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Praça e Altar

(titulo dado por Antonio)

Seria bom ler esse testemunho atravez das palavras dos papas, que nos convidam a um exame de
consciencia sobre a qualidade da evangelização da Europa... e a maneira pela qual hoje o Evangelho
é anunciado e vivido. Não é um alerta para nos dizer que temos que mudar muita coisa, isto é a
evangelização europeia, o anuncio e a vivencia do Evangelho?

1 – Pio XII em cima dos escombros ensanguentados pela guerra, declara: “E’ o mundo todo que
precisa ser refeito pelas fundações, passando do selvagem para o humano, do humano para o divino
segundo o coração de Deus” (1952).
2 – Papa Wojtyla: "É realmente difícil continuar o caminho tendo atrás de nós este terrível
Calvário dos homens e das nações. Uma tal constatação nos leva a um exame de consciência sobre a
qualidade da evangelização da Europa. A queda dos valores cristãos, que favoreceu os erros de
ontem, deve nos tornar vigilantes sobre a maneira pela qual hoje o Evangelho é anunciado e vivido"
(26.8.1989). "As monstruosidades daquela guerra se manifestaram em um continente que se gabava de
um florescimento particular de cultura e de civilização; no continente que ficou mais tempo no raio do
evangelho e da Igreja. Por isso os cristãos da Europa devem pedir perdão" (16.5.1995).
3 – Papa Francisco: a Evangeli Gaudium não è uma exortação para uma mudança
da nossa pratica como cristãos?

Algumas informações sobre o Fausto e Antonio, autores desse relato:

1- Fausto:15 anos no seminario franciscano; dez anos com pe. Zeno, fundador de
uma comunidade de familias que, juntas, salvam 5.000 abandonados. Alì
descobre que è possivel viver o evangelho como familias, que vão além dos
limites biologicos do parentesco, da raça, da patria, porque não nascemos “pela
carne, pelo sangue, pela vontade do homem, mas por Deus” (Jv 1,18).
2- Em 1982 enviado pro Brasil (Ma) como missionario por vinte anos procura
viver o misterio cristologico na escola dos camponeses escravos da miseria e
da esploração. Todos os dias leva para o cemiterio crianças nascidas para
morrer. “Eu vi aqui para celebrar a vida não para ser coveiro de meninos!”. Cai
num trauma existencial e, para não morrer de desespero, casa para acreditar na
força da vida.
3- Quando nasce o segundo filho com paralisia cerebral, o primeiro cai na droga
para prencher o vazio do coração: o irmão tirou a mãe dele? Fausto faz uma
promessa: “Se voce não se recuperar eu vou ajudar os jovens que querem sair
da droga”. Na Fazenda da Esperança toca com as mãos, que Jesus não veiu
para os sadios mas para os doentes, não para os justos mas para os ultimos e
abandonados. Nomadelfia o convida a procurar 3/4 familias que queram viver
a fraternidade social e aì passa na Casa do Menor onde é encarregado da
formação das familias. Para deixar espaço aos recuperandos da obra Lumen se
muda para a Casa s. Francisco.
4- Antonio se recupera na obra Lumen. No retiro dos consagrados (Aquiraz,
2019) se da leitura duma carta com o desenho da cruz com o rosto de Jesus que
lagrima sangue. Comentario do Fernandinho: Esse recado nos diz que temos
que nos converter (depois de um ano fausto descobre que a carta foi ditada por
Antonio e escrita por Bruno).

Em 16.1.2019 fausto escreve: “Eu sonho com um grupinho que viva na rua com os
Jesus Abandonados. Uma ideia abstrata, ou uma exigência da caminhada de quem se
sente chamado a ser a luz do Ressuscitado? Eu nunca fui morador de rua, nunca trilhei
nas pegadas do Abandonado: como posso provar em mim os mesmos sentimentos Dele e
dos que, como Ele, não tem toca nem ninho?
Estou correndo o perigo de fazer da visita ao Abandonado uma “devoção” a mais?
“Visitei, abracei, beijei o Abandonado, me sinto melhor, feliz de ter feito uma coisa boa”.
O inconsciente está satisfeito, posso voltar em paz aos meus afazeres no enquanto Ele fica
lá na cruz...
O Abandonado me obriga a reler o evangelho com os olhos daquele que disse: “As
raposas tem tocas, as aves do céu tem ninho, o filho do homem não tem onde colocar a
cabeça”. Quantas vezes li este trecho e nunca dei fé que Jesus è um morador de rua. Por que
escolheu a rua come travesseiro, a companhia dos vagabundos como a família Dele?
Me parece que Deus me chama na rua, para descobrir que Ele està lá, na terra de
ninguém, para abrir as escrituras segundo o povo de rua: “O medico vem para os doentes não
para os sadios”; “no céu se faz mais festa para o pecador que se arrepende do que para cem
justos”; “muito è perdoado a quem muito tem amado”; etc.
O objetivo desse relato é partilhar uma experiencia que não nos pertence porque nos foi
dada para ser dos irmãos. Além disso quer ser uma resposta ao convite do responsavel que
insistiu: “Seu Fausto, se lance. Essa é a sua casa”.

Depois de um ano fausto re-encontra Antonio, monitor da Casa s. Francisco, com quem
partilha e concretiza o sonho. Informam o coordenador das casas, o qual aprova e diz: “Vou
preparar uma turma para ir na rua de noite”. Segue a cronica do encontro com o Abandonado.

14.12.19
Ontem a noite eu e o Antônio conseguimos procurar Jesus abandonado na praça do Liceu.
Antes de entrar na nossa “igreja”, uma reza para pedir que Jesus nos acompanhe ao encontro
Dele.
Achamos Mario Adriano. Entregamos pasta dental, escova, sabonete (que ele pediu).
Antônio senta no chão, se sente mais a vontade do que eu. Eu sento no banco perto Dele.
Respiro o bafo da casciassa e o bafo da sua alma. Pela primeira vez o abraço na tentativa de
transmitir o que as palavras não conseguem transmitir. Ele me abraça. Sensação viva de ser
abraçado por Jesus em carne e osso.
Na despedida: “Por favor veja além da pasta dental. Isso não é nada, atrás disso está
nosso coração. Nosso amor é mais do que uma pasta dental”. E Ele, quase chorando, consegue
so dizer: “Me ajudem, me ajudem…”. Quando é Jesus que diz isso a alma fica cheia de alegria.
Eu não entendo, Antônio me explica: “Ele não consegue sair sozinho do vicio, precisa da
nossa mão… vamos ver se da de achar um lugar próprio para ele. É preciso falar com os
responsaveis”.
Continuamos o caminho nas pegadas Dele. Orlando nos espera: magro, quase
transparente, 3 cachorros gordos e um pombinho abandonado. Diz que os bichos são a família
dele, porque o ser humano não consegue ser família para ele. Um senhor queria pagar um café
para ele mas a mulher do bar não quis dar. Teve que procurar um bar no outro lado da praça.
“Jà jantou?”- “Não, ainda não. Não gosto de pedir nada para ninguém”, mas para o
Fausto ele pede comida. Voltamos com a comida e ele: “Como posso fazer para ser feliz?”.
Antônio: “Adorar a Deus e Ele tem a resposta para a felicidade”. Depois ele fala coisas
estranhas, sem conexão: “Eu não entendo o céu, o inferno, eu compreendo a ciência, Deus não
consigo senti-lo”. E aì se desencadeia como uma guerra de contradições dentro dele, repetindo
as mesmas palavras: “Deus, mundo, inferno”, tudo de maneira confusa, mas angustiada.
Eu so sei abraçar ele sem dizer nada. Procuro acolhe-lo no meu coração no enquanto ele
abre o bico do pombo e coloca pedacinhos de pão. O bichinho engole e parece feliz, satisfeito.
Orlando parece aliviado com o pombinho abandonado. Ele nos contou a historia da Estelinha:
“Um dia alguém deixou um saco perto de mim. Abri e achei uma cachorrinha recem nascida
que cabia numa mão. Minha nova familia começou com ela”.
A gente se retira para deixar ele comer em paz junto com os cachorros, a família dele.
Atravessamos a praça, passando na frente das lanchonetes, o carvão assando espetinhos
cheirando filé minhon, peito de frango, salsicha e a gente fica com água na boca… Mas nosso
coração esta preso pelo Jesus abandonado que nos chama, nos espera como numa tocaia para
provar nosso amor para com ele.
Quando a gente tá partilhando Orlando chega dizendo: “Obrigado pela comida e por
tudo.  Mas vocês vem aqui trazer esse Deus e trazem a comida porque querem me levar para a
casa de acolhimento? Se for assim não tragam mais nada, eu não quero ir para essa casa de
voces”. E aí se retorceu, começou a brigar consigo mesmo. Será que Deus mexeu com ele e se
sentiu abandonado por Ele também?
A gente conversa. Fausto: “Antonio, é isso que eu procurei em toda minha vida. Procurei
Ele vivo, verdadeiro, desesperado. Ele toma casciassa para esquecer de não ser amado, aceito,
acolhido. Grande demais o vazio do não/amor… Eu acho que foi pe. Zeno que me trouxe aqui
para abraçar Ele, colocar meu coração nas chagas deles. Quem é que tem sede Dele? O pessoal
que está lá sentado comendo e bebendo ao lado da praça? Aqueles que moram nos arranha-
céus? Mario, Orlando, Mateus, etc. eles estão com sede Dele, Ele que fica ao lado deles porque
Ele também não tem toca nem ninho, so a rua pode caber o coração de Jesus e do Pai Dele. Ele
não está no céu, lá os anjos não precisam Dele, Ele está aqui nos Jesus abandonados”.
Se aproxima uma mulher elegante, roupa fina, cheia de joias. Traz comida para um
jovem, senta no colo dele. Fico admirado. Procuro porque ela faz isso. Responde que é o
coração dela que manda fazer isso. Misterioso o animo humano.
A noite seguinte Mateus nos revela que ela é sua namorada.
Procuramos o Mario. Alexandre nos informa que não se encontra mais na praça. Ele
entregou 8 traficantes, a policia fez uma cata na praça, encontrou droga, armas. Por que será que
o Mario fez isso? Talvez porque devia e não tinha como pagar? Ninguém abre o bico. Orlando
já está dormindo e o pombinho perto dele também. A rua é para os debandados, os sem
ninguém, ou é para os que procuram aquilo que não acharam na família, nos amigos, na
sociedade? E Jesus quer viver na rua por que sabe que eles precisam Dele? Não veiu para os
doentes, para os traídos como Ele? Nenhum morador de rua pode dizer para Ele: “Tu não sabes
o que quer dizer dormir ao relento sem saber se amanha vai acordar vivo ou queimado...Toda
noite nos nos entregamos nas mãos de Deus... So Ele nos protege. A policia protege os ricos”.
Naquele momento não entendemos porque ele, o Mario, disse três vezes: “Me ajudem,
me ajudem, me ajudem”. Tivessimos entendido teríamos arrumado uma solução para ajudar ele.
Mas continuamos rezar, amar ele para que o Pai o acompanhe e proteja nos caminhos da vida.

