamento, além de conservar a
composição química presente. Existem alguns tipos de fixação, dentre eles: Fixação
seca - é utilizada para a coloração de May Grunwald-Giemsa, com a ação do metanol
como fixador na solução corante. É utilizada para distensão de células sanguíneas
imprit de baço, gânglios linfáticos, entre outros. O fixador citológico mais
utilizado é o etanol 95% que vai desidratar a célula, fazendo que haja uma
diferenciação entre núcleo e citoplasma após a coloração.; Fixação por líquidos;
Fixação por revestimento - são constituídos de polietilenoglicol (carbowax) e
álcool e fixam por gotejamento ou por spray, sendo que deve ser respeitada uma
distância mínima de 15cm de spray para que não haja perda de material. As amostras
são secas em temperatura ambiente, visto que o álcool fixa e evapora, enquanto o
polietilenoglicol forma uma película que protege e preserva a amostra.

-- Técnicas de coloração das amostras biológicas


-- Processamento da amostra e a fase pré-analítica
Após a coleta, o material será processado. Existe uma variedade de técnicas de
coloração que podem ser utilizadas em citologia, tanto para o processamento de
rotina como para situações especiais (imunocitoquímica). As etapas do processamento
da amostra podem ser divididas em 3 fases: pré-analítica, analítica e pós-
analitica, sendo que a analítica e pós-analítica compreendem as fases de análise de
dados e entrega dos resultados, respectivamente. A fase pré-analitica corresponde a
etapa desde o recebimento do material, conferindo a identificação e o preenchimento
correto da ficha, até a coloração e confecção da lâmina. É a etapa crucial para que
as próximas etapas possam ser concluidas com exito. Amostras não fixadas, laminas
quebradas ou erro na identificação do material pode fazer com que ele seja
rejeitado e devolvido ao local de realização da coleta. A qualidade da coloração
está relacionada com as características tintoriais dos corantes, com o
processamento e fixação. Os esfregaços citológicos podem ser corados pelas técnicas
de Papanicolau, Shorr, mucicarmin de Mayer, May-Gruenwald-Giemsa, hematoxilina e
eosina, ácido periódico Schiff (PAS) ou Grocott. Porém, a técnica de Papanicolau é
a mais empregada e visa evidenciar as variações na morfologia e os graus de
maturidade e de atividade metabólica celular.

- Coloração de Papanicolau
A coloração de Papanicolau está dividida em várias etapas: hidratação, coloração
nuclear, desidratação, coloração citoplasmática, desidratação, clarificação e
selagem. Esse método utiliza um conjunto de corantes e tem como objetivo a
evidenciação do graus de maturidade e de atividade metabólica celular e das
variáveis na morfologia. Baseia-se nas ações de um corante básico, a Hematoxilina
de Harris, que possui afinidade pelo núcleo das células, um corante ácido, o Orange
G, que tem afinidade com o citoplasma das células queratinizadas, e um corante
policromático, EA-65, que oferece tonalidades de cores diferentes no citoplasma das
células.

- Coloração de Hematoxilina-Eosina (HE)


Mais utilizada na coloração de blocos celulares e de esfregaço de amostras obtidas
por PAAF, o citoplasma é corado em rosa e o núcleo em azul, a semelhança do que se
observa nos esfregaços histológicos. O citoplasma não fica tão transparente e o
núcleo não é tão bem definido quanto na coloração de Papanicolau. Já a coloração
rápida com Hematoxilina-Eosina (HE) é a mais utilizada em preparações obtidas por
PAAF. Com objetivo de aferir a celuridade da amostra após a coleta ou fornecer
diagnóstico imediato. Os esfregaços devem estar fixados em solução de álcool-
formaldeído. Alguns erros podem ocorrer nas etapas da coloração, como excesso de
algum corante, ou coloração insuficiente, prejudicando a visualização microscópica.

- Método de May-Grunwald-Giemsa (MMG)


É utilizado para a análise de elementos figurados do sangue periférico, medula
óssea, ou elementos celulares colhidos por punção, esfoliação, imprint de tecidos
ou concentrado de líquidos celulares, por meior de dois corantes: solução estoque
de May-Grunwald e solução estoque de Giemsa. As lâminas devem ser cobertas com a
solução MMG por seis minutos. Sem escorrer a solução corante, deve-se adicionar
água destilada por quatro minutos. O próximo passo é lavar as lâminas em água
corrente e deixar secar a temperatura ambiente ou em estufa a 40°C. Para finalizar,
deve-se clarificar com dois banhos de xilol.

