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Introdução ao Serviço Social

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Olá, estudante!

É com felicidade que convidamos você a descortinar os primeiros conhecimentos


específicos relacionados à área de Serviço Social. Nesta caminhada inicial de
construção do conhecimento, buscaremos refletir sobre aspectos gerais que envolvem
a profissão de Serviço Social e que, no primeiro momento, parecem-nos complexos de
compreensão, pondo em dúvida se realmente fizemos a escolha certa.

Não pretendemos na disciplina Introdução ao Serviço Social aprofundar


conhecimentos da profissão, mas degustar de forma instigante e dialógica o Serviço
Social, o que significa e qual o objeto de estudo sobre o qual se debruça.

A disciplina evidencia as condições sócio históricas da gênese e a natureza do Serviço


Social e sua profissionalização no desenvolvimento da sociedade capitalista,
abordando a formação da questão social, as suas diferentes expressões e sua relação
com o Serviço Social enquanto objeto de estudo, bem como as legislações que
respaldam a profissão e o processo de organização política e acadêmica dos
assistentes sociais.

Precisamos ressaltar que a construção e aquisição desses conhecimentos que por ora
se parecem simples, constituir-se-ão, no futuro, na determinação de conhecimentos
mais complexos e densos. Por isso, o presente roteiro de estudos foi produzido não
apenas com o intuito de te proporcionar conhecimento, mas principalmente o de
causar fascinação. Para que isso aconteça o seu olhar crítico sobre as leituras e a
serenidade com que conduzirá o processo de descoberta poderão determinar seu
sucesso futuro, pois assim como não podemos aprender a fazer um bolo se não
tivermos os ingredientes, não poderemos aprender também se não tivermos carinho e
afinco pelo que fazemos, e, principalmente, compromisso com nós mesmos.

A construção de suas potencialidades e aquisição de novas habilidades só será


possível se você tiver a certeza de que os ingredientes para o bolo estão sendo dados,
mas o mesmo só ficara pronto e será saboroso se nos dedicarmos ao seu preparo.

Assim, para a caminhada que se inicia, em busca da construção de uma identidade


profissional, desvendar a profissão que você escolheu é fundamental para que se
vincule, desde já, com os desafios que encontrará no desenvolvimento de sua práxis
futura e para que ratifique, a cada momento, que cursar Serviço Social não é apenas
uma questão de escolha, mas de desejo. Temos certeza que ao seguir o modo de
preparo desse bolo e dos demais que receberá durante o curso, você terá a certeza de
poder dizer no futuro com convicção: “Essa não é apenas a profissão que escolhi
fazer, é a profissão que queria, quero e desejo sempre ser!”

Objetivos

Ao final desta disciplina, você deverá ser capaz de:

• Refletir sobre o processo histórico, teórico e metodológico de


desenvolvimento do Serviço Social e as conseqüências desse
processo para a formação e atuação do profissional

Conteúdo Programático

Esta disciplina está organizada de acordo com as seguintes


unidades:

• Unidade 1 – A Construção da Identidade no Serviço Social


• Unidade 2 – O Contexto Histórico de Surgimento do
Serviço Social
• Unidade 3 – Organização Acadêmica e Política dos Assistentes
Sociais e a Regulamentação do Serviço Social como Profissão
• Unidade 4 – Espaços Sócio-ocupacionais e as Metamorfoses
da Contemporaneidade
Autoria

Professora Valdineide Barauna Sá Barreto

Assistente Social (1997) pela Universidade Católica do Salvador e Pedagoga (2002)


pela Universidade do Estado da Bahia. Mestre em Desenvolvimento Humano e
Responsabilidade Social pela Fundação Visconde de Cairu (2009). Especialista em
Gestão Escolar e Psicologia Social. Tem experiência como docente e coordenadora
de curso de Serviço Social. Presta serviços de assessoria na elaboração,
implementação e acompanhamento de projetos pedagógicos e psicossociais. Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em Administração Educacional,
Coordenação Pedagógica e Gestão Social, atuando principalmente nos seguintes
temas: educação, desenvolvimento humano, políticas públicas, responsabilidade
social e gestão.

