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RESUMO
A proposta do artigo é investigar como artistas anônimos conquistam reconhecimento e
reputação simbólica nos sites de redes sociais, por meio do estudo de caso da fan page
“Eu me chamo Antônio”. Para tanto, foram exploradas as temáticas que envolvem a
comunicação no ciberespaço através de pesquisa bibliográfica. Apresentam-se os
conceitos: cibercultura, comunidades virtuais, inteligência coletiva, redes sociais e
capital social, relacionando-os com objeto de estudo principal: a arte.
1
*Deiga Luane Borges de Brito
Jornalista formada em 2011 pela Faculdade Araguaia-GO,
Especialita em Comunicação e Multimídia pela PUC-GO.
E-mail:deiga_luane@hotmail.com.
2
**Cláudio Aleixo Rocha
Designer gráfico (UFG), professor do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Goiás,
doutorando em Arte e Cultura Visual e mestre em Cultura Visual pelo Programa de Pós-
graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais / FAV da Universidade
Federal de Goiás / UFG.
E-mail: claudioaleixorocha@gmail.com
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INTRODUÇÃO
Facebook) “Eu me chamo Antônio”. Antônio é um personagem que registra sua poesia,
ilustrações e frases de botequim em guardanapos de papel. O seu criador, o publicitário
Pedro Gabriel, começou a reproduzir inicialmente os seus guardanapos no Tumblr “Eu
me chamo Antônio”. Mas, com o sucesso, o personagem migrou também para outros
sites de redes sociais como o Facebook, o Twitter e o Instagram.
No Facebook, por exemplo, a fan page que foi criada em outubro de 2012
contabiliza (até a data de conclusão deste artigo) 542 mil curtidas. Os desenhos, poesias
e devaneios do personagem Antônio passaram dos guardanapos para as páginas de um
livro publicado em novembro de 2013, pela Editora Intrínseca.
Serão observados neste artigo, o engajamento e a forma em que esses artistas
anônimos se comunicam com o seu público. Outro ponto relevante é a interação das
pessoas que visualizam e participam desse processo, curtindo e compartilhando essas
obras e suas preferências artísticas e estéticas. Pretende-se, realizar um mapeamento
desse público por meio de pesquisa exploratória descritiva, utilizando as ferramentas de
pesquisa da netnografia.
criação coletiva, mais típica ela será da cibercultura”. Sobre essa nova realidade, Diana
Domingues refere que,
De acordo com o autor (LEMOS, 2010, p. 181) são exemplos da ciberarte: a vídeo-arte,
a tecno-body-art, o multimídia, a robótica e as esculturas virtuais, a arte holográfica e
informática, a realidade virtual; a dança, teatro e a música tecnoeletrônica.
Muitas instituições que promovem a arte, tais como, os museus tem buscado
espaço na sociedade da informação. Os museus, galerias e demais ambientes de
promoção da arte não fugiram do prisma da cibercultura. O museu digital (instituições
presenciais que buscaram espaço no mundo virtual) e os cibermuseus (instituições
presentes apenas no ciberespaço) têm desenvolvido projetos voltados para atrair o
público no universo virtual. De acordo com o Doutor em Comunicação José Cláudio
Oliveira (2007, p. 155),
Portanto, os sites de redes sociais são formas que esses grupos utilizam para se
organizarem em rede na Internet. São novos ambientes de conversação que colaboram
para o surgimento de novos comportamentos e provocam impactos na sociedade. A
conversação em rede está relacionada à coletividade; é um espaço formado por
indivíduos que se conectam em redes sociais e juntos podem se unir para o debate. De
acordo com Recuero (2012, p. 122), a apropriação que os grupos fazem dos sites de
redes sociais podem:
inspiram, ensaios fotográficos de sua arte, exposições, informações sobre o seu livro
recém-publicado, vídeos inspirados em seus textos e publicações de blogs e sites
relacionados à fan page.