- Coloração pelo azul de toluidina


A coloração é utilizada para diagnosticos imediatos e para constatar a
adequabilidade da amostra com relação a celuridade, podendo indicar a repetição do
procedimento. Pode ser utilizada em líquidos serosos, lavados pélvicos, peritoneais
ou brônquicos, amostras de PAAF, imprints, urina, aspirados de fundo de saco
vaginais e espécimes ovarianos. As preparações são coradas a fresco. As células se
coram em azul púrpura, mas em tons definidos de coloração para o núcleo e
citoplasma, o nucléolo pode ser identificado com uma coloração mais intensa.

- Técnicas rápidas de Diff-Quick (DQ) e de Panótico


A coloração de DQ é uma técnica de coloração rápida, utilizada para verificar a
adequabilidade dos espécimes, sobretudo aqueles obtidos por PAAF. É realizada em
esfregaços secos ao ar e empregada soluções aquosas contendo eosina, azul de
metileno e azure a. Sua vantagem é a facilidade de interpretação da morfologia
celular devido a enfase no tamanho, na forma e no arranjo celular. A coloração é
permanete e deve ser evitada em preparados de fluidos coletados com conservantes.
Outra técnica rápida, a coloração de Panótico é utilizada com amostras obtida por
PAAF, e avalia a celuridade do material. Os esfregaços devem ser secos ao ar antes
de serem submetidos a coloração. Utiliza três soluções de corantes (Instant Prov I,
II e III) e o tempo de processamento é de apenas 15 segundos.

- Coloração de Shorr
É um método com resultado semelhante ao Papanicolau, porém é menos utilizada por
conta da perda dos detalhes nucleares e da transparencia citoplasmática. Fatores
que influenciam na reação da coloração: Tipo de fixador, fórmula dos corantes,
duração dos banhos, características da água corrente, pH do espécime.

- Colorações especiais
Métodos de coloração que permitem visualizar determinadas substancias ou
estruturas, auxiliando no diagnóstico de certas, condições patológicas.
Alcia Blue: coloração de carboidratos, cora os núcleos em azul claro.
PAS (Ácido Periódico de Schiff): cora carboidratos e fungos, conferindo-lhes a cor
magenta. Os núcleos coram-se em preto e o fundo do esfregaço em verde.
Prata metanamina (método de Grocott): identifica fungos e Pneumocystis carinii,
corados em preto. Glicogênio e mucina são corados em rosa a cinza e o fundo em
verde.
Azul da Prússia (método de Perls): demonstra depósitos de hemossiderina, corando-os
em azul. O núcleo e outras estruturas se coram em vermelho.
Gram: identifica bactérias classificando-as em Gram positivas ou negativas.
Ziehl-Neelsen: identifica os bacilos álcool-ácidoresistentes (BAAR).

-- Montagem
Protege o materia celular contra o dessecamento e contra retração celulares, além
de prevenir o desbotamento dos corantes nas células. Também protege a amostra para
o armazenamento adequado e possibilita melhor a visualização dos detalhes
celulares. Os materiais mais utilizados são o Bálsamo do Canadá e o Entellan, que
permitem a ligação entre a lâmina e a lamínula. Após retirar a lâmina do xilitol,
colorar 1-2 gotas do meio de montagem sobre a lamínula. Colocar suavemente a
lamínula sobre a lâmina exercendo uma leve pressão. Escorrer o excesso do meio de
montagem e limpar com xilito. Afastar as bolhas que se formaram com bastão de vidro
ou pinça. Deixar secar por alguns minutos antes de iniciar a leitura microscópica.

-- Conhecendo a citopatologia dos processos inflamatórios


-- Em que consiste o processo inflamatório?
O conjunto de reações causadas por qualquer agressão ao tecido, seja por
microrganismo patógeno, pós-trauma, agentes químicos ou físicos, diminuição ou
interrupção do fluxo sanguíneo, caracteriza a inflamação. A citopatologia possui
uma importante atuação nos processos inflamatórios, reconhecendo as lesões,
avaliando a intensidade da reação inflamatória, acompanhando a evolução e podendo
determinar o patógeno causador. Qualquer processo inflamatório provoca o
aparecimento de exsudade inflamatório. Esse exsudato é composto por células como
leucócitos e histiócitos, e fenomenos de necrose celular que irão modificar o
aspecto dos esfregaços citológicos, tornando mais dificil o diagnóstico de células
epiteliais. A presença de polimorfos nucleares (PMN) pode indicar o grau da
inflamação. A presença de neutrofilos esta associada a uma inflamação aguda,
enquanto a presença de neutrofilos e linfócitos pode indicar uma inflamação
crônica.

