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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Brandini, Maria do Carmo

A casa fala : uma relação de vida e amor / Maria do Carmo Brandini, Yara Lorenzetti. -- São Paulo :
Scortecci, 2017.

ISBN 978-85-67443-86-7

1. Decoração 2. Design de interiores 3. Espaço (Arquitetura) 4. Moradia 5. Psicologia 6. Psicoterapia I.


Lorenzetti, Yara. II. Título.

16-07688 CDD-747

Índices para catálogo sistemático:

1. Design de interiores : Artes decorativas 747

Rua Deputado Lacerda Franco, 98


São Paulo - SP - CEP 05418-000
Telefone: (11) 3032-1179
www.scortecci.com.br
Livraria Asabeça
Telefone: (11) 3031-3956
www.asabeca.com.br
Oração Meta

Que todos os seres possam ser felizes, contentes e realizados.


Que todos os seres possam se sentir saudáveis e perfeitos.
Que todos os seres possam ter tudo aquilo que querem e que
necessitam.
Que todos os seres estejam protegidos contra o mal e livres dos
medos.
Que todos os seres tenham paz interior e bem-estar.
Que todos os seres estejam despertos, liberados e independentes e
não tenham limitações.
Que haja paz neste mundo e em todo o Universo.
Sumário

Prefácio

Como nos conhecemos e construímos uma estrada comum

Capítulo 1
A casa como cenografia
História da evolução humana e da arquitetura
Fases da vida e das casas
Fases de desenvolvimento da personalidade
Box 1 – A casa da minha infância
Box 2 – Exercício: A casa da infância
Box 3 – A casa da minha avó

Capítulo 2
Várias áreas – Leitura simbólica
O simbolismo de cada área da casa
Box 4 – Como o homem foi conquistando o seu espaço na
casa
Casa saudável x casa doente
Box 5 – Feng Shui – Ferramenta de autoconhecimento!

Capítulo 3
A importância do papel profissional
Box 6 – Tudo por um sofá
Relação profissional x cliente
Conceito de agradável e desagradável x bonito e feio
Box 7 – O cliente gostou do quê, mesmo?

Capítulo 4
Criatividade
Box 8 – Como é que eu não pensei nisso?

Capítulo 5
Fases do projeto
Fases da elaboração do projeto
Box 9 – Susto do cliente nunca se esquece
Box 10 – É vivendo e estudando que se aprende
Box 11 – Profissional sabe tudo x cliente sabe nada
Box 12 – Balde de água fria!
Execução do projeto
Box 13 – O cliente que achou um trabalho!
Box 14 – A casa que virá...
Box 15 – Acalme seu cliente

Capítulo 6
Caminhando juntos

Considerações finais

Sobre a obra

Sobre as autoras
Prefácio

Tarefa difícil, como falar sobre o livro de alguém a quem se


ama sem restrições, como escrever um prefácio sem deixar
transparecer uma imensa admiração?
Então voltei a fita, revisitei o tempo e fui colhendo as
lembranças, deparei-me com os sábios ensinamentos de Maria do
Carmo, com sua generosidade abrangente e macia, que me acolhe
até hoje, seu respeito amplo, geral e irrestrito a tudo e a todos.
Em sua trajetória profissional, todo o seu percurso nos
emociona, nos tira dos trilhos da razão e nos joga no mundo mágico
dos sonhos, desde a fundação da ABD (Associação Brasileira de
Designers de Interiores) ao nosso primeiro encontro no MASP em
1980, os vários CONADs (Congresso Nacional de Designers de
Interiores) que como presidente da ABD ela promoveu, o primeiro
jornal da ABD, entre tantas outras atividades em prol do design de
interiores por ela realizadas.
Em 2008 conheci a psicoterapeuta Yara Lorenzetti em uma
brilhante palestra com Maria do Carmo, durante a Semana de
Design de Interiores no Centro Universitário Belas Artes de São
Paulo. Ali já se anunciava uma parceria de sucesso.
E agora, com este primeiro livro que contextualizou a trajetória
dos espaços interiores através da história, lança luz sobre o
comportamento humano e ilumina o mundo do design de interiores,
já estou esperando com ansiedade por um segundo livro dessas
duas mulheres incríveis, que nos fazem refletir sobre os espaços
onde acontece nossa existência.
Nestes nossos dias rápidos e “eficientes”, sempre deixamos
que a reflexão sobre a história da humanidade nos passe
despercebida, vamos sempre direto ao ponto, mas este livro nos
leva a caminhar pelo passado da humanidade e sua evolução.
Devemos nos lembrar que, antes de o homem saber ler e escrever,
ele já se enfeitava, e nesse sentido se ressignificava diante da vida,
edificava um repertório estético e artístico que se constitui em nossa
mais cara herança.
O livro A casa fala costura elementos históricos com os
conceitos da Psicoterapia, amplia os horizontes do Design de
Interiores para além da composição de materiais, objetos e espaços,
elabora associações fundamentais entre a ocupação do espaço e as
manifestações da vida em suas diversas etapas, nos faz perceber
que o ser humano não é padronizado, o mesmo ser passa por
diversas fases, criança, adolescente, adulto e depois idoso, em cada
etapa apresenta configurações físicas e psicológicas diferentes –
embora o número do RG permaneça o mesmo, o corpo vai se
transformando o tempo todo durante a vida.
Para o designer de interiores exercer sua atividade profissional
com probidade, é necessário compreender as intenções deste livro,
mergulhar nas descrições poéticas de seus exemplos, que com
certeza deverão humanizar o olhar profissional, que hoje vive aflito
entre o ato de projetar e o de executar obras cada vez mais
complexas, em que a razão supera frequentemente a emoção.
Lendo este livro me vêm à memória os ensinamentos de Maria
do Carmo em suas aulas e suas palestras e o exemplo de sua
trajetória profissional, que respeita o cliente e sua idiossincrasia,
uma prática profissional que estabelece harmoniosas conexões
onde aparentemente só havia desarticulação. Constrói com sua
experiência uma metodologia projetual poética que passa pelos
ensinamentos de sua professora Lys Assunção.
A partir deste profícuo encontro entre a designer de interiores
Maria do Carmo e a psicoterapeuta Yara Lorenzetti se estabelece
uma conexão entre saberes, uma reflexão que vai além das
profissões e encontra no ser humano, no cliente, o usufrutuário dos
espaços projetados, razão fundamental do texto que se segue.
Boa leitura!

Jéthero Cardoso de Miranda

Jéthero Cardoso de Miranda é mestre em Comunicação pela Universidade Paulista,


arquiteto e urbanista pela Universidade Braz Cubas, técnico em Decoração pelo Liceu de
Artes e Ofícios de São Paulo. Trabalha na área de design de interiores há mais de 30 anos,
como profissional, professor e empresário. Atualmente é professor do curso de Design de
Interiores e Design de Produto do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e
professor de Visual Merchandising da Graduação e Pós-Graduação da Fundação Armando
Álvares Penteado.
Como nos conhecemos e construímos uma
estrada comum

É curioso pensar em como surgiu a ideia deste trabalho.


Pensar em qual é o ponto comum entre uma psicoterapeuta e uma
designer de interiores em relação à vida e à casa.
Desde criança eu tive um interesse especial pela
transformação e pelo belo. Chamava minha atenção como um
ambiente influenciava as pessoas e vice-versa. Observava que,
quando a casa era descuidada, feia e desarrumada, as pessoas que
ali moravam eram tristes, nervosas e desencontradas. A casa
retratava a forma de vida das pessoas que nela moravam.
Se arrumadas com carinho e amor, por mais humildes que
fossem, as casas ficavam gostosas e provocavam uma sensação de
aconchego.
Quando mais crescida, por acreditar que a transformação e o
belo sempre seriam possíveis para todas as pessoas, fui estudar
Psicologia. E eis que me deparei novamente com o mesmo conceito
de casa, pois a nossa primeira casa é o nosso corpo, a casa que
abriga nossa alma. Dentro dessa casa crescemos e nos
desenvolvemos − ou nos descuidamos e ficamos desencontrados.
Assim como uma casa de tijolos passa por várias
transformações, a nossa primeira casa (o corpo) também se
transforma para acomodar espaçosa e confortavelmente a alma que
evolui.
Hoje vejo meu trabalho como se fosse voltado para a
arquitetura e decoração das almas que habitam diferentes casas.
Observo que, quanto mais as almas das pessoas conseguem se
expandir e tornar-se mais felizes, mais as casas se transformam,
assim como seus corpos, suas formas de se vestir, seu modo de
comunicação, etc. Enfim, nossa primeira casa é uma casa viva!
Conheci a Maria do Carmo no início da década de 1980,
quando estava comprando um apartamento na planta. Lembro-me
de que nossos primeiros encontros foram muito elucidativos e de
aprendizado para ambas.
Insegura, com uma planta nas mãos e a primeira casa própria
à vista, eu estava repleta de desejos, expectativas e anseios.
Primeiro a Maria me explicou o que era e como funcionava o
trabalho de uma designer de interiores. Depois buscou me conhecer
melhor como ponto de partida, o que me agradou muito como
cliente, deixando-me mais segura e confiante.
Já nas primeiras entrevistas achei ótimo receber revistas,
catálogos, fotos, etc., e mostrei a ela o que me agradava ou
desagradava. Estava ali alguém que desejava trabalhar para mim, e
não para si mesma.
Os comentários gerais sobre os profissionais de design de
interiores, naquela época, eram de que eles determinavam o que
deveria ser usado ou não, já que iriam assinar o projeto. Eu não
queria isso. Eu queria uma casa que expressasse minha vida, meu
ser e minha história.
Sendo psicoterapeuta, eu entendia o que a casa simbolizava e
retratava toda a vida interior, além das relações das pessoas que
nela habitavam.
Durante as muitas conversas que tivemos (Maria e eu)
enquanto trabalhávamos juntas nesse projeto, fomos estabelecendo
uma linguagem comum: a casa como cenografia da peça que
representamos em nossas vidas.
Depois dessa experiência fomos, aos poucos, realizando
outros projetos juntas e, durante os muitos trabalhos que já
realizamos, fomos unindo nossos caminhos profissionais que, a
princípio, poderiam parecer desconectados, mas que se fizeram
complementares: a casa interna e a casa externa.

Yara Lorenzetti

O encontro com Yara me proporcionou uma descoberta


fantástica: o terapeuta tem em mãos um material enorme para a
minha área de atuação, uma vez que, trabalhando diretamente com
as pessoas, elas fatalmente estarão falando do relacionamento que
têm com o espaço que habitam.
Além da capacidade de análise, o terapeuta tem uma troca de
experiências com o cliente. Unindo o lado da designer de interiores
com o da psicoterapeuta, tivemos uma visão e uma análise do
simbólico, pudemos assim juntar o meu conceito de casa viva com o
conceito da casa interna.
Assim chegamos a uma relação de amor, ou seja, a vida e a
casa constroem uma verdadeira relação de amor.
“A casa, na verdade, retrata a relação que você está
estabelecendo com a vida”, diz a Yara. Como uma profissional de
Design de Interiores, sem o preparo e o conhecimento de um
psicoterapeuta, eu podia sentir que tínhamos uma relação muito
forte com a casa, espaço muito importante em nossas vidas; porém,
não sabia dizer exatamente como isso acontece e por quê.
Voltando às palavras da Yara: “A casa é a cenografia para a
representação da nossa vida”. A casa também é a carteira de
identidade de quem vive nela, pois cada casa é única e carrega as
características do seu proprietário. Nós, profissionais do design,
sabemos do respeito que devemos ter com os desejos, as opiniões,
as fantasias do cliente, mas os mecanismos que o levam a
relacionar-se desta ou daquela maneira com sua casa estão mais
ligados à temática do psicoterapeuta.
Eu sempre estive envolvida com o trabalho de Design de
Interiores e Decoração, ou seja, criar, modificar, reorganizar e
transformar espaços residenciais e comerciais, conforme a
necessidade das pessoas que vivem ou trabalham nesses espaços.
É claro que, após quarenta anos de trabalho, eu observei e
aprendi como as pessoas se relacionam com esses espaços, como
manifestam através deles suas expectativas, sonhos, alegrias e
tristezas.
Essas manifestações criam uma linguagem de símbolos e
metáforas que os anos me ensinaram a decodificar. O que me deixa
um pouco aflita é que nem sempre meus clientes conseguem
entender a relação que têm com seu próprio espaço. Nem sempre
me permitem ajudá-los a construir esse local da melhor maneira
possível para que se sintam integrados nele e satisfeitos com suas
escolhas.
Esse é um processo de amadurecimento que se inicia desde a
primeira entrevista com o cliente, segue durante todo o
desenvolvimento do projeto e culmina com a casa pronta! Muitas
vezes a ansiedade faz com que as pessoas queiram pular etapas ou
não confiem inteiramente na capacidade e na experiência do
profissional, ou ainda são influenciadas por pessoas que interferem
nesse processo. Fico frustrada quando isso acontece, mas tento
compreender que cada pessoa se encontra em uma fase específica
do seu amadurecimento pessoal e que tenho de respeitar isso.
Sempre discuti todas essas situações com a minha amiga e
cliente Yara. Seu entendimento e sua leitura desses processos se
devem à longa experiência como psicoterapeuta e também às
diversas obras de que participou – em suas casas e clínicas. Obras
que já enfrentamos juntas.
É muito prazeroso para nós, profissionais, sentirmos essa
integração com o cliente e percebermos que construímos uma
comunicação que se manifesta na composição do espaço ou na
criação de um livro!!!

Maria do Carmo Brandini


CAPÍTULO 1
A vida humana é composta por uma ciranda de papéis diferentes que são desempenhados dentro de
um contexto. Conhecer a história da evolução do Ser Humano, as diversas fases do seu
desenvolvimento e relacionar com os lugares que habita é o que vamos ver.
Entrar em uma casa é como entrar em um espelho mágico...
A casa como cenografia

Você já parou para pensar em todos os diferentes papéis que desempenhamos em nossas vidas?
Somos filhos, pais, maridos, esposas, irmãos, profissionais, etc. São papéis que também sofrem
modificações, dependendo do momento da vida.
Quando ainda somos jovens, desempenhamos os papéis de determinada forma e com
necessidades específicas da idade. Quando maduros, a forma é outra, como também as necessidades
mudam. Enfim, nossas vidas são como um caleidoscópio: mudam a forma, as cores, os sentimentos,
as emoções e necessidades. Podemos dizer que a casa é o cenário onde desempenhamos os vários
papéis da grande peça que é a nossa vida. E esse cenário acompanha nossas mudanças internas. A
casa abriga nossos corpos, nossas formas de ver e nos relacionarmos com a vida, com as pessoas,
com os desejos e os sonhos.
Assim como no teatro você não encontra um cenário escuro, fechado, triste e sem vida para um
roteiro alegre, na casa acontece o mesmo. Olhando para ela com olhos de um bom observador, é
possível conhecer um pouco das pessoas que a habitam.
Casas muito fechadas, escuras e formais não abrigam pessoas descontraídas, alegres e
expansivas. Também não encontraremos em uma casa entulhada de móveis, objetos de todos os tipos
e coisas acumuladas, pessoas desapegadas e desprendidas, tampouco acharemos numa casa
desorganizada, desleixada, pessoas que apreciem a ordem, a organização e o belo.
Isso não tem nada a ver com o conceito de estética, e sim com uma linguagem mais profunda que
retrata a personalidade e o momento da vida de cada um.
Entrar em uma casa é como entrar em um espelho encantado que vai mostrando quem são seus
moradores, como vivem, no que acreditam, que valores possuem; enfim, a casa conta a história de
seus ocupantes. A casa é viva! O que ocorre ali integra vida, sentimentos, emoções.
Cada etapa da vida, desde a infância até a maturidade, tem sua importância e seu significado no
amadurecimento psíquico. Vivendo plenamente cada fase emocional, podemos chegar ao final da vida
com alegria e sabedoria, e nossas casas irão refletir como lidamos e como transitamos em cada fase.
Se o corpo é a casa da alma e passa por muitas etapas e transformações, podemos também
percebê-las nas casas em que vivemos.
Você conhece alguém que nunca mudou algo em sua casa durante uma vida inteira?
As pessoas sentem necessidade de mudar suas casas de tempos em tempos, possivelmente
para que elas acompanhem e se adaptem a uma nova fase da vida. Não podemos separar dentro e
fora. Quando mudamos internamente, temos a necessidade imperiosa de mudar também externamente
para que continuemos a viver em harmonia e equilíbrio.
Agora, olhe para sua casa e reconheça nela o seu momento de vida e sua história, através da
quantidade de objetos, das cores, da disposição do mobiliário. Observe se ela está retratando como
você se sente atualmente. Caso não esteja, o que você mudaria para ficar mais em sintonia com o seu
eu atual? Você está cuidando bem da sua casa? Você põe carinho na atenção com a sua casa?
História da evolução humana e da arquitetura

