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Introdução à avaliação física

Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a importância da avaliação física.


 Identificar as diferenças entre medida, avaliação e teste.
 Classificar os princípios da avaliação física.

Introdução
Em suas práticas, é muito comum que os profissionais de educação
física se utilizem de métodos quantitativos para avaliar a composição
corporal, as capacidades físicas e os padrões de movimento. Isso
pode ocorrer por inúmeros motivos: seja apenas para coletar dados
para um estudo epidemiológico, seja para direcionar treinamentos ou
traçar diagnósticos sobre os sujeitos que se avalia. Este conjunto de
técnicas que buscam obter dados quantitativos e qualitativos sobre
as condições físicas de alguém denominamos avaliação física.
Existem muitas formas de avaliar a condição física dos sujeitos e, por
isso, é importante que o profissional de educação física, antes de
apren- der os aspectos procedimentais da avaliação, consiga
compreender os principais conceitos e princípios que orientam essa
prática.
Neste capítulo, você compreenderá a relevância da avaliação
física para a sua prática, as diferenças entre medida, teste e avaliação
e, ainda, os princípios que regem a avaliação física.

1 Por que avaliar?


A avaliação é o ato de determinar, estabelecer, examinar ou julgar o valor
de algo ou alguma coisa (FUNDAÇÃO VALE, 2013). Recorrentemente, a
avaliação é utilizada como forma de classificar os indivíduos entre bons ou
aceitáveis e ruins ou inaceitáveis. Essa perspectiva reducionista da avaliação
vem sendo deixada de lado para que seja assumida uma compreensão mais
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ampla. No âmbito da educação física, a avaliação exerce uma função primordial


e é o principal meio para compreender o estado físico dos sujeitos e traçar
ou readequar os caminhos para que sua condição de saúde ou desempenho
seja aperfeiçoada.
A avaliação física envolve o uso de procedimentos precisos e confiáveis
para determinar com exatidão as condições de determinada pessoa. Cada
tipo de medida possui uma forma procedimental específica e que envolve
diferentes níveis de complexidade, colocando aquele que avalia diante de
inúmeros problemas, que vão desde a forma como medir até a interpretação
dos resultados obtidos.

Geralmente, a avaliação física é utilizada como forma de obter dados para a classificação do avali

Em geral, quando identificamos o resultado, fazemos a comparação com


uma escala de valores populacionais para que possamos emitir um juízo e
um parecer sobre o resultado. Por vezes, a avaliação física resulta apenas na
emissão de julgamentos. No entanto, ao se tratar do movimento humano, ela
é muito mais que isso, sendo, também, a síntese dos elementos quantitativos,
subjetivos e das outras evidências que podem oferecer os dados e informações
para diferentes propósitos.

Objetivos das medidas e avaliações em educação física


A avaliação física pode ser utilizada para muitas possibilidades. Atualmente,
é comum observarmos o uso de testes e medidas em diversas ocasiões. Você
já deve ter participado de algum deles em algum momento de sua vida,
como, por exemplo, em academias, com equipes profissionais, escolares ou até
mesmo em concursos públicos. Ainda que nessas ocasiões mencionadas o
uso dos testes possa ter ocorrido da mesma forma, é provável que em cada
uma delas
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o objetivo da avaliação tenha sido específico e se diferenciado dos demais.


Charro et al. (2010) apontam os principais objetivos da avaliação física, que
você confere a seguir.

 Determinar o nível de aptidão física geral: determinada a condição


física do indivíduo em cada uma das qualidades testadas, a avaliação
física proporciona ao profissional de educação física subsídios para
melhor prescrever os programas de treinamento e preparação, observada
a condição da aptidão física do aluno.
 Determinar o progresso: quando utilizada como forma de reavaliação,
é possível comparar índices e níveis obtidos entre avaliações realizadas
em períodos diferentes, o que possibilita a identificação de melhoras ou
informações para readequar os programas de treinamento.
 Determinar o estado de saúde: geralmente efetuadas junto ao momento
de anamneses, as avaliações físicas permitem identificar a presença
de sinais, sintomas, características ou comportamentos habituais dos
indivíduos que possam apresentar-se como riscos de problemas de saúde.
 Classificar os indivíduos: quando existe a necessidade de dividir
os avaliados em grupos, a avaliação permite que sejam identificadas
características em comum entre os participantes.
 Motivar: o avaliado pode ser motivado a melhorar sua condição
física com base nas informações obtidas sobre o seu estado atual. O
mesmo vale para a adesão aos programas de atividades físicas, em
que os resultados identificados podem produzir a motivação no
avaliado para continuar o programa.
 Diretriz para pesquisa: os dados obtidos para a pesquisa devem ser
avaliados pela sua significância e, com isso, levar os conhecimentos
sobre determinado caso ou situação para outras pessoas,
disseminando as informações obtidas.

