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NR·L{Jl · PERPEZ'OR

Leituras religiosas da Vida dos San­


tos de Deus, para todos os dias do
anno, apresentadas ao povo christão
por

João Baptísta Lehmann


Sacerdote da Congr. do Verbo Divino

::C::C. "'V"olu:tne

II Edição revista e augmentada

Com approvação da autoridade ecclesiastica e dos Superiores.

1935
Typ. do "Lar Catholico"
Juiz de Fóra - Estado de Minas

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Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat !
A' Elle honra, gloria e louvor sempiterno! Jesus
Christo Nosso Senhor e juiE nosso, nosso legis­
lador e nosso Rei :-Elle é que nos ha de salvar.
( O/fi. DiTJ.)

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NIHIL OBSTAT
Jui2 de Fóra, die 26 Aprilis 1935.
Pe. Artlmr Benuo Hoyer S. V. D.

REIMPRIMATUR
P. E., 27 - 4 - 1935.
JUSTINO, Bispo de Jafa de Fóra.

REIMPRIMI POTEST
Juii:: de Fóra, die 27 Aprilis 1935.
Pc. Manoel Ko1111er S. V. D.
Sup. Prov.

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CALENDARIO
Dia Pag. Dia Pag.
JULHO 7 S. Caetano . . ................. 119
8 Santos Cyriaco, Largo, Smaragdo,
1 São Gallo, Bispo . .......... . . .... 9 etc. Martyres . . .............. 121
2 Visitação de Nossa Senhora ....... 11 9 Sant�s Romão e Numidico, Mar-
3 Santo Othão . . .................. 14 tyrcs . . . ............ • • • • • • · · · · 123
4 Santo Ulrico, Bispo . ............. 17 · São João Vianney, Cura d' Ars .... 124
5 Santa Godoleva . . .............. 19 10 São Lourenço, Martyr . .......... 128
6 São Goar, Sacerdote .............. 21 11 Santo Alexandre, Bispo e Martyr .. 131
7 S. Willibaldo, Bispo . ............ 24 12 Santa Clara . . ................... 132
8 Santa Isabel, Rainha de Portugal 26 13 S. João Berchmans . ............ 136
9 Os Martyres de Gorkum .......... 29 14 Santo Eusebio . . ................ 138
10 Santa Felicidade e seus filhos .... 31 15 Festa da Assumpção de Nossa Se-
11 São Pedro Fourier . .............. 34 nhora . . . .................... 140
12 S. João Gualberto, Fundador ...... 3i 16 São Roque . . .................... 143
13 Santo Eugenio, Bispo de Carthago 39 17 S. Jacintho, Dominicano . . ...... 146
14 S. Boaventura, Cardeal e Doutor da 18 Santa Helena- . . . ............... 148
Egreja . . . . ................... 41 19 São Luiz, Bispo ele Toulouse ...... 150
15 Santo Henrique, Imperador . ..... 44 S. João Eudes . ................. 152
São Pompilio Maria Pirrotti ...... 46 20 São Bernardo . . ................ 155
16 Festa de Nossa Senhora do Carmo 49 21 Santa Joanna Francisca de Chan-
17 Santo Aleixo . . ................ 54 tal . . . .................... · · · · 159
Santa Maria Magdalena Postei ... 56 22 S. Symphoriano, Martyr . . ...... 161
18 S. Camillo de Lellis .............. 59 23 S. Philippe Benicio . . ............ 162
19 S. Vicente de Paulo .............. 61 24 São Bartholomeu, Apostolo . ..... 165
20 Santa Margarida, Virgem e Martyr 64 Santa Joanna Antida Thouret .... 167
21 São Victor, Martyr . .. . . .......... 67 Santa Maria Michaela do SS. Sa-
22 Santa Maria Magdalena . ........ 69 cramento . ................ 174
23 São Francisco Solano, Missionario 73 25 S. Luiz, Rei de França . .......... 178
24 Santa Julita . . ....... . .......... 75 26 São Genesio . . ................. 181
Santa Christina, Virgem e Martyr 77 27 S. José Calasancio . .............. 182
25 S. Tiago, Apostolo . ............. 80 Purissimo Coração de Maria• ...... 185
26 Sant'Anna . . . ................... 82 28 Santo Agostinho . . .............. 187
27 S. Pantalcão, Martyr . .......... 84 29 Degollação de S. João Baptista .. 191
28 As bcmavcnturadas Salomé e Judith 86 30 Santa Rosa de Lima .............. 194
29 Santa Martha . . ................ 88 31 S. Raymundo Nonnato, Cardeal .. 196
30 S. Lupus (Lobo), Bispo . ........ 89
31 Santo Ignacio de Loyola .......... 91 I•'Es�·A Mov11L: Puri:,;simo Corac;ão da B. V.
Ma1·ia no Sabbado ftftterior-11:0-ultimo .,Po--
1uingd. ;., 2 /
AGOSTO J. -· ;� 1

1 Festa das Cadeias de S. Pedro,


Apostolo . . . . ... ..... . ....... 99 SETEMBRO
2 Santo Affonso Maria de Liguori .. 102 1 Santo Egydio (Gil) . ............ 201
Indulgencia da Porciuncula . ..... 105 2 Santo Estevam, Rei da Hungria .. 202
3 Invenção do corpo do protomartyr 3 Santos Martyres Gorgonio, Doro-
Sant'Estevam . ............. 107 theo e os companheiros . . ..... 204
4 São Domingos . . ................ 109 4 Santa Rosalia . . ................ 206
5 Santa Afra e companheiras . .... 113 5 S. Lourenço Justiniani, Patriarcha
6 Tr!nsfiguração de N. S. Jesus de Veneza . . ................. 207
L-hnsto . . . .................... 115 6 São Magno . . .... .. .. ........... 210
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4 CALENDARIO

Dia Pag. Dia Pag.


7 S. Pedro Claver, Jesuita . 212 18 São Lucas, Evangelista . 3.½
8 Natividade de Nossa Senhora ..... 215 19 São Pedro de Alcantara ... ....... 337
9 S. Liberato e seus comjpanheiros, 20 S. Philippe, Bispo e Martyr ...... 340
Martyres . . .................. 218 21 Santo Hilarião, Eremita . ..... ... 342
10 S. Nicoláo Tolentino . . .......... 220 22 S. Theodoreto, Sacerdote e Martyr 344
11 Santa Pulcheria . . .. ............ 222 Santa Ursula . . ........ .......... 346
12 São Guida . . ................... 224 Dias das Missões . ............... 346
13 Santa Notburga, Empregada . .... 225 23 S. João Capistrano . . ............ 348
14 Festa da Exaltação da Santa Cruz 228 24 S. Raphael Arc, hanjo . ...... ...... 350
IS Santa Catharina de Genova ...... 229 25 Santos Crispim e Crispiniano, Chry-
16 S. Cypriano, Bispo de Carthago .. 232 santho e Daria, Martyres ... . .. 353
17 Santa Hildegardis, Religiosa e Ab- 26 Santos Luciano e Marciano ...... 355
badessa . . . ............... ... 234 27 Santo Elesbão, Rei . .............. 357
18 S. Thomaz de Villanova ... ....... 236 Christo Rei . . .................. 358
19 S. Januario e seus companheiros, 28 Santos Apostolos Simão e Judas
Martyres . . . ................. 239 Thadeu . . . .................... 360
20 Santo Agapito, Papa . ........... 243 29 São Narciso, Bispo . . ............ 362
21 S. Matheus, Apostolo e Evangelista 244 30 São Marcello . . ................. 263
22 São Maurício e seus companheiros 247 31 S. Wolfgang, Bispo . . ........... 365
23 Santa Thecla, Virgem e Martyr . . 249 Nossa Senhora do Rosario de Fá-
24 São Gerardo, Bispo e Martyr ..... 251 tirna . . . ................ 367
25 São Firmino . . ....... . .... ...... 252 FESTA MOVEL: Nosso Senhor Jesuo Christo,
26 S. Cypriano e Santa Justina, Mar- Rei, no ultimo Domingo do mez.
tyres . . . . ............... ...... 254
Os Martyres do Canadá e da Ame-
rica . . . ........................ 255 NOVEMBRO
S. João de Brébeuf .............. 255 1 Festa de 'Todos os Santos ......... 371
S. Gabriel Lalemiant . ............. 257 2 Dia de Finados . ................. 374
Santo Antonio Daniel . .......... 257 3 Santo Umberto, Bispo . ........... 377
S. Carlos Garnier . .............. 258 4 S. Carlos Borromeu . ............. 378
S. Nathale Chabanel . . .......... 259 5 Santa Berthilla . . ............... 384
Santo Isaac Jogues . ............. 259 6 São Leonardo . . .............. .. 385
S. Renato Goupil . ............... 260 7 Santo Engelberto, Arcebispo . ... 386
S. João de la Lande .............. 260 8 S. Godofredo, Bispo . .. ....... ... 389
27 Santos Cosme e Damião .......... 262 9 São Theodoro . . ..... .. ......... 391
28 São Wencesláo, Rei e Martyr .... 263 10 Santo André Avelino . ........... 394
29 São Miguel, Archanjo . .......... 265 11 São Martinho, Bispo de Tours .... 396
30 São Jeronymo . . ............ .... 268 12 Santo Homobonus . . ............ 398
13 Santo Estanisláo Kostka . ........ 400
OUTUBRO 14 Santa Gertrudes . . .............. 402
1 S. Rem'igio, Bispo . ...... ........ 273 15 Santo Alberto Magno . .......... 404
2 S. Leodegario (Ludgero) . . ... ... 275 S. Leopoldo da Austria ........... 407
3 Santa Therezinha do Menino Jesus 277 16 Santo Edmundo . . ............... 408
4 S. Francisco de Assis ..... ....... 287 17 S. Gregorio, o Thaumaturgo ..... 410
5 S. Placido e companheiros, Marty- 18 S. Dionysio, Bispo . . ............ 412
res . . . ....................... 291 19 Santa Isabel de Thuringia ....... 414
6 São Bruno . . ... . ................. 293 20 S. Felix de Valois ........ ........ 422
Festa do Santo Rosario . . ....... 296 21 Apresentação de Nossa Senhora .. 424
7 Santa Ositha, Virgem e Martyr ... 300 22 Santa Cecília, Martyr . ........ ... 427
8 Santa, Erigida . . ..... ............ 301 23 São Clemente, Papa e Martyr .... 431
9 São Dionysio . . . .............. 304 24 São João da Cruz ...... ......... . 434
10 S. Francisco Borgia . . .......... 306 25 Santa Catharina de Alexandria .... 436
11 Maternidade de Maria Santíssima. 309 26 S. Pedro, Patriarcha . . .......... 438
São Luiz Bertrand (Beltrão) .... 311 17 S. Tiago, o Mutilado ............. 440
12 Santa Pelagia, Penitente . . ...... . 313 )fossa Senhora da Conceição e a
13 Santo Eduardo, Rei da Inglaterra 316 ).[ edalha Milagrosa . . ......... 442
·]4 S. Burchardo, Bispo . . . ......... 319 28 S. Leonardo de Porto Maurício .... 446
15 S. Geraldo Majella, irmão leigo re- 29 São Saturnino . . ..... .......... 448
demptorista . . . ............... 321 30 Santo André, Apostolo . .......... 450
Santa Thereza, Fundadora . ...... 324
16 São Gallo . . .................... 327 DEZEMBRO
17 Santa Margarida Maria Alacoque .. 329 1 Santo Eligio, Bispo . ............ 455
Santa Hedwiges . . . .... .. . .. .. . 334 2 São Sabas . . . .................. 457

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CALENDARIO 5

Dia. Pa.g. Dia Pag.


3 S. Francisco Xavier . ............ 459 19 São Timotheo e Santa Maura, Mar-
4 Santa Barbara . . ............... 464 tyres . . . ........ ............. 496
5 S. Pedro Chrysologo, Bispo de Ra- 20 São Domingos de Sylos ........... 498
venna . . . .................... . 467 21 S. Thomé, Apostolo . ............ 499
6 S. Nicoláo, Bispo . . .............. 468 22 S. Flaviano, Martyr . . ........... 501
470 23 São Servulo . . ................. 503
7 Santo Aimbrosio . . . ............
8 Festa da Immaculada Conceição .. 473 24 Santas Tharsilla e Emiliana . ..... 505
9 Santa Gorgonia . . . ............ 476 25 Nascimento de N. S. Jesus Christo 506
10 Santo Euzebio, Bispo . ........... 26 Santo Esteva,m, Protomartyr . .... 510
478 27 S. João Evangelista . ........... 513
11 São Damaso . . . ................ 480 516
28 Festa dos Santos Innocentes ......
12 Santo Epimacho e companheiros, 29 S. Thomaz, Arcebispo de Canterbury 518
Martyres . . . ................. 481 30 Santo Esturmfo, Abbade . ........ 521
13 Santa Luzia, Virgem e Martyr .... 483 31 Santa Melania, chamada a Menor . 523
14 Santo Espiridião, Bispo . . ....... 485 S. Sylvestre . . .................. 525
15 Santa Christiana . . ............. 487 FESTAS MOVEIS: I.º Domingo do Advento, en­
16 Santa Adelaide . . ............... 489 tre 27 de Novembro e 3 de Dezembro.
17 São Lazaro . . .................. 491 Tem.poras, entre o 3. e 4. domingo do
0 0

18 Santa Olym:pias . . ............... 494 Advento.

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1 de Julho

SÃO GALLO, BISPO


(t 553)

e ÃO GALLO, filho de paes nobres,


� nasceu em 489, em Clermont. Ten­
ra o estado sacerdotal, tomou-o para sua
companhia e conferiu-lhe o diaconato.
do recebido uma educação exemplar, era Pouco tempo depois, Gallo recebeu um
vontade dos progenitores, que contra­ convite para a côrte de Theodorico, rei
hisse matrimonio com uma donzella de da Austrasia -e lá permaneceu até o anno
nobre estirpe. Para não vêr contraria­ de 527. No mesmo anno falleceu o bispo
dos os seus planos, que visavam unica­ Quinciano e o povo acclamou Gallo sue­
mente uma vida no serviço de Deus, cessar do mesmo.
Gallo abandonou a casa paterna e pediu A humildade, a amabilidade, a man­
admissão entre os monges do convento sidão e caridade, virtudes que já pos­
de Cournou, a qual lhe foi concedida de­ suía em alto gráo, fizeram com que Gal­
pois de lhe ter dado o pae o consenti­ lo, elevado á dignidade de Bispo, se tor­
mento. nasse o ídolo dos diocesanos. Admiravel
Gallo distinguiu-se entre os religio­ era a paciencia, a mansidão, com que sof­
sos, não só pelo amor á mortificação, fria injustiças e máas tratos.
como tambem pela dedicação e fidc!ida­ Houve um senador de nome Evadia,
de na pratica das demais virtudes mo­ que mais tarde veiu a ser sacerdote. Um
nasticas. Dotado de um orgão vocal bel­ dia este senhor se esqueceu de tal for­
lissimo, seu canto no côro era uma de­ ma do respeito que devia ao Bispo, que,
licia para todos, a quem era dado ou­ deixando-se levar pelos impetos de co­
vil-o. Quinciano, Bispo de Clermont, lera, cobriu de infamias ao superior.
descobrindo no jovem religioso qualida­ Gallo, sem proferir uma palavra de re­
des superiores e vocação declarada pa- pulsa ou clefeza, levantou-se ela cadeira

. .::. Gal/o - S. Greg. de Tours.


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10 1 de Julho

e foi á Egreja. Esse exemplo de mansi­ lhe no coração. Quem quer viver em paz
dão fez tal impressão em Evodio, que, com o proximo, deve saber perdoar, descul­
par, ter paciencia com os defeitos alheios
arrependido do procedimento incorrecto, e praticar a caridade por palavras e obras,
procurou immediatamente o Santo Bis­ sempre que para isso se apresentar occa­
po e, prostrando-se-lhe aos pés, humil­ sião. "Bemaventurados os mansos, por que
serão chamados filhos de Deus". (Math.
demente lhe pediu perdão. Gallo abra·
5. 9).
çou-o com toda cordialidade e quem pou­ "Si fôr possível, - escreve S. Paulo aos
co antes o injuriára, veiu a ser-lhe ami­ Romanos, - quanto estiver da vossa parte,
go dedicado. tende paz com todos os homens.., Sigamos
as cousas que são de paz". (Rom. 12, 18;
Muitos foram os milagres, que Deus 14, 19.) "Rogo-vos que andeis como con­
se dignou de fazer por meio do seu fiel vem... com toda a humildade e mansidão,
servo. Um pavoroso incendio, que amea­ com paciencia, soffrendo-vos uns aos ou­
tros em caridade. (Eph. 4, 2.) "Longe de
çava destruir a cidade toda, foi extincto vós seja toda a amargura, a ira, a indigna­
pela oração do santo Bispo. A bençã•J ção, a gritaria e a blasphemia . .. Antes sê­
do Prelado preservou o rebanho de uma de uns para com Ós outros benignos, mise­
terrível epidemia, que dizimára a popu­ ricordiosos, perdoando-vos uns aos outros,
como tambem Deus por Christo vos per­
lação elas províncias vizinhas. Depois de doou". (Eph. 4. 31, 32.)
longo e abençoado episcopado, Deus o
chamou para lhe dar a merecida recom­ Santos <lo Martyrologio Romano, CUJit
pensa. Gallo acceitou a ultima e prolon­ nicnwria é celebrada hoje:
gada doença com toda a conformidade No monte Hor a memoria. de Sant'Aarão,
e paciencia, até que a morte lhe abriu as primeiro Summo Sacerdote, irmão de l\Ioy-
portas do paraíso, a 1 ele Julho de 553. 8és, e Maria, filhos de Amram. Era chefe dos
Levitas. Peccou pela confecção do bezerr,:,
de ouro. O signal de ter sido confirmado por
REFLEXõES Deus como Summo Sacerdote foi sua vara,
Do exemplo de S. Gallo apprendamos a que, collocada no tabernaculo sagrado, co­
virtude da mansidão. Sem a mansidão não briu-se de folhas, flores e fructas. Porque,
pode haver paz. Para que a paz se estabe­ como Moysés, seu irmão, duvidou da pala­
leça e se conserve, é necessario que se te­ vra de Deus, não lhe foi dado o prazer de
nha paciencia com os defeitos do proximo; levar o povo de Israel para a terra da pro­
que se lhe supportem resignadamente as missão. Viveu 123 annos e morreu no anno
fraquezas; que se perdôem faltas commet­ 1452 antes de Christo.
tidas. A mansidão é o unico meio de desar­ A arte o apresenta com o thuribulo na
mar o inimigo e de conquistar-lhe a sym­ mão, ou com a vara reverdecida, no ornato
pathia. Esforça-te por viver em paz com pontificio. E' padroeiro da "obra dos taber­
todos. Evita tudo o que possa provocar dis­ naculos.
cordia e inimizade. Geralmente são os se­
guintes vicias que destroem a paz na socie­ Em Vienne, França, S. Martinho, dlscl­
dade: a avareza, o egoísmo, a soberba, a pulo dos apostolos. Diz a lenda, destituída
inveja, a pretensão, a teimosia, a vingança, aliás de qualquer prova historica, que como
a dureza, a injustiça, a mentira e a male­ pagão que era, teria sido testemunha ocular
dicencia. da crucificação de Nosso Senhor, e dos phe­
nomenos que a acompanharam. Profunda­
O christão deve ter toda a cautela, para mente impressionado pêlo que vira, teria
nenhum destes vicias conseguir alojar-se- effectuado sua conversão.

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2 de Julho 11

2 de Julho

Vísítação de Nossa Senhora


li\\ !VERSOS são os factos que a um dos quaes escolhera o seu Papa, re­
JB' Egreja cdmmemora, na celebra­ conhecendo nelle o legitimo successor
ção da festa da Visitação de Nassa Se­ dos Apostolas. O facto de ter a Egreja
nhora e que, um por um, põem em rele­ atravessado incolume aquella crise pe­
vo a grandeza da Beatissima Virgem: - rigosissima, é mais uma prova de que
o de Santa Izabel, por divina revelação, não é dirigida por homens, mas pelo Es­
conhecer e proclamar á prima a dignida­ pirita Santo, de accordo com a promes­
de de Mãe de Deus; o modo como se sa de Christo.
deu a saudação, a santificação do Pre­ Pelo Concilio ele Constança foi intro­
cursor antes do nascimento e terceiro, o duzida a festa da Visitação, "para que
canto bellissimo elo "Magnificat". - assim diz o respectivo decreto - a
Pela primeira vez appareceu essa fes­ bernaventurada Virgem Maria, por sua
ta, na Egreja Catholica, no seculo intercessão, nos alcance o perdão do Üi­
XIII. vino Filho, tão of fendido pelos pecc1-
S. Boaventura, na qualidade de Su­ dos dos homens e restabeleça a paz e
perior Geral da Ordem dos Frades Me­ união entre os fieis."
nores, ordenou que a visitação de Nossa A data da festa da Visitação não é
Senhora fosse, na Ordem elos Franci; · o dia da partida ou chegada de N assa
canos, celebrada com toda a solemnicla­ Senhora, mas o da volta á casa. As in­
de, incumbindo-se elle mesmo da Com­ dicações do Evangelho fornecem os se­
posição do Officio proprio. guintes dados chronologicos : "Maria
Urbano VI dispoz em 1389 a cele­ Santíssima recebeu a saudação do Anjo
bração da festa da Visitação para toda em 25 de Março, quando Izabel se acha­
a Egreja. O terrivel scisma, porém, que va no sexto mez de gravidez. Sem de­
separava a familia de Christo, impediu mora e pressurosa, foi visitar a prima,
a execução do decreto pontificio. O Con­ em cuja companhia ficou tres mezes. E'
cilio de Constança, reunido em 1441, ra­ provavel que tenha chegado á casa de
tificou o decreto de Urbano VI e de seu Zacharias já nos primeiros dias rle
successor Bonifacio IX. e desde então a Abril. E' provavel ainda que Maria não
festa da Visitação é conhecida e cele­ tenha ficado só até o dia do nascimento
brada na Egreja Catholica. de S. João (24 de Junho), mas tenha
Bem afflictivo correu para a Egreja sido testemunha da cerimonia da circum­
de Deus o seculo XIV. Camparand,:i cisão do recem-nascido, tenha presencia­
esse seculo com os tres primeiros, das do a scena da discussão sobre o nome
grandes perseguições ou com aquelles do menino e que terminou com a decla­
que trouxeram as luctas contra o aria­ ração do pae, a soltura da lingua do
nismo e o protestantismo, tem-se a im­ mesmo e a entoação do celebre "Bene­
pressão de que época nenhuma houve, dictus".
na historia ecclesiastica, tão critica como Ha, porém, pessoas autorisadas, que
a do scisma occidental. Humanamente julgam ter Maria Santissima voltado a
falando, teria chegado a hora da disso­ Nazareth antes do nascimento de São
lução da Egreja Catholica. O perigo não João Baptista.
viera de fóra: aninhava-se no seio da Não ha convergencia de opiniões so­
propria Egreja, achando-se a christan­ bre a questão si Maria Santissima se fez
dade dividida em grandes partidos, cada acompanhar de S. José ou não.

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12 2 de Julho

S. Francisco de Sales deu á Congre­ e pela mudez do marido, comprehendeu


gação por elle fundada o nome de "Vi­ immediatamente que sua presença seria
sitação", achando, certamente, que mo­ muito desejada pelo santo casal. Assim
delo mais perfeito de virtudes não pode­ Maria Santissima, tão amiga do reco­
ria apresentar ás religiosas, do que Ma­ lhimento, para praticar uma obra de ca­
ria Santissima, no mysterio ela Visita­ riclaclc, abre uma excepção e, com sacri­
ção á prima Isabel. fício proprio, en1prehencle a longa via­
O mysterio da Visitação está em in­ gem, mostrando-se pela primeira vez
tima connexão com o da Annunciação, "Mãe do bello amor".
falando-nos ambos ela grande dignidade Si alguns exegetas são de opinião que
de Maria Santissima, como Mãe <lc Hebron tenha sido a cidade onde Za­
Deus. charias morava, outros dizem que era
Jutha, cidade proxima de Hebron e ex­
No mysterio da Anmmciação, Maria é clusivamente habitada por familias de
perguntada pelo Anjo si acceita a ma­ sacerdotes. Segundo esta interpretação,
ternidade divina; Izabel elogia-a por ter o texto biblico seria: "Naquelles dias,
dado o consentimento. O Anjo enaltece levantando-se Maria, foi . . . á cidade de
a santidade de Maria (Ave-Maria, sois Jutha, 25 leguas distante de Nazareth e
e,-;-1eia de graça) ; Izabel saúda-a como 5 ao Sul de Jerusalém".
Mãe de Deus ( d'onde me vem a dita de Maria· évita a estrada commum, onde
receber a visita da Mãe de meu Se­ passam as caravanas e muita gente. Ca­
nhor ?), dizendo: "Bemdita sois entre minha pelos ..atalhos e veredas estreitas,
as mulheres e bemdito é o fructo do vos­ por entre as montanhas.
so ventre". Na Annunciação se escon­ Vae pressurosa, obediente á lei, que
dem as perfeições divinas; na Visitação, vedava ás donzellas viajarem com mo­
Maria Santissima as enaltece e glorifica. rosidade.
Naquelles dias, levantando-se Maria, Que espectaculo encantador nos pro­
foi com pressa ás montanhas, a uma porciona a viagem de Maria Santíssima '.
cidade de Judá". ( Luc. 1. 39). Passa­ Maria, desconhecida do mundo, leva no
dos em profundo recolhimento os pri­ casto seio o Verbo de Deus, o Salvador,
meiros dias depois da Annunciação, Ma­ a que todas as creaturas devem adora­
ria Santissima, obedecendo a um impul­ ção, a luz que viria illuminar o mundo
so do Espirita Santo, prdmptificou-se a e trazer o fogo divino aos corações hu­
visitar a prima. A relação entre Jesus e
manos! Que encanto vêr a Mãe de Jesus,
S. João Baptista era tão intima, que foi, a Mãe de Deus, levar a benção, a santi­
sem duvida, por inspiração do Espirito ficação ao Precursor !
Santo, que Maria procurou a Mãe do
"E entrou em casa de Zacharias e
Precursor, para que este fosse santifi­
saudou a Izabel". Maria sauda a Izabel,
cado ainda antes do nascimento. a Mãe de Deus dirige-se á Mãe do Ser­
Descobrimos e admiramos no proce­ vo, a soberana á inferior. O Evangelho
dimento de Maria Santissima: 1) gran­ não transmitte a saudação. Sem duvida,
de promptidão em cumprir as ordens foi a expressão dos sentimentos eleva­
divinas e corresponder ás graças que o dos e santos da Mãe de Deus, cujo ef­
Espirita Santo lhe confere; 2) a amiza­ feito não tardou: "E aconteceu que, lo­
de que a ligava a lzabel. Ambas tão pri­ go que Imbel ouviu a saudação ele Ma­
vilegiadas, outro interesse não têm, se­ ria, lhe deu o menino saltos no ventre, e
não a salvação do mundo e é esse inte­ lzabel ficou cheia do Espirita Santo".
resse o iman que lhes attráe os cora­ CtimpriraJm-se as palavras que o Anjo
ções ; 3) a caridade, de que dá prova. dissera a Zacharias: "Desde já o ventre
Conhecendo a situação afflictiva da pa­ da mãe será cheio do Espirita Santo".
renta, originada pela velhice da mesma Era justo que S. João Baptista recebes-

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2 de Julho 13

se esta graça, por intermedio da Mãe "Donde me vem a dita de ter a visita
do Senhor, e grande foi sua alegria, de­ da Mãe de meu Senhor ? !" - Estas
monstrando-a por um meio tão original palavras respiram respeito á Mãe de
e inequivoco. Quem não se lembra (ao Jesus. Superior a Maria em edade, pela
ler esse relato) das palavras de Jesus: posição do marido (que era sacerdote
"O amigo do esposo, que está com ellc do Senhor), eleita entre mil e honrada
e o ouve, enche-se de gozo, ao ouvir-lhe por Deus, mãe daquelle que entre os
a voz. Pois já este meu gozo é cwnpri­ prophetas é chamado o maior, julga-se
do ?" (Jo. 3. 29). E' por este motivo feliz em receber a visita da jovem pri­
que a Egreja celebra, co1111 grande so­ ma, esposa de um pobre carpinteiro !
lemniclacle a festa cio nascimento ele São Poucos dias antes essa mesma visita em
João Baptista. nada se teria differenciado de qualquer
"E Izabel bradou em alta voz e disse: outra, mas a posição que Maria agora
Bemclita sois entre as mulheres e bem-­ occupa, depois de ter sido elevada á di­
dito é o fructo cio vosso ventre". Ne­ gnidade de Mãe de Deus, é tão extraor- ·
nhuma palavra Maria tinha dito a Iza­ dinaria, que Izabel a reconhece como
hel, a não ser as da saudação, e esta, uma honra sobremodo grande, como
cht!ia cio Espírito Santo, chama bem­ mais tarde, cheio de confusão e humil­
aventurada entre as mulheres áquella, dade, seu filho disse ao filho de Maria
que é o templo vivo cio Espírito Santo, Santissima: "Sou eu quem devia ser
o sacrario do divino amor. "Bradou em baptizado por Vós e vindes a mim ! "
alta voz". Essa voz foi ouvida em todos "Bemaventurada sois por terdes cri­
os seculos e chegou tambem até nós, que do ! Pois tudo que vos foi dito da parte
a imitamos, repetindo-a em cada Ave­ cio Senhor, se realizará". Que significam
Maria que dirigimos ao céo. estas palavras ? Que é que ainda se de­
Quem não vê em tudo isso a conne­ verá cumprir, depois da Incarnação do
xão intima e natural que ha, entre a ve­ Verbo de Deus? Izabel elogia a prima
neração dedicada a Maria, e o culto que por causa da sua fé, felicita-a pela po­
se presta a Jesus, ao fructo de suas en­ sição que, como Mãe de Deus, occupará
tranhas ? Quem não vê que o culto de na ordem sobrenatural entre as creatu·
Maria e do seu divino Filho vêm do Es­ ras. O proprio Calvino, explicando essa;;
pírito Santo ? E' natural, pois, que a palavras, diz: "Maria é chamada bem­
Egreja, aproveitando-se das palavras cio aventurada, primeiro, por ter acceito
Anjo e ele Santa Isabel, formulasse uma com fé a saudação angelica e, segundo,
oração, que traz todos os signaes de ser por ter-se offerecido a Deus como ins­
por Deus inspirada. trumento para a realização cios planos
O Anjo, mandado por Deus, Isabel, divinos". Maria merece, não só a nossa
cheia do Espirito Santo, a Egrcja regi­ admiração, mas, muito mais - a nossa
da por este, eis os tres instrumentos ele gratidão e as homenagens cio mundo in­
que se serviu o Espirito Santo, para teiro. A ella devemos o nascimento de
compôr o grandioso unisono, para enal­ Christo, a ella elevemos a vida, a morte,
tecer e glorificar a Mãe de Deus. Com e todos os mysterios da vida do nosso
o Evangelho na mão, perguntamos a to­ Salvador.
dos que pretendem jjustificar-se só no Como Jesus dizia aos pobres doentes
Evangelho, abandonando a explicação que se lhe chegavam: "Tem confiança,
authentica da Egreja, si é segundo o tua fé te salvou", assim dizemos nós,
espirito do Evangelho negar a Maria com Santa Izabel: "Bemaventurada sois,
Santissima o que lhe é devido, como Mãe porque vossa fé nos salvou a nós todos".
do Salvador. Nós, catholicos, veneramos Bemaventurada foi Maria, bemaven­
em Maria, não só uma mulher santa, turada a Egreja por Maria; Elia é e foi
mas a Mãe de Deus, como muito hem o symbolo da fé entre os Apostolos e os
frisam as palavras ele Izabel : primeiros christãos. Como representan-

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14 3 de Julho

te da fé, vemol-a no meio dos Apostolas. REFLEXõE�


quando, reunidos em Siãci, se preparam Da v1S1ta que Maria Santíssima fez á
Santa Izabel, apprende1Tlos a que regras de­
para receber o Espirita Santo. Con10 re­ vem obedecer as nossas visitas e as obras
presentante da fé, como a Virgem Pode­ de caridade. Não podem ser agradaveis a
rosa e Rainha dos Apostolas, é ella ve­ Deus e uteis a nós, visitas que não têm por
nerada e invocada na Egreja primitiva. mira um interesse superior, como sejam a
gloria de Deus e o proveito das almas. Dis­
Onde a heresia levanta a cabeça, logr> tracção util e licita não deve ser chamada
se incompatibiliza com Maria Santíssi­ uma visita que nos afasta do nosso dever.
Illicita e prejudicial é a visita feita por mo­
ma, e si se dá por vencida, não é devido tivos de vaidade e que occasião proxima
tanto ás argwnentações theologicas, se­ offerece a conversações contra a caridade
não ás orações dirigidas á Mãe de e a outros peccados.
Deus. O culto de Maria é, por assim di­ Apprendamos de Maria Santíssima a im­
primir ás nossas visitas o caracter do util
z·er, o reducto inexpugnavel da fé catho­ e do agradavel, tanto para nós mesmos,
lica, a pedra de toque da nossa religião. como para o nosso proximo, a quem visi­
tamos. Procuremos alliar ás úossas visitas
"E Maria disse: "Minha alma en­ um fim caritativo e generoso.
grandece o Senhor e meu espirita, cheio
de alegria, louva a Deus, meu Salvador". Santos do Martyrologio Romano, cnja me­
moria é celebrada hoje:
Bem differente do nosso é o proce­ Em Roma o martyrio de Processo e Mar­
dimento de Maria Santíssima, a qual, tiniano, baptizados por S. Pedro no carcere
em vez de entoar elogios a si pro!>ria, mamartino (o que aliás não se pôde pro­
var). Como soldados romanos, intimados a
dá toda a honra a Deus. Elia, a Virgem prestar homenagem a Juplter, a que se op­
humilde e retrahida, torna-se eloquente puzeram, foram açoitados com "escorpiões"
e canta louvores á grandeza, misericor­ e mortos pelo cutello.
dia, bondade, justiça e fidelidade de Em Wlnchester a memoria do bispo São
Deus, tendo para si só expressões de Swithuno, gloria da Egreja na Inglaterra nc>
seculo nono.
humildade. E' o cantico sublime cio "Ma­ Em Tours, Santa Munegundes, que, com
gnificat", que a Egreja jubilosa cntôa, o consentimento de seu marido, fundou um
na recitação quotidiana das Vesperas. convento, no qual terminou seus dias. 570.

3 de Julho

SANTO OTHÃO
( t 1139)

°U ATUR�L da Suabia, teve Ot_hão cargo ele secretario imperial e, mais tar­
f'.?,lj
paes piedosos, que deram ao filho de, de chanceller da côrte.
uma educação muito solida. As virtudes, Quando, annos depois, morreu Ro­
como os grandes talentos, fizeram-no berto, Bispo de Bamberg, foi o proprio
merecedor da estima de todos, que com imperador que indicou Othão para suc­
elle viviam. O imperador Henrique IV cessor cio mesmo, na séde episcopal. De­
nomeou-o capellão de sua irmã Judith, balde reluctou. Henrique insistiu naquella
esposa de Bolesláo, duque da Polonia. nomea,ão justissima, e Othfto acccitou a
Durante a estada na Polonia apprenck•t mitra do bispado ele Bamberg. Grandio­
a lingua daquelle paiz. Judith morreu e sa lhe foi a entrada na metropole. Em­
Othão foi pelo imperador chamado ao bora fosse no inverno, Othão, quando

Sai,to Othão - Bali. I. Julho. Raess e Weiss IP.

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3 de Julho 15
- -·=---======--=====
chegou perto da cidade, apeiou e des­ vidos de fortuna, tanto mais lhe cres­
calço sobrie a neve, andou até a cathe­ ciam os recursos. Em pessoa visitava os
dral. Não tardou em relatar ao Papa a pobres doentes, confortando-os material
historia da nomeação e pessoalmente foi e espiritualmente. Para o uso pessoal
a Roma, fazer ao Vigario de Christo a cententava-se com pouca cousa e em sua
entrega ela mitra e elo baculo, pedindo casa reinava a maior simplicidade. Houve
h u mildem'ente quem censu­
,exoneração do ,---------------------� rasse e repro­
cargo, do qual vasse esse mo­
se julgava in­ do de viver do
digno. O Pa­ Bispo, ma s
pa, p o r ém, Othão respon­
confirln o u a deu : "Os bens
investidura do do Bispo ·são
1

imperador, deu ,esmolas d o s


a Othão o pal­ fi:eis ; não con­
lio e conferiu­ vém, portanto,
lhe a sagração que as ga!.5t'e­
de Bispo. As­ m os inutil­
sim autoriz1a­ mente".
clo, tornou-se De Boles­
O t h ão u m láo, duque da
grande a;pos­ PoJ.onia, filho
tolo da sua de Judith e
terra. Um dos sobrin h o do
s ·e u s princi­ i m per a dor
paes cuidados Henrique IV,
f o i approxi­ recebeu con­
mar o impera­ vite para pre..
dor do Papa e gar o Evange­
fazer ter'minar lho a:os Pom­
a lucta entre m1era:nos, povo
esses dois po­ que eUe 1me' s­
deres temporal mo acabára de
e e s p i r itua!. subjugar pelas
Com tanta ha­ a:rmas. Othão
hiliclacle soube requtir e u do
agir, que não Papa licença,
desmereceu a para poder ac­
estima do so­ ceitar tão su­
berano. Santo Othão bli'me m1ssao
Além d e O piedoso Bolesláo III., duque da Polonia, convida e acompanha­
ao Santo Bispo Othão para pregar o Evangelho aos
muitaJs Egre­ Pommeranos. ç1o de mu1itos
ja:s, consVru/iu clerigos, pôz­
vinte e um conventos. Perguntado uma s•e a caminho para Pommerania. Só
vez porque fazia tantos mosteiros, res­ Deus sabe quantos trabalhos os missio­
pondeu : "Os conventos são a ele feza da narias tivermn, no meio d'um povo bar­
innocencia, o abrigo da penitencia, o re­ bam, pagão e supersticioso. Mais de
fugio elos pobres, doentes e necessitados)). uma vez os sacerdotes idolatras trama­
Era admiravel o amor que tinha aos ram contra a vida do Bispo e seus auxi­
pobres. Quanto mais dava aos despro- liares. Mas Deus protegeu-os e tanto

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16 3 de Julho

lhes abençoou as fadigas e sacrificios, REFLEXõES


que quasi a Pommerania inteira se cur - Quanto mais Santo Othão dava a Deus
vou sob o doce jugo de Jesus Christo. e aos pobres, tanto mais abençoado pare­
Othão erigiu muitas Egrejas e transfor­ cia. A vida d'este era a affirmação da pro­
mou completamente o espirita dos po­ messa divina: "dae, e dar-se-vos-á ". (Luc.
6, 38). Porque receias logo sahir prejudicado
bres pagãos e, tendo entregue os clesti 0
e perder tua fortuna, quando te pedem para
nos cio nov'o rebanho ao bispo Adalber­ concorrer com tua esmola, em beneficio de
to, voltou para sua diocese. Tempos ele­ uma obra pia ? Onde está tua fé na pala­
pois lhe veiu a noticia de diversas cida­ vra divina ? Não negues teu auxilio aos
des terem abandonado o christianismo, pobres. Dar esmola é lei que Deus deu, · e
entregando-se de novo ás superstiçõe,; necessario para tua salvação. Negar a es­
pagãs. Pela segunda vez foi então á mola ao necessitado póde ter consequen­
Pommerania; mas as di fficulclades e a cias desastrosas, como facilmente se deduz
da sentença que espera os ímpios. (Math.
pertinacia dos renegados foram taes, 25. 41.) A Bíblia apresenta-nos o máo rico.
que os cd1Upanheiros de Othão quize­ (Luc. 16. 19.) Elle foi condemnaclo ás pe­
ram entregar-se ao desanimo. O bispo, nas do inferno. Porque ? "Não porque ti­
por�m, exhortou-os com estas palavras : vesse enganado os outros; não porque ti­
"Não viemos aqui procurar o nosso bem vesse roubado e opprimido viuvas e or­
estar. Ou pensastes que nenhuma diffi­ phãs, mas porque não tinha compaixão dos
culclade deveria atravessar o nosso ca-­ pobres, não dava esmola". (Santo Agosti­
minho ? Desejava vêr-vos todos prom­ nho).
ptos a acceitar a morte cio martyrio: não 2. Logo que conheceu ter chegado a hora
quero, porém, expôr ninguem. Quem da partida d'este mundo, Santo Othão to­
não tiver a coragem de acompanhar-me, mou providencias e recebeu devotamente os
Santos Sacramentos. Por que é que tantos
pelo menos não embarace os meus pas­ catholicos, achando-se gravemente doentes,
sos". não se lembram de preparar a alma ? Re­
Os missionarios, ouvindo estas pala­ ceiam que a enfermidade se aggrave ou a
vras do Bispo, encheram-se de animo e morte se ·approxime mais depressa ? Facil
recomeçaram os trabalhos. Deus aben­ lhes seria observar o contrario. Si Deus te
çoou-os de tal maneira, que não só vol­ mandar uma doença grave, imita o exem­
taram á Egreja os que a tinham abando­ plo de Santo Othão e trata sem demora de
nado, mas ainda outras trihus pediram receber os Santos Sacramentos, que tanto
consolo dão ao enfermo e bem fazem ao
para ser admittidas na religião de Jesus corpo, como á alma.
Christo.
O regresso a Balmberg foi um trium­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
pho. Sentindo, porém, a morte approxi­ moria é celebrada hoje:
mar-se, para ella se preparou com todo Em Alexandria o martyriu de S. Tryphu­
o fervor. Louvando a Deus, entregou­ nio com. doze comlJanheiros, no tempo do
lhe o espírito em 1139, na idade de 70 Imperador Valente.
annos. Em Cesaréa S. Jaclntho, camareiro do im­
perador Trajano. Accusado de ser chrlstão
Sem conta são os milagres com que teve de passar por muitos soffrimentos e
Deus se dignou de glorificar o tumuh morreu de fome no carcere.
do Apostolo, que se acha na Egreja que Em Chiusl, na ltalia, os martyres Santo
clle meslmo construiu em Bamberg. Iren<"o, cliacono, e Santa Mustiola.

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4 de Julho 17

4 de Julho

SANTO ULRICO, BISPO


( t 973)

� ANTO ULRICO ou Odalrico é Fidalgo de alta linhagem, tinha o pa­


� uma das figuras mais salientes do lacio aberto a todos que quizessem re­
episcopado aUemão do seculo X. Perten­ correr-lhe á hospitalidade. Clerigos e
cente á alta fidalguia do paiz, teve por religiosos achavam cordial agasalho em
pa:es Hupaldo ( Ubaldo) e Thetlinga, casa do nobre Prelado. Os grandes do
duques de Kyburgo e Dillingen. Tendo paiz eram recebidos com todas as hon­
a idade propria, frequentou a escola de ras devidas e, ricamente galardoados,
S. Gallo, onde fez os estudos humanis­ sahiam do palacio do episcopal senhor.
tas. Recommendado por mestres e ami­ No meio e apesar do esplendor da côrte,
gos, foi recebido na côrte palacial do Ulrico não se esquecia dos pobres. Pa­
eminente Bispo Alberto de Augsburgo, reciam ser os amigos predilectos do san­
que introduziu o intelligente jovem nos to Bispo.
trabalhos da administração dos bens cl:t Intimo era o laço que o ligava ao cle­
diocese. Em Roma, para onde tinha fei­ ro e ao povo. Duas vezes por anno reu­
to uma peregrinação, teve a noticia d�. nia todo o clero e cada anno percr:in ia
morte cio Bispo, e disseralm-lhe que viria a diocese.
a ser-lhe successor. De volta para Augs­ Uma chaga na vida politica d'aquelle
burgo, já encontrou um novo Antistite, tempo era a investidura, systema gover­
na pessoa ele Hiltin. Tambem este mor­ namental que favoreceu muitos abusos e
reu e Ulrico foi apresentado ao Impe­ grande mal fez á Egreja de Deus na
rador Henrique I, como candidato ido­ Europa. Os bispos eram em grande par­
neo á séde episcopal de Augsburgo. De te ta1mbem principes seculares e como
accordo co111 a praxe daqudle tempo, taes, vassallos do Imperador, obrigados
recebeu elas mãos do imperador o ba­ a prestar-lhe os serviços: judicial, mi'i­
culo e a mitra, insignias do poder epis­ tar e pecuniariü, serviços estes que o
copal, fazendo por sua vez a promessa Imperador recdmpensava com a inves­
de fidelidade ao monarcha. tidura, isto é, a entrega do baculo e da
Como bispo, era exemplarissimo no mitra, insignias do poder episcopal. Este
cumprimento dos deveres. Segundo São systema era injusto e pernicioso, e a
Pa:t..ilo : "o primeiro dever do Bispo é \má influencia só lhe podia ser attenua­
ser medianeiro entre Deus e os homens, da, tendo no poder homens rectos, res­
pela offerta de orações e sacrificios"; peitadores dos direitos ecclesiasticos.
Santo Ulrico era homem de oração. As Othão I era um delles e a Egreja catho­
primeiras horas cio dia eram dedicadas lica na Allemanha conta diversos San­
á oração e ao sacrificio divino. Do mes­ tos, entre os Bispos por elle eleitos e ele­
mo modo, terminadas as completas, re­ vados ao poder episcopal. Assim não
tirava-se. pa:ra passar o resto do dia re­ era difficil a Ulrico dar a Cesar o que
zando. Manifestava um talento extraor­ era ele Cesar e ser fiel servo do impe­
dinario em organizar festas ecclesiasti­ rador.
cas. A todos edificava pela piedade, co­ A Ulrico eram applicaveis as palavras
mo pela dignidade com que celebrava o que S. Paulo dirigiu a Tito: "Convem
santo sacrificio da Missa. que o Bispo seja sem crime, como di5-

Sar..to Ulrico - Mabillon e Boll. Raes,s e Weiss. IX. 5fi,

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18 4 de Julho

penseiro que é ele Deus; que não seja com toda a furia. Repentinamente, po­
soberbo, nem iracundo, nem dado ao rém, desistiram, retirando-se apressada­
vinho, nem propenso a espancar, nem mente ao acampamento. Celere tinha
amigo de sordidas ganancias; mas que corrido a noticia da chegada d'um gran­
seja hospitaleiro, benigno, sobrio, santo, de exercito do imperador Othão. Os
homem de temperança. Que abrace a Hungaros prepararam�se para offerecer
palavra da fé, que é segundo a doutri­ batalha. Ulrico uniu suas forças ás do
na, para que possa exhortar conforme imperador. O dia 9 de Agosto de 955
a sã doutrina e convencer aos que a era dia de jejum para todos os comba­
contralclizem". (Tito. 1, 7. etc.) tentes christãos e Ulrico, na presença
Embora não fosse monge, era grande de Othão e todo o exercito, celebrou
amigo dos religiosos. Os conventos da Missa solemne. O dia 10 de Agosto
diocese recebiam-lhe frequentes vezes a trouxe a deciisão : a victoria e liberdade
vi-sita, e grande zelo tinha pela conser­ elos christãos. Os Hungaros, apesar de
vação, não só dos bens das casas reli­ resistencia desesperada, foram derrota­
giosas, como tambem do espirita religio­ dos. Othão fez a entrada triumphal na
so nas mesmas. cidade de Augsburgo, onde foi re. 'bido
Entre o povo deu grande impulso ás pelo Bispo,. cujo irmão e sobrinho ti­
romarias e ao culto das reliquias dos nham morrido na batalha. O exct cito
Santos. cios Hungaros dissolveu-se e os c11efe-,
O episcopado de Ulrico pertence aJ principaes teriminaram a vida em Ratis­
seculo em que o centro da Europa se bona, na forca. Nunca mais os Hunga­
via constantemente inquietado pelas in­ ros ousaram pisar solo allemão e o im­
vasões dos Hungaros. Todos os annos, perio, desde aquella data, ficou livré Jas
na época da colheita, vinham as hordas, invasões. No imperio inteiro r �inou
ainda barbaras, devastar as planicies e grande alegria e na bocca de todos es­
valles do imperio allemão. Embora ba­ tavam dois nomes só: o de Othão e d)
tidos por diversas vezes, os imperadores grande Bispo Ulrico, como "'ialvador da
allemães não tinham conseguido ainda patria.
uma completa victoria sobr-e aquelle ini­ Ulrico viveu ainda 18 annos. A' me­
migo cruel. Chegou o anno de 955 e com dida que 'Se approximava do fim da vi­
elle, uma formidavel invasão, tão for­ da, 1,edobrava as orações e penitencias.
miclavel, que Othão, o proprio Othão, Servia-lhe de leito o chão e de vestuario
vencedor em tantas batalhas, chegou a o cilicio. Em 972 fez terceira viagem a
desanimar. Ulrico, com seus homens, Roma, onde se encontrou com o Papa
aparou o primeiro choque dos barbaras João XIII. Na volta visitou em Raven­
contra a cidade ele Augsburgo. Quando na o amigo imperial Othão, que o rece­
a lucta se tornou mais encarniçada, viu­ beu com summa alegria. - Foi-lhe re­
se o Bispo a cavallo, no meio cios com­ servado grande desgosto na pessoa do
batentes, sem armas, só revestido de es­ sobrinho, Adalberto. Precisando de co­
tola, animando os homens a resistir e de­ adjutor, apresentou o sobrinho, que
fender a cidade contra os pagãos. Othão elevou á dignidade de Bispo au­
Veiu a noite. De lado a lado foram xiliar, com direito de successão. Sem ser
tomadas as providencias para o novo sagrado Bispo, Adalberto exerceu as
ataque, no dia seguinte. Ulrico era in­ funcções episcopaes, o que causou gran­
cançavel, pondo a cidade em condições de escandalo, pelo qual Ulrico teve d�
ele poder valorosamente se defender, responder, perante os Bispos reunidos
contra a onda furiosa dos atacantes. em Ingelheim. Adalberto, para não in­
Bem cedo celebrou a santa Missa, na correr na grande excommunhão, renun­
qual deu a santa Communhão aos solda­ ciou e morreu pouco depois, de morte
dos. Os Hungaros começaram a lucta repentina.

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5 de Julho 19

Ulrico sentiu chegar a hora de despe­ pediu conselho de outras pessoas. E' esta
dir-se deste mundo e preparou-se para uma medida de prudencia,. que devem to­
mar todos que, como Santo Ulrico, se
a morte ele maneira, que edificou a to­ acham em circumstancias identicas. A es­
dos. Perguntado que Bispo queria que colha do estado é uma cousa de summa im­
lhe fizesse o enterro, respondeu que portancia, de que pode depender a felicida­
de na vida e na eternidade. Todos os esta­
Deus não deixaria ele mandar um. Num dos são bons, mas não convêm a todos.
domingo ordenou que lhe trouxessem Para quem não é chamado ao estado ec­
todos os bens. Eram apenas alguns ro­ clesiastico, a entrada no mesmo poderia
quettes, uns pannos de meza, duas ca­ causar a eterna condemnação, como tam­
bem ao perigo de perder-se eternamente se
pas e dez "solideos" de prata. Tudo isto exporia quem abraçasse uma carreira secu­
mandou repartir entre o clero e os po­ lar, tendo Deus lhe reservado o sacerdocio
bres. No dia de S. João Baptista cele­ ou o estado religioso. O mesmo deve-se di­
brou a derradeira Missa. Na noite de 4 zer relativamente á vida no matrimonio ou
fóra delle. Não erra na escolha do estado
para 5 ele Julho mandou espargir, em quem a Deus se dirige, em fervorosa ora­
forma de cruz, cinza pelo seu quarto e ção e recorre ao sabio conselho de pessoas
sobre ella se deitou. Nessa posição hu­ competentes, em primeiro togar do confes­
milde, emquanto os clerigos cantavam sor. Quem assim não procedeu e se enga­
nou na escolha do estado, procure emenJu
as Ladainhas, entregou a alma a Deus. a falta, si isso possível fôr, ou então faça
Ulrico morreu a 4 ele Julho ele 973, na da necessidade virtude e santifique-se pelo
eclacle ele 83 annos, no 50° anno ele vicia fiel cumprimento do dever, levando a cruz
com resignação e paciencia.
episcopal. Como o Santo o predissera,
chegou inesperadamente o Bispo São
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
Wolfgang, que lhe fez o enterro eccle­ moria é celebrada hoje:
siastico, com todas as honras e deposi­ Na Palestina a memoria dos prophetas
tou os restos mortaes cio amigo na Egre­ Oséas e Aggéo. Oséas é entre o numero dos
j a ele Santa Afra. O terceiro successor prophetas menores o primeiro. Viveu no
ele Ukico na Sé do Bispado de Augs­ tempo de Jeroboão II e dos seus successo­
burgo, o Bispo Luitolf, conseguiu cio res. Levantou sua voz protestando contra a
impi.edade e os vicios reinantes em Israel.
Papa João XV a cano1iização cio seu an­ Aggéo é o decimo dos pequenos prophetas.
tecessor. Era contemporaneo de Zacharias, no 2° an-
no do rei Hlstaspis, 620 annos antes de
REFLEXõEs Christo. Seu livro trata da construcção do
Para conhecer o estado em que, segundo templo.
a vontade de Deus, devia viver, Santo UI- Em Bourges o martyrio de S. Lauriano,
rico fóra a oração e penitencia que fazia, bispo de Sevilha no seculo 6 º.
+
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5 de Julho

SANTA GODOLEVA
(t 1070)

� ODOLEVA, oriunda ele nobre fa­ e a amizade. que apparentava antes,


� milia franceza, possuidora de ex­ logo depois do dia cio casamento, trans­
cellentes qualidades ,..,physicas e moraes, formaram�se em antipathia e oclio. Neste
era rnsada com Bertulpho, nobre fidal­ adio via-se secundado pela mãe, que tu­
go da Hollanda. Fidalgo de nome e ele do fazia para amargurar o coração da
sangue, não o era de coração. O amor jovem nora, a ponto de expulsai-a de

Santa Godoleva - Drogo, monge de Ghistel. Surio e Bolland.

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20 5 de Julho

casa. Tendo todo o apoio do filho, acon- mulher e prometteu, sob juramento, tra-
selhou-lhe que désse a Godoleva uma tal-a com toda dignidade. Tendo estas
moradia riropria, separada, que a abri- garantias, os paes de Godoleva c_onsen-
gasise a viver inteiramente separada do tiram que a filha voltasse para a casa
marido e da familia elo mesmo. elo seu marido. Bertulpho, porém, não
G o cl o leva, �---------------�--- - ---, cu111p 1 riu a pa-
1eclucada ma es- lavra. Reoo-
·cola de Chris- 1111 e ç o u o s
to, e m b o r a máos tratos e,
soffresse pro- não satisfeito
f u n d a mente com isto, con-
com um trata- cebeu o pla:no
menta tã:o in- 1sinistro de li-
justo ,e impio vrar-se da es-
levou a cruz posa de qual-
cem resigna- q u e r fórma.
ç ã o, offere- Godoleva, en •
cen<lo os sof- tretanto, cr"e-
iümentos pela solv e r a não
cmwersão da- iabandon a r o
que 111e s que ntarido, ainda
a maltra1avaim. qll'e lhe custas-
A 111 a lva:dez se a vida. Nã,J
do 111 a r i d o, se i 11 u d i u,
inspirado dia-- quanto ás in-
bo1lica 111 1e n t e tJe n ç õ e s do
pela mãe, che- 1mesmo e da
gou a ponto de sogra e prepa-
tentar contra rou--sie para a
a vida da es- morte.
posa. Tomada a
Esta canse- resolução d'.'.
gttiiu livrnr-1sc fazer deséllppa­
das mãos as­ recer a mu­
sa,ss1 n a s ele lher, Bertul­
Bertulp h o e ph o t r at o u
voltou para a doi'S einpr1ega­
casa paterna. dos, que se in­
Os p:l.'es a;s·sus­ cu:nbiram •d'J.
taJram-se com Santa Godoleva eX:ecuç ã o da
a chegada in­ Alta noite, assassinos contractados pelo marido, pe­ ordem crimi­
eslJ'er a da da netraram nos aposentos de Godoleva, que se achava nosa. Bertul­
filha, mas 0 em oração deante da imagem do Crucificado, e es- pho, para dis­
trangularam-na barbaramente.
paismo trans­ sipar qualquier
f01imou-1se-lliies em indignaçâ'O, qttiando sus1:,eita que contra elle pudesse surgir,
souberam os lm'otivos qu1e determinaram apparentou a _necessidade urgente de
a fuga de Godoleva. Como · era dever, tima viagem a Bruxdlas e despediu-se
tomaram a defeza da pel's'eguida, cuja de Godol'eva com fingida amizade.
causa confiaraim a Balcluino, conde de Gocloleva, porém, não confiou nas pa­
Flandres e ao Bispo de Nimvegen. lavra:s mentirosas do marido e continuou
Bertulpho foi obrigado a receber a a encommendar a alma a Deus.

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6 ·de Julho 21

l[al Bertulpho tinha partido, quando teravel o amor que liga as pessoas casadas.
üS assassinos contractados, por horas 2. Fizeram mal os paes de Godoleva te­
rem dado a filha em casamento a um jo­
mortas da noite, penetraram nos aposen-· vem, que se distinguia apenas pela descen­
tos de Godoleva e estrangularam-na. O dencia e posição, sem possuir, entretanto,
crime não foi descoberto, acreditando as virtudes que devem adornar o coração
todos que Godoleva tivesse morrido na­ de um jovem catholico. Godoleva, por sua
vez, procedeu imprudentemente, dando o
turalmente, em cons.equencia dos soffri­ consentimento, sem conhecer sufficiente­
mentos moraes por que passara. Ber­ mente o futuro esposo. Si ha hoje tantos
tulpho, porém, mais tarde, atormentado casamentos infelizes, é porque paes e fi­
lhos, em vez de se orientarem pelos dicta­
pelos remors, os de consciencia, tirou ,, mes da fé e da prudencia christã, só atten­
véo do mysterio e confessou publica­ dem, pelo contrario, a interesses materiaes,
mente a culpa, entrando numa Ordem de como sejam fortuna, posição, parentesco,
rigorosa penitencia. belleza, etc. As consequencias são as que
observa.mos todos os dias: desunião entre
O tumulo de Godoleva foi glorificado os esposos, desintelligencias continuas, frie­
por muitos milagres, que Deus se d-ignou za, aborrecimento, odio. Os filhos é que
fazer por intercessão de sua santa serva. são muitas vezes as victimas d'esse triste
estado de cousas - O matrimonio é indis­
REFLEXõES soluvel. Só a morte lhe solve os laços. Por
mais infeliz que seja a união, que dois in­
1. Não são raros os casos em que enh e dividuas acharam no matrimonio, não ha
conjuges não reina a harmonia, que dev;a poder na terra que a possa romper. E' essa
haver. Que assim é, tem explicação muitas a doutrina da Egreja catholica, contraria
vezes nos peccados comniettidos antes ,lo ás idéas de que a impiedade moderna se
casamento. Quanto maior é a paixão pec­ empenha em propagar, sobre o amor livre,
caminosa antes do casamento, tanto maior o divorcio, etc.
costuma ser SVõdio, mais tarde. O Archan­
jo S. Raphael disse bem claramente ao jo­ Santos do Mart11rologio Romano, cuja me­
vem Tobias que o demonio tem poder so­ moria é celebrada hoje:
bre aquelles que iniciam com peccados o
matrimonio. (Tob. 6.) Si o demonio tem Em Cremona a memoria de Santo Anto­
poder sobre jovens casaes, incitando-os a nio Maria Zaccaria, fundador dos clerigos
peccados contra a pureza, difficil não lhe regulares de S. Paulo, (Barnabitas) e das
pode ser semear mais tarde entre elles o Religiosas "Angelicas" de S. Paulo. Por sua
germen do odio e da discordia. Deus reser­ iniciativa foi introduzida na Egreja a prati­
va bençãos especiaes � familia em que rei­ ca da Adoração das quarenta horas. 1539.
na a paz. A paz, a concordia, faz bem ao Na Syria o martyrio de S. Domicio na
corpo e á alma, e é um meio excellente de perseguição de Juliano Apostata. Preso den­
evitar mutios peccados. Onde não existe tro de uma gruta, lá. morreu de fome.
esta paz, o matrimonio é antes um prelu­
dio do inferno, do que um antegozo do céu. Na Lybia a martyr Cyrilla. Intimada a
Aos maridos S. Paulo manda que tenham adorar á.s divindades, se oppoz. Deixou, po­
amor ás esposas, como Christo ama a Egre­ rém, que lhe puzessem braza com incenso
ja. O amor de Christo á Egreja é constan­ na·s mãos. Apoz esta e outras torturas deu.
te, firme. Assim deve ser constante, inal- a vida por seu divino esposo. 300.

6 de Julho

SÃO GOAR, SACERDOTE


·(t 575)

D ÃO GOAR, natural da, Aquitania, vocos de. futura santidade, mostrando-se


� foi filho de paes illustres. Já m avesso ás puerilidades proprias d'esta
edade de seis annos deu indícios inequi- edade e inclinado á vida religiosa. Com
S. Goar - Boll. II. Julho. Raess e Weiss IX. 121.

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22 6 de Julho

um cuidado extraordinario zelava pela lagres que fazia, não eram senão embus­
pureza do coração, manifestando grande tes. O bispo deu credito ao que lhe foi
repugnancia por tudo que era peccado, contado e deu ordem a que S. Goar com­
principalmente o peccado abominavel. parecesse á sua presença. Outra vez os
Por meio da oração, pela recepção fre­ dois commissarios se dirigiram ao reco­
quente da sagrada Communhão, conser­ lhimento do ::;anta homem, que os aga­
vou intacta a innocencia baptismal. Ten­ salhou com a maior amabilidade, pelo
do feito os respectivos estudos, recebeu que o censuraram, dizendo: "Não espe­
o santo Sacramento ela Ordem. Pelas ravaanos encontrar tima. meza tão opipa­
orações, a pregação e antes de tudo, o ra, na casa de um homiem que dizem ser
exemplo modelar, fez com que muitos tão santo". - "Não diríeis isso, respon­
\Xtgãos se convertessem ao christianis- deu o Santo, si acceitasseis com carida­
1110, e. grandes peccaclores voltassem ao de o que a caridade vos offerece". No
caminho da virtude. dia seguinte lhes preparou outra vez um
Corno, porém, as muitas visitas se lhe 1mm almoço, o que elles, com apparen­
tornassem incommoclas e prejudiciaes, tada indignação, recusaram, objurgan­
resolveu sahir da sua terra e servir a do-o porque não pensava em outra cou­
Deus na solidão. Assim aconteceu esta­ sa, sinão em beber e comer. Negando-se
belecer-se perto de Oberwesel . sobre o assi:m ao almoço do santo homem, pedi­
Rheno, na diocese de Treves. Ahi, com ram que lhes désse alguma cousa, para
licença do bispo, erigiu uma capella e no caminho comerem, no que foram at­
uma pequena casa para morada. tendidos e Goar deu a 11111 pobre o almo­
Attrahidos uns pela curiosidade, ou­ ço que havia preparado para os hospe­
tros pela santidade e grande caridade_ des. Depois ,montaralm a cavallo, �
cio sacerdot� estrangeiro, os habitantes demanda de Treves. Goar passou o tem­
d'aquella região, pagãos ainda, vieram po quasi todo rezando e recitando psal­
visitar o santo eremita, o qual, tornan­ mos.
do-se-lhes missionario, conduziu muitos Era meio-dia, quando os dois compa­
ao aprisco do Senhor. nheiros sentiram um abatimento tal, que
A falma de S. Goar espalhou-se lar­ quasi chegara1111 a desfallecer. De todas
gamente e suas prédicas foram corro­ as provisões que Goar lhes tinha dado,
boradas por numerosos milagres. São nenhum vestigio mais acharam, pelo que
Goar, no intuito de ganhar muitas almas se lhes abriram os olhos e por esta cir­
para o céo, recebia muito bem os que o cumstancia conheceram um castigo do
visitavam, hospedava-os em casa e com céo, pelas censuras asperas e desapieda­
a maior liberalidade lhes punha á dispo­ das que fizeram ao santo h01mem. Elle,
sição o que havia na dispensa. O resul­ não só lhes perdoou a falta de caridade,
tado foi a conversão de muitos pagãos. mas ainda pediu a Deus que os soccor­
Deus, porém, permittiu que o proceder resse. Appareceram da matta tres cor­
do seu servo fosse por outros mal in­ ças, que mansinhas deixaram que Goar
terpretado,· e dahi resultasse para o san­ as ordetihasse. Com o leite das corças os
to eremita uma serie de provações. viajantes refizeram as forças. De adver­
Doi•s commissarios do bispo de Tre­ sarios que eram, os commissarios passa­
ves, que o foram visitar, receberam do ram a ser defensores do santo eremita,
Santo o acolhimento que este dava a a quem pediram lhes perdoasse o que de
todos os que o procuravam. Mas não má fé contra elle haviam tentado. Che­
foi o que entenderam. ·Relataram ao bis­ gados a Treves, relataram ao bispo r,
po que o eremita era um grande hypo­ que no caminho se tinha dado e fizeram
crita, cuja. vida não estava de accordo de Goar as mais elogiosas referencias.
com as regras da moral christã; que se O bispo, porfm, permanecendo no juízo
banqueteava com os mundanos e os mi- que de Goar formara chamou-o á sua

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6 de Julho 23

presença e, perante numerosa assisten­ tudo, fllada maiis tenho a accrescentar ".
cia de clerigos, o increpou de diversos O rei mostrou-se tão edificado com
Yicios, em particular da embriaguez, in­ esta resposta, que offereceu a Goar a
telmperança e hypocrisia.. dignidade episcopal. Vendo que tambem
O santo sacerdote, humilde e mansa­ era vontade cio povo tel-o por Bispo,
mente, defendeu sua innocencia, sem, GoaT pediu a Deus que interviesse, por­
porém, conseguir convencer ao Superior. que não se julgava merecedor de tão
Emquanto isto se dava, entrou o sacris­ alta dignidade.
tão-mór da Cathedral, tendo nos braços Deus ouviu a oração do seu servo e
uma criança recem-nascida, que tinha mandou-lhe uma grave doença que du­
sido achada na porta da Egreja. "Vens rante sete annos o prendeu á cama. Pas­
muito a proposito - disse o Bispo ao sados esses sete annos, o rei renovou o
funccionario · <la Catheclral ; - agora ha pedido. Goar respondeu que só deixaria
de se mostrar si Goar é homem ele Deus a cella quando fosse levado ao cemiterio.
ou não". E, dirigindo-se ao santo ere­ Assim succedeu. Accommettido de outra
mita, o Bispo lhe disse: "Si nos puder­ doença, que o prostrou durante quatro
des dizer quem são os paes desta crian­ annos e meio, o santo veiu a fallecer em
ça, acreditaremos na tua innocencia e S7S. Quão preciosa foi essa morte aos
santidade; si não, serás tido como hypo­ olhos do Altíssimo, provam os Í!inume­
crita e embusteiro". Goar pediu ao Bis­ ros milagres, que lhe tornaram glorioso
po que não o sujeitasse a essa provaçãc) o tumulo.
- em vão: o Bispo insistiu. Os restos de S. Goar acham-se na
Goar fez u:ma pequena oração, adian­ Egreja do mesmo nome. Durante secu­
tou-se para a criança e disse-lhe: "Em los foi S. Goar um dos santuarios mais
nome da Santissima Trindade, eu te celebres da Rhenania e lá iam peregri­
mando que nos reveles os nomes de teus nações da Belgica e da Suissa. Na Re­
pat:s". A creança immediatamente res­ forma a população de S. Goar passou a
pondeu em voz alta: "Rustico é meu ser protestante. A cidade, porém, con­
pae e Flavia é o nome de minha mãe". servou o nome do santo padroeiro. Mui­
O Bispo, ouvindo estas palavras, cahiu tos dos habitantes voltaram á religião
como fulminado aos pés de Goar, pedin­ catholica.
do-lhe perdoass•e a falta. S. Goar ficou Embora seja protestante ainda a
muito pezaroso de ter, aliás involunta­ Egreja de S. Goar, a gloria de Deus e
riamente, concorrido para a descoberta do ,santo é annuncia<la pelos sinos, dos
do peccado do Superior e proximo. O quaes um traz a inscripção: "S. Goar,
Bispo renunciou á diocese e retirou-se confessor do Senhor, excelso sacerdote,
da vida publica, entregando-se a obras benigno protector, defendei-nos, que so­
de penitencia. mos peccadores".
O facto chegou aos ouvidos cio rei S. GoaT é padroeiro dos hoteleiros,
Siegeberto. Este mandou chamar á sua dos naviega:nt!es, dos oleims e vinharei­
presença o santo eremita, exigindo cio ros. E' invocado em rasos die deÍ'eza do
mesmo que lhe narrasse o occorrido. bom nome.
Goar, porém, querendo salvar a repu­ REFLEXÕES
tação do Bispo, nada disse. Siegeberto, E' digna de reparo a resposta que S. Goar
então, para exonerar a consciencia do deu ao rei, que queria saber que castigo re­
santo sacerdote e para mostrar que tudo cebera o Bispo. O exemplo do Santo é a
verificação da .doutrina christã, que acon­
já sabia, contou o que se tinha <lado, pe­ selha o maior cuidado no julgamento das
dindo, apenas, que Goar lhe dissesse, si faltas do proximo, embora verdadeiras e
as informações que tinha, eram concor­ reaes. A denuncia de faltas alheias é licita
e póde até ser necessaria e obrigatoria,
dantes com a verdade. S. Goar respon­ comtanto que seja feita com recta inten­
deu: "Como Vossa Magestade já contou ção, e a pessoas que, pelo cargo de superior,

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24 1 de Julho

podem e devem corrigir e ·castigar o delin­ Na Judéa o propheta Isaías, dos grandes
quente. Pôr a descoberto crimes occultos, prophetas o primeiro. E' chamado o Evan­
relatai-os só a titulo de curiosidade e para gelista do antigo Testamento por causa das
causar sensação e além disso, descobril-os prophecias messianicas. Com razão se lhe
a pessoas que nenhuma influencia discipli­ outorga o titulo de príncipe dos prophetas.
nar ou educativa têm sobre o peccador - Como nenhum outro levantou seu protesto
é reprovavel, é diffamação, é peccado e pec­ contra a corrupção dos costumes, que teve
cado grave, si o assumpto apresenta alguma seu inicio no m{w exemplo da côrte, formada
gravidade. Falar de faltas publicas não é pelo impio rei Achaz, o peior de todos que
diffamar o proximo, mas é, muitas vezes, oecuparam o throno de Judá. Horrível mar­
faltar á caridade. tyrlo dietou-lhe o rei Manassés. Começando
O verdadeiro christão, que quer merecer pelo alto da cabeça foi seu corpo serrado no
o titulo honroso de discipulo de Christo, meio. Isaías morreu com 80 annos de edade.
abstem-se completamente da censura e faz G81 a. Chr. Dos quatro anímaes apocalypti­
um contracto com a língua, de nunca dizer cos, applicados aos gr:;mdes prophetas, cabe­
palavra que possa offender a caridade. lhe o leão.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Em Fiesole, na Toscana, o martyrlo de
moria é celebrada hoje: São Romano, discípulo do apostolo S. Pedro.

7 de Julho

S. WILLIBALDO, BISPO
( t 781)

m WILLinALDO, primeiro Bispo


� o ele Eichstaett, na Allemanha, de
cios quaes se instruiu na religião, nas
artes e sciencias. Terminado o curso do.,
nacionalidade ingleza, nasceu em 704 ap­ estudos, manifestou Willibaldo desejo
proximada:mente. Filho do santo rei Ri­ ele visitar os Santos Lagares ela Palesti­
cardo e ele Bonna, irmã de S. Bonifacio, na. Em companhia cio pae, cio irmão
o grande ·Apostolo da Allernanha, tinha Wunibaldo e de alguns jovens fidalgos,
Willibaldo por irmãos S. Wunibaldo, fez a piedosa peregrinação. Chegados
Abbade ele Heidenheim e Santa Wal­ a Lucca, morreu-lhe o pae, facto este
burgis, abbadessa. Na edade de tres an­ que lhe fez mudar o plano ela viagem.
nos cahiu gravemente doente e os me­ Não obstante, continuaram a romaria,
dicos nenhuma esperança deram de sal­ dirigindo-se a Roma, onde visitaram os
valmento. Nessa af flicçf\,o os paes leva­ grandes santuarios ela metropole christã.
ram o filhinho ao cruzeiro plantado nu­ Mezes depois Willibaldo, acompanhado
ma praça publica e, pondo-o ao pé cio ele outros sete jovens, se pôz ele novo a
sy1111bolo da Reclempção, pediram em canninho para a Palestina, onde com
oração ardente de fé, que Deus conser­ muita devoção visitou os lagares consa­
vasse a vida ao pequeno, consagrando-o grados pela vida e pela Paixão e Morte
ao mesmo tempo ao serviço de Deus, ca­ cio Divino Salvador.
so recuperasse a saude. Deus ouviu as Deus quiz, por um modo extraordina­
preces, e o pequeno Willibaldo restabele­ rio, provar a fé do seu servo. Willibaldo,
ceu-se.· Tendo apenas seis annos, foi achando-se em Gaza, em certa occasião,
confiado ao cuidado dos monges do con­ assistindo á santa Missa na Egreja de
vento de Waltheim, em cuja companhia S. Mathias, foi accommettido de uma
ficou quatorze annos e sob a direcção doença, que o privou da vista. Comple-

8. 1Villibaldo - De 3 blographlas escrlptas por contemporaneos do santo. Mablllon, caec.


3. Bened. - Boi!. II.

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1 de Julho 25

tamente cego, passou o Santo dois me­ cordialmente recebido, teve logo depois
zes na Terra Santa, até que, durante ordem de assumir a direcção da nova
uma oração que fazia, na Egreja ele diocese de Eichstaett. Durante 36 annos
Santa Cruz, inesperada e repentinamen­ pastoreou aquella parte do rebanho do
te recuperou a vista. Senhor, tendo sido visível a benção de
De volta á Europa, entrou para o que Deus lhe cumulou os trabalhos ver­
convento dos ei a 'deiramente
Benedict i n o s aposto I i c o s.
·e m Monte Wil 1 i hald o
Cassino, onde mo r r eu qm
ficou pelo es­ 781, tendo al­
paço de dez cançado a eda­
annos, decor­ de de 87 an­
ridos os quaes, nos. O htmu­
foi pelo abba­ lo do illustre
de mandado a Bispo foi glo­
Rorrna a tratar rioso, e Leão
de n e gocios VII, em 938,
iimportantes da o elevou á ca­
Ordem. te g o r i a de
Numa audi- Sainto.
1encia que tt:e­
ve com o Pa­ REFLEXÕES
pa G r egorio Romar i a s e
poregrina ç õ e s
III, este lhe sempre faziam
chamou a at­ parte do culto
tenção para a ext e r i o r na
grande obra . Egreja Catho­
lica e duvida
de S. Boni fa­ nenhuma pode
cio, seu pa­ haver sobre a
rente, c om­ grande utilida­
municando-Ihe de de seme­
lhantes empre­
o desejo do hendim e n t o s,
grande Apos­ supposto sejam
tolo da Alie­ feitos com re •
cta e piedo,a
m a n h a, de intenção.· N,io
vel-o perto de · são os Santos
si como coad­ Lo g a r e s ou
jutor. W i Ili­ santuarios em
si, que produ­
baldo acceitou zem um gran­
promptaimente S. Willibaldo de bem á alma,
tã o honroso O unico descanço que tomava, era uma visita que mas a boa dis­
annualmente fazia a seu irmão Wunibaldo, superior posição, a fé,
convite e par­ do convento por elle fundado em Heidenheim: e a
o espírito de
tiu para a Al­ sua Irmã Walburgis que no mesmo Jogar dirigiu um
convento de freiras benedictinas. penite n c i a, o
lamanha. Na fervor do pro­
viagem pela Baviera visitou os dois PrÍ? peregrino, são os elementos neces­
iidalgos Uttilo e Suitgario, ambos gran­ sanos para assegurar o bom exito e
grande resultado espiritual da romaria. Ter
des defensores e protectores da Egreja. vivido em Jerusalém, nada significa; ter
Acompanhado desses dois nobres se­ se santificado lá, é cousa louvavel. Si que­
nhores, dirigiu-se á residencia de S. Bo­ res emprehender uma romaria, c11ida de fa­
nifacio, em Fulda. Por este mui bem e zei-a com a boa intenção e no intuito de

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26 8 de Julho:

livrar-te dos teus máos habitos e fazer Em Roma o martyrlo dos Ss. N!costrato
progressos na virtude. Não deves dar im­ Claudio, Victorino e Symphoriano, d!sc!pu­
portancia á critica e censura de homens los de S. Sebastião e baptisados pelo sacer­
sem fé. Uma romaria feita nas devidas con­ dote S. Polycarpo.
dições, é cousa util e agradavel a Deus. Em Clermont a memoria do bispo Santo
Illidio. 385.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Na Inglaterra, Sant'Hedda, bispo de Wes­
moria é celebrada hoje: sex.

8 de Julho

Santa Isabel, Rainha de Portugal


(t 1336)

e ANTA ISABEL, filha de Pedro


� III, rei de Aragão, nasceu em
tos Sacramentos, para elles se prepara
va com muito cuidado. A pessoas qut
' � Menina de tenra edade, fornecia aconselhavam maior moderação nos tra­
indicios indubitaveis de futura santida­ balhos, orações e peinitencias, Isabel res­
de, tanto pela grande caridade e com­ pondia: "Poderá haver maior utilidade
paixão que tinha aos pobres, como pelo e necessidade ela oração, que na edade
amor com que se dedicava á oração e ás em que os perigos e as paixões se apre­
praticas de piedade. A Egreja era seu sentam mais fortes ?"
loga:r predilecto, onde passava horns. re­ Especial attenção dedicava aos pobres
zando. Quando tinha oito annos, rezava e aos doentes. Isabel costumava dizer:
o divino officio diariamente, costume "Outro motivo Deus não teve de collo­
que conservou durante toda a vida. car-me sobre o thronó, sinão de propor­
Menina ainda, jejuava todos os sab­ cionar-me os meios de soccorrer os ne­
bados e ncl!s Vigilias elas festas maria- cessitados". Dia não se passava, sem que
nas. • a santa rainha fizesse uma ou muitas
Todo o exterior, o modo ele falar e obras de caridade, ora em soccorrer os
agir, interpretava-lhe nitidamente o pobres, ora em visitar os doentes.
grande rumor á pureza de coração. Do­ Deus recompensou essa dedicação
tada de intelligencia invulgar, era, pela com o dom de milagres. Uma pobre mu­
sua virtude, por todos estimada e ve­ lher, cujo corpo estava coberto de ul­
nerada. ceras, recuperou a saude com wn abra­
Na edade de doze annos, foi dada ço, com que Isabel a distinguiu. Em to­
em matrimonio _a Diniz, rei de Portu­ das as sextas-feiras da quaresma, como
gal. na Quinta-feira Santa, costw11ava Isa­
Conservando as praticas de piedade, bel lavar os pés a treze mulheres. EntrP
procurou Isabel santificar-se em seu no­ estas havia uma, cujo pé apresentava
vo estado. Em tres épocas durante o uma ferida asquerosa. A santa rainha
anno observava UllTI jejum, cada ·vez de não só lavou a ferida, mas, terminada
quarenta dias, alimentando-se quasi ex­ essa manipulação, levou a penitencia ao
clusivamente de pão e agua. Em tudo ponto de imprilmir um osculo sobre o lo­
havia methoclo - tanto na oração, como ga:r fierido do pé, ie este sarou immedia­
nos trabalhos. Nunca alguem a encon­ tamente. Em outra occasião uma cega
trava ociosa, mas sempre occupada em desde a infancia obteve a vista, em vir­
coi-sa utiL - Assídua na recepção dos san- tude da oração de Isabel. Muitos doen-

Santa Isabel - Mariana e outros escrlpt. hespanhoes. Boll. II. Raess e We!ss.

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8 de Julho 21

res foram curados com o signal da cruz, que, conscio de sua innocencia, sem
que a Santa sobre elles fazia. pr�occupações_ se dirigiu á caieira. No
O rei, seu esposo, era o contrari0 traJecto, ouvm, porém, o toque da
quanto á virtude. Embora Isabel lhe Missa e, como bom christão, não deixa­
soubesse os desregramentos e muito se va passar o dia sem assistir ao Santo
entristecia, ao Sacrifi cio e
.
Yer os cnmes
.
assim se diri­
que Diniz giu á Egreja,
commettia con­ não achando
tra Deus, nun­ i n conveniente
ca p r o feriu em antecipar a
unna palavra assistencia ela
siquer de quei­ Missa ao cum­
xa, mas com primen t o da
uma paóencia ordem r e a 1.
invencivel sup­ A s s im fez,
portava o ma­ mas, em Jogar
rido, pedindo de mna, assis­
a Deus sua tiu a d u a s
salvação. Missas. Po r
Isabel teve outra vez, D.
a s a t isfação Diniz, afflioto
de o b t e r a por saber do
conversão do resulta d o da
marido. Acon­ macabra mis­
teceu qu·e um ·são, enviou �
pagem · tivesse caieira o moço
a triste ousa­ perverso e ac­
dia de fazer cusador, qu�
ao rei a falsa gostosamente
denunci a de tratou de cer­
relações illici­ t i ficair-se da
tas, mantidas morte da victi­
p e ,J a rainha ma da calum­
com um jo­ nia. Mal che­
v em fidalgo, gou á presen­
que a auxilia­ ça do mestre
va na distri­ da caieiro, que
buição de es­ 1este, surdo aos
molas. El-rei Santa Isabel protes t ó� e
D. Diniz, at­ Dia não passava sem que a santa .rainha não fizesse supplic as d�
obras de caridade, ora em soccorrer os pobres, ora
tento em acre� em visitar os doentes. Surprehendida, certa vez, pelo· ,gentil-homem,
ditar na infa­ rei, em uma das suas visitas e por elle perguntada, mandou lan­
mia, deu or­ o que levava no avental, cheia de confusão, respon- çai-o ao fôrno
deu: "rosas".
dem aio cai,ei­ incandescente.
ro da côrte para atirar ao fôrno de cal Decorridos poucos minutos, appareceu o
o jovem que lhe apresentasse no dia moço càlttmniado, dirigindo ao mestre a
seguinte, perguntando-lhe si já executá­ pergunta, como lhe fôra ordenado pelo
ra a ordrnn real. - Ora, o encarre­ rei. Obtendo resposta affirmativa, voltou
gado dessa missão assassina foi jus­ ao palacio, trainsmittinclo a El:rei o reca­
tamente o j ovan escudeiro da rainha, do obtido. D. Diniz muito se admirou de

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2& 8 de Julho

ver em sua presença, vivo, aquelle que zades, poz-se entre os dois litigantes e
1 mediatarnente foz
morto devia esitar, e im obrigou-os a fazerem as pazes.
inda,gações. Sciente de tudo, reconhe­ Tendo chegado a Estremadura, Isa­
ceu a patenire int,ervenção da Divina bel adoeceu gravemente. Presentindo a
P11ovidencia na def.eza cios dois mno­ morte, para ella se preparou com todo
cent,cs. fervor. Vestida de Clarissa, recebeu de
Muito se arrependeu D. Diniz da le­ joelhos o SS. Viatico. Proxima a morte,
viandade com que dera credito a tão vil deu conselhos aos filhos, de conservar
ca:lumnia, contra pessoa digna de toda a a paz e proceder sempre christãmente.
sua veneração. Entre as dôres da doença, repetiu mui­
O principe Affonso tinha organizado tas vezes a j aculatoria :
um levante contra o rei, seu pae. Isabel "O' Maria, Mãe das graças, Mãe ele
procurára todos os meios para afastar misericordia, defendei-me contra o es­
o filho dos planos sinistros. Não obstan­ pírito maligno e recebei-me na hora da
te houve quem accusasse a rainha de morte".
combinação com o filho revoltoso. Isabel morreu em 1336, na eclade ele
O rei, sem exauninar a questão, ex­ 65 annos. Trezentos annos depois da
pulsou a rainha do palacio, dando-lhe morte foi-lhe o corpo encontrado s�'m
por morada uma casa de campo. Isabel signal ele corrupção, exhalanclo perfume
appellou para Deus, que não tardou em cleliciosissimo. Grandes milagres Deus
patentear a· innocencia da rainha. Desde se dignou fazer no tumulo de sua serva.
então, reinou a mais completa harmonia Isabel foi canonizada pelo Papa Ur­
entre os esposos, e Diniz começou a tro­ bano VIII, no anno ele 1625.
tar a esposa com todo respeito e con­
sideração. Cahindo gravemente doente, REFLEXÕES
Isabel não se lhe afastou ela cabeceira. Da santa vida de Isabel todos podem
Não só lhe foi a enfermeira mais dedi­ apprender: 1 º a mocidade vê nella um mo­
delo de santificar os annos da infancia pela
cada, mas preparou-o com todo o cuida­ oração, pela obediencia e pelo respeito na
do e amor para a recepção dos ultimos casa de Deus; 2º, os jovens de ambos os
Sacramentos. Diniz morreu christãmen­ sexos apprendem os meios de conservar-se
te. Isabel pediu admissão no convento na modestia e castidade, que são a oração,
o jejum e a recepção frequente dos santos
das religiosas de Santa Clara, em Coim­ Sacramentos; 3º, os casados devem imitar­
bra, de que era fundadora. As religiosas, lhe o exemplo e supportar com paciencia
porém, fizeram-lhe vêr que sua presen­ os defeitos da outra parte, tratar-se com
caridade, prestar-se o mutuo soccorro, quan­
ça no mundo seria muito mais util do do as circumstancias o exigirem e interes­
quie no convento. Isabel habitou então sar-se vivamente pela sua alma; 4º , pessoas
uma casa nas proxilmidades do convento viuvas têm em Isabel o modelo da modes­
e oomeçou uma vida só de Deus, a servi­ tia christã, que evita os prazeres, os diver­
timentos e as vaidades do mundo, para com
ço dos pobres e doentes. Duas peregri­ tanto mais facilidade se poder dedicar a
nações fez a Compostella, na Hespanha; obras de caridade e piedade; 5º, aquelles
a primeira, logo depois da morte do ma­ que com a mercê de Deus occupam lagar
rido, e a ·siegunda por occasião dum ju­ eminente na sociedade, devem imitar a san­
ta rainha na humildade e na caridade, apro­
bileu. Esta ulti!ma foi feita a pé, e em veitando-se das muitas occasiões que se
companhia de duas empregadas, fazendo lhes deparam, para praticar o bem em hon­
as tres romeiras a penitencia de viver ra de Deus e para consolo dos pobres e af­
de esmolas que pediam. flictos.
A vida do christão deve ser uma vida de
De volta da segunda peregrinação, sacrificio, de abnegação, de penitencia e de
soube d'uma guerra que ia rebentar en­ caridade, como foi a vida de Santa Isabel.
tre o filho Affonso e um rei vizinho e Cqmo a pratica de todas essas virtudes não
agrada á nossa natureza inferior, é indis­
parente. Isabel, que de Deus tinha o dom pensavel, que recorramos aos meios de san­
de reconciliar animas exaltados e inimi- tificação, que são os santos Sacramentos,

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9 de julho 29

a oração e a devoção á Santíssima Virgem, Na Asla Menor, Sant'Aqulla e sua esposa


que é por excellencia o auxilio dos chris­ Santa Prlscilla. S. Paulo na sua epistola aos
tãos na vida e na morte. "Quem quer al­ Romanos chama-os seus cooperadores em
cançar uma graça de Deus, diz S. Boaven­ Christo. Segundo a tradição soffreram o
tura, recorra com muita confiança e devo­ martyrio em Roma.
ção a Maria; pois ella é a rainha de misc­
ricordia, que não nega o que lhe pedem os Em vVurzburg, na Allemanha, o bispo São
que se lhe dirigem". Chilino. Mandado pelo Papa pregar o Evan­
gelho na Baviera, foi morto com seus com­
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ p anheiros o sacerdote Coloman e o dlacono
moria é celebrada hoje: Totan. 689.

9 de Julho

Os Martyres de Gorkum
(sec. XVI)

(f!:s\ DANDO, no seculo XVI, as here­ nos, puxavwm-lhes as orelhas, davam­


� sias de Luthero e Calvino conse­ lhes pontadas com a lança, ultrajavam­
guiram entrada na Hollanda, lá, como nos e lançavam-lhes em rosto as maiores
na Allemanha e na Suissa, foram cau­ infamias. Ergueram em sua presença
sadoras de graves disturbios. Os Calvi­ dma forca, ameaçando-os com a morte,
nistas rebcllaram-se contra o governo do si não quizessem negar a fé no Santissi-
rei Philippe II e, chefiados pelo principe 1110 Sacramento. Ao Vigario Pe. Nico­
de Orangc, tomaram á força armada al­ láo van Poppel um dos bandidos pôz a
gumas cidades, entre estas a cidade de arma na resta ·e berrou aJOs ouvidos :
Gorku1111. "Anela, Padre ! Como é ? Tantas vezes
O governador retirou-se para o cas­ declaraste no pulpito, que estavas prom­
tello, em companhia de alguns catholi­ pto a dar a vida pela fé. Pois então, di­
cos, dois parochos, onze frades francis­ ze ! Estás mesmo disposto ?" O Padre
canos e mais sacerdotes seculares. Os respondeu: "Dou a minha viela com mui­
calvinistas tomaram posse da cidade e to prazer, si é em testemunho da minha
forçara1111 o castello á rendição. Esta se fé e principalmente elo artigo por vós
effectuou, sob a condição de garantir a rejeitado, o da presença real de Jesus
todos livre egresso. Os Calvinistas, po­ no Santissimo Sacramento". Perguntado
rém, desprezaram esta combinação e pelos thesouros, que suppunham estarem
aprisionaram o commandante, todos os escondidos no castello, Padre Nicoláo
clerigos e dois cidadãos, dos quaes um não soube dar informações a respeito.
foi enforcado immediatamente. O calvinista lançou-lhe então uma corda
Os sacerdotes eram de preferencia ao pescoço, puxou-o de um lado para
alvo do furor calvinista. Máos tratos o outro, até que cahiu como morto.
revezavam com ameaças ele morte, e fi­ Chegára a vez elos franciscanos. 'Ao
nalmente foram todos mettidos num ca­ frei Nicasio Pick puzeram o proprio
labouço subterraneo. No dia de sexta­ cordão ao pescoço, arrastaram-no á por­
feira, lhes deram carne a comer. Que­ ta do carcere. Lá chegado, metteram a
rendo elles, porém, observar a abstinen­ corda por cima da porta e puxando com
cia, tiveram ele supportar toda a sorte força, suspenderam a victima a altura
de injurias e soffrimentos. Empurravam- consideravel, para immediata:inente a

.,,;s. Jlartyres de Gorkum - J. B. Welss: Hist. univ. Vogel, Leben der Hciligen Got­
tes. II. 786.

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30 9 de Julho

deixarem cahir. Isto praticaram com um na noite de 5 a 6 de Julho, para Briel,


prazer infame. Afinal a corda rebentou á residencia do clerophobo conde Lumm
e o pobre padre cahitt pesadamente ao von Marc.
chão, sem dar signal de vida. Para ve­ A penna nega-se a fazer a descripção
rificar si estava vivo ou morto, os sol­ ele tudo que aquelles religiosos tiveram
dados trouxeram velas, queimaram-lhe de soffrer, dos verdugos e do popula­
a testa, o nariz, as palpebras, as orelhas, cho fanatico. Em Dordrecht estava á es­
a bocca e finalmente a lingua. pera o navio, que devia leval-os até
Como o Padre não désse mais signal Briel. Antes do embarque, tll1TI bando de
de vida, deram-lhe ponta-pés e disseram calvinistas arrastou os martyres a um
C()ll11 ar de desprezo: "E' u'm frade, que Jogar perto do rio, onde estava appare­
importa ?" Mas o Padre não estava lhada tuna forca. Como cães raivosos,
morto, tanto que no dia seguinte os ban­ atiraram-se sobrie as pobres victimas e
didos tiveram a satisfação de poder con­ o ar encheu-se de insultos e vituperios
tinuar as crueldades. como estes: "Eis, ahi vossa Egreja !
Durante toda a noite os Padres esti­ Ide, rezae a vossa Missa". Em seguida
veram entregues á sanha d'aquelles de­ obrigara111-nos a passarem tres vezes em
monios em figura humana. Não havia volta ela forca, sendo a ulüma vez com
nada, que abrandasse o furor dos endia­ os joelhos no chão, sob o canto ela "Sal­
brados hereges. Davam bofetadas nos ve Rainha". Emquanto os religiosos se
religiosos, com tanta força e brutalida­ puzerau.11 a obedecer a esta ordem ridi­
de, que lhes corria o sangue do nariz e cula e estapafurdia, choviam-lhes benga­
da bocca. O Padre V/illehad, um vene­ ladas e pedradas ás costas. O Padre Vi­
ravel ancião de noventa annos, repetia a gario Jeronymo de Weert, vendo estas
cada bofetada que recebia, a jaculatoria: indignidades, não mais se conteve e dis­
"Deus seja louvado!" Os algozes, sen­ se: "Que estou presenciando ? Estive
tindo-se fatigados de tanto bater, ajoe­ entre turcos e infieis, mas cousa egual
lhavaim�se dec1J111!e dos Pa:dt'ffi e entre ri­ a esta nunca vi ! "
sos cLe escarneo, arremedavam a confis­ Finalmente o triste cortejo chegou a
são, proferindo nesta occasião obsceni­ Briel. Lá o esperava o conde Lumm,
dades e blasphen1ia!S horriveis e asquei­ com dois pregadores da seita e alguns
rosi·ssimas. magistrados. Todos se empenharam pa­
Em outra occasião, amarraram os re- ra conseguir elos prisioneiros a renuncia
1 igiosos dois a dois e obrigaram-nos a á fé, em particular ao dogma da real
am<larnm em fila, imitando procissão e presença ele Jesus Christo no Santissi­
a cantar o "Te Deum" e tudo isto sob a mo Sacraimento. Foram baldados os es­
algazarra satanica da soldadesca desen­ forços. Os martyres unanimemente re­
ft1eada. Depois puzera.rn dados nas mãos jeitaram as propostas feitas e preferi­
das victimas para assim, á guiza de jo­ ram continuar na prisão. O carcere que
go, tirar a sorte quem delles primeiro o� recebeu, era uma pocilga irn!mundis­
havia de subir á forca. O Padre Guar­ s11na.
dião exclamou: "Não se faz mistér de Uma ordem do príncipe ele Orange,
jogo, estou prompto, porque já passei de pôr em liberdade os prisioneiros, não
por esta delicia". foi cumprida. O conde Lumm, embria­
Os catholicos de Gorkum envidaram gado de adio e vinho, mandou-os levar,
todos os esforços para libertar os pri­ alta noite, ás ruínas do convento Ru­
sioneiros. Para este fim, dirigiram uma gen, que pouco antes tinha sido incen­
petição ao principe Orange. Os calvinis­ diado pelos calvinistas.
tas, suspeitando qualquer reacção, tira­ Restára ainda o celleiro. O Padre
ralm aos franciscanos o habito e despa­ Guardião foi lá mesmo enforcado, de­
charam-nos, com os outros sacerdotes, pois de ter animado os irmãos á cons-

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10 de Julho 31

tancia. Dep0is d' elle, foram estrangula­ consequencia deixa de ser catholico. Ca­
dos todos os companheiros. O fanatis­ tholico é aquelle que é baptizado e de tu­
do que Deus revelou e pela santa Egrej l
mo dos calvinistas nem respeitou os ca­ ensina a crêr. Por isso devemos crêr tudo,
claveres dos martyres. Cortaram-lhes ,, que a Egreja nos propõe como artigo de
nariz, as orelhas e levaram-nos como fé. Christo chama incredulo a Thomé, que
se negava a crêr o artigo da resurreição do
trophéos ele victoria nos capacetes e cha­ divino Mestre. Incredulo é, pois, tod,>
péos. Os catholicos resgataram por mui­ aquelle que rejeita ou põe em duvida um
to dinheiro os corpos dos santos irmãos artigo da fé. Perante Deus, não é catholi­
e transportaram-nos para Bruxellas. co quem nega a confissão e d'este sacra­
mento não se approxima, allegando ser o
Clemente X beatificou-os em 1674 e mesmo invenção dos Padres. Catholico não
Pio IX elevou-os á categoria de Santos, é, em consciencia, quem nega a infallibili­
no anno ele 1867. A memoria dos mar­ dade do Papa ou a existencia de fogo eter­
tyres é celebrada na Egreja no dia 9 ele no, etc. Sujeitemos o nosso intellecto aos
dictames da fé e renovemos muitas vezes
Julho. as nossas promessas do baptismo, que são
Eis ·os nomes dos gloriosos martyres a declaração formal da nossa santa fé.
ele Gorkum:
Leonardo van Vccchel, Nicoláo Pop­
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
pel, vigario de Gorkum; Godofreclo van moria é celebrada hoje:
Duynen e João van Oosterwych ( agos­
Em Citá di Castello a memoria de Santa
tiniano); João ele Colonia, (O. P.), vi­ Veronica Giuliani, Abbadessa das Capuchi­
gario de Hoornaer; Adrianio van Hil­ nhas na mesma cidade. Já em sua infancla
varenbeek e Jacob Lakops (O. Praiem); foram observados signaes de futura santida­
André Vouters, vigario ele Heynoe1·t; de, como, por ex., seu grande amor a Nossa
Senhora, á mortificação, á penitencia e uma
Fl'ei Jeroiny'mo van \Veert; Frei Theo­ caridade extraordinaria. Ao lado destes in­
doro van Emdcn; F1-ei Willehad; Frei dicias havia outros tambem de teimosia, que
Nicasio; F11ei Godofredo Mervellan: fts vezes se desabafava em violentas explo­
sões de ira. Com a graça divina, porém, e
F·rei Ant·oni-o de Weert; Frei Antonio sua energia individual, conseguiu vencer es­
clie Horna,i·; Frei Francisco Rodes; Fi-ei tes seus defeitos e velu a ser a religiosa
Pe• dro de Asca. mystica, que hoje é uma gloria de sua Or­
dem e da Egreja catholica toda. Na Sexta­
REFLEXÕES Feira Santa de 1697 recebeu os santos esty­
gmas de· Nosso Senhor, distincção esta,
Os santos martyres preferem morrer a que lhe trouxe dolorosas provações.
negar um artigo siquer da fé. Não podia
ser outra sua attitude. Quem nega só um Mortos pelos mahometanos em Damasco,
artigo da fé e voluntariamente se entrega Manuel Ruiz e seus companheiros francis­
a duvidas a respeito, já perdeu a fé e em canos. 1860.
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10 de Julho

Santa Felicidade e seus filhos


(t 150)

� STES santos martyres, tão feste­ distincta pela origem e virtude egual­
;m jados nos escriptos dos Santos Pa­ mente. Sete filhos, que Deus lhe déra,
dres, pelejaram a boa peleja, quando educou-os nos principios da religião
Antonino Pio era imperador romano. christã. Morto o marido, santificou '.l
Santa Felicidade, natural ele Roma, era viuvez pelas praticas da oração, peniten-

Santa Felicidade - Act. Mart. authent. Ruinart. Tillemont. Boll. III. Raess e Weiss IX.

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32 10 de Julho

eia e obras de caridade. Ohristãos, de a Jesus Christo, com os Santos, á


como pagãos, sentia,m-se attrahidos pelo vossa espera ! Combatei corajosamente
,seu bdm exielmplo, e muitos destes se pela salvação das vossas almas e penna­
converterailTl ao Christianismo. As con­ necei fieis ao amor de Jesus Christo"
versões aV'oluma:ra:m-se de tal maneira, Publio mandou esbofetear a mãe e dis­
que 1.1ma denuncia foi feita ao 1111- se-lhe: "Ainda te atreves na minha pre­
perador nestes termos: "E' intolera­ sença a exhortar teus filhos a que ne­
vd que esta viuva e os filhos zom­ guem a obediencia ás autoridades ?"
bem dos nossos deuses, em desabono da Chamou então entre os moços o mais
vossa auctoridade ; si este abuso não velho, de nome J anuario, procurando,
acabar, será difficil, senão impossível, por meio de promessas e ameaças, fa­
aplacar a colera dos nossos deuses". zel-o abandonar a religião. Januario,
Antonino Pio, em extremo supersticio­ poram, respondeu-lhe: "São tolices que
so, deu ouvido favorav'el a esta demm­ me aconselhas; a sabedoria do Senhor
óa e ordenou ao Prefeito de Roma, conserva-me e faz.,me vencer tudo". Co­
qllle désse satisfacção aos sacerdotes e mo resposta, Publio mandou que Janua­
fizesse tudo para merecer as boas gra­ rio fosse vergastado e conduzido ao car­
ças dos deuses. Publio, em cumprimento cere.
d'esta ordem, citou a mãe com os filhos Embora com alguma trepidação, diri­
perante o tribunal e disse a Felicidade: giu-se ao segundo filho, Felix, fazendo­
"E' de toda conveniencia que dês satis­ lhe as mesmas propostas e recebeu esta
facção ás nossa:s divindades, sinão me resposta: "Ha um só Deus, a quem ado­
verei na dura contingencia de applicar ramos e prestamos homenagens. Desiste
as medidas as mais severas contra ti e de querer demover-nos do amor de Je­
teus filhos". Felicidade respondeu: "En­ sus Christo. Não ha martyrio, nem sen­
ganas-te, si pensas que me pócles levar tença algmna, que nos possa determinar
a fazer concessões. Desprezo tuas amea­ a abandonar a nossa fé". Felix seguiu
ças, como regeito tuas promessas. Te­ o irmão ao carcere. Foi apresentado o
nho a meu favor o divino Espírito San­ terceiro filho, Philippe. "Nosso Senhor,
to, que me fortalece no combate contra o Imperador Antonino Pio, - disse-lhe
o demonio. Não receio o martyrio e, Publio, - ordenou que sacrificasses aos
morrendo pela fé, glorioso e triumphan­ deuses omnipotentes". Philippe:
te será imeu fim". "Nem são deuses, nem omnipotentes :
Publio: "Miseravel, si achas tanto são imagens vãs, miseraveis e sem vida;
prazer na morte, tem ao menos dó ele quem as adora, corre perigo de perder
t,eus filhos !" - Felicidade: "Meus fi­ a alma; não as adoro".
lhos terão a vida, negando-se a sacrifi­ Veiu o quarto filho, Silvano. A este
car aos deuses; si, porém, se mancharem Publio disse: "Como estou vendo, es­
com o crime da idolatria, elles mesmos taes todos de accorclo com vossa iimpia
se precipitarão na morte eterna". mãe, em desattender ás ordens dos prín­
Publio chamou-os para uma nova au­ cipes e provocar a vossa perdição". De
cliencia, no dia seguinte. Tendo compa­ Silvano teve esta resposta: "Si temesse­
recido Felicidade e todos os filhos, o mos a perdição temporal, causariamos a
Prefieito disse á mãe: "Colmpac1'ece-te de perdição eterna. Como sabemos quaes
teus filhos, d'esses bellos rapazes, tem são as penas reservadas aos peccadores
pena desta mocidade em flôr ! " e as recompensas promettidas aos jus­
Felicidade respondeu: "Tua cornp�i� tos, desprezamos as leis humanas, para
xão é impiedade, e crueldade são tuas não transgredir os mandamentos divi­
insinuações". Dizendo isto, olhou para nos. Aquielles que desprezam os ídolos,
os filhos e disse-lhes: "Levantae aos terão a vida eterna, ao passo q,ue pere­
céos os vossos olhos, meus filhos ! Vê- cerão no fogo eterno aquelles que lhes

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10 de Julho 33

rendem homenagem". Quando o quinto da queda que levou. Alexandre, Vital �


filho, Alexandre, lhe foi apresentado, Marcial foram decapitados. Felicidade
Publio disse-lhe: "Tem pena da tua mo­ morreu quatro mezes depois, victima da
cidade, meu filho; não sejas teimoso e crueldade tyrannica do Imperador.
rebelde contra teu Imperador ; faze o Mãe e filhos tiveram a morte gloriosa
que te ordenou. Sacrifica aos deuses, pa­ do martyrio e entraram triumphantes,
ra que possas contar com a amizade e a no reino
• de Christo, no anno de 150.
protecção do teu Soberano". Alexandr-=
replicou: "Sou discipulo de Jesus Chris­ REFLEXÕES
to; confesso-o com a bocca e tenho-o no Os Santos Padres chamam bemaventura­
meu coração. A elle pertence meu amor. da Santa Felicidade, por ter sido mãe de
A minha mocidade, como está vendo, sete filhos martyres. Martyr septupla cha­
ma-a S. Gregorio. S. Chrysologo escreve a
possue a sabedoria da velhice, quando seu respeito: Maior lhe foi a satisfacção de
presta louvor a Deus. Teus deuses, po­ vêr os corpos inanimados dos filhos, do
rém, junto com seus adoradores, serão que se vêr no meio dos berços dos mes­
infelizes eternamente". mos; porque em cada ferida viu um premio
de victoria, em cada martyrio uma palma,
Alexandre foi levado á pnsao e s·e­ em cada victima uma corôa. Si suas con­
guiu-se o inquerito do irmão Vital. A versações tivessem sido identicas ás de
este Publio falou: "De certo preferirás muitas mães dos nossos dias, os filhos não
viver, a cahir na desgraça !" Vital re­ teriam soffrido as dôres do martyrio, mas
os tormentos do inferno". Paes christãos !
torquiu immediatamente: "Quem poderá Da vossa conducta, dos vossos ensinamen­
ter vida melhor ? Aquelle que adora � tos, das vossas conversações, depende em
Deus verdadeiro ou quem tem o demo­ grande parte a salvação ou a perdição de
vossos filhos. Si observarem em vós uma
nio por a:migo ?" - "Demonio o que conducta que discorda dos mandamentos
é ?" perguntou Publio. - "Demonios da lei de Deus e da Egreja; si de vossos
são os idolos dos pagãos e todos aquel­ labios não ouvem sinão mentiras, maledi­
les que os acloralm", respondeu Vital. cencias, obscenidades, blasphemias, increpa­
ções, injurias e insultos; si os assumptos
Finalmente veiu o ultimo dos moços, invariaveis da vossa conversa são a moda,
::\fardai. "Sois crueis contra vós mes­ a vaidade, o baile, o jogo, o theatro, o ci­
mos" - disse-lhe Publio, - "porque a nema e della systematicamente ficam ex­
vossa desobediencia e pertinacia obriga­ cluídos Deus, a pratica das virtudes, a fre­
quencia dos sacramentos, a oração, etc.,
nos a medidas tão duras". - "Ah ! si como poderão vossos filhos apprender pra­
soubesses quantos e quão terriveis cas­ ticamente o christianismo ? Como se sal­
tigos esperam os idolatras ! Mas Deus varão ? Educae vossos filhos para o céu,
retem a sua ira contra vós e vossos ído­ como é vosso dever, e dae-lhes o bom exem­
plo de vossa conducta christã e de vossa
los. Todos aquelles que não adoram a palavra edificante.
Jesus Christo como Deus verdadeiro,
serão lançados ao fogo eterno".
Publio relatou a:o Imperador o pro­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
cesso todo contra a mãe e os sete filhos. moria é celebrada hoje:
Antonino Pio condemnou-os todos á mor­ Em Roma o martyrio das Santas Virgens.
te. Januario foi rnstigado com bolas de Rufina e Secunda, sob o governo de Va!e­
riano.
chtnmbo. Felix e Philippe morreram a
Nll, Belgica a memoria de Santa Amalber­
cacetadas. Silvano foi precipitado de ga, da familia real dos Francos. Sec. 8 ° . Pa­
grande altura e morreu em consequencia droeira dos marinheiros e dos naufragos.

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34 11 de Julho

11 de Julho

SÃO PEDRO FOURIER


� ÃO PEDRO FOURIER nasceu rochia lhe dava, Fourier extcndia a sua
� em 1565, em uma pequena aldeia activiclacle a outras localidades, onde
ele Lorena, de paes pobres, porém vir­ egualmenl1e conseguiu a conversão de
tuosos. De hoa inclole, era Pedro uma muitos, a reforma cios costumes e a ex­
creança piedosa e pouco affeita aos pra­ tincção ela heresia calvinista. O ducado
zeres juvenis. Nos estudos que fez em ele Salm, onde imperava o calvinismo,
Pont-a-Mousson, teve occasião ele reve­ Fourier em menos de seis mezes o re­
lar os bellos talentos e não tardou que, conquistou á fé catholica. Mais arcluo
entre todos os concliscipulos, se distin­ foi o trabalho ela reforma nos conven­
guisse pelo saber e preparo intellectual tos. Mas, com a graça ele Deus e a per­
extraordinario. Como professor e edu­ sistenda dos conselhos, conseguiu o res­
cador, revelava qualidades superiores, robeliecimento da disciplina monastica.
tanto que ele preferencia se lhe confia­ Grande merecimento teve Fourier n;i
vam as creanças, ás quaes sabia incutir fundação ele uma Congregação religiosa
amor ao trabalho, temor ele Deus e res­ feminina, cleclicacla a Nassa Senhora. As
pc>ito á innocencia e pureza d'alma. Na religiosas cl'esta Congregação destina­
cdacle ele vinte annos entrou para a Or­ vam-se, alélm ela vida religiosa, ao ensi­
dem cios Conegos de Santo Agostinho. no ela mocidade feminina. Fourier teve
onde ainda mais se dedicou á vicia reli­ a satisfação ele obter para a obra a ap­
giosa; f.ez o curso de philosophia, para provação apostolica e vêl-a diffunclir-se
mn anno depois ser ordenado sacer - com grande rapidez.
dote. Ao trabalho da fundação e organiza­
O zelo, a virtude do jovem levita, des­ ção de uma Congregação, associou-se a
gostou bastante os companheiros da Or­ responsabilidade ele superior dos Cone­
dem, os qmues, para se verem livres do gos Regulares. Tambem cl'esse cargo
incommoclo monitor, trataram de afas­ Fourier se desempenhou com toda di­
tai-o. Foram-lhe offereciclas tres paro­ gnidade e maxi'ma competcncia.
chias, entre as quaes escolhesse a que Graves perturbações obrigaram-no a
mais lhe agraciasse. Tendo ouvido a opi­ sahir ele Lorena e domiciliar-se em
nião ele um parente, Pe. João Fourier, Gray, na Borgonha, onde se dedicou in­
ela Companhia de Jesus, escolheu não a teiramente ao ensino ela infancia.
mais rendosa e menos trabalhosa, mas Mestre abalisaclo em todas as virtu­
a que mais trabalho exigia e menos ren­ des, mais se distinguia no amor ele Deus
dimento offerecia. De facto, a freguezia e cio proximo. A' oração pertencia todo
ele sua escolha tinha tão boa fama, que o tempo que lhe sobrava dos trabalhos
era chamada Genebra em miniatura. cio estado. A maior parte da noite passa­
(Genebra era a sécle cio calvinismo e ci­ va-a cm exercícios ele piedade. Trabalho
dade corrompida). Tres annos trabalhou nenhum começava, sem invocar o auxi­
Fourier naquella parochia. Pela dedica­ lio divino. Em tudo que fazia, visava a
ção, palavra e oração e, antes ele tudo gloria de Deus e o cumprimento ela von­
pelo exemplo, fez com que se verificasse tade divina. A todos que lhe pediam con­
uma remodelação tal entre os fieis, que selho, recon1111enclava que fizessem sem­
mereceu os maiores elogios cios bispos. pre o que mais agradasse a Deus. Nada
Não satisfeito com o trabalho que a pa- o entristecia tanto, como vêr Deus of-

S. Pedro Fo1trier - Bulia Can. Leão XIII.

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11 de Julho 35
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fendido pelos peccadores. Elle mesmo e applicava muita1S vezes o santo sacrifi­
�-itava a mais leve sombra do peccado, cio da Missa.
o que, aliás, constitue a prova mais po­ A arte christã representa S. Pedro
sitiva do grande amor que tinha a Deus. Fou<l"ier com um lirio e uma cruz na
O amor do proximo era outro cara­ mão. O lirio interpreta-lhe a santidade,
cteristico de sua santidade. Esse amor a innocencia d'alma, a cruz a penitencia
se revelava no e m o r tifica­
zelo pela con­ ção. Immacu­
ve r s ã o dos lada conservou
peccadores, na Fourier a in­
g e nerosida<le, nocencia ba­
que lhe fazia ptism a 1, fu­
perdoar e es­ gindo de tudo
quecer as ma­ que a ptidessre
iores injurias, macular. Sen­
na e a r idade do i n evitavel
c001 que soe­ t r a t a r com
corria os po­ · pessoas do ou­
bres e necessi­ tro sexo, s-em­
tados, no des­ pre se haivia
nfo que dis­ cQm o maior
pensa aos po­ recato e com
bres doentes. a maior pru­
Sendo eleito dencia. E r a
superior geral inimigo decla­
da Ordem, re­ rado de toda
servou para si palavra menos
o serviço de honesta e de
enfer m ·e i r o. 1modinh a i.s •li­
Tr a t a r dos vres. e o m o
doentes era­ viga<l"io, envi­
lhe uma deli­ dou todos ds
c Ia e c om esforços para
quanto cari­ iextir p a r na
nho, eom parochia o que
quanta dedica­ p u d esse of­
ção não se en­ fender a boa
tregava a esse moral.
oificio, por to­ A vida de
dos considera­ S. Pedro Fourier Fourier era a
do o mais pe­ Grande é o merecimento de Fourier de ter fundado pratica de pe­
uma Congregação religiosa feminina que além da vida nitencia inin­
noso! religiosa se dedicava ao ensino da mocidade feminina.
lluito maior, terru p t a. A
porém, era o zelo que tinha pela salva­ alimentação era-lhe a mais frugal pos­
ção das alméllS. Para reconduzir algurem sível, e ainda assim tomava uma só re­
ao caminho da fé e da virtude, para for­ fieição por dia. Frequentes vezes entre­
talecer outros na pratica do bem, Fou­ m:eava dia!s cLe completo jejum. Tinha
rier nã-0 fmedia sacrifidos. A' conver­ por ind-umentaria um habito de fazenda
são dos hereges, á penitencia dos pec­ aispera e gros,sa. O leito era urna taboa.
cadores, á perseverança dos justos, dedi­ Livros faziam ás vezes de travesseiro e
cava muita oraçã-0, muita mortificação, um manto abrigava-o contra o frio. Não

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36 11 de Julho

satisfeito com essas mortificações, su­ Deus Nosso Senhor, que é preciso fazer­
jeitava o corpo a outras rudes peniten­ lhes lembrar essa obrigação de amar a
Deus sobre todas as cousas. Os Santos cul­
cias, até correr sangue. Nestas praticas tivavam o amor de Deus a tal ponto, que
todas, era a salvação da alma sua unica evitavam o menor peccado, a mais insigni­
preoccurpação. "Deus, meu Senhor, jul­ ficante falta, receiando ofíender o seu
ga differentemente de nós homens"; maior bemfeitor. Porque tinham amor a
Deus, os martyres iam de bom animo ao
costttmava diz,er: "Si S. Paulo receiava carcere, alegres subiam á fogueira, entoa­
s·er coll'damnado por D2us. muito mais vam canticos de louvor á hora em que
motivo tenho para receial-o". eram levados á arena ou ao lagar da cru­
Como prenuncio da morte, Deus man­ cificação. Porque tinham amor a Deus, os
missionarias de todos os seculos abando­
dou-lhe uma febre violenta. Fourier, sen­ navam patria e familia, para dedicar-se ao
tindo a ultima hora approximar-se, rece­ serviço mais penoso, da evangelisação dos
beu os Santos Sacramentos com uma gentios. Porque tinham amor a Deus, os
santos eremitas desfaziam-se das vaidades
devoção, que a todos edificou. Ora bei­ do mundo, para enterrar-se na solidão das
java ternamente o crucifi:im, ora com os mattas ou do deserto, para viver a pão e
olhos procurava a imagem de Maria agua, refeição frugalissima, que repartiam
Santíssima, emquanto os labios formu­ com as féras das selvas. Por amor de Deus,
é que milhares e milhares de donzellas dei­
lavam a piedosa prece: "l\1aria, mostrae xaram o doce socego da familia, para pres­
que sois minha mãe. Como Mãe sempre tar serviços de bom samaritano a pobres
Vos invoquei, não regeiteis agora Vos­ doentes e miseras indigentes. Vendo a
so filho adoptivo". Pediu que lhe repe­ nossa sociedade hodierna, constatamos um
espantoso declinio do amor de Deus. Pou­
tissem muitas vezes as palavras: "Te­ cos ha que amam a Deus. Bem applicaveis
mos um Deus tão bom !" A ultima sa­ ao nosso tempo são as palavras de São
tisfação que teve, foi poder celebrar ain­ João: "O mundo é máo. O que ha 110
mundo ou é concupiscencia da carne, ou
da a festa da Immaculada Conceição. concupiscencia dos olhos ou soberba da vi­
No dia seguinte, aos 9 de Dezelmbro, da". Si não queremos perder�nos no tur­
sua af· üna deix-ou esta terra, para entrar bilhão cio mundo, devemos, como os San­
no reino eterno do Pae celeste. A's 11 tos, começar a amar a Deus e servir-Lhe
a Elle só. Como os Santos, devemos come­
horas da noite o santo servo de Deus çar uma vida de oração, de virtude e san­
fez por tres ve, zes o signal ela cruz e os tidade, sem nos importar com o conceito
olhos fecharam-se-lhe para sempre. Fou­ que de nós formularem os mundanos, o3
rier foi canonisado em 1898, por Leão servidores de Ilelial.
XIII.
Santos cuja memoria é celebrada hoje:
REFLEXÕES
Em Roma o martyrio do Papa Pio I, que
A virtude do amor de Deus é o traço ca­ muito trabalhou pela fixação da data da
racteristico na vida de S. Pedro Fourier. O Pascoa na Egreja oriental e oecidental.
amor de Deus é, entre as virtudes, o que o
domingo é entre os dias da semana, o que Na Armenia a morte dos martyres Janua­
o sol é entre os astros, o que a rosa é en­ rio e Pelagia, no anno de 320.
tre as flôres: das virtudes a rainha. O amor Em Toukin o martyrlo do bemaven­
de Deus é virtude obrigatoria, para todos turado Frei José Fernandes, O. P., de na­
que querem ser de Deus. Parece um para­ cionalidade hespanhola. Morto pela espada
doxo os homens serem obrigados a amar em 1838.
a Deus, quando são seus filhos, quando lhe
devem tudo o que são e o que possuem. Em Annam o bemaventurado Frei José
Mas tão afastados andam os homens de Yuen O. P. Morreu de fome no carcere.

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12 de Julho 37

12 de Julho

S. João Gualberto, Fundador


( t 1073)

R JOÃO GUALBERTO descendia Era Sexta Feira Santa. João, voltan­


�Q de familia nobre e rica de Floren­ do da fazenda, inesperadamente se viu
ça. Tendo recebido uma educação apri­ em frente do inimigo. Parecia chegado
morada, deixou-se mais tarde encantar o momento almejado. A rua era tão
pelas vaidades do mundo. O amor aos estreita, que difficilmente dava passa­
divertimentos tomou nelle proporções gem a duas pessoas. D'esta maneira era
taes, que, es­ impos•siv>el os
queci d o dos dois inimigos
b o n s princi­ não se acoto­
pias da moral, vela,rem. João,
se entregou a is em hesitar
wna vida cheia um m omen­
de liberdades to, desembai­
perigosas. nhou a espada
De us, po­ ie, sequios,o do
rém, vigiava sangue do ini­
e p r o porcio­ migo, precipi­
nou - l h e os tou-s,e sobre o
meios de sin­ a!s•sassi n o do
cera conver­ irmão. E s t e
são. A occa­ ou porque lhe
sião foi a se­ faltasse a co­
guinte: Um ragem ou po1·­
fidalgo tinha que não tives­
assass ina d o se uima arma
Hugo, unico á mão, para
irmão de João defend e r - s e
Gualberto. O cahi,u <le joe­
pae jurou vi n­ lhos e diS!Se a
gança e exigiu João: "P o r
de João a pro­ amor de Jesus
messa de tirar Chri'sto, q u e
desforra, l ogo ITT'.este dia por
que a occasião nós 11norreu,
propic i a se tem pie<laide !
apresenta s s e. Não me ma-
Xão era ne­ tes, por aimor
cessar-ia gran­ de Jesus Chriis­
de insistencia, to ! " João, es­
porque a alma tupefacto, sem
de João fervia S. João Oualberto ,sa,ber no pri­
de odit> � de­ meiro momen­
Atirando para longe a espada, dirigiu-se ao seu ini­
sejo de tirar migo, e disse-lhe: "Não me é po·sslvel negar-te o to o que pen­
vmgança. que me pediste em nome de Jesus Chrlsto ... " sar, parou e

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38 12 de Julho

não otDs.ou dar um passo adeante. levaram uma vida unicamente de oração
Lelmbrou-se do grandioso exemplo que e de penitencia.
o divino Reclemptor tinha dado, no dia Não tardou que viessem outros, jo­
da morte, perdoando aos inimigos. Vin­ vens e velhos, attrahidos pela santida­
do-lhe á mente esta consideração, sen­ de dos eremitas, a pedirem que os ac­
tiu-se tornado de grande commoção e co­ ceitassem em sua companhia. João Gual­
mo por encanto, desappareceram os im­ berto deu-lhes a regra de São Bento.
petos de vingança. Atirando para longe Corno, porém, o numero dos postulantes
a espada, dirigiu-se ao inimigo, abra­ crescesse de dia para dia, foi preciso
çou-o e disse: "Não me é possível ne� construir um convento com Egreja. Pas­
gar-te o que me pediste em nome de sados uns annos, a nova Ordem possuía
Jesus Christo. Não só te deixo a vida, já doze conventos, os quaes en1 João
mas offereço-te a minha amizade. Pede Gualberto reconheciam o superior.
a Deus que me perdôe os meus pecca­ Amavel e caridoso para con1 os ou­
dos ". tros, era João austero e inclemente para
Foi esta para João a hora da conver­ comsigo. Apezar da molestia dolojrosa
são. Assim reconciliado com o inimigo, de estomago, que o atormentava, não se
entrou numa Egreja, ajoelhou-se ao pé dispensava J'oão da lei do jejum.
dum crucifixo e em ardente oração, pe­ João Gualberto morreu em 1073, na
diu a J,esus Christo lhe perdoasse cdade de 73 annos. Como em vida nu­
os peccados. Dirigindo-se assim ao divi­ merosissimos milagres Deus se dign ara
no Redemptor, viu que a cabeça da ima­ fazer, por intermedio de seu servo, as­
gem para elle se inclinava, em signal ele s�rn lhe foi glorificado o tuimulo. Gran­
perdão. Profundamente impressionado des e nu1merosas romarias vinham de
por esta visão, João Gualberto ta.mau a todos os recantos do paiz, para vene;ra­
resolução de dar um outro rumo á sua rem os restos do grande Santo. Em at­
vi,da e dedicai-a ao serviço de Deus. Para tenção ao grande numero de milagres,
es!!e film foi ao convento de S. Miniates observados 1110 tumulo de João Gualber­
pedfr admissão entre os religiosos. A to, o Papa Celestino III inseriu-lhe o
principio encontrou a mais forte resisten­ nome no catalogo dos Santos da Egrc­
cia por parte do pélle; este estava resol­ ja. ( 1193).
vido a empregar força, para tirar o filho
REFLEXõES
do convento. Vendo, porém, a constan­
cia e firmeza inquebrantavel d'este, não Perdoar aos inimigos não é apenas gene­
rosidade: é dever christão. Como de Deus
só desistiu do. plano, mas conformou-se
esperamos que nos perdôe os nossos pec­
inteira(mente. cados e com este perdão contamos sempre,
João Gualberto foi fiel ao proposito assim devemos perdoar, não sete vezes,
feito, e dentro de pouco tempo, era, en­ mas setenta vezes sete, áquelles que nos
tre os religiosos, o primeiro em virtude offenderam. Com que direito rezamos o
Padre Nosso, com que direito trazemos o
e perfeição christã. titulo de christão, si não queremos per­
Morreu o abba:de, e os monges, reuni­ doar ? "Deus assim o quer - diz S. Tho­
dos em capitulo com o fim de eleger um maz de Villa Nova; Deus assim manda e lhe
successor, concentraram todos os votos agrada. Que fazemos para agradar a um
em João Gualberto. Este reluctou e1m amigo? Para attender a um amigo, somos
capazes de perdoar aos nossos desaffectos.
acceitar a dignidade de Superior e reti­
Si o amigo tem tanto poder sobre nós,
rou-se com mais alguns companheiros, quanto mais não devemos fazer para agra­
para a solidão perto de Florença. Lá se dar a Deus, que não pede, mas manda ?
associaram a doi,s eremitas e com elles Que dizes a isso? Não te entregues a lon-

S. Jo,io G11alberto - Blasio Melanislo, Sup. geral da Ordem. Bolland. III. Raess e
Weiss IX.

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13 de Julho 39

� considerações. Prostra-te deante da Na ilha de Chypre S. Jasão, disclpulo dtl


Nosso Senhor e de S. Paulo, que se hospe­
=-agem de Jesus Crucificado e dize de boc­ dava em Thessalonlca na casa do mesmo.
o. e de coração : "Senhor Jesus Crucifica­ Em Aqulleja a morte de Sant'Hermagoras,
do '. Por vosso amor e em obediencia á dlsclpulo de S. Marcos evangelista. Morreu
Tossa ordem, perdôo de coração todo o na perseguição neronlana com seu diacono
mal que os homens me fizeram e peço que, Fortunato.
como eu, tambem vós lhes perdoeis". Em Toledo, a memoria da virgem-martyr
Marciana.
Em Tonkin occidental o sacerdote lndige­
&ratos cuja memoria é celebrada hoje: na Pedro Khanh. 1842.

13 de Julho

Santo Eugenío, Bispo de Carthago


(t 505)

A SECULO V. foi, para a Egreja sentinellas ás portas das Egrejas, para


'W africana, um seculo de dura pro­ vedar a entrada a todos que se apresen­
,-ação. Chefiados pelo rei Genserico, os . tassem em traje vandafo. Muitos forar.:1
..mdalos invadiram o norte da Africa, brutalmente espancados e para intimidar
onde estabeleceram, não só o seu reino, o povo, os soldados de Hunnerico corta­
como ta:mbem o dominio ariano. Devi­ ram o cabello ás mulheres que teimavam
do a esta invasão e á implacavel perse­ conseguir entrada na Egreja. O Bisp'J
guição, que os vandalos fazia.m aos ca­ Eugenio teve a satisfação de poder ob­
tholicos, a diocese de Carthago ficou servar, que nenhum catholico abandonou
acephala, durante vinte annos. O pri­ a fé.
meiro Bispo, que depois d'esse interre­ A per-seguição tornou-se mais cruel
gno assnn1iu a direcção da Diocese, foi ain1 <la e etwre as victimas, de preferencia
Eugenio, homem de grande saber e escolheu os sacerdotes e as pessoas con­
santidade. Como Bispo, possuia todas as sagradas a Deus. 5.000 bispos, sacerdo­
qualidades, que as condições difficillimas tes, diaconos e cidadãos catholicos do5
da época exigiam d'urn Pastor do reba­ mai•s influentes, foram expatriados. As
nho de Christo. Aos catholicos inspirava virgens consagradas a Deus foram sujei­
amor e impunha respeito aos inimigos. tas a vexames os mais crueis e vergo­
\-i,;a em pobreza, para poder soccorrer nhosos · e muitas d'ellas morreram, no
os pobres. meio dos tormentos. Extremamente
Yendo-lhe a grande influencia sobre commovedoras eram as scenas que se
ricos e pobres, os arianos denunciaram­ davam, na despedida dos bispos e sacer­
no, pelo qU'e o rei Hunnerico lhe prohi­ dotes do rebanho. As mães vinham com
biu a prégação da doutrina. Eugenio os filhinhos nos braços e com palavras
despn;zou essa ordem do rei, dizendo, ent1recortada1S de soluços, assim se ex­
com o Apostolo São Pedro: "Cumpre pressava,m: "A quem nos entregaies, indo
obedecer mais a Deus, que aos homens." vós a.o 1tnartyrio ! Quem ba.ptizará os nos­
HumJerico começou então a perseguir ;s,os fühinhos? Quem nos dará a absolvi­
abertamente os catholicos, particular­ ção dios nossos peccados ? Quem. benze­
mente os vandalos que se tinham con­ rá os nossos tumulos? Porqule não .nos
\"ertido ao catholicismo. Mandou pôr pet1mittem parti-r com'Vosco ?"

Banto Euoento - Vogel, Leben der Heillgen Gottes. II. 728.

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40 13 de Julho

Entre os desterrados, não se achava vos exhorto e pelo dia terrível do juízo
ainda Eugenio. O Bispo, por ordem do final, como pela vinda de Jesus Christo
rei, havia de ficar para a realização de no fim dos seculos, vos conjuro, que per­
uma disputa solemne, entre elle e os maneçaes firmes na profissão da fé ca­
bispos arianos. Eugenia, para não ser tholica. Conservae a graça do baptismo
julgado por inimigos da fé, exigiu que e a da confirmação, e ninguem de vós se
á conferencia fossem admittidos tam­ approxime a ser baptizado segunda vez.
bem bispos catholicos da Hespanha. Ain­ Rezae por nós e fazei jejuns, porque o
da não se havia realizado a conferencia, jejum e a esmola aplacaJm a ira de Deus.
quando a Eugenio, em prova da verdade Lembrae-vos sen1pre do que está escri­
ela fé catholica, foi dado fazer rnn gran­ pto: "Não temaes áquelles, que têm po­
de mil agre. Apres·entou-se-lhe um pobre der de matar só o corpo".
cego, de nome Felix, pedindo lhe désse a Passados annos, Eugenia foi posto
vi•sta. Eugenio fez o signal da cruz sobre em liberdade e de volta á diocese, foi
o infeliz, que immediatamente recuperou condemnado á morte. A sentença, po­
o uso do orgão visual. Esse milagre, en1 rém, foi commutada em novo desterro
vez de concorrer para a conversão do rei O Santo Bispo teve de ir á França, on­
e dos arianos, mais ainda os excitou con­ de fundou o convento de Albi. Lá mor­
tra os catholicos, que ficaram sendo per­ reu a 13 de Julho de SOS.
seguidos e maltratados com crueldade
deshumana. Em Typaso, na Maureta­ REFLEXõES
nia, os soldados arianos prenderam os Lendo a vida de Santo Eugenia, depara­
catholicos que tinham assistido á Missa, mos com duas cousas, que causam a nossa
admiração:
celebrada numa casa particular, arran­ 1) A firmeza e constancia dos christãos
caram-lhes a lingua e cortaram-lhes ;:i d'aquelles tempos na profissão da fé. 2) A
mão direita. Esses martyres, embora tão sua dedicação aos bispos e sacerdotes.
horrivelmente mutilados e sem língua, Os primeiros christãos punham a fé aci­
continuaram a falar. Alguns delles, mais ma da vida. Preferiam soffrer e morrer, a
negar e abandonar a fé. Porque é que a fé,
tarde, foram objecto de grande admira­ em nossos dias, está tão frouxa ? 1) Mui­
ção em Constantinopla. Dois dos mes­ tas familias já não sabem mais ensinar a
mos - assim conta um historiador d'a­ religião aos filhos e dahi resulta uma igno­
rancia cada vez maior, em materia de reli­
quelle ten1po - perderam o uso da lín­ gião; 2) Em muitas familias está comple­
gua, porque se mancharam com o pec­ tamente extincto o espírito da oração; 3)
cado da impureza.As ruas de Carthago Os christãos dos nossos dias já não pro­
apresentavam, por toda a parte, signaes curam tanto o que é de Deus, mas o que
é do mundo, isto é, honras, riquezas, bem
de crueldade do rei heretico. estar, divertimentos, prazeres da carne. 4)
Era cousa a mais commum, vêrem-se Em vez de conformar a vida com as regra:;
pessoas mutiladas, com os olhos vasados, da fé, muitos procuram amoldar a fé ao seu
modo de pensar, acceitando só aquelles ar.
o nariz, as mãos e orelhas cortadas. tigos de fé que pouca influencia têm na
Finalmente soou tambem a hora para vida pratica, e rejeitando os que se lhe in­
Eugenia. O Bispo foi desterrado para compatibilizam com o modo de viver.
uma região inhospita da provincia ele Quem nega um artigo da fé, nega todos;
por exemplo, quem nega o Sacramento da
Tripoli, onde ficou debaixo da vigilan­ confissão, nega fé á palavra de Christo,
cia d'um bispo ariano. Este o sujeitou que instituiu não só este, mas todos os
ás maiores humilhações e Eugenia, nada Sacramentos. A fé é uma planta delicadis­
mais podendo fazer pela diocese, dedi­ sima, que deve ser tratada com todo o
amor, si não quizermos que murche e mor­
cou-se á vida contemplativa, dividindo o ra. Feliz aquelle, que, com S. Paulo, possa
tempo entre a oração, o estudo e a peni­ dizer: Pelejei uma boa peleja, acabei a mi­
tencia. Do desterro dirigiu ao rebanho nha carreira, guardei a fé, pelo que me
está reservada a corôa da justiça, que u
uma pastoral, na qual se lêem as seguin­ Senhor, justo juiz, me dará naquelle dia
tes phrases : "Entre lagrimas vos peço, (2 Tim. 4, 8.)

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14 de Julho 41

2. Onde ha fé, necessariamente haverá Na Palestina os Prophetas Joêl e Esdrai,.


respeito ao sacerdocio. O sacerdote é outro Joél fala do juizo de Deus, do Espirita de
Christo. Ao sacerdote é confiada a admi­ Deus derramado sobre toda a carne, e o
nistração dos meios da salvação. Elle é o julzo final no valle de Josaphat. Esdras era
maior bemfeitor da creança, porque é quem sacerdote e escriba Judeu. Reconduziu do
a recebe na familia de Deus. E' o sacer­ exilio de Babylonia os Judeus para Jerusa­
dote quem ensina a religião e, com ella, lém e reconstruiu o templo. Sua missão
implanta nos corações dos homens os prin­ principal era restabelecer o culto mosaico,
cipias de caridade, de justiça, de amor à a instrucção do povo na lei judaica, a reno­
ordem, de humildade e innocencia. E' o sa­ vação das festas obrigatorias e a abolição do
cerdote que dá ao peccador contrito a paz abuso dos matrimonios mixtos. Não se sabe
da alma, no perdão divino. E' o sacerdote ao certo si morreu na Palestina ou na Per­
que prepara a alma christã para a viagem sia.
á eternidade. O sacerdote, como represen­ Na Macedonia S. Silas, escolhido pelo:;
tante de Jesus Christo, é o bemfeitor da apostolas S. Paulo e S. Barnabé para prégar
humanidade. Tem por missão a missão de entre os pagãos. E' provavel que tenha per­
Christo: a gloria de Deus e a salvação da, tencido ao numero dos 72 dlsclpulos de
almas. Quem é inimigo do sacerdote, é ini­ Nosso Senhor. Os Actos dos apostolos dão­
migo da fé, inimigo de Christo. lhe o titulo de propheta. Foi companheiro
de S. Paulo em algumas viagens apostollcas
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ e visitou S. Pedro em Roma. Nada se sabe
moria é celebrada hoje: sobre as circumstancias de sua morte.

14 de Julho

S. Boaventura, Cardeal e Doutor da Egreja


(t 1274)

� DOUTOR seraphico S. Boaven­ Tendo vinte annos, entrou para a Or­


� tura nasceu em Bagnarea, na dem de S. Francisco, afim de cumprir o
Toscana, no anno de 1221. Os paes, si voto materno. Passado o anno da prova­
eram nobres de origem e favorecidos ção, foi Boaventura, pelos superiores,
pela fortuna, maior lhes era a nobreza, mandado a Paris, a ouvir as prelecções
baseada na virtude e santidade. Uma do celebre Alexandre de Hales. Em to­
doença gravissima punha em perigo a dos os estudos procurou antes de tudo
vida do menino de quatro annos. Não a honra de Deus e a propria santifica­
havendo probabilidade de salval-o, a mãe ção, afastando de si toda a vaidade e
pediu a S. Francisco de Assis, que ain­ perniciosa curiosidade. Nos tratados
da vivia, 1he impuzesse as mãos e lhe mais diffiC'eis, contentava-se com o ne­
alcançasse a saúde, promettendo ao mes­ cessario, sem se perder em discussões
mo tempo que o dedicaria ao serviço de inuteis, que mais escurecem a verdade,
Deus na Ordem, caso fosse ouvida. São do que servem á boa causa.
Francisco rezou sobre a creança, que sa­ Tinha vida tão pura, que Alexandre
rou immediatamente. Vendo esse gran­ de Hales, seu mestre, não hesitou em
de milagre, cheio de admiração, S. Fran­ dizer: "Parece que o peccado original
cisco exclamou: "Oh ! buona ventura!" nelle não achou logar". Era a mortifi­
Desde aquella hora foi a creança cha­ cação um dos meios principaes de que
mada Boaventura, embora o nome de se servia, para conservar a innocencia.
baptismo fosse João. Embora sua vida fosse wna pratica con-

S. Boaventura - Dos seus escrlptos. Discurso de Octavlano de Marlnl. Pedro Galeslnl.


Waddlng. Raess e Welss IX,

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42 14 de Julho

tinua de penitencias, o rosto reflectia­ c\c:,m da eloquencia, o ardor com que fa­
lhe uma alegria, como só a conhecem as lava era tão communicativo, que se apo
almas puras. Elle mesmo dizia: "A ale­ ·derava do coração dos ouvintes.
gria espiritual é o signal indubitavel da Não tendo ainda trinta annos, recebeu
graça divina, que habita em nossos co­ a nomeação ele lente de theologia na
rações". Universidade ele Paris. Cinco annos de­
Nas rnorti ficações procurava praticar pois, foi eleito Superior Geral da Or­
sempre a virtude da humildade. dem e como tal reconhecido pelo Papa
Convencido de s·er, entre os peccado­ Alexandre IV. Dezoito annos teve nas
res, o mais vil, receiava por muito tem­ mãos os destinos ela Ordem, e seu gover­
po se approximar da mesa eucharistica. no é considerado um dos mais felizes
Esse receio desappareceu, depois d'um e abençoados que a Ordem teve.
facto extraordinario, que com elle se No meio dos trabalhos do generalato,
deu. Assistindo uma vez á santa Missa, achou Boaventura tempo ainda para es­
com a devoção que lhe era peculiar, J e­ crever livros sobre diversos assumptos,
sus Christo deu-lhe uma parte da hostia dando assim prova de vasta erudição e
consagrada, que o sacerdote segurava competencia. Num daquelles tratados,
nas mãos. Do sacerdocio teve tão !to mostrou e provou a utilidade e necessi­
conceito, que só com temor pensava no dade elas Ordens mendicantes. Bellissi­
clia que lhe ia trazer a dignidade cio rnos livros compôz sobre o culto de Ma­
mesmo. Vendo-o celebrar os santos mys­ ria Santíssima. De sua lavra é t�ma bio­
terios, poder-se-ia ter a impressão ele graphia cio fundador ela Ordem - São
estar na presença de um Anjo. Tendo o Francisco de Assis.

S. Boaventura
Uma doença gravíssima punha em perigo a vida do
menino de quatro annos. A mãe pediu a S. Fran­
cisco de Assis, que ainda era vivo, que lhe impu­
zesse as mãos e alcançasse sua saúde. S. Francisco
rezou sobre a creança, a qual sarou immedla-
tamente.

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14 de Julho 43

Contemporaneo de S. Tlwmaz de relíquias incineraram, atirando as cinzas


Aquino, por vezes recebia a visita do ao rio. Graças ao desvelo de um cleri­
mesmo, que era seu grande admirador. go, foi salvo o craneo do santo, tendo
S. Thomaz reconhecia cm Boaventura este acto custado muitos máos tratos a
um grande santo e não menos eminente quem o tirou <las mãos dos hereges.
sabio. Em uma das visitas, perguntou a
S. Boaventura pela sua bibliotheca. Es­ REFLEXÕES
te, apontando para o crucifixo, disse­ Raras vezes S. Boaventura celebrava a
lhe: "Eis a bibliotheca, de que tiro tu­ santa Missa ou recebia a santa Commu­
do que ensino". nhão, sem derramar lagrimas de amor a
Jesus Sacramentado, tão viva lhe era a fé
Como nos estudos procurasse exclusi­ na real presença de Nosso Senhor no San­
vaimente a gloria de Deus, e só de Deus tissimo Sacramento. Talvez não te possas
esperasse a luz do intellecto, assim lhe comparar com este Santo, quanto ao
amor ardente a Nosso Senhor Jesus Chris­
constituía o maior prazer ganhar alma,; to. Pelo menos devias fazer tudo que está
para o reino de Deus na terra. Occasião a teu alcance, para recebei-o dignamente
não perdia de convidar os peccadores á na santa Communhão e remover de tu.1
conversão e penitencia e animar os pie­ alma tudo que possa desagradar a tão su­
blime hospede. Não te atreves nunca a obri­
dosos á perseverança no bem. gai-o a entrar em teu coração, quando tua
Santidade e sciencia como Boaventu­ consciencia te accusa de peccado mortal.
ra as possuía, não podiam ficar desco­ "E' este um crime - diz S. Diogo - que
nhecidas <lo mundo christão e assim de maneira nenhuma póde ser desculpado".
Maior ultraje não póde ser feito a Nosso
aconteceu, que bispos e outras pessoas Senhor, que recebei-o indignamente. "Ai 1
da alta hierarchia ecclesiastica lhe pro­ daquelle homem que ousar approximar-se
curassem amizade. O Papa Clemente IV da mesa do Senhor em estado de peccado
offereceu-lhe o bispado de York, mas mortal", exclama Beda o veneravel. Judas,
o trahidor, foi o primeiro a fazer uma Com­
tanto pediu Boaventura, que o Papa munhão sacrilega. Todos sabem quão triste
desistiu de sua proposta. O Pa,pa foi o fim que teve. Não queiras imitai-o,
Gregorio X, successor de Clemente IV, para que não lhe compartilhes do castigo.
"Ninguem se atreva a commungar em con­
elevou-o á qualidade de cardeal da Egre­ dições semelhantes a Judas I" (S. Chry­
ja Catholica e confiou-lhe a direcção da sostomo).
diocese de Alba. Os portadores d'esta
ordem pontifícia encontraram o santo Santos do Martyrolooio Romano, ciija me­
occupado em serviços da copa. Embora moria é celebrada hoje:
,elevado a tão alto posto, Boaventura Em Roma o martyrio do soldado S. Justo.
Após crueis applicações de diversos Instru­
continuou a vida de humilde religioso. mentos de tortura, puzeram-Jhe um capa­
Convidado a tomar parte no concilio de cete em braza, e mataram-no finalmente
Lyon, causou admiração geral sua pro­ pelo fogo.
funda sabedoria, como tambem o zelo Em Lima, no Perii, S. Francisco Solano.
pela causa da Egreja. Boaventura mor­ da Ordem dos Franciscanos. 1610. A arte
christã o apresenta com um lndio ao lado,
reu em 1274, contando apenas 52 annos, ou trazendo o crucifixo na mão ou tocando
sendo sua morte profundamente lamen­ violino. E' padroeiro da Ordem dos Francis­
tada pelo Papa e os Padres, reunidos canos e das Vlsitandinas. E' invocado con­
tra o terremoto, porque predisse aos cida•·
em concilio. Quando mais tarde os Hu­ dãos de Pruxlllo a destruição da cidad�
guenotes ,e apoderaram de Lyon, vio­ quinze annos antes da catastrophe. (Vide a
laram o tumulo de S. Boaventura, cujas vida deste Santo sob a data de 23 de Julho).

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44 15 de Julho

15 de Julho

Santo Henrique, Imperador


(t 1024)

lilr ENRIQUE, cognominado o pie­ smao a defeza elo povo. Nas campa­
� doso, um dos Santos mais queri­ nhas teve a seu lado o direito e a pro­
dos na Allemanha, nasceu em 972, sen­ tccção divina.
do filho de Henrique, o pacifico, duque Tendo o grande dom ele alliar a ca­
da Baviera, e Gizela, princeza d� san­ ridade á justiça, era querido pelos bons,
gue real. Seguindo o exemplo de outros temido pelos máos, e respeitado por to­
fidalgos cl'aquelle tempo, o duque con­ dos.
fiou a educação cio filho a um Bispo.
São Woi fgango, Bispo de Ratisbona, Coroado solemnemente pelo Papa Bc­
um dos homens mais sabios cio seculo. Heclicto VIII, garantiu á Egreja fideli­
Escolhido para educador do jove1111 dade, e sanccionou as doações a ella fei­
principe, em seguida, veiu a ser seu in­ tas pelos antecessores. A preciosissima
timo amigo. corôa que o Papa lhe offerecêra, Hen­
rique depositou-a sobre o altar do mos­
S. Wolfgango morreu em 994, segui­ teiro de Cluny.
do pelo pae de Henrique, o qual dei­
xou ao filho o governo do ducado da Por toda parte elo imperio deixo-u
Baiviera. Pela morte do primo, o Im­ monumentos de sua liberalidade, pieda ·
perador Othão III, os principes elei­ de e humildade. O Bispado de Bam­
tores offereceram a Henrique a corôa berg, bem como a sumptuosa cathedral
imperial. Conhecendo bem os perigos cio mesmo, é fundação de Henrique.
que se prendem ás culminancias elas Essa grande liberalidade, si achou
grandezas terrestres, procurou compe­ a approvação de todos, desencadeou
netrar-se bem das suas responsabilida­ contra elle uma campanha atroz dos
des ·e governar com equidade e justiça. proprios irmãos. Bruno, innão ele
O primeiro cuidado que teve, foi santi­ Henrique e Bispo de Augsburgo, e
ficar-se a si mesmo, pelo cumprimento Hemique, duque de Baviera, pro­
fiel dos deveres para com Deus e com testaram solemnemente contra os bene­
o proximo. Para esse fim praticou os ficios feitos a mosteiros e outras obras
exercicios da oração, da meditação, não de caridade. Henrique pegou em armas
descurando as virtudes e entre estas, contra o �mperial irmão, mas foi ven­
em primeiro Jogar, a humildade. Diver­ cido.
sos Concilios nacionaies foram convoca­ Mais sérias foraim as guerras, que o
dos, com o fim unico de tornar conhe­ Imperador teve de emprehender contra
cidas as leis disciplinares do cocligo ec­ os pagãos, que ti•nham invadido a Posna­
clesiia:stioo. Os Goncilios de Frankfurt e nia, a Saxonia e a Silesia, a cujo furor ti­
Bamberg fora1111 presididos pelo Impe­ nhalm ficado entregues muitas egrejas da
rador. diocese de Merseburgo. Em pouco tem­
Grande amigo da vida interior, era po foi restabelecida a ordem. De outras
Henrique protector dos conventos e dos calmpanhas contra os rebeldes ela Bo­
religiosos. Sendo preciso pegar em ar­ hemia e Moravia, Henrique sahiu vi­
mas, Henrique outro fim não visava ctorioso. As egrejas em ruinas foram

Banto Henrique - Surlo e Andllly. - Annal. Bavar. Buli. Raess e Welss. IX.

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15 de Julho 45

restauradas, e as dioceses devastadas de cular a Maria Santissima e ao Anjo tu­


Hildesheim, Merseburgo, Magdeburgo, telar. Desejava abdicar e passar o resto
Strassburgo e Meissen, experimentaram da vida nlllm convento.
novas e solidas refom1as.
Henrique morreu aos 14 de Julho
Interesses da Egreja chamaram-n'o de 1024, na •edade de 52 annos e no 22°
novamente á Italia, onde os Sarracenos, anno de governo. O corpo foi deposi­
alliados aos Gregos, tinham causado tado na cathedral de Bamberg. Deus
muitas desordens. Henrique obrigou-os glorificou o ttnmulo do Santo Imperador
a abandonarem o solo appennino. com muitos milagres, em vista dos
Terminada essa guerra, visitou os quaes e ele sua santa vida, o Papa Eu­
mosteiros ele Monte Cassino e de Cluny, geni•o III o canonizou em 1152.
fez a1111izacle cdm Roberto, rei da Fran­
ça, pouco antes seu inimigo, e percorreu
o Imperio todo, com a intenção de es­ REFLEXõES
palhar por toda a parte os beneficios da Grandes sommas despendeu Santo Hen­
Santa Religião. Verdadeiro pae do po­ rique, para dotar e embellezar egrejas e
vo que era, consolava os pobres, abolia conventos. Com o propheta rei, podia af­
abusos inveterados; protegia e defendia firmar: "Amei, Senhor, a formosura da
os burguezes, contra os prepotentes fi­ vossa casa e o logar onde habita a vossa
dalgos. gloria", (Ps. 25.) Concorrer para a construc­
ção de egrejas ou para a magnificencia do
No meio de tantos trabalhos, que culto, é obra agradabilíssima a Deus e sum­
lhe mereciam toda a attenção, Henrique mamente meritoria. Sempre ha almas ge­
tinha os olhos abertos para todas as nerosas, qu·e comprehendem perfeitamen­
necessidades do povo, sem se esquecer te este ramo de beneficencia, e julgam opti­
elos interesses intimas da alma. Conhe­ mamente empregadas as esmolas dadas pa­
ra esse fim. Outras ha, porém, que se põem
cendo as difficulclades em descobrir as ao lado de Judas, o qual, vendo Maria Ma­
paixões do orgulho e da ambição, não gdalena derramar sobre a cabeça de Jesus
lhes dava treguas, procurando-as e per­ o conteudo d'um frasco de delicioso per­
seguindo-as nos ultimas reductos. Ini­ fume, se mostrou escandalizado, chaman­
migo de todo pharisais.mo, considerava do-o desperdício e roubo feito aos pobre�.
amigos aquelles que, com toda franque­ Segundo elles, desperdício é concorrer com
za, lhe diziam o que de incorrecto nelle o obulo para o embellezamento das Egre­
tinha!m descoberto. jas e do culto. Como Judas, se arvoram em
advogados dos pobres, quando, como seu
Aconteceu que, devido a informa­ patrono, amor nenhum lhes têm. Que an­
�ões que lhe clera'!n a respeito ele Heri­ tes reparassem os gastos ridículos e exag­
berto, Arcebispo de Colonia, se houves­ gerados que fazem com a indumentaria.
se irritado muito contra aquelle prela­ co� bailes, festas e outras extravagancias !
do. Provada a innocencia do mesmo, o Dia virá, que revelará de que lado está a
Imperador se prostrou ele joelhos de­ razão. O juizo de Deus dir-nos-á onde ha
ante do Arcebispo, implorando-lhe per­ mais consolo, satisfação e merecimento: si
dão. no emprego do dinheiro para a gloria de
Deus e formosura do templo ou para futi­
Pela constante pratica de mortifica­ lidades e fins profanos, talvez peccamino­
ções, conseguiu subordinar as inclina­ sos. Quem não dispõe de meios, para con­
ções aos dictames do dever. tribuir para obras de egrejas e do culto.
não censure os outros que nisso acham sa­
A onção era-lhe companheira inse­
tisfação. Pobres ha sempre no nosso meio
paravel. Assiduo na assistencia á santa e Deus não os deixa morrer de fome. Quem
Missa, recebia muitas vezes a Sagrada dá á Egreja, tambem tem uma esmola pa­
Communhão. Alêm da devoção ao SS. ra os pobres. Assim se cumpre a vontade
Sacralmento, entretinha um culto parti- de Deus e grande será a recompensa.

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46 15 de Julho

Santos cuja memoria é celebrada hoje: vedo, com trinta e sete companheiros da
Companhia de Jesus, destinados âs missões
Em Carthago o martyrlo do diacono Ca­ dos jesuitas no Brasil. Piratas calvlnlstais
tullno, dos Santos Januarlo, Florentino, Jus­ capturaram o navio em que viajavam e ma­
ta e Fausto. taram-nos. 1570.
Nas Ilhas Canarias, perto da ilha de Pal­ Na Cochln-Chlna o catechlsta André Nam­
ma o bemaventurado P. lgnaclo Dias de Aze- Thon, que morreu no exlllo, 1865.

15 de Julho

São Pompílío María Pírrottí


( t 1766)

� 15 DE JULHO de 1766 uma mul­ a nobreza e candura dos seus sentimen­


�:l; tidão de povo se cumprimia no tos, a austeridade inconcebivel, impossi­
adro da Casa dos "Scolopi <li Campi" e vel quasi em wna creança, o zelo, com
dizia: "Morreu o Santo; morreu aquel­ que ao som do sino reunia ao seu redor
le que santificou o nosso paiz". Quem os meninos coetaneos para· catechisal-os,
era aquelle Santo ? Era o Padre Pom­ tudo isto, agigantado e extenso a u111
pilio Maria Pirrotti, amigo e pae dos jo­ campo mais largo, fortmará no porvir a
vens e dos pobres, humilde filho do figura moral, que Pompilio se dará co­
grande José Calasanz, funda:dor das Es­ mo educador da mocidade, catechista do
colas Pias, apostolo fervoroso, peniten­ povo, missionario do Coração de Chris­
te austero, um anjo em carne, o novo to, refomnador da sociedade.
Santo. Maravilhado de tão prematura santi­
Pompilio Maria Pirrotti nasceu a 29 dade, o poV'O, cdm o pio exaggero repe­
de Setembro de 1710 em Montecalvo Ir­ tia: "Pompilio é santo desde o seio de
pino, na provirrcia de Beneven'l:o. A gra­ sua mãe" e ufanando-se de tão extraor­
ça do Senhor era diffusa em seu cora­ dinario concidadão, dizia: "elle é o nos­
ção, e juntamente com ella Deus nelle so santo".
havia deitado a semente da santidade; Os desígnios de Deus, porém, com o
mas na semente como em embryão era seu servo, eram bem diversos. Deus quiz
contida a vida de uma arvore frondosa afastar Pompilio para longe dos amores
e opulenta. Assim a juventude de Pom­ mais ternos e mais justos, e transpor­
pilio é em miniatura l.lllllª synthese da tou-o para um convento dos seus predi­
virtude, que pouco a pouco foi se lectos. Na quaresma do anno 1726 o jo­
desenvolvendo com os annos, até o he­ ven Pirrotti conheceu u\m Padre da Es­
roismo. cola Pia e a elle confiou a direcção de
Um bello preludio costuma indicar sua alma. Percebeu o bom Padre a boa
uma bella composição musical. As pri­ disposição de Pompilio, e um dia, sem
meiras manifestações da piedade infan­ mais preambulos, perguntou-lhe: "Filho,
til de Pirrotti, seu ardente amor a Jesus queres entrar em nossa Ordem ?" Pom­
Sacramentado, a devoção terna, quasi pilio não respondeu, mas seu coração
excessiva se assim é licito se exprimir, exultou, era a voz de Deus. O desejo
a Maria Santissima, que chamava "Ma­ da perfeição, a ancia de entrar nas bel­
mãe bella", a caridade immensa aos po­ lezas reconditas da vida espiritual, o
bres e peccadores, o re,speito aos paes, a1mor immenso de mergulhar-se todo em

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15 de Julho 47

Deus, operaram poderosamente sobre a Em sua escola reinava o espmto cio Di­
sua vontade, e ·em uma celebre noite, só­ vino Mestre, o espírito da caridade, do
zinho, ás escondidas, o rapaz, "tomado sacrificio, da paciencia e da simplicida­
de santa coragem - o que de certo não de, porque instruindo o proxilmo, procu­
é para imitar, mas para admirar - fu­ rava sempre e unicamente a gloria de
giu da casa paterna para refugiar-se da Deus. Não fazia ela escola um templo
tempestade do mundo no Instituto das academico, onde o mestre pode satisfa­
Escolas Pias". zer a sua vaidade em propôr uima scien­
Noviço fervoroso, professou solem­ da vã, mas mn t{lmpl'O cuja base funda­
nemente ·em 1728. Applicado aos estu­ mental era o amor de Deus.
dos sacros, grangeou fama de perfeito Exceptuando os primeiros sacerdotes
tiheologo ; não só se fa�niliarisou com a cla:s Escolas Pias, que foram verdadei­
Escriptura e os Padres, como tambenn, ros missionarias no meio elas populações
fiel á tradição catholica, se dedicou ao allemãs, contagiadas pela heresia luthe­
estudo das Letras, cultivando assim o rana, os "Scolopis" exercitara'tn geral­
espirita e o bom gosto. mente s·eu ministerio apostolico na Es­
Antes de chegar ao sacerdocio, foi cola. Excepção tambem fez Pompilio
incorporado ao magisterio da escola, por Pirrotti, cujo coração ardente, cuja al­
elle considerado e prat-icaclo como um ma catholica, cles1 eijosa ele abraçar td­
magisterio sagrado, segundo o espirita dos e concluzil-os todos a Christo, le­
do Fundador do Instituto, José Cala­ vou-o a estender sua actividade aposto­
sanz. Pirrotti era justamente o que São lica e seu zelo sacerdotal a outro ca,mpo.
Paulo tanto recommendava a Tito, que Nos annos do s·eu apostolado prepa­
fosse: clava o exemplo ela boa obra, em rou-se entre os povos aquiella transfor­
todas as cousas, na doutrina, na integri­ mação elas icléas religiosas e moraes, que
dade e gravidade. De que maneira os deu ao seculo XVIII o qualificativo de
cliscipulos o éllmavam e o admiravam, "seculo ela increduliclacle". Pompilio, no
vê-se pelo facto, que o deixavam sempre perfeito conhecimento cio grande perigo,
cdm pezar no coração. Nas ruas e pra­ correu para catechisar o povo e colmba­
ças o acompanhavam em grande nume­ ter o mal. Sua poderosa eloquencia, que
1

f1o; e dlc por sua vez os deliciava com era a do Evangelho, o exemplo ele sua
santas e a:maveis palavras e pequenos vicia santa, o testemunho de Deus por
presentes, attrahindo-os. por assim cli­ meio ele milagres, tudo concorria para
Z'er, com santa fascinação. trazer as 1multidôes á pratica sincera da
Na juv1entude via a imagem de Deus; moral e da vicia christã.
nos meninos enxergava os homens de Sua mira era a gloria de Deus e a sal­
ama111hã, e para corresponder ao fim ela vação das almas. Para si nada, tudo para
sua missão, fazia-se pequeno com os pe­ os outros. Neste seu apostolado não me­
quenos, para assim preservar as tenras dia sacrifício; para servir a Deus e ás
plantinhas cio bafo impuro dos vicias, e almas tudo supportava de bom animo:
implantar nos coraçõesinhos o a!rnor á incorn!moclos de viagem, chuva, calor, fa­
virtude e á piedade; para habitual-os á digas e jejuns. Pregava nos templos, nas
pureza cios costumes e á fortaleza per­ praças, nos campos; pregava aos gran­
severando naquella piedade e na Reli­ des do mundo e aos pequenos do vulgo.
gião que é o esplendor e alegria nas ho­ Passava no meio elo povo qual anjo con­
ras mais avançadas da vicia. solador. Onde havia inimizades e odios,
Pdmpilio era opHmo educador no es­ lá apparecia Pompilio e apaziguava os
pírito do seu Fundador, e como tal ama­ ani11nos. Onde imperava a dor, o deses­
va de <1Jmor puro e desinteressado as pero, Pirrotti trazia o balsamo do con­
creanças, cm particular as mais pobres. solo e da coofonnidade.

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48 15 de Julho

Grande apostolo em annunciar a pa­ ca e civil ; foi enxotado da patria de uma


lavra de Deus, Pirrotti, sacerdote de n1aneira humilhante, como malfeitor es­
grandes virtudes, era grande distribui­ coltado por soldados armados. Pompilio
dor tambem da mj,sericordia divina no sob os golpes de guerra satanica se hu­
Sacra\mento da Penitencia. A fama de milha, reza, chora e nobremente perdoa.
santidade que possuia, fazia com que in­ Mas Deus viu a humildade de seu serv0
mimeras pessoas corressem aos seus pés e o exaltou. Por toda a parte onde o
no confessionario, pedindo perdão e con­ exilado passou, o plebiscito universal de
forto. O Santo não tinha hora fixa; a amor e de veneração o acclamou e sau­
todos recebia indistinctamente, e a qual­ dou: '-'Padre Santo".
quer tempo; a rodos dava o que procu­ Dotado de carismas, rico em mereci­
ravalm: a paz da alma, coragem para le­ mentos terminou sua dura carreira apos­
var a cruz e os corações mais duros e re­ tolica a 15 de Junho de 1766, imploran­
beldes fazia voltar ás praticas da reli­ do com doçura os nomes de Jesus e Ma­
gião e da virtude. ria, sua "Mãe bella".
As suas viagens apostolicas levavam­ Beatificado sob o pontificado de Leão
no ás regiões do Norte e do Sul da Ita­ XIII, o novo educador e missionaria in­
lia. V e!mol-o pregar alo povo humilde e signe foi posto sobre o candelabro da
s1mples dos Abbruzzos, e nas terras na­ Egreja por Pio XI.
politanas. Foi Pirrotti um dos primeiros
a defender e prop agar a nascente devo­ REFLEXÕES
ção ao Sagrado Coração de Jesus na It:J.­ Em S. Pompilio Maria Pirrotti vemos o
lia. Vemol-o pregar, e de u'm modo par­ modelo de zelador das almas, gue do ma­
ticular o Sagrado Coração, fazendo-se gisterio fazia seu apostolado. A grande
importancia da escola na formação intel­
acompanhado de um grupo de pessoas, lectual e moral do individuo conheceram-no
a qtte dava o nome de Congregação do bem os inimigos da Egreja, quando resol­
Sagrado Coração de Jesus. veram della se apoderar; não menos a
comprehende a Egreja, que do Apostolado
O mierieci:mento do santo sacerdote ain­ da Escola nunca se descuidou. A Egreja, que
da se apresenta maioc, quando se con­ é Mestra da humanidade. como mestra dos
sidera o tempo em que viveu. As idéas povos sempre tomou a peito a educação de
seus filhos na familia e na escola. A Escola
erroneas e perigosas do Jansenismo ti­ transmitte á creança os conhecimentos pra­
nhaim encontrado echo em todos os -pai­ ticas e necessarios para a vida; mais : a
zes da Europa, inclusive a Italia. Mis­ Escola ensina de todas as sciencias a mais
tér era, oppôr-lhes a lmais forte resisten­ necessaria: a de conhecer Deus, amar Deus
e a Deus servir. Os poucos conhecimentos
cia. A heresia do Jansenismo punha da religião que a creança traz de casa, a
Deus longe dos homens e cortava as Escola os aprofunda, os alarga e solidifica.
relações de amor entre o céo e a terra. A escola não só ensina : ella educa ; forma
Pirrotti oppôz-lhe um dique pela devo­ o caracter da creança, esclarece sua intel­
ligencia, acostuma sua vontade á pratica
ção ao Sagrado Coração de Jesus, fonte do bem; dá ao coração o sentimento da
segura da vida christã. virtude.
Está nos designios da Providencia que A Egreja nunca se esqueceu do exemplo
na vida dos Santos os triumphos alter­ da palavra do seu Fundador, que chamou
nam com humilhações e dôres. Nos San­ para perto de si as creanças, e abençoan­
do-as disse aos apostolas e aos paes: "Dei­
tos se renova, por assi!m dizer, aquelle xae vir a mim as creanças, porque dellas é
a:dmiravel contraste que caracterisa a o reino dos céus".
vida de Christo. Pirrotti é destes San­ Jesus Christo, como Redemptor nosso,
tos. Contra elle se conjuraram as iras é Senhor das nossas almas, tambem da al­
ma da creança. A crcança lhe pertence; a
dos máos. Foi coberto de calumnias, gol­ Escola lhe pertence por direito divino.
peado pelo odio e pela inveja; foi cha­ Dahi seguem duas cousas, uma para os
mado de louco, punido pelos superiores paes, outra para os professores. Para os
da Ordem, pela Autoridade ecclesiasti- paes: lmplantae nas almas dos vossos fi-

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16 de Julho 49

lhos o amor de Jesus Christo, e respeito á Bem os inimigos da religião sabem, quanta
Santa Egreja. Lembrae-vos da grande res­ influencia a Escola, a acção do professor
ponsabilidade que tendes de educar vossos tem sobre a alma da creança. Por isso
filhos para Deus, quem vol-os deu. Con­ mesmo, certos do poder suggestivo do pro­
fiae-os a professores dignos, competentes, fessor sobre seus alumnos, querem a escola
catholicos. Não deis a vossos filhos o es­ acatholica.
candalo de os matricular em escolas leigas O professor catholico é o guardador na
ou protestantes. Terrivel maldição de escola das tradições religiosas da familia
Christo pesa sobre os que dão escandalo catholica. Entregando-lhe os filhos, os paes
aos pequenos: "O que escandalisar um sabem que lh'os restitue bons, ou até me­
destes pequenos, que crêem em mim, me­ lhores que eram antes. O professor catho­
lhor lhe fôra, que se lhe pendurasse ao lico é cooperador activo do sacerdocio a
pescoço a mó que um asno faz girar, e que que Christo confiou os seus interesses mais
o lançassem ao fundo do mar" (Mt. 18 6). sagrados: o de pregar o Evangelho e de
A Egreja, fiel interprete d.o pensamento do ensinar a observar tudo que elle mesmo
seu Fundador, sublinha estas palavras de ensinou.
Christo e as confirma com uma terminação Para poder digna e efficazmente se des­
do seu Codigo de Direito canonico: "Es­ empenhar desta alta missão, é preciso que
tão sujeitos á excommunhão (por suspei­ siga os princípios do grande Mestre que
tos de heresia), paes catholicos ou que as foi Pompilio Maria Pirrotti. Embora não
vezes dclles fizerem, que deliberadamente seja sacerdote, em primeiro logar deve tra­
entregam os filhos para serem educados na balhar pela sua propria santificação exer­
religião acatholica. (Can. 2.319. n. 4). citando-se constantemente na caridade, na
E' crime de traição a Nosso Senhor, paciencia, na mansidão e na humildade. As­
egual áquelle de Judas, de que Christo te­ sim, si suas palavras convencem, seu exem­
ve a terrível affirmação: era melhor para plo arrasta. Não deve ter em mira outra
elle que não tivesse nascido". (Math. 26. ambição senão esta: trabalhar pela gloria
24). Ao dever dos filhos., de dar respeito, de Deus, isto é, para que Christo venha a
amor e ol>cdiencia aos paes, corresponde o reinar nos corações dos seus educandos.
destes, de educar os filhos para Deus, que Pode haver elogio maior do professora­
deu tão maravilhoso mandamento. do catholico do que aquelle que se acha na
Os professores devem se lembrar da pa­ celebre prophecia do propheta Daniel ? (12.
lavra de Christo, que diz: quem recebe 3), que diz: "Aquelles que tiverem ensina­
uma destas creanças em meu nome, a mim do a muitos o caminho da justiça, (da vir­
é que recebe" (Mt. 18. 5) A missão do pro­ tude) luzirão como as estrellas por toda a
fessor é sublime e altamente apostolica. eternidade".

16 de Julho

Festa de Nossa Senhora do Carmo


:fA.\ FESTA de Nossa Senhora do Está fóra de duvida que o paganismo
� Carmo prende-se intima1111ente á anti-christão não estava sem conheci­
Ordem Carmelitana, cuja origem remon· mento das promessas messianicas. A
ta aos tempos antigos, envolvidos em Mãe do Salvador ve,nol-a preconisa<la
nuvens de venerandas lendas. A Ordem velas Sybillas, symbolisacla pelas ima­
dos Carmelitas tem por proposito espe­ gens de lsi-s e venerada nos mysterios
cial o culto da Mãe de Deus, Maria San­ pagãos. Supposto isto, caulsaria extra­
tíssima, e pretende ter o-rigem nos tem­ nheza, si o povo ele Deus, possuidor elas
pos do propheta Elias. Não é este o Jo­ prophecias 1111ais claras e especializadas
gar de allegar os argmnentos pro e con­ sobre a Mãe-Virgl.'lm, a vencedora ela ser­
tra esta piedosa opinião ou digamos mes­ pente, não tivesse tido palavra, institui­
mo, convicção dos religioso� Carmelitas. ção nenhuma, que dissesse respeito :'1

N. Sra. do Carmo - Dosenbach S. J. Die schonste Tugend. Meschler Klrchenjahr.

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50 16 de Julho

Mãe do Salvador. De facto, na Ordem Carimo. Em 1225, Siimão Stock foi elei­
Carmelitana é guarda:da a tradição, &e­ to Coadjutor cio Superior Geral ela Or­
gnnclo a qual o propheta Elias, ven,!c dem, já então bastante conhecida e es­
aquella nuvemzinha, que se levantava �o palhada.
mar, b�m como a pégada d'homem, _terrn. A Ordem começou a soffrer muita
nella reconhecido o symbolo, a figura O'[)posição, e Simão Stock fez uma via­
da futura Mãe do Salvador. Diz mais a gem a Rdma. Honorio III, avisado em
tradição, que os discipulos de Elias, em mysteriosa visão, que teve de Nossa Se­
lembrança d'aquiella vi•são do mestre, te­ nhora, não só recebeu com toda dderen­
riam fundado uma Congregação, com cia os religiosos carmelitas, l.nas appro­
1

séde no Monte Cartmelo, com o fim de­ vou nova1111ente a regra da Orcle�n. Si­
clarado de prestar homenagens á Mãe mão Stock visitou depois os Irmãos ela
cio Mestre. Essa Congregação ter-se-ia Ordenn, no Monte Carmelo, e deanorou­
conservado até os dias de Jesus Christo se com elles seis annos.
e existido com o titulo ele Servos de Um Capitulo geral da Ordem, reali­
Maria. zado cm 1237, determinou a transferen­
Santa Thereza, a grnnde Santa ela Or­ cia para a Europa de quasi todos os re­
ddm Car1melitana, reconhece no propheta ligiosos, os quaes, para se verem livres
Elias o fundador ela Ordem. As visões das vexações cios Sarracenos, procura­
da bdmaventurada Anna Catharina Em­ ram a Inglaterra, onde a Ordem possuia
merick sobre a vida de Maria Santíssi­ já 40 conventos.
ma, occupam-se minuciosaunente da Con­ No anno de 1245, foi Simão Stock
gregação dos Servos de Maria, no anti­ eleito Superior Geral da Ordem e a re­
go Testa1111ento. gra teve a approvação do Papa Innocen­
Historicamiente documentadas são as cio IV.
segui·ntes datas ela Ordenn de Nossa Se­ A Ordem de Nossa Senhora do Car­
nhora do Carmo. Foi no seculo XII que mo, collocada sob a protecção immeclia­
o calabrez Bertoldo, com alguns compa­ ta ela Santa Sé, começou então a ter
nheiros, se estabeleceu no Monte Car­ uma acceitação extraordinaria no mun­
melo. Não se sabe si encontraram lá a do catholico. Para isto concorreu pode­
Congregação dos Servos de Maria ou si rosalmente a irmandade elo Escapulario,
fundaram uma d'este nome; certo é que que deve a fundação a Simão Stock.
receberam em 1209 uma regra rigorosis­ Homem ele grandes virtudes, privile­
sima, approvada pelo Patriarcha ele Je­ giado por Deus com os dons da prophe­
rusa,lém - Alberto. Pelas cruzadas esta cia e dos milagres, empregou Siimão
Congregação tornou-se conhecida ta,m­ Stock toda energia para propagar, na
bem na Europa. Dois nobres fidalgos Ordem e no mundo inteiro, o culto ma­
ela Inglaterra convidaraim alguns religio­ riano. Sendo devotíssimo a Maria San­
sos do Car1melo, a acompanhai-os e fun­ tíssima, desejava obter da Rainha celes­
dar conventos na Inglaterra, o que fiZ"e­ tial um penhor visível de sua benevolen­
ram. cia e maternal protecção. Foi aos 16 de
Pela unesma época vivia no condado Julho de 1251 que, estando em oração
ele Kent um eremita, que, havia vinte fervorosa, a renovar o pedido, Nossa
annos, habitava na solidão, tendo por Senhora se dignou de apparecer-lhe. Ro­
residencia o tronco ôco de uma arvore. cleiacla de espiritos celestes, veiu trazer­
O nome d'esse eremita era Simão Stock. lhe um esca:pulario. "Meu dilecto Filln
Attrahido pela vida mortificada dos car­ - disse-lhe a Rainha do céo - eis o
melitas recem-chegados, corno tambeim escapulario, que será o distinctivo d:i
pela devoção lmariana, que aquella Or­ minha Ordem. Acceita-o como um pe­
dem cultivava, pediu adniiissão, como nhor elo privilegio, que alcancei para ti
noviço, na Ordem de Nossa Senhora do e para todos os membros da Ordem do

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16 de Julho 51

Canmo. Aquelle que morrer vestido d'es­ dade, da malicia, do escarneo e do odio.
tc escapulario, estará livre do fogo do Mas talmbem, como o rasaria, tem expe­
inferno". rimentado o effeito poderosissimo da
Estando-lhe assim satisfeita a maior protecção da Mãe ele Deus ; só assim é
aspiração, Simão Stock tratou então de explicavre.J o facto de ter o escapulario
divulgar a irmandade do escapulario e passado incolume, atravez de 600 annos
con v i d a r o e hoje em dia,
-mundo catho­ ,mai,s do que
lico a partici­ nunca, gozar
par dos grnn­ da predilecção
des privilegios do povo chri-s­
1

,an:nexos. Ex­ itão.


tra:ordi n a r i a Si bem que
foi a affluen­ a visã,o que S.
cia a tão util Simão Stock
insti t u,i ç ão. affirlma t e r
Entre os de­ tido de Nassa
votos do es­ Senhma, não
capular i o de possua o valor
Nossa Senho­ da autoridade
ra do Carttno, de artigo ele
vêC1111-se P a - · fé, tão averi­
pa:s, Cardeaes guada se apre­
e Bispos. Nu­ senta, que des­
merosos têm arma qualquer
sido os prin­ duvida quic a
cipes que pe­ Pespeito possa
dirai111 ser ins­ subsi·stir.
criptos na ir- É relatada
1111mdade, co­ coli11 toda,s a:s
mo Eduardo minucias pelo
III da lngla­ confessor <lo
teTra, os iln­ Santo, Padre
peraidores da Swainton. Ap­
Aliem anh a, provaela p o r
Fernando I e •muitos Papas,
II, d i v ersos a i rmandade
reis da Hespa­ .do escapulario
nha, de Por­ f o i grande­
t u ga I e da S. Simão Stock mente elogiada
França, e ain­ "Meu Filho, eis o escapulario, distinctivo da minha por Bene<licto
da ·muitas rai­ Ordem. Acceita-o como um penhor do privilegio que XIV; rn a is
alcancei para ti e para todos os membros da Or-
nhas e prince­ dem do Carmo." idie cem ·escri­
zas de diV1er­ ptores dos sc­
sa:s nações. O escapulario teve uma culos 13, 14 e 15, dos quaes alguns que
acdei1'ação favorav<el e universal entre não pertenCÍ'alm á Ordem Ca:nnelitana,
o povo catholico. Neste s1 entido só sie lhe r-eferem - á visão de Sirnão
é comparavel ao rosario. Como este, Stock - como a t�rn fac�o que1 não ad-
talmbem teve a:dV1ersarios; como o ro­ 1miUe duvida. As universidades ma:is ce­
sario, talmbeim o escapulario tem sido. lebiccs, as de Paris e Salamanca, dedara­
aggredido com todas as arm as da impie- ralm-se· eguahnente a favor.

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52 16 de Julho

Dois decretos da Curia Pontifióa, pa1xoes, fará com que na hora da morte,
·exarados pelos Carcleaes Bellarmino e clre por uma casualidade qualquer, não se
Torres, declararam authentica e veridica encontre o habito salvador, o que se
a biographia ele S. Simão Stock, que tem dado muitas vezes.
contem a narração ela maravilhosa vi­ O segundo privilegio é o tal channaclo
são. "privilegio sabbatino". Um decreto da
Dois são os grandes privilegias da Santa Inquisição romana, datado de 20
ii•mandade cio ·escapulario, privilegios de­ de Janeiro de 1613, dá aos sacerdotes da
véras extraorclinarios, que mereceram Ordem Carme' litana autorisação para
á instituição tão grande sympathia da prégar a seguinte doutrina: "O povo
parte do povo christão. O primeiro d'es­ christão pode crêr no auxilio que expe­
scs privilegias Maria Santissima fri­ rimentarão as almas cios irmãos e mem­
sou-o bem, quando, no acto da entrega bros da Irmandade de Nassa Senhora
cio 'escapulario disse ao seu servo São do Oa:rmo, auxilio este, segundo o qual
Simão Stock: "E' este o signal do pri­ todos aquelles que morrer·eim na graça
vilegio, que alcancei para ti e para todos do Senhor, tendo em vida usado o esca­
os filhos de Carmelo. Todos aquelles que pulario, conservado a castidade propria
na hora da morte estiverem revestidos cio •estado, recitado o Officio Parvo de
rom este habito, ver-se-ão salvos do fogo Nossa Senhora, ou si não souberem lêr,
do inferno". O sentido desse privilegio tiverem observado fielmente o jejum ec­
é est•e: M.i:ria Sa1ntissi:ma promette a to­ clesiastico, belm como a abstinencia nas
dos que usam o habito do Carmo, sua pro­ quartas-feiras e sabbados ( excepto si a
tecção especial, principalmente na hora fresta de Natal cahir num d'esses dias),
ela 1morte, que decide sobre a sorte na s·erão soccorridos por uma protecção ex­
eternidade. O peccador, portanto, por traorclinaria da Santissima Virgem, no
mais miseravel que seja, pondo a con - primeiro sabbado que se lhe seguir ao
fiança em Maria Santissima e vestindo transito, por ser sabbado o dia da se­
o seu habito, tendo aliás a intienção fir­ mana consagrado a Nossa Senhora.
nie de sahir do estado do peccado, D'esse privilegio faz menção o officio
pócle seguramente contar com o auxilio divino ela Festa de Nossa Senhora do
ele Nossa Senhora, a qual lhe alcançará Carmo, approvado pelo Papa Cle1111ent'e
a graça ela conversão e da perseverança. X e Benedicto XIII. "A bcmaventura­
O cscapulario não é um amuleto, que cla · Virge1m - diz o officio - não se
assegure, sob qualquer hypothese, a sal­ limitou a cumular ele privilegias aqui na
vação ele quem o usar. ContaJ111-se por terra a Ordem Carmelitana. Com cari­
milhares as' conversÕ'es ele peccadores na nho verdadeiramente matemal, ella, cujo
hora ela morte, attribuiclas unicamente poder e lmisericordia em toda parte são
ao escapulario de Nossa Senhora do muito grandes, consola tambem, CQ1110
Carmo; muitos ta:mbem são os casos que piedosamente se crê, aquelles filhos no
mostraim á evidencia, que privilegio ne­ purgatorio, alcançando-lhes o mais bre­
nhum favorece a quem, de maneira ne­ V'e possivd a feliz entrada na patria ce­
nhuima, s'e quer separar cio peccado e le­ lestial''.
var uma vida digna e christã. Santo Para que se torne membro da Irman­
.'\gostinho diz a verdade, quando ensi­ dade, é necessario cumprir a:s seguintes
na: "Deus, que nos creou sem nossa co­ condições:
operação, não nos pode salvar sem que 1. Inscripção no registro da Innan­
o queiramos e desejemos". Quem não dade.
quer deixar de offencler a Deus, morre­ 2. Ter recebido o escapulario das
rá na irnpenitencia; e si Maria Santis­ mãos de um sacerdote habilitado para
sima não vir possibilidade alguma de ar­ fazer a recepção e usai-o com devoção.
rancar a ahna do peccador aos vicias e No caso da mudança de um escapulario

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16 de Julho 53

velho e gasto por um novo, este novo gencias, podendo todas ser a:pplicadas ás
não carece de benção. Quem, por des­ almas do Purgatorio, com excepção da
cuido, deixou de usar por algu�n tempo indulgencia plenaria na hora da morte.
o escapulario, participa dos privilegias
da Imiandade, logo que se resolver a REFLEXÕES
pôl-o novamente. O fim, pois, a que a Irmandade de Nossa
3. Convmn rezar diariamente algumas Senhora do Carmo se propõe é: propagar
orações marianas, cdmo sieja,m: a ladai­ o reino de Deus, por meio da devoção a
Maria Santíssima, meditar nas virtudes da
nha lauretana ou sete Padre-Nossos e Mãe de Deus e imitai-as, merecer uma
Ave-Marias ou siejam ainda o Symbolo protecção especial de Nossa Senhora, em
dos Apostolas, s·eguida da recitação de todos os perigos do corpo e da alma, alcan­
um Padre-Nosso, uma Ave-Maria e çar-lhe benção na hora da morte e a liber­
tação das penas do purgatorio. O escapula­
Gloria. As bulias pontifícias nada pres­ rio é o habito da salvação. Para que o pos­
crevettn a este respeito, desde o principio, sa ser, é preciso que seja a vestimenta da
porém, se tem observado a praxe de fa­ justiça. Si o maior interesse de Maria San­
tíssima é salvar almas, desejo maior não
zer essas devoções cliarias. tem, senão que seus filhos se appliquem á
4. O privilegio sabbatino exige ainda pratica das virtudes, do amor de Deus e do
que se conserve a castidade propria do proximo, que sejam pacientes, humildes.
estado de cada um, e que se rezmn as mansos e puros e trabalhem pela santifica­
ção de sua alma.
horas marianas. Quem não puder cum­
A historia da Irmandade de Nossa Se­
prir esta segunda condição, observe a nhora do Carmo é uma epopéa de feitos
abstinencia de carne nas quartas-feiras maravilhosos, na ordem sobrenatural. O es­
e sabbados. As duas obrigações de reci­ capulario tem sido a salvação de milhares
tar o officio mariano e a abstinencia da e milhares de christãos, nas suas necessida­
des espirituaes e materiaes. Para que nas
carne na,s quartas-feiras e sabbaclos po­ mãos de Nossa Senhora possa effectiva­
dem, si para isso subsistirem razões suf­ mente ser instrumento de salvação, indis­
ficientes, ser cammutaclas em outras pensavel é o renascimento espiritual de
equivalentes. quem o leva, o cumprimento fiel dos deve­
res do estado de quem se diz devoto a
5. Aos soldados o Papa Pio X conce­ Nossa Senhora do Carmo. Certamente não
deu o seguinte privilegio: Para se tor­ é devoto a Maria Santissima, quem vive em
narem membros ela Irmandade de Nas­ peccado e offende a Deus sem cessar.
sa Senhora do Carmo, é sufficiente que
usem um escapulario bento por um sa­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
cerdote que possua a faculdade respe­ moria é celebrada hoje:
tiva. Não se exige paro elles a ceri1110- Na perseguição deciana a morte de São
nia da recepção e da inscripção no re­ Fausto. O mesmo foi crucificado. No quinto
dia depois da crucificação mataram-no a fle­
gistro da Irtmandade. Cctmo os demais chas.
nllem'bros, tambem devem rezar diaria­
Em Cordoba, na Hespanha, o martyrio do.-;
m'ente algumas orações em honra de Ma­ Santos Leville e Sisenando. Ambos foram
ria Santíssima. (4-1-1908). mortos pelos mahometanos.
A Irmandade de Nassa Senhora do Na Rhenania (Allemanha) o martyrio d,2
Carmo é enriquecida de muitas indul- Santa Rainalda, morta pelos barbaros. 68().

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.54 17 d.e Julho

17 de Julho

SANTO ALEIXO
li\\ EUS .é admiravel nos Santos, como A fama das virtudes começou a espa­
JD prova a vida ele Santio Aleixo. Fi­ lhar-se-lhe em toda a redondeza, do que
lho de paes riquissimos, era Aleixo o re, sultou ver sido Aleixo constantemente
fructo de muitas orações, pois durante procurado por pessoas, que lhe pediam
muitos annos a união dos piedosos paes conselhos e orações. Sendo assim cons­
ficára sem descendente. Aleixo recebeu tantemente incommoclaclo na solidão, _rie­
optiima ,educação e bem cedo o menino solveu o Santo sahir claquelle Jogar e
mostrou uma predilecção indubitavcl pe­ voltar á casa paterna.
las cousas divinas Era vontade dos paes Assim fez e apresentou-se na casa cio
que Aleixo se casasse com uima clonzella. pa!e, como mendigo, pedindo pão e aga­
que dles me�mos lhe tinham escolhido. salho. Euphe!miano, homem de grandes
AJ,eiX:o, porém, estava bem longe dessas virtudes e bom christão, embora não sa­
idéas. Depois de muito rezar, deliberou bendo com quem falava, ordenou que ao
satisfazer a vontade cios progenitores. pobre fosse dado o que pedia. Aleixo,
O casamento foi celebrado com a maior ou, como se denominava: - o " pere­
pampa. No mesmo dia sentiu Aleixo um grino", - recebeu para Jogar ele des­
impulso fortíssimo ele abandonar a jo­ canço um cantinho debaixo da escada.
ven •esposa, os pacs e a casa paterna. Lá ficou até á morte. Nem siempre teve
Dando ouvido a essa voz interior, pro­ da criadagem o trato de accordo com a
curou a esposa e f.ez-lhe presente ele ri­
1 caridade christã. Pobre que era, muitas
quíssimas joias, peclinclo-lhe que as ac­ vezes d'elle fizeram objecto de pilherias,
ceitasse e guarclass,e, em penhor de seu rmaledicencias, lmáos tratos e persegui­
a;mor para com ella. Sem fazer commu­ ções. AJieixo soffreu tudo com a lllaior
nicação a pessoa alguma, abandonou a riesignaçã:o, sem jamais abrir a bocca pa­
ca:sa e tomou um navio, que estava ra defender-se ou invocar a intervenção
prompto a partir. O navio tomou rutmo do pae. Mais doloroso lhe era, para o
para Laodicéa e Eclessa, na Syria. coração de filho, vêr os paes, a esposa,
sem poder manifestar-se-lhes. Era um
O desappareci,mentio ele Aleixo causou tormento ouvil-os falar com tristeza do
grande consternação na caiia paterna. filho, que <lesapparecera no dia do ca­
O pae, rico senador, mandou emissarios samento.
percorrerem a ciclaclc e o paiz todo, pa,ra Dez,esete annos decorreram, sem que
descobrir o paradeiro do filho. Não des­ Aleixo tivesse rmudado o modo de viver.
cobriram vestigi•o. Aleixo, entretanto, ti­ Só sahia da cella para ir á cgreja, onde
nha chegado a Edessa, onde encetou passava longas horas, em profundo re­
t1ma vicia de pobre eremita, com jejuns colh�mento de espírito. Approuve a Deus
e penitencias. a:nnunciar a Aleixo a hora de seu tran­
Bm conse• qucncia cl'essa vida cheia de sito. Depois de rer recebido os santos
privações, mudou-se-lhe consicleravel­ Sacraimentos, escreveu num papel o cur­
mentle a physionomia; tanto assim que so da sua vida. Declarou naquclle escri­
,etmpregaclos do pae, vindos a Eclcssa, e:111 pto que era Aleixo, filho do senador Eu­
sua procura, não o conheceraim, embora phemiano; que se tinha afastado dos
elle os tivesse conhecido muito bem. seus, para melhor poder servir a Deus.

Santo A.lc'ixo - Bolland. IV. Nerlnlo, de templo et conoblo SS. Bonlfacli et Alexli. As­
semanni Calend. unlvers. ad 1.7 Mart.

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17 de Julho 55

Segurando o papel na mão, entregou o em grande pranto. O mesmo fizeram a


espirito a Deus, sem dar o menor signal mãe e a esposa de Aleixo.
de agonia. O acontecimento, logo que se torno;;
Euphemiano achava-se na egreja, as­ conhecido, fez com que numeroso povo
sistindo com o Imperador Honorio á affluisse á casa de Euphemiano, para
santa Missa, vêr e wdmirar
celebrada pelo o corpo do
Paipa Innocen­ S a n t o, que
cio I, quando d e i x a v a de
s1e ouviu nma ,exi,stiir. Mila­
voz desconhe­ gr1es que Deus
cida, annun­ se dignou fa­
ciando a mor­ z,er por inter­
te de um gran­ :medio ele seu
de Santo na servo, torna­
ca:sa ele Eu­ ram a i nd a
phenniano. Es­ mais conheci­
te, sendo per­ do o fado ex-
guntado pelo trnordinario.
Papa · e pelo O corpo ele
Impe rad o r, Ale1xo ficou
que g r a n d ,e e x post;o du­
·servo hospe­ rante oito elia:s,
dava em casa, na Egreja de
disise: "A não S. Pedro. De­
ser o pobre pois foi srepul­
mendigo, quie taclo no mon­
hosp ed o ,em te Aventino,
minha ca:sa ha onde o acha­
,d e zesete an­ ram em 1226.
nos, não sre1 Hoje os res­
de quem se tm mo1·taes ele
posrsa tratar". Ale i x o des­
Pressurüsüs c a n ç a m na
foralm para a Eg ré j a que
caisa do sena­ traz os nomes
dor e lá acha- 1
de São Boni­
ram morto o �I facio e Santo
pobre mendi­ A:J,eixo.
go. Euphomia­ Santo Aleixo REFLEXõES
no viu-lhe nws Euphemiano, ·perguntado pelo Papa e pelo Impera­ Abandonar a
dor que grande servo hospedava em sua casa,
mãos o papel. disse: "A não ser o pobre mendigo que hospedo em c a s a paterna,
minha casa ha dezesete annos, não sei de quem se dizer adeus aos
Curioso por possa tratar." pra z e r e s, ás
saber o que honras e rique­
continha, tdmou�o das mãos do fallecic o zas, para levar uma vida pobre e austera é
l

e cdmeçou a ler o que estava escripro. heroiS/mo, que todo o mundo admira �m
Santo Aleixo. Mais admiravel é a virtude
Quelm descreve a surpr·esa, a· alegria, que este Santo praticou, durante os dezesete
a dôr e tantos outros sentimentos, que annos que viveu desconhecido, em casa do
invadiram o coração do pobre pae ! pae, exposto a toda sorte de tentações e per­
Sem poder pronunciar uma palavra, vina, seguições. O homem, ajudado pela graça di­
não conhece difficuldades.
prostrou-se aos pés do filho e rompeu De vez em quando fazes tenção de levar

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56 17 de Julho

uma vida mais piedosa e virtuosa. Fir­ nado, valor nenhum tem. Ganhará o pre­
mes te parecem teus propositos de tra­ mio da corrida aquelle que desiste do
balhar sériamente na tua santificação. concurso, antes de ter chegado ao ponto
Com a mesma facilidade com que te terminal ? " (S. Gregorio).
decides a servir a Deus, abandonas
os teus salutares propositos e o dia Santos do Martyrologio Romano, cuja m.c-
cio zelo é a vespera da tibieza, do desanimo, 111,oria é celebrada hoje:
do relaxamento. Não é esse o caminho da Em Milão a memoria de Santa Marcelli­
santidade. Não é bastante começar, tomar na, irmã de Santo Ambrosio. Na Basillca de
boas resoluções - é necessario, é indispen­ S. Pedro em Roma recebeu o véo das mãos
savel perseverar até o fim. As tentações, do Papa Liberio.
que o mundo te prepara, deves, a exemplo Victimas da revolução franceza (1794)
de Santo Aleixo, combater com toda ener­ morreram em Paris desaseis religiosas car­
gia. "O bem começado, porém não termi- melitas de Compiégne.

17 de Julho

Santa María Magdalena Postei


(t 1846)

ili ARIA Magclalena Pos,tel nasceu lia era realmente ele Deus. Para aper fei­
�íllJ ,anJI 28 de NoV1ambro de 1756 em çoar e completar a educação ele sua fi­
Bar fleur na Normamlia. Filha de paes lha, os paes a confiaram ás religiosas
pobres, teve a felicielaelc ele dcllcs rece­ Bencdictinas ele Valognes. De volta para
ber uma educação solida e profunda­ casa paterna abriu uma escola para me­
mente religiosa. Confiança illimitacla cm ninas pobres que com admiravel abnega­
Deus e conformielacle com a sua santa ção e constancia manteve durante o pe­
vontade eram as virtudes preciosas que riodo ela Revolução.
os bons paes soubernm implantar no co­ Mais cio que lhe teria sido possivel no
ração ele sua filha, que, menina ainda, mosteiro, sua viela de professora no
com preferencia dizia esta oração: "Meu mundo era ele sacrificio e de continua­
Deus, que quereis ele mim ? Tudo que da penitencia. Durante sessenta annos
é meu, é vosso, por vosso amor quero ficou fiel ao seu systema penitenciaria,
soffrer, e tudo sacrificar". Durante uma ele não se alimentar ele outra cousa si­
forte trovoada disse a pequena Julia, não ele uma pequena ração cliaria ele
( era este o nome ele baptismo) : "quan­ sopa e de pão secco.
do relampeja e troveja, ninguem ousará Seu grande interesse pelas cousas ele
offencler a Deus; eu queria que trove­ Deus e sua confiança na Divina Pro­
jasse sempre". O grande amor que ti­ videncia tiveraim a mais completa conn­
nha ás crianças pobres, fazia-a repartir probação durante os dias ela persegui­
com ellas tudo que possuia. Na escub ço e do terror ela Revolução. Mais ele
e no catecismo era a mais attenta e ap­ uma vez a jovem professora correu ris­
plicada de todas as alumnas. Na eclade co ele perder a viela. Sua actividade ca­
ele nove annos offereceu a NOSS() Se­ tholica e sua piedade eram considera­
nhor seu voto de castidade. A uma se­ das crime de lesa-patria. A's insisten­
nhora a que a pieclacle ele Julia parecia cias elo seu clirector espiritual ele tra­
exaggerada, a mãe respondeu: "a me­ tar ela segurança de sua vicia, respon­
nina é de Deus e não ela senhora !" Ju- dia: "Aqui ficarei, e si Deus quer que

Santa Maria Magdalena Pastel - Encyclopedla de Espaza. - Vida dos Santos de L. Beer
- Bulia da canonisação.

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17 de Julho 57

morra, bem: então morrerei". Só uma volução nem por um dia suspendeu as
cousa parecia-lhe insupportavel: não aulas de sua escola. Intimada de aca­
ter perto J csus Sacramentado. Por is­ bar com as instrucções religiosas e
so requereu o privilegio de o poder hos­ obedecer á nova Constituição, respon­
pedar em sua casa. Si era pobre a mo­ deu: "Eu ensino o que bem entendo".
rada de Jesus, o amor de sua serva Assim camprehendia ella a liberdade
compensava a pobreza. Dia e noite fa­ com que os hQmens da revolução pre­
zia ella guarda deante do humilde sa­ tendiam felicitar a humanidade. Apezar
crario, pedindo perdão a Deus pelas do grande numero das suas alumnas,
blasphemias, pelos crimes dos homens não foi violado o seu santo segredo. A
e pelo sangue innocentemente derrama­ communhão diaria foi a doce recom­
do, que bradava ao céo por vingança. pensa. J ulia possuia o privilegio de, em
Quando os sicarios vinham revistar sua caso de necessidade, dar-se a si pro­
casa, ella os recebia corajosamente, mas pria e a outras pessoas a santa comunu­
como guarda intrepida se punha deante nhão, servindo-se para isso de uma pin­
do santo Sacramento, e do seu coração ça de prata.
evolava esta supplica: "Meu Deus, Dez annos durou a tempestade da
guarclae e defendei o vosso sacrario e perseguição, e já era bem sensivel a fal­
não permittaes que o profanem, pelo ta de sacerdotes. Foi então que Julia
menos, emquanto não tiver derrnrnaclo a Postei redobrou a sua actividade, ani­
ultima gotta do 1111eu sangue !" Com mando os fracos, exhortando os fortes
uma calma ad.miravel se punha deante e abrindo aulas publicas de catecismo.
cios homens do terror e dizia-lhes: "Po­ Como este seu apostolado causasse a
dem os senhores .revistar á vontade", e admiração de uns, a inveja de outros,
assim falava quando o sacerdote, ter­ resolveu abandonar a sua terra natal
minada a missa, ainda se achava ern e acceitar um convite da municipalida­
oração deante do altar e os paramentos de de Cherbourg. De uma piedosa
estavam cobertos apenas por um aven­ creança a quem dispensava seus cui­
tal. dados nos dias de doença e a quem as­
Era visível ·a protecção, que Deus sis, tirn na hora da morte, teve a preclic­
dispensava á esta actividade heroica da ção de ser fundadora de uma nume­
"virgem sacerdotal". Nunca um desses rosa Comjmunidade religiosa. A voz ela
indesejaveis farejadores da revolução creança moribunda foi a voz de Deus.
conseguiu penetrar nos seus aposentos Em Cherbourg, ao padre Cabart, sa­
sagrados. Mesmo nos tempos mais agi­ cerdote de excellentes virtudes, propoz
tados e cheios de perigo soube encon­ seu p1'a1no de furn<laT uma Congregação,
trar padres que celebrassem a santa que teria por fim educar a mocidade no
Miissa no siliendo da noite, e assim reno­ aimor á piedade e ao trabalho e assistir
vassem as sagradas particulas. Durante aos pobres e doentes. A' pergunta clu
annos deu asylo a sacerdotes persegui­ sacerdote, de que lmeios dispunha para
dds; ajudava-os na fuga, levava-os á tal emprehendimento, respondeu: "Do
cabeceira de doentes e agonisantes, pro­ trabalho das minhas mãos".
curava ella mesma as sagradas especies, An�ada pelo bispo de Coutrances,
quando, pelo perigo que havia, os mi­ a 8 de Setembro de 1807, fez votos de
nistros de Deus não se podiam aventu­ religião, adoptando o nome Maria Ma­
rar sahindo do seu esconderijo. gdalena. Os primeiros annos das "Fi­
As creanças preparava-as com cuida­ lhas da Misericordia" foram de prova­
do para a primeira communhão, levan­ ções, soffrimentos e de privações sem
do-as depois a uma eira afastada, onde conta. Por algum tempo a fundadora
o sacerdote pudesse exercer as suas andou de um Jogar para o outro sem en -
funcções. Durante o tempo todo da Re- contrar um campo de acção para suas

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58 17 de Julho

Filhas. A pobreza chegou a ser ex­ e sua palarvra animava a tocla:s, em horas
trema. tão tristes e afflictivas.
Bemfeitores e entre elles o proprio Maior ainda que na confiança e,in
director espiritual de muitos annos al­ Deus, mostrou-se em sua humildade,
vitmralm a dissolução da Cammunidade na lucta contra o airnor proprio. Aucto­
ou sua filiação a utma outra já consoli­ ra ela regra da sua Con1municlade, ha­
dada. A madre Maria Magda,lena a es­ via mais que trinta annos, ella e
tas suggestões com toda firmeza se op­ suas filhas a observavam com toda a
poz, certissima de que sua fundlação pontualidade. Houve a autoridade dio­
em obra da Divina Providencia. "E' cesana por bem, de lhe aconselhar 'l
verdade, dizi'a eHa, que mil vezes esta acceitação das constituições pela Santa
escondeu a mão até o ultimo momento, Sé approvadas dos Irmãos das escolas
mas nunca deixou os seus no aban­ christãs de S. João de la Salle. Sem op­
dono". pôr a minima difficuldade a Madre Ma­
A municipalidade de Tamerville ce­ ria Magclaliena acceitou a proposta, cou­
deu á pequena Communidade um anti­ sa tanto mais para se admirar, porque a
go convento. A Madre Maria Magda­ pessoélls ,idosas, já por si mais conserva­
lena pôde então desenvolver a vida re­ doras, custa abandonar praticas antigas,
ligiosa com todo o fervor. Sessenta e pa:ra trocal-a,s cdm novas, colmpletamente
dois annos já contava ella, quando, em alheias ao seu modo de viver e pensar ;
obediencia ás leis vigentes, teve de su­ no emtanto a superiora, com seus oi­
geitar-se a um exame para demonstrar tenta e dois annos, no dia da profissão
sua competencia como professora e sobre as novas constituições disse com
educadora. toda a satisfação de sua alma: "Era
isto, que Deus de nós queria".
Em 1832, sem dinheiro algum e só
confiando na Divina Providencia, ad­ Assim, segundo a expressão de Pio
qumu as ruinas da abbadia benedictina X Santa Maria Magdalena Postei ai ·
Saint Sauveur le Vicomte. Em pouco cançou o sumimo gráo da perfeição". O
tempo surgiraJm egreja e convento, e mesl rno Papa compara-a com S. João B.
grande era o contentamento das reli­ de la Salle, quanto ao Apostolado do
giosas; quando por occasião de uma ensino, e com Santa Thereza d'Avila
formidavel tempestade, a torre restau­ pela santidade de sua vida.
rada havia pouco, partiu no meio, e na Deus recompensou largamente o sa­
sua queda destroçou tambem o edificio crificio e a virtude de sua fiel Serva.
adjacente. O desanimo era geral. Pare­ �m frequentes extases communicou�
cia claro o protesto de Deus contra os lhe segredos da luz divina. Grande era
planos altivolantes da fundadora. Esta, seu poder sobre os corações. Deus lhe
porém, conservou sua calma e a con­ revelava cousas secretas. Quando afinal
fiança em Deus. "Bemdito sejaes, Deus se dignou de acceitar da nonagenaria o
meu, - assim exclamava, - vós nos sacrificio da vida, tantas vezes offere­
humilhaes para nos exaltar mais tarde". cido, 'esta com o semblante transfigu­
Ccim espirita prophetico disse: "Deus rado ele paz e alegria, exclamou por va­
quer a nossa obra, estou certa disto. rias vezes: "Como sou feliz !" Assim
Para completar as obras da egreja, não na paz com Deus, anciosa por estar a
nos faltarão os meios. Mas eu só do elle unida, morreu em 16 de Julho de
céo verei sua reconstrucção. 1846.
Apezar dos seus oitenta e quatro an­ O Papa Pio XI canonisou-a a 24 de
nos, á frente das suas irmãs, removia Maio de 1925, sendo_ assignado no
o entulho, separava e limpava as pe­ Martyrologio Romano a sua festa a 17
dras ainda prestaveis; cü'Ill seu exemplo de Julho.

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18 de Julho 59

REpLEXõEs "Foi a Deus que nos consagramos; assim


sendo, entreguemo-nos a Elle sem reserva".
Sentenças de Santa Maria Magdalena "Nosso Senhor é um Deus cioso. Não
Postei: acceita o coração só pela metade; quer
"Façamos o bem na medida do possível, possuil-o todo e sem restricções. Quer o que
e possivelmente sempre em segredo". lhe pertence: a arvore e o fructo".
-H-++❖❖❖❖-.'-l--:--Ho❖❖ ,Hulu:ulul•-H+-'.-❖❖❖❖ : : : •I : H : : : H : : : : : ·H-+❖-1-❖❖+-H l❖�.P..❖

18 de Julho

S. CAM I L LO D E L E L L I S
(t 1614)

� ÃO Camillo nasceu no anno ele ta nova posição se dedicou exclusiva­


� 1550, em Bacchianico, cidade cio mente ao serviço dos enfermos. Obser­
reino de Napoies. O dia do nascimento vando que os enfermeiros assalariados
foi o da morte de sua mãe. Na eclade muito mal cumpriam o dever e os po­
de 6 annos perdeu o pae, official cio bres doentes, devido a esta circumstan­
exercito. Do pae parecia ter-lhe vindo cia, s,offrialm muitos vexames e priva­
a predilecção pela vida militar. Mal sou­ ções, Ca.millo começou a occupar-se
be ler e escrever, alistou-se no exercito com o problema ele adquirir enfermei­
e, moço de 18 annos apenas, tomou ros que, eguaes a elle, tomassem este
parte numa ca:mpanha contra os turcos. encargo sómente por amor de Deus. A
Gravemente doente, voltou a Roma, on­ conselho de S. Philippe Nery, organi
de foi internado no hospital dos incu­ sou uma Irmandade religiosa, cujos
rave1s. A paixão, porém, pelo jogo fez membros se obrigavam a tratar dos
que o clemittisseJm d'aquelle estabeleci­ doentes, sem para isto aspirar a outra
mento. Posto na rua, doente, pobre, recompensa, a não ser a de Deus. Os
procurou serviço como servente ele pe­ pdmeiros poucos irnnãos eram leigos,
dreiro, trabalhandQ . �1 seguida numa aos quaes mais tarde se associaram al­
casa que os capuchinhos estavam cons­ guns sacerdotes. Adquiriram uma casa,
truindo. onde moraram em communidade. Esta
Apesar dos erros commettidos, Deus tomou incremento e em bem pouco tem­
não o abandonou. Uana conversa que teve po, CamiUo tevie necessidade de abrir
cdm o guardião do convento, abriu-lhe os institutos identicos na Italia, Sicilia r,
olhos. Largou do jogo, fez penitencia outras partes da Europa. Seguindo
e invocou a misericordia divina. Cattnil-· ainda o conselho de Philippe Nery e o
lo tinha então 25 annos. Entrou na Or­ exemplo de Santo Ignacio, apesar dos
dem dos Capuchinhos, onde fez o novi­ seus 32 annos, voltou ao estudo e rece­
ciado e passou depois para os Francis­ beu o sacramento da Ordem. Sacerdote,
canos. Estes, porém, não lhe consenti­ podia, além de medico corporal, ser me­
raim a per1manencia na Ordem, por cau­ dico das a!imas.
sa d'urna ulcera que tinha no pé e que A bulia da canonisação enaltece a
pelos medicas fôra declarada incuravel. virtude da caridade, que fez Camillo
Acabrunhadissimo, dirigiu-se ao hospi­ ser urna verdadeira mãe para os doen­
taJl de São Thiago, f1l1 Rolma, onde foi tes. Serviço não havia, por mais hU1mil­
acceito e, por U!ma feliz circu stancia,
1m de e repugnante que fosse, que Camillo
ndrneado administrador do mesmo. Nes- não prestasse aos doentes. A caridade

S. Oamillo die Lellis -- Vogel, Leben der Helligen Gottes. II. 748.

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60 18 de Julho

chegou-lhe ao extremo por occasião da Viatico das mãos cio Cardeal Ginnasio,
peste em Roma. Embora doente e sof­ a.migo e protector ela Ordem. Vendo a
frendo dores horriveis no pé, ia de casa sagrada Hostia, disse, com as lagrimas
em casa, procurando, soccorrendo e con­ nos olhos : "Alegro-me por me terem
solando os pobres doentes. Numerosos dito que entraremos na casa do Senhor.
são os casos, em que foi visto levando Reconheço, Senhor, que sou dos pec •
ás costas os doentes c10 hospital, onde cadores o maior e indigno ele receber
os tratava com o maior carinho. Quan­ vossa graça; salvae-me segundo a vos­
do a peste fez entrada em Milão e No­ sa misericordia. Ponho a minha confian­
la, Caimillo acompanhou-a levando com­ ça nos merecimentos do vosso precio­
sigo a caridade, que o fez praticar ma­ sissimo sangue". Tenninou a vida no
ravilhas de mortificação e zelo aposto­ anno ele 1614, tendo 65 annos ele ecla­
lico. E' de admirar que Deus reco1m­ de. Em 1746 foi canonizado por Bento
pensasse seu servo, dando-lhe diversos XIV. S. Cannillo é padroeiro cios ago­
dons sobrenaturaes, de que este se apro­ nizantes.
veitou para salvar as almas ? Muitos
doentes recuperaram a sande só pela REFLEXÕES
palavra e oração do Santo. Muitos se
O jogo é um vicio detestavel pelos pre­
converteram dos peccados, por lhes ter juízos (]Ue causa, material e espiritualmente.
Caimillo mostrado que estes eram a O jogador perde o dinheiro, o tempo e a
causa ela doença, e o perig-o de viver consciencia. Si ha jogos que não encerram
em peccado mortal. o perigo de perder dinheiro, pelo menos exi­
Caimillo era hwnilde e, por causa gem o sacrificio do tempo, que de todos os
da humildade, o homem mais que­ bens materiaes é o mais precioso. Geral­
mente não são muito amigos da oração os
rido de Roma. Chorando sempre os (]Ue se entregam ao jogo, e a piedade é vir­
peccados da mocidade, dizia-se indigno tude que menos cultivam. Assim o jogo, em
ele morar entre os homens e merecedor si um divertimento indifferente, se torna
do inferno. Palavras de elogios entris­ facilmente uma paixão perigosa, que arrui­
teciam-no e irritavam-no. Não permit­ na a vida material e afasta a alma de Deus
tia que o chamassem fundador d'w11a e do ultimo fim, que é felicidade eterna.
Ordem e depois de 27 annos de Supe­
rior, pediu que lhe tirassem este fardo,
Santos do J,fartyrologio Romano, cuja me­
e o puzessem debaixo da obediencia. moria é celebrada hoje:
Camillo era caridoso para com os ou­
tros e severo para comsigo. Muito do­ Em Tivoli o martyrio de Santa Symphoro­
sa, esposa de S. Getulio. No mesmo dia sof­
ente, soffria muitas dôres, mas nunca freram o martyrio seus filhos Crescencio, Ju­
se lhe ouvia da bocca uma palavra de liano, Nemesio, Primitivo, Estacteno, Euge­
qtteixa ou gemido de dôr. Tendo cleante nio e Justino. Symphorosa recebeu bofeta­
das no rosto, foi suspensa pelos eabellos,
de si seus peccados e o inferno por el­ atirada ao rio. Seus filhos foram amarrados
les merecido, menosprezava a dôr, por em postes e mortos pelo punhal. 2 ° sec.
mais intensa e cruel que fosse. Em Silistria, na Rumania, o santo martyr
Gravemente enfermo e desenganado Emiliano, que foi precipitado num forno
pelos medicas, Camillo recebeu o Santo alto. Era Imperador Juliano Apostata.

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19 de Julho 61

19 de Julho

S. VICENTE DE PAULO
(t 1660)

e ÃO VICENTE DE PAULO, tlhn anno em que este era levado ás pasta­


� dos maiores amigos da humani­ gens. De preferencia levava o gado a um
dade, sacerdote zelosissimo, homem logar no fundo do matto, onde havia
apostolico como poucos, santo, entre os uma ca:pella de Nossa Senhora. Ali fa­
Santos um dos zia ;muita ora­
ma10res, na:s­ ção e cantava
ceu e'm Pony ,em honra da
(França), ttn Ra inh a do
1576. De con­ céo. As flores
dição humil­ ma 1 s bellas
de, os paes qUJe encdnt'I'a­
eralm gente pi­ va, deposita­
edosa e virtuo­ va-ais sobre o
sa. Propri-eta­ alta:r de Maria
nos de Ulma Santissi1111a . e
pequena her­ COIITI um cain­
dade, v1v1ai111 nho todo pa-r­
do t r a balho. ticular enfei­
Ed u c a r am tava a humil­
christãme n t e :de Capellinha.
•seis filhos, 4 Já nesta eda:de
homens e 2 icevielava prin­
mulheres, obri­ cipios de cari­
gando-os aos da<le, g 1.1 a .'r­
trabailhos no dando sempre
campo. Em trm boccado da
Vioente bem ref:eição para
cedo descobri­ os pobres. O
ralm os paies paie, observan­
um bdm cora­ do cam sia.tis­
ção e quailicla­ facção os be!l­
,des exoellentes los dotes do fi­
de espi r i t o. lho, quiz que
Como os ir­ elle estudasse.
mãos, Vioente Em quatro an­
e n t ·riegava-se nos Vicente ti­
a:os trabalhos nha feito tan­
elo campo. A tos progressos
occupação pre­ S. Vicente de Paulo nas sciencias,
dilecta do :me­ S. Vicente fundou uma Congregação feminina., á qual que pôde ser
nmo era Vl­ deu o nome de "Filhas da Caridade Christíi", que, profes ,s o r e,
segundo a idéa do seu fundador, destinava-se á. obra
giar o ga1do, da caridade nos hospitaes, nas parochias, nos asylos ensimmd o a
na:s épocas ·do e orphanatos. •outros, ganha-

S. Vicente de Paulo - Vogel, Leben der Heillgen Gottes. II. 762.

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62 19 de Julho

va o bastante para poder continuar os bre elle a grave suspeita de ter pratica­
estudas nos cursos superiores, sem CQl11 do um furto. A unica resposta que Vi­
isto exigir sacrificios do pae. cen�e clava ás accusações calumniosa,:,,
Deus, porém, quiz proporcionar-lhe era: "Deus sabe tudo". Só depois de
occasião de aperfeiçoar-se nas virtudes seis annos foi descoberto o verdadeiro
de perfeito christão, que são a mansi­ culpado, ou para melhor dizer, o ladrão
dão, a paciencia e a caridade. Numa que, não podendo já supportar os re­
viageJm que em 1605 fazia, de Marse­ morsos da consciencia, fez a declara­
lha a Narbonne, cahiu em poder de pira­ ção do crime.
tas tunisios, que o venderam coitno Pouco depois Vicente conheceu o
escravo a diversos senhores em Tunis. veneravel Berullo, fundador ela Congre­
Cdm grande conformidade, o Santo ac­ gação do Oratorio, e os dois homens li­
ceitou esta provação e hl.llmildemente se garam-s'e mn estreita amizade, para mais
sujeitou aos pesa:dos trabalhos, que se efficainrente poderem trabalhar pelo
lhe impunham. ü que mais o entriste­ bem da htimaniclade. Durante algum es­
cia, eram os diversos estratagemas que paço de tempo Vicente administrou a
os patrões empregava!m, para levai-o á parochia ele Clichi, onde trabalhou co1111
apostasia. O ultimo delles, a que!m pres­ grande proveito para as almas. Obe­
tou serviços ele escravo, era apostata, clitente á ordem dos superiores, accei­
que tinha tres mulheres. Uma d'ellas, tou o cargo de educador dos filhos do
movida pela curiosidade, acompanhava conde de Ivigni. Este genero de occu­
Vicente, quando este se dirigia ao tra­ pação clava-lhe tempo bastante para de­
balho no campo. Muitas perguntas lhe dicar-se á cura cl'almas, e foi ahi que
dirigia sobre a religião christã e pedia­ Vicente revlelou grandes aptidões para
lhe que cantasse uns canticos christãos. missionaria. A condessa de Ivigni, se­
Vicente lembrava-se da palavra da Sa­ nhora de grandes virtudes, deu o maior
grada Escriptura: "Como hei de cantar apoio aos trabalhos apostolicos de Vi­
em terra estrangeira ?" e cantava então cente, qute em seguida passou a pregar
o psaMmo que diz: "Nas margens dos missões aos encarcerados e aos condem­
rios de Babylonia assentavamos, choran­ naclos ás galés. O rei Luiz XIII no­
do a nossa terra", ou a "Salve Rainha". meou Vicente intendente das ga1éras
A mulher musulmana ouvia tudo cam francezas e esmoler real. Tres annos fi­
muita attenção, e cada vez mais se en­ cou o santo homem em Paris, occupando
chia de admiração pelas virtudes do �­ 'este cargo, quando o zelo pelas almas o
cravo christão. Tornou-se advogada 'levou a Marselha, onde haivia muiros
de Vicente junto ao patrão, a quem re­ cYaqU:eUes infelizes, conclemnaclos ás
prehencleu energicamente por ter aban­ galés. Vicente procurou-os e semeou
donado uma religião tão perfeita, como consolo e conforto nas almas d'aquella
é a christã. O apostata cahiu em si e desventurada gente, cuja triste sorte o
cdrnbinou cdm Vicente a volta para a commovia até ás lagrimas. Entre os al­
França. Em 1607 fizeram a travessia e gemados havia um, de porte nobre e fi­
chegaraln1 a Aigues Mortes. dalgo, qu'e se entregava a uma tristeza,
No anno seguinte vemos Vicente em que tocava ás raias de desespero. Vi­
Roma. cente interessou-se muito em particular
Os grandes e antigos santuarios mui­ por aqueI!e honl'em e conseguiu d'elle a
to o i!mpressionaram e, regressando 'a revelação de sua triste historia. Cumpli­
Paris, tinha a resolução firme de imi­ ce, si be!m que quasi forçado, de uma
tar o exeJmplo de virtude dos primeiros fraude, fôra condemnado ás galés, sa­
christãos. Em Paris se dedicou, por al­ bendo mulher e filhos entregues á mi­
guns annos, ao serviço dos doentes no sena. Vicente, que até então soubera
hospital. Aconteceu que lá cahisse so- muito bem disfarçar sua personalidade,

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19 de Julho 63

offereceu-se ás autoridades em logar S. Francisco de Sales votava-lhe tanta


do infreliz e conseguiu�lhe a libertação. estima e confiança, que o nomeou Su­
A ,mansidão, a caridade e paciencia de perior da Ordem da Visitação, quie, ha­
Vicente no rn!eio dos sentenciados, gente via pouco, fundára. Ainda outras cam­
de pessima especie, chalmou attenção. municlades religiosas ·se lhe confiarairn
Como os seus em Paris lhe ignorassejln á direcção.
o paradeiro, foram-lhe ao encalço, des­ No meio de tantas occupações, tinha
cobriram-no em Marselha e trataraJtn ainda uempo para tratar da sua propria
de libertal-o. Do teimpo de prisão res­ alma. Fossem quaes fossiem as occupa­
tou-lhe uma ulcera no pé, causada pelas ções, o coração d'elle estava sempre
grilhetas. unido a Deus. Nas maiores contrarieda­
E1n 1693 a Congregação fundada por des cons·ervava sempre calma e tran­
Vicente teve a approvação de Urbano quillidade de espirita.
VIII. Os sacerdotes pertencentes a essa Em todos os factos da vida, S. Vi­
Congregação fazem os tres votos sim­ cente reconhecia os planos J(!a Divina
ples 1nonasticos, da pobreza, castidade e Prdvidencia. Entregava-se-lhe confian­
obediencia e obrigam-se a trabalhar na temente, e outra cousa não procurava,
propria santificação, na conversão cios sinão a maior gloria de Deus.
peccadores e na formação do clero. Da Senhor abs10luto dos movimentos do
casa onde n1oravam as primeiros me,m­ coração, não se deixava desanimar ou
bros da Congregação, recebera.1111 estes inquietar pelas vicissitudes da vida. Hu­
o nome de lazarista:s. S. Vicente muito milhações, longe de o entristecerem, fir­
se elmpenhou pela organização de reti­ mava/m-110 cada vez mais na humilda­
ros espirituaes para sacerdotes e leigas, de. A humildade era a virtude que mais
e nesse empenho teve forte apoio do recolmmendava aos filhos espirituaes.
Papa Alexandre VII. Uma das regras principaes que estabe­
Não satisfeito ainda com os bellissi­ leceu sobre a humildade, foi esta: "O
mos resultados de sua actividade aposto­ religioso não fale dos seus proprios me­
lica, S. Vicente chamou á existencia r,ecimentos e evite chalmar a attenção dos
uma Congregação feminina, á qual deu outros para sua pessoa".
o nome de "Filhas da Caridade Chris­ S. Vicente alcançou a edade de 85 an­
tã", ou simptesmente "Irmãs de Cari­ nos. Embora bastante enfraquecido e
dade". Tão rapida foi a expansão d'es­ alquebrado, levantava-se ás 4 horas, di­
sa Congregação, que em breve só om zia Missa e dedicava tres horas á ora­
Paris, contava 30 casas. As "Irmãs de çã'o. O pensamento da morte era-lhe fa­
Caridade", segundo a idéa do fundador, miliar. Todos os dias rezava as orações
destinavalm-se á obra ela caridade nos da Egreja pelos moribundos. A morte
hospitaes, nas parochias, nos asylos e encontrou-o, pois, optim,amente prepa -
orphanatos. rado.
E' admiravel que um hoimem como S. Vicente morr-eu em 27 de Setetm­
S. Vicente, destituído completamente de bro de 1660, sendo-lhe o corpo sepulta­
bens materiaes, pudesse fazer tanto bem do na Egreja de S. Lazaro. Grandes e
aos necessitados. Quando Lorena, de­ numerosos milagres foram-lhe observa­
vastada pela guerra, offerecia um aspe­ dos no tumulo. A canonisação de S. Vi­
cto desolador, S. Vicente fez-sie mendi­ cente se realizou {jm 1737, e o Papa Cle-
go, angariando esmolas e donativos em 1111enre XIII determinou-lhe a coi111me-
beneficio das victimas da grande catas­ 1moração para o dia de hoje.
trophe, as quaes soccorreu com uma REFLEXÕES
quantia não menor de SOO contos ele réis.
1. Maior beneficio S. Vicente não podia
Querido e aimado por todos, todos dispensar aos christãos do que sacudil-os
viam $1 S. Vicente um Anjo do Céo. da lethargia da morte, em que se achavam

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64 20 de Julho

submersos. Como um segundo S. João Ba­ Apostolo - e vendo o irmão na miseria, fe­
ptista, abria-lhes os olhos sobre o estado char o coração diante da necessidade do
de peccado, em que se achavam e seme­ mesmo, será possivel que nelle fique a ca­
lhante ao grande Precursor de Jesus Chris • ridade de Deus ? Filhinhos ! Não é com
to, lembrava-lhes a necessidade de fazer palavras apenas e a lingua que devemos
obra de penitencia. E' um erro muito gran­ amar, mas effectivamente e em verdade.
de suppôr que ao céo possa razoavelmente Só tendo amor aos nossos irmãos, pode­
aspirar quem vive sempre entre a virtude mos saber que da morte passamos á vida,
e o vicio, hoje praticando aquella e amanhã pois aquelle que não ama, fica na morte".
se entregando a este, ou em outras pala­ (1. Jo. 3.) Quantas occasiões se não te
vras, no caminho para o céu não se acha offerecem para fazer caridade ! Quantas
quem hoje é christão e pagão amanhã. Que vezes a graça de Deus não te impelle, pa­
dizer daquelles que trilham constantemente ra te compadeceres de teu irmão, visitares
o caminho do peccado, sem se incommodar um pobre doente, soccorreres uma familia
com os abysmos, que, ameaçadores, se em grandes necessidades, consolares pobres
abrem de todos os lados ? As paixões des - viuvas e orphãos ! Não te escuses, dizendo:
ordenadas são os guias falsos, que levam o não tenho nada com isso; que se arran­
homem á loucura, á cegueira, á impiedade. jem; que trabalhem; porque não fizeram
O homem abandonado por Deus ou por ou­ economia, como eu ? Si estão soffrenclo, é
tra - o homem que abandona Deus, embora porque assim querem. E' essa a linguagem
seja um portento de sabedoria, cáe de erro de um christão ? Lembra-te ela palavra de
em erro, commette os maiores desatinos, Christo, que diz: "Ai dos ricos ! Mais fa­
porque fecha os olhos áquella luz que veiu cil é um camelo passar pelo orificio de uma
para todos. agulha, do que um rico entrar no céo ! "
2. Grande era o amor de S. Vicente ao
proximo. Esse grande amor fazia-o achar
mil modos de soccorrer o pobre, o necessi­ Santos do Martyrologio Romano, cuja 11ie­
tado. E tu, como és cruel, insensivcl ao sof­ moria é celebrada hoje:
frimento de teu irmão ! Cuidas que nada
te falte a ti, que nada tenhas de supportar Em Colasses, na Phrygia, a morte de San­
embora teu irmão soffra, passe fome, sêdc to Epaphras, companheiro de prisão de São
e miserias, morra de privações soffrida,. Paulo.
E' assim qu·e se cumpre a grande lei da Em Sevilha o martyrlo das santas virgens
caridade, que obriga ter ao proximo o mes­ Justa e Rufina. Foram torturadas barbara­
mo amor que a nós temos ? "Christo deu mente e encarceradas. Justa exhalou sua al­
a vida por nós; assim devemos dar nossa ma na prisão. Rufina foi decapitada.
vida pelos nossos irmãos" - ensina São
João; e tu não te incommodas nem um Na Cappadocla a memoria da Santa Vir­
pouco com o soffrer de teu irmão ? "Si al­ gem Macrlna, Irmã de S. Basllio e de Gre­
guem tiver bens de fortuna - diz o mesmo gorlo de Nyssa.

20 de Julho

Santa Margarida, Virgem e Martyr


( t 275)

1m'.' ESTEJADA e venerada na Egre­ foi educada na religião christã. Dotada


� ja Oriental, a perola de Antiochia, das mais bellas qualidades de espírito
adorna tahnbenn os altares da Egreja e de coração, sob a influencia da piedo­
Occidental. Filha unica <l'um nobre sa­ sa mestra, a menina, qual flôr viçosa,
cerdote idolatra de Antiochia, na Pisi­ era o encanto de todos, pela innocencia
dia, Margarida perdeu bem cedo a mãe, e pureza angelica. O pae reclamou-lhe
sendo confiada aos cuidados de uma a presença em ca:sa e tinha orgulho �e
aia, e por esta, J.onge <la casa paterna. possuir uma filha tão prendada e vir-

Santa Margarida - Buli. V. Raess e Welss IY

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65
============
20 de Julho

tuosa. Apesar de pagão, admirava em guma, o sacerdote mandou a filha para


Margarida o espirito de abnegação al­ o caJtnpo, condemnanclo-a a trabalhos
tissima e a propensão para as coisas do rudes, ao lado das escravas. Margarida,
céo. Extranhou, porém, que nunca fosse longe de por isto se entristecer, louvou
aos templos assistir aos sacrificios e a Deus, que a julgara digna de soffrer
nunca, por pa­ J:ielo nome de
lavra siquer, Christo.
tocasse no cul­ Pa:ssa<lo aJ!­
to dos deuses. gtim tempo, o
Não lhe podia pae chamou-a
ficar occulto de novo, na
p o r mu ito esperança de,
tempo que desta vez, con­
Mar g a r i d a s,eguir s·er obe­
f r e q uentava decido. A o s
as reun i õ e s rogos, ás ame­
nocturmvs dos aças, ás pro­
christãos. messas e ás
Com voz al­ imprecações, a
terada de dôr donz e 11 a só
e ira, pergun­ uma resposta
tou - Ih e um teve : "Jairnais
dia: "É ver­ renunciarei a
dade que adhie­ minha fé, e
res á doutrina prampta estou
do Crucifica­ para derraJmar
d o?" S em o meu sangue
c o n s t rangi­ por J e s u s
mento algum, Christo, que
e cc�rn inoom­ derr a 111 o u o
paravel mansi­ seu por meu
dão, Margari­ ·a1nor".
da e o n f e s­ Fóra ·de si,
sou : "Sim, co­ obcecado pela
n h eço Jesus paixão e pelo
Christo e odio, o pae
almo-o de todo denunciou en­
o coração." O tão a filha ao
pae pediu-lhe Santa Margarida Priefeito Oly­
pelo amor aos Diz a Lenda, que na noite que precedeu ao ultimo in­ brio, para que,
deuses, p e 1 a terrogatorio perante o juiz, appareceu-lhe o demo­ por ser chris­
nio em forma de um dragão que respirava fogo.
honra <lo seu Margarida venceu a tentação; fez o signal da cruz tã, fosse jul­
sace r d 10 e i o, sobre o monstro, agrilhoou-o, e cantou o. verso do gada pelas leis
q u e abando­ Psalmo 90: "Sobre o âspide e basl!isco andarâs, e •e m v i g o r.
calcarás aos pés o lei'io e o dragão."
nasse essa ab­ Olybrio, en­
jecta religião. Margarida, poréun, com cantado pela fo11mosura de Margarida,
grande affabilidacle lhe respondeu: "Meu empregou todos os meios de aunabilida­
querido pae, oxalá tenhaes tambem dc, blandicia e promessa, para conse­
a felicidade de conhecer e adorar o guir que abandonasse a religião christã.
Deus verdadeiro". Vendo que com "Lastimo a,ssás teu erro, - disse dle -
boas palavras e promessas nada conse- e u1111a vez que' os deuses te deran1 bel-
Luz Perpetua 5 - II vol,

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66 20 de Julho

1'eza tão singular, fazes mal em ser-lhes nha alma, queima apenas _o meu corpo;
ingrata. Reflecte bem ! Estão em tuas o fogo <lo inferno, porém, queimará não
mãos: aJlta distincção ou morte igna;rni­ só teu corpo, mas ta1mbe111 tua alma e
niosa". Margarida respondeu: "Despo­ qudmal-os-á eterna1111ente". Olybrio deu
sada que estou com Jesus, nunca remm­ então ordem de mettel-a em agua
ciarei ao céo, para receber o pó da fria, para assilm augmentar-lhe ainda
terra". mais o martyrio. No mesmo mo­
Enfurecido com essa resposta, repu­ mento se sentiu um forte tremor de
tada insoJ.encia, Olybrio deu ordem a terra, as radeias cahiram das mãos e dos
que Margarida fosse açoutada com va­ pés da martyr, e esta sahiu da agua
ras, estendida sobre o cavallete e o cor­ mais bella ainda, não lhe apresentando
po raisga<l:o com ga:nchos de ferro. Tão o corpo nem o mais leve signal de quei­
cruel foi esse processo, que o povo e os madura. Ouviu-se uma voz, como que
proprios carrascos reprovara.'111 uma sen­ vinda do céo: "Vinde, esposa de Chris­
tença tão deshumana. to e recebei a corôa que o Senhor vos
MaJrga:rida de novo foi levada ao preparou para sempre". Muitos d'aquel­
carcere e ahi, do fundo ·d'alma, agra­ les que presenciaram aquella scena, pro­
deceu a Deus a honra do martyrio, fundamente commovidos, se converte­
cam que a distinguira, e a graça que lhe ra:m ao Christianismo e declararam-se
concedera, da perseverança. promptos a morrer com Margarida.
No dia seguinte Margarida foi inti- O Pref,eito, completa.mente desorien­
1macla a ccm1piarecer novamente deante tado pelo que succedera, recorreu á for­
do Prdeiro. Este não pôde disfarçar a ça bruta e ordenou a decapitação de
admiração, quando a viu completamente Margarida. Ouvindo esta sentença, Mar­
restabelecida, trazendo no semblante a garida prostrou-se de joelhos, agradeceu
expressão de grande alegria. "Não ha a Deus a graça do martyrio, rezou pela
negar, disse Olyhrio, és a privilegiada santa Egreja, pela sua terra, pelo juiz
dos deuses. Fornm elles que te curaram e curvou a cabeça para receber o golpe
e não querem que morra a filha do seu ela morte. Morreu em 275, sendo-lhe os
sacerdote. Rende-lhes graças e não lhes restos martaes sepultados pelos chris­
negues culto, a que têm direito !" Mar­ tãos, que sdbre a sepultura erigiram
garida corrigiu-o, dizendo: - "Assfan uma Egreja bellissima.
não é. Teus idolos inanimes não têm o
poder que lhes attribues. Só Jesus Chris­ REFLEXÕES
to dá a saúde ao corpo e á alma, só elle Santa Margarida deveu a fé á educação
que recebera da piedosa aia. Que teria sido
é que consola e conforta. A elle seja da­ cl'ella, si Deus não lhe tivesse dado esta
da gloria eternalmente". bemfeitora ? Este pensamento deve inci­
O effeito cl'estas palavras foram no­ tar-vos, paes christãos, a dar uma boa e
solida educação a vossos filhos. "Os filhos
vos torimentO'S. Olybrio ordenou que são um dom de Deus e o fructo das entra­
Margarida fosse assada viva, sobre cha­ nhas é sua dadiva ". (Ps. 126. 4.) Deus vos
pas de ferro em braza e, dirigindo-se á responsabilisará pela educação que déstes a
donzella, com escarneo lhe disse: "Bem­ vossos filhos, e ai de vós, si estes se per­
derem por vossa culpa ! E' tarefa difficil­
clize agora a teu Jesus Christo, de quem lima educar christãmente os filhos, mas
te dizes esposa; dize-lhe que te ajude, convem lembrar-vos ela grande recompen­
que te livre do fogo, si estiver em seu sa, que vos espera na outra vida, si tiverdes
cumprido rigorosamente o vosso dever.
poder. Quem sabe si ainda preferes re­ "Maior alegria não conheço - diz o Apos­
ceber de 1mim este favor". - Margari­ tolo S. João, - senão quando ouço, que
da respondeu-lhe, com admiravel calma: meus filhos andam na verdade". (2. Jo. 4.)
"Tens razão, mas farias muito bem, si Que maior consolo pôde haver para paes
e educadores do que saber que os filhos, o:;
não te quizesses esquecer do fogo eter­ alumnos, progridem em edade e desenvol­
no. Este fogo aqui não chega até a mi- vimento physico, como tambem em virtude

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21 de Julho 67

e santidade I Filhos bem educados são a symbolo da victorla do chrlstlanlsmo sobre


alegria, a esperança, o consolo dos paes. Na o paganismo. E' padroeira das parteiras, dos
eternidade ser-lhes-ão a corôa, a gloria. camponezes e das virgens consagradas d
Com a maior satisfação estes poderão apre­ Deus.
sentai-os ao divino Juiz, e dizer-lhe: "Eis­ No monte Carmelo o propheta Elias, no
me aqui -e os meus filhos, que me déstes ". tempo dos reis Achab e Ochozias. Durante
(Jo. 8. 18.) "Conservei os que me confias­ o tempo da sua fuga, do rei Achab e de sua
tes". (Jo. 17. 12.) - Que infelicidade., po­ mulher Jezabcl, um corvo trazia-lhe sua ra­
rem, para filhos e paes, si estes, não cum­ ção diarla de carne e pão. Sua indumentaria
prindo o dever, pela palavra e pelo exem­ eram pelles de camelo e um cinto de couro.
plo, lhes prepararem a eterna perdição! Quando houve grande secca no paiz, foi a
Que maldição pezará sobres elles, a maldi-_ Sarepta, multiplicou milagrosamente a fa­
ção dos proprios filhos, a maldição da rinha e o azeite na casa de uma viuva, cujo
Egreja de Christo a maldição do proprio filho morto resuscitou. No monte Car­
Deus e de seu divino Filho, que tudo sacri­ melo confundiu os sacerdotes de Baal, cha­
ficou, até a vida, para a salvação de todos! mando fogo do céo sobre o altar do Altlssi­
mo ... Perseguido pelas iras de Jezabel, se
Santos do Mcirtyrologio Rornano, ciija me­ retirou para o monte Horeb e ungiu seu
moria é celebrada hoje: successor Ellséo. Conseguiu a conversão de
Em Antiochia a Virgem martyr Santa Achab e predisse a Ochozias a proxima mor­
Margarida, que é do numero dos quatorze au­ te ... Eliséo viu-o subir ao céo num carro
xiliadores; na Egreja oriental é conhecida de fogo, dahl a tradição, confirmada por
com o nome de Macrina. Segundo a lenda Nosso Senhor (Math. 17, 11) que, como He­
é ella a princeza libertada. e defendida por noch, não morreu, c que ha de voltar para
S. Jorge. Com S. Jorge partilha a honra de a terra. Na transfiguração de Nosso Senhor
na Egreja oriental ter o titulo de Megalo­ no monte Thabor, appareceu junto com Moy­
martyr, isto é, a grande martyr. 304. Na ar­ sés, como conta o Evangelista. E' egualmen­
te chrlstã é representada tendo aos pés um te venerado pelos Judeus e Mahometanos.
dragão vencido pela cruz. Devido a sua vida O anno elo seu nascimento é 012 a. Chr. E'
um tanto Icndaria as suas apresentações Padroeiro da Ordem Carmelitana. (Vide a
são variadíssimas. Parece que a Egreja festa de Nossa Senhora do Carmo, 16 de Ju­
oriental reconhece em Santa Margarida o lho).

21 de Julho

SÃO VICTOR, MARTYR


(sec. IV)

IMPERADOR Maximiano, cujas Tal actividaclc não podia passar des­


"W
1�
mãos ainda gottejava!m do san­ percebida ás autoridades e assim acon­
gue da legião thebaica e de muitos ou­ teceu, que um dia Victor fosse levado á
tros martyres, pelo fim do sectt!o ter­ prlesença dos Prefeitos Asterio e Euty­
ceiro, chegou a Marselha, onde existia chio, para vir a juizo. Sem ligar a rni­
uma florescente communidaclc ele chris­ nima importancia ás objecções, argu­
tãos. Essa chegada fez aos fieis prevê­ mentações e ameaças cios juizes, Victor
rem dias de terror. Victor, official do defendeu seu modo de pensar christão,
exercito, estacionado em Marselha, apro­ mostrando aos pagãos a insania do culto
veitando-se das horas ela noite, visitou cios cleuses. Por ser Victor pessoa de
todas as casas onde sabia que morava.'111 clestaquie, do tribunal cios Prefeitos foi
christãos e animou-os a perseverarem leva:clo á presença cio Imperador. As
na fé, ainda que fosse preciso fazer o alllleaças não puderam influir na conclu­
sacrifício supremo. cta do official, que francamente decla-

S. Victor - Actas authent. de S. Victor. Ra ess e Woii;;� IX. Tillemont IV. Celllier III.

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68 21 de Julho

rou ao tyranno querer mais obedecer a a barbaras tratos, foi reconduzido a:o
Deus que aos homens. Maximiano orde­ carcere.
nou que, atado de mãos e pés, fosse ar­ Tres dias depo-is foi citado perante . o
_
rastado pelas 17.ms da cidade, e exposto tribunal imperial. Maximiano ex1gm
á furia do populacho. que prestasse homenagem a Jupiter, cuja
O plano de enfraquecer o animo do estatua se achava sobre U!m altaT, erecto
martyr, fracassou inteiramente. Vendo­ ele proposito naquelle Jogar. Victor de
se novamente deante dos juízes, disse­ passo firtne se adiantou até o altar e
lhes: "Aos vossos deuses só posso votar com um forte pontapé derrubou a ar­
desprezo. Creio em Jesus Christo; se­ mação toda, junto com a estatua. O im­
jaim quaes forem os tormentos a que me perador encolerizou-se sobremodo e,
deixando-se levar pelo furor, mandou
queimes condemnar, dar-lhe-ei fideli­
dade". que decepassem a Victor o pé, com que
cdmmettera tão horrivel sacrilegio. Exe­
Asterio condemnou-o em seguida ao cutada esta ordem, Maximiano quiz que
equuleo, sobre o qual o martyr ficou es­ o ma:rtyr fosse amarrado numa roda de
tendido longo tempo. Os olhos dirigidos moinho em movi'mento. A roda imme­
ao céu, Victor pediu a Deus força, para diatalmente o fez em pedaços e, horrivel-
soffrer até o fim. J,esus Christo appare­ 1nente mutilado, foi tirado o corpo de
ceu-lhe, com uma cruz na mão e disse­ Victor. A espada pôz-lhe tenno aos sof­
lhe: "A paz seja oomtigo, Victor. Sou frimentos. No momento em que lhe ro­
eu, que na pessoa dos meus Santos sof­ lou a santa cabeça, ouviu-se uma voz do
fro desprezo e dôr. Estou ao teu lado céo: "Tua é a victoria, Victor bemaven­
com minha protecção e, uma vez alcan­ turado". O corpo do Santo, junto com
çada a victoria, serei tua recompensa no os cadaveres cios companheiros, foi lan­
céu. Age virilmente e tem animo !" Es­ çado ao mar. Cdmo apparecessem e1m
ta apparição confortou-o maravilhosa­ outro Jogar da praia, os christãos reco­
mente. Na noite seguinte viu uma luz lherann-nos e deram-lhes honrosa sepul­
fortissima illuminar o carcere, onde se tura, na cavidade d'uma rocha.
achava. Anjos vieram e cantaram lou­
vores a Deus. A sentinella, composta de REFLEXõES
tres soldados, ao verem taes cousas, S. Victor preferiu soffrer os mais crucis
prostraralm.-se deante do Santo, pedin­ tormentos, a negar a fé. Pela firmeza ga­
nhou mais tres companheiros, que junta­
do-lhe perdão e a graça do santo baptis­ mente com elle foram martyrisados em tes­
mo.Victor instruiu-os na religião ( á 1111e­ temunho da fé. Confessar a fé em Nosso
did
· a que a estl'eiteza do tempo per­ Senhor Jesus Christo, é dever de todos
mittia), mandou chamar um sacerdote, nós. Si não temos de defender a nossa fé
perante os tribunaes dos imperadores de
que ainda na mesma noite os baptizou. Roma e ouvir as mais terriveis ameaças
Estes tres convertidos eram Alexandre, contra a nossa vida e nossa fortuna, pelo
Longino e Feliciano. menos obrigação nossa é dar ao m,undo
o exemplo de catholicos praticantes, isto é,
O Impemdor, tendo conhecimento do de praticar as vinl:udes christãs, evitar o pec­
occorrido, deu ordem para que Victor cado e edificar o proximo pelo bom exem­
plo. Essa fidelidade á nossa religião exige
e os tres companheiros fossem na pra­ de nós que defendamos a nossa fé, quando
ça publica expostos ao ludibrio e á sa­ vil e cobardemente atacada ou ludibriada.
nha do povo. Em eloqnente discurso Ser christão de facto é não dar ouvidos a
Victor animou os recem-convertidos á intrigas, maledicencias, conversações im­
moraes e murmurações contra a autorida­
firmeza na fé christã. Tão operosa nel­ de. Ser christão, em verdade, quer dizer
les se verificou a graça divina, que pre­ desprezar o respeito humano, e seguir sua
feriram o martyrio á liberdade. Todos convicção religiosa sempre e por toda par­
te, embora isto nos traga situações des­
0s tres foram condemnados á morte agradaveis e humilhantes. Quantas vezes,
pela espada. Victor, novamente sujeito para agradar ao mundo, negaste a Christo

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22 de Julho 69

e violaste tua consciencia I Lembra-te da tas. No anno de 605 antes de Christo acom­
palavra de Jesus, que diz: "Quem se en­ panhou seus patricios para o grande capti­
vergonhar de mim e de minhas palavras, veiro de Babylonia; foi educado na cõrte im­
delle o Filho do homem se envergonhará, perial de Nabuchodonosor, onde gozava de
quando vier em sua majestade, rodeado de grandes privilegias. Não obstante as machi­
gloria e dos Anjos". (Luc. 9. 26). nações dos seus inimigos conseguiram sua
condemnação. Daniel foi lançado na caverna
dos leões, que nada lhe fizeram. Daniel sal­
vou a casta Susanna, interpretou a inscri­
Santos do Martyrologio Romano, cuja mr,­
pção enigmatica, que apparecera na parede,
moria é celebraria hoje: e prophetisou as 70 semanas de 7 annos ca­
Na Babylonia o propheta Daniel, da tribu da uma. E' padroeiro dos mineiros.
de Judá, o quarto entre os grandes prophe- Em Strassburgo o bispo Santo Argobasto.

22 de Julho

Santa Maria Magdalena


( t sec. I)

!iD,CCUPAMO-NOS hoje de uma a tradição que aquella vivenda tenha


'� Santa, em cuja fronte não fulgura sido a resiclencia de Maria Magdalena,
o diadelma das virgens de Christo, mas joven descendente ele familia nobre e
de uma santa penitente. Era Maria Ma­ rica, dota<:la de quaili<lad�s invejaveis de
gdalena conhecida na cidade por pcc­ corpo e espirita.
cadora, como affirma o Santo Evange­ Orphã de tenra edade, bem cedo ad­
lho, que relata a historia da conversão quiriu uma certa inclependencia, o que
d'essa alma predilecta de Deus. Dos es­ lhe foi perdição. Cortejada pelos jovens
pinhos da penitencia brotou-lhe a rosa mais distinctos; que lhe cubiçavam a
do amor. As lagrimas de arrependimen­ grande fortuna, Magda!lena deixou-se
to lavaram-lhe a veste maculada da airraistar para tim terreno perigosissimo .
alma. á vaidade, ao desejo de agradar. O re­
"Veni, sponsa Christi !" Vem, oh es­ sultado foi que, pouco a pouco, perden­
posa de Christo ! - é o cantico com que do a prudente reserva e o recato proprio
a Egreja entra hoje na festa de Santa ele t1ma donzella, deu ouvidos á voz se­
Maria Magdalena. Será passivei que es­ ductora da paixão. Na ambição de ser
tas palavras se appliquem a uma pec­ rainha dos corações, chegou a ser es­
cadora ? Será possivel que uma pessoa crava do peccaclo.
nas condições de Maria Magdalena pos­ Annos se passaram. Magdalena sor­
sa merecer o qualificativo honroso ele vera o calice do prazer até ao fun<lo,
esposa de Christo ? A corôa da innocen­ quando, um dia, o coração se lhe sentiu
cia, que perdera, foi substituída pela tocado pela graça divina.
corôa do amor penitente. As graças Quiz a Providencia divina, como por
abundantes que do Senhor recebeu, pro­ acaso, que o olhar se lhe cruzasse com
vam-nos o a'mor immenso que Deus tem o olhar sereno e magestoso do Divino
á nossa alma. Mestre. Pela primeira vez lhe veiu a
Nas margens do lago Genezareth ha­ comprehensão de que outra cousa, que
via, no tempo de Nosso Senhor, uma não a sensualidade, era capaz de
rica vivenda, chalmada Magdala. Quer ferir o coração humano: o amor cli-

Santa Maria Magdalena - Santos Evangelhos. Meschler.

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70 22 de Julho

vino. Bastou um olhar de Jesus Christo e Senhor, as lagrimas pressurosas estão


pa:ra dissipar as nuvens do peccado, que a substituir o nardo precioso. E assim,
offuscavann o espírito da pobre pecca­ prostrada aos pés do Mestre, não mais
dora; bastou um olhar de Jesus, para as retem, orvalhando-os abundantemen­
fazer derreter-lhe o gelo do coração. te com a ly:mpha preciosa do arrependi­
Foi uma circl.Jlrnstancia singular que mento. Não era o que queria; não era
trouxe Magdalena aos pés de Jesus. essa sua intenção; mas não mais passivei
A conversão ef fectuou-se durante um lhe é abafar o fogo, que lhe invade o
banquete. Assim o tinha detertninado a peito; não 1111ais resiste ao calor abraza­
Providencia Divina. Aquella, cujo pec­ clor, que lhe arde no coração. Não tem
caclo tinha sido publico, devia ,prestar palavra para dizer o que lhe vae n'afana.
reparação publica. Escrava ela sensuali­ Mais eloquentes são as lagrimas, que
dade, por occasião d'um grande banque­ gotteja.m sobre os pés ele Jesus. Grainde
te devia derramar lagrimas de peniten­ saencio fez-se na sala, interrOjmpido só­
cia. Com santa impaciencia o divino rn,ente pelos discretos soluços da mulher.
Pastor tinha esperado a volta da ove­ No meio da dôr que lhe dilacera o
lha perdida. Si acceitára o convite dn coração, corno se sente bem ! Opprimi­
phariseu para o banquete, era com a es­ da pelo peso dos crimes, sabe que está
perança de encontrar aquella ovelha. aos pés d'Aquelle que é a Caridade. O
Reunidos os convivas, em meio do unico olhar que teve a felicidade de re­
banquete, apparece a figura da pecca­ ceber, cios olhos do Filho do homem,
dora. Nas mãos tremulas segura um disse-lhe que está aberta a porta do per­
vaso de alabastro, com unguentos precio­ dão a todos, - tambem a ella o está.
sos para, segundo o costume do paiz, Entre os convivas corre um malicioso
ungir a testa e o cabello elos que jaziam cochichar : "Si este fosse propheta, de­
á mleza. A rica cabeUeira cáe-lhe desor­ vieria saber quem é essa mulher, e não
denacl:aitn�nre sobre as espaduas, e o bello permittir que o tocasse". Têm elles ra­
rosto traz-lhe estaimpadas a tristeza e a zão e quom de nós, em seu Jogar, teria
confusão. formado conceito contrario? Mas Jesus
O phariseu, vendo-a entrar, finge não Christo assim não pensa.
ligar importancia ao facto. Para elle V enclo os pensa:mentos dos phariseus,
Magclalena é uma decahida, objecto de disse a Simão: Um credor tinha dois
desprezo. Que não se atrevesse a che­ devedores; um devia-lhe quinhentos di­
gar perto, para ungir-lhe a cabeça ! nheiros e o outro cincoenta. Como não
Eis que a pobre mulher se approxima tivessam cdm que lhe pagar, perdoou-lhes
do Cordeiro de Deus. Estupefacção ge­ a divida a ambos. Qual dos dois lhe fi­
ral ! Mas o olhar da peccadora nã·o ou­ cará querendo mais bem? Simão respon­
sa enfrentar a luz do Sol divino. "Re­ deu: "Penso que é aquelle a quem per­
tro", diz o Evangelho, - ele costas se doou maior somma". Jesus disse-lhe:
chega aos pés elo divino Salvador. "Jui gaste bem". ];: voltando-se para a
Pouco se lhe dá que a persigam olha­ mulher, disse a Simão: "Vês esta mu­
res malevolos e a firam censuras sar­ lher ? Entrei em tua casa, e não me ,dés­
casticas. Uma só cousa quer, uma idéa te agua para lavar os pés; ella os regou
a occupa: obter o perdão d'Aquelle com as lagrimas e enxugou com os ca­
que veiu trazer a salvação. bellos. Não me déste o osculo da boa
Eil-a, de joelhos, perante o Senhor vinda; e ella não cessou, desde que entrou
da viela e da morte; eil-a na presença aqui, de beijar...me os pés. Tu não me
do juiz. Palavra nenhuma os labios lhe derraJmaste oleo perfumado na cabeça;
articulall11. A dôr embarga-lhe a voz. Dos ella me ungiu os pés com perfumes. Por
olhos lhe jorra a fonte amarga da pe­ isso te declaro: Muitos peccados lhe são
nitencia. Si viéra par:i ungir a seu Deus perdoados, porque ella amou muito. Pois

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22 de Julho 71

ama menos a quem menos se perdôa." rece ao eterno Pae, em expiação dos
Silenciosa, tinha ouvido essas pala­ peccados do mundo. Com o mesmo ar­
vras a peccaclora. De joelhos, os olhos dor com que na mocidade se entregava
ainda elmbaciados de chorar, timidos e aos paroxismos da paixão, que a devo­
confiantes, procuraram o rosto do Se­ rava, ,sem que se deixasse incommoclar
nhor. O coração diz-lhe que já achou pela critioa, que a cens-urava e invectiva­
o perdão; sen­ va, assim na
te pousar so­ hora suprema
bre o olhar ela do s a crificio
caridade, que sanguúnolento,
purifica, per­ no Golgortha,
doo e eleva. a vemos ao
Como l h e pé da cruz,
jubila o cora­ cdm a fideli­
ção, quando o da d e inque­
B 01111 Pastor bra:ntiavel, cn­
se lhe diirige, t r e g ue ao
cqm palavras amlor divino.
doces c o :m o Esse rnesfmo
·mel: "Te u s ajmor, na m,a­
peccados estão clrug a d a ela
pe r d o a d o s. Paschoa, a le­
Tua fé t e sal- vou a:o tumu­
vou;· vae em lo do querido
paz". Mestre, para
Elia se le­ rece b e r re­
vanta e, silen­ compensa su­
c10sa com o peralmndante.
v1em, s-e reti­ Tendo achado
ra. N ã o é vasio o siepul­
mais peccado­ chro, lá se
ra. Per<lda)fa, deixou ficar,
santificada, in­ debulhada em
tei r ame n t e ,lagrirnas. Ais­
t r ansfom1ada sim chorando,
a a�ma de Ma­ se d e b ruçou
gdwlefna nada sobre a sepul­
em felicidade, tura. Ahi viu
a b razada de do,is a n j o s,
almor divino, ves,t i dos de
de um amar branco, assen­
forte, duravel Santa Maria Magdalena tados em la­
e eterno. Na casa do phariscu Simão, prostrada aos pés de gar elo corpo,
.Jesus, recebe o perdão dos seus peccados.
No monte urn á cabecei­
Calvaria encontraimos a santa peniten­ ra, outro aos pés. Elles lhe disseram :
te, enrtre as almas eleitas de Nosso Se­ "Mulher, porque chorns ?" Elia respon­
nhor Jesus Christo. Surda aos gritos deu : "Porque tiraram meu Senhor e não
bliaspheimos de uma multidão sacrílega, s-ei onde o puzeraim". Então se voltou e
inid:ifforentle aios �norejos sarcasticos e viu Jesus em pé, mas siem o reconhecer.
injuriosos, a attenção concentra-se-lhe Ouviu: "Mulher, porque choras?" Elia,
toda na vict�a, que na cruz se of fe- pensando foss,e n jardineiro com quem

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72 22 de Julho

estava falando, diss·e-lhe: "Senhor, si ria vivido mais trinta annos, depois da
fostes vós quetm o tirou, dizei-me onde o Ascenção de Nosso Senhor Jesus Chris­
puzestes e irei buscaI-o". Jesus disse­ to e passado esse tempo todo numa gru­
lhe: "Maria !" Elia se virou e respon­ ta, onde se entregára á pratica de pe­
deu : "Ra.bboni ! " ( isto é, Mestre!) nitencias as mais austeras. Seja como
Essa unica palavra, "Ma.ria", foi o fôr, o certo é que Maria Magda.lena.,
bastante para tirar-lhe o véo dos olhos. Rainha elas almas penitentes, entre as
"Ma.ria !" - nome que pronunciado santas mulheres, cxcepto Maria Santís­
por Nosso Senhor, despertou na alma sima, é a ma.is venerada pelo povo chris­
de Magda.lena. uma longa serie de remi­ tão, graças ao seu grande/amor a Deus
mscencias. e extraordina:ria penitencia.
O nome de Maria, falado naquella
REFLEXÕES
occa.sião por Jesus Christo, era a ex­
pressão synthetica de uma historia, de Em Maria Magdalena temos o exemplo
de como uma grande peccadora se conver­
lima vida inteira. Dizendo "Maria", Je­ te, tornando-se grande Santa. A' mão d'es­
sus Christo exprimira tudo que se tinha te exemplo, os peccadores devem conven­
passa.do, entre elle e a penitente. cer-se de que a grandeza e o numero dos
Na caJSa de Simão fôra o juiz, que a peccados não é motivo para se entregarem
ao desanimo, ao desespero. Como Maria
tratára de mulher, dizendo-lhe: "Mu­ Magdalena, tambem poderão alcançar o
lher, vac em paz. Teus peccaclos estão perdão das faltas, desde que, semelhantes
perdoados". No dia da Resurrcição, á grande Santa Penitente, se resolvam a
Magda.lena, ouvindo seu nome de Ma­ fazer penitencia. O inicio da conversão de
Maria Magdalena foi a audição da palavra
ria, pronuncia.do pelo Salvador resusci­ de Deus. Ha muitos, que permanecem nos
taido, reconheoe a voz do Paie. peccados, porque fogem da palavra divina.
Desde aquelle cli'a, o 11(Jtl11c de Maria Grande foi a mortificação, a que Maria
Magda.lena, ela santa penitente ele Mag­ Magdalena se sujeitou, quando na presença
de muitas pessoas, prostradas aos pés do
clafa, Apostola dos Apostolos, é pronun­ Divino Mestre, fez a confissão publica. Da
cia.do com respeito pela leitura do Evan­ mesma fórma deve o peccador humilhar-se,
gelho da Resurreição. caso queira praticar penitencia e obter per­
dão dos peccados. Deus não lhe exige con­
O santo Evangelho nada ma.is diz fissão publica, mas a declaraç�o dos pecca­
de Ma.ria Magda.lena.. E' prova.vel que dos ao sacerdote, no tribunal da penitencia.
tivesse esva.do presente á grandiosa. ma.­ Lembre-se o penitente de que é mais facil
ni festação do Divino Espírito Santo, acceitar a humilhação da confissão, do que
soffrer penas eternas no fogo do inferno. -
no dia de Pentecostes. Egua.lmente é de Maria Magdalena não pediu outra cousa,
suppôr que, junto com os santos Apos­ sinão o perdão dos peccados. Muitos se ap­
tolos e Maria Santíssima., tenha assisti­ proximaram de Nosso Senhor, para pedir­
do á Ascenção de Nosso Senhor. lhe allivio nas afflicções. "Mas esta, - diz
S. Chrysostomo, - pediu a saude da alma,
Um escriptor grego, referindo-se á a libertação das cadeias do peccado e foi
Maria Magda.lena, affirma que a mes­ attendida immediatamente". E' um aviso
ma, depois da Ascenção de Nosso Se­ para nós, que antes de tudo devemos pro­
nhor, se mudou com Ma.ria Santíssima curar o bem da nossa alma e pedir a Deus
as graças necessarias para salvai-a.
e S. João Evangelista, para Epheso, on­
de teria morrido santa.mente.
Ha. uana outra lenda, segundo a qual Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
a falmilia. de Lazaro, isto é, La.za.ro,
Martha. e Maria Magda.lena, para evi­ Em Philippi a memoria de Santa Synty­
che, diseipula do apostolo S. Paulo.
tar as pe1.1Seguições que os judeus lhes
fa.zia!m, teriam fugido da Pa.:Iestina. e fi­ Em Lisbôa S. Lourenço de Brindlsi, Su­
perior geral da Ordem dos Capuchinhos, e
xa.do residencia. em Marselha.. Diz a um dos mais illustres filhos de S. Francisco.
mesma lenda que Maria Magda.lena. te- Dotado de bellos talentos, fez extensos estu-

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23 de Julho 73

dos e occupou successivamentc os mais altos A salvação da Europa do poder dos turcos
postos na sua Ordem. Desta maneira teve é de grande parte o merecimento de sua
occasião de conhecer quasl todos os palzes activldade e de sua oração. Por ultimo foi
da Europa. Seus serviços foram reclamados embaixador da Allemanha junto ao governo
para trabalhos importantes da diplomacia. da Hespanha. 1619.