Quando pensamos em evolução, seja do Universo, do Planeta, do homem ou das suas


necessidades materiais para a sobrevivência, precisamos olhar para o passado a fim de
compreendermos o presente, pois tudo que acontece hoje carrega uma história.
As necessidades do homem sempre estão relacionadas com o grau de complexidade da sua vida,
quanto mais complexas, maiores são as demandas para manter alguma qualidade de vida. Um
exemplo disso são os smartphones. Até 30 anos atrás ninguém precisava de um, hoje é quase
inimaginável alguém viver sem usar ao menos um telefone celular.
Então vamos olhar um pouco para a história para entendermos as necessidades que o ser
humano foi criando em relação a sua vida e moradia.
É comum os historiadores estabelecerem na evolução humana uma distinção entre os períodos
pré-histórico ou “ágrafo” e histórico, em que aparece o desenvolvimento da escrita.
O período pré-histórico é aquele que vem antes da invenção da escrita. É o período “ágrafo”, e, ao
contrário do que podemos pensar, os feitos do homem não foram registrados através da escrita, mas
deixaram seus conhecimentos gravados em utensílios, armas, fósseis, pinturas, fragmentos de
joalheria e ornamentação. Tais coisas, conhecidas como artefatos, são tão valiosas quanto as palavras
escritas para nos falarem do modo de vida e conhecimentos de um povo. Essa foi a Era conhecida
como Idade da Pedra. Durante essa época pelo menos três espécies de hominídeos habitaram o globo.
A primeira delas, conhecida como Homo habilis, “homem que tem aptidões”, pode ser
considerada o verdadeiro ancestral do homem moderno, porque caminhava de maneira ereta, possuía
cérebro maior do que qualquer macaco e era inteligente o suficiente para utilizar instrumentos, que
ainda consistiam em objetos encontrados na natureza, tais como ossos de animais, galhos de árvores,
pedaços de pedras quebrados ou lascados.
Essa espécie conseguiu sobreviver à escassez de alimentos, eram caçadores, sua sobrevivência
dependia da cooperação entre os elementos do grupo. Como a sobrevivência dependia da
movimentação atrás da caça, eram nômades, deslocavam-se constantemente e abrigavam-se das
intempéries em cavernas ou abrigos naturais. A cooperação necessária para a caça parece ter tornado
o Homo habilis a primeira criatura verdadeiramente social, conduzindo-o à linguagem.
Uma evolução do Homo habilis foi o Homem de Neandertal. Sua aparência era tão próxima à do
homem moderno que ele foi classificado como membro da espécie de Homo Sapiens. Sabemos hoje
que essa espécie já possuía a capacidade de fala, o que lhes permitia comunicar-se com seus
semelhantes e transmitir às gerações seguintes o que haviam aprendido. Foram além do Homo habilis,
pois fabricavam seus instrumentos ao invés de simplesmente usarem o que encontravam no caminho.
Descobriram que as pedras poderiam ser lascadas formando gumes e com isso puderam fazer pontas
de lanças, furadores, facas e raspadeiras. Continuavam vivendo em cavernas, mas já há indícios de
que faziam lareiras com pedras e acendiam fogueiras para se aquecerem. Tal fato sugere uma vida
grupal cooperativa e possivelmente os rudimentos das instituições sociais.
Nos últimos duzentos séculos da Idade da Pedra, por volta de 30.000 a 10.000 a.C., a terra foi
dominada por um tipo humano novo e superior. Essa espécie foi chamada de Homem de Cro-Magnon.
Esse nome vem da localidade onde foram encontrados restos típicos, a caverna de Cro-Magnon, que
fica no sul da França.
Esses homens eram altos, com capacidade craniana igual à média moderna, viviam da caça da
rena, do bisonte e do mamute.
Essa cultura era acentuadamente mais avançada do que a anterior.
Fabricavam instrumentos e utensílios de melhor qualidade e maior variedade, utilizavam
sobretudo chifre de rena e marfim, além de outros materiais. Confeccionaram instrumentos bem mais
complexos, tais como anzol, arpão, lança-dardos e mais no final do período o arco e a flecha.
Inventaram a agulha e com isso puderam confeccionar roupas utilizando a pele dos animais. É certo
que cozinhavam os seus alimentos, pois foram encontrados enormes fogões que certamente usavam
para assar carnes.
Para se abrigar o Homem de Cro-Magnon construía choupanas simples e também utilizava
cavernas, mas não mais levava uma vida nômade. A vida grupal era bem mais organizada do que
antes. A quantidade de ossos encontrados em Solutré demonstra que havia cooperação na caça e a
partilha de frutos em festas comunitárias. Tudo indica que já havia certa divisão do trabalho nessa
época.
A suprema realização do Homem de Cro-Magnon foi a sua arte. Isso realmente os diferenciou dos
seus predecessores. A escultura, a pintura e o entalhe estão representados nesse período. A arte
rupestre exibida nas paredes das cavernas chama a atenção para a utilização da cor, detalhes e a
habilidade de representar em escala. Muitas vezes empregavam artifícios engenhosos para dar a ilusão
de movimento.
As pinturas nas cavernas nos deixam ver a mentalidade e os costumes dessa gente, que possuía
um verdadeiro senso estético, sentia prazer numa linha graciosa, disposição simétrica e cores
brilhantes. Eles pintavam e tatuavam o corpo, assim como usavam adornos. Parece que a finalidade da
arte nesse período não era agradar os sentidos, e sim uma forma de magia para aumentar o
suprimento de animais e alimentos. O artista não era um esteta, e sim um mago, e a arte uma forma de
magia destinada ao êxito dos caçadores.
A partir de 10.000 a.C., aproximadamente, acontece um período de transição em que as
populações estabelecem vidas mais sedentárias e descobrem novas fontes de alimentos. Tinham
menos probabilidade de morrer devido a uma mudança das condições climáticas ou pela escassez de
alimentos.
Essa vantagem veio sobretudo do desenvolvimento da agricultura e da domesticação de animais.
Produziam os seus alimentos, não mais coletavam. O cultivo da terra e a manutenção de rebanhos e
manadas proporcionaram fontes mais seguras de alimentos, contribuindo para um aumento
populacional. Foram esses os elementos de uma grandiosa revolução social e econômica.
Essa cultura também criou a arte de tecer malha e pano, foram os primeiros a fabricar utensílios
de cerâmica e sabiam produzir fogo por atrito.
Foi nesse período que começaram a construir casas de madeiras e barro secados ao sol. Com o
crescimento da população e a vida comunitária, surgem as instituições sociais.
O desenvolvimento da agricultura concentra uma grande população ao redor de solos férteis que
são limitados, e, portanto, era necessária uma organização social onde os costumes antigos já não
eram suficientes para definir deveres e direitos na sociedade. Criam-se novas medidas de controle
social que dificilmente poderiam ser postas em prática sem a instituição de um governo revestido de
autoridade soberana e a submissão a esse governo. Essa foi a criação do estado, e com ele
estabeleceram-se as desigualdades sociais que se refletiram no modo de vida, na cultura e também
nas moradias.

A civilização egípcia

Ainda é motivo de discussão qual das civilizações da antiguidade foi a primeira, mas podemos ter
uma concordância em que uma das mais importantes foi a egípcia. Por volta de 3.000 a.C., os egípcios
já haviam conquistado um progresso incontestável nas artes, ciências, arquitetura, matemática, religião,
enquanto a maior parte do mundo vivia em grande atraso.
A estabilidade proporcionada pelo Vale do Nilo com suas cheias regulares, ano após ano, dava
para os egípcios a sensação de que a natureza era previsível e benigna e a fertilidade do solo os
conduzia a uma grande riqueza agrícola, além do fato de o vale ser circundado por desertos e mar, o
que trazia para o Egito uma vida livre de ameaças de invasão estrangeira.
A religião desempenhava um papel muito importante na vida dos antigos egípcios, deixando a sua
marca em quase tudo. Os egípcios cultuavam a vida após a morte. A preservação do corpo e a
completa disposição de todos os objetos de que o morto pudesse necessitar numa vida após a morte
eram de fundamental importância na cultura egípcia. A arte era uma expressão de simbolismo religioso.
A literatura e a filosofia estavam impregnadas dos ensinamentos religiosos. Os faraós diziam governar
em nome dos deuses e grandes quantidades de dinheiro eram empregadas na construção de tumbas
complicadas e na manutenção dos sacerdotes.
Os ramos das ciências que mais ocuparam a atenção dos egípcios foram a astronomia,
principalmente para prever as inundações do Rio Nilo, a matemática, usada para a finalidade
arquitetônica, e a medicina para cura dos doentes.
Na medicina os egípcios revelaram uma concepção bastante adequada do diagnóstico e
tratamento científico. Os médicos egípcios já naquela época eram especialistas, havia oculistas,
cirurgiões, especialistas em doenças do estômago, dentistas, e assim por diante. Reconheceram a
importância do coração e tiveram alguma ideia do significado dos batimentos cardíacos. Tratavam com
alguma perícia as fraturas e realizavam algumas cirurgias. Foram eles que compilaram a primeira
farmacopeia. Muitos medicamentos foram mais tarde levados para a Europa.
Na engenharia conheciam o princípio do plano inclinado, que aplicaram nas construções das
pirâmides. Numa civilização em que os interesses da sociedade são colocados acima dos interesses
dos seus membros, a engenharia e a arquitetura têm papel fundamental e absorvem o talento dos
artistas. A pintura e a escultura também foram voltadas para o embelezamento dos templos e tumbas.
Exemplo característico da importância da engenharia e da arquitetura foi a construção das pirâmides.
As primeiras foram levantadas em 2.700 a.C., absorvendo 100.000 trabalhadores por um período de
aproximadamente 20 anos. Na pirâmide de Quéops usaram cerca de 2 milhões de blocos de pedras
calcárias ajustados tão perfeitamente que até hoje seria difícil que pedreiros conseguissem repetir tal
precisão. Sua altura é de 146,6 metros.

Desenho de uma vila de casas de nobres


Vila de trabalhadores egípcios

Grande Esfinge de Guizé

Pintura egípcia decorativa de templos e tumbas

Também na civilização egípcia havia um abismo que separava as classes superiores e inferiores.
Os nobres abastados viviam em maravilhosas residências cercadas de enormes jardins e bosques.
Usavam utensílios domésticos confeccionados de alabastro, prata e ouro. Vestiam-se com tecidos
suntuosos e adornavam-se com joias.
A vida dos pobres era miserável. Os trabalhadores que moravam nas cidades viviam em bairros
superpopulosos, construídos com choças de tijolos de barro e teto de palha. Seus utensílios
domésticos eram jarros de cerâmica toscos, bancos e caixas em espaços muito pequenos que
abrigavam toda a família.
A arte egípcia está impregnada dos seus valores de vida e morte e da sua história. Observando
as construções, as pinturas e os símbolos egípcios, podemos entrar em contato com a sua forte crença
na imortalidade da alma e da ideia de recompensas e punições após a morte. Foi no Egito o primeiro
exemplo de culto monoteísta na história da religião.

Cultura grega

Certamente, de todos os povos antigos, aquele que mais representou o espírito do homem
ocidental foi o grego. A civilização grega antiga glorificou o homem como a mais importante criatura do
universo, recusou-se a se submeter às imposições de sacerdotes ou humilhar-se diante de seus
deuses. Exaltava o livre pensar e colocava o conhecimento acima da fé.
Até por volta do ano 800 a.C., a vida social era bem simples, as ocupações básicas dos cidadãos
eram na agricultura e na pecuária. Cada família se encarregava da fabricação de seus utensílios, tecia
seus tecidos e produzia o seu alimento. Parece que o escambo era o sistema de troca utilizado até
então.
A religião era politeísta e nenhuma das divindades era muito superior à outra e também possuíam
características bem humanas. Os homens eram livres para acreditar no que quisessem e conduzir sua
vida da forma que entendessem, sem temer a ira dos deuses. Moravam em pequenas aldeias e sua
organização era tribal ou por clãs.
Por volta dos anos 800 a.C., os gregos já estavam mais avançados nos caminhos dos ideais
sociais, as tribos e os clãs já começavam a ceder lugar a uma organização política mais sofisticada. À
medida que aumentava o comércio e a necessidade de defesa também se ampliava, as cidades foram
se desenvolvendo em torno de mercados e fortificações defensivas. Isso fez surgir as cidades-estados,
a mais famosa unidade de sociedade política desenvolvida pelos gregos.
A civilização grega se dedicou sobremaneira à Filosofia, Literatura e Política, deixando um legado
tão sólido que até os dias de hoje estudamos Platão, Aristóteles, Sócrates e outros filósofos e nos
maravilhamos com a mitologia grega.
A arte, assim como a literatura, refletiu o caráter básico da civilização grega. Eles eram
materialistas e concebiam o mundo em termos físicos. A arte grega simboliza o humanismo, a
glorificação do homem como a mais importante criatura do universo. Embora muitas esculturas, talvez
a maior parte, representassem deuses, esses deuses existiam para benefício do homem. Ao glorificá-
los os gregos glorificavam a si mesmos.
A finalidade da arte grega não era simplesmente estética, mas também política. Simbolizava o
orgulho que o povo tinha da sua cidade e ressaltava a consciência que tinham de unidade.
O Partenon de Atenas, ao mesmo tempo que era o templo para Atena, deusa padroeira, também
era a expressão do amor que os atenienses tinham pela cidade, uma forma de enobrecê-la.
A arte grega diferia da maioria dos povos da época pelos seus objetivos éticos. Não visava
somente à decoração ou à expressão individual do artista, mas era um meio de glorificar a humanidade
e expressar ideais humanos.
Podemos observar na história da arte grega três períodos. No primeiro período, chamado de
arcaico (séculos VII e VI a.C.), a arte foi dominada pela influência egípcia, com estátuas rígidas, com
ombros mais quadrados e um pé ligeiramente avançado. Os principais estilos arquitetônicos tiveram
início nesse período com várias construções de templos ainda toscos. O segundo período (século V
a.C.) foi a época áurea da arquitetura e da escultura. No terceiro período (século IV a.C.), a arte passa
a incorporar maior realismo e a perder a sua expressão de orgulho cívico.
Na arquitetura desenvolveram-se dois estilos. O mais comum foi o dórico, que utilizava colunas
pesadas com fortes ranhuras encimada por um capitel liso.
O jônico apresentava colunas mais esguias e graciosas, com ranhuras suaves, base tripla e um
capitel em espiral.
O Partenon, um exemplo da arquitetura grega, era uma construção estilo dórico, mas que sofreu
influência na graça e na sutileza do estilo jônico.
Os gregos de maneira geral pouco valorizavam o luxo e a ostentação. Eram incapazes de
considerar essas coisas como as mais importantes. Almejavam viver de maneira interessante e
satisfatória, sem passar os dias trabalhando arduamente para obter mais conforto para a família, nem
tinham interesse em acumular riquezas. Desejavam mesmo ter mais tempo livre para a política, as
conversas nos mercados, as atividades intelectuais e artísticas.
Essa forma de viver sem dúvida influenciou na arquitetura das cidades que valorizavam muito os
espaços públicos, templos, mercados, teatros, banhos públicos, ginásios, estádios. Os espaços
privados, como as residências, eram menos privilegiados, contando com espaços menores e muito
simples.
Comparadas com as de hoje, as casas eram pequenas e sem conforto. Mas isso tinha pouca
importância, pois, em razão da suavidade do clima, a maior parte das atividades diárias era
desenvolvida fora de casa. Construídas com uma mistura de pedregulho e terra cozida, as paredes
eram muito frágeis, as janelas, pequenas e sem vidros, e no inverno eram fechadas com madeira. As
cozinhas eram raras e os alimentos eram preparados ao ar livre.

Partenon Atenas (Grécia) – Templo de Atena

Teatro grego antigo


Esmirna, cidade com 5.000 anos, estabelecida no 3º milênio a.C., compartilha com Troia a cultura mais importante da Anatólia
Biblioteca pública da cidade antiga de Esmirna
Teatro grego de Esmirna antiga

Civilização romana

Muito antes de a civilização grega perder o seu esplendor, uma nova cultura já começava o seu
desenvolvimento no Ocidente, bastante influenciada pela cultura grega.
Roma foi fundada pelos povos Itálicos, e, embora não se conheça a data exata da fundação da
cidade, pesquisas arqueológicas situam-na por volta de 750 a.C. Pela sua localização estratégica,
Roma logo passa a exercer domínio sobre a maior parte da região. Os romanos, desde o início, deram
muito mais importância à autoridade e à estabilidade do que à liberdade e à democracia, como fizeram
os gregos. Nesse período o estado se assemelhava à constituição de uma família patriarcal que se
estendia por toda comunidade, o rei exercendo o papel do grande patriarca e os súditos como seus
dependentes. Mas o poder do rei ainda assim era limitado por uma constituição que só poderia ser
mudada com o consentimento das principais pessoas do reino.
Além do rei, o governo romano nessa época contava com uma assembleia e um senado. A
assembleia compunha-se de todos os cidadãos do sexo masculino em idade militar. Esse órgão podia
vetar qualquer proposta do rei para modificar uma lei, determinava os perdões a serem concedidos e se
uma guerra deveria ser declarada. Contudo, não tinha poder sobre criar matéria de legislação ou
mudanças políticas. O senado ou conselho dos anciãos era composto pelos chefes dos vários clãs que
formavam a comunidade, esse era o poder soberano do estado. O rei a quem haviam delegado o poder
ativo era somente mais um deles. Quando vagava o reinado, o poder voltava imediatamente para o
senado, que escolhia um novo monarca. No final do século VI a monarquia romana foi derrubada e
substituída pela república.
Por mais de dois séculos a história da república romana foi de guerras, e muitos territórios
romanos foram perdidos. Somente depois desse período Roma começa a conquistar mais terras e a
obter um rápido crescimento. Por volta do ano de 265 a.C., Roma já havia conquistado toda a
península itálica.
A maioria do povo romano dedicava-se à agricultura, mas, com toda essa série de conflitos e os
longos períodos de serviço militar, os agricultores iam perdendo suas terras a favor dos ricos
proprietários. Os romanos desenvolveram um forte ideal militar, as virtudes valorizadas pelo povo
romano eram a bravura, a autodisciplina e o cumprimento do dever em relação ao seu país e à sua
família. Pelo bem do país, o cidadão tinha que estar pronto a sacrificar não só a sua própria vida, como
também, se necessário, a de seus familiares e amigos. Os indivíduos se subordinavam completamente
ao poder do estado.
A religião romana era nitidamente mais política do que humanística, servia mais para proteger o
Estado de seus inimigos e elevar o seu poder e a prosperidade do que glorificar a condição humana ou
criar uma relação de conforto para os seres humanos e seu mundo. Os sacerdotes ou pontífices eram
um ramo do governo, supervisionavam as oferendas e guardavam uma série complicada de tradições e
leis sagradas que somente eles sabiam interpretar. Eles não eram intermediários entre os homens e
seus deuses, não ouviam confissões, não perdoavam pecados e tampouco administravam
sacramentos.
O desenvolvimento da cultura e da intelectualidade em Roma foi muito lento, a vida era rude e
cruel. A escrita foi adotada desde o século VI, mas era usada quase que exclusivamente para copiar
leis, tratados e inscrições funerárias. A educação se limitava à instrução dada pelos pais, a maioria da
população era analfabeta. Havia alguns artífices nas cidades e as atividades comerciais eram
modestas, pois os romanos só passaram a ter um sistema monetário a partir do ano 269 a.C.

Augusto de Prima Porta – Museu do Vaticano


Aqueduto romano

Coliseu – Roma

De 27 a.C. até aproximadamente 200 d.C., Roma viveu o período do Principado, que foi de
grande produção intelectual e artística. Dessa época ficaram para a história grandes obras literárias, o
desenvolvimento da arquitetura e da arte e os maiores triunfos da engenharia romana.
A arte romana até então não possuía uma forma característica. O que chamavam de arte em
Roma não passava da importação de objetos de mármore, estátuas, colunas e outros ornamentos que
os conquistadores traziam da Grécia para a Itália e os ricos comerciantes usavam para adornar as suas
mansões.
A melhor expressão da arte romana foi deixada na arquitetura e na escultura. A arquitetura
monumental pretendia passar a ideia de poder e grandeza. Usavam elementos como o arco redondo, a
abóboda e a cúpula, principalmente na construção dos templos. Os materiais usados eram o tijolo, os
blocos de pedras e o concreto, que foi uma invenção romana. A arquitetura romana dedicou-se
principalmente aos fins utilitários, como prédios públicos, anfiteatros, termas, estádios para corridas e
casas particulares.
Na engenharia os romanos destacaram-se construindo estradas e pontes maravilhosas, muitas
das quais sobrevivem até hoje, aquedutos que traziam para Roma água das colinas próximas e
projetaram um bom sistema de esgotos. A água abastecia fontes, tanques, banhos públicos, assim
como as casas dos ricos da época.
Também coube aos romanos a criação dos primeiros hospitais do Ocidente e o primeiro sistema
de assistência médica estatal em benefício dos pobres.
A grandiosidade e o poder da cultura romana ficaram bem expressos em sua arte, arquitetura e
engenharia. Os romanos valorizavam o luxo, a riqueza e a suntuosidade. Embora tenham sido
fortemente influenciados pelos gregos, os romanos conseguiram criar uma identidade própria
adicionando novos elementos à sua expressão artística.

