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DISCIPLINA: SOCIOLOGIA
PROFESSOR: MARCELO MARTINS FERNANDES
2ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
NOME:_______________________________________________________________
TURMA:_______
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UNIDADE I
Introdução
1. Karl Marx nasceu em 1818, na Alemanha e faleceu em 1883, quando a Sociologia
positivista de Augusto Comte tentava dar conta dos movimentos revolucionários da
época, utilizando o apelo da ordem e progresso. Enquanto os positivistas viam nas
revoluções a “desordem” ou a ruptura da evolução “natural” das sociedades, Marx
tomava os conflitos sociais como o próprio motor da história, como expressão das
crises que a sociedade burguesa já apresentava.
Biografia de Karl Marx (1818-1883)
1845 – Marx foi expulso de Paris. Fixou residência em Bruxelas, com Engels escreveu:
As teses contra Feuerbach – A ideologia Alemã.
1847 – Publicou a Miséria da Filosofia (crítica em resposta a Prodhon).
1848 - Publicação do Manifesto do Partido Comunista.
1850 – Estabeleceu residência num bairro pobre de Londres.
1852- Publicou O 18º Brumário de Luís Bonaparte.
1857- Trabalhou intensamente em suas pesquisas econômicas. Desses estudos saiu o
livro: Contribuição à Crítica econômica política.
1863- Iniciou à redação de O Capital.
1864- Marx foi eleito um dos representantes alemães num dos comitês da Associação
Internacional do Trabalhadores.
1866 – Marx terminou a redação do primeiro número de O Capital.
1871 – Insurreição em Paris: A Comuna. Marx tornou-se conhecido mundialmente.
1883- Falecimento de Marx.
2. Marx teve Friedrich Engels como grande amigo, amizade da qual floresceram muitas
obras e idéias. Foi um dos fundadores da Associação Internacional de Operários (1ª
Internacional).Entre suas principais obras, podemos destacar: O Capital, A Miséria da
Filosofia, Para a Crítica da Economia Política, O 18 Brumário de Luiz Bonaparte, A
Luta de classes na França, O Manifesto do Partido Comunista e A Ideologia Alemã.
As duas últimas obras escritas em parceria com Engels. Mais que teóricos, Marx e
Engels foram homens de ação, militantes de tamanha expressão que a história e
desenvolvimento do movimento operário torna-se menos compreensível se
desprezarmos suas biografias.
3. A Intenção de Marx ao escrever, era propor uma ampla transformação política,
econômica e social. Sua obra máxima, O Capital, destinava-se a todos os homens, não
apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade. Este é um aspecto
singular da teoria de Marx. Há um alcance mais amplo nas suas formulações, as quais
adquiram dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva. As contradições
básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de
Marx não puderam permanecer ignoradas pela Sociologia.
Ao terminar sua principal obra O Capital, escreveu a um amigo numa espécie de
desabafo:
“Enquanto fui capaz de trabalhar, usei cada instante de minha vida na busca do
acabamento de minha obra, à qual sacrifiquei saúde, felicidade e família. Espero que
esta afirmação não provoque comentários. Pouco me importa a sabedoria dos
homens que se dizem ‘práticos’. Se quiséssemos ser animais, poderíamos virar as
costas aos sofrimentos da humanidade e ocuparmo-nos de nossa própria pele. Mas eu
teria deitado tudo a perder, se morresse sem ter terminado, pelo menos, o manuscrito
de meu livro”.
O que é capital?
A principal preocupação de Marx era desvendar as leis do movimento do capital na
sociedade capitalista. A idéia mais geral para Marx é a de que capital não é uma coisa.
Não é simplesmente, como para os economistas neoclássicos, o conjunto de máquinas,
equipamentos, estradas e canais. É também isto, mas sob determinadas condições.
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Capital é, antes de tudo, uma relação social. É a relação de produção que surge com o
aparecimento da burguesia, ou seja, com o aparecimento daquela classe social que se
apropria privadamente dos meios de produção (monopólio de classe) e que se firma
definitivamente após a dissolução do mundo feudal. O capital não é uma coisa, mas uma
relação social entre pessoas efetivada através de coisas.
Diz Marx: “A propriedade de dinheiro, de meios de subsistência, de máquinas e
outros meios de produção não transforma um homem em capitalista, se lhe falta o
complemento, o trabalhador assalariado, ou outro homem que é forçado a vender-se
a si mesmo voluntariamente”.
