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o livro resulta de encontro!>e conversações sobre a construção de polfticas


e da gestão cultura l na Ibero-América Ele reúne uma mostra da gestão cultural
Panorama da gestão
na região e busca abrir, em perspectiva panorâmica, conhecimentos. diálogos
e horizontes para consolidar a gestão cultural na Ibero · Am~rica. cultural na Ibero-América
Antônio Albino Canelas Rubim,
Carlos Yanez Canal '& Rubens Bayardo (Org.)
I'
~
11111 CO L E ÇÃO C ULT

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA CULT-CENTRO DE ESTUDOS


MULTIDISCIPLINARES EM CULTURA
REITOR
COORDENAÇÃO
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José Roberto Severino
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Renata Rocha
ASSESSOR DO REITOR

Paulo Costa Lima COMiSSÃO EDITORIAL Panorama da gestão


DA COLEÇÃO CULT

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f; .. ~ .:
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Alexandre Barbalho (Universidade
Estadual do Ceará)
Antonio Albino Canelas Rubim (UFBA)
cultural na Ibero-América

EDU F B A
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COORDENADOR DA
COMISSÃO EDITORIAL

Antonio Albino Canelas Rubim

ED UFBA
SA L VADOR , 20 1 6
2016 by autores.
Direitos para esta edição cedidos à EDUFBA.
Feito o depósito legal.

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vigor no Brasil desde 2009. S UMÁRIO

COORDENAÇÃO EDITORIAL Flávia Goulart Mota Garcia Rosa


REVISÃO E NORMALIZAÇÃO Alan K. M. de Araújo
9
Introdu ção
DIAGRAMAÇÃO GabrielCayres
Antonio Albino Can e l as Rubim
FOTO DA CAPA Flávia Goulart Mota Garcia Rosa
Carlos Yáfiez Canal
Rubens Bayardo

11
Ficha Catalográfica: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/I5 13 Introdu cció n
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Antonio Albino Can e la s Rubim
P195 Panorama da gestão cultural na Ibero-américa / Carlos Yáfiez Cana l
Antonio Albino Canelas Rubim, Carlos Yanez Canal, Rubens Bayardo, Rubens Bayardo
Organização. - Salvador: EDUFBA, 2016.
325 p. - (Coleção Cult; n. 23)
15
Texto em português e espanhol.
Hac ia un panorama dei desarrollo de la ge stión
ISBN: 978-85-232-1536-1
cultural en Argentina
Política cultural- América Latina. 2. Cultura - América Latina. I. Rubim,
1.
Rubens 1}ayardo
Antonio Albino Canelas, org. lI. Yanez, Carlos, org. m. Bayardo, Rubens, org.
IV. Série.
CDD:3 0 6 35
Gestión de la cultura en e l contexto pluricultu ral d e Bolivi a
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Norma Campo s Vera

59
EDITORA FILIADA À:
Pol íticas e gestão c u ltural no Br asi l

ASOCIAcrON DE EDITORIALES
UNIVERSITARIAS DE AMERICA
LATINA Y EL CARIBE
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das Editoras Universitárias
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Antonio Albino Cane l as Rubim

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La gestion cultural en Co lombia: un tej ido e ntr e mult iples tramas Avanço s e recuos nas políticas públicas da cultura em Portugal:
Carlos Yáiiez Canal breve incursão sobre o passado, presente e futuro
Jenny Campos
109 Maria Manu e l Bapt is ta
Pan ora ma d e la gestió n cultural en Ecuador
Fabián Saltos Coloma 291
Un panorama de la gestión cultural e n Uruguay
133 Ugo Achugar
U n a aproximación a la gestió n cultural en Espana
Rafael Morales Astola 309
Cooperación y gestió n cultu ra l en Iberoamérica:
173 una perspectiva desde la OEI
La profe s ionalización de la ge stión cultural e n Méx ico: Mónica Garcia Alonso
apuntes de un proceso en marcha
José Luis Mariscal Orozco 323
Blanca Brambila Medrano Outros títu los d a Coleção Cult
Valentina Arreo l a O c hoa

199
Aproximación a la gest ión cultural públi ca en Paraguay
Vladimir Velá s qu ez Moreira

219
Políticas culturales e n el Perú de i nuevo m ilen io: avan ces, retr ocesos
y.compromisos pe nd iente s
Gloria Lescano
Victor Vich