A Renascença

Após completa monopolização da igreja católica sobre todas as áreas culturais, sociais e políticas
na Idade Média, o Renascimento caracterizou-se como o florescimento de novos pensamentos que se
refletiram na cultura e nas artes, bem como na sociedade, no período entre os anos de 1350 e 1600
aproximadamente.
Esse movimento teve início na Itália, que mantinha forte tradição clássica, um intenso comércio
com economia dinâmica e rica e farta produção cultural. As cidades italianas eram as maiores e mais
ricas da Europa, podendo patrocinar cultura e artes. Importantes famílias aristocráticas da época
tornaram-se patrocinadoras da arte e da literatura com o objetivo de garantir poder social e
aproximação com a nobreza. Nessa época era muito comum as famílias ricas encomendarem retratos
e esculturas, tendo um artista como seu protegido.
Ao contrário da Idade Média, em que o homem deveria ficar centrado em Deus (teocentrismo), na
Renascença o homem passa a ser o personagem principal, a obra perfeita de Deus. Somente o homem
era capaz de chegar ao conhecimento de Deus. Os humanistas da Renascença acreditavam na
nobreza e nas possibilidades da raça humana (antropocentrismo), o homem como centro das
preocupações artísticas e intelectuais.
O traço marcante desse período foi o racionalismo, convicção de que tudo poderia ser explicado
pela razão, e através da observação da natureza se poderia explicar o universo.
As descobertas e popularização de obras de importantes filósofos da literatura da Grécia clássica
e os tratados científicos gregos que ficaram à disposição quando foram traduzidos para o latim
influenciaram o pensamento, a literatura e a arte desse período.
O movimento renascentista criou uma nova sociedade e, portanto, novas relações sociais em seu
cotidiano. A vida urbana, o comércio e os novos conhecimentos passaram a determinar um novo
comportamento dos homens. Isso significa que o Renascimento não foi somente um movimento de
alguns artistas, mas uma nova concepção de vida adotada por uma parcela da sociedade, expressa e
difundida nas obras de arte.
A ideia de que cada um é responsável pela condução de sua vida, a possibilidade de fazer opções
e de manifestar-se sobre diversos assuntos acentuaram gradualmente o individualismo. Isso não
significava o isolamento do homem, mas sim a liberdade de cada um tomar suas próprias decisões.
Embora na Renascença tenham sido criados grandes progressos nas áreas intelectuais e
literárias, foi nas artes plásticas, especialmente na pintura, que recebemos um legado maravilhoso para
a história da humanidade. Nesse período, descobertas importantes aconteceram e ampliaram os
conhecimentos dos artistas. Foi no início do século XV que descobriram a perspectiva linear, que foi
empregada e proporcionou a mais plena impressão de tridimensionalidade. Além disso, os artistas
experimentaram nessa época os efeitos de luz e sombra e estudaram detidamente a anatomia e as
proporções do corpo humano.
O aumento da riqueza privada libertou os artistas da obrigação de servir à religião, e outros temas
além dos religiosos foram francamente desenvolvidos. O uso das tintas a óleo, cuja secagem era mais
lenta, fez com que os artistas trabalhassem mais devagar, podendo dedicar mais tempo aos detalhes
das obras.
Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael, Michelangelo e outros tantos artistas são expressões da
grandeza desse período da história.
A arquitetura da Renascença é aquela que foi produzida durante os séculos XIV, XV e XVI.
Caracterizou-se pela ruptura das suas raízes no passado medieval. Essa ruptura manifesta-se por uma
nova atitude dos arquitetos em relação à sua arte, uma vez que passaram a se assumir cada vez mais
como profissionais independentes, portadores de um estilo pessoal. São fortemente influenciados pelo
Classicismo, respeitado como o padrão mais primoroso de todas as produções artísticas e até mesmo
da existência humana.
Assim, tudo que pertencia ao mundo antigo dos gregos e romanos era aproveitado na concepção
arquitetônica renascentista – a busca da beleza perfeita, a disposição ordenada dos elementos de um
prédio, os arcos de volta-perfeita e as colunas, a influência das proporções perfeitas do homem
refletem a perfeição do universo e, portanto, essa relação perfeita entre as partes e o todo deveria ser
retratada na construção dos edifícios, na singeleza das obras, na utilização sistemática da perspectiva,
entre outros elementos.
As principais edificações desse período são igrejas, residências construídas no perímetro externo
da cidade, fortalezas que assumiam um papel bélico, entre outras. O arquiteto mais conhecido dessa
época é Brunelleschi, que ao mesmo tempo atuava nos campos da pintura, da escultura e da
arquitetura. Além disso, também conhecia bem a Matemática e a Geometria, além de ser um
especialista na compreensão da produção poética de Dante Alighieri. Entre suas obras principais estão
a cúpula da Catedral de Florença e a Capela Pazzi, no claustro da Basílica de Santa Cruz em Florença,
obra-prima da arquitetura renascentista.

A Modernidade

A Modernidade é o período histórico que se estende entre fins do século XV e os dias atuais.
Contudo, além de um período histórico, a Modernidade é a denominação de um conjunto de fenômenos
sociais e é também o resultado de uma série de eventos marcantes no mundo ocidental ocorridos nos
últimos quinhentos anos.
O primeiro deles foi a expansão marítima europeia, que tirou o mundo ocidental de um isolamento
político e econômico e o colocou, através do incremento do comércio e do intercâmbio populacional,
em contato com diferentes culturas, riquezas e diversidade de produtos de novos territórios, fato que
criou um enorme impacto social e econômico não somente na Europa, mas também na América.
Em uma Europa já influenciada pelos impactos da existência de “novos mundos” começam a
surgir movimentos intelectuais e religiosos que entraram em rota de colisão com a hegemonia do
pensamento existente. Esses movimentos foram no princípio o Humanismo e a Reforma Protestante,
ambos no século XVI. Juntos eles quebraram o monopólio da “verdade” que estava sob tutela da Igreja
Católica e passaram a deixar margem ao questionamento das verdades constituídas, abrindo assim
caminho para o surgimento do Iluminismo (movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela
centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento filosófico, o que implica recusa a
todas as formas de dogmatismo, especialmente o das doutrinas políticas e religiosas tradicionais;
Filosofia das Luzes, Ilustração, Esclarecimento, Século das Luzes).
Além das transformações intelectuais, a Modernidade é um período de transformações políticas e
econômicas no Ocidente. Uma nova camada começa a ganhar expressão na sociedade europeia, a
burguesia, uma classe que por séculos vai acumulando poder econômico, mas que não tem em suas
mãos poder político algum, o que gera descontentamento. Esses descontentamentos são a causa de
duas marcantes revoluções na Europa. A primeira é a Revolução Inglesa, também chamada de
Revolução Gloriosa, que pôs fim ao Absolutismo na Inglaterra e propiciou à burguesia presença e
voto no Parlamento em uma Monarquia Constitucional. A segunda revolução burguesa foi a Revolução
Francesa, assim como a Inglesa, a burguesia francesa não tinha poder político, apesar do poder
econômico. Esse poder foi alcançado após uma violenta revolução, na qual os revolucionários
passaram a lutar entre si após a queda do rei, e o fim dessa disputa foi a tomada do poder por
Napoleão Bonaparte, que se tornou Imperador da França.
Em meados do século XVII passa a acontecer uma terceira revolução na Europa, a Revolução
Industrial. A burguesia inglesa, que havia adquirido poder político, passa a promover no país
transformações econômicas, muda-se o modo de produção das manufaturas para as indústrias. A
oferta de produtos aumenta no mercado, bem como o desemprego, causado pela mecanização, e a
poluição causada pelo carvão das caldeiras de vapor necessárias para o funcionamento do maquinário.
Como consequência, surgem na Europa movimentos de trabalhadores buscando uma alternativa
a essas transformações prejudiciais a eles, como o Movimento Socialista, que no século XIX tem seu
maior expoente em Karl Marx e Friedrich Engels. Inspirados nessas ideias, em 1917 revolucionários
comunistas tomam o poder na Rússia ao derrubar o czar. Décadas depois, logo após a Segunda
Guerra Mundial, o mundo estaria polarizado em dois blocos, o Capitalista e o Comunista. Essa
polarização duraria cinquenta anos, a chamada Guerra Fria.
Entre os jovens nascidos durante e após a Segunda Guerra, que terminou em 1945, acontece a
última grande revolução da Modernidade, a Revolução Sexual, em meio a fenômenos como os
Movimentos Hippie e Punk, a Guerra do Vietnã e a descoberta da Pílula Anticoncepcional. A partir
desse momento se tornava mais fácil a prática do sexo sem a preocupação com uma gravidez
indesejada.
Todas essas transformações foram o caminho para que o Mundo se tornasse essa realidade em
que vivemos hoje.
O século XIX foi marcado pelo otimismo em relação ao futuro. Do início ao fim foi um período em
que os Estados-Nação se estabeleciam, países como Itália e Alemanha se unificaram, havia novas e
interessantes tecnologias, o futuro parecia promissor. Em contraste, o século XX foi um século de
guerras sangrentas e conflitos prolongados, o otimismo anterior dá lugar a uma visão sombria do futuro.
Mas o culto à tecnologia e a busca incessante por aperfeiçoamento delas se tornam cada vez mais
intenso.
A Modernidade tem como característica a rejeição da tradição e do passado e uma constante
busca pela transformação. Isso pode ser observado no campo da tecnologia e da moda, onde grandes
transformações aconteceram.
A indústria tecnológica e da moda se beneficiaram da ideia de individualidade que surgiu ainda no
Renascimento e que remonta ao surgimento da classe burguesa na Europa, e mudanças de conceitos,
comportamentos e forma de viver puderam se expressar.
Mas, além da tecnologia e da estética, o mundo moderno tem suas instituições sociais também
em constante transformação. Contudo, o antigo não desaparece e dá lugar ao novo, é característica da
Modernidade a coexistência entre ambos, uma existência que não deixa de ser conflituosa, mas que
existe exatamente por causa do incentivo à diversidade de pensamento.
Por exemplo, o modelo de família, uma instituição tradicional, muda com a modernidade, mas os
modelos tradicionais não deixam de existir. Hoje são comuns unidades familiares formadas por apenas
um dos pais e seus filhos, pais homossexuais e pais separados que formaram uma nova família. Mais
recentemente se tornou bastante comum a existência de casais sem filhos por opção pessoal.
Certamente todas essas transformações influenciaram também a arquitetura e o modo de vida
das pessoas.
Um dos princípios básicos dos arquitetos modernistas era renovar a arquitetura rejeitando o
modelo formal do passado e a ideia rígida de estilo.
Os modernos viam no ornamento um elemento típico dos estilos históricos, um inimigo a ser
combatido: “produzir uma arquitetura sem ornamentos” tornou-se um desafio constante!
Outra característica importante eram as ideias de industrialização, economia e a recém-
descoberta noção do design. Os edifícios deveriam ser econômicos, limpos, úteis. Neste sentido, duas
máximas permearam o período do moderno: “Menos é Mais”, frase cunhada pelo arquiteto Mies Van
der Rohe e “A Forma Segue a Função”, do arquiteto Louis Sullivan. Essas sentenças sintetizam bem
o ideário moderno.
Podemos observar hoje, no conceito da moradia atual, o aproveitamento racional dos espaços, o
uso de materiais de maior praticidade e conforto. A casa atende muito mais aos anseios dos seus
moradores do que a um estilo socialmente imposto.
Fases da vida e das casas

Durante o caminho profissional de psicoterapeuta, fui percebendo a importância que as casas da


infância exerceram sobre a vida dos meus clientes. Guardamos a memória viva da nossa primeira
casa, de seus espaços, suas formas, seus odores, e assim continuamos por todas as casas nas quais
moramos e que marcaram uma etapa do nosso crescimento.
A casa é uma parte de nós e participa da nossa formação, pois é nela que vivemos fortes
emoções, positivas e negativas, que marcam e atuam na nossa estruturação psicológica e emocional.
Dessa forma podemos dizer que influenciamos a casa e somos influenciados por ela numa relação
simbiótica.
A íntima relação que o ser humano estabelece com sua casa cria um movimento que acompanha
suas etapas de crescimento e amadurecimento. Suas mudanças de atitudes e de comportamentos, seu
amadurecimento emocional e sua compreensão da vida levam para dentro da casa os elementos que
simbolizam cada fase e que, no conjunto, contam a sua história.
Fases de desenvolvimento da personalidade

Jung define personalidade como uma semente que só pode se desenvolver em pequenas etapas
durante a vida. É necessário compreender a vida como um contínuo desenvolvimento, a criatura
humana se desenvolve desde o nascimento até a morte.
A personalidade é um conjunto de características ou traços que diferenciam os indivíduos, o modo
como percebem as coisas que os cercam, como pensam a respeito de si mesmo e do mundo e como
se relacionam com as outras pessoas. O humano é um ser biopsicossocial, ou seja, é influenciado pela
genética, características fisiológicas, pelas experiências vividas e suas relações com o meio ambiente.
É a interação desses complexos fatores que o tornam único em sua forma de ser em todo o universo.
Para tornar mais didático para o que pretendemos, vamos adotar aqui o modelo de
desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson por atender melhor a sequência das idades que
desejamos evidenciar.
Na Teoria Psicossocial, o desenvolvimento da personalidade evolui em oito estágios. Os primeiros
quatro estágios ocorrem no período de bebê e na infância, e os últimos três durante a idade adulta e a
velhice.
Erikson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao fato de ser a transição
entre a infância e a idade adulta, fase em que se verificam acontecimentos relevantes para a
personalidade adulta.
Um dos conceitos fundamentais na teoria de Erikson é o de crise ou conflito que o indivíduo vive
ao longo dos períodos pelos quais vai passando, desde o nascimento até o final da vida. Cada crise
tem de ser resolvida positiva ou negativamente pelo indivíduo.
Cada estágio contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético), sendo, por
isso, todos importantes mesmo depois de tê-los atravessado.

Confiança x desconfiança (até um ano de idade)

Durante o primeiro ano de vida a criança é basicamente dependente daqueles que cuidam dela. A
atenção do bebê se volta para aqueles que satisfazem suas ansiedades e necessidades. A mãe lhe dá
a garantia de que não está abandonado no mundo.
É justamente no sentir falta da mãe, quando esta não está presente, e no prazer do seu retorno
que o bebê desenvolve a sua primeira relação social. A força básica nessa fase a ser desenvolvida é a
confiança. O bebê aprende que a mãe se afasta, mas que retorna para ele, que os objetos e as
pessoas existem mesmo que estejam fora do seu campo visual, que são confiáveis e, portanto, não
precisa temer.
Caso o bebê tenha sofrido muitas angústias, esperando por muito tempo repetidas vezes sem ser
atendido, sentindo-se abandonado por longos períodos, vai desenvolver o sentimento de que o mundo
não corresponde às suas necessidades, que o faz sofrer, criando uma desconfiança.
A importância da confiança básica se deve ao fato de que a criança “não só aprendeu a confiar na
uniformidade e na continuidade dos provedores externos, mas também em si própria e na capacidade
dos próprios órgãos para fazer frente aos seus impulsos e anseios”.
O amadurecimento ocorrerá de maneira satisfatória se a criança sentir que tem segurança e afeto,
adquirindo confiança nas pessoas e no mundo.
É importante frisar que, quando o bebê nasce, seu sistema neurológico ainda não está totalmente
formado e tampouco amadurecido. O primeiro ano de vida é como o alicerce de uma construção, é a
parte mais importante para sustentar uma boa estrutura psicológica. Para que isso aconteça, a
tranquilidade daqueles que o cercam é fundamental.
Nos três primeiros meses de vida o bebê necessita de muito silêncio, movimentos calmos e a paz
e serenidade da mãe. Os estímulos, tais como fortes ruídos, acúmulo de pessoas, estímulos luminosos
de alta intensidade, agridem o frágil sistema neurológico do bebê, porque todos os seus sentidos ainda
não possuem filtros necessários para a sua proteção, trazendo uma sensação de desprazer.
É de inestimável importância respeitar os horários de amamentação e sono do bebê em ambiente
tranquilo, longe de celulares, conversas, agitações, etc. O ato de amamentar vai muito além do ato de
comer, é o momento em que mãe e bebê interagem de forma afetiva. Esse contato deixará marcas
inconscientes preciosas para a segurança e confiança nas relações afetivas durante toda a sua vida.
Manter o bebê o máximo possível no seu ambiente de conforto propiciará que ele vá gradativa e
lentamente absorvendo o mundo que o cerca, amadurecendo dentro do seu tempo biológico.
Aos poucos a criança vai interagindo mais e mostrando através da sua curiosidade a necessidade
de maior estimulação com cores, formas, texturas, sons, etc. Quando o sistema neuromuscular já
estiver mais amadurecido, ela começará a buscar novos movimentos, sentar, engatinhar, ficar em pé e
por fim andar.
Se for possível um dormitório privativo, o bebê deverá ter um quarto com boa ventilação e luz
natural, sem excesso de ruídos e de estímulos visuais, tais como grande quantidade de enfeites,
brinquedos, móbiles, cores quentes (vermelho e laranja) em grandes extensões, excesso de tecidos e
tapetes para evitar acúmulo de pó.
O aconchego necessário se dará através de uma decoração simples que inclua mobiliário
especialmente projetado e que siga normas de segurança, assim como luz artificial e sons suaves,
cores delicadas e espaços de circulação.

