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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Libertos do mal com o auxílio dos santos anjos:


viva um caminho de libertação e aprenda a
derrotar o inimigo nas diversas áreas da sua
vida / [Instituto Hesed]. -- 1. ed. --
Fortaleza, CE : Instituto Hesed, 2023.

ISBN 978-65-85056-20-5

1. Anjos - Igreja Católica 2. Devoção a Deus


3. Libertação espiritual 4. Miguel (Arcanjo)
5. Orações eucarísticas - Igreja Católica
I. Instituto Hesed.

23-157076 CDD-235.3

Índices para catálogo sistemático:


1. Miguel Arcanjo : Santos anjos celestiais :
Cristianismo 235.3
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129
QUARESMA DE
SÃO MIGUEL �023

Libertos do mal com o auxílio


dos Santos Anjos —
Viva um caminho de libertação
e aprenda a derrotar o inimigo
nas diversas áreas da sua vida
Sumário
Introdução........................................................................15

PARTE I — CONHECENDO
O CAMPO DE BATALHA

Capítulo 1 - A serpente é esmagada pela


Virgem Maria......................................................................24
Capítulo 2 - Não caminhe com o inimigo.....................34
Capítulo 3 - O auxílio tremendo dos Santos Anjos
e do Cosso Anjo da Guarda..............................................43
Capítulo 4 - A glória e o poder de São Miguel.............51
Capítulo 5 - Dias Difíceis e o clamor aos
Santos Anjos........................................................................��

PARTE II — CONHECENDO COMO
O INIMIGO AGE NO MUNDO

Capítulo 6 - Descobrindo as estratégias do


demônio..............................................................................68
Capítulo 7 - O fim dos tempos e a ação crescente
do inimigo............................................................................76
Capítulo 8 - A ação sem disfarces do inimigo —
o satanismo..........................................................................84
Capítulo 9 - O socorro essencial de São Miguel
e dos Anjos..........................................................................91
Capítulo 10 - Por que o ódio aos cristãos que buscam
viver a verdade da fé?......................................................100
Capítulo 11 - Como combater o inimigo - Armadura
do Cristão..........................................................................107

PARTE III — LIBERTANDO SUA FAMÍLIA E
SEUS RELACIONAMENTOS DO MAL

Capítulo 12 - O inimigo quer destruir seus


relacionamentos................................................................120
Capítulo 13 - O perdão e a oração irão salvar seus
relacionamentos................................................................130
Capítulo 14 - A batalha do inimigo para destruir
sua família..........................................................................139
Capítulo 15 - Minha casa é morada dos Anjos...........148
Capítulo 16 - Seus filhos estão protegidos?.................155
Capítulo 17 - A autoridade dos pais na luta
contra o mal......................................................................163

PARTE IV — DESMASCARANDO
O INIMIGO MAIS ASTUTO, SATANÁS,
E PROTEGENDO-SE DELE

Capítulo 18 - Protegendo-se dos ataques


dos invejosos.....................................................................176
Capítulo 19 - O perigo das maldições ........................185
Capítulo 20 - Falsas doutrinas......................................192
Capítulo 21 - Objetos e lugares contaminados.
O valor da Santa Cruz.................................................... 202
Capítulo 22 - O poder exorcístico da Bíblia...............211
Capítulo 23 - Não se deixe derrotar pelo
desânimo...........................................................................219

PARTE V — DERROTANDO O NOSSO MAIOR
INIMIGO

Capítulo 24 - O maior problema da nossa vida........ 228


Capítulo 25 - Vícios que paralisam............................ 235
Capítulo 26 - O perigo do pecado de estimação...... 246
Capítulo 27 - Passo a passo para uma confissão
bem feita............................................................................256
Capítulo 28 -Como fazer um exame de
consciência........................................................................267
Capítulo 29 - A importância da penitência................276
Capítulo 30 - Como alcançar o milagre na
sua vida..............................................................................282
Capítulo 31 - Derrotando o medo com o auxílio
dos Anjos...........................................................................291

PARTE VI- NOVENA A SÃO MIGUEL

Capítulo 32 - 1º dia da Novena a São Miguel - São


Miguel, general de Cristo (Santa Joana D’Arc)............303
Capítulo 33 - 2º dia da Novena a São Miguel -São
Miguel, vencedor dos demônios (Santa Faustina)..... 312
Capítulo 34 - 3º dia da Novena a São Miguel -
Consolação do povo Israelita e nosso consolador
(Santa Teresinha)..............................................................321
Capítulo 35 - 4º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel, e a força da Eucaristia (Pe. Pio)................327
Capítulo 36 - 5º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel e a força da Cruz. (São Francisco)............338
Capítulo 37 - 6º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel, protegei-nos nas tentações
(Santo Antão)....................................................................347
Capítulo 38 - 7º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel protetor dos exorcistas e vencedor das
batalhas espirituais (São Bento).....................................356
Capítulo 39 - 8º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel, luz das almas para levá-las ao Céu
(São Lourenço Maiorano, o grande devoto de São
Miguel e Santo Anselmo)...............................................370
Capítulo 40 - 9º dia da Novena a São Miguel -
São Miguel, que nos guia ao derrubar nossas
muralhas (Josué)..............................................................378
Capítulo 41 - Festa de São Miguel - São Miguel,
amado em todo o Brasil..................................................384

APÊNDICE

Novena a São Miguel Arcanjo........................................394


Oração Oficial de São Miguel Arcanjo
(Pequeno Exorcismo do Papa Leão XIII).....................411

Orações da Quaresma de São Miguel.....................412


Oração inicial.............................................................412
Ladainha de São Miguel............................................413
Consagração a São Miguel Arcanjo.........................416
Introdução

A cada dia, cresce mais a devoção a São Miguel e


aos Santos Anjos. Recentemente descobri que o no-
me masculino que tem estado no topo da lista dos
mais escolhidos para os bebês recém-nascidos do
sexo masculino é justamente “Miguel”! Este cresci-
mento acontece porque estamos em dias maus, dias
difíceis e, por isso, o socorro dos Santos Anjos é mais
que necessário.
É com grande alegria que ofereço-lhe um livro
diferente de todos os que você já viu! Um cami-
nho de cura e libertação, com o auxílio dos Santos
Anjos, com doutrina baseada na Sagrada Escritura,
no Catecismo da Igreja e na experiência dos santos,
bem como com inúmeras experiências dos santos e
de vários sacerdotes exorcistas em seu ministério.
No nosso Instituto Hesed, temos buscado levar,
cada dia mais, as pessoas com as quais nos encon-
tramos a uma vida de maior intimidade com Deus.
Fazemos isto, em primeiro lugar, por meio da nossa
vida de imolação e de oração como religiosos. Além
disso, um dos pontos do nosso carisma é a missão,
que nos faz transbordar para os outros aquilo que
vivemos na vida consagrada por meio de missões de
evangelização, presenciais e on-line, bem como por

