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MEDIDAS E

AVALIAÇÃO NA
EDUCAÇÃO
FÍSICA

Patrick da Silveira Gonçalves


Introdução à avaliação física
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a importância da avaliação física.


 Identificar as diferenças entre medida, avaliação e teste.
 Classificar os princípios da avaliação física.

Introdução
Em suas práticas, é muito comum que os profissionais de educação física
se utilizem de métodos quantitativos para avaliar a composição corporal,
as capacidades físicas e os padrões de movimento. Isso pode ocorrer
por inúmeros motivos: seja apenas para coletar dados para um estudo
epidemiológico, seja para direcionar treinamentos ou traçar diagnósticos
sobre os sujeitos que se avalia. Este conjunto de técnicas que buscam
obter dados quantitativos e qualitativos sobre as condições físicas de
alguém denominamos avaliação física.
Existem muitas formas de avaliar a condição física dos sujeitos e, por
isso, é importante que o profissional de educação física, antes de apren-
der os aspectos procedimentais da avaliação, consiga compreender os
principais conceitos e princípios que orientam essa prática.
Neste capítulo, você compreenderá a relevância da avaliação física
para a sua prática, as diferenças entre medida, teste e avaliação e, ainda,
os princípios que regem a avaliação física.

Por que avaliar?


A avaliação é o ato de determinar, estabelecer, examinar ou julgar o valor
de algo ou alguma coisa (FUNDAÇÃO VALE, 2013). Recorrentemente, a
avaliação é utilizada como forma de classificar os indivíduos entre bons ou
aceitáveis e ruins ou inaceitáveis. Essa perspectiva reducionista da avaliação
vem sendo deixada de lado para que seja assumida uma compreensão mais
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ampla. No âmbito da educação física, a avaliação exerce uma função primordial


e é o principal meio para compreender o estado físico dos sujeitos e traçar
ou readequar os caminhos para que sua condição de saúde ou desempenho
seja aperfeiçoada.
A avaliação física envolve o uso de procedimentos precisos e confiáveis
para determinar com exatidão as condições de determinada pessoa. Cada
tipo de medida possui uma forma procedimental específica e que envolve
diferentes níveis de complexidade, colocando aquele que avalia diante de
inúmeros problemas, que vão desde a forma como medir até a interpretação
dos resultados obtidos.

Geralmente, a avaliação física é utilizada como forma de obter dados para a classificação
do avaliado frente a escalas populacionais. No entanto, a avaliação física é muito mais
ampla, podendo fornecer informações tanto para o avaliado quanto para o avaliador
em relação ao seu estado de saúde, o treinamento mais indicado e como ocorre o
progresso do indivíduo submetido a determinado programa. Além disso, as avaliações
físicas também são utilizadas como meio de divulgação de conhecimentos sobre o
exercício físico.

Em geral, quando identificamos o resultado, fazemos a comparação com


uma escala de valores populacionais para que possamos emitir um juízo e
um parecer sobre o resultado. Por vezes, a avaliação física resulta apenas na
emissão de julgamentos. No entanto, ao se tratar do movimento humano, ela
é muito mais que isso, sendo, também, a síntese dos elementos quantitativos,
subjetivos e das outras evidências que podem oferecer os dados e informações
para diferentes propósitos.

Objetivos das medidas e avaliações em educação física


A avaliação física pode ser utilizada para muitas possibilidades. Atualmente,
é comum observarmos o uso de testes e medidas em diversas ocasiões. Você
já deve ter participado de algum deles em algum momento de sua vida, como,
por exemplo, em academias, com equipes profissionais, escolares ou até mesmo
em concursos públicos. Ainda que nessas ocasiões mencionadas o uso dos
testes possa ter ocorrido da mesma forma, é provável que em cada uma delas
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o objetivo da avaliação tenha sido específico e se diferenciado dos demais.


Charro et al. (2010) apontam os principais objetivos da avaliação física, que
você confere a seguir.

