Você está na página 1de 15

Universidade Estadual de Montes Claros

Pró-reitora de Pós-Graduação
Centro de Ciências Humanas
Programa de Pós-Graduação em Educação

A complexa questão de formação de professores no Brasil

Mestranda: Stefanie Kelly Lourenço Oliveira1


Orientador: Prof. Dr. José Normando Gonçalves Meira

Introdução
A formação de professores sempre foi muito complexa no Brasil, pois não está somente ligada
somente na questão curricular ou na preparação de conhecimentos. Ela está ligada também
nas questões de orçamentos do Estado, as verbas que para ela são destinadas, as políticas
públicas, as questões ideológicas, de mecanismos de formação, de quantidade de mão de obra,
etc. Todas essas questões trazem à baila os fatores que influenciam na formação de
professores e suas complexidades. Assim sendo o objetivo desse estudo é discutir o tema da
formação de professores contemplando os aspectos históricos, políticos e teóricos no primeiro
capítulo e segundo capítulo. Posteriormente, no terceiro capítulo discutimos a formação de
professores na perspectiva da educação especial.
Como procedimentos metodológicos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, recorrendo à
revisão de literatura, baseada em SAVIANI, TANURI, VEIGA, BOTO, BRZEZINSKI,
MENEZES, CARVALHO, dentre outros. O texto inicia-se com uma introdução ao enfoque
histórico, examinando a trajetória da formação de professores. que se iniciam com a
aprovação da A história de formação de professores no Brasil enquanto Colônia: Período
Jesuítico e Império; da modernização até a LDB de. Em seguida, discute-se sobre as políticas
educacionais na perspectiva da Educação Especial.

1
Professora de Educação Básica do Cemei Professora Heloísa Veloso dos Anjos Sarmento.
1- A história de formação de professores no Brasil enquanto Colônia:
Período Jesuítico e Império

A formação de professores no Brasil, historicamente é alvo de inúmeras


preocupações e debates. O controle da Igreja, as más condições de trabalho, a
desvalorização da profissão, a baixa remuneração e a burocracia sempre estiveram
ligados a essa questão da docência e essa instabilidade sempre se instalou no meio da
educação.
Os primeiros professores que se instalaram no Brasil em 1549 foram os padres
Jesuítas, onde cultivaram os princípios cristãos em cada momento da educação no
Brasil. A Companhia de Jesus adentrou para converter os indígenas à fé católica e
transmiti-los noções básicas da língua portuguesa, da aritmética, além de uma breve
capacitação para o trabalho. Também foram os Jesuítas que implantaram os primeiros
colégios contando com o incentivo de subsídio da coroa portuguesa até a expulsão dos
mesmos pelo Marquês de Pombal em 1759.
A primeira fase do período jesuítico foi marcada pelo plano de instrução elaborado
por Nóbrega. Espírito empreendedor, Nóbrega buscava implantar seu plano de
instrução sobre “uma extensa cadeia de colégios nas povoações litorâneas, cujos elos
seriam o colégio da Bahia ao norte e o de São Vicente ao sul” (MATTOS, 1958, p.83).
O plano de ensino tinha como estratégia iniciar a “catequização” através das crianças
para que logo pudessem conquistar os “gentios”. Assim iniciaram as primeiras
fundações de colégios no Brasil, o primeiro foi o Colégio dos Meninos de Jesus da
Bahia e o segundo foi o Colégio dos Meninos de Jesus de São Vicente.
Com a abertura dos colégios, foram iniciadas as práticas dos princípios do “Ratio-
Studiorum”. De acordo com os estudos de SAVIANI (2005, P.06), cuja elaboração
sem iniciou em 1584 e cuja redação definitiva foi publicada em 1599. O Plano é
constituído por:
Um conjunto de regras cobrindo todas as atividades dos agentes
diretamente ligados ao ensino, indo desde as regras do Provincial,
passando pelas do Reitor, do Prefeito de Estudos, dos professores de
modo geral e de cada matéria de ensino, abrangendo as regras da prova
escrita, da distribuição de prêmios, do bedel, chegando às regras dos
alunos e concluindo com as regras das diversas Academias.