14
meio de livros que ajudam a crescer no conhecimen-
to e na experiência com Deus.
Desde o início do nosso Instituto Hesed, vive-
mos e divulgamos a devoção aos Santos Anjos, co-
mo Deus inspirou nossas madres fundadoras, Me.
Jane Madeleine e Me. Kelly Patrícia. Entre os mui-
tos momentos de oração, rezamos anualmente a
Quaresma de São Miguel, que vai do dia 15 de agos-
to, Solenidade da Assunção da Virgem Maria, até
29 de setembro, Festa dos Três Arcanjos, Miguel,
Gabriel e Rafael, conforme vivido e ensinado pe-
lo seráfico São Francisco de Assis. Vivíamos inter-
namente como comunidade religiosa esse momen-
to especial e, a partir de 2018, por meio de uma
crescente atividade evangelizadora, sobretudo nas
redes sociais.
Temos também ajudado a clamar por libertação,
já há muitos anos, rezando pelas pessoas afligidas
pelo inimigo e ajudando, com nossa intercessão, o
ministério dos exorcistas. Por isso, fomos, aos pou-
cos, como família religiosa, conhecendo mais sobre o
combate espiritual e aprendendo como podemos sair
vencedores neste combate, com o auxílio de Nossa
Senhora, de São Miguel e dos outros Santos Anjos,
bem como dos santos do Céu e da prática da oração
comunitária, seja ela presencial ou on-line.
Este livro é um presente para você que quer co-
nhecer mais sobre os Santos Anjos, sobre os ataques
do inimigo a você e à sua família, e sobre como es-
tar protegido. Preparei o livro para ser usado em

15
qualquer tempo, podendo ser lido de forma integral,
ou um capítulo por dia.
Você pode também usá-lo como guia para viver
uma Quaresma de São Miguel ainda mais frutuosa,
já que são 41 capítulos que podem ser lidos, um a
cada dia, na Quaresma de São Miguel, e o último ca-
pítulo, no dia do grande Arcanjo. Para vivê-la, em
cada um dos dias deve ser feita uma breve sequência
de oração a ser seguida, e um propósito que você fa-
ça ao final da meditação. Nós apresentaremos diaria-
mente um propósito, quando nos encontrarmos nas
redes sociais, nas nossas lives de oração. Sugerimos
para a Quaresma de São Miguel a oração diária da
Ladainha a São Miguel Arcanjo e da Consagração a
São Miguel.
Busquei fazer uma divisão em sete partes, que
vão ajudar você a conhecer mais o mundo espiritual
e a saber como libertar-se do mal. A 1ª parte vai te
ajudar a saber que há um combate espiritual aconte-
cendo, a conhecer o campo de batalha, os inimigos
e os aliados no combate espiritual. Seguindo os en-
sinamentos dos doutores da Igreja, como São João
da Cruz, que elencam os três inimigos da alma, va-
mos começar na 2ª parte a estudar o primeiro dos
inimigos, ou seja, o mundo, que acaba influenciando
a nossa vida e o nosso modo de pensar. Na 3ª parte,
continuando a vasculhar o mundo, vamos ver o que
acontece com sua família para deixá-la vulnerável ao
ataque do mal, e como proteger sua casa, seu relacio-
namento com os outros e seus filhos.

16
Na 4ª parte, vamos estudar mais a fundo o se-
gundo dos inimigos, o mais astuto, ou seja, Satanás
e os outros demônios, e como nos proteger dos seus
ataques. Na 5ª parte, vamos trabalhar o nosso pior
inimigo, e o mais difícil de vencer, que é o nosso pró-
prio pecado. Na 6ª parte, conheceremos mais sobre
São Miguel e os Santos Anjos, seu poder e força na
luta contra o inimigo infernal. Ao final, teremos,
em anexo, algumas orações a São Miguel, que nor-
malmente são rezadas na Quaresma em honra do
Arcanjo, o texto da Novena a São Miguel e um exa-
me de consciência para nos ajudar a viver bem este
caminho de cura e libertação.
“Miguel liderou uma batalha contra Lúcifer no
Céu. Em nome de Deus, Miguel alcançou a vitória.
No Livro do Apocalipse, nós lemos: ‘A vitória e o
poder foram conquistados por nosso Deus!’ É uma
guerra que continua, porque ainda estamos no cam-
po de batalha. Estamos ainda em luta em favor de
Deus contra o Maligno. E por isso necessitamos de
proteção, da proteção contínua d’Ele a fim de que
possamos alcançar a vitória em nossas vidas.
É a luta contra o pecado, contra o pecado em ge-
ral, mas, especificamente, contra o meu pecado pes-
soal. É a luta contra todos aqueles que tentam desviar
meus olhos de Jesus. É a luta contra o Maligno, que
tenta me oferecer poder e felicidade neste mundo.
Mas Deus me promete Sua proteção.”1

1 VELLA, Elias. O leão que ruge ao longo do caminho. São Paulo: Edi-
tora Palavra & Prece, 2007, p. 203-204.

17
Que Deus abençoe a você e a toda a sua família,
e você tenha uma boa leitura e profunda experiên-
cia com Deus! Que São Miguel e os Santos Anjos te
acompanhem nessa caminhada de libertação! Sob
o manto de Maria, em ordem de batalha, com São
Miguel e os Santos Anjos, a vitória é certa! Quem
como Deus? Ninguém!

Ir. Emanuel Maria — Instituto Hesed

18
PARTE I

CONHECENDO
O CAMPO DE
BATALHA
Ó divina Mãe,
enviai os Santos
Anjos em nossa
defesa, afastando
para longe de nós
o cruel inimigo.
Capítulo 1

A serpente é esmagada
pela Virgem Maria

Nosso caminho neste livro será o de buscarmos


a libertação do mal, com o auxílio dos Santos Anjos.
Ao falarmos do mal, é importante começarmos fa-
lando justamente d’Aquela que nunca foi tocada pelo
mal de nenhuma forma, a Imaculada Virgem Maria.
Ela, no mistério de sua Imaculada Conceição, foi
preservada da mancha do pecado em virtude dos
méritos de Jesus. E, fazendo jus àquilo que está es-
crito em Gn 3,15, que a cabeça da serpente seria es-
magada, a Igreja inteira reconhece que a serpente
é esmagada pela Virgem Maria, a Nova Eva. E a
Imaculada é também a Rainha dos Anjos e a ela São
Miguel e todos os Santos Anjos estão subordinados
e obedecem.
Houve uma batalha no Céu, onde São Miguel
provou o seu valor e derrotou Satanás, que foi preci-
pitado no inferno. A batalha aconteceu porque Deus
revelou aos seus anjos que aconteceria a Encarnação.
Deus criaria o ser humano, à sua imagem e seme-
lhança, o Verbo de Deus iria se encarnar e, mais