 Determinar o nível de aptidão física geral: determinada a condição


física do indivíduo em cada uma das qualidades testadas, a avaliação
física proporciona ao profissional de educação física subsídios para
melhor prescrever os programas de treinamento e preparação, observada
a condição da aptidão física do aluno.
 Determinar o progresso: quando utilizada como forma de reavaliação,
é possível comparar índices e níveis obtidos entre avaliações realizadas
em períodos diferentes, o que possibilita a identificação de melhoras ou
informações para readequar os programas de treinamento.
 Determinar o estado de saúde: geralmente efetuadas junto ao momento
de anamneses, as avaliações físicas permitem identificar a presença
de sinais, sintomas, características ou comportamentos habituais dos
indivíduos que possam apresentar-se como riscos de problemas de saúde.
 Classificar os indivíduos: quando existe a necessidade de dividir
os avaliados em grupos, a avaliação permite que sejam identificadas
características em comum entre os participantes.
 Motivar: o avaliado pode ser motivado a melhorar sua condição física
com base nas informações obtidas sobre o seu estado atual. O mesmo
vale para a adesão aos programas de atividades físicas, em que os
resultados identificados podem produzir a motivação no avaliado para
continuar o programa.
 Diretriz para pesquisa: os dados obtidos para a pesquisa devem ser
avaliados pela sua significância e, com isso, levar os conhecimentos
sobre determinado caso ou situação para outras pessoas, disseminando
as informações obtidas.

Tipos de avaliação
Conforme o objetivo determinado pelo avaliador, as avaliações podem ser
classificadas em três diferentes tipos: a avaliação diagnóstica, a avaliação
formativa e as avaliações somativas (CHARRO et al., 2010).
A avaliação diagnóstica auxilia o avaliador ou o profissional que irá
realizar a prescrição do exercício físico. Auxilia, também, na elaboração
da programação de treinamentos e na seleção de grupos, que podem ser
homogêneos ou heterogêneos. Por exemplo, em treinamentos voltados ao
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emagrecimento, a medida de dobras cutâneas para determinar o percentual


de gordura corporal serve para identificar o estado geral do avaliado antes do
início do referido programa.
A avaliação formativa determina o progresso dos avaliados na realização
de um programa de treinamento, fornecendo informações tanto para o avaliador
quanto para o avaliado que sejam possíveis de identificar se os resultados traça-
dos em certo período condizem com o esperado. Serve, também, como forma
de identificar os pontos fortes e fracos de determinado tipo de treinamento,
fornecendo possibilidades de reformulações para que o objetivo proposto seja
alcançado. Utilizando o exemplo anterior, as medidas de dobras cutâneas em
um programa voltado ao emagrecimento podem ser realizadas semanalmente,
quinzenalmente ou mensalmente, identificando o progresso do avaliado.
A avaliação somativa representa o resultado de todas as avaliações reali-
zadas, identificando as evoluções do avaliado. Essas avaliações representam os
ganhos gerais de um indivíduo e/ou nas unidades de treinamento (MARINS;
GIANNICHI, 2007). Ainda no exemplo acerca das dobras cutâneas em um
programa voltado ao emagrecimento, o somatório de todas as avaliações torna
possível avaliar o progresso geral do avaliado e identificar em quais momentos
e por quais motivos algumas semanas, quinzenas ou meses de treinamento
não foram tão efetivos.
Para compreender melhor as diferenças entre os diferentes tipos de avalia-
ção, observe o Quadro 1, que apresenta alguns exemplos quanto aos objetivos
e momentos de avaliação.

Quadro 1. Tipos de avaliação

Tipo de
Diagnóstica Formativa Somativa
avaliação

Fornecer informações Fornecer um Certificar o avanço e


sobre o avaliado e feedback para o a eficácia do pro-
determinar o melhor avaliado e para grama de treinamen-
Propósito
programa de treina- o avaliador. tos, identificando
mento com base em pontos fortes e fra-
suas características. cos na sua realização.