Tipos de avaliação
Conforme o objetivo determinado pelo avaliador, as avaliações podem ser
classificadas em três diferentes tipos: a avaliação diagnóstica, a avaliação
formativa e as avaliações somativas (CHARRO et al., 2010).
A avaliação diagnóstica auxilia o avaliador ou o profissional que irá
realizar a prescrição do exercício físico. Auxilia, também, na elaboração
da programação de treinamentos e na seleção de grupos, que podem ser
homogêneos ou heterogêneos. Por exemplo, em treinamentos voltados ao
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emagrecimento, a medida de dobras cutâneas para determinar o percentual


de gordura corporal serve para identificar o estado geral do avaliado antes
do início do referido programa.
A avaliação formativa determina o progresso dos avaliados na
realização de um programa de treinamento, fornecendo informações tanto para
o avaliador quanto para o avaliado que sejam possíveis de identificar se os
resultados traça- dos em certo período condizem com o esperado. Serve,
também, como forma de identificar os pontos fortes e fracos de determinado
tipo de treinamento, fornecendo possibilidades de reformulações para que o
objetivo proposto seja alcançado. Utilizando o exemplo anterior, as medidas
de dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento podem ser
realizadas semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente, identificando o
progresso do avaliado.
A avaliação somativa representa o resultado de todas as avaliações
reali- zadas, identificando as evoluções do avaliado. Essas avaliações
representam os ganhos gerais de um indivíduo e/ou nas unidades de
treinamento (MARINS; GIANNICHI, 2007). Ainda no exemplo acerca das
dobras cutâneas em um programa voltado ao emagrecimento, o somatório de
todas as avaliações torna possível avaliar o progresso geral do avaliado e
identificar em quais momentos e por quais motivos algumas semanas,
quinzenas ou meses de treinamento não foram tão efetivos.
Para compreender melhor as diferenças entre os diferentes tipos de
avalia- ção, observe o Quadro 1, que apresenta alguns exemplos quanto aos
objetivos e momentos de avaliação.

Quadro 1. Tipos de avaliação

Tipo de
Diagnóstica Formativa Somativa
avaliação

Fornecer informações Fornecer um Certificar o avanço e


sobre o avaliado e feedback para o a eficácia do pro-
determinar o melhor avaliado e para grama de treinamen-
Propósito
programa de treina- o avaliador. tos, identificando
mento com base em pontos fortes e fra-
suas características. cos na sua
realização.
Anterior ao programa Durante o Ao final do programa
Período de treinamento. programa de de treinamento.
treinamento.
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Como você deve ter compreendido até aqui, a avaliação física é o principal
meio pelo qual o profissional que lida com o movimento humano identifica,
organiza e avalia a sua prática, fornecendo informações que fazem a media-
ção entre os programas de treinamento tanto para o avaliador quanto para
o avaliado. As avaliações ocorrem, muitas vezes, por meio de protocolos
específicos que buscam atender a um objetivo. A forma como tais dados são
obtidos envolve as medidas, os testes e as avaliações, conceitos que você
conhecerá no próximo tópico.

2 Medida, avaliação e teste


Embora sejam recorrentemente utilizados como sinônimos, os termos
medida, teste e avaliação não se referem ao mesmo processo quando os
utilizamos dentro do campo da educação física. Por mais que seja comum
a utilização desses termos como sinônimos, devemos estar atentos quanto
à sua utilização, já que se referem a modos de interpretação distintos. Por
exemplo, ao medirmos a estatura de um indivíduo e constatarmos que
o mesmo tem 180 cm, a utilização apenas da medida desse número não
nos diz muito. É preciso conseguir analisar e interpretar o que tal medida
representa dentro de um contexto específico, passando, então, por um
processo de avaliação. Assim, os conceitos de medida, teste e avaliação
devem ser utilizados para representar o processo pelo qual as informações
obtidas do avaliado foram analisadas. Você conhecerá um pouco mais das
peculiaridades desses termos a seguir.