23
ainda, haveria uma criatura, a Virgem Maria, formo-
síssima e criada na suma perfeição, a quem os anjos
deveriam se submeter, que seria sua Rainha. “Esta
revelação (da Encarnação) foi o divisor de águas na
esfera celeste, visto que o primeiro pecado se apre-
sentou naquele que era o maior entre todos, Lúcifer.
Sua raiva foi sem limites, e ele […] não aceitou o
mistério da encarnação e negou a adoração a Cristo
por soberba, incutindo no coração de uma multi-
dão de anjos essa primeira transgressão espiritual”2.
Veio então o brado do Arcanjo Miguel: “Quem
como Deus?” Ecoou no Céu, e os anjos fiéis ime-
diatamente decidiram-se pela adoração a Deus e ao
Verbo que se encarnaria, e proclamaram sua submis-
são à futura Rainha dos Anjos. O sacerdote exorcista
Pe. Fortea tenta descrever em termos narrativos essa
batalha no Céu e a presença da Santíssima Virgem
Maria:
“Se as fiéis glórias tinham admirado o plano
de amor que supunha a Encarnação, ficaram ainda
mais embelezadas diante da santidade que foi- lhes
mostrada em Maria. Lúcifer tinha sido bom antes
da rebelião, mas não tinha sido santo. Lúcifer tinha
sido grandioso por natureza, aquela mulher o seria
no sobrenatural. Dela nasceria a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade quando se encarnasse. Ela seria
a porta.
— A porta! — exclamaram todos.
2 BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre angelologia.
São Paulo: Paulus, 2021, p. 50.

24
O plano era de uma natureza tal que jamais nin-
guém entre as hierarquias poderia tê-lo pensado.
Tamanha inteligência nestas disposições. Santidade
imensa de Deus que chegava a esses extremos de sa-
bedoria em Seus desígnios. Tremenda humildade e
simplicidade de Deus que colocava uma mulher hu-
milde acima de todo ser criado. Coroava a sua mag-
nífica obra com a gema da humildade. Sem duvidar,
muitos anjos se prostraram diante dos desígnios
de Deus, e ato seguido, veneraram à Virgem Maria
Mãe de Deus e Rainha dos Anjos. Foi venerada en-
tão, ainda antes que nascesse. Ainda não tinha nas-
cido nenhum homem, não existia nenhum átomo no
universo, e eles já se prostravam diante dela: A Mãe
da Palavra feita carne!”3.
Segundo a Venerável Maria de Ágreda, os anjos:
“deviam considerar igualmente superior a mulher
através da qual o Verbo haveria de fazer-se carne.
Essa mulher, embora fosse uma criatura humana, e,
portanto, de natureza inferior à sua, haveria de ser
não só sua Rainha, a quem teriam de obedecer, mas
também a Senhora de todas as criaturas, superan-
do nos dons de graça e de glória todas as criaturas
angélicas e humanas. Ao obedecerem a este precei-
to do Senhor, os anjos bons aumentariam a sua hu-
mildade, pela qual não só o acolheram, mas também
louvaram o poder e os mistérios do Altíssimo. Mas
não (fizeram) assim Lúcifer e os seus companheiros:

3 FORTEA, José Antonio. História do mundo dos anjos. São Paulo:


Palavra & Prece, 2012, p. 59-60.

25
por causa deste preceito e mistério, elevaram-se de
tal maneira em soberba e em vaidade ainda maiores
que, desordenadamente furioso, ele reclamou para si
próprio o privilégio de ser chefe de toda a estirpe hu-
mana e de todas as ordens angélicas; e, se isto haveria
de acontecer através da união hipostática, que ela se
realizasse nele.”4
Você tem se aproximado de Nossa Senhora, cla-
mando proteção, e ela tem se aproximado cada vez
mais de você, te ajudando e te protegendo. Ao hon-
rarmos o Glorioso São Miguel, podemos celebrar
também a grandeza de Nossa Senhora, que também
é honrada por Ele5, o qual recebe-a no Céu como

4 MARIA DE JESUS DE ÁGREDA. La mistica città di Dio, vol. 1, As-


sis (IT): Pontificia Accademia Mariana Internazionale, Edizioni Por-
ziuncola, 2000, Primeira parte, livro I, cap. 7, p. 85. Apud BAMONTE,
Francesco. A Virgem Maria e o Diabo nos exorcismos. Prior Velho
(PT): Paulinas, 2011, p. 53-54.

5 O cuidado de São Miguel em honrar a Santíssima Virgem, ser-


vindo-a, já era proclamado pelo Beato Bartolo Longo, o grande
propagador da devoção ao Santo Rosário, e construtor da Basílica
de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Dizia ele: “São Miguel
Arcanjo foi o anjo da Guarda da Santíssima Virgem na sua vida.
São Miguel é o patrono de todos os templos do verdadeiro Deus,
e São Miguel será o guardião e protetor do templo de Pompeia”
(STANZIONE, Marcello. Gli Arcangeli: Michele il Guerriero, Gabriele il
Messaggero, Raffaele il Guaritore. Milão: Edições Sugarco, 2011, p.
40. [tradução nossa]). O Bem-Aventurado Bartolo Longo escolheu
para o grande dia de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia o dia
08 de maio, justamente por causa da sua devoção ao Arcanjo. Nas
proximidades do Santuário de Pompeia, São Miguel havia apare-
cido no Século VII aos santos Catello, bispo de Stabia e Antonino,
pedindo que fosse construída uma igreja em sua honra no alto do
Monte Faito, local conhecido pelas muitas graças derramadas por
intercessão do Arcanjo Miguel. Conta o Beato Bartolo Longo: “‘O

26
Rainha dos Anjos e dos homens.
“Considere como o grande amor de São Miguel
Arcanjo pela Santíssima Virgem Maria se destacou
na sua bem-aventurada morte e gloriosa Assunção
ao Céu. Ele recebeu a sua alma e a apresentou à
príncipe muito forte e belo, sempre benévolo conosco — ele lem-
bra — provou muitas vezes o benefício de sua proteção’. Inúmeros
foram os triunfos de São Miguel neste lugar sobre os inimigos vi-
síveis e invisíveis de nós e deste Santuário’. Na conclusão de seu
livro História do Santuário de Pompeia, ele (o Beato Bartolo Longo)
enfatiza o maravilhoso plano divino subjacente a toda a história
da aparição de São Miguel desde a antiguidade até os dias de hoje.
Ele escreve: ‘Aquela aparição do século VII indicou o aparecimento
do reinado de Maria neste vale deserto e desconhecido, que um
dia esteve sob o império do diabo e da culpa. O maravilhoso Ar-
canjo veio para expulsar Satanás da terra dos gentios, na qual uma
nova era de graça estava para amanhecer, um novo sol de mise-
ricórdia’. E ele conclui com grande gratidão: ‘A partir [...] daquele
dia 8 de maio de 1876, invocamos com fé o primeiro Anjo do Céu
para celebrar conosco a Rainha de todos nós’. Concluindo: o Beato
Bartolo Longo gostava muito do Arcanjo a quem consagrou o san-
tuário e as obras de caridade em Pompeia, e escreveu: ‘E em cada
ano, no dia 8 de maio, recordamos duas epifanias solenes. O gran-
de Príncipe do céu, que tem um nome maravilhoso, manifestou-se
à terra, escolhendo o cume de uma montanha como o espetáculo
de suas maravilhas. A maior Rainha que o Céu e a Terra já tiveram
também se manifestou aos filhos suspirantes de Eva, escolhen-
do como centro de suas maravilhas um vale humilde, o vale de
uma cidade pagã enterrada. Para nós, então, esse dia marcará dois
triunfos solenes: o triunfo do Anjo mais majestoso do céu, daquele
grande Príncipe, como Daniel o chama, que, antes da criação da
humanidade, com a espada invencível de sua fé, sua humildade e
mansidão, defendeu a honra do Altíssimo e da Mulher Imaculada,
que deveria ser no tempo a Mãe da Palavra de Deus feita homem.
E ao mesmo tempo o triunfo d’Ela que é a Rainha da Misericórdia,
e que traria novas e estupendas vitórias sobre Satanás no Vale de
Pompéia nos tempos modernos.” (STANZIONE, Marcello. Gli Arcan-
geli: Michele il Guerriero, Gabriele il Messaggero, Raffaele il Guaritore.
Milão: Sugarco Edizioni, 2011, p. 41 [tradução nossa]).