16.12.19
Sobrou muita feijoada. Vamos levar para Jesus Abandonado. Achamos Luciano bêbado
que nem segura em pé. Nem consegue falar sô balbuciar. Come com as mãos. O colega dele,
Carlos, procura pratos e come com a colher. Luciano não sabe como agradecer, nos abraça e
beija. Mostra a camiseta com a imagem de Maria e a escrita: “Quem em mim confia consegue
aquilo que precisa”. Ele quer um sinal religioso. Fico encabulado porque quer beijar a gente
continuamente. Serà que ele tem tanto amor para dar? Procuramos deixar claro que a gente vai
onde eles não para levar comida, mas algo mais, isto é o amor do Pai.
O Orlando chega, olha para o Antônio e pergunta: “O que tu tens para mim, hoje? Uma
palavra?”. A espressão dele é come se dissesse: “Tu tens uma palavra de Deus para mim?”. Mas
os outros estão muito bêbados e atrapalham o momento.
Antônio: “Eu entendi que na primeira noite o Espirito Santo lançou uma faísca de fogo
nele. Naquele momento eu me senti na praça do Ferreira quando a Lumen vinha me resgatar.
Me identifiquei com ele porque a mesma coisa aconteceu comigo. Essa experiencia foi muito
boa para mim porque são muito parecidas uma com a outra. O fogo nele esta crescendo, tá
buscando, tá querendo algo e a mesma coisa aconteceu comigo… Aquele foguinho que estava
em mim tava se apagando quando Deus enviou um anjo para mim resgatar, esse anjo era uma
mulher em forma de Maria. Assim vai acontecer com o Orlando?”.
Antônio bate uns retratos e eles levam em brincadeira: “Ninguém tira retrato de nós
lascados. Estes amigos nos ajudam a nos sentirem importantes!”. No retrato Carlos bota comida
na boca do Fausto. Estão alegres, felizes… por alguns momentos pelos menos?

17.12.19
Vamos na praça como na nossa Igreja onde Jesus abandonado nos espera. Rezamos: “Pai
do céu ajude-nos a ser tua presença de amor. Não levamos nós mesmos, mas Voce”.
Topamos no Luciano morto de bêbado. Fazemos de conta de não ver ele, mas ele vem
atrás de nós nos beijando e pedindo o terço prometido.
Fausto comenta: “Eu não sabia de ter tanto Amor para dar. São eles que puxam de mim
aquilo que estava no fundo do meu coração. São eles que tocam fogo no nosso coração que com
eles arde sempre mais?”.
Mateus: sorrindo pela primeira vez, diz que a namorada dele manda lembranças para o
velhinho (Fausto). Orlando está bebendo vinho com outro Mateus e Junior. Quer saber se nós
queremos levar Deus para ele. “Não vamos trazer aquilo que jà está no seu coração, embora
você não sinta Ele ainda”.
Reuri voltou chorando, pedindo socorro para ir onde a mãe dele. Não aguenta mais.
“Além do mais agora estou com gonorreia”. Sempre a mesma historia para mexer no coração da
gente. Falamos com os responsáveis. Estão de acordo de dar mais uma chance, bem sabendo
que pintou e bordou demais. Tudo combinado não aparece na hora marcada de ir para
rodoviária. Outra queda, outra traição? Como perdoar quem não quer nada? O vicio fala mais
alto, humilhando nosso amor para com ele? Deus pai, sô tu sabes amar Reuri até o ponto de
beija-lo? Mas o beijo é para o filho que se arrepende e volta para casa. Vamos ter que esperar,
dar mais um tempo para teu filho Reuri?

18.12.19 – Na praça o vai e vem de sempre. As quadras estão cheias, o povo passeia. As
lanchonetes jogam no ar um cheirinho bom que da água na boca. Cadê nosso Jesus
abandonado? Falta so Ele, hoje, parece que desertou nossa companhia. A gente conversa sobre
Reuri, Mario, André e Paulo que saíram da nossa casa. Orlando dorme com sua família de
cachorros.
De repente chega Luciano, bêbado mas bastante lucido. Diz que não comeu nada, mas o
povo da de comer quando ele pede. Conversa vai, conversa vem. “Cadé o Mario?”. “Tà no
Pirambù”. “Como é que você sabe?”. “ Porque mora perto da minha familia”. “Então tu tens
familia”. E aí Luciano estoura em lagrimas. Procuramos consolar. Fausto so sabe abraça-lo e
bater tapinhas nas costas dele.
Antônio fala do Pai, de Deus que esta aqui para ele atravez de nós. “Lá no céu não tem
nada para fazer. Eu também passei um tempão na rua, cheguei perto do desespero, queria
morrer, me matar… Cheguei a colocar a faca no pescoço e clamei a Deus de me socorrer. O Pai
do céu me deixava afundar para eu sentir que so Ele podia me salvar, levar para a luz, me saciar
da palavra Dele”. Antônio continua partilhando, mas Luciano chora, chora, beija nós, beija sem
fim o terço que demos para ele de presente. Passa e repassa a mão no crucifixo. O caricia, o
beija mil vezes. Mas o choro não para. Fausto virou mudo, so sabe abraçar Ele. Luciano vai
buscar água e bebe, bebe. Para matar a fome?
Nós dois agora estamos famintos também de entender porque Jesus abandonado chora
tanto. Antônio: “Porque tu botou o dedo na chaga dele: a família. Luciano disse que tem 8
irmãos e um despejou ele. “Se eu não saia de casa ele ia me furar”.
Será que é esse o ponto fundamental de todos os Jesus abandonados que se refugiam na
rua, fugindo de uma casa sem amor? O que Deus nos quer dizer com isso? Que a família
natural, biológica não preenche o coração humano? Para nós não basta a comida dos pais, nem o
carinho da mãe. Nosso coração pretende mais e mais. A família biológica passa, o afeto muitas
vezes se torna frieza e talvez menosprezo. Não tem mães que levam o filho para o abrigo, filhos
que levam os pais idosos para a casa dos velhos? A familia natural é limitada, fraca, basta uma
doença e não da conta do recado. Os índios tem uma segurança maior na aldeia, no clan, um
parentesco mais amplo, que da mais segurança mas acontece que um grupo briga com o outro e
chegam a fazer guerra entre eles.
A resposta para todos os Luciano é a família que renasce pelo amor de Deus. Um amor
mais amplo, seguro, universal que vence todas as dificuldades, supera as barreiras. Como ajuda-
lo a entender isso? Antes de tudo é nós que temos que aprender a lição Dele: precisamos
renascer como famílias. Construir uma comunidade de famílias que responda ao choro dos
Lucianos, dando segurança, carinho, aquele amor que a família biológica não consegue dar
porque não o conhece. Jesus continua dizendo: “Quem é meu pai, minha mãe, meus irmãos?”. –
“Bem aventurado o ventre que te carregou”. – “Não, bem aventurado quem observa minha
palavra e a coloca em pratica. A carne não vale nada, é o espirito que da a vida; não é pela
carne, pelo sangue, pela vontade do homem, pois é de Deus que nascemos”.
Jesus abandonado nos esperava como numa tocaia. Penetramos no coração dele e ele
jorrou sangue de alma e água de lagrimas para nos introduzir na realidade do Reino Dele que
não vem de um fato biológico, mas do espirito. Até os animais tem cuidado, zelo com os
filhotes deles. Para nós não basta. Precisamos de um amor grande como o céu, como o coração
do Pai. Não somos filhos Dele? Nossos pais nos dão um pedaço de carne, quem da a alma não é
o Pai do céu?