Teste
Os testes compreendem um processo de obtenção de dados. Guedes e
Guedes (2006, p. 2) indicam que testar “[...] consiste em verificar o
desempenho de alguém mediante situações previamente organizadas e
padronizadas, denomi- nadas testes”. Os testes são uma das principais formas de
obter dados dentro do campo da educação física, visto que são práticos em
sua aplicação e objetivos em suas informações. Embora geralmente utilizem
protocolos específicos, os testes podem ser de campo ou de laboratório.
Os testes de campo em geral são baratos, muito fáceis de serem adminis-
trados e geralmente estão relacionados às capacidades físicas dos avaliados,
como no caso do futebol, em que os atletas são submetidos a testes no gramado,
com o uso da vestimenta do uniforme de sua modalidade esportiva. Alguns
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exemplos muito conhecidos são o teste de Cooper, o teste de flexões de braço,


de impulsão horizontal, entre outros (MARINS; GIANNICHI, 2007).
Os testes de referência, ao contrário, são protocolos que geralmente pos-
suem um investimento financeiro maior, pois são realizados em maquinários
específicos e em ambiente controlado, o que os torna mais confiáveis e re-
produtíveis. Também podem ser utilizados para aferir a capacidade física
dos avaliados, assim como também podem aferir a composição corporal.
Alguns dos testes comuns são a ergoespirometria, os dinamômetros
isocinéticos e as plataformas de força.

Os testes de referência, como o nome sugere, são testes realizados em laboratório e que buscam

Medida
O termo medir significa a obtenção dos dados quantitativos, procedimento
basilar da avaliação física. Para Guedes e Guedes (2006, p. 1), “[...] medir
significa determinar a quantidade, a extensão ou o grau de determinado atri-
buto com baste em um sistema convencional de unidades”. O resultado da
medida é sempre numérico e refere-se ao quantitativo do atributo a ser descrito.
Exemplos de medida são a estatura e o peso, cujos sistemas convencionais
são, respectivamente, o metro e o quilograma. A medida se encontra em
todos os processos de avaliação física, sejam eles voltados para a
compreensão de qualquer capacidade ou habilidade física. As medidas
podem ser obtidas de forma direta ou indireta (MARINS; GIANNICHI,
2007).
As medidas diretas são aquelas que, como o nome sugere, são obtidas
diretamente do avaliado. Por exemplo, para medir o consumo de oxigênio de
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um indivíduo de forma direta, o teste de ergoespirometria é recorrentemente


utilizado. As medidas indiretas são aquelas que são obtidas por modo distinto ao
que se pretende avaliar, mas, com a relação dos resultados, é possível
estabelecer algumas estimativas. Utilizando o exemplo anterior, para
indiretamente estimar o consumo de oxigênio de um indivíduo, o teste de
Cooper é recorrentemente utilizado. Com os resultados da distância
percorrida em determinado período pelo avaliado, é possível estimar o seu
consumo de oxigênio.

Ao se tratar da composição corporal, em que se estabelece a quantidade de ossos, músculos, gordu

Avaliação
A avaliação se refere às compreensões que são possíveis por determinado
teste e medida. De acordo com Guedes e Guedes (2006, p. 1), a avaliação é
definida como “[...] um processo interpretativo, pois consiste em julgar com
base em referenciais selecionados especificamente para essa finalidade”. Por
demandar o processo interpretativo, a avaliação é o meio mais abrangente,
pois, enquanto as medidas e os testes se detêm à utilização de dados e
instrumentos quantitativos, a avaliação também solicita a utilização de dados
e instrumentos qualitativos. O papel do profissional de educação física em
uma avaliação é considerar todas as variáveis envolvidas em um teste pelo
qual se obtém uma medida. Ou seja, a avaliação consiste em conseguir
identificar o que, por quê e quem está sendo avaliado. Isso significa que
apenas a medida obtida em um teste não representa um padrão universal a
todos os sujeitos. Imagine um mesmo teste aplicado em homens de meia
idade, em mulheres, em crianças ou idosos: é possível que as medidas
obtidas por determinado protocolo signifiquem a mesma coisa? Certamente
não, pois, para cada uma dessas individualidades,
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são produzidos padrões diferentes. Não é possível exigir que populações idosas
possuam a mesma resistência cardiorrespiratória que jovens de vinte anos de
idade, já que o primeiro grupo apresenta sinais e sintomas do processo de
envelhecimento e, em decorrência disso, sua exigência é menor. O mesmo
também podemos afirmar em populações fisicamente ativas, sedentárias,
atletas, com quadros patológicos e também inúmeras outras variáveis. O
papel do profissional de educação física, então, é considerar todas as variáveis
presentes em relação ao avaliado e determinar quais medidas a esse sujeito
ou grupo são consideradas dentro do esperado.
Ou seja, a avaliação consiste em um processo que visa dar significado
aos resultados colhidos em um teste ou medida, fazendo com que os
números expressos passem a apontar informações consistentes que possam
mediar a prática do avaliado e do avaliador. Em síntese, a Figura 1, a seguir,
apresenta as diferenças entre os três conceitos.