23 de Julho

São Francísco Solano, Míssíonarío


( t 1631 )

'U ATURAL de Montilia, na Anda­ rantiu-lhes o salvamento certo no ter­


i� luzia, S. Francisco Solano viu a ceiro dia, prophecia esta que teve fiel
luz do mundo em 1549. Menino ainda. cumpdmento.
revelava o dom da conciliação. Contra­ Chegado a Lima, pouco se demorou
rio por indole a toda a sorte de discor­ naquella cidade, para dirigir-se a Tucu­
dia, fazia empenho em pacificar os ani­ man, futuro caimpo de acção do joven
mas, quando, por qualquer motivo, ti­ missi-onario. Os ultimas cinco annos de
vessem se azedado uns contra os outros. vida, Francisco Solano passou-os nova­
Francisco Solano contava 20 annos, mente em Lima, para, em cumprimento
quando tomou o habito de S. Francisco de ordem superior, restabelecer a dis, ci­
de Assis. Religioso exemplar que era, plina interior monastica da Ordem.
mereceu a confiança dos superiores, que Foi esse um tempo abençoado, em que
successivaimente lhe entregara/lTI cargos pelas praticas, quer nas Egrejas, quer
importantes da Orde'm. A occupação nas praças publicas, fez um bem enor­
principal ele Francisco, polrém, era a .me a muitas almas. Uma das praticas
prégação. Sem clispôr de dotes extraor­ 1mais importantes foi aquella, que em
dinarios de rhetorica, a palavra ardente, 1604 fez, numa praça publica de Li­
dictada pela fé e convicção, arrebatava ma. Qual Jonas aos Ninivitas, prégou
os ouvintes, conduzindo lmilhares de pec­ Francisco Solano aos Limenses peniten­
cadores ao redil de Christo e consolidan­ cia, sob pena de terriveis castigos de
do a rodos no amor e na pratica das Deus. Os Libnenses fizeram penitencia,
virtudes. que de pouca duração foi ; pois pouco
Ntfma occasião em que a peste asso­ depois cahiram nos mesmos vicios, que
lava o paiz, foi Francisco Solano um o missionario, servindo-se da expressão
dos primeiros a pedir para ser acceito de S. João Evangelista, indigitá!ra: 'a
como enfermeiro. Atacado pelo terrivel concupiscencia da carne, a concupiscen­
.mal, recomeçou depois o serviço, no tra­ cia dos olhos ·e o orgulho da vida. Deus
t,.mento dos pobres doentes. Desejoso mand-ou um terreimoto, que causou hor­
de derramar o sangue pela fé, pediu ser riveils estragos na capital. A cidade de
enviado para a Amerka. Na travessia Trujillo, cuja população nenhum caso
naufragou a embarcação em que viaja­ fez dos avisos e ameaças do homem de
va, cdm mais um franciscano e 800 Deus, foi egualmenrt:e por Um terremoto
passageiros. Naquelle supremo risco, completalmente destruida.
além de dar provas de grande heroismo, Francisco Solano tinha o ddm das lin­
confortou os animos dos naufragas. Ga- guas. Em quinze dias se fez senhor da

S. Francisco Solano - Tlburcio de Navarra, O. F. M. Dldaco de Cordova e Affonso de


Mondielh. Boll. V. Raess e Weiss X.

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74 23 de Julho

lingua difficilliima dos Tuct1J111anos. Não aquellas paragens, Francisco Solélil1o con­
é só i•sto. Servindo-se de 1.l)ma lingua, duziu-:-os a um Jogar, a:pparentemente
os ouvintes, que ás vezes pertenciam a seqtüssimo e foi-os cavar a terra. Mal
div-ersa:s tribus, de idioma differente, tinham mettido a pá, qua:ndo appareceu
cdmprehendiaim-n'o tão perfeitannente, agua de qu.ulidade optima e em volume
ootmo si se ex­ tal, que foi
primisse 11a su fficientc pa­
lingua de cada ra fazer func­
um delles. cionar d o i s
Pela impo- moinhos. Mui­
1sição do cor­ t os doentes
dão do reli­ que beberam
gioso, muitos clnque.Jla agua,
doent•es recu- ficaram liwies
peraraim a sa:u­ dos seus m­
de. Remndo oammoclos.
sobre um me­ Era natural
nino que tinha que esres e
fa:llecido, este ainda outros
voltou á vida. factos extra­
Um individuo, onlinarios da
cujo corpo 1se vida de Fmn­
achava cober­ osco Solamo,
to de ulceras, concorréss -e m
ficou são, em v a 1 iosa:mente
conseq uen c i a para que de
de um osculo t o d o s fosse
que o Santo s u IITl'm'aimente
i'111p r i m i u a esti m a d o, o
uma das f.eri­ que não i1npe­
<lais, u n i c a­ cliu que o san­
mente c01111 o to missiona.rio
fito de morti­ não deixasse
ficar-se. E m de entregar-se
certa occasião, aos exerc1c1os
pela benção do da mais seve­
santo missio­ ra penitencia..
n:ario, uma re­ Ao corpo im­
gião inteira fi­ pôz o jugo
S. Francisco Solano
cou livre da maiis duro da
O Santo prega aos Indios Peruanos. Servindo-se
praga de ga­ de uma llngua os ouvintes que ás vezes pertenciam mortificaç ã o,
fanhotos, que a diversas tribus de Idioma differente, comprehen­ tanto que, pe­
aimea ç a va.!m diam-no tão perfeitamente, como si se exprimisse lo fim da vi-
na lingua de cada um delles.
devas t a r as da, se inc01111-
pfantações. Os Tucuma:nos queixav'alln­ moda:va co m o receio de ter-se excedido
se da falta d'a:gua, m.i;m lugar que lhes neste ponto. Uma visã-o, porém, que
tinha sido detennina:do para residencia. Deul'i lhe condedeu, na qua:l lhe foi mos­
Fra:nci-sco Sola:no a:ni\Inou-os a pôr toda trada sua futura gloria, tranquillizou-o
oonfiança em Deus e dirigir-lhe preces odmpletamente.
e suppJ.icas._ Pa:ss'a:dos uns dias, quando Caracterist:ica na vida de S. Francis­
os Tucumanos queriam já abandonar co Solano é sua a:legria espiritual. Nun-

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24 de Julho 75

ca ninguém o viu triste ou acabrunhado. a entender que mais temia o peccado, que
Nas horas livres colmpunha canticos, em a morte. De facto: o peccado é mal muito
maior que a morte. A morte em si, diz São
honra do Menino Jesus e de Nossa Se­ Chrysostomo, não é mal nenhum. O mal
nhora e cantava-os, ao som do violino. verdadeiro é o peccado. A morte mal ne­
O Jogar seu predilecto era a egreja, onde nhum pode causar ao homem, que se acha
penmanecia horas em profunda adora­ em estado ele graça. O peccado, porém,
causa-lhe a infelicidade eterna, quanto ao
ção ao SS. Sacraunento. A santa Missa corpo e quanto á alma. Que pensas do pec­
por ellc celebrada paattia a de um Anjo, caclo grave ? Pertences áquetla classe de
e edificava a todos que a assistiam. pessoas que nenhuma importancia lhe li­
Pessoas de alta posição social, por gam, e vivem em peccados, sem se incom­
modar com a penitencia, que deviam fazer?
exemplo o vicie-rei do Perú, tinham por Si assim fôr, máo signal é; pois os filhos
grande distincção poder ajudai-o na ce­ de Deus têm horror ao peccado; d'etle fo ·
lebração ela santa Missa. gem e preferem a morte a offender a Deu,.
Pede a Deus que te dê verdadeira compre­
Por uma graça especial divina, Fran­ hensão do peccaclo e, sabendo uma vez quão
cisco Sola:no teve conhecimento prévio grande mal é, como S. Francisco, preferi­
da morte. Dois mezes antes, adoeceu rás a morte a commetter um só peccado.
gravemente, atacado de febre. Longe ele
se entristecer, conformou-se perfeita­
mente com a vontade de Deus. Dava­ Santos do Mart11rologio Romano, cuja me­
lhe graças, por ter-se incumbido de in­ moria é celebrada hoje:
fligir-lhe os castigos, que pelos pcccados Em Ravenna o martyrio de Santo Apol­
merecera. Nos dias da doença, não lar­ linarls, bispo sagrado por S. Pedro, delle re­
gava a �magem do Crucificado, colm o cebeu sua missão para prégar o Evangelho
qual entretinha os mais ternos e com­ em Ravenna. Seu zelo apostolico excitou o
fanatismo dos pagãos. Teve um martyrlo
movedores coll oquios. glorioso sob o governo de Vespaslano.
As ultimas palavras que proferiu, fo­
Em Le Mans a memoria do bispo São
ralm: "Deus seja bemdito". Llborlo, contemporaneo e amigo de S. Ma1·­
Francisco Solano morreu aos 14 de tinho de Tours.
Julho de 1631, tendo alcançado a eda­ Na Bulgarla o martyrlo de muitos chrls­
de de 64 annos. O Papa Benedicto XIII tãos, vlctlmas do odio atroz do Imperador
canonizou-o em 1726 e transferiu-lhe Nlcephoro.
a festa para o dia 23 de Julho. Em Roma a memoria das Santas Virgen1
Romula, Redempta e Herunda. 697.
REFLEXõES Em Roermund, na Hollanda, o martyrio
"Antes morrer do que offender a Deus" de sete sacerdotes, dois dlaconos e dois lei-
era o lemma de S. Francisco, dando assim gos, massacrados pelos calvinistas em 1672.
❖❖❖++-H-❖❖+-§o+,§""'""""""'
: : 1 : 1 : : §•+-§u§u§ ❖❖ 1 1 : ❖❖ l ❖ I• I• 1 :, 1 :, :u:u: 1 �<M •I• M• 1 1 1 1 1 1 1 :, 1 1 1 1
.. N

24 de Julho

SANTA JULITA
(t 303)

11\h IOCLECIANO, 'imperador roma­ reitos de cidadão. Sem defeza e protec­


g no, finmemente se propuzera a ex­ ção - assim calculava ô tyranno, -
tet1111inar a religião christã e para este entregues ás arbitrariedades dos inimi­
film, eJm 303, promulgou uma lei, que gos, os christãos haviam de abandonar
declarava os christãos privados dos di- a religião e d'essa maneira dar novo in-

Santa Julitta - Panegyrico de S. Basllio. Rulnart. III.

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76 24 de Julho

cremento ao paganismo romano, visivel­ fa:lleoer. A's compa,nheiras e ami,gas dis­


mente decadente. Não sabia que o chris­ se a!s seguin�es pala'VTI.s : "Não vos en­
tianismo colhe os maiores triumphos tregt1'eis á fraqueza e ao senti'mlenta!is-
quia:11Jdto é per!'leguido, e que a religião de 1110, quando é vosso dever soffr.er pela
Jesus Christo eleva a natureza sobre to­ vossa fé. Não vos desculpeis com a deli­
das as clifficulclacles e mi serias, dando­ cadeza do ViOSso sexo. Somos feitos do
lhe poder invencivel sobre o mundo e o mesmo barro que os homens; c011110 elles,
inferno. O martyrio de Santa Julita sdmos im:ag,ens de Deus. Como o ho­
confirma esta verdade. mlem, a mulher ta.m�m é creada e for­
Santa J ulita residia em Cesaréa, na mada por Deus e selmelhante ao homiern,
Cappadocia, onde possuia grandes bens é capaz de praticar todais as virtudes. Por
il�moveis, nufmeroso gado e muitos es­ i1sto Deus exige• de nós qu,e mostremos,
cravos. Mais que a nobreza, davam-lhe como os homens, uma firmeza inahala­
valor as bellas qualidades, as virtudes e vtel na fé, a mesma periseverança e pa­
a firtmeza de caracter. Por um dos po­ cienda nos sof frimentos".
derosos da terra fôra gravemente pre­ Foram estes os sentimentos que a
judicada e perdeu grande parte da for­ acdmpanharaim até á fogueira, á qual
tuna. Jufüa protestou contra a injusti­ subiu como rainha a-o throno. Deus re­
ça soffrida e apresentou a causa ao tri­ novou elm Santa Julita o milagre obser­
bunal. vado na imorte de S. Polycarpo: As la­
O juiz, corrompido pelo adversaria.. baredas formaram um arco, ao redor do
desde logo declarou que Julita, sendo corpo da mairtyr, sem lhe cansarem o
christã, nenhuma appellação tinha direi­ menor mal. Setm ser tocada pelas
to de faz,er, e das lei·s nenhttnm defeza e chammas, Santa Julita exhalou o espíri­
garantia havia de esperar, emquanto to. Os christãos obtiveram o cadaver da
permanecesse nas superstições religiosas ma:rtyr e sepultar,.m-no no adro da
do christianisrno. Foi mais além: Na Egreja principal de Cesaréa.
propria audiencia mandou que trouxes­ No Jogar onde o corpo <la Santa
sem incenso e fogo, querendo obrigar achou a ultim 1 a morada, appareceu uma
Julita a prestar homenagem a uma di­ fonte ele agua saborosa, quando a agua
vindade pagã. Resolutamente a nobre na redondeza era salgada e impotavel.
senhora respondeu: "Si quizerdes a mi­ · Muitos milagres glorificaram o tu­
nha fortuna, os meus bens, a minha pro­ mulo da serva t fiel discipula cio Se­
pria vida, tudo está ao vosso dispôr. nhor. S. Basilio, num elos discursos, a
Nunca, porém, conseguireis de mim que propõe a,os hdmens, como exemplo e mo­
diga ou faça com que offenda a Deus, delo na firmeza da fé, que deviam imi­
meu Creador". tar.
Brutal e injustissima foi a sentença REFLEXÕES
que se seguiu a essa declaração franca
Em defeza dos bens, contra injusta op­
e heroica. Não só o juiz legalisou o rou­ pressão, Julita appellou para a justiça le­
bo, de que Julita fôra victima, como gal. Vendo, porém, que os que a deviam
ainda a condemnou á morte pelo fogo. defender, eram os primeiros a declarar-se
Julita ouviu a sentença sem a menor contra suas justas reclamações; vendo mais
que a perseguição procedia do odio contra
perturbação e, longe de se queixar da a religião, Julita conformou-se com a sen­
injustiça, louvou a Deus por ter-lhe re­ tença injustissima, que não só lhe desfal­
servado graça tão preciosa, como é a do cou a fortuna, como tambem lhe exigiu o
sacrificio da vida - Está no seu direito o
martyrio. Os proprios pagãos admira­ christão, quando com o trabalho procura
raim-se da coragelm e firmeza, com que augmentar a fortuna e a defende contra
Jufüa acoeioou o julgamento e com pala­ injusta aggressão. Nunca, porém, lhe é li­
vras procurou ain�ma,r os christãos, cujo cito apegar-se ás cousas d'este mundo de
tal maneira que, para se lhe assegurar da
espirita, sob o peso brutal e fonnidavel posse, não recue deante de um peccad::i
das leis da perseguição, �eaçava des- contra Deus. Como Santa Julita, deve di-

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24 ele Julho 77

zer: "Tirem-se-me todos os meus bens, a seu! Até quando amontoa elle tambem
propria vida, si quizerem; longe de mim, contra si o lodo ? ... Ai d'aquelle que, por
porém, praticar um acto siquer, que des­ avareza criminosa, junta bens para estabe­
agrade a Deus ! " Si todos observassem es­ lecer a sua casa, afim de que lhe esteja
ta regra aurea, não haveria tanta lucta, em togar alto o ninho e que julga livrar-se
tanta discordia entre os homens, por cau­ da mão do mal. . . Mas a pedra clamará da
sa dos bens d'este mundo. "Ai daquelle - parede contra ti e o madeiramento que ser­
exclamou o propheta Jeremias, - que edi­ ve de travessão ao edificio, responderá".
fica sua casa na injustiça; e as grandes sa­ (Habacuc. 2-6).
las não em qualidade; ao amigo opprimirá
sem causa e não lhe pagará o salario. Que Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
diz: edificarei para mim uma casa espaço­ moria é celebrada hoje:
sa e magníficos salões... Acaso teu pae não Em Roma, na via Tiburtlna: S. Vicente,
comeu e bebeu e foi feliz, praticando a martyr.
equidade e justiça? Julgou a casa do Em Amirteno, nos Abbruzzos o martyrio
pobre e do indigente para bem seu; de oitenta e tres soldados.
e não foi isto porque me conheceu? Em Mérida, na Hespanha, S. Victor, offi­
c.iiz o Senhor. Mas os teus olhos e coração cial militar, com seus irmãos Estercãcio e
dirigem-se á avareza e a derramar san­ Antinogenes, na perseguição de Dioclecia­
gue innocente, e á calumnia e á carrei­ no. 3. sec.
ra da obra má". (J erem. 22. 13). "Ai Os santos martyres Meneo e Capiton.
d'aquelle, que accrescenta o que não é 3. sec.

24 de Julho

Santa Chrístína, Virgem e Martyr


(t 300)

� ORôi\ belliss,ma cinge a cabeça der achar ttma explicação plausivel para
\� ele Chriostina, menina de doze an­ a serenidade, a paciencia, a a1egria até,
nos, celebrada e exaltada nos fastos das cdm que os christãos soffriam toda a
Egrejas oriental e occidental. Embora sorte de crueldades. Curiosa de saber o
nas biographia:s desta Santa nem seiin­ motivo desta calnla, resignação e alegria
pre prevaleça perfeita concü'rdancia nos dos christãos no meio de tantos soffri­
rela/tos sobre sua orig1em e a vi,cla, algu­ mentos, inquiriu da:s eJmpregada:s e es­
ma cousa é aproveitavtel, e como certa, cmva:s, das quaes sómente 1.11111a soube
pode servir á nossa edificação. lhe dar a verda!dleira explicação, u1111a que
Christina era filha de Urbano, offi­ era christã e da qual riecebeu ta111bem as
cial do exercito em Tyro, na Toscana, pdmeiras instrucções sobre o christia-
homem ele rudes sentimentos e inimigo 1üsmo, e que a preparou para o santo
cio nome christão. Em sua casa havia baptismo, no quaJ lhe foi mudado o no­
tima especic de tribunal, e muitas vezes me elm Christina.
aconteceu que christãos, apanhados pela Urbano, sci·smado com o vivo interesse
soldadesca, ·soffressem duros vexaJmes da filha pelos christãos, e pela compai­
nos i·nrerrogatorios a que ÍOrajl11 submet­ xão que esta demonstrava, vendo-os
tidos. Chri-stina, priesencia11do ás vezes soffrer tanto, destinou-lhe um aparta­
factos e scenas impressionantes deste mento luxuoso, adornado de idolos ra­
genero, enchia-se de veneração áquellas ros e preciosos, aos quaes devia queimar
victill1las da intolerancia pagã, sC1111 po- incenso diarialmente, em pre.sença de ai-

Santa Ghristina - Hcil!genlegende de Lor. Beer., 2. vol. - Das Leben der Heiligem
Gottes de P. Otto Bitschnau. O. S. B.

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78 24 de Julho

g�mas 1escravas de confiança, que or­ horas mortas da noite sabia de sua resi­
dem tinham de velar sobre a fiel e pon­ dencia, assistia ás reuniões e ao santo
tual execução desta cerimonia de rito sacrificio dos christãos, visitava os en­
pagão. cwrcerados, aos quaes levava mantimen­
Christina por sua vez transformou tos e dava aos pobres tudo que possuía.
6Ua nova morada em oratorio, Sejl.11 en­ Justamente o almor aos pobres deu-lhe
tretanto accen­ c o r a g em a
der uma viela e ponto de des­
quieim a r in­ ped a ç a r as
censo ás ima­ imagens pre­
gens das di­ ciosas, e, pon­
vinda'des. As do-as á venda,
escravas deli­ desta maneira
cadalmente ad­ adqu i r i u o·,
vertiram : "Se­ meios para dar
re dias já são pão e subsis­
passados, e a tencia aos ne­
,senhora ainda cessitados.
n ã o rendeu O e f f eito
home n a g e m deste g e s t o
a o s deuses; não se fez es­
restes se irrita­ perwr. O pae,
rão contra nós posto a pair
e nos castiga­ dos aconteci-
rão"; a que 1111entos, furio­
Christina res­ •so, increpou a
pondeu: "To­ filha: "Insen­
lo é vosso me­ sata, é assim
do, tola a vos­ que te atreves
sa adverten­ a desrespeitar
cia; dea:nte de 'OS deuses ?"
um deus cego Christina, pro­
eu não accen­ curando des­
do uma vela; culpar, c o m
a um deus mansidão res­
surdo não pe­ pondeu:
ço favores; ao "1\tlws, meu
Deus vivo, ao pwe, não são
Se n h o r do deus e s estas
céo e da terra, Santa Christina imagens, que
siim, a este eu 1sua filha pô­
Rodeada de fogo, preza sobre a grelha, Christina
aprese n t o o canta as glorias de Deus. de pôr em pe­
sacri ficio da daç o s; são
verdade e do amor". As eni;pregadas r•e­ apenws figll!ms de metal, sem vida e
Iatarnm .a Urbano o que tinha aconte­ •S'em poder. Deus ha um só, o Eter­
ddo, e este ainda mais insistiu no fiel no, o Invisível; é esre o Deus que eu
c�mpri'mento das sua:s ordens, anneaçan­ aidoro". A resposta do pae foi uma
d'o com severa punição, caso Christina aggressão brutail, seguida da ordem
persistisse em negar culto aos deuses. a uns escravos, de applicar á filha des­
Christina não se perturbou e nem tão apiedadas chicotadas. A ex:ecução foi
pouco se dispoz a sacrificar ás imagens; tão barbara, que deixou a victima pros-

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24 de Julho 79

tracla tjm ulma poça de sangue. Não sa­ Elm altas vozes rendeu graças a Deus e
tisfeito com este rastigo, Urbano decre­ jubilosa cantou o louvor do Altissimo.
tou ainda o encarceramento de Chris­ Como tocado por um raio, Dio cahiu
tina. Elle mesmo, sobrennodo excitado, poc. t'eIT'a., morto. Muitas pessoas que
\'cxado e humilhado, fechou-se nos seus prerencia:raim esta scena, converteram-se
aposentos, não dando accesso a ninguelm. ao christianismo. Christina voltou para
Entre os parentes levantou-se um gran­ o carcere.
de rumor. Ao carcere forann em altos Pela terceira vez teve que passar pela
laancntos, entre lagri-mas, soluços e bra­ prova do fogo, mas a mão de Deus vi­
dos pcdiraun a Christina, cedesse á von­ siV'Clmente a protegeu. Mettida no meio
tade do pae. A donzella ficou firme. A 'de cobras venenosais, nenhuma serpente
tudo l1esponclia: "Deixar a vida, não me a offendeu. Mandou o tyranno Juliano,
custa; abandonar minha fé, isto nun­ successor de Dio, que lhe cortasstjm a
ca!" Urbano procedeu a outra tortura. lingua, !mas Christina, ainda assim, com
Mandou aimarrar a filha sobre a roda; V'OZ sonora cantou louvor a Deus, mila­
·esta movia sobre um brazeiro e, para in­ gre este que ganhou muitos pagãos a
tiensificair ainda as queimaduras em car­ Ohri•sto. Envergonhado pelos triumphos
ne viva, o deshumano pae mandou des­ ela jovem martyr, o tyranno deu ordei.11
pejar azeite sobre o corpo da martyr. O para que fosse m'orta a flechadas, or­
plano do carrasco falhou; pois um anjo dem esta que foi executada immediata­
appareceu em defeza da virgeb.11, e as nJente. Com ardente desejo Christina re­
labaredas, que Jhie deviam crnner as car­ cebeu no coração o golpe mortifero, que
nes, atacaram os carrascos, dos quaes fez sua al· ma voar para os paramos eter­
alguns rieceberam ferimentos graves, cm nos. Um pa!rc'nte, pouco antes converti­
cuja conseqt�encia mo·rrerann. Longe de do ao christiani�mo, deu-lhe -sepultura
-abandonar a sua ira, e perdoar a filha, honrosa.
Urbano nova ordem deu para clla ser
encarcerada. A tal ponto de exaltação
chegou, que teve um collapso, que o REFLEXÕES
prostrou morto. Que firmeza de fé admiravel numa me­
Chri-stina muito chorou o triste fim nina de doze annos, que era Santa Chris­
dle seu progenitor, e dia e noite pedia a tina ! Nada, nem louvores, nem ameaças, e
Deus a graça. para si da perseverança. muito menos applicações barbaras de re­
Dio, successor de Urbano, quiz offe­ quintada crueldade, como só odio cego a
recer occa:sião a Christina de se rehabi­ Deus era capaz de produzir, conseguiram
demovei-a do caminho da verdade e do di­
litar na religião offi.cial e ordenou que vino amor. - Firmeza, perseverança é de
fosse conduzida ao templo de ApoBo. todas as virtudes a mais necessaria, não
Apenas a donzella transpoz o limiar do só para os martyres, como tambem para
santuario, o idolo, cdmo movido por nós, que não nos vemos sujeitos a provas
mão mysteriosa, se despenhou do seu tão duras como Santa Christina.
alto pedestal, e qu1ebrou em pedaços. Começar bem não é difficil; difficil ain­
Deante deste facto Dio resolveu pôr da não é consagrar a alma a Deus; sem
termo ao processo e fel-o de u'ma ma­ maior difficuldade se consegue vencer nos
neira barbara. Mandou encher de azeite primeiros combates da vida religiosa; per­
e pi:x:e uma tina de ferro, collocal-a so­ severar, porém; resistir constantemente ás
bre o fogo e, estando em ebulição a hor­ tentações, vencer hoje e sempre toda a
riv1el mistura, deu ordem para que a me­
1 sorte de difficuldades; reagir firmemente
contra influencias malignas, remover obs­
nina fosse mcttida no fervedoiro. Chris­
taculos e empecilhos; praticar a virtude
tina Í'cz o signal da cruz, e, dispensando em circumstancias desfavoraveis, é cousa,
o auxilio de outra pessoa, se mergulhou que requer maior energia e fortaleza de es­
no liquido effervescente, sem que este pirito. S. J eronymo diz: "Muitos começam,
lhe produzisse a ltnais leve queimadura. poucos chegam ao ponto culminante; não

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80 25 de Julho

perseveram, desanimam, desfallecem". De cumprimento do dever. Tambem nas cou­


Nosso Senhor é este aviso: "Só quem per­ sas mais insignificantes. "Quem não é fiel
severa, será coroado". (Math. 24. 13). em cousas p equenas, pouco a pouco ca­
Seremos perseverantes ? Sem duvida, hirá ". (Sir. 19. 1). S. Bernardo, alludindo
mas só a preço de muito orar. A gràça á obediencia de Christo até á morte, diz:
da perseverança final é alcançada pela ora­ "Por mais que correres, si não correre�
ção, e, principalmente, pelo fidelissimo até á morte não alcançarás o premio".

25 de Julho

S. TIAGO, APOSTOLO
( t 44)

6 APOSTOLO Tiago, chamado o os quizeram deixar entrar. João e Tiago


V 1maior, era natural da Galiléa, fi­ vira:m msto uma injuria feita ao Mes­
lho de Zebedeu e Maria Salomé, irmão tre e exprimiram a indignação nestas
do Apostolo e Evangelista S. João. Es­ pai'avras: "Quleres, Senhor, qUle mande­
tando um dia, com o pae e o irmão, a mos cahir fogo do céo sobre esta cida­
concertar rêdes, passou Jesus e disse­ de, para consumil-a ?" - Jesus repre­
lhes: "Segui-me". João e Tiago obede­ hendeu-os, por causa da irreflexão. e
ceram �mmedia:taimente ; deixaram o pae disse: "Não sabeis de que espirita sois !
e as rêdes, seguiraim Jesus e ficaram­ Não veiu o Filho do Homem perder,
lhe fieis discipulos, até os dias da sa­ mas salvar a:s almas".
grada Paixão. No Evangelho de S. Matheus lemos
Santo Epiphanio affirma que Tiago que, um dia a mãe d'estes dois Apoi:í­
viveu selmpre em perfeita castidadr::. In­ tolos veiu pedir a Jesus que os collo­
contestavel é que S. Tiago foi um dos casse no seu reino, um á direita e oµ­
Apostolos :mais intih1os de Jc,ms tro á esquerda. Evidentemente o pedi­
Christo. do da mãe interpretava o desejo intimo
O Evangelho relata que, em oc.:a­ dos dois Apostolos. Jesus reprehen­
siões detenninadas, Jesus se fazia acou:­ deu-os ainda e disse: "Não sabeis o
panhar só de tres Apostados : S. PeJro, que pedis. Podeis beber o calice que
S. João e S. Tiago, como aconteceu na hei de beber ?" - Elles responderam
resurreição da filha de Jairo, na Trans­ resolutamente: "Podemos". De facto
figuração no Monte Thabor e na Ago­ beberam o calice do Divino Mestre, co­
nia no Horto das Oliveiras. mo prova a historia da sua vida e morte.
Jesus Christo chama os dois irmãos, Depois da Ascenção de Jesus Chris­
1

João e Tiago, Boa:nerges (que significa to, Tiago prégou o Evangelho em Je­
Filhos do Trovão), talvez para indicar rusalém e em todo o paiz dos Judeus.
que :mais tarde seriam homens, cuja pa­ Mais tarde foi á Hespanha. Quanto
lavra abalaria os corações, movendo-os tdmpo lá ficou e quantos se converte­
a acceitar a verdade da nova religião. ralm á religião de Jesus Christo, não o
S. Lucas narra um facto, que caracte­ sa:bemos. Passados annos, voltou a
riza bem a indole dos dois innãos, co­ Jerusalém e trabalhou na conversão dos
mo tambclm sua dedicação ao Divino Judeus. Muitos abraçaré!Jl11 o Christia­
Mestre. Quando chegaram a uma cida­ nismo. Outros, pon3m, declararam-se-lhe
de na terra dos Samaritanos, estes não inimigos e traJmaraun contra a vida do

S. Thiago Maior - S. Evangelhos.

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25 de Julho 81

Apostolo. Herodes Agrippa, creatura do eia. As reliquias foram encontradas tim


imperador CaJigula e rei da Palestina, principio do seculo IX e, por ordem do
embora não fosse Judeu, mostrou-se a rei Affonso, transladadas paira Compos­
favor do Judaismo e encetou urna per­ tella, que é até hoje ttilTl santuario cele­
seguição atroz contra os fieis da Egre­ berrimo, pa:ra onde se dirigem milhares
ja de Christo. S. Tiago foi a primeira de peregrinações da peninsuia iberica.
victilrna da sua Numeirosos
astucia. Quan­ milagres glori­
do, em 43, de ficaram o tu­
Cesaréa foi a mulo do ApOIS­
JerusaléJm, pa­ tolo, cuja pro­
ra celebrar a tecção á Hcs­
Paschoa, He­ panha tem si­
rodes ordenou do bem visi­
que o prendes­ vd, no decor­
sem e que fos­ rer dos se­
se decapitado. culos.
Eusebio diz O Arcebis­
po Paya y Ri­
que o proprio
co d ·e scobri u
accusador de
Tiago f ie o u novamente, em
1884, as reli 0

tão commovi­
quias do San­
do, pela fir-
to, cujo jazi­
111 e z a e in­
go tinha cabi­
trepi d e z do
do em esque­
Apostolo, que
ci.mento.
se d e c !arou
christão e sof­ REFLEXÕES
freu o rnarty- ,
rio com o mes­ Tiago seguiu
imimediatamen­
mo. Chegado te o chama­
ao Jogar do mento de Jesus
s u p p 1 i e i o, Christo.Apprcn­
prostr o u - s e de do Apostolo,
que tambem tu
aos pés de Ti­ d e v e s seguir
ago e pediu p r omptamente,
perdão da trai­ quando a graça
ção que lhe ti­ de Deus te cha­
ma para con­
nha feito. O verte r - t e do
Apostolo fel-o peccado. Adiar
levantar, abra­ S. Tiago Maior a conversão e
çou-o e disse­ O proprio accusador de Tiago, arrependido do seu a penitencia até
crime, prostrou-se aos pés do Apostolo e pediu-lhe a hora da mor­
lhe: "A paz perdão. te, é expor a
esteja cdmti­ alma ao perigo
go". Almbos foraim decapitados no anno de perder-se eterna.mente. Conheces as
44, no mesmo dia que Jesus Christo mor­ tentações horriveis, que o demonio te
reserva e os ataques furiosos, que
reu no Golgotha. O corpo de Tiago achou planeja contra tua alma, na hora da
descanço em Jerusalém; pouco depois, morte? Quem te garante que, na hora
porém, foi pelos discipulos levado á extrema, não te verás assaltado por ten­
tações terriveis contra a fé, contra a
Hespanha e depositado em Iria Flavia, misericordia .de Deus, e tua alma não se
hoje El Padron, na fronteira da Galli- achará mergulhada em trevas horríveis, co-
Luz Perpetua 6 - II vol.

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26 de Julho

mo só o peccado, o desespero e o orgulho do, com que offendera a Deus. - Antes de


as podem produzir ? Quem te garante que tudo, sinceridade tambem para com Deus.
terás o tempo necessario para fazer uma Sinceridade na familia, na sociedade, since­
boa confissão e receber os Santos Sacra­ ridade tambem na religião. Sinceridade
mentos, nas disposições em que desejas re­ principalmente na penitencia, para que não
cebei-os ? Em que circumstancias se dará nos seja applicada a palavra da Sagrada
tua morte ? Ninguem te póde dar resposta Escriptura: "Eu te chamei, mas não qui­
acertada a essa pergunta. A graça de uma zeste ouvir; agora rio-me da tua perdi­
boa morte é de todos os benefícios o maior, ção". (Ps. 49. 21). Um coração sincero, hu­
que de Deus esperamos que nol-a conce­ milhado e contrito Deus não rejeitará. In­
da. Dos peccadores, porém, affirma a Sa­ finita é a sua misericordia e peccador ne­
grada Escriptura, que má será sua morte. nhum deve entregar-se ao desespero. Jesus
Porque ? Porque a regra é ser a morte o perdoou ao bom Ladrão, para que te pre­
echo da vida. Qual vida, tal morte. Antia­ valeças de coragem. Em peccados deixou
cho, aquelle monstro vestido de purpura morrer o companheiro, para que não te en­
real, o profanador do templo de Jerusalém, tregues á uma, falsa segurança.
vendo-se ferido por Deus, e sem esperança
de prolongar a vida, sob uma torrente de
lagrimas, pede perdão a Deus. Com o pro­
testo de dar-lhe a mais ampla satisfação, Santos, c1tja memoria é celebrada hoje:
promette converter-se, promover a gloria Na Palestina o martyr S. Paulo, no tempo
de Deus, proteger-lhe a santa religião e do imperador Maximiano Galerio.
restituir os bens roubados. Dir-se-ia que o
perdão de Deus não tardaria e Antiacho, o Na Palestina o martyrio da santa virgem
grande peccador, agora penitente, seria re­ Valentina. 307.
cebido na graça de Nosso Senhor. Mas, que Em Treves o bispo Magnerico.
diz a Sagrada Escriptura ? "O malvado
gritou pelo Senhor, de quem não havia de Na !lha Salsette, perto de Goa, o marty-
esperar misericordia". Porque Deus não se rio do bemaventurado Rodolfo Aquaviva e
compadeceu ? Porque a penitencia de An- quatro companheiros seus da Companhia de
tiocho era de apparencia sómente. Mais o Jesus, entre estes o bemaventurado Pedro
affligia a horrível doença, do que o pecca- Barni de Ascona. 1583.
+-!•+H•: : : : : ,:,,:,: K-:-H+:•❖ -H--H--H-'..+:•-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖�-l-❖-H--."i-❖❖❖❖❖�

26 de Julho

SANT' ANNA
A UE tarefa mais difficil poderá ha­ siderado como documento ele alto va­
� ver, que escrever a vida de pes­ lor.
soa de quem ha escassez extrema de no­ Não tão boa acolhida achou o proto­
tas biographicas ! Eis o caso de diffi­ evangelho na Egreja occidental. São Je­
cil solução, para quem deseja esboçar a ronymo e Sa:nto Agostinho rejeitam em
vida de Sant'Anna, mãe de Maria San­ absoluto a:s obras apocryphas e com el­
üssima. Nos Santos Evangelhos palavra Ies outrns summidades da hiernrchia
algtima faz menção dos paes da bem­ latina.
aventurada Virgem. O pouco que d'elles Essa reserva, que observamos nos li­
sabemos, é tirado do protoevangelho vros dos Padres latinos, no Martyrolo­
de Tiago, livro antiquissimo, que, pelo gi'O e no proprio Breviario romano, acer­
titulo, por muitos é considerado obra do ca do protoevangelho de Tiago, não pô­
Apostolo S. Tiago. Esta obra é citada de impedir que a devoção á Mãe de
•em diversos trabalhos dos Padres da Maria Santíssima s·e divulga:sse e se ar­
Egreja oriental (Epiphanio, Gregorio raiga•sS'e no coração do povo catholico.
de Nyssa) e de facto por elles era con- O culto publico de Sant'Anna, appro-

Santa Anna - Epiphanio e S, João Dasmaceno. Boll. VI. Raess e vVeiss X.

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26 de Julho 83

vado pela Santa Sé, data de 1378, anno do-se á vocação clara e provada dos filhos.
em que o Papa Urbano VI o permittiu Dizemos: á vocação clara e provada; por­
que sempre houve e ha pessoas que entram
aos catholicos da Inglaterra. Em 1584 no estado religioso e sacerdotal sem ser
foi confirmada essa approvação e fixa­ por Deus chamadas. Paes ha que obrigam
da a festa de Sant'Anna para o dia 26 os filhos a abraçar o estado religioso, tendo
para isto motivos méramente de interesse.
de Julho. No Oriente, a devoção a Sant­ Isto é dar os filhos, não a Deus, mas á
Anna é muito mais antiga. perdição.
As reliquias de Saint'Anna, em 710, S. Paulo recommenda muito o estado de
teriaim sido transportadas da Palestina virgindade, áquelles que sentem em si for­
ça bastante, para acceitar o jugo que este
para Constantinopla. De lá fora1111 dis­ estado lhes impõe. Aos outros, porém, que
tribuidas entre muitas Egrejas do Oc­ não receberam a graça da continencia,
cidente. Uma grande reliquia da mãe da manda que se casem. "Quem não pode vi­
Santissima Virgem existe na Egreja ele ver em continencia, deve casar-se. E' me­
lhor que se casem, do que ardam em pai­
Sant'Anna c'l.n Duren ( Rhenania). xão".
Mais frequente ainda é a interferencia dos
REFLEXõES paes, quando se trata da vocação sacerdo­
tal ou religiosa. Muitas vocações se per­
Contam autores sacros do nosso tempo e
dem, não se desenvolvem, não chegam a
do tempo antigo, que Sant'Anna e seu es­
ser conhecidas, por causa dos paes que, não
poso, São Joaquim, muito se entristeceram
só não cultivam no lar o espírito religioso,
por Deus não lhes ter dado a benção da
mas antes o desprezam e opprimem. Essa
prole ao matrimonio, e que Maria Santíssi­
frieza, essa indifferença, que muitas vezes
ma, a Virgem bemdita, a esperada dos sc­
degenera em antipathia e odio contra a re­
culos, era o fructo das orações e peniten­
ligião, prejudica não só as almas dos filhos,
cias do santo casal. Consolem-se os espo­
como tambem priva a Egreja de Deus de
sos, de quem Deus quer o mesmo sacrifício.
optimos elementos, retarda a obra de Chris­
O que Deus determina e faz, está bem fei­
to na salvação das almas. Paes crueis ! Ty­
to. Tudo lhe obedece aos planos. Sabe ellc
rannos que sois de vossos filhos e filhas !
que a existencia de filhos seria a perdição
No juízo de Deus elles contra vós se levan­
de alguns, como é certo que muitos paes
tarão e clamarão por vingança. Vereis ·en­
se condemnam pelos filhos, a quem não dão
tão as consequencias terríveis do vosso
a educação necessaria. Reza uma piedosa
egoísmo, da vossa ambição e tarde 'virá o
tradição, que os santos esposos Anna e
vosso arrependimento.
Joaquim offereceram a Deus a filhinha,
quando esta tinha tres annos apenas. As­
sim o maior cuidado dos paes devia ser Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
educar os filhos para Deus e entregai-os ao moria é celebrada hoje:
seu santo serviço, quando nelles se reve­ Em Phi!ippi o martyrio de Santo Erasto,
lassem signacs indubitaveis de vocação re­ diseipulo de S. Paulo e por este nomeado
ligiosa ou ecclesiastica. Sant'Anna de mui­ bispo de Philippl.
to boa vontade fez o sacrifício de separa­
ção da filhinha, sabendo que Deus a reser­ Em Roma, na Via Latina, os martyres
vára para si. Porque paes ·christãos não Symphronio, Olympio, Theodulo e Exuperia,
imitam este bellissimo exemplo da santa que pelo fogo ganharam a palma do mar­
mãe de Maria, entregando a Deus o que tyrio. 256.
de mais caro têm aqui na terra, si assim No Porto Romano: S. Jaeyntho, sahiu il­
fôr a vontade divina ? Grande é o peccado leso da fogueira e da agua; morreu dego­
dos paes e grande a responsabilidade, quan­ lado por mandado do Consul Leoncio, sen­
do contrariam os planos de Deus, oppon- do Imperador Trajano. 2 sec.

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84 27 de Julho

27 de Julho

S. PANTALEÃO, MARTYR
(t 305)

•t !COMEDIA é a terra ele S. Pan-]" vicia de um outro medico, que superava


l!l� .taleão, um dos quatorze auxilia- a todos os mai·s 001 sciencia e virtude;
dor-es dm grande necessidade. O pa,e que por u!ma só palavra curava os doen­
era pagão. O menino recebeu optima tes, dava luz aos cegos, ouvidos aos
educação de sua mãe Eubula, christã surdos, o uso dos nrembros aos paraly­
fcrvorosissima. ln f.elizll11ente esta bem ticos e cha1mava á vida os mortos, con­
cedo lhe foi arrebatada pela morte, cir- duzia todos á felicidade eterna.
cttrnstancia que muito affectou a vida Pantaleão começou a interessar-se
do filho unigenito. O pae não poupou por esse medico divino, cujo nome já
sacrificios, para proporcionar-lhe os apprendera a balbuciar na mais tenra in­
meios necessarios á carreira de medico, fancia; no entretanto, não podia deci-
111as exigiu tambern da par· te· d'erlê a· dir-se a abraçar francamente a religião
participação activa no culto da idola- ele Jesus Christo.
tria. Um facto extraordinario trouxe-lhe
Pantakão cml's•ervou�se puro, no a luz da fé. Passando um dia pelo cam-
mcio d'um :mundo corrupto, provando po, encontrou á beira da estrada uma
ass�m a solidez da educação que da creança morta, victimada por morde­
propria mãe recebera. dura <lc cobra. Instinctivamcnte recuou
Cclm sua intelligencia e força de apavora(lo. Mas, recuperando a calma,
vontade, não podia deixar de sobrepu- disse de si para si : "Si é verdade o
jar a todos os companhei,ros de estudo que Hem10láo me disse de Christo, ha
e distinguir-se de tal maneira, que che- ele s·er demonstrado agora". Levantan­
gou a gozar dos ':maiores privilegios, e do os olhos ao céo, disse: "O' Deus elos
pelos mestres foi vantajosamente re- chri-stãos, si és verdadeiramente o Se­
c0111111enda,do ao Imperador Maximiano. nhor da viela e da morte, mata esta co­
Ao me9mo tempo Pantaleão atou rela- bra e dá viela a esta criança". E assim
ções com Hermoláo, sacerdote christão, aconteceu. Pantaleã:o apresentou-se ao
que, por imedo das perseguições, vivia sacerdote e após um retiro de sete dias,
cdm os irmãos numa casa bem retirada. recebeu o baptislmo.
Nuima das conversas que teve com o Depoi·s de christão, o maior desejo
mencionado sacerdote, Pantaleão falou- que tinha, era vêr o pae na mesma re­
lhe da mãe, que era christã. "E tu ?"- ligião e sem demora pôz mãos á obra,
perguntou com vivo interesse o sacer- para convertel�o, tarefa esta cuja rea­
dote. "Eu - respondeu Pantaleão - lização só pela metade conseguiu.
respeito e honro a memoria de minha Apresentou-se-lhe um doente atacado
mãe e conservo fielmente a doutrina de ophtalmia. Grandes quantias já tinha
que me ensinou; ma,s presentetmente me dispendido com os medicos, sem tirar
vejo na necessidade de seguir a religião o ,menor resuJtado. Pantaleão promet­
de meu pae ·e do governo, mórmente teu-lhe cura radical, contra a opinião
agora, que tenho em vista ser nomeado do pae, o qual queria fazer-lhe ver a
_l"!_!edico assistente do Imperador." Her- inutilidade de tratar um caso perdido.
rnoláo c·ontou-lhe então a historia ela Pantaleão, porém, ani!rnou o doente,
- ;'TTf\l
S. Panta:cão - Brev. Rom. Juste e Calllau. III.

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27 de Julho BS

fel-o invocar o nome de Deus unico e poderoso é Deus, tanto mais veneração
seu Filho unig,enito, Jesus Christo, to­ merece. Proponho o seguinte: Mande
cou-lhe os olhos com as mãos e o cégo trazer aqui um doente que esteja em
recuperou a vi,sta. A essa evidencia o estado grave; chamae os vossos medicas
paie e o cégo se declararam christãos e e sacerdotes, para que · invoquem sobre
almbos y,ecebe­ elle os deuses.
r-----------------------. ,E !"'e-c
raun o baptis­ u orrerei
mo. a meu Deus
P a n t aleão O Deus que
,dwicou-se á dér a sa,:de
sua_ profissão, ao doente, ha
�',t{rbtü r a n d o de ser por to­
semp r e dar dos adorado,
a o s doentes, odmo o unico
não só a saude ;e verdadeiro e
do corpo, co- os otttl"os deu­
11110 tambem o ses devem srr
bénn-estair da r ean o vidois".
aima. D e tt s Maxi.m ia n o
abençoou- lhes acceitou a pro­
os esforços e, posta. V ·e i u
em pouco tem­ um d o e nte,
po, Pantaleão por todos os
er a o mais m1edicos des­
afamado e o :e n g a n a d o.
miais procura­ Vieram os me­
do de todos os clicos, saoer-
11Jiedicos. Isto 1dotes pagãos e
certamente ha­ Pa:ntaleão. Os
via de provo­ idolatras offe-
car a inveja receraJm os sa-
id o s colle.gas crific i o s de
p a g ã o s, os 'costume aos
qua,es dahi em deuses ,e em
deainte lhe ob­ prieoes a elles
serva va!m os dirigidas, pe­
passos. N atan­ d i r a m que
do que Panta­ curassem o do­
leão dispensa­ ente. Eim vão.
S. Pantaleão
va particulares Este nenhuma
Pantaleão, em prece fervorosa, dirigiu-se a Jesus
cuidados a o s e em nome do mesmo ordenou ao doente que se melho r a ex­
christãos en­ levantasse. Este, restabelecido, voltou para casa. perilm e n t o u.
carcerados, de- Paintaleão, em
nunciaram-no á côrte imperial. O Im­ prece fervorosa, dirigiu-se a Jesus e ein­
perador, ao receber esta noticia, não ndmie do 1mesmo, oroenou ao doente que
fez ,segredo do forte desagraido e or­ se }evantais1se. O doente obedeceu �1T1me­
denou ao :medico que rendesse culto diatamente e, restabelecido, voltou para
aos dleuses, pa:ra assim desmentir os ac­ casa.
cusa:dores. Pantaleã:o respondeu: "Mais O Lmperador, obcecado pelo erro e
alto que palavras falam os factos e a peila paixão, em vez de cuunprir a pala­
verdade é acima de tudo; quanto mais vra, exigiu de Pantaleão que tamben,

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86 28 de Julho

sacrificasse aios deuses. O jovem chri;;­ têm a Egreja, que é a mestra por excellen­
cia e a razão que lhes foi dada para com­
tão, porém, resolutamente se negou a pr�hender as cousas. A melhor apologia,
isso, e com ll!ma constancia imperturba­ entretanto, da nossa santa religião, é a
V'el, soffreu toda a sort:e de tormentos, santidade de seus filhos. Devemos dar o
que o Imperador mandou lhe fosseim exemplo da pratica das virtudes, como a
Egreja nos ensina.
applicados. Finalmente, allnarrado a mri
tronco de oliveira, Pantaleão r_ecebeu o Santos do Martyrologio Rom-ano, c1tja m-e-.
golpe ele morte pela espada, no dia 27 moria é celebrada hoje:
ele Julho de 305. As relíquias foram Em Nieomedia o santo sacerdote Hermo­
transportadas para Constantinopla e Iáo e os irmãos Hermippo e Hermócrates.
cleposi,tadas numa egreja, que lhe traz Tendo passado por muitas provações, foram
o nome. Mais tarde vieram para De­ finalmente condemnados á morte e executa­
dos quando Maximiano perseguia a Egreja.
nis, na Frnnça. A cabeça de S. Panta­
lcão é o thesouro precioso da cidade de Em Cordoba os martyres Jorge, Felix, Au­
relia, Natalia e Liblosa, victimas da perse­
Lyon. guição musulmana.
REFLEXÕES Em Auxerre, na França, o bispo Santo
Etherio.
Para que a Religião de Christo ganhas­
se terreno e se implantasse com mais soli­ Em Constantinopla a santa virgem An­
dez nos corações dos homens, Deus deu thusa, do tempo do Imperador Constantino
aos Santos dos primeiros seculos o dom de Coprõnymo, que sentenciou sua expatriação
fazer milagres. Milagres sempre houve na por causa do culto das imagens santas. Não
Egreja e ainda hoje são o desespero dos fôra a intervenção da imperatriz, teria sido
incredulos, que os procuram negar e com­ morta. Esta protecção era devida a uma
bater, não o conseguindo entretanto. E' prophecla. de Sant'Anthusa, dizendo que a
raras vezes que se observa um milagre, por­ imperatriz seria mãe de um filho e de uma
que para conhecer a verdade, os homens filha.

28 de Julho

As bemaventuradas Salomé e Judíth


(t 1100)

S ALOME' era parenta proxima de


� u�n rei da Ingla:terra. A formo­
e sem s•e despedi•r de pessoa alguma, en1-
prehencleralm uma viagem á Terra San­
sura era o reflexu das bellas virtudes ta, onclie com muita devoção visitaram
que lhe adornavam a alma. Indifferen­ os Sanros Lagares.
te ao m'l.tndo, era Deus seu amor, Sa:J.dmé, que acompanhara o divino
que a fez abandonar a côrte real. Duas Esposo no caminho da dôr, até o monte
emp11egadas, muito dedicadas e fieis, Calvaria, teve de percorrer ainda ou­
notaindo na ,senhora mudança muito tro Callninho. Mai-s doloroso para ella.
grande, e querendo saber o motivo da­ Na viagem de r,egresso perdeu,. pela
quelle recolhi11nooto, um dia a interpel­ morte, as fieis companheiras. Finne,
1

larnm a este respeito e Salomé não só porém, era-lhe o proposito de não vol�
lhes respondeu com toda sinceridade, far mais á côrte real da Inglaterra e
como talmibem despertou nellas egual levar �ma vida pobre e desconhecida no
desejo de perrenoer só a Deus e afas­ ext,raingeiro. Atrav,ez de muitas difficul­
tar-se do mundo. De commum accordo dade!s tinha chegado a Ratisbona, onde

Beatos Salom,é e Judith - Heiligenlegende de Lor. Beer.

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28 de Julho 87

profundalffilente se aborreceu de alguns (minar os dias na s,olidão, servindo a


galanteios á sua f011mosura. Humilhan­ Deus elm oração e praticando peniten­
do-se deante de Deus, em fervorosas cia. A f.esta das beatas é commemorac\a
preces pediu lhe tirasse os attracti­ a 29 de Julho.
vos· tentadores. Esta oração foi ouvida.
Accommettida de ulma enferirnidade, em REFLEXÕES
poucos dias perdeu a vista. Sem guia e Si não podemos imitar essas duas Santas
orientação, aconreceu que cahisse no Da­ no heroismo e sahir tambem da nossa pa­
tria, para no extrangeiro dedicar a Deus
nubio. A energica intervenção de dais uma vida de sacrificios e de oração, deve­
pescadores conseguiu salvai-a do gran­ mos admirar a promptidão com que segui­
de perigo de mlorrer afogada. Além ela raim a inspiração, que do céo lhes veiu, de
ceguei·ra, mandou-lhe Deus uma doença, abandonar tudo e viver e morrer na soli­
dão. Achando-nos, como nos achamos, a
quie se pa,r,ecia cam a lepra e que a ator­ caminho da eternidade, cuidemos de não
mentou por algum tempo. Hospedada nos afastar do caminho recto e não nos
{lm ca,sa de uma piedosa senhora, lá po­ perder, no meio de perigos e contrarieda­
des. Louvavel, si não sempre exequivel, é
clleria ter ficado, si o desejo insaciavel o desejo de visitar os Santos Lagares da
de penitencia não lhe tivess,e reclamado Palestina. Na SS. Eucharistia temos mais
constante/mente uma vida mais retirada. que os Santos Lagares. Cada Communhão
O abbade de Niederaltaich, tendo noti­ confere-nos maiores graças, que a visita
aos Jogares da Terra Santa. O SS. Sacra­
cia da vida santa que Salomé levava, mento é Deus Nosso Senhor em pessoa;
convidou-a a 1111udar a residencia para nelle encontramos a Carne, o Sangue, a hu­

--
perto do convento. Sal'Orné obedeceu á manidade e a divindade, o corpo e a alma
ordem do seu· director e foi occupar a de Jesus.
cella que o mesmo mandára construir
para -seu uso, nas adjacencias do mos­ ,qantos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
�iro. Lá ficou. até á morte, pél!ra a qual
s,e preparou com todo fervor. Em Milão, no tempo da perseguição ne­
roneana, o martyrio de Nazario e Celso, ten­
O rei da Inglaterra, alait1mado com a do este doze annos apenas. Nazarlo tinha se
•excessiva demora da parenta, fez repe­ retirado para a alta Italia e Gallla, onde
tidas pesqui2ais, para descobrir-lhe o pa­ com bom resultado prégou o Evangelho. Na
radeiro. A princeza Judith, sua filha, sua volta para Milão foi preso e decapitado.
E' Invocado contra molestlas da vista, por­
que tinha enviuvado, resolveu ir á Ter­ que durante seu inquerito, o Imperador Ne­
ra Santa, para onde levou grande equi­ ro ficou cego.
pagem, animada de esperança de encon­ Na perseguição de Decio e Valeriano mor­
trar a querida parenta. Na volta, pas­ reram muitos christãos na Thebaida, por­
sando pela Bavi,era, descobriu o Jogar que se negaram a trahlr sua religião e sua
onde imorava Salomé. Grande foi o consclencia. Em vez de se contentar com a
morte das suas victimas, os pagãos as mas­
oontientalm:ento de aimbas. Mas em vez sacraram de muitas maneiras, cada qual
de voltar á Inglaterra, resolveram ter- mais barbara e exquisita.

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88 29 de Julho

29 de Julho

SANTA MARTHA
(t 1 seculo)

� ANTA MARTHA, de que o Evan­ Pouco anrtes da Sagrada Paixão e


� gelho cm dive1'sos Jogares faz Morte de Jesus Christo, adoeceu grave­
1TJ1enção, era filha de uma familia dis­ mente Lazaro, i,nmão de Martha e Ma­
ti·ncta e rica. Quem lê com attenção a ria. Esta!s enviaram logo um mensagei­
1iesurreição de Lazaro, deve convencer­ ro ao Mestre, avisando-o da enfenmi­
se de ter s,ido ,esta ttma elas mais con­ dade do amigo: "Senhor, aquelle a
sidemveis da terra de Judá. Martim ero que\m a1111aes, está doente". Só este re­
assidua na pratica de boas obras, prin­ cado lhes parecia bastamte, para Nosso
cipalmente no serviço da caridade. Do Senhor interromper as viagens e vir
sexo f,eminino foi u1111a da-s primeiras curar o cloenre. Jesus, porém, tendo em
pessoas que, movidas pela doutrina, menl1e da:r ao mundo uma prova mais
pelo exemplo e pelos milagres de Nos­ dara de sua divindade, foi a Bethania
so Senhor, chegaram ao conhecimento só depois de se ter dado a morte e ef­
do Messias. Desde a hora da conversão, foctuado o enterro de Lazaro. Martha,
foi Martha uma das discipulas mais de­ ouvindo que o Mestre tinha chegado,
dicaoos de Nosso Senhor. E' mais que foi-lhe ao encontm e disse-lhe: "Se­
provavel que, pela palavra convencedo­ nhor, si tivesseis estado aqui, meu ir­
ra, pelo ex-empJ.o e as orações, extraor­ mão não teria morrido. No emtanto, sei
dinarialmente concorr'ess·e para a con­ que tudo que quizerdes pedir a Deus,
viersão da ir1mã Ma,ria Magdailena. Mais mesmo agora, elle vol..,o concederá". Je­
de uma V'ez teve a honra e a grande sa­ sus diss'e-lhe: "Te, u irmão resuscitará".
tisfação de hospedar a Nosso Senhor 1fartha retorquiu: "Sim, bem sei que
em sua caisa. Quando isto se dava, elle ·resuscitará no ultimo dia". Jesus
Martha se iexoedia em tornar agrada­ disse-lhe: "Eu sou a resurreição e a
vel a J,esus Chri-sto a estadia no lar vida; quem crê em mim, ainda mesmo
desses dedicados amigos. Aconteceu morto, viverá; e queim vivie e crê em
unta vez que, V'endo Martim a innã :mim, não morrerá jamais. Crês tudo
Maria permanecer aos pés do Divino isso ?" Elia respondeu: "Sim, creio,
Mestre, sem se inco!11lrJiodar com os que soi-s o Christo, o Filho de Deus vi­
serviços de casa, ma·s toda absorta nas vo, que viestes _ao mundo". Tendo dito
1

contidmplações dos divinos conselhos, i,sto, Martha entrou em casa e disse a


qll'e lhe vinhaJ111 dos labios do querido Maria que Jesus tinha chegado. Esta
Hospede, um tanto queixosa se dirigia se levantou pressurnsa e foi-lhe ao en­
a Nosso Senhor, dizendo-lhe: "Se­ contro. O que mais se deu n'aquella oc­
nhor, não vêclies que minha irmã me ca:sião, -s1 erá contado na vida de S. La­
deixa só, com todo o serviço ? Dizei--lhe zaro. Aqui basta dizer que Jesus, mo­
que mie ajude". Jesus Christo, porém, vido pela tristeza e pelas lagrimas das
de um modo muito delicado lhe respon­ duas i11mãs, chaJmou á vida o morto, que
deu, não som lhe dar um aviso salutar: já tinha sido depositado no sepulcro,
"Martha, Martha, tu te inquietas e te havia quatro dias. E' facil imaginar-se
canças com imuita cousa, quando uma a alegria, a gratidão das irmãs para com
-só é niecessaria. Maria escolheu a me­ Jesus, por ter-lhes dado esta prova de
lhor pa,rte, que não lhe será tira:da". almizade.

Santa Martha - Raess e Weiss X.

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30 de Julho 89

Nada mais o Evangelho nos diz rela­ de Martha ? Com que prazer será que Je­
sus entra em tua Bethania ? Não deves
tiV'alin'en1e a Martha. E' provavel, entre­ fazer tudo para tornar a Nosso Senhor
tanto, que tenha estado presente ao agradabilissima sua morada em teu cora­
grande sacri ficio de Jesus Christo na ção?
cruz ; que lhe tenha assistido ao enter­ "Uma só cousa é necessaria", disse Nos­
ro; que tenha sido testemunha ocular so Senhor a Martha. Uma só cousa tam­
bem nos é necessaria: a salvação da nos­
da gloriosa Ascenção, e com os Aposto­ sa alma. Por causa d'esta nossa salvação
los tenha feito a primeira novena de Deus se fez homem, trabalhou, fez mila­
Pen11ecostes. gres, padeceu e morreu na cruz. Para sal­
Diz uma piedosa tradição, que aliás var esta nossa alma, Deus nos concede tan­
tas graças e favores. Da salvação da nossa
não úem em seu favor a certeza histo­ alma depende a nossa eternidade. Que in­
rica, que, pela perseguição da Egreja felicidade, si cuidassemos de tudo, menos
em Jerusalém, obrigados a sahir da d'este negocio mais urgente e necessario l
'Derra Santa, Martha, em colmpanhia de Não estamos no mundo para ter uma vida.
commoda e agradavel. O nosso fim é ser­
Maria Magdwiena e Lazaro, teriam sido vir e amar a Deus. Para Deus devem
embarcados num navio velho, sem leme convergir todos os nossos trabalhos, penas,
e timo111eiro. O navio, sob a protecção alegrias e soffrimentos. Devemos, como
de Deus, teria aportado a Marselha. Maria, escolher a melhor parte, isto é, es­
tar sempre aos pés do Mestre, ouvindo-lhe
Perto de Marselha teria Martha, e1111 a doutrina, os conselhos, para depois tudo
oompanhia de muitas donzellas christãs,
1 fazer por seu amor, em sua honra, para sua
vivido U/tna vida santtl d�ante tiriln!ta maior gloria.
annos, até que Nosso Senhor a chamou
aos iet<ernos tabernaculos. O corpo de Santos, cuja memoria é celebrada hoje:
Santa Martha foi descoberto em Taras­ Em Roma, na Via Portuense, os martyr'.!s
con, no seculo 13. Slmpllclo, Faustino e Beatrlce, do tempo de
Diocleciano. Beatrlce, que enterrâra os cor­
REFLEXÕES pos de seus Irmãos afogados no Tibre, foi
O facto de ter hospedado e servido a mais tarde martyrisada no carcere.
Nosso Senhor faz de Martha uma das per­
Em Roma ainda o martyrio de Santa Lu­
sonagens biblicas mais sympathicas. Sem­
cllla e Flora, na perseguição de Galllano.
pre prompta para receber o Divino Mestre
Com ellas foram condemnados â morte Eu­
em sua casa e dispensar-lhe todos os cui­
genlo, Antonino Theodoro com dezoito com­
dados, foi por elle distinguida com a mais
panheiros.
santa das amizades. Quantas vezes não re­
cebes a Jesus na Santa Communhão I Não Em Kuy-Tcheu, na China, os martyree
é o mesmo Jesus da Bethania ? Com que de Tsin-Gay: José Tchan, Paulo Tchen, João
disposições o recebes? São identicas ás Baptlsta Lo e Martha Uan. 1861.

30 de Julho

S. LUPUS (LOBO), BISPO


(t 479)

IC: ORENA é a terra de S. Lupus. veu sete annos, na mais perfeita hanno­
� Bela morte do pae, sendo Lupus nia, até qU'e ambos, de commum accor­
1:1enra creança ainda, teve no primo um do, resolveraun passar o resto dos dias
dedicado tutor e educador. num convento, servindo unicamente a
Mais tarde, casou�se cOlm uma ir,mã Deus. Ltipu,s foi admittido no celebre
do füspo Santo Hilario, com a qual vi- mostieiro lirinense. Durante um aamo,

S. Lupus - Surlo. Boll. Act. Sanct. VII. Tlllemont. XVI. Raess e Welss X.

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:90 . 30 de· Julho

dedicou-se exclusivamente ás praticas Não tardou que os povos da Europa


da vida monastica. Decorrido es-s·e pra­ occidental fossem surprehendidos pela
zo, foi a Macon, onde possuia ricas ter­ invasão dos Hunos, cujo chefe, Attila,
ras, que vendeu, distribuindo aos po­ orgulhosairnlen1:Je se denominava o "açoi­
bres a fortuna. te de Deus". Com suas hordas devasta­
Va,gára a Diocese de Troyes. Lupus, ra florescentes provincias e reduzira a
hqmem de virtude e saber, possuia e,n cinzws as mais bellas cidades. Chegan­
tão alto gráo a confiança do clero, que do a Troyes, o Sanro Bispo ordenou je­
foi unanime sua eleição para Bispo d'a­ juns e outras penitencias publicas, visto
quella cidade. Conhecendo o bem que, não haver outra resistencia a oppôr aos
n1 a qualidade de Bispo, podia fazer ás barbaras, a não ser a oração e a fé cm
a:)ma,s, acceitou o pesado cargo. Elevado Deus. Em detenminado dia, elle, o Bis­
á dignidade episcopal, em nada modifi­ po, revestido do ornava pontifical, acom­
cou o modo de viver no mosteiro. Al­ panhado do clero e de grande parte da
liando a oração e a penitencia aos labo­ população, foi ao encontro do rei e
res elo apostolado, gran<le.rnente concor­ disse-lhe: "Quem és tu, que te atreves
lieu para a florescencia da religião na a tão deslmmanaJmente devastar cida­
Diocese. Bste iexemµlo ainirnava tocltjs des e provincias ? qu� és tu, que afo­
a prosegllirem no caminho ela fé e da gas em sangue reinos e populações, se­
caridade e tcidos, pobres e ricos, vene­ meando o pavor e subjugando tudo ao
rav.im no Santo Bispo o holmem de teu poder ?" Attila respondeu : "Sou
Deus. Atüla, rei dos Hunos, o flagello de
Pdos fins do IV seculo, surgiram no Deus !" "Poi'S bem, - disse-lhe o Bis­
Oriente, na Africa e na Ita:lia, os per­ po - tudo que vem de Deus tem nosso
niciosos erros de Pelagio e Celestino. acataimenro; \mas, si de facto és o fla­
Estes hereges negavam o peccado origi­ gello de Deus, de que elle se serve pa­
na:l e a necessidade das graças de Jesus ra castigar-nos, deves saber que nada
Chri•sto. Agricola, discipulo diesses here­ poderás fazer sem a permissão divina e
si1archas, tinha espalhado a semente do cuja mão poderosa taimbem a ti rege e
erro na Grã-Bretanha. Os Bispos de lá, governa". Attila, ouvindo estas pala­
impotentes para debellarieim o mal, que vras, desistiu do a1S1Salto á cidade e re­
se propagara assustadora.mente, dirigi­ trocedeu.
rialm-se ao episcopado da França, pedin­ Esse gesto de intrepidez e de fé in­
do tmandaisse' hdmlens preparados para abalavel f.ez cdm que o povo ainda mais
luctar cam os hereges. Foram destina­ se acercaissie do bispo, cuja pessoa, ve­
dos para isso Lupus e Genmano, ( este neraviel mais do que nunca, era alvo do
ultimo, Biispo de Auxerre), que imme­ rumor e gratidão dos seus diocesanos.
dia· taimente embarcaram para a Inglater­ Lupus regeu durante 52 aamos os
ra. Alto 1mar surprehendeu-os uma destinos de sua Diocese. Deus cha­
tempesradie, que os expôz ao i\mminente '11110u�o a si no anno de 479.
perigo· de naufragar. Lupus, porém, dei­
tou umas gottas de azeite bento sobre
REFLEXÕES
as onckts embravecidas e estas logo se Attila, o terrível devastador das plagas
germanicas, intitulava-se "flagello de
aca�marnttn. Deus". Deus se serviu c\'aquelle tyranno,
A missão d'·esses doi•s Bispos foi de
1 para castigar os peccados d'aquelle tempo.
abençoados resultados. A heresia foi Hoje são outros flagellos que Deus nos
manda, para dar-nos o castigo merecido.
efficazlmente combatida; os catholicos Flagellos são: doenças, contrariedades, des­
voltaram ao primitivo fervor; muitos graças e perseguições. Esses flagellos têm
hereges abjuraram os erros. Assim es­ por fim reconduzir os peccadores ao ca­
minho da virtude, castigar os males e au­
tando Cdnjurado o perigo, Lupus e Ger­ gmentar os merecimentos dos justos. Si um
mano voltaram ás dioceses.. d'esses flagellos te ferir, sujeita-te humil-

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31 de Julho

demente á vontade de Deus e dize com Da­ passageiros os soffrimentos; eterno é o


vid: "Prompto estou para receber vossos premio, eterna a recompensa, eterna a glo­
castigos". (Ps. 27). E' bom signal, quando ria no reino dos céos ...
Deus te mandar flagellos. Os castigos que
nos ferem nesta vida, são bem mais suaves
do que os da eternidade. Santo Agostinho Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
costumava dizer: ".Senhor, cortae, quei­ moria é celebrada hoje:
mae, emquanto eu viver; na eternidade Em Roma os santos martyres Abdon e
tende piedade de mim". Sennen, persas. No tempo do Imperador De­
Cincoenta e dois annos presidiu S. Lupus elo foram conduzidos a Roma, carregados
a Diocese para, pela morte, receber o ga­ de ferros. Confessando-se christãos foram
lardão. Que são cincoenta e dois anno3, açoitados com bolas de chumbo e depois de­
comparados com a eternidade ? Deus quer golados. 354.
de nós o trabalho de uns annos apenas, Na Umbria S. Rufino, martyr.
para recompensar-nos com premias eter­
nos. Como isto é consolador I Lembra-te Em Tuburbo, na perseguição de Valerlano
muitas vezes d'esta. verdade, quando te e Galieno, na Africa, as santas Virgens Se­
achares opprimido de trabalhos e fadigas. gunda, Maxima e Donatila. Passaram por
Com poucos annos de trabalhos, poderás torturas crudellsslmas. Depois foram arro­
ganhar uma gloria eterna. Passageiro é o jadas âs féras, que nenhum mal lhes fize­
trabalho, passageiras são as tribulações, ram e por ultimo degoladas. 304.

31 de Julho

SANTO IGNACIO DE LOYOLA


(t 1556)

«m- ANTO IGNACIO, glorioso fun­


� dador ela Colmpanhia de Jesu;; �
glorias de bravura, no caimpo da honra.
Já em 1521 teV1e occasião de dar prova:s
zelador incançavel da gloria de Deus e de ooragem.
da. salvação elas almas, era de origem Achava-se Cairlos V eJm guerra com
nobre e natural de Loyola, na Hespa­ Francisco I da França, seu co1mpetidor
nha. O seu nascimento ( 1491) coinci­ e figadal inimigo. A Ignacio coube a
diu com a grande revolução religiosa, defeza da cidade de Pamplona, sitiada
aibusivauniente chaima<la a "grande re­ pelos fmncezes. Nessa tairefa tudo fez,
forma", que teve oomo autores os apos­ qoonto se póde esperar de um militar
tatas Luthero e Calvino. Em Santo experimentado e destemido. Outros fo­
Ignacio surgiu U!m dos maios intemeratos raJm, porém, os planos da Divina · Pro­
defensores ela causa caitholica, contm a videncia. Elia pertnittiu que Ignacio fos­
a seita protestante, apresentando-se co­ se ferido no joelho esquerdo, circums­
mo digno eJmulo de Athanasio e Cyrillo, taincia que o obrigou a retirnr-se e de­
que por sua vez com firmeza apostolica sistir das operações militares. Os fran­
colrnbateram os erros dos Arianos e cezes apoderaram�se de Pamplona.
Nestorianos. Ignacio foi levado ao Castello de Loyo­
O talento de Ignacio, como a elevada la, onde adoeceu grave.mente. Contra a
posição dos paes, facultaram ao meni­ <esperança de todos, restabeleceu-se e
no excelliente educação. Tendo alcança­ esta cura Ignacio attribuiu-a á interces­
do a edade idonea, Ignacio escolheu a são de S. Pedro, ao qual dedicava uma
carreira militar, que mais lhe coadu­ devoção particular.
nava com o genio fogoso e emprehen­ Nos dias de convatlesdença pediu li­
dedor e 1mais ga,ra:ntia lhe dava de colher vros cuja leitura lhe attrahisse o espi-

Santo Ignacio Lovola - Gonzalez, confessor do Santo. Rlbadenelra. Bouhours. Boll. VII.

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92 31 de Julho

rito. Havia apenas dois livros: tllln tra­ çõcs de toda a especie. Não só o deimo­
tava da vid'a de Christo e outro da vida nio o tentava, cdm ais mais crueis e per­
dos Santos, livros que de nenhum modo tinazes suggestões; em diversas occa­
lhe correspondialm ao gosto. Como não siões, era perseguido pelas autoridades,
houvesse outro remedio, começou a qUJe ora nelle enxergavatm um perigoso
l'el-os e tanto se aprofundou na leitura espião, ora o tinhalm por s•eductor da
dos meSlmos, qne dahi lhe resultou mu­ mocidade. A Divina Providencia, po­
dança ccimp1'eta oo inümo. Deante do es­ réün, velava sobrte o eleito e defendeu-o
pirito lhe surgiu niticla a resolução ele contra todos os infünigas.
sieguir cl'orava:nte a Jiesus Christo e
Não satisfeito com os trabalhos pes-
tirabalhar unicattnente pela honra e glo­
. soo.es pela salvação das almas, concebeu
ria ele Deus.
a idéa de chamar para sua companhia
Logo que se sentiu com forças, pro­
curou Montserr311:, celebre Santuario ele homens animados pelos mesmos ideaes.
Nossa Senhora, onde recebeu contricto Em pouco tempo, achou nove compa­
os sacramentos da Confissão e ela Com­ nheiros, todos di-stinctos pela virtude e
\munhão. Em signal de renuncia a tudo pelo saber; entre estes, um, que se tor­
nou o grande Apostolo das Indias - S.
que o ligava a este mundo, e á vida pas­
Frnncisco Xavier. No anno de 1534
sada, depoz a armadura sobre o altar de
este pequeno grupo se reuniu na Egreja
Nossa Senhora e vestiu-se de roupas
ele Nossa Senhora, no Mont-martre, em
pobres e humildes. A noite toda per.ma­
neceu em oração, nos clegráos elo altar Paris e, tendo recebido a santa Com­
nmnhão, todos se cüimprometteram por
da Santíssima Virgem. No dia seguinte
um voto a abandonar o mundo, ir a J e­
dirigiu-sre á cidaide de Manresa, distan­
rnsal6m e trabalhair na conversão dos
te tres legua:s de Montserrat. Era dia
infieis; caso, porém, fosse impossivel
ela Annunciação de Nossa Senhora. Pe­
emptiehender a viagem no decurso de
diu entrada no Hospital, onde, com mui­
um cl!nno, a offerooer seus serviços ao
ta dedicação, prestou s·erviços aos po­
Santo Padr,e. A viagem de facto se tor­
bres doentes. Percebendo que co!m isso
nou •irrealizavel, por causa de uima guer­
attrahia a atitenção e admiração de to­
ra entre a Turquia e Venieza.
�03, retirt1 oU-'SC de Manresa para uma
gruta situada nais adjacenciais da cidade, O Santo Padre recebeu com muita
onde começou uma vida da mais auste­ cordealidade os jovens professos e ten­
ra penitencia. Durante a estadia na gru­ do-se convencido do seu preparo intel­
ta ele Manresa, compôz aqueUe livrinho lectua:1 e ascetico, mandou-os a diversos
131dmiravel dos exieircic:iols espiritua,es, lagares, ex:eroer a nobre missão. Ignacio
que é gera'imente considerado uma obra ficou dm Roma, onde desenvolveu unna
de inspiração divin1a e de ui.na utilidade grande actividade entre a juventude,
oomo egual ha muito poucas. Termina­ daindo-lhe explicação da doutrina chris­
do o z,etirn em Mainresa, Ignacio fez tã, convidando, principalmente as crean­
uma vilagtmi á Terra Santa, ooim o ças, a receberem frequentes vezes a
intuito de rrabalhar pela salvação elas Sagrada Communhão. O resultado d'es­
a1mas. Circumstaincias especiaes, porém, sais pregações foi grandioso. Foi nessa
aconselharam-lhe voltar e começar o es­ época que Ignacio começou a occupar­
tudo dél!S scienciais. Na edade ele 33 8/11- se com a icléa de fundar uma Ordem
nos fez o cuJ:1so da lingua latina, no religiQISa, cujo fim fosse de todos os
meio dos meninos ela escola publica. Seiirt modos trabalhar pela salvação das al­
desca:nçar, continuou os estudos, mais mas. Com o consentimento do Santo
tarde em Paris, onde alcançou o gráo Padt1e, elaibCJlrOu um regu'1a!mento, que
d'e doutor. serviss1e de base á nova Ordem. Esta
A vida de Santo Ignaoio, dur3111te o se fondou em 1540 e recebeu o nojme
tempo doo estudos, foi repleta de priva- de Companhia de Jesus. O Papa Paulo

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31 de Julho 93

III a:pprovou a regra, que mais tarde mais tarde se tornou o Apostolo das In­
teve a approvação de outros Papas e elo dias. Emquanto os cOl!npanheiros traba­
Concilio ele Trento. Os membros ela Ihavalm em Portugal e nas Indias, Igna­
nova Companhia degeraim Ignacio pri­ cio desenvolveu t�ma actividaele incança­
meiro Superior-Geral, dignidade quie o vel em Roma. O mundo era estreito de­
Santo acceitou só por obediencia. mais para s·eu zelo, dizia o Papa Gregorio
Ignacio fi­ XV. "Si pu­
xou residencia desse morrer
em Roma, de miil vezes por
ronde mandou dia, de boa
s e u s co1111pa­ vontade 1m i 1
nheiros a di­ vezes soffre­
versas cidades na mil ago­
e paizes, de­ mas, si com
pois de lhes isto pudesse
ter dado as salvar uma só
instrucções ne­ alma". Estas
'Ces,sarias sobre palav r a s do
o modo de se Santo caracte­
haver em no rizam o espi­
m1eio do mun­ rito de missio­
do. nano.
A todos re­ Não havia
commendava a classe ou ca­
pratica da ab­ te g o r i a de
negação pes­ gente, á qual
•soal, segundo não se lhe es­
o exemplo de ten d •e s s e a
Christo, qu·e actividade e o
diz: "Quem interesse aipos­
quizer seguir­ tolico. Sendo
me, abnegue­ Superior Ge­
se a si mesmo ral da C�mpa­
e siga-me". nhia, não dei­
A fama elo xou de ms­
espirito apos­ truiir as crean­
tolico elos re­ ças nas verda­
ligios o s da d e s da fé.
Companhia de Abriu escolas
Jesus e s p a­ Santo lgnacio de Loyola de frequencia
lhou-'se I o g o gratuita para
O Santo apresenta ao Papa Paulo III a Regra da
·pelos p a izes Companhia de Jesus, por elle fundada. moços, onde
cwt h o I i c o s. pudessem re­
Reis e Soberanos pediram a Santo Igna­ ceber instrucção nais -sciencias e na re­
cio lhes mandasse padres, para dirigirem ligião. Dois orphanavos em Roma de­
coHegios e fazerem pregações. Um elos vem a Santo Igancio a fundação e or­
pdmeiros que formulou tal pedido, foi o ganização. Fundou um convento, sob a
'tei de Portugal, João III. Em vez de invocação de Santa Cat'haTina, com o
sete religiosos, que tinha pedido, Igna­ filin ele dar agasalho a moças, cuja vir­
cio enviou-lhe apenas dois:, Simão Ro­ tude, no meio dos perigos do mundo,
driguez e S. Francisco Xavier, este que corresse perigo. Um outro asylo era

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94 31 de Julho

destinado a pessoas que, tendo abando­ de Jesuita:s ! E' para admirar, pois, que
nado ulma vida de peccado, procurassem a nova Ordem se visse logo rodeada de
abrigo contra a:s tentações e pa-ra fazer inimigos ? E' para admirar ainda que,
penitencia. Só de Deus são conhecidas mais cio que qualquer outra, soffresse
1

as conversões realizadas por interlmedio perseguição a mais atroz ?


de Santo Ignacio, e só D:eus foi teste­
munha do bem immenso, que seu servo Esümadissilma na Egreja catholica, é
fez aos fieis daquelle tempo. O zelo ex­ a C�mpa,nhia de Jesus, a Ordem até ho­
tendia-se-lhe até á obra da conversão dos je a mais calumnia:da e odiada dos ini­
Judeus. Esses esforças tiveram a ben­ ,migos de Christo. Parece que Ignacio
ção de Deus, tanto que, no decurso de teve de Deus uma revelação a este res­
. �m anno, administrou o santo Baptis- peito; pois muitas vezes disse a seu,s fi­
1110 a quarenta Israielitas.
lhos espiritua:es, que a Companhia teria
a ventura de ser perseguida pelos ini­
Embora heispanhol de origem, Santo migos de Christo e de· sua Santa Egreja.
Ignacio mostrava grande interesse pela Não podia ser de outro modo, porque
Allemanha, que se achava profundamen­ Christo disse: "Si a mim perseguiram,
te abalada pelo movimento revoluciona­ a vós perseguirão".
rio da famosa "Reforma", movimento
que atirou o pomo da discordia áquella Apesar de tudo, a nova Ordem se
nação. EHe mesmo offereceu a Deus desenvolveu extraordinariamente. San­
muitas orações, penitenciais e santas to Ignacio ainda viu seus religiosos em
Missas, para afastar o flagello da here­ todas as partes do mundo. Dividida eim
sia d'aqueHe paiz. Fez mais: Ordenou 12 provincia:s, a Ordem possuia mais de
aos sacerdotes da Companhia, que cele­ cem collegios e residencias. Ignacio
brassdm uma Missa em cada mez, pela ainda teve noticia da conversão de po­
conservação da Allemanha na fé ca- vos inteiros á religião catholica, soube
tholica. t,. elos feitos :maravilhosos de S. Francis­
Com grandes difficuldades fundou em co Xavier nas Indias e do martyrio de
R:oma o Collegio Germanico, para fa­ varias jesuítas que sacrificaram a vida,
cultar a jovens allàmães o estudo da em defeza da doutrina que pregava�n.
theologia. Esta fundação ignaciana exis­ Sobejos rmotivos tinha, para reconhecer
te ainda hoje. Chemnitz, tlim dos disci­ na sua fundação a obra de Deus e esta
pulos de Luthero, affirtna que, si a convicção era uma das maiores satisfa­
Companhia de Jesus não tivesse feito ções do santo homem. Tão ardente dese­
outra cousa, sinão fundar o Collegio jo tinha de vêr Deus amacio e adorado
Germanico, só por este motivo merece­ por todos os homens, que frequente­
ria o titulo de destruidora da religião mente s1e lhe ouviam da bocca as pala­
protestante. O interesse de Ignacio pela vras: "O' meu Deus ! fazei que todos
salvação da religião catholica na Alie­ os homens vos conheçam e vos amem !"
manha chegou a tal ponto, que mandou Não obstante crescia-lhe no coração o
missionarias a Colonia, Moguncia e ou­ desejo de estar unido a Deus. Os olhos
tras cidades, com a ordem de combater enchiaJm-se-lhe de lagrima:s, quando pen­
a heresia e confortar os catholicos, na sava no céo e muitas vezes exclamava:
lucta contra a heresia. Melanchton, ami­ "Que tédio experimento do mundo,
go e auxiliar de Luthero, confessa que qu1ando olho para o céo "
a actividade d'esses homens embaraçou Em orações continuas pedia a Deus
muito a propaganda do novo evangelho. que o tirasse deste mundo, e essa oração
Com a noticia da chegada de novos mis­ foi ouvida. Uma febre, que pelos medi­
sionarios, mipressionou-se de tal modo cas foi qualificada de nenhuma impor­
que exclamou: "Ai ! Ai ! Que será d� tancia, trouxe-lhe o cumprimento do de­
novo eWl.ngelho ! O mundo está cheio sejo. Sentindo a chegada da morte, rece-

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31 de Julho 95

beu os Santos Sacramentos e pediu ao 3. Santo lgnacio era chamado o homem


que está sempre em colloquio com Deus e
Santo Padre a benção com a indulgencia vê o céo aberto. E' claro: Do que o cora­
ple1nari1a. A noite que lhe precedeu o ção está cheio, a bocca transborda. Os
transito, passou-a em extase ininterru­ olhos procuram o que mais lhes agrada. De
pto. Antes de exha:lar o ultimo suspiro, que natureza são tuas conversas ? Qual é
o objecto de teu amor, de tuas aspirações ?
levantou as mãos ao céo e pronunciou Que é, a que mais se prendem teus pensa­
os saJntissimos Nomes de Jesus e Maria. mentos?
Morreu aos 31 de Julho de 1556, na 4. A Santo lgnacio eram muito correntes
eda<le de 65 anll!os. as palavras: "Vence-te a ti proprio 1" A
vida do Servo de Deus, desde o tempo da
O Papa Gregorio XV, em 1622, ins­ conversão, foi a fiel interpretação deste
creveu-o no numero dos Santos. lemma. Vencendo-se a si, tornou-se um
A Companhia de Jesus, obra princi­ grande Santo. O "vencer-se a si proprio"
deve ser o programma de todos que pr<! ·
pal de Santo Ignacio, ainda existe e são tendem chegar á perfeição. O mundo é um
incakulaveis as bençãos que trouxe á valle de lagrimas e miserias, porque o pri­
Egreja. meiro homem não se soube vencer. O in­
ferno está cheio de homens que lá estão,
REFLEXÕES por que não se souberam vencer. O céo
regorgita de Santos, que devem a gloria
Na vida de Santo lgnacio ha muita cou­ ao combate continuo, que sustentaram
sa que nos póde servir de estimulo e de contra a natureza. - "Vence-te a ti pro­
edificação. Veja:mos alguns pontos apenas: prio" e terás garantida a tua salvação.
1. A conversão e santificação de SantÕ "Não ha outro caminho para a santidade
lgnacio foi resultado da leitura de livros senão o da abnegação e da mortificação.
religiosos. Grande é o bem que um bom Anima-te, pois I Começa resolutamente !
livro produz, como incalculaveis são as Uma unica mortificação, feita com decisão,
consequencias da leitura de um livro máo. é mais agradavel a Deus que praticar mui­
A perdição de muita gente teve inicio com tas boas obras". (Sto. lgnacio).
a leitura de uma obra perversa. Muitos ou­
tros se conservaram bons ou voltaram ao
bom caminho, devido á influencia benefi­ Santos, cuja memoria é celebrada hoje:
ca da boa leitura que fizeram. Dahi tira a Em Milão o bispo-martyr S. Calimerio,
conclusão e formula teus propositos. que, preso pelos soldados de Antonino, hor­
2. Só um interesse inspirou a vida de San­ rivelmente mutilado, com a espinha quebra­
to lgnacio: o da gloria de Deus e da sal­ da, foi atirado a um poço.
'!ação das almas. A este interesse sacrificou Em Siena, na Toscana, a morte do bem­
e subordinou tudo. E' proprio dos Santos aventurado servo de Deus João Colomblnl,
fazer sempre e em tudo o que Deus quer, fundador da Ordem dos Jesuatas. Homem de
pospondo-lhe os interesses proprios. Fazer posição em Siena, sua terra natural, casado,
só o indispensavelmente necessario, com pae de dois filhos, mudou de pensar devido
algum cuidado de evitar o peccado mortal, á leitura dum livro. Dedicou-se em seguida
é caracteristico dos tíbios. E' mais per­ exclusivamente a obras de caridade e fun­
feito procurar sempre o agrado de Deus e dou uma congregação de leigos, cujos fins
dirigir todos os actos á gloria de Deus e á são a oração, a meditação e a caridade. Fal­
salvação da alma. leceu em 1367.

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1 de Agosto

Festa das cadeias de S. Pedro, Apostolo


:A\ EGREJA Catholica commemora veiu um anjo do Senhor, e resplandeceu
uma luz no aposento; e, tocando no lado
� hbj,e um facto extraordinario, que de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te
se deu na Egreja primitiva, e que beun depressa. E cahiram as cadeias das suas
nnostra a visivel prorecção de que gosa, mãos. E o anjo disse-lhe: Torna a tua cin­
da parte de Deus : a libertação de São ta, e calça as tuas sandalias. E elle fez as­
sim. E disse-lhe: Põe sobre ti a tua capa,
Pedro das cadei'aiS. O acontecimento e segue-me. E elle, sahindo, seguia-o, e não
encontra.rnol-'o referido nos Actos dor, sabia que era realidade o que se fazia por
Apostolas (Cap. XII): intervenção do anjo; mas julgava ver urna
visão. E, depois de passarem a primeira e
"Naquellc mesmo tempo o rei Herodes a segunda guarda, chegaram á porta de fer­
começou a maltratar alguns da Egreja. E ro que dá para a cidade, a qual se lhes abriu
matou á espada Tiago, irmão de João. por si mesma. E, sahindo, passaram urna
E, vendo que isso agradava aos Judeus, rua, e, imrnediatarnente, o anjo afastou-se
mandou tambem prender Pedro. Eram en­ delle.
tão os dias dos azimos. E, tendo-o man­ Então Pedro, voltando a si, disse: Ago­
dado prender, metteu-o no carcere, dando-o ra sei verdadeiramente que o Senhor man­
a guardar a quatro piquetes de quatro sol­ dou o seu anjo, e me livrou da mão de He­
daclos cada um, tendo intenção de o apre­ rodes e de tudo o que esperava o povo dos
sentar ao povo depois da Paschoa. Judeus. E, depois de um momento de re­
flexão, foi a casa de Maria, Mãe de João,
Pedro, pois, estava assim guardado no que tem por sobrenome Marcos, onde es­
carccre. Entretanto a Egreja fazia sem tavam muitos reunidos cm oração. E,
cessar oração a Deus por elle. Ora, na mes- quando clle bateu á porta da entrada, uma
111a 11oitc cm que Herodes estava para o donzella, chamada Rode, foi ver. E, logo
apresentar, Pedro dormia entre dois solda­ que conheceu a voz de Pedro, com a ale­
d"s, ligado com duas cadeias; e os guardas gria não lhe abriu a porta, mas, correndo,
ú porta vii-:iavam o carcerc. E eis que sobre- deu a nova de que Pedro estava á porta.

(!(l(lu/(ls riu H. l'eclro - Acto1:1 Apost. Greg. Magno.


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100 1 de Agosto
li

Elles, porém, disseram-lhe. Tu estás louca. que ais guardaram na Egreja de Jerusa­
Mas ella affirmava que era assim. E elles. lõm, coimo rieliquia ele grande valor. No
diziam: E' o seu anjo. Entretanto Pedro
continuava a bater. E, tendo aberto, viram­ mmo 439, o Patriarcha J uvenal as deu
no, e ficaram estupefactos. Elle, porém, de priesente á Lrnlperatriz Eudoxia, que,
tendo-lhes feito signal com a mão para que por occaisião ela peregrinação aos Santos
se calassem, contou-lhes de que modo o Logares, mePecera a gratidão dos chris­
Senhor o tinha livrado da prisão, e disse:
Fazei saber isto a Tiago e aos irmãos. E, tãos, por sua grande liberalidade.
tendo sahido, foi a outra parte." De posse de ambas as correntes, Eu­
doxia mandou uma á filha, chamada
As oorrentes com que Pedro estivera egualmente Eudoxia, casada com Valen­
preso, cahiram nas mãos dos chri-stãos, ciano III, Imperador romano. Esta, ex-
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o
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'O
...o
a,
p,.
c:J
Um anjo do Senhor appareceu, e uma luz brilhou na prisão. O anjo, tocando
lado, despertou-o e disse: "Depressa, levanta-te".
Festa das cadeias de S. Pedro
1 de Ai?osto 101

tramamente sensibilisada com o precio­ lhe suspenderam ao pescoço as corren­


so pre,s-ente, mostrou-a ao Papa Sixto tes de S. Pedro.
III, que mandou trazer a outra corren­
te, com a qual Pedro estivera algemado REFLEXÕES
no carcere mamertino, por ordem do S. Pedro, embora innocente, é perseguido,
Imperador Nero. No momento em que• mettido no carcere e condemnado á morte.
Deus permitte que seus mais dedicados
con frontarab.11 as duas correntes, estas, amigos soffram injustiças. S. Pedro, per­
como s:: tivessem ficado com vida, se feitamente conformado com a sorte, tendo
t:nirann estreitamente, fon11ando urna a consciencia tranquilla, entregou-se a Deus
só corrente. A Imperatriz mandou cons­ e dormiu socegadamente, agrilhoado na
prisão. O exemplo de S. Pedro deve ani­
truir no monte Esquilino uma cgreja, mar-nos a resignarmo-nos sempre com a
que foi consagra-da no dia 1 de Agosto vontade de Deus, tendo apenas o cuidado

As cadeias de S. Pedro no estado como são conservadas em Roma.


e dedicada ás correntes de S. Pedro, de não praticar actos que possam pertur­
q-ue lá se acha!rn até hoje e gosam de bar a paz da nossa consdencia. Humana­
mente falando, não havia esperança ne­
grande veneração dos fieis. nhuma de S. Pedro salvar-se da situação
Que esta veneração é do agrado ele difficilíma em que se achava. Os christãos
Deus, demonstram os factos maravilho­ rezavam com muita insistencia pelo chefe
sos que se dera(tll, no·· decorrer dos se­ e, quando as cousas chegaram ao extre.no,
pa"recendo inevitavel a morte de Pedro,
culos, e!m l"elação áquellas correntes. A Deus mandou-lhe o Anjo salvador. Assim
pedido do povo christão, os Papas con­ tambem nós não devemos entregar-nos ao
sentiralm que das correntes fossem tira­ desanimo. Sejam quaes forem os soffri­
das partículas que, embutidas cm cruze" mentos e luctas, que pareçam querer oppri­
mir-nos, a nossa esperança deve estar sem­
ou chavesinhas de o-uro, pfusaram par:i. pre em Nosso Senhor, que não abandom,
a vieneração particular, como preciosas os seus fieis servidores.
lembranças do Príncipe dos Apostolos.
Um fidalgo da Lombardia, - assim Santos do Martyrolog:,i Romano, cuja me­
l"efere S. Gregorio Magno, - fazendo moria é celel,rada hoje:
de uma d'essas chavesinha:s objecto ele Em Antiochia o martyrio da Mãe dos Ma­
escameo, ficou possesso do den10nio e chabéos com seus sete filhos quando Antio­
suicidou-se. Um outro fidalgo, que se cho governava em Israel. São chamados Ma­
achava na comitiva do Imperador Othão chabéos, porque sua historia é contada no
2 º livro dos Machabéos.
I, estando possesso do demonio, ficou Em Roma a memoria das tres meninas
livre da possessão, no 'momento em que Fé, Esperança e Caridade, que, com sua mãe

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102 2 de Agosto

Sophia, soffreram o martyrio. Procedentes Na Asia Menor o martyrio de Leoncio,


de Milão ou da Grecia, vieram para Roma Atto, Alexandre e mais seis companheiros,
no tempo de Hadriano. Seus nomes gregos todos lavradores, decapitados sob o governo
são Pistis, Elpis e Agape. Embora seja um de Diocleciano.
tanto lendaria, sua viela e seu martyrio tem Na Inglaterra a commemoração do bispo
fundamento historico. Ethelvoldo, O. S. B. de Lindisfarne. 740.

2 de Agosto

Santo Affonso Maria de Líguorí


Doutor da Egreja, Bispo de Santa Agueda e
Fundador da Congregação do SS. Redemptor.
(t 1787)

tfr ARIANELLA, collocada nos arra­


ii\iJJI baldes poeticos de Napoies, cha­
ele santo e ele sabia. Mocinho ainda já
frequentava as associações religiosas,
mava-se a villa da historica familia De fugia dos companheiros briguentos e
Liguori. Foi lá que pela manhã de 27 wmigos ele palavras pesadas. N aturai­
ele Setembro de 1696 na;scia Affonso. mente não eram pequenas as esperanças
Sobre seu berço já scintillavam os es­ que sobre elle nutria D. José ele Liguori.
plendores de uma nobre linhagem e cio Com effeito o destinou aos estudos das
renome paterno. artes libera:es, das sciencirus exactas, das
D. José, o pae cio santo, pertencia á :füciplinas jurídicas.
nobreza, tendo nome e escudo de fidal­ Forajm rapidos os progrns'sos dt Af­
go. Era preposto do rei Carlos VI, fonso na j urispru<lencia. Com _16 annos
commamdando os navios reaes. Mas so­ e poucos mezes doutorou em ambos
bretudo era hamcm profundamente os direitos. Ccim espanto geral começou
crente. Desposou a D. Anna Cavalieri, a colher louros e triumphos no fôro.
não menos religiosa nem menos nobre ]magine-s'e quantos planos e quantos
que dle. Era D. Anna irmã do bispo de ca:stellos de grandeza fazia sobre o fi­
Troia ·e pertencia á nobre familia elos lho o envaidecido pae !
Cava:li·eri. Mas no coração de Affonso já havia
Até a palavra prophetica de um san­ a graça divina aberto profundos sulcos
to - S. Francisco de Jeronymü - e inspÍ'rado outras rotas de grandeza.
veiu pôr em fu[gories o berço de nosso Era eUe fervoroso socio da Congrega­
santo. "Esta criança - disse Jeronyrno, ção dos Jovens Fidalgos e Doutores. O
tomando o menino que lhe apresenta­ sacrario o attrahia como um iman. A
vam os paes - esfü. cri-ança, não mor­ Maria Sa:nti�ilma entregára o santo a
rerá antes de 90 annos; será bispo e guarda do Urio de sua pureza. Todos
realizará imaravilhas na Egreja ele os annos fazia os exercicios espirituaes.
Deus".· Entretanto D. José já andava á pro­
Do pae recebera Affonso uma vonta­ cura de ll\ma noiva para o filho. Achou-a
de ferrea, uma intelligencia viva e pers­ na pessoa de Thereza, Uil11a sua sobri­
picaz, emquanto a influencia materna nha, filha do principe de Presiccio.
lhe punha no coração uma ternura irre­ Aconteceu porém que esta sobrinha, e'm
sistível. E cedo con11eçou sua carreira lhe n'ascendo um it1mãosinho, já não ia

,<lanto A_ffonso Maria de Liguori - Berthe, Vida de Santo Affonso - Picler, Character­
bild - Perrotta, Cinquantenario della sua proclamazione a Dottore di S. Chiesa.

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2 de Agosto· 103

ficar a unica herdeira dos bens pater­ despercebida. "Enganei-me - exclamou


nos. E is-so fez esfriar os enthusiasmos o santo." Ooberto de v,exalme retirou-se
de D. José. Thereza ootnprehencleu o do foro, exclamando: "O' mundo fallaz,
jogo e, ao ser nova!mente procurada pelo agora eu te conheço ! Adeus tribunaes ! "
tio por occasião da morte do r�cem­ Chegando em casa, fechou-se Affonso
nascido iPmãosinho, desiHu:diu-o e foi no quarto por muitos dias, entregue á
tomar o véo meditação e á
no c o nvento tristeza.
daJS Sacra11nen­ Es t a v am
tinaJS. corta d as as
Affonso por
sua vez -s,em­ . . e. o
amarras
nav10 m. sm-
pre se mositrá­ gmr por ma­
ra esquivo a res novos �
taes proj ectos menos procel­
do pae. Além los,os. Nosso
da piedade, da advogado co­
scienci-a, culti­ ·meçou e o m
varva taimbem ulJna vida en­
a musioa. Ia tr e g u e á s
ás O p e r a s, obras de cari­
mas fechava­ dade, á oraçi:i r,
se no galar"m F o i quam-Io
paira nada ver trnbalhava no
e apenas ouvir hospital d o s
a musica dos Incuraveis que
celebres maJes­ ouviu por duas
1

trios. vezes o cha-


A Pr o v i­ 1110ido myst- e­
diencia tinha rioso: "A f­
1outr'a!S intlen- fonso, deixa o
ções com Af­ mu ndo!" A
fonso ,e ia in­ 23 de Outu­
tervir no cLes­ brn de 1723
,enrolar d a s vestia o talar
cous a s. Em dio clerigo. A .
1723 o Duque 21 de Dezem­
de Orsini en­ bro de 1726
tregava a Af­ foi ordenado
f o n s o uma sacerdote. Tu­
causa de sum­ Santo Affonso Maria de Liguori ,do isso porém
"Minha esperança é Jesus Christo, e depois delle
ma tmportarn­ Maria Santissima". (Santo Affonso).
lhe custou re­
cia. Tratava­ nhidas luctas
se nada mlenos de um feudo no valor de com o paie, o qua' l não podia se confor­
600.000 ducaidlos. Meticulosalmlente nosso mar cdm a 'escolha foita pelo filho. Mais
advoga!do estudou ·o pmcesso, r;eviu os tarde era 00111 pav,or que Affonso re re­
autos, conferiu doct1mentns. Fez uma bri­ cordava dessas horas ele combate. Ago­
lhanrt:issiima defeza no fôro. A victoria es­ ra foi rapida a carreira de Affonso. Do
t�va mais qure garantida, quando o ccm­ .-ailtar foi para o pulpito, 1iornando-se po-
tra-artacantle lhe chaUnou a attenção para pular cdmo prég-aidor e estimrado como
wna pequena negação que lhe passára verdadeiro apostolo. Procurava de pre-

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104' 2 de Agosto

ferencia os pobres Lazzaroni e a meni­ sões e retiros á classe mais abandonada,


nada abandonada pelas ruas clle Napoies. de preferencia.
Muito se mortificava D. José em vendo A' frente de seus subclitos percorre
o filho mentido no meio do povinho\, Affonso ci-ci'a<les e villas do sul da Ita­
desprezível a ·seus olhos de fidalgo. Nos­ lia, convertendo peccadores, refonnan­
so santo não se esmorecia camtudo. Pas­ do costumes, santificando as familias.
sou a morar no Hospício dos Padres Era um facho ardente que deixava em
Chinez,es e pensou seriamente em ir para chammas de amor divino os Jogares por
as missões pagãs. onde pa:ssava. Mais do que sua palavra
Mas o hü!mem se agita e Deus o con­ prégavalm os seus exemplos de virtude,
duz. Adoenta,do, foi Affonso enviado a de penitencia, de caridade e de santa
Scala para repousar. Aconteceu que lá innocencia As cidades disputavam
havia um convento de Irmãs e entre es­ Affonso como prégador. Um dia soube
tas destacava-se por sua virtude a Irmã Affonso que o queriam nomear arce­
Maria Celeste Crostarosa. A 3 de Outu­ bispo de Palermo. Pediu orações para
bro ele 1731 revelava-lhe a Irmã a visão que se evitasse "o grande escandalo" de
que tivera: Affons-o estava designado sua notmeação. ( Os redemp�oristas se
por Deus para fundar urna nova Con­ obrigam a renunciar á toda dignidade
gregação. Começou então o duello entre ecclresiastica). Ma:s em 1762 o Papa Cile­
Deus e a humildade do santo. A lucta mente XIII impunha-lhe a mitra de
foi um verdadeiro ,martyrio para Af­ Sainta Agueda dos Godos."V1ontade do
fonso. A santa it1mã chegou mesmo Papa é vontade de Deus", disse o santo
a intimai ao: "D. Affonso, Deus não o e curvou a fronte.
quer em Napoies; chama-o para f un­ Durante 13 annos pastoreou sua dio­
dar um novo Instituto." cese, reformou-lhe o clero, os costumes,
Resolvido a isso, depois de se haver as egrejas. Outra tornou-se a vida re­
orientado co:m Falcoia, seu confessor e ligiosa nos mosteiros e conventos. E os
,mais tarde bispo, teve o santo de enfren­ diocesanos pasmaram, viram que 'ti­
tar tremenda opposição do pae. Este nhaim ulm santo por bispo, quando veiu
recdminava ao filho dureza de coração a fome assolar a diocese. Affonso ven­
por querer aba:ndonal-o para metter-se deu até as alfaias, os moveis de seu po­
na aventura de fundar um novo Insti­ bre palacio, seu annel de bispo, para
tuto. acudir aos necessitados.
Mas a graça venceu, e a 9 de Novem­ Em 1775, a pedido seu, livrou-o do
bro de 1732 fundava Affonso, em Sca­ bispado o Papa Pio VI. O santo pa­
la, a Congregação elos Padres Redcnn­ triarcha voltou pobre para seu convento
ptoristais, que no começo tinha o nome · e ahi a mão de Deus o experimentou e
de Instituto elo SS. Salvador. Seus pri­ lhe burilou lindas facetas de virtude.
meiros companheiros erél/1,n todos sa­ Affonso, acabrunhado por soffrimentos
oerdotes e logo começaram a dedicar-se physicos, teve o desgosto de ver ,a seis­
á prégação. Não tardou a apparecer a são no seu Instituto e, por mal-entendi­
desunião nas idéas. Queriam uns que o dos, foi até excluido da Congregação
Instituto, além ela prégação, se dedi­ que fundára. Com heroica paciencia a
casse taimbem ao ensino. Affonso bateu­ tudo se sujeitou nosso santo. Velho e
se pela exclusividade da prégação aos doente, animava a Clemente XIV para
pobres, ás regiões ele gente aba111donacla, resistir aos que queriam supprimir a
na fónma de missões e retiros. Vc:;nceu Cqmpanhia de Jesus. E numa prodigio­
seu ponto de vista.. Em 1749 o Papa sa bilocação foi assistir o referido Papa
Bento XIV _approvava éliS Regras do na hora de sua agonia.
Instituto, que tinha por fim a imitação Finalmente, após longo martyrio no
de Jesuis Christo e a prégação de mis- corpo e na alima, roido por dores e sec-

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2 de Agosto 105

curas esp1ntuaes, morria calmamente no muito que trabalhou, que rezou e que es­
Senhor a 1 de Agosto de 1787, na idade creveu. E tantos são os christãos que per­
dem o tempo em peccados, em deveres mal
ele 91 ainnos. Em 1816 foi declarnclo cumpridos, em, devoções praticadas só por
beato, sendo canonisado em 1839 por motivos humanos 1
Gregorio XVI, honra que Pio VIII lhe Affonso santificou-se com a devoção á
quizera prestar já em 1830, não o po­ Santa Infancia, á Paixão de Jesus Chris­
dendo, por ca:usa da revolução. to, ao Santissimo Sacramento, e á Mãe de
Affonso foi um escriptor incansavel. Deus. E' com empenho e carinho de santo
que as recommenda. a todos os fieis. E' o
Deixou para os sacerdotes a sua celebre verdadeiro santo de Nossa Senhora e do
Theologia Moral ; para os religiosos, a Santissimo Sacramento. - Não pen'se o
Verdadeira Esposa de Christo; para o leitor que em outras devoções, que não es­
tas, encontrará a força e a graça para sal­
povo christão, livros cheios ele verda­ var sua alma e santificar-se.
deira e ungida piedade, taes como as
Affonso foi sobretudo o homem da ora­
Meditações sobre a Paixão cio Salvador, ção. Na sua phrase, perde-se quem não
Glorias ele Maria, Visitas ao SS. Sacra­ reza e salvasse quem não cessa de resar.
mento, Tratado sobre a Oração. Foi Cuide-se o leitor, portanto, de fazer pou­
historia,dor, foi apologeta, foi prégador, co da oração ou de reduzil-a ao minimo
foi poeta e foi musico. De tu1o deixou possivel na sua vida. Do contrario corre
valiosas lembranças ao povo christão. sério risco de perder sua alma e sua glo­
ria.
Chegam a 90 suas obrws publicadas e a
1.913 os manuscriptos que deixou. Por
isso deu-lhe a Egreja em 1871 o titulo San.tos do Martyrologio Romano, cuja me­
de Doutor zelosissimo. As obraJS de Af­ moria é celebràda hoje:
fonso teem a perennidade das fontes e Em Roma, vlctlma da perseguição vale­
das arvores seculares. Foram traduzi­ riana o Papa Santo Estevão.
das cm mais de 64 linguas os livros Na Bythlnia, no tempo da perseguição
"Visitas ao Santissimo Sacramento" e diocleciana, o martyrio de Santa Theodota
"Glorias de Maria Santissima". com seus tres filhos. Todos soffreram a
morte pelo fogo.
REFLEXõES Na Tunísia S. Rutllio, que depois de di­
Affonso fez o voto de não perder uma versas tentativas de fugir dos seus persegui­
parcella de tempo. Só assim se explica o dores, soffreu o martyrlo pela fogueira. 211.

2 de Agosto

lndulgencía da Porcíuncula
6 DIA 2 de Agosto é festejado em indulgencia, esta é de ordem secundaria,
'@ todas as Egrejas das tres Ordens como que um presente espiritual da fes­
Franciscanas e grande nUlmero de fieis ta, que está em plano ele destaque. Não
ca,tholicos toma . parte activa nessa so­ ass�m a festa de Porciuncula; nella a
lemnidacle. E' ·a festa de Porciuncula, indulgencia é a cousa principal.
festa singularíssima, como já o nome Porciuncula não é nome de uma San­
parece indicar. ta, nem de um mysterio da Santa Reli­
As festas ecclesiasticas geralmenre nos gião, mas assim é chamada uma egre­
apresenta!m um ou outro mysterio da vi­ jinha, nas proximidades de Assis, na
da de Christo, de sua SS. Mãe, ou a Italia. A egrejinha de Porciuncula àd�
memoria de ulm Santo. Si é que em taes quiriu fama mundial, devido a S. Fran­
festas ha possibilidade de ganhar uma cisco de Assis e pela indulgencia extra-

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106 2 de Agosto.

urdinaria, que aquelle Santo obteve pa­ são, foi a S. Francisco por Christo re­
ra esse sa:ntuario. velado o dia da gra.Jt1de indulgencia, que
A historia da egrejinha de Porciun­ havia de ser 2 de Agosto. Dizem os An­
cula e da respectiva indulgencia é a se­ na:es dos Frades Menores que, nessa
guinte: De todas a:s egrejas de Assis, occasião, S. Francisco recebeu de Jesus
S. Francisco gostava mais da capellinha Ohristo tres rosais brancas e tres encar­
de Santa Maria dos Anjos, mais conhe­ nada:s, de extraordinaria pelleza, como
cida pelo nome de Porciuncula. Amea­ prova da authenticidade do que se ha­
çando ruir, S. Frnncísco renovou-a e via dado com elle, dm mysteriosa visão.
considerou-a a primeira egreja da Or­ Como fosse invemo, rosas não havia
dem que fundára. Em Setembro de naquella estação. Levando comsigo
1221, teve naquella egreja uma visão.· tres Irlmãos, São Francisco foi a Ro­
Parecia-lhe vêr Nosso Senhor Jesus ma e relatou ao Papa o que elm visão lhe
Christo, sua bemdita Mãe e muitos An­ fôra dito. A prova das rosas tão pro­
jos, a:nima:ndo-o a pedir uma graça, pela foncla1m1ente impressionou ao Papa e
salvação das almas. S. Francisco, con­ aos Cardeaes, que immediatamente foi
fiante na interces·são valiosa de Maria, aoceita a proposta de Francisco. Sete
di,sse então: "Eu, pobre peccador, peço Bispos tiveralm ordem do Papa para no
a vossa divina majestade, a graça, em dia 2 de Agosto proclamar solemnemen­
beneficio do povo christão, de que a to­ te a indttlgencia plenaria na egreja de
dos aquelles que vierem visitar esta Porciuncula. Assim aconteceu no anno
·egreja e aqui receberam os Santos Sa­ de 1293.
cralmentos, seja aoncedicia uma indulgen­ D/esde aqU!ella data até hoje, a egreja
cia plenaria". Vendo que Nosso Senhor de Porciuncula, no dia 2 ele Agosto, tetm
se conservava calado e reconhecendo sido visitada por grande numero de
111esse silencio tl!111 gesto negativo, dí­ fieis, que lá vão ganhar a grande indul­
rigiu-se a Maria Santissima. Foi­ gencia.
lhie então concedida a graça solici­ Sobre a pequena Egreja primitiva,
ta1da, cdm a condição, porém, de apre­ em que imal cabiam 100 pessoas, fecham­
sentar-se ao Papa Honorio III e em no­ se as imponentes arcadas da cupula de
me de Christo requerer a indulgencia. uma grande ba:silica, cujas dimensões
Logo no dia seguinte, acompanhado de colossaes pequenas são para, no dia 2
Frei Masseo, S. Francisco foi a Peru­ de Agosto, comportar as levas intermi­
g,ia, onde se achava o Santo Padre. A nas de piedosos rülffieiros.
este São Frnncisco apre, sentou o pedi­ E' essa a origem da celebre indulgen­
do. Honorio, não obstante ser grande cia de Porciuncula, que selm grande te­
admirador do pobre de Assis, achou meridade não póde ser contestada, como
bastante exquisita a petição do mesmo, declarou o Papa Benedicto XIV.
tanto que, ouvindo a opinião contraria O privilegio da grande indulgencia,
de alguns Cardeaes presentes, se decla­ durante duzentos annos, era exclusivo
riou em desfavor. Conceder uma indul­ da egreja de Porciuncula. O Papa Six­
gencia plenaria, dado o antigo regimen to VI extlendeu-o, em 1480, a todas as
penitenciario da Egreja, era cousa· ex­ egre, jas de religiosos Franciscanos su­
traordinaria. Deus, porém, moveu o co­ jeitos á clausura. O mesmo privilegio
ração do seu representante na terra, o foi em seguida dado a todas as egrejas
qua'1, vencendo as primeiras duvidas, dos Franciscanos da 1ª e 3ª Ordem. O
aoncedeu a Francisco o que pedira, com Papa Gregorio XV, cm 1622, generali­
a condição da confissão contrita dos zou o privilegio da Porciuncula a todas
peccados e da visita á egreja de Por­ as egrejas das Tres Ordens Francisca­
ciuncula. Essa graça era, al&n disso, res­ nas no mundo inteiro. O Santo. Padre ·
tricta a tim dia do anno. Em outra vi- Pio X concedeu a indulgencia da Por-

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3 de Agostb 107

ciuncula a todas as Egrejas matrizes, ás nahnente, não preci,sa1111 fazer uma con­
capellas ou oratorios seini-publicos das fissã,o extraordinaria, para participar do
Ordiens e Cctmmunidaides religiosas. privilegio.
(Mot:u proprio de 9-6-1910 e Decr. G.
2ª - Essa indulgencia póde-se lucrar
s. o. 26-5-1911). toties quoties, isto é, tantas vezes quan­
A indulgencia da Porciuncula é appli­ tas Uma pessoa visitar qualquer egreja
cavel ás almas do Purgatorio. (Breve ou capella das adma designadas e a:hi
de Ininocencio XI, 22-1-1689). recitar preces segundo as intenções do
As condições sob as quaes a Egreja Summo Pontifice.
concede a indulgencia da Porciuncula,
3ª - Estas preces podem ser 5 Pa­
são as seguintes :
dre-Nossos e 5 Ave-Marias ou outras
1ª - A confissão contrita. Só o es­ equivalentes.
tado da graça santificante habilita · o
4ª - As pessoas pertencentes ás
christão para ganhar uma indulgencia.
Cammunidades religiosas, que vivem eim
Quem se acha em estado de peccado
con�mum, poderão, para lucrar a mes­
mortal nenhU!ma indulgencia ganhará.
ma indulgencia, visitar a egreja propria
Para remover o obstaculo do peccado, é
ou, em sua falta, o oratorio domestico,
indispensavel a confissão. O proprio
eJm que se conserve o Santíssimo Sa­
pecca:do venial ou o apego a este impe­
crauuento da Eucharistia.
de o aproveitaimento da indulgencia plc­
naria. O peccado venial commettido 5ª - E' desejo do Santo Padre que
proposital e deliberadamente, está em em todas as matrizes e egrejas de Com­
opposição ao perdão completo dos casti­ munidades religiosas de a!mbos os sexos,
gos ou penas tempora:es. Dahi se se­ no dia 2 de Agosto, as ladainhas de to­
gue que a confissão é necessaria ás pes­ dos os Santos, recitadas ou cantadas, se­
soas, cuja consciencia accusa sómente ja;m precedidas da invocação do seraphi­
peccados vcniaes, pessoas, portanto, que co patriarcha S. Francisco de Assis :
se acham na graça santificante. A con­ Sante Francisce - Ora pro nobis e fei­
fissão deve ser feita no proprio dia da tas orações pelo Summo Pontifice, pe­
indulgencia ou alguns dias antes. Pes­ los Ministros do Santuariô e por toda
soas que costU!malm confessar-se senna- a Egreja !militante.

3 de Agosto·

Invenção do corpo do protomartyr


SANT, ESTEVAM
( Seculo IV)

AS ACTOS dos Apostolos relatam de Jesus Christo, foi apeclrejado pelos


•� o martyrio ele Sant'Estcvam. o Judeus.
grande diacono da Egreja jerusalemita­ Hdmens virtuosos encarregaram-se de
na, que, tendo pr-ovaclo co1111 argumentos sepultar as restos mo4"taes do grande e
inconcussos a -divindade e messfanidade primeiro lmartyr.
'
Invenção de Santo Estevam - Luci�no. Tillerriont II. 9. Raess e Weiss X.

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J de Agosto

Entr-e elles se achava Gamaliel, antes deter,minou-lhe o logar onde repousa­


mestre de S. Paulo e depois seu discipulo. vam os corpos dos Santos.
Homem de grande prestigio, conseguiu Estes, de facto, fora.m encontrados
que o corpo de Sant'Esteva1111 mais tar­ exactamente · no logar que Gamaliel ha­
de fosse transportado para um sitio de via indicado. Numa d'aquellas sepultu­
sua propriedade, nos arredores de J eru­ ras foi encontrada uma pedra, que tra­
salém. Sobreveiu uma época de crueis zia gravado o nome de Cheliel, que em
perseguições, devido ás quaes o tumulo hebraico significa Esteva.m. Mal se
de Sant'Estevam cahiu por longo tem­ abrira o sarcophago que encerrava o
po eim esquecimento. Quiz Deus que as corpo de Sant'Esteva\111, foi por todos
reliquias do santo martyr fossem arran­ sentido um tremor de terra e um perfu­
caclas ao silencio do tumulo e restitui­ me delicioso encheu o ambiente. Trinta
das á veneração dos fieis. e seis doentes, que se tinham acercado,
No logar onde se achavam as reliquias recuperaraan immediatamente a saúde.
de Sant'Estevam, morava, no seculo Em procissão solettnnissima, foram as
IV, um santo sacerdote da Egreja de preciosas reliquias trasladadas para Je­
Jerusalém, chamado Luciano. A este ap­ rusalém. Ao mesmo tempo cahiu abun­
pareceu em sonho S. Gamaliel e indicou­ dante chuva, que trouxe grande allivio
lhe o logar onde estavam enterrados os á terra, castigada por uma prolongada
corpos de Sant'Estevam, de S. Nico­ s·ecca.
demos, o delle proprio e o de seu filho O facto extraordinario da invenção
Abidas. Deu-lhe ordem de mostrar es­ das reliquias de Sant'Estevam tornou­
ses logares a João, Bispo de Jerusalém, se conhecido em toda a Christandad'e e
para que estie providenciasse para a cx­ causou alegria geral entre os fieis e
humação dos corpos e os entregasse á grande perturbação e confusão entre os
veneração dos fieis. hereges. Muitas Egrejas pediram ao
Luciano, despertando do somno, nada Bispo de Jerusalém pequenas particulas
disse ao Bispo, receiando que a v1sao das reliquias do protomartyr e por toda
fosse talvez uma artimanha do demonio. a parte foraim observados grandes e es­
Bediu a Deus que lhe esclarecesse o es­ tupendos milagres. Santo Agostinho,
pirito e lhe désse aviso mais claro, para que vivia naquelle tempo, enumera os
remover toda a duvida a respeito das seguintes factos :
reliquias. Passou oito dias em oração e
jejum, para alcançar essa graça. No oi­ "Uma céga recuperou a vista, no mo­
tavo dia, appareceu GaJmaliel outra vez, mento em que os olhos se lhe puzeram
fazendo-lhe as mesmas communicações. cm contacto com flôres qll'e tinham sido
Luciano, porém, ainda não obedeceu á encontradas nas reliquias de Sant'Es­
nova ordem, continuando entretanto as tevaJm. - Um bispo de nome Lucillo,
orações e jejuns. Pela terceira vez, Ga­ pelas reliquias de Sant'Estevam, ficou
maliel lhe appareoeu, dando-lhe d'esta curado d'uma fistula maligna. - O sa­
vez ordem terlminante de pôr-se em com­ cerdote Euchario voltou á vida, quando
municação cdm o Bispo, para que as lhe cobriram o cadaver CCl'l11 um manto
santas reliquias fossem collocadas nos com qu'e appareceram cobertas as reli­
ailtares, porque grandes seriam as graças quias de Santo Estevam. - Dois ho­
que Deus queria dar aos fieis, por inter­ mens entrevados pelo rheumatismo fi­
cessão d'aqueUes Santos. caram curados. - Um menino, que ti­
nha morrido esmagado pelas rodas d'u­
Luciano relatou ao Bispo as repetidas ma carruagem, não só resuscitou, •mas
visões que tivera, e a ordem que de Ga­ tamb�m ficou com o uso dos men1bros
maliel recebera. Na noite seguinte, ap­ perfeito. - Resuscitou para vida uma
pareceu Gamaliel ao Monge Migecio e monja, quando nella encostaram um

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4 de Agosto 109

vestido que tinha tocado nas reliquias de sempre a mesma doutrina, sobre o culto
Sant'Esteva:m. dos Santos, das Imagens e das Relíquia,.
As objecções dos hereges tambem têm si­
Muitos outros milagres ainda enume­ do sempre as mesmas. Do seu ponto de
ra Santo Agostinho e accrescenta : "Si vista, têm razão, porque heresia nenhuma
eu quizesse ·enumerar só as curas mara­ produziu até hoje um Santo siquer, nem
vilhosas, que se fizeram por este glorio­ tão pouco o tumulo de um herege foi glo­
so Martyr Sant'Estevam, aqui enn Ca­ rificado por um milagre, ao passo que os
lalma e em Hippona, só com isto enche­ milagres feitos nos tumulos dos nossos
ria volumosos livros, e nem assim po­ Santos contam-se aos milhares.
deria regi·stral-as toda:s ". (De civ. Dei.
22).

Santos do Martyrologio Romano, cuja me­


REFLEXõES moria é celebrada hoje:
O grande numero de milagres que se ob­ Em Constantinopla a morte de Santo Her­
servaram, na descoberta das reliquias de mello.
Sant'Estevam, são de facto prova bas­
tante de que a veneração das reliquias de Em Napoles a memoria de Santo Aspre­
Santos e a invocação d'estes, como é uso no, primeiro bispo daquella cidade e discí­
da Egreja, agrada a Deus e nos é util. Si pulo de S. Pedro, de quem recebeu o bapti:i­
assim. não fosse, milagre nenhum se daria mo e a sagração episcopal. E' Invocado con­
e inexplicavel ficaria o facto de Deus tão tra dor de cabeça.
visivelmente attender e proteger áquelles. Em Philippi, na Macedonia, Santa Lydla,
que o louvam na pessoa dos Santos. Não que negociava com tecidos de purpura. Do
nos deixemos, pois, desorientar por aquel­ paganismo passára para o judalsmo, e foi
les que reprovam o culto das, reliquias e convertida por S. Paulo, de cujas mãos re­
condemnam a veneração dos Santos. Nun­ cebeu o baptismo em Phillppl. E' padroeira
ca a Egreja ensinou ou praticou a adora­ dos tintureiros.
ção das reliquias dos Santos. Quem preten­
der o contrario, patenteia grande ignoran­ Em Beréa, na Syria, as Santas Marana e
cia ou má fé. Consola-nos, a nós catholi­ Cyra, ambas extraordlnarlas nas penitencias
cos, o facto da nossa Egreja ter ensinado que praticavam.

4 de Agosto

SÃO DOMINGOS
( t 1221

111\\ OMINGOS nasceu no anno de vm tt!m cão; que trazia na bocca uma
g 1170, em Calaruega, pequena lo­ i'ocha accesa, ele que irradiava grande
calidade na V'Clha Castella. O pae, Fe­ luz sobre o mundo inteiro. Effectiva­
lix de Guismán, pért1enda a uma fa­ mente S. Domingos veiu a ser uma luz
milia de a,lta linhagem e conceito na extmordinaria de caridade e de zelo
Hespanha; a mãe era Joanna de Aza. apostolico, que dissipou grande parte
Domingos não tinha naiscido ainda, das trevas das heresias e restabeleceu a
quando sua mãe, em sonho mysterioso, verdade em milhares de corações vacil-

S. D:nningos - Helyot III. 235. P. Touron. Raess e Welss X.

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· 110 4 de Agosto

lantes. Domingos - foi o nome dado á cou-'se, além da philosophia e theologia,


creança, devido á devoção que a mãe do á arte rhetorica. Acdmpanharam-lhe os
Sa!nto tinha a S. Domingos de Silos, cio traibalhos sci-entificos as praticas de pie­
qual ttm dia teve uma apparição, co1111- dade, inclusiV'e s·everas penitencias. Re­
municando�lhe os planos divinos em re­ trahido por camp!,eto cio mundo, visita­
ferencia ao re­ va sómente os
celmnascido. A pobres e os
es·S'e aviso ex­ doentes, pro­
traordinario os tegia as viuva:s
p a e s corres­ ,e orphãos. Por
ponderam com ioccas i ã o de
esmerada at­ u:m a grande
tenção na edu­ fdme, vendeu
cação do filho. os liv110s, para
Domingos, pe- poder socoor­
. queno ainda, rer os necessi­
deu provas de tados. C ,e rta
inclinação de­ vez se oHere­
claradis s i m a oeu a si pro­
ás cousaJS de pri-o, para res­
Deus. gatar t.11111 jo­
Seis annos ven, que ca­
contava o rnle­ hira nas mãos
nino, quamido cios nl1ouros.
os paes o oon­ A caridaJde
fiar-c1t11 á di­ de Domingos,
T'ecção de um não satisfeita
úo, reitor de com as obras
uma Egreja oorporaes de
em Gumyel. mi s ericordi'a,
S e te annos Jesten d i a - s e
pais s o u Do­ principaimente
rnüngos na es­ ás necessida­
cola daquelle ck\S e1s p iri­
sacerdote, ap­ tua'es do pro­
pne n deu do, ximo. P a r a
ia! ém das pri­ c/ste fim des­
1

n�eirns letras, •envolveu um


rodos os ser­ S. DOMINGOS, Fundador da Ordem Dominicana,
zdo ·extrdior­
viços de Egre­ Apostolo do SS. Rosario, e SANTA CATHARINA dinari'o, como
ja, como se­ DE SIENA, a grande Dominicana, que revelantis­ pregador. O
simos serviços prestou á Egreja, á sua Patria e
ja1111, acolytar, ·
á sua Ordem. pritneiro fru­
enfeitar os ai- cto desse labor
tares ·e cantar rro côro. Terminado apos�olico foi a conversão do amigo e
este curso pratico, transferiu-se para conwanheiro de estudos, Conrado, que
Valoocia, cidade episcopal no reino de rna,is tarde entrou para a Ordem dle
Leon, onde existia mna Universidade, Cis�er, sendo devado á dignidade de
que -mais tarde, em 1217, passou paira Oanliea:l da Santa Egreja.
Salalmanca.. Domingos contava apenas vinte e
Durante o telmpo dos estudos em Va­ quatro annos e era oonsidera:do um dos
1

lencia, isto é, durante seis annos, dedi- mais cd!n11etentes mestres da vida inte-

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4 de Agosto 111

dor. Dom Di ego de Asebebes, Bispo de


1 proprio Legado pontificio abandonou o
Osma, conhecendo os brilhantes dotes sólio francez.
de Dtm1ingos, convidou-o a encorporar­ DrAmingos não desanimou, ape:mr da
se ao cabido da diocese, esperando d' es­ missão ter-se-lhe tornado difficillima e
ta acquisiçã:o uma reforma salutar do mtesano perigosa. Com mais oito com­
clero. O Prelado não se viu illuclido nas panhleirios, que lhe foralm mandados,
previ,sões e Ddmingos era em pouco contrnuou os trabalhos apostolicos. A
tempo objecto da admiração de todos, . inconst<ancia, porém, que encontrou nos
cdmo modelo exemplarissirmlO em todas coadjutores, fez nielle aimadurecer a
:l!S virtudes christãs. idéa de fundar uma nova Ordem, cujos
Como conego de Osma, Domingos membros, por um voto, se dredicassrenn á
percorreu di*risa,s provinciaJS da Hes­ obra da prégação. Os pdmeiros que s'e
painha, prégando por toda parte a pala­ lhe assodaratm, foraJm Guilherme de
vra de Deus, pela converisão dos pecca­ Claire! e Domingos, o Hespanhol. Em
dores, christãos e mahometanos. Uma 1215 a n'Ova oommunidade contava já
das conversões mais sensacionaes que dezesei'S religiosos - seis hespanhoes,
Deus operou por intermedio de Domin­ oito frainoezes, um inglez e um portu­
gos, foi a de Reinieris, celebre heresiar­ guez. Para assegurar-se da approvação
cha, que mais tarde tomou o habito dos pcmtifici•a, Domingos, am companhia do
frades ddminicanos. Bispo de Toulouse, foi á Rol.na e apre­
DClll1ingos não era ainda sacerdote. sentou-se ao Papa Inn'Ocencio III. Coin­
Do bispo de 0Sma recebeu a uncção cidiu chegar á capital da Christandade
sacerdota1, continuando depois a missão na abertura do Concilio de Latrão. Opi­
apootolica de prégador. Quando em naraJm os Paidres qtre, em v,ez de appro­
1204, por ordem do rei Affonso de Cas­ vair as T'egrns ele novas Ordens, devia o
t<elha, o bispo de Osma foi á França
1 Concilio dirigir a attenção para as Or­
para ll'a qualidade de embaixador real, dens já existentes e aperfeiçoar-lhes a:s
tratar dos negodO's matrimoniaes do coostituições. Innooencio III, baseaindo­
princip'e herdeiro Fernando com a prin­ se nessas 'decisões, negou-se, por diver­
ceza de Lussignan, Domingos acolmpa­ sa:s vezes, a dar approvação á regra da
nhou-o. Na provinda dle Languedoc Ordem fundada por Domingos. Aconte­
pudemm de pertlo observar as horríveis ceu, porém, que o Papa teve uma visão,
devastações feitas pelos Albigenses. Nu­ quasi identica á que lhe Í'ez approvair
ma segunda viagem que emprehenderam a Orde!m ele S. Francisco ele Assis, em
e cujo fün em buscar a princeza e en­ 1209. Não qu'erendlo contrariaT a obra do
tregai-a ao esposo, tiveram o grande san,t,o hdmem, clieu consentimento á
desgosto de não a encontrar entre os vi­ fundação da Ordem, prdmettendo a
vos. Oh'egara!m ainda a tempo de assis­ D011ni•ngos expedir a bulla, logo que estre
tir-lhe ao enterro. tivess1 e adoptado uma regra de Ordem
Prieferimm então ficar na França, já approvada pela Egreja. Domingos
para dedicar-se á campanha contra os decidiu-'s1e iam favor ela regra de Santo
h:erieges. O Bispo Diego, com o consen­ Agostinho, á qual accresoentou mais al­
ümento do Papa, ficou tres annos na g11mws oonstituições, como por exem­
provinda de Languedoc. Passado esse plo, o silencio, o jejum e a pobreza.
Mmpo, volrou á diocese. Quando Domingos, pela segunda vez,
A S. Domingo , s, que foi nomeado su­ chegou á Roma, já não encontrou o
perior da Missão, a•ssociaram-se doze Papa Innocencio III, mas o successor
Abba,des Cisrerdenses. Pouco tempo, po­ Honorio III. ContraTiamiente ao que re­
rélm, durou o trabalho collectivo. Don ceiava, obteve a approvação da Ordem,
Diego voltou á Hespanha, os Cistercien­
1
que veiu a ser chalmada - dos Prégado­
s,es retiraram-se para os claustros e o tes. N0111eado primeiro Superioir, Do-

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112 4 de Agosto

mingos fez a profissão nas mãos do go dos Santos, em 23 de Julho de 1234.


Papa. Muiro concorreu para o culto de S. Do­
Graças á generosidade do Bispo de mingos na Egreja Catholica a devoção
Toulouse e do conde Simão de Mont­ do Santíssimo Rosario, de que era gran-
fort, Domingos pôde construir o pri­ de Apostolo.
meiro convento em Toulouse. O numero REFLEXÕES
dos religiosos crescera consideravelmen­
As grandes virtudes que admiramos em
te, de modo qt1e Domingos pôde intro­ S. Domingos devem ser para nós incenti­
duzir elm a novel com'munidade a regra vos de imitai-o. A virtude que mais • cara­
I'ecem-approvada. cteriza a vida d'esse grande Santo, é o ze­
lo, não só de preservar a alma de todo o
Pouco tempo depois, Domingos vol­ peccado, corno tarnbern de salvar a alma
to� á Roma e fundou diversos conven­ do proxirno. Vêr urna alma em perigo de
tos na Italia. Em 1218 foi e!m Bolonha perder-se, era para Domingos uma preoc-
fundado um convento, perto da Egreja cupação séria.
Si tivesse um pouco d'esse zelo aposto­
de, Nossa Senhora de Mascarella. Um lico, a rniseria espiritual do proxirno não
anno depois, teve Domingos a satisfa­ te deixaria tão indifferente. Antes de tu­
ção de fundar outro na mesma cidade, do,. porém, deves cuidar de tua propria al­
sertdo que esre, tempos depois, vdu a ma. Tua alma é imrnortal, destinada a go­
sar da ·eterna felicidade em Deus. Si não
ser t�m elos m:ai s importantes ela Or­
1
alcançar essa felicidade, terá por sorte o
dem na Italia. desespero eterno. Os annos que vives aqui
O eX'tlmplo de S. Francisco de Assis na terra, são o começo <la vida espiritual
na eternidade. Si tua alma é eterna e im­
e o admiravtel desenvolvitmento da Or­ mortal, sua felicidade não póde estar ba­
ddm por elle fundada, influiu grande­ seada nos bens d'este mundo, que hoje
mentJe nio espírito de S. Domingos. A existem e amanhã nenhum valor terão.
No dia em que teu corpo fôr levado ao
exemplo da Ordem do Patriarcha de As­ eterno repouso, o mundo perderá para ti
sis, introduziu S. Domingos na sua o toda a importancia e bem depressa será
voto de pobreza em todo o rigor. apagada a memoria de tua existencia. Ri­
queza, honra, elogios, calumnias e escar­
S. DQJ.ningos convocou tres capitulos neos - tudo passa, mas tua alma ainda
geraes e tieve o prazer de vêr a Ordem existirá ! Tolice é, pois, dar ao mundo uma
estabelecer-se• na Hespanha, em Tou­ importancia que não tem; prestar-lhe hon­
louse, na Provença e na França toda. ras e attenções, que não merece. A alma
é que merece todo o nosso cuidado. O mun­
Conventos surgiralm na Italia, na Alie­ do passa, a alma fica. Servir a Deus
manha e na Inglaterra. O proprio fun­ e tratar de santificar-se é o verdadeiro fim
dador !mandou emissarios á Irlanda, No­ do homem na terra. Tolo é aquelle que põe
ruega, Asia Menor e Palestina. em jogo a eternidade; tolo é aquelle que
cuida de tudo, menos da eternidade. Si os
S. Ddlnúngos morreu no dia 4 de Santos pudessem ter um pezar, seria, sem
Agosto de 1221, na edade de 51 annos. duvida, o de não ter aproveitado ainda
Numerosos milagres por seu intennedio melhor o tempo da vida aqui na terra, pa­
ra servir a Deus. Entra, sem demora, nas
Deus se dignou de fazer. O Papa Gre­ pegadas dos Santos e põe tua vida toda
gorio IX inseriu-lhe o nome no catalo- inteiramente ao serviço de Jesus Christo.

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5 de Agosto 113

5 de Agosto

Santa Afra e suas companheiras


( t seculo IV)

� PERSEGUIÇÃO da religião de divina graça. "Cdmo poderei ficar livre


� Ohristq, decretada por Dioclecia­ dos meu,s peccados, que são numernsis­
no ,e Maximiano, extendera-se aos t•erri­
1
simois ?" - perguntou Afra. Nrurciiso
tori'Os comprehendidos pela clenom.ina­ riesponcleu-lhe: "Crê e recebe o baptis­
ção de Vinde1icia e Rhecia. Em Augs­ mo. A salvação será tua herança". Ani­
burgo, cidade :mais impormnte da Vin­ mada dlesta promiessa, Afra chamou as
delicia, existia certa mulher mal afama­ oampanheiras Digna, Eunomia e Eutro­
da pel'O's costtimles cJi,ssolutos. Chama­ pia, e disse-lhes: "O homem qu,e v eiu 1

va-se Afra. Como a mãe Hilaria, era hospedar-se em nosisa casa, é um Bispo
pagã e tinha por seu culto predilect'O .o das christâ'Os. Elle une disse que, crendo
de V,enuis, divindade a quie a progeni:o · eu em Chrisro e recebendo o baptismo,
ra a consagrára. ficaria livrie dos meus peccaclos. Que
Deus, eJm sua misericordia, lançára o achaes quie deV'emos fazer ?" Elias res­
olhar redemptor á pobre peccadora, riue pondleralm: "A senh•ora é quie nos man­
att'enta á graça divirni., encontrou o per­ da. Fomos companheiras no peccado e
dão e se conviertJeu a uma vida santa. estaremos prdmptas para acompanhai-a
Obrigados a fugir ela furia da perse­ no caiminho da penitencia, para obter­
guição, qUJe avassalava a Hespanha, cloís mos o perdão cla:s culpas". A noite toda
santos hott11ens, Narciso e o diacono Fe­ passaram-na com os santos hrnnens, em
lix, abandonaram a península iberica e oração. No dia 'S'eguintJe, Afra contou á
chegaoram a Augsburgo, onde procura­ Rifaria o que tinha acontecido e pediu­
ram hospeclage, m em casa de Afra, que lhe que clésse abrigo aos dois hospedes,
os recebeu com muita gentileza, s'tlp­ contra os perseguidores. Hilaria, de boa
ponclo, porém, que fossem pessoas do ,1nen1Je, attendeu an pedido ela filha e as­
mundo, como tantos da habitual fre­ sim Narciso e Felix passaram para ·a
guezia. casa ela mãe. Hilaria recebeu ele Deus a
Antes ele se assentarem á meza, Nar­ graça da conviersão, confessando os pec­
CÍ'so e Felix J1ecitaram uma oração, que cados ao santo Bispo. Em preparação ao
chatnou a attenção da ho,t!eleira. Incla­ santo baptismo, Narciso ordenou que
ga'lldo ela procedencia cios hospedes, todas fizessem um jejum de sete dias,
soube que Narciso era bispo christão. para no oitavo dia serem solemnemente
Este conhecimento ,encheu-a ele vergo­ l"ecebida:s no seio da Egreja de ChrÍ'st'O.
nha de si propria e ele um temor extra­ Assiim se fez e Afra, a mã, e e as com­
nho, que até então nunca. experimentá­ panhei,ra:s tornaraim-se christãs.
ra. Sentindo-se indigna ele hospedar um Tal factio não podia ficar desconhe­
bispo em sua casa, cheia de confusão cido. A autoridade, tendo noticia da
lançou-se aos pés ele Narciso e confes­ conversão de Afra a,o Christianismo, ci­
sou-lhe as desordens ele sua vida. Nar­ tou-a perante o tribunal, exigindo-lhe
ciso, movi,do de compaixão e ao mesmo que voltass·e ao culto dos deuses. "Ren­
tempo desejoso de livrar aquella alma de homenagem ás nossas divindades, -
das cacl•eias do peccado, proinetteu-lhe o disse-lhe o juiz - pois melhor é viver
perdão, animando-a a ter confiança na cio que :morrer no meio de tormentos."

Santa Afra - Act. mart. auth. Rulnart. BolJ. II. Agosto. Raess e Weiss V.
Luz Perpetua 8 - II vo!.
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114 5 de Agosto

Afra l'espondeu: "Fui uma grande pec­ Afra: "Soffra meu corpo mil pena!s,
cadora, porque não conhecia a Deus; porque manchado está pelo peccado;
agora, porém, nneu desejo é preservar­ mais minha abma, quero que fique livre
mie das faltas, que infdizttnente co:mmet­ dos sacri ficios diabolicos ".
ti ". O j'Uiz: "Vae ao templo e sacrifi­ O juiz lavrou a sentença do seguinte
ca." Afra: "Jesus Christo é meu Deus. teor: "Ordenamos qu·e a hetaira Afra,
Tenho-o constanvemente deante de qllle se diz christã, seja queimada viva,
1111eus olhas; a eHe é que confesso os por t'er-s'e negado a sacrificar aios deu­
meus peccélldos dia por dia e, sendo indi­ ses".
gna de offerecer-lhe um sacrificio, que­ Immediatrurl1!ente os algozes se apo­
ria, para honrar-lhe o samto nome, sa­ dernrnm da pobre victi'ma, J.evara!m-n'a
crificar-lhe a minha pes•soa, para que a uma i.Jha do rio Lech e ama:rrara,m­
este corpo, profanado pelo peccado, seja n'a a um poste. Afro, vendo os prepa­
purificado pela penitencia". O juiz: rativos para o martyrio, olhos molhados
"Pensas qll'e não sei quem és ? Sacri­ die lagrimas e elevados ao céo, rezou as­
fica aos deuses. Pessoas de tua laia não súm a Dell's: "Deus omnipotente, Jesus
podem ter amizade com o Deus dos Christo, que vi�st-es ao mundo chamar
christãos". Afra: "Nos'So Seinhor Jesus não aos just•os, mas aos peccadores, li­
Chris!:o disse que veiu cio céo para sal­ vrae�rnle por mei0 d'este• fogo, qu'e des­
1 1

var os peccadores. Os Evangelhos coo­ truirá meu corpo, d'aquelle fogo eter­
talm quie uma pobre peccadora,. que se no, que artor1menta corpo e alma". Os
lamçou aos pés do Divino Mestre, d'eHe al• go�es ajuntaira!m lenha em redor da
recebeu o perdão dos peccados. Jesus ma:rtyr e puz'eralrn fogo: Afra disse ain­
Christo mostrou-se amigo dos peccado­ da esta:s palavra:s: "Graças vos dou,
res e com eHes se sentou á meza". O meu Jesus, porque vos dignastes de ac­
juiz: "Sacrifican<lo aos deuses terás ceitar o sacrifício de minha vida, vós
éllmigos, e nada te faltará". Afra: "Não que ·morrestes na cruz, em satisfacção
quero mais saber do vil gé1J11ho. O que dos peccados do mundo inteiro. A vós
possui, quiz dal�o aos pobres; joguei-o 0Het1eço este meu sacrificio, vós que
fóra, porque não o quizeram acceitar". viveis com o Padre e o Espirita Santo".
O juiz: "Jesus Christo nem tão pouco As tres cornpamheirns, Dign a, Euno­
te que,,erá". Afra: "Confiesso que não mia ,e Eutropia pPe&enciaram a scena da
sou digna do nome de christã, mas Jesus margem do Rio. Oomo Afra, tinhélJm re­
usou de ;misiericorclia commigo e rece­ cebido o baptisrno das mãos do Bispo
beu-me entre os fieis". O juiz: Deves Narciso. O corpo de Afra, embora hor­
sacrificar aos deuses e terás muitélJS fe­ rivdment•e qUJeimado, foi por ellas e a
licidades". Afra: "Minha felicidade es­ mãe Hilaria, com todas as honras, se­
tá em Jesus Christo, que na hora da pttltaJdo mim Jogar sacro. O juiz, sa­
morte promclteu o paraiso ao bom la­ bendo da conversão das companheiras
drão". O juiz: "R,ende hcvrnena� aos de Afra, convidou-as a voltarem á rnli­
deuses ou na presença dos teus ad�nira­ g-ião pagã. Como nada conseguisse, con­
dores soffrerás crueis vergastadas''. deminou-a:s téllmbam á morte pelo fogo .
Afra: "Env,ergonho-me dos meus pec­ Companheir· ns de Afra no peccado, se­
caclos e de mais nada". O juiz: "Digo ­ guirnm�na na penitencia e na conversão
t1e ainda mais u\ma vez: ou sacrificais ou e com dia recebera!rn a palma do mar­
pagarás com a vida a clesohcdiencia". tyrio.
J\fra: "E' justamente este o meu dese­ A cidade de Augsburgo v,enera em
j,o, ele ser a-chacla digna ele sacrificar a Sainta Afra sua padroeira.
minha vicia por Deus". O juiz: "Pois REFLEXÕES
seja co:110 queres. Serás submettida a A admiravel conversão de Santa Afra é
cn:ieis tormentos e queimada viva". mais uma affirmação da verdade, que a Sa-

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6 ele Agosto 115

grada Escriptura ensina nestas palavras: Santos do Martyrologio Romano, cuja m�­
"Deus não quer a morte do peccador, mas moria é celebrada hoje:
que se converta e viva". (Ezech. 33. 11.) Em Roma, festa de Nossa Senhora das
Elle, que nenhuma vantagem aufere do seu Neves. E' o anniversarlo da consagração da
basilica, que o Papa Liberio construira no
amor infinito, continuamente manifesta aos monte esquilino, dedicada a Nossa Senhora
peccadores miscricordia e o desejo de per­ (Sta. Maria Maggiore) por Sixto III, em
doar, em vez de tomar vingança, d'aquel­ 440. O milagre da neve é uma lenda medie­
les que o offendem. "Tanto amor Deus val. A festa foi estabelecida por Pio V.
teve ao mundo, que por elle entregou seu Em Ascoll Piceno o bispo-martyr Emy­
Filho Unigenito ! (Jo. 3. 16). Ha um amor gdlo; sagrado bispo pelo Papa S. Marcello,
egual a este no mundo ? Si Deus deu em foi mandado para Ascoli Piceno, onde, na
sacrifício seu proprio Filho, certo é que perseguição diocleciana, recebeu a corôa do
não quer a morte cio pecca<lor. Sirvam martyrio.
Em Antlochia Santo Eusignio, que na
estas considerações para levantar o nosso
cdade de 110 annos foi condemnado á morte
animo, quando tivermos a infelicidade de por Juliano Apostata.
cahir em peccado. De qualquer natureza
Em Chalons-sur-Marne São Memmio. Ro­
e gravidade que forem os nossos pec­ mano de nascimento, foi sagrado bispo por
ca<los, si <l'elles nos arrependermos e S. Pedro. Como bispo missionaria da fé
emendarmos a nossa vida, Deus nol-os christã converteu a população daquella ci­
perdoará de boa vontade e novamente nos dade de que era pastor.
acceitará por fi'lhos queridos. Na Inglaterra o santo rei Oswaldo.

6 de Agosto

Transfíguração de N. · S. Jesus Chrísto


:•,';\\ EGREJA camlmemora hoj,e a 1tia!l-os e confortai-os, nas tristezas pre­
&'"� f.esta da Tran., figura,;io de N o-s­ s�ntcs e futuras.
1

so Senhor Jesus Christo. Dbs Evange­ S. Mathcus escreve, contando o facto


listas, é São Matlreus que refere mais da Transfiguração: "Seis dias clepo,is, ,
por :minucias esse facto a:dmiravel ela Jesus tomou a Pedro, a Thiago e a
vida ele Nosso Senhor. Os Santos Pa­ João". Um outro Evangelista diz: "Oi­
dres ocoupaJm-se imuito do mysterio da to cliacs depois". Não ha contradicção
Transfiguração de Nosso Senhor, prin­ entre os dais, porqu1e este conta o dia em
cipa,l,1nente S. Chrysostdmo, que escre­ que Jesus discursou perante os Aposto­
veu coisas a!cl!nüraveis sobre o 111e91110 los e o dia em que subiu ao monte Tlm­
a,;sumpto. O quie se s·egue, são pensa-
1
bor, quando S. Matheus conta apenas
1111entos d'aquielle Santo Padre, como os os dias qt�e estão entre estes dois factos.
propoz aos ouvintes, · explicando o Repa,ralmos tambem a n1'oclestia ele São
Evangelho do dia de hoj,e. Matheus, qll'e !menciona os Aposrolos
Nosisio Senhor, tendo falado muitas que, mais do qt�e elle, fora111 honrados
vezes da sua Paixão 'e Morte, propheti­ por Nosso Senhor. Nesse ponto segue
záira aios Apostolas perseguição e morte o exemplo de S. João, que minuciosa­
cruel; tendo-lhes dado mandarnentos mente ref,el"e os elogios com que Jesus
positivos e severos, quiz mostrar-lhes a distinguiu a Pedro.
magnific::ncia e gloria com que voltará Jesus tiomou os chefes cios Apostolos
no fim do mundo, provar e revelar-lhes, e levou-os a um monte, a sós. E trans­
já nesta vida, sua majestade, para a111- figurou-se d'eanre cl'elles. Resplandeceu-

Transfiguração de Nosso Senhor - Os ss. Evangelhos. Vogel, Leben der Heiligen Got­
tes. n. 834.

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116 6 de Agosto

lhe o rasto como o sol e os vestidos tor­ dizendo-se Filho de Deus. Para este
naralm-Sie-lhe brancos como a neve. Por­ fim, Jesus fez apparecer dois prophetas
que motivo Nosso Senlmr levou só es­ de maior destaque. De Moysés era a lei,
ties tres Apostolos ? Porque occupavam e nã,o em a<limissivel que justamente
11111 Jogar saliente entre os demais. Pe­ Moysés distinguisse com sua presença
dro salientava-se pelo a1111or a Jesus; o transgressor da mesma, que era Jesus
João era o mais querido de Nosso Se­ Christo, na opinião cios Ju<leus. Elias, o
-nhor e Tiago, por causa da resposta que grnnde zdador da honra de Deus, por
juntaJmenúe com o i-rmão dera ao divino sieu turno nunca teria honrado com sua
Mestre: "Nós bebe-remos o calice". E presença a Jesus Christo, si este de fa­
não só por causa d'esta resposta, como cto não fosse o Filho de Deus. Um ter­
talrnbem em virtude das suas obras, que ceiro motivo seria este: Apparece um
provaraim a verdade d'aqudla asserção. propheta que morreu e Ulm outro que
Era tão odiado pelos Judeus, que Hero­ não soffreu a mort<e. Esta circumstancia
des, para ser-lhes agradavel, o mandou devia fazer comprehender aos discipu-­
matar. Porque razão disse Nosso Se­ los que seu Mestre é o Senhor da vida
nhor a'Os Apostolas: "Em verdade vos e ela mortie e ·seu reino é no céo e na
digo: wlguns de vós aqui presentes não 1:1erra. Um quarto motivo o proprio
vierã:o a morte, emquanto não tiverem Evangdista menciona: Para mostrair a
visto o Filho do Homem em sua glo­ gloria da cruz e para anil!11air os pobres
ria?" (Math. 16, 28). Com certeza pa­ Apost'olos, na triste previsão de soffri­
ra lhes estimulaJr a curiosidad>e de vêr mentos. Os dois prophetas falaram da
aqu1 ella visão, da qual lhes falava e en­ gloria, que na cruz seria manifesta, elm
drel�os do desejo ele vêr o Mestre rio­ Jerusalém; (Luc. 9. 31), isto é, da sua
deado de gloria divina. Paixão e Morte.
"E eis que lhes apparecera.m Moysés Si Nosso Senhor levou comsigo estes
e Eli'as, falando cdm EUe". Porque ap­ tPes Aposto.Jos, foi taimbem porque d'el-
parieceira.m essas figurns do Antigo­ 1,es havia de exigir uma virtude mais
J1estal1111ento ? Ha diversos nrotivos que apurada qüe dos outros. "Quem quer
explicaim esta circumstancia. O primei­ seguir-me, tdme sua cruz e siga-me".
ro é este: Porque o povo dizia qU'e Je­ Os d'Ois prophet'as do Antigo Testalmen­
sus era Elias, Jeremias ou um dos prn­ to ·eram homens que, pela lei de Deus
phetas do Antigo-Testamento, ficair­ e pelo bem do povo, estavam se1mpre
lhes-ia parl1ente a grande diHePença que promptos a dleixar a vida. Ambos, Elia!s
existia, entre o servo e o Senhor, e que e Moysés, usara(m da maxima franque­
bem merecido fôra o elogio que coube a za na presença de tyrannos, este deantc
S. Pedro, por ter cha!111.0:do Filho de
1
ele Pharaó, aqu'elle dea:nte de Achab;
Deus a Nosso Senhor. Segundo motivo: aimbos se empenharam em favor de ho­
Repetidas vez•es inimigos de Nos'So Se­ mens rudes •e ingratos, ambos foroirn
nhor o accusavam de blasphemia, da quãsi victimas da malicia d'aquielles, a
1wetensão de dizJer-se Filho de Deus. que mais benefidos dispensaram, am­
"Este homem, que não observa o sab­ bos tmbalhamm para exterminar a ido­
bado, não póde ser de Deus". (Jo. 9. latria entre o povo. Tanto ulm oomo o
16.) E mais: "Não te aped11ejamos por outro a-alm defeituosos: Moy'Sés era ga­
causa da bla:sphemia e . porque disseste go e Elias ignorante; ambos despreza­
que és Fiiho de Deus, quaJ11do não pas­ vaim a riqueza. Moysés e Elias eratm po­
sas de simples homem". (Jo. 10. 33). bres ,e viviam m11m tempo, em que os
Estas accusações eram frequentes e co­ grandes servidores de Deus não pos­
,mo provinham da inveja, quiz Nosso suiaim o dolm de fazer grandes mifagres.
Senh1or mostrar qtJle não transgredira a E' verdade que Moysés dividiu a!s aguas
l1ei e rl'enhuma blasphemia proferira, do mar; Pedro, porém, andou sobre as

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6 de Agosto 117

Ol]das, expubou máas espiritos, curou appar<ecer estes dois Prophetas, para
muitOIS doent1es e tralllsfortnou a face apresental-os aos discipulos, cOIITio mo­
da terra. E' verdade qlJle Elias resusci­ delos de firmeza e constancia; corno
tou um morro; os Aposrolos, porém Moysés, devem ·ser mansas e humildes;
chaJmarwn mniitos mortos á vida, no ·eguaes a Elias, devia1111 ser zelosos e in­
tempo em que não tinhaim ainda n::ce­ cançavieis; co:110 ambos, prud�:1tes e
bido o Espirito Santo. Jesus Christo faz circt�msp�:::trn. Elias passou fome du-

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118 6 de Agosto

rante tres annos, por amor ao povo. "Senhor, bom é esta:nuos aqui", disse
Moysés disse a Deus: "Per�oae-)hes _?S S. Pedro a Jesus. Ouvindo as referen­
pecc.aJdos e exonerne-n1,e ou s1 assnn nao cias á Paixão e Morte do querido Mes­
quizerdies, extingui meu nome_ do vosso trie, o coração encheu-se-lhe de temor;
livrio. (Mos. 32. 33). Tudo isso Jesus mas, desta vez, faltando-lhe a cora�1
faz lembrar aos Apostolas, mostrando­ de dizJer: "longe de ti sejam essas c01-
lhes, em 'mysteriosa visão, a gloria de sas", fonmulou os receios nas palavras
Elias e Moysés. já mencionadas. O monte onde se acha­
V'ajm, bem longe de Jernsalém, já e:a a
Propondo-lhes Elias e Moysés C?'no seu vêr uma garantia ; fazendo amda
modelos, a imitação dos mesn:ios amda tres tendas pa-ra lá morar, dispensava
não é o ideal, que Jesus Clmsro quer perfeitaunente a viagem a Jerusalém e
vêr nos Apostolos. Quando estes disse­ removia o perigo do Mestre cahir nas
ram: "Senhor, si assim quizierdes, cha­ mãos dos inimigos. "Bem é estarmos
mairemos fogo do céo, que destrúa es­ aqui", com Elias, que chamou fogo so­
ta cida,de", sem duvida assim falaram bre a montanha; com Moysés, que fa­
kmbrando-se de Elias, qu:e de tal fórma J.ou com Deus no cimo do monte - nin­
procedeu. Jesus, porém, respondeu-lhes: guem sabe que aqui estaimos. Quem
"Não sabeis de que espirita sois". (Luc. não descobre nessas palavras a profun­
9. 55). Queria assim ensinar-lhes, que da e sincera almizaide ele S. Pedro a'O
é melhor soffrnr tima injustiça, quando Mestre ? Os Evangelistas, l"eferindo-se
s'e perceberam graças maiores. Não quer ás palavras de S. Pedro, dizem: não sa­
i,s,to cliz,er que Elias não fosse santo e bia o qure falava, pois tão assustado se
perfeito. Elias vivera nUIITI outro tempo, achava. ( Marc. 9. 5. e Luc. 9. 33).
em que a humanidade, atrazada aincb Fa:lan<lo ainda, eis que uma nuvem
na cultura, carecia de meios educativos os envolveu. Não era noite, era dia cla­
mais fortes. Moysés era santo e perfei­ ro. A luz, o esplendor assombravam-os e
tio. No emtamto, a,os Apostolas disse attonivos, cahira,m de vasto por uerra.
N1osso Senhor : "Si vossa justiça não Qual foi a attitude ele Christo ? Nem
exceder a dos escribas e phariseus, não eHe, nem Elia:S, nem Moysés, disscra.!111
,entrar•eis no reino dos céos". (Math. 5. cousa alguma. Mas ela nuvem sahiu a
20). O campo ele acção elos Apostolos voz d'aquelle que é eterno, d'aquelle que
não devia ser o Egypto, a terra de Moy­ é a V•erelade. Porque ela nuvem ? Por­
sés, mws o mundo inteiro; não era ao que Deus sempre fala ela nuvem. "Ro­
Pharaó que havia1111 de contradizer, mas deia.do está de nuvens e trevas". (Ps.
acceitar a lucta com o demonio, o tyran­ 96. 2). "O Filho elo Homlel!n ve!m entre
nlO da maldade, venoel�o e desarmail-o. aJS nuvens". (Dan. 7. 13). Sahindo a
E não o conseguiria'm dividindo as voz da nuvietm, não lhes restava duvida
agua!S do mar. A tarefa era, armando­ qu/e em a voz de Deus.
se do ramo de J,essé, dividir as aguas E eis qtJe uma voz do meio da nuvem
furiosas do oceano da impi·edade. Repa- di!ssie: "Esi1e é o meu Filho muito ama­
11emos bem quanba:s cousas não amedron­ do, em quem me agradei; ouvi-o". No
taram os Aposrolos : a morte, privações monte Sinai era uma nuvem negra e es­
e mil martyriios não menos os intimicla­ cura que cobria o ,m:onte. No Sinai Deus
raJm, que aos Judeus o Mar V1ermelho publicou ameaçais oontra o povo. Aqui
e as hostes de Pharaó; mas Jesm,, seu se via uma nuvem branca e lucida. Pe­
Mestre, levou-os a tal gráo de perfe1ção, dro tinha falado em tres tendas. Deus,
que não hesitaram em acceitar tudo. porém, mostrou uma unica tenda, não
Parn rornal-os capazes ele uma missão freita por mão de homem; d'ahi a cir­
tão difficil, apresentou-lhes os dois gran­ cúmstanoia da apparição de uma luz
des heróes do Antigo-Testamento. claris•sima e a audição de uma voz. Para

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7 de Agosto ! 19

não deixar duvida sobre a pessoa em mer". (Math. 25. 34.) E a outros dirá:
questão, �li'<lls e M9ysés desa:ppal'ece­ ,; Muito bem, servo fiel e bom; pois que
foste fiel em pouco, confiar-te-ei maiores
ram e a voz disse: "Este é meu filho bens; entra no gozo do contentamento cio
muito amado". Si é EHe o amado, o teu Senhor ! " (Math, 25. 23.) A outros, po­
nlledo de Pedro é infundado. Embora já rém, dirá: "Afastae-vos de mim, malditos
e ide para o fogo eterno, que foi prepara•
deviesse estar conviencido da divindade do para o demonio e seus anjos". E ainda:
do M:estrie, e1mbora não tiV1esse duvidas "Servo máo e preguiçoso 1 (Math. 25). E
da sua futura resurreição, a fé de Pedro serão entregues aos algozes e, atados as
ainda é vacillante. Ouvindo agora a voz mãos e os pés, atirados· ás trevas exterio­
res. Os justos, porém, fulgirão como o sol.
confirmante do Eterno Pa:e, devia1tn des­ ou mais do que elle. Aquelle dia será o
apparieoer-lhe os tdmol'es, todas as du­ horror para os máos. Não carece de docu­
vidas. Si Elle é filho muito a1tnado, o mentos, de provas, de testemunhas: o eter­
Pa,e não o abandonará. E' seu amado, no e justo Juiz suppre tudo isso. Elle é
accusador, testemunha e lançador da sen­
não ·só por ser seu Filho, mas tambern tença. Tudo sabe, nada lhe é incognito.
por Lhe ser egual. "Nellie achei meu Naquelle dia não haverá ricos e pobres,
agrado", quer dizer, pois: EHe é meu fracos e poderosos, protegidos e protecto­
agrado, minha a,J,egria, porque, como res - persistirão sómente os factos em to­
da a nudez, em toda a realidade. Todas as
Filho, é egual aio Pae, é regido- pela mascaras hão de cahir, e a verdade appare­
mlesma vontade, é um com Elle ctierna­ cerá em toda a clareza. Afastemos de nós
menlle. Ouvi-o. as vestes immundas do peccado, arm,emo­
nos com as armas da luz, pratiquemos o
bem e a gloria de Deus nos revestirá.
REFLEXõES
Felizes os Apostolos, que foram achados
dignos de vêr o Divino Mestre com tanta Santos do };fartyrologio Romano, cuja me­
gloria e magnificencia. Si quizermos, pode­ m.oria é celebrada hoje:
remos tambem vêr o mesmo Jesus, não co­ Em Burgos, na Hespanha, o martyrlo de
mo os Apostolos no monte Thabor, mas S. Pedro de Cardegna, com duzentos monges
numa gloria incomparavelmente maior - e seu abbade Estevão, todos victimas do fa­
naquelle dia em que virá com toda a glo­ natismo mahometano.
ria e magestade, rodeado dos Anjos e San­
tos do céo. Todos os homens hão de vêr Em Alcalá, na Hespanha, os martyres
como Elle virá sobre as nuvens. Julgando Justo e Pastor, dois meninos Irmãos, que
a todos, dirá aos que se lhe acharem á di­ deixaram a escola, em procura do martyrio
reita: "Vinde, bemditos de meu Pae, pois por Christo. Morreram degolI:idos. ·304,
eu estava faminto e vós me déstes de co- Em Roma, o Papa Hormisdas. 523.

7 de Agosto

SÃO CAETANO
(t 1547)

e ÃO CAETANO, fundador da Or­


� deim dos Caetanos ou Theatinos,
vj:da d'iesse Santo prova que não ficou
srem effeiro a oração de sua mãe.
nasceu em 1480, em Vicenza, de paes Differenve cios outros meninos, mos­
illuistres e virtuosos. Logo após o baptis­ trava Caetano, desde pequeno, grande
mo, foi a creança, pela mãe offerecida inclinação á oração e obras de caridade.
e consagrada á Santissima Virgem. A Exemplar em tudo, era, entre os compa-

S. Caetano - P. Caraccloll, vida do Santo; Helyot: H ist. des ordres relig. Raess e
Weiss X.

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120 7 de Agosto

nheiros de infancia, chamada "o Santo". obriga á perfeita pobreza, prohibindo­


Mais ta:rde, f1ez os estudos, doutorou­ lhes não só acceitar a minima recom­
se eim direito civil e ecclesiastico e do pensa pelos trabalhos, mas vedando-lhes
Papa Julio II recebeu a ordenação sa­ até pedir esn1ola.
cerdotal. Por mais rigoroso que isto parecesse,
Morto o Papa J ulio II, voltou á sua houve muitos que pediram ser acceitos
terra e dedi- como me m­
c o u-se quas1 bros da nova
exclll!sivamen­ Ordem. A pri­
te ao serviç:::> _meira casa foi
hospitalar. A f u ndada em
unica ambição Roma. Um
que tinha, era a n n o depois
salvar almas. tiveram de fu­
O povo dizia : gir da Cidade
.. Oaetano no Et e r n a por
altar é Anjo_ causa da in­
no puil p i t o vasão do ex­
Apo s t o lo". ercito i m p e­
N â o perdia rial. Uma se­
1
occas i ã o ele gunda casa foi
e o nduzir al­ fundada em
mas a Deus Napoies. De­
Nosso Senhor, vido á inter­
o que lhe im­ venção ener­
portou o ap­ gica. ele Caeta­
pelido : "Ca­ no, a heresia
ç31dor
,, de ai- Lutherana não
mas conseguiu to­
Na segunda mar pé na­
viagem a Ro­ quiella cidade.
ma, f u ndou, Apostolo do
com tres com­ bem, era Cae­
pa nhe i r o s, tano de ex­
UJma nova Or­ tremo r igor
dem, cujo pla­ contra si mes­
rro era: a san­ mo. A vida
tificação pro­ era-lhe um je­
pria, combater jum continuo,
a tibieza e uma peniten­
S. Caetano
ignorancia en­ cia sem fim.
tre o clero, ·'Meu Salvador m·orreu sobre a cruz; deixae-me E' v e r da:de
morrer sobre cinza". (S. Caetano). O Santo recebe
reg,eneraT os o santo Viatico. que nisto não
má:os costtllmes lhe consistia a
cLa sociedade, observar escrupulosamente santidade, mas certo é que Deus o dis­
as derimonias liturgicas, restabelecer o tinguiu com privilegios e dons extraor­
respeito e :riev,erencia na casa de Deus, clinarios. Muitas vezes teve apparições
exoonminar as heriesias e assistir aos de Nos-sa Senhora, das quaes a mais
dolentes e moribundos; numa parJavra - memoravel foi a da noite de Natal,
trabalhar pelo bem do proximo. em: que Maria Santissima se dignoú
Deu aos religiosos uma regra, que os de apresentar-lhe o Divino Infante.

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8 de Agosto 121

Contaim-se ás centenas as curas ma­ Que,m a:bandonou o primeiro, tem de


ravilhosa:s feitas pela oração do santo trilhar o segundo". Caetano morreu em
servo de Deus. Em muitas occasiões 1547.
priedisse o futum, com uma certeza tal, REFLEXõES
que não deix,ou duvida de tel-a recebido "Não ha outro caminho para o céo sinão
di,l"ectamenre de Deus. o da innocencia ou o da penitencia". A ver­
dade d' essas palavras está confirmada pela
.A •sé ri,e das obms de caTidade para Sagrada Escriptura. A consciencia diz a ca­
com o proximo quiz Caetano rematai-a da um qual é o caminho que deve tomar.
oom Ulma, que lhe mereceu a gratidão A vida de S. Caetano apresenta ainda
outras cousas á nossa consideração, por
do povo ele N apoies. As autoridades ci­ exemplo, o desapego dos bens terrestres e
vis ,e ecclesia,stica:s de Napoies tinhann a confiança illimitada na Divina Providen­
riesolvido a introducção ela Inquisição, cia. O mal de muita gente é uma preoccu­
para ter u!ma mima forte contra a insi­ pação exaggerada com as cousas do mun­
do. Com receio de experimentar prejuizo,
nuação da hieriesia, que vinha da Alle­ não se dão á pena de rezar de manhã e
manha. O povo oppôz�se a este plano e de noite, de ouvir a santa Missa. A atten­
a tal ponto chegou a excitação, que era ção está concentrada num ponto só: ga­
para se l"eoeiar uma revolução. Os ho­ nhar dinheiro. Que sem a benção de Deus
nada conseguem, é uma circumstancia de
miens mais sensatos em vão se esforça­ que não se lembram. Não devemos perten­
ram para tranquillizar a população. São cer a essa classe de gente. A nossa con­
Caietamo, vendo o pr-ejuizo enorme que fiança deve estar em Deus, que veste os
d'ahi resultaria para as a:lmas, offereceu lirios do campo e dá alimento ás aves do
céo. Procuremos primeiro o reino dos
a vida a Deus, pedindo-lhe que a accei­ céos e tudo o mais nos será dado por ac-
tassie, para que fossie conservada a paz crescimo.
e conooroia entr•e o povo e a,s autorida-
Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
dies. Deus acceitou o saorificio. Gaeta- moria é celebrada hoje:
no é!!d'Oeeeu grarviemente e morreu. Im-
Em Arezzo, na Toscana, o martyr Dona-
medilaltamente amainou a tempestade e
to, bispo daquella cidade. Seu martyrio teve
os espíritos se acalmarann, facto que to-
Jogar no governo de Juliano Apostata.
dos attribuiralm á intervenção do Santo.
Em Gondar, na Ethlopia, os bemaven-
turados Agathangelo e Cassiano, da Ordem
As ultimaJS palavras que disse, foram:
dos Capuchinhos, martyrisados em 1638.
"Nãio ha outro caminho para o céo, a No Mexico Pedro de Avila, assassinado
não ser o da inll'oc:encia e da penitencia.
por apaches. 1670.
-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-Ho-H-❖❖❖❖❖❖-H-H❖❖❖❖: : : ,,.., ❖❖❖❖❖ ❖❖❖❖❖❖❖-Ho❖-Ho❖•:..,,: .,.., ❖

8 de Agosto

Santos Cyríaco, Largo, Smaragdo, etc., Martyres


(t 303)
D ELO impe·radtor Diocleciano eleva­ christãos, não recorreu á força brutal
F do á dignidade de administrador dia pel"seguição, mas escolheu um outro,
imperial, Maximiano Hercules, para não menos barbam e efficaz: o mesmo
mostrar�se grato a seu senhor, cons­ qllle Pharoó do Egypto empregou contra
truiu élm Roma um palacio de unn luxo as Israelitas. Deu ordeim que todo e qual­
extraoroinario, ·denominado thermas quer individuo identificado christão,
diodecianas. R1eligiosamente era inimigo quer fosse homem ou mulher, moço ou
dieclairado do ohriistianismo. Cdmo meio velho, fosse obrigado a trabalhar nas
de exterminar a religião odiada dois obras das ther1mms dioclecianas. Os fis-
SS. Cyriaco, Largo, etc. - Raess e Welss X.

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8 de Agosto

caies tinhaun or,dem ele não poupar os reis cio paiz moveram contra a Egreja
christãos e ,sobrecéllrrcgal-os de tal mo­ christã. O Rei Vmanes, filho de Isde­
do, que succumbissem á fadiga. O pa­ gerdes, ordenou a Hormisda,s - as,sim
lacio edificado com o suor dos chris­ r'efere Theodoreto - que negasse a re­
tãos, mais ta'l."de se viu transformado em ligião de Jesus Christo. Hormisdas res­
magnifica Egreja, sob o titulo de Nossa pondeu ao monarcha: "Si esta infideli­
Senhora dos Anjos. dade merece a pena de morte, qual será
Um nobre Romano, de nome Tharso, o castigo d'aquelle que negar a Deus,
christão, u11a:s não conhecido como t,,l, Senhor do Universo ?" Ao ouvir res­
pena,lizou-s·e da sorte dos irmãos na fé posta tão sensata, Varanes se irou e
e resolvieu despender grande parte da ordenou qne despojassem a Hor:misdas
1

fortuna para allivio cios opprimidos. O dos bens, e condemnou-o a prestar ser­
diacono Cyriaco, com os companheiros viços na oompa:nhia dos cameleiros.
Largo e Smaragdo, pa11ecia,m-lhe s·er Hormisdas suj,eitou-se humildemente á
optimos instrnm1entos na realisação d'a­ sentença real e, quando mais tarde Va­
quelle intento e não lhe foi difficil ga­ raneis, obedecendo a um sentimento de
nhai-os á sua obra. Embora procedes­ oompa1xao, lhe offereceu um manto
s�m com muita cautela, aos olhos vigi­ precioso, o fiel discipulo dle Jesus Chris­
lantes dos fiscae, s não podia esoapar a to deu ainda outra prova de perseve­
missão, ele que estes joV'ens se desem­ rança e constancia admiravel: "Larga
penhavam enrt:rie os christãos. Foram de vez tua teimosia, disse-lhe o Rei - e
condennnados aos mesmos trabalhos, e abandona a religião do filho do carpin­
era commoviedor vêl-os no meio dos teiro!" Hormisdas, ouvindo essa insi­
lrimãns, confortando�os, consolando-os, nuação sacrilega, tomado de grande in­
quando elles mesmos quasi desfalle­ dignação, fez em pedaços o manto e ati­
cirun sob o jugo pesa:do da tyrannia. Ma­ rou-o aos pés do Rei, dizendo: "Fica
ximiano, tendo conhecimento do que se com teu miseraviel presente, anres que
passa'Va, ordenou sua prisão, impossibi­ me levies a nega,r minha fé". Va'l."anes
litando desta méllneira a C011nmuni­ então ordenou a Hormisdas qure se re­
cação entrie eHes e os christãos. Deus tirassie de sua presença, 110 que foi obe­
não os abandonou. A prisão dos tres decido pramptamente. Hormisdas ficou
heTóes tornou-se cdebre, pelos numero­ fiel á 11eligião, até o fim da vida. O
sos rmilagres, com que Deus glorificou martymlogio romano enl\.11l1era-o en­
seus fieis servos. Todos os doentes que tre os martyres da Egreja Catholica.
lhes foram apresentados, · recuperaram a
saude. Realizaralm-se importantes conver­ REFLEXõES
sões, facto que !heis causou o martyrio.
Cyriaco, Largo e Smaragdo, com mais A' requintada crueldade dos tyrannos os
santos Martyres oppuzeram uma firmeza
vinte christãos, entre estles Crescencio, inabalavel na fé. De nós Deus provavel­
Sergio, Secundo, Pictoriano, Faustino, mente não exigirá sacrificios, como dos
Felix, Sylvanus, Mremia, Juliana, Cyria­ martyres exigiu. Tanto maior deve ser a
dda e Dooata, foralm sujeitos a um tra­ nossa resignação, a nossa conformidade
com a vontade de Deus, nos soffrimentos
tamento barbam e finalmente decapi­ communs, que acompanham a vida. Acon­
tados. Os corpos foram enterrados na teça o que acontecer, Deus não nos
via Salaria, perto do Jogar da execução. abandonará, e aquelles que amam a Deus,
tiram proveito de tudo. Riqueza ou pobres
Uma piedosa mulher christã, de nome za, saude ou enfermidade, honra ou des­
Lucina, mais tarde os trasladou paira prezo, consolaçção ou aridez, vida ou mor­
tlim sitio de· sua pmpriedadle, na via Os­ te: tudo redunda em paz e bem áquelles
tia. A data da trasladação é o dia 8 de que têm amor de Deus. Esta verdade deve
ser nosso guia, ao modo de estrella, cuja
Agosto de 303. luz benefica nos orienta em todas as vicis­
Hormisdas, nobre Persa, foi victima situdes da vida.
de uma perseguição atrocissima, que os

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9 de Agosto 123

Santo cujn mcmorin é cclclirarln hoje: cruelmente flagellado, suspenso num andai­
me e horrivelmente mutilado. Já sem vida,
Em Anazarbo, na Cilicia a memoria de foi atirado ás feras. Assim aconteceu quan-
S. Marino. Embora de edade avançada, foi do Diocleciano era imperador.
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9 de Agosto

Santos Romão e Numídíco, Martyres


(t Seculo III )

e AO ROMAO era militar e corno


� tal, esteve presente ao martyrio
com conselhos e confortando-as nas lu­
ctas. Alguns que, apavorados pelos hor­
de S. Lourenço. A constancia, a pacien­ rores do martyrio, tinham dado signaes
cia d'esse santo martyr fol--0 pensar na de fraqueza, foram reaniJmadas por Nu­
t1eligião de J csus Christo. Como o glo­ midico, que teve a satisfacção de prepa­
rioso <liacono-martyr, depois <la cruel rar muitos chri-stãos para o supremo
sentença, fosse confiado á sua guarda, sacrifü:io. A propria esposa d'este San­
Romão aprovcitou�se d'es;;a occasião, to soffreu a morte da fogueira e elle
para pedir a:o Santo alguns esclareci- taJmbem, horrivelmente queimado, sobre­
1nent!os sobre a fé chri-stã. Melhor cate­ viveu, porém quasi agonizante; foi
chista não podia encontrar, e para Lou­ encontrndo pela filha, que o retirou das
renço foi um grande prazier inJStruir es­ brazas e o tratou 00111 todo o carinho.
sa nobre ahma nos mysterios da grande Restabelecido das graves queimaduras,
t'eligião christã. A graça divina prepa­ pôz-se outra vez á disposição dos minis­
rou-lhe o coração de tal modo que, ten­ tros da Egreja. S. Cypriano conferiu­
do apenas t'ecebido 'algumas instrucções lhe as ordens sacerdat:aes e naqU'ella oc­
<lo santo diacono, trouxe elle mesmo a caisião o aprese• ntou aios fieis, como um
agua para ser baptizado. Tendo rece­ heróe pela causa da fé, apontando para
bido o sacramento da regeneração, não o saoerdocio como para uma graça ex­
fez •segredo da conversão e declarou-se traordinaria. S. Cypriano, quiz elevai-o á
publicaimente christão. O resultado foi dignidade 1episoopal. Não se sabe, po­
que, ainda antes do seu mestre, teve a rém, si tal plano se executou. NieJm tam­
felicidade de entrar na gloria celeste. pouco sabemos quando e de quie modo
Diz a tradição que no mesmo dia da de­ -morreu Numidico. O martyrologio 'l"'o-
claração foi conduzido á presença do -mano menciona�o no dia de hoje, conn
juiz e conde!mnado á morre pela espada. muito louvor.
O corpo foi sepultado na via Tiburti:na.
Mais tarde as reliquias foram traslada­ REFLEXõES
dias Fª Lucca, na Toscana, onde re­ Os martyres vencem as paixões, como
tambem humilham os tyrannos. Os tyran­
pousaim no altar mór da Egreja que lhe nos desapparecem; as paixões, porém, ain­
traz o ndtne. da existem e, como os tyrannos, maltra­
tam e procuram subjugar a pobre hunlani­
Numi,clico é um grancle lume da Egre­ dade.
Teu combate é incomparavelmente mais
ja africana no seculo III. Como a per­ leve. Não contra tyrannos, mas sómente
seguição de De.cio obrigasse Cypriano,. contra as paixões deve dirigir-se tua lucta.
Bispo de Garthago, a procurar u1111 se­ Emobra incruenta, esta Iucta é pezada. O
que os tyrannos procuravam conseguir por
guro asylo, N 1.Jlmidico fez tudo para meio de ameaças, as paixões esperam da
substituir o pastor, acudindo ás ovelhas blandicia. As paixões são inimigos de te-

S Romão e Numidico - Vogel, Leben der Helllgen Gottes. II. 845.

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124 9 de Agosto

lhas abaixo; são m1m1gos implacaveis, que natural e de ordem sobrenatural. Corno
não dão tregua. São de uma persistencia a ociosidade é mãe dos vícios, o trabalho
que exige do coração uma recusa energica, destróe-os. O primeiro remeclio contra a
decisiva e constante. A lucta, pois, é inevi­ paixão é, pois, a actividade. A este se deve
tavel. E' necessario, porém, que chegues a associar o cuidado de fugir das occasiões
conhecer tua paixão dominante. E' a pai­ proximas de peccar. Quem procura o pe­
xão que te tenta com mais insistencia e rigo, nelle cáe. Quem pega em pixe, man­
que te faz cahir sempre nos mesmos pec­ cha-se. Meios de ordem sobrenatural para
cados. A pendencia cio teu coração para combater os vicios, temol-os na oração, na
determinados peccados, indica-te infallivel­ meditação, no exame quotidiano da con­
mente a paixão, contra a qual te deves pre­ sciencia e na recepção digna dos santos
caver. Uma vez conhecido o inimigo, de­ Sacramentos.
clara-lhe guerra sem perdão. Todo o tem­
po que deixas passar, dá força e incremen -
to ao inirnigo, o qual, contando com tua Santo do Martyrologio Romano, cuja me­
incuria, se torna cada vez mais atrevido, moria é celebrada hoje:
cada vez mais forte, cada vez mais senhor Em Vienna, na FranGa, o sacerdote São
de teu coração. Basta uma unica paixão, Severo, que, vindo da India, prégou o Evan-
para fazer urna alma perder-se. Meios pa- gelho naquella cidade e conduziu muitos pa-

* * **�
ra combater as paixões ha-os de ordem gãos ao baptismo.
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9 de Agosto

São João Víanney, Cura d'Ars


(t 1859)

"POR ONDE passam os Santos, Marra Belusa, cultivavam no filho esse


Deus com eUes passa." Foi no anno de espirita de religião e de piedade.
1772 que um santo mendigo, Bento Jo­ A França achava-se agitadissima com
sé Labre, passando por Dardilly, s•e hos­ os horror·es da revolução e como os sa­
pedou na htimilde casa dos Vianney. A cerdotes estivessem sendo exilados ou en­
bençâ!o de Deus �ntrou com elle naquella caroerndos, não foi possível a João
casa; pois poucos 'annos depois, nasceu Viainney encontrar· um mestre, que lhe
lá aq-udle que no mundo inteiro é co­ dés�e algumas instrucções soh'l"e as
nhecido por João Vianney, - o ·cura sóenciars elerrtentares. Era natural, pois,
d' Ars. Que efficacia maravi.Jhosa da es­ que passas!'le a mocidade entregue aos
imdla ! Deus dá a pobres campcmezes trabalhos do ca,mpo. Entretanto João
um filho, que V(ltl1 a ser um dos seus continuava as praticas de pieda!de oonn
grandes servidores, recompensando as­ todo o fervor e o peccado era para elle
sim uma obra de caTidade, que dispen­ uma coiisa conhecida só de nome. Fez a
s· airam a um pobre Primeira Communhão numa granja,
João Baptista Maria Vian111ey sendo que a penseguição religiosa não
e foi baptizooo em 8 de Maio de pertmittiu o culto publico nas egrejas.
Desd:e a infancia, manifestava uma for­ Amainado o temporal da revolução,
te inclinação á oração e um Vianney achou um grande amigo e pro­
amor ao recolhiimento. Muitas vezes tJector, oo. pessda do Padre M. Balley,
encomraido num canto dia casa, no jar­ vigario de EcuUy, que descobrira na
dim ou no estabulo, rezando, de ailma de João qmliclru:les supelrioreis,
as orações que lhe tinham ensinado : que deviam ser aprov-eitadas e cultiva­
Padre-Nosso, a Ave-Maria, etc. das, para a maior gloria de Deus. Si em
pa'es, principalmenbe a piedosa grande o fervor, admiravel a virtude do
:,: João Vianney - Bulia canonls. João Janssen: vida do Santo.

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9 de Agosto 125

joviem Vianney, si melhor mestre não na ord� do dia. Vianney, vendo o es­
podia haver do que o Pe. Balley, tudo tado dais cousas, teve impetos de aban­
parecia desfazer-se deanre de uma bar­ donar tudo. "Que vou fazer aqui ? -
reira, que se levantava insuperavel: a exclamou. - Neste meio nada farei e
fa!lta de intelligencia do estudante. Não tenho medo de perder-trne". Mas logo o
fôra a persistencia imperturbavel do seu zelo se lhe reanimou. Fixou residen­
santo ,sacerdote, Vianney teria desani­ cia na matriz, e sua pdmeira occupação
mado, deainte das difficuldades, que se era rezar pela cooversão dos parochia­
lhe afiguravam invenciveis. Com as ora­ nos. Desde a manhã á noite, com pe­
ções e a caridade redobrada que dispen­ quenas interrupções, ficava de joelhos
sava cVos pobres, Vianney alcançou a dea:nte do altar do Santissimo Sacra­
graça de poder continuar os estudos mento. As frugalissimas refeições elle
com algu1m proV'eivo. Quando esta'Ya mesmo as preparava.
prestes a ser recebido no seiminario, Depois começou a procurar as fami­
veiu-lhe ordem de apresentar-se á auto­ lias. Nas visitas lhes falava de Deus,
ridade militar de Bayonne. Foram bal­ dos Santos, das cousas da religião. Si
dados os esforços do Padre BaUey para be3m que a 1maior parte não lhe ligasse
obter isenção do serviço militar para o �mportancia, tlim ou outro reparava na
protegido, e pareciam anniquiladas todas batina rota e velha, na modestia e pieda­
as esperanças. Vlianney cahiu doente 1 '. de, no aspecto austiero e mortificado do
passou quatorze mezes nos hospitaes de vigario. Pouco a pouco o povo ficou
Lyon e de Roanne. conhecendo o parocho, cujas orações e
Passa:do esse tempo, ninguenn mais se mais ainda o 'e�mplo, acabaram por
lembrou dielle para o serviço militar e franquear o caminho aos corações de
•entã-o se matricul-ou no pequeno Settnina todos. Alguns começara/111 a frequentar
rio de Verriéres e mais tarde no grande a santa Missa.
Seminario de Santo Ireneo. Mestres e O numero d'aquelles que acompanha­
altllmnos eralm unanimes em cooceder a vaim o piedoso Cura na recitação do ro­
Vianrney a palma, quanto á virtude e sario, rodais as tardes, crescia a olhos
santidade entre os condiscipulos. O pre­ vistos e depois de algu:111 tempo, o San­
paro intelloctuial do jovem, porém, era ti·sstm'o nãio ficava nenhuma hora, duran­
tão defidente, que os mestres não se vi­ te o dia, sem adornidor. A Colmnnunhão
ra:m com coragem de apresentai-o para frequient1e foi pelo Santo Cura introdu­
a oride111ação. zida na parochia, cdm muita feliddade.
O viga:rio geral do Cardeal Fesch, Para as senhoras fum�ou a Confraria
Mon1s. Oourbon, que em ultima instancia do Rosario, e para os hOltnens a Innan­
devia dJecidir a questão, deu consenti­ dade do Santiss�mo Sacramento.
mento para que Vianney fosse adnnitti­ Tendo as-smn elevado a certa altura a
do ao sacerdocio e o jovem theologo re­ vida religiosa na parochia, Vianney
cebeu as santas Oridens a 9 de Agosto pa,ssou a combater os abusos. O zelo de
de 1815, Vianney contava já 29 annos. paistor dirigiu-se principabmente contra
Os primeiros tres annos do sacerdo­ os cabarets, as danças e a profanação
cio passou-os na companhia e sob a di­ do domingo. Sem recorrer a meios rigo­
recção do primeiro mestre e amigo, Pa rosos e almleaças, fazendo, pelo contra­
dre BaUey. rÍ'o, prevalecer a caridade, Vianney con­
Este falleceu e a Curia episcopal nu­ seguiu que um cabaret após outro se
meou Vianney Cura d'Ars. O novo cam­ fechasse. Quanto á dança, os espiritois
po de acção era o mais ingrato possível. dividiralm-se em duas correntes : tlllTia a
Ars era tlim Jogar sem religião. A egre­ favor da calmpanha do vigario e a outra
ja deserta, os Sacramentos não eram contra. Veiu a festa de S. Sixto, pa­
1

frequentados, o trabalho no domingo, a droeiro do J ogar. O baile fazia parte in­


frequencia de bailes e cabarets estavaim tegrante do prograim,ma dos festejos

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126 9 de Agosto

profanos. Fizeram--se os convites do unicamente na santidade do Cura. Vian­


cost�me. Mas a decepção dos moços foi ney era homem de oração e ele peniten­
grande quando, á hora cio baile, nenhu­ cia. A um oollega que o visitou e dolo­
ma moça lá appareceu. E o baile não se msalmente se queixou do triste estado
realizou. perguntou: "Rezastes entre lagrimas?
Restava ainda restabelecer o domingo, não é bastante. Jejuastes já ? Fizestes
em toda a sua dignidade. Tão frequen­ vigilias? Deitastes-vos sobre o chão du­
tes, tão insistentes e persuasivas erarrn ro e tomastes a disciplina ? Si ainda não
as exhortações do vigario, a respeito do o fizestes, não penseis ter feito tudo".
trabalho no domingo, que determinaram E elle praticava o que a outros aconse­
mudança oompleta no pensamento do lhava. Levava vida de extrema pobreza.
povo, que em seguida passou a obser­ Dos pobres da parochia era Vianney o
var, com todo o rigor, o descanço do­ mais pobre. Possuia uma só batina e
minical. esta já bem velha e cheia de remendos.
Ars estava renovada. Os v1cios Jª O estado do chapéo era tal, que provo­
não existiam. Abusos forann extirpados. cava os sarca,s1mos elos collegas. Vian­
Todos queria1111 ser bons christãos. Res­ ney não possuia nacla e nacla guardava.
peito humano era cousa desconhecida E quanto betm não fez ess'e Padre ás
em Ars. Incorreria na censura publica orphã:s e aos pobres ! A vida do Cura
qtt'am não quizesse praticar a religião. d'Ars, com sua extrema austeridade, em
Não se ouvia mais nenhuma blasphe­ nada di Here da vida dos grandes ere­
mia; não existia inimizade alguma em mitas do deserto cio Egypto. Quando
Ars. Ao toque do Angelus os homens se muito tomava tres refeições cheias por
descobria!m e interrornpialm o trabalho, semana e que refeições ! O "cardapio"
para rezar as Ave-Marias. O confessio­ não constava senão d'rnnas hervas cruas,
nario se via assecliado, até altas horas pão secco e agua. O somno era um re­
da noite. Aos domingos a egreja esta­ pouso de duas hora:S apenas. Quando se
va sempre repleta, por occasião das tratava da conversão d'u�n peccador,
missas, elas vesperas, cio catecismo e do mais apertava o jejum, e a cama era tro­
terço. Foi preciso o vigario alargar a cada pelo chão. A saúde de Vianney era
matriz e construir novas capellas, co­ fraquiss�ma. O Santo soffria cruciantes
mo as ele S. João Baptista, ele Santa dôres nos intestinos, dôres <le cabeça
Phildmcna, de Ecce Homo e a dos San­ viol-entas. Vinte vez·es esteve doente e
tos Anjos. vinte vezes se curou subita1111ente, facto
Conhecendo a grande miseria das al­ que grande admiração causou aos me­
mas e os perigos em que se achavaim dicos. Houvie quem lhe dissesse que suas
as pobres orphãs, V,ianney fundou na penitencias excedialm os limites do lici­
parochia um asylo, a que deu o nome to e Vianney respondeu-lhe: "O Senhor
<le Providencia. Para as asyladas era não sabe qtve meus peccados exigem
tt\m pae que sacrifícios não media, para um tratalmento conno este". Além' d'estas
que nada lhes faltass'e. Essa fundação, praticas cctn-.muns de penitencia, Vian­
tão util e boa, foi para Vianney uma ney usava ainda outras, colmo: a flagel­
fonte de desgostos. Mais de uma vez lhe lação, o cilício, etc.
sobreveiu o desanimo e profunda.mente
desg' os�oso, exclamava: "Ah ! si tivesse Si com aquella s'anta vida agradava a
saibido o que qtter dizer ser sacerdote, Deus, tanto -mais provocava a,s iras do
eu t'eria procurado minha salvação na ini:tnigo, que o perseguia com toda a
Oairtuxa ou na Trappa". Por duas vezes sorte de maleficios, chegando a ponto
tentou fugir de Ars, para vêr-se livre de physicamente o maltratar. A's in­
do pesado fardo cio ministerio pastoral. fluenciias diabolicas devem ser attribui­
O segredo dos grandes resultados es­ da:s talmbem as caluimnias, de que Vian­
pirituaies, na parochia de Ars, estava ney foi victima. Tudo iss,o, porém, não

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9 ele Agosto 127

conseguiu roubar�lhe o contentaunento curas, devidas á intervenção de Vian­


int�mo e a alegria cl'alma. ney, que wlguem um dia lhe disse: "Se­
Nos ultilmos annos o organismo lhe nhor Oura, basta que cligaes apenas :
denunciava um estado ele fraqueza ex­ quero que estejas curado e a cura está
traorclinario. Quando rezava o terço na feita." Vianney ouvia os doentes em
eg-reja, sua voz era quasi imperceptível confissão e dirigia-os á capella ele San­
No mez de Maio de 1843 lhe sobreveiu ta Philomena. Era lá que os milagres
ulma forte pneumonia, que lhe pôz em · � effectuavam. Só Deus sabe quantas
gmndie perigo a vida. Via:nney pediu conversões se realisara1m em Ars, quan­
qu'e lhe administrassem os santos Sacra­ tas almas lá encontraram a paz dese­
mentas do Viatico e da Extrema Unc­ jada.
ção. Apavorado pela espectativa da mor­ Vianney morreu a 4 de Agosto de
te, o Santo invocou sua grande Padroei­ 1859, mas a sua memoria ainda está
ra Santa Philomena, pedindo que , , viva e glorioso s,e lhe tomou o tumulo.
curais'Se, ainda que fosse necessario um Declamado "v,enerav'el" por Pio IX, em
milagre. Santa Philomena, curou-o e 1925 lhe foi conferida a honra dos al­
cons'Olou-o cdm sua apparição. tares, pela solemne canonização profe­
Vianrney possuia tim grande a1111or ao rida pelo Papa Pio XI.
Santissilmo Sacramento. Este amor, este
nEFLEXõES
fogo se manifestava nélls visitas que fa­ É o immortal merecimento do Pe. Balley,
zia á Jesus na Eucharistia, nas allo­ ter descoberto e cultivado a vocação sacer­
cuções e principalmente na Santa Mis­ dotal de seu pequeno parochial João Ba­
sa. QuJem o via celebra:r, tinha a impres­ ptista Vianney. -Não foram o zelo e o in­
teresse verdadeiramente paternaes desse
são elo celebranl1e vêr o pmprio Nosso sacerdote, a Egreja não teria talvez o gran­
Senhor. Deste a,nror lhe brotava o cul­ de Santo d' Ars, padroeiro dos parochos. A
to aos grandes a1migos ele Deus : a São bibliographia conta-nos as difficuldades in­
João Baptista, a S. José,' a Santa Philo­ superaveis quasi, com que o estudante Vian­
ney tinha que luctar, para chegar ao sa­
mena, sua pa:dmeira por excellencia e cerdocio. A boa vontade, o trabalho esfor­
á Santfasi'ma Virgem. Dahi tambem o çado, a oração tiveram como recompensa
z•elo infatigavel pela conversão dos pec­ o apoio da divina graça, que fez- do pobre
cadores. menino de Dardilly um grande Santo, glo­
ria da sua terra e da Egreja de Deus.
Vianney não era só pa,stor elas almas U= das maiores preoccupações do nos­
de Ars. Deus quiz que o pobre Cura so episcopado é a falta que ha de sacerdo­
fosse o Apostol·o univel"'sal do seculo. A tes no Brasil. Realmente, para uma popu­
s<l!ntida:de elo pobre Vianney attrahia as lação de 40 e mais milhões que o Brasil tem,
o numero de 3.000 sacerdotes é irrisorio, de
a]mas, que nas necessidades o procura­ todo insufficiente. Será que Deus não
vaim, para a eUe confessar-se, receoer queira dar vocações ao Brasil? Ha falta de
conselhos e conforto. Esta affluenci.1 vocações? Si houvesse, seria um duro cas­
durou trinta amn1os e só por uma inte · tigo de Deus ao nosso povo; pois si Deus
quer castigar uma nação, retira-lhe sua
venção sob!"'enatural póde ser explica:.[ 1. graça, sua protecção - seu sacerdocio: não
As peregrinações a Ars começaram e.111 lhe dá vocações ccclesiasticas. Estaremos
1826. De 1835 em cleante, o numero ::u1-
1 neste caso? Parece que não; pelo contra­
rio: está mais que provado que vocações
nua'l de peregrinos que procuravam o ha em abundancia. Si todos perseverarem,
Cura d'Ars, excedia a 80.000. Eram lei­ em poucos annos a Egreja catholica no
i;OS e sacerdotes, bispos e cardeaes. !'�J.­ Brasil não mais se resentirá da falta de
bios e ignorantes, que vinhaim ajaelbar­ clero.
Para que uma vocação persevere, é pre­
se-lhe aos pés. Em 1843 recebeu un, ciso que seja verdadeira, solida, não fingi­
coad jutor e os missionarios diocesan :,� da, e uma vez reconhecida solida deve ser
vinham de vez em quando lhe prestar cuidadosamente cultivada.
serviços ta.n1bem. Innunneros eram os mi­ Boas vocações vêm do céo; é Deus que
as dá. "Grande é a m.esse, diz Nosso Se­
lagres que se operara!m na hu�nilde casa nhor, e poucos são os operarias; pedi, pois,
do Cura d'Ars. Tão numerosas eram as ao Senhor da messe, para que mande ope-

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128 10 de Agosto

rarios para a sua messe". Grande é a mes­ xaes de chamar o medico. - Todos os seres
se do Senhor no Brasil, e poucos são os necessitam do alimento para viver.
Padres. São as familias que devem forne­ O alimento da alma é Deus. A alma só de
cer as vocações ; é das familias que Deus, Deus pôde viver e nada a satlsf.az, senão
Deus."
o Senhor da messe quer escolher seus ope­
rarios. Trabalhemos, pois, cada um no to­ 2. Sobre as danças, dizia Vlanney: "Vêde,
meus Irmãos, as pessoas que vão ao baile,
gar que Deus lhe determinou na sociedade, deixam o Anjo da Guarda na porta, e é um
pela santificação da fam'ilia brasileira, pe­ demonlo que lhe toma o Jogar, de modo
la comprehensão da sublimidade do sacer­ que ha no salão tantos demonlos, quantos
docio; rezemos, para que o reino de Christo são os dançarinos". - Si no tempo de Vian­
se firme cada vez miais nas familias; o reino ney assim já. era, o que diria elle, si visse
de Christo com seu espírito de sacrificio e as danças de hoje, que são a vergonha do
de oração; rezemos pela santificação dos nosso seculo?
paes, das mães; paes santos, mães santas, 3. A respeito da santificação do domingo,
não deixam a Egreja sem sacerdotes. Da ouviu-se Vlanney multas vezes dizer: "Vós
trabalhaes, mas o ganho arruina o vosso
arvore santa do matrimonio virá o fructo corpo e a vossa alma. SI perguntasse á.quel­
santo do sacerdocio. Ies que no domingo trabalham: Que estaes
De S. João Baptista Vianney são as se- a fazer? E11es poderiam responder: Estou
guintes considerações, apropriadas ao; vendendo a minha alma ao demonio; Estou
nossos tempos: crucificando Nosso Senhor; estou renegando
o meu baptisrno .. . Oh! como se engana
1. "Devemos trabalhar para tornar-nos aquelle que aproveita do domingo, pensando
merecedores de receber a Santíssima Eu­ que ganha mais dinheiro! Vós tendes a con­
charlstla todos os dias. SI não nos é possl­ vicção de que tudo depende do vosso traba­
vel commungar diariamente, substituamos a lho; é engano. Ora vem uma doença, um
Communhão real pela espiritual, que pôde accldente.. . é preciso tão pouca cousa . . .
ser feita a cada instante; e nós devemos ter uma tempestade, uma chuva... Deus tem tu­
o desejo ardente de receber Deus Nosso Se­ do na mão; elle pode vingar-se quando e
nhor. como quer ... Conheço dois meios para em­
A Communhão é para a alma o que o pobrecer: "Trabalhar no domingo e roubar
sopro é para o fogo, que está. para apagar­ bens alheios",
se. - Ide á. Communhão, Ide a Jesus! Ide
viver d'elle para viver por E11e. Não dlgaes
que tendes multo que fazer. Não disse Nos­ SantoB do Martyrologio Romano, cuja me­
so Senhor: Vinde a mim: vós que traba­ moria é celebrada hoje:
lhaes e vos achaes sobrecarregados? Não dl­
gaes que não sois dignos. Tendes razão, mas Em Roma o sacerdotc-martyr S. Tertu­
é verdade tambem que d'E11e precisaes. Si liano. Seu martyrlo teve Jogar em 257 na
Nosso Senhor tivesse tido em vista a vossa perseguição de Valerlano.
dignidade, jamais teria lnstltuldo o be11o
sacramento do amor. Não digaes que sois Em Roma, Santa Perpetua, baptlsada por
tão mlseravels. Gostaria mais de ouvir di­ S. Pedro. Converteu ao christlanlsmo seu
zer que estaes multo doentes e por Isso dei- marido Africano e seu filho Nazarlo.

10 de Agosto

São Lourenço, Martyr


( t 2S8)

A\ STRO de pdmeira grandeza, bri­ em relevo as raras qualidades e altas


� lha o ndme ele S. Lourenço no fir­ virtudes do joV'dm clerigo. O encaTgo
mannento da Egreja pri�11itiva. Um dos de arcediago era administrar os bens
primeiros sete diaconos ela Egreja ro- da Egreja e soccorrer os pobres, que vi­
1mana, :recebeu S. Lourenço ordenação viam ás custas da mesma. As crudelis­
das mãos do Papa Sant'Estevam. simas perseguições do Imperador V ale­
Os Santos Padres nada nos dizem so­ riaino visavalm, em primeira linha, os
bre a fi-liação; alguns chaimam-no o ar­ bispos, sa,cerdotes e diaconos, e uma das
cediago do Papa, titulo honroso que põe primei,ras victi-mas foi o santo Papa

S. Lourenço - Santo Ambroslo de off. llbr. I. c. 41. Sermões de Santo Agost. 302, 206.
Prudenclo hymn. 2 de coron, Lec. serm. 83. Tlllemont IV. Raess e Welss XI.

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10 de Agosto 129

SixtÓ, que soffreu o martyrio pela fé sem. Fiel ao aviso do Pae espiritual,
ejm 258. S. Lourenço acdmpanhou-o até Lourenço procurou todos os pobres,
o logar do supplicio e, com os olhos viuvas e orphãos ela Egreja, e entre elles
marejaidos ele lagrimas, num ardente de­ repartiu o dinheiro que havia. Objectos
sejo de morrer com o pac espiritual, de ouro, prata, con10 pedras preciosas,
d i s s e - l h e: vasos sagra-
"Meu pae, pa­ ~ ... ....
dos ele grande
ra onde ides 1 -: -- v a l o r, tudo
1~:-
sem vosso fi­ ,-- Lourenço ven­
lho? Para on­ j· ~ :;·r, deu, e com o
de, santo Bis­ dinheiro soe-
po, sem vosso correu os po­
cliacono? J a­ bres que a
mais offere­ Egreja susten­
cestes o sacri­ tava e cujo
ficio, sem que numero e r a
eu vos acoly­ •a c i m a d e
tha s s e? Em 1.500.
que vos clesa­ Quando o
gracl e i? En­ Prefeito ela ci­
contrastes em dade teve co­
mim uma infi­ nhec i m e n t o
delidade? Ex­ cl o s grandes
anninae bem e thesouros que
vêcle si para .1 existi am na
distribuição elo Eg1,eja e de
sangue de Je­ que Lourenço
sus C h risto, era adminis­
escolhestes um trador, man­
servo i n jd i­ dou-o chamar
gno". O Pa­ a sua presença
pa, co1nmovi­ e d i s se-lhe:
do com estas " Nada de ti
palav r a s ele ' ,exijo, que te
· verdadeira de- não seja pos­
dicação filial, sivel executar.
res p o n d e u : S o u b e que
"Não te aban­ vossos sacer­
dono, meu fi­ dotes se ser­
O martyrio pelo fogo de S. Lourenço
lho ! Deus re­ Seu semblante brilhava em ardor do amor divino, vem de vasos
servou-te pro- e do seu corpo se desprendia delicioso perfume, que de ouro e pra­
vação ma10r e só pelos christãos, não porém pelos pagãos, era ta nos vossos
percebido.
· victoria mais sacri fiei o s e
brilhante, pois és moço e forte ainda; que usaes de V'elas de cera, collocadas
velhice e fraqueza fazem com que te­ em castiçaes de ouro. Soube que vossa
nham dó de mim; daqui ha tres dias me religião vos ordena dar a Cesar o que
seguirás". Tendo assi1111 falado, deu ao é de Cesar; trazei-lme, pois, todos estes
joven diacono instrucção sobr·e os the­ obJectos, ele que o litnperador tem pre­
souros ela Egreja, aconselhando que os cisão". "E' verdade, - replicou Lou­
repartisse entre os pobres, para assim renço, - a Egreja é rica, mais rica que
1
i m;pedir que os pagãos os sequestras- o Imperador. Concedei-me o prazo ne-
Luz Perpetua 9 - II vol,

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130 10 de Ago3to

cessano e tudo será arranjado em boa f'eito disse-lhe em resposta só palavras


ordem.". O Prefeito, suppondo que se de escarneo. O santo Martyr, porém,
tratasse de riquezas rnateriaes, deu-lhe rezava a Jesus Christo, pela conversão
de boa vontade um prazo de tres dias. da m1etropole do mundo, na qual S. Pe­
Não pequeno foi para o santo diacono dro e S. Paulo tinham plantado a cruz,
o trabalho ele convidar todos os pobres, regando-a cam o proprio sangue. Lou­
viuvas, orphãos, cegos, mudos, para­ renço morreu em 10 de Agosto de 258.
lyticos, invalidos e desaJmparados, pa­ S. Prudencio é de opinião que a con­
ra que no terceiro dia comparecessem versão da cidade de Roma é fructo do
á porta da egreja. Assim aconteceu. martyrio de S. Lourenço. Seja co,mo
Vieram os pobres em grande numero e, fôr, facto é que logo após a morte do
tendo-os todos reunidos, Lourenço con­ santo diacono, alguns senadores roma­
vidou ao Prefeito para inspeccionar os nos, quie lhe foralm tes,tennunhas ocula­
tão falados thesouros da Egreja. Veiu res do martyrio, no mesmo dia se con­
o Prefeito e quando inquiriu a Louren­ viertera!m á religião de Jesus Christo.
ço sobre a existencia elas riquezas, cst� Glles miesmos, tdmando o corpo do San­
apontou para a multidão dos pobres e to 1w:; hd:nbros, o sepultaram com to­
miseraveis e disse: "Eis os thesouros da das ws honras, no campo Verano. Des­
Egreja � os miseros que levam com resi­ de a morte de S. Lourenço, começou a
gnação sua cruz; que nada �abem cios declÍ'na:r a idolatria em Rolma. Santo
vicios e paixões, que tornam miseraveis Agostinho, S. Gregorio de Tours e ou­
os grandes do mundo. Conhecei nelles o tros Santos Paclrels enumeralm muitots
ouro cheio de luz celeste. Vêde mais as milagres, com que Deus glorificou o
perolas e joi'as preciosissimas: as viuvas tumulo e a memoria de S. Lourenço.
e virgens consagradas a Deus, que for­ Em Roma existem sete Egrejas dedica­
'lmllm a corôa da Egreja, por serem as elas wo glorioso diacono Martyr. A
a}m<l!s pl'edilectas de Jesus Christo". mais sumptuosa de todas, porém, ha
na Hespanha: é aquJeUa que Philippe
Vendo-se assi-tn illudido, o Prefeito II eclificou em honra de São Lourenço,
prordrnpeu 0111 raiva furiosa: "E' assim em acção de graças pela vicroria sobre
que tie atrievics a ludibriar a auctoridade os francezes em 10 de Agosto de 1557.
romana? Miseravel ! Si o teu desejo é
morrer, pois bem, has ele morrer, mas de REFLEXÕES
mna mortie longa e cruel". Deu então E' um engano pensar que nada nos póde
ordem para que Lourenço fosse cruel­ obrigar a praticar obras de caridade. Dar
uma esmola a um pobre, é um grande fa­
mente açoitado e por outros modos ator­ vor feito a elle e a Deus. A caridade é
mentado. Finaln1enl:'e mandou qt11e trou­ uma lei, que a todos obriga, sob pena de
xess'em uma grelha, que foi posta sobre perderem o céo e serem condemnados ao
brazas. O ·sa:nto di,acono foi então des ­ inferno. Devemos, como christãos, reco­
nhecer no pobre a pessoa de Nosso Senhor.
pido e colloca'<lo sobre a grelha. O sem­ Praticando a caridade, não nos devemos
blantle ardia-lhe de fogo divino, diz deixar guiar por outros motivos., senão por
Santo A(mbrosio, •e do corpo se lhes des­ este_. O pobre, seja quem fôr, é irmão de
Chnsto e como tal deve ser tratado. E'
prendi � tlim perfulme delicioso, que era esta a doutrina expressa do Evangelho. A
percebido pelos christãos, não, porém, recompensa perpetua e a condemnação
pelos pagãos. Tendo soffrido por algum eterna será o resultado da caridade pra­
_
tampo este horrivel martyrio, Lourenço, ticada ou não praticada. "Tudo que fizes­
tes ou deixastes de fazer ao menor dos
oorn um sorriso nos labios, disse ao meus irmãos, foi a mim que o fizestes ou
JUIZ: "Si quizerdcs, podereis dar ordem deixastes de fazer.
para que me vil'om, visto que d'este la­
Santos cuja memoria é celebrada hoje:
do já estou. bastante assa<lo !" e pouco
Em Roma o martyrlo de cento e sessenta
depo-i'S : "Si estiverdes servido, eis que e cinco soldados, que no tempo de Aure­
minha carne está hem assada". O Pre- liano morreram pela fé.

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11 ele Agosto 131

Em Carthago as santas virgens e marty- Na Hespanha, a apparição de Nossa Se-


res, Bassa, Paula e Agathonica. nhora chamada das Mercês.
Em Roma S. Deusdedit, grande bemfei- No Mexico o martyrio de 25 Padres e 2
tor dos pobres. Irmãos franciscanos. 1680.
++.:-:•
�•:•❖•!••:..:•-!•#❖❖❖H❖❖�++•!•❖-!••!·-!•�-'.-!➔�-!•-t➔++.��:•-!••:.❖❖•�-H+.:...:....:.-:•❖❖❖

11 de Agosto

Santo Alexandre, Bíspo e Martyr


(t 250)

Ir OI no tempo de S. Gregorio, o cedencia, o modo de vida, a religião, etc.


Yl� Thau1111aturgo, Bispo de N eocesa­ Soube então que o pobre carvoeiro era
réa, que muitos pagãos, maravilhados dre desoendencia nobre, filho de paes ri­
pelos foitos extraiordinarios d'esse Sain­ cos; soube ainda que, por amor a Jesus
to, se converteraim ao christianismo. São Christo e pa:m nã,o cahir nos laços do
Gregorio era o oraculo d� toda a Asia deimonio e em defeza da castidade tinha
Menor. Certa vez urma commissão da aba!1'donado o lar paterno, �m busca d:.'.
cidade ele Comana o procurou, para ob­ uma vicia pobre, , escondida e trabalhosa.
ter a indicação de um Bispo parn aquel­ "ü pó ele carvãro é a mascara de que
la cidade. Gregori•o foi a Coma.na, onde me sirvo, para me torna,r desconhecido.
lhe foralm a:presentados diversos randi­ Sou moço e represe' ntaria alguma coisa,
datos, homens dignos de occupar a ca­ si quiz,esse vestir-me como os outros.
deira episcopal. Os Comanenses deseja­ São momentos de tentação para que1111
vam ter um Bi·spo nobre, eloquente e foz o vmo; por ahi tambe1111 conheceis
popular. Gregorio, sem desprezar es­ que devia fazer tudo, para evitar os pe­
sas qualidades, ligava ma-is importanoia rigos, a que minha mocidade e minhas
a urma virtude solida e esperou que attracç6es physicas me expunham. Ga­
Deus lhe 'mostrasse uma pessoa idonea, nho honestallncnve meu pão e t,enho de
n·a altura do cargo. Entre os apresenta­ sobra pa.ra contribuir para obras pias".
dos, não havia nenhu1m que lhe agra­ Tal falar agraciou muito a S. Gregorio,
dasse. A decepção dos nobres de Coma­ · que deu graças a Deus por ter achado
na não era pequena. Elle, entretanto, um homenn tão virtuoso. Fez Alexandre
insistiu para que lhe apresentassem pes­ trocar os andrajos por roupas melhores
soais de posição social humilde, o que e instmiu o povo sobre os deveres dum
f.ez 11111 dos rma:gistrados, com ar de mo­ Bispo. Em seguida lhe apresentou Ale­
fa, lhe dizer : "Quer o Senhor que lhe :>eandre. Grande foi a surpreza dos as­
chamemos o carvoeiro Alexandre ? De­ sistentes. Aproveitando-se cl'essa surpre­
véras, um bolm candidato esse para o za, Gregorio disse: "Não vos admireis
Bispado. Não ha duvida, devetmos de que vossú juízo apressado vos enga­
apoiar-lhe a candidatura !" S. Gregorio, nasse. Estava no inte1.1esse de Satanaz
que não conhecia Alexandre, m1vindo o escoonder este vaso ele eleição, para que
hametm assim falar, interessou-se pelo de nada servisse". Explicou-lhes então
indirnclp, qu� irmmlecliatamente foi cha­ qu�m era Alexandre e porque motivos
mado á sua presença. Alexandre C()lmpa­ tinha escolhido um meio de vida tão hu-
receu cm trajes de carvoeiro. A farça 1nilde. Uma virtude tão solida merecia
não parecia má e sua ch egada provocou ser reccmhecida e elevada. As palavras
uma gargalhada geral. Gt1egorio chamou de S. Gregorio achamm o applauso do
Alexandre á parte e indagou�füe a pro- povo.

Snnto Alexandre -- S. Gregorio Nyss. na vida que escreveu de S. Gregorio Thaum::it.


Tillemont IV. Fleury. hist. eccl. Baillet. Joan. Plinius. Raess e Weiss XI.
9.

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132 12 de Agosto

Al'exandre foi sagrado Bispo. Na pri­ santa e preciosa aos olhos de Deus. Quem
cumpre o dever, quem pratica o bem, onde
meira allocução que fez a:os diocesanos, se lhe apresenta occasião, quem leva a
jm.tificou plenamente o conceito de São cruz com resignação e penitencia, quem
Gregorio e os habitantes de Cottnana foge do peccado e se afasta da ira, da ca­
julgaran1-se felires de ter achado um lumnia, do odio, quem zela na familia pela
conservação das tradições de piedade,
Pl'eladb tão digno. quem, afinal, para nos servir da expressão
A administração do novo Bispo pro­ de S. Paulo, "vive sobrio, piedoso e justo
vou sobejaimcnte que estava á a,ltura do neste mundo, na espectativa da bemaven­
cargo. V·erdacleiro pae cio povo, condu­ turança e d'.! vinda de Nosso Senhor Jesus
Christo, este tem as melhores garantias e
zia-o pelo caminho da salvação; exem­ os titulas mais seguros do céo. Não tenhas
plu pa,rn todos, a todos recommenclava inveja dos ricos. A pobreza é que gosa da
;rs virtudes da justiça, ela misericordia, estima de Deus. Conheces a parabola do
cln persevierança e o desejo do céo, nos rico e do pobre Lazaro? O Evangelho não
denuncia vicio nenhum do máo rico; diz
tdmpas pcrigosiissimas, em que o de<mo­ apenas que se vestia de purpura, se ban­
nio andava a mover novas perseguições. queteava sumptuosamente e não tinha co­
Exhortava�as a que fica:ssem finnes ração para o pohre Lazaro. Não obstante
t;iimbdm na pres:ença cio tyranno. O que tet1mina: o rico morreu e lá se foi para o
inferno. Morreu tambem o mendigo e os
aconselhava, elle proprio punha em exe­ Anjos levararn-n'o para o seio de Abrahão.
cução. A rir1ueza traz muitos perigos e é o maior
Numa perseguição, foi conclemnaclo incitamento para os peccados condcmnados
pela moral christã, e que fazem perder o
á mo'l"te pelo fogo. Dizem alguns que céo. A pobreza não só é mais agradavel a
,este martyrio coincide com a persegui­ Deus, como tambcm é um forte baluarte
ção de Decio. contra os males do mundo. Feliz d'aquelle
que tamhem numa posição humilde conserva
REFLEXÕES a alegria do coração, a paz da alma, que vale
Admiravel como poucas, é a vida de mais do que todas as fortunas do mundo.
Santo Alexandre. Elle, que no mundo podia
ter tido uma vida confortavel, abandona Santos do 1,Tartyrolooio Romano, cuja mc­
tudo para, na solidão, desconhecido de to­ ·rnoria é ce!e/Jrnàa hoje:
dos, servir a Deus. Em Roma, por entre doi,:; loureiros o an­
Esse sacrificio é realmente mais admira­ niversario cio martyrio de S. Tiburcio. O juiz
vel que o proprio martyrio. Ensina-110s que mandou-o andar descalço sobre braza o de­
o mundo e o contacto com este, não pode pois decapitar.
dar-nos a felicidade, que anhelamos. Ensi­ Em Todi, na Italia, a santa virgem Di­
na-nos tambem que uma vida humilde, po­ gna, que, c01rnoguin<10 fugir da 11erncguição
bre e desconhecida póde ser 11ma vida de Diocleciano. morr{'U na solidão.

12 de Agosto

SANTA CLARA (t 1253)


� ANTA CLARA nasceu em Assis, cio teu vientre s·erá um grande lun1'e,
� na Italia, filha ele pacs ricos e pie­ que illtiminará o mundo todo." Desde
dosos. O ndme de Clara foi-lhe dado em pequena, Clara era em tudo bem diHe­
virtude de uma voz mysteriosa, que a rnnte das cdmpanheiras. Quando meni­
mãe Hortulana ouviu, quando, anbes ele nas dessa eclacle costumam achar agrado
dar á luz a filha, fazia fervorosas ora­ nos bánquedos e btim cedo revelam tam­
ções cleante de um crucifixo. "Nada te­ hem qualidades pouco apredaveis, Clara
mas ! - disse aquella voz - o fructo fazia grande excepção ela regra. O

Santa Clara - Da sua vida, que .foi escrlpta por ordem do Papa A 1 exandre IV. Wad­
umg. annal. Franc. - Sbarala, Bullar. Franeisc. - Boll. II Agosto Raess e Welss XI.

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12 de Agosto 133

seu praz,er era rezar, faz-er caridade e O procedimento extranho de Clara


penitencia. Aborl."ecia a vaidade e as ex­ provocou os mais V'ehementes protestos
hibições, e tinha aversão declarada aos dos paes e paren1'es, que tudo tentaram,
divert�mentos profanos. para tirar a joven do convento. Clara
Vivia naqueHe tempo o grande Pa­ oppôz-lhes resi-stencia energica. Indo á
tria r c h a de Egreja segu­
�����=�iiii-- -�-;;.- ;--�;;-------�
A s s i s, São I r
Fra:ncisco. A �-- - ,:_-= -
= i rou-se ao ai-
-�-- ta-r, e com a
-este se dirigiu o utr a mão
Santa .Clara, mostrou aos
c o mmurrican­ paes a cabel­
do-lhe o gran­ iieira cortada e
de desejo qu:: diss e - 1 h e s :
tinha, de aban­ "Deveis saber
donar o mun­ que não que­
do, fazer o ro outro espo 0
voto de casti­ so, senão a J e­
dade e levar sus Chrisro. A
uma vida da ·este escolhi e
mais perfeita não mais o
pobreza. São d e i x a re i".
Francisco re­ Taes palavras
conheceu em causaram pas­
C l a r a uma mo aos paren­
eleita de Deus tes, que não
e animou-a a podiam deixar
persi,stir nas -de manifostar­
piedosas aspi­ •se admirados
rações. Depois de tão prove­
de ter exami­ e t a virtttde.
nado e sujeito Clara t i n h a
a duras pro­ urna irmã mais
vas o espirita mloça, de no­
d a j o v e n, me Ignez. Es­
aconselhou-lhe ta, convidada
q u e abando­ e animada por
nasse a casa Clara, poucos
part:erna e to­
1
di a s depoi,;
masse o habi­ imitou o ex­
to de religio­ Santa Clara
emplo da innã
sa. Fni num Sabendo que os sarracenos já iam subir os muros
do convento, Clara, obedecendo a uma inspiraQâo e, abandonan­
damin g o de superior, recorreu a Jesus no 88. Sacramento, to­ do a casa pa­
Ramos que mo11 da custodia e, assim munida, enfrentou o ini-
migo, do qual se apoderou grande panico. terna, entrou
C 1 a r a exe­ paro o con­
cutou este plano, dirigindo-se á Egrcja vento onde estava Clara. Com est'e
da Porcioocula, onde S. Francisco lhe passo da joven não se con formarann
cortou o cabello e lhe deu o habito ele os parentes que, em numero ele doze, a
penitencia. Clara contava apenas 18 an­ a.rranca1ral111 dos braços de Clara, para
nos, quando disse adeus ao mundo e Ieval-a para casa. Quando, porém, che­
entrou para o convento das Bencdicti� ga:ralm á portaria do conviento e a viva
nas em Assis. força a q'lllizeralm arr,ebatar, Ignez gri-

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134 12 de Agosto

tou em alta voz: "Vem elm meu soccor- mo. O mator praz,er de Clara era ser·:ir
. ro, minha irmã e não penmittas que me os enfermos.
tirem dos braços do meu Senhnr Jesus Uma das virtudes que se lhe observ:.i­
Christo e me privem de tua amavel va, era o grande wnor ao SS. Sacra­
cdmpanhia". Pela forte resistcncia sahiu mento. Horas inteiras do dia e da noite
victoriosa e S. Francisco deu-lhe o ha­ passava nos degráus do altar. O SS.
bi·ro de religiosa. lgnez contava apenas Sacr:�mento era seu refugio, em to<l-os
quatorze annos. os perigos e difficuldades.
S. Francisco adquiriu a Egreja de Aconteceu que a ci-da<le de A•ssis
S .. Da.mião e ulma casa contigua para as fosse J!ssedia<la pelos Sarracenos que, a
novas Peligiosas, ás quaes se associaran1 s·erviço do Imperador Frederico II in­
outras compamheira:s. Sob a direcção de quietavalm a Italia. Os guerreiros ti­
Glara, fot1111aram estas a primeira oom­ nham já galgado o muro, justamente
nmnidade, que, desenvolvendo-se cada onde estava o convento das Clarissas. A
vez mais, tomou a fót'lma de nova Or­ superiora enferma guardava o J.eito.
ddm religiosa. Esta Ordem, de origem T,endo noticia da inincdiata invasão dos
tão humilde, tornou-se ccleberrima na ba:rbaros no convento, Clara levantou­
Egreja Catholica, a que deu muitas San­ s1 e, e, ajudaida pela:s filhas, dirigiu-se ao
tas e muito trabalhou e trabalha para o altar do SS. Sacramento, tomou nas
engrnndecin1ento do reino de Christo so­ mãos a custodia com a sagrada Hostia
bre a terra. Obedecendo á ordem de S. e a,ssim munida de Deus Nosso Senho1·,
Francisco, Clara acceitou o cargo de su­ dirigiu-Lhe o seguinte appello em voz
periora, cargo que exerceu durante qua­ alta: "Quereis, Senhor, entregar aos
renta e dois annos. Clara deu á Ordem infieis estas vossas servas inclefezas,
r-cgras sevterns ,sobre a pobPcza. Uma of­ que nutri com vosso amor? Vinde em
ferta de bens immovcis, que o Papa soccorro de vossas servas, pois não
fez á Ordem, Clara respeitosamente a as posso proteger". Ditas estas pala­
recusou. Não só na observação da po­ vl"a:s, ouviu-se clistinctamente uma voz
breza, como tambem na pratica de ou­ dizer : "Serei vossa pi:otecção hoje e
tras virtudes, Clara era modelo exem­ selmpr,e". Os factos provara'tn que não se
plaríssimo para suas filhas espirituac-s. tratava de cousa imaginaria. Dos Sarra­
Grande lhe foi a satisfação quando c>t cenos apoderou-se um panico inexplica­
propria mãe e ele outras parentas r,('e­ vd; grande parte d'eUes fugiram ás
bcu o pedido de admissão na Orc!rn 1. p1°essas; alguns, que já haviam galgado
Além d'-estas, entrara!m tres fidadgas da o dmo do mum, cahiram para traz. Foi
casa Ubaldini na nov,l Ordem das C:a­ visivelmente a devoção de Santa Clara ao
ris•sas. Julgaram maior honra assocrn·­ Santissiimo Sacramento que salvára o
S'e ú pobreza de Clara do que viver no convenfu e a ci<lade, do assalto do ini­
meio dos prazeres duun mundo eng�na­ migo. Outros muitos milagres fez Deus
dor. pm intermedio de sua serva, que a es­
Na pratica da penitencia e mortifi,:,t­ treiteza de espaço não nos permitte
ção Clwra era de tanto rigor, qce seu narrar.
exdmplo podia servir mais de acluninll).o Clara QOntava sessenta a.nnos, dos
e espanto, do que de ilmitação. O pro­ quales passára vinte e oito soffrendo
prio S. Francisco aconsdhou-lhe que graves e-nfem1idades. Por 1naiores que
usasse de moderação, porque do mo,Ju lhe fossem as dôres, nenhuma queixa
pm que vivia e martyrisava o corpo, er;:i lhe sahia ela bocca. Na meditação da
de receiar que não pudesse ter lo!1g,1 sagrada Paixão e Morte de Nos-so Se­
vicia. nhor achava o maior a-llivio. "Como
Severíssima para comsigo, era iuex­ passa depressa a noite, - dizia -- oc­
cediviel na caridade para com o proxi cupando-,me cc,m a Paixão de Nosso Se-

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12 de Agosto 133
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nhor". Em outra occasião disse: "Ho­ procurava e achava allivio, consolação e
auxilio. Si tivesses devoção egual a Jesus
mem haverá que se queixe, vendo a J c­ Eucharistico, os mesmos effeitos poderias
sus derra!mar todo seu sangue na experimentar. Si Nosso Senhor andasse en­
Cruz ?" Sentindo a proximidade da tre nós., como andou na terra da Palestina,
morte, r,ecebeu os Santos Sacramentos e cheio de confiança a ellc te dirigirias, certo
de alcançar-lhe da bondade o que desejas­
teve a satisfação de receber a visita do ses. Que diz a nossa doutrina sobre o San­
Papa Innocencio IV, que lhe concedeu tíssimo Sacramento ? Não é real a presen-.
uma indulgencia plenaria. QuaJSi wgoni­ ça de Jesus Christo na Hostia consagra­
zante, disse ainda estas palavras: "Na­ da ? Pois si é esta a tua fé, porque te portas
da tejmas, minha alma; tens boa compa­ como si não acreditasses nesta verdade ?
Si está presente no Santíssimo Sacramen­
nhia na tua passag{Jm para a eternidade. to, então é o mesmo que fez resuscitar o
Vae dm paz, porque aquelle que te mancebo de Naim, a filha de Jairo e La­
creou, te santificou, te guardou como a zaro. Si Jesus está no Santissimo Sacra­
mãe ao filho e te aimou com grande ter­ mento, então entre elle e aquelle que fez
nura. Vós, porém, meu Senhor e meu o milagre da multiplicação dos pães, não ha
diffcrença nenhuma. Não deve, portantJ,
Cr,eador, sêde louvado e bemdito". Em ser outra a tua fé. Porque não procuras
visão lhe appareceraim muitas virgens, Jesus no Santissimo Sacramento, quando
entJre as quaes uma de extraordinaria tua alma se vê attribulada, quando a dôr
belleza, que lhe vierahn ao encontro, pa­ te opprime o coração ? Si aos homens abres
o coração e cm suas palavras procuras
ra leval-a ao céu. Santa Clara morreu consolo e conforto, porque não fazes a Je­
em 12 de Agosto de 12.53, mais em con­ sus tuas confidencias ? Procura o Santís­
sequencia do �mor divino, do que da simo Sacramento, aviva tua fé neste mys­
doença que a rnartyrisava. Foi em at­ terio da nossa religião e, como Santa Clara,
tenção aos grandes e nu!merosos mila­ encontrarás quem te console, proteja e
defenda.
gres que se lhe observaram no turnulo,
que o Papa Alexaindre IV, dois annos
depoi1s, a canonizou.
Santos cuja memoria é celebracla hoje:
R.EFLEXõES
No sul da França, S. Proeario, abbade do
"Haverá quem se queixe, vendo a Jesus
Christo na cruz, coberto de sangue ? " A convento de Lerio, com quinhentos mon­
meditação da sagrada Paixão e Morte de ges, que morreram sob os golpes dos bar­
Jesus Christo dava força á Santa Clara, baros.
para soffrer com paciencia as dôres da
doença. A mesma meditação produziria Em Augsburgo, na Allcmanha, Santa Hi-
em ti o mesmo effeito, si em teus soffri­ _Jf',ria, mãe de santa Afra martyr. Foi agaÍ·­
mentos te quizesses lembrar das dôres que rada pelos perseguidores, quando rezava so­
Jesus Christo soffreu por teu amor. Vendo bre o tumulo de sua filha, e atirada á fo­
Jesus na cruz, a nada se reduz o que te gueira. Junto com ella morreram suas em­
faz soffrer. Jesus era innocente e soffreu pregadas Digna, Euprepia e Eunomia.
mais que um homem jamais soffreu e po­ Na mesma cidade e no mesmo dia mor­
derá soffrer. Tu, que não és innocente, reram pela fé Quiriaco, Largio, Crescencia­
nada queres soffrer ? Jesus acceitou a
cruz e a dôr; e da bocca nã,o lhe sahiu uma no, Nimmia e Juliana. 304.
palavra de queixa. Não deverás imitar tam­ Em Faleria, na Italia, a morte de São
bem este exemplo de teu Salvador ? Con­ Graciliano e de Santa Felicissima, vir­
siderações d'esta especie, nos dias do sof­ gem. Ambos foram achados dignos de mor­
frimento, fazem milagres. "Quem se lembra rer pela fé e desta maneira conquistar a
da sagrada Paixão de Jesus Christo, sof­ corôa da gloria. 45.
fre tudo com paciencia, por mais doloroso
que seja", diz S. Gregorio O sacerdote tonkinez Thiago Nam e dois
Sa!1tc; Clara teve uma grande devoção ao christãos Antonio Dich e Miguel ·Mi passa­
Santtss1mo Sacramento. Aos pés do altar ram pela morte do martyrio em 1827.

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136 13 de Agosto

13 de Agosto

S. JOÃO BERCHMANS
( t 1621 )

D ARA o bem da mocida:de estudio­ peito que votava aos mestres. Muito dis­
F sa, em nossos dias tão assediada creto nas conversações, era caridoso
pelas forças estrategicas do Principe elas para com os collegas, que o estimavam
trevas, queremos inserir taimb� aqui a sinceralmente. O maior prazer para João
vida edificante do santo joven João era ajudar Missa e ouvir sermões. O
Berchmans, padroeiro clQls estudantes. grande annor que tinha á solidão, fazia-o
Foi em 1599 que João Berchmans retirar-se muitas vezes cio recreio c◊m­
nasceu, em Di,estheim, pequena cidade da mt.lim, para ir á sa!la ele estudo ou á
Brabancia, na Belgica. Os paes, João egreja, obrigando assim os mestres a
Berchma:ns e Elisa:heth Hove, gente po­ cha1mal-o, para que clésse o necessario
bre ma� ;muito virtuosa, esmeravaJm-se desca:nço ao espírito.
extraordinariamente na educação dos Grande e particular devoção á Santis­
filhos, quatro rapazes e urna filha. A sima Virgem, era apanagio especial cio
mãe deu-lhes o exemplo de ulma pacien­ j oven Berchlma:ns.
cia heroica, durante os;·sete annos ele Onze annos contava quando se lhe
t1ma doença, que a prendeu ao leito e a despertou 1n a alma o vivo interesse ele
levou ás portas ela eternidade. receber a Santa Comrrnunhão. Colm
O pae, após a morte da esposa, abra­ muito zelo se preparou para a g'rancle
çou a can,eira ecclesiastica, ordenou-se graça eucharistica. Embora commun­
é morreu Conego ela Collegiata ele Diest­ gasse só de quinze em quinze dias, se­
heilm. manalinente ia confessar�se.
João •era ,m!enino clocil e manso. Não O reitor cio instituto affirmou, sob
chorava e nunca deu aos paes m otivos juraJmento, que João era para todos um
de tristeza. A avó observára que o neti­ modelo de obediencia e submissão. Não
nho, que ainda não contava sete annos, podia hav-er alumno mais pontual que
se levantava muito cedo e sabia ele carsa. elle, e com o maior escrupulo empregava
Era para ir á egreja, onde ajudava as horas destinadas ao estudo.
tres ou quatro Missas, antes de ir á Durante quatro annos tinha JoãÓ
escola. A egreja era o seu lagar predi­ frequentado o collegio, quando uma
lecto, para onde antitas vezes se retira­ circumstancia inesperada parecia preju­
va, com o fitm de rezar o terço. dicar�lhe sériamente a carreira. Como o
Grande amor tinha á virtude da pu­ pae não estava mais em condições ele
reza, a qual guardava cottn o maximo pagar a pensão, resolveu tirar o menino
cuidado. Dotado ele admiravel memoria, do estabelecitn_ento e fazel-o apprencler
o estudo off.erecia-lhe pouca difficul­ um officio. João, sabendo disso, pediu­
dade. lhe insistentemente que lhe proporcio.:
A seu reiterado pedido, o pae inter­ nasse os meios para ordenar-se sacer­
nou-o no collegio, cujo clirector era o dote. O pae mudou ele resolução e
Padre prennonstratense Pedro Emme­ João achou um alil1igo e beunfeitor na
rick. pessoa de João Freimont, Conego de
João distinguiu-se entre os comlisci­ M<1Jlines.
pulos, não só pela dedicação extraordi­ Tinha quatorze annos, quando foi pa.:
naria ao estudo, como tambem pelo res- ra Malines. Coincidiu essa mudança

S. João Berchnwnns - Voge!, Leben der Hel!lgen Gottes II. 869.

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13 ele Agosto 137

cdm a chegada cios Jcsuitas, que pre­ com1Iretter o imais leve peccado ; antes
tendiam f unclar um coll'egio na mesma morrer do que transgredir a regra mais
cidade. Logo que o novo gymnasio se insignificante da Ordem". Quando,
ab1;u, João nelle se matriculou. wpós a solemnidade liturgica, celebrada
Tres annos frequentou aquelle insti­ na festa de Santo Ignacio, uim cios com­
tuto e sempre se distinguiu pela appli­ panh!eiros lhe perguntou que graça pe­
cação e vida exemplar. Passado esse dira a Deus, João respondeu-lhe:" A gra­
11�po, devendo sériamente pensar ,no ça de 1111:orrer na Congregação, sem t�r
futuro, resolveu affHiar-se á Compa­ jamais transgreclicllo uma regra". O li­
nhia ele Jcsus, cuja actividadc apostoli­ vrinho das constituições estava-lhe sem­
ca na Belgica de perto pôde observar. pre aberto sobre a n1;eza e, ao deitar-se.,
Da Inglaterra vinham constantemente o colloc.ava á ca:lx,"'Ceira da cama.
noticias de crueis perseguições, de que IJElmita<la confiança depositava em
os Jesuitas eram as primeiras victiimas. Maria Santissirll!a. "Si amar a Maria -
Esta circumstancia contribuiu ainda pa­ costuma:va dizer - estou certo de mi­
ra accender cm João o entlmsiasmo pela nha perseviernnça na Ordem e de minha
causa de Deus e o desejo do martyrio. salvação. Tudo a!lcançarei do Senhor e
No dia 24 de Outubro ele 1616 foi serei omnipotente". Todas as viezes que,
recebido no noviciado, em Malines. Com pela intercessão de Maria, desejava ob­
a maior pontualidade se entregou ás ter ulrna graça para si ou para outros,
praticas de piedade e penitencia, que são ,escrevia o desejo num papel, accrescen­
exigidas dos noviços, tendo grande em­ taindo sempre um bom proposito, por
penho em mortificar a propria vontade, exemplo: "Si Nossa Senhora consleguir
trazendo-a sempre em sujeição ás cle­ etm ,mleu favor o que peço, em sua hon­
fierminações superiores. Sete vezes por ra recitarei tres terços e farei esta ou
dia vi'Sitava o Santíssimo Sacramento e, aquella obra de penitencia".
ter:minando as visitas, pedia a S. Luiz
A 7 de Agosto de 1621, foi acom­
e a Santo Estanisláo que o substituis­
mettido ele uma febre, que não mais o
sem até á volta. Os pedidos constantes
largou. O estado do joven inspirou logo
que fazia nessas visita·s, eraan para si e
grande cuidado a:os superiores, que �ão
para os companheiros, pedidos esses que
o deixaralm em duvida sobre o pengo
se referiam á pur,eza angelica e perse­
qu,e havia, ele morrer. João l'ecebeu esta
verança na vocação e na graça, para se
noticia com muita alegria, tanto que se
tornarem ut:eis membros ela Congrega­
abraçou com o irmão enfermeiro, que
ção.- lhe falára no Santo Viatico. A 12 de
Em 25 ele Setembro de 1618 fez a Agosto, recebeu os Sacramentos cios
profissão religiosa e seguiu para Roma, agonizantes. De accor<lo com seu dese­
onde, por orcleim cio Provincial, se de­ jo, recebeu-os deitado no chão. Tão
dicou ao estudo da Philosophia e Theo­ grande lhe era o fervor, que commoveu
logia. a todos que assistialm ás sagradas func­
Cinco annos pertenceu João á Com- ções. Terminadas as cerimonias e per­
panhia ele Jesus, dando sempre o exem­ guntado pelo reitor si tinha mais al­
plo mais perfeito de religioso, cumpri­ gum desejo, o moribundo disse, com
dor do devier. N�mca ninguem lhe ob­ voz fraqui•ssi.ma: "Si V. Revma. o
servou a •menor falta ou incorrecção. achar conveniente, diga aos queridos
Não só conservou intacta a innocencia Padres e Im11ãos que o maior consolo
baptismal, colmo taanbem cumpriu escru­ que niesta hora experimento, é de minha
pulosalmente o proposito de não com­ consciencia não me accusar de U/111 pec­
metter o menor peccado voluntario. En­ cado leve, que tenha commettido volun­
tre os apont31111entos se lhe encontra es­ tariaimentie, no tempo em que estou nes­
te: "Antles mil vezes morrer, cio que ta Congregação ou de ter transgredido

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138 14 de Agosto
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�ma regra ou não haver cU!mprido 1.lilTia i. Não és o que os homens dizem, mas
ordem siquer dos meus superiores". o que Deus diz.
Dito isto, abraçou a todos, um por um 8. Para os outros se como uma mãe; pa­
ra ti proprio, juiz.
e a todos agradeceu os beneficias que 9. O sacrifício de levantar-me cedo fal­
lhe haviam f eiro. Quando o enfermieiro
1
o-ei de boa vontade.
lhe tomou o pulso e disse: "está no 10. Não me levantarei das refeições, sem
fim !" - João pediu que lhe dessem o ter feito uma mortificação, por pequen:1
crucifixo, o livro das regras e tirou do que seja.
pescoço o terço e disse : "São estes os 11. Não sejas facil em dizer teu "sim"
e "não'·.
meus tries thesouros, em cuja cülmpa­
nhia quero morrer". Beijou-os reveren­ 12. Para que querer vêr o que não te é
licito possuir ?
temente e pôl-os sobre o peito. Espaça­ 13. A vigilancia dos olhos é a mãe da
dannen�e rezava: "Não me abandoneis, piedade e preserva-nos de muitas tenta­
Maria; não confunclaes as minhas espe­ ções.
rançais; sou vosso filho; sabeis que o 14. A oração desagrada ao demonio, que
jurei". As, ultimas palavras que disse, por seu turno tudo faz para impedil-a.
foqm : "Jesus, Maria ! " 15. Não fales de ti nem bem nem mal, a
não ser por obediencia.
No dia 13 de Agosto de 1621 entre­
gou a bella alma ao Crieador. Pio IX
beatificou-o om 1865 e Leão XIII inse­ Santos do Jlfcirtyrologio Bomcmo, c1tja me­
mori<i é celebrada hoje:
riu-lhe o nome no caJtalogo dos Santos
Em Roma o martyrio de Santo Hippolyto.
da Egreja. Amarrado de cabeça para baixo ao pescoço
de cavallos bravos, estes o arrastaram por
REFLEXõES entre espinhos e sobre pedras. No mesmo
Maximas de S. João Berchmans: dia morreu pela fé sua madrasta Concordia.
1. Entregar-me-ei a Deus sem reserva e Mais dezoito pessoas de sua familia foram
não me preoccuparei com o futuro. decapitadas . Santo Hlppolyto tinha sido
2. Tudo que traz a inquietação, vem do baptizado por S. Lourenço. E' Invocado
contra doenças dos cavallos.
demonio.
Em Imola a morte de S. Cassiano. Como
3. Não deixarei para mais logo o que pu­
se recusasse a adorar os idolos, os persegui­
der fazer agora.
dores incitaram seus alumnos que o matas­
4. Por pequenas faltas farei grandes pe­ sem. Desta maneira seu martyrio tornou-se
nitencias. mais doloroso.
5. Quem trabalha demais, trabalha pouco. Em Poitiers, na França, a morte de santa
6. Age e fala pouco. Radegundes, rainha.
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14 de Agosto

SANTO EUSEBIO
(t 4. sec.)

� ANTO EUSEBIO era um sacer­ cretou a perisegmçao da Egreja. Não se


� dote, que possuia o espirito de sa:be si o Jogar de geu martyrio foi Ro­
oração e todas a:s virtudes apostolicas, ma -ou Palestina. Certo é que esteve pre­
em · gráo bem . elevado. Morreu martyr sente o Imperador Maximiano, no Jogar
pela fé, quando Diocleciano e Maximia­ onde Maxencio ex;ercia as funcções de
no eraim Imperadores e antes da publi­ goviernador, o mesmo Max;encio que ci­
cação do celebre edito imperial, que de- tou Eusebio perante o tribunal.

8anto Eiisebio - Act. auth. publlc. por D. Martene. - Thesaurus Anecd. III. 1649.

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14 de Agosto 139
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A franqueza com que Eusebio prégou v,erdadeiro, a el,le me conduzalm". Euse­


o ndme de Jesus Christo, irritou o es­ bio fez essa ,exigencia, porque não tinha
pirita dos sacerdotes pagãos, que o de­ apparecido ainda o-rdem imperial para
nunciairalm. O inquerito começou com a mailtmtar os christãos. Maxencio orde­
inti'mação de Maxencio, de sacrificar nou então que o sacerdote fosse levado
a'OS deuses: "Sacrifica aos deuses, sinão ao cairoere e elle mesmo ,s,e dirigiu ao
a i•sto te forçarei !" Eusebio respondeu­ Imperador, para relatar o occorrido e
lhe: "Escripto está na l:ei santa: Só ao dize, r ao tyranno que se traJtava de um
Senhor teu Deus adorarás e só a el!e harnem Pebelde, que pertinazmente t;e
servirás". MaX'encio: "Está em tuas recusava a adorar aos deuses.
mãos; escolhe: os prestas h01J.nenagem "Traze-m'o cá" - ordenou Maximia­
aos deuses ou contarás com dolorosa no, ao que um dos assistenties observo!�
tortura". EuS'ebio: "E' um absurdo ado­ "Senhor, seus discursos vos C01nm0n'­
rar pedras". Maxencio: "Que gente cx­ rão". - "Que julgas? - respondeu Ma­
quisita são esses christãos ! Preferem a xi'mianro - pensas que alguem possa in ·
1111ortie á vida". Eusebio: "Ninguem é fluir no meu espirita ?" - "Não ha
tolo, preferindo as trevas á luz". Ma­ duvida, não só o vosso, mas o espírito
xaencio: "Bondade e condescendencia na­ do povo inteiro elle é capaz de mm�:1;:
da con,,eguem; pelo contrario, tornas-te ningu1efm vê aquelle homem, sem fic:1r
mais teimoso ainda. Sabe, pois : si não commovido". - "Que venha", ordenou
dobrat1es os joelhos ante as divindades, o ]mperador.
serás queimado vivo". Eusebio: "Tuas Eusebio veiu, e no rosto lhe resplan­
ameaças não me allnedrontaun; quanto decia algo ele celeste e o Imperador ven­
ma.is crueis os tornnentos, mais gloriosa do-o, sentiu forte commoção.
s,erá minha corôa". Dirigindo-se a EuSiebio, disse-lhe o
Ma�eneí,o deu ordem a que Eusebio Imperador: "Bom velho, fala e nada re­
fosse apertado no torniquete e as carnes ceies, pois aqui está quem quer sal­
lhe· fossem dilaceradas CQITI torquez�s. var-1:le a vida''. Eusebio respon­
No meiici d'essa tortura, Eusebio excla­ deu: "Si eu esperasse a salvação
mou : "O' 'meu Jesus, vivo ou morto, d',esse homem, nada mais poderia espe­
vosso quero ser !" Ouvindo esta:s pala­ rar de Deus. Embora estiejas, em auto­
vras, Maxencio mandou os algozes pa­ ridade e poder, acima dos demais ho­
rarem e disse ao martyr: "Não sabes mens, cqrno elles és um ser mortal. Não
que é uma ordem do Senado, segundo receio repetir em tua priesença o que já
a qual todos os subditos são obrigados clis-se aos outros : Sou christão e como
a pt1estar hdm!enag,ens aos deuses ?" Eu­ tatl não posso adoraT páo ou pedra. Re­
sebio respondeu: "As ordens de Deus solvi-1me a obedecer a Deus verdadeiro,
precedelm ás ordens dos homens". cuja,, bondade tantas vezes experimen­
Maxendo encheu-se de colera e con­ tei .
denmou o sacerdote á fogueira. Eusebio, Maxiunia:no, ao ouvir isso, dirigindo­
como si fôra a uma festa, alegre se di­ se a MaJCencio, disse: "Não vejo o mal
rigiu wo Jogar determinado para o sup­ que esl'e homem faz, em adorar um
plicio. Todos se admiraram, sem poder Deus supremo". - "Senhor" - res­
explicar essa alegria de morrer. pondeu Maxencio - elle entende por
Mrucendo, pela ,ultiJ111a vez, se dirigiu Deus tim tal Jesus, que não conheço".
wo ima:rtyr e disse-lhe: "Porque é que - "Pois beim, - disse Maximiano -
com tanto afan procuras a morte ? Não julga-o conforme a lei; não quero servir
ctjmprehendo a tua pertinacia. Trata de de juiz nesta questão".
mudar tuas idéa'S !" Eusebio retorquiu: Embora estivesse convencido da vir­
"Si é a vontade .:lo Imperador que se tude de Eus,ebio, não se atreveu a dar-·
adorie metal, desprezando o unic,o Deus lhe liberdade. Seguiu-se novo inquerito,

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140 15 de Agosto

com novas intimações e ameaças. Como predilecto de Jesus Christo, referindo-se á


vida eterna, escreve: "Caríssimos, agora
Eusebio ficaisse firme e disse ao somos filhos de Deus; e não appareceu
juiz: "Não me aparto da lei em que ainda o que havemos de ser. Sabemos que
fui criado", este o condeimnou á morte quando elle apparecer, seremos semelhantes
pela espada. a elle; porquanto nós outros o veremos
be1m como clle é". (1. Jo. 3. 2). Duas per­
OerTo da sentença, Eusebio excla­ guntas sempre nos preoccupam: 1) que so­
mou: "Graça:s vos dou, Senhm meu mos ? 2) que será de nós ? As respostas
Jesus Ohristo, po,r verdes experimentado são egualmente importantíssimas: 1) So­
a minha fidelidade, vendo eu assim pro­ mos filhos de Deus; 2) seremos sem:elhan­
tes a elle. "E' essa a vida eterna, em
cedido como t�n dos vossos discípu­ conhecermos a Deus, nosso Pae e a Je­
los". Ao mes11110 te, mpo se ouviu Nma sus Christo, seu Filho". (Jo. 17. 3). "Si so­
v,oz do céo, dizendo : "Si não foss'es mos filhos, seremos herdeiros de Deus e
coherdeiros de Christo''. (Roan. · 8. 17). Po­
achado digno elo martyrio, não poderias demos fazer uma idéa d'essa nossa gloria ?
entrar no reino do rei eterno, nem ter Que mais poderíamos desejar, que ser her­
Jogar entre os eleitos do céo". deiros de Deus, coherdeiros de Christo fi­
lhos de Deus e irmãos de Nosso Senhor ?
A sent'ença de Maxencio foi executa­ Para possuirmos esta felicidade, vale a pena
da, e a cabeça de Eusebio rolou aos pés soffrer alguma cousa e carregar a cruz,
de quem a mandou cortar. por mais pesada que seja. "Creio na vida
eterna".
REFLEXÕES
"Tuas ameaças não me amedrontam; Santos elo Martyrologio Romano, cuja me­
quanto maior o soffrimento, tanto mais moria é celebrada hoje:
bello será minha corôa". Foi essa a res­ Na província Illyriea, o santo martyr
posta corajosa que Santo Eusebio deu ao Ursicio, que, depois de ter soffrido muito
tyranno. por NoRRo SPnhor, foi morto pela P8pa.da,
Si te lembrasses sempre da felicidade que quando Maximiano era Imp0rador.
espera os filhos de Deus no céo; si te qui­ Na ilha Egina a !<anta viuva e religiosa
zesses convencer da certeza da gloria que Athanasia. Casaua cluas vezes, imitou o
terão aquelles, que levaram sua cruz, cm exemplo do ségundo marido, qu0 entrou nu­
união com Nosso Senhor, quanto consolo ma Ordem. Athanasia fundou o convento da
não experimentarias nos soffrimcntos I Na Tinia. 860. E' padroPir:i. doN tecelões.
recitação do Credo, dizes: "creio na vida Na Syria, em Apameia a memoria de S.
eterna". Sabes que querem dizer cs tas pa. M:u·c01lo, biRpo 0 martyr. 38�.
lavras ? São João Evangelista, o discípulo Em Tocli, S. Callixto, bispo e martyr.

