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Alexandre Barbalho (Universidade
Estadual do Ceará)
Antonio Albino Canelas Rubim (UFBA)
cultural na Ibero-América
EDU F B A
Gisele Nussbaumer (UFBA)
José Roberto Severino (UFBA)
EDITORA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA BAHIA
Laura Bezerra (UFRB)
Lia Calabre (Fundação Casa de Rui
DIRETORA
Barbosa - RJ)
Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Linda Rubim (UFBA)
CONSELHO EDITORIAL Liv Sovik (Universidade Federal do Rio
Alberto Brum N ovaes de Janeiro)
Angelo Szaniecki Perret Serpa Mariella Pitombo Vieira (UFRB) Antônio A l bino Ca n e l as Rubim
Caiuby Alves da Costa Marta Elena Bravo (Universidade
Carlos Yáfiez Cana l
Charbel Ninõ El- Hani Nacional da Colômbia - Medellín)
Paulo Miguez (UFBA) Rubens Bayardo
Cleise Furtado Mendes
Dante Eustachio Lucchesi Ramacciotti
Renata Rocha (UFBA) (Organizadores)
Renato Ortiz (UNICAMP)
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Rubens Bayardo (Universidade de
José Teixeira Cavalcante Filho
Buenos Aires - Universidade San Martin)
Maria Vidal de Negreiros Camargo
COORDENADOR DA
COMISSÃO EDITORIAL
ED UFBA
SA L VADOR , 20 1 6
2016 by autores.
Direitos para esta edição cedidos à EDUFBA.
Feito o depósito legal.
°
Grafia atualizada conforme Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em
vigor no Brasil desde 2009. S UMÁRIO
11
Ficha Catalográfica: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/I5 13 Introdu cció n
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Antonio Albino Can e la s Rubim
P195 Panorama da gestão cultural na Ibero-américa / Carlos Yáfiez Cana l
Antonio Albino Canelas Rubim, Carlos Yanez Canal, Rubens Bayardo, Rubens Bayardo
Organização. - Salvador: EDUFBA, 2016.
325 p. - (Coleção Cult; n. 23)
15
Texto em português e espanhol.
Hac ia un panorama dei desarrollo de la ge stión
ISBN: 978-85-232-1536-1
cultural en Argentina
Política cultural- América Latina. 2. Cultura - América Latina. I. Rubim,
1.
Rubens 1}ayardo
Antonio Albino Canelas, org. lI. Yanez, Carlos, org. m. Bayardo, Rubens, org.
IV. Série.
CDD:3 0 6 35
Gestión de la cultura en e l contexto pluricultu ral d e Bolivi a
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Norma Campo s Vera
59
EDITORA FILIADA À:
Pol íticas e gestão c u ltural no Br asi l
ASOCIAcrON DE EDITORIALES
UNIVERSITARIAS DE AMERICA
LATINA Y EL CARIBE
Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
CBaL
Câmara Bahiana do Livro
Antonio Albino Cane l as Rubim
199
Aproximación a la gest ión cultural públi ca en Paraguay
Vladimir Velá s qu ez Moreira
219
Políticas culturales e n el Perú de i nuevo m ilen io: avan ces, retr ocesos
y.compromisos pe nd iente s
Gloria Lescano
Victor Vich
249
Gestión cultural y agencia ci u dadana: reflexio n es desde la experie n cia
puertorriquena
Mareia Quintero Riv e ra
Avanços e recuos nas políticas púb l icas
da cu ltura em Portugal: breve incursão
sobre o passado, presente e futuro
Jenny Campo s*
M aria Manu e l Bapti s ta **
* Doutoranda em Estudos
I ntrodução Culturais na Universidade de
Aveiro/Minho e licenciada
A política cultural pode ser entendida como a em Gestão do Património
intervenção dos setores público e privado - princi- Cultural pela Escola Superior
de Educação do Porto.
palmente do primeiro - no processo cultural, seja
** Docente e investigadora
na elaboração, produção, distribuição ou receção de em Estudos Culturais no
Departamento de Línguas e
bens. A relação entre a cultura e Estado tem sido ob- Culturas da Universidade de
jeto de um grande número de trabalhos. Contudo, se Aveiro.