Fortaleza 21.12.19
O chamariz de Jesus abandonado é sempre mais forte. Não sabíamos que morava tão
perto da gente, bem aí na praça do Liceu. Agora que sabemos não podemos fingir de não ver, de
ir além como o sacerdote e o levita. Não seria como matar o amor?
Estamos descobrindo que é Ele nossa verdadeira escola de evangelização. Quando
começamos frequentar Ele todas as noites, Ele recebia a gente como visitantes, como curiosos.
Não se abriram logo. Parece que precisam de tempo para nos estudar, para descobrir se nós
somos como os outros benfeitores que tratam eles de coitadinhos, levam para eles migalhas de
compaixão, uma comidazinha tratando eles como barrigas e mais nada. Rejeitam nossa
chantagem: eu te dou algo para comer e tu me acolhe como teu benfeitor! Não! Sô depois de
uma semana começaram a se abrir, a mostrar as chagas do coração.
Orlando disse duas palava que são o retrato dele: “Eu to com ansiedade e depressão”. Ele
diz abertamente que a família dele são os 3 cachorros e o pombihno abandonado. Mas será que
ele é convencido disso até o fundo da alma? Se o fosse diria para nós que está ansioso e
deprimido? Não é uma maneira para pedir socorro? Para procurar outra familia, aquela que o
coração dele pede? Depois pediu de ajuda-lo a recuperar o RG dele que ficou preso na mão do
dono do restaurante ao qual deve 70 reais.
Começamos a pensar que hà uns seres humanos que não conseguem sair da situação de
rua. Desprezados, falidos, fodidos, não tem outra saida para eles. Vamos ter que respeitar a
escolha deles, a vontade de se sentir livre, não condicionados pelos costumes burgueses do ter,
possuir, gozar, aparecer, etc. Orlando esta contente com pouco. Luciano esta satisfeito com uma
garrafinha de casciassa. Recorre à anestesia do álcool porque ainda não achou água limpa, sem
segundos fins? So depois de um tempo botou para fora que a familia dele o desprezou, que o
irmão ameaçou de fura-lo. E chorou, chorou, chorou. E começou a nos abraçar e nos beijar.
Quando entregamos o terço não dava de entender se beijava o crucifixo o beijava a si mesmo.
Para ele não eram mais dois crucificados mas um so?
Ontem ele me perguntou: “O senhor é padre?”. “Eu sou teu irmão”. Tà vendo? Eles
procuram pais, procuram irmãos. Nos ensinam a verdadeira evangelização: se despojar de si
para se tornar o mais possível como eles. Descer do pedestal das nossas certezas, seguranças,
orgulho espiritual. Deus se envergonhou de ser rico, de ter tudo, e se esvaziou, se despojou de si
para entrar na nossa carne, para se vestir da nossa humanidade (Fl 2,6).
Não querem benfeitores porque o benfeitor està sempre acima o abaixo, nunca em pé de
igualdade. Eles sabem melhor do que nós que o amor é possível so entre iguais. Não podem
recusar nossa comida, mas eles sabem que as migalhas são para os cachorros, eles querem o pão
inteiro do amor. Estamos percebendo que se vamos onde eles cheios de verdade, saturados de
devoções, se queremos usar eles como um trampolim para nos sentir mais perto de “Deus”,
nunca iremos descobrir o que é evangelização. É preciso criar espaço, sair de si, se despojar dos
limites da familia biológica para poder assumir a familia segundo o coração de Deus que é além
da raça, do sangue, da vontade do homem (Jv 1,18).
Essa é a revolução do relacionamento que Jesus veiu propor (Se vis, se quiser): não mais
uns em cima para dar, outros em baixo para receber. Se o pai é um so, todos nós somos irmãos.
Não somos macaquinhos para serem amansados com migalhas de bolo e de pizza; somos gente
como vocês, como Jesus. O que vocês fazem para ressuscitar em nós a dignidade de sermos
imagem de Deus, espelho Dele?
Nós costumamos vestir camisetas com imagem sagradas para mostrar a nós mesmos e aos
outros que somos seguidores de Cristo; o Luciano tem uma camiseta com imagem de nossa
Senhora: a beija, da para nós beija-la. Mas o faz tão espontaneamente, se pode dizer por instinto
de fé?
24.12.2019
Natal. Vamos na praça às 21 hs. As entitades de caridade jà passaram deixando marmitex
natalinos. Estão todos saciados, não precisam da nossa comida, mas de nós, do nosso amor.
Mateus està triste porque a namorada o deixou. Luciano e Miriam não tem tempo para ficar
conosco e se vão embora. Depois os encontramos balançando na rede, abraçados. Não sabem
fazer outra coisa? Ou não tem outra coisa para eles gozar na vida? Longe de nós julga-los.
Alexandre està de barriga cheia mas quer um lençol. O mudo fala com a força do alcool,
està cheio de mel. Mario (o jovem) hoje não fala, parece pensativo, triste. Tem outros dois
novatos mas não hà o clima para conversar com eles.
O dono da lanchonete està na praça. Me conta da familia dele: sua irma é a dona da Casa
s. Francisco; tem uma soubrinha freira; ele ajuda os moradores de rua. Mas não conseguiu me
diser porque o faz. Orlando queria falar mas quando a gente volta para casa ele està dormindo
com os cachorros e o pombinho.
Dificil ver o Natal por aqui. Talvez seja uma invenção dos ricos para justificar os vicios
deles: comer, beber, esbanjar, fazer festa em nome de um menino que nasce no meio da merda
dos animais? Ontem como hoje, hoje como ontem.
Historia de Mateus (da Lumen): “Tenho 31 anos. Aos 10 sai de casa porque não
aguentava minha mãe. Eu detestava as regras, queria viver para ser livre. E ela me castigava, me
obrigava a ficar de joelho em cima do fejião. Me revoltei e fugi, reparando na rua. Fiquei na rua
17 anos. Em s. Paulo ganhava 200 reais por dia lavando carro e de noite gastava tudo na
cocaina. Ela te da o prazer tres vezes mais do que o prazer que te da uma mulher. Adoeci de
tubercolose e não me cuidei. Hoje estou com ela cronica e estou aqui por força. Deus permetiu
minha doença para eu me recuperar”.
“Por que não volta para casa de sua mãe?” – “Ela não me quer e eu estou bem longe dela.
Na rua se vive em plena liberdade, ninguém manda em tu, pode fazer o que quiser”.
“Mas o preço não é alto demais, o risco de ser morto, a fome, a chuva, a doença, etc.?” –
“Avaliando os pro e os contra eu prefiro a liberdade da rua”.

25.12.19 – Natal? Para mim é a celebração de uma tragedia. Os inocentes pagaram ontem
e pagam hoje: 168milhões de abandonados. Fazer festa com o choro deles? Lavar a alma nas
lagrimas deles? Dois mil anos de cristianismo não amansaram o ser humano, que continua
matando, guerriando, destruindo o planeta, que deveria ser a casa de todos.
A tarde vem uma senhora simples com o filho carregando uma bandeja cheia daqueles
pãonzinhos recheados de carne. Estão colocados em forma de piramide. Com quanto amor deve
ter feito isso? Cumprimento e pergunto: “Por que a senhora faz isso?”. Com simplicidade:
“Porque gosto de ajudar”. A abraço. As palavas estragariam o sorriso dela.
Na reza da noite coloco o computador passando as immagens de Nossa Senhora com no
colo o menino Jesus: “Vamos nos imaginar no colo de nossa mãe. Até Jesus quis esperimentar a
ternura de uma mãe. Nós não sabemos o que é um coração de mãe. So Deus podia inventar uma
criatura como a mulher/mãe”.

27.12.19
Partilha antes do terço. Não queria falar, me sentia vazio, a alma seca. De repente
comecei a dizer: “A gente passou a semana de Natal muito pesada. Diego me contou a historia
dele: “Depois do efeito da droga batia a cabeça na parede, me furava os pulsos com tesoura,
queria tomar veneno para ratos, etc.”. – Por que precisava da anestesia da droga? – “Para
superar as incomprensões da familia, as dificuldades da vida. Mas Deus me pegou…”.
Fui na praça, encontrei Jesus abandonado que não mora nos palacios, mas nas favelas, na
rua e me perturba a alma. Vendo tanto povo sofrido olho para o céu e Ele me faz dizer: so um
Deus tem condição de amar a todos nós; se Deus não existisse precisaria inventa-Lo, porque so
Ele pode sarar nossas chagas, consolar nosso coração… So Ele é capaz de amar da maneira que
homem nenhum sabe amar. No silencio da alma vamos sentir esse Amor que so Ele tem para
conosco. Deixamos nos abraçar por Ele. Vamos dizer para Ele que queremos ficar no colo Dele,
ser balançados por Ele… Que queremos aquele beijo que ele reserva so aos filhos prodigos”.
29.12.19
Fui na praça com o Jorge. Mais uma vez estou convencido que os que passaram pela rua
tem o privilegio de voltar para a rua para abraçar Jesus Abandonado. Jorge senta logo no chão,
fala com eles como se os conhecesse desde sempre. O mesmo linguajar, a mesma atitude,
coração aberto, acolhedor, fala daquilo que eles falam. Fala tambem daquilo que eles não falam:
a misericordia de Deus; o inverno chegando, melhor achar um abrigo; etc. Ele se sente a
vontade como se fosse na casa dele: isto é no coração deles. Em outras palavras ele não està no
pedestal dos admiradores do Abandonado. Ele não leva coisas mas se mesmo: “Eu sei o que
quer dizer ficar na rua; eu jà passei por aì… 13 caras queriam me matar…”-
Ele fala de igual para igual. É isso que me deixa de boca aberta porque é so assim que é
possivel o Amor. Se eu estou em cima e o outro em baixo para receber pena, compaixão,
“coitadinho”, se gera um abismo tal que é impossivel passar de um lado para o outro lado.
Ser em pé de igualdade é a premissa do amor. Pode ter amor entre designais? Entre rico e
pobre, patrão e servo, povo enriquecido e povo empobrecido?