A análise de Marx tem raízes na história. O que ele quer analisar é um modo de
produção específico que estava surgindo com a dissolução do mundo feudal. Ignorar
isto é condenar-se a não compreender sua análise.
O que é o Capitalismo para Marx?
É uma relação que se caracteriza pela compra e venda da força de trabalho e que só se
tornou possível sob determinadas condições e visando determinados fins que ficarão
mais claros depois. Em outras palavras, o capitalismo surge quando tudo se torna
mercadoria, inclusive a força de trabalho. Para que isto ocorra é necessário que uma
classe (a burguesia) se torne proprietária exclusiva dos meios de produção e que a outra
classe (proletariado), não tendo mais como produzir o necessário para o sobreviver, seja
obrigada a vender no mercado sua força de trabalho.
O que distingue o Capitalismo como forma social?
1- A forma “mercadoria” – forma determinante na sociedade capitalista.
2- A “mais-valia” – que é o motor do capitalismo.
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chamou de infra-estrutura de uma sociedade que por sua vez, é a base sobre a qual se
constituem as demais instituições sociais.
Infraestrutura e Superestrutura
Para Marx, toda a realidade social é teoricamente dividida em duas partes
correlacionadas em que a primeira determina a Segunda. São elas:
a) A Infra-estrutura: formada pela base econômica da sociedade.
b) A Superestrutura: Segundo a concepção materialista da história, na produção da
vida social, os homens geram também outra espécie de produtos que não têm forma
material e que vêm a ser ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e
éticos, sistemas legais, de ensino, de comunicação, o conhecimento filosófico e
científico, a cultura, as representações coletivas (enfim, tudo o que não é produção da
vida material ).
A explicação das formas sociais – jurídicas, políticas, espirituais e de consciência –
encontra-se nas relações de produção que constituem a base econômica da sociedade. A
superestrutura seria condicionada pelo modo como os homens estão organizados no
processo produtivo.
sua casa os instrumentos de produção. Aos poucos, porém, estes passaram às mãos de
indivíduos enriquecidos, que organizaram oficinas. A Revolução Industrial introduziu
inovações técnicas na produção que aceleraram o processo de separação entre o
trabalhador e os instrumentos de produção. As máquinas e tudo o mais necessário ao
processo produtivo – força motriz, instalações, matérias primas – ficaram acessíveis
somente aos mais ricos. Os artesãos, isolados, não podiam competir com o dinamismo
dessas nascentes indústrias e do conseqüente crescimento do mercado. Com isso,
multiplicou-se o número de operários, isto é, trabalhadores “livres” expropriados,
artesãos que desistiam da produção individual e empregavam-se nas indústrias.
A idéia de Alienação
O conceito de alienação em Marx tem origem na situação mais concreta da existência: o
trabalho, atividade pela qual o homem domina e transforma a natureza, humanizando-a
a favor de sua própria reprodução. A alienação nas relações de trabalho capitalistas
decorre da contradição básica de que o trabalho tornou-se estranho à humanidade do
trabalhador, tornou-se um sofrimento cruel, dividindo a sociedade em classes sociais
radicalmente antagônicas. O trabalho tornou-se ameaça, em vez de criação; tornou-se
opressão, em vez de liberdade e autonomia do homem. Isto se deu através da divisão
social do trabalho própria do capitalismo, com a apropriação privada dos meios de
produção.
Marx desenvolveu o conceito de alienação mostrando que:
1) A industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhados
dos meios de produção (ferramentas, matéria-prima, terra e máquina), que se tornaram
propriedade privada do capitalista.
2) Separava também, ou alienava, o trabalhador do fruto de seu trabalho, que também é
apropriado pelo capitalista. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o
capital.
3) Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da
representatividade, base do Liberalismo, criou a idéia de Estado como um órgão
político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la através do poder
delegado pelos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse
Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.
Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também passou a criar
representações do homem e da sociedade. Diz que Marx que a divisão social do trabalho
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homem e o homem criou o trabalho, sendo esta uma ação exclusivamente humana, pois
assume uma forma consciente, não intuitiva, pois antes de produzir um objeto é
necessário ao trabalhador elaborá-lo inicialmente em seu cérebro para só então partir
para a execução.