Anterior ao programa Durante o Ao final do programa


Período de treinamento. programa de de treinamento.
treinamento.
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Como você deve ter compreendido até aqui, a avaliação física é o principal
meio pelo qual o profissional que lida com o movimento humano identifica,
organiza e avalia a sua prática, fornecendo informações que fazem a media-
ção entre os programas de treinamento tanto para o avaliador quanto para
o avaliado. As avaliações ocorrem, muitas vezes, por meio de protocolos
específicos que buscam atender a um objetivo. A forma como tais dados são
obtidos envolve as medidas, os testes e as avaliações, conceitos que você
conhecerá no próximo tópico.

Medida, avaliação e teste


Embora sejam recorrentemente utilizados como sinônimos, os termos
medida, teste e avaliação não se referem ao mesmo processo quando os
utilizamos dentro do campo da educação física. Por mais que seja comum
a utilização desses termos como sinônimos, devemos estar atentos quanto
à sua utilização, já que se referem a modos de interpretação distintos. Por
exemplo, ao medirmos a estatura de um indivíduo e constatarmos que
o mesmo tem 180 cm, a utilização apenas da medida desse número não
nos diz muito. É preciso conseguir analisar e interpretar o que tal medida
representa dentro de um contexto específico, passando, então, por um
processo de avaliação. Assim, os conceitos de medida, teste e avaliação
devem ser utilizados para representar o processo pelo qual as informações
obtidas do avaliado foram analisadas. Você conhecerá um pouco mais das
peculiaridades desses termos a seguir.

Teste
Os testes compreendem um processo de obtenção de dados. Guedes e Guedes
(2006, p. 2) indicam que testar “[...] consiste em verificar o desempenho de
alguém mediante situações previamente organizadas e padronizadas, denomi-
nadas testes”. Os testes são uma das principais formas de obter dados dentro do
campo da educação física, visto que são práticos em sua aplicação e objetivos
em suas informações. Embora geralmente utilizem protocolos específicos, os
testes podem ser de campo ou de laboratório.
Os testes de campo em geral são baratos, muito fáceis de serem adminis-
trados e geralmente estão relacionados às capacidades físicas dos avaliados,
como no caso do futebol, em que os atletas são submetidos a testes no gramado,
com o uso da vestimenta do uniforme de sua modalidade esportiva. Alguns
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exemplos muito conhecidos são o teste de Cooper, o teste de flexões de braço,


de impulsão horizontal, entre outros (MARINS; GIANNICHI, 2007).
Os testes de referência, ao contrário, são protocolos que geralmente pos-
suem um investimento financeiro maior, pois são realizados em maquinários
específicos e em ambiente controlado, o que os torna mais confiáveis e re-
produtíveis. Também podem ser utilizados para aferir a capacidade física dos
avaliados, assim como também podem aferir a composição corporal. Alguns
dos testes comuns são a ergoespirometria, os dinamômetros isocinéticos e as
plataformas de força.

Os testes de referência, como o nome sugere, são testes realizados em laboratório


e que buscam, em grande parte das vezes, avaliar determinada capacidade física de
forma direta e em um ambiente controlado, estabelecendo a referência para os testes
de campo. Por exemplo, podemos citar como testes de campo o uso de instrumentos
como os ergômetros, os dinamômetros isocinéticos e as plataformas de força. Esses
testes possuem velocidade, força e potência controladas, o que representa uma validade
interna e confiabilidade alta, sendo expressos por meio de unidades de medida como
Newton, quilograma, litro e watt. Portanto, as medidas estabelecidas em testes de
laboratório são referência para determinadas populações aos testes de campo, que
possuem menor validade interna, já que dependem de fatores como a motivação do
participante e as condições de clima e de terreno.