31.12.19
Jorge faz a reza na entrada da praça. Achamos Daniel sentado, triste, ausente, o olhar
perdido no vazio. Està comendo um pastel. Sentamos, conversamos. O contato da alma do Jorge
com a dele é direto. Vem de Salvador. Filho de um jogador perdeu tudo e ficou una rua. Pela
vergonha de ser reconhecido veiu para cà. “Como foi de Natal?” – “Triste, triste, sem ninguém,
longe da minha familia, dos meus queridos. Que Natal é esse? Na rua tem os valentões. Me da
so vontade de me matar…”. Jorge: “Eu sou teu colega, fiquei na rua muitos anos e agora estou
aqui. Deus nos mandou para te dizer que te ama, que Ele é misericordia e não se esqueceu de tu,
de nós todos. Tà chegando o inverno, pensa num abrigo. Vem visitar a gente. Tamos aqui
porque queremos ser irmãos. Jesus està contigo e nos enviou para te dar uma chance. Olha eu…
passei muito tempo perdido nesta mesma praça e hoje tò aqui para testemunhar o amor dele para
conosco”. O convite para ir na casa da Perfeita Alegria està feito.
Daniel entra logo em sintonia conosco. Não tem receio de pedir: comida, um lençol.
Quando voltamos jà esta deitado. Come a comida e o nosso amor. Quando nos despedimos
parece mais aliviado.
Seguimos caminho nas pegadas de Jesus abandonado. Do lado da praça, na rua Filomeno
aparece, como numa visão, o Luciano. Corre nos abraçar, chorando, beijando. Parece que nos
esperava. Me pergunta logo: “Como foi de Natal?”. Eu: “Triste, pensando em voce que não lhe
vii mais, nos outros amigos da rua, o inverno chegando”. – “Eu na rua, sozinho, pensando nos
meus queridos, fazendo festa. O que é que eu posso festejar? A solidão, o vazio do coração. Eu
posso so celebrar a festa da minha morte. Quero me matar…”.
Chora, chora e nos abraça e beija sem fim.
Jorge vai atrás de comida eu sento perto dele abraçado com ele.
De repente me diz: “Voce é meu pai. Pai, pai, està aqui comigo… eu tenho so voce como
pai, irmão, tudo”. Eu fico pasmado, sem palavras. Luciano um bebado, um perdido sente na pele
que a paternidade biologica é algo que não resolve as dificuldades da vida. É algo dependente
do afeto e sentimento istintivo que vai e vem segundo os umores do momento; é fundamentado
no sangue, na raça, realidades fracas demais para enfrentar as tragedias da vida: orfãos, viuvas.
Ele não sabe explicar, mas entende que deve haver uma paternidade além daquela biologica. E a
procura e a chama com todas as forças das lagrimas dele.
Chega o Jorge com a comida. Luciano come misturando arroz, frango e lagrimas.
Aparece Carol. Abraços, beijos. “Tà vendo? Até Nossa Senhora, vestida de Carol, vem te
abraçar, te consolar”. Come tudo de gosto. Fausto não tira o braço dos ombros dele. Para
transmitir aquilo que as palava não conseguem transmitir. Promete de vir na nossa casa amanhà.
Jorge comenta: “Tem casos que não da de esperar os responsaveis pensar para resolver,
conferir se tem vagas. Se eles se matarem não somos culpados nós tambem?A responsabilidade
de Jesus abandonado é nossa de todos os Jesus resuscitados. Quem pode acolher Jesus
abandonado não somos nós que vamos ao encontro dele?”.
O trafico intenso da rua Filomeno não diminui. Todo mundo correndo para casa aonde
alguém espera por eles. So os moradores de rua não precisam correr jà estão na casa deles: a
rua. “As raposas tem toca, as aves ninho, nós, 101mil moradores de rua do Brasil repetimos com
Jesus: Nós não temos onde colocar a cabeça”.
Quem escuta as lagrimas deles caindo na indiferença globalizada? Jesus, sera que tu,
presente neles, tens a coragem de repetir: “Pai, perdoa, não sabem o que fazem?”.
Nosso reveillon é a base de carne assada na brasa que Luiza comprou para festejar. E os
nossos irmãos de rua? Estão no portão e recebem uma boa porção. Um deles é admitido na
nossa mesa.

1.1.2020
Na praça acho Miriam e o marido dela, assim me apresenta ele. Um cara caladão, ela fala
por ele. Convido eles para o almoço. Na hora certa aparecem e sentam na mesa conosco.
Miriam sorri de satisfeita, o marido é preocupado em comer. Ela coloca o almoço numa vasilia
com as duas bananas. A mulher é sempre previdente, pensa na janta. Pede e Antonio da dois
lençois. Dormem de baixo da puxada da farmacia. Até quando? Ninguém sabe.
Orlando nos relembra a historia do aposento dele que foi cortado porque morador de rua.
Escrevi para Eveline, vamos ver.
Mateus nos cumprimenta sempre, até de longe, dando com a mão. O amigo dele que não
fala, apesar de estar sempre bebado, consegue pedir um chinelo.
O Luciano mudou de rua por causa da chuva. Se posicionou na frente de uma pizzeria.
Diz que dão de comer para ele. Mas està triste, confuso. O pai dele, cadeirante, veiu para levar
ele para casa. Não sabe se estar alegre ou triste. Por que? Sera por que vai perder um pai dele no
espirito para ganhar o pai biologico? Chora, esconde a rosto dentro da camiseta. Parece querer
se esconder da realidade da vida? A gente procura confortar: “Como, não està contente que seu
pai se lembrou de voce? Ele precisa da sua ajuda. Fica alegre. Tà vendo que Jesus se lembrou de
tu?”.

3.1.20
Hoje nos acompanha a Tereza, alegre, espansiva. Luciano nos acolhe com abraços.
Tereza pede de fazer uma reza. Depois encontramos Miriam deitada, dormindo. Jorge acorda
ela, mas parece ausente.
Um grupo de 6 esta fritando ovos para janta. Dificil comunicar algo mais profundo
quando são em grupo, não tem a condição por uma conversa particular, individual. Mas
procuramos ficar junto, fazer companhia, ficar perto de Jesus Abandonado. Um deles tem um
carrinho para ajuntar material de reciclagem. Alto, loiro, parece o cabeça. Repartem o que tem
embora muito pouco. Que lição para nós! Parece a repartição dos paes e dos peixinhos.
Todo mundo bebe da mesma garrafa um suco amarelo, Jorge também.
Passamos na frente do Orlando mas està dormindo com o pombinho nas costas. O povo
come e bebe nas lanchonetes.

4.1.20 - Jorge me acompanha. Mateus e Alexandre estão usando crak. Jorge tem faro, eu
não entendo nada e me diz que não da de incomodar quem està usando. Um ritual quase
sagrado. Mateus nos alcança logo depois. Pela primeira vez conta sua historia: 6 anos de cadeia
por 2 assaltos a mão armada (disseram as testemunhas, mentindo, segundo ele). Pergunto:
“Como foi que tu aguentou esse tempo todo na cadeia?” “E’ um jeito, a gente acostuma”.
Orlando não jantou ainda. “Vai deitar de barriga vazia?”. “Não sei, vamos ver”. Depois
de um tempinho chega um casal com meia garrafa de suco e uma gorgeta. “Tà vendo? Chegou
minha janta”! “ E os cachorros?”. “Vai chegar algo para eles também”.

8.1.20 - Esplico ao Orlando que falei com a advogada, Eveline: “Tem que ter um
endereço de moradia, senão não da de fazer nada. O Juiz quer isso para poder começar o
processo de recuperação do beneficio”. Ele fica pensativo e depois revela: “Eu tenho uma amiga
que vai arrumar para mim uma acomodação na casa dela. Amanhà vou falar com ela”. Nem me
parece verdade. Para aliviar ele aconselho: “Tu vai ficar là de dia porque vão te fiscalizar e de
noite ninguém te controla, pode ir onde quiser com a tua familia de cachorros, tà?”. Me beija a
mão e eu a dele. Mas ele o faz como um gesto sagrado e eu por conveniencia!
A historia de Orlando tava me convencendo que hà uns moradores de rua que escolheram
a rua como casa e nunca vão sair dela. Eles tem direito de dizer com o filho do homem: “As
raposas tem toca, as aves tem ninho, eu não tenho onde colocar a cabeça”.
Tem outro morador de rua dormindo. Melhor não incomoda-lo.
Luciano sumiu e estamos com saudade dele. Estavamos acostumados com os abraços e
beijos dele. Sem ele a praça parece mais vazia. Miriam e marido sumiram.
Aparece Emerson (um ex da Lumen) pedindo 15 reais emprestados para pagar a dormida
dele e da companhiera dele.

9.1.20 – Rezamos para que Deus nos dé o amor Dele para amar os Jesus Abandonados
que vamos encontrar. Orlando jà està dormindo, a roupa dele toda molhada estendida nos
bancos. Deve ter pego toda a chuva da noite. Entregamos muita comida, pedindo que a partilhe
com os colegas. Quando voltamos com Emerson que està com fome, vemos que tudo foi jogado
para os cachorros, a familia do Orlando e ele està comendo um pastel com fanta. “Não sobrou
nada?”. Aì oferece o pastel para Emerson. Vou procurar outra comida para ele. Està
desesperado, quer voltar para a casa de recuperação. Deve dinheiro aos traficantes e tà com
medo de ser morto. Deve também à justiça e tem que assinar todo mes na delegacia por assalto.
“Roubei o cellular de uma americano là no Parangaba e uns trinta homens correram atrás de
mim. Se não era pela policia me teriam linchado”. Pergunto: “E tua mãe, teu pai adotivo? E a
tua companheira?”. “Aprontei demais, ninguém me quer mais, so Deus, so voces…”.
Combinamos de falar amanha com os responsaveis para achar uma vaga para ele.
Orlando se entrega de novo ao sono e não diz nada a respeito da amiga que pode dar uma
acomodação para ele. Vamos ver o que vai dar.