Já as atividades que os animais executam (a aranha e sua teia, o joão-de-barro e sua
casa) são meramente intuitivas, daí trabalho ser uma atividade exclusiva da espécie
humana.
Para Marx, o único bem que o trabalhador possui devido a não ser proprietário de
meios de produção é a sua força de trabalho, a sua capacidade de trabalhar, sendo por
isso que o trabalhador é obrigado a vender sua força de trabalho ao capital. Ao contrário
de sociedades pré-capitalistas como o feudalismo e a escravidão, no capitalismo o
trabalhador entrega sua capacidade de trabalhar por um tempo determinado através de
um contrato de trabalho. Além do estabelecimento de um contrato de assalariamento
que regula as relações capital-trabalho, algumas diferenças podem ser encontradas no
trabalho sob o modo de produção capitalista em comparação com sociedades pré-
capitalistas. Como já visto, o trabalho era desprezado na Grécia e Roma antigas,
fazendo com que a socialização dos indivíduos ocorresse fora do trabalho, enquanto na
sociedade capitalista a socialização dos indivíduos ocorre exatamente nas relações de
trabalho. Para esta mudança, a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX teve um
peso determinante3, com a formação de exércitos de trabalhadores que desprovidos de
qualquer propriedade são obrigados a abandonar a vida do campo, sendo jogados nas
cidades em busca de empregos assalariados junto às nascentes industriais.
Retomando o conceito de trabalho, podemos ter mais clareza sobre a noção Marx sobre
a produção, o valor e a alienação. Enquanto atividade humana por excelência, o trabalho
produz a si e ao homem, cria as condições de soobrevivência e as transforma. Não se
pode conceber o ser humano sem que o trabalho seja o núcleo da análise. O
desenvolvimento histórico privou alguns homens dos meios de produção necessários à
sua subsistência, forçando-os a trabalharem para outros, em horários, locais e condições
estranhos a ele. Em outras palavras, tal privação separa o coletivo de homens por suas
tarefas, cria uma divisão social do trabalho cujas partes podem ser compreendidas
como classes complementares e antagônicas. Nos vários modos de produção em que se
apropria privadamente dos meios de produção, a divisão do trabalho é, antes de tudo, a
separação entre possuidores e despossuídos. A existência da propriedade privada dos
meios de produção se encarrega de levar o trabalhador a um exercício físico que não
produzirá, necessariamente, bens de sua carência ou que ele conheça seu inteiro
processo de produção. A vida do trabalhador é aquilo que ele produz, mas aquilo que
ele produz não é seu.
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ALIENAÇÃO
- A alienação do trabalhador no seu produto significa não só que o trabalho se
transforma em objeto e assume uma existência externa, mas existe independentemente,
fora dele e a ele estranho, torna-se um poder autônomo em oposição a ele. A vida que
deu ao objeto se torna uma vida hostil e antagônica.
MERCADORIA E VALOR
Pode-se chamar de mercadoria todo produto do trabalho cuja função é ser vendido ou
oferecido ao mercado para se realizar na troca. Todos os produtos oferecidos no
mercador possuem, certamente, alguma utilidade para seu comprador. Esta é uma
condição e uma característica fundamental deste produto: ele possui valor de uso.
O capitalista não gerencia a produção para que ela crie mercadorias que sejam utéis a
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A FORÇA DE TRABALHO
“Por força de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o conjunto das
faculdades físicas e espirituais que existem na corporalidade, na personalidade viva de
um homem e que ele põe em movimento toda vez que produz valores de uso de qualquer
espécie.” (Marx)
As classes sociais
As idéias liberais consideram os homens, por natureza, iguais, política e juridicamente.
Liberdade e justiça são direitos inalienáveis de todo cidadão.
Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural e observa que o
liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes
desigualdades estabelecidas pela sociedade. Segundo Marx, as desigualdades sociais
observadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do sistema
capitalista, que dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de
produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais.
As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição, antagonismo,
exploração e complementaridade entre as classes sociais.
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O Salário
O operário, como vimos, é aquele indivíduo que, nada possuindo, é obrigado a
sobreviver da venda de sua força de trabalho. No capitalismo, a força de trabalho se
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toma uma mercadoria, algo útil, que se pode comprar e vender. Surge assim um contrato
entre capitalista e operário, mediante o qual o primeiro compra ou “aluga por um certo
tempo” a força de trabalho e, em troca paga ao operário uma quantia em dinheiro, o
salário.