Medida
O termo medir significa a obtenção dos dados quantitativos, procedimento
basilar da avaliação física. Para Guedes e Guedes (2006, p. 1), “[...] medir
significa determinar a quantidade, a extensão ou o grau de determinado atri-
buto com baste em um sistema convencional de unidades”. O resultado da
medida é sempre numérico e refere-se ao quantitativo do atributo a ser descrito.
Exemplos de medida são a estatura e o peso, cujos sistemas convencionais
são, respectivamente, o metro e o quilograma. A medida se encontra em todos
os processos de avaliação física, sejam eles voltados para a compreensão de
qualquer capacidade ou habilidade física. As medidas podem ser obtidas de
forma direta ou indireta (MARINS; GIANNICHI, 2007).
As medidas diretas são aquelas que, como o nome sugere, são obtidas
diretamente do avaliado. Por exemplo, para medir o consumo de oxigênio de
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um indivíduo de forma direta, o teste de ergoespirometria é recorrentemente


utilizado. As medidas indiretas são aquelas que são obtidas por modo distinto ao
que se pretende avaliar, mas, com a relação dos resultados, é possível estabelecer
algumas estimativas. Utilizando o exemplo anterior, para indiretamente estimar
o consumo de oxigênio de um indivíduo, o teste de Cooper é recorrentemente
utilizado. Com os resultados da distância percorrida em determinado período
pelo avaliado, é possível estimar o seu consumo de oxigênio.

Ao se tratar da composição corporal, em que se estabelece a quantidade de ossos,


músculos, gorduras, água e outros elementos bioquímicos, a medida direta só é
possível a partir dos métodos de dissecação de cadáver. Obviamente, como isso se
torna inviável na avaliação física para o treinamento físico, têm-se medidas indiretas e
duplamente indiretas. As medidas indiretas são aquelas que se efetivam pela ativação
de nêutrons, procedimentos de imagem e fenômenos físicos, como a radiografia, a
hidrodensitometria. As técnicas duplamente indiretas são aquelas que estimam a
composição corporal pelas dobras cutâneas, por perímetros ósseos, peso e estatura,
como as medidas antropométricas.

Avaliação
A avaliação se refere às compreensões que são possíveis por determinado teste
e medida. De acordo com Guedes e Guedes (2006, p. 1), a avaliação é definida
como “[...] um processo interpretativo, pois consiste em julgar com base em
referenciais selecionados especificamente para essa finalidade”. Por demandar o
processo interpretativo, a avaliação é o meio mais abrangente, pois, enquanto as
medidas e os testes se detêm à utilização de dados e instrumentos quantitativos,
a avaliação também solicita a utilização de dados e instrumentos qualitativos.
O papel do profissional de educação física em uma avaliação é considerar
todas as variáveis envolvidas em um teste pelo qual se obtém uma medida.
Ou seja, a avaliação consiste em conseguir identificar o que, por quê e quem
está sendo avaliado. Isso significa que apenas a medida obtida em um teste
não representa um padrão universal a todos os sujeitos. Imagine um mesmo
teste aplicado em homens de meia idade, em mulheres, em crianças ou idosos:
é possível que as medidas obtidas por determinado protocolo signifiquem a
mesma coisa? Certamente não, pois, para cada uma dessas individualidades,
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são produzidos padrões diferentes. Não é possível exigir que populações idosas
possuam a mesma resistência cardiorrespiratória que jovens de vinte anos de
idade, já que o primeiro grupo apresenta sinais e sintomas do processo de
envelhecimento e, em decorrência disso, sua exigência é menor. O mesmo
também podemos afirmar em populações fisicamente ativas, sedentárias,
atletas, com quadros patológicos e também inúmeras outras variáveis. O
papel do profissional de educação física, então, é considerar todas as variáveis
presentes em relação ao avaliado e determinar quais medidas a esse sujeito
ou grupo são consideradas dentro do esperado.
Ou seja, a avaliação consiste em um processo que visa dar significado aos
resultados colhidos em um teste ou medida, fazendo com que os números
expressos passem a apontar informações consistentes que possam mediar a
prática do avaliado e do avaliador. Em síntese, a Figura 1, a seguir, apresenta
as diferenças entre os três conceitos.

Figura 1. Diferenças entre testar, medir e avaliar.


Fonte: Adaptada de Guedes e Guedes (2006).