15 de Agosto

Festa da Assumpção de Nossa Senhora


1,l\ FESTA da Assumpção de Nossa trnda solcmflle no céo. Elia, que durante
� Senhora é t�ma cbs mais amtigas a vida terrestre desempenhou u:m papel
da Egr,eja. No anno 600 já a Egreja Ca­ todo singular, entre as ciiea<turns huma­
tholica Í'est'ejava estie di:a da gloria de nas, odm o dia da gloriosa Assumpção
M�ria Santissima. A festividade ele hoje começou a occupair um Jogar no céo, que
lembra como a Mãe de Jesus Christo a distingue de todos os habitantes da
recebeu a recompensa das suas boos oeles,te Sião.
obras, dos Sieus sof frirmentos, peniten­ Só Deus pócl!e dar uma recompensa
éias 1e virtudes. Nã,o só a alma, tambem justa ; só elle póde remunerar com glo­
o corpo da Virgem Santissima fez en- ria ererna serviços presta.doo aqm na

Assumpção de Nossa Senhora - Vogel, Leben der HI. Gottes II. 866. Meschler: Klr-:
. chenhhr.

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15 de Agosto 141

Assumpção de Nossa Senhora

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142 15 de Agosto

terra; só elle póde tirar toda a dôr, en­ mediario não é o 'mesmo. Entr,e todos
xugar todas a:s lagrimas e encher nossa os habitantes da celeste Jerusalém, a
alma de alegria indizivel e dar-nos uma mais sarrta, a mais proxima de Deus é
felicida!de cqmpleta. Que recompensa o Maria Sa:ntissima. A intercessão de Ma­
Pae Eterno nã,a teria dado áquella, que ria deve, portanto, ser mai-s agradavel a
por Elle mes1110 tinha sido eleita, para Deus e mais V'aliosa para nós. S. Ber­
ser a Mãe elo Deus humanado ? Si é nardino de Siena cha!ma Maria Santis­
impossivel descrever as magnificencias silma a "thesoureira da graça divina";
do céo, impossiV'el é fazermos uma idéa Sto. Affonso vê em Maria o "refugio
adequada da gloria que Maria Santíssi­ e a esperança dos pecca:dores" e a Egre­
ma possue, desde o dia da Assumpção. ja CathOllica invoca-a soh os titulas de
Si dos betmaventuraclos cio céo o ultimo "Mãe da divina graça, Porta do céo.
goza ele uma feliciclacle infinitamente Aclvogad:a nossa". Maria Santissima é
maior que a do homelm mais feliz no nossa Mãe, nossa grande Medianeirn,
mundo, quanta não eleve ser a ventura pelo facto ele ser Mãe de Jesus Christo,
<l'a;quella que, entre todos os eleitos, oc­ nosso grande M·edia<lor.
cupa o primeir-o lagar; aquella que pela O dia de sua gloriosa Assumpção é
Egreja Catholica é saudada: Rainha dos para nós ll/111 grande "Sursum corda".
Anjos, Rainha dos Patriarchas, Rainha
L'evantemos os nossos corações ao
elos Prophet:as, Rainha dos Apostolos,
céo, onde está nossa Mãe. Invoquemol-a
dos Martyres, cios Confessores, das Vir­
em nossas necessidades, iimiteimol-a nas
gens, Rainha ele todos os Santos!
virtudes. D'esta sorte, tornando-nos ca­
Que honra, que distincção, que glo­
da vez maiis semelhanties ao nosso gran­
ria nã,o recebeu Miaria Santi'Ssima, pela
de modelo, mais dignos serelmos de sua
sua gloriosa Assumpção ! Esta distinc­
intercessão e '111éLis garantidos ela nossa
ção honra taJmhem a nós e é motivo de
s,dvaçã:o eterna.
nos alegrar1mos. Maria, que agora é Rai­
nha do céo, foi o que nós somos, uma Nata. - A Assnmpção de Nossa Se­
creattura htima:na e como tal, nasceu e nhora não é dogma,� é artigo de fé,
morreu, como nós na:sce�nos e devemos definido pela suprema aucroridade da
morrer; mais que qualquer outra, foi Egreja; mas é uma verdade, que foi
provaida pelo soffriitnento, pela clôr. acreditada desde os prilmeiros annos do
Pela gJ.D'ria com que Deus a clisünguiu, Christia:ni•smo, de modo que negai-a se­
é honra1do o genero humano inteiro e ria uma teimerida:de, por oontrariar a
por isso a elevação de Maria á maior opinião geral dos seculos pa-ssados, até
dws digniidades no céo, é motivo para nos os nossos -tempos. Eis tmn trecho cl'mn
regozija11mos. se11mão de S. João Da1masceno, sobre o
Outro motiV'O ainda de alegria temos mysterio da resurreição e assumpção de
pelo facto de Maria Santissima ser nos­ Nossa Senhora : "Quando a alma da
sa Mediameira junto a:o throno divino. Santi-ssi:ma Virgelm se lhe separou do
O protestantismo não se cança de re­ purissi'.mo CO!ípO, os Apostolos, presen­
petir que a Egreja Catholica · adora os tes em Jerusalém, deram-lhe sepultura
Santos, calumnia estupidissima, refuta­ em uma gruta de Gethsemani. Tradição
da inn�merns vezes. Doutrina da Egreja a:ntiquiss�ma conta que, durante tres
Ca:tholica é quie os Santos podem inter­ dias, se ouviu doce cantar dos Anjos.
ceder por nós e que suas O!l"ações têm Passados tr'es dias; não mais se ouviu o
grande valor aos olhos ele Deus ; por isto canto. Tendo entreta:nto chegado tam­
podemos invocai-os e pedir-lhes a inter-­ bem Thomé e desejando vêr e venerar
cessão. Esta doutrina, baseaida na Sa­ o corpo, que tinha concebido o Filho de
grada Escriptura, é a!lém d'isto mui ra­ Deus, os Apostol•os abriram o tumulo,
cional. Os Santos não são eguaes em mas não achara!m mais vestigio do ·cor­
santidade ·e por isto seu valor de inter- po �mmaculado de Maria, N. Senhora.

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16 de Agosto 143

Encontira:ram apenas as mortalhas, que Mãe ? Ha, entre os Santos todos, um só,
que tenha soffrido como Maria Santíssi­
tinha:m envolvido o santo corpo e per­ ma ? Não é ella a Rainha dos Martyres ?
fumes deliciosos enchiam o ambiente. Não obstante é a bemdita entre as mulhe­
Admirados de tão grande milagre, tor­ res, a Esposa do Espírito Santo, a eleita
naram a fechar o sepulcro, convencidos da Santíssima Trindade.
Tambom nós havemos de seguir o cami­
ele que Aquelle que quizera encarnar-se nho da cruz, para nos tornarmos dignos da
no seio purissi:mo da SS. Virgem, pre­ eterna gloria. A' vista de Maria Santíssi­
servára taJmbem ela corrupção este cor­ ma ao pé da cruz e seu divino Filho prega­
po virginal e o honrára pela gloriosa as­ do no lenho da ignomínia, devem emmude­
cer as nossas queixas, nossos desanimos.
srnnpção ao céo, antes da resurreição
geral."
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
REFLEXÕES moria é celebrada hoje:
Em Roma, na Via Appia, o santo acolytho
Corno deve ser suave a morte como ter­ Tharsicio. Pagãos o encontraram no cami­
mo de uma vida santa ! Si queres ter uma nho, quando levava comsigo o SS. Sacra­
morte santa, imita a Maria Santíssima na mento e insistiram para que lhes dl8sesse o
pratica das virtudes, principalmente na fé, que trazia escondido sobre o peito. Não que­
na confiança em Deus, no amor a Deus e ria elle atirar perolas aos cães e se negou
ao proximo, na humildade, paciencia e a responder. Precipitaram-se então sobre
mansidão, na incomparavel pureza, na elle, e mataram-no com pauladas e pedra­
conformidade absoluta á vontade de Deus. das. Com certeza conseguiu ainda consumir
Não ha nenhuma destas virtudes, cuja pra­ as sagradas especies ou dai-as a um chris­
tica esteja acima das tuas forças. Não im­ tão que talvez estivesse presente. Os pa­
porta que os homens te desprezem, si Deus gãqs, avidos de encontrar o seu thesouro,
te dá sua estima, como a Maria. Que im­ nada encontraram. 257. S. Tharsicio é pa­
porta, si os homens te abandonarem, sen­ droeiro dos acolythos e coroinhas, como
do Deus teu amigo e protector ? E' indif­ tambem dos operarios, que soffrem perse­
ferente que sejas rico ou pobre, si possuí­ guição pela fé catholica que professam.
res a Deus. Que são os soffrimentos, tri­
bulações, pobreza, fome, sêde e doença em Em Tagaste, na Africa, o santo bispo Ali­
comparação com ·uma boa morte, que te pio, discipulo, amigo e companheiro de San­
transportará para uma gloria e felicidade to Agostinho.
sem fim ? Quem mais participou da Pai­ Em Soissons (França) Sant'Arnulpho,
xão de Jesus Christo do que sua santa bispo. 1087.
❖-H-+❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-H-+❖❖❖❖❖❖❖O:-:-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖•!

16 de Agosto

SÃO ROQUE
(t 1327)

e- ÃO ROQUE, o grande padroeiro


� contra a peste, nasceu em Mont­
uma educação apúmoracla. A virtude e
santidade da mãe parecia ter-se cornmu­
pellier, na França, no anno de 1295 ap­ nicado ao ·filho; poi-s este, desde os mais
proximadalmente. Ha escriptores que tenros annos, achava g-osto nas praticas
lhe põem a data do nascimento em épo­ de piedade e de penitencia. Quando, na
ca mais re<cente. Roque era filho d'um edade de vinte annos, perdeu os paes,
nobre fidalgo de nome João. A mãe, dispoz da rica herança, distribuindo to­
Liberia, conhecendo no menino um dom dos os bens moveis entre os pobres. Os
de Deus, fructo de longas e continuadas hens rmrnoveis ficaram entregues aos
orações, esmerou-se muito em lhe dar cuidados cl'um tio e Roque, em condi-

S. RJqUc - Bolland. III. Ag. 380. -- Bertler, hlst. de l't:gli:se de France tom XIII. -
Bened. XIV de Canonü; I. 4. part. 2. e, 5. tom V. p. 29. - Maldura, vida do. 8anto, tra­
duzida em francez por d'Andilly,

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144 16 de Agosto

ções de pobre peregrino, dirigiu-se a s·erviço de enferimeiro no hospital, sendo


Roma. Quando chegou a Aguapendente, attingido talmbem pelo horrivel mal.
na Toscana, grassava lá a peste e Após um somno profundo, foi accom­
Roque offereceu-se prornptallnente para metüclo cl'uma febre violenta e atonmen­
tratar cios pobres doentes no Hospital. taclo por t�ma clôr lancinante no lado
De Aguapen­ -esquerdo. Ro­
dente seguiu que acceitou a
para Caesena doença, como
e Rimini e por uma graça es­
toda parte on­ pecial divina.
de apparecia, As dôres, po­
ia diminuindo rém, cheg a­
a peste, como rnm a tal pon­
si esta terrivel to, que o fize­
epidem i a fu­ ra:111 chorar e
gisse com a gritar, e muito
cheg a d a do tempo não se
Sa n t o. Em passou e Ro­
Rdrna, porém, que se viu em
'.a caridade ele completo aban­
Roque achou dono. P a r a
11111 novo cam­ não ser mo­
po de acção, lesto a nm­
d e clicando-se, guem, a custo
durante t r e s se arrastou a
annos, ao tra­ 11111 b o s q u e
tamento d o s proximo, onde
pobres doen­ h a v i a uma
tes. D e pois choupana ao
voltou aos Jo­ abandono. Ahi
gares onde já ·se estabeleceu,
tinha estado, e até que prou­
,s,eu zelo esco­ vesse a Deus
lhia entre os dar-lhe a saú­
doen t e s os de, se/111 que
mais abando­ fosse preciso
nados, nutrin­ l implorar a ca-
do o deseja
:::==::=:=::::======���=========�==-1. ridade huma-
.ardente de po­ L.=:::::::::::=:: na. Todos os
der offerecer dias vinha um
-a Deus o sa­ cão trazer-lhe
S. Roque,

crificio da vi­ um pão, que


atacado pela peste e em completo abandono, rece­

cia. D o e n t e • tirava da me-


bia todos os dias um pão, que um cão lhe trazia,
milagre este, que causou a conversão do dono do
por m u ita s za do dono.
animal.

vezes, Deus conservou-lhe · a vida, no Gottardo, - era o noime do dono do


que todos conheceram uma protecção anVmal, trazido pela curiosidade, uli11 dia
especial divina. seguiu os rastos cio cão e assi.111 veiu a
· Restabelecidas as forças, Roque se­ saber cio pamd'ei,ro cio Santo, cujas vir­
guiu para Piacenza, onde a peste dizi­ tudes tanto o co1ümoveratm, que tomou
mava a população. Odm u1ma abnegação, a resolução de abandonar o nrundo e vi­
que lhe era particular, dedicou-se ao ver pa solidão.

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16 de Agosto 145

Roq ue ficóu algum tempo em compa­ mansos, mas a primeira tentação da ira
nhia de Gottardo e, sentindo-se já bas­ fal-os esquecer-se dos bons propositos. Ou­
tros desejam ser caridosos, mas na hora
tant,e forte, voltou para sna terra. A de praticar a caridade, falta-lhes a cora­
França achava-se em guerra, e assim se gem. Ser amavel, emquanto tudo vae co­
explica que Roque, lá chegando, fosse mo se deseja, não é virtude; não custa
mr0strar-se grato a Deus, quando as cousas
tomado por espião. O proprio tio, que correm ao nosso contento; é facil fazer
exercia o cargo de juiz, sem reconhecer penitencia, quando as circumstancias assim
o sobrinho, condelmnou-o á prisão. Ro­ o exigem. De nada vale o desejo de um dia
que acceitou essa humilhação, sem pro­ entrar na eterna felicidade, quando a von­
tade se não decide a empregar os meios
testo algum e soffreu- muitas injustiças, necessarios para obtel-a. As virtudes po­
offerecendo-as a Deus pela salvação de dem ser adquiridas só pela pratica. Não es­
sua alma. Cinco annos ficou detido no peremos que Deus nol-as dê gratuitamente.
carcere, sem que a autoridade d'elle se A Sagrada Escriptura, referindo-se a esta
verdade, diz: "Os desejos matam o pregui­
tivesse lembrado. Accommettido de çoso, porque suas mãos não querem tra­
grave doença, no carcere recebeu os san­ balhar". (Prov. 21. 25).
tos Sacra1111entos e itl1orreu em 1327, na
idade de 32 annos apenas. Si teve morte
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
humilde e desconhecida do mundo, Deus moria é celebrada hoje:
glorificou-o por mui•tos milagres. O cor­
A memoria de S. Joachim, pae da SS.
po de Sã-o Roque foi, com grandes hon­ Virgem. Os santos Evangelhos nada dizem
ras, sepultado em Montpellier e mais sobre os paes de Nossa Senhora. Da tradi­
tarde trasladado para Veneza, onde os ção da Egreja porém, sabemos que eram
devotos lhe erigira1111 um templo. Asse­ S. Joachim e Sant'Anna. Segundo os Bol­
landlstas S. Joachim e S. José teriam sido
gura-se que, por intercessão de S. Ro­ irmãos. S. Joachim, que era sacerdote, te­
que, muitas cidades foram poupadas da ria morrido na edade de 80 annos, quando
peste, entre ellas Constança, na occasião Maria SS. era menina de 11 ou 12 annos.
dm que dentro dos muros s-e lhe reunia Até lá teria sido alumna do eollegio do Tem­
plo de Jerusalém. Pela morte do pae, porém,
o grnnde Concilio, 0111 1414. teria se transferido para Nazareth, onde S.
O povo catholico vota muita confian­ José morava. Tres annos depois teriam se
ça a S. R oq ue e venera-o como podero­ realizado os esponsaes com a restricção de
so padroeiro contra doenças epidemicas. ambos observar perfeita castidade, até
que a vontade de Deus se revelasse clara­
mente, como de facto se manifestou. Nada
REFLEXõES se sabe si S. Joachim morou em Nazareth,
Para alcançar a vida eterna é necessaria em Belém ou em Jerusalém. Ha uma tradi­
a pratica da virtude. Sem virtude ninguem ção, que affirma o náseimento de Nossa Se­
agradará a Deus. Sem virtude não póde nhora em Jerusalém. Assim se explicaria
haver santidade. Em S. Roque temos o facilmente o offerecimento de Maria no
modelo de homem virtuoso de facto. A tomplo, quando contava tres annos e sua
vfrtude impõe-se a torlos, como uma cousa educação no collegio do Templo. O Proto­
nobre e apreciavel, mas sua pratica exige evangelho de Tiago, attribuido ao Apostolo
sacrifício, força de vontade, energia. Por S. Tiago o menor apresenta S. Joach!m
este motivo a virtude é tão rara de en­ como pae de Maria SS. A arte christã mos­
contrar-se neste .mundo. Vontade de pos­ tra-o trazendo a menina Maria nos braços,
suir a virtude talvez não falte, mas falta a ou tendo nas mãos um cestinho com 2 pom­
força da execução. Muitos querem ser bas. S. Joachim é padroeiro dos casados.

Luz Perpetua 10 - II vol.

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146 17 de Agosto

17 de Agosto

S. Jacíntho, Dominicano
(t 11.157)

� ÃO JACINTHO - uma das glo­ nica:no. Ccimo superior e religioso, dava a


� rias da Ordem Dominicana - era rodos o ·exemplo mais perfeito, na pratica
da falmilia dos Conde•s de Odravaz, da das virtudes monastica:s. Fazia jejuns ri­
Silesia e nasceu em Kanth, na Archiclio­ gorosi,ssimos e de toda:s as maneiras cas­
cese de Breslavia, no anno de 1185. Ob­ tigava o corpo ,para obrigai-o á peniten­
servando-lhe o grande amor á virtude e cia. Inca:nçavd no cumprimento do de­
a inclinação á piedade, os paes, gente pie­ v,er, como religioso e missionaria, culti­
dosíssima, deram-lhe uma educação ade­ vava ele um modo extraorclinario a de­
q uél!cla, o que muito contribuiu para que voção ao Santíssimo Sacramento e á
o moço, nos a:nnos dos estudos nas Uni­ Maria Santis'Sima. Nenhujm trabalho, de
versidades de Cracovia, Praga e Bolo­ menor ou malÍor Ílnportancia, começava,
nha, se pudesse conservar intacto dos sem fazer antes uma visita á egreja,
máos princípios e pes·sima:s influencias para invocar o auxilio ele Deus Nosso
cio mundo. Senhor e da Santissima Virgem. Na
T,erminwdos os estudos, recebeu do v,espera da Fe· sta da Assumpção de Nos­
Dispo de CraQoyia o cargo ele Conego sa Senhora, esta o honrou co�n uma ap­
da Cathedral e nesta posição auxiliou pa:rição, na qual disse: "Asseguro-te,
effiectivaimente o Prelado, na difficil ad­ meu filho, que alcançarás tudo o que
rni'l1istração da Diocese. pedires a Jesus". Estas palavras da di­
Em c01npanhia cio Bispo, foi a Roma, vi•na Mãe a:nin.naraim-n'o extraordinaria­
,e coincidiu esta viagem com a casua:l mente a continuar na trabalhosa faina
estada de' S. DcJmi•ngos na Capital ela de Missionaria. Depois de ter prégado
Christandade. Jacintho teve occasião de em toda Dioces·e de Cracovia, mandou
conhecer o grande Fundador da Ordem, os religiosos talmbem para outros laga­
e sentiu-se-lhe attrahiclo pela virtude e res. Fora1111 lmissiona:dos pD'r elle e os
·sa'11tidade. Tão grande veneração tinha cdmpanheiros a Prussia e Pomerania,
por S. Ddmingos, que se lhe apresentou a Suecia, a Dinamarca, - paizes onde
e pediu admissão á nova Ordem. S. Do­ ainda existia o mús forte paganismo.
mingos a:ttendeu ao pedido do jowm Por toda parte os resultados erann es­
,sacerdote ·e recebeu-o com mais tres pJ.en<liclos e lrri.uitas almas foram ganhas
companheiros. S. Domingo·s mesmo se para o céo. O zelo apostolico de Jacin­
inculmbiu de introduzir os novos candi­ tho não se contentou com o que tiPha
datos no espiirito da Ordem e, tendo el­ alcançado até então. Dirigiu os passos
lcs pronunciado os votos, ma•ndou-os á para a Russia e chegou até á Tartaria.
Polonia, onde deviam trabalhar segun­ Grandes fora1111 as conversões que pôde
do o espírito do Fundador. registrar, entre os proprios Principes,
Jacintho começou então a missão de dos qua:es um, Colu1nbano, depois de se
prégador e numerosos foraim os pecca­ ter convertido, retirou-s-e para o conven­
dor,es que, movidos pela palavra aposto­ to. Todas as viagens, entre as mais pe­
lica do missionaria, voltaram para Deus. nosas, Jacintho as fez a pé. Consta que
Fundou em Cracovia um convento do,mi- penetrou até ao Thibet e China.

S. Jacintho - De escrlptores polonezes. Boll. III. Ag. - Albert!, vida do Santo. P. Tou­
ron: Vie de St. Dominique. Bulia canoc. de S. Domingos de Clemente VIII. Raess e
,:velss XI.

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17 de Agosto 147

Deus lhe deu o dom dos milagres ; e REFLEXÕES


foram tão numerosos esses milagres
operados por S. Jacintho, que lhe impor­ Deus, para salvar sua alma e a do proximo.
São J acintho pôz a vida ao serviço de

tara!m o titulo de thaumaturgo. O divino Mestre disse: "Bemaventurados os


Hav i a 40 que têm fome e
sêde de justiça,
annos que tra­
balhava J acin­
porque serão sa­
ciados". (Math.
t h o, c om o 5). Tens esta
Mission a r i o, fome, esta sê­
na vinha do de pela salva­
ção de tua al­
Senhor, quan­ ma? Queres al­
do lhe foi re­ cançar a felici­
velado que o dade eterna,
dia da gloria mas o reino dos
ele Nosso Se­ céos p a d e c c
força e só
nhor s eri a aquelles que se
taanbem o dia esforçam o con­
de sua entrada quistam. A al­
no céo. Na ma deve ter o
verdadeiro de­
ves pe r a ela sejo de alcan­
festa, no anno çai-a. Nã o a
de 1257, fez apreciando, que
a ultima allo­ desejo poderá
cução aos fi- ter? que esfor­
ço fará para
1 h o s espiri­ garantir-lhe a
tuaes e prepa­ posse? As ener­
rou-se para a gias do homem
'morte. Depois pertenc e m ao
objecto da sua
de recebidos aspiração. Ge­
os Santos Sa­ ralmente e s t e
cramentos, en­ objecto ideal é
toou o Psal- a riqueza. To­
1110 30. Quan­ dos os esforços,
inclu s i v e os
do chegou ao mais penosos,
vers i c u l o: são poucos pa­
"Em vo ssas ra realizarem o
mãos entrego de·sejo de tor­
meu espirita" nar-se rico. A
S. Jacintho, dominicano ri q u eza, tão
- exhalou o apreciada, tão
Estava o Santo celebrando o santo sacrificio da
ultimo suspi­ �\iissa, quando o:; tartaros tentaram contra a se­ cubiçada e de­
ro. J a cintho gurança do convento. Já tinham forçado a porta da sejada, nada é,
egreja, quando o santo missionaria, o Santissimo em comparação
mo r r e u na Sacramento na mão direita, uma estatua de Nossa
edade de 74 Senhora no braço esquerdo, passou entre os ini­ com os bens
migos, tranpôz a pé secco o rio Dnjepr e incolume eternos. Como
annos, tendo, chegou á cidade de Cracovia. devia, portanto,
até o fim da ser grande o
vida, conservado fielmente o estado <la nosso desejo de possuil-os? Si queremos
innocencia baptismal. Numerosos mila­ effectivamente ser um dia habitantes da
gres celebrizaram-lhe o tumulo. Eitn celeste Jerusalém, é preciso que mante­
1524 foi canonizado por Clemente VIII nhamos em nós aquella fome e sêde
de justiça, isto é, que trabalhemos deci­
e suas reliquias repousam em Cracovia, didamente pela nossa santificação, que
na egreja que lhe traz o nome. não é cousa tão facil assim. Trabalhar pela

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148 18 de Agosto

s:rntificação, é empregar os meios para Santos do Martyrologio Romano, cuja me­


chegarmos a esse almejado fim; é remover moria é celebrada hoje:
todos os obstaculos, que se nos oppõem
nessa santa tarefa; é viver santamente, é Em Carthago os santos Martyres Libera­
viver no mundo, mas não com o mundo; to, Bonifacio, Servo e Rustico e mais com­
é luctar contra as nossas paixões e comba­ panheiros, que apoz horríveis soffrimentos
tei-as; é fugir das occasiões de peccar e a que foram sujeitos pelos vandalos, passa­
precaver-nos contra os attractivos do pec­
cado. Tudo isso é lucta. Sem lucta nada se ram· para a gloria eterna.
alcança. O céo é a corôa da victoria, é a Em Accron, na Palestina, o Martyr S. Pau­
recom'.pensa do trabalho, é o thesouro es­
condido, é a terra promettida, cujo cami­ lo e sua irmã Juliana, que no governo de
nho passa por meio de terras aridas e Valeriano morreram pela fé.
inhospitas.
Que fazem os christãos, para se assegu­ Em Cesaréa, na Cappadocia, a morte de
rarem do premio eterno? Que fazes tu para S. Mamete, martyrisado no im perlo de Au­
merecer o céo ? reliano.

18 de Agosto

SANTA HELENA
( t 328)

� OBRE a origem e a patria de San­ ele do pae, foi retido como refem na
,W ta Helena ha divergencias entre côrte do Imperador Diocleciano, onde,
os historiadores. Segundo a opinião de cama segundo Moysés no meio do mün­
uns, Helena· era filha ele uma familia do pagão, viveu doze annos. Quando
pobre de Drepano, na Bithynia, quando Galeria conseguiu a renuncia dos dois
outros nella reconhecem tvma Princcza velhos Inllperadores, ambos celebres pela
de sangue rieal de York, da Inglattirra. perseguição que fizeram aos christãos,
Educada no paganismo, contrahiu ma­ Oonstan1ino partiu para a Bretanha, on­
trimonio com Constancio Chloro, offi­ de o pae o apresentou ao exercito como
cial do exercito da nobre familia do Im­ successor no throno.
perador Claudio II e Vespasiano. D'es­ Constancio Chloro morreu e Constan­
sa umao nasceu Constantino, que mais tino foi proclàni'ado Imperador. Helena
tarde se tornou celebre na Historia, co­ voltou para junto do filho. Um dos pri­
mo prim;eiro Imperador christão. meiros actos do novo Imperador foi sus­
O Imperio Roma:no tinha dois impe­ tar a perseguição aos christãos. Embora
radores. Estes (Diocleciano e Maximia­ educado nas idéas do paganismo, Ocms­
no), depois ele um governo de 20 annos, tantino já conhecia bastante o christia­
acloptaralli mais dois "Cesares": Gale­ nismo, para votar-lhe estima e respeito.
rio Maxfoniano e Constanóo Chlorn. A Devendo abrir can1panha contra Ma­
este, marido de Helena, coube a admi­ :icencio, cam rnn grande exercito se diri­
nistração da Gallia e Bretanha. giu á Italia, na incerteza a que divinda­
Quiz a exigencia politica que Constan­ de devia invocair, para assegurar-se da
cio Chloro repudiasse Helena, para ca­ victoria. Uma voz interior dizia-lhe que
sar-se com Theoclora, enteada de Maxi­ só ao Deus dos christãos se devia con­
miano. fiar. Diz a lenda que, á luz do meio dia
Constantino, para garantir a ficlelidà- lhe a,ppareceu uma cruz no céo e colm

"''mta Helena - Euseblo, in vita Constant. - Annaes de Baronia. Boi!. III. Ag. 548. -
naess e Weiss XI. 209.

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18 de Agosto 149

ella foram vistas estas palavras: ln hoc nhara.m-lhe os corações dos subditos.
signo vinccs (Neste signal terás a victo­ Faltava ainda destruir o ultimo ba­
ria). Na noite seguinte, uma visão que luarte do paganisimo, o que Constantino
t,eve, deu-lhe directivas ainda mais cla­ conseguiu pela victoria sobre Licínio,
ras. Imperador do Oriente. Derrubado este,
Confiante em Deus, Constantino a'l"­ pôde ser convocado o grande Concilio
riscou a batalha contra o exercito de ele Nicéa, em 325, cujo maior triumpho
Max<encio, muito mais nwmeroso que o foram a defeza da divindade ele Jesus
seu, e sahiu vencedor. Christo, contra os Arianos, e o projecto
Teve esta victoria como consequencia de edificar-lhe um templo no monte Cal­
vir Constanti­ varia.
no a declarar­ Apezar <los
se abertamLn­ seus 80 annos,
te protector do a Imperatriz
IChrisrt:ianisimo. quiz levar a
A mãe, He­ effeito e s s a
lena, recebeu g r ,a n d i iolsa
o b a p tismo, icléa. Com es­
preparando a se fün, trains­
conviersão cio feri u sua resi­
filho. Cam a dencia p a r a
'!TI} u dança de Jerusa I é m e
religião, ella começou a
deu tannbenn á obra.
vida um cunho Muitos prisio­
tão caractieris­ neiros chris­
tico de chris­ tã-os no Ori­
tã, que todos •ente o b tive­
admiravam as ram a liber­
virtudes q u e dade.
praiticava, en;­ Helena teve
tre estais prin­ a grande sa­
cipalmen t e a tisfacç ã o de
caridade. enco,ntr a r o
Constantin10 santo Lenho.
p r o c !amou-a Tendo vol­
I 111 peratriz e tado a Roma,
em sua hon­ a piedosa Im­
ra m a ndo u peratriz f.ez-s•e
cunhar moe­ servido r a de
das, com a sU'a donzellas que,
e f fig i e, as em santa com­
quaes , traziam munidade, vi­
a S1eguinte ins­ viam dedica­
Santa Helena,
cripção: "Fla­ das a Deus.
via Helena". de joelhos no Jogar da Crucificação. "Eis, o Jogar
da lucta; mas onde estr, o signal da victoria? Em Considerava
O exemplo procura estou do vexillo da salvação e não o en­ grande honra
da santa Impe­ contro; Eu - vestida de purpura, - e a Cruz do
Senhor escondida na terra! - eu - morando em poder servir­
ratriz, a bon­ palacio e o triumpho de Christo em ruinas! Posso lhes a meza.
dade, o zelo e considerar-mo remida sem que me seja dado ver o
signal da Redompção?" (Santo Ambrosio interpre" Sentindo ap­
dedicação ga- tando os sentimentos da santa Imperatriz). proxi:mar�se a

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150 19 de Agosto

morte, <leu salutares conselhos ao filho "Abençoada será a posteridade do miseri­


cordioso". (Ps. 36. 26). "Faze esmola dos
ie aos netos, e em Agosto de 328 teus bens e não voltes teu rosto a nenhum
entregou a bella alma a Deus. O enterro pobre; porque d'esta sorte succederá que
cle Helena foi u1m'a apotheose. tambem não aparte de ti a face o Senhor.
Mais tarde Constantino mandou L'.ri­ Da maneira que puderes, sê caritativo. Si
tiveres muito, dá muito; si tiveres pouco,
g-ir em Constantinopla um grande crnc:i · procura dar de boa mente esse pouco".
fixo, ladeado de duas estatuas, qu� re­ (Tob. 4). Oxalá possas applicar a ti a pa­
presentavaJm eille e sua santa mãe lavra do piedoso Job: "Desde a minha in­
Helena era geralmente considerada o fancia cresceu commigo a commiseração ;_
desde pequeno, era meu prazer soccorrer
prototypo de mulher virtuosa, tanto que os necessitados e offerecer-lhes meus pres­
as Princezas reputavam grande honra timos". (Job 31).
s1erem cha!madas segundas Helenas. Ru­
fino chama incomparavel sua fé, e Gre­ Santos do Martyrologi.o Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
gorio Magno attribue á interferencia ele
Em Preneste, hoje Palestrina, o santo
Hei-ena o reerguiimento do espirito chris­ martyr Agapito, menino de quinze annos, que
tão entre os Romanos. foi mettido no carcere, onde ,mffreu inaudi-­
tas torturas. Finalmente foi atirado aos
R.EFLEXõES leões; como estes porém nenhum mal fizes­
sem, a espada do algoz abriu-lhe as por­
O traço mais caracteristico da vida de
tas do céu.
Santa Helena é a bondade e o amor do
proximo, de que deu provas. Qualquer que Em Roma, no tempo da perseguição clio­
seja tua posição, é possível tambem pra­ cleciana, o martyrio cios sac0rdotes João e
ticares esta virtude e terás a certeza de as­ Crispo. A muitos corpos de santos marty­
sim cumprir a lei de Jesus Christo e mere­ res tinham dado enterro christão, até que
cer-lhe o agrado. "Apprendei a fazer o bem, um dia se lhes abriu a porta ela victoria por
procurae o que é justo, soccorrei o oppri­ um glorioso martyrio.
mido, fazei justiça ao orphão, defendei a Na província Illyrica os santos martyres
viuva, reparti vosso pão com quem tem fo­ Floro e Lauro, esculptores de profissão.
me, introduzi em vossa casa os pobres e Mortos seus mestres Proculo e Maximo, fo­
peregrinos, quando virdes o nú, cobri-o e ram tambem elles submettidos a cruciante:,
não desprezeis a vossa carne". (Is. I. 1. 17; tratos e atirados num poço. São padroeiro,;
58. 7). "Não i'mpeças de fazer o bem dos esculptores.
áquelle que o póde fazer; si pódes, faze-o Em Montefiascone, Santa Clara da Cruz,
tu mesmo tambem. Não digas a teu amigo: Virgem, da Ordem elas Agostinianas, cano­
"Vae e torna; am·anhã te darei - quando nisada por Leão XIII. No seu coração fo­
tu lhe podes dar logo". (Prov. 3. 27). ram encontrados estampados os instrumen­
"Bemaventurados os misericordiosos, por­ tos da Sagrada Paixão de Nosso Senhor.
que alcançarão misericordia". (Math. 5. 7). Corpo e coração da Santa estão bem con­
A Sagrada Escriptura está cheia de elo­ servados. 1308.
gios á caridade. São do Antigo Testamen­ Em Metz (França) a memoria de S. Fir­
to as seguintes referencias á caridade: mino, Bispo.

19 de Agosto

São Luíz, Bíspo de Toulpuse


(t 12;;7)

� ÃO LUIZ, fi'iho de Carlos II, Rei cios paies, ailliacla á graça divina, fizeram
� cle Napoies e Sicilia, e Maria, filha com que Luiz fosse na mocidade um
de Estevão V da Hungria, nasceu em modelo de todas as virtudes christãs.
1273. A educação esmerada que recebeu Entre esta:s, mais realçava a santa pure-

S. Luiz - Vida do Santo, escripta por um amigo do mesmo e editada por Sedulio em
1602. - Boll. III. Ag. p. 776. - Bulia canon. - Fleury. XVIII.

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19 de Agosto 151

za, por elle guardada com tanto cuida­ forços. Si não conseguiu a revogação
do, que na côrte era chattnado o Anjo da daJs decisões da Sa,nta Sé, obteve licen­
casa. ça de cumprir antes o voto de tomar o
A mocidade de Luiz foi amargurada habito de S. Francisco. Bonifacio VIII
pela infeliz campanha do paie contra o mesmo quiz ser o sagrante do jovem
rei de Aragão. Carlos, feito prisioneiro Bispo.
em Barcelona, sómente pôde obter a li­ Luiz entregou-se com grande zelo aos
bertação a troco da liberdade dos tres trabalhos do munus episcopal, fazendo,
fifüos e 50 fidalgos, que ficarnm COl1110 porém, empenho em ter a vida simples
refens nas mãos do vencedor. e pobre ele frade. Um especial cuidado
Soffrendo as asperezas da prisão, dispensava aos doentes pobres, aos quaes
Luiz consolava e animava os compa­ assistia com conselhos e esmolas. A sim­
nheiros de infortunio, fazendo-lhes vêr plicidade e pobreza observadas na vida
que, CUIT\prindo a vontade de Deus na particular, per1mittia.rn-lhe a distribuição
desgraça, mais meritorio e salutar é de muitas esmolas. Em sua companhia
para a alma do que viver na opu­ cdmiam diariamente 25 pobres, a03.
J.encia e felicidade. Durante o tempo da quaes eHe mesmo servia. A leprosos la­
prisão, não abandonava as praticas de vava os pés e beijava-os. Pelo zelo apos­
piedadie, antes as augmentava. Além tolico, no pulpito e na cura particular
d'isto, aproveitava o tempo para dedicar­ das a\mas, tornou-se um forte sustenta­
se ao estudo de sciencias necessarias, to­ culo da fé para os catholicos, e muitos
mando por mestres os religiosos da Or­ hereges abandonaram os erros.
delm de S. Francisco, aos quaes se ligára Na alma lhe estava profundamem�
em estreita amizade. enraizado o desejo de tem1inar a vida
Embora gozasse de relativa liberdade, na cella do convento. Em 1297 fez uma
suas visitas eram exclusivamente aos viagem a Roma, com o fim de pedir o
hospitaes e ás egrejas. O comporta­ consentimento do Papa, para a realiza­
mento do joven na egreja era de tal ção d'esse desejo.
modo, que a todos edificava. Chegando a Briguodes, sua terra na­
Por occasião de uma grave doença, taJI, cahiu gravemente doente. Era a fes­
fizera o voto ele ,entrar na OrdeÍ11 de S. ta da Assumpção de Nossa Senhora, e
Francisco, voto que depois não lhe foi Luiz recebeu com muita devoção os
possível cumprir, -devido á resistencia Santos Sacramentos, preparando-se as�
que encontrou, por parte do pae. sitm paTa a morte. Longe ele se entriste­
Decorrido o tempo da prisão, o p.!2 cer, encheu-se de alegria por estar per­
manifestou o desejo de Luiz acceitar 'a to da união eterna com Deus. "Dou
mão da irmã do Rei de Aragão e, para graças a Deus - dizia muitas vezes
garantir-se do seu assentimento, promet­ que tira dos meus hombros o peso elo•
teu-lhe o reino de Napoles. Luiz, porc'.·m, episcopado. As funcções episcopaes só
oppôz�sie ao plano paterno, ficando fir · me distrnhem e não permitrem que me
me no proposito de abandonar o mundo entregue com socego ao serviço de Deus
e de servir a Deus na solidão d'um con­ e á salvação de minha alma. A dignida­
vento. de episcopa:1, si é uma grande honra, é ·
Após muito pedir e insistir, conse­ uma cruz ainda maior."
guiu licença do pae para realizar seu Accommettido de grande fraqueza, re­
ideal, e foi receber as ordens sacerclotaes. zava com muita devoção: "Senhor Je­
Aconteceu que, pouco depois, morresse sus Christo, a vós adora:mos e bemclize­
o bispo de Toulouse, e o Papa Bonifa­ mos, porque pela vossa cruz remistes o
cio VIII nomeou a Luiz successor. Para mundo. Senhor, não vos leimbreis dos_
se furtar das responsabilidades d'este peccados de minha mocidade, e esquecei
cargo espinhoso, Luiz não poupou es- a minha ignorancia".

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152 19 de Agosto

De quando em vez recitava a sauda­ porque o Senhor teu Deus te pedirá conta
d' elle; e si te demorares, ser-te-á impu­
ção angelica. Perguntado porque as•si'rn tado a peccado". (Deut. 23. 21). - "Si fi­
rezava, dizia: "D'aqui a pouco morre­ zeste um voto a Deus, trata de cumprir-o
rei, e a bemaventurada Virgem Maria logo; porque não agrada a promessa infiel
aissi•stir-1me-á. e imprudente; mas melhor é não fazer voto
nenhum, do que depois de o fazer, não
Luiz morreu em 19 de Agosto de cumprir o promettido". (Eccl. 5. 3). Não
1297, tendo apenas 24 annos de edaide. carecem de explicação estas palavras do
Foi em 1317, e a mãc• ainda vivia, Espirita Santo. Accrescentamos que o voto
quando o Papa João XXII o inscreveu pessoal feito pelos paes não obriga os fi­
lhos.
no cata.ilogo dos Santos.
REFLEXõES Santos elo Martyrologio Romano, cuja me­
O voto de entrar na Ordem franciscana moria é celebrada hoje:
impedia a S. Luiz de contrahir matrimonio. Em Roma o martyrio do senador Julio, do
Embora tivesse m'uito motivo de pedir tempo do Imperador Commodo.
dispensa d'este voto, o santo Principe não Na Asia Menor a morte de Sant'Andr/\,
a requereu. - Voto é uma promessa livre­ offlcial do exercito, e seus companheiros do
mente feita a Deus de praticar uma cousa estado militar. Tendo alcançado uma bri­
util e boa, a que por outros motivos não lhante victoria sobre os Persas, todos se
sejamos obrigados. Ningucm é obrigado a converteram ao christianismo. Accusados
fazer votos; mas uma vez feito, é dever desta sua deserção do paganismo, o Impe­
cumpril-o fielmente. D'ahi se segue que rador Maximiano ordenou o anniquillamen­
não se devem fazer votos, sem para isto to destes bravos soldados de Christo nos
ter sérios motivos. Antes de se tomar o desfiladeiros do Tauro.
compromisso de um voto, é prudente ou­
vir a opinião cio confessor, e pedir-lhe li­ Na Palestina: S. Timotheo, martyr na
cença. "Si tiveres feito algum voto ao Se- perseguição de Diocleciano.
nhor teu Deus, não tardarás cm cumpril-o; Na França, o sacerdote S. Donato. (522).
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19 de Agosto

S. JOÃO EU-DES
( t 1680)

J11fi ÜÂÜ EUDES nasceu a 14 de o amor a Jesus e a Maria. Existe ain­


i.iJ) N ovrnnbro de 1601, na Parochia de da, na egreja de Ri um velho pilar, atraz
Ri; perto d' Argentan, na Diocese de elo qual a mãe, inquieta por sua ausen­
Seez. O pae, Isaac Eudes, era medico cia, o surprehendeu muitas vezes, ab­
e fervoroso christão. A mãe, Martha sorpto em oração.
Cosbin, era dotada de u;m espírito · no­ João, de compleição delicada, foi con­
bre, de um caracter decisivo. Depois de fiaclo a uim santo padre de uma paro­
tres annos de casados, os esposos fize­ chia vizinha, Jacques Blavette, que o
raim voto de ir em peregrinação á Nossa fez progredir rapidamente nas letras, e
Senhora de Recouvance, si Deus fizesse o preparou cuidadosamente para a pri­
oessar-fües a esterilidade. A pr�e foi meira Comimunhão.
ouvida. Crescendo, o jovam Eudes firmava-se
João, o fructo cl'essa oração e desde mais e ttnai-s na piedade e na pratica das
a infancia consagraido á Santa Virgem, virtudes. Aos quatorze annos foi pros­
fez-se notar bem cedo pela piedade e trar-s1 e deante de uma estatua de Maria

S. Jorin Eude,ç - Vida do Santo, editada pelas religiosas de N. Sra. da Caridade de An-
7ers (P.om Pastor).

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19 de Agosto: L53

e escolhendo-a por esposa mystica, poz­ Passado o perigo da peste e restabe­


lhe um a1111el no dedo, con10 penhor lecido de üma enkrmidade, Eudes de­
d'essa casta alliança, á qual permaneceu dicou-se ao trabalho das missões. Por
smnpre fi,el. mais de 40 annos se entregou aos tra­
Em 1615 começou Eucles os estudos, balhos apostolicos. Sem falar dos reti­
num Externato dos Padres Jesuitas, em ros, adventos e quaresmas que prégou,
Caen. O meio ·em que se viu obrigado a contaJm-se a:té cento e doz·e missões, de
viver, não o fez afastar-se da linha que que foi alma e director.
até então seguira. A oração, a fuga das Neste ramo de trabalhos missionarios.
occasiões, o trabalho e a recepção assi­ foi de uma actividade simplesmente es­
<lua cios Santos SacraJmentos fizera:m-n'o pantosa, tanto que o Padre Oliver che­
sahir incolume ele todos os perigos. gou a qualificai-o de - Maravilha do
Os companheiros appellidara.111-11'.o o seculo. Figurar-se-ia difficilmente hoje
"devoto Eudes ". a ignorancia e a libertinagem dessa épo­
Tinha vontade firme ele consagrar-se ca. Dois flagellos sobretudo - a here­
ao s,erviço de Deus, no que encontrou a sia de Calvino e a guerra civil - ha­
mais resoluta resistencia ela parte cio viam turbado profundamente os espíri­
pae. Mas a firmeza cio jovem trium­ tos. O povo, principalmente nos ca/m­
phou ele todos ·os obstaculos, e a 19 ele Se­ pos, ignorava as verdades mais elemen­
tembro ele 1620 recebeu, em Seez, a tares do Evangelho. Deixava-se arras­
tonsura e as Ordens Menores. Prose­ tar á devassidão, aos perjurios e aos
guindo nos cs,tudos, t'es,olveu entrar pa­ homicidios. Para esse geral e tão gran­
ra a Congreg-ação do Oratorio, funda­ de mal, era preciso proporcionar sérios
da havia onze annos pelo Padre ele Dé­ riemedios: instruir os povos, afastal-os
rulle. dos vicios e conduzil-os á frequencia
Mais uma vez tentou obter o consen­ dos Sacramentos.
timento dos paes, mas não podendo ven­
cer-lhes a resi·stencia, montou a cavallo Padre Eudes, naquellas missões, mui­
e pôz-se a caminho de Paris. Havendo ms vezes teve de prégar nas praças pu­
percorrido duas ou tres legua>s, o animal blicas, diante de dez, quinze e até trinta
-empacou, nenhtvm passo mais deu para mil pes·soas. Os confessionarios acha­
diante. João acreditando ser isto llllTia va:m...se assediados dia e noite. Muitas
aclvertencia de Deus, voltou para pedir pes,soas que vinham de fóra, tinham de
o consentimento do pae, o que lhe foi permanecer tres, quatro dias na egreja,
dado, sem mais outra reluctancia. até quie chegasse a vez de fazer a con­
No "Oratorio", segundo o testeunu­ fissão. Eucles tinha 74 annos, quando
nho dos m,estt'es, nunca se viu noviço prégou a ultüma missão em Saint Lêo.
tão fervoroso. A aggldmeração para as confissões era
tal, que vinte sacerdotes não eram suf­
A 20 de Dezembro ele 1625, Eudes
ficientes.
recebeu a uncção sacerdotal. Quando,
em 1627, a peste assolou a região ele No começo cio seculo XVII, não ha­
Seez, Eudes solicitou e obteve cios supe­ via 0111 Frnnça nenhum seminario. Os
riores a permissão de prestar soccorro m,oços que sc• preparavam para o estado
aos pe�tosos. Pouoo rompo depois, a epi­ ecclesiastico, iam alojar-se á vontade nu­
demia paissou para a cidade de Caen. ma cidade, onde pudessem seguir os
Eudes redobrou os esforços no serviço cursos da Urliversidade. Preparavam-se
dos doentes, dos qua:es um, o proprio para a reoepção das santas Ordens ape­
superior, lhe morreu nos braços. Para nas por Uirp breve retiro, alguns dias
não expôr os inmãos ao perigo do con­ anres da ordenação. Entretanto o clero•
tagio, .Eudes passava a noite em um nunca reclamara uma formação mais sé­
tonnel, no meio do campo. ria.

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154 19 de Agosto

O Padre Eudes, como todas as san­ ria!m todas as casas fundadas pela de
tas pessoas d'essa época, Padre Oliver, Angers. A arvore plantada em Angers
São Vicente de Paulo e outros, contris­ desenvolveu-se de uma maneira surpre- -
tadas por um tal estado de cousas, pen­ hend<enl1e e tornou-se necessario dividir
saram em estabelecer seminarios. Padre a Congregação em Províncias. A Con­
Eudes fez inuteis instancias junto dos gregação do Bom Pastor tem casas e
superiores do Oratorio para os interes­ aisylos -rnn quasi todos os paizes do
sar pelo projecto. Animado pelo Bispo mundo.
de Li,sieux, Mons. de Cospéan, e convi­ A Congregação dos Eudistas é outra
dado pelo cardeal de Richelieu, pôz fundação de S. João Eudes. E' uma
mãos á obra e tendo-se desligado do Congregação de sacerdotes, que se de-·
Oratorio, fundou um seminario em dicaim á prégação da palavra ele Deus e
Caen. Desd · e 1658 teve a felicidade de á forunação do clero.
apreSlentar 350 ordenandos ao Bispo,
Embora a extensão do culto do Sa­
Mons. Servien.
grado Coração de Jesus tenha tomado
Aiém do •serninario de Caen, o Padre
incremento imaior devido ás revelações
Eudes fundou ainda seis seminarios. Em
feitas á Santa Margarida Maria Alaco­
1792 os Eudista!s possuia.m ou dirigiam
que, sabe-se que S. João Eudes foi o
doze grandes e cinco pequenos semi­
primeiro a estabelecer a festa do Sagra­
nairios.
do Ooração de Maria, como tambem foi
Eudes, chei,o de relo pela salvação das o primeiro que fez celebrar a festa do
a�mas, entristecia-se por vêr tantas, pela Sagrado Coração de Jesus. No decreto
força de habito, recahirem no abysmo. da heroicidade das virtudes de S. João
Para assegurar a perseverança d' essas Eudes, Leão XIII o declarou "o autor
a.Lmas em perigo de se perderem, fun­ do culto liturgico cios SS. Corações de
dou uma Congregação de religiosas, Jesus e de Maria".
cujos principios eraim bem modestos.
Luctando com muitas difficuldades e Não podemos deixar em silencio uma
mais uma vez vendo a obra quasi a pon­ terceira familia de S. João Eudes, que
to de fracassar, dirigiu-se ao Mosteiro conta pelo menos quinze mil membros.
da Visitação, do qual lhe foram envia­ E' a sociedade das filhas do Coração da
das tres religiosas, entre as quaes a Ma­ Mãe admiravel, a qual é conhecida com
dre Patin, que foi a primeira superiora o nome de Oroem Teroeira do SS. Co
da Gommuni,dade, que tomou o nome de ração. Essa Ordem Terceira, a exemplo
Nossa Senhora da Caridade. O Santo da dominicana e da franciscana, desti­
re!digiu para essas religiosas UilTia regra, na-se ,exclusivaunente a pessoas do se­
deu-lhes ulm habito branco, symbolo de culo.
pureza ; um coração de prata sobre o Numerosos são os escriptos de São
peito e accresoentou aos tres votos -­ João Eudes, revelando todos uma scie11-
Pobreza, Castidade e Obediencia - 111.11 cia theologica ttnuito profunda e segura.
quarto, o de trabalhar pela salvação das A ultilina e ,mais volumosa d'essas obras
pessoas confiadas aos seus cuidados. é "O Coração admiravel da Mãe d�
Em 1829 o Bispo de Angers, Mons. Deus", a primeira em que a devoção
Montault, pediu á superiora do Mostei­ aos SS. Corações de Jesus e Maria foi
ro de Nossa Senhora de Caridade em theologicaJmente exposta e defendida.
Tours, Madre Maria de Santa E�;hra­ A'O uerminar esse livro, o santo autor
sia Pelletier, filha do Instituto do Padre foi atacado de �a febre, que o levou
João Eudes, para vir fundar uma casa ao tumulo.
da Ordem. em Angers. A Madre Maria Eudes morreu aos 19 de Agosto de
de Santa Euphrasia teve a inspiração de 1680. Santa, como a vida, lhe foi a mor­
crear um generalato, do quaJ depende- te e Deus não tardou em glorificar i

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155
========== 20 de Agosto
memoria do seu servo, por nuttnerosos divina e seguil-a, sem se incornrnodar com
miilagres. as opiniões dos outros. Assim são os San­
tos. Santificando-se a si proprios, são os
instrumentos mais idoneos na mão de
REFLEXÕES Deus, para fazer grandes cousas. Eudes
Urna vez tendo conhecido a vontade de foi um homem de oração, de apostolado e
Deus, S. João Eudes seguia imperturba- de caridade. Sejamos homens de oração e
velmente o caminho. Não era um canniço, de caridade; não poderemos deixar de ser
agitado pelo vento dos caprichos. Em ora- tambem apostolos e propagadores do reino
ções e jejuns, procurava saber a vontade de Christo na terra.
H❖❖❖-H-❖❖❖❖❖-H--H-❖-!-�❖❖-H-❖❖❖❖❖❖❖❖�❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖

20 de Agosto

SÃO BERNARDO
(t 1153)

R, ÃO BERNARDO, tão celebre na Bernardo perdeu bem cedo a mãe.


� Egreja pela santidade e sciencia, A bella estatura e formosura extraordi­
cdmo pelas obras grandiosas por elle ef­ naria fizeram com que, da parte de pes­
foctuada'S, nasceu em Fontain, na Bolo­ soas frívolas, lhe surgissem grandes
nha. Filho de paes exoellentes, tinha lucras e perseguições, as quaes, porém,
Bernardo seis irmãos e uma irmã. A r-esolutalmente rebaiteu. Certa vez, esta,n­
mãe empenhou o maior cuidado na edu­ do Bernardo em viagem, recebeu agasa­
cação d'estie filho. Bem cedo teve a saüs­ lho na casa de urna mulher, cuja vida
facção de descobrir em Bernardo um lhe era desconhecida. Alta noite a hos­
grande amor a Deus e á Santíssima Vir­ pedeira entrou no quarto, onde o jovem
gt;n1, horror ao peccado, veneração pela peregrino dormia e solicitou-o a com­
pureza e innocencia, desprezo ao mundo lTlletter wn pecca:do verg, onhoso. Bernar­
e z,elo por tudo que se referia a Deus e do, y;endo o perigo, pôz�se a gritar ai­
sua santa causia. Certa vez, soffren<lo talmente: "Soccorro, ladrões, ladrões ! "
dôres de cabeça atrocissiJmas, foi Ber­ Foi balS'tante para a tentadora se retirar
nardo procurado por uma mulher, que i1 mmiediatalmente. Teve a mesma a ousa­
com benz·eduras pretendia livrai-o d'a­ dia de t'epetir tres y;ezes a mesma ten­
quelle mal. Bernarido, que era men;t:c tação e todas as vezes encontrou a mes­
ainda, c,uvindo a:s propostas da feiticei­ ma resi-stencia. Bernardo foi bastante
ra, pulou da cama, enxotou-a do quarto, delicaido para não denunciar a filha de
e disse que preferia morrer de dôr, a Sata:naz, embora o censurassem e o cha­
ser soccorrido por praxes superstici�J­ mass� de maluco que, estando em ca­
sas. Deus recompensou immediatamen­ sa alheia, desneoesisariamente alarmava
te este acto de fé viva, livrando o santo a todos. No di1a da partida, outra vez
mlenin10 das dôres, que o cruciavam. intlerpieJ.lado pelo que acontecera, disse
Bernacdo teve a graça extraordinaria Bernardo: "De facto houve assalto,
de tima visão de Jesus Chri-sto, que lhe porque a propria dona da casa quiz rou­
appareoeu em fórma de menino, como bar-ttne o que tenho de mais precioso:
os pastores o encontraTam em Bethle­ - a minha innocencia ". Para guardar
hem. Esta grande distincção extraordi­ este thesouro, o casto jovem empregava
narialmente contribuiu para solidificar­ os meios mais efficazes, que são: a ora­
lhe cada vez mais o amor a Nosso Se­ ção, a mortificação dos sentidos, prin­
nhor. cipa11mente dos olhos e wna devoção
8. Bernardo - Boll. IV. Ag. 256. - Fleury XVI. Raess e Welss XI.

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15(fi 20 ele Agosto
===========
t'erniss�ma á Santissima Virgem. Para •soas, attrahid�s pela santidade de Ber­
penitenciar uma falta, aliás pequena, nardo, e, convencidas pela sua palavra
que involuntariamente commettiera, met­ arclente, abandonaram o mundo e pro­
teu-se em tempo de inverno num tan­ curaram, cOlmo elle, a solidão do mos­
que, e ficou aturando a agua gelada, até teim; ass�m Henrique, irmão do monar­
quasi desfalleccr. Esta penitencia cmel cha rieinante na França e a propria
reve por ricsultado ficar Bernardo, des­ irmã.
de aquella hora, livre ele qualquer sen­ O regimen do novo Abbade era rigo­
sibilidade quanto a tentações impurais. rosissijmo; elucidado, porém ,por uma
Tendo fieito estas experiencias, BernaT­ luz superior, abandonou etm seguida es­
do outro desejo não mais nutria, sinão se riigor, substituindo-o pela brandura.
retmhir-se do mundo, no que encontrou Contra si proprio usava de maxima se­
fortle roesistencia e contradição da fa­ veridade, emquanto que sua caridade e
milia. Não só conseguiu desarmaT-lhe amabilidade para com o prox�mo eram
as argttmentações, mas seu exemplo foi irresistiveis. A vida particular de Ber­
imitado por ttm tio paterno e quatro nardo era uma pratica constante das
itimãos, que, como elle, entrar, am para a mais asperas e inclementes penitencias.
Ordem dos Cistercienses, fundação de Surprehenclendo-se uma ou outra vez em
S. Norberto. A caminho do convento, concessões á corrimodiclade, aliás natural,
encontraram o Üimão mais moço, Nival­ dizia de si para si: "Bernardo, qua,l foi
do, crieança ainda, brincando na rua. o fim para que vicsre ao mundo ?" Ber­
Guido, o mais velho, di,sse ao menino: narde, ad quid venisti?
"Niva!ldo, nós vaJ1nos para o convento A fama <le sua virtude e grande sabe­
e tie deixamo,s toda a herança, sendo tu doria passou além dos estreitos limites
doravante sénhor de todos os nossos do mosteim. Mais de uma vez recebeu
bens". Nival<lo, il!trminado por Deus, convitles honrosos para acceitar a mitra,
respondeu: "Então, escolhendo para que lhe em off.erecida. Berna:rclo, achan­
vós o céu, quereis que cu me satisfaça clo-s,e in
· cligno cl:e tão alta pat1enre, recu­
com a tiena ? Não ! é uma divisão mui­ sou-se constantemente a acceitar a cli­
to desegual e injusta que fizestes !" gnidade episcopal. Na grande dissenção
Sem hesitar um m011nento, associou­ que houv<e, na eleição de dois Papas, a
se aos irmãos, e CO!lll elles tomou o ha­ pailavra ele BernaTdo foi decisiva. Ha­
bito de S. Norberto. Em pouco tempo viendo dois candida!tos, Berna,rdo, depois
Bernardo se tornou modelo na pratica de muito rezar, se pronunciou a favor
da:S virtudes monasticas, tamto que o de Innocencio II, contra Pedro Leonis,
abbacle Estevão lhe confiou a direcção que tinha adoptado o nome de Anacleto
do mosteiro, em Clairvaux. Embora II. Muitos outros negocios importanti-s­
Bernardo fiz,esse vêr sua mocidade e s,1nos no t1egirnen da Egreja foram
inexperiencia e além cl'isto, o estado apresen1.1ados ao aluo criterio de Bernar­
precario de saude, a obeclicncia exigiu­ do, e por elle resolvidos.
lhe o sacrificio de acceitar a cruz. Ber­ A inct,mbencia rnais onerosa que lhe
Hardo encontrou em C1airvaux um mos­ veiu da supr�ma autoridade, foi de con­
teiro, cuja riqtt1eza iera a extrema pobre­ vidar os Principes christãos para Ulma
za. Deus, porém, em muitas occaJSiões. oruzada contra os turcos, que se tinham
cleu a prova cabal de que não abandona apoderado dO's Santos Loguroes. Bernar­
áquelles que põem toda confiança em do, obedecendo á ordem recebida, pôz
sua bondade infinita. Factos maravilho­ mãos á obra. Milagres cxtraordinarios
•s,os, que se deram sob o governo dJe que .lhe acompanhavam a espinhosa mis­
Bernardo, não deixavam a menor du­ são, pat1eciaim não deixar duvida algu­
vida sobre a alta cotação, de que gozava ma de que sie tratasse- de um emprehen­
o superior junto de Deus. Muitas pes- dimento sumlmlalmentie agradaviel a Deus.

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20 de Agosto 157

O t1esulta!do, porém, foi terminar a mo estava seu organismo, foram qua'5i


cruzada por uma grande dlerrota do,; insupportav<eis os soffdmentos, que lhe
christãos. Longe de attribuir o fiasco á causavam as constantes dôres de esto­
inepcia e a peccaidos com'in'ettidos pelos mago, sem haver uma possibilidade ele
cdmbarentcs e chefes, a opinião publica mitigai-as. Bernardo, na doença, deu a
:accusou a Ber­ todos o exem­
nardo como o plo da mais
umco respon­ perfeita paci­
savel do de- e n c ia e de
1sa1stre e foraim completa con­
as cri t i c a s, fo r m i ,d ,a d e
censuras, cha­ com a vontade
laças e insul­ de Deus. Bem
tos, que por a tempo rece­
e s t e motivo beu os santos
s o f f r e u, o S a c ramentos
maior marty­ dos moribun­
rio p a r a o dos. Muitas e
Santo. Bernar­ \cliistinctissimas
do, em vez de ,eram as v1s1-
'Se defender e tas que ·rece­
retr i b u i r o bia. Aos visi­
miai com o tantes dizia:
1mal, d i z i a: "Sou um ser­
"Antes .,mur­ vo inutil. E'
murem e se hora que 1•ma
levantem con­ a r v o r e tão
tra mim, do ruim, velha e
que c o n t r a impres t a v e 1
Deus. Pouco ,seja cortada e
se me dá, que inutilizada. Os
minha reputa­ elogios que me
ção s-eja p�s­ t e c1e ,m, não
'5ada pela la­ passam de lou­
ma, Co'mtanto vaminhas; não
que a honra so u vaiicloso
de Deus nada as,s"m, de to­
c.1offra". mal-as por di..
Não haven­ S. Bernardo, nheiro á vista.
do quem o de­ deante do altar de Nossa Senhora na Cathcclral de Sou uma crea­
Splra, em presença do Imperador e de lllustres Prín­
fiendesse, Deus cipes entôa a "Salve Rainha" ... e accrescenta a t u r a inutil,
a si tomou es- bellissima Invocação: "oh clemente, oh piedosa, oh cuja vida não
doce Virgem Maria!"
te encargo, e tem a dignida­
tão numerosos e extraordinarios foram de norn do sac·erdocio, nem do eremita".
os rmilagres que se dignou de operar por Com o olhar elevado ao céu, na pre­
seu servo, que fizeram e111fomdecer as sença dos confrades, que lhe lastima­
ca:lurrinias e ma:Ieclicencias, contra elle le­ vam a •morte, e entre lagrimas e soluços,
vaintndas. davalm demonstração de dôr profunda,
O fün da vida de S. Bernardo foi a Bcrn'ardo entregou a alma ao Oreador,
evoca, para a qual Deus lhe reservou em 1153, contando 64 a:nnos de idade.
outros padecimentos. Enfraquieciclo co- 16 mosteiros foraim por elle fundados.

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158 20 de Agosto

Inestirnaveis foram os serviços que o 5. Ad quld venistl, Bernarde ? Para que


santo religioso prestou á causa de Deus, vieste, Bernardo - era a pergunta que o
em prol da Egreja e pela salvação da nosso Santo muitas vezes a si dirigia.
Egual pergunta, si a fizessemos a nós,
almas. muito contribuiria para nos animar e afer�
Pé!!ssamm-se apenas 12 annos depois vorar no serviço de Deus, na resistencia ás
de sua morte, e o Papa Alexandre III tentações e na pratica das virtudes
proclalm'Ou-lhe a canonização. Pio VIII, 6. Como S. Bernardo, não nos devemos
·em 1830, lhe concedeu o titulo de Dou­ deixar desencorajar nas adversidades e nos
soffr�mentos. Deixemos os outros falar e
tor da Egreja. divertir-se á nossa custa e sofframos resi­
gnados, lembrando-nos dos nossos pecca­
REFLEXÕES dos.
Muitas cousas da vida de S. Bernardo se 7. A exemplo de S. Bernardo, devemos
nos apresentam como imitaveis e uteis. formar a nosso respeito uma opinião bem
1. Bernardo prefere soffrer e até morrer, modesta e não permittir ao nosso orgulho,
a recorrer a remedias de feiticeiros e ben­ á nossa vaidade, que formemos de nós um
zedores. Que é o espiritismo ? Não é uma conceito que esteja em contradicção com
superstição das mais grosseiras que exis­ a verdade.
tem ? Póde ser licito ao catholico recorrer 8. Illimitada era a confiança de S. Ber­
ás praxes de uma seita diabolica, como é nardo na intercessão de Nossa Senhora. O
o espiritismo, para achar allivio nos soffri­ "Memorare" (Lembrae-vos) é a expressão
mentos ? Não deve ser nosso lern,ma: "an­ cxacta d'esta devoção, d'esta confiança. A'
tes soffrer e até morrer", do que acceitar Maria Santíssima recorramos sempre, em
as drogas de bruxaria, que é o espiritismo ? todas as necessidades de corpo e alma,
2. Bernardo chama de ladrões áquelles certos de que a Mãe de Jesus será tambem
que lhe querem roubar a innocencia e afu­ a nossa.
genta-os com' seus gritos. Quem te tentar
para um peccado., é ladrão de tua alma, é
assassino de tua innocencia. Com o ladrão, Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
com o assassino não se brinca; conhecen­ moria é celebrada hoje:
do-os como taes, em vez de se entreter Na Judéa o propheta Samuel, o ultimo
tom elles, é preciso gritar por soccorro e dos Julzes. Por ordem de Deus ungiu a Saul,
defender-se até o sangue. oJ primeiro rei dos judeus. Como propheta,
3. Bernardo condemna-se a penitencias porém, ficou sempre ao lado de seu povo
crudelíssimas e implacaveis, por causa de como medianeiro entre Deus e sua nação.
uma pequena falta que commettera, por fi­ Depois da uncção de David, e do successor
xar o olhar em um objecto indecente. A deste, Saul, se limitou á. direcção da escola
medida por elle tomada, não nos deixa em dos prophetas em Rama. Sua morte foi pro­
duvida sobre o perigo, que via, na liberda­ fundamente lamentada pelo povo.
de que se dá á vista. Que diremos de tan­
tos olhares frívolos, levianos, que pessoas Em Cordoba, os monges-martyres Leo­
de ambos os sexos se permittem, sem o vigilde e Chrlstophoro. Os mouros decapita­
menor escrupulo, sem medir as consequen­ ram-nos e queimaram seus corpos.
cias funestas, que geralmente taes liberda­ Na Toscana, no monte Senario, a morte
des trazem ? de S. Maneclo, um dos sete fundadores dos
4. Bernardo procura voLações religiosas Servltas. 1268.
e sace rdotaes. Um fervoroso servidor de Na ilha de Noirmontlers, o abbade S. Fe­
Deus não se contenta com sua vocação; Ii,;berto.
tudo faz para ganhar novos candidatos ao
sacerdocio e á vida religiosa. Em Roma, no sec. 3, S. Porphyrio.

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21 de Agosto
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159

21 de Agosto

Santa Joanna Francisca de Chantal


(t 1641)

.� ILHA de paes nobre�_ , nasceu Joan­ sa e justa para com os empregados, era
� na Francisca em D1Jon, a,as 23 de d!e todos querida e summamente amada.
T'aneiro de 1572. Creança ainda, não Fez o voto de nunca negar esmola a
�J,eixava duvida de ser destiné!ida a uma quem lh'a pedisse em nome de Jesus
vida de extraordina-ria santidade. Aos Christo.
cinco annos, foi testemunha de uma dis­ Um triste accidente fel-a mudar de
puta do pae com um nobre calvinista, vida, no sentido de entregar-se ainda
sobre a priesença real no Santissimo Sa­ mais ao sierviço de Deus. Nt11111a caça, o
cralm/ento. S'é'lm rodeios, a pequena de­ esposo foi victima de um desastre e
cléi!rou ao heriege: "Senhor, Je..us Chris­ morreu em cons1equencia de grave feri-
to está presente no Santissimo Sacra­ 1111en1!o, causado pela arma de um dos
mento, porqt!le elle mes11110 o disse. Si 001111panheiros e amigos.
prerendeis não acreditar no que elle fa­ Vendo-se livrie dos laços do matrimo­
lou, fazeis d'e!Je um m!entiroso". nio, Joanna oHereceu a Deus o voto de
Pa.ra s1er agradavel, o cailvinista deu- . CaJStidade. "�,c�mpestes, Sienhor, os la­
lhe ttm pequeno obj,ecto de presente. ços que me ligavam a meu esposo; offe­
J oanna Francisca meJteu-o no fogo, di­ rieço-vos o sacrificio de minha vida".
zendo : "Assim se qu eimarão no inferno
1 Profunda era a dôr que lhe dilacera­
os hereges, que não acreditar'elln no que va o coração, mas com a graça de Deus,
Jesus Chrj,sto disse". adquiriu a confonnidade e a coragem
1Tendo perdido sua mãe muito cedo, dle perdoaT ao homem que, involuntaria­
todos os dias se 1.1econtmendava á pro­ JTJ'enre, causára a morte do senhor de
tecção de Maria Santissima, sua divina Chantal, e acceitar o convite de ser ma­
Mãe. drinha de uma filha do mesmo.
Uma senhora, que a irmã lhe déra co­ Occupando-se unicamente com os tra­
·11110 companheira, desgostosa com as pra­ balhos de casa, sempre voltava á oração
ticas de piedade que J oanna Francisca e afastou de seus commo<los tudo que
1cxercia, procurou infiltrar-lhe no es­ era de luxo, reservando para si só o ne­
pirita idéa!s mundanas, não perdendo oc­ oessa.rio. Oasa:m'entos vanfajosos, que s·e
casião de dar-lhe máos conselhos. Ma­ lhe oHereceram, recusou-os. Para se
ria Santissima, porém, velava pela filha, J,embrar sempre do voto de castidade,
cuj1 alma nenhum dalmino soffreu. A qu,e fizéra, com um ferro em braza gra­
dama teve de abandonar a ca,sa. vou no peito as letra:s do nome "Jiesus
Inimiga de tudo que é do mundo, o Ohristo".
unico anhelo da donzella era procurar De dia para dia o coração se lhe in­
a Deus e servi'l-o do modo mais per­ cendiava mais no fogo do ai111or de Deus
feito. e do proximo. Pobres e doenres acha­
Com a idade de 20 annos, contrahiu vam abrigo em soo casa. Quanto mais
nupCÍ'as com o senhor de Chantal. Com 0squernsa era a doença cios proregidos,
rodo o escrupulo, ct11mpriu as obrigações tanto mais carinho lhes dedicava, e esse
do proprio estado. Dedicada ao esposo, heroísmo chegava a ponto de beijar a:s
carinhosa para com os filh{)s, attencio- ulceras dos leprosos e lavar com as pro-

8anta Joanna Francisca de Chantal - Da vida da mesma, escripta por Maupas de


Tours; - Louise de Rabutle. Raess e Weiss XI.

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160 21 ele Agosto

prias mãos as roupas e feridas dos po­ 70 annos e ,morreu, como viveu, santa­
bres doentes. mente, a:os 13 de Dezembro ele 1641.
Filha espiritual de S. Francisco de O corpo da Santa achou o ultimo
Sales, a este santo homeltn confiou cé­ clescanço no convento ele Annecy. Os
grumiernte a direcção da alma. A conse­ numerosos milagres, que lhe glorifica­
lho delle aba11- ram o tuimulo,
dçmou o pae e p r onnoveiraJm­
os filhos, para lhe a cani011i­
,se ,e nce rrar sação, f ie i t a
num convento, por CJ.errien­
em A n necy, te XIII, em
fundado por 1767.
1e 11 a propria. REFLEXÕES
O nome da Em santa Jo­
O r d•e m era anna Francisca
"Visitação de temos a figura
Maria". O fi­ da mulher for­
lho tudo fez te, de que Sa­
lomão fala nos
p a r a retel-a, Proverbios. Em
ma s Joanna todas as cir­
Francisca per­ cumstancias da
vida deu pro­
inairec e u in­ va de grande
flexivel. Na forta I e z a de
soo anc1a e animo e de ex­
dôr, atirou-se traordinario es­
pírito de mor­
,o raipaz sobre tificação. Sã/o
a soleira da estas virtudes
,cnt r a d a do consid e r a d a s
i n d ispen�aveis
convento, para aos christãos,
assim impedir si, aliás, que­
a passagem á rem h o n r a r
mãe. Embora e s t e n o m e.
"Quem qu e r
extre1111amente seguir-me, re­
com m o v i d a nuncie-se a si
com esse ges­ proprio, tome a
to de quasi sua cruz e si­
ga-me" - dis­
desespero, Jo­ se Nosso Se-
a:nna Francis­ 11 h o r. Par a
ca não se per­ Santa Joanna Francisca de Chantal
San ta Joanna
turbou e pas­ Fr ancisca de
recebe das mãos de S. Francisco de Sales a regra certo não foi
•sou por óm:a e as constituições da Congregação da "Visitação". pequeno o sa­
do corpo do crificio que fez
filho. Como religiosa, foi modelo a todas quando, contra a vontade do pae e do �t­
as irmãs. De todas as virtudes rnonasti­ lho, se resolveu a entrar para o convento,
para em tudo ficar semelhante ao divino
cas, acatava mais a da pobreza, sentin­ Esposo. Quem se ligar a Jesus pelos laços
do-se feliz quando, de vez em quando, mais intimas, com elle ha de subir o mont<.
Jhie faltava o necessario. No desejo de das Oliveiras ; por elle acompanhado, ha
eJm tudo agradar a Deus, f.ez o voto ele, de soffrcr a coroação de espinhos, a duri s ·
em todas as circumstancias, proceder sima flagellação e mil outros tormentos e
provações. Tudo isso é indispensavel a
s'empre do modo mais perfeito. quem, com Christo, quer entrar na eterna
Joa:nna Francisca chegou á edade de gloria.

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22 de Agosto 161

Santos do Martyrologlo Romano, cuja me­ to no melo de tantas torturai!! que soffrla,
morla é celebrada hoje: converteu-se ao chrlstlanlsmo. Esta mu­
Em Roma, no Campo Verano, a santa dança de convicções religiosas Importou-lhe
viuva e martyr Cyrlaca. Durante a perse­ a corôa do martyrio.
guição de Valeriano pôz sua pessoa e Na Sardenha o martyrio de Luxorlo, Ci­
seus bens á disposição dos christãos. Cha­ sello e Camerino na perseguição dlocleclana.
mada ella propria para responder aos JUI­ Em Odessa, na Syria, o martyrio de San­
zes da iniquidade, sacrificou sua 'v°ida a ta Bassa com seus tres filhos Theogonio,
Christo, Nosso Senhor. Agapio e Fidelis. Testemunha ocular dos
Em Salon, na França, Santo Anastacio, soffrimentos de seus filhos, os animava pa­
funccionario do Tribunal. Fortemente im­ ra que perseverassem na fé. Elia mesma foi
pressionado pela firmeza de Santo Agapi- dcéapitada.

22 de Agosto

S. SYMPHORIANO, MARTYR
(t 180)

e ÃO SYMPHORIANO é tido co­


� ,nJo tlim elos martyres mais distin­
Symphoriano, como se oppuzesse a
essa intilmiação, foi levado a presença
ctos da França. Era filho de Fausto, ci­ elo Imperador Heraclio, inimigo acerri-
cladã>o respeitabilissimo da cidade de 111\o do nome christão. Por este pergun­
Autun, que vivia no tempo dos primei­ tado sobre seu ndme e profissão, res­
rus Apos·11olos da França - Benigno e pondeu: "Sou christão e chamo-me
i\.n<lochio. Gomo estes por muitos dias Symphoriano". - "E's christão ?" -
fosseim seus hospedes, teve occasião de pergUJntou Heraclio, cheio de admiração.
conhecer bem a doutrina da religião Comia pôde acontecer que isto nos fi­
cliri-stão, o que grandemente influiu na ca:sse occulto, nã:o havendo mais nin­
educ-ação que depois deu oo filho, Sym­ guem nresta cidade que se diga christão ?
phoriano. Porque déste demonstração do teu cles­
Autun, uma das cidades mais impor­ pr'ezo á ili.nagenn de Berecynthia e não
tantes da Gallia, era ao mes:mo tampo quizeste prestar-lhe a devida honra ?"
o Jogar oncle mais florescia a idolatria. - "Porque sou chrí,stão", - respondeu
EÍ·am Cybele, Apollo e Diana as divin­ Symphoriano. Eu só adoro ao Deus
dades mais festejadas. Havia um dia v•ercladeiro e não a imagens do demonio.
marcado, em que o povo se reunia, para Si me clésses licença, despedaçava-as
homenagear Berecynthia, , a mã,e cios num instante".
deuses, cuja imagelm era levada em Heradio, ouvindo isto, empallicleceu
triumplm pelas ruaJs ela cidade. de raiva e, dirigindo-si· e aos circumstan­
Assistindo, certa vez, a uma d'essa:s tes, perguntou: "Este homem insolen­
festas, Syimphoriano se sentiu tomado te, �rnpio e revolucionario é cidadão de
de tanta repugnancia por tudo que via, Autun ?" - "E' e pertence a unna elas
r1ue não pôde disfarçar o desprezo por familias mai•s distinctas", responcle.ram­
aqucllas praticas idolatras. lhe. - "Por ser fidalgo pensa, porven­
Os pagãos, offendiclos CO[ll isso, in­ tura, que póde tripudiar s'Obre as leis ? !
sistiram para qure prestasse homenageu.11 Leü�m-Ihe as dete1,111inações imperiaes",
á divindade. ordenou Heraclio.

S. f/!Jm JJ//oriano - Act. Mart. authc>nt. Huinart. - GrC'gorio de Tours. Tillemont IV.
Ccilller II. nacss e vVeiss XI.
Luz Perpetua 11 - II vol.

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162 23 de Agosto
=============---=--=--- ======== =====
Um dos funccionarios leu : "Marco Aquelle que reina nos céos. Em vez de
Aurelio, Imperador, a todos os gover­ te tira!'1em a vicia,· trocam-n'a por outra
nadores, juizes e magistrados do Impe­ rndhor".
rio: Chegou ao nosso conhecimento que Sy1J.nphoriano, mais animado ainda pe­
uma certa classe de subditos, que se in­ las palavras da mãe, soffreu a morte no
tituldm christãos, não obedece ás leis a:nno de 180. Os fieis tiraram-lhe o cor­
do Estado. Procurae-os e, si o negarem po 1e dernlm-lhe honesta e religiosa se­
a prestar homenagem ao,:, deu"ses, for­ pultura.
çac-os a isto, por meio ele torturas, pa­ Aconteceram grandes milagres e curas
ra que se ,satisfaça á justiça e cessem maravilhosas no tumulo de S. Sympho­
c•sses crimes e cam elles as punições". riano e Deus glorificou a memoria cio
Tem1inacla essa leitura, Hcraclio per­ Santo martyr.
guntou a Symphoriano: "Qu� dizes a
isto ? Será licito desrespeitares as leis REFLEXõES
cio Imperador ? Si não obedeceres, mor­ "Sou christão" - respondeu S. Sympho­
riano ao juiz pagão. Ser christão reputava
r e r á s ! " Symphoriano respondeu : elle grande honra, grande felicidadP.. Ser
"Aquella imagem para rni1111 não é sinão christão valia-lhe mais que a posse de 1 o­
um miseravel iclolo; digo mais: um cle­ dos os bens reaes e imaginaveis do mundo.
monio e:,cecmvel da desgraça publica. inclusive a propria vida. Por isso não ·i:,ôz
duvida em sacrificar tudo, para garantir-so:
Um christão, que uma vez renunciou ás das bençãos da religião, que confessava.
paixões de uma vi,da pcccauninosa e a Ser christão é honra e felicidade tamb,!1!,
ellas torna, cáe num terreno escorrega­ para nós. De nada, porém, vale o nome Je
diço e, uma vez no caminho falso, é christão, o registro no livro competente
do archivo parochial, si ao nome não cor­
privado da graça divina e prêsa do ini­ responde a vida pratica christã. Ser chna­
migo. Deus é justo em recompensar, tão é amar a Deus sobre todas as cousas;
como nã:o menos em punir. Eu não me ser christão é amar o proximo com um
amor sincero e verdadeiro; ser christão é
salvarei a não ser pela confissão elo ainda praticar as virtudes christãs, como
seu santo Ndme". sejam: a caridade, a mansidão, a sobrieda­
Ao ouvir essas palavras, Heraclio pro­ de e a castidade. Ser christão é, finalmen­
nunciou a sentença de morte pela es­ te, praticar a religião, recebendo os Santos
Sacramentos da Confissão e da Eucharis­
pada. tia frequente e dignamente.
Quando Symphorfano 1a ser levado
ao logar do supplicio, cio mein elo povo Santos do Martyrolo_qio Romano, cuja me­
ouviu a voz de sua Mãe : "Lembra-te moria é celebrada hoje:
de Deus vivo, meu filho e sê constante ! Durante a perseguição de Valeriano mor­
reram martyres em Tarso o bispo Athana­
Não receies a morte, que te conduz á sio, Anthusa, senhora de alta nobreza e
vida. Levanta teu coração, .in�:1 filho, dois dos seus escravos.
❖❖❖❖❖➔ l•❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖•H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖➔

23 de Agosto

S. PHILIPPE BENICIO
( t 1285)

� AO Philipp� B-211icio era desceu­ rcvdaclo cm sonho a futura santidade


� r'.:niê d:'. 1:nlJL'. fa.:'.1:li.1 c!-2 Floren­ cio filho. Isto concorreu para que se es­
ça. A' mã:e, senhora muito piedosa, foi merasse ainda mais na educação que

S. Philippe Benicio - Annae3 dos Servltas de Gian!, com annotações de Garb!, Lucca,
1719. BJ!l. IV. Ag. Rasss e "\Veiss XI.

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23 de Agosto 163

deu ao mesmo. Philippe, já tendo con­ dos confrades. Nem tão pouco podiam
duido seus estudos e estando, porém, ficar desconhecidos seus conhecimentos
sem saber a que profissão devia cleclicar­ scientificos e grande preparo espiritual,
se, foi assistir á Santa Missa, na quinta­ e assim aconteceu que os superiores o
feira depois ela Paschoa, numa capella tirassem elas occupações humildes e se­
que os Servitas possuia:m, fóra ela cidade. cundarias e o apresentassem como can­
A' leitura ela Epistola, ouviuas palavras didato ao sacerclocio e, mais tarde, o
que o Espírito Santo dissera ao cliacono propuzessem para o alto cargo de su­
Philippe: "vae e approxinia-te do car­ peri'Of-geral da 01."'clem. Com todo em­
ro". Arrebatado em Espírito, pa:recia­ penho Phi.Jippc se oppôz a essa vonta­
lhe estar no meio dum va!Sto campo, on­ de cios confrades. Devendo, porém, ac­
de não se viam senão altas montanhas ceder ás insistencias da Gomj1t1Unida­
e penhascos inaccessiveiss. Em redor de, toda a attenção se lhe dedicava á
havia só espinhos, armadi.Jhas, immun­ expansão ela Ordem e propaganda da
cliciies e animaes nojentos. Tão impres­ fé. Uma cla!S pri-meiras ordens expedi­
sionado ficou com esta visão que, guia­ cla'S por elle, como superior-geral, foi a
do ainda pelo instincto de conservação, prégação elo Evangelho na Scythia, pa­
gritou por soccorro. Levantando os ra onde enviou alguns missionarios. Elle
olhos, viu no alto Maria Santíssima, mesmo, acompanhado por dois confra­
sentada nu!m carro e rodeada ele muitos des, percorreu grande parte ela Italia,
Anjos e Santos, tendo· nél!S mãos o ha­ pregando penit.<encia aos peccaclores,
bito egual áquellie que os Servitas u'Sam. animando os cait:holicos a prestarem obe­
A mãe ele Dems, dirigindo-se a elle. clis­ cliencia do Papa, e intensificando por
sie-lhe as mesmas palavras ela Epistola: toda parte a devoção a Nossa Senhora.
"Phi,Jippe, vae e approxima.-te d'este Deus abençoou-lhe visivelmente a mis­
carro". são e o nome de Philippe, cdmo •cl'um
Passaicla a visão, voltou a si. Dissipa­ grande missionaria, estava na bocca de
rnm-se-lhe a:s duvidas sobre a vocação t:oclos, clerigos e leigos.
e logo no dia seguinte, pediu admissão,
1
Em Viterbo estavalm reunidos em
cqmo irmão leigo, na Ordem cios Ser­ Conclave os Carclea:es da Egreja. V en­
vitais. Foi acceito e desde os prnneiros clo-se em grande difficuldade para el�­
dias da entrnda, deu a todos o exemplo ger 11111 Papa, depois de muitos escrutí­
ele ·religioso perfoito, que, como virtude nios, deram os votos a Philippe. Este,
principal, cultivava a humildade. Oc­ tendo noticia ela deição, fugiu para as
cnltando cuidadosamente a nobre ori­ montanhas cles,ertas de Thuniati, onde
gem, a cultura intellectual, não teve em perma:neceu em seguro esconderijo atl
mira outra cousa sinão imitar Jesus que soube r1ue os Cardeaes tinham de­
Christo na humilcla,de e no espirita ele sistido cio seu nome e eleito outro Papa.
penitencia. .,, Philippe guardou durante toda a vida
Os trabailhos mais humildes eram os a innocencia baptismal e para isto con­
que mais procurava.. Por mais pesado seguir, suj-eitou o corpo ás mais duras
e fatigani'e qtl!e o trabalho fosse, Philip­ mortificações. Homem de oração, fos­
pe entroegava-se-lhe com toda a dedica­ sem quaes fossem as occupações, tinha
ção, rendo deante cios olhos o exemplo o espírito constantemente unido a Deus.
ele Nosso S{'lnhor, de S. José, dos maio­ Trabalho nenhum começava sieim que in­
res Santos do Antigo e cio Novo Testa­ vocasse pr,imeiro o auxilio de Deus. ,\
mento, pois todos eralm trabalhadores. caridade para com Deus e o proxi.mo
Philippe conhecia bem e praticava me­ ,era o u11ico motivo de suas continuas e
lhor a arte ele ficar unido a Deus, quan­ penosissirrnas viagens.
do as mãos esta,vam occupadas em ar­ De todas as devoções, a que mais cul­
duo labor. Virtude tão <listincta não po­ tivava era a ele Nossa Senhora. Fôra
dia deixar de ·chamar sobre si a attenção convite de Maria Santíssima que tomá-

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10-1- 23 de Agasto

ra o habito elos Servita:s e manifestava temente contra o peito e entoou com oo­
a gratidão para com a divina Mãe, fa­ tlmsiasmo o canto de Z.acharias, accres­
zendo-se Apostolo do seu culto. Em to­ centan<lo-lhe as palavras: "Em vós, meu
das as pratica•s lhe exaltava o santo No­ Deus, confiei; em vossas mãos recom­
me e animava os fieis a pôrem toda a mendo meu espirita". Mais um olhar
confi,ança 0111 Maria Santissima e a imi­ cheio de fé dfrigiu ao Senhor Crucifi­
tarem-lhe as virtudes. cado e a alma evolou-se-lhe, em deman­
Longos annos tinha Philippe dedicado da dos páramos celestiaes. A biographia
á vicia missionaria, tão cheia de traba­ ele S. Philippe Benicio está repleta de
lhos, sacrificios e r,esponsabilidades e só milagres, quie Deus se dignou de fazer
a abandonou, quando sentiu faltarem­ po1· intermedio de seu santo servo.
lhe as forças e apresentarem-se-lhe os S. Plülippe foi canonizado por Cle­
prrmeiros indicias do enfraquecimento mente X e pelo mesmo Papa fixada a
do organismo. Recolhido ao convento de festa para o dia 23 de Agosto.
Tocli, a:lli cdmeçou a preparação para a REFLEXõES
1110rt e. Na festa da Annunciação ele
1
A vida de Philippe Benicio ensina-nos o
X ossa Senhora fez o ultimo sermão, bom uso do tempo, pelo trabalho honesto
com um enthusiasmo tal, que causou e assiduo. Embora fosse de familia nobre,
arbniraçáo aos ouvintes. Quando desceu não se eximía dos serviços, nem dos mais
pesados ·da Corr(munidade. Em tudo procu­
do pulpito, sentiu-se levemente agitado rava só a gloria de Deus. Tendo as mãos
pé'la febre. Embora os confrades não no trabalho, o coração estava junto de
ligassem muita importancia a esta cir­ Deus e satisfazia plenamente as ordens do.;
rnmstancia, Philippe tamou-a como pre­ superiores.
A operosidade é uma qualidade que deve
mmci-D ela morte, para a qual começou distinguir todo christão. Um bom christão
logo a se preparar meticulosamente. é sempre llm cumpridor do dever e bom
Cem uma devoçáo que a todas cclificou, trabalhador. A ociosidade, a preguiça r: i 1 1-
recebeu os santos Sacramentos. Termi­ compativel com o espírito de Christo e ;;
mãe de todos os vicios. O preguiçoso não
n,rdas as cerimonias sacramlcntaes, re­ dá a Deus a honra que lhe deve e a cada
zou os psalmos penitcnciaes e a Ladai­ instante offende os interesses do proximo.
nha de Todos os Santos. Quando che­ O preguiçoso é !1láo christão, máo cida­
garam á invocação: "Nós pcccadorcs, dão e m:áo amigo. Ha christãos que ociosos
não são e se queixam de que lhes falta o
ouvi-nos, Senhor", o doente cahiu cm tempo necessario para ir á egreja e para
cxtase, perdendo o uso dos s·enticlos de tratar da alma e da salvação eterna. Sem­
tal fó11111a, lJUe todos o julgavam morto. pre occupados, não se occupam como 11
com o que deviam. Perdem o tempo com
� esse estado permaneceu durante trcis ninharias e esquecem-se dos trabalhos de
horas. Foi então que um cios confrades obrigação. Estes não correspondem á von­
lhe falou alto ao ouvido, o que o fez vol­ tade de Deus, que quer fidelidade tamhem
tar a si. Parecia entáo como se acordas­ nas cousas pequenas. O céo é promettido
ao servo fiel, ao trabalhador dedicado' ao
se ele um profundo somno e contou que, cumpridor dos deveres.
durante todo o tempo do arrebatamento,
teve ulma lucta horrivel com o demonio Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
que, objurganclo-lhe os pcccados, pro­ moria é celebrada hoje:
curava por todos ·os meios levai-o a Em Jerusalém o bispo Zachat·ias, tercei-
desesperar da 'nlis·ericorclia divina. No 1·0 successor dos santos Apostolos.
auge da tentação, apparcceu no meio a Em Alexandria a memoria do bispo São
Theonas.
Santissima Virgem, á cuja appa,rição o Em Clermont, o santo bispo Sidonio, ce­
·espirita infernal o deixou. Com tanta lebre em sciencia e santidade.
cu:rnnoção Philippe contou este encon­ Em Ostia, os santos marty1·es Qulriaco,
t:o com o dmnonio, que a todos impres­ bispo, Maximo, presbytero, Archeláo, diaco­
s10nau profunclaunentie. Pediu que lhe no e seus companheiros. 3. sec.
Em Antiochia o transito dos santos mar­
déssem seu livro - assim chamava a tyres Hestituto, Donato, Valeriano e Fru­
i:,1age111 do Crucificado. Estreitou-a for- ctuosa. 3. sec.

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24 de Agosto 163

24 de Agosto

São Bartholomeu, Apostolo


( t I sec.)

fm: ÃO BARTHOLOMEU, ele origem dos hrahrnanes -e cios fakirs. Diz ainda
� gaililéa, foi por Nosso Senhor es­ Eusebio que São Pante110, que seculos
colhido para ser Apostolo da clourtrina depois visitou a India e lá trabalhou co­
christã. E' opinião ele muitos que o no­ mo rnissionario, encontrou vestígios cio
me Bartholomeu significa filho ele Tho­ christianismo e uma copia hebraica cio
lomeu ou Tho�mai; que o nome legitimo Evangelho de S. Matheus, que perten­
e primitivo renha sido Nathanael. Na­ cera a S. Bartholomeu. Fundada a Egre­
thanael era mestre ela lei e por.- Philippe ja na India, Bartholomeu voltou para a
foi apresentado a Nosso Senhor, o Asia Menor, onde encontrou a S. Phi­
qual o elogiou por causa ela sua sinceri­ lippe de Hierapolis, na l'hrygia. De lá
dade e innocencia. Esta opinião tem ra­ foi para Lycaonia, onde, segundo o tes­
zão de ser, porque S. João nunca fala tenmnho de S. João Chrysostomo, pré­
em Bartholomeu como Apostolo. Os ou­ gou o Evangelho.
tros Evangelistas, porém, mencionam­ Não se sabe, porém, quaes são os
no e sempre juntamente con1 Philippe. povos que de São Bartholcuneu rece­
Seja como fôr, Bartholomeu é Apos­ beram a instrucção na religião ele
tolo escolhido por Nosso Senlmr. Co­ Christo.
mo os demais Apostolas, foi testemunha Da Asia Menor o zeloso Apostolo foi
da vida publica de Jesus Christo, viu­ para a Arrnenia, paiz naquelle tempo in­
lhe os milagres, ouviu-lhe os discursos teirairnente pagão. Foi lá, como affir­
e exhortações e como os companheiros, ma S. Gregorio ele Tours, que lhe ace­
foi convencido da resurreição cio divino nou a palma cio rnartyrio. Historiadores
Mestre. Como os outros Apostolos, gregos clizenn que S. Bartholomeu foi
viu-o subir ao céo; com elles fez a pri­ crucificado em Albanopolis, por ordem
meira novena, que Jesus ordenára que do Governador d'aquella cidade. Outros,
os discipulos fizessem, em preparação ú poréll11, sustenta,m que tenha soffrido o
vinda do Espírito Santo, no dia de Pen­ martyrio cio esfollamento, harbaridacle
tecostes; como eUes, recebeu a plenitu­ esta, cuja applicação era conhecida e
de da luz de cima, a uncção divina para praticada no Egypto e na Pcrsia.
a difficil e ardua missão, para a qual o Foi no anno de 508 que o Imperador
Salvador os tinha destinado. A esta ele­ Anastacio 1111andou transportar parte elas
vada missão, d� leva:r a luz do Evwngie­ relíquias do Apostolo para Duras, na
lho até os confins da terra, S. Barrtho­ Mesopotamia, cidade por elle fundada.
lomeu dedicou-se cdm todas as veras. Por fins do seculo VI, como diz Grego­
Dando cr-edito ao que dizem Eus,ebio rio de Tours, foram levadas para a illn
e muitos outros escriptores antigos, de Liipari. De lá, em 809, passaram pa­
consta qu:e S. Bartholomeu percorreu a ra Benevento, eim 983 pam Roma, oncl:�
Arabia e a Persia; e não satisfeito com se acham sob o altar da egreja ele São
os fructos que lá colheu, convertendo Bartholomeu.
muitos á religião de Christo, o zelo irre­ REFLEXÕES
primível fel-o tmnspôr os limites da In­ "Ide, pregae o Evangelho a toda creatu­
dia, terra da philosrophia e do occulti·s1110 ra I" Foi esta a ultima ordem, que Deus

S. Bartholomeu - SS. Evang. 'rillemont I. - Gavantus, - P. Stilting IV. Raess e


Welss XII.

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16ó 24 de Agosto

Nosso Senhor deu aos Apostolas. Estas pa­ delle não estiver a nação inteira, com seu
lavras ouviu-as tambem S. Bartholomeu, apoio moral e materi,al. Que fará o missio­
bastante para de corpo e alma se dedicar naria, si lhe faltam os recursos d'aquelles
á obra do divino Mestre, que é realisar o irmãos que, por todos os títulos provenien­
desejo e o programma divino: "Venha a tes da fé, deviam auxiliai-o? Ninguem diga
nós o vosso reino". Outra não {.• a missão que nada tem que vêr com as missões. Os
da Santa Egre­ mcitho d i s t a s,
ja, até hoje. baptistas e tan­
"Ide, pregae o tas outras sei­
Evangelho" - ta s envergo­
é a ordem de nham os catho­
Christo, dirigi­ li.cos. Milhões
da aos chris­ de dollars des­
tãos de todos pendem, par a
os seculos. Na que? Para dif­
pessoa dos fundir a luz do
Apostolos, re­ Evange Ih o e
cebem,os tam­ pregar a dou­
bem nós a mis­ trina da verda
são de evange­ de? Espalham
lisar o mundo. o erro, a here ·
Quer isto dizer sia e para isto
q u e devemos não medem sa­
a b a n donar o crifícios. A con­
nosso 1 a r, a servação e o
nossa terra e desenvolvimen­
tudo que pos­ to das Missões
suímos e offe­ é ul)1a questão
recer os nosos vital da Egreja
prest i m o s a catholica e in­
Egreja, ao Pa­ sistentes são os
pa, para que de convi t e s dos
nossa pesfsoa
Papas aos fieis,
disponha, como
para effectiva­
achar bem?
mente coadju­
Tanto de nós
varem a gran­
não é exigido. de o b r õ.. E'
Para o servi­ este, portanto,
ço immediat0 um dever· de
das Missões o consciencia, ao
Sa n t o Padre qual n i nguem
tem sua milicia: se deve sub­
dos missiona­ trahir.
rias, sacerdotes
e leigos, irmãs Resa I u ç ã o:
de c a r i d ade, Inscrever-se cm
etc. Como em uma das gran­
tempo de guc:·­ des Obr.as Pon-
ra nem todo,; tificias Missio-
vão ao campo O apostolo S. Bartholomeo, narias que são:
de batalha en- em Alban�;1oliH no templo füt <leu�a Astaroth, deante A O b r a ela
frentar o 1111- da divindade pagã, estando presentes o rei e os sa­ Propaganda da
migo com as cerdotes, desmascara os embustes da idolatria. Fé, q u e tem
armas na mão, seus directores
assim para ferir as batalhas ele Christo, diocesanos tambem no Brasil; a Obra de
na lucta tremenda contra as trevas do S. Pedro, pela formação do Clero indígena;
paganismo e do erro, nem todos recebem a a Obra da Santa lnfancia.-Dos Missiona­
cruz de missionaria e a missão especial ele rios cio Verbo Divino é a Liga Promotora
trabalhar nos pontos mais expostos e avan­ de Missas Pro Missões, approvada e aben­
çados. A maior parte dos cidadãos fica em çoada pelo Santo Padre o Papa Pio XI. (*)
casa, co.operando cada um patrioticamente
na sua esphera, no grande certamen, que a (•) Liga Promotora de Missas prõ Mis­
todos interessa e a todos enthusiasma. O sões com séde na Academia de· Commercio,
soldado nas trincheiras nada faz, si atraz Juiz de Fõra, Minas.

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24 de Agosto Wl

Santos elo ,llartyrologio Roman0, cuja 111e - dida" pela morte que tiveram em valias de
maria é cele/Jrada hoje: cal virgem.
Em Nepi, o bispo Ptolomêo, discipulo de
Na mesma cidade, S. Itomano, discipulo
S. Pedro. Por este C'nviado para Toscana, lá de S. Ptoloméo e como este, bispo da Egrc­
teve a morte gloriosa do martyrio.
ja. Seguiu seu mestre tambem no martyrio.
Em Carthago a memoria de trezentos
martyres, que deram sua vida pela fê chrls- Em Ostia, a santa virgem e martyr Au-
tã quando Valerlano e Ga!lieno a persegui- rea. Com uma pedra ao pescoço foi atirada
ram. Na historia dos martyres da Egreja ao mar. O cadaver, porém, appareceu na
são conhecidos pelo nome de •·Massa can- praia, e foi enterrado por Nonno. Sec. 3.
-H-❖❖•:-!-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖ +❖❖ff❖-}❖❖❖❖❖❖-}❖❖•�•❖❖❖-}❖-}❖❖❖❖-}-Ho*-H-❖❖-H-❖❖h'-❖❖•

24 de Agosto

Santa Joanna Antída Thouret


( t 1826)

1\.1 O FUNDO de um valle encanta­ vocação, não duvidou em imitar o exem­


!� dor do JJ.1ra, na cidadesinha de plo de Clara de Assis.
Sancey-le-Long, perto de Besançon, Para evitar novas e perigosas com­
J oanna Antida Thouret veiu á luz do moções na familia, preparou bem cala­
mundo a 27 de Nove1mbro de 1765, pri­ da a sua partida. Em uma madrugada
meira filha do casal Francisco. Thouret saihiu de casa e foi a Langres, onde as
e Claudia Labbe, que já tinha experi­ Filhc!!s da Caridade tinham um hospi­
mentado a alegria de quatro berços. An­ tal. De lá passou para Paris, onde fez
tida era a priimleira menina, saudada co­ seu noviciado. Ou Langres, ou Paris,
mo um raio de sol, como uma graciosa para ella era o mesmo, pois, dizia: "Si
flôr naquelle abençoc!!do lar, profun:da­ fosse preciso ir aos confins do mundo
menre christão. para consagrar-me a Deus e soffrer
Bem jovensinha ainda, já se alinha­ utilmente para a minha salvação, esta­
vam os traços característicos de sua ria prnmpta. Para o pae o sacrifício da
phy-sionomia amaviel : profunda piedade, separação da fil1 ha era grande, e a prin­
grande
. caridade, . ail�mentadas de pureza cipio se oppoz terminantemente a con­
e vigorosa energia. ceder-lhe licença para se fazer religiosa.
Orphã de mãe com dez•esete annos, Mais : empregou todos os meios para
sobre os fracos honnbros da menina veiu demovel-a do seu intento. Só quando o
pezar todo o gov,erno da casa, cargo de confessor de Antida, em nome de Deus
que se desempenhou mui dignamente e lhe pediu, desistisse de sua opposição, si
com fortaleza de espírito, dando despre­ não queria chamar sobre si os castigos
zo ás suggestões malevolas de uma mu­ divinos, foi que o homem, dando prova
lher deshonesta e ladra, cuja companhia do seu sentimento profundaanente chris­
teve que aturar por algum tempo. Como tão, baixou a cabeça e, chorando deu á
se houve neste período de evidente pe­ filha a desejada benção.
rigo, demonstra o voto que fez de cas­ E' praxe das FiiJhas ele São Vicente,
Üd3!cle perpetua ao Amor immortal. como a:liás de todas as Congregações re­
Ser 1:oda de Deus e dos pobres era ligiosas, de submetter as nc,viças a va­
sua profunda e s·ecreta aspiração. rias serviços humildes e mesmo pesados
A' sua madrinha de baptismo dizia sem­
1
da Comlmunidade, para assim experi­
pre: "Minha madrinha, eu quero entrar mentar-lhes as forças do corpo e do es­
no convento". Sentindo-se forte em sua pírito. A jovem postulante á p_rimeira

Santa Joanna Antida Thouret - Osservat. RoÍn. 15-1-1934.

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168 24 de Agosto

pergunta ela Superiora respondeu com na se salvou trepando um muro, mas


simplicidade: "Tenho vinte e dois an­ t1111 elos fanaticos deu-lhe ainda Ulll1a
nos e não sei fazer nada". Foi então en­ coronhada ele fusil carn tal força, que
tregue aos cuiclaclos de uma Religiosa lhe quebrou duas costellas. Em consc­
para trabalhar na rouparia. Logo todas quencia a jovem religiosa esteve em pe­
pucler·aim�se · convencer ele que Joanna rigo de morte durante oito mezes.
bem sa:bia fazer muito mais do que Um decreto da Convenção de 1793
nada. Joanna ti:nha apprencliclo a ler, dissolveu todas as Congregações religio­
mas não escrever, porque, segundo a sas, obrigando seus membros a volta­
opinião ele sua tia, saber escrever era rem para suas familias. Tambem Joanna
prejudicial a uma moça. Em poucas se­ deixou o habito religioso. Um dia, cha­
mana'S J00:nna preencheu esta lacuna eim mada ao parlatorio, lá encontrou l11111
seu preparo intellectua:l. deputado da Convenção, que com mo­
Sdlnpre de delicada compleição, como dos affaveis convidou-a para ser sua es­
a ,mucla:nça
; de clima e ele modo de viela, posa. Antiela, indignada respondeu-lhe:
junto com a disciplina rc-ligiosa lhe exi­ "Senhor, vossa proposta nl:llito me mor­
gissem maiores esforças physicos e mo­ tifica. Que motivos vos dei para che­
raes, aconteceu que dentro de poucos gardes a mim cam taes intenções ?" -
mezes o organismo se resentisse séria­ "Nenhum", respondeu o hmnem, "mas
mente cl'essa demonstração de grande fe· chaclos os conventos, sois livre"; ao
abatimento. Era tornada cm considera­ que i\nticla com accento de graviclacle
ção ela parte das religiosas a eventua:!i­ respondeu : "Aconteça o que acontecer;
clacle ele restituil-a á frumilia. Antida, senhor, minha firme resolução é consi­
agoniada com esta triste perspectiva,, derar-me religiosa até á morte. Entre­
redobrou as suas orações e a Deus pe­ guei-,me a Deus para se�nprc. Prefiro
diu: "Tende piedade de mim, Senhor; morrer a violar as promessas qne lhe
quero soffrer, mas temo perder a voca­ fiz. A liberdade de que falaes e as pe­
ção, que me déstes. Devo renunciar en­ nosas circt•mstancias ·eJm que nos acha­
tão depois de tantos obstaculos supera­ mos, mais ainda me ligail11 a Deus e a
dos ? Guarclae-me, Senhor, pela vossa minha santa vocação". O deputado se
infinita bondade". despediu, cheio de admiração por esta
Deus ouviu sua oração. Inspirou uma verda1cleira esposa de Christo.
Ir1mã pharlmaceutica ele prestar u,m cui­ Atirada á rua, Joamna, colmo 11111.litas
dado particular íÍ enfetlma, a qual com outras Itimãs, sem recurso, sem orien­
alguma medicação especial recuperou tação, poz-se a caiminho rumo Besan­
forças e t·eve a satisfação de, em Outu­ çon. Mendigando ele aldeia em aldeia,
bro de 1788, re • oeber o habito religioso. no meio de populações intimidadas ou
A jovem noviça foi mandada para hostis, refugiando-se á noite á som­
Borgonha, para Langres e para Bray na bra ele uma egreja, anelou mais de
Picaridia. Era nos dias do terror ela Re­ 30 kilometros. A Besançon chegou, a
volução, quando o odio revolucionario roupa em frangalhos, os pés feridos,
na França derrubou o throno, renegou tendo passado fome, frio e humilhações
Deus, levantou o patíbulo e fez jorrar de toda a especie, mas serena e tran­
o sangue de nobres francezes. Muitos quilla. Pediu agasalho á irmã de uma
sacerdotes, fieis a Deus e á Egreja, fo­ sua companheira em Paris, D. de Van­
ralm entregues á morte e dispersas as nes. De Besançon communicou-se com
Virgens consagradas a Deus. sua Madrinha eim Sancey, onde um dos
Joan11a Antida se achava em Bray, seus irimãos, Joaquim, entregue de cor­
quando em Abril de 1792 uma horda de po e alma á Revolução, era chefe ele
revolucionarias penetrou no convento pa­ partido revolucionario. Quando viu a
ra forçar as religiosas a fazerem o ju­ i11mã elrn tão tri'Ste estiada, o femz jaco­
ramento constitucional scismatico. Joan- bino rompeu em pranto e offereceu-lhe

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24 de Agosto 169

1 [I

Santa Joanna Antida Thouret

asylo; mas Antida, sabendo que o Pa­ nho. Foi conck1111nado á morte e guilho­
rocho do Sancey era um dos poucos sa­ tinado a 9 ele rvlarço de 1794 na praça
cerdotes, que prestaram o juramento de S. Pedro. J oanna, um momento de­
constitucional, voltou para Besançon, pois da execução approximou-se do Jo­
onde era :mais facil achar sacerdotes gar e disfarçadamente deixou cahir o
fieis. lenço, que embebeu no sangue do mar­
O tempo de sua estada em Besançon, tyr.
Joanna o etmpregou em visitar as pri­ Poucos mezes depois o Parocho cons­
sões, onde se achava1m tambem alguns tituciona:l deixou Sancey e Joanna foi
sacerdotes. Lá se confessava e recebia morar com sua irmã Joanna Barbara.
a santa Oommu:1hão das mãos cios pa­ Não tardou, e Deus abriu-lhe um cam­
dres encarcerados. Um d'estes sacerdo­ po de grande activi<lade. Uma epide­
tes era Frei Zeferino Lacour, ca.puchi- mia se alastrou na aildeia, e na circumvi-

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170 24 de Agosto

sinhança, e por toda a parte era recla­ Joanna as tranquillisou e disse: "Ten­
mada a assistencia de Antida. Soube-se de ca1ma. Eu irei á festa. A minha cau­
talmbern que estava cm projecto a fun­ ,sa é de Deus, que a saberá defender".
dação de uma escola constitucional, an­ E foi.
ti-christã, portanto. Imttnediatamente O juiz submetteu-a a wn interrogato­
abriu uma escola gratuita para meninos rio bastante minucioso, e estabeleceu-st
e meninas, e ensinou ás creanças a ler, entre ellc ,e Antida este interessante dia­
escrever ·e viver no santo temor de logo:
Deus. Terminadas as aulas, ia visitar os - Que leitura fez ·nas reuniões, que
seus enferimos, andando muitas vezes houve em sua casa ?
oito a dez kil(jmetros. Tomava apenas - Li o Evangelho e orai;ões.
t:res hora:s de repouso para no dia se­ - Não Sa!be que são prohibidas taes
gu1nte, a hora :marcada, receber seus reuniões ?
alwnnos. - Mas Deus não as prohibe; disse
Para servir aos pobres doentes não até quie onde estão reunidas duas ou
havia sol, chuva, frio ou neve que a dei­ tres pessoas em seu nome, clle se acha
xasselm ficar elm casa, e nunca lhe acon­ no ·meio dellas. Melhor ainda, quando,
teceu úm sinistro, pois Deus estava ao em vez ele dua:s ou tres, muitas se reu­
seu lado. Teve a grande satisfação de nem c:im se, u nome.
ganhar a alma de um sacerdote scisma­ - A lei não pertmitte essas asse-m­
tico, gravemente enfermo. Fel-o vêr o biéas.
erro que commettera, e voltar á Egre­ - Christã pela graça de Deus, conhe­
ja Catholica. Aos sacerdotes fieis dis­ ço sua lei quie me oridena não me con­
pensa-va tiodo o cuidado, escondia-os formar cOlm leis de homens contrarias
aos fanaticos jacobinos e levava-os aos á sua, e de confessar a minha fé em no­
doentes agonizantes. Na actividade des­ •ine de Jesus Christo, ainda á custa da
s1 e seu apostolado certa vez ficou tres vida.
dias e tres noives seguidas sem repou­ - Que ensina ás creanças ?
so, sendo seu alimento umas cocleas de - Ensino o catecismo; ensino-as
pão. conheoer Deus, aimal-o e servir-lhe.
- Deve instruir a juventude de ac­
Seu z-elo pela causa de Deus e pelo
bc:im das allmas não se contentou com as cordo com as disposições da lei em vi­
gor.
obras de caridade. Não havendo egreja
- Ensino o que apprendi, conforme
em sua terra natal, aos domingos e dias
os ,mandamentos ela lei de Deus e da
santos reunia muitas pessoas em sua
Egreja.
casa, e com ellas fazia exercicios de
piedade. Uma ou outra vez conseguiu - Dey,e suj,eitar-se á lei, ou, ai de si !
um sacerdote poder celebrar o santo sa­ - Temo só a Deus. Os homens po-
crificio da Missa e acl!ministrar os san­ dem tirar-jme apenas a vida do corpo;
tos Sacramentos. a da alma não m'a podem tirar.
Os homens se retiraram sem que ou­
Aos olhos vigilantes dos jacobinos não sassem cammetter Uma violencia. Limi­
podia passar despercebida a grande acti­ taram-se a proferir ameaças.
vidade de Joanna, e assim aconteceu, C(jm a quéda de Robespierre vieram
que um dia fosse denunciada ao Depar­ tiempos mais tranquillos para a França.
tamento r-evolucionario de Baumes-les­ Mas só 6 annos mais tarde veiu a Con­
Dames. cordata, e com ella o reconhecimento of­
Teve a visita de urna commissão ficial do culto catholico e a liberdade
do governo que a intimou a compa­ das Congregações religiosas. Antida ti­
recer peranre o tribunal e dar conta do nha aproveitado seu rempo.
seu proced�mento. - Pessoas amigas mui­ O desejo de continuar sua vida reli­
to _ se incommodaram por sua causa, mas giosa tão tragicamente interrompida,

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24 de Agosto 171

fel-a entrar numa Sociedade chamada creve a Santa - "e lá, só com Deus. in­
"Retiro Christão", fundação do Pe. A. voquei ardentemente as luzes do seu
Receveur, que, obedecendo ás circums­ Santo Espírito; chamei á memoria as
ta:nciais, a tranisfierira para a Suissa. Mal praticas que seguia quando estava com
tinha se incorporado naquella Sociedade, as Filhas da Caridade em Paris. Escre­
a mesma foi obrigada a abandonar a vi tudo de que me lembrava daquelle
Suissa. Começou então uma oclysséa Instituto, o que dizia respeito ás cousas
bem penosa, atrav,ez a Allemanha, Ba­ te!mporaes como ás espirituaes, e dividi
viera e Austria. J oanna, vendo que a So­ a Regra em tres partes, e em capítulos.
ciedade não se identificava com o ideal O Espírito Sainto inspirou-me o que de­
de sua vida, della se desligou e seguiu via accrescentar, de maneira que, com
o impulso da Divina Providencia, que a o auxilio de Deus, oompuz uma Regra
queria outra vez na França. intieiira que claramente expõe os deveres
Quando, ttlm dia, cheia de afflicções, das !minhas Irmãs".
s1 em saber o qu1e devia fazer, ouviu uma O novo Instituto prosperava e se di­
voz interior, que lhe dizia: "Coragem, latava, sendo por toda a parte recebido
Filha, •sê fiel e não receie que te aban­ com muita syimpathia. Havendo já mui­
done; fa:r-te-ei conhecer minha vonta­ tas casas na França, Thou·ret abriu ou­
de; de ti me servirei para a minha glo­ tras na Suissa, na Italia. Em Napoles,
r•ia". Ai,nda se ajoelhou aos pés de Nos­ cdm oito Irmãs, sob a valiQISa protecção
·sa Senhora de Einsiedeln, implorando ele Joaquim Murat, em Outubro de '1810
tambem seu auxilio. abriu a "Regina coeJ.i"; casa importan­
Confortada por consdhos divinos e tíssima que v,eiu a ser um novo c1entro
hu1mél!nos, voltou para a França, e en: do jovieltn Instituto.
Besançon chegou a 15 de Agosto de Em 1819 um Brieve pontifício trouxe
1797. Molestada de novo pelos revolu­ a aippriovação da Santa Sé da Regra que
cionarias, oppoz-se resolutamente ao já .possuía a approvação diocesana. O
juralmento illicito; teve de fugir nova­ proprio Papa Pio VII recebeu eJm au­
mente e esconder-se, esperando melhores diencia a humilde Serva de Deus, e com
tempos. Só em 15 de Outubro de 1798 benevoiencia paterna a confortou para
pôde lançar em Besançon os alicerces prosieguir no caminho iniciado pela sal­
do novo Instituto das Irmãs de Carida­ vação do mundo.
de. Esta fundação custou-lhe peregrina­ Esta approvação fez suscitar graves
ções e dôres indizíveis. mas teve o sello difficuldades, provocadas pelo espírito
da Egiieja, a bençã·o do céo, a larga e gallicano, naqueille t�po poderoso na
justa estima dos homens, como todas as França. Em arcebispo de Besan:çon
grandes obras, nascidas e amadureci­ Mons. Cortoy de· Pressigny, prelado
das no siliencio e na oração, ailimentadas douto - e piiedoso, mas ao mesmo tempo
do sacrifício e das correnoos vivas da espírito a,nti-rc,mano e um dos mais ar­
graça, it1mã da força indcimavel que con­ dentes campeões do gallicatiismo; tanto
fia no auxilio do Alto. que, quando Luiz XVIII, em 1814 no­
O Instituto começou mui humilde­ mleou uma commi•ssão de ecclesiasticos,
mente. Thouret ünha apenas qu'aJtro que se devia occupar das celebres "li­
cdm1panheiras. Celebrada a Concordata berd�dles gallicanas", Mons. de Pressi­
entre a França e a Santa Sé, a funda­ gny · foi. escolhido para levar a Roma !1S
dora, ás instancias da Autoridade de pretensões do Clero da França.'
Beisa-nçon elaborou a regra da Commu­ De 12 de Outubro de 1819 à Fun�
nidade nascente. Para este fim retirou dadora noticiou. ao arcebispo o estabele­
se por algum tempo .em um convento dntento dó Instituto e a approvação que
fiec,hado da Visitação em Dôle. "Tomei a iiegra ·tev,e da Santa Sé e a esta noticia
uma oella por minha residencia", - es- accreisoentou: "a 23 de Julho decorrido,

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172 24 ele Agosto

o Santo Padre, o Papa Pio VII se di­ nha conscienci-a, não posso admittir em
gnou de approvar o nosso Instituto com nossa Regra cousa algu!ma que não
alguma modificação, que julgou conve­ ooncorcle com a vontade de Nosso Santo
niente fazter ; assilm deu á nossa Congre­ Ptaclre, o Papa. Esta vontade é o cami­
gação o nome de Filhas da Caridade, nho seguro, que não me engana. Entrei
sob a prottecção de S. Vicente de Paulo. na minha vocação para santificar-me;
Tenho a honra de apresentar a V. quero, portainro, ser grata ao Santo Pa­
Excia. os meus humildissilmos obse­ dre pela preciosa graça que fez ao nos­
quias; julgo o meu dever prestar-lhe so Instituto e a toclos os seus m!embros ;
conta de tudo e a:presentair-lhe nossa re não quiero trocar o habito religioso que
gro approvada pelo Summo Pontifice. é approvado pela Santa Sé e pelo Go­
Mons. Pressigny, que poucos mez�., V1erno; não quero fazer senão os votos
antes havia rumado posse da archidio­ approva<los pelo Santo Padre, e o que
oese de Besançon, f.ez á deV1ota Funda­ e!Jie estabeleceu, eu o farei, quando me
dora uma guerira tal, que só se póde será permittido. Eis, minhas caras Fi­
compairar 00111 aqu1ella que lhe viera dos lhas, a felicidade qUie o representante clr
hd1niens da Revolução. Separou da Con­ J,esus Christo sobre a terra espera ele
giiegação as casas da Diocese de Besan­ �ós. Adeus, até quando será tempo. Eu
çon, creando ndla mm scisma insanavel. sou filha da Santa Egreja; sêde-o egual­
Prohibiu as religiosas receber sua Su­ rn-enl'e cammigo".
periora ainda q_uie fosse "por 11111 d1a Nu ,meio destas clifficuldades escre­
só". A 1esta, que humildemente se ajoe­ veu t1ma oração, que trazia sobre o pei­
lhára a seus pés, pedindo que a ouvisse to dentro dum saquinho. Esta oração é
catT� pa6encia, respondeu : "Não, calae­ a ,exp1iessão dos mais puros, e mais al­
vos, não quero ouvir mais nada de tos ·senti1n1entos de uma alma, cujo ali­
vós !" Negou-lhe a benção, dizendo: mento é faz,er a vontade ele Deus. Diz
"Não vol-a darei jamais". nesta oração : "Quanto furor contra
A culpa toda foi esta, de a grande san­ miim, porque su}eitiei a-o Summlo Ponti­
ta alma ter pedido ao Santo Padre ap­ fioe, Vosso Vigario, este Instituto e a
provação ela Regra e acceitado algumas R1egra que mie clésl1es, paira clirigir san­
ligeiras modificações sem o beneplacido ta.mente toda:S as almas quie me confias­
uu Arcebispo de Besançon. Em uma tes ! Ao vosso Representante na terra
ca:rta dirigida a Thouret, o Prelado as­ inspirnsves approval-a. Elle é guiaclo
sim •se exprimiu: "Si futura/mente apre­ pelo Espírito Santo".
sentardes uma nova regra approvada Madre Thouret recorr-eu a todas as
pefo Mons. Arcebispo para sua diocese, instanci-as para conseguir uma concilia­
vós a deveis acceitar das suas mãos, co­ ção com o arcebispo de Besançon. Um
mo si fosse da:s mãos de Deus" Assim B11eV1e cio Papa Pio VII, que confirrnou
o arcebispo ga:llica:no de Besançon exi­ as Constituições da Congregação e pro­
gia dos proprios diocesanos a obedien­ hibiu qua:lquier moclificação elas mesmas
cia que eUe obstinadamente negava a por outras autoridades ecclesiasticas, um
Roma. recu1rso oo Nuncio em Paris não tive­
Elm nada a nobi.Ji,ssi'm(a alma foi pou­ ralm o �nininno resultado. Afinal a Fun­
pada, nem da propria calumàia; mas ella dadora em urna carta dirigicla ao arce­
!'le conserrou insuperavelmente ligada á bispo, pediu ao Prelado a caridade ele
Sé de S. Pedrio e achou seu conforto lhe dizer em que parte faltou, decla,ran­
em Deus. c1o-se prompta para dar as necessarias
A's suais cara:s religiosas escreveu: satisfacções. A carta ficou sem resposta.
"Minhas caTais Filhas, sou sujeita a tu­ Foi a Besançon, com o intuito de visitar
do isto, qure é meu dever. Todavia, parn sua casa, mtas teve a grande clôr de en­
não me enganar e para tranquillizar mi- contrar a porta fechada. As Irmãs, inti-

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24 de Agosto 173

mida:das pelas ameaças do arcebispo, diatalmen:te rodeados de particu.Jar de­


perturba<la:s em sua consciencia, recusa­ voção. �m 1895 foi aberto o processo
ram-se a rieceber sua Mãe e Fundadora. diocesano ; eun 1900 a causa foi levada
Esta apenas beijou a porta do convento a Rdma; em 1922 fora!m reconhecida3
e voltou para a Italia. heroicas as virtudes desta grande Filha
1

O estudo consciencioso dos documen­ da Egrieja; a 23 de Maio de 1926 o


tos mostra, que a controversia entre Papa Pio XI cingiu-lhe a corôa dus
Mons. De Pressigny e a Madre Thou­ bemaventurados; a 6 de Agosto de 1933
ret é apenas UJ1TI incidrente no meio da­ foi lido o decreto a:pprovainte dos dois
quella grande lucta dos dois principias milagres para a camonisação; a 14 de
do gallicanismo e do a:ssim desdenhosa­ Janeiro de 1934, entre os fastos jubila­
nrenlle chamado ultramontani's1n1o. res da Redempção a Filha generosa da
O ôrga:nismo da Santa Serva de Deus Egreja foi por Pio XI inscripta no al­
não resistiu a tantos embates. Tres an­ bt1m dos Santos.
nos cLe a:ngustia, de cal,amida<le e de lu­
cta:s terríveis, si não puderam abater o REFLEXÕES
animo da Madre Thouret, de certo tor­ Santa Joanna Antida Thouret é a filha
turaralm o seu coração e alteraram-lhe fidelissima da Egreja, que sempre sabe
a saude. Ghegando a Napoies, teve re­ obedecer, e quando for preciso combater.
Arrastada á presença dos impios, sabe, si
cepçã,o coreliali-ssima ele suas Fiilhas, necessario, arrostar a morte, confirmando
que dest'arte deram ba:lsan.110 ao coração mais uma vez a divina promessa: "si vos
tão duramente provado. conduzirem perante o tribunal, não vos
preoccupeis como e que devereis respon­
Elm 1826, oelebrando-s1e o jubileu fó­ der, pois naquella hora vos será dado o
ra de Roma, Thour'el: anciosa de não que devereis dizer." E' a Santa que nas pro­
r'.'.rder essa occasião de santificar sua vas internas que affligiam a familia reli­
giosa por ella fundada soube com invicto
a:lrna, tomou ·parte em todos os exerci­ animo fazer frente ás difficuldadcs, servir
c:os com um fervor tal, que edificou a sempre á verdade, permanecer constante­
tcdos. Bm uma elas procis,sões de peni­ mente na caridade, sem se esquivar das fa­
tencia soffrieu um insulto apoplctico, digas e dos soffrimentos, confortada pelo
alim,ento divino da Eucharistia e pelo amor
que a privou cio us,o ela língua. Presa ao ternissimo á Mãe de Deus.
kito durante dois mez'es, deu o exemplo E' este o grande ensinamento de como
ela mais perfeita paciencia. No dia 15 nos havemos de portar nas horas difficeis
de Agosto pôde receber a santa commu­ e cheias de angustias. J oanna Antida Thou­
nhão, saciando assim a fume do seu es­ rct é a mulher forte, modelo admiravel pa­
pirita; a 24 ele Agosto foi ungida. Pela ra os nossos tempos, cm que tão facilmen­
te por cousas de menos importancia se es­
tarde cio mesmo dia, quasi impercepti­ quece de Deus e de sua santa lei. Pelo
whmente exhalou o espírito. Sua pcre­ exemplo clla ensina, mais do que pela pala­
g-rinação, longe ela Pai ria, tinha sido de vra, o que se consegue pela força do es­
60 annos e nove mezes. pirita alimentada por Christo Senhor, e
como se chega a praticar milagres de bon­
Seus despoj o-s 1110-rtaes foram 1mmc- daclt>, de abnegação, de hcroismo.

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174 24 de Agosto

24 de Agosto

Santa María Míchaela do SS. Sacramento


(t 1865)

&.J ASCIDA a 1 de Janeiro de 1809 candicla innocencia vê, cheia de horror e


4.� em Madrid, oriunda de familia de de piedade, os abysmos do mal, e já tem
Flandres, insigne por tradições guerrei­ sua vocação decidida. Neste "jarrdim de
ras e. religiosas, Maria Michaela Des­ flores de virtude" como delicadamente
maisiéres Lopez de Dicastillo,, Viscon­ o cha!ma D. Ignacia, senhora de acriso­
dessa de Jorbalan, era uma personalida­ la!da virtude, ensinava a doutrina aos
de toda feita para a verdade e virtude, infelizes.
aimant'e da ordem, de um temperamento A triste historia de uma filha de um
r•esoluto e forte, disciplinado pela graça, banqueiro foi um relampago para sua
destina:da para os grandes emprehendi­ grande alma e lhe suggeriu "a primeira
mentos de sua vocação. Sobretudo se inspiração de fundar uma casa, o refu­
distinguia por seu grande amor á Eu­ gio orn:Jie as jovens podiam permanecer
charistia e aos pobres, preludio de sua por alg� tempo e receber instrucção
aidimi-ravel vida, por· dia mesma escripta, nas cousas da religião para depois, caso
vida de um apostolado excepcional, em não encontrassem um emprego, voltar
que reconcilia a tradição com o tempo ao seio da. falrnilia". A 21 de Abril de
moderno, a graça com a natureza, a pru­ 1845 nasceu aquelle "Refugio", o Ool­
dencia com a audacia, vida onde o he­ legio, cuja administração confiou a uma
roismo de uma senhora, filha de sangue Cammissão de sete s•enhoras, em home­
illustre e de um seculo agitadissfüno, é nagem ás sete Dôres da SS. Virgem.
coroado das luzes da santidade antiga, Valentes cooperadoras naquella obra
reconhecida pela voz da Egreja. eralm o sacerdote Alexa!ndre Olivan e a
Rezar, ler, escrever, pintar, bordar, marqueza de Mailpiga.
cosinhar, engdmmar eram as. suas occu­ Razões de familia obrigar3l111-n'a a
pações juvenis. Não lia romances; a mãe uma longa perma:nencia etm Paris wo la­
não lh'o pennittia, mas tambem não lhe do de sua cunhada e do irmão Conde
vinha o desejo de ler cousas que eram Diego, embaixador ela Hespanha junto
mais da phantasia do que da verdade. á Côrte rea!l. Foi lá, que e!m 1846 as­
Esta educação solida, que visava urnica­ sUimiu o titulo de Viscondessa de Jorba­
menre à verdade e a utilidade veiu a ser la!n. Todo est'e tempo que passou em
para a gra:nde da:ma fonte preciosa e Paris, prestou 310 irmão, que, por causa
inexhaurivel. A nobre menina, que abre das suas quaJlidacles superiores muito a es­
uma escola para creanças pobres no pro­ ümava, relevantes serviços die conselhei­
prio pa,facio paterno, e não deixa de con­ ra no desempenho do seu delicado offi­
fortar nenhum dia os indigentes de cio. E a Viscondessa., séria e gentil, de
Guadalajara, apresenta já o perfil admi­ uma apparencia magestiosa e ao mesmo
ravel da fundadora da:s "Servas da Ca­ tempo graciosa e bella, vive a vida do
ridade". Em Madrid funda a "Commis­ mais refinado Imundo aristocratico, na­
são para soccorrer a pobreza envergo­ quella grande caipital, cheia de todos os
nhada", e outra "Commissão para soe­ excassos e de todas as contradições,
correr as mronja:s". Visita pela primeira frequenta a Côrte, o theatro, as festas
vez o hospital de S. João de Deus. A de gala, vae aos bailes, aos grandes cir­
principio não comprehcnde, mas a �sua culas, troca a rica carruagem pela seHa

Santa Maria Michaela elo SS. Sacramento - Osservatore Romano. 3-4-1D34.

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24 de Ago.,to 175

- tudo por obediencia. Ella mesma chia.­ da por ella, seguindo seu exemplo, con­
ma este tempo de sua vida o "anno per­ tinuou seu apostolado de canda�e e
dido". Altiva, cheia de fé em si pi:o­ ganhou para a fé duas senhoras mgle-
pria, soube-se manter perfeitamente 1?1�- zas prot'estantes.
. dosa e continuar largamente sua act1v1- Taimbem no vortice dos tumultos e do
dade caritativa. saingue passa esta jovem �enhora, 1?el�a
e respeitada na luz da c�ndade c�nsta;
Para preparar-se para sua grande
irmã espiritual do arcebispo heroico e
missão, que primeiro traz a cruz e de­
com ella drnninadora altiva e serena, em
pois a gloria, estud?u o desenl�o da per­
nome de Deus, no meio do da1111or e dos
spectiva, se aperfeiçoou na pmtur�, de
estragos onde as culpas dos poderosos e
clicou-se ao ,estudo do inglez e mais es­
a vingança dos humiides se mesclam
peciaillmente da religião, frequentou a
loucamente para encher a medida do
•escola de bordado, tdmou lições de unna
,mal. .
elas melhores engommadeiras, e de wna
De Paris Don Diego é transferido
excellente florista. Suas generosas obras
para Bruxellas. A Visconidessa o acarn­
de beneficencia mereceram-lhe o titulo
panha, pri1meiro a Boulogne-sur-Mer,
honorifico de Dama de Caridade, apre­
dnde é o anjo da caridade entre os po­
ciada na Côrte e venerada pelo povo.
bres pescadores. Ta1mbem em Bru:-ellas
Uma mulherzinha centenaria jaz doente
vive praticando a piedade e a caridade,
nttma mansarda immunda. A Viscondes­
se interessa pelas escolas, pelos opera­
sa lá vae sóbe as escadas, trata da
rios, faz-se amiga dos pobres envergo­
doente, a ' conforta, faz-lhe companhia.
nhados, sóbe por uma escada de cordas
As duas ahnas se unem em uma amiza­
a uma mansarda, verdadeira cova de ra­
de fraterna. A pobre velha sara. Um dia,
tos. A saccola de esmola na cinta, sóbe,
na Rua Magdalena, a Viscondessa. ele­
tremendo mas a lembrança de ver no
gante no seu vestido de vellud� _côr
pobre do�nte a pessoa de Christo, lhe
gr1enat avista a velhinha, a ella se dmge.
dá coragem.
e a pobre, vendo sua bemfeitora, deixa
Ghain1a a si creaturas tra:nsV1adas, pro­
soo saccola num banco, vae alegre ao
cura-a:s e;m suas casas, visita-as nas of­
seu encontro de braços abertos. A nobre
ficinas e fabricas, arranja-lhes empre­
dama a aperta contra o coração, beija-a
go, tira a a:lgunnas o letreiro infamante,
e isto á vista de muitas pessoas, que
"distinctivo de vergonha", a que eram
num maravilhoso impeto de carida:de
condamlnados a levar. Com algumas al­
vêm resolvido o mais arrduo problema so­
mas elei-t;rs funda em Paris a "Adora­
da!.
ção Perpetua", á qual liga "a Obra das
As Tui,Ierias ardem na revolução de egreja:s pobres", duas instituições que
1848. O Cardea;I Arcebispo Mons. Affre n1ai,s tarde foram iieunidas em uma uni­
morre assarssinado quando vae levar o ca Congr,egação, a das "Adoradoras Per­
ra!mo de oliveira da paz aos homens das petua:s ".
barricadas. A familia r•eal se salva fu­ Nesta bellissima iniciativa eucharisti­
gindo, abandonando á ira da multidão e ca e caritativa a Providencia fel-a encon­
á furia do incendio o ninho da ociosida­ trar duas. grandes almas : a Baroneza
de, do luxo 'e da vaidade. A Viscondessa, d'Hooghvorst e D. Anna de Meeüs.
praticante da Gommunhão fre�uente, Nu:ma longà viag�m de recreio que
bdm cedo vae á missa, e os propnos ho­ sua cunhada, a Condessa de la Ve­
mens das barricadas dão-lhe mão para ga dei Pazo emprehendeu em busca de
auxiliai-a na passagem por entre os melhorais pa:ra suas persistentes moles­
obstaculos ,e uma voz de homem grita: tias, a santa Viscondessa a acompanhou.
''Deixae passar a cidadã". Um pequeno repouso que tiveram em
Nesses dias terriveis, junto com a Bordéos era bastante para esta, naquella
Marqueza de Villafranca que, encoraja- cidade deixar vestigios de sua bondade

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176 24 de Agosto

e caridade christã. Uma visita que fez foi de máo resultado e culminou num
aos presos na cadeia publica, trouxe con­ desfecho doloroso. Foi preciso realizar
solo e conforto áquelles infelizes. O a1r­ mudanças rapida:s e assim se restabele­
cebispo, que a tinha em grande estima, ceu a ordem e a paz. O anno de 1850
confiou-lhe a reforma ele tun mosteiro trouxe-lhe grandes provações. Foi uma
ele freiras jansenistas, que se tinham 11e­ guerra de tudo e de t'odos contra sua
_gado a prestar obedi,encia á autoridade pessoa e seu governo. Clero e povo ti-
diocesana, missão de que a Viscondessa 11han1-n'a em conta de uma grande illu­
maravilhosaimente se desempenhou. sionista, e as de sua casa lhe obedeciaim
A pagina autobiographica que narra só em que era necessario.
este episodio, é um.a revelação. Falou á Por Hm qui2eralm tirar-,lhe o SS. Sa­
superiora e depois á Communidade. Da cramento. Mas não o conseguiram. Guia­
Superiora disse: "Depois de lhe ter fa­ da sempre e confortada pelo sabio e
lado cerca de uma hora, cousas que eu energico jesuita Pe. Carasa, pondo toda
não sabia, mas que Deus me pôz nos confiança em Deus, dedicou-se inteira­
labios, abriu-me a porta e deixou-me ment'e ás •suas !meninas, e teve o prazer
entrar. A's religiosas, umas cincoenta, ele ver a guerra de todos transformar-se
dispostas em ala dupla, na sala conven­ elm applauso univ,ersal, confirmado pela
tual, falei palavras ardentes sobre a obe­ a pprovação do Papa.
di1encia, a confissão, a Eucharistia e a Reformado o "Co11egio", com um
protecção de Nossa Senhora, lembran­ nt•m1ero bem grande das asyladas, por
do-as ao mesmo tempo, o motivo por que obedi·encia acoeitou a direcção das pri'tnei­
tinha1m deixado o mundo e o affecto de ra:s coadjutoras de sua obra. Vestiu ha­
pessoas caras. FaJ.ei uma hora e mei,i, bit'O ele religiosa e, cumprindo o maior
com o resultado de todas pror011nperem desejo do seu coração, pôde ainda ins­
1

cm chôro. Prometteram obedecer ao tituir a Adoração Perpetua.


Prelado, acceitar o confessor, designa­ A serva de Christo, a preço de sacri­
do pela autoridade, fazer exercicios es­ ficios heroicos, feitos por aJtnor de· Deus,
pirituaes. Chorei com ellas. Abracei a tinha alcançado o maior triumpho. Com
tocla:s, uma por uma e, prostrada por Anna Maria Anchorit, flor de innocen­
terra, pedi-lhes perdão si as tivesse of­ cia, com Izabella, sua fidelissima cama­
fcnclido com qualquer cousa". reira, com Garcia Casas e Anna Lopez
A IS de Noveunbro de 1848 vemol-a Pallestcros, creatura eleitissima, a 6 de
afinal em l\fadricl, livre cios freios que Ja:rneiro de 1859 pronunciou os primei­
a impediam no exercicio da caridade. O ros votos: estava fundada a Congrega­
"Collegio", fundação do seu coração, ção das R1eligi1osas Adoradorais, das Ser­
era uma ruina. Havia sóm'ente tres asy­ vas do SS. Sacramento e ela Caridade.
ladas. Um pequeno ostensorio sobre o peito era
Pela morte da Irmã Superiora da seu clistinctivo de honra, ao 1-i1esmo tem­
Congregação da Doutrina Ohristã an- po a indicar a fonte do seu luminoso
11cxa ao Hospital de S. João de Deus, a heroismo.
Viscondessa é chalma:da para occupar­ As regras nasceram na luz do sacra­
lhc o Jogar. Càm fino tacto e profunda rio, cdm a violencia de muitas orações,
hdmildade vence a guen;a aberta, que junto cdm a ·experiencia quotidiana e
lhe moveram as proprias cooperadoras, com a assistencia constante e illumina­
e para testemunhar seu ardo,r interior, cla do Pe. Carasa. O segundo capitulo é
adapta o nome prophetico ele Sor Sacra­ redigido assim: "Fim primMio do Insti­
mento. tuto é prdm'oVer a gloria ele Deus e a
Dlesde 1. 0 de Janeiro de 1849 governa santificação cios seus membros pela ob­
e'lla propria o Collegio. Tendo-o confiado . servancia dos tres votos religiosos e a
a algt11mas Irmãs francezas, a experiencia pratica das virtudes proprias da vida

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24 de Agosto 177

activa e a:o mesmo tempo contemplativa: Na imanhã do dia da sua morte as­
1.) na Adoração Perpetua do SS. Sa­ s1stJ 11 ainda ao medico da casa numa
craimento; 2.) em cooperar na salvação operação cirurgica. Assaltada repentina­
das almas por rmeio da educação e reha­ mente do mal, que lhe pairtiu a fibra ro­
bilitação ele jovens transviadas ou em busta, durante onze hora,s soffreu lliln
imminente perigo de s,e perder. martyrio indizivel, não perdendo ailiás
O methodo em rehabilitar a:s jovens sua affabilidade, serenidade, conservan­
é s�mpies e vigoroso: tratai-as com sin­ do s·empre fechados os olhos. Recebeu
ceridade, dar-lhes instrucção necessaria o SS. Sacraunento num transporte de
e em fórma conveniente, fazei-as conhe­ alegria. Pronunciava frequentemente os
cer a monstruosidade do peccado, repa­ 111CJ/mles dle Jesus, da Virgem Dolorosa e
rai-o ou ·evitai-o; dar-lhes educação e riepetia: "Minhas almas, minhas filhas!
ensino apropriados ás suas condições, A' Maria SS., a:lludindo ás suas funda­
não olhando sua pmcedencia, mas tendo ções, dizia: "Mãe minha, são sete, como
em vista a necessidade que têm de af­ sete foram as vossas dôres ".
fecto, de instrucção e ele salvação. Morreu á meia-noite de 24 de Agosto
Onde as condições das casas o per­ de 1865.
mittirem, as "Adoradoras" podem man­ Os processos diocesanos, iniciados em
l!er ta:mbfltn escolas gratuitas externas 1889, em Val-ença, resultaram na decla­
para meninas. ração das virtudes heroicas da Serva de
O tabernaculo é o monte santo e o Christo em 1922. Em 1925 foi beatifica­
rochedo mysterioso, que, tocado pela ·da. Depois ele approvados os dois mila­
força das suas orações, jorra abundan­ gres do rito, na pessoa de Maria Jose­
telmlente a:s aguas ela graça al�entadora phina Montagati, curada de tima otite pu­
de uma vida heroica e silenciosa. rwenta e de Sor Maria das Neves curada
A pri!meira approvação desta obra ele tubercu'1ose gravissima, Pio XI, a 4
providencial veiu de Roma, pelo Breve de Março de 1934 inseriu�a no AlbU11n
de 27 de Agosl!o de 1850. das Santos.
O Oollegio de Madrid não ficou sen­ Hoje a Congregação das "Adorado­
do o unico. A Fundadora, sempre em­ ras" conta 57 casas esparsas na Europa,
priehendeclora, e mestra em administrar, na America, Africa e Asia com mais de
jmitou sua grande patricia, Santa The­ mil religiosas e perto de 3.000 asylaclas.
reza ele J esu'S. Como Serva d'Aquelle Muitas são a:s escolas gratuitas que
que passava bemfazendo, escreve ella, mant!é;n1 para creanças pobres, Patrona­
vou em toda a parte, offrrecer os meus tos que foram fundados principaJlmente
serviços em nome da caridade e não para nos grandes centros para os filhos de
exigir sacrifícios". As numerosas fun­ operarios.
dações obriga'Vam-n'a a viajar quasi con­
tinua1mente. Havia dias que dictava mais REFLEXÕES
de 20 cartas, e isto era regra. Quando Deus é admiravel nos seus Santos. O
morreu, victima <la caridade em Valen­ amor a Deus, o amor ao SS. Sacramento
ça, deixou sete Coll egios; sel!e, dizia ella, opera milagres nas fracas creaturas, que
por sua vez encantam o céo e deliciam a
sete, corno as clôres de Nossa Senhora. humanidade. Santa Maria Michaela do SS.
A 21 de Agosto de 1865, !!endo noti­ Sacramento, a grande dama no mundo, cul­
cia do colera em Valença, para lá se ta, energica, nobre, que em Paris com la­
tra,nsportou immediataJmente. A um grimas nos olhos vende seu cavallo para
soccorrer o seu Collegio em Madrid; que
CoJmmissario do governo que a suppli­ troca seus elegantes e ricos vestidos de se­
cou, não fosse, respondeu: "Nós que da com um habito de estamenha e assim
fazemos tudo pelo amor de Deus, não te­ se apresenta á Rainha, da qual se torna
confidente, em cuja presença e nas suas
memos a morte". Em Valença se apre­ conversações, para não perder tempo, oc­
sentou ao arcebispo, offereceu-lhe seus cupa suas mãos com trabalhos de agulha:
serviços e se fez enfermeira. e destes conhecimentos se aproveita para
Luz Perpetua 12 - II vol.

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178 25 de Agosto

reprehender certos máos. habitos da monar­ necessitam do seu soccorro; que protege
cha, fazendo-a amar a virtude; a grande da­ suas filhas contra todos e contra tudo; que
ma que de sua influencia não se serve, a as alimenta, as educa, e por amor dellas se
llão ser para procurar subsídios ás suas torna louca nos olhos do mundo, quando
instituições de caridade; que não teme sua loucura era a de Christo e de sua CrJz:
transpôr o limiar da pobreza e do vicio; esta nobre dama, esta grande Santa obri­
que., ou em traje de velludo ou em habito ga-nos a cahir de joelhos e bemdizer a
de Religiosa, vae á procura das almas que grandeza de Deus.

25 de Agosto

S. Luiz, Rei de França


( t 1270)

'DC- UIZ IX, t<ei da França, nasceu em alto gráo, que todos se admiravam. A
� Poissy, aos 25 de Abril ele 1215. pÍ'edade, a aveTsão ao lu= e aos diver­
Era filho ele Luiz VIII e Branca ele Ümentos parcciaan-lhe innatos.
Castella, princeza de grandes dotes mo­ Era �n moço ainda quando, em de­
raes e intdlectuaes, qne, pela morte do tenrfürn,da occasião, se encontrou com
marido, tomou as redeas elo governo, um leproso. Venclo o pobre homem na
em Jogar do filho menor. miseria, clirigiu-s•e ao cavalheiro que o
Confiada a senhora tão <listincta e acompanhava e pergun1nu-lhe: • "Que
virtuosa, a educação <lo jovem principe preferirias - ser coberto ele lepra ou
havia de ser, cama ele facto foi, optima. viv,er <:jm peccaclo mortal ?" O cavalhei­
Qlllando a creança, depois do baptis­ ro respo'll!cleu leviar.1.mente : "Antes com
rno, foi entregue á sua mãe, esta a es­ peccados na alma, cio que com a lepra
treitou terna1uente contra o coração e, no corpo". Luiz, pasmo de ouvir tal
rmpdn-:\Índo-lhe um osculo no peito, di·s­ clisparare, di·ss1e-lhe: "Ah ! não sabes o
se: ''Filhi-nho, que agora és um templo que ciuer dizer estar fóra ela graça de
do Espirita Santo, conseirva-o 5e1111pre Deus. Sabe, pois, que o peccado mortal
immacufado e jannais o manches por um é um mal maior que todos os males do
peccado". O maior empenho ela boa niundo".
mãe era incutir no espirita do filho um Em 1234, contrahiu matrimonio com
grande odio ao peccado e repetia-lhe lVfargarida de Provença, princeza, como
muitas vez•es estas palavras: "Meu fi­ el'le, de grande virtude.
lho, preferiria vêr-te morto e sem as 'Dendo Luiz 21 annos, tomou nas
insígnias do poder real, a saber-te man-· mãos as redeas do govemn. Uma vez
chado por um peccado mortal". Estas senhor do poder, continuou sendo o
e outras exhortações sen�elhantes não mesmo filho obediente e respeitoso para
deixavalm de causar profunda imprc.;são com sua nt,ie.
ti.a alma da creainça. A benção ele Deus acompanhou-o. v1-
Teve o maior cuidado a excellentc sivehüente, como provaraim o bem estar
mãe em 'Cscolher opümos professores e publico, a prosperidade da nação e os
instructores para o futuro rei. felizes emprehendfünentos bellicos con­
Quando, em 1226, Luiz recebeu a,s in­ tra Henrir1ue, rei da Inglaterra e o con­
sígnias de rei da França, embora muito de ele Toulouse. Como gurerreiro e chris­
moço ainda, já possuía virtudes em tão tão, fazia selmpre prevalecer os princi�

S. L1tiz- Joinville, Fleury, Choisy, Velly e outro,; auctore,; Boll. V. Ag. 275. Dr. Schol­
ten: s, Luiz. Jtae,;;l:l e Wei,;s XII.

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25 de Agosto 179

pios do direito e da caridade, excluindo santo Lenho, Luiz construiu em Paris


categoricaimenrte o vil interesse. uma sumptuosa capella.
Na vida particular era exemplarissi­ Accommettido de uma doença gravis­
n,o. Tinha por regra : "A Deus a honra, srma, fez-se benzer coun o santo Lenho
a Deus o nosso serviço". No seu hora­ e prometteu eimprehencler uma cruzada
rio, as praticas de piecla,cle occupavann contra os turcos, ca,s,o recuperasse a
Ioga.ir de des­ saude.
taque. Todos Não houve
10s dias assis­ quem o pudes­
tia á sainta sie demO'V'er
Missa. F r e­ des•s,e plaino,
qulentem e n t e que, em 1249,
•se approxima� teve execução.
va dos santos Após longa!S e
dos Sacraimren­ lminu c i o s a s
1

tos. preparações e
Co ntarcllm­ tendo inctlln­
lhe que, 0111 biclo a 1m ãe
cJ:etermi n a d a cios n:egocios
Eg11eja, Nosso do governor o
Senhor Jesus piecl o s o rei
Chdsto se di­ embarcou, com
gnava appare­ numleroso ex­
cer na sagrada ercito, p a r a
Hostia, em fi­ Daimiette. A
gura de u!niia cidade foi to­
creança. Luiz 'maida de a,s­
re s p o ndeu: sal to. Aconte­
"N ã o tenho c eu, porém,
1]1ecies,sidade de que irrorn1JeS­
vêr o q u e se terrivel epi­
fir'me lm,' e n t e
1
demia nas fi­
creio". E não leiras dos seus
foi vêr o mi­ homens. A os
lagre. nrilh a r e s se
A virtude e · conta v a ·i:n as
·s1antidade cio victimas. Luiz
sanbo Rei fi- tannb em foi
ze r am com containinaclo, e
que gozasse S, Luiz cahiu em po�
de grande Dos muitos presentes que rêcebeu em sua vida, o der dos sarra�
reputaçã,a ie,i­ mais precioso foi a corôa de espinhos de Deus denos. Doente
tre os princi­ Nosso Senhor, que lhe foi offerecida por Balduino e prisioneiro,
II., imperador de Constantinopla.
pes e todos deu exemplo
procuravam •merecer-lhe a amizade. Dos ele virtudes heroicas, não lhe tendo mrn­
muit:os presentes qtlle lhe deram, o mais ca os companheiros ouvi-elo uma pala­
prlecioso foi a corôa de espinhos de Deus vra siquer de queixa, de desespero ou de
Nosso Senhor, que lhe. foi offerecida i1üpadencia. Tambem na desgraça s·e
por Balduino II, imperador de Constan­ mostrou christão e soldado ele Christo.
tinopla. Para guardar tão preciosa reli­ Seis annos durou es,se tempo de pro­
quia, cdmo tambem UitTI!a particula do vação. Livre das cclldeias de prisioneiro,
12 •

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180 25 de Agosto
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voltou para a França, onde não mais en­ a commctter um peccado mortal. Si Deus
controu a mãe. te mandar contrariedades, acceita-as, com
gratidão, convencido de que as mereceste.
Gom muito rigor reagiu contra o v1c10 Si tudo correr segundo teus desejos, não
ela bla:spheimia. Deu saJncção á lei, se­ te deixes levar pelo orgulho. Não se deve
gtJnclo a qual a lingua do blasphemo era abusar dos beneficias e transformai-os em
armas de malicia. Confessa-te frequente­
atravesSiada por mn ferro em braza. mente e escolhe um confessor prudente e
Tendo-lhe chegado aos ooviclos a no­ virtuoso, que te possa ser guia _e que te­
ticia de que muito soffriann os chris­ nha coragem bastante para corrigir tuas
tãos na Terra Santa, concebeu o plano faltas e castigar teus peccados. Assiste á
santa Missa com muita devoção, Sê cari­
de orga:ni:mr lima segunda cruzada. D'es­ doso para com os pobres e soccorre-os
ta vez o alvo do a:taque seria Tu­ sempre que puderes. Respeita. as boas tra­
nis. Nada, porém, pôde fazer, porque dições entre o povo e persegue os abusos.
a. peste lhe dizimou o exercito, antes de Não sobrecarregues teu povo com duros e
multiplos impostos. Escolhe para tua com­
conseguir levar a effeito o plano. panhia homens direitos e prudentes, leigos
O proprio rei adoeceu e morreu. An­ e sacerdotes, e foge dos circulas dos máas.
tes de fechaT os olhos para o somno da Ouve ele bom grado a palavra de Deus e
conserva-a cuidadosamente em teu coração.
morte, entregou o governo ao príncipe Sê amigo da oração. Ama tua honra e sê
Philippe, ao qual, em l ogar de um tes­ amigo do bem e inimigo do mal. Rende
talmento, fez bellissiméi!s exhortações. graças a Deus pelos seus beneficias. Bens
alheios faze-os chegar ás mãos do legitimo
Com uma piedade que a todos commo­ dono. Procura conservar e estabelecer a
veu, recebeu os santos Sacramentos. Em paz entre teus subditos, e zela pelos bons
sua grande humildade, pediu que o dei­ costumes entre o povo. Trata de dar-lhe
tassem sobre cinza e as-sim, coin os bra­ bons juizes· e funccionarios, e fiscaliza bem
o procedimento d'elles, afim de que não
ços cruza<los sobre o peito, os olhos ele­ haja Jogar para vicios, parcialidade, fraude,
vadas ao céo, exhalou o ultimo suspi­ falsidade e immoralidade. Cuida que na
ro em 25 de Agosto de 1270, na edade Côrte as despezas se limitem ao indispen­
de 55 annos. Os cruzados voltaralrn á savel. Manda rezar Missas pelo repouso de
minha alma. Meu filho, dou-te a benção
França e levarani comsigo o corpo do que um pae pode dar ao filho.
rei. O coração foi depositado numa
egreja de Monrede, na Sicilia. As ou­
Santos cuja niemoria é celebrada hoje:
tras relíquias acharam repouso em Saint
Denis, em Pairis. No tunmlo, se lhe ve­ Em Roma, o martyrio de Eusebio, Pontia­
no, Vicente e Peregrino no governo de
rificar.1im muitos mila�res, o que deter­ Commodo.
minou Bonifacio VIII a promover, em Na me,;ma cidade, no tempo de Valeria­
1305, a canonização do santo rei. no, S. Nemesio e sua filha Lucilla.
Na cidade de ltaliea, na Hespanha, o bis­
REFLEXõES po S. Geroncio, que prégou o Evangelho na
Andalusia. Morreu no careere.
Das exhortações que S. Luiz fez ao fi­
lho, as seguintes tenham aqui Jogar: "Meu Os bemaventurados Pedro Vasquez e
filho, a primeira cousa que te recommendo Luiz Sotelo, ambos franciscanos e Miguel
f oue ames a Deus de todo teu coração e Carvalho, jesuita, foram mortos a fogo lento
; ·,.·;-a� soffrer tudo, até a propria morte, no Japão no anno de 1624.

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26 de Agosto

26 de Agosto

SÃO GENESIO
( t 286 ou 3J3 )

�lll ESUS CHRISTO, que mostrou sua salvarem, abandonaram o culto dos deu­
r:/J grande misericordia na vocação ses". Foram então chairna<los dois co-
de um publicano pa:ra Apostolo, do­ 1necliantes, dos quaes u;m fazia o papel
cumentou as riquezas do seu coração na ele sacenlote e outr,o de exorcista. Estes
conversão de Genesio, o qual, d:i. escola s-e postaram junto do "doente" e per­
do vicio, do theatm, foi chamado à glo­ guntaram: "Que des·ejas de nós ?" -·
ria cio martyrio. No 111,esmo rrnomento elm que fizeram
Eira por occa:sião de uma visita do esta pergunta, se realizou em Genesio
Imperador Diocleciano á cidade de Ro-­ uma grande mudança. E já não era mais
nia. Os romanos nada pouparam para zdn�baria, mas a expressão de toda sin­
da:r ao monarcha wna recepção solem­ ceridade: "Quero r,eceber a graça de J e­
nissimla. A' noite, houV'e grande especta­ sus Christo, para renascer e livrar-me
culo no theatro e, conhecendo os orga­ elos meus peccados". Seguiu-se o ba­
nisadores a antipathia de Diocleciano pti•sm,o e Geniesio recebeu elas mãos dos
contra a religião catholica, levaram á actores a V'este ba:ptismal. Outros, <h­
socna ulma co1I11edia, em que um dos acto­ farçados em soldados, prenderam-n'o e
res, Genesio, reve a idéa de pôr ao ri­ conduziraim�n'o perante o Imperador, pa­
diculo as cerimonias do baptismo.. Fa­ ra receber a sentença. Até ahi todo o
zendo isto, podia contar com o applauso mundo julgou que ,se tratava de Ulma pi­
da platéa, que era hostil á religião de lheria. Genesio, porém, clesilludiu-üs
Christo, e disposta sempre a ouvir pilhe­ completamente, · quando disse: "Senhor
Pias irr,everenres e ·sarcasticas a respeito, e todos aqui presentes, officiwes do exer­
quanto mais assistir a representações. ci.to, sabios e cidadãos d'esta cidade, ouvi
em que eraim ridicularizadas as institui­ o que vos digo: Até hoje não podia ouvir
cões christãs. pronunciar o ndrn� christão, sem sentir
, Genesio não era de todo ignorante, repugnancia; odio V'0tava aos proprio�
quanto ás remonias cultua,es do chris­ parentes nJieus, por terem-se a:llia:do
tianismo; pois, teimpos antes, com al­ áqueHa religião. Instrui-me nas suas
guns amigos, tinha recebido instrucções praticas, para com tanto maior comp:'.­
na religião dos christãos. Feita uma li­ tenciia pooer cobri,l-a,s de mofa e escar­
geira introducção, deitou-se no chão, e, neo. - Mas no mQ1rrento e,m que a agua
fingindo-se doente, ccmreçou em alta lustral tocou meu corpo, dieclarei com
voz a gritar: "Meus amigos, sinto so­ toda sinceridade crêr tudo que me per­
bte ,nfon um peso insupportavel; livrae­ guntaram e vi ientão sobre minha ca­
n1e d'dle por favor !" - "Que é que beça uma multidão ele Anjos luminosos,
havemos de fazer - perguntou um dos que fizeram, co\mo leitura de um livro,
cdnledi•anties. - Que é qu,e havemos de a ennumeração dos meus peccados, des­
fazer para alliviar-te ? Queres que te de a minha infancia. Em seguida, im­
passemos a plaina sobre o corpo ?" mergi,rain1 o livro nas aguas d'uma fon­
"Nada <l'isso, - replicou Genesio. O re, donde sahiu branco como a neve. Se­
que quero é ser chri5tão, e como tal mor­ nhor e YÓs cidadãos romanos que me ou­
rer, para que Deus mie receba em seu vis e que vos rides elos mysterios do
reino, como f.ez a outros que, para se ch6stiani,,.mo, sabei que Jesus Ohristo é

S. Genesio - Act. Mart. authent. Ruinart. Orsi III. Raess e Weiss XII.

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182 27 de Agosto

o Dellls verdadeiro, a Luz do mundo e graça divina, no momento em qne ia pra­


a Verdade. Sabei ainda que só por Ellc ticar grande profanação d'um sacramen­
to. Ensina-nos este facto, que nunca
podereis alcançar o perdão cios vossos devemos desprezar um peccador, por mais
peccados''. abjecto que -nos pareça. Pela graça de
O Imperador, ouvindo esta declara­ Deus, pôde transformar-se em grande
ção, i11rirou-se sobremaneira, dando or­ santo. O procedimento de Genesio mere­
cia o mais forte castigo. Factos mais ou
dem para que Geniesio f osse açoutado e menos semelhantes são conhecidos, que ti-•
entregu•e ao corr�ma:ndante da guarda veram desfecho bem differente: castigo
imperial, Planei-ano, o qual por seu tur­ evidente e repentino, como a morte subita
e outros. Tambem nós temos bastantes
no entregou o pobre act-or aos algozes, motivos para enaltecer a misericordia di­
que o m�ltrataram desapiedadamente. vina, que não nos deixou morrer no pec­
Em meio do soffrin11ento se ouviu Gene­ cado, 111,as deu-nos tempo para fazermos
sio exclall11ar repetidas vezes : "Outro penitencia. Como devemos agradecer a
Deus esta graça ineffavel 1 "Mil vezes -
Senhor não ha no mundo, a não ser exclamava o grande penitente Agostinho,
Jesus Christio. A elle adoro e quero - mil vezes poderieis ter lançado a sen­
servir, por e!J.e quero mor,rer mil vezes. tença condemnatoria sobre mim. Não o
Não h:a martyrio que possa arrancar cio quizestes, porque tendes amor a minha al­
ma". O mesmo sentimento deve encher a
meu coraçã-o o aimor a Jesus Christo. nossa alma, para nos tornar cada vez mais
Um remorso, uma dôr tenho: de tel-o dignos ela misericordia divina.
offendido tantas vezes e tão tarde o ha­
ver conhecido". Por estas palavras o
Sa.ntos do Martyrologio Romano, cuja me­
juiz reconheceu a inutilidade ele insistir moria é celebrada hoje:
cdm o s1entenciado e condemnou-o sunn­ Em Ventimiglia, na Liguria, S. Secundü,
mariamente á morte pela espada. Martyr, official da Legião thebalca.
Os calendarios antigos de Romla e Em Bergamo, o martyrio de Santo Ale­
Carthago occupaim-s<e cio martyrio ele xandre, da legião thebaica.
S. Genesio, deixando, porém, o leitor Em Nicomedia, o martyrio de Santo
em duvida sobre o anno em que o mes­ Adriano, filho do imperador Probo. Mos­
trando-se em desaeeordo com a persegui­
mo se deu, si em 286 ou 303. ção dos christãos, foi morto immediatamen-
te. Seu corpo foi depositado em Argyropo-
R E FLEXÕES !is, por seu tio Domlcio, bispo de Constan-
Deus é admiravel na· conversão dos pec- tinopla.
cadores, como prova a historia da vida clt Na Hespanha S. Victor, que morreu mar-
S. Genesio, cujo coração foi tocado pela tyr na perseguição dos Mouros.
t•❖❖❖❖❖❖❖-H+Ho❖❖-H-❖-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-H--H-❖-H-❖❖❖�❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖

27 de Agosto

S. JOSÉ CALASANCIO
(t 1648)

R- ÃO JOSÉ CALASANCIO nasceu O pequeno José, d'entre os compa­


� em Pct-ralta, na Aragonia e era nheiros de infancia, distinguia-se pela
filho de paes nobrns e ricos. Profunda­ iextraordinaria caridade, pelo espirita de
mente religiosos, cuidaram de dar ao oração.' Todos lhe qU'eriam bem e gran­
filho tllma educação s•olida, não descu­ de era a influenda moral que exercia
i-aindo o elemento scientifico. Tiveram a sobre os condiscipulos. Tinha por occu­
grande satisfação de vêr coroados de pação prcdilecta reunir cria:nças pobres
exito os -esforços. paira com ellas rezar ou instruil-as na

S. José Oalasancio - P. Alexis: vida de S. J. Calasancio.-Llpowsky. Raess e Weiss XII.

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27 de Agosto 183

dout:rioo christã. Termfoado o curso Mdos attribuiclo á cedencia do pae na


primario, José estudou Philosophia e questão 11ef.erida. Uma ,nez conseguida
Dir,eit-0, em Lerida, onde defendeu the­ a acquiescencia paterna, José ordenou­
se 00111 grande brilha!ntislmo, sendo-lhe s•e em 1585.
conferido o gráo de doutor em Direito. Desejava procurar a solidão o que
Contr a r i o sem duvida te­
1aios planos do ria t'ealizado,
pae, que dese­ si um amigo,
java vêr o fi­ o Bispo João
lho em eleva­ Ga:spar de Fi­
da posição so­ gt�eira não o
óail, dedicou­ tivesse c o n­
se 'ªº ,estudo ven c i d ü da
da Theologia, obrigação de
na Unhners,i" cledicalr o ta­
clade de Va­ Jcnto a:os tra­
lencia. balhos na vi­
Para se es­ nha elo Se­
quivar ás per­ nhor. "Tu a
seguições cl,e vocação - es­
uma senhora crev1eu-lhe es­
nobre e in­ se Bispo - é
fluente, trans­ a de luctar. É
foriu-se parn teu <lever en­
Alcalá, !onde ,tregar-te á lu­
dontinuou oj cta pela salvia-
iestu d o s. Já ' ção tua e ele
naquella occa- outros e não
• sião C011neçou pócloes, p ar a
a pratica de tua tranquilli­
penitienciar o cla;cle, deixan· a
e o r p o, para Eg r e j a em
treinai - o na mleio elo com­
lucta contra as bate".
paixões. Estas pala­
Em 157 9 vms profunda
ni:orr e u - 1 h e i,mpressão c.a:u­
. numa guerra, saram no co0
o unico irmão ração do jo­
P e dro. S. Josê Calasancio vem sacerdote,
Quiz então o Para realizar seus planos ele sã reforma do systema
escolar, associou-se com alguns homens piedosos, e
qt:Jê in-.media­
paie que José abriu escolas gratuitas. talmente aban-
V1o!ta:sse para clonou a casa
casa e tom:asse estado; desistiu, porém, paterna, parn receber as ordens do Pre­
ela ·sua insi-stencia, vendo que não era elo lado.
agrado do filho. Assim José pôde con­ Nova Ga:srella, Aragão e Catalunha
tinuar os estudos e fonna.r-s•e em Theo­ forani-Ihe durante oito a11nos, o campo
logia. Mais tarde o pae voltou a pleitear dos trabalhos apostolicos. Com resulta­
a:s idéas sobre casam,lento. José cahiu gra­ .do extraordinari>o, trabalhou pela paci­
vemente doente. O restabeleómento do ficação elas familias e pela refor­
jovem, ttm verdadeiro milagre, foi por ma dos costu!mes. Uma voz interna, po-

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.184 .27 de Agosto

rém; como em vlsa,o singularissima, Clenienfie IX, em 1699, concedeu aos


chamava-o insistentemente a Roma, pa­ religiosos das escolas pia'S novos privi­
m onde d:e facto se dirigiu, em 1592. legios, e cleu-lhies aos votos o caracter
Na capital ela Chriistan<lade se dedi­ ele v,otos sole111J11es. A Ordem propagou­
cou ao ensino ela infancia. O tempo se na Italia, na Hespanha, na Austria e
que sobrava, pertencia á oração, á vi­ Polonia, romando grande incremento
sita aos doentes e a outra:s obras cLe ca­ nesses paizes.
ridade. Quando in°01111peu a peste, elle e José Oalasia:ncio viveu unicamente para
São Oalmillo se sacrificaralm no serviço ·sua obra, dedicando-s•e de uma maneirn
dos doentes e cios morros. Todas as heroioa 3JO ensino de moços pobres. Os
noites visirava as sete Egrejas princi­ saicrificios, as penitencias mereoeram-lhe
paes da cidade. di-stincções extraordinarias de Deus. Di­
Para dar á vida uma orientação mai,, v,ersas ,nez,es lhe apparece,u a Santissim)a
positiva, fovse inscrever na irmandade Virgem, cujo culto lhe era peculiar des­
·da doutri111a christã. V1enclo, porém, que de a infancia e cuja devoção não se can­
não lhe era passivei riealizaT os planos çava de recommendar á mocidade.
de sã refoJ.1ma do systemia escolar vi­ Deus deu-lhe tambem o dom de ler
g,ente, associou-se com alguns homens nas consóenciais dos outros, de conhecer
pi,e<losos e, em Setembro de 1597, abriu cousas futuras e distantes. Não era'm
as pri1meirais escolas gratuitas. Aos alwm­ raTos os casos de praticar milagres em
nos pobres a dit1ectoria fornecia gratui­ presença dos alumnos. O dia ela sua pro­
taimiente os necessarios objectos escola­ pria morte Deus lh'o predi•sse. José Ca­
r,es e roupa. Essas escolais populariza­ lasancio morreu no dia 25 de Agosto
ram-se de tal maneira, que Philippe III, de 1648, na edade de 92 annos. Cem
da Hespanha, desejou a volta de José a:nnos depois lhe foram encontrados in­
pat"a sua terra e of fer,eceu-lhe u1111 Bis­ tactas o coração e a lingua. T•endo sido
pado. O hUlmilde servo de Deus, po­ numerosos os milagres, com que Deus
rém, pr,efieriu ficar na Italia. glorificou o tramlulo de seu servo, Cle­
Para dar á obra a garantia de subsis­ ntenve XIII, em 1767, inseriu o nome
tencia segura, concebeu o plano de fun­ de José Calasancio no registro dos San­
dar uma Congregação. Os trabalhO'S elo tos da Egreja.
santo homem eram visiv,elmente aben­
çoados por Deus. A matricula cios alum- R.EFLEXõES
11os ele José Oalasancio e dos compainhei­ 1. O signal caracteristico do christão é a
ms attingiu em pouco tempo o numero caridade. "Nisto o mundo conhecerá que
sois meus discipulos, si vos amardes uns
de \Sletecentos. Tão brilhantes resultados aos outros". (J o. 13. 35). Regra de vida
,e principalmente o bom espírito que rei­ para todos deve ser: o que queres que os•
nava entPe os estudantes, oharnaram a outros te façam, faze-lh'o a elles e o que
<11ttenção do Santo Padre, que nomeou não queres que se te faça, não o faças aos
outros. Fazer disso a app!icação não é
dois Cardeaes para examinarem a obra difficil. Que desejarias que os outros te
elas 1escolas pias. A impre·ssã•o que estes fizessem, si te achasses doente, pobre, sem
levamm foi a mais grata possível, e o agazalho, sem abrigo ? Amor ao proximo
Oairdml Antoniani legou urna grainde não tens, si negares tua visita ao doente,
tua esmola ao pobre, tua casa ao peregri­
fortuna ás escolas de José Calasancio. no desamparado, teu consolo ao encarce­
Em 1617, o Papa Paulo V reuniu as rado. São justamente essas as obras de ca­
ridade, que tanto agradam a Deus. A fé
escolas pias, dando-lhes a feição de uma nos faz reconhecer a pessoa de Christo no
Congr,egação, cujos meimbros podiam maltrapilho, no doente, no peregrino, no
viv,er em c01nmunidade, sob a observan­ pobre, no encarcerado. Mais preciosa é a
cia de uma regra e dos tres V'Otos - po­ caridade cuja acção se extende ao extra­
nho, ao desconhecido. Ai ! daquelle que lhe
breza, castidade e obediencia. negar soccorro.

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Furissimo Coração de Maria 185

2. S. José Calasancio collocou a vida toda nização da escola é, pois, nosso dever. Tra­
.i. serviço da instrucção. Instruir a infancia balhar na escola e pela escola, é obra de
e a mocidade na sciencia christã, é exercer apostolo, que terá recompensa na propor­
um nobre apostolado. Da educação, da ção de cento por um.
instrucção, depende tudo na vida do ho­
mem. A maçonaria, na perfeita compre­
hensão d'esta verdade, incorporou ao seu Santos rlo Mart11rologio Rom.ano, cuja me­
programma a fundação , a divulgação da moria é celebra.da hoje:
escola leiga e ímpia. A educação e instruc­ Em Capua, a morte do bispo martyr Rufo.
ção sem Deus, sem religião, tem por con­ De origem patricia, tinha sido baptlsado por
sequencia gerações futuras ímpias. Onde Santo Apollinaris.
falta a escola christã, estão abertas as por­ Em Tomi, na Dobruscha, o martyrlo do
tas a todos os vicias. Si hoje ha tanto des­ militar Marcellino, de sua esposa Mannéa
assocego na sociedade, si ha tanta dissen­ e dos filhos ,João, Serapião e Pedro.
ção, tanta discordia., e si vemos o vicio im­
perar por toda a parte, é porque Christo Na Sicilia a santa virgem Euthalfa, por
não reina na escola. O espirita da creança ser christã, morta por seu proprlo irmão
não tem sido formado pelo espirita chris­ Sêmiliano.
tão, que é espírito da ordem, da virtude, do Em San Severino a memoria da santa
temor de Deus. Trabalhar pela rechristia- viuva Margarida.

Leitura para a Festa elo

Puríssímo Coração de María


-� CORAÇÃO DE MARIA é todo terrenos, era todo de Deus, disposto a
� pureza; é "a irmã, a amiga, a pom­ arder do •santo fogo que Jesus tinha vin­
ba, a in'!maculada" ele Deus; é "a jJülil· do trazer para a terra. O Coração de Ma­
ba eleita, a unica perfeita"; é o propr;o ria tornou-se assim todo fogo e todo
"candor da luz ererna, o espelho imma­ chattjma: fogo pelo amor que lhe ardia
culado da magestade de Deus, a ima­ na alma; cha.1111\ma pelos esplendores de
gem da sua bondade". (Eccl. 7. 26). ü virtude que manifestava. "Maria era to­
Coração de Maria é tão puro que teve o da inflaimmada pelo Espírito Santo, co­
merito de subministrar o sangue ao mo o ferro pelo fogo, de maneira qu·e
Verbo incarnado. Deus, que "jamais en,­ nella não se via senão a chaimma do Es­
trará ntllma al'ma de má fé, e jamais ha­ pírito Santo, outra cousa não sentia se­
bitará num corpo sujeito ao peccado ·' não o fogo do divino amor". ( S. Ilde­
( Sap. 1. 4) não se teria certa/J.nente in­ phonso).
carnado em Maria, si ella não fosse a Maria foi creatura, que melhor que
propria pureza em pessoa. Bemaventura­ todos e cl'u!m modo especial soube reunir
dos os puros ele coração, porque verão elm si os valores da vida contemplativa
Deus", (Mth. 5. 8) proclamou Jesus ·e a activa ao mesmo tempo, - a unica
Ghristo. Pois _bem: Maria, que não só que podia dizer a si propria: "Eu dur­
vê continuam1ente Deus feito homem, mo, mas meu coração é vigilante".
mas vive da mesma vida e imprime as ( Cant. 5. 2).
primeiras palpitações ao Coração de Je­ Maria, feita Mãe1 do Salvador, veiu a
sus, deve possuir ll!ma "pureza tal que ser Mãe tannbem de todos os homens
depois da de D'eus ha de ser a maior. por elle salvos; como Mãe, não só de S.
(Santo Ansetmo). J oã.o, mas de todos os homens, foi so­
Quanto mais puro é um coração, tan­ lemlnem!ente proclamada no Calva.rio com
to maior deve s·er e é seu an.nor de Deus : estas palavt'as: "Eis ahi teu filho -
o Coração de Maria, livre de affectos Eis ahi tua Mãe". (Jo. 19. 26).

Bertet ti : II sac. predicatore.

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186 Purissimo Coração de Maria

Cdmo entre os Santos não haja não ha quem se possa subtrahir ao seu
quem mais a,me a Deus que Maria, as­ calor".
sfün depois de Deus não pode haver O Coração de Maria é semelhante ao
queírn [mereça mais o nosso amor, que Coração de Jesus. Maria pode dizer a
esta amorosisisim:a Mãe. Si grande é o Jesus como disse o Padre Eterno: "Tu
a1mor natural que uma mãe tem a seu fi­ és meu Filho, eu te gerei". ( Ps. 2. 7)
lho, quanto maior não deverá ser o amor Maria tem, como o Pae, pnr Filho a se­
,
sobrenatural que Maria nos tem a nos, gunda pessoa da SS. Trindade. -:L'm
seus filhos regenerados pelo sangue de Deu,s deve culmular sua m,ãe de dons e·
Jesus ! A seu respeito se póde repetir o de graças dignas de si tanto cm qmdi­
que Jesus dizia do Padre Eterno: dade e quantidade. A mãe eleve ser �c­
"Amou de tal modo o mundo, que lhe melhante ao filho, como o filho á mãe.
-deu seu Filho Unigenito". (Jo. 3. 16). "A hulmainiciaJde ,ele Jesus Christo, por ser
- Deu-nol-o, quando lhe pedia o con- unida a Deus e á Beatissirna Virge, 1,
sentimento para ir á morte ;-<leu-nol-o por s•er mã-e de Deus, têm uma certa �i­
quando entre o odio dos iniimigos e o gnidade infünita proveniente do bem in­
pavor dos discipulos só ella podia de­ finito que é Deus". (S. Thomaz d'Aq.)
fendel--0 deante dos j,uizes; a palavra de lvfaria, corno foi a maior crcatura .Ji,­
unw. imãe como dia, tão sabia, tão cari­ pois de Jesus, tambem depois de Je.; ·.­
nhosa, grande força teria exercido so­ foi a mais lmmilcle de toda:s as cr,:1lu ·
bre os corações, mormente sobre PiJa­ ras. Conhecia bem os singulares fa-.·u ·
tos, que publicamente declarára a inno­ res recebidos cio Senhor; sabia-se muito
cencia de Jesus; deu-nol-o, quando, ao bem "a senhora cheia de graça"; sabi1
pé da cruz, naquellas tres horas de ago­ que era Mãe de Deus; no emtanto pr,i­
nia outra cousa não fez senão sacri fi­ fessa-se simples e humildemente a "serva
car, colm muita dôr, mas tambem com cio Senhor".
muito amor a nós a vida do Filho pri­
Nós, como o phariseu ela parabola, so­
mogenito, para salvar-nos da morte do
mos sollicitos em confrontar-nos com
peccado.
outros que nos parecem maiores pecca­
O coração materno de Maria sacrifi­ dores e mais miseraveis que nós. Maria,
cou o Filho primogenito em faver ele porém, á semelhança ele Jesus, confron­
nós, seus filhos tambem, bem sabendo tava sua lmmilclacle com a infinita
que para Jesus, depois da ignominia da grandeza e bondade de Deus e se abys­
cruz viria o triumpho da resurreição, e mava na sua pequenez de creatura. Ma­
que nós seriamos assiim resgatados pelo ria se perturba ao ouvir-se saudada por
seu preciosi,ssimo sangue. ulm archanjo; a Santa Izabel que a pro­
O Coração maternal de Maria conti­ cla(ma bemclita e feliz, Maria respon­
núa no céo a unir-nos a Jesu-s em uma de, attribuindo a Deus toda a gloria,
palpitação de a!mor. "Si já aqui na ter­ oolrn o "M nificat". "A minha alma
ag
ra foi grande em Maria o amor aos mi­ glorifica o Senhor". (Luc. 1. 46 - 57).
seraveis, muito maior será agora, sendo Pennanece tres :m:ezes em casa de
ella Rainha do céu" (S. Boaventura).­ Santa Izabel, porque, a selnelhança de
Agora, conhecendo ella melhor as nos­ Jesus, não tinha vindo para ser servida,
sas miserias, mais facillmente poderá mas para servir". (Me. 10. 45). Escon­
nos auxiliar. de a todos, tambem ao seu esposo José,
"Maria, diz S. Bernardo, realmente a graça ele ter sido feita mãe de Deus,
é tudo para todos : a todos abre o seio rn1esmo quando parece necessario desven­
da sua misericordia, para que todos re­ dar-lhe o grande ;mysterio. Não appare­
cebattn da sua plenitude: o escravo res­ ce quando seu Filho é recebido com to­
gate, o enfermo saude, o afflicto conso­ das as honras pelo povo ele Jerusalém;
lação, o peccador perdão, de modo que no Calvario ella está para mostrar ao

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28 de. Agosto 187

mlunido inteiro, que ella é a m.ãe desse Maria poderia desempenhar este en­
condeimnado, que morre uma morte infa­ cargo".
me e cheia de ignominia. O Coração purissimo de Maria, ador­
nado das mesmas virtudes e palpitando
A' semelhança de Jesus, o Coração dos mesmos affectos do Coração de Je­
purissimv de Maria na gloria celeste sus, é o coração de lima creatura, a qual,
não se esquece dos pobres, seus filhos: si betm que esteja exaltada sobre rodos
e como Jesus no céu, está á mão direita os anjos, não foi todavia exaltada como
ele Deus Padre, "vivendo sernpre, inter­ Jesus á egualdade de Deus e a união
cedendo por nós". (Hebr. 7. 25).
com Deus em ulma pessoa.
Jesus é o fiel e poderoso Mediador "Em Maria nada ha de severo, nada
entre Deus e os homens : diz S. Bernar­ de terrível; niella tudo é suavidade". ( S.
do; lll'a!s em Jesus os homens tem a te­ Bern.) O Coração de Jesus é sempre o
mer a divina magestade; necessitam de Coração d'um Deus: o Coração de Ma­
alguem outro que interceda junto ao ria é só e só o coração da mais mansa
nosso Mediador. Ninguem melhor que e da mais amavel da:s creaturas.

28 de Agosto

SANTO AGOSTINHO
(t 430)

j�: � ÂÜ grande é a gloria que Santo ernJ conservai-o no caminho do temor ele
:li � Agostinho adquiriu, pela sua con­ Deus. Bem cedo Agostinho, esquecendo­
versão, santidade de vida e não menos se dos conselhos da mãe, cahiu na es­
pelos seus escriptos, que mais de 150 cravidão do peccado, como mais tarde
Congregações religiosas quizeram ter a !:leve a nobre franqueza de confessar pe­
honra de combater sob a sua bandeira rante Deus. Causa d'esses desvarios elle
e que reoonhec� Santo Agostinho co- 1nesmo disse ter sido a leitura de máos
1110 fundador e pae. livros.
Taigaste, cidade da N umidia, ao norte Até a edade de 15 annos fez os es­
da Africa, era logar tão insignificante, tudos •em Madaura. Falta de recursos
que talviez tivesse ficado completamente obrigou-o a interromper a frequencia
desconhecido, si não fosse a terra de da escola e voltou para Tagaste, onde
Santo Agostinho. pe1.1ma.neceu, até que o pa,e tivesse con­
O pae d'este era funccionario publico seguido os meios necessarios, para po­
e gozava de geral estima, pois era ho­ der continua,r e terminaT o curso em
mem correcto e leal. Chaimava-se Patri­ Ca.rthago. Todos elogiavam a Patrício,
cio. Deus deu-lhe a gra a da conversão pelo interesse que mostrava em propor­
ao Christianismo, pouo a:ntes da morte. cionar ao filho occa:sião de fazer wn
Agostinho n oeu , 13 de Novembro curso brilhante nas escolas superiores.
ele 354. Sua 1J11ãe, Monica, santa mulher, "Meu pa'e -,- aissim se exprime Agosti­
procuirou dar ao filho urma educação nho, - fez tudo para 1111e adiantar neste
conjespondente á sua fé religiosa. Gran­ inundo. Pouco se lhe dava, porém, de
de, porém, foi o desgosto que teve, ao saber si eu era casto, comtanto que fos­
vêr que baldados lhe fora1m os esforços se eloquentie".

Santo Agostinho - Das suas obras e da biographia escrlpta por Possldeo. - Tillemont
XIII. - Celllier XI. - Helyot, Hlst. des ordres relig, - Raess e Weiss. XII.

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·188 28 de Agosto

Durante esse tempo, na edade de 16 par-a pedir ao Prefeito Symmacho um


annos, Agostinho se entregou de corpo lente ele rhetorica. Agostinho, por meio
e alma aos prazeres mais ahjectos e vis, ele protecçã-o dos amigos mjanichéus, con­
i1wejan<lo os companheiros, quando se seguiu a pref.erencia entre varios con­
ufanavam de indignidades por elles pra­ currentes e seguiu para Milão.
ticadas, que não lhe tinha sido possível. Uma cla:s primeiras visitas que lá fez,
O bempo qne passou em Carthago, foi a foi ao santo Bispo Ambrosio, que o re­
época mais triste de sua vida. Lá teve cebeu com toda a corclialidacle.
U/111 ülho, fructo cio peccaclo. Agostinho Foi Deus quem guiou os passos do
cleu-lhe o nome de Adeo<lato. jovorn, que, sem o saber, já se achava
lndescriptiv'Cl era a tristeza e clôr que nas malhas ela graça divina. A a1111abili­
a mãe experi1111entava, sabendo o filho clade com que Aim,hrosio o tratava, a ca­
em estaidb tão lastimavel. Essa dôr ain­ ridade que encontrava e principalmente
da redobrou, quando soube que Agosti­ a eloquencia arrebatadora do santo Bis­
nho se tinha filiado á seita dos mani­ po, fizeraim com que o coração ele Agos­
cheus. Monica chorou, como si tivesse tinho se abrisse ao conhecfanento da ver­
perdido o filho pela mort'e. No emtanto dade. Si antes ·era de opinião que contra
não cessou de rieza:r pelo apostata e pe­ as provas do Manicheisrno não havia
diu a pessoas pi·eclosas das suas relações, argu1111entação, as predicas de Santo Arn­
que unissem as orações ás della, para hrosio desfiz·era:m essa pretensão. Pou­
obter a graça da conversão de Agosti­ co a pouco conheceu que o systema da
nho. Este pa1,ecia ficar dia a dia mais her·esia ap1,esenta'Va gra,ndes lacunas e o
orgulhoso é tornou-se completamente espírito fimlrn!ente se lhe entregou á
inaccess.ivel a:os rogos de sua mãe. No­ força ela verdade.
ve annos passou Agostinho nas trevas Agostinho pediu para s•er inserido na
do erro he1·etico. Monica teve uma com­ lista cios catechumenos. Sabendo quan­
m1uinicação de Deus, que lhe garantiu a ta 'magua no passado causára á mãe,
conv,ersão do infeliz filho. previa o grande prazer que lhe causaria
1

Agostinho, entretanto, abriu em Ta­ a noticia ele sua conversão. Monica, de


gaste ,e mais tarde em Cartha:go, um facto, veiu a Milão, mas nenhuma de­
curso de rhetorica. Era um horizonte monstração deu ele satisfação, por ter
muito estreito para sua a:1111bição sem li­ o filho deixado a heresia. Para Agosti­
mites. Tinha por ideal adquirir fama nho mesmo seguirnm-se ainda dias de
mundial; foi o que o f,ez embarcar para graves luctas intiernas, pois eram preci­
a Italia. sas resoluções herculeas, para quebrar
Monica tudo f.ez para dissuadil-o os grilhões de 111áos habitos, aclqniriclos
d'esse plano ou pelo menos alcançar que em, longos annos e deixar-se levar uni­
a levasse e,m sua companhia. Agostinho, caimente pelo suave impulso ela graça di-
para sie livrair elas importunações da vina.
mãe, fingiu levar um aimigo até as em­ Em, certa occasião, recebeu a visita
barcações, emquanto ella se hospedava do amigo Ponticiano, que lhe contou a
clurnntie ttma noit,e, ntllm albergue pe1io vida de Santo Antão. Foi a hora da gm­
do porto. Monica passou a noite toda ça triumphar. Agostinho confessa que,
em oração e pranto e quando chegou o ao conhecer a vicia do grande eremita,
dia, Ag,ostinho já se achava em alto mar, ficou profun<lrunente com,movido e tão
em demanda · de Roma. Chegado á ci­ forte foi esta cdmimoção, que se viu
dade eterna ca:hiu gravemenre doente. tdmad'o ele verdadeiro horror cio peccaclo.
Logo que se restabeleceu, leccionou rhe­ Não foi só isto: Deus interveiu clire­
torica e essas prelecções tiveram grande ctaJmente na historia d'esta conversão ce­
affluencia. lebre, . Quando um dia Agostinho se
Na mesma occa:sião achava-se em Ro­ achava á sdmbra d'uma figueira, ouviu
ma wna commissão da cidaide de Milão, perfoita e distinctamente a:s palavras :

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28 de Agosto 189

"Tama e lê". Instinctivamente abriu o glotonarias e borracheiras, não em des­


prim!eiro livro que se achava á mão. honesticla<les e dissoluções; mas revesti­
Eram as epistolas de S. Paulo. Abrin­ vos do Senhor Jesus Christo e não fa­
do-o, topou com os versos: "Caminhe­ ça:es uso da carne crn seus appetites".
mos cerno de dia, honestamente, não em (Rom. 13. 13). Tendo lido isto, não quiz

íl
Q

A
X

Sant'Agostinho, Bispo e Doutoi, da Egreja


,;Atravessaste, Senhor, o meu cora<;ão com uma setta deamor
tão penetrante, que bem mettida ·no peito ficou abrasado o
feno dentro da ferida.

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190 de Agosto

prosegui�. Fez-se-lhe luz na alma. A dade de ordenar sacerdotes. O povo, co­


tristeza estava-lhe tra:nsfor,mada em ale­ nhecendo as virtudes e talentos de Agos0
gria e, toltnado d'essa alegria, procurou tinha, o propôz ao Antistite, como candi­
o amigo Alipio, fazendo-o participante dato digno. Eiribora Agostinho reluctas­
de -sua satiisfacção. Alipio .abriu o livro e s'e, allegan<lo indignidade, Valeria confe- .
leu adiante as palavras, que Agostinho riu-lhe as ordens maiores. Uma vez s
não tinha visto: "Ao que é ainda frac'J cerdote, Agostinho pediu ao Prela o
na fé, ajuda.e-o". (Rom. 14. 1). Apode­ licença para fundar um convento m &
rou-se tambem de Alipio grande coro­ Hippona e para esse fim, Valerio li e
n1oção, que o levou a acoimpanhar Agos­ deu ttm grande terreno, naJS proximida­
tinho na convel'são. des da egreja.
Não tardaram a levar á santa Mani­ Muitos outros conventos ainda se
ca esta boa nova. O coração da pobre fundaram na Africa septentrional e
mãe transbordou de. alegria, quando a Agostinho, com razão, é considerado
recebeu e ouviu de que modo se reali­ fundador e organizador da vida mo­
zára a transformação no coração do fi­ na:stica.
lho. Deus tinha-lhe, afina;!, ouvido a Em 395, a pedido e insistencia do
ora�ão e não só isto: a conversão de Bispo Valeria, foi Agostinho sagrado
AgÓstinho dera-se de maneira tão extra­ Bi6po. A nova posição não mais lhe per­
ordinaria, como nunca poderia esperar. mittia a permanencia no convento. Para
Como estivessem proxiimas as ferias, não perturbar a vida monastica, com as
Agostinho ficou em Milão, continuando frequentes visitas que havia de atten­
as prelecções. der, transferiu a residencia para urna
Depois, em companhia de sua mãe, ele outra casa, on<le foi viver em con1pa­
Navigio, seu irmão, Adeodato, seu fi­ nhia de sacerdotes, diaconos e subdiaco­
lho, e Alipio, retirou�se para a casa de nos.
campo de tfill amigo, afim de preparar­
se para o santo Baptismo. Recebido es­ Naquella pequena cournnunidade rei­
te, renunciou a tudo que é do mundo : navatm os costumes dos primeiros chris­
riqueza, dignidades e posição. O unico tãos. A ninguem era pemrittido ter pro­
desejo que tinha era de servir a Deus, priedade. O que possuíam, servia á coa;n­
sem restricção alguma e, para poder munidade. Ninguem era a<l1mittido, que
pôl-o em pratica, formou Ulma especie não se ligasse pela promessa de sujei-
de congregação, composta de amigos e tar-se a esse regulamento.
patricios, que já se achavam em sua A' mulher era vedada a entrada. Nes­
companhia. Manica cuidava de todos, sa prohibição estava a propria inmã de
como si fossem filhos. Havia ainda uma Agostinho, que era viuva e superiora
difficuldade: achar um logar onde pu­ num convento de religiosas.
dessem, como desejava, viver em com­ Si o munus pastoral lhe in�punha a
munidade. Resolveram voltar á Africa. visita a uma pes,soa do outro sexo, fa­
Quando chega.mim ao porto de Ostia, zia-se acwnpanha:r por um dos sacer­
morreu Monica, que Agostinho lá sepul­ dotes.
tou. Tendo chegado a Tagaste, vendeu Os escriptos de Agostinho dão teste-
todos os bens, em beneficio dos pobres. 1nunho do seu amor a Deus, da sua hu­
Escolheu um Jogar perto da cidade, on­ mildade, vigilancia e zelo apostolico.
de, durante tres annos, levou CCJIITI os Morreu cctno viveu: pobre, no anno
compainheiros uma vida egual á dos pri­ de 430. Grandes, porém, são os thesou­
meiros eremitas do Egypto. ros espirituaes que deixou á Egreja, nos
Negocios urgentes chaimaram-n'o a seus livros, que apresentam eterno va­
Hippona. füspo <l'aquella cidade era Va­ lor. Por lllllla especial providencia, acon­
leria. Em diversas occasiões se dirigiu teceu que no grande incendio que os
aos diocesanos, expondo-lhes a necessi- Vandalos causaram, na tomada de Hip-

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29 de Agosto 191

pona, fossem poupadas a egreja e a bi­ teus peccados e não os confessas , "sem
bliotheca do grande Bispo. confissão serás condemnado ".
5. Santo Agostinho, vendo-se tão escra­
REFLEXÕES vo da paixão, chegando quasi a descrêr da
1. Santo· Agostinho converteu-se na cda­ possibilidade da conversão, encheu-se de
de de 33 annos. De grande peccador que coragem com o exemplo dos Santos. "Elles
era, transformou-se em grande penitente se salvaram, porque não hei de salvar-me
e santo. - Si tua vida passada apresentar tambem" ? - dizia e com a boa vontade,
os mesmos traços da vida de Santo Agos­ com a graça de Deus, conseguiu livrar-se
tinho antes da conversão, procura imitai-o dos terriveis liames do peccado. - A mes­
tambem na penitencia e no ·zelo de salvar ma -experiencia fazem -todos aquelles, que
tua alm,a. sinceramente procuram o caminho da
conversão.
2. Santo Agostinho prorogara a conver­
são, sem por muito tempo achar coragem
de mudar de vida. Mas nma vez que se re­ Santos mija memoria é celebrada hoje:
solvera a abandonar o caminho do peccado, Em Roma, S. Herm.es, Prefeito de Roma
não mais voltou atraz, ficando firme nos e rnartyr da Egreja, e com elle muito,; chris­
bons propositos. - Si ainda hesitares em tãos, que no mesmo dia foram executados
fazer penitencia, toma, como Santo Agos­ por ordem do juiz Aureliano.
tinho, nma firme resolução de emenda;
converte-te, faze penitencia e persevera Na Abessynia, S. Moysés. De escravo que
n�L era, tornou-se chefe de urna quadrilha de
bandidos; converteu-se, porém, foi morar
3. A conversão de Santo Agostinho foi o
na solidão, ordenou-se depois sacerdote. Se­
resultado da audição das prédicas de Santo
culo 4.
Ambrosio e da leitura das epistolas de São
Paulo. - O peccador que despreza a au­ Na Abessynia, a memoria de Ghebra Mi­
dição da palavra de Deus e a leitura de li­ guel, antes monge copta e sabio. Seus
vros espirituaes, está bem longe da con­ estudos trouxeram-lhe o conhecimento do
versão. bispo Justino de Jacobis; converteu-se ao
4. Santo Agostinho, para maior humilha­ catholicismo e ordenou-se. Constantemente
ção, escreveu e publicou a propria confis­ perseguido pelo Imperador Theodoro e pelo
são. - Si estiveres em peccado, porque não bispo scismatico Salama, morreu em 1855.
te animas a fazer uma boa confissão ? Seu martyrio é um dos mais gloriosos dos
Lembra-te da palavra do mesmo Santo nossos dias. Pio XI o beatificou em 1926.
Agostinho, que diz: "Si sem confissão tua O bemaventurado sacerdote tonklnez João
vida está bem occulta", isto é, si encobres Dat, foi decapitado no anno de 1798.

29 de Agosto

Degollação de S. João Baptísta


A UANDO S. João Baptista - o camente. A' testa do governo estava o
� preclaro precursor do Messias - rei Herodes, cognominado Antipas, fi­
abandonou o deserto, para onde se tinha lho d'aquelle outro Herodes, por cuja
retirado, por inspiração cio Espirita ordem foram assassin3!dos os innocentes
Santo, foi para o rio Jordão, onde co­ de Belém. E' o mesmo Herodes Antipas,
meçou a baptizar e prégar penitencia,
preparando d'esta maneira o terreno pa­ que figura na Paixão de Nosso .Senhor
ra a nova doutrina do Salvador, Nosso Jesus Christo. Pois foi ao tribunal d'es­
Senhor Jesus Christo. se monarcha que Poncio Pilatos mandou
Abusos e vicias cl-etestaveis tinham se Nosso Senhor, que de Herodes só ouviu
aninhado na sociedade Judaica e S. João escarneos e cujos soldados lhe vestiram
Baptista se propôz a verberai-os energi- a tunica branca.

Degollação de S. Joã�vang. Raess e Weiss XII.

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192 29 de Agosto

Herodes Antipas v1v1a escandalosa­ és o que ha de vir ou esperamos por ou­


mente, tendo raptado Herodiades, espo­ tro ?" S. João mandou fazer a Jesus
sa de seu irmão Philippe. Essa união esta pergunta, não porque duvidasse da
illicita era um máo exejmplo e grave es­ sua divindade e missão messianica, mas
canda:lo para a nação inteira. Não havia para que os discipulos tivessem occasião
quem se sentisse com coragem de ce•.1- de conhecer o grande Mestre, de vêl-o e
surar o lmonarcha e de chamai-o á or­ ouvil-o e presenciar-lhe as maravilhas.
dem. S. João Baptista, porém, não po­ E' opinião dos Santos Padres que a
dia vêr tal coisa de braços cruzados. prisão de S. João se effectuára em De­
O Evange­ zennbro, tendo
lho diz que ,o Santo ficado
Hero d es se encare e r a d o
sentiu attrahi­ até Agosto do
do pela perso­ anno seguinte.
nalidade ex­ Era em De­
traordin a r i a zembro q u e
do B a ptista Herodes fes­
do Jordão, e tejava pompo­
c om agrado samente o an­
lhe ouvia as niversario na­
instru c ç õ e s. ta l i c i o. Ao
Diz mais que sum p t u o s o
São João lhe banquete esta­
declarou, com va:m presentes
toda franque­ 1111.1.itos convi­
za: "Não te é vas, entre es­
.licito v 1 v e r tes os Princi­
com a mulher pes da Galli­
de teu irmão". léa. Fazia par­
O que o rei te do p r o­
respondeu, o gramma uitna
Evangelho não dança oriental,
c o n t a; mas executada pe-
podemos crêr
que Herodes
- ---- . \''\i:�·:>�
s
r� "õ:::.�"°5; /
s 1 1
:ier��i aªc1 ee��
recebeu muito S. João Baptista no carccre chamada Sa­
m:al a declara­ lomé. Tão bem
ção do propheta; tão mal que pon­ a jovem desempenhou o papel de
derou as possibilidades de livrar-se de dançarina, que Herodes, para lhe mos­
tão incommodo e i1mportuno admoesta­ trar content'1!mento, prometteu dar-lhe
dor. Si não deu passo nesse sen­ tudo que pedisse, ainda que fosse
tido, foi porque temia o• povo que a a metade cio reino. Esta promessa, tão
São João grande veneração dedica­ levianaJmente elmittida, o rei ainda a con­
va. Mais offendida se sentiu a mulher firmou com um juramento. Salomé, tão
e tanto fez, tanto instigou, até que o rei admirada quão perplexa, deante d'essa
se decidiu a encarcerar o Santo Precur­ inesperada liberalidade do monarcha, foi
sor. Na prisão, S. João recebia as visi­ ter cdm a mãe, para saber-lhe o parecer.
tas dos discipulos, que avidos ouviam as Herodiades achou chegado o mdmento
instrucções do mestre. Alguns foram, de livrar-se do odiado propheta e ne­
em com.missão, enviados ao Divino Mes­ nlmm instante hesitou. "Vae - disse á
tre, paira lhe dirigir esta pergunta; "Tu filha, resoluta,mente - e pede a cabeça

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29 de Agosto 193

de João Baptista". Sem pestanejar e teu Deus; o Senhor não deixará impune a
afoitaimente, a leviana dançarina trans­ profanação de seu nome. Não farás jura­
mento falso em meu nome e não profana­
mittiu a ordem da mãe ao Rei e disse­ rás o nome de teu Deus, pois eu sou o Se­
lhe em voz alta, para que todos a pu­ nhor". (2. Mos. 20. 7. 3. Mos. 19. 12).
clessm-n ouvir: "Quero que me dês, nun1 Insupportavel seria a vida, si não tives­
prato, a cabeça de João Baptista". Ao semas certeza absoluta da justiça de Deus,
que põe tudo nos devidos termos, isto é,
ouvir um pedido tão barbara e desapie­ que dá á virtude a recompensa que merece, e
dado, Herodes apavorou-se, mas, não ao peccado o justo castigo. Si assim não fos­
querendo desapontar a moça e lembran­ se, o martyrio de S. João Baptista e tantas e
do-se do juramento que fizera, annuiu tantas injustiças e atrocidades clamorosas,
não achariam solução. O que se observou
e mandou a guarda ao carcere onde João sempre e até hoje se observa, é que os jus­
se achava. A ordem de decapitai-o foi tos soffrem, quando os máos gozam. Os
cumprida immecliata1mente e poucos. mo­ justos são perseguidos e desprezados,
tnentos depois, Salomé teve satisfeito o quando os máos são estimados e festeja­
dos. Vemos nessa circumstancia, apparen­
seu desejo: a cabeça de S. João Baptis­ temente monstruosa, a actuação da justiça
ta, apresentada num prato. divina. Não ha homem que não seja pec­
Os discipulos, logo que souberam do cador e pelos peccados não provoque a jus­
crime, retiraram o corpo do querido tiça divina, como tambem creatura huma­
na não existe que não tenha boas qualida­
Mestre do carcere e deram-lhe honroso des, merecimentos naturaes. O peccado de­
enterro. ve ser punido, onde quer que seja encontra­
Os assassinos não escaparam da vin­ do, - tambem o peccado do justo reclama
castigo. Eis porque os justos já soffrem
gança de Deus. O Rei da Arabia, cuja aqui na terra, para não lhes ser compro­
filha, esposa de Herodes, por este ty­ mettida a felicidade no céo. A virtude, a'
ranno tinha sido repudiada, abriu cam­ boa obra, deve ser recompensada, onde
pa:nha contra o adultero, venceu-o e exi­ quer que se apresente, - tambem a boa
obra do pcccador reclama galardão. Não
lou-o. O Imperador de Roma, por sua podendo ser recompensada no céo, recebe
vez, desterrou-o para Lyon, na Gallia. a paga na terra, o que é de inteíra justiça.
Assim, abandonado por todos, fugiu ;\l"ão é máo signal, pois, si a vida parece
com Heroclia:des para a Hespanha, onde uma corrente continua de soffrimentos. "A
quem Deus ama, castiga" - é observação
almbos morrera;m na maior miseria. feita em todos os tempos. Louve.mos, pois,
Consta que Salomé, ao atravessar em a justiça de Deus e não nos deixemos ar­
pleno e rigoroso inverno, tlim rio coberto rastar á critica, á murmuração, ao desespe­
de gelo, este cedeu e os pedaços de gelo, ro. A verdade está na palavra de Nosso Se­
nhor, que na parabola do máo rico faz
chocando-se um contra o outro, corta­ Abrahão dizer-lhe: "Meu filho, lembra-te
ralrn-lhe a cabeça. que recebeste o teu quinhão de bens duran­
te a vida, ao passo que Lazaro só teve ma­
REFLEXõES les; agora elle está aqui consolado e tu
Herodes errou, julgando-se obrigado a soffres.
cumprir o juramento. Si jurar é tomar a
Deus por testemunha da verdade do que
se diz ou do que se promette, claro está Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
que juramento falso é um grande peccado. moria é celebrada hoje:
se diz ou do que se promette, claro está
como peccado é tambem prometter, sob Em Roma a morte rle Santa Sabina na
perseguição �e Adriano. Viuva, deveu sua
juramento, praticar uma acção má. O ju­ conversão ao christianlsmo á sua escrava
ramento em si é bom e santo, por ser um Serapia. 126.
acto de religião. Pelo juramento se appella
para Deus, que é a verdade suprema. Em Roma o martyrio de Santa Candlda,
Tres são as condições que justificam o virg·em. Seu corpo foi transladado por Pas­
juramento: a verdade, a justiça e o motivo coal I para a egreja de Santa Praxedes.
justo. Affirmar, com juramento, uma inver­ Em Constantinopla o martyrio do bispo
dade é gravissimo peccado, chamado per­ Hypacio e do sacerrlote André, no tempo do
jurio. "Não abusarás do nome do Senhor Imperador Leão o Isaurio.

Luz Perpetua 13 - II vol.

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194 30 de Agosto

30 de Agosto

SANTA ROSA DE LIMA


(t 1617)

0 DIA de hoj-� pertence á memoria foegava antes mãos e rosto com


ür �; de tllma Santa ela America do Sul. cortiça e pó ele pimenta da India,
R osJ, ou, segundo o 110111c ele baptismo: para assi\111 deslustrar a côr viva e
Isabel,' nasceu natural da pel­
em 1586, em le. Esta pre­
Lima, filha de caução d e v e
p a e s hespa­ envergo n h a r
nhoes. ', A ex­ tantas donze­
traorcli n a r i a las e senhoras
belleza ela cre­ cathoiicà.s, que
ança (motivou muito dinheiro
a i"nudança do gastam e mui­
nc1.ne de Tsa- to tempo per-­
1 >e! para Rosa. clem com as
Menina ainda, artes cosrneti­
escolheu San­ cas, não en­
ta Catharina xergan d o as
ele Senna por ciladas que o
modelo e pro­ clemonio com
tectora, e com isto lhes arrrna
o maior cuida­ á sua inno{'.t'n­
do p r ocurou cia e á inno­
imitar e culti­ cencia ele ou­
var as virtu­ t r o s. Vemo�
des ela grande os g r a n d es
Filha de São Santos prati­
l )orningos. car obras de
Os elogios rigor o s a pe­
u1e ouvia, por niten c i a, pa­
causa da for­ ra 1 i v rar--se
mosura, puze­ elas tentações
r:,·11-n'a ele so­ do cl e monio.
breaviso e fi­ Santa Ro s a
;'.::ram-na fu­ p e n itenciava­
gir de tudo se a si pro­
que lhe pudes- pria, para pre­
�i� ser occa- Santa Rosa de Lima venir os ata­
��'.ão ele pec- Foi morar numa cella estrnita e pobre, onde se en­ ques que lhe
ca;_-. Devendo tregou ás praticas da mais austera penitencia, col­ pudessem vir.
appaPcccr em locando na cabeça uma. corôa de espinhos, para
assim ter sempre presente a lembrança da Sagrada Conhec •e n d o
publi c o, cu- Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Christo. no amor pro-

Santa Rosa rle Lima - Vida de Santa Rosa pelo P. Hansen, O. P. e do panegyrico do
P. Oliva S. J. -- Raess e Weiss XII.

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30 de Agosto 195

prio o mlltlligo principal de toda a vir­ assim para as bodas eternas, a esposa de
tude e gerador de rodas as paixões, con­ Jesus ergueu o vôo para o céo em 24 de
tra elle dirigiu todo o rigor das peniten­ Agooto de 1617.
cias. Conseguiu o cdmpleto dorniinio so­ O enterro ele Rosa foi uma verdadeira
bre este tyranno, pela pratica da humil­ apotheose. O proprio Arcebispo de Li-
dade e pela obediencia sem reserva aos 111:a presidiu ás exequias, e as pessoas
pa-es, como talmbem por uma paciencia mais gradas da sociedade e do clero dis­
sem lirnite nas contrariedades da vida putavam a honra de carregar-lhe o cai­
Infelizes nos negocios, os paes perderam xão mortuario.
a fortuna e para ter sustento, Rosa en­ A's cent•enas contam-se os milagres
trou para o serviço domestico, como 11ealizados no tuimulo ela santa virgem,
empregada, na familia de um cidadão. todos testemunhados por muitas pessoas
Oom a maior ponvualidade se dedicoLI e rigoroSla(lnente exanninados pela auto­
aJo trabalho, sem se esquecer das prati­ ridade ecclesiastica. Clemente X canoni­
cas de piedade. Nunca fa!milia alguma zou-a em 1671 e marcou-füe a festa pa­
teve ·e'l111[)regada mais fiel, mais virtuosa, ra o dia 30 de Agosto.
que os patrões de Rosa tiveram.
Quando, porém, a quizeram obrigar a REFLEXÕES
tolmar esta:clo, além de rerrovar o voto Não só S. Pedro é pescador de homens;
ele castidade, anteriormente feito, entrou o demonio não o é menos. Tambem ellc
para a Ordem Terceira de S. Domingos. lança a rêde, e muitos são os peixes que se
Foi morar numa cella estreita e pobre, lhe emmaranham nas malhas. Tambem cllc
lança o anzol, provendo-o da isca da vai­
onde se entregou ás praticas ela mais dade. Como a vaidade do corpo é uma in­
austera penitencia, collocando na cabeça clinação mais natural da mulher do que do
uma corôa de espinhos, para assim ter homem, o demonio tem jogo facil em apro­
sempre presente a lembrança da Sagra­ veitar-se d'esse fraco e afastar muitas al­
mas do caminho da virtude. A posição da
da Paixão e Morte de Nosso Senhor mulher christã na sociedade e no lar exig�
Jesus Ohristo. que dispense ao corpo a necessaria atten­
Tendo-se em conta de grande pecca­ ção e se vista com elegancia e decencia.
Relaxamento e negligencia neste particu­
dora, não cessava de cantar as misericor­ lar nunca foi virtude e nem agrada a Deus.
dias divinas e no coração lhe ardia um O exaggero, porém, é do mal. A mulher
almor a Deus tão intenso, que lhe pare­ catholica, que como tal se preza, não sr
cia estampado no semblante. Ajoelhada deixa escravisar pela moda, mórmente
quando esta se apresenta contraria ás leis
nos degráos do altar do Santíssimo Sa­ da honestidade christã. Repetidas são as
cra/mJento ou tendo recebido a santa admoestações do Apostolo S. Paulo ás mu­
Communhão, com o espirita arrebatado lheres exigindo, que se vistam com decen­
a celestes regiões, antegosava da união cia. Grande re·sponsabilidade assumem as
mulheres que, não observando as leis da
intima com a Santíssima Trindade, que moral no vestir, não só esçandalizam o
é o encanto e a vida dos bettnaventura­ proximo, como tambem põem em grande
dos. A cruz não lhe faltou, sendo que, risco a propria salvação. "Dize-me como
te vestes e dir-te-ei quem és".
durante quinze annos, teve de soffrer
duras perseguições de pessoas que vi­
vialm no mundo, e curtir provações e Santos do ,lfartyrologio Romano, cuja me­
tentações a:s mais graves. moria é celebrada hoje:

Todos esses soffrimentos, que Deus Em Roma o martyrio de Santa Gauden­


cia, virgem, e tres companheiras.
mandou á sua serva, serviram para fir­
mal-a mais na virtude e santidade. Na Na colonia africana Suffétula (hoje
Sbeitla na Tunisia) o massacre de sessenta
ult:i� doença, que lhe causou grandes christãos, 399.
dôres, cfizia frequentemente: "Senhor, Em Adrumeto, provincia africana, S. Bo­
faz·ei-me soffrer mais, cOl!nta:nto que aug­ nifacio e Santa Thecla. Seus doze filhos
mentei'S meu amor por vós". Preparada morreram martyres. 250.

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196 31 de Agosto

31 de Agosto

S. Raymundo Nonnato, Cardeal


(t 12�0)

D AYMUNDO, cognominado N,n­ cio Fundador, recebeu o habito branco,


l'.F! nato, filho de paes nobres, porén,, cam a cruz azul-vermelha.
destituidos ele fortuna, nasceu em 1204, Raymunclo, uma vez membro da Or­
dm Portel, na Catalunha. :Menino ainda, dem, dedicou-se ao estudo das sciencias
mostrava muita propensão para praticas theologicas, principalmente da arte rhe­
de piedade e já era fiel cumpridor dos torica e recebeu o sacramento da Or­
deveres. Dotado de boa intelligencia, cdm dem. Prégador eloquentissi- mo, ardente
grande facilidade fez os primeiras es­ de zelo pela causa de Deus e pela salva­
tudos. O pae, por6m, olJs,ervanclo no fi­ ção da:S almas, bem fundado na piedade,
lho uma certa inclinação para o estado o joven sacerdote apresentava todos os
religioso, encarregou-o ela adm:inistração requisitos de missionaria, como a Or­
d'tnrna requena faz•enda. Raymundo obe­ dem niecessitava para a difficil tarefa
deceu promptamente. A vicia tranquilla de resgatar os christãos do duro capti­
cio campo, ·em vez de absorver-lhe as veiro dos Sa:rracenos.
icléas rieligiosas, ainda mais as favore­ Tendo acompamhado o Fundador em
ceu. Foi na solidão que no espirita lhe duas viagens, este o nomeou chefe d'u­
aJmaclureceu a resolução ele cleclicar-se ma missão destinada á Algeria, onde li­
unicaimente a Deus, na Ordem de Nossa bertou cento e cincoenta christãos das
Senhora elas l\forcês, chamada tambem mãos cios 1111usulmanos.
da Misericordia da Redempção dos No amno de 1235 vemol-o em Roma.
Captivos, Ordem que, havia pouco, ti­ para onde o concluziraim negocios ur­
nha sido fundada por Pedro N olasco. gentes ela Ordem. Alcançada a approva­
Nesta resolução grandemente influiu a ção pontificia da Regra, coun a benção
devoção á Maria Santíssima, sua divina do Papa Gregorio IX, voltou para a
:Mãe, a quem se consagrou inteiramente. Africa. Lá teve a' satisfacção de poder
No sitio onde estava, havia uma peque­ libertar mais 228 christãos e entregai-os
na capella, dedicada á Rainha cio céo. ás r:espectivas familias. Quando, porém,
Lá, a:os pés do altar ele N assa Senhora, os recursos começaram a faltar, Ray­
Raymundo passava horas, em doce col­ mundo oHerecett-'se a si mesmo como
loquio com a Mãe de Jesus. As flôres rdem, pela liberdade d'aque.lles chús­
mais bellas que encontrava, levava-as á tãos que mais soffriam e cuja fé em
capella, para enfeitar o altar e a imagem maior perigo se achava de naufragar.
ela Mãe protectora. A flôr, porém, de Com ho1111 animo soffreu todo-s os máos
todas a mais preciosa, que offereceu á tratos, a inde!mencia do sol abrazaclor
Maria, foi a pureza do coração, junto africano, e as torturas, a que os musul­
com a prd1r1'essa de entrar na Ordea11 manos o suj·eitavam. Octn palavras de
já mencionada. conforto e pelo exemplo, reanimava os
Foi por inter'medio do padrinho, o pobres christãos, que difficilmente sup­
Conde de Cardona, que alcançou o con­ portavairn. as cadeias ela escravidão.
sentimento cio pae para se incorporar á Uma attenção particular clava áquelks
Ordem das Mercês. Sem mais delongas, infelizes que tinham negado a fé chris­
Seguin para Barcelona, onde, das mãos tã, para obter ttm allivio nas torturas e

S. Raymundo Nonnato - Das Chronlcas da Ordem da libertação dos escravos. - Helyot


f' BoJJ. VI. Ag. Raess e Wels::;. XII.

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31 de Agosto 197

um tratamento ma:is humano da parte barcelonense levou-o entre acclamações


dos Sarracenos. Tão insistentes lhe eram jubilosas, ao pala:cio cardinalicio. Ray­
os pedidos, tão irr,esistiveis os argumen­ mundo, porém, preferiu continuar a vi­
tos, que muitos dos infelizes apostatas da de rdigioso e trocou os salões do pa­
voltavam arrependidos ao seio da Egre­ lacio pela cella do convento.
ja e fazia!m penitencia. O zelo extendeu­ Quando alguem externava extranhe­
·se até aos proprios Sarracenos, aos za, por vêl-o proceder assim, Raymun­
qua,es prégou o santo Evangelho, e com do, com a amabilidade que lhe era pro­
tão bons resultados, que, entre elles, al­ pria, respondia: "Humildade e dignida­
guns dos mais nobres se conv,erteram ao de são duas irmãs que se querem muito
Christianismo. e 1mutuamente se apoiam". No anno de
Isso fez desencadear uma terrível 1240 o Papa o chamou a Roma. Numa
tempestade contra o santo missionaria. viage, m á Cardona, onde morava seu pa­
Os mlaigisitrados sarracenos condemna­ drinho e bennf.ei,tor, o Cardeal adoeceu
raim-no a penas crudelíssimas e só o re­ gravemente. Sentindo a m orte approxi­
ceio de perder pingues resgates fez com ma:r-se, Raytmundo preparou-se para a
que não o condemnassem á morte. Mas ultuma e grande viagem. Recebeu o san­
os juizes deshumanos excogitaram um to Viatico das mãos d'um Anjo e mor­
modo verda<lei-ralmente diabolico de não reu no dia 31 de Agosto de 1240, na eda­
só cruciar o homem ele Deus, mas im­ de de 37 annos. O Papa Alexandre in­
possibilitar-lhe tambem a prégação. seriu-lhe o nome no catalogo dos Santos
Mandaram-lhe perfurar com ferro eim da Egreja.
bmza os doi,s labios e fechai-os com ca­ O Conde de Carclona, a cidade de
deado. Assim - pensaram - não fala­ Barcelona e a Ordem a que Raymundo
ria mais do Christo e não enganaria pertencia, disputavalm entl"e si a posse
mais os filhos cio grande propheta. Ray­ do corpo do Santo. Para se obter uma
mundo soffreu durante oitô mezes pri­ decisão imparcial, o caclaver do mesmo
são duríssima e atrozes torturas. Si os foi collocado em uma carruag-em, puxa­
labios lhe estavam vedados de prégar, da por uma mula cega. Esta, guiada por
mais eloquentemente falavwm as feridas, forças invisíveis, tomou rumo para a
mais alto bradavam as cadeias, mais capella de Nassa Senhora, no alto da
persoodiam as dôres e a resignação elo n1:0ntanha, onde Raymundo tinha lança­
servo ele Deus. O carcere era constante­ do o fundamento ele sua futura vida ;· :­
mlent,e visitado por christãos e sarrace­ ligiosa. Lá o sepultaram, e da capella foi
nos que, vendo o santo missionario ao feito um templo magnifico e um san­
martyrio, se edificavam pelo exemplo tuario frequentadissi.mo. S. Pedro � o
raríssimo que lhes clava de, fé e constan­ lasco erigiu no 'mesmo local 111111 con ven -
cta. to da Ordem.
Com a chegada de novos missionarios
veiu tambem a libertação para Raymun­ REFLEXõES
do e, com a libertação, uma nova éra de S. Raymundo ensinava a fieis e infiei,.
trabalhos apostolicos. Para im.pedir-lh'o, os inimigos tiveram a
Chamado pelo Superior á Hespanha, idéa grotesca e deshumana de cerrar-lhe a
para lá seguiu, onde o esperava wlta e bocca, por meio de um cadeado. Cadeado
justa recompensa. O Papa Gregorio IX na bocca deviam ter os calumniadores, dif­
tinha-o elevado á dignidade de Cardeal famadores, perjuras, blasphemos., mentiro­
da Santa Egreja, em attenção ás suas sos e impuros. Si S. Raymundo no céo re­
cebeu uma gloria particular, em recompen­
altas e rara.is virtudes, como tan,bem aos sa do bom uso que fez da língua, duvida
seus grandes merecimentos. A entrada nenhuma póde subsistir a respeito d'aquel­
do missionaria em Barcelona equivaleu les que da bocca fizeram instrumento de
a uma v•erdadeira apotheose. O povo peccado contra Deus. S. Gregorio opina

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198 31 de Agosto

que o máa rico soffre no inferno penas Santos do Martyrologio Romn.no, cuja me­
cruciantes na língua, por causa das conver­ nioria é celebrada hoje:
sas impuras, que lhe foram o sal nos lu­ Em Treves a memoria do bispo Paulino.
xuosos festins. Quem não quer soffrer na Nas lutas contra os Arianos um decreto do
eternidade, expiando peccados commetti­ imperador Constancio condemnou-o ao exi­
dos pelo falar, deve pôr o temor de Deus. lio. Errando fugitivo de pa!z em palz, mor -
qual sentinella vigilante, na bocca, para reu na Asia Menor. 359.
evitar que Deus seja offendido por más
palavras. "Não prestes ouvido ao que lín­ Em Cesaréa os Santos Theodoto, Ruflna
gua ímpia falar e defende tua bocca 1;or e Mammia. Sec. 3.
uma guarnição de portas e fechadura,;". FJm Athenas a memoria do celebre phi­
(Eccl. 28). losopho e theologo Santo Aristides. Sec. 2.

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ANJO DE DEUS
Que sois meu guarda, illuminae-me, preservae-me,
condu:c:i-me e governae-me, já que a vós me con­
fiou a bondade paternal do Altíssimo.

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1 de Setembro

SANTO EGYDIO (Gíl)


(t cerca de 700)

kl ÃO ha documentos certos da viela corça, cujo leite lhe servm de alimento


l!i.� de Santo Egydio. o qual desde por algUJ111 tempo.
tempos im1mie1111oriaes é tido em grande Certo dia aconteceu que a corça, per­
veneração na França, Inglaterra e Alle­ seguida por Flavio, Rei dos Godos, se
manha. Dizem que era filho de nobre refugiasse na. choupana de Santo Egy­
familia atheniense. dio, tornando-se assim conhecida a re­
Egydio era um homem de grande vir­ sidencia do eremita. O Rei visitou-o e
tude e saber, que gozava da maior esti­ tão impressionado ficou pela virtude do
ma dos concidadãos. Para fugir dos elo­ servo de Deus, que se deixou tomar de
gios que lhe offendiaim a modestia e não grande sympathia e respeito por e!le.
sabendo como conseguir de outra ma­ Foi o bastante para que Egydio, em
neira uma vi-da mais recolhida, resolveu pouco tempo, recebesse visitas de muita
abandonar sua terra e emigrou para a gente, e o nome e santidade se lhe tor­
França, onde se •estabeleceu num loga·r nass·em conhecidos e celebrados em toda
enmo, 1110 Baixo Rodhano. A fama de a redondeza.
sa:ntidade espalhou�se-lhe tambem alli, Não podiam faltar hoanens piedosos,
motivo por que, pela segunda vez, se que tocados pelo mesmo espirita que ani­
pôz em viagem e retirou-se para um lu­ mava a Santo Egydio, quizessem imi­
gar desconheódo, perto de Gard, e mais tar-lhe o e:x;emplo e a solidão e com
tarde para a Diocese de Nunes, onde eHe viver em obediencia a uma regra
viveu na maior pobreza, alimentando-se pmposta pelo santo hdmem. Santo Egy­
só de hervas e raizes. Diz a biographia dio acceitou diversos candidatos e deu­
do Santo, que Deus lhe mandou uma lhes a regra de S. Bento por norma de

Santo .Egyclio - Mablllon. Annal Bened. III. - Bolland. Act. Sant. I. sept. 284. - Raess
e Weisc; XII.
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202 2 de Setembro

vida. O convento que os piedosos monges cem recompensas eternas ? Seja o lemma
em tudo que fizer,mos: "Tudo para maior
fundaraJm, foi mais tarde transformado honra de Deus ! " Com essa intenção san­
em egreja, entregue a sacerdotes se­ tifiquemos a nossa vida e tudo que fizer­
culares. Ao redor dessa egreja se for­ mos, seguindo o conselho do Apostolo São
mou, pouco a pouco, um povoado, que Paulo: "Quer comaes, bebaes oú façaes
qualquer outra coisa, fazei tudo para a glo­
recebeu o nome de Santo Egydio. ria de Deus". (1. Cor. 10).
Santo Egydio . morrieu santamente no
anno de 700, approximadamente. Fo­ Santo,ç do llfart11rologio Romano, cuja me­
morin é celebraria hoje:
ram observados muitos milagres que se
Na Palestina, S. Josué e S. Gedeão. Josul'
lhe realizairann no tnmulo. era Chefe dos Judeus e Principe de Ephraim.
Na França existe grande numero de Vencedo1· sobre os Amalecitas e Cananitas,
oonventos e egrejas com o nome de como successor de Moysés levou os Israeli­
Santo Egydio. As relíquias elo Santo tas á Terra da Promissão. E' prototypo do
Messias. Alcançou a edade de 110 annos e
achaim-se em Toulouse. morreu no anno 1434 a. Ch. Gedeão era
.Juiz da nação judaica. Já em sua mocidade
REFLEXõES destruia idolos e trabalhava pelo restabele­
Santo Egydio sahiu da patria para fur­ cimento do culto divino em toda a sua pu­
tar-se ao elogio dos homens. São poucos reza. Sua missão foi libertar sua nação do
os que imitam este exemplo. Muitos pro­ jugo dos Madianitas. Deu aos Judeus uma
curam recompensa do pouco bem que fa­ paz de 40 annos, pelo que lhe quizeram con­
zeim, nas honras e glorias vãs do seculo e ferir a dignidade real. Contra as constitui­
com isso se contentam. E' imitar os phari­ ções da lei mandou fazer um ephod das joias
seus e escribas do tempo de Jesus Christo. dos Madlanitas. Gedeão viveu 1244 a. Ch.
Desses Nosso Senhor disse: "Elles fazem Em Jerusalém a santa prophetisa Anna,
as obras para serem vistos pelos homens". filha de Phanuel, da trlbu de Aser. Assistiu
Qual é o proveito ? "Já receberam a pa­ á apresentação do Menino Jesus no templo;
ga". (Math. 6). Não os imitemos. Si se servia a Deus com oração e jejum e não sa­
nos deparar occasião de praticar um bem, hia do templo, diz o Evangelho ele S. Lucas.
(2. 36).
não o façamos com o intuito de colher elo­
gios e festas da parte dos homens , mas an­ Em Rheims a memoria de S. Xisto, discí­
tes para honrar e louvar a Deus ou com pulo de S. Pedro e victima ela perseguic;ão
um outro fim nobre e santo. Que nos neroniana. 1. sec.
adianta o elogio? Por que procurar uma S. Prisco, Bispo de Capua, um dos discí­
paga tão exigua, quando se nos offere- pulos de Jesus Chrlsto.

2 de Setembro

Santo Estevam, Rei da Hungria


( t 1038)

� ANTO ESTEV AM foi o primei­ ceberarrn o baptismo das mãos de San­


� m Rei christão da Hungria. Filho to Ada:lberto, Bispo de Praga.
de Geisa, duque de Hungria, nasceu em Santo Estevann foi educado christã­
975, na cidade de Gmn. Os paies do mente, para que um dia pudesse ser ser­
Santo, ouvindo em certa occasião pri­ vi-dor de Ghristo em verdade e Principe
sioneiros christãos falarem da religião modelar. Dotado de boa intelligencia e
de Christo, quizera!m conhecei-a e nella possuindo vontade de instruir-se em tu­
se instruira1m. Tanto por ella se enthu­ do que era util, natural era que fizesse
siasmaram que, largaindo as supersti­ grandes e rapidos progressos nos estu­
ções pagãs, se l1ornaram christãos e re- dos. Sempre na companhia do Bispo

Ra,;to E.�teva.m - Bolland. I. Sept. 458. Raess e Welss XII.

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2 de Setembro 203

Adalberto, tendo deante de si o exem­ Hungria e é reconhecido rei legitimo


plo e as instrucções deste santo homem, claquella nação o príncipe que a cingir.
adqui·riu a santidade que tanto o elevou O anno de 1001 viu a solemne uncção
acima dos collegas. Tenclo apenas q,uin­ de Estevalm, pelo Bispo portador da co­
ze a:nnos, o pa:e convidou-o para tomar rôa mandada pelo Papa. No dia da co­
parte activa no governo da nação. roação, Estevam collocou o reino de­
Pela morte do pae, Santo Estevam baixo da protecção da Santíssima Vir­
tratou da conversão dos subditos ao gem.
christianismo. Neste nobre tentamen en­ Terna devoção tinha á Mãe de Deus,
controu tenaz resistencia de uma gran­ á qual dedicou duas cathedraes - a ele
de parte dos hungaros, que se oppuze­ Gra:n e a de Stuhlweissenburg, nas
rann á mudança de religião, do paganis­ quaes os reis da Hungria eram coroa­
mo pa:ra o christianismo. Estevam re­ dos e sepultados.
correu á oração. Não podendo, porér,1, Gom louvavel energia Estevam atacou
quebrar a resistencia dos rebeldes, pe­ e aboliu os costumes supersticiosos dos
gou em a11ma:s. Por muito tempo ficou tempos idos e deu aos subditos leis sa­
indecisa a victoria. bias e severas. Um cuidado especial dis­
Neste estado de cousas, Estevam in­ pensava aos orphãos e ás viuvas. Aos
vocou os dois Santos - Jorge e Marti­ pobres o Rei em pessoa levava esmola e
nho, ambos de origem hu:ngara, e fez a sustento. No seu apostolado civilisador
Deus o voto de fundar em todo o reino e evangelisador, Estevaun encontrou for­
muitos conventos e edificar egrejas, te apoio na cooperação fiel e dedicada ela
querendo 00111 o dizi11110 sustentar os sa­ esposa Gi,sela, princeza bavara e irmã de
cerdotes do Senhor. O inimigo foi ven­ Santo Henrique, Imperador da Allema 0

cido e o christianismo não mais encon­ nha.


trou resistencia em sua entrada trium­ Estevaim cultivava de um modo ex­
phaJ na HungrÍ'a. traordinario o espirito de penitencia.
Avarento com o tempo, não perdia ho­
Fi,eJ ao que promettera, Estevam en­ ra, occupando-se sempre de cousas
cetou logo a fundação de conventos, _ uteis no cumprimento do dever.
dos quales o mais celebre foi o de São Dedicação especial da parte do Rei ex�
Martinho, nas proximidades de Raab, perimentarann os proprios filhos, dos
convento este, cuja pedra fundamental quaes o mais velho, Emmerico, mais tar­
fôra lançada ainda pelo pae de Geisa. de, com o santo pae, recebeu as honras
Foralm fundadas dez dioceses, cuja ad­ da canonisação.
ministração confiou a homens instrui­ Nos tres ultimas annos de vida Este­
dos e virtuosos da Italia e da Allema­ vaan foi visitado por muita doença. Sen­
nha. O Papa Silvestre II não só appro­ tindo a proxi'i111idade da morte, para ella
vou as nobres iniciativas do joven mo­ se p11eparou com toda a piedade. Tendo
narcha, mas reconheceu-o officialmente em redor os representantes da côrte e da
· rei da Hungria, e enviou-lhe uma co,rôa alta nobreza do paiz, muito lhes recom­
riquissittna e urna cruz de alto valor, mendou a obediencia ao Representante
cctm o privilegio desta ser levada deante de Christo sobre a terra, e a pratica das
da pessoa do rei, em solemne procissão. virtudes chri-stãs. Munidp dos Santos
Além destas extraordinarias dadivas, o Sacraa:nentos, morreu santamente, não
Pa!pa distinguiu Estevam com o titulo sem ter nova1mente consagrado á Nossa
de Apostolo da Hungria. Desde aquelle Senhora a cara patria. Bstevam entre­
tempo os reis da Hungria têm titulo de gou a alma ao Creador aos 15 de Agos­
"Magestade Apostolica". A "santa co­ to de 1038. A mão direita conservou-se­
rôa" de Estevalm é considerada até hoje lhe incorrupta e é gua,rdada com gran­
o symbolo do poder monarchico na des honras.

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204 3 de Setembro

REFLEXõES não queremos per-ter o nosso merecimento


Para que as nossas boas obras tenham para o céo, cuidemos de trabalhar e sof­
valor sobrenatural, é preciso que nos ache­ frer no estado da graça de Deus.
mos em estado de graça, porque a graça
de Deus é a raiz de todo merecimento. S/anto.9 do Martvrolooio Rom.wno, cuja me­
Boas obras feitas no estado de peccado m.oria é celebrada hoje:
mortal, soffrimentos, ainda que sejam os
mais dolorosos, fóra da graça santificante, Em Roma, a. martyr Santo. MaxJma, que
a 11enhuma recompensa no céo podem as­ na per:,egulção dloclecla.na. deixou esta vldu,
pirar. "Si désse todos os meus bens aos trocando-a pela gloria celei;te.
pobres, não tendo a caridade, de nada va­ Em Lyon a memoria do bispo Santo Elp!­
leria" (1. Cor. 13), escreve S. Paulo. Si dio. 422.

3 de Setembro

Santos Martyres Gorgonío, Dorotheo e


os companheiros
( t seculo Ili )

J/../l.\
HISTORIA dos Santos Ma.rty­ ciano, cujas altas pos1çoes ele imperatri­
� res, cuja memoria a Egreja hoje zes aJS salvaréllill das humilhações do car-
celebra, é prova patente do grande po­ cere e do martyrio.
der da graça ele Jesus Christo. N acla Dorotheo e Gorgonio eréllill almigos in­
em sua vida podia faz,er prevêr a gran­ ümos do Imperador, de cuja confiança
de distincção que Deus lhes reservára, gozavam illimitadamente. Diocleciano,
destinando-os ao may,tyrio. Homens que, enibora soubesse que eram christãos, da­
cdmo elles, viviaim na côrte imperial e va-lhes o affecto de pae e confiava-lhes
occupavaun lagares importantes nas im­ os bens, a segurança de sua pessoa e fa-
mediações do Imperador, não eram ge­ milia.
ralmente possuidol'es de qualidades que Essa posição privilegiada, a vida na
os pudessem tornar merecedores da ad­ côrte com todas as tentações e perigos,
mfração e da confiança do pmro. de modo algum influenciou na honradez
A côrte !imperial era, e todos o sa­ de caracter e firmeza de virtucle dos san­
biam, theatro das mais vis paixões e dos tos. Deus permittiu que tivessem Ullila
mais abominaveis vicias. Chirstãos que occasião de tmostrar completo desapego
eram, Gorg,onio, Dorotheo e os compa­ elas cousas deste mundo e que preferiam
nheiros, faziam excepção a essa regra. soffrier por Jesus 0hristo a gozar das
Foram convertidos do paganismo, gra­ delicias e honras da côrte.
ças ás orações e instrucções ele Luciano, Galerio Maximiano, tambem Impera­
como eU es, alto fttncciona'l'"io da côrte
1
dor e genro de Diocleciano, era inimigo
i:mperial. O exemplo de virtude que os implacavel cio Christiamislmo. Eimpenhou
neo-convertidos da.varn, fez com que toda a influencia até conseguir do impe­
talmbem outros abandonas1s·e!m o paga­ rial sogro a publicação de dois decretos
nismo e acceitasselm a religião de Lucia­ desfavoraveis a.os christãos. Estavam os
1

no. Parece que entre os catechumeno., dos Imperadores em Nicomedia, quan­


figu ravéllill a esposa e a filha de Deocle- do o palacio imperial se incendiou. Em-

FJS Go1·oonio, Dorotheo e companheiros - Lactanclo, Euseblo. Tlllemont. V. Raess e


Welea, XII,

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3 de Setembro 205

bara fosse elle proprio o incendiaria, apostatar. Vendo frustrarem-se-lhes to­


Galeria Maxihniano soube fazer conver­ dos os esforços, estrangularélJm-n'os. Os
gir todas as suspeitas, do crime contra christã:os enterraram os corpos dos rnar­
os christãos. De combinação com os mi­ tyres. O hnperador ordenou a exhuma­
nistros amigos de Diocleciano, teriam ção e as reliquias foram atiradas ao mar,
sido eUes os malfeitores. para assim evitar que os christãos lhes
· Diocleciano deixou-se facihnente con­ dispensassem "honras divinas".
vencer da verdade da terrivel accusação O corpo de Gorg,onio, foi 1nais tarde
e deu ordem para que todos os funccio­ sepultaido na Cathedrnl de S. Pedro, em
narios christãos fossem duramente cas­ Roma.
tigados.
Quinze dias clepüi'S, irrompeu novo REFLEXÕES
inccndio no palacio, tendo sido Galerio "Não seria bom servidor de Jesus Chris­
outra vez o mandante. Si na primeira to, si não fosse fiel ao meu Imperador" -
vez conseguira convencer o sogro ela cul­ disse Gorgonio ao juiz pagão. E' dever de
christão prestar obediencia ás autoridades
pabilidade elos christãos, desta vez essa civis. As palavras de Jesus Christo e dos
accusação fonmal enfureceu sobrema­ Apostolos são claras a esse respeito. "Dae
neira o collega imperial. Todos os chris­ a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que
tãos em servi ço palaciano, inclusive é de Deus" - diz Nosso Senhor. Obedecei
aque.Jles a que mais amizade devotára, aos homens por amor de Deus; obedecei á
foram entregues á pena de morte. Não autoridade, que é collocada por Deus, para
satisfeito de tel-os summariamente pro­ recompensar os bons e castigar os máos.
cessado, ordenou que fos,sem barbara­ Não ha autoridade no mundo que não ve­
nha de Deus. Quem se oppuzer á autorida­
mente açoutaclos e de muitas outras ma­ de legitimamente estabelecida e contra ella
neiras maltratados. se rebellar, contra Deus se rebella. A obe­
Gorgonio, Pedro e outras pessoas de diencia que devemos á autoridade, não se
destaque na côrte foram intimados a baseia no temor, mas no dever que a con­
render homenagens divinas a iclolos, o sciencia nos impõe. Por isso é que pagamos
qu•e firmemente recusaram. O Impera­ tributo; porque os representantes da au­
clm lançou em rosto a Gorgonio "ter toridade são ministros de Deus. "Pagae,
abusado de sua confiança". Este respon­ pois - diz S. Paulo, a todos o que lhes é
clc:u-lhe: "Nunca lhe fui infiel. Minha devido: a quem tributo, tributo; a quem
imposto, imposto; a quem temor, temor; a
religião não me penmittiria tal cousa.
quem honra, honra". A obediencia é fru­
Não seria bo'm servidor ele Jesus Chris­ cto das duas virtudes principaes do Evan­
to, si não o fosse egua�rnente de meu gelho - Caridade e Mortificação. A pri­
Imperaidor. Mas minha Peligião veda-me meira bane de nós toda a desconfiança,
adorar a falsos deuses, e antes entregaria quando a outra nos defende contra a so­
corpo e vicia do que commetter esse berba e a teimosia. Não é obediente quem
crime". se queixa, apesar de não se levantar con­
Dos soffrimentos por que passaram tra a autoridade. Aquelle que nos manda
ess,es Heis empregados do Imperador, amar aos proprios inimigos, espera de nós
clá-11os uma idéa a descripção qtte fez que não deixemos aninharem-se em nosso
coração adio e malquerença contra os nos­
delles Euzebio, relatando o martyrio de sos superiores. E' obrigação nossa acatar
Pedro. Suspenderam-n'o, rasgaram-lhe as e defender o nosso governo, sempre que
carnes com harpões de ferro e deitaram isso não vá de encontro aos mandamentos
s:il e vinagre mi.s feridas. Depois puze­ da lei de Deus. O bom christão rezará pe­
ra.111-11'0 sobre grelhas con1 carvões em las autoridades, para que Deus as proteja
brnza, queinmndo-lhe horrivelmente os e illumine. "Advirta aos christãos - escrc-­
pés. O martyr, porém, preferiu soffrer ve S. Paulo a Tito - que sejam sujeitos
tudo a negar a fé. Torturas eguaes foran· aos Príncipes e Magistrados, que lhes obe­
applicadas a Gorgonio e Dorothco, sem deçam e estejam promptos para toda a boa
obra". (Tito 3. !).
que os algozes conseguissem fazei-os

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206 4 de Setembro

Santos do Martyrologio Romano, cuja me- Em Aquileja, as santas Virgens Martyres


11wria é celebrada hoje: Euphemia, Dorothéa, Thecla e Erasma, vi­
Em Corintho a morte de Santa Phebe, que ctimadas na perseguição do imperador Nero.
estava ao serviço da Eg1·eja de Cenchris,
Em Nicomedia, a Virgem Martyr Santa
em cuja casa o Apostolo S. Paulo se hospe­
dava e que segundo a antiga tradição foi Baslli�::::ia. Menina de nove anno�, soff'reu o
a portadora da epistola aos Romanos. martyrlo com têl,ntêl, fortale1m,, que o proprlu
Em Cordoba, o martyrio de S. Sandalo na governador se commoveu e abracou o chrls­
perseguição diocleclana. tianismo. sec. 4.

4 de Setembro

SANTA ROSALIA
A VIDA de Santa Rosalia é a prova mação, como nenhdma outra se presta­
� de que o homem pela graça divim, va para ser habitada. Naqttrlla gruta vi­
consegue desapegar-se de tudo que o veu Rosalia por algum tempo, como at­
mundo de bom e apreciavel lhe offere­ testa a seguinte inscripção: "Eu, Rosa­
ce. Os paes de Rosalia perrenciam á alta lia, filha de Sinibaldo, Senhor ele Mon­
aristocracia ela ilha Sicilia, e por laços treal e Roses, habitei nesta gruta por
de parentesco estavaim relacionados com amor de Jesus Christo ". Não é conhe­
a famlilia real. O pae era Sinibaldo do cido o motivo que determinou a santa a
Roses, descendente de Carlos Magno. A a:bandonar esta gruta. E' provavel que
mãe, conceituadissima na côrte real ela passasse para uma outra, mais retirada
Sicilia, esmerou-se em dar á filhinha ainda, no monte Pelerino. O corpo foi
uma educação aprimorada. Em nada se encontrado nesta segunda gmta. Por ser
clescurclou, para garantir á m:enina um quasi inaccessivel, não se sa:be como a
futuro risonho e feliz. Outro, porém, Santa nella pôde entrar. Egualmente
foi o plano de Deus, que implantou no ignora-se como Santa Rosalia pôde vi­
coração da donzella um profundo abor­ ver nesta solidão.
recimento de tudo que era do mundo e S. Bernardo, occupanclo-se ela vicia ele
t1m ardente e forte desejo ele pertencer Santa Rosalia, chega a esta conclusão:
unica!mente a Deus. Impulsionada por Suppõe vtercladeiro heroisímo renunciar
estas aspirações, afastoo-se da casa pa­ a todo o auxilio huma:no, vendo-se ro­
terna e escolheu para morada uma gru­ deada de perigas e exposta ás mais ter­
ta inhospita, bem afastada ela cidade. riveis e perigosas ciladas do clemonio.
Resolução extranha, devéra:s, de uma E' facil imaginar-se, quantas luctas sus­
clonzella, rodeada de· todo o conforto, tentou o coração, recordando-se a cada
admirada por todos, abandonar a côrte, instante do carinho cios paes, cio esplen­
onde tudo a convidava a alegrar-se e di­ dor da vida na côrte real, tendo deante
vertir-se e trocai-a pela solidão duma de si a pobreza, a s-oliclão, a penitencia.
gruta. Grande foi a dôr dos seus paes. Man­
Rosalia, nmito antes ele executar esse claralm cmissarios por toda a parte, a
plano, tinha tomado providencias. A procura ela filha. Estes lhe encontraram
gruta de que se trata, acha-s·e perto de os vestigios na primeira gruta e quan­
Palermo, na fralda de um n1,onte cha­ do chegarai111 á segunda, acharam a San­
mado Montreal. Singularissima na for- ta s·em vida, na posição duma pessoa que

San�a Rosalici - Dolland. II, sept,

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5 de Setembro 207

dorme. Nttmerosos foram os milagres a Deus; signal é que somos mais munda­
com que Deus glol'ificou sua serva. A nos do que divinos. Os Santos amam a
Deus e fogem das cousas do mundo. Si
extincção da peste, qltle naquelle tempo comnosco se dá o contrario, é claro que
deva's1:ava a Sicilia, foi geralmente attri­ não somos Santos e no caminho da santi­
buida á intercessão de Santa Rosalia. dade não nos achamos.

REFLEXõES
Santos do Martyrolouio Romano, cuja me­
Santa Roaslia deixou o mundo e procu­ moria é celebrada hoje:
rou a solidão. Como ella, todos os Santos No monte Nebo, na terra de Moab, o
procede,m. Os Santos aborrecem-se do que grande Legislador e Chefe dos Judeus no an­
nós gostamos. Fogem do mundo; - nós o tigo Testamento, S. Moysés. Morreu na eda­
procuramos. Detestam os prazeres e vãos de de 120 annos, cerca de 1.300 annos antes
divertimentos; - nós os amamos. Fecham­ de Christo.
se no seu cubiculo, para socegadamente se
recolher em Deus; o nosso pensar está lá Em Vite1·bo a memoria de Santa Rosa,
fóra, na rua, na praça, no theatro, no ci­ Filha de paes pobres, era de Deus ricamente
nema, na sociedade, no baile. Os Santos prlvl!egiada. Muito trabalhou pela renova­
são amigos da oração; - nós não lhe so­ <:ão do espirito moral e religioso do seu tem­
rnas inimigos, mas não a cultivamos como po. Embora de pouca edade, pregava com
eleve ser; o nosso empenho é limitar o muito enthusiasmo, o que provocou as iras
mais passivei as praticas piedosas. Como elo Imperador Frederico II contra sua pes­
se explica esta differença entre nós e os soa. Rosa morreu, tendo apenas 17 annos.
Santos ? Quem tem amor a Deus, cm sua :-leu corpo, que se conservou intacto, ,-;e acha
presença sente-se hem. Acha delicia em es­ no convento das Clarissas em Viterbo, na­
tar com elle, falar-lhe na intimidade. Isto quelle mesmo convento, que em vida não
não é praticavel no bulicio do mundo e dos a quiz receber. Falleceu em 1252.
prazeres. Si procuramos o mundo e as cou­ Em Napoles Santa Candida. Foi ella a
sas que nos offerece; si lhe preferimos a prim.eira pessoa com quem S. Pedro, che­
companhia á leitura espiritual e á oração, gando áquella cidade :-;e encontrou; 1101· ello
�ignal é que lhe tomos mais amor do que foi recebida na Egreja e baptizada.

5 de Setembro

S. Lourenço Justíníaní, Patríarcha de Veneza


(t 1455)

U ATURAL de Veneza e filho de que 0111 mim existe é de ser um grande


i!l,I�! Bernardo Justiniani, homem de servo de Deus." A conducta do joven
a:lta linhagem, viu Lourenço a luz do no meio de tanta corrupção que havia
mundo em 1380. A mãe, Querina, de em Veneza, provou cabalmente a smce­
descenclencia egualmente nobilissima, era ridade daquella affirmação.
t1111a senhora religiosa, que considerava l{,eceiando pela salvação, pediu a Deus
coln10 primeiro dever dar ao filho edu­ para 1nostrar-lhe claramente em que es­
cação optima. A boa índole do menino e tado devia viver. Estando um dia em
sua inclinação para as cousas de Deus profunda oração deante da imagem de
facilitaram-lhe a tarefa, com razão con­ Nosso Senhor Crucificado, sentiu em si
siderada a mais ardua para as mães. tjm impulso fortissimo para abandonar
Quando um dia externou ao filho o re­ o mundo e dedicar-se ao serviço de
ceio d'elle se deixar levar pelo orgulho Deus, no estado ecclesiastico. Parecia­
e pela ainibição, este a tranquillizou com lhe ouvir uma voz dizer-lhe: "Por que
as palavras: "Mamãe, a unica ambição vagueias de u!ma cousa a outra, pro-

S. Lourenço Justiniani - Bolland. Helyot: Hist. des ordres relig. Raess e Weiss XII.

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208 5 de Setembro

curando repouso e paz, quando só em Jesus Christo que me dê a mesma for­


mim a poderás encontrar ? Está em tuas ça e constancia que deu aos tres jovens
mãos. Eu sou a Sabedoria Divina. Esco­ na fornalha?" Emquanto duravam as
lhe-me por tua esposa e herança e te­ operações, dos seus bhios não se lhe ou­
rás uim thesou­ v 1 a nenhum
ro muito gran­ gemido, a não
de." Lourenço ser,e:111 as ja­
obedeceu a es­ culatori a s a
ta voz, disse Jesus e Ma­
adeus a:o mun­ ria. Aos que
,ci'o e entrou 1
se admiravam
para o conven­ de tanta cora­
to dos Cone­ gem, respon­
gos Regulares dia: "O que
de S. Jorge, soffro, não é
em Alga, uma nada em com­
ilha existente paração com o
nas proximi­ que os Santos
dades de Ve- martyres sof­
neza. frera:m, quan­
Tão gran­ do atormenta­
des foram os dos com fa­
progressos que chos ardentes
fez na pratica e c o Bocados
das virtudes e na grelha.
da . santidade, Bem firma­
que todos se do estava na
admiraram. O humildade. O,;
que mais ad­ serviços mais
miração cau­ lmmildes eram
sava, era o os que mais
modo de en­ 1 h e agrada­
tregar-se a ex­ va:m, e quanto
ercicios de pe­ á roupa, dava
nitencia e mor­ preferencia ao
tificação cor­ que havia de
poraes. mais modesto.
Nunca mais Tanto poder
visitou a casa S. Lourenço Justiniani adquiriu sobre
paterna. Lá só Accusado injustamente em capitulo de ter tram;­ a lingua, que
foi uma vez, gredido uma regra da Ordem. Em vez de se defen­ nunca lhe es-
der e assim envergonhar o accusador, pôz-se no
para attender meio dos confrades e pediu perdão publicamente. capara u 111 a
ao chamado da O accusador, commovido com c:,tc exemplo de hu­ palav ra em
mildade, retirou a accusação, c confessou :seu mal seu louvor ou
mãe, que se e pediu a Lourenço, lhe perdoasse.
achava agoni­ clefeza. Amigo
za:nte. Provas ele virtudes heroicas deu ela oração, dedicava muito tempo a esse
quando un1 grande tumor, que lhe appa­ cxercicio de piedade, ficando no côro
receu na garganta, exigiu frequentes in­ bastante tempo, além do que gastava
tervenções cirurgica:s. Elle mesmo ani­ cooi a recitação do Officio divino.
mava o cirurgião a proceder com cora­ A santa Missa era celebrada por Lou­
gem, dizendo : "Não poderei esperar de renço com tanta piedade, que edificava

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5 de Se�embro 209

a todos e raras vezes acontecia que a "Nosso Senhor Jesus Christo - diss,�
.celebrasse sem derramar lagrimas. Mo­ elle - morreu sobre o duro lenho da
delo de per feição e santidade, era natu­ cruz, e quereis que eu, miseravel pecca­
ral que seus Irmãos de Religião por di­ dor, ,me deite e morra nmna carrna ma­
versas vezes o elegessen.11 Superior. cia ?" Logo após á recepção dos San­
O Papa Eug,enio IV sagrou-o Bispo tos Sacramentos, fez uma pequena ai­
ele V1eneza. Só a obediencia á Santa Sé locução aos que estaVaitT\ presentes. En­
pôde levai-o a acceitar essa grande di­ tre outras cousas disse : "Observae os
gnidade. Como Bispo, em nada se lhe mandalmentos da lei de Deus". Depois
modificou a vida monastica, o rigor con­ elevou os olhos ao céo e exclamou : "Já
tra si mesmo. vou, meu Jesus !" Foram estas as ulti­
Por diversas vezes percorreu o Bis­ mas palavras do santo Patriarcha., que
pado, aninrando os diocesanos a conti­ morreu na eelade ele 74 annos. A data
nuarem na pratica do bem, no a.mor ric da sua morte é 8 ele Janeiro de 1455,
Deus e do proximo. sendo-lhe o tümulo theatro de numero­
Durante sua administração foram sos milagres. Lourenço J ustiniani foi
fundados quinze conventos e erigidas canonizado por Alexandre VIII, cm
inuitas egrejas. 1690.
A uma parenta que lhe veiu pedir
auxi'lio para o casamento da filha, res­ REFLEXÕES
pondeu S. Lourenço : "Si dou pouco, "Que é que sofiro em comparação com
os soffrimentos dos santos martvres ? •·
nada te adianta; si dou m:uito, é para Este pensamento deve animar-nos tambem
ti só e muitos outros ficam sem nada. quando nos sobrevem a hora da dôr. Di­
Seja como fôr, os hens da Egreja não gamos, como S. Lourenço: "o que soffro é-.
elevem ser applicados para a sustenta­ pouco, comparando-o com os soffrimentos
dos Santos; o que soffro não é nada, quan­
ção do luxo, em vestidos e hanquetes, do o comparo com a Sagrada Paixão de
porque pertencem aos pobres. Por isso meu Jesus. Salutar é tambem a lembrança
não has rle levar a mal, pois não posso do inferno: o que soffro actualmente, é
attender ao teu pedido".. uma parcella minima das dôres que me
atormentariam, si Deus me tivesse deixado
Tendo morrido o Patriarcha ele Gra­ morrer em peccado ". Estes tres pensamen­
disca, o Papa queria Lourenço como tos são capazes de dar-nos alento, nos mo­
successor do mesmo. Prevendo, porém, mentos da dôr. De facto, tudo que aqui po­
demos soffrer e soffremos, é pouca cousa,
que os venctos clifficilmente se confor­ si o compararmos com o martyrio cios
mariam com a remoção do Rispo, trans­ Santos, com a Sagrada Paixão de Nosso
feriu o J'atriarcha de Graclisca para Ve­ Senhor Jesus Christo e com os tormentos
neza e elevou Lourenço it dignidade de dos condernnados no inferno.
primeiro Patriarcha de Veneza. Santos elo Jllarl urologia Romano, c·uja me-
Os trabalhos do alto ministcrio con­ 1noria é celcbrculci hoje:
sumiram 0111 pouco tempo as forças do Em Porto, perto ele Roma, o martyrio de
servo de Deus. Na festa de Nat:i.1 lhe Santo Herculano. 2 ° sec.
sohrevciu durante a Missa um <lesr..:ju No mesmo dia, S. Romulo, da guarda im­
ardentíssimo á visão beatifica. Logo perial (1e Trajano. Cahiu no desagrado do
depois da 11issa foi accolmmcttido de seu senhor, quando se declarou contrario
ás perseguições, que se movia contra os
ttn1a febre, que o levou á sepultura. Na christãos. Foi espancado e executado. 117.
doença nii.o queria abandonar o costume Ern Toledo a �anta Virgen1 Obdulia ce
de ficar deitado sobre duras taboas. Odilia.