O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria.
Como a força de trabalho não é uma “coisa”, mas uma capacidade, inseparável do corpo
do operário, o salário deve corresponder à quantia que permita ao operário alimentar-se,
vestir-se, cuidar dos filhos, recuperar as energias e, assim, estar de volta ao serviço no
dia seguinte. Em outras palavras o salário deve garantir a reprodução das condições de
subsistência do trabalhador e sua família.
O cálculo do salário depende do preço dos bens necessários à subsistência do
trabalhador. O tipo de bens necessários depende, por sua vez, dos hábitos e dos
costumes dos trabalhadores. Isso faz com que o salário varie de lugar para lugar. Além
disso, o salário depende ainda da natureza do trabalho e da destreza e da habilidade do
próprio trabalhador. No cálculo do salário de um operário qualificado deve-se computar
o tempo que ele gastou com educação e treinamento para desenvolver suas capacidades.
A Mais-Valia
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5- Tudo que é criado pelo homem, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só
pode ser reanimado por outro trabalho, a partir daqui surge um novo produto, uma nova
mercadoria, um novo valor.
6- O valor de uma mercadoria é o tempo de trabalho socialmente necessário à sua
produção.
7- As mercadorias resultam da colaboração de várias atividades profissionais distintas;
por isso seu valor incorpora todos os tempos de trabalhos específicos.
8- Marx afirma que a mais-valia representa o valor ou produção excedente pelo qual o
trabalhador não é pago e se tornará o lucro do capitalista.
9- Marx identificou duas formas: a mais-valia absoluta, decorrente do aumento da
jornada de trabalho; e a mais-valia relativa, decorrente do uso de tecnologia e
automação aplicada à produção.
Para Marx, o processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores-
de-uso, (...) é condição necessária da troca material entre o homem e a natureza: é
condição natural eterna da vida humana, sem depender portanto, de qualquer
forma dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais.
É impossível a existência de uma sociedade na qual o trabalho não seja a atividade
criadora de coisas úteis.
Em todas as sociedades o intercâmbio dos homens com os recursos naturais se dá pelo
trabalho, sempre no interior de determinadas relações sociais, como por exemplo:
escravistas, feudais, capitalistas.
A sociedade contemporânea de alta tecnologia, depende do trabalho humano para a
produção de bens e serviços.
A ciência e a tecnologia são os elementos que impulsionam o desenvolvimento do modo
de produção capitalista no âmbito das relações de classe.
A ciência e a tecnologia contribuem para o fortalecimento do antagonismo de classe
existente no modo de produção capitalista.
A ciência e a tecnologia contribuem para o crescimento dos conflitos entre capital e
trabalho no modo de produção capitalista.
O Fetiche da Mercadoria
Fetiche: relação mágica com um objeto.
A mercadoria é uma fantasia fantasmagórica que vem do valor de troca. A mercadoria
ganha vida própria. A mercadoria não tem vida própria, ela é o resultado de relações
sociais de trabalho. É a forma dinheiro que dá o acabamento final á mercadoria,
fetichizando-a; dando uma sofisticação à mercadoria.
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Estado que molda a sociedade, mas a sociedade que molda o Estado. A sociedade, por
sua vez, se molda pelo modo dominante de produção e das relações de produção
inerentes a esse modo.
II- Marx defendia que o Estado, emergindo das relações de produção, não
representa o bem-comum, mas é a expressão política da estrutura de classe
inerente à produção.
Hegel, Hobbes, Rousseau, Locke e Adam Smith tinham uma visão do Estado como
responsável pela representação da “coletividade social”, acima dos interesses
particulares e das classes, assegurando que a competição entre os indivíduos e os grupos
permanecessem em ordem, enquanto os interesses coletivos do “todo” social seriam
preservados nas ações do próprio Estado.
Marx rejeitou essa visão do Estado como o curador da sociedade como um todo. Uma
vez que chegou a sua formulação da sociedade capitalista como uma sociedade de
classes, dominada pela burguesia, seguiu-se necessariamente a sua visão de que o
Estado é a expressão política dessa dominação. Portanto, o Estado é um instrumento
essencial de dominação de classes na sociedade capitalista. Ele não está acima dos
conflitos de classes, mas profundamente envolvido neles.