Figura 1. Diferenças entre testar, medir e avaliar.


Fonte: Adaptada de Guedes e Guedes (2006).

Em grande parte das vezes, a medida e os testes se encontram dentro de


protocolos específicos e que são avaliados a partir de percentis populacionais.
Em muitos casos, o uso de software auxilia a compreensão de variações
apresentadas pelo avaliado na realização de um teste. Seja qual for a dimensão
avaliada, o objetivo pelo qual se propõe avaliar o avaliador deve seguir
alguns critérios essenciais, os quais você vai conhecer na próxima seção.

3 Princípios da avaliação física


Embora no que se refere ao corpo humano e ao movimento muitos aspectos
possam ser avaliados e diversos testes se proponham a isso, isso não significa
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que qualquer teste pode ser utilizado para qualquer medida. É preciso, para
tanto, que o profissional consiga utilizar o método que melhor corresponda
a seus objetivos avaliativos, estabelecendo, para isso, alguns critérios. Nesta
seção, você vai conhecer os princípios da avaliação física.

Critério de seleção de testes


Ao se determinar o que será testado e por qual objetivo a avaliação será feita, o
profissional deve procurar na literatura o melhor teste para a situação envolvida.
A escolha desses testes deve ser feita com base em três princípios: a
validade, a fidedignidade ou confiabilidade e a objetividade ou
reprodutibilidade.
A validade de um teste consiste em ele conseguir medir o que se propõe
a medir (CHARRO et al., 2010). Para determinar que um teste realmente
mede o que se propõe a medir, existem quatro formas principais: a validade
de conteúdo, a validade de critério, a validade de predição e a validade de
construção.
A validade de conteúdo representa que um teste é adequado com base
na lógica quando os números obtidos representam a variável morfológica ou
fisiológica analisada sendo baseada pelo testemunho de um especialista ou em
sua larga utilização (GUEDES; GUEDES, 2006). Por exemplo, ao avaliar a
capacidade cardiorrespiratória, o teste de Cooper é um protocolo
amplamente utilizado em importantes pesquisas; podemos dizer, então, que
este teste possui validade de conteúdo.
A validade de critério consiste na relação por meios estatísticos quando
se compara o resultado de um teste em questão com outros testes já validados.
Um exemplo de validade de critério é quando comparamos, por exemplo,
os resultados de um teste de consumo máximo de oxigênio a partir de dois
protocolos diferentes, como o teste de Cooper e a ergoespirometria. Para ter
a validade de critério, espera-se que ambos os testes apresentem medidas
semelhantes.
A validade de predição está relacionada à capacidade de prever, em linhas
gerais, o resultado obtido considerando o avaliado. Utilizando o exemplo do
teste de Cooper, a validade de predição consiste em confirmar que o resultado
do teste, quando realizado por homens, por exemplo, apresenta-se de
maneira diferente quando desenvolvido por mulheres de mesma idade.
A validade de construção representa a consistência teórica que sustenta
o teste, também delimitando se ele é capaz de medir o que pretende. Ou seja,
para avaliar o consumo máximo de oxigênio, o teste elegido deve
contemplar a capacidade cardiorrespiratória e sustentar o que a literatura
afirma. No teste
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de Cooper, pode-se dizer que a validade de construção ocorre à medida que