Os PMN podem ser em grande quantidade, isolados ou aglomerados. Os linfócitos são


mais presentes em lesões crônicas e suas formas podem estar presentes desde o
pequeno linfócito até o linfoblasto. Os macrófagos são frequentes nas inflamações
crônicas e sua presença com citoplasma carregado de pigmentos sanguíneos demonstra
a existencia de sangramento cronicos. A presença de hemácias também está associado
aos fenomenos inflamatórios. O trato genital feminino possui inflamação de acordo
com a idade da mulher e a localização anatomica. Em crianças e em mulheres após a
menopausa, com o epitélio atrófico, reações inflamatórias ocorrem com mais
facilidade. Em mulheres em idade de reprodução o epitélio escamoso serve como uma
barreira contra as lesões, devido a sua alta proliferação. A endocérvice e o
endométrio são susceptíveis a agentes infecciosos, principalmente quando há
ectopia, já que a mucosa do epitélio colunar simples da endocérvice é exposta a
flora vaginal. O tipo da inflamação vai variar de acordo com o tipo morfológico
predominante da resposta inflamatória. Os processos inflamatórios podem ser
divididos em inflamação exsudativa, alterativa ou proliferativa.

- Inflamação Exsudativa
É caracterizada pela saída de elementos do sangue (plasma e células) para o espaço
do interstício, levando ao acúmulo de líquido na região da inflamação - exsudato.
Os exsudatos serão classificados de acordo com as suas características. Quando o
exsudato produzido é aquoso, límpido e pobre em células é classificado como seroso.
Os exsudatos serosos podem ser subdividir em vesícula e bolha. Quando a inflamação
tem elevação na superfície de diâmetro igual ou inferior a 5mm e é circunscrita de
epitélio de revestimento, gerando um exsudato seroso, é conhecida como vesícula. Já
quando ocorre essa mesma inflamação, porém com diâmetro superior a 5mm, é conhecida
como bolha. O exsudato é catarral ou mucosal quando é viscoso com alto teor de
mucina, e sua cor e celuridade são variáveis. Quando o exsudato é cremoso, amarelo-
esverdeado, com muitos PMNs e células necróticas é conhecido como purulento ou
supurado. O processo inflamatório de uma pericardite viral, no seu início, será
chamado seroso, porque teremos predomínio somente de água e eletrólitos, que é como
começam os processos inflamatórios de origem viral.

- Tipos de exsudatos purulentos


Pústula: Advinda da camada superficial da derme ou da espessura da epiderme, com
diametro menor que 5mm.
Furúnculo: Advinda da derme ou hipoderme, afetando folículo piloso.
Antraz: Conjunto de furúnculos com necrose na superfície externa e em tecidos ao
redor. É um processo grave.
Abscesso: Cavidade neoformada (as custas de necrose liquefativa) e pus.
Fleimão/Flegmão: Inflamação difusa e infiltrativa do tecido conjuntivo. Não se
forma uma membrana piogênica e o exsudato é muito fluido, devido a exagerada
coliquação enzimática dos tecidos.
Coleção de pus: Acúmulo de pus em cavidades naturais em consequencia de inflamações
purulentas nas serosas ou mucosas que as revestem ou de fistulação para dentro da
cavidade de algum abscesso visceral.

Quando o exsudato é filamentoso, com celuridade variável e rico em fibrina é


conhecido como fibrinoso. Podem ocorrer crostas ou pseudomembranas a partir desse
exsudato fibrinoso. Se o exsudato for avermelhado e rico em hemácias, ele é
hemorrágico. Quando há dois ou mais tipos de exsudatos ao mesmo tempo, é denominado
misto.