27
Divina Presença, sendo ele encarregado de tal mi-
nistério. Ele, ao qual compete chamar os mortos pa-
ra ressurgir no juízo final, chamou para a vida nova
o corpo adormecido da Santíssima Virgem Maria,
convidando-a para a sua coroação: ‘Venha, e será co-
roada’; e qual vice-gerente de Deus, elevou-a à glória
com inumeráveis pelotões de espíritos angélicos, que
a saudavam e veneravam como Rainha dos Céus e
Senhora dos Anjos. E aos Anjos, que de tanto triunfo
maravilhados diziam: ‘Quem é esta que sobe do de-
serto, tão repleta de deliciosas virtudes?’. São Miguel
respondia: é a Mãe do nosso eterno Senhor, é o ta-
bernáculo da Santíssima Trindade.
De tais exemplos do glorioso Príncipe dos Anjos,
tu aprenderás a nutrir um amor filial para com a Mãe
de Deus e praticar uma devoção terna, constante e
sincera pela Rainha dos Anjos. Sabe, porém, que o
amor de um filho de Maria consiste em nunca ofen-
der a Jesus, fruto bendito do seio de Maria. A ver-
dadeira devoção se adquire, pois, na prática das vir-
tudes nas quais se exercitou a Santíssima Virgem.
Levará como modelo do teu viver a vida imaculada
da Santíssima Virgem, especialmente a sua pureza e
a sua humildade, e será particularmente protegido
por São Miguel.”6
A Virgem Maria esmaga a cabeça da serpente
infernal com o seu pé. Ela nos ajuda a começarmos

6 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quaresma


de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Instituto
Hesed, 2021, p. 67-68.

28
essa caminhada de libertação do mal com o auxílio
dos Santos Anjos. Sabemos do combate espiritual em
que vivemos e da grande necessidade do auxílio des-
tes espíritos bem-aventurados.
“No dia 13 de Janeiro de 1864, o Bem-aventurado
Padre Luís-Eduardo Cestac foi subitamente atingido
por um raio da luz divina. Ele viu demônios espalha-
dos por toda a terra, causando uma imensa confu-
são. Ao mesmo tempo, ele teve uma visão da Virgem
Maria. Nossa Senhora lhe revelou que realmente o
poder dos demônios fora desencadeado em todo o
mundo e que então, mais do que nunca, era neces-
sário rezar à Rainha dos Anjos e pedir a ela que en-
viasse as legiões dos Santos Anjos para combater e
derrotar os poderes do inferno.
‘Minha Mãe’, disse o padre, ‘Vós sois tão bondo-
sa, por que então não enviais por Vós mesma estes
anjos, sem que ninguém Vos peça?’
‘Não’, respondeu a Santíssima Virgem, ‘a oração
é uma condição estabelecida pelo próprio Deus para
obter esta graça.’
‘Então, Mãe santíssima – disse o sacerdote – en-
sinai-me como quereis que se Vos peça!’
Foi então que o Bem-aventurado Luís-Eduardo
Cestac recebeu a oração ‘Augusta Rainha dos céus’.”7

7 EQUIPE CHRISTO NIHIL PRÆPONERE. Aprenda a rezar a oração


“Augusta Rainha dos Céus”. Padre Paulo Ricardo, 01 de julho de
2015. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/blog/ apren-
da-a-oracao-augusta-rainha-dos-ceus>. Acesso em: 22 de abril de
2023.

29
A oração da Augusta Rainha é uma oração indul-
genciada, que clama pelo socorro de Nossa Senhora
e dos Seus Santos Anjos. Esta oração é a base do cha-
mado Terço do Combate, o qual é uma oração de li-
bertação que tem sido rezada por milhões de pessoas
ao redor do mundo, composta pela Ir. Kelly Patrícia,
uma das fundadoras do Instituto Hesed. Este terço
tem sido um instrumento excepcional para clamar
os favores de Deus, como comprovam os milhares
testemunhos de graças e bençãos derramadas por
meio dessa oração.
Para encerrarmos este primeiro capítulo, lem-
bramo-nos do milagre acontecido com São Gregório
Magno, por meio da invocação à Santíssima Virgem
Maria e aos Santos Anjos pela libertação da cidade
de Roma da devastadora peste, que então assolava a
Cidade Eterna.
“No ano de 590 da nossa era, uma terrível epi-
demia alastrou-se entre os Romanos. Para impedir o
termo do flagelo, o Sumo Pontífice Gregório Magno
ordenou que se fizesse uma procissão de penitência.
Com as ruas juncadas de cadáveres, a procissão per-
correu a cidade, tendo à frente o Santo Padre, des-
calço e levando nas mãos uma imagem de Nossa
Senhora. De súbito, o cimo da Mole Adriana8, on-
de ia chegando a procissão, inflamou-se. Era São
Miguel Arcanjo. Viram-no fazer aquele gesto, que
hoje se admira na estátua de bronze erguida no
8 Atual Castel Sant’Angelo, às margens do Rio Tibre, em Roma,
bem próximo ao Vaticano.

30
próprio local, em memória do prodígio o Arcanjo
repõe a espada na bainha — sinal de que a Virgem,
vencida pelas súplicas dos fiéis, conseguira de Deus
o termo da peste.”9

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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9 SIENA, Giovanni. Padre Pio e os anjos. Sertanópolis (PR): Calvariæ


Editorial, 2020, p. 41.

31
Oração:
Santíssima Virgem Maria, Senhora e Soberana dos
anjos, extremamente amada por São Miguel, infundi
em minha alma, esse mesmo amor e veneração que os
santos anjos têm por vós. Livra-me de todos os males
que me impedem de amar e cumprir a santa vonta-
de de Deus, e dai-me neste primeiro dia da Poderosa
Quaresma de São Miguel arcanjo o dom da fidelidade.
Amém! 