Essa concepção pedagógica expressas no Ratio, se caracteriza por uma visão


essencialista de homem. Cabe a educação moldar a existência particular e real de
cada educando à essência universal e ideal que o define enquanto ser humano. Vale
lembrar que o Ratio, embora não fosse voltado para a formação de professores,
continha diversas regras com essa finalidade.
A formação aqui do padre que era professor confundia-se com o sacerdócio. O
Jesuíta recebia uma formação tanto para exercer a missão evangelizadora como para
praticar a função educadora. A cerca dessa formação:

(...) a preocupação primeira da Companhia de Jesus, na formação dos


eclesiásticos, era a Moral, à qual eram reservados dois anos de estudos. O
futuro preparador de almas deveria dedicar-se, primeiramente, ao cuidado
da sua própria alma, dominando suas paixões, seus caprichos e suas
tendências impulsivas, exercitando as virtudes cristãs da piedade,
caridade, paciência e renúncia de si mesmo. Ao concluir o primeiro biênio
de estudos passava para um novo biênio dedicado ao estudo das Letras
Clássicas: latim, grego e hebreu, iniciando sua formação intelectual. Para
completar essa formação, cursava mais 3 anos de Filosofia, nos quais se
incluíam estudos de matemática, astronomia e física. Para exercer o
magistério em nível superior, o jesuíta tinha que acrescentar aos sete anos
iniciais mais quatro anos de Teologia, dois de especialização na disciplina
que ia ensinar e mais uma formação pedagógica. O Jesuíta só estaria
preparado para ser professor de ensino superior depois de longos 14 anos
de estudo. Vale ressaltar que este cuidadoso preparo do padre-professor
não se voltava para o magistério das “escolas de ler e escrever”.
BRZEZINSKI (1996).

De acordo com a autora, a preparação para a docência era puramente sacerdotal.


O padre Jesuíta estudava longos anos para estar apto ao papel de professor e também
de sacerdote. A primeira preocupação aqui era o autoconhecimento e o cuidado com
a própria alma. Deste modo, durante mais de 200 anos de os Jesuítas permaneceram
no Brasil, exercera uma forte influência na formação da sociedade brasileira através
do poder que obtinham como mentores intelectuais do período colonial, onde criaram
um consistente sistema de ensino até a data da sua expulsão em 1759, após a
Reforma Pombalina, com a chegada do Marquês de Pombal no Brasil.
Pombal com a ideia de transformação da nação Portuguesa, de fortalecer o
Estado e o poder do rei, influenciado pelo iluminismo francês, rotulava a educação
jesuítica com atrasada.
... a expulsão dos jesuítas também era uma necessidade imperiosa do
Estado português. Por causa da ação jesuítica, os indígenas brasileiros
resistiam a submeter-se à autoridade portuguesa, que eles viam como
inimiga. Pombal desejava a miscigenação para estabelecer o povoamento
brasileiro, sem que, para tanto, ocorresse uma grande emigração dos
portugueses. Era preciso, por todas as razões, retirar os jesuítas do
controle das terras e das nações indígenas. Era necessário traçar a
fronteira brasileira. O Estado necessitava disso. A coesão do Brasil
significava naquele momento a força de Portugal. BOTO (2010, p.282).