Em grande parte das vezes, a medida e os testes se encontram dentro de


protocolos específicos e que são avaliados a partir de percentis populacionais.
Em muitos casos, o uso de softwares auxilia a compreensão de variações
apresentadas pelo avaliado na realização de um teste. Seja qual for a dimensão
avaliada, o objetivo pelo qual se propõe avaliar o avaliador deve seguir alguns
critérios essenciais, os quais você vai conhecer na próxima seção.

Princípios da avaliação física


Embora no que se refere ao corpo humano e ao movimento muitos aspectos
possam ser avaliados e diversos testes se proponham a isso, isso não significa
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que qualquer teste pode ser utilizado para qualquer medida. É preciso, para
tanto, que o profissional consiga utilizar o método que melhor corresponda
a seus objetivos avaliativos, estabelecendo, para isso, alguns critérios. Nesta
seção, você vai conhecer os princípios da avaliação física.

Critério de seleção de testes


Ao se determinar o que será testado e por qual objetivo a avaliação será feita, o
profissional deve procurar na literatura o melhor teste para a situação envolvida.
A escolha desses testes deve ser feita com base em três princípios: a validade,
a fidedignidade ou confiabilidade e a objetividade ou reprodutibilidade.
A validade de um teste consiste em ele conseguir medir o que se propõe
a medir (CHARRO et al., 2010). Para determinar que um teste realmente
mede o que se propõe a medir, existem quatro formas principais: a validade
de conteúdo, a validade de critério, a validade de predição e a validade de
construção.
A validade de conteúdo representa que um teste é adequado com base
na lógica quando os números obtidos representam a variável morfológica ou
fisiológica analisada sendo baseada pelo testemunho de um especialista ou em
sua larga utilização (GUEDES; GUEDES, 2006). Por exemplo, ao avaliar a
capacidade cardiorrespiratória, o teste de Cooper é um protocolo amplamente
utilizado em importantes pesquisas; podemos dizer, então, que este teste
possui validade de conteúdo.
A validade de critério consiste na relação por meios estatísticos quando
se compara o resultado de um teste em questão com outros testes já validados.
Um exemplo de validade de critério é quando comparamos, por exemplo,
os resultados de um teste de consumo máximo de oxigênio a partir de dois
protocolos diferentes, como o teste de Cooper e a ergoespirometria. Para ter
a validade de critério, espera-se que ambos os testes apresentem medidas
semelhantes.
A validade de predição está relacionada à capacidade de prever, em linhas
gerais, o resultado obtido considerando o avaliado. Utilizando o exemplo do
teste de Cooper, a validade de predição consiste em confirmar que o resultado
do teste, quando realizado por homens, por exemplo, apresenta-se de maneira
diferente quando desenvolvido por mulheres de mesma idade.
A validade de construção representa a consistência teórica que sustenta
o teste, também delimitando se ele é capaz de medir o que pretende. Ou seja,
para avaliar o consumo máximo de oxigênio, o teste elegido deve contemplar
a capacidade cardiorrespiratória e sustentar o que a literatura afirma. No teste
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de Cooper, pode-se dizer que a validade de construção ocorre à medida que


a variável, o consumo máximo de oxigênio, é maior quando a intensidade da
corrida do avaliado também for maior.
A fidedignidade ou confiabilidade diz respeito aos resultados encontrados
sob as mesmas condições. Quer dizer, se a aplicação do teste for replicada sob
as mesmas condições do avaliado e os mesmos resultados forem encontrados,
então se pode dizer que o teste é confiável. Por exemplo, quando subimos em
uma balança, identificamos o nosso peso corporal. Ao descer e subir novamente
nessa balança, espera-se que o peso seja o mesmo ou que apresente pequenas
variações não significativas. Se isso ocorrer, então o teste é considerado
fidedigno ou confiável.
A objetividade ou reprodutibilidade diz respeito à consistência dos
resultados independentemente do avaliador. Quando o teste é aplicado sobre
os mesmos indivíduos, por avaliadores diferentes, e, ainda assim, apresenta os
mesmos resultados, diz-se que possui objetividade. Por exemplo, suponha que
você efetuou as medidas de dobras cutâneas de alguém. Minutos depois, um
colega seu efetuou o mesmo procedimento. Se ambos chegarem aos mesmos
resultados, o que é esperado nesse teste, pode-se afirmar que é objetivo ou
reprodutível.
Além desses fatores, também deve ser levada em consideração a padro-
nização de instruções para o teste em questão. Essas informações seguem
protocolos específicos, que orientam as condições de realização dos testes,
os locais em que pode ser aplicada, a vestimenta dos avaliados, as formas de
motivação, os cuidados a serem tomados e os erros comuns que devem ser
evitados (GUEDES; GUEDES, 2006).