Autonomia x vergonha (segundo e terceiro ano de vida)

Nessa fase a criança já possui bastante controle dos seus movimentos, sua musculatura está
mais forte e ela busca conhecer e explorar o mundo que a cerca, tornando-se mais independente e
autônoma. Pouco a pouco ela vai percebendo através dos limites colocados pelos pais que não pode
explorar tudo à sua vontade, que tem que respeitar determinadas regras sociais e incorporá-las. A
aceitação dessas regras sociais faz com que a criança inicie o aprendizado do que se espera dela,
quais são os seus privilégios e também as suas limitações.
É nessa fase também que ela aprende o controle das suas necessidades fisiológicas, o que
também vai proporcionar a ela autonomia, confiança e liberdade para experimentar coisas novas sem
medo de errar.
Muitas vezes, para que a criança aprenda o controle das suas necessidades fisiológicas ou das
regras sociais, as pessoas a submetem a vergonha e sensação de ridículo repetidas vezes, usando-se
de castigos, chantagens e exposições. Se isso acontecer, a criança desenvolverá uma dúvida a
respeito de suas próprias capacidades e um sentimento permanente de vergonha. Cabe lembrar que a
vergonha é na verdade a raiva dirigida a si mesmo por não ter feito tudo certo e evitar a exposição.
Na aprendizagem do controle, seja do autocontrole ou do controle das regras sociais, nasce a
força básica da vontade, que será a base para o desenvolvimento saudável da autonomia e
independência na vida.
Pais que protegem muito ou que exigem da criança muito além do que ela é capaz nessa fase,
criam problemas que deixarão traços de maior dependência, insegurança e falta de confiança em si
mesmo.
Somente por volta dos dois anos de idade que a criança desconecta o seu Eu do Outro. Até então
ela não sabe diferenciar nitidamente o que é ela e o que não é ela. Por esse motivo, quando se olha no
espelho não reconhece a própria imagem. Aos dois anos essa diferenciação já acontece e ela
consegue controlar a imagem no espelho. Durante esse período a criança não possui raciocínio
abstrato, somente possui raciocínio concreto, portanto a forma de falar com uma criança de dois anos é
muito importante.
A criança deve aprender desde cedo os limites, mas também deve entender o porquê deles numa
linguagem compreensível para ela.
É a fase em que o conhecimento das palavras aumenta e ela aprende a nomear as partes do
corpo. Nesse período a criança já começa a perceber o outro e diferenciar as expressões de raiva e
contentamento nos pais.

Iniciativa x culpa (quarto e sexto ano de vida)

Nessa etapa a criança já ganhou confiança através do vínculo com a mãe, autonomia com a
expansão motora e o controle das suas necessidades fisiológicas, e agora vai ganhar iniciativa através
da expansão intelectual. É nessa fase que a criança vai perceber as diferenças sexuais existentes entre
o homem e a mulher, as diferenças nos papéis desempenhados pelo masculino e pelo feminino e
compreenderá o mundo que a cerca de forma diferente.
O aumento do círculo de contatos através da escola e o início do processo de alfabetização fazem
com que a criança adquira um crescimento intelectual que propicia maiores realizações. Quando ela se
empolga em buscar objetivos além das suas possibilidades, ela se culpa, pois não consegue realizar o
que desejou. A criança está testando as suas capacidades e descobrindo aquilo de que é capaz e
aquilo que ainda está fora da sua capacidade.
Uma coisa importante que as crianças fazem nesse estágio são as brincadeiras. Através de jogos,
dramatizações, elas vão testando os vários papéis que estão descobrindo na vida. Brincam que são
mães, pais, professores, etc. É também nesse momento que começam a experimentar as primeiras
sensações de responsabilidade. Tudo isso vai contribuindo para satisfazer a sua curiosidade, tanto
sexual quanto intelectual.
É nessa fase que a criança perguntará o porquê de tudo, momento em que os pais deverão ter
muita calma e paciência para responder às perguntas, pois a criança agora está desvendando o
mundo.
A criança está aberta à percepção de tudo que a rodeia e é uma boa fase para educá-la no que é
certo e no que é errado. Portanto, é necessário muito cuidado com o que se fala e o que se faz, pois a
criança estará atenta e copiando tudo o que vê. Falar que mentir é errado, mas ao mesmo tempo
permitir que ela observe um pedido de um dos pais para dizer que não está em casa para não atender
a um telefonema, será muito contraditório para ela.
Se nessa fase a criança for muito reprimida e castigada pela sua curiosidade, principalmente em
relação à descoberta do sexo, poderá desenvolver um sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa em
buscar novas situações e conhecimentos durante a vida. Muitas doenças psicossomáticas e problemas
sexuais na vida adulta estão relacionados a vivências desse estágio de vida.
Durante esse período as crianças jogam, brincam e começam a receber amigos em casa para
brincar. Se for possível, é importante que ela tenha um espaço para os seus brinquedos e brincadeiras,
porque assim começará a diferenciar o espaço individual do espaço grupal e também aprenderá que a
sua liberdade é diferente em cada um dos espaços.
É fundamental também que a criança, após os 4 anos, comece a aprender a organizar o seu
espaço depois que terminou de brincar. Ordem e disciplina se ensinam desde cedo.

Empenho x inferioridade (dos sete aos onze anos de vida)

Neste período a criança está sendo alfabetizada e frequentando escola(s), o que propicia o
convívio com pessoas que não são seus familiares. Isso exigirá maior sociabilização, trabalho em
conjunto, aprendizagens escolares, teste de limites, estabelecimento de objetivos e aprendizagens
sociais, desenvolver um senso de cooperatividade e outras habilidades necessárias em nossa cultura.
A criança nessa fase sente-se competente ao dedicar-se e concluir uma tarefa e sente que
adquiriu habilidade se realizar a tarefa satisfatoriamente. Esse prazer na realização é que faz com que
a criança não se sinta inferior. Caso tenha muita dificuldade na realização das tarefas propostas, ou
seja muito auxiliada na realização, pode sentir-se inferior.
Aqui a criança tem a necessidade de canalizar a sua energia psíquica de forma metódica. Ela
encontra essa forma de satisfação nos estudos, que lhe dão sensação de conquista e de ordem,
preparando-a para o futuro que aos poucos começa a fazer sentido na sua vida. A característica
principal dessa fase é a socialização, fazer amigos, aprender sobre como se relacionar.
É importante estimular nesse período o empenho, a criatividade, a determinação na realização e
conclusão das tarefas, assim como evitar que a criança se sinta sobrecarregada por muitas tarefas e
inundada por responsabilidades de que ainda não consiga dar conta. O ponto de equilíbrio é muito
importante, nem demais nem de menos.
O papel dos pais é importante no sentido de estimular cada vez mais a aquisição de
responsabilidades da criança sobre as tarefas que lhe competem, por exemplo, suas lições, seus
trabalhos escolares, a manutenção do seu material e agenda. A criança deve aprender que ela
necessita cumprir as suas obrigações mesmo que não as julgue agradáveis, porque a vida não nos
proporciona só tarefas agradáveis. A profissão da criança é o estudar, e ela deve exercê-la de maneira
dedicada e responsável. Os pais precisam ter sempre em mente que estão criando e preparando um
cidadão para um mundo que exige educação, disciplina, respeito, dedicação, organização e
competência para a obtenção do sucesso.
Hoje é muito comum os pais se comportarem mais como amigos dos seus filhos do que como pais
que estão orientando um adulto de amanhã.
A partir dessa idade os interesses são múltiplos e envolvem toda a tecnologia do momento, como
TV, DVD, jogos eletrônicos, etc. Nessa fase já aparece o interesse pela decoração do dormitório,
principalmente em relação a cores, quadros, gravuras e mesmo na disposição do mobiliário. Isso
porque as informações sobre o assunto são hoje de fácil acesso à criança.

Identidade x confusão de papéis (dos 12 aos 18/20 anos de vida)

A preocupação do adolescente em encontrar um papel social provoca uma confusão de


identidade, pois a preocupação com a opinião alheia faz com que o adolescente modifique suas
atitudes o tempo todo, remodelando sua personalidade diversas vezes em um período muito curto,
seguindo o mesmo ritmo das transformações físicas que estão acontecendo nele. Essa confusão de
identidade pode levar o adolescente a sentir-se vazio, perdido, isolado e ansioso, muitas vezes
sentindo-se incapaz de encaixar-se no mundo dos adultos, o que pode levar a dificuldade e resistência
em amadurecer.
O jovem experimenta uma série de desafios que envolvem suas atitudes para consigo, com seus
amigos, com pessoas do sexo oposto, amores e a busca de uma carreira e de profissionalização. À
medida que as pessoas à sua volta ajudem na resolução dessas questões, desenvolverá o sentimento
de identidade pessoal. Caso não encontre respostas para suas questões, pode se desorganizar,
perdendo a referência.
Os problemas no desenvolvimento da identidade podem culminar numa identidade difusa,
caracterizada por uma noção do eu incoerente, desarticulada e incompleta, mostrando uma pessoa que
não descobriu a si própria, não sabe o que pretende e tem dificuldade de fazer opções.
A construção da identidade pessoal é considerada a tarefa mais importante da adolescência, pois
é o passo crucial na transformação do adolescente em um adulto produtivo e maduro.
Novamente voltamos a uma questão importante, a colocação de limites por parte dos pais aos
filhos. O adolescente está na fase de medir forças com o externo, muitas vezes critica seus pais, o
mundo, a vida que vive, etc., querendo impor os seus desejos e ideias. Cabe aos pais nessa fase
funcionar como uma luz guia, conversando, explicando, levando o adolescente à reflexão, mas também
estabelecendo as regras que não devem ser ultrapassadas para a sua própria segurança e formação.
Os pais devem ter coerência entre o que o adolescente pode ou não fazer. Tenho observado que
muitos pais ora dizem sim, ora dizem não, dependendo do seu estado de humor, cansaço ou falta de
tempo para conversar. Isso confunde o adolescente quanto a conhecer os limites tanto externos quanto
internos.
Para o adolescente o dormitório é o refúgio dentro da casa onde pode se “esconder” do mundo.
Nesta fase meninos e meninas já possuem bastante informação e já desenvolvem maior relação com
as formas de organizar seu espaço, preferências de cores e já possuem uma ordem ou “desordem”
próprias.
É nesse espaço que gira seu mundo, que recebe amigos, come e se diverte, diferentemente do
espaço restante da casa, projetando ali os primeiros movimentos da sua personalidade.
O jovem pode ser estimulado a participar do projeto do seu dormitório, trazendo ideias, desenhos
ou qualquer outro tipo de exemplo de como gostaria que fosse esse espaço. Isso o estimulará a
preservá-lo e mantê-lo saudável!

Intimidade x isolamento (adulto jovem 20 aos 40 anos)

Nesse momento o interesse, além do profissional, está voltado para a construção de relações
mais profundas, em que o jovem adulto vai vivenciar intimidade e entrega afetiva. Se a identidade
pessoal do jovem estiver bem fortalecida, ele estará pronto para uni-la à identidade de outra pessoa.
Essa é a fase da união, agora ele está pronto para fazer uma parceria com intimidade e colaboração.
Para que haja uma associação positiva é necessário que o jovem tenha construído nas fases
anteriores um ego forte e autônomo para que não se sinta ameaçado ou anulado pelo outro. Caso a
estruturação do ego seja frágil, o jovem tenderá a fugir dos relacionamentos mais duradouros com
medo de envolver-se afetivamente e de assumir compromissos. O risco dessa fase é o isolamento ou o
elitismo, uma espécie de narcisismo. A pessoa cerca-se somente de outras que sejam muito
semelhantes a ela, caracterizando a dificuldade de conviver com pessoas diferentes e aceitar as
diferenças no mundo que o cerca.
Nessa fase, podemos aqui diferenciar dois momentos. O primeiro é dos vinte aos trinta anos de
idade, fase na qual o jovem está se preparando profissionalmente, concluindo seus estudos, iniciando
uma carreira. O jovem adulto está criando a sua própria história, saindo da casa dos pais, vivendo com
os seus próprios recursos econômicos e buscando a sua forma pessoal de viver. Eu chamo isso de um
período de construção. Nesse momento a preocupação do jovem adulto não está voltada para bens
duradouros porque ainda está vivendo as experiências e fazendo as suas escolhas. Sua casa vai
refletir isso, móveis mais baratos e descontraídos, arranjos informais na decoração e praticidade,
expressando assim a sua liberdade de escolha.
A partir dos trinta anos frequentemente inicia-se uma etapa mais comprometida tanto com a
carreira quanto com a formação de uma família, união e filhos.
A compra ou construção da moradia é uma conquista e transformá-la em algo socialmente
reconhecido tem um grande valor. Receber amigos, fazer encontros profissionais e ampliar o círculo
social fazem parte do desenvolvimento pessoal. Mostrar ao mundo suas capacidades e conquistas faz
parte desse caminho, e a casa refletirá esses aspectos.

Produtividade x estagnação (dos 45 aos 65 anos)

Essa é a grande fase de produtividade. Vemos muitas e importantes contribuições para o mundo
feitas nessa fase, pois ela se caracteriza pela necessidade de gerar, de produzir. O indivíduo sente que
precisa dar a sua contribuição ao mundo, gerar frutos, ensinar o que aprendeu e deixar a sua marca
registrada na existência.
As pessoas que são capazes de olhar para fora de si mesmas terão a sensação de estar
colaborando e cumprindo a sua missão nesta vida. Aquelas que se mantiveram egocêntricas, pensando
somente em suas necessidades pessoais sentirão que estão estagnadas, com medo do
envelhecimento.
A fase da meia-idade é fundamental, pois começarão os sinais de mudança e perda da juventude.
As modificações corporais serão sentidas, como as rugas, a tendência a flacidez, a dificuldade de
manter o peso, menopausa... Se a pessoa durante a sua vida cultivou valores além dos físicos e
materiais, nessa fase ela sentirá uma liberdade maior para expressar-se com maior facilidade e
segurança, pois as opiniões sociais já são menos ameaçadoras, criar e permanecer atuante na
engrenagem da vida, descobrindo novas potencialidades.
Essa é a fase da consolidação das conquistas. Após os 50 anos de idade espera-se que a pessoa
já tenha construído uma boa estrutura de vida e irá a partir de então fortalecê-la.
Os relacionamentos estão em evidência, tanto os profissionais quanto os pessoais. É um período
de grande energia voltada tanto para o momento especial na profissão quanto para desfrutar de uma
qualidade e liberdade de vida já construídas.
A casa nesse período tende a ser maior, os filhos também estão crescidos e trazem amigos,
fazem reuniões, circulam. A casa tende a ser repleta de vida e pessoas, pelo menos até os filhos
começarem a deixar a casa paterna.
Caso a pessoa tenha tido uma vida mais empobrecida emocionalmente, cultivando valores mais
externos do que internos, esse será um portal difícil de atravessar, pois a vida traz mudanças em
muitas áreas mais ao final desse período. Filhos saem de casa, muitos se aposentam, a vida perde o
sentido de até então. Se a pessoa não cultivou uma riqueza interna, um novo objetivo para a
maturidade, se não construiu alicerces para si mesma, essa é a hora de sentir o peso daquilo que não
fez.

Integridade x desespero (após os 70 anos)

Esse é o tempo em que o ser humano vai rever, refletir sobre a sua vida, suas conquistas e seus
fracassos, o que realizou e o que deixou de fazer. Essa retrospectiva pode ser vivenciada de diferentes
formas, de acordo com o caminho que escolheu.
A pessoa pode simplesmente se tornar velha porque já não vê mais saída para si mesma,
tornando-se amarga e lastimosa. Ao preocupar-se somente com suas doenças e com a proximidade da
morte, entra em desespero e acha que o seu tempo já acabou, que não pode realizar mais nada,
entregando-se à tristeza da velhice. A outra possibilidade é nutrir a sensação de dever cumprido,
experimentando um sentimento de dignidade e integridade, dividindo a sua experiência e sabedoria.
Mas mesmo aqui fica ainda o perigo de a pessoa, ao se julgar muito sábia, querer impor as suas
opiniões em nome da idade e da experiência, tornando-se uma pessoa autoritária.
Existe uma grande diferença entre “velhice” e “ter idade”. A velhice fala da pessoa que transitou
pela vida de forma pessimista, empobrecida, pesada, e ter idade fala da pessoa que, embora com mais
idade cronológica, aproveita a sua vida no momento atual, desfrutando dos prazeres e mantendo-se em
constante evolução, recriando-se e recriando a sua vida na fase atual até o dia da despedida da vida
terrena.
Apesar da expectativa de vida ter aumentado bastante de uns anos para cá, ainda precisamos de
maior consciência para todas as possibilidades e prazeres que as pessoas nessa etapa de vida podem
desfrutar.
Acima dos sessenta anos, espera-se que as pessoas já vivam menos para o social e mais para a
sua própria essência. Poder saborear mais os seus gostos, desejos, hábitos e uma forma de viver sem
estarem preocupadas com a aprovação social. Essa é a maturidade: um ganho de segurança pessoal
que só adquirimos com a vivência.
Nessa fase é comum a família diminuir: filhos casados, ou morando fora da casa dos pais. A casa
refletirá essa mudança. A troca de uma casa grande por uma menor ou apartamento é bastante comum
para atender às necessidades de uma família com filhos já adultos.
A tendência dessa casa é refletir as preferências pessoais de seus proprietários e contar uma
história de vida por meio dos objetos e dos mobiliários adquiridos nas fases anteriores da vida. A
preocupação maior aqui é com o conforto essencial para seus habitantes.
Podemos ver que cada fase da vida apresenta necessidades específicas tanto internas como
externas para o seu desenvolvimento. Se dermos um significado para a casa em cada fase da vida de
uma pessoa, poderemos falar de algo assim:
Para a criança a casa significa o “útero familiar”, aquele lugar onde ela será recebida, alimentada
de valores, orientada e se desenvolverá tanto física como psicologicamente.
Para o adolescente a casa significa “o túnel da contradição”, aquele lugar onde na sua fantasia ele
gostaria de viver muito mais coisas do que lhe é permitido e onde ele vive muito menos do que lhe é
ofertado.
Para o jovem adulto a casa significa “o laboratório” de experiências e vivências, pois agora, fora
da casa paterna, ele experimenta e descobre o seu jeito de viver.
Para a maturidade a casa significa “repouso e vitrine”, lugar onde o guerreiro descansa da sua
batalha diária e também abriga todas as suas conquistas durante esse trajeto de vida.
Para a velhice a casa significa “o templo do merecimento”, lugar onde a pessoa poderá desfrutar
de tudo aquilo que fez na vida nas fases anteriores, quer seja bom ou ruim.
BOX 1
A CASA DA MINHA INFÂNCIA
Vista de frente, hoje eu entendo que ela era pequena, mas, naquela época, com menos de cinco anos de idade, era uma casa
enorme.
O alpendre onde meu primo nos esperava chegar da feira em dias de chuva... A cozinha grande com uma pequena escada que ia
para a sala e dois quartos... A tevê ligada que apresentava a Sessão Zig-Zag em tardes frias e garoentas... Quantas lembranças...
O chuveiro do banheiro dentro de casa, perto da cozinha, era muito original. Era um balde grande preso com roldanas e um bocal
parecido com o dos regadores de plantas. De tarde minha mãe descia o balde, enchia-o com água quentinha, e eu tomava o meu banho.
Abria a torneira, me molhava, fechava a torneira, me ensaboava e abria o chuveiro para me enxaguar. Não se podia gastar mais do que
um balde por banho. Acho que vem dessa época a minha consciência de não desperdiçar água.
Ah, o quintal... A minha casa tinha um grande quintal nos fundos, com uma pitangueira onde, na época frutífera, todos os dias eu
pegava um pequeno copo cor-de-rosa de plástico e subia na árvore para colher pitangas para o café da manhã. O milharal também era
muito amado, pois nele, além das espigas de milho macias e cheirosas, meu pai fazia um caminho com pequenos ovinhos de chocolate
na Páscoa e escondia o ovo maior lá dentro, como se o coelhinho da páscoa tivesse feito seu ninho lá, bem escondidinho.
Passamos doces momentos cantando no porão. As casas tinham porões que serviam de depósitos. No nosso porão descíamos meu
pai, eu e nosso cachorro Pety. Meu pai gostava de cantar comigo e éramos acompanhados pelo Pety, que uivava, formando assim um trio
desafinado.
Todas as vivências da infância, sejam elas boas ou ruins, deixam marcas que, juntamente com os aspectos genéticos, compuseram
a nossa personalidade. Somos um somatório das influências do meio ambiente e da composição única e individual da genética.