249
Gestión cultural y agencia ci u dadana: reflexio n es desde la experie n cia
puertorriquena
Mareia Quintero Riv e ra
Avanços e recuos nas políticas púb l icas
da cu ltura em Portugal: breve incursão
sobre o passado, presente e futuro

Jenny Campo s*
M aria Manu e l Bapti s ta **

* Doutoranda em Estudos
I ntrodução Culturais na Universidade de
Aveiro/Minho e licenciada
A política cultural pode ser entendida como a em Gestão do Património
intervenção dos setores público e privado - princi- Cultural pela Escola Superior
de Educação do Porto.
palmente do primeiro - no processo cultural, seja
** Docente e investigadora
na elaboração, produção, distribuição ou receção de em Estudos Culturais no
Departamento de Línguas e
bens. A relação entre a cultura e Estado tem sido ob- Culturas da Universidade de
jeto de um grande número de trabalhos. Contudo, se Aveiro.

por um lado os debates sobre esta relação remontam


à Antiguidade, o mesmo não se pode dizer da preo-
cupação em formular de forma clara e fundamentada
políticas culturais, sobretudo as públicas. É recente a

MAREIA Q UI NT E RO R I V E RA
J
preocupação do Estado com o estabelecimento de diretrizes específicas uniforme, pois "[... ] o quadro institucional específico, a tradição mais
para a cultura e daí que a sua definição seja ainda muito fluída. ou menos liberal, ou mais ou menos centralista de cada um dos países,
Com efeito, as políticas culturais são propostas pela administração assim como a orientação política dos diferentes governos, produziram
pública, organizações não governamentais e empresas privadas, com diferenças sensíveis". (HENRIQUES, 2002: 63) O autor sustenta que
o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura. um dos argumentos para defender a necessidade de apoio estatal à cul-
Prnjat define a política cultural como um fator que "[... ] promove tura e às artes reside no facto destas duas áreas gerarem aquilo a que se
o desenvolvimento cultural e as atividades criadoras no âmbito da chama bens meritórios. À semelhança da segurança ou higiene, a cultu-
cultura, harmonizando-as com as relações sociais vigentes". (1985: ra e as artes tem utilidades de bem-estar e permitem a formação e valo-
61) Já Feijó (1986: 9) afirma que não se pode confundir ''[...] cultura a rização pessoal dos indivíduos. Uma outra razão para o financiamento
serviço da política com política a serviço da cultura", alertando para o público reside no facto de muitos bens culturais ou artísticos serem tu-
caráter instrumental que muitas vezes as políticas culturais têm. Por tela do Estado: "a intervenção do Estado justificar-se-ia uma vez que,
seu turno, Canclini (2005) defende que as políticas culturais incluem retirando todos os indivíduos benefícios potenciais da conservação do
o conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, entidades privadas e património, ou da criação artística, parece justo que o coletivo financie
grupos civis, que procuram o desenvolvimento simbólico, a satisfação pelo menos em parte serviços que de outra forma só alguns pagariam".
das necessidades culturais da população ou obter algum consenso face (HENRIQUES, 2002: 65) Por fim, como último argumento Henriques
a transformações sociais. Coelho (1997: 292) completa essa definição, (2002) refere aquilo que designa como "externalidades positivas", re-
afirmando que as iniciativas desses agentes visam "[... ] promover a portando aos benefícios que advêm de uma localidade "criativa ou cul-
produção, a distribuição e o uso da cultura, a preservação e divulgação tural", seja não só através da atração turística como também do dina-
do património histórico e o ordenamento do aparelho burocrático mismo que é gerado em seu torno.
por elas responsável". Considera, ainda, a política cultural como uma Deixando os argumentos económicos, há outras razões que justificam
ciência da organização das estruturas culturais, que tem como objetivo uma intervenção ativa no financiamento da cultura e das artes. Henri-
o estudo dos diferentes modos de proposição e agenciamento dessas ques (2002) refere que compete ao Estado proteger a cultura, como forma
iniciativas, bem como a compreensão das sua's significações nos de salvaguarda da sua identidade. A outra razão prende-se com a tendên-
diferentes contextos sociais em que se apresentam. cia igualitária que os Estados democratas defendem. Assim, a equidade
Já no que diz respeito aos modelos das políticas culturais Henriques da participação civil na vida cultural é uma meta do desenvolvimento das
(2002) refere dois modelos fundamentais: por um lado as experiên- sociedades, e cabe, pois ao Estado, desenvolver todos os esforços para que
cias fascistas e comunistas, que pró curaram controlar a criação artís- essa equidade seja alcançada. De facto, a relação entre cultura e desenvol-
tica com intuitos ideológicos e também de propaganda. E o segundo vimento vem assumindo, crescente e aceleradamente, um lugar de desta-
modelo, com uma forte intervenção do Estado, mas agora vinculado que na agenda contemporânea. À luz da UNESCO (2003) falamos de um
às sociedades democráticas, e que deu origem ao conceito de Estado de entendimento da cultura no seu conceito mais pleno, como a dimensão
providência. A autor lembra que o crescimento dos gastos públicos e o simbólica da existência social de cada povo, como uma argamassa indis-
modo como se exerceu a participação do setor público na cultura não foi pensável a projetos de comunidades de diversas dimensões e naturezas,