Revisão e atualização

Professora Mary Lane Cruz Madureira

Graduada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro


(1999), Mestre em Serviço Social pela UERJ (2003), Especialista em Gestão em
Saúde pela ENSP/Fiocruz (2011), Especialista em Gestão em Saúde da Família pela
UERJ (2010) e Especialista em Mídias e Tecnologias da Educação pela UVA/RJ
(2020). Atualmente é Coordenadora e Professora Assistente do Curso de Graduação
em Serviço Social da Universidade Veiga de Almeida, Assistente Social concursada do
Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) no Município de
São Pedro da Aldeia/RJ e Avaliadora de Cursos de Graduação Superior pelo
INEP/MEC. Tem experiência nas áreas de gestão em saúde e gestão educacional de
ensino superior, atuando principalmente nos seguintes temas: serviço social, políticas
públicas, planejamento, avaliação, educação e formação profissional.
A construção da identidade do Serviço
Social

Esta unidade propõe refletir acerca do que é o serviço social e o que faz o assistente
social, contextualizado sobre a questão social, suas diferentes expressões e
apresentando o significado social da profissão no desenvolvimento da sociedade
capitalista.

Objetivo
Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

• Conhecer o processo de construção e definição do objeto da


intervenção profissional do Assistente Social.

Conteúdo Programático
Esta unidade está organizada de acordo com os seguintes temas:

• Tema 1 - Serviço Social: aspectos conceituais


• Tema 2 - Questão social: aspectos conceituais
• Tema 3 - Serviço Social e questão social: aspectos relacionais

Germinal

Direção: Claude Berri

Ano: 1993

Inspirado no romance do escritor francês


Émile Zola, o filme Germinal promove uma
aproximação sobre o significado da profissão
no contexto da produção e reprodução das
relações sociais.
Divulgação
Tema 1
Serviço Social: aspectos conceituais

Qual o significado social da profissão?


Compreender o que é Serviço Social e o que faz o profissional de Serviço Social é
uma das primeiras inquietações de todo estudante ao iniciar o curso. O
questionamento comum é decorrente de vários fatores: da ausência de uma
compreensão social específica do que é Serviço Social, de quem é o profissional de
Serviço Social, do próprio imaginário social de que o profissional do Serviço Social é a
pessoa que faz caridade, e principalmente do motivo que leva muitos estudantes a
optar pela formação: a ideia de que Serviço Social é uma profissão desempenhada por
pessoas boas que ajudam os pobres.

Outro aspecto que legitima o imaginário social acerca da relação entre Serviço Social
e caridade diz respeito ao fato da assistência social prestada aos cidadãos pelo
Estado, historicamente, estar representada pela figura da primeira dama das esferas
subnacionais (governo federal, estadual ou municipal).


O primeiro damamismo, que tanto influenciou no desenvolvimento da profissão e
do rumo político do país, referia-se ao nome dado às esposas dos governantes das
esferas subnacionais. Essa nomenclatura remota do antigo Império, quando Dona
Leopolidina, esposa de Dom Pedro I, passou a participar da vida política do país e a
influenciar nos caminhos para a Independência do Brasil.

TORRES, 2002

TORRES, Iraildes Caldas. As primeiras damas e a assistência social:


relações de gênero e poder. São Paulo: Cortez, 2002.
A ideologia disseminada de que assistência está vinculada ao primeiro damamismo
fez com que, ainda na contemporaneidade, o Serviço Social seja visto como uma
prática a ser realizada por qualquer pessoa de boa vontade. Além disso, assume-se a
ideia de que Serviço Social, pobreza e caridade são sinônimos ou que o Serviço Social
atua apenas junto aos pobres..

Essa concepção historicamente disseminada no âmbito social e cultural é equivocada


e aprenderemos posteriormente que essa compreensão social decorre das bases de
origem da profissão.

Mas então o que é o Serviço Social? Quem é o seu profissional? E que bases
legais o legitimam?

O Serviço Social é uma profissão que se


pode considerar relativamente nova. Surge
no Brasil na década de 1930, no campo das
ciências sociais e humanas, e exige
formação de nível superior. O profissional de
Serviço Social é um bacharel e é designado
por Assistente Social.

O Serviço Social se constitui em uma prática profissional situada no campo das


ciências sociais e humanas, fundamentada nos princípios humanistas de caráter
histórico, social, político, cultural e econômico. Enquanto prática profissional, o Serviço
Social exige do profissional um instrumental científico multidisciplinar, para atuação
profissional caracterizada como interventiva.