10.1.20 – Na Praça de Jesus Abandonado. Orlando diz que tà pensando num plano bis,
que não se sente a vontade de pedir hospedagem para a amiga dele; que não quer incomodar
ninguém. Além do mais a familia dele tem um novo inquilino: um gato branco. Ele controla os
movimentos dele porque parece que esta de olho no pombinho para come-lo.
O Mario Cabeludo nos informa que Mateus apanhou e muito da policia. Està escondido,
não conseguimos ver ele. Emerson produz mil disculpas, mas amanha com certeza irà na nossa
casa para pedir a internação. Com ele ha um outro muito jovem: 25 anos e esta cansado da rua.
O marido da Miriam nos espera para conseguir comida (para os cachorros!). Ele nos
informa que Miriam foi para o bairro Pirambù com o Luciano. Mas não uma palavra de
recriminação. Chega um velho pedindo comida. O ex-marido da Miriam passou com duas
rações e peço de dar uma pro velhino. “Não, não, essas são minhas”. E come sem se preocupar
com o outro Jesus faminto. Dizemos para ele de esperar que depois do nosso giro na praça
poderiamos ver de arrumar uma comida. Mas quando voltamos não achamos mais ele. Sumiu.
Fausto: “Todo mundo se organiza. Os ricos e os fazendeiros melhor do que os pobres.
Não se poderia inventar uma associação de moradores da rua? Organizados podem pressionar os
politicos, conseguir alguma coisa?”. (Eveline manda os link de entidades que ajudam o povo da
rua).

11.1.20 – A praça parece mais grande, mais vazia. Passeio com Joa Marcos na carrocinha
dele. Roberto, o mudo, està sozinho, bebado às 16 horas da tarde. Tem dois pacote de
pãonzinho: “Que bom! Hoje da de encher a barriga, não é?”. Me oferece um. Eu fico esitando,
mas decido de aceitar. Que satisfação deve ser para ele ter a alegria, uma vez na vida, de dar
algo para um gringo! Eu preciso sentir em mim o que esperimenta quem se sente feito so para
receber. Sera que nossos benfeitores não precisariam de fazer uma experiencia dessa: receber,
não dar? Ficar de baixo do pedestal não em cima dele?

12.1.20 - Domingo. Dou uma volta a tarde e encontro so o Orlando. A noite retorno a
procura do Emerson. Sumido. O Isaias esta labutando com o fogo para fazer a janta para seu
grupo de torcedores, todos moradores de rua. Me pede o sal. Vou procura-lo com o amigo do
Emerson que me diz: amanha vou pedir de ser internado. Não aguento mais. E eu: Pensa bem.
Sera que tu chegou no fundo do poço? So quem se sente quase morto consegue sair do buraco…
14.1.20 – Saio com Antonio. Fausto pede de rezar para ele: “Sabe? As vezes no meu
inconsciente nasce uma duvida: estamos fazendo o melhor para Jesus abandonado? É tudo uma
ilusão, uma montagem para nós sentirmos bonzinhos, como os fariseus?”. A alma, como a vida
è feita de altos e baixos. Minha alma esta de maré baixa?
Isaias està fazendo a janta para uns 7/8 companheiros. Fico observando: arroz, feijão e
omelete. Come e repassa a mesma cuia e a mesma colher para outro. Parece uma partilha do
pão, uma liturgia quase eucaristica. Sem soar a tromba, sem as nossas complicações, sem
mesmo rezar. Não é jà uma reza em si repartir o pão?
Hoje ele é bastante sobrio e a gente consegue conversar um pouco. “Quanto voce ganha
por dia catando latinhas, metais, etc.?”. “Cerca de oitenta reais”. “Dà para escapar, não é?”. Serà
que os que comem no prato dele o ajudam na coleta dos materiais de reciclagem?
Não seria interessante favorecer os moradores de rua a seguir o exemplo do Isaias, isto é
ter um carrinho especial e rodar a cidade a procura de coisas para sobreviver sem esmolar?
Como resuscitar neles a dignidade, o valor de ser gente, ter braços para trabalhar não para
mendigar? Entidades civis e religiosas dão comida, pousada de graça. Ajuda eles a se sentirem
gente? Não poderia ser em troca de serviços sociais como a limpeza da rua, da praia e outras
coisas uteis à sociedade? Não seria um meio para se sentir uteis, importantes atraves da obra de
suas mãos? E por que não favorecer a produção artesanal, as capacidades e a fantasia deles? Pe.
Joseph Wresinski (fundador do movimento Aide a toute detresse) acolhia os moradores de rua
mas os forçava a ler, estudar, frequentar cursos. Convidava politicos, artistas, cientistas para dar
palestras, despertar neles a curiosidade, a vontade de saber, conhecer, progredir.
Antonio conversa com o rapaz de Salvador: diz que o Regis levou ele numa comunidade
mas tinha muita bagunça e veiu embora. Amanha vai bater na nossa casa.
O Mateus que apanhou da policia (segundo Orlando estava no lugar errado na hora errada
= favela para droga?) voltou, mas està muito acanhado. Não fala do acontecido. Um novato,
Rivalì, jovem, branco, quase bonito. Nem parece um morador de rua. Mas bebe bastante
casciassa. Me conta que o pai dele é espirita e escreve livros. Não participa da comida, diz que
jà jantou. O é a bebida que recusa o alimento?

15.1.20 – Vou na praça sozinho. Passei na casa s. Francisco. Esta cheia de devotos do
Jesus abandonado. Rezam com toda força que podem, olhos fechados, braços levantados,
balbuciam, gritam, cantam, etc. parece um esforço voluntaristico, para se dispor a encontrar o
Abandonado nos lascados. Para nós são perdidos, mas para Ele? Por exemplo a Maria, a mulher
que passa a vida na calçada das missionarias. A convidaram a comer e dormir na casa delas. Ela
quer ficar na rua, ao relento, pegando chuva, sem se lavar, sem banheiro, etc. Por que uma
criatura chega ao ponto de se desprezar, se entregar à sujeira, se tratar como lixo? Isso acontece
por acaso ou por falta de alguma coisa essencial que faltou? Me disseram que tinha casa, filhos,
tudo normal, mas se entregou quando o juiz tirou o filho dela porque ela bebia. Mas serà que
bebia para curar as feridas do coração? Ela dorme com uma pedra debaixo do travesseiro para se
defender se alguém incomodar ela. Nos também a convidamos a entrar dentro de casa pelo
menos quando chove. Ela não quer. Ficar na rua não lhe da o direito à compaixão do povo que
passa? É como uma reivindicação: eu estou na rua, voces tem que me dar esmolas, pena,
piedade. Se eu sair vou perder esse direito. Uns dias atras uma mulher da Lumen encostou nela,
começou passar a mão na cabeça dela, rezar pra ela, etc. Tá vendo? Ficar na rua me da o direito
de mexer no coração do povo, de conseguir umas moedas para comprar a minha casciassinha
para me anestesiar.

Na praça: passo perto do Mateus, Roberto e outros dois. Me aproximo para apertar a mão.
Roberto me diz de esperar por eles no banco de sempre, na frente do liceu. Estão usando droga e
eu não tinha dado fé. Não esperei e voltei para casa, refletindo: precisamos de uma revolução na
maneira de vivenciar a mensagem de Jesus, nossa pratica religiosa intimista e sentimental. Pe.
Zeno não tem medo de declarar que ele nasceu para fazer a revolução; que ele nasceu para a
justiça; para amar o povo, etc. Aos vinte anos, depois de um debate com um anarquista, ele
decide: “Mudo de civilização: não mais servo não mais patrão”.
Eu sei que é preciso ver isso numa cultura nova; numa visão diferente da familia, da historia, do
mundo, etc. E se lermos a vida atraves dos olhos, das tragedias que estão aì e que não queremos ver,
nem ouvir falar delas? Não seria mais chocante do que o proprio Calvario de Jesus?
- 168 milhões de filhos abandonados = Jesus crucificados desde criança 
-  42 milhões de prostitutas
- 10 milhões de presos
 - 185 milhões de crackomanes
- 40 milhões de aidéticos 
- 100 milhões de desamparados
- 250 milhões de meninos trabalhadores
- 20 milhões mortos de droga (nos últimos 10 anos)
- 10 milhões vitimas do terrorismo
-  200 milhões de favelados na América Latina
- 50 milhões de escravos
- 800 milhões de desnutridos, etc.
- 10/12 milhões de apátridas
- 65 milhões de refugiados

O Brasil, um dos países mais ricos em recursos naturais, produz 30 milhões de miseráveis, 770
mil presos, seis milhões de drogados, 500 mil prostitutas [94% delas abaixo de 14 anos], das 67
milhões de casadas, 20 milhões são solteiras.
Orlando dorme rodeado dos 3 cachorros, o pombinho no peito dele. Sento no banco e fico
ruminando o juizo universal. Esta praça não é como aquela? Na parabola não se fala em Deus,
religião, amor, nada disso. Para ver o homem caido, desesperado não precisa saber que nele
estamos vendo Jesus abandonado. Por que? Porque aqueles que lhe deram de comer e beber
perguntarão: “Quando é que te vimos faminto, sedento, etc.?”. “Quando fizestes isso a um dos
meus irmãos é a mim que o fizestes”. Não precisa forçar a mente para pensar que o estamos
fazendo a Jesus. O que quer dizer? O juiz sabe melhor do que nós do perigo de usar suas chagas
para nos sentirmos bons, generosos; que para justificar nosso teor de vida, nossos confortos
precisamos dar alguma migalhas de misericordia aos abandonados. So pe. Zeno me judou a
observar esse ponto da parabola: os que fazem o bem não precisam de saber que o fazem a
Jesus; o juiz exige que o façam além de qualquer intenção, de qualquer motivação religiosa. É
so fazer e mais nada. Jesus não quer ser usado como um meio, um instrumento para fazer o
bem. Deus teria feito o miseravel para nos dar a oportunidade de ganhar meritos, para conseguir
a satisfação de abraça-lo fedorento, sujo, para nos sentirmos santos?
Ele quer nos dizer que para ver a fome, a sede, etc. do nosso semelhante é suficiente ser,
viver, sentir, ver como seres humanos. Não disse Jesus “ama a teu proximo como a te mesmo”?
Se eu faço isso é porque vejo nele o meu semelhante, me espelho nele. E aì se acende a faisca
do Amor. E isso, se pode dizer, é jà um ato de religião em si sem etiquetas de igrejas. O resto
corre o risco de ser uma manipulação do proprio Jesus, da religião, do proprio Deus. Temos que
aprofundar este ponto.

