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Levar à sala de aula o debate sobre os museus e a utilização destes como uma
ferramenta educacional pode ser muito interessante para a reflexão sobre temáticas como o
patrimônio e a memória social. No entanto, sabemos que a realidade e as condições de muitos
lugares - como escolas rurais, cidades interioranas quase sempre distantes de centros urbanos
que ofereçam tais espaços para visitação ou a falta de projetos e auxílios para o deslocamento
dos estudantes – impedem que iniciativas que pretendam utilizar destes espaços sejam levadas
adiante.
Na maioria das vezes, as atividades educacionais que envolvem os museus buscam
retirar os estudantes do ambiente escolar e levá-los aos museus ou espaços de exposições.
Segundo Ramos, frequentemente neste tipo de visitação os objetos e materiais em exposição
são apreciados de forma mecânica pelos alunos, sem uma mínima problematização, o que
acaba por não atender aos propósitos de uma educação crítica e reflexiva (RAMOS, 2004). O
autor ainda destaca que, muitas vezes, os educandos que visitam as exposições estão mais
preocupados em anotar informações pertinentes aos objetos ou apenas produzir relatórios de
visitas a pedido dos professores, do que de fato refletir sobre estes. Portanto, para o autor esta
forma de educação culmina com o método bancário de educação que tanto foi criticado por
Paulo Freire, onde o aluno é considerado mero receptor de informações.
O ensino de história, no entanto, ao trabalhar com museus, pode contribuir para que o
educando reflita sobre seu papel como ator social pertencente a uma determinada
comunidade, que possui patrimônios individuais e coletivos, memórias e legados que devem
ser preservados. Nesse contexto a educação patrimonial pode se desdobrar como um caminho
significativo para a inter e transdisciplinaridade no cotidiano escolar, e como um trajeto para a
formação da cidadania.
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Discente do curso de Artes Cênicas/UFGD. Professora da rede municipal de ensino em Douradina/MS.
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Quanto ao termo, de acordo com a perspectiva de autores como Pedro Paulo Funari e
Sandra Pelegrini percebemos que a palavra patrimônio pode trazer significações distintas: de
um lado está relacionada ao que estes identificam como “patrimônio espiritual” – que não diz
respeito a bens materiais, mas aos modos de fazer, aos ensinamentos e lições de vida que
recebemos dos nossos antepassados. Podemos entendê-lo, assim, sob a ótica da
imaterialidade, daquilo que pode ser traduzido por uma receita de um prato típico, mas que
também pode se revelar em um hábito corriqueiro. Da mesma forma, o termo pode estar
relacionado àquilo de valor monetário que recebemos e deixamos como legado ou a bens que
não possuem valor comercial, mas que, no entanto possuem um valor emocional significativo
(FUNARI & PELEGRINI, 2009, p. 8-9).
Sabendo da importância da realização de práticas pedagógicas que prezam pelo ensino
e aprendizado voltados para a educação patrimonial, este texto pretende descrever uma
experiência desenvolvida na Escola Municipal Mirena Amélia Batista, no município de
Douradina, em Mato Grosso do Sul.
No início do primeiro bimestre letivo do ano de 2016, paralelamente ao conteúdo
proposto pelo referencial curricular, os alunos foram apresentados e levados a refletir sobre
noções de patrimônio e museologia. No primeiro dia letivo foi solicitado aos alunos um texto
sobre o local ao qual pertencem: neste, expuseram suas origens, hábitos, planos e sonhos.
Feito isso, foram realizadas aulas expositivas, para a elucidação dos conceitos de patrimônio
material, imaterial, pertencimento, memória e museu. Durante esse processo na medida em
que os alunos foram compreendendo essas terminologias, pediu-se que trouxessem objetos
antigos que fossem significativos para seus familiares.
Deste modo, partindo da observação de que a maior parte dos alunos nunca havia
visitado um museu, e que na cidade onde moram não existem instituições para a salvaguarda
da memória local, levou-se aos educandos a ideia de criação de uma exposição temporária,
haja vista que a escola não possui espaço para a realização de uma exposição permanente.
Mesmo assim foi pensada uma exposição que possuísse características semelhantes às de um
museu - a resposta por parte dos alunos e da escola foi positiva.
Contudo, a aparência e as condições das salas de aula não estavam adequadas para
receber uma exposição. Deste modo, os educandos foram indagados sobre a relevância da
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curadoria para realização de uma exposição. Foram esclarecidos de que o processo de
curadoria se inicia desde quando a exposição é pensada e que este engloba tanto a disposição
dos objetos, como também está relacionada ao cuidado do local onde será concretizada. Para
tanto, foram pintadas três salas de aula com ajuda dos alunos, e em uma delas foi montado
com as turmas de sexto a nono ano, um acervo a partir dos objetos trazidos por alunos,
professores e funcionários e que pertenciam há muito tempo a seus familiares, passando de
pais para filhos há gerações. Objetos recentes também foram expostos, alguns deles
produzidos por um dos pais dos alunos, artesão local.
Os objetos foram dispostos de acordo com sua tipologia. Nesta sala, conseguimos
expor, a título de exemplo: moedas, cédulas de papel, fotografias de familiares de alunos,
secadores de cabelo, panelas, pilões, televisor, fitas cassete, toca discos, celulares, máquinas
de costura, relógios, ferro a brasa, ampulheta, máquina de escrever, máquinas fotográficas,
roda de carro de boi e carrinho de rolimã, entre outros.
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No museu a gente aprende coisas diferentes, como surgiu aquele objeto, da onde ele
veio, a quem pertenceu, que valor ele tem, se ele tem uma história, se veio de uma
família importante ou de uma família simples. Aí você para pra pensar em como
tudo mudou daqueles tempos até hoje... (Beatriz, 8° ano).
A seguir, são reproduzidos alguns trechos de trabalhos foram feitos para que os
educandos pudessem expor suas opiniões e percepções a respeito das atividades que
realizaram. As respostas foram surpreendentes, pois pode-se verificar que esse processo foi
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expressivo e significativo para os estudantes, especialmente aqueles nunca haviam tido
contato com museus e exposições deste tipo.
O museu me trouxe experiências incríveis, foi muito bom montar uma salinha com
tudo antigo, foi, foi muito legal ver as pessoas colaborando, trazendo coisas antigas
dos seus familiares coisas que significava muito para eles naquela época…. Espero
ter mais experiências como essa. (Emilly)
O museu me ajudou a conhecer coisas que eu não sabia que existia, eu nunca tinha
ido em um museu, porque aqui na minha cidade não tem isso e em nenhuma cidade
aqui perto, no nosso mini museu não tinha tanta coisa, mas deu para imaginar como
é um museu de verdade… (Isabely)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino de história. Ed.
Argos: Chapecó, 2004.