Yara Lorenzetti
BOX 2
EXERCÍCIO: A CASA DA INFÂNCIA
Sente-se ou deite-se confortavelmente e leve sua atenção para a respiração. Perceba o ritmo da respiração, mas não mude nada, só
perceba. É lenta? Rápida? É profunda ou leve? Ela vai até o abdome ou para na região do coração? Fique algum tempo em contato com
sua respiração.
Sinta os apoios do seu corpo e perceba esses apoios desde os pés até a cabeça. Quando sentir-se relaxado(a) e presente no
exercício, imagine que você está andando em um túnel, um túnel mágico que tem a capacidade de fazer você voltar no tempo. Ande no
túnel e vá passando aos poucos pelas fases de adulto, jovem, adolescente e criança até chegar à primeira casa em que você se recorda
ter morado.
Quando chegar, perceba a idade que você tem. Olhe para a frente da sua casa. Pare diante da porta de entrada. Como é essa
porta? Abra a porta e entre. Em que parte da casa você está? Como é esse cômodo? Que lembranças traz?
Ande pela casa e passe em cada cômodo, fazendo as mesmas observações. Sinta o cheiro, perceba as cores, olhe o mobiliário,
toque em tudo e se lembre. Deixe-se viajar pela primeira casa onde você percebeu que estava presente conscientemente neste mundo.
Boa viagem!
BOX 3
A CASA DA MINHA AVÓ
De todas as recordações das casas da minha infância, as da casa da minha avó são aquelas que mais me impressionam. Minhas
memórias me levam a uma casa absolutamente diferente das demais que eu conhecia até então. A casa dela me fascinava.
A começar pela porta de entrada, diretamente na calçada, e logo após um imenso corredor, do qual recordo até do som que o piso
de tábua emitia conforme se caminhava sobre ele. A longa passadeira de linóleo, toda desenhada com bordas de flores, em cujo centro
havia rosas de todos os tons de cor-de-rosa, nos levava até as salas, passando pelas altíssimas portas, que se abriam em duas. Então
havia dois quartos à esquerda.
Os quartos, que de noite me davam um certo medo, tinham uma altura incrível, de mais ou menos quatro metros. Para uma criança,
pareciam chegar aos céus. Eram quartos enormes, com várias camas, cômodas, penteadeiras e guarda-roupas, em cujas portas havia
um espelho oval.
O mais incrível eram as janelas do primeiro quarto, que davam para a rua; de tão altas, só era possível abri-las e olhar para fora
caso você subisse em uma escadinha de madeira que se mantinha ali ao lado já para essa finalidade!
As paredes de todos os cômodos eram desenhadas, e na época eu não entendia como eram feitas. Eu não conhecia o processo de
rolo que pintava flores, frutas e arabescos. De todos os cômodos, eu gostava mais da sala de jantar e do living, que tinham um grande
barrado desses arabescos que ia do piso até certa altura da parede e se transformavam em uma inusitada mistura de frutas, tais como
peras, maçãs e uvas, que desciam do teto formando uma composição em tons de verde, amarelo e rosa, bem suaves e envelhecidos. Era
linda!
A mesa de refeições era quadrada e ficava bem no centro da sala. Junto às paredes da sala tinha vários móveis, um grande buffet,
uma cristaleira, um aparador, um sofá com poltronas e em um canto uma cadeira de balanço onde ninguém se sentava.
A cozinha tinha um fogão a lenha que se acendia logo cedo para fazer o café da manhã, e ali já estava o caldeirão de feijão que
ficaria horas até cozinhá-lo. Essa cozinha tinha muitos cheiros de comida gostosa e lenha queimando.
Depois da cozinha vinha o quartão, assim chamado porque se chegava a ele por uma pequena escada. Era o maior quarto da casa.
Lá havia camas, armários, penteadeiras, estantes e um emaranhado de coisas que se apoiavam em mesinhas, escrivaninhas, cadeiras,
parecendo uma loja. Eu adorava dormir nesse quarto, sentia-me como em um filme.
Minha avó tinha lindos vestidos, bijuterias e até luvas e chapéus, um mais encantador que o outro. Eu amava vestir e desfilar pela
casa com as roupas e os acessórios, sentia-me uma princesa. Isso só acontecia quando minha vó estava de bom humor; caso contrário,
eu não podia sequer chegar perto dos seus objetos.
Ah, o quintal... Eu amava o pé de jabuticaba, cujas frutinhas pretas, bem docinhas e grudadinhas nos galhos e troncos, eram
facilmente colhidas e devoradas. Tantas flores havia ali! Margaridas, rosas e muitas outras mais, que eu não conhecia. Elas eram colhidas
para enfeitar meu cantinho no porão, onde eu brincava de casinha com as bonecas e passava horas falando com as amiguinhas
imaginárias que sempre iam me visitar.
Esses encontros eram interrompidos pelo chamado para os lanches, que eram adoráveis: sanduíche de mortadela com Tubaína, por
exemplo. Você não sabe do que se trata? Sinto muito, essa é uma das coisas boas da vida!

Maria do Carmo Brandini


CAPÍTULO 2
As casas vão muito além de paredes e mobiliários, elas abrigam diversos aspectos da vida do homem:
como recebe, como repousa e como se alimenta. A vida íntima e a social interligadas constroem pontes
entre o mundo interno e externo.
Recepcionar pessoas é um ato de carinho...
Várias áreas – Leitura simbólica

A casa, lugar em que podemos nos sentir livres para projetar as nossas emoções, sentimentos,
conveniências e necessidades, pode ser dividida em duas áreas primordiais: íntima e social.
As áreas sociais são aquelas onde normalmente recebemos as pessoas que vêm de fora, que
não residem na casa. Por isso, essas áreas são a ponte entre o mundo interno da casa e o mundo
externo. Normalmente são lugares aos quais dedicamos muita atenção, pois são neles que mostramos
nossas conquistas, valores, cultura e poder.
Nas áreas sociais colocamos o melhor mobiliário, quadros, objetos e tapetes com o objetivo de
proporcionar aos nossos visitantes sensações agradáveis e prazerosas porque todos nós, seres
humanos, temos uma necessidade que precisa ser preenchida, de causar uma boa impressão, afirmar
uma imagem social e mostrar as conquistas culturais, econômicas e pessoais que obtivemos.
O conceito de “receber bem” é muito pessoal, já que cada pessoa se mostra de uma maneira
única e particular.
Recepcionar pessoas é um ato de carinho, até em uma casa muito simples podemos ter atenção
na forma como vamos nos preparar para receber. A melhor toalha, o melhor copo ou a melhor xícara de
café vão expressar as nossas conquistas.
As áreas sociais abrangem atividades de lazer e alimentação, e os espaços que ocupam
genericamente são: living ou sala de estar, sala de jantar, copa, cozinha e outros mais atuais, como
home theater e espaços gourmet, localizados nas varandas, caso se trate de um apartamento.
As áreas íntimas englobam o repouso e a higiene. Os espaços reservados para isso são os
dormitórios e os banheiros, que pertencem ao núcleo familiar ou a algumas poucas pessoas
escolhidas. Estas áreas estão ligadas ao repouso, ao relaxamento, à higiene e devem ser muito
respeitadas.
O simbolismo de cada área da casa

Living – A ponte entre o mundo interno e o externo

O atual living ou sala de estar era a antiga sala de visitas da casa, cujo objetivo principal era
proporcionar conforto e aconchego para as visitas. Era um local para receber e conversar.
A sala de visitas era reservada principalmente para estas, não era um espaço utilizado
cotidianamente pelos moradores da casa. O intuito era o de preservar os móveis, os tapetes e os
demais objetos para causar boa impressão aos visitantes.
Com o surgimento da televisão, houve uma alteração nesse conceito, os aparelhos de televisão
frequentemente ficavam nas salas e as famílias passaram a utilizá-las também para o entretenimento
familiar.
O living é o lugar que registra a primeira impressão da casa, causa um impacto que ficará
registrado na mente do visitante, gerando um julgamento sobre esse espaço, agradável, desagradável,
aconchegante, impessoal, alegre, triste...
Portanto, é muito natural colocarmos aí os melhores móveis, objetos, tapetes, quadros e tudo
mais que proporcione ao visitante um clima de respeito, carinho, dedicação, como também expresse as
preferências, as posses, os valores da família e sua história.

Sala de jantar – A vitrine de importantes costumes


Depois do living, a sala de jantar é o lugar de maior importância social em uma casa, onde
recebemos os convidados para compartilhar a nossa mesa. É o local mais formal, por mais informal
que seja o mobiliário, é nesse espaço que conservamos certos padrões de educação, postura e
comportamento.
No entanto, a sala de jantar significa muito mais que o ato de compartilhar o alimento; nela
compartilhamos afetos e fortalecemos nossas relações pessoais.
A peça principal do mobiliário é a mesa de jantar, que, de tão importante, merecerá um olhar mais
detalhado. Desde o velho testamento há relatos de ocasiões importantes em que o encontro à mesa
resultou não apenas no partilhar do pão, mas também na transmissão de doutrinas, valores, ideais e
posturas de vida.
O face a face proporcionado pelo sentar-se à mesa ajuda na organização social, na imposição de
limites e no enriquecimento das relações interpessoais e do vocabulário.

Cozinha – A base da vida

A fundamental importância da cozinha está diretamente ligada à preparação dos alimentos que
são a base da vida do corpo e da alma. O ator principal da cozinha é o fogão, pois é nele que
produzimos a alquimia dos ingredientes que se transformarão em pratos gostosos e apetitosos e que
fornecerão energia vital para o corpo, que com isso poderá ter força suficiente para buscar uma vida
mais feliz.
Em seguida vem a pia, que é o local da água, o coadjuvante, pois auxilia no preparo do alimento e
também na higiene, no cuidado com a limpeza e na proteção da saúde.
Depois vêm os locais de armazenamento, que necessitam salubridade, organização e também
higiene. Assim como os utensílios que vão fazer parte de toda essa orquestra.
Em muitas casas a cozinha é a área de encontro e convivência para as pessoas mais íntimas,
amigos próximos e parentes, uma releitura das cozinhas de antigamente, onde todos se reuniam para
comer e conversar.
Historicamente a cozinha era a área dominada pela mulher, que, entre outras funções, preparava
os alimentos. Dificilmente os homens frequentavam esse espaço para o trabalho. Com a
profissionalização da mulher, o espaço da cozinha passou a ser dividido com o homem, o que gerou
modificações estruturais nos hábitos do seu uso. Para a mulher, o significado da cozinha ainda é o
afetivo, ou seja, de alimentar a família. É o cuidar, o zelar pela manutenção da saúde de seus
membros. Para o homem, a cozinha é um espaço social ligado à alimentação, geralmente ele cozinha
para receber amigos e promover encontros sociais.
BOX 4
COMO O HOMEM FOI CONQUISTANDO O SEU ESPAÇO NA CASA
Por muito tempo a mulher foi a “dona da casa”. Para o homem sobravam o banheiro e o dormitório, ou seja, o seu lado da cama e
um pedaço do armário. Quando muito, ele tinha um escritório. A mulher era a rainha soberana, cuidava dos filhos, da manutenção, das
instalações e do conforto doméstico, ficando com toda a responsabilidade, inclusive sobre os gastos da casa. Com a necessária ida da
mulher para o mundo profissional, de uma forma bem lenta, as inúmeras tarefas relativas ao lar começaram a ser divididas com o homem
em um processo difícil que até hoje continua a ser ajustado, proporcionando maior proximidade do homem com a casa.
Por volta dos anos 1980, um novo ambiente começou a surgir na casa como um reduto masculino: o bar doméstico. Nesse espaço
os homens preparavam as bebidas e conversavam com os amigos, espaço que era organizado da forma que entendiam ser melhor para
eles. A mulher não palpitava ali.
A partir disso, o homem começou a gostar de participar da casa, e essa participação evoluiu para a cozinha, influenciando na
mudança do aspecto dela. A churrasqueira, que já fazia parte do domínio masculino, migrou da área externa da casa para as varandas
dos apartamentos, passando a integrar as “áreas gourmets”.
Atualmente o papel masculino dentro do espaço doméstico ainda vem atrelado ao social, pois todas as conquistas têm em vista
receber convidados, amigos e parentes.
Dormitórios – Recanto de aconchego e paz

O quarto é o único local onde nós ficamos desarmados emocionalmente. Quando vamos para a
cama, relaxamos gradativamente, deixando as coisas de fora se distanciarem e entrando no mundo
pessoal e íntimo do repouso.
O dormitório é a segunda área mais íntima da casa, sendo que a primeira é o banheiro. Ele está
ligado ao momento de intimidade pessoal ou intimidade do casal.
Entre seus significados estão o de relaxamento, reabastecimento de energia e proteção. No
dormitório nós nos sentimos protegidos das ameaças externas. Como é um local de descanso, ali só
adentram as pessoas pelas quais nutrimos afeto e pelas quais nos sentimos queridos, não ameaçados.
Não convidamos para entrar em nosso quarto qualquer pessoa, muito menos para compartilhar a nossa
cama.
A cama é um espaço que domina o quarto, e o significado dela é tão importante que impõe ao
dormitório um nível de respeito diferenciado das demais áreas da casa. Nossa cama guarda o nosso
cheiro, a nossa energia tão profundamente pessoal que apenas dividimos com aqueles muito próximos,
tais como filhos e companheiros.

Banheiro – Um ambiente sem máscaras

Mesmo hoje, com a internet, a TV e o celular invadindo esse espaço, o banheiro continua sendo a
área mais íntima da casa. É o espaço onde podemos tirar nossas máscaras, porque estamos sozinhos.
Nele ninguém vai entrar de surpresa, a não ser por urgência ou quando permitimos.
Nesse espaço, além da satisfação das necessidades fisiológicas e de higiene, podemos pensar,
sonhar, descansar, relaxar e fugir de todas as exigências que o mundo moderno nos impõe. Tais
solicitações nos levaram a ampliar o conceito de banheiro, além de ser o local de higiene pessoal
passou a ser também um espaço de recolhimento, privacidade e tranquilidade.
As casas antigas só tinham um banheiro; os demais foram surgindo ao longo do tempo. Quanto
mais as pressões externas sobre as pessoas aumentaram, mais cresceram também as necessidades
de conforto e relaxamento. O banheiro é uma área em que a pessoa presenteia a si mesma com um
agradável banho solitário ou a dois em um momento de sensualidade e prazer muito íntimo.
Casa saudável x casa doente

Todas as áreas da casa possuem uma linguagem própria de formas, cores e texturas que são
adequadas a cada função. Por isso, transformam-se no que chamamos de ambientes. No conjunto de
ambientes que compõem a casa, temos aspectos saudáveis e aspectos doentes.
A casa saudável possui basicamente elementos de:

• Conforto térmico e acústico.


• Boa ventilação natural ou mecânica, se necessário.
• Bom aproveitamento da luz natural e adequado projeto de luz artificial.
• Amplos espaços de circulação.
• Mobiliário adequado às necessidades dos moradores e ergonomia relativa a eles, acarretando
conforto e eficiência.
• Composição harmoniosa e criativa dos elementos internos, incluindo uma adequada composição
de cores.
• Sensação geral de aconchego.
• Acolhimento dos papéis que o indivíduo cumpre na sociedade.

A casa doente:

• Espaços insalubres: infiltrações, umidade, mofo.


• Luz natural mal aproveitada.
• Falta de ergonomia − medidas funcionais mal adaptadas.
• Má composição do espaço, acarretando mobiliário de proporções inadequadas.
• Falta de espaços de circulação.
• Desarmonia de volumes e formas.
• Acúmulo dos complementos de decoração (quadros, tapetes, objetos, etc.).

Qualquer profissional experiente, ao entrar numa casa, sabe decodificar aquilo que seus
moradores estão necessitando. As correções desses problemas de base são de vital importância para
a saúde da casa e consequentemente para seus moradores.
BOX 5
FENG SHUI
FERRAMENTA DE AUTOCONHECIMENTO!
O Feng Shui é um processo que atua no local mais importante para nós, ou seja, a nossa casa. Através de uma linguagem de
símbolos e metáforas, o Feng Shui nos conduz a conhecer e aprofundar a maneira pela qual nos relacionamos com o Universo. É desta
forma que chegamos ao conceito de que “a casa é viva”. Por quê? Porque as energias que circulam ali estão em constante movimento.
Através de elementos que nos representam nas diferentes áreas de nossas vidas, vamos colocando para fora o mundo que
escondemos, protegemos e que muitas vezes preferimos não enfrentar.
O consultor de Feng Shui dará início e conduzirá o processo, e assim os mistérios virão à tona, pois, ao movimentar as energias
externas que nos cercam, consequentemente movimentaremos as nossas energias internas, criando assim uma cadeia de sensações e
percepções que nos ligam de maneira peculiar e exclusiva ao mundo que nos cerca. O simbólico disso tudo, ativado pelo Feng Shui, se
distribui pelo espaço da casa, através dos objetos, localização de móveis, cores, texturas, luzes, elementos da natureza e tudo aquilo que
nos representa e que tem significado para nós. Por exemplo: o que ou qual objeto representa o amor para você? Qual a cor, a textura, o
odor que representam o amor?
Ao aplicar esses questionamentos que nos levam a profundas reflexões, chegamos à cura de qualquer área da vida que esteja com
problema. A energia circulando livremente no espaço é a ferramenta necessária para essa cura. O Feng Shui nos proporciona essa
ferramenta.
Por isso, aproprie-se do seu espaço com alegria, força, encantamento e vá distribuindo metáforas energéticas por todos os cantos
de sua casa e de sua vida. Tem muita coisa boa esperando no fim deste processo!