AVANÇO S E RECUO S NAS POLíTICAS PÚB L ICAS DA CU L TURA EM PORTUGAL 277


) ENNY CAMPOS E MAR I A MA N UEL BAPTISTA

J
como eixo construtor das identidades, como espaço privilegiado de rea- Parece portanto inegável a importância das políticas públicas cul-
lização da cidadania e de inclusão social e, também, como fato económico turais no contexto das sociedades contemporâneas. Dado o papel es-
gerador de riquezas. truturante dos processos culturais e identitários para as comunidades,
Henriques (2002) refere que nos países que desenvolveram formas a gestão pública não se pode furtar a propor estratégias e alocar recur-
de Estado Providência, as artes e a cultura são sempre financiadas (em sos, de modo a garantir a proteção e o desenvolvimento do património
parte) pelo Estado, mas tal não significa que essas intervenções sejam cultural material e imaterial, das artes e culturas, atendendo assim aos
inquestionáveis. Atualmente, por razões económicas, esta ação do Es- direitos das populações, no que concerne ao acesso aos bens culturais,
tado tem vindo a ser colocada em causa e bem como ao reconhecimento de suas próprias práticas culturais.

[. ..] no caso específico dos países da EU, há ainda o desafio da união monetária [. .. ] os
Estados membros viram-se obrigados a respeitar [. .. ] a redução do défice público. Têm Sobre a s po lí ti c a s púb li ca s para a cu l tura em
em consequência a contenção das despesas do estado [. .. ] a desmonopolização de se- Portugal
tores nacionalizados ou estatais e a sua consequente privatização. (HENRIQUES, De acordo com o Compendium: Cultural Policies and trends in Eu-
2002: 68) rape, do Conselho da Europa, Portugal teve ao longo da sua história
quatro períodos chave no que concerne às suas políticas culturais pú-
Dando origem a uma tendência mais pró-liberal. Apesar do exposto blicas. Até ao 25 de Abril, o país vivia num clima de opressão e a censura
e após várias décadas de financiamento público das artes e da cultura, era um elemento limitador e regulador tanto ao nível cultural como ar-
a participação nas artes continua a ser apanágio das elites e daí que se tístico. O Secretariado da Propaganda Nacional destinava-se a difundir
questione até que ponto é legitimo que os recursos de todos permitam a e veicular a ideologia do regime, no contexto de uma hegemonização
satisfação de um grupo de cidadãos. Neste sentido, os países têm procu- ideológica e cultural do país, não deixando margem para a expressão e
rado novas formas de financiamento privado, que quando combinados criatividade individua~. Durante o período de ditadura, Portugal man-
com modelos de gestão de tipo empresarial permitem obter outros re- teve-se afastado daquelas que foram as tendências e as produções artís-
sultados. Tal facto deu origem a políticas culturais nacionais como as do ticas e culturais que se desenvolviam no resto da Europa e do Mundo.
Reino Unido (numa escala maior) ou a ações tão simples como à criação Após a revolução do 25 de abril, o Estado declara através do artigo 73º da
de lojas e cafetarias em museus (numa escala mais reduzida). Constituição da República, a sua responsabilidade em promover a
Em suma, a tendência internacional revela uma maior contenção das
despesas públicas na cultura, à semelhança aliás do que sucede noutros [... ] democratizaçãoda cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os
domínios, também os privados são cada vez mais convocados a participa- cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comuni-
rem na provisão dos bens e serviços culturais. Contudo, acreditamos que cação social, as associações e fundações de fins culturais, as coletividades de cultura
tal não signifique o fim da intervenção do Estado em matéria cultural. Pa- e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de mo-
rece claro poder dizer-se que a cultura e as artes continuarão a fazer parte radores e outros agentes culturais.
das políticas específicas dos Estados, ainda que numa perspetiva de maior
contenção, dados os condicionalismos económicos vividos atualmente.