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210 6 de Setembro

6 de Setembro

SÃO MAGNO
(t 750)

4,.\ TERRA de S. Magno 011 Ma­ Em com;panhia só de Tosso dirigiu­


�l gnoaldo, o grande Apostolo ela se a Aguisgrana, em procura do Bispo
Suabia, é a região circumvizinha cíc Wikterp, a quem pediu licença para
lago de Constança. prégar e fundar um convento na dioce­
S. Magno não era companheiro de se. Obtida a provisão e aco,npanhado da
S. Gallo, corno querem alguns biogra­ benção do Prelado, proseguiu viagem
phos antigos, mas educou-se e formou­ á margem esquerda do Lech. Chegado
·se no convento deste grande Santo, ob­ a Rosshaupten, viu-se de fronte· de um
servando rigorosamente a regra de São monstro, que matava muita gente. Magn,)
Columbano. Com a chegada de Santo atirou-lhe ás fauces um bolo ardente de
Othmar, que coincidiu com a introduc­ pixe e resina, matando-o instantanea­
ção da regra de S. Bento em S. Gallo, mente. Quem não reconhece neste mons­
tiagno com mais alguns companheiros tro o demonio, que prendia na escravi­
deixou a cella, para dedicar-se aos tra:ba­ dão as cClmas ? O facho que ardia por si,
lhos apostolicos, como missionaria. Na o bolo ardente, não são symbolos da luz
prrm:eira viagem se encontrou com um cio Evangelho, que afugentava os espí­
cego, que lhe pedia urna esmola. Magno ritos máos, que espancava as trevas do
fez o signal da cruz sobre elle e o pobre paganismo e do peccado ?
recuperou a vista no mesmo instante. Numa aprazivel planicie a que che­
Flm transportes de alegria, o beneficia­ garaim, Magno erigiu um cruzeiro e
do em altos brados manifestou-lhe a gra­ nelle pendurou uma capsula com santas
tidão, chéllmando o bemfeitor de "Mac reliquias, consagrando assim o Jogar á
gnus", nome que lhe ficou em substi­ oração. Mais tarde construiu no mes­
tuição de Magnoaldo. O homem asso­ mo sitio uma pequena capella em honra
ciou-s·e á pequena caravana, offerecen­ de Nossa Senhora, em que o compa­
do a Magno os presürnos. nheiro Tossa realisava as funcções re­
A biographia de Magno está cheia ligiosas.
de bonitas lendas como esta, de seu com­ Passando por um perigoso desfiladei­
panheiro, o sacerdote Tosso, ter levado ro, que as aguas do Lech rompem com
mm archote que se accendia por si pro­ furia elementar, Magno chegou a Füs­
prio e não se apagava, fosse qual fosse sen. Lá construiu uma egreja em honra
o tempo, chuvoso ou tempestuoso. Em de Christo Redemptor, que foi sagrada
deter'minada região, perto da fundação pelo Bispo Wikterp.
rdmana, chamada Cr,mpodunum (Kem­ Ao redor desta egreja se levantaram
pten) havia muitas féras, que eram o as paredes ele um convento-seminario,
terror das povoações que lá havia. Tos­ que em breve recebeu numerosos can­
sa insistiu em s•eguir cam_inho; Magno, cliclatos ao sacerdocio. Magno, apezar de
porém, decidiu ficar. Com a doutrina da ter já trabalhado muito na vinha do So­
cruz que prégava áquella gente, dava­ nhar, não era sacerdote, dignidade qt:e
lhe tambem poder sobre os animaes bra­ o hispo o ohrigou acceitar.
vios. que em seguida não mais a incorn­ Uma vez sacerdote, o zelo clesdobroa­
moclavam. se-lhe e com o Evangelho, ia levando a

S Magno - JIPiligenlegoncle de Louri:n,;:o Beer.

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6 de Setembro 211

cultura christã aos paizes, onde ainda vam a memoria, Magno morreu a 6 de
não havia pisado um mtssionario de Setembro de 750. Das suas relíquias não
Ohristo. Por toda parte onde Magno ap­ ha noticia; mas na egreja conventual
parecia, em breve se formavann povoa­ ele Fi.issen exsitem ainda diversos ob­
ções hem organizadas. As rnattas era.111 jectos ele culto elo uso cio funclaclor, por
desbrava d a s, exemplo, uma
as féras afu­ estola, um ma­
gentacl a s, os nipulo, u m a
pantanos en­ cruz de prata,
xutos, os cam­ tl'm calice e
pos amanha­ um bastão.
<los e cultiva­
dos. Uma ja­ REFLEXÕES
zida de man­ Co m o n o
ganez, por cl!·� tempo de São
Magno, a Egre­
descober t a e ja c a t h o I ica
aprovei t a e! a, a!nda hoje_ �11-
v e I u a ser v1a os m1ss10-
grande fonte narios ás ter­
ras longínquas
de renda para dos pagãos, fiel
a p o v oação. sempre á Mis­
Sob o regimen são que recebeu
de Magno o do F u ndador,
<le pre g a r o
convento flo­ Evangelho a to­
resceu de tal dos os povos ·e
modo, que foi traz e 1 - o s ;to
preciso abrir aprisco do Se­
nhor. Para que
filiaes. N ume- não faltem mis­
rosas foram sionari o s, ho­
as p a rechias mens q ue, a
exe 111 p I o dos
por elle orga­ Apostolas, dei­
nizadas. xam as com.mo­
Vinte e cin­ didades da fa­
co annos tinha milia para de­
dicar-se ao ser­
Magno passa­ viço do Senhor
do no mais nas Missões, é
dedicado exer­ necessario que
cicio da mis­ Deus, o Senhor
da vinha, os
são de sacer­ mande. Com,o
dote. Setenta S. Magno pode m a ndal­
e tres ar1110s Em determinada região havia muitas féras que os, si não se
contava elle, eram o terror das povoações. Magno afugentou-as offerecem ? Ha­
com a benção da cruz. verá quem se
quando adoe­ offereça, quan­
ceu gravemente. A' noticia de sua enfer­ do não existe interesse e amor pela obra
rniclacle, vieram os amigos e collaborado­ da propagação do reino de Christo? "Pedi,
rcs visitai-o, entre elles Tosso, que nesse pois, ao Senhor da messe, que mánde ope­
rarias. A messe é abundante; poucos, po­
1111eio tempo tinha sido nomeado bispo rém, são os operarias". O amor pela obra
de Aquisgrana. Todos se lhe acercaram de Jesus sobre a terra, que é a conversão a
cio leito mortuario para, pela derradeira Elle de todos os homens, deve começar pe­
vez, receber-lhe a benção e os conselhos. la oração. Rezar pelas Missões é um modo
pratico de manifestar a Deus a nossa grati­
Rodeados de a:migos que lhe abençoa- dão pela graça da fé, que d'Elle recebemos.

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7 de Setembro
=-=212
==========================
Dcvr,mos rezar pela santificação da familia, Santos elo Martyrologio Romano, cuja me­
trabalhar para que a sociedade catholica moria é celebracla hoje:
cada vez mais se familiarise com o espí­
rito de Christo, e assim se compenetre da Na Palestina, a memoria do propheta Za­
charias. De genealogia sacerdotal, era elle
necessidade de cooperar com a Egreja na
o undccimo dos prophetas menores. Junto
obra da christianisação do mundo. Deve­ com o proph.cla Agg{,o se t...•n-1penhou 1--.ela
mo-nos dedicar de corpo e alma á obra recdifica.�ãu do 2 º templo. Ao sopé do 1nonte
das vocações sacerdotaes, pois sem sacei­ das Oliveiras estú, o tumulo con1 seu nome.
dotes, sem m.issionarios, a Egreja nada pó­
de fazer: Já não é catholico como deve No Hellesponte Santo Onesiphoro, disd­
ser, quem não dá á Egreja auxilio espi­ pulo dos Apostolas. E' passivei que tenha
ritual e material para ella poder realizar pertencido ao grupo dos 72 discípulos de
sua Missão. Já não é catholico, no sentido Nosso Senhor. Condemnado a morte, foi ar­
estricto da palavra, quom não se interessa rastado 11or cavallos bravos.
pelas Missões. Cada catholico deve inscre­
ver o nome em uma ou outra das grandes Na Tunlsia, victimas da pen;egulção van­
ohras pontifícias, como sejam a Obra da rlalica morreram pela fé os santos bispos
Propaganda da Fé ou a Obra da Santa ln­ Donaciano, Presidio, Man,;ueto, Germano e
fancia. I usculo.
.,
1

7 de Setembro

S. Pedro Claver, Jesuíta


( t 165 i)

l\l O DI!\ 21 de Setembro ele 1851 o gena, cidade e porto do lVIexico. Foi
P'J Papa Pio IX fez ao orbe catholico providencial essa cletem1inação, que em
a seguinte declaração: P.eclro Olaver deu um Anj,o da guarda
"Crêmos que Pedro ClaYer, o Apos­ aos pobres escravos negros, oriundos da
tolo dos negros, o servo dos escravos Africa e vendidos no Mexico.
pretos, é Santo do céo e junto aoPae in­ Terminados os estudos theologicos,
tercessor de todos, particularmente da­ Pedro Claver ordenou-se, para imlme­
quelles por quem mais se interes,sou, diatamente começar a espinhosa missão
cios mais pobres entre os pobres escra­ ele missionaria elos escravos.
vos negros". O semblante rejuvenescia-lhe e radia­
Este Santo, original ele Verdtt, na va ele alegria, quando vinha no1icia da
Hespanha, onde nasceu em 1581, ele chegada dum navio portador ele negros.
paes nobres e de excepcionac::; virtudes, E cm que estado chegavam ! Algema­
revelou bem cedo um talento extraordi­ dos como criminosos, famintos, esfarra­
nario. Fez os estudos no collegio dos pados e em pessimas condições hygic­
Jesuitas em Barcelona e entrou na Com­ mcas.
panhia de Jesus em 1602. Feito o no­ Quando um navio atracava no porto,
viciado, estudou philosophia num wlle­ tJ humilde J esuita ia levar a bordo tudo
gio ela ilha ele JVIaior:ca, onde encontrou qute a caridade christã lhe tinha daclo
l'.111 excellente mestre de viela espiritual para os pobres infelizes: fructas, pão,
na pessoa do santo Irmão A ffonso Ro­ tabaco, vinho, etc. Si não lhe entendiam
clrig11ez, o mesmo que mais tarde, -:..m a lingua, o olhar traduzia-lhe eloqucn­
1825, foi beatificado por Leão XII. Em teilnente D'S sentimentos : sentimentos hu­
1610 Pedro Claver foi mandado pelas manos, christãos, paterna:es. A caridade
superiores como mis�ionario a Cartha- de Pedro Claver falava-lhes uma lingua,

S. J'cdro Claver - I-Iliv2r-Hagen: S. Pedro Claver, o apostolo dos negros.

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7 de Se�embro 213

que nunca de ninguern tinham ouvido, levando-lhes roupa, remedios, mantimen­


e assim conseguiu abrandar o odio e a tos e tudo mais que almas caridosas lhe
ferocidade, que reinavaim nos corações tinham offertecido para os pobres ne­
daquellas infelizes creaturas. Para to­ gros. Por este canninho se lhe abriram
dos era pae e mãe, principalmente para ele par em par as portas dos corações
os doentes, que chegava:m em condições dos desherdados ela lmmanidade e facil
s i mplesmente lhe era fazel­
incle�ciptiveis. os conhecer os
Do navio os principias da
escravos eram doutrina chris­
levados a bar­ tã. Numa pa­
racas immun­ rede cio ran­
das, insuffi­ cho pendurou
cientes e mais um q u adro,
apropr i a d a s que represen­
para agasalhar tava J ·e s u s
anima e s cio ,morrendo na
que gente. Lá cruz, e tun sa­
fic a v am os cerdote q u e,
.desgraç a cl o,; apa n h a n d o
sem tratamen­ 1mm calice o
to, encurrala­ sangue q u e
dos, famintos, corria das sa­
semi-nús, nu­ gradas chagas,
ma promiscui­ com o 1nesmo
dade de edade sangue bapti­
e de sexo, ex­ zava um, ne­
p o st o s aos gro ajoelhado
olhares curio­ ao lado. O
sos e irreve­ quadro apre­
rentes do po­ sentava mais
pulacho, até o alguns negros,
dia da vencia c u j o s sem­
na praça pu­ blantes tradu­
blica. ziam alegria e
A 1mmun­ satisf a c ção,
dicie, o ar pes­ ....-,,,,,\,\\
por terem re­
tilento, o ca­ __ :,__.-ç..-,
-.. ....__­ cebido o ba­
lor, as impre­ pti s mo, ao
c a çõe s d e passo que ain­
S. Pedro Claver
uns, os gemi­ da outros, que
Seu semblante rejuvenescia e radiava de alegria
dos de outros, quando vinha noticia da chegada dum navio porta­ não quizeram
as d o e nças, dor de pobres escravos, algemados como crimino­ ser baptizados,
sos, famintos ... Para todos elle era pae e mãe,
etc. etc., trans­ principalmente para os doentes. erann feios e
formavam em rodeados de
verdadeiro inferno o albergue cios es­ máos e nojen:os cspiritos. Deante cless'.:'
cravos. Era esta a sorte de mais (!� quadro o incançave,l missionario en,si­
12.000 negros africanos, que annual­ nava aos negros a fazer o signal ela
mente aportavam em Carthagena, para cruz, rezar o Padre-Nosso, a Ave-Ma­
serem vendidos a patrões brancos. ria e outras orações. Nessas reurnoe,;
Pedro Claver visitava-os diariamente, lhes explicava as verdades da religião,

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214 7 de Setembro

a existencia, bondade, misericordia e fadiga, pelos negros fosse levado para


justiça de Deus, o amor de Jesus a cella.
Christo, sua sagrada Paixão e Morte e As semanas posteriores á Pascoa
preparava-os para a recepção do Ba­ eram destinadas á prégação de missut:5
ptismo, que lhes administrava com a e a visita aos cloenres, dos qtmes muitos
maior solemnidade possivel. recuperavann a saude maravilhosamente.
Só Deus sabe quanta paciencia, quan­ A casa cio missionaria estava sempre
tos sacrificios e quanto heroismo eram aherta para os queridos filhos. Quando
necessarios da parte de Pedro Olaver, voltava)m, cançados cios trabalhos, o
para christianizar aquelles homens sel­ santo missionaria os recebia st!mpre
vagens, brutos, destituidos 0111 grande com muita amabilidade. Oonhecia todos,
parte de sentimentos nobres. para todos tinha uma palavra ele anima­
A esse trabalho Claver dedicou-se du­ ção e ele conforto. Apr·esentavann-lhe as
rante 40 annos. Calcula-se em 350. 000 suas cli fficuldacles, queixas e duvidas e
o numero de escravos por elle bapti­ não havia quem voltasse• para a cabana,
zaclos. sem ter recebido elo 1nissionario uma
prova ele aHecto paternal, embora não
Os escravos, por sua vez, tinham-lhe iosse senào um conselho, um aviso, um
um armor e veneração filiaes. Com!11o­ rosario ou um: santinho.
ventes eram as scenas que se davaan,
quando os pob1,es negros, vendidos para O dia cheio ele fadigas era seguido
o·utros Jogares, se despediam cio amado por u!tna noi,te de penitencias. Quando
pae e protector. todos se tinham retirado para suas ca­
sas, P•edro Claver entregava-se a exer­
A cifra cios doentes era sempre muito cícios ela mais rigorosa penitencia, of­
elevada, devido ás condições climateri­ f:crecenclo-se á divina justiça, como vi­
cas do logar. Carthagena era muito in­ ctima ele expiação pelos peccac\os dos fi­
salubre, e os filhos da Africa soffria!l.11 lhos predilectos.
muito com isso. A doença que mais os A oração era-lhe a occupação cons­
victimava era a lepra. Aos atacados por tante, e noites inteiras passava em ora­
esse terrivel mal Padre Claver dis­ ção, aos pés do altar cio Santíssimo Sa­
pensava um carinho especial. A prin­ éramento. Muitas vezes foi visto em
cipio sua natureza sentia uma repugnan­ extase, com o corpo envolto em wna luz
cia quasi invencivel por essa doença e clarissi:ma. Pedro Claver usava constan­
suas victim1as. Para vencer o nojo, o temente cilício, dormia no chão, servin­
santo missionaria recorreu á penitencia do-lhe de travesseiro um tôco de páo.
mais severa. Oastigou a propria carne, Ao servo ele Deus não faltaram cru­
zurzindo-a com • dura:s vergastadas e zes e soffrimentos. O companheiro de
obrigou-se a si mesmo a beijar as as­ viagens, u1111 Ir1mão, era wn homem in­
quer-osas chagas cios doentes. tratavel, que além de possuir um genio
Visitando os enfermos, ás vezes de exquisito, nutria uma forte antipathia
baixo de chuva torrencial, respondia aos contra Peclm Claver e disso não fazia
que lhe aconselhava,m mais cuidado: "O segredo. Si Pedro Claver queria sahir,
pescador não deve ter medo d'agua". o Irmão fazia-se de rogado e só depois
A Quaresma era o teimpo de granqes ele muito pedir punha-se-lhe á disposi­
penitenóas para o nosso Santo. Para ção; si se tratava de' um negocio ur­
proporcionar aos escravos occasião de gentíssimo, o Irmão inV'Cntava mil mo­
fazerem a Conimunhão da Pascoa, Pa­ dos e razões para protelai-o; si o mis­
dre Clavier não media sacrificios. Se­ sionaria queria rezar, o companheiro
manas havia em gue diariaimente pas­ enchia a casa de remoques; si voltava
-sava 15 horas no con fessionario e não para casa, era uma ladainha de expro­
raras vezes acontecia que, exhausto de bações, vituperios e indirectas offen-

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8 de Setembro 215

sivas. Tudo isso o santo homem soffria possuido. O exemplo de S. Pedro Claver
deve animar-nos a excitar tarnbem em nós
com uma paciencia angelica, dando gra­ o zelo pelas almas e o desejo de poder fa­
ças a Deus no intimo do coração, que zer alguma cousa pela conversão daquel­
lhe dava assiim occasião para fazer pe­ les que ainda estão nas trevas do peccado
nitencia pelos peccaclos. e na noite do paganismo. Como filhos que
somos da Egreja, devemos tornar interes­
Grande era a lucta conn os tanga­ se vivo na obra da Propaganda da Fé, cer­
nhães, homens desalmados, que, sup­ tos de não termos meio mais pratico de
pondo ter no mi.ssionario rnn mnnigo, manifestar nossa gratidão a Deus pela gra­
não raras vezes o insultaram e o armea­ ça da fé que nos deu., sem que para este
beneficio tivessemas concorrido com algum
çaram com a morte. Pedro CJaver, lon­ merecimento nosso. A' Missão catholica
ge de se irritar, respondia-lhes çom deve pertencer nossa oração e nossa esmo­
mansidão, conseguindo assim que lhe la, si estivermos em condições de prestar
concedessem franco accesso junto aos a nossa contribuição. Catholico não deve
haver que não procure alistar-se em uma
m1seros escravos. ou outra obra pontificia pró-Missões, por
Durante a peste que grassou em 1650, exemplo, na Obra da Santa lnfancia ou na
foi Pedro Claver o priime1ro que se of­ Obra da Propaganda da Fé. São grandes
fereceu para tratar cios doentes, e era os privilegias de que essas obras gozam.
Além dessa vantagem, trabalhar pelas Mis­
sempre encontrado nos Jogares onde sões, seja directa ou indirectamente, é uma
mais perigo havia. Prostrado pela terri­ das maiores obras de caridade da fé chris­
Yel doença, não 111,orreu, mas ficou cam­ tã que se possa imaginar, cuja recompensa
será certa c abundante.
pletamenre paralytico, tanto que se lhe
tornou impossivel a celebração da santa
:;\Essa e, não podendo fa2:er outra cousa,
do leito dava absolvição a muitos, que o Santos do _iVlartvrologio Romanc,, cuja me­
procuravam para confessar-se. Quatro moria é celebrada hoje:
longos annos durou esse estado de pro­ Em Nicomedia o martyrio de S. João.
vação, aggravado ainda pela incuria dos Teve a audacia de penetrar no furum e ar­
rancar e rasgar o edicto de Diocleciano e
e-nfermieiros. Pedro Claver soffreu com
Maximiano, pelo que soffreu crudelissima
a maior conforunidade, até o dia da morte.
festa da Natividade de Nossa Senhora,
Em Troyes, na França, o diacono N cmu­
no anno de 1654-, dia que lhe abriu as
rio e seus companheiros, no tempo da innt­
portas da eterna. gloria. sii.o dos Hunos.
REFLEXÕES Em Autun, na França a memoria da vir­
Eis a figura de um grande missionario, gem martyr Regina. Padroeira dos carpin­
como a Egreja Catholica bem poucos tem teiros. 253.

8 de Setembro

Natívídade de Nossa Senhora


QI O NAS CIMENTO do grande Antigo Testa:menro, que na menina re­
� Baptista foi nl'otivo de alegria ra­ cemnascida reconheceram a futur:i l\Iãe
ra muitos, a natividade da Mãe de Deu-s cio Salvador. Alegraram-se todos os ho­
enche de aJ.egria o mundo inteiro. Alc­ n-.ens, porque o nasdmento de Maria
graraim-s-e os santos paes ele Maria San­ veiu annunciar-lhes a aurora do grande
tíssima, que, carn o nascirmento da filha, dia, pelo qual aspiravam os povos do
muito mai,s receberam do que podiam uniV1erso. AJ.egraraim-se os proprios An­
esperar. Alegraram-se os patriarchas do jos, porque no dia de hoje pela vez pri-

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216 8 de Setembro

,.
!

Natividade de Nossa Senhora

meira lhes foi dado occasião de saudar nunciou ao mundo inteim grande ale­
a mfre cl' Aquelle, cuja missão sobre a gria". Quem poderá descrever a alegria
terra seria preencher os Iogares no. céo, que S. Joaquim e Sant'Anna experimen­
que os Anjos rebeldes perderam. Tem, taram no dia do nasciment'O da filha ?
pois, a Egreja razão em diz·er: "Tua Que consolo não era para aquelles dito­
natividade, ó Santissima Virgem, an- so5 paes poderem saudar na filhinha o

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8 de Setembro 217

frucbo abençoado do seu estado, a her­ de dar o Salvador do nmndo ! Q,ue con­
deira do nome da nobre familia, da re- tentamento não tiV1erairn ao vêrern sur­
1 igião, das altas prerogativas dos ante­ gir a bella aurora, preconisadora do Sol
passados, a arca viva dos privilegios da justiça, daquelle Sol que traria a luz
mais preclaros de ordem . natural e so­ áqueUes que estão nas treva.JS da morte !
brenatural ! Que esperanças as ,mais Por grande que tenha sido a alegria
suaves não lhes reve, la o doce olhar da dos Patriarchas, o dia do nascimento da
menina, reflexo de virtude, de graça, de Santíssima Virgem não é menos motivo
grandeza ! Boderia-lhes ser reservada de jubilo para nós, que, filhos que so­
honra maior cio que esta, de serem os mos d'um pae peccador, filhos da ira
progenitores da Mã,e do AltissimiO, os divina nascemos. Como filhos da ira de
avós de Jesus Christo, Salvador do Deus, 1mereciamos ser victirnas da eter­
mundo ? Foram-lhes cumpridos os san­ na vingança. Poderia haver uma sorte
tos desejos, realizados os ardentes anhe­ mais triste que a nossa, sem esperança
los, ouvidas as orações. algunna. de ulm dia sermos chamados a
O muito que alguns paes soffrem pe­ uma existencia mais venturosa ? Temos
los fi·lhos, não é em grande parte um desa.mor aos nossos deveres ; forte é a
castigo j msto dos seus proprios pecca­ nossa inclinação ao mal ; pouco nos
dos ? Quaes fora.m as inte, nções, as dis­ agrada a virtude. Desta an001alia proce­
posições com que entraram no estado dem todas as desordens na nossa vida.
do mia.triimonio ? De que modo nelle vi­
O dia de hoje é um raio de luz que,
vem ? São os filhos o fructo de ora­
vindo do céo, traz alegria e consolo á
ções ? Em vez de os consagrarem a
Deus, que lh'os deu, offerecem-nos ao nossa triste vida. Agora sabemos que já
existe a Mãe do Salvador, daquelle que
idolo do mundo, propinando-lhes com o
de nós ti-rará o peso do peccado; da­
leite materno o a:mor ás vaidades do
quelle que rdmperá o vinculo da escra­
seculo.
1fas tambem vós, filhos rebeldes, des­ vidão, santificando-nos, attrahindo-nos
para si e para o Eterno Pae. Já nasceu
respeitosos e máos, que com vossos des­
regramentos amarguraes a existencia a flôr de J,essé, que produzirá o fructo
de vossos pa.es, julgaes escapar á ira de precioso da Salvação. Nasceu a Mãe de
Deus, á maldição divina nesta vida e á Jesus Christo, a nossa Mãe. Mãe será
perdição na outra ? Abençoados filhos de todos os homens, que do sangue, dos
que, á senrelhança de Maria, se esme­ mjerecilmentos do divino Filho esperam
ralm em ser a alegria e o consolo daquel­ a rehabilitação na graça de Deus. Por
les a quiem devem a vida ! uma •mulher veiu a morte. De uma mu­
O nascimento de Maria Santíssima lher nos virá a vida.
encheu de a!,egria a alma dos Patriar­ Justa, justissm1'1., pois, é a alegria dos
chas qll'e durante seculos anceiavaJm pela espíritos bemaventura:dos, que em Ma­
vinda do Salvador. "Abre-tie ó terra - ria saiuda:m sua Soberana. Pelo nasci­
assim excla1mava1111, - e dá-nos um Sal­ mento da Mãe do Salva.dor revive a es­
vador ! Fazei, ó céos, descer sobre nós perança de um dia vêtiem preenchidos
aquelle orvalho salutar ! Núvens do céo, os logares, que a rebeldia dos máos an­
f�ei chover sobre nós o Justo, que que­ jos deixou vagos. Jubila a terra, jubil, a
bre as cadeÍ'as da nossa escravidão, res­ o oeu. Abre tambern teu coração á ale­
tabe!iecendo-nos na liberdade dos filhos gria, saudando a Mãe de teu Salvador.
de Deus !" Com esres gemidos e arden­
t,e,s votos, passaram-se seett!os, sem que REFLEXÕES
o céo se apieda1sse da huunanidade. Que Não se engana quem de Nossa Senhora
jubilo não se apoderou dessa:s bemditatS espera que no seu anniversario natalicio,
mais do que em outra época, queira dar
almas, ao receberem a noticia do nasci­ testemunho de generosidade, de amor ma­
mento daqueUa Virgem, que lhes havia ternal. Não deixes, pois, passar este dia

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218 9 de Setembro

glorioso, sem pedir a tua Mãe te alcance as Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
graças de que mais necessidade tens, para 111 o ria é celebrada hoje:
tua salvação. Em Alexandria os Santos l\'Iartyres Am­
mon, Theophilo, Neoterio, com mais �2 com­
A' vossa protecção nos acolhemos, Santa panheiros.
Mãe de Deus, não desprezeis as nossas Na Allemanha, a memoria de S. Corbinia­
supplicas em nossas necessidades, mas li­ no, primeiro bispo de Freislng. sec. 8.
vrae-nos de todos os perigos. ó Virgem Na Nicomedia o martyrio de Santo
gloriosa e bemdicta. Adriano.

9 de Setembro

S. Líberato e seus companheiros, Martyres


(t seculo V)

� ETE annos não tinhaim passado um só baptismo. Nossa esperança é de


� ainda depois da ultima persegui­ ficarmos s-empre na unidade da Egreja.
ção de Unnerico, Rei das vandalos na Disponde de noss-os corpos a voss::i be1-
Africa, que tinha opprimido a Egreja, prazer. Preferimos soffr.er no mundo a
quando decretou uma nova, mais terrí­ penar na eternidade". Após essa pro­
vel que a precedente. Ariano que era, fissão foram mettidos um ferros e le­
dei:x10u-•se arrastar pelas instigações e vados a Ulma ú1asmorra, onde, por ordem
máos conselhos de Cyrillo e de outros superior, paissaram fome e soffrern.111
bispos da mesma seita, para exterminaT crueis e hunnilhantes castigos.
o CathoJ.ici-smo na Africa. Os guardas eralm venaes e assim os
O monarcha tyrannico iniciou a per­ catholic•os de Carthago conseguiam en­
seguição, mandando exilar nume.n,so,s contrar-se todos os dias com os encar­
Bispos. V•endo, porém, quie as medidas cerados, aos quaes levavam tudo que
eram contra-producentes, e a resistencia lhes em necessario para o sustento.
dos catholicos ia se tocnando cada vez Unnerico, ao saber disso, apertou
mais firme, entregou os conventos, tan­ ainda mais a prisão, difficultando de to­
to de Ordens masculinas como femini­ dos os m:odos o acoes•so dos fieis. Estes,
nas, ás hordas incligena:s, que pratica­ porém, não esmoreceram e c-ontinuaram
raim violencias as mais horrorosas. De as visitas co,1110 d'antes. O Rei resolveu
um mosteiro de Kaspa tiraram sete •entã-o ir ao extremo e decretou a morte
monges e levaralm-n'os parn Carthago, dos 111onges. Mandou que fossem em­
onde se achava o quartel-general doo bmca:dos num vdeiro, carregado de le­
perseguidores. Os nomes desses homens nha bem secca, que ia servir de foguei­
ernm: Liberato, que era abbade, Boni­ ra, para queimai-os vivos.
facio, Servo, Rustico, R ogato, S eptimio No dia marcado ÍO!"'aJm os martyres
e Maximo. tirados da pri-são e transportados para o
Tudo se fez para, com bons modos, navio. Uma enorm1e multidão de catho­
com promessas e valiosas propostas, ga­ licos odmpareoeu ao local, para ser tes­
nhai-os para o Arianismo. Os religiosos, temunha do que ia acontcceT.
acostt1mados a dar desprezo ás cousas Os santos homens dirigiram palavras
elo mundo, responderam unanimeinente : animadoras aos oatholicos, exhortan­
"Desprezam)os o que nos prometteis; só clo-os a que ficassem finnes na fé e pre­
um Deus conhecemos, temos uma só fé, ferissem a mortie a negar uma das ver-

S Liberato - Act. l\'Iart. authent. Rulnart.

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9 de Setembro 219

<lades, em testem,unho das quaes Jesus do ! Com que serenidade foram ao encon­
Christo e tantos unartyres derramaram tro da morte ! Que lucta gloriosa não sus­
tentaram ! Lucta não mais ha para elles.
o sangue. Sem desfallecimento algum, Agora gozam de perfeita paz, em união
dirigiram-se ao Jogar onde haviam de intima com Jesus, de cuja gloria partici­
oHerecer o sacrificio, louvando a Jesus pam.
Christo e dando graças pela honra de po­ Tambem nós havemos de combater, para
derem unir-se-lhe na morte. Os Arianos alcançar a corôa eterna. "Não será coroa­
cobriraun-n'os de escarneo.. Os Santos, do quem não tiver combatido, conforme a
lei". (2. Tim. 2. 5). Vivemos num mundo
porém, exultaram pela injustiça que cheio de perigos e tentações. A alma acha­
soffriaim, por amor de J,esus Christo e se constantemente envolta nas tempesta­
la!stimaram a cegueira dos itümigos. des de paixões revoltadas. Máos exemplos
pullulam e as inclinações do coração são
O ,m1ai·s moço dos martyres era Ma­ sempre dirigidas para o mal. Resistir a tu­
ximo. Dellc se acercara1m os Arianos do isso requer força de vontade, resistencia
com muito carinho, para fazei-o desi�­ firme, combate resoluto e sem tregoas, si
tir da resistencia. "Tem pena de ti, que não queremos correr o perigo de perder­
nos eternamente. Deus e o mundo dispu­
és tão rmoço ainda - diziam-lhe os ten­ tam o nosso coração. Deus promette a fe­
tadot1es. Deixa de seguir teus compa­ licidade e o mundo egualmente a promet­
nheiros, que são uns tolos; põe-te a se­ te. A felicidade por Deus promettida não
guro ela mork, que te espera. O Rei terá é deste mundo, mas é eterna, indelevel. A
felicidade do mundo é problematica, incer­
prazer em receber-te no palacio, onde ta e inconstante, sujeita a mil tormentos
vi\,crás fdiz e cercado de honras." Ma­ e termina com a morte. Comparando as
ximo, poré.111, fortalecido pela graça de promessas que nos são feitas, sem duvida
Deus, respondeu-lhes: "Não me separo as de Deus merecem ser preferidas, como
de facto os Santos as preferiram.
do meu abbacle Liberato, e quero estar
smnpre, com meus irmãos; foram elles Não fujamos, pois, da lucta. Sejamos
perseverantes. Façamos da virtude nossa
que m.e educara,m no convento; com elles companheira inseparavel. Testemunhemos
vivi uma vida de penitencia; .com elles a Deus o nosso amor, por palavras e por
quero ir ao martyrio. Deus terá pena de obras. Façamlos caridade, onde se nos of­
nós todos. Ficaremos unidos, como os ferecer occasião e della não excluamos os
inimigos, si os tivermos. Assim viveremos
irmãos Machabeus." na fé e pela fé, certos de que seremos fe­
Não conseguindo enfraquecer-lhe o lizes aqui e na eternidade.
espirita, os algozes levaram Maximo
junto com os outros ao navio, onde Íc'.l··
ram amarrados sobre os montões de le­ Santos do ltfartyrologio Romano, cuja me­
nha, a que puzerarn fogo. Embora bem inoria é celebrada hoje:
secca a lenha, não foi possivel fazei-a Em Sebaste, na Armenia, S. Severiano. do
arder, o que causou estupefacção a exercito do Imperador Licinio. ·Por ter vi­
sitado os quarenta martyres no carcere, o
todos. O tyranno, porém, não se apie­ juiz Lysias mandou que aos pés lhe fosse
dou e deu ordem para que os martyi· �s amarrada uma pedra pesada, e, assim sus­
fossem rn!ortos a golpes de remo. Os ca­ penso foi chibateado até que a morte o li­
daveres foram atirados ao mar, mas as bertou dos seus algozes. sec. 4.
ondas trouxeram-nos para a terra. O po­ Em Nicomedla a morte dos Santos Doro­
vo catholico colheu-os com muito res­ theo e Gorgonio, homens de grande presti­
gio no governo de Diocleciano. Como porém
peito e deu-lhes honrosa s·epultura. se manifestassem contra a execução dos de­
cretos da perseguição dos christãos, o Im­
REFLEXõES perador voltou seu odio contra elles, e fel-os
Com quanta coragem, com que heroísmo soffrer horrivelmente, querendo em pessoa
os santos martyres desprezaram as pro­ assistir, como assistiu, ao seu martyrio,
messas, as blandicias e ameaças do mun- cuja crueldade zomba de toda a descrlpção.

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220 10 de Setemhro

1 O de Setembro

S. NICOLÁO TOLENTINO
(i 1308)

e ÃO NICOLAO, que nasceu em zia-o socegar i11�111cclia,arn,cnte, tanto era


� Sant'Angelo, recebeu ela cidade rle o prazer que sentia, de ir á casa de Deus.
Tolentino o sobrienome, pois foi lá que Tendo chegado á edaele de poder co­
passou os ul­ meçar os es­
tim o s trinta ttvdos, Nicoláo
annos de vida. f o i entregue
Por 1 o ng o s a o s conegos
annos os paes ela egreja ele
Ca,mp a n o e São Salvador.
Amata. não ti­ Aconteceu en­
veram filhos. tão, que um
Desejosos de dia ouvisse t.àn
ter wn her­ padre da Or­
deiro do no­ cl0111 dos Ere­
me, fi zeram mitas de . San-·
\.lima romaria to Agostinho
a Bari, ao tu- pregar sobre a
1111ulo do santo pai! a v r a do
bispo Nicoláo. Apostolo São
A oração foi João, que diz:
ouvida. Deus "não at.11eis o
cl e u-lhes um mundo, nem o
filho, a quem que nelle es­
puzeram o no­ tá." ( 1. J o. 2,
me de Nico­ 15). As pala­
láo, em home­ vras do prega-
nagem ao San­ dor sobre a
to, a cuja va­ vai d a d e do
liosa interces­ mundo de tal
são attribuiam maneira o im­
a graça alcan­ pressionaram,
çada. que resolveu
O pequeno servir a Deus
Nicoláo reve­ no estado cle­
lava g r ande rical e para
amor á ora­ esse fim se
ção. Si a mo­ dirigiu aos su­
do das crean­ S. Nicoláo Tolentino perio r e s ela
Poucos instantes antes do seu transito, seu sem­
ças chorava, a blante se transfigurou em suave alegria. Pergun­ menci o n a cl'a
promes s a da tado pelo motivo, disse aos confrades: "Oh doçura! Ordem e pe­
mãe de levai-o Eu vejo meu Jesus, acompanhado de sua querida diu admissão
Mãe Maria e de nosso Pae Agostinho, que vêm
á Egreja fa- para me buscar" ... á mesma. Ni-

S. Nicoláo Tolcntino - Pedro de Monte Rubeano; Thomaz de Herrera; Jordano Saxo.

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10 de Setembro 221

coláo foi acceito como noviço, e tão ex­ Muitos milagr1es Deus Nosso Senhor
trnordinario era o progresso que fazia tz pelas mãos do seu servo, em pro­
na vida interior, que os superiores o veito dos pobres e daentes.
promovera'l11 á profissão, abr-evianclo
Deus revelou-lhe a hora ela morte, en­
conskleravelmente o prazo que a regra
viando-lhe, antes uma doença dolorosa,
e o costmne marcavam.
que durou seis mezes. A le1nbrança da
Admiravel em S. Nicoláo era o espí­ eterna felicidade, da futura união com
rito de !mortificação. Deus, clava-lhe força ·e an�mo para sup­
Dmante trinta annos se absteve por portar as clôres, qllie o ato!imentava.m.
completo do uso da carne. Carne só co­ Frequen�es vezes recebia os santos Sa­
mia quando doent,e e quando a ordem cra)mentos, sempiie debaixo ele urna tor­
do medico e do superior a isso o obri­ rente de lagdmas. Poucos minutos antes
gamm. Ainda assim pediu que retiras­ do transito, as pessoas que estavam ao
s•em esta ordem, porque se restabelece­ pé do leito, notaram-lhe no semblante o
ria ta.mbem seim se alimientar ele carne, reHex,o de uma alegria. Volvendo os
o que realmente se deu. Fazia jejuns olhos á. imagem d!e Jesus crucificado,
constantes e rigorosos. O chão ou durns disse o moribundo : "Senhor, em vossas
taboas eram-lhe o leito de descanço. Mil mãos ·encon-�mendo meu espírito". Ditas
ontras maneiras inventava para castigar estas palavras, morreu na doce paz do
o corpo. Houve quem lhe aconselhasse Senhor a 10 de Setembro de 1308, na
abrandar o rigor das penitencias. Nico­ edade ele 69 annos. Teve sepultüra na
láo respondeu-lhe: "Não entrei na Or­ capella onde costt�mava celebrar Missa.
dem para ter vicia cdm,moda."
.-\ humanidade realizava-a com este Em 1446 foi canonisado pelo Papa
espírito de mortificação. Em si reconhe­ Eugenio IV.
cia o elemento mais inutil da Ordem.
Cumprir a vontaide cios outros era-lhe REFLEXÕES
o maior praz,er, pois assim se lhe clava
occasião de rnortificar a sua. Levou a A meditação das palavras: "Não ameis
111:ansidão a tal ponto de perfeição, que o mundo, nem o que nelle está", como a
audição da palavra de Deus, fizeram com
as maiores contrarioeclades não conse­ que S. Nicoláo se convencesse da vaidade
guiam perturbai-o ou fazei-o perder a do mundo e, desprezando-o, se dedicasse a
paciencia. cultivar a vida interior. - Realmente, me­
Um zelo extraorclinario pela salvação ditando seriamente sobre esta verdade, de­
das almas arclia�lhe no coração. CoiJn as vemos chegar ao resultado de que tudo no
praticas e conversações particulares mo­ mundo é vaidade, vaidade das vaidades.
veu n1,uita gente á penitencia. Visitar (Eccl. 1). Foi isto que o sabio do Antigo
Testamento experimentou e nos seus li­
enfermos, consolar os encarcerados era vros documentou, para todas as gerações
seu maior prazer. Devoção particular ti­ saberem: "O fim da alegria é a tristeza",
nha ás almas do purgatorio, ás quaes diz o Espirito Santo nos Proverbios (Prciv.
clava penitencias e orações, nunca as es­ 14). "Diga-me, onde estão os amigos do
qttec,endo no santo sacrificio ela Missa. mundo, que comnosco estiveram por es­
Uevotissimo de Nossa Senhora, á paço de pouco tempo ? Vê bem o que são
intercessão ela mesma deveu muitas gra­ e o que foram. Que delles restou senão pó,
ças extrnorclinarias. Accommetticlo uma cinza, vermes ? Foram homens como tu.
Yez de grave enfermidade, julgava ter Comeram, beberam, divertiram-se e furam
para a perdição eterna". (S. Bernardo). E'
chegado a hora da morte, e grande medo possivel que, acreditando tudo isso., ainda
apoclerou-s·e-lhe da alma, ao lembrar-se tenhas prazer em estar com o mundo ? Si
elos juizos secretos de Deus. A Maria queres prazeres, honras e riquezas, não
Santis·s�ma então se dirigiu afflictissi­ procures o que o mundo te offerece. Aspira
rno, do qu•e lhe resulto�1 a cura riepentina. a cousas superiores.

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10 ele Setembro 221

coláo foi acceito como noviço, e tão cx­ . Mui tos milagres Deus Nosso Senhor
trnorclinario era o progresso que fazia ,tz pelas mãos do seu servo, em pro­
na vida interior, que os superiores o veito dos pobres e claentes.
promovera'111 á profissão, abreviando
Deus revelou-lhe a hora da morte, en­
consideravelmente o prazo que a regra
e o costmne nmrcavam. viando-lhe, antes uma doença dolorosa,
qll!e durou seis mezes. A lembrança da
Admiravel em S. Nicoláo era o espi­ eterna felicidade, da futura união com
rita de :mortificação. Deus, clava-lhe força •e an�mo pa:ra sup­
Durante trinta annos s,e absteve por portar a:s clôres, que o atormentavam.
completo cio aso da car111e. Carne só co­ Frequen�es vezes recebia os santos Sa­
mia quando doente e quando a ordem cra)mentos, sempI'e debaixo ele tllma tor­
cio medico e do superior a isso o obri­ rente ele lagriima:s. Poucos minutos antes
gawm. Ainda assim pediu que retiras­ elo transito, as pessoas que estavam ao
s•eJm esta ordem, porque se restabelece­ pé do leito, notaram-lhe no semblante o
ria ta.mbem seim se alimientar ele carne, reHex-o de uma alegria. Volvendo os
o que realmente se deu. Fazia jejuns olhos á. imagem cl!e Jesus crucificado.
constantes e rigorosos. O chão ou durns disse o moribundo: "Senhor, em vossas
taboas eram-lhe o leito de descanço. Mil mãos •encon1menclo meu espi,rito". Ditas
0ll'tras maneiras inventava para castigar estas palavras, morreu na doce paz elo
o corpo. Houve quem lhe aconselhasse Senhor a 10 de Setembro de 1308, na
abrandar o rigor das penitencias. Nico­ edade de 69 annos. T·eve sepulti.tra na
láo respondeu-lhe: "Não entrei na Or­ capella onde costulmava celebrar Missa.
dem para ter vida cdm,moda."
A humanidade realizava-a com este Em 1446 foi canonisaclo pelo Papa
espirito de mortificação. Em si reconhe­ Eugenio IV.
cia o elemento mais inutil da Ordem.
Cumprir a vontade dos outros era-lhe REFLEXõES
o maior praz·er, pois assim se lhe clava
occasião de mortificar a sua. Levou a A meditação das palavras: "Não ameis
mansidão a tal ponto de perfeição, f]UC o mundo, nem o que nelle está", como a
audição da palavra de Deus, fizeram com
as maiores contrari<eclades não conse­ que S. Nicoláo se convencesse da vaidade
g-u iam perturbai-o ou fazei-o perder a do mundo e, desprezando-o, se dedicasse a
pacienc1a. cultivar a vida interior. - Realmente, me­
Um zelo cxtraorclinario pela salvação ditando seriamente sobre esta verdade, de­
da:s almas arclia�Ihe no coração. CoiJn as vemos chegar ao resultado de que tudo no
praticas e conversações particulares mo­ mundo é vaidade, vaidade das vaidade.;.
veu nwita gente á penitiencia. Visitar (Eccl. 1). Foi isto que o sabia do Antigo
Testamento experimentou e nos seus li­
enferm:Os, consolar os encarcerados era vros documentou, para todas as gerações
s•eu maior prazer. Devoção particular ti­ saberem: "O fim da alegria é a tristeza",
nha ás almas do purgatorio, ás quaes diz o Espirita Santo nos Proverbias (Prciv.
clava penitencias e orações, nunca as es­ 14). "Diga-me, onde estão os amigos do
qu'ecendo no santo sacrificio ela Missa. mundo, que comnosco estiveram por es­
Qevotissim,o de Nossa Senhora, à paço ele pouco tempo ? Vê bem o que são
intercessão da mesma deveu muitas gra­ e o que foram. Que delles restou senão pó,
ças extrnorclinarias. Accommetticlo uma cinza, vermes ? Foram homens como tu.
vez de grave enfermidade, julgava ter Comeram, beberam, divertiram-se e foram
para a perdição eterna". (S. Bernardo). E'
chegado a hora da morte, e grande medo
passivei que, acreditando tudo isso,, ainda
apoderou-se-lhe da alma, ao lembrar-se tenhas prazer em estar com o mundo ? Si
dos juizos secretos de Deus. A Maria queres prazeres, honras e riquezas, não
Santissi1111a então se dirigiu afflictissi- procures o que o mundo te offerece. Aspira
1110, do qne lhe resultou a cura repentina. a cousas superiore�
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220 1 O de Setembro

1 O de Setembro

S. NICOLÁO TOLENTINO
e ÃO NICOLAO, que nasceu em zia-o socegar i11�1112dia,arn,ente, tanto era
� Sant'Angelo, recebeu da cidade de o prazer que sentia, ele ir á casa de Deus.
Tolentino o sobr>enome, pois foi lá que Tendo chegado á edacle de poder co­
passou os ul­ meçar os es­
tim o s trinta ttvdos, Nicoláo
annos de vida. f o i entregue
Por 1 o ng o s a o s conegos
annos os paes da egreja de
Cairn,p a n o e São Salvador.
Amata. não ti­ Aconteceu en­
veram filhos. tão, que um
Desejosos de dia ouvisse 1.111.1
ter um her­ padre da Or­
deiro do no­ cle,m elos Ere­
me, f i zeram mitas ele · Sân-·
Ulma romaria to Agostinho
a Bari, ao tu- pregar sobre a
1111nlo do santo pa1l a v r a elo
bispo Nicoláo. Apostolo São
A oração foi João, que diz:
ouvida. Deus "não an1eis o
d eu-lhes um mundo, nem o
filho, a quem que nelle es­
puzeram o no­ tá." ( 1. J o. 2,
me de Nico­ 15). As pala­
láo, em home­ vras do prega-
nagem ao San­ dor sobre a
to, a cuja va­ vai d a d e do
liosa interces­ inundo de tal
são attribuiam maneira o im­
a graça alcan­ press10nara ,111,
çada. que resolveu
o pequeno servir a Deus
Nicoláo reve­ no estado cle­
lava g r ande rical e para
amor á ora­ esse fim se
ção. Si a mo­ dirigiu aos su­
S. Nicoláo Tolentino
do das crean­ perio r e s da
Poucos instantes antes do seu transito, seu sem­
ças chorava, a blante se transfigurou em suave alegria. Pergun­ menci o n a d a
promes s a da tado pelo motivo, disse aos confrades: "Oh doçura! Ordem e pe­
mãe de levai-o Eu vejo meu Jesus, acompanhado de sua querida diu admissão
Mãe Maria e de nosso Pae Agostinho, que vêm
á Egreja fa- para me buscar" ... á mesma. Ni-

S. Nicoláo Tolcntino - Pedro de Monte Rubeano; Thomaz ele Herrera; Jordano Saxo.

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10 ele Setembro 221

coláo foi acceito con1:o noviço, e tão ex­ . Mui tos milagfles Deus Nosso Senhor
trnorclinario era o progresso que fazia 'ÍJ!Z pelas mãos do seu servo, em pro­
na viida interior, que os superiores o veito dos pobres e daentes.
promoveram á profissão, abreviando
Deus revelou-lhe a hora ela morte, en­
consideravelmente o prazo que a regra
viando-lhe, antes uma doença dolorosa,
e o costmne marcavam.
que durou seis mezes. A lembrança da
Aclrniravel em S. Nicoláo era o espi­ eterna felicidade, da futura união com
rita de :mortificação. Deus, dava-lhe força 'e animo para sup­
Durante trinta annos se absteve por portar as dôres, que o atormentavam.
completo cio uso da carnie. Carne só co­ Frequen!.'es vezes recebia os santos Sa­
mia quando doente e quando a ordem cra)mentos, semptie debaixo de uma tor­
cio medico e do superior a isso o obri­ rente ele lagritmws. Poucos minutos antes
gavaim. Ainda assim pediu que retiras­ do transito, as pessoas que estavam ao
sem esta ordem, porque se restabelece­ pé do leito, notara:111-lhe no semblante o
ria tambem s-eim se alimtentar ele carne, reflex;o de uma alegria. Volvendo os
o que realmente se deu. Fazia jejuns olhos á. imagem de Jesus crucificado.
constantes e rigorosos. O chão ou duras disse o moribundo: "Senhor, em vossas
taboas eram-lhe o leito de descanço. Mil mãos •enconlmendo meu espirita". Ditas
0ll'tras maneiras inventava para castigar estas palavras, morreu na doce paz do
o corpo. Houve quem lhe aconselhasse Senhor a 10 de Setembro de 1308, na
abrandar o rigor das penitencias. Nico­ edade de 69 annos. T·eve s1 epulti.tra na
láo respondeu-lhe: "Não entrei na Or­ capella onde cosMmava celebrar Missa.
dem para ter vida cdmmoda."
A humaniclacle realizava-a com este Em 1446 foi canonisado pelo Papa
espírito de mortificação. Em si reconhe­ Eugenio IV.
cia o elemento mais inutil da Ordem.
Cumprir a vontaide cios outms era-lhe REFLEXõES
o maior praz•cr, pois assim se lhe clava
occasião de mortificar a sua. Levou a A meditação das palavras: "Não ameis
mansidão a tal ponto de perfeição, que o mundo, nem o que nelle está", como a
audição da palavra de Deus, fizeram com
as maiores contrari-edades não conse­ que S. Nicoláo se convencesse da vaidade
guiam perturbai-o ou fazei-o perder a do mundo e, desprezando-o, se dedicasse a
paciencia. cultivar a vida interior. - Realmente, me­
Um zelo extraorclinario pela salvação ditando seriamente sobre esta verdade, de­
cJa.s almas arclia�lhe no coração. Co1111 as vemos chegar ao resultado de que tudo no
praticas e conversações particulares mo­ mundo é vaidade, vaidade das vaidades.
veu n�uita gente á penitencia. Visitar (Eccl. 1). Foi isto que o sabio do Antigo
Testamento experimentou e nos seus li­
enfermos, consolar os encarcerados era vros documentou, para todas as gerações
s•eu maior prazer. Devoção particular ti­ saberem : "O fim da alegria é a tristeza",
nha ás almas elo purgatorio, ás quaes diz o Espirito Santo nos Proverbios (Prov.
clava penitencias e orações, nunca as es­ 14). "Diga-me, onde estão os amigos do
qttecendo no santo sacrifício ela Missa. mundo, que comnosco estiveram por es­
Uevotissimo de Nossa Senhora, á paço de pouco tempo ? Vê bem o que são
intercessão ela mesma deveu muitas gra­ e o que foram. Que delles restou senão pó,
ças extrnorclinarias. Accommetticlo uma cinza, vermes ? Foram homens como tu.
vez de grave enfermidade, julgava ter Comeram, beberam, divertiram-se e foram
para a perdição eterna". (S. Bernardo). E'
chegado a hora da morte, e grande medo possivel que, acreditando tudo isso., ainda
apoderou-se-lhe da alma, ao lembrar-·�e tenhas prazer em estar com o mundo ? Si
dos juízos secretos de Deus. A Mana queres prazeres, honras e riquezas, não
Santiss�ma então se dirigiu afflictissi- procures o que o mundo te offerece. Aspira
1110, do qne lhe resultou a cura repentina. a cousas superiores.

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222 11 de Setembro

Santos do Martyrolouio Romano, cuja me­ Em Liége, na Belgica, o bispo martyr


morta é celebrada hoje: Theodardo. 668.
Na Tunísia, a morte dos bispos Nemesia­
Na Bithynia as santas virgens martyres
no, Felix, Lucio, Littéo, Polyano, Victor,
e irmãs: Monodora, Metrodora e Nympho­ Jaderes, Dativo e de muitos christãos, que
dora, que foram condemnadas á morte no no tempo da perseguição valeriana soffre­
governo do Imperador Maximiano. 303. ram muitos máos tratos. 260.

11 de Setembro

SANTA PULCHERIA
g STA inclita Princeza, filha do Im­
® perador Arcadio, nasceu cm 399.
philosopho de Athenas, mui nomeada
pelas raras _virtudes que a illustravam;
vindo a ser mais tarde luminar espl•:cn­ 1'eccbeu no santo baptismo o nome ele
doroso de virtude. Successor de Arca­ Eucloxia. Dois annos depois lhe foi con­
clio era Theoclosio. Tendo apenas oito f.ericlo o titulo de Imperatriz; não obs­
annas· quando subiu ao throno, teve uma tantie, Pulcheria tom.ava ainda parte ac­
auxiliar e conselheira c01111petente na tiva no governo. Envidou todos os es­
pessoa de Pulcheria, sua irmã mais ve­ forços para que fos'S'e realizado o Con­
lha. Preenchendo o Jogar de mãe, pro­ cilio ecumcnico de Epheso ( 431), cele­
curou cam todo o escrupulo formar o brizado pela· comlemnação da heresia de
coração do j oven irmão nos moldes da Nestorio, que se atrevera a negar á San­
religião de Jesus C·hristo. Para este fim tissima Virgc, m Maria a prerogativa ele
teve grande cuidado na escolha dos mes­ Mãe de Deus.
tres. Influencia egualmente benefica Pa:ssél!do algum tellTipo, surgiram desa­
exerceu sobre as irimãs menores Arca­ vençél!s. Eucloxia e Chrysaphio, favorito
dia e Marina. Estas, á imitação da irmã cio Imperador, tratara1111 ele afastar Pul­
mais velha, fizeram o voto perpetuo ele cheria ela côrte. Apóz longa resistencia.
castidade e com ella viviam em santa Theodosio afinal consentiu na realização
ha1'mionià,. formando, por assim dizer, do plano e pediu <l!O Patria:rcha ele Co11s­
rima pequena cqmmuniclade no palacio tantinopla, Flavio, para acceitar · a irmã
imperial. A vida elas Princezas obedecia como diaconisa. Flavio ponderou a in­
a um regulamento, que especializava o conV1eniencia dessa medida e poz ele avi­
trabalho e as praticas de pi,ecladc. Es­ so a Pulcheria sobre o r1ue se estava tra­
tavam em uso obras de penitencia e mor­ tando. Pulcheria tomou logo providen­
tificação, que não soem existir em pa­ cias e retirou-se para uma vivenda no
lacios de ricos. A administração cios ne­ cé!!mpo. A ausencia da santa Princeza
gocios publicos estava entregue aos trouxe para o Imperio uma série inter­
cuidados ele homens cm1ll)etentes; rei­ mina de tristes occurencias.
nava paz -e ordem em toda a part-e, e as Eudoxia e Crysa:phio abriram hostili­
povos sentia1111-se felizes sob o governo dade contra Flaviano; arvoraram-se em
ele tão santa e sabia monarcha. Tendo fautores de Eutyches e Dioscoro, cele­
Theodosio alcançado a edade de vinre bres heresiarchas e extorquiram ele
annos, a conselho da santa irmã, cantra­ Theoclosio o consenümento para as me­
hiu nupcias com Althenais, filha ele um didas coercivas em favor da heresia.

Santa Pulcheria - Sozomenus lib. 9. Tillemont XV. Bolland. III. Sept.

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11 de Setembro 223
------

Pulcheria, livre de maiores responsabi­ d'antes, á oração, á leitura espiritual e


lidades, mais á vontade pôde viver, sa­ ao serviço dos pobres e doentes. Mode­
tisfazendo os anheJ.os do coração, nns lo de virtude, mãe dos pobres e prote­
dos labios nunca se lhes escapou um ctora da Egreja que era, bem merecidos
rnonasyllabo siquer de queixa contra :i foram os elogios que lhe teceram S. Pro­
i�gratidão daquelles que tanto lhe de­ clo, Leão e os demais Padres cio Con­
viam. cilio de Cha:Icedon.
Só lastimava o estado triste a que as Pulcheria morreu em odor de santi­
machinações dos herejes tinham reduzi­ dade, a 10 de Setembro de 454. As
do sua Mãe, a Egreja Catholica. Tantos Egrejas romana e grega dão-lhe a vene­
foram os estragos causados por esses ração de Santa Virgem, e o Concilio de
emissarios do intmigo de Christo, que o Ohalcedon a sauda como uma segunda
Papa Leão, a:lar,mado pelo desenvolvi­ Santa Helena.
mento assustador da heresia, impôz a
Santa Pulcheria ·o sacro dever de fazer
valer a sua influencia, para pôr um cli­ REFLEXÕES
que a:o movimento, que aimeaçava arrui­ Sant?. Pulcheria traduziu hem na pratica
nar a fé catholica no Oriente. a palavra de S. Tiago, que affirma ser
necess iria a fé viva, para que se possa
Pulcheria, munindo-se ele coragem, di­ agradar a Deus. Assim de nada nos apro­
rigiu-se ao Impera:clor e, com franqueza veitará sermos catholicos, si a nossa fé
de princeza catholica, paz-lhe deante cios não fôr acompanhada e demonstrada pelas
olho� o grande perigo que o Imperio hoa., . obras. Ninguem se salva por ser
carna. chr istão, mas pelas boas obras que prati­
co·l e pela fiel observação dos mandamen­
Chrysaphio seguiu para o desterro. t,Js da lei de Deus. Ninguem diga que as
onde morreu. Theodosio não teve lon­ preoccupações, os cuidados da vida impe­
ga vida e morreu a 29 de Julho de 450. dem a santificação como Deus a quer. O
Eudoxia retirou-se para a Palestina. exemplo de Santa Pulcheria, o desmentirá.
Rodeada de tentações que a vida da côrte
Achava-se o destino cio Imperio nova­ lhe preparava, foi firme na pratica das vir­
mente nas mãos ele Pulcheria. Para o tudes. Humilde no esplendor, prudente no
ho:11 desempenho dessa alta funcção, meio da riqueza, paciente e mansa nas ho­
resolveu Pulcheria contrahir matrimonio ras da perseguição, confiante em Deus na
can um official do exercito ele nome adversidade - eis a imagem, o exemplo
Marciano, bom catholico e homem de de Santa Pulchcr:ia. Miremo-nos neste es­
i�rande circrnmspecção. Celebrou-se o pelho de perfeição. Si for que nos deixa­
mos levar pelo egoísmo, pela avareza e
consorcio, com a condição de poder res­
pela sensualidade, é certo que estamos lon­
peitar o voto ele perfeita castidade. ge de sermos bons christãos, christãos de
Sob o sabia regímen de Marciano e vc�dade.
Pulcheria voltou a prosperidade ao Im­
pcrio. Os embaixadores do Papa foram
recebidos com as honras devidas á alta Santos cuja ·memoria é celebrada hoje:
dignidade. E1111 451 se realizou o Conci­
lio de Chalcedon, que anathematizou a Em Roma, o martyrio dos Irmãos Proto e
Jaeintho, camareiros de Santa Eugenia. 263.
heresia de N estaria.
Em Laodicéa o martyrio dos santos Dio­
Restabelecida a paz e a ordem, Pul­ doro, Diomedes e Didimo.
cheria dirigiu a attenção para o desen­
volvimento elo espirita religioso entre o Em Léon, na Hespanha, a morte do abba­
povo. Por toda a parte se ergueram de S. Vicente, martyr.
Egtejas• e hospitaes. PaTte consideravcl Na China o martyrio do bemaventurado
do taempo a imperatriz dedicava como Pe. João Gabriel Perboyre, Lazarista.

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224 12 de Sete1111bro

12 de Setembro

SÃO GUIDO
( t 1012)

C ÃO GUIDO, cognominado o po­ Guida como tal a amava e reveren­


� bre, nasceu na Brabancia, filho de ciava.
paes pobres, porém piedosos. Não ha­ O tc•mpo que lhe sobrava, era empre­
vendo outra fortuna para deixar ao fi­ gado em oração. Muitas haras durante
lho, esmeraram-se em dar-lhe uma boa a noive passava em presença cio Santis­
educação. Desde que começarnm a in­ sin110 Sacramento, adorando o myste­
cutir-lhe os principias christãos, con­ rio do aimor ele Deus aos homens. Si o
venceram-no da necessidade de temer a sdmno o vencia, estendia-se sobre o pa­
Deus e fugir do peccaclo. Tão boa se­ vimento ela Egreja. Minrnm era o orde­
mente lançada em terreno optimo, não nado que percebia. O pouco que ganha­
podia deixar de produzir optimo resul­ va, repartia ainda com os pobres.
tado. Tão piedoso era Guida, que por Um negociante de Bruxellas, obser­
todos era cha1t11Jado o Anjo da aldeia. vando a grande caridade ele Guido, con­
Satisfeito e contente sempre, nunca se vidou-o a ir com elle para Bruxellas,
lhe ouviu sahir da bocca 1m1a palavra de onde, com tím ordenado maior que lhe
quei:,m da pohrieza. Humilde e respeitos'O promettia, com mais facilidade poderia
para com todos, tinha prazer em estar soccorrer os necessitados. Tão vantajo­
na egreja, em adoração ao Santissimo sa lhe parecia a proposta riue, sem com­
Sacraimento. Por ser pobre, comprchen­ municar a ninguem, abandonou o em­
dia a trisre sorte cios pobres e ele boa prego e entrou a serviço do negocian -
vontade repartia com eUes as esmolas te. Bem depressa, porém, teve de con­
que se lhe davaim. venoer-se da �mproficuidade da resolu­
Certa occasião devia ir a uma aldeia, ção precipitada. Num naufragio de quoe
distante duas leguas ele Bruxellas. An­ foi victima, perdeu tudo o que possuía,
tes de tratar elos negocios, foi á egre­ e além disto não lhe podia ficar desa­
ja, onde permaneceu uma hora, rezan­ percebido o perigo que corria, de cahir
do nos degráos do altar de Nossa Se­ em peccados maiores. Resolveu então
nhora. O vigario do J ogar, admirado procurar a solidão, onde viveu mui san­
por vêr tão raro espectaculo, interessou­ ta!mente. Sete annos passou em cOl!nple -
se pelo piedoso joven e indagou de onde ta separação cio mundo, viV'endo elas es­
vinha, ele que edade era, etc. Pelas res­ molas que almais caridosas lhe davam.
postas o sacerdote conheceu que tinha Neste telmpo fez duas romarias : a Ro­
dea:nte de si um joven extraorclinario, e ma e a Jerusalém. De volta para Roma,
convidou-o para ser seu sacristão. Gui­ lá se encontrou com Wonedulfo, decano
da acceitou a proposta, pois ser sacrist;, o da Egreja de Anderlecht, que colm ou­
era sieu desejo intimo havia muito tem­ tros pi·edosos sacerdotes, se preparava
po. Apezar cios seus quatorze annos, era para fazer uma romaria a Terra Santa.
um s·erviclor cio altar tão consciencioso, Embora fatigado da viagem e bastante
pontual e em tudo tão exemplar, que enfraquecido, Guiclo accedeu ao pedido
todos se edificavam e lhe queriam bem. dos peregrinos de fazer-lhes companhia
Inexcedivel z•elo tinha pela limpeza da na travessia para Palestina. Apenas - ti­
egreja, que _realmente é a casa de Deus. nham chegado á Terra Santa e visitado

S. G1tido - Surius, Mireus, Sanderns. Boll. III. Sept.

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13 de Setembro 225

os Santos Logares, os peregrinos foram falta de fé. Lembremo-nos sempre de que


o mesmo Jesus, que agora soffre as nos­
accommettidos de uma f,ebre traiçoeira, sas irreverencias, um dia será o nosso juiz.
que os victimou. Guido tratou-os com 2. S. Guida não se queixava da pobreza.
grande caridade e assistiu-lhes na hora "E' Deus que faz o rico e o pobre", diz a
da morte. Te11minada esta missão, vol­ Sagrada Escriptura. (1. Reg. 2). O rico
não tem motivo para elevar-se acima dos
tou para I3rabancia, como \i\Tonedulfo outros e desprezar o proximo. "A riqueza
tinha pedido e transmittiu a noticia da é um beneficio de Deus, uma esmola que
niorte dos piedosos peregrinos. o Senhor do céo e da terra dá. Quem é po­
bre, não deve murmurar contra Deus, nem
Pouco tempo depois adoeceu tambem invejar o rico, porque direito nenhum lhe
e teve a con�nunicação de sua morte. assiste de possuir os bens da terra, como
Uma noite, estando absorto em profun­ Deus nenhum dever tem de lh'os dar. O ri­
da oração, a cella encheu-se-lhe de uma co cuide de não apegar o coração ás ri­
quezas, "porque o amor ao dinheiro é a
luz maravilhosa e ouviu-se esta voz: perdição da alma". O pobre console-se
"Vem, servo ·meu, bom e fiel, e entra no com a palavra do velho Tobias, que dizia:
gozo do teu Senhor, que será tua re­ "Meu filho, somos pobres, mas ricos sere­
mos si tivermos temor de Deus, si fugir­
compensa". No ,mesmo dia em que teve mos do peccado e praticarmos o bem".
esta visão, isto é, a 12 de Setembro de (Tob. 4). Quem é rico, faça uso dos bens
1012, o santo homem morreu. como a Deus é agradavel. O pobre confie
em Deus, que se compadece de toda a crea­
Os fieis fizeralm-lhe ttm enterro hon­ tura. Pense que é melhor soffrer por al­
rosíssimo. Muitos milagres lhe foram gum tempo com Lazaro e como elle ser le­
observados no tumulo. Poucos annos de­ vado ao seio de Abrahão, do que viver na
abundancia, como o máu rico e como este
pois foi construi-ela uma egreja nmgni­ ser sepultado no inferno.
fica cm sua honra, e as relíquias foram
para lá transportadas colm grande so­ Santos cuja memoria é celebrada hoje:
lernnidade. A festa do Santíssimo Nome de Maria In­
troduzida por Innocencio XI no anno de
REFLEXÕES 1683 em memoria da victorla sobre os tur­
cos, que ameaçavam a cidade de Vienna e
1. Tão edificante era o procedimento ele a Europa christã.
S. Guida na egreja, que o appellidavam de O bemaventurado Gabriel Dufresse, da
"Anjo da egreja ". Os Anjos fazem guarda Companhia das Missões de Paris. Vigario
de honra na egreja. A sua presença, a pre­ Apostolico de Setchuan, na China, morreu
sença de Deus no Santíssimo Sacramento
martyr depois de uma vida apostollca de
clsve tambem a nós incutir o maximo res­
peito. Oxalá nos convençamos cada vez 3D ajinos naquelle paiz. 1814.
mais da presença real de Jesus no Santis­ No Japão, o martyrio de S. Leão Satzuna,
simo Sacramento; oxalá a nossa fé neste catechista. Foi queimado vivo · em 1622.
Santo Sacramento se torne cada vez mais No mesmo paiz o martyrlo da bemaven­
viva! Pois as faltas de respeito na egreja, turada li-faria Ya::, cHposa do bemaventura­
que se verificam em inuteis conversas, em do Gaspar Vaz. Dcc,oitada em 1627 na ci­
ostentações de vaidade, têm explicação na dade de Nag-asald.

13 de Setembro

Santa Notbur�a, Empregada


(t 1313)

D OTTENBURG, pequena a:deia do ra1111 a filha no santo temor de Deus e


� Tyrol, é a terra natal de Notbur­ na pratica das virtudes christãs. Notbur­
ga. Os paes ·eram cam1ponezes e educa- ga era um modelo de virtudes, que de-

Santa Nothburga - Helligenlegende de Lourenco Beer.


Luz Perpetua 15 - II vol.

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226 13 de Setembro

vem ser o adorno ela donzella christã. perimaneoesse no seu emprego. Otilia,
Era principalmente a carielade, a bon­ porém, não era caridosa e, vendo Not­
dade de coração que todos nella aelmir2.­ burga distribuir tanta esmola, aborreceu­
va111, e que tanto a fazia adiantar-se na se e detelílninou que os restos ela comi­
santidade. da, 0111 vez ele serem dados aos pobres,
Tendo dezoito arn10s, empregou-s2 a corno acont:ecia até então, fossem apro­
sen-iço elos s�­ veitados para
nhores de Rot­ �---=.- --==- os porcos. Pa­
tenburg e nes­ - =-�fa� ra que nada
sa collocação faltasse a o s
pôde satisfa­ pobres, Not­
zer, como sa­ burga tirav·1
tisfez, os de­ então do que
sejos ardentes era seu, con­
ele soccorrer tinuando as­
os doen1:es po­ sim a praticar
bres e neoes­ a caridade á
sita d o s. Os propria custa.
aanos, o conde Tanto mais se
Henr iq u e e indignava a fi­
su a mullher dalga, que na
Jutta, ambos benefice n c i a
muito piedo­ ela empregada
s o s, davam­ via uma hu­
lhe ampla li­ milhação para
berdade para a patrôa. Não
exercer a no­ mais se con­
bre missão de tendo, relatou
esmo! e r. As tudo ao mari­
esmolas que a do, accusando
fiel emprega­ Notburga de
da distribuia deslealdade e
,quoti d i a n a­ q u eixando-se
mente, attra­ cio aj untamen­
hiélm1 as ben­ to de pobres
çãos do céo e necessitados
sobre a fami­ em sua casa, o
lia. A' esmola que ao seu
material N ot­ vêr era um
hurga u n 1 a abuso, c h c­
sempre a es­ Santa N otburga gando até a
piritual: a pa­ ''Esta gadanha ha de decidir a questão", disse cha:mar de la­
Notburga ao feitor, e a gadanha conservou-se sus-
lavra consola­ pensa no ar... dra a quem
dora, o conse­ tanta caridade
lho pratico, a exhortação que fazia aos fazia. O conde quiz pessoalmente verifi­
pobres de anelarem sempre na confor­ car o que havia e não havia, e surprehen­
miclaele com a santa lei de Deus. cleu N-otburga quando ia visitar os po­
Seis annos ficou N otburga no castel­ bres, levando, como ele costume, alguma
lo de Rottenburg, quanelo morreram os provisão no avental. "Que é que levas
amos. Estrmacla por todos, quizeram o em teu avental, Notburga? Deixa-111'0
joven conde e sua mulher, Otüia, que vêr"-disse-lhe o conde. Notburga, com

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13 de Setembro 227

imita naturalidade, abriu o avental e mais exigir trabalho depois elo "Ange­
mostrou-lhe pão e carne, restos da refei­ lus ".
ção, que guardara para os pobres. O O conde Henrique soffreu ainda mui­
conde, assim· conta a lenda, viu apenas tas outras contrariedades e os infortu­
uns gravetos, do que muito se admirou. nios vieram-lhe uns sobre os outros. O
Dessa maneira ficou rebatida a accusa­ maior foi a iniinizacle do irmão, Sige­
ção ela condessa, a qual, em vez de dar a freclo, que lhe invadiu o territorio, de­
cousa por acabada, á maneira ele pessoas vastando-o. O conde lembrou-se então
rancorosas, maliciou o procecliiinento ele de Notburga e das injustiças que lhe
Notburga, colmo si esta quizesse met­ f.orc11m feitas, dos máos tratos de que ti­
tel-a a ridiculo. Quand-0 N otburga vol­ nha sido objecto, attribuindo a má sorte
tou á casa, foi recebida grosseiramente a essa circwnstancia. Pessoalmente foi
pela condessa, a qual, não satisfeita de ter com a donzdla, convidando-a e pe­
cobrir de baldões a empregada, dernit­ dindo-lhe que voltasse ao castello, sob
tiu-a do serviço. garantia ele lhe ser dada a liberdade no
Notburga soffreu tudo ralada, sahiu e:icercicio elas obras caritativas. Notbttr­
do castello e empregou-se nunna fazenda. ga attendeu ao pedido do conde e sua
A vida solita:ria da roça, os trabalhos volta a Rottenburgo deu aos habitantes
em casa e no caJ111po, muito lhe agrada­ muita alegria.
ralm. Algt�m tempo depois, soube que a A segunda esposa do conde era, como
condessa tinha adoecido gravemente. N otburga, uma verdadeira mãe para os
Notburga, que por completo desconhe­ pobr,es. Era visivel como pela volta ele
óa o que era rancor, foi ao castello pa­ Notburga ao castello, para lá voltaram
ra fazer 111111a visita á senhora, de quem a paz e a concorclia. Sigefredo, a insis­
tantas injustiças soffrera. A condessa tencia della, reconciliou-s·e com o irmão
mandou-a entrar, recebeu-a muito bem e chegou a gozar de grande prestigio.
e pediu-lhe perdão de 1.el-a tratado tão A Santa ficou a serviço elo casrello do
asperatnente. Notburga com1noveu-se conde até o fim dos seus dias, isto é,
com a triste condição em que achara a dezoito annos e lmorreu a 14 de Setem­
antiga patrôa e tornou-se-lhe fiel en fer­ bro de 1313.
rneira, até que a morte a livrou cios pa­
dedmentos. O quarto occupado por Notburga foi
transfortnaclo em capella e sobre o tu­
Morta a condessa, Notburga voltou ao mulo da Santa na capella de S. Roberto,
serviç•o elo caimpo. Aconteceu que na em Ehen, foi construida uma bella Egre­
tarde de um dia - que era um sabbado ja. A festa ele Santa Notburga é com­
- Notburga, ao toque do "Angelus", memorada no dia 14 de Setembro.
como ·era de costume, quizesse dar por
terminado o tra:balho. Fôra essa a con­ REFLEXÕES
dição sob a qual se empregara, de po­ Como é commovedora a caridade de
der clispôr do tempo depois cio "Ange­ Santa Notburga e seu cuidado pelos pobres
lus" e nas vesperas de dias santos. O e necessitados ! Fazem muito mal os em­
feitor insistiu para que naquelle dia pregados que, dispondo dos bens dos amos,
foss·e cortado todo o cereal que estava sem consentimento e contra a vontade dos
no caimpo. V1enclo a insistencia resoluta mesmos, dão grandes esmolas. Santa Not­
e cnergica do feitor, Notburga levantou lrnrga assim não procedia, mas para soe­
ao céo a gadanha e disse: "Esta gada­ correr os pobres, tirava do que �ra seu.
nha ha de decidir a questão." Retiran­ Caridade que offende aos principias da jus­
tiça, não agrada a Deus. O exemplo da vi­
do a mão, a foice conservou-se suspen­ da ele Santa Notburga prova que empre­
sa no ar. Ao vêr tal maravilha, o feitor gados virtuosos são uma benção para a
pediu perdão á donzella e promietteu familia, sobre a qual attrahem a protecção
d'orav_ante respeitar o contrnct-o e não divina.

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228 14 de Setembro

Santos do Martyrologio Romano, cuja me- Seu successor Terenclo condemnou-o â.


maria é celebrada hoje: morte e mandou executar a sentença. sec. 3.
Em Alexandria a morte de S. Philippe, Em Angers, na França, o bispo S. Mau-
pao de Santa Eugenia, virgem. Para poder rilio.
r;cg-uir sua convicção religiosa teve de ab- Os santos martyres Macrobio e Juliano,
c:icar seu cargo de governador do Egypto. mortos na perseguição de Dicinio. sec. 4.

14 de Setembro

Festa da Exaltação da Santa Cruz


�':S
-iÃ\\ EGREJ A catholica occiclental co­
nhece a festa ela Invenção da San­
tJ. Cruz, celebrada no quinto e sexto se­
Heraolio pela segunda vez pediu a
paz. O �ei barbara respondeu-lhe com
arrogancra e orgulho : "Os Romanos
cuki, em memoria da celebre apparição não terão paz, emquanto não adorarem
do signal da Cruz, na batalha da ponte o sol, em vez de um homem crucific�do".
Milvia, que deu a victoria ao imperador Vendo as·sum frustrados todos os esfor­
Constantino sobre seu coimpetidor Ma­ ças, I-foraclio poz toda a confiança em
xencio, e a festa da Invenção cio Santo Deus e em 622 marchou contra a Per­
Lenho, pela Imperatriz Santa Helena. A sia. Victorioso no primeiro encontro, na
liturgia dos nossos dias, porém,· reserva Arlinenia, no anno seguinte o exercito
o dia 3 ele Maio á celebração ela Inven­ christão conquistou Gaza, queimou o
ção ela Santa Cruz e á Apparição mara­ templo, junto com a estatua de Chos­
vilhosa na batalha acima referida, dan­ roes, que nelle se achava. Chosroes mes­
do-lhe o titulo: Festa da Invenção da mo foi assassinado pelo proprio filho,
Santa Cruz. O dia 14 de Setem­ cdm o qual Reradio celebrou a paz.
bro, dia da festa da Exaltação da Uma elas pdmeira:s condições desta paz
Santa Cruz, carnmemora o glorioso fa­ era a restituição cio Santo Lenho, o qual
cto da reconquista da Santa Cruz das foi por Heraclio levado em triumpho
mãos dos Persas. para Constantinopla.
Chosroes II, rei da Persia, pegára em Urna vez livre do jugo dos Persas,
armas contra o imperio oriental romano Heraclio resolveu a solemne trasladação
( 610), sob o pretexto ele quercr vingar cio Santo Lenho para Jerusalém. Na pri­
as crueldades que o Imperado:- Phocas mavera cio anno de 629, com grande co­
tinha praticado contra o Imperador Mau­ mitiva, foi a Cidade Santa, Ievando com­
ricio. Phoca:s desappareceu e teve por sigo o Santo Lenho. Festas extraordi­
successor Heraclio, governador da Afri­ narias prepararam-se na Palestina. Em
c.:t. Bste fez proposta de paz a Chosroes, proc1ssao solemnissima foi levada a
o qual a rejeitou. Unta cidade após ou­ Santa Cruz, para ser depositada na
tra cahiu em poder dos Persas, sem que egreja do Santo Sepulcro, no monte
Heraclio lhes pudesse tolher os passos. Calvaria. O lmperaclnr tinha reservado
Senhor de Jerusalém, Chosroes praticou para si a honra de carregar a preciosa
as maiores atrocidades contra sacerdo­ reliquia. Chegada a procissão á porta · da
te3 e religiosos, reduziu á cinza as egre­ cidade que conduz ao Golgotha, Hera­
jas e entre outras preciosidades, levou clio, como retido por forças invisiveis,
ta:Bhem a parte cio Santo Lenho, que não pôde dar mais um passo adeante. O
Santa Helena tinha deixado na cidade patriarcha Zacharias, que se achava ao
santa. la!do do Imperador, levantou os olhos ao

F:xaltaçãn da Santa Cruz - Da chronica alexandrina. Cedrenus, Theophanes etc.

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15 de Setembro 22)

céo e como por inspiração divina, dis­ paciencia e resignação, como Jesus a le­
se-lhe: "Senhor! lembrae-vos de que vou, vos será de muito maior utilidade 4ue
o proprio Santo Lenho ? Jesus Christo di::
Jesus Christo era pobre, quando vós an­ nominou sua crucificação uma exaltaçãr;>';
daes vestido de purpura; Jesus Christo "Cumpre que o Filho de Deus seja ext1-lt:r­
levava uma corôa de espinhos, quando do". (Jo. 3, 14). De facto, pela Cruz Jesus
Christo foi exaltado sobre os ceus e a ter­
na vossa cabeça vejo brilhar uma corôa ra. Assim sereis exaltados si, como e com
preciosíssima; Jesus Christo anelava des­ Jesus Chrísto. levardes a cruz que elle v_os
calço, quando YÓs usa·es calçado finíssi­ impôz, isto é, com paciencia e humildade.
mo." Heraclio com humilda<le acceitou O máo ladrão carregou a cruz, maldizendo
a sorte. O companheiro levou-a com senti­
o aviso do patriarcha. Sem demora ti­ mentos de arrependimento, reconhecendo
rou a corôa, trocou o manto imperial nella o instrumento do justo castigo. J csus
por uma tunica pobre, substituindo o ri­ Christo não só a levou com paciencia, mas
co calçado por sandalias e, tornando de corno o Apostolo expressamente diz: com
alegria - e era innocente. Qual dos tres
novo o Santo Lenho, sem clifficuldade carregadores de cruz é vosso modelo ?
algulma o levou até a ultima estação. Lá Qual delles o será para o futuro ? Sois
chegado, todo o povo se acercou da gran­ bemaventurados, si levaes a vossa corno o
de reliquia, veneranclo-a com muita fé. bom ladrão e Jesus Christo, porque, ten­
do-os por companheiros e modelos nesta
�uitos doentes recuperaram a saúde. vida, com elles celebrareis a vossa Exalta­
Para todos o dia 14 de Setembro de ção gloriosa e eterna, cujo feliz exito es­
629 foi ulm dia ele triUimpho e ela mais tá já marcado nos arcanos da divina Pro­
videncia.
pura alegria. Deus ainda o glorificou
por milagres, dando a saúde a muitos
enfet1rnos. Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
Rr.FLEXõES Em Roma, na Via Appia, o Papa mnstyr
De grande veneração goza o Santo Le­ S. Cornelio, que morreu no exilio. Defenueu
nho, que serviu de altar no grande sacri­ a pureza da fé contra a heresia dos nova­
ficio, que Jesus Christo offereceu no mon­ cianos. Seu nome figura no Canon da miH­
te Calvario ao Pae celestial. Si tivesseis sa. 235. Sua intercessão é invocada contra
delle uma mínima pai ticula, não a conside­ a epilepsia.
raríeis um thesouro preciosíssimo e como Em Roma, o menino martyr S. Cresccn­
tal, não a guardaríeis com muito amor e cio, filho de Santo Euthymio. Morreu na
cuidado ? Porque não esti1:nes a Cruz, que perseguição diocleciana.
Deus Nosso Senhor vos ,uanda ' �ão é
tambem uma particula ver:alc:ira da Cruz Em Treves a memoria do bispo S. Mater­
de Christo, uma particula, que, leva.da com no, discipulo do apostolo S. Pedro.

15 de Setembro

Santa Catharína de Genova


(t 1510)

Jb\A NOBRE familia cios FiescH� Qua!ndo tinha oito annos apenas, a
� nasceu em 1447 Catharina, que, menina dava já signaes bem claros ele
como Santa da Egt1eja Catholica, é co­ futura santidade. Contam os biographos
nhecida pelo nome de Catharina de Ge­ que, ao vêr a imagem do Crucificado,
nova, que lhe foi dado por lhe ser Gc­ ·era tal seu aimor a Deus, que seu unico
nova a cidade de origem. des·e jo parecia poder soffrer com Jesus.

Santa Cntha.rina ele Genua - Marrabotti, confessor ue Santa Catharina, escreveu a bio­
p-r9.phia da mesma. Boll. III. Bened. XIV. de Canon!z. I. 3. c. 3. e Bullarium Rom. XV.

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230 15 de Setembro

Assim rejeitava o leito macio, substi­ daram que sa:hisse da solidão e procu­
tuindo-o por uma taboa, procurava sem­ rass,e o convivia ela soci_edade, que não
pre mortificar o corpo. se negasse a tomar parte em divertimen­
Na edade de 13 annos manifestou o tos lícitos. Catha:rina acceitou o conse­
ardente desejo de ser religiosa, no qu� lho, por lhe parecer bo1111.
não foi attenclida, por ser menina ain­ Outros cinco annos se passaram, no·
da. D e zeseis fim cios quaes
annos t i n ha se sentiu tão
Ca t h a r i n a, enfastiada dos
qu a n d o os praze r e s do
paes a casa­ mundo, q u e
ram com Ju­ resolveu aban­
liano Adorno, donai-o p o r
joven fidalgo, completo. Ta-
cuja vida em 111,0.nho clesani-
tudo contras­ 1no se lhe apo­
tava com a derou ela al­
de Catharina. ma, que não
O modo de mais sabia pa­
tratai-a, já no ra quem re­
dia do casa­ correr. Nessa
mento, era tlim quasi cl e ses­
triste presagio peração pro­
para o futuro curou a ir1tnã,
do casal. De Limbania, que
maneiras gros­ e r a religiosa
seiras, d�ti­ num convento.
tuido por com­ Esta a acon­
pleto de icléas selhou a reve­
nobres, Julia­ lar ao confes­
no procurava sor da com­
o bem estar inunid a d e o
no jogo e nos estado ele sua·
praz e r e s. A alma.
antipathia to­ Não foi sem
mada contra a grande sacri­
esposa no dia fício que Ca­
do casamento, tharina se de­
foi se trans­ cidiu a ajoe-
formando em Santa Catharina de Genova 1 h a r-se aos
odio. Parecia-lhe ver Jesus na sua frente levando a pe­ pés cio sacer­
sada cruz, e dizer-lhe: '' Eis o 1neu Hangue derra­
Catha r i n a mado por ti e pela extincc;ão dos teus peccados." dote. Mal, po­
tudo fazia pa­ rém, se acha-
ra abrandar o genio do marido; nada, va no confossionario, quando uma luz
porém, conseguiu. Apoderou-se-lhe en­ divina a illuminou de tal maneira que,
tão do aniJ1110 taimanha tristeza que, re­ no reconhecimento da bondade de Deus
trahindo-se por completo da sociedade, e da propria culpa, cahiu por terra, ex­
não mais sahia do aposento.. clamando: "Senhor, nada mais quero
Cinco annos· passou nes'Se retrahimen­ cio n�undo, nada mais do peccado ! Bas­
to, quando a:lguns 31migos, interessados ta de peccar, basta de peccar !"
pelo seu estado de saude, lhe recommen- Voltou para casa, 00111 o proposito de

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15 .de Setembro 231

preparar-se para uma boa confissão ge­ Si tanta caridade dispensava ao bem
raJ. Uma dor tão forte dos peccaclos mareriaJ dos doentes, !111aior cuidado
apoderou-se-lhe então da alma, que re­ dava á parve espiritual elas almas irn­
ceiou séria!mente não mais poder resis­ n11ortaes. Com bons modos, palavras ani­
tir. Parecia�lhe vêr Jesus em frente, le­ madoras, conseguiu a conversão ele mui­
vando a pesada cruz, derramando copio­ tas pessoas. Uma dessas conquistas foi
so sangue e dizer-lhe: "Eis o meu san­ a conversào cio propúo marido. Grave­
gue clerraimado por ti e pela extincção n11ente doente e inaccessivcl aos pedidos
dos teus peccaclos ". e conselhos ela santa mulher, esta se di­
rigiu a Deus, pedindo a salvação do es­
Póde-se fazer idéa do que se passou poso, a qual foi completa e sincera. Ca­
no coração ele Catharina. A uma espe­ tharina teve a satisfação ele vêl-o mor­
cial intervenção da divina misericordia rer em paz cOlln Deus.
deve-se attribuir o facto de não ter mor­ Livre d9s laços que a prendiam ao
rido ele arrependimento e amor. "Oh marido, redobrou os ex·ercicios de vir­
aimor ! - excla:mava - oh amor ! nada tude e de caridade em particular. No
ele peccado ! nada ele peccaclo, oh aimor de Deus alcançou uma perfeição
arnor !" adimiravel, como em poucos Santos é
Após meticuloso exame ele conscien­ observada. O fogo que lhe ardia na al­
cia, fez a confissão geral na vespera da ma, comrnunicava-se ao corpo de tal mo­
fiesta da Annunciação ele Nassa Senho­ do, que não s,e lhe podia tocar nas mãos,
ra. No dia da festa recebeu a ,santa Com­ que pareciam ferro em braza. Em taes
munhão e desde então desejava receber occasiões é que, perdendo a respiração
o mais vezes possivcl o santo Pão dos em consequencia do fogo interno, excla­
Anjos. mava afflicta: "Oh a:mor, não aguento
Não contente com a simples confissão mais isso !"
dos peccaclos, e para satisfazer inteira­ No ultimo perioclo da vida, Deus en­
mente a justiça divina, impoz a si pro­ viou-lhe doenças clolorosissiunas, recal­
pria grandes obras de penitencia, Tinha citrantes a qualquer intervenção medica.
por regra rejeitar alimentos gostosos. Era este o seu desejo: soffrer sem ter
Durante vinte ,e tres annos, nos grandes possibilidade de um allivio. Inquebran-­
jejuns da Quaresma e cio Advento, ou­ taveis eralm sua paciencia e conformi­
tra cousa não tomava senão agua mis­ dade com a vontade ele Deus.
turada com sal e vinagre. As ulümas palavras que disse, foram
A recepção quotidiana ela santa Com­ estas: "Em voS1sas mãos, Senhor, entr·e­
munhão era a chave do enigma da con­ go a minha alma".
servação de sua vida durante esse tem­ Catharina m,orreu a 15 de Setembro
po todo. Elmbora, por communicação ele 1510, na eclade ele 63 annos, conser­
sobrenatural, tivesse certeza absolÍ.ita vando-se-lhe o corpo intacto e é até hoje
sobre o completo perdão dos seus pec­ objecto de veneração dos fieis. Clemen­
cados, não abandonou a pratica chs pe­ te XII canonizou-a em 1737.
nitencias.
REFLEXõES
A virtude da caridade era-lhe ohjecto "Jesus esteja em teu coração, a eterni­
predilecto ele cuidado, Frequentes eram dade em tua alma, o mundo aos teus pés
as visitas que fazia a doentes e por ulti­ e a vontade de Deus em tudo que fazes".
mo prestava serviços a,os enfermos po­ foram palavras que Santa Catharina diri­
giu a uma jovem postulante do Convento.
bres nos hospitaes. Para mortificar a E' esta a expressão da verdadeira sabedo­
sensibilidade, que a fazia recuar das fe­ ria: Jesus no coração. Nada de inveja, de
ridas e ulceras dos doentes, obrigou-se adio, de impureza, de ambição e vaidade.
ao acto heroico ele beijai-as com toda a A eternidade na alma ! E' um mal de mui­
tos homens, de nunca ou poucas vezes pen­
ternura. sarem na eternidade. - O mundo aos pés.

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232 16 de Setembro

Assim devia ser, quando o contrario se actor de profissão, que, para deliciar o Im­
observa. O mundo é que occupa o coração, perador e ridicularlsar a religião christã, de
o cerebro de grande parte dos homens, do preferencia representava scenas da liturgia
que resulta o esquecimento de Deus. - A catholica, inesperadamente se sentiu tocado
vontade de Deus em todas as cousas. Quem pela graça divina, justamente quando em
tem amor a Deus, evita o quanto póde, o certa occasião tinha tomado por objecto de
peccado, quer mortal, quer venial. Por isso sua exhibição o sacramento do baptismo.
é que os peccadores não são amigos de A profanação deu Jogar 1í. sua declaração de
Deus. Em vez de lhe obedecer, desobede­ ter abandonado os erros do paganismo e
cem, contrariando a vontade de Deus, que abraçado a religião de Christo. O Imperador
é sua santificação. Juliano deu ordem lmmedlata para ser exe­
cutado. 362.
No mesmo dia o martyrio de S. Nieetas.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me.­ Godo de nascimento, foi condemnado 1í. mor­
maria é celebrada hoje: te pelo rei Athanarico, sem para isso exis­
A festa de Nossa Senhora das Dores, an­ tir outro motivo a não ser o da religião ca­
tes celebrada· só na Ordem dos Servitas, tholica. 372.
desde 1814 é generalisada na Effl"reja catho­ Em Córdova os santos rnartyres Emllos,
llca. diaeono, e Jeremias. Morreram na persegui­
S. Porphyrio, antes de sua conversão, ção dos arabes. 852.

16 de Setembro

S. (ypríano, Bíspo de Carthago


JI
(t 258)

STE Santo é figura brilhantissima e apaixonados gritos, manifestaram o


l' da Egreja Africana no seculo III. odio ao santo Bispo: "Cypriano aos
Filho de paes nobres, dotado de extra­ leões ! Cypriano ás féras !'' - era a
dinarios talentos, foi S. Cypriano uril sorte que lhe destinavam.
dos maio!'es sabios do seu tempo e ora­ Cypriano, em forvorosas orações, pro­
dor de in · exgotavei-s recursos. A pr:nci­ curava conhecer a vontade de Deus. Pa­
pio pagão, converteu-se ao catholicismo ra poupar o rebanho, embora désse pre­
,e, em marcha ininterrupta, galgou as f.erencia ao martyrio, achou mais acer­
culminancias das virtudes christãs, a tado seguir o conselho de Nosso Senhor,
ponto de operar grandes milagres. que disse: "Si vos pePseguirem numa
P,ela vontade do povo inteiro e do cidade, procurae outra".
clero, foi ordenado sacerdote e em 248 Um signal que recebeu do céo, mos­
·sagrado Bispo de Carthago. Ao zelo trou-lhe taJmbem a conveniencia dessa
sem par, á vida santa e piedosa de São medida e assim resolveu fugir. Do es­
Cypriano deveu a Diocese ele Carthago conderijo pôde pre, star grandes serviços
o facto de ter vindo a ser a primeira da aos pobres oatholicos perseguidos, aos
Africa. qua:es animava, consolava e fortificava.
Quando em 249 o Imperador Decio Grande rigor oppunha aos apostatas, que
decrerou a perseguição da Egreja, mui­ mais tarde se apresentavam arrependi­
tos catholicos sdlaram a fé com o pro­ dos, pedindo para serem• acoeitos nova­
prio sangue, outros apostataram. Não mente.
tardou que a perseguição tivesse entra­ Como outros Bispos e sacerdotes tra­
da tambem em Carthago. Os pagãos reu­ tassem com mais benignidade es,ses in­
niralm-se no grande forum e, em altos felizes, formou-se uma corrente fortis-

S. Oypriano - Da vida do Santo, escripta pelo diacono Pontlus, seu fiel companheiro.
Acta Proconsularia. Tluinart. Tillemont III. Edição Maurlna das obras deste Santo, com
sua blographla, escrlpta pelo P. Meran.

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16 de Setembro 233

sl'ma com ares de sc1·sma contra Cy­ vas, que o JUtz o condemnou ao exilio
priano. em Curubis. Por uma visão do céo, sou­
O mov�mento adversaria era chefiado be que só um dia, isto é. um anno ape­
por Novato. Gontra este e outros sacer­ nas o separaria do martyrio.
doves descontentes convocou um Conci­ Do exílio escreve, u urna carta conso­
lio, cujas resoluções fornm apresentadas ladora e enviou uma quantia de dinhei­
ao Papa Cornelio, que as approvou e ro aos christãos condel1Tilllados a traba­
•sanccionou. Em um outro Concilio foi lhos forçados nas minas de cobre.
confirmado o valor do baptistno das Ainda poude voltar para Carthago,
creanças. onde Galeria Maximo tinha succedido a
Numa nova perseguição, que veiu sob Aspasio. Lá tomou ainda muitas provi­
o governo do Imperador Gallo, Cypria­ dencias, l"'epartiu os thesouros da Eg-re­
no tornou a fortalecer a fé dos chris­ ja entre os pobres, exhortou os fieis á
tãos. constancia •e rejeitou o oonselho de es­
Quando a peste, no espaço de quinze conder-se. Em 13 de Serembro de 258 foi
annos, dizi1mava a população, o santo levado á presença do novo Proconsul.
Bispo pef1111aneceu com os diocesanos, Uma ,enorme multidão acompanhou-o,
consolando e soccorrendo-os com ora­ appl"'ehensiva com o que poderia aconte­
ções e auxilias. cer-lhe. Como se negasse a prestar ho­
Muitos christãos que cahirnm prisio­ menagenn aos deuses, o juiz romano
neiros, resgatou elle com dinheiro de condernnou-o á morte pela espada. A
sua propriedade. execução foi immediata e Cypriano, pre­
Surgiu urna grande controversia so­ parando-se para o ultimo sacrificio, deu
bre o valor do baptismo administrado ao carrasco 25 moedas de ouro. Os
por herejes. Quando o Papa Santo :&­ christãos estenderam pannos de linho
tevaJm: estava pela consagração da tra­ branco em redor, para apanhar o san­
dição, que considerava valido esse ba­ gue do martyr.
ptismo, Cypriano impugnava-o e cam O cadaver foi sepultado com grande
elle muitos Bispos da Africa e da Asia, soleJmnidade. Dua:s egrejas ergueran1.:­
que exigiam o segundo baptismo para se: uma no Jogar onde Cypriano foi de­
pessoas baptizadas por herejes. A ques­ capitado e outra sobre o seu tumulo. A
tão ficou sem solução, devido ás diffi­ festa do Santo Bispo foi transferida de
cilll1111as complicações· politicas daqucllc 14 para 16 de Setembro.
tempo.
Emibora contrariando a opinião do R.EFLEXõES
Papa, não era intenção de Cypriano des­ S. Cypriano mandou entregar ao proprio
respeitar a pessoa do mesmo. A Egrej a algoz uma quantia consideravel em dinhei­
romana era para eHe "a cadeira de São ro. Esse facto foi a applicação perfeita das
palavras de Christo: "Fazei bem áquelles
Pedro, a Egreja por excellencia, de que que vos odeiam". (Luc. 6. 27). E' o capitulo
a união entre os Bispos se origina e na mais difficil da pratica da virtude christã:
qual é inac1missive, l uma trahição, por perdoar aos inimigos. Não é graride o nu­
menor que seja". Si houve ele sua parte mero dos christãos que se decidem á imita­
um excesso de ardor nas discussões e ção de Christo neste ponto. Perdoar ao
uma certa falta de ponderação, d'ella se inimigo todo o mal que fez, póde não ser
penitenciou na perseguição que rompeu. facil, mas é necessario, é indispensavel.
quando Valeriano era Imperador. Perdoar ao inimigo é a condição do perdão
Foi em 257 que pela primeira Yez se dos proprios peccados. Si Deus comnosco
se quizesse haver como nós nos havemos
viu citado perante o tribunal do Pro­ com os nossos inimigos, estaríamos perdi­
consul africano Aspasio. As declarações dos. Mas apezar de ser por nós mil vezes
sobre sua posição, religião e modo de offendido, Deus sempre nos perdôa. Não
pensar como christão, foram tão positi- merece ser imitado exemplo tão generoso ?

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,234 17 de Setembro

Si Deus nos perdôa, não devemos tambem Em Chalcedon, na Asia Menor, o martyrio
perdoar ? "Olha para teu Senhor. Teu ini­ da santa virgem Euphemia no tempo da
migo é máo, mas teu Senhor é bom. Teu perseguição diocleciana.
inimigo não · merece ser perdoado, mas teu Em Roma Santa Lucia e S. Geminiano,
Senhor merece mil vezes ser obedecido. ambos de descendencla nobre soffreram o
Por amor deves perdoar". (Santo Agos­ martyrio na perseguição de Diocleciano.
tinho). Em Cordoba, os santos martyres Rogello
e Servusdei. Depois de lhes terem sido
amputados plês e mãos, foram decapitados.
Santos do Martyrologio Roniano, cuja nie­ Na Inglaterra a filha do Rei Etgardo,
nioria é celebrada hoje: Santa Edith, virgem .. 984.

17 de Setembro

Santa Híldegardís, Religiosa e Abbadessa


(t 1179)

lfr'tt MARTYROLOGIO romano re­ uma maneira extrnordinaria e desde ;;


� gista hoje o n01ne de Santa Hil­ idade de quinze annos.
degardis, nobre descendente dos con­ Tendo morrido a abbadessa, quize:-cJ.111
des de Sponheim, do Pafatinaclo. as Irmãs que Hildegardis lhe fo_;;;.:: a
Santa Hildegardis nasceu em 109S. successora, como a mús digna, a mc1is
De accorclo com os costumes daquelle virtuosa de toclais. Superiora igual r:;iq
tempo, os paes entregaraim-n'a aos cui­ poderia havier, porque Hildegardis lia
dados de freira:s. Assim aconteceu que os pensamentos das filhas, conhecia-lhes
Hildegardis, tendo apenas oito annos, as faltas mais encoberbas e por isso.
fosse ,entregue á abbadessa do convento mais elo que qualquer outra, estava ,.m1
das Benedictinas, em Disbodibergue. A condições de levar á perfeição as irrnãs
abbadessa, senhora de alta aristocracia de Ordem.
e 1111uito santa, introduziu a discipula nos
A alma de Hildegardis era qual ttni:t
mysterios da vida interior, inoculando·
harpa de acuradissima afinação, de <;11�
lhe um forte e decidido desprezo pelo
o Divino Espirita Santos se servia para
mundo e as vaidades. communicar-lhe os arcanos da divind t­
Não era, pois, para admirar que Hil­ de. Obediente a uma ordem que recf:'l.i•.:-­
degardis, uma vez conhecendo e tornan­ ra do Espirita Santo, escrevieu tudo que
do-se apreciadora da vida religiosa, pe­ lhe fôra revelado, embora a humildade
disse para ser acceita entre as religiosas di fficilmente se lhe conformasse com
da· Orden1, no que foi attendida sem a ,este mandamento. Não podendo, porém,
menor difficuldade. rosisür á:s insta:ncias da divina vontade.
Era um cuidado especial que a supe­ sujeitou-se-lhe, escrevendo uma série
riora tinha, de introduzir as noviças no de livros, quasi todos em latim, obras
conhedmento dos psalmos, cuja recita­ de reconhecido valor ascetico. S. Ber­
ção era pratica quotidiana. nardo, assiduo leitor d'ess-es escriptos,
Desde a entrada na Ordem, Hilde­ admirava-lhes a sublimidade dos concei­
gardis dava ás companheiras o exemp1 o tos e o espirita prophetico que nelles se
mais perfeito de rnligiosa como deve revelava.
ser. Está documentado o facto de D,�us Grandes elogios recebeu a Santa da
ver-lhe dado o dom da prophecia rJe parte do Papa Eugenia IV, o qual, ena!-

Santa llildegardes - Thlerrl. Blbllotheca Patrum XXII. Martene Amplis. Collect. II. Ca­
ve hlst. llt. II.

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17 de Setembro 235

tecendo os dores sobrenaturaes que de vista elos estupendos milagres, com que
Deus recebera, lhe deu sabias conse­ Deus se dignou de glorificar o tumulo
lhos sobre a necessidade de conservar­ da santa abbaelessa.
se no espirita da humildade, visto que
Deus resiste aos soberbos. Santa Hildegardis morreu em 17 de
A fauna ela Scl)nta rdigiosa correu ter­ Set�bro de 1179, com a idade avan­
ras; Papas, Imperadores e Bispos clirigi­ çada ele 82 annos.
ra;m-se-lhc, pe­ REFLEXõES
dindo conselho
Soffr e r ca­
em q u estões lumnias e male­
de difficil so­ dicencias é a
lução. sorte de todos
os bons. O pr0-
Tão nttmc- ' prio S a lvador
rasos eram os foi victima des­
pedidos q u e sas armas pre­
dilectas do in­
donzellas lhe ferno, q u ando
dirigiam para os inimigos o
obter a admis­ chamar a m de
são na Ordem, revolucionar i o,
que foi preci­ pervertedor do
povo, possesso
so abandonar do d e m o n i o,
o antigo con­ desrespeita d o r
vento e fun­ da lei, profana­
dar outro nas dor do sabbado,
sa m a r i t a n o,
proximidael e s apostata, blas­
ela cidade ele ; phemo, amigo e
Bingen, sobre protector d o s
p e c c a d o r er.
o Rheno. S a n t a Hilde­
Ainda outro gardis, c o m o
conve n t o se esposa de Chris­
fundou sob a to, julgou gran­
de honra poder
direc ç ã o ele compartilhar do
Hildeg a r el i s soffrimento do
em Eibingen, divino Esposo
e, imitando-lhe
onde lhe re- o exemplo, le­
pousam as re­ vou com a
líquias. maior paciencia
a cruz por Elle
Deus p e r­
mittiu que o
--
... ---
_
_
_ -
___-- -
-::.::::-~,,,
. im p o s t a aos
seus hombros.
fim da viela Santa Hildegardis
A conformidade
de sua serva com a vontade
Tendo apenas oito annos, Hildegardis foi confiada de Deus nos
fosse amargu­ (1 abbadessa Jutta, benedlctina do Disbodibergue. soffri m e n t o s
gurado p o r dessa natureza,
uma série de soffrimentos, inclusive por é a ultima victoria do christão sobre
calun�nias e maledicencias, filhas da in­ o amor proprio; é a pedra de toque da
mais alta perfeição, como tambem o es­
veja e do ciume de espiritos 'medíocres colho mais perigoso para a virtude falsa
e acanhados. Entre as proprias fillrns e fingida. Quem se julga perfeito, apesar
espiritua:es algumas hou,ve, que se insur­ de se mostrar sensivel quando offendido
por linguas calumniadoras, por ahi deve co­
giralm contra o rigor da santa Superio­ nhecer que está longe da perfeição christã
ra. Toda:s essas vozes emmudeceram, á e póde seriamente desconfiar da solidez das

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236 18 de Setembro

suas virtudes. Abandonar os bens por amor No monte Alvernia, na Toscana, a memo­
de Jesus é cousa facil; difficillimo, porém, ria da estygmatisação de S. Francisco de
Assis.
é abandonar a si proprio, banir sentimen­
tos de vingança, de odio e toda a má von­ Em Saragossa, na Hespanha, S. Pedro de
tade. Não ha mal nenhum em sentir-se o A rbues, primeiro inquisidor no reino de Ara­
g-iio, membro da Ordem dos Agostinianos.
effeito natural da calumnia, experimentar Cumpridor dos seuH deveres, Inquisidor
tristeza, como o proprio Jesus a sentiu e 1.1u0 era, tornou-se alvo do oclio elos judeus,
experimentou. Quem o quer imitar, imite-o que o apunhalaram, quando na egreja en­
tambem na virtude ele perdoar aos offen­ toava o Invitatorio. Dois dias depois mor­
sorcs e rezar pelos inimigos e perseguido­ reu em consequencia dos ferimentos. Todas
res. as accusaGões levantadas contra este San­
to como Inquisidor, são tendenciosas e fal­
sas. 1485.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Em Cordoba o martyl'io da santa virgem
moria é celebrada hoje: Columba. 853.

18 de Setembro

S. THOMAZ DE VILLANOVA
( t 1555)

Jt;Jj: M DOS mai-ores Santos, que Deus


· ,;;.y deu á Egreja, numa época em que
conheciam os paes de Thomaz e, chris­
tãos convictos que eram, com empenho
as heresias mais remiveis levantaram a traçara1m os planos de bem lhe formar
cabeça, foi sem duvida S. Thornaz ele o coração, na educação religiosa.
Villanova. Ca,stilha é sua terra, ond� Os raros talentos de Thomaz faculta­
nasceu em 1488. O sangue nobre ele-., ram-lhe fazer progressos aclmiraveis nos
virtuosos paes não foi cles1nenticlo pe'.o estudos. A passos de gigante palmilhou
filho. Modelos elas virtudes christãs, bem as ltiminosa:s sendas do saber e contan­
cedo implantaram no coração ele Tho­ do apenas vinte e seis annos, foi-lhe
maz o a:mor de Deus e do proximo, e conferido o gráo de doutor em philoso­
com grande satisfacção puderam consta­ phia e theologia. Em todo este tempo
tar o desenvolvimento da boa indole elo de estudante, rodeiélldo de perigos im­
filho, no qual vi�m desabrochar as mais minente, s, conservou intacta a pureza do
bellas esperanças. coração, não desprezando, para alcan­
Muito creança ainda, tinha o maior çar tãó augusto fim, os meios que a re-
praz·er em repartir o pão com os pobres, 1 igião e o exemplo dos Santos lhe indi­
que vinham pedir esmolas. Certa vez ti­ cavaim. Pda morte do pae tornou-se
rou o paletot, para dai-o a um menino proprieta,rio de uma grande casa, que
pobre. A' reprehensão que lhe foi dada, recebeu destino de hospital, dotado de
respondeu: "Coitado, elle precisa do pa­ rico patdmonio.
letot mais que eu !" O arrnor dos pobres Corria o anno de 1516 e abandonan­
era a nota que mais caracterizava o jo­ do tudo que póssuia, Thomaz afilhou­
vem Th�maz. se á Ordem dos Eremitas de Sto. Agos­
Ternissmma devoção dedicava á Santa tinho, a rn,esrna á qual pertencia Mar­
Mã,e de Deus. "Nada vale o saber, si tinho Luthero, o infeliz apostata e here­
não se lhe une a rectidão de caracter, a siarcha. Quiz a Divina Providencia que
religião e a justiça". Esta maxirna já a a entrada do santo homem coincidisse

S. Thomaz de .Villanova - Bolland. V. Buttler VII.

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18 de Setem:brn 237

com a época da sahida de Luthero. Acos­ o nome do humilde frade para succes­
tttmado, havia mais tempo, ás aspcreza,s sor do Pastor fallecido. Si be1111 que com
ele um.a vida de penitencia, facilmente muita reluctancia, Thomaz acceitou o
se con for!ll1ott com as praticas da viela espin!hQso cargo, reconhecendo na de­
monastica, tanto que os companheiros cisão dos Superiores a vontade de DetliS.
de Ordtlm nel­ S'eria querer
le viam o mo­ encher livros,
delo mais per­ si se tencio­
feito dum re­ nasse relatar o
ligioso. Com que Thomaz
grande p r o­ fez em prol
veito para a da diocese e
Ordem occu­ dos subditos.
pou diversos Todas as vir­
Jogares eleva­ tudes de qu�
dos na admi­ cüi.11 razão se
nistraç ã o da suppõe possui­
mesma. dor um Bispo
Orador de da Eg r eja,
facundia e de Tho 111 a z as
un c ç ã o, ele possuia. Com
verbo facil e toda a regula­
fluente, e r a ridade visitava
Thomaz muito o arcebispado,
festejado. O ten d o assun
Imp e r a d o r occas i ã o de
Carlos V. foi conhecer bem
um dos seus o r e b a nho.
admiradores e Destas visitas
nomeou-o pre­ canorncas re­
gador da côrtP. sultou um bem
real. Pergun­ enorme para
ltando-se - 1 h e os fieis e o
,·I
um dia qual a dero. Por to­
fonte de onde da a parte on­
tirava tão su­ de viesse o

:::___::_-=--=-=====-=-=====---;:
blimes concei­ santo arcebis­
tos, e quem lhe po, pelo exem­
dava t a n t a plo e palavra
força á pala­ S. Thomaz de Villanova amm a v a os
Thomaz Foi a caridade a virtude que mais caracterizava a
\TJ.,
figura deste santo Bispo. Quando na tomada de subcl i t o s ao
apontou para posse, o cabido lhe fez a offerta de 4.000 ducados, f i e l cumpri�
o c r ucifixo, Thomaz, grato, acceitou a dadiva para immediata- m e n t o das
mente a distribuir entre os pobres.
affir ma n d o obrigações. ln­
que a escola do pregador era a cruz de numeras foram as conversões que se re­
Nosso Senhm� Jesus Christo. gistrarnm e povoações inteiras abençoa­
Vagou a séde archiepiscopal de Va­ mm a memoria do santo Pastor, por
lença. Mais que clara se manifestou a tel-as conduzido de novo ao caminho
vontade de Deus na vocação de Tho­ da virtude e santidade. A vida particu­
maz: Superiores, lrn,perador, clem e lar de S. Thomaz, ainda depois da ele­
povo, todos foraim unanimes em indicar vação á dignidade episcopal, foi a de

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238 18 de Setembro

um simples fra;cle. Tinha por lemma: logo ele se prepairar para a grande via­
"O que deve distinguir um Bispo são g-em. Fez confissão geral e recebeu os
as virtudes e boa,s obras, não porém, ri­ santos SacraJmentos.
co mobiliario, roupas finas, sumptuosos Tres dias antes de se despedir « d'este
,edificios, num,erosa cria,dagem, meza mundo, mandou que lhe trouxessem os
opipara, etc." Com maior escrupuJ.o ob­ bens que ainda possuía· e ordenou que
servava a's leis de jejum, não só da tudo fosse dado aos pobres. Na vespera
Egreja como da Ordem. Além distJO da morte, sabendo que 'havia ainda Ulln
castigava o corpo com diuturnas e im­ resto de dinheiro, disse ás pessoas que
placaveis penitencias. s•e achavam perto: "Conjuro-vos em no­
A esta inclemencia contra o corpo me de Jesus Christo, que ainda hoje o
correspondia um grande, amor aos po­ distribuaes •entre os pobres. Fazei-me
bres e necessitados. Foi· a caridade a este grande favor".
virtude que mais caracterizou a figura Sabendo depois que tudo, - dinheiro
cl'este sa:nto Bispo. Quando na tomada e outros bens, - tinha sido clistribuido,
da posse o cabido lhe fez a offerta de dirigiu o olhar ao Crucifixo e disse:
4.000 ducados, Thomaz, grato, acceitou "Graças vos dou, meu Senhor Jesus
a dadiva, pa.ra immediatamente a distri­ Christo, pela graça que me déstes, de
buir entre os pobres. morrer pqbre. Os bens cuja administra­
Durante toda a a<lministração ficou ção me confiastes, dei-os todos ads po­
fid a esta pratica. Dois terços dos seus bres".
rend�mentos pertenciam já ele antemão Dos. circlllmstantes não havia quem,
aos hospitaes e asylos. Poucos eram os ouvindo estas palavras, não ficasse pro­
dias em que não se lhe viam reunidos fundamente commovido.
na porta centenas de pobres, a pedir Desejava que fosse celebrada em sua
pão, sopa ,ou dinheiro. E quantos ou­ presença o santo sacrifício da Missa.
tros pobres envergonhados, viuvas e or­ E' facil i'11taginar-se com que devoção e
phãos não se contavam entre os prote­ recolhimento o assistiu. Durante a ele­
gidos cio Arcebispo ! Ainda mais: in­ vação da santa Hostia lhe corriaJtn as la­
dagava com diligencia para descobrir os grimas dos olhos. A meia voz e pau­
pobres verdadeiros e, s·em que est·es o sadairnente começou a recitar o psalmo :
pecHss·em, mandava-lhes o que necessi­ "ln te, Domine, speravi," - "em vós,
tavam. Egualmente eram objecto de sua oh 1neu Deus, puz a minha esperança".
caridade circumspecta e prudente pobres Forann suas ultimas palavras. Logo após
operarias, jornaleiros e donzellas pobres. a Communhão exhalava o espírito, ter­
A estas ultimas facultava os meios para minando a vicia abencoacla na edade de
tomarem estado ou consagrarem-se a 68 annos.
Deus no convento. Thomaz de Villanova morreu na fes­
Apezar desta activiclade no serviço ta ela Natividade de N assa Senhora, ;,o
da caridade, apezar da pratica constan- anno de 1555 e o seu tumulo tem sido
1:'e ele outras virtudes, tinha constante glori'Oso. Foi éanonisado em 1658.
receio de não merecer o agrado ele Deus REFLEXõES
e de não poder subsistir no dia cio gran­ Os Santos tiveram comprchensão nitida
de julgamento. Diariamente orava, pe­ do dever de fazer caridade. S. Thomaz re­
dindo a Deus que livrasse a Egreja partia com os pobres tudo que possuía, pa­
d'um ministro tão indigno, CO'mo se jul­ ra poder morrer tranquillamente. Quão di-f­
ferente é o modo de pensar de muitos
gava. christãos ! Tempo e dinheiro têm para as
Por uma graça especial, que Deus vaidades, as commodidadcs e os diverti­
lhe concedera, teve Thomaz conhecimen­ mentos sem se lembrarem, entretanto, dos
to prévio, da morte. Accommettido em pobres e doentes, a que tanto bem podiam
fazer, querendo. "Que responderás ao teu
29 de Agosto de grave doença, tratou juiz - pergunta S. Basílio - si enfeitares

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19 de Setembro 239

as paredes de tua casa e não attenderes á Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
nudez de teu irmão ? si montares em so­ 1noria é celcbracla hoje:
berbos ginetes, quando teu irmão anda an­ Em Osimo a memoria de S. José de Cuper­
drajoso•; si deixares apodrecer os ccreaes tino. Com grande difficuldade obteve a ad­
no campo, quando teu irmão não tem com m1ssao numa Ordem franciscana e conse­
que matar a fome ? Aos pobres não abris­ guiu a ordenação sacerdotal. Os milagres,
extases e prophecias do humilde frade por
te tua casa, por isso conservar-se-á fecha­ diversas vezes puzeram-no em contacto
da para ti a porta do céo". - Pergunta a com o tribunal da Inquisição de Napoles e
tua consciencia o que pódes e deves fa­ Roma. O Papa Clemente XIII registrou-o
zer pelos pobres e observa o sabia conse­ no catalogo dos Santos da Egreja.
lho que o velho Tobias deu ao filho: "Sê S. José de Cupertino é padroeiro dos exa­
caritativo na medida das tuas forças. Si minandos, por causa das difficuldades, que
tiveres muito, dá muito. Si tens pouco, do encontrava nos estudos. 1663.
pouco que é teu, dá de boa vontade." Em Ml!ão, a memoria de Santo Eustor­
glo, primeiro bi:;pod aquella cidade. 331.

19 de Setembro

S. Januarío e seus companheíros, Martyres


( t 305)

N � A CATHEDRAL de Napoles é
celebrada hoje grande festa cam
oitava, a que vêm assistir milhares de
1
não pode haver a mtrnrna duvida, pois
tt,111 sido presenciado por m:ilhares ele
pessoas, e scientistas de diversos credos
fieis nã'O só ela cida:de como da circumvi­ têm s•e occupado deste phenomeno sem
sinhança e e toda a Italia. A solemnida­ que tivessem achado uma explicação na­
de é a viva expressão ·da veneração e gra­ tural do mesmo. Com sua repetição
tidão ao grande Padroeiro S. Januario, cresceu sempre o fervor da fé, e annual-
cujas preciosas relíquias se acham expos­ 111ente, a procissão que os napolitanos
tas em duas capellas ela mestma Cathedral. lhe fazelm, adquire novo esplendor. Cha­
Em u'ma destas capellas é conservado o mainl!-lhe ¾procissão das grinaldas po,r­
corpo do Santo quando a outra é o re­
que os poj{res, para sie livrarem cios
positorio ele sua cabeça e de duas ampo­
rai'Os do sol, enfeitam a cabeça com gri­
las de vidro com sangue do martyr, re­
naldas ele flores.
colhido por uma piedosa mulher logo
depois da decapitação deste. Todos os A cabeça de S. Januario está encas­
annos, no dia de hoje, é observado o mi­ toacla mtn1 busto ·de ouro e prata, pre­
lagre de S. Januario, que consiste na li­ sente cio rei Carlos II de Anjou, e é an­
quefacção do sangue contido nas 3Jln­ nwlmente levada em: procissão, (*) se­
polas, no 1111d111ento que estas são a:ppro­ gui1da á tarde de outra quie transporta a
ximadas da cabeça ou de qualquer uma arnpola cio sangue miraculoso, procissão
das relíquias do Santo. Sobre o facto cujo tenno é a Egreja de Santa Clara.

(•) Não é facil descrever a pompa e a solemnidade destas procissões. A primeira sahe
ao melo dia e vêem-se desfilar estandartes riquissim.os, padres deslumbrantes nas casu­
las de ouro e prata, nobres envergando uniformes de gala. O Príncipe de S. Nicandro
conduz o estandarte municipal e os Monsenhores, Prelados capellães do Thesouro de S.
Januario seguram as varas do pallio emquanto que, debaixo delle, vae o busto do Santo
Padroeiro com o collar da Rainha Margarida, a cruz do Rei Umberto e a mitra, picada
de brilhantes e saphlras, offereclda pela piedade dos reis de Napoles.

S. Jan·uario - Bitschnau: "Das Leben der Heiligen Gottes."

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240 19 de Setembro

S. J anuario, provavelmente descen­ da Ca.mpa:nha, cumprindo ·ordem impe­


dente dos nobres Janua:rios de Napoles, rial, exigiu de Sosio, que prestasse ho­
era Bispo de Benevento. Em sua visi­ mena,gens ás divindades nacionaes. Co­
nhançi · vivia o zeloso e santo diacono mo este se negasse, foi deshumana1111en­
Sosio, a quem o ligavam laços de uma te espancado e fechado no carcere de
gra:nde a1111izade, e a quetm mluitas vezes Puzzuoli. A mesma sorte tiveram diver­
vi,sitava. Em uma das suas visitas a es­ sos christãos. Mal soube Ja:nuario o que
te sa:nto homem, na occasião delle pré­ tinha acontecido a seu amigo, foi viisi- ,
gar a palavra de Deus, viu wna labare­ tal�o a elle e a seus colmpanheiros de
da de f ogo descer sobre a cabeça do prisão, e animou-os com sua palavra de
prégador, phenomeno que Januario con­ a1111igo e bispo.
siderou aviso do proxim10 martyrio de Aconteceu que Draconcio fosse remo­
seu <!lmigo. Não se enganou. Em 303 vido e em seu J ogar viesse Tiimotheo, ini­
rompeu a ultima e a mais cruel pérse­ migo implacavel do nome christão. Uma
gtrição contra a Egr,eja, sendo Diocle­ da:s suas primeiras determinações na
ciano Imperador. Draconcio, governador céllmpa:nha anti-christã foi o aprisiona-
Na rectaguarda deste verdadeiro deslumbramento de luz, de côr e de som, mar­
cham pausadamente as autoridades civis e militares, todas as associações provlnclaes e
todos os vereadores do municlplo, vestindo o historlco traje vermelho, com rlquisslmos
mantos de velludo, o escudo da cidade, calças de velludo negro e meias de seda branca.
Mas se esta procissão é grandiosa, ella empallidece deante da outra que, no mes­
mo dia, sahe ás seis horas da tarde, da Cathedral Metropolitana, porque o seu cortejo é
ainda mais caracterlstlco visto serem carregadas as quarenta estatuas de prata pro­
priedade das quarenta egrejas de Napoles, assim como quem presta homenagem á am­
pola do sangue de S. Januario.
E vêem-se as Irmandades, os regimentos fazendo guarda de honra, os Conegos
Capitulares de longos mantos vermelhos como Bispos, as Collegiadas, lindas manchas
rubras e violaceas, os parochos da archidiocese com murças roxas, ou dois semlnarlos
semelhando enormes Cabidos Diocesanos e, por fim, debaixo do pallio, o Cardeal com
a ampola do milagre.
A passagem é um triumpho. Flores cahem das janellas, das varandas, dos balcões;
arcos triumphaes erguem-se ao longo das ruas; pannos de Arrás, de Gobelins, velludos
de Veneza, de Genova, damascos, setins, movem-se á mercê do vento; e o povo canta,
Roluça, chora, impreca, intima o Santo a fazer o milagre. Milagre precursor de mais um
anno de tranqulllldad·e em face de um Vesuvio que é a sua basofia, a sua riqueza, e
o seu temor.
Assim, entre canticos e hymnos e flores, o coi·tejo chega ao altar-mõr e a ampola
de vidro é collocada no altar. E começam as orações do povo, orações especlaes para in­
vocar o desejado e classico milagre, a liquefação do sangue.
Desta vez (em 1932) o milagre verificou-se em circumstancias excepcionaes, a
ponto de encher toda a população napolitana de uma intensa commoção e de justificar
uma edição extraordinarla de um jornal citadino.
A tradicional procissão fica memoravel por todo o sempre principalmente pela ra­
pidez com que o milagre se deu. Mal se poz sobre o altar o relicario, e o Cardeal Ascale�i
acabou de entoar o "Te Deum" e se extinguiu o ultimo echo deste admiravel canto li­
turgico, pela nave immensa da egreja corre um fremito que, a um tempo, é de alegria
"' de espanto. A massa negra recolhida na amJpola começa de movimentar-se por si mes­
ma, torna-se viva e depois assume a côr de um vermelho intenso.
Não se passara um minuto. As orações estavam para se iniciar e o milagre surge,
visivel, real, empolgante, estonteador e magnifico.
Então um grito lmmenso, um grito onde la toda a alma vibratil e paradoxal
dos napolitanos, se sente pela egreja fõra. Um grito que se multiplicou em manifesta­
ções de fé, de alegria, de 9.ssombro, de maravilha. Foi um delirio. Um de­
lirio nunca sonhado, um dellrio onde as lagrlmas espelham as luzes dos altares, onde
os braços se desfazem em braços, onde as boccas cantam hymnos de ventura e gratidão.
Todos cahem de joelhos e, em'quanto o Cardeal, tambem commovido pelo Inespe­
rado acontecimento, observa a raplda liquefação do sangue, o choro e as orações ron­
dam as fronteiras do paroxismo.
A noticia já voara por todos os cantos da cidade pittoresca e colorida e os corte­
jos populares organizam-se por encanto. A sagrada ampola é dada a beijar aos magna­
tos e, depois, nova procissão se organiza em torno da Cathedral, no meio de um delirio
jamais visto e nunca Imaginado.
A' porta do maior templo napolitano o Cardeal Arcebispo dá com a ampola a
benção ao povo ajoelhado, emquanto os campanarios de Napoles repicam os alleluias
de uma grande festa e tocam as bandas reglmentaes.
("Cartas de Roma", de J. Santa Rita).

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19 de Setembro :?41

mento de Januario, de quem foi exigida se dirigiam". Resultado foi que tambem
a apostasia ela fé pela homenagem que estes dois homens foram presos e
havia de prestar aos deuses. Januario, juntos ccim Januario levados á presen­
e,m viez de obedecer a esta ordem, fez ça do governádor. "Quem são estes ho­
profissão solemne e publica ele sua nl!ens ?" indagou este com voz de tro­
fé em Jesus vão. "Um t
Christo e sua meu diacono,
santa Egreja. o outro mett
I m m ,e d iata­ lector", r e s­
mente veiu or­ pondeu placi­
cle!111 do gover- damen t e Ja­
nador, par a nuario. "São
que fosse lan­ e h r i s tãos ?"
çado em uma J a n uar i o:
fornal h a ar­ ·'São; e espe­
dente. Deus, ro que não ne­
porém, prote­ garão Nosso
geu seu filho Senhor Jesus
e servo. O fo­ C h r isto". -
go, -em vez de " J sso nunca",
atacar e con­ �xclama r a m
smmr a mno­ a o m esm o
cente victima, tempo os dois,
veiu com im­ somos chris­
peto sobre os tãos e prom­
carrascos e os ptos para dar
feriu grave­ a vida p o r
mente. Tr es Christo".
clia:s teve que Ti m o theo
pasasr dentro nada respon­
da f o rnalha, deu: disfarçou
p a r a depois seu adio, mas
ser novamente deu ordem pa­
encarcerado e ra que fossem
b a rbaramente mettidos em
es p a n c a cl o. ferros e dean­
Dois clerigos, te do sen car­
P.esto e Desi­ ro levados a
derio foram Pnzzuoli, on­
vis i t a r seu S. Januario de o carcere
bispo, e quan- Levados ao amphitheatro, ellc e mais seis chris­ os recebeu.
o viram tão tãos, deu-se o grandioso espectaculo, de os leões, Lo ng e de
em vez· de os matar, se arrojaram aos pés dos dis-
ma 1 tratado, cípulos de Christo. se 1 a s timar,
deram expres­ os santos ho­
são á sua indignação e clôr, e altamente mens se felicitaram mutuamente por se
protestaram contra os processos des­ acha1.1em em caminho para o martyrio, e
humanos applicados contra um ho­ pediram a Deus a graça da perseverar,­
mem tão bom, "que era a caridade ça. Já no dia seguinte foram transpor
em pessoa, o consolador dos affli­ tados para o a1nphitheatro. Lá os espera­
ctos e o amigo de todos que soffriam va o governador e muito povo, avidos de
e a eUe nws suas magoas e necessidades assistir á scena de aiümaes ferozes e fa-
Luz Perpetua 16 - II vol,

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242 19 de Setembro

mintos se atiraram sobre v1ct11nas iner­ réllm eim Napoles. Só em 1480 o Impe­
mes. Os sete jovens christãos,-tarnbem rador Fernando de Napoles recuperou
Januario não contava mais que qua­ as santa:s relit1uias para a cidade.
renta annos - ajoelha:ra11n no meio da
arena, os olhos elevados ao céu. Mal se REFLEXÕES
abrirairn as jaulas, os leões com rugidos Os Judeus olhavam com horror os cada­
formidaVleis se precipitaram sobre os veres, mas os christãos consideravam-nos
s-et,e homens. Mas, que maravilha ! Co­ preciosos, porque elles foram habitação do
Espirita Santo (1 Cor. 3. 6) e são como
rno contidos e domados por mãos invi­ uma semente, donde germinará um corpo
siveis, se deitaram aos pés cios confes­ g-lorioso no • di<1 da resurreição. (1 Cor. 15.
sores, sem lhes causarem mal algum. O 42). Veneramos as relíquias dos Santos pa­
povo deante deste mi,Jagrie, não se con­ ra adorar Aquelle em quem e por quem el­
les morreram (S. Jerom.) O proprio Deus
l1eve, e ·em altos brados f-elicitou-os. Ti­ honra as relíquias, porque se serve dellas,
nfotheo, porém, perturbado e humilhado, para operar milagres.
deu ordem de decapitação immecliata. Ou­ Já os Hebreus conservavam religiosa­
mente as relíquias. Moysés levou do Egy­
tro facto maravilhoso acompanhou esta pto o corpo de José. (Ex. 13. 19). Os chris­
ordem deshumana. No mesm,o momento tãos imitaram 0 1he o exemplo. Os tumulos
ta.mbem em que proferiu a sentença de dos martyres foram desde a mais alta an­
morte s·ob11e Januario e seus companhei­ tiguidade os sitias onde se construiram
egrcjas e altares para ali celebrar o Santo
ros, ficou cego. Em sua confusão e af­ Sacrificio da Missa. A Egreja conserva as
flicção suprema recorreu á propria victi- relíquias em preciosos relicarios e adorna-as
1na, a Januario, supplicando que o soc­ de flores e pedras preciosas.
corress1e. O santo Bispo rezou sobre elle, O culto das relíquias obtem-nos de Deus
innumcros beneficias. (Cone. de Tr. 25). As
f•ez o signal da cruz sobre os olhos amor­ relíquias são fontes de salvação, donde cor­
tecidos, e estes s·e abriram, completamen­ rem para nós os beneficias divinos. A von­
t,e curados. Não obstante o monstro man­ tade de Deus fez brotar uma nascente da
teve a ordem da mort:e; talvez por medo penha do deserto (Ex. 16), e faz brotar
tambem das reliquias dos Santos uma nas­
do Imperador enfurecido 011, pelo facto cente de bençãos. Os corpos dos Santos
de qua:si cinco mil elas pes::,oas pr-esentes e os tumulos dos martyres afastam as in­
no ain-.phitheatro, além de acclamarem os sidias do demonio e obtêm muitas vezes
christã:os, se terem declarado a favor a cura das doenças mais refractarias. A ve­
neração dos corpos mortos serve pois, pa­
da fé christã. Os corpos cios martyres ra restituir a saude aos corpos vivos. E'
foraJtn retirados pelos christãos e com evidente que o milagre não é produzido
todas ft.S honras sepultados. materialmente pelas reliquias, mas pela
Sete annos depois, quando pela cc:11 vo11tade de Deus. Não ha, pois, superstição
alg-uma na veneração que o povo christão
versão cio Imperador Constantino hou­ tributa ás santas reliquias. (Spirago).
ve grande muda:nça na politica romana,
os Beneventinos retirarall11 as reliquias
Santos do Martyrologio Ruinano, cuja me­
dos seus sacerdores Festo e Diesi<lerio; moria é celebrada hoje:
as de S. Januario, porém, ficaram em
Em Nocera, durante a perseguição de Ne­
Napoies. Diversas tentativas de obre­ ro, o martyrio de Felix e Constança. Esta
mm esta preciosidade, não tiveram re­ é invocada para se obter bom tempo.
sultado. Em 825 o Principe Sico de Be­ Em Barcelona, a bemaventurada Maria de
nevento, quando com forte exercito veiu Cervillione, da Ordem das Mercês. O povo
assediar Napoles, se apoderou do corpo deu-lhe o nome de Maria do Soccorro. E'
padroeira dos navegantes. 1290.
do santo Martyr, que, como cm triuan­ Em Cordova a memoria de Santa Pom­
pho, foi trasladado para Benevento. A posa, Virgem e Martyr, na perneguição dos
cabeça e a ampola com o sangue fica- arabes. 853.

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20 de Setembro 243

20 de Setembro

SANTO AGAPITO, PAPA


(t 536)

G: ANTO AGAPITO, romano de oriental, que havia grande descontenta­


� origem, c�mo successor de João mento entre os Akephalas ( eutychia­
II, occupou a cadeira de S. Pedro em ntos), que accusavam de falsidade oo
535. Teve o grande merecimento de ter novo Patriarcha Anthimo.
removido o seis.ma que existia entre Agapito acalmou os espiritos agita­
Dioscom e o Papa Bonifacio II. dos, com a promessa de em breve ir
O Imperador Justiniano enviou-lhe a pessoalmlente á cidade de Constantino­
profissão de sua fé catholica e Agapito, pla. Na viagem ao Oriente aconteceu
attendendo ao pedido do mesmo monar­ que curasse um surdo-mudo pela cele­
cha, anathematizou os monges nestoria­ bração da santa Missa. c;3 b
nos de Constantinopla, que passaram a Em 2 de Fevereiro de�chegou a
ser cha.rrrados Acametas. Constantinopla, onde teve wna rece­
pção solemnissima. Embora fosse trata­
Para as costas septentrionaes da Afri­ do pelo Imperador com o maximo res­
ca Justiniano enviou o general Belisa­ peito, não lhe foi passivei evitar a guer­
rio, que as reconquistou dos vandalos. ra contra os Godos.
Nessa mesma occasião voltaram para Nas questões religiosas, procurou com
Jerusalém os vasos sagrados do velho g-rande prudencia harmonizar os parti­
templo, que por Tito tinham sido leva­ dos. COll11 grande energia se oppôz á
dos paira Roma e por Genserico para elevação de Anthimo á dignidade pa­
Oa.rthago. triarchal e exigiu que esse se sujeitasse
O territorio christão norte-africano ás decisões do Concilio de Chakedon.
foi dividido em Provincias, e num es­ A Imperatriz Theodora, que patroci­
cripto aJSsigna<lo por eHe e pelos Bispos nava a causa de Anthimo, tudo fez para
africéll11os, o Imperador pedia ao Papa conquistar as boas graças do Papa em
permittisse a per1111anencia em suas res­ favor do protegido. Justiniano egual­
pectivas Egrejas aos Bispos arianos, mlente se fez advogado do Patriarcha e
que tinham renunciado á heresia. Aga­ para conseguir o intento, não regateava
pito appellou para as regras e institui­ elogios, promessas e ameaças. Agapito,
ções ecdesK1Jsticas ,antigas, que deviam porém:, conservou-se inf!.exivel. A's
ser respeitadas. Sendo agraciados os intimações do Imperador respondeu:
Bispos herejes, por muito felizes se de­ "Enga11ei-1111e. Julguei estar na presença
viam ter, ·sem aspirar ainda á honra in­ die um Imperador christão e vejo-me
devida de serem conservados nos cargos deante de t�m Diocleciano".
episcopaes. Anthimo, em vista da inflexibilidade
Senhores da Italia eraim os Godos, do Papa, declarou preferir a transferen­
cujo rei, Theodato, sabendo que Justi­ cia pa,ra a antiga Diocese de Trapezun­
nia1 no tinha intenções de guerreai-o, ao to a sujeitar-se á isenrença do Concilio.
. Papa se diri,giu com o pedido de inter­ Deanre dessa attitude do Patriarcha,
vir junto ao rnonarcha de Constantino­ Agapito exigiu delle uma declaração
pla, para que tal plano não se realizasse. formal de catholicidade e de submissão
Soube ainda Theodato, por intem1edio incondicional ao Concilio. Esta firmeza
de sacerdotes catholicos da metropole energica do Papa revoltou sobremaneira

Santo Ag,1pito - Buttler VIII. Boll. VI. sept,

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244 21 de Setembro

os eutychianos e a Imperatriz, mas a vi­ ca, em circumstancia alguma, nos pode ser
ctoria sobre as cabalas e intrigas foi licito trocar interesses de ordem superior
religiosa por interesses humanos. Deve pa­
completa. Em substituição a Anthimo recer-nos sempre preferível a graça e a
foi eleito e sagmclo lVIenna:s, Prelado de amizade de Deus á dos homens. Quem nos
grandes virtudes e de profundo saber. vae julgar, não serão os homens. Deus é
Uma grave cnfermidaclc interrompeu nosso juiz. Si Deus e a nossa conscicncia
testemunham a nossa rectidão, a nossa in­
os trabalhos apostolicos do zeloso Papa. nocencia, diga o mundo o que entender.
Agapito morreu em Constantinopla, em Santo Agapito pouco ligou ás ameaças e
22 de Abril de _,3$6, sendo-lhe os restos ás intrigas ela côrte imperial de Constan­
tinopla. "Não sabeis - diz S. Tiago - que
morta:es transportados para Roma e ele- - a amizade deste mundo significa inimiza­
positados no Vatioano, em 20 de Setem­ de de Deus ? Quem pretende ser amigo do
bro do anno seguinte. A Egreja latina mundo, tornar-se-á inimigo de Deus". (4.
cornmemora este dia, 111.rs os gregos fes­ 4). A quantas e quantas cousas da vida es­
tas palavras apostolicas têm applicação !
tejam o dia de Santo Agapito em 17 de
Abril.
Santos cuja memoria é celebrada hoje:
REFLEXÕES
Em Roma, o martyrio de Santo Eusta­
De Santo Agapito apprendemos o respeito chio, de sua esposa Theopistes e dos filhos
á autoridade em tudo que é justo e licito, Agapito e Theopisto, no tempo do Imperador
como tambem a resistencia firme contra Adriano. Foram queimados vivos dentro
tudo que se revela offcnsivo á fé ou aos d'um idolo de bronze. 118.
mandamentos de Deus. Agapito não sa­
Na perseguição de Juliano Apostata &.
crificou os interesses sagrados da religião á
amizade do Imperador e da Imperatriz. A martyr Susanna, natural da Palestina, con­
amizade de Deus, o dever e a salvação da vertida do judalsmo.
alma eram-lhe mais caros que as graças Em Tonkin o martyrio de Carlos Corn1y,
dos homens e os bens do mundo inteiro. cio seminario ele Paris. Foi decapitado em
Como Agapito devemos tambem agir. Kun- Son-Tay no anno 1837.

21 de Setembro

S. Matheus, Apostolo e Evangelista


( t cerca 69)

:lb ANHADA pelas aguas do lago Ge­ isto por todos mal vistos e odiados. Já
� nezareth, cortada pela:s principaes o appellido de Publicano, isto é, pecca­
estrada•s do pa1z, séde das ca-s� com­ dor publico, exco�mungado, que se lhes
ITllerciaes a:s ma:1s importantes, era Ca­ dava, não deixa duvida sobre a fama
pharnaum uma das cidades mais flore­ de que taes homens gozavam.
scentes da Palestina. No tempo de Jesus Rendeiro em Capharnaum era Levi,
Christo Palestina <tra provincia romana filho de Alpheu, que mais tarde mudou
e onerosos ernm os impostos e direitos o nome -em Matheus, isto é, dom de
aduaneiros, q·ue pezavalm sobre os ju­ Deus. Capharnaum era a cidade, pela
deus. A cobrança destas contribuições qual Jesrns Christo mostrava grande
obrigatorias era feita geralmente por sympathia, tanto que os santos Evange­
rendeiros publicas, homens conhecida­ lhos a charnaJ\11 sua cidade. Na synago­
mente especuladores, verdadeiros esfo­ ga ou na praia do lago doutrinou fre­
laclor,es e sanguesugas do povo, e por quentemente e curou muitos doentes.

S .Wc:theus - SS. Evangelhos - Tlllemont. Calmet, Celllier, Hammond.

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21 de Setembro 245

Foi numa destas occas1oes que Jesus, este livro o titulo de "Evangelho", que
tendo prégado na praia, passou perto significa: "boa nova''. Este Evangelho
do telónio de Levi, parou e disse a este : era escripto cm sym-chaldaico, para o
"Segue-1111e". Levi levantou-se immedia­ uso dos primeiros christãos da Palesti­
tamente, abandonou o :rendoso nego:io. !1'a. São Bartholameu levou comsigo
mudou de nome e de vida. Não é pro­ uma copia para as Indias.
vaviel que esta mudança tão radical te­ Quando os A postolos se espalharam
nha sido fructo d'um enthusiasmo es­ por todo o rntundo, S. Matheus dirigiu -­
pontameo. E' antes de suppôr que Lcvi se para a Arabia e Persia, onde soffreu
tenha tomado es,sa resolução devido ao crueis perseguições pelos sacerdotes in­
que vira e ouvira, de 111 odo que o con­
1 digenas. São Oemf"nte ele Alexandria
vite positivo do divino Mestre lhe tcnh;i diz que S. Matheus ·era um homem de
posto termo ás ultimas duvidas sobre a 111,ortificação e penitencia e alimentava -­
ori.entação da vida futura. Diz S. J ero­ se só de herva:s, raizes e fructas. Sof­
nymo que Levi, vendo Nosso Senhor, fr.eu n1iáus tratos na cidade de Myr­
ficou attrahido pelo brilho de divina ma­ mene.
jestade, que fulgurava nos olhos de Je­ Os pagãos arrancaraun-lhe os olhos e,
sus Christo. Converteu-se Levi - diz pr-eso com algemas, esperou no carcere
Beda o Veneravel, - porque aquelle o dia em que devia ser sacrificado ruos
que o chamou pela palavra, lhe dizpôz deuses, por occasião de grande festa
o coração pela graça divina. idolatra.
:\1atheus deu em seguida um grande Deus, porém, não abandonou seu ser­
banquete de despedida a:os amigo;; ·" vo; mandou-lhe um Anjo que lhe curou
collegas, e convidou tambem a Jesus e a vista e o libertou da prisão. S. Ma­
aos discipulos. Os phariseus e c,;;.:.-111.1s. theus seguiu então para Ethiopia. Tam­
que, com olhos de lynce, observava:11 to­ born lá o dem,onio quiz tolher-lhe os
dos os gestos do M•estre, vendo que este paissos. Dois feiticeiros de grande fama
acceitára o convite, accusara.111-no di­ oppuz·eraim-se-lhe, mas S. Matheus v-en­
zendo: "Este homem anda com publi­ ceu�os pela força eEJmagadora dos argu­
canos e peccadores e banqueteia-se com mentos e pelos milagres que fazia, em
elles !" Tambem os discipulos ele Jesus nome de Jesus Christo. Removido este
tive:ram que ouvir reprehensões : "Co­ obstaculo, o povo acceitou a religião de
mo é que vosso Mestre s•e senta á meza Deus humanado.
com os peccadores ?" Jesus, porém, res­ �por----interme<lio do -Eunttcho da
pondeu-lhes: "Nã,o ·são os sãos, mas sim rai-rtl,a---Ganda'Ce-,--o mesmo a quierrn-São
,os doentes, que necessitam do medico. Philippe lm:pfrzm:r,--qtle S. Matheus obtie­
Não vim a chamar os justos, senão os ve ·entrada no palacio real. Lá havia
peccado:res". D'ahí em deante Matheus grande luto pela morte cio jovem prin­
foi um elos discipulos mais cleclirados ao cipe herdeiro Eufranon. S. Matheus,
divino Mest:re e ·seguiu-o por toda a tendo ,sido chamado ao palacio, fez o
parte. defunto resurgir, milag:re este que en­
Logo depoi·s da Ascenção de Jesus cheu a todos de grande admiração. O
Christo e da vinda do Espirita Santo, rei, e!m signal de alegria e gratidão,
prégou Matheus, junto com os outros •miandou arautos por todo o paiz deita­
Apostolos, o santo Evangelho nas pro­ rem pregão da seguinte ordem: "SJ$­
vindas da Palestina, e como os demais ditos ! Vinde rodos á rapita.l vêr um
Apostiolos, julgou-se feliz em poder sof­ Deus, que appareceu ent:re nós, em fór­
frer injuria por aimor do nom:e de Je­ ma hu:mana ! "
sus. Foi S. Matheus entre os Apostolos Affluiram aos milhares os subditos
o primeiro que esc:reveu um relatorio da de todas as partes do reino, trazendo
vida e morte de Jesus Christo, dando a perfumes e incenso, para serem offe-

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246 21 de Setemhro

recidos a:o Deus que tinha apparecido. Italia, onde até hoje é festejado como
Matheus, porém, esclareceu-os, dizendo : padroeiro da cidade e do bispado.
"Eu não sou Deus, como julgaes que R.EFLEXõES
seja, mas servo de Jesus Christo, Filho S. Matheus, dos Apostoles talvez o mais
de Deus vivo; foi em seu nome que re­ intelligente, o mais rico, antes de sua vo­
suscitei o filho de vosso rei; foi Elle que cação não era santo. Pelo contrario: das
accusações que os judeus levantavam con­
me enviou a vós, para vos prégar sua tra Nosso Senhor, era esta uma das mais
doutrina e vos trazer sua graça e sal- graves: "elle come com os peccadores",
"-\'ação". Essas palavras tiveram bom alludindo ao gabelleiro. No emtanto a
acolhimento e a maior parte do povo promptidão com que seguiu o convite, a
ordem do divino Mestre, não foi menor que
converteu-se á religião de Jesus Chris­ a dos outros Apostolas, que apenas deixa­
to. A Egreja da Ethiopia chegou a ser ram umas rêdes velhas, quando a resolu­
uma das mais florescentes dos tempos ção de Matheus lhe exigiu o sacrifício de
apostolicos. O rei Egippo e familia eram um bom emprego, de uma avultada for­
tuna. A S. Matheus devemos o bellissimo
christãos fervorasissimos, tanto que Evangelho, que tantos e tantos episodios
Ephigenia, a filha ma:is velha, fez voto da vida de Jesus Christo nos relata. A São
ele castidade perpetua e a seu exemplo, Matheus é devida a transmissão dos mais
muitas filhas das falmilia:s mais illustres bellos discursos do divino Mestre. S. Ma­
theus, de publicano, de peccador, tornou-se
consagraram-se a Deus, mtrna vida ele grande amigo, Apostolo do Salvador e glo­
perfieição chri,stã. rioso é o throno que possue no reino de
Pela morte do rei subiu ao throno Deus. Estes traços da vida de S. Matheus
seu ·sobrinho Hyrtaco, o qual, para es­ são muito de molde a animar os pobres
peccadores, que, col)5cientes de sua miseria,
tabelecer o governo sobre bases nia.is facilmente se entregam ao desanimo, senão
solidas, pediu Ephigenia em casamento. ao desespero. Deus não quer a perdição de
Esta recusou, allegando o voto feito a ninguem. Tambem o peccaclor mais mons­
truoso tem accesso ao throno da misericor­
Deus. Hyrtaco, não se conformando dia divina, desde que se resolva a quebrar
com esta resposta, exigiu que S. Ma­ as cadeias do peccado, a fazer séria peni­
theus fiz,esse valer a autoridade de Bis­ tencia e a entregar-se a Deus. Si é grande
po, pa:ra que se I'ealiza:s&e o enlace de­ a maldade dos homens, maior é a miseri­
cordia divina, que acolhe benignamente a
s,ejado. S. Matheus declarou a:o prínci­ todos que se lhe dirigem, tendo o coração
pe não ter competencia para envolver-S'e contrito e humilhado.
no caso.
Venclo-se assim profundamente contra­ Santos do Martyrolooio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
riado nos seus planos, Hyrtaco deu or­
Na terra Saar a memoria do prophcta Jo­
dem aos soldados de fazer desapparecer nas, dos prophetas menores o quinto. Seu
o Apostolo. Esta ordem foi executada livro não contem prophecia nenhuma, an(c8
na egreja onde S. Matheus celebrava a historia do proprio propheta é uma pro­
a Missa. Pondo de lado o respeito de­ phecia. Seu naufragio é uma imagem tia
morte ele Jesus Christo, e sua prégação aos
vido ao logar e á pessoa do santo Apos­ Ninivitas e a conversão dos; mesmos uma
tolo, os sicarios do rei mataram-no no imagem da salvação futura dos pagãos.
proprio altar. Na Ethiopia a santa virgem Ephigenia,
O corpo do santo martyr foi por mui­ filha do rei, disclpula do Apostolo S. Ma­
to tempo obj,ecto de grata veneração do theus, que a baptizou. Diz a tradição que
fez o voto da virgindade e congregou duzen­
povo chri<stão da capital. No anno de tas donzellas sob sua direcção.
930 foi transportado para Salerno, na Na Phenlcia Santo Euseblo, martyr.

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22 · de Set�nbro 247

22 de Setembro

São Maurícío e os companheíros


-., M 7 de Setembro de 284 foi accla­ ele christãos não podia parecer musa
Jm 1111,arlo Imperador elo Oriente Dio­ extraorclinaria, si o proprio Imperador
cleciamo, o qual tendo ordenado a mor­ Diocleciano não era inimigo elos chris­
te de Carino, tmic9 filho sobrevivente tãos e lhes confiára a administração ele
do I1nperador do mesmo nome_, con­ negocios importantiss;mos no Imperio.
fiou o governo cio Occidente a Maxi­ Essa tolerancia nem sempre se encon­
mJano, com a trava nos go­
incumbe n c i a vernadores de
de abrir forte prov i n c i a s,
campanha con­ nem tão pou­
tra os Gallios, co na popula­
que ti n h a m ção de deter­
pegado em ar­ minadas cida­
mas para vm­ des. Si lhes
gar a morte aprazia 111 a!­
de Carino. tratar ou per
Fo i nessa se g u i r o s
occasião q u e christãos, nm­
se deu o mar­ guern se lhes
tyrio de São oppunha. Ma­
Maur i c i o e xim;i a n o era
seu,s compa­ Ll!ln claquell�s,
nheiros, q u e que do odio
constituíam a aos christãos
legião thebai­ não faziam se­
ca. E' opinião , greclo. Fr e­
de muitos ter­ quentes eram
se r e c rutado a:s o c casiões
esta legião de em que a cru­
soldados chris­ ' elclacle se lhes
tãos da The­ satisfazia pe­
bais, rio Alto lo d e rrama­
E gypt o. O mento de san­
c o mmanclante gue christão.
era Mauricio, Entre as tro­
que, como os pas mobilisa­
!subalte r n o s, clas no Orien­
professa v a a te e por Dio­
fé de Jesus cleciano postas
Chr i s t o. A á d i s posição
formação de S. Mauricio de Maximia­
U!ma legião Seu martyrio e o de 49 legionarios. "Estamos com no, achava-se
composta ex­ as armas nas mãos, mas dellas não faremos uso ta,mbem a le­
para nos defender. Antes queremos morrer inno-
clusivame n t e centes do que viver culpados." gião thebaica.

s.· Maurício - Act. Mart. authent. Ruinart. Raess e \Veiss XIII.

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248 22 de Setembro

Com grandes difficuldades effectua­ nos queixámos; antes com elles nos con­
r::1;111 a travessia pelos Alpes, para gratulámos. Tuas azneaças não nos pro­
depois desfructarem 11111 descanço ele vocaJm sentimentos ou planos de rebel­
tres dias em Octodontm, hoje Ulma lião. Estamos com as armas nas mãos,
aldeia insignificante, mas naquelle oorn­ mas dellas não faremos uso para defen­
po uma cidade importante, no valle der-nos. Antes queremos morrer inno­
do Rhodano, com séde episcopal. Uma centes, do que viver culpados".
ordem imperial previa para esses tres Deante ele uma declaração desta or­
dias grandes festas religiosas em ho­ dem, Maximiano mandou o exercito
menagem aos deuses, aos quaes attri­ marchar contra elles. Corno não oppu­
lmia a victoria sobre os inimigos. A le­ zessem resistencia a:lgw11a, foram mas­
gião thebaica, que ele maneira nenhuma sacrados. O caimpo estava juncado de
queria tomar parte naquelles festejos, cadaveres e o sangue corria em torren­
levantou acampamento para se transfe­ tes. Pequenos grupos pertencentes á
rir para Aga!lllmm, cinco leguas distan­ mesma legião, mas dispersados, tiveram
te ela cidade. a mesma sorte. Assim forél.'ln mortos 50
O limperador orclenou-lh'e a volta irn­ le,:;ionarios em Tours, onde se erigiu
niiediata e intimiou os legionarios a que um templo em sua honra. No mesmo Jo­
se alliassem ao exercito nas solemnida­ gar morreu S. Géreão, com 318 com­
des prescriptas. Essa intimação encon­ panheiros. Grande parte das relíquias
trou a mais decisiva repulsa da parte elos martyres da Legião Thebaica exis­
dos soldados christãos. l\Iaximiano, ven­ tum no convento de S. Maurício, em
do na attitude da legião uma rebellião AgaunU1ID. Em Schotz, pequena locali­
oontra a autoridade, detenninou a exe­ rlacle da Suissa ( tres leguas diista,nte de
cução pela espada de cada clecimo ho­ Lucerna), em 1489 foram encontrados
mem daquelle corpo de exercito, que 200 esqueletos dos soldados dessa heroi­
contava dez mil e segundo a opinião ele ca legião.
outros 6. 666 soldadas bem armados. O REFLEXÕES
11esultado foi que os outros soldados Do exemplo que lhes deu S. Maurício,
mais fi11mes se mostraram na decisão ele todos os christãos devem convencer-se de
não t()lmar parte nos festejos idolatras. que não é possivel servir a dois senhores,
U:ma segunda diz�mação em nada mo­ que dão ordem diametralmente opposta.
Servir a Deus e ao mundo é coisa impossi­
dificou o anrmo cios christãos, que em vel. Obedecer a Deus e querer cumprir or­
altos brados declararam preferir mor­ dens iniquas, dadas por autoridade humana,
rer a prestar homenagem aos deuses. Os é cousa que até agora ninguem conseguiu
que mais se clistinguiraJm nessa defini­ fazer com o contentamento de ambos. As
ordens de Deus devem ser cumpridas, custe
ção energica ele sua convicção, foram o que custar. Ordens humanas contrarias á
:-I:i.nricio, Exuperio e Candido. Para es­ lei, á vontade de Deus, não devem ser
ses veiu uma ordem especial do Impe­ cumpridas. Os homens morrem. Deus não
rador que, sob ameaça de morte imme - morre. E' preferível cahir no desagrado
dos homens, a "cahir nas mãos de Deus
<liata, lhes exigia sujeição incondicional. vivo".
A resposta foi : "Somos teus soldados
e não menos servidores de Deus. Sabe­ Santos do M<Jl/"tyrologio Roma.no, cuja me­
moria é celebrada 110.ie:
mos perfeita:mente a nossa obrigação
Em Roma, o martyrio das santas virgens
como militares, mas não nos é licito of­ Digna e Emerita, no tem.po do Imperador
fencler a nosso Grea,dor, que· é nosso e Valeriano. 3 sec.
teu Senhor. Estamos pwmptos a obede­ No Egypto a virgem martyr Santa Irai­
cer a tudo que não contraría a lei divi­ des com _grande numero de outras victlnui;.
na. Cremos em Deus Pae, Creador de Santa Iraides contava 10 annos apenas,
quando co_ lheu, a palma do martyrio.
todas as cousas e em Jesus Christo; seu
Em Metz S. Santiano, primeiro Bispo da­
filho unigenito. Fomos testemunhas da quella cidade, disclpulo
· · · de S. Dlonlslo Areo-
morte dos nossos coznpanheiros e não pagita.

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23 de Setembro 249

23 de Setembro

Santa Thecla, Vírgem e Martyr


(t I seculo)

í�ELEI3ERRIMA na Egreja Catho­ persegmçao. Parece ser o anno ele 45,


� lica, pelos Gregos chamada a pro­ de que lhe data a conversão ao Christia­
to-n1airtyr do sexo feminino Santa Thecla nismo.
é uma dws figura,s rnai-s sali,ent:es dos tem­ Bem jovem aincla, seguinclo a doutri­
pos apostolicos. Não se sabe ao oerto si na e o exemplo do grande Apostolo,
é natural de Isauria ou ele Lycaonia. São Thecla se clecicliu a viver para Deus em
Metho cl o em perfeita casti­
referen c ia a dade e numa
·esta Santa af­ pratica conti­
f i r ma que, nua da mais
versadiss i m a rigorosa peni­
n a s artes e tencia. Morta
sciencias, co­ para o munclo,
mo principal­ o mundo era­
mente na phi­ lhe mlorto.
losophia, San­ Da p a r t e
ta Thecla, pos­ dos paes, que
suindo a faci­ nenhuma corn­
lidacle ela pa­ prehensão eles­
lav r a, sabia sais cousas ti­
<lar aos discur­ nham, não fal­
sos o cunho taram insinua­
de elegancia e ções de toda
convicção. sorte, p a r a
Conhecedo­ convencei-a da
ra p r o funda ,,e o nveniencia,
da r e 1 i g ião utilidade e ne­
christã, rece­ cessida d e de
beu o baptis- tomar estado.
1110 das mãos O m a n cebo,
do Apostolo S. que segundo a
Paulo. O ·n1:es­ vontade d o s
mo Apostolo pa,es havia de
teceu-lhe gran­ ser o futuro
el e s elogios, esposo, p o r
pelo ardente seu turno não
amor a Jesus perdia o c c a­
Christo, q u e sião ele com
teve occasião Santa Thecla argumentos e
bas t a nte de No momento em que Thecla foi mettida numa cova razões martel­
mani f e s t a r, onde havia serpentes venenosas, estas foram ful­ lar o espmto
minadas por um raio, e Thecla sahiu illesa tam-
nos dias da bem desta cilada. ela d o n zella,

Santa Thecla - Tillemont. II.

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250 23 de Setembro

sem que com isto conseguisse o minirrno O corpo da Santa foi sepultado em
resnltado. Restava sómente o recurso á Seleucia, onde os Imperadores christãos
autoridade, o appello ás leis. Thecla, po­ mais tarde erigiram umia egreja clecl1-
rém, ficou inaba,lavelmente firme nas cada á sua memoria. Os grandes mila­
suas convicções. gres com que Deus se dignou de dis­
Para se vêr livre daquellas importu­ tinguir a sepultura de sua serva, attra­
nações repetidas e quotidianas, bem co­ hiram grandes per,egrinações de fieis de
mo para buscar consolo e conforto para todas as partes do Irruperio. A egreja
a alma, Thecla foi á procura do Apgs­ principal de Milão traz o nome de San­
tolo S. Paulo. Este passo provocou a ta Thecla e nella está guardada grande
ira cio moço, o qual não descançou em­ parte de suas preciosas relíquias.
quanto não descobriu o paradeiro da­ Santa Thecla é padroeira dos agoni­
quella que pelos paes lhe tinha sido pro­ zantes. E' invocada tambem contra mo­
mettida em casamento. Descobriu-o ef­ lestias da vista.
fectivaunente e levou o caso aos tribu­ REFLEXÕES
naes, •exigindo que Thecla, como inimiga Fiel discípula do Apostolo S. Paulo, The­
da religião official, fosse atirada ás fé­ cla tão bem comprehendeu o alto valor da
pureza de coração, que resolveu cultivar
ras. Os juizes annuira:m promptamente esta virtude, embora lhe custasse a vida,
á fantastica indicação e Thecla foi de Bem diiferente é o modo de pensar do
facto condemnada ás féras. mundo e dos seus amigos. O mundo não é
apreciador da virtude angelica. Tanto mais
Estava marcado o dia da cruel execu­ a quer Deus; tanto mais é o encanto dos
ção. Thecla via-se entregue á furia e Santos e Anjos do céo. Jesus Christo, o
ferocidade dos leopardos, tigres e leões, rei dos puros, fez-se rodear de almas puras
quando se deu um facto nunca obser­ e castas. Puros e castos eram S. José e
Maria, sua Mãe santíssima; puro era São
vado até então. Rodeada de féras, The­ João, que teve a dita de repousar a cabeça
cla acariciava-'as e ellas, com-o se lhe fos­ sobre o peito do Mestre no ultimo dia. Os
sem amigas, vinhairn laimber-lhe as mãos Santos todos eram cultivadores e amantes
com toda mansidão. desta bella virtude, que habilita as almas
para verem a Deus. lnnumeras são as hon­
Santo Ambrosio e outros Santos Pa­ rosas referencias dos Santos Padres á vir­
dres contam este milagre com um ou­ tude da pureza e os elogios que lhe tecem.
tro, segundo o qual Santa Thecla teria Não se deve concluir de tudo isso que a
castidade é uma virtude respeitabilíssima e
sahi·do illesa das chammas da fogueira, agradavel a Deus ? Quem a perdeu, pro­
a que os inimigos a tinham condem­ cure readquiril-a por actos contínuos de
nado. penitencia exterior e interior. Quem a pos­
sue, guarde-a como um thesouro de ines­
Vendo-se afinal livre das persegui­ timavel valor.
ções atroz-es, Thecla acompanhou por al­
gum tempo S. Paulo nas viagens apos­ Santos do Martyrologio Romano, cuja
tolicas e, observando os sabias e santos memoria é celebrada hoje:
Em Roma o Papa martyr Lino, o primei­
conselhos do Apostolo, chegou a um ro successor de S. Pedro na Sé apostolica
gráo elevado de perfeiçãü. de Roma. Achou seu repouso ao lado do
Os ultimos annos de vicia passou-os Príncipe dos Apostolas.
Thecla em completa separação do mun­ Na Hespanha as santas Xantippa e Poly­
xena, ambas discipulas dos Apostolas.
do e morreu santamente na cidade de Em Constança o Bispo e martyr S. Pa­
Isauria. terno.

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24 de Setembro 251

24 de Setembro

São Gerardo, Bispo e Martyr


( t 1046)

,� SANTO Bispo Gerardo, que se­ Santa Sé, acceitou o pesado cargo e a
� gundo o testemunho do martyro­ adimiravel administração que deu ao
logio romano, merece o titulo e Aposto­ Bispado, justificou larga:mente as espe­
lo da Hungria, era natural de Venez'.l, ranças nelle collocadas. Não só procu­
onde nasceu, filho de paes illustres e pie­ rou destruir os ultiimos restos da idola­
dosos. tria, cO'mo tam;bem consolidar os fieis
Educado m•ma escola benedictina, re­ na fé. Para alcançar uma e outra cou­
cebeu, rulém ela instrucção sci-entifica, sa, reconreu ao poder maternal de Ma­
ensinamentos solidos na sciencia de ria Santissima, cuja veneração mui ca­
Deus e dos Santos. Foi no contacto com lorosamente recommendava ao clero e
sabios e santos mestres, que se lhe com­ ao povo.
munioou o allllor pelas cousas divinas e Muito caridoso, destacava-se-lhe a ca­
aquelle zelo pela salvação das almas, que ridade para com os pobres e doentes.
mais tarde o habilitou a ser um digno Convidava leprosos para sua casa, onde
successor dos Apostolos. lhes dis, pensava o 111,ais caridoso trato, a
Grande desejo nutria ele visitar os san­ pont10 de off.erecer-lhes a propria calllla,
tos lagares da Palestina, o que lhe foi em!quanto repousava deitado no chão.
dado satisfazer. Voltando do Oriente, Sendo um pc!!e para os pobres e infeli­
passou pela Hungria, onde teve fidalgJ. zes, para si proprio reservava exercicio-;
recepção o santo Rei Esteva.m, o qual, da mais dura penitencia.
descobrindo no hospede dotes extraordi­ Ajudado pela graça divina, ganhou
narios, que o habilitavalm para trabalhos muitos pagãos para o gremio da Egreja.
apostolicos, pecliu-lhe e insistiu para que A morte do Rei Esrevarn deu inicio a
não ma:is sahisse da Hungria, e que coo­ multiplas perseguições da parte dos suc­
perasse na grande obra a que se propu­ cessores. Tanto o R!ei Pedw, que foi ex­
zera o santo monarcha - de converter pulso por causa da sua requintada cruel­
ao christianismo todos os subditos. dade, como o usurpador Abas, declara­
Gerardo annuiu ao pedido do Rei e ram-se inimigos do santo Bispo. Peclro
cam o fim de habilitar-s•e para tão im­ voltou, para ser novamente expulso e
portante lmssao, retirou-se com os Abas morreu sob os golpes do algoz. A
companheiros para a solidão, em que corôa foi offerecida a André, filho de
passou um espaço de tempo, entregue Ladisláo, parente proximo de Estevam,
exclusivairnente á pratica de exercicios que a acceitou, apezar da condição in­
espirituaes. Terminado o retiro, atirou­ famante de restabelecer no reino o re­
se ao trabalho apostolico, com a energia girnen pagão com o culto dos deuses.
e dedicação proprias do seu caracter Gerardo, com mais tres Bispos, pôz-se
e fé. a caminho de Stuhlweissenburg, para
Pouco depois falleceu o Bispo de junto ao Rei se empenharam pela con­
Chonad. Indicado pelo Rei, Gera,-do foi - servação da religião Catholica como of­
lhe nomeado successor, embora tudo fi­ ficial. Ch egados a Giod, Gerardo, após
zesse para seu nome não apparecer na a Missa por elle celebrada, disse aos
lista dos apresentados. Em obediencia á oC1mpa.nheiros: Nós todos ainda hoje,

S. Ge1 a�·,lo - Surius, biogr. do Santo.

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252 25 de Setembro

com excepção do Bispo de Benethe, se­ ções. Não permittia a si proprio o prazer
licito que dão divertimentos honestos e
rnmos ;martyres pela fé." Transpuze­ bons. E' este um modo de pensar e proce­
ram o Danubio, e mal tinham chegado á der m,uito commum nos Santos, porque na
outra banda do rio, foram aggredidos pratica da caridade e da penitencia enxer­
por um grupo de soldados cio Duque ele gavam o caminho mais certo para o céo.
Ha muitos catholicos que não são carido­
Vatha, um dos mais aferrados idolatras sos e muito menos amigos da penitencia e
e ferrenho inimigo de Estevam. Gerar­ da mortificação. A utilidade, o interesse e
do foi apedrejado e por fim mortalmen­ o egoismo são suas unicas directivas. Que
te ferido por uma lançada. Dois outros os outros soffram, que os mandamentos da
lei de Deus e da Egreja sejam escandalosa­
Bispos, Bextarclo e Buld, morreraJm na mente transgredidos, pouco se lhes dá, sen­
mesma occasião. No meio da confusão do muitas vezes os primeiros a despreza­
do 1111orticinio, appareceu o Rei, que pô­ rem as leis divinas e humanas, contanto
de ainda arrancar o quarto Bispo das que nada lhes falte, que não sejam incom­
modados com pedidos importunos. Os que
mãos dos verdugos. EHe mesmo se de­ assim pensam e vivem, têm maior amor ao
clarou a favor do Christianismo, conti­ corpo do que á alma, amam mais o mundo
nuou a obra encetada por Santo Este­ que a Deus. Quem quer bem á sua alma,
mortifique o corpo. Do corpo mortificado
vaun e reinou com muita felicidade. diz S. Paulo que "resuscitará em poder e
O imartyrio de S. Gera:rdo teve logar gloria". (Cor. 15. 43).
em 24 de Setembro de 1046, e as relí­
quias estão guardadas . em Veneza, na Santos do Martyrolooio nomano, cuja me­
,egreja de Nossa Senhora ele Murano. moria é celebrada hoje:
A festa ele Nossa Senhora das Mercês.
REFLEXÕES Fundada a sua Ordem por S. Pedro Nolasco
S. Geraldo deu um exemplo de caridade em 1223 para a libertação dos escravos
extraordinaria para com os pobres, doentes christãos, foi generalizada esta festa na
e até com os inimigos, rezando por elles, Egreja em 1696.
como fizera Santo Estevam - o prof:o­ Em Chalcedonia a memoria de quarenta
martyr. Esta caridade applicada aos outros e nove martyres no tempo do Imperador
correspondia a um rigor fortissimo contra Diocleciano.
si proprio. O corpo era-lhe continuamente No Egypto o martyrio de S. Paphunclo e
objecto de penitencias, jejuns e mortifica- sete companheiros. 303.

25 de Setembro

SÃO FIRMINO
( t 235)
� NOME de S. Finnino figura n�s va a persegmçao, é ele justiça conceder­
� actas dos Martyres como o pn­ lhe as honras ele Apost,olo das Gallia•:;.
m1eirio Bi,spo de Ami,ens e uJ111a das mais Naturai de Pampelona, na Hespanha, k­
nobres victimas das perseguições do se­ ve Firtmino a ventura de pertencer a
culo terceiro. uima familia rica e be!m firmada nos
Considerando, porém, a grande copia principias da religião. Os paes, Firmino
dos trabalhos apostolicos, não só na dio­ e Eugenia, antes pagãos, deveram ao
cese, mas em todos os pontos da Fran­ sacerdote Honesto a graça da aclmissão
ça, do zelo arclenti-ssrmo que desenvolvia ao santo baptismo. Esse exemplo fez
pela causa da santa Egreja, principal­ com que outrns falmilias importantissi­
mente no tempo que mais furiosa anda- mas se approximassem tambem da re-

8 Firmino - Bolland. Tillemont III. Rivet Hist. lit. tom. I. Gallia Christ. nov. I.

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25 ele Setembro 253

ligião ele Christo e pedissem as aguas para que Finmino fosse mettido na pri­
cio renasci·mento. Entre estes converti­ são. Tentendo o povo, que muito vene­
dos se achavam os senadores Faustino rava o santo Bispo, não ousou s·enten­
e Honorato, a que a Egreja já concedeu cia:1-o publicamente e deu ordem para
a honra dos altares. que fosse decapitado no carcere. Fir­
Fil"mino tantos progressos fez no co­ mino morreu em 285 e o corpo descan­
nheómento elas verdades da fé, como na ça na cathedral de Amiens.
pratica das virtudes, que o povo, edifi­ REFLEXÕES
cado por este e�e1nplo, desejou que fos­ "Quem perseverar até o fim, será salvo",
se o seu guia, desde que Honesto, impe­ diz Nosso Senhor. (Math. 10. 22). S. Firmi­
dido pela ,idade avançada, não mais po­ no apresenta-se-nos como homem cons­
dia dirigir os destinos do rebanho. Em tante, soldado de Christo, fiel e dedicado,
Tolosa recebeu Firmino o santo sacra­ que defende a fé contra os mais terríveis
mento da Ordem e a sagração episcopal, inimigos. A perseverança no bem até á
morte é a maior felicidade para o homem,
munido assim de jurisdicção apostolica
porque lhe proporciona a posse do Supre­
para prégar o Evangelho aos povos que mo Bem. Uma vida innocente, passada no
ainda estav8!m nas trevas do paganisinm. mais fiel cumprimento dos deveres, unida
Agen e Auvergne fora!l11 os Jogares a Deus pela graça e pela mais perfeita ami­
zade, é o que constitue a felicidade d"o ho­
da França que primeiro tiveram a fe­ mem na terra. Tudo o mais, que o mundo
licidade de sere'm evangelizados por São diz felicidade e alegria, é illusão e engano.
Firmino. Numerosissi:mas foram as con­ A perseverança é uma graça que nos ga­
versões que, pela palavra e mais ainda rante o valor das nossas boas obras na
pelo exemplo ele santidade, alcançou. eternidade.
Embora seja a perseverança uma graça
Não lhe faltou a contrndição e perse­ que de Deus gratuitamente recebemos, fa­
guição ardifosa e trefega dos inimigos, cilmente a poderemos perder, si commet­
principal• mente dos sacerdotes da religião termos um peccado grave. Deus não per­
abandonada. Entre elles merecem men­ mitte sejamos tentados acima das nossas
ção Arcadio e Romulo que, tendo mo­ forças e sua graça é sufficiente para ven­
vido guerra tremenda contra o Apostolo, cermos todas as tentações. Quem, porém;
acabaram curvando a cabeça perante a procura o perigo, não deve mais contar
majestade de Jesus Christo e acceltan­ com o auxilio divino. Evitar o peccado é,
portanto, uma das condições indispensaveis
do-lhe a doutrina.
para alcançar a graça final. Esta graça re­
Da Auvergne dirigiu-se Firmino a compensa bem todo o sacrificio que fizer­
Angers e Beauvais, onde baptizou mui­ mos, para nos manter na amizade de Deus.
tos pagãos. A Egreja de Beauvais sof­ A morte é o echo da vida. "Sê fiel até á
morte e dar-te-ei a corôa da vida". (Apoc.
fria cruel perseguição da parte do go­
2. 10).
vernador Valerio, o qual a1111eaçou a
Firmino com crueis torturas e a morte,
Santos do l!Jartyrologio Romano, cuja me­
si continuasse a prégar a doutrina chris­ moria é celebrada hoje:
tã. Firmino, porém, respondeu-lhe com Em Emmaus o martyrio de S. Cleophas,
firmeza, pelo que Valerio lhe dictàu discípulo de Nosso Senhor, um dos dois,
apenas a pena de flagellação. que o conheceram, quando em sua presen­
ça partia o pão.
De Beauvais Firmino passou a Em Anagny as santas virgens Aurelia e
Amiens, 1111etropole do Bispado recem­ Neomisia. Naturaes da Asia, visitaram os
creaclo. Dentro ele pouco tempo se con­ santos Jogares na Palestina e vieram a Ro­
ma. Em Capua cahiram nas mãos dos Sar­
verteram em Amiens m,ais de 3.000 pes­ racenos, conseguiram, porém, fugir e re­
soas á fé christã. tiraram-se para Anagni, onde morreram no
sec. 11.
Alarmado co:n este movimento reli­ Em Roma o martyrio do soldado Santo
gioso, deu o governador romano ordem He1·culano. sec. 2.

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254 26 de Setembro

26 de Setembro

S. Cypríano e Santa Justína, Martyres


(t 304)

R ÃO CYPRIANO, cognominado çã:o; pois o clemonio ele tão bom grado


� feiticeiro, natural de Antiochia na não 1a privar-se de um instrumento
Phenicia foi pelos paes introduzido em utilíssimo, como era Cypriano. Apode­
todos os segredos da superstição, astro­ rou-se�lhe do espírito uma profunda
logia e feitiçaria. Para ampliar os co­ tristeza e a lembrança dos feitos paJssa­
nhedrn\entos na arte magica, fez gran­ dos levou-o quasi ao desespero. Deus
des viagens e visitou os centros princi­ mandou-lhe allivio pelo sacerdote Euse­
paies do mundo, cdmo Athenas, Mem­ bio. As orações e as palavras conforta­
phis, Argos e a Inc\ia. Mestre em todas doras deste santo ha1nem fizeraJm com
as artes diabolicas da feitiçaria, entre­ que Cypriano 11ão desfallecesse no meio
gou-se a uma vida desbragaida. Para a cio ca!l11inho. Grande foi a surpreza dos
religião christã havia só insultos; crean­ fieis, quando vira11n o grande e terrivel
ça:s innocentes eram as victimas precli­ feiticeiro num domingo entrar na egre­
lectas; tendo-as enforcado, offerecia o ja, conduzido por Eusebi-o. O proprio
sangue das mesmas como holocausto ao Bispo não quiz acreditar no que via e
clemonio e nas entranhas ainda pa:lpitan­ pôz-se a duvidar da seriedade desta con­
tes procurava conhecer os segredos do versão. Cypria:no, porém, trouxe todos
futuro. Perseguição élltroz fazia ás don­ os livros ca:bali•sticos e entregou-os ao
zella:s, aproveitando-se de enredos dia­ fogo, na presença de todo o povo e dis­
bolicos, para demovei-as do caminho da tribuiu a fortuna entre os pobres. A'
virtude. Mallograva1m, porém, esses arti­ vista d'esta mudança radical, o Bispo
ficias cleante das jovens christãs. consentiu que Cypriano fosse baptizado.
Un�a dellas era Justina, que morava Junto com elle Aglaclio recebeu o sacra­
em Antiochia, christã fervorosa, porém mento cio baptisrno. Justina, vendo as
filha de paes pagãos. Formosa de cor­ maravilhas da divina graça, cortou a
po e espirito, pelo exemplo fez coltn que linda ca:belleira e pelo voto ele virginda­
toda a familia se convertesse ao chris­ de perpetua dedicou-se ao serviço de
tianismo. Agiadio, jovem pagão, ardia Deus.
pela virgem christã. Não podendo, po­ A conversão ele Cypriano foi sincera
rém, captivar-lhe o affiecto, recorreu aos e constamte. Os escanelalos dados na vi­
artifícios magicas ele Cypriano. Jt�sifi­ da passada, reparou-os pela conducta
na experimentou em si os accessos dia­ exemplar e pela pratica cla:s mais bellas
bolicos, os quaes conseguiu dehellar pela virtudes. A dedicação á causa ele Deus
oração e pelo signal da Cruz. Vendo-se 111,ereceu-lhe a clignidaele ele sacerdote e
tão rudemente assaltada pelas tentações mais tarde Bispo. Veiu a perseguição
mais horriveis, a virgem recommendoo­ cliocJ.eciana. Cypriano foi levado a Tyro,
se frequenteln1.ente á Rainha das Vir­ onde s-offreu atrozmente. T a m b e m
gens e sahiu victoriosa das insidias do J ustina, accusa:da ele christã, foi apre­
iniimigo. Este fracasso dos estratagemas sentada a:o governador da Phenicia, que
mais poderosos fez Cypriano duvidar a submetteu á flagdlação crudelissima.
do poder cios delmlonios e tomar a· reso- Transportados para Nicomedia, onde
1 ução de livrar-se clelles. Luctas terri­ se achava Diocleciano, pelo proprio Im­
v<eis foram a consequencia desta resolu- perador foraJm sentenciadas á morte

R Cypriano e Santa Justina - Prudencio, Hymn. 13. - S. Gregorlo de Naz. or. 18. -
Photlus Cod. 184. - Tlllemont V. Ceilller IV. Boll. VII.

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26 de Setembro 255

pela decapitação. A sentença foi execu­ servir a Deus e santificar a alma. Graça
tada em 304. As reliquias dos dois mar­ egual terão todos os escravos do vicio da
impureza, si de coração e com sinceridade
tyres foram trasladadas para Roma, on­ procurarem remover o obstaculo da união
de Rufina, christã fervorosa da faJmilia com: Deus. A conversão da vida impura a
cios Clau<lios, erigiu uma egreja sob a uma vida santa exige o afastamento de
tudo que contraria a virtude angelica, co­
invocação de Cypriano e Justina. Hoje mo sejam máos livros, revistas immoraes,
os corpos destes doi·s gra:n<les martyres amizades e entrevistas perigosas e inconve­
descançam na egreja de S. João de La­ nientes, certas liberdades entre pessoas de
trão em Roma. sexo differente, etc. Si Santa Justina não
tivesse rejeitado as insinuações peccamino­
NOTA - Si S. Cypriano detestou suas sas, Cypriano e Agladio não se teriam con­
proprias obras de feitiçaria e queimou-as pu­ vertido. Si tivesse dado consentimento á
blicamente; com que direito se servem ain­ tentação, os tres, que agora ornam os san­
da hoje muitos christãos do livro de S. Cy­ tos altares, talvez soffressem penas eter­
priano, para fins supersticiosos e diabolicos? nas, cobrindo-se de maldições mutuamente.
Além de ser mais do que duvidoso que este Pela firmeza, porém, mereceu a si propria
livro seja da lavra de S. Cypriano, é uma
obra pernicimm, cuja leitura é prohibida a graça da perseverança e a conversão pa­
pela Egreja. ra os dois jovens. O exemplo de Santa Jus­
REFLEXõES tina ensina-nos que as armas contra o es­
Cypriano e Agladio converteram-se ao pirita impuro são: a fuga da occasião, a
christianismo e chegaram a um alto gráo vigilancia, a oração, a devoção á Santissi­
de santidade, devido á resistencia firme e ma Virgem e a recepção dos santos Sacra­
resoluta que encontraram em Santa Justi­ mentos.
na. Cypriano, em signal de sinceridade de
sua conversão, atirou ao fogo com os li­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
vros ímpios que possuía e os instrumentos moria é celebrada hoje:
de que se servia, nas praticas da feitiçaria. Em Roma o martyrio de S. Calistrato e
Que bello exemplo deu a todos ! A conver­ mais 49 christãos, todos militares do exer­
são de feiticeiros e impuros é um milagre cito de Diocleciano.
extraordinario da graça divina, que vemos Em Roma a memoria do Papa Santo Eu­
operado em Cypriano e Agladio, que reso­ zebio. 310.
lutamente romperam com o peccado, para Em Brescia o santo Bispo Vigilio. sec. 6.

26 de Setembro

Os Martyres do Canadá e da Ameríca

S. JOÃO DE BRÉBEUF
(1593-1619)
Os novos Santos da Companhia de Jesus oito novos Santos juntaram um novo es­
derramaram o sangue em meio dos selva­ plendor ao seu diadema, no ultimo anno ju­
gens Pelles Vermelhas, que occuparam as bilar e missionaria, em que se festejou com
i�mensas florestas nas regiões dos lagos, no enthusiasmo a gloria do Apostolo que, desa­
Canadá e no actual Estado de Nova York. pegado de si mesmo e das alegrias terrenas,
Nada os attrahia áquella vida, peior que a avança e dilata em meio dos pagãos de to­
morte, a não ser o intimo, o intenso amor da a especie, o doce reino de Jesus.
ao Mestre Crucificado; nada lá acharam, si­
não um labor obscuro, a solidão, as tortu­ O P,e. João ele Brébeuf falleceu na
ras, o martyrio. Mas era esta a mais glo­
riosa e a mais ambicionada corôa de seu Missão dos Hurões de Santo Ignacio, a
trabalho, a mais brllhante recompensa á 16 de Março de 1649, em mleio dos tor­
energia e dedicação empenhadas para a sal­ mentos mais terriveis que soube inven­
vação dos Indios.
A Companhia de Jesus não foi jamais tar a furia dos Iroquezes. Numa a<lmi­
avara do sangue de seus Filhos; mas estes ravel apparição em que, abraçando-o, o

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256 26 de Setembro

chamou de "vaso de eleição", destinado ga:e a Deus por nós - respondiam elles
a ter a gloria ele seu nome e a partici­ - o nosso espírito estará no céo, em­
par de toda:s as dores de seus ma-is ca­ quanto os nossos corpos soffrem aqui
ros Aposrolos, o Salvador lhe tinha pro­ na terra."
metticlo que acharia no martyrio a co­ Começou então o supplicio do glorio­
rôa de suas fadiga:s e esperança:s. so martyr que não tem egual na histo-
Por seu lado o homem de Deus, mais 6a dos martyres. Como preludio, arran­
de doz,e annos antes de morrer, tinha carann-lhe as unhas, e todo já ensan­
foito o pedido, que repetia todos os dias, guentado, aimarraram-no a um poste,
qu.indo apertava nas mãos o Corpo de que elle - affir1m0:n1;-no as testemunhas
Jesus, de o faz,er soffrer quanto pudes­ daquiella scena horrível, - abraçou co­
se, para glorificai-o e mostrar-lhe o seu nJ'o obj,ecto ele grande estimação. Depois
attnor, "de modo tal - accrescentava - queimaralm-lhe o pescoço, o peito e as
que não me será mais licito fugir da oc­ costa:s cam machadinhas encan<lescentes,
casião de derramar meu sangue por Ti ; fizeram-lhe u:ma cintura de cortiça em­
e quando receber o golpe de miorte, que­ bebida em pixe e r'esina a que applica­
ro 'Ser obrigado a recebei-o de Tuas ram fogo. Outros vinham com facas e
mãos, cdm roda a alegria de minh'alma." ganchos em braza, atravessavam-lhe as
Só quem conhece o antigo Canadá carnes, cortavam pedaços e avidamente
pode fazer-se uma idéa cio trabalho que os devorava:ml dea:n1:e dos seus olhas.
foi ganhar para Deus 7.000 almas, e do Ainda outros, depois de lhe terem tos­
sacrifício que havia em deixal-a:s na tado a testa, trouxeram agua quente pa­
Missão dos Hurões. Eistes selvagens, de ra lavai-a, parodiando as cerimonias do
que muitos estavam para tornar-s,e não baptismo' .
só fervorosos christãos, mas tambem O que os exaisperava e levava seu fu­
ma:rtyres pela fé, tinhaim-no cumulado ror ao auge cio delírio, foi a calma co1t11
de ultrajes e de máos tratos. O proprio que soffreu tudo isto durante tres ho­
1

delmonio, sob a fórmla mais horrenda, o ras, sem uma queixa, só rezando, ora
tinha assailta:do, mas eUe se contentava implorando a I;)eus, ora animando a fé
a l'esponder: "Pode fazer de mim o que dos seus cam1panheiros, ora exhortando
Deus lhe permitte." - Esta simples pa­ os proprios cannibaes para que não se
lavra era bastante para pol-o e1111 fuga, esquecessem de Deus, da salvação da
As ignomínias não lhe paireciam humi­ sl!'a propria alma e que pensassem nas
lhações porque nada fazendo ele si pro­ penas eterna1s.
prio, não o attingi�m, e quanto mJenos Viendo que não conseguiam fazei-o
se via considerado e estimado, tanto caliar, cortaram-lhe os beiços e a Iingua,
ma:is alegria seu coração experimen­ mutilaratn'-lhe os qtt'eixos, metteram-Ihc
tava. na hocca tições ardentes e, finalmente,
Na madrugada do ultimo dia da su;_, no desespero de nã:o lhe poder arran­
vida, quando um bando de Iroquezes car tlm só gemido, abriram.-lhe o peito,
inesperadalmente atacou a Missão de tirarain para fóra o coração, bebernJtn­
Santo Ignacio, elle, cheio de alegria por lhe o sangue, julgando que com isso hea
ver proximo o momento do seu holo­ bessem tlf!1m. lXlTte da sua alma e da suá
causto, mas cheio taunbe:m de amargura corage'Ill.
e compaixão dos pobres prisioneirns, João de Brébeuf nasceu aos 25 de
destinados ás mesmas torturas, disse­ Março de 1593 em Condé-Sur-Vire de
lhes: "Meus Filhos, nas mais duras af­ familia nobre, dedicada á Egreja e {t fé.
flicções eleviernos os olhos ao céo ! Entrou na Companhia de Jesus aos 8
LembreJmlo-nos de que Deus é testemu­ ele Novembro de 1607, partiu para
nha dos nossos soffrimentos e em breve as missões dos Pelles Vermelhas eim
s,erá a nossa doce recompensa." - "Ro- 1625. Morreu cdm 50 annos de edade.

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26 de Setembro 257

S. GABRIEL LALEMANT
( 1610 - 1649)

NASCEU em Paris a:os 19 de Ou­ dia maã1s falar, mas uma doce inclina­
tubro de 1610, fez-se jesuita, e em ção da cabeça era a resposta á prece do

--------=:."____,,_,.,.�...., ,...,====-...,_..,..__
cqrtjpanhia do Pe. De Brébeuf traba­ seu jovem companheiro, que assim con­
lhou na:s missões dos Hurões, onde 15 fortado se entregou aos algozes.
horas depois do seu companheiro e
mestre, quando tinha apenas 39 annos Sem dar um gemido, coração e espí­
rito foms em Deus, passou pelos mies-
de edade e 16 annos de vida de missio­
11nos tortnientos que vira seu mestre pas­
nario, soffreu, como este, o martyrio.
O Pe. Lalemant era de compleição fina sar e, quando depois se recolheram seus
resros mortaes, - escreve o Pe. Rague­
,e delicada, mas de um forvor angelico.
No seu longo e doloroso martyrio de­ neau, - não se achou parte de seu cor­
po que não tromresse signaes de quei­
m1onstrou uma fortaleza admirabilissi­
n1adura, n�m os olhos que os barbaros
m.a, condigna do voto que fiz·era a Deus
lhe tinhalm arrancado, substituindo-os
de dedicar sua vida á obra da conver­
são dos Hurões. por carvões em braza.
Preso juntamente com o Pe. de Bré­ A familia do Pe. Gabriel, ao receber
beuf, foi testemunha ocular das tor­ a noticia da morte gloriosa do seu pa­
turas de que foi victima seu grande rente, exultou de alegria. A mãe do he­
rnestre. Quando este ,estava já agoni­ roe chri:stão, qll'e tinha dado a Deus
sando, o jovem martyr s·e ajodhou aos quatro filhos e a todos educado no san­
pés do ,seu companheiro, beijou reveren­ to oomor de Deus e no amor á cruz, can­
temente suas chagas e pediu-lhe alcan­ tou o "Te Dieum laudamus" eu acção
çasse junto de Deus a graça da perse­ de graças e pouco depois tomou o ha­
verança. o Pe. de Brébeuf já não po- bito de Santa Clara.

SANTO ANTONIO DANIEL


( 1601 - 1648)

E' este o terceiro da gloriosa pleiade "Te Deum", para agradecer a Deus as
dos lfil.0:rtyres canadenses. Antonio Da­ ricas bençãos que fizera chover sobre a
niel, morto aos 47 anrros de edade, pequena christ.i.ndade. Quanto ás fadi­
depois de ter trabalhado 15 annos ga!s da viagem dizia-se satisfeitissimo
pela conV'ersão dos Hurões, era um por ter baptisado W11 pobre Pelle Ver-
dos :mÍ'ssionarios prolmptos a tudo fazer 111elha que se achava proximo da morte.
e a tudo soffrer, e que conquistava os T1erminado seu retiro espiritual em 2
corações dos barbaras com sua invencí­ de Julho de 1648 não se deu ao bem
vel caridade e bondade. O Pe. Le Jeu­ merecido descanço, mas voltou imjme­
ne o apresenta de volta de uma laborio­ diatalmenre á Mi1ssão de São José, onde
sa viageim apostolica, aedmpanhado de consagrou as ultima:s horms da sua vida
tres pequenos selvagens, destinados a á salvação eterna dos pobres peccadores,
serem futuros catechistas de sua nação, e á conversão dos pagãos.
de T()Sto sorridente, mas desfeito, se�n Aios 4 de Julho a Missão foi assa:lta­
calçado, o remo na mão, todo esfairra­ da pelos Hurões. O Pe. Daniel estava
pado, o breviario pendurado no pescoço. terminando a santa missa. Vendo o pe­
Mas ein sua santa alegria fez cantar o rigo qtte a missão corria, foi ás pressas
Luz Perpetua 17 - II vol.

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258 26 de Setembro

baptizar um catechU1meno velho e doen­ Dito ist10, foi de encontro ao inimigo.


te, que não podia vir á capella. Num Os gurerreiros barbaras hesitaram um
instante esta se encheu de pagãos instante em por-lhe as mãos. Mas a um
fugitiV'os e apavorados, que pediam pa­ signal dado, alV'ejaram-no com suas set­
ra si a mesma graça. O Pe. Daniel ba­ ta:s, das qucl!es uma lhe atravessou o pei­
ptisou a todos a m,odo de aspersão, vis­ to, eimk:juanto pronunciava o nome de
to não ha:V'er tempo naquelle momento J,esus. Os cannibaies apoderararrn-se do
urgente para administrar as cerirnlonias seu corpo, mut"ilaram-no horrivielmente,
usuaes do bapüsmo. lavaram a:s mãos ,e o rosto no seu san­
gue, incendiaram a capella e atiraram
"Minha vida, dizia elle aos noobapti­ com o cadaV'er ao fogo.
zados, nada vale emquanto tiver ulma Pouco depois appa:receu, rodeado de
alma para salvar-se. Ainda hoje nos ve- uma luz claríssima, ao Padre Chau­
re:nos no ceo. "
,
niionot.

S. CARLOS GARNIER
( 1605 - 1649)

O Padre Carlos Garnier morreu Anjos, que não raras vezes visivelmente
na Missão de S. João sob as flechadais lhe appareciam e foram vistos tambem
e machadadas dos Iroquezes. Treze an­ pelos pagãos. Além de ser mui piedoso,
nos tinha elle trabalhado no meio da'S o Pe. Garnier era homem de austera pe­
tribus selvagens do Oa:nadá, entre s,of­ nitenci-a. Jejum, mortificações, asperos
frimentos inauditos, prof<essanclo elle al­ cilícios ,eram os mieios de que se servia
ta:1111ente que Um missionaria nunca po­ para s·e santificar a si proprio e de
derá soffrer denl'ais quando é para sal­ attrahir as bençãos d'o céo sobre sua
var uma unica alma. Doentes que acha­ gr·ei. Em 7 de Dezembro de 1649 a Mis­
va abandonados, Jievava-os sobre os seus são ele S. João foi surprehenclida pelos
hdmbros, uma ou dua!S legua:s, á Missão, Iroquezes e tomada de assalto. Dua:s
onde os trélll:a'Va e os preparava para o settéllS cravarnm-se no coração <lo mis­
sanl:o baptismo. Fazia dez e mais leguas sionaria que ainda recebeu uma forte
sob um calor causticante, muitas vezes machadada na cabeça. Tudo isto aconte­
com perigo de morte, para assistir a um ceu, quando o Pe. Garnier estava oc­
pobre mloribundo ou a um prisioneiro de cupado nos preparativos da Festa da
guerra condemnado a ser queimado vivo. In1maculada Conceição, a que desde me­
Noites inteiras passava eUe perdido elm nino tributava especial devoção e em
c;-.,:11inho3 soterrados pela neve, soffren­ cuja homenagem tinha guardado sua
do o horrível frio do inverno, sem que innocencia baptismal.
seu zelo apostolico afrouxasse. Nascido em Paris aos 25 de Maio de
Para auxiliai-o elm seus misteres apos­ 1606, de familia distinctissima, entrou
tolicos, invocava muitas vezes os Santos na Companhia de Jesus em 1624.

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26 de Setembro 259

S. NATALE CHABANEL
( 1613 - 1649)

O Padre Natale Chaban:el morreu pe­ tasse intelligencia e talento; além disso
la mão de um apostata indio Hurão, aos todo o seu interior se revoltava contra
8 de Dez,elmbro de 1649, na ooade de 36 a vida e os costumes cios selvagens, dos
annos. Dois dias antes tinha recebido quaes expedmentava uma repugnancia
ordelm de se afastar dos seus caros sel­ inv:encivel. Por muito tempo sentia-se
vagens e tinha-se posto a carrninho im­ abandonado por Deus, i1111merso no maior
rnediatalmiente. desanimo e profunda tristeza, se'm que
Ma:s D\eus não permittiu que pela lhe tivesse sido possível sa:hir deste las­
presteza de sua obecliencia fosse perder Ümlavel estado. Que não cahiu no deses­
a corôa do martyrio. pero, era devido a sua propria firmeza
Achando-se elle durwnte a viagem como a uma graça especial de Deus.
num bosque só odln o indio apostata, este Neste estado de desolação vinham-lhe
o aggr,ediu inopinadamente, matou-o e pensamentos tentadores: quanto não po­
atirou ocm.1 o cadaver a:o rio. Mais tarde deria trabalhar na França com muito
o proprio assassino confessou seu cri­ mais resultado e com alegria espiritual.
me, ou antes delle se gabava, dizendo Mas bem longe de forrnular o pedido de
haver morto tlim missionaria, cuja pre­ poder voltar para a Europa, fez o voto
gação trazia-lhe desgraça. de continuar sua vida desolada até a
Lê-se com profunda c01111�noção a his­ morte. E' para s·e admirar, pois, de que
toria cio Pe. Chabanel, pois, chamado á Deus o tivesse achado digno da corôa
Missão, na qual trabalhou seis annos, do martyrio ?
quiz Deus que este tempo todo fosse de O Pe. Natale Chaba:nel era natural de
continuada p:rovação. Por mais esforços França, da diocese de Mende, e entrou
que envidasse não conseguiu apprender na Companhia de Jesus aos 9 de Feve­
a lingua dos indios, embora não lhe fal- reiro de 1630.

SA N TO ISAAC JOGUES
(1607-1646)

Filho de familia distincta de Orléans, ceitou. Em 1643 interrompeu seu traba­


Jogues nasceu aos 10 de Janeiro de lho missionario e fez uma viagem a Eu­
1607 e entrou na Gohnpanhia de Jesus ropa. Em 1645 ven10l�o de novo entre
em 1624. Doze annos depois seus Su­ os Pelles Vermelhas e fundar a "Missão
periores mandaram-no para as Mis­ dos m!artyres". Os Iroquezes desta vez
sões do Canadá, não attendendo seu an­ parecialm ma:is pacificas. Foi preciso di­
terior pedido de poder trabalhar na rigir a Roma um requerimento para ob­
Ethiopia. Tres vezes penetrou em terri­ ter licença ele celebrar a santa Missa
torio dos Iroquezes, que corresponde ao co111 os dedos mutilados como o Pe. Ja­
Estado de Nova Ymk, e soffreu tortu­ gues os tinha. O Papa lendo a petição,
ras -innominaveis dos selvagens barba­ exclamou : "Seria injusto não pennittir
ras, quando alguns dos seus companhei­ a um martyr ele Christo beber o sangue
ros foram mortos pelos mesmos. Um de Christo", e concedeu-lhe o privilegio.
convite insistente dos hollandezes para Por diversas vezes tentou pôr-se em
se aproveitar da hospitalidade da colo­ contacto com os selvagens, mas sem o
nia Rensselaerswyck, Jagues não o ac- menor resultado. Na terceira viagelm
17•

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260 26 de Setembro

que fez áquella missão, um grupo de fe­ coragem as torturas, invocando o nOIITie
rozes Mohawks o assaltaram, e deram­ ele Jesus e belmclizenclo a Deus. Embora
lhe a morte a golpes de machado. Depois ,o Pe. Jogues não tenha colhido muitos
ele mutilado horrivelmente o caclaver, ati­ fructos do seu trabalho entre os Pelles
raram-no ás aguas cio riacho Caughna­ Vermelhas, é elle o fundador da Missão
waga. O chefe dos bandidos logo depois
e por ella derran;nou seu sangue. A' sua
foi preso pelos Algonquins, que o con­
demnaram á morte pelo fogo. Por uma intercessão são attribuidos varios mila­
graça extraordinaria, talvez fructo .da gres. A flor mai'S bella que brotou da­
intercessão do santo martyr, converteu­ quella terra embebida do sangue do
se e foi baptizado pelo Pe. Le Jeune, que martyr é o lirio da tribu dos Iroquezes,
lhe deu o nome de Isaac. Supportou com a serva de Deus Catharina Takwitha.

S. RENATO GOUPIL
( 1607 - 1642)

Renato Goupil, fiel companheiro de aldeia em aldeia, onde a população, ar­


sof frimento e ele captiveiro do Pe. Jo­ mada de cacetes e varinhas de ferro o
gues, morreu assassinado aos 29 de fazia passar por uma chuva de golpes.
Setembro de 1642. O Padre Jogues Estava o pobre Irmão desfigurado e seu
chamava-o "martyr da obediencia, da corpo parecia ttma só chaga.
fé e da cruz", Poucos dias an­ Por nmis <le ulm imez e meio depois
tes da sua ·morte tinha feito votos de deste cruel martyrio teve de soffrer os
religioso, mas havia muito que de coração mais indignos ultrajes da parte dos sel­
pertencia a Deus, e praticava as mais vagens, nudez, fome, sêde, ardor do sol,
heroicas virtudes procurando em tudo a gangrena nas feridas, a mordedura dos
cumprir a santissüna vontade de Deus. ins-ectos. Renato, em meio destas tortu­
Quando se falava em ir aos Hurões, seu ra:s não cessava de bemdizer a Deus e de
coração, prevendo os perigos, exultava anim!ar-se pelo exemplo do seu divino
de alegria no antegozo ele um cruel mar­ Mestre, até que ttm dia dois selvagens
tyrio, que poderia soffrer por Jesus lhe racharam a cabeça por ter feito o
Christo e que de facto soffreu. Apenas signal da cruz sobre a testa de uma
cahido nas mãos dos Iroquezes, os bar­ creança.
baras arrancaram-lhe as unhas, tritura­ Goupil, natural de Angers, bem joven
ra1111 em seguida com os dentes as pontas seguiu para Canadá como companheiro
cios dedos e applicaram-lhe o fogo dos apenas dos Padres. Morreu com 35
seus cachi1mbos accesos. Levaram-no de annos.

S. JOAO DE LA LANDE
João de la Lande acompanhou o Cqmlo Renato Goupil, ti-nha deixado
Padre Jogues na sua terceira expedição a sua terra para prestar aos m1ss10na­
em territorio dos Iroquezes. Surprehen­ rios, e n!a pessoa clelles a Deus, o tribu­
dido e feito prisioneiro coo.1 o Padre, to ·de seus serviços, da sua energia e do
soffreu ccim elle toda a sorte de cruel­ seu sangue.
dades e foi morto um dia depois delle por Com excepção de S. João de Brébeuf
um golpe de machado na cabeça em 19 e de S. Gabriel Lalemant, não existem
de Outubro de 1646. relíquias dos oito martyres de Canadá;

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26 de Setembro 261

e estas foram transportadas para Que­ tros se retiraram para as regíões do


bec, onde se acham expostas em ricos Lago• Superior.
relicarios á devoção dos fi,eis. Tanto mais A pedido dos christãos Hurões, os
viva ficou a rne1noria desses heroes, qu;; Padres abandonaram sua querida resi­
deralm a'O mundo christão o exemplo ef­ dencia de Santa Maria e estabeleceram­
ficaz de úm:a vida intemerata sacrifica­ se na Ilha dos Christãos. O fervor dos
da, e cuja intercessão é invocada pela christãos era ex-traordinario. Mas os in­
Christandade. Admiravel tem s-ido o vernos terriveis, fome, epidemias e no­
grande m�mero de graças espirituaes e vas perseguições <los Iroquezes obrign­
ten�poraes obtidas por meio dessa in­ ra:111-nos a abandonar tambem este ulti­
tercessão. nm reducto. Foram então cada um pa­
São em particular dignais de menção ra o seu lado, uns para Quebec, outros
curas obtidas com a applicação de reli­ para a Ilha d'Orlcans, e outros Jogares.
quias cio Pe Brébeu f. Nunca mais se reuniram, para formar
tuna nação. Hoje ainda existe uma. pa­
Para conservar e perpetuar a memo­
rochia catholica fervorosíssima dos Hu­
ria dos Santos Martyres canadenses,
rões, a parochia da Santissima Virgem
construiu-se uma bella egreja no paiz,
de Loreto.
que foi o campo dos seus trabalhos
apostolicos, em Penetanguishene ( On­ REFLEXÕES
tario), do antigo territorio dos Hurões. Não se lê a vida e o martyrio dos mis­
Tambem na collina, que foi theatro do sionarios canadenses sem commoção da
martyrio do Pe. Jogues e dos seus dois alma. Martyrios como estes só os en­
contramos eguaes nas missões da China
companheiros, que hoje leva o nome ele e do Japão. Ao ler estas paginas, espon­
";montanha clia oraçã\,", perto ela lo­ tanea nos v�m a pergunta: porque estes
calielade chamada A uriesville (Nova homens, intelligentes, preparados, abando­
York) se eleva um modesto oratorio, naram sua terra civilisada que lhes offere­
cia todo o conforto e se transportaram pa­
dedicado a Nossa Senhora dos Marty­ ra as regiões inhospitas de um paiz pouco
res, muito procurado na estação do ve­ conhecido, habitado por selvagens, baldos
rão por grandes e numerosas romarias, de toda a cultura, pagãos e de sentimentos
muitas vezes guiada:s por bispos e car­ ferozes ? A resposta tem'Os na vocação
missionaria, que desperta e cultiva no co­
deaes. ração do missionario dois sentimentos: o
O antigo odio existente entre os po­ de um amor ardentissimo a Jesus Crucifi­
cado e outro de um zelo sem limites pela
vos dos Hurões e Iroquezes fez com salvação das almas. A vida do missionaria
que estes mais fortes e mais barbaras, é a pratica exactissima do mandamento de
decidissem o exterminio dos outros. Os Nosso Senhor: Amar a Deus sobre todas
H urões, acossados e perseguidos, desa­ as cousas e ao proximo como a si mesmo.
Os nossos missionarios martyres eram pos-·
nimados e desesperados, incendiaram suidores destas virtudes em gráo heroico,
suas proprias aldeias e refugiamm-se como mostra sua conducta no meio de
na residencia elos Padres em Santa Ma­ tantas e tão atrozes torturas, cuja descri­
ria, onde foraJm baptizados 2.700 Pelles pção nos causa pavor. Christo quer de nós,
que sejamos missionarios de coração e al­
Ve1·melhas de sua tribu. Como a propria ma, para que em verdade e de convicção
Missão não lhes pudesse garantir toda possamos rezar: "venha a nós o vosso rei­
a segurança, uma parte uniu-se com os no, seja feita a vossa vontade na terra e
proprios Iroquezes, e com elles funda­ no céo ". Sejamos missionarios de oração e
de caridade. Peçamos a Deus que faça em
ram U!tn pequeno nudeo christão; os ou- nós crescer o amor a Jesus e ás almas.

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262 27 de Setembro

27 de Setembro

SANTOS COSME E DAMIÃO


(t 303)

/D S SANTOS Cosme e Damião eram indicados como inimigos acernmos das


� inmãos, descendenties de nobre e divindades pagãs.
piedosa fami-lia da Arabia. A mãe, Citados perante o tribunal de Lysias,
Theodata, deu aos filhos uma educação este os interpellou sobre sua patria e
muito boa e fez com que os bellos ta­ profissão. Deram a:s informações exigi­
lentos se lhes pudessem desenvolver sob das, declarando que eram naturaes da
a direcção de sabios mestres. Fazendo Arabia, e exerciam gratuitamente a sci­
os estudos na Syria, especialisaram-se ,encia medica. Protestaram contra a de­
em medicina. nuncia de entregarem-se ás praticas da
Pelo preparo scientifico e não nrenos feitiçaria.
pela pureza ele costltrn,es, mereceram a - Curam,os as doenças - disseram
e!>tima e a admiração de todos, até d0� ao governador - mais em nome de J e­
proprios pagãos. Aproveitando-se dest.:. sus Christo, do que pelo valor da nossa
ultima circumstancia, de preferenc'.a sc1enc1a.
procurarann exercer a profissão de me­ Lysias bmdou :
dico entre as familias pagãs, para d'es,e - E' preciso que adoreis aos deuses,
modo terem occasião de ganhai-as paira sob pena de cruel tortura !
o Catholicismo. Deus abençoou-os Lk Responderaun elles :
tal maneira, que não parecia haver doen­ - Teus deuses nenhum poder têm;
ça que lhes resisti-sse á mledicação. EL1 adoraimos ao Creaclor do céo e da terra.
visivel esta protecção sobrenatural. Para fazei-os mudar de conv,cçao,
A admiração e o pa9mo dos pag,ks Lysias m,andou applicar-lhes tormentos
crescia ainda mais, vendo que os me­ barbaras. Vendo, porém, que eram inu­
dicos christãos não acceitavam a míni­ teis esses processos, deu ordem para que
ma gratificação. Eram outras riquezas fossem decapitados. Cosme e Damião
que os attrahi-aan. Era a conversão das morreram martyres em 303. Os corpos
almas, que viviaim nas trevas do paga­ foram transportados para Cyra, na Sy­
nismo, o objecto principal de toda sua ria, e depositados numa egreja que lhes
actividade. Realmente conseguiram dei­ recebeu o nome. O mesmo Imperador,
tar a semente da doutrina christã e111 vendo-se favorecido em grave doença,
1nuitos corações, e numerosas foram as oonstruiu em Constantinopla uma egre­
conversões de pagãos ao Christianisrn' · ja em honra d'estes padroeiros. Parte
Assim viveram alguns annos, come, das reliquia:s chegaram no seculo VI a
1nedicos missionarios em Egra, na Ci'i­ Roma e a Munich (Baviera), onde re­
cia. Essa actividade havia de chamar a pousam no altar mór da egreja de. São
aUenção das autoridades, como de fa • Miguel. Deus glorificou com muitos
cto chaimou. Tendo recebido ordens ter­ milagres o nome dos seus d?is servos.
minantes do governo iJmperial de Dio­ REFLEXÕES
cleciano com referencia á religião chris­ A riqueza em si não constitue impedi­
tã e seus adeptos, uma das primeiras mento nenhum para a santidade, como mos­
medidas coercitivas do governador Ly­ tra a vida dos Santos Cosme e Damião. A
riqueza bem empregada, para mitigar o sof­
sias, quando appareceu em Egra, foi a frimento do pobre, para suavisar a triste
prisão dos dois medicos, que lhe foram sorte do necessitado, attrahe a benção de

SS. Cosme e Damião - Bolland. VII.

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28 de Setembro 263

Deus. O máo rico, que fecha o co:·ação e Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
a bolsa aos pobres, ás pobres viuvas e or­ 1noria é celebrada hoje:
phãos e abusa da riqueza para mais livre
e desembaraçadamente se entregar aos ca­ Em Roma o martyrio de Santa Eplchrarl­
prichos, vicias e peccados, corre grande pe­ des, esposa d'um senador, morta na perse­
rigo de se perder eternamente. O exemplo guição de Diocleciano.
dos Santos Cosme e Damião confundirá os Em Cordoba os santos irmãos Adolfo e
ricos no dia do· juizo final. Si bem que tar­ João, que morreram martyres na persegui­
de, comprehenderão que é um grande en­ c;ão dos Arabes.
gano pensar, como pensaram, que a pieda-
de, a pratica da virtude é só para o pobre, Em Byblus, na Phenicia, o bispo Marco,
para o homem do povo, para o sacerdote, que no Evangelho de S. Lucas é chamado
a freira e o eremita. João.
l+·H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖�❖❖❖•H+H•❖❖❖❖❖❖**+�❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖•H-❖❖❖❖•�❖❖❖❖

28 de Setembro

São Wencesláo, Rei e Martyr


(t 936)

E, ÃO WENCESLAO, Rei e Mar­ selhai<lo pela avó, ia restaurar o Chris­


� tyr, duque ela Boheirnia, teve por tianismo no reino tJodo, jurou tirar des­
pae Wratisláo, homem de grandes vir­ forra. Assalariou uns assassinos, que
tudes e por mãe Drahomira, inimiga fi­ estrangularam Luclimilla com o proprio
gadal elo Chfi.stiani-smo e ele pessimo véo, quando estava na egreja rezando.
proceder. Na hora em que sentia a mor­ Não satisfe· ita com isso, a megera ainda
te approximar-sie, Wratisláo confiou jurou livrar-se talmbem ele Wcncesláo.
\Venctesláo aos cuidados ele sua santa avó O duque reinou com tantia justiça e
Ludi1rfüla 1e Bolesláo, o filho mais novo, ao mesmo tempo com tanta brandura,
ficou entregue á mãe, Drohomira. Sen­ que em pooco tempo se tornou o idolo
do tão cleseguaes as duas mlulheres em elo povo. Nia viela particular era irrepre­
caracter e costu\mes, natural era que tam­ hens,iy,el. O mundo chri<stão conhece pou­
bem os meninos se <liffepençassem con­ cos exieirn\plos da virtude da caridade co­
siclera,nelmiente. Wencesláo era piedoso mo S. W•encesláo os deu. Era amigo e
e n�anso; Bolesláo, pelo contrario, vio­ protiector dos pobries, doentes e encar­
lento e impio. Drnhomira apoderou-se cerados; para as viuV'as e orphãos unn
do governo e encetou cruel persegui­ vlercladeiro pae. Nas horias silencio­
ção aos christãos. Decretou a expulsão sas ela noite visitava ós presos, con­
dos sacerdotes, depôz as autoridades solaV1a-os e clava-lhes esmlOlas. A o s
christãs, substituindo-as por outras pa­ doentes clava tudo que pe,diaim. Sabe-se
gãs, ele que os christãos nwcla poclia1111 es­ quei elle 1mesi111!0 em pessoa se encarre­
perar senfo chicanas e injustiças. gava de J.ey,ar lenha ás casas de familias
Um governo deste jaez não podia go­ pobres. Era casto e pum e conservou a
zar de popularidade e portanto ser ele pureza elo coração até á morte.
longa duração. Os representantes elas A's praticas de piedade consagrava
pr-ovincias fizeram pacto conunum, de­ muitas horas. Alta noite, mesmo na es­
clararam deposta a Rainha e elevaram tação do inverno, ia descalço visitar as
ao throno Wencesláo, a quem prestaram egrejas. Aos sacerdotes tratava com
hom/enagens. Drahamira escumava de muito respeito e não tolerava que fos­
raiva e, quando viu que Wencesláo, acon- sem desacatados por palavra ou obra.

S Wencesláo - Chrlstlano de Scala sobrinho e blographo do Santo. - Eneas Sylvlus:


Hist. Boh.,m. c. 2. Boll. VII.

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264 28 de Setembro

Muitas vezes faltando o acolytho, elle tomar parte na . Diéta convocada pelo
mesmo ajudava á mi,ssa. Grande era a imperador Othão I. Este o recebeu com
devoção que tinha a,o sa:nto sacrifício da honras extraorclinarias, conferiu-lhe o
Missa, á qual assistia clia:ria:mente. Elle titulo de Rei e deu-lhe de presente u1n
mesmo seimeava o trigo, moia a farinha braço cio martyr S. Vito. � volta á sua
.e fazia as hostias. O vinho de Missa era verra, W-encesláo continuou no modo de
feito sob sua vigilancia e fiscalização. vida pdmitivo ..
Numa palavra: V..1 encesláo, como Prín­ Quanto m'ais o povo o amava, honra­
cipe, governava com prudencia e justiça va e fostejava, não só pela grande san­
e ornou o throno pela santidade de sua tidade, mas ainda pela nova dignidade
vida. de Rei que lhe tinha sido conferida, tan­
O duque Radisláo, não querendo con­ to mais crescia o odio nos corações de
cordar com o governo ele Wencesláo, or­ Draholmira e Bolesláo. Isto não podia
ganizou contra elle uma revolução � pé!!ssar desapercebido a Wencesláo, que
pôz-se á frente d'um exercito. Wences­ tomou a resolução de abdicar. Drahomj­
láo ntandou-lhe embaixadores, propon­ ra, porém, não quiz esperar pelo mo­
do-lhe condições vantajosas, com o fim niento da abdicação expontanea.
de evitar um confücto. Radisláo recu­ A esposa de Bolesláo cléra á luz um
sou receber os embaixadores e aooimou filho. Ao bapüsmo foi convidado tam­
de fraqueza e cobardia a offerta de bem ,vene!esláo. Tinha· este bastantes
Wencesláo. Dest'arte se tornava inevi­ motivos que o fizessem desconfiar da
tavel· a lucta e \Vencesláo m,obilisou as existencia de pla:nos secretos. Ainda as­
tropas. Estavam os dois exercitas frente sim e pa:ra nã:o parecer que tinha des­
a frente, esperando o signal cio ataque, confiança do irmão, acceitou o convite,
quando Wencesláo, movido de compai mas an1:1es de se dirigir ao castello de
xão por tantos subditos, que innocente- Boiesláo, recebeu os santos Sacraimen­
1nente haviam de derralmar o sangue no tas da Penitencia ,e Eucharistia. A re­
calmpo de batalha, propoz a Radisláo o cepção cordialisstma e o tratamento at­
dudlo, que este acceitou. A victoria se­ vencioso que teve, não deixaram sus­
ria daquelles cujo chefe sahisse victo­ peitar quaJ.quer falsidade da parte dos
rioso do duello. pa:renves.
A' hora marcada compareceram os Como o banquete se pmlongasse de­
dois a,dversarios, montados em soberbos nmsiadarnienve, W-encesláo, sem que ti­
ginetes, vestidos de luz1entes armaduras; vesse dado na vista, retirou-se da meza
Radi-sláo armado de lança e escudo, e pr,ocurou a capella. Mas, à mãe, Dra­
Wendesláo apenas de escudo e espada. hdmira, percebendo-lhe a retirada, cha­
Ma:! o clairitm tinha dado o signal de ata­ mou de lado a Bo!iesláo e se, gredou-lhe
ca:r, Radiisláo, de lança em riste investiu ao ouvido o plano satanioo, que consis­
cctm grande impeto contra o adversaria, tia em nada menos senão fazer desap­
pr,ocumndo derrubai-o na areia. W e'1 · parecer o santo Rei, visto ser propicia a
desláo, antes de se arrernlessar contra o occasião. Não era:m precisos muitos ar­
inimigo, f.ez o isignal da cruz e ei'S que g11mentos para conseguir isso do irmão
se deu um facto a<lnüra'V'el. No momen­ desnaturado. Acompanhado de uns ban­
to em que a lança de Ra:disláo ia ferir didos dignos delle, dirigiu-se á capella,
W'encesláo, apparecera!m ao lado destes onde Wencesláo se achava em oração.
dois Anjos e ouviu-se o bra:do imperio­
1
Se!m diz,er pailavra, pr,ecipitou-se sobre
so :. "Pára !" Como tocado pelo raio, o ir1111ão e cravou-lhe uma espa,da no
Radi,sláo ca!hiu do cavallo e, mudado in­ peito. A vingança de Deus não tarrdou.
teriortnente, dirigiu-se a Wencesláo e, Drahomira teve uma morte tragica, pou­
prostrado deante de seu Senhor, pediu cos dias depois. Bolesláo teve de respon­
perdão, promletfundo obediencia e sub­ der ao tribunal do Imperador Othão I
missão. Wencesláo foi a Wonns, para e acceitar a sentiença da justiça.

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29 de Setembro 265

O assassinato de Wencesláo teve lo­ mandado para ensinar-nos a vontade divi­


na. O sacerdote é o administrador dos Sa­
gar no dia 28 de Setembro de 936. cramentos. Nenhum Sacramento podemos
receber a não ser pelas mãos do sacerdote.
REFLEXõES Quem desrespeita o representante de un�a
De S. Wencesláo o christão póde appren­ nação, offende tanto a este, como _a·o p_a1_z
der o respeito á santa Missa. Embora oc­ de que é enviado. Assim o desrespeito dm­
cupadissimo com os negocios do governo gido ao sacerdote fere directamente a Deus
do paiz, S. Wencesláo achava sempre tem­ e provoca-lhe a vingança. Si aquelles que
po para assistir ao santo sacrifício e com maldizem ao sacerdote quizessem dar-se á
tanta devoção fazia as orações, que edifi­ pena de examinar o estado da propria al­
cava a todos. Muitos christãos tambem te­ ma muito melhor certamente achariam ca­
riam facilidade de ouvir Missa em dias de lar�se e não mais diffamar e calumniar os
semana, si quizessem fazer um pequeno ungidos do Senhor. Quem desrespeita o sa­
sacrifício. E' mais facil sacrificarem horas cerdote, attráe sobre si a ira e a maldição
e dinheiro para ir ao cinema, do que se re­ de Deus.
solverem a levantar um pouco mais cedo
para poder assistir á santa Missa. Oxalá Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
todos se convencessem de que nada se per­ moria é celebrada hoje:
de com o que se dá a Deus; oxalá quizes­ Na Tunlsia os santos martyres Marçal,
sem comprehender que o tempo de meia Lourenço e mais vinte companheiros.
hora que se offerece a Deus, traz grandes
bençãos para os trabalhos e soffrimentos. Em Belém, na tribu de Judâ, a santa vir­
Outra cousa que o exemplo de S. Wen­ gem Eustochlum, natural de Roma, filha de
cesláo ensina, é o respeito aos sacerdotes. santa Paula e disclpula de S. Jeronymo.
O sacerdote não é um homem qualquer. E' Na Allemanha a santa virgem Lioba, ab­
o representante de Deus, seu mensageiro, badessa e parenta de S. Bonlfacio.

29 de Setembro

SÃO MIGUEL, ARCHANJO


� AO MIGUEL ARCHANJO, cujo fendeu victoriosamente os direitos c!e
� nom� significa "quem é egual a Detlls contra as arrogancias de Lucifer e
Deus ?", segundo a Sagrada Escriptu­ dos seus companheiros, precipitando-o3
ra ·e a tradição da Egreja, é um dos no abyS'll,o. "Quem é egual a Deus ?''
sete espíritos assistentes ao throno do era o 1emma de S. Miguel e dos Anjos
AltissÍlmo, portanto um dos grandes bons, na lucta contra os Anjos rebeldes.
príncipes do céo e 1mini•stros de Deus, a Estes fora)m derrotados "e seu lagar
quem o Creador conferiu poderes extra­ não era mais no céo". Em muitos outro!>
ordinairios pa-ra a sailvação dos eleitos. lagares a Bíblia faz menção do Anjo
O propheta Daniel chail11a-o "um dos do Senhor, que, segundo a cxr 1 :,;as;ã0
illustres príncipes", "o príncipe prote • dos exiegetas, não é outro s·enão S. 11i­
ctor dos Judeus", daquella nação entre guel. E' opinião de muitos que a S. ívli­
todas a escolhida, de todas a mais que­ guel é reservado um papel saliente no
rida, depositaria dais grandes prophe­ uhiimo combate, pois é o protector das al­
cias e revelações. Herdeira que é do pa­ mas justas e o defensor dos corpos des­
vio de Israel, a Egreja venera em S. Mi­ tinados á ererna gloria. Motiva esta sup­
guel taimbem um grande protector, e de­ posição ulm facto, cuja descripção se en­
S'eja que os fieis a acompa:nhem ne.ss.i contra numa epistola de S. Judas Thad­
veneração e depositem no grande espí­ deu. Moysés ,morrera e o demonio, pre­
rito angelico toda a confiança. Inimigo textando o facto de Moysés ter matado
do orgulho e da mentira, S. Miguel de- um egypcio, disputou o cadaver do Pro-

S. Miguel - Vogel: Leben der Heillgen Gottes II.

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S. Miguel, Archanjo

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29 de Setembro 267

pheta. S. Miguel, porém, oppôz-se-lhe e 493 o dia de S. Miguel, que, segundo


afugentou o demonio com as palavras: urna piedosa lenda, teria apparecido
"O Senhor será teu juiz". A fé catho­ no 111,onte Gargano. No tempo dos
lica conolue <l'ahi que S. Miguel dispen­ Apostolas existia t�m santuario ele São
sa Ulrna protecção especial aos moribun­ Migud na Phrygia. Uma fonte 1111ilagro­
dos e isto muito de accordo com os di­ sa dava saucle aos peregrinos en fennos.
zeres do Officio da festa do Archanjo: Descl!e o seculo X a diocese de Acrenche,
"Eu re constitui como protector das al­ na Norm:anclia, co111rnemora solemne-
mas prestes a serem recebidas no céo". 111:ente uma apparição de S. Miguel em
Nas orações da santa Missa a Egreja Monte Tumba ( Mont St. Michel).
deposita, por assim dizer, as almas dos O Papa Leão XIII ordenou a reci­
justas nas mãos do Archanjo, para que tação de urna oração a S. Miguel de­
ais leve ao reino da luz perpetua. E' pois das Missas rezadas. A Egreja ca­
quem as acompanha até o céo, tomando­ tholica romana celebra duas festas de
lhes a guarda do tumulo. O Padre apas­ S. Miguel: uma em 29 de Setembro,
tolico Bermas affirma que S. Miguel que antigamente levava o nome de de­
visita os agonizantes que em vida foram dicação da Egreja (isto é, da Egreja ce­
hei,s observa(lores da J,ei do Senhor e leste e terrestre) e outra em 8 de Maio,
determina-lhes o Jogar no céo. Segundo a Appa�i,ção do Archanjo S. Miguel.
piedosa tradição foi o Archanjo S. Mi­ REFLEXÕES
gud que J,evou a alma de Maria Santis­ Bravura e fidelidade são as brilhantes
sima ao céo, e era ainda quem no Anti­ qualidades que distinguem o glorioso Prín­
go Testannento conduzia ao limbo as al­ cipe celeste, S. Miguel: bravura na clefeza
mas dos Justos. Pedro Lombarda enu­ dos direitos de Deus contra os ataques fu­
riosos dos seus inimigos; fidelidade no ser­
mera quatro attribuições de que S. Mi­ viço permanente e dedicado ao seu divino
guel é possuidor. Primeiro, combateu o Creador e Senhor. Bravura e fidelidade de­
dragão infernal; segundo, este combate vem egualmente distinguir o catholico dos
nossos tempos. O mundo moderno, mate­
continúa, na defeza das almas contra as rialista e materialisado dá muito valor á
influencias diabolicas; terceiro, S. Mi­ cultura physica e todo o seu apoio presta
guiei é o grande protector da familia de ás diversas activações do "sport ". Hoje é
Deus sobre a terra; quart!o, é o principe festejado o militar, que se evidenciou no
campo da batalha, o aviador que bateu o
das ailm:as no paraisa. record em velocidade, o "boxeur", que com
Assim se explica a grande veneração uns golpes formidaveis desarticula os ma­
de que S. Miguel goza na Egreja catÍ10- xilares do seu adversario, e com uns tre­
lica. Na Ladainha de todos os Santos mendos murros lhe dá o "knok-out", o
"footballer ", que nos encontros sensacio­
figura-lhe o nome em primeiro logar, nàes, com elegancia e destreza sabe man­
entre os santos Anjos e Archanjos. No ter seu renome de primeiro "goolkeeper"
Confiteor lhe é citado o nome logo de­ da cidade, da nação, do mundo. Hoje são
pois cio de Nossa Senhora. Muitos alta­ admirados, homenageados e deliranteme1úe
acclamados os "stars" do cinema, os "as­
res, m:uitas capellas e egrejas lhe são tros" do palco, os vencedores nas corridas.
dedicados, entre estas, algumas que têm Tudo em honra, tudo na apreciação que
sido testemunhas de grandes prodigios merece. Mas si o heroico militar não tem
e apparições do grande Principe celes­ uma palavra de protesto e de defeza de
sua religião quando a vê atacada na roda
tial.. de com\panheiros; s� o festejado boxeur, o
Em Roma existe o castello de Santo endeusado rei dos ares, o acclamado "gool­
Angelo, com a egreja de S. Miguel, que keeper", etc., cobardemente se calarem
elevem a construcção á apparição do Ar­ quando no café, no club, na roda de ami­
gos vozes atrevidas offendem a religião e
chanjo a:o Papa-. Gregorio Magno, por a Egreja de Christo, esse silencio prova
occasião de t�ma grande peste. O Papa que preferem como Pedro negar tres vezes
viu S. Miguel embainhar a espada, em Nosso Senhor, a confessai-o solemnemente
com S. Miguel. �i bravura outra significa­
signal da extincção da horrivel epide­ ção não tem senão coragem, arrojo, des­
mia. Os napolitanos festejavam já em treza, força bruta, candidatos á corôa são

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268 30 de Setembro

então o cão, a aguia, a corça, o elephante, ficios diabolicos para arrancar a idéa de
porque em muitas qualidades physicas os Deus dos corações dos homens. Não são
animaes levam vantagem ao homem. Quem uma revolução sorrateira contra Deus as
mostra cobardia, quando abertamente se perseguições brutaes e sanguinolentas no
devia collocar ao lado de Deus, já tem um Mexico ? Os horrores de que é theatro a
pé fóra da Egreja, que lhe deu o baptismo, Russia, não têm por m,otivo o odio fanatico
embora no meio dos devotos, isto é, na a Deus ? O numero cada vez mais crescen­
Egreja, na mesa da Communhão dê de­ te dos neo-pagãos, o incremento verdadei­
monstrações de sua fé. Bravura, força ramente assustador que o espiritismo está
bruta, destreza, arrojo podem ser qualida­ tomando nas proprias familias, o afasta­
des apreciaveis, mas não são elementos mento das praticas de religião de muitos
compositores do caracter. Alliados á intre­ catholicos, o relaxamento da moral na im­
pidez espiritual, dão valor ao homem e prensa, no cinema, no theatro, a propagan­
contribuem para sua felicidade. Christo da franca de idéas bolchevistas não é tudo
quer que o catholico seja militante. A voz isto uma nova investida furiosa e decidida
da Egreja chama-o á cooperação directa na do inferno contra o throno de Deus ?
Acção Catholica. O catholico está collocado no meio deste
Deus não carece da creatura para sua movimento, vive no meio de um mundo
defeza. Com um acto de vontade podia es­ anti-christão que cubiça sua solidariedade.
magar os seus 1111m1gos. Mas como na Dia por dia se vê diante da decisão: Ou
grande revolução que houve no mundo in­ Christo ou Satanaz. Fidelidade a Christo
visivel, entre os anjos, não entrou na liça ou abandonai-o. A lucta é terrivel. Na in­
pessoalm1ente, mas confiou na acção dos decisão, na tentação é o exemplo de S. Mi­
anjos bons, assim agora sabe Elle muito guel que o deve orientar.
bem porque nos entrega á lucta e permitte
que de todos os lados sofframos doestos, Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
descomposturas e injurias por causa da re­ moria é celebrada hoje:
ligião. A lucta que S. Miguel teve de susten­ Na Persia o martyrio de Santa Gudelia,
tar, em tudo se eguala á nossa. Seus adver­ que converteu muitos pagãos ao chrlstla­
sarios eram os anjos revoltosos, que não nismo. Negando-se a prestar culto divino ao
mais queriam prestar homenagem a Deus. sol, por ordem do Imperador Xapur foi-lhe
Hoje são homens que desenrolam a ban­ esfolada a cabeça e depois morta na cruz.
deira da guerra contra Deus. sec. 4.
Esta nova revolução trabalha aberta e Na Persia os santos martyres Dadas, Cas­
disfarçadamente, atraz de mascara, com doa, sua mulher e Gabdelas, seu filho, de­
mentiras, seducções, calumnias e mil arti- golados no 4. sec.

30 de Setembro

SÃO JERONYMO
(t 420)

& ÃO JERONYMO, celebre na Coshimava v1s1-tar todos os domingos


� Egreja pela virtude, rigor e scien­ os tuJmulos dos Santos e Martyres.
c1a, nasceu no anno ele 331 em Strido­ A sciencia pode mui facilmente
nio, perto de Aquileja e recebeu uma ser um perigo para a hulmanidade. Esta
solida educação, segundo os principias verdade experimentou-a J eronymo, o
da religião de Christo. O pae Eusebio qual, vendo-se tão avantajado entre os
era rico e piedoso. J eronymo desde pe­ condiscipulos, se encheu de orgulho e
queno revelou um talento privilegiado e vaidade.
muita propensão para a vida ascetica. Por uima graça especial divina não
Moço ainda, foi para Roma, com o in­ enveredou pelo caminho do peccado. A
tuito de continuar os estudos e rapidos conversão de J eronymo começou com a
progressos fez, sob a direcção do mes­ camprehensão das cousas divinas e com
tre Donato, que era pagão. o santo baptiSllilo, para o qual se pre-

8. Jeron11mo - Vogel: Leben der Heil!gen Gottes II.

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30 ele Setembro 269

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S. Jeronymo
Seguindo o impulso do seu coração, morto o Papa
Damaso, voltou para Belém onde se dedicou á. sua
grande obra: a traducção para o latim dos livros
do Antigo Testamento.

parou com todo esmero. Fez o firme cias profanas, dedicando-se mais á vida
proposito ele fugir ele tudo que pudesse religiosa; nesta occasião fez o voto de
roubar-lhe a graça baptismal. castidade perpetua. Em 370 entrou para
No desejo de aJmpliar e aprofundar o t!m convento em Aquileja, onde escre­
saber, visitou todas as escolas maiores veu alguln�as obras. Em Roma conheceu
de França e chegou a Tréves, onde o celebre Evagrio.
existia t11111a das escolas mais celebres. Para satisfazer um desejo intimo de
fundação elo Imperador Graciano. Foi viver na solidão, resolveu fazer uma
ahi que Jcronymo abandonou as scien- viagem ao Oriente, onde, em companhia

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270 30 de Setembro

de Evagrio e de mais alguns amigos, vi­ sem atacados e destruidos por bandos de
sitou diversos eremitas. Pelagianos. Não obstante, Jeronymo
De Antiochia dirigiu-se ao deserto de deixou-se ficar em Belém, onde conti­
Chaltis. Nu!m tratado que escreveu so­ nuou os estudos e trabalhos biblicos, que
bre a virgindade, fala das horriveis ten­ lhe im!mortalizaram o nome na Egreja
tações que o inconllmodavam, provoca­ Catholica. Rodeiado de inimigos e por
das todas pela lembrança de festas e di­ elles continuaunente perseguido, gozava
vertimentos a que assistira em Roma. da esüma dos bons christãos, que nelle
Para debellal-as praticou severas peni­ tinham um verdadeiro pae e defensor.
tencias e cülmeçou o estudo da lingua Jemnymo morreu no dia 30 de Se­
hebraica, que lhe offerecia grandes dif­ tembro de 420 em edade muito avança­
ficuldades. Além do hebraico, cultivava da. As reliquias foram mais tarde tras­
o grego e o chaldaico. ladadas para Roma. Sant'Agostinho,
Muitos aborreciall/Cntos teve por cau­ discipulo e amigo intimo de São Jero­
sa de alguns herejes e apostatas que o nymo, compara o mestre 00111 São Pau­
perseguiam, a ponto de Jeronymo vêr­ lo egualando-lhe o zelo apostolico e
se obrigado a deixar a solidão e voltar a1111or a Jesus Christo aos do grande
para a Antiochia, onde, das mãos do Pa­ Apostolo.
rtriarcha Paulino, recebeu a ordenação
sacerdotal. REFLEXÕES
A lembrança dos divertimentos profanos
De Antiochia fez uma romaria aos de Roma perseguia S. J eronymo e causava­
Santos Logares e escolheu Belém para lhe muitas tentações. O nosso tempo é ri­
residencia. Durante o tempo que lá mo­ quíssimo em divertimentos, que nem sem­
rou, se dedicou ao estudo biblico. pre, ou melhor, quasi nunca correspondem
ás exigencias da moral christfü Só Deus e
No anno ele 381, a convite do Patriar­ o demonio sabem a quantos peccados dão
cha Paulino, fez com este uma viagem océ:asião e são destes causadores. No ba­
a Rdtna, onde ficou até a 'lnorte do Pa­ ptismo o christão promette a Deus renun­
pa Daimaso, que o escolhera para secre­ ciar a Satanaz, a suas pompas e obras. En­
tre as pompas e obras de Satanaz, figuram
tario particular. os divertimentos, como sejam: cinemas,
O modo energico com que verberava theatros e bailes. Quem os procura, esque­
a vida dissoluta de muitos cidadãos ro­ cido dessa promessa, não renuncia, mas an­
manos, creou-lhe 1111!Jmgos, principal­ tes deseja as obras de Satanaz. Que res­
ponsabilidade dos paes que levam os filhos
mente entre o clero. Voltou outra vez a taes divertimentos, expondo a grande pe­
para Belém, onde continuou os traba­ rigo a innocencia e a salvação dos mesmos.
lhos scientificos. Em diversas occasiões Quintiliano escreve que no tempo do Im­
perio Romano a assistencia aos espectacu ­
teve de terçar armas contra os Pelagia­ los publicas não era licita a menores. Si pa­
nos, Luciferianos, Originistas e outros gãos tinham tanto cuidado com a infancia
hereges. e mocidade, o que paes christãos não de­
vem fazer para afastar das almas dos fi­
Em 410 vieram ao Oriente diversas lhos o veneno da corrupção ? Dia virá em
familias romanas, em procura de um que perante o tribunal de Deus os pagãos
asylo, visto que Roma tinha sido toma­ se levantarão contra os christãos, accusan­
da por Alarico. J eronymo commoveu-se do-os impiedosamente dos crimes que
commetteram.
muito com a triste sorte cios pobres fo­
ragidos e tudo fez para suavisar-lhes os Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
soffrimentos e melhorar-lhes a penosa moria é celebrada hoje:
situação. Em Roma o martyrio de S. Leopardo, do­
Foi nesse mesmo tempo que Jerony- mestico de Juliano Apostata.
1110 fez a celebre traducção dos livros Em Solothurn, na Suissa, os santos mar­
tyres Victor e Urso, ambos da Legião the­
do Antigo Testamento, do grego para o baica.
latim. Aconteceu que sua residencia e al­ Em Placencia, Santo Antonino, martyr da
guns conventos que administrava, Jos- mesma Legião.

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1 de Outubro

S. REMIGIO, BISPO
(t 533)

Jm' STE grande Apostolo e los Francos, O joven Bispo revelou logo espirito
Jm desccnclente de familia nobre e 1 r::­ eminentemente apostolico, pelo interesse
ligiosa, nasceu no castello de L11 ,;1, en1 que desenvolveu na prégação cio Evan­
439. Intelligente, talentoso e applica<lo, gdho, na propaganda da fé, no zelo de
fez Rernigio grarndes progressos nos es­ converter os pecca:dores e reconduzir os
tudos, principalmente na art1 e rhetorica, herejes á Egreja que a abandonaram.
de maneira que era considerado o maior Na vida particular era exemplarissi­
orador do seu tempo. Não menos se mo. Pelo a.mor á oração, o estudo con­
distinguiu pela pureza de costumes, po-r tinuo dos Santos Livros, a devoção com
um grande a!mor a Deus e dedicação á que celebrava a santa Missa, a cloquen­
oração. Para com mais socego poder cia com que expunha ao povo a doutri­
dedicar-se ás praticas ele piedade e de na da santa religião, foi considerado um
penitencia, abandonou a casa do pae, á dos luzeiros miais brilhantes da Egreja
procura d'uim Jogar solitario. do Occidente. Numerosos milagres que
Não podia ficar desapercebida a san­ Deus se dignou de fazer por intennedio
tidade de sua vida e assim aconteceu do seu servo, aug1nentaram ainda mais
que, estando vaga a séde episcopal de a fama de santidade do mesmo.
Rheims, os Bispos da Provincia o con­ O governo de Rcmigio coincide com
vidassem para acceitar a dignidade epis­ a victoria dos Francos sobre os povos
copal, ern;bora contasse apenas 22 annos da Gallia. O primeiro rei dos Francos,
de idade. Bem contra a vontade, foi elei­ Clovis, gerahnente considerado como
to para tão elevado cargo. fundador da nova dynastia dos Mero-

S. Remigio - Fortunatus e Hincmar. S. Gregor de Tours. F'.eury 1. 2:J. -- Ccii!icr lG.


Bolland. I. Outubro.
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274 1 ele Outubro
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vingios, embora pagão, era respeitador o que queimavas e queima o que adora-
da religião christã, dos bispos e sacer­ vas. "
dotes, e grande admirador de Remigio. A conversão do rei deu novo impulso
Não se engana1111 os historiadores at­ ao incn.itT\fntio da religião, e Remigio
tribuinclo tudo isto á influencia benefica pôde com !·mais facilidade se dedicar á
de Clotilde, esposa de Clovis, princeza obra da propaganda. Por toda parte sur­
catholica e muiro fervorosa. O desejo giram conventos e escolas. Novos Bis­
ardente de Clotilde era conseguir a con­ pa!dos foram creadas e o Christianismo
versão do marido ao Catholicism'o. Não fez a entrada gloriosa na França. Bis­
era faci-1 tarefa. O primeiro filho mor­ pos arianos, reunidos num Concilio, em
reu logo depois cio haptismo, facto por Lyon, testemunhara1111 a operosidade
Clovis aittribuido á influencia 11111:ligna 1111aravilhosa de Remigio, e alguns se
da religião catholica. Em, sua grande converteralm á Egreja ROlnpna. Rerni­
tristeza, que chegava quasi ao desespe­ gio nJiorreu em 533, com a idade de 94
ro, accusou a santa mulher, clizenclo-lhe: annos. No anno de 853 foi encontra­
"Si tivesse pedido as bençãos dos meus do o corpo do Santo, sem o menor ves­
deuses, em vez ele ter levado meu filho tígio ele corrupção. O Papa Leão IX
á pia baptisimal, não teria morrido". O detePminou a trasladação elas reliquias
segundo filho adoeceu gravemente de­ para a abbaclia benedictina em Rheims,
pois do baptismo, e clifficil tornou-se a no dia 1 de Outübro ele 1049.
situação de Clotilde ante a colera .do Un-ra regra aclmiravel, encerrada em
Rei, qu'e não fazia segredo cio adio á re­ tres pafavras, é attribuida a S. Remigio,
ligião de Christo, que lhe ia arrebatar lelmma cuja observação relevantes ser­
taimbem o segundo filho. Deus, porém, viços lhe prestou no caJ111inho ela santi­
ouviu as orações de Clotilde e o filhinho dade: Abstúte, mort_ifica teus sentidos;
restabeleceu-se. sustine, aguenta; aggredere, cr}meça co­
A conversão de Clovis ao catholicis­ rajosamente. Na observancia destas tres
mo é devida a ü!Tia circumstancia parti­ palavras está ele facto o segredo ela per­
cular e interessante. Envolvido em uma feição.
guerra contra os Suabios e Allemanos,
acceitou Clovis batalha com elles, em REFLEXÕES
Tolpiac. Todas as vantagens eram dos Tres regras preciosas que S. Rem.igio
ini1migos, e a causa dos Francos c01n-�çou estabeleceu e observou fielmente, são de
a tornar-se desesperadora. Lembrou-se grande utilidade para todos aquelles que
querem viver santamente: 1. Evitar todo
então Clovis do que lhe havia dito Clo­ o peccado voluntario. 2. Por amor de Deus
ti:lcle: "Si queres obter a victoria sobre privar-se de vez em quando de prazeres e
teus inimigos, invoca o Deus dos chris­ divertimentos lícitos. Isto agrada muito a
tãos". Aissim fez e, atormentado pela Deus e é de grande utilidade. 3. Soffrer
com paciencia as provações e amarguras da
expectativa da derrota certa, levantou vida. Conformar-se com a vontade de Deus
os olhos ao céo e disse : "Oh Christo, em todas as adversidades. Tamhem isto é
Filho de Deus. vivo, valei-me ! Meus necessario para a salvação eterna. Não é
deuses abandonara)1ri..:me. A vós me diri­ o soffrimento como tal que nos conduz ao
céo, mas só aquelle que é supportado com
jo com: fé e prmnetto acceitar o baptis­ paciencia christã.
mo, si cons-eguir vencer meus inimigos."
Clovis obteve rima brilhante victoria. Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
Em cu�nprimento elo voto, instruiu-se moria é celebracln hoje:
nas verdades da sa:nta religião e esse Em Lisboa os santos martyres Veríssimo
exemplo foi imitado pelos grandes cio e suas irmãs Maxima e Julia na perseguição
de Diocleciano.·
reino. Por occa:sião do solemne baptis­ Em Roma o martyrio de Aretas e seus
mo, disse Remigio a,o rei: "Abaixa, Si­ companheiros, em numero de quinhentos e
galmbro, tua cabeça orgulhosa ! Adora quatro. 852.

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2 de Outubro 275

2 de Outubro

S. Leodegarío (Ludgero)
(t 678)

a, LEODEGARIO, Santo que gosa Bara afastai-o da pessoa do rei e que­


�Q de grande veneração na França bar-lhe a influ1encia na côrte, os desaf­
catholica, na:sceu em 616, sendo educado fectos 'l"ecorreraim á intriga. Avisaram­
pelo tio, Bispo de Poitiers, que, vendo n'o d'un1: plano do Rei, s·egundo o qual
os rnpidos progressos que o joven fazia este pretendia assassinal-o no dia da
no estudo das sóencias e descobrindo­ Pascoa, após a santa Missa. Leodega:rio,
lhe uma alta comprehensão das cousas não obstante, celebrou o santo sacrificio
divinas, conferiu-lhe as santas ordens com toda a calma, sem a m1enor pertur­
do sacerdocio e nomeou-o abbade de bação. Nada aconteceu. Os inimigos,
São Magencio. A rainha Santa Bathildes porém, nã:o se deram por vencidos. Al­
confiou-lhe a direcção do filho Clota<rio cançaram do Rei um decreto que obri­
III. e pouco tempo depois foi eleito Bis­ gou a Leodegario a tornar residencia em
po de Autun. Suxeuil, onde vivia o famoso Ebronio,
A eloquencia, o saber e principalmen­ que a vontade do Rei conclemnárã á vida
te o brilho das virtudes 111erecerarm-lhe nionaistica. Ebronio, diplomata habil,
a confiança e o amor dos diocesanos. mas falso e hypocrita, offereceu ao Bis­
Poucos annos eram precisos para nor­ po os prestim os, fingindo-se leal e dedi­
1

malizar e endireitar os negocios, um cado a:migo.


tani'o confusos, ela diocese e, graças á Childerico morreu assassinado e, com
circumspecção, energia e pnKlencia, con­ o advento de Dagoberto, Leodegario e
seguiu alevantar o estado moral cio cle­ Ebronio reaclquirirwm a liberdade. Leo­
ro e do povo. O Concilio de Autun, por degario reassumiu a direcção da Diocese,
elle convoca:clo em 670, foi um dos e Ebro1üo tornou a chamar a si a ge­
meios poderosos e efficazes, para reali­ rencia ela mordomia.
zar este fiim. Regras mais preciosas e Proclamou rei um filho ele Clotario e
cletalhaclas regularisarélll11 a vida cios re­ com força armada mé!Jrchou contra Au­
ligiosos, aos qu1aes foram prohibidas sa­ tttn, para desabafar o odio contra Leo­
hi-cla:s fóra do convento, si estas não obe­ degario. Amig,ns dedicados tinham acon­
decessem á necessidade do mosteiro. sdhado o Bispo a abrigar-se contra a
Outrosim foi imposto a todos os mon­ tempestade; elle, porém, preferiu ficar
ges a regra de S. Bento, como norma de com o rebanho. No emtanto preparou-se
vida monastica. para morrer, ordenou um jejum de tres
Morto Clotario, o successor, Childe­ dias e f,ez uma procissão, na qual foram
rico, nomeou Leodegario seu conselhei­ levadas relíquias de San�os. To·clos os
PO particU!lar, posição esta invejada e bens repartiu entre os pobres. Para pou­
cttbiçada por muitos outros. Em conse­ pa:r os seus, sahiu para fóra ela cidade
qu1eocia disto surgiram muitos desgos­ e entregou-se aos inimigos. Com cruel­
tos pacra o santo Bispo. A situação tor-. dade inaudita, estes lhe · arrancaram os
nem-se-lhe ainda mais critica quando, olhos, cortaram-lhe os lahios e a ponta
com franqll'eza apostolica, apostrophou ela lingua. A dedicação dum ail11Ígo con­
'◊S vicios e desntandos do rei e da côrte. seguiu livral-o das ga-rras dos algozes

S. Leodegario - Mabil!on. Act. Bened. II. - Bougnet, Hist. fr. II. p. 61. Bolland. II.
Outubro.

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276 2 de Outubro

e agasalhai-o no convento de Fecamp. No céo receberão o galardão, que ninguem


Tres annos passo'tt ahi 1fa co,mpanhi.a lhes poderá disputar. O que tambem se ob­
serva é que os máos gozam ás vezes de
cios monges e por umi3, graça especial fi­
uma apparentc felicidade terrena, o que
cou-lhe curada a lingtta. mais ainda os faz endurecer no peccado.
O odio profundo não clava dcscanço Mas tambem não são raros os casos em
a Ebroniio. Procurando um pretexto que Deus os castiga severa e inesperada­
para poder agir contra Leodegari-o, ac­ mente, não lhes dando tempo para. s·e con­
cu1sou-o ca,lu!mniosaimente de traição con­ verteram, como aconteceu ao impio Ehro­
tra o rei Childerico, indicando-o como nio. Não nos entristeçamos com a felicida­
mandante do assa:ssm10 do mesmo. de dos máos e não murmuremos contra a
N,11ma carta a sua mãe Sigrada, Leode­ nossa sorte, si Deus nos faz soffrcr alguma
cousa. A justiça ha de vencer, ou aqui, ou
gario defendeu�se. Esta carta é ll/in do­ na eternidade. Peccado nenhum ha que fi­
cu1'Qenoo precioso, que honra o autor. que impune. Quem está em peccado, não
Citado perante lllm pseudo-concilio e diga: "Pequei, mas nada de mal aconteceu­
intimado a confessa:r a cu,Jpabiliclade na me; pois o Altíssimo recompensa larga­
morte do Rei, Leogedario appdlou para mente". (Ecc. 5. 4). Grande verdade foi a
a justiça divina, conlü testemunha de que um dos irmãos Machabéos disse ao rei
sua innocencia. Antiacho: "Não te illudas pensando tal­
Rasgaram-lhe as vestes em signal de vez que nada te acontecerá, por teres Iu­
ctado contra Deus e a Elle offendido ''.
degradação, entregando-o depois ao juiz
Santo Agostinho affirma: "Si os ímpios
secular. não têm castigo, é signal que Deus os re­
Para que sua morte não tivesse o as­ servou para as penas eternas; por isso, si
pecto de martyrio, o juiz mandou que peccamos sem emperimentar castigo al­
o levasselm para um Jogar bem distante. gum, bastante motivo temos de nos incom­
:Oos quatro soldados que o escoltaram, modar ".
tres cahiraim de joelhCJIS e pedirnm-lhe
perdão. O quarto militar prestou-se á
Santos elo Martyrologio Romano, cuja me­
obra funesta e executou a ordem de de­ moria é celebrada hoje:
capitar o servo clie Deus. O Jogar onde
A Festa dos Santos Anjos da Guarda. A
se desenrolou esta scena, é um bosque Egreja tem por certo que a cada pessoa
perto de Arras, chamiaJClo São Luger. Deus deu um Anjo da Guarda. A Sagrada
S. Leodegari-o sioffreu o martyrio em Escriptura em muitos Jogares fala dos anjos
678 e as relíquias estão depositadas na tutelares, tanto no Antigo (Ps. DO. 11) como
no Novo Testamento (Hebr. 1. 14; Math. 18.
Egreja do Convento de São l\fagencio. 10; Act. 12. 15). Os Anjos acompanham e
protegem-nos em todas as necessidades,
REFLEXÕES principalmente na hora da morte.
Nem sempre Deus dá aos seus fieis ser­ Na França o martyr Gerino, irmão
vos Ja nesta vida a recompensa merecida. de São Leodegario.
Pelo contrario, póde-se observar que os Na Inglaterra, em Hereford, a memoria
:�z soffrer injustamente até o fim da vida'. de São Thomaz, Bispo e confessor. 1282.

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3 de Outubro 277

3 de Outubro

Santa Therezínha do Menino Jesus (*)


(t 1897)

� I DEUS dá á Egreja Santos e Deus, em sua paternal bondade, r,eser­


� Santas, não menos v-erdade é, que vava para esta aLma predilecta o virtuo­
uma das primeiras condições de futur-a so joven já 11nendonado e, graças a cir­
santidade é, fóm da graça de Deus, a CtlnllStancias visivellll\ente providienciaes,
santidade dos progenit-ol"'es. E' justa­ 11ealizou-se o enlace matrimonial de am­
mente esta circumstancia particular que bos, aos 12 de Julho de 1858, na egreja
se observa em J1elação á Santa Thereza de Nossa Senhora de Alençon. Por mui­
do Menino Jesus. Eram santos os pnes. tos mezes, sendo este o intimo desejo
Luiz José Estanisiáo Martin, aos vin­ de Luiz Martin, viveram como innãos,
te annos, teve ardente desiejo de tomar até que se convenceu ser melhor com­
o habito de S. Bemardo, mas reconhe­ partiilhar da aJSpirnção da virtú()lsa espo­
cendo que os designios da Divina Pro­ sa, de poder offerecer a Deus os fructos
vi,drencia eraim outros, desistiu do plano. do abençoado maitrirnlonio. Fez sua a
Zelia Guierin, joven de muita piedade e supplica do casto Tobia:s, que assim re­
de caracter e111ergico e fra:nco, aspirava zára: "Si torno esposa nesta terra, bem
a ser admittida ,entre as Irmãs de S. Vi­ sabeis, ó 1n1eu Deus, que o faço levado
cente de Paulo, e para este fim solicitou unicarnlenre pelo desejo de obter uma
·entrada na Congriegação da:s Ill'esmtas, posteridade, na qual o vosso nome seja
em Al,ençon. As superioras reconhece­ be11ndito por seculos sem fim."
mm não ser esta a vontade de Deus e, Houvie Deus por bem acceitar co1111
sen_1 hesitação, disseram-lhe sua opinião agrado a santa disposição do piedoso
a •este respeito. Zdia, resignando-s-e com casal e deu-lhe nove filhos, que no san­
esta decisão, repetia muita!S vezes no in­ to baptisinm tiveram os seguintes no­
Ümo da akma esta prece : mes: Maria Luiza, Maria Paulina, Ma­
"M1eu Jesus, já que não sou digna de ria Leonia, Maria Helena ( fallecida aos
ser vossa esposa, cdmo n1inha irmã que­ ci 1100 anr�os e 111eio de edade), José Ma­
rida ( **), abraçarei o estwdo de matri­ ria, Maria José, João Baptista, Maria
monio, para cumprir a vossa vonta<le Celina, Maria Melania Thereza ( falle­
santissitna. Peço-vos, porém, encareci­ cida tres inezes depois cio nascil11jento) e
da1nente, sejaies servido conceder-me Maria Francisca Thereza.
niuitos filhos e que todos vos sejam con­ Depois do nascimento das quatro fi­
sagrados". lhas ;mais velhas, era ardente o desejo
do piedoso casal de ter um filho, que
futummente servisse a Deus como nlJis­
(•) Extr. do livro "Historia d'11ma alm.a,
escripta por ella m.esm.a". Trad. •do R. P.
sionario, e nesta aspiração dirigira�n-se
Armando Lochu, S. J. (Livraria Salesiana - confiruda1nenbe a S. José. As orações fo­
S. Paulo). ralm ouvidas e o coração dos paes en­
(••) irmã mp.is velha de Zelia, que entrou cheu-se de doce jubilo, quando lhes nas­
no Mosteiro da Visitação de Mans, com o ceu o prilmeirn filho, a quem dera,m o
nome de Soror Maria Dorothéa e que em nome de José Maria. Mas os pensamen­
1877 morreu santamente, com a idade de 48 tos do Senhor não são os nossos, nem
annos. os s·eus são os nossos caminhos. Assim

Santa Therezinha do Menino Jesus - Historia de uma alma, escripta por ella mesma,
trad. do P. A. Lochu S. J.