16.1.20 – Antonio reza: “Deus, nosso Pai, ajuda-nos a ser tua presença de amor nesta
praça. Nosso amor é fraco demais, pequeno. Nós não sabemos amar, da para nós teu amor”.
Isaias està no meio da turma dele. Jà jantaram e me diz que amanhà a janta serà a base de
peixe. Eu pergunto se nós somos convidados: “Claro que sim”.
Entrego para ele um fugãozinho, um cobertor, uma panela, etc.
Pergunto: “Quantos dos teus colegas vão na rua com o carrinho para recolher material de
reciclagem?”. “Somos uns 500…”. Me parece muitos. Vamos ver.

17.1.20 – De tarde passo na praça para ver as novidades. Surpresa: quem encontro? O
Luciano com a Miriam. Que festa, que abraços, que beijos! Nem os meus parentes me tratam
assim. Parece que Luciano veiu para buscar a Miriam. Eu: “Voce gosta mesmo dela, não é
verdade? Tà otimo, eu quero fazer o casamento de voces e, no fim, vamos tomar um golinho
junto, so um, tà?”. Ficam sorrindo, sorrindo a vontade. Miriam: “Mas o senhor é namorador?”.
Na experiencia dela todos os homens devem ser namoradores. “Eu tenho 78 anos. A encanação
não funciona mais”. Gargalhamos todos juntos. Como é bom brincar com os amigos! Luciano
vai me mandar o endereço dele. Não somos parte da sua familia?
Agora entendo um pouco mais os sentimentos de Jesus: ele procurava os perdidos, os
caidos, os corações quebrados, os desprezados porque se sentia bem no meio deles; se sentia a
vontade: acolhido, procurado, amado. “Minha delicia é estar no meio dos homens”. É aquilo
que estamos esperimentando eu e o Antonio quando vamos na praça. De verdade eu me sinto
outro, estou na minha casa isto é no coração deles. Talvez não consegui expressar bem, não
achei as palavras certas para descrever a alegria do Luciano e da Miriam em me ver. Tem coisas
que o coração vé e os olhos não conseguem ver.
Isaias està fazendo a janta, mas mandou embora quem não colabora. No fim me oferece
uma cabeça de peixe; não sobrou nada, nem as espinhas. Mas o convite foi importante e nós
aceitamos para demonstrar que queremos comer no prato deles, fazer parte da familia deles.

18.1.20 – Na praça passeiando com João Marcos. Orlando me para, me convida a sentar
no cobertor dele rodeado dos cachorros que vem me farejar fazendo festa com o rabo. Digo que
não consigo mais ficar longe dele, que me faz falta como da minha familia. Me abraça. Oh
abraço gostoso! “Orlando: passei o dia na cadeia visitando meu filho. Entrei às 8.30 e consegui
ver ele so às 11.30. Estou um poco triste e cansado”. Percebo que entende muito bem e partilha
porque a vida dele deve ter sido toda assim. Digo que vou trazer a advogada Eveline para
conversar com ele. Aì ele se ilumina, me pega pela mão e me leva na lanchonete, dizendo: “Este
amigo vai achar uma acomodação para mim”. Comprimento e prometo de voltar amanhà porque
da de ver que o homem està ocupado em servir os clientes. Me olha para me estudar e nos
saudamos: “Até amanhà”. Orlando é diferente das outras vezes: mais espansivo, quase alegre.
Quando me diz “Obrigado” retruco: “Não é para agradecer, tà? Não é obrigação sermos irmãos?
Senão pra que ser cristãos?”. Esta de acordo com outro aperto de mão bem sincero.
As 19.30 volto na praça. Isaias me pediu de levar muita comida porque hoje ele não tem
nada para partilhar com os colegas. Graças a Deus na casa s. Francisco sobrou muita janta.
Marcinho enche 3 bacias, um baldezinho de farinha com pedaços de mortadela, bananas. Eu
saio carregado, o coração em festa. Isaias primeiro serve os outros porque tem so um prato e
uma panela. Aos poucos chegam os famintos, que ele reconhece de longe. Andam bambiando.
Me cutuca com o pé para eu ficar calado: não da de conversar com quem esta ainda sobre o
efeito do crak. De fato comem como automas, aqui se diz Zumbi. Fico admirado: Isaias não faz
cerimonias, não bota ninguém para rezar antes de dar a panela comum donde todos comem o
mesmo arroz e feijão, farinha, etc. Uma liturgia simples, sem nossas complicações. A fome e a
sede são sagradas antes do sinal da cruz e da agua benta. Eu adoro ver eles comendo, devagar,
parece quase uma reza sem palavras. Para que estragar um gesto divino como repartir o pão?
Isaias não faz perguntas, não cadastra ninguém, não soa a trombeta para dizer que ele é bom,
que é generoso… nada disso! Que cassetada para minha alma que tem sempre a pretensão de
“fazer o bem” para alguma vantagem e satisfação espiritual! Ele vive a parabola do juizo sem
saber nada dela. E eu?
Chega um carro, buzinando. Todos correm para receber marmitex. Eu vou tambem
atraido pela curiosidade: “Voces são de alguma entidade, de uma ONG?”. – “Não”. – “E aì, por
que fazem isso?”. – “Pelo gosto de ajudar”. – Fico meio emocionado: tà vendo? Para dar de
comer a quem tem fome não precisa de reza, de dizer que estou alimentando o proprio Cristo,
etc. Dou os parabens para eles, dizendo: “Muito bem. Sabem? Na parabola do juizo universal
aqueles que deram de comer, beber, etc. ficam admirados e perguntam: Quando é que te vimos
faminto, sedento, etc. e te demos de comer e beber? - Quando fizestes isso a um dos meus
irmãos é a mim que o fizestes”. Não é claro? Não precisa de nenhuma fé especial para ver no
homem faminto e sedento o nosso semelhante, o espelho de nós mesmos. Muito obrigado, voces
estão me dando uma boa lição”. Abraço todos eles querendo abraçar o homem que sabe ver no
outro homem a si mesmo. Como Jesus disse: “Ama a Deus e a teu proximo como a ti mesmo”.

22.1.20 – Na praça sozinho. Não tem quase ninguém dos nossos amigos. Fico um tempão
olhando, pensando. So não faltam os dois militares que toda noite controlam a situação, isto é
estão alì para dar segurança aos que comem e bebem, as mulheres que fazem ginastica, as
familias que passeiam. Não passe pela tua cabeça que estão aqui para defender o povo da rua.
23.1.20 – Na Perfeita Alegria encontro uma multidão de Jesus Abandonados. Na hora do
café, todos estão preocupados em comer. Eu observo, fito no rosto de todo mundo. Dificil achar
alguém esbelto, bonito. Me da a sensação de me encontrar numa zona de guerra: velhos
reduzidos a pele e osso; jovens estragados, olhar triste; a maioria parece barriga para encher.
Um panorama humano desaminador. O que tem de amavel aqui? Olho pro céu: Senhor sò tu
tem condição de amar este material reduzido a escombros humanos, entulho que não serve para
nada? Como tu fazes para sentir atração? Como é que tu te deixas seduzir por rostos tão feios? E
a Vanessa, um travesti? Ele me olha, quer puxar minha atenção. Enfim me aproximo, dou a
mão. Ele: “Eu trabalhei em Milão. Foi tão bom, ganhei bem...”.
Se aproxima Mateus, aquele que estava na casa s. Francisco. “Estas aonde agora?”. –
“Achei uma vaga na pousada da prefeitura, aonde tem comida e dormida sem ter que rezar toda
hora”. – “Não vai voltar para sua mãe?” – “Ela não me quer, não sabe o que fazer de mim”.
“Mas tu estàs feliz?”. – “Sim, consigo toda as mulheres que eu quero”. – “Não tem medo das
doenças?”. “De jeito nenhum. Olha, tenho sempre comigo as camizinhas”. E me mostra duas
confecções. “Tu compras elas?”. “Não precisa. É a infermeira que me fornece”. Dificil tambem
para tu, Deus, fazer concorrencia às meninas que seduzem o Mateus? O que ele procura nelas?
Serà que é so o prazer ou o inconsciente dele procura aquela mulher/mãe que ele nunca teve e
que dela ele tem uma saudade sem fim? Faz sexo, mas o inconsciente quer voltar para a barriga
da mãe, o berço que o carregou por nove meses? Como ajudar ele a refletir sobre isso, sendo
que não ve outra coisa senão o sexo?
Senta ao meu lado um jovem alto, forte: Oscar. “Tu gostas da rua? Por que?”. – “Me faz
sentir livre. Vou para a praia banhar e sempre encontro gatinhas para namorar. É bom demais!”.
Mas os animais também sabem fazer isso. Não alguma diferença entre eles e nos?