AVAN(OS E RECUOS N AS PO d TICAS PÚBLICAS DA C ULT UR '" EM P O RTUGA L 279


J E N NY C AMPO S E M A R I '" MANUE L BAPT I STA
o terceiro período surge em 1995 quando se criou o Ministério da Cul- De acordo com o Conselho da Europa é ainda de destacar o núme-
tura (Me) que tinha como objetivo criar políticas específicas para este se- ro de parcerias estabelecidas entre o governo central e o governo local.
tor. Na altura, o Ministério da Cultura definiu o conceito de cultura como Estas parcerias permitiram implementar projetos mais estruturados e
sendo um elemento indispensável no desenvolvimento de capacidades duradouros como foi o caso da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas ou
intelectuais e da qualidade de vida, um importante fator de cidadania e a Rede Portuguesa de Museus. Por fim, de referir ainda as parcerias que
um instrumento fundamental para uma compreensão crítica e o con- foram feitas entre o então MC e outros Ministérios como a parceria com
hecimento do mundo real. Assim sendo, a criação do MC permitiu co- o Ministério da Educação que deu origem ao Plano Nacional de Leitura.
locar as políticas culturais num alto nível de discussão e em condições de Para tal, autarquias, delegações regionais e mesmo o poder central
igualdade perante os outros ministérios criando sinergias entre eles. To- têm e terão que trabalhar em conjunto de forma a identificar os diferen-
davia, após um impulso inicial de grande vigor, aos poucos o Ministério tes efeitos através dos quais é possível perceber a relevância da cultura,
da Cultura foi perdendo pujança e os governos lentamente começaram a uma vez que é ela que confere aos municípios e localidades as identi-
desinvestir na cultura até que em 2011 o Ministério da Cultura é extinto. dades culturais próprias e, por essa razão deve ser entendida como um
Numa perspetiva de política local, foi apenas depois do 25 de abril fator fulcral para alavancar e sustentar o desenvolvimento económico,
de 1974 que teve início o processo de descentralização das políticas cul- social e humano. Acreditamos que as autarquias têm neste processo um
turais públicas. No que concerne à legislação destaca-se o facto de em lugar de destaque, uma vez que têm condições para possuir um conhe-
1979, ter sido dada autonomia financeira às autarquias e em 1984 ter cimento mais próximo da realidade cultural do território.
sido aprovada a lei das autarquias locais, documento no qual se defi- De salientar, por fim, o papel das fundações. Estas são criadas com
niam as áreas de atuação. Segundo esta legislação as competências das base em capitais privados, todavia, também recebem um apoio estatal
autarquias surgem articuladas em três grandes eixos: serviços públicos que lhes permite cobrir parte dos custos fixos. Em Portugal têm tido es-
e infraestruturas, proteção do ambiente e da qualidade de vida e, final- pecial importância a Fundação de Serralves, a Fundação Arpad Szenes-
mente, educação e cultura. Contudo, e tal como refere Santos (199 8 ), Vieira da Silva, a Fundação do Centro Cultural de Belém, a Fundação
a descentralização pós revolucionária conheceu diversos avanços e re- do Museu do Douro, a Fundação Calouste Gulbenkian, entre outras.
cuos, sobretudo se a entendermos como um exercício de real delegação Curiosamente, em Portugal as Fundações concentram-se na cidade de
de poderes. Por outras palavras, a descentralização das políticas públi- Lisboa seguidas pela cidade do Porto, tornando a descentralização cul-
cas para a cultura não foi fácil em Portugal: por um lado, porque a cul- tural um processo lento.
tura abarca em si variados campos/domínios e, por outro lado, porque
de acordo com Ferreira (1999) até meados da década de 70, e à exceção
de Lisboa e Porto, os serviços regionais associados à cultura eram pra- A inv es tigação: centros de investigação,
ticamente inexistentes. Todavia, a partir deste período todos os gover- investigadores de referência, encontro s e publica ções
nos afirmavam, nos seus programas, que pretendiam colaborar com as As políticas culturais (sejam públicas ou privadas) em Portugal
autarquias locais, atribuindo-lhes maiores e mais variados poderes em constituem ainda um campo pouco trabalhado, onde os investigado-
diferentes domínios, sendo um deles, a cultura. res se dispersam um pouco pelas diferentes universidades e centros de