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278 3 de Outubro

aconteceu que, alQ cabo de cinco mezes que o nobre homem em ;,uas emprezas
apenas, o pequeno José trocasse este se visse acompanhado da benção de
deserto pelos ta:bernaculos do Senhor. Deus. Em 1871 abandonou a ourivesa­
Empenhados em alcançar do céo para ria, continuando apenas com a fabrica­
sua faimilia tim sacerdot:e, um missiana­ ção de rendas, conhecid<l!S com o nome
rio, os paes ·instairalm novamente com ar­ de "ponto d'Alençon ".
dentes supplicas e grande lhes foi a ale­ Foi ,c_im Alençon, na rua S. Braz, que
gria quando um outro pequenino José nasceu a celeste flôrzinha, Santa Tli.ere_­
veiu tomar o Jogar do innãozinho fal- za do Menino Jesus, geralmente conhe­
1ecido. Nove ,m1ez,es se passaTalm e tam­ cida pelo nome que o povo chr-i·stão lhe
bem esta flôrzinha se viu transplantada deu - Santa Therezinha.
para os canteiros celestes. A's 11 horas e meia da noite de 2
Desistiram então dre pedir ao céo ou­ de Janeiro Thereza abria os olhos para
tro tr1issionario. Comtudo realizou-se­ este mundo.
lhes plena!mente o des,ejo na pessoa da No dia do nasciment,o da "rainhasi­
ultima filha, de todas a mais abençoada nha", (assim o extremoso pae chaJmava
e privilegiada, alma providencial, a sua filhinha) vieiu um pobre bater á por­
quam Deus deu uma rniissão grandiosa, ta da ditosa familia e entregar um pa­
verdaideirnmente divina. pel com estas lôas, que mais parecem
Nos paes os filhos viam o exemplo uma prophecia :
de christãos santos. Amigos da oração, Sorri, cresce dcprcssinha,
todas as manhãs s,e reuniain1 aos pés do Tudo te chama á ventura:
altar e á mesa eucharistica. Rigorosa­ Amor, desvelos, ternura ...
Sorri á fulgida Aurora,
mente observavam a lei cio jejum e da Botão que nasceste agora,
abstinencia, eraim escrupulosos na san­ Rosa mais tarde serás !
tificação do domingo, faziam can1 assi­ Aos 4 de Janeiro · a graciosa menina
duidade as praticas de p1-edade, como a foi levada ao baptisuno, onde recebeu o
J,eitura espiritual e a oração em com­ norn1e de Maria Francisca Thereza, ser­
nmm. Não faltavam, certamente, prova­ vindo-lhe de madrinha a irmã mais ve­
ções, mas a unica resposta que davaJm a lha, Maria Luiza.
Deus, era sempre uma total resignação Thereza cont,ava apenas quatro annos
a tudo que sua alta Providencia quizesse e meio, quando a morte lhe arrebatou a
determinar. querida mãe. Foi então que o sr. Martin
E1nbora houviess,e certo bem estar na resolveu 1nudar a residencia para Li­
familia Martin, ninguerm se e:'(cedia em sieux, onde morava o cunhado Guérin,
luxos desnecessarios e em tudo reinava cuja esposa velaria pela educação das
grande simpli_cidade. orphãsinhas.
Em familia de sentimentos tão chris­ Pelo bellissi111110 exemplo que There­
tãos e genemsos, a virtude da caridade zinha tinha constani1emente deante dos
achava terreno mais amplo ele activi- olhos, bem cedo s,e acostumou á pratica
daide. - , ;�-- das virtudes, e decerto é a expressão da
Das economias ,o piedoso casal reser­ vierdaJde o que affirma na autobiogra­
vava annuahnente avultada quantia para phia: que desde a edade de 3 annos nun­
a Obra da Propagação da Fé. A casa es­ ca recusou cousa alguma a Deus.
tava-lhes sempre aberta para os pobres, Dotada de intelligencia superior, trei­
e grandes erarn as esmolas que lá rece­ ooda pelas experiencias colhidas no ca­
biam. Na distribuição da caridade o Sr.· minho da provaçã,o e da dôr, a joven
::\fartin não conhecia o respeito hum<l!no menina, em bem poucos annos, chegou
e 111uitos são os casos 'Ct!H que com as a demonstrar 1.llma madureza a<lmiravel
propriars mãos servia a pobres desan1- ·em julgar as cousaJS divinas e hurnanas.
parados. Não é, poi,s, caso de extranhar A esta firmeza de caracter, ao canheci�

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280 3 de Outubro

nfonto profundo das cousas divinas, ao religiosas benedictinas e1111 Lisieux, co-
desejo de pertencer a Deus deve-se at­ 1110 externa.
trihuir o facto de, com 15 annos apenas, Embora muito mais nova que as com­
se ter resolvido a entrar na Ordem cio panheiras ele class,e, tirava as melhores
Oarmelo, cuja regra é uma das mais notas em composição, e era muito que­
aust'era•s. rida entre as religiosa:s, razões estas que
Em sua "Historia de uma alma", es­ não poucas humilhações lhe irnportavmn,
cripta por ordem ela superiora, Madre da parte de alumnas mlenos considera­
Ignez de Jesus, a nossa Sa:nta, com uma das e menos inrelligentes. Foi neste es­
simplicidade •encantadora, narra os fa­ paço de temlpo que na mente de The­
ctos principaes que se ligam á sua vida rezinha surgiu o priunleiro presentimen­
junto aos pa,es, no •seio ela fannilia, a en­ to ele s,er por Deus chaimacla a c1Jbraçar
trada na Orcleirn, descreve as clifficulda­ o estado rieligioso no Canndo. Este pre­
des cctm que luctou, clifficuldades ele or­ senti11ll'ento tomou feições de desejo ein
dein m;a:terial e espiritual, consolações 1885, quando a prima e amiga Maria
que teve e graças extraorclinarias que Guérin entrou pa:ra o Carmelo de Li­
recebeu cio divino Esposo. sieux.
Dos factos narrados na "Historia de No l'etiro qt11e a irmã Celina fazia,
um� alma" tenham aqui logar só os em preparação para a primeira Com­
mais notaveis. munhão, Thereza a acompanhou e exp:.:­
Therezinha, bem pequenina ainda, fez drnlentou as mais suaves impressões. O
a primeira confissão e sahiu cio confes­ dia ela prinlleira Cornmunhã,o conside­
sionario muito s<1:tisfeita, achando que ra-o um dos mais bellos da vida.
nunca até então tinha experimtentaclo Comparando-se com as irmãs, There­
uma alegria egual. za se reconhece n�enos aff�ita aos brin­
Oerto dia teve uma visão um tanto quedos proprios ela edade infantil, po­
prophetica, que muito a impressionou. rém rn,ais s,ensivel e choraminga até o
Estando o pa'e em viagem,, que por lon­ excesso. Na familia reinava sempre a
go tampo o afastava ela familia, There­ miais pura harmonia e entre as irmãs e
zinha teve a in1pressão ele vêr cleantc as primas havia o maior entendimento,
de si llirn horn!em alquebrndo, ele cabeça a mais franca cordialidade.
encanecida e embuçada em véo espesso. Thereza era sempre fraquinha e dô­
Tudo daquelle hQni:em, o traje, o anelar, res ele cabeça atroz-es atürmentavam-n'a
a figura, tudo lhe fazia crêr que foss� por cliais, seinana·s e meres, acompanha­
o pae querido. Tdmada cl:e extranho ter­ das ás vez,es por extranhos tremores.
ror, chamou por cHe com voz tremula: Por vez,es cabia ,em delírio, sem entre­
"Papae, oh papa,e ! " Mas o personagem tanto perder o uso da razão. Vinham
assi1111 interpellado não clava signaes de de�mlains, que lhe tolhiam o mais leve
tier ouvido eistas palavras e continuou a movimento. O leito par-ecia-lhe rodeado
anelar, afastando-se pelas alamedas cio de demonios e de precipicios horríveis.
jardim. Therezinha nunca mais perdeu Os pregos cravados nas paredes do
de n1em,i0ria esta mysteriosa visão, pre­ quarto tinhalm-lhe aos olhos a fórma de
sagio de futuros padeólllentos, de que dedos enorn�s, pretos e carbonizados.
o' paie Síeria vic6m:a. O sr. Martin pelo cuja vista lhe provocava gritos ele hor­
fim da vida soffreu div•ersos ataques ror. Em tão tristes lances se via como
clic paralysia, que lhe comprometteraim a s-empre, rodeada do 1nais affectuoso ca­
luz do espírito, de tal modo que durante rinho cLo pae e elas irmãs e parentes.
tres annos, foi pre, ciso ser entr·egue ao Desta doença, que resistia a todos os
cuidado de pessoas extranhas. r-ecursos ela sciencia rnedica, a santa me­
Therezinha tinha oito annos e meio, nina s•e viu curada por Maria Santissi­
quando se matriculou no collegio das ma. Oelina, vendo baldados todos os es-

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3 de Outubro 281

forços para conservar a vida da querida mez,es empregou na preparação. Elia


it1mã, invocou, com todo o fervor de mesma confessa ser-lhe impossível con­
:mãe que supplica, a Maria Santissima, tar as impressões que teve, no momen­
representada numa estatua, que a fami­ to de receber a sagrada Hüstia. "Meu
lia Martin tinha om muita veneração. A encontro com Jesus naquelle dia não
estatua, a m:esma que se vivificára aos podia ser apenas um simples olhar, mas
olhos da mãe de Thereza, animou-se de era sim uma fusão. Já não eramos dois.
subito tambem na presença desta : "A Thereza desappar·ecera, C-ülmo a gotta
Virgeim Santissiima adeantou-se para d'agua que se abys1111a no seio do ocea­
mim ,e sorriu ... " Gelina, ao vêl-a fitar no. Restava só Jesus e era o Senhor, o
os olhos na estatua, disse de si para si : Rei ! " Tão intensa, tão profunda lhe
"Thereza está cura:da." De facto estava. era a alegria, que não pôde conter as la­
No momento em que a irmã dizia isto grimas, o que despertou grande admi­
co1nsigo, o rosto ele Thereza tornára-se ração nas pessoas que assistiam e que
cliaphano e estava transfigurado. A phy­ julgavam serem lagrünas de saudades
sionomia denunciava-lhe algo ele sobre­ ela mãe e ela irmã carmelita. Mas era só
na:tural. As pessoas presentes a esta alegria, alegria ineffavel e profunda, que
scena sentiram-se tomadas de pasmo e lhe enchia o coração.
admiração. Não havia duvida que Thc­ Pouco tempo depois recebeu o sacra­
reza em extase vira Maria Santissima. mento da Confirmação, em preparação
Grande prazer experiimentava Thereza para o qual fez novo retiro. Foi na Con­
em ler livros que se lhe davam e, ad­ fit1mação que recebeu a força ele que pre­
mirando a vicia extraorclinaria de certos cisava, para o martyri-o d'alma, que es­
personagens historicos da França, por tava a annunciar-se.
exemplo a de Santa Joanna d' Are, sen­ U1m graça extraordinaria Thercza
tia ás vez-es grande ímpeto de imitai-os. viu no modo por que Deus a desilludiu
Deu�, porém, fel-a COil11!pr,ehender que das affeições humanas. Os annos que se
sua vocação não era brilhar aos olhos seguiram á prim,eira Commiunhão, fo­
dos ·mortaes, mas fazer-se santa. Oon­ ram annos de estudo, mas tambem de
vencicla disto, nunca mais perdeu ele provações e escrupuJ.os aton11entadores.
vis-ta este grande ideal de tornar-s-. Na "Historia de uma alma" Thercza
santa. não faz segredo nenhum dos seus defei­
tos e fala-nos de pequenos laivos de vai­
R,estabelecicla do terrivc-1 mal que a dade, da extrema sensibilidade, que a
accommetrera e quasi a levára ás portas fazia chorar, por cousas de nonada.
ela eternidade, o pae proporcionou-lhe
Esta sensibilidade parecia-lhe tão pro­
o grande praZ1er de um passeio agracla­ nunciada e tão insupportavel, que
bilissimo, occasião em que começou a chegou sériamente a duvidar da possi­
conhecer o m1unclo. Via-se então muito bilidade de ser admittida no Carmel0,
festejada; admirada por todos, sem en -
como tinha ardente desejo.
tretant-o comprehender o motivo ele tan­
tas attenções. Bmbora não fosse insen­ O ideal de ser religiosa Cannelita de­
sível ás caricias de pessoas amigas, bem senhava-se cada vez mais nitido, na al­
cedo chegou á conclusão ele qJ.le tudo é ma da piedosa donzella. Obter o con­
vaidade, excepto arrnar e servir a Deus. sentimento do pae e elas innãs e pedir
admissão na Ordem não era tão diffi­
Pessoas da intimidade, por exemplo cil como a principio se lhe afigurára.
as -m1estras, notaraim em Thereza grande Mas o tio era ele parecer contrario,
inclinação á oração mental. A menina achando i·mprudente uma joven de quin­
meditava de facto, sem comtudo dar ze annos apenas entrar numa Ordem
conta de tal e chanL:J.va a isto pensar. tão austera, como é a das Carmelitas.
Diz ella que foz a primeira Com�nu­ Não só se declarou contrario á idéa, mas
nhão nas melhores disposições. Tres ainda accrescentou que se havia de op-

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282 3 de Outubro

pôr á execução de tal plano, casô não observava diligentemente, em toda a


houvesse a intervenção ele um milagre. viagem.
Vendo contrariado o seu pensamento Chegados á Roma, só em 20 de No­
e profundamente amargurada, Thereza vembro tiveram a v,entura ele serem re­
pôz-se a rezar e pediu a Jesus que fi­ cebidos em audiencia no Vaticano. A
zesse o milagre exigido. Aconteceu que Santa n1esma conta-nos, com toda a mi­
neste tempo ele tribulação lhe sobre­ nuiclencia, o historico dessa audiencia.
viesse uima aridez de espirita clolorosis­ "Na manhã do domingo (20 de No­
sima, sentindo-se por completo abando­ vembro, fomos ao Vaticano. A's 8 horas
nado da parte de Deus durante tres dias. assistimos á Missa do Su:mmo Pontifice.
Quando menos o esperava, porém, teve Acabada a Missa de acção de graç.Is,
a satisfacção de vêr o tio completaimen­ que se seguiu á cio Santo Padre, prin ·
te mudado a esse respeito. Já não exigia cipiou a audi,encia. Leão XIII estava
o rnilagre, u:rrm. vez que Nosso Senhor assentado na poltrona, em throno ele­
lhe tinha mostrado ser do divino agrado vado, vestido de batina branca e murça
que se fizesse religiosa. "Vae em paz, ela m1esima côr. Lacleavam-n'o diversos
querida filhinha, - disse-lhe o tio, abra­ Prelados e a:s mais altas dignidades ec­
çando-a paterna�mente, - és uma flô­ clesiasticas. Conforme as prescripções
rinha privilegiada, que o Senhor quer cio cerimonial, cada nm dos peregrinos
para 5i e a isto não me hei de oppôr". ia por sua vez ajodhar-s·e, beijar pri­
Levantou-se, entretanto, outra di ffi­ meiro o pé e logo a mão do augusto
cnldade e esta era de natureza muito Pontifice e receber-lhe a benção; en1 se­
séria, mesmo insuperavel : a recusa for­ guida dois guardas nobres, tocando-o de
mal do Superior cio Cannelo de receber leve com o dedo, significavam-lhe que
na Ordem uma donz•ella de quinze an­ se levantasse para passar á outra sala e
nos. Iclentica foi a decisão do Bispo de ceder o Jogar ao seguinte.
13ayeux, si bem que este, muito commo­ Ninguem tugia, mas eu estava resol­
vido pela insistencia com que Thereza viclissima a falar, quando o Revmo. Pe.
apresentou o pedido, secundado pelas Révérony, que se puzéra á direita de Sua
affinnações cio pae, não lhe cortasse o Santidade, nos fez saber publicamente
fio da esperança, promettendo-lhe falar que prohibia terminantemente que se
com o Superior a respeito e responder­ falasse ao Santo Padre. Voltei-me para
lhe então. Celina, a interrogai-a com o olhar; en­
Um dos capítulos mais característi­ tretanto dava-me o coração pancadas de
cos da vida de Santa Thereza cio Meni­ fazei-o estalar.
no Jesus é sem duvida aquelle em que - Fala! - disse-me ella.
conta a viagem a Roma, que se effe­ MQmentos depois estava eu ajoelhada
ctuou tres dias depois ela audiencia que cleante do Papa. Beijei-lhe o pé e apre­
lhe concedeu o Bispo de Bayeux. Já na­ sentou-me a mão. Levantando então pa­
quella audiencia o pae tinha dito ao ra elle os olhos cheios de agua, dirigi-lhe
Prelado que, no caso ele não obter a de­ esta supplica:
sejada autorização, a filha não hesita­ - Santissimo Padre, desejo pedir­
ria em falar ao Santo Padre. Foi o que vos uma graça im:portante ! - Inclinou
se deu, como se verá pelo que se segue. logo a fronte até junto do meu rosto ;
A peregrinação· que se destinava a como si os seus olhos pretos e profun­
Roma sahiu de Paris no dia 7 de No­ dos quizessem penetrar até o amago de
vembro de 1887, sob a direcção de rn.inha alma.
Mons. Legoux, Vigario Geral de Con­ - Santíssimo Padre, - insisti - em
tances. Estava tambem entre os peregri­ memoria do vosso jubileu, autorizae-me
nos o Padre Revérony, Vigario Geral a entrar no Cat1melo aos quinze annos !
de Bayeux, de quem Thereza diz que a O ReV1110. Vigario Geral de Bayeux,

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3 de Outubro 283

estupefacto e descontente, atalhou im­ Bem depressa se livrou das emoções,


mediata:mente: que acompanharam a despedida do pae,
- Santíssimo Padre, é uma creança das irmãs, da casa paterna e com inten­
que deseja abraçar a vida cio Carmelo, so jubilo n'alma, folgava de repetir:
mas os Superiores estão actualmente "Cá estou para todo o sempre ! "
examinando o caso. Desde o começo da vida religiosa no
- · Pois bem, minha filha, - disse claustro, pôde Thereza experimentar as
então Sua Santidade, - esteja pelo que provações com que Nosso Senhor cos­
decidirem os superiores. tuma mimosear seus predilectos. Uma
De mãos postas e encostadas aos seus aridez espiritual parecia ser-lhe o pão
joelhos, fiz esta ultima tentativa: quotidiano e a Madre Superiora intro­
- O' Santíssimo Padre, é só dignar­ duziu-a logo nas praticas costumeiras
vos de responder-me sim, para conco·r­ cio CannJlelo, tratando-a sempre com ex­
darem todos ! traordinaria severidade, não lhe per­
Olhou�me fixamente e proferiu estas doando a minima falta que commettesse.
palavras, rnartellando cada syllaba, em Dest'arte Thereza bem cedo se habituou
tom ele voz penetrante : a considerar na Superiora não a creatu­
- Pois não... vamos... entrará, si as­
ra, mas a pessoa de Nosso Senhor, fi­
sim aprouvier a Deus. cando assim preservada de af feições hu­
Ia eu insistir ainda, quando se appro­ manas no claustro, que são uma verda­
ximara,m dois guardas nobres, acenando deira calamidade.
que me levantasse. Ao vêrem que não
bastava este aviso, travaram-se dos Extraordinaria e mui significativa é
braços e o Revtno. Padre Révérony veiu a declaração que Thereza fez, no exame
taanbem os ajudar a erguer-me, visto co­ canonico que lhe precedeu a profissão,
rno ainda ,me deixava ficar quê<la, ele dizendo: "Vim para salvar as almas e
mãos postas e apoiadas nos joelhos do especia�mente para rezar pelos sacerdo­
Papa. tes." Fiel a este proposito, offereceu-sc
No momento 0111 que era assim remo­ a Jesus como victima, convencida de que
vida, o bom do Santo Padre pôz sua­ só pelo soffrimento poderia fazer algu�n
ve1nente a mão sobre os meus labios e bem ás almas. Durante cinco annos rea­
ergueu-os logo depois para me abençoar lizou esta pratica, sem que pessoa algu­
e por largo espaço ele tempo esteve me ma o soubesse.
acompanhando c<Ym o olhar." Em 10 de Janeiro de 1889 recebeu o
habito, cerimonia a que presidiu o Bis­
Tornados a Lisieux, a primeira v1S1ta po Diocesano e que se revestiu de gran­
foi ao Carmelo. Um novo requerimento de solemnidade, estando presentes as ir­
que Thereza fez ao Prelado diocesano. mãs de Thereza. Para satisfazer o de­
não teve prompto despacho, como dese­ sejo do pae, usava naqueUe dia vestido
java e esperava. Passou-se o Natal cio ele velludo branco, guarnecido de cysne
anno de 1887, sem obter resposta algu­ e ponto de Alençon. Trazia soltos e
ma. O dia 1° de Janeiro de 1888 tirou-a deitados sobre os hombros os grandes
afinal da incerteza. Foi nesse dia que a anneis de cabellos louros e lirios forma­
Madre Maria de Gonzaga lhe com/mu­ vain1-lhe o adorno virginal. Acompanha­
nicou ter recebido autorização do Bispo da pelo pae, entrou solemnemente na
para recebei-a immediata1rnente, como capella.
postulante, no Carmelo. Na carta a Su­ Para o sr. Martin foi um triumpho
periora accrescentava que só depois da e ta:mbeim sua ultilma festa no mundo,
quaresma a entrada se poderia effectuar. pois um mez depois foi accommettido
O dia 9 de Abril de 1888 trouxe-lhe de grave doença, que o levou á sepultu­
afinal a ventura da entrada no Carmelo. ra seis annos após.

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284 3 de Outubro

O tempo do noviciado passou celere, taimento, aquelle caminho que lhe deu
entre as praticas ele piedade, de virtude tanta paz e alegria espiritual.
e mortificação, sem que houvesse occor­ Diz a "Historia de uma alma": "Si
rido facto de maior relevancia. a santinha opéra hoje transformaçõe:,
Decorrido um anno, passou pela de­ maravilhosas nos corações, si é imnnen­
cepção ele não poder professar. Decla­ so ó bem que vae fazendo na terra, po­
rou-lhe a Superiora que, devido á oppo­ cldmos crêr legitimamente que o comprou
sição formal do Rev'mo. Padre Supe- pelo n1!e$ino preço que custou a Jesus o
. rior, havia de esperar mais oito mezes. resgate das nossas almas, isto é, pelo
A propria Santa confessa que a princi- soffrimento e pela cruz. Não lhe foi o
. pio lhe custou acceitar tamanho sacrifi­ menor dos martyrios a lucta corajosa
cio, mas, ajudada pela graça divina, que emprehendeu, sem tréguas, contra
conforn1iou-se inteiramente com a deci­ si mesma, negando toda e qualquer sa­
são de quem fazia as vezes de Jesus. tis facção á:s exigencias da natureza ar­
dente e briosa. Desde creança se habi­
Passado o tempo da provação, ficou
tuára a nunca apresentar desculpas e
marcado o dia 8 de Setembro ele 1-890 nunca se queixar; no Carmelo se apos­
para a profissão religiosa. tou a ser em tudo a humilde serva das
Horas antes da profissão religiosa, II1mãs. Animada deste espirito de humil­
recebeu de Roma a benção do Santo dade, fazia por obedecer a todos indis­
Paclt1e, facto que muito a consolou, ten­ tincta:inente. ''
do durante o retiro espiritual experi­ O espirita de sacrificio era-lhe uni­
mentado a mais completa aridez. Per­ versal. Tudo quanto havia de mais pe­
mittiu Deus que sua serva, no dia que noso e menos agradavel, por isso mes­
precedia a profissão, fosse horrivelmen­ mo o procurava com soffreguidão. Tudo
te perturbada por tentações a resp�ito o que Deus lhe pedia, clava-lh'o s-enf re­
da vocação. "A minha vocação - as­ serva. O que mais a martyrisou physi­
sim escreve - afigurou-se-me de im­ ca:mente, como o confessa, foi a priva­
proviso sfonples sonho e chimera; o de­ ção cio fogo durante o inverno. "O frio
monio - pois era elle mesmo - inspi­ tem sido para mim um tormento de
rava-me a convicção de que a vicia cio morte."
Carmelo não me convinha por fórma al­ ;,J a Sexta-Feira Santa ( 3 de Abril
guma, e que enganava os Superiores, ele 1896), appareceram os primeiros an­
1nettendo-1me por um caminho ou insti­ nuncios ela "chegada do Esposo". Fre­
tuto de vicia para o qual não fôra cha­ quentes eram as hem,optyses que lhe so­
mada. Tão densas se amontoaram estas brevinham, mas a Santa sabia habilmen­
trevas, que cheguei a persuadir-me ciu­ te as disfarçar, tanto que só em Maio
ma cousa unica : não tendo vocação re­ de 1897 as Irmãs souberam do verda­
ligiosa, devia voltar ao mundo." Foram deiro estado de sua saude.
angustias indescriptiveis e para dissi­ Tão familiarizada estava com o sof­
pai-as Thereza foi ter-se com a· mestra fd1nento, que no fim da vida poude af­
e manifestou-lhe a tentação. Foi o bas­ fit1mar: "cheguei a ponto de não poder
tante, para lhe voltar a cwlma e o socego. já soffrer, porque todo o soffrimento
Si procurat1mos saber que meios Sal! se m,e torna suave."
ta Thereza e�pregou para chegar a tã0 A sua inteira conformidade com a
alto gráo de perfeição, que a Egreja e vontade de Deus tem expressão nitiela
com esta todos os fieis lhe admiram, des­ nas palavras que na auto-biographia lhe
cobriremos tres : - a oração, a vicia encontrarnos : "Não <lesejo a morte nem
unida a Nosso Senhor, a mortificação e tão pouco a vida e si Nosso Senhor me
o aimor s-em limites a Deus. E' este o deixasse a escolha, não escolheria nem
pequeno caminho de que fala no seu tes- uma nem outra; quero unicamente o

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3 de Outubro 285

que Elle quer; o que Elle faz, é tam Mas, quando o Anjo disser: "o tempo
bem o que amo." já não existe! - só então desrnnçarei
O estado de saude da querida Santa e poder1ei gosar, porque já estará com­
em 1897 c0imeçava já a causar sérias pleto o numero dos ,eleitos."
apprehensões ás Iranãs e cm Julho do Muita:s cousas edificantes disse ainda
mesmo anno foi preciso transferil-a dr­ Santa Thereza ás Irmãs, nos ultimas
finitiva.mente para a enfermaria. Os ul­ dias de doença.
timos m1ezes foram de soffrimentos in­ Entretanto, a clôr augmentava ele dia
calculaveis, causados por tt'ln desanimo, para dia. A fraqueza chegou a taes ex­
que o demonio lhe preparava, atormen­ tromos, quie a doente sem auxilio não
tando-a com tentações contra o amor de podia fazer o mais leve movimento. Catt­
Deus. "Tens cer1.:eza - dizia-lhe a voz sava-1he afflicção horrivel ouvir falar
maldita - de ser realrn'ente annada por perto ele si. A feb!'e martyrisava-a de
Deus ?" tal maneira, que só com grande esforc;,-,
Quando em 30 de Julho recebeu a podia pronunciar uma palavra. Mas no
Extrema-Dncção, disse, jubilosa, ás Ir­ meio ele todo este soffrimento, um !e·.re
mãs: "A porta da minha escura prisão sorriso lhe aflorava aos labios.
está entreaberta; estou radiante, princ:­
palmente depois que o nosso Padre Su­ Chegou, afinal, o dia 30 ele Setem­
perior me assegurou que a minll'alma bro, o dia de sua santa morte. Estrei­
se assemielha hoje á ele uma creancinha tando o crucifixo nas mãos, parecia ab­
reccm-baptisada." sorta em profunda meditação. Quando
o sino cio Mosteiro tocou ás Ave-Marias
Desde o dia 16 ele Agosto até 30 ele vespertinas, fixou na Virgem Immacu­
Sete1111bro as frequentes hemoptyses não lada um olhar inexprimivel. Cobria-lhe
lhe permittiam receber a santa Cornmu­ o rosto um suor copioso: tremia. A's
nhão, sacrificio este que de todos lhe sete horas e poucos minutos perguntou
era em extremo sensivel. á Madre Priora:
Que Santa Thereza teve conhecim'.'nto
da morte proxi1na, prova-o o que cm - Minha Madre, não será talvez a
1895 disse a uma !'eligiosa veterana e fi­ agonia ? Não •estou nas ultimas ?
dedigna: "Hei ele morrer muito breve: -- Pois não, minha filha, é a agonia;
não digo que será daqui a alguns me­ mas Jesus quer prolongai-a talvez algu­
�es, isto não; mas, dentro de dois ou mas horas.
trcs annos, quando muito; tiro este pre­ E clla, muito resignada:
sentin1ento cio que me vae dentro d'::tl­ - Pois bem . . . vamos . . . vamos .. .
nia. '' oh ! não quizera que se me abreviassem
São dos ultimas dias ele sua existen· os soffri,mentos ...
eia estas memoraveis palavras: "Nunca E olhando para o crucifixo:
dei a Deus senão amor e com amor tam­ - Oh ! . . . Arno-o ! . . . Meu Deus,
bem me ha ele recdn:\pensar. Depois da cu vos ... amo ! !!
minha morte farei cahir uma chuva de Foram estas suas ultimas palavras;
rosas. Sinto que está chegando a hora pronunciando-as, deixou-se cahir sobre
ele desempenhar a minha missão - a o leito, numa attitu<le semelhante á de
de fazer aimar a Nosso Senhor como o algumas virgens martyres, que se dispu­
am:o... de dar a conhecer a minha vere­ nham a receber o ultimo golpe. De re­
dazinha ás almas. Quero passar o meu pente se ergueu, como si fosse para át­
céo empenhada em fazer bem na terra. tender a uma voz mysteriosa, abriu os
Não é cousa impossivel, visto como olhos, e fitou�os com uma expressão ele
n11esmo no seio ela visão beatifica os An­ jubüo inclizivel, um pouco acima da
jos estão V'elando por nós. Não, até' o imagem ele Nossa Senhora. Isso durou
fim do mundo não poderei clescançar ! mais ou menos a recitação de um "cre-

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286 3 de Outubro

do" e sua alma voou para os páramos traordinario na vida desta santa carmelita,
celestes. seu exemplo é perfeitamente imitavel por
Logo depois da morte de Therezinha, todos que sériamente querem a salvação de
sua alma. Basta imitar-lhe as virtudes, in­
comieça:ram a dar-se na cottnmunidade vocar-lhe a poderosa intercessão. O Espí­
factos extraordinarios. Verificou-se a rito Santo, que rege a Egreja de Deus so­
prophecia da Santa, que disse: Depois bre a terra, reservou esta mimosa flôr do
da minha morte farei cahir uma chuva céo para os nossos tempos, tão pobres de
de rosas. amor e tão saturados de miseria. Graças
O mundo catholico encheu-se de ad­ lhe rendamos por ter dado aos filhos um
miração pela sa:ntida:de da humilde car­ exemplo tão perfeito de virtudes e santi­
melita de Lisi'eux, e Deus glorificou-a, dade, que mostra á humanidade o "peque­
no caminho" da santificação. Bemfeitora
fazendo-a bemfeitora da hwnanidade. que é dos pobres mortaes, que se lhe diri­
como prova!m os milagres, que appare­ gem nas necessidades materiaes e espiri­
ceram ás centenas. tuaes; padroeira dos missionarios que tra­
Treze annos depois da morte, proce­ balham nas linhas mais avançadas da mi­
deu-se-lhe á exhumação do corpo e nesta lícia de Christo, na terra dos pagãos - a
occa:sião foi encontrada intacta e verde Egreja de Christo, reverente, curva-se deante
a palma que as religiosas lhe tinham desta filha privilegiada, que tanto já fez e
mais ainda fará, para implantar o reino. de
posto na mão, logo a.pós a morte. Christo nos corações dos homens.
Beatificada em 1923, S. S. o Papa
Pio XI, no anno do jubileu de 1925, lhe Oração
deu a honra dos altares. As reliquias, Senhor, que dissestes : "Si não vos fi­
depositadas na capella elo Mosteiro do zerdes como meninos, não entrareis no rei­
Carmello em Lisieux, repousam numa no dos céos" - fazei-nos seguir a santa
riquissiima urna de prata dourada, offe­ Virgem Thereza em humildade e simplici­
recida pelos catholicos do Brasil. dade do coração, para que consigamos al­
cançar os premios da vida eterna.
R.EFLEXõES
O segredo da santidade de Thereza do
Menino Jesus está na perfeita harmonia Santos cuja memoria é celebrada hoje:
das virtudes que lhe adornaram a alma e a
Na Allemanha dois martyres sacerdotes,
tornaram tão agradavel aos olhos de Deus. de nome Evaldo. Ambos prégaram o Evan­
São: a humildade e a simplicidade, abnega­ gelho aos antigos Saxões e foram mortos
ção de si propria, levada até o heroísmo, o pelos pagãos.
espírito de sacrifício, um amor sem limites Na Cochinchina o martyrlo do bemaven­
a Nosso Senhor e uma confiança sem re­ turado Del::tmotte, do Seminario de Paris.
serva em Deus. Como não ha nada de ex- 1840.

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4 ele Outubro 287

4 de Outubro

S. FRANCISCO DE ASSIS
( t 1226)

� ÃO FRANCISCO, chamado o Se­ em si o impulso da graça - ele outro


� raphico, o grande Fundador ele lado o chamavam o mundo, a familia, a
Ordens, nasceu em 1182, em Assis, na sociedade. Longo tempo ficou Francis­
Italia. Feia vontade elo pae, Francisco co na indecisão, sem saber por que ca­
devia dedicar-se á carreira com1111ercial. minho enveredar. Em fervidas orações
De genio alegre e folgazão, sentia em si pediu a Deus que o esclarecesse e guias­
um forte pendor para os prazeres elo se. Finalmente, lhe pareceu mais acerta­
mundo. A educação solida que recebe­ do largar o mundo. O priineiro a quem
ra, e a profunda rcligiosiclacle fizeram­ con1111unicou esta resolução, foi o reitor
no evitaT cuicladosaimente as más com­ da egreja ele S. Damião, ao qual pediu
·panhias e desta maneira guardar a in­ que o acceitasse como companheiro. Es­
nocencia. Dos pobres era sempre gran­ te consentiu. Não assim o pae de Fran­
de am.igo, a ponto de ter formulado o cisco que, tendo conhecimento ela reso­
proposito ele nunca despachar wn indi­ lução do filho, protestou vehemente­
gente, sem lhe dar uma esmola. Acon­ mente contra tal icléa, chegando a mal­
teceu certa ve7;, que um mendigo viesse tratal-o physicamente e obriga.n<lo-o, na
pedir-lhe uma esmola, quando Francis­ presença do Bispo de Assis a renun­
co se achava muito occupaclo. Não· que­ ciar a todos os bens. Francisco não só
rendo ser interrompido nos affazeres, se prrnnptificou a isto, mas tirou a rou­
negou-lhe o auxilio. Grande foi-lhe, po­ pa, entregou-a ao pae, dizendo : "Até
rém, o arrependimento, quando se lem­ este dia vos chamei de pae. Agora po­
brou do proposito que tivera. Immedia­ derei dizer com toda razão : Padre nos­
tamente largou o s-erviço, correu atraz so, que estaes nos céos, porque só nelle
cio pobre e deu-lhe boa esmola. Nesta puz a minha unica esperança."
occasião fez o voto de nunca negar au­ Por diversas vezes ainda Deus mos­
xilio a 11111 pobre, que lhe pedisse. Deu­ trou a Francisco sua vontade relativa­
se u'm dia o caso de Francisco não ter nJJente á vocação, até que um dia, assis­
comsigo meios para dal-os a um mendi­ tindo Francisco á santa Missa, ouviu
go. Resolutamente tirou o manto novo estas palavras : "Não deveis possuir nem
e trocou-o pelos farrapos elo pobre. ,auro, nem prata e não ter nas vossas
Dando tlim passeio a cavallo, aconteceu cintas dinheiro cama propriedade vossa,
que um leproso lhe estendesse a mão, nem tão pouco bolsa para o caminho,
pedindo-lhe ,esmola. Francisco apeiou e nem calçado, nem bordão." (Math. 10,
deu ao pobre homem urna moeda. Ao 9-10). Conheceu claramente que esta era
vêr a mão cio J,eproso, teve um arrepio a regra, que Deus lhe déra para obser­
ele horror e nojo. Env,ergonhado desta var. Acabada a missa, deu aos pobres
fraqueza, tomou a mão do doente e bei­ o dinheiro que ainda possuía; tirou os
jou-a term1Jmente. sapatos, vestiu-se de grosso habito, cin­
Pouco a pouco se formou em Fran­ giu-se ele aspero cordão e tomou a re­
cisco o desejo ele desfazer-se ele tudo solução ele viver em pobreza apostolica.
que é do mundo, procurar a solidão e Transformado assim em penitente pu­
•entregar-se á oração. De um lado sentia blico, procur-ou os centros da cidade,

S. Francisco - S. Boaventura. Waddlng. Helyot VII. Bolland. II. Joergensen: vida de


3. Fr. - Felder: Ideaes de S. Fr. de Assis.

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288 4 de Outubro

prégando por toda parte a necessidade macias pelo espmto cio Fundador, tanto
da penitencia. Tão eloquente era seu ap­ bem fizeram e ainda fazem no mundo
pello, que peccadores se converteram e inteiro, trabalhando pela gloria de Deus
outros se offereceram para acompa­ e a salvação das almas.
nhai-o neste novo estado de vicia. Obtida a approvação da regra, Fran­
O n u mero cisco v o ltou
destes compa­ p a r a Assis,
nheiros cres­ onde fixou re­
ceu i n e s p e­ siden c i a nu­
rad a m e n t e. ma casa pobre
Quando eram e abandonada,
doze, Francis­ proxi m a da
co mandou-os Egreja chama­
para as aldeias da Porciuncu­
e cidades, com la. Lá morou
a ordem de Francisco mui-
pregar p e n i­ to-s annos, en­
tencia. Em vez tregue inteira­
de dar-lhes di­ mente a urna
nheiro para a vicia toda ele
via g e m, re­ Deus. Desta
commen d o ur casa de Por­
lhes a palavra ciunc u Ia en­
do Psalmista, Yiava os com­
que diz: "En­ panheiros co­
trega ao Se­ rno missiona­
nhor teus cui­ rias da peni­
dados e elle tencia e do
te sustentará". despre z o do
A o s compa­ m u n d o. Re­
nheiros, cujo c o rnmendava­
numero cres­ lhes o espirita
cia de. dia a de penitenci'.!.,
dia, Francisco ela mortifica­
deu uma nor­ ção e do des­
m a de vida prezo do mun­
por elle cam­ do e dizia-
pos ta. Es t a 1 h e s: "Não
prime i r a re­ vos incom1110-
S. Francisco de Assis
gra teve a ap­ deis c o 111 o
provaç ã o de S. Francisco de Assis foi o primeiro, quem armou conceito d o s
um Presepio de Natal, como meio de chamar a
Inno c e n c i o attenção dos fieis para o grande Mysterio da En­ homens, que
III, em 1209. carnação do Filho de Deus, e plastlcamente lhes vos desprezam
mostrar a encantadora scena elo Nascimento de Je-
Francisco· e os sus Christo em Belém. como loucos �
c o mpanheiros tolos. Prégae
fizeram votos sol·einnes cleante do Sum­ penitencia em toda a simplicidade,
mo Pontifice, o qual o nomeou Superior confiando naquelle que venceu o mun­
da nova Ordem. do pela humanidade. E' elle, é seu
E' esta a origem da celebre Ordem espirito que fala por vossa bocca.
Franciscana, hoje dividida e.;rn muitas Não troqueis o reino do céo por algu-
familias monasticas, as quaes, todas ani- 111:as vantagens temporc1:es e não . despre-

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4 de Outubro 289

zeis a quem não vive como vós. Deus é Perguntado por um dos companhei­
Senhor delles, como vosso, e facil lhe é ros sobre o conceito que de si proprio
cha.mal-os a si por outros caminhos." fazia, respondeu: "Julgo não haver no
mundo peccador mais indigno que eu";
Os benedictinos, a quem pertencia a
e continuou: "Si Deus, em sua miseri­
egrejinha e o terreno adjacente, deram­
cordia, tivesse dado ao homem mais
nos a Francisco e aos companheiros,
perverso as graças que se dignou de
para a construcção dum pequeno con­
proporcionar a mim, não duvideis que
vento e Francisco acceitou o presente
este hdmem seria muito mais grato e
com muita satisfacção.
piedoso que eu." Foi ainda por hurmil­
O maior cuidado do Santo era dar dade que se deteve da ordenação sacer­
aos companheiros e discípulos uma so­ dotal, porque se julgava indigno de ser
lida educação religiosa, como era ne­ sacerdote. Tratava os sacerdotes com
cessario a homens que se destinavam todo respeito e dizia: "Si ao mesmo
a ser instrumentos na mão de Deus, pa­ t:empo me encontrasse com um Anjo e
ra a salvação das almas. Em todas as um sacerdote, eu beijaria em primeiro
virtudes lhes servia de exemplo o mais Jogar a mão deste e depois cum'primen­
perfeito. A penitencia, que a outros pré­ taria o Anjo. Devo mais respeito áquel­
gava e que queria que pelos seus fosse le que s'egura nas mãos o Corpo santís­
prégada, teve em Francisco o principal simo de Jesurs Christo."
representante. Raras V'Czes tomava a co­ Que diz,er da pobreza que o santo ho­
mida cozida e, tomando-a, estragava-lhe mem observava e dos seus exigia que
o gosto, misturando-a , com cinza ou observassem ? Do seu amor a Deus e
agua. Além dos quarenta dias cio jejunn ao proximo ? Da sua devoção á Sagrada
quaresmal, intercalava Francisco um Paixão e Morte de Jesus Christo, á San­
outro jejum equivalente, que começava üssiima Virgem e a outros Santos ? E
depois da Epiphania. De jejum eram 0s da:s demais virtudes, cujos exerrnplos são
dias entre as Festas de S. Pedro e da tão nUlnrerosos, que se encherial!l1 livros
_\ssumpção de Nossa Senhora. As fes­ narrando-us ?
tas de S. Miguel e de outros santos An­ Depois da conversão, Francisco re­
jos eram acompanhadas ele jejuns qua­ nunciou a toda sorte de propriedade.
dragesimacs. Servia-lhe de leito o chão, Sentia prazer em'. não possuir cousa al­
fazendo uma pedra ou um toco as ve­ gulma e soffrer o sacrificio da pobreza.
zes dum travesseiro. O habito era de "A pobreza - dizia - é o caminho
fazenda grosseira. Todos os dias sujei­ ela salvação, o fundamento da humilda­
tava o corpo á dma flagellação. A in­ de, a raiz ela perfeição. Produz fructos
tenção em todas estas mortificações era escondidos, mas que se multiplicam de
fazer penitencia pelos peccados com­ mil maneiras". A pobreza era sua se­
mettidos e precaver-se de falta:s futuras, nhora, rai'!1ha, mãe e esposa. A Deus pe­
bem como para defender-se contra ten­ dia instantemente que fosse sua heran­
tações impuras. Accom!mettido uma vez ça e privilegio.
de tentações fortissimas contra a pure­ Na oração, nos transportes de amor,
za, o santo homem revolveu-se na neve, não achava outra expressão, a não s·er
a ponto de perder a sensibilidade. esta: "Meu Deus e meu tudo!" Con­
A htmnildade de Francisco não era versando sobre Deus, reflectia-se-lhe no
menor que seu espírito de penitencia. semblante a mais pura alegria. O amor
Não tolerava palavra e1n seu louvor. ao proximo impellia-o a servir aO'S doen­
"Não elogieis a ninguem, em quanto tes, a soccorrer os necessitados, a con­
não se lhe souber o fim. Ninguem é na­ solar os afflictos. O desejo de converter
da mais e nada menos do que é aos os infieis, de derraimar o sangue por
olhos de Deus." amor de Deus, levou-o a emprehender a
Luz Perpetu� 19 - II vol.

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290 4 de Outubro

penosa viagem até a Syria e apresen­ do a morte approximar-se, fez-se trans­


ta:r-se ao Sultão de Iconia, como préga­ portar para a egreja da Porciuncula
dor da penitencia. onde, deitado sobre o chão, recebeu com
A devoção de Francisco á Sagrada rrluita devoção os santos Sacramentos,
Paixão e Morte de Nosso Senhor foi entregando logo depois a alma a Deus.
tão extraorclinaria, que Deus quiz re­ Antes de expirar, recomltn'endou aos
compensai-a com um milagre inaudito. irlmãos de Ordem a fiel obsiervancia da
Dois annos antes ela morte, Francisco regra e dando-lhes a benção, disse: "Fi­
praticou, segundo o costúnre, o jejum ca-e firmes no temor de Deus e nelle
quaresmal em preparação á festa de São perseverae ! Bemaventurados aquelles
Miguel, e para este fim retirára-se ao que perS'eVerarem na obra começada.
Monte Alverne. No dia da exaltação ela Vou para Deus e recommendo-vos á sua
Santa Cruz, arrebatado em extase, viu benevolencia' '.
que do céo descia um luminoso Sera­ Tendo assim falado, quiz que lhe les­
phim. O Anjo tinha seis azas e Fran­ s'em os capítulos da Sagrada Paixão e
cisco reconheceu ne' Ue a figura de N üs­ Morte de Jesus Christo, do Evangelho
so Senhor crucificado, com as cinco ::ha­ de S. João. Terminada esta leitura, co­
gas. Ao mesmo tern'po o santo homem meçou elle mesmo a recitação do Psal­
sentiu no lado, nas mãos e nos pés cha­ mo 141, até as palavras : "Tirae a nossa
gas egua:es, que distillavam umas got­ alma do carcere, para quie eu louve o
tas de sangue. Esties signaes lhe ficaram vosso nome. Os justos estão á minha
até a !111'orte. Embora Francisco procu­ espera, para que me · deis a recom­
rasse escondei-as cuidadosamente, não o pensa !" Foram-lhe estas as ultimas ex­
conseguiu. Fora:m-lhe vistas no corpo, pressões.
vivo e morto. Estas chagas causaram­ S. Francisco morreu no anno de 1226,
lhe grandes dôres; mas Francisco jul­ na edade de 45 annos. Muito antes ti­
gou-se venturoso' em poder soffrer c0<111 vera a revelação do perdão completo
o Salvador. (*) dos seus peccados. Em outra occasião
Dois annos depois desta visão Fran­ lhe foi assegurada sua eterna salvação.
cisco cahiu gravemente doente. Sentin- Embora estas :revelações lhe servissem
de grande consolo, nem por isto quiz
(•) A existencla das chagas mysteriosas attenuar o rigor da penitencia e deixar
no corpo de S. Francisco f! um facto que de chorar os peccaidos. "Supposto que
exclue qualquer duvida de fraude ou enga­
no. O vigario geral da Ordem Franciscana, tivesse commettido o inais leve peccado
logo depois da morte do Fundador, em cir­ e isto ulma vez só, motivo teria de sobra
cular a todos os membros da Ordem, faz de chorai-o toda a minha vida."
menção das chagas. Lucas de Tuy, bispo
hespanhol, na obra contra os Albigenses, Muitos e grandes milagres fez São
escrlpta em 1231, fala das chagas de São Francisco antes e depois da morte. O
Francisco como de um facto testemunhado
por grande numero de pessoas do estado Papa Greg-orio IX canonisou-o em 16
laical e clerical, e cita a blographia do San­ ele Julho de 1228.
to, composta por Thomaz de Celano, dlscl­
pulo e companheiro ele S. Francisco. Em O corpo de S. Francisco repousa de­
uma bulla de 1231, dirigida aos bohemios baixo do altar-!mór da cathedral de As­
que punham em duvida a e,;tigmatisação d;
S. Francisco, o Papa Gregorio declara a au­ sis. Por urna permissão especial de Deus
thenticidade da mesma, como um facto tes­ aconteceu que, durante seis seculos, fi­
temunhado por elle mesmo e muitos car­
deaes. O Papa Alexandre IV declara num casse ignorado o jazigo das santas reli­
discurso por elle feito em 1254, ter visto pes­ qnias. Em 1818 foram encontradas e
,soalmente os estygmas no corpo de S. Fran­
cisco. Cincoenta franciscanos, Santa Clara e authenticahlente reconhecidas.
todas as suas Irmãs viram no corpo de 6.
Francisco as chagas e beijaram-nas. S. Boa­ REFLEXÕES
ventura, que em 1261 escreveu a vida de s.
Francisco, confirma o facto de muitos Ir­ A Regra e o Testamento de S. Francis­
mãos e alguns cardeaes terem visto muitas co revelam uma sabedoria cujo conheci­
vezes as chagas de S. Francisco. mento o nosso tempo parece ter per-

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5 de Outubro 291

dido; tanto na vida publica como no seio cisco, que não chegou a ser sacerdote,
da familia: a sabedoria da humildade, da diacono apenas, funda um.a nova Ordem,
simplicidade, do desprendimento e da fé Ordem sem semelhante na historia, Ordem
em Deus. Os homens do seculo XX muito cuja actividade deixou traços indeleveis na
pouco têm destas virtudes. São antes or­ historia dos povos. Sua personalidade em­
gulhosos., egoístas, calculistas, cobardes, polga todas as camadas da sociedade. Pa­
cheios de respeito humano, julgando-se en­ pas, Imperadores, Reis o procuram e lhe
tretanto superiores em intelligencia e sa­ pedem conselho. O Soberano do mundo
ber. E' este o motivo porque a vida reli­ islamítico é seu admirador; o povo accla­
giosa no serviço de Deus não se eleva a ma-o; sua chegada a uma cidade, a um po­
um nível mais alto como a vemos no se­ voado é festa. Em triumpho é recebido
culo de S. Francisco e nos seculos subse­ pelo clero e pela população; creanças o
quentes . Forçosamente havemos de voltar festejam e lhe atiram petalas de flores.
á simplicidade de S. Francisco e do sei.! Sente-se feliz quem consegue apanhar um
tempo, para entrarmos no reino dos ceus. olhar seu, ouvir uma palavra da sua bocca
Foi esta simplicidade, esta humildade, que e beijar seu humilde habito . Realmente
deu a S. Francisco e aos seus companhci-­ São Francisco era o consolo, a alegria da
ros tanto poder sobre as almas, e grandes Italia, do seu seculo, do mundo inteiro.
Santos á Egreja. Entregar-se inteiramente (Meschler).
a Deus é o que o exemplo de S. Francis­
co nos ensina. Significativo é o facto de Santos do Martyrologio Romano, cuja rne­
S. Francisco no leito da morte se ter lem­ moria é celebrada hoje:
brado de uma obra de caridade que fizera No Egypto muitos santos martyres entre
a um · pobre leproso, obra de que lhe ve:il estes os irmãos Marcos e Marciano. 304.
muito consolo e satisfação. Esse gesto <i•� Em Damasco, o bispo-martyr Pedro; ac­
caridade foi decisivo para a vida do Santo. cusado de ser christão, os beduinos corta­
Foi a prova da sua vocação, de sua santi­ ram-lhe a lingua, amputaram-lhe pés e
dade, de sua grandeza. Francisco entre­ mãos e crucificaram-no. 742.
gou-se a Deus. Foi sua felicidade. Co,110 Em Paris a memoria da santa virgem
Deus respondeu a esta confiança ? Fran- Aurea. 666.

5 de Outubro·

S. Placído e companheíros, Martyres


� ÃO PLACIDO, ela Ordem Dcnc­ ção do abbade e correu pressuroso para
�- dictina, nasceu em Roma. O pae, o lagar ela desgraça. Sem experimentar o
Tertullo, personagem de grande desta­ menor medo, entrou na agua e agarrou
que na sociedade romana, egualmente o menino pelos cabeUos, salvando-o da
distincto pela origem e pelo saber, oc­ ,norte certa.
cupava os cargos mai· s elevados. Piedo­ S. Bento attribuiu este milagre á obe­
so que ·era e desejando dar ao filho uma diencia de Mauro, e este viu no facto
boa educação, confiou-o aos cuidados a efficacia da benção do santo abbade.
de S. Bento. Placido tinha apenas sete Placido, porém, disse: "Quando me ti­
annos, quando foi entregue aos sabias raralm da agua, vi sobre minha cabeça a
monges. pellucia do abbade e elle mesmo me soc­
Aconteceu que, brincando nas mar­ ·correr."
gens do lago Subiaco, perdesse o equilí­ A salvação milagrosa da morte certa,
brio e cahisse n'agua. Estava S. Bento, nas aguas cio Subiaco, foi por todos
na sua cella, quando por intuição soube considerada uma imagem das graças au­
do desastre e ordenou ao joven Mauro xiliadoras, que o preservaram do abys­
que acudisse á criança, que estava em mo cio peccaclo. Elle mesmo reconheceu
perigo de afogar-se. Mauro pediu a ben- neste importanbe facto de sua vicia um

S. Placido - S. Gregorio Magno, Dial 1. 2. c. 3. Rambeck: Benediktlnerjahr. Raess


e ,Veiss XIV.

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292 5 de Outubro
-- ____c,;c:_-:::;:_-=-=-------- -======
aviso elo céo, para que iniciasse resolu­ do a paz foi perturbada com a chegada
tamente o serviç-o de Deus. de uma flotilha de piratas pagãos que,
Tanto na piedade, como no exercício inimigos de tudo que levava o nome de
cla:s art,es, Placido fez tantos progressos, christão, concentravam todo o odio con­
que aos proprios ecclesiasticos podia tra os monges. O mosteiro de Placido
servir de modelo. foi alvo da furia destruidora dos barba­
Chegando á idade 0111 qu,e devia tomar ras. Placido e os companheiros foran.n
deliberações para a vida toda, decidiu­ trucidados e o convento foi reduzido a
se entrar para o convento. Tertullo não um montão de escombros, no anno 546.
só deu todo o consenti'lnento, como tam­ O n1osteiro de S. Placiclo, mais co­
bcm fez á Ordem doação de largos ter­ nhecido pelo nomie de S. João Baptista,
renos nas proximidades do monte Cas­ foi restaurado poucos annos depois.
sino, onde S. Bento tinha coni,eçado a Em 669 e 880 se deram novas scenas
construir o primeiro convento. Além ele matança e pilhagem, provocadas pe­
desta doação, cedeu aos benedictinos los sarracenos. No anno de 1432 alguns
grandes terrenos na Sicília, na convic­ fidalgos de Messina fundaram o mos­
ção de fazer desta maneira o melhor teiro de S. Placido de Colonero, distante
uso possível de sua fortuna. diez ,milhas da ci-dade.
O nobre gesto de Tertullo não teve Os corpos de S. Placido e seus com­
approvação ele todos. Houve protestos e pa:nheiros de ma:rtyrio foram encontra­
até requisições indebitas. S. Bento, no dos na egreja de S. João Baptista, em
intuito ele r·equisitar tudo e defender os M,essina, onde ainda se achann.
inte11esses da Ordem, mandou o joven
Placiclo á Sicília. Grande confiança ti­ REFLEXÕES
nha na virtude e habilidade deste jov-211 Nunca ninguem viu em S. Placido o me­
nor movimento de ira. A ira é um vicio
religioso que, munido da benção do frequentemente encontrado entre os ho­
santo àbbade, se pôz a caminho para lá, mens. Em si a ira não é peccado.
onde foi festiva.menre recebido. Sem Ha uma santa ira, de que o proprio
muito empenho, poude salvar os terre­ Salvador se deixou tomar. A ira dos
Santos visa a gloria de Deus e o bem das
nos, aos quaes especulação interesseira almas e nunca ultrapassa os limites da jus­
queria dar outro destino. tiça e da moderação. Em muitos casos a
De combinação com S. Bento, escolheu ira é peccado, ou porque é immoderada e
um lagar proprio para a fundação de injustificavel, ou degenera em odio e ini­
mizade, e prorompe em blasphemias e im­
um mosteiro, nas proximidades de Me-s­ properios. "O homem não se precipite na
sina. Dentro do espaço de quatro annos ira, porque a ira humana não faz o que é
estavam promptos o convento e a justo perante Deus" - escreve o Apostolo
egreJa. S. Tiago. (1. 19). "Quem se irrita, facil­
mente cáe em receado". (Prov. 29. 22).
Uma vez installaclo o novo mosteiro, '' Tira a ira de teu coração", exhorta o Es­
não faltaram homens que para lá s,e di­ pirita Santo (Eccl. 1 I. 10), porque a ira é
rigissem, pedindo para serem acceitos incompativel com a caridade e a mansidã_o.
Com a graça de Deus e com boa vontade
entre os religiosos. Sob a sábia direcção se consegue combater o vicio da ira, como
ele Placido, o convento floresceu visivel­ demonstra o exemplo da vida de muitos
mente. Mais do que a palavra, era tal o Santos, que, por indole, estavam inclinados
exemplo do Superior, que os monges, a este vicio.
seus filhos espirituaes, se viam anima­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
dos e levados a t1n1a perfeita vida mo­ moria é celebrada hoje:
nastica. Em Treves os santos martyres Palmacio e
Ninguem como elk se dedicava á ora­ seus companheiros no tempo da perseguição
c;ão, á penitencia e á caridade. De sua de Diocleciano, quando Rictlovaro era go­
vernador da cidade. 302.
bocca não se ouvia palavra aspera ou Em Léon, na Hespanha, a memoria do
offensiva. Nunca ninguem o viu ocioso. bispo S. Froilano, grande amigo da pobreza
Corriam tranquillos os tempos, quan- e taumaturgo. 1006.

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6 de Outubro 293

6 de Outubro

SÃO BRUNO
(t 1101)

m ÃO BRUNO, filho ele nobre fa­ vera na ultima noite. Pare, cia-lhe Yêr
� milia de Colonia (Rhenania) , nas­ Deus em pessoa, num togar deserto ela
ceu no anno ele 1035. Desde a infancia Diocese, erigir um templo, chamado Car­
trazia Bruno o cunho de u'111a alm:i. elei­ tucho, e da terra se elevaram sete es­
ta, o que se lhe manifestava na aversão t:rellas que, formando um circulo, toma­
a tudo que era leviano, na prudencia, ram a dianteira, para lhe indicar o ca­
modestia e pre<lilecção para tudo que minho para aquelle Jogar.
era de Deus e de seu santo serviço. Apenas Bruno e os companheiros lhe
Tendo a idade propria, fPequentou a falaram cio plano, quando nelles reco­
esoola de S. Cuniberto, na qual fez tão nheceu os 1nensageiros divinos, preconi­
brilhantes progressos, que o Arcebispo saclos pelas sete estrellas vistas em so­
ele Colonia, Santo Hanno, não hesitou nho. Abraçou-os com muito carinho e
em riecebel-o entre os derigos e mais anilmou-os a executar o projecto heroi­
tarde lhe off.erecer um canonicaclo. co. Indicou-lhes o Jogar da futura re­
Morto o Arcebispo, Bruno acceitou um sidencia e prometteu-lhes toclo o apoio.
canonicaclo ,em Rheims e é provavcl que Para que não se embalassem cm vãs es­
tenha lá occupaclo o Jogar ele instructor peranças e os puzesse ao abrigo contra
do clero. duras decepções, fez-lhes uma descripção
Foi em Rheims que, corno fructo elas minuciosa claqueUe Jogar, que aléim cl,�
meditações, lhe sobreveiu um aborreci­ deserto, era inhospito e pavoroso. Era
mento profundo elas vaidades e praze­ precisa1nente o que procuravam: um Jo­
res cio mundo, o que o determinou a . gar de accesso clifficil, para ficarem li­
abandonar· tudo que ao mundo o ligava, vres de relações com o mundo.
e procurar a solidão. Hugo, encantado com o espirita ele
Seis amigos acompanharam-no: Lan­ sacrifício claquelles homens, hospedou­
duino, Estevam de Lonry, Estevam os em. casa, até que os raios cio sol ela
de Die, conegos ele S. Rufo cio Dauphi­ primavera torna•ssem mais viajaveis os
né, Hugo (sacerdote já ccloso) e mais caJminhos. Elle mesmo queria acompa­
dois leigos, André e Gerin. Bruno, en­ nhai-os ·e entregar-lhes o sitio da futura
tretanto, fez-lhes vêr que pouco adian­ :residencia.
taria metterem:-sie na solidão, si não ti­ Chegados ao Jogar escolhiclo, Bruno e
vessem um guia illustrado, competente, os companheiros começaram a construir
mestre da oração e da santidade. ulma casa ele oração e pequenas celbs,
Formaram conselho e resolveram di­ U1111a regularimente distanciada ela outra.
ng1r-se a Hugo, Bispo de Greno­ Foi esta a origem da Ordeim cios Cartu­
ble, ho1mem reconhecidamente santo, em chos, no anno ele 1084.
cuja vasta Diocese tam:bem existiam Difficil tarefa é dar uma descripção
n:iuitos Jogares proprios para se fundar minuciosa da vida claqueHes santos ho­
uma ermida. mens naquella solidão. Obrigaram-s� a
Hugo recebeu os sete homens, que observar absoluto ,e permanente silencio,
lhe eram clesconheciclos, e, vendo-os, para tanto n,ais poder estar em oração
lembrou-se de um curioso sonho que ti- com Deus. Grande parte do dia dedica-

S. Bruno - Helyot. Buttler IX. Mabillon Annal Ben. V. e Act. Ben. IX. - Masson I.
Annal Cartus. L'hlstolre Ilt. de la Fr. IX. Bolland III.

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294 6 de Outubro

vam á recitação de psalmos. O corpo pa­ conselheiro particular, a quem vrs1tava


recia não ter outro destino senão soffrer diversas vezes por anno, desprezando as
mortificação. A occupação principal e fadigas e sacrifícios inherentes á pcno­
predilecta era copiar bons e piedosos li­ sissfü111a viagem.
vros, para assim ganhar o sustento. Inesperadamente recebeu Bruno or­
Ettn Bruno, o iniciador da obra, viam dem, do Papa Urbano II para se apre­
o Superior. Não só em o mais illustn..do, sentar em Roma. Bruno não era um des­
corno tamlbem na pratica das virtudes nheciclo na Santa Sé, pois Urbano ti­
era o primeiro. Foram estes os motivos nha sido seu discipulo, e era a veneração
taimbem porque Hugo o escolheu para ao 111 estre, a admiração do seu saber e
1

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G'IYc) G'Wê)

S. Bruno
Os habitantes de Reggio, na Calabria, offereceram
a Bruno a mitra, e o Papa deu a entender que sflr:a
muito do seu gosto, si a acceltasse. Bruno, porém,
se oppoz â.s honrosas proposta:;;.

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6 de Outubro 2]5
=============== ===========--- -----------=- --- • - - --

virtudes, que inspiraram ao Papa mos­ cdm,plicação impossibilitou-lhe o regres­


trar-se grato ao bemfeitor e ao mesmo so. Os habitantes de Reggio, na Cala­
tempo lhe pedir conselhos de que ne­ bria, tendo perdido o Arcebispo, of ferc­
cessitava. ceram a Bruno a mitra, e o Papa deu-lhe
A ordem do Papa causou tanta tris­ a entender que seria muito de seu gosto,
teza na pequena cqn1munidade, que che­ si a acceitasse. Bruno, porém, oppoz-se
gou ao completo desanilmo. Não podiam ás proposições cio episcopado, para po­
os companheiros de Bruno conformar­ der voltar á Ordem. Nesse tempo, re­
se com a ida do mestre, e assim resolve­ solveu o Papa t11ma viagem á França e
ram acam,panhal-o na viagem a Roma, Bruno, receiando ficar nova.mente preso
para a qual Hugo lhes deu a benção. com negocios ela Santa Sé, desis­
A recepção em Roma não podia ser tiu cio seu plano primitivo e, com outros
mais cordeal e fidalga. Bruno teve que companheiros qt11e ganhou em Roma,
ficar ao lado do Papa e os co,m,panhei­ fundou uma nova casa da Ordem no de­
ros foram hospedados na cidade, onde serto de La Torre, na Diocese de Squil­
continuaram a vida de religiosos. Bre­ lace.
ve, porém, experimentaram a grande Deus deu-lhe t11m grande amigo e bem­
dif ferença entre a cidade e a solidão na feitor na pessoa do Duque Rogerio, da
cartucha. Sicilia e Calabria, -o qual lhe doou terre­
Não foi possivel obrer do Papa o re­ no e meios para fazer um convento e
gresso de Bruno. Para a obra não cor­ um:a egrieja dupla, cleclica<la á Santissi­
rer perigo ele dissolver-se, nomeou Prior ma Virgem e a Sant'Estevam. Tendo
a Landuino, o qual com os demais com­ assim garantida a subsistencia da Or­
panheiros voltou para a França. dem, trabalhou para sua niaior organi­
Embora separado do rebanho, conser­ sação e 5olidificação espiritual.
vou-se Bruno sempre em contacto com Em 1101, adoeceu Bruno gravemen­
os filhos espirituaes, por meio ele uma te. Na presença da morte, por as•sim di­
correspondencia ininterrupta, ficando zer, deante dos irmãos de Ordem, fez
assim sempre ao par dos acontecimen­ uma confissão publica de t-oda a vida.
tos, não lhe faltando o conselho e a as­ Á confissão seguiu-se a profis·são de fé,
sistencia espiritual aos religiosos, sem� na qual frisou bem o dogma da SS. Eu­
pre que assim o reclamavam. charistia, contra as idéas erroneas de
A obra de Bruno e dos companheiros Berengari-o e accrescentou: "Eu creio
era muito santa, para não experimentar nos santos Sacralmentos da Egreja Ca­
as ciladas do inimigo, que, servindo-se tholica; em. particular creio que o pão
de hcimlens máos e invejosos, tudo fez e o vinho consagrados na santa Missa
para e9Jllorecer o espirita cios santos ho­ são o corpo verdadeiro ele Jesus Christo
mens, insinuando-lhes a inutilidade e e seu verdadeiro sangue".
contraproduc,encia ele uma vicia tão aus­ No dia 6 de Outubro entriegou o es­
tera, a desnecessidade e desvantagem de pirito a Deus. O corpo, enterrado no
tantos sacrificios acima das forças da cemiterio de La Torre, em 1515 foi
natureza e outras; cousas mais. Não pe­ encontrado intacto.
quena foi a perplexidade dos religiosos, Leão X approvou, para uso ela Or­
que não cedeu emquanto Deus não lhes dem, o Officio do Fundador, e Gregorio
mostrasse numa celeste revelação, a futi­ XV ·extendeu-o para o uso da Egreja
lidade das objecções diabolicas. Assim toda.
ficaraim consolados e reanimaram-se a
seguir fieLmente a Regra até a morte. REFLEXÕES
A instancia de muitos pedidos, obte­ A vida de S. Bruno recom,menda-nos a
ve Bruno licença para voltar e retomar pratica de uma virtude raras vezes encon�
trada no mundo, e no emtanto tão necessa­
o Jogar na communidade; mas, nova ria aos que querem salvar a alma: o amor

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296 Festa do Santo Rosario

ã solidão. Bem poucos poderão, como Bru­ las nos escravisarão; si não fugirmos do
no, procurar o ermo e lá pa�sar grande mundo, elle nos absorverá; si não resistir­
parte da vida., em completo retiro do mun­ m-0s ao demonio, elle nos ha de subjugar.
do. Mas o que todos podem e devem fazer Demonio, mundo e nossa carne, e�tes tres
é, de vez em quando, recolher-se espiritual­ terríveis inimigos são reduzidos á 1mpoten­
mente, procurar a solidão do coração, exer­ cia, pelo retiro espiritual, pela vigilancia e
cer uma vigilancia mais rigorosa sobre os pela oração.
sentidos e os movimentos do espírito. "Vi-
giae e orae" - é a ordem que Nosso Se- Santos cuja memoria é celebrada hoje:
nhor deu, não só aos Apostolas, como a Em Laodicéa o santo bispo-martyr S1i.ga-
todos os fieis. Onde não ha vigilancia, ha ris, um dos primeiros discipulos de S. Paulo.
dissipação; faltando a oração, sécca a fon- Em Agen, na França, a morte_ da santa
te das graças. Numa vida, como a nossa, virgem-martyr Fé. Seu exemplo causou a
tão cheia de perigos e abrolhos, a vigilàn- conversiio de S. Caprasio. 303.
eia e a oração são indispensaveis. Si não Na Cochi�china o m�rtyrlo de 1:'rancis co
conseguirmos domar as nossas paixões, el- .
Frung, official do exercito annam1t1co. ,
18a8.
❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖-Ho❖❖❖❖-H-++❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-Ho+•:·❖,§ ,§ 1 1 1 1 :O❖-H-+++❖❖❖

Leitura para a

Festa do Santo Rosarí.o


1. O Rasaria é uma devoção su111nia­ deixando-nos o merito de uma contem­
me11te 111eritoria. Uma oração é tanto plação, si bem que breve, mas altíssima
mais meritoria, quanto mais cara é a ·e proveitosa.
Deus. Ora, o Rosario conwõe-se justa­ Uma oração, cmno qualqu�r outra
n1!enve das duas fo11111as de oração mais obra boa, é tanto mais meritona, quan­
caras a Deus, do Padre Nosso, ensina­ to mais a nossa vontade se identifica
do pelo proprio Deus feito homem e da cdm a de Deus; quanto mais é feita por
Ave 1\1aria, cmno nol-a ensinaram o Ar­ obediencia á legiüma autoridade, que é
chanjo S. Gabriel, e, por inspiração de representante de Deus. Ora bem. Reci­
Deus, Sant'Isabel ,e a Santa Egreja. Si os tando o terço, satisfazemos a um dos de­
Santos do Paraíso pudessem voltar á sejos mais ardentes ela Egreja, a qual o
terra e augmentar seus meritos, de pre­ apregoou sua oração por excellencia,
ferencia a qualquer outra oração, se ser­ disti-nguindo-a com festa solemne e de­
viriam do Padre Nosso e da Ave Ma­ clicanclo-lhe o mcz inteiro de Outubro.
ria para honrar e louvar a Deus. "Desejamos vêr se1111pre mais largamen­
Uma oração é tanto mais meritoria, te pmpagada esta piedosa pratica (do
quanto mais a invocação material fôr Rosario) e tornar-se a devoção verdadei­
vivificada pela intençã:o espiritual e pelo ramente popular ele todos os J ogares, de
affecto do coração. Pouco ou nenhum todos os dias." (Leão XIII.)
valor teria a oração vocal, si não par­ Desta maneira, a'S'sim como por ra­
tisse da devoção interna da alma. zão de ohecliencia, o Divino Officio
Pois bem, o Rosario une perfeita e (breviario) para o clero é a oração mais
graciosamente a oração vocal com a meritoria, assim a recitação do Rosario,
n1!ental, apresentando á nossa meditação reco1T�mendacla a todos os fieis, é de
os mysterios da nossa Redempção. tlim valor inestii1111avel para o povo.
Recitando o Rosario, dirigimos o nos­ 2. É uma devoção sunimamente im­
so pensamento a Deus, ao Filho de petratoria. De duas qualidades principaes
Deus e á Mãe de Deus. Estes affectos a oração deriva sua maior efficada; estes
são outros tantos raios de luz sobrena­ dois dotes sã-o a perseverança assidua
tural, que nos illumina, nos inflam,-n.a, e a união de muitos corações pela mes-
Festa do Santo Rasaria - Bertetti: II sac. pred.

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Festa do Santo Rosario '297

ma oração. Estas duas qualidades vemos oração. Por seu impulso e inspiração foi
adm!iravelmente ligadas ao Rosario. Com que S. Domingos fez do Rosario a arma
ardente e reiterada supplica se pede, se poderosa para co1111bater a heresia dos
procura, se bate, faz-se doce violencia A!Ibigenses.
aos Sagrados Corações de Jesus e de
A' recitação do Rosario é que a Egre­
Maria. Recitado em com1rnwn, terá o
ja attribue os seu� maiores triumphos, e
cu1npdmento da divina pram�ssa: "Si
grata attesta, pela bocca dos Summos
dois de vós ,se unirem entre si sobre a
Pontífices, que "pelo Rosario todos os
terra, qualquer cousa que pedirem, ser­
dias desce uma chuva de bençãos sobre
Ihes-á concedida por 1neu Pae, que está
o povo christão;" (Urbano IV) "que é
nos céos. Porque onde estão dois ou tres
a oração opportuna pa:ra honrar a Deus
congregados em meu nome, ahi estou no
e a Virgem, como afastar bem longe os
meio delles." (Math. 18. 19).
in�minentes perigos do mundo." ( Sixto
Efficacissima é a oração do Rosario, IV) "propagando-se esta devoção, os
porque dispõe em nosso fav.or o Coração christãos entl'egues á meditação dos mys­
de Maria. "Que doce alegria não deve terios, infla:mmados por esta oração, co­
ser para ella vêr-nos piamente empe­ meçarão a transformar-se em outros ho­
nhados ern lançar-lhe corôas de suppli­ mens, as trevas das heresias dissipar­
cas e de louvores bellissimos ! Si de se-ão e diffundir-se-á a luz da fé catho­
facto com estas preces rendemos a Iica." (S. Pio V.)
Deus. como é nos•so desejo, a devida
gloria : si faz•emos o protesto de nunca 3. O Rosario é uni verdadeiro alimento
mais procurar outra cousa senão cum­ espiritual. Uma oração feita com atten­
prir em tudo sua santíssima vontade; si ção produz, juntamente com o merito e
exa:It:amos sua bondade e muni f icencia, com sua efficacia impetratoria, o e f f ei­
invocando o Pa:e e pedindo nos conceda, to de refeição espiritual; e é precisa­
embora immerecidaimente, os mais esti­ mente esta attenção que nos falta mui­
mavieis bens; de tudo isto, oh! quanto tas vezes, pelas distracções a que somos
não se aJ,egrará Maria, e como não enal­ sujeitos, quando estamos a rezaT. O
tecerá ao Senhor ! Certamiente não po<le Rosario tem em si a virtude de excitar
haver linguagem 111.ais digna para nos •e nutrir em nós o recolhimento, pondo­
dirigirmos á divina majestade, que a da nos em contacto com os mysterios da
oração dominical. Tudo que no Padre nossa religião. É a oração do sabio e do
Nosso pedimos, é 'Inuito recto, muito ignorante, pois, como nenhuma outra,
bem ordenado e conforme á fé, á espe­ se adaipta á capacidade de todos.
rança e á caridade christã, e já por isto 4. Na recitação do terço se augmenta
tem o especial agrado da SS. Virgem. em nós a fé, quando corrtemplamos a vi­
Além disto, ouvindo-nos rezar, ella re­ da occulta, publica e gloriosa de Jesus
conhece cm nossa voz o timbre da voz Christo, que é o "autor e o consumima­
de seu Filho, que nos deu e nos ensinou dor de nossa fé;" (Hebr. 12. 2.) e exte­
á viva voz esta oração e nol-a impôz, riormente por meio de orações vocaes
dizendo: assim deveis rezar. Maria, manifestamos que cremos em Deus nos­
vendo-nos assim com o Rosario, cum­ so Pae providentissimo; que cremos na
prindo fielm1ente a ordem recebida, com vida eterna, na remissão dos peccados e
tanto mais amor e solicitude nos atten­ nos mysterios da augustíssima Trinda­
derá. As mysticas corôas que lhe offe­ de, da Encarnação, da maternidade di­
receJmos, são-lhe sun1!J11am,ente agrada­ vina e outros; "de modo que, ao reci­
veis e penhores de graças para nós." tar1mos bem o RosaTio, sentimos em
(Leão XIII). nossa alma uma uncção suavíssima, co­
A propria Rainha do céo fez-se qua­ mo si ouvíssemos a propria voz da Mãe
si fiadora da efficacia desta excellente celestial, que amavelmente nos ensina os

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298 Festa do Santo Rosario

divinos mysterios e nos indica o caminho santificação do Baptista Precursor, no


da salvação." (Leão XIII). Nascimento de Jesus, na apresentação do
5. Pela recitação do Rosario augine11- Menino Jesus no templo e no encontro do
/a-se-nos a esperança ele por Maria ob­ jovem Jesus entre os doutores. Emquan­
termos a abundancia da divina misericor­ to recitaimos o terço, mentalmente acom­
dia; pois são justamente os mais impor­ panhaimos a Mãe do Redemptor no acer­
tantes mysterios da Redempção, em que bo caiminho da cruz, vemol-a, no alto do
Maria se apresenta no seu papel de Co­ monte Calvario, unir seu sacrificio ao sa­
redemptora: assim na Encarnação, na crificio de seu Filho; no terço glorioso

Rainha do Santo Rosario, rogae por nós!

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Festa do Santo Rosario 299

a nossa mente se prende á pessoa de julgado indigno de ter vida; sua roorte
Nossa Senhora e medita sobre a phase é impetuosa · e sacrilegamente exigida
de sua vida depois da Resurreição, até pelo povo. Com as penas do Filho unem­
sua gloriosa Assumpção e Coroação •se as penas de sua Mãe Santissima. O
no céo. coração de Maria, apezar de não ser fe­
6. Pela recitação do terço accende-se rido, é traspassado por uma espada de
em nosso coração a caridade, o amor, a clôr, e o titulo de Mãe dolorosa é a ex­
gratidão a Jesus e Maria, que tanto fi­ p!'essão ela v,erclade. Assim o terço nos
zeram pela nossa salvação. Ao mesmo ensina que indigno de usar o nome de
tempo desperta em nossa alma o deseju christão é todo aquelle que se nega a lc-­
de seguir-lhes as pegadas e pertencer­ var a cruz de sua vida.
lhes inteiramente. O nosso espirita enle­ Nos mysterios gloriosos se nos reve�
va-se na contemplação dos grandiosos la1m os altos idéaes do céo, infinitamen­
exemplos que se nos deparam nas pes­ te superiores aos bens transitorios e fal­
soas de Jesus e Maria. Elle, ancioso por lazcs deste mundo. O terço glorioso faz­
fazer a vontade de seu Paie; ella, fazen­ nos comprehender que a morte não é o
do sua consagração perpetua de escrava cutello que tudo corta e destróe, mas a
do Senhor. passagem desta vida á outra. Ensina-nos
7. Tres males affligeni a sociedade mo­ que o caminho para o céo é estreito para
denia: a aversão a uma vida modesta e todos, e deantc de nós vemos Nosso Se­
laboriosa, a repugnancia pelo soffrimen­ nhor, que nos conforta com a promessa
to, o esquecimento dos bens futuros. No deixada aqui na terra: "Eu vou, para
Rosario encontramos wn remedia salu­ vos preparar um logar." - Vennos
tar contra estes tres rnal,es gravissimos. mais, que tempo virá em que Deus en­
(Leão XIII). Os mysterios gozosos xugará as lagrimas dos nossos olhos e
apresentam-nos na Sagrada Familia, o não haverá mais luto, nem lamento, nem
modelo perfeitissimo ela vida domestica: dôr, mas viveremos em Deus N. Se­
pureza e simplicidade de costumes, per­ nhor, feitos semelhantes a Elle, pois o
feita e perpetua harmonia cios animas, veremos como é, inebriaclos pela torrente
orcleim jamais perturbada, respeito e elas suas delicias, concidadãos dos San­
amor reciprocas, amor e declicação ao tos, na campanha felicissima de nossa
trabalho para ganhar o sustento da vi­ Rainha, nossa Mãe Maria. Uana alma
da e para pocler fazer alglllll1 bem ao que s-e eleva a taes sentimentos, inflalm­
proximo, tranquillidade do espirita e ma-sie de ta:! maneira no amor de Deus,
alegria d'alma, companheiros insepara­ que com Santo Ignacio chega a excla­
veis da consciencia recta e bem formada. nmr: "Oh cOIITio é baixa a te, rra, si a
Nos 1nysterios dolorosos vemos J esu� comparo com o céo !" e consola-se com
Christo entregue a uma tamanha tris - a palavra do Apostolo: "um soffrimen­
_teza, que o corpo s·e lhe cobriu de suor to leve e instantaneo importa-nos glo­
de sangue; vemol-o preso a modo cios ria eterna."
malfei,tores, subm:ettido a um julgamen­ Com dfeito, o Rosario mostra-nos o
to de scieJ.erados, maldito, ultrajado, ca­ unico meio de unirmos o tempo á eter­
lumniaclo; vemol-o preso á columna da nidade, a cidade terrena á cidade de
ignominia e deshumanamente flagellado, Deus. E' o unico meio de formar cara­
coroado de espinhos, pregado na cruz, cteres generosos e magnanimos.

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300 7 de Outubro

7 de Outubro

Santa Osítha, Vírgem e Martyr


( t sec. VII)
� ANTA OSITHA, de alta linha­ perança, obteve do marido a declaração
� gem, nasceu na Inglaterra, em e garantia de respeitar-lhe sempre a vir-
principios do seculo VII. Os paes, Frie­ gindade. •
debaldo e Wilteberga, ambos muito pie­ Aconteceu que Sigero tivesse de au­
dosos, educaram-na christãimente, con­ sentar-se por algum �po do castello.
fiando-a mais tarde ao cuidado maternal Ositha, aproveitando-se i!la au'S'encia do
das santas religiosas da Ord·em Benedi­ marido, fechou-se num convento, cortou
ctina. Superiora do Convento era Santa o cabello e vestiu o habito religioso.
Edith, irmã do Rei Alfredo. A instruc­ Voltando Sigero, si bêm que sentisse
ção, o exemplo das Irmãs, a vida mo­ dolorosamente a ausemµa' da esposa que­
na,stica com todos os seus encantos, fi­ rida, consentiu que eHa continuasse a
zeram com que na altna da menina to­ vida no convento. Fez niais: fundou um
rnasse forma cada vez m:ais accentuada novo convento para Ositha e aquellas
o desejo de dedicar-se a Deus de um santas pessoas que, seguindo o exem­
modo particular. plo da mesma, com, ella quizessem vi­
Passados alguns annos, quiz o pae ver em santa communidade.
y_ue voltasse para casa. Ositha reconhe­ Passaram-se os annos e vieram pira­
ceu bem os perigos que sua alma corre­ tas dinamlarquez·es, que espalharam o
ria em contacto cdm o mundo e tomou terror na Inglatierra. Incendios, pilha­
as precauções indispensaveis para guar­ g�m, assassinatos e crimes de toda a es­
dar intacta a innocencia. Para este fim pecie marcaram os caminhos por onde
recorreu á penitencia, á oração e princi­ passaram aquelles barbaras. Com um fu­
palmente ao uso do remedio mais effi­ ror especial atacara1111 o convento de
caz, que é a recepção frequente da San­ Ositha. O chefe dos bandidos, enlevado
ta Communhão. pela belleza da santa mulher, de cuja
N aquelle tempo, a Inglaterra, ou co­ nobre descendencia teve conhecimento,
mo a chamavam, - a Britannia, era o quiz que ficasse em sua companhia. Osi­
ubjecto cubiçado pela ambição cios Sa­ tha, porém, repelliu energica e sobran­
xões. Sigero, chefe dos Saxões, pediu ceiramente a vil proposta, fazendo-lhe
Ositha em casamento, a que prü11npta- vêr que relação nenhuma podia haver
111ente annuira!m os paes da donzella. entre ella e elle, que, além de tudo, era
Ositha, porém, negou-se a acceitar a pagão. O barbam não estava disposto
proposta do Conquistador. Pouco lhe va­ a largar a presa, e proseguiu nas insis­
leu a resi,stencia, pois, pelos proprios tencias, não conseguindo, entretanto, ou­
paes foi obrigada a tomar Sigero por tra resposta senão um peremptorio
marido. "não".
O casamento foi celebrado com es­ Ve• ndo, afinal, que era inutil todo o
plendor extraordinario. Para Ositha foi empenho em conquistar a sympathia de
um dia de indizivel tristeza. No intimo Ositha e tel-a por esposa, mudou de ta­
do coração pedia a Deus que lhe désse ctica, procurando intimidai-a com terrí­
uma protecção extraordinaria, para que veis arrneaças. Ositha ficou inexoravel.
pudesse guardar intacta a pureza. Essa Si antes resistiu ás blandicias e brilhan­
oração foi ouvida, pois, contra toda es- tes promessas do terrivel inimigo, as

Santa Ositha - Rambeck: Benediktlnerjahr IV. Raess e Weiss XIV.

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8 de Outubro 301

aimeaças do mesmo tão pouco consegui­ de Deus. Como o alimento material deH
ser tomado diariamente, a santa Commu­
ram amedrontai-a e alterar-lhe a attitude. nhão, sendo o alimento da alma por ex­
Pelo contrario, em alto e Lom som de­ cellencia, deve ser recebida tambem frc-­
clarou que maior honra não. lhe pock:­ quentemente. Foi por este motivo que Je­
ria ser dada cio que poder derramar o sus Christo nos deu o Santíssimo Sacra­
mento em fórma de pão. "O Santissim0
sangue em testemunho de seu amor a Sacramento é a saude da alma e do corpo
Jesus Christo. O barbaro então não mais - diz Thomaz a Kempis - o remedia d�
se conteve. Tomado de um odio irrepri­ toda a enfermidade espiritual. Cura os v,­
mível, avançou contra Ositha e, de um cios, reprime as paixões, dissipa as tenta­
ções ou enfraquece-as, augmenta a graça.
golpe cdm a esp<1Jda cortou-lhe a cabeça, corrobora a virtude, confirma a fé, forta­
dando assim á Egreja mais ulma martyr. lece a esperança, inflamma e dilata a ca
O tumulo ele Ositha foi glorificado ridade". (Imit. 4. I. cap. 4).
por muitos milagres, outros tantos teste­
munhos ele sua grande virtude e ela san­ Santos do Martyrologio Romano, cu.ia m.e-
1noria é celebrada hoje:
tidade da Religião, de que era fidelíssi­
A festa do SS. Rasaria e de Nossa Senho­
ma serva. ra das Victorias. Esta festa foi estabelecida
pelo Papa Pio V em commemoração da
REFLEXÕES grande victoria dos christãos sobre os tur­
Santa Ositha conservou a virtude no cos em Lepanto (1571). Clemente VI a ex­
meio tentador, que era a côrtc, onde vivia. tendeu sobre a Egreja toda em 1716. E'
Não ha logar no mundo, onde não seja chamada tam'bem a festa de Maria das Vi­
possível viver-se santamente. De Loth a ctorias.
Bíblia diz que se conservou puro, vivendo Em Padua a virgem martyr Santa Jus­
na corruptíssima cidade de Sodoma. Mas, tina, baptizada por Prosdochimo, discipulo
tambem não ha togar no mundo, onde a de S. Pedro.
tentação não chegue, e onde não haja peri­
go de peccado. Pela graça de Deus dispr)­ Em Roma os santos martyres Marcello e
mos de meios poderosos, para nos defender Apulcio, primeiro discipulos de Simão Ma­
contra esse perigo. Uma dessas armas é go, depois se converteram á religião, pregada
a santa Communhão. "Quem come desse por S. Pedro.
pão - disse Nosso Senhor - viverá eterna­ Em Augusta Euphratesia a virgem-mar­
mente", - i�to é, estará sempre na graça tyr Julia. sec. 4.

8 de Outubro

SANTA BRIGIDA
(t 1373)
e ANTA DRIGIDA, descendente de
� nobre estirpe da Suecia, figura
guentado e chagado. A menina, tomada
de profunda compaixão, perguntou :
·entre os Santos mais privilegiados da - Senhor, quem vos maltratou desta
Egreja Catholica. O anno de seu nasci­ maneira?
mento foi provavelmente o de 1302. Christo respondeu-lhe:
Orphã de mãe desde a mais tenra idade, - "Foram aquelles que desprezaram
foi educada por uma parenta proxima. meu amor, isto é, aquelles que trans­
Erigida tinha 10 annos, quando ou­ gridem os meus mandain1entos e se mos­
viu 11m sermão sobre a Paixão de Nos­ tram ingratos ao atmor infinito que lhes
so Senhor, que muito a in1pressionou. dedico."
Na noite seguinte, Christo lhe appare­ Esta v1sao e as palavras de Nosso
ceu em sonhos, crucificado, todo ensan- Senhor ficaram gravadas na m!emoria

Santa Brígida - Bulia canonis. Bonifacii IX. 1381. - Helyot: Hist. des ord. rei. IV.
- Vastoviús, ln vita Stae. Brigittae.

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302 8 de Outubro

da me11:na, que desde aquella hora man­ piedade e de temor de Deus soube o pie­
teve 1:ma devoção terníssima á Sagrada doso casal cmnmunicar aos empregados
Paixfo e Morte de Nosso Senhor Jest•s e subalternos.
Christo. Tiveram oito filhos, sendo quatro ho­
A' primeira visão seguiram-se outri,s mens e qnatro mulheres. Dois filhos ho-
mais, princi­ mens morre­
palme n t e na ram na meni­
hora da ora­ nice e outros
ção. Rara era cl o i s fallece­
a noite que ram n um a
Erigida nãr, se viagem, á Ter­
levantasse, pa­ ra Santa. Duas
ra p a s s ar filhas, que fi­
u m a s horas caram em
em meditação. companhia da
Muitas ma­ mãe, eram mo­
neiras inven­ delos de virtu­
tava seu amor de e edifica­
para castigar vam a todos
o corpo e des­ com seu ex­
te modo no emplo. Um a
sof frimento se outra fez-se
u n i r áquelle religiosa e san­
que tanto sof­ tificou-se no
freu por noss 1 conve n t o. A
causa. n1ais n o v a,
Obedecendo Catharina, te­
a uma ordem ve as honras
elo pae, teve cios altares da
ele contrahir Egreja. De tu­
matri m o n i o do isto se con­
c om U 1 f o, clue que Bri­
princ i p e de gicla soube dar
N ericia. Brí­ aos filhos uma
gida contava educação pri­
apenas 13 an­ morosa. Ella
nos. T a n t a mesma os ms­
força moral truiu na san­
tinha sobre o Santa Brigida ta doutrina e
marido, q u e Escreveu diversos livros de edificação espiritual. O na arte de vi­
este em pouco mais celebre é o livro das suas revelações, minu­ ver santa.men­
tempo se tor­ ciosamente examinado por seus confessores e te. Pela pala­
approvado pelo Concllio de Constança.
n o u piedoso vra e pelo ex­
catholico praticante, quando antes era emplo ensinou-lhes a praticarem as
amigo do jogo, do luxo e pouco affeito obras de misericordia, penitencia, mor­
ás praticas religiosas. tificação e piedade.
Ambos entraram na Ordem Terceira Com licença do esposo, fundou um
de S. Francisco. A casa transformou­ hospital, figurando ella mesma entre as
se-lhes então em uma especie de con­ enfePmeiras, servindo os mais pobres e
vento, em que eram praticadas as mais abandonados. Os serviços mais hll!ITiil­
duras mortificações. Este espírito de des reservava para si, chegando a lavar

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8 de Outubro 303

e beijar os pés dos pobres enfermos. tharina, tendo alcançado a idade de se­
Em certa occasião, em companhia <lo tenta e u1111 annos. Antes e depois da
marido, fez ttma viagem ao tumulo de morte, Deus glorificou sua serva com
S. Tiago, em Compostella. Na volta o nll!merosos milagres.
companheiro adoeceu gravemente. Nu­ O corpo de Santa Erigida foi depo­
ma visão, S. Dionysio lhe revelou entre sitwda em Roma, na egreja de S. Lou­
outras cousas, o restabelecimento do renço, em Panis Perna, que pertencia ás
doente. Ulfo convalesceu e poude Bri­ pobres Clarissas. No anno seguinte
gida observar uma grande mudança na ( 1374), porém, os filhos lhe fizerarrn a
alma do marido, o qual, farto das cou­ transferencia para o convento de Was­
sas do mundo, tomou a resolução ele tein, na Suecia. O Papa Eonifacio IX
aggregar-se a uma Ordem, o que fez canonisou-a e fixou-lhe o dia da festa.
com consenümento da esposa. Ulfo en­ Santa Erigida escreveu diversos li­
trou para a Ordem dos Cistercienses, na vros de edificação espiritual. O mais
qual viveu e morreu santamente. celebre é o livro de suas revelações, com­
Erigida viveu ainda trinta annos, en­ posto pelos confessores da Santa e ap­
tregue inteiramente a obras de cariclaelc, provado pelo Concilio ele Constança.
ele penitencia e de piedade. Em quatrn
dias da semana praticava o jejum, sen­ REFLEXÕES
do o da sexta-feira a pão e agua. A Santa Erigida conseguiu do esposo a
maior parte da noite passava-a em ora­ conversão, transfonnan�o-o de grande
amigo do mundo em servo de Deus. Aos
ção. Longas horas permanecia deante da filhos deu uma educação verdadeiramente
imagem do Crucificado ou nos clegrúos christã. Si as mães de familia quizcssem
cio altar do Santissimo Sacramento. Dia­ praticar as virtudes que Santa Erigiria
exercitou, bem differente seria o estado
riamente dava aHmento a doze pobres. das cousas em muitas familias. Grandes,
servindo-os na meza. muito grandes são os merecimentos que
Fundou um convento para sessenta uma mãe ele familia póde colher para si,
religiosas, dando-lhes a Regra de Santo mas grande tambcm lhe é a responsabili­
dade. Quantos e quantos peccados pode­
Agostinho, á qual accrescentou algt'.ma:; riam ser evitados nas familias, si as mães
constituições. Mais tarde se organizou soubessem levar a cruz com paciencia
uma Ordem masculina, sob a obserYan­ christã e educar os filhos no espirita de
cia desta mesma regra. Dessa maneira ,Nosso Senhor ! Si Christo não consegue
reinar em muitos lares catholicos, a culpa
teve inicio a celebre Ordem de S:rnta cabe quasi sempre aos paes, que, longe de
Brigida. Elia mesma se fez religios:1 no darem bom exemplo aos filhos, os escanda­
convento que fundára e deu ás co:npa­ lisam pela falta das virtudes mais neces­
nheiras o exemplo mais perfeito ele vir­ sarias e pelas concessões que fazem, a prin­
cipias contrarias á lei de Deus. Paes chris-­
tude. Dois annos depois de ter tomaelo o tãos não se <levem esquecer nunca cio
habito, foi com a filha Catharina a 1-'.n­ psalmista: "Que ponham toda a confiança
ma e a Terra Santa. Accomnnetticb ele em Deus, não se esqueçam das obras <l' El -
le e observem seus mandamentos". (Ps.
uma febre violenta, voltou doente p:tra
77. 7).
sua terra ·e não mais teve saude. As
grandes dôres que soffria, support:1va­
Santos do Martyrologio Rom..ano, cuja m.e­
as com a maior paciencia, evocando •�111 m.oria é celebrada hoje:
espirita a lembrança ela Sagra.ela Pai<io
Em .Terusalém a morte do ancião Simeão,
ele Nosso Senhor. Por a.mor elo divino que tomou o Menino Jesus nos braços, e
esposo desejava poder soffrer mais ain­ nessa occasião entoou o celebre cantico
da. Grande consolo trouxe-lhe uma Yis;"to '"Nunc dimittis", expressão de sua alegria e
gratidão sobre a vinda do Messias.
de Ohristo, que lhe assegurava a salY2-
Em Salonica S. Demetrio, governador. O
ção. Foi-lhe revelada tambem a hora eh martyrio foi a recompensa da fructifera
morte. Muito bem preparada e intcira- propaganda que fazia da religião christã. 303.
1mente conformada com a vontade de S. Nestor, martyr, no mesmo Jogar.
Deus, morreu nos braços da filha Ca- No Egypto Santa Thais, penitente, sec. 4.

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304 9 de Outuhro

9 de Outubro

SÃO DIQNYSIO
�- COM pezar que constatamos a um personagem de alto valor ou por­
Jm falta de datas fidedignas, concer­ que tenha desempenhado o cargo de ar­
nentes áquelles homens apostolicos, que chonte, ou pelas .excellentes qualidades
nos primeiros seetilos ela éra christã di­ civicas, tenha grangeado a estima do.;
vulgaram a doutrina de Jesus Christo concidadãos. Não acerta Asterio, quan­
Nosso Senhor. Não tinha,m em mira do no seu panegyrico apresenta Diony­
aquelles mensageiros da fé, eternisar o sio, como presidente do Areopago, pois
nome com feitos gloriosos e transmittir S. Lucas affinna ter sido simples mem­
á posteridade a memoria dos seus labo­ bro. Não é egua1mente admissivel a opi­
res. Como unico meio de implantar a fé nião de Cesario, segundo a qual Diony­
nos corações, serviram-se ela palavra e sio tenha sido natural da Thracia, por­
as proprias perseguições aconselhavam­ que só os athenienses podiam pertencer
lhes guardar na solidão do silencio a ao Areopago. Não erramos, pois, em
actividade apostolica. Accresce que es­ dizer que Dionysio era natural de Athe­
criptos importantes daquella época, das nas e isto affinnando, estamos de accor­
pristinas éras do christianismo, foram clo com: S. Chrysostomo e S. Maximo.
sacrificados ás inclemencias dos tempos S. Dionysio, em seus escriptos, docu­
que corriam. Sirva isto ele explicação ao menta ter feito grandes viagens de es­
facto de serem tão parcos os conheci­ tudo, para conhecer costumes e leis de
mentos que possuimos ele S. Dionysio, outros povos. Assim aconteceu que,
homem pela Christandade inteira reco­ quando se achava em Heliopolis, no
nhecido um dos mais excellentes Aposto­ Egypto, pôde observar o grande e extra­
las ela causa de Christo. O pouco, po­ ordinario eclypse solar, que assombrou o
rém, que existe sobre este preclaro ser­ mundo, na hora ela morte do Salvador.
vo de Deus, é suffidente para formar­ Pasmado por este phenomeno de todo
mos uma idéa da sua santidade e suas irregular, exclam,ou: "De duas uma:
excellentes virtudes. ou morreu um Deus ou o mundo desmo­
Deparamos com o nome de Dionysio rona-se."
no cap. XVII dos Actos dos Apostolas. De longa data, assim devemos suppôr,
Corria o anno de 51. O apostolo São o Espirita Santo preparou o coração de
Paulo chegou a Ait:henas e foi conduzido Dionysio para que se abrisse ao conhe­
á presença do Areopago, supremo tri­ cimento da verdade. S. Paulo, conhecen­
bunal daquella cidade. do a rectidão do caracter ele Dionysio,
Com a franqueza que lhe era propria, recebeu-o entre os discipulos, conferiu­
o Apostolo fez a exposição da doutrina lhe o sacramento da Ordem e nomeou-0
christã, e alguns dos ouvintes lhe adhe­ Bispo da nova communidade de Athe­
riram. Um destes era Dionysio, membro nas.
do Areopago. Conforme as leis do paiz, Como Bispo, desenvolveu um zelo ver­
eram admittidos no Areopago só os ar­ dadeiramente apostolico, no intuito de
chontes, magistrados da mais alta cate­ propagar as doutrinas do Evangelho.
goria ou cidadãos distinctos pela origem Numa viagem que fez a Jerusalém, co­
ou grandes merecimentos. Elucidado nhece11 a S. Pedro, S. Tiago, S. Lucas e
isto, devemos reconhecer em Dionysio outros homens apostolicos. Teve a ven-

S. Dionvsio - Cf. Natalis Alexander, Dlssert. XXII. IV. - 'J'heologla ,v1rceburg, ed.
art. V. - Treppel Dlssert. Ra,ess e Wfaliss IX.

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9 ele Outubro 305

tura de ver tambem a Santa Mãe de uma piedosa mulher, de nome Catulla,
Jesus Christo. A dignidade e santidade mandou-os retirar do rio e deu-lhes hon­
da Santissi'lna Virgem extasiaram-no de rosa sepultura no logar para onde São
tal maneira, que teria acreclitado vêr Dionysio tinha levado a propria cabeça.
mna divindacle, si pela fé não soubesse Santa Genoveva construiu nova egreja
que ha só um Deus, que é Jesus Christo. sobre as ruínas da primeira.
Os trabalhos apostolicos de Dionysio S. Dionysio é um dos quatorze Santos
em Athenas foram recompensados por auxiliares.
grande messe, o que causou grande in • REFLEXÕES
dignação aos idolatras, que cheios de Muita gratidão devemos aos homens
odio, chegaram ao ponto de decretar a apostolicos, que sellaram a fé com seu san­
morte do santo Bispo pelo fogo. Diony­ gue, para nos tirar das trevas do paganis­
sio frustrou-lhes os planos por uma via­ mo e da noite. Cumpre-nos orientar a nos­
sa vida segundo os principias por elles pré­
gem que fez a Roma em visita ao Papa gados, conservar o espirita da fé e trans­
S. Clemente. De Roma dirigiu-se á mittil-o aos nossos posteros. lnapreciavel
França e chegou a Paris, onde se esta­ é o valor da nossa santa religião. E' ella
beleceu e construiu uma egreja. Muitos que nos garante a felicidade eterna. E' ella
que dá ordem e paz á sociedade humana.
pagãos largaram as estultas superstições E 'ella que ensina a todos, superiores e
e converteram-se ao Christianismo. Dio­ subditos as leis da justiça, da caridade e
nysio teve longa vida e morreu com da tolerancia. A nossa religião é apologis­
mais de 100 annos. Essa edade avançada ta do trabalho honesto e condemna a pre­
guiça, que tem no Evangelho um represen­
não impediu que os sacerdotes idolatras tante na pessoa daquelle servo que, não
lhe votassem odio mortal. Accusado de querendo trabalhar, enterrou o talento. A
cr�1111es contra a religião, foi Dionysio religião santifica e abençoa o matrimonio
com alguns companheiros levado á pre­ e condemna o adulterio. A religião man­
tem os homens na disciplina, obrigando-os
sença do juiz Fescennio, que os con­ ao trabalho, á pratica das virtudes e ao
demnou a crudelíssimas torturas. Ven­ combate dos vicias e principias máos. Esti­
do, porém, que nada conseguia e ouvindo memos a nossa religião, que tantos bene­
que continuavam a pregar o nome de ficias nos prodigalisa e afastemo-nos de
pessoas e de uma imprensa que se propõem
Jesus Christo, ordenou que fossem todos a destruir tão precioso dom, que o céo
decapitados. nos deu.
Deu-se então o facto extraorclinario
que a lenda trans,mittiu: o corpo de Dio­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celel1rada hoje:
nysio, já trucidado, levantou-se, tomou Em Paris a morte de muitos martyres:
nas niãos a cabeça e andou com ella dois do sacerdote Rufino e do diacono Eleuthe­
mil passos, até que chegou ao Montmar­ rio. 117.
Na Palestina a memoria do Patriarcha
tre, onde mais tarde se construiu uma Abraham.
egreja em sua honra. Os corpos cios mar­ Em Jerusalém Santo Andronico e sua es­
tyres os pagãos atiraram-nos ao Sena; posa Santa Athanasia. sec. 4.

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306 10 de Outubro

1 O de Outubro

S. FRANCISCO BORGIA
Terceiro Superior Geral da Companhia de Jesus
(t 1572)

� ÃO FRANCISCO BORGIA, mo­ Reinava-lhe em casa o espirita de


� <leio rarissrmo de virtudes para vam-se, em admiravel harmonia. Inimi­
seculares e regulares, nasceu em 1510, Deus. Oração, trabalho e recreio reveza­
na cidade de Gand, que dá nome ao con­ go elo jogo, Francisco fortnulava o se­
dado. O pae era João de Gand, terceiro guinte conceito sobre esta especie de di­
duque de Gland e a mãe, Joanna de vertimento: "Quadruplo é a perda que
Aragão, neta do rei Fernando. o jogo traz: perda de dinheiro, perda do
Já nos primeiros annos se lhe notava tempo, perda da piedade e da conscien­
grande inclinação para tudo que é de cia." Egualmente lhe aborrecia a leitura
Deus e amor á virtude. Os paes tiveram ele pÜblicações frivolas, emquanto que li­
todo o cuidado em dar-lhe uma educa­ vros bons e religiosos lhe constituiam a
ção optima, baseada nos fundamentos leitura predilecta. De Francisco são as
da religião. Para este fim escolheram en­ palavras: "A leitura de livros piedosos
tre os mestres os melhores, convencidos é o primeiro passo para uma vida mais
de que uma boa educação recebida na in­ santa."
fancia exerce urna influencia efficacis­ Os unicos divertimentos de Francisco
sima sobre-'� vida inteira. eram a nmsica e a caça, sem que com
Quando" Frailcisco tinha dez annos. isto se afastasse das regras da modera­
lhe adoeceu gravemente a mãe. O me­ ção e se esquecesse das praticas da mor­
nino fechou-se no quarto e com abun­ tificação.
dantes lagri'mas pediu a Deus que _lhe
Deus · quiz dar ao seu servo um
conservasse a mãe; e, para dar mais cf­
aborreómento cada vez maior do mun­
ficacia ás orações, sujeitou o corpo a
duas mortificações. No emtanto Deus do e, para que conhecesse bem as vaida­
des seculares, m;andou-lhe doença sobre
quiz o sacrificio da vida da mãe.
doença.
Tendo chegado á edade ele 17 annos,
Francisco foi mandado á côrte do Im­ O que mais contribuiu para inocular­
perador Carlos V. No meio das seduc­ lhe na alma um profundo tedio das cou­
ções e perigos que lá .o circumdavam, sas deste mundo, foi a morte da Im,pe­
conservou intacta a innocencia, devido á ratriz Izabella, que era havida por uma
recepção frequente do Santissimo Sa­ maravilha de formosura. Cumprindo or­
cramento do altar, á devoção terna á dem imperial, Franscisco teve de trans­
Santissima Virgem e ao espirita de pe­ portar o corpo da fallecida Imperatriz
nitencia, que nunca o abandonou. ao mausoléo, em Granada. Antes de se
Quiz Deus que o santo joven gozasse effectuar o enterro, foi aberto ainda
de um modo extraordinario da sympa­ uma vez o caixão mortuario. O que se
thia do Imperador e de sua imperial es­ apresentava aos olhos dos circumstantes,
posa. Por intermedio desta, Francisco era um cadaver em _estado de decompo­
casou-se. com uma dama de honor, pos­ sição bem adeantaelo, que enchia o am­
suidora de altas virtudes e Carlos ele­ biente ele um cheiro cadaverico insuppor­
vou-o á dignidade ele Marechal, dando­ tavel. Da apregoada belleza nada ficára.
lhe o titulo de Conde de Lombay. Este espectaculo impressionou profunda-

S. FranciBco Borgia - Da vida do Santo escripta por Ribadeneira.

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10 de Outubro 307

mente o espirito do santo homem. Che­ lhe exerc1c10s quotidianos. De oito em


gando em casa, prostrou-se deante do oito dias recebia a santa Comlmunhão.
crucifixo e, dando largas á cornmoção, Tendo-lhe chegado aos ouvidos que ti­
excla/111ou: "Não, não, meu Deus! Não nham surgido dissenções relativamente
mais servirei a uma creatura que a morte á Com�nunhão frq11ente, dirigiu-se a
111K: possa ar­ Santo Ignacio,
rebatar." Na em Roma, pe­
mlesma occa­ dindo-lhe con­
sião fez o vo­ selho t1. respei -
to de entrar to. Santo Ig­
para uma Or­ nacio respon­
dem religiosa, deu-lhe c o n­
caso sobrevi­ fimrando�o na
vesse á espo­ p r a t i c a da
sa. Muitas ve­ C om munhão
zes se lhe ou­ semanal.
via dizer : "A Neste meio
mlor te da im­ tempo, m o r­
pera t r i z re­ reu-lhe o pae,
suscitou-me da e com a for­
morte." tuna paternal
Quando vol­ lhe a:dveiu a
tou de Grana­ administração
da, encontrou elo c o n dado.
a n o meação Isto não lhe
para vice-rei i n f I u i u no
da Catalunha. modo de vi­
Não podendo ver. Pouco de0
subtrahir-se a pois lhe adoe­
es,sa dignida­ ceu gravenren­
de, cdmo vic�­ te a esposa,
rei teve uma tão virtuosa e
viela mais de s a n t a como
mJonge que de dle. Em(bora
sec u l a r. No Francisco pe­
emtanto e r a disse a Deus
um verdadeiro qtve conservas­
pae para os se a vida da
subdi t o s, os c o mpanheira;,
qua:es tinham S. Francisco Borgia e s s a oração
1

O que mais contribuiu para inocular em sua alma


franco accesso um profundo tédio das cousas deste mundo, foi a não foi ouvi­
310 palacio. Fez morte da Imperatriz Izabella. Antes de se effe­ da. Lembrou­
uima adminis­ ctuar o enterro, foi aberto ainda uma vez o caixão se então do
mortuario ...
tração justa e voto que fize­
leal. lnimigo da usura e ambição, não ra e tratou inu111ediatamentc de cum­
tolerava abusos na administração que pril-o.
visassem: estes dois vic10s. Com ri­ Tendo consultado a Deus nas orações
gor inexoravel punia os ladrões e saltea­ e ouvido o conselho do confessor, deci­
dores. Os pobres eram seus predilectos. diu-se pela Companhia de Jesus, recem­
Algumas horas do dia eram dedicadas fundada por Santo Ignacio. Com per­
á oração. Jejum e mortificação eram- missão do Imperador, entregou o conda-

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308 10 ele Outubro

cio ao filho mais velho e partiu para Ro­ os pobres, ora levava remedias e manti­
ma. Apenas quatro mezes tinham de­ mentos á casa dos doentes.
corrido, quando soube que o Papa que­ Injustiças e injurias de qrte foi victi­
ria conferir-lhe a dignidade carc\inalicia. ma, calumnias e perseguições que inno­
Francisco, clandestinan1ente, voltou centemente soffreu, dôres atrozes que
para a Hespanha, onde recebeu o sa­ Deus lhe mandou - tudo acceitou, não
cramento da Ordem e rezou a primeira só com resignação e paciencia, mas ain­
Missa, na capella do castello de Loyola. da coni prazer, vendo em tudo um meio
Sem 11!.tllmero são as conversões que se efficaz de fazer penitencia pelos seus
realizaran", com sua intervenção. Fran­ peccados. Assim se explica a sua quasi
cisco possuía o dom especial ele conduzir insaciabilidade nas obras de penitencia.
a Deus os peccadores mais endurecidos. No anno de 1570 acompanhou o Car­
Diversas vezes visitou o Imperador deal Alexandrino numa viagem a Hes­
Carlos V na solidão e proferiu a ora­ panha, Portugal e França, cumprindo
ção funebre por occasião das exequias nisso ordem do Papa Pio V. Na volta
do mesmo. se sentiu gravemente doente e, chegando
a Roma, não tratou ele outra cousa mais
Chamado outra vez a Roma, foi eleito a não ser de morrer bem. Os Padres
Geral da Companhia de Jesus. O perio­ da Comlpanhia pediram-lhe que nomeas­
clo de seu generalato foi um, dos _mais se o successor e permittisse a um pin­
abençoados. Fundou collegios em diver­ tor tirar-lhe o retrato. Não o fez;
sos paizes e enviou missionarias, ho­
mens apostolicos, aos paizes cios infieis. O dia 10 ele Outubro de 1572 foi o
dia ele sua morte. Morreu com 62 an­
Nas perseguições de que a Compa­ nos. O Cardeal ele Senma ( seu neto)
nhia foi alvo, Francisco demonstrou clispoz que o corpo fosse depositado
sempre confiança illimitac\a cm Deus. na egreja dos J esuitas, em Madrid.
"A Con1panhia - dizia - é protegida Deus glorificou por muitos milagres o
por Deus. Tres especies ele inimigos turnulo de S. Francisco, cuja canonisa­
tem: os herejes e os infieis, os impios ção teve Jogar cm 1671, sob o pontifica­
e afinal aquelles que desconhecem os do ele Clemente IX.
verdadeiros fins da Companhia."
De todas as virtudes, a que mais o REFLEXÕES
distinguiu e fez crescer tanto na estima O aspecto do cadaver, já em estado de
elas pessoas mais santas, foi a humilda­ decom1posição, da Imperatriz, que em vida
de. Elia é que o levou a declinar por era formosissima, por todos admirada, occa­
sionc,u a conversão de Francisco Borgia.
diversas vezes o chapéo cardinalicio. No
Quantos escravos de uma paixão impura
ail11or proprio era tão mortificado, que ficariam radicalmente curados d'essa lou­
chegou a desejar a humilhação e o des­ cura, si lhes fosse dado vêr o que Fran­
prezo. Da bocca não lhe sabia palavra cisco Borgia viu - a destruição horrenda
de elogio proprio e nas cartas assigna­ do corpo humano. Curados ficariam si qui­
zessem apresentar á phantasia o estado
va: Francisco, o peccador. Longe ele se humilhante a que fica reduzido o corpo hu­
julgar merecedor de elogios, conhecia mano cadaver. Em sua presença ninguem
em si o peccador, que merecia castigo e quer ficar, porque seu aspecto causa hor­
desprezo. ror. "Uma vez morto o homem, tem por
herança os vermes" - diz a Biblia (Eccl.
Quando em viagens encontrava hos­ 10 13). Não é loucura pôr em jogo a sal­
pedagem pessinia, não se queixava; pelo vação por causa de um corpo, a que tão
triste fim é reservado, que depois de algum
contrario, achava tudo acima do seu tempo será só pó e cinza ? Que cegueira
merecimento. Sendo Geral da Compa­ sacrificar a felicidade eterna aos caprichos
nhia, fazia os trabalhos mais humildes da carne, á vaidade e aos prazeres ! Con­
siderações eguaes a esta levaram S. Fran­
da casa. Ora ajudava ao cozinheiro, ora cisco Borgia a abandonar o mundo e pôr
distribuia esmolas ou comida por entre a vida ao serviço de Deus.

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Maternidade de Maria Santissima 309

Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Em Bonn (Allemanha) os martyres Cas­


moria é celebrada hoje: sio e Florencio com grande numero de com­
Em Colonia o martyrio de S. Ge"ão e panheiros. 260.
mais trezentos christãos que morreram vi­ Em Ceuta o martyrio do franciscano Frei
ctimas da perseguição de Maximiano. Daniel com seis confrades no anno 1227.

11 de Outubro

Maternídade _de María Santíssíma

9 C R
;a !i! d� �;tr�:1:�: P;���:�a�:�
em Israel, o idumeu Herodes o Grande.
*
* *
Corria o anno 429 da era christã. Ou­
As 70 Semanas de Daniel eram pas­ via-·se ainda o éco das diabolicas affir­
sadas: era chegada a plenitude dos tem­ mações de Ario e dos manicheus.
pos. Nu!m dia de festa, em Constantino­
"E foi enviado, da parte de Deus, pla, os fieis, avidos de ouvir a sã dou­
o Anjo Gabriel a uma Virgem desposa­ trina, enchiélim, por completo, as vastas
da com um varão por nome José, da naves da n�aior Basilica da Nova Roma.
Casa de David, e o seu nome era Maria. O Metropolita N estorio, a quem cos­
tumavam reco"rrer as suas ovelhas, que
E approximando-se d'Ella o Anjo, tremiam deante das blasphemias "dos
diz: Ave, ó cheia de graça, o Senhor é novos judeus e partidarios de Caiphaz"
con�tigo, bemdita és tu entre as mulhe­ - os Arianos, acabara a funcção Iitur­
res. Tu conceberás e darás á luz um fi­ gica e subia vagarosa e solemnemente a
lho que chamarás Jesus. Este será gran­ Oathedra da Verdade. A sua eloquen­
de e será chm111ado o Filho do Altissimo.
cia arrebatadora fascinava os ouvintes
O Espirito Santo descerá sobre ti e por
- o seu todo de majestade dominava a
isso o que nascer de ti, Santo, será cha­
religiosa assembléa. Todos os ouvidos
mado Filho de Deus. E Maria disse : eis se preparavam para o escutar. Mas eis
a escrava do Senhor: faça-se em mim
que, neste dia, uma desillusão amarga
segundo a tua palavra."
ia f.erir todos os corações. Nestória
Estava consum1mado o mysterio: o deshonra a Cathedra com uma heresia.
Filho de Deus, a quem o Pae gera des­ Os fieis entreolhaim�se: aquelle senti­
de toda a Eternidade, será tambem, do­ mento intimo que o Espirita Santo der­
ravante, o filho dos homens. A natureza raJmia nas almas -e as faz presentir o er­
divina e a hmnana, embora permanecen­ ro, a mentira, não chegara ainda a com­
do sempre as mesmas e inconfundiveis, prehender o alcance das obscuras affir­
começarão a subsistir numa só e mesma mações do seu Bispo. Só se sentia que
pessoa, a pessoa preexistente no Verbo, aquillo não estava bem. Momentos de­
a Sagrada Pessoa da Santissima Trin­ pois, toda a duvida se dissipa: Nestorio
dade. Jesus Christo, "Aquelle Home1m" blasphemava de Maria. Eusebio Dori­
que os Judeus apontavam como o car­ leu, um simples fiel, levanta-se, no meio
pinteiro e filho do carpinteiro, é verda­ de ovações de toda a assembléa e procla­
deiramente o Filho de Deus, é Deus. ma a-s grandezas de Maria. N estorio,
Maria, ã esposa de S. José, Nossa Se­ não responde: vocifera injurias e
nhora, é a Mãe de Jesus, é a Mãe de ameaça.
Deus. Terminada a prégação, o povo sahiu.

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310 Matiernidade de Maria Santissima

O assumpto das conversas eran.n os "E' com o coração a sangrar, dizem


acontecimentos daquelle dia. os Padres do Concilio, que nós, instru­
ijestorio, apezar de tudo, não tinha si­ ment8s de Nosso Senhor Jesus Christo,
do bastante claro e preciso nas suas af­ a quem Nestorio ultrajou, o declaramos
firmações. Mas avolumava-se a fama de deposto da dignidade episcopal e expul­
que não eram rectas as suas ideias acer­ so do Collegio dos Bispos.
ca da União Hypostatica e da Materni­ "Se alguem negar. . . que a Santissi­
dade Divina, de Nossa Senhora. Era nia Virgem é Mãe de Deus, seja ana­
necessario ouvil-o, de novo, e vêr até thema".
onde chegaria a sua audacia e impie­ A carta do Papa S. Celestino ao Con­
dade. O momento não' se fez esperar. cilio, lida por São Cyrillo, seu re­
Nestorio, por bocca de um seu repre­ presentante, confirma. as decisões to­
sentante, affirma categoricamente a he­ madas. Os Padres, ao findar a leitura
resia: Nossa Senhora não é Mãe de do precioso documento, exclamam : Esta
Deus! sentença é justa. Gloria ao novo Paulo,
Um grito de horror e reprovação se Celestino, Gloria a Celestino, guarda da
levantou unanime em plena Basílica: Fé! ...
Nestorio, blasphemo ! E os fieis arman­ Lá fóra, comprime-s-e a ma' ssa enor­
do-se ela unica arma legitima em taes me cios fieis que, ao ouvirem a boa no­
circumstancias, protestam sahindo ela va da condemnação do heresiarcha Nes­
Basílica para não 1nais lá entrar om­ torio, irrompem em acclamações de ale­
quanto ali funccionasse o heresiarcha. gria. Os Bispos, saudados delirantemen­
te, são levados, em triumpho, aos ho,m­
bros dos fieis, á luz de archotes. Christo
vencera a heresia, Maria, a doce Mãe de
Passarnm-se dois annos. Epheso via Jesus, triumphara de Nestorio. De to­
entrar, pelas suas portas, cerca de 200 dos os corações, sahia este grito unani­
Bispos de todo o mundo. Lá chegaram me, em tom de saudação e de supplica :
tambem os enviados do Papa S. Celesti­ Santa Maria Mãe de Deus ...
no: os Bispos, Arcadio e Projecto, e o
presbytero Philippe. • •
As sessões multiplicam-se; esclarece­ Eis, a leves traços, o acontecimento
se a doutrina, fazem-se repetidas tenta­ que, ha mil e quinhentos annos, encheu
tivas junto de Nestorio para que se sub­ de alegria a christandade inteira e se
metta e se apresente ao Concilio. Tudo r,epercutiu pelos seett!os em fóra, cujo
inutil. O heresiarcha persiste no erro : o Centenwrio é, para todos os christãos,
seu orgulho não lhe pennitte baixar a um motivo de renascÍllllento espiritual.
cabeça. pela devoção a Nossa Senhora, sobre­
Finalmente o dogma é definido e tudo para nós, que somos o seu povo
Nestaria deposto. prediJ.ecto.

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11 de Outubro 311

11 de Outubro

São Luiz Bertrand (Beltrão)


(t 1581)

e LUIZ BERTRAND (Beltrão),


�� natural de Valencia, na Hespa­
espera. Estou prornpto para dar-lhe a
ahsolvição."
nha, era filho de um tabellião da mes­ O pastor, ao ouvir estas palavras, as­
ma cidade e vem ao mundo em sustou-se, mas reconhecendo a graça de
1526. Nos primeiros annos da 111- Deus, que tão inesperadamente se lhe
fancia clava indicias indubitaveis de offerecia, acceitou o convite e confes­
futura santidade. Sete annos tinha, sou-se contrito. Tres dias depois mor­
quando começou a recitar diariamen­ reu.
te o officio de Nossa Senhora. O No anno de 1557 a peste assolou a
prazer do piedoso menino era ir á egre­ cidade de Valencia. Luiz aproveitou-se
ja. A's praticas de piedade alliava urna ela occasião, para praticar obras heroi­
obediencia incondicional aos paes, amor cas de caridade. A terrível epidemia
ás ;mortificações, ao estudo e á leitura poupou-lhe a pessoa; mas logo que as
espiritual. Sempre que podia, trocava a cousas se normalisaram, pediu aos supe­
cama pelo soalho, procurando em tudo riores que o destinassem ás missões en­
imitar o santo parente Vicente Ferrer. tre os indígenas da America. Como re­
Mocinho, afastou-se clandestinamente compensa dos serviços prestados nos
ela casa paterna, em demanda de uma dias da peste, obteve o que pedira. Em
solidão, onde pudesse mais desembara­ 1562 partiu para as Indias occidentaes,
çadamente se entregar a exercicios de em companhia de outros sacerdotes da
piedade e de penitencia. O pae desco­ Ordem. Ardia-lhe no coração o desejo
briu-lhe o esconderijo e obrigou ao filho de salver almas e de dar a vida em tes­
a voltar para casa, não podendo, entre­ temunho da fé que prégava. Grande foi
tanto, evitar mais tarde que entrasse o numero dos pagãos que ganhara para
para a Ordem Dominicana. Os pro­ a religião de Christo. Nos maiores peri­
gressos de Luiz na virtude e na per­ gos e difficuldades, apparentemente in­
feição religiosa foram taes, que sete superaveis, a protecção divina era visí­
annos depois da entrada na Ordem, vel, e muitos foram os milagres que
foi nomeado Mestre do Noviciado. Deus se dignou de operar por interme­
Cdm grande proficiencia desempenhou­ dio de seu santo servo.
se por diversas vezes da missão de A biographia do Santo affirma que,
missionaria. Além de dispôr de gran­ apesar de ter sido senhor de um só idio­
des recursos rhetoricos, possuía o ma, todos os povos que o ouviam falar,
dom de ler nas consciencias e de predi­ o comprehendiam · perfeitamente. Mais
zer cousas futuras. Passando certa vez de uma vez correu perigo de ser enve­
por um campo, onde um homem guar­ nenado por pagãos, que o odiavam, co­
dava o rebanho, disse ao pastor: mo ini\migos que eram da religão de
Ghristo, mias a mão de Deus estava com
"Meu amigo, sei que o estado de sua elle e nada puderam fazer que o preju­
alma não é bom. Ha tres annos já que dicasse. Estava combinada sua morte
não faz boa confissão. Si tem amor á pelo apedrejamento. Luiz, porém, soube
sua alma, não deixe de confessar-se o de tal maneira amainar o espirita dos
quanto antes, porque a morte está á sua inimigos, que estes não só desistiram do,

8. Luiz Bertrand - Vincentius Justinianus Antlst. O. P. e Bulia Canonis. Buttler IX.


P. Touron Horn. lilust. IV.

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312 11 de Outubro

plano, mas acabaram por acceitar a reli­ Não impediu a pratica dessas virtu­
gião christã e pediram o baptismo. Nu­ des todas que o santo Servo ele Deus vi­
merosos são os factos da vida deste vesse num temor continuo de não se
Santo, que provam a assistencia e pro­ salvar. Este temor arrancava-lhe pro­
lecção visíveis de que gozava da Divina fundos gemidos e muitas vezes dizia :
Providencia. "Outros são muito mais perfeitos que
Poucos annos Luiz trabalhára na seá­ eu. Muito mais graças do que eu, rece­
ra das missões, quando os superiores beram. Lucifer··e Judas, com muitos ou­
lhe reclamaram os serviços na Europa. tros, foram condemnados. Quem me
Na travessia do mar sobreveiu uma dirá que não me possa acontecer a mes­
tempestade, que pôz em risco de vi_da os ma cousa ? Oh miseria das miserias !
passageiros, mas Luiz tranquillisou-os, Viver nesta incerteza terrivel e não sen­
com o signal da cruz. O resto da vida tir temor !"
Luiz passou-o no desempenho de diver­ Pouco antes de expirar, virou-se para
sas incumbencias da Ordo(im. Admiravel os irmãos de Ordem e disse : "Rezae
foi a paciencia com que soffreu as dô­ por mim, meus irmãos, para que Dens
res da ulthna doença. Quando o soffri­ não me condennne."
mento chegava ao auge, se servia da pa­ Foi justamente este temor permanen­
lavra de Santo Agostinho, que dizia: te que fez Luiz Bertrand proceder sem­
"Senhor, queima:e, cortae emquanto eu pre com muita cautela e fugir do perigo.
tiver vida, comtanto que useis commigo Era ainda este temor que constantemen­
de misericordia na eternidade." te o animava a praticar boas obras. Um
Luiz Bertrand morreu em\ 9 de Ou­ dia o -enferfmeiro descobriu que o doente
tubro de 1581, conforme predissera. conservava escondido um tijolo, que pu­
Como sua paciencia, grande era sua nha sobre o peito. Espantado por vêr a
humildade, que o fazia reconhecer em pedra, disse· a Luiz Bertrand :
si proprio o maior peccador do mundo. "Porque V. Revma. se martyrisa des­
Tinha como regra de vida: "Desprezar sa maneira ? Já não bastam as dôres
a si proprio, não desprezar a ninguem, que a doença lhe faz supportar ?"
desprezar o desprezo." Como de uma O Santo respondeu :
serpente, fugia do elogio. Reprehensões, "Que hei de fazer ? A morte Ja está
censuras e criticas a seu respeito, ouvia á porta e o reino dos céos padece
cdm toda a calma, para depois dizer : força."
"O que os senhores de mim affim1am,
Até o fim da vida Luiz Bertrand tra­
é a pura verdade. Melhor do que eu me
balhou, luctou e soffreu para ganhar o
conhecem."
céo. Milagres sem conta e numero por
Certa vez alguem f.ez referencias elo­ elle praticados convenceram o mundo
giosas a Luiz, por causa cios milagres catholico da grande gloria de que gosa
que fazia. "Pensa o Senhor, respondeu· no céo. O Papa Clemente X celebrou­
lhe o Santo, que fazer milagre é signal lhe a canonisação em 1671.
de santidade ? Fique certo de que não é
nada menos que isso, mas unica e exclu­ REFLEXõES
sivamente effeito da fé. Poder incompa­ "A morte está á porta e o céo padece
ravdmente maior recebeu Lucifer e per­ força", dizia S. Luiz Bertrand áquelles que
deu-se." o queriam afastar das obras de penitencia.
Luiz Bertrand cultivou a virtude an­ E' a mesma cousa que Deus Nosso Se­
nhor ensinava, em termos ainda mais po­
gelica com o maior esmero, encontrando sitivos, quando falava da necessidade da
na oração e na penitencia meios podero­ penitencia, da mortificação dos sentidos e
sos para conservar-se fiel ao voto. da carne. "Quem quer seguir-me, negue-se
Era muito amigo da oração, que o a si proprio, tome sua cruz e siga-me. -
Quem não tomar sua cruz sobre si e não
approximava o mais passivei de Deus. me seguir, não é digno · de mim". - "Quem

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12 de Outubro 313

procura conservar a vida, perdel-a-á: mas Santos do lliartyrologio Romano, cuja me­
aquelle que perder a vida por amor de mim, moria é celebrada hoje:
achal-a-á ". Em Tarso, na Asia Menor, a morte de
Tháraco, Probo e Andronlco. Encarcerados
S. Paulo confessa de si, dizendo: "Assim
na perseguição diocleciana, muito soffreram
eu corro, não como atraz de cousa incerta; pela fé e foram finalmente executados. 304.
pelejo da mesma maneira, mas não para
Na Thebaida S. Sármatas, dlsclpulo do
açoitar o ar; mas castigo meu corpo e re­ abbade Santo Astraio. Foi assassinado pelos
duzo-o á escravidão, para que não succcda mahometanos. 362.
que, havendo prégado a outros, venha cu Em Colosso o santo bispo Alexandre Sauli,
mesmo a ser condemnado ". (I Cor. 9. 26. da Congregação dos clerigos regulares tle
27). Verdadeiros servidores de Christo cru­ S. Paulo. De origem nobre, se distinguiu
cificam a carne com todas as más inclina­ ainda pelo seu saber, sua virtude e pelo dom
ções; reduzem o corpo á escravidão. para dos milagres. O Papa Pio X canonlsou-o.
um dia poderem dar conta a Deus de sua Em Tarso a memoria das santas dlsclpu­
administração. las de S. Paulo: Zenaide e Phllonllla.

12 de Outubro

SANTA PELAGIA, PENITENTE


(t 457)

"Eu vim trazer fogo á terra e não pito, extasiava a assen1bléa pelos arrou­
quero ou Ira cousa senão que arda." bos de eloquencia, um facto inesperado
( Luc 12. 49). - Estas palavras do di­ despertou a attenção de todos : estava
vino Salvador tiveram frei cumprimento passando deante da egreja um prestito
em Santa Pdagia, a grande penitente de esplendoroso, guiado por uma mulher;
Antiochia. era Pelagia, que, montada num jumento
De belleza raríssima, Pelagia - ap­ ricamente enfeitado, passava com o se­
pellidada a "Perola" - era actriz e quito de pagens e cortezãos. Qual rai­
dançarina, o ídolo dos mundanos ele An­ nha do Oriente, se ostentava em todo o
tiochia. Inebriada pelas adulações dos luxo e ponwa. Cingia-lhe a cabeça u!ma
homens, estonteada por um luxo desme­ corôa cravejada de pedras preciosíssi­
dido, levou o culto de si propria a ponto mas; os cabellos soltos escorregavan1-
de deificação. O coração de Pelagia, Ihe em ondas aureas sobre as espaduas;
susceptibilissimo ás vaidades e loucuras os braços e o pescoço traziam ricos bra­
do mundo, conduziu-a, passo a passo, a celetes e collares de opalas e rubins e do
uma vida que justificava exhuberante­ vestido desprendia-se-lhe um perfume
mente _a voz publica, que a taxava de balsamico.
peccadora. O1egando bem perto da egreja, pa­
Em 453 houve em Antiochia um con­ rou um instante e, lançando um olhar
cilio episcopal, ao qual, a convite do Pa­ sobre a assembléa, com um sorriso que
triarcha Maxiimo, compareceram oito era difficil dizer-se si ele desprezo ou
prelados, entre esteS' Nonno, Bispo de de mofa, continuou o passeio.
Edessa, celebre pela sciencia e santi­ Escandalizados e ao mesmo tempo en­
dade. tristecidos pela apparição irreverente
Um dia, quando o concilio realizava da mulher, os Bispos abaixaram os
uma sessão no vestíbulo da egreja de olhos. Nonno, porém, olhou firmemente
S. Juliano, e Nonno, occupando o pul- para peccadora, _ seguindo-a por muito

Santa Pelagia - Cf. Rosveld. Vit. Patr. - Raess e Welss. XIV.

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314 12 de Outubro

tempo com o olhar e finalmente disse terminou a oração e, acompanhado p..:.'.,


aos assistentes: "Vistes aquella mu­ diacono Tiago, re• tirou-se para casa.
lher ? Não vos agradou a sua belleza ?" Alli chegando, se ajoelhou e permane­
Gomo ninguem respondesse, repetiu a ceu em longa oração. "O' Jesus - as­
mesma pergunta e accrescentou: "Nada siJm orava, - ó Jesus, perdoae a mim,
me respondeis ? Pois a mirn muito agra­ pobre peccador ! Perdoac a minha ne­
dou. Embora gligenc i a de
peccadora, foi até hoje não
mandada por ter cuidado ele
Deus para nos minha ai m a,
humilhar e nos c om o deivia
ahrir os olhos. ter feito. Co­
Que responde­ mo me atreve­
r e m o s nós, rei a levantar
Bi s p o s, ao os olhos para
eterno Juiz, si Vós ? Q u e
no nosso j uizo proferirei em
campa r a r os minha justifi­
nososs traba­ cação? Pelagia
lhos/, o noc;,,n p r o m e t t eu
zelo, CQIU os agradar a os
traba 1 h o s e homens e com
cuidados clr.s­ a maior dili­
sa m u 1 h e r? gencia cumpre
Quantas horas a p r o messa.
horas não te­ Eu pramietti
ria despendido pertencer-V o 5
para se enfei­ e agradar-vos
tar, perfumar ; no vosso san­
e vestir; quan­ to serviço, mas
to tempo não t en h o sido
se preoccupou , m u ito negli­
com mil futili­ i gente no cum­
dades; quanto primento des­
dinheiro n ã o sa p r omessa
gastou com es­ solemne. Per­
tas mil cou­ doae-me, ó Je­
sas, só par:i sus ! "
agradar a o s No domin­
homens, q u e go se· guinte, á
h oje são e Santa Pelagia est a çã o da
amanhã nã o Els aqui as riquezas de Satanaz; peço-vos as accei­ Missa solem­
tels e dellas fazei o que vos aprouver. D'oravante
e x i s t i rão ! ? procurarei minha riqueza s6 em Jesus. ne, o Patriar­
N ós, porém, cha pediu a
temos um Pae, que nos promette reco�11- Nonno que fizesse uma allocução. N onno
pensa e gloria eternas, si o quizermos obedeceu e tomou por assumpto do ser­
amar e servir. No emtanto, nenhum cui­ mão o juizo final. Falou com tanta con­
dado temos com nossa ah-na; não a vicção, que suas palavras calaram fundo
adornamos de virtudes, deixando-a antes nos corações dos ouvintes. Entre estes
num estado lastimavel de peccado." se achava Pelagia, que tinha vindo mais
Com os olhos marejados de lagrirnas por motivo de vaidade e curiosidade, do

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12 de Outubro 315

que para servir a Deus. Quando meni­ do Bispo, beijou-lhe o pó das sandalias
na, Pelagia tinha pedido para ser ad­ e disse:
mittida entre as cateclmmenas. Depois - Senhor, si negardes a misericordia
correraim annos, sem que tivesse mani­ divina e, allegando exigencias de leis
festado o desejo de receber o baptismo. hunnanas, vos recusardes a haptizar-me
As palavras do pregador, quaes martel­ e encaminhar-me para uma vida agra­
ladas desapiedadas, desmantelaram-lhe clavel a Deus, sereis vós o responsavel
por completo a couraça ferrea do cora­ por minha a1ma e sua eterna condemna­
ção, e aquella, que pouco antes se gaba­ ção.
va do peccado, sahiu da egreja com a Os Bispos enterneceram-se, ao ouvir
resolução de mudar de vida. estas palavras, e Nonno não só a bapti­
Chegando em casa, pôz-se a escrever zou, mas tambem lhe administrou os sa­
a Nonno as seguinties palavras: "Ao craintntos da Confirmação e da Ss. Eu­
discipulo de Jesus, wna peccadora. Ou­ charistia.
vi dizer que acreditaes em um Deus, A' presença de Nonno, Pelagia trou­
que desceu do céo para salvar os pecca­ xe todas as joias e disse-lhe:
dores. Disseram-1me que esse mesmo - Eis aqui as riquezas de Satanaz;
Deus vosso, feito homem, procurou de peço-vos as acceiteis e dellas façaes o
preferencia os peccadores e até se reve­ que vos aprouver. D'oravante procura­
lou a uma n1ulher cananéa. lnforma - rei minha riqueza só em Jesus.
ram-ime mais que sois discípulo d'essc Nonno não lançou mão de nenhum
Deus. Si assim é, tende compaixão de ceitil, elo que Pelagia lhe entregára, mas
mim; não me rejeiteis e fazei-me achar distribuiu tudo entre os pobres. A pe­
o Salvador ! " nitente deu a liberdade e o resto da for­
Nonno respondeu-lhe: "Não vos co­ tuna aos escravos e escravas, é retirou­
nheço, mas sejaes quem fôrdes, a Deus se de Antiochia.
não são occultos vossos pensamentos e Os peregrinos que visitavam os San­
obras; si desejaes conhecer a fé divina, tos Lagares, em Jerusalém, falavam de
podeis vir e prompto estou para vos re­ uma eremita, que occupava uma pobre
ceber, supposto que estejam presentes choupana no monte das Oliveiras. De
0s m:eus irmãos." uma formosura não commum, era por
Sati.;feitissima com esta resposta, Pe­ todos admirada pelas obras de peniten­
lagia, pressurosa, dirigiu-se á egreja de cia e grande fervor nos exercicios de
S. Januario e na presença de mluitas piedade. Raras vezes sahia da cella, pa­
pessoas, prostrou-se aos pés de Nonno ra buscar agua e hervas para o seu sus­
e , com voz entrecortada de soluços, tento. Ninguem a conhecia e todos lhe
disse: jgnoravam a procedencia.
- Senhor, imitae a vosso divino Passados tres annos chegou a Jeru­
Mestre; compadecei-vos de mim e fa­ salém o diacono Tiago e por ordem do
zei-me christã; lavae-me dos meus pec­ Bispo visitou a choupana no monte das
cados com a agua do santo baptismo ! Oliveiras. Batendo á janella, esta se
O Bispo fel-a levantar-se e disse-Ih.:>: abriu e appareceu �ma mulher de sem­
- As leis da Egreja não permittem blante de côr macilenta e cadaverica e
a administração do baptismo indistincta­ perguntou:
mente a quem. quer que seja. E' preciso -Irunão, que desejaes ?
que apresenteis quem se responsabilize Tiago respondeu:
pela vossa perseverança e responda pela - O Bispo N onno envia-vos sua sau­
seriedade da vossa conversão. dação no Senhor.
Pelagia, não tendo como fiador senão Pelagia replicou :
seu grande arrependimento e desejo de - Recommende-me ás suas santas
salvar-se, novamente se prostrou deante orações.

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316 13 de Outubro

Dizendo isto, fechou a janellinha e • to que o corpo mortal tenha trato, mas em
desappareceu. proporção ao valor e á importancia que
possue ao lado da alma immortal, de que
Antes de partir de Jerusalém, Tiago é companheiro. Seria, porém, inverter a or­
bateu de novo na janellinha da mesma dem <las cousas, si os cuidados com o cor­
choupana, mas não teve resposta. Veri­ po absorvessem a nossa attenção de tal
maneira, que os interesses vitaes de nossa
ficando a causa do silencio, viu esten­ alma ficassem por completo esquecidos. A
dida no chão um corpo de mulher. Tia­ palavra de Deus e os santos Sacramentos
go deu parte á autoridade do occorrido são o alimento indispensavel da alma. A
ção de uma unica pratica occasionou
e tomou as providencias para o enterro audi
cm Pclagia ·a mais radical e sincera conver­
da fallecida. Foi então que reconheceu são. Como que illuminada pelo céo, reco­
nos traços rejuvenescidos da eremita a nheceu o perigo em que se achava, fez pe­
"Perola de Antiochia". nitencia e salvou-se. Quem abre a alma á
meditação das verdades eternas, não póde
Virgens consagradas a Deus, de Je­ perseverar na indifferença. "Lembra-te, ó
rusalém, de Jericó e do valle do Jordão homem, dos teus novíssimos, e não pecca­
affluiralm ao monte das Oliveiras e com rás eternamente".
muitas honras sepultaram sua Innã pe­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
nitente. moria é celebracla hoje:
Em Roma o martyrio de Santo Evagrio,
REFLEXÕES Prisciano e companheiros.
Ha pessoas cujo corpo lhes merece mais Em Ravenna a morte do martyr Edis­
attenções e cuidados que a alma. Como tio. 303.
Santa Pelagia, antes da conversão, têm os Na Africa, durante a perseguição dos Van­
pensamentos presos á vaidade e tornam­ dalos, os santos Confessores, e martyres, em
se-lhe escravos. O fim é - senão seme­ numero de quatro mil novecentos e sessen­
lhante - a quéda desastrosa, pelo menos o ta e seis, dirigidos pelos sacerdotes Felix e
afastamento de Deus e da virtude. E' jus- Cypriano. 485.

13 de Outubro

Santo Eduardo, Reí da Inglaterra


(t 101:6)

� ANTO EDUARDO III, Rei da para o estudo e a oração. De poucas pa­


� Inglaterra, onde nasceu, era neto lavras, era de uma seriedade pouco com­
do santo Rei e Martyr Eduardo e foi mu1n á mocidade. Não obstante, era de
educado por um tio, na Nonnandia, trato affavel, porque nelle se alliavam
visto que naquelle tempo sua terra na­ admiravelmente a caridade e a mansi­
tal estava sob o poder dos dinamarqúe- dão. A conv-ersão predil-ecta do Prínci­
zes. pe, era aquella que tinha Deus e mo­
No mliio dos prazeres do mundo, ro­ tivos religiosos por a:ssumpt-o. Era ini­
deado de todos os attractivos de wna migo positivo de tudo que offendia á
côrte opulenta, Eduardo se conservou virtude angelica. Da bocca não se lhe
puro e de tal maneira soube evitar o ouvia jamais uma palavra duvidosa, e
contacto com; o perigo do peccado, que certíssima era a reprehensão para quem,
por todos era admirado e chamado o em sua presença, se atrevesse a proferir
Anjo da côrte. Ao contrario dos outros leviandades.
Principes de sua idade, fugia dos diver­ O exilio para longe da patria suppor­
timentos para dispôr de tempo bastante tava-o com paci.encia e resignação.
11 '
Santo Eduardo - Cf. Guilherme de Malmesberg de Reg. Angl. I. II. Mathlas de West­
minster Buttler IX.

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13 de Outubro 317

Quando alguns fidalgos lhe suggerira.m successão do throno. Havia muito, po­
a idéa de reconquistar o reino, respon­ rém, que eHe tinha feito o voto de vir­
deu prom'pta/mente : gindade, circutnstancia aliás ignorada
- Não desejo obter um reino á custa por todos. Para satisfazer a vontade do,;
de sangue humano. representantes da nação, contrahiu ma­
Deus pcI11nittiu que os dinamarquezes trimonio com Eclith, filha do conde God­
fossem expul­ win, vivendo
sos da Ingla­ com ella em
terra e com o perfeita casti­
e x o d o dos tidade.
mesmos, tive.;• Aos subdi-
sem termo as tos d a v a o
luctas partida­ exem p I o de
rias. Os gran-­ chris t ã o. Si
des do n:.no era pae para
c h ama ram todos, particu-
Eduardo e ern­ 1 a r cuidado
p o ssaraim-n'o dispensava aos
no poder, que pobres e ao3
lhe competia. orphãos. Todo
Por toda par­ o tempo que
te r e i n a v a lhe sobrava da
grande alegria gerencia d o s
pela volta do negocios, per­
Rei, qll'e por tencia á ora­
todos era tido ção e ás obras
como s a n t o de caridade.
homem. O go­ N ã o podia
verno de Edu­ ter maior sa­
ardo foi um tisfacção que
dos mais feli­ vêr seus the-
zes que houve so u r o s nas
na Inglaterra. mãos dos po­
O primeiro bres. Conta-se
cuidado do Re:-i que um dia
foi elevar o seu Santo prc -
paiz ao ante� dile e t o, São
rior estado de João Evange­
p r ospericLa!de. .!ista, se lhe
Para esse fim Santo Eduardo apresentou, em
restabeleéeu a O caridoso Rei, vendo na rua um pobre paraJy­ forma de pe­
religião e o tico, que penosamente andava, levou-o sobre os regrino e pe­
hombros á egreja.
c u I t o divino diu-lhe u m a
em todo o esplendor, sabendo muito bem esmola. Eduardo tinha feito a promes­
que a base da prosperidade é a religião sa de nunca negar esmola, a quem lh'a
e a pureza dos costumes. "O melhor pedisse em nome d'aquelle Santo. Es­
meio de dar felicidade a uma nação - tando frente a frente com o peregrino,
dizia - é restituir-lhe o culto e o temor que lhe solicitava uma esmola em
de Deus." nome do inesrno e como Eduardo no
Os Principes desejavam que Eduardo mdmento não dispuzesse de outra cou­
se casasse, para que ficasse garantida a sa, tirou o annel e deu-o ao pobre.

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318 13 de Outubro

O piedoso Rei, sem onerar o povo de nos. Em 1102 lhe foi aberto o tumulo e
pezados impostos, creou diversas funda­ o corpo encontrado intacto. Registra­
ções de caridade, para alliviar o soffri­ ram-se muitos milagres, com que Deus
mento dos subditos. quiz glorificar seu. servo. Em 1161 o
Eduardo era em verdade o pae do po­ Papa Alexandre III assignou a bulla de
vo, e outra cousa não procurava senão o canonisação. A solemne trasladação das
bem estar material e espiritual de todos. relíquias, ordenada por S. Thomaz de
Na côrte reinava a maior ordem e Canterbury, realizou-se aos 13 de Outu­
harmonia. Não havia inveja e ambições, bro, motivo por que a festa do Santo
vícios tão cdmmuns e de consequen­ Rei foi fixada para este dia.
cias tão funestas, como se observa nas
rodas da alta aristocracia. Todos os REFLEXÕES
funccionarios e empregados do paço Santo Eduardo morreu feliz e satisfeito,
real, tendo deante de si a vida modelar e porque o echo de sua vida eram boas obras.
as altas virtudes do Rei, outra ambição Estas o acompanharam, até aos degráos do
throno de Deus. Motivos tinha para espe­
não conhecialm senão imitai-o e tornar­ rar rica recompensa do Juiz eterno. Com o
se dignos de sua estima. Apostolo, podia dizer: "Sei que me é re­
Historiadores antigos relatam diver­ servada a corôa da justiça, que o Senhor
me dará". (2. Thim. 4). O christão será
sos milagres, que se deram por interme­ julgado de accordo com as obras que em
dio do rei Eduardo. Citam um caso de vida praticar; boas ou más, serão suas
cúra do cancro, pelo signal da cruz que companheiras e testemunhas no juizo. "As
obras o seguem" - diz a Sagrada Escri­
fez sobre o enfermo. O caridoso Rei, ptura. "O motivo que levou o homem a
vendo na rua um pobre paralytico, que peccar, fica - diz Santo Agostinho. - O
penosamente andava, levou-o nos hom­ homem deixa-o, mas os peccados leva-os
bros á egreja e curou-o do mal. comsigo". "O que recommenda ao homem
no juízo, não são nobreza, formosura, po­
Depois da consagração da egreja de sição, riqueza e poder, mas unicamente as
Westminster, Eduardo cahiu doente. boas obras". (S. Gaudencio). "Deus dará
Por revelação de S. João, sabia que a cada um a recompensa, segundo as obras
que fizer". (Rom. 2). Si queres morrer
aquella doença seria a ultima e que pou­ feliz e tranquillo, faze boas obras e pra­
cos dias teria de vida. Com uma devo­ tica as virtudes.
ção que a todos commoveu, recebeu os
santos Sacraanentos. A consternação
por perder o bom senhor era geral. Santos do Martyrologto Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
A' rainha inconsolavel Eduardo disse:
- "Não chore; eu viverei; espero Na cidade de Troas, no Hellesponte, a
passar desta terra para a região dos vi­ morte de S. Carpo, dlsclpulo do Apostolo
S. Paulo.
ventes, onde gozarei a felicidade dos
Santos." Eh Subiaco a memoria de Santa Chelido­
nia, virgem. 1152.
Aos circumstantes fez a declaração de Em Antiochià, a memoria de S. Theophilo,
deixar a esposa virgem e morreu aos 5 bispo daquella Egreja e sexto successor de
de Janeiro de 1066, na edade de 64 an- S. Paulo. 181.

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14 de Outubro 319

14 de Outubro

S. BURCHARDO, BISPO
( t 752)
D URCHARDO, o príncipe e santo os christãos. O numero d'estes, quasi
Jm bispo de Würzburgo (Allema­ desapparecia no meio da grande popula­
nha), nasceu na Inglaterra, onde paes ção que ainda votava culto a Odin e
tão nobres quão piedosos o educaram Freia. Era preciso muita coragem, muita
christãmente. De compleição robusta, confiança em Deus, grande virtude e
dotado ele rara inteHigencia, amigo do uma saude de ferro para continuar e le­
trabalho e da oração, reunia Burc:1.11 J,J var a bom effeito a obra da evangelisa­
cm sua pessoa todos os requisitos pan ção. Burcharclo era homem para arros­
ser um grande missionaria. tar as maiores difficuldades. Era bispo,
Cabe á Inglaterra a honra de ter ini­ con� todos os requisitos que S. Paulo
ciado os trabalhos apostolicos na Alle · quer reconhecer nwn bispo de Christo:
manha, para lá enviando seus heroicos santo, impolluto, perfeito, prudente,
filhos. Foram estes os grandes AposlD­ apostolico, caridoso, trabalhador. Prega­
los da Germiania que, guiados pelo ad­ dor da doutrina ele Christo, Burchardo
miravel Bonifacio, desbravaram as mat­ era o primeiro em observar a lei do di­
tas teutonicas, lançara:n1 a semente da vino Mestre, servindo portanto de mo­
palavra divina nos corações dos povos delo a todos que, deixando as trevas cio
cio Rheno e do Elba e erigiram templos paganismo, entravam na luz do christia­
a Deus onde até então só se ouviam pre­ nismo. Austero para si, era caridoso pa­
ces e hymnos dirigidos a Wotan e ás di­ ra com os outros. Cultiva.dor das virtu­
vindades getimanicas. Burchardo sou­ des, verberava os vicias e o peccado
be do appello de S. Bonifacio, dirigiclc sempre e em toda a parte, onde es-
ao clero inglez, para que lhe mandasst: . tas hydras infernaes tentavam levantar
con1,panheiros babeis ·e santos, pois a vi­ a cabeça. Como todo o servidor de Chris­
nha cio Senhor ia crescendo e as conver­ to, reve tambem de passar pelo crysol
sões iam se multiplicando. Apresentou­ da provação e da contrariedade. Não
se então ao grande bispo-missionaria e faltou quem o perseguisse com a arma
pediu o acceitasse entre os clerigos. cliabolica, que é a calumnia. Burchardo
Bonifacio, descobrindo no joven can­ pôde desprezai-a, pois em seu favor es­
didato qualidades superiores, que o ha­ tava o testemunho tranquillisador da
bilitava1111 para os arduos labores da consciencia. Quanto mais se humilhava,
Missão, recebeu-o de braços abertos e tanto mais crescia no conceito dos ho­
levou-o comsigo na viagem a Roma, on­ mens, o que muito concorreu para incre­
de o apresentou a:o Papa Zacharias, o mentar a obra ele que era representante:
qual lhe conferiu a sagração episcopal, a missão apostolica, a evangelisação, o
nomeando-o bispo de Würzburgo. A crescimento da religião christã.
chegada de Burchardo á nova diocese foi Durante doze annos dirigiu Burchar­
um verdadeiro triumpho. Christãos e pa­ do os destinos da diocese. Teve a feli­
gãos receberam-no com as mais francas cidade ele encontrar os ossos de S. Ki­
manifestações de regosijo e confiança. lfano e companheiros, preciosas reli­
Posto que creado o bispado, era lllm quia:s, ás quaes deu um sepultamento
oasis no meio do deserto. Poucos eram mais digno.

S. Burchardo - l<'abricio: Salutaris lux Evangelli toti orbi exorlens etc. 19 Eyrlng,
Diss. de ortu et progressa Relig. Christ. in Francla orient. Ignatius Gropplus, Scrlpto­
res rerum Wirceburg. Eccard. Hist. Herbip.

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320 14 de Outubro

S. Burchardo
Era homem para arrostar as maiores difficuldades. Era
Bispo, com todos os requisitos que S. Paulo quer reco­
nhecer num Bispo de Chrlsto: santo, impol!uto, perfeito,
prudente, aposto!ico, caridoso, trabalhador.

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15 de Outubro 321

Sentindo que as forças não mais re­ mandamento, e assim procedendo, julgam
segura a salvação, quando é muito duvi­
sistia!m aos labores do rrrinisterio, Bur­ dosa, por causa de um ou outro vicio que
chardo despediu-se dos diocesanos, ex­ os escravisa e alguns mandamentos que
hortando-os a perseverar na fé e na pra­ não observam. Como se enganam I Christo
tica do bem. A morte abriu-lhe as por­ mandou aos Apostolas que ensinassem aos
homens a observar tudo que lhes ordená­
tas da feliz eternidade, em 2 de Feve­ ra ". (Math 28). Do rei Herodes diz São
reiro de 754. O corpo foi trasladado Marcos, que observava muita cousa daquil­
para Würzburgo ·e Deus glorificou-lhe lo que S. João Baptista pregára (Marc. 6).
o tlllmulo com muitos milagres. Aos l ..J "Muita cousa", mas não tudo. S. Gregorio
escreve: "O demonio não se incommoda,
ele Outubro de 983, por ordem cio Papa ao ver que cerras as portas de tua alma a
Bento VII, as reliquias de São Bur­ todos os peccaclos, deixando apenas entrar
chardo foram exhumadas e novamente um só". Pondera bem isto. Guarda a fé e
observa "tudo" que Deus ordenou.
depositadas em Jogar mais accessivel á
devoção dos fieis. Santos do llfartyrologio Rotnano, cuja me­
REFLEXÕES moria é. celebrada hoje:
A Egreja corrlmemora hoje a festa do Pa­
S. Burchardo não se contentava com a
pa S. Callxto I. Romano e succcssor de São
prégação da santa doutrina e a conversão
Zepherino; governou a Egreja desde 221 até
dos peccadores. Tinha a constante preoc­
227. Ordenou que as quatro temporas, sendo
cupação tle educar os christãos para uma
de instituição apostolica, fossem observadas
vida santa. Ser catholico é uma grande
por todos os catholicos. Uma parte das ca­
graça, mas não é tudo. A' graça de De11s
tacumbas de Roma trazem-lhe o nome. De­
deve corresponder a santidade da vida. A
pois de crueis tormentos, morreu martyr,
fé sem as boas obras é uma fé morta. Ter sendo pelos perseguidores atirado num poço.
fé não é ainda garantia da salvação. E'
preciso que a nossa vida seja regida pelos Em Cesaréa, na Palestina, S. Carpasi@,
principias da fé; devemos observar os Santo Evaristo e Prisciano, irmãos de Santa
mandamentos da lei de Deus e fugir do Fortunata. Foram decapitados no mesmo
peccado. Homens ha que se abstêm ele al­ dia. 303.
guns peccados e observam um ou outro Em Rimini o bispo-martyr Gaudencio.

15 de Outubro

S. Geraldo Maíella, írmão leí�o redemptorísta


(t 1755)

M ÃO eram ricos em haveres, mas em pãosinho. Em casa relatava á mãe o que


� fé e piedade, os paes ele Geraldo, lhe acontecera.
Domingos Majella e Benecletta Galella. Um dia ajoelha-se á meza da <..om­
Nascia-lhes o filho aios 6 de Abril de munhão. Queria receber a Nosso Se­
1726, em Muro, no sul da Italia. Bem nhor. Mas em o vendo tão pequeno o
cedo o sobrenatural aureolou a vicia da padre passou adeante. Immensa magua
creança predestinada. Deu-lhe precoce­ cobriu o coração ele Geraldo. Para con­
mente á oração, ao apostolado junto dos solai-o V1eiu S. Miguel trazer-lhe a santa
cdmpanheiros de folguedo. Já com seis Contmunhão na noite seguinte.
annos ia á egrejinha da Virgem de Ca­ Geraldo precisava apprender um ofii­
potignano, distante ele Muro duas Ie­ cio e assim auxiliar a pobreza dos paes.
guas. Feita sua oração, Geraldo via o Foi apprendel-o com um alfaiate, mau,
Menino Deus descer cios braços da Ma­ colerico e abrutalhado. Pancadas, mJ u ·
donna e vir dar-lhe um alvo e saboroso rias, maus tratos eram o pão_ de cada

S. Geraldo llfajella - Diversas biographias do Santo, escriptas por sacerdotes de Con­


gregação SS. R. Francisco Alves, gstevam Maria.
Luz Perpetuà 21 - II vol.

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322 15 de Outubro

dia. Mas ta:mbem de cada <lia, incança­ volta a Muro parecia ter-se tornado lou­
vel era a paciencia elo santo apprencliz. co, tanta lhe era a sêde de soffrimentos.
O pouco que lucrava era dado aos po­ Provocava os n:teninos da rua para que
bres, ás almas <lo purgatorio, em, missas o maltratassem. E elles o faziam, cer­
que por ellas fazia celebrar. Ao lado de cando a Geraldo e nelle batendo. Que
tanta virtude era grande e rigorosa a pena ! diziam, então os moradores de
sua penitencia, alimentando-se de pão e Muro; o filho de Domingos está louco.
agua com algdmas verduras. Por esse tempo vieram prégar mis­
Mais tarde empregou-se c·omo famulu sões em Muro dois padres redemptoris­
do bispo de Lacedonia, Prelado que go­ tas. Foi a conta. Geraldo enthusiasmou­
sava de rima faima pouco animadora. se pelos padres e queria acompanhai-os
Era hom,em violento, exigente, de pala­ ao convento. Deixaria o mundo e iri2.
vras pezadas. Pouco tempo paravam viver só para Deus. Pediu a admissão.
com elle os criados. E o mesmo se pre­ lVIas o padre Cafaro, santo homem e
disse de Geraldo. Mas o santo tinha re­ confessor de Sto. Affonso, achou que
servas inexgottaveis ele paciencia. Nas o postulante era de saµde fraca. Por is­
horas de palavras e tratos pezados cala­ so não o quiz acceitar. Por sua vez veiu
va-se. Deus recompensou até com mila­ a mãe de Geraldo e allegou a pobreza
gre tanta virtude. Um dia, na ausenciJ. em que se achava, a precisão que tinha
do Pre;lado, sahe Geraldo para buscar cios prestin11os cio filho. Exaggerou.
agua na praça publica. Por infelicidade Nem com isso Geraldo se deu por \'t'tl­
lhe cahe dentro do poço a chave da casa. cido. De combinação com os padres a
Assusta-se o Santo, prevendo a tormen­ rnãe fechara o filho num quaTtt>, quando
ta que faria o Prelado, si, de regresso, bateu a hora da partida cios missiona­
não lhe fosse possível entrar em casa. rias. Nosso santo achou expediente pa­
Corre então á egreja e de lá retira a es­ ra o caso: da roupa ele cama fez uma
tatua do Menino Deus, prende-a á cor­ especie de corda e por ella deixou a pri­
da e deixa descer ao fundo cio poço, re­ são. Sobre a meza ficou um recado de
sando : O' Menino Deus, sê bom para 'Geraldo: Fujo para me fazer santo;
c01Titnigo e traze-1me a chave, para que o nunca mais voltarei. De facto, com
sr. Bispo não se zangue e esbraveje com grande admiração, viram os missiona­
Geraldo ! Os presentes acompanhavam rias un� moço correr atraz del1es. Era
com curiosidade o fim da confiança de Geraldo. Vinha pedir admissão. Ac�i­
Geraldo. De facto, pouco depois, ao pu­ tou-o o padre Cafaro, vistas as insisten •
xai-a para fóra, voltava a estatua tra­ cias do postulante. Mandou-o a Iliceto
zendo na mão a chave perdida. com uma carta ao Reitor do convento.
Tres annos perseverou Geraldo na Nella dizia: Envio-lhe um rapaz, que,
casa cio Bispo. Depois voltou para Mu­ por fraco, para nada prestará. Accei­
ro, sua terra natal, e ahi abriu uma al­ tei-o por causa das nunca vistas insis­
faiataria para sustentar a mãe. Ganha­ tencias.
va regularmente, mas quasi tudo ia pa­ No convento Geraldo caminhou como
rar nas nláos dos pobres. Para esses fa­ um gigante pela estrada da perfeição.
zia roupa de graça. E até quando lhe No começo tinha de trabalhar no jar -
traziam fazenda para um terno de rou­ di;m:. VirallTI que não prestava para
pa, esta lhe crescia nas mãos. tal occupação. Nomearam-no sacristão.
Mas já naquelle tempo havia imposco A.chou então o paraíso. Seu amor a Nos­
e fiscaes. Pensaralm em taxar com im­ so Senhor mostrava-se no esmero e na
postos mais altos a officina de Geraldo. limpeza com, que trazia tudo quanto per­
E elle para fugir a isso, retirou-se para tencia ao altar. Flores nunca faltavam
S. Fele. Ahi soffreu horrores de uns na egreja. Em toda parte da casa, na
alWT.llllos que tinha cdmo apprendizes. De rua, tinha U'ma palavra de Deus para o

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15 de Outubro 323

proximo. Mais tarde passou a cuidar da reu para fóra. Doentes abençoados por
dispensa, do ref.eitório, ela portaria. E elle saravalm. Tem1pesté!,des se acalma­
sempre o mesmo irmão humilde,· modes­ vam com a invocação ele Geraldo. E até
to, obediente, eclificante. Quando acom­ o demonio teve de lhe servir de guia
panhava os padres nas missões, prégava por dentro de uma torrente ameaçado­
com os exemplos, com a oração conti­ ra. Geraldo tinha o dom da prophecia
nua, cdm a penitencia austera. Nas via­ e muitas vezes predisse o futuro do pro­
gens não deixava de ser apostolo. Um ximo. Lia nos corações e, nunna missão,
dia üm salteador o cercou na estrada. foi procurar certo peccador e revelou­
Geraldo, calmamente, lhe disse: Tenho lhe todos os peccados que commettera,
um thesouro para te mostrar, mas pre­ entre elles incluindo a comi:nunhão sa­
cisamos ir mais para dentro ela matta. crilega que acabara de fazer. Seu nomre,
O salteador o acompanhou e Geraldo, ao lado de suas virtudes, andava na
tirando do peito um Crucifixo começa a bocca do povo elas redondezas. Ao lado
falar do thesouro ela graça, dos pecca­ ele tudo isso, era Geraldo um apaixona­
clos elo salteador. Acabou convertendo o do éllrnante do SS. Sacramento, da Sagra­
pobre ladrão. da Paixão do Salvador, da SS. Virgelfn
Brilhava em Geraldo a virtude da Maria. Innumeras vezes cahia em esta­
obecliencia aos Superiores. Delle se· di­ ses e elevava-se aos ares, arrebatado por
zia que parecia adorar, até, os pensa­ Deus, pela SS. Virgem. Apesar ele tan­
mentos cios Superiores. E certa vez sa­ tos dons extraordinarios, nunca deixou
rou, só por receber, cheio de fé, a or­ nosso santo de usar para comsigo de um
dem de sarar. Da Regra era obs·ervan­ rigor que apavorava. Disciplinava-se a
tissrmo e tanto a conhecia, que se affir­ sangue, jejuava varios dias na semana,
rnava poder ·elle escrever novamente o cobria-se de cilicio, punha hervas amar­
livro que a continha, caso clelle se per­ gas na comida. E ajunte-se a tudo a con­
dessem todos os exemplares. Sua hu­ tinua fraqueza ele saucle que nunca o
mildade desafiava senielhante em outros deixou.
e sempre o levava a esconder os mila­ Em Agosto ele 1755 a saude ele Geral­
gres que Deus lhe poz ao alcance. Sua do clescéllmbava. A febre, a tosse, o ma­
pureza era angelica. Nosso santo nunca tavam. Recolheu-se ao leito e a todos
perdeu a graça cio baptismo. Assim mes­ edificou pela sua paciencia e resignação.
mo, para provai-o, Deus permittiu que "Morro contente, porque espero não ter
fosse innocentemente accusado ele uma procurado sinão a vossa gloria e a vos­
falta gravissima contra a pureza. Geral­ sa vontade, ó meu Deus", dizia o Santo.
do não se defendeu, acceitou e cumpriu Perguntaram-lhe si soffria muito: Eu
humilclcimente a penitencia que lhe cle­ estou sempre nas chagél'S de Jesus Chris­
ralm. Mais tarde foi descoberta a ca­ to e as chag as ele Jesus Christo estão
luJmnia e Santo Affonso perguntou a cm mim, foi a resposta. Pedia ao me­
Geraldo por que motivo não se havia dico que não receitasse cousas que clés­
desculpado. C011TI0 fazer isso, responde o sem muito trabalho aos outros. Não
santo, si a Regra prohibe apresentar queria incan�moclar. Aos 15 de Outubro
desculpas aos Superiores ? Vae em paz recebeu sua ultima communhão, e tal foi
e Deus te abençôe, retrucou-lhe o santo· a scena edificante que seus confrades
fundador, convencido ele que lidava com nunca rmais a esqueceram,. Após a com­
um Santo. munhão Geraldo annunciou que era che­
Geraldo era o homem elos milagres. gado o dia ele sua morte. Pediu ao en­
Fazia multiplicar-se o trigo na dispen­ fermeiro que o ajudasse a recitar o offi­
sa, o pão no cesto. Um dia deixou aber­ cio de defunctos. "Quero recital-o pela
ta a torneira de um barril, ao ser cha­ minha alma", observou o Santo. Final­
mado urgentemente. E o vinho não cor- mente a \lma. hor;i. e um quarto da ma-

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324 15 de Outubro

drugada de 16 de Outubro ele 1755, na Geraldo viveu "como um anjo ·110 meio
idade ele Jô' annos, no 6° anno ck stn dos homens". Ao menos, quem náo é san­
to como elle, deve procurar viver "como
viela religi<0sa, Géralclo subia para o céo. um penitente entre peccadores ". A pacien­
Os milagres fora:111 se multiplican:lo l'. cia diante de faltas e erros e injustiças do
o nome elo Santo ficou celebrado no proximo é tambem uma grande penitencia.
Geraldo operava milagres com o signal
mundo inteiro. Tornou-se um thauma­ ela cruz. Mas tambem o fazia com uma de­
turgo. A sepultura ele Geraldo em Ca­ \ oção que impressionava. Procuremos Cl>
posele c01werteu-se em ponto de roma­ piar-lhe essa devoção. O pobre Signal da
ria. Dos ossos do Santo desprende-se Cruz é feito tão distrahidamente e tão
:;em alma!
continuain-rente um liquido, alvo corno
orvalho e deliciosamente perfumado. Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
Bm 29 de Janeiro de 1893 realizou-s·e a moria é celebrada hoje:
beatificação de Geraldo e aos 11 ele De­ Em Roma o martyrio de S. Fortunato.
Na Prussia o martyr S. Bruno, bispo dos
zeinbro de 1904 Pio X collocava o hu­ Ruthenos. Foi morto pelos idolatras da re­
milcle irmão leigo redemptorista no rói gião, onde prégava o Evangelho de Chris­
dos Santos. to. 1009.
Hoje S. Geraldo é conheciclissimo no Em Strassburgo a memoria de Santa Au­
rclia. 1027.
Brasil. Por toda parte se lhe vêem as Em Cracovia Santa Heclwig-es, duqueza da
,estatuas. Muitas egrejas, muitas paro­ Polonia.
chias, muitos christãos trazem o s•�u Em Portug-al a memoria ele Santa Bea­
triz da Silva, ela familia elos Condes ele
nome. Portalegre. Sua infancia passou-a na cõrte
ele João II de Castella. Sua belleza extraor­
REFLEXÕES dinaria provocou o ciume ela rainha que a
Na portá de seu quarto Geraldo mandou mandou encarcerar. Beatriz g-anhou a liber­
escrever·: ·''Aqui se faz a vontade de Deus··. dade e fugiu para Toledo, onde achou abri­
Está ahi -um bello programma para todo g-o no convento das dominicanas. Auxiliada
christão, seja- qual fôr o seu estado de vi­ pela rainha Izabel fundou a Ordem da Im­
da. E' no cumprimento da vontade de Deus maculada Conceição; a morte colheu-a an­
que está a perfeição, tes da sua vestição. 1490

15 de Outubro

SANTA THEREZA, FUNDADORA


(t 1582)

ro
A�\ EGREJA commemora hoje o clia
_ ' da grande filha do Carmelo, San­
ta Thereza, que nasoeu em A vila, na
executar, mas que se tornou irrealisavel,
dacla a vigilancia dos paes.
A icléa e o desejo do martyrio fica­
Hespanha em 1515. A educação que o� ram, entretanto, profundamente grava­
paes lhe deram e ao irmão Roclerico, foi dos no coração da menina. Quando ti­
a •mais solida possivel. Acostumada des­ nha doze annos, perdeu a boa mãe.
de pequena á leitura de bons livros, o Prostrada diante da imagem de Nossa
espírito ela menina não conhecia maior Senhora, exclamou: "Mãe de Miseri­
encanto que o ela vicia cios santos mar­ corclia, a vós escolho para serdes minha
tyres. Tanto a impressionou esta leitura mãe. Acceitae esta pobre orphãzinha no
que, desejosa de encontrar o martyrio. numero elas vossas filhas". A protecção
combinou com o irmão a fuga ela casa admiravel c1ue experimentou durante to­
paterna, plano que realmente tentaram da a vida, da parte de Maria Santissi-

Santa Thereza - Da viela da Santa, escripta por ella mesma. Raess e Weiss XV.

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15 de Outubro 325

ma, prova que esse pedido foi atten­ deJmasiadamente intimas com parentas
dido. levianas, levaram-na ao terreno escor­
Deus pen111tt1u que Thereza por al­ regadiço da vaidade. O resultado d'isto
gum tempo, enfastiando-se dos Jiyrus tudo foi perder o primitivo fervor, en­
religiosos, désse prieferencia a uma lei­ tregar-se ao bem estar, companheiro fiel
tura profana, que poderia pôr-lhe em ela ociosidade, sem entretanto chegar ao
perigo a alma. Tambcm umas relações ·cxtren10 de perder a innoc::2:1ci:i.

[]

SANTA THEREZA - De tal maneira !;e impressionou com a revclac;ilo da sorte que lhe
teria sido 1·eservada, si tivesse continuado no caminho das vaidades, que resolveu resta­
belecer a Regra Carmelitana, em seu rigor primitivo.

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326 15 de Outubro

O pa:e, ao notar a grande mudança bclecer a Regra carmelitana, em todo o


que v,erificára na filha, entregou-a aos rigor primitivo. Esse pbno encontrou a
cuidados das religiosas agostinianas. A mais decisiva resistencia da parte do ele -
conversão foi immediata e firme. Uma ro e cios religiosos. Thereza, porém,
grave enfe11m:idade obrigou-a a voltar tendo a intuição de agir por vontade de
para a casa paterna. Durante esta doen­ Deus, poz mãos á obra e venceu.
ça percebeu o profundo desejo de aban­ Trinta e dois mosteiros foram por
donar o mundo e s·ervir a Deus, na so­ ella fundados e outros tantos reforma­
lidão d'um claustro. O prue, porém, op­ dos e em todos, tanto nos conventos dos
pôz-se a este plano, no que foi contra­ religiosos, como elas religiosas, entrou
riado por Thereza, que fugiu de casa, cm vigor a antiga Regra.
para se internar no mosteiro das Car­
melitas em Avila. No meio do caminho Esta obra sobrehwnana não teria tido
lhe sobrev,eiu uma grande repugnancia o resultado brilhante que teve, _ si não
pela vida religiosa e por um pouco teria fosse a execução da vontade divina, e
desistido ela icléa. Vendo e1111, tudo isto si Tihereza não tivesse sido pessoa
uma cilada do ini1111igo ele Deus e cios toda de Deus, possuidora das mais ex­
homens, seguiu resolutamente o cami­ cellentes e solidas virtudes, dotada de
nho, e ao transpôr o limiar do mos­ grande intelligencia e senhora de pro­
teiro, os receios e escrupulos deram lu­ fundos conhecimentos theologicos.
gar a uma grande calma e alegria de co­ Santa Thereza teve o dom de ler nas
ração. consciencias e predizer cousas futuras.
Durante o tiempo cio noviciado lhe Não lhe faltou a cruz cios soffrimentos
sobreveiu um outro relaxamento no fer­ physicos e mornes. No meio das maio­
vor religioso, que, aliás, pouco tempo res provações, nas occasiões em que lhe
durou. Deus mais ulma vez lhe tocou o parecia ter sido abandonada pelo céo e
coração, mas de uma maneira tão sensi­ pela terra, era rmperturbavel sua pacien­
vd, que Thereza, debulhada em lagri­ cia e conformidade com a vontade de
mas, prostrada deante cio crucifixo, dis­ Deus. No SS. Sacramento achava a
se: "Senhor, não 111,e levanto do Jogar força necessaria para a lucta e para :.
onde estou, emquanto não me conceder­ victoria.
des graça e fortaleza bastantes, para não Oito annos ante• s de deixar este mun­
mais cahir em peccado e servir-voo ele do, lhe foi revelada a hora da morte.
todo o coração, com zelo e constancia." Sentindo esta se approximar, dirigiu
A oração foi ouvida, e ele uma vez para uma ferviorosa circular a todos os con­
sempre estava extincto no coração de
1 ventos de sua fundação ou reforma.
Thereza o aunior ao mundo e ás creatu­ Com muita devoção recebeu os santos
ras e restabelecido o zelo pela•s cousas Sacra;1111entos, e constantemente rezava
de Deus e do seu santo serviço. jaculatorias como estas: "Meu Senhor,
Foi-lhe revelado que essa conversão chegou afinal a hora desejada, que traz
era o resultado da intercessão de Maria a felicidade de vêr-vos eternamen­
Santis-sima e de S. José. Profunda era te." - "Sou uma filha de vossa Egreja.
a dôr que sentia dos peccados e dolorosas Como filha da Egreja Catholica quero
eraim as penitencias que fazia, si bem que morrer !" - "Senhor, não me rejeiteis
os confessores opinassem que nenhuma da vossa face. Um coração contrito e
d'essas faltas chegára a ser grave. Em ht1milhado não haveis de desprezar."
visões lhe foi miostrado o Jogar no in­ Santa Thereza morreu em 1582, na
ferno, que lhe teria sido reservado, si edade de 67 annos.
tivesse proseguido no caminho das vai­ Logo após a morte, o corpo da Santa
dades. De tal maneira se impressionou exhalava um perfll!rne deliciosissimo.
com esta revelação, que resolveu resta- Até o presente dia se conserva intacto.

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16 de Outubro 327

R E FLEXÕES confiar da bondade de Deus, quando Yos


Da vida de Santa Thereza podemos ti- der umia inspiração alta e nobre. Si o unico
rar tres grandes ensinamentos: 1. 0 ensi- fim é sua honra, não duvideis do feliz exito,
namento sobre "a grande importancia da pois Deus é grande e poderoso." O ensi-
oração ·•. Uma das graças mais preciosas que namento, pois, que Santa Thereza nos dá,
Deus póde dar ao homem, é O amor á ora- é que devemos ser corajosos e generosos.
ção. Thereza possuia este amor já 110 tem- O aguilhão da mortificação é o medo e a
po que precedia a sua conversão á vida dôr. A generosidade que vae de encontro
perfeita. Cousa peior não póde acontecer ás difficuldades, e ama a dôr., quebra e inu-
á alma que perder O gosto pela oração. A tilisa-a, porque só Deus é o unico objecto
alma que não reza, diz a nossa Santa, per- do seu amor e do seu temor. Thereza cru-
de O fundamento; é como um corpo entre- cificou o medo, pelo amor e pela generosi-
vado de rheumatismo; torna-se uma co- dade.
lumna de sal deante do perigo que se ap- 3. O terceiro ensinamento que a vida de
proxima. A oração perseverante vence to- Santa Thereza nos offerece, é este: "O po-
das as difficuldades e immunisa a alma con- der invisível da oração e do sacrificio" é
tra todos os perigos. Santa Thereza expe- grande, tão grande que sua efficacia ás ve-
rimentou o valor da oração, desde que ap- zes se faz sentir na direcção dos povos e
prendeu a vencer a si proprio e se desape- da Egreja, Deus se aproveitando do que é
gar de todas as vaidades. fraco para afastar grandes males, e ope-
2. Santa Thereza ensina-nos um modo rar grandes cousas. Como bem poucos do
pratico de "suavisar a mortificação", seu tempo, Santa Thereza, no sile:,cio da
que tanto custa á natureza humana. oração e do sacrificio, tem sido regenera-
Escreveu ella: "Não conheço difficul- dora da fé e dos costumes da sua nação.
dade, que me falte animo para enfren- Com a reforma da sua Ordem, Thereza
tal-a. Disto eu tenho provas, e em cousas mais fez pela conservação do catholicismo
bem difficeis. Si logo ao começar uma obra na Hespanha, de sua propagação em ui-
santa, conseguia vencer a resistencia da tramar, que a grande Armada e o Insti-
natureza cobarde, sempre me vi de para- tuto da Inquisição. Sem a obra de Santa
bens. Si trabalhamos só para Deus, acon- Thereza, a Hespanha teria sido preza do
tece que Elle, para augmentar o nosso me- Protestantismo invasor, e com elle as ter-
recimento, deixa a alma experimentar cer- ras do novo mundo, a America latina de
to medo, até o momento que esta se re- dominio hespanhol. No emtanto mais fa-
solva a agir. Quanto maior fôr o pavor an- cil é ganhar povos á religião, do que re-
tecedente, tanto mais pura cosfuma ser a formar uma Ordem. Esta é a obra mara-
alegria depois da obra executada, que a vilhosa de Santa Thereza, da mulher for-
principio impraticavel parecia. Si me é li- te, assombro do seu seculo, de que Deus
cito dar um conselho, é este: Apprendei da se serviu para governar e orientar ho-
minha experiencia, de nunca dar attcnção mens, só porque teve a coragem de cou-
ao pavor natural do coração e nunca des- fiar em Deus. (Meschler).
"H-❖++-H+:.❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖H❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖�•❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖•!

16 de Outubro

SÃO GALLO
(t 646)

e
�Q
QALLO, este grande abhade e
confessor da fé é irlandez de ori­
guns companheiros, entre os quaes se
achava Gallo, como um dos primeiros.
gem e nasceu no seculo VI. Menino ain­ Da Irlanda fora11TI á Inglaterra, da In­
da, sua educação foi confiada a S. Co­ glaterra á França. Cordialmente recebi­
lumbano, Superior do C'Onvento de Ben­ dos pelo rei Sigeberto, estabeleceram-se
kor. Este santo homem, possuido de es­ entre Toul e Besançon, onde construi­
pírito missiona,ri-o, tinha resolvido deixar ra,m uma egreja e um convento. Colum­
a patria e prégar o Evangelho em ou­ bano deu aos confrades uma regra, co­
tros paizes. Para este fim escolheu ai- mo base da vida religiosa. Gallo foi o

S. Gallo - Walfrldus Strabo e Notker, Mabillon Act. Ben. II. Annal 1. 11. - Rambeck.

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328 16 de Outubro

prin,eiro a acceital-a, reconhecendo nella de se achava um templo dedicado a


um meio excellente de santificar-se co­ Santa Aurelia, o qual tinh;,i sido profa­
mo de facto, pela observação fi.el dessa nado pelos pagãos.
regra, se tornou modelo de virtude e Gallo procurou pôr-se cm contacto
santidade. com os ministros da idolatria e apre­
Poucos annos os missionarias tinham sentou-lhes a doutrina de Christo como
passado no la­ unica ie verda­
gar por elles deira. Muitos
mesmos esco­ delles se con­
lhido, quando verter a m ao
3,s m a c hina­ Christianismo.
c;ões, intrigas O DuqueCun­
e perseguições zo, dando ou­
de Brunhildes, vido ás quei­
mulher irre­ xas e reclama-·
quieta e a1111bi­ c:ões que os
ciosa, os obri­ ·chefes pagãos
garam a aban­ lhe dirigiram,
donar comple­ intimou a Gal­
tamente o con­ lo para que se
vento. Prote­ retirasse im-
gidos pelo Rei 111 e diatamlente
T h eocloberto, cio paiz.
facilmente ob­ Era plano
tiveram licen­ de Columbano
ça para conti­ d i r i g ir-se á
nuar a obra Italia e com
em outra par­ elle devia ir
te. tambem Gallo.
Co lumbano Este, porém,
escolheu uma a c com1111ettido
r,egião p e r t o de grave do­
cio lago de ença, deixou­
Constança, que se ficar e de­
e r a habitada pois de resta­
por um povo belecido, pro-
idolatra e bar­ curou nova-
bara. G a I l o mente o sacer­
empenhou - s e dote e amigo
p o r nwstnr S. Gallo Wilimar, que
aos idolatras a Foi ahi, na Suissa, que construiu uma egreja e desta vez lhe
falsidade do doze cellas para seus discípulos. Foi este o co­ deu uma mo­
meço da Abbadia de S. Gallo, que mais tarde ad-
seu culto e a quiriu grande fama. rada nas mon­
impot·encia do, c a n h as d a
deuses. Em pmva disso, atimu umas Suissa, ao sudoeste de Arbon.
imagens pagãs ao lago e quebrou outras. Foi ahi que construiu uma egreja e
Os pagãos enfureceram-se contra o mis­ doze cellas para os discipulos. Foi este
sionaria e só a fuga o salvou da morte. o cdmeço da Aibbadia de S. Gallo, que
Na fuga, chegou a Arbona ou Arbon, miais tarde adquiriu tanta fama.
onde se encontrou com o sacerdote Wil­ Odm os discipulos, que, como elle,
limar, que lhe offereceu um terreno, on- observavam a regra de Columbano, co-

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17 de Outtubro 329

n1:eçou a christianisar o povo e com tão selhos evangelicos. Observar os manda­


mentos é obrigação de todos os christãos.
bom resultado, que é chamado o Apos­ Oxalá os observassem ! Oxalá se conven­
tolo daquellas regiões. Numerosos mila­ cessem de que o jugo do Senhor é suave e
gres que lhe acompanharam a . miss�o, leve a sua carga e não o sacudissem ! A
fizera,rn com que os pagãos mais se 111- transgressão dos mandamentos é uma des­
obediencia a Deus, que não poderá ficar
clinassem á verdadeira religião. Gallo li­ impune. Imprudente é o christão que se
vrou a filha do duque Cunzo dum máo nega a curvar-se debaixo do jugo de Deus.
espirita, que muito a atormentava. Para Si a certeza do prémio eterno não o incita
demonstrar gratidão, Cunzo offereceu­ a obedecer, o horror do inferno devia en­
tão afastai-o da senda do peccado. A Deus
lhe ricos presentes e a Diocese ele Cons­ se deve absoluta obcdiencia, porque é Nos­
tança. Gallo nada quiz acceitar e conti­ so Senhor. Não somos nós que podemos
nuou com maior zelo ainda a prégação impôr a nossa vontade, o nosso capricho.
O servo fiel receberá a recompensa, que se­
entre os pagãos. Apesar dos s•eus 95 an­ rá abundante; o máo servo herdará o reino
nos, acompanhava a communidade em de Satanaz e será eternamente infeliz.
todos os actos e praticas de devoção e "Bem está, servo bom e fiel, pois que fos­
penitencia. te fiel em poucas cousas, collocar-te-ei so­
bre muitas; entra no goso de teu Senhor.
S. Gallo morreu no dia 16 de Outu­ - Ao servo inutil, porém, dirá : "Lançae-o
brD de 646. O corpo do Santo achou o nas trevas exteriores: alli haverá choro e
ulti.mo repouso na egreja por elle cons­ ranger de dentes". (Mth. 25. 23).
truida, sendo o tumulo objecto de mui­ Santos do Martyrolovio Romano, cuja me­
tas romanas. moria é celebrada hoje:
Em Bourges o bispo de Cahors, Santo Am­
REFLEXÕES brosio. 770.
S Gallo não observou só os mandamen­ o; Santos Martiniano e Saturiano com
tos da lei de Deus; para chegar ás culrni­ mais dois Irmãos, que soffreram o martyrio
nancias da perfeição, viveu segundo os con- em 459.

17 de Outubro

Santa Margarída María Alacoque


(t 1690)

'lt" I\RGARIDA Alacoque nasceu em


iJL\jl!li França, a 22 de Julho ele 1647, no
confiada; pois Margarida, adivinhando
que o bom Deus não habitava no cora­
territorio de V erosvres, em Charolais, ção d'essa infeliz, evitava-lhe constante­
onde o pae era notaria real, e foi bapti­ mente a companhia, para procurar a de
sada no dia 25 do n:iesmo mez. A graça uma outra empregada que, sob apparen­
divina reinou, desde então, soberana na cias rudes e pouco attrahentes, occultava
alma innocente d'esta creança privil-e­ uma virtude solida e real. O maior pra­
giada. zer da menina era rezar na capella do
Na idade de quatro annos, a pedido Castello, approximando-se então o mais
da nobre madrinha, foi levada para o possível do Tabernaculo. Cedendo aos
castello de Corcheval, onde o luxo e os impulsos do Espirita Santo, repetia con­
prazeres da alta sociedade não puderam tinuaimente, sem :mestmo comprehender
empanar-lhe o brilho da innocencia. Nem ·O que dizia: "O' meu Deus ! consagro­
siquer puderam pi::ejudicar-lhe os máos Vos minha pureza e faço-Vos o voto de
eX!emplos e o perigoso contacto de uma perpetua castidade !" Assim a cumulava
creada pouco christã, á qual tinha sido Jesus das bençãos de sua doçura celeste

Santa Margarida Maria Alacoque - E. Bougaud: Ph. Seebiick. - Vie et veuvres. -


Meschler.

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330 17 de Outubro

,e assignalava-a ciosamente com seu sello esta laboriosa tarefa ! Ha muito já que
divino. Nosso Senhor instava com Margarida,
para que cedesse á voz mysteriosa de
O que fôra em Corcheval, continuou
seu aimor, que a chamava ao claustro.
Margarida a ser em Verosvres, quando
l\Iuitas vezes se dignava mostrar-s•e-lhe,
regressou á casa paterna. Tinha como sob a figura do Ecce-Homo e no estado
unica ambição occultar-se a todos os em que o pôz a flagellação, censurando­
olhares, péllra melhor gozar de seu Deus. lhe a longa resistencia á graça. Foi num
Sabia o segredo de viver em perpetuo dia, após a Santa Communhão, que Elle
holocausto e as primicias de suas morti­ triurnphou das hesitações de sua Serva,
ficações corporaes já deixavam prevêr dizendo-lhe: "Si me fôres fiel e me se­
a sêde de soffrimento, que tlim dia lhe guires, ensinar-te, -ei a conhecer-1ne e
devoraria a alma. Não tardou, aliás, que manifestar-me-ei a ti".
a cruz se lhe plantasse no coração gene­ A partir d'esse momento, o Crucifixo
roso. Com a morte do pae, foi internada se tornou o Mestre predilecto da joven.
no pensionato das Clarissas, onde fez a Nessa escola sagrada retemperava a al­
Primeira C011,rnunhão, com cerca de 9
1
ma, para a·s ultiimas luctas no mundo.
annós de idade. Uma molestia extranha Quando se sentia dilacerada pela dôr, ia
apoderou-se-lhe do organismo, sen­
pedir forças A'quelle que não fere sinão
do forçada a deixar as boas Irmãs e
para curar e atirando-se aos pés do Se­
as caras condiscípulas, que tanto a ama­ nhor Crucificado, dizia-lhe: "O' meu
vaim. Durante quatro annos esteve sob o querido Salvador, como seria feliz, si
jugo d'esses soffrimentos inexplicaveis, iinpr�misseis ,em 11nrm Vossa imagem
que nenhum remedia conseguiu alliviar. soffredora !" E Jesus respondia-lhe:
Margarida fez então voto á Santíssima "E' o que pretendo fazer, com tanto que
V.irgem de pertencer um dia ao numero
não 111:e resistas e contribuas por teu
de suas Filhas, si a curasse. A Mãe de lado para esse fim".
misericordia restituiu-lhe logo a saude. A Santiss�ma Virge• in veiu-lhe pode­
Voltando á vida, Margarida não re­ rosaimente em auxilio, e foi sob a pro­
ceiou seguir o pendor natural de seu tecção da Mãe celeste que conseguiu a
temperamento jovial e divertir-se ale­ certeza de entrar para um mosteiro de
gremente, como as pessoas do mundo. Santa Maria, entre tantos outros con­
Nosso Senhor soube, porém, detel-a á ventos que lhe tinham sido propostos.
beira d'esse abysmo. A mãe de Ma,rga­ Falaram-lhe em Paray le Monial, da
rida, despojada de sua autoridade no Ordem da Visitação e o coração dilatou­
proprio lar, após a morte do marido, se-lhe de alegria. A certeza da vontade
soffria um verdadeiro captiveiro, do divina confirmou-se-lhe em breve na al­
qual cdmpartilhava a filha. Foi para ma: quando pela primeira vez se apre­
Margarida uma boa occasião de fazer o sentou no parlatorio do Convento, ou­
noviciado de renuncia. O que mais lhe viu distinctamente esta palavra interior:
custava, era vêr�se desprovida de recur­ "E' aqui que te quero !" Ficou tão en­
sos péllía tratar da mãe enferma. Os seus cantada, que ultimou promptaimente os
propfi.os soffrimentos, fazendo-lhe com­ negocios e voltou em breve, para a en­
prehender quanto soffrem os pobres, le­ trada definitiva no querido Paray. Era
varnrni-na a tornar�se, nesta época, de­ 20 de Junho de 1671. Margarida conta­
dicada consoladora dos pobrezinhos. va então 24 annos de idade.
Atraz d'essas pobres creaturas via Je­ A Superiora e a Mest•ra de noviças,
sus Christo, seu Salvador e seu Deus e almas cheias de experiencia e santida­
para contentai-o, que não faria ? Por de, acolheralm a joven Margarida como
amor d'Elle, fez-se ainda mãe espiritual um rico presente do céo á Commrunida­
e professora de numerosas creancinhas de. Reconhecendo nella uma alma eleita,
pobres e com que santo ardor cumpria de virtude a toda prova, trataram-na co-

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17 de Outubro ·331

mo se tratam os amigos de Deus, não escripta e assignada com o proprio san­


lhe poupando provações de toda a espe­ gue: "Tudo de Deus e nada meu ! Tudo
cie. Cerca de dois mezes após a entrada por Deus e nada por mim ! Tudo para
no mosteiro, isto é, a 25 de Agosto ele Deus e nada para mim !" Nosso Senhor
1671, Mairgarida recebeu o habito da acabava de dizer-lhe: "Eis a chaga de
Ordem da Visit:ação e com o véo de no­ meu lado, para ahi fazeres tua morada
viça, o nome actual e perpe•
de Margarida tua."
Maria. Cuanu­ Toda a vida
lada de gra­ de Mairgairi<la
ças extraordi­ Maria não foi
narias da par­ sinão um só
te do Salva­ tecido de fa­
d o r, Ir m ã v,ores sobrena­
Ma r g a r i d a turaes, até cul­
Maria tornou­ mi n a r n a s
se a!O nl!esmo grandes :reve­
tempo objecto lações do Co-
de um trata­ ração Divino,
mento severo as quaes de­
ela parte das v i a m consti-
S u p e r ioras. 1tuir a missão
. Querendo es­ da h u m ilde
tas e x p e ri­ Serva de Deus.
mentar, s1 o No dia 27
'espírito q u e de Dezetnbro
a animava era . de 1673, festa
bom ou sus- de São João
peito, t"etira- E v a n gelista,
vam-na cons­ quando estava
tanremente dos 1
deanre do SS.
exercicios es- S a e r amento,
piritua�s, mor­ eis que Jesus
t i f i caindo-lhe lhe appareceu,
sobretu d o o fazendo-a re­
grande attra­ pousar longa­
ctivo para a m e nte sobre
oontemplaç ã o s e u Divino
1

e mand3'ndo-a C oração e
varrer em Jo­ Santa Margarida Maria Alacoque ia b r i ndo-lh'o
gar de fazer "Eis aqui o Coração, que tanto amor tem aos pela pri,meira
oraç ã o. Hu­ homens,(Palavras
e tudo fez para mostrar-lhes seu amor... "
de .Jesus Christo á Santa).
viez, disse-lhe:
milde e sorri­ "Meu Divino
dente, a fervorosa noviça entregava-se ás Coração está tão apaixonado de amor
modestas e laboriosas funcções, gozando pelos homens, por ti em particular,
por toda a parte da presença de seu Deus. ql.llC, não podendo mais conter em
No dia de sua profissão religiosa, a si miesmo as chanmnas de sua arden-
6 de Novembro de 1672, traçou, dieta­ 1:e caridade, é mistér que as propa­
da pelo Divino Mestre, uma regra de gue por teu inrermedio". Mostrou-lhe
conducta, que determinava por esta hu­ outra viez o Sagrado Coração, encimado
milde, mas corajosa divisa, inteiramente por uma cruz e cercado de espinhos, re-

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332 17 de Outubro

velando-lhe que essa cruz ahi fôra plan­ festejada de um modo particular, para
taida desde o primeiro instante da Encar­ honrar meu Coração; peço-te commun­
nação. Assegurou-lhe em s,eguida que gues nesse dia e faças reparação honro­
tinha especial pr3.Z'er em ser honrado sa pelas irreverencias que elle soffre,
sob a figura d'esse Coração de carne, quando está exposto sobre os altares.
cuja imagem desejava que fosse expos­ Prometto-te que meu Coração se di­
ta em publico, para attrahir sobre J., latará para derramar com abundan­
homens toda a especie de bençãos. •cia os effluvios do divino amor
Queixou-se-lhe ainda outro dia Jesus sobre aquelles que lhe prestarem esta
que ninguem se esforçava por saciar-lhe honra e propagarem esta devoção."
a sêde ardente que tem, de ser honrado Mandou-lhe ainda o Salvador que
pelos homens no SS. Sacramento, pe­ se dirigisse ao seu Servo, o Padre de
dindo-lhe que reparasse, quanto pudes­ La Oolon�biére, piedoso Jesuita que ;,,
se, essa ingratidão, que lhe era mais Providencia Divina tinha enviado, para
sensível que tudo quanto havia soffrido ser o conselheiro e amparo ela humilde
na Paixão. Ordenou-lhe, para isso, rece­ religiosa e que não teve clifficuldade em
ber a Santa Co1nmunhão especialmente tranquillizar as Superioras e bem assim
na 1 ª s·exta-f.eira do mez e avisou-lhe a submissa Serva de Deus, de cuja san­
que a faria participar, todas as noites de tidade eminente estava convencido. O
quinta para sexta-feira, da tristeza mor­ venerando sacerdote não podia pôr em
tal que sentiu no Jardim das Oli­ duvida a veracidade da mensagem. e,
veiras, mandando-lhe que se levantas­ após haver reflectido e orado, julgou
s•e, para esse fim, entre 11 horas e mei.i de seu deve, r conreçar sem demora a
noite e se prostrasse com a face em ter­ corresponder aos desejos do Divino Co­
ra, para aplacar a justiça do Pae· celeste, raçã,o, consagrando-se desde logo, a 21
irritado contra os peccaclores. Era a de­ de Junho de 1675, sexta-feira após a
voção da Hora Santa, que assim lhe oitava da festa do SS. Sacramento, de
revelava. corpo e alma, ao serviço e amor do S.
Margarida Maria revelou tudo á Su­ Coração de Jesus.
periora, cuj,o consentirniento Nosso Se­ Era, porém, apenas uma semente'. oc­
nhor desejava. Esta, porém, começou culta a devoção que assim se iniciava, e
por humilhai-a o mais possível, com que antes de gem,inar em pleno sol e
grande prazer da humilde religiosa, ena­ produzir fructo ao centuplo, devia cus­
morada dos encantos da cruz, a qual con­ tar ainda á generosa Apostola do Coca­
siderava como uma prova de amor do ção ele Nosso Senhor muitas luctas, tra­
Divino Esposo. balhos e ht11milhações cruciantes. Para
Apresentou-se-lhe de novo Jesus, em tornai-a ulma victima de expiação, o Di­
Junho de 1675, durnnte a oitava do SS. vino Mestre sabia n11Ultiplicar-lhe ao
Sacramento e descobrindo-lhe o seu Di­ longo do caminho as occasiões de sof­
vino Coração, disse-lhe: "Eis aqui este frfa111ento e immolação, a par dos muitos
coração que tanto a111iou os homens, que favores celestes, de que a cumulava. Ao
nada poupou, até !>e exgottar e consu­ mesmo tempo, porém, a virtude exem­
mir, para testemunhar-lhes o seu amor, plar da Santa triumphava de todas as
e em troca, não reoebo ela maior parte prevenções de suas Irmãs de habito. No­
simão ingratidões, irreverencias e sa­ meada mestra das noviças, tratou logo de
crilegios, friezas e desprezos que têm incutir naquellas almas innocentes a de­
para co1lljllligo, neste Sacramento de voção ao Coração Divino, e pouco a pou­
amor. Mas o que me é mais sensivel, é co foi esta s,e propagando e captivando
que são corações que me são consagra­ o coração de todas as religiosas do mos­
dos, que assim procedem. Desejo por teiro, mesmo d'aquellas que d'antes se
isso, que a primeira sexta-feira após a n1ostravam mais infensas a essa bemdita
oitava da Festa do Corpo de Deus seja Obra. O enthusiasmo foi tão geral, que

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17 de Outubro 333
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logo se decidiu a erecção de uma capel­ se aggregam quaes estrellas concomitantes
e de que recebem seu brilho, seu fulgor. E'
la ao Sagrado Coração, numa das extre­ a tal chamada ordem da União hypostati­
midades do recinto do mosteiro. ca, a synthese das verdades e mysterios da
Em breve por todo o mundo se pro­ pessoa, da vida e das obras de Jesus. A es­
pagou e tomou incremento a piedosa de­ te grandioso cyclo pertence a Devoção ao
Sagrado Coração: na divina constellação é
voção, tornando-se por toda a parte, co­ ella uma estrella de primeira grandeza;
mo já o fôra no ·1nosteiro de Paray le mais: é o complemento e a glorificação
M•onial, rnma fonte admiravel de reno­ de todos os outros mysterios. Cooperar
vação espiritual, 11111 fóco inflamma(lo para que esta devoção se torne mais co­
nhecida e apreciada entre os homens, não
cl'aquelle fogo do amor divino, que Je­ é invejavel vocação ?
sus veiu trazer á terra. Margarida Ma­ Esta vocação é importante tambem pe­
ria, cercada dos carinhos e veneração ele los grandiosos effeitos da Devoção ao Sa­
suas Irmãs, sentia acabada sua missão grado Coração de Jesus. As grandes devo­
ções da Egreja são poderosas alavancas no
na terra e com prazer predizia: "Não engenho mysterioso, da graça, verdadeiros
mais viverei, porque nada mais soffro." mananciaes de salvação, de que jorram
Nâ:o vivia mais sinão de amor e para torrentes de graças regeneradoras, de luz
e de pureza para os homens; são ancoras
o amor. A cada instante se lhe escapéi.­ seguras, que trazem salvação a milhões de
vam dos labios ou ela penna palavras almas naufragas, anciosas por se elevarem
abrazadas de amor: "Sem o SS. Sacra­ a regiões mais puras; são poderes espiri­
mento e a cruz eu não poderia viver e tuaes, capazes de fazer acordar, elevar e
renovar gerações inteiras. Uma destas De­
supportar .meu longo exilio !" Mais que voções é a do Sagrado Coração de Jesus.
ninguem sentiu o que escrevera: "Ah ! As promessas que acompanharam sua re­
como é doce morrer, após ter tido uma velação, abrangem e santificam a vida to­
constante deV10ção ao Coração d' Aquelle da, todos os estados e condições e satis­
fazem a todas as necessidades do mundo
que nos deve julga:r !" A 17 de Outu­ christão. A Devoção ao Sagrado Coração
bro de 1690 foi abysmar-se para sempre de Jesus veiu a ser o labaro da salvação
no Sagrado Coração ele Jesus. do nosso tempo.
Pio IX beatificou-a a 18 de Setembro O instrumento na mão de Deus, para o
mundo conhecer este culto suavissimo do
ele 1864 e a 17 de Março ele 1918 o S. Sagrado Coração tem sido a humilde reli­
Padre Bento XV se dignou promulgar giosa do Convento de Paray-leMonial,
o decreto de canonização ela Serva de Santa Margarida Maria Alacoque. Elia tem
Deus. sido seu anjo, seu arauto, sua apostola.
Quem é o catholico fervoroso que não
queira receber em seu coração uma cente­
ORAÇÃO lha do amor que incendiava a alma de Mar­
Senhor Jesus Christo, que d'uma maneira garida Maria Alacoque: quem é que não
adrriiravel vos dignastes revelar á Santa queira, semelhante a ella, ser participante
Virgem Margarida Maria as insondaveis ri­ das bençãos do Sagrado Coração de Jesus
quezas do Vosso Coração, concedei-nos, e apostolo desta tão acreditada e saluta-
pelos seus meritos e á sua imitação, que, rissima devoção ? (Meschler)
amando-vos em tudo e acima de tudo, pos­
samos ter uma mansão no vosso Coração.
- Oh ! Vós, que, sendo Deus, viveis e rei­ Santos do Martyrologio Romano e de ou­
naes, etc. tros, cuja memoria é celebrada hoje:
R.EFLEXõES Na Persia o martyrio de Santa Mamelta.
Avisada por um anjo, deixâra a idolatria e
Grande, sublime é a vocação, que Deus se convertera ao christianlsmo. Os pagãos
deu a Santa Margarida Maria; primeiro apedrejaram-na e atiraram seu cadaver ao
por causa do ohjecto da Devoção do Sa­ mar. sec. 5.
grado Coração de Jesus. E' a devoção ao
divino Salvador, ao Filho de Deus, a Deus Em Tonkin a memoria do bemaventurado
mesmo, ao seu Coração, que é o symbolo Francisco Isidoro Gagelin, do seminario de
do seu amor a nós, pobres homens. No es­ Paris, que foi estrangulado em 1833.
plendoroso firmamento das verdades so­ Na Revolução Franceza dez religiosas ur­
brenaturaes da nossa Religião ha um cyclo sulinas, que foram massacradas em Valen­
ele n\ysterios, que excedem a todos em cla­ ciennes aos 17 e 23 de Outubro de 1794. O
reza e magestade, e aos quaes os demais Papa Bento XIV as beatificou.

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334 17 de Outtubro

17 de Outubro

SANTA HEDWIGES
(t 1243)

\;� M m�delo eX!eunplarissimo de t?das a resolução de viver em completa conti­


YJ as virtudes apresenta-nos h0_1e a nencia, e ambos fizeram um voto nesse
Egreja na pessoa da santa duqueza Hed­ sentido, que depositaram nas mãos cio
wig, es. Bispo.
O pae de Hedwiges era' Bertholdo, Desde aquelle momento, rapidamente
duque de Oarinthia, Margrave de Me­ proseguiu no caminho da perfeição. To­
ran e conde do Tyrol. A mãe era egual­ do o tempo, não tomado pelas occupa­
m,ente de alta linhagem. ções cio dever, pertencia desde então á
Hedwiges, ainda menina de tenros an­ oração e á beneficencia. Consolo parti­
nos, dava a conhecer aos paes que era cular clava-lhe a audição da santa Missa,
de Deus privilegiada, por uma intelligen­ tanto que assistia quotidianamente a tan­
cia não cortjmulm naquella eclade. Além tas l\lissas quantas lhe era passivei, e
disso, notava-se na menina uma inclina­ com uma devoção que edificava a todo�.
ção bem accentuada para todas as virtu­ Era uma grande protectora elas viuvas e
des, cousa rarÍ'ssimas vezes observada orphãos. Grande parte elos protegidos
em creanças. comiam na sua propria meza, onde ella
Donzella, nenhum attractivo experi­ mesma os servia. Frequentes visitas fazia
mentava para os prazeres e divertimen­ aos hospitaes e a dedicação, como o
tos mundanos. Ler e rezar era-lhe por amor ao sacri ficio, faziam com que em
assim dizer, a unica distracção. pessoa lavasse os pés cios leprosos e lhes
Tendo attingido a edade de 12 annos, beijasse as ulceras. Com o esposo insis­
para obedecer aos paes, contrahiu nu­ tiu para que nas proximidades da cida­
pcias com Henrique, duque da Polonia e de de Breslau erigisse t1:111 convento pa­
Silesia. Esposa exemplarissima, ·não ti­ ra as religiosas ela Ordem de Cister. Na­
nha em mira outra cousa senão a gloria quelle convento muitas meninas pobres
de Deus, a santificação de sua alma e receberam educação e instrucção reli­
a felicidade do proximo. giosa. Heclwigcs mesma costumava pas­
Com permissão do esposo, dedicava sar dias entre as freiras, acompanhando
os dias de festa, bem como a santa qua­ todos os exercícios da communidade.
res'ma, a exercicios de mortificação. Um No vestir não se lhe notava nenhuma
dos seus lem'mas era : "Quanto mais ostentação, nem liberdade algttlma, de
illustre se fôr pela origem, tanto mais modo que o exemplo da cluqueza obri­
se deve distinguir pela virtude, e quan­ gava a todos na côrte ao maior recato.
to mais alta a posição social, tanto Contrariedades e graves desgostos não
mais obrigação se tem ele edificar ao faltara!m para pôr-ll1e em prova as vir­
prox�mo pelo bom exemplo." tudes. Uma guerra iJmprevista arreba­
Deus abençoou o matrimonio do ca­ tou-lhe o esposo, que cahiu nas mãos cio
sal com seis filhos, que foram educados inim:igo. Ao receber esta ultima noticia,
no temlor de Deus. Heclwiges, cheia de fé, levantou os olhos
Hedwiges contava apenas 20 annos e para o céo e disse: "Espero vêl-o em
o esposo 30, quando, impellida pelo de­ breve são e salvo." Elia mesma se diri­
sejo de servir a Deus em maior perfei­ giu ao duque Conrado, que lhe guardava
ção, de accordo com Henrique, tomou preso o esposo e rogou com tanta insis-

Santa Hedwiges - Surius. Raess e Welss XV.

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17 de Outtubro 335
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tencia, que obteve a libertação de Hen­ mava abundantes lagrimas. Terno amor
rique, o qual adoeceu e pouco depois dedicava á Santissima Virgem. O rosto
morreu. A's pessoas que lhe apresenta­ incandescia-se-lhe ao pronunciar o no­
vam pezarnes, Hedwiges respondia: me da doce Mãe celeste. A humildade
"Cumpre adorattrnos os desígnios ela di­ de Hedwiges foi recompensada cdm o
vina Providencia na vida e na 1110 ·te.1 dom dos milagres. Fazendo uma vez o
Nosso consolo deve consistir no cu1r, signal da cruz sobre tuna cega, esta re­
primento de sua santissima vontade." cuperou a vista immediatamente. Mui­
Tres annos depois, seu filho Henri• tas curas maravilhosas se effectuaram
que perdeu a vida, nuaria batalha contra por sua intercessão.
os Tartaros. Embora este golpe crude­ O fi11TI de tão santa vida foi uma mor­
líssimo lhe ferisse profundamente o co­ te santissima. Acconimettida de grave
ração de imãe, Hedwiges demonstrou a doença, pediu os santos Sacramentos, os
mesma resignação que por occasião da quaes recebeu com tanto fervor, que
morte do esposo. con1moveu a todos que assistiram. Mor­
O resto da vida passou-se-lhe no con­ reu em 1243. Numerosos foram os mi­
vento. Ahi viveu como a ultima entre as lagres que se lhe observaram no tumu­
freira,s. As regra!S e as oorrstituições cb lo. Clemente IV deu-lhe a honra dos al­
Ordem viram na santa Duqueza a ob­ tares. Santa Hedwiges é a padroeira da
servadora mais fiel. Si sua vida antes Polonia.
da entrada no convento era de sacrifi­ REFLEXÕES
cios e penitencias, no mosteiro redobrou "Tanto na vicia corno na morte elevemos
os exercícios de austeridade. Só inter­ adorar hurnilclemlente as determinações ela
rompia o jejtl'l11 aos domingos e dias divina Providencia". - Assim falou Santa
santos. O unico alimento que tomava era Hedwiges, r1uando o marido lhe foi arre­
pão, agua e legumes, abstendo-se por batado pela morte. A mesma conformidade
heroica manifestou quando lhe morreu o
completo do vinho e da carne. O cilício filho primogenito. Qual é a tua conducta
era-lhe companheiro inseparavel, e o lei­ cm acontecimentos semelhantes ? Nunca
to era;m. duas taboas. No inverno mais terás a tranquillidade de espírito, si não te
sujeitares ás ordens divinas, conformando
rigoroso andava descalça sobre neve e tua vontade com a de Deus. Porque não
gelo. Apenas tres horas antes das mati­ te sujeitas ? Porque não te conformas ?
nas dedicava a,o somno, passando o res­ As ordens de Deus são justas, embora
to da noite em oração, sujeitando o cor­ muitas vezes incornprehensiveis. Nada te
poderá acontecer sem que Deus disso te­
po, não raras vezes, a severa flagdla­ nha conhecimento, e sem que tenha dado
ção. Com esses exercicios tão duros ele consentimento. Tudo que Deus ordenar a
penitencia, Hedwiges emmagreceu, e o teu respeito, é justo e é para teu bem. E'
corpo tomou-lhe feições esqueleticas. a fé que assim nol-o ensina. Ensina mais
- que ninguem se deve oppôr á vontade
Tinha uma devoção ternissima á Sa­ de Deus claramente conhecida. E' neces­
grada Paixão e Morte de Jesus Chris­ sario, pois, que da necessidade se faça vir­
to, que era o assumpto de suas medita­ tude, conformando-se com aquillo que Deus
ções quotidianas. Acompanhando a quer. Si assim fizeres, terás a paz de tua
alma e poderás obter muitos merecimentos
Nosso Senhor nos sof frimentos, derra- para o céo.

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336 18 de Outubro

18 de Outubro

SÃO LUCAS, EVANGELISTA


C: AO LUCAS escreveu o terceiro Pastor, cio bom samaritano, a conversão
� dos quatro Evangelhos. Oriundo cio bom ladrão, que na ultima hora re­
de Antiochia, era filho ele paes pagãos. cebeu de Nosso Senhor a promessa do
Na mlocidade •se occupóit na apprendi­ céo.
zagem das artes e sciencias, particular­ Além cio Evangelho, S. Lucas escre­
mente da rhetorica e medicina. Ha uma veu os Actos dos Apostolos, nos quaes
·opinião que affirma ·que S. Lucas foi relata factos como a Ascenção de Nosso
um habil pintor. Nicephoro e outros es­ Senhor Jesus Christo, a vinda do Espi­
criptores referem-se á existencia de di-­ rito Santo. Nos Actos dos Apostolos te­
versos retratos ele Jesus Christo e eh mos uma historia do desenvolvimento
Santissima Virgem, feitos por elle. da Egreja prim:itiva. S. Lucas põe-nos
E' provavel que S. Paulo tenha sido ao par cios grandes acontecimentos de
seu Mestre na doutrina christã e delle que foram theatro Jerusalém, Antio­
tenha recebido o baptismo. S. J eronymu chia, Damasco, etc. Descreve o marty­
chama-o filho espiritual de S. Paulo. rio de Sant'Estevam e ele S. Tiago, a
O certo é que S. Lucas foi companheiro conversão ele S. Paulo, os trabalhos, as
constante de S. Paulo, em todas as via­ viagens e os soffrilmentos d'este grande
gens apostolicas. S. Paulo em diversos Apostolo.
Jogares externa a alta consideração em Como acima já ficou dito. S. Lucas
que o tinha, elogia-lhe o zelo e dedica­ foi o fiel companheiro do Apostolo das
ção e dá-lhe o titulo de Apostolo. gentes em todas as excursões apostoli­
S. Lucas escreveu o Evangelho a pe­ cas. Quando S. Paulo esteve dois annos
dido expresso ele S. Paulo. Serviu-se da na prisão, em Cesaréa, S. Lucas auxi­
lingua grega, porque S. Paulo pregava liou-o de toda maneira; foi com elle a
aos gregos e por este motivo era natu­ Roma e acompanhou-o até ao tribunal
ral que tivesse desejo ele poder apresen­ cio Imperador, para o qual tinha appel­
tar-lhe o Evangelho na lingua patria. lado. Na perseguição que S. Paulo sof­
S. Lucas cita nelle episodios da vida de freu elm Roma e que o deteve mais ou­
Nosso Senhor e ele Maria Santissima, tros dois annos presos, o dedicado ami­
que não se encontram nos demais Evan­ go não o abandonou.
gelhos. Dahi se conclue que o autor te­ Terminado aquelle tempo afflictivo,
nha conhecido pessoalmente a Jesus Lucas fez cam S. Paulo ainda miui­
Christo e sua santa Mãe e assim che­ ta:s viagens pela Grecia e Asia. Si qui­
gado ao conhecimento ele certos factos zermos acceitar o testemunho de Santo
ela Infancia ele Jesus. Alguns exegetas Epiphanio, S. Lucas, depois da morte
( interpretes da Escriptura Sagrada) ob­ dos Apostolos S. Pedro e S. Paulo,
servaram ainda outra particularidade do pregou o Evangelho na Italia, França,
Evangelho de S. Lucas: de trazer factos Dahnacia e Macedonia. Dizem os gre­
da vicia ele Nosso Senhor, que animam gos que annunc10u a fé tambem no
os peccadores a ter confiança na mise­ Egypto e na Lybia.
ricorclia divina e os dispõem ao arre­ S. Jeronymo diz que S. Lucas se de­
pendiimiento dos peccados, por exemplo, dicou á vida apostolica até á edade de
as parabolas do filho prodigo, do bom 48 annos. Nicephoro conta que o Evan-

S. Lucas - Diversos escriptores eccles. Tillemont. II. Calmet VII Assemanl ln Cal.
Univ. t. V. Buttler X.

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19 de Outubro 337

gelista morreu martyr, tendo sido enfor­ que Deus lhe deu. Além de evangelista,
cado pelos pagãos. Seja como fôr, portanto escriptor, era S. Lucas medic�o e
_pjntor. A penna, a sciencia e a arté- empre­
o certo é que sua vida de apostolo e gou-as exclusivamente no serviço de Deus
de missionario, com as privações, os sa­ e da caridade. Infelizes aquellcs que em­
crificios, penitencias e perseguições, foi pregam os talentos crimínosamente, não
t�m ma;rtyrio continua!do e ininterrupto. para a edificação, mas para perdição das
E' isto que a Egreja quer exprimir na almas I Que contas rigorosas não hão de
oração da festa desse Santo: "Interceda dar a Deus no dia do juizo ! Quanto não
por nós, assim pedimos, Senhor, vosso soffrerão na eternidade, no logar onde ha
santo Evangelista Lucas, que, para hon­ só pranto e ranger de dentes ! O hom�m
dotado de talentos não é digno delles, si
ra do vosso nome, levou continuamente não os empregar pela gloria d' Aquelle que
em seu corpo a mortificação ela cruz.'' lh'os deu. "O' J esus-exclaima S. Bernardo,
E' provavel que S. Lucas tenha termi­ - quem não vos quer amar não merece
nado a peregrinação terrestre cm Pa­ viver". Com a mesma razão podemos affir­
tras, na Achaia. Não sabemos si soffreu mar que indigno dos talentos é aquelle
o martyrio. que delles se utiliza só para offender a
Deus.
No anno de 356, por ordem do Impe­
rador Constancio, as reliquias do Santo Santos do lffartyrologio Romano, cuja me­
foram trasladadas para Constantinopla moria é celebrada hoje:
e, juntamente coon as ele Santo André e Em Neocesaréa o bispo Athenodoro, Ir­
de S. Timotheo, depositadas na egreja mão de S. Gregorio o Taumaturgo. Alcançou
o martyrio na perseguição de Aureliano.
dos Apostolos. Em Beauvais, na França, o martyrio do
menino Justo, morto na perseguição dlo­
REFLEXõES cleciana. 287.
S. Lucas mostra, pelo exemplo, que o Em Roma, Santa Tryphonia, parenta do
christão deve fazer uso digno dos talentos imperador Decio. sec. 3.

19 de Outubro

São Pedro de Alcantara


(t 1562)

"AQUELLES que são de Christo, to". Embora se dedicasse ele corpo e


crucificaram a propria carne com os a!bma aos estudos na Universidade de
seus vicios e concupiscencias." ( Gal. 5, Sala:m:anca; ernbora tivesse feito sempre
24). Esta palavra de S. Paulo tem ad­ figura saliente entre os companheiros,
miravel applicação a S. Pedro de Al­ ficou fiel aos principias religiosos e pa­
cantara, cuja festa a Egreja celebra no ra todos era um modelo perfeito de vir­
dia 19 de Outubro. tude e piedade. Quotidianamente visita­
Filho cluim jurisconsulto, Pedro nas­ va a egreja, com muito rigor castigava
ceu em 1499 em Alcantara, na Hespa­ os sentidos, particularmente os olhos, e
nha. Menino ainda, já dava signaes in­ as horas vagas dedicava-as aos pobres
dubitaveis de futura santidade. De in­ doentes, que o estimavam extraordina­
dole boa, manso, modesto e simples, era riamente, por sua caridade e modestia.
pelos companheiros appellidaclo ele "San- Era vontade do pae que Pedro fizesse

S. Pedro Alcantara - Joannes a Santa Maria (1619). P. Martlnus a $(tnto Josepho


(1644). Cf. vida de Santa Thereza. Courtot, Helyot.

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338 19 de Outubro

os estudos de direito; mas os desejos e A activiclade deste pobre monge foi


aspirações do joven eram outros. Tendo estupenda. ELeito Provincial ela Ordem.
apenas 16 annos, pediu aclnnissão na Or­ Pedro visitou rodos os conventos ela
dem de S. Francisco de Assis. Com o mesma, confiados á sua jurisdicção, e
habito tomou tannbam o espirita da Or­ em todos introdüziu a reforma á mão
dem e tão rapidos progressos fez nas da regra primitiva do Fundador. Pas­
virtudes e na santidade que, tendo ape­ sados tres annos, renunciou ao cargo e,
nas 20 annos de edade, foi nomeado Su­ com permissão do Papa; acompanhado
perior do Convento em Badajoz. de alguns frades, dirigu-se ao promon­
Successivamente occupando os cargos torio Arabicla, em Portugal, com o fo,:
de Guardião e Definitor, era para to­ de experimentar praticamente a obra da
dos os confrades um modelo exempla­ reforma.
rissimo de perfeição monastica e no Em brev·e se im1pôz a necessidade da
cumpri-menta de todos os deveres. Além construcção de mais um convento, tan­
di,sto era extraordinario, como prégaJdor tos era:rn os pedidos de admissão ele no­
de missões e confessor, e só de Deus é vos candidatos. Satisfeito com este re­
conhecido o bem enorme que nesta du­ sultado inesperado, voltou para a Hes­
pla qualidade de pregador e confessor, panha, onde a despeito de contradicções,
fez áquelles que o procuravam e quan­ insultos e calum'nia:s sem fim, fundou o
tos, por seu inter1Inedio, acharam a paz convento de Pedroso. Quatro outros
da alma e se conservaram na graça de conventos, que já tinham acceito a re­
Deus. Amavel, condescendente para com forma, pediram para ser aggregados ao
o proximo, era inexoravel para comsi­ de Pedroso. A obra da reforma tinha
go. Franciscano de espirita e por con­ tomado um: incremento tal, que o Papa
vicção, outras cousas não possuia a não Paulo IV deu autorisação para organi­
ser uim habito velho e gasto, um bre­ sar na Hespanha uma nova Provincia
viario, um crucifixo tosco e um bastão. franciscdna, á qual pouco a pouco se
Não usava calçado, nem chapéo. Cada afiliara:m maiis de 30 conventos de di­
terceiro dia jejuava, alimentando-se uni­ versos paizes.
camente de um pouco de pão, agua e Pela reforma da Ordem franciscana,
legumes temperados com cinza. Ao som­ Pedro não só restabeleceu na familia
no dedicava apenas duas horas e ainda mon.astica o espírito primitivo ela po­
assi,m sentado nu1na caldeira ou encos­ breza, humildade e penitencia, mas con­
tado mima parede. Para soffrer ainda correu grandemente para a regeneração
mais as inclemencias do inverno, abria da fé entre o povo todo, pondo assim
a janella do cubiculo durante toda a um dique á onda avassaladora da "Re­
noite. Si os confrades lhe pediam que forma protestante."
moderasse Ulm pouco o rigor elas peni­ A virtude e extraordinarios talentos
tencias, com um sorriso nos labios res­ de que era dotado, tornaram;-lhe o nome
pondia: "Fiz ll!lll contracto com meu celebre e acatado em toda a Hespanha.
corpo, pelo qual elle se compromet­ De longe vinham pessoas, com o fim de
teu a soffrer muito durante esta vida, conhecerem o humilde e bemfazejo
que é tão curta; tomei o compromisso franciscano e delle receberem instrnc­
ele proporcionar-lhe um repouso sem ção, conselho e consnlo. Nas viagens do
fim na eternidade." rn:issionario o povo se lhe acercava, para
Assim viveu Pedro durante 40 an­ beijar-lhe a orla cio habito e pedir-lhe a
nos, prestando neste longo tempo servi­ benção. Cida:des e municípios recorriam
ços muito m:ais relevantes á humanidade ao seu arbitrio, para fazer cessar litigios
do que centenas claquelles que, passando que perturbavam a paz comimum.
vicia regalada, pa:ra a vicia religiosa mo­ Carlos V pediu-lhe muitas vezes con­
nastica só têm desprezo ou um sorriso selho e o rei João III de Portugal mui­
,te ironica com'paixão. to insistiu para que passasse algum tem-

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19 de Outubro 339

po na côrte. A Infanta D. Maria entre­ ao enfermeiro, sem ter tOimado uma só


gou confiadaimente os negocios de sua gotta. Com uma devoção que commoveu
alma á direcção do santo franciscano e todos os circumstantes, recebeu o santo
muitos representantes da alta fidalguia Viatico. As ultim�s palavras que disse,
do Portugal e da Hespanha lhe procu­ foram as cio Psalmo 121: "Eu me ale­
ravam a amizade. gro nisto que me foi dito: Iremos á casa
do Senhor", e no dia 19 de Outubro de
O seculo que deu a outros paizes a 1562 entregou a alma a Deus. Santa
Reforma ( mais acertadamente chamnda Thereza, que nos seus escriptos mais
a Revolução religiosa), mimoseou a
1
vez-es 00111 dogios s•e refere ao seu di­
Hespanha com uma pleiade de Santos, rector espiritual, disse: "Elle morreu
estrellas de primeira ordem no firma­ conl'o viveu, isto é, santo, e por sua inter­
mento da Egreja Catholica. Luiz de Gra­ cessão adquiri muitas graças de Deus.
nada, João d'Avila, Francisco Borgia, Vi-o diversas vezes, rodeado de grande
Thercza de Jesus são nomes respeitabi­ gloria e a primeira vez me disse: "O'
líssimos de Sant.os hespanhoes cio seculo beimaventurnda penitencia, que me fez
XVI. Com todos elles S. Pedro de AI­ alcançar uma gloria tão sublime !"
cantara esteve em, viva communicação
e por muito tempo foi director espiritual O tumulo de Pedrn de Alcantara é
da grande Refo1•maclora da Ordem cio glorioso, e Deus se dignou de comprovar
Ca·rmo. com muitos milagres a santidade de seu
servo, cujo nome foi por Clemente IX
A todo aquelle que quer s·er discípulo inscripto no catalogo dos Santos da
do divino Mestre, como a este não falta­ Egreja Catholica.
ram, não lhe faltarão provações e sof­
fdmentos de toda a especie. Pedro de REFLEXÕES
Alcantara desta regra não fez exce­
pção; mas tambem experimenton as do­ "O' feliz penitencia, que me mereceu tão
çuras da Cruz ele Christo e a verdade da grande gloria ! " disse S. Pedro a Santa
Thereza, para animal-a na pratica de mor­
palavra cio Psalmista, que diz: "Melhor tificações. Já ouviste ou lêste certa vez
é um dia nos teus atrios, meu Deus, que uma só pessoa mundana estendida so­
que lnilhares nél's casas dos peccaclores. bre o leito da dôr, já nas vascas da morte,
Preferi estar abatido na casa de meu tivesse exclamado: "O' felizes prazeres do
mundo; ó bem/ditos bailes e theatros, quan­
Deus, que morar nas tendas dos pecca­ to me fizestes gozar ! Que consolo não ex­
dor·es." ( Ps. 83. 11). Deus distinguiu perimento agora, lembrando-me de tudo
seu fi.el servo com muitos milagres e que me prodigalisastes de diversão ! Como
me sinto feliz, ele vós me lembrando!"
deu-lhe signaes evidentes ele preclilecção. Já ouviste tal confissão? E' certíssimo
Pedro tinha 63 annos, quando lhe foi que não. Frequente é observar que pecca­
dores publicas experimentam vivo arre­
revelado a hora da morte. Achando-se pendimento, por terem passado a existen­
ein viagem de visita canonica, foi ac­ cia a serviço do mundo. S. Pedro fez um
commettido de uma doença mortal. In­ pacto com o corpo, ao qual não dava des­
canço nem prazer nesta vida. Faze uma al­
ternado no hospital de Arenis, soffrcu liança semelhante com teu corpo e dize­
clôres aitrozes, as quaes eram suavisadas lhe que: I.º nunca lhe concederás um pra­
pela visita frequente ..de Maria Santíssi­ zer sensual illicito; 2.º em hypothese algu­
ma, de S. João e tté' outros Santos. A ma te afastarás do cumprimlento dos teus
deveres; 3.0 não tomarás mais tempo para
f.ebr,e causa'va-lhe uma sêde tão grande, o repouso, do que é necessario; 4.º sempre
que difficil lhe era articular uma pala­ observarás jejum e abstinencia de precei­
vra. Irresistivel era então a vontade de to; 5.º farás ainda outras penitencias vo­
beber agua. Tomando o copo com agua luntarias, para reparar faltas commettidas
no passado. Faze este pacto com teu cor­
na mão, levava-o á bocca; mas, olhando po e um dia, como S. Pedro, poderás ex­
para o crucifixo, levantava para elle o clamar: "Feliz penitencia, a que fiz, que
copo e com um doce sorriso entregava-o tanta gloria me alcançou ! "

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340 20 de Outubro

Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ liga á conversão de uma peccadora, que mu­
moria é celebrada hoje: dando de vida, deu-se em amor a Jesus
Em Antiochia o martyrio de Beronico, de Christo. 166.
Pelagia e de outros christãos. Em Oxford, na Inglaterra, Santa Fredes­
Em Roma, no tempo do Imperador Marco vinda, virgem. 760.
Antonio, o martyrio de Ptoloméo, Lucio e Em Cordoba (864) o martyrlo de Santa
Justino. O rnartyrio destes tres homens se Laura, viuva.
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20 de Outubro

S. Philippe, Bispo e Martyr


(t 401)

.� RANDES e relevantes serviços ti­ estabelece morada nos corações dos


Wfr nha Philippe prestado á Egreja fieis ?"
de Heracléa. Por este motivo e mais No dia seguinte vieram os officiaes
ainda por causa de suas altas virtudes, do exercito, para sequestrar os santos li­
foi eleito Bispo da mesma cidade. Ad­ vros e os vasos liturgicos. Os fieis mui­
mirabilíssima foi a prndencia com que to se entristeceram colin esses factos,
governou a Diocese, nos dias de maior mas Philippe consolou-os.
afflicção, comlO os trouxe a. perseguição O governador Basso ordenou a prisão
cliodeciana. de Philippe e de alguns christãos e ci­
Para melhor divulgar a religião e con - tou-os perante o tribunal. Estando em
fo,mar os fieis na fé, escolheu entre 0s sua presença, perguntou-lhes:
jovens da Egreja os melhores, aas qua;.,s - Quem de vós é mestre dos chris-
deu instrucções particulares sobre J. tãos ?
doutrina e a pratica das virtudes. Dois Philippe respondeu:
delles tivera1111 a honra de acompanhai-o - Sou eu.
no martyrio : o sacerdote Severo e ;) De novo inqueriu Basso:
diacono Hermes. Ambos, altamente col­ - Ignoras qne o Imperador prohibiu
locados, gozavalm de estima geral. as vossas reuniões ? Entrega-nos os va­
Quando chegaram as primeiras noti­ sos de ouro e prata, de que vos servis,
cias sobre a pretendida perseguição, bem como os livros em que fazeis vossa
muitos aconselharan\ ao Bispo que se leitura.
retirasse da cidade. Philippe, porém, não Resolutamente respondeu Philippe:
quiz abandonar o rebanho; pelo contra­ - Os vasos e o thesouro da egreja
rio, exhortou os fieis para que se mu­ ser-te-ão entregues, pois não é com me­
nissem de coragem e paci-encia, pois que taes preciosos, mas pela caridade que se
a tempestade estava a chegar. honra a Deus. Nenhum direito, porém,
Philippe prégava a palavra de Deus, te assiste de exigir os santos livros, co­
quando se apresentou Aristomacho, com­ mo a mim não me é licito entregar-t'os.
mandante da guarnição, para fechar a O governador, tomando essas pala­
porta da egreja, em nome do governa­ vras no sentido de desobediencia, deu
dor. ordem aos algozes para que puzessem
- "Pensas - disse-lhe Philippe - Philippe no equuleo.
que o nosso Deus seja um sêr que se Entretanto, Hennes fez vêr a Basso
fecha entre paredes ? Nã:o sabes que elle que de nenhum effeito seria a destrui-

S. Philippe - Act. mart. authent. Ruinart. Mabillon. Tillemont V. Buttler X.

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20 de Outubro 341

ção dos santos livros, pois a palavra de Esse estado de cousas durnu pouco e
Deus é indestructivel. Esta declaração os dois perseguidos voltaram, á prisão.
importou-lhe cruel espancamento. Her­ Como o carcere tivesse uma entrada se­
mes então se dirigiu com o empregado creta, por alli sahiam quantas vezes qui­
Publio ao logar onde se achavam os va­ zessem e recebiam visitas dos christãos.
sos sagrados e os livros. Vendo que o Entretanto findou o governo de Bas­
infiel servo punha de lado alguns vasos, so, qu:e foi substituido por Justino, ini­
reprehendeu-o. Este, porém, investiu migo figadal do nome christão e além
contra o senhor e bateu-lhe no rosto com disto homem cruel, de que deu pro­
tanta força, que ficou ensanguentado. va logo nos primeiros dias de ges­
Em •seguida Basso apoderou-se de tudo tão. Vieram dias de novos tormentos
e distiribuiu livros e vasos entre os em­ para os pobres encarcerados.
pregados. Para amedrontar os christãos, Perguntado por Justino si prestava
mandou derrubar o telhado da Egreja e ou não homenagem aos deuses, Philip­
ao mesmo tempo os s·oldados queimaram Re respondeu:
os santos livros. - Não devo obedecer, porque sou
Vendo o fogo, Philippe aproveitou ú christão. Além di'Sso, tens poder só de
ensejo e falou na·s penas com que Deus me castigar; nenhum, porém, sobre a
ameaçou os pe..:cadores. Emquanto fala­ minha vontade.
va, compareceu o sacerdote pagão Cali­ Justino advertiu-lhe:
phronio, com ministros e muita gen•
te. Na presença dos sacerdotes e do - Ignoras, talvez, que castigos te
povo, Basso intimou a Philipe que sem aguardalm ?
demora offerecesse no altar sacrificios Respondeu Philippe, com desassom­
aos deuses, aos imperadores e á fortuna bro:
ela cidade. Apresentando-lhe depois uma - Maltrata-me como quizeres; nada
esta-tua de Hercules, muito bem talhada, conseguirás, porque não sacrificarei.
perguntiou si não achava aquella divin­ Justino, então, deu ordem aos solda­
dade digna de toda veneração. O santo dos para que lhe atassem os pés e o ar­
Bispo respondeu-lhe que não se rebaixa­ rastai,sem pelas ruas ela cidade. Apoz
ria a ponto de adorar uma obra de arte. essa tortura, o corpo do Bispo apresen­
Dirigindo-se a Hermes, Basso disse: tava uma só chaga. Os christãos, com­
padecidos, levaraim-n'o outra vez á pri­
- Certo estou de que não te negarás
são. Hermes s•offreu o mesmo castigo e
a sacrificar.
Severo cahiu nas mãos dos persegui­
Este lhe respondeu : dores.
- Sou christão e não sacrificarei. Sere mezes passaram esses tres ho­
Vendo baldados todos os esforços, mens na masmorra. Findo este praso,
Basso ordenou que os dois prisioneiros Philippe compareceu novamente perante
fossem reconduzidos ao carcere. Justino. Só o aspecto do santo Bispo
Philippe e Hermes, no meio dos rnáos provocou no tyranno uma furia tal, que
tratos, apupo-s e vaias do populacho, en­ nem mai-s nem menos ordenou que fosse
toaram psalmos e hymnos, cantando batido com vara:s. Foi tão barbara e eles­
louvores a Deus. humanamente executada a sentença, que
Poucos dias depois receberam licença as carnes fora.mi cahinclo aos pedaços,
para retirar-se para casa ele um cidadão até ficarem expostas as entranhas. Mui­
de nome Pancracio. Esta se tornou en­ tas pessoas pediram a Justino que tives­
tão alvo de numerosas visitas dos chris­ se pena d'um homem que só tinha feito
tãos, que desejavam vêr as mestres e bem., que foi o prim:eiro magistrado de
delles ouvir algwnas palavras de con­ Heracléa e bemfeitor de muitas fami­
forto. lias.

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342 20 de Outubro

Tres dias depois teve inicio o pro­ bem a pa1ma do martyrio. Estes factos
cesso de Herrn.es. O resultado foi o aconteceram no anno de 404.
mesrn.o: Hermes ficou firme na fé.
· Tendo auscultado a opinião dos conse­ R.EFLEXõES
lheiros, Justino finalm,ente pronunciou a Como se explica o enthusiasmo dos mar­
tyres pelo sacrificio que se lhes exige ? Pelo
seguinte sentença: amor que têm a Christo, que morreu 11_1ar­
"Ordemunos que Philippe e Hermes tyr por amor dos homens. Amor pede
sejam queima;dos vivos. Pela desobedien­ amor. Beneficias reclamam gratidão. Si Je­
cia ás disposições imperiaes, tornaram­ sus nos amou a ponto de dar a vida para
se indignos do nome de cidadão roma­ nos salvar, não o devemos tambem amar ?
no; sirva este exemplo de aviso para os Si temos amor a parentes e amigos, si
outros". gratos nos mostramos aos nossos bemfei­
Os dois martyres de Christo recebe­ tores, porque COIIJ/ Jesus fazemos exce­
pção ? Ha um parente ou amigo que me­
ram a condenmação com muita satisfa­ reça o nosso am:or comia Jesus o merece ?
ção. Não tendo mús forças para andar, Ha um bemfeitor a quem tanto devemos,
devido aos horríveis soffri·mentos por como a Jesus ? Porque lhe negamos o
que tinham passado, fornm carregados nosso amor, porque lhe somos ingratos e
para o Jogar do supplicio. Os algozes porque lhe mostramos tanta indifferença ?
- como era costume em execuções des­ Que figuras mesquinhas e tristes represen­
sa natureza - enterraram-n'os até os tamos nós, ao lado dos martyres, com el­
joelhos, ataram-lhes as mãos ás costas les nos comparando !
e accendernm a fogueira, armada por ci-
Santos do 11:fartyrologio Romano, cuja me-
ma das victimas. Philir)pe e Hermes moria ,! celebrada hoje:
louvaram a Deus em altas vozes, até que Em Portugal, o marty1·io de Santa Iria
as chaimJmas e a fumaça lhes cortaram a em defeza de sua virgindade. 653.
respiraçã·o. Os corpos fora/m encontra- Em Antlochia, ·no tempo de Juliano Apos­
dos intactos e, por ordem, de Justino, tata o martyrio de Santo Artemlo, offlclal
atirados ao rio. Os christãos, poré1n, os do exercito. C ausadora da sua morte foi a
· franqueza com que se externára contra a
tiraram e guardaram em 1ogar seguro. perseguição dos christãos. 3G3.
O sacerdote Severo encheu-se ele alegria, Em Colonia o martyrio das santas vir­
ao receber a noticia da morte dos com- gens Martha e Saula, com grande numero
panheiros. Tres dias depois recebeu tam- de companheiras.
:, : ,:• ,:• ,:..:,"':H:M:t ❖❖❖ : : : : : : : : : : : ❖ : : : : : : : : ❖❖•:-l-❖❖-h4-!-:+:❖H•❖{❖H•❖❖ : !u!u§ •! •! ❖
1 "'•

21 de Outubro

SANTO H ILARIÃO, EREMITA


,(t :m)

)tJ ATURAL de Tabatha, perto da são de Hilarião, que veiu a ser um dos
!� cidade de Gaza, Hila1'"ião era filho christãos mais fervorosos.
de paes pagãos, que o mandaram a An­ A vicia e santidade extraordinaria do
tiochia, onde se dedicou aos estudos e grande ereiüita Santo Antão estava na
onde, em constante convivencia com os bocca de todos e Hilarião, desejoso de
christãos, chegou a conhecer a religião conhecer o celebre mestre da vida reli­
christã 'e a ella se converteu. giosa, foi procurai-o na solidão e pas­
Tão radical e solida foi essa conver- sou dois annos em sua companhia. Co-

Santo Hilarião - S. Jeronymo. Raess e Weiss XV.

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21 de Outubro 343

mo, porém, as muitas visitas que o mes­ que não quiz ficar e clirigiu-s� para a
tre recebia, começassem a aborrecei-o, ilha de Chypre. Lá habitou numa gruta,
Hilarião resolveu separar-se <lelle e re­ entregando-se ás praticas da vida reli­
tirou-se para o <les·erto existente entre giosa com zelo, como si fosse no primei­
o Egypto e a Palestina. ro anno de recolhilmento.
Vinte e dois annos passou Hilarião I-Iilarião morreu cm 371, com 80 an­
naquelle e1·mo, praticando obras ela mais nos de idade. Antes de entregar o espi­
austera penitencia. Embora separado do rita a Deus, animou-se com estas pala­
mundo, pelo inimigo das almas foi ator­ vras : "Parte, minha alma, parte. Ten­
menta!do com as n�ais terriveis tentações, do servido a Christo 70 a:nnas, tens me­
as quaes conseguiu vencer heroicamente do da morte ?"
pela oração e pelo jejurrn.
Tanta santidade não poude ficar des­ REFLEXõES
conhecida. Deus se dignou de servir-se Santo Hilarião encontrou um amigo fiel
cio servo, para operar grandes milagres. cm Santo Antão. Bons amigos são raros,
Assim, em virtude <la oração do santo rari-ssimos. Feliz daquellc que encontra um
amigo verdadeiro, cuja amizade o conduz
eremita, foram resuscitados tres mortos, á santidade, ao céo. O homem é um ente
e muitos doentes recuperaram a sau<le. social e por natureza procura relacionar-se
Na Palestina não havia ainda conven­ com seu semielhante. Este desejo, esta ami­
zade, foi Deus que implantou em nosso co­
tos de religiosos. O numero de pessoas ração. Instinctivamente o homem vê na
que desejavam. apprencler a arte de vi­ amizade uma fonte de felicidade. E real­
ver santamente e para este fim se con­ mente amizade nobre, santa e virtuosa é
fiar á direcção de Hilarião, crescia de um dos bens mais aprcciaveis da nossa vi­
da, uma mina das mais puras e deliciosas
dia para dia. Hilarião, si bem que op­ alegrias. Si assim fosse a amizade de to­
puz,esse difficuldade, a_cabou por acceitar dos os homens, a terra não seria o que é:
discipulos em grande numero, de modo um valle de lagrimas. A amizade verda­
deira tem sempre por base a virtude, o
que é considerado Patriarcha dos mon­ amor de Deus. A amizade verdadeira não
ges na Palestina. olha interesses mesquinhos, não é e não
Em poucos annos o numero cios reli­ póde ser servente do amor proprio. Entre
homens máos, escravos de paixões indomi­
gioso,;; se elevou a 3.000. Hilarião deu­ tas, não póde haver amizade. No seio da
lhes uma regra de vida e destacou-os pa­ amizade brota a virtude e se desenvolve
ra os numerosos conventos que se vira rapidamente. A amizade mitiga a dôr, au­
obrigado a fundar. g!Il!enta a felicidade; a amizade consola,
anima, tranquilliza, aconselha. Não feches
Enfastiado, porém, do grande movi­ teu coração á amizade, comtanto que seja
mento em que se via envolvido e preoc­ boa, santa, christã e coopere para tua san­
cupado com; a propria salvação, abando­ tificação; uma amizade má é o caminho
da desgraça moral. "Associa-te a um ho­
nou a fundação e fugiu para o deserto mem virtuoso, que seja temrente a Deus,
do Egypto. Não tardou que tambem lá que pense como tu e que comtigo chore,
ficasse conhecido e o povo o procurasse quando te vê tropeçar na escuridão". (Eccl.
em suas afflicções. Uma secca de tres an­ 37. 15).
nos, alliada a um.a grande fome, ·cermi­
Santos cuja memoria é celebrada hoje:
nou logo que o santo cameçára a rezar.
Vendo que tambttn na nova morada Em Laon a memoria de Santa Cellnia;
mãe de S. Remlgio, bispo de Reims.
não podia continuar, sem que os fieis da
Em Ostla o martyrlo do presbytero As­
redondeza o incommodassem, embarcou têrlo. 222.
para a Sicília e de lá para Dalmacia, Em Cochinchina o martyrio de José Lc­
onde o espe�ou a mesma sorte, ele modo dln-Thl offlcial do exercito annamltlco. 1860.

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344 22 de Outubro

22 de Outubro

S. Theodoreto, Sacerdote e Martyr


(t 362)

�'I ULIANO, governador do Oriente, vallete. Vendo correr o sangue em gran­


rJIJ tio do Imperador do mesmo nome, de abundancia, diss•e ao martyr :
e como elle apostata, soube que no the­ - Pelo que- vejo, não sentes dôr.
souro da egreja principal de Antiochia Theodoreto respondeu :
existia grande numero de vasos precio­ - De facto, nada sinto, porque Deus
siss�mos de ouro e prata. Formou o pla­ está commigo.
no de tirai-os de lá. Para conseguil-o Juliano, então, ordenou aos algozes
com mais facilidade, baixou uma ordem que lhe quei,masserni as carnes con1 to­
segundo a qual todos os zeladores da chas ardentes. Theodoreto, soffrendo
egreja teriam de abandonar a cidade. horrivelmente, levantou os olhos para o
Havia em Antiochia um sacerdote, de céo, pedindo a Deus que glorificasse seu
nom:e Theodoreto, que no tempo do Im­ nmúe eternamente. No mesmo instante
perador Oonstancio tinha quebrado mui­ os algozes cahiram por terra como mor­
tos idolos e construido grande numero tos, tanto que o proprio Juliano se assus­
de egrejas, sobre os tumulos dos marty­ tou. Voltando-lhe a calma, mandou aos
res. Este sacerdote era o guarda-mór da 111esmos que continuassem com a execu­
egreja. Não só não sahiu da egreja, ção das ordens. Estes, porém, terminan­
mas continuou a reunir os fieis e cele­ temente se negaram a isto e allegarattn
brar a santa Missa. como motivo d'esse procedimento terem
Juliano mandou prendei-o e, mãos ata­ visto alguns Anjos falar com Theodo­
das ás costa'S, conduzil-o á sua presen­ reto. Juliano enfureceu-se sobremodo e
ça. Reprehendeu-o rudemente por ter deu ordem para que a victima foss,e ati­
derrubado os antigos ídolos e construido rada ao mar.
·egrejas. Theodoreto não negou o que Theodoreto disse aos algozes :
tinha feito, mas lembrou a Juliano o - Ide adiante, meus irmãos; eu se­
terqpo em que este era christão e o cri­ guirei e vencerei o inimigo.
me de que se tinha feito culpado, aban­ - Que inimigo ?-perguntou Juliano.
donando a religião. - O üümigo - respondeu Theodo-
Juliano mostrou logo seu caracter dia­ reto - é Satanaz, vosso chefe. Quem
bolico, dando ordens para que Theodo­ dá a victoria é Jesus Christo, o divino
reto fosse açoutado no rosto e nas plan­ Salvador.
tas dos pés. Depois os algozes o amar­ Juliano, cada vez mais enfurecido, co­
raram em quatro postes, esticando-11ie meçou a a1nreaçar a Theodoreto com a
os braços e as pernas com tanta força, morte.
que quasi os desarticularam. Juliano -"E' justamente isso que quero -
acompanhou essas torturas com ditos disse Theodoreto. - Tu, porém, mor­
sa•rcasticos. O martyr, porém, exhor­ rerás na tua cama, atormentado de ter­
tou-o a que se convertesse e dés,se a ríveis dôres. Teu soberano , que julga
honra a Je1 sus Christo, por quem tudo poder vencer os Persas, será desbarata­
foi feito. do ; mão invisível o matará e elle não
Não satisfeito com as ordens barbaras tornará a vêr o territorio romano."
que já tinha dado, Juliano mandou que T,el'lriinado este vaticinio, ouviu a sen­
Theodoreto fosse collocado sobre o ca- tença de morte pela espada e entrou na

S. Theodoreto - Act. Mart. authent. Sozomenus e Theodoreto. Buttler X.

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22 de Outubro 345

gloria eterna, aureolado com a corôa do ·egreja e os vasos foram horrivelmente


martyrio. A ·morte do Santo teve Jogar profanados.
em 362. O castigo não tardou. Juliano, tio
Juliano apoderou-se das riquezas da do imperador, teve uma morte horrivel.

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◄ ► ►

Santa Ursula
Santa Ursula com suas companheiras, antes do seu
embarque para '-8:tiffléa. (,(je,,i ) L( ', ; ,-- ('l

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346 Dia das Missões

Vermes sahirarn-lhe do corpo e -rnerarn­ Santa Ursula


lhe as entranhas. Durante quarenta dias
soffreu as mais atrozes dôres, até qne a Neste dia se co�memora a festa de
morte o livrou. Juliano, o Imperador, ca­ Santa Ursula, virgem e m!artyr. Filha
hiu morto, fulminado por mão invisível de reis da Inglaterra, foi com um gran­
e não mais voltou ao territorio romano, de sequitu de clonzellas amigas á Rhe­
emq\ianto fazia uma guerra ingloria nania. Fez uma peregrinação á Roma.
contra os Persas. De volta á, Colonia, encontrou a cidade
occupa:da pelos Hunos. Preferiu morrer
a entregar-se ás hordas barbaras de
REFLEXÕES Attila. Com ella, morreram martyres as
Juliano, educado christãmente, apostatou onze mil com,panheirns. Uma linda
da religião, tornando-se idolatra e 1mm1go egreja em Colonia abriga o tu!mulo de
de Christo. Não houve argumentação que Santa U rsula.
o convencesse do erro e o reduzisse á ver­
dade. Diante de innegaveis milagres, per­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
maneceu irreductivel. Que triste quéda de moria é celebrada hoje:
um christão, de um homem intelligente ! Em Jerusalém, o bispo Marco, de descen­
Não ha hoje tambem hom�ns que se dizem dencia pagã, morto na perseguição de An­
christãos, que foram recebidos no seio da tonino. 156.
Egreja e que vivem zombando da religião ? Em Huesca as santas virgens Nunila e
Póde Deus deixar impune tamanho cri­ Alodia, irmãs, victimas do fanatismo dos
me ? Só si fosse um Deus morto; mas mahometanos. 841.
Deus é um Deus vivo, que zela pela sua Em Colonia, santa Cordula, uma das com­
honra e pela de seu Filho. "Cousa terrível panheiras de Santa Ursula. Vendo os hor­
é cahir nas mãos de Deus vivo ! " - diz o rores por que passavam as outras, escon­
deu-se. Movida, porém, de arrependimento
Apostolo S. Paulo (Hebr. 10. 31). Cahir e de vergonha, sahiu do seu esconderijo e
nas mãos de Deus vivo quer dizer ser en­ acceitou a morte.
tregue á sua justiça, quer dizer receber o Em Jerusalém a memoria de Maria Salo­
castigo merecido, quer dizer soffrer sem mé, de que o Evangelho refere ter cuidado
consolo, sem auxilio, sem companhia _das do tumulo de Nosso Senhor. Segundo São
creaturas. Matheus (27, 56 e 20. 20) é Maria Salomé
Tristissimo foi o fim dos dois Julianos. a mãe de Tiago e João, mulher de Zebedeu.
O impio terá um fim egualmente desola­ Uma lenda quer saber desta Santa, ter ella
sido parteira e testemunha do nascimento
dor. "Quem não acceitar as minhas pala­ de Nosso Senhor. Como não quizesse ct·er
vras, terá quem o julgue. A palavra que na virgindade de Nossa Senhora, teria fica­
eu falei julgal-o-á no dia ultimo". (J o. 12. do com a mão atrophiada, mais tarde cura­
48). da por Nosso Senhor.

- Leitura para o

DIA DAS MISSOES( Penultímo domingo de Outubro)

R" HOJE o "Dia das Missões". As­ seus jornaes, pelas Associações Pias em
Jm si!111 o determinou S. S. o Papa suas asse(tnbléas, pelos fieis mais conhe­
Pio XI e em todo o orbe catholico, nes­ cedores do assumpto em suas conversa­
se penultimo domingo de Outubro, os ções familiares.
corações vibra!111 de enthusiasmo pelas E nós, brasileiros, filhos desta terra
obras missionarias que lhes são mais de­ àbençoada que por assim dizer, nasceu
talhadamente expostas pelos sacerdotes nos braços dos missionarios e a elles de­
em suas pregações, pela Imprensa em ve os seus primeiros passos para a civi-

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Dia das Missões 347

lisação, nós que constituimos um povo pagação da Fé, cuja contribuição men­
cujo coração generoso acolhe todos os sal é accessivel a todos.
nobres ideaes, devemos commemorar di­ Assignemos os jornaes e revistas que
gnamente e sobretudo fructuosamente, tratam mais especialmente <lesse assum­
esta data tão bella. pto. A nossa alma aproveitará grande­
É desejo do Pae Commum da Chris­ mente da leitura assidua de escriptos
tandade que tal iniciativa venha desper­ miss-ionarios que venham alimentar o
tar o interesse dos catholicos pelas Mis­ nosso zelo, afervorar a nossa boa von­
sões, venha tornar-lhes conhecida a gra­ tade, despertar o nosso enthusiasmo.
vidade do problema missionario em nos­ E a não pouca,s almas é dada aincla
so seculo, lhes faça compr·ehender que occasião bellissima de fazer alguma cou­
a solução desse magno problema está, sa ele grande pelas Missões : é de um ca­
em grande parte, nas mãos dos mesmos sal feliz a quem Deus pede para seu ser
catholicos em geral, e ele cada um em viço um filho, Ulma filha, que chama a
particular. tmbalhar directamente em sua vinha ...
O' que grande dia será aquelle em que Nessas occasiões, aliás tão frequentes,
todos os catholicos comprehendere'm o infelizm,ente tão pouco aproveitaclas, é
seu dever para com as Missões ! O seu que podem certas almas s� mostrarem
dever, porquanto trabalhar pela cau­ generosas, sacrificando livremente a
sa missionaria não é uma questão de Deus o que Deus lhes pecle e conquis­
sy1tnpathia ou gosto, mas sim um dever tanclo assim o titulo bem merecido de
que cabe a todos nós cwnprir. bemfeitorns elas Missões.
É sabido que nem todas as almas são Já é tempo, é mais que tempo que o
cha:madas por Deus a se dedicarem ex­ interesse cios catholicos bmsileiros pelàs
clusivaanente ás Missões, mas a falta l\.iissões se aviva, que despertem elles
dessa vocação missionaria, propriamente desse somno de indifferença em que vi­
dita, não impede que, todos nós, bapti­ V{lm mergulhados e que abram as por­
sados, filhos da Egreja, tenhamos a tas ele seu coração e dêm nelle abrigo
obrigação de abraçar os interesses de ao icleal missionaria.
nossa Mãe a mesma Egreja, os interes­ Uma parcella que seja <lesse ideal
ses de Deus, os interesses ele Jesus christão, se apoclerando de uma alma, as
Christo que nasceu, viveu, soffreu e idéa!s as mais industriosas e variadais se
morreu para a salvação das almas. lhe affluem ao espírito, indicando-lhe os
E que podemos nós fazer pelas Mis­ n,eios diversos pelos quaes poderá tra­
sões? - Muita cousa, é certo. Primei­ balhar pelas Missões, e maravilhado,
ralmenre rezar diariamente para que esse coração outr'ora egoista e indiffe­
Deus abençoe os trabalhos de nossos rente, cdmeçará a se dedicar e verá
Missionarios e multiplique as vocações quanto póde fazer por essa causa santa
apostolicas; não é preciso longas e de­ e quão pouco por dia tem feito.
n1oradas orações - basta uma palavra Auxiliemos as Missões! É um suave
de supplica sincera que, partindo de um dever pelo cumprimento do qual nos é
coração zeloso, va!e direito ao coração promettida celeste recompensa. E as ora­
de Deus... ções que faz•emos pelos interesses mis­
Em segundo Jogar, devemos fornecer sionarios, não nos esqueçamos nunca de
aos Missionarios os recursos de que ne­ as depositar nas mãos de Maria San­
cessitam para os seus trabalhos ele ca­ tissi:ma, que as apresentando a seu Di­
teche�: ao menos que cada catholico te­ vino Filho, tornal-as-á mais meritorias
nha seu n01tne inscripto na Obra de Pro- para nós e mais vantajosas ás Missões.