Embora bastante difundida atualmente, a pesquisa em atividade física é recente quando


comparada a algumas áreas do conhecimento. Para conhecer um breve histórico, os
desenvolvimentos recentes e as perspectivas de futuro em relação à pesquisa em
atividade física, acesse o link a seguir.

https://qrgo.page.link/DCMQT
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Organização e administração dos testes


Uma boa avaliação requer que o avaliador esteja atento às peculiaridades
de alguns fatores que interferem na realização de um teste ou na obtenção
dos seus resultados. Veja, a seguir, alguns desses fatores apontados por
Charro et al. (2010).

 Procedimento do avaliador: o avaliador deve possuir conhecimento


sobre os propósitos dos testes e de seus detalhes técnicos para aplicação,
assumindo as padronizações. Além de conhecer o teste em questão, é
necessário que possua conhecimentos sobre o que será avaliado, como,
por exemplo, no caso da avaliação antropométrica, os conhecimentos
de anatomia.
 Informação do avaliado: o sujeito avaliado deve conhecer previamente
o processo de medida e apresentar motivação e disposição para realizá-
-lo, sendo possível obter os melhores resultados. O avaliado deve ser
informado sobre o intervalo entre a última refeição e o teste, o uso das
vestimentas adequadas para realizá-lo, além de ficar ao menos 72 horas
sem realizar esforço físico quando submetido a avaliações de esforço
máximo ou submáximo.
 Local: o local deve possuir condições adequadas de espaços, luz, som,
temperatura, vento, condições de solo, segurança e trânsito de pessoal.
Alguns protocolos exigem, além desses fatores, paredes sem cores, que
ofereçam estímulos que retirem a concentração dos avaliados durante
a realização do teste.
 Horário: o teste e o reteste devem ser realizados no mesmo período do
dia e, preferencialmente, no mesmo horário, para que sejam evitadas
as interferências por alterações posturais ou de cansaço e ocorridas
pela ação de hormônios. É preciso considerar os ritmos de secreção
circadiano (relativo ao ritmo biológico no período de 24 horas e que
está relacionado a fatores como luz solar e temperatura) e ultradiano
(relativo a mudanças repetitivas que ocorrem em período de até 20 horas,
com a mudança na frequência de batimentos cardíacos).
 Vestimenta: a vestimenta deve ser condizente com o teste a ser rea-
lizado. O ideal é o uso de calção, camiseta, meias e tênis com solado
adequado, além de biquínis e sungas, quando for o caso.
12 Introdução à avaliação física

 Instrumental: os instrumentos de medida que serão utilizados no


teste devem ser escolhidos cuidadosamente, optando-se por aquele que
apresenta melhor precisão. Eles devem ser utilizados com cuidado e
armazenados nos locais adequados. O mau uso pode afetar a precisão
ou comprometer a sua utilização por tempo prolongado (MARINS;
GIANNICHI, 2007).
 Calibração: ainda que todo cuidado seja considerado, é comum que,
com o passar do tempo, os equipamentos percam a sua calibração. Por
isso, é aconselhável que sua aferição seja realizada periodicamente
ou, no caso de ser impossível este procedimento, deve ser efetuada a
troca do equipamento. Geralmente, os próprios fabricantes indicam
o período de aferição ou troca, o que deve ocorrer entre 6 meses e
um ano.
 Mecanismos de aplicação: existem muitos fatores que influenciam a
aplicação do teste, como, por exemplo, o número de avaliados, o número
necessário de avaliadores, a demonstração, a ordem dos testes, a duração
da avaliação e a coleta de dados. Quanto a essas variáveis, o avaliador
deve se precaver para que o procedimento não seja interrompido durante
a sua realização.