280 )E NN Y CA MPOS E MARIA MANUEL BAPT I S TA


t
AVA N ÇOS E RECUOS N AS PO Li T I CAS P ÚB LI CAS DA C ULTU RA EM PO RT U GA L
investigação do país. Assim, o que propomos de seguida é uma breve máticas das políticas culturais, mas nenhum deles o faz com especial
incursão por aqueles que no nosso ponto de vista são os maiores pólos orientação para a área cultural e/ou artística.
de investigação em Políticas Culturais em Portugal. Também na Universidade de Coimbra, o Centro de História da So-
O Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universida- ciedade e da Cultura inclui o grupo de investigação Sociedades, Poderes
de do Minho com o apoio do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas e Culturas: Portugal e os "Outros" um grupo que se caracteriza pelos
da Universidade de Aveiro criaram a linha de investigação em Políti- estudos pluridisciplinares dos saberes históricos (do material ao men-
cas Culturais (sendo a maioria dos investigadores alunos ou doutores tal, da economia à cultura, do social ao político, dos estudos à edição de
do Programa Doutoral em Estudos Culturais - UA/UM) que pretende fontes), fazendo interagir as diversas escalas espaciais (local, regional,
contribuir para a discussão crítica e construtiva de temáticas como pro- nacional e transnacional), temporais (da Idade Média à Contemporânea)
dução, promoção, divulgação e financiamento da cultura, analisando e tópicas (do individual à macro análise dos estudos de longa duração).
também quer os processos, quer os agentes e criadores culturais e ainda Ainda na Universidade de Coimbra existe o Centro de Geografia e Or-
os públicos da cultura. denamento do Território com várias investigações em torno da Geogra-
Tendo como pano de fundo o contexto das profundas transfor- fia, tanto na sua vertente mais teórica, como na sua articulação com o pla-
mações que atravessam as sociedades contemporâneas, esta linha pro- neamento e o ordenamento do território, articulando-se em torno de três
cura investigar as questões que se situam no cruzamento da política e grupos principais: natureza e dinâmicas ambientais; cidades, competiti-
da cultura, ou nos termos atuais, no ponto de interseção entre a espeta- vidade e bem-estar; e paisagens culturais, turismo e desenvolvimento.
cularização da política e a cultura-mundo. O foco de investigação desta Uma vez mais, não existe aqui uma clara opção pelas políticas culturais,
linha centra-se tanto nas políticas culturais públicas quanto privadas, mas são vários os investigadores deste centro que as trabalham.
quer ao nível local, regional, nacional ou transnacional. O objetivo Já o Instituto Universitário de Lisboa tem dois doutoramentos: um
primeiro deste grupo de investigadores consiste no desenvolvimento em Ciência Política, associado ao Centro de Investigação em Estudos
de uma investigação com relevância social, que possa contribuir para de Sociologia e outro ~m Políticas Públicas. Todavia, nenhum deles é
a qualificação das políticas culturais das nossas sociedades, proporcio- especialmente orientado para as políticas culturais. O Doutoramento
nando o desenvolvimento de um trabalho de reflexão, de investigação em Políticas Públicas forma investigadores na análise, desenho, gestão
e de intervenção no domínio das Políticas Culturais. e avaliação de políticas públicas, tanto em organizações nacionais como
O programa doutoral em Estudos Culturais organiza todos os anos europeias e internacionais. Anualmente organizam o Fórum das Políti-
um congresso internacional, tendo sido o de 2012 dedicado às políticas cas Públicas, um evento que constitui um espaço de debate sobre temá-
públicas para a cultura. Este mesmo congresso deu origem a um livro ticas setoriais, todavia sem expressão no campo cultural.
intitulado Políticas públicas para a cultura: dinâmicas, tensões e pa- Outra universidade com algum trabalho apresentado na área das
radoxos com coordenação de Maria Manuel Baptista e Jenny Campos. políticas culturais é a Universidade do Porto, com investigadores que
Já na Universidade de Coimbra existe o Doutoramento em Políticas desenvolvem um trabalho notável no âmbito das políticas culturais,
Internacionais e Resolução de Conflitos e o Doutoramento em Terri- entre eles o Professor Doutor Teixeira Lopes (do Departamento de So-
tório, Risco e Políticas Públicas sendo que ambos podem abordar as te- ciologia da Faculdade de Letras) e o Professor Doutor Augusto Santos

)E N N Y C A M P OS E MARIA M A NU E L B A PT I S TA AVANÇOS E REC U OS NAS POLíTICAS PÚB LI CAS DA CU L T U R A EM P OR TUGAL