32
Capítulo 2

Não caminhe
com o inimigo

No capítulo anterior, falávamos sobre a força da


Santíssima Virgem Maria no combate contra o mal
presente no mundo. Esta presença do mal tem si-
do cada vez mais manifesta nos últimos tempos.
Recentemente, o noticiário brasileiro tem sido carre-
gado de notícias trágicas de ataques dentro das nos-
sas escolas. Após o ataque na Escola Raul Brasil, em
Suzano (SP), onde dois homens mataram cinco ado-
lescentes e duas pessoas adultas, e ao final comete-
ram suicídio, outros eventos se sucederam. Um dos
mais recentes foi o ataque à Escola Infantil Cantinho
Bom Pastor, onde um homem tirou a vida de quatro
pequenas crianças com uma machadinha.
Quando ouvimos notícias como esta, logo dize-
mos: “Quanto mal existe no coração desses assassi-
nos”! Estas ações mostram a maldade que está no co-
ração de muitas pessoas, que escolheram o caminho
do mal e acabam ferindo e matando. O homem, é
claro, é o responsável pelo mal que, na sua liberdade,

34
escolhe fazer. Há, porém, por trás das escolhas mal-
vadas que cada um de nós faz, um instigador. É, de
fato, muito necessária a oração do Pai-nosso, que pe-
de-nos para que Deus Pai livre-nos de todo mal. Na
origem da oração que o Senhor nos ensinou, tradu-
zimos muitas vezes “livrai-nos do mal”. Entretanto,
a palavra original grega não tem a ver com um mal
abstrato, mas com uma pessoa. Literalmente: “o
Maligno”. Jesus nos ensina a pedir ao Pai que Ele nos
livre do Maligno, da ação do inimigo em nós, pois
“ toda a vida humana, quer singular quer coletiva,
apresenta-se como uma luta dramática entre o bem e
o mal, entre a luz e as trevas.”10
“O mal não é, como alguns pensam, o simples
efeito de uma vontade má do homem, mas produ-
ziu-se no homem pela instigação e pela influência
de Satanás e dos outros anjos que o seguiram na
sua oposição a Deus. O homem é, inegavelmente,
responsável pelo mal que voluntariamente comete;
mas, na história da criação, a iniciativa, em senti-
do absoluto, de realizar o mal não é do homem, mas
de Satanás. Foi ele quem, por assim dizer, provocou
toda a infinita cadeia de males que se cometem no
mundo, embora isto tenha acontecido com o livre
consentimento dos nossos primeiros genitores. Por

10 CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Constituição


Pastoral Gaudium et Spes. Vaticano: 1964. Não paginado; GS 13.
Disponível em: <https://www.vatican.va/archive/ hist_councils/
ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651207_gaudium-et-
-spes_po.html> . Acesso em: 26 abr. 2023.

35
isso, segundo a revelação bíblica, o mal tem o seu
momento inicial não numa ação do homem nem,
muito menos, de Deus que é bondade infinita, mas
na decisão livre e responsável do anjo caído, porque,
no dizer da Escritura, ‘a morte [física e espiritual] en-
trou no mundo por inveja do diabo’ (Sb 2,24). Como
afirma Santo Anselmo, da consideração do pecado
do anjo pode-se remontar ao início da experiência
do mal no mundo criado. De fato, na queda do pri-
meiro dos anjos não existe nenhuma condição an-
terior que, de algum modo, possa influir na escolha
por ele feita.”11
“É por inveja do demônio que a morte entrou no
mundo, e os que pertencem ao demônio a provarão”
(Sb 2,24). Ao ouvirmos isso, entendemos que o dia-
bo, por inveja, não somente tentou nossos primeiros
pais, Adão e Eva, mas continua combatendo contra
nós (cf. Ap 12,17). Porém, muitas vezes, caminha-
mos lado a lado com o inimigo, e talvez até não nos
tenhamos dado conta disso. Quando vemos algum
satanista, percebemos claramente que ele segue
Satanás, por causa de suas palavras e atitudes. Existe,
porém, uma possibilidade de caminharmos com o
inimigo talvez sem nos darmos conta do risco que
corremos. Há uma estória antiga que ilustra isso.
“Havia um grande muro separando dois gran-
des grupos. De um lado do muro, estavam Deus, os

11 BAMONTE, Francesco. Anjos rebeldes. O mistério do mal na ex-


periência de um exorcista. Prior Velho (Portugal): Edições Paulinas,
2010, p. 11-12.

36
anjos e os servos leais de Deus. Do outro lado, esta-
vam Satanás, seus demônios e todos os humanos que
não servem a Deus.
Em cima do muro, havia ainda um jovem inde-
ciso, que fora criado num lar cristão, mas que agora
estava em dúvida se continuaria servindo a Deus ou
se deveria aproveitar um pouco os prazeres do mun-
do. O jovem indeciso observou que o grupo do lado
de Deus chamava e gritava sem parar:
— Ei, desça do muro agora! Venha pra cá!
Já o grupo de Satanás não gritava nem dizia na-
da. Essa situação continuou por um tempo, até que o
jovem indeciso resolveu perguntar a Satanás:
— O grupo do lado de Deus fica o tempo to-
do me chamando para descer e ficar do lado deles.
Por que você e seu grupo não me chamam nem di-
zem nada para me convencer a descer para o lado de
vocês?
Grande foi a surpresa do jovem quando Satanás
lhe respondeu:
— É porque o muro é meu.”12
Viver uma vida “mais ou menos”, medíocre, num
mundo que está cada vez mais distante de Deus, é
correr sério risco de caminhar lado a lado com o
inimigo. Já dizia São João Evangelista no livro do

12 MANZOTTI, Reginaldo. Combate Espiritual: no dia a dia. Rio de


Janeiro: Petra, 2018, p. 196.

37
Apocalipse: “Conheço as tuas obras: não és nem frio
nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, co-
mo és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te”
(Ap 3,15-16). O maior erro que podemos cometer
na nossa vida espiritual é achar que o combate es-
piritual não existe. É hora de decidirmo-nos a não
caminharmos mais lado a lado com o inimigo. É
hora de decidirmo-nos por Jesus e por seu segui-
mento. Para nos libertarmos do mal, do Maligno,
em nossas vidas, é necessária uma escolha por Jesus.
“Escolhe, pois, a vida, para que vivas!” (Dt 30,19).
Esse risco de atração que o inimigo tem para cada
um de nós pode ser percebido neste testemunho
que recebemos, das orações feitas com o Exército de
São Miguel:
“Olá amados irmãos, a paz de Jesus e o amor de
Maria. Tenho 31 anos, sou casada há 14 anos, mãe de
3 filhos, como podem ver fui mãe muito nova, com
apenas 15 anos. Durante esse tempo, eu me dediquei
somente à minha família. Meu sonho era voltar a es-
tudar, mas eu sabia que eu tinha minhas prioridades
e não era a hora. Até que, quando completei 26 anos,
decidi voltar e concluir os meus estudos. Fiz o suple-
tivo e entrei pra faculdade, enfim, estava correndo
atrás. Só que, no meu penúltimo ano da faculdade,
eu me transformei. Fui contratada por uma escola
de renome e isso fez com que eu tivesse muito orgu-
lho de mim mesma; meu ego foi nas nuvens, enfim,
eu estava ‘calando a boca’ de muita gente.