Exercício
Escolha um ambiente que incomoda você. Olhe bem para ele. Fotografe.
Analise e veja o que a sua intuição pede para mudar.
Faça as mudanças que sentir necessidade de fazer. Mude móveis e objetos de lugar, coloque ou retire enfeites, quadros, etc.
Organize o espaço de acordo com a sua necessidade intuitiva. Quando sentir que completou, fotografe novamente e compare as
fotos. Caso ainda não esteja bom, continue as mudanças até sentir que esse ambiente está em harmonia com o seu EU INTERIOR.
CAPÍTULO 3
Quanto melhor o homem desempenhar a sua profissão, mais ele sentirá orgulho de si mesmo. A
autoestima está ligada à responsabilidade, competência, confiabilidade e ética. Sem esses valores o
homem não passa de uma caricatura de Ser Humano.
A responsabilidade é uma característica que envolve compromisso...
A importância do papel profissional

O papel profissional é a junção do acervo de conhecimentos específicos e técnicos de um


determinado assunto, além das vivências e experiências adquiridas. Inclui a formação do profissional,
mas também tudo aquilo que antecedeu e sucedeu a sua entrada na profissão.
O papel profissional é apenas um dos muitos papéis que uma pessoa desenvolve durante a vida.
Quanto mais papéis uma pessoa possui, maior, mais rica e mais variada será a sua vida. E quanto mais
desenvolvidos forem esses papéis, maior será a espontaneidade e a criatividade com que uma pessoa
desempenhará suas funções.
O desenvolvimento de um papel depende do tempo em que é exercido, do envolvimento que se
tem com ele, do aprendizado adquirido, do treinamento para aquela função e das características
pessoais do profissional. Vamos pensar no papel de uma mãe, por exemplo. Com o seu primeiro filho, a
mãe vai precisar aprender os cuidados para com o bebê, formas de alimentação, maneiras de educar,
etc. Caso chegue a uma terceira gravidez, ela será uma mãe muito mais experiente, tranquila, segura e
prática, porque obviamente seu papel de mãe estará muito mais desenvolvido.
Na profissão é a mesma coisa: quanto mais jovem, mais inseguro e inexperiente está o
profissional, maior sua necessidade de treinamento e aprendizado com outros profissionais mais
experientes.
O papel profissional do designer de interiores, arquitetos e decoradores engloba definir, organizar
e estabelecer as regras de funcionamento das relações profissional/cliente, profissional/fornecedores e
profissional/parceiros. A qualidade de funcionamento dessas relações ditará o resultado final do
trabalho.
BOX 6
TUDO POR UM SOFÁ
Alguns anos atrás eu vivi um episódio bastante interessante e muito ilustrativo para o texto anterior, exemplo real de tudo que
estamos discutindo aqui.
Fui chamada por uma cliente que havia comprado um apartamento que classificou como “apartamento dos meus sonhos”. Cento e
cinquenta metros quadrados, três dormitórios, bem maior do que a casa simples onde a família vivia até então.
Desde o primeiro contato ela me disse que discutiríamos todas as minhas propostas, menos uma: a sala de televisão. Esta ela já
sabia como seria. Contou-me que assistia a uma novela de grande sucesso na época, cujo cenário tinha exatamente a sala que ela
sonhou! Lá fui eu dar uma olhada para saber exatamente o que tinha impressionado tanto minha cliente. Logo descobri qual era o cenário
que ela tinha descrito com tantos detalhes. A sala tinha um imenso sofá em formato de L e com o canto arredondado.
Até aí tudo bem. O que mais me preocupou foi o fato de o tecido do revestimento do sofá ser de cetim preto brilhante, com uma
composição de almofadas com tecido dourado e prateado também brilhante.
Bem, confesso que fiquei meio confusa. Para completar, o aparelho de TV estava embutido em um móvel horroroso, revestido com
laminado preto e com faixas de aço escovado, muito usado na época.
Meus argumentos de que tudo aquilo do cenário da novela tinha um sentido e um determinado aspecto, e que na sala dela teriam
outros (visualmente pesado, etc. etc.) não surtiu nenhum efeito. Ela queria e pronto!
Bem, como comportar-me em um momento desses? Acredito que sonhos, necessidades e vontades das pessoas estão acima de
qualquer discussão. Adotei, então, a seguinte postura:

• Achar as proporções ideais entre o espaço e o mobiliário.


• Minimizar os contrastes de cor. No caso, o sofá preto ficou mais suave em contraste com paredes num determinado tom de bege.
• Usar um tecido fosco no sofá para não “brigar” com o brilho das almofadas.
• Procurar almofadas confeccionadas de tamanhos e formas diferentes e bem menores que as do referido ambiente.

Por último, o móvel da TV recebeu um laqueado acetinado e um design bem leve, com finas tiras de aço escovado no fundo que
criavam uma textura interessante. A iluminação suave e adequada para uma sala de TV ajudou muito a compor um clima de equilíbrio.
A cliente adorou!
Porém, uma estagiária do meu escritório perguntou como eu me sentia assinando um trabalho que ela considerava “fora de qualquer
contexto”. Espantou-se com a minha tranquilidade quando eu respondi que tinha cumprido com êxito meu papel, pois, segundo minha
cliente, ela estava muito feliz com o resultado do trabalho.
Essa mesma cliente me chamou novamente poucos anos depois. Ela tinha comprado um apartamento triplex de cobertura! Tomei os
mesmos cuidados e tratei o seu projeto com o mesmo respeito com que tratei o anterior.
Da casinha simples ao triplex tinha se passado pouco tempo, tempo suficiente para o sucesso econômico que ela vivenciava, mas
pouco tempo para o salto cultural que era necessário para evitar que a cliente fosse influenciada pelas novelas ou modismos da época.
Mesmo assim, conseguimos, novamente, o resultado que a deixou muito feliz. E eu assinei com toda tranquilidade!
Relação profissional x cliente

O sucesso de qualquer trabalho que envolva duas ou mais pessoas começa e depende da
relação estabelecida entre elas. Uma relação bem definida evita uma série de ocorrências desastrosas
no decorrer do tempo.
É o profissional que comanda essa relação, cabe a ele organizar, definir e estabelecer as regras
de seu funcionamento. O vínculo de confiança entre cliente/profissional dependerá de todos esses
fatores, isto é, da postura do profissional. Ter isso claro proporcionará que, já no primeiro contato, o
profissional inicie a construção dos alicerces que sustentarão o desenvolvimento de um bom trabalho.
Para construir uma boa relação profissional, é necessário observar alguns fatores:

Confiabilidade

Seja qual for o modelo de relação pessoal ou profissional, a confiança é, em nossa concepção,
primordial. O que define a confiabilidade é a coerência entre o que a pessoa pensa, sente, diz e faz e a
sua estabilidade emocional.
Se o profissional fala de forma brilhante sobre o seu trabalho e suas ações não condizem com o
que é falado, fatalmente ele não passará uma imagem confiável. Se por medo de perder o cliente o
profissional fizer promessas absurdas e assumir compromissos que não poderão ser cumpridos,
causará inúmeros problemas e culminará na quebra do vínculo de confiança dessa relação com o
cliente.
Não há mentira que dure para sempre!
Se você quiser ser confiável, pense antes de dizer sim e só assuma aquilo que você sabe fazer e
pode cumprir. Não faça falsas promessas e não tente iludir seu cliente. Além disso, ninguém pode
confiar em uma pessoa que se apresente emocionalmente instável. Portanto, as variações de humor e
de comportamento geram insegurança e põem em dúvida a confiabilidade do profissional.

Responsabilidade

Respondere, termo de origem latina, significa responder pelos próprios atos ou ainda por uma
coisa que lhe foi confiada. Representa o dever de cada indivíduo de assumir as consequências de seu
comportamento.
Todo mundo sabe que construir uma boa imagem leva tempo, mas para destruí-la é muito fácil:
basta ser irresponsável. A responsabilidade é uma característica que envolve compromisso, seriedade,
disciplina, atenção, foco, dedicação e “vestir a camisa”, ou seja, fazer pelo outro tudo aquilo que faria
para si mesmo.

Competência

Competere, termo de origem latina, significa uma aptidão para cumprir uma tarefa ou uma função.
Competência e habilidade são dois conceitos que estão relacionados. Habilidade é conseguir pôr em
prática as teorias e os conceitos que foram adquiridos, enquanto a competência é mais ampla e
consiste na junção e na coordenação de conhecimentos, atitudes e habilidades.
Competência também engloba atitude, mas não se restringe somente a ela, pois pressupõe uma
ação adequada e não somente uma ação. Podemos entendê-la por meio de três critérios:

• Saber conceitualmente: ter o conhecimento.


• Saber fazer: ter a habilidade.
• Saber agir: ter a atitude.
A competência é a qualidade de ser adequado e bem qualificado, física e intelectualmente, frente
a desafios. É a capacidade de tomar decisões coerentes e necessárias para a realização de tarefas.

Ética

Palavra derivada do grego ethos, que significa “o que diz respeito aos costumes e hábitos dos
homens”. É tudo aquilo que pertence ao caráter e é associado aos valores morais que orientam o
comportamento humano em sociedade.
Ética e moral, embora tenham sentidos diferenciados entre si, são originárias da mesma ideia e
conceito. O sentido prático, tanto da ética quanto da moral, é semelhante. São ambos responsáveis por
construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, suas virtudes, e por
ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.
A nosso ver, o profissional ético/moral é aquele que, na relação com o seu cliente, fornecedor ou
parceiro, é transparente, sincero e respeitoso, colocando o dever profissional acima de suas
conveniências pessoais.
“Não existe uma maneira certa de fazer uma coisa errada!”
Conceito de agradável e desagradável x bonito e feio

Tudo em uma casa ou ambiente que está fora de lugar ou em desarmonia com o Universo
provoca uma sensação desagradável. O impacto que um local nos causa é captado pelos nossos cinco
sentidos, que são bem treinados desde nosso nascimento, e também por outros mais sutis, como pela
percepção, sensação e intuição.
A percepção é uma função cerebral que interpreta estímulos que nos chegam através dos
sentidos visual, auditivo, olfativo, gustativo e tátil. Pode-se dizer que é uma função que atribui
significados a esses estímulos.
A sensação também é provocada por estímulos externos, por exemplo, “estou com a sensação de
que algo vai ocorrer”. As sensações muitas vezes precisam da ajuda da percepção para decodificar
esses estímulos. Elas variam muito de pessoa para pessoa, como a sensação térmica, por exemplo.
Quanto à intuição, parece estar ligada a um pressentimento ou presságio, é uma forma de
conhecimento que temos sobre tudo o que nos rodeia, captados sem o auxílio do raciocínio. É uma
ideia súbita, uma visão, uma inspiração.
Todos esses registros chegam ao nosso cérebro através dos canais acima mencionados e nos
auxiliam nas decodificações das sensações de agradável e desagradável.
No ambiente, o que nos provoca tais sensações é um conjunto de elementos como as formas,
cores, luzes, sombras, texturas, etc. Esses elementos, estando harmoniosamente compostos no
ambiente, proporcionam sensações agradáveis e que nos levarão a um estado de bem-estar e
integração com o ambiente.
Mesmo que nesse conjunto haja um elemento que não faz parte do nosso repertório, ou seja, algo
estranho ao nosso conhecimento, caso ele esteja inserido de maneira harmoniosa, integrada e
equilibrada, esse elemento não incomodará e o conjunto geral será sempre aceito.
Essa é a postura que o profissional precisa entender e adotar, ao contrário do conceito cultural
adquirido de bonito e feio. No decorrer da história esse conceito de bonito e feio nem sempre se
restringiu a valores estéticos, muitas vezes levam-se em conta também valores culturais, políticos e
sociais.
É um conceito subjetivo que não existe na natureza. Esta tem uma ordem de evolução e seus
elementos se adaptaram de acordo com suas próprias necessidades. Por exemplo, o que determina
ser um pássaro mais bonito do que um escorpião? Para o Ocidente o escorpião é considerado
asqueroso e perigoso, no entanto, em determinadas culturas Orientais, o escorpião é um alimento
muito apreciado.
O registro da evolução do belo e do feio nos é relatado principalmente através da arte, conceitos
que podem em determinados momentos da história ser exatamente contrários aos conceitos anteriores.
Por exemplo: se proporções simétricas eram altamente valorizadas na arte clássica, a assimetria e a
desconstrução das figuras passam também a ser representação do belo como Picasso mostrou ao
mundo.
Sendo assim, pode-se entender que aquilo que é considerado belo no nosso país pode ser
considerado feio em algum outro. Portanto, olhar, apreender, decodificar, perceber e sentir um ambiente
significa ter conhecimento, treinamento e vivência.
BOX 7
O CLIENTE GOSTOU DO QUÊ, MESMO?
O cliente veio me procurar porque esteve no consultório de sua psicoterapeuta e ficou encantado. Foi exatamente essa a expressão
que usou.
Para nós, profissionais, o elogio significa muitas coisas: que acertamos no projeto, que conseguimos passar sensações agradáveis e
que o cliente ficou feliz e com isso podemos ganhar mais um trabalho.
Eu sabia pela psicoterapeuta, dona do consultório que eu acabara de entregar, que as pessoas estavam gostando muito do local,
mas essa era a primeira pessoa que me procurava após ver o trabalho.
Perguntei então ao provável cliente o que mais o havia agradado, e ele respondeu: “Tudo! Está lindo, aconchegante e muito chique!”.
Continuei curiosa:
“Gostou da entrada?” (lá tem uma mesa de vidro vermelha).
“Bem, eu não gosto de vidro, e a cor é um pouco cheguei”.
“E o corredor?” (a cor é laranja).
“Não gosto da cor. Eu colocaria algo mais tradicional”.
“A sala dela tem um banheiro dentro, você gostou da solução?” (o banheiro é todo revestido em MDF e integrado à decoração).
“Tem mesmo? Nem vi.”
Bom, você, leitor, deve estar pensando: “Ele gostou de quê?”.
E eu respondo tranquila: é como eu disse antes, ele gostou do conjunto. Algumas coisas ele nunca usaria, mas gostou da sensação,
já que alguns detalhes ele nem viu. O conceito de chique é dele, pois minha cliente jamais me pediu um espaço com tal característica.
CAPÍTULO 4
Sair do quadrado e ter uma visão mais abrangente é cada dia mais necessário neste mundo tão rápido
e estimulante em que vivemos. Todos os humanos trazem consigo a preciosa capacidade da
criatividade.
Criatividade é dar soluções novas para problemas antigos...
Criatividade

“A criatividade é um potencial inerente ao homem, e a realidade desse potencial é uma de suas


necessidades.” (Fayga Ostrower)

Criatividade, portanto, é a capacidade que uma pessoa tem de produzir ideias e/ou encontrar
métodos para executar tarefas de maneira nova ou diferente da habitual com a intenção de satisfazer
um propósito. É reconhecida como a capacidade de dar novas soluções para problemas já existentes
ou soluções para novos problemas.
Criatividade é um potencial inerente a todos os seres humanos, mas sua expressão depende de
algumas condições. As pessoas que expressam maior criatividade possuem algumas características de
personalidade que estimulam essa produção.
Pessoas dotadas de capacidade intuitiva, imaginação, sensibilidade, percepção, entusiasmo,
curiosidade intelectual e confiança em si normalmente são mais criativas.
Hoje sabemos que, na resolução de problemas do dia a dia, a criatividade muitas vezes
ultrapassa a inteligência. Pessoas mais criativas podem sair-se melhor na condução de suas vidas do
que aquelas pessoas muito inteligentes, mas com pouca criatividade. Não é sem propósito que
empresas procuram, para seus quadros de funcionários, pessoas criativas, e o mercado de
desenvolvimento pessoal oferece muitos cursos de expansão da criatividade.
Ter a capacidade de sair do quadrado e ter uma visão mais abrangente é cada dia mais
necessário neste mundo tão rápido e estimulante em que vivemos.
Porém, devemos nos lembrar de que todo potencial tem que ser estimulado para poder fluir com
mais vivacidade. Isso é um alento, porque, mesmo que não nos consideremos muito criativos, temos a
chance de desenvolver esse tesouro dentro de nós. O pensamento criativo produz-se em etapas que,
se seguidas com vontade, vão gerar resultados positivos.
A primeira fase é a da preparação. Para produzir qualquer coisa precisamos de conhecimento.
Essa fase é a de coleta de informações. Ninguém produz com criatividade sem um bom grau de
conhecimento e informação sobre o tema. Debruçar-se sobre a questão, pesquisar e aprender é
fundamental.
A segunda fase é a da incubação. Todas as informações são armazenadas no cérebro para que o
inconsciente processe toda a matéria. É nele que se dá a alquimia do conhecimento, em silêncio e sem
pressão.
A terceira etapa é a da iluminação. Após digerir e processar as informações, vem o insight para
solucionar o problema.
Por último, vem a quarta fase, que é a da verificação. Dar uma forma externa para a ideia criativa.
É a fase da produção, do resultado final.
Portanto, criar parece fazer parte da nossa essência, mas tanto as características pessoais
quanto o meio ambiente em que fomos criados e vivemos vão determinar se expressaremos com maior
ou menor fluidez esse fantástico potencial com que fomos presenteados.
Ter em mente essa possibilidade do ser criativo é importante no sentido em que o Design de
Interiores e Arquitetura são as artes de compor os espaços tridimensionais de moradias.
No entanto, temos de levar em conta que os espaços em que trabalhamos nossa criatividade são
habitados por outros seres criativos, cujas manifestações podem ser incentivadas para que se sintam
participantes do processo. Inúmeras vezes vemos nosso cliente trazer soluções incríveis e que nos
fazem refletir: “Como foi que eu não pensei nisso antes?”.
Acolher a participação do cliente com real alegria e sinceridade transforma o elo de confiança e de
parceria em um relacionamento profissional forte que será lembrado sempre que o cliente necessitar de
um novo trabalho.
BOX 8
COMO É QUE EU NÃO PENSEI NISSO?
Caminhávamos, a cliente e eu, pelas alamedas de expositores de cerâmicas, azulejos, pastilhas, etc. que compõem as grandes lojas
de acabamentos e revestimentos. Eu fui por um lado, ela foi por outro, e o vendedor atrás de nós. Procurávamos o piso mais adequado
para o seu apartamento.
O vendedor, atento e solícito, carregava as peças escolhidas e as colocava numa grande mesa em um canto da loja. Nós olhávamos
as possibilidades e voltávamos para procurar outras dentro das inúmeras.
Eu comentava com ela que quando comecei a trabalhar eram tão poucas opções que ficava bem mais fácil encontrar soluções.
Estávamos procurando um piso claro e em tom neutro, como ela mesma tinha manifestado gostar.
A minha surpresa foi quando a cliente voltou com o vendedor carregando uma peça em tons de azul e verde e desenhos
geométricos bem bonitos. Meu olhar já fez a pergunta, e ela prontamente respondeu: “Que tal colocarmos este no tampo do balcão que
separa a cozinha da sala?”.
Eu desenhara o balcão, mas nem por um minuto pensei em um revestimento com esses tons e desenhos. Eu já podia imaginar
como ficaria inusitado o resultado com a sugestão dela. Adorei!
No dia seguinte liguei para dizer que tinha ficado bem contente com a ideia dela. E, para a minha surpresa, ela se mostrou
emocionada com o meu elogio.
A cliente demonstrou sua alegria de estar contribuindo para a criação do seu próprio espaço, e eu pude constatar como um pequeno
acontecimento pode ter uma grande importância.