Pode haver ocasiões e assuntos onde os interesses de todas as possam coincidir.Mas na
maior parte das vezes e em essência, esses interesses estão fundamental e
irrevogavelmente em divergência, de modo que o Estado não pode ser seu curador
comum; a idéia de que tal possa acontecer faz parte do véu ideológico que uma classe
dominante lança sobre a realidade da dominação de classe, a fim de legitimar essa
dominação aos próprios olhos e também perante as classes subordinadas. ( Milliband,
1977).
O Estado não é, pois, de forma alguma, um poder imposto à sociedade de fora para
dentro; tampouco e a realização da idéia moral”ou a imagem e realidade da razão”,
como afirma Hegel. Ë antes, um produto da sociedade num determinado estágio de
desenvolvimento; é a revelação de que essa sociedade se envolveu numa irremediável
contradição consigo mesma e que está dividida em antagonismos irreconciliáveis que
não consegue exorcizar. No entanto, a fim de que esses antagonismos, essas classes
com interesses econômicos conflitantes não se consumam e não afundem a sociedade
numa luta infrutífera, um poder, aparentemente acima da sociedade, tem-se tornado
necessário para moderar o conflito e mantê-lo dentro dos limites da “ordem”. Este
poder, surgido da sociedade, mas colocado acima dela e cada vez mais se alienando
dela, é o Estado... Na medida em que o Estado surgiu da necessidade de conter os
antagonismos de classe, mas também apareceu no interior dos conflitos entre elas,
torna-se geralmente um Estado em que predomina a classe mais poderosa, a classe
econômica dominante, a classe que, por seu intermédio, também se converte na classe
politicamente dominante e adquire novos meios para a repressão e exploração da
classe oprimida. O Estado antigo era acima de tudo, o Estado dos proprietários de
escravos para manter sub jugados a estes, como o Estado feudal era o órgão da
nobreza para dominar os camponeses e os servos, e o moderno Estado representativo é
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O segundo traço característico é a instituição de uma força pública a qual não é mais
imediatamente idêntica à própria organização do povo em armas. Essa força pública
especial é necessária porque uma organização armada espontânea de toda a
população se tornou impossível, desde sua divisão em classes... Essa força pública
existe em todo o Estado; consiste não somente de homens armados, mas também de
instituições coercitivas de todo o gênero. (Engels)
Conclusão
O modo de produção capitalista ilustra a tese geral de Marx de que a realidade é
dialética, que ela contém contradições dentro de si. Pois, de um lado a mudança
tecnológica, a introdução de novos métodos de produção, é parte da existência mesma
do capitalismo. A pressão da concorrência força os capitalistas a inovarem
constantemente, e desse modo a ampliar as forças de produção. Por um outro lado, o
desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo leva inevitavelmente a crises.
Como Marx colocou em O Manifesto Comunista:
"A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os
instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas
as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção, constituía,
pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais
anteriores. Essa subversão contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema
social, essa agitação permanente e toda essa falta de segurança distinguem a época
burguesa de todas as precedentes."
A diferença entre o capitalismo e os seus precursores surge das relações de produção:
"É claro, entretanto, que se numa formação sócio-econômica predomina não o valor de
troca, mas o valor de uso do produto, o mais-trabalho é limitado por um círculo mais
estreito ou mais amplo de necessidades, ao passo que não se origina nenhuma
necessidade ilimitada por mais-trabalho do próprio caráter da produção". (C1, 190)
O senhor feudal por exemplo se satisfazia tanto quanto ele recebia suficiente renda de
seus camponeses para sustentar a ele próprio, sua família e seus empregados, dentro do
estilo ao qual estavam acostumados. O capitalista, entretanto, tem um "apetite voraz",
uma "fome de lobisomem por mais-trabalho", que brota das necessidades de se igualar
aos aperfeiçoamentos técnicos de seus concorrentes, ou ir à falência.
Marx foi um firme defensor do que ele chamou de "a grande influência civilizatória do
capital” contra aqueles que, tais como os românticos olhavam nostalgicamente para as
sociedades pré-capitalistas. Ele elogiou David Ricardo por "ter seus olhos unicamente
para o desenvolvimento das forças produtivas. "Afirmar, como fizeram oponentes
sentimentais de Ricardo, que a produção como tal não é o objeto, é esquecer que a
produção por seu próprio fim não é nada senão o desenvolvimento das forças produtivas
humanas, em outras palavras, o desenvolvimento da riqueza da natureza humana como
um fim em si".