38
Eu estava no auge, trabalhava e estudava em ou-
tra cidade, só vinha pra casa pra dormir, meus filhos
e meu marido tomando conta da casa. E eu? ‘Estava
correndo atrás do meu prejuízo.’ Diante disso tudo,
me afastei da Igreja e, consequentemente, minha fa-
mília também. Meu marido e eu resolvemos colocar
uma outra pessoa em nossa vida, pelo menos por um
dia. Não seria nada de mais, era o que eu dizia, e a
frase que eu mais ouvia em meus pensamentos era:
‘vocês merecem, nunca curtiram, casaram novos,
têm direito errar. Vai ser feliz.’ O inimigo é astuto de-
mais. Tentamos por várias vezes encontrar alguém,
mas nunca ‘dava certo’.
Eu estava sem cabeça, muitas coisas acontece-
ram pra que eu e meu marido acordássemos, mas de
nada resolvia. Até que Deus resolveu tomar as rédeas
da minha vida, e o ‘se não é no amor, vai na dor’ exis-
tiu na minha vida. Fui demitida da escola que me
elogiava em todas as reuniões, da escola onde eu ga-
nhei dinheiro, daquela escola de renome, e era Deus
me buscando. Eu chorei muito, não imaginava, mas
na mesma hora eu entendi que era o agir de Deus na
minha vida, porque mesmo diante dos meus erros,
eu sou cristã e eu sei que Deus age. Naquela mesma
semana, fui me confessar, e falei: ‘eu entendi Pai, eu
estou aqui’.
Durante a última semana de oração do ano, qua-
se nos últimos dias, se não me engano, no dia de gra-
ças pela família, eu rezei muito, eu pedia pra Deus

39
me dar o dom do arrependimento. Só que eu que-
ria que doesse em mim, eu precisava sentir a dor do
arrependimento, aquilo me enojava, eu lembrava de
tudo a que eu estava submetendo minha família, mas
eu não sentia dor, meu medo era de não ter me arre-
pendido. Só que em um instante, o irmão disse que
havia uma pessoa que estava se culpando muito e
que era pra tranquilizar o coração, porque Deus já
estava tomando conta, e sabia do arrependimento
de tal pessoa. Na mesma hora eu senti meu estô-
mago embrulhar, um calafrio pelo corpo, mas mes-
mo assim eu pedi uma resposta pra Deus, se era pra
mim. Naquele momento eu voltei a ouvir Deus, e
lembrar de todos os meus irmãos que me pediram
oração e me esqueci de mim, só senti aquela mara-
vilhosa oração e rezei por todos os meus. Por fim eu
entendi que Deus estava me livrando ‘daquela imun-
dície’ e me mostrou onde eu devo estar.
Agradeço por ter vivido esta experiência no úl-
timo dia do ano, porque eu prometi que 2023 será o
ano da minha família na graça do senhor. Eu agrade-
ço a vocês por todo amor que dedicam, Deus aben-
çoe muitíssimo a caminhada e vida de vocês, e sai-
bam que vocês salvam vidas. Eu amo vocês!”
Que nesta caminhada de libertação possamos
aprender cada vez mais, tomando consciência que
nossa vida é combate espiritual, que não podemos
caminhar lado a lado com o inimigo, mas podemos

40
e devemos ter consciência de que Jesus está conos-
co, se o buscamos verdadeiramente. E o Senhor en-
viou-nos Santos Anjos para nos ajudar, e o Glorioso
São Miguel Arcanjo para proteger-nos e guardar-
-nos. Na próxima meditação, iremos refletir mais
sobre isso.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Senhor, me encontro em meio a uma grande batalha
espiritual e desejo combater ao lado de vossos santos
anjos. Envia-me São Miguel Arcanjo para me proteger
de todo ataque do maligno. Não permitais que eu seja
morno, que viva em cima do muro, mas que a minha
decisão de vos amar e servir seja firme. Amém!

42
Capítulo 3

O auxílio tremendo
dos Santos Anjos e do
nosso Anjo da Guarda

Você tem um amigo fiel? Mas fiel mesmo, aquele


com o qual sabemos que podemos contar, em cada
um dos momentos da nossa vida! Quando estamos
arrasados e precisamos de um apoio… Quando es-
tamos com medo e ele vem nos dar uma palavra de
ânimo e coragem… Quando não sabemos o que fa-
zer e logo ligamos para o amigo pedindo ajuda… Há
um amigo fiel que Deus nos deu, o nosso Anjo da
Guarda, que nos auxilia em tudo.
Nestes primeiros capítulos, estamos preparando
o nosso caminho de libertação do mal, com o auxí-
lio dos Santos Anjos. Já falamos sobre a Santíssima
Virgem, de como ela pode nos auxiliar, também de
como temos que ter cuidado para não caminharmos
lado a lado com o inimigo, e agora falaremos sobre
os Santos Anjos. O auxílio que os Santos Anjos po-
dem nos dar é tremendo e extremamente necessário
para a nossa perseverança na graça de Deus, e na
nossa peregrinação rumo ao Céu.

44
“É verdade que existem muitos anjos no céu! E
eles visitam a Igreja, o grupo de oração, a nossa ca-
sa, quando rezamos sozinhos ou quando nos uni-
mos a uma pessoa para rezar. Nos momentos de
alegria, eles se alegram e louvam conosco. Nas si-
tuações dolorosas de nossas famílias, dos nossos
colegas de trabalho e amigos, quando choramos so-
zinhos... também nesses momentos os anjos se fa-
zem presentes. Na oração contamos com a presen-
ça dos anjos e, mais do que isso, o nosso Deus se
faz presente conosco. Coisas boas atraem coisas
boas, trazem a presença dos anjos, dos santos, da
Virgem Maria. E assim a nossa casa é santificada,
torna-se um Céu! A nossa casa se faz com o Céu
uma coisa só!”13
É importante esclarecermos quem são os Santos
Anjos. São criaturas de Deus e “como criaturas pu-
ramente espirituais, são dotados de inteligência e de
vontade: são criaturas pessoais e imortais. Superam
em perfeição todas as criaturas visíveis. Disto dá tes-
temunho o fulgor de sua glória.”14 Adoram a Deus
no Céu e, por meio do mistério da Comunhão dos
Santos, vêm depressa nos socorrer e nos ajudar nas
nossas batalhas.
Mais do que tudo, devemos lembrar que foi-nos
dado um companheiro por toda a vida, um amigo