28.1.20 – Levamos bastante comida. O casal de Quixeramobim pega metade o resto para
Mateus. Decidimos de levar comida so quando sobra da janta da casa s. Francisco, para não dar
a impressão que nossa primeira preocupação é o comer mas ganhar a confiança e amizade deles.
Além do mais eles sabem aonde buscar a comida quando a fome aperta. As vezes é so pigriça de
ir atrás. Temos que abrir os olhos para não favorecer o mais facil...

29.1.20 – Os amigos da praça logo que nos vem de longe saudam com a mão. Esta
nascendo algo entre nós. As primeiras vezes Mateus nem falava, parecia ausente, não se
importava com a nossa presença. Agora sorri para nòs e, se precisar, tem coragem de pedir
comida. Diz que esta aparecendo outra namorada.
Orlando recuperou o cachorrinho perdido. Me oferece 4 camisetas para dar a quem
precisa. Fico pasmado, sem saber o que fazer. Receber o não receber? Um morador de rua
normalmente recebe, não da nada. O que ele tem para dar? Demoro um pouco para entender que
ele quer mesmo dar... e não posso recusar de receber, eu acostumado a dar...
Encontro o rapaz de Quixeramobim e dou duas para ele, duas para Mateus. A mulher esta
andando de um lado para outro da praça feita que nem barata tonta. Ele atrás dela, no pé para
não perder o rasto dela. Serà que brigaram?

30.1.20 – Perfeita Alegria. Todas as vezes fico contemplando essa paisagem humana que
parece feita de detritos, escombros. O vicio, seja a droga seja o alcool estraga demais e o rosto
trai a falta de saude, o figado acabado pela casciassa, os olhos vazios pela droga.
Fico de olho nos tres travestis: Vanessa, Bruna e outro. Vou sentar perto da Bruna porque
ninguém encosta nela. Me diz que jà esteve na Olanda, na Alemanha a “trabalho”. Alta, quase
bonita. Quando vai tomar outro copo de café percebo que anda cachingando: “Que foi?”. –
“Tive uma trombose. Mas o resto funciona tudo bem. Os seios ao silicone nunca me deram
problemas”. – “Voce sabe que nos EUA muitas mulheres que fizeram implante de silicone estão
na justiça por causa de cancer ao seio provocado pelo silicone?”. Mora junto com a Vanessa e a
outra num quartinho pago pela prefeitura. “E o benefico pelo aposento?”. – “Dei entrada, estou
esperando”. Dificil acreditar que com a saude cachingando consiga fazer ainda aquele trabalho.
“Sabe o que disse o papa a respeito dos omosexuais? Quem sou eu para julgar? É a primeira vez
que um papa tem a coragem de dizer isso. Que tal?”. – “E’ verdade, quase não acredito”. Digo
isso para criar confiança, tentar fazer amizade. Os travestis não são da mesma raça humana, do
mesmo sangue de Cristo? Ele não se escandaliza de nada e de ninguém. E eu?
Acho o Daniel e o Adalberto que passaram pela casa s. Francisco. “Oi, como vai? Aonde
voces estão agora? Em outra casa de recuperação?”. – “Que, nada! Estamos no abrigo social da
prefeitura. Dormida, comida, tudo que precisa sem rezar 4 vezes ao dia, sem problemas...”.
“Que bom! Voces tem sorte...”.
Depois reflito em cima da sorte deles. Qual sorte, qual satisfação ser mantidos aos 30
anos, fortes, sadios? Alienação perfeita? Vou ter que conhecer melhor estes abrigos e refeitorios
sociais. O perigo é de produzir e manter parasitas? Não poderia ser em troca de um serviço
social? As ruas de Fortaleza sempre sujas, os esgotos entupidos, etc. Dar de graça ajuda a
crescer a se sentir gente? Como despertar neles a dignidade, se sentir uteis para si e para a
sociedade?

1.2.20 – Chove a noite e o dia todo. A Maria se refugia no nosso portão porque tem uma
puxada. Eu fico angustiado, mas jà a convidamos para dormir dentro de casa, não quer. Jesus
Abandonado me questiona, me provoca até o ponto de dormir na minha porta? Jà observei que
ficar na rua, deitado no chão mexe com o coração do pessoal que tem pena, da uma esmola,
comida. Os cearences gostam de dar por que se lembram das secas que sofreram?
As 5 hs da manhà fico olhando pela janela. Deitada, bebendo casciassa. Que tal? Serà que
ela valoriza a liberdade de fazer o que quer mais do que a gente? Começa a ter confiança em nós
por isso pede um pente, lençol, shampoo, guardar o travesserio dela, etc. As 9 hs levanta e fica
de pé até a tarde. Parece ter os pes colados no chão da rua e daì não sai. É a sorte dela? O que
fazer com estas criaturas? Deus, pai do céu o que tu diz para nós? Amar como tu amas? Por
favor faça nós aptos para isso. Não somos teus filhos? Os filhos não devem aprender do Pai?
Uma coisa estranha: Maria parece ter colocado a “tenda” dela no nosso portão. Por que
não fica mais perto das missionarias como fazia até a semana passada?
Chegou a Miriam. De novo na rua, ausente. Me pede uma rede. Parece cheia de casciassa.
E eu cheio de perguntas às quais não sei responder. So amar, so acolher, so amar... o que resta
para acrescentar?

2.2.20 – Vou na praça. Não tem quase ninguém. Quando chove eles devem ter os abrigos
deles. O dono da lanchonete me diz que não vai dar de acolher na sua casa o Orlando: “Com
aqueles cachorros.. e a barraca? Sabe que roubaram a barraca dele? Servia so para amparar os
cachorros que ele valoriza mais do que a si mesmo”.

5.2.20 – Meio desanimado. Sozinho. Jesus desertou nossa praça? Na parada dos taxi olho
na direção da pizzeria. Alguém da com a mão, vassoura na mão. Não acredito aos meus olhos: é
o Luciano. Corre ao meu encontro, me abraça demoradamente, chora, me beija. Me aperta até
doer minhas costas. “O que foi? Por que choras? Acalma, me conta”. Entre lagrimas e beijos:
“Meus irmãos me despacharam, não me querem. Quem é que me quer nesta vida?”. “Fica
calmo, vamos ver. Tà com fome?”. “Sim”. “Vou ver se arrumo alguma coisa”.
Volto com duas bacias de feijão de dois e amburguer. Uma deixo para aquele loirinho que
jà encontramos outra vez. Luciano não quer comer. Continua chorando, soluçando. Chega o
Carlos e come, alias, devora. Voltando topo com Glaucon e Daniel que me surprendem
ajudando o loiro a carregar uma caixa de papelão. Convido eles para voltar e comprimentar o
Luciano. De novo abraços e beijos. Daniel diz que o conhece desde menino.
Quando nos despedimos levo para casa as lagrimas, os soluços e a pira de Jesus
abandonado.

21.2.20 – Dias de Carnaval. Tudo fechado, inclusive o coração dos benfeitores e o povo
da rua bate na nossa porta e na Casa s. Francisco pedindo comida. Uma procissão de Cristos.
Logo que me veem se aproximam para eu apresentar eles ao responsavel e garantir um prato de
arroz e feijão. O Mateus emagreceu muito e digo para ele de comer mais. Tamos chegando a
uma certa intimidade. Me mostra uma ferida no abdomem: “é a consequencia de uma bala da
policia”.
Na praça os cachorros do Orlando correm ao meu encontro fazendo festa. Depois chega
ele, o olhar triste, pedindo comida. Ele que dizia de não querer pedir, porque umiliante demais...
Vou atrás e volto com arroz e figado frito. Os cachoros abanam o rabo e ele diz para eles que é
preciso ter calma. Sento ao lado dele e coloco a vasilia discretamente para que o povo não veja e
vou embora logo para ele e a familia dele se sentir a vontade para comer.
Volto para casa ruminando aquele: “Tem mais satisfação em dar do que em receber”.
Verdade! Vou ter que ter cuidado com a satisfação de dar porque é a marca do benfeitor. Pe.
Zeno dizia que antes de dar uma ajuda precisa pedir desculpa.

