Artes Visuais

Aula 3 – Plataformas e suportes digitais e online

Dentre outros aspectos que denotam a transformação da compreensão do fazer artístico a partir
dos anos 2000, destaca-se em contexto latino-americano uma crescente tendência de organização
dos trabalhadores de arte contemporânea em coletivos autônomos e espaços autogestionados em
busca de mais autonomia e profissionalismo. Através da organização de trabalho de caráter
coletivo, politizado e baseado no conceito de participação, artistas se reúnem em torno de causas
referentes ao interesse público e ao bem-estar social. Além disso, buscam o desenvolvimento de
alternativas às práticas institucionais oferecidas pelas políticas públicas para arte e cultura.

Uma infinidade de coletivos de artistas se utilizou, e se utiliza de estratégias que questionam as

regras de circulação de arte, sem, contudo, deixar de usufruir das políticas públicas para arte e
cultura. Essa busca dos trabalhadores de arte por formas de organização autônomas pôde ser
observada em grande parte da América Latina, e vem sendo investigada por pesquisadores que se
propõem a catalogar os espaços autônomos, investigar suas origens, seus potenciais, suas
fragilidades e as possibilidades de fortalecimento através do compartilhamento de experiências,
como Bloomfield (2013), Freitas e Tkatschuk (2011), Mellado (2015), Nunes (2013), Petroni e
Sepúlveda (2014).

A necessidade de aprimoramentos em relação à produção, veiculação e circulação de arte foi o ponto

de partida para o grupo de trabalho multidisciplinar Curatoría Forense. Inicialmente baseados no
Chile e na Argentina, o grupo começou a registrar dados relevantes do sistema latino-americano de
arte contemporânea em 2005, buscando identificar as condições básicas das cenas locais. Desde
então ampliaram seu raio de atuação, e, de maneira crescente, registram e observam as
similaridades das cenas locais de arte, com o objetivo de fortalecer as redes de atuação dos
trabalhadores de arte e gerar maior autonomia para cada agente envolvido neste processo. Dentre
as observações da equipe, constatou-se que as cenas locais de arte contemporânea na América
Latina possuem entre si mais semelhanças que as aproximam do que diferenças que poderiam
distinguir umas das outras.

Dentre essas semelhanças, observa-se por exemplo, as dificuldades encontradas em subsistir fora
do sistema de institucionalização cultural no qual a arte se encontra em nosso continente e uma
tendência de crítica social. “Noções como 'cena local' e 'gestão independente' vêm organizando e
potencializando os esforços de artistas e gestores”. (PETRONI e SEPÚLVEDA, 2014, p.15). A fim
de priorizar e fortalecer as articulações internas e entre as cenas locais, a Curatoría Forense
conceitualiza e desenvolve a partir de 2009, de maneira colaborativa, uma base de dados de artes
visuais on-line, a Visual Arts Data Base.

A VADB, como é também chamada, consiste em uma base de dados de Artes Visuais
fundamentada por um modelo de arquivamento e vinculação de conteúdo que mapeia práticas
institucionais e não-institucionais, baseando-as em categorias referentes às cenas locais.
Participam da construção dessa base de dados artistas visuais contemporâneos, curadores, críticos,
gestores, docentes e discentes de arte, funcionários públicos, galeristas, colecionadores e outros
agentes culturais, mas também pesquisadores de áreas afins.

Segundo dados da plataforma, desde sua fase experimental até o presente momento (outubro de
2021) são mais de 2900 membros ativos, que indexaram e vincularam mais de 6000 eventos de
arte, envolvendo mais de 18 mil pessoas em mais de 4000 organizações da América Latina. Gerada
de forma colaborativa, suas ferramentas permitem arquivar, reunir e vincular informações
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referentes às ações do campo da arte contemporânea, dentro de cinco diferentes categorias: obras,
pessoas, organizações, eventos e publicações.
A proposta da plataforma é que a inserção de dados seja feita pelos próprios agentes atuantes nas
cenas locais. A popularização do uso da plataforma VADB pode contribuir para mapear as cenas
locais de arte da América Latina, assim como levantar especificidades relacionadas às formas de
organização em coletivos de artistas. Conheça a plataforma, inscreva-se, crie seu perfil e estabeleça
conexões no campo das Artes Visuais - colaborativa e gratuita.

NFTs
Tematizando a presença das Artes Visuais na Internet, torna-se imprescindível abordar uma de
suas mais recentes tendências, os NFTs. NFT é a sigla para Non-Fungible Token, que significa, em
português Token Não Fungível. É o que explica Garrett (2021):

NFT é uma espécie de certificado digital, estabelecido via blockchain, que define
originalidade e exclusividade a bens digitais. Sigla para "Non-fungible Token"
("Token não-fungível", em tradução livre), os NFTs têm chamado a atenção após
somas milionárias terem sido usadas para comprar esse tipo de ativo na Internet.

Os NFTs trouxeram novamente a discussão do conceito de 'original' para o campo da arte, o que
historicamente havia sido marcado pela discussão de Walter Benjamin em "A obra de arte na época
de sua reprodutibilidade técnica (BENJAMIN, 1936 in LIMA, 1978). Conceitos como aura da obra
de arte, baseados em sua autenticidade e unicidade eram postos à prova pela possibilidade de
reprodução industrial de imagens.

No contexto das TDICs - Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, imagens eletrônicas

estáticas ou em movimento são reproduzidas a todo momento pela simples exibição de uma página
de Internet, e até mesmo compartilhadas a todo instante pelos aplicativos de mensagens
instantâneas. Até esse ponto, seria pouco provável que uma imagem que pode ser indefinidamente
reproduzida levantasse o interesse de compra. Contudo, o advento de uma certificação digital que
permite atestar uma versão "original" desses arquivos eletrônicos tem movimentado milhões no
mercado da Internet.

A seguir, você pode ver o "Nyan Cat", cujo arquivo em formato eletrônico GIF - Graphics
Interchange Format (formato para intercâmbio de gráficos), foi vendido pela quantia de 500 mil
dólares em um leilão online.

Assim como em leilões de obras de arte físicas, a ideia de que exista apenas uma única peça original
gera especulação entre os colecionistas, o que explica a alta quantia de comercialização dos NFTs.
Caso queira saber mais sobre os NFTs, você encontra no Material Complementar um site que
explica o tema de forma detalhada, e ainda um vídeo no qual professores do campo das Artes
Visuais com pesquisa em arte eletrônica debatem sobre o tema.
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Anotações

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