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348 23 de Outubro

23 de Outubro

S. JOÃO CAPISTRAN�O
(t 1456)

� ÃO JOÃO CAPISTRANO é um rito religioso. Sujeitou o noviço a urna


� dos mais luminosos astros do céo prova duríssima, capaz de pôr em re­
christão do seculo XV. Natural de Ca­ levo a humilcla!de e firmeza cio candi­
pistrano, do reino de Napoles, recebeu dato.
o ncJme dessa cidade. Privilegiado ele Obrigou-o a envergar um traje de ar­
bellos talentos, fez em Perugia o curso lequiim, pôz-lhe nas costas uma taboi­
de aimbos os direitos, doutorou-se e des­ nha, na qual se via registrada uma série
empenhou o cargo de juiz de cJir.eito a de crimes e neste estado lhe fez montar
contento de todos. uma mula e passar pelas principaes ruas
Um dos cidadãos mais importantes• da de Perugia. João obedeceu e com a
cidade deu-lhe a filha em matrimonio. maior promptidão cumpriu não só esta,
Nada parecia faltar-lhe á felicidade. cmno ainda outras ordens humilhantes.
Faltou, porém, a constancia da mes'111a. Decorrido um anno, foi admittido á
A cidade de Perugia rectisou-se a re­ emissão dos votos. Desde aquelle tempo
conhecer a soberania do rei Ladisláo, ele a vida dé João Capistrano era um fejum
N apoies e declarou-lhe guerra. João perpetuo. Durante trinta annos se abste­
Capistrano recebeu a incumbencia de ve cülmpletamente do uso da carne.
conferenciar com o Rei sobre as condi­ Tinha por leito o soalho, e ainda as­
ções da paz e tudo parecia prometter sim dava poucas hora;s ao descanço.
bom exito. Essas esperanças foram illu­ Quotidianamente sujeitava o corpo ás
di<las e os concidadãos duvidaram da mais asperas mortificações.
sua boa fé. Tão bem fundadas pareciam­ Uma vez separado do mundo, o cora­
lhe essas suspeitas, que o prenderam e o ção do Santo pertenceu a Deus e só a
r·ecolheraim á fortaleza de Brussa. Ain­ elle procurou ·servir. Achava delicias na
da as espernnças lhe foram illudidas, oração, na meditação e leitura espiritual.
quando appellou para o espirita de leal­ Ligeiras passavam-lhe as horas que per-
dade do rei de Naipoles. 1nanecia na presença do Santíssimo Sa­
Tua isso foi necessario, para que se cramento.
convencesse da falsidade do mundo, da Orador de grande recurso, com facili­
inconstancia da ail11izade dos homens e dade communicava aos ouvintes o amJOr
da futilidade do que se chama felicidade. de Deus, que lhe ardia no coração. O ef­
Recebendo ainda a noticia da morte da feito d'essa:s predica:S foi muitas vezes
esposa, tomou a resolução de abandonar iir1111ecliato. Aconteceu assim em Aqui­
o seculo e entrar numa Ordem religiosa. lej a, Nuremberg e Leipzig, que, tendo
Para este fim vendeu todos os bens, prégado sobre a vaidade do mundo, lo­
pagou o resgate e pediu o habito de São go após a pratica vieram muitas senho­
Francisco. O Superior da Ord�m, conhe­ ras entregar ao Santo as joias, bem co­
cendo os antecedentes, deixou-se levar mo outros objectos, que lhes pareciam
pela suspeição de João ter agido um inuteis e embaraçosos á santificação ...
tanto precipitadamente e talvez lhe fal­ Na Bohemia mais de cem moços pe­
tasse a perseverança e verdadeiro espi- dira:m para se· r admittidos na Ordem

S. João Oapistrano - Da blographla do Santo, escrlpta pelos seus dlsclpulos Christo­


vam de Barlso e Gabriel de Veruna. Bonflnlus, Dez. 3. Aeneas Sylvius Hlst. Bohe. e. 66.
Sedulius Hist. seraph, Buttler X.

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23 de Outubro 349

Franciscana, depois da audição de um ercito ás portas de Belgrado, ameaçando


sermão que João Capistrano fizera, so­ avassalar a Europa inteira. O Papa cou­
bte o j uiz·o universal. fiou a João Capistrano a prégação duma
S. Bernardino de Senna, que era con­ cruzada contra o inimigo commum. En­
temporaneo de S. João Capristano e carniçaclissimo foi o combate pela posse
egualmente granel� prégador <le peniten­ ele Belgrado. Os christãos defendiam-
cia, tinha sido se contra um
accusado em inimigo d e z
Roma por 111:0- v e z e s m:a.1s
tivo de exag­ forte, e mais
gero na devo­ de uma vez
ção ao SS. parecia a vi­
Nome de Je­ ctoria perten­
sus. cer aos turcos.
João Capis­ Emb o r a re­
trano defen­ peHidos p o r
deu o co>mpa­ diversas vezes,
nheiro c o m estes sempre
tão bom resul­ com nova fu­
tado, que os ria e ímpeto
Papas lhe con­ quasi irresisti­
fiaram outras vd continua­
missões muito ram os ata­
ma is melin­ ques. O mmne­
drosas e diffi­ ro r e d wzido
ce1s. dos combaten-
Nicoláo V. ' ' t e s christãos
n o,m e o u - o 'estava ao pon­
c omm1ssano To de desfalle­
apostolico pa­ c e r, quando
ra a Allema­ João Capistra­
nha, Hungria no appareceu
e Polonia. Es­ nas fileiras e
te e n c a r g o seu grito: "Vi­
deu-lhe occa­ ctoria, Jesus,
s1ao opportu­ victoria ! "
na para bene­ a n 1111 o u os
fic i a r larga­ guerrei r o s a
mente os pai­ redobrar os es­
zes interessa­ forços.
d o s. Muitos S. João Capistrano Dos turcos
Hussitas vol­ Com o grito: ''Victoria, Jesus, Victoria!" animou !apodero u - ·s e
taram ao seio os guerreiros a redobrar seus esforç:os. um pavor tal
da Egreja. que, desorga­
Grande perigo surgiu para a chris­ nizados, desistiram do combate. Maho­
ta:ndade, com a propaganda turca de med cahiu gravemente ferido, e mi­
Mahamed II. O Imperio grego não re­ lhares de caclaveres de soldados jun­
sistiu aos ata(1ues; Constantinopla cahi­ caram o caimpo ele batalha. A victoria
ra-lhe nas mãos e com a capital, mais de dos christãos foi completa e não faltou
duzentas cidades capitularam. Em 1456 quem a attribuisse á san · tida:de e ao po­
appareceu o Califa com um grande ex- der das orações de João Capistrano. Es-

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350 24 de Outubro

te, porém, rendeu graças a Deus e reti­ menta. Para ella podemos appellar, sempre
rou-se para o convento de Villach, na que as circumstancias o exigirem, certos
Hungria, onde tres mezes depois mor­ que estamos de não rogar em vão. E' lou­
cura., pois, que commettemos si em vez de
reu. O tumulo do Santo foi mais tarde
nos assegurar da amizade de Deus, com
profanél!do pelos Lutheranos, que o ar­ afan procuramos a dos homens.
rombaraim e atiraram com o corpo ao
"O amor da creatura - diz Thomaz a
Danubio. Kempis - é mentiroso e inconstante, ao
Hoje descança na egreja de Elloc, passo que o amor de Jesus é fiel e dura­
na Austria. douro. Dá teu amor, tua estima áquelle
João Capistrano morreu em 23 de Ou­ que não te abandona, quando os outros se
retráem: Sê fiel a Jesus na vida e na
tubro de 1456, com 71 annos de idade.
morte".
Bento XIII poz-lhe o nome no cata­
logo dos Santos da Egrcja em 1724.
Santos do Martyrologio Romano e de ott­
REFLEXÕES tros Santos, cuja mernoria é celebrada hoje:
Quando João Capistrano percebeu que a Na Hespanha os santos martyres Ser­
amizade do mundo é falsa e os elogios ltlos vando e Germano, victimas da perseguição
homens não merecem fé, pôz-se á procu­ diocleciana. sec. 4.
ra da amizade do supremo Senhor do mun­ Em Constantinopla, o bispo Santo Igna­
do. Fez muito bem, porque a amizade de cio, que por causa de justa reprehensão da­
Deus é infinitamente mais nobre e mais da ao governador adultero, foi por este ex­
duravel do que a das creaturas. A amizade patriado. O Papa Nico]{w conseguiu sua re­
humana é cousa fragil e ao mesmo tempo patriação. 877.
difficil de encontrar, o que não se dá com a Em Valenclennes na Revolução Franceza
amizade divina, que é de facil alcance. Nin­ o massacre de um grupo de religiosas Ur­
guem nol-a arrebata sem nosso assenti- sulinas.

24 de Outubro

S. RAPHAEL ARCHANJO
Jl.lhENTRE os anjos que c-oEforme am!eaçar. Assim foi que se apres-entou
� narra a S. Escriptura se revela­ para suvir de guia ao joven Tobias, ao
ra:m aos homens como mensageiros d.:: paiz dos Medas. Assim foi ainda que li­
Deus e executores dos seus desígnios, vrou o joven das garras ameaçadoras
destaca-s·e o glorioso S. Raphael como do monstro aquatico que lhe surgiu á
tendo-se servido de fórma e apparencia frente. Assim foi finalmente, que livrou
humana e relacionado directa.mente c01m Sara, a filha de Raguel, do demonio
os homens com os quaes conviveu du­ que a infdicitava e ela cegueira, a:o ve­
rante mezes. A sua missão principal no lho Tobias. Guia, protector e amparo
mundo foi de guia dos homens, ampa­ dos homens, co1uo se mostrou, na mis­
ro e defeza contra todos os males cor­ são que Deus lhe confiou á terra, é o
poracs e espirituaes . que lhes possa:m advogado compassivo junto ele Deus em

S. Ravhael Archanjo - Por S. Excia Revma. D. Manoel Nunes Coelho, D. Bispo de


,Aterrado, - Especial pa,ra a 2.ª eclição do livro "Na Luz Perpetua,",

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24 de Outubro 351

favor dos homens constituidos em fel do peixe aos olhos do velho Tobias.
quaesqU'er condições de vida e perten­ Os pharmaceuticos, no improvisado la­
centes a todas a:s classes. boratorio á margem do rio, desentra­
O sacerdocio o tem como patrono ora nhando o peixe.
relevando ao mundo o pão dos anjos, Os viajant-es e excursionistas, em ge­
symbolo da SS. Eucharistia, ora recoim­ ral, por terra, pelos maf'es ou pelos ares,
mendando a caridade symbolisada na es­ soldados escoteiros, conductores, etc., o
mola e todas as virtudes que devem or­ tem cOlmo guia e protector prestando este
nar as almas eleitas de Deus, ora presi­ serviço ao joven Tobias.
dindo a:o casaJ111ento de Tobias, ora, no Estudantes de qualquer ramo das sci­
verda:deiro exorcismo, livrando Sara da encias, o têm como mestre nas sabias
influencia do demonio. Os medicos o licções miinistracl�1.s ao joven durante a
têm como mestre mandando applicar o viagem. Chefes de familias o têm como

- -- - -- - - - ~-- - ---==--··--

Tobias e o Archanjo R.aphael.


Quando Tobias ia lavar os pés, no rio, um grande peixe lançou a cabeça fóra da agua e
ameaçou devorai-o. Tobias gritou espavorido: "Senhor, que se atira a mim!" Mas o
anjo disse-lhe: "Apanha-o, e arrasta-o fóra." Tobias assim o fez, e o anjo continuou
clizendo-lhe: "Estripa esse peixe; mas guarda-lhe o fel, porque se empregp. como
remedio,"

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352 25 de Outubro

conselheiro, por suas ultimas palavras pensal-o nesta vida mesmo, porque nin­
dirigidas aos seus protegidos. guem se lembrou ainda de dar á Socie­
Jovens e donzellas o têm como reve­ dade de S. Vicente de Paulo, mais este
lador cios meios a empregar para terem advogado e patrono cio céo?
a benção ele Deus na escolha cio estado Porque ainda os vicentinos deixando
de vicia que desejarem como o tiveram ele o invocar e ele cultuar o seu nome,
o jov�m. Tobias e Sara sua esposa. Ope­ como seu particular protector, hão de
rarias, com,merciantes, industriaes, cria­ se privar ele todos os beneficias ele que
dores, lavradores, confiae vossos inte­ foram cumulados Tobias velho e moço,
resses áquelle que se revelou particular­ Raguel e sua fantilia ?
mente patrono ele todos elles junto de
Tobias, de sua m;ulher, de Raguel e ele Cdmo outr'ora, em favor ele Tobias,
Gabello ; lêcle o "Livro ele Tobias" e o envestiu Deus a S. Raphael de uma par­
vereis dara e eloquentemente: ticular missão junto ao Brasil.
"Quando oravas com lagrimas, disse O Brasil, joven nação, que supportou
Raphad a Tobias, e enterravas os mor­ clura:nte quarenta annos um regitine cons­
tos e deixavas a refeição e occultavas titucional absurdo, eivado cio confusio­
os mortos em tua ca:sa, ele dia e os se­ nismo doutrinaria das eras passadas, e
pultavas de noite, offerecia eu tuas ora­ de um exotico liberaHsmo agnostico, co­
ções ao Senhor e, porque tu eras acceito mo o filho de Tobias, necessitava de
a Deus, foi necessario que a tentação te um guia para conduzil-o na viagem de
provasse, e agora me enviou o Senhor regresso ás suas tradições catholicas
a curar-te e a livrar do clemonio a Sara Dahi a Providencia Divina, pemrittindo
mulher de teu filho, porque eu sou o que fos�e invocado S. Raphael, quando
Anjo Raphaiel, trm dos sete que assisti­ o Paiz, em armas luctava por uma re­
mos cleante cio Senhor!" fo11nra constitucional e regeneração poli­
E' S. Raphael o a:clvogado, cleante ele tica; consagrando o dia de sua festa li­
Deus, sobretudo claquelles que cuidam de turgica ( 24 ele Outubro) com a ter­
obras de caridade. Nesta classe figu­ minação da lucta fractricida, que, havia
raim de modo particular os vicentinos. 21 . dias, ensanguentava o territorio Bra­
Elles s·e occupam elas mesmas obras de sileiro !. .. Foi assim S. Raphael, mais
caridade ele que se occupava Tobias. uma vez o portador da alegria - Elle
Podemos a:ssim, pois, affirmar que que saudou a Tobias dizendo: "Gau­
Tobias foi o 1. 0 vicentino que existiu no dium. sit tibi semper" - alegria seja
mundo, e que foi um perfeito modelo sempre cdmtigo. E podemos affirmar
do moderno vicentino. Si um tal vicen­ que nunca o Brasil vibrou tanto de ale­
tino mereceu por suas obras, tão cio gria tão explosiva, como naquelle me­
agracio de Deus, que um claquelles sete moravel 24 ele Outubro de 1930 ...
espiritos que assistem cleante do Throno E' mister que o Brasil nunca se es­
cio Altissimo, o Archanjo S. Raphael, queça de ta1111anha protecção, em tão sin­
fosse constitui<lo seu advogado, e so­ gular acontecimento, e que cultue São
bretudo enviado por Deus para recom- Raphael como o seu Anjo da Guarda

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25 de Outubro 353

Si hoje os brasileiros regem-se por uma Ainda outros avisos utilissimos o Archan­
Gonstituição qU'e reconhece e acata os jo S. Raphael dá aos dois Tobias - pae e
filho: 1 º que a Deus se devem louvores_ e
direitos de Deus e de sua Santa Egreja,
gratidão; 2º que uteis ao homem e agra­
podemos affirmar que não póde ser se­ daveis a Deus são os exercidos da oração,
não graças á protecção de S. RaphaeJ, do jejum e da esmola; 3º que o peccador
invocado <lo norte ao sul do Paiz, por é inimigo de sua propria alma; 4º que as
mais de 300.000 fi,ei,s, boas obras dos homens são levadas por
mãos angelicas ao throno de Deus.
Aos pés do throno de N. S. Appare­ Finalmente disse S. Raphael ao velho
cida, Rainha o Brasil, assiste o Archan Tobias, explicando-lhe a cegueira: "Porque
jo S. Raphael, cdmo primeiro Minist, J Deus te tinha amor, pela tribulação te
do seu abençoado Reino ! ... quiz provar". O soffrimento, portanto, não
é sempre prova de Deus ter-se afastado de
nós. "A contrariedade a que é sujeito o
REFLEXÕES piedoso, é uma prova de sua virtude e não
Prcciosissimas são as instrucções que signal da ira divina". (S. Gregorio).
São Raphael deu a Tobias, que estava em
vespera de contrahir matrimonio. Preciosis­ Santos do Martyrologio Romano, cuia me­
simas são até hoje e oxalá fossem bem ac­ moria é celebrada hoje:
ceitas por todos os nubentes. Admiravel é
Em Venusia, na Apulia, o martyrio do
a revelação do mysterio da morte dos sete
bispo Felix, natural da Africa; dos sacerdo­
homens, que foram estrangulados pelo de­
tes Audacto e Januario e dos clerlgos For­
monio na primeira noite. O demonio teve
tunato e Septimio no tempo da perseguição
poder sobre elles, por causa das más dispo­
diocleciana. Como Felix não quizesse entre­
sições com que entraram no estado matri­
gar os livros sacros, foram todos decapita­
monial. Poder maior lhe é concedido sobre
dos. 303.
aquelles que, sob pretexto de futuro matri­
monio, commettem os maiores peccados. Na Bretanha a morte do Bispo Maglo­
Matrimonio iniciado desta maneira não rio. 586,
tem a benção de Deus, que é a base de to­ Em Co!onia o martyrio do bispo Ever­
da felicidade. gisto. 434.

25 de Oútubro

Santos Críspím e Críspíníano, Chrysantho


e Daria, Martyres
(t 237)

dlL'ELEBRES na Egreja · da França partiralm de Roma diversos homens


� são os nomes de Crispim e Crispi­ aipostolicos, chefiados por S. Quintino,
niano. Em meiados do seculo terceiro para prégar o Evangelho nas Gallia:s.

SS. Orispini e Orispiniano, SS. Ohrysantho e Daria - Buttler X. Tillem.ont IV. Bosquet
Hlst. Eccl. Gal!. 1. 5. Baillet e M. de Moine. Hist. des antiquitês de Ia ville de Solssons.
Na Luz Perpetua 23 - II vol.

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354 25 de Outubro

Entre eUes se achavaJ111 S. Crispim e São completa continencia, para assim, alSpi­
Crispiniano. Chega:dos a Soissons, lá fi­ rando á pureza do coração mais perfei­
xaram residencia. Diz a lenda que, em­ ta, poderem servir mais santamente a
bora de descendencia nobre, ganhavam Deus. O zelo, a:s praticas piedosas do ca­
o pão como humildes operarios. Durante sal não poclia1111 passar despercebidas.
o dia missionarios, trabalhavam de noite Os pagãos, desconfiando da sua religião,
tia pobre offi­ descobr i r a m
cina de sapa­ finalmente que
teiro. Pass'l­ eram chris­
ram-se annos; tãos. Ba:stou
q-u and o foi isto para se­
a· S o is s ons rem processa­
M a xinuniano dos e condem­
Herculeo, :eom nados a penas
ordens· impe­ duri s si m a s.
riaes de ,appli­ Em 237 coroa­
c a r medido.s ram a cons­
restrictivas e tancia com o
,prohibit i v a s martyrio. V!en­
contra a reli­ do a fortaleza
g i ã o christã. e d e d icação
C ris pim e dos martyres
e r i s p iniano á r e 1 i g i ã o,
foram metti­ muitos pagãos
dos no carcere se c o nverte­
e entregues á ram ao chris­
jurisclicção de tianismo e, co­
Rictião Varo, mo Chrysan­
m1tmlgo acerri-. tho e Daria,
mo do nome m orr e r a m
christão. , Os martyres.
d o i s irmãos, S. Gregorio
resistindo for­ ele Tours re­
temente a to­ fere que os
das as tenta­ christãos cos-
tivas de fazei­ tumavam re-
os abandonar unir-se na gru­
as crenças, fo­ ta onde esta­
raim condem­ vam enterra­
nados a penas dos os corpos
�rudelissimas e Os Santos Crispim e Crispiniano dos S a nto s.
finalmente á Missionarlos, durante o dia, trabalhavam de noite
na sua pobre officina de sapateiro. Em certa occa­
morte pela es­ stao, quando
pada. No seculo sexto foi construida em muitos fieis lá se achavam, o Prefeito
Soissons, belliissima egreja em honra ela cidade mandou cercar o Jogar e to­
destes dois gloriosos martyres, cujas elos morreram pela fé. As relíquias de
relíquias nella se acham depositadas. Chrysantho e Daria foram descobertas
na Via Salaria, quando era Imperador
Chrysantho e Daria, cuja festa se ce­ 0onstantino, o Grande. Esta parte das
lebra hoje, tinham vindo do Oriente pa­ catacunnbas conservou por muito tempo
;-:i,. Roma. Embora casados, viviam em o nome de Chrysantho e Daria. O Papa

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26 de Outubro 355

Dai1mso deu ao tumulo dos dois marty­ experienc!a de que a resistencia é sempre
res grande importancia e distinguiu-o rrcomJpemada por i.:ma grande alegria in­
tima, ao passo que a concessão que se faz
com um bellissituo epitaphio. Em 866 os ao tentador, é sempre seguida de remor­
corpos cios companheiros martyrcs de sos de consciencia. Que cvn.;,0!0 para nós,
S. Chry,santho e Daria foram transpor­ ,i, depois de fortemente tentados, puder­
tados pelo Papa Estevam VI. para a mos dizer: Fui fiel com a graça de Deus,
não succumbi. A victoria sobre o peccado
egt1eja lat:emnense e para a Basilica dos enche a nossa alma de confiança em Deus
santos Apostolos. As reliquias ele São e dá-nos novo animo para proseguir victo­
Chrysantho ·e Daria passaram em 842 riClsos. J e�us Christo, que combateu ao
nosso lado, será ,. nosso companheiro tam­
para a abba:dia de Prum, na diocese de bem no futuro. E' elle que nos dará a pal­
Tréves e dois annos depois para o con­ ma da victoria, a corôa. da vida eterna.
vento de S. Nabor, na diocese de Metz.
Santos do llfnrtyrologio Romano, cuja me­
R.EFLEXõES moria é celebrada hoje:
O grandioso exemplo dos martyres deve Em Roma a morte de quarenta e seis
animar-nos na lucta contra o peccado f: martyres que pouco antes tinham recebido
seus encantos. Na hora da tentação a !em. o baptisnw das mãos do Papa Dionysio. 269.
hrança dos martyres é utilissima, porque
nos recorda sua felicidade, perseverança e Em Floren,a o martyrio do soldado Mi­
fé, que prefere soffrer tudo a faltar á pa­ nias, do exercito imperial de Decio. 251.
h v•� dada a Deus. No combate <'.011tin110 Em Torres da Sardenha, o martyrio de
contra o pcccado tambem nó, faremos a Proto e Januario. 303.

26 de Outubro

Santos Luciano e Marciano


(t 250)

}! � ENJ�BROSA e_ n�da cdifica1�te foi 1nesma hora tomaram a resolução de


T
JI !\:' a vida dos dms Jovens Luciano e
Marciano, an1:1es da conversão ao Chris­
render culto a um Deus tão poderoso.
A graça ele Deus operou nelles com tan­
tianismo. Nascidos no paganismo, fo­ ta insisrencia e efficacia, que de vez lar­
ram educados segundo os principios do garam o torpe officio e pediram admis­
mesnl!O; mas em vez ele s·eguirem o são entre os catechmúenos. Queimaram
exemplo ele bons cidadãos, afastáram-se publicailnente os livros cabalisticos e de­
tanto do caiminho da virtude e honradez, clararam-s·e discipulos ele Christo. Ao
qure erattn o horror das matronas e clon­ povo, que com razão disto se admirava,
zella!s honradas. Entregues ás praticas da disseram : "O Senhor esclareceu o nos­
feitiçaria, gabavam-se das suas relações so entendi mento; libertou-nos das som­
1

com os má.os espíritos e do poder que bras da morte, em que até agora nos
deUes recebiam. Em certa occasião em­
achavélil11!os e conduziu-nos á salvação.
pregava1111 todas as artimanhas para en­
redar uma donzella christã ; para este Até agora estivemos debaixo da influen­
fim invocaram os máos espiritos, obten­ cia perniciosa dos demonios e o nosso
do dos mesmos a confissão de serem saber era vão. Agora, porém, reconhe­
impotentes contra os filhos de Deus. Es­ cemos enn Christo o Deus verdadeiro e
ta declaração f.el-os pensativos e na nelle puzemos toda a nossa esperança.

SS. Luciano e Marciano - Act. :.VIart. authent. Ruinart, Tillemont. Assemani act. mart.
traz o original chaldaleo.

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356 26 de Outubro

T•endo recebido o santo baptismo, na,do os deuses e rendido culto a um ho-


abandonaram as familias e os bens, e pro­ 111:em morto e crucificado, que nem pou­
curaram tim Jogar solitario, onde se en­ cle salvar- a si mesmo.
tregaram a obras ela mais rigorosa pe­ l\Iarciano respondeu: "Foi elle mes­
nitencia. Tinham por alimento pão e mo que perdoou os nossos peccados e
agua e ela solidão só sabiam pan-a assis­ corno a S. Paulo, deu-nms a graça de
tir á santa Missa, occasião em que fa­ nos . transforn1iar-nos em seus defenso­
ziam accusação publica elos peccaclos ela res, nós que eramos seus inimigos."
viela passada. Sabino novamente os exhortou a que
De foiticeiros e ministros elo demonio voltassem ao •serviço dos deuses e assim
trwnsfor1111aram-se em Aposto.Jos inte­ fazendo, com a graça elo Imperador,
lnera1:os ela doutrina de Jesus Christo e conserva!Ssem a vida. Luciano respon­
esclareoemm os pagãos, clizenclo-lhes deu: "Loucura é o que nos dizes. Lon­
que a religião pagã era vã e erronea. ge de voltarmos á abjecta idolatria, da­
Ouvindo-os falar deste modo, o povo nl!os graças a Deus, que na sua miseri­
muito se acLmirnu, dizendo: "É possivel cordia nos Ürou das trevas da morte e
que os mesn]os que l1ontem nos ensina­ nos manifostou sua magnificencia." A
ram as artes magica:s, hoje anelem pre­ outras objecções respondeu Marciano:
gando o Crucificado, a quem antes per­ "Os christãos põem a honra em despre­
seguirattn?" zar as cousas desta vida terrestre, a uni­
Os dois novos Apostolas, porém, res­ ca que conheces; mas em recompensa es­
ponderam-lhes: "Ficae certos disto, ir­ peram a gloria da vida eterna. É nosso
mãos, si tivesseinos reputado boa nossa desejo que Christo te dê a mesma gra­
viela anterior, nunca nos teríamos con­ ça e te faça comprehender a grandeza e
vertido a Christo; por isto convertei-vos bondade cdm que recompensa áquelles
tambem vós, para que salveis as vossas quie nelLe crêm." O Governador prose­
almas." guiu: "Que graça vos deu, vemos agora,
Os pagãos, porém, não se conforma­ tendo-vos entregue em minhas mãos,"
ram com estas exposições; ao contrario, ao que Luciwno !'esponcleu: "Já te dis­
encolerizaralmi-se, prendernm os dois ··semos uma V'ez que a honra dos chris­
jovens e conduziraim-nos perante o tri­ tãos e a promessa de Christo consistem
buna•! do governador Sabino. unica!mente em a:lcamçar a vida eterna,
Este dirigiu a Luciano esta pergunta: após mna lucta constante e victoriosa
"Como te chamas ·e qual é a tua proce­ contra o den110nio e o desprezo das cou­
clencia?" sas deste mundo." - "Deixa estas par­
Luciano respondeu: "Antes era per­ voices, - in1:1errompeu o Governador-, -
seguidor da lei santissima; hoje sou in­ off.erecei sacrificios aos deuses, obede­
digno pregador e propagador da rnes- cei ás ordens cio Imperador, para que
ma." me não veja obrigado a condemnar­
"Com que direito fazes a tua prega­ vos." Marcia110 respondeu: "É justa­
ção?" - continuou Sabino no inque­ mente o que desejamos que nos faças.
rito. Prderim,os mil vezes soffrer as penas
"Todo aquelle, - respondeu Lucia­ cio ma.rtyrio que, negando a Deus viv-'.l
no, - que acceita esta lei, tem o direito e verdadeiro, sermos precipitados no fo­
de ganhar seu irmão e linal-o elo erro, go inextinguivel do inferno, que Deus
para que se fit1rnle na graça e liberte o preparou para o clemonio e seus servos."
irmão das ciladas do demonio." Ouvindo isto, Sabino terminou o julga­
Dirigindo-se Sabino a Marciano, fez­ mento, pronunciando contra elles a sen­
lhe as mesmas perguntas, indagando-lhe tern�a de morte pela fogueira.
o nome, a familia ·e a profissão. Depois Chegados ao Jogar do supplicio, longe
r-.prehendeu a a1mbos, por terem abando- de se mostrarem abatidos, deram graças

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27 de Outubro 357

a Deus, dizendo: "Graças vos damos, salutar advertencia póde contribuir muito
Senhor Jesus Christo, que nos tirastes para que determinados peccados não se
commettam. Si todos se convencessem da
cio erro da idolatria! Graças vos damos, grande efficacia do apostolado da palavra,
porque nos achast>es dignos de soffrcr quanto bem não se faria á sociedade e ás
por causa do vosso Santo Nome! A V ó� almas, que tantas e taptas necessidades
soffrem ! No emtanto vemos e observa­
seja:m dada;s honra e gloria! A Vós rl'.­ mos por toda a parte o máo effeito da má
conimencla1111os as nossas alma:s!" Entre palavra. As epistolas de S. Paulo estão
oanticos e louvores a Deus, subiram ú cheias de exhortações aos fieis, para que
fogueira, onde completaram o holo­ se abstenham da má conversa. "Palavra
má nenhuma deve partir da vossa bocca,
causto. mas falae só o que é bom e seja de edifi­
O martyrio ele Luciano e Marciano cação na fé". (Eph. 4. 29). "Afastae para
teV'e lugar no anno de 250 approxima­ longe de vós todo o azedume, rancor, odio,
datrnentie, sob o governo do Imperador gritaria e ma 1.e<lir:encia, como toda a sorte
<lc maliria .,_
Decio. O martyrologio romano comme­
mora-lhes a morte no dia 26 ele Outubro. Santos do llfart11rologio Romano, cuja me­
moria é celebraria hoje/
REFLEXõES
Em Roma, a memoria do martyrio do Pa­
Umia vez com·ertidos ao christianismo, pa Evaristo, no tempo do Imperador Adria­
Luciano e Marciano procuraram ganhar no. 121.
para a religião de Christo os amigos e
romp:,:-?heiros de peccadc. Muito bem po­ Em Salerno o santo bispo Gaudioso, sec. 7.
dem fazer os que provocam boas conver­ Na Africa, os Santos Martyres Rogaciano,
sações. Uma boa palavra, um aviso, uma presbytero e Felicíssimo. sec. 3.

27 de Outubro

SANTO ELESBÃO, REI


jg LESBÃü, contemporaneo do Im­
W pernclor Justinia110, possuia domi­
baridades, Elesbão declarou guerra a
Dunaan.
nios no Ori-ente, tendo por subditos os
ethiopes axumiticos, que formavam uma Um Santo eremita aconselhou-o a que
grande nação, situada a oeste do Mar se ass•egura:sse do auxilio de Deus, pela
V·ermelho. Elesbão no governo, outro intercessão dos santos Martyr,es. Dunaan
fim não tinha em n,ira, sinão em tudo foi batido, deposto e em seu logar rei­
procurar a honra de Deus e a propaga­ nou hriato, christão fervoroso.
ção da religião christã. Na visinhança Si foi gloriosa esta victoria sobre nm
morava a tribu dos Han.neritas, chefiada vil tyranno, uma outra ainda mais o
por Dunaan, judeu cruel e impio, que honrou - a victoria sobre si mesmo.
não perdia occasião de 1llla.ltratar os No desejo de poder s•ervir a Deus com
christãos. Elesbão mais de uma vez o mais vantagem para a propria alma, re­
exhortou á demencia, maJS Du·naan con­ nunciou á corôa e entrou para um con­
tinuou em s•eu systJeJ.na christophobo. O vento, depois de ter clistribuido entre os
arcebispo Tonphar foi obrigado a procu­ pobres todos os- bens que possuía. Em­
rar o exilio e muitos christãos morre­ bora tenha vivido sempre santamente, no
ralm nti,rtyres, entre elles a propria es­ convento se entregou com muito fervor
posa de Dunaan, chalmada Dunna e as ás praticas de piedade e de penitencia,
filhas. Não podendo mais vêr estas bar- dando-lhe Deus uma santa morte.

Santo Elesbão - Theophanes e Cedrenus. Cf. Orsi I. Assemani e Buttler.

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358 Christo Rei

REFLEXÕES levai-a á perdição. Acorda de tua lethargia


e leva tua alma ao seu destino natural
No desejo de pertencer a Deus e só a ellc á santidade e á união com Deus.
servir, Santo Elesbão renunciou a sceptro e
corôa, entregando-se ás praticas de uma
vida santa e perfeita. Que fazes para asse­ Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
gurar a salvação de tua alma ? Se aos con­ moria é celebrada hoje:
demnados do inferno fosse concedido um Em Avila, na Hespanha, o martyrio de
minuto apenas de penitencia, o reino de S. Vicente, de Santa Sabina e Ch1·isteta.
Satanaz se despovoaria num instante. Per­ Passaram por torturas indescriptiveis até
gunta a tua consciencia, para que te diga que finalmente os algozes lhes amaçasRem
franca e imparcialmente o que teu estado as cabeças. 304.
d'alma exige e o que deves fazer para tua
salvação. "E' realmente uma grande im­ Na Cappadocia o martyrio de Santa Ca­
providencia não desenvolver maior zelo pitalina e de sua serva Erothides, na pense­
para a salvação da alma do que o demonio gulção dlocleciana. 304.
despende de trabalho para perdei-a" - diz Na India o Bispo Frumenclo, escravo pri­
S. Chrvsostomo. O demonio conhece bem o meiro, e depois sagrado Bispo por Santo
valor de h1a alma e não perde occasião de Athanasio. sec. 4.

Leitura. par.a. a Festa

CHRISTO REI
(Ultimo Domingo de Outubro)

f1\\ DOREMOS. a Chris,.:.. :!1-ei cios sc­ sa salvação". (Act. 4. 12). Quem deli­
�l culos ! Chnsto entrou �o mundo beradamente se separa ele Christo, será
como Rei. Como rei cio mundo, sacrifi­ conclemnaclo eternamente. Ou com Chris­
cou-se na Cruz. Como Rei de todos ,, : to ou contra Christo, eis o dilem,ma, cm
homens, clelles e ele todas as gerações face do qual elevemos tomar nossa de­
espera que lhe rendam as homienagens cisão.
que lhe são devidas.
2. A fé é que Christo Rei exige dos
1. Em primeiro Jogar é a homenagem seus subclitos. Não é possível !>er de
da união com Elle, que lhe devemos. C:hristo, sem convictamente n'Elle reco­
"Eu sou a luz do mundo"; oom esta:s pa­ nhecer Deus verdadeiro. Desta fé, deste
lavras se nos apre!>enta. Quem não se­ r•econhecimento ele Jesus cumpre fazer
gue esta luz, a:nda nas trevas. "Eu sou depender tudo. Aos judeus que pergun­
o cmninho" - outra palavra do mesmo taram que obras deviam praticar, para
Christo. Q,uem não anda neste caminho, ter o agrado de Deus, responde Jesus:
cahirá no a:bysm,o. "Eu sou a Vicia". "A obra de Deus é esta, que acrediteis
Quem não tem parte nesta Vida, fica naquelle a quem enviou". (Jo. 6. 29).
morto. "Eu sou a porta unica", que Não muitas obrnis são portanto exigidas :
abre para o rebanho de Deus. Quem não ni.a:s uma só, a obra ela fé em Jesus
entra por esta porta, não verá o Pa:e. Chri-sto. Esta fé é que santifica. "É esta
"Eu sou a verdadeira vide". O ramo, a vontade daqueUe que me enviou: que
1.mm. vez s•epa•rado da vide, será cortado de tudo quanto elle me deu, nada eu per­
1

e atirado ao fogo. Elle é o unico Rei ele ca, mas resuscite-o no ultimo dia." (Jo.
Sião, o unico Salvador, o unico Juiz. 6. 39). Negar esta fé é a desgraça eter­
"Só nelle ha salvação. Do . céo abaixo. na, como se deprehencle das palavras do
nenhum outro nome foi dado aos ho­ Evangelho: "O Pae ama o Filho e tu­
mens pelo qual nos cumpra fazer a nos- do tem posto na sua mão. Aquelle que

Ghristo Rei - Cohansz S. J. Jesus Christo, o rei do mundo. - Steyl.

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Christó Rei 35)

crê no Filho, tem a vida ettirna; o que, meu amor; assim cama ta1mbe111 eu .g;11ar­
porélm, não crê no Filho, não verá a vi­ dei os preceitos de meu Pae e perma­
ela, mas sobre elle permanecerá a ira de neço no seu amor. Eu vos tenho dÍto
Deus." (Jo. 3. 35). "Quem não crê, estas cousa,s, para que a minha alegria
será condemnado." (Mar. 16. 16). •esteja em vós, para que a vossa alegt-ia
seja completa." (Jo. 15. 10). "Si . 111:e
3. Christo exige dos seus subclitos am,aes, guardae os meus man<larnentos."
uma vicia inteiramente ligada á graça. (Jo. 14. 15). "Quem observa os rnelts
"Em verdade te digo, quem não renas­ ,n1andan1entos, pennanece em Deus e
cer ela agua e do Espirito Santo, não Deus nelle." ( I. Jo. 3. 24).
pode entrar no reino de Deus. O que
é nascido da carne, é carne ; e o que é 6. Christo exige a união com sua
na,scido cio espirito, é espirita. Não te ad­ Egreja. Elia é seu reino e, unida a ·Elle,
mires de te haver dito: precisaes nascer é a verdadeira vide. Nella depositou sua
outra vez." (Jo. 3, 5 - 7). Em verdade, doutrina e sua graça. Por isso: "Quem
vos digo : si não comerdes a car­ não prestar ouvido á Egreja, tem-no por
ne do Filho do Homem e não be­ um gentio e ttm publicano." (Math. 18.
berdes o seu sangue, não tereis a vida 17). "Penuanecei em mim e eu ficarei
(1111 vós". (Jo. 6. 53). "Aquelle que crêr em vós. Assim como a vara não pode
e fôr baptisado, será salvo". (Marc. dar fructo de si mesma, si não perma­
16. 16). Sem a vida da graça não ha sal­ necer na videira, do mesmo modo tam­
vação, sem; a união com Christo não é bem vós, si não permanecerdes em mii11.
passivei urrna vida na graça. "Eu sou a Eu sou a videira e vós as varas.. O q!le
videira, vós sois as varas. O que perma­ permanece em milm e eu nelle, esse· dá
nece em mim e eu nelle, ess·c dá muito muito fructo, porque sem mim nada
fructo; porque sem m.im nada podeis podeis fazer. Si alguem não pernia1iece
fazer. Si alguem não perltnanece em mim, em mim, será lançado fóra, como a va­
será lançado fóra, como a vara, e secca- ra e seccará e o enfeixarão e metterão
, no fogo, para arder." (Jo. 15. 4- 6).
ra; e o enfeixarão e metterão no fogo
para arder." (Jo. 15. 5). 7. Christo exige definição clara dca.nte
4. Christo quer de nós confiança e do mundo e coragem no combate contra
amor. "Confiae, sou eu, não temaes." o mundo. "Todo aquelle que me confes­
(Marc. 6. 50). "Ten1 confiança, meu fi­ sar dea:nte dos homens, tambem eu o
lho, teus peccados te são perdoados". confe�sarei dea:nte de meu Pae, que está
(Math. 9. 2). "Tem confiança filha tua nos ceos. E o que me negar deante dos
fé t1e salvou". (Math. 9. 22). "T�de homens eu o negarei deante.de 1Í1eu Pae
confiança, eu venci o mundo." (Jo. 16). que está nos céos;"- (Math. 10. 32). "Sí
o 1 nundo vos aborrece, sabei. que, ..pri­
"Tudo que pedirdes em meu nome _
metro do que a vós, mie aborreceu ell� a
eu o farei." (Jo. 14. 14). "Em verda�
mim. Si vós fosseis do mundo, �nmria
de, em verdade vos digo : si vós pedir­ o �mun�o o que era seu; mas porque vós
des a meu Pae alguma cousa em meu nao s01s do mundo, antes eu vos escolhi
n�e, elle vol-a dará. Vós até agora não
do mundo, por isso é que o mundo vos
pedistes nada em meu nome. Pedi e re­
aborrece." (Jo. 15. 18). "Estas cousas
cebereis, para que a vossa alegria seja
vos t,enho dito, para que vos não escan­
completa." (Jo. 6. 23). "Como meu Pae
dalizeis. Lançar-vos-ão fóra pas · syna­
me amou, assim vos almei tambem. Per­ gogas; e vem a hora, em que q"u'alqúer
manecei no meu amor." (Jo. 15. 9).
que vos imate, julgará· prestar servi•ço a
5. Christo exig·e de nós a observaçtio Deus. Elles vos farão isto, porque não
dos seus mandamentos. "Si ·guardardes conhecem o Pae, nem a mim: Mas- e-stas
os meus preceitos, permanecereis em cousas' VOS tenho dito· para ·que, quando

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360 28 de Outubro

chegar a hora, vos lembreis que eu vol-as vos digo ás escuras, dizei-o ás claras; e
disse." (Jo. 16. 1 - 4). o que vos digo- aos ouvidos, publicae-o
sobre os telhados". ( Math. 10. 27).
8. Christo exige completo afastamento "Por isto ide, ensinae a todas as gentes,
dos erros do mundo. "Guardae-vos dos baptizando-as em. nome . do Padre e <lo
falsos propheta:s, que vêm a vós com a Filho e do Espirito Santo, ensinando-as
capa de ovelhas e por dentro são lobos a observar todas as . cousas que vos te­
rapaces. Pelos seus fructos os conhece­ nho nnndado. E éstae certos de que eu
reis." ( Math. 7. 15). "Caríssimos, não estou comvosco todos os dias, até a con­
creiaes em todo o espírito; mas experi­ summação dos seculos ". ( Math. 28. 19).
mentae os espíritos, si são de Deus; por­
que muitos falsos prophetas têm sabido Sendo, pois, tão fundados os direi­
no mundo. Ni,sto se conhece O espírito tos de Christo, tão elevadas suas attri­
de Deus. Todo o espirito que confessa buições, tão nobres seus ideaes, tão jus­
que Jesus Christo veiu eJm carne, é de tas suas exigencia:s, seu Reino tão ne­
Deus. E todo o espirito que divide Je- cessario e salutar ao mundo inteiro, não
sus, não é de Deus; e este é O anti-chris- é então dever nosso cooperar com elle ?
to, do qual ouvistes que vem e agora já Não é dev,er nosso, trabalhar pela reali­
está no muindo. Vós, filhinhos, sois de sação do seu Reino •em toda a parte,
Deus e vencestes a esses, porque maior é em nossos corações ? - na familia, na
o que está em vós, do que o que está no sociedade, no mundo inteiro ?
mundo. Elles são do mundo; por isso Cdmo isto se fará ? Pela nossa sujei­
falam do mundo e o mundo os ouve. ção a Christo pela fé, pela confiança e
Nós somos de Deus. Aquelle que conhe- pelo amor ! Adoremol-o no Santissimo
ce a Deus, nos ouve; quem não é de Sacramento. Recebamol-o muitas vezes
Deus, não nos ouve; é nisto que conhe- na santa Communhão. Confom1emos a
cemos o espirita da verdade e o espirito nossa vida aos seus mandamentos ! Fa­
do erro." ( I. Jo. 4. 1 - 6) • çamos o que estiver ao nosso alcance,
9. Christo exige o estabelecimento do para que chegue a reinar sobre as na­
seu Reino em todo o mundo. "O que ções !
¼❖H-l-❖•�❖❖+❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖•H+f+❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-l❖❖❖❖❖❖❖❖❖+❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖

28 de Outubro

Santos Apostolos Simão e Judas Thadeu


6 SANTO Aipostolo Simão era Muito pouco fidedignas são as noti­
•� oriundo da Galiléa e pertencente á cias que de S. Simão até nós chegaram.
tribu de Nephtali ou Zabulon, não de­ Nada ou quasi nada sabemos dos tra- ·
V'endo portanto ser confundido com o balhos apostolicos e da mdrte d'este
Apostolo S. Simão, parente de Nosso Apostolo. Um martyrologio antiquissi-
Senhor Jesus Christo. Siegundo o teste­ 1110 diz que soffreu o m'artyrio na Per­
munho de Nicephoro, S�mão atravessou sia; São Jeronylmo e Beda, o veneravel,
a ilha de Chypre, o Egypto, a Maureta­ são da mesma opinião.
nia e outros reinos africaqos e chegou Judas, chamado tambem Thadeu, é
até ás Ilhas Britannicas. irlmão de S. Tiago Menor e de Simão,
SS. Simão e Judas - Tlllemont I. Aesemanl ln Calend. Univ. ad 10 de Maio VI.
Buttler 10.

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28 de Outubro 361

Apostolos todos tres e filhos de Cleo­ S. Pedro, em Roma. De São Judas


phas ou Alpheu e Maria, uma das san­ Thadeu existe uma epistola, a ultima
tas ,mulhet1es que assistiram a morte de das epistolas catholicas inscriptas no
Jesus Christo na Cruz. Foi Juclas aquel­ canon dos livros sacros e r•econhecidos
le Apostolo que, por occasião ela ulti­ pela Egreja. Esta Epistola, segundo
ma ceia, pergunrou a Jesus Christo por­ opinião ele muitos, Jnelas dirigiu-a aos
que se mani­ j u d eus-chris­
fes t a v a só tãos (judeus
aors apostolos que se tinham
. e não ao mun­ convertido ao
do. O divino christianismo)
Mestre respon­ da Palestina.
deu-lhe que o E' p r ovavel
mu n cl o não que tenha sido
era digno das i' composta an­
revelações di­ tes da destrui­
vinas, por ser ;ão de Jerusa­
inimigo de tu­ lém, porque o
do que é de Apostolo ne­
Deus. nhuma allusão
Dep o i s ela faz á tal ca­
d e s ei d a do tastro p h e,· · o
Espirito San­ que seria ex­
to, quando dos tranhavel, si a
Apostolos ca­ tivesse escri­
da um procu­ pto depois , cio
rou s1 eu campo anno 70.
de evangelisa­ Nella s ã o
ção, J u d a s exhortados os
Thadeu se di­ christ ã o s de
rigiu para Sy­ canse r v a r a
ria, Mesopota­ dóutrina que
mia e Arme­
receberam dos
nia. Em 63 grandes 1nes­
tomou parte tres da Egre­
no conei 1 i o j a, o que faz
apostolico em suppôr que es­
Jerusalém, que ta epistola te­
elegeu Simão, 1

nha sido escri­


irmão de Ju- pta depois da
. das, bispo e Os Santos Simão e Judas
morte dos ou­
,sucessor de S. Sacerdotes pagãos, sedentos de vingança, para
t r o s Aposto­
Tiago Maior. conseguir a retirada dos apostolos, contractaram
dois feiticeiros, que, trabalhando com cobras, de­ las.
Nicephoro e viam intimidar os homens de Deus. Estes, porém,
outros r e f e­ sem se perturbar, fizeram o signal da cruz sobre R.EFLEXõES
as serpentes, e estas, furiosas, se precipitaram
rem que Ju­ sobre seus domadores. Longos annos
das mo r reu• passaram estes
em Edessa. Outros, porém, dizem que dois Apostolas em arduos trabalhos pela
soffreu o martyrio na Persia. salvação das almas e pela propagação do
reino de Christo sobre a terra. Salvar almas
Acredita-s-e que os corpos destes dois é sua meta e para conseguil-a não medem
Aipostolos se achalm na cathedraJ de sacrificios, por mais frequentes e dolorosos

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362 29 de Outubro

que sejam. Tambem nós devemos ser apos­ Santos cuja memoria é celebrada hoje:
tolos, zeladores da propagação da fé. Si o Em Roma o martyrio de Santa Anastacla,
amor de Jesus Christo nos anima, não pó­ a mais velha. Esbofetearam-na para fa­
demos deixar de ter amor tambem á sua zei-a apostatar; arrancaram-lhe as unhas,
obra, que é conduzir todos os homens ao quebraram-lhe os dentes, mutilaram seu
aprisco do supremo pastor. "As missões corpo, cortaram-lhe pés e mãos. Um tal
extrangeiras, diz o grande Papa Pio X., são chamado Cyrillo, que attendeu seu pedido,
ernprehendimentos que carecem ser reco:11- dando-lhe um pouco d'àgua, foi morto tam­
mendados aos catholicos de fé. Quem sou­ bem.
ber apreciar o valor da nossa religião e
possuir uma centelha de amor ao proximo, Em Roma o martyrlo de Santa Cyr1lla, Vir­
decerto não negará auxilio a tantos pobres gem. 268.
ir.mãos, que se perdem nas trevas e na Em Fuk!en, China, o martyrio dos filhos
sombra da morte". de S. Domingos: Alcober, Royo, Dlaz e Ser­
Dá ás missões tuas orações, tuas morti­ rano, companheiros do Padre Sanz, e de
ficações, tua esmola. muitos christãos. 1748.

29 de Outubro

SÃO NARCISO, BISPO


, OUCOS são os Bispos que, como fé contra diversas heresias que se for­
S. Narciso, tiveram a felicidade marnm no seio da Egreja. Cresceu-lhe
de presidir a diocese pelo espaço de oi­ o prestigio, pelos factos extraordinarios
tenta annos. Narciso nasceu em J erusa­ que se deram, durante seu regimen epis­
�ém pelos fins do seculo primeiro. Des­ copail. Na vespera de uma festa da Pas­
de a mais tenra infancia deu in<licios, coa converteu Narciso agua em
não só de rara intelligencia, como tam­ do qual uma parte se conservou
bem de gramde amor a tudo que diz res­ mais de um seculo e de que os fieis
peito ao serviço de Deus. Assim aconte­ servialm, para curar
ceu que, tendo alcançado a edade neces­ A santidade do Bispo teve que passar
saria, foi apresentado como candidato pelo fogo da tribulação. Tres indivi­
ao presbyterato e recebeu as santas or­ duos, que, por odio ao Bispo, procura­
dens. Como sacerdote, revelou um zelo ra,m desacredital-o perante a sociedade.
tão extraordinario na prégação da pala­ le' vantaram forte calumnia contra Nar­
vra de Deus, nas visitas aos doentes e ciso. Para confirmar a accusação, não
em outros empenhos sacerdotaes, que, recuaram deante do crime do perjurio.
tendo morrido o bispo de Jerusalém, os O primeiro disse: "Si o que digo não
fieis o elegeram para dirigir a diooese é verda,de, podem queimar-me vivo". O
de S. Tiago. segundo pretendeu: "Deus me castigue
Narciso manifestou logo grande ta­ oom a lepra, si não digo a verdade." O
J.ento de Pastor apostolico. Inimigo do terceiro empenhou a vista pela veraci­
espírito mundano, era o legitimo zelador dade de seu depoimlento. Narciso, embo­
dos interesses de Deus na diocese. A's ra innocente, não se defendeu contra as
ovielhas offereceu o são alimento da infaunes accusações; sahiu da cidade, re­
doutrina verdadeira da fé, dando-lhes tirou-se a um ermo, onde se dedicou ás
ao ,mesmo tempo o exemplo grandioso praticas da oração, leitura espiritual e
das mais eminentes virtudes. Com ener­ mieditação. Deus, porém, incUlmbiu-se da
gia e prudencia defendeu o deposito da defeza da honra de seu servo. Os ca-
S. Narciso - Euseb!o H!st. eccl. V. Raess e We!ss. XV.

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30 de Outubro 363

lumniadores, um por um, receberam o REFLEXõES


castigo e justarnenl:e aquelle que tinham A calumnia tem sido sempre a armia dos
provooado no juramento. O primeiro impios. Os homens mais santos têm sof­
pereceu num incendio; o segundo foi co­ frido calumnias, como o mostra a vida de
S. Narciso. A calumnia é tanto mais per­
berto de lepra; o terceiro, vendo a triste niciosa e diabolica, quanto melhor souber
sorte cios companheiros, confessou pu­ apparentar verdade. Quem poderia duvidar
blicwm!ente o crime. No seu arrep endi­ da veracidade dos depoimentos dos tres
mlento derramou tantas lagrirnas, que a homens, que, sob juramento, fizeram de­
clarações falsas. E' um aviso para nós, que
luz dos olhos se lhe extinguiu. não se deve facilmente prestar ouvidos a
O paradeiro de Narciso não pôde ser detractores, principalmente quando se trata
de pessoas honradas e reconhecidamente
cl!escoberto. Bm vista disto foram eleitos virtuosas. Vemos mais, que o crime da ca­
successivairnlente tres Bispos. No dia ern lumnia Deus póde castigar já neste mundo,
que o ultimo morreu, chegou Narciso a como castigou os inimigos de S. Narciso.
Um juramento falso é um horror aos olhos
Jerusa!lém, porque Deus lhe tinha man­ de Deus. Prestar juramento, em si não é
dado que trocasse a vida de eremita pe­ peccado. E' licito e póde ser até meritorio,
las occupações episcopaes. Indizivel foi em caso de verdadeira necessidade. Jurar
o jubilo cO'm que o povo recebeu o ve­ é invocar Deus como testemunha da ver­
dade que se affirma ou da promessa que se
lho bispo. Narciso, depois da volta para faz. Tomar a Deus por testemunha de uma
Jerusalém, governou ainda muitos an­ inverdade ou de promessa falsa, é um pec­
nos, pediu a Deus que lhe indicasse um cado gravissimo e chama a vingança do
digno successor. Em sonhos Deus lhe céo sobre o criminoso. "Quem jura e pro­
fere nomes santos, não está isento de pec­
fez a comnnunicação de que em breve cado. Um homem que muito jura, accumula
viria a Jerusalém um bispo extranho, crimes e o castigo não se lhe afastará da
que deveria ser-lhe auxiliar e successor. casa. Si não cumprir a promessa jurada, o
De facto, já no dia seguinte chegou a peccado ficará sobre elle e qualificando-o
de ninharia, peccará duas vezes. Si jurar
Jerusalém Santo Alexandre, bispo da sem motivo, não será justificado". (Eccl
Capadocia. Narciso recebeu-o com mui­ 23. 9).
ta solernnidade, o que não pouco sur­
prehencleu ao recem-chegado. Alexan­
Santos do Martyrologio Rom.ano, cuja ,ne­
dre, embora não quiz,esse acceitar o car­ moria é celebrada hoje:
go de bispo auxiliar de Jerusalém, em Em Bergamo, santa Eusebia, virgem e
vista da revelação que tieve Na1"ciso, . martyr. 307.
deixou-se ficar e ajudou ao velho Bispo Em Sidonia, na Phenieia o martyrio do
na administração da diocese. Narciso ai- presbytero Zenobio. 304.
cançou a edade de 116 annos e morreu Em cassiope, na ilha de Corfú, s. Dona-
como viveu, santamenre. to. sec. 5.
❖❖❖❖❖❖•:•❖-H-+H-❖❖+H-❖❖+H-❖❖❖ l f• l •M l l•❖+H--l-❖❖❖❖+H+❖❖❖❖❖❖❖❖: f l l ❖•�++

30 de Outubro

SÃO MARCELLO
(i 298)

� ORRIA o anno de 289. Com gran­ Parte saliente do programrila festivo


� de pompa ·e magestoso _esplendor faziam as solemnidades religiosas, em
se celebrava o anniversario natalicio do homenagem ás divindades nacionaies.
imperador Maximiano Herculeo. Marcello, official da Legião Trajana,
S. llfarcello - Act. Mart. authent. Ruinart. Tillemont III.

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364 30 de Outubro

concebeu um abon,ecünento tão profun­ - Que Deus te pague o mal pelo


do destas superstições ímpias que, dean­ bem;!
te da legião, declarou em voz alta: "De Marcello morreu em 298 e as reli­
hoje em deanúe deixo de ser legionario quias acham-se-lhe na egreja principal
do vosso imperio. E' um crime adorar da cidade de León, na Hespanha.
idolos feitos de páo e pedra, uma insa­ Logo após o julgalmento ele S. Mar­
nia prestar homenagem a deuses surdos cello se deu um facto que muito irritou
e mudos". Diz,enclo isto, depôz as arma3 a Agrícola e encheu de consolação a
e clistinctivos da patente. Marcello: Cassiano, o secretario judi­
Os soldados prenderam-no e relata­ ciario, ao ouvir a sentença de morte, ne­
ram ao cm111nandante Fortunato o que gou-se 1:emninante111ente a registrai-a no
tinha occorrido. Marcello foi recolhido protocollo. Indignado levantou-se, ati­
á prisão, para logo depois elas solemni­ rando ao chão cmn o estylete e a taboi­
da<les ser J.evado á presença do cOmlman­ nha. Agricola, não podendo conter a
dantc. Perguntado por Fortunato que colera, em termos asperos exigiu que
motivo o tinha levado a infringir as cll!mprisse o dever. Cassiano respondeu­
leis da disciplina, Marcello respondeu lhe:
francamente, que eram incompatíveis as - Nada levo a pmtocollo, porque a
cerimonias supersticiosa;S ido culto pa­ sentença que déste, é injusta.
gão com o juramento de fidelidade que Não passou um 1nez e Cassiano rece­
tinha feito a Jesus Christo. Fortunato beu a palrna do martyrio.
achou o caso bastante grave para ser
relatado aio Imperador Maximiano e ao REFLEXÕES
Oesar Oonstancio. Este, porém, era fa­ S. Marcello abandonou a carreira mili­
voraviel a:os christãos e achava-s,e na tar, por se ter visto obrigado a acompa­
Hespanha. nhar certas praxes idolatras. E' provavel
que tenhas repugnancia da idolatria e te
Marcello foi mandado para Africa e aches com força de fazer os mesmos •sa­
•entregue á jurisdicção do prefeito Au­ crificios que os martyres fizeram, deante
rdio Agricola. da exigencia dos tyrannos pagãos. Mas ha
Na carta que Fortunato havia dirigi­ outros idolos, cuja presença talvez não sin­
tas e não a sentindo, lhes prestas as tuas
do a Agricola, lia-se o seguinte topico: homenagens. Idolos são as paixões não do­
"Marcello, soldado do Imperador, minadas. Um idolo é a sensualidade, de que
atreveu-se a confessar publicamente a tantos e tantos se declaram escravos. Um
religião christã e deante de muitas tes­ idolo é a ambição, que se colloca no Jogar
que a Deus devia ser reservado. !dolo
te1nunhas injuriar o Imperador e nossos é a soberba, o orgulho, que não se sujeita
deuses. Entregalmol-o a ,·ossa jurisdic­ á autoridade e que só desprezo tem para
ção, para que o julgueis conforme o com o proximo. Idolos são o odio, a ira, a
preguiça e a gula, pois todos se põem em
achardes conveniente." logar de Deus. Póde o peccador affirmiar
Após a J.eitma desta carta, Agricola que é melhor que o pagão, adorador de fal­
perguntou a Marcello : sas divindades por ignorancia, quando elle,
- E' verdade qt11e fizeste e falaste o o peccador, tem ou devia ter conhecimento
<le Deus e de sua santa lei ?
que esta carta accusa ?
- E' verdade, respondeu Marcello.
- Eras official do exercito e tomaste Santos do Martyrologio Ro1nano, cuja me­
pa:rte na guerra ? moria é celebrada hoje:
- Sim, era official do exercito : não Em Léon, o martyrio de Claudlo, Lu­
o quero mais ser, porque este serviço é perco e Victoria, mortos na perseguição dlo­
cleciana.
incompativd com o serviço de Deus.
Em Paris o martyr S. Lucano.
Sem mais delongas, Agrícola condem­
Em Alexandria a martyr Santa Eutropia.
nou Marcello á morte pela espada.
Em Palma, na ilha Majorca, Santo Af-
Sendo conduzido ao Jogar do suppli­ fonso Rodriguez, Irmão leigo da Companhia
cio, Marcello disse a Agrícola : de Jesus, canonlsado por Leão XIII. 1617.

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31 de Outubro 365

31 de Outubro

S. WOLFGANG, BISPO
(t 533)

� WOLFGANG viveu no X. seculo artes livres. Por occas1ao de urna visita


�Q. da era christã e é contado entre os do Bispo Ulrico ele Augsburgo, este,
Bispos da Santa Egrieja que mais se dis­ a:pesar dos •escrupulos ·e duvidas ele
tinguiram pela santidade e zelo aposto­ Wolfgang, administrou-lhe o sacramen­
lico. Era natural ela Suabia. Menino ele to da Ordem. Cmn a graça cio sacerdo­
sete a:nnos, foi confiado a um sacerdote, cio Deus deu a Wolfga:ng u1J11 forte de­
que o educou e instruiu christãmente. sejo de pôr-se a serviço ela propagação
Passados alguns annos na companhia cio da fé entre os povos pagãos. Era a epo­
preceptor, internou-se no convento de ca das invasões elos hungaros, que tan­
Reichenau, onde fez amizade com Hen­ to mal fizeram aos paizes da Allenia.­
rique, jovcn fidalgo ele Würzburgo. nha. Wolfgang tomou a resolução de
Quando voltou para sua terra, vVolf­ missionar e catechizar aquelles ba't"baros.
gang acompanhou-o. Em Würzbmgo Obtida a licença dos superiores, pôz-se
completou os estudos com tanta profi­ a calminho para a Hungria. Brn Passau
ciencia, que era por todos admirado e p,-ocurou o Bispo local, P1eregrino, e qual
estimado. Alguns a:nnos depois foi Hen­ não foi o seu contentamento, quando
rique nomeado Bispo de Treves e, co­ soube que •est'e prela:do estava se prepa­
nheoendo os grandes talentos do amigo, rando para a mesnra. viagem, com o
convidou-o. para consdheiro. Wolfgang mesmo fim de trabalhar pela christiani­
acceitou o convite, com a condição, po­ sação dos hungaros. De facto seguiram
rém, de poder dedicar-se á educação e rumo para a Httngria. Chegados ao ter­
instrucção ela 111,ocidacle. Aos alurnnos mo ela viagem, puzeram mãos á obra e
recomrnenclava, como maxi111a para to­
1 começaram a tarda apostolica. Vendo,
da a vida, a palavra do velho Tobias ao porém, que os resultados não correspon­
filho : "Andae na presença de Deus e diam aos seus esforços, voltara1111. A
fugi do peccado ". chegada dos missionarios á Allemanha
Além dos trabalhos exhaustivos, que coincidiu collll a morre do Bispo de Ra­
a educação da mocidade em collegio tisbona. P•eTegrino, que teve occasião de
.acarreta, Wolfgang ton1ou sdbre si a conhecer e admirar as virtudes e talen­
responsabilidade de negocios importan­ tos de \Volfgang, recam:menclou-o ao
tes da diocese. Henrique morreu e Wolf­ Lmpemdor e ao clero, comio candidato
gang passou algum tempo em Colonia, idoneo á Sé de Ratisbona. Wolfgang,
na côrte cio arcebispo Bruno. A insisten­ após longa resistencia, teve de curvar-se
cia taimbem deste prelado não conseguiu afinal deante da ordem elos Superiores
que Wolfgang s•e decicliss·e a acceitar di­ e acoeitou a mitra.
gnidades elevadas. Convencido de que o Bispo deve ser
Para fugir do mundo e viver só para modelo de vi'l"tttde e santidade para o
Deus e a salvação ela sua alma, retirou­ povo e o clero, ainda mais se dedicou á
se para o mosteiro benedictino ele São propria santificação. A oração e a mor­
Meinrado, na Suissa. Terminado o no­ tificação eram os exercicios que lhe pa­
viciado, a obediencia confiou-lhe a tare­ reciam mais efficazies, para alcançar es­
fa de instruir os jovens sacerdotes nas se fim. Era impossivel que o exemplo

S. Wolfgang Mabillon saec. V. Ben. Hundius F[ist. Flui. Metrop. Salzb,

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366 31 de Outubro

do Bispo não produzi•sse os melhores 994, sendo-lhe o corpo depositado na


fructos na diocese. Visitando parochia catheclral ele Ratisbona, mais tarde, po­
por parochia, prégando, exhortanclo a rém, trasladado para a egre- ja de Santo
todos, con:s,eguiu uma transformação ad­ Emmera:no, onde se acha até hoje.
miravel na vida pratica christã dos dio­ Em 1052, achando-se em viagens na
cesanos e sacerdotes. Henrique, clttqllic Allemanha o Papa Leão IX, este ele­
da Baviera, ir­ vou Wolfgang
mão do Impe­ á categoria de
rador, tinha Santo.
em tão alto
conceito a pes­ REFLEXõES
soa do santo Tres eram os
Bispo, que lhe conselh;os que
confiou a edu­ São W olfgang
dava aos . disci­
cação dos fi­ pulos; conse­
lhos e filha,. lhos preciosos,
Essa confian­ que cada chris­
ça não o en­ tão deve accei­
ganou. Henri­ tar com :i dacios
a si: l.º Anda
que, o primo­ sempre na pre­
genito veiu a sença de Deus;
ser o Impera­ 2.º conserva-te
dor; Bruno, o no santo temor
de Deus; 3."
segundo filho, Foge do pecca­
prestou, como do. Nestes tres
Bispo exem­ conselhos está
plarissimo, re­ contida toda a
levantes servi­ sabedoria chris­
tã. Lembra-te
ços á egreja e de Deus, que
á s o ciedade ; está em todo
Gisela, mais lugar e que tu­
tarde Rainha do vê, tudo ou­
ve, tudo sabe.
da Hungria, Este Deus é
foi uma chris­ santo, podero­
tã modelar ; e so e terrivel em
Brígida diri­ seus j u i z o s.
Tua vida está
giu, na quali­ em suas mãos.
dade de Ab­ Não ha logar
bades s a, um onde elle não te
mosteiro fun­ S. Wolfgang
encontre; Elle
dado por castigará t e u
Para se desembaraçar de graves complicações po­ peccado ou nes­
Wolfgang em !iticas, e poupar seu povo dos horrores de uma te ou no outro
Ratisbona. guerra que se lhe afigurava inevitavel, se afastou mundo e sua
da sua diocese e da sociedade. Durante cinco annos
Já ia para habitou urna ermida, construida por elle mesmo, justiça não ad­
até que um dia seu paradeiro foi descoberto por mitte appella­
25 annos sua um caçador, que o conheceu. ção. Foge do
administraç ã o peccado, que é
da diocese, quando Wolfgang, numa a offensa deste grande Deus. O peccado te
viagem, adoeceu gravemente. Prevendo prejudicará mais que todas adversidades
que o inimigo de tua alma te possa infligir.
o fiim da vida, para elle devidamente se
Tem consequencias terríveis, que se esten­
preparou. Após digna e edificante rece­ dem até á eternidade. Que motivos mais
pção dos santos sacrarrnentos, morreu em queres, para te afastar do peccado ? Pen-

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APPENDICE 367

sa, pois, em Deus; Teme a Deus e foge do Em Roma o martyrio de Ampliato, Urba­
peccado. E' este o caminho, (que conduz no e Narciso, de que S. Paulo faz menção
ao céo) andae nelle e não vos afasteis, nem na sua epistola aos Romanos.
para a direita, nem. para a esquerda. (Is. Em Constantinopla o bispo Stachls, (Eus­
30-21). tachio), primeiro bispo daquella cidade e dis­
cipulo de Santo André.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Em Milão o Bispo, Confessor Santo Anto­
moria é celebrada hoje: nino. 674.

A.F F E ND :C C::E::
Leitura para o dia 13 de Outubro

Nossa Senhora do Rosarío de Fátíma


• M todo o Portugal, e fóra do Portu­ tristeza. Das mãos, juntas á altura do pei­
� gal, como no Brasil, tem creado for­ to, pendia-lhe, rem,atado por uma cruz de
tes raizes a devoção a Nossa Senhora de ouro, um lindo rasaria, cujas contas bran­
Fatima. E' relativamente nova a devoção. cas de arminho, pareciam perolas. De todo
Seu inicio muito de semelhante tem a de o seu vulto, circumdado de um esplendor
Nossa Senhora de Lourdes. Como em Lour­ mais brilhante que o sol, irradiavam feixes
dcs Nossa Senhora se dignou de se commu­ de luz, especialmente do rosto, de uma for­
nicar á m,enina Bernadette Soubirous, hoje mosura impossivel de descrever, e incompa­
Santa canonisada pela Egreja, Maria San­ ravelmente superior a qualquer belleza hu­
tíssima em Fatima appareceu, (no anno mana.
ele 1917), por diversas vezes ás trcs crean­ A Apparição convidou as creanças a vol­
ças Lucia de Jesus dos Santos e seus pri­ tarem todos os mezes no dia treze, durante
mos Francisco e Jacintha Marta. Entre seis rnezes consecutivos áquelle local, vul­
Lucia e a Apparição estabeleceu-se dialo­ garmente conhecido pelo nome de C::ova da
go da duração de dez minutos. Jacintha via Iria, situado a pouco mais de dois kilome­
a Apparição e ouvia-lhe as palavras dirigi­ tros da egreja parochial de Fátima.
das a Lucia: Francisco via apenas a Appa­ A principio ninguem prestava credito ás
rição, sem, porém, ouvir cousa alguma, ape­ affirmações das creanças, que eram apoda­
zar de se achar na mesma distancia, e pos­ das de mentirosas por toda a gente, mes­
suir optimo ouvid�. mo pelas pessoas de suas familias. A 13 de
A Apparição era uma donzella formosis­ Junho (dia da 2 ª Apparição), umas 50 pes­
sima, que parecia ter dezoito annos de eda­ soas acompanharam os videntes, na espe­
de, e vinha rodeada de claridade fulguran­ rança de presenciarem o que quer que fos­
te, tanto que as creanças, na primeira vez. se de extraordinario. Nos mezes seguintes
se assustaram e pensaram em fugir. A Ap­ o concurso de curiosos e devotos augmen­
parição, porém, de voz dulcissima, as tran­ tou consideravelmente, reunindo-se talvez
quillizou, e assim ficaram. O folheto publi­ 5 .000 pessoas em Julho, dezoito mil em
cado pelo Visconde de Montelo sobre as Agosto e trinta mil em Setembro junto da
apparições diz o seguinte: azinheira sagrada.
"O vestido da Senhora era de uma alvura No momento em que se verificava a Àp­
purissima de neve, assim como o manto, parição, innumeros signaes mysteriosos, de
orlado de ouro, que lhe cobria, a cabeça e que muitas pessoas fidedignas dão teste­
a maior parte do corpo. O rosto, de uma munho, se succcdiam uns apoz outros na
nobreza de linhas irreprehensivel e que atmosphera e no firmam'ento.
tinha um não sei que de sobrenatural A Apparição recommendou insistente­
e .divino, apresentava-se sereno e grave e mente que todos fizessem penitencia e re­
como que toldado de uma leve sombra de zassem o terço do Rosario. Communicou ás

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368 APPENDICE

creanças um segredo, que não podiam re­ campo catholico, não foram unanimes. As
velar a ninguem, e prometteu-lhes o céu. affirmações das creanças relativas ao pro­
Pediu que naquelle local se erigisse uma ximo fim da gran�e guerra européa, con­
capella em sua honra e declarou, que no di,1. tribuíram para essa divergencia de opi­
13 de Outubro havia de fazer um mila­ niões. Mas, apezar disso, de anno para an-
gre para que todo o povo acreditasse que 110, a devoção a Nossa Senhora do Rosa­
ella realmente tinha alli apparecido. Em rio de Fatima augmenta e propaga-se por
13 de Agosto, momentos antes da hora toda a parte. O concurso de peregrinos é
da Apparição, as creanças foram ardilosa­ cada vez maior e verifica-se especialmente
mente raptadas pelo admfoistrador do Con­ no dia 13 de cada mez, nos domingos,
selho, que as reteve em sua casa durante nos dias consagrados á Santissima Virgem,
dois dias, ameaçando-as de morte si não se e, mais do que nunca, no dia 13 de Maio e
desdissessem ou pelo menos não revelassem no dia 13 de Outubro de cada anno.
o segredo que a Apparição lhes tinha con­ As graças e curas prodigiosas attribui­
fiado. das á intervenção de Nossa Senhora do
Rosario de Fatima são innumeras. Debalde
Nesse mez a Apparição teve Jogar no dia
os representantes da autoridade civil envi­
19, no sitio dos Vallinhos, quando as crean­
daram todos os esforços para pôr termo
ças já não pensavam que ella se verificasse
á torrente caudalosa e incessante das mul­
senão no mez seguinte.
tidões attrahidas pela voz humilde de tres
No dia 13 de Outubro, estando presen­ inuocentes pastorinhos. A intolerancia e a
tes cerca de setenta 1riil pessoas de todas perseguição tiveram apenas, como sempre,
as classes ·e condições sociaes e de todos o effeito de tornar mais viva e intensa a fé
os pontos do paiz, terminado o dialogo en­ e a piedade dos crentes. A eoncorrencia dos
tre Lucia e a Apparição, que lhe declarou devotos, vindos de todos os pontos de Por­
ser a Senhora do Rosario, a vidente recom­ tugal, continúa a ser cada vez mais nume­
mendou aos presentes que olhassem para o rosa, mais fervente, mais perseverante, e
sol. O firmamento estava completamente parece não haver forças humanas capazes
nublado. Chovia torrencialmente. ele lhe pôr embargo."
Como que por encanto rasgaram-se de A Egreja deixou-se ficar na maior reser­
repente as nuvens, e o sol no zentih ap­ va deante dos acontecimentos de Fatima.
pareceu em todo seu resplendor e girou O Cardeal-Patriarcha de Lisboa, D. Anto­
vertiginosamente sobre si mesmo como a nio Mendes Bello (falleciclo em 4 de Agos­
mais bella roda de fogo de artificio que se to de 1929, na edade de 87 annos), só em
possa imaginar, revestindo successivamente 26 de Junho de 1927, isto é, dez annos de­
todas as cores do arco-iris e projectando pois das appançoes, foi a Fatima, onde
feixes de luz de um effeito surprehendente. benzeu a via sacra collocada junto a es­
Esse espectaculo sublime e incomparavel, trada de Leiria a Fatima, muito depois de
que se repetiu por tres vezes distinctas, du­ outros Bispos e Prelados terem visitado
rou cerca de dez minutos. A multidão im­ Fatima, por exemplo, o Arcebispo de Evo­
mensa, rendida perante a evidencia de ta­ ra, o Primaz D. Manoel Vieira de Mattos,
manho prodigio, prostrou-se de joelhos, o o Nuncio Apostolico de Lisboa e o Bispo
Credo, a Ave Maria e o acto de contrição de Funchal. Em 1931 o Episcopado portu­
irromperam de todas as boccas e as lagri­ guez fez a solemne consagração do paiz a
mas de alegria, de gratidão ou de arrepen­ Nossa Senhora do Rosario de Fatima.
dimento, m,arejaram todos os olhos. Francisca e Jacintha já morreram. Lucia
Toda imprensa, inclusivamente a de gran­ de Jesus, a unica sobrevivente, fez-se reli­
de circulação, se refer\u, em termos respei­ giosa e entrou no convento das Dorothéas
tosos e com bastante· desenvolvimento, aos em Tuy (Hespanha).
assombrosos acontecimentos de Fatima. Nossa Senhora do Rosario de Fatima,
As apreciações desses factos, mesmo no rogae por nós!

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1 de Novembro

Festa de Todos os Santos


f�\� FESTA de Todos os Santos é uma tabernaculos do Senhor, vale mais que
� - das mais importantes do anno ec­ mil dias nas tendas cios peccadores. Os
olesia:stico. E' por assim dizer a festa ele nossos olhos encantados vêm os anciãos
familia da Egreja. Ella, a mãe dos fieis, levantar-se cios thronos e depositar as
veste gala e entôa ca:nticos de alegria. corôas aos pés do Cordeiro. Exercitos
"regosijemo-nos - é o convite quê faz, int:erminos de Anjos e Archanjos ro­
no Introito da Missa, - regozigenio­ deiaim o throno do Altissimo e entoam
nos no Senhor, hoje, por causa da festa canticos de louvor e de adoração de u'tna
de todos os Sa:ntos." O officio desta belleza tal, como nossos ouvidos jamais
festa principia com as palavras: "Ado­ perceberam egual aqui na terra. Milha­
remos ao Rei, ao Senhor dos senhores, res e milhares de Santos de todos os po­
que é a corôa de Todos os Santos." O vos, de todas as nações, apparecem em
dia de Todos os Santos convida-nos para vestes in1maculadas, com palmas nas
lançarmos u:m olhar ás magnificas ha­ mãos e, dobrando os joelhos deante do
bitações celestes e contemplarmos as throno do Altissimo, em profunda ado­
multidões dos Santos, aquelles bemditos ração, exclamam: "Assim seja ! Louvor
do Pae, que se achaun no reino que lhes e gloria, sabedoria e acção de graças,
foi preparado desde o principio dos tem­ honra e poder... ao nosso Deus em to­
pos. (Mat. 25. 34). "Tedio tenho da ter­ dos os seculos."
ra, quando olho para o céo", dizia Santo E' o grande banquete que o Filho do
Ignacio de Loyola. Não ha espectaculo Rei pr•eparou para os eleitos. Hoje o ve­
aqui na terra, por mais bello, por mais mos rodeiado cios filhos. Pois todos são
attrahente que seja, que se possa com­ filhos, resgatados pelo preço do seu san­
parar c01n1 a magnificencia do céo, que gue. Todos são herdeiros, chamados
hoje se abre á nossa vista. Um dia nos para com elle remarem eternamente.
24 •
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372 1 de Novembro

Hoje os vemos na gloria, fulgurantes multidões, que se nos apresentam, quem


como as estrellas do céo. são ? São as almas glorificadas de ho­
A patria orgulha-se cios seus filhos, mens, que, como nós, aqui luctaram e
cios grandes politicos, cios glorio:ms g-e­ soffreram. A fé apresenta-nn3 os San­
neraes, d o s tos todos co­
i1rt111ortaes sci­ mo nossos ir­
entistas, poe­ mãos, c o �11 o
tas e artis­ membros da
tas. Com jus­ mesma fami­
to entlmsias­ lia, á qual to­
mo lhes decli­ dos nós per- .
na os nomes tencemos. Co­
e ergue monu- mo membros
111 e n t o s de desta familia,
granito e devem o)- n o s
bronze á sua encher de ale­
memoria. A' gna e congra­
mocidade são tular-nos com
\apresenta d os os nossos ir­
como modelos, mãos, que já
dignos de imi­ venc e r a m o
tação. A Egre- mundo, a car­
ja, com mui­ ne e o demo­
to mais razão nio e se acham
que a patria, no Jogar onde
se orgulha dos não ha mais
s e u s filhos, lagrtmas, tris­
não p o r que teza e dôr.
foraim gran­ Não é só
des só na vi­ alegria de que
da, mas por­ se enche nossa
que receberam alma: a iJ�m­
o premio da brança do do­
victoria, não ce mysterio da
de mãos hu- con1municação
manas, m a s d os Santos
das proprias dá-nos cora­
mãos de Deus gem e ammo,
e gozam de para continuar
uma felicida­ ·sem elesfaUe­
de, que poder cimento na lu­
nenhum lhes cta, que nos
póde arrebatar. Festa de Todos os Santos (l.cdmpanha até
S ã o João "Eu creio na Communhão dos Santos•·. (Credo). a m,orte. Si a
Evangelista, a n o s s a c o n­
quem foi dado vêr a gloria do céo, disse: sciencia nos dá o consolo ele uma vida
"Eu vi uma grande nmltidão de todos os pura, felizes de nós, porque o Jogar nos
povos." Não compartilhamos da felicida­ fica reservado, entre as gloriosas vir­
de invejavel de S. João, mas com os olhos gens, para cantar a gloria do Cordeiro.
da fé podemos vêr muita cousa que nos Si, porém, penosaJmente nos arrastamo"s
encanta, que nos consola e anima. As pelo caminho da dôr, do arrependimen-

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1 de Novcmbro 373

to e da penitencia, ha Santos, nossos ir­ per�mentar a verdade da palavra de São


mãos, que nos acenam animadoramcnte Paulo, quando disse: "olho algum viu,
e vem-nos á melmoria a bella palavra ele ouvido alguim ouviu, nem jamais veiu á
Santo Agostinho: o que eHes consegui­ mente do homem o que Deus preparou
ram, será para mim cousa impossivel ? para aquelles que o amall11." ( 1. Cor.
Os santos e justos regosijam-se, ao ve­ 2. 9.)
rnm s•eus modelos e prototypos como se­
jam: S. João Evangelista, as Santas REFLEXOE�
Ignez, Cecilia, Catharina, S. Luiz Gon­ Grande é a graça que Deus nos deu. de
zaga, S. João Berchma.ns e outros, ao pertencemos á Egreja dos Santos. Nei­
la tambem nós nos poderemos santificar.
passo que os pobres peccadores se ani­ A' nossa disposição estão os mesmos
mam e se consolam, vendo as figuras meios que levaram á santidade os bem­
dos grandes penitentes : S. David, Santa aventurados do céo. Graças devemos ren­
1'faria Magdalena, Santa Margarida de der a Deus por esta graça ineffavel. Si Noé
agradeceu a Deus por tel-o preservado das
Cortona, o Bom Ladrão, Santo Agosti- aguas do diluvio, maior gratidão Deus c,;­
11ho e milhares de outros. pera de nós, que por sua misericordia fo­
Os Santos orientam-nos na penosa via­ mos chamados á Egreja, á Arca da salva­
ção, no meio do diluvio do peccado. Só o
gem ao céo. Não desdizendo a palavra facto, porém., de pertencermos á Egreja,
de Jesus Christo: "o reino cios céos pa­ não nos garante a salvação. Muitos que
dece força", indicam-nos os meios que foram filhos da Egreja, se acham no lagar
devemos applicar para chegar ao porto da eterna condemnação. O caminho do céo
é aquelle que os Santos trilham: o caminho
de salvação. São os n1esmos que elles da innocencia ou da penitencia. Quem não
usaram, a saber: a observação dos man­ soube guardar a innocencia baptismal, rn­
damentos da lei ele Deus, a observação tre nas fileiras dos penitentes, para assim
salvar a alma da eterna perdição. "Procu­
ela lei de caridade para com o proximo, ra assegurar-te da intercessão dos Santos,
os mandamentos da lei da Egreja, tra­ pela imitação de suas virtudes, - acon!;e­
balho, oração, soffrim-entos e mortifica­ Iha S. Leão, - pois, si com ellcs praticares
ção. "Tende coragem ! - assim os ou­ a virtude, com elles poderás um dia gozar
da gloria eterna".
vimos dizer - o céo é vosso, o céo está
perto, vos está gar,ticlo."
Desta maneira a festa d� Todos os Santos do Martyrolo.oio Romano, cuja me­
Santos é para nós um (b d:: alegria, moria é celebrada hoje:
de consolo e de animação. O:, Santos Em Terracina a morte do santo diacono
foram o que somos: luctadures e muitos Cesario. Mettido num sacco junto com o sa­
•entre elles, peccadores. Serc:110s o que cerdote Juliano, foram ambos atirados ao
mar. 300.
-elles são: "Bemditos do Pae". Guarde­
mos a esperança do céo. "Quc:11 ,cm Em Dijon o martyrlo de S. Benigno, disci­
pulo de S. Polycarpo. Com uma barra de ferro
esta esperança, santifica-se." (Jo. 3. 3.) quebraram-lhe a base do craneo e atrave:;­
"Creio na vida eterna." Na 1 ucla, na saram seu corpo com uma lança.
dôr, no desanimo e na tribulação, lem­ Em Chermont o Pl'imeiro bispo daquella
bremo-nos da gloria que nos espera. Da­ cidade, Santo Austremonio. 250.
qui a pouco tudo está acabado e podere­ Em Bayeux o santo bispo Vigor, no tempo
mos praticamente, em nós mesmos, ex- do rei Chi!deberto.

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374 2 de Novembro

2 de Novembro

DIA DE FINADOS
l!G\\\ JUIZO particular �ecide da sort� pensa da fé e da virtude; wna cousa é
� da alma na eternidade: ou sera penair muito tempo e purificar-se nas
destinada ao céu ou ouvirá a terrivel cham:mas do Purgatorio e outra cousa é
sentença da morte eterna. Aquellas al­ ter removido todos os peccados, pelo
ntas, porém, que não apresentam a pu­ martyrio."
reza necessaria para poderem ser admit­
tidas no céu, devem descer ao Jogar da Os concilios ecumenicos de Carthago,
purificação, o Purgatorio. Lyon, Florença e Trento definiram bem
claramente a fé na existencia do Purga­
A doutrina da Egreja catholica sobre torio. Nas antiquissimas orações liturgi­
o Purgatorio comprehende tres pontos : cas a Egreja pede a Deus que "abster­
1.º o Purgatorio existe; 2.0 Nelle as al­ ja as manchas que ainda adherirem ás
ma:s serão purificada:s; 3. 0 Os fieis da almas dos fieis defunctos," - que "del­
Egreja militainte podem, pelas orações e las se compadeça e lhes conceda o des­
obras meritorias, alliviar as penas das canço eterno" - que "lhes conoeda o
almas no Purgatorio. Jogar da paz e da luz," - que "as tire
1.º O Purgatorio existe deveras. Deus das tristes moradas e as faça gozar da
revelou esta verdade no Antigo Testa­ sorte dos justos."
,1nento. "E' U!m pensamento santo e sa­
Esta doutrina da Egreja está muito
lutar orar pelos mortos, para que sejam
de accordo com a razão. Si é c-erto que
livres dos seus peccados." (2. Maccab.
no céo entrarão só1nente as almas puri­
12, 46.) Destas palavras devemos dedu­
ficadas; se é certo que poucos hCJ1nens
zir que já no Antigo Testainento se acre­
na hora do transito estão isentos da
ditava num lugar expiatorio, em que as
mais leve culpa, certo seria que, com
almas dos defuntos eram detidas, até que
pouquissimas excepções, os homens fica­
fossem absolvidas dos peccados.
riallll sempre excluidos do céo, si não
Jesus Christo fala de pecca:dos que houvesse na eternidade u�n Jogar de ex­
"não serão perdoados nem aqui, nem no piação, salvo se Deus, na sua misericor­
outro 1111undo." (Math. 12, 13.) Logo, dia, perdoasse su1111�11ariamente todos os
para certos peccados, ha possibilidade de peccados e as respectivas penas na hora
serem perdoados ainda no outro mundo. da morte, o que não acontece. Na eter­
O Jogar onde estes peccados serão ex­ nidade Deus "dará a cada um a paga,
piados, é o Purgatorio. segundo as suas obras." (Math. 16, 27.)
A Egreja ensina, cam toda precisão, a Negar a ·existencia do Purgatorio equi­
existencia do Purgatorio. Assim escreve valeria á exclusão do genero hwnano
S. Gregorio Magno: "Sei que alguns quasi inteiro da eterna bemaventumnça,
devem fazer penitencia ainda depois des­ o que seria contra a fé e a razão.
ta vida, nas chammas do Purgatorio." 2. 0 No Purgatorio serão purificadas
- "Uma cousa é esperar o perdão - as almas dos justos. O Purgatorio é um
diz S. Cypriano, - e outra entrar na Jogar, onde não prevalece a misericor­
eterna gloria; uma cousa é ser mettido dia, mas a justiça divina. As penas das
no carcere e delle não sahir, emquanto almas devem ser de natureza a satisfa­
não fôr pago o ultimo ceitil, e outra cou­ zerem plenamente á justiça divina. E'
sa é receber immediatamente a recom- claro que deveini estar em proposição

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2 de Novembro 375

exacta com a gravidade da offensa, que das ellas, s�m exc�pção alguma, são uni­
Deus pelo peccado soffreu. Quem pode­ das a nós pelo laço da graça santifican­
rá alliviar a gravidade da offensa, que te: são portanto nossas irmãs em Jesus
uma pobre creatura se atreve a fazer ao Christo. Como não negamos o nosso
Creador ? "Tenrivel é cahir nas mãos de soccorro ao nosso irmão grandemente
Deus vivo." (Hebr. 10. 31.) necessitado, não clevelmos negai-o ás po­
O Purgatorio é wn Jogar de peniten­ bres almas, que sof frem incom.paravel­
cia, que porém não tem egual aqui na mente mais, 9em ter possibilidade de
terra. A razão é clara. Toda a peniten­ inelhorar a sorte, ainda mais, quando te­
cia feita aqui, por mais rigorosa que se­ mos em nossas mãos meios poderosos
ja, tem por fim prieservar o homem da paira alliviar-lhes as dôres. Não haverá
penitencia futura na eternidade. Se as­ entre as almas uma ou outra, que nos
sim é, a penitencia a fazer-se na eter­ deve interessar mais de perto ? Descen­
nidade dev,e ser extrelmamente dolorosa. do emJ espirito ás trevas do Pur­
Si os maiores Santos ca"Stigavam o cor­ gatorio, lá não descobriremos talvez as
po com tanto rigor; si os primeiros almas de nossos paes, parentes, amigos
christãos promptalmente tomavam sobre e bemfeitores ? A caridade, a gratidão
si as disciplinas mais asperas e humi­ não exigem de nós que lhes prestemos
lhantes, não era para outro fim, senão o nosso auxilio ? Não têm ellas direito
livrar-se deste modo das penas tem.po­ á nossa intervenção, ainda mais quando
raes na eternidade. Si os rigores dos a1s penas lhes fora!m causadas por pec­
Santos, si as penitencias publicas que es­ cados que cdm!mettera.m talvez por nos­
tavam em uso no tempo da Egreja pri­ sa culpa?
mitiva, não supportam comparação com E' natural e justo que demos expan­
a:s penitencias do Purgatorio, forç-oso é são á nossa dôr, quando um cios nossos
concluir que estas devem ser mui dolo­ queridos entes nos é arrebatado pela
rosas. morte; o verdadeiro amor, porém, exige
O Purgatorio é um Jogar de purifica­ de nós mais alguma cousa. Cumpre que
ção, que assustaria, porém, os maiores unamos as nossas lagrimas ao sacrifício
penitentes, os mais dedicados amigos da de Jesus Ghristo no Golgotha; cumpre
Cruz. Por que? Porque a purificação que a nossa dôr seja lt'lna clôr activa,
realizada no Purgato·rio é inteiraiinente CQ111o activa foi taimbem a dôr que J e­
differente daquella que Deus costuma sus Ohristo sentiu junto ao tumulo do
applicar nesta vida. A purificação feita a.migo Lazaro. A nossa dôr pela perda
aqu1 é meritoria, em attenção á Paixão cios nossos paes, parentes e amigos não
e Morte de Jesus Christo. A purifica­ s·e deve limitar a manifestações exterio­
ção, porém no Purgatorio é um soffri­ res. Por mais ricas que sejam as corôas
mento que não off.erece o menor mere­ depositadas nos tumulos dos nossos
cimento; são penas de que a alma, con­ mortos, por mais vistosos que se apre­
tra a vontade de Deus, se tornou mere­ sentem os monumentos qute lhes erigi­
cedora pelos peccados. David pediu a mos sobre DS restos mortaes, não preser­
Deus: "Senhor, não me arguas em teu vam o corpo da decQl1Tiposição, nem de­
furor, nem me castigues em tua ira;'' fendem a alma contra os tormentos do
isto, segundo a explicação de Santo Purgatorio. Não querendo fazer-nos
Agostinho, quer dizer: Assisti-me, ó meu culpados de ingratidão e inconsciencia,
Deus, para que não mereça vossa ira, é mister quie empreguemos os meios que
isto é, as penas do Purgatorio. a Egreja tão generosamente nos offere­
3.0 Quem são aquellas almas que pe­ ce, como sejam : a oração, a recepção
nam no Purgatorio ? Pela maioria não dos santos Sacramentos, em particular
são nossas conhecidas, mas entre todas a Ss. Eucharistia, o santo sacrificio da
nenhuma ha que nos seja extranha. To- Mi<ssa, obras de penitencia e caridade;

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376 2 de Novembro

as santas indulgencias, etc. Um Padre plicantes: "Compadecei-vos de mim,


Nosso rezado com devoção e humildade compadecei-vos de mim, ao menos vós,
pelas ahnas, vale mais que muitas co­ que sois 1neus amigos, porque a mão do
rôas de grande valor; mna santa Missa Senhor me tocou."
celebrada pelo descanço eterno de uma
alma, aproveita-lhe infinita1111ente mais REFLEXÕES
que um sumptuoso monumento, porque Entre as almas do Purgatorio ha muitas,
a santa Missa é o sacrif-icio expiatorio que nunca na vida mortal commetteram·
por excellencia. um peccado grave. Por não terem satisfei­
O espirita pagão, que com sua osten­ to á justiça divina pelos peccados veniaes
com que a offenderam, são retidas no Jo­
tação vaidosa e balofa se infiltrou cm gar da purificação, até que tenham feito
toda;s as cwm\g.das da nossa sociedade, expiação do ultimo, porque no céo nada de
procura tambem se insinuar no sanctua­ impuro póde entrar. Imprudentes são, pois,
rio, o qúe em grande parte já conseguiu. aquelles que no peccado venial não vêm
nada de mal e o commettem com a maior
Como são differentes os enterros de facilidade. Deus, que é eternamente justo,
hoje, daquelles que os primeiros chris­ não poderia infligir aos homens um castigo
tãos faziam nas catacumbas ! Naquelle tão tremendo, como é o Purgatoriõ, si a
tempo havia muita devoção e po�1ca maldade do peccado não fosse tão grande
tambem.
flôr; hoje ha, pelo contrario, uma 1m­
m1ensidade de flôres e corôas e pouca ou O homem, diz o doutor angelico, devia
preferir a morte e o soffrimento a decidir­
nenhuma devoção. Os primeiros chris­ se a pcccar, não só a commetter peccado
tãos levava:m os defunctos ao cemiterio. grave, como tambem a peccar levemente.
cantando psalmos e recitando orações ; Ha pessoas que não temem o Purgatorio
e nem tão pouco cuidam de dar a Deus a
os christãos de hoje acompanharrÍ os necessaria satisfação das suas culpas. Dou­
enterrios por simples formalidade, sem me por muito satisfeito, assim dizem, si
)hes vir a icléa de rezar uma Ave Maria Deus não me condemnar. Outros ha que
siquer pelo descanço do fallecido; os confiam nas orações e suffragios dos pa­
rentes e amigos ou nas santas Missas, pai-a
primeiros christãos confiavam os defun­ cuja celebração providenciaram no testa­
ctos com muito carinho á terra, como mento. Aquelles se convençam de que im­
uma semente preciosa ela futura Resur­ punemente ninguem offende a Deus e que
reição gloriosa;. os enterros ele hoje são o peccado leve é o caminho seguro para as
culpas graves. Os outros leiam e ponderem
quasi destituídos por rnmpleto de tudo as seguintes palavras de Thomas á Kem­
que possa lembrar as verdades eternas. pis : "Não te fies demais nos amigos e pa­
Como é bella a devoção ás almas do rentes e não proteles tua salvação para
Purgatorio ! Agradavel a Deus, provei­ mais tarde; mais depressa que pensas, os
homens se esquecerão de ti. - E' melhor
tosa ás pobres almas, é utilíssima a nós providenciar em tempo e despachar já de
mesmos. Não fechemos o nosso ouvido antemão boas obras para a eternidade, do
aos_ gemidos dos nossos irmãos, que pa­ que confiar no auxilio de outros depois da
decem no Purgatorio. Elles levantam as morte. Si não providenciares cm teu inte­
resse, quem o fará por ti ?
mãos para nós, supplicando o nosso au­
xilio. Talvez sejam nossas pa-es; um pae
am!oroso, que nos dedicava os seus cui­
dados, dia e noite; talvez a mãe, que nos Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
a,mava tão ternamente; irmãos, cuja moria é celebrada hoje:
morte tanto nos entriste· ceu; filhos, que Em Tarsos o martyrlo de Santa Eusto­
eram o encanto da nossa vicia; o esposo, chium no tempo de Juliano Apostata. sec. 4.
se,mpre tão dedicado e fiel cuinpridor Em Vienne o bispo S. Jorge. sec. 7.
dos deveres; a esposa, a fiel companhei­ Em Poitiers a morte do bispo rnartyr S.
ra, o anjo do lar. Todos soffrem, sof­ victoriano. 303.
frem. penas amargas, impossibilitados de Na Africa os santos martyres Publio, Vi­
melhorar a sorte. A nós se dirigem sup- ctor, Hermes e Paplas.

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3 de Novembro 377

3 de Novembro

SANTO UMBERTO, BISPO


(t 728)

{Jl� i MBERTO, ele nobre familia ela


Jltl! 1 Franconia, nasceu em 656. O pae
Beltrão, cluque ele Aquitania e a mãe
pa,ssos largos irás á perdição". Umberto
cahiu em si, largou da caça, abandonou
a vida frívola e perigosa da côrte e tor­
H ugberna descendiam em linha recta do nou-se catholico fervoroso.
celebre Taramundo, primeiro rei cios Neste comenos veiu a fallecer-lhe a
Francos. Umberto recebeu uma boa eclu­ esposa, ao dar á luz a Floriberto, uni­
cação, e era o desejo dos paes que se oo filho de Umberto e Floribana. Na
declicasse á carreira militar. Para este Aquitania estava á morte o pae e Um­
fim lhe <leram professol"'es idoneos e ha­ berto assistiu-lhe os ultimos momentos.
beis instructores, que lhe ensinaram as O ducado, que lhe cabia por herança,
respectivas materias. De facto Umberto cedeu-o ao irmão Eudo, a cujos cuida­
correspondeu vivamente á vontacle dos dos confiou tambem o filhinho Floriber­
progenitores, galgou posições bem ele­ to. Tendo feito estas disposições, renun­
vadas, desempenhou cargos importantes ciou ao mundo, deu o resto dos bens aos
na côrte do duque Pepino de Lotharin­ pobres, deixando para o filho só o ne­
gia, o qual, em recompensa aos seus cessario e tornou-se eremita. Sete annos
grandes meritos, casou-o com Floribana, durou a penitencia que fez, pelos erros
filha unica do conde Dagoberto de Lou­ commettidos. Tinha por vestuario uma
vaina. couraça de ferro, que usava sobre o cor­
Si bem que solida fosse a educação po, trazendo por cima um habito de côr
religiosa que recebera, a influencia quo­ cinzenta. Fructas, hervas e raizes eram
tidiana duma côrte opulenta fez com o aJiimento do santo eremita, agua a be­
que Umberto chegasse a abandonar as bida, o chão o leito.
praticas da religião e apresentar o typo Passado este tempo, procurou o bispo
cio catholico tibio. Pouco faltou pa,ra de Maastricht, S. Lamberto, o qual, co­
que se pt"'ecipitasse no abysmo do vicio. rihecendo-o havia muito tempo, acolheu-o
Mas a Divina Providencia velou sobre com muita cordialidade e, vendo o ex­
elle e fez-lhe o coração dirigir-se para traordinario progresso· que fizera na
cousas mais dignas e o espírito elevar­ virtude e santidade, conferiu-lhe as or­
se-lhe a icléas mais nobres. Esta mudan­ dens sacerdotaes e conservou-o comsigo,
ça na ;ida de Santo Umberto é attri­ como auxiliar na administração dà dio­
buida a um acontecimento extraordina­ cese. S. Lamberto morreu em 709 e
rio, que um antigo historiador relata nos Umberto foi eleito successor.
termos seguintes : "Num dia de grande Como Bispo, Umberto seguiu perfei­
festa, quando todos iam á egreja, para tamente o exemplo do antecessor-mar­
assistirem á Missa, Umberto foi á caça. tyr. Envidou todos os esforços para <le­
Inesperadaimente se lhe apresentou um bellar os vícios, implantar nos corações
veado, que na testa trazia o signal do as virtudes christãs e eradicar os restos
Crucificado. Ao mesmo tempo Umberto do paganismo. Grandes e numerosos
ouviu tlitna voz que lhe dizia: "Umber­ foram os milagres que Deus se dignou
to, si não te converteres a Deus, com o f�er por intermedio de seu servo.
proposito de viver mais santamente, a Avisado em celeste visão da proximi-

Santo Umberto - João Roberti: vida de Santo Umberto.

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378 4 de Novembro

clade da morte, para ella se preparou tam ao confessor, accusam uma longa serie
com muitas orações, jejuns e outras pe­ de peccados e vicias, para depois com a
mesma facilidade recahirem nas mesmas
nitencias. Rodeado dos seus sacerdotes, faltas ? Quem assim procede traz apenas a
entregou tranquillamente a alma nas mascara da penitencia e uma penitencia
mãos de Deus. Santo Umberto mor­ apparente.
reu odm 71 annos de eclacle, dos quaes A penitencia verdadeira exige emenda
passára 30 na administração ela diocese. verdadeira, a qual não é passivei sem a fu­
ga das occasiões, sem a perseverança no
As reliquias cio Santo foram deposi­ bem, sem a restituição do bem injusto,
tadas ·em Liége e mais tarde na abbadia sem a mortificação dos sentidos. Peniten­
de Anduin, nas Arclennas. O povo ca­ tes que desta maneira entendem a peniten­
tholico daquella região devota a Santo cia, são poucos.
Umberto muita veneração, por causa
dos muitos milagres que por sua inter­ Santos cuja mernoria é celelirada hoje:
cessã-o se realizaram e ainda se realizam.
A morte de S. Quarto, discipulo dos Apos­
tolas.
REFLEXõES
Em Saragossa um grande numero de
Desde que Santo Umberto se convenceu ch1·istã.os, que sob o governador Daciano,
da necessidade de fugir do mundo para sal­ com firm�za, soffreram o martyrio pela fé.
var a alma, embora fosse já de edade ma­ Na Inglaterra a virgem martyr Wene­
dura, sem demora alguma cortou as rela­ frida. 660.
ções que o prendiam ao seculo e procurou
a solidão, onde viveu sete annos, entregue Em Roma, Santa Sy!vla, mã.e de Gregorio
aos exercicios da mais austera penitencia. Magno.
Penitentes como Santo Umberto, ha pou­ Em Tonkin o martyrio do bemaventurado
cos. Ou merecem o titulo de penitentes Francisco Pedro Neron, do Semlnario de
aquelles que uma ou outra vez se apresen- Paris. 1860.

4 de Novembro

S. CARLOS BORROMEU
( t 1S84)

1\:;lffiuIdevidamente S. Carlos Borro­ irmã de Gian Ang-elo, mais tarde Papa


a:.1JJ meu é contado entre os maiores Pio IV. Giberto Borromeu teve tres fi­
Santos, que glorificaram a Egreja ca­ lh-os : Frederico, Carlos e Camilla; esta
tholica no seculo XVI, defendendo-a vi­ se casou com Cesare Gonzaga de Guas­
ctoriosa:mente dos inrmigos que contra talla, distinguindo-se por grande virtu­
ella se levantaram. de. Frederico contrahiu matrimonio com
No calendario dos Santos figura Car­ Virgínia della Rovere, filha do dm-111e
los oom o nome dos ascendentes mater­ Urbino e morreu com 27 annos. Cario.;,
nos. Os Borroméus, chamados antes o segundo filho de Giberto, nasceu a ·s
Franchi, residiam antigamente na cidade 2 de Outubro de 1538. Menino ainda,
de San Miriato. Depois se ramificaram revelou optimo talento e uma intelligen­
e encontramos seus diversos represen­ cia rara. Ao lado destas qualidades, ma­
tantes em Florença, Padua e Milão. Gi­ nifestou forte inclinação para a vida r•�­
berto, Senhor de Avona, no lago Mag­ ligiosa, pela piedade e- o teinor de DeL!i>.
giore, casou-se com Margherita, filha Era seu prazer construir altares minus­
de Bernardino Medichino, de Milão, culos, deante dos quaes, em _presença dos

B. Carlos Borromeo - Buttler X. Vogel: Leben der Helllgen.

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4 de Novembro 379

irmãos e companheiros de edade, imita­ pae uma determinada quantia, exigia-lhe


va as funcções sacerdotaes que tinh, letra promissoria.
observado na egreja. Era mero brinquedo Tendo dezeseis annos, matriculou-se
infantil. O a.1nor á oração e o aborreci­ na Universidade de Pavia, para ouvir
mento aos divertimentos profanos eram as prelecções do celebre canonista Fran­
signaes mais positivos de vocação sacer­ cisco Alciati. Cinco annos passou em
dotal. Os pae':l Pavia, separa­
por seu turno, do do mundo,
julgando ga­ entregue aos
rantido o fu­ estudos e ás
turo da fami­ prati c a s de
lia pelo primo­ piedade. Este
genito Frede­ tempo coinci­
r i c o, anima­ de com a fun­
ram a Carlos dação de um
naquelle mod,, patronato para
de pensar L'. /estu d a n t e s,
levaram-no a cuja organiza­
seguir a car­ ção lhe foi
reira sacerdo - (possibili t a d a
tal. Com doz� · pela cessão que
annos recebet: o tio materno,
a tonsura e o o cardeal de
habi t o tala�. Me d i c i, lhe
Pela renuncia fez de um be­
do tio Julio neficio eccle­
Cesar entrou siastico.
no usofructo Quan d o a
da abbadia de n o t i c i a da
São Graciano morte do pae
Com este acon­ o chamou pa­
tecimento for­ ra casa, reve­
mou-se o laço, lava em todo
que prendeu o modo de
o joven á par­ agir o espiri­
ticipaç ã o da ta e a tenden­
v i d a publica cia de um ho­
da Egreja. A mem predesti­
administraç ã o nado para
dos emolu111et1- S. Carlos Borromeo grandes cou­
tos que lhe Quando, em 1569, a cidade de Milão foi visitada pela sas. Inacces­
provinham do peste, em, pessoa procurou os pobres doentes, con­ ,sivel ás artes
solou-os e deu-lhes os santos sacramentos.
beneficio, Car­ da seducção,
los considerava cousa sagrada. "Beim com que um velho empregado da
,ecclesiastico é propriedade de Ohristo e casa paterna o procurava prender, jul­
por elle dos pobres; a estes aproveita o gou ter a obrigação de reconduzir os
usofructo." Foi esta a regra que a fé monges da abbadia ao fiel cumprimen­
lhe dictou e que as tradições de familia to dos deveres de religiosos e por meios
lhe confirmaram. Não consentia que habeis de bondade e energia conseguiu
bens da abbadia fossem applicados a ne­ este fim. Até lá o moço de 22 annos
cessidades de familia. Emprestando ao não tinha idéa do grande futuro que o

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380 4 de Novembro

esperava e do papel importantissimo que pridor dos seus deveres. Além disto erà
havia de desenvolver na Egreja catho­ pessoa ele modos delicados, de fino trato
lica. social, que com vantagem sabia impôr­
se na roda da alta sociedade romana. O
Gian Angelo, tio materno de Carlos,
joven cardeal fundou uma associação de
tinha sido eleito Papa e sob o nome de
sabios religiosos e profanos, que realiza­
Pio IV tomado o governo da Egreja.
vam sessões no Vaticano. Nestas reu­
Dos parentes que tinham ido a Roma
niões cada socio tinha occasião de pro­
apresentar felicitações ao recem-eleito,
ferir idéas em fórma de conferencias,
fôra Carlos o unico que fizera excepção
discursos ou discussões. Versando a
e como é de suppôr, mui propositalmen­
te. Pio IV mandou chamar o sobrinho principio sobre assumptos ele toda esp�­
cie, mais tarde as conferencias tinham
á nretropole da christandade e deu-lhe
por objecto exclusivamente themas theo­
as posições .mais elevadas na hierarchia
logicos. O patronato que tinha fundado
ecclesiastica.
am Pavia, foi transformado em Collegio
Successivamente foi nomeado no an­ para estudantes pobres.
no de 1560 protonotario apostolico, re­
ferendario e Cardeal diacono da egreja O anno de 1562 trouxe a Carlos a
graça do sacerdocio. Morrera-lhe o ir­
de S. Vito. Oito dias depois desta no­
mão Frederico, sem deixar filho varão.
meação, recebeu o arcebispado de Milão.
Os parentes insistiram então, com todo
com residencia obrigatoria em Roma.
o empenho, para que Carlos abandonasse
Além destas dignidades, recebeu outras
a carreira e tomasse estado. O proprio
gera�mente consideradas annexas á car­
Papa fez-se interprete do desejo da fa­
dinalicia, cctmo sejam: Legado apostoli­
milia. Por tudo que acima foi dito, não
co de Bologna, Romagna e Ancona,
não podemos admirar de vêr que a si­
Protector de Portugal, dos Paizes bai­
tuação em que se achava a familia dos
xos, da Suissa catholica, dos Francisca­
Borromeus, nenhuma lucta pudesse des­
nos e Carmelitas e presidente da consul­
encadear qo coração de Garlos. Para pôr
ta, isto é, do conselho deliberativo do
termo de vez a todas as reclamações dos
Estado em negocios exteriores. Na ac­
parentes, fez-se ordenar clandestinamen­
cumulação de cargos em uma pessoa,
te e depois do facto conswnmado, os
oomo a vemos praticada na vida de São
surprehendeu com a noticia do seu· sa­
Carlos, temos wn exemplo classico dos
cerdocio.
abusos do Nepotismo, que tanto mal tem
feito á Egreja, que no facto allegado Ao Papa, que não se conteve e exter­
causou descontentamento geral. Nin­ nou a Carlos o grande descontentamento
gue111, porém, estava mais descontente que lhe causava o passo que déra, res­
que o proprio privilegiado, não por ter pondeu este : "Santo Padre, não vos
se tornado objecto das queixas mais queixeis do meu proceder. Uni-me á es­
que justas, mas principalmente por ter posa que muito amava e des·ejava com
sido o primeiro que desejava uma refor­ todo o ardor."
ma radical na parte administrativa da
Egreja. A's queixas e reclamações se­ A partir deste momento se nota na
guiu-se wn grande contentamento, por­ vida de S. Carlos uma pendencia decla­
que Carlos revelou logo um tino admi­ rada para a vida ascetica. O J esuita Pe.
nistrativo extraordinario, unido a uma Ribeira foi seu confessor e director de
justiça incomparavel. Inaccessivel á adu0 consciencia, que o introduziu cada vez
lação, de UJma vigilancia prudente e ri­ mais "na vida espiritual, em Deus es­
gorosa e ao mesmo tempo condescenden­ condida".
te, deu Carlos, apezar de muito joven, No silencio da meditação organizo,1
o exemplo de um homem perfeito, cum- Carlos planos grandiosos, para reorga•

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4 de Novembro 381

nisação da Egreja catholica. Todos se tinham sido collocados nas salas do pa�
concentram na idéa de concluir o Con­ lacio, mandou retirai-os e no logar destes
cilio de Trento. De facto era o que a pôr a imagem do glorioso antecessor e
Egreja, profundamente abalada, mais modelo Santo Ambrosio. Um mez de­
necessitava, como base e fundamento da pois da chegada, convocou o primeiro
renovação e consolidação da vida reli­ Concilio provincial, cujo assumpto prin­
giosa. Por toda a parte surgiram abusos, cipal era a refor1ma da vida clerical, de
,syimptomas indubitaveis de uma deca­ accordo com as detem1inações do Con­
dencia deploravel e de uma perturbação cilio Tridentino. O Concilio soffreu uma
bastante séria do regimen ecclesiastico. interrupção, pela morte do Papa. Carlos,
O duque Alberto de Baviera tinha ar­ chamado a Rama, assistiu ao tio na ho­
bitrariamente introduzido a communhão ra da morte (1565). No conclave que se
dos fieis sob ambas as especies. O rei reuniu por occasião da eleição do novo
allemão Fernando . tinha publicado um Papa, Carlos tomou parte. O primeiro
catecismo de orientação contraria ao pedido que dirigiu ao Papa Pio V, foi
Concilio. Nas cabeças dos politicos fran­ de poder voltar para a diocese, pedido
cezes doidejava a idéa de um concilio que o Su:nllmo Pontifice, si bem que com
nacional. Na. Polonia se realizou de fa­ pezar, lhe concedeu.
cto um Concilio nacional de todas as De volta para Milão, desenvolveu Car­
confissões. Na Inglaterra reinava Izabel, los uma actividaclc grandiosa, pri1neiro
a qual, para legitimar sua successão, ha­ para reformar o clero. Para este fim or­
via ele celebrar a independencia da Egre­ ganisou uma serie de Concilios provin­
ja ingleza da ele Roma. Só a Hespanha ciaes e diocesanos, escreveu uma excel­
desejava a conclusão do Concilio Triden­ lente instrucção para os confessores, e
tino. publicou as constituições e regras da so­
Carlos sem cessar chamava a atten­ ciedade de escolas da doutrina christã.
ção do velho tio para esta necessidade, Em segundo Jogar trabalhou para a
reclamada por todos os amigos da creação ele seminarios menores e maio­
Egreja. r,es e construiu em Milão o Collegio hel­
veciano. Resistencia tenacissima e ines­
De facto o Concilio se realizou e nfo perada encontrou o arcebispo, quando
exaggeramos apontando a Carlos como extendeu a reforma ás ordens religiosas.
a força motriz elaquella grandiosa actua­ Os conegos de Santa Maria della Scala,
ção da vida catholica. apoiando-se em privilegios antigos, • ga­
Carlos quiz ser o primeiro a executar rantidos pelo rei da Hespanha, que ao
as ordens da nova lei, ainda que por esta mesmo tempo era duque ele Milão, ne­
obediencia tivesse de deixar posição, pa­ garnm ao arcebispo o direito da visita
ra occupar uma inferior. Já fazia dez canonica e levarnm o atrevimento ao
annos que a diocese não tinha visto se­ ponto de pronunciar a sentença de ex­
não cO!Ilmissarios do Antistite. A auto­ communhão contra o Prelado. A mesma
ridade do Vigario Geral não chegava humilhação veiu-lhe dos Franciscanos e
para pôr em execução as determinações dos Humiliatas.
do Concilio Tridentino, que com traço A Ordem destes foi dissolvida e
energico cortava abusos enraigados na com este acto declarou-se por ter­
vida do clero secular e regular, os quaes minada a resistencia elas Ordens. Em
allegavaan em seu favor o costume de outras congregações religiosas o arce­
muitos annos. bispo achou os mais dedicados auxilia­
Carlos visitou a diocese e sua entrada res, como por ex,emplo nos Jesuitas, nôs
em Milão foi semelhante a uma apotheo­ Irmãos e Irmãs de escola, nos Theati­
se. Os retratos dos seus av�ngos, que nos e Capuchinhos. Uma. organização

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382 4 de Novembro

admiravel que o arcebispo creou entre o e o povo, abandonado pelos poderes pu­
clero secular, foi a Congregação dos blicos, não tinha outro recurso sen::i;J o
Oblatas, composta de sacerdotes secula­ Bispo, este, para não falar na ererção
res, que por unico voto tinham de estar ele hospitaes e lazaretos que mantinha,
sempre á disposição do Prelado, onde e visto que ninguem se compadecia do po­
quando precisasse de auxilio. vo, ainda procurava em pessoa os pc··
bres doentes de quem ninguem se lem­
As visitas pastoraes dão-nos uma
brava, consolava-os e dava-lhes os san­
ideia bem clara do espírito apostolico de tos Sacramentos. Tendo-se exgottado
Carlos Borromeu. Não lhe era indiffe­
todas as fontes de recurso, Carlos lan­
rente o modo como o clero cumpria o çou mão de tudo que possuía, para ame­
dever e como o povo mostrava interesse
nisar a triste sorte cios doentes. Mais de
em acceitar a doutrina christã e as de­
cem sacerdotes tinham pago com a vida
terminações da autoridade · ecclesiastica.
a dedicação no serviço aos doentes. Deus
Não havia freguezia, por mais pobre, conservava a vida do arcebispo e este se
por mais inaccessivel que fosse, que não aproveitou ela occasião para dizer dura;;
lhe tivesse recebido a distincção da vi­ verdades a06 ímpios e ricos esquecido:,
sita. No meio das fadigas da viagem de Deus.
(muitas vezes eUe mesmo carregava a
bagagem) conservava sempre o bom hu­ A peste deu impulso á fundação durn
mor. Com os pobres partilhava o pão grande asylo para pobres. Além desta
dos pobres. Dias havia em que não to­ instituição, outros estabelecimentos de
mava senão pão e agua. De importancia utilidade publica elevem a S. Carlos a
historica tornara:m-s·e-lhe as visitas á fundação, como por ex. o Instituto dos
Suissa, onde creou instituições catholi­ Nobres em Milão, a Pia União pela sal­
cas de grande valor. Não só os catholi­ vação ele pessoas cio sexo feminino ca­
cos, mas tambem os proprios protestan­ bidas, diversas associações de beneficen­
tes, recebiam jubilosamente o "santo cia. S. Carlos escreveu ainda duas pas­
Bispo". Por intercessão de Carlos a toraes, uma intitulada: "Reminiscencias
Suissa catholica recebeu um Nuncio para o povo ela cidade e do arcebispado
apostolico. Foi Carlos que introduziu na de Milão e instrucções para todas as
Suissa a Companhia de Jesus e defen­ classes, para praticarem as virtudes da
deu os catholicos suissos contra as inno­ vicia christã" e a outra: "Reminiscen­
vações do Protestantismo. cias cios dias dolorosos da peste."
Carlos sabia muito bem que a cari­ Quem diria que um Bispo tão zeloso
dade abre os corações tambem á religião. e tão santo pudesse ser alvo de accusa­
Por isto foi que grande parte da re­ ções, como si tivesse tentlencias antipo­
ceita pertencia aos pobres, reservan­ líticas e antipatrioticas ? Os primeiros
do para si só o indispensavel. Heranças que lhe atiraram pedras, foram aquelles
ou rendimentos que lhe vinham dos bens elementos que mais se sentiram incom­
de falmilia, distribuía-os entre os desva­ modados pela obra da reforma do Prela­
lidos. Tudo isto não aguenta compara­ do. Dos leigos eram principalmente re­
ção com as obras ele caridade que o ar- presentantes da alta aristocracia, cuja
. cebispo praticou, quando em 1569 - vida estava em contraclicção com as leis
1570 a fome e uma epidemia semelhante ela Egreja sobre o matrimonio. Dos cle­
á peste invadiram a cidade de Milão. rigos eram em primeiro lagar frades re­
Não tendo mais do seu para dar, pe­ beldes que, intimados a sujeitar-se á re­
dia em pessoa esmolas para os pobres forma, se estribavam em direitos inattin­
e abria assim as fontes ele auxilio. que giveis e privilegias centenarios. Milão
teriam ficado fechadas. Quando, porém, pertencia á Hespanha, sendo governadc
em 1576 a cidade foi visitada pela peste pelo duque de Milão, que era o rei da

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4 de Novembro 383

Hespanha. O primeiro governador, du­ sos renovaram-se e consumiram as for­


que Mbuquerque, por ser admirador ças do arcebispo. Provido dos Santos
pessoal do veneravel Bispo, conservou Sacramentos, expirou aos 3 de Novem­
sempre as boas relações com a curia. O bro de 1548. Suas ultimas palavras
successor, porém, Aloisio Requesens, at­ foraJm: "Eis, Senhor, eu venho, vou
tendendo ás reclamações dos que se jul­ já". S. Carlos Borrameu tinha al­
gavalm offendidos em seus direitos, des­ cançado a edadc de 46 annos apenas e
respeitou a jurisdicção episcopal e res­ a sua morte foi muito pranteada. Para
pondeu á sentença da excommunhão evitar uma inscripção p0111posa na cam­
com a occupação militar do castello de pa, tinha determinado no testamento que
Arona (propriedade dos Borromeus) e no tumulo lhe lessem as seguintes pala­
do palacio archiepiscopal. No anno de vras: "Carlos, Cardeal, com o titulo de
1579 uma deputação apresentou em Ro­ Sta. Praxedes, arcebispo de Milão, c1ue
ma as seguintes queixas contra o arce­ se recommenda á oração fervorosa do
bispo: Carlos Borromeu teria prohi­ clero, do povo e do sexo feminino pie­
bido as danças e divertimentos publicos doso, em vida escolheu este monumento
nos domingos; teria prohibido a prolon­ para si." Paulo V canonisou-o em 1610
gação costumeira das folganças carnava­ e fixou-lhe a f.esta para o dia 4 de No­
lescas até depois do primeiro domingo vembro.
da quaresma; teria interdito a passagem
publica pelas egrejas, quando esta se:n­ REFLEXÕES
pre foi feita para encurtar o caminho;
teria na época da peste usurpado direi­ S. Carlos empregou todos os emolumen­
tos que não lhe competiam e procurado tos do munus episcopal pela gloria de Deus
engodar o povo; o rigor contra o clero e para beneficio dos pobres. Este traço
teria sido excessivo. Gregorio XIII re­ caracteristico de sua vida mereceu-lhe ain­
geitou estas accusações como infundadas da mais a admiração e gratidão dos homens
e recebeu a Carlos Borromeu em Roma do que si tivesse despendido os bens com
com altas clistincções. Em resposta a es­ parentes e amigos, em construcções luxuo­
te gesto do Papa, o governador de sas, em festas e vaidades, como fizeram
Milão organizou no primeiro domingo representantes do mesmo estado antes e
depois, de cuja memoria a historia guardou
da quaresma de 1579 um indigno pres­
apenas os nomes. Que merecimento teria
tito carnavalesco pelas ruas de Milão,
tido S. Carlos, si tivesse imHado o exemplo
precisa1mente á hora da Missa do arce­
de outros, que máo uso fizeram das rique­
bispo. O mesmo governador, que tanta
zas ? Para quantos a fortuna material tem
guerra movera ao Prelado e favorecera
sido a causadora da desgraça eterna ? Diz
tantas hostilidades contra S. Carlos, só
S. Leão: "Não só os bens espirituaes, co­
no leito de morte reconheceu o erro e
mo tambem os materiaes, vêm de Deus, de
teve o consolo da assistencia elo santo
cuja administração pedirá rigorosas contas.
Bispo na hora da agonia. O successor,
Carlos de Aragão, duque de Terra No­ Os bens, tanto estes como aquelles, não
va, viveu sempre em paz com a autori­ são propriedade nossa, mas Deus nol-os
dade ecclesiastica. O arcebispo gozou confia para que, distribuindo-os prudente­
deste periodo só dois annos. Quando em mente, não nos sirvam de occasião para
. Outubro de 1584, como era costume, se peccar e de condemnação eterna.
retirára para fazer os exercícios espiri­
tuacs teve diversos accessos de febre.
Carlos não ligou a devida importancia Santos do Martyrologio Romano, cuja 1ne­
e costumava dizer: "Um bom cura de moria é celebrada hoje:
almas eleve saber supportar tres febres, Em Vexin, na Normandia, o sacerdote
antes de se metter na cama." Os acces- martyr S. Claro. Morreu victima do odlo de

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384 5 de Novembro

uma mulher, cujas propostas indignas re­ A memoria dos Santos Phllllogo e Patro­
pudlâra. 804 E' invocado contra molestlas bas, dlsclpulos de S. Paulo.
Em Cerfroid S. Felix de Valois, um dos
dos olhos.
fundadores da Ordem dos Trinitarlos.

5 de Novembro

SANTA BERTHILLA
(t 692)

G- ANTA Berthilla, natural ela Fran­ apezar da pouca edade, as religiosas con­
� coriia, viveu no secttlo VII. Obe­ fiaram-lhe diversos cargos de responsa­
clecenclo ao impulso cio coração, desde a bilidade, dos quaes se desempenhou a
infancia procurava afastar-se dos pra­ contento de todos.
zeres do mundo, para poder melhor ser­ Bathildes, esposa cio rei Clovis II, le­
vir a Deus, com praticas ele piedade e de vára a effeito a pretensão ele fundar um
caridade. Quanto mais se dedicava aos convento em Chelles, perto de Paris e
exercícios da vida interior, mais accen­ pediu á abbadessa ele Jouarre que lhe
tuado se lhe fonnava o desejo de aban- mandasse uma superiora e religiosas pa­
. clonar o seculo e retirar-se para a soli­ ra a nova fondação. Foi eleita Berthilla.
dão do convento. que seguiu com algumas freiras, para
Para não ser preza de funesto enga­ tomar a direcção do mosteiro. Este era
no, na escolha do estado de vida, e, re­ visinho do paço real, resicle11cia ele quasi
ceiando falar aos paes sobre o intimo de todos os reis da França, desde Clovis
sua alma, dirigiu-se a um santo sacer­ até Carlos Magno. A santidade ela ab­
dote, pedindo conselho e oração. Con­ badessa fez com que o mosteiro se tor­
vencida de que no mundo não estava nasse celebre e de todos os recantos do
sua felicidade e a vontade de Deus era paiz e do extrangeiro viessem pedidos
fazei-a religiosa, solicitou dos paes o de admissão na Ordem. Princezas e rai­
consentimento para entrar numa Ordem nhas, entre estas a rainha Bathildes, tro­
religiosa. Obtida a almejada licença, caram o ornato ela nobreza pelo véo de
Berthilla pediu admissão no Mosteiro freira, e humildemente se sujeitaram . i
Jouarre, onde teve o mais cordial aco­ sábia direcção da santa abbadessa. Ber­
lhimento e onde se confiou á direcção thilla estava muito exercida na humil­
de Santa Theodechildes. dade, para tropeçar em tentações que lhe
Graças deu a Deus de tel-a tirado cio pudessem sobrevir de tamanha honra.
mundo e seus perigos. Resolutamente O mosteiro de Jouarre era um doce
se pôz no caminho espinhoso da mortifi­ remanso de paz, um pedacinho do Pa­
cação e humildade, considerando-se ser­ raíso na terra, um convento em que ha­
va ultililla das companheiras. A pruclen­ via só uma rivalidade: a de humildade,
cia e virtude ele Berthilla impuzeram-se de mansidão, mortificação e caridade.
· á estima e á consideração de todas e, Berthilla, a superiora, provou pelo

Santa Berthilla - Heiligenlegende de Lourenço Beer.


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6 de Novembro 385

exelmplo, que só sabe bem dirigir e man­ mos mais claro, ouvimos melhor, resolve­
dar, quem apprendeu obedecer. Durante mos mais seguram.ente. O que elle nos diz,
deve ser a nossa directiva, sem haver re­
quarenta e seis annos presidiu a Com­ ceio de darmos um passo errado. E' justo e
municlade, até que, em 692, Deus a cha­ prudente que se ouça a opinião do confes­
mou para s1. sor e dos paes. Como representantes de
Deus, que para nós são, têm competencia
REFLEXÕES para julgar e é provavel que Deus delles
se queira servir para manifestar-nos sua
Para conhecer a vocação, Santa Berthil­
vontade. No emtanto não póde ser licito
la recorria á oração e procurava o conse­
aos paes combater os planos de Deus, quan­
lho de pessoas prudentes e piedosas. São
do estes não permittem a menor duvida.
estes os meios que todos devem empregar
para conhecer os planos de Deus na sua
vocação. Inclinação, caracter, habilidade, Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
saude, são outros tantos factores que de­
vem ser tomados em consideração, numa Hoje é tambem a festa de S. Zacharias,
sacerdote e pae de S. João Baptista. O Ar­
questão de tanta importancia, como é a da chanjo S. Gabriel annunciou-lhe o nasci­
escolha de estado. Ao exame sério de si mento do precursor do Senhor. Segundo
proprio deve alliar-se a oração, para obter uma lenda, S. Zacharias foi morto por or­
as luzes de cima. Antes de todas as creatu­ dem do rei Herodes.
ras, deve ser ouvido Nosso Senhor Jesus Santa Izabel, mãe de S. João Baptlsta,
da familia sacerdotal de Aarão, esposa de
Christo. Na santa Communhão é que lhe S. Zacharias.
devem ser apresentadas as nossas duvidas, Em Emésa, na Syria, os martyres Gala-
as nossas esperanças, os nossos receios, os cião e sua mulher Epistemis, mortos na per-
nossos planos. Na presença de Jesus ve- se§,uição de Decio. 253.
❖.,.-'.-M•�.-!+H-+++++++++++❖++ol-❖❖❖+<fo•�❖❖❖-H+++❖+H❖❖❖.,..+.,.+H-❖❖❖❖•:+h'-H-

6 de Novembro

SÃO LEONARDO
(t 559)

lrr,;.
EONARDO, natural da Franconia, Nas proximidades daquella cidade se
� gosava de grande prestigio na côr­ achava um antigo convento, fundado
te de Clovis I. Recebeu o baptismo das por Santo Euspicio. Superior era S. Ma­
1nãos de S. Remigio. Tendo-se bem ximino, sobrinho do fundador, homem
compenetrado do espirita do Christianis­ estimadissimo pelas virtudes. Leonardo
mo, conhecido as obrigações e recompen­ confiou-se-lhe á direcção e emittiu os
sas, resolveu abandonar por completo a santos votos.
vida que até então levava na côrte e as­
sociar-se a S. Remigio. Por alguns an­ Maximino morreu e o irmão, S. Si­
nos foi fiel auxiliar do mesmo nos tra­ fardo, fundou o convento de Maun so­
balhos apostolicos. O medo, porém, de bre o Loire. Leonardo, desejoso de re­
ser chamado de novo ao palacio real fez vêr a Deus na solidão, dirigiu-se para
com que se retirasse á solidão, perto ele Berry, onde converteu ao christianismo
Orleans. diversos idolatras.

S. Leonardo - Buttler XI.


Na Luz Perpetua 25 - II vol,

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386 7 de ::.J·ove:111bro

Não conseguiu a viela que procurava: Baquerille, ela província ele Cans. Este,
longe dos homens e esquecido por todos. com mais dois nobres francezes, cahira
A casa tosca e simples, que tinha cons­ nas mãos cios Turcos. O carcereiro, que
truido na matta inhospita, em bem pou­ syrnpathisava com as doutrinas da re­
co tempo tornou a ser muito visitada ligião christã, con�municou-lhe como cer­
por pessoas, que do Santo desejavam ta a sentença de morte. Martello, vendo­
conselhos, orações e consolo nas tribula­ se nesta situação afflictiva, com confian­
ções. Leonardo recebia a todos com ça invocou a S. Leonardo e passou parte
muita caridade e benevolencia e não ela noite em fervorosa oração. Fez o vo­
era:m poucos os que pediram lhes désse to de erigir urna capella em honra de
nma regra ele vicia e os acceitasse como S. Leonardo, si lhe alcançasse a libercla­
discípulos na vida espiritual. São estas ele. Depois dormiu. Ao despertar se
as origens do convento ele S. Leonardo achou á beira ela floresta de Baquerille,
de Noblac, que mais tarde chegou a ter fóra ele perigo.
grande celebridade.
Leonardo distinguia-se sempre por
REFLEXÕES
tuna grande caridade para com os pre­ A oração de S. Leonardo era efficaz. A
nossa oração fica muitas vezes sem cffeito,
sos ou encarcerados. Continuamente tra­ porque não possue as qualidades que uma
balhava para melhorar-lhes a sorte e mi­ boa oração deve ter. "Tres cousas - diz
norar-lhes as penas e assim os levar á S. Bernardo - tornam a oração agradavel
a Deus: a attenção, a devoção e o respei­
verdadeira e sincera conversão. Como to." Examina se tua oração apresenta es­
eremita, . continuou estes trabalhos tas tres condições. Evita as distracções vo­
apostolicos com tão bom resultado, que luntarias, refreia os olhos e a língua. Reza
muitos criminosos voltaram ;;o bom ..:a­ com devoção, pondo-te na presença de
Deus. Tua attitude, quando fazes oração,
minho e se tornaram homens uteis e seja respeitosa e humilde. Com estas tres
modelares. Em certa occasião lhe !'te·t condições realizadas em tua oração, não
o rei a faculdade de libertar todos os póde deixar de tornar-se agradavel a Deus.
presos da cadeia, onde t_inha alcançado Santos c-uja rnernoria é celebrada hoje:
maravilhas de conversão. Em signal d.:: Em Thimissa, na Tunísia, o martyr S. Fe­
gratidão estes lhe offereceram as alge­ Iix. Condemnado á morte, tinha sido proro­
mas, com as quaes estava:m presos. gada a execução. Quando o quizeram tirar
S. Leonardo morreu em 559. E' con­ da prisão, acharam-no morto. sec. 4.
sieleraclo poderoso padroeiro dos pre­ Em Barcelona o bispo-martyr Severo. Foi
morto no tempo de Diocleciano. Um prego que
sos e das parturientes. Um dos n'laiores lhe metteram no craneo, causou sua mort�.
milagres attribuidos a sua intercessão foi Em Portugal: Beato Nuno Alvares Perei­
a libertação ele Martello, rico senhor ele ra, confessor.

7 de Novembro

Santo Engelberto, Arcebispo


(t 1225)

ft S PAES de Santo Engelberto eram sa e civica do filho. Este por sua vez re­
� descendentes dos duques ele Berg velou logo um espirita independente,
e Geldern. Ohristãos fervorosos que avido ele glorias, honras e riquezas des­
eram, esmeraram-se na educação religio- te mundo. Por uma protecção especial

Santo Engelberto - Cesario de Heisterbach. Gelenius 1633. Vindex libertatis Ecclesias­


ticae et Martyr Engelbertus. Raess e Weiss XVI.

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7 de Novembro 387

divina, ficou alheio aos v1c10s costumei­ tado com injustiça pelos seus subalter­
ros da mocidade. Accessivel aos influ­ nos, fosse quem fosse. Nas decisões ju­
xos da divina graça, bem cedo compre­ rídicas decidia sempre o direito, não a
hendeu a vaidade dos bens deste mundo. posição das pessoas ou o interesse.
De direito cabiam-lhe diversos benefi­ Os pobres tinham no arcebispo um
cios ecclesias­ verdadeiro pae.
ticos, entre ou­ Amigo do cle­
tros a mitra ro, clava a sa­
do Bispado d<' cerclot e s po­
Mün s t e r, iÍ. bres sustento
qual renunciou e roupa. Gran­
�spon t a n e a­ de admirador
mente. da vicia mo­
Quando, pe­ nastica, n ã o
la morte do admittia q u e
Iun p e r a d o r rdigiosos e sa­
Henrique V!, cerdot e s po­
a Allemanha bres soffres­
foi theatro de sem mn desa­
sérias pertur­ cato. Uma vez
bações, Engel­ p o r semana
berto, para an­ JeJ u a v a em
nuir a um ch:­ honra da SS.
sejo particular Virgem e quo­
do Papa, ac­ tidianaJme n t e
ceitou o arce­ se dirigia á
bispado de Co­
Mãe celestial,
lonia e foi sa­ ipedind o - 1 h e
grado Bi spo
em 1215. Des­ fosse seu am­
de a q u e 11 e paro na vida e
tempo, não ha­ na morte.
via para En­ Quanto era
gelberto outros estim a d o na
interesse s, a Alle m, a n h a,
não ser a glo­ prova-o o fa­
ria de Deus, a cto cio Impe­
salvação d a s rador Frederi­
almas, discipli­ Santo Engelberto co II, por oc­
na e ordem nas Em determinado ponto, achando-se afastado dos casião de, uma
seus companheiros, foi assaltado e morto por qua­
egre3as e con­ renta e sete punhaladas. viagem á Ita­
ventos. Os di­ lia, t e r - 1 h e
reitos da mitra acharam em Engelberto confiado, não só a auctoridade sobre
um defensor imperterrito até contra os o filho, como a administração do hn­
aimigos e parentes. A todos estava fran­ perio, cargo que desempenhou com
queado o accesso ao palacio do Arcebis­ inteira satisfacção elo Imperador e da na­
po e os pedidos de todos, ouvia com ção toda. Uma morte violenta pôz ter­
paciencia, attenclenclo-os sempre que lhe mo a urna vida tão util e abençoada,
era passivei. A rectidão cio seu caracter quando Engelbcrto entrava no decimo
não admittia que um subdito fosse tra- anno de episcopado.
26 •

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388 7 de Novem,bro

Em Essen existia um convento de afastado dos companheiros, foi assalta­


freiras, que sof fria as maiores oppres­ do, horrivelmente maltratado e morto
sões e injustiças da parte de Frederico, por quarenta e sete punhaladas. As ulti­
duque de Ysenburgo. A.pesar dos pro­ mas palavras do Santo foram: "Pae,
testos das freiras, das admoestações do perdoae-lhes; porque não sabem o que
Papa Honorio e a:nteaça-s do Imperador, faze,m." Assim morreu o arcebispo San­
o duque continuou a injusta campanha. to Engelberto, martyr pela justiça; pois
Em vista disto o Papa e o Imperador por questões de direito foi perseguido
incumbiram a Engelberto ele proteger as e morto. O tumulo de Engelberto, na
religiosas, contra o oppressor. Engelber­ egreja dos Apostolos, foi por Deus glo­
to, por escripto e oralmente, insistiu com rificado por nmnerosos e vi'siveis mila­
o duque, para que modificasse o proce­ gres.
dimento para com as freiras. Em vão.
Frederico, com receio ele Engelberto re­ REFLEXõES
correr á força armada, resolveu livrar­
Imitando o exemplo de Jesus Christo,
se deste admoestador incommodo. O ar­
Engelberto perdoava aos assassinos, rezan­
cebispo recebeu um convite para consa­ do por elles. Qual é tua attitude perante
grar uma egreja fóra da cidade. Já es­ aquelles que te offendcram ? Já te lembras­
tava o dia da partida marcado. O impio te d'elles alguma vez nas tuas orações?
duque aproveitou-se desta occasião para Si julgares dura esta exigencia, ouve o que
executar o plano tenebroso. Na vespcra diz Santo Agostinho: "Confesso que é du­
ela partida recebeu Engelberto uma car­ ro, dever rezar pelos inimigos. Si isto é dif­
ta anonvma informando-o dos intentos ficil, grande deve ser a recompensa na ou­
do inimigo. O arcebispo, após a leitura tra vida". O perdão dos inimigos é um
mandamento de Jesus Christo. Nosso Se­
da carta sinistra, atirou-a ao fogo. Pa­ nhor ameaça com o inferno áquelles que
recia-lhe in11possivd que homem christão não querem perdoar. Elle mesmo, não só
fosse capaz de praticar tal crime. Achou, não se vingou dos inimigos, mas por es­
porém, prudente tomar providencias e tes rezou, pedindo ao Pae que lhes per­
preparar-se para qualquer eventualidade. doasse. "Sentir tristeza, é humano, diz São
Neste sentido fez uma confissão geral, Jeronymo : mas ao christão convem rc­
preparando-se para a morte. Feita a con­ freiar a ira e perdoar de coração aos inimi­
fissão, disse resoluto: "Faça-se o que gos".
Deus quer." A' s pessoas que quizeram
dissuadil-o ela viagem, respondeu: "A' Santos cuja -memoria é celebrada hoje:
Divina Providencia recommendo meu Em Albi, na França, o martyrio de Santo
corpo e minha alma ! " Amarantho, na perseguição de· Decio. soo. 3.
Engelberto, acompanhado ela comiti­ Em Padua, a morte de S. Prosdocimo,
va, pôz-se a caminho. O duque tinha-lhe primeiro bispo desta cidade.
mandado dois soldados ao encontro. Em Perusa a memoria de Santo Hercula­
Deus permittiu que os planos do inimi­ no, bispo e martyr.
go se realizassem. Em determinado pon­ Em Utrecht a morte de S. Willibrordo,
to, achando-se o arcebispo um tanto bispo.

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8 de Novembro

8 de Novembro

S. GODOFREDO, BISPO
(t 1118)

TRISTES andavam por muitos an­ tomar a direcção de um convento, cuja


'JU[\:' nos os paes de S. Godofreclo, por disciplina soffrera um grande afrouxa­
não possuir um herdeiro de sua nobreza mento. Godofreclo justificou brilhan,e­
e de seus enormes bens. Deus, afinal, mente a confiança, que em sua cnmpe­
lhes ouviu as orações, clanclo-lhes um tencia haviam depositado. Em pouco:,
filho, a que puzeram o nome ele Godo­ annos o espirita religioso daquella com­
fredo (paz de Deus). Cinco annos con­ munidade se elevou a tal ponto, que cau­
tava o filhinho, quando os paes o con­ sou admiração a todos. Era o eifeito do
fiaram aos cuidados de santos e pruden­ bom exemplo, da palavra convincente,
tes monges. Estes descobriram na alma caridosa e energica do superior.
do educando o germen de uma vocação O convento ele Goclofreclo tornou-s�
superior. Godofredo, desde pequeno, se até centro de piedade dos mosreiros
distinguia cios companheiros, por um da redm1deza, e ,era para alli que 1110111-
grande amor ás praticas monasticas, á bros ele outras communiclades se retira­
oração, ao trabalho e ao estudo. Conu os vam, para desfructar ela sábia direcção
annos o enthusiasmo pelas cousas de do superior.
Deus mais ainda se lhe aprofundou no Godofredo era deveras um religioso,
espirita e não pensando mais em voltar no sentido rigoroso da palavra. Sempre
para a casa paterna, resolveu servir a recolhido, da bocca não lhe sahia um:i.
Deus como sacerdote da Egreja. palavra inutil, os olhos não se lhe fixa­
Decorrido o anno da provação, foi ad­ vam em objectos por mera curiosidade.
mittido á profissão e couberam-lhe, por Em certa occasião, quando lhe offerecc­
ordem dos superiores, os serviços da en­ rmu uma refeição escolhida e melhor,
fermaria. Enfermeiro mais dedicado, disse: "Não sabeis que a carne se re­
mais caridoso e mortificado não era pos­ bella, quando é acariciada ?"
sível imaginar-se. Todo o consolo, todo Quando lhe offereceram a abbadia d2
o allivio que podia dispensar aos doen­ Rheims, respondeu da seguinte maneira:
tes Godofredo lhes dava. Tratando ela "Deus me livre de desprezar minha es­
saude corporal, não se descuidava da posa pobre, para dar preferencia a um:i.
saude da alma dos enfermos entregues outra rica !" Mas quando morreu o ar­
ao seu cuidado. Havendo perigo cio cebispo de Amiens, ou segundo outros,
doente morrer, com a maior caridade o quando este renunciou ao cargo, clero e
preparava para a digno recepção dos povo concordarcllm em acclamar Godo­
santos Sacramentos. Com 25 annos de foedo como successor, e de facto foi
edade ordenou-se sacerdote. As grandes unanimemente eleito. Foi entretanto ne­
virtudes, prudencia -e extraordinaria ha­ cessaria ordem estricta do Papa, para
bilidade de Godofredo em tratar dos ne­ que Godofredo se resignasse a acceitar
gocios mais complicados eram tão co­ o cargo.
nhecidos, que o arcebispo de Reims não A dignidade episcopal em cousa algu­
hesitou em encarregai-o de uma missão ma alterou o modo austero ele vida de
delicadíssima e penosa, como era a de quem antes era monge. Pelo contrario,

S. Godofredo ---, Nlcolâo de Solssons. Surlus VI. Adriano de Morliere, Antian. Ambla­
nens. Raess e Welss XVII.

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390 8 de N ovcmbro

sendo Bispo, Godofredo mais occas1ao Foi este zelo que indispoz contra elle
achou para trabalhar pela gloria de alguns dos peiores e tanto odio lhe nu­
Deus, pela prosperidade da Egreja e pe­ triram, que resolveram matai-o. Fize­
lo bem dos pobres. A estas o palacio do ram-lhe offerta ele vinho envenenado. O
Bispo offerecia entrada franca. Os po­ plano, porém, foi clescoberto e falhou.
bres com elle partilhavam a meza. Mui­ Vendo Godofredo que era infructifera
tas vezes lhes a p r é gação,
prestava servi­ resolveu de­
ços bem hu­ mittir-se, para
mildes e mm­ n ã o occupar
ca se retira­ inultimente por
vam sem te­ 111 a i s tempo
rem recebido um cargo ele
b o a esmola. tamanha res­
Uma vez ap­ ponsabilidade.
pareceu um le­ Clandestina­
proso, quan­ mente se re­
do Godofredo tirou para a
estava á ni!eza. grande Cartu­
Como pedisse xa, para alli
comida, o bis­ passar socega­
po chamou-o dannen1'e os ul­
perto de si, timos annos de
fel-o tomar la­ · vida. Ao Con­
gar á meza e selho ecclesias­
ordenou que tico de Bello­
lhe servissem vaco escreveu,
de peixe que pedin d o hu­
estava sobre a milcl e 111 e n t e
m,eza. Como o o exonerasse
copeiro relu­ do cargo e
ctasse em obe­ elegesse ou­
decer, o bispo tro bispo. O
dis9e-lhe: "E' Conselho, po­
admissível que rém, não lhe
em minha me­ consent i u na
za haja abun­ re t i r a d a e
clancia, quando mandou dois
Christo n o s commissari o s,
s e u s pobres qll'e o recon­
passa fomle ?'' Glorificação de S. G(!dofredo duziram á Sé.
Em o u tra o povo re­
occasião se encontrou com um mendigo cebeu-o com grande regosijo. Corno
semi-nú. Não clisponclo ele clinheiro na os vícios continuassem a vicejar, le­
hora, Godofr.edo tirou a capa e deu-a ao vando muitas alunas á perdiçãoe não
pobre. vendo o bispo o menor indicio de emen­
Inimigo declarado do peccado, com da e conversão, antes pelo contrario,
paciencia e energia verberava os vicias percebendo que a palavra apostolica era
dos ricos e poderosos. A estes não pou­ recebida com desprezo, annunciou á .d­
pava, exhortando-os apostolicamente e dade castigos inirninentes, que de facto
ameaçando-os com os castigos do céo. não tardaram. Houve então um per.iodo

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9 de Novembro 391

de piedade, de penitencia e conversão, doente. Quantos já morreram sem este


mas de pouca duração. Nama viagem a conforto e soffrem na eternidade as conse­
quencias cio descuido cio enfermeiro. E' um
Rheims, Godofriedo adoeceu gravemente. dos preconceitos mais perniciosos e diabo­
Sentindo-se no fim da vicia, recebu. licos que aponta a visita cio sacerdote e a
com muito fervor os santos Sac•·amen­ recepção dos Sacramentos como agouro da
morte. O catholico verdadeiro, tambem
tos e morreu em 8 de Novembro de no leito da morte não se assusta com a vi­
1118, no mosteiro abbacial de S. Cris­ sita do sacerdote. Pelo contrario, lhe é uma
pim, em Soissons, onde foi sepultad ,. das visitas m,ais agradaveis. Si é ele suppôr
que o doente, aliás sendo catholico, se as­
REFLEXÕES suste com a presença do sacerdote, é o
caso de ponderar o que é melhor: esclare­
Servir a doentes é uma obra ele miseri­ cer o enferm\o sobre o seu estado e convi­
cordia e caridade, que terá grande recom­ dai-o a receber os santos Sacramentos ou
pensa espiritual, justamente por causa da deixai-o nos peccaclos, concorrendo assim
grande somma de mortificações que acar­ para uma passivei conclemnação ? E' pre­
reta. O enfermeiro, entretanto, não deve ferivel que o enfermo, embora se assuste
limitar os cuidados sómente ao corpo. O um pouco, morra na graça de Deus, a que
enfermo precisa, além da assistencia mate­ fique bem tranquillo, talvez na ignorancia
rial, de attenções que objectivam o espirita, da gravidade cio seu estado e, t;ntrando na
a alma. Levantar o animo do enfermo, ani­ eternidade, encontre um juiz terrivel, com
mal-o á paciencia, á conformidade com a um fim desastroso e irremediavel.
vontade de Deus, rezar com o doente é ta­
refa a que o enfermeiro verdadeiro não se Santos do JJfartyrologio Romano, cuja me­
deve subtrahir. Si a doença é grave e deixa moria é celebrada hoje:
prever o desenlace final, o enfermeiro eleve Na perseguição diocleeiana a morte de
redobrar os esforços. Com muita carida­ Claudio, Nlcóstrato, Symphoriano, Castorio e
de falará ao enfermo da conveniencia ou Simpllcio, afogados no Tibre.
necessidade de mandar chamar um sacer­
dote, para com calma pôr em ordem os ne­ Em Bremen o primeiro bispo daquella ci­
gocios da al�a e receber os santos Sacra­ dade S. Willehal, discipulo de S. Bonifacio.
mentos, que tanto allivio dão ao pobre Em Roma a memoria do Papa Deusdedit.

9 de Novembro

SÃO THEODORO
T REODORO, Santo de grande ve- Christo, encarou firme o perigo, não
1J]\:-' neração na Egreja Oriental, era fazendo segredo algum de sua santa re­
natural da Syria. Bem joven ainda, foi ligião. Foi um dos primeiros intimados
alistado no exercito e destacado para a para render culto aos deuses, mas, sem
legião em Almasea, no Ponto. No mes­ hesitar um momeÍ1to siquer, respondeu
mo anno de 306 foi publicado o ultimo com firmeza: "Sou christão e jamais
decr_eto imperial contra os christãos, sacrificarei aos ídolos." Os juizes
que punha os mesmos cleante da alter­ exhortaram-no a que prestasse obedien­
nativa ou de sacrificar aos deuses ou cia ao imperador e honrasse as divin­
de soffrer o martyrio. Reinava o pa­ dades naçionaes. Theodoro, porém,
vor entre as fam1ilias christãs. Theodo­ respondeu: "Ainda não tinha entrado
ro, recruta no serviço militar, mas sol­ no e:x:ercito elos Imperadores e já era
dado expeóm:entado na milícia de soldado de Christo; vossos deuses são

S. Theodoro - Act. Mart. Authent. Ruinart. Buttler II.

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392 9 de Novembro

demonios. · Eis a minha fé, pela qual locar. Como estaes vendo, a divindade
darei a minha vida, si assim fôr preci­ não aguentou a prova."
so. Oortae, pois, batei, queimae; dou O juiz sentenciou-o á flagellação e
todos os membros do meu corpo, para ameaçou-o. com castigos mais fortes
confessar a meu Deus e Senhor." Os ainda, si não sacrificasse aos deuses
juizes não puderam disfarçar a admi­ na mesma . hora. Theocloro respondeu :
ração pelo jo­ "Em vista dos
ven intem,era­ bens celestiaes
to, que com e ela corôa
tanta firmeza ete r n a, que
defendia a fé me espera, não
e concederam­ t�nho m e d o
lhe um prazo dos tormentos,
ele alguns dias., por mais hor­
esperando que ri,,eis que pos­
ao enthusias­ sam ser; meu
mo elo momen­ Senhor e R,ei
to s·e seguisse está com,lrnigo ;
a reflexão cal­ elle me recebe­
ma. Promette­ rá, quando as
ram-lhe, além minhas forças
disto, a pro­ d e s f a 11 iece­
moção á di­ rem." O juiz
gnidade de sa­ recor r e u ele
cerdote de Cy­ novo a modos
bele. persuasivcis e
Theo c1 o ro propôz a The­
prepar o u - s e odoro o se­
para a Iucta e g u i nte: "Si
n a s oracões obed e c e r e s,
pediu a Deus dou-te minha
força e cons­ pa Ia v r a de
tancia. Apro­ honra, te rás
veitando-se do alta collocação
sile n c i o da no exercito e
noite, dirigiu­ serás nomea­
se ao templo do Summo Sa­
ele C y b e I e, cerdote ele Cy­
destruiu a ima­ bele." Theo­
gem da deusa cloro, o u vin­
e incendiou o S. Theodoro do-o, r i u-se
templo. A opi­ Os juizes: "Que escolha afinal fazes? Desejas ficar alta.me n t e e
nião publica, comnosco vivo, ou preferes estar com teu Christo, disse: "Não
1norto?" Theodoro: "Estive, estou e estarei sempre
i n digitando-o com Christo." conheço gente
como culpado mais miseravel
deste sacrilegio, fez com que Theodoro que os vossos sacerdotes; ao mies­
fosse citado perante o tribunal. Lá fez mo tempo tenho pena delles, por­
a seguinte declaração: "Queimei apenas que são victimas da fraude e injus­
lenha de nenhum valor, para provocar tiça; dos ruins, porém, os peiores
o poder da vossa famosa deusa, em cujo são ao meu vêr os Sun1mos Sacerdotes.
serviço como sacerdote me quizestes col- Tenho pena dos proprios Imperadores,

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9 de Novembro 393

cujas leis ímpias corrompem o povo. ser executada no mesmo dia. Nunca um
Tambem se rebaixam á concliçãÕ de Im;perador victorioso entrou com maior
Summos Pontífices, approximando-se, satisfação numa cidade conquistada,
como estes, dos altares transforman­ como o recruta Theodoro se dirigiu ao
do-se em carniceiros e cosinheiros, que Jogar cio supplicio. Ao subir á fogueira,
matam animaes e remexem nas vísceras persignou-se, recommendando a alma a
dos mesmos." Deus. Vendo entre os circumstantes o
Enfureceu-se o juiz com estas pala­ amigo Cleonico, que se entregava aos
vras do defensor da fé christã e deu sentimentos de dôr, disse-lhe: "Irmão,
ordem para que os algozes o martyri­ espero por ti; segue-me brevemente; in­
sassem, como bem lhes parecesse. Theo­ separaveis que aqui eramos sel-o-emos
doro, longe de se deixar intimidar, lá em cima." As labaredas subiram e en­
entoou o Psalmo 33: "Bemdirei o Se­ volveram o corpo do heroico moço, cuja
nhor -em todo o tempo; seu louvor esta­ alma o povo viu, qual um relampago, su­
rá sempre na minha bocca." O juiz, bir ao céo.
não sabendo o que pensar desta cons­ Uma piedosa mulher chamada Euze­
tancia tão extraordinaria, disse : "Des­ bia, comprou o corpo do santo Martyr,
graçado que és, não vês que é uma to­ que as chammas maravilhosamente ti­
lice e uma vergonha pôr toda tua con­ nham poupado e fez-lhe um enterro hon­
fiança num homem, que, como Christo, roso, na cidade de Euchaia. Os grandes
dizendo-se Deus, morreu uma morte e numerosos milagres com que Deus·
ignominiosa ?" Theodoro, levantando quiz glorificar o tumulo do seu santo
os olhos para o céo, respondeu : "Sim, servo, fizeraJm com que de todos os la­
tolice e vergonha é, mas eu e todos que dos viessem grandes peregrinações e so­
a Christo conhecem,. de boa vontade a bre o tumulo se lhe erguesse um ma­
tomamos sobre nós." gestoso templo, terminada a epoca das
Encarcerado, o santo Martyr teria perseguições.
padecido • fome, si Jesus Christo não
lhe tivesse apparecido e trazido confor­
to. Alta noite os guardas viram o car­ REFLEXÕES
cere illuminado por uma luz claríssi­ A lembrança da presença de Deus era
ma e ouviram canticos maviosos de vo­ um dos meios mais efficazes de santifica·­
z@s angelicas. ção na vida de S. Theodoro. Realmente a
Penetrando no recinto onde Theodo­ lembrança da presença de Deus nos dá
ro estava, acharam-no dormindo tran­ grande força na lucta contra o peccado.
"Em quanto pensamos em Deus, esquece­
quilhmnente. mo-nos dos vicios", diz S. Chrysostomo e
Foram feitas diversas tentativas ain­ S . J eronymo affirma que "aquelle que
da, para demover o santo homem da pensa em Deus, está longe de peccar".
linha do dever, mas tudo em vão. A fé nos ensina que Deus está em to­
Quanto mais os pagãos insistiam, mais do Jogar e tudo vê e tudo ouve. O máo
calorosa se tornava a defesa de Theo­ espírito procura fazer-nos esquecidos desta
doro. Afinal, exgottados todos os re­ verdade. Si conseguir que o homem perca
cursos da persuasão, os juizes lhe per­ da memoria a Deus, Lucifer terá causa
ganha.
guntaram: "Que escolha afinal fazes:
desejas ficar comnosco vivo ou preferes "Os homens facilmente cahem nos vícios
·estar com teu Christo morto ?" Theo­ mais abom1inaveis, quando julgam que Deus
doro, selm hesitar, cQm toda finneza não os vê ou não liga importancia ao seu
modo de proceder", escreve Santo Agosti­
respondeu : "Estive, estou e estarei
nho. Deus proprio friza a causa de muitos
sempre com Christo." peccados no povo de Israel, quando diz :
Ao ouvir isto, o juiz pronunciou a "Elles dizem que Deus não nos vê e aban­
sentença de morte pela fogueira, para donou a nossa terra". (Ezech. 8. 12.)

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394 10 de Novembro

Anda sempre na presença de Deus e pún­ Santos do Martyrolog!o Romano, cuja me­
dera as palavras do Sabia: "Os olhos de moria é celebrada hoje:
Deus são mais claros que o sol; elles vêm Em Roma a consagração da Baslllca do
todos os caminhos dos homens e perscru­ Redemptor (Latrão) que ê mãe de todas ·as
tam os abysmos mais profundos do cora­ Egrejas de Roma e do mundo inteiro.
ção e os Jogares mais reconditos". (Eccl. Em Tyana, ao tempo de Diocleciano, o
23. 28.) martyrio de Santo Orestes, medico.

1 O de Novembro

SANTO ANDRÉ AVELINO


(t 1608)

� ANTO André Avelino, chamado que desenvolveu em abolir certos abusos,


� tambem Lancelotto, nasceu no an­ que se tinham aninhado naquella com­
no de 1520 em Castelnuovo, no reino de munidade, causou-lhe muitas persegui­
Napoles. Os paes eram muito religiosos ções. Uma vez, por um milagre, escapou
. e i:mplantara:m no coração do filho os da morte; em outra occasião foi horri­
sãos princiJ?ios da religião, do temor de velmente espancado. Tudo soffreu com
Deus e de evitar o peccado. paciencia, conseguindo, graças á constan­
Foram estes principias que, como fieis cia, restabelecer a ordem no convento.
guias, depois dirigiram a vida de André. Em 1550 entrou na Ordem dos Theati­
Quando joven estudante, se achava em nos e recebeu o nome de André.
Senisio, uma mulher, que tomada de pai­ A virtude solida que nelle se manifes­
xão por elle, começou a obsequial�o, pro­ tava, grangeou-lhe a confiança dos su­
curando a:sisim com meios ardilosos le­ periores, que o encarregaram da forma­
vai-o ao caminho do peccado. Avelino ção dos noviços e da administração de
não a aittendeu e regeitou-lhe os presen­ diversas casas. Além dos votos da Or­
tes. V1endo em outra occasião sua virtu­ dem, fez ai.nda dois outros, que se im­
de grandemente periclitando, salvou-se põem mais á nossa admiração que á imi­
pela fuga. tação : o voto de agir sempre contra a
Para de vez se vêr livre destes peri­ vontade propria, e outro de progredir
gos, recebeu as ordens sacerdotaes. Por setnpre na perfeição christã. O amor a
algum tempo praticou a advocacia, mas Deus e ao proxhno inspiraram-lhe a
em causas concernentes ao direito cano­ maxima escrupulosidade em aproveitar
nico. Em um dos processos, em defeza o tempo.
do constituinte, lhe escapou uma menti­ Si no mundo dedicava por dia 6 ho­
ra. Quando logo depois leu na Biblia as ras á oração, na Ordem, não sendo mais
palavras ( Sab. 1. 11 ) : "uma bocca isto possível, fazia a oração de noite.
menti.rosa mata a alma", foi tomado de Grande lhe era a actividade no pulpito e
grande arrependimento e dahi em dean­ no confessionario. Muitos peccadores se
te não mais advogou. converteram a Deus, outros abandona­
A vida de André pertenceu então ex­ ram os vicias e muitos que viviam em
clusivalmente ao serviço de Deus. O ar­ inimizade, encontraram a paz da alma.
cebispo de Napoles incumbiu-o do go­ Apesar dos grandes merecitnentos, tinha­
verno de um convento de freiras. O zelo se o Santo ,em: conta de grande pecca<lor,

Santo André Avelino - Hist. Clericorum Regul., ant. Jos. de Silos. Storla della Re­
llgione de Patri Chierlcl Regolarl del Padre Gio, P. de Tracy, Theatino.

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10 de Novembro 395

e mais de uma vez externou sérios re­ flagellado, pregado na cruz e nella pu­
ceios acerca da propria salvação. "Si desse exhalar o meu espirita !"
aquelle - costumava dizer - que fez Extraordinaria devoção tinha tambem
tudo o que devia fazer, deve considerar­ ao Ss. Sacra!l11ento. No ultimo dia de
se um servo inutil, que farei eu, que das vida quiz ainda celebrar o santo sacrifí­
obrigações culmpro só uma pequena par­ cio. Quando, porém, tinha começado a
te ?" Elevando o olhar ao céo, dizia: recitar as primeiras orações, no degráo
"Aquellas habitações magnificas dos es­ do altar, soffreu um insulto apopletico,
píritos celestiaes estariam abertas para que lhe paralysou a língua e o lado es­
uma creatura misera, desprezível e má querdo. Levado ao quarto, recebeu os
como sou ?" santos Sacramentos. Em seguida deitou
Nos ultimas dezoito annos de vida não a benção ás pessoas presentes, tendo no
comia nem carne nem ovos. O unico ali­ semblante a expressão de grande con­
mento que tomava, era feijão cozido em tentamento. O dia da sua morte foi 10
agua. "E' verdade, - dizia - pela eda­ de Novembro de 1608. André Avelino
de que tenho, estou dispensado da lei do alcançou a eclacle de 88 annos. O Papa
jejum e da abstinencia; mas quando me Clemente XI inseriu-lhe o nome no ca­
l�mbro cios meus peccados e da negligen­ talogo dos Santos.
cia com que servi a Deus, acho muita
razão em castigar o meu corpo pela REFLEXÕES
mortificação, para assim aplacar a ira Santo André Avelino chorou amargamen­
divina." Assim falava André Avelino, o te uma mentira, que deliberadamente pre­
qual, segundo o testemunho cios seus gára e abandonou uma profissão, que ao
seu vêr o expunha muitas vezes ao perigo
confessores, não tinha perdido a inno­
de faltar á verdade. Que conceito fazes da
cencia baptisrnal. mentira ? Nem todas as mentiras são pec­
O leito de André era um duro col­ cado grave; mas nenhuma ha que não re­
chão. Todos os dias disciplinava clura­ presente uma offensa a Deus. Quem men­
rntente o corpo. Não satisfeito com isto, te em cousas pequenas, perderá a delicade­
za de consciencia, e pouco a pouco chegará
pedia todas as rmanhãs a Deus que lhe a c01nmetter faltas graves. Dizer conscien­
mandaisse ulm soffrimento. Nas contra­ temente uma inverdade é sempre peccado,
riedades manifestava uma grande pacien­ seja qual fôr o motivo. Grave é o peccado
cia, na:s perseguições uma mansidão sem da mentira, quando resulta grande prejuí­
egual e aos initmigos e perseguidores re­ zo ao proximo. Pecca gravemente aquelle
tribuía com verdadeira caridade, como que em confissão faz declarações falsas, em
mostra o seguinte exemplo: materia grave ou quem pretende enganar
ao confessor, quando a gravidade da ma­
O filho do irmão de André foi assas­ teria exige toda a franqueza. A mentira,
sinado, sem que pessoa alguma soubesse em si peccado leve, torna-se grave, quando
quem era o criminoso. André sabia-o, affirmada com juramento. Examina tua
mas não fez declaração alguma. Quando consciencia, si possues o máo habito de
afinal o assassino foi descoberto, André mentir e si assim fôr, cuida de emendar-te.
implorou a clemencia dos juizes em fa­
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
vor do mesmo. r,r,ria é celebrada hoje:
Terníssima era a devoção que André Em Iconio as santas Tryphenna e Try­
Avelino tinha á sagrada Paixão e Morte phosa, discípulas de S. Paulo e de Santa
de Nosso Senhor Jesus Christo. "Que é Thecla.
tudo que faço e soffro, - assim se ex­ Na ilha Paros a santa virgem Theoctista,
que fugiu dos Sarracenos e viveu 35 annos
pdmia o Santo, - em comparação com na solidão. Sec. 10.
o que Jesus fez e soffreu por mim ? Na Inglaterra a memoria de S. Justo, bis­
Quem me dera que em sua honra fosse po. 632.

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396 11 de Novembro

11 de Novembro

São Martinho, Bispo de T ours


(t 400)

e ÃO MARTINHO, celebre Bispo


� da Egreja catholica, nasceu na
eclacle de 18 annos recebeu o bapüs,1110, e,
abandonando o serviço militar, procurou
Hungria, filho de paes pagãos. Na . ao santo Bispo Hilario, que o recebeu
edade de dez annos procurava por diver­ com muita satisfação e o instruiu nas
sas vezes as egrejas catholicas, levado verdades da santa religião. Com consen­
pela curiosidade, para observar o culto timento do santo mestre voltou para
religioso e ouvir a doutrina. O que vira Hungria, com a intenção de converter os
e ouvira tanto lhe agradou, que, sem que paes. A mãe abraçou o christianismo,
os paes o soubessem, pediu admissão en­ mas o pae não pôde resolver-se a dar o
tre os catechumenos, que se prepara\'am mesmo passo, o que muito entristeceu a
para o santo baptismo. Com muito fer­ Martinho. Este pretendia ficar mais
vor fazia as orações e praticava obras . tempo na Hungria, para trabalhar na
de virtude. Com quinze annos foi sor­ conversão dos gentios, mas os arianos
teado para o exercito imperial e manda­ expulsaram-no, e desta maneira voltou
do para Amiens, na França. Com gran­ para a França. Hilario permittiu-lhe
de cuidado fugia dos peccados e vicias fundar um pequeno convento, para onde
tão geralmente comnmns na vida dos se retirou Martinho e onde viveu entre­
soldados. Da bocca não lhe sabia palavra gue só á oração e obras de penitencia.
mentirosa, insultuosa ou obscena. O tem­ Grande sensação causou o facto de ter
po que os outros passavam divertindo­ resuscitado um homem que, tendo mani­
se no jogo e na bebida, Martinho em­ festado o desejo de ser baptisado, mor­
pregava-o santamente, na oração ou lei­ rera antes de ter recebido o santo sacra-
tura util e santa. Grande era a caridade menta da regeneração. Quando morreu
que tinha para com o proximo. Na esta­ o Bispo de Tours, a voz unanime do
ção invernal se encontrou com um men­ povo pedia a Martinho que fosse suc­
digo se i-nú, o qual lhe pediu uma es­
1m
cessor do santo Prelado fallecido. Foi
mola pelo aim,or de Deus. Não tendo di­ para elle um grande sacrifício, mas re­
nheiro comsigo e não querendo despedir conhecendo na voz do povo a expressão
o pobre sem auxilio, pegou no manto, da vontade de Deus, acceitou a dignida­
partiu-o em duas metades, das quaes de. Perto da cidade de Tours erigiu um
uma deu ao necessitado. Este acto tão convento, onde viveu em cornmunidade
generoso importou-lhe escarneo e zom­ com os monges. Com toda regularidade
baria da parte q.os soldados. Na noite se­ visitou a diocese, administrou os santos
guinte, porém, lhe appareceu Jesus Sacramentos e deu esmola aos pobres.
Christo, coberto da parte do manto, ro­ Manifestou um zelo extraordinario no
deado de Anjos e disse-lhe: "Martinho, adorno das egrejas. Diversas pessoas
principiante na fé, cobriu-me com este observara1111 que ao entrar na egreja, o
manto." bispo tremia por todo o corpo. Pergun­
Esta apparição consolou summamente tado pelo motivo desta sensação, Marti­
a Martinho, que tomou a resolução de nho respondeu: "Não tenho razão de en­
dedicar a vida unicamente a Deus. Na cher-me de temor, ao comparecer na

S. Martinho - Sulplclus Severus, dlsc. de Santo Gregorlo de Tours. Tlllemont X.


Buttler X.

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11 de Novembro 397

presença da suprema magestade ?" Na houve que aconselharam ao bispo que ex­
egreja não tolerava conversa e neste pulsasse do convento o atrevido. Marti­
ponto servia de exemplo para todos. Pa- nho, porém, respondeu-lhes: "Si Jesus
ra os diocesanos, era modelo perfeito de ag uentou u m Judas, porque não haveria
todas as virtudes. Os biographos accen- e u de aguentar a Briccio ?" e accrescen-
tuam bem que -- tou que este
pessoa alg uma "' :;;:-:;::-;;:-;:::;-�.:;.:::::;;:;;:;:::;.:::::;:::.;;:::::;::;:;;;:::::;:;;:;;;:;:;;-, mesmo Briccio
vi u j am aiis (era o nome
Martinho es- do Padre in­
quecer-se nwn sultador) se­
ímpeto de rai­ ria seu succes­
va ou obser­ sor ,na direc­
vou-lhe um ri­ cção do bispa-
so v a i d oso. do. Ningue'm
Um dos sacer­ i m a i s podia
dotes, a prin­ dar credito a
cipio m u i to esta asserção e
piedoso, come­ o proprio
çou mais tarde Briccio rece-
a a b andonar ' b e u - a com
os bons prin­ uma gargalha­
cípios e entre­ da. De facto
gar-se a uma Briccio veiu a
vida p o u co ser successor
conveniente ao de Martinho,
seu e s t a do. com;o Bispo de
Martinho ad­ rours, confir­
m)Oestou-o com mando assim
toda a carida a prophecia do
de e mansi­ santo homem.
dão, não po­ Briccio c o n­
dendo, porém, verteu-se, mu­
evitar que o dou totalmen­
Padre com is­ te de vida e
to se offen­ morreu santa­
desse. Em vez mente.
de acceitar do­ Com toda
cilme n t e os energia se di­
conselhos pa­ rigiu Marti­
ternaes do Su ­ S. Martinho nho contra a
perior, incitor1 Na estação invernal encontrou-se com um mendigo abominação da
os companhei­ ·semi-nú, o qual lhe pediu uma esmola por amor de idolatria que
ros a desres­ Deus. Não tendo dinheiro comsigo, e não querendo ainda existia
despedir o pobre sem auxilio, tomou do seu manto,
peitar o Bispo, partiu-o e deu uma parte ao necessitado. na d i ocesse.
sujeitou a vi­ Muitos tem­
da do mesmo á critica desrespeitosa plos pagãos clesappareceram e mais de
e chegou ao ponto de inj uriar publica­ uma vez Martinho. arrisco u ser morto
mente o Prelado. Este supportou tudo pelos pagãos. Existia em determinado
com a :maxima paciencia, respondeu ao logar uma arvore multisecular, objecto
Padre com toda a mansidão e rezo u mui­ das superstições dos idolatras, que Mar­
to pela conversão do mesmo. Monges tinho se tinha proposto abater, em qual-

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398 12 de Novembro

quer occasião que se offerecesse. Os pa­ pou na hora da morte. Appareceu-lhe


ga:os oppuzeram-se energicamente ao em fórma horrivel. O santo Bispo, po­
plano do Bispo. Finalmente um delles rém, sem se assustar, disse-lhe: "Que
sahiu-se odm esta: "Bem ! Nós mesmos procuras aqui, monstro sanguinario ?
cortaremos a arvore, si nos prometteres Nada tenho comtigo." Martinho morreu
com tua mão amparai-a na quéda. Não no anno de 400 approximadamente.
só isto; si assim fôr, reconheceremos o
poder de Deus, cujo nome prégas." Mar­ REFLEXÕES
tinho, sem hesitar u:m mdmento, accei­ S. Martinho havia-se com o maior res­
tou a proposta e imlmediatamente se di­ peito na egreja, porque se sabia na pre­
sença de seu Deus e juiz. Oxalá todos os
rigiram ao logar onde estava a arvore. que frequentam a casa de Deus tenham a
Os christãos, assustados, acompanharan.n compenetração desta verdade, qne fazia
o Pastor. Martinho collocou-se no lado tremer o grande bispo de Tours. Si tivessem
a fé ele S. Martinho, bem differente lhes
para ·o qual a arvore havia de cahir. seria a conducta na egreja. "Terrível é
Machadadas vigorosas feriram o cerne este lagar. Aqui não é outra cousa, senão
do gigante, que, afinal, abalada a resis­ a casa de Deus e a porta do céo" - disse
tencia, se inclinou. Martinho estendeu o Patriarcha Jacob no logar, onde lhe ap­
parecera a escada mysteriosa. As mesmas
os braços ao colosso cadente, amparou-o palavras applica a santa Egreja aos tem­
na quéda e atirou-o para o lado, sem fe­ plos ele Deus. As casas ele Deus são casas
rir pessoa alguma. Este e outros mila­ de oração. As faltas de respeito na egreja
gres abriram os olhos aos pagãos, que em provocam a ira de Deus e são precursoras
de grandes castigos. Comporta-se sempre
rriassa se convertera:rn ao catholicismo. correctaniente, quando estiveres na egreja
Martinho tinha 81 annos, quando e não te prestes a cooperar em faltas
Deus lhe annunciou a morte. Os disci­ alheias. Lembra-te de que estás deante de
pulos, ouvindo-lhe falar do fim proxi­ teu Deus e eterno juiz.
mo, entristeceram-se e entre lagrimas
lhe disseram: "Porque nos abandonas e Santos do Martyrologio Rornano, cuja rne-
a quem nos entregas ? Lobos rapaces in- nwria é celebrada hoje:
vestem contra teu rebanho; compade- Na Phrygia o glorioso martyrio de São
ce-te de nós e fica comnosco." Marti- Mennas do Egypto. Trocou o uniforme de
nho, com os olhos fixos 110 céo, respon- soldado pelo habito de eremita. No tempo da
perseguição diocleciana voltou á publicida-
deu-lhes: ' , Senhor, si vosso povo de de e confessou sua fé christã. De joelhos re-
mijm pI"ecisa, •estou prompto para tra- cebeu o golpe da morte.
balhar ainda; mas seja feita a vossa Morto na mesma perseguição na Mesopo-
vontade." tamia Santo Athenodoro.
Satanaz, que tantas vezes atormentá- Em Ravenna os martyres Valentim, Feli-
ra ao santo servo de Deus, não o pou- ciano e Victorino. sec. 4.
❖❖❖H+o'..+�•: l l :� ❖❖❖❖❖❖HH❖❖+❖H❖❖•l•❖H❖❖❖❖H❖❖❖❖❖

12 de Novembro

SANTO HOMOBONUS
(t 1197)

]Ri• UM EXEMPLO de virtude ra­ cal, tendo a profissão de negociante. Ho­


Jm rissima que a Egreja nos apre­ mobonus nasceu em Cremona, na Italia.
senta na pessoa de Santo Homobonus, Si bem que não muito favorecidos pela
que alcançou a perfeição no estado lai- fortuna, os paes eram piedosos e temen-

Santo Homobonus - Surius. Bulia canonis.

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12 de Novembro 399

tes a Deus. Ao filhinho deram no santo Para os p;res era sempre bom filho e
baptismo o nome de Homobonus, o que mesmo sendo niaior, tributava-lhes r 0 s­
5ignifica homem bom. Homobonus rece­ peito, amor e obedi-encia. Tratando-sP,
beu uma educação correspondente aos de procurar uma esposa para si, deixou­
hons principias dos paes. se guiar pelo conselho dos paes e casou­
Quando teve a eda<le de poder traba-­ se com a pessoa que lhe tinham ind:­
lhar de um mbdo aproveitavel, ajudon ,1 cado.
pae nos affazeres do negocio. Illmnirfa .. Morto o pae, continuou a ser nego­
elo pela graça divina, conheceu logo oJ ciante, não, porém, com o unico fim de
grandes perigos desta profissão e and,m enriquecer-se e passar uma boa vida,
bem cauteloso, para não cahir nos laços 1nas de f�er bem ao proximo e, distri­
que o demonio tece aos negociantes buindo as riquezas entre os pobres, me­
Antes de comleçar o serviço na loja, recer os bens eternos. Os pobres eram
fazia as orações da manhã e assistia á seus amligos e delles recebeu o bello titu­
santa Missa. "Porcurae priimeiro o rei­ lo: "pae dos pobres". A nenhUJm era ne­
no de Deus e sua justiça e tudo o 111:ais gada a es;mola. Aos pobres envergonha­
\'OS será dado de accrescimo." Esta ma­
dos J.evava o soccorro em casa, consolava
xima de Jesus Christo, como o dito e animava-os á paciencia. A mulher não
christão : "sem a benção de Deus nada se ,niostrava muito de accordo com este
se faz", eram para Hamobonus expres­ modo de praticar a caridade e chama­
sões de verdade, pela qual orientou toda va-o muitas vez-es de exaggerado. Re­
a vida. Com o maior escrupulo evitava a oeiava que por causa daquella liberalida­
fraude e nas transacções commerciaes de um dia lhe pudesse faltar o ne�ssa­
não procurava lucro illicito. Não queria rio. Vendo, poré<m, que os conselhos,
possuir nenhum real que não fosse o avisos e protestos de nada valiam, per­
premio do seu suor e portanto honesta­ deu de todo a paciencia e cobriu o ma­
mente ganho. No seu balcão não havia rido de maldições e injurias. Homobonus
peso falso. A consciencia não lhe per­ supportou tudo com paciencia e respon­
mittia applicar medidas adulteradas ou deu á mulher com toda mansidão: "Mi­
elevar arbitrariamen�e o preço das mer­ nha querida mulher, pensas então seria­
cadorias. mente que por causa da caridade que fa­
ço, soccorrendo os necessitados, nos
O demonio da mentira, da fraude, do possa faltar o necessario ? Bem o contra­
jurannento fal-so, que tão de pref erencia rio a palavra de Deus nos ensina: "Dae
se aloja nas casas c�merciaes, na loja e dar-se-vos-á." A mulher mostrou-se
de Homobonus não achava agasalho. inaccessivel a estes argum1entos e conti­
Correctissimo no cumprimento das obri­ nuou em desaccocdo- com o marido, até
gações, era pontualíssimo tambem na so­ que um facto extraordinario lhe abriu
lução dos CO'tnpromissos, não admittindo os olhos. Durante uma carestia, veiu
que, por um atrazo de suia pa,rte nos pa­ grande multidão de pobres á sua casa,
gamentos, alguem pudesse ser prejudi­ pedir e receber pão. Homobonus deu tu­
catjo. do que tinha, sem reservar pedaço al­
A amabilidade, presteza e modestia gum para si, o que talvez não acon­
grange'aTam-lhe muitas amizades. Os do­ teceria, si a mulher tiV'Csse estado
mingos e dias santos eram por elle em­ presente. Voltando esta, ao preparar a
pregados só para a gloria de Deus e o meza, encontrou tanto pão como havia
bem da alma. Não só assistia á santa antes.
Missa, ouvia a pafavra de Deus e recebia Desde aquelle dia, ficou mais confor­
a santa Commrunhão, mas fazia ainda mada com a liberalidade de Homobonus.
uma visita ao Ss. Sacra;mento e em casa Tam,bàn o santo homem, pelo exemplo,
se entretinha com a leitura de bons livros. a levotJ, a praticar mais caridade.

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400 13 de Novembro

Diversos factos extraordinarios, como rias deterioradas e falsificadas, na exigen­


cia de preços exorbitantes, no máu empre­
aquelle que se deu no tempo da carestia, go do tempo, no má ' u desempenho das obri­
foraim observados na vida de Homobo­ gações; que se abstenham da fraude e do
nus, tanto que o povo o venerava como furto, a que se prestam mlil occasiões; que
santo. santifiquem o domingo e · não o profanem
com divertimentos improprios; que rece­
Ho1111obonus morreu em 13 de No­ bam de vez em quando os santos Sacra­
vembro de 1197, quando estava assistin­ mentos; que não neguem a esmola 11.0 ne­
do á santa Missa. Grandes e numerosos cessitado, na convicção de que a esmola
são os milagres que lhe glorificaram o dada ao pobre não consome a fortuna.
"Quem dá aos pobres não soffrerá ne­
ttimulo, tanto que Innocencio III não cessidade. Quem pratica misericordia, se­
hesitau em dar-lhe a honra dos altares. rá abençoado" (Prov. 28. 27.)
As relíquias de Santo Homobonus
acham-se na cathedral de Cremona. Santos do Martyrologio Romano, cuja m!l­
moria é celebrada hoje:
REFLEXÕES Na Polonia os santos eremitas Benedicto,
João, Matheus, Isa:ac e Christino. Homens
Negociantes, operarios apprendam de San­ malvados os mataram, na esperança de en­
to Homobonus como devem proceder para contrar thesouros escondidos. 1005.
salvar a alma. Que principiem o dia pela
elevação do espírito a Deus, pela oração Em Constantinopla S. Thcodoro Studlta,
da manhã; que assistam á Missa, quando energico defenso1· da doutrina catholica so­
lhes fôr possivel; que fujam das indignas bre o culto das imagens.
manobras da ganancia, no emprego de me- Na Asla o martyrio dos Santos Aurelio e
didas e pesos falsos, na venda de mercado- Publlo, Bispos.
§,�❖❖ J•❖❖•H-❖++H-�++++++H-+++❖+�++H-+❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖++Ho+

13 de Novembro

Santo Estanísláo Kostka


(t 1568)

e ANTO Estanisláo Kostka, descen­


� dente de familia nobilíssima da
dres Jesuitas. Perturbações, porém, de
ordem social fizeram com que este se
Polonia, nasceu em 1550. Treze annos fechasse e Estanisláo domiciliou-se com
viveu na cél!sa paterna, onde tanto se o irmão na casa de um lutherano. O mo­
distinguiu pela piedade e santidade de do de vida do joven naquella casa era o
vida, que por todos era chamado o anjo. mesmo do seminario. Inimigo de tudo
A repugnancia que manifestava, por tu­ que é do mundo, reconcentrou-se no es­
do que contrariava a virtude angelica tudo e nas obras de "j:íiedade. Entre os
era tanta, que uma palavra obscena o exercícios religiosos tomavam o primeiro
fazia desmaiar. Contrario a meninos da Jogar a assísrencia qnotidiana á santa
mesma edade, que geralmente têm pra­ Missa e a sagrada Communhão. Em. tu­
zer em brinquedos, divertimentos, etc. do dífferente era o irmão Paulo. Não
Estanisláo se aborrecia com estas coi­ concordando com o genio e modo de
sas. O recreio e unico prazer do meni­ pensar de Estanisláo, abusou da sua su­
no era estudar e rezar. Na idade de qua­ perioridade, durante tres annos, maltra­
torz·e annos passou com o irmão mais tando o irmão mais novo. Este suppor­
velho, Paulo, para Vienna, onde se ma­ tou com paciencia os má.os tratos que ih::
triculou no seminario, dirigido pelos Pa- vinham do irmão. "Hei de viver con,o

Santo Estanisláo Kostka - Blogr. do Santo por P. d'Orleans. Raess e Weiss. XVI.

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13 de Novembro 401

sei que Deus o quer, seja ou não d0 1nais lhe merecia a attenção, e lagrimas
agrado de mieu irmão," dizia Estanisláu enchiam-lhe os olhos, quando se falava
e continuou nas praticas piedosas. Aos de Deus. Frequentes eram as manifes­
frequentes convites para participar d ;s tações extraorclinarias da sua união nu­
divertimentos do mundo, respondi;.: pcial cOlm Deus na oração. O semblante
"Nasei para coisa mais alta." Ternissima. tão humilde e meigo parecia-lhe então
era a devoção que tinha a Maria Santís­ banhado em luz e ao corpo communica­
sima e o Rosario era a sua oração quoti­ va-se-lhe um calor tal, que apezar do
diana. Durante a noite se levantava. ela frio intenso de inverno, precisava re­
caima, ficando em oração Iongas horas. correr á abluções com agua fria. Ao ou­
Grande cles'ejo tinha de ser acceito en­ vir o nome de Deus e de Maria Santis­
tre os aspirantes da Companhia de Je­ sima, o rdsto tornava-se-lhe radiante.
sus. O pedido de adlmissão, porém, foi­ Perguntando-lhe uma vez um sacerdote
lhe indeferido, não querendo os Supe­ si amava a Maria, Kostka respondeu:
riores favorecer este passo, sem que os "Que duvida, si ella é minha mãe ! "
paes de Estanisláo soubessem da icléa Não se levantava ele manhã, nem ele
e a approvassem. Estes s,e oppuzeram noite s·e deitava, sem que, pondo-se ele
francamente á vontade do filho. Após joelhos, tivesse pedido a benção á divi­
longa oração e tendo ouvido o conselho na Mãe.
cio confiessor, resolveu realizar o plano: Existia no novicia.elo o costume de
Sem fazer comlmunicação á familia, diri­ sorteiar o padroeiro mensal. Uma vez,
giu-se a Dillingen, onde se achava o Pro­ quando se estava em Agosto, Kostka
vincial da Cqmpanhia, Pedro Canisio. Pecebeu S. Lourenço por padroeiro. Com
Este teve duvidas sobre a admissão cio uma devoção especial o joven celebrou
joven; animou�o, porém, a ir até Roma. o dia do Santo. No rmesmo dia se sentiu
Estanisláo obedeceu e fez a longa viagem accolmmetticlo ele febre e, apesar dá mo­
de Vienna a Rdma, a pé. "Eu teria ido lestia não apresentar nenhum symptom:i
até a India, si isto preciso fosse para alarmante, Estanisláo de um modo mui­
alcançar minha vocação." - disse uma to positivo predisse a mlorte proxima.
vez Estanisláo aos companheiros. Che­ Com muita devoção recebeu os santos
gado a Rom:a, lançou-s·e aos pés cio Supe­ Sacraimentos e não mais largava das
rior Geral ela Cdmpanhia de Jesus, Fran­ mãos o crucifixo e uma imagem de Nos­
cisco Borgia, pedindo-lhe com todo o fer­ sa Senhora. Maria Santissima dignou-se
vor que o acceitasse. Francisco Borgia ele apparecer ao seu servo, com um cor­
fez levantar o joven, estreitou-o nos bra­ tejo grande de virgens glorificadas e An­
ços e recebeu-o com amor paternal entre jos, convidando-o para com ellas entrar
os noviços. O zdo, a dedicação cio joven no reino celestial. No mesmo dia, isto é,
religioso foram tã:o aclmiraveis, que já em 1 S de Agosto de 1568, o joven no­
nas pómeiras semanas Estanisláo foi viço entregou a alma ao Creador. As ul­
apresentado ao':" companheiros como timas palavras de Estanisláo foram in­
mloclelo perfeito ele virtude. vocações clevotissrmas dos santos nome�
Uma carta do pae, cheia de ameaças de Jesus e Maria. Nas mãos segurava o
e reprehensões, trouxe-lhe muita triste­ crucifixo e o terço.
za, mas não conseguiu demovel-o do ca­ Estanisláo não tinha ainda complet1-
minho, uma vez enveredado. clo 18 annos, quando Deus o chamou á
Edificantissirnlo era-lhe o recolhimen­ eterna gloria. Nt.mierosos foram os mi­
to, perfeita. a obediencia., grande o amor lagres qll'e se ohservaram no tumulo do
á mortificação. Tratando os superiores santo noviço.
com toclo o respeito, para os companhei­ Canonizado por Bento XIII, Estanis­
ros era a caridade em pessoa. De todas láo Kostka é na Polonia venerado como
as virtudes era a do a.mor de Deus a que padroeiro da nação e, a.o lado de São
Na Luz Perpetua 26 - II vol.

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402 14 de Novembro

João Berchmcl!ns e S. Luiz de Gonzaga, zia prompto a acceitar a morte, si fos_sc


apresentado á mocidade como modch vontade de Deus chamai-o. O puro, o vir­
tuoso, o amigo de Deus em verdade não
perfeito de virtude e santidade. receia a morte e está sempre preparado para
comparecer deante do eterno e supremo
REFLEXÕES Juiz. "Quem quer ter uma morte tranqu1l­
la, faça penitencia, em quanto tiver saude ",
S. Estanisláo Kostka dá aos jovens bel­ aconselha S. Bernardo.
lissimos exeITJ/Plos, dignos de imitação. En­
tre muitos ensinamentos que da vida deste
admiravel Santo podem colher, destacamos
as seguintes: l º S. Estanisláo manifestava
pavor de conversas livres e impuras. Não Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
é, entretanto, a impureza o vicio que cam­ moria é celebrada hoje:
peia entre a mocidade ? 2" Santo Estanis­ Em Aix, na França, o martyrio de Mitrias,
láo não se deixava levar pelo respeito hu­ escravo. Foi victima do odio do seu patrão
mano e pouco se lhe dava o escarneo de e dos escravos pagãos. E' padroeiro dos vi­
companheiros frivolos e o máo trato qne ticultores. 304.
experimentava do proprio irmão. "Eu que­
ro viver - dizia, - como é agradavel a Em Ce:;aréa, na Palestina, a morte dos
Deus, tenha isto ou não o agrado de meu Santos Antonio, Zcbinas, Germano e de San­
irmão." O respeito humano, o receio de ta Ennatha, virgem. Esta morreu queimada.
desagradar, o medo de cahir no ridi�ulc, Os outros foram decapitados na perseguição
dos tolos, é que a muitos jovens afasta üJ. de Galeria.
pratica do bem e da religião. 3 º Logo 11 J Em Roma a memoria do Papa S. Nico-
começo da doença, Santo Estanisláo se d1 · Ião. 867.
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14 de Novembro

SANTA GERTRUDES (*)


(t 1334)

'N ATURAL de Eisleben, na Saxonia, damente contemplativa, a occupação pre­


1� nasceu Gertrudes em 1256, sendo diJ.ecta de Gertrudes era meditar a sa­
irmã de Santa Mechtildis. Tendo apenas grada Paixão ie Morte de Jesus Christo
cinco annos de edade, confiaram-na os e o Sacramento elo a:mor. Falando ás re­
pa:es. ás religiasas benedictinas do con­ ligiosas nestes dois grandes mysterios ela
vento de Rodelsdorf. Foi naquelle con­ religião, fazia-o com tanto ardor e elo­
Yento, que mais tarde fez os santos vo­ quencia, que as con1m1ovia até as lagri­
tos e exerceu as funcções de abbadessa, mas. A uma vida tão intrma com Deus
desde o anno de 1294. Mais tarde pas­ não podiam faltar os dons extraordina­
sou para o convento de Helpedes, onde rios, que geralmente acompanham as al­
egualmente funccionou como superiora. mas eleitas. Frequentes vezes se acha-
Na infancia tinha apprendido a lingua
latina e nella se aprofundado, como o
(•) Autores abalisados, como Kaulen e ou­
exigia o bom tom naquelle tempo. J\Ja­ tros, affirmam que Santa Gertrudes (Tru­
nejanclo com facilidade o idioma de Ci­ tha) não era irmã. de Santa Mechtildes e
cero, possuía Gertrudes profundo conh�­ nunca occupou na Ordem o cargo de abba­
ómento da Diblia. Sempre unida a Deus dcssa. A primeira :;upcriora de Gertrudes
possuia o mesmo nome e della Santa Mc­
na oração, era seu prazer estar na pre­ chtildes era irmã carnal. Dahi resultou a
sença do Ss. Sacramento. Alma profun- confusão dos nomes.

Santa Gertrudes - Da vida da Santa es2ripta por Don Mege. - Cave, Hist. lltter. II.
- Campacci,

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14 de Novembro 403

va Gertrudes arrebatada em extase e o ra, f-ez-se s-erva de todas as religiosas,


amor divino penetrava-lhe todo o ser ele julgando-s·e indigna de viver na compa­
maneira tal, que parecia ser-lhe o subs­ nhia dellas.
tratum ele todas as acções e aspirações. Engana-se quem pensa que Gertru­
E' para admirar que, absorta nas pro­ des, parecendo não fazer outra cous 1
fundezas da mystica, não vivesse mais senão praticas de pi·edacle, tivesse des­
para este mun­ c u r a cl o a s
do e suas vai­ obrigações de
dades? Qu� religiosa e Su­
tidianame n t e peri o r a. Os
casti g a v a o serviços mais
corpo e des­ humildes e ab­
truía em si tu­ jectos ela casa
do que lhe pa­ fazia-os com a
recesse obsta­ maior pontua­
culo á un;ão lidade e satis-
com Christo, ' facção.
seu S e n hur. Intimamen­
Infat i g a ve 1 te ligado ao
e r a portanto amor a Jesus
em praticar a Christo e r a­
obediencia, a lhe a devoção
abnegaç ã o, a a Maria San­
vigilan c i a, o tíssima. D i a
jejum e ou­ n ã o passava
tras obras ele que não se di­
pen.i t e n c i a. rigiss'e em ora­
Entregue cons­ ções, cheia!s de
tante1nente a confiança, á
estes exerci- Mãe de Jesus
cios, era um Christo. Nas
porte n t o ele preces e devo­
humilda d e e ções não lhe
mansidão im­ ficav a in es­
perturbavel. quecidas as al­
Si bem que mas cio purga­
a alma, cons­ t o r i o, parn
tantemente ex­ con11 as quaes
perimentada e Gertrudes re­
por Deus ex­ velava u ,m a
t r a ordinaria­ Santa Gertrudes terna com pai­
mente privile­ Alma profundamente contemplativa, sua occupação xão.
giada, lhe ti­ predilecta era meditar a sagrada Paixão e Morte O voto de
de Jesus Christo.
vesse adqui­ castidade ob­
rido um alto gráo de santi<laclc, Gertru­ servava-o com a mais perfeita fidelida­
cleti enxergava em si só imperfeição. de. Todo o cuidado se lhe dirigia no sen­
Uma expressão desta humildade tem-se tido de conservar sem sombra de man­
nas palavras da mesma Santa: "Um dos cha a innocencia baptismal.
n._aiores milagres da bondade divina é, Firme e inabalavel era a confiança
tolerar-me ainda neste mundo." Longe que depositava em Deus. Em toda e
de se ensoberbecer no cargo de Superio- qualquer necessidade era Deus seu refu-
26 *

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404 15 de Novembro

gio. Dispensando consolo humano, espe­ laça-te com elle estreitamente. Goza as
rava o auxilio divino, que nunca falta delicias nectareas, que manam da contem­
aos que temem e an111am a Deus. Conso­ plação ele seu semblante, radiante de es­
lações dulcissinlas do Espirita Santo, li­ plendores eternos."
bações do calice da Paixão de Jesus, ar­
rcbatanrentos subli1111es ao alto do Tha­ R.EFLEXõES
bor, tristezas profundas de Gethsemani Santa Gertrudes era mestra da oração
- tudo acceitava da mão de Deus, com e da meditação. A oração é a prc •,ica de
egual confo11midade, bemdizendo-lhe o piedade por excellencia. O homem, rodeia­
Santissimo Nome com alegria e beijan­ do de perigos, de tribulaçõls e angustias,
do-lhe a mão, quando lhe mandava tri­ só cm Deus acha, consolo, conforto, protec­
])lilações e clôr. Em tudo e por tudo pro­ ção. E' a vontade de Deus, porém, que este
curava só a realisação do "seja feita a soccorro seja o fructo da oração insistente
e humilde. A palavra, a promessa de Jesus
vossa vontade."
não deixa nenhuma duvida sobre o valor e
As revelações com que Deus a distin­ a cfficacia da nossa oração. Si ás vezes não
guiu, Gertrudes escreveu-as. Este livro alcançamos o que pedimos, não é porque
pe1◄mitte-nos observar de perto a vicia Deus não tenha mantido a palavra. O mo­
intima da Santa, os transportes de amor tivo devemos procurai-o na má condição
com que a alma se lhe elevava a Deus, da nossa oração. A oração deve ser feita
os doces colloquios que entretinha com cm nome de J esns, com confiança, humil­
o celestial Esposo. Ao lado cios livros dade e perseverança. A oração do justo,
ele Santa Thereza, talvez seja o "Men­ feita nestas condições, penetra as nuvens
e não descança, emquanto não chega até
sageiro do divino amor" de Gertrudes a
ao throno do Altissimo.
obra mais importante da thcologia mys­
tica, · mais apropriada para accender o
fogo do santo aimor, nas almas que se
dedicam á vida contemplativa. Snntos cuja, 1ne1noria é celebrada hoje:
O anno de 1334 trouxe-lhe a união Na Russia, S. Josaphat, monge baslliano
tão desejada com o divino Esposo. A e arcebispo de Polosk. Foi morto pelos scis­
n1orte não foi senão a realisação do de­ maticos e canonisado por Pio IX. 1623.
sejo de sua ,alm'a, como Gertrudes mes­ Em Cochinchina, no annci' de 1861, Este­
vão Theodoro Cucnot, vigario apostolico.
ma o exprimiu: "Dizei-111e então, com Morreu no carcere.
a vossa melodiosa voz, estas palavras,
Em Emésa, na Syria, a morte de muitas
que me soarão qual doce hanrJ!onia: mulheres christãs, mortas pelo chefe araLe
"Vê, o Esposo já vem; levanta-te e en- Mahdi.

15 de Novembro

SANTO ALBERTO MAGNO


(t !280)

e, ANTO ALBERTO nasceu no an­ to. Seu desejo era entrar na Ordem dos
� no de 1193 em Lauingen, na Sua­ Prégaclores, graça que alcançou por in­
bia, da familia nobre dos Bollstatt. Os lermedio da SS. Virgem, a quem devo­
paes mandaram-no a Paclua na Italia, tava terníssimo amor. Todos os exerci­
·onde fez seus estudos de aperfeiçoaJmen- cios religiosos da vida monastica em

Sento Alberto Magno - Bulia can. Pii XI.: Brev. Rom.

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15 de Novembro 40.5

pouco tempo lhe eram familiares ; gran­ phia, meteorologia, clirnatologia, physi­
des, porém, eram as difficuldades que ca, mechanica, architectura, chimica, mi­
encontrava no estudo. A' divina :Mãe en­ neralogia, anthropologia, zoologia, bo­
tão recorreu, implorando fosse-lhe con­ tanica. Escreveu livros sobre as ar­
cedido o dom da sciencia. Dizem biogra­ tes praticas, da tecelagem, ela navega­
phos que Maria SS. teria lhe appareci­ ção, da agricultura e outras semelhan­
clo e lhe con­ tes. Suas obras
ferido o dom escript a s en­
desejado, com chem v i n t e
o aviso poréni, grossos volu­
que lh'o seria mes. Seu sa­
tirado quando ber era ele tal
se achasse no fórma univer­
fim da vida. sal e profun­
Tão admi- do, que se o
raveis e r a m honrou com o
cm seguida os titulo de Ma­
progressos que gno.
fez nas scien­ Por alguns
cias, que em annos leccio-
pouco tempo nou nos con­
superava to­ ventos de sua
dos os s,eus Or d e m em
condiscipul o s Hilcles h ·e i 111,
em sabqdoria Ra t i s b o na,
e sciencia. Ad­ Strassb u r g o
miravel era a p a r a depois
facilid a d e, a occupar o car­
clareza · c o 111 go de lente
que sabia ex­ elas universi­
plicar as cou­ dades de Pa­
sas mais diffi­ ris e Colonia.
ceis, circurms­ De todas as
tancia que só p a r t e s cio
se podia attri­ mundo então
buir a uma conhecido e ci­
communicação vili z a d o af­
divina. Seu sa- , fluiam e s t u­
ber abrangia da:ntes, anc10-
todos os ra­ sos ele se 111 s ·
Santo Alberto Magno
mos da scien­ O grande dominicano, maravilha do seu seculo, co­ crever nas lis­
cia. Conhece­ mo Santo, sacerdote e bispo, como theologo profundo, tas dos alum­
dor profundo philosopho illustrado, Mestre dos mestres em todos nos de Santo
os ramos da sciencia, canonisado em 1931.
das disciplinas Alberto e os
theologicas, possuia uma intuição 111a­ mawres salões mostravam-se insuffi­
creditavel nas sciencias profanas, nos cientes para comportar os 11l!;lll'erosos ou­
reinos da néli1:ureza, de maneira que vintes. Entre estes se destacava o gran­
as experie!}cias que em seu laboratorio de S. Thom;az d'Aquino, da mesma Or­
fazia, eram presenciadas com verdadei­ dem domiinicana, a quem prophetisou u111
ro pasmo. Dissertava com a maior pro­ · glorios,o futuro.
ficiencia sobre astronornfa, cosmogra- No meio das acclamações do mundo

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406 15 de Novembro

scicnt1t1co e das ovações dos seus dis­ Tres annos antes ela sua morte princi­
cipulos, Santo Alberto continuou sendo piou a perder a me1noria. Afastado as­
o 111:onge humilde, o nJiodesto prégador sim do magisterio, pôde concentrar toda
cio povo, o amigo da oraçáo. Seus escri­ a attenção na viela religiosa e na oração.
ptos testernunha1111 grande annor a Jesus Todos os dias visitava o logar de sua
Sacrannentado e á Mãe de Deus. A cir­ futura sepultura, onde rezava o officio
cumstancia de trezentos e trinta annos elos defuntos pedindo a Deus a graça
depois da ·sua morte seu corpo ter sido ele uma boa morte.
encontrado sem vestigio de decomposi­ Morreu a 15 de Novembro de 1280,
ção, por n1uitos tem sido tomada em tes­ cercado dos innãos de sua Ordem, por
temunho de sua pureza s-em macula. elles e pelo povo chorado. Desde ha mui­
Em 1254 foi nomeado Superior Pro­ tos annos venerado odmo bemaventura­
vincial de sua Ordem na Allemanha. do nos conventos da Ordem dominicana.
Nesta qualidade fundou diversos con­ Pio XI em 1931 canonisou-o, dando-lhe
ventos, visitou os já existentes e nelles o titulo de Doutor ela Egreja.
incentivou o espirito religioso. Em to­
das as suas viagens de visita, que fazia REFLEXõES
a pé, vivia das esmolas que pedia e lhe A vida de • Santo Alberto Magno prova,
dava:m. que todo o saber vem de Deus. Si temos
talentos, delles não ·nos elevemos orgulhar,
A Santa Sé, confiou-lhe negocios ele porque de Deus é que os recebemos. Si o
niaior i'n�portancia. Alexandre IV, cm mundo nos admira, bate applausos aos nos­
1260, nomeou-o bispo ele Ratisbona. Em sos trabalhos, a Deus é que pertence esta
gloria, a Deus, que é sabedoria eterna e o
pouco tempo levantou a diocese do· es­ doador de todos os bens. Nada somos e
tado precario material e espiritual cm nada temos. Si a Deus toda a gloria e hon­
que se achava, trabalhando sempre, co­ ra devemos dar, não menos certo é que dos
mo o Bom Pastor, pela disciplina eccle­ talentos que nos foram confiados, e do uso
que clelles fizemos um dia havemos de pres­
siastica e reforma cios costumes. Passa­ tar contas ao Juiz eterno.
dos dois annos pediu ao Santo Padre
exoneração deste cargo, e voltou para a
universidade ele Colonia. Septuagenario, Santos do Martyro1ogio Romano, cuja me-
recebeu de Urbano IV a missão de pré­ 11,cria é celebrada hoje:
gaclor ela Cruzada na Allemanha e na Na Hespanha o martyrio de Santo Euge­
Bohemia. nio, bispo de Toledo, discipulo de S. Dionysio
Ar('opagita. 95.
Em 1274 assistiu ao 2.° Concilio de Em Edessa, no tempo do imperador Dio­
Lyão, onde se occupou da união ela cleciano o martyrio de Gurias e Samónos.
Egreja grega com a latina. Em Nola o martyrio do Bispo S. Felix.

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15 de Novembro 407

15 de Novembro

S. Leopoldo da Austría
(t 11:6)

LEOPOLDO IV' 1:1o d e lo cl::


cognominado o p e rfe i ção
piedoso, des­ christã. Para
cende n t e da 03 s u b ditos
casa da Aus­ era Leopoldo
tria, n a sceu um verdadeiro
em Melk no pae, que os
anno de 1073. gov e r n a va
A piedade dos com justiça e
paes commu­ caridade, ten­
nicou-se ao fi­ do deante dos
lho, que desde olhos constan­
a mais tenra temente a
ecl ade revelou gr a n d e res­
indubita v e i s p o nsabilidade
signaes de fu­ perante Deus.
tura santida­ Ignez, a es­
de. Como o posa de Leo­
piedo s o To­ poldo, rivali­
bias do Anti­ sava com elle
go Tesramen­ em virtude e
to, os paes ele santidade. Ins­
Leopoldo 1111- pirada por el­
plantaram no la, L e o poldo
cor a ção da fundou o ce­
cre a n ç a os lebre convento
princ1p1os do de Neuburg,
temor de Deus com o 11111co
e da caridade. fim ele ter uma
Apoiado assim Ordem religi­
pelo exemplo o;;a, sustenta­
dos paes e pe­ da por clk,
la oração, con­ S. Leopoldo que pelas ora­
Inspirado por :-;ua esposa lgnez, fundou o celebre
servou-se Le­ Convento de Neuburgo...
ções e obras
dpoldo pu,ro de caridade
do contagio pestifero do mundo. attrahisse a benção ele Deus sobre o go­
Tambem quando, pela morte do pae, verno e a nação inteira.
teve de assum,ir a responsabilidade do Leopoldo governou durante 40 arnms,
governo, ficou fiel aos ines.mos princi­ com muita felicidade, e os subditos vi­
pios, .dle modo que aos subclitos, como viam-lhe em paz e boa ordem. Estimado
aos outros príncipes, podia servir de por todos, venerado como Santo, deixou

S. Leopoldo - Vida do Sa::ito per Vito Ercmprecht. Lambecius Bibl. Vindob. II. -­
Surlus.

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408 16 de Novembro

Leopoldo esta terra em 1136, para tro­ tosamente, acoimando-os de oéiosos, de


elementos inuteis, improductiveis e até no­
cai-a pelo eterno reino ela gloria celes­ civos. Que o dinheiro se empregasse na
tial. Numerosos milagres que s•e lhe de­ manutenção de hospitaes, de escolas e de
raim no tunnulo, revelaram o grande po­ asylos, mas não para· sustentar um.a elas.se
der ela sua intercessão junto ao throno que nada merece. Para que precisamos de
sacerdotes, de frades, de freiras ? Ha ou­
de Deus. O Papa Innocencio IV inseriu tras necessidades, cuja existencia reclama o
o nome de Leopoldo no catalogo dos nosso soccorro ! - Quem não ouve nestas
Santos. argumentações o echo da palavra amofi­
nada, que um apostolo proferiu por occa­
REFLEXÕES sião de um grande banquete, em que o di­
vino Mestre permittiu que uma mulher lhe
S. Leopoldo fundava egrejas, conventos ungisse a cabeça com nardos preciosos ?
e escolas; defendia e protegia os ministros "Para que este disperdicio, perguntou J u­
de Deus e os religiosos; clava-lhes meios das; não se poderia vender o unguento por
sufficientes de subsistencia, para que pu­ 300 dinheiros e dai-os aos pobres ? " (Marc.
dessem tranquillamente trabalhar no ser­ 14. Jo. 12. 4.) Mas S. João qualificou muito
viço de Deus e se santificar pela oração e bem o descontente apostolo, chamando-o
pelas boas obras. - Hoje são poucos os de ladrão. "Não dizia isto porque tivesse
que pensam como S. Leopoldo. Esmolas ou amor aos pobres, mas porque era ladriío
subvenções pedidas cm beneficio de con­ e guardava a balsa."
ventos, cgrejas e seminarios., julgam-nas Judas tem muitos imitadores no zelo de
mal empregadas. Em vez de acatar os sa­ impedir que se faça um bem a Jesus Chris­
cerdotes e religiosos, tratam-nos desrespei- to, na pessoa dos sacerdotes

16 de Novembro

SANTO ·EDMUNDO
(t 1241)

�ANTO EDMUNDO nasceu em companhias e tivesse sempre muita de­


� Abington, perto de Oxford, na vsoção á SS. Virgem. Edmundo, embo­
Inglaterra. O pae, ho1nem piedosissimo, ra longe ela mãe, obedeceu fielmente ás
querendo viver unicamente para Deus, ordens recebidas e conservou-se impol­
retirou-se para uun convento, onde ter­ luto no contacto com o mundo. A' noti­
minou os dias e a mãe, matrona de altas cia da mãe ter enfermado gravemente,
virtudes, deu uma educação primorosa deixou Paris em demanda da casa pa­
aos filhos - Edmundo e 'Roberto. Ca­ terna, para receber-lhe a benção e os ul­
tholica fervorosa, dava ás vezes peque-• timos conselhos.
nos premi-os aos filhos, para dispôl-os Como a:o mais velho dos filhos, coube
a jejuar em dias determinados e grande a Edmundo tomar a si os negocios ela
lhe era a satisfação de vêr que os peque­ familia. Morta a mãe, muita preoccupa­
nos espontaneamente, todas as sextas­ ção teve com o futuro de duas irmãs,
feiras, faziam jejum a pão e agua. as qttaes, por serem de rara belleza,
Quando mais tarde Edmundo foi a Pa­ maior perigo corriam de serem victimas
ris, com o hm de continuar os estudos, da perversidade do mundo. Elias se re­
recebeu da mãe um cilicio, com o conse­ solveralm á vida religiosa num convento,
lho de usai-o duas ou tres vezes por se­ e Edmundo voltou a Paris, para con­
m:ana. Ordenou-lhe que evitasse os di­ cluir os estudos. Oração assídua, amor
vertimentos profanos, fugisse das más ao trabalho, mortificação e grande devo-

Santo Edmundo - Martene, Thesaur. Anecd. III. - Wood, Hist. et Antipu. Oxon. 9. -
Godwin, de Praesul. Angl. Buttler XI. ·

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16 de Novembro 409

ção a Maria SS. apparelharaim-no bem, que o tinham indicado para a dignidade
na lucta contra os perigos que ameaçam episcopal, tornaram-s·e-lhe inimigos im­
a mocidade, nas escolas superiores. San­ placaveis. Tanta era a guerra que estes
ti ficando os estudos pela virtude, esta elelmentos poderosos moveram contra o
se consolidava cada vez mais, pelo ardor arcebispo, que este, vendo que na sua
com que Edmundo se dedicava aos la­ terra nada mais podia fazer, se retirou
bores. para o convento de Pontigny, da dio­
Tão extraordinarios foram os resul­ cese de Auxerre, na França, onde teve
tados que alcançou nas sciencias profa­ uma recepção honrosissima. Sentindo já
nas ·e religiosas, que os proprios mes­ em si os germens de doença mortal, Ed­
tres, admirados do que viam e ouviam, mundo, em procura de allivio p3!ra os
lhe offereceram o grau do doutorado e soffrimentos, transferiu a residencia
insistiram para que leccionasse theolo­ para o convento de Sossac. As melhoras
gia e se dedicasse á prégação da palavra que se esperavam da mudança de ar,
divina. Edmundo recebeu o Sacramento não appareceram e aggravou�se o estado
<la Ordem e conl!o sacerdote desenvolveu do doente dia por dia. Elle mesmo pe­
um tão grande zelo pela gloria de Deus diu o santo Viatico e com os braços
e a salvação das almas, que em pouco abertos, adorou a santa Hostia com tan­
tempo era o mais celebrado missio11<1Jrio to fervor, que causou admiração aos
da Inglaterra. A fama da santidade e que assistiam a este acto. Edmundo fe­
dos trabalhos apostolicos attrahiram-lhe chou os olhos para esta vida no dia 16
a attenção do Sun1mo Pontifice, que lhe de Novembro de 1241, sendo-lhe a mor­
deu a incumbencia de fazer prégação te glorificada por muitos milagres. Os
contra os Albigenses. EcL:mundo, embo­ restos mortaes do santo arcebispo foram
ra com muito receio, dedicou-se tambcm levados a Pontigny. Santo Edmundo,
a esta tarefa e os esforços foram-lhe co­ canonisado em 1245, goza de grande ve­
roados de exito. Depois do regresso pa­ neração entre os catholicos da Ingla­
ra Inglaterra, lá o esperaram novas hon­ terra.
ras e distincções. Vaga a séde archi­
episcopal de Canterbury, foi Edm1111cio REFLEXõES
por Gregorio XI nomeado arcebispo, Da piedosa mãe Santo Edmundo rece­
ndmeação que o Santo acceitou só de­ beu o conselho de evitar as más compa­
pois de muito reluctar. Sacerdote exem­ nhias. Não teve de arrepender-se da obe­
plarissimo, missionario de uma dedica­ diencia escrupulosa ao conselho da proge­
nitora. - Todo o homem, principalmente
ção sem par, como arcebispo Edmundo o joven, deve fugir da companhia de máos
era o pae dos pobres e orphãos, defen­ amigos. E' incalculavel o mal que a . má
sor das viuvas, refugio dos perseguidos, companhia produz. Quantos e quantos mo­
consolador dos afflictos e doentes, ini­ ços se perderam e se perdem .por causa da
má companhia que frequentam. "E' assim
migo <lo vicio, sob qualquer fórma que mesmo, diz S. Chrysostomo, que um ho­
este se revelasse. Para os pobres pecca­ mem piedoso se perde na companhia dos
dores era pastor misericordioso e com­ máos, mas não se dá o contrario, que o
passivo, e pela mansidão e caridade re­ bom converta os impios ". S. Bernardo af­
firma que o demonio se serve de homens
conduziu muitos infelizes ao aprisco do perversos para fazer o mal, que elle pro­
Senhor. Não tardou que surgissem ini­ prio não está em; condições de fazer. A
migas poderosos contra o santo arcebis­ experiencia quotidiana confirma este con­
po, cujo zelo pela causa do bem, cuja ceito. Muitos, que valorosamente resistiram
ás tentações fortíssimas do demonio fra­
firmeza no combate do mal, cuja infle­ quearam miseravelmente deante dos 'máos
xibilidade na defeza dos direitos da conselhos, das promessas e argumentações
Egreja, provocaram a ira dos elementos de pessimos companhf'iros. Quem quer vi­
m,aus. O proprio rei ·Henrique III e ver piedosa1111ente e santamente morrer
fuja das más companhias mais do que d�
muitos Grandes da nação, os m'esm.os proprio demonio.

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410 17 de Novembro

Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ companheiros. Todos foram amarrados â.


moria é celebrada hoje: cauda de cavallos bravos e arrastados até
Na Africa o martyrio de Rufino, Marcos morrer.
e Valerio. No Japão, no anno de 1722 o martyrio do
Na perseguição de Juliano Apostata o jesuíta Paulo Navarro, que morreu queima­
martyrio de Elpldio, Marcello, Eustachlo e do.

17 de Novembro

S. Gregorío, o Thaumaturgo
( t 279)

e
�Q
GREGORIO, Bispo de Neocesa­
réa, no Ponto, era filho de pa·es
liz, lhe désse quanto dinheiro exigisse.
:\Tal a mentirosa tinha recebido as moe­
ricos, ma:s pagãos. O cognome de das, quando ficou possessa do dernonio e
"Thaumaturgo" veiu-lhe do grande nu­ atormentada de um modo horroroso. Em
mero de milagres que em vida operou. altas gritos confessou a maldade e pe­
Gregorio possuía uma natural inclina­ diu perdão a Gregorio. Embora este
ção á caridade e uma sêde insaciavel de ainda não. tivesse recebido o baptisrno,
sciencia. Este desejo irrepr�mivel levou-o invocou o nome de Deus e livrou a mu­
a Cesaréa e Alexandria, onde se dedicou lher da possessão. Este facto poderosa­
ao estudo das artes liberaes. Os livros mente influiu para accelerar-lhe a mar­
pagãos, porém, fizeram com que o pa­ cha ela conversão e fazer-lhe pedir o sa­
ganismo, com suas doutrinas arbitrarias, cralmento do baptismo. Feito christão,
o enfastiasse. Da leitura de livros chris­ pmcurou orientar a vida e os principias
tãos ganhou o conhecimento de verda­ pelas regms da religião que abraçára.
des inconcussas e eternas da nossa santa Alguns annos ainda passou em Alexan­
fé. A vida particular era-lhe pura e um dria, para completar os estudos e depois
odio particular votava Gregorio ao vicio voltou para a patria. Lá dedicou todo o
tão con:ern:um ,entre os pagãos - á im­ tempo a orações e á meditação, mostran­
pureza. Alguns dos companheiros, que do a todos que o visitavam, a cegueira
disto se desgostaram, co"mbinara1m com da superstição, a fealdade dos vicios, a
uma rniulher de vida facil, que, na pre­ verdade da religião christã e a belleza
s,ença de muitas pessoas, interpellasse a das virtudes. Elm pouco tempo possuia
Gregorio acerca de um dinheiro que lhe a estima e confiança de toda a popula­
tinha prnmettido. O facto deu-se numa ção. Phedi11110, bispo de Amasea, ficou
occasião em que Gregorio se achava em tão agradavelmente impressionado pela
discussão cam alguns sabios, rodeado de pessoa de Gregorio, que o ordenou bis­
muita gente. Todos, ao ouvirem a mu­ po de N eocesaréa.
lher fazer a exigencia, summamente se Existia:m na cidade não mais que de­
admiraraun, porque de Gregorio ninguelm · zasete christãos ; o resto ela população
suppunha que tiv,esse relações equivocas. era de idolatras. Antes de tomar as re­
Gregorio não menos se admirou, mé):s, deas do governo episcopal, Gregorio se
conscio de sua innocencia e não queren­ retirou para a solidão e em ardentes ora­
do interromper a discussão por amor de ções a Deus e Maria Santissima, pediu
uma vil calumniaclora, pediu a um dos luz para camprehender de que modo de­
amigos que, para tapar a bocca da infe- via dirigir os fieis e converter os conci-

S. Gregorio Thaumaturgo - Da blogr. de S. Gregorlo de N"ys3::i., Cf. Euscbius Hist.


VI. 2. - Tillemont IV. Ceilller III. Buttler XI.

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17 de Novembro 411

dadãos ao christianismo. Bmquanto re­ Nesta difficuldade recorreu á oração.


zava, teve U'ma apparição de Nossa Se­ Qual não foi a admiração e o espanto
nhora e ele S. João, o qual da Mã-e ele de todos que presenciaram o espectaculo,
Jesus recebeu ordem para ensinar a Gre­ quando viram a montanha recuar até o
gorio o que havia de fazer e corno dou­ ponto desejado, , dando assim Jogar á
trinar. construcção da nova egreja. Este e ou­
Assim confortaclo, Gregorio pôz mãos tros factos extrnordinarios, que na vicia
á obra e encetou logo a propaganda da de Gregorio se reproduziram quasi dia­
fé entre os pagãos. Milagres estupendos riamente, impressionaram os pagãos ele
com que Deus o favoreceu grandemente, tal maneirn., que em grandes massas pe­
facilitaram-lhe o elmprehendimento. An­ diram ser acceitos no seio da Egreja ca­
tes ele chegar á cidade viu-se obrigado a tholica.
pernoitar - com o companheiro - num Naquella região havia um rio, cujas
templo pagão, que havia na beira ela es­ inundações annuaes e quasi sempre na
trada. O de1nonio costumava servir-se estação do inverno, muito prejudicavam
elos ídolos lá existentes, para fazer com­ casas e campos. O povo, em sua ancia,
municações a quem as pedisse. Gregorio recorreu ao Santo Bispo. Este, acompa­
passou a noite toda em oração, benzeu nhado de muita gente, dirigiu-se ao Jo­
o logar e expulsou o clemJonio. Quando gar onde as aguas do rio costumavam
no dia seguinte o primeiro elos sacerdo­ romper o dique. Lá fincou o báculo na
°'
tes pagãos chegou a:o templo, para offe­ terra. O bastãà criou raizes, cresceu,
recer os sacrifícios, foi na entrada elo transfotimou-se em grande arvore e da­
edificio surprehendido por um alarido quella data ·em diante as aguas nunca
infernal. Os demonios contaram-lhe o mais ultrapassaram o Jiímite, que o Bispo
acontecido, queixando-se do bispo, que lhes tinha marcado.
os obrigára a sahir elo templo. O sacer­ Dois irmãos estavam em forte conten­
dote dirigiu-se ao bispo e com ameaças da, por causa de um tanque piscoso. Co­
exigiu a rehabilitação elos espíritos na mo não houvesse possibilidade de che­
sua propriedade. Gregorio aproveitou-se gar a accordo sobre a posse do tanque,
ela occasião para lhe cleJ1nonstrar a im­ era para te1ner tnm elesfecho desa:stroso
potencia elos deuses e a omnipotencia de da questão. Por uma outra vez S. Gre­
Deus supremo. Para provar-lhe que gorio conseguira restabelecer a paz en­
Christo tem o poder de chalmar e enxo­ tre os dois pretendentes. Vendo, porém,
tar os demonj.os, tonJIQU de um papel e que esta era de pouca duração e os ani­
nelle escreveu só wna palavra: "en­ mos não se acalmava:m, pediu a Deus
trae." Este papel o sacerdote devia pôr �ma intervenção salutar. Na mesma
no altar do templo e esperar pelo que noite o tanque seccou e a briga não teve
adviria. O pagão fez o que o bispo lhe mais razão de ser.
ordenou e os demonios tornaram a en­ Si bem que taes e outros factos o fi­
trar no templo. Este facto ahriu os olhos zessem subir muito na estima do povo,
ao sacerdote, o qual com 'a familia toda Gregorio procurou o mais possivel de­
se converteu. Muitos outros lhes segui­ clinar de si as honras, que os fieis lhe
ram o exemplo.• rendiaJm. Constantemente trazia comsi­
O m1mero cada vez crescente elos fieis go reliquias de Santos e a estas attribuia
reclamou a construcção de uma egreja. os milagres, que tão frequentemente se
O lagar onde se devia erguer o novo observavam:.
templo, era bastante limitado, devido a Si o Bispo gozava de geral estima,
uma montanha cujo sopé se estendia havia alguns que o desprezavam e odia­
consideravelmente. A egreja, deante vam, entre estes dois judeus. Estes se
desta circumstancia, não podia ser feita dirigiram a ulm logar onde o Bispo to­
nas dimensões que Gregorio desejava. dos os dias costumava passar e preten-

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412 18 de Novembro

deram divertir-se á sua custa. Quando ou Jogar de destaque, mas no cemiterio


de facto Gregorio passou, 11111 dos dois commum. S. Gregorio morreu em 270,
estava no chão, fingindo-se morto e o na eclacle de 70 annos.
outro, com fingidas lagrimas, lhe pediu
uma esmola, para poder fazer o enterro REFLEXõE'S
cio companheiro. Gregorio, v,endo que O maior cuidado que S. Gregorio teve na
vida, foi cumprir pelas obras o que no ba­
não tinha dinheiro conrsigo, deixou-lhe ptismo tinha promettido. Quando o homem
o manto e foi-se. Satisfeito ele ter enga­ é baptizado, renuncia ao máo espirito, á
nado ao Bispo, con-.municou a troça ao sua vaidade e ás suas obras, faz uma al­
liança com Deus e promette só a elle ser­
morto fingido, ma.s qual não foi o es­ vir e observar-lhe os santos mandamento;.
panto, vendo que este da vil comedia ti­ Esta alliança o homem dissolve cada vez
nha passado á morte rea.l e não mais se que commette um peccado grave. Obser­
levantou. vaste fielmente o que a Deus prometteste
no baptismo ? Pode-se de ti affirmar em
S. Gregorio, sentindo já os rebates toda a verdade o que S. Bernardo dizia :
ela morte, pela ultima vez quiz visitar "Renunciaste ao máo espirita e é a elle
que estás servindo ? " Promctlc.:t2 a Det:s
toda a diocese. Logo depois adoeceu gra - servir a Elle só e observar-lhe os manda­
vemente e terminou a viela abençoada m'entos, e praticas o contrario. Envergo­
com 1.11rna santa morte. Antes de fechar nha-te deante de teu Deus e chora tua in­
os olhos para o ultimo sornno, pergun­ fidelidade. Renova tuas promessas de ba­
ptism'o e observa-as melhor, futuramente.
tou ainda pelo numero elos pagãos exis­
tentes na cidade. Quando lhe disseram Santos do Martyrologio Romano, cuja mc­
que era!m dezesete, respondeu: "Graças JJ .oria
é celebrada hoje:
a Deus ! quando vrm para tomar conta Na Palestina os martyres Alphéo e Za­
da diocese, havia apenas dezesete chris­ chéo, victimas da perseguição diocleciana.
Em Cordoba os martyres Aclsclo e Victo­
tãos. Deus os conserve na santa fé e ria, irmãos, mortos na perseguição diocle­
conceda a todos os infieis a luz da ver­ ciana.
dade." De accordo com o desejo do Na Inglaterra a memoria do bispo St. Hu­
Santo, achou repouso não numa egreja go. 1200.

18 de Novembro

S. D IO N YSIO, BISPO
(t 265)

1� LEXANDRIA parece ter sido o baptisn10. A conversão ele Dionysio foi


tão radical, que rienunciou a toda scien­
� berço de S. Dionysio, onde nasceu
ele paes ricos e nobries. Dotado ele bel­ cia que não conduz a Jesus Christo e
los talentos e animado de um grande <le­ pediu admissão entre os discipulos de
sej o de estudar, fez rapidos progressos Origenes. Ordenado sacerdote, foi no­
nas sdencias. A leitura das epistolas de meado mestre na escola catechetica em
S. Paulo fel-o comprehender a vaidade Alexandria. Os grandes conhecimentos
e nialdade do paganismo, no qual tinha que tinha da Sagrada Escriptura e da
sido educado. O bispo Demetrio de Ale­ Tradição causaram admiração geral.
xandria instruiu o joven sabio na dou­ Quando morreu o bispo Heracles, foi
trina christã e administrou-lhe o santo Dionysio eleito successor em 246.

S. Dlonyslo - Buttler. Euseblus, Hlst. Ilb. 6. e 7. Hleron. Catai. - Tillemont IV. -


Cave I. Cellller III.

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18 de N oveIT1ibro 413

A paz de que os christãos gozavam Quando em 257 foi decretada nova


no governo cio imperador Philippe, deu r,ersegttiição, desta vez pelo Imperador
Jogar a uma cruel perseguição, movida Valeriano, Dionysio foi intimado a aban­
por Decio. Os decretos sanguinarios donar Alexandria e dirigir-se para Kep­
desta perseguição appareceram em Ale­ fro, na Lybia. O tempo que lá passou,
xandria, no anno de 250. Uma elas pri­ foi uma benção para aquelle povo, o
mseiras victirna.s deveria ser o bispo, mas qual, sendo pagão, quasi na sua totali­
os diocesanos, principalmente o bom po­ clacLe, abraçou a religião de Christo, de­
vo do campo, o escondeu e defendeu coa.n vido ao zelo apostolico que Dionysio des­
tanta habilidade e energia, que a perse­ envolveu.
guição não conseguiu apoderar-se de Em 250 cessou a perseguição, e Dio­
sua pessoa. Quando voltou para Ale­ nysio pôde voltar para Alexandria, on­
xandria, achou · o rebanho perturbado de encontrou tudo a braços com grandes
pela heresia novaciana, cujo erro prin­ desordens.
cipal dizia que o poder da Egreja é li­ Dionysio escreveu diversos livros, em
mitado no perdoar todos os pecca<los. que defende a doutrina catholica cantra
Dionysio empregou toda a energia para Sabellio de Ptolomaide, que negára a
combater esta doutrina falsa e perni­ di fferença entre as pessoa:s divinas e
c10sa. escrevia contra a divindade de Jesus
A peste que em 253 dizimou a popu - Christo.
lação do imperio romano, chegou ta1111- O estado de saúde abalada não lhe
hem a Alexandria, e Dionysio prestou permittitt toméllr parte no Concili"o de
naquella occasião grandes serviços ,, Antiochia, que se realizou em 264. Dio­
christãos e pagãos. Notavel foi a di f fe­ nysio morreu no anno de 265, no deci­
rença no •modo com {Jue o flagellu foi mo setimo do seu episcopado.
recebido por uns e outros. Emquanto os REFLEXÕES
pagãos se entregavam ao desespero, os S. Dionysio tornou-se outro homem com
christãos soffriain com paciencia, con­ a conversão ao christianismo. A religião
nwstrou-lhe uma felicidade, que não é aquel­
formando-se socega<lamente com a:; de­ la a que os mundanos aspiram: prazeres,
terminações da vontade divina. honras e riqueza. Está no homem o desejo
Outra grande perturbação foi causa­ profundo e inextinguivel de ser feliz. Até
da pela crença que se tinha formado en­ hoje o mundo não cumpriu as promes·sas
de dar felicidade a quem se lhe confia. As
tre o povo, do imperio millenar de promessas são falsas e os bens enganado­
Christo. Era opinião de muitos chris­ res. A riqueza gera a ambição, a inveja e a
tãos que Jesus Christo reinaria aqui na dissolução dos costumes; honras e glorias
terra mil annos antes do juizo final e são as raízes do orgulho e de inimizades ;
prazeres illicitos deixam na alma o tedio
para justificar esta doutrina, estriba­ e a dôr. E' isto que o mundo offerece: uma
valm-se nas declarações do Apocalypse felicidade ephemera, inconstante e falsa. O
ele S. João. Dionysio oppôz-se a esta que o mundo não póde dar, em nós pro­
prios encontramos. Tranquillidade e felici­
doutrina, cujo maior pr-opagandista era dade não andam tão longe como pensa111os.
o Bispo Nepos, de Arsimoé. "O reino de Deus está em vós", diz-nos Je­
Devido á intercessão de Dionysio jun­ sus Christo. "Nossa gloria - affirma o
Apostolo (2. Cor. l. 12.) - é o testemunho
to á Santa Sé, foi evitada a excam\nu­ de nossa consciencia", que de nada nos ac­
nhão que o Papa Estevão queria lançar cusa. A felicidade de ser filho de Deus
contra S. Cypriano e outros bispos afri­ herdeiro de Deus, coherdeiro de J csu;
canos, que defendia1111 a necessidade ela Christo; a convicção intima de ter proce­
dido correctamente para com Deus e os
repetição do baptismo cios que tinham homens; o consolo que temos no perdão
abjurado a heresia e voltado ao seio da dos nossos peccados, a esp<'r;mça de uma
Egreja. Assim Dionysio trabalhava sem­ feliz eternidade, o desprezo dos bens ter­
pre com espírito conciliador, no interes­ renos, a lembrança do nosso grande desti­
no - eis as fontes da felicidade verdadeira
se da conservação da paz na Egreja. Feliz de quem as descobre em sua alma.

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414 19 de Novembro

Santos do Martyrologio Romano, cuja me­ Pio IX mandou-a restaurar e consagrou-a


moria é celebrada hoje: em 10 de Dezembro de 1854.
A consagração das basillcas dos prlncipes Em Antiochia, no tempo do Imperador Ga­
dos Apostolos em Roma. A de S. Pedro foi lerio, o martyrio de S. Romão; que morreu
consideravelmente augmentada e rgstaurada. enforcado no carcere. No mesmo dia. morreu
A de S. Paulo foi destruida 1823 por incendio. decapitado Bárula, carcereiro de S. Romão.

19 de Novembro

Santa lzabel de Thuríngía


(t 1231)

e. ANTA IZABEL, modelo de pie­


� dade e pureza para almas virgi­
vador, o qual, corôaclo ele espinhos,
morreu em uma cruz. O dinheiro que se
naes, exemplo de caridade e modestia lhe dava para os gastos e divertimentos,
para casados, modelo de paciencia para clistribuia-o entre os pobres, pedindo-lhes
viuvas, espelho de tcxlas virtudes para llUe por ella rezassem. Egualmente bella
ricos e pobres, nasceu na cidade de e foI'mosa ele corpo como de alma, Iza­
Pressburg, na Hungria, no a11110 de bel aborrecia tudo que pudesse, ainda ele
c1205. Era filha do rei André II. da leve, macular a pureza de coração.
Hungria e de Gertrudes, cluqueza ele Quando em 1216 morreu o landgrave
Oarinthia. De accorclo com o costume Hermano, o filho, noivo de Izabel, to­
claquelle tempo, creança ele berço ainda, rnou as redeas do governo. Muito de­
foi promettida em casamento a Luiz, pendente das pessoas que o rocleiavam,
Landgrave de Thuringia, na côrte cio . principaltnente da mãe D. Sophia ele Ba­
qual passou a infancia, para ser educa­ viera, não pôde evitar que a noiva sof­
da junto com o noivo, que tambem era fresse diversos vexaimes. Não consentiu,
ainda creança. Desde a infancia revelou porém, na proposta de desmanchar os
Izabel uma inclinação pronunciada á esponsaes; pelo contrario, deu á querida
oração e a outras praticas de piedade. noiva as provas mais evidentes ele gran­
Com os annos cresceu-lhe a religiosida­ de e sincero affecto e deixou-lhe t ,ocla a
de e uma terna compaixão pelos pobres libet'clade na pratica elas obras ele cari­
e necessitados. Embora vivesse numa dade, de penitencia e piedade. No anno
côrte esplendorosa, rodeiacla de tudo que de 1220 se effectuou com muita pompa
o mundo pó_de oHcrecer, Izabel era ini­ o casamento de Luiz e Izabel. Luiz tinha
miga de toda a vaidade, cios divertimen­ vinte e um annos, Izabel apenas quinze.
tos ruidosos e cla:s excrcscencias riclicu­ Oom o dia do casamento cessaram para
las da moda. a joven princeza as persegu =ções, malc­
As visitas preclilectas eram as que fa- dicencias e mexericos da park dos des­
. zia á egreja, onde com o maior reco­ affectos da côrte e começou uma epoca
lhimento se entregava á oração. O dia­ de verdadeira felicidade. Todas as noi­
dema, cravejado de diatnantes, que lhe tes passava algumas horas em oração,
cingia a cabeça, ao entrar na casa de de joelhos no chão. Rigorosa contra si,
Deus, depunha�o, achando não convir a tornou-se urna verdadeira mãe cios po­
uma pobre creatura ostentar uma corôa bres e protectora cios af flictos; em pes­
de ouro, na presença ele seu Deus e Sal- soa visitava as choupanas, distribuia

Santn Izabel - Canü;ius, lectiones antiqu,e V, - Montalcmbert - Alban Stol:::.


Buttler XI.

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Santa lzabel de Thuringia
Tiigorosa contra si, t0rnou-se n,ã,e dos pobres E> consoladora dos afflictos.
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416 19 de Novembro


mantimentos e roupas feitas pelas pro­ mlanno, em hornenagem ao pae. Para
prias mãos, resava com os agonisanres, dar a conhecer publicamente o extraor­
preparava os mortos para o enterro. Co­ dinario regozijo que lhe causava o nas-
mo recompensa de tantas obras de cari­ . cimento do filho primogenito, o duque
dade feitas no corpo mystico de Christo, mandou construir 11ma ponte sobre o rio
o esposo, que voltava da caça, vendo-a Werra e uma capella em estylo gothico.
dirigir-se aos pobres, pediu que mos­ O céo concedeu ao piedoso casal mais
trasse o que trazia no manto e viu os tres filhas. A mais velha, Sophia, ca­
1

mantrmentos transformados em lindas sou-se com o duque Henrique II. de Bra­


rosas brancas e vermelhas, e em outra bantia. A segunda, egualmente chamada
occasião Izabel, tendo deitado no leito Sophia, veiu a ser abbadessa no conven­
nupcial um pobre !azaro, a Luiz apresen­ to ele Kitzingen, e a terceira, Gertmcles,
tou-se no doente Nosso Senhor Jesus nasceu depois da morte do pae e fez-se
Christo crucificado. Crescendo o numero religiosa no convento de Altenberg, on­
de doentes, Izabel fundou um hospital de funccionou como abbadessa.
perto do castello, e todos os dias visita­ Do fim do anno de 1225 até o meh­
va os pobres protegidos servindo-os de clo de 1226 esteve Luiz, com o Impera­
tudo qll'e o estado dos enfermos exigia. dor da Allemanha, na alta Italia. Du­
· Em 1221 recebeu Izabel a visita do rante este tempo estava o governo nas
pae, que tinha voltado de uma cruzada mãos de Izabel. Na grande fome que
ao Egypto. No anno seguinte Luiz e coincidiu com esta epoca, a caridade ela
Izabel fora11TI a Hungria, para assistir santa princeza não conhecia limites. Em
ao segundo casamento do rei André. ( A Eisenach foram fundados dois hospi­
primeira esposa, mãe ele Izabel, tinha ta:es, u!m do Espírito Santo e outro de
sido assassinada.) Foi pela mesma occa­ Sant'Anna, um orphanato ; a padaria
sião que chegaram á Thuringia os pri­ do Wartburg ( rnstello onde residia San­
meiros Franciscanos. Izabel recebeu-os ta Izabel) fornecia cada dia pão para
com muita honra e com o consentimento novecentos pobres. Os emolumento!:> rlc
do esposo professou a regTa da Ordem quatro principados foram por ordem Ja
Terceira, sendo a primeira Irmã Tercei­ regente empregados para alliviar a ne­
ra na Allemanha. O proprio S. Francis­ cessidade do povo. E' bem possível que
co ele Assis mandou á duqll'eza, que se Izabel tenha naquella occasião de extre­
lhe tornára agora filha espiritual, sua ma miseria gasto perto de 64. 000 flo­
velha capa, como symbolo ela pobreza e rins, so11111na enorme para aquella epoca.
humildade. Mulher vaidosa, recebendo Os e1111pregados da côrte não approva­
de presente um vestido ela ultima moda, vam a generosidade da duqueza e ao re­
não podia experi:mentar satisfação maior gressar o duque Luiz denunciaram-lhe
que Izabel, ao receber este precioso as liberalidades da esposa. Luiz, porém,
mimo. Sempre que queria obter de respondeu-lhes: "Deixae a minha boa
Deus uma graça especial, cobria-se com Izabel dar quantas esmolas lhe aprouver
esta capa, certa de que em attenção a e ninguem a contrarie no que fizer pe­
seu santo Sl!rvo Francisco, não deixaria los necessitados."
ele attendel-a. Para Izabel principiou u1111 período de
Confessor de Santa Izabel foi Conra­ muito soffrimento. No anno de 1227 o
do de Marbuirgo, homem de vasta scien­ Imperador Frederico II afinal se dispôz
cia, de costumes exemplares e ele muita a emprehender a cruzada que, havia
pratica nas virtudes christãs. Naquelle muito, tinha promettido ao Papa. Com
tempo exercia o cargo ele comnnissario muitos outros príncipes tambem o du­
apostolico na Allemanha. que Luiz recebeu das mãos do bispo de
Izabel deu em 1223 á luz o primeiro Hildesheim "a flôr de Christo", nOIITie
filho, a quem Luiz deu o nome de Her- que naquelle tempo na Allemanha se

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19 de Novembro 417

dava á cruz. Prevendo a grande dôr, que ça de que fôra victima. Passado algum
com esse designio haveria de causar á tempo, ella mesma se encarregou da do­
querida esposa, decidiu-se a esconder a lorosa e delicada mis-são de pôr Izabel
resolução a;té a hora ela partida. Numa a par dos factos. Foi um dia de marty­
tarde, porém, quando Izabel se achava rio para a pobre Izabel. Deixemos, po­
só com o marido, em encantadora fami­ rém, falar o biographo: "Acompanhada
liaridade, sentado ao seu lado, teve a ele algwnas da!mas nobres e discretas,
lembrança de rnetter a mão na bolsa que foi ter com a nora no seu aposento. Iza­
pendia do cinturão de Luiz. O primeiro bel recebeu-as com amabilidade, como
objecto que encontrou, foi o panno com ele costume, sem adivinhar de modo al­
a cruz vemnelha, distinctivo dos que to­ gum o objecto da visita. Quando todas
mavam parte na guerra contra os ma­ se tinha!111 assentado, a sogra disse: Co­
hometanos. O choq ue que levou, ao vêr bra animo, minha filha e não te deixes
este signal da desgraça, fel-a cahir por perturbar pelo que aconteceu a teu ma­
terra sem sentidos. O duque Luiz pro­ rido e meu filho pela vontade de Deus,
curou aca:lmal-a com palavras meigas e a quem, como sabes, elle se havia intei­
affectuosas, fazendo-lhe vêr que era ra1nente of fereciclo.
vontade de Deus que tomasse a cruz, Vendo a calma com que a sogra lhe
em defeza dos Santos Logares. Depois dizia estas palavras, sem derramar lagri­
de longo sih:ncio e amargo pranto, disse mas, Izabel não comprehendeu a gran­
Izabel: "Caro irmãn, caso não seja con­ deza do infortunio e, julgando que o
tra a vontade de Deus, fica conunigo." marido tivesse sido prisioneiro, respon­
Mas elle replicou: "Deixa-me partir, deu: Si meu irmão está captivo, com a
minha irmã, porque fiz um voto a ajuda de Deus e ele nossos amigos, será
Deus." Então ella, reanimando-se, fez o breve1mente resgatado. Meu pae, estou
o sacrificio e disse, : "Pois bem, contra certa disto, virá em seu auxilio e serei
a vontade elo Senhor não te quero reter. consolada. M,ts a duqu-eza mãe prose­
Deus te conceda a graça de fazer cm guiu logo, mostrando o annel: Minha
tudo a sua santa vontade." Na hora da filha, resigna-te e recebe este annel que
partida Luiz mostrou á esposa um an­ te nl!anclou; pois, infelizmente morreu.
nel, no qual s-ohre urna saphira estav,t - "Ah, senhora ! exclamou I zahel, que
gravado o Cordeiro de Deus, com o es­ dizeis ?" - "Morreu", repetiu a mãe.
tandarte e disse-lhe: "Sirva-te este an­ Ao ouvir estas palavras, a joven cluque­
nel de signal seguro e certo para tudo za tornou-se pallicla e depois corada; e,
c1ue me diz respeito." Luiz partiu e bem deixando cahir os braços sobre os joe­
cedo se realizaram os tristes pre-senti­ lhos e juntando as mãos com violencia,
n1entos de Izabel. Luiz contrahiu uma disse com voz suffocada: "Ah, meu
febre maligna, que victimou grande par­ Deus, meu Deus ! Eis que o mundo in­
te dos cruzados. Chegando a Otranto, teiro ,está morto para mim : o mundo e
já sentia os primeiros symptomas da 1110- tudo o qu1e tem ele bom." Em seguida,
lestia. Ainda· pôde visitar a Imperatriz erguendo-se desva:iracla, pôz-se a correr
Yolanda; mas a febre redobrou e o du­ com todas as forças, atmvez das salas
que entregou a alma a Deus. Os cava­ e dos corredores do castello, gritando
lheiros que Luiz tinha destacado, para aomo louca: "Morreu! morreu!" A so­
annunciar-lhe a morte na Thuringia, gra •e as damas seguiram-na, tira­
partiram immediatamente. Izabel aca­ ram-na ela parede, á qural estava
ba,ra de dar á luz o quarto filhinho. A como que abraçada, fizeram-na sen­
noticia infausta nã:o foi communicada á tar e procuravam consolai-a. Logo,
pobre viuva. A sogra, duqu,eza Sophia, porém, c01neçou a chorar e a solu­
dera ordens terminantes para que nin­ çar com vehemencia, pronunciando pala­
guem deixasse perceber á nora a desgra- vras entrecorta:da;s : "Agora, - repetia
Na Luz Perpetua 27 - II vol.

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418 19 de Novennbro

constantemente, - agora perdi tudo ! ringia, á princeza real da Hungria.