Conforme a citação acima, as ações de Pombal, colocando-se a serviço da coroa


portuguesa e passando o controle de toda a responsabilidade da instrução pública
para o Estado. Nesse período houve intensas transformações na educação brasileira.
Pombal introduziu as Aulas Régias, que foram as aulas isoladas que substituíam o
curso secundário que foi criado pelos Jesuítas. Houve então uma preparação, a
realização de um concurso para a escolhas dos professores que ministrariam as aulas
régias.
Havia nesse dado momento uma carência de professores capacitados para o
ensino primário, diante disso os professores contratados nos concursos era sobretudo
os padres que haviam recebido a formação jesuítica. VEIGA (2007), diz que o ensino
laico implementado orientou-se de modo semelhante à educação jesuítica, no que diz
respeito principalmente à metodologia pedagógica, continuando, também, a conceber
o magistério como missão, vocação, abnegação, submissão.
Outro empecilho para a realização dos objetivos de Pombal foi o fator
financeiro, o “subsídio literário” de 1772 sob a responsabilidade de Portugal para a
remuneração dos professores que se dedicavam ao ensino primário eram escassos.
Sendo assim a formação de professores era precárias e os mesmos não continham
conhecimentos pedagógicos.
A partir de 1808, diversas são as transformações ocorridas com a chegada da
Família Real Portuguesa no Brasil. Houve avanço culturais, sociais, econômicas e
educacionais, proveniente da abertura dos Portos às nações amigas. Foram criadas
primeiras instituições de ensino superior nas áreas de Engenhariam, Medicina,
Química e Agricultura com o objetivo de proporcionar educação para a aristocracia
que se instalava no País.
Após a vinda da Coroa Portuguesa, abriu-se um processo que resultaria na
Independência da Colônia Brasileira em 1822. Porém no campo educacional, pouca
coisa foi alterada, devido à falta de estrutura da nação. A formação de professores
continuava sendo um grande problema. Ainda havia escassez de professores e de
escolas de formação para os mesmos nesse dado momento do século XIX. Nesse
contexto houve a criação da Lei 1823, que concedia o direito de abertura de escolas,
principalmente voltadas a formação dos docentes. De acordo com os estudos de
TANURI (2000, p.68) “encontra-se nas primeiras escolas de ensino mútuo –
instaladas a partir de 1820 a preocupação não somente de ensinar as primeiras letras,
mas de preparar docentes, instruindo-os no domínio do método”.
Destarte, essa foi a primeira forma para a preparação de professores, que
mantinham a prática em sua base, mas uma escassez em sua teoria.
Posteriormente, a Lei de 15/10/1827 consagra a instituição do ensino mútuo no
Brasil, dispondo, em seu art. 5º, que “os professores que não tiverem a necessária
instrução deste ensino irão instruir-se em curto prazo e à custa de seus ordenados nas
escolas da Capital”. Pouco resultou das providências do Governo central referentes
ao ensino de primeiras letras e preparo de seus docentes de conformidade com a Lei
geral de l827. As primeiras escolas normais brasileiras só seriam estabelecidas, por
iniciativa das Províncias, logo após a reforma constitucional de 12/8/1834, que,
atendendo ao movimento descentralista, conferiu mais autonomia às Assembleias
Legislativas Provinciais.
Desde a sua criação, as escolas normais brasileiras fizeram parte dos sistemas
provinciais.
O modelo que se implantou foi o europeu, mais especificamente o
francês, resultante de nossa tradição colonial e do fato de que o projeto
nacional era emprestado às elites, de formação cultural europeia. Embora
não haja como negar o caráter transplantado de nossas instituições – sobre
o qual tanto se tem insistido – a historiografia mais recente tem procurado
mostrar também sua articulação com o contexto nacional e com as
contradições internas de nossa sociedade. TANURI (2000, p.75)
De acordo com a autora, havia um projeto político intrínseco de grupos
conservadores pertinentes à criação das escolas normais, resultando de pressões da
implantação cultural europeia na sociedade brasileira.
A primeira escola normal brasileira foi criada na Província do Rio de Janeiro, pela
Lei n° 10, de 1835², que determinava que deveria haver uma escola normal na capital da
província, para habilitar futuros professores da instrução primária, e também professores
que já atuavam, mas que não tinham instrução suficiente para atuar nas escolas de Ensino
Mútuo.
O Currículo da escola normal era sobre as premissas do método Lancasteriano, que
eram ler, escrever, as quatro operações e proporções, a língua nacional, elementos de
geografia e os princípios da moral cristã. Pouco de diferenciava das escolas primárias, a
única diferença era justamente que os mestres da escola normal deveriam usar a
metodologia Lancasteriano.
...conhecido como ensino mútuo ou sistema monitorial, esse método pregava, dentre
outros princípios, que um aluno treinado ou mais adiantado (decurião) deveria
ensinar um grupo de dez alunos (decúria), sob a orientação e supervisão de um
inspetor. Ou seja, os alunos mais adiantados deveriam ajudar o professor na tarefa
de ensino. Essa ideia resolveu, em parte, o problema da falta de professores no início
do século XIX no Brasil, pois a escola poderia ter apenas um educador. Esse
método, baseado na obra de Joseph Lancaster, entendia também que se deveria
repartir os alunos em classes segundo a ordem de seus conhecimentos e que o
procedimento educacional de castigo físico deveria acabar, instituindo uma nova
forma de pensar a disciplina escolar. Foi implantado oficialmente no Brasil pela Lei
de 15 de outubro de 1827, que definia, em linhas gerais, as diretrizes do ensino
geral. MENEZES (2001).
As primeiras escolas normais brasileiras reduziam o preparo didático e profissional do
professor à assimilação do método de Lancaster. Esse método valorizava enfaticamente o
aspecto da moralidade, da religiosidade e dos bons costumes. Para concorrer a vaga como
professor esse método além dos requisitos aqui citados exigia ser maior de 18 anos e saber ler
e escrever.