Silva (da Faculdade de Economia) embora sem linhas de investigação e são as diretrizes da União Europeia e pelo seu novo programa de finan-
grupos coesos associados ao estudo das políticas culturais. ciamento (2015-2020) o Horizonte 2020.
No teatro político cultural português resta referir o Observatório das O Jornal Oficial da União Europeia (20U) refere que a cultura pode
Atividades Culturais, que teve por objetivo a produção e difusão de con- contribuir significativamente para as medidas propostas na estratégia
hecimentos que possibilitassem dar conta, de uma forma sistemática e Europa 2020 com o objetivo de converter a União Europeia numa eco-
regular, das transformações no domínio das atividades culturais em Por- nomia inteligente, sustentável e inclusiva. O mesmo documento refere
tugal. Entre as grandes temáticas exploradas distinguiram-se as relativas o contributo da cultura para um crescimento inteligente, destacando
a: políticas culturais a nível central e local; práticas culturais e públicos da que as indústrias culturais e criativas são uma importante fonte de em-
cultura; grandes eventos e seus impactos; condições do trabalho artístico prego potencial. Este é, pois, um setor bastante dinâmico, cujos resul-
em vários domínios; informação estatística no setor cultural; entidades tados positivos se revelam não só pelo dinamismo gerado em seu torno,
culturais e artísticas (setor público, privado e terceiro setor). Ao longo dos como também pela sua ligação à inovação e ao crescimento local. Ainda
seus 14 anos de existência o Observatório das Atividades Culturais ocu- relativamente o crescimento inteligente, deve fazer-se referência à ínti-
pou-se fundamentalmente com a realização de projetos de investigação ma ligação da cultura com a educação, uma vez que esta parceria pode
no setor da cultura em Portugal, mas também em alguns de âmbito inter- contribuir eficazmente para a formação de uma mão de obra qualifica-
nacional, e com a difusão dos respetivos resultados através das suas várias da, complementando assim o desempenho económico e permitindo
linhas de publicação. Para tal conta/ou com a colaboração de investigado- aumentar e potenciar uma Europa inteligente.
res como José Soares Neves, Teresa Martinho, Maria de Lourdes Lima dos Já no que concerne ao contributo da cultura para o crescimento sus-
Santos, Teixeira Lopes, António Firmino da Costa, entre outros. tentável o Jornal da União Europeia (20U) destaca que esta pode ter um
Por fim, ressaltamos os estudos estatístico do Instituto Nacional papel essencial através do fomento de uma mobilidade mais ecológica e
de Estatística que tem como missão produzir e divulgar informação da utilização de tecnologias de ponta sustentáveis, incluindo a digita-
estatística tanto a nível regional como nacional tocando diversos do- lização que garante a disponibilidade em linha de conteúdos culturais.
mínios, como o da saúde, educação, cultura, emprego, economia, en- É também relevante aqui o apoio e desenvolvimento da tecnologia que
tre outros. Também com estudos estatísticos setoriais destacamos o permitiu e permite a criação de soluções interativas inovadoras que mo-
trabalho desenvolvidos por entidades como o Instituto de Cinema e dificam a relação dos visitantes com os espaços e que permitem um novo
Áudio Visual, da Direção Geral do Património Cultural e do Instituto discurso face ao turismo e ao património. Assim sendo, o dinamismo
Português de Museus. da cultura e das artes, bem como todo o seu potencial criativo podem
gerar mudanças de comportamento. Se entendermos que a chave para o
d~?envolvimento e o crescimento sustentável exige uma mudança real
o futuro perspetivado a partir da União Europ e ia : n~ forma como vemos o nosso mundo podemos então pensar as artes e a
caminhos a seguir cultura como elementos que alavancam e sustentam esta mudança.
Acreditamos que, tal como no passado, as Políticas Culturais em Por fim, e no que concerne ao contributo da cultura para um cres-
Portugal (sejam privadas ou públicas) passarão muito por aquelas que cimento inclusivo, o Jornal da União Europeia (20II:2) sublinha que a