Assim, o capitalismo foi historicamente progressivo. Ele conduz para
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"além das barreiras nacionais e preconceitos (...), assim como de todas as tradicionais,
confinadas, complacentes e incrustadas satisfações das necessidades humanas, e
reproduções de velhos modos de vida. Ele é destrutivo para tudo isso, e constantemente
o revoluciona, rompendo todas as barreiras que obstruem o desenvolvimento das forças
produtivas, a expansão das necessidades, o desenvolvimento multipolar da produção e a
exploração e a troca de forças naturais e mentais."
Ao mesmo tempo, porém a tendência à queda da taxa de lucro mostra que o capitalismo
não é, como os economistas políticos acreditaram, a forma mais racional de sociedade,
mas é ao invés disso um modo de produção historicamente limitado e contraditório, que
aprisiona as forças de produção ao mesmo tempo em que as desenvolve. "A verdadeira
barreira da produção capitalista é o próprio capital", escreve Marx. "A violenta
destruição de capital, não por relações externas a ele, mas antes como uma condição de
sua auto-preservação, é a forma mais impressionante na qual está dada a sua partida,
cedendo lugar a um estágio mais elevado de produção social"
Contrário ao que muitos analistas, entre eles alguns marxistas tem dito, Marx não
acreditava que o colapso do capitalismo fosse inevitável. "Crises permanentes não
existem" (TMV), ele insistiu. Como vimos, as crises são sempre soluções momentâneas
e forçosas das contradições existentes. Não existe crise econômica tão profunda da qual
o capitalismo não possa recuperar-se, uma vez garantido que a classe trabalhadora
pague o preço do desemprego, deterioração dos padrões de vida e das condições de
trabalho. Se uma crise irá levar a "um estágio mais elevado de produção social"
dependerá da consciência e da ação da classe trabalhadora.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis: Vozes,
1982, p. 9-13.
BOTTOMORE, Tom (editor). Dicionário do pensamento marxista. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 2001
GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
MARX, Karl. El Capital, 3 tomos. México: Fundo de Cultura Econômica, 1946, tomo I,
18. Apud IANNI, Octavio. Dialética e capitalismo – ensaio sobre o pensamento de Marx. Petrópolis:
Vozes, 1982, p. 11.
SINGER, Paul. Marx – Economia in: Coleção Grandes Cientistas Sociais; Vol. 31.
MARX, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel: São Paulo: Boitempo, 2005.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política, 28 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2011.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista, 1848. Porto Alegre: L&PM, 2009.
MARX Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, Boitempo, 2011, pp.67-68
Exercícios de Fixação
Nome:_________________________________________________ Turma: 2º_____
Disciplina: Sociologia
01. As mudanças trazidas pela Revolução Industrial provocaram novas reflexões sobre a
sociedade e seu comportamento. Karl Marx, um dos pensadores marcantes do século XIX,
nas suas reflexões:
a) reconhecia a falta de justiça social, devido aos exageros do sistema capitalista que
incentivava a exploração das classes desfavorecidas.
b) admitia o grande valor da tecnologia produzida pelo Capital, necessária para acabar com o
liberalismo econômico.
c) defendia a necessidade de ampliar a intervenção do Estado na gestão da economia, a fim de
pôr fim aos sistemas parlamentares europeus.
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d) propunha a luta da sociedade para negar as mudanças sociais, admitindo a volta aos
princípios do mercantilismo.
e) restringia, às classes sociais urbanas, os planos de crescimento da sociedade europeia e de
uma melhor qualidade de vida.
2 - Com base na charge e nos conhecimentos sobre a teoria de Marx, é correto afirmar:
a) A produção mercantil e a apropriação privada são justas, tendo em vista que os patrões detêm
mais capital do que os trabalhadores assalariados.
b) As relações sociais de exploração surgiram com o nascimento do capitalismo, cuja faceta
negativa está em pagar salários baixos aos trabalhadores.
c) A mercadoria, para poder existir, depende da existência do capitalismo e da substituição dos
valores de troca pelos valores de uso.
d) Um dos elementos constitutivos da acumulação capitalista é a mais-valia, que consiste em
pagar ao trabalhador menos do que ele produziu em uma jornada de trabalho.
e) Sob o capitalismo, os trabalhadores se transformaram em escravos, fato acentuado por ter se
tornado impossível, com a individualização do trabalho e dos salários, a consciência de classe
entre eles.