21.2.20 – Quando não posso ir na praça passeio com João Marcos pra cima e para baixo no
corredor da Casa Santa Dulce. E me parece de passeiar com outro Jesus que não enxerga, não fala, não
se segura em pé, mas em compensação sabe sorrir embora na cruz da cadeirinha dele.
È ele que me sugere que o encontro de Jesus com o jovem rico hoje é com os grupos, as
associações, os movimentos que o papa convida a sair de si mesmos para ir nas periferias. Ele quer
uma igreja em saida, não autoreferencial. Santo Padre: temos que sair também das devoções
alienantes, das rezas abstratas, da espiritualidade desincarnada?
O encontro com Jesus, hoje, precisa ser vivido a nivel plural, como conjunto. Não posso mais
fechar os olhos, a alma, ficar satisfeito com minhas orações. E aì minha alma reza: “Senhor, o que me
falta para te seguir? Estou cansado de observar os mandamentos, as regras da igreja. O que fazer para
não ser cumplice dos delitos sociais, das estruturas de pecado de hoje?”.
E Jesus repete: “Vende o que tens e da aos pobres. Vende teu status social; vende tua
espiritualidade emocional que te faz sentir bom, generoso. Vende tudo. So depois voce pode me
seguir. Aonde? Na veredas do Calvario social de hoje. Eu não falei claro nos bispos reunidos em
Medellin (1968)?”. Meu Deus, me ajuda a retomar o sopro daquele espirito que soprou em Medellin
para a igreja latino americana, não para os cristãos colonizadores do primeiro mundo. Quem vive no
dia a dia aquela luz, aquele carisma? Houve uma fuga para tràs, favorecida pelos padres cantores,
pelos shwos da fé, porque é mai facil cantar, se emocionar, dançar, mexer o corpo, não a alma! Posso
me santificar por mim mesmo sem levar em conta os oprimidos de hoje que são multidões? Os
santos/as benfeitores dos pobres do seculo passado não podiam saber das estruturas de delito social,
dos mecanismos que produzem vitimas industrialmente. Mas elas queimam no meu coração, hoje. Elas
dizem que todos, até os santos, tem que tomar posição para não ser cumplices, corresponsaveis das
estruturas de pecado. A esmola não corre o risco de apoiar o status quo, de nos integrar no sistema, de
ser funcionais, isto é a serviço da injustiça? Os santos, querendo ou não querendo, não foram
funcionais à escravidão, colonização, duas guerras mundiais, campos de exterminio, etc.? Não são
funcionais ainda hoje para a “produção” de 800 milhões de desnutridos? Então quem é que enche as
cadeias, os orfanatos, os abrigos, ar ruas de refugos, de “lixo social”? è muito bom rezar, frequentar os
sacramentos, mas entre eu e o Cristo/pão hà povos sedentos de justiça que pedem rasão do meu estilo
de vida. Não estão mais satisfeitos com migalhas que caem da minha mesa. Não querem mais esmolas
mas o direito de viver que nem gente.
Todos nós que não somos oprimidos estamos na outra margem social o lugar dos Epulões?
Posso me trincherar numa espiritualidade desincarnada como numa torre de Babel de emoções
espirituais, usar os pobres para acumular meritos à custa deles, colocar esparadrapos sociais? Os
oprimidos não tem instrução, não sabem nada das leis de livre mercado. Por que não aplicar o
machado na raiz do mal social? Não foi Jesus que mandou fazer isso? E, antes de colocar o machado
na vida dos outros, eu tenho que coloca-lo no meu estilo de vida. Não da de dizer que é impossivel.
Por exemplo: quem nos impede de criar um movimento de justiça que propõe umas linhas praticas no
uso dos bens de maneira que cada qual fique satisfeito com aquilo que precisa e devolve o resto para
que seja administrado para os necessitados?
Mas onde vai ficar a liberdade de fazer “o que eu quero”, o bem supremo da pessoa humana?
Vai aumentar o numero dos 2300 bilionarios como Bill Gates que não sabem mais o que fazer daquela
montanha de dinheiro que acumularam. Ou de baixo da qual estão sepultados? Jesus, do alto de outra
montanha, continua dizendo: “Bem aventurados aqueles que ficam satisfeitos com o necessario e
rejeitam a sociedade do lucro, da ganancia, da exploração dos irmãos e do planeta. Bem aventurados
aqueles que se juntam, criam um movimento de irmãos na partilha dos bens e dos meios de produção”.
Por que eu interpretei sempre o juizo final em termos de caridade esmoleira? Jesus não pede
umas migalhas. Serà que vou ter a coragem de dar para Ele aquilo que sobra da minha mesa?
Antes da caridade, Jesus quer justiça (veja os seguidores de João Batista). Se ele irà julgar as
nações não julgarà também os movimentos, as associações, as sociedades, as igrejas que falam em
caridade não em justiça? É melhor que Jesus fique no tumulo da miseria, do abandono, da
vagabundagem e não saia dalì para apontar o dedo na minha vida integrada no sistema de injustiça
institucional? Os pobres não são propriedade particular duma igreja. Os pobres de qualquer religião ou
até sem religião são os Juizes das nações; encarnam a Justiça feita carne no filho do homem.
Sera que Jesus se deixou ultrapassar pelos sedentos de justiça que deram a vida para uma nova
ordem social? Ele não tem uma proposta de vida nova, isto é de nova sociedade? O que vamos propor
aos jovens que saem curados das nossas casas? Nossa fé não consegue inventar um novo estilo de
vida, uma maneira mais fraterna de viver junto como irmãos a nivel social? Cadé a nova criação da
qual fala são Paulo? Estamos satisfeitos com uma sociedade na qual ou tu esploras ou tu es esplorado?
Quem é que pode se sentir em paz com 168 milhões de crianças abandonadas? O que responde para
elas nossa fé? Não repetem para nós as palavras de Jesus: “Amarrem uma pedra no poscoso e se
attirem no mar”?
Os jovens vem até nós crucificados e nós tiramos os pregos da alma deles; mas sera que temos
condição de oferecer um novo estilo de vida? Não são os papas que dizem que é preciso inventar uma
nova qualidade de evangelização? Isso não implica também uma nova espiritualidade? Juan Paulo II:
"É realmente difícil continuar o caminho tendo atrás de nós este terrível Calvário dos homens e das
nações. Uma tal constatação nos leva a um exame de consciência sobre a qualidade da evangelização
da Europa. A queda dos valores cristãos, que favoreceu os erros de ontem, deve nos tornar vigilantes
sobre a maneira pela qual hoje o Evangelho é anunciado e vivido" (26.8.1989).

26. 02.2020 – hs 4,30


João Marcos chora, vou acalmar ele passeiando no corredor. E minha alma passeia com Deus na
companhia de padre Zeno.
De repente uma luz: a profecia é so para alguns eleitos ou é para toda a humanidade, inclusive
para as igrejas? A profecia de pe. Zeno é uma proposta opcional, algo indiferente ou é uma graça para
o bem de todos? Ele propõe o que? Aquilo que os papas disseram, proclamaram, ordenaram de fazer.
Zeno com vinte anos de idade, sem saber o sentido da palavra civilização, depois de um debate
acirrado com o amigo anarquista, descobre sua vocação profetica: “Eu mudo de civilização em mim
mesmo: nem patrão nem servo”. A verdadeira conversão é uma mudança no relacionamento humano.
Para ser nova uma civilização deve apoiar em pilares novos; vinho novo exige oudres novos.
Na mesma epoca em que Hitler quer a civilização da força, da prepotencia armada para a
primazia do sangue puro, da raça ariana, da vontade de conquistar o mundo, dirigir a historia pelo
super/povo, um padrezinho campones descobre, atravez dos filhos abandonados, que: “Não é pela
carne, pelo sangue, pela raça, pela vontade do homem, é de Deus que nascemos”. Por tanto é preciso ir
além da familia biologica, da raça biologica, da patria biologica. E para sermos filhos de Deus precisa
viver o relacionamento da familia Dele: “Tudo aquilo que é meu é teu, aquilo que é teu é meu. Assim
sejam eles”.
O sonho de Hitler custa 40 milhões de assasinatos pelas mãos dos cristãos alemães. Ele produz
morte, Zeno produz vida, devolvendo a familia, o amor a 4 mil meninos mortos ao afeto dos pais.
Deus permitiu o massacre da segunda guerra mundial, 6 milhões de judeos reduzidos a cinza, para nos
obrigar a reconhecer que a idolatria da raça, a voz do sangue mata muito mais? 168 milhões de filhos
de ninguém apontam o dedo contra os filhos de papai: tu, so pelo fato de ser filho de um empresario,
do doutor, etc. es um privilejiado? Tu, so por ser de raça branca e cristiana es melhor do que nos filhos
da raça bastarda dos empobrecidos, dos negros, dos favelados?
Tà vendo como Deus continua no estilo Dele? Escolhe um rapaz, Zeno, quase analfabeto,
desconhecido, campones para fazer as suas obras. Diante de um planeta reduzido a lixeira; diante dos
povos/Epulões e dos povos/Lazaros oferece uma profecia além das religiões: mudar de civilização. E
isso vale para todo mundo. Depois se tu queres ser cristão tem que assumir o evangelho como lei em
todos os aspectos da vida.

For 1.3.2020 - Como eu vivo o “misterio Cristologico”? Se não deixo espaço, se não me esvasio
como acolher a novidade do Espirito que sopra sempre como e onde Ele quer? Se minha alma esta
satisfeita como vou acolher aquele Deus que o papa chama de “surpreendente”?
Fausto incomoda, questiona, faz criticas demais? Mas serà que é ele ou é Jesus abandonado que
nos questiona? Um Jesus que não mexe com nosso estilo de vida não corre o risco de fazer com que
Ele seja cumplice do nosso bem-estar, nossos privilejios? Não usamos os meios da fé (sacramentos)
para fazer coisas humanas como rezar, ajudar, dar esmolas, etc.? Para fazer o bom samaritano não
precisa da força do impossivel, é suficiente ser gente para ver o homem, o povo caido nas mãos dos
bandidos.
O sacramento produz a graça ex opere operato. Mas, ponentibus obicem, a graça é esteril. Se
entre os sacramentos e a gente tem a barreira de 800milhões de desnutridos, 168 milhões de
abandonados, 100 milhões de desabrigados, 42 milhões de prostitutas, 65 milhões de refugiados, etc.
nossa fé é morta.
O fausto fica aqui no coração dos Jesus abandonados porque são eles que lhe dão a coragem de
resistir, de ver além do horizonte do hoje e jogar a alma para o céu do impossivel.

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