MAREIA Q UI NT E RO R I V E RA
J
preocupação do Estado com o estabelecimento de diretrizes específicas uniforme, pois "[... ] o quadro institucional específico, a tradição mais
para a cultura e daí que a sua definição seja ainda muito fluída. ou menos liberal, ou mais ou menos centralista de cada um dos países,
Com efeito, as políticas culturais são propostas pela administração assim como a orientação política dos diferentes governos, produziram
pública, organizações não governamentais e empresas privadas, com diferenças sensíveis". (HENRIQUES, 2002: 63) O autor sustenta que
o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura. um dos argumentos para defender a necessidade de apoio estatal à cul-
Prnjat define a política cultural como um fator que "[... ] promove tura e às artes reside no facto destas duas áreas gerarem aquilo a que se
o desenvolvimento cultural e as atividades criadoras no âmbito da chama bens meritórios. À semelhança da segurança ou higiene, a cultu-
cultura, harmonizando-as com as relações sociais vigentes". (1985: ra e as artes tem utilidades de bem-estar e permitem a formação e valo-
61) Já Feijó (1986: 9) afirma que não se pode confundir ''[...] cultura a rização pessoal dos indivíduos. Uma outra razão para o financiamento
serviço da política com política a serviço da cultura", alertando para o público reside no facto de muitos bens culturais ou artísticos serem tu-
caráter instrumental que muitas vezes as políticas culturais têm. Por tela do Estado: "a intervenção do Estado justificar-se-ia uma vez que,
seu turno, Canclini (2005) defende que as políticas culturais incluem retirando todos os indivíduos benefícios potenciais da conservação do
o conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, entidades privadas e património, ou da criação artística, parece justo que o coletivo financie
grupos civis, que procuram o desenvolvimento simbólico, a satisfação pelo menos em parte serviços que de outra forma só alguns pagariam".
das necessidades culturais da população ou obter algum consenso face (HENRIQUES, 2002: 65) Por fim, como último argumento Henriques
a transformações sociais. Coelho (1997: 292) completa essa definição, (2002) refere aquilo que designa como "externalidades positivas", re-
afirmando que as iniciativas desses agentes visam "[... ] promover a portando aos benefícios que advêm de uma localidade "criativa ou cul-
produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e divulgação tural", seja não só através da atração turística como também do dina-
do património histórico e o ordenamento do aparelho burocrático mismo que é gerado em seu torno.
por elas responsável". Considera, ainda, a política cultural como uma Deixando os argumentos económicos, há outras razões que justificam
ciência da organização das estruturas culturais, que tem como objetivo uma intervenção ativa no financiamento da cultura e das artes. Henri-
o estudo dos diferentes modos de proposição e agenciamento dessas ques (2002) refere que compete ao Estado proteger a cultura, como forma
iniciativas, bem como a compreensão das sua's significações nos de salvaguarda da sua identidade. A outra razão prende-se com a tendên-
diferentes contextos sociais em que se apresentam. cia igualitária que os Estados democratas defendem. Assim, a equidade
Já no que diz respeito aos modelos das políticas culturais Henriques da participação civil na vida cultural é uma meta do desenvolvimento das
(2002) refere dois modelos fundamentais: por um lado as experiên- sociedades, e cabe, pois ao Estado, desenvolver todos os esforços para que
cias fascistas e comunistas, que pró curaram controlar a criação artís- essa equidade seja alcançada. De facto, a relação entre cultura e desenvol-
tica com intuitos ideológicos e também de propaganda. E o segundo vimento vem assumindo, crescente e aceleradamente, um lugar de desta-
modelo, com uma forte intervenção do Estado, mas agora vinculado que na agenda contemporânea. À luz da UNESCO (2003) falamos de um
às sociedades democráticas, e que deu origem ao conceito de Estado de entendimento da cultura no seu conceito mais pleno, como a dimensão
providência. A autor lembra que o crescimento dos gastos públicos e o simbólica da existência social de cada povo, como uma argamassa indis-
modo como se exerceu a participação do setor público na cultura não foi pensável a projetos de comunidades de diversas dimensões e naturezas,
J
como eixo construtor das identidades, como espaço privilegiado de rea- Parece portanto inegável a importância das políticas públicas cul-
lização da cidadania e de inclusão social e, também, como fato económico turais no contexto das sociedades contemporâneas. Dado o papel es-
gerador de riquezas. truturante dos processos culturais e identitários para as comunidades,
Henriques (2002) refere que nos países que desenvolveram formas a gestão pública não se pode furtar a propor estratégias e alocar recur-
de Estado Providência, as artes e a cultura são sempre financiadas (em sos, de modo a garantir a proteção e o desenvolvimento do património
parte) pelo Estado, mas tal não significa que essas intervenções sejam cultural material e imaterial, das artes e culturas, atendendo assim aos
inquestionáveis. Atualmente, por razões económicas, esta ação do Es- direitos das populações, no que concerne ao acesso aos bens culturais,
tado tem vindo a ser colocada em causa e bem como ao reconhecimento de suas próprias práticas culturais.