J E NN Y CAMPOS E MARIA MANUEL BAPT i s t A AVANÇOS E REC U OS NAS POLí TI CAS PÚBLICAS DA CU L T U R A EM P ORTUGA L
"[... ] cultura pode contribuir para um crescimento inclusivo através da na formulação de políticas relevantes e dos programas nacionais de
promoção do diálogo intercultural no pleno respeito pela diversidade reforma para a consecução dos objetivos da estratégia Europa 2020
cultural". As atividades e os programas culturais podem fortalecer a e a procederem ao intercâmbio de boas práticas no que respeita aos
coesão social e o desenvolvimento comunitário, bem como capacitar instrumentos e metodologias de medição do contributo da cultu-
os indivíduos ou toda uma comunidade para a plena participação na ra para os referidos objetivos. Assinalam, por isso, a importância da
vida social, cultural e económica. Aqui as artes e a cultura podem ter criação de sinergias e de promoção de parcerias entre instituições de
também um papel fundamental, por exemplo no combate à pobreza e educação, de cultura e de investigação e o setor empresarial a nível
à exclusão social, pois nestas duas áreas muitas vezes criam-se projetos nacional, regional e local. O mesmo organismo incentiva que se in-
que visam aproximar as minorias das comunidades envolventes onde cluam nos processos artísticos e culturais tecnologias sustentáveis e
têm dificuldade em integrar-se. Evidentemente que cultura não é so- ecológicas e que se apoiem os artistas e o setor cultural no aumento
lução para a pobreza ou mesmo violência, mas esta pode dar uma con- da sensibilização para as questões do desenvolvimento sustentável,
tribuição na busca de soluções de problemas sociais como estes. através, nomeadamente, de atividades educativas não formais.
As artes e a cultura podem ser também compreendidas como vetores Resta ainda referir o papel primordial que desempenha o turismo
de coesão social, pois têm o poder de regenerar localidades, envolvendo cultural sustentável como motor de coesão e desenvolvimento eco-
toda a comunidade num esforço coletivo e potenciando o capital social nómico e humano. Os vários casos de sucesso espalhados pela Europa
de toda uma região. Schneider (s.d) refere que as artes, a literatura, o demonstram que a atividade turístico-cultural se pode tornar numa fe-
cinema, a arquitetura e o planeamento urbano são parte das relações rramenta de desenvolvimento económico e social, sustentando-se para
que determinam o perfil cultural de uma cidade, região ou país. Estes isso na cultura e nas artes. Contudo, há cuidados que devem ser toma-
devem ser articulados com os meios de comunicação social, as regras dos para evitar que as tradições e as memórias das localidades se mol-
de conduta social, a organização do trabalho, as línguas e a natureza dem automática e acriticamente aos interesses turísticos. Para tal, há
multicultural da sociedade, as leis, a vida religiosa e a herança cultural que garantir o envolvimento da comunidade e consciencializar todos
material e imaterial. os agentes envolvido; para o facto do desenvolvimento turístico-cul-
Também as paisagens culturais - enquanto lugares que transmitem tural poder ser entendido como uma estratégia que fortalece e melhora
histórias que preservam a memória e as tradições - são fatores de quali- a economia, acentua a necessidade de preservação ambiental e cultural,
ficação do espaço público. Atente-se no exemplo dos sítios classificados garante a melhoria da qualidade de vida dos moradores, mas que isto
como Património Mundial ou as Capitais Europeias da Cultura. só acontecerá se houver uma perspetiva constante de desenvolvimento
Tirar partido do contributo que a cultura e as artes podem trazer sustentável e de respeito pela autenticidade cultural local.
ao desenvolvimento é urgente e essencial. Para tal, é fundamental Em suma, pretende-se argumentar a favor da contribuição da cul-
que todos os setores cooperem entre si e que seja seguida uma aborda- tura para as sociedades inteligentes, sustentáveis e inclusivas, embora
gem focalizada a todos os níveis das políticas públicas. Neste sentido, estejamos muito aquém de aproveitar o enorme potencial da cultura e
vários documentos da União Europeia convidam os Estados mem- das artes. A cultura desempenha um papel importante na economia de
bros a tomarem em consideração o carácter transversal da cultura hoje, requerendo inovação, o que nem sempre é sinónimo de tecnolo-