O Assistente Social, ao contrário do que pode parece no imaginário social, atua na


sociedade junto a qualquer cidadão que tenha sofrido violação dos seus direitos
sociais. O Assistente Social atua junto aos indivíduos, grupos ou comunidade,
legitimando os direitos de acesso às necessidades sociais a partir da elaboração,
implementação e avaliação das políticas públicas na área social.

A concepção de necessidade social que embasa a atuação do Assistente Social não


se restringe à satisfação das necessidades orgânicas (comer, beber, dormir, etc.), mas
ao conjunto de necessidades que embasam o nosso existir humano: convivência em
grupo, produção material (trabalho), produção intelectual (conhecimento) e cultural
fazem parte do leque de intervenção profissional.
Dica

Os termos Serviço Social Assistente Social e Assistência Social são


usados socialmente como sinônimos. Para os leigos não há problemas
quanto a isso, mas enquanto futuro Assistente Social é importante ter
clareza da diferenciação do uso dos referidos termos.

Assim Serviço Social é a designação dada ao curso de nível superior e a


profissão, Assistente Social é a designação dada ao profissional após a
sua formação e Assistência Social é uma das políticas públicas mais
antigas com a qual trabalha o profissional no desenrolar da sua pratica.

Conforme propõe a concepção estruturalista, as necessidades sociais são


consideradas como as necessidades do sistema de produção, ou seja, já que o
indivíduo é objeto desse sistema, as necessidades seriam decorrentes do modo de
produção. As necessidades são sentidas a partir da relação de forças no domínio da
produção e das lutas de classe. A satisfação da necessidade social seria, então, uma
resposta ao lucro do capital: “(...) as necessidades não são satisfeitas por si mesmas,
mas na medida em que isto se torna necessário para que a exploração possa
continuar” (GREVET, 1976.p. 26 apud FALEIROS, 2009.p. 39).

Curiosidade

A política social segundo Martinez (2004, s.p.) se define como:

[...] uma política, própria das formações econômico-sociais capitalistas


contemporâneas, de ação e controle sobre as necessidades sociais
básicas das pessoas não satisfeitas pelo modo de produção capitalista. É
uma política de mediação entre as necessidades de valorização e
acumulação do capital e as necessidades de manutenção da força de
trabalho disponível para o mesmo. Nesta perspectiva, a política social é
uma gestão estatal da força de trabalho e do preço da força de trabalho.

Garantir que os mínimos sociais sejam satisfeitos de forma isonômica se torna então
de responsabilidade do Assistente Social. Os mínimos sociais aqui entendidos como:

Os mínimos sociais podem ser concebidos em duas perspectivas distintas: uma
restrita, minimalista e outra ampla e cidadã, fundando-se a primeira na pobreza e no
limiar de sobrevivência e a segunda no padrão básico de inclusão na perspectiva da
institucionalização de um padrão civilizacional da cidadania. Nesta linha de
pensamento, a diferenciação extrema de concepções de mínimos sociais comporta
cinco patamares de padrão de vida: a) a sobrevivência biológica (sobrevivência no
limiar de pobreza absoluta); b) condição de poder trabalhar (condições para
ascender e manter um emprego); c) qualidade de vida (acesso a um padrão básico
de serviços e garantias); d) desenvolvimento humano (possibilidade de desenvolver
as capacidades humanas); e) necessidades humanas (garantia de necessidades
especiais e garantia de igualdade e equidade).

Neste entendimento, a institucionalização de mínimos sociais não significa a


padronização das piores situações detectadas, mas a perspectivação não lógica
igualitária, de um padrão básico de vida e necessidades. Assim, o mínimo social
deve ser concebido como ponto de mutação da situação de exclusão para a
inclusão e construído na base da discrepância e distribuição entre as piores e as
melhores condições de vida da população, num determinado contexto social
concreto e assim estabelecer a escala de qualificação de condições de vida.

(BRANCO, 2004, p.61-62)

BRANCO, Francisco. Mínimos de cidadania e inclusão social:


contributos para a análise do percurso e atualidades dos mínimos sociais
em Portugal. IN: SPOSATTI, Aldaiza (org.). Proteção Social de Cidadania
– Inclusão de idosos e pessoas com deficiência no Brasil, França e
Portugal. São Paulo, Cortez, 2004.