Exercício de criatividade

Ligar os 9 pontos
Ligue os 9 pontos com quatro linhas contínuas sem levantar o lápis do papel e passando por todos os pontos. (resposta no final do
livro)
CAPÍTULO 5
Para que a execução de uma tarefa seja bem-sucedida, refletir, planejar e elaborar um projeto é
fundamental. O criador do projeto é o maestro que conduz a orquestra e que vai estimular e conseguir
obter dos seus músicos o melhor resultado.
O primeiro contato é fundamental para o início de uma boa relação
profissional...
Fases do projeto

Um bom projeto passa, necessariamente, por duas fases: a primeira é a fase de elaboração e
criação do projeto, que inclui várias subfases; e a segunda é a execução do projeto elaborado, que
também comporta várias subfases. Vamos detalhar cada uma delas:

A) Elaboração do projeto

• Primeiro contato com o cliente.


• Verificação do trabalho.
• Proposta de honorários e explanação do desenrolar do trabalho.
• Levantamento de dados e necessidades – diagnóstico.
• Apresentação do anteprojeto – desenhos e ilustração das propostas.
• Definições e críticas ao anteprojeto.
• Projeto definitivo – desenhos.

B) Execução do projeto

• Escolha de materiais, cores e texturas.


• Pesquisa e levantamento de preços.
• Acompanhamento para as escolhas e compras nas lojas.
• Organização, cronograma e administração da obra.
• Acertos finais.
Fases da elaboração do projeto

Contato inicial com o cliente

O primeiro contato é fundamental para o início de uma boa relação profissional. É nesse contato
que o profissional e o cliente vão ter as primeiras impressões; portanto, todos os cuidados devem ser
tomados.
Nesse encontro serão avaliados vários aspectos que vão gerar ou não a empatia necessária para
o bom andamento do trabalho. Essa avaliação vai desde a maneira de expressar-se, do
comportamento, da simpatia e da aparência física até a estabilidade emocional.
O designer deve lembrar-se de que nesse momento o cliente estará formando a imagem dele
como profissional. Sendo assim, boa apresentação e organização do material que descreva o seu
trabalho são muito importantes, como um cartão-pessoal, um portfólio ou um currículo resumido, tudo
elaborado com capricho e criatividade.
Muitas pessoas podem pensar que atualmente a forma de vestir-se não é levada em conta. Ledo
engano. Por mais que estejamos no século XXI, a aparência física (roupas, cabelos, unhas, etc.) tem
um papel importante para gerar boas impressões.
Você não sabe como será o seu cliente em potencial, se é arrojado ou formal, jovem ou idoso,
descontraído ou clássico... Enfim, você deverá estar preparado para qualquer tipo de situação. É
necessário, nessa profissão (assim como em tantas outras), estar vestido e penteado de forma que não
agrida nenhum estilo pessoal.
BOX 9
SUSTO DO CLIENTE NUNCA SE ESQUECE
Em uma noite de calor, lá fui eu tomar cerveja com uma amiga querida, que, por sua vez, levou uma amiga dela.
Conversa vai, conversa vem... Em certo momento, a tal amiga me olha e diz: “Você não tinha um escritório aqui na Bela Cintra?” (rua
de São Paulo, no bairro dos Jardins).
“Tinha não, ainda tenho”.
“Chama-se Pronto Socorro de Decoração, não é?”
“Sim, que legal! Você conhece o meu escritório?”
“Não, mas ouvi falar de você. Foi meu antigo patrão que comentou.”
“Que bom! O que foi que ele disse?”
“Bem, ele chegou ao trabalho e falou: ‘Liguei para um tal Pronto Socorro de Decoração e me mandaram uma maluca, com o cabelo
loiro enoooorme, uma saia transparente com um buraco na perna e uma blusa amarrada na cintura, mostrando uma faixa da barriga. Você
acha que alguém vai contratar uma profissional que se veste assim?”
Muita risada!
Nada mais inadequado, não acham?
Hoje tenho minha roupinha de primeira visita. Só depois eu visto minhas saias que faltam pedaços! Ah, meu cabelo ainda é loiro,
mas não tão enorme como eu gostaria.
Verificação do trabalho

É nesta etapa que o profissional vai ouvir com toda a atenção as primeiras necessidades do
cliente, ou seja, para o que foi realmente chamado. É necessário que nessa fase você saiba perguntar,
e não questionar, a respeito do trabalho.
Perguntar é se interessar, querer conhecer para entender as necessidades e os desejos do
cliente. Questionar é dar opiniões e levantar dúvidas a respeito dos pedidos e necessidades do outro.
Não tente aumentar as necessidades do cliente, isto é, atenha-se ao que ele está pedindo, seja ético e
discreto.
Lembre-se de que você estará iniciando um processo. Não queira apressar o rio; deixe que ele
corra naturalmente.
Esse contato não é para julgar nem avaliar, mas sim para conhecer seu possível cliente e
entender como você, profissional, pode ajudá-lo.
É recomendado, para que você não perca seu tempo e tampouco o cliente o dele, que você
esclareça como é a sua forma de trabalho, como costuma cobrar (projeto, administração, consulta,
etc.). Assim, caso o cliente concorde com seus honorários, você poderá então elaborar uma proposta
escrita, com a descrição do que foi combinado verbalmente e com os honorários e formas de
pagamento detalhados.
BOX 10
É VIVENDO E ESTUDANDO QUE SE APRENDE
Formei-me em Decoração de Interiores (nome dado à profissão na época) na FAAP, em São Paulo, nos anos 1970. Já estava
empregada ao sair da escola. Éramos um grupo de várias decoradoras e fazíamos um rodízio para atender os clientes que procuravam o
escritório.
Eu estava empolgadíssima! Meu primeiro trabalho na profissão e na vida! Prometi a mim mesma que ia dar o melhor de mim para a
profissão que havia escolhido e pela qual acabei me apaixonando. Foi no meio desse entusiasmo que apareceu um casalzinho jovem,
recém-casado, com a planta do novo apartamento nas mãos. Finalmente era a minha vez de atender.
É claro que conversei com eles, mas o que eu sabia mesmo sobre como entrevistar clientes? Muito pouco!
Eu ainda não conhecia a Liz Assunção, profissional que me ensinou muito, porém meu entusiasmo não me deixou diminuir a alegria
do primeiro projeto. Fui para a prancheta com plantas, réguas, canetas (como bem se fazia na época), e de lá saiu um projeto que, a meu
ver, seria muito adequado para um casal jovem e de aparência “moderna”.
No dia da entrega do projeto, eu era a própria imagem da profissional realizada. Mal conseguia esperar as horas passarem até meus
clientes chegarem ao escritório. Recebi o casal na maior alegria: “Água? Café? Vamos nos sentar em uma sala reservada para o nosso
total sossego”.
Conforme eu mostrava e explicava minhas ideias, senti certo clima pesado, um jeito constrangido do casal, certo espanto naquilo
tudo. Terminada a exposição do projeto, perguntei: “Gostaram?”.
“E a minha roda de carroça? Onde vamos colocar?”, a moça perguntou.
“Roda de carroça? Como assim?”
“Eu tenho uma linda e autêntica roda de carroça e quero colocá-la na minha sala. Pode ser um pé de mesa, por exemplo.”
No mesmo instante o marido retruca: “E os meus arreios, selas, minha coleção de chapéus de cowboy? Ponho onde?”
Nem sei dizer qual era a cor das minhas bochechas, mas estavam perto de roxas, certamente! Até hoje eu não sei explicar de onde
apareceram as rodas de carroça, os arreios e as selas. Não sei por que nunca perguntei quais eram as necessidades e os gostos deles. E
nem tive a chance, pois eles sumiram!
Levantamento de dados e necessidades – diagnóstico

A primeira etapa do diagnóstico é a entrevista inicial, momento em que cliente e profissional terão
a possibilidade de se conhecer. É durante essa entrevista que, através de fotos de ambientes e
perguntas, pesquisaremos as preferências do cliente, o que lhe dá a sensação de agradável e
desagradável e quais são suas expectativas quanto ao resultado do trabalho solicitado.
A essa entrevista damos o nome de anamnese.
Para realizá-la é necessário um preparo anterior, fazendo a escolha de todo material que levará à
entrevista (revistas, livros, cores, etc.), que abranjam diversos tipos de trabalhos, do mais informal ao
mais clássico. Assim, terá mais chance de entender as preferências do cliente.
Lembrar-se de que cada pessoa tem uma linguagem própria e que cabe ao profissional entender
o que ela significa, como, por exemplo: se o cliente diz que quer uma casa moderna, é necessário
saber o que é uma casa moderna PARA ELE. É nesse momento que a caixinha de Pandora de revistas
e materiais vai entrar em ação. Expondo várias fotos e solicitando que ele mostre o que entende por
uma casa moderna.
Assim, pouco a pouco, vai se revelando o que se passa na mente e na alma daquela pessoa que
necessita de auxílio na realização dos seus sonhos.
O objetivo final da anamnese é que se conheçam de forma mais clara e segura, os gostos do
cliente, além do padrão de qualidade que ele deseja e o seu estilo de viver. Anotar todas as críticas que
o cliente porventura venha a fazer durante a entrevista e a apresentação de fotos e materiais, como,
por exemplo: “Ih, não gosto de vermelho!”, “Essa parede é muito rústica!” ou “Madeira de demolição é
muito feia!”, é muito importante para não incorrer no erro de apresentar essas propostas.
Nesse primeiro levantamento o profissional não deverá mostrar fotos dos seus trabalhos já
realizados e também é contraproducente manifestar as suas preferências pessoais para não induzir o
cliente, que precisa se sentir livre para expressar as suas preferências.
Esse é o primeiro passo para a realização de um projeto que terá chance de agradar ao cliente.

Modelo de anamnese

1. Você já teve experiências anteriores de construção, reforma ou decoração com o auxílio de um


profissional?
2. Quantas pessoas vivem na casa: adultos, crianças, empregados, animais?
3. Com que frequência recebe visitas? Recebe hóspedes?
4. Quais as atividades extras que ocorrem na casa? Trabalho, por exemplo.
5. Vou mostrar algumas fotos de ambientes e você me dirá o que lhe parece mais agradável ou
desagradável.
6. Nas fotos me diga quais materiais de acabamento mais agradam a você.
7. Áreas sociais e íntimas – seguir este roteiro: piso/paredes/teto.
8. Mostre-me as cores de sua preferência – mostruário de tintas.
9. Qual é o mobiliário básico que você necessita nas áreas sociais e íntimas?

Áreas sociais:
• Living e sala de jantar – assentos, apoios, estantes, etc.
• Cozinha – bancadas, armários, equipamentos.
• Área de serviço – que espaço de armazenamento você precisa? Despensa (armazenamento de
produtos alimentícios), roupas sujas e limpas (como armazenar e cuidar), produtos de limpeza,
equipamentos de limpeza (vassouras, baldes, aspirador de pó, etc.).

Áreas íntimas:
• Dormitórios – armários, camas, apoios;
• Banheiros – louças, metais, bancadas, armários.
•Acabamento do mobiliário – madeiras, revestimentos, pintura, etc.
BOX 11
PROFISSIONAL SABE TUDO X CLIENTE SABE NADA
O “profissional sabe tudo” é aquele que trata o espaço do outro como se fosse seu. Não ouve os clientes, não pesquisa seus desejos
e não se importa com o que é bom para ele.
O seu olhar está totalmente voltado para o enaltecimento do seu próprio ego, ou seja, ele vai fazer para o cliente tudo aquilo que ele
acredita ser mais adequado, o melhor e o mais bonito, não se incomodando com os sentimentos que causará ao outro, se serão de
alegria e contentamento ou de tristeza e frustração.
O “cliente sabe nada” é aquele que tem pouca relação com o espaço onde vive e não tem muito interesse pelo assunto. Não
desenvolveu nenhum conhecimento de si, tampouco a percepção das próprias necessidades. Portanto, é aquele cliente que não tem ideia
do que quer e do que gosta para sua casa e muitas vezes para a sua própria vida.
A relação que se estabelece entre o “profissional sabe tudo” e o “cliente sabe nada” é autoritária, em que o profissional manda e o
cliente aceita.

Qual é o resultado desse trabalho?


Anteprojeto e projeto definitivo

O que é um anteprojeto? É a tradução gráfica de todas as necessidades, desejos e expectativas


do cliente que foram levantadas na fase do diagnóstico. Nesse momento aparecerá o bom ou o mau
resultado do trabalho feito anteriormente.
Se o anteprojeto atender, na sua maior parte, as expectativas do cliente, quer dizer que você
entendeu, organizou e criou sobre a proposta dele.
Para essa fase, achamos importante sugerir alguns lembretes:

• É fundamental para o bom desempenho do profissional que ele esteja verdadeiramente aberto
às críticas e sugestões, pois é por meio delas que o cliente, com todo o direito, expressa suas opiniões
e sua criatividade. Se o profissional estiver hermético, receberá as críticas ou sugestões como forma de
ataque ao seu trabalho e à sua criatividade. Nesse caso isso não é verdade, pois o cliente estará
somente expressando seus desejos.
• Também é função do profissional estimular a participação do cliente na confecção do projeto
para que ele crie vínculos com o resultado do trabalho. Assim, ele se sentirá valorizado e participante.
É nesse momento que ele está começando a ver concretamente alguma coisa daquilo que o
profissional propôs.
• É importante mudar o anteprojeto quantas vezes forem necessárias até que ele agrade
plenamente ao cliente. O profissional deverá fazer as modificações com boa vontade e sem frustração,
entendendo que no papel tudo é mais fácil de mudar. Mudanças significam amadurecimento dentro de
um processo, visando um bom resultado.
• O somatório de todo esse caminho será um projeto definitivo, bem elaborado e que atenderá
plenamente aos desejos do cliente.

Onde entra a arte do profissional? Em dar forma de maneira criativa e harmoniosa aos desejos do
seu cliente!
BOX 12
BALDE DE ÁGUA FRIA!
Nem sempre os clientes se comportam com elegância e respeito para com o profissional. Muitas vezes este é chamado, faz mais de
um contato com o cliente, faz orçamentos, propostas, e o cliente some! Não dá retorno algum nem agradece a atenção. Isso é muito
frustrante.
O profissional é uma pessoa com sentimentos e expectativas, que se empenhou, dedicou seu tempo, sua energia e seu
conhecimento a atender às necessidades daquele chamado. Merece um retorno, mesmo que seja negativo.
É comum hoje em dia as pessoas não se preocuparem em se colocar no lugar do outro para perceberem o que ele sente. Vivemos
num mundo egoísta, cada um pensando mais em si mesmo e não parando muito para pensar em quais sentimentos suas atitudes
provocarão na outra parte.
Infelizmente, dentro desta profissão pode-se passar algumas vezes por isso. Nesse caso, mesmo que o cliente não tenha uma
atitude adequada, cabe ao profissional tê-la. Ele tem o direito de enviar um e-mail delicado ao cliente, solicitando uma resposta.
O desrespeito causa raiva. Então é sempre bom conscientizar-se dos seus sentimentos e deixar o tempo passar para acalmar a
mente até ter condições de fazer um contato respeitoso com o inadequado cliente.
Execução do projeto

Todo o caminho construído pelo profissional e o cliente na primeira fase, ou seja, na elaboração
do projeto, terá agora uma sequência muito rica e interessante: a fase de execução do projeto.
O que significa isso? Significa transformar em realidade tudo aquilo que foi projetado no papel, dar
forma concreta e fazer aparecer a proposta elaborada. É uma fase muito importante e delicada que
exige comprometimento e experiência profissional.
Sabemos que existem profissionais que só fazem uma das fases de um projeto: elaboração ou
execução. Ao nosso entender isso não é aplicável, pois acreditamos que o profissional, para chegar ao
resultado final, passou por várias etapas, incluindo conhecer a linguagem, as preferências e as
características pessoais do seu cliente.
Transferir a execução de um projeto para outro profissional interrompe o fluxo de entendimento,
que é muito maior do que aquilo que está retratado graficamente no papel. O profissional que fez o
projeto e o cliente já possuem um vínculo de confiança, um envolvimento, um conhecimento mútuo que
vai ser refletido no bom andamento da obra.
A execução do projeto divide-se em várias fases:

• Definição de materiais de acabamento e revestimento.


• Projeto do mobiliário: detalhamento e acabamento.
• Pesquisa e levantamento de preços.

Obs.: nessa fase os sonhos podem tornar-se pesadelo. É aqui que a realidade econômico-
financeira vai aparecer. Até a elaboração do projeto, o cliente pode estar cercado de sonhos e
fantasias, mas aqui ele entrará em contato com os valores que terá de lançar mão para realizar tudo o
que sonhou. Por isso, essa pode ser uma fase delicada tanto para o cliente quanto para o profissional.
Para o primeiro pode ser um momento de frustração, já que nem sempre poderá realizar de forma
integral tudo aquilo que tanto gostou no projeto. Caso esse entrave aconteça, é hora do profissional,
mais uma vez, colocar-se disponível para amparar e auxiliar o cliente, pois sabe que o mesmo projeto
pode ter custos variáveis, com resultados igualmente agradáveis. Caso o profissional esteja voltado de
verdade para a procura de soluções criativas e dentro das possibilidades do cliente, ele obterá
resultados bastante satisfatórios. O diferencial fica por conta da confiança e da segurança que o
profissional transmitiu ao cliente até aquele momento. O cliente tem que sentir que o profissional está
interessado em resolver os problemas, buscando soluções diferentes para que ele fique plenamente
realizado com o projeto. O profissional tem que mostrar que “vestiu a camisa” do projeto do cliente.

• Compra dos complementos da decoração: quadros, tapetes, enfeites, etc.