Para compor a pesquisa, foram escolhidos aleatoriamente 10 postagens da fan
page “Eu me chamo Antônio”. Assim sendo, observam-se as formas de interação do
autor para com os seguidores, as conversações, as referências estéticas dos posts e as
características do personagem, e quais valores compartilhados fazem com que seja
gerado capital social.
Na publicação do dia 06 de abril de 2013, o autor faz a seguinte interação com
os leitores: “Amado e amada, tenho uma pergunta e gostaria muito de ouvir (ler!)
você:- Como você imagina um livro do Antônio? Beijos, abraços e guardanapos.” O
post curtido por 214 pessoas e com 121 comentários, revelava a necessidade de utilizar
a plataforma impressa para documentar as suas publicações e para que o personagem
alcançasse quem ainda não o conhecia.
E por meio dessa interação, o autor pôde captar as impressões e expectativas do
seu público para uma possível publicação. A usuária 1 responde: “Antônio,
definitivamente seu estilo democratizou a poesia... Tornou-a acessível em tempos de
total pragmatismo. Um livro seu imagino exatamente o perfil do que faz por aqui -
imagens e sentimentos em palavras muito bem arrumadas e de maneira simples, porém
profundas. Um livro sem ordem cronológica, onde a pessoa pudesse começar e
terminar de qualquer página.[...].”
Já o usuário 2, sintetiza o que espera da estética do livro: “Minimalista, em tons
pastéis e algumas ilustrações.” A usuária 3 opina sobre a fonte, que é uma das
principais características da performance do personagem: “Eu acho que uma
característica marcante das frases é o estilo do texto, sua "fonte" digamos. como um
livro tem mais conteúdo, não daria para usá-la como padrão, mas acredito que usar,
em alguns capítulos, uma frase que tenha sido mais significativa em posicionamento de
citação, numa área especial da página e com essa "fonte" traria ao livro a
característica pessoal dos guardanapos (: [...]”
Pedro Gabriel pôde ter sua arte materializada em um livro, que leva o mesmo
nome da fan page “Eu me chamo Antônio”, em novembro de 2013. O livro tem o
formato pocket e mistura os desenhos, tipografias e fotografias ao texto. É formado
basicamente por ilustrações e o leitor pode ler de forma não-linear, sem seguir uma
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“Se for pedir muito: não seja tão pouco”, declara o personagem, no post dia 16
de novembro de 2013. Esse verso recebeu 12.028 curtidas e 4.655 compartilhamentos.
A linguagem simples e a relação criada entre palavras e acontecimentos cotidianos, faz
com que as pessoas se sintam representadas em seus versos. A multiplicidade de
interpretações do público, em seus comentários, reconfigura continuamente o sentido a
obra.
Em outra postagem, do dia 29 de agosto de 2013, com os dizeres “Se você flor,
eu murcho”, Antônio faz um trocadilho de palavras nos versos. Alguns interagentes
comentaram também com poesia. “Mas se você voltar, me regue.”, diz a usuária 1. Em
outro comentário, a usuária 2 complementa: “Se você flor, pelo menos me
(car)regue...”.
Na publicação “contrarie-me, mas não seja contra o meu riso.”, do dia 23 de
janeiro de 2014; o interagente 1 também deixa seus versos: “Que o destino, a nosso
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favor, já nos contraria o bastante. Sê contra mim, contra nosso destino, mas não contra
nosso amor.” E o interagente 2 revela suas impressões: “Esse amor que me cega.”
Na ilustração a seguir, post do dia 17 de novembro de 2013, pode ser observado
o impacto visual causado pelos trocadilhos de Antônio, a tipografia e estilo de escrita
próprios do personagem, e a predominância do aspecto imagético sobre a escrita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GABRIEL, Martha. Marketing na Era Digital. São Paulo: Novatec Editora, 2010.
RAMALHO, José Antônio. Mídias sociais na prática. São Paulo: Elsevier, 2010.
RECUERO, Raquel. Diga-me com quem falas e dir-te-ei quem és: a conversação
mediada pelo computador e as redes sociais na Internet. Disponível em <
http://pontomidia.com.br/raquel/ABCiberRecuero.pdf> Acesso em: 15 de outubro de
2012.