_____________________________

² DECRETO DE CRIAÇÃO DA ESCOLA NORMAL 1835 – nº. 10 Joaquim José Rodrigues Torres, Presidente da Província do Rio de
Janeiro, faço saber a todos os seus habitantes, que a Assembleia Legislativa Provincial Decretou, e eu sancionei a Lei seguinte. Artigo 1º.
Haverá na Capital da Província do Rio de Janeiro uma Escola Normal para nela se habilitarem as pessoas, que se destinarem ao magistério de
instrução primária, e os Professores atualmente existentes, que não tiverem adquirido a necessária instrução nas Escolas de Ensino na
conformidade da Lei de quinze de Outubro de mil oitocentos e vinte sete, Artigo quinto.....Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/99970/1835_10_abril_Ato_n%c2%ba10_Cria_Escola_Normal.pdf?
sequence=1&isAllowed=y. Acesso em ( 27/07/2022).

Os estudos nos mostram que as primeiras Escolas Normais do Brasil a desvalorização da


profissão docente não é somente um problema atual, nesse dado momento os salários baixos
para o exercício do magistério também não atraíram o interesse dos docentes. O currículo era
rudimentar e estrutura precária. Em todas as províncias as escolas normais tiveram uma
trajetória incerta e atribulada, submetidas a um processo contínuo de criação e extinção, para
só lograram algum êxito a partir de 1870, quando se consolidam as ideias liberais de
democratização e obrigatoriedade da instrução primária, bem como de liberdade de ensino.
Para RIBEIRO (2015) ...

Enquanto nos primeiros 50 anos de Brasil Império, as Escolas Normais além de


poucas, foram ainda rudimentares e mal sucedidas, a partir de 1870, transformações
de ordem ideológica, política e cultural irão provocar repercussões profundas no
setor educacional, fazendo com que tenha uma importância que nunca antes tivera.
A concepção de que um país precisa investir na educação se torna geral entre
sujeitos de distintos partidos e a educação passa a ser encarada como indispensável
ao desenvolvimento social e econômico da nação.

Já no final do Império as escolas normais foram abertas às mulheres. Existia uma


percepção de que a mulher por extinto maternal e por já exercer um papel de educadora em
casa como os filhos poderiam contribuir com a educação infantil. As mulheres a partir desse
momento exigiam seus direitos, como remuneração, acesso a instrução e ascensão na carreira.
Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 no âmbito da formação de
professores, a mudança de regime político “não trouxe alterações significativas, nem
inaugurou uma nova corrente de ideias educacionais, tendo significado simplesmente o
coroamento, e portanto, a continuidade de ideias que se iniciara no Império”.

2- A formação de professor da modernização até a LDB de 1996

No Brasil, do final do século XIX até 1930, a formação dos professores era papel das
Escolas Normais, porém nessa mesma década vai ocorrer a substituição dessa formação feita
pelas escolas normais pelos Institutos de Educação, onde para o professor primário acontecia
em dois anos. Era oferecido também cursos de especialização e aperfeiçoamento.
Esse modelo de formação oferecido pelos Institutos foi um modelo de inspiração para a
futura criação dos cursos de Pedagogia no Conjunto da Faculdade de Filosofia e Letras. Que
tinha como objetivo a formação de professores para atuarem no ensino secundário.