a variável, o consumo máximo de oxigênio, é maior quando a intensidade da
corrida do avaliado também for maior.
A fidedignidade ou confiabilidade diz respeito aos resultados encontrados
sob as mesmas condições. Quer dizer, se a aplicação do teste for replicada
sob as mesmas condições do avaliado e os mesmos resultados forem
encontrados, então se pode dizer que o teste é confiável. Por exemplo,
quando subimos em uma balança, identificamos o nosso peso corporal. Ao
descer e subir novamente nessa balança, espera-se que o peso seja o mesmo
ou que apresente pequenas variações não significativas. Se isso ocorrer,
então o teste é considerado fidedigno ou confiável.
A objetividade ou reprodutibilidade diz respeito à consistência dos
resultados independentemente do avaliador. Quando o teste é aplicado sobre
os mesmos indivíduos, por avaliadores diferentes, e, ainda assim, apresenta os
mesmos resultados, diz-se que possui objetividade. Por exemplo, suponha que
você efetuou as medidas de dobras cutâneas de alguém. Minutos depois, um
colega seu efetuou o mesmo procedimento. Se ambos chegarem aos mesmos
resultados, o que é esperado nesse teste, pode-se afirmar que é objetivo ou
reprodutível.
Além desses fatores, também deve ser levada em consideração a padro-
nização de instruções para o teste em questão. Essas informações seguem
protocolos específicos, que orientam as condições de realização dos testes,
os locais em que pode ser aplicada, a vestimenta dos avaliados, as formas de
motivação, os cuidados a serem tomados e os erros comuns que devem ser
evitados (GUEDES; GUEDES, 2006).

Embora bastante difundida atualmente, a pesquisa em atividade física é recente quando compar
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Organização e administração dos testes


Uma boa avaliação requer que o avaliador esteja atento às peculiaridades
de alguns fatores que interferem na realização de um teste ou na obtenção
dos seus resultados. Veja, a seguir, alguns desses fatores apontados por
Charro et al. (2010).

 Procedimento do avaliador: o avaliador deve possuir conhecimento


sobre os propósitos dos testes e de seus detalhes técnicos para aplicação,
assumindo as padronizações. Além de conhecer o teste em questão, é
necessário que possua conhecimentos sobre o que será avaliado,
como, por exemplo, no caso da avaliação antropométrica, os
conhecimentos de anatomia.
 Informação do avaliado: o sujeito avaliado deve conhecer previamente
o processo de medida e apresentar motivação e disposição para
realizá-
-lo, sendo possível obter os melhores resultados. O avaliado deve ser
informado sobre o intervalo entre a última refeição e o teste, o uso das
vestimentas adequadas para realizá-lo, além de ficar ao menos 72 horas
sem realizar esforço físico quando submetido a avaliações de esforço
máximo ou submáximo.
 Local: o local deve possuir condições adequadas de espaços, luz,
som, temperatura, vento, condições de solo, segurança e trânsito de
pessoal. Alguns protocolos exigem, além desses fatores, paredes sem
cores, que ofereçam estímulos que retirem a concentração dos
avaliados durante a realização do teste.
 Horário: o teste e o reteste devem ser realizados no mesmo período
do dia e, preferencialmente, no mesmo horário, para que sejam
evitadas as interferências por alterações posturais ou de cansaço e
ocorridas pela ação de hormônios. É preciso considerar os ritmos de
secreção circadiano (relativo ao ritmo biológico no período de 24
horas e que está relacionado a fatores como luz solar e temperatura) e
ultradiano (relativo a mudanças repetitivas que ocorrem em período de
até 20 horas, com a mudança na frequência de batimentos cardíacos).
 Vestimenta: a vestimenta deve ser condizente com o teste a ser rea-
lizado. O ideal é o uso de calção, camiseta, meias e tênis com solado
adequado, além de biquínis e sungas, quando for o caso.
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 Instrumental: os instrumentos de medida que serão utilizados no


teste devem ser escolhidos cuidadosamente, optando-se por aquele
que apresenta melhor precisão. Eles devem ser utilizados com
cuidado e armazenados nos locais adequados. O mau uso pode afetar
a precisão ou comprometer a sua utilização por tempo prolongado
(MARINS; GIANNICHI, 2007).
 Calibração: ainda que todo cuidado seja considerado, é comum que,
com o passar do tempo, os equipamentos percam a sua calibração.
Por isso, é aconselhável que sua aferição seja realizada
periodicamente ou, no caso de ser impossível este procedimento, deve
ser efetuada a troca do equipamento. Geralmente, os próprios
fabricantes indicam o período de aferição ou troca, o que deve
ocorrer entre 6 meses e um ano.
 Mecanismos de aplicação: existem muitos fatores que influenciam a
aplicação do teste, como, por exemplo, o número de avaliados, o número
necessário de avaliadores, a demonstração, a ordem dos testes, a duração
da avaliação e a coleta de dados. Quanto a essas variáveis, o avaliador
deve se precaver para que o procedimento não seja interrompido durante
a sua realização.