13 ABIB, Jonas. Lado a lado com meu anjo. Cachoeira Paulista (SP):
Editora Canção Nova, 2016, p. 45.

14 Catecismo da Igreja Católica, 330.

45
fiel, que é o nosso Santo Anjo da Guarda, no dia
do nosso Batismo. Eu estava me lembrando de al-
go acontecido anos atrás comigo, que mostra a força
da oração feita ao Santo Anjo da guarda de alguém.
Aconteceu no ano 2.000, quando eu morava em Belo
Horizonte. Com frequência, eu viajava nos finais de
semana para visitar meus avós, que viviam na cida-
de de Lagoa da Prata, situada a 200 quilômetros da
capital, no Centro-Oeste de Minas. Numa sexta-fei-
ra, após uma semana cansativa de estudos e trabalho,
peguei o meu carro para ir até Lagoa da Prata, em-
bora tivesse com muito sono (confesso meu pecado,
pois agi de forma imprudente, colocando em risco
minha vida e a vida de outras pessoas). Antes de sair,
liguei para minha avó, e pedi que rezasse para que eu
chegasse em segurança. Na saída de BH, com mais
trânsito, eu estava atento, mas à medida que eu avan-
çava, o número de carros diminuía e eu ficava com
mais sono.
Aconteceu que me lembro da estrada somen-
te até o entroncamento da BR-262 com a MG-170,
pouco depois da cidade de Bom Despacho. De lá, até
a casa de meus avós, são ainda 32 km, e não me lem-
bro de ter dirigido por lá, não me lembro de nada.
Na hora em que dei por mim, estava na porta da ca-
sa da minha avó estacionando o carro. Fiquei muito
assustado, pois não me lembrava do resto da estrada,
das curvas, da ponte do Rio Jacaré, nem da entrada
da cidade, nada mesmo. Com o coração disparado,
falei com minha avó do que tinha acontecido, e de

46
como eu não me lembrava do caminho do trevo até
a casa dela. Ela tranquilamente me disse: “Eu sei o
que aconteceu. Eu estava rezando para o seu Anjo
da Guarda e ele guiou o seu carro até aqui!” Depois
ela me levou para a cozinha, para comer aquele jan-
tar gostoso que só ela sabia fazer.
“Em vários textos da Sagrada Escritura fala-se
de Anjos de pessoas individuais. O próprio Jesus fa-
la dos Anjos das crianças (Mt 18,10). Os primeiros
cristãos tinham uma consciência clara dos Anjos
de pessoas individuais. Assim, acreditaram no Anjo
de Pedro quando este bateu à porta, onde estavam
os cristãos reunidos; a serva reconheceu a voz de
Pedro e os outros pensaram que fosse o seu Anjo,
pois Pedro estava preso (cf. At 12,15). O Salmo 90
(91),11-13 diz: ‘Porque aos seus Anjos Ele mandou
que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te
sustentarão em suas mãos para que não tropeces em
alguma pedra. Sobre serpente e víbora andarás, cal-
carás aos pés o leão e o dragão.’ Deste texto, veio o
nome para estes Anjos: ‘Anjos da Guarda’.”15
O Santo Anjo da guarda busca ajudar-nos e
inspira-nos a fugirmos do pecado e a praticarmos
obras de misericórdia, aproximando-nos mais de
Deus. O Santo Anjo da Guarda é um amigo fiel, mas
que pede de nós intimidade.

15 KIENINGER, Titus, ORC. Os anjos bons e maus. Quem são? O que


querem? O que podem? Uma pequena angelologia em forma cate-
quética. Guaratinguetá (SP): Obra da Santa Cruz, 2021, p. 85.

47
“Trata-se da aventura do homem com o seu
Anjo, andando juntos no caminho para o Céu, com
uma tarefa única neste mundo e para este mundo: a
glorificação de Deus e a vitória do Reino de Deus na
terra. O bom êxito desta aventura depende essencial-
mente da medida em que daremos ao Anjo a possibi-
lidade de nos guiar ao longo de nossa vida. Por isso,
[…] (devemos ter) amizade com aquele que, do Céu,
Deus nos deu como guia, amigo e irmão. Importante
será fazermos constantes progressos na vivência des-
ta amizade. […] Primeiro de tudo, trata-se de tomar
consciência, de saber e compreender, mas também
de uma apreciação daquilo que, neste ponto, a fé nos
oferece em beleza e importância. Por isso, a pessoa
que deseja crescer nessa amizade deve também ofe-
recer algo: a prontidão de se comprometer e se dei-
xar guiar pelo seu Anjo da Guarda, a fim de trilhar,
com ele, o caminho da santidade. Assim, trata-se
mesmo de uma preciosa amizade, penhor de gra-
ças especiais que, de outro modo, não poderemos
obter!”16
“São Bernardo assim resume nossos deveres em
relação ao Anjo da Guarda:
• Respeito pela sua presença. Devemos evitar tudo
o que pode contristar um espírito assim puro e
santo. Sobretudo, evitar o pecado. ‘Como te atre-
verias — interpela o santo Doutor — a fazer na

16 VAN DIJK, Hubert, ORC. O meu Anjo e eu. Sete degraus para ca-
minhar com o Anjo da Guarda. Guaratinguetá (SP): Obra da Santa
Cruz, 2019, p. 12-13.

48
presença dos Anjos aquilo que não farias estando
eu diante de ti?’ […]
• Confiança na sua proteção. Sendo o Anjo tão po-
deroso e estando continuamente diante de Deus,
e ao mesmo tempo conhecendo as nossas neces-
sidades, como não confiar na sua proteção? A
melhor maneira de provar essa confiança é, nos
momentos difíceis, recorrer a ele pela oração, es-
pecialmente nas tentações.
• Amor e reconhecimento por sua proteção.
Devemos amá-lo como a um benfeitor, um amigo
e um irmão, e sermos agradecidos pela sua prote-
ção diligentíssima. ‘Sejamos, pois, devotos’ - con-
tinua São Bernardo. ‘Sejamos agradecidos a guar-
diães tão dignos de apreço; correspondamos a seu
amor; honremos-lhe quanto possamos e quanto
devemos!’”17
Na Sagrada Escritura, podemos perceber es-
se grande mistério da ajuda dos Santos Anjos co-
mo guardiões na belíssima história de São Rafael
Arcanjo no livro de Tobias. A amizade e a intimi-
dade entre Tobias e São Rafael fazem com que a sua
jornada para recuperar a soma de dinheiro que havia
sido depositado por Tobit junto à casa de seu parente
seja transformada numa mostra de como podemos
nós também ser ajudados por nosso Santo Anjo da

17 SOLIMEO, Plínio Maria. Os Santos Anjos, nossos celestes proteto-


res. São Paulo: Artpress, 1999, p. 35-36

49
Guarda. Caminhos que são mostrados, libertações,
curas, tudo acontece por meio da intimidade com
seu Anjo da Guarda. Mas você pode pensar: “Irmão,
mas eu não vejo meu Anjo da Guarda como Tobias
via São Rafael…” Quando crescemos na intimidade
com o nosso Santo Anjo da Guarda, nós podemos
ouvir suas inspirações em nossa consciência e obe-
decer-lhe. E ele fará seu admirável trabalho de nos
guardar.