Perdi meu querido irmão, perdi o amigo Abandonada por todos, humilhada até
cio meu coração ! Oh meu bom e piedo­ ao ulti11110 gráo, Izabel experimentou
so marido, nJiorreste e deixaste-1111e na ulma grande consolação. As lagrimas sec­
miseria ! Corno viverei sem ti ? Ah, po­ caraJm-s·e-lhe; a perturbação deu Jogar a
bre ele mim, desgraçada mulher ! Con­ um grande socego de espirito, e naquelle
sole-me aquelle que jamais abandona as Jogar i·mnmndo sentia uma alegria so­
viuvas e os orphãos ! Oh ! meu Deus, brenatural. Quando á meia noite ouviu
consolae-me ! Meus Jesus, fortificae-me o sino do convento franciscano tocar ás
c;n minha fraqueza !" Durante oito dias matinas,. para lá se dirigiu e pediu aos
só houve no castello lagrimas e gemidos. piedosos frades qll'e cantassem o "Te
Só quem teve um grande amor, c�no Dernm lauda:mos" em acção de graças.
Izabel, sabe avaliar a dôr da separação. Terminado este canto, Izabel prostrou­
Izabel era muito joven, esposa e mãe se ao pé do altar� agradecendo a Deus
muito terna; o marido era um dos homens tudo que lhe tinha mandado. O resto da
mais perfeitos. A1mbos unidos, não só­ noite permaneceu na egreja. Mas quan­
mente pelo a..m,or matrimonial, como do, no dia seguinte, os pobrezinhos dos
tambem pela caridade fraterna, haviam filhos começara1111 a sentir frio e fome.
vivido juntos desde pequenos. Afinal, o Izabel tentou novamlente encontrar um
amor de Santa Izabel para com o espo­ coração que tivesse pi-edaclc de sua mi­
so, além de ser natural, era christão e s-era sorte, mas portas e corações esta­
divino." (AJ!ban Stolz.) va,m trancados. Afinal encontrou agasa­
Apenas tinha passado o luto official, lho na casa de um pobre Padre que, lem­
reappareceu no castdlo a antiga antipa­ brado do dever da caridade chri-stã, des­
thia contra a cluqueza, cujo unico ele­ prezou as ameaças do landgrave, abrin­
feito era, segundo elles, a vicia por de­ do as portas á pobre expulsa. Intimada.
mais concentrada em Deus. O cunhado porém, a abandonar irn!mediatamente
mais velho, Henrique Raspe, mais tarde a:quelle abrigo, embora pobre, mas cari­
Intperador da Alle1111anha, expulsou-a cio cioso, obrigara!m-na a hospedar-se na ha­
castello, com os filhinhos. Em vão a du­ bitação de um cios fidalgos da côrte, um
queza-mãe Sophia se oppôz a esta cruel­ dos seus mais desapiedados inimigos. Lá
clacle, que claimava ao céo. Para justifi­ lhe foi designado um canto estreito, sem
car este acto barbara contra a viuva e ·con1modidade algunna, sendo-lhe entre­
os filhos, a quem havia jurado proteger, tanto negado o alimento necessario e
allegou muitos motivos, cios quaes cada cdmbustivel para aquecer-se. Só uma
qual era mais injurioso. Izabel, a joven noite lá passou Izabel e no dia seguinte
viuva, com cinco chagas abertas no co­ agradeceu as muralhas núa:s daquella
ração, desceu, debulhada cm lagrimas, o pousada, não havendo nada que agrade­
morro do castello, no mais intenso in­ cer aos donos. Sem pouso para onde se
verno. Si a expulsão foi uma brutalida­ dirigir, procurou novaJmente o abjecto
de sem nome, cousa peor esperava Iza­ estabulo, que ningueim lhe invejava. A
bel etm Eisenach. Elia, que tinha semea­ miseria, os soffrimlentos dos filhinhos
do beneficios no meio daquella socieda­ cortavam-lhe o coração e Izabel, não sa­
de, não achou casa que lhe abrisse a bendo mais a quem implorar, sentiu ten­
porta. Ninguem lhe deu agasalho, com tações contra a fé no amor ele Deus. No
receio ele cahir no desagrado do duque auge do tormento, com Jesus exclamou :
Henrique. Afinal encontrou abrigo num "Meu Deu-s, porque •me abandonaste ?''
casebre onde se guardavam utensilios ele Algumas pessoas de confiança afinal se
cozinha e onde pernoitavam os porcos. offereceram a tomar conta dos filhos.
O dono mandou retirar os animaes. Embora lhe -sangrasse o coração de mãe
afim de dar .Jogar á duqueza ele Thu- ao separar-se cios entes queridos, este sa-

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19 de Novembro 419

crificio se im:punha, si não quizesse dei­ jovem para viver só; recordou-lhe as
xar os filhos morrer de fome e frio. perseguições que havia soffriclo e que
Para ter o necessario sustento, Iza:bel podiam-se renovar, quando elle viesse a
vendeu ou empenhou todos os objectos faltar. Izabel, porém, em cumprimento
preciosos que ainda possuia, inclusive a de um voto, regeitou todas as propostas
alliança nupcial e tratou de ganhar a ele segundo matrimonio.
vida fiando. Muitos cios companheiros cio duque
Perdido o gosto das creaturas, em Luiz conseguiram chegar até Jerusalém.
consequencia dos soffrimentos, necessi­ De volta para a patria trasladaram os
dades e ignominia:s, Izabel muitas vezes restos morta·es do fallecido duque, os
era favorecida por Deus com visões, re­ quaes com grande solemniclacle foram
velações e consolos sobrenaturaes. Quan­ cleposita:dos na egreja conventual de
to ma.is aimava a Deus, tanto mais ami­ Reinharclsbru1111. A confrontação do du­
zade consagrava á Mãe de Jesus Chris­ que Henrique Raspe com os fi.eis compa­
to. Os annaes franciscanos contam vi­ nheiros do falleciclo, principalmente com
sões e communicações que Izabel teve Roclolpho de Vargila, representante do
ele ='J" ossa Senhora. rei ela Hungria, foi clramatica. Henrique
Emquanto penava na miseria, a duque­ "reconheceu o mal que tinha feito e deu
za�mãe relatou tudo que tinha aconteci­ ampla satisfacção na presença ele toda a
do em referencia a Izabel, a uma tia ma­ côrte. O espectaculo de reconciliação, já
terna d'esta, Miechtildes, abbadessa das por si summamente commovedor, foi
benedictinas de Kitzingen. Nove mezes rematado por uma scena que revela toda
já tinha:m passado, quando Mechtildes a belleza da alma de Izabel : A unica
soube da triste sorte da sobrinha. Imme­ resposta que deu á confissão publica e
cliatamente mandou umas religiosas com humilde <lo cunhado, foi lançar-se-lhe
carruagens a Eisenach, com ordem d,: aos braços e desatar a chorar.
trazer Izabel e os filhos. Em seguida foi feito um ajuste entre
A joven duqueza, muito satisfeita, ac­ o bispo, os cruzados e o landgrave se­
ceitou o caridoso convite, não tanto por gundo o qual Izabel e os filhos foram
sua causa, mas por a:inor dos filhos e rehabilitados em todos os direitos.
passou dois mezes na doce solidão cio A casa ele Izabel, habitada por ella e
mosteiro, quando Egberto, príncipe-bis­ as duas fieis aJ111igas Isentrucle e Guda,
po de Bamberg e ti'O materno de lzabel, ambas Irmãs Terceiras, era urna casa
a convidou para ir residir em seus Esta­ religiosa, onde se vivia só para Deus.
dos. Para este fim lhe pôz á disposição lzabel em1wegava os rendimentos em
o ca:stello ele Bodenstein. Para lá foi obras de caridade, e com o trabalho das
lzabel com os filhos e as fieis servas, mãos ganhava o parco sustento para si
Isentrucle e Guda. e as companheiras. Vinha de Altenbur­
Tendo chegado a Bamberg, o princi­ go a lã bruta; Izabcl devolvia-a, toda
pe-hispo propoz á sobrinha que voltasse fiada, ás religiosas, que lhe pagavam o
para a côrte do pae na Hungria. Izabel, valor do trabalho. A rneza das tres fran­
porém, recusou firimemente, de certo ciscanas era a mais simples possível e
por não querer sujeitar-se mais á eti­ constava de alguns cosidos, sem sal nem
queta da côrte. Deu-lhe o bispo outro banha, em agua pura. O vestuario com­
conselho: de acceitar o casame.nto com o binava perfeitamente com a pobreza da
Imperador Frederico II, cuja esposa cosinha.
Yolanda tinha morrido. Izabel ainda em Não satisfeita com as simples obras
vida cio esposo, havia feito o solemne de caridade, Izabel levou a pratica desta
voto de jamai's contrahir novas 1111pcias. virtude a verdadeiro heroismo. Todos os
O prelado observou-lhe que era muito dias visitava COlm as companheiras os
27 *

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..J-20 19 de NoYernbro

hospitaes, onde não só com a palavra reis sobre milm, chorae por vós mes­
consolava os pobres doentes, mas pensa­ mas." Muitas palavras affectuosas diri­
va-lhes as feridas, acariciava-us com ca­ gia-lhes ainda, repetindo a miude: "Mi­
rinho, chegando a beijar-lhes as ulceras. nhas queridas ainigas."
Os doentes abominaveis eram seus pre­ E' doutrina da Egreja, que os espi­
dilectos. Mettia-os no banho, lavava-os ritos máos perseguem os hmnens e a ex­
com as proprias mãos, enxugava-os, fa­ periencia a confirma. S . Paulo affirma
zia-lhes a cama, deitava-os como se fos­ que Deus permittiu a um demonio,
sem seus proprios filhos. paJra que o maltratasse e humilhasse.
Praticando a caridade para com os ne­ Não é para admirar que Santa lza­
cessitados, Izabel não perdia de vista o bel tenha na hora da morte expe­
bem da alma dos protegidos. Não só rimentado a influencia maligna do ini­
procurava alliviar as <lôres cio corpo, migo dais almas . . . Ouviu-se Santa Iza­
mas tratava tambem de salvar a alma. hel ·exclamar em alta voz: "Foge, foge
Assim cuidava escrupulosamente que to­ ·espirita maligno, eu te arrenego !" E
.cios os enfermos recebessem os santos pouco depois cli'S'se: "Bem, elle se vae
Sacram�ntos, soffress·em com resigna­ embora!" Si o clemonio vciu para ator-
ção christã e se preparassem para 1nentar, nã:o faltaralt11 os Anjos, que a
uma boa morte. Pela bondade e oração. consolarnm e animaram.
cdmo talmbem pela energia, abriu a mui­ Os labios ela agonizante abriram-s·e,
tos doentes a porta cio céo. Em numero­ os assi•stentes ouvira.111 sahir da hocca ele
sos casos Deus recompensou a fé viva Izabel utna clooe harmonia. Era como se
e incondicional de sua serva com mila­ longe tocasse uma campainha, ao pôr cio
gres os mais estupendos. sol. "Não vistes os Anjos, que canta­
Era no anno de 1231 quando Izab�l vam commigo ? perguntou Izabel: Fiz
teve os primeiros avisos da morte pro­ o que pude para cantar com elles."
xi1na. Ohristo appareceu-lhe de um mo­ P•erto de meia noite, o rosto de Iza­
do, que não lhe deixou duvida sobre a hel se tornou ele tal modo resplandecen­
sua ultima viagem. te, que mal se podia encarai-o. A mo­
Apezar do doce aviso ele Jesus Chns­ ribunda falou: "Eis a hora, em que a
to, Izabel sentia o tremor na alma, rn­ Virgem Maria deu ao mundo o Senhor.
benc\o que em breve havia de comparé'­ Falemos acerca ele Deus e cio Menino
cer na presença de Deus. Foi no dia '. 9 ]'esus, pois está dando meia noite. Eis a
ele Novembro que Izabel fez a 11ltima hora em que Jesus nasceu, em que foi
confissão. Depois de ter conversado ain­ deitado na unangedoura e em que creou
da com o confessor, assistiu á santa um.a. nova estrella, nunca vista até en­
Missa que no quarto foi celebrada. Em tão por ninguem ! Eis a hora em que re­
seguida recebeu a Extrema Uncção e a suscitou dos mortos e livrou as almas
Sagrada Ca1111111unhão. O dia todo pas­ acorrentadas. A1ssi:m livrará tambem a
sou em silencio profundéllffiente recolhi­ minha alma deste mundo de miserias;
da. Pela tarde se lhe abriram os labios que a receba em suas mãos ! Estou fra­
e com 1111uita vivacidade narrou o facto ca, mas não sinto dôr alguma."
da resurreição de Lazaro, como os Rezou em alta voz por todas as pes­
Evangelhos o relatam e dissertou elo­ soas presentes e por fim disse: "Oh !
quentt'lmente sobre as lagrimas de Maria, vinde em meu auxilio ! approxi­
Christo no tt1mulo de Lazaro, á vista de ma-se o momento em que Deus chama
Jerusalém e sua estada na cruz. os amigos para as mtpcias. Vem o Es­
As amigas, vendo-a neste estado meio poso buscar a esposa." Depois, em voz
extactica, começaram a chorar. Izabel, baixa: "Silencio - silencio !" Ao di­
já agonizante, vendo-as tristes, disse­ zer estas pa.Javras, abaixou a cabeça, ca­
lhes : "Filhas de Jerusalém, não cho- hindó conl!o em doce somno e rendeu

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19 de Novffillbro 421

triumphante o ultimo suspi,ro. A alma a duqueza-mãe e os duques Henrique e


de Izabel tinha tomado o vôo para o céo 0onrado. O corpo da Santa foi achado
e no mesmo instante se lhe encheu a ca­ intacto, sem apparencia de corrupção e
sa de um delicioso perfume e nos ares logo ao se abrir o tumulo, um perfume
se ouviu a doce harmonia de vozes ce­ delicioso começou a exalar-se dos rns­
lestiaes. tos sagrados. Durante as soleimnidades,
O corpo inaniime foi exposto na ca­ uma nova maravilha veiu augmentar a
pella dos franciscanos, onde tantas ho­ admiração e o enthusiasmo elos innume­
ras passára em oração. Uma multidão ros presentes. Encontrou-se no fundo
de povo veiu prestar as ultimas home­ elo caixão um oleo muito subtil e odori­
nagens á futura Santa. A dôr era geral. f.ero, que gottejava cios ossos da Santa;
O rosto da Santa não parecia o ele á medida que se enxugavarn as gottas
um cadaver. A belleza juvenil havia-lhe depositadas, appareciam outras, quasi
voltado, em toda a frescura. imperceptiveis, fo11mando assim uma es­
No quarto dia da exposição, o corpo pecie de orvalho mysterioso.
nenhum symptoma ele decomposição ac­ As reliquias ele Santa Izabel repousa­
cusava e clelle se exhalava um delicioso ram durante tres seculos numa egreja
perfunne. Na vespera das exequias fo­ monumental, edificada em honra da
ram observados no tecto da egreja uma Santa, em l\farburgo. No anno de 1539
iinmensidade de passaras, até então a ,egreja passou para o culto protestante
nunca vistos na Thuringia, que uniram e o tumulo ele Santa Izabel foi violado
as vozes ao canto- das vesperas. pelo duque Philippe de Hesse, descen­
Na noite em que morreu, Izabel ap­ dente da Santa. Intimado, porém, pelo
pareceu ao irmão leigo Volkmar, do Lmperador Carlos V, entregou as relí­
Convento ele Reinhardsbrunn e curou-lhe quias á Ordem teutonica. O tumulo
a mão, que se tinha esmagado num de­ foi aberto novam:ente em 1854. Teste­
sastre. No segundo dia depois elas exe­ munhas occulares affinnam terem visto
quias, um monge elo Cister recuperou a as re, liquias, das quaes sabia um brilho
saucle, por intercessão ele Santa Izabel, c01no de prata. O governo não permittiu
a qual tinha invocado com muito fervor. ao bispo ele Fulcla o exame mais minu­
Maiores prodigios, porém, tiveram ain­ cioso e o caixão ele chumbo tornou a ser
da Jogar sobre o tumulo, desde os pri­ enterrado.
meiros dias que se lhe seguiraim ás exe­ Oxalá que a egreja da querida Santa
quias. Miseras atacados ele penosas en­ Iza:bel abra outra vez as portas á fé que
fermidades, surdos, côxos, cegos, alie­ a construiu e que nesses altares venera­
nados, leprosos, paralyticos, que tinham veis seja oHerecido novalmente o santo
vindo, quiçá julgando-a viva ainda, im­ sacrificio da Missa e o povo volte á pro­
plorar-lhe a generosidade, voltaram in­ fissão da fé primitiva e á devoção da
teiramente curados depois ele haverem querida Santa, hoje esquecida no paiz,
orado na capella, eim que repousava. onde viveu, soffreu e se santificou.
Em attenção a esses milagres e á san­ REFLEXõES
tidade ele Izabel, o Papa Gregorio IX
canonizou-a no anno ele 1235, isto é, 4 Doze regras de vida recebeu Santa Iza­
bel do confessor, regras que merecem a
annos depois do transito da Santa. attenção de todos que aspiram á perfeição
Em 1236 se realizou a solemnissima christã. São as seguintes: l.º Soffrei com
trasladação das reliquias da Santa, na paciencia os desprezos, no seio da pobreza
voluntaria. 2.º Dae á humildade o primeiro
qual tomara1m parte doze bispos, um sem togar no vosso coração. 3.º Renunciae ás
m�mero de sacerdotes, o proprio Impe­ consolações humanas e aos appetites da
rador Frederico II, muitos principes, carne, pois que preparam á alma os casti­
gos eternos. 4. º Sê de sempre misericordio­
uma im.mensidacle de povo e as tres pes­ so para com os pobres. 5. 0 Tende constante­
soas que mais fizeram soffrer a Izabel: mente a lembrança de Deus gravada no

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422 20 de Novembro

fundo do coração. 6.º Dae graças a Deus Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
de haver, por sua morte, resgatado vossa moria é celebrada hoje:
alma do inferno e da morte eterna. 7.º As-
sim como Deus soffreu por vosso amor, O martyrio do Papa Ponciano, cujo cor-
carregae tambem\ pacientemente a vossa po foi depositado nas catacumbas de Callisto.
º
cruz. 8. Consagrae-vos inteiramente a
Deus, de corpo e alma. 9.º Recordae-vos (Fal. em 235). Uma versão diz ter morrido
repetidamente, que sois obra das mãos de de malarla, quando outros pretendem seu
Dens e, por conseguinte, esforçae-vos para martyrio.
poderdes viver eternam;ente com elle. 10º Fa­
zei ao proximo o que quereis que vos fa­ Na Samaria o propheta Abdias. Escreveu
ça. 11.º Considerae a brevidade desta vida, suas prophecias contra os Edomitas, que op­
na qual m.orre1111 tanto os jovens como os primiatIJ. os judeus. 850.
velhos; aspirae, pois, sempre á vida eterna.
12.º Chorae, sem cessar, os vossos peccados Em Roma o rnartyrio de S. Maximo, quan-
e pedi a Deus que vol-os perdôe. do Valeriano era Imperador.
❖❖#❖❖❖❖❖++-H-+❖-H--H-❖❖❖: : : : H❖❖-H-❖❖❖❖❖❖❖•:•❖❖*-Ho❖❖❖❖❖•l+H+l-❖❖❖❖�

20 de Novembro

S. FELIX DE VALOIS
(t 1212)

� FELIX DE VALOIS, oriundo to admirado, não sabia que explicação


�Q da dymnastia real franceza, nas­ devia dar a este extranho phenoaneno.
çeu em 1127. Crean5a ainda, manifes­ João, porém, lembrou-se de uma visão
tava rnna grande canclade para com o-s que tivera por occasião da celebração ela
pobres. A' medida que progredia nas primeira Missa e reconheceu na appari­
sciencias, aperfeiçoava-se na pratica elas ção cio veado rnysterioso um aviso do
virtudes. Para subtrahir-se a toda e qual­ céo; os dois homens entraram em ora­
quer influencia política e perder os di­ ção, pedindo a Deus que os esclarecessr
reitos á corôa real da França, recebeu o e lhes mostrasse sua vontade. O resul­
santo sacramento da Ordem. Logo após tado foi a1111bos sentirem no coração sur­
a celebração da primeira Missa, Felix gir o desejo de trabalhar pela salvaçã,>
se retirou do mundo, procurando um lo­ cios christãos, que tinham cabido no po­
gar ermo, onde pudesse viver sómente der cios turcos e outros infieis. Este
para Deus. desejo tomou fórma cada vez mais con­
Não muito tempo viveu sósinho; pois creta, principalmente pelo facto singular
foi procurado por um nobre doutor ele ele ambos, por tres vezes, em sonho, te­
Paris que, como Felix, era sacerdote: rem sido exhorta<los a fundar uma Con­
João ela Matha. Este manifestou o dese­ gregação, com o fim indicado e pedir a
jo de ser por Felix introduzido na scien­ approvação cio Santo Padre. Felix e
cia da santidade. Felix, vendo que o pe­ João foram a Rama e relataram ao Pa­
dido ·era feito com muita sinceridade, pa tudo o que se tinha dado, corno fi­
acceitou o hospede em sua companhia. cou exposto. Innocencio III recebeu com
Já ia para o terceiro anno esta santa grande benevolencia os dois santos sa­
convivencia, quando se deu um facto cerdotes; achou, porém, prudente apre­
bastante curioso. Appareceu-lhes um sentar as suas idéas a uma commissão
veado, que trazia entre a galhada uma de homens sabios e competentes. Acon­
cruz de côr vermelha e azul. Felix, mrui- teceu, que, durante a celebração da

S. Felix de Valois - Ro. Gaguin, sup. geral dos Trinitarlos e Chronica da Ordem
Francisco de S. Lourenço, Compendium vitae St. Joannis et Felicis. Raess e Weiss
XVll.

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20 de Novembro 423

santa Missa, Deus lhe désse a mesma vi­ O Papa Urbano IV elevou-o á Ji­
são que João affirmára ter tido na mes­ gniclade de Santo da Egreja.
ma occasião, facto este que levou o Pa­
pa a l'econhecer e approvar o plano cios REFLEXÕES
dois santos eremitas. Elle mesmo lhes A maior desgraça que póde tocar á crea­
impôz o primeiro habito, dando á Or­ tura humana, é a perdição eterna. S. Fe­
dem o nome da Santíssima Trindade lix dedicava particular zelo aos pobres ca­
ptivos christãos, que se achavam em gran­
pela libertação dos prisioneiros. de perigo de perder a alma. E' passivei que
O primeiro Convento da Nova Or­ entre teus parentes e amigos haja quem
dem foi construido no bispado de esteja em egual perigo. Si assim fôr e sou­
:\Ieaux, no Jogar onde tinham visto o beres dessa circumstancia, occasião propi­
cia se te offerece de fazer caridade. Antes
veado mysterioso.
de tudo, porém, convem examinar, si tua
Logo que a nova instituição começou propria alma não está em perigo identico.
a ser conhecida, encontrou grandes sym­ "Quem quer dar esmola, indague em pri­
pathias entre o povo christão que, com meiro Jogar si elle proprio não precisa della
contribuiçõ-es g,enerosas, favoreceu o mais do qualquer outra pessoa," diz S.
incremento da 111:esma. Muitos pediram Chrysostomo. Tem pena de tua alma. Nin -
o habito da Ordem da Santissirna Trin­ guem mais tem por ella o interesse que tu
dade pela libertação dos pns10neiros. mesmo deves ter. "Eu te peço por Jesus, o
Todo Poderoso" - diz S. Pedro Damião -
Em seguida João se dirigiu nova.mente "não te enganes a ti proprio e não prote­
a Roma, confiando a Felix a adminis­ les tua conversão, para que por esse teu
tração da nova obra. descuido, tua alma não pare em máo cami­
Com o exemplo, a palavra ardente e nho e uma circumstancia imprevista ou a
morte repentina não te surprehendam e u
mais ainda pela santidade, Felix soube
abysmo do inferno não te devore... "Por•
enthusiasrn.ar os contemporaneos pela que, - pergunta Santo Ambrosio, - tr.:t­
obra eminentemente christã. Muito-s tas de adiar tua conversão ? Aproveita já
christãos foram resgatados da escravi­ o dia de hoje. Cuida que da perda deste
dão turca, e restituídos a uma vicia con­ dia não resulte a do outro tambem. Perdei
forme a fé e as condições sociaes. uma hora só, póde trazer-te a desgraça
A tarefa dos religiosos não era facil. eterna".
Pelo contrario, a vocação inevitavel­
mente havia de expôl-os a grandes ve­ Santos cuja memoria é celebrada hoje:
xames, perseguições e m�os tratos. Tu­ Na Persia o martyrio do bispo Narses, na
perseguição de Xapur.
do venceram em espirita de caridade,
que Felix soube implantar-lhes nos co­ Em Messina os martyres Ampelo e Caio.
rações. . Em Turim os martyres da legião thebai­
ca Octavlo, Salutar e Adventor.
Felix morreu a 20 de Novembro de Em Tonkim, no anno de 1837, o 1nartyrio
1212, na edade de 85 annos. do o.i.techista Xaver Cam.

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424 21 de Novembro

21 de Novembro

Apresentação de Nossa Senhora


@ DIA de hoje é a despedida das eram raros no Antigo Testamento. As
:� fostas marianas no anno ecclesias­ creanças era:m educadas em collegios
tico. Tudo que sabemos da Apresenta­ annexos ao templo, e ajudavam os mul­
ção de Noss3t Senhora no templo, sabe­ tiplos serviços e funcções ela casa de
mol-o por lendas e infomiações extrcc­ Deus. Não errnm1os em suppôr que Joa­
biblicas, O que não quer dizer que o as­ quim e Anna, quando levarai11 a filh:­
sumpto ela festa careça ele probabilicla nha ao tiemplo, fizeram-no por inspira
de historica. Segundo uma piedosa len ção sobrenatural, querendo Deus qur
da, Maria Santissima, tendo apenas Lr·:.; sua futura esposa e mãe recebesse unu
annos de edade, foi pelos Paes, em cun1- educação e instrucção primorosis-sima.
primenro de uma promessa, levada ar; Grande era o sacrificio ele Maria: Nã,,
templo, para alli, com outras menina,, resta duvida que para Maria, a creança
receber educação adeq uada á sua ecla,'.r entre todas mais privil·egiacla, a cerimo­
e posição. A Egreja oriental distinguiu nia da apresentação significava mais que
este facto com as honras ele uma festa a entrada no collegio :lo templo. fliaria
liturgica. A Egreja occiclental conhece a reconhecia em tudo ur;1a solemne con­
conimemoração da Apresentação de sagração da vida a Deu�, a o fferta ele si
Nossa Senhora desde o anno de 1371. mesma ao supremo Sen!10r. O sacrifício
Prescripta primeira1nente só para a côr­ que oHerecia, era a offerta das primicias
te papal, então residente em Avignon, e as primícias, por mai" insignificantes
em 1585, Sixto V ordenou que fosse ce­ que sejam, são preciosas por serem uma
lebrada em toda a Egreja. demonstração da generosidade do offcr­
A Apresentação ele Nossa Senhora en­ tante e uma homenagem ,t quem as re­
cerra dois sacrificios: a dos Paes e o ,i:t cebe. Maria offereceu-,_e sem reserva,
1nenina Maria. Diz a lenda que Joaqu1111 para sempre, com contentamento e jubi­
e Anna offerecernm a Deus a filhinh:, lo cl'alma. O que o Psalrnista cantou,
no templo, quando esta tinha h"es annos. cheio ele enthusi-=tsmo, traduziu-se n'alma
Sem duvida foi para estas santas pes­ ela bemaventurada men:na: "Quão ama­
sôas um sacrificio muito grande sepa­ veis são os teus tab�maculos, Senhor
rar�se da filhinha, que se achava numa dos Exercitas ! A minha alma suspira e
edade em que não ha paes que queiram desfallece pelos atrios no Senhor.". (Ps.
confiar os filhos a mãos extranhas. Tres 83, 3.) E entrarc-i juni o ao altar de
annos é a edade em que a creança re­ Deus; cio Deus que ale5ra a minha 1110-
compensa já de algum modo os ti·aba­ ciclacle.
lhos e sacrificios dos paes, fommlando Que espirito, tanto nos santos paes
palavras e fazendo já exercicios men­ como na santa menina! Que espectaculo
taes que encanta!m e divertem, dando ao para o céo e para os homens ! O que
mesmo tiempo provas de gratidão e amor encanta a Deus ·e lhe attrahe a graça, em
filiaes. Joaquim e Anna não teriam ex­ toda a plenitude, edifica e enleva a todos
perimentado o sacrificio em toda a sua que se occupam deste mysterio, na vida
amargura ? O coração dos amorosos de Nossa Senhora. Poderá haver cousa
paes não teria sentido a dôr da separa­ mais bella que a piedade, o desprendi­
ção ? Que foi que os levou a fazer tal mento completo no serviço cio Senhor ?
sacrificio ? A lenda fala de um voto que A vida de Maria Santíssima no tem­
tinham feito. Votos desta natureza não plo foi a mais santa, a mais p<:.rfeita que

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21 de Novembro 425

se póde ima�inar . O templo era a casa passarinho acha casa para si e a rola ni­
de Deus e na proximidade ele Deus se nho nos altares elo Senhor elos exercitos,
sentia hem a bella alma em flôr. "O onde um dia é melhor que mil nas ten-

.........

1
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◄► Apresentação de Nossa Senhora no templo


"Eu me alegrei com isto, que me foi dito:- Iremos á casa
do Senhor." (Ps. 121).

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426 21 de Novembro

das dos peccadores." (Ps 83.) Santo cernentes ao senriço santo, é provavel
era o Jogar onde Maria vivia. Era o que Maria tenha recebido instrucções
templo onde os antepassados tinham sobre diversos trabalhos, como fossem:
f,eito orações, oelebra:ndo as festas; era o pintura, trabalhos ele agulha, canto e
templo onde se achava o santuario elo musica. E' opinião de muitos que o
Antigo Testamento, a arca, o throno <l:: grande véo do Tennplo, que na hora da
Deus no meio do povo; era o terupl,J morte ele Jesus s·e partiu de alto a baixo,
afinal, de que as propJ.,.ecias diziam que tinha sido confeccionado por Maria San­
o Messias nelle ctevia fazer er,trada. tíssima e as companheiras.
Naquelle templo a menina Maria re­
Assim foi santissinra a vida de Maria
zava e se preparava par:t a grande mis­
no Teimplo. O Divino Espírito e�merilhou
são, que Deus lhe tinha reservado. "Co­
o coração e o es'.Jirito da esposa, mais
mo os olhos da serva nas mãos da Se­
elo que de qualquer outra creatura. Ma­
nhora, assim os o]J.,os de Maria estavam
ria poderia applicar a si as palavras de
fitos no Senhor seu f'f'us." (Ps.122.)
Sirach (51. 18.) "Quanrlc ainda era pe­
Segundo uma revelação com y_ue Maria
qncna, procurei a sabedoria na oração.
agraciou a Santa Izabel de Thuringia,
todas as orações feitas naquelle tempo Na entrada elo templo instava por ella...
se lhe resumiam no seguinte: 1) alcan­ Elia floresceu como uma nova temporã.
çar as virtudes da humilrlade, paciencia Meu coração nella se alegrou e desde a
e caridade; 2) conseguir anrar e o<liar minha mocidade procurei segu.ir-lhe o
tudo a que Deu5 tem amor Ol, odio; 3) rasto."
amar ao proximo e tudo que lhe é caro;
E' ele admirar que Maria, assim am­
4) a conservação da nação e do temp!:J,
parada pelos cuidados humanos e divi­
a paz e a plenitude das graças de Deus
nos, progredisse rle virtude em virtude ?
e S) finalmente vêr o 7\1 essias e poder
servir a sua santa mãe. De Nosso Senhor o Evangelho constata
Maria era o 1�rnclelo :lc> obediencia, diversas vezes esta circumstancia. Como
amor e respeito p.:ra com os superiores, Jesus, tambeim Maria cresceu em graça
ele caridade e amabilidade para com as e sabedoria, diante de Deus e dos ho-
companheiras. Tinha o coração alheio á 1nens. Este crescimento a Egreja con­
antipathia, á rixa, ao azedume e ao amor templa-o em imagel's gnnrlim·as, traça­
proprio. das por Sirach (24.17-23): "Sou
A Maria no templo eram applicawis ·exaltada qual cedro no Libano e qual cy­
a:s palavras do Psalmista (Ps. 139) : preste no monte Sião. Sou exaltada qual
"Senhor, meu coração não se ensober­ pahna em Cades e como os rosa�s em
beceu; nem meu:, olhos se elevaram. Jericó. Qual oliveira especiosa nos cam­
pos e qual platano, sou exaltada junto
Não andei em grandeza. nem em ma­
da agua nas pr:ic;2s. A,.im como o cin­
gnificencias sobre a min!oa <;orte. Si não
namomo e o balsamo que diffundem
fosse humilde o meu s�ntimento, não se
elevaria a minh:l alma (ai de mim !), cheiro, exhal-ei fragrancia: como a mir­
mas como o menino, apartado já do rha escolhida derramarei odor de sua­
peito ela mãe, lhe fica descançando nos vidade na niinha habitação; como uma
vide, lancei flôres d'l!lm agradavel perfu­
braços, assim está a paz na minha al­
ma." me e as minhas flores sião fructos de
honra e de honestidade." Nunca houve
Maria era uma menina humilde, eles mocidade tão santa e esplendorosa como
pretenciosa e am:mte do trabalho. Com a de Maria Santissima. Outra não pode­
afan lia e estudava os santos Livros. ria ser, devendo MariJ. prep:.rar-se pa­
Como as meninas cio Collegio do tem­ ra a realização do mysterio dos myste­
plo se occupavam de outros serviços con- rios; da Encarnação do Verbo Eterno.

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22 de Novembro 427

REFLEXõES da seja agradavel a Deus. Oração, pureza


A festa da Apresentação de Nossa Se­ de coração e trabalho - eis os capitui0s
nhora encerra bcllos ensinamentos para a principaes no índice da vida christã.
familia christã, para paes e filhos. Que
modelo mais perfeito paes christãos polc­
riam procurar, que Joaquim e Anna ? Que Santos do Martyrologio Romano, cuja me-
exemplo de verdadeiro amor de Dc1,;s nos moria é celebrada hoje:
dão ! Os paes não devem sacrificar os fi­ O rnartyrio de S. Rufo, discípulo de São
lhos ao egoísmo e ás paixões, mas a Deu,, Paulo.
que lh'os deu. Como Joaquim e Anna de­ Em Roma o martyrio dos Santos Deme-
vemos estar prornptos e offerecer os filhos, 1 rio e Honorio.
quando Deus os chama para o seu serviço. Em Rinno a memoria de Santo Alberto,
Todos nós vemos em Maria o exemplo que bispo de Ll�ge e martyr na defeza dos direi­
devemos imitar, si queremos que nossa v1- tos da Egreja. 1192.

22 de Novembro

SANTA CECILIA, MARTYR


( t seculo III )

�ANTA CECILIA, da nobre fami­ bem a resolução firme de modelar o co­


�, lia romana dos Metellos, embora ração pelo Coração divino, nas virtudes,
vivendo num meio pagão, tinha bem ce­ nas aspirações, no amor. Quando os
do recebido de Deus a graça de conhecer pensamentos se lhe concentravam no ob­
a religião de Christo. Os dotes physicus jecto do seu amor, Jesus Christo e a uni­
e rnoraes da joven parecem ter sido ex­ ca aspiração que nutria · era ser christã
traordinarios. Adepta fervorosa da nov:i perfeita, os paies de Oecilia, sem que a
doutrina, o coração virginal, corno urna filha o soubesse, prornetteram-na em ca­
flôr aos primeiros raios do astro solar, samento a um joven patricio romano,
abriu-se-lhe a luz que veiu para illumi­ chamado Valeriano. Si bem que tivesse
nar os homens. O nobre caracter, quanto allegado os motivos, que a levavam a
111:ais repugnancia sentia das abomina­ não acceitar este contracto, a vontade
ções pagãs, tanto mais s·e deixava en­ dos paes se rmpôz de maneira a tornar­
cantar pela belleza da religião de Jesus. lhe inutil qualquer resistencia. Assim se
Para nada mais receiar do mundo máo, marcára o dia do casamento e tudo es­
dedicou todo o amor unicamente a Jesus tava preparado para o grande aconteci­
Christo, com quem, como a fidelissimo menrti. Da alegria geral, que se estampa­
Esposo, se ligou pelo voto de castidade. va nos rostos de todos, só Cecília fazia
Tinha uma convicção religiosa tão pro­ excepção. A tunica doirada e o alvejan­
funda, dedicação á causa de Jesus tão te peplo que vestia, não deixava adivi­
sincera, que nenhum segundo teria hesi­ nhar que por baixo existia o cilicio e no
tado em sacrificar a vida, si as circums­ coração lhe reinasse tristeza. Cecilia tinha
tancias o exigissem. Estudava dia e noi­ posto toda a confiança em Deus. Um
te o santo Evangelho, de onde se lhe jejum de tres dias tinha-lhe servido de
pode deduzir não só o ardente desejo de preparação para a festa e em preces ar­
conhecer cada vez melhor o grande Mes­ dentes tinha pedido ao divino Esposo
tre, o bom Jesus de Nazareth, mas tam- que lhe defendesse a virgindade. No

Santa Cecília - Act. Mart. authent. Rulnart. Vogel: Helllgenlegende.

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SANTA CECILIA, Padroeira da Musica sacra,
Uma das mais bellas apresentações artisticas de Santa Cecilia é a celebre téla de Raffael,
que mostra a Santa no centro, rodeada dos Santos: (da esquerda para a direita) Paulo
Apostolo, João Evangelista, Agostinho e Maria Magdalena. Santa Cecl!ia toda embebida
na audição de musicas celestes, cujas doces harmonias chegam ao seu ouvido, dá des­
prezo á musica profana, cujos instrumentos caracteristlcos lhe jazem aos pés; o proprio

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22 ele ?\ ovembro 429

mesmo empenho tinha-se dirigido á Ss. tando-os á perseverança. Ambos se


Virgem e ao santo Anjo da Guarda. prostraram por terra, agradecendo a
Estando só com o noivo, disse-lhe Ce­ Deus as graças extraordinaric!,s, que ti­
cilia com toda amabilidade e não menos nham recebido.
firmeza: "Valeriano, acho-me sob a Valeriano relatou ao in.não Tiburcio
protecção directa d'um Anjo, que defen­ o que se tinha passado e conseguiu que
de e guarda minha virgindade. Nfto quei­ ta1111bem este se torna:sse christão. Tam­
ras, portanto, fazer cousa alguma contra bem a Tiburcio foi dado vêr o Anjo,
mim, o que provocaria a ira de Deus de que Valeriano e Cecília lhe tinham
contra ti." A estas palavras incompre­ falado.
hensiveis para um pagão, Cecilia fez se­ Não pôde ficar em silencio a conver­
guir-se a declaração de ser christã e obri­ são dos dois irmãos. Almachio, Prefeito
gada por um voto que tinha feito a ele Roma, logo que clella teve conheci­
Deus, ele guardar a pureza virginal. Dis­ mento, citou-os perante o tribunal e exi­
se-lhe mais que a fidelidade ao voto tra­ giu peremptoriamente que abandonas­
zia a benção, a violação, porém, o casti­ sem, sob pena ele morte, a religião que
go de Deus. Valeriano, vivamente im­ tinham abraçado. Diante da formal re­
pressionado com as declarações da noi­ cusa, foraim conclemnaclos á morte e de­
"ª• respeitou-lhe a virtude, mas manifes­ capitados. Ta.mbem Cecilia teve de com­
tou desejo de vêr aquelle Anjo, a que parecer na presença cio irreductivel juiz.
Cecília se referira, promettenclo crêr em Antes de 111:ais nada, foi intimada a re­
T esus Christo e sua doutrina, si este cle­ velar onde se achavam escondidos os
�ejo fosse cu1111prido. Cecília respondeu· thesouros elos dois sentenciados. Cecilia
lhe que isto só seria passivei, si s2 re­ respondeu-lhe que os sabia bem guarda­
solvesse a receber o baptismo. O joven dos, sem deixar perceber ao tyranno
não oppôz a mini,ma resistencia e pecliu que já tinham achado destino, nas mãos
á noiva, que lhe proporcionasse occasião cios pobres. Almachio, mais tarde scienti­
de ser haptizaclo. Cccilia fel-o dirigir-se ficado deste facto, enfureceu-se extra­
20 Papa Urbano, o qual bondosamente ordinariamente e ordenou que Cccilia
o recebeu, instruiu-o na santa r-eligião e fosse levada ao te1nplo e obrigada a ren­
lhe conferiu o sacramento cio Baptismo. der homenagens aos deuses. De facto foi
Feito christão, Valeriano voltou para a conduzida ao Jogar determinado, mas
casa e encontrou a noiva em oração. com tanta convicção falou Cecilia aos
Qual não lhe foi a surpresa, quando d:.: soldados da belleza ela religião de Chris­
facto viu ao lado ele Cecilia um Anjo, to, que os soldados que a escoltavam, se
rocleaclo ele celestial esplendor. Uma ale­ declararam a seu favor e prometteram
gria, antes nunca experimentada, inva­ abandonar o culto dos deuses. ALmachio,
diu-lhe o coração, e ele pasm:o e estupe­ vendo novamente frustrado o estratage­
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facção, não pôde proferir palavra. His­ ma, deu ordem para que Cecília fosse
toriadores antigos falam de duas esplen­ fechlda na installação balnearia do seu
didas corôas de rosas e lírios, de que o proprio palacete e asphyxiada pelo va­
A.njo teria cingido os esposos, cxhor- por d'agua, ele temperatura artificial-

tt
.~

;,
orgão, o instrumento de egreja por excellencia já, lhe não prende a attenção; as mãos ela
Ranta mal o seguram, e ainda assim em posi<;ão completamente inversa, se lhe despren­
dem alguns tubos. Como a apreciação e a comprehensão da musica sacra é differente en­
tre os proprios christãos, e até dos mais chegados a N. Senhor, o genio de Raffael plaslica­
mente o demonstra nos quatro Santos, que cada um por si, pela sua altitude, revela
maior ou menor compenetração nos arcanos da verdadeira musica ,;acra. Nas quatro
figuras descobre-se uma intuição gradativa, desde S. Paulo, todo absorto na interpre­
tação musical das verdades eternas até Santa Magdalena que, com o pé ainda em movi­
mento, de fóra chega e nada parece perceber das celestes harmonias, das vozes ange­
licas que aos outros deliciam. Vista e ouvidos estão alheios ainda aos attractivos da
musica mystica e puramente celestial.
430 22 de Novembro

mente elevada acima do normal. Cecilia minha alma, para que não seja confun­
experimentou uma protecção divina ex­ dida." Desde o seettlo 15 Santa Cecilia
traordinaria e embora a temperatura ti­ é considerada Padroeira ela musica sacra.
vesse sido elevada a ponto de tornar-se
intoleravel, a serva de Christo nada sof­ REFLEXÕES
freu. Almachio recorreu então á pena
Como das demais artes, tambem da mu­
capital. Tres golpes vi]Jrou o algoz, sem sica a Egreja se serve para abrilhantar o
conseguir separar a cabeça do tronco. culto divino. Objecto mais digno que o pro­
Cecilia, mortalmente ferida, cahiu por prio Deus, as artes não podem ter, sendo
terra e ficou tres dias nesta posição. Elle a fonte de tudo que é bello, de tudo
que é perfeito. A musica, para ser admitti­
Aos christãos que a vinham visitar, da­ da no serviço de Deus, deve tornar-se di­
va bons e caridosos conselhos. Ao Papa gna desta grandiosa vocação. Para Deus
entregára todos os bens com o pedido de só o melhor, para o culto divino só o que
distribuil-os entre os pobres. Outro pe­ ha d\! mais perfeito. Ha uma/�11�ica pr9�
fana, uma musica religiosa e uma musica
dido fôra de transformar-lhe a casa cp· ·sacrâ. A primeira é a arte do mundo, mais
egreja, o que se lhe fez logo depois da ou menos apparatosa, mais ou menos artis­
morte. No terceiro dia a bella alma uniu­ tica, destinada a deliciar os ouvidos e a
abrilhantar as festividades do mundo. E' a
se-lhe ao d:•;::10 Esposo. O corpo, vesti­ musica que se ouve nos theatros, nos con­
do ele tunica Í!1,perial, foi enterrado no certos, nas festas profanas e nos logares
novo cemiterio, perto da "via Appia''. de divertimentos. Esta espccie de musica
As diversas invasões dos Godos e Lorn­ não serve para o culto divino e delle está
cxcluida por principio.-Ha ainda e\, musica
hardos fizeram com que os Papas resol­ religiosa, uma especie de musica, que bem
vessem a trasladação ele muitas reliquias differe da primeira, já mencionada. E' uma
de Santos para as egreja!s. O corpo de musica mais suave, que mais ou menos tra­
Santa Cecilia ficou muito tempo escon­ duz os enleios religiosos e os da alma; são
composições muitas vezes diversas, que ob­
dido, sem que se lhe soubesse o jazigo. jectivam assurnptos religiosos. Esta especie
Uma apparição da Santa ao Papa Pas­ de musica dispõe dos recursos e dos meios
coal I (817-824) trouxe luz sobre este de expressão da musica profana e della
ponto. Achou-se o caixão de cypreste, tira o que precisa, para exprimir o colorido
do caracter que lhe é proprio. Ha musicas
que guardava as preciosas reliquias. O religiosas que podem ser admittidas nas
corpo foi encontrado intacto e na mesma cgrejas, o que depende do exame conscien­
posição elm que tinha sido enterrado. O cioso de quem é competente na materia:-A
esquife foi fechado num ataúde de mar­ musica
a -
sacra é a musica propria da Egreja,
musica Titü·rgica, authentica e approva­
more e depositado no altar de Santa da officialmente. A Egreja faz questão em
Oecilia. Ao lado ela Santa acha­ vêr observadas suas determinações rela­
raim repouso os corpos de Valeriano, Ti­ tivas á musica sacra; e grande é a res­
ponsabilidade das autoríclades ecclesiasti­
burcio e Maximo. Em 1590 foi aberto cis ·neste· particular. A musica na Egrcja
o tumulo de Santa Cecilia e o corpo t!l­ não deve visar outra cousa senão a gloria
contrado ainda na mesma posição des- de Deus e a edificação dos fieis. _Admittir_
cripta pelo Papa Pascoal. � m,usicas profanas e indignas no culto divi­
. no, _é peccado, por ser uma profanação do
A Egreja occidental, como a orien­ templo de Deus e um escandalo para os
tal, teve em grande veneração a gloriosa fieis. Aquelles que devem interessar-se mais
de perto pela musica sacra, não podem dei­
Martyr, cujo nome figura no Canon cb xar de ler e estudar o Motu prop_i:_io de Pio
santa Missa. O officio da Festa traz co­ X sobre a musica sacra, documento dé altó
mo antiphona um topico das actas do valor, que é considerado o codigo music.al
martyrio de Santa Cecilia, as quaes af­ da Egreja catholica.
firmaJm que a Santa, nos festejos do ca­
samento, ouvindo o som dos instrwnen­ Santos do Martyrologio Romano, cu.ja me-­
tos musicaes teria elevado o coração a maria é celebrada hoje:
Deus nestas piedosas aspirações: "Se­ Na Phrygia o martyrio de Philemon e Ap­
nhor, guardae sem mancha meu corpo e phias, discípulo de S. Paulo.

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23 de Nove1rl'bro 431

23 de Novembro

São Clemente, Papa e Martyr


(t 100)

� ÃO CLEMENTE, natural ele Ro­ era lida durante muitos annos, junta­
� ma, era discipulo de S. Pedro e mente cO'm as epistolas dos Apostolas.
S. Paulo. Acompanhando a este nas via­ Dividindo a cidade ele Roma em sete
gens evangelizadoras, com elle dividiu clistrictos, determinou para cada clistri -
as fadigas, soffrimentos e perseguições cto um ac\vogaclo, com a incumbencia ele
. ela vida apostolica. E' a elle que o Apos­ activar conscienciosaimente tudo que se
tolo dos Gentios se refere, quando na relacionava com os christãos, suas vir­
Epistola aos Philippenses ( 4, 3.) diz: tudes, os processos judiciarias a que ha­
"Peço-vos que auxilieis aquelles tam­ viam de responder, o modo como se ha­
bem que, como Clemente e outros, com­ viam perante a autoridade perseguidora,
migo trabalharam, cujos nomes estão declarações publicas que faziam, o mar­
inscriptos no livro da vida." Estas pala­ tyrio e morte. Estes protocollos, cha1rna­
Has lhe documentam a dedicação e fé, dos actos dos rnartyres, eram lidos nas
o zelo pela causa ele Deus e das almas. reuniões cios fieis. Ao zelo apostolico elo
Si a mansidão e caridade lhe mereceram Santo Papa abriram-se as portas do
o nome de Clemente, foi sem duvida proprio palacio iinperial. Domitilla, irmã
pela actividade apostolica, que S. Pedro do Imperador Domiciano, cuja ferocida­
lhe conferiu a dignidade episcopal. de contra os christãos era conhceida, não
Os primeiros successores ele S. Pedro, só se converteu á Religião de Jesus· Chris­
na Sé apostolica e no martyrio, foram to, ainda mais : Exemplo de todas as
Lino e Cleto. Na quasi certeza de per­ virtudes, fez o voto ele castidade perpe­
der a vicia por Jesus Christo e a Egreja, tua e foi para os christãos perseguidos o
S. Clemente assumiu o governo da Bar­ Anjo de caridade, naquelles tempos af­
ca de S. Pedro em 91. Eram tempos flictivos.
cheios de angustias e apprehensões para O Imperador Trajano, vendo na pro­
a joven Egreja. A autoridade ro111a11<t pagação ela religião christã um perigo
ameaçava uma nova persegtfTção e no social e religioso para o imperio e reco­
seio da Egreja mesma reinavam dissen­ nhecendo no Papa rival temivel, citou-o
ções, que promettiann degenerar em scis­ perante o tribunal e com ameaças de
ma. Era principalmente a Egreja ele Co • morte ·exigiu-lhe a abjuração da fé e o
rintho o theatro de graves perturbações. culto dos deuses nacionaes. S. Clemente
Os animas estavam irritaclissimos e tu­ não hesitou nem um momento e na pre­
do indicava a iniminencia de uma scis­ sençá' da suprema autoridade romana.
são, provocada - assim se acreditava g'e­ fez uma profissão ele fé bellissima, que
ralmente - pelas paixões, que predomi­ não deixou o Imperador em duvida so­
navaJm numa eleição episcopal. S. Cle­ bre a rmproficuidacle do seu tentamen.
mente dirigiu aos Corinthios uma carta Aconteceu o que era de esperar: O Pa­
apostolica, em que documenta ao mesmo pa foi condemnado á morte. Ha, porém,
tempo grande circumspecção, prudencia, duas versões sobre o modo da execução
caridade e firmeza. Tão boa acceitação ela sentença. Historiadores ha que refe­
teve esta carta, que não só em Corin­ rem ter sido S. Clemente atirado ao Ti­
tho, mas tambem em todas as Egrejas, bre. O Breviario Romano, porém, diz

S. Clemente - Pagi. Crlt. hist. chron. t. I. ad a 78. Papebrock, Con. Chron. p. 1.

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432 23 de Novembro

que o santo Papa foi, com muitos chris­ cavar a terra, Qual não lhe foi
tãos, desterrado para a peninsula da Cri­ a admiração, quando logo ao primei­
n1éa, onde haviam de trabalhar nas pe­ ro golpe, viu brotar agua, agua deli­
dreiras e minas. Si para Clemente era ciosissima e tão abundante, que com
utn consolo poder partilhar a escravidão aquelle dia teve termo a afflicção dos
com seus filhos em Christo, estes mais christãos. Este 111.ilagre não só contentou
facil1mente se a estes ; tam­
conformava 111 bem os pá­
com a triste gãos, v endo
sorte, ve ndo em Clemente
junto ele si o um enviado do
Pae querido, o céo, a elle se
,representan t e dirigiram fos-
de Deus na ' s e m acceitos
térra. como catechu­
. O que mais menos. Assim
atormen t a v a muitos idola­
os pobres tras se torna­
christãos, era ram adorado-
a falta absolu­ res de Jesus
ta de agua no Christo e os
lagar, o n d e temp 1 os pa­
trabalhava 111. gãos, a n t e s
Pcnoisis s im o antros do mais
1

era o trans­ ahjecto culto


porte d e s t e
1 cli a b oli co,
precioso liqui­ trans f o r 111 a-
do, que só se r a m-s e cm
achava na dis­ Egrejas chris­
tancia de umaíi tãs. Este es­
mi 1 h a s. Cle­ p e ctacul o
mente pediu a grandioso pe­
Deus que se rante Anjos e
c o mpadeoesse hc,mens cl e s­
cio povo, co­ pertou n a t u­
mo se com­ ral m e n te o
padecera dos oclio nos cora­
Israelit a s no ções dos sa­
deserto. Ter­ :erdo te s pa­
minada a ora­ gãos, que se
ção, viu no al­ S. Clemente apressaraímem
to duma mon­ Este santo Papa foi com muitos christãos dester­ denunciar Cle­
tanha um cor­ rado para a península da Criméa, onde haviam de m1ente.
trabalhar nas pedreiras e minas. Si para Clemente
cleiri nho que, era um consolo poder partilhar a escravidão com A riesptjsta
com a ,mão seus filhos em Christo, estes mais se conformavam imperial n ã o
com sua triste sorte, vendo em sua companhia
direita levan- o Pae querido, o representante de Deus na terra. se deixou es­
tada, parecia perar. O go­
indicar um determinado Jogar. O santo vernador Aufidiano, autorizado por
Papa dirigiu-se imJ111ecliatamente ao Jo­ Trajano a pôr um dique á pro­
gar onde lhe appar,ecera o cordei­ paganda christã, custasse o que custasse,
rinho e ççm1 inna enxada pôz-se a condemnou á morte Clemente e intimou

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23 de Novembro 433

os christãos a que abandonassem a re­ vãos e passageiros 1 Sigamos a regra glo­


ligião de Christo. Algemado, foi Cle­ riosa e veneravel da nossa santa vocação !
Attcndamos ao que é bello, agradavel dean­
mente levado a um navio, que o trans­ te do Senhor, que nos deu a vida ! Fixemos
portou ao alto mar. Lá chegado, puze­ o olhar sobre o sangue de Christo e ponde­
ra:m-lhe uma ancora de ferro ao pesco­ remos seu alto valor na apreciação de
Deus; pois este sangue foi derramado pela
ço e precipitaram-no n'agua. Isto acon­ salvação nossa e do mundo inteiro. Os as­
teceu em 23 de Novembro de 100. Os tros movem-se no espaço por ordem .,de
christãos, consternados pela perda elo Deus e obedecem-lhe. Dia e noite surgem
Pae e Pastor, pediram a Deus que não no horizonte e seguem o curso, sem jamais
se embaraçarem uns aos outros. O sol, a
deixasse o corpo do martyr entregue ao lua, as estrellas, na mais perfeita harmonia,
jogo elas ondas, mas que o restituisse ao percorrem seus circulas, sem ultrapassar as
carinho e á veneração dos filhos espiri­ orbitas. A terra produz o alimento para o
tuaes. homem, para os animaes e os outros seres
viventes, tudo em perfeita obediencia ao
Aufidiano e sua gerÍte mal se tinham Creador. As profundidades dos abysmos e
afastado, quando o mar espontaneamen­ o interior do globo seguem-lhe as determi­
te retrocedeu a uma grande distancia, até nações. As ondas do mar respeitam os li­
mites que a vontade divina lhes traçou. O
o logar onde tinha sido mergulhado o vasto oceano, ainda não atravessado por
corpo do santo Papa-Martyr. O mais embarcação humana, os continentes além
que aconteceu, foi de todo extraordina­ recebem as ordens do Senhor. As estações,
a primavera, o verão, o outomno e o inver­
rio. Aos olhos pasmados dos christãos no seguem-se na maior regularidade. Os
apresentou-se um: pequeno templo de ventos e as tempestades não se perturbam
marmore branco. Pressurosos correram em suas funcções. Fontes inexgottaveis,
para lá e, chegando ao ten,plo, nelle en­ creadas para nossa saúde e nosso uso, for­
necem as aguas, para o sustento da vida
contraram o corpo de S. Clemente, col­ humana. Os animaezinhos quasi imperce­
locado num ataude, tendo ao lado a an­ ptíveis realizam reuniões na maior paz, na
cora pezada. Quando se dispuzeram a mais perfeita ordem. Todas estas cousas o
retirar as santas reliquias, Deus mani­ grande architecto e Senhor do Universo
chamou-as á existencia. A todos faz bem,
festou vontade de que não o fizessem; principalmente a nós, que recorremos ás
que o ·deixassem repousar no mesmo suas misericordias por Nosso Senhor Jesus
Jogar e que o mar annualmente, durante Christo, a quem sejam dados honra e lou­
· sete dias, franqueasse o accesso ao tu­ vor nos seculos cios seculos.
Vossos filhos devem participar da disci­
mulo. Assim aconteceu. As reliquias de plina em Christo; devem apprender quanto
S. Clemente ficaram no fundo do mar, vale perante Deus o sentimento humilde,
euardadas por santos Anjos, até o se­ como é apreciado o amor casto e como é
culo IX, quando sob o governo do Papa sublime e bello o temor de Deus, que san­
tifica a todos, que andami em recta inten­
Nicoláo I, os santos missionarios Cy­ ção. Elle é o perscrutador dos pensamentos
rillo e Methodio as trouxeram para Ro­ e planos intimos. Seu sopro está em nós;
ma, onde foralm depositadas na egreja elle o retira, quando lhe apraz."
de S. Clemente, onde se acham até "t
agora.
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
-moria é celebrada hoje:
REFLEXõES
Em Roma, o martyrio de Santa Felicida­
Si queres venerar dignamente S. Clemen­ de, mãe de sete filhos, que todos morreram
te, procura imitar-lhe os bellos exemplos e martyrcs. Mortos estes, foi clla decapitadJ..
observar-lhe os sabios ensinamentos. que
depositou nos seus escriptos. Os trechos Em Merida, na Hespanha, Santa Lucr,J
seguintes são tirados de sua epistola ao, eia, virgem e martyr. Morreu na perseguição
Corinthios: "Abandonemos os cuidados de Daciano. 306.

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434 24 de Novembro

24 de Novembro

SÃO JOÃO DA CRUZ


(t1591)

Jm'.' OI no anno de 1542 que em Fonti­ convento em Medina Campi. João, leva­
� beros, pequena localidade ele Cas­ do pela inclinação á vida austera, tencio­
tella, nasceu João da Cruz, hoje vene­ nava entrar na Ordem dos Trappistas,
rado como grande Santo na Egreja in­ mas antes de tomar qualquer resolução
teira. Depois da morte prematura do definitiva neste sentido, pediu o conse­
pae, a 1nãe se mudou para Medina Cam­ lho de Santa Thereza. Esta lhe disse,
pi, onde João iniciou os estudos e entrou que .mais acertado andaria e mais do
na Ordem ele Nossa Senhora cio Carmo. agrado de Deus, si permanecesse na Or­
Desde a infancia o distinguiu sempre dem Carmelita e se incumbisse tambern
1:ma terna devoção a Maria Santissima, da reforma ela disciplina regular; era
que mais de uma vez lhe conservou a esta a vontade ele Deus. João apresentou
vida, milagrosa!mente. O que raramente este plano a Deus nas orações e ao con­
se observa em meninos: o desejo ela mor­ fessor, e decidiu seguir a opiniiúo ele San­
tificação, em João era bem pronunciado, ta Thereza. Em pouco tempo conseguiu
quando contava apenas 9 annos. Esco­ com a graça de Deus, a reforma de al­
lhendo para si um leito duro, poucas ho­ guns conventos da Ordem. A opiniões
ras de sonmo clava ao corpo, castigando-o contrarias fechava os ouvidos, dizendo
ainda com j,ejuns assaz rigorosos. Estu­ que o caminho estreito para o céo não
dante, ainda ti'!lha por occupação preclile­ exigia cousa de menos valor.
cta visitar os doentes nos hospitaes e Só Deus conhece os soffrimentos,
prestar-lhes serviços. persegmçoes e injurias de que o refor­
Uma vez feito religioso, não se satis­ ;naclor foi alvo no cumprimento ela no­
fazia com as praxes disciplinares usuaes: bre missão. João não procurava honra
tinha o intento de moldar a vida religio­ propria. O amor de Deus era a unica
sa pelo rigor antigo da Ordem. Tendo força motriz, que o impellia a trabalhar
chegado o dia da celebração da primeira e soffrer por Deus. Jesus Christo, em
Missa, examinou a consciencia com o una apparição com que se dignou ele
maior escrupulo; não achando falta com distinguir a seu servo, perguntou-lhe
que tivesse gravemente offendido a pela recompensa que esperava dos tra­
Deus, deu muitas graças, pedindo a Nos­ balhos e soffrimentos. João respondeu :
�o Senhor que o preservasse sempre do ''Não outra cousa, Senhor, senão soffrer
peccado mortal. Esta oração foi ouvida, por vosso amor e ser desprezado
• pelos
concedendo-lhe Deus a graça da �inno­ 11omens."
cencia até a morte. Alcançou na perfei­ Era,rn tres cousas que pedia a Deus,
,;ão um gráo tão elevado, que na sua vi­ lhe concedesse: primeiro, dair-lhe força
da não ha exemplo de peccado venial para trabalhar e saffrer muito; segun­
deliberado. do, não o faz1er sahir deste mundo
Santa Thereza de Jesus, que lhe foi como superior de uma communiclacle e
contemporanea, considerava-o santo e af­ terceim, deixai-o morrer clesprezarlo
firma que nunca lhe observou a minirna e escarneci·do pelos honl'ens. Este ck­
hlta. A mesma Santa conheceu S. João sej o de ser desprezado era o fructo
da Cruz, por occasião da fundação d'u'Jn da meditação constante· sobre a sagrada

S. Jcrio ela Cr-u;; - Buttler XI. - Vi!lefont na vida de Sta. Thereza. Collet.

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24 de Novembro 435

Paixão e Morte de Jesus Christo. Falan­ turo, doentes desenganados recuperaram


c1 o neste grande mysterio da nossa Reli­ a saúde em virtude de sua palavra. Mui­
giãio, o sernblante ardia-lhe, e duran­ tas vezes lhe appareciall11 Maria Santis­
te a celebração da santa Missa lhe era ,,ima, São José, S. João e o proprio Sal­
frequente o estado extatico e dos olhos vador. Memoravcis são as apparições,
lhe corriam abundantes lagrimas. Nosso com que foi consolado durante a prisão
Senhor Jesus de nove mezes,
Christo mos­ a que injusta­
trou - s e - 1 h e m e n t e fôra
mna vez na fi­ conden'.lnado.
gura que ti­ Em 1591 foi
nh a, quando o fiel servo ele
mor r e u na Deus chamado
cr u z. Es t a á eterna re­
imagem ficou c o 111 p e n s a.
tão profunda­ Uma longa e
mente gravada dolorosa doen­
na m.emona ça precedera­
do Santo, que lhe a m,orte.
não podia re­ Qu a n d o os
cordai-a sem 111,ecli c o s lhe
chorar. A to­ communicaram
todos que com a incurabilicla­
elle se relacio­ cle ela moles­
nav am, João tia, disse João
da Cruz re­ 1s palavras cio
com�nend a v a p s a 1 m. i s ta :
com muito em­ "Mu i to me
penho as de­ al�grei em ou­
voções ao Sal­ vir dizer· isto;
vador crucifi­ hei ele entrar
cado, á San­ na casa do Se­
tissima Trin­ nh o r." Meia
dade, ao San­ hora antes ela
tissimo Sacra­ morte mandou
m e n to. Os reunir os con­
pec c a d o r e s frades, exhor­
mais empeder­ tou-os á per­
nidos não re­ sever a n ça e
sistiram á elo­ disse : " S ã o
quencia e ao S. João da Cruz horas ele eu
zelo do f·ervo­ De vez em quando p1·ocurava um lagar ermo, para partir. "Quan­
roso Calrmeli­ com mais concentração poder-se entregar aos exer­
cícios de piedade. Interpellado sobre isto por um Ir­ do ouviu o si­
ta e muitos mão da Ordem, respondeu: "Tenho menos peccados no bater meia
lhe deveram a para confessar si me a<'ho entre rochedos, do noite, hora em
que entre homens."
conversão. É que a commu­
innegavel que a graça divina mui­ niclacle costwnava cantar as matinas,
to o auxiliou, na grande influencia exclaJmou: "Eu as cantarei no céo !"
011e exercia sobre os corações. A muitos Depois tomou o crucifixo nas mãos,
reccadores desvendou os peccaclos mais beijou-o ternalrnente, dizendo: "Em vos­
occultos, em muitos casos predisse o fu- sas mãos enccm11111endo o meu espírito."

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436 25 ele Novembro

O Papa Bento XIII conferiu-lhe a elevados? e delles, no emtanto, não te lem­


honra elos altares em 1726. bras. Porque não fazes petições e promessas
para alcançar a graça da perseverança, a gra­
ça ele ficar livre do peccado mortal, de ven­
REFLEXÕES cer tuas paixões e vícios ? "Pede, - diz o
Na primeira santa Missa S. João da Cruz cardeal Hugo, - pede a Deus tudo que é
pediu a Qeus a graça de ficar isento de util e necessario para tua salvação."
todo o peccado mortal. Em outra occasião
pediu para soffrer muito, trabalhar pela Santos cujct meinorict é celebrada hoje:
gloria de Deus e ser desprezado e ludibria­ O ma,rtyrio de S. Chrysogono em Aquileia,
do por amor de Christo. Bem differente é Morreu no tempo de Diocleciano.
tua oração. Que é que pedes a Deus ? Em Em Apulla, na mesma pe1·seguição dlocle­
que intenções promettes a Deus santas ciana, o martyrio de Santa Fírmlna, virgem.
Missas, jejuns e romarias ? Não é quasi Morreu suspensa e queimada.
sempre para obter favores materiaes: res­ Em 'fonkim, no anno de 1838, o martyrln
tabelecimento de tua saúde ou da saúde de do bemaventurado Pedro Bosie, do Semina­
outros, felicidade nos negocios, etc. Os in­ rio. de Paris. No mesmo dia a morte dos dois
teresses de tua alma não são muito mais sacerdotes indigenas, Diem e Koa.

25 de Novembro

Santa Catha rína de Alexand ría


( t seculo IV)

Ra\ E nobre ongem, nasceu Catha­ ria, que abandonaram os erros e peeli­
� rina em Alexandria, no Egypto, raan admissão entre os catechumenos.
em fins elo sectilo terceiro. Bem pequena Todos morreram pela fé, á qual se ti­
ainda, começou a instruir-se nas ver­ nham convertido.
dades da santa religião e, dotada de O Imperador, surprehendido pelo exi­
uma intelligencia superior, mais tarde, to inesperado ela discussão, procurou
não só se aprofundou na sciencia theo­ pessoalmente ganhar as sympathias d_e
logica, cdmo taJmbem se dedicou d'um Catharina, para elest'arte fazel-a aban­
modo particular ao estudo elas sciencias donar o Christianismo. Entre outras
profanas. Tendo apenas dezoito annos, muitas promessas que lhe fez, foi a
em discussões publicas confundiu os principal a ele �leval-a á dignidade ele
maiores philosophos ela cidade natal. O Imperatriz. Catharina, porém, regcitou
Imperador Maximino tinha decretado firmeinente todas as pretensões do ty­
uma perseguição aos christãos e s,aa dou-­ ranno, não querendo reconhecer por es­
trina. Tendo conhecimento do grande poso do coração sinão o divino Salva­
preparo de Catharina, prometteu um pre­ dor. Maximino mudou então de tactica e
mio ao philosopho que conseguiss·e afastar em vez do a,mlor, que não lhe possuia,
a joven da religião christã. N nina discus­ revelou o odio sem limites contra a reli­
são publica, para a qual Catharina foi gião de Christo e contra a nobre clon­
convidada, puzeram em acção todo o ap­ zella. Durante onze dias Catharina foi
parato de argumJentações sophisticas, pa­ sujeita a toda sorte ele soffrimentos.
ra desorientar a donzella. Catharina, po­ Duras flagellações revezavam com des­
rém, illuminada pelo Espirito Santo, res­ humanas privações. O resultado foi que
pondeu-lhes com tanta clareza e sabedo- muitas pessoas, que visitaram a pobre

JSr;ntr: Çathririnn -- Assemani in catulog. univ. au 24 Nov. Raess e Weiss XVII.

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25 de Novembro 43i

victima das iras imperiaes, se converte­ martyrio, que se fez em pedaços, facto
ram ao Christianismo. Esta circumstan­ este que causou max�ma admiração e
cia provocou mais ainda o furor elo des­ detet11ninou a conversão de outros pa­
pota, que baixou uma ordem, segundo a gãos. Maxil\llino não mais ousou appli­
qual Catharina devia ser collocada sobre car outras medidas, com receio de tor­
uma roda com laminas cortantes e na,r-se propagandista elo Christianismo.
f,erros ponteagudos. Catharina fez o Por isto deu ordem para que Catharina
signal da cruz sobre o instrumento elo fosse decapitada. A joven christã rece-

li 1
1

Santa Catharina
Esponsaes mystlcas de Santa Catharina. O menino Jesus lhe
põe um annel no dedo.

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438 26 de Novembro

beu jubilosa esta sentença. e saudou o uma belleza superior a todas as bellezas do
dia que lhe ia proporcionar a maior da!; mundo. O peccado mortal, porém, tira-lhe
todo este encanto e no mundo não ha ser
venturas: a união com o celestial Es­ mais abjecto que uma alma maculada pelo
poso. peccado. Tem uma só semelhança: a de
Diz a historia ela vicia ele Santa Ca­ Lucifer. Lucifer, dos Anjos o mais bcllo,
tharina que o corpo ela Santa foi pelos transformou-se em demo11io por um unico
peccado, e adquiriu um aspecto que, em to­
Anjos J,evado ao monte Sinai. Fakonio. da a sua hcdiondez, nos seria insupporta­
arcebispo ele San Severino, referindo-se vel. No emtanto, tua alma, estando cm pec­
a esta lenda, diz: Os Anjos, isto é, os cado mortal, apresenta a maior analogia
com a delle. Si superfluos cuidados dispen­
religiosos do convento ele Sinai levaram sas ao corpo, para tornai-o agradavel no
o corpo ela martyr ao monte santo, onde aspecto, porque não merece •tua alma as
o sepultara1111 com todas as honras. A mesmas attenções ? "Quem quer conser­
maior parte elas reliquias ele Santa Ca­ var a belleza da alma, deve preliminarmen­
te evitar o peccado; nada ha que disforme
tharina se acham ele facto no Mosteiro tanto a imagem de Deus, isto é, a alma,
de Sinai. q?e o peccado ", diz S. Lourenço Justi­
mano.
REFLEXÕES
Ante a alternativa de sacrificar a virgin­
dade, a fé ou a vida, preferiu o martyrio a Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
perder a virtude. Renunciou sobranceira­ moria é celebrada hoje:
mente ás honras de Imperatriz, que lhe
Em Roma o m:artyrio do sacerdote l\'loy ..
adviriam pelo casamento com o Imperador,
'sc's. Defensor in�perterrito lia doutrina nova­
e preferiu agradar ao esposo eleito de seu
ciana, morreu na perseguic:5.o de Decio.
coração, a Jesus Christo. A alma, adorna­
da pela graça santificante, tem o amor in­ Na provincia Emilia, a memoria de Santa
finito de Christo, de que é esposa. Tem Jucunda.

26 de N avembro

S. PEDRO, PATRIARCHA
(t 311)

(� USETIIO chama a S. Pedro cl� perseguição accenclrava-lhe ainda mais


� Alexandria um dos mestres mais o amor á sua grei e fazia-o redobrar a
clistinctos <la Religião, um cios mais bel­ vigilancia episcopal.
los ornannentos da Egreja ele Deus, urna S . Pedro era homem de oração. Sem
das mais fulgurantes figuras cio epis­ cessar rezava, pedindo a Deus perseve­
copado e diz que era admirado por to­ mnça para si e o seu rebanho, e exhorta­
dos, pelo profundo saber e pelo 'fonhe­ va os fieis a mortificar os sentidos, afim
cimento vasto elas sagradas escripturas. ele seriem dignos de sacrificar a vicia por
Pedro assumiu a direcção cio patriar­ amor ele Jesus Christo, caso as circums­
chaclo ele Alexandria em 300, como suc­ tancias o exigissem. Pela palavra e pelo
cessor de Theonas, sendo-lhe o governo
caractcrisado pela grande pruclencia e exemplo consolava e confortava o� fieis
energia, ele que deu provas durante as perseguidos e com a.mor de pae acom­
perseguições ele Diocleciano. Quanto panhava aquelles que com o sangue sel­
mais imminente era o perigo, tanto mais laram a fé. Sob a jurisclicção do Patriar­
zelo desenvolvia o santo Patriarcha pela cha estavaJ111 as Egrcjas do Egypto, da
manutenção da ordem e disciplina. A Thebaida e ela Lybia.

S. Pedro - Buttler XI. Tillemont. V. Ceillier IV.

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26 de Novembro 439

Apezar do grande zelo e vigilancia cio Patriarcha, accusando-o de injustiça, por


Pastor, se1npre alguns infelizes, em cuja ter excan1p1i.mgado scismaticos.
alma o a.mor ao mundo predominava, se
1 Pedro conhecia bastante o orgulho e
tornaram trahidores da religião. quando o máo genio de Ario, para se deixar em­
esta pedia o supremo sacrificio. 0m uma balar de esperanças ele vêl-o voltar ao
epistola canonica, o Patriarcha se refe­ bom caminho. Excluiu-o, pois, da com­
riu ás diversas especies de apostasia, munic\ade cios fieis. Pedro escreveu di­
que f.oraJ111 observadas e im,pôz graves versas obras, que não chegaram até nós.
penitencias áquelles que se deixaram in­ Os Concilios, que mais tarde se reuniram
trmic\ar pelos horrores do martyrio. em Epheso e Chalcedonia, cita,m alguns
Dos apostatas quem maior escanclalo passos cio livro que escreveu, sobre a di­
provocou, foi Melecio, bispo de Sycopo­ vindade e sobre a festa da Pascoa.
lis. Além elo crime da apostasia, peza­ Santo Epiphanio diz que S . Pedro,
v<Wm sobre elle outras faltas, bastante sob o governo de Galerio Maximiano,
graves. Pedro achou opportuno convo­ por algum tempo soffreu pela fé os hor­
car um Conciliio, que se occupasse deste rores da prisão. Uma perseguição sub­
caso. O Concilio realisou-se; e Melei o sequente, a de Maximino Daja, Impera-
foi deposto. Em1 vez de se humilhar e . dor cio Oriente, não teve os rigores das
pedir perdão, o infeliz bispo formou um outras, devido a um aviso particular de
partido contra o Patriarcha. Para justi­ Galeria. Não obstante Pedro foi preso
ficar essa attitucle e conquistar a opinião e conde1nnaclo á morte, sem mais outras
publica,, deu-se ares de zelador e refor­ formalidades judiciarias. Junto com o
mador da disciplina ecclesiastica. Levan­ sacerdote Fausto e o c\iacono Am,nonio,
tou calumnias contra o Patriarcha e le­ foi clecapitaclo no anno 311.
vou o atrevimento ao ponto de accusal-o REFLEXõES
de condescendencia criminosa para com
Lendo a vida de S. Pedro, muito nos edi­
os christãos apostatas, como si os rece­ ficam o amor do Prelado á Egreja, · o zelo
besse novaJmente no gremio da Egreja, pela pureza da doutrina e o rigor na appli­
impondo-lhes condições excessivamente cação de penitencias aos trahidores da fé
leves. e áquelles que, apavorados pelos horrores
do martyrio, transigiam com o inimigo. A
Resultado desta rebeldia foi um seis­ fé é o thesouro mais precioso que nos vciu
do céu. Em hypothese alguma nos póde ser·
ma ecclesiastico, o tal scismia rndeciano, licito negai-a, abandonai-a, trahil-a. Quem
que durou 150 annos. Melecio não só commette este crime, mostra-se indigno do
semeou a cizania no campo da Egreja, baptismo, indigno de ser filho de Deus e
como taimbem continuou a exercer as da Egreja. Embora não haja ditosa proba­
bilidade de sermos enumerados entre os
funcções episcopaes; pôz-se acima das martyres, deve em nossa alma existir o
leis canonicas e nmneou um bispo de desejo de receber a graça de morrer pela
Antiochia. Tudo isto succedeu impune­ fé e a firme resolução de dar a nossa vida
nliente, porque Melecio soube suggestio­ por.Jesus e sua doutrina, si as circumstan­
cias o exigirem. Si não nos é dado morrer
nar a aLma cio povo de tal maneira, qu-2 por Jesus, morrer por sua obra, cultivemos
Pedro, para não ser victima da furia a nossa fé, apreciemol-a e pautemos a nos­
popular, teve de retirar-se. sa vida pelos dictames desta religião, sel-
1.ada pelo sangue de Jesus Christo, dos
A Melecio associou-se Ario, clerigo Apostolas e pelo exercito dos martyres.
alexandrino, cheio de orgulho e espirita
insubordinado. Esta união foi de pouca Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
duração e Ario recebeu de Pedro a sa­ moria é celebrada hoje:
gração cio diaconato. Essa conversão po­ Morto pelos arianos, que o precipitaram
de um rochedo, morreu o sacerdote Marcel­
rém, não era sincera, pois logo depois lo de Nicomedia.
da ordenação, pactuou novamente com Em Roma, o Papa Siricio, zelador ccn­
os Melecianos e atacou abertamente o sciencloso da fé e da disciplina canonica. 398.

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440 27 de Novembro

27 de Novembro

S. TIAGO, O MUTILADO
(t 411)

Il'n\ E origem persa, Tiago nasceu em apenas um somno . . . Oxalá possas ter
� Bethlapeta. Alta linhagem, gran­ a morte de justo." O Rei : "Não, a mor•
des e fulgurantes talentos, avultada te não é um somno ; para todos, grandes
fortuna, posição saliente, distincções e pequenos, é um objecto ele horror".
honrosíssimas, que lhe vinham do mo­ Tiago: "Não ha duvida; horrorosa é
narcha persa, fizeram com que o nome para os reis e todos os que desprezam
de Tiago fosse por todos muito hon­ a divindade, porque vã é a esperança
rado, mas tambem o levara1111 á beira elo cios ímpios." O Rei: "Chamas-me de ím­
abysmo. Quando o Rei da Persia annun­ pio, miseravel, tu, que não adoras o sol,
ciou uma perseguição ao christianismo, a lua, o fogo e a agua, as emanações
Tiago teve a fraqueza ele negar a fé, o mais sublimes da divindade ?" Tiago:
que grande t6steza causou á esposa ''Não intenciono offendel."-te; o que di­
e á mãe. Morto o Rei Isdegerts, escre­ go e censuro é dares a creaturas o nome
veram a Tiago esta carta: "Sabemos que de Deus, o que não deve ser."
abandonaste o amor e a fidelidade ele O Rei, ouvindo isto, não mais se con­
Deus in�mortal, para ganhar o agrado teve. Convocou os ministros, conselheiros
do Rei, os bens e glorias deste mundo. e juízes, para que com elle determinas­
Qual foi o fim claquelle, por amor do sem ele que modo deveria morrer aqucl­
qual perdeste um thesouro tão grande ? le, que tão affrontosamente tinha offen-­
O miseravel teve a sorte de todos os diclo e ultrajado as divindades do reine
m,ortaes . . . Delle nada mais podes espe­ Tiago foi posto na prisão e condemna­
rar, nem tão pouco te libertará das pe­ do á morte de mutilação. Si não quizes­
nas eternas. S,tbe que a divina justiça se prestar homenagem ás divindad�s.
te condemnará ás penas do inferno, si deveriéllll1 ser-lhe amputados os membr,)3
continuares na tua infidelidade. Quanto cio corpo, um por um. Profunda foi a
a nós, não desejamos mais ter commm11- impressão que esta sentença causou en­
cação comtigo". A leitura destas pala­ tre o povo. Todos affluiràm ao log-ar do
vras impressionou-o pro.fundamente. Ca­ supplicio, para serém testemunhas c!a
hindo em si, abandonou a vida na côrte cruel execução. Os christãos, por su�
e renunciou a vodas as vantagens, que vez, pediram a Deus a graça da perseve­
as relações com a aristocracia lhe ti­ rança para o seu servo.
nham conferido. Ao novo rei declarou
francamente
l que era christão e com,2 tal Antes de ser executado, Tiago, com
desejava viver. O monarcha abalou-se o rosto virado para o oriente, de jue.
com esta declaração e, indignado, accu­ lhos e os olhos fitos no céo, fez uma
sou-o de ingratidão, apontando para os oração. Depois se lhe approximaram os
grandes benefícios que do pae tinha re­ algozes que, de accordo com a sentença,
cebido. "Onde está aquelle príncipe ?" lhe amputaram dedo por dedo, depois as
perguntou Tiago. ·· "-Que foi feito del • mãos, os braços, os pés e as perna;.
le." Estas palavras ainda mais irrita­ Tiago soffreu horrivelmente, mas não
ram o Rei, que respondeu com ameaç,is vacillou.
ele morte lenta e cruel. Tiago replicou : No meio das crueis operações disse :
"Qualquer feição que a morte tome, é "Esta morte, que vos parece tão pavo-

S. T-iaoo o Mutilado - Raess e Welss XVII.

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27 de Novembro 441

rosa, é precios1ss1ma, por produzir a vi­ REFLEXõES


da eterna." Depois de longos annos, passados entre
Quando lhe cortaram o pollegar da praticas de virtudes, S. Tiago teve a in­
mão direita, o 1nartyr disse: "Salvador felicidade de perder a fé. Este facto confir­
ma a verdade de que jamais o homem se
dos christãos, acceita este galhosinho de deve entregar á confiança nas proprias
arvore. Esta arvore entrará em decom­ forças. "Por mais santo que alguem seja,
pos1çao; mas reviverá, cobrir-se-á de não se julgue tão seguro, como si fosse
impossivel uma quéda", diz Santo Ephrem.
folhagem e receberá a corôa da gloria S. Theodoreto escreve: "Não me diga: eu
eterna." Os proprios j uizes, assistindo encaneci na virtude, nada mais receio. A
ao horrivel martyrio de Tiago, ficaram queda ou uma alteração todos devem te­
movidos de compaixão e pediram-lhe mer. Satanaz precipitou já muitos no abys­
mo dos vicias e da condemnação, entre el­
que tivesse pena do corpo e salvasse a les tambem individuas que envelheceram
vicia, a que o servo ele Deus respondeu: na virtude". Santo Agostinho affirma que
"Não sabeis que não é digno de Deus conheceu homens, cuja santidade parecia
aquelle que, tendo posto a mão no ara­ attingir ás estrellas do céo e que cahiram
no abysmo dos vicias e ahi permaneceram.
do, olha para traz ?" Cada articulação Na convicção de tua fraqueza, pede a Deus,
que perdia, era offerecida a Deus com todos os dias, que te conserve na graça.
estas palavras: "Acceitae mais este ga­ Desconfiar de si, confiar em Deus, pedir
lho." força e perseverança, são tres cousas de
que o christão nuncá se deve esquecer. Na
Não havendo mais nada para cortar, observancia desta regra está toda sua for­
Tiago disse aos algozes : "Abatei agora ça. S. Tiago reconheceu o erro e voltou
o tronco. Não vos deixeis mover por pelo caminho do arrependimento e da pe­
coni,paixão de mim. Estou satisfeito e nitencia. Oxalá o quizessem seguir todos
aquelles que succumbiram na lucta contra
minha alma alegra-se no Senhor e incli­ as tentações, que o proprio orgulho, máos
na-se para aquelle que ama os pequeni­ homens e o demonio lhe prepararam, e ag­
nos e htlmildes." gra varam a consciencia. "Não peccar é
proprio de Deus - diz Santo Ambrosio, -
Horrivelmente mutilado, o rnartyr ain­ mas abandonar o peccado e emendar-se, é
da estava com vida, louvando a Deus. o que deve fazer o homem sabio."
Por ultimo foi-lhe decepada a cabeça.
Da maneira por que lhe foi praticado o
martyrio, Tiago recebeu o cognome de Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
mutilado. moria é celebrada hoje:
A data ela morte cio martyr foi o dia Na India os santos Barlaam e Josaphat,
cujas grandes obras mereceram o elogio de
27 de Novem!bro de 421. S. João Damasceno.
Os christãos juntaram-lhe as precio­ Em Sévo, na Hespanha, a memoria dos
sas relíquias e imploraram-lhe a inter­ santos Facundo e Primitivo, mortos por or­
cessão junto �e Deus. dem do governador Attlco.

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442 27 de Novembro

27 de Novembro

Nossa Senhora da Conceíção


e

A Medalha Milagrosa
� ANNO de 1930 marcou o primei­ por herança aos seus filhos e filhas es­
'!;:1/ ro centenario ela Manifestação ela pirituaes.
Innnaculada Virgem Maria, que do céu Chamlava-se >e1lla Catharina Labouré.
veiu trazer-nos o seu retrato na Meda­ Nasceu a 2 de Maio de 1806, na Cote­
lha bemdita, á qual, por causa dos seus cl' or, em França, e aos 24 ;:umos de eda­
prodígios e :m�lagres, o povo christão deu cle tom!ou o habito das Filhas da Cari­
o titulo de Milagrosa. dade. Noviça ainda, mias muito humilde,
Por ser pouco conhecida a sua origern, innocente e unida com Deus, era terna­
va:1nos dar um resumo dos factos que mente devotada á Santíssima Virgem, a
se clernm em 1830. Assim melhor pode• quem escolhera por Mãe desde que 0111
rá apreciar-se tão celestial favor, cOJm pequenina ficára orphã, ardia en11 conti­
mais devoção será procurada a Santa m,os desejos de a ver e instava com o
::VIedailha e ma.is enthusiastica e santa­ seu Anjo da Guarda para que lhe alcan­
mente será celebrada a sua data annual­ çasse este favor. Não foi baldada a sua
mente. esperança; entre outras_. foi bem celebre
Não é a Medalha Milagrosa como a apparição de 18 para 19 ele Julho de
muitas que se têm inventado para repre­ 1830, •em que Nossa Senhora a cham:ou
sentar os títulos e invocações de Maria á Capella e com a frmã se dignou con­
Santíssima, ,medalhas dignas de respeito versar por algumas horas, annunciando­
e veneração pelo que repPesentam, mas lhe o que em breve aconteceria, enchen­
que não têm outra origem mais do que do-a ele carinhos e consolações.
o gosto do artista que as fabricou ou o Mas a mais importante das apparições
fervor do santo que as divulgou. foi a cio dia 27 de Novembro de 1830,
· Xão assim a Medalha Milagrosa; é sabbado antes do primeiro domingo do
el,la u!m rico presente que Maria Im1na­ Advento. Nesse dia, estando. a venera­
culada quiz offerecer ao mundo no s•e­ vel ii1mã na oração da tarde, nessa Ca­
culo XIX, como penhor cios seus cari­ pella da Oonimunidade, rua du Bac, Pa­
nhos e bençãos 'lnaternaes, como ittstru­ ris, a Rainha cio Céu se lhe mostrou,
mento de m,ilagres e como meio ele pre­ pri1neiro junto cio arco cruzeiro, cio lado
paração para a definição clogmatica de ela epistola, onde hoje está o altar da
1854. "Virgo Potens", e depois por detraz do
Foi na Crnnrniunidade das Filhas ela · Sacrario, no altar-mór. "A Virgem San­
Caridade, fundada por São Vicente de tíssima, diz a Irmã, estava de pé sobre
Paulo, que a Santíssima Virgem esco­ rnn globo, vestida de branco aurora,
lheu a confidente dos seus desígnios, pa­ com o f.eitio que se diz á Virgem, isto é,
ra recompensar de certo a devoção que subido e com mangas justa·s; veu branco
o Santo sempre teve á Imnraculada Con­ a cobrir-lhe a cabeça, manto azul pra­
ceição de Nossa Senhora, e que deixou teado que lhe descia até a:os pés; o ca-

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27 de Noverr'lbto 443

bello em tranças, seguro por uma fita já se lhe não via a tunica nem os pés.
debruada de pequena renda, sobre elle As pedras preciosas eram maiores umas,
pousava; o rosto bem descoberto e ele menores outras e proporcionaes eram
uma fonnosura indescriptivel. As mãos, ta:mbem os raios luminosos."
devaclas até á cinta, sustentavam outro "O qt�e então experimentei e appren­
globo, figura cio rn:undo, rematado por di naquelle momento é impossivel ex­
uma cruzinha de ouro; a Senhora toda plicar."
rodeada de tal esplendor que era impos­ "Como estivesse occupacla em con­
sivel fixal-a; o rosto illuiminou-se-lhe de t·emplal-a, a Virgem Santissima baixou
radiante claridade no momento em que para nüm os olhos e uma voz interior
com os olhos levantados para o céu, of­ me disse no intimo cio coração: "este
ferecia ao Senhor esse globo.'' globo que vês representa o mundo intei­
"De repente os dedos cobriram-se ele ro e em especial a França e cada pessoa
anneis e pedrarias preciosas de extraor­ eni particular". Aqui não sei exprimir o
<linaria belleza, de onde se despediam qUJe descobri de belleza e brilho nos raios
raios luminosos para todos os lados, en­ tão resplandescentes. A Santissima Vir­
volvendo a Senhora em tal esplendor que.: gem accrescentou: "eis o symbolo elas

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444 27 de Novembro

graça,s que derralmo sobre as pessoas que ção dos bons costumes e da virtude, s�­
m:'as pedein". ranclo os corpos e convertendo as alnms.
"Desappar, eceu então o globo que ti­ Entre outros prncligios é celebre a con­
nha nas mãos; e como se estas não pu­ nrsão do judeu Af fonso Ratisbona,
dessem com o peso das graças, inclina· acontecida depois da visão que elle teve
ram-se para a terra na aMitude graciosa na egreja de Santo André delle Frate,
reproduzida na Medalha." em que a Santissima Virgem lhe appa­
"Rormou-se então em torno da Vir­ receu como se representa na Medalha
gem. um quadro wú pouco oval onde em i\f ilagrosa.
letras de ouro se liaim estas palavras : O prin11eir-o a approvar e abençoar a
"ó Maria, concebida sem peccado, ro­ Nledalha foi o Papa Gregorio XVi, con­
gae por nós que recorremos a vós''. fiando-s•e á protecção della e conservan­
Fez-se ouvir ,então uma voz que me di­ do-a junto do seu crucifixo. Pio IX, s1eu
zia: "Manda cunhar uma Medalha por successor, o Pontifice da Imu.naculada,
este modelo; as pessoas que a trouxe­ gostava de a dar com!o prenda particular
rem indulgenciada receberão grandes da sua beneV'Olencia pontificia. Não ad­
graças, 111,ónnente se a trouxerem ao' 'mira que, con1 tão alta protecção e á vis­
pescoço; hão de ser abundantes as gra­ ta de. tantos pmdigios, se propagasse ra­
ças para as pessoas que a trouxerem picla:mente. Só no espaço de quatro an­
com confiança". nos, de 1832 a 1836, o fabricante Ve­
No ,mesmo instante o quadro pareceu chette, que foi incumbido de a cunhar,
voltar-se e a Ir1mã viu no r,everso a le­ vendeu dois m,ilhões cl-ellas em ouro e
tra "M" endmada por uma cruz, tendo prata e dezoito milhões de cobre; em
um, traço na bas,e e por baixo do mono­ Paris onze fabricantes mais venderam
gram\ma de Maria os dois corações de outras tantas; em Lyon quatro cunhado­
Jesus e de Maria, o p6meiro cercado por res venderam o dobro e em varias ou­
uma corôa de espinhos, o segundo atra­ tras cidades da França e do estrangeiro
vessado por uma espada; e, segundo se fabricou e vendeu numero incalcula­
tradição oral con-.mrunicada pela Viden­ vel ele Medalhas. O que não terá sido
te, ulma' corôa de doze estrellas a cercar desde 1836 até agora !
o monogra)nima de Maria e os corações. Graças a esta diffusão prodigiosa, foi­
Tambem a mesma Irmã disse depois que se radicando mais e melhor no povo
a Santissima Virgem Maria calcava aos christão a crença na Immaculacla Con­
pés uma serpente de côr esverdeada com . ceição dle Maria e a devoção para conn
pintas amarella:s. tã!o excelsa Senhora; assim se preparou
Passaralm-se dois anlllos sem qut os essa apotheose sublime da Definição do­
Superiores ecclesiasticos decidissem o grn:atica ele 1854, que a Virgem ss_a veiu
que havia de fazer-se; até que, depois do como que confinmar e ágradecer e111
inqtl'erito canonico, se cunhou a Meda­ Lourdes em 1858, coroando assim a ap­
lha por ordem e com approvação do parição de 1830.
Arcebispo de Paris, Monsenhor de Qué­ Em outras apparições subs•equentes a
len. Para Iogo começou a espalhar-se ss_a Virgem falou a Catharina Laibou­
cdtn muita rapidez a devoção pelo mundo ré da fundaçãio de uma Associação de
inteiro, acompanhada sempre de prodi­ Filhas de Maria que depois o P3JPa Pio
gios e milagres extraordinarios, reani­ IX approviou a 20 de Junho de 1847, en­
mando a fé quasi extincta em muitos riquecendo-a cdm a:s indulgencias da
corações, produzindo notavd restal.l!I"a- Prima-primaria. Espalhou-se pelo mundo

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27 de Novembro 445

inteiro e conta hoje mais de 150.000 As­ com as mãos carregadas de raios lumi­
sociadas. Leão XIII a 23 de Julho de nosos, os qua'es segundo Elia mesma
1894 instituiu a Festa ela Medalha Mi­ disse, representalm ais graças que derra­
lagrosa com o rito duplo de 2.ª classe; ma sobre as pessoas que lh'as pe<lem, e
a 2 de Março de 1897 encarregou o �orna cuidado ele nos dizer como deve­
Cardeal Richard, Arcebispo ele Paris, mos pe<lil-as, ensinando-nos a oração:
de coroar em seu nome a estatua ela Im­ "Ó Maria, concebida sem· peccado, ro­
maculada Virgem Milagrosa que está no qae por nós que recorremos a vós".
Altar mór ela Céiipella da Apparição, o que 300 dias de indulgencia cada vez que os
se fez a 26 de Julho do mesmo anno. Associados da Medalha 1lfilagrosa recitarem
Pio X nã:o esqueceu a Medalha Mila­ esta invocação. (S. Poenit. Ap. 30-1-30).
grosa no anno jubilar; a 6 de Junho ele "A Virgem toda radiante de luz cal­
1904 concedeu 100 dias de indulgencia ele cando a sierpente lembra-nos a sua Oon­
cada vez que se diga a invocação: "ó ccição Tmmaculada, portanto a queda
Maria concebida, etc.", a todos quantos original, o Sa:lvc1;dor prcxmettido, etc.
tenham recebido oanonicamen!Je a Santa
Medalha; a 8 ele Julho ele 1909 instituiu No reverso vemos a cruz, symbolo da
a Associação da Medalha Milagrosa com Redempçã•o. Maria associada a essa obra
todas as indulgencias e privilegias do divina, mediadora junto de Jesus; a
Escapulario azul. Bento XV e Pio XI cruz e os dois corações falam-nos de ca­
encheram a Medalha e a Associação ele ridade, penitencia, mortificação e amor;
novas graças e favores. as doze estrellws lembra/111 o zelo do apos­
tolado e a recd111pensa que o espera. Não
Que rica e preciosa é pois a Santa Me­
ha inscripção deste lado, porque, C01110
dalha que a nossa Mãe do céu nos veiu
N. S. disse, a cruz ·e os corações dizem
trazer em 1830 ! e como a elevemos esti­
bastante.
mar e apreciar! Mas cr,escerá muito mais
a nossa estinra si soubermlos comprehen­ Quem não ha de p1°ocurar trazer,
der as licções que Maria SS.ª nos quiz a;mar, estudar esta Santa Medalha e re­
dar na mes\11a Medalha; eil-aJS em nesu- ceber della todos os fruictos de benção e
1110 : No anverso vemos a imagem de Nos­ salvação que Maria Imlmiaculada pro­
sa Senhora, toda bella, toda bondosa, ni!etteu e deseja communicar?

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446 28 de Novembro

28 de Novembro

S. Leonardo de Porto Maurícío


(t_J�51)

1f: MMORTAL tornou-se o nonile des­ dos, por occasião das m1ssoes, Lenoardo
J:: te Franciscano, missionario da Ita­ rejeitava-os, preferindo viver pobre, co­
lia, que por espaço de 44 annos pre­ mo o divino Mestre viveu e morreu.
gou 326 missões em 84 dioceses, apre­ O almor de Deus tinha deitado raizes
sentando-se assim corno um instrumento fortissimas na alma elo santo missiona­
escolhido da Providencia divina, para a ria, que costumava dizer: "Mesmo si
salvação de muitas almas. O resultado tivesse toda a certeza de parar no infer­
estupendo que lhe coroava os trabalhos no, ele todo o coração amaria a meu
de missionaria, tem explicação na gran­ Deus". Ou: "Feliz me consideraria, si
de santidade deste humilde filho do Pa­ com meu sangue pudesse evitar tm1 só
triarcha de Assis. S . Leonardo de Por­ peccado mortal, que tanto desgosto cau­
to Maurício é urna figura extraordina­ sa a Deus e tão gravemente o offende."
ria, entre os grandes prégaclores ele pe­ Para ter diante de si a lembrança da
nitencia e dos missionarias, que Deus Sagrada Paixão de Nosso Senhor, fazia
tem dado á Egreja, um cios maiores. O todos os dias o exercicio da via sacra
grande orador sacro Barherini, homem ·e levava sobre o peito uma cruz, -guar­
ele grande experiencia e virtude, disse necida de cinco pontas ele ferro. Nas
no relatorio ao Papa Clemente XII, re­ sextas-feiras mastigava vermutho ou
ferindo-se á prégação ele Leonardo, que outras hervas amargosas, para acompa­
nunca ouvira um prégaclor mais eloquen­ nhar o divino Mestre, a quom deram fel
te e zeloso, orador algum que o impres­ e vinagre a beber.
sionasse tanto. Bento XIV assistiu a Devotissimo de Maria Santíssima,
diversas missões dirigidas por Leonardo, saudava a divina Mãe, todas as vezes
para ouvir-lhe praticas. Nos Jogares on­ que ouvia bater horas. Os sabbados e
de pregava, um elos s·eus cuidados era as vesperas de festas marianas eram-lhe
implantar na alma do povo a devoção dias de jejum. Nenhuma missão termi­
ao Sagrado Coração de Jesus e da Sa­ nava, sem que tivesse recommendaclo aos
grada Paixão de Nosso Senhor, a ado­ ouvintes a devoção de Nossa Senhora,
ração perpetua do SS. Sacramento, o mostrando-lhes que esta devoção inclue
culto de Nossa Senhora. o oclio ao peccado mortal.
Um dos nl!ais ardentes desejos que Co11sideranclo o SS. Sacramento o sol
sentia, era vêr proclamado o dogma da do Ohristianis11110, a alma ela fé, o ponto
I rnmaculada Conceição. central da religião christã, Leonardo era
Grande pregador, era tambem modelo adorador devotíssimo deste grande mys­
perfeito de virtudes, que procurava im­ terio e com o maior recolhimento ceie-
plantar nos corações dos ouvinte• s. Pos­ , bra'Va a santa Missa, preparando-se para
suidor do espirita de S. Francisco, era a celebração pela confissão cliaria.
Leonardo, como seu Pae espiritual, ami­ Amigo de Deus e trabalhador declica­
go apaixonado da pobreza. Andando dissimo pelos interesses de Jesus, era
. sempre descalço, não usava habito que grande o amor que dedicava ao proxi­
não tivesse já servido a outros Irmãos mo. Esta caridade teve a rnaxima ex­
de Ordem e bastante gasto. Presentes, pressão e exernplificação no contessio­
que em quantidade lhe eram offereci- nario. Os maiores peccaclores encontra-

S. Leonardo de Porto Ma1iricio - Brev. Rom.

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28 de N'Ovmnbro 447

vam nelle um bom pae e caridoso me­ Luiz Gonzaga. Nunca abandonou os
dico. Admiravel era-lhe a dedicação no principios austeros, adquiridos na mo­
confessionario, · durante as missões. Foi cidade, defensores e conservadores da
observado que permanecia no tribunal santa pureza. "Quando unn religioso -
da penitencia durante 30 horas, sem to­ assim costumava dizer - precisa falar
mar alimento e sem se pennittir um cles­ com uma pessoa cio outro sexo, deve ter
canço. Tiodois ··-·--··-· -----------· o procedinllen­
os sacrifícios, ~-· to de quem
, 1

todas as fadi­
···\-;,~ .
__. . · .! tem que se ha-
gas as offere­ · ver com um
_. i
cia pelas al­ empes t e a d o.
mas do purga­ , ,.. , Não podendo
torio. Aclimira­ ,- ·:Í evitar o conta­
vel expressão ~-. -! i cto com taes
de S. Leonar­ doentes, leva
do é a seguin­ consigo chei-
te: "De boa 1 ros fortes, pa­
vontad1e fica­ ra evitar o
ria na entrada conta g i o. O
do i n ferno, religioso, em­
supportando os quanto precisa
maio r e s tor­ falar com u1na
mentos, si com mulher, eleve
meu corpo pu­ 1 1, usar o incenso
desse obstruir i• dos bons pen­
a passagem e ' sam:entos, para
impossibilit a r ; não pôr em
que alguem li perigo a pro­
entrasse." pria alma."
V e rd'1!deiro Era visivcl a
Santo, era Le­ graça e a pro­
onardo am,igo tecção divina,
da penitencia. que o acom­
O tempo lhe panhavam nas
e r a precioso missões. Co­
de 1nais, para
1
mo fossem nu­
perdei-o com nterosissi 111 a s
c o n versaçõos as conversões,
superfluas. Só não faltavam
o serviço de S. Leonardo de Porto Mauricio exe:1�i>lo-s qu•e
Deus e o in­ fazia figura extraordinaria entre os grandes prega­ mostra!m co-
tei:esse pelas dores de penitencia, e dos missionarias, que Deus
tem dado á Egreja� tem sido um dos maiores. 1no Deus cas­
almias podiam­ ti g a visivd­
no levar a sahir da cella. Durante as mente os desprezadores dos salutares
missões o soalho lhe servia de leito e o avisos divinos. Em todas as emergenciars
corpo, ,macerado pelo jejum, e pel,�s cons·ervava São- Leonardo a confom,i­
mortificações, apresentava-lhe signaes dade e uma profunda huunildade. "Tu­
inequivocos de crueis flagellações. do para Deus, nada para mim" - era
Quando estudante, era modelo para os sua divisa.
condiscípulos, e os mestres tinham-lhe Leonardo morreu em Roma, no Con­
grande esüma, comparando-o com São - vento de S. Boaventura. fio VI, que o

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448 29 de Novembro

conhecera em vida, conferiu-lhe o titulo são ! A lei de Deus não conhece e não ad­
de Bemaventurado. Pio IX inseriu-lhe mitte excepção. E como Deus ordena que
a Egreja seja ouvida e obedecida, as lei�
o nome no catalogo cios Santos da da Egreja nos obrigam da mesma fõrma.
Egrej� � Pi� XI deu-o por padroeiro que as do decalogo. Grava bem fundo eu,
aos m1ss10nanos. teu coração esta verdade e lembra-te dJ.
palavra de Nosso Senhor, que diz: "Si que­
res entrar na vida, observa os mandamen -
�EFLEXõES tos". (Math. 19) como da affirmação d.)
Um dos maiores missionarios que a Psalmista: "Malditos aquelles que se des­
Egreja possuiu, S. Leonardo de Porto viam dos vossos mandamentos." (Ps. 113).
Mauricio, senhor de uma eloquencia arre­
batadora e que sacudia impiedosamente as
consciencias dos ouvintes, não se cançava Santos do Martyroloaio Romano, cuja me­
de aconselhar aos christãos que observas­ moria é celebrada hoje:
sem os mandamentos da lei de Deus. Da Em Corintho a morte de S. Sosthenes, dis­
observancia da lei de Deus depende a vida; cípulo de S. Paulo.
desprezai-os é a morte certa. Muitos se il­
ludem pensando que, levando ao pescoço Na Tunísia os bispos Tapiniano e Mansue­
uma medalha ou o escapulario, tendo o no­ to, mortos na perseguição dos vandalos.
me inscripto em uma irmandade, a salvação No seculo 6. 0 a memoria dos santos Bis­
é a cousa mais garantida, embora se per­ pos Valeriano, Urbano, Crescente, Eustachio,
mittam as maiores liberdades no despre­ Crnsconio, Cresconciano, Fclix, Ortolano e
zo da lei de Deus. Que engano, que illu- Florenciano.
❖❖❖-H-❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-r❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖-:+t-:•❖❖❖❖❖❖❖❖❖

29 de Novembro

SÃO SATURNINO
(t seculo Ili )

R STE santo sacerdote e martyr e dote Saturnino, com 48 christãos, que, a


Jm m1:1.is. 48 christãos morreram de despeito da prohibição imperial, num
morte crudelissima, em testemunho da domingo se tinham reunido, para cele­
fé e esse martyrio prova-nos com que brar -� ouvir a santa Missa. No caminho
pontualidade os christãos da Egreja pri­ para Oarthago, onde iam ser julgados,
mitiva observavam a lei da santificação entoaram psalmos e canticos de louvor
do domingo. a Deus. Levados á presença do juiz, a
Um decreto imperial tinha, sob pena unica resposta a todas as perguntas ve­
de morte, prohibido aos christãos reu­ xativas foi: "E' esta a lei ele Deus, que
niões, com o fim de assim impossibilitar nos manda que santifiquemos o dia do
a celebração da santa Missa e a leitura Senhor."
dos livros bíblicos. Diocleciano e seu Todos foram sujeitos aos mais barba­
companheiro no poder, julgavam com ras tormentos. Saturnino, o pastor do
esta medida fazer desapparecer o chris­ pequeno rebanho, foi estendido sobre o
tianismo. Alguns fraquearam, a maioria, cavallete, sendo-lhe as articulações des­
porém, dos christãos seguiu firme e re­ conjuntadas, as carnes rasgadas com
soluta1mente suas convicções religiqsas, ganchos de ferro, á maneira de ficare1n
na observação dos mandamentos da lei descobertos os ossos. No meio da tortu­
de Deus e da Egreja. ra se ouvia o martyr exclamar: "Jesns,
Assi,m aconteceu que, na cidade de salvae-rne ! Jesus ! tende piedade de
Abitina, na Africa septentrional, fossem mim ! Graças vos dou, ó meu Deus !
descobertos e levados á prisão o sacer- Mandae que cortem a cabeça ! Jesus

B. Baturnino - Act. Mart. authent. Rulnart.

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29 de Novembro 449

Christo, compadecei-vos de mim ! Jesus ela joven Victoria. O menmo Hilaria­


Christo, não me abandoneis !" Entre no, desprezando as promessas e amea­
jaculatorias e invocações do nQlme ele Je­ ças do juiz, fez a profissão de fé:
sus, morreu este heróe ela fé. "Sou christão e quero sei-o. Faze com­
O exemplo de Saturnino foi seguido migo o que quizeres : sou e serei chris­
pelos com,panheiros. Todos tiveram uma tão."
morte cruel. O Senador Dativo, ancião Que exemplo para nós ! Que exem­
veneravel, vendo-se em frente dos algo­ plo para christãos catholicos, que por
zes, disse: "Nós somos christãos. Reu­
1 qualquer motivo se dispensam da audi­
nimo-nos para adorar a Deus. Jesus ção da Missa dominical ! Uma leve in­
Christo, ajuclae-me ! Tende piedade ele disposição, um pouco de sol, uma chu­
mim ! Salvae minha alma e clae-me per­ vinha, Ulma visita em casa fal-os per­
severança." der a Missa, quando ha tempo de so­
O aclmiravel heróe Thelica, collocado bra e boa disposição para divertimen­
no equuleo, cheio de dedicação e confian­ tos, passeios e visitas. E' má:o signal
c;a exclamou: "Graças vos dou, Deus cio para um catholico, quando com�ça a
universo ! De longe já me saucla o vos­ falhar á Missa nos domingos, não ten­
so reino ! Senhor Jesus Christo, somos do para isto motivo, que tal justifique.
vossos, a vós queremos servir ! Sois vós Onde não ha fé, onde falta o espirita
a nossa esperança, a esperança cios chris­ ele sacrificio, ele oração e penitencia,
tãos ! Deus santíssimo, Deus sublime, faltará a benção de Deus na vida e na
Deus poderoso ! Seja bemclito o vosso morte. Si quereis uma boa e 'santa
nome, oh ! Deus todo poderoso !" morte, cuidae ele santificar o dia do
O leitor Emerito defendeu a santifica­
1 Senhor.
ção do do1dingo e soffreu o martyrio, REFLEXÕES
como os demais. Perguntado pelo juiz si Não posso curvar-me deante de deuses,
possuía ainda escriptos, respondeu: que me têm medo" - dizia S. Saturnino.
"Sim, tenho-os. Tenho-os, não em ca­ �ão se com,prehende a insania dos pagãos
que, ao vêrem os milagres operados pelos
sa, n1as em meu coração." Durante a martyres, não se convenciam da nullidade
tortura elevou a voz, dizendo: "Tesus das falsas divindades. Como é feliz o chris­
Christo, a vós imploro, a vós ben;digo. tão, que conhece a Deus, esse Deus todo­
Salvae-me, meu Jesus ! Vêde meu sof­ poderoso, eterno_. omnisciente, sapientissi­
mo, presente em toda a parte, justo, santo,
fdmento. E' por vosso nome que es­ fiel e misericordioso ! "Senhor, nosso
tou soffrenclo. Daqui ha pouco, tudo Deus, quão admiravel é vosso nome e vos­
está terminado. Soffro, quem soffrer sa magnificencia está acima dos céos." -
- de boa vontade. Jesus, valei-me. Em " Misericordioso e benigno é o Senhor, pa­
ciente, de grande misericordia e fiel." -
vós ponho minha esperança, não serei " O céo é vosso e vossa é a terra; o orbe
confundido." terrestre e o que está nelle, vós o fundas­
QtFe fé! Que heroísmo! Semelhante ao tes." (Ps. 8, 2. 85, 15. 88. 12). Destas ver­
dad� se deixaram penetrar os santos mar­
Apostolo, guardava a lei de Deus, não tyres, e poder nenhum na terra era capaz
escripta com tinta, mas no coração, de fazei-os declinar d'essa convicção. Do­
com letras inapagaveis. brar o joelho deante de um idolo e pres­
tar-lhe homenagens divinas parecia-lhes a
Como estes, os demais christãos con­ mais perfeita loucura, o maior absurdo. A
fessara:111 valorosaJmente a fé, clecla­ meditação dos attributos de Deus alimen­
ranclo na presença do juiz que eram tava e fortalecia-lhes o espirita ele tal ma­
christãos e como christãos queriam vi­ neira, que, sabendo-se filhos, amigos e he, -
deiros de Deus, antes se dispunham a soi­
ver •e morrer. "Somos christãos; para frer os maiores ultrajes, os mais atrozes
nós não ha outra lei. Devemos cum­ soffrimentos, do que se separar da religião
prir o mandamento ele Deus, por isso e macular a alma com o peccado da apos­
tasia. Lembra-te niuitas vezes ele Deus, elas
nos reunimos no domingo, celebrando suas perfeições, da tua vocação final e ve­
a nossa religião" - foi a declaração rás que os vicias deixarão de empolgar teu
Na Luz Perpetua 29 - II vol.

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450 30 de Novembro

coração. Dia a dia te tornarás mais seme­ anc1ao Saturnlno e do dlacono Slsinlo, no
lhante áquelle para quem foste creado. tempo do . imperador Maximiano.
Em Todi, a memoria de· Santa Illuminata.
Santo.ç do Martyrologio Romano, cuja me­ Sec. 4.
moria é celebrada hoje: Em Ancyra, o martyrio de S. Phllomeno,
Em Roma, na Via Salaria, o martyrio do no tempo do Imperador Aureliano. 274.

30 de Novembro

Santo André, Apostolo


(t 70)

A\ NDRE', entre os Apostolos o pri­ discipulos escolheu doze Apostolas, dos


�l meiro eleito, era inuão carnal de quaes André é enumerado em segundo
S. Pedro, e como este pescador de Beth­ logar. Como dos outros Apostolos, tam­
saida e um dos discipulos de S. João bem de Santo André, os santos Evan­
Baptista. Jesuls chegou ao Jordão, ao gelhos poucas noticias dão. A Tradição
logar onde João baptizava e este disse sabe que André, logo depois da descida
aos discipulos: "Eis ahi o Cordeiro de do Espírito Santo, no dia de Pentecos­
b.eus, que tira os peccados do mundo. tes, partiu para a Scythia, paiz situado
E' este que virá depois de mim." An­ ao norte dos mares Negro e Caspio.
dré, comprehendendo o sentido desta l\fais tarde vemos o Apostolo em Col­
palavra, seguiu a Jesus com mais outro chida, na Thracia e na Grecia. Por ul­
cliscipulo (provavdmente São João timo fundou uma Egreja em Taras, na
Evangelista). Jesus recebeu-os, per­ Achaia, que foi uma das mais flores­
guntando-lhes: "Que desejaes ?" Elles centes dos tempos apostolicos.
responderaJm: "Mestre, onde moras ?"
-Ao que Jesus respondeu: "Vinde e A joven Egreja encontrou ahi um
inimigo encarniçado na pessoa ele
vêde !" Foram e passaram o dia todo
Egéas, governador romano, que não
com elle. André encontrou o irn1ão Si­
recuava deante das medidas mais crucis
mão e disse-lhe: "Encontrámos o Mes­
e deshumanas, para defender a idola­
sias, que é o Christo."
tria. André, com franqueza verdadeira­
E levou-o a Jesus. Jesus olhou-o e mente apostolica, se lhe apresentou e
disse: "Tu és Simão, filho ele João; disse: "Exiges cios teus subditos que
serás chamado Cephas, que quer dizer te reconheça.m como juiz. Tens razão.
Pedro, isto é, pedra." Ainda não fica­ Porque é então que te recusas a reco­
ram definitivarnente com Jesus Chris­ nhecer o supremo Juiz, Jesus Christo,
to, mas voltaram aos seus neg..:icios. que é juiz do mundo inteiro ?"
Só pelo fim daquelle mesmo anno foi
Egéas respondeu: "E's tu aquellc
que Jesus os procurou no lago Gene­
André que derruba os templos de nos­
sareth e tendo-os encontrado, quando
sos deuses, e inette tolices na cabeça
lavavam as rêdes, disse-lhes: "Segui­
cios simples, para que abracem essa re­
me, far-vos-ei pescadores ele homens."
ligião supersticiosa, contra a qual os
Então abandonaram as rêdes e segui­
Imperadores deram ordens as mais se­
ram Jesus e não o abandonaram mais.
veras ?" - André: "Estas ordens fo­
Os Santos Evangelhos relatam que ram dadas por Imperndores que desco­
Jesus Christo, tendo passado a noite nhecem a verdade ; desconhecem a J e­
toda em oração, entre setenta e sete sus Christo, o Filho de Deus, que veiu

Sento André - Santos Evangelhos. Vogel: Heiligenlegende.

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30 ele N overnbro 451

a este mundo para salvar os homens; desconhecem ainela que os eleuses não
são deuses, mas abjectos demonios." morte na cruz não é mysterio nenhum,
Egéas: "Os judeus crucificaram Jesus antes v,ergonha e castigo." - André:
Christo justa.mente i)or causa desta "Uma cousa e outra: Hm castigo porque
doutrina." - André: · "Ah ! si conhe­ pela morte da cruz foi tiraela a culpa elo
cesses o mysterio da Cruz e comprehen­ peccaelo; mysterio, porqu'e tornou facto
elesses quem é a graça substi­
EUe, que, Cre­ tuiu o castigo
ador de todos e aos fieis é
os h omens, garnntida a vi­
por amor de da e t e rna.''
nós tomou li­ Egea<S : "Oom
v�n e n te a estas fatuida­
C r u z sobre des divertirás
s1, para r.:os a quem qmze­
s a 1 v ar!" •- res; eu, po­
Egéas: " L i­ rém, te digo:
vremente não, Si não aban­
po r q u e foi elonares esta
proc ·e s s a d o, religião, si não
p r e s o, con­ reneleres hon­
denn na do e ra aos deuses,
cruci fie a d o." eu te manda­
- A nelr é: rei á flagella­
"Q uem, como ção e mesmo á
elle, predisse a cruz, visto lhe
morte; quem, teres tanta ve­
como eHe, pre­ n e r açiio." -
disse ainda o A nelr é : "O
modo por que sacrifício que
havia de mor- eu dia por dia
rer; quem, co- offereço, não
1110 elle, depois é incenso, não
de morto, re­ são holocaus­
suscita glorio­ tos de bois e
so do sepul­ carneiros, mas
chro; qu e m, é o Cordeiro
como elle, dis­ innnacu 1 a d o,
se: "Eu tenho
o poder de en­
• offerec i d o a
Deus vivo e
Santo André
tregar a m:inha verei a c1 e i r o.
';Salve, santa Cruz, tão amada, tão desejada! Tira­
vida e de re­ me do meio dos homens, e entrega-me ao meu Mestre Os fieis be­
havei-a e con­ e Senhor, para que eu de ti receba o que por ti benn o sangue
me salvou."
f i rma esta re comem a
doutrina por factos innegaveis, morreu carne deste Oor<leiro, que não morre e a
porque quiz, morreu livremente e a sal­ todos dá viela." Egéas: "Como é passi­
vação é um facto que se impõe á cren­ vei isso?" - André: "Si quizeres tor­
ça de todos." - Egéas: "E' um absur­ nar-te meu eliscipulo, eu t'o exp!ica,r1�i.
elo ser discipulo de 1.l/lTI crucificado." - A este convite de graça Egéas respon­
André: "Si •me quiz'eres ouvir, eu te ex­ deu com ordem de prisão. André foi
plicarei este mysterio." - Egéas : "A encarcerado e no dia seguinte foram rei-

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452 30 de Novembro

teraclas as ameaças de morte e as inti­ possesso do clemonio e morreu em ple­


n1ações de prestar culto aos deuses ro­ no desespero.
manos. André respondeu ao governador Trezentos annos mais tarde as relí­
com firnreza e mansidão: "Meu marty­ quias ele Santo André chegaram a Cons­
rio tornar-me-á mais agradavel a Deus; tantinopla, onde permanecera:111 até o
meu soffrimento pouco tem'.[)O durará, tempo cio Papa Pio II, o qual as man­
ao passo que teu tormento não terá dou transportar para a Cathedral de
fim." - Egéas, fóra de si ao ouvir es­ A:malfi, na Italia, onde até hoje se
tas palavras, lavrou a sentença de que o acham. A data elo Martyrio de Sant::i
inimigo da religião e do imperio fosse André é o dia 30 ele Novembro elo an­
flagellado e crucificado. no 70.
Esta injustiça provocou grande indi­
gnação entre o povo. Levantando solem­
REFLEXÕES
ne protesto, entre ameaças e maldições, ·Nota duas palavras bem mcmoraveis de
este exigiu de Egéas a liberdade do que­ Santo André. "Todos os dias offereço em
sacrificio a Deus um Cordeiro immacula­
rido pastor. André, porém, receioso de
do." Pode haver um testemunho mais cla­
perder a palma do martyrio, pediu aos ro de que o Apostolo celebrou diariament�
fieis que, pelo amor do sangue de Chris­ a santa Missa ? A nenhum outro sacrificio
to se abstivessem de actos de violencia a não ser ao sacrifício da santa Missa é
e não o retardassem no caminho ela applicavel esta expressão de Santo André.
gloria. Todos os Santos Padres, que escreveram
Foram assim executadas as ordens sobre o santissimo Sacramento, vêm nelle
barbaras de Egéas. Chegado ao lugar o sacrificio do novo Testamento. E' fóra
cio supplicio, André, vendo o instrumen­ de duvida que Christo, instituindo o santis­
simo Sacramento entre as cerimonias da
to elo martyrio prompto para recebei-o,
ultima ceia, instituiu a santa Missa. Aviva
saudou-o com estas palavras: "Salve, tua fé na santa Missa e assiste ao santo
santa cruz, tão amada e desejada ! Ti­ sacrificio com o maior respl'.ito e com mui­
ra-me do meio cios homens e entrega-me ta piedade. - A outra palavra de Santo
ao meu Mestre e Senhor, para que cu André foi esta: "As honras que me são
d,� ti receba o r1ue por ti me salvou." offerecidas, não as aprecio, por serem tem­
poraes e passageiras. O mart.vrio, com que
Todos se admiraram da coragem e me ameaçaram, não o temo, porque S1H
da 1alegria que se estam:pavann no rosto duração niío é eterna." O que o Apostolo
do Apostolo-unartyr, quando se entregou quer dizer é que honras mundanas, rique­
aos algozes. zas e prazeres, não têm subsistencia. Lou­
cura seria, pois, procurai-os desordenada­
Pregado na cruz, ficou dois dias nes­ mente e menosprezar os bens eternos. O
ta posição, edificando a todos os assis­ soffrimento aqui na terra tambem não é
tentes com os conselhos e orações. Ap­ eterno. As penas do inferno, porém, que
parecendo ainda com vicia no te1::,eiro são a paga do peccado, duram eternamen­
dia, os fieis quizeram á força libertai-o te. E' melhor soffrer, penar e trabalhar,
do tormento, mas quando puzeram mãos emquanto tcm;os vida aqui na terra, para
á obra, uma luz intensissima desceu do não experimentarmos as penas de além
céu e envolveu o corpo elo Apostolo, tumulo.
pelo espaço de meia hora; passada esta,
André tinha entregue a alm!a a Deus.
Santos cuja mem.oria é celebmda hoje:
Uma piedosa mulher, Maximilla, tirou
da cruz o corpo do Apostolo e sepul­ Em Constantinopla a memoria eia virgem
martyr Maura e do martyrio de Santa Jus­
tou-o com muita honra. Egéas, tendo tina.
disto noticia, enfureceu-se e ordenou a
Em Cochlnehina, no ánno de 1835, o mar­
exht]mução do ca:daver. Deus, porém, tyrio elo bemaventurado José Marehand, elo
castigou-o horrivehnente. Egéas ficou Seminario de Paris.

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Mez ,e Dezem�rn
1111111n11111111111111111111u1111111111n11111n1,111111111h1■1i .. •u

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1 de Dezembro

SANTO ELIGIO, BISPO


(t 6�9)

1l'n\ E principio artista ex11rno e depois virtude e hahiiidad:: artistic::i. d:.i S:rnto
� Santo Bispo, Eligio nasceu em era conhecida na côrte de Paris. Chlota­
Chatelac, na França, cerca de 589. Do­ rio II confiou-lhe a confecção de uma
tado de talento mais que vulgar, Elígio poltrona de ouro, cravejada de pedras
entregou-se ao estudo das sciencias, e preciosas; do thesoureiro real recebeu
mais tarde apprendeu a arte de ourivesa­ Eligio o respectivo metal e as gemknas.
ria, na qual adquiriu tanta habilidade, Eligio fez, não uma, mas duas poltro­
que foi contado entre os primeiros ar­ nas, sem reter para si cousa alguma. Es­
tistas do sieu tempo. ta honestida!de tanto encantou ao Rei,
Uma profunda piedade era-lhe fiel que desejou reter o artista em sua com­
co,npanheira no delicado labor, e muito pamhia. Eligin transladou a residencia pa­
concorreu para divulgar a celebridade ra Paris, onde gozou da maior confian­
do artista. Em,bora se visse sobrecarre­ ça do Monarcha. As distincções de que
gado de trabalho, não deixava de assis­ era "'alvo, em nada lhe modificaram o
tir á Missa todos os dias. O clo:ningo modo de pensar e de agir. Vivendo
pertencia unicamente a Deus e ás prati­ completamente afastado das festas e di­
cas de piedade . Eligio era inimigo decla­ versões do paço, a occupação unica de
rado do jogo e cios divertimentos pro­ Eligio, fóra do trabalho, era a medi•
fanos. As economias que fazia, perten­ tação, a oração, as praticas de peniten­
ciam, aos pobres. Pela grande piedade, cia. Ao corpo não só não dava o neces­
a conducta modelar, a extrema pontua­ sari-o repouso, como ta1nbem o castiga­
lidade no cumprimento dos deveres, me­ va com duras disciplinas. Tinha indu­
receu- a alcunha de "frade". A fama da mentaria de penitente, aspera e pobre.

Santo Eligio - Surlus, d' Achery Specll. V. Fleury VIII e IX. Rivet, Hist. Iltt. de la
Fr. III. Cellller XVII. Buttler XI.
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456 1 de Dezembro

O que ganhava do trabalho das mãos, de Eligio nas immediações cio Rei con­
era <lado aos pobres ou a obras pias. tinuou a ser a mesma de sempre : retra­
Os pobres eram hospedes constantes em hida e concentrada .
sua casa e á meza os servia. Aos pre­ Deus o destinára para cousas maio­
sos dedicava i.una caridade especial e tu­ res. Quando morreu o bispo ele Dor­
do fazia para obter-lhes libertação. nick, clero e povo pediram ao Rei lhes
Quando sabia' dé s s e Elígio
da cxistencia por bispo. Da­
de e s e ravos, goberto e o n­
era certo que se n t i u, mas
os comprava, Elígio se op­
ás vezes ás poz. As insis­
oentenas, para tencias, entre­
de p o i s lhes tanto, e ram
dar liberdade. taes, q u e a
D a goberto, vont a <l e de
success o r de Deus parecia
Chlotario e co­ hem clara e
mo este, grau­ Elígio recebeu
.de admirador a sagr a ção
de Elígio, deu­ episcopal em
lhe tun sitio J.tou1en.
no caimpo e O Bi s po
um bello pre­ Elígio era a
dio na cidadl.! mesma pessoa
de Pari-s. O humilde e pe­
sitio foi trans­ nitente que o
forma d o em ourives c1e ou­
mn c o nvento tr'ora. Contra­
para homens, e rio a todo o
a casa na cida­ luxo, vivia na
de foi destina­ pobreza, parti­
da a mosteiro lhando com os
de religiosas. necessi t a d o s
A:lém d i s t o tq2to e ,m,eza.
construiu em A todas as
Pa r i s uma e g r ej a s ela
egreja dedica­ diocese visita­
da a S. Paulo, va e por onde
qu e a i n d a Santo Eligio passava, abo­
existe. Profunda piedade lhe era fiel companheira no seu lia abusos in­
Quan d o o trabalho e muito concorreu para divulgar a celebri- veterad o s. A
dade do artista.
Rei, em certa ma i o r parte
occas1ao, quiz exigir-lhe o juramen­ de Flandres estava entregue á ido­
to ele fidelidade e obecliencia, Eli­ latria. O Santo Í'ez os maiores es­
gto negou-lhe e disse ao Monar­ forços para conv,ert�r as regiõ-es de
cha: "Deus me prohibe jurar sem Antuerpia, Gand e Kortryk, chegando a
haver necessidade para isto; mas. orde­ pôr em risco a propria vida. A bonda­
na -'me que obedeça a V. Magestade. de, paciencia e caridade do Prelado, po­
E' quanto basta, para assegurar a V . rém, abrandaram a ferocidade dos indi­
Magestade a minha fidelidade." A vida genas e o resultado foi que as conver-

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2 de Dezembro 457

sões se declararam ás· centenas. O paiz REFLEXõES


inteiro parecia transformado completa­ Chlotario e Dagoberto, e como estes mui­
mente. Em certa occasião o santo bispo tos outros, se edificaram com a lealdade
de Santo Eligio. No entanto Eligio não
pregou energicamente contra o abuso das fizera nada mais que o dever. Delicadeza
danças. Alguns malvados, para contra­ de consciencia como a de Santo Eligio, �
riai-o e para demonstrar desprezo pelo cousa rarissima hoje, entre os proprios ca­
que dissera, organisarnm um saráu. Elí­ tholicos. O operaria, a operaria julgam-se
no seu direito, quando retêm alguma cou­
gio insistiu e com todo o peso da auto­ sa do que lhes é confiado. Quem encontra
ridade episcopal exhortou-os a que de­ um: objecto perdido e de valor, pensa que
sistissem da dança. Suas palavras fo­ póde exigir uma recompensa pela entregl
ram recebidas com gracejos irreveren­ do mesmo objecto . Guardar indevidamente
cousas alheias, é peccado. O empregado, a
tes, que pouco a pouco foram se trans­ c-mpregada que diariamente lesa cm cou­
fo rm:ando em vaia. O Bispo, então, to­ sas pequenas os patrões, c ommette o pec­
mado de santa indignação, pediu a Deus ca<lo de furto, e pela lei divina e natural são
que castigasse os impenitentes no cor­ obrigados á restituição. É nossa convicção
po, sem que a alma lhes soffresse gra­ que muitos, pelos furtos que commett.:m,
provocam a justtiça divina contra si, nesta
vemente. E eis, no mesmo momento ca­ e na outra vida. "Os ladrões não possuirão
hiram cincoenta como fulminados por o reino de Deus" diz o Apostolo. (I. Cor.
11111 raio e ficaram num estado de para­ 6. 10.)
Do castigo tremendo que os dansarinos
lysia pelo espaço de um anno, até que, receberam, os amigos da dança deduzam
pela intercessão de Eligio, foram cura­ si seu divertimento predilecto é tão inno­
dos do terrivel mal. cente como pensam . E então as danças de
hoje, de que algumas são uma pura vergo­
O raio de acção apostolica estendeu­ nha! Mais não diremos sobre este assum­
se-lhe pela Brabancia, onde numerosos pto.
pagãos se converteram ao christianismo.
E' com muita razão, pois, que Eligio Santos do Martyroloaio Romano, c,ija 111e-
é chamado o Apostolo de Flandres e da 11ioria é celebracla hoje:
Brabancia. Para a conversão dos pa­ hum, Na Palestina, a memoria do propheta Na­
o septimo dos prophetas menores.
gãos concorreram extraordinariamente Em Roma os santos martyres Diodáro e
os milagres, que o santo Bispo fazia. Mariano, diacono este, sacerdote aquelle; na
Santo Elígio alcançou a edade de 70 perseguição de Numeriano. 283.
Em Constantinopla a memoria de Santa
annos e morreu na paz do Senhor em Nathalia, esposa do martyr Adriano, que
1. de Dezembro de 659.
0
morreu na perseguição dlocleciana.

2 de Dezembro

SÃO SkBAS
(t 531)

Jd ATURAL de Mutalasco, na Cap- viagem a Jerusalém, com o fim de v1s1-


3:81; padocia, onde viu a luz do mundo tar alguns eremitas'. O convento mais
em 439, São Sabas, aos cinco annos de celebre da Palestina era então aquellc
edade, foi entregue aos cuidados do tio de que Santo· Euthymio era Super ior.
Hermias. Bem cedo se retirou para um Para lá se dirigiu Sabas e pediu admis­
convento, onde serviu a Deus durante são na cammunidade dos monges. Satis­
dez annos. Com dezoito annos fez wna feito esse· desejo, deu aos religiosos o
S. Sabas - Raess e Wel:ss XVII.

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458 2 de Dezembro

exemplo mais perfeito na pratica de to­ cliatamente o impio conselho. Marino


das as virtudes monasticas. Depois de fez-se ele surdo, mas teve de experimen­
algtm1 tempo, o superior o mandou á tar a ira divina. O povo levantou-se
cidade ele Alexandria, onde viviam os contra o oppressor, tomou á força o pa­
pacs de Sabas. Quando percebeu que lacio, incendiou-o e teria aggreclido o
estes o queriam desviar ela vicia monas­ proprietario, si este não se tivesse posto
tica, retornou ao mosteiro . Durante a salvo pela fuga precipitada. O Impe­
cinco annos levou uma vicia solitaria, rador revogou a nova lei ele imposto e
no interior de uma gruta, onde praticou o povo ovacionou delirantemente o bem­
as maiores austeridades de penitencia. feitor, o santo eremita da Palestina.
Deus, porém, que o tinha reservado pa­ Oitenta e nove annos tinha Sabas,
ra um outro caimpo de acção, conduziu-o quando pela segunda vez teve de ir a
a uma solidão mais retirada, onde se lhe Constantinopla; desta vez para ser inter­
apresentara!m discipulos desejosos de rnecliario junto ao Imperador, em favor
pôr-se debaixo de sua direcção espiri­ elos catholicos da Palestina, que muito
tual. As vocações eram tantas, que se soffriaim com as invasões e crueldades
viu obrigado a construir um convento, dos Samaritanos. Era Imperador Justi­
que em pouco tempo abrigava cento e niano, que, como o antecessor, recebeu
cincoenta monges. A esta fundação se favoravelmente o iHustre mensageiro,
seguiram mais seis. A fama de S. Sa­ do qual era admirador. Justiniano pro­
bas espalhou-se em toda redondeza, pa­ metteu-lhe apoio e Sabas voltou nova­
ra o que contribuiram, não só a santida­ mente para a terra natal, onde mais ain­
de de vida, como tambem os numerosos da do que antes, se dedicou ás praticas
milagres que operava. Quando o Impe­ da vida religiosa. Conta-se que na au­
rador Anastacio começou a perseguir os diencia concedida pelo Imperador a Sa- ·
catholicos do Oriente, S. Sabas, a pe­ lias, este pôz-se a fazer as orações cos­
dido do Patriarcha de Jerusalém e ape­ ttímeiras, iemquanto o Monarcha dava
zar dos seus setenta annos, dirigiu-se a despacho á:s cousas que lhe tinhallll sido
Constantinopla, com o intuito de pedir solicitadas . Advertido por alguem que
clemencia ao Monarcha. Anastacio re­ isto não era conveniente, o santo ho­
cebeu o veneravel ancião com muita cle­ mem respondeu: "Emquanto o Impera­
ferencia; vendo-o entrar na sala impe­ dor trata das suas cousas, eu trato elas
rial, levantou-se do throno, foi-lhe ao minhas." Pouco depois ela volta á Pa­
encontro e prometteu attendel-o em tu­ lestina, Sabas adoeceu . Serviu-lhe ele
do que desejava. enferimeiro o proprio Patriarcha de Je­
Havia na cidade uma grande carestia rusalém . Dôres as mais atrozes o San­
e doenças contagiosas dizimavam a po­ to supportou cdm a maior resignação e
pulação . Além e apezar disto, impostos admiravel paciencia. A vida terminou­
onerosos pezavaim sobre os cidadãos ... Sa­ lhe quando contava noventa e dois an­
bas fez-se intermediaria do povo junto nos de idade, em 531. Muitos milagres,
ao Imperador, mostrou-lhe a grande ca­ obtidos pela intercessão de Sabas, teste­
lamidade, ·sob a qual a nação gemia, e munhara1111 a santidade e o grande poder
pediu que suspendesse os novos impos­ cio servo ele Deus.
tos, que se iam juntar aos antigos. O REFLEXÕES
Imperador annuiu immediatamente. O
Nas almas que sinceramente procuram
thesoureiro �mperial, porém, pôz-se em a santificação, existe sempre o desejo ele
desaccordo e aconselhou ao Monar­ afastar-se do mundo. O mundo não segue
cha que não fizesse reducção nenhuma. com Deus e quem vive no mundo, vê-se
Sabas almeaçou a Marino ( era este o rodeado de perigos e tem grande e conti­
nua preoccupação: si conseguirá ou não a
nome do ministro das finanças) com os santificação. Si o mundo no tempo de São
castigos do céu, si não revogasse imme- Sabas já era inimigo de Deus e grande

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3 de Dezembro 459

coadjutor de Satanaz, na obra da perdição cujo altar seja reservado a Nosso Senhor.
das almas, que diremos então dos nossos A Elle nos devemos dirigir sempre; para
dias, em que o inferno dispõe de meios Elle devemos voltar semipre; não O deve­
muito mais poderosos, para conseguir es­ mos perder de vista, nem nos afastar tan­
ses fins ? Não nos é passivei retirar-nos to, que Elle não mais nos veja.
á solidão. Nossas condições de existencia
não nos permittem afastar-nos da nossa Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
familia e dos nossos trabalhos. Mas passi­ • ·maria é celebrada hoje:
vei é e necessario, que de nós afastemos
as occasiões do peccado. Necessaria e in­ Em Roma o martyrio de Santa Biblana,
dispensavel é a fuga do perigo. Havendo no tempo do Imperador Juliano Apostata.
da nossa parte a necessaria precaução, não Santa Blbiana era filha de S. Floriano e
faltará o auxilio e a graça de Deus. "Cum­ Santa Dafrosa, irmã de Santa Demetria, E'
pre que façamos o nosso dever, - escreve invocada em casos de epilepsia.
S. Didaco Nisseno, - para podermos segu­ Em Aquileia, o santo bispo Chromacio, que
ra�ente contar com o auxilio divino". De­ fortemente combateu o arianismo em sua
vemos <la nossa alma fazer um santuario, diocese. 409.

3 de Dezembro

S. FRANCISCO XAVIER
(t Seculo XVI)

FRANCISCO Xavier, o grande tisse desta idéa, porque Xavier, assim


Apostolo dás India:s, o maravi­ prophctisou, era por Deus predestinado
lhoso thaumaturgo do seculo dezeseis, a ser Apostolo de muitos povos.
gloria da Egreja e da Companhia ele No tempo que Xavier esteve em Pa­
Jesus, a que pertenceu, nasceu aos ris, vivia na mesma cidade um outro
7 de Abril de 1506, no castello grande eleito do Senhor - Santo Ignac
ele Xavier, no reino de Navarra. cio de Loyola. Conhecendo os grandes
Na edade de dezoito annos foi levado talentos de Francisco, tratou de travar
pelo pa,e a Paris, onde se matriculou na relações com este, na intenção de ga­
Universidade daquella cidade. Extra­ nhai-o para a causa do Senhor. Não era
ordinarios forailn os progressos que facil conseguir este proposito, visto a
Xavier fazia nos estudos. Doutourou­ vaidade e a ambição de Francisco terem
se em philosophia e começou logb as em mira fins bem differentes. Ignacio,
prelecções sobre esta mesma materia . porém, esclarecido por uma luz divina,
Uma intelligencia rarissima e outras não desanimou e, graças á oração e á
qualidades apreciaveis foram os dote5. insi�encia na palavra de Christo : "Que
com que :Qeus distinguiu a quem tinha aproveita ao homem ganhar o mundo
escolhido, para ser-lhe nas mãos instru­ inteiro, si vem a perder a alma" teve a
mento de wn apostolado fertilissimo. (J satisfacção d� dbservar no discipulo uma
ideal de Xavier era ser grande no se­ grande mudança. Francisco entregou-se
culo ,e encher o mundo de glorias de seu inteiramente á direcção de Ignacio e,
nome. Passados alguns annos, o pae rendo feito os exercícios espirituaes, foi
quiz chamai-o para junto de si; a irmã, recebido entre os primeiros associados
porém, que era priora no convento das da Companhia de Jesus. Passado algum
Clarissas em Gandien, religiosa de muita tempo, recebeu Francisco ordem de se­
virtude e santidade, fez com que desis- guir para a Italia. Dois mezes passou

S. Francisco Xavier - Turfelln. Buttler XI.

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460 3 de Dezembro

em Veneza, occupando-se como enfer- são continuou em Moçambique, onde o


111,eiro no hospital. Existia alli u/m doen­ navio, sendo inverno, ancorou e ficou
te, cujo corpo estava coberto de ulceras duranbe seis mezes. O descanço noctur­
asquerosas, que exhalavalm tlim cheiro no que Francisco se permittia, não ex­
nauseabundo. Como ninguem delle se cedia ele tres horas e servia-lhe de leito
quizesse colm!pad�er, Francisco venceu o soalho, ele travesseiro a amarra. Já ti­
heroicamente o nojo, que a molestia lhe nha:m passado treze mezes ela partida de
causava, tratou do pobre doente com to­ Lisboa, quando afinal aportaram em
do carinho, chegando a ponto de abra­ Goa, capital elas lndias. O Apostolo São
çai-o, beijar-lhe as ulceras e sugar­ Thomé, assim reza a tradição, tinha pre­
lhes o puz. Deus recompensou este he­ gado o Evangelho na India e conve"rtido
roísmo e Francisco nenhuma repugnan­ grande parte ela população. Do chris­
cia mais sentiu dos doentes. Dois mezes tianismo alguns vestígios tinham-se con­
depois recebeu Francisco a ordenação servado atravez dos seculos. Fran­
sacerdotal. Quarenta dias de solidão, ci.sco encontrou o paganisnl!o em tu­
oração e penitencia precederam a cele­ ela a pujança, cio qual os portuguezes
bração de sua primeira Missa. pareciam ser os primeiros devotos. Foi
João III, Rei de Portugal, pediu ao em Goa mesmo que Francisco encetou
Papa que mandasse seis sacerdotes da os trabalhos apostolicos. Foram as
Cqmpanhia de Jesus para as possessões creanças, a quem se dirigiu primeiro.
que a corôa portugueza tinha adquirido Passando ele rua em nia, ao som d�
nas Indias. Santo Ignacio só dois pôde uma campainha chamava grandes e pe­
destacar para aquella missão: os Padres quenos, explicando-lhes em seguida a
Sitnão Rodriguez e Nicoláo Bobadilla. doutrina christã, ensinando-lhes a rezar
Este adoeceu gravemente e para substi­ pequenas orações e cantar alguns canti­
tuil-o foi designado Francisco Xavier, cos religiosos. lVIuitas destas creanças
por Deus escolhido para tão elevada tornaram-se apostolos nas familias e _pe­
missão. Com �mmensa satisfacção rece­ diram aos paes que fossem procurar o
beu Francisco este destino e pôz-se a grande missionario. Outros traziam
calminho com o companheiro, não levan­ idolos cios paes e visinhos e queimavam­
do senão o cruxifixo, o breviario e um nos na · presença de Francisco. Ainda
bastão. Após viagem perigosi·ssim1a, che­ outros indicavaJ111 ao missionario os Jo­
garnm a Lisboa, onde se hospedaram não gares onde havia creanças expostas, pa­
no paço real, mas no hospital. Não ha­ ra que os baptizasse antes de morrerem.
vendo ocrasião de partir para as Inclias, Tendo por algum tempo e com opti­
Francisco prestou serviços aos doentes, mo resultado catechizaclo a in fancia,
como as circtrmstancias o permittiam. Francisco dirigiu-se aos adultos. Aos
Ao vêr o grande zelo dos dois missiona­ christãos pregava penitencia e a santifi­
rios, João III manifestou o clesej'v de cação ela vida; aos infieis mostrava a
podei-os reter em Lisboa. Com a licen­ verdade da fé christã. Em tudo· desen­
ça do Superior Santo Ignacio, ficou o volveu um zelo admiravel. Os dias
Padre Simão Rodriguez em Portugal ; era:111,-lhe pequenos para vencer o traba­
Francisco, porém, proseguiu na viagem lho que fazia, como pregar, confessar
para as Indias. Em sua companhia via­ e baptizar. As noites eram em grande
jaram mais dois sacerdotes, que tinham parte passadas em oração e penitencia.
sido admittidos na Companhia de Jesus. De Goa Francisco se dirigiu a Pi·scá­
O navio levava 900 passageiros, dos ria e ao . reino de Travancor, onde bapti­
quaes grande numero adoeceu. Francis­ zou dez mil brahmanes. Na Piscária o:;
co fez-se enfenneiro delles, e com os mo­ baptizados era1111 tantos, que lhe cança­
dos caridosos conseguiu levai-os todos vam o braço. Muitos sacerdotes pagãos,
á pratica de uma vida christã. Esta mis- convencidos do erro do paganismo e da

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3 de Dezembro 461

verdade da doutrina christã, converte­ Elm Meliapur v1s1tou o tumulo do Apos­


raun-se. Em sua presença Francisco cha­ tolo S. Thorné e passou alli muitas noi­
mou á vida quatro mortos. Conl'o os tes em oração. Em Malacca muitos ma­
Apsotolos, possuia o dom das linguas. hqmetanos, j ucleus e pagãos se convetie­
Sem ter apprendido o idio!ma hindú, com ram. Entre outros receberam o baptismo
os multiplos dialectos, pregaya a doutri­ uma mulher com sua filha unica. Es­
na christã e ta morreu e
todos o com­ foi enterraida
preh e n d i a 111 Tres dias de­
perfeitamente. pois a mã,e se
Esta circu/111s­ apresentou ao
tanc i a, bem Santo, com­
como os nu­ municou-lhe a
merosos e es­ 111:orte da j o­
tupendos mila- v,en e pediu­
gres que fazia lhe que em
quasi diiaria­ nome de Jesus
mente, chamou Christo a cha­
a attençã-o cb ; masse á vicia.
povos circurn - Xavier r e t i-
visinhos, que rou-se um mo­
vin h a m d:n mento para re­
chusma, para zar, voltou e
conhecer o ho­ á n1u l h e r:
'mem extraor­ "Vae, tua fi­
dinar io e ou­ lha vive!" A
vir -lhe a dou­ mã e foi-se,
trina. com o auxilio
Franc i s co de alg u m a s
Eimprehen d e u pessoas abriu
grandes via­ a cova e achou
gens, no intui­ a filha viva e
to de propagar sã.
'O r e ino ele De Malaca
Deus na terr;i. embarcou para
De uma ilha umas i 1 h a s,
dirigi u - s e a , que eram ha­
outra, de um bit a da s por
remo passou a antropophagos.
outro, d e d i­ O annor de Je­
S. Francisco Xavier
cando todas a� s u s Chriisto
ene r g 1 a s a Pauperrimo, desprovido de todo o conforto, longe dos
seus, privado da assistencia dos seus Irmãos, mor­ to não o fazia
causa da sal­ reu na doce paz do Senhor. medir perigos
vação das al­ e prompto es-
mas. De trabalhos, fadigas e sof­ tava para derramar o sangue, sempre
frimentos não conhecia medida. Em que Deus o quizesse.
sonho lhe foram mostrados os tra­
balhos e sof frimentos que lhe estav,1,111 Quando, numa viagem por mar, for­
reservados e Francisco, vendo-os, ex­ tíssima tempestade pôz em perigo a em­
clamou: "Ainda rrrais, Senhor ! Man<lac barcação, Francisco entrou em oração e
trabalhos, sof frimentos, provações ! " as ondas aimainaram.

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462 3 de· Dezembro

Sendo excessivo o trabalho para uma As ultimas palavras que disse, foram:
pessoa só, Santo Ignacio mandou novos "Em vós puz minha esperança, Senhor,
auxiliares sacerdotes e irmãos. Fran­ não serei confundido." S. Francisco,
cisco estacionou-os em diversos lagares. apezar de ter trabalhado só dez annos
Bm companhia de um sacerdote e de como missionaria nas Inclias e no Ja­
um irmão, fez a viagem para o Japão, pão, levou milhares de almas ao céo.
onde nunca tinha chegado a boa nova Grandiosa apresenta-se-nos a obra de
do Evangelho. Poucas linhas não che­ S. Francisco Xavier. Mais de cem mil
ga.riam para relatar os trabalhos aposto­ milhas percorreu, para semear a palavra
licos de Francisco no imperio do Sol divina; em mais ele cem ilhas e reinos
nascente. Basta dizer que, como na In­ pregou o Evangelho; a m:ais de duzen­
clia, a palavra, os milagres e a santidade tas m'il pessoas administrou o sacramen­
de Francisco Xavier causaram grandes to cio baptismo e sem numero é a mul­
conversões. tidão daquelles que por sua palavra fo­
O zelo apostolico não se lhe conten­ ram levados á penitencia e á fé vercla­
tou com os resultados estupendos obti­ deira.
dos na India e no Japão. Mais longe O corpo do Santo foi revestido de
lhe iam as aspirações. Depois de uma vestes sacerclotaes, cleposi taelo num cai­
viagem de inspecção ás Indias, acompa­ xão e coberto ele cal virgem, para assim
nhado por um Irmão, tomou um navio, accelerar a decom:posição e possibilitar
que o devia levar á ilha de Sancian, que o mais breve passivei a trasladação cios
fica trinta milhas distante ela China. ossos para a India. Dois mezes tinham
Durante a viagem começou a faltar a já passado e nenhum signal ele decom­
agua potavel e houve muita doença a posição se annunciava; o corpo elo Santo
bordo. Francisco mandou que enches­ exhalava um doce perfume. A traslada­
sem de agua do mar alguns barris. Re­ ção para a India foi feita com grande
zando sobre estes, mandou tirar daquel­ solemnidacle. Nos lagares onde o navio
la agua, que se tinha convertido em agua atracava, se realizararrn grandes mila­
doce e todos recuperaram a saúde. gres. Ao chegar á cidade ele Malaca, es­
O desejo de Francisco de estabelecer ta se viu livre da peste, que a assolava.
o reino de Christo na China, não pôde O braço direito, com que o Apostolo ba­
ser satisfeito . Approuve a Deus cha­ ptisou a tantos milhares, foi separado
mar o fiel servo á eterna recompensa. cio corpo -e levado para Roma, onde
Em 20 de Novembro foi Francisco ac­ goza de grande veneração.
commettido de um forte accesso de fe­ E' admiravel observar como uma
bre e por Deus scientificado ela morte pessoa, em tão curto lapso de tempo,
imminente. Uma sangria que se fez pôde levar a effeito uma obra tão im­
muito desageitadament-e, augmentou ain- ponente, como o fez S. Francisco Xa­
da os soffrimentos do doente. ..._ vier. Explicaun-110 o grande e ardente
Semelhante ao divino Mestre durante zelo do Santo pela salvação das almas,
a vida, quiz Francisco ser-lhe egual na a santidade de vida, as virtudes que pos­
morte. Pauperrimo, desprovido de todo suia em gráo perfeitissimo, os talentos
conforto, longe dos seus, privado da as­ extraordinarios e antes de tudo a graça
sistencia dos Ir1111ãos, morreu Francisco divina. Os biographos enumeram, entre
em 2 ele Dezembro de 1552, na doce paz os dons sobrenaturaes que Deus conce­
do Senhor. Os olhos do moribundo ou deu a Francisco, os seguintes: o dom
procuravam o céo ou o crucifixo; os elas línguas; o dom de conhecer as cou­
labios murmuravam-lhe incessantemente sas futuras; o dom de ser orientado so­
jaculatorias como: "Jesus ! Maria ! Fi­ bre cousas e acontecimentos, no mesmo
lho ele David, tende comJpaixão de mim ! mqmento em que se deram, em logares
Maria, mostrae que sois minha mãe !" ,_ bem distantes; o dom de fazer milagres,

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3 ele Dczemuro 463

entre os quaes se relatam vinte e cinco Obra de Propaganda da Fé; 2º. a Obra da
resurre1çoes ele mortos . Difficilmente Santa Infancia; 3º. a Obra de S. Pedro
pela formação do clero indígena.
será encontrado um Santo cios ultimas
seculos, a quem Deus tivesse concedido
Oração pelas Missões e pela conversão
tantos privilegias e por um prazo de
dos infieis
muitos annos .
O' amabilissimo Senhor Nosso, Jesus
O Papa Urbano VIII, referindo-se a Christo, que, com o preço do vosso san­
S . Francisco Xavier, disse: "Francisco gue preciosíssimo, remistes o mundo, lan­
foi t(m Apostolo dos povos dos nossos çae o olhar misericordioso sobre a po­
tempos, verdadeirnmente eleito por bre humanidade, que em grande parte ain­
Deus. Deus glorificou-o perante o mun­ da jaz immersa nas trevas do erro e nas
do todo, por um grande numero de mi­ sombras da morte e fazei irradiar sobre
lagres e prophecias." - "Não fez me­ clla toda a luz da verdade.
nos - disse o Papa Gregorio XV -
que os grandes Apostolas fizeram." Multiplicae, Senhor, os Apostolas do
Francisco Xavier foi canonizado por vosso Evangelho; a'.ervorae-os, fecundan­
do-lhes e abençoando-lhes com a vossa
Gregorio XV, no anno de 1621. Bene­
graça, o zelo e as fadigas, afim. de que, por
clicto XIV apresentou-o aos paizes ela meio delles, todos os infieis vos conheçam
I ndia oriental, como padroeiro, e hoje a e se convertam a vós; que de todos s01s
Egreja o venera oomo padroeiro d:i Creador e Redemptor.
grande obra missionaria em t(}(fa a Chamae os transviados pelo erro ao vc,s­
Lcrra. so redil e os rebeldes ao seio da vossa
unica verdadeira Egreja.
REFLEXõES Apressae., amabilíssimo Salvador, apres­
sae o auspicioso advento do vosso reinado
Uma das figuras mais salientes na histo­ sobre a terra, attrahindo ao vosso suavis·
ria das Missões catholicas é S. Francisco
Xavier. O zelo, o amor ás almas d'este simo Coração todos os homens, para que
Santo é modelar para todos os missiond­ possam participar dos benefícios incompa­
rios, de todos os paizes e de todos os tem­ raveis da vossa Rcdempção, na eterna feli­
pos. Zelar pelas missões é dever de todo cidade do céo. Amen.
o catholico. Trabalhar pelas missões é tra­
duzir praticamente a petição do Padre A estas orac;ões foram concedidas: 1) In­
Nosso, que diz: "venha a nós o vosso rei­ dulgencias de 300 dias, "toties quoties''; 2)
no." Os Papas não se cançam de chamar Plcnaria, uma vez por mez, aos que .durante
a attenção dos catholicos para as missões tod� o mez a tiverem recitado.
e lembrar-lhes a obrigação que têm, de
ajudar effectivamente a Egreja na gran­
diosa obra da propagação da fé. Todos de­ Invocação - Para que vos digneis cha­
vem entrar nas fileiras dos trabalhadores mar á união da Egreja todos os que er­
na vinha do Senhor: uns como missiona­ ram e trazer todos os infleis á luz do
rios activos, outros com a collaboração na Evangelho: Ouvi os nossos rogos
imprensa missionaria, ainda outros pela (lndulg, de 300 dias, "toties quotis",
propaganda da idéia missionaria entre os ,1. ,:'. s. 82).
catholicos, todos com a esmola material e
espiritual. Si todos os catholicos compre­
hendessem nitidamente o dever de traba­ Santos do Martyrologio Bornano, cujn mc­
lhar pelas missões - disse o Papa Pio XI ·moria é celebrada hoje:
- e si esta obrigação cumprissem, em pou­ Na Judéa o propheta Sophonias, entre os
co tempo seria satisfeito o desejo de J c­ prophetas menores o nono. Suas prophecias
sus Christo: de haver um só rebanho e um contêm a ameaça dos juízos de Deus, prin­
só pastor; em pouco tempo o mundo in­ cipalmente a destruição de Jerusalém.
teiro seria convertido ao christianismo. Em Roma o martyrio de Claudio, offlcial
Reza muito pelas missões e os missiona­ do exercito, de sua esposa Hilaria e de seus
rios e manda inscrever teu nome numa das filhos João e Marco com séssenta soldados.
grandes obras pontifícias pelas missões ou Claudio, preso a uma pedra pesada, foi ati­
entra em uma ou outra Liga de Missas pro rado ao rio, seus filhos e os soldados foram
Missões. As obras officiaes pontificias des­ executados. Santa Hilaria foi morta quando
tinadas para leigos, pro�missões, são: 1 º. a rezava no tumulo de seus filhos. Sec. 3.

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464 4 de Dezembro

4 de Dezembro

SANTA BARBARA
( t Seculo Ili)

D: \NTA '
BARBARA, figura saliente gem. O pedido ele Barbara de obter,
� entre as Santas da Egreja primi­ para sua con�modidacle, uma installação
tiva, nasceu em Nicorneclia, na Bythinia, balnearia, o pae satisfez promptamente.
de paes pagãos. Não só por ser de bel­ A sala só tinha dua:s janellais. Barbara
leza extraordinaria, mas por ter revela­ mandou que se abrisse na parede urna
do grandes qualidades de espirita, Bar­ terceira, para assim ser lembrada sem­
bara era objecto de verdadeira adoração pre da Santíssima Trindade. Ordenou
cio pae Dioscoro. Este, receianclo poder o pae que se ornaimentassem a:s paredes
perder aquella joia, fosse por um casa­ com motivos pagãos e ele espaço a espa­
mento indesejavel, fosse pelas "seduc­ ço coHocou imagens ele divindades pa­
c;ões" cio christianismo, destinou urna gãs. Não podendo removel-as sem co.m
torre para morada da filha, á qual deu isto contrariar o pae, Barbara serviu-se
exitmios professores, para que a instruis­ dellas para demonstrar aversão a unn
sem nas bellas sciencias e principalmen­ religião que não é senão culto dos cle­
te na religião pagã. Esta reclusão pro­ monios . Em vez de entregar a nova sa­
duziu na clonzella o effeito contrario, la, esplendidamente arranjada, ao fim
visto que lhe proporcionava occasião para que a pedira, della se serviu para
bastante para aprofundar o espirita nos realizar conferencias e reuniões com
estudos e mostrar-lhe o vestígio ele pessoas amigas do christianismo e com
Deus. A existencia cio sol, das estrel­ ellas prestar culto a Deus verdadeiro.
las, a volta regular elas estações, a ad­ Entretanto voltou Dioscoro da viage111
tnira:vel organisação 110s reinos ela na­ que emprehendera. Desejoso ele saber a
tureza, tudo lhe levou a intelligencia a resolução da filha, qual não lhe foi a
crêr na exis�ncia de tttn Supremo Ser, decepção, quando esta lhe revelou niio
que não podia ser iclentico ás divindades se querer casar, muito menos com �,m
que a religião pagã mandava adorar, co­ joven pagão, visto que era christ<í e t:�­
mo creaclores e conservadores cio mun­ posada já coin Jesus Christo.
do. Estas consicleracões a convidaram a Grande foi a clôr e maior ainda a in­
orar ao Altíssimo . , Sem que o pae o dignação do pae. Tendo recuperado a
soubesse nem pudesse suspeitar, Barba­ calma, poz a filha ante o cfüemlrna: ou
ra instruiu-se perfeitamente na religião renunciar a Christo e acceitar o casa­
christã e recebeu o baptismo. Apresen­ mento ou morrer. Quanto ma-is irritado
tou-se a Dioscoro um joven, pediLclo a se tornava, tanto mais firme e impertur­
filha em casamento. Tratando-se de pes­ bavel Barbara se n1ostrou. O desespero
soa de posição e alita linhagem, o pae de do pae chegou ao ponto de com a es­
Barbara não hesitou em prometter-lhe a pada na mão aggreclir a propria filha.
mão ela clonzella. Esta, porém, inteira­ Esta escapou da ira de Dioscoro e re­
da do plano, com respostas vagas pro­ fugiou-se numa gruta. Ninguem a teria
curou esquivar-se elo compromisso pa­ descoberto, si dois pastores não tives­
terno. Dioscoro, respeitando a liberdade sem indicado o esconderijo da donzella.
da filha, não insistiu; concedeu-lhe um .Dioscoro encontrou-a em oração. Qual
longo prazo para as deliberações, deven­ tigre á preza, o pae atirou-se contra a
do elle se preparar para uma longa via- innocente filha; arrastou-a pelo chão,

Santci Barbara - Vogel: Heiligenlegende. Brev. Rom.

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4 de Dezembro 465

calcou-a aos pés, puxou-a pelos cabellos completa;mente restabelecida, facto q�1r.
a uma choupana proxüna, onde a fe­ attribuia ao poder e á intervenção do.:;
chou até que a mandasse levar para ca-­ deuses. "Enganas-te, - disse Barba;-,1
sa. Lá chegada, começou-lhe o marty­ - não foram os iclolos de pedra e ma­
rio. Vendo afinal inuteis todos os esfor­ deira que fizeraJ111 isto: o que vês é 061 ·1
ços para induzir a filha á adoração elos elo Senhor elo céo e ela terra, daquellc
deuses, entre­ Deus a que
gou-a ao go­ adoro e pela
vernador Mar­ honra do qual
ciano, afim de estou prampta
que procedes­ para morrer."
se contra ella Marciano or­
confo rme as de n o u então
<l eterm.inações novos suppli­
da lei. cios. A don­
.No começo ze11a foi nova­
Marciano ap­ mente flagel­
parentou com­ lacla, o corpo
paixão p e 1 a h orri vdmente
pobre victima, queimado e fi­
clupl a m e n t e nalmente lhe
bella no sof­ a1nputara111 os
frimiento, e não ·seios. Apesa.r
poupou blan­ ela dôr indes­
dicies e pro­ criptivel que
messas. Nada Barbara sen­
consegui n d o, tia, nenhuma
recorreu ao ri- pa l a v r a de
gor. queixa profe­
Por sua or­ riu; elevando
dem, Barbara os olhos ao
f o i açoutacla céu, d i s s e:
com tiras de "Vossa mão,
couro, até que ó meu Deus,
o corpo se lhe não me aba:n­
tornou uma só done. Comvos­
chaga. Na es­ co tudo pade­
pera n ç a ele ce,rei, sem vós
que morresse, nada sou." A
mandou encar­ Santa Barbara esta-s palavras
cerai-a. Deus, Dioscoro, pae da santa donzella, quiz ser o algoz de se seguiu nova
porém, que­ sua filha. Logo apoz o crime praticado desencadeiou crueldade. O
rendo r e ser­ formidavel tempestade e, não havendo onde se abri- tyranno d e u
gar, cahiu fulminado por um raio.
var para a he­ ardam p a r a
roína combate ainda mais glorioso, que a nrartyr fosse despojada dos
mandou-lhe um Anjo, que não so vestidos e neste estado, insultada pela
lhe curou as feridas, mas que a ani,,,uu multidão, conduzida pelas ruas ela cida­
e lhe predisse um glorioso martyrio é� de. De todas as torturas foi esta a mais
a assistencia divina até a morte. No dia dura, a mais deshumana e a mais dolo­
seguinte, conduzida á presença de Mar­ rosa ao coração da casta donzella. O
ciano, este muito se admirou de vê! a desnaturado pae assistiu a todas as
Na Luz Perpetua 30 - II vol.

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466 4 ele Dezembro

crueldades de que a filha foi victima, REFLEXÕES


e, não satisfeito com a simples assisten­ Santa Barbara morreu assassinada pelo
cia, ainda se collocou no n1:eio elos algo­ proprio pae, cujas ordens iníquas se negára
zes, sendo de todos o peior. Tendo Mar­ a cumprir. Não podia ser outra a attitudc
ciano finalmente pronunciado a senten­ da santa donzella, porque a autoridade pa­
terna não é sufficiente para dispensar da
ça de ·nwrte, Dioscoro pediu, como· gra­ observancia da lei, a que a autoridade di­
ça especial, poder desferir o ultimo gol­ vina obriga. Ordens humanas, seja de que
pe contra a filha. Marciano concecleu­ autoridade provenham, não devem. ser obe­
lhe a licença. Chegando ao alto duma _clecidas, uma vez que contradigam os man­
damentos da lei de Deus, qú-e são a dire­
montanha, Barbara de joelho agradeceu ctiva para tudo. Uma autoridade inferior
a Deus o privilegio ele poder derramar não é competente para suspender uma lei
o sangue por amor de Jesus. Depois emanada de autoridade superior. A's or­
dens de Qeus todos os homens, todas as
desembaraçou o pescoç-o, offerecendo-o autoridades são sujeitas. A obe<liencia a
ao algoz, que era o pae. Este, tremulo Deus é incondicional. Peccam gravemente
de furor, fez-se o assassino da filha. e sem duvida soffrerão as penas do inferno
aqnelles paes, que tiram aos filhos a vida
Barbara tinha a edade de 20 annos material e espiritual. Experimentarão a;
apenas. iras de Deus aquelles progenitores, que en­
sinam o mal , aos proprios filhos, e, pcl"
Uma mulher de nome Juliana, que ti­ palavra ou pelo exemplo, os seduzem para
o peccado. A responsabilidade dos pa�s é
nha visto todas as scenas horripilantes gravíssima. Si forem elles os proprios a,
do martyrio da donzella, apresentou-se sassinos dos filhos, quer material, quer es­
ao governador, com a declaração de ser piritualmente, estes se levantarão no juiw
christã e de ter o desejo de morrer como final contra aquelles que deviam ser seus
bcmfeitores e os accusarão perante Deus.
Barbara morrera. Foi facil attendel-a, e '' JI.-J alclade alheia desgraçou-nos, nossos
no mlesmo dia Deus lhe concedeu a palma paes fizeram-se nossos assassinos" - di­
do martyrio. O corpo ele Juliana Jcs­ rão ao eterno Juiz. (S . Cypriano.) O fi­
cançou ao lado ele Barbara, com a alma lho, a filha, que recebe ordens que eviden­
temente contrariam a lei de Deus, não lhes
da qual entrou triumphante no céo. N�o deYe obediencia, sob pena de peccado mor­
assim aconteceu ao pae. Descendo da tal com todas as consequencias.
montanha, onde victin.nára a filha, gok­
jando-lhe das mãos ainda o sangue ir1-
nocente, foi surprehendido por um ,<;antas cuja memoria é celebrada hoje:
forte tennporal. Não havendo onde se Na Inglaterra, a memoria do bispo Os­
abrigar, um raio fulminou-o, entregan­ mundo de Salysburg. 1090.
do-lhe a aLma ao eterno juiz. Altos desi­ No Japão o martyrio de Jeronymo de An­
gnios ele Deus ! gelis, e Simeão Nempo, ambos da Compa­
nhia ele Jesus. FranciHco Galves, francisca­
Santa Barbara é invocada para alcan­ no e 47 japonezes. Todos foram queimados
çar a graça de uma boa morte. no anno de 1623.

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5 de Dezembro 467

5 de Dezembro

S. Pedro Chrysologo, Bispo de Ravenna


(t 450)

G ÃO PEDRO, natural de Imola, do aviso que o Sum'mo Pontifice tive­


� perto de Roma, recebeu dos paes ra, contentaram-se inteiramente e com
o que constitue o thesouro mais precio­ smnma satisfação acceitaram a 'Pedro
so - uma educação solida, baseada so­ como Bispo. Na entrada em Ravenna,
bre o fundamento da religião catholica. que se tomou solemnissima, Pedro foi
Em todo o h�rnpo que se dedicou aos r-ecebido pelo proprio Imperador Vale­
estudos, foi dos companheiros sempre o riano e a esposa, a hnperatriz. Numa ai­
pr�meiro. Vendo-lhe a piedade e a con­ locução que o novo Bispo naquella oc­
ducta, irr<eprehensivel, o Bi·spo ele Imo­ ca:sião fez, explanou o programma de
la recebeu-o entre os clerigos e con fe­ c1uerer trabalhar unicamente pela honra
riu-lhe o diaconato. Tão digno se mos­ ele Deus e a salvação das almas. Do:
trou ela confiança do Bispo, que este diocesanos disse esperar só obe<liencia
lhe entregou a administração da diocese, aos mandamentos da lei de Deus e res­
funcção de que sempre se desempenhou peito e submissão á auctoridadc dioce­
com muita com:petencia. Os perigos, po­ sana.
rém, que ha no mundo, bem como a vai­ Para obter a benção ele Deus para os
dade do seculo, fizeram com que nc, trabalhos apostolicos, sujeitou-se a fre­
espírito lhe amadurecesse cada vez mais quentes jejuns e mortificações. Como
a resolução de entrar para um conven­ pregador desenvolveu uma actividadc
to; foi o que fez, e elo claustro só sahiu, tal, que conseguiu não só a conversão
quando circumstancias especialíssimas elos mais renitentes peccadores, mas a
lhe dirígiram a elevação á dignidade abolição de festas escandalosas no dia
episcopal . primeiro de Janeiro, festas que apresen­
Tinha morrido o Bispo de Ravenna. tavam caracter pagão, com todas as suas
O clero da diocese tinha eleito um suc­ frivolidades e inclecencias. Pedro era a
cessor, o qual com alguns con1panheiros caridade para co111 os pobres, afflictos e
s·e dirigiu a Rdma, com o fim de obter desvalidos, um forte protector das viu­
a ratificação papal da eleição. Ao mes­ vas e orphãos, um pastor desvelado pa­
mo tempo, em negocios da diocese, foi ra os pobres peccadores. A todos os dio­
a Roma o Bispo de Imola, tendo leva­ cesanos recon�mendava o uso frequente
do comsigo o diacono Pedro. Na noite cios santos Sacramentos, principalmein­
antes da chegada da embaixada de Ra­ tc a Gom'munhão quotidiana.
venna, teve o Papa a visão de S. Pedro Ú que, porém, lhe trouxe gloria im­
Apostolo e de Santo Appolinario, que em rnorecloura na Egreja inteira, foi o 1110-
vicia tinha sido Bispo de Ravenna e avi­ clo como se houve na defesa da fé ver­
saram-lhe que 'não désse a mitra ao dadeira e na lucta contra as heresias de
eleito do clero d'aquella diocese, mas Eutyches e Di·oscoro. A apologia que a
em Jogar deste, sagrasse a Pedro de pedido do Papa Leão I, escreveu contra
Imola. Quando chegaram os embaixa­ os hereges, é um dqcumento ele alto va­
dores de Ravenna, não puderam disfar­ lor, em que Pedro Chrysologo manifes­
çar o aborrecimento, do Papa não lhes ta grande saber e um.a doquencia arre­
ter acceito o candidato; sabendo, porém, batadora. Cabe-lhe em grande parte o

S. Pedro Chrysologo - Rubens: Hist. de Ravenna. Agnellus, Pontificale. Muratori


Ital. rer. script. II. Ceillier XIV. Buttler XI.

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468 6 ele Dezembro

m,erecimento das duas heresias serem conim.ettiam peccado grave. O mundo não
concorda com o conceito cio nosso Santo.
condcm'naclas no Concilio de Chalcedo­ ;\Ja Sagrada Escriptura lemos o seguinte:
nia . Laços de intima amizade ligaram- ·' A mulher não se vista a modo de homem
110 a S. Germano ele Auxerre. Durante e o homem 11ão traje indumentaria femi­
dezoito ànnos pastoreou Pedro o . reba­ nina. Quem faz estas cousas, é abjecto
perante Deus" (Deut. 22. 5.) Circum:stan­
nho. A fé teve nelle um clef'ensor im­ cias especiaes póde haver que justifiquem
perterrito e a posteridade deve-lhe es­ uma excepção desta determinação. Mas si
criptos de grande valor. D fim cio disfarce fôr a luxuria, o desejo
Si lhe foi pura a vida, santa havia ele de mais livremente se poder entregar á
dissolução, ao peccado ou si o disfarce
ser-lhe a morte. Sentindo-lhe a appro­ causar escandalo, não ha theologo nenhum,
ximação, voltou para Imola, onde se que não veja nisso uma grande desordem
preparou para a grande viagem á eter­ e uma provocação para o peccado. Os San­
nidade. Ao clero recommenclou com tos Padres, nos· termos mais energicos, inter­
pretes inequívocos de sua indignação, con­
muita insistencia que andasse na pre­ demnam as loucuras do Carnaval, que le­
sença de Deus, bem como a observação vam milhares ele almas ao inferno.
dos manclan1entos e muito criterio na
eleição do novo Bispo. Pedro morreu
Santos do Martyrologio Romano, cuja -me­
cm Imola, no anno 450. O corpo do moria é celebrada hoje:
,anto Bispo repousa na egreja de São
Ii:m Palestina o santo abbade Sabbas, de­
Cassiano. A posteridade honrou-lhe o fensor da fé contra os adversarias do con­
ncJ/Jn� conn o a:ppellido de Chrysologo, cilio de Chalcedon.
isto é, orador aureo, pondo em relevo a Na Italia a memoria do bisp_o Felino, que
grande eloquencia do Santo. muito soffreu da parte dos idolatras, cujo
templo desabára em virtude das orações do
REFLEXÕES ,;anto bi,;po. 362.
"Quem em vida se quer divertir com o Flm Theba,;te, na Argelia, o glorioso mar­
rlemonio, não poderá gozar com Christo no tyrio de Santa Crisplna, senhora de alta
céo·" - assim falava S. Pedro, referindo-se aristocracia. Morreu na perseguição Diocle­
ás pessoas que se mascaravam, para mais ciana por ter se negado a adorar divinda­
livremente se divertir. Na sua opinião des.

6 de Dezembro

S. NICOLÁO , BISPO
(t 342)

1ffi\ grande thaumaturgo S. N�oláo tiganclo e mortificando o corpo. De pre­


� era natural de Patara, na Lycia, ferencia lia livros de assuimptos religio­
filho de paes ricos e piedosos. Nicoláo sos, quer scientificos, quer asceticos.
era o filho da oração, que Deus lhes Tendo o preparo sufficiente, ordenou­
dera, após longos annos de matrimonio se sacerdote em Myra. Conno sacerdote,
esteril. Nicoláo fugia ela companhia de redobrou ele amor ·e dedicação á pratica
moços levianos e mais ainda ele pessoas das virtudes e da oração. A grande for­
cio outro sexo . Com o maior cuidado tuna que lhe ficou, pela morte cios paes,
evitava occasiões ele peccar; tanto mais despendeu-a em beneficio cios pobres .
praticava cxercicios ele penitencia, cas- Entre estes se achavam tres moças,

:·. Nicolrio - i.\Iuratori, Ital. Rcript I. Asscmani in Calcncl. Vniv. V. YI. Tillcmont VI.
F;ç1.:r� XIII. J;..c Quicn Or. Chr. I. Duttler XI.

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6 de Dezembro 469

cujo pae, não havendo com que lhes dar obrigou..,o a deixar o doce remanso da
sustento, lhes aconselhára a abraçar uma solidão e ass11111ir as responsabilidades
profissão deshonrosa . Nicoláo, ao saber de Bispo. Em bem pouco tempo con­
disto, a horas mortas da noite foi á ca­ quistou as ,sympathias de todos . A gran­
sa do homem e, por uma janella aberta, de virtude, o zelo, uma caridade e
introduziu dinheiro sufficiente para os bondade sem par, o espirito de oração
dotes da:s fi­ e de sacrificio,
lhas. Por esta que d is t in­
obra de cari­ guia:m o illus­
ei a d e salvou tre P r e lado,
u ma famili:1 fizeram c om
inteira cio pec­ que crescesse
cado e da ix·r­ no agrado de
jição. A tres Deus e dos
Jovens, q u e h omen s, e
estavam a ca­ grandes e nu­
minho para meros o s fo­
At h e na s e ral!H os mila­
inesper ada- <,;res, que Deus
mente s·c vi- se dignou de
ram em perigo praticar p o :­
de vida, São i nterimedio do
Nicoláo apre­ seu g r a nele
sentou-se co- servo.
110 s. a 1 va<lor H istoria·dores
de morte cer­ gI"egos dizem
ta. Conseguiu que Nicoláo
qu e f o s s e confessou a fé
t r ansfonnado 0111 Jesus, pe­
em egreja o rante os pa­
t e 111 p 1 o de gáos, e foi pre­
Ap o l l o, no so pelos sica­
qual os estu­ rios de Diocle­
dantes pagãos ciano, quandt)
costum a v a m a perseguição
realizar o cul­ qtte este ty­
to idolatra. E' ranno decre­
devido talvez tou contra ,L
3. esta circwns­
t a n c i a, que .. Egreja, já es­
tava em declí­
en1, alguns Jo­ S. Nicoláo nio. O santo
Na travessia á 'l'erra Santa, a embarcação dos pere­
gares São Ni­ grinos é surprehendida por fortissima tempestade. bispo recttp.:­
coláo era con­ Está no meio o sacerdote Nicoláo. Com todo o ardor rou a liberda­
sider a d o pa­ se põe a rezar, e sua oração salva do naufragio os de e teve a sa­
angustiados peregrinos.
droeiro dos es­ tisfacç ã o de
tudantes. Depois de algum tempo, foi vêr brilhar a cruz de Nosso Senhor,
nomeado Superior de um convento, on­ sobre o throno de Constantino. No
de, com muita competencia, desempe­ Conci.Jio de Nicéa (325) assignou, com
nhou o cargo que lhe fôra confiado. &°3 outros bi,spos alli presentes, a con­
Quando morreu o bispo de Myra, Ni­ demnação da heresia ariana. Nico­
coláo foi -d,eito successor. /\. obeJ:•�nc:a láo morreu em Myra; no anno de 342,

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470 7 de Dezembro

pranteado pelos diocesanos, sendo-lhe o mundo." Si, portanto, praticas a caridade,


corpo depositado na Cathedral da mes­ imita o exemplo de S. Nicoláo, fazendo-a
ás escondidas, sem que Ós homens o sai­
ma cidade. bam e te possam: elogiar.

RBFLEXõES
Santos do Martyrolog!o Romano, cuja v1c­
S. Nicoláo fazia grandes esmolas, procu­ molia é celebrada hoje:
rando porém encobrir o mais passivei a li­
beralidade. Assim praticava a caridade, de Na Tun!sia o martyr!o de tres senhoras:
accordo com o conselho de Jesus Christo, D!onysla, Dativa e Leoncla, do monge Ter­
que diz: "Cuidae de não fazerdes vossa clo, do medico Emillano. Todos morreram
justiça perante os homens, para attrahir­ na_ perseguição dos vandalos. 484.
lhes a attenção, assim não teríeis a recom­ Em Granada, na Hespanha, a morte de
pensa de meu Pae. Vossa mão esquerda S. Pedro Pascasio, da Ordem de Nossa Se­
não deve saber o que vossa direita faz." nhora das Mercês, bispo de Jaen. 1300. E'
(Math. 6, 1. 3.) "Aquelles que procuram invocado contra terremotos e tempestades,
paga nesta vida, diz Santo Ambrosio, nada sem que se conheça a origem desta devoção.
guardam para a vida futura; assim acon­
tece que, tendo já recebido galardão aqui Em Roma a memoria de Santa Asella, vir­
na terra, nada poderão esperar no outro gem, no tempo de S ..Jeronymo. 410.

7 de Dezembro

SANTO AMBROSIO
Arcebispo e Doutor da Egreja
( t 397)

)f NTRE os grandes doutores da po de Milão, a cidade foi theatro de lu­


W Egreja, é Santo Ambrosio wn do., ctas apaixonadas entre catholicos e
que occupam os primeiros Jogares. Ex­ arianos. Am!brosio, colmo governador,
traordinario em sciencia, inegualavel na julgou ter o dever de intervir naquella
arte rhetorica, poeta fecundissimo, qucs,tã-o, que ameaçava degenerar em
Principe tnodelar da Egreja, Sanbo A,n­ guerra religiosa.
brosio é o vulto mais eminente do clero Pela firmeza, pruclencia e circumspec­
catholico no seculo quarto. Nasceu em ção, mas antes ele tudo pela eloquencia
Tréves, onde viu a luz do mundo em arrebatadora, conseguiu que os animos
340. O pae de Ambrosio era governador se:renass-em e acabéllSsem as contendas.
de grande parte da Italia, Hespanha, Deu-se na mesnm. occasião um facto ex­
França e Allemanha. Pela morte do pae, traorclinario, que impressionou profunda­
a familia de Amhrosio mmlo�t-�� "-para mente tanto os catholicos, como arianos.
Roma. Ambrosio começou os estudos e Ambrosio ma.! tinha terminado o discur­
decorridos poucos annos, já seu nome, so, deante de muito povo, quando uma
como orador e poeta, estava na bocca de creança levantou bem alto a voz e dis­
todos . Tantos eram os triumphos, que se: "Ambrosio é nosso Bispo ! " Catho­
alcançava nos tribunaes de Roma, que licos e arianos aittonitos entreolhara,m­
o governo resolveu mandai-o para o se e a n�u!tidão, que enchia o te111plo,
norte da Italia, como governador da­ rompeu na acclamação unisona : "Am
quella parte do imperio, com :residencia brosio será nosso Bispo ! " Embora este
em Milão. Pela morte de Auxencio, bis- protestasse contra a ma:ni festação da

Santo Ambrosio - A vida que seu d!sclpulo Paulino escreveu, a pedido de Santo Agos­
tinho. Hermant, Tillcmont, Rlvct, Vag!lano Buttler XII.

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7 de Dezembro 471

vontade do povo, embora allegasse que para que Ambrosio acceitasse a dignida­
não era baptizado ainda, a multidão não de episcopal. Ambrosio, porém, fugiu
se deixou demover daquella attitude, e ele Milão, mas, passados alguns dias, foi
mais alto resoaram as acclamações : pelo povo levado em triumpho á cidade,
"Ambrosio é nosso Bispo !" O Impera­ onde então successivamente recebeu os
dor Valeriano, coHocando-se ao lado do sacramentos cio Bapüsmo e da Ordem.
povo, empenhou-se com sua autoridade, Urna vez bispo, entregou-se ás obras

.......

LI
1

Santo Ambrosio
"Tuas mãos ainda gottejam o sangue dos justos, e
tu te atreves a levantai-as a Deus? SI como David
peccaste, como David, imitando-o, faze penitencia!

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472 7 de Dezembro

da caridade, rievelanclo ao 1nes.mo tem­ queceste, que és príncipe catholico, eu


po um zdo apostolico extraorclina­ te mostrarei que sou bispo catholico !
rio. A grande fortuna clesappareceu-lhc Não serei trahiclor do rebanho de Chris­
nas mãos elos pobres e o jejum que to, e não entregarei o templo ele Deus
guardava, era tão rigoroso e clesapiecb­ aos falsificadores da fé. Si quizeres mi­
clo, que os discípulos se julgaram obri­ nha fortuna, tom.a-a; minha vicia está
gados a dirigir-lhe o pedido de poupar cm tuas mãos, ntas não a entregarei se­
a saude . .Aimbrosio respondeu: "Mui-­ não nos degraus do altar.-"
tos já morreram pelo excesso no comer, Justina escumava de odio e mandou
porém ninguem ainda jejuando." Tres sicarios, com ordem de assassinar o Ar­
cousas Ambrosio propôz-se: cebispo. Este, porém, defendido pelos
A celebração quotidiana da Santa fi·eis, sahiu incolume de todos os peri­
Missa, a prégação dominical e a lucta gos . Um elos facínoras, experimentou
contra a heresia e os máos costumes . o castigo ele Deus, no momento em que
Unicos em belleza são os tratados que ia apunhalar o Arcebispo; o braço ficou­
escreveu sobre a castidade e virginda­ lhe duro . .AiJnbrosio não só lhe perdoou
de elas clonzellas, que, movidas pelas o crime, mas ainda lhe curou o braço
instrucções de Ambrosio, deixaram em e despediu-o, dando-lhe conselhos pater­
grande numero o mundo. para abraçar naes.
a vicia rieligiosa. As pregações do O Imperador Valentiano II, clesthro­
Santo Prelado eram tão abençoadas por . naclo pelo general Maximo, foi por
Deus, que immmeros hereges se lhe Theodosio o Grande restabelecido no
prostraram aos pés, pedindo absolvição poder. Fiel ao costume observado lln1
elo erro e readmissão no seio ela Egreja. Constantinopla, Theodosio tambem em
O maior trimnpho ela viela apostolica ele Milão escolhera J:ogar na egreja perto
Santo Ambrosio é a conversão ele San· cio altar. Ambrosio, vendo nisto uma
to Agostinho, o qual, ouvindo a palavra arrogancia inclebita, inti111ou-o a descer
evangelica elo santo Arcebispo, o procu­ para onde es.tava!m os demais fieis. "Pe­
rou e abjurou a heresia elo Manichéismo. la purpura és Im1perador, mas não s.a­
A sombra acompanha a luz. Era na­ cerelote," disse a Theoclosio, o qual, lon­
tural que o demonio e respectivos se­ ge ele levar a mal esta franqueza, di,ssc
quazes movessem guerra ao homem d: aos amigos: "Afinal achei um homem,
Deus. Uma inimiga fidalga surgiu-lhe que me disse a verdade. Conheço só um,
na pessoa ela Imperatriz J ustina, adepta digno ele ser bispo: e este é Ambrosio."
fanatica elo Arianismo. Furiosa por Elm 390 a plebe ele Thessalonica tinha
causa ela grande influencia elo Arcebis­ lynchaclo o g-overnaclor imperial. Theo­
po, por essa paixão nada poupou, para closio, num accesso de. furor, decretou a
fazei-o clesapparecer. Dinheiro, intrigas, 1norte ele todos os habitantes daquella
malcclicencias, calumnias e perseguições cidade. A's instancias de Ambrosio, de­
disfarçadas e abertas eram as arn111's a sistiu ela execução ela sentença. Mais
que recorreu aquella mulher, para con­ tarde, porém, esquecido da palavra da­
seguir o diabolico plano. da ao Arcebispo, commetteu o crime
Todas estas tramoias falharam, ante barharo. Ambrosio, inteirado do occor­
a dedicação e amor, que o povo tributa­ rido, excomlmungou Theoclosio e con­
va ao bispo. Justina fez valer a autori­ demnou-o a fazer penitencia publica.
elacle de mã-e junto ao filho, o Im:pera<lor Quando, apezar ela excommunhão, em
Valientinianro II, que exigiu de Attnbro­ elia de grande festa, Theoclosio se diri­
sio a entrega ele t�ma das egrejas aos giu ao templo, para assistir aos santos
arianos. Ambrosio respondeu-lhe: "As mysterios, encontrou na porta Ambro­
praças do mundo pertencem ao Im­ sio, em ornato episcopal, vedando-lhe a
perador, as egrejas ao Bispo. Si es- entrada.

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O' Maria concebidà sem peccado,
rogae por nós que recorremos a vós.

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8 de Dezembro 47J

"Tuas mãos estão ainda gottejando nio procura inocular o desanimo nas almas
do sangue ele justos, - disse ao Impe­ dos fieis servidores de Deus. A lembrança
dos sacrifícios, das orações e das boas
rador, - e tu te atreverás a levantai-as obras, a lembrança das confissões bem fei­
a Deus ? Terás a ousadia de receber o tas, pelo contrario, deve enchei-as de ani­
corpo de Deus na bocca, que proferiu mo. Com Santo Arnbrosio, digam confia­
damente: "Nós ternos um Senhor muito
uma sentença tão horrivel ?" Theodosio bondoso." Neile puz toda a rn,inha confian ·
animou-se a replicar::"Não peccou tam­ ça e esperança. Não hei de ser confundido.
bem o rei David ?" Ambrosio respon­ O exercício da esperança é utilíssimo, para
deu: "Como imitaste a David no pecca­ aquelles que se vêm tentados pelo desani­
mo e pelo desespero, quando a consciencia
do, imita-o taimbem na penitencia !" lhes dá o testemunho de terem cumprido
Theodosio humildemente acceitou o que o dever . "O Senhor é minha luz e minha
o Arcebispo lhe impôz e durante oito salvação, a quem devo, pois, temer ?
mezes fez penitencia publica. O Senhor é o protector de minha vi­
da, deante de quem tem.erei ? Ainda que
Ambrosio morreu em 397, depois de exercitas se levantem contra mim, meu
ter precisado o dia do transito. A morte coração não temerá. Não aparteis de
do grande Bispo foi muito sentida por rn,im a vossa face ! Vós sois meu prote­
todos e considerada um desastre para d ctor; não me abandoneis e não me desp, c­
zeis, vós, meu Deus e Salvador ! (Ps. 26.
Italia. Stilicão, o ce1ebre general do Im­ 1. 3. 9.) "Por vós clam,ei, Senhor. Disse:
perador, chegou a dizer: "Si este ho­ vós sois minha esperança e minha pon,:ío
mem morre, a Italia está perdida.·, na terra dos viventes." (Ps. 141. 6.) "Co­
Grande foi a alegria da christandade to­ ração de Jesus, em vós confh ! ·•
da, quando em 1871 foram descobertas
as reliquias de Santo Ambrosio, que se Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
julgavam perdidas; poi-s durante 1.000 moria é celebrada hoje:
annos se ignorava o Jogar onde tinham Em Alexandria, na perseguição de Decio
sido depositadas. a morte de Santo Agathon, soldado. O odio
do povo se dirigiu contra elle, quando pro­
REFLEXõES curava evitar que os cadaveres dos marty­
res fossem profanadas. 250.
"Não temo a morte, porque temos um
bondoso Senhor" - disse Santo Ambrosio. Em Meaux, na França, a santa virgem
Sim., temos um Senhor de uma misericor- Burgundofara, abbadessa do convento ele
dia iliimitada . Consolem-se com esta ver- Faremoutier. E' invocada contra moles-
dade aquelles, que durante a vida procura- tias dos olhos e a cegueira, porque uma
ram fazer o bem e servir à Deus com toda religiosa cega recuperou a vista no momento
a iidelidade. E' cousa sabida, que o demo- que tocou nas reliquias da Santa. 657.
H-H-+❖❖•!4+❖❖0: § § § ,J,,§,,§,,§,o§o❖-!4❖❖❖❖#,J,+ § : •§ •fufuJo+❖❖#❖#+❖-:-❖,: ,§,,§, H § §•!-lo#❖

8 de Dezembro

Festa da lmmaculâda Conceíção


� PECC�J?O do primeiro homem este mysterio, como manifestação glo­
� transm1tt1u�s-e-lhe a todos os des­ riosa da bondade e da 0111.nipotencia de
cendentes. Como um fogo devorador, Deus. Maria concebida sem peccado ori­
devastou tudo e qual veneno mortifero ginal, ei6 a doutrina da Egreja Catholi­
infeccionou o mundo inteiro. Só uma ca, eis a fé que jubilosos confessamos.
creatura ficou isenta desta perdição uni­ A Egreja Catholica definiu o dogma
versal: Maria Santissima, a Virgem Mãe da Lmmaculada Conceição, baseando-se
de Deus. A festa hodierna apresenta-nos sobre as expressões da Sagrada Escri-

Immaculacla Conceição - Brev. Rom. Meschler. Vogel.

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474 8 de Dezembro

ptura e da tradição. Os livros biblicos A doutrina do dogma da Imrnaculacla


estão cheios das mais bellas figuras, que Gonceição acha defeza taim:bem na tra­
se referem a Maria Santissima, a Mãe dição da Egreja. Os escriptos dos San­
do Salvador. Figura de Maria Santissi­ tos Padres estão cheios de louvores a
ma foi a arca de Noé, (Gen. 6) que flu­ Maria Santissima, dos quaes o maior é
ctuou sobre as ondas do diluvio, fican­ sempre a sua mais alta prerogativa, que
do salva da perdição universal. A sar­ é a lnimaculada Conceição. Santo
ça ardente de Moysés (Ex. 3. 2.) é Ephrem chama a Maria "a Virgem Im­
imagem de Maria Santissima, porque maculacla, iHibada ele toda a macula cio
ardendo, o fogo não a consumia. Na tor­ peccaclo, purissima." Santo Ambrosio,
re de David, (Cant. 4. 4.) fortemente referindo-se a Maria, diz que é aqueila,
edificada e defendida contra todos os que "pela graça divina ficou isenta de
ataques inimigos, vemos symbolisada a toda a macula do peccaclo." S. Cypriano
I1r�m:aculada, contra a qual não puderam affirma: "Maria é differente de todas
prevalecer os inimigos mais ferozes. - as creaturas humanas : si lhes é egual
Maria é o horto fechado ( Cant. 4. 12.) em natureza, não tem a culpa que as ma­
aos extranhos e inimigos, que não con­ ·cula". Santo �gostinho escreve: "Si
seguiram devastai-o. - A celeste Sião falo do peccado, não penseis que qui­
(Apoc. 21. 18.) é ainda a bella visão, zes,se ou pudesse referir-me á Virgem
que extasia o propheta de Patmos, ao Mãe ele Deus." Santo Anselmo declara :
vêr a cidade edificada ele ouro purissi­ "É razoavel suppôr na Santissima Vir­
n:io, dardejando raios ele luz brilhantis­ gem uma pureza tal, que fóra de Deus
s1ma. não póde ser imaginada outra maior."
Nos livros biblicos encontramos ex­ A praxe da Egreja antiga em nada
pressões as maiis claras, que a exegese differe da doutrina dos Santos Padres.
catholica com muita felicidade applica á Os Papas dos primeiros tempos da
Mãe do divino Salvador. "Porei inimi­ Egreja perm.ittiram a celebração de fes­
zade entre ti e a mulher, entre tua e ta:s em honra ela In-.maculada Conceição,
sua descendencia e ella te esmagará a a invocação ele Maria Santissima sob
cabeça." (Gen. 3. 15). O inferno é im­ este titulo. Consentiram que provincias
potente deante ela Mãe ele Deus, que e reinos inteiros escolhessem a Virgem
triumphará sobre Lucifer. A cabeça da Lnimaculacla por padroeira e protectora.
serpente é o peccado, e em Maria não ha Deram approvação a associações que se
peccado. - "Sois toda formosa, minha formaram, sob o titulo da Immaculada
amiga e e,m ti não ha macula". (Cant. Oonceição, e applaudiraim o zeJ.o e a pie­
4. 7.) Maria é formosa, for:m03issima, dade daquelles que erigiram altares e
inimaculada, e portanto isenta do pecca­ egreja:s em honra da Im\nraculada Con­
clo original. "O Senhor possuiu-me no ceição ou, por um voto solemne, se
principio dos seus caminhos." (Prov. comprdmetteram a defender sem.pre a
8. 22). Estas palavras se referem a"Ma­ Santissima Virgem, concebida sem pec­
ria e affirmam que nunca esteve sujeita cado original. A Egreja mesmo elevou á
á lei do peccado. Deus a possuiu desde festa de primeira classe o dia da Im-
o principio, razão esta porque o demo­ 111.aculada Conceição, inseriu no prefacio
nio nenhuma influencia lhe pôde ter so­ e na Ladainha lauretana as palavras
bre o coração. "Immaculada Conceição", para assim
"Cheia sois de graça." (Luc. 1. 20). documentar a fé neste augusto mysterio.
Cheia de graça é Maria Santissima, o O Papa Pio IX, em 8 de Dezembro
receptaculo dos dons do Espirito Santo, de 1854, na presença de 200 Principes
thesouro infinito e abysmo insondavel da Egreja e uma grande multidão de
de todos os bens e por isto acima de tu­ povo christão, pronunciou solemnemente
do que é peccado. a doutrina da Egreja sobre a Immacu-

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8 de Dezembro 475

]ada Conceição. Essas palavras, que Maria é aquella, em que as insidias da


echoaram jubilosamente nos corações serpente não acham objectivo. Maria se
ele todos os catholicos do mundo, foram nos apresenta como a esposa dos Canti­
as seguintes: "Declaramos, annunciamos cos, por cuja formosura o esposo se en­
e determinamos que a doutrina que diz canta. Maria surge deante de nós, como
ter sido Maria, a Santíssima Virgem, a bella aurora, fornnosa como a lua e
desde o momento de sua conceição, por eleita como o sol. Creatura nenhunta com
graça e privilegio excepcional de Deus Maria Santíssima se compara, em san­
e em attenção aos merecimentos de J e­ tidade e perfeição. Piela beUeza, attrnhc
sus Christo, Salvador do genero huma­ os corações de todos, e todos os olhares
no, preservada de toda a mancha do pec­ se lhe dirigem, cheios de admiração e
cado original, é por Deus revelada e co­ ampr.
mo tal deve ser acceita e firmemente O dogma da Immaculada Conceição
acreditada pelos fieis. Si alguns, o que apresenta-nos Maria enlj toda a sua di­
Deus não permitta, se atreverem a diver­ gnidade. Ella é a esposa Íl11jl11aculada do
gir desta nossa definição, saibam e co­ Espírito Santo, desde o primeiro mo­
nheçam que, por sentença propria, se mento de sua existencia, adornada com
conclemnarnm e naufragaram na fé, se­ o amor do Altíssimo ,e enriquecida com
parando-se da unidade da Egreja." as mais admiraveis graças. Que digni­
Esta definição official da Egreja fri­ dade ! . . . Desta dignidade não podia
sa tres pontos : 1) Maria ficou isenta do prescindir. Seria possível o Filho de
peccado, desde o primeiro momento de Deus, o Santo dos Santos, operar a
vida; 2) Esta graça e privilegio extra­ grande obra da Encarnação nas entra­
ordinario foram-lhe concedidos por uma nhas de uma mãe que fosse sujeita, por
distincção especial divina, em attenção um momento siquer, á lei do peccado e
aos merecimentos do Salvador; 3) To­ consequentemente á influencia e ao po­
do e qualquer que não acceitar este ar­ der do demonio?
tigo de fé, pecca gravemente e se exclue A Lmttmculada Conceição é, de todas
ela Egreja Catholica. as prerogativas de Maria Santissima, a
Pela nossa fé na Immaculada Concei­ mais alta, e é este o dogma sublime, que
ção, honramos a Egreja, que é a repre­ tanto honra e eleva a Santíssima Virgem
sentante de Deus na terra, a mestra da e enche de gozo e alegria os corações
verdade. de seus filhos.
E crendo, não corremos perigo de er­ Eil-a o "lirio entre os espinhos"
rar, porque a Egreja é a coluanna e a ( Cant. 2. 2.) eil-a a Immaculada ! Agra­
base da verdade. Elia goza da assisten,­ deçamos a Deus, que revestiu de tanta
cia do divino Espírito Santo, que lhe foi gloria a Mãe do seu Filho Unigenito.
promettido por Christo e com ella fi­ Por uma. vida santa e pura, procuremos
cará até ao fim dos tempos. A Egreja tornar-nos dignos filhos de uma tão ex­
não nos engana, e é impossível que nos ceba Mãe.
ensine o erro. Reconhecendo-a como mes­
tra infallivel da verdade, sujeitamos o REFLEXõES
nosso entend�mento ás suas decisões e Por um privilegio especialissimo, Maria
Santissima ficou isenta da culpa original.
cremos na Immactilada Conceição, por A alma da Mãe foi creada no estado da
ella definido como dogma. graça santificante e nesta permaneceu.
O amor que temos a Maria, faz que, Graça egual não recebeste. Concebido em
peccado, em peccado nasceste. Mas Deus
com fé jubilosa, acl"editemos na dou­ purificou tua alma, no sacramento do ba­
trina da Egreja, que eleva a Mãe de ptismo. Milhares e milhares não tiveram
Deus sobre todas as creaturas humanas. esta graça. Morreram sem o baptismo, no
estado de peccado . No céo não puderam
O dogma da Immaculada Conceição mos­ entrar, porque nada de impuro lá entra.
tra-nos Maria em toda a formosura. Porque te concedeu Deus, em sua infinita

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476 9 de Dezembro

bondade, a graça do baptismo ? Quanta maior que a dos phariseus e escribas, não
gratidão deves, pois, a Deus tão bondoso. entrareis no reino dos céos ! " (Santo
por te ter dado tamanha distincção ! O Agostinho).
baptismo, porém, é sómente a primeira gra­
ça que recebes do Creador, para al­ Santos do Martyrologio Ronwno, cuja me­
cançares a vida eterna. Deve-se alliar-llit moria é celebrada hoje:
uma vida santa, de perfeito accordo com
os mandamentos da lei de Deus. "Aquelle Em Alexandria o martyrio de S. Macarlo,
que disse ser neccssario o baptismo, o rc- no tempo da perseguição de Decio.
1:ascimento da agua e do Espirita Santo, Em Treves, Santo Euchario, discipulo (e
disse tambem: Si vossa justiça não fôr S. Pedro e primeiro bispo daquellu cidade.

9 de Dezembro

SANTA GORGONIA
R ANTA GORGONIA é descenden­ não vissem o que lhe podia pôr em pe­
� te de Santos. Era filha de S. Gre­ rigo a pureza da alma. Consicleranclo­
gorio de Nyssa, que mais tarde, corno se uma extranha aqui na terra, todas as
Bispo, se tornou luzeiro, dos mais bri­ aspirações se lhe dirigiam ao céo. O uni­
lhantes, ela Egreja oriental. Santa Non­ co clesiejo que nutria, era de agradar aos
na, mãe cio grande Gregorio de Nazianz, habitantes da celeste Sião, para um dia
patriarcha de Constantinopla e de São inerecer a dita de ser acceita em sua glo­
Cesario, deu á luz Gorgonia em 326. É riosa companhia. Outra cousa não pro­
excusado dizer que primorosa foi a edu­ curava, senão conhecer a Deus e cum­
cação, que o santo casal deu aos filhos prir-lhe a santa vontade.
e entre estes a Gorgonia. Privilegiada Resolvera o Senhor propôr sua fiel
pela natureza, não usou dos dotes natu­ serva, como exemplo e modelo, não só
raes senão para se esmerar cada vez mais ás donzellas, mas ainda ás mães de fa­
nas virtudes. O máo exemplo de outras milia. Seguindo a vontade dos paes,
pessoas do mesmo sexo, nunca Gorgonia Gorgonia casou-se com Vitaliano, joven
o imitou. As invenções cosmeticas, assim rico e de illustre estirpe de Pisidia, po­
affirma S. Gregorio ele Nazianz, seu rém pagão. Deus deu-lhe a luz da fé e
santo irmão, deixava0 03 para as actri­ a palavra convincente e ainda mais a:;
zes e pessoas de vida airada. Outro ador­ oracões da santa noiva lhe abriram os
no não desejava, a não ser o da alma olh�s ao conhecimento das verdades
·e, com receio ele deshonrar a imagem de christãs. De tres filhas, com que Deus
Deus, desprezava os excessivos cuida­ abençoou este matri1monio, a mais ve­
dos, que geralmente as mulheres ,.têm lha, Alipiana, casou-se com Nicobulo,
pelo cabello e os vestidos. Com muita homem de grandes virtudes e santidade.
prudencia fugia do contacto do mundo Gorgonia era em tudo modelo perfeito
e só a caridade podia levai-a a mostrar­ de mãe de familia christã. Cumpridora
se na sociedade, quando a necessidade dos deveres, era obediente ao marido,
ou o bem do proximo lhe requeria au­ em tudo que não fosse peccado, e as­
xilio material ou espiritual. Embora ins­ sim fortemente contribuiu para merecer­
truida e intelligentissimla, evitava as dis­ lhe alta est�ma e consolidar a paz e har­
cussões subtis e philmophicas, como to­ monia na familia.
das as conversações inuteis. Com os Como boa mãe de familia, não des­
olhos tinha feito uma alliança, para que conhecia as obrigações para com Deus

Santa Gorgonia - S. Gregorlo de Naz.

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9 de Dezembro 477

e os pobres, que o representam. A casa transportar para a egreja, pôz a cabe­


de Gorgonia era procurada por todos ça sobre a meza do altar, recebeu o pão
que se achavam em difficulclacle: prin­ eucharistico, e com toda confiança de
ci palmente eram viuvas e orphãos, que que a alma lhe era capaz, pediu a Deus
recorriam á bondade do coração ela pie­ que lhe désse saude, e já não precisou
dosa senhora. Os deveres de casa da­ mais de quem a carregasse, pois, termi­
vam-lhe ainda bastante tempo para diri­ nada a oração se achava completamente
gir a attenção ao templo de Deus e ti­ restabelecida.
nha em grande honra poder zdar pe­ Quando alcançou a eclade de 45 an­
la lilmpeza cio santo Jogar e pelo adorno nos, Deus fez-lhe saber o tenno da sua
cios altares. Em todas as obras não tinha peregrinação. Como se fosse para uma
em mira outra recompensa, sinão o agra­ festa, Gorgonia preparou-se parª o dia
do ele Deus e a salvação da alma. En­ da morte. Rodeada cios membros ela fa­
tregue ás obras ele caridade, não descui­ milia, assistida por Santa N onna, pelo
dava da mortificação ele si mesma. Lon­ confessor e o Bispo Gregorio, serena
ge de procurar uma vida commoda, su- . entregou o espírito a Deus. As ultimas
jeitava o corpo ás mais asperas e du­ palavras que disse foram: "Quero dor­
ras penitencias. Frequentes eram-lhe os mir em paz e clescançar".
jejuns; passava noites inteiras em ora­
ção, entretida com a meditação ou lei­ REFLEXÕES
tura da Sagrada Escriptura. Embora fi­ Santa Gorgonia era inimiga da vaidade.
zesse grandes e valiosas esmolas, não se­ e do COl11\IIIOdismo. Oxalá esse exemplo en­
guiu a opinião claquelles que, confiantes contre imitação da parte daquelles, que
sacrificam grande parte do tempo ao culto
nas obras ele caridade, continuam nos do corpo e das vaidades. O christão terá
pecca,dos, como si a esmola extinguisse em honra o corpo, que é um templo do Es­
as paixões. pírito Santo, mas não fará delle um idolo.
Gorgonia tinha aborrecimento das re­ O tempo é aquelle precioso dom do céo,
que nos foi dado para delle fazermos uso
uniões mundanas e amava tanto mais a para maior honra de Deus e para nossa pro­
solidão, o silencio e o recolhimento. pria salvação. Tanto a vaidade como a ocio­
O seguinte acontecimento prova quão oidade, são vicios perigosos, que levam a al­
firme confiança tinha em Deus. Em ma ao caminho da perdição. O melhor reme­
dio contra a vaidade é a lemhrança da
uma viagem, foi victima de um desastre. morte, do estado horrível e indescriptivel,
O carro em que se achava, tombou e a que em pouco tempo será reduzido o
graves foram os ferimentos que Gor­ corpo. O preguiçoso lembre-se dos talentos
gonia recebeu. Os pagãos não dissi­ que Deus lhe deu, em fórma do tempo.
Destes talentos e do uso que delles fez, um
mularalm a indignação contra um Deus, dia ha de dar rigorosas contas ao eterno
que deixava soffrer tamanha cala­ Juiz.
midade a uma serva dedicada e ficle­
lissima. Gorgonia, entretanto, recusando
qualquer intervenção m·edica, elevou o Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
moria é celebra.da hoje:
coração a Deus e viu-se inimediatamen­
te curada. Pouco tempo depois, cahiu Em Toledo, na Hespanha, a memoria de
Sta. Leocadia, virgem-martyr. Morreu na
gravemente doente e os medicos já não perseguição diocleclana. E' padroeira con­
respondiam pelo seu restabelecimento. tra a peste. 303.
Gorgonia, tendo conhecimento do estado Em Lim.oge:,; a santa virgem-martyr Va�
clese'speraclor em que se achava, fez-se leria, discipula de S. Marc;al. 3 sec.

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478 10 de Dezembro

1 O de Dezembro

SANTO EUZEBIO, BISPO


(t :no)

� ANTO EUZEBIO era filho de ela justiça. Esta declaração determinou


� paes piedosos e ricos e nasceu na os rnern:bms do Concilio a dar-lhe acces­
ilha da Sardenha. Instruido nas scien­ so ás sessões, bem colmo ao Legado do
cias sacras e profana,s em Roma, foi in­ Papa, só no decimo dia, quando não ha­
cluido no clero romano, quando S. Sil­ via mais nada a receiar de sua presença.
vestre governava a Egreja. Mais tarde Ainda assim exigiram que assignasse
foi destacado para Vercelli, no Piemon­ uma bulia, que continha a excommunhão
te, para ser governador da Diocese. Se­ ele Santo Al!:hana.sio, a que se oppoz ener­
gundo o testemunho de Santo Ambrosio, gica e resolutamente, appellando para a
foi o primeiro sacerdote secular do Oc­ asseJrnbléa que devia respeitar as reso­
cidente, que com este estado ligava o de luções do Concilio de Nicéa. As sessões
sacerdote regular, e que obrigava o cle­ do Concilio foram então transf'ericlas pa­
ro da cidade a levar uma vida quasi de ra os SédÕes do palacio imperial, e foi alli
1nonges. Euzebio vivia com o clero em que o Impera.dor, com a espada em pu­
communidade. Pela oração e penitencia, nho, exigiu peremptoriamente que assi­
pediam-se as bençãos de Deus para o gnasse aquelle documento. Euzebio negou
trabalho da cura de almas. Além disso ainda a assignatura, o que lhe determi­
estudavalm os santos livros, trabalhavam nou a prisão e o exilio para Scythopolis,
nas parochias e occupavam-se de offi­ na Palestina.
cios manuaes. Referindo-se a este estado Os catholicos viram no gesto do Im­
de vida, Santo Ambrosio disse: "Póde perador o triutnpho da fé catholica, e
haver cousa mais maravilhosa? Tudo a.Ili clernm a Euzebio as provas mais claras
é digno de imitação. O rigor do jejum e con�moventes de solidariedade e dedi­
é compensado pela paz da consciencia e cação. Em Scythopolis teve de soffrer
pelo socego da a1ma. O poder do bom muitas contrariedades, por causa do
exemplo sustenta a todos. O que mais bispo ariano daquella cidade. O fanati---
custa á natureza, torna-se facil pelo 1110 cios arianos chegou a ponto de m-1! •
costume." Desta santa communiclade sa­ tratar physicamente o santo Prelado, e
hiu uima sierie ele excellentes bispos. Es­ pôl-o em incommunicabilidade com os
ta vida em commum preparou Euzebio catholicos. Euzebio passou por um ver
para as luctas que o esperavam e deu­ <ladeiro martyrio. O consolo do santo
lhe força para sahir vencedor de torlas. Prelado era o amor dos catholicos, qt11.'.
Já em 355 appareceu a primeira dfffi­ o cumulavam de attenções, sempre que
culdade, quando o Impera.dor Constan­ podiam, e a visita de Santo Epiphanio.
cio convocou o Concilio ele Milão, ao qual Os arianos, porém, não o deixavam e1�1
Euzebio se negou a comparecer, preven­ paz. Si por algum tempo conseguia li­
do a preponderancia cios elementos vrar-se ela prisão, outra mais apertad:i
arianos. Só quando recebeu o convite se lhe abria. Assim aconteceu que, arre­
escripto do Lmperador, dos bispos aria­ batado cios catholicos, ficasse preso, in­
nos e catholicos, promptificou-se a ir, co!llIDunicavel, durante seis dias, sem se
mas com a declaração de que agiria se­ alimentar. O alimento que os arianos
gundo a sua consciencia e os dictames lhe offereciam, regeitava-o e aos catho-

Santo Euzeblo - De div. escrlptores e S. Padres do seculo IV. Tlllemont. VII. Ughelli,
Ital. sacr. IV. Fleury XIII. Ceilller V. Orsi 24, Buttler XII.

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1 O ele Dezembro 479

licos era impossível chegar aonde estava. zebio, em defeza da fé, deu-se-lhe o ti­
No sexto dia os catholicos appareceram tulo de martyr.
em grande numero, e c011n ve• hementcs
protestos e grandes ameaças, exigiram a R.EFLEXõES
libertação do bispo. Como é adm�ravel a firmeza de Santo
Euzebio nas luctas, nas difficuldades, nas
De Scythopolis Euzebio foi transpor­ perseguições I Desta firmeza o catholico
tado para Cappadocia e de lá para a deve procurar ter uma boa parcella. Mui­
Thebaida, onde permaneceu até a mor­ tas vezes se vê o contrario. Si vem uma
te do Imperador Constancio, em 361. contrariedade, é facil ouvirem-se palavras
de desanimo, de queixas contra Deus e até
Sob o governo de Juliano Apostata o,; ameaças de abandonar a religião. Quando
bispos catholicos exilados tiveram liber · vae tudo bem, não é preciso muita virtude,
dade de voltar para as dioceses. Depois para achar facil a conformidade com a
de uma expatriação de seis annos, Eu­ vontade de Deus .
Soffrer pelo amor de Deus é uma hon­
zebio foi a Alexandria, onde Santo Atha­ ra, uma segurança. Muitos pensam contra­
nasio realizava tlim Concilio, a que a:ssis­ ria�ente, julgando ser uma graça especial
tiu, para depois se dirigir a Antiochi:1, de Deus quando não se soffre nada. O
onde reinavélltn gracv'es dissenções entre peccador, que assim raciocina, engana-se.
S. Bernardo escreve: "Quem peccou, não
os catholicos. Deixando Antiochia, visi­ experimentando o castigo de Deus, pode es­
tou quasi todas as Egrejas do Oriente, tar certo que é objecto da ira de Deus. Deus
con fartando os catholicos, animando os condemna no outro mundo a quem nesta
vida não conseguiu corrigir pela adversi­
fracos e chamando os separados ao ,,e·,o dade." De Santo Agostinho são as seguin­
da Egreja. Egual apostolado desempe­ tes palavras: "Si vives em peccado e Deus
nhou na Illyria, onde o arianismo tinha não te castiga, máo signal é." A isenção
produzido lamentaveis estragos. de soffrimento, portanto, longe de ser si­
gnal da amizade de Deus, deve causar sé­
Por fim chegou á Italia, onde teve rias apprehensões ao peccador. Aos ami­
uma recepção estrondosa, em que toma­ gos Jesus Christo offerece o calice da dôr.
ram parte os collegas do episcopado e o Disso tens a prova nos apostolos, martyres
povo. Em companhia de Santo Hilario, e confessores. Queres ser excepção des­
honrosa desta regra ?
bispo de Po:iti-ers, cdmeçou o apostolado
da unificação das Egrejas. Euzebio e Santos do Mart11rologio Romnno, cuja me­
Hilario contestaral!TI a legitimidade do moria é celebrada hoje:
bis1 po ariano A uxencio em Milão ; nada Em Lentinl, na Slcilia, S. Mercurlo e seus
porém, conseguiram, porque Auxencio companheiros, soldados todos, que no tempo
soube habilmente enganar o Imperador do imperador Licinio tiveram a gloria de
Valentiniano e alguns bispos. morrer pela fé.
Depois de tantos trabalhos e luctas, Em Angora, no tempo de Juliano Aposta­
Euzebio retirou-se para sua diocese de ta, o martyrio de Gemello, que morreu cruci­
ficado.
Vercelli, onde encontrou tudo em boa
ordem, graças ao zelo do clero, prin­ Em Merida o martyrlo de Santa Eulalla,
virgem. Contava apenas doze annos e sof­
cipalmente á boa vigilancia de Gauden­ freu horrivelmente os tormentos que o lni­
cio. Não tardou muito que Deus cha­ quo juiz Daciano lhe dictára. 303.
masse seu fiel servo ao bem merecido No mesmo dia e Jogar a amiga insepara­
repouso, em 370. Por causa dos grandes vel de Santa Eulalla, Santa Julla. Santa Eu­
soffrimentos por que pa:ssou Santo Eu- lalia é Invocada em grandes calamidades.

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480 11 de Dezembro

11 de Dezembro

SÃO DAMASO
(t Seculo V)

e DAMASO, um dos maior�s Pa­


�tl pas da Egreja de Deus, era hes­
privada. Os elem�ntos bons, porém, op­
puzera:m-s·e a is�o, e empregaram todos
panhol. Orphão de mãe, levou-o o pae a os esforços, até que o governador ro­
Roma, para receber urna solida educa­ n11ano se resolve, u a rn:anclar para o exi­
ção religiosa e sci'entifica. Os progres­ lio o promotor elas desordens. Vendo
sos que fez foram tão notaveis, que Da- frustraclos os planos, os adversarias e!,�
1�so foi tido com!o t]rn cios homens mais Darnaso recorreram a um outro estra­
santos 'e sabias do seu tmnpo. Na qua:!i­ tagema, - á calumnia, accusanclo o Pa­
clade de diacono da Egreja de i.loma, pa ele urna falta gravíssima corrtra. a
acompanhou o Papa Liberio ao exilio. virtude angdica. A grande maioria, po­
Pela morte deste Papa, foi elevadl' ao rém, cios fiei,s, não deu credito a estas
throno pontificio, em attenção á sé.be­ accusações, porque lhe era bem conhecida
doria e santidade que o distinguiam, co­ a sm1ticlacle cio Supremo Pastor. Damaso,
mo tambem ao zelo e coragem com que porém, julgou ter o dever ele provar pu­
defendera a Egreja contra a heresia. O blicamente a innocencia. Para este fim,
governo de S. Da:rnaso durou dezesete convocou em Roma um Concilio ele qua­
annos e dois mezes e coincidiu com épo­ renta Bispos e convidou os cletractores
cas bem angustiosas. Todos os escri­ para que apresentassem a est-e tribunal as
ptores ecclesiasticos claqudle tempo lhe queixas e accusações. Não tardou fazer­
tecem os maiores elogios. S. Jeronymo se luz naquella questão e os calumniado­
chama-o o grande amador da castidade res confessaram publicamente o pec­
e mestre evangelico da Egreja virginal. cado.
Theodoreto vê nelle um homem ador­ Algum tempo depois, começou a lu­
nado de todas as virtudes e digno de to­ cta contra a heresia, que tinha levanta­
do o louvor. Santo A.tnbrosio reconhece do a cabeça em diversos Jogares, até na
em Damaso um instrumento escolhido capital ela christanclacle. Em diversos
pela divina Providencia, para o bem da Concilias parciaes e finalmeute no Con­
Egreja de Christo. Os bispos, reunidos cilio ecmnenico ele Constantinopla, foi
em Constantinopla, elogiam-no pela fir­ conclemnacla a heresia de Macedonio e
meza heroica na defeza da santa fé, dan­ desterrado o respectivo auctor.
do-lhe o titulo honroso ele diamante in­ O Pastor vigilante trabalhou inces­
vencível da fé. Em diversas occa�_iões santemente no melhoramento da organi­
patenteiou esta firmeza evangelica. �Lo­ zação da Egreja. Muitas Egrejas foram
go depois ela sua eleição se formou uma construidas e as relíquias de muitos
corrente fortíssima c·ontra a pessoa de martyres, por iniciativa do Papa, foram
Damaso, com o fim induvidavel de der­ entregues á veneração dos fieis. Ho­
rubai-o do throno pontifício. A alma mens importantes do tempo, como Atha­
deste 1111ovimento foi um tal Ursino, que nasio, Ambrosio e Jeronymo faziam
ambicionava para si a dignidade papal. parte do conselho particular do Pontí­
Daimaso, receioso de ser causador de fice. A S. Jeronymo a Egreja deve a
sc1sma, declarou-se prompto a renunciar traclucção dos livros bíblicos para a lín­
á tiara pontifícia e retirar-se á vida gua latina. A confiança de que Dan.naso

S. Damaso - Jeronymo, Rufino e Anàstacio. Tillemont VllI. Ceillier VI. Muratori,


Script. Ital. III. Buttler XU,

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12 de Dezembro 481
gosava do povo christão · era tão grande, forra. Jesus, porém, ensinou uma lei mais
que os Imperadores Theodosio, Gracia­ perfeita, a lei da caridade, que obriga a to­
dos que querem ser seus discipulos. Pela
no e Valentiniano ordenaram expressa­ lei da caridade e a observação da mesma
mente aos subclitos, que não acceitassem se distingue o mundo do reino de Nosso
outro Credo a não ser aquelle que São Senhor. O mundo não conhece a caridade
e muito menos o perdão. Jesus Christo es­
Pedro pregara em Roma e que era ensi­ tabelece o humano perdão aos nossos se­
nado por seu successor Damaso; que melhantes, como condição de obtermos o
haviam de considerar erroneas e hereti­ perdão divino dos nossos peccados. Quem
cas as doutrinas por Damaso como taes não perdôa, não quer ser perdoado . Quem
não perdôa, esquece-se que nunca, offensa
censurados. O Imperador Graciano pro­ alguma que soffreu do seu semelhante, po­
mulgou uma lei, que determinava a derá ser egual em gravidade á mJinima of­
competencia juridica do Papa em julgar fensa que fez a Deus, cujo perdão impetra .
as q!J.eStÕes que houvesse entre Bispos. Quem não quer perdoar, de boa conscien­
cia não póde rezar o Padre Nosso, em que
Grande interesse manifestou Damaso pede a Deus perdão dos peccados, á me­
pela digna celebração ! dos mysterios. dida que perdôa aos inimigos. A este res­
Por sua iniciativa, foi reformada a peito escreve Santo Athanasio: "Si não
egreja de São Lomenço e enriquecida perdoas o mal que te fizeram, nada pedes
para ti; pelo contrario, em vez de pedires
com bellissimas pinturas} perdão a Deus, provocas sua ira em dizer:
Damaso morreu na edade de oitenta perdoae-nos as nossas dividas, assim como
annos. perdoamos aos nossos devedores." O mes­
mo diz S. Chrysostomo: "Com'p podes le­
Consta que· ainda em vida, com uu11 vantar as mãos ao céo ou mover tua lin­
pequena oração, restabeleceu a vista a gua e pedir perdão ? Posto que Deus te
um cego. No tll'mulo se lhe deram gran­ queira perdoar, não lh'o permHtes, em­
des milagres. Muitos possessos de cle­ quanto não mudares tua attitude hostil
contra teu irmão."
monios, por intercessão de S. Damaso,
ficaram livres do máo e�pirito e innu­
mcros doentes recuperaram a saude. Santos do Martyrolouio Romano, cuja 'llte­
moria é celebrada hoje:
REFLEXÕES
Na Persia o rnartyrio de S. Barsabas. 342.
Como discipulo e imitador �e. J_esus
Em Piacenza o bispo e grande thaumatur­
Christo, Damaso perdoava aos m1m1gos.
go S. Sabino.
Perdoar aos inimigos e rezar por aquelles
que nos perseguem, é particularidade mui- No Egypto, a memoria de José, filho do
to christã. O Antigo Testamento conhecia Patriarcha Jacob, personagem providencial
a lei da • vingança. que permittia tirar des- na historia do povo dos Judeus.
❖❖•:-H-!••:-:-❖❖❖-.'-!..H❖l•❖++❖❖-H-++Ho❖❖❖❖❖++ ❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖❖ 1 1 1 §u§ o§❖+++❖❖
12 de Dezembro
Santo Epímacho e comJ)anheíros, Martyres
EGREJA festeja hoj-e a memo­ se tornaram conhecidos os decretos san­
ria de diversos Martyres da per­ guinarios de Decio, a cidade de Antio­
seguição promovida pelo Imperador De­ chia foi theatro de scenas as mais re­


cio. O historiador Eusebio conta mJinu­ voltantes, e o sangue dos chri:stãos, ho­
ciosamente os factos desta perseguição mens e mulheres, jorrou em abundan­
em Antiochia, tirando as informações cia ; os pagãos deliciara1111-se na matança
de Ullll relatorio ele S. Dionysio Bispo de das pobres victimas, invadiram as casas
Antiochia. Diz Dionysio que, logo que dos christãos e trucidaram a bel prazer.
Santo Epimacho - Euzebio 1. 6.
Na Luz Perpetua 31 - II vol.
482 12 de Dezembro

Eraim · scenas como mais horrendas não nisados. Sorte egual tiveram as donzel­
se podiam desenrolar, nos dias de mais lati A'IT1:monaria, primeim e segunda e
rubro bolchevisn1:o. Vendo-se acossados Mercuria. Todas, com Dionysia, mãe de
como animaes de caça, os christãos pro­ mtmerosa familia, foram decapitadas.
curaram abrigo nos desertos. Seguiu-se Morte crudelissima e tanto mais glorio­
um tempo de calma. Uma guerra civil sa soffreu Macario, que após longos
desviou por alguns nilezes a attenção pu­ soffrimentos cruciantes, foi queimado
hlica; :mas, terminadas estas luctas in­ VIVO.
testinas, começou para os christãos uma
nova perseguição, tão atroz e cruel, que REFLEXÕES
punha em perigo a fé dos mais dedica­ A Egreja apresenta-nos o grandioso
dos. A provação fôra excepcionalmente exemplo de constancia na fé, que nos de­
dura para os ricos e as pessoas de alta ram Santo Epimacho e seus companheiros
de martyrio. Vemos tambem o mau exem­
collocação. Muitos, para se vêrem livres plo de outros que, depois de terem servido
dos totimentos, outros, cedendo a ins­ a Deus durante muito tempo, o abandona­
tancias de falsos amigos, quefonaram in­ ram, desprezaram a santa lei divina e de­
ram aos irmãos o escandalo da apostasia.
censo aos idolos. No meio de tanta apos­ A apostasia é o peccado gravíssimo, que
ta:sia, havia algttlma!s almas fortes, inaba­ se oppõe directamente aos primeiros man­
laveis, como rochedos no m'ar, qtx:, damentos, que exige da creatura o amor de
apezar da:s ;:-�•neaças e tormeritos, fica­ Deus sobre todas as cousas. Amar a Deus
sobre todas as cousas quer dizer amai-o
ram fieis a Christo e á sua Egreja. En­ mais que os bens da terra, amai-o mais que
tre estes se achava Juliano, hOilTlem doen­ os nossos parentes e amigos, amai-o mais
te, torturado pelas tenazes de um rheu­ que a nós proprios. O apostata dá prefe­
matismo atroz; citado perante o juiz, rencia ás cousas terrenas e, para possuil-as,
nega a fé, despreza a lei de Deus e aban­
compareceu, conduzido por dois chris­ dona a religião. Não raras vezes acontece
tãos, elos quaes um apostatou. O outro, que o apostata, que antes de succum:bir á
Chronion, era, junta1nente com Juliano, tentação, era fervoroso e amigo de Deus,
assentado num ca.melo, levado pelas ruas muda de idéas e sentimentos e de amigo
que foi, transforma-se em inimigo da reli­
da cidade, soffrendo as mais horrendas gião, das instituições e dos ministros de
injurias e máos tratos cio povo, para de­ Deus. Quem chegou a perder a fé, não pode
pois ambos serem atirados á fogueira já saber onde irá parar. Pede a Deus todos os
,em hraza. Isto foi em 27 de Fevereiro. dias a graça da perseverança até ao fim.
Começar bem é alguma cousa. Começar
O dia 12 de Dezembro foi a data da bem e acabar bem, é o triumpho, é a gloria.
morte heroica e gloriosa ele Epimacho,
Alexandre e outros que sellaram com o
Santo.� do Martyrologio Roma.no, c1ija -rnc­
sangue a fé em Jesus Christo. Sujeitos m.oria é celebrada hoje:
á fome, durante longos dias de prisão,
Em Roma, S. Synesio, morto na persegui­
foram depois martyrisados por uma lon­ c;ão de Aureliano. 270.
ga série de crueldades, cada qual mais Em Tevers os santos martyrcs Maxencio,
horrorosa, as quaes podiam ser excógi­ Constancio, Crescencio, Justino e seus com­
tadas só por cerebros inteiramente sata- panheiros. 303.

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13 de Dezembro 483

13 de Dezembro

Santa Luzia, Virgem e Martyr


(f 303)

e ANTA LUZIA, uma das heroínas


� mais gloriosas da Egreja de
completamente sã. Mãe e filha, summa­
mente agradecidas a Deus e Santa Aga­
Orristo, nasceu na Sicília, no seculo ter­ tha, voltaram para Syracusa. Como sur­
ceiro. Os paes de Luzia eram christãos, gisse novamente a ideia do casamento
de nobre origem e ricos. A educação de Luzia, esta pediu instantemente á
primorosa qu'e deram á filha, não tardou mãe, que não a atormentasse mais, visto
a revelar bons fructos. Luzia, de tenra que se tinha ligado a Jesus por um so­
edade ainda, avida de ser toda ele Jesus, lemne voto. Mais difficil foi conseguir
oífereceu a virgindade ao divino Espo­ que a mãe lhe désse o dote, da mesma
so, num voto especial. Cedo morreu o fórma como si tivesse acceito a proposta
pae. A vontade da mãe, Eutychia, era do casamlento. "Espera até eu morrer,
que Luzia contrahisse matrimonio com tinha-lhe dito ella, - depois da minha
um moço de estirpe nobre, mas pagão. morte, poderás fazer do que é teu, o· que
Na sua perplexidade de querer guardar quizeres." Bem sabia Eutychia que di­
o voto e ao mesmo tempo não contrariar nheiro nas mãos da filha ia parar nas
os planos da mãe, pediu Luzia que lhe mãos dos pobres. Luzia, porém, respon­
fosse concedido um prazo, para com deu: "O que se pronrette aos pobres,
Deus na oração pensar sobre a propos­ para ser-lhes dado depois da nossa !mor­
ta e tomar resolução. A mãe adoeceu te, não é tão agradavd a Deus, como
gravemente e outra enfenneira não ad­ aquillo que se lhes dá emquanto temos
mittia a não ser a filha. Quatro annos vida. Aquelle que anda na escuridão,
durou a enfermidade, sem que houvesse mais utilidade percebe da tocha accesa,
esperança de recuperar a saúde. A con­ que o precede, do que d'aquelle que lhe
selho de Luzia, fiz,eram uma romaria ao fica ás costas." Finalmente a mãe ac­
tumulo de Santa Agatha, em Catania, cedeu aos pedidos de Luzia e deu-lhe
celeberámo pelos nwnerosos e estupen­ o dote. Aconteceu o que era de esperar.
dos milagres, com que Deus se dignava Luzia repartiu tudo entre os pobres.
de glorificar sua santa serva. Depois de O moço que até ahi nutria a esperan­
ter passado muito tempo em oração ça de casar-s•e com Luzia, tendo noticia
junto ao corpo da santa Martyr, Luzia do que succedera, transfot1rnou o amor
adormeceu e parecia�lhe no somno ter ·em odio e denunciou-a perante o gover­
tido a visão de Santa Agatha e tel-a ou­ na!clor Paschasio por dois cri-mes : de
vido bem distinctamente dizer : "Que nã8 ter cumprido a palavra e de ser
desejas de mim, querida irmã ? Tua christã e portanto desprezadora dos deu­
mãe está restabelecida, graças á tua fé. ses nacionaes .
Sabe que, como Deus se dignou de glo­ Paschasio citou a donzella perante o
rificar a cidade de Catania por minha tribunal e intimou-a a que sacrificasse
causa, assim Syracusa será celebre por aos deuses e solvesse a palavra dada ao
ti, porque pela tua virgindade preparas­ cidadão. "Nem uma, nem outra cousa
te agradavel morada a Deus em teu co­ farei, respondeu Luzia. Adoro a um só
ração." Deus verdadeiro, a Elle prometti fideli­
Luzia accordou e encontrou a mãe dade e a ninguem mais." - J:>aschasio :

Santa Lucia - Act. Mart. antiqu!ssimns. Acta sincera S. Luciae V. M. ex optimo co­
dice Graeco nunc prlmum edita et illustr. 1661.

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484 13 de Dezembro

"Devo exigir que respeites a ordem im­ offereça aos deuses; de nada vale,
perial: ele prestar homenagem aos deu­ porque Deus, que conhece o coração,
ses e cumprir o que prometteste." - não me julgará pelo que fiz sob coac­
Luzia: "Fazes bem em cumprir as or­ ção. Não poderei resistir á força, mas
dens cio Imperador; eu cumpro as que minha virtude dupla côroa recebe­
Deus me deu. Si tens medo c ios poderes rá." A ordem do governador
de um h01ne111 foi posta logo
mortal, eu te­ em execução.
mo os juizos Luzia sahiu
ele Deus, a elle do tribunal, si
elevo sujeitar­ bem que entre­
me." Pasch:'. gue á vontade
sio: "Deixa de e b r utalidâde
falar fanfar­ ci os homens,
ronices, si não cheia de con
queres que a f i a n ç a em
tortura te ;m­ Deus e invo­
p o n h a uma c a n clo,lhe o
outr-a lingüa­ auxilio. E eis
gem." - "Aos como Deus lhe
servos de Deus recompensou a
não faltará a fé. Quando os
palavra, por­ executores da
q u e Christo 1 e i puzeram
disse: "Si es­ mãos á obra,
tiverdes dean­ para levar a
te ele reis e clonz-ella ao lo•
g o vernadores, gar determina­
não cuideis co­ do, força ne­
mo haveis de nlmm,a foi ca­
falar; porque paz de fazei-a
não sereis vós m o ver-se de
q u e m fala, onde estava. O
mas por vós facto causou
falará o espi­ grande estupe­
rito de Deus." facção. M,\.,
(Ma t h. 10. em vez de re­
18) . Pascha­ conhecer o po­
sio: "Está em der de Deus,
ti o espir:to ele q u e defende
Deus?"- Lu­ Santa Luzia os seus, os pa­
zia : "Quem vi­ "O moço, que até ahi nutrira a e,;perança de se ca­ gãos viram em
ve casta e san­ sar com Luzia, vendo-se por ella desprezado, trans­ tudo obra rl·�
formou seu amor em odio, e denunciou-a perante o
ta,mente, é tem­ Governador Puschasio ... feitiçaria. F,>
plo do Espiri­ ram chamados
ta divino." Paschasio: "Si assim é, farei os sacerdotes e magos, para desencantar
com que deixes de ser templo de Deus. o feitiço, mas nada conseguiram. Luzia
e verás como te haverás com a castidade." resistiu heroica e superionnente à todas
Luzia: "Sem a minha vontade a virtude as tentativas dos inimigos. Paschasio
nada soffrerá: Pódes pôr á força in­ ideiou outro plano. Ordenou que des­
censo nas minhas mãos, para que o pejassem sobre a virgem azeite, pixe e

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14 dé Dezembro 485

resma e ateado uma grande fogueira em pa1xoes, principalmente da sensualidade. As


paixões nascem comnosco e crescem com­
redor. nosco, si não houver quem nos ensine a
Outra maravilha ! Subiram as labare­ mortificai-as, a combatei-as, cousa mais
das, e densa fumaça encobriu a figura facil na infancia do que mais tarde, quan­
da donzella, a qual, porém, ficou illesa. do já tomaram algum incremento. A crean­
ça deve comprehender que entre os vicios,
A.o ver isto, Paschasio, encolerizado e os peiores são: a teimosia, a preguiça e o
confuso, deu ordem a um soldado para amor aos prazeres. Como se explica que
que, com a espada, atravessasse a gargan­ hoje bem poucas mães compartilhem das
ta daquella, que, jubilosa e triu.mphante, idéas e princípios de Santa Luzia ? Porque
tiveram educação errada. Em vez da pra­
exhorta,·a aos assistentes do espectaculo, tica das virtudes, foram educadas na sen­
a que abandonassem os falsos idolos. A sualidade, na vaidade, no orgulho e na prt­
ferida foi mortal. Luzia entregou o es­ guiça . Os educadores foram pueris, como
ellas mesmas. Si um cego guia outro cego,
pírito a Deus, para receber a palma do acontece que ambos cahirão na cova.
victorioso martyrio. Tal aconteceu em
303. A prophecia que fizera aos chris­ Santos do Martyrologio Rornano, cuja me­
tãos, de ter chegado ao termo a perse­ rnoria é celebrada hoje:
guição, wrifícou-se. O corpo da santa Em Cambrai, o bispo Santo Auberto, bis­
martyr foi sepultado em Syracusa e po de Cambrai e Arras. E' padroeiro dos pa­
mais tarde transportado para Constanti­ deiros e protector de creanças rachtlcas.
G69.
nopla. O tumulo está hoje em Veneza. Em Strassburgo, Santa Otilia, filha do
duque alsaciano Attico, fundadora de diver­
REFLEXÕES sos conventos. Segundo a lenda teria nasci­
A vida de Santa Luzia é a prova elo­ do cega e por causa deste defeito o pae a
quente da grande influencia que sobre o teria exposto. Um moleiro, que achou a cre­
homem tem º
a educação, que recebeu na in­ ança, a educou até á edade de 13 annos. Du­
iancia. E certo que as impressões, os en­ rante as cerimonias do baptismo recuperou
sinamentos e costumes que o homem leva a vista. Muito ainda teve de soffrer de seu
da infancia, são factores importantíssimos pae, que por força queria lhe impôr um ca­
na iormação do caracter e influem pode­ samento. Otilia porém, fugiu novamente
rosamente em toda a vida. E' necessario, para apparecer quando já não existia pe1·i­
portanto, que a creança já apprenda a fazer go. E' padroeira ele Strassburgo e goza de
sacriiicios: é necessario que se lhe mostre grande veneração da parte do 1,ovo catholi­
o grande perigo que ha na adulação da3 co, que a invoca contra molestias dos olhos.

14 de Dezembro

SANTO ESPIRIDIÃO, BISPO


(t 3H)

'E 11 meiados do seculo terceiro nas­
� ceu na ilha de Chypre o grande
do tempo passava em oração e medita-
ção das cousas ele Deus. Repugnava-lhe
Santo Espiridião, celebre pelas assom­ a cqmpanhia ele meninos ímpios, mal
brosas prophecias •e estupendos mila­ educados e perversos. Amigo da paz e
gres. Quando pequeno, pastoreava os ela concordia, da bocca não deixava sa­
rebanhos do pae, que era agricultor. hir palavras m1uríosas, offensivas e
Longe do mundo, das vaidades e da nunca foi visto envolvido em discussões
malícia mundana:s, Espiridião crescia violentas. As armas de que se servia
em virtude e innocencia. Grande parte contra os adversarias, eram a mansidão

Santo Espiridião - Rufino I. Socrates I. Sozomenus I. Athanasio. Apol. 2. Metaphras­


tes, Llppman e Surlus. Assemanl, ln Calend. Unlv. ad 12 Dez.

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486 14 de Dezembro

e o silencio. Si sabia que alguem lhe plica o facto do clero da diocese de Tre­
guardava resentimento, tudo fazia para mithusa, reunido para proceder á elei­
reconciliai-o comsigo. Para ser agrada­ ção de um novo bispo, lembrar-se ele
vel aos paes, casou-se com uma don­ Espiridião e elegei-o. Não houve con­
zdla muito virtuosa. Deus, que aben­ testação nenhuma, a não ser elo proprio
çoou esta união, deu-lhes dois filhos. eleito. Este só se conformou, quando
Em seguida o piedoso casal, com mutuo conseguiram convencei-o de que a elei­
consentimento, offereceu a Deus o sa­ ção era a expressão da vontade ele Deus.
crificio da continencia. Pouco tempo de­ Deus, que revda aos pequenos o que
pois Espiridião enviuvou e não proce­ aos grandes e sabios esconde, encheu de
deu a segundas nupcias. Estava em ple­ grande sabedoria este pobre pastor, que
no furor a perseguição de Galeria Ma­ nunca se occupára com o estudo das
ximiano. Espiridião, que não quiz sa­ sciencias. Espiridião satisfez perfeita­
tisfazer a exigencia dos perseguidores, mente ás esperanças nelle depositadas e
e adorar aos deuses, foi submettido a revelou-se aos diocesanos, clerigos e lei­
torturas cruciantes. Os soldados arran­ gos, cdmo um mestre abalisado da vida
caram-lhe o olho esquerdo e cortaram­ interior e da perfeição. Pela palavra e
lhe a rotula direita e assim mutilado te­ pelo exemplo, exhortava a todos a fugi­
ve que trabalhar nas minas. rem elo peccado e a fazerem penitencia
Com o advento do governo de Cons­ pelos males co1r.,mettidos. Os emolumen­
tantino, recuperou a liberdade, e voltou tos do rnunus •episcopal, distribuía na
á primitiva occupação de pastor. Uma maior parte pelos pobres. De grande ef­
vez viera1m ladrões, que aproveitando-se feito foi a sua collaboração no Concilio
ela escuridão e do silencio ela noite, qui­ de Nicéa. Pela humildade e a palavra
zeram roubar ovelhas. Deus os castigou, inspirada confundiu os oradores ,arro­
fulminando-os com utna paralysia, que gantes da heresia. Espiridião morreu
não lhes permittiu dar mais um passo santamente em 347.
adiante, até que o santo pastor os liber­
tou da critica situação. Despachando-os, R.EFLEXõES
deu-lhes Unl cordeirinho a titulo de re­ Os contemporaneos de Santo Espiridião
con1pensa, pelo bom serviço que lhe elogiavam-lhe a mansidão, o espírito con­
prestaram, em terem lhe guardado tão ciliador, que detestava a rixa e contenda.
bem o rebanho. - "A paz seja comvosco" era a saudação
Em casa de Espiridião era praticada que Christo dirigia aos Apostoles. A paz, a
a hospitalidade christã. Embora pobre, concordia, em uma palavra, a caridade é o
não queria que algo faltasse áquelles signal pelo qual se distinguem os discipu­
los de J esqs Christo. Si queres ser amigo
que lhe déssem a honra ele procurar-lhe
de Nosso Senhor, evita a discordia e a
a hospedagem. O jejum, em tempo
contenda. Quando se te offerecer occasião
marcado pela Egreja, era observado-.it:om
de apaziguar os animos, aproveita-a pru­
todo o rigor, por elle e a familia. Acon­
dentemente. "Bemaventurados os pacificas
teceu que em dia de j,ejum tivesse um
- diz Nosso Senhor, -porque serão cha­
hospede. Sendo a meza mais magra que
mados filhos de Deus." - Si os pacificas
em outros tempos, ordenou que ao hos­
pede fosse preparada uma refeição mais são chamados filhos de Deus, os violentos,
os perturbadores da paz, os mexeriqueiro·,.
regalada.
os calumniadores e diffamadores, de quem
A vida santa de Espiridião e os san­ serão filhos ? "Si são chamados filhos de
tos exemplos que dava, attrahiram a Deus aquelles que amam a paz e a procu­
curiosidade e a admiração de muita gen­ ram, malditos e malaventurados serão ch:i­
te. Era-lhe o nome respeitado e venera­ mados os semeadores da discordia, os ini­
do em toda a redondeza. Assim se ex- migos da paz." - (S. Vicente Ferrer).

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15 de Dezembro 487

Santos do Martyrologio R111nano, cuja me­ Rheims. Morreu na perseguição dos Vanda­
moria é celebrada hoje: los. Sua oração preservou a cidade da pes­
Em Rheim><, o martyrio do bispo Nica,;io e te, quando a França toda era avassalada
de sua Irmã, Santa Eutropia, virgem. São por esta epidemia. E' padroeiro contra a
Xicasio é o constructor da basilica de pe1<te e o colera. sec. 5.

15 de Dezembro

SANTA CHRISTIANA
(t Seculo IV)

C OBRE esta Santa lemos no Marty­ esperança alguma de salvar a vida dos
� rologio romano o seguinte top1co : illustres doentes, recorreram ás orações
·'Na Iberia, além do Mar Negro, vive a de Christiana, que realtnente conseguiu
n1ernoria da santa empregada Christiana, de Deus o restabelecimento de ambos.
a qual, no tempo de Constantino, pela Para n1anifestar seu reconhecimento, o
Yirtude dos milagres, conduziu o povo á Rei offereceu a Christiana ricos presen­
fé christã." Christo, que escolheu doze tes, os quaes esta rejeitou, declarando
"--\postolos, aos quaes o mundo deve a que recompensa esperava só de Christo,
conversão, s1erviu-se de uma simples em­ seu Senhor. Insinuou, porém, ás majes­
pregada, para converter um reino á san­ tades a ideia de abandonarem a idolatria
ta religião. Christiana, a Santa de que e abraçarem a religião daquelle Deus,
se trata, por occasião de uma invasão a que tão grande beneficio deviam. Si
que poyos barbaras da Armenia fizercw.n bem que o Rei não se mostrasse contra­
nos paizes vizinhos christãos, cahiu nas rio, não se animou a dar este passo, te­
mãos dos inimigos e por elles foi ven­ mendo a ira do povo. A conversão, p0-
dida, como escrava, a um patrão crucle­ rém, preparou-se-lhe de um outro mo­
iissimo e deshumano. Com resignação e do. Por occasião de uma grande caça­
admiravel paciencia, acceitou Christiana da, aconteceu que o Rei e a comitiva
a triste sorte, na convicção de cumprir fossem surpr,ehendidos por uma grande
assim a vontade ele Deus. Embora ro­ tempestade. Trevas espessas envolviam
deiada de elementos pagãos, ficou fiel o Jogar onde estava:111, e raios formida­
ás praticas religiosas. A' medida que veis rasgavam as nuvens. Todos procu­
cresciam os perigos e soffrimentos, au­ ravam um abrigo seguro e, na ancia de
gmentava Christiana as obras ele pieda­ salvar a vida, ninguem mais se lembra­
de e ni:ortificação. Aos pagãos não po­ va do Rei, que, abandonado por todos,
dia passar desapercebido o modo de vi­ s<; achava exposto ao maior perigo.
ver tão differente do seu. Christiana res­ Nessa afflicção, invocou os deuses, um
pondia aos que a interpellavam: "Sou por um, sem que fosse attendido. Lem­
christã e meu empenho é servir a Chris­ brou-se então do Deus de Christiana, ao
to, meu Deus." Onde se clava occasião, qual fez o voto de conversão, si o sal­
Christiana a aproveitava, para familia­ vasse da morte segura. Imniediatamen­
rizar os pagãos com as icléas christãs. de cessou a furia dos ele1nentos, as nu­
Aconteceu que a Rainha e o Príncipe vens se dispersaram e voltou a sereni­
herdeiro cahissem gravemente doentes. dade.
A doença zombava de todos os recur­ O Rei cumpriu a palavra e converteu­
sos medicas. Quando já não havia mais se, no que foi imitado pelos membros

Santa Ohristiana - Rufino. I. e. 10. Socrates. Sozomenos, Theodoret. Hist. I.

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488 15 de Dezemhro

da familia e os vassallos . Christiana te­ Saiba que sem licença do Bispo, não lhe é
ve a grande satisfacção de servir de ca­ licito ler a bíblia, o catecismo, livros de
techista para toda familia real e prepa­ canticos e outras publicações religiosas dos
protestantes. Convença-se, além disso, que
rai-a á recepção do baptismo. Por indi­ não ha cousa mais ingrata do que entrar
cação da donzella, o Rei mandou UJ111a em discussão religiosa com hereges. Discus­
mensagem ao Imperador Constantino, na sões religiosas são mais prejudiciaes do que
qu al ped i a uteis. Permane­
missionar i o s, cer por mais
para a prega­ tempo numa ca­
sa protestante,
ção do Evan­
não é aconse­
lho. !havei. Deve
Assim wna hàver motivos
nação inteira muito g r aves
se c o nverteu que justifiquem
ao Christianis­ esta resolução,
mo, cm virtu­ sem o que dif­
de das oraçõea ficilmentc dei­
de uma pobre xaria de ser
peccado, por
escrava. causa do perigo
Não se sabe que ha, de per­
o ,mno e a da­ der-se a fé, na
ta da morte de conv i v e n c i a
Chr i s t ia n a, com os hereges.
mas certo é Santa Chris­
qu e .morreu tiana vivia no
con.o v I v,eu : meio de gente
piedosa e san­ dcv a s s a, sem
ta'.mente, e por entreta n t o se
Deus foi rece­ macular. Si as
bi da nos eter­ condiç õ e s da
vida obrigarem
nos tabernacu­
uma pessoa á
los. con v i v e n c i a
REFLEXõES com semelhante
Santa Chris­ especie de pes­
tiana serviu co­ soas, r e c o m­
mo empregada me n d e - s e a
n u m a familia Deus e cumpra
pagã, circums­ o dever. Ha­
tancia esta que vendo boa von­
em nada lhe in-• tade e firmeza
fluiu na vida
christã e nos de caracter, a
exercic i o s de Santa Christiana graça e o auxi­
piedade, c u j a A oração fervorosa da Santa faz com que uma crean­ lio de Deus não
pratica lhe era ça doente recupere immediatamente a saude. faltarão.
familiar. Si um
empregado catholico, forçado pelas cir�
cumstancias, deve prestar serviços em uma Santo do Martyrologio Romano, cuja me­
familia acatholica, não dispense pratica ne­ moria é celebrada hoje:
nhuma que a religião, a fé exigem. Pelas Na Tunisia, a morte do bispo octogenarlo
palavras e obras se revele sempre o catho­ Valeriano. Na perseguição dos vandalos re­
lico consciencioso. Que não se perturbe cusou-se energicamente a entregar o Inven­
com os ditos ironicos e sarcasticos; que tario de sua Egreja. O Rei ariano Genserico
não se desoriente com as criticas sardoni­ expulsou-o da cidade, expondo-o â maior
cas de pessoas que não são de sua religião. mlserla. 467.

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16 de Dezembro 489

16 de Dezembro

SANTA ADELAIDE-
(t 999)

ft biographo desta Santa foi Santo victima indefeza e encarcerai-a mun


� Odilon, que a conheceu pessoal­ castello do norte ela Italia, onde soffreu
mente. Da sua obra é tirado o que se não só as rnaiores e mais duras priva­
segue: ções, como tambem os máos tratos ela
Menina ainda, Santa Adelaide, prin­ parte de ,villa, mulher de Berengario,
ceza de sangue crea t u r a de
r e a 1, experi­ ·pessimos sen­
me n t o u a timentos.
am:argura do Embo ra
cami n h o rio Aclelai d e se
soffrin1, e n t o. sujeitasse por
Orphã com 6, algum tempo
enviuv o u - s ·e a c o n d ições
com 19 annos, tão indignas,
tendo sido es­ aproveit o u a
posa de Lo­ prim'eira occa­
thario, R,ei da sião que se lhe
Italia, envene­ offerecia, de­
nado pelo du­ vido á valiosa
que Berenga­ cooperação do
rio, comlo ge­ capcllão Mar­
rahne n t e se tinho, p a r a,
crê. Obedeceu em companhia.
este acto ao ela fiel empre­
pl,ano de apo­ gada, fugir ela
dera r - s e do pri s ã o. Era
throno da Ita­ in d i c a d a a
lia e obrigar a maior cautela,
jovien viuva a e assim passa­
contrahir ma­ ram as fugiti­
trimonio com vas horas ele
o filho do du­ angustias, re­
que, ao que ceiando cahir
Adelaide fir­ novame· nte nas
m.eme n te se garra:s do al­
oppôz. E s t a goz. Deus, po­
'f"es i s t e n ci a rém, as prot,c­
custou-! h e a geu. Um pes­
liberdade, pois cador apiedou­
dete rmin o u Santa Adelaide se dellas e
Berengario a Santa Adelaide, acompanhada de seu fiel capellão p r eparou-lhes
Martinho, foge das iras e perseguições do usurpador
apoderar-se da Berengario. uma refeição

Santa Adelaide - Hei!lgenlegende de Lourenço Beer.

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490 16 de Dezembro

frugalíssima, rn:ws sa· borosa, pois tinham como si esta esbanjasse os bens da co­
passado um dia sem trnnar alimento de rôa, em doações a conventos e pobres.
•especie algulma. Emquanto estavam tra­ A cairnpanha tornou-se tão forte, a at­
tando ele re, staurar as forças, chegou mosphera que se creou em volta de
o 11argrave Appo com sua gente e, como Aldelaicle era tão pesada e ameaçadora,
Adelaide conhecesse a lealdade e os que Othão se decidiu a exigir da mãe
bons sentimentos deste principe, accei­ que se retirasse. Foi esta a victoria da
tou-lhe a generosa proposta e foi com nora antbiciosa e tyrannica sobre a sogra
elle ao Castello ele Canossa. humilde e caridosa. Adelaide procurou
Era Othão Imperador ela Allernanha. primeiro um abrigo na Italia e depois na
Foi a elle que Adelaide se dirigiu, im­ terra elo irmão, na Borgonha. Si foram
plorando protecção contra o injusto e grandes os soffrimentos que lhe vieram
incorrecto procedimento de Berengario, da perseguição ele Berengario e de Wil­
que se tinha apoderado dos bens e a per­ la, a ingratidão do filho mais profunda­
seguira tenazmente. Carna ao mes11110 mente lhe feriu o coração maternal.
tempo o Papa lhe dirigisse egual pedido, Com a sahicla ela mãe, a benção do
ele pôr term:o á politica nefanda de Be­ céu parecia ter se retirado da casa e do
rengario, na Italia, Othão resolveu governo de Othão. Onde reinára a paz
transpôr os Alpes, e, á frente de um e felicidade, via-se o campo entr,egue á
grande exercito, atacar o criminoso injustiça, á arbitrariedade, ao luxo, á
usurpador. Berengario fugiu. O Impe­ leviandade e discordia. Majolo, o santo
rador, servindo-se da fidelidade incon­ abbade ele Cluny, estando a par dos acon­
dicional elo Capellão Martinho, não só tec�rnentos, com franqueza apostdlica
offereceu, por interrnedio elo mesmo, a abriu ao Imperador os olhos sobre o
Adelaide a liberdade, mas pediu-a em procedrmento incorrecto que tivera pa­
casamento. Adelaide deu consentimento ra com a mãe. Essas palavras moveram
e assim do abysmo de miseria, foi, ele Othão a;o arrependimento. Adelaide re­
um dia para o outro, elevada ás culmi­ cebeu convite para ir a Pavia, com o
nancias do poder e grandeza. Hontem fim de encontrar-se com o filho Impe­
maltratada nas subterraneos ele uma pri­ rador. Depois de uma separação de dois
são lugubre, accossada como um animal annos, mãe e filho se abraçaram com
ele caça, foi inesperadamente collocada grande co1mmoção. Estava restabelecida
no throno, na qualidade de esposa do a paz ,e Othão nunca mais se separou da
príncipe mais glorioso e poderoso d'a­ santa mãe. Poucos annos viveu depois
quelle tempo. Passarann-se annos de deste facto. Não tendo o filho, Othão
mais perfeita felicidaele e de uma vida III, a idade exigida pela lei para assu­
virtuosíssima, ao lado do imperial espo­ mir o governo, a mãe Theophania, assu­
so, quando este lhe foi arrebatado pela miu a regencia. Com a elevação de Theo­
inexoravel morte. Succedeu-lhe no ÜJ,ro­ phania ao poder, recomeçou a via sa­
no o filho Othão II. Emquanto se dei­ cra para Adelaide. Para 1nostrar o des­
xava guiar pelos sabios conselhos ela prezo, que votava á sogra, Theophania
santa mãe, tudo ia bem e o governo era disse uma vez aos aduladores : "Si
por Deus abençoado. Isto, porém, nm­ Deus me der mais um anno de
dou quando a mulher Theophania, prin­ vida, garanto-vos que o poder de Ade­
ceza de origem grega, começou exercer laide não será mais elo que sobre
grande influencia sobre o coração do um palmo de terra." Não tinham
Morrarcha. Si be!n� que este a principio passado quatro semanas e Theophania
resistisse, pouco a pouco deu credito ás já não mais pertencia ao numero dos
accusações malsãs e suspeitas indignas vivos e Adelaide succedeu-lhe na regen­
que Theophania e respectivos partida­ cia. Chegada ao poder, Adelaide nenhu­
rios levantaram contra a veneravel mãe, ma vingança praticou contra os inimi-

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17 de Dezembro 491

gos. Que o coração da santa Imperatriz prosperidade, paciente e conformada na ad­


versidade, sobria e modesta no comer e
estava longe de idéas vingativas, prova vestir, constante na pratica dos exercícios
a grande caridade com que tratou duas de piedade, penitencia e caridade, era Ade­
iilhas de \Villa, sua maior inimiga, as laide o modelo de uma perfeita christã.
quaes, tendo ficado orphãs de pae, fo­ Collocada sobre o throno, o orgulho não
lhe tomou posse do coração e das virtudes
ram por Adelaide convidadas a viverem nenhum reclame fez. A lembrança dos
em sua companhia e tratadas como fi­ peccados não a entregou ao desanimo ou
lhas. ao desespero, como tambem os bens deste
Corno regente, soube Adelaide muito mundo: honra, magnificencia e gloria, não
conseguiram perturbar-lhe a paz da alma,
bem coordenar as obrigações políticas e porque em tudo se baseava sobre o funda­
religiosas. Partindo elo principio: que a mento de toda santidade: a humildade.
felicidade e prosperidade ele w11a nação Firme na fé, era imperturbavel sua espe­
depende da benção de Deus, procurou rança."
Oxalá Santa Adelaide encontre entre as
implantar na alma do povo o santo te­ mães de familia muitas imitadoras das vir­
mor de Deus, fazendo empenho para tudes e perfeições que a distinguiam. Mães
que fossem conservados fielmente os de familia desta tempera são a segurança
costumes e usos da vida christã. da religião e da patria.
Presentindo a approximação ela mor­
te, Aclelaicle se retirou para o convento Santos do Martyrologio Romano, cuja me•
benedictino em Selz sobre o Rheno, que maria é celebrada hoje:
fundára, onde passou o resto ela vida Os tres jovens hebreus Ananias, Azarias e
Misael, que foram educados na côrte impe­
no ma10r recolhim:ento e onde entregou rial da Babylonia, mais tarde atirados á
o espírito ao Creador. fornalha ardente, porque se negaram a ado­
rar a estatua de Nabuchodonosor. Protegi­
REFLEXÕES dos pelo Anjo do Senhor, sahiram lllesos da
fornalha e entoaram o celebre cantico "Be­
Xa biographia de Santa Adelaide se lê o nedicite", que ê rezado diariamente pelos
seguinte topico: "No seio da familia mos­ sacerdotes como acção de graças depois da
trava soberana amabilidade, no trato com santa Missa.
extranhos era de uma fidalguia prudente e
reservada; mãe dos pobres, era protectora Em Formia, o martyrio de Santa Alvina,
das instituições ecclesiasticas e religiosas; na perseguição de Decio.
boa e humilde para os bons, era severa em Na Tunisia, na perseguição dos Vandalos,
castigar os máas e os impios. Humilde na o martyrio de -muitas donzellas catho!icas.

17 de Dezembro

SÃO LAZARO
( t Secuk-.,.1 )
� ONHECIDISSIMO é o nome des­ gdalena, nome que lhe veiu do castello
� te Santo, de quem os santos Evan­ de Magdala, por ella habitada depois
gelhos relatam cousas extraordinarias, da morte dos paes. Lazaro era estima­
elas quaes a mais estupenda· é de ter es­ dissimo na sociedade hebréa, devido á
tado morto já quatro dias, e ter sido nobre origem e ás grandes proprieda­
resuscitado por Nosso Senhor Jesus des que possuía em Bethania. Não se
Christo. Lazaro, natural de Bethania, sabe quando Lazaro resolveu a entrar
era innão de Martha e Maria, elas quaes em relações mais intimas com o divino
esta é mais conhecida pelo nome de Ma- Mestre. É provavel que tenha sido um
S. Lazaro - Vogel: Hel!lgenlegende.