...a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em lugar de se constituir como centro


da universidade, se transformou numa escola de formação de profissionais, como as
demais. Apesar disto, foi esta Faculdade que abrigou a institucionalização da
pesquisa básica no Brasil em umas poucas universidades. A maioria delas,
entretanto, se estabeleceu como simples instituições de ensino. DURHAM (2012,
p.08).

Diante do exposto acima podemos entender que a Faculdade de Filosofia, Ciências e


Letras foi um elemento inovador e importante do sistema não só para as licenciaturas, mas
também para os bacharéis de diversas áreas.
O primeiro curso superior de formação de professores foi criado em 1935, quando a
Escola de Professores, foi incorporada à Universidade do Distrito Federal. Através do decreto
lei n. 1.190 de 04 de abril de 1.939, dá organização à Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Brasil. Com duração de 3 anos era formado o bacharel, para a formação do
licenciado era acrescentado mais um ano de didática. O bacharel em Pedagogia era preparado
para ocupar cargos técnicos da educação, enquanto o licenciado era destinado à docência.
Todas as essas transformações da educação, da formação de professores e dos
surgimentos das primeiras faculdades surgem em um momento político de muitas
instabilidades e mudanças econômicas e essas demandas econômicas fizeram com que fosse
necessária uma realização de ampliação do número de escolas no Brasil.
A década de 30, historicamente é bem marcante para o Brasil, nesse dado momento
Getúlio Vargas ascendeu ao poder de maneira indireta e com um regime ditatorial. Contudo,
as mudanças e revoluções ocorridas no sistema educacional brasileiro com a chegada de
Vargas ao poder trouxe muitas transformações para os professores. BATISTA (2021) afirma
que professor era considerado o agente da mudança pois iria civilizar a juventude além de
qualificar os grupos que apoiavam os postos de trabalho. A expansão do ensino fez com que
aumentasse a atenção do governo.
Nessa mesma década ocorreu o “Manifesto dos Pioneiros” Refere-se a um documento
escrito por 26 educadores, em 1932, com o título A reconstrução educacional no Brasil: ao
povo e ao governo. Circulou em âmbito nacional com a finalidade de oferecer diretrizes para
uma política de educação.
A formação profissional do professor buscava que o educador fosse o agente que teria o
papel de cumprir os ideais propostos por Getúlio Vargas. Foi um período de reformas e
contrarreformas no campo de formação dos professores, por mais que a expansão da educação
fizesse surgir uma maior demanda docente os investimentos e a não valorização objetiva não
fez com que a profissão se tornasse objetivo de um grande número de jovens. As dificuldades
na sua formação seria talvez um prenúncio das dificuldades que encontrariam na prática da
docência.
O início dos anos 1940 foi o momento inicial do processo da industrialização do país, em
que começaram a ser feitos grandes investimentos na indústria pesada. Foram criadas diversas
indústrias nacionais e a governo para a ter outros olhos para a Educação no Brasil para
acompanhar a necessidade da produção industrial.
Também nessa mesma década foi atribuído o Decreto-Lei 8530, de 02/01/1946, o Ensino
Normal tinha como finalidade, prover a formação do pessoal docente necessário às escolas
primárias, habilitar administradores escolares destinados às mesmas escolas; e desenvolver e
propagar os conhecimentos e técnicas relativas à educação da infância. Esta organização
reforçou a dualidade na formação dos professores. A educação profissional vai sendo
submetida ao desenvolvimento econômico capitalista industrial em processo de aceleração e
que, consequentemente, exige formação de demandas para atender as suas exigências. Os
cursos profissionalizantes se efetivam, na relação capital trabalho, como a oportunidade de
profissionalização dos menos favorecidos, ou seja, os pobres.
No dia 11 de agosto de 1971 a Lei 5.692 que Fixa as Diretrizes e Bases para o ensino de
1° e 2º graus foi sancionada. Modifica os ensinos primário e médio, alterando sua
denominação respectivamente para primeiro grau e segundo grau. Nessa nova estrutura,
desapareceram as Escolas Normais.
Em seu lugar foi instituída a habilitação específica de 2º grau para o exercício do
magistério de 1º grau (HEM). Pelo parecer n. 349/72 (Brasil-MEC-CFE, 1972),
aprovado em 6 de abril de 1972, a habilitação específica do magistério foi
organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200
horas), que habilitaria a lecionar até a 4ª série; e outra com a duração de quatro anos
(2.900 horas), habilitando ao magistério até a 6ª série do 1º grau. SAVIANI (2009,
p.147).
O antigo curso normal cedeu lugar a uma habilitação de 2º Grau. A formação de
professores para o antigo ensino primário foi reduzida a uma habilitação que não continha
mais a importância que ela tinha e isso ocasionou uma grande preocupação com a qualidade
dessa formação.
Diante dessa problemática, O governo criou em 1982 a CEFAM´S que foi um projeto do
Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério, na tentativa de revitalizar as Escolas
Normais, porém esse projeto não logrou êxito.
Com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), o dia
20/12/96 assinala um momento de transição significativo para a educação brasileira.
Neste momento de transição normativa, fixa, em relação aos Profissionais da
Educação, diversas normas orientadoras: as finalidades e fundamentos da formação
dos profissionais da educação; os níveis e o locus da formação docente e de
“especialistas”; os cursos que poderão ser mantidos pelos Institutos Superiores de
Educação; a carga horária da prática de ensino; a valorização do magistério e a
experiência docente. A seguir, trataremos desses temas. No entanto, para melhor
compreendê-los, de início, faremos algumas referências aos níveis da educação
escolar, pois a formação dos profissionais da educação básica é estruturada de
acordo com as etapas desse nível de ensino. CARVALHO (1998, p.82).