A compreensão dos mínimos sociais, segundo Faleiros (2009), Sposati (2004) e outros
autores, baseia-se na análise sócio-histórica, sócio-econômica e ético-política da
realidade. A atuação profissional se fundamenta, portanto, na legitimidade dos
mínimos sociais a partir da implementação das políticas sociais como instrumento de
inclusão social, como políticas universalistas de extensão dos direitos sociais às
camadas desfavorecidas da sociedade, ou aos sujeitos que dele necessitar.
O Assistente Social atua então na sociedade na perspectiva de garantir que as
necessidades sociais sejam satisfeitas de forma isonômica, de forma igualitária entre
ricos e pobres. O ideário de que o Assistente Social atua apenas junto aos usuários
que estão em situação de pobreza absoluta é decorrente de vivermos um modo de
produção capitalista, onde os excluídos econômica e politicamente do sistema também
são excluídos socialmente.

Vídeo

Para saber mais sobre os conceitos introdutórios do Serviço Social assista


agora ao vídeo: A construção da identidade do Serviço Social.

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Tema 2
Questão Social: aspectos conceituais

O que é a questão social?


É importante termos clareza de que as políticas sociais são instrumento de trabalho do
Assistente Social e não o seu objeto de trabalho. O objeto se refere àquilo com que o
profissional trabalha. No Brasil, o objeto de trabalho do Serviço Social tem sido
considerado historicamente a partir do cenário político, econômico e social do país –
trata-se da questão social.
O objeto de estudo do Serviço Social é a questão social. Essa possui várias definições
e algumas são relevantes e servem de base para a compreensão da proposta de
intervenção que deve ser adotada pelo Assistente Social. As definições que se
apresentam abordam a questão social, ou melhor, suas manifestações como algo
dinâmico e que é reconstruído cotidianamente na relação social entre o Estado, o
capital e o proletariado.

Saiba Mais

O termo capital e proletariado foram empregados por Marx (2001) para


definir os donos do meio de produção e os donos da força de trabalho
respectivamente. Os primeiros, os donos dos meios de produção,
representariam o capital. São os donos das ferramentas (terra, máquinas,
equipamentos, ferramentas,etc.) utilizados para produzir mercadorias.
Proletariado se refere ao assalariado que economicamente produz e
expande o capital, que vende sua força de trabalho ao capital e que pode
ser demitido logo que se torne supérfluo para o sistema capitalista.

Iamamoto (2007, p. 27) afirma que a questão


social se refere ao conjunto das expressões das
desigualdades sociais decorrentes do modo de
produção capitalista: “[...] um conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade
capitalista moderna, que tem raiz comum: a
produção social é cada vez mais coletiva, o
trabalho se torna mais amplamente social,
enquanto a apropriação de seus frutos mantém-
se privada, monopolizada por uma parte da
sociedade”.
Cerqueira Filho (1982, p.21) apud Netto (1992, p.13) define a questão social através
da reflexão acerca dos aspectos políticos e econômicos que interferem nas refrações
da questão social: “[...] o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o
surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista.
Assim, ‘a questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre o capital e
o trabalho”.
Tais definições ratificam a influência do desenvolvimento do modo de produção
capitalista no surgimento e evolução das manifestações da questão social, que obriga
o Estado e o capital a perceberem a necessidade da contratação de um profissional
para atuar junto à classe trabalhadora e aos excluídos socialmente do mundo do
trabalho, a fim de que pudessem manter a ordem burguesa social vigente.
Importante ressaltar que na contemporaneidade as manifestações da questão social
não são tidas apenas como situações de exclusão social, mas toda e qualquer forma
de exclusão que inviabiliza a inclusão social. Sobre essa forma mais abrangente de
pensar as manifestações da questão social, Pastorini (2010) traz a discussão que na
contemporaneidade não podemos pensar mais a questão social como um processo de
exclusão social, econômica e política apenas, mas como uma exclusão dos processos
de produção do conhecimento, do mundo tecnológico, da era da informação e que
esse fenômeno de exclusão não é decorrente de uma manifestação natural do
desenvolvimento tecnológico ou da sociedade, mas das crises enfrentadas pelo modo
de produção capitalista a nível internacional, que interfere em todos os demais âmbitos
da vida social, política e econômica dos sujeitos em um país.
Saber que o objeto de trabalho do Serviço Social, a questão social, desenvolveu-se e
modificou-se, exigindo dos profissionais novos comportamentos e conhecimentos a
respeito da realidade, não só social do país, mas da realidade econômica e política
internacional e nacional e os impactos destas na sociedade brasileira é fundamental
para o exercício de uma prática interventiva.
Compreender que o conjunto de desigualdades sociais engendradas pelas relações
sociais entre o capital e o trabalho se apresenta no capitalismo contemporâneo como
expressões a serem resolvidas, é entender, como Assistente Social, que as
manifestações da questão social não podem ser compreendidas numa perspectiva
linear, positivista, unicausal; é compreender que os processos de exclusão decorrem
da carência do atendimento das necessidades básicas de subsistência e, mais,
profundamente da inexistência da equidade social.