AVA N ÇOS E RECUOS N AS PO LÍ TICAS PÚB L I CAS DA CUL TU R A EM P O RTUGAL


286 J ENNY CA M POS E M A RIA M A N UEL B A PT I STA
gia. A economia cultural é a economia da criatividade e isso pode ser intercâmbio de boas práticas, no que respeita aos instrumentos e meto-
potenciado por exemplo pelas indústrias culturais e criativas. dologias de medição do contributo da cultura para os referidos objetivos.
Parece-nos claro que ainda existe pouca compreensão sobre a im- Assinalam, por isso, a importância da criação de sinergias e de promoção
portância da cultura para a competitividade da União Europeia como de parcerias entre instituições de educação, de cultura e de investigação
um setor económico ou como um recurso para tornar os produtos e e o setor empresarial a nível nacional, regional e local.
serviços mais competitivos. Todavia, a criatividade individual é con- É portanto para nós irrefutável o fato de a cultura e as artes terem um
hecida por ser uma importante base de talento humano e pensamento valor intrínseco: a arte apela à imaginação e inspira a criatividade e a va-
inovador. As mudanças globais representam desafios para a socieda- lorização e preservação do património contribui para o conhecimento
de e sem soluções criativas (individuais ou coletivas) e pensamento da nossa história e do sentido de pertença a um lugar, mesmo que os de-
inovador, é quase certo que estes desafios não podem ser enfrentados cisores políticos ainda não o tenham compreendido. Daí que, para nós,
com sucesso. a cultura deva ser considerada como uma dimensão plena de significa-
do na vida de cada pessoa e por consequência das comunidades ou, por
outras palavras, como um direito pleno tal como a saúde e a educação.
Conclusões
As políticas públicas devem ser capazes de impulsionar o aper-
feiçoamento e a interação das diferentes áreas, na busca de resultados Referên c ia s
significativos, que atendam com excelência aos interesses da socieda- Baptista, M. M. (dir.), Campos, J. (2014). Políticas públicas para a
de. Acreditamos que a integração sistemática da dimensão cultural e cultura: dinâmicas, tensões e paradoxos. Coimbra: Grácio Editor e
dos diferentes componentes da cultura no conjunto das políticas, pro- Programa Doutoral em Estudos Culturais.
jetos e programas em matéria de relações externas (seja a nível local Comissão Europeia (2010). Comunicação da Comissão Europa 2020.
ou nacional) e de desenvolvimento é algo que nem sempre aconteceu/ Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.
acontece em Portugal, mas que a cultura e as artes têm teimado em Bruxelas. In: http://eur-Iex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.
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desenvolvimento humano é urgente e essencial não só no contexto por- Portugal (2004-2011): (des)integración de las diretivas europeas".
tuguês, mas também no europeu. Para tal, é fundamental que todos os In, Periferias,fronteras y diálogos. Atas dei XIII Congresso de
setores cooperem entre si e que seja seguida uma abordagem focalizada
Antropologia de la Federación de Asociaciones de antropologia dei
estado espanol, PP:308-328. In: http://digital.publicacionsurv.cat/
nos diversos níveis das políticas públicas. Neste sentido, vários docu-
index.php/purv/catalog/book/123 (consultado a 2 junho de 2015)
mentos da União Europeia convidam os Estados membros a tomarem
em consideração o carácter transversal da cultura na formulação de polí- García Canclini, N. (2005) "Definiciones en transición". In: Mato, Daniel.
ticas relevantes e dos programas nacionais de reforma para a consecução
Cultura, política y sociedad Perspetivas latinoamericanas. Argentina:
CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales.
dos objetivos, por exemplo, da estratégia Europa 2020 e a procederem ao

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r Según se entienda el alcance o la definición de
las políticas culturales, sería posible sefialar el co-
* Director dei Programa de
políticas Culturales/Udelar/
CURE/Maldonado. Ph.D en
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da Europa. Brussels, EEIG A soul for Europe. In: http://citiesforeurope. mienzo de las políticas culturales en Uruguay en University of Pittsburgh. Ha
eu/sites/default/files/downloads/Cidades_e%20Regioes_low.pdf el afio 1815; esto si se tiene en cuenta la creación de
ensenado en la Universidad
de la República en Uruguay,
(consultado a 1 junho de 2015
una institucionalidad cultural. En ese afio - todavía en varias universidades de
Venezuela, en Brasil, Espana y
UNESCO (2003). Políticas Culturais para o desenvolvimento. Uma en plena lucha contra las autoridades coloniales y en varias universidades de
base de dados para a cultura. Brasília: UNES CO Brasil cuando las fronteIas de lo que luego sería la Repú- USA. Fue investigador dei
CELARG en Venezuela y
blica Oriental deI Uruguay no estaban definidas con fundá el Observatorio de
politicas Culturales en la
claridad - se funda la Biblioteca Nacional por parte UDELAR, Uruguay.
deI Cabildo de Montevideo y por orden de José Ger-
vasio Artigas quien respondía a una solicitud deI

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