[. ..] no caso específico dos países da EU, há ainda o desafio da união monetária [. .. ] os
Estados membros viram-se obrigados a respeitar [. .. ] a redução do défice público. Têm Sobre a s po lí ti c a s púb li ca s para a cu l tura em
em consequência a contenção das despesas do estado [. .. ] a desmonopolização de se- Portugal
tores nacionalizados ou estatais e a sua consequente privatização. (HENRIQUES, De acordo com o Compendium: Cultural Policies and trends in Eu-
2002: 68) rape, do Conselho da Europa, Portugal teve ao longo da sua história
quatro períodos chave no que concerne às suas políticas culturais pú-
Dando origem a uma tendência mais pró-liberal. Apesar do exposto blicas. Até ao 25 de Abril, o país vivia num clima de opressão e a censura
e após várias décadas de financiamento público das artes e da cultura, era um elemento limitador e regulador tanto ao nível cultural como ar-
a participação nas artes continua a ser apanágio das elites e daí que se tístico. O Secretariado da Propaganda Nacional destinava-se a difundir
questione até que ponto é legitimo que os recursos de todos permitam a e veicular a ideologia do regime, no contexto de uma hegemonização
satisfação de um grupo de cidadãos. Neste sentido, os países têm procu- ideológica e cultural do país, não deixando margem para a expressão e
rado novas formas de financiamento privado, que quando combinados criatividade individua~. Durante o período de ditadura, Portugal man-
com modelos de gestão de tipo empresarial permitem obter outros re- teve-se afastado daquelas que foram as tendências e as produções artís-
sultados. Tal facto deu origem a políticas culturais nacionais como as do ticas e culturais que se desenvolviam no resto da Europa e do Mundo.
Reino Unido (numa escala maior) ou a ações tão simples como à criação Após a revolução do 25 de abril, o Estado declara através do artigo 73º da
de lojas e cafetarias em museus (numa escala mais reduzida). Constituição da República, a sua responsabilidade em promover a
Em suma, a tendência internacional revela uma maior contenção das
despesas públicas na cultura, à semelhança aliás do que sucede noutros [... ] democratizaçãoda cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os
domínios, também os privados são cada vez mais convocados a participa- cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comuni-
rem na provisão dos bens e serviços culturais. Contudo, acreditamos que cação social, as associações e fundações de fins culturais, as coletividades de cultura
tal não signifique o fim da intervenção do Estado em matéria cultural. Pa- e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de mo-
rece claro poder dizer-se que a cultura e as artes continuarão a fazer parte radores e outros agentes culturais.
das políticas específicas dos Estados, ainda que numa perspetiva de maior
contenção, dados os condicionalismos económicos vividos atualmente.