• Acertos finais é o checklist, o pente-fino, ver se tudo está em ordem e se o cliente está
plenamente satisfeito.
BOX 13
O CLIENTE QUE ACHOU UM TRABALHO!
“Adorei tanto fazer este trabalho que, se tivesse dinheiro, eu começaria tudo outra vez!”
Muitas vezes o trabalho de reforma da casa torna-se um grande entretenimento para a família, mas principalmente para a dona de
casa, que até então tinha uma vida tomada pela rotina.
A frase do começo deste texto é de uma cliente que, ao se envolver no trabalho de escolhas e definições de materiais e mobiliários
para a reforma de sua casa, viu a sua vida cotidiana sair do vazio e da mesmice e se transformar em algo útil e muito agradável.
Muitas vezes o trabalho do profissional abrange muito além do projeto em si. Nesse caso, a dona de casa, cujas funções são
rotineiras e não muito empolgantes, descobriu um novo mundo, mais colorido, interessante e repleto de novidades e beleza, o que
certamente contribuiu para a ampliação de seus horizontes pessoais e colaborou para a transformação do seu modo de viver, de pensar e
do seu próprio aspecto visual.
Esse é um lado interessante do trabalho do profissional de Design de Interiores e Arquitetura, pois mostra como acabamos
influenciando muito mais do que pensamos.
Organização, cronograma e administração de obra

De nada adianta fazer um grande projeto, belíssimo, muito bem elaborado e com uma
apresentação caprichada, se na hora da realização dele houver sérias falhas na organização e na
administração da obra. O resultado estará comprometido. Essa fase é tão importante quanto a criação
do projeto. Saber tirar o projeto do papel e transformá-lo em realidade é uma arte complexa.
Para um bom desenvolvimento da obra, é importante dividi-lo em fases que serão relativas ao
tamanho e às dificuldades do projeto. Cada fase exigirá:

• Relacionar os serviços relativos a ela.


• Escolher os fornecedores.
• Fazer o levantamento dos orçamentos.
• Intermediar as negociações entre fornecedores e cliente.
• Elaborar o cronograma de prazos e entregas.
Se tudo isso não for bem orquestrado pelo profissional, o resultado da sinfonia será um desastre.
Acontecerão desarranjos que muitas vezes não poderão ser corrigidos.

Acompanhamento da obra

O que significa acompanhar uma obra? Significa supervisionar o andamento do trabalho dos
fornecedores que você escolheu, verificar a pontualidade e a qualidade dos materiais entregues e dos
resultados da mão de obra.
Este ponto é muito importante: relação profissional/ fornecedor.
Contar com uma equipe de qualidade e com mão de obra preparada é fundamental para o bom
andamento da obra. O profissional sabe que precisa se cercar de pessoas que lhe deem o respaldo
necessário e que cumpram perfeitamente o seu papel para que a qualidade exigida e todos os detalhes
do projeto sejam cumpridos.
A mão de obra que executa é, até hoje e na grande maioria das vezes, bastante despreparada no
Brasil. Portanto, cabe ao profissional o treinamento, a exigência e o bom senso na condução da obra,
sendo firme e seguro, ali ele é o representante das expectativas do cliente em relação ao resultado
final. O projeto tem que ser respeitado, pois houve um caminho até ali que o fornecedor desconhece,
do qual não participou e que não pode ser alterado.
Não basta um profissional criativo, ele precisa ser líder. Liderança depende de treinamento e
experiência, mas pode ser adquirida por todos os profissionais que sejam atentos e preocupados com a
qualidade dos relacionamentos com os seres humanos com os quais estão trabalhando. Esta é uma
etapa que determina o sucesso ou o fracasso da qualidade do trabalho.
Assim, a escolha dos fornecedores deve ser feita de forma muito criteriosa. É preciso, antes de
tudo, verificar trabalhos previamente realizados e obter informações sobre a satisfação dos antigos
clientes. Lembre-se de que na hora de vender serviços todo mundo é organizado, pontual, respeitoso
quanto à qualidade, mas na hora da entrega nem sempre é assim.
Não se pode acreditar em propostas e palavras, mas nos olhos e na pesquisa a respeito do
fornecedor escolhido. Existem várias histórias de profissionais que se prejudicaram por se enganar na
hora da escolha do fornecedor. Por isso, é preciso prestar bastante atenção, mesmo que se invista
tempo e energia nessa etapa. É importante deixar claro ao fornecedor que você representa o cliente e
que vai zelar pelos direitos dele. O fornecedor é a parte contratada e remunerada para cumprir um
contrato e terá que fazer o que foi acordado entre as partes.
Além disso, é preciso não concluir o pagamento antes da entrega total dos serviços. Infelizmente
a moeda ainda é a pressão necessária para o cumprimento de um contrato. Por isso, não se deve ter
medo de ser exigente. É preciso ser simpático com o fornecedor, mas, antes de tudo, agradar ao
cliente.

Ajustes finais

Como exposto até agora, o profissional é o maestro que rege a orquestra de fornecedores,
visando preço, qualidade e pontualidade. Embora ele tenha feito a supervisão passo a passo, é sempre
bom dar uma última checada, com olhos bem críticos, antes da entrega do trabalho, observando
detalhes que possam ter passado despercebidos. O resultado deve ser mostrado ao cliente apenas
após passar por um “pente-fino”, pois certamente ele verá qualquer detalhe que esteja fora das
expectativas e irá cobrar isso.
Assim como o profissional tenta não decepcionar o cliente com o resultado da obra, ele também
tem como objetivo não se frustrar em relação a esses resultados. A alegria e a satisfação do cliente
fazem parte da remuneração do profissional consciente e que gosta da profissão que escolheu.
BOX 14
A CASA QUE VIRÁ...
A vida está cada vez mais longa. As pessoas estão vivendo mais e querem viver melhor. Essa consciência vem gradativamente
aumentando. Vemos hoje profissionais ativos acima dos setenta anos, pessoas mudando de profissão depois dos cinquenta, mudando de
estado civil, etc. Existem diversas composições familiares e as casas vão acompanhando todas essas transformações.
A casa é viva e acompanha todas as mudanças sociais e culturais. Não sabemos, neste momento, os aspectos que terão as casas
num futuro próximo. Sabemos, no entanto, que essas mudanças irão refletir no conceito de espaço, de conforto e de necessidades que o
ser humano terá de enfrentar, forçando assim o próprio mercado da construção civil a adaptar-se à nova perspectiva de vida e vir a ter um
novo olhar para a forma do morar.
A nosso ver, aumentará o número de residências para pessoas mais maduras e acima de setenta anos, provavelmente equipadas
com cuidados específicos, mas também com privacidade e lazer, acompanhando a tendência de uma vida mais independente e cercada
de novos relacionamentos.
Atualmente as pessoas maduras desejam, cada dia mais, liberdade e individualidade. Atender a essas expectativas e necessidades
em relação às moradias que possam tanto cumprir a função de segurança (em casos de emergência) quanto proporcionar uma boa
qualidade de vida será uma tendência do mercado.
BOX 15
ACALME SEU CLIENTE
O profissional e o cliente constroem juntos um caminho que os guiará até o término do trabalho. Esse caminho deverá ser percorrido
da melhor maneira possível, planejado por etapas e levado adiante sem tropeços, ou seja, sem ansiedade, cumprindo o plano ou as
etapas planejadas.
Seja pequeno ou grande o trabalho a ser realizado, temos que lembrar que o cliente sempre estará ansioso. Ele estará lidando com
um aspecto importante da vida, que é a renovação, e isso significa “coisas novas”. A maior parte das pessoas se sente ansiosa e insegura
diante do processo de mudança.
Para acalmar a ansiedade natural do cliente é necessário que ele saiba o que vai acontecer em cada etapa do trabalho antes que
ela se inicie, assim ele vai poder dosar as suas expectativas.
As etapas de um trabalho devem ser organizadas de acordo com a sua complexidade. Trabalhos maiores terão mais etapas a serem
vencidas; trabalhos menores, menos etapas. Cabe ao profissional priorizar e organizar as etapas sequencialmente, elaborando uma forma
clara de apresentação, como uma planilha, por exemplo.
Em cada etapa, para melhor organização, sugerimos separar os trabalhos de responsabilidade do profissional e os trabalhos de
responsabilidade dos fornecedores.
Antes de iniciar cada etapa é conveniente consultar os fornecedores para que, juntos, possam determinar a melhor forma de
execução do trabalho e o tempo máximo para a execução de cada etapa.
Cabe ao profissional lembrar ao fornecedor que esse planejamento será mostrado ao cliente e que este cobrará o cumprimento do
que foi acordado entre profissional e fornecedor.
Feito isso o profissional apresentará ao cliente tudo o que organizou a cada etapa e o que foi acordado com cada fornecedor.
É necessário também lembrar ao cliente que a participação dele na escolha de materiais de acabamentos e tudo mais que se fizer
necessário também deve seguir um cronograma para que não se atrase o ritmo da obra.
CAPÍTULO 6
A Arquitetura e o Design são peças complementares de um quebra-cabeça emaranhado do sentir, onde
um não vive sem o outro, sendo um casamento de corpo e alma.
A casa é o lócus onde projetamos quem somos e a incubadora do que
desejamos ser...
Caminhando juntos

Entre muitas ideias que me vieram à mente para escrever este livro, troquei com Yara as
preocupações que os meus próprios relacionamentos me trouxeram! É o caso de uma cliente minha
xará, terapeuta, que me fez a seguinte pergunta: “Tenho uma paciente no meu consultório que está
muito triste por consequência de três tentativas frustradas em projetar uma residência para ela!
Consultou diferentes escritórios de arquitetura, pagou os projetos, mas estes ficaram muito aquém
daquilo que sonhava para sua moradia! O que acontece, Xará? Eu não sei como ajudar minha
paciente”.
Pois é, este livro nem existia, caso contrário bastaria mandarmos um exemplar para a paciente da
minha xará! Porém, a preocupação ficou registrada na minha memória!
Essa falta de conhecimento da linguagem do cliente e a necessidade de um bom levantamento de
dados ou anamnese, para início de um projeto, como propomos neste nosso livro, não só acontece na
área do design como também na arquitetura.
A responsabilidade não é do profissional, mas sempre foi uma falha, em alguns casos, do ensino
dessas profissões que nasceram no Brasil de maneira atabalhoada como tantas outras e que só foram
normatizadas aos poucos com o desenvolvimento e necessidades criadas pelas próprias profissões e
que, consequentemente, passaram a exigir leis que as regulassem!
No caso do design de interiores, a profissão nem é reconhecida. O projeto de lei que a regulariza
tramita no congresso há um tempão. Espero que, quando este livro for lançado, a situação já tenha
mudado! Como toda profissão ligada à arte e ao comportamento emocional do ser humano, a
arquitetura e o design enfrentam nuances e sutilezas difíceis de decodificar através de leis ou normas
que preencham e abracem todas elas.
Há muito questionamos sobre como fazer para juntar sonhos com necessidades. Desejos com
realidades.
Como respeito minha criação quando se choca com o limite do entendimento do outro?
Qual caminho tenho que traçar para não me sentir frustrado quando tenho que olhar para estas
profissões e reconhecer que elas poderiam ajudar a muitos porém tão poucos terão acesso?
Quanto as minhas concessões, estas não estarão criando barreiras intransponíveis dentro de mim
de maneira a me sentir confuso, a questionar meus próprios princípios e limites?
A arquitetura e o design são peças complementares de um quebra-cabeça emaranhado do sentir,
que a necessidade de abrigo e moradia nos coloca de maneira a um não viver sem o outro!
Mais consciente, menos consciente, mais ou menos profissional, ao erguer uma casa todos que
ali participaram no criar, fazer e construir colocaram suas energias no espaço em que alguém vai viver!
No dia 06/06/1999 eu estava em um Campo Grande, Mato Grosso do Sul, ministrando o meu
curso “Consciência do Morar” para o qual fui convidada, no SBPC, Encontro Brasileiro para o
Progresso da Ciência, e foi esta a homenagem que fiz aos meus alunos designers e arquitetos, que
participaram!1

Aos meus alunos arquitetos

Você cria o espaço tridimensional inserido num contexto que pode ser uma rua em alguma cidade,
numa fazenda, num estado, num país. País que tem história. Você é o intérprete dessa história.
Através da arquitetura nós olhamos o mundo, vemos o homem, sua evolução, seus contrastes,
suas loucuras!
Você relata a história, interpreta-a através dessa sua forma de expressão. Está fazendo arte.
E eu? O que faço eu que chego quando a estrutura já está pronta?
Chego quando a casa já tem dono, uma família com toda uma carga de emoção, vivências,
cultura, necessidades.
Eu entro num espaço já definido.
Para que sirvo eu?
Sirvo para planejar esses espaços internos de acordo com o ser que ali vai viver, para organizar e
adequar seus sonhos ao espaço. Para organizar suas emoções. Você cria o corpo, eu elaboro a alma.
Você dá forma externa, e eu, a forma interna. Completo a carga de emoção que você já colocou. Eu
dou identidade.
Nosso convívio pode ser perfeito, desde que falemos a mesma língua. Você pode relacionar-se
muito bem comigo, desde que me veja como a alma da sua arte. Isso é tranquilo, pois a alma não trai o
corpo jamais.

Maria do Carmo Brandini

1 Escrito em 6 de julho de 1999. Curso ministrado no SBPC em Campo Grande.


Considerações finais

A ideia deste livro surgiu de uma palestra que fizemos na


Faculdade de Belas Artes de São Paulo no ano 2000. As gravações
dessa palestra ficaram guardadas por muito tempo, e, para nossa
surpresa, quando as ouvimos novamente anos depois, nos
pareceram muito atuais.
Tudo o que havíamos levantado na época sobre a relação do
ser humano com a sua moradia, os aspectos sociais e emocionais
principalmente, são até hoje o material de trabalho do designer de
interiores e do psicoterapeuta.
Resolvemos pôr em prática a ideia do livro que já havia nos
ocorrido na época, mas que ficou esquecida nas fitas do gravador.
Sabíamos que escrever a quatro mãos não seria uma tarefa fácil
quando tomamos a decisão, porém o desafio era fascinante, e o
tempo, nosso aliado no amadurecimento da proposta.
No início fomos tateando e cada uma escrevia um texto, já
definido no sumário, que depois de discutido era passado para o
papel. Com o passar do tempo o nosso entrosamento foi tal que os
textos passaram a fluir natural e espontaneamente. Uma começava
e a outra dava sequência ao tema. A escrita ficou de tal maneira
fluida que, ao relermos hoje, nós mesmas não sabemos mais quem
escreveu. Criamos um estilo que se encaixou perfeitamente e que
deu unidade ao texto.
Nossos encontros de trabalho foram sempre um grande prazer.
Ali exercitamos a nossa criatividade e a alegria do ofício de
escrever.
Nós duas já tínhamos exercitado em textos publicados em
outros meios, porém nada que nos causasse tanta satisfação e
expectativa como o lançamento de um primeiro livro!
Esperamos que você tenha gostado da leitura. Nós
acreditamos que tudo aquilo que é feito com alegria e amor
transmite uma boa sensação, deixa uma semente de crescimento.
Casa e Ser Humano são como corpo e alma, não existe corpo
sem alma e quanto mais luminosa é uma alma mais divino é o seu
corpo mesmo que este não seja o mais forte nem o mais perfeito
nem o mais bonito.
O Ser Humano ilumina a sua casa conferindo-lhe aconchego,
afeto, paz e harmonia. Abençoar a sua casa é abençoar a sua vida,
pois é dentro dela que o Ser repousa, engrandece, ama e agradece.
Sem casa o Ser é como uma alma sem corpo, falta o abrigo
para poder expressar a sua essência.
Dentro de qualquer espaço que possa ser chamado de lar é lá
que o Ser expressará aquilo que verdadeiramente é, suas
características pessoais, suas paixões e suas fragilidades.
A casa é muito mais do que alguns cômodos para acomodar
mobiliários necessários ao conforto do Ser Humano, é a matriz da
identidade de cada um de nós, o lócus onde projetamos quem
somos e a incubadora do que desejamos ser.
Por isso A casa fala e é uma verdadeira relação de vida e
amor.
Resposta do Exercício de Criatividade
Sobre a obra

A casa que habitamos revela bem o quanto o externo reflete o


interno. Sabemos que tudo que está dentro está fora. Tal axioma
cabe bem para a residência. A fina sintonia ressonante entre as
autoras nos convida a nos reconhecermos um pouco mais, através
da interação integrativa com a nossa moradia. O ser casa revela
nossa essência. Toda residência expressa qualidades de seus
moradores. Algumas vibram mais alegria, outras mais harmonia ou
poder, entre outros aspectos divinos.
Quem sou eu expresso em minha casa? Podemos nos permitir
sentir essa pergunta. A casa também fala conosco nos mostrando
pontos de bloqueio através de coisas que quebram ou emperram,
vazamentos, distúrbios elétricos ou quaisquer mudanças que
fazemos.
É fascinante também reconhecer o quanto a(s) casa(s) de
nossa infância diz(em) sobre nossos propósitos de alma que
expressamos na existência. E como cada casa ou fase da nossa
casa expressa etapas da nossa vida.
A parceria amorosa e harmônica das autoras, guiadas pelo
fluxo cósmico, nos presenteia com este livro suave e profundo. Ele é
um ser vivo que nos abraça na leitura. A vibração da essência das
autoras depositada na composição desta obra nos propicia uma
leitura envolvente e relaxante. É um livro de percepção da história
individual e coletiva em que as autoras escrevem com liberdade e
verdade. Por ser íntegro e sem máscaras, ele é cativante e nos
chama à intimidade como se estivéssemos batendo um papo com
elas.
Gratidão às autoras por terem honrado o propósito da alma
através desta criação. Fantástica integração e manifestação dos
hemisférios direito e esquerdo do cérebro, expressando
conhecimento e sabedoria. Imperdível!!!!!!

Lais Ceesar

Psicóloga Transpessoal, Manifestadora do Espaço Essência e Diretora da Escola Iniciática


de Kabalah Essência
Sobre as autoras
Maria do Carmo Brandini é designer de interiores formada
pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo,
em 1974.
Desde 1978 é proprietária do Pronto-Socorro de Arquitetura e
Interiores, empresa de projetos, reformas e administração de obras.
Foi consultora do Senac e orientadora da Faculdade de Belas
Artes de São Paulo.
Foi fundadora e duas vezes presidente da Associação
Brasileira de Design de Interiores (ABD).
É ainda consultora de Feng Shui formada pelo Instituto
Brasileiro de Feng Shui.
Contato: mcbrandini@yahoo.com.br
Yara Lorenzetti é psicóloga e psicoterapeuta pós-graduada
em Psicodrama. Possui cursos de especialização em Técnicas
Corporais Reichianas, Psicoterapia Junguiana, Neuromodulação
Transcraniana e Estimulação Cognitiva.
Participou de vários cursos dentro e fora do país. Lecionou no
curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo e na Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama.
Atua como psicoterapeuta há 30 anos.
Contato: ylorenzetti2@gmail.com

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