No âmbito da formação docente a Nova LDB, estabelece as finalidades e os fundamentos


da formação dos profissionais da educação de formação de docentes. Essa nova lei utiliza em
seu contexto essas duas expressões. Segundo Freitas (1992), profissional da educação é
“aquele que foi preparado para desempenhar determinadas relações no interior da escola ou
fora dela, onde o trato com o trabalho pedagógico ocupa posição de destaque, constituindo
mesmo o núcleo central de sua formação”.
Outra norma importante estabelece que “A formação de docentes para atuar na educação
básica far-se-á em nível superior”. somente serão admitidos (na educação básica) professores
habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. A lei também
estabelece quanto ao local dessa formação. Neste sentido, para ensino superior, nas
Universidades e Institutos Superiores de Educação, locais próprios para a formação de
docentes e especialistas para a educação básica.
Com relação a proposta pedagógica, a Nova LDB, dispõe que o docente participe da
elaboração, execução e avaliação do Proposta Pedagógica do estabelecimento de ensino ao
qual está inserido. A formação de profissionais de educação básica para administração,
planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica poderá
será feita, em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, garantida,
nessa formação, a base comum nacional. Ela orienta, ainda, que a “prática deverá estar
presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor”, em qualquer
especialidade.
Sendo uma lei enxuta e aberta, a “Lei Darcy Ribeiro” deixa para a sua
regulamentação (leis ordinárias, decretos, resoluções, portarias etc.) e
implementação, a definição de boa parte dos objetivos, conteúdos e da própria
“moldura” do sistema escolar brasileiro. Produzida em tempos de “globalização”, a
Nova LDB poderá, com facilidade, se ajustar à conjuntura, ou seja, aos
acontecimentos, cenários, atores, relações de forças e de articulação entre estrutura e
conjuntura e, desta forma, ser capaz de proporcionar aos governantes os meios
necessários para a implementação de políticas educacionais adequadas à redução do
Estado, inclusive na área da educação obrigatória e gratuita. Assim podendo ser,
precisamos estar atentos para as restrições e ampliações de preceitos constitucionais
e da própria LDB, quando objetivam elas somente o atendimento dos interesses das
elites, de dentro ou fora do poder. É uma tarefa difícil, pois as autoridades
responsáveis por tais regulamentações, grosso modo, se identificam com a política
governamental excludente, escancaradamente do lado do capital financeiro
internacional, responsabilizando-se pelos ajustes econômicos incidentes quase que
exclusivamente sobre a esfera executiva e sobre as classes subalternas.
CARVALHO (1998, p.90).