- Inflamação alterativa
As inflamações alterativas se caracterizam pela ocorrencia de degeneração e necrose
tecidual e podem ser classificadas em:
Erosivas: quando é advindo de epitélio de revestimento, com degeneração e necrose.
A descamação não atinge a submucosa.
Ulcerativa: quando é advinda de epitélio de revestimento com degeneração,
descamação e necrose profunda, atingindo a submucosa. Provoca hemorragias.
Atrofiante/hipotrofiante: quando a inflamação é crônica, com tendencia a involução.
Comum em mucosas e glândulas, com proliferação ou não de tecido conjuntivo fibroso
e metaplasia escamosa.
Necrosante: quando a necrose atinge uma maiot parte do foco da inflamação de forma
primária ou secundária por ação do agente agressor ou em consequencia da própria
reação inflamatória.
Gangrenosa: quando os tecidos inflamados e necrosados, por consequencia de
inflamações necrosantes, sofrem ação de agentes exógenos em partes do organismo em
comunicação com o exterior, havendo contaminação.

- Inflamação produtiva/proliferativa
É a fase final da inflamação e caracteriza-se pela proliferação local de vazos e
células. É a tentativa do organismo de reparar as alterações causadas pela agressão
e pela fase exsudativa. Pode ser classificada em:
Hipertrofiante/Hiperplasiante: é uma inflamação cronica, acomete com mais
frequencia as mucosas, tem proliferação conjuntiva-vascular podendo evoluir para
crescimento papilares e poliposos. As vezes possui aspecto tumoral vegetante,
papilar ou poliposo.
Esclerosante: inflamação cronica, acomete com maior frequencia parenquimas. Antes
de encerrar o processo inflamatório, com o processo de reparação, ocorre a produção
excessiva de colágeno, o que resulta em alterações na morfologia e fisiologia dos
órgãos.
Granulomatosa: caracteriza-se pela formação de estruturas nodulares com arquitetura
histólogica de nódulo. É uma reação de macrófagos a agentes não imunogenicos ou a
agentes imunogenicos. Muitas vezes permite o diagnóstico da patologia. A inflamação
tem graus de intensidade. Pode ser leve ou discreta quando o tecido ou órgão afetao
tem sua função alterada levemente, de modo a não comprometer seriamente o
organismo; moderada se o tecido/orgão afetado tem sua função alterada de modo a
comprometer razoavelmente o organismo, sem risco de vida; e grave/severa quando o
órgão afetado tem sua função muito alterada, comprometendo seriamente o organismo.

Alterações celulares são comuns nos processos inflamatórios, sejam elas


citoplasmáticas ou nucleares. No citoplasma incluem vacuolização, halos
perinucleares, anfofilia, pseudoeosinofilia, limites citoplasmáticos mal definidos,
entre outros. Com relação ao núcleo pode ocorrer tumefação ou retração, perda da
demarcação bem definida das suas bordas, perda dos detalhes de cromatina conferindo
uma aparencia homogenea ao núcleo, hipo ou hipercromasia. Como sinais de necreso
podem ser vistos picnose, cariorrexe e cariólise. Todas essas alterações pode ser
visualizadas microscopicamente, graças ao exame citopatológico. O tipo de
inflamação definirá o tipo de espécime a ser coletado e a técnica a ser utilizada.

- Principais achados de alterações inflamatórias


A inflamação é diferenciada de acordo com o local onde se encontra e as alterações
celulares variam de célula para célula.

Halo perinuclear: presença de halo em volta do núcleo.


Cariomegalia: aumento de núcleo com aumento de cromatina.
Vacuolização: presença de vacúolos dentro do citoplasma.
Apagamento das bordas citoplasmáticas: as bordas do citoplasma da célula ficam
apagadas.
Fagocitose: englobamento de partícula com atividade fagocítica.
Pseudoeosinofilia: coloração eosinofilica em células que em condições normais teria
o citoplasma cianofílico.
Cariopicnose: condensação nuclear em células superficiais.
Cariorrexe: ausência de membrana nuclear e cromatina em partículas.
Metaplasia: substituição de um tipo celular por outro.
Citólise: Ruptura (lise) da célula.
Binucleação e Multinucleação: presença de um ou mair núcleos na célula.

Em resposta a inflamação ou a radiação, multinucleação e células gigantes


multinucleadas podem ser vistas. Algumas vezes as células podem apresentar mair que
uma alteração. Por exemplo: célula escamosa apresentando pseudoeosinofilia,
discreto halo perinuclear, apagamento de borda citoplasmática e cariomegalia.
Alterações reativas estão relacionadas a hipercromasia, espessamento uniforma da
borda nuclear, cromatina com granulação mais grossa, bi ou multinucleação, nucleólo
as vezes proeminente, principalmente nas células endocervicais.

Você também pode gostar