J E NN Y CAMPOS E MARIA MANUEL BAPT i s t A AVANÇOS E REC U OS NAS POLí TI CAS PÚBLICAS DA CU L T U R A EM P ORTUGA L
"[... ] cultura pode contribuir para um crescimento inclusivo através da na formulação de políticas relevantes e dos programas nacionais de
promoção do diálogo intercultural no pleno respeito pela diversidade reforma para a consecução dos objetivos da estratégia Europa 2020
cultural". As atividades e os programas culturais podem fortalecer a e a procederem ao intercâmbio de boas práticas no que respeita aos
coesão social e o desenvolvimento comunitário, bem como capacitar instrumentos e metodologias de medição do contributo da cultu-
os indivíduos ou toda uma comunidade para a plena participação na ra para os referidos objetivos. Assinalam, por isso, a importância da
vida social, cultural e económica. Aqui as artes e a cultura podem ter criação de sinergias e de promoção de parcerias entre instituições de
também um papel fundamental, por exemplo no combate à pobreza e educação, de cultura e de investigação e o setor empresarial a nível
à exclusão social, pois nestas duas áreas muitas vezes criam-se projetos nacional, regional e local. O mesmo organismo incentiva que se in-
que visam aproximar as minorias das comunidades envolventes onde cluam nos processos artísticos e culturais tecnologias sustentáveis e
têm dificuldade em integrar-se. Evidentemente que cultura não é so- ecológicas e que se apoiem os artistas e o setor cultural no aumento
lução para a pobreza ou mesmo violência, mas esta pode dar uma con- da sensibilização para as questões do desenvolvimento sustentável,
tribuição na busca de soluções de problemas sociais como estes. através, nomeadamente, de atividades educativas não formais.
As artes e a cultura podem ser também compreendidas como vetores Resta ainda referir o papel primordial que desempenha o turismo
de coesão social, pois têm o poder de regenerar localidades, envolvendo cultural sustentável como motor de coesão e desenvolvimento eco-
toda a comunidade num esforço coletivo e potenciando o capital social nómico e humano. Os vários casos de sucesso espalhados pela Europa
de toda uma região. Schneider (s.d) refere que as artes, a literatura, o demonstram que a atividade turístico-cultural se pode tornar numa fe-
cinema, a arquitetura e o planeamento urbano são parte das relações rramenta de desenvolvimento económico e social, sustentando-se para
que determinam o perfil cultural de uma cidade, região ou país. Estes isso na cultura e nas artes. Contudo, há cuidados que devem ser toma-
devem ser articulados com os meios de comunicação social, as regras dos para evitar que as tradições e as memórias das localidades se mol-
de conduta social, a organização do trabalho, as línguas e a natureza dem automática e acriticamente aos interesses turísticos. Para tal, há
multicultural da sociedade, as leis, a vida religiosa e a herança cultural que garantir o envolvimento da comunidade e consciencializar todos
material e imaterial. os agentes envolvido; para o facto do desenvolvimento turístico-cul-
Também as paisagens culturais - enquanto lugares que transmitem tural poder ser entendido como uma estratégia que fortalece e melhora
histórias que preservam a memória e as tradições - são fatores de quali- a economia, acentua a necessidade de preservação ambiental e cultural,
ficação do espaço público. Atente-se no exemplo dos sítios classificados garante a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas que isto
como Património Mundial ou as Capitais Europeias da Cultura. só acontecerá se houver uma perspetiva constante de desenvolvimento
Tirar partido do contributo que a cultura e as artes podem trazer sustentável e de respeito pela autenticidade cultural local.
ao desenvolvimento é urgente e essencial. Para tal, é fundamental Em suma, pretende-se argumentar a favor da contribuição da cul-
que todos os setores cooperem entre si e que seja seguida uma aborda- tura para as sociedades inteligentes, sustentáveis e inclusivas, embora
gem focalizada a todos os níveis das políticas públicas. Neste sentido, estejamos muito aquém de aproveitar o enorme potencial da cultura e
vários documentos da União Europeia convidam os Estados mem- das artes. A cultura desempenha um papel importante na economia de
bros a tomarem em consideração o carácter transversal da cultura hoje, requerendo inovação, o que nem sempre é sinónimo de tecnolo-