Diante do exposto, pode-se afirmar que a história da formação dos professores, nos
últimos dois séculos, explicita sucessivas mudanças introduzidas no processo de formação
docente.
Lentamente às questões pedagógicas antes inexistentes no início da história da educação
foi penetrando até ocupar posição central nos ensaios de reformas da década de 1930. Ela está
presente nas políticas e discussões atuais sobre formação de professores. Enfim, na história da
educação brasileira, as políticas formativas evidenciam sucessivas mudanças e problemas
enfrentados, principalmente com relação à qualidade do ensino. É um grande desafio que
exige muito investimento, mudança de mentalidade e comprometimento de toda a sociedade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MATTOS, Luiz Alves de (1958), Primórdios da educação no Brasil. Rio de Janeiro, Aurora.

SAVIANI, D. As concepções pedagógicas na história da educação brasileira. Campinas,


UNICAMP, Projeto “20 anos do HISTEDBR”, 2005.

BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, Pedagogos e formação de professores. São Paulo: Papirus,


1996.

BOTO, Carmina. A dimensão iluminista da reforma pombalina dos estudos: das primeiras
letras à universidade. Revista Brasileira de Educação, v. 15 n. 44, p.282-299, 2010, p.293.
VEIGA, Cynthia Greive. História da Educação. São Paulo: Ática, 2007.
TANURI, Leonor. História da Formação de Professores. Revista Brasileira de Educação. Rio
de Janeiro, n.14, p. 61-88, maio/agosto, 2000, p.68.
TANURI, Leonor. História da Formação de Professores. Revista Brasileira de Educação. Rio
de Janeiro, n.14, p. 61-88, maio/agosto, 2000, p.75.
MENEZES, Ebenezer Takuno de. Verbete método lancasteriano. Dicionário Interativo da
Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2001. Disponível em
<https://www.educabrasil.com.br/metodo-lancasteriano/>. Acesso em 27 jul 2022.
Torres, Joaquim José Rodrigues. Decreto n. 10, 10 abr. 1835, RJ. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/99970/1835_10_abril_Ato_n
%c2%ba10_Cria_Escola_Normal.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em (27/07/2022).

RIBEIRO, M.P. História da formação de professores no Brasil colônia e império: um resgate


histórico. Temporalidades – Revista Discente do Programa de Pós-Graduação em História da
UFMG. v. 7 n. 2 (mai./ago. 2015) – Belo Horizonte: Departamento de História,
FAFICH/UFMG, 2015.

DURHAM, Eunice R. O ensino superior no Brasil: público e privado. 2012. Trabalho


apresentado ao Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo –
NUPES. 2012. Disponível em http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9602.pdf. Último acesso
em 12 out. 2014.

Decreto-Lei nº 1.187, de 4 de abril de 1939. Dá organização à Faculdade Nacional de


Filosofia. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-
1190-4-abril-1939-349241-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em ( 27/07/2022).

Batista, Marllon Sérgio Soares. História e educação : o papel do professor na era Vargas
(1930-1945). São Cristóvão, 2021. Monografia (graduação em História) – Departamento de
História, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de Sergipe, São
Cristóvão, SE, 2021
BRASIL. Decreto s/n, de 2 de dezembro de 1837. Convertendo o Seminário de São Joaquim
em colégio de instrução secundária, com a denominação de Colégio de Pedro II, e outras
disposições. Coleção das leis do Império do Brasil, Rio de Janeiro, v.1, parte 2, p. 59-61,
1837.
Decreto-Lei 8530, de 02/01/1946. Lei Orgânica do Ensino Primário. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8529-2-janeiro-1946-
458442-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: ( 27/07/2022).
SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no
contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 40 jan./abr. 2009.

CARVALHO, Djalma Pacheco de. A Nova Lei de Diretrizes e Bases e a formação de


professores para a educação básica. Ciência & Educação (Bauru). Programa de Pós-
Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade
de Ciências, campus de Bauru., v. 5, n. 2, p. 81-90, 1998. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/26447.

Você também pode gostar