03. Para Marx, o materialismo histórico é a aplicação do materialismo dialético ao campo
da história. Conforme Aranha e Arruda (2000) “Marx inverte o processo do senso comum que
pretende explicar a história pela ação dos grandes homens ou, às vezes, até pela intervenção
divina. Para o marxismo, no lugar das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a
luta de classes”. Assim, para compreender o homem é necessário analisar as formas pelas
quais ele reproduz suas condições de existência, pois são estas que determinam a linguagem, a
religião e a consciência. (ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia.
São Paulo: Moderna, 2000, p. 241.) A partir da explicação acima e dos seus conhecimentos sobre o
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pensamento de Karl Marx, assinale a alternativa que indica, corretamente, os dois níveis de
“condições de existência” para Marx.
a) A alienação, caracterizada pelas relações dos homens entre si e com a natureza; e
superestrutura, que é na verdade a forma pela qual o homem produz os meios de sobrevivência.
b) Infraestrutura (ou estrutura), caracterizada pelas relações dos homens entre si e com a
natureza; e materialismo dialético, que é na verdade a forma pela qual o homem produz os
meios de sobrevivência.
c) Modos de produção, caracterizados pelo pensamento filosófico dos socialistas utópicos; e o
imperialismo, característica máxima do capitalismo industrial.
d) Imperialismo, característica do capitalismo industrial; e infraestrutura (ou estrutura),
caracterizada pelas relações dos homens entre si e com a natureza.
e) Infraestrutura (ou estrutura), caracterizada pelas relações dos homens entre si e com a
natureza; e superestrutura, caracterizada pelas estruturas jurídico-políticas e ideológicas.
11- Analisando a história quais foram os modos de produção identificados por Marx?
16- De acordo com o pensamento de Marx, o que a divisão social do trabalho fez com a
filosofia? Por que?
17- De que forma o ser humano pode recuperar sua humanidade deixando o estado de
alienação?
23- O que você entende por mais-valia? Explique o que é mais-valia absoluta e mais-valia
relativa.
26--UFU/97 – “As classes sociais sempre mantiveram uma luta constante, velada umas vezes e
noutras franca e aberta; luta que terminou sempre com a transformação revolucionária de toda
a sociedade ou pelo colapso das classes em luta” (Marx, Crítica da Economia Política). “Para
Marx e Engels, a história das sociedades cuja estrutura produtiva baseia-se na apropriação
privada dos meios de produção pode ser descrita como a história da luta de classes.”
QUINTANEIRO e OLIVEIRA, Um Toque de clássicos, UFMG. 1995, p.81.
Leia as afirmativas abaixo e indique, de acordo com o código, as proposições que confirmam o
conteúdo do texto acima:
I-A expressão luta de classes procura enfatizar as contradições presentes numa sociedade
classista.
II-As classes sociais estão constantemente em luta e são esses processos que revelam o caráter
antagônico das relações capitalistas de produção.
III-Para Marx, o conceito de luta de classes relaciona-se diretamente ao de mudança social.
IV-A história do homem é, segundo Marx, a história da luta de classes, uma luta constante entre
interesses opostos.
V- As divergências, as oposições e os antagonismos de classe estão presentes nas relações
sociais, nos mais diversos níveis da sociedade, desde o surgimento da propriedade privada.
a) Apenas II e III estão corretas.
b) Apenas I, II e IV estão corretas.
c) Apenas I, IV e V estão corretas.
d) Apenas I, II, IV e V estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
30 - (UFGD MS/2013) Karl Marx e Friedrich Engels são importantes e destacados autores das
teses do socialismo científico, cuja proposição se baseou:
a) em apontar e discutir as contradições do capitalismo, a partir da ideia de que seria necessária
a ação revolucionária dos trabalhadores.
b) no desenvolvimento e execução de sucessivas reformas em diferentes modelos econômicos,
visando ao aperfeiçoamento do Liberalismo.
c) na perspectiva de que seria urgente a redução do papel do Estado na economia.
d) em redefinir o movimento sindical, por considerar que ele estaria ultrapassado após a
Revolução Russa.
e) no desenvolvimento e execução de sucessivas reformas em diferentes modelos econômicos,
visando ao aperfeiçoamento do Liberalismo.