Precisão de medidas
A precisão das medidas é de fundamental importância para a avaliação. Uma
imprecisão nas informações obtidas compromete o resultado e os objetivos
que o teste propõe. Em primeiro lugar, a precisão depende da exatidão de
instrumentos e, em seguida, da aplicação por parte dos avaliadores. Os erros
podem ser classificados em erros de medida ou erros sistemáticos (MARINS;
GIANNICHI, 2007).
Os erros de medida dizem respeito ao equipamento, ao medidor ou à
administração do teste. Veja seus tipos a seguir.

 Erro de equipamento: quando a utilização do equipamento não é


adequada ao que se propõe aferir ou o equipamento não está calibrado
corretamente.
 Erro do medidor: quando o avaliador erra ou não consegue efetuar
uma leitura.
 Erro de administração: quando o procedimento para a aplicação e
realização do teste está equivocado.
Introdução à avaliação física 13

Os erros sistemáticos são aqueles relacionados às diferenças biológicas


e ambientais, como aquelas relacionadas à estatura, à força, à flexibilidade
ou à postura — variáveis essas que se modificam conforme o horário do dia.
O Quadro 2, a seguir, apresenta algumas das variáveis e as implicações que
podem ser provocadas em relação à dimensão testada.

Quadro 2. Variáveis de desempenho que podem provocar erros sistemáticos

Variável Implicação

Psíquica Ansiedade
Motivação
Inteligência
Personalidade

Metabólica Sistema aeróbico


Sistema anaeróbico

Neuromuscular Força
Resistência
Velocidade
Flexibilidade
Coordenação

Cineantropométrica Composição corporal


Somatótipo
Proporcionalidade
Crescimento e desenvolvimento

Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006).

Como você pode identificar, os erros sistemáticos estão relacionados a fatores


referentes ao avaliado e ao ambiente em que o teste será realizado. Por exemplo,
é possível que um trabalhador que executa atividades exaustivas durante a sua
jornada de trabalho obtenha resultados superiores pela manhã, quando ainda
não começou a sua jornada laboral, do que pela noite, após o período exaustivo.
O mesmo ocorre com sujeitos que possuem variação de humor, que utilizam
medicamentos que alterem os sistemas ou pelos fatos ocorridos em sua vida
particular. Por esse motivo, a preparação do avaliado pelo avaliador deve sempre
ocorrer em conjunto, de modo que seja possível identificar o melhor momento
para a realização do teste e reduzir, assim, a possibilidade de erros sistemáticos.
14 Introdução à avaliação física

Dessa forma, é possível compreender que a avaliação física é um processo


complexo, que exige do profissional de educação física saberes técnicos que
vão desde a compreensão de conceitos até os aspectos procedimentais que
envolvem a aplicação de um teste. Seja qual for o ambiente em que desenvolve
o seu trabalho, o profissional de educação física deve estar pronto para realizar
a avaliação física, apontando caminhos para que os sujeitos com quem trabalha
alcancem seus objetivos.

CHARRO, M. A. et al. Manual de avaliação física. São Paulo: Phorte, 2010.


FUNDAÇÃO VALE. Caderno de referência do esporte: avaliação física. Brasília: Fundação
Vale, 2013. (Cadernos de referência de esporte, v. 11).
GUEDES, D. P.; GUEDES; J. E. R. P. Manual prático para avaliação física. Barueri: Manole, 2006.
MARINS, J. C. B.; GIANNICHI, R. S. Avaliação e prescrição da atividade física: guia prático.
3. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2007.

Leituras recomendadas
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual do ACSM para avaliação da aptidão
física relacionada à saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006
FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed; 2006.
HEYWARD, V. H. Avaliação física e prescrição de exercício: técnicas avançadas. 6. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2011.

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