Para clarear, analisemos uma das principais


manifestações da questão social – a pobreza.

Se pensarmos na pobreza, enquanto mero


cidadão, podemos inferir que ela é um fenômeno
natural decorrente da ausência de “interesse”, de
“esforço”, de “capacidade” de alguns de
buscarem trabalho, pois o mercado está cheio de
oportunidades e cabe aos desempregados, aos
socialmente excluídos, apenas buscar essas
vagas para se inserir no mercado de trabalho.
Em um outra análise, podemos inferir que os excluídos existem porque Deus é o
responsável pela existência de ricos e pobres, e que ser ou estar em condição
marginal é uma vontade divina. Essa forma de análise reflete o imaginário social de
que as condições de existência não são influenciadas pelo processo histórico de
constituição de vida do sujeito.
Analisando a imagem de um cidadão, inferiríamos então que os pés que calçam a
sandália de garrafa pet são negros e preguiçosos, e que negro em situação de miséria
é algo comum e que inclusive isso se reflete no fato de terem sido escravizados no
passado: eram preguiçosos e desprovidos de inteligência, além da vontade divina de
que a nossa riqueza fosse branca e de que a nossa miséria fosse afrodescendente,
por isso 90% dos negros ou afrodescendentes são marginais ou vivem em situações
de pobreza na contemporaneidade.
Enquanto Assistente Social, as proposições de análise anteriores não podem ser
baseadas em um discurso linear e positivista da realidade. As proposições de análise
devem ser entendidas como uma forma elitista, preconceituosa, a histórica e
positivista de pensar. Compreender os pés negros na garrafa pet a partir do olhar do
Assistente Social é compreender que a pobreza, a cor dessa pobreza e o uso dos
utensílios dessa pobreza têm por assim dizer nome e sobrenome.

Apesar da Constituição Federal de 1988 ser o instrumento jurídico brasileiro


de maior significância e significado, todas as legislações específicas devem
ser usadas pelo Assistente Social, a fim de legitimar os direitos do usuário.

É compreender que os pés negros da figura se configuram por uma


multiplicidade de fatores. É entender que:

• os negros historicamente foram escravizados no Brasil;


• que quando libertos não lhes foram dadas condições de existência
social e material (trabalho, educação, saúde, etc.);
• que a história se perpetuou e que foi reproduzida por gerações,
disseminada através de preconceito que todo negro é um marginal;
• que a riqueza do país tem cor e que essa cor é branca;
• que o modelo produtivo vigente – o capitalismo, reforça essa realidade e
que não objetiva a ruptura das situações de pobreza;
• que a pobreza mantém o Estado enquanto Estado, o capital enquanto
capital;
• que a Igreja Católica continua reproduzindo o seu papel, legitimando na
prática a desigualdade social apesar da ostentação de um discurso
inclusivo e de igualdade – igrejas são isentas do pagamento de
impostos, membros da elite religiosa desfrutam a riqueza como
verdadeiros marajás, na porta das igrejas e de templos se perpetuam a
mendicância e a miséria;
• que a garrafa pet é fruto de uma sociedade de consumo que não inclui
todos da mesma forma, ou seja, enquanto uns bebem o líquido, a outros
caberá o uso do frasco como sandália pela ausência de condições
materiais de existência para adquiri-la.