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492 17 de Dezembro

dos primeiros cliscipulos. As expressões concederá." Jesus diss-e-lhe: "Teu ir­


de que os Evangelistas se servem, para mão resuscitará." Maria respondeu:
caracterizar as relações de Lazaro com "Sim, sei que re�uscitará na resurreição
Jesus Christo, não deixam duvida ele cio uitimo dia." Jesus disse-lhe: "Eu
que eram muito amigos. De outro mo­ sou a resurreição e a vida; quem cr�
do não se comprehendem as palavras de em nüm, ainda mesmo morto, viverá:
Nosso Senhor: "Lazaro, nosso amigo, e quem vive e crê em mim, não mor·
dorme" e das irmãs: "Senhor, aquelle l'erá jamais. Crês isso?" Ella respon­
a queJm a,maes, está doente!" Jesus dis­ deu: "Sim, Senhor, creio que sois o
tinguia esta familia com sua amizade, Christo, o Filho de Deus vivo, que vies­
visitava-a frequentes vezes e hospeda­ tes a este mundo." Diz,endo estas pala­
va-se-lhe em casa. Os santos Padres vras, Martha entrou e disse· a Maria, su8.
descobrem o motivo desta amizade, q11e irmã: "O Mestre está ahi e chama-te."
não foi outro senão o mesmo que ligava Maria levantou-se e pressurosa foi a,1
Jesus a S. João Evangelista: a vicia san · encontro de Jesus. Os Judeus, que, com
ta e virginal. Opinam que Lazaro ser­ ella estavam em casa, disseram: "Elb
viu a Deus em perfeita castidade e q11e vae ao sepulcro para chorar.'·' Chegado
Magdalena, cuja vicia era bem diff':'ren­ perto de Jesus, prostrou-se-lhe aos pé;
te da dos dois irmãos, tenha obfr!o a e disse-lhe: "Senhor, si tivesseis estad0
graça da conversão •em virtude ele ;,r:i - aqui, meu innão não teria morrido."
ções ele Lazaro e Martha. Quando Jesus lhe viu o pranto e o dos
O mais extraordinario que aconteceu Judeus, que a acompanhavam, pergun­
com Lazaro, foi sua morte e re­ tou: "Onde o sepultastes?" Dissera111-
surreição, em condições tão singulares. lhe: "Vinde e vêdc." E Jesus chorou.
S. João Evangelista relata este facto, Então os Judeus disseram: "Vêde, co­
com todos os pormenores, no Cap. 11. cio mo o amava!" Jesus chegou em face do
seu Evangelho. Eis a narração evang� - tumulo; era uma gruta e uma pedra ta­
lica: "Lazaro, irmão de .Maria e Mar­ pava a abertura. Jesus disse-lhes: "Ti­
tha, cahiu doente em Bethania. As duas ·rae a pedra." Martha, a im1ã do morto,
irmãs mandaram dizer a Jesus : "Se­ disse-lhe: "Senhor, já exhala máo chei­
nhor, aqueUe a quem amaes, está doen­ ro; pois já lá se vão quatro dias, que
te." Jesus disse : "Esta doença não é de está ahi." Jesus disse-lhe: "Não t' o
morte, mas para gloria de Deus: pois disse já, que si crêres, verás a gloria de
que o Filho será glorificado por. ella." Deus?" Tiraram a pedra. Jesus levan­
E ficou ainda dois dias lá, onde estava. tou os olhos ao céo e disse: "Pae, dou­
Foi só então, que disse aos discipulos: vos graças por me terdes escutado.
"Lazaro, nosso amigo, dorme, vou des­ Quanto a mim, sabia, que me ouvis
pertai-o." Os discípulos disseram-lhe: sempre; mas digo-o por causa da mul­
"Senhor, si dorm!e, está bem." Je�ts, tidão que me cerca, afim .de que creia
poréi1111, falava da morre e disse-lhes en­ que sois vós, que me haveis ·enviado."
tão claramente: "Lazaro nmrreu e cu Depois ele ter assim falado, bradou com
nue alegl"o por vossa causa de não estar voz forte : "Lazaro, sahe ! " No mlesl[no
presente, afim de que acrediteis. Vamos instante o morto sahiu, pés e mãos ata­
vêl-o!" das com faixas estreitas, o rosto cober­
Quando Jesus chegou, Lazaro estava to ele um suclario. Jesus disse-lhes :
sepultado, havia quatro dias. Logo que "Desaitae-o e deixae-o andar."
Martha soube da vinda de Jesus, foi-lhe Temor e admiração apoderaram-se dos
ao encontro e disse-lhe: "Senhor, si ti­ assistentes e muitos creralm em Jesus.
vesseis estado aqui, meu irmão não te­ A noticia deste milagre estupendo cor­
ria morrido. No emtanto, sei que tudo reu de bocca em bocca e formou duas
que quizerdes pedir a Deus, elle vai-o correntes entre os Judeus: de uns, que

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17 de Dezembro 493

francamente reconheceram a divindade to ? Segundo a op1111ao de muitos Santc,s


de Jesus Christo, e de outros, principal­ Padres, foi a vida pura a causa do affecto,
que lhe tinha Nosso Senhor. "Quem ama
mente dos phariseus e escribas, que ain­ a pureza do coração ... terá o Rei por ami­
da mais se encherall11 de adio contra go", (Prov. 22. 11), dizia o Espirita San­
aquelle, cuja morte já tinham decretado. to, já no Antigo Testamento . - De quem
Odio egual votaram a Lazaro. Tendo és amigo: de Christo ou de Lucifer ? A
leYado a effeito o plano t:enebroso con­ resposta só teu coração dará, conforme
tra a vida do grande Mestre, trataram fôr puro ou desprezar a pureza. "Não ha
tambem de livrar-se do amigo do mes­ manjar mais saboroso para o demonin -
mo, cuja presença os incommodava e diz Santo Ambrosio, que o corpo e a alma
do impuro." Euzebio Emisseno, tratando
por ser uma testemunha irrefutavel cio deste assumpto e referindo-se á palavra du
poder omnipotente de Jesus Christo. filho prodigo, que desejava matar a fome
FaltaYa-lhes a coragem <le condemnal-o com as bolotas atiradas aos porcos, escre­
á morte, porque Lazaro era estimadis­ ve: "Os porcos são os máos espiritos, que
simo e de grande influencia no mei0 se sentem bem no m.eio da podridão e na
social de Jerusalém. Occasião propicia lama dos vicias. Os guardas dos porcos s-io
ottereceu-se para afastai-o da Judéa, aquelles que lhes dão tudo que desejam.
quando, depois da morte de Sant'Este­ As impurezas, as obscenidades são as bolo­
vão. uma perseguição obrigou os chris­ tas, com que os cspiritos se satisfazem. E'
com as bolotas que os peccadores querem
tãos a sahirem da Palestina. Lazaro re­ matar a fome; e quanto mais consomem,
tirou-se com as irmãs para J oppe; mas mais fome sentem; quanto mais peccam,
a furia dos inimigos alcançou-os e não mais querem peccar. De quem és, pois,
lhes deu ,;(icego. Os Judeus fizeram-n'os amigo: de Christo ou de Lucifer ?
embarcar num navio destituido ele remo,
leme e Yela, entregando-os ao jogo elas
ondas. _-\ embarcação, guiada por Deus, Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
aportou em Marseille. Lazaro, tendo moria é celebrada hoje:
achado bom acolhimento da parte da Na Palestina, os martyres Floriano, Ca­
população daquella cidade, lá se estabe­ lanico e mais oitenta companheiros, victi­
leceu e ganhou grande parte dos habi­ mas da furia religiosa dos arabes. sec. 7.
tantes á religião de Christo. Em Brigard, na Belgica, Santa Vivina, vir­
gem, de descendencia dos Olsy. Durante mui­
tos annos viveu na solidão com sua empre­
gada. Fundou um convento perto de Bruxel­
REFLEXÕES
-senhor. quem vós amais, está doente·•, las, observando a regra de S. Bento. 1170.
diziam as irmãs a Jesus Christo. Nosso Em Andenne a santa Begga, viuva, filha
Senhor mesmo chama-o amigo. "Lazaro, de Pepino de Landen e casada com Ansegi­
nosso amigo, dorme." Com que e com8 sil, filho de Santo Arnolfo. E' mãe de Pe­
mereceu Lazaro a amizade de Jesus Chris- pino de Heristal. 693.
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494 18 de Dezembro

18 de Dezembro

SANTA OLYMPIAS
(t 410)

11\\ E FAMILIA nobre, nasceu Olym­ casa da santa viuva tinha o aspecto de
�' pias quando se escrevia o anno da g-rande pobreza, e no vestir fugia de tudo
salvação ele 368. Bem cedo perdeu os que pudesse parecer vaidade. As orações
pa!es. Theodosia, irmã de Santo Arrnphi­ eram-lhe continuas e a caridade sem li­
locho, deu-lhe uma educação adequada. mi!!es. S. Jeronymo compara a caridade
Possuindo grande fortuna, não era me• de Olympias com un{ rio, accessivel a
nos clistincta pelo talento e uma formo­ todos, cujas aguas beneficiam a terra e
sura excepcional. Joven ainda, casou-se o mar. Os bens pareciam-lhe inexgotta­
com Netridio, governador de Oonstanti­ veis. A vicia abnegada pem1ittia empre­
nopla, no tempo cio Imperador Theo­ gai-os quasi todos para a gloria de Deus.
dosio. De pouca duração foi-lhe a con­ Houve abusos para com a sua caridade
vivencia com Nitriclio, o qual morreu e S. Chrysostomo aconselhou-a a que,
vinte mez1es depoi'S cio casamento. dando esmolas, não deixasse de syndi­
Não faltaram pretendentes á mão da car a necessidade cio supplicante, conse­
jove, n e fonTJ1osa viuva. O proprio Im­ lho que causou ao Santo muitas inimi­
perador Theodosio favorecia-lhe o ca­ zades. Olympias, porém, tornou-se mais
samento cdm Elpidio, seu primo, de ori­ cautelosa. A' esmola material unia a es­
gem hespanhola. Olympias, porém, re­ piritual, exhortan<lo os pobres a levar
jeitou todas as offertas. Theodosio, por lima vida santa.
um acto de vingança, mandou confiscar Não lhe faltaram grandes provações,
os bens da viuva e administrai-os pelo que Deus permittiu, para acrysolar-lhe
Prefeito da cidade. ainda mais as virtudes e augmentar-lhe
Longe de se irritar por causa desta a gloria no céo. Sobrevi-eram-lhe doen­
arbitrariedade, Olympias agradeceu ao ças dolorosas, calunmias gravíssimas e
Imperador tel-a livrado de grandes ve­ injustas perseguições. Tudo offereceu a
xaanes, inseparaveis ela administração Deus e nunca ninguem lhe ouviu da boc­
de muitos bens. O pedido que lhe diri­ ca uma palavra contra a caridade para
giu foi de repartil-os entre os pobres e com o proximo. Olympias tornou-se
as egrejas, para assim fugir cios movi­ n1oclelo perfeito de santidade, entre os
mentos de vaidade, que tão facil e natu­ christãos do tempo. Em termos elogiosos
ralmente se immiscuem nas obras ele ca­ se lhe rderem os bispos mais celebres
ridacle. da época, como Santo A1mpholocho, San­
Quando o Imperador, depois ele ifma to Epiphanio e S. Pedro ele Sebastc.
ausencia de tres annos, voltou para Nectario, arcebispo de Constantindplla,
Constantinopla, teve ele Olympias as me­ considerava muito a santa viuva e ele­
lhores informações. Todos eram unani­ vou-a á dignidade de diaconiza. S. Chry­
mes em elogiar-lhe a caridade, humildade sostomo, successor de Nectario, teste­
e a santa vicia. Theodosio restabeleceu-a munhava grande respeito a Santa Olym­
no gozo dos seus bens e concedeu-lhe to­ pias. Embora seu director espiritual, não
da a liberdade. quiz incumbir-se da distribuição das es­
Embora fraca de saúde, Oylmpias su­ molas, cdmo o anteoessor o tinha feito.
jeitou-se a uma vida austera. Fazia je­ O nome de Olympias ficou envolvido
jum constante, vigílias permanentes. A na celebre historia da perseguição de S.

Santa Olympias - S. Chrysostomo. Palladlo. Tillemont IX. Raess e Weiss XVIII.

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18 de Dezembro 495

Chrysostomo. Muitos amigos e partida­ ha, minha filha, só uma tentação que de­
rios do Patriarcha foram maltratados, vemos temer, que é o peccado, como mui­
mettidos no carcere e privados dos bens. tas vezes já te disse. Tudo o mais, seja o
que fôr: perseguição, inimizade, fraude,
Entre estes Olympias. Uma das accusa­ calumnia, maledicencia, accusação falsa,
ções levantadas pelo anti-patriarcha Ar­ roubo, perda da fortuna, exílio, perigo de
sacio contra Chrysostomo, foi de ter guerra, mares encapellados, fim do mun­
incendiado a Cathedral. Olympias, in­ do: - tudo isto é como que uma fabula .
terpellada e accusada de cumplicidade Tudo isto é passageiro, interessa só ao cor­
neste crime, respondeu ao Prefeito: po, sem poder prejudicar a alma vigilante.
"�linha conducta até hoje me pareoe ser Por isso S. Paulo, querendo frizar a nul­
a minha melhor defeza. Quem, como eu, lidade dos prazeres e pezares terrestres,
emprega só uma palavra: "O que é visi­
deu muito dinheiro para a construcção
vel, é temporal". (2. Cor. 4. 18) Porque te
de egrejas, não tem motivos para incen­ apavoras de cousas que são transitorias e
diai-as." passam velozes como as aguas do rio ?
Além disto declarou ao Prefeito que Nada do que te acontece., deve parecer­
nunca reconheceria a autoridade de Ar­ te extranho ou exquisito. Convem muito,
que, pelas tentações continuas, se fortale­
sacio, como Patriarcha, sendo este injus­
çam as forças de teu espírito, que assim
to usurpador de uim poder, qure não lhe cria animo para acceitar novos combates,
competia. dos quaes sahirá victorioso e consolado.
Pouco depois um decreto do Prefeito São estes os fructos do soffrimento, com
a condemnott a procurar outro domicilio, que uma alma nobre e valente pode con­
tar... Tudo que soffreste até agora, são
fóra da cidade. Quando mais tarde vol­
teias de aranha, sombras, fumaças e menos
tou a Constantinopla, foi victima da ainda, em comparação com as recompen­
cruel perseguição do Patriarcha. Os sas, que recebeste; pois o que é ser expul­
bens foram-lhe sequestrados, as casas sa da cidade, repellida de todos, proscripta,
soffreram-lhe a pilhagem do populacho. arrastada aos tribunaes, maltratada pelos
Os proprios empregados levantaram-se soldados, soffrer ingratidão de pessoas a
contra a patrôa, suscitando-lhe graves quem fizeste benefícios, soffrer injustiças,
cahmmias e diffalmando-a de um modo - si o céo é o ,premio e com elle, aquella
atroz. Attico, successor de Arsacio, dis­ felicidade, que palavra humana não des­
creve e que não terá fim.
solveu e exilou a com:munidade· de don­
"Tres vezes bemaventurada és, por cau­
zellas, que existia sob a direcção de sa das cousas que ganhaste ou antes por
Ol>mpias. Elm:bora chorasse amarga­ causa dos combates . E' grande vantagem
mente a ausencia do director e mais ain­ que estes combates encerram: antes da re­
da a desgraça que o exilio de João com·pensa publica, já na arena trazem o
Chrysostomo tinha causado em Constan­ galardão, que são alegria de espirito, ior­
tinopla, não se entregou ao desanimo, taleza e paciencia . Recompensa bastante
sujeitando-se em tudo á santa vontade para não se deixar opprimir e, no meio da
de Deus. Deus chamou sua fiel serva tem�stade, ficar immovel comb um roche­
do . E' este o premio da tribulação, que os
aos eternos tabernaculos no anno de 410. pacientes e resignados percebem, ainda an­
Os gregos celebram-lhe a festa no dia tes de entrar na gloria eterna."
25 de Julho; o 'martyrologio romano,
porém, traz-lhe o nome sob a data de 17
Santos do Martyrolor1io Romano, cuja me­
de Dezembro. moria é celebrada hoje:

R.EFLEXõES Na Macedonia os martyres Rufo e Zosimo.


S. Polycarpo os menciona na sua epistola
Admiraveis ensinamentos lemos numa aos Phllippenses. 107.
carta que S. João Chrysostomo dirigiu a
Em Mopsuestia, na Asia Menor, o bispo
Santa Olympias. Essas palavras são gottas Santo Auxencio, ex-official do exercito de
de balsamo no coração ele quem soffre. Licinio. ·Deixou o serviço militar para não
Eil-as: "Não clesanimes; pois só um mal prestar homenagens ao deus Baccho. sec. 4.

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496 19 de Dezembro

19 de Dezembro

São Tímotheo e Santa Maura, Martyres


( t Scculo IV)

'li' IMOTHEO e Maura é o glorioso mada Maura, esta de facto prometteu ao


�JJ.t' casal que no quarto seculo, em 19 governador envidar todos os esfmços
de Dezembro, recebeu as palmas do para conservar a vicia cio marido. Mau­
martyrio. Timotheo era natural de Pe­ ra era christã, mas faltava-lhe a cora­
rape, na Thebaida e recebeu dos paes �cm de soffrer alguma cousa pela fé;
uma educação esmeradamente christã. além disto, tinha um grande amor ao
Era o tempo das perseguições religiosas marido, com quem estava ca:sada havia
e bem implantadas deviam ser as maxi­ tres semanas apenas. Vendo Timotheo
mas ela religião no coração da creança, cm tão miseravel estado, fugiram-lhe as
que mais tarde haveria de defendei-as e forças. Apenas voltando a si, deram-lhe
sustentai-as na lucta contra a heresia. occasião de falar então ao rn:arido, que
Desde bem cedo existiu na alma de Ti­ tinha sido tirado ela columna. Impressio­
motheo o desejo <lo martyrio, aspiração nada pelo que vira, esqueceu-se Maura
esta que depois teve plena satisfacção. das obrigações de christão, e entre solu­
Appareceu em Perape, Ariano, governa­ l:os e lagrimas, começou a insistir com
dor pagão daquella região, com o intuito Timotheo, para que se poupasse e obe­
de exte1,minar o christianismo, Foi dado decesse ás ordens do governador. Timo­
aos christãos um prazo, dentro cio qual lheo, porém, indignado com o modo da
haveriam de abandonar a religião e offr­ esposa, disse-lhe: "Maura, já não te co­
recer incenso aos iclolos. Timotheo foi nheço ! És então pagã ou christã ? É esta
um dos prin1eiros chamados á presença a linguagem de uma esposa educada na
do governador. Declarando que prefe­ religião? Em vez de animar-me, ajudar­
ria antes morrer do qüe se tornar apos­ me a levar a cruz, vens para me des­
tata, negou ta:mbem a entrega dos livros viar? Queres que perca minha alma, em
de religião, dizendo a Ariano: "os livros troca de· um prazer passageiro, que me
são meus queridos filhos; monstro s•e­ livre de um curto 111,artyrio, para soffrer
ria o pae que entregasse os filhos aos penas eternas?"
ini-migos." Esta resposta enfureceu ao Reconhecendo Maura o erro, pros­
tyranno de modo tal, que deu ordem que trou-se aos pés do marido, pediu-lhe
as orelhas ele Timotheo fossem furadas perdão e conselho sobre o que devia fa­
côm ferro em braza. No meio desta tor­ zer. "O que eleves fazer? - respondeu
tura, Timotheo continuou a louvar a Tirnotheo. - Vae ao governador e dize­
Deus em alta voz. Ariano, ainda u,nais lhe que, longe de demover teu marido,
excitado, ordenou então que o nmrtyr estás resolvida a acompanhai-o no mar­
fosse pelos pés pendurado numa. co­ tyrio e morrer com elle." Maura assus­
Iumm.a e amarrada ao pescoço uma pedra tou-se com estas palavras, mas Timo­
pesada. theo animou-a, despertando na alma. da
Houve quem suscita:sse em Ariano a esposa, a confiança em Deus e mostran­
lembrança ele Maura, joven esposa de ' do-lhe o exemplo ele tantas outras Se­
Timotheo, que sem duvida teria grande nhoras ela mesma edade, que prompta­
influencia sobre o martyr e com facili­ mente se sujeitaram ás atrocidades do
dade o moveria á renuncia da fé. Cha- martyrio. Ajoelhados ambos, em oração

SS. Tim.otheo e Maura - Vogel: Heillgenlegende.

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19 de Dezembro 497

fervorosa, pediram a Deus força e gra­ procurar a morte. Adão seguiu o conselho
ça para a lucta. Emquanto rezavam, des­ máo de Eva, cahiu e foi castigado. Achab
fizeram-se os temores na alma ele Mau­ acceitou as insinuações da m,ulher e foi
ra. Resoluta levantou-se, dirigiu-se ao castigado. Mais prudente foi Tim'otheo
que, em vez de acceitar a propost'a de
governador e communicon-lhe que, em Maura, convenceu-a do erro, despertou­
yez de dissuadir o marido, prompta es­ lhe no coração sentimentos de verdadeira
taYa a compar­ contrição. É o
tilhar com elle ,----- - - - - - - -- - -------- exemplo (J u e
deve ser imita­
as dôres do do por todos os
lll'a.rtyrio. Ari­ 1 maridos ma1
ano ma nclou aconse 1 h a d o s
que lhe fos­ 1 p e 1a m,ulher.
, � ' 1 Mas tambem as
sem arranca­ ._ �; , mulheres olhem
dos os cabel­ 1 \ ,,,i' para o exemplo

- 1
_
los, cortados --
de S. T1motheo,
1

os dedos e o quando o ma-


rido as quer
corpo queima­ seduzir para
do com enxo­ um acto que a
fre e pixe. A lei de D e u s
prohibe. Peran­
sentença final, te o tribunal
porém, foi que divino não viu-
J\/fanra, co11110 ' ga a desculpa:
o marido, fos­ foi meu marido
que me aconse­
se crucifioada lhou e eu lhe
e os patíbulos segui o conse­
collocados de lho. Adão des­
maneira q u e culpou - s e di­
zendo: "A mu­
um visse os lher, que me
lsoffrimen t o s déste por com­
do outro. panheira, deu­
me a fructa
Assim mor­ daq uella arvore
reram os dois e eu c o m i".
esposos, uni­ D e u s, porém,
dos pelos laços sem attender á
desculpa, r e s­
do matrimonio pondeu: "Por­
e unidos na que déste ouvi­
morte por 11m dos á voz da
glorioso mar­ mulher e co­
meste daquella
tyrio. arvore, de que
REFLEXÕES eu tinha prohi-
S. Timotheo bido que co­
Maura quiz "Maura, já. não te conheço: És então pagã ou chris­ messes, a terra
suggerir ao ma­ tã? É esta a linguagem de uma esposa educada s eja maldita
rido uma apos­ christãmente? ..." por tua causa
tasia disfarça­ e em teu tra­
da, aconselhando-lhe que fingisse suJe,­ balho". (Gen. 3, 12). Deus castiga ao máo
ção ás ordens do governador. O exem­ conselheiro e a quem lhe dá ouvido.
plo de Eva, que mal aconselhou ao
marido no Paraíso, tem sido imitado e ain­ Santo do Martyrologio Romano, c1ija me­
da o é presentemente por muitas mulheres. inoria é celebrada hoje:
J ezabel deu ao Rei Achab o conselho de
apoderar-se da vinha do pobre Naboth. Da Em Alexandria, no Egypto, o martyr São
mulher o piedoso J ob recebeu o conselho Nemesio. Foi crucificado na perseguição de
de abandonar a Deus, de amaldiçoai-o e Decio.
Na Luz Perpetua 32 - II vol.

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498 20 de·Dezemhro

Em Gaza, na Palestina, a morte de Meu­ Em Roma, Santa Fausta, mãe de Santa


ris e Thea, virgens martyres, ambas mui ve­ Anas.tasia, egualmente distincta pela sua
neradas no Oriente. sec. 4. caridade como pela nobreza de seu sangue.

20 de Dezembro

São Domingos de Sylos


(t 1003)

� DOMINGOS, meimbro da Or­ mais alguns monges. Domingos procu­


�'j dem de S. Bento, celebre pelos rou abrigo em terras do Rei de Aragão
grandes milagres que fazia, nasceu cm e Castella, que era Fernando I. Est,�
Caria, aldeia cio <listricto de Roissa, m monarcha recebeu-o de bracos abertos e
Hespanha. Filho de gente pobre, mas deu-lhe o mosteiro de SyÍos, conven�o
piedosa, Domingos passou a mocida­ celebre em tempos passados e na occa­
de pastoreando rebanhos. A vida paci­ sião desoccupaclo. Ddmingos, com os
fica e monotona de pastor dava-lhe companheiros, tomou posse <lo predio,
muito tempo para rezar e meditar, occa­ reformou convento e egreja, cujo esta­
sião de que Domingos se apmveitava do de conservação recla1mava grandes
constantc:lmente. Assim lhe nasceu no concertos. Deus suscitou muitas vocações
espirita o desejo de levar uma vida só para o convento de Sylos, cujo governn
para Deus e para satisfazer este desejo, esteve nas mãüs ele Domingos durante
cada vez mais forte, abandonou a casa vinte e tres annos. A fama das virtudes
paterna e procurou um sitio muito reti­ espalhou-se-lhe por toda a Hespanha e
rado, onde construiu uma choupana, que Deus operou grandes milagres, por in­
servia de abrigo contra as rudezas termedio do santo religioso.
do tempo. Muito tempo morou na so­ Grande interesse devotava Domingos
lidão, quando resolveu entrar para um aos christãos, que tinham cabido prisio­
convento, onde a alma pudesse ter o be­ neiros nas mãos cios musulmanos. Mui­
neficio ele uma direcção espiritual soli­ tos delles puderam voltar ao seio da fa­
da. Assim se dirigiu ao convento de milia, em -virtude do empenho que o
Santo Emiliano, onde foi recebido co­ santo abbade fazia, para alcançar a li­
mo noviço. Os progr·essos que fez, na bertação dos infelizes.
ascese e na theologia, foram tão accen­ Deus revelou-lhe antecipadamente a
tua<los, que poucos annos depois foi hora do passamento, dando-lhe desta
admittido ás ordens sacerdotaes, e m,ais maneira tempo e socego para se prep.1-
tarde eleito superior da comnTu:.:ni­ rar para a morté, que não tardou. Aos
dade. Si aos irmãos de Ordem dava o religiosos deu muitos e preciosos ensina­
mais brilhante exemplo de verdadeiro mentos, fez ainda umas prophecias, ",
religioso, a avareza de um Rei de Navar­ abraçado com a imagem do Crucificado,
ra fez com que tivesse de abandonar o morreu socegadamente em 1003.
claustro. Motivou este acto de violencia
a cobiça indomavel do monarcha, o qual, REFLEXÕES
não podendo alcançar por via de prn­ S. Domingos fazia muita caridade aos
mcssas e blandicies que Domingos Jh,, injustamente encarcerados, conhecendo o
entregasse os thesouros do convento, re­ grande perigo em que se achavam, de per­
derem a fé. Visitar os encarcerados e suavi­
correu á força brutal e expulsou-o, com sar-lhes a triste sorte é uma obra de mise-

S. Domingos de Sylos - Vogel: Hei!igenlegende.

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21 de Dezembro 499

ricordia. Si a maior parte dos presos me­ encarcerados, como si estivesseis presos
recem o castigo que estão soffrendo, casos com elles." (Hebr. 13. 3.)
pode haver tambem de pobres encarcera­
dos soffrerem as consequencias de uma Santos cuja rnemoria é celebrada hoje:
sentença injusta. Estes mais ainda são di­ Em Alexandria os soldados Ammon, Zeno,
gnos de pena. O demonio por sua vez, não
os poupa e suggere-lhes idéas de vingan­ Ptolomeo, Ingenes e Theophllo. 249.
ças, inspira-lhes odio a Deus e não raras Na Rhenania, Allemanha, o martyr São
vezes, os leva ao desespero. Obras de cari­ Julio. sec. 4.
dade feitas a encarcerados, Deus Nosso Se­ Na China, durante os dlsturblos dos bo­
nhor considera-as feitas a sua propria pes­ xers (1898-1900-----j]_904) morreram cinco bis­
soa. Si de outra maneira nada· podes fazer pos, 32 sacerdotes e mais de 20.000 catholl­
cm beneficio dos encarcerados, lembra-te cos, fusiiados, entcr1·ados vivos, ou estran­
delles pelo menos em tua oração. O Apos­ gulados. Está iniciado o processo de beatifi­
tolo S . Paulo escreve: "Lembrae-vos dos cação destes martyres.

21 de Dezembro

S. THOMÉ, APOSTOLO
1\t?lo significativo o facto de a Egreja
W catholica celebrar a festa do
tou discípulo e amigo de Jesus Christ,1.
Na occasião em que este recebeu o rec:t·
Apostolo S. Thomé no dia 21 de De­ do das innãs de Lazaro: "Senhor, quem
zembro, isto é, antes do Nascimento dP. amaes, está doente" e Jesus disse aos
Jesus Christo. E' como si S. Thamé ti­ Apostolos: "Vamos á Judéa",- resolu­
vesse de preparar o espirito dos fieis, ção a que estes se oppuzeram, pelo pe­
para dispôl-os a acreditarem naquellc rigo de Jesus ser apedrejado pelos j u­
Deus, que, ainda occulto, está prestes ;;, cleus, foi Thomé quem disse: "Vamos
apparecer no silencio da noite. Entre e•<; com elle, para com elle morrermos."
Apostolos, é S. Thomé o unico que exi • Na ultima ceia falou Jesus da sua ida
giu provas irrefutaveis para crêr na Re­ ao Pae, das muitas moradas no ceu e da
surreição do Divino Mestre. Não nus é intenção que tinha de preparar lá um
licito censurar a attitude energi�a e rc logar para os Apostolos; "quando eu
soluta do Apostolo, quando disse ans tiver ido e preparado ttm logar para vós,
companheiros do Collegio Apostoli-:0 . voltarei e vos levarei camlmigo para que
"Elmquanto eu não vir nas suas mãos a estejaes onde estou. Para onde eu vou,
abertura cios cravos, e não metter o meu vós o sabeis, como tambem sabeis o ca­
dedo no lugar dos cravos, e não metter minho." Thomé respondeu: "Senhor,
a minha mão no seu lado, não hei de não sabemos para onde quereis ir e co­
crer." (J o. 20. 25). A esta reserva, a n;i,o é que podemos saber o caminho ?"
esta precaução, digamos mesmo incre­ Jesus, porém, disse: "Eu sou o cami­
dulidade, elevemos uma das provas mais nho, a verdâtle e a vida. Ninguem che­
claras e convincentes da Resurreição de ga ao Pae a não ser por mim." (Jo, 14) .
T esus Christo. Apezar de Thdmé ter-se promptifica­
· Thdmé, cognominado Didymo, isto .S, do a morrer com o Mestre, a· prisão e
gemeo, era natural da Galiléa e como crucificação do mesmo desanimaram e
alguns outros Apostolos, pobre peso• desorientaram-n'o tanto, que não quiz
dor. Escolhido pelo Divino Mestre e po,· mais lhe acreditar na Resurreição, ape­
elle aclmittido ao Collegio dos clov� zar dos outros Apostolos, radiantes e
Apostolos, Thomé sempre se manife,. jubilosos, lhe asseverarem que o Mes-

S. Thomé - Tillemont L Buttler XII. ss. Evangelhos.

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500 21 de Dezembro

tre tinha resurgielo dos mortos. Thomé Sobre este episodio escreve S. Gre­
não lhes pôz em duvida a sinceridade, gorio Magno: "A incredulidade ele Tho­
mas suppunha que 9s companheiros tal­ mé e a ordem que este Apostolo de
vez tivessem precipitadamente dado cre­ Jesus recebeu, de tocar-lhe nas chagas,
dito a informações insufficientemente não foi t�m acaso, mas alto desígnio de
comprovadas, ou tivessem sido victiimts Dens. O discipulo que, duvidando da
de uma mysti­ --------, mResurreição do
ficação di,abo­ --~1 '··, estre, poz as
lica. Dahi a _, mãos nas cha-
declaração pe­ 1 '
gas do m:esmio,
re 111 p t o ri a: curou com is­
"Enl(JUanto eu to a ferida ela
não vir nas i n credulidade
mãos o signal ela nossa alma.
elos cravos·' A incredulida­
emq uanto eu de ele Thomé
nã,o p u z e r foi para nós
me u s dedos de vantagem
nas chagas e mmor que a
mi'llha mão 110 i fé elos demais
1 a elo, não A pos t o los;
creio". Passa­ porque, t o r-
dos oito dias. nanelo-se cre­
1

Jesus satisf� clulo, pelo con­


ª ex i g encia tacto das cha­
do Apostolo, g as, consoli­
a P o strophan­ dou a nossa
clo-o e convi­ fé, h an i ndo
dando-o a que qualquer duvi­
lhe puzesse os da". S a n t o
dedos nas cha- Agostinho diz,
gas das mãos a respeito ela
e c heg ass� �ncsma ques­
perto, p a r a tão: "Thomé,
pôr a mão na homem santo,
chaga cio lado justo e leal,
e que désse exigiu tudo is­
credito á sua so, não porque
Resurr e i ç ã 0 duvidasse, mas
verd a d e i r a. S. Thomé, Apostolo
p a r a excluir
Deante deste "Meu Senhor, e meu Deus'."
qualquer sus­
facto, vendo­ peita de super­
se na pres·ença de quem reconhecia como ficialiclacle. Era-lhe bastante vêr aquelle
:Mestre, Thomé não persistiu na incre­ que conhecia; mas para nós era neces­
dulidade e, prostrando-se deante de Je­ sario que tocasse naquelle que via, para
sus, profundamente o adorou e disse: que ninguem pudesse dizer que os olhos
"Meu Senhor e meu Deus !" Jesus o enganaram, quando não era possível as
fel-o levantar se e disse-lhe com bonda­ mãos o enganarem."
de: "Por me teres visto acreditaste, Na divisão cios Apostolas coube a
Thomé, bemaventuraclos aquelles que, Tbrnné a terra cios Parthas, povo que
embora não vejaim, acreditam." occupava a Persia e que nunca se sujei-

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22' de Dezembro 501

:-::m ao poder de Roma. E' provavel que que a pessoa que reie1ta ou põe em duvida
um só artigo da fé não é mais catholico. O
Thc,mé tenha pregado o Evangelho na catholico deve confessar todo� qs artirro,:
bdia, onde S. Francisco Xavier ainda do Credo, por mais insignificantes que lhe
::i.) seculo XVI encontrou vestigios da pareçam. Deus ·é infallivel tambem nas cou­
Egreja alli fundada pelo santo Apos­ sas pequenas . Negar um ou outro artigo
da fé é dizer: Deus errou ou foi engana�
:_,:o. Julga-se que S. Thomé tenha mor­ do; ou então: Deus não é verdadeiro; en­
rid0 martyr pela fé do divino Mestre. sina-nos cousas erradas. Pouco importa
�a quem diga e sustente (com que pro­ agora, si u artigo em questão é de impor­
·:ac'. não conseguimos descobrir) que tancia ou não.
S. Thomé tenha sido o primeiro Apos­ Dizer que Deus se enganou ou quiz en­
ganar em cousas leves, é offendel-o mais
:.:ilo dos indigenas do Brasil e elo Perú. do que lhe attribuir erro em materia grave.
Diz-se, que numa praia ela Bahia existe O catholico que hega uma verdade da fé,
:.i.'11a. grande pedra bem lisa, que apre­ é como Thomé - incredulo; é desobedien­
�enta a impressão de dois pés humanos. te, como aquelle que observa nove manda­
mentos da lei de Deus, desprezando um.
?fflra a que os inclios clera1111 o nome de Aos incredulos acontecerá o que Jesus
Sumé, palavra na qual muitos querem Christo disse: ·'Quem não acreditar ao Fi­
reconhecer uma corruptela de Thomé. lho, não verá a vida e sobre elle ficará a
A. arte christã apres·enta São Thomé ira de Deus.•· (J o. 3. 36.)
com uma lança, instrumento do seu mar­
tyrio. Foi a lança que o uniu para s·em­
pre ao divino Mestre, em cujo lado, Santos cu,Ja memoria é celebrada hoje:
aberto pela lança, o Apostolo • puzera a
Em Antioehia, o bispo-martyr 8anto
mão. Artistas ha que o apresentam com Anastacio, no tempo do Imperador Phqcas,
um esquadro na mão, querendo assim assassinado pelos judeus. 609.
symbolisar a rectidão e sinceridade do Em Nicomedia, na perseguição de Diocle­
caracter do grande Apostolo. ciano, o sacerdote Glyeerio; morreu quei­
rr(ado. 303.
REFLEXõES Em Cochinchina, o bemaventurado Fran­
Jesus chama a Thomé de incredulo, por­ cisco Jaccard, do Seminario de Paris, e o
que este negara a fé a um unico artigo - seminarista Thomas Thien, estrangulados em
a Resurreiçãu de Jesus Christo. E" certo 1883 .

22 de Dezembro

S. FLAVIANO, MARTYR
( t Seculo
..,I\T)
FLAVIANO, pae das Santas perador, destinando-o para o cargo im­
Bibiana e Demetria, esposo ele portante de goy,ernador de Roma. Pon­
Santa Da frosa, pertencia á alta aristo­ tualissimo no dese111ipenho das funcções
cracia romana. Os brilhantes dotes in­ de�se minisrerio, Flaviano sernpl'e e cm
tellectuaes e moraes, a sy:mpathia de tudo visava tarnbem a pmpagação ela
que gozava entre o povo, o alto conceito fé catholica entre os suhclitos.
em que o tinha o Imperador Constan­ Pela morte de Constantino o Grande,
tino o Grande, tudo isto o elevava mui­ seu filho Constancio ton11ou as r.:de;i,; c!u
to acima do nível da Yulgaridade e mais Governo. Casado com uma princeza im­
acertada não podia ser a escolha do Im- pia, Constancio deixou-se por ella levar

S. Flaviano - Surius. Vogel: Heiligenlegende.

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502 22 de Dezembro

a favorecer o Arianismo e a perseguir lhe na testa o ·sello da vileza, o estygma


os catholicos de uma maneira tão bar­ da escravidão. Si era grande a clôr,
bara, que em nada cedia ás perseguições 111:aior era a vergonha, o insulto. Flavia­
decretadas pelos Imperadores pagãos, no, entretanto, deu desprezo ao acto cio
seus antecessores. Flaviano tudo fazia juiz, dizendo-se feliz em receber tama­
para confortar e animar os catholicos e nha honra, que nunca recebera outra se­
defendeu valorosamente a divindade de melhante.
Jesus Christo contra os erros de Ario.
Esta attitude franca desagradou swnma­ Plano e desejo de Aproniano era ap­
mente ao Imperador, que em seguida lhe plicar-lhe outras torturas, mas a cir­
decretou a demissão. Flaviano, que, co­ cumstancia de Flaviano possuir m1uitos
mo antes, gozava da estima do povo in­ an�igos entre os proprios pagãos e J�
teiro, sujeitou-se á detenninação humi- existir o perigo de Uíma revolta, fel-o
1hante da autoridade e sentiu-se feliz em confiscar-lhe os bens e mandai-o ao exí­
poder soffrer alguma cousa por amor lio, o que entretanto não impediu qu·�
de Jesus Christo. désse ordem ás autoridades do Jogar n
que se destinava Flaviano, para que o
Constancio morreu e para substi­ maltratassem ele toda a maneira, e tudo
tuil-o no throno imperial appareceu J u­ fiz·ess>em paira que em breve prazo mor­
lião, o Apostata, inimigo figadal cio resse ele desgosto e miseria. Flaviano
nom,e christão. A attitude de Flaviano confomnou-se tambem com esta dele;­
continuou a ser a mesma. Convicto ela minação tyrannica. Grande dôr causou-­
verdade ela religião de Christo, fez-se lhe a separação da esposa e ele duas fi­
A,postolo e defens•or da mesma, procu­ lhas. Recommendando-as á Divina Pn
rando os catholicos que mais perigo videncia, partiu de Roma para o exílio.
corriam de perder a fé, isto é, os en­ Os soldados cumpriram fielmente as or­
carcerados. A principio os sicarios do dens recebidas do governador e maltra­
tyranno não ousaralm dar-lhe voz de taralm Flaviano de toda a maneira. Este,
prisão, em attenção á posição social, á porém, ficou fim1e e só na oração pro­
classe aristocratica a que pertencia e curava e achava conforto. O desejo d.J
ao elevado cargo que desempenhára. tyranno realisou-se em breve. Flaviano
Um _dia, porém, chegou-lhe ordem de morreu na prisão, quando estava diri­
apresentar-se ao governador Aproniano, gindo preces ao céo. Flaviano merece
na presença do qual ou havia de abjurar ser enumerado ·entre os maiores marty­
a fé catholica ou receber a sentença da res da santa Egreja.
morte em cruel martyrio. Aproniano fez
o que o Imperador lhe manclára, e empre­ REFLEXÕES
gou todos os meios persuasivos, para
determinar Flaviano a renunciar á fé ca­ Grande foi a dôr que S. Flaviano experi­
mentou, ao separar-se da familia. Mas nem
tholica. A resposta d'este foi clara e ie­ assim vacinou na firme vontade de antes
cisiva: "Sou christão e christão perma­ soffrer tudo, do que largar a religião. Que
necerei. Honra maior não conheço qne heroismo deste grande homem, que se su­
esta, de sacrificar não só meus bens e jeita á vontade de Deus e entrega os_ seus
aos cuidados da Providencia Divina ! -
minha fortuna, como tambem minha vi­ Pessoas ha que não se conformam com a
da, pela gloria de Jesus Christo." Vendo morte e muito menos com a determinação
que era inutil insistir mais com o valo­ de Deus, de separar-se da mulher, do ma­
roso soldado de Christo, o governador rido e dos filhos. Que querem ellas ? Po­
derão acaso oppôr resistencia a Deus ?
declarou-o destituído de todos os titulos Não seria mais prudente calmamente se
de aristocrata que possuía, e rebaixou-o á prepararem para a morte, e entregarem a
condição de escravo. Arrancaram-lhe os familia ás mãos de Deus ? Deus sabe o
distinctivos de sua dignidade e nobreza, que faz. Conhece tambem as condições em
que ficam os sobreviventes. Não poderá
e com o ferro em braza assignalaram- pr"ovidenciar tudo, para que nada lhes fal-

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23 de Dezembro 503

te ? Jesus Cltristo moribundo na cruz Santos do Martyrologio Romano, cuja me-


deixou a Mãe Immaculada e entregou-a 111-oria é celebrada hoje:
ao discípulo João. Estava em seu poder
Em Alexandria, o martyr Santo Ischyrion.
chamai-a á eternidade antes delle pro­
Como não quizesse adorar as divindadPs
prio. Xão o fez, para nos dar tambem pagãs, os idolatras se precipitaram sobre
este exemplo de conformidade com a
elle, cravando-lhe um páo pontudo nas en­
vontade de Deus, quando esta de nós exi­ tranhas. 250.
ge o sacriiicio da separação das pessoas
mais caras. Si um dia tiveres de fazer Em Nicomedia a morte de S. Zeno. Era
semelhante sacrifício, segue o conselho soldado. Tinha sido observado que se ria
que Deus deu ao santo eremita Antão: quando o Imperador Diocleciano prestava
··Trata de ti, e deixa para Deus o cuidado culto a Ceres. Quebraram-lhe as maxillas e
dos outros.•· os dentes. Depois foi decapitado. 303.

23 de Dezembro

SÃO SERVULO
(t 590)

l\.l OS tempos do Papa S. Gregorio I Escriptura, louvando em tudo e sempre


� vivia em Roma um mendigo, cha­ a Deus Nosso Senhor.
mado Servulo, de cujas virtudes e san­ A occupação predilecta de Servulo
tidade aquelle grande Papa e Doutor da era a oração e a recitação dos psalmos,
Egreja dá o seguinte testemunho: "Ser­ con1:o a audição de uma leitura espiri­
vulo era um mendigo, que todos os dias tual. Quando r•ecrudesciam as dôres,
se fazia transportar para o adro da louvava e agradecia a Deus, mostrando
egreja de S. Clemente, onde implorava sempre a maior paciencia. De outros po­
a esmola cios transeuntes. Desde o berço bres tinha grande compaixão. A mãe e
tinha o corpo tão mal tratado pelo rheu­ o irmão devia!Il.1 repartir entre estes o
matismo, que até á morte lhe era impos­ que lhes sobrava das esmolas recebidas.
sível andar, manter-se em pé ou sentar­ Na pobre casa em que residia, recebia
se, ele modo que a unica accomo.nodação sacerdotes pobres, que vinham a Roma
era ficar deitado e ainda assim não po­ se'm poder encontrar outra hospedagem.
dia mover-se de um lado para o outro. Da presença dos ministros de Deus ti­
O rheumatismo não lhe peI"mittia levar rava o maior proveito para a alma. Pe­
a mão á bocca. A mãe e um irmão tra­ dia-lhes que lhe lessem livros espiri­
tavam delle, como de uma creança de tuaes. Si bem que não soubesse ler, sa­
poucos mezes. A extrema pobreza em bia de cór toda a Biblia. Das esmolas
que viviam, obrigava-os a recorrer á ca­ qu� lhe davam, pôde adquirir uma Ili­
ridade dos outros. Apezar do estado mi­ biia e outros livros religiosos, de que os
serabilissimo em que se achava, Servulo hospedes lhe deviam ler . Não havendo
nunca proferiu uma palavra de queixa ás vezes quem lhe fizesse esta caridade,
ou de desanimo on desespero contra a pedia a um pobre que, a troco de uma
doença e as dôres que lhe causava; mui­ esmola, lhe fizesse leitura durante uma
to menos levantava a voz contra Detts ou mais horas, em casa ou no Jogar on­
e suas santas determinações; pelo con­ de arrecadava esmolas. Desta maneira
trario: era admiravel observar-lhe a con- · adquiriu um vasto conhecimento ela
formidade com a vontade de Deus, e co­ sciencia dos Santos e conservou-se a s1
mo se animava com citações da Sagrada proprio no constante exerc1c10 de uma
S. Servulo - Gregorio Magno Horn'. 15 in Evang. et Dlal. t. 4. c. 14.

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504 23 de Dezembro

penitencia imperturbavel e heroica até parou e clamou em alta voz: "silencio,


o fim da vida. silencio ! Não estaes ouvindo os Anjos
Durante muitos annos Deus apresen­ cantarem ? Não ouvis como louvam e
tou ao mundo christão um modelo exem­ bemdizem a Deus, seu Senhor ?" Le­
plar e admiravel de paciencia na pessoa vantando o rosto transfigurado para fJ
do seu devoto céo, con10 si
S:ervulo, a t é visse o cortejo
ao dia em que elos Anjos e
o cha1111ou pa­ 1 lhes ouvisse os
ra receber a cantic o s ma­
·recüln� p e n s a i viosos, exha­
eterna. O n�al Iou o espirito.
que o crucia­ No mesmo
1

va, at a c o ul instante do ca­


tambem os or­ claver do San­
gãos interio­ to se despren­
I'es,- causando­ deu um perfu­
lhe horríveis me deliciosis­
clôres, que ter­ s1mo, qtte cau­
minaram com sou a admira­
a 11110rte. Ser­ ção de todos
vulo não -se q u e estavam
illudia s obre presentes. Era
seu estado e, convicç ã o de
crn1bora a vida todos, que a
lhe foss·e uma alma do Santo
lprep a r a ç ã o voára para o
continua para céo, acompa­
a morte, sen - nhada dos san­
tindo-a appro­ tos A n j o s;
ximar-se, redo- pois era a re­
brou de zelo 1 • compensa bem
para ter uma mereci d a da
mo rt e santa. 1 pureza e santi­
Fez tudo que dade de sua
t�n bom chris-1 vicia, como ela
tao cm seme- paci e n c i a e
lhant e s cir- 1 c o nformidadc
ClllllSta 11 C i a S com que lcvá­
deve fazer, e ra a cn1z da
n u 111 a noite ·molestia." E'
L.. --------�

desta nmneira
S. Servulo

chamou á ca­
que se e�erna
Não havendo, ás vezes, quem lhe fizesse a caridade

beceira todos religioso, pedia a um pobre


de ler alg·um capitulo da Bíblia, ou de um outro livro

os sacerdoties o grande Papa


lhe proporcionasse esse

que se achavam em sua casa e conv1- S. Gregorio I. A morte do Santo occm­


prazer.

clou-os com muito em.penha a cantarem reu provavehnente no anno de 590.


alguns psalmos, pois a morte estava
perto. Os sacerdotes satisfizeram-lhe o
desejo e cantaram uns psalmos, no que de bons ens inpobre
A vida do S. Servulo está cheia
REFLEXÕES
amentos, que aquelle admi­
er�m secundados pelo moribundo, cuja ravel servo de Deus deu pelo exemplo.
voz estava quasi apagada. De repente Um delles é o desejo de conhecer a scicn-

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24 · de Dezembro 505

eia dos Santos. Não sabendo ler, compra­ turas. "O Rei do céo, o Senhor dos An­
va livros e pedia a outros que lhe fizes­ jos .e dos homens envia-te suas cartas e tu
sem uma leitura . Dos santos livros tira­ não te darás a pena de as ler ? " Como o
va a força de suppo;\tar com paciencia príncipe das trevas se serve da má impren­
as dôres provenientes da doença. Pela lei­ sa para perder almas; como os máos livros
tura dos santos livros educava-se á pratica e jornaes são os orgãos de propaganda
das virtudes em alto gráo. - E' incalcu­ satanica, assim o Espirita Santo fala e en­
lavel a utilidade para a alma da leitura de sina pelos bons livros e jornaes. A quem
bons livros . Livros impios, obscenos, here­ darás preferencia ?
ticos produzem males muito grandes, na
alma de quem os manuseia. Resultado de
tal leitura deve ser e é sempre o enfraque­ Santos do Martyrologio Rornano, cuja me­
cimento da fé e o relaxamento dos costu­ rnoria é celebrada hoje:
mes. A leitura de bons livros, porém, pro­
duz o contrario: amor á religião, temor de Em Roma a V irgem martyr Victoria, da
Deus, sentimentos de penitencia e resolu­ perseguição daciana. Promettida em casa­
ções de verdadeira e sincera conversão. mento a um joven pagão, negou-se a casar
"Exhorto-\·os - escreve S. Chrysostomo com um idolatra e prestar culto aos deuses.
- a dedicar bastante tempo á leitura es­ O noivo entregou-a então ao tribunal, que a
piritual e de accordo com ella orientar a condemnou á morte. 253.
vossa vida." S. Gregorio chama os livros Em Nicomedia o triumpho de vinte ;-dois
espirituaes, cartas que Deus envia ás crea- martyres, na perseguição diocleciana. 303.

24 de Dezembro

Santas Tharsílla e Emiliana


( t Seculo VI)

G ORDIANO, senador romano e


"� pae do santo Papa Gregorio, tinha
abriu o coração ao amor do mundo. Esta
mudança muito entristeceu as duas ir­
tres irmãs, que se dedicaram ao serviço mãs, que tudo fizeram para que Gordia­
ele Deus e lhe Yotaram a sua virgindade. na se le1nbrasse dos deveres e voltasse
Eram Tharsilla, Gordiana e Emiliana. ás praticas da religião, que abanclonára.
Quasi ao mesmo tempo estas tres don­ Realmente conseguiram que Gordiana
zellas tinham tomado tão santas resolu­ recomeçasse a vida fervorosa, como an­
ções e viviam. na casa paterna como em tes a praticava. Mas foi passageira a
um convento, animando-se mutuamente, mudança; Gordiana recahiu e mais ainda
Jda palavra e pelo exemplo, a proseguir do que a primeira vez, se deixou levar
na senda ela perfeição. O progresso que pela sympathia do mundo e seus praze­
faziam na pratica das virtudes, parecia res. O silencio, o recolhimento, a com-
em todas as tres egual. Depois ele alguns 3anhia das irmãs e de outras pessoas
annos, porém, se podia notar uma mu­ devotas, tornaram-se-lhe intoleraveis, e
dança no estado das cousas. Tharsilla e 1Jm Jogar destas, começou a procurar a
Emiliana de tal maneira se desapegaram companhia e a amizade de pessoas da
das cousas cio mundo, a tal gráo chega­ sociedade. Tharsilla e Emiliana c011ti­
ram na união com Deus, que pareciam nuaram na vida santa de antes, lamen­
ter-se esquecido do corpo, vivencio uni­ tando profundamente o desvario da ir­
camente em espirita. Tal não se dava mã. Tharsilla, mais ainda que Emiliana,
com Giordiana. Esta perdeu o primitivo se aperfeiçoava na vida interior e mais
zr.ln, arrefeceu no éllmor de Deus, que cedo que esta, parece ter alcançado o
auks a incendiára. Tornou-se tibia e fim desejado. S. Gregorio, seu sobrinho,

,'- S. Tharsil/a e Emiliana - S. Gregorio Magno. Dia!. IV. Horn. 28 in Evang.

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506 25 de Dezelmbro

fala de uma v1sao que a Santa teve, nos centa: "Eis tres pessoas que, animadas
ulti1111os dias de vida. Ella viu o Papa do 111es1no zelo, se consagrararrn a Deus,
Felix, (ele que era parenta) que lhe mas não perseveraram todas no mesmo
mostrava uma moradia bellissima, ro­ espirita: Pois é como disse Nosso Se­
deada ele luz, que devia occupar. No dia nhor: "Muitos são os chamados, poucos
que se seguiu a esta visão, Tharsilla foi os eleitos."
acco111mettida de uma febre alta e adoe­
ceu gravemente. Agonizante já, parecia REFLEXõES
accorclar ele um profundo somno e ex­ As duas santas irmãs, Tharsilla e Emi­
clamava em alta voz: "Dae logar ! Je­ liana, fugiram do mundo, porque o viram
cheio de perigos e de occasiões para pec­
sus está chegando, querendo visitar­ car. Quem deseja seriamente a eterna sal­
me !" Ditas estas palavras, morreu pla­ vação, deve ao menos evitar a occasião
cidamente e o quarto em que estava, en­ proxima do peccado e transformai-a em re­
mota, senão o peccado em que vive, leva-o
cheu-se de delicioso perfume. Essa mor­ seguramente á perdição eterna. O demo­
te occorreu nas vesperas da festa do nio procura encobrir o perigo que ha, e
Nascimento ele Nosso Senhor. engana a victima sobre a gravidade da si­
tuação. Procurar a occasião proxima e fi­
Depois dos dias ela Festa do Natal ap­ car isento do peccado, é cousa impossível
pareceu a Emiliana e disse-lhe ser von­ e excede ás forças de todo o homem, ain­
tade de Deus que celebrassem ·juntas no da que fosse piedoso como David, sabio co­
ceu a festa da Epiphania. Emiliana re­ mo Salomão e forte como Sansão. "Ap­
proximando-te demais do fogo - diz Santo
cebeu com agrado esta nova, mas mani­ Isidoro - embora sejas de ferro, o calor
festou apprehensiíes Pelativairnente a far-te-á derreter. Quem está perto do pe­
Gordiana. Tharsilla respondeu-lhe com rigo, por muito tempo não se preservará
profunda tristeza: "Não te incomm,odes do peccado."
mais por causa de Gordiana. No coração Santos do Martyrologio Pommw, cuja me­
clella não temos mais Jogar; está resol­ moria é celebrada hoje:
vida a voltar ao mundo". Emiliana Em Spoleto, o sacerdote-martyr Grego-
adoeceu e falleceu na vigilia ela Festa ela 1·io, morto na perseguição dioc!Pciana. 303.
Epiphania. Gordiana afastou-se cada vez Em Antiochia, na perseguição de Decio, o
martyrio de quarenta santas virgens. 250.
mais do espírito religioso que até então
Em Bordéos o bispo S. Delphino, celebre
reinava na casa do pae. Fez uso ela liber­ por sua grande santidade. 404.
dade, desfez-se do véo e casou-se com Em Treves, 8anta Irmina (lrminia), ab­
um morador da casa. S. Gregorio accres- badessa. 708.

25 de Dezembro

Nascímento de N. S. Jesus Chrísto


"Hoje é a Festa do Nasciimento ele sahiu um eclicto de Cesar Augusto, para
Nosso Senhor Jesus Christo sobre a que fosse alistado todo o mundo. Este
terra." Com estas palavras a Egreja an­ primeiro alistamento foi feito por Cyri-
nuncia no Martyrologio romano o gran­ 110, governador da Syria. E iam todos
de dia de hoje, que é o cio apparecimen­ se alistar, cada um na cidade natal. E
to na terra do Filho de Deus feito ho­ subiu taimbem José da Galiléa, da cidade
mem. O Evangelho de S. Lucas conta de Nazareth, á Judéa, á cidade de Da­
o Nascimento de Nosso Senhor, como vid, que se chamava Belém, porque era
se segue: "Aconteceu naquelles dias que da casa e famjlia de David, para se alis-

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"E eis que appareceu (aos pastores) um anjo do Senhor, e a claridade de Deus os cercou, e tiveram grande te­ - (b >§
mor. Mas o anjo disse-lhes: Não temaes: porque eis que vos annuncio uma grande alegria, que terá todo o povo: � Jq
g. (b (b V1
porque vos nasceu na cidade de David o Salvador, que é o Christo Senhor. E eis, o que vos servirá de slgnal: ll' CYq 3 � o
encontrareis um menino envolto em pannos, e deitado numa rnangedoura. E subitamente appareceu com o ::3 c:: e: . ::3 �
::;-i,,
anjo uma multidão da milicia celeste louvando a Deus e dizendo: Gloria a Deus no mais alto dos céos, e paz o '"11 � tTJ �·
na terra aos homens de boa vontade."

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508 25 de Dezembro

cou-os de resplendor e tiveram grande mostrar mais claramente seu grande


temor. O Anjo, porém, disse-lhes: "Não amor e incitar-nos a amai-o tambem. Si
temais; porque eis aqui vos annuncio um Christo tivesse vindo numa estação mais
grande gozo, e que o será para todo o agraclavel; si tivesse escolhido a magni­
povo: E' que hoje vos nasceu na cidade ficencia e a corn!mocliclacle ele um palacio,
de David o Salvador, que é o Christo S{'m duvida haveríamos de reconhecer­
Senhor. E este é o signal para vós: lhe o amor para comnosco, que agora
Achareis um menino envolto em panni­ mais ainda realça, vendo-o nascer em
nhos e posto numa 111:angedoura. E su­ pobreza, numa gelicla noite e numa es­
bitamente appareceu cdm o Anjo uma trebaria.
multidão ela :milícia celeste, louvando a .Segundo, Christo o Senhor, já desde o
Deus e dizendo: "Gloria nos mais altos nasómento qniz n1ostrar-11os o caminho
dos céos e paz na terra aos homens de para o céo e ensinar pelo exemplo o que
boa vontade." E aconteceu que depois mais tarde ensinou pela palavra. Não
que os Anjos se retiraram para o céo, os só o Menino Jesus, cotno tambem a
pastores falavaim entre si, dizendo: gruta, o presepio, os panninhos nos di­
"Passemos até Belém e veja:mos que é zem que o caminho do céo é aspero �
isto que succedeu, que é que o Senhor íngreme e não ha outro para nós, si 1103
nos mostrou. E vieraim a toda pressa e queremos aproveitar do apparecimento
acharam Maria e José e o Menino posto ele X osso Senhor. A concupiscencia ela
na mangecloura. E, vendo isto, conhece­ carne e elos olhos, a soberba da vida são
ram a verdade cio que se lhes havia dito as raiz,es ele todos os peccaclos e as cau­
acerca d'este Menino. E todos que os sadoras da desgraça cios homens.
ouviram falar, se admiraram cio que lhes A pobreza do Menirio Jesus ensina­
haviam referido os pastores." nos a necessidade da humildade, da cruz
O Nascimento de Nosso Senhor está e cio soffrimento, como meios de comb,.t­
cheio ele mysterios. Considera em pri­ ter os vicios, ele desapegar-nos do num­
meiro logar, porque o Filho Unigenito cio e servir a Deus em toda _a purez:t.
ele Deus quiz vir ao mundo em tanta Tudo isto nos ensina o exemplo ele
pobreza, em logar tão clesprezivel, na es­ Christo no presepio. Dizem os Santos
tação de inverno, nas trevas da noite e Padres, que o presepio ele Belém é o pul­
longe da sociiedacle. Porque não quiz ce­ pito, a tribuna de Deus Menino.
lebrar seu apparecimento na capital, em -Os ensinamentos de Nosso Senhor de­
Jerusalém, em um dos muitos palacios vem por nós ser imitados, quer nos te­
que lá havia, rodeado de todo conforto? nham sido transmitticlos por palavras,
S. Bernardo diz: "Não penseis que Rtclo quer pelo exemplo.
isto tivesse acontecido por acaso. A Do pobre nascimento de Jesus O1risto
creança não escolhe a hora e o dia cio elevemos appren<ler duas cousas: pri­
nascimento, porque para escolher lhe meiro, para nos servir ela expressão ele
falta liberdade e uso ela razão. Com Je­ São Bernar· do: "Amemos o Menino de
sus Christo não se dá isto. Elle, Deus Belém !" e segundo: "Tornemo-nos se­
feito hom($11, podendo escolher tempo melhante" ao Menino de Belém !" De­
e Jogar, escolheu justamente o que era mos ao Menino Jesus o nosso mais sin­
desagradavel á natureza humana e á cero e ardente amor, e imitemol-o nas
Santissima Virgem. virtudes da pobreza e da humildade. Ao
Porque procedeu assim ? Os Santos Menino Jesus é applicavel a palavra que
Padl'es respondem : Primeiro, para nos mais tarde o Divino Mestre, quando pôz

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25 de Dezembro 509

um menino no meio dos Apostolos, lhes lém surgiram tambem muitos conventos.
disse : "Si não vos converterdes e não Em um <lelles viveu S. Jeronymo, du­
vos tornardes semelhantes ás creanças, rante muitos annos. Mais tarde o santo
não entrareis no reino dos céos." presepió • foi transportado para Rohm. A
Eis o que o Menino Jesus nos ensina egreja de Santa Maria Maggiore guar­
ao nascer: desprezar os bens deste mun­ da esta preciosa relíquia.
do, para alcançar os bens eternos. Os -sacerdotes têm o privilegio de no
E eis que se lhes apresentou um Anjo dia de hoje poderem celebrar tres Mis­
do Senhor e a claridade ·de Deus cer- sas, uso tambem antiquíssimo na Egreja.
Natal é uma das festas mais antigas Originou esta praxe o costume antigo de
e solemnes da Egreja, desde os tempos celebrarem os Papas no dia de Natai
apostolicos. O presepio em que foi re­ tres Missas, cm diversas egr�jas de
clinado o Salvador menino e a gruta on­ Roma. A primeira Missa era celebrada
de nasceu, foram sempre objectos de su­ na Basílica tiberiana, a segunda na cgre­
prema veneração da parte dos christãos. ja de Santa Anastasia e a terceira no
Para afastar estes do logar veneravel, Vaticano. Este uso foi conservado e
os pagãos erigiram no mesmo sitio um imitado pelos bispos e sacerdotes, sem
remplo ao deus Adonis, que foi destnú­ que houvesse obrigação de celebrar tres
do depois, e no memno Jogar se ergueu Missas. As tres Missas no dia de Natal
uma egreja. magnifica. Ao redor de Be- symboli-sa:m o -triplice nascimento de Je-

"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós."

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510 26 de Dezembro

sus Christo: sua origem do Pae desde a mundo entrastes, eu quero soffrer por vos­
so amor. Si é este o caminho para o céo,
eternidade, seu nascimento ela Santissi­
como nol-o mostrastes, e desde creança
ma Virgem e seu renascimento mystico nelle andastes, eu vos quero seguir."
nos corações dos fieis.
REFLEXõES
Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
Foi a obediencia ao Pae Eterno que moria é celebrada hoje:
fez Jesus Christo descer do céo e nascer
em condições tão humildes . Deitado no Na perseguição de Diocleciano, o marty­
presepio, o Menino Jesus já podia dizer: rio de Santa Anastasia, chamada a menor.
"Eu faço sempre o que lhe agrada." (Jo. Seu nome é mencionado no Canon da Missa
e sua memoria é celebrada na 2 ª Missa do
8. 29) Como mais tarde foi obediente até Natal. 303.
á cruz, obediente tambem foi até á gruta
de Belém. Obedece tambem a Deus, obser­ Em Roma o martyrio de Santa Eugenia.
va-lhe os mandamentos e procura fazer No tempo do Imperador Gallieno sua resl­
sempre o que lhe agrada. Por amor de ti dencia era o ponto de reunião de multas
o Salvador soffreu indigencia, frio, despre­ donzellas que, como ella, se tinham consa­
zo; e tudo isto com a maior paciencia . Si grado a Christo. De sua vida um tanto Ien­
te vierem soffrimentos e tribulações, não daria e até romanesca, apena,; se sabe com
te perturbes e lembra-te de Jesus." Jesus, cei·teza que morreu pela fé que professava.
(]Ue já soffrestes por mdm, quando neste ,;cc. 3.

26 de Dezembro

Santo Estevam, Protomartyr


e. ANTO Estevann, a quem a Sagra­
� ela Escriptura chama um homem
cabia-lhe fazer a distribuição elas es­
molas, como ajudar aos !\postolos nas
cheio de fé e cio Espirita Santo, foi o funcções liturgicas. Junto com os Apos­
J_Jrimeiro que teve a honra e a feliciclacle tolas, pregava a doutrina de Jesus Chris­
ele derramar o sangue e sacrificar a to em toda a cidade ele Jerusalém. Além
vicia em testenmnho da fé e da doutrina disto 'fazia grandes milagres, como at­
ele Jesus Christo. Esta circumstancia fez testa a Sagrada Escriptura: "Estevam,
com que fosse honrado com o titulo ele cheio ele graça e de fortaleza, fazia gran­
Protomartyr. Foi o primeiro entre des prodigios e milagres entre o povo".
os sete homens eleitos pela Egreja Muito bem sabi8;111 os escribas e os
ele Jerusalém, aos quaes os Apo'!;to­ phariseus que Esteva.m era profunda­
los �rnpuzeram as mãos. Não se sahe mente conhecedor da lei mosaica. Por
que!l11 eram seus paes e onde nasceu. Sa­ isso, vendo-o tão empenhado em propa­
gar a religião de Christo, procuraram
be-se apenas que era de descenclencia
envolvel-o em disputa:s ardilosas, com o
judaica e foi discipulo do celebre sabio fim ele desprestigiai-o perante o povo.
Gamaliel. Além ele ser profundo conhe­ Havia em Jerusalém diversas escolas,
cedor cios livros sagrados, distinguiu-se que ensinava!ITI aos judeus a lei antiga.
por uma piedade pouco vulgar e por um De todas vinha1111 representantes, provo­
zelo ardente pela santa fé. Feito diacono, cando-o para disputar com elles. Por

Santo Estevam - Act. Ap. Tillemont II. Bíblia das Escolas catholicas de Ecker.

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26 de Dezembro 511

mais subtis e maldosas que lhes fossem Jesus Nazareno ha de destruir este
as argumentações, não puderam resistir lugar e mudar as tradições que Moysés
á sabedoria de Estevam e ao espirito que nos ensinou". Os olhos de todos esta­
pela bocca lhe falava. Vendo que, em va!m sobre Esteva.m, para vêr a impres ·
consequencia cl'essas praticas, muita são que lhe faziam estas accusações. Mas
gente passava para a religião de Chris­ enganaram-se os que esperavam desco-­
to. recrudescc­ brir em Estc­
ram-1 h e s os v a m alguma
ataques e pro­ perturbação ou
curaram meios me d o. Nada
para e I i 111 i­ disso se lhe
nal-o. Alguns via; pelo con­
judeus se in­ trario, todos
cumbiram de lhe viram o
espalhar entre rosto resplan­
o povo que descente, con10
Est e v am s··\.. o de um An­
atr e v e r a a jo, o que aliás
blas p h em a r não era de ad­
contra Deus e mirar, porque,
Moy s é s, di­ com os Anjos,
zendo-se teste­ Estevam par­
munhas disto. tilhava a pure­
Assim e por za da alma e
outras calwn­ a fortaleza do
nias co n t ra 'cspiri t o. Os
o santo dia­ perseguidor e s
cono e con­ deviam ter fi­
tra este se con­ cado impres­
Juraram po,·o, sionados. Mas
anciãos e es­ a maldade não
cribas. C o rn os d e i x ava
grande vozeria desviar-se cio
precipitar a 111- plano sinistro.
se sobre elle, O Su m mo
le,·aram-no á Pontifice per­
prese n ç a elo guntou então :
5uprem,:i Con­ " Sã o assim
selho, que já
,- � achava re­
" com e f feito
essas cousas?"
Santo Estevão
unido, estando ... E, levando-o para fóra da cidade, o apedrejaram. Estevam res­
presentes tam­ Os accusadores, que, segundo a lei mosaica, deviam po n d e u em
atirar as primeiras pedras, depuzeram as capas aos
hem o Summo pés de um moço, de nome Saulo. longo e ener­
Pontifice Cai­ gico discurso,
phaz, todos os sacerdotes e phariseus. que se lê no capitulo VII dos Actos
Foram apresehta:das as falsas accu­ cios Apostolas. Neste discurso se re­
;,ações, comprovadas por falsas tes­ fere ao legislador da lei mosaica, elo­
trnnunhas. "Este homem, disseram, giando-o e menciona a prophecia mes­
não cessa de proferir palavras contra sianica ele Moysés. Em seguida verbera
o lugar santo e contra a lei ; por­ a conttimacia elos judeus e os accusa do
que nós o ouvimos dizer: "Que esse crime de deicidio. "E vós, - continúa

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512 26 de Dezembro

- hdmens de dura cerviz e de corações meza e constancia. Antes de tudo, po­


e ouvidos incircurncisos, vós sempre re­ rém, lhe ·enaltecem o aímor ao proximo
sistis ao Espírito Santo: assim corno verdadeiramente heroico, que o fez re­
foram vossos paes, assim sois tambem zar pelos proprios assassinos.
vós. A qual d0s prophetas não per­ A muitos destes a orac;ão cio santo
seguira1n vossos paes? Mataram aos martyr alcançou a graça eia conversão.
que annunciavaim a vinda do Justo, que Santo Agostinho não hesita em arttribuir
acabaes de trahir e do qual fostes os ho­ á oração de Santo Estevam a conversão
micidas, vós que. recebestes a lei por ele Saulo. "Si Santo Estevam não tives­
ministerio dos Anjos e não a guardas­ se rezado, a Egreja não teria u1111. São
tes". Palavras tão duras os incriminados Paulo."
não quizeram ouvir. Tornados ele raiva,
rangiam os dentes contra o orador. Este, REFLEXÕES
de olhos elevados ao céu, continuou: Vendo chegada a hora da morte, Santo
"Eis que estou vendo os céos abertos e Estevam levantou os olhos ao céo e rezou
pelos assassinos. - Na tribulação, na dôr,
o Filho elo hoonem sentado á direita de olha para a imagem do Crucificado. O as­
Deus." pecto de Jesns na cruz te dará novo animo
Então, elles levantando um grande cla­ e força para soffrer com paciencia. -
Considera tambem o bello exemplo que
mor, taparam os ouvidos, e unanimemen­ Santo Estevam deu, pela oração que fez
te arremetteraim com furia contra elle. E em favor dos inimigos. S. Maximo escreve
tirando-o para fóra da cidade, apedre­ sobre este ponto: "Qualquer outro não se
ra:rn-no. Os accusadores, que segundo a teria lembrado dos seus melhores amigos
e o santo diacono Estevarn lembrou-se dos
lei mosaica devia1m •atirar as primeiras pcrscgnidores e algozes e rezou por elles ··.
pedras, depuzeram as capas aos pés (le Quem ha que não veja neste gesto de su­
um moço, que se chamava Saulo, aquel­ prema generosiaade a imitação do grandio­
le mesmo que mais tarde se converteu e so exemplo dado por Nosso Senhor, que,
antes ele morrer, dirigiu ao Pae a prece:
por Deus foi cha1111ado para ser o gran­ "Pae, perdoae-lhes, porque não sabem ,i
de Apostolo cios gentios. Emquanto ape­ que fazem ! " - Qual é teu modo de agir ?
drejavalm a Estevam, este orava e dizia: Guardas em teu coração rancor contra
'' Senhor Jesus, recebei o meu espírito.·­ aquelles que te offenc!eram ? Si assim fôr,
livra-te delle o quanto antes e reza por
E, estando de joelhos, clamou em alta teus desaffectos. Desde que Jesus Christo
voz, dizendo: "Senhor, não lhes impu­ deu o exemplo cio perdão, não mais te é
teis este peccado." E tendo dito isto, licito proceder de outra maneira. Jesus
adormeceu no Senhor". (Act. 7) Christo é Deus e perdoou. Santo Estevam
era homem e perdoou. Si te parece difficil
Alguns homens piedosos trataram ·:L:: imitar o exemplo de um Deus, segue o
enterrar a Estevaim e fizera.Jm grande exemplo do humano Santo Estcvam.
pranto sobre elle. E' opinião de muitos
que um dos primeiros destes homens
tenha sido o proprio Gamaliel, e que o Santos elo klartyrologio Romano, cuja me­
moria é celebrada hoje:
enterro ele Estevaim se teria realisA.do
En1 Iton1a o senador Marino, <1ue teve un1
num sitio que Gamaliel possuia, nas cer­ glorio,;u marty1·io ,;ob o governo do Impera­
canias de Jerusalém. dor Numeriano. ,;ec. 3.
Os Santos Padres tecem grandes elo­ Na Mesopotamia o ,;anto bi,;110 Archeláo,
gios a Santo Estevam, põem-lhe em re­ grande em ,;ciencia e santidade.
levo a pureza, o zelo apostolico, a fir- Em Roma o Papa S. Dyonisio. �6n.

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27 de Dezembro 513

27 de Dezembro

S. JOÃO EVANGELISTA
(t 100)

A _-\postolo S. João Evangelista, ir­ Quem não vê em tudo isto uma pre­
V mão de S. Tiago, filho de Zebe­ ferem:ia ela parte cio Divino Mestre?
rleu e Salomé, nasceu em Bethsaida, ci­ :Esta distincção S. João partilhava com
dade de Galiléa. Jesus Christo cha1mou-o S. Pedro e S. Tiago. Mas a da ultima
e ao irmão, quando, com este e o pae, ceia foi particularmente sua, pois teve
esta,·a concertando rêdes, na praia do la­ a fielicidade de poder descançar a cabe­
go Genezareth. João, sem mais elelongas, ça sobre o peito de Jesus. A nenhum ou­
deixou o pae e tudo que possuia, para, tro Nosso Senhor entregou sua Mãe; e
em companhia do irmão, associar-se ao ninguem como S. João, pôde chamar
Divino :.Iestre. Entre os Apostolas era Maria Santissima de mãe. Dos Aposto­
João o mais moço, e era elle, a quem las foi o unico, que acdmpanhou o divi­
Jesus Christo mais amava. Em mais de no a.migo até ao Calvaria e lhe assistiu
um lagar do Santo Evangelho lemos a as h1oras d'e agonia. Recompensando-lhe
expressão : "o discipulo a quem Jesus esta fidelidade, o Divino Mestre agoni­
amava"; esse cliscipulo era João. O zante recon-.mendou-o á querida Mãe,
motivo por que o divino :rviestre o dis­ dizendo-lhe: "Eis teu filho", e confiou-a
tinguia com sua amizade era, segundo a João, com as palavras: "Eis tua Mãe".
a opinião unanime dos Santos Padres, a Jesus, aimador ela castidade, não quiz
pureza Yirginal e a innocencia do cora­ entregar a Santa Mãe, a Virgem Imma­
ção, que guardava como joia preciosis­ culada, a outro a não ser ao Apostolo
sima. "Christo tinha-lhe mais amor do cuja pureza era incontestavel. Graça
que aos outros Apostolas, por causa de maior, signal mais evidente de amor,
sua pureza", escreve S . Thomaz de João não poderia esperar do Divino
Aquino. Alberto Magno diz: "João foi Mestre. O que ele mais caro possuia, sua
mais amado, porque miais que os outros Mã·e, entregou-a aos seus cuidados.
tinha aimor a Jesus". E' esta tambem a Apiiesentando_.,o á Mãe SS. como fi­
razão, - affirma Santo Ambrosio, - lho, fez-se-lhe irmão. E' possivel ima­
por que Deus lhe foz maiores revela­ ginar-se uma a1111izade mais profunda ?
ções cio que aos outros Apostolas, e lhe Grande eleve ter sido a dôr que en­
deu um conhecimento mais profundo chia o coração do discipulo, ao vêr o
dos rnysterios divinos. Mestre e Amigo soffrer tanto. S. Chry­
sostdmo não hesita em attribuir-lhe os
S. João era tlim dos Apostolos a que pttedicados de um martyr, que soffreu
Jesus Christo se communicava mais in­ muitos martyrios.
timamente. Com Pedro e Tiago, era ad­ Depois da morte e do enterro de Je•
mittido em occasiões especiaes, em que sus Christo, S. João voltou com Maria
aos outros Apostolas não era dado acces­ Santissima, então sua querida mãe, pa­
so. João foi testemunha da cura da so­ ra Jerusalém, onde com grande ancia es­
gra de Pedro, assistiu á resurreição ela perou pela Resurreição do adorado Mes­
filha de Jaim, viu Jesus Christo na glo­ tre. Jesus dignou-se de apparecer-lhe,
riosa transfiguração no mi.ante Thabor, como tambem appareceu aos demais
como na grande humilhação no horto Apostolas, e não devemos vêr exaggero
das Oliveiras. injustificado da parte daquelles que pre-
S. João E•1;anu. - Tillemont I. Calmet VII. Crillier I. Buttler XII.

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514 27 de Dezembro

tendem ter-lhe dado Nosso Senhor ou­ Ainda para outros paizes o Apostolo
tras provas de distincção e carinho. se dirigiu e com grande fructo pregou
Com Maria Santissima e os outros o Evangelho ele Jesus Christo. O Im­
.'\ postolos, assistiu á gloriosa Ascenção perador Domiciano, successor de Nc­
ele Jesus Christo e C()llno elles, recebeu ro, ·e como este, cruel perseguidor dos
o Espirita Santo no dia ele Pentecostes christãos, teve noticia da operosidade .d�
Quando, pouco depois claquelle memo­ S. João e deu ordem para que fo:5 ,e
ravel dia, João e Pedro curaram um pa­ preso e levado para R0tma. O Apostolo
ralytico na entrada do templo e, apro­ foi intimado a prestar homenagem aos
veitando a occasião, falaram á multidão deuses. Negando-se a isto, foi barbara­
ele Jesus Christo, que era Deus e o ver­ mente açoitado e por ordem do Impera­
dadeiro Messias, os sacerdotes e os ze­ dor atirado a uma caldeira cheia de
ladores do templo ordenaram-lhe pri­ azeite fervente. O Apostolo persignou­
são. - No dia s·eguinte se reuniram em se, cio que resultou não lhe causar o
conselho os sacerdotes, mandaram tra­ aZ'eite em ·ebulição o menor tonnento.
zer á sua presença os dois Aposto­ S. João tomou dahi ensejo de pregar á
los e perguntaram, em nome e em poder multidão, que curiosa assistia áquella
de quem tinham dado a saúde áquelle scena. Domiciano, vendo-se impotente
homem. Disseram-lhes elles, que haviam d.:ante de um poder sobrenatural, que
operado em ndme de Jesus Christo. Os lhe frustrava os planos, mandou tirar a
sacerdotes tiveram receio de· applicar - João da caldeira e ordenou-lhe o exilio
lhes novos castigos e soltaram-nos, pro­ para a ilha ele Pathmos, onde, coim ou­
hihindo-lhes term.inantclnente falar de tros christãos, devia trabalhar nas mi­
Jesus Christo. Pedro e João, porém, res­ nas.
ponderalm resoluta1nente : "J ulgae vó:o O Apostolo, que contava já noventa
mesmos, si é justo deante ele Deus, obe­ annos, entregou-se confiadamente á di­
decer antes a vós, que a Deus. Nós não vina Providencia, quando se dirigia ao
pocle1nos deixar ele falar elas cousas que Jogar cio exilio.
temos visto e ouvido." ( Act. 4). Na ilha de Pathmos S. João teve vi­
S. João ficou ainda algum tempo em sões admiraveis, que por ordem de Deus
Jerusalém e trabalhou, como os demais cloct1111entou no livro do Apocalypse, o
A post�os, na conversão cios Judeus. ultimo no catalogo dos livros sagrados
Mais tarde o vemos na Asia Menor, on­ ela Biblia. O Apocalypse, segundo uma
de desenvolveu uma actividade apostoli­ expressão de S. Jeronymo, contem tan­
ca admiravel. O dom de operar milagre, tos 1nysterios quantas palavras.
deu-lhe á pregação um:a ef ficacia admi­ O exilio do grande Apostolo não foi
ravel. Milhares converteram-se ao Chris­ ele longa duração. Morreu o Imperador
tianismo, como prova o grande numero Domiciano e aos christãos foi permitti­
de sédes episcopaes erigidas em qu�•.si clo voltarem para seus lares. João vol­
todas as cidades da Asia :Menor, naquelle tou para Epheso, onde ficou até á mor­
tempo tmais importantes ainda do que te. Sobreviveu a todos os Apostolas e
hoje. alcançou a idade de cetm annos. Tinha
Em certa occas1ao se encontrou com um 1111odo de viver, como o de S. Tia­
o herege Cerintho. Qnerendo usar ele go, austero e mortificado. Não comia
um banho e sabendo que o mesmo esta­ carne e usava só uma roupa de linho.
va occupado por Cerintho, disse aos Rigoroso para comsigo, era todo carida­
companheiros: "Vamo-nos e m b o r a, de e mansidão para com os outros, como
meus irmãos e desistamos do banho, que prova o seguinte ca,so relatado por Cle­
só nos poderia fazer mal, depois de ter mente ele Alexandria e Euzebio, o his­
servido a Cerintho, ao inimigo da ver­ toriador. Em suas viagens o Apostolo
dade." tinha descoberto entre os ouvintes um

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27 de Dezembro 515

joV'en dotado de bellos talentos e de boa Alquebrado pela idade e pelos traba­
indole. Como não pudesse demorar-se lhos de uma exhaustiva vida missiona­
naquelle logar, recommenriou-o ao bispo. ria, S. João já não andava e preciso era
O joven, porém, perverteu-se e tornou­ que os discipulos o levassem para a
se o chefe de uma quadrilha de ladrões. egreja. Nas exhortações repetia muitas
De volta para o mesmo sitio, João pe­ vezes as palavras: "Filhinhos, anme-vos
cl i u informa­ uns aos ou­
ções s o b r e tros." A insis­
aquelle moço e, tencia sempre
bem a seu pe­ na mesma cou­
zar, ouviu o sa cdmeçava a
que lhe acon­ enfastia r os
t e c er a. O amigos, a pon­
Apostolo mon­ to de um <lel­
tou a cavallo e le· s ousar per­
foi á procura guntar-lhe:
da ovelha des­ "Mestre, por­
garrada. Ca­ que r e p etes
hiu em poder sem p r e as
dos 1 a d rões, n1esmas pala­
que a seu pe­ vras?" Sã o
dido o apre­ João respon­
sentar a m ao deu-lhe: "Por­
chefe. Este, ao que é o man­
Yêr a veneran­ claimen t o do
da pessoa de Senhor; si o
S. João, as­ observard e s,
sustou-se e iu­ tu d o está
giu. João, po­ bem." Queria
ré m, seguiu­ com isto di­
lhe no encalço z e r: "Quem
e a I cançou-o. ama. ao proxi -
''Porque fo­ 1110, a m a a
ges de mim? Deus e tem se­
- d i s se-lhe. gura a salva­
Tem pena de ção, porq ue a
mim. Não te­ caridade cum­
mas ; ainda te pre t o d a a
resta a espe­ lei."
rança da vida; S. João Evangelista S ã o João
r e s p o n derei S. João, jâ. muito edoso, não andava e preciso era que contava e e n1
por ti perante seus discipulos o levassem para a egreja. Em suas
exhortações repetia sempre as palavras: "Fllhinhos,
annos, quand °
te Jesus Chris­ amae-vos uns aos outros". Jesus Christo
to. Si fôr ne­ . . o chamou pa-
oessario, de boa vontade soffrerei a ra Junto de s1. Além cio livro do
morte por ti, como Nosso Senhor por Apocalypse, existem da penna de São
nós a soffreu. Estou prompto a darmi­ João tres Epistolas e um Evange­
nha alma pela tua. Volta, m<ett filho! lho. No seu Evangelho procura São
Crê no que te digo: Christo manclou�me João provar a clivinclade de Jesus Chris­
atraz de ti." O joven converteu-se e fez t� contra um�s heresias, que preten­
penitencia. diam o contrario, como a heresia de Ce-

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516 28 de Dezemhro

rintho, cios Ebionitas e dos Nicolaitas. quando observamos as palavras de Christo,


Nas epistolas recommenda o amor de que diz: "Tudo que quereis que os homens
vos façam, fazei-o vós a elles." (Math. 7.
Deus e do proxim!o, bem como a fuga 2.) Sabei que para alcançar a vida eterna,
ela companhia dos hereges. De tudo o o amor a Deus e ao proximo são indispen­
que ensinava, era o santo Aposttilo o saveis. "Ninguem se illuda, pensando que
por meio de jejum, de oração e pela pratica
pri1neiro e mais fiel observador. de outras virtudes, chegue a salvar a alma,
si não tiver amor sincero a Deus e ·ao pro­
REFLEXÕES ximo." (S. Cyrillo de Alexandria).
"Filhinhos, amae-vos uns aos outros",
era a exhortação constante por S. João Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
dada aos discípulos. Nas epistolas é sem­ moria é celebrada hoje:
pre a caridade que aos fieis recomm:enda. Em Constantinopla a memoria dos ir­
Ensinamento de S. João tambem é este: mãos Theodoro e Theophane.s, defensores
que o christão deve ser caridoso, não �ó decididos do culto das imagens contra o Im­
de lingua e em palavras, mas por obra e em perador Leão, que por diversas vezes os exi­
verdade . O amor de Deus manifesta-se pe­ lou. sec. 9.
lá observação dos mandamentos. "E' este
o amor de Deus., que lhe observemos os No mesmo Jogar a memorirt do Santa Ni­
mandamentos." (I J o. 5. 3.) Quem não os ccras, medica. E' invocada contra doenças
quer observar, não ama a Deus verdadeira­ do estomago por ter curado S. Chrysostomo
mente. O amor ao proximo está em nós, rle uma molestia deste orgão. 440.
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28 de Dezembro

Festa dos Santos lnnocentes


�,:) f'í EMOS hoje o presepio elo Menino O ímpio clespota poucle decreta-r a morte
,i: t 1 esus rocleiado ele uma pleiadc en­ cios innocentes; Jesus Christo não daria
cantadora de creancinhas innocentes, a corôa do martyrio áquelles que foram
vestidas ele roupinhas brancas, trazendo sacrificados por seu amor ? Não é, pois,
nas mãosinhas palmas verdes de victoria, pela bocca das creancinhas que vos vem
entoando canticos de louvor ao �Vlessias o louvor, ó Deus ? E que lçmvor ? Os
recemnascido. São as creancinhas que, Anjos cantaran.n: "Gloria a Deus nas
não conhecendo ainda este valle ele la­ alturas e paz na terra aos homens de
grimas, sacrificando a vida por Jesus, boa vontade !" Sem duvida louvor su­
após cnrto martyri-o, foraJm levaclasl ao blime é este; mas tornar-se-á perfeito,
seio de Ahrahão. Essa morte foi mn quando aquelle que ha ele vir, tiver dito:
verdadeiro martyrio, tanto que a Eg..:'eja "Deixae vir a mim os pequ-eninos, por­
lhes confere o titulo honroso de "flôres que delles é o reino dos C'eus !" (Luc .
cios martyres", titulo que tão hem lhes 18). "Paz aos homens, ta:mbeim· áquelles
corresponde a tenra eclacle e innocencia. que por emquanto não são ainda de boa
"Quem porá em duvida - pergunta São
nmtacle; eis o segredo da minha miseri­
Bernardo - que estas creancinhas al­
cançaram a corôa elo martyrio ? Quereis cordia. A estas crieancinhas, por amor
vêr-lhes os merecimentos ? Interpellae ele seu Filho, innocentemente sacrifica­
antes a Herodes pelo crime que os levou das, Deus s·e dignou faz·er a mesma cou­
á morte ! A crueldade do tyranno seria sa que todos os dias · faz, pelo sacra­
mai·or que a bondade ele Jesus Christo ? mento do baptismo."

Festa do"s Jnnocentes - Bitschnau, ''Das Lcbcn der Heiligen Gottes".

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27 de Dezembro 517

Quando os Magos do Oriente, guia­ mo Jogar, que por muito tempo era ob­
dos pela estrella maravilhosa, chegara1rn jecto de veneração geral.
a Jerusalém, dirigiram-se ao palacio cio Em vão Herodes estendera as mãos
rei Herodes e peclirnm informações so­ homicidas contra a vida do Menino Je­
bre o Jogar onde havia na,sciclo o rei sus. Este se achava em seguro abrigo.
cios judeus; Herodes hypocritamente Avisado por t�m Anjo, S. José tomou o
lhes respondeu: "Descei para Belém •.' Menino e a Mãe SS. e fugiu para o
procurne o menino ; logo que o tiverdes Egypto, paiz que Deus lhe nrostrou. ''
encontrado, clizei-m'o, para que cu tam­ O sangue dos innocentes, clamando
bem desça a adorai-o." A chegada dos ao ceu por vingança, perseguiu o tyran­
tres reis do Oriente, com grande comi­ no, almargurando-lhe os dias da triste
tiva, a apparição da estrella, os recen­ existencia. Accom,rniettido de uma doen­
tes acontecimentos em Belém: tudo isto ça dos intestinos, o corpo era-lhe devo­
tinha grandemente agitado a alma cio rado por uma sêde insaciavel. Quanto
povo, descontenüssimo do governo es­ 111:a1s lenitivo nas dôres procurava, tanto
trangeiro, tanto que no espirita de He­ mars se via atormentado. Os pés incha­
rodes surgiraim receios de uma subleva­ ram, o V'entre, já não podendo conter
ção. podridão nelle accumulada, rompeu, tra­
Em vão esperou Herodes pela volta zendo á luz vermes asqueirosos. O cor­
elos Magos, os quaes, avisados por um po cobriu-se-lhe ele ulceras, causando
Anjo, tomaram caminho differente, em exhalações fetidas. Eram grandes as
demanda da terra natal. Vendo-sie enga­ clôres, 111:aiores ainda os tormentos ele
nado e !:'emendo alguma trahição, tomou espirito, os remorsos da consciencia elo
uma medida que bem lhe caracteriza a tyranno. Perseguido por horriveis phan­
ferocidade ele caracter e que pelos pro­ tasmas, no meio dos delirios da febre,
prios pagãos foi qualificada de barbara. soltava angustiosos gritos, que assusta­
Baixou o decreto ele todos os meninos vam os circu1nstantes. Abandonado por
de dois annos e clahi para baixo serem todos, apresentava o tyranno a imag,em
mortos pela espada, ordelin esta que en­ ele um conclemnado. Já agonizante, deu
tre os carrascos do rei achou fieis exe­ ordem de matar o filho adoptivo Anti­
cutores. Grande era o lamento, violentos pater e com elle os homens mais distin­
os protestos contra esta arbitrariedade ctos do povo judeu, para que assim sua
do "tigre", que deshonrava o titulo ele morte causasse luto geral no paiz intei­
rei. O sangue dos innocentes jorrava, ro. Esta ultima ordem não foi executa­
clamando ao céo por vingança. da e Herodes morreu no desespero. Nin­
guem lhe chorou a morte, ficando-lhe
Cunipriu-se a prophecia elo propheta a memoria amaldiçoada por todos.
Jeremias : "Ouviu-se clamor em Rai11a,
houve pranto e grandes lamentos; Ra­ • R.EFLEXõES
chel chora s·eu1s filhos e é insensivel a Que felicidade para as creancinhas inno­
consolo; pois elles já não existem." Ra­ centes de Belém, que puderam morrer por
chel era mãe de José elo Egypto e ele Nosso Senhor I Si não as tivesse alcançado
Benjallllin e repres·enta a nação judaica. o barbara decreto de Herodes, mais tarde
talvez tivessem feito côro com a multidão,
O tumulo ergue-se-lhe, sombreado ele que exigiu a morte de Jesus Christo. Os
oliveira1s, na estrada que de Belém con­ paes daquellas creanças choraram amarga­
duz a Rama. Diz a piedosa lenda que os mente e ficaram inconsolaveis, mas Deus
em sua bondade aproveitou-se da maldade
pequenos cadaV'eres dos innocentes fo­ humana e deu áquellas flôrzinhas uma glo­
ram todos sepultados numa gruta, perto ria, que excede a toda a imaginação. - A
daquella outra, onde se achava o prese­ morte de um.a creancinha é sempre causa
de grande dôr para os paes. Que manifes­
pio do Menino Jesus. A piedade christã tem esses sentimentos, não é peccado, con­
fez levantar wna capella naquelle mes- tanto que não se revoltem contra as deter-

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518 29 de Dezembrr

minações divinas. Deus é o Senhor da vida acceitar o rude golpe como christãos, isto
e da morte. Elle que deu vida ás creanças, é, resignados e conformados com . a supre­
pode chamai-as a si. quando lhe apraz. ma determinação de Deus e dizer com
Morte prematura póde ser tambem um toda a sinceridade: seja feita a vossa von­
grande beneficio para a creança e para os tade.
paes. Deus, prevendo talvez que a creança
receberia uma educação defeituosa ou má, Santos do Mart11rologio Romano, cuja me­
e em consequencia desta negligencia dos moria é celebrada hoje:
paes, correria perigo de perder-se eterna­ Na Galacla o martyrio do sacerdote Euty­
mente, poderá preservar a pobre creatura chio e do diacono Domiciano.
desta desgraça, chamando-a para si, em­
quando a má semente não pode produzir Na Tunís ia, os Santos Castor, Victor e Ro­
funestos fructos. Sejam quaes forem os gaciano, martyres.
motivos que levam a Deus abreviar a A morte de S. 1''ranclsco de Sales, bispo
existencia de uma creança, os paes devem de Genebra, em Lyon.

29 de Dezembro

S. Thomaz, Arcebíspo de Canterbury


(t 1170)

� ÃO THOMAZ, o festejado e glo­ propôz para este elevado e espinhoso


� rioso defensor dos direitos da cargo e persistiu nesta ideia, apeza,r elas
Egreja, nasceu aos 21 de Dezembro de graves ponderações que o chanceller fa­
1117, em Londres, filho de pacs distin­ zia, prevenindo-o da lucta inevitavel,
ctissimos e profundamente religiosos. que havia de romper, entre o poder tem­
Bem cedo frequentou a escola dos cone­ poral e espiritual, haV'endo elle de de­
gos regulares, para depois continuar os fender os direitos da Egreja, como ar­
•estudos em Londres e Oxford. Não sa­ cebispo, contra as arrogancias e as in­
tisfeito com este curso regular, estudou justiças da corôa. Um caracter como o
ainda direito canonico e outras materia.s ele Thdm:az Becket, não conhece tergi­
na Universidade de Paris. Como estu­ v-ersações e transacções desleaes. Estan­
dante, não se desviou, nem por um mil­ do-lhe nas mãos os interesses da Egre­
limetro, do caiminho rrecto, honrando ja, era certo que os defenderia a todo
sempre a fina educação, que recebera na o transe. E a:ssim aconteceu. A lucta co­
casa paterna. Leal e franco, era Thü1111az meçou, por assim dizer, com o dia
inimigo figadal da mentira. Muito acer­ da sagração do arcebispo. Motivou-a a
tada foi a ,escolha real nomeando a Tl10- pretensão do rei de caber-lhe jurisdicção
maz chancellier do reino. Elevado a�tão sobre ecclesiasticos. Thomaz se oppôz
alta dignidade, carregado de uma res­ energicalmente á acção da corôa, fazen­
ponsabilidade muito grande, Thomaz do valer os direitos da mitra. Ao lado
deu prova brilhante de indiscutivel co.m­ cio Rei, se viam elementos que da ener­
petencia, impondo-se á admiração do gia e franqueza do arcebispo tinham que
Soberano ,e dos subditos. Assim corrian11 receiar medidas desagradaveis. Intrigas
as cousas ao contento de todos, até ao e calumnias alliaram-se á caimpanha mo­
dia tlm que Thomaz foi eleito para oc­ vida contra a autor:idade ecclesiastica.
ctipar, a séde archiepiscopal de Canter­ O Rei tomou medidas tão vexatorias,
bury, que vagára pela morte de Theobal­ que Thomaz t'eve que procurar asylo na
do. o proprio Rei foi o primeiro que o França, onde se achava então o Papa.
S. Thomaz arcebispo - B uttler XII. J. B. Welss. Hlst. unlv.

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29 de Dezembrc- 519

A este explicou a situação afflictiva da Sens; embora tivesse havido reconcilia­


Egreja na Inglaterra, e pediu exonera­ ção entre os dois, os inimigos de Tho­
ção do cargo ele arcebi·spo. O Papa nãr, maz novamente conseguirann indispôr o
só lhe approvou a conclucta, como muito Rei contra o Arcebispo. Esta indisposi­
elogiou a firmeza que mostrára, na de­ ção tomou fórmas tão declaradas, que
feza cios clireitm ele arcebispo. O pedido não era mais possível um bom entendi­
de d e missão mento. Por in­
não teve defe­ felicidade do
rim,ento. Tho­ Soberano, es­
nraz retirou-se te, num mo­
para a solidão mento de ma­
do e o nvento ior i r ritação,
dos c i s terei- deixou esca­
n e n s e s em par esta phra­
Pontignac, en­ se: "Não ha
tregando-se a no remo ho­
exercici o s de mem nenhum,
religião. Mal que me livre
o Rei da In­ deste Bispo?"
glate r r a lhe Adula d o r e s,
soube do para­ q u e apanha­
deiro, intimou ram este de­
o superior a sastroso desa­
demit t i r im­ bafo, sem mais
mediatamen t e esperar p o r
o hospede, so:i outra ordem,
pena de demo­ só no intuito
lição de todos ele agradar á
os conventos M a ge, stade e
existentes na merecer-lhe as
Ing 1 a t e r r a. graças, parti­
Luiz, Rei ck ram irnmedia­
França, scien­ tamiente para
ti ficado do oc­ Cante r b u r y,
corido, foi em resolv i d o s a
pessoa a Pon­ matar o Arce­
tignac e offe­ bispo. Este se
receu ao arce­ a c h a v a na
bispo o con­ egreja, o n cl e
vento ele San­ •
S. Thomaz de Canterbury
o clero canta-
ta C o 1 umba, va v e s peras.
O bando entrou na egreja, e se adiantou até o pres­
em Sens, para byterio; um delles perguntou em alta voz: "Onde est:1 Os sacerdotes,
onde pessoal­ Thomaz, o trahldor da patria ?" O arcebispo respon­ tendo conheci­
deu : "Não sou trahidor da patria, mas sacer-
mente o acom­ dote de Deus." mento da che­
panh o u. De­ gada dos ho­
pois de seis annos de desterro, pôde mens e receiando qualquer acto de vio­
voltar para a Inglaterra, graças aos lencia, quizeram cerrar as portas cio
bons prestimos do Rei da França templo. Thomaz, porém, oppôz-se e dis­
junto ao Rei da Inglaterra. Mas a se: "A egreja não é nenhuma fortaleza,
paz ,estava longe ainda. Em:bora Hen­ que á defeza se levante. Si querem mi­
rique tivesse procurado o Prelado em nha vida, estou prompto a entregai-a pe-

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520 29 de Dezembro

lo bem ela Egreja." O bando entrou por muitos milagres e o Papa Alexan­
na Egreja, adiantou-se até o pres­ dre III, apenas tres annos depois, publi­
byterio e um delles perguntou em cou a bulia da canonisação ele Thomaz
alta voz: "Onde está Thomaz, o tra­ Becket. Durante tres seculos o tumulo de
hidor da patria ?" O Arcebispo res­ Thomaz foi o attractivo de milhares de
pondeu: "Aqui esrou; não sou tra­ romeiros. Em 1558 os reformadores
hidor da patria, mas sacerdote de profanaram o jazigo do grande Martyr
Deus, prumpto a derramar o meu san­ e queimarann as santas reliquias.
gue por Deus e pela Egreja. Em nome
de Deus ordeno-vos que nada de mal R.EFLEXõES
pratiqueis contra os meus. O tempo que S. Thomaz não se perturbou, quando
vivi, defendi a Egreja, sempre que a via nos traços dos assassinos leu a sentença de
morte . Não se perturbou, porque estava
opprimida. Sentir-111,e-ei feliz, si, em
preparado para morrer. Quem se prepara
m:orrendo eu, lhe voltar a paz e a liber­ a tempo, não teme a morte; porque a
dade." Ditas estas palavras, ajoelhou-se amargura da morte é o peccado . Estarias
aos pés do altar, recontmendou a alma a tu em condições de morrer ainda este an­
Deus, a Maria Santissima, a S. Diony­ no ? Não te perturbarias, si te fosse dito,
sio, aos Padroeiros. Muito tempo os as­ com certeza, que antes do anno novo te­
sassinos não lhe concederam para fazer rias de deixar este mundo ? A perturbação,
devoção. Um delles desembainhou a es­ o medo na presença da morte é signal cer­
pada e com golpe formidavel vibrado to de que não estão em ordem os negocios
da alma . Não deixes para mais tarde o
contra a cabeça do Prelado, partiu-a no trabalho de regularizai-os. Imita o exem­
meio. Os degráos elo altar e o presbyte­ plo das virgens prudentes, que com as lam­
rio ficamm salpicados ele sangtl'e e ele padas accesas esperaram a chegada do es­
1nassa encephalica cio martyr. Da egreja poso . "Fazei penitencia, - aconselha San­
os bandidos s·e dirigiram ao palacio do to Agostinho, - antes da morte chegar;
arcebispo, onde praticaram actos . ele protelar a conversão para a ultima doença,
vandalismo. O clero tomou o cadaver do é arriscar a salvação; porque geralmente a
Santo e enterrou-o no meio da maior preoccupação unica do enfermo é procurar
allivio nos soffrimentos."
consternação. Este facto barbara se deu
em 1170.
Santos do Martyrologio Rornano, cuja me­
O Rei, ao ter noticia do occorrido, ca­ moria é celebrada hoje:
hiu ntlll1m grande prostração. Não fôra Em Jerusalém a memoria do rei-propheta
esta sua intenção, de praticar tão mons­ David. Primeiro pastor, foi ungido pelo pro­
pheta Samuel. A amizade com Jonathas, fi­
truoso cr�me, como de facto, ordem ne­ lho de Saul, protegeu-o contra as insidias do
nhuma tinha dado para assassinar o Ar rei, que por diversas vezes procurou ma­
cebispo. Fez penitencia publica, dirigiu­ tai-o. Sendo rei, estendeu o reino dos Judeus
atê o Oriente. Maculou sua vida com o adul­
se em romaria ao tumulo do Santo, an­ terio e o assassinato, mas fez grande peni­
dando leguas a pé e descalço. Sem to­ tencia, e Deus lhe mandou grandes tribula­
mar alimento algtún, deixou-se ficar mh ções. Entregou o sceptro a seu filho Salo­
dia e �mia noite perto da sepultura, re­ mão , e morreu santamente, grande como
rei, grande cºomo propheta. De sua autoria
zando fervorosaJmente. Os assassinos são a maioria dos Psalmos, dos quaes o "Mi­
cahiram todos no desagrado do Rei e da .
serere , a oração da penitencia por excel­
opinião publica. Desprezados por todos lencia é de Inexcedível belleza. 1011 a. Ch.
os bons elementos, tiveram de fugir. David é padroeiro da poesia e musicas sa­
cras.
Consta, porém, que fizeram rigorosa pe­
Em Vienne, S. Crescencio, primeiro bispo
nitencia e morrera.1111 christãmente. O daquella cidade e discípulo de S. Paulo Apos­
tumulo do Santo Martyr foi glorificado tolo.

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30 de Dezembro 521

30 de Dezembro

Santo Esturmío, Abbade


( t 779)

� ANTO Esturmio, bavaro de ori­ observada em todo o rigor. Quatro an­


� gem, nasceu em 712, filho de paes nos depois Esturmio visitou os conven­
nobres e piedosos, que bastante cedo o tos mais celebres da Italia. Muitas ob­
confiaram aos cuidados de S. Bonifacio, servações poude fazer da vida religiosa,
_-\postolo da Germania, para que, junto como era praticada em outra parte e
com os outros meninos, fosse educado muita cousa util introduziu depois no
christã.mente. Esturmio entrou, pois, :-10 mosteiro.
convento de Fritzlar, onde, sob a sabia A communidacle cresceu em poucos
direcção de \ igberto, fez rapidos pro­
1V annos. As vocações appaTeciarn em
gressos na vida religiosa, como tambem grande numero, apezar da austeridade e
nas sciencias. Como o zeloso educando do rigor que reinava no mosteiro de Es­
mostrasse desejo de ser sacerdote, para tunnio. Este convento era um oasis de
o estado sacerdotal se preparou e foram­ paz e ordeun, Jogar para onde ele pre­
lhe conferidas as santas ordens. Imme­ ferencia S. Bonifacio se retirava, para
cliataimente se pôz á disposição do gran­ descançar corporal e espiritualmente cios
de missionaria S. Bonifacio, que lhe in­ labores de missionaria e bispo.
dicou o campo de acção. De palavra fa­ Depois da morte deste grande Apos­
cil que era, Esturmio attrahia a si chris­ tolo, Estunnio concebeu o plano de de­
tãos e pagãos, que o ouviam com sum- dicar-se á conversão dos pagãos que mo­
1110 agrado. Já naquelle tempo possuia ravam nas immediações de Fulda e con­
Estunnio o dom de operar milagres, o solidar a religião entre os christãos já
que muitissimo contribuiu para que a existentes. Esta idéa provocou forte des­
doutrina de Christo conquistasse os co­ contentamento entre os monges, que rna­
rações, e o numero de conversões cres­ levolalmente lhe imputaram intenção am­
cesse dia a dia. Tres . annos passaram-se biciosa, como si quizesse fundar um bis­
nesta actividade missionaria e Esturmio pado independente. Neste sentido deram
sentiu a neces•sidade de retirar-se para a parte ao santo Arcebispo Lullo de Mo­
solidão, onde pudesse dedicar-se melhor guncia. Conseguiram, por meio de in­
ao serviço ele Deus e santificação da trigas e calumnias, que Esturrnio, por
alma. São Bonifacio enviou-lhe dois orcle;m do Rei Pepino, tivesse de inter­
companheiros e deu-lhes instrucções es­ nar-se num convento na França. O san­
peciaes sobre a vicia monastica, que iam to supportou a humilhação sem se quei­
encetar e sobre o Jogar que deviam es­ xa'?. No convento de Fulda, porém, en­
colher para residencia. Depois de muito trou grande perturbação, que tomou
procurar, encontraram um sitio apro­ proporções assustadoras, quando São
priado, perto de Fulda, de que lhes fez Lullo deu aos monges um Superior da
doação o príncipe Carlomano. Lá cons­ sua archidiocese. Os monges queixaram­
truiram um convento, que em 744 foi se a Pepino e com. licença d'este elege­
inaugurado, contando a communiclade ram um dos discipulos de Esturmio, de
sete monges. S. Bonifacio esteve presen­ nome Pressoldo. Com a eleição deste,
te no acto da inauguração, installou Es­ voltou a paz e Pressoldo empenhou-se
tu1"1l11io nas attribuições de abbade, in­ pela volta de Esturmio. Sem que Pepino
troduziu a Regra de S. Bento, que foi tivesse sido solicitado por alguem, teve

Santo Esturmio - Mabillon Saec. 3. Ben. 2. Buttler Hlst. de l'ordre St. Benolt IV.

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522 30 de Dezembrc

uma conferencia com o exilado e per- tolo dos Saxões. Innocencio II, por oc­
111ittiu-lhe que voltasse para o conven­ casião cio segundo Concilio Laterano, ca-
to que fundára. A reoepção que teve, foi 110111sou-o.
soleimnissima. A oomununidade veiu-lhe
ao encontro processionalmente e Pres­ REFLEXÕES
solclo entregou-lhe as insígnias da digni­ Na vida de Santo Esturmio lemos um.i
pagina desedificante, que trata de indisci­
dade ele Abbacle. Recollocaclo em todos plina 110 meio de uma communidade reli­
os direitos do cargo, Esturm,io cuidou giosa. O estado religioso é o estado de
em primeiro logar ela reforma da disci­ perfeição, o que não quer dizer que seus
plina rnlonastica, que foi obra coroada membros sejam sempre santos. O estado
religioso, mais que o estado leigo , propor­
elo mais brilhante exito. Em pouco tem­ ciona aos adeptos os meios de santificação.
po a contnunidade de sacerdotes attin­ No convento não existem os perigos do
giu o numero de 400 e a fama do con­ peccado como no mundo, as occasiões de
vento de Fulda espalhou-se pela Euro­ peccar não se offerecem como aos chrig­
tãos, que vivem por ahi fóra. A Regra, a
pa toda. disciplina, a vigilancia dos superiores , a
Em 767 Esturmio foi c01m11issionado convivencia com pessoas que commungam
as mesmas idéas, o bom exemplo destas e
por Carlos Magno para negociar a paz sobretudo os votos de pobreza, castidade e
com. Thassilo, duque da Baviera. Depois obediencia são meios poderosissimos para
foi destinado para a Missão entre os alcançar a perfeição. Aquelles que muito
Saxões. Cam alguns monges de escolha, receberam , contas rigorosas darão a Deus.
Grande é por isso a responsabilidade do
o Santo pôz mãos a esta obra difficilli­ religioso, da religiosa, si não corresponder
ma e perigosa. E' excusado dizer que ás graças que Deus lhe deu em abundancia.
soffreu muito, entre aquelles baTbaros. Não é o habito que faz o monge. A natu­
reza humana é a mesma, quer no convento,
Sempre pôde registrar a conversão de quer fóra delle . Quem não declara guerra
urn, 111.�mero consideravel de pagãos ao ás más paixões; quein transige com u
christianismo. Uma grave doença obri • principio das trevas; quem não acceita o
gou-o a retirar-se para o convento de combate contra a triplice concupiscencia,
que em todos nós existe; a dos olhos, a da
Fulda. Winter, medico assistente do Rei, carne e a soberba , afasta-se do caminho dn.
acompanhava-o. Fosse ou não descuido santidade e perde-se, quer tenha dado no­
daquelle facultativo, facto é que o re­ me a uma Ordem ou Congregação, quer vi­
rnedio que receitára ao enfermo, accele­ va 110 mundo. Reza por todos os estados
da Egreja, para que Deus os conserve na
rou a morte do 1nesmo.. Esturmio, co­ graça e para que seus membros não se
nhecendo o estado, fez a com)munidade afastem das normas da disciplina religiosa
reunir-se e exhortou-os para que con­ e christã.
servassem sempre a paz e a ham1onia
entre si; pediu perdão aos adversarios e Santos do Martyrologio Romano, cuja me­
abençoou a todos, reconimendando-se­ m.oria t! celebrada hoje:
lhes ás orações. Esturmio morreu aos Em Alexandria, o martyrio dos Santos
17 de Dez,embro de 779, na edade d� 64 Mansueto, Severo, Appiano, Donato e Ho­
annos. O martyrologio romano ennu­ norio, com muitos outros comp anheiros.
rnera-lhe o nome entre os Santos de 30 Em Salonica a martyr Santa Anysia. 303.
de Dezembro e dá-lhe o titulo de Apos- Em Aquila o bispo S. Ralmerio. sec. 12.

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31 de Dezembro 523

31 de Dezembro

Santa Melanía, chamada a Menor


( t 438)
� ANTA MELANIA é um modelo lania os primeiros que nelles entraram.
� exemplarissiu , no ele muitas virtu­ Melania levou Ulma vida da mais austera
des, principalmente da castidade, do des­ penitencia, chegando ao ponto de tomar
prezo do mundo, do zelo pela gloria de só uma refeição por semana. :pividia o
Deus e da caridade para com o proxi­ tempo entre praticas de piedade e tra­
mo. Para differençal-a de wna outra balho. Servia-lhe de leito um duro col­
Santa Melania, no registro das Santas chão, collocado sobre o soalho. Noites
figura com o appellido de Menor. Mela­ inteiras passava em oração e seu traba­
nia era Romana e filha de paes illustres lho era confeccionar e concertar roupas
e ele nobre estirpe. O desejo que tinha para os pobres ou copiar livros religio­
de servir a Deus em perfeita castidade, sos, para os distribuir,
foi contrariado pelos paes, que a obriga­ Sete annos viveu nessa reclusão, quan­
ram ao matrÍITl!onio com Piniano, rico e do experimentou um desejo ardente de
joven patrício. O primeiro filho que ale­ ir á Palestina e visitar os Santos Loga­
grou o novo lar, morreu antes de c0'111- res. Em companhia da mãe Alvina e do
pletar um anno e o segundo pôde ape­ marido, embarcou para Alexandria, on­
na,s receber o baptismo, antes de Deus o de adoeceu e depois para Jerusalém.
cha1111ar a si. Com este desgosto Piniano Com grande devoção visitou os Santos
teve uma prova da vaidade das cousas Lagares, de preferencia o Santo Sepul­
do m:undo. Tendo apenas 24, e Melania chro, onde permanecia ás vezes a noite
22 annos, o joven esposo acceitou a pro­ toda rezando. Tào bem se sentia em J e­
posta da companheirn, de se absterem rusa:léim, que resolveu lá fixar residen­
cio uso do matrimonio e. empregarem a
cia. Mandou construir uma pequena ca­
grande fortuna na manutenção do clero, sa no monte das Oliveiras, que habitou
dos pobres e em beneficio ele obras pias. durante quatorze annos, entregue a exer­
Vivialm numa casa de campo e serviam cicios de oração, de penitencia e carida­
a Deus e ao proximo, €lm completo afas­ de. Piniano internou-se num convento
tamento do mundo. Preclios que pos­ de Jerusalém. A fama de santidade de
suiattn em Roma e em outras cidades ita­ Melania espalhou-se no paiz e muitas
lianas, foram vendidos, sendo o rendi­ viuvas e clonzellas a procuraram, dese­
mento despendido em construcções de i_osas de cónfiar-se á sua direcção. Es­
conventos e egrejas ou em obras de he­ tes pedidos eram tão numerosos, que
neficencia. Melania resolveu constrnir em Jerusa­
De Roma foram a Sicília e A frica, lém um convento e uma egreja, onde
onde possuíam grandes terras e vende­ recebeu todas aquellas pessoas, que lhe
ram-n'as. Numa ilha, onde aportaram, pareciam idoneas para a vida religiosa.
resgataram muitos escravos christãos Não acceitou o cargo de Superiora, para
das mãos de barbaras. Em Tagaste, on­ o qual a quizeram eleger. Preferiu ser
de era bispo Santo Alipio, amigo de a ultima de todas e a todas servia com
Santo Agostinho, fundaram dois con­ grande hwnildade e caridade. Morreram
ventos, destinados wn a religiosos, ou­ a mãe e o esposo. Melania enterrou-os
tro a religiosas, e foram Piniano e Me- cdm grande dôr, mas perfeitamente con-

Santa llfelania - Vogal. Helllgenlegende.

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524 31 de Dezembro

formada com a vontade de Deus. Mais tigado e penitenciado meu corpo, si não
ainda do que outr'ora se occupava agora tiv-ess,e por certo de que receberei hon­
da preparação para a m:orte. ras, bens e prazeres maiores." Estas p:i­
Quando assim se familiarizava com as lavras tocaram o coração de Volusiano.
idéas de t1111a proxirna morte, recebeu Melania expôz-lhe a bellcza da religião
uma carta, chamando-a para Constanti­ christã, animou-o a fazer penitencia e
nopla. Manda­ acceitar a re-
taria da mis­ 1 i g i ão ele
siva era Volu­ Christo, e te­
siano, seu pri­ ve a grande
mo que, grave- satis facção de
1ne11te enfer­ ganhar aquel­
mo, manifes­ la alma. Volu­
tou desejo de siano recebeu
v ê r Melania. o sacramento
Na �sperança cio b�ptismo e
de poder sal­ morreu na pa;'.
var a alma de do Senhor.
Vo l u s i a n o,
que, além ele l\Ielania vol­
ser pagão, era tou para J eru­
homem depra­ sa.lém. Deus
vado, Melania revelou-lhe o
fez a viagem, termo da sua
para ella in­ vida e a ri­
c011•111bdadissi- (Juiss i m a re­
111.a. O doente, c01npensa que
vendo i\'Iela­ iria t e r na
nia, macerada eternidade, em
e quas1 esque­ troca cios bens
letica, em con­ passag e i r o s,
sequencia das que empregara
peni t e n c i a s no serviço di­
praticadas du­ vino. Embora
rante muitos esta revelação
annos, q u a s 1 summa:mente a
não a conhe­ con s o 1 a s s e,
ceu e excla­ Melania n ã o
mou: Ah! mi­ se cl e scuidou
n h a querida ela e o nscicn­
Melania, como S. Silvestre --------
0 grande Papa S. Silvestre, foi dos Papas o ultimo
ciosa pre, para­
estás differen­ que celebrou o santo sacrificio lia missa na penumbra ção para a
te de quando das catacumbas, e o primeiro que viu os triumpho:,;
do Christianismo sobre a Roma pagã.
morte. P e Ia
te vi pela ul­ ultima vez e
tima vez! Que mudança reparo em tua com redobrada devoção, v1s1tou o,;
figura e �m toda tua apparencia !" Mela­ Santos Lagares, celebrou o Natal no
nia respondeu-lhe: "Tira dahi, meu caro Jogar onde Jesus Ch6sto nascera, e
primo, em que apreço tenho a vida fu­ voltou para ü convento. Logo de­
tura e os bens eternos. Crê que não teria pois adoeceu e pediu que se lhe des­
desprezado as honras e glorias do mun­ sem os santos Sacramentos. Clerigos e
do, abandonado os bens terrenos, cas- leigos, que a visitaram, lastimavam vi-

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31 de Dezembro 525

va1nente a separação, que a morte lhes commettidas nestes doze mezes findos e
impunha. A estas queixas e lamentos agradece-lhe os beneficias de que te cum u­
lou tão abundantemente.
l\felania respondia: "Seja feita a von­
tade de Deus !" Assim preparada, en­
tregou a alma purissima a Deus no ulti­
mo dia elo anno ele 438. O tumulo tor­ S. SILVESTRE
nou-se-lhe glorioso e o nome ele Santa No dia ele hoje é celebrada a memo­
Mela,nia é festejado em toda a christan­ ria do Papa S. Silvestre. Romano de
clade.
nascimento, era Silvestre successor do
REFLEXÕES Papa Melchia<les. Dois annos antes ela
Santa :Melania empregou todo o tempo eleição, tem1inara,111 as crueis persegui­
da vida no mais dedicado serviço de Deus. ções, que durante tres seculos avassala
Fugiu do peccado, praticou boas obras e ram a christanda:de. S. Silvestre, já em
soffrcu com paciencia as contrariedades e
provações da vida. Que consolo não terá pleno uso ele liberdade, tudo fez para o
experimentado na hora da morte ! Como é desenvolvimento da Egreja ele Christo.
grande sua gloria no céo ! Si o dia ele hoje,
que é o ultimo do anno, fosse tambem o Durante seu governo se realisou o Con­
ultimo ele tua vida, podias tão tranquilla­ cilio ecumenico de Nicéa. Existem ainch
mente partir desta vida, como Santa Mela­ muitos usos na Egreja, introduzidos por
nia ? Que esperanças poderias ter, da glo­
ria do céo e dos bens eternos ? Lembra-te, S. Silvestre, Papa de grandes mereç-i­
de que maneira passaste este anno e os mentas e santidade. S. Silvestre morreu
annos atraz, e tua consciencia te respon­
derá. Podes, em verdade, dizer que em­ no anno de 337.
pregaste bem o tempo, isto é, pela gloria
de Deus e pelo bem de tua alma ? Quan­
tas occasiões aproveitaste para fazer o Santos elo 1Vlartyrologio Romano, cu.ja me­
bem ? Evitaste o peccado e praticaste as moria é celebrada hoje:
virtudes ? Soffreste com paciencia as
contrariedades da vida ? Si tua consc1e11- Em Roma, na Via Salaria, as martyre:;
cia respondesse affirmativamente a toda, Donata, Paulina, Nominanda, Serotina c
estas perguntas, seguramente poderias Hilaria.
comparecer á presença do eterno Juiz. Si Em Sern;, na França, Santa Columba, vir­
assim não fôr, formula teus propositos, pa­ gem-martyr, na perseguição de Aureliano.
ra o novo anno, de em'endar-te e confor­ Foi atirada ao fogo e decapitada. E' invoca­
mar tua vida segundo os mandamentos da da contra do.enças dos olhos, e para obter
lei de Deus. - Não termines este anno. chuva. E' padroeira elas clonzellas e dos
sem pedir a Deus perdão das infidelidades abandonados.

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APPENDICE
Os Santos Martyres João Físher, Cardeal
( t 22 - VI -- 1535)

e Thomaz Moore
( t 6 - VII - 1535)
Canonisados na Pascoa de 1935

e ÃO Gregorio Magno; para unir o ra?" (Bibl. SS. PP. Ser. VII, vol. I,
� povo inglez a Jesus Christo, im­ p. 183.)
pelliclo pela caridade apostolica, enviou No decorrer do tempo, tão feliz­
S. Agostinho com dous companheiros a mente germinaram na Inglaterra as
Gran . Bretanha, e tres annos depois, messes espirituaes, e tão profundas rai­
congratulando-se e alegrando-se pelos zes deitou a religião catholica, que com
alnmdantissinros fructos jú então colhi­ pz,rtii;.:ular honra claquella grande na­
dos, lhe escrevia: "Gloria a Deus no alto ção, foi clla chaniacla "dote ele Maria
elos céos, e paz na terra aos homens ele e patrirnonio ele São Pedro." S . Becla
bôa vontade, porque o grão ele trigo Vencravei, doutor insigne da Inglaterra
(J csus Christo) cahinclo na terra mor­ lembra esta fé christã cm pleno curso,
reu, para reinar não só no céo. . . por cli ff nnclicla na Inglaterra pela Sécle Ro­
a1nor elo qual procuramos na Gran Bre­ mana por Gregorio Magno, elo qual es­
tanha os irmãos, que não conhecemos, creve: "Justamente podemos e elevemos
por cujo dever achamos aquelles que chamar apostolo nosso . . . nós somos o
seni o saber procuravamos. Quem po­ sigillo elo seu apostolado" (Migne, P.
derá dizer quão grande tenha sic.lo a L. II, c. I, 95, 75).
alegria que se despertou no coração ele Oh ! se a perseguic;ão nunca hou­
todos os fieis por saber que o povo in­ vesse arrancado do seio ela Egreja tão
glez, em virtude da graça ele Deus omni­ clilecta filha ! A perseguição começou
potente e por obra tua fraternal, tendo pelo principio cio seculo XVI e devas­
expulso as trevas elos erros, se acha tou por longo tempo aquella vinha. A
inundado ela luz ela santa fé, que com libidinagem cio rei foi a origem. Não

integerrima com'prehensão calca aos pés podendo elle conseguir cio Romano Pon -
os idolos, aos quaes antes se suhmettia, tifice, vindice e guarda ela inclissolubi­
com temor insano, porque agora se sub­ liclacle elo vinculo matrimonial, o divor­
mette com coração pnro a Deus 0111ni­ cio, que tanto desejava, ela legitima es­
potente, por saber com que animo, li­ posa, ]cyac\o pelo furor e abysmanclo­
vre dos horrores do mal, se acha ligado se no precipicio, declarou-se chefe su­
pelas leis da prégação evangelica, e com premo ela Egreja na Inglaterra, afim
firmeza se submette aos preceitos divi­ ele passar, com auctoriclaclc sua, a se­
nos, elevando-se com a mente na ora­ gundas nupcias em união sacrilega. Sanc­
ção e humilhando-se até a terra, afim cionou o seu primado com lei publica
ele se não prender com a mente na ter- e ameaçou com a pena ele morte todo:;

Traducc,ão de Mensageiro cio Sagraclo Coraçcío ele Jesus, Maio de 1935.


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528 APPENDICE

os que o contrariassem. Logo sem tar­ innovadores que então tentavam contra
dar se chegou até aos supplii.::ios. Mas, os dogmas da santa fé, pelo que com
emquanto, muitos tomados de temor muito direito foi inscripto entre os
( oh desgraça ! mesmo entre os pastores principaes apologistas do seu tempo.
ele almas) fraquearam na coragem, e Parco comsigo 1nesmo, foi generoso em
clccahiram ela fé, um glorioso grupo ele soccorrer os pobres; nunca procurou
martyres heroicamente morreram na commodiclade para si, tudo fazendo por
Inglaterra, para defender a Fé Catho­ Christo. Refulgiu qual exemplo lumino­
lica. Muitos destes martyres já foram so de piedade ; derramava lagrimas ao
beatificados por confirmação: elo culto celebrar a santa missa; por m'eio da
feito pelo Pontífice Leão XIII. e mui­ oração continuada e aspera mortifica­
tissin1os outros pelo S. Padre Pio XI ção preparava o seu animo já fortíssi­
gloriosamente reinante foram inscriptos mo para cousas mais altas, pois para o
no numero cios "Beatos por beatificação athleta ele Ohristo estava imminente um
forn1al. duro e longo combate que havia ele glo­
Chefes claquélle grupo são os dous riosamente vencer pela morte cruenta.
gluriosissimos heroes, um elo clero, ou­ O rei adultero começou a perseguir o
tro leigo: João Fisher, Cardeal da S. impavido defensor ele Catharina ele
E. Romana e Bispo ele Rochester, e Tho­ Aragão, legitima mulher do rei Henri­
maz Moore, Grande Chanceller elo Rei­ que VIII, tendo-o primeiro privado da
no. Nomeai-os é tambem louval-os: tão liberdade e collocando-o sob a guarda
celebre é em todo o mundo a fama e a do Bispo Gardier desde 5 ele Abril de
lembrança illustre desses varões. Ainda 1533 até 13 de Junho.
que affciçoadissimos ao rei e ficlelissi­ Tendo-lhe sido · restituída por al­
mos cidadãos, con1.tuclo por lhes prohi­ gum tempo a liberclacle, foi accusaclo de
bir a lei divina, resistiram fortemente trahição e condemnado á j:lrisão, despo­
á ordem iníqua, e entre os pnme1ros jado de todos os seus b�s. Essa pena
supportaram nobremente o martyrio porém lhe foi commutada por outra
pelo primado do Romano Pontífice na menor, afim ele que a futilidade ela ac-
Egrcja universal. 1�usação contra o innocentissimo Bispo
João Fisher, nascido em 1469, co­ não se tornasse infamia para os accu­
rno está agora provado, dotado <le uma sadores.
força admiravel ele talento, obteve o Não muito depois foi chamado a
primado na Academia ele Cambridge: Lunclres pelo Arcebispo ele Canterbury
ensinou depois com summo plauso na afim de induzil-o a prestar o juramen­
mesma Academia e exerceu o cargo de to sacrilego, mas elle apesar elas muitas
Chanceller: celeberrirno pela cultura forçadas instancias jamais consentiu em
das sciencias e elas letras promoveu e tudo aquillo que resguardava o divorcio
ennobreceu admiravelmente os estudos. cio rei e primado do mesmo, contra o
Mas isto é muito pouco cm compara-• direito divino. na Egreja da Inglaterra.
ção ,com a grandeza de sua alma e da Portanto, a 17 ele Abril de 1534 foi lan­
santidade da sua vicia intemerata. Ad­ çado na prisão da torre de Londres, on­
mirada Margarida, mãe cio rei, por es­ de soffreu muito no corpo e no rspiri­
ses eximias dotes, o escolheu a seu con­ to, porque lhe havia sido prohihido ce­
frssor, e o seu filho o Rei Henrique lebrar a Missa e privado dos direitos
\' II o propoz a bispo de Rochester, e cpiscopaes. Preparava-se assim para o
o nomeou membro do parlamento. combate supremo. A lei cio primado es­
Neste cargo egualou a altura cio piritual cio rei fornecia o titulo procura­
officio com as virtudes pastoraes. Guar­ do para a conclentnação legal. O Papa
da vigilante elo bem das almas, desba­ · Paulo III, creou Cardeal a este intrepi­
ratou com doutíssimos e energicos es­ do confessor da fé cathofü:a no dia 20
criptos não só Luthero como os outros de Maio de 1535, mas o rei impediu que

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APPENDICE 529

lhe fosse consignado o capello cardina­ tado que chegou a distinguir-se entre
licio, que lhe fôra enviado. os primeiros na sciencia das cousas di­
Por duas vezes no rnez de Junho vinas, com!o nol-o attestam os seus es­
foi citado perante o tribunal, e tend,J criptos.
forteniente resistido, reconhecendo e de­ Apesar de occupado em muitissimos
fendendo os direitos ele Deus e ela negocios e nos cargos publicos, rezava
Egreja, foi condemnaelo a morte igno­ cada dia as horas canonicas, e gostava
miniosa dos trahiclores, commutada pelo de assistir a santa Missa e, antes dei­
rei na pena de decapitação. Recebeu xando de lado o respeito humano, gos­
com alegria a sentença de morte, en­ tava ele approximar-se ela Mesa eucha­
tregou-se com ardente fervor á oração, ristica.
gozando o seu espírito de paz adm'ira­ Mortificava o seu corpo com peni­
vel. tencias e trazia sempre o cilicio. Numa
palavra, não havia virtude que nelle não
No dia 22 ele Junho, quando era
resplandesesse, digna do mais fervoroso
levado ao patibulo, ao abrir a Escriptu­
crente. Casou-se com Joanna Colt, da
ra Sagrada cahiram sob seus olhos es­
qual teve tres filhas e urf:i filho. Tendo
tas palavras ele Jesus Christo: Ego te
esta fallecido cedo, unitt-se em matri­
clarificavi super terram, opus consu111-
monio com a viuva Alice Midleton, afim
111avi, quod dedisti 11vihi ut facium, et
ele ter quem cuidasse dos orphãos. En­
11111tca clarifica me, tu Pater apud tc­
metipsum. Eu te glorifiquei sobre a tretanto era elevado a importantes car­
terra, eii acabei a obra que me déste a gos publicos. Ainda não tinha 30 annos
fazer; agora, Pae, glorifica-me junto quando foi chamado a tomar parte na
de ti mesmo. E depois ele haver reno­ Assembléa do reino, enviado depois co­
mo embaixador na Belgica, e mais tar­
vado publicamente a profissão de fé,
de escolhido como conselheiro secreta­
rezou o Te Deuni e o Psalmo: ln te,
Do111-ini, speravi, com outras orações, e rio do rei até ser finalmente nomeado
offcreccu a cabeça ao carnifice. Assim Grande Chanceller da Inglaterra, co111
voou ao céo aquella alma de martyr. grande satisfacção de todo o reino. Oc­
cupou esses· cargos com admiravel mo­
destia, justiça, equidade e com plauso
SÃO THOMAZ MOORE - ele todos os bons .
Tendo fortemente e fielmente re­
NASCIDO em 1478, herdou enge­ sistido ao impio desejo do rei, incorreu
nho vivo e alegre. Estucliosissimo cl0 na sua colera, que se tornou oclio mor­
latim e do grego, frequentou os cursos tal, quando Thomaz não o quiz reco­
litcrarios em Oxford e as aulas de di­ nhecer como chefe supremo ela Egreja
reito em Londres, conseguindo grande na Inglaterra. Dem:ittiu-se portanto do
planso pela sua doutrina singular e il­ cargo de Chanceller e retirou-se a sua
lustre. Acolhido desde menino pelo Car­ <!'asa afim ele clecli•car-se inteiramente ás
deal Morton, Arcebispo de Canterbury praticas de piedade, a conversações es­
e Chanceller cio reino entre os seus fa­ piri tuaes e leituras religiosas, preparan..
mulos se viu indigitado muitas vezes cio-se por esse modo para a lucta su­
como homem destinado a grandes em­ prema que parecia approximar-se-lhe.
presas. Aborrecia a avareza, e na defesa Chamado a juizo para responder sobre
das causas que lhe eram confiadas, no um livro contra o divorcio cio rei, a elk
fôro, admiravelmente sabia conciliar o� imputado comlo auctor, repelliu a accu­
direitos da mais suave caridade com os sação corno falsa, mas publicamente
ela perfeita justiça. confessou a fé catholica. Mandado ao
Inflammado de amor pela religião carcere, foi de novo submettido a juizo.
catholica, dedicou-se ao estudo da philo­ Tendo constantemente persistido na pro­
sophia e theologia, com tão bom resul • fissão da fé catholica1 no dia 1 de Ju-
34 ,,

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530 APPENDICE

lho de 1535 foi concle1nnado a morte patibulo. Ia ao martyrio como para uma
cruclelissimia. Acceitou a sentença com festa, meditando a Paixão cio Senhor, e
animo alegre e reconhecido implorando ao povo que em grande numero se ag­
para os juizes iniquos a mesma sorte glomerava publicamente declarou que
cios Santos Estevam e Paulo, isto é, co­ niorria na Egreja e pela Egreja Catho­
mo Paulo, antes perseguidor de Este­ lica e fiel a Deus e ao rei. Apresentou
varn, agora é delle companheiro na glo­ ao carrasco os seus sentimentos de gra­
ria, assim elle promettia que haveria de tidão abraçando-o e subiu corajosamen­
orar a Deus para que tambem elles se te ao patibulo.
tornassem seus companheiros no reino Sander escreve: Approximou-se­
cio céo. De ntaneira alguma puderam lhe o carrasco e amputou a cabeça da
fazer vacillar na sna constam::ia, nem' as justiça, da caridade e da virtude, em­
lagrimas dos seus, nem os co11selhos <los quanto toda a Inglaterra chorava, não
ministros. No dia 6 ele Julho cio mesmo tanto sobre o martyr de Jcsus Christo,
anno, oitava ela festa cios Ss. Apostolos quanto sobre si mesma, julgando que
Pedro e Paulp, foi ellc conduzido ao lhe havia sido amputada a sua cabeça."
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INDICE ALPHABETICO
dos Sontos e Demoventurodos, cujos nomes se ochom no I e li volume
ABREVIAÇÔES
TITULOS - Ab. = abbade. Aba. = abbadessa. Ap. = aposlolo. Are. = arcebispo. B. = bispo. e. =
confessor. Di. = diacono. Dr. - doutor da Egreja. Er. = eremila. E,;. = c,;an11elista. M. � ma .
tvr. Pp. = papa. Ptr. = patriarcha. Pr. = propheta. R. = rei. Sac. = sacerdote. V. = ,;ir�un.
MEZES - 1 = Janeiro. li = fevereiro. III = Março. IV = Abril. V = Maio. VI = Junho. Vil = Julho.
VIII = Agoslo. IX = Setembro. X = Outubro. XI = No,;embro. XII = Dezembro.

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


(II é 2. vol.) Agatha Ri - 28-I. ................ 76
Agatha Lin - 28-I. ................ 76
Aarão - 1-VII. .................... II 10 Agatha - 5-II. .................... 104
Abacho - 19-1. .................... 52 Agathangelo, M. 7-VIII. ........... . II 121
Abdias, Pr. - 19-XI. .............. II 422 Agathon, M. - 7-XII. ............. II 473
Abdon, M. - 30-VII. ............... II 91 Agathonlca, M. - 13-VIII. ........ 294
Abilio, B. - 22-II. .................. 144 Agathonica, V. M. - 10-VIII. ...... II 131
Abraham, Ptr. - 9-X. ............. II 305 Agathopo, M. - 4-IV. ............ 263
Abrahão, Er. -1 20-V. .............. 219 Aggeo, Pr. - 4-VII. .............. II 19
Abrão, Er. - lG-V. ................ 210 Agostinho - 28-VIII. .............. II 187
Abundio, M. - 27-II. .............. 166 Agostinho Pak - 28-I. ........... . 76
Acacio, M. - 8-V. .................. 377 Agostinho Schéiffler - 1-V. ........ 354
Acaclo - 16-VIII. ................. 302 Agostinho - 5- V. .................. 364
Accursio - 16-I. .................. 43 Agricio, B. - 13-I. ................ 36
Achlléo, M. - 12-V. ............... 390 Agrippina, M. - 23-I. ............. 529
Acisclo, M. - 17-XI. .............. II 412 Ajuto - lG-I. .................... 43
Adalberto, B. M. - 26-VIII. ...... 326 Albano, M. � 22-VI. .............. 627
Adelaide - 21-II. .................. 140 Alberto Magno - 15-XI. .......... II 404
Adelaide - 16-XII. ................ II 489 Alberto, Ptr. - 8-IV. .............. 282
Adelgundes, V. - 30-I. ............ 83 Alberto, B. M. - 21-XI. ............ II 427
Adolpho, M. - 27-IX. ............ II 263 Albino, B. - 1-III. ................ 164
Adriano, M. 1-III. .............. 164 Alcober, M. - 28-X. .............. II 362
Adriano, M. - 4-III. .............. 170 Aleixo - 11-II. . ................... 120
Adriano, M. - 26-VIII. ............ II 182 Aleixo Falconiere - 17-II. ........ 134
Adriano, M. - 8-IX. .............. II 218 A1eixo - 17-VII. .................. II 54
Adventor, M. - 20-XI. ........... . II 423 Alena, M. - 17-VI. ................ 514
Affonso Maria de Llg., Dr. - 2-VIII. II 102 Alexandra Claudla, V. M. - 18- V. .. 418
Affonso Navarette - 1-VI. ........ 472 Alexandra, M. - 20-III. .......... 220
Affonso Rodriguez - 30-X. ........ II 364 Alexandre, B. - 26-II. .............. 153
Afra e companheiras - 5-VIII. .... II 113 Alexandre, M. - 27-II. ............ 156
Afra, M. - 24-III. ................ 437 Alexandre·, M. - 18-II. ............ 136
Agabo, Pr. - 13-II. ................ 123 Alexandre, M. - 3-V. .............. 359
Agape - 25-1 ..................... 66 Alexandre, M - 9-II. .............. llG
Agape - 15-11. .................... 128 Alexandre, M. 2-VI. ............ 474
Agape, V. M. - 3-VIII. ............ 261 Alexandre, M. - 10-III. .......... 188
Agapio, M. - 21-VIII. ............ n 161 Alexandre, M. - 24-IV. ........... 324
Agapito, B. - 16-III. .............. 210 Alexandre, M. - 22-IV. ............ 313
Agaplto, M. - 18-VIII.. ............ II 150 Alexandre, M. - 1-VIII. .......... II 102
Agaplto, Pp. - 20-IX. ............ II 243 Alexandre, B. M. - 11-VIII. ...... II 131
Agaplto, M. - 20-IX. .............. II 24-l Alexandre, M. - 26-VIII. .......... II 18:!
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532 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pn.g.


Alipio, B. - 15-VIII. .............. II 143 Anthusa, V. - 27-VII. . . . . . . . . . . . . . . II 86
Aladia, V. M. -22-X. .............. II 346 Anthinogenes - 24-VII. ............ II 77
Alpheo, M. - 17-XI. .............. II 412 Antiocho, M. - 21-V. . . . . . . . . . . . . . . 42'cl
Alvina, M. - 16-XII. .............. II 491 Antipas - 11. IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 290
Amalberga - 10-VII. .............. II 33 Antonia - 4-V. .................... 362
Amanclo - 10-II. .................. 117 Antonina, M. - 3-III. . . . . . . . . . . . . 359
Amancio, Di. - 19-III. ............ 218 Antonina, M. 12-VI. . . . . . . . . . . . . . . 600
Amarantho, M. - 7-XI. ............ II 388 Antonino, M. - 29-VII. . . . . . . . . . . . . II 89
Amaro - 15-I. .................... 41 Antonino, B. Con. - 31-X. . . . . . . . . . II 3G7
Amaro - 29-I. .................... 80 Antonino, Are. - 10-V. ............ 381
Am,brosio, B. Dr. - 7-XII. ........ II 470 Antonio, s. - 9-I. · · · · · · · · · · · · · . . . . . 2S
Ambrosio, B. - lG-X. .............. II 329 Antonio - 14-11. · · · · · · · · · . . . . . . . . . 125
America, Martyres da -26-IX. .... II 265 Antonio, M. - 30-IX. . . . . . . . . . . . . . . II 270
Amidéo - 11-XII. ................ 120 Antonio, M. - 13-XI. . . . . . . . . . . . . . . II 402
Amidéo - 18-IV. .................. 307 Antonio Daniel, M. - 26-IX. . . . . . . II 257
An11mon - 20-XII. ................ II 499 Antonio Dich, M. - 12-Vlll. . . . . . . II 135
Am,m,onio, M. - 18-1. .............. 49 Antonio Maria Zaccaria -5-YI l . . . . II 21
Ammonio, M. - 12-11. .............. 121 Antonio de Padua - 13-VI. . . . . . . . . 501
Amon, M. - 8-IX. . ............... II 218 Anysia, M. - 30-XII. . . . . . . . . . . . . . . II 522
Amos, Pr. - 31. III. .............. 252 Apelles -< 22-IV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 320
Ampelo - 20-XI. .................. II 423 Aphrodisio - 14-IIL . . . . . . . . . . . . . . Hl9
Amphiano - 2-IV. ................ 260 Apollinario, B. - 8-I. . . . . . . . . . . . . . . 23
Ampliato, M. - 31-X. .............. II 367 Apollinaris, V. - 5-I. . . . . . . . . . . . . . . 16
Ananias, M. - 25-1. .............. 66 Apollinaris, B. - 23-VII. . . . . . . . . . . II 75
Ananias - 16-XII. ................ II 491 Apollonia - 9-11. · · · · · · · · · . . . . . . . . 114
Anastacia - 15-IV. ................ 298 Apollonio, M. - 14-11. ............ 125
Anastacia, M. - 28-X. .............. II 362 Apollonio, B. - 19-111. ............ 218
Anastacia, M. - 25-XII. .......... II 510 Apollonio, M. - 18-V. . . . . . . . . . . . . . 306
Anastasio - 9-1. .................. 28 Apollonio, M. - 8-III. ............ 183
Anastacio -22-1. .................. 6G Apparecida, N. Senhora ela Concei-
Anastacio - 21-VIII. .............. II 161 ção -11-V. .................. 382
Anastacio, B. M. - 21-XII. ........ II 501 Apparição de N. Senhora a lle1·na-
Anatoleo - 20-III. ................ 220 dette --< 11-11. ................ 119
Andeolo - 1-V. .................... 354 Apparição de N. Sc,nhora das l\fer-
Andifase - 19-I. .................. 61 cês - 10-VIII. ................ II 131
André, Official - 19-VIII. .·....... II 162 Apphias, M -
22-XI. . . . . . . . . . . . . . . II 430
André, S. - 29-VIII. .............. II 193 Appiano, M. - 30-XII. . . . . . . . . . . . . II 522
André, Ap. - 30-XI. .............. II 460 Aproniano, M -2-11. . . . . . . . . . . . . . . 99
_André Avelino - 10-XI. .......... II 394 Apulcio, M. - 7-X. . . . . . . . . . . . . . . . . II 301
André Corsino -4-11. .............. 101 Aquila - 8-VII. . . . . . . . . . . . . . . . . . . II 29
André Nam-Thou -15-VII. ........ II 46 Aquilina, V. M. - 13-VI. . . . . . . . . . . 604
André Tiyem - 28-I. .............. 76 Aquilino - 17-V. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 413
André Uberto Fournet - 13-V. .... 394 Aquilino, M. - 4-11. . .. . . . . . . . . . . . . 103
Andronico - 9-X. .................. II 305 Aquilino - 29-1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Andronico, M. - 11-X. ............ II 313 Arator -- 21-IV. ......
' . . . . . . . . . . . 314
Anesio, M. - 31-III. ..........·.... 252 Arcadio - 12-1. . . . . . . . . . ' . . . . . . . . . . 32
Angela Merici -31-V. .............. 462 Archeláo, Di. - 23-VIII. . . . . . . . . . . II 164
Angela, Viuva - 10-1. ............ '28 Archeláo, B. - 26-XII. . . . . . . . . . . . . II 512
Angulo, B. - 7-11. ................ 111 Archippo - 20-III. ................ 220
Aniceto, Pp. - 17-111. ............ 304 Aresio - 10-VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49G
Anjos da Guarda - 2-X. .......... II 276 Aretas, M. -1-X. . . . . . . . . . . . . . . . . . . II 274
Anna - 26-VII. .................. II 82 Argobasto, B. - 21-VII. . . . . . . . . . . II 69
Anna, Prophetisa -1-IX. ....... , .. II 202 Aristides - 31-VIII. . . . . . . . . . . . . . . . . II 198
Annunciação de N. Senhora -25-ÜI. 232 Aristobolo, M. - 15-III. . . . . . . . . . . . . 203
Anselmo, B. de Canterbury - 21-IV. 311 Aristonio -19-IV. . . . . . . . . . . . . . . . . 309
Ansgario - 3-11. .................. 101 A.fmando, B. - 6-11. . . . . . . . . . . . . . . 109
Antão - 17-I. ..................... 44 Armogastas - 29-111. .............. 249
Antero - 3-1. .................... 11 Arnulpho, B.- 15-VIII. . . . . . . . . . . . . II 143
Anthelmo, B. - 26-I. .............. 635 Artemlr, M. -
20-X. . . . . . . . . . . . . . . II 342
Anthia - 18-IV. .................. 307 Ascensão de N. Senhor ............ 372
Antigono, M. - 27-11. .............. 166 Asella, V. - 6-XII. . . . . . . . . . . . . . . . . II 470
Anthimo - 27-IV. ................ 332 Assumpção de N. Senhora -15-VIII II 140
Anthimo, M. 11-V. ................ 388 Asterio, B. -
10-VI. · · · · · · · · · · · · · · 496

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INDICE ALPHABETICO 533

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Asterio, M. - 3-III. .............. 167 Bcnpclic1.o - 15-IV. ................ 297
Asterio, M. - 21-X. ............... II 343 Bencdicto, J<Jr. - 12-XI. ............ II 400
Atalis, M. - 14-11. ................ 125 Benedicto José Labre - 16-IV. .... 302
Athanasia - 9-X. ................. II 305 Benezet - 15-VJII. ............... . 297
Athanasia, Viuva - 14-VJU. ...... II 140 Benigno, M. -----, 13-II. .............. 123
Athanasio - 2-V. ......... ......... 354 Benigno, M. - 1-XI. .............. II 373
Athanasio, B. -----, 22-VIII. .......... II 162 Benigno, B. M. - 28-VI. .......... 638
Athenodoro - II-XI. .............. II 398 Benildes, M. - 15-VI. .............. 5ú9
Athenodoro, M. - 18-X. ............ II 337 Benjamin, M. - 31-III. ............ 2�:!
Attalo, M. - 2-1. .................... 471 Bennone, B. - 16-VI. .............. 510
Atto, M. - 1-VIII. ................ II 102 Bento - 21-III. .................. . 221
Auberto, B. -- 13-XJI. ............. II 48!i Berardo - 16-I. ................... . 43
Aucejas, R. - 25-VI. . . . . . . . . . . . . . . 53J Be1·nadette <le Soubirous - 11-II. .. 119
Auda, B. M. - 16-V. ................ 410 Bernardino <le Sienna - 20-V. .... 42u
Audacto, M. - 24-X. .............. II 353 Bernardo Beaulien - 8-III. ........ 18:l
Aurea - 4-X. .................... II 20 l Berillo - 21-III. .................. 224
Aurelia, M. - 27-VII. ............. II 86 Besas -----, 27-11. .................... 15G
Aurelia, V. - 25-IX. ................ li 253 Berthilla - 5-XI. .................. II 384
Aurelia - 15-X. ................... II 3·24 Bibiano, M. - 2-XII. .............. II 459
Aurelio, B. M. - 12-XI. ............ II 400 Biblides, M. - 2-VI. ................ 47'1
Aureo, M. - 16-VI. ................ 512 Bianda - 10-V. .................... 382
Austreberta - 10-II. .............. llíl Biandina - 2-VI. .................. 474
Austregesilo, B. - 20-V. ............ 423 Boaventura -- 14-VII. .............. II 41
Austremonio, B. - 1-XI. .......... II 373 Bona, V. - 24-IV. ................ 324
Auxencio, B. 18-XII. .............. II 495 Bonajuncta - 11-II. .............. 12(!
Auxiliadora, Nossa Senhora - 24-V. 434 Bonfilio - 11-II. .................. 120
Avito, B. - 5-11. .................. 106 Bonifacio, B. M. - 5-VI. .......... 480
Azarias - 16-XII. ................ II 491 Bonifacio de Roma -- 14-V. ........ 402
Bonifacio, M. - 17-VIII. .......... II 148
Bonifacio - 30-VIII. .............. II 195
BJ Braulio, B. - 26-III. .............. 242
Barachlso, M - 29-III. ............ 247 Braz - 3-II. ...................... 100
Barbara - 4-XII. .................. II 464 Brlgida - 8-X. . .....-............ II 301
Barlaam - 27-XII. ................. II 441 Brigi<la de Kildare - 1-II. ........ 97
Barnabé, Ap. - 11-VI. ............ 497 Bruno -- 6-X. ...................... II 29:J
Barsabas, M. - 11-XII. ............ II 481 Bruno, M. - 15-X. ................ II :124
Bars!méo, B. M. - 30-1 ............ 83 Burchardo, B. - 14-X. ............ II 31!!
Barsanuphio - 11-VIII. ............ 2!l0 Bu1-gunrlóphora, Aba. - 3-IV. .... 262
Bartholomeu, Ap. - 24-VIIJ. ...... II lli5 Burgundófara, Aba. - 7-XII. II 47:l
Barula, M. - 18-XI. ............... II 414
Basileo, M. - 2-III. .............. 165
Basileo, B. - 23-V. ................ 434
Basilea, V. - 20-V. ................ 422 Cacldas - 2-III. .................... 165
Basilides, M. - 30-VI. .............. 544 Caetano - 7-VIII. ................ II 119
Basilides, M. - 12-VI. .............. 500 Caio - 20-XI. .................... II 423
Basllio, o Grande - 14-VI. ........ 504 Caio, M. - 19-IV. .................. 30fl
Basilio - 30-V. . ................... 4 61 �aio, Pp. - 22-IV. ................ 319
Basillo, M. - 22-III. .............. 227 'Caio - 10-III. ...................... 188
Basilissa, V. M. - 3-IX. ............ II 206 Calancio, M. - 17-XII. ............ II 49:1
Basilissa - 15-IV. ................ 298 Calepodio, M. - 10-V. .............. 382
Basllissa - 9-I. ................... 28 Calimerio, B. M. - 31-VII. .......... II 95
Basil!ssa, M. - 22-III. ............ 227 Calistrato, M. - 26-IX. ............ II 255
Bassa, V. M. - 10-VIII. .......... II 131 Callinica, M. - 22-III. ........... . 227
Bassa, M. - 21-VIII. .............. II 161 Calliope, M. - 8-VI. .............. 492
Bassa, M. - 6-III. ................ 175 Calliopio - 7-IV. .................. 282
Basso, M. - 14-II. .................. 125 Calllxto, M. - 16-IV. .............. 302
Baudel!o - 20-V. .................. 423 Callixto, M. - 25-IV. .............. 32G
Beatrice, M. - 29-VII. ............ II 89 Callixto I, Pp. - 14-X. ............ II 321
Beatriz da Silva - 15-X. .......... II 32-l Calllxto, B. M. - 14-VIII. ........ II 148
Begga, Viuva - 17-XII. ........... II 493 Calocero - 18-IV. .................. 307
Beltrão - 11-X. .................... II 311 Calozero, B. - 11-11 ' ........... 119
Benediota, V. - 29-VI. ............ 641 Camesião, M. - 21-VIir II 161
Bened!cto - 4-IV. .................. 263 Camlllo de Lellls - 18- Vn: · : : : : : : : : II 59

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534 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Canadá, Martyres do -----, 2G-IX. II 255 Clara da Cruz, V. - 18-VIII. II 150
Canditla, M. - 29-VIII. ............ II 193 Claro, Sac. 1\:1. - 4-XI. •........... II 383
Candida - 4-IX. .................. II 207 Clatéo, M. - 4-VI. ................ 479
Canuto - 19-1. .................... 49 Claudia, M. - 20-111. .............. 220
Capiton, M. - 24-VII. .............. II 77 Claudia, M. - 18-V. ................ 418
Caridade, M. - 1-VIII. ............ II 101 Claudiano, lVI. - 25-11. ............ 151
Carlos Borromeu, B. - 4-XI. ...... II 378 Claudiano, M. - 6-III. ............ 175
Carlos Cornay, M. - 20-IX. ........ 244 Claudio, M. - 7-VII. ...... , ....... II 26
Carlos Garnier, M. - 2G-IX. ........ II 258 Claudio, M. - 18-II. ................ 136
Carlos Petit-Nicolas - 11-III. ...... 190 Claudio, M. - 30-X. ....._. .......... II 364
Carmo, N. Senhora do - lG-VII. .... II 49 Claudio, M. - 8-XI. ................ II 391
Carpasio, M. - 14-X. .............. II 321 Claudio, M. - 3-XII. .............. II 463
Carpo - 13-X. .................... II 318 Claudio, M. - 3-VI. ................ 477
Carpo, B. - 13-IV. ................ 294 Claudio de la Colombiére - 16-VI .. 512
Casimiro, R. - 4-III. .............. 168 Claudio Maria Chevier - 21-VI. .... 524
Casdoa, M. - 29-IX. ................ II 268 Clemente, B. - 23-1. .............. 61
Cassiano, M. - 7-VIII. ............ II 121 Clemente, Pp. M. - 23-XI. ........ II 431
Cassiano, M. - 13-VIII. ............ II 138 Clemente Hofbauer - 15-111. ...... 199
Cassio, l\lL 10-X. .................... II 309 cieophas - 25-IX. ................ II 253
Castor, M. - 28-XII. .............. II 518 Clero - 7-1. ...................... 21
Castor, M. - 28-III. ................ 247 Cleto, Pp. M. - 26-IV. ............ 329
Castorio, M. - 8-XI. .............. II 391 Clotilde - 3-VI. .................. 475
Castulo, M. - 2G-III. .............. 242 Cointa, M. - 8-II. .................. 113
Catão, M. - 19-1. .................. 51 Coleta - 6-III. .................... 175
Catharina de Alex. - 25-XI. ........ II 436 Columba, V. - 17-IX. .............. II 236
Catharina de Bolog·na - 6-III. .... 174 Columba, V. M. - 31-XII. .......... II 525
Catharina de Genova -- l ri-IX. .... II 229 Colombo, Sac. - 9-VI. ............ 493
Catharina de Uicci - 13-II. ........ 121 Coneessa, M. - 8-IV. .............. 283
Catharina de Ricci � 2-II. ........ 99 Conrado de Parzham - 21-IV. .... 314
Catharina da Suecia - 24-III. ...... 230 Consorcia - 22-VI. ................ 527
Catharina de Siena - 30-IV. ........ 341 Constança, M. - 19-IX. ............ II 242
Catharina '.rhom:az, V. - 5-IV. ...... 267 Constaneio, B. M. - 29-I. .......... 80
Catharina - 22-111. ................ 227 Constancio, M. - 12-XII. .......... II 48�
Catulino, M. - 15-VII. ............ II 4G Coração de Jesus .................. 487
Cecilia, M. - 22-XI. .............. II 427 Corbiniano, B. - 8-IX. ............ II 218
Cecilio - 15-V. .................... 406 Cordula, V. M. - 22-X. ............ II 346
Cclerino, Di. l\lI. - 3-II. ............ 101 Corebo, M. - 18-IV. .............. 307
Celestino I, Pp. - G-IV. ............ 277 Cornelia, M. - 31-111. .............. 252
Celinia - 21-X. .................... II 343 Cornelio, Capitão - 2-II. .......... 99
Celio � 9-1. ....................... 28 Cornelio, Pp. M. - 14-IX. .......... II 229
Celio - 28-VII. .................... II 87 Carona, M. - 14-V. .............. 405
Celio, B. - 6-IV. .................. 277 Corpo de Deus .............•....... 454
Cesario - 25-II. .................. 151 Cosme - 27-IX . ................... II 262
Cesario, Di. - 1-XI. ................ II 373 Crato, M. - 15-II. ................ 128
Charisio, M. - lG-IV. .............. 302 Crescencia, M .. - 15-VI. ............ 507
Chelidonia, V. - 13-X. ............ II 318 Crescenciana - 15-V. .............. 364
Chelidonio - 3-III. ....·............ 167 Creseenciano - 12-VIII. ........... II 135
Chilino, B. - 8-VII. ................ II z-,J Crescencio, M. - 18-VII. .......... II 60
Chionia, V. M. - 3-IV. ............ 2Gl Creseencio - 15-VIII. .............. 298
Christiana - 15-XII . .............. II 487 Crescencio - 27-VI. ................ 536
Christina - 24-VII. ................ II 77 Crescencio, B. - 29-XII. .......... II 520
Christina, V. M. - 13-III. .......... 195 Crescencio, M. - 12-XII . .......... II 482
Christino, Er. - 12-XII. ............ II 400 Crescencio, M. - 14-IX. ............ II 229
Christo, Paixão de - 26-Ill. ........ 242 Crescente - 28-XI. ................ II 448
Christo Rei - Ultimo Domingo de Cresconciano - 28-XI. ............ II 448
Outubro . . . .................. II 358 Crispim, M. - 25-X . .............. II 353
Christophoro, M. - 20-VIII. ...... II 158 Crispina, M. - 5-XII. .............. II 468
Chromacio, B. - 2-XII. ............ II 459 Crispiniano, M. � 25-X. ........... II 353
Chrysantho, M. - 25-X. ............ II 353 Crispo, M. - 18-VIII. .............. II 150
Chrysogono, l\L - 24-XI. .......... II 43G Crispulo, M. - 30-Y. .............. 461
Circumcisão de Nosso Senhor Jesus Crispulo, M. - 10-VI. .............. 496
Christo - 1-1. ................ 3 Cruz, Invenção da Santa - -3-V. .... 358
Cisello, M. - 21-VIII. .............. II 161 Ctesiphon - 15-V. . ............... 406
Clara - 12-VIII. .................. II 132 Cucla, M. - 18-II. .................. 136

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INDICE ALPHABETICO 535

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Culmacio, M. - 19-VI. .......... .. 518 Dionisio, B. - 8-III . 377
Cunegundes - 3-111. .............. 166 Dionísio - 12-111 . . 390
Cura d'Ars: João Vianney - 9-VIII. II 124 Dionysio, B. - 8-IV . .............. 283
Cyria, M. - !i-VI. .................. 483 Dionysio - 9-X . . . ............. II 304
Cyriaca, V. - 19-V. ................ 41� Dionysio - 18-XI. . . ............ II 412
Cyriaca, M. - 20-111. ............ 220 Dionysio, M. - 6-XII. . . . ...... II 470
Cyriaca, M. - 21-VIII. ............ II 161 Diodoro, M. - 11-IX . . ........... II 223
Cyriaco, M. - 8-VIII. ... . .......... II 121 Diodoro, M. - 1-XII . . . ......... II 467
Cyriaco, l\'L - 8-11. ................ 113 Diodoro - 17-1 . . . .............. 46
Cyriaco, M. 2-V. ................ 358 Doda, V. - 24-IV. ................ 324
Cyriaco, M. - 18-VI. .............. 51r. Domiciano, M. - 28-XII . . ........ II 618
Cyriaco, M. - 24-VI. ....... . ...... 532 Domicio, M. - 5-VII . . ........... II 21
Cyrilla, V. M. - 28-X. ............ II 362 Domingos - 4-VIII. . . .......... -II 109
Cyrilla, M. - !i-VII. .............. II 21 Domingos de Sylos - 20-XII ...... II 498
Cyrillo de Jerusalém, Dr. - 18-111. .. 212 Domnio, B. - II-IV. .............. 290
Cyrillo, M. - 20-111. .............. 220 Domiciano, M. - 24-111. . ........ 437
Cyri!lo, M. - 15-11. ... ............. 126 Domiciano, B. - 6-IX . .......... II 212
Cyrino - 3-1. ...................... 11 Donata, M. - 31-XII . . .......... II 625
Cyrino, M. - 12-VI. .............. 500 Donatila, M. - 30-VI . . .......... II 91
Cyro, M. - 30-1. .................. 86 Donato, M. 25-1 . . . ........... 66
Cyro - 29-VI. ...................... 541 Donato, M. - 4-11. . ............. 103
Cypriano, B. - 16-IX. .............. II 232 Donato, M. - 7-VIII. . ........... II 121
Cypriano, M. - 12-X. ....... . ...... II 316 Donato, Sac. - 19-VIII . .......... II 152
Cypriano, M. - 26-IX. .............. II 254 Donato, M. - 23-VIII . . ......... II 164
Donato - 29-X. . ................ II 363
Donato, M. - 30-XII. ............ II 522
Dores de N". Senhora - 15-IX .... II 232
Dacio, M. - 27-1. .................. 74 Dorothea, V. M. - 3-IX . ......... II 206
Dadas, M. - 29-IX. ................ II 268 Dorothea, V. M. - G-11. .......... 106
Dafrosa - 4-1. .................... 14 Dorothea, M. - 3-IX. ............ II 204
Damaso, Pp. - 11-XII. ............ II 480 Dorothéa, M. - 9-IX. .............. II 219
Damifto, M. - 12-11. ................ 121 Dorothea, M. - 28-III. . ......... 247
Damião - 27-IX. .................. II 262 Dula - 25-111. . . ............... 235
Daniel - 3-1. ..................... 11 Dunstan, B. - 19-V . . ............ 419
Daniel, Pr. -- 21-VII. .............. II 69 Dympna - 15-V . .................. 405
Daniel, M. - 16-11. ................ 132 Dyonisio, Pp. - 26-XII . . ........ II 512
Daniel, M. - 10-X. ................ II 309
Daria, M. - 2!i-X. ................ II 353
Dativa, M. - 6-XII. .............. II 470
Dativo, B. - 10-IX. ................ II 22� Edilberto - 24-II . ............ 149
David, R. Pr. - 29-XII . .......... II 520 Edistlo, M. - 12-X . . ............. II 316
Degollação de João Bapt. - 29-VIII. II 191 Edith, V. - 16-IX . ............... II 234
Deicola, Ab. - 18-I. ................ 49 Edmundo - 16-XI. . ............. II 408
:Oelamotte - 3-X. ................... II 286 Eduardo, R. - 5-1. ............. 1o3
Delphino, B. - 24-XII. ............ II 606 Eduardo, R. - 13-X. .............. 316
Demetria, V. M. - 21-VI. .......... 524 Eduardo, R. - 13-X . . ........... 31�
Demetrio, M. - 21-XI. ............ II 427 Egduno - 12-111 . . . ............. ]93
Demetrio, M. - 8-X. .............. II 303 il.lgydio - 1-IX. .................. II 201
Deogratias, B. - 22-111. ............ 227 Elesbão, R. 27-X . .................. II 357
Derphuta, M. - 20-III. ............ 220 Eleutherio, Pp. M. - 26-V . ....... 4�1
Desiderio, B. - 23-V. .............. 434 Eleutherio, M. - 9-X. . ......... II 305
Deusdedit - 10-VIII. .............. II 131 Eleutherio - 18-IV. . ............ 307
Deusdedit - 8-XI. ................ II 391 Eleutherio - 18-VIII . . .......... 307
Diaz, M. - 28-X. .................. II 362 Elias, M. - 16-II. . .............. 132
Didaco Carvalho, M. - 22-11. ...... 144 Elias, M. - 17-IV. ................ 305
Didimo, M. - 11-IX. .............. II 223 Elias, Pr. - 20-VII. . ............ II 67
Didymo, M. � 28-IV. .............. 335 Eligio, B. - 1-XII. ................ II 465
Diem, Sac. M. - 24-XI. ............ II 436 Eliseo, Pr. - 14-VII. ............ 607
Digma, V. - 11-VIII. .............. II 131 Elphego, B. M. - 19-VJll. ....... 30�
Digma, V. - 12-VIII. .............. II 135 Elpidio, M. - 16-XI. .............. II 410
Digna, M. - 22-IX . . ............ II 24S Elpidio, B. - �-IX . . ............ II 204
Dimas - 25-V . . . . ............. 235 Emerenciana, V. M. - 23-I. ....... 61
Diomedes, M. - 11-IX . . . ....... II 223 Emerita, M. - 22-IX. . .......... II 24b
Dionísio, M. - 3-VI. . ............ 477 Emilia - 30-V . ................... 461

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536 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Emigdio, B. M. - 5-VIII. . II 115 Euphrasia, 13-III. .......... 193
Emilia - 30-5. . . ............... 461 Euphrasial - 20-III. ......... 220
Emiliana - 24-XII. . ............ II 50n Euphrasio - 15-V. .......... 406
Emiliana, M. - 30-VI. ............ 544 Euphrosina - 7-V. .......... 36D
Emiliano, M. - 30-V . . . ......... 54-� Euprepia - 12-VIII. ........... II 135
Emiliana, V. - 5-1. . ............ 16 Eusebia, V. M. - 29-X. ......... II 363
Emiliano, M. - 18-VII. . ....... . II 60 Eusebio, M. - 25-VIII. . ......... II 180
Emilio, M. - 28-V. ................ 458 Eusebio, B. M. - 21-VI. . . . ..... 524
Ernilos, M. - 15-IX. . ........... II 232 Eusebio - 14-VIII. , . . ........... II 138
Er,gelberto, Are. - 7-XI. . ....... II 386 Eusebio, M. - 21-IX. . . ......... II 246
Engracia, V. M. - 1 G- VIII. ...... 302 Eusebio, M. - 5-III. . . , ......... 173
Ennatha, V. M. - 1 a-XI. ......... II 402 1..:usignio - 5-VIII. ........... II 115
Epaphras - 19- VII. .............. II 64 Eustachia - 2-XI. . . ........... II 376
Epaphrodito, B. - 22-III. 227 T•,ustachlo - 28-XI. . . .......... II 448
Ephigenla, V. - 21-IX. . II 246 Eustachio, M. - 16-XI. . . ........ II 400
Epichrarides, M. - 27-IX. II 263 Eu:stachio, B. - 31-X.· . .......... II 367
Epimacho - 10-V. . . ........... 382 Eustachio, M. - 20-IX. . ........ II 2H
Epimacho, M. - 12-XII. . ........ II 481 Eustochium, V. - 28-IX. . ....... II 265
Epiphania ---:-- 6-1. . ............. 17 Eustorgio, B. - 18-IX. . . ....... II 239
Epipodio, M. - 22-VIII. . . ...... 318 Euthalia, V. - 27-VIII. . ........ II 185
Epistemis, M. - 5-XI. . .......... II 385 Euthymio, B. - 11-III. . ......... 190
l�pitacio, B. - 23-V. . .......... . 434 Euthym:io - 20-I. . .............. 53
Erasma, V. M. - 3-IX. . ......... II 206 Eutropia, V. M . - 14-XII. . ..... II 487
lsrasto, M. - 26-VII. . ........... II 83 1':::utropia, M. - 30-X. . . ........ II 364
Erhardo - 8-I. . . .............. 23 Eutropio - 12-1. . . ............. 34
J<Jseolastlca - 10-II. . ............ 116 i,Jutroplo, B. M. - 30-IV. .......... 342
Esdras, Pt·. - 13-VIT . . .......... II 41 Eutyches, M. - 15-IV. ............ 298
J;;sperança, M. - 1- VIII. . ..... .. II 101 Eutychio, M. - 28-Xll. . ........ II 518
Espiridiãç,, B. - 14-XII. .......... II 485 Eutychio, M. - 21-V. . . ......... 424
Espirita Santo . . . . .......... 413 J!Jutychio, M. - 4-II. . ........... 103
Estanisláo, B. - 7-V. . .......... 367 Euzebio, Pp. - 26-IX. . . ........ li 235
Estanisláo Kostka - 13-XI. ...... II 400 Euzebio, B. - 10-XII. . . ......... II 478
Estercaclo, M. - 24-VII. . ....... II 77 Evagrio, B. - 6-III. . .......... 175
Estevam, Protomartyr - 26-XII. .. II 5H, Evagrio, M. - 12-X. . . .......... II 316
Estevam - 25-VIII. . . ......... 326 Evaldo, M. - 3-X. . . ............ II 286
Estevam, R. - 2-IX. . .......... II 202 Evaristo, M. - 14-X. .............. II 321
Estevão - Invenção do corpo ele Evaristo, Pp. M. - 26-X. . . ..... II 357
Sto. - 3-VIII. . . ........... II 107 Evellio - 11-V. . . .............. 388
Estevão, Pp. - 2-VIII. . ........ II 105 Evergisto, B. M. - 24-X. . ........ II 35�
Estevão Theodoro Cuenot - H-Xl. II 404 Evodio, M. - 25-VIII. . ......... 326
Estevão Min - 28-1. . . ......... 76 Exaltação da Sta. Cruz - 14-IX... II 228
Estur�lo, Ab. - 30-XII. . ....... II 521 Expedito - 19-IV. ................ 309
Ethebroldo, B. - 1-VIII. . . ...... II 102 Exuperancia - 26-IV. ............ 329
Etherio, B. - 27-VII. .......... , II b6 Exuperancla - 24-I. . . ......... 63
Eubulo, M. - 7-III. ........... 178 Exuperla, M. - 26-VII. . ......... II 83
Eucarpio - 18-III. . ........... 214 Exuperio - 2-V. .................. 358
Euchario, B. � 8-XII. . ......... . lI �•l Ezequiel, Pr. - 10-IV. ............. ' 287
Eucherlo, B. - 20-II. . . ........ D
Eudocia - 1-III . . . ............. 16!
Eugenia, M. - 25-XII. . .......... II 510
Eugeniano, M. - 8-I. . . ........ 23 Fabião, Pp. M. - 20-I. ......... 63
Eugenlo, B. - 13-VII. . ......... II 3:) Facundo, M. - 27-XI. . . ........ II 441
Eugenlo, M. - 18-VII. . . ........ II 60 Faina, V. - 18-V . . . ............ 418
Eugenlo, M. - 29-VII. ............ II SU Famma Sagrada - 8-I. . ........ 23
Eugenlo, M. - 20-III. ............ 220 l<�andila, Sac. - 13-VI. . ......... 604
Eugenlo, B. M. - 2-V. ............ 358 Fausta - 19-XII. . . ............. II 498
Eugenio, B. M. - 15-XI. ......... II 406 Faustinlano, B. - 26-II. . ....... 153
Eulalia de Merida - 12-11. ........ 120 Faustino, M. - 22-V. . .......... 429
Eulalia, V. M. - 10-XII. ......... II 479 Faustino, M. - 15-II. . . ........ 128
Eulogio - 11-III. ................ 189 Faustino, B. - 16-II. . ......... 132
J!Junoml - -12-VIII. . . ........ II 135 Faustino, M. - 29-VII. . ........ II 89
Euphemia, V. M. - 3-IX. . ....... II 206 Faustino, M . - 17-II. . . ........ 134
Euphemla, M. 16-IX. II 234 Fausto, M. 15-II. . ............ II 46
Euphemla, M. - 20-III. . ...... , . 220 Fausto, M. - 16-II. . ............ II 53

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INDICE. ALPHABETICO 537

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Fé, M. - 1-VIII. . .. ............. II 101 Fortunato, M. - 17-VIII. 305
Fé, M. - 6-X. . . ............... II 296 Fortunato - 21-VIII. . 314
Feb ronia - 25-VI. .......... . 533 Fortunato, 1vI. - 15-X. . II 324
Feliciano, B. - 24-1. . ........... 63 Fortunat�, M. - 24-X. II 353
Feliciano - 11-XI. . ........... 398 Francisca Romana - 9-III. 183
Feliciano, M. 9-VI. . ............. 492 Francisco de Assis - 4-X. ....... II 287
Felicidade - 5-III. . . ........... 170 Francisco de B orgia - 10-X. . ... II 306
Felicidade, M. - 23-XI. .......... II 433 Francisco Caracclolo - 4-VI. 479
Felicidade - 10-VII. . . ......... II 31 Francisco Galves, M. - 4-XII. ... II 466
Felicissima, V. - 12-VIII. ........ II 135 Francisco Isidoro Gaye!in, M. -
Felicissimo, M. - 26-X. . . ....... li 357 17-X. II 333
Pelicula, M. - 14-11. ......... 125 Francisco Jaccard, M. - 21-XII. .. II 501
l•'elicula, V. M. - 13-VI. . ....... 504 Francisco de .Jeronymo - 11-V... 398
l•'elino - 1-VI. . . ............... 472 Francisco Pacheco - 20-VI. ...... 619
F'elisberto, Ab. - 20-VIII. II 168 Francisco Pedro Neron., M. - 3-Xl. II 378
I<'elix, M. - 27-VII. . ............ II 86 Francisco de Paula - 2-VIII. .... 257
l•'elix - 7-1. ...................... 21 Francisco Regis - 17-VI. .......... 513
Felix, M. - 21-II. . .............. 141 Francisco Regis - 18-II. .......... 136
Felix III, Pp. - 25-11. . ......... 151 Francisco de Sales, B. - 28-XII. .. II 518
Pelix, B. - 10-IX. . ............. II 222 Francisco de Sales - 29-I. 76
Felix, M. - 19-IX. . ............. II 242 Francisco Solano - 14-VI. II 43
Felix, Pp. M. - 30-V. . .......... 461 Francisco Solano - 23-VII. II 73
Felix, M - 28-V. . .............. 458 Francisco Xavier - 3-XII. II 459
Felix de Cantalicio - 18-V. ...... 416 Frigdiano, B. - 18-111. ............ 214
[i'eJix, M. 16-V. .............. 410 Frovilano, B. - 5-X. .............. II 292
Felix, M. - 12-X. . .............. II 316 Fructuosa, M. - 23-VIII. .......... II 164
Felix, M. - 31-111. . ............ 262 Frung, M. - 6-X. ................ II 296
li'elix 10-V. ................. 382 Fulgencio - 1-I. .................. 6
Felix, B. M. - 24-X. . ........... II 353 Fulgencio - 8-1. .................. 21
Felix - 17-VI. . ................. 614 Fusca, V. - 13-11. ................ 123
Felix de Valois - 4-XI. . ......... II 384 Fusculo, B. - 6-IX. .............. II 212
Felix de Valois - 20-XI. ......... II 422
I<'elix, M. 6-XI. . . ............ II 386
Felix, B. M. - 16-XI. . .......... II 406
Felix, B. - 8-III. . .............. 183 Gabdelos, M. - 29-IX. ............ II 268
Felix - 21-VIII. . . ............. 314 Gabino, Sac. M. - 19-11. .......... 138
Felix - 28-XI. . ................. II 448 Gabino, M. - 30-V. ................ 461
Fernando III, R. - 30-V. . ....... 459 Gabriel Dufresse, M. - 12-IX. .... II 225
Fernando de São José - 1-VI.... 472 Gabriel Lalemant, M. - 26-IX. .... II 267
Ferreolo - 16-VI. . . ........... 512 Galacião, M. - 5-XI. .............. II 385
Ferrucio, M. - 16-VI. . .......... 512 Gaiata, M. - 19-IV. .............. 309
Fidelis de Sigmarlnga - 24-VIII .. 322 Galdino - 18-IV. ................. 307
Fidelis, l\i. - 21-VIII. . ......... II 161 Gallo, B. - 1-VI. ................ II 9
Fillppe - 6-VI. ............. 486 Gallo - 16-X. .................... II 327
Finados - 2-XI. . ............... II 374 Gaudencia, V. - 30-VIII. .......... II 195
Firmina, V. M. - 24-XI. . ....... II 436 Gaudencio - 22-1. ................ 68
Firmino, B. - 18-VIII. II 160 l}audencio - 12-II. ................ 121
Firmino - 25-IX. . ................ II 252 'áaudencio, B. M. - 14-X. .......... II 321
Firmino, M. - 24-VI. . .......... 632 Gaudencio, M. - rn-vr. .......... 518
l<'irmo, M. - 24-VI. . . ........... 632 Gaudioso, B. - 7-III. ............ "" 178
Flavia Domltilla - 7-V. . . ....... 369 Gaudioso, B . - 26-X. .............. II 367
Flaviano, M. - 28-I. . ........... 76 Gedeão - 1-IX. .................. II 202
Flaviano, M. - 22-XII. . ......... II 501 Gelasio, M. - 4-II. ................ 103
Flaviano - 17-II. ........... 132 Gemello, M. - 10-XII. ............ II 479
Flora, M. - 29-VII. . . ......... II 84 Geminiano, M. - 16-IX. .......... II 234
Florenclano - 28-XI. .......... II 448 Gemino, M. - 4.XII. .............. 103
Florenclo - 3-I. . . ............. 11 Genesio - 26-VIII. ................ II 181
Florencio, M. - 10-X. ............ II 309 Gennadio, M. - 16-V. .............. 410
Florentino, M. - 15-VI. II 46 Genoveva - 3-1. .................. 9
Floriano, M. - 17-XII. . ......... II 493 Georgia, V. - 15-II. .... '}' .... ,'-;-:·- 128
Floro, M. - 18-VIII. . . ......... II 15'J Geraldo M ajella - l�X. .•.;/..�..::..': II 321
Fortunato - 9-1. . . ............ 28 Gerardo, B. M. - 24-IX. .. ' . ....... II 261
Fortunato, M. 21-II. 141 Gerasmo, Er. - 5-III. ............ 173
Fortunato, M. - 27-II . . . .. ... . 156 Gereão, M. - 10-X. .............. II 309

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538 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Gerino, M . - 2-X . ................ II 276 , Heliodoro, M. - 6-V. .............. 366
Germana Cousin - 15-VI. ........ 510 Helladio - 8-1. .................... 23
Germanico - 19-I. ................ 51 Helladio, B. - 18-II. .............. 136
Germano, B. - 6-IX. .............. II 212 Helladio, B. - 8-III. .............. 377
Germano - 28-V. .................. 456 Hemiterio - 3-III. ................ 167
Germano, Ptr. - 12-V. ............ 389 Henedina, M. - 14-V. ............ 405
Germano, M. - 23-X. .............. II 350 Henrique, Imperador -- 15-VII. .... II 44
Germano José - 7-IV. ............ 279 Heraclides, M. - 28-VI. ............ 538
Germano, M. - 13-XI. ............ II 402 Heraclio, M. - 2-111. ............ 165
Geroncio - 9-V. .................. 380 Heraclio, M. - 11-III. ............ 190
Geroncio M. - 19-I. .............. 51 Reradio, M. - 17-V. .............. 413
Geroncio, B. - 25-VIII. .......... II 180 Herculano, M. - 5-IX. ............ II 209
Gertrudes - 14-XI. ................ II 402 Herculano - 25-IX. .............. II 253
Gertrudes - 17-III. .............., 212 Herculano, B. M. - 7-XI. .......... II 388
Gervasio, M. - 19-VI. ........... _- 518 Heriberto - 16-III. .............. ;!08
Getullo, M. - 10-VI. .............. 496 Hermacrates - 27-VII. ............ II 86
Ghebra M iguel - 28-VIII. ........ II 191 Hermagoras - 12-VII. ............ II 39
Gil - 1-IX. ...................... II 201 Hermas - 9-V. .................... 380
Gildardo, B. ---< 8-VI. .............. 492 Hermenegildo, M. - 13-IV. ........ 292
Glaphyra - 13-1. .................. 36 Hermes, M. - 1-111. .............. 164
Glyceria - 13-V. .................. 397 Hermes, M. - 28-VIII. ............ II 191
Glycerio, M. - 21-XII. ............ II 501 Hermes - 2-XI. .................. II 37G
Goar, Sac. - 6-VII. .............. II 21 Hermippo - 27-VII. .............. II 8G
Godofredo - 13-1. ................ 35 Hermogenes, M. - 19-IV. ........ 309
Godofredo, B. - 8-XI. ............ II 389 Hermogenes, M. - 25-IV. ........ 326
Godoleva - 5-VII. ................ li 19 Hermoláo, Sac. - 27-VII. .......... II 86
Gordiano, M. - 10-V. ............ 382 Heron, M. - 28-VI. .............. 538
Gorgonia - 9-XII. ................ II 476 Heros, M. - 24-VI. .............. 632
Gorgonio, M. - 9-IX. ............ II 219 Hermuda, V. - 23-VII. .......... II 75
Gorgonio, M. - 3-IX. ............ II 204 Hesychio - 15-V. ................ 406
Gorkum, Martyres de - 9-VII. .... II 29 Hesychio - 15-VI. ............... . 509
Gothardo, B. - 23-V. .............. 432 Hilaria - 12-VIII. ................ II 135
Graciano - 1-VI. ................ 472 Hilarla, M. - 3-XII. .............. II 463
Graciliano - 12-VIII. ............ II 135 Hilaria, M. - 31-XII. .............. II 525
Gregorio, B. de Langres - 4-I. .... 14 Hilarião, Er. - 21-X. ............ II 342
Gregorio X, Pp. - 10-I. .......... 30 Hilario - 14--I. .................. 36
Gregorio de Nyssa - 2-III. ........ 164 Hilario, B. - 16-III. .............. 210
Gregorio Magno - 12-III. ........ 190 Hildegardis, Aba. - 17-IX. ........ II 234
Gregorio, B. - 24-IV. .............. 324 Hippolyto, M. - 13-VIII. .......... II 138
Gregorio Nazianzeno - 9-III. .... 377 Hippollto, Sac. M. - 30-1. .......... 83
Gregorio Thaumaturgo - 17-XI. .. II 410 Homobonus - 12-XI. .............. II 398
Gregorio VII, Pp. - 25-V. ........ 439 Honorato, B. - 16-1. .............. 42
Gregorio, M. - 24-XII. ............ II 506 Honorato, B. - 16-V. .............. 410
Gudelia, M. - 29-IX. ....... , ...... II 268 Honorio, M. - 21-XI. .............. II 427
Guido, Ab. - 31-III. .............. 251 Honorio, M. - 30-XII. ............ II 522
Guido - 12-IX. .................. II 224 Hormisdas, Pp. - 6-VIII. .......... II 119
Guilherme, Ab. - 6-IV. .......... 276 Hugo, B. - 1-IV. .................. 257
Guilherme 25-VI. .............. 53� Hugo, B. - 17-XI. ................ II 412
Guilherme - 10-I. ................ 30 Hugocio - 11-II. .................. 120
Guilherme de Maleval, Er. - 11-Il. 118 Huin - 30-111. .................... 251
Guntramno - 28-III. .............. 246 Hygino - 11-1. .................... 32
Gurias, M. - 15-XI. .............. II 406 Hypaclo, M. - 3-VI. .............. 477
�t t r ·� · · , ,, � , :• , f·, ! ... ; . . ,, , Ir Hypacio, B. M. - 29-VIII. II 193
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Habencio, M. - 7-VI. ............ 487
Heda, B. - 7.VI. ................. II 26 Ignacio, M. - 3-II. .............. 101
Hedwiges - 16-X. ................ II 324 Ignacio, B. - 23-X. .............. II 350
Hedwiges - 17-X. ................ II 334 lgnacio de Antlochia - 1-II. ...... y 93
Hegesippo - 7-IV. ................ 282 Ignacio de Loyola - 31-VII. ...... li 91
Helconides, M. - 28-V. ............ 458 lgnacio Dias de Azevedo - 15-VII. II 46
Helena 18-VIII. . ............... II 148 Ignez 28-1. . .................. . 76
Helena, V. - 22-V. . ............. 429 Ignez - 21-1. .................... 64

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INDICE ALPHABETICO 539

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Ignez de M onte Pulciano - 20-IV. 309 Jeremias, M. - 15-IX. . II 232
Il�efofso, Are. - 23-1. ............ 61 Jeronymo - 30-IX. . . .......... II 268
_ II 26 Jeronymo de Ange!is, M. - 4-XII. II 466
Ihd10, B. - 7-VII. ................
Illuminata - 29-XI. .............. II 450 Jeronymo Lu-Tin-M ay - 28-1. 76
Imalecio - 15-V. .................. 406 Jesus, Sagrado Coração. . ........ ,iª-._1_
Immaculada Conceição - 8-XII. .. II 473 Joachlm, pae da S. Virgem M aria
Indulgencia da Porciuncula - 2-VIII. II 105 - 16-VIII. . . . ............. II 145
Ingenes - 20-XII. ............... . II 499 Joanna - 24-V. . . .............. 437
Innocenclo - 17-VI. .............. 514 Joanna Antida Thourct - 24-VIII. II 167
Innocentes - 28-XII. .............. II 516 Joanna d'Arc - 31-V. . . .. , . , ... 4Gl
Invenção do corpo de Santo Estevam Joanna Francisca de Chantal -
- 3-VIII. . -.................. II 107 21-VIII. II 169
Iraides, V. M. - 22-IX. .......... II 248 Joanna de Portugal - 12-V. . ... 390
Irene - 3-IV. ...'................. 261 João, Ev. - 27-XII. . . .......... II 513
Ireite, M. - 5-V. ................. 364 João, M. 3-XII. . ............ II 463
Ireneo, M. - 10-II. .............. 117 João, Er. - 12-XI. . ............. II 400
Ireneo, B. M. - 23-III. ............ 227 João, M. 27-IX. . ............. II 2G3
Ireneo, B. M. - 28-VI. ............ 536 João, M. 7-IX. . ............ II 215
Ireneo, M. - 5-V. ................ 364 João, M. 27-VIII. . .......... II 185
Ireneo, Di. - 3-VII. .............. II 16 João, M. 18-VIII. . .......... II 150
Iria, M. - 20-X. ................. . II 342 João, M. 26-VI. . ............ 534
Irmlna, Aba. - 24-XII. ............ II 506 João - 13-V. . . ................ 397
Irmlnla, Aba. - 24-XII. .......... II 506 João, M. - 30-1. . . ............. 85
Isaac, M. - 3-VI. .................. 477 João Alcober - 3-VI. . . ......... 477
Isaac, Er. - 12-XI. ................ II 400 João Antonio Porthie - 11-III. .... 190
Isaac. Jogues, M. - 26-IX. ........ II 259 João Baptista, nascimento - 24-VI. 52!)
Isabel, rainha - 8-VII. ............ II 26 João Baptista, degollação - 29-VIII II 191
Isabel, mãe de S. João Bapt. - 5-XI. II 385 João Baptlsta, invenção da cabeça
Isabel de Thurlngia - 19-XII. .... II 414 24-11. . . . . ....... , , , , , , · · · 149
Isaias, M. - 16-II. ................ 132 João Baptista Lo - 2!l-VII. ........ II 8D
Isaías, Pr. - 6-VII. ................ II 24 João Baptista de Rossi - 23-V. .. 434
lsauro, Di. - 17-VI. .............. 514 João Baptista Sola - 20-VI. ..... 51n
Ischyrion, M. - 22-XII. ............ II 503 João Berchmans - 13-VIII. . .... II 136
Isidoro - 2-1. .................... !) João de Brébeuf, M. - 26-IX. ... II 255
Isidoro, Are. de Sevilha - 4-1 V. ... . 262 João de Britto - 2-II. . .......... 99
Isidoro - 11-V. .................... 387 João Bosco - 31-I. . ............. 85
Isidoro, M. - 17-IV. .............. 305 João Calybita - 15-1. . .......... 42
Ismael, M. 17-VI. ................ 514 João Capistrano - 23-X. , II 348
Ivo - 24-V. ...................... 437 João Chrysostomo - 27-1. 69
João Climaco, Ab. - 30-III. 240
João Columbini - 31-VII. II 95
João da Cruz - 24-XI. . .......... II 434
Jacintha, V. - 30-1. .............. 83 João Damasceno - 6-V. . ........ 365
Jaclntho, M. - 11-IX. ........... . II 223 João Dat, Sac. - 28-VIII. II 191
Jacintho, M. - 10-11. ............ 117 João de Deus - 8-III. ............ 181
,Jaclntho - 3-VII. ............... . II 16 João Esmoler - 23-1. . ........... 58
Jacintho - 17-VIII. .............. II 146 J_oão Eudes - l!l-VIII. . ......... II 152
Jacyntho - 26-VII. ................ II 83 jt>ão Facundo - 12-VI. . ......... 499
Jaderes, B. - 10-IX. .............. II 222 João Fisher, cardeal,. B. M. - 23-VI. 52!)
Januarla - 2-111. .................. 165 João Gabriel Perboyre, M. - 11-IX. II 223
Januarlo, M. - 19-I. .............. 51 João Gualberto - 12-VII. . ....... II 37
Januarlo - 7-I. .................. 21 João Hoan - 26-III. .............. 451
Januario, M. - 8-IV. .............. 283 João !ma.mura, M -1-VI. . ...... 472
Januarlo, M. - 11-VII. ............ II 36 João Kisaku - 20-VI. . .......... 519
Januário, M. - 15-VII. ............ II 46 João de la Lande, M. - 26-IX. .... II 260
Januario, M. - 19-IX. ............ II 239 João Lantrua de Triora - 7-II.... II 111
Januarlo, M. - 24-X. .............. II 353 João de M acedo, M. - 22-V. . ....... 429
Januario, M. - 25-X. . .......... II 355 João de M achado, M. - 24-V. .... 437
Japonezes, 26 M artyres - 5-II. . ... 106 João M artinez - 1-VI. . . ....... 472
Jasão - 12-VII. . . ............. II 39 João da Malha - 8-II. . ........ 112
Jeremias, M. - 16-II. . . . ..... , , 132 João Nepomuceno - 16-V. . ...... 407
Jeremias, Pr. - 1-V. 354 João de Prado 7 24-V. . .......... 437
Jeremfas 17-VI. . 5H ,João Shert - 28-V. . . ........... 458
Jeremias, M. - 7-VI. 487 João Theophano Venard - 2-II. .. 99

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540 INDICE ALPHADETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


João Tomakl - 1-VI. · . .......... 472 Justina, M. - 14-V. . . .......... 405
João Vianney, Cura d'Ars - 9-VIII. II 124 Justina, M. - 16-VI. . . ......... 612
João Xoun - 1-VI. . ............ 472 Justina, M. - 26-IX. . . .......... II 254
Job - 10-V. . . ................. 382 Justina, V. M. - 7-X. . . ........ II 301
Joel, Pr. - 13-VII. . .............. II 41 Justina - 30-XI. . . ............ II 452
Jonas, Pr. -- 21-IX. . ............ II 246 Justino - 1-I. . . ................ 6
Jonas, M. - 29-V. ................ 247 Justino - 9-IV. . . ............... 284
Jorge - 23-IV. . . ................ 320 Justino, M. - 18-VII. . .......... II 60
Jorge, M. - 27-VII. ............. II 86 Justino, M. - 12-XII. . ........... II 482
Jorge, B. - 2-XI. ................ II 376 Justo, M. - 28-II. . . ............ 157
Josaphat, M. - 15-XI. . .......... II 404 Justo de B reteniéres - 8-III. . ... 183
Josaphat - 27-XI. . ........... II 441 Justo --1 14-VII. . . . ............ II 43
José - 19-III. . . .............. 215 Justo, J\II. - 6-VIII. . ........... II 119
José, M. - 20-III. . ........... 220 Justo, J\II. - 18-X. . . ..-........... II 337
José - 11-XII. . . . ............. II 481 Justo, B. - 10-XI. . . ........... n 395
José de Arimathéa - 17-III. . ... 212 Juvcnal, 13. - 3-V. . . ............ 359
José Cafasso - 23-VI. . . 529 Juvencio, B. - 8-ll. . . . ........ 113
José Calasancio - 27-VIII. . ..... II 182 Juventino, M. - 25-I. . . ........ 66
José Cotolengo - 30-IV. · . 342
José Cupertino - 18-IX . II 239
,José Fernandes - 11-VII. II 36 If.
José Francisco de Ganzabal -- 11-V. 389 Koa, Sac. M. -- 24-XI. II 436
José Ledin-Thi, M. - 21-X. ........ II 343
José de Leonissa -- 4-II. . ....... 103
José M archand --; 30-XI. . ........ II 452
José Oriol - 23-/III. . ............ 229 Ladisláu, R. - 27-VI. . . ......... 535
,José Tchan - 29-VII. . . ......... II 89 Ladrão, bom - 25-III. . . ....... 235
José Tchan-Ta-Pon - 8-III. . .... '783 Lamberto, B. - 14-IV. . ......_.... · 296
José Tjian - 30-III. . . .......... 251 Landelino - 18-VI. . . ........... 615
José Yuen - 11-VII. . . .......... II 36 Largio - 12-VIII. . . ............. II 135
Josué - 1-IX. .................... II 202 Largo, M. - 8-VIII. . . ......... II 121
Joviano, M. - 2-III. .. .......... 165 Laureano, B. - 4-VII. . .......... II 19
Jovita, M. - 15-II. . . ............ 128 Lauro, J\II. - 18-VIII. . .......... II 160
Jucunda - 25-XI. . . ............ II 438 Lazaro, 1\1. - 27-IlI. . ......... 24G
Judas Thaddeu, Ap. - 28-X. . .... II 360 Lazaro, Sac. - 23-II. . . ........ 147
Judith - 28-VII. . . ........ ... .. II 86 Lazaro - 17-XII. ........... II 491
Julia, V. M. - 22-V. .. ......... . 429 Lea, Viuva - 22-III. ............. . 227
Julia, M. - 1-X. . . .............. II 274 Leandro, B. - 29-II. . . ..... , . . 167
Julia, V. M. - 7-X. ............. II 301 Leão II, Pp. - 28-VJ. . .......... 638
Julia, M. - 10-XII. . ............. II 479 Leão IX, - Pp. - 19-IV . . ...... 307
Juliana, V. - 7-II . . .... , ...... .. 111 Leão, Pp. - 11-IV. . . .......... 288
Juliana, M. - 20-III. . . ......... 220 Leão, B. M. - 14-III. . ........... 199
Juliana, V. M. Tra11sluc;ão -� lG-II. 132 Leão Satruna, M. - 12-IX. ...... II 225
Juliana - 12-VIII. . . ........... II 135 Leão Tanaka, M. - 22-V. . ...... 429
Juliana, M. - 17-VUI. . . ........ II 148 Lcocadia, V. M. - 9-XII. . ....... II 477
Juliana Falconieri - rn- V 1. ...... 516 Leocricia - 15-III. . . ........... 203
Juliano, B. - 28-I. . . ........... 76 Leodegario, B . - 2-X. . . ....... II 275
Juliano - 9-I. . . . .............. '!is Leonardo - 6-XI. . . .. ......... II 385
Juliano, M. - lG-1.l. . ........... 132 Leonardo de Porto Mauricio-28-XI. II 446
Juliano, B. - 27-I. . . ........... 74 Leoncia, l\I. - 6-XII. . . ......... II 470
Juliano -- 27-II. . . ............ 156 Leoncio, l\I. - 1-VIII. . .......... II 102
Juliano, M. 27-I. . . .......... 74 Leoncio, B. - 19-III. . ........... 218
Juliano, M. - 27-V . . ............ 454 Leoncio, Are. - 13-I. . ........... 36
,Juliano, l\L - 13-IX. . . ......... II 228 Leonides, M. - 28-I. . . 't ........ 76
Juliano, Sac. - 1-XI. ......... II 373 Leonides, M . - 22-IV. · ........... 320
Juliano de Cappadocia 17-II. .. 134 Leonis - 15-VI. . . ... ,.......... 510
Julio, l\L - 19-I. . . ............. 57 Leopardo, M . - 30-IX. . ......... II 270
Julio, M. - 19-VIII. . . .......... II 162 Leopoldo da Austria - 15-Xl. .... II 407
.Julio, M. - 20-XII. . . ........... II 499 Leovigilde, M . - 20-VIII. . ...... II 158
Julita - 24-VII. .............. II 75 Leville, M. - 16-VII. . ........... II 53
Julitta - 18-V . . . 418 Liberato, M . - 9-IX. . . ..... .... II 218
Justa, M. - 14-V. . 405 Li bem.to, M. - 17-VIII. . . ...... II 148
Justa, M. - 15-VII. II 46 Liberato, vVeiss - 3-III. .......... 16_7
Justa, M. - 19-VII. II 64 Libiosa, M. - 27-VII. ... ,....... - , , II .86

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INDICE ALPHABETICO 541

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Liborio, B. - 23-VII. . .......... II 75 Macedonio, M. - 13-III. .......... 195
Lidwina - 14-VIII. ................ 294 Macrina - 14-I. .................. 3!1
Lino, Pp. M . - 23-IX. . ......... II 250 Macrina - 19-VII. ................ II 64
Lioba, Aba. - 28-IX. . ........... II 265 Macrina, V. M. - 20-VII. .......... II 67
Litteo, B. - 10-IX. . ............. II 222 Macrobio, M. - 13-IX. ............ II 228
Longino, B. M. - 2-V. . ......... 358 Margarida Maria Alacoque - 17-X. II 329
Longino, M. - 24-VI. . . ......... 632 Magdalena Sophia Barat, V. - 25-V. 442
Longino, M . - 15-III. . . ....... 203 Maglorio, B. - 24-X. .............. II 353
Lourenço, M . - 3-VI. . . ........ 477 Magnerico, B. - 25-VII. .......... II 82
Lourenço, M. - 3-11. . . ......... 101 Magno, M. - 4-II. ................ 103
Lourenço, M. - 28-IX. . ......... II 266 Magno - 6-IX. .................. II 210
Lourenço, M . - 10-VIII. . ....... II 128 Malachias, Pr. - 14-1. ............ 30
Lourenço de Bl'indisi - 22-VII. .. II 72 Mamelta, M. - 17-X. .............. II 333
Lourenço Justiniani - 5-IX. . .... II 207 Mammia - 31-VIII. .............. II 193
Lourenço Nynyen de Huon- 27-IV. 332 Manahen - 24-V. 437
Lourenço Uang - 28-1. . . ....... 76 Maneio - 15-V. .................. 406
Lucano, M . - 30-X. . ........... II 364 Manecio - 20-VIII. .............. II 158
Lucas, Ev. - 18-X. ........... II 336 Manetto - 11-II. .................. PO
Lucas Howan - 30-III. • ........ 257 Mannéa - 27-VIII. ................ II 185
Lucia, M . - 25-VI. . ............ 533 Mansueto, B. - ln-II. ............ 138
Lucia, M . - 16-IX. . ............. II 234 Mansueto, B. - G-IX. .............. II 212
Lucia Filippini - 25-III. . ....... 235 Mansueto, B. - 28-XI. ............ II 448
Luciana - 30-VI. . . ............ 544 Mansueto, M. - 30-XII. .......... II 522
Luciano - 7-I. . . . .............. 19 Manuel, M. - 17-VI. .............. 514
Luciano, M. - 28-V. . ........... 458 Manuel Ruiz - 9-VII. ............ lT 31
Luciano - 26-X. . . ............. II 355 Marca, V. 1\1. - 6-I. .............. 19
Lucilla, M . - 29-VII. . ........... li 89 Marçal, M. - 28-IX. .............. II 265
Lucilliano, M. - 3-VI. . ......... 477 Marcella - 30-I. .................. 85
Lucio, B. M. - 11-II. ............ 119 Marcella - 28-VI. ................ 538
Lucio, M. - 8-II. .................. 113 Marcelliano, M. - 18-Vl. .......... 51G
Lucio, Pp. - 4-III. ................ 170 Marcellino, B. - 20-IV. ............ 310
Lucio, B. - 6-V. .....·............. 366 Marcellino - 2-VI. ................ 474
Lucio - 22-IV. .................... 320 Marcellino - 17-VII. .............. li 56
Lucio, B. - 10-IX. .............. II 222 Marcellino, M. - 27-VIIl. ........ II [8a,
Lucrecia, M. - 23-XI. ............ II 433 Marcello, M. - 16-I. .............. 43
Ludgero - 26-III. ................ 240 Marcello, M. - 29-VI. ............ 541
Ludgero, B. - 2-X. .............. II 27G Marcello, B. M. - 14-VlII. ........ II 140
Ludovica Albertoni, Viuva - 30-I, .. 85 Marcello, M . - 7-X. .............. 11 301
Luiza de Marillac - 15-III. ........ 204 Marcello - 30-X. ................ 11 363
Luiz, R. - 25-VIII. ................ II 178 Marcello, M. - 16-XI. ............ 11 410
Luiz, B . - ln-VIII. .............. II 150 Marcello de Nicomedia, Sac. M. --
Luiz Bertrand - 11-X. ............ II 311 26-XI. .................... lI 439
Luiz de Gonzaga - 21-VI. .......... 520 Mareia, M. - 5-VI. ................ 483
Luiz Sotelo - 25-VIII. ............ II 180 Macia!, B. - 30-VI. .............. 544
Luperco,· M. -- 30-X. ............ II 26.4 l\fariana, V. - 9-I. .............. 28
Lupizino, Ab. -- 21-lII. ............ 224 Mariana, V. l\'l. -- 12-VTI. ........ Il :rn
Lupus, B. -- 30-VII. .............. II 89 Marciano, B. M. --- 6-III. .......... 175
Lutropia - 15-VI. ...........'. .... 510 M,;;trciano, M. - 17-IV. ............ 205
Luxoria, M. - 21-VIII. ............ II 161 Marciano - 23-VI. ..... �- ......... 527
Luzia, V. l\'L -- 13-XII, ............ II 48:l Marciano - 4-X. .................. II 291
Lycarião, M. - 7-VI. .............. ��7 Marciano - 26-X. Il 355
Lybia - 15-VI. .................. iilO Mariano - 1-XII. 11 457
Lydia, M. - 27-III. .............. �-16 Marcionilla - D-I. ................ 28
Lydia - 3-VIII. .................. II líl� Marco, M. 18-VI. .................. 516
Marco, B. -=- 27-IX. .............. Il 263
Marco, B. -- 22-X. ................ II 346
Marco, M. -- 3-XII. .............. TT 463
J\facaria, M. --- 8-lV. .............. 283 Marcos, M. -4-X. ................ 11 �!)]
l\lacario, B. -- 1 O-III. .............. 188 Marcos, M. - 16-IX. .............. Il ·110
Maca.rio, M. - 28-11 . .............. 157 Marcos, Ev. (translação) - 30-1. .. �:;
l\Iacario, Are. - 10-IV. ............ 286 Marcos, Ev. - 25-IV. .............. 32-l
:nacario, M. - 8-XII. ............ II 476 Margarida, Rainha - 10-VI. ...... 4!!4
Macario de Alexandria - 2-I. ...... 7 Margarida, V. M. - 20-VII. ...... II 6·1
Macedo, M. - 27-III. ............ 246 Margarida - 27-VIII. ............ II rn;;
542 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Margarida de· Cortona - 22-11. 141 Maxencio, M. - 12-XII. .......... II 482
Maria: veja no indice sob: Nossa Se- Maxima, M. - 26-III. ............ 242
nhora. Maxlm,a, V. - 16-V. .............. 410
Maria: Nome de N. Senhora - 12-IX. n 225 Maxima, M. 8-IV. .............. 283
Maria Bernarda Soubirous - 16-IV. 299 Maxima, M. - 30-VII. ............ II 91
Maria Cervllhone - 19-IX. ........ II 242 Maxlma, M. - 2-IX . .............. II 204
Maria Cleophas - 9-IV. .......... 285 Maxim,a, M. - 1-X. .............. II 27-1
Maria do Divino Coração, Soror - Maximiano, B. - 21-II. ............ 141
8-VI. . . ..................... . 492 Maximino, B. - 29-V. ............ 458
Maria do Egypto, penitente - 3-IV. 260 Maximo, B. - 8-VI. .............. 492
Maria Magdalena - 22-VII. ........ II 69 Maximo - 25-I. .................. 66
Maria Magdalena de Pazzi - 27-V. 451 Maximo, M., - 18-II. ............ 136
Maria Magdalena Postei - 17-VII. II 56 Maximo, M. - 14-IV. ............ 296
Maria Marco - 29-VI. ............ 541 Maximo, B. - 5-V. ................ 364
Maria Mlchaela do SS. Sacramento Maxlmo, Sac. i\1:. - 23-VIII. ...... II 164
- 24-VIII. . . ................ . II 174 Maximo, M. - 19-XI. .............. II 42�
Maria Nicolau Deovelny - 30-III. . 251 Medardo, B. - 8-VI. .............. 491
Maria Salomé - 22-X. ............ II 346 Medianeira de todas m; graças: Maria
Maria Vaz - 12-IX. .............. II 225 Santbsima - 31-V. .... , ....... 464
Marina, M. - 18-VI. .............. 516 Melania - 31-XII. ................ II 523
Marino, M. - 3-III. .............. 167 l\Ielanio - 6-I. .................... D
Marino - 8-VIII. .................. II 123 Memmio - 5-VIII. ................ II 115
Marino, M . - 26-XII. ............ II 512 Meneo, M. - 24-VII. .............. II 77
Maria - 19-I. .................... 51 Mennas de Egypto - 11-XI. .... , . II 398
Maria, M. - 15-IV. ................ 298 Mercurio, M. - 10-XII. .......... II 479
Marolo, B. - 23-lV. .............. 321 Methodio - 15-II. ................ 126
Marotas, M . --< 27-IV. ............ 246 Metrodora, V. l\L - 10-IX. ........ II 222
Martha - 19-I. .................. 51 Meuris, V. M. - 19-XII. .......... II 498
Martha, V. M. - 23-II. ............ 147 Miguel, Archanjo - 29-IX. ........ II 26G
Martha - 29-VII. ................ II 88 Miguel, Apparição do Archanjo--8-V. 377
Martha, V. M. - 20-X. ............ II 342 Miguel Carvalho - 25-VIII. ........ II 180
Martha Uan - 29-VII. ............ II 89 Miguel Mi, M. - 12-VIII. .......... II 135
Martinha, V. M. - 30-I. ............ 80 Miguel ele Sanctis - 10-IV. ........ 287
Martinho, B.. - 11-XI. ............ II 396 l\iinias, M. - 25-X. .............. II 355
Martinho - 1-VII. ................ II 10 Misael - 16-XII. .................. II 491
Martiniano - 2-I. .................. 9 Missões, Dia das .................. II 34G
Martiniano - 19-II. .............. 137 Mitrias, M. - 13-XI. .............. II 402
Martiniano - 2-VII. .............. II 1'1 Modesta, M. - 13-III. ............ 195
Martiniano, M. - 16-X. ......... . II 329 l\foclesto, M. - 12-II. .............. 121
Martyres elo Canadá e ela America - Modesto, M. - 15-VI. .............. 507
26-IX. .................... II 255 Monica - 4-V. .................... 360
Martyres de Gorkum - 9-VII. ...... II 29 Monoclora, V. M. - 10-IX. .......... II 222
Masculas - 29-III. ................ 249 Montano, M. - 26-III. ............ 242
Massylianos, M. - 9-IV. .......... 285 Moseo, M. - 18-I. .................. 49
Maternidade de Maria Santissima - Moysés - 4-IX. .................. II 207
11-X. . . ...................... II 309 Moysés, Sac. M. - 25-XI. .......... II 438
Materno - 14-IX. ................ II 229 Moysés, Sac. - 28-VIII. .......... II 191
Matheus, Ap. Ev, - 21-IX. ........ IIi44 l\Ioysés, Er. - 7-II. .............. 111
Matheus, Er. - 12-XI. ............ II 400 Mucio, l\f. - 13-V. ................ 397
Matheus Phuon - 22-V. .......... 451 Muneguncles - 2-VII. ............ II H
Mathias, Ap. -- 24-II. ............ 147 Mustiola - 3-VII. ................ II 16
Mathias, Ap. vigilia - 23-II. ...... 147
Mathllde - 14-III. ................
Matrona, M. - 20-III. ............
195
220 l'1r
Matrona, V. - 18-V. .............. 418 Nabor, M. - 12-VI. . . .......... 500
Matrona, V. - 15-III. .............. 203 Nahum, Pr. - 1-XII. . . ......... II 457
Maturo, M . - 2-VI. .............. 474 Nappalio - 17-IV. ................ 305
Maura - 13-II. ................... 123 Narciso, B. - 18-III. . ........ 214
Maura, M . - 3-V . ................ 35:) Narciso, M. - 31-X. . ....... . II 367
Maura, V. M. - 30-XI. ............ II 452 Narciso, B. - 29-X. .......... II 362
Maura, M. - 19-XII. .............. II 496 Narses, B. - 20-XI. . ........ II 423
Mauriclo, M. - 22-IX. ............ II 247 Narses, M. - 27-III. ............. . 246
Maurillo, B. - 13-IX. ............ II 228 Nascimento de N. S. Jesus Christo
M·avilo - 4-I. ................., .. 14 25-XII. .............. . II 606
INDICE ALPHABETICO 543

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Natale Chabanel, M. - 26-IX. II 259 Nª. Senhora das Victorias-7-X.... II 301
Natalla, M. -27-VII. . . ......... II 86 Nª. Senhora: Visitação - 2-VII. .. II 11
Natalia, M. - 1-XII. . .......... II 467 Nosso Senhor: Transfiguração -
Natividade de Nª. Senhora - 8-IX. II 215 6-VIII. . . . . ............... II 115
Nazarlo, M. - 28-VII. . ......... II 87 Notburg a - 13-IX. ................ II 225
Nazarlo, M. - 12-VI. . . ......... 600 Numidio, M. - 9-VIII. . .. ....... II 123
Nemerio - 7-IX. . . . ..·......... II 216 Nunlla, V. M. - 22-X. . ........ II 346
Nemeslano, B. - 10-IX. . . . .... II 222 Nuno Alvares Pereira, confessor -
Nem.eslo, M. - 20-II. . . ........ 140 6-XI. . . . . , ............ . II 386
Nemeslo, M. - 19-XII. . . ....... II 497 Nymphodora, V. M. - 10-IX. ... II 222
Nemeslo - 25-VIII. . . .......... II 180
Nemeslo, M. - 18-Vll. . ......... II 60
Neomlsla, V. - 25-IX. . . ........ II 253 Q,
Neophyto - 20-I. . . ............. 53 Obdulla, V. - 5-IX. ................ II 209
Neoterlo, M. - 8-IX. . . ......... II 218 Octavlano - 22-III. ........ , ..... 227
Nerêo, M. - 12-V. . . . .......... 390 Octavlo, M. - 20-XI. .............. II 423
Nestor, B. - 26-II. . ............ 153 Odilla, V. -- 5-IX. ................ II 209
Nicandro, M. - 23-VI. . 527 Odilo - 1-I. .......... , ........... 5
Nicaso, B. M. - 14-XII. II 48 Olegarlo - 6-III. .................. 175
::S:icephoro, M. - 9-II. llG Olym.plas - 18-XII. .............. II 494
Nicephoro, M. - 27-II. . 154 Olympio, M. - 26-VII. ..... , ..... . II 83
::-Sicephoro, B. M. - 13-III. ........ 195 Onesimo - 16-11. ................ 130
Niceras - 27-XII. . . ............ II 516 Oneslphoro - 6-IX. ................ II 212
Nicetas, B. -'l-I. . . . .......... 21 Onuphrlo - 12-VI. , .... , .......... 500
Nicetas, M. - 15-IX. . . ......... II 232 Oração . . ......................... 370
Nlcolâ.o Tolentlno - 10-IX. . ..... II :!2U Orencio, M. - 24-VI. .............. 632
Nlcolâ.o de Flüe, Er. - 22-III. ...... 224 Orestes, M. - 9-XI. . ... , .... , , .... . II 394
Nicolâ.o - 13-XI. . . ............ II 402 Orienclo, M. - 1-V. .............. 354
Nicolâ.o, B. - 6-XII. . . ......... II 468 Ortolana - 28-XI. ................ II 448
Nicostrato, M. 7-Vll. . . ...... II 2G Osêas, Pr. - 4-VII. ................ II 19
Nicostrato, M. - 8-XI. . . ....... II 391 Ositha, V. M. - 7-X. .............. II 300
Nicostrato, M. - 21-V. . . ....... 424 Osmundo, B. - 4-XII. ........... , II 460
Nilammon, Er. - 6-I. . ........ 19 Oswaldo, R. - 5-VIII. . ........... II 116
Nilo, B. M. - 20-II. ........... 140 Otilia - 13-XII. .................. II 485
Nimmia - 12-VIII. . II 135 Ottão - 3-VII. .. , ................ , II 14
Nome de Jesus - 2-I. . ......... õ Otto - 16-1. .... , ................. 43
Nomlnanda, M. - 31-XII. . ...... II 625
Norberto, Are. - 6-VI. . . ........
Nª. Senhora: Apresentação de -
483
p
21-XI. . . . . . ............... II 424 Paciano, B. - 9-III. .............. 186
Nª. Senhora: Assumpção de-15-VIII II 140 Pacienciada, M. - 1-V. .... , ..... 354
Nª. Senhora Auxiliadora - 24-V... 434 Pacomio, Er. - 21-V. .............. 423
Nª. Senhora do Carmo - 16-VII... II !9 Palmacio, M. - 5-X. .............. II 292
ª. Senhora das Dores - 15-IX.. .
N II 232 Pamphllo, M. � 1-VI. ............ 471
Nª. Senhora: I . Conceição - Panchario, M. - 19-III. ............ 218
8-XI. . . II 473 Pancracio - 3-IV. ................. 261
Nª. Senhora: de - Pancracio M. - 12-V. . ............ . 390
11-X. . . II 309 Pantaleão - 27-VII. .............. II 84
N". Senhora: .naphuncio, M. - 24-IX. .......... II 252
27-XI. II 442 Papias - 29-I. . . ......... , ..... 80
Nª. Senhora: Medianeira de todas as Papias, B. - 22-11. . ............. 14-1.
-
graças 31-V. ········· 464 Papias, M. - 25-II. . . .......... 151
·N•. Senhora das Mercês - 24-IX... II 252 Papias, M. - 2-XI. ..... , . , ... II 37ii
ª
.N . Senhora das Mercês: apparição Papylo, M. - 13-IV. . . ......... 294
- 10-VIII. ··········· II 131 Parascese, M. - 20-III. . . ...... 220
N'. Senhora: Natividade dc-8-IX. II 215 Parislo - 11-VI. . . . .. , ... , . , ... •19V
Nª. Senhora das Neves -· 5-VIII... II 115 Parmenas, Di. M. - 2:1-1. ....... 61
Nª. Senhora: Nome de - 12-IX... II 225 Pascoal Bailão - 17-V. . . ...... 400
Nª. Senhora: Purificação di! ...... II 97 Pastor, M. - 6-Vlll. . .... , ..... II 11�
N'.'. Senhora: Puríssimo Coração de. II 185 Paterno, B. M. - 23-IX. . ....... II 250
ª.
N Senhora do Santo Rosarlo-7-X. II 301 Patricia, M. - 13-III. . . ........ 195
N ª. Senhora do Santo Rosario...... II 296 Patriclo - 17-III. . . ....... , .. 210
Nª. Senhora do Rosario de Fã.Uma Patrobas - 4-XI. . ............ II 38-1.
- 13-X. ·············. II 367 Patrodo, M. - 21-I. . .. , ... , ... 60
544 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Paula - 26-1. . ................ 60 Pedro Patriarcha - 26-XI. . II 438
Paula, V. M. - 10-VIII. . ....... II 131 Pedro Sanz, M. - 21-V. . ....... 424
Paula, V. M. - 3-VI. . .......... 477 Pedro Vasquez - 25-VIII. . ...... II 180
Paula, M. - 18-VI. . . ........... 516 Pedro de Verona, M. - 29-IV..... 338
Paulina, M. 31-XII. . . ....... II 52lí Pelagia, M. - 4-V. . . ........... 362
Paulino, B. - 31-VIII. . .. ....... II 198 Pelagia, M. - 11-VII. . . ......... II 36
Paulino, M. - 4-V. . . . ........ 362 Pelàgla, Penitente - 12-X. ... . ... II 313
Paulino, B . de Nola - 22-VI. ..... 525 Pelagia, V. M. - 9-VI. . ........ 493
Paulo, Er. - 15-1. . . ... ......... 39 Pelagio, M. - 26-VL . . ........ 535
Paulo, M. - 19-1. . . ............ 51 Pelco, M. - 20-II. .................. 140
Paulo, Conversão de S. - 25-1. ... 64 Pelino, B. - 5-XII. á'•h ...• :;/•:�uJ..t-468
Paulo He - 28-1. . . . ........... 76 Perboyre, João Gabriel�� 11-1X. �r 223
Paulo, M. - 26-VII. . ........... II 82 Peregrino, M. - 6-V. . . ......... 364
Paulo Tchen - 29-VII. . ......... II 89 Peregrino - 17-VI. . . . ... ...... 514
Paulo, M. - 8-11. . . . ........... 113 Peregrino, M. - 25-VIII. II 180
Paulo Loc - 13-11. . ........... 124 Peregrino Lacioso - 1-V. . . ... .. 354
Paulo, M. - 17-VIII. . ......... II 148 Pergencio, M. - 3-VII._ . . ... .... 477
Paulo, M. - 2-111. . ........... 165 Perpetua - 9-VIII. . . . ........ II 128
Paulo, M. - 20-111. . ........... 220 Perpetua - 5-111. . • ............ 170
Paulo Le-Bao-Tinh - 6-IV. ........ 277 Petronilla - 31-V. . . ........... 464
Paulo, M. - 17-IV. . . .......... 305 Pharmacio, M. - 24-VI. . ....... . 532
Pa,ulo da Cruz - 28-IV. . ......... 338 l'hebe - 3-IX. . . ...... . ........ II 206
Paulo Navarro, M. - 16-XI. ...... II 410 Philemon, M. - 8-III. . . ...... . 183
Paulo, M. - 17-V. . . .. ........ 413 Philomon, M. - 22-XI. ... ......... II 430
Paulo, M. - 3-VI. . . .... . ....... 477 Phileto, M. - 27-111. . .......... 246
Paulo de Constantinopla, 13. M.- Phililogo - 4-XI. . . ............ II 384
7-VI. . . . . ................. 486 Philippe, Ap. - 1-V. . . . ...... . 316
Paulo, Ap. - 30-VI. ......... . 541 l'hilippe, B. M. - 20-X. . ........ II 340
Paulo, M. - 26-VI. . ........ 534 Philippe, M. - 13-lX. . ......... II 228
l'edro, Ap. - 29-VI. ......... . 438 Philippe de Argirião - 12-V. . .. . . 390
Pedro, Ap. - Festa elas cadeias - Philippe Benicio - 23-VIII. . ... . II 162
1-VIII. . . . . ................ II 99 Philippe Neri - 26-V. . . ..... ... 448
Pedro, Ap. - Festa da Cathedra - l'hilomeno - 29-XI. ........ .... II 450
22-11. . . . . ................ . 144 Philonilla - 11-X. . . . . .... . .... II 313
Pedro, Ap. - Festa da Cathedra - Phocas, M. - 5-111. . . . ........ 173
18-1. . . ................... 46 Photina da Samaria - 20-111. .... 220
Pedro, M. 12-III. . . ......... . 193 Photino, B. M. - 2-VI. . ....... 474
Pedro, M. - 14-111. . . .......... 199 Photlo, M. - 20-111. . . ..... .... 220
Pedro, B. M. - 4-X. . . ......... II 291 Photls, M. - 20-111. . . .. ........ 220
Pedro, M. - 27-VIII. . . . ...... II 185 Pigenio, Sac. - 24-111. . ....... .. 231
Pedro, B . 26-IV. . . .......... 329 Pio I, Pp. - 11-VII. . . ......... II 36
Pedro, B. - 9-1. . . ............ . 28 Pio V, Pp. - 5-V. . . . . ........ . 362
Pedro, M. - 7-VI. . . ........... . 487 Pionio, Sac. M. - 1-11. . ... . .... 97
Pedro - 16-1. . . . .............. 43 Placido, M. - 5-X. . . ........... II 291
Pedro de Alcantara - 19-X . . ..... II 33C Plantilla - 20-V. . . . ........... 423
Pedro Aloisio Maria Chanel - 28-IV 338 Plutarcho, M. - 28-VI. . . .... .. 533
Pedro de Arbues - 17-IX. ........ II 236 Polio, M. - 21-V. . . ............ 424
Pedro da Assumpção - 22-V. .... 429 Polyano, B. - 10-IX. . . . ....... II 222
Pedro Aumaitre - 30-111. .......... . 251 Polycarpo - 26-1. . . . .......... 66
Pedro de Avila - 7-VIII. ........ II 12! Polycarpo, M. - 23-11. . . ... .... 147
Pedro Balsamo - 3-1. . . ......... 11 Polyxena - 23-IX. . . . ......... II 250
Pedro Barni de Ascona, M - 25-VII. II 82 Pompilio Maria Pirrotti - 15-VII. . II 46
Pedro Bosie, M. - 24-XI. ........ II 436 Pomposa, V. M. 19-IX. . . ...... II 242
Pedro Canisio - 27-IV . . . ....... 329 Ponciano - 19-1. . . . . .......... 51
Pedro de Cardegna, M. - 6-VIII.. II 119 Ponciano, M. - 19-XI. ........... . II 422
Pedro Celestino, Pp. - lD-V. ...... 418 Ponciano, M. - 25-VIII. . . .. ... II 180
Pedro Chrysologo, B. - 5-XII..... II 467 Pontico, M. - 2-VI. . . . ...... . . 474
Pedro Claver - 7-IX. . .......... II 212 Porphyrio, M. -· 4-V. . . . ...... 362
Pedro Damião - 23-11. . ......... 145 Porphyrio - 20-II. . . . . .... .... 151
Pedro Fourier - 11-VII. . ........ II 3i Porphyrio, M. - 15-IX. . . ..... . II 232
Pedro Henrique Dorie - 8-111. ... 183 Porphyrio - 20-VIII. . . . ...... II 158
Pedro Hon - 28-1. . . ........... 76 Potam:ião - 18-V. . . . .......... 417
Pedro Khanh - 12-VII. . ......... II 39 Potamiona, M. - 28-VI. 538
Pedro Pascasio - 6-XII. . . ...... II 470 Pothamio, M. - 20-II. . . ....... . 140
INDICE ALPHABETICO 545

Nomes Vol. e P_ag. Nomes Vol. e Pag.


Praxedes - 20-VI. . . . ........ 519 Resurreição de Nosso Senhor. . 277
Prepedigna, M. - 18-11. . ....... 136 Reveriano, B. - 1-VI. . . ....... 472
Presidio, B. - 6-IX. ......... II 212 Revogada, M. - 6-II. . . ........ 10n
Pretextato, B. M. - 24-II. . .... 149 Revogado - 9-I. . . . ........... 28
Priamo, M. - 28-V. . ......... 458 Rhais - 28-VI. . . . ............ 538
Primitiva, M. - 24-II. 149 Ricardo, B. - 3-VIII . . . ....... 262
Primltivo, M. - 18-VII. . ....... II 60 Richario - 26-IV. .................. 329
Primitivo, M. - 27-XI. . ....... II 441 Rigoberto - 4-I. ............ 14
Primo - 3-I. ............. 11 Rita de Cassia - 22-III. . . ....... 425
Primo, M. - 9-VI. . . . ......... 492 Roberto, Ab. - 7-VI. . . ......... 487
Prisca, V. M. - 18-I. . . . ....... 49 Roberto Bellarmino - 13-V. . .... 390
Prisclano, M. - 12-X. . . .. ...... II 316 Rodrigues - 13-III. . . .......... 195
Prisclano, M. - 14-X. . . ....... II 321 Rogaciana, M. 24-V. . 437
Priscilla - 8-VII. . . . ........... II 29 Rogaciano, M. - 26-X. . II 357
Priscllla - 16-I. . . . ............ 43 Rogaciano, M. - 28-XII. ......... II 518
Prisco, B. - 1-IX. . . . ......... II 202 Rogato, M. - 28-III. . . 247
Prisco - 4-I. . . . ............... 13 Rogato - 10-VI. . . . ........... 496
Probo, M. - 11-X. . . ........... II 313 Rogello - 16-IX. . . ............ II 234
Procaslo, Ab. - 12-VIII. . . ...... II 135 Romano, M. - 24-VIII. II 167
Processo - 2-VII. . . . .......... II 14 Romano, M. - 6-VII. . . ...... II 24
Proculo, B. - 14-IV. . . ......... 296 Romão, M. - 9-VIII. . . ........ II 123
Prosdocimo, B. - 7-XI. . ........ II 388 Romão - 28-II. . . . . ......... . 156
Protaslo, M. - 19-VI. . . ....... 518 Romão, M. - 18-XI. . ........... II 414
Proto, M. - 11-IX. . . ........... II 223 Romualdo - 7-II. . . . .......... 109
Proto, M. - 25-X. . . . .......... II 356 Romula, V. - 23-VII. ......... II 75
Protolico, M. - 14-II. . . ....... 126 Romulo, M. - 24-III. . . . ....... 231
Prudenciana, V. - 19-V. . . ..... 419 Romulo, M. - 5-IX. . . . ....... II 209
Prudenclana - 20-VI. . . . ...... 619 Roque - 16-VIII. . . ............ II 143
Ptoloméo, B. - 24-VIII. . . ..... II 167 Rosa - 4-IX. . . . ............... II 207
Ptoloméo - 20-XII. .......... II 499 Rosa de Lima - 30-VIII. . ...... II 194
Publio, B. - 21-I. . . . .. . ....... 56 Rosalia - 4-IX. . . . ............ II 206
Publio, M. - 2-XI. . . .......... II 376 Rosario - 7-X. . . . ............. II 301
Publio, B. M. - 12-XI. . ......... II 400 Rosario. . . . . . ................ . II 296
Pulcheria - 11-IX. . . ........... II 222 Rosario de Fátima - 13-X. ...... II 367
Purissimo Coração de Maria II 185 Royo, M. - 28-X. . . ............ II 362
Rudolfo Aquaviva, M. - 25-VII. .. II 82
Rufina - 31-VIII. . . ............ II 198
Ruflna, M. - 10-VII. . . ........ II 33
Rufina - 19-VII. . . . .......... II 64
Quaresma. . . . . ............... 128 Rufino, M. - 30-VII. . . ......... II 91
Quarto - 3-XI. . . .............. II 378 Rufino, M. -. 28-II. . . . ........ 157
Quiriaco, M. - 23-VIII. . ....... II 104 Rufino, M. - 9-X. . . . .......... II 306
Qulriaco - 12-VIII. . . ........ II 135 Rufino, M. - 16-XI. . . ......... II 410
Quirino - 4-VI. . . ............ 478 Rufo Iseimola - 2-VI. . ......... 474
Quirlno - 30-III. . ............ 251 Rufo, B. M. - 27-VIII. . ....... II 185
Quirino, M. - 25-V. . ......... 234 Rufo, M. - 19-IV. . . ........... 309
Quiteria, V. - 22-V. . .......... 429 Rufo, M. - 18-XII. . .......... II 495
Rufo, M. - 21-XI. . . ............ II 427
,.Ruperto - 27-III. . . . .......... 244
Rustico, M. - 17-VIII. . ........ II 148
Radegundes, Rainha - 18-VIII. II 138 Rutilio, M. - 2-VIII. . . . ....... II 105
Raimerio, B. - 30-XII. .......... II 522 Rutilio, M. - 4-VI. . . . ....... . 479
Reinaldo, M. - 16-VII. .......... II 53
Raphael, Archanjo - 24-X. . . ... II 350
Raym,1.mdo de Pennafort - 28-1.... 74
:5)
Raymundo Nonnato, Card.-31-VIII II 196 Sabas -; 2-XII. . II 457
Reatro - 27-1. . . . . .......... .. H Sabas, o Godo, M. - 12-IV. . .... 290
Redempta, V. - 23-VII. . ....... II 73 Sabas, Ab. - 5-XII. . . . ........ . II 468
Regina, V. M. - 7-IX. . ......... II 215 Sabei, M. - 17-VI. . . .......... 514
Remardo - 20-VIII. . . ......... II 155 Sabina, viuva - 29-VIII. . . ..... II 193
Remigio, B. - 1-X. . . .......... II 273 Sabiniano, M. - 7-VI. . ...... . 487
Renato Goupil - 26-IX. . II 260 Sabiniano - 29-I. . . . .......... 80
Restituto, M. - 23-VIII. . II 164 Sabino, B. 11-XII. . .......... II 481
Restituto, M. - 10-VI. . 496 Sadoth, B. M. - 20-11 . . ......... 140
5-1-6 INDICE ALPH.\BETlCO

Nomes Vol. e .Pag-, Nomes Vol. e Pag.


Ságarls, B. M. - 6-X. . ......... II 296 SIivestre, Pp. M. - 31-XII. . II 525
Salomé - 28-VII. . . . ......... . II 86 Silvio - 21-IV. . . ............... 314
Salutar, M. - 20-XI. . . ......... II 423 Simeão Estylita - 5-I. . . ....... 14
Salvio, M. - 11-1. . ............. 32 Simeão, B. M. - 18-II. . . . ..... 134
Samonos - 16-XI. . . . . ........ II 406 Simeão Francisco Berneuse -18-III. 183
Sam,uel, M. - 16-II. . . .......... 132 Simeão, M. - 24-III. . . . ....... 231
Samuel, Pr. - 20-YIII. . . ...... II 158 Simeão - 8-X. . . . ............. II 303
Saneio - 5-VI. . . . ............ 483 Simeão, B. - 21-IV . . . ........ 314
Sandalo, M. - 3-IX. . . ....... .. II 206 Simeão Nempo, M. - 4-XII. . ... II 466
Sandoaldo - 19-III. . . . ........ 218 Simeão, Ap. - 28-X. , . .......... II 360
Santlanos, B. - 22-IX. . II 248 Slmpllclo, M. --" 29-VII. ............ II 89
Santonlna, M. - 1-III. . . ...... . 164 Slmpllclo, M. - 10-V. . . ........ 382
Santos, Festa de Todos os - 1-XI. II 371 Simp liclo, M. - 8-XI. . . ......... II 391
Sarmatas, M. - 11-X. .............. II 313 Sireno, M. - 23-II. . ............. 147
Saturiano, M. - 16-X. . . ....... II 329 Siricio, M. - 21-II . . . ......... 141
Saturnina, l\I. ---, 4-VI. . . . ...... 479 Slricio, Pp. - 26-XI. . ........... II 349
Saturnino, M. - 19-1. . . . ...... 51 Sisenando, M. - 16-VII. . ........ II 53
Saturnino, M. - 6-II. . . .... . . ... 109 Sisinio, M. - 29-XI. . . ......... II 450
Saturnino, M. - 21-II. . . ..... .. 141 Slxtus 1, Pp. - 6-IV. . . ......... 277
Saturnino - 29-XI. . . II 448 Smaragdo, M. - 8-VIII. ............ II 121
Saturnino, M. - 29-XI. . . ...... 1I 450 Solocamo, M. - 17-V. . . ........ 413
Saturo, M. -· 29-III. . . ..... . . . 249 Sophla - 30-IV. . . .............. 342
Saula, V. M. - 20-X. ........ .. II 342 Sophonlas, Pr. - 3-XII. . . ...... II 463
Sauli, B. - 11-X. . . .......... II 313 Sophronlo - 11-III. . . . ........ 190
Sebaste, 40 Martyres - 10-III. .... 186 Sosipater - 25-VI. . . ........... 533
Sebastião, M. - 20-III. . ........ 220 Sosteneo - 11-II. . ........... . 120
Sebastião - 20-I. . . .... ........ 67 Sosthenes - 28-XI. . . .......... II 448
Sebastião, M. - 24-IV. . . ....... 324 Stachls, B. - 31-X. . . .......... II 367
Secunda, M. - 30-VII . . . ....... II 91 Stacteno, M. 18-VII. ......... II 60
SPcunda, M. - 10-VII. .............. II 33 Successo, M. - 28-III. . . ....... 247
Secundilla - 2-III. . . . . ......... 165 flucccsso, M. - 19-1. . . ......... 51
Secundino, M. - 21-Il. . . ...... 141 eluffétula - 30-VIII. . . .......... II 195
Secundino, M. - 21-V. . . ........ 424 �uitbe1·to - 1-III. . . . .......... 163
Secundo, M. - 24-III. . . ....... 231 Sulpicio, Are. - 17-I. . . ......... 46
Secundo - 15-V. . . . ............ 406 Sulpicio, M. - 20-IV. . . ........ 310
Secundo, M. - 26-VIII. . ....... II 182 Susanna, M. - 20-IX. . .......... II 244
Semen, M. - 30-VII. . . ....... II 91 Swithuno - 2-VII. . . ........... II 14
Sep timo, M. - 24-X. . . ......... II 353 Sylvia - 3-XI. . . ............... II 378
8crano, M. - 28-X. ................ II 362 Symphorlano, M. - 7-VII. . . .... II 26
8eraplão, B. - 21-III. . . ....... 224 Symphoriano, M - 22-VIII. . ..... II 161
Scrapião, M. - 25-II. . . ......... 151 Symphoriano, M. - 8-XI. . . ..... II 391
Serapião, M. - 27-VIII. . ....... II 185 Symphorosa, M. - 18-VII. . . .... II 60
8ereno, M. - 28-VI. . . . ........ 538 Symphronio, M. - 26-VII. . ..... II 83
8crotina, M. - 31-XII. . . ....... II 525 Syndetica, V. - 5-I. . ......... 16
Servanclo, M. - 23-X. . . ........ II 350 Synesio, M. - 21-V. . . . ...... . 434
Serviliano, M. -- 20-IV. . . ....... 310 8ynf'sio, M. - 12-XII. . ......... II 482
Servo, M. -- 17 -VIII. . . . ....... II 148 Syntiche - 22-VII. ........... II 72
Servulo, M. - 21-II. . . .......... 141
Servulo - 23-XII. . . . .... ..... . II 503~
Servusdei, M. -- 16-IX. . . ....... II 234
Severiano, B. M. - 21-II. . ...... 141 T ep iniano, B. - 28-XI. . . ...... II 448
Severiano, l\I. -" 9-IX. . . ....... II 219 T arasio, Ptr. - 25-II. . . ........ 149
Severino, Ap. ela Austria -- 9-I.... 26 TPrtuliano, B. 27-IV. .............. 332
Severino - 8-I. . . . ..... ....... 23 Tertuliano, Sac. M. - 9-VIII. . ... II 128
Severo, B. - 30-1 V. . . . ........ 242 '.rhais, penitente - 8-X. . . ...... II 303
Severo, Sac. - 9-VIII. . . ....... II 124 '!'halo, M. - 11-III. . . ......... . 190
Severo, B. M. -- 6-XI. . ... . ..... II 386 Tháraco, M. - 11-X. . . ......... II 313
Severo, M. - 30-XII. . .......... II 522 Tharcisio - 15-VIII. . . . ....... II 113
Sidonio, B. - 23-VIII. . . ........ II 164 Tharsilla - 24-XII . . . . ......... II 505
flilas - 13-VII. . . . ............ II 41 Thca, V. M. - ln-XII. . . ...... II 498
Silvano, B. - 6-II. . . .......... 109 Thecla - 30-VIII. . . . .......... II 195
Silvano, M. - 20-II. . . ......... 140 Thecla, V. M. - 3-IX. . . ....... II 206
Silvano, M. - 4-V. . . .......... 362 Thecla, V. M. - 23-IX. . ........ II 249
Si111erio, Pp. M, - 20-VI. . . , ., . . . 518 Thecusa, M. - 18-V. , . ,., .. ,,,. 418
INDICE ALPHATIETICO 547

Nomes Vol. e Pag-. Nomes


Theoctista - 10-XI. . . . TI ;!9', Tiburcio, l\' L - 14-IV. . . 29ô
Theodardo, B. M. - 10-IX. II 222 'l'iburcio, M. - 11-VIII. . II 132
Theodoreto, M. - 22-X. . ....... II 34.; Tigrio - 12-1. . . . .............. 34
Theodora, M. - 1-IV. . . ....... 257 Timão - 19-IV. . . . ............ 309
Theodora - 7 -V. . . ............ 3r,9 Timotheo - 24-1. . . . ........... G2
Theodoro, M. - 29-VII. . . , , . , , . II 89 Timotheo, Sac. - 20-VI. 519
Theodoro, M. - 7-11. . . ......... 111 Timotheo, M. - 19-VIII. II 152
Theodoro - 28-IV. . . ........... :J!l,j Timotheo, M. 21-V. . 424
Theodoro -- 9-Xl. . . . .......... II 391. '.rimotheo, M. 12-V. . 429
Theodoro Studita -- 12-Xl. . . .... II 4:)-) Timotheo, M. 19-XII. TI 496
Theodoro - 27-XII. . . .......... II J 1 3 1
Tito - 4-I. . . 12
Theodosia, M. - 20-111. . ....... Z!O 'l'orpes - 29-VIII. . . . .......... ;J-10
Theodosia, M. - 2-IV. . . ....... 2i"i0 Torquato - 15-111. . . ........... 40G
Theodosia, M. -· 29-111. . . ...... 459 Transfiguração de Nosso Senhor -
Theodosio - 11-1. . . . .......... 30 6-VIII. . . . . ............... II 115
Theodota, M. - 2-VIII. . . ...... II lO'i Trindade - . . . ................. 438
Theodoto - 31-VIII. . . . ....... n rns 'l'rophino, M. - 18-111. . . ....... 214
Theodoto, M. 18-111. . ......... 41H Trophymo, M. - 11-III. . . . .... 190
Theodoto, M. - 2-Vl . . 472 Tryphenna - 10-XI. . . .......... II 395
Theodulo, M. - 26-VII. . . , ..... I[ 83 Tryphonia - 18-X. . ........... II 337
Theodulo - 17-11. . . . . ........ 13·1 Tryphonio - 3-VII. . . .......... II ltl
Theodulo, M. 31-111. . . . ..... 252 Tryphosa - 10-XI. . . ........... li 395
Theodulo, M. - 4-IV. . . . ...... 2G3 Turibio, Are. - 23-111. ........... 22n
Theodulo, M. - 2-111. . . , .. , ..... 358 Tychio - 29-IV. .................. 3-10
Theogenes - 3-1. .................. 11 Tyrannio, M. - 20-11. . . ........ 140
Theogenes - 26-1. ................ , . 69
Theogonio, M. - 21-VIII. . . .... II lGl
Theonas, B. - 23-IV. . . ........ II 164
Theophanes - 27-XII. . . ........ II 51 G Ubaldo Balclassini, B. - 16-V ..... 410
Theophilo - 8-1. . . ............. 23 Ulrico, B. - 4-VII. . . .......... II 17
Theophilo, M. - G-11. , ........ 109 Uinberto, B. - 3-XI. . .......... II 377
Theophilo, M. - 28-11. . ....... 157 Urbano, Pp. M. - 25-V. . ....... 442
Theophilo, B. - 7-111. . . .... , .. 178 Urbano - 28-XI. . . ........ , . II 448
Theophilo, M. - 8-IX. . ....... . II 218 Urbano, M. - 31-X. . . .......... II 367
Theophilo, B. - 13-X. . II 318 Ursicio, M. - 14-VIII. . . ........ II 140
Theophilo - 20-XII . . . II 499 Urso, M. - 30-IX. . . ........... II 270
Theopistes, M. - 20-IX. II 244 Urso, B. - 13-IV. .................. 294
Theopisto, M. - 20-IX. II 244 Ursula, V. M. - 22-X. .......... II 346
Theopompo, M. - 21-V. . 426
246
Theoprepides, M. - 27-III. . ....
Theotim,o, B. - 20-VIII. . ....... 310 '\f
Theresa Kin - 28-I. . . .......... 76 Valentim - 14-11. 124
Thereza - 15-X. . . ............. II 224 Valentim - 11-XI. II 398
Thereza Margarida do Sagrado Co- Valentina, M. - 25-VII. II 82
ração de Jesus - 7-111. ...... 179 Valeria - 28-IV. .................. 338
Therezlnha do Menino Jesus - 3-X. II 277 Valeria, V. M. - 9-XII. 477
Thiago, Er. - 28-I. . ............ 76 Valerian, M. - 5-VI. . .......... 483
Thiago Nam, Sac. M. - 12-VIII.. II 135 ,Yaleriano, M. - 14-IV. . ......... 296
Thlago, Ap. - 1-V. . . .......... 351 valeriano, B. - 28-XI. . .......... II 448
Thiago Tsio - 31-V. . . ......... 464 Valeriano, B. - 15-XII. . II 488
Thimotheo, M. - 3-V. . . ........ 359 Valeriano, M. - 23-VIII. . ..... . II 164
Thomais, M. - 14-IV. . . ......... 29G Valerico, Ab. - 1-IV. . . ........ 255
Thomas d'Aquino - 7-III. . . .... 176 Valeri, B. - 28-1. . . .......... .. 76
Thomas de Canterbury, B.-29-XII. II 518 Valerio - 16-XI. . ............... II 410
Thomas Coteda - 2-VI. . . 474 Vallabonso, M. - 7-VI. . . ...... 487
Thomas Guangoro - 2-VI. . ..... 474 Vedasto, B. - 6-11. . . .......... 109
Thomas Xiqulro - 2-VI. . . ..... 474 Venancio, M. - 18-V. . . ........ 417
Thomaz, B. - 2-X, . . .......... II 276 Venancio, B. M. - 1-IV. . ...... 257
Thomaz de Tolentlno - 9-IV. .. , ... 286 Venusto, M. - 22-V. ................ 429
Thomaz de Villanova - 18-IX. . .. II 236 Venusto, M. - 6-V. ................ 366
Thomaz Moore - 6-VII. .......... II 527 Veríssimo, M. - 1-X. . . ........ II 274
Thoil'l!ê, Ap. - 21-XII. . . ....... . II 499 Veronica Giuliani, Aba. - 9-VII... II 31
Thiago, Ap. - 25-VII. . ......... II 80 Verulo, M. - 21-11. . . . ......... 141
Thiago, o Mutilado - 27-XI. . .... II 440 Vicente - 22-I. . . . ........... . 56
548 INDICE ALPHABETICO

Nomes Vol. e Pag. Nomes Vol. e Pag.


Vicente, M. - 24-VII. . . II 77 Wencesláo, B. M. - 28-IX. II 263
Vicente, M. - 25-VIII. . II 180 Wenefrida, M. - 3-XI. ............ II 378
Vicente, Ab. M. - 11-IX. . . .... II 223 Wilibaldo, B. - 7-VII. .............. II 24
Vicente Ferrer - 5-IV. ............ 264 Willehal, B. - 8-XI. .............. II 391
Vicente de Paulo - 19-VII . ...... II 61
Vicente U - 21-VI. . ........... 624 Willibrordo, B. - 7-XI. ............ II 388
Victor, M. - 25-II. . . .......... 151 Wolfgang, B. - 31-X. .............. II 366
Victor, M. 6-III. . . ........... 175
Victor, M. 20-III. . . .......... 220
Victor, M. 14-V. . . ........... 405
Victor, M. 12-IV. . . .......... 292 Xantlppa - 23-IX. ................ II 250
Victor, M. - 21-VII. . . ........ II 67 Xaverlam, M. - 20-XI. . ........ II 423
Victor � 24-VII. . ............... II 77
Xisto III., Pp. - 28-III. .......... 247
Victor, M. 26-VIII. . . ........ 182
Victor, B . 10-IX. . ............ II 222 Xisto, M. - 1-IX. II 202
Victor, M. 30-IX . . . ......... . II 270
Victor, M. 2-XI. . ........... II 376
Victor, M. - 28-XII. . II 518
Victoria, M. - 17-XI. . . ........ II 412 Zacharias, pae de São João Baptis-
Victoria, V. M. - 23-XII. II 505 ta .- 6-XI. . . .. ............. II 385
Victorlano, M. - 6-III. . . 175
Zacharias, Pr. - 6-IX. . ........ II 212
Victoriano, M. - 23-III. . 229
Victoriano, B. M. - 2-XI. II 376 Zacharias, B. - 23-VIII. . . .... II 164
Victorino, M. 25-II. 151 Zacharias, B . - 26-V. . . ....... 451
Victorino, M:. - 15-IV. 208 Zach�o, M. - 17-XI. . ......... II 412
Victorino, M. - 7-VII. II 26 Zanitas, M. 27-III. . . ........ 246
Victorino - 11-XI. . ........... II 398 Zebinas, M. - 13-XI. . . ........ II 402
Victorio, M. - 30-X. ........... II 364 Zenaide, M. - 6-VI. . . ......... 483
Vigilio, B. - 26-IX. ........... II 255 Zenaide - 11-X. . . ............. II 313 ·
Vigor, B. - 1-XI. . ........... II 373 125
Vindemialis, B. M. - 2-V. . ..... 358 Zeno - 14-11. . . .............. ..
Virgilio, B. - 26-VI. . ........... 535 Zeno, M. - 5-IV. . 267
Visitação de N . Senhora - 2-VII.. II 11
ª Zeno - 20-XII. . . II 49q
Vissia, M. - 12-IV. . . .......... 202 Zeno, M. - 22-XII. II 503
Vistremundo, M. - 7-VI. 487 Zenobla, Sac. M. - 20-II. 140
Vitalis - 9-I. . .. ............. 28 Zenobio, B. - 25-V. . . .......... 442
Vitalis - 28-IV. . . ........... 338 Zenobio, M. - 29-X. . . ......... II 263
Vitais! - 21-IV. . . .. ......... 314 Zita - 27-IV. . . ................ 333
Vito, M. - 15-VI. . ........... 507 Zoê - 2-V. . . .................. 358
Vivina, V. - 17-XII. .............. II 493
Zollo, M. - 27-VI. . 536
Zosimo, M. - 18-XII. II 495
Zosimo, M. ---< 11-III. 190
vValburgis, Aba. - 8-V. ............ 375 Zótico, M. - 10-II. ............ 117
Weclo Apagatho, M. - 2-VI. ...... 474 Zótlco - 12-I. . . ............... 34
....................................................................................................................................................,...................

INDICE DAS MATERIAS


::C::C. significa.: ::C::C. vclu:rne
Pgs. Pgs.
Co�munhão mal feita, II. . .......... 43
Companhias, mtás, 76, 138, 507, II. .... 409
Agua benta . . .................... .. 457 Confiança em Deus, 298 ............ 377
Alegria espiritual . . ................ 428 Confissão, 15, 151, 175 . ............. 500
Amizade a Jesus, 96 ................ 114 Conjuges . . . ...................... 528
Amizades boas, II. . . ................ 343 Conselhos dos paes, necessario ...... 186
A�or a Jesus, II. .................... 342 Conselhos para a vida, 451, II. 180, II.
Amor �o m�n?_º• 519, II. ............ 350 366, II. . . ...................... 433
Amor a Rehgiao . .................. 319 Conselhos máos, II. . ................ 497
Amlor de Deus, II. 36, II. ............ 516 Conversão, II. 72 . .................. 66
Anno Novo . .. .................... 5 Correcção fraterna . . .............. 402
Apostasia, II. 346, II. ................ 482 Creatura, apego a .................. 43
Apostolado do ensino . .............. 447 Cruz, levai-a, 121 , 359, 487, II. ........ 229
Autoridade, respeito á, II. .......... 205 Cruz, signal da . .................... 359
Avareza, 149, 247 ................. 535
D
B Desapego, II. . . . .................. 132
Benção de S. Braz .................. 100 Deus, nossa esperança, II. , .......... 473
Bens materiaes e espirituaes, II. .... 383 Devoções indispensaveis . . 170
Biblia, arma. dos herejes ............. 214 Divertimentos profanos, II. . ........ 270
Biblia, leitura da . .................. 38 Doenças, um bem . .................. 102
Biblia não é a unica fonte da fé .... 538 Doentes, visitai-os .............. 141
Bispos, poder dos . ................. . 305
Boa Imiprensa . . . .................. 80
Boa morte, exercicio da ............. 231 E'
Educação catholica, 447, II. .......... 185
o Educação christã, 10, 496, 518, II. ....
Egreja, nossa Mãe, 48, 437, 382, II. ..
485
225
Calumnias, soffrel-as, 167, II. ........ 235 Egreja, união com ella ...... . ....... 133
Caridade, 31, 61, 526, II. 150, II. 184, Egrejas, embellezamento das, II. 45, II. 408
II. 239, II. . .................... 252 Empregados e patrões, 461, II. ...... 488
Caridade, Filhas da . ................ 208 "Encarcerados, visitai-os, II. .......... 497
Caridade, obras de, 552, II. .......... 227 Enfermos
, , preparai-os para bem mor-
Carnaval, II. . . ...........·......... 468 rer, II. . . ........................ 391
Castidade, 13 . . ................... 56 Ensino, apostolado do, II. .......... 48
Castidade, como conservai-a . 524 Ensino catholico, 447, ................ 464
Castidade, Deus a defende .......... 327 Ensino religioso . . .................. 509
Castigo de Deus, terrível ............ 109 Eremitas, sabias de Deus ............ 220
Castigo de Deus, salutar, II. ........ 90 Escola leiga . . ...................... 240
Catecismo . . . ...................... 332 Escravidão do peccado . ............ 113
Catholico, dever do, II. .............. 267 Esmola, benção da . ................ 554
Catholico ser, é grande graça, II. .... 321 Esmola, dever da, II. . .............. 130
Céo, caminho para o, II. ............ 121 Esmola, nlor da, 183, 404, II. ........ 471
Céo, padece força.16, 157, II. 147, II. 312 Esperança em Deus, II. .... .......... 101
Cerimonias da Egreja . .............. 263 Esposa, apostola. II. .................. 303
Christão consciencioso . . . . .. ....... 198 Estado, escolha do. 19 . . ...... ...... 33-l
Communhão irequente, 419, II. .. . ... 301 Eternidade. II. . . ........ .. ........ 232
550 Indice das Materias

Pgs. Pgs.
Exemplos, efficacia dos bons ........ 294 Jogo, II. . . ........................ 60
Exemplos bons a seguir, 158, II. .... 402 Juizo final, 175, 178, II. .............. 119
Exemplos máas . . .................. 108 Juramento, II. . . .................... 193
Juram1ento falso II . . ................ 363
Justiça de Deus, 159, II. 193, II. .... 276
Juventude consagrada a Deus ........ 173
Faltas alheias, denunciar, II. ........ 23
Familia Sagrada . . ................. . 26
Familia, santificação da . ............ 396 l!;,1
Fé, firm/eza na, 34 .................. 54 Ladainhas . . . . .................. 326
Fé, graça da . ....................... 18 Leitura espiritual . . ................ 306
Fé, necessidade da, II. 40, II. ........ 501 Lingua, 13, 251, 380, 409, II. .......... 197
Fé universal, II. 30, II. .............. 223 Livros bons, hereticos, máas, 291, II. 504
Fé viva . . ......................... 82
Felicidade falsa, II. .................. 413
Felicidade verdadeira II . . .......... 449 Mt
Fidelidade a Deus, 323, II. ............ 68 Mãe exemplar, II. . ................ 491
Filhos, consolo dos paes, 148, II. .... 67 Mandamlentos de Deus, II. 329, II. .. 448
Fortaleza, virtude, II. . ............ 219 Mansidão, 245, 548, II. .............. 487
Furto, II. . . ........................ 457 Maria SS., refugio dos peccadores .. 261
Materialismo . . . .................. 303
Maternidade christã . . ............ 532
Ganancia, II. . . .................... 400 Matrimonio, 186, II. 21, II. .......... 353
Gloria de Deus, II. ................. 202 Mentira, II. . . ...................... 395
Graça, Deus a dá a todos .......... 388 Missa, II. . . ...................... 452
Graça, estado da, II. ................ 204 Missões, 459, II. 166, II. 211, II, 261,
Graça, corresponder com ella, 275, 535, 362
II. . . ........................ 81 Mo};� levian�s,· '1's'{ Ü: · : : : : : : : : : : : : : : 195
Gratidão a Deus . 417 Morte, consolo na . ................ 16
Morte, cebo da vicia, 329, II. ....... . 318·
Morte, 136, 144, 434, 503, II. ........ 308
H: Mortificação, 136, 148, 190, II. ...... 327
Herejes, caracteristico . . .......... 357 Mulher forte, 363, II. .............. 160
Heresias, fructo do orgulho .......... 214 Mundo ........................ 198
Heresias, fugir dellas . .............. 168 Musica sacra, II. . .................. 430
Humildade 2, 27, 301, 317, II. .......... 291

ll'. Novíssimos, II. . . 316


ldolos, II. . ......................... 364
lllusões da vida . .................. 486
Imagem de Deus, II. ................ 438 Q)
I miagens santas, 119, 151, profanas .... 333 Obediencia a Deus, li. 244, II. 466, II. 510
Imagens santas, culto .............. 390 Obediencia á Egreja, 96, II. ........ 173
lmhação de Christo, 121 ............ 432 Obediencia, quando deve ser negada 413
Imprensa má . . ................... 241 Obras pontificias, II. . .............. 215
Impureza, 407, II. . ................. 493 Occasião de peccado, II. 255, II. .... 506
Inconstancia das cousas ............. 140 Odio . . . .......................... 155
Infallibilidade, Egreja . . ............ 309,-, Oração assidua, 46, 157, 190, 252, 424, II. 386
Inferno, 296, . . ...................... 516 Oração, imiportancia, II, 327, II. 404
Ingratidão . . . . .................... 289 Oração da manhã e da noite, 283 .... 102
Inimigos, amor aos . ................ 50
Inimigos, perdoar-lhes, 183, SOO, II.
388, II. . . ...................... 512
Inimigos, rezar pelos, 354, II. 38, II. 233 Paciencia, 22, 277 .................. 514
Innocencia . . . . .................. 11 Paes, deveres . .................. 509
Instrucção religiosa . . . ........... 455 Paixão de N. Sr., 117, 123, II. ........ 135
Intenção, valor da boa .............. 282 Paixões, 229, II. .................. 123
Ira, 79, II. . ........................ 292 Palavra de Deus . .................. 35
Palavra, Apostolado da, II. .......... 357
� Papa, 305, 402, 442 .................. 540
Patrões, deveres . . ................ 461
Jejum, 63, 226 . .................... 259 Peccado, grande mal, 74, 152, 369, II. 75
Jesus Christo, Salvador . ............ 125 Peccado venial . . .................. 84
Indice das Materias 551

C} ,,,-
7:VW/L.(A,,;" ,__/
1--- /,
'11::J1. Pgs. Pgs.
Peccado, perdão do, II. . , .......... , . 114 Sacramentos, na hora da morte .... 141
Peccados alheios . . ................ 35 Sacrifício, valor do, II. .............. 321
Peccador, Deus quer sua conversão, II. 246 Salvação, negocio mais importante 147 211
Penitencia, necessaria, 30, 138, II. .... 520 Santificação, meios de, II. .......... 191
Penitente verdadeiro, 75, 144, II. 339, II. 378 Santos, sua intercessão, 321, II. ...... 373
Perdição eterna, II. ·. .............. 423 Schi!.ma . . . ....................... 128
Perfeição, caminho da, II. ....... , .. 286 Sciencia, toda vem de Deus, II. ...... 406
Perseguição da Egreja .. , ........... 474 Separação da familia, II. ............ 503
Perseverança, 34, II. 55, II, 79, II. .. 253 Servir a Deus . .................... 8
Piedade, consola na morte .......... 170 Sigillo sacraII11ental . . . ............ 409
Pobreza abençoada por Deus, II. .... 225 Simplicidade evangelica, II. . ........ 291
Pontualidade . . . .................. 252 Soffrimento, 249. Deus o manda, 340,
Presença de Deus, II. ................ 393 429, 477, 479, 472 ................ 498
Presença real no SS. Sacramento, II. 135 Soldado, deveres do . ................ 188
Principios christãos, II. ........., .... 76 Solidão, valor da, 41, 117, 459, II. 207,
Professores, deveres dos, II. ........ 49 amor á . . ...................... 296
Promessas do baptismo, II. ......... . 412 Sonhos, imiportancia dos, . .......... 103
Propaganda da Fé, 20, 113, II. 166, II. 463 Suicídio . . . ....................... 115
Proposito firme . ................ 46 Superiores, responsabilidade . . ...... 193
Providencia divina, 347, 457, II. .... 325
Proximo, amor ao, II. .............. 64 'lj
Pureza, louvará, li. . . .............. 250
Purgatorio, _II. ':'J .�.. �j: • • • • • •
• 0 • 0 0376• • • Talentos, II. . . .................... 337
I
Temor de Deus, �8, ................ 314
/

Tempo é curto, 147, uso do, II. ...... 164


Q Tentação, 106, 178, 195, 266, 406 ...... 453
Quaresma, obrigações . 195 Testa.mento, deve-se fazer . .......... 210
Trabalho para Deus, II. ............. . 89
Tradição . . . ...................... 538
Tribulações, 483 --i • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 493
Recompensa ela fé . ............... 58 §Jr,,,;�,,,;,Le 'J<,,,.-.,,. '-fô 'li
Regras de santidade, II. ............ 274 'V'
Reino de Christo . ................... 354
Religião, 285, II. 162, II. ............ 305 Vaidade, 342, II. .................... 477
Reliquias, culto, 69, II, 109, II. ...... 242 Veracidade no fa11ar ................ 251
Reprehensão, necessidade . . ........ 73 Vida longa . . ...................... 40
Respeito humano . . . .............. 53 V/d_a, regras de, II. .................. 28
Respeito nas egrejas, 382, II. ........ 398 V1s1tas . . . ........................ 552
Riquezas, emprego das, II. .......... 263 Vocação, como' conhecei-a, 512, li. 83,
Rixas . . . .......................... 380 II. . . . ......................... 385
Romarias, 119, II. ................ 25 Vocação sacerdotal, 203, 398, II. ...... 127
Voto feito a Deus .................. 53
Voto, natureza do, 106, li. .......... 152
Sacerdotes, m�ssão do, II. 41, li. .... 265
Sacerdotes, respeito aos, 50, 155, ...... 263
Sacerdotes, chamial-o ao doente .... 227 Zelo pelas almas . 88

ERRATA
Erros como estes, America em vez de Armorica, pag. II 345; humanidade em vez
de humildade, pag. II 288, e outros o intelllgente leitor facilmente os corrigirâ.

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