Precisão de medidas
A precisão das medidas é de fundamental importância para a avaliação. Uma
imprecisão nas informações obtidas compromete o resultado e os objetivos
que o teste propõe. Em primeiro lugar, a precisão depende da exatidão de
instrumentos e, em seguida, da aplicação por parte dos avaliadores. Os erros
podem ser classificados em erros de medida ou erros sistemáticos (MARINS;
GIANNICHI, 2007).
Os erros de medida dizem respeito ao equipamento, ao medidor ou à
administração do teste. Veja seus tipos a seguir.

 Erro de equipamento: quando a utilização do equipamento não é


adequada ao que se propõe aferir ou o equipamento não está calibrado
corretamente.
 Erro do medidor: quando o avaliador erra ou não consegue efetuar
uma leitura.
 Erro de administração: quando o procedimento para a aplicação e
realização do teste está equivocado.
Introdução à avaliação 2

Os erros sistemáticos são aqueles relacionados às diferenças biológicas


e ambientais, como aquelas relacionadas à estatura, à força, à flexibilidade
ou à postura — variáveis essas que se modificam conforme o horário do dia.
O Quadro 2, a seguir, apresenta algumas das variáveis e as implicações que
podem ser provocadas em relação à dimensão testada.

Quadro 2. Variáveis de desempenho que podem provocar erros sistemáticos

Variável Implicação

Psíquica  Ansiedade
 Motivação
 Inteligência
 Personalidade

Metabólica  Sistema aeróbico


 Sistema anaeróbico

Neuromuscular  Força
 Resistência
 Velocidade
 Flexibilidade
 Coordenação

Cineantropométrica  Composição corporal


 Somatótipo
 Proporcionalidade
 Crescimento e desenvolvimento

Fonte: Adaptado de Guedes e Guedes (2006).

Como você pode identificar, os erros sistemáticos estão relacionados a


fatores referentes ao avaliado e ao ambiente em que o teste será realizado. Por
exemplo, é possível que um trabalhador que executa atividades exaustivas
durante a sua jornada de trabalho obtenha resultados superiores pela manhã,
quando ainda não começou a sua jornada laboral, do que pela noite, após o
período exaustivo. O mesmo ocorre com sujeitos que possuem variação de
humor, que utilizam medicamentos que alterem os sistemas ou pelos fatos
ocorridos em sua vida particular. Por esse motivo, a preparação do avaliado
pelo avaliador deve sempre ocorrer em conjunto, de modo que seja possível
identificar o melhor momento para a realização do teste e reduzir, assim, a
possibilidade de erros sistemáticos.
26 Introdução à avaliação física

Dessa forma, é possível compreender que a avaliação física é um


processo complexo, que exige do profissional de educação física saberes
técnicos que vão desde a compreensão de conceitos até os aspectos
procedimentais que envolvem a aplicação de um teste. Seja qual for o
ambiente em que desenvolve o seu trabalho, o profissional de educação física
deve estar pronto para realizar a avaliação física, apontando caminhos para que
os sujeitos com quem trabalha alcancem seus objetivos.

CHARRO, M. A. et al. Manual de avaliação física. São Paulo: Phorte, 2010.


FUNDAÇÃO VALE. Caderno de referência do esporte: avaliação física. Brasília: Fundação Vale, 2013
GUEDES, D. P.; GUEDES; J. E. R. P. Manual prático para avaliação física. Barueri: Manole, 2006. MA
3. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2007.

Leituras recomendadas
AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Manual do ACSM para avaliação da aptidão física relacio
FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3. ed. Porto Alegre
HEYWARD, V. H. Avaliação física e prescrição de exercício: técnicas avançadas. 6. ed. Porto Alegr

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