A análise do Assistente Social deve inferir que os fenômenos sociais são decorrentes
de vários fatores que geram várias conseqüências. É inferir que a exclusão econômica
ou a inclusão de forma débil na economia é um dos principais fatores da pobreza, que
é produzida e reproduzida no interior do modo de produção capitalista, impelindo os
“pobres” a destituição não apenas de condições materiais de existência, mas de
acesso ao trabalho e a informação, o que gera a exclusão.
Cabe, portanto, ao Assistente Social atuar junto às manifestações da questão social e
ao mesmo tempo estar constantemente atualizado, a sua prática está pautada na
elaboração e implementação de ações socioeducativas junto à população usuária que
usem os seus serviços, com vistas a garantir os direitos sociais constitucionalmente
garantidos na Constituição Federal de 1988.
Tema 3
Serviço Social e questão social: aspectos
relacionais

A questão Social é um objeto do Serviço Social?

A questão social decorre e se acirra a


partir da Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra, no século XVIII. A aceleração
dos bens de produção causou não só o
desenvolvimento econômico, inovações
tecnológicas e o processo de globalização
por meio das novas relações de
produção, que se instauram a partir de
então, com vistas a atingir os objetivos da
expansão comercial. Mais do que isso,
trouxe para os trabalhadores impactos definitivos na forma de organização da classe
enquanto classe, posto que dicotomicamente os trabalhadores começaram a
vislumbrar a substituição de sua força de trabalho por máquinas sofisticadas e,
consequentemente, o surgimento de novos papéis no interior do modelo econômico,
no qual passam a vender sua força de trabalho para os donos do capital.

A compreensão de que aliado à mercantilização da mão de obra observa-se o


crescimento do processo de migração do campo para a cidade, proporcionando uma
aceleração do processo de urbanização, surge em conjunto com problemas não só de
ordem ambiental, mas principalmente social, como por exemplo: a fome, escassez de
moradias, prostituição, violência, drogadição, entre outros.
Decorre, desse modo, a necessidade de controlar as refrações que da questão social,
com a criação de políticas públicas sociais. Portanto, as manifestações da questão
social fazem com que o Serviço Social passe a atuar com vistas à superação da
realidade de exclusão a que estão submetidos determinados indivíduos, grupos ou
comunidade. O profissional é impelido a atuar de forma crítica e propositiva no interior
da sociedade, a fim de contribuir com a diminuição da desigualdade social, política e
econômica.
A atuação propositiva, crítica e dialógica, é assim o perfil exigido para o Assistente
Social, ciente de que a legitimidade de sua formação – apesar de noviça, por ser
datada no Brasil de 1957 e de 1962 pela Lei nº 3252 e pelo Decreto nº 994,
respectivamente exigem uma profissionalização teórico-metodológica capaz de atuar
na sociedade com vistas a garantir os direitos dos seus usuários.
Conheça a Lei nº 3.252/1957, o Decreto nº 994/1962 e a Lei nº
8662/1993 para compreender o processo de construção legislativa da
profissão.

Importante ressaltar que apesar de datada da década de 30, a atuação profissional é


hoje legitimada pela Lei nº 8662/1993 e pelo Código de Ética de 1993, que
estabelecem as diretrizes e os princípios do fazer profissional.
Encerramento

Qual o significado social da profissão?

O significado social da profissão situa-se no processo de reprodução das relações


sociais que constituem a sociedade capitalista, particularmente, no âmbito das
respostas que esta sociedade constrói frente à questão social e as suas
manifestações em múltiplas dimensões.

O que é a questão social?

A questão social é a manifestação da contradição do modo capitalista de produção. É


uma categoria constitutiva do trabalho do assistente social, sendo a base de fundação
sócio histórica da profissão.

A questão Social é um objeto do Serviço Social?

Sim, a questão social é o objeto de estudo do Serviço Social. Os assistentes sociais


trabalham com as múltiplas expressões da questão social em diferentes espaços
sócio-ocupacionais, tais como a área habitacional, a área de saúde, a assistência
social etc.

Resumo da Unidade

A unidade apresenta o debate conceitual da natureza do Serviço Social, do fazer


profissional e da questão social. Compreende o significado social da profissão e as
determinações históricas do processo de produção e reprodução da sociedade
capitalista.

O debate sobre a questão social tem estreita vinculação com o Serviço Social,
enquanto objeto de estudo e de intervenção do assistente social nos diferentes
espaços sócio ocupacionais ligados ao enfrentamento da questão social, em suas
mais agudas manifestações, com as quais os assistentes sociais convivem no
cotidiano profissional.

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