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Oração: 
Diante de vós, Senhor, me comprometo neste dia, a vi-
ver uma intensa amizade com o meu Anjo da Guarda.
Com prontidão me deixo guiar por ele, com o respei-
to, confiança, amor e reconhecimento que ele merece.
Ajuda-me, meu amigo fiel a trilhar contigo o caminho
da santidade e assim dar glória a Deus com a minha
vida. Amém!

51
ESCUTE AQUI
Capítulo 4

A glória e o poder
de São Miguel

Você já imaginou o Monte Everest? É a mon-


tanha mais alta do mundo. Imponente, do alto dos
seus mais de 8.848 metros. Pensamos nos ventos, no
gelo lá em cima, no ar extremamente rarefeito que
dificulta a respiração, nas grandes dificuldades para
os seres humanos subirem àquele local e permane-
cerem ali. Não há, no nosso planeta, montanha mais
alta e mais conhecida. Havia um anjo que fora criado
por Deus, como o mais belo, o mais potente e admi-
rável. O cume do Everest é o ponto mais alto de toda
a Cordilheira do Himalaia — comparativamente,
podemos dizer que dentre todos os espíritos celes-
tes, havia no cume das hierarquias angélicas um an-
jo poderoso e belo, chamado Lúcifer.
“A tradição dos Santos Padres da Igreja conside-
ra que o Diabo, antes de se rebelar, era o mais pode-
roso e belo de todos os anjos. O judaísmo afirma que
era o espírito de maior importância diante do tro-
no de Deus, dotado de doze asas brancas de invulgar

53
envergadura, o dobro das asas dos serafins. Esse ex-
traordinário anjo de luz foi criado por Deus para
atuar como líder de toda a sociedade dos santos
anjos, formando, desse modo, no centro da comu-
nidade dos seres angelicais, um magnífico culto de
adoração perfeita a Deus. À frente desses anjos es-
tava Lúcifer, na contemplação e na adoração a Deus
face a face.”18
Como dizíamos no primeiro capítulo, Deus re-
velou aos seus anjos a decisão de criar o ser humano,
à sua imagem e semelhança, e sua resolução de se
encarnar na natureza humana. A todos os anjos Ele
revelou esse plano de amor e, é claro, a Lúcifer tam-
bém, que pôde receber de Deus o anúncio. A tradi-
ção da Igreja reconhece nessa revelação a origem da
decisão de Lúcifer pelo mal. É o que chamamos de
prova dos anjos. Mas talvez poderíamos nos pergun-
tar: “Por que Deus permitiu essa prova aos anjos?”
A resposta é clara. Para existir o amor, deve existir
a liberdade.
— Deus criou os seres humanos livres, mas
criou também os anjos dotados de liberdade. E, na
liberdade, poderiam escolher a resposta de amor a
Deus, ou uma resposta contrária a Deus.
A resposta de Lúcifer foi de ódio a Deus, e sua
rebelião ia convencendo muitos dos anjos. Mas sur-
giu um anjo humilde, pleno de amor, que deu o seu

18 HENRIQUES JÚNIOR, Luís. A origem do mal e a queda dos anjos.


Campinas (SP): Editora Ecclesiae, 2019, p.49.

54
brado: “Quem como Deus?” (Mika-el, em hebraico).
“O nome ‘Quem como Deus’ é a resposta e a exor-
tação ao espírito rebelde que desejou e ambicionou
em seu íntimo ser ele mesmo como Deus, buscando
usurpar portanto o lugar do Altíssimo como prin-
cípio e única fonte de todas as criaturas. Seu orgu-
lho e sua soberba o levaram à cegueira espiritual de
pensar que, mesmo sendo uma mera criatura, po-
deria ousar ocupar o único lugar do Onipotente.
Foi seu orgulho e presunção que fizeram com que
o Arcanjo se levantasse e se tornasse, desde então,
e para todo o sempre, o antagonista de todo mal.
O nome de Miguel é então uma resposta clara que,
por mais belo e poderoso que um anjo possa ser, ja-
mais será comparado a Deus, Autor e Princípio de
toda vida.”19
Na caminhada que estamos fazendo de liberta-
ção do mal e da presença do inimigo, precisamos
tomar consciência, em primeiro lugar, do combate
espiritual. No primeiro dia, aprendemos mais sobre
a pessoa da Virgem Maria, e na segunda meditação
sobre o inimigo de Deus. Hoje aprenderemos que
não somente não estamos sozinhos neste combate,
mas temos São Miguel para lutar conosco, ao nosso
lado. Como São Miguel derrotou o inimigo uma vez,
no combate que resultou no envio de Satanás para
o inferno, ele está também nos ajudando no nosso
combate diário.

19 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo, An-


gelus Editora, 2022, p. 54.

55
Contamos com sua intercessão, nas orações que
fazemos diariamente, mas devemos pensar: como
São Miguel combate? Ele normalmente é represen-
tado com uma espada, escudo, armadura… Mas o
brado de São Miguel deve nos dar uma pista sobre
o auxílio dele para cada um de nós. São Miguel deu
o seu brado “Quem como Deus?”, e o seu brado é
um brado de adoração. Quando Lúcifer queria ser
adorado no lugar de Deus, São Miguel dá o brado
de adoração. A “arma” principal de São Miguel é a
adoração a Deus, e este é o caminho principal que
devemos trilhar na nossa libertação.
No fundo, quando escolhemos pecar, esta-
mos escolhendo a nossa vontade, e não a vontade
de Deus. Quando adoramos a Deus, damos a Ele o
senhorio de nossas vidas, damos a Ele a glória e o
louvor que Ele merece, escolhemos a Sua vontade,
que de longe é muito melhor do que a nossa vonta-
de. Vem a minha mente uma bela passagem da vida
do grande São Maximiliano Maria Kolbe. Em uma
conferência aos frades de Niepokalanów (Cidade da
Imaculada), na Polônia, o santo de Auschwitz fa-
lava sobre o nosso desejo de santidade e a vontade
de Deus.
“— Exijo que sejam santos, e grandes santos! O
que? Vocês se surpreendem? Mas a santidade, filhi-
nhos meus, não é um luxo, é um dever simplíssimo.
É Jesus quem o diz: ‘Sejais perfeitos como é perfeito
o vosso Pai que está nos céus’. E depois, não creiam

56
que seja uma coisa tão difícil. No fundo é uma sim-
ples questão de cálculo. Logo lhes demonstro, escre-
vendo neste quadro negro a fórmula da santidade.
Vocês verão o quanto é simples! Quem me dá um
pedacinho de giz? Obrigado.
Aproximou-se do quadro e escreveu: v = V.
— Eis a fórmula. Clara, não é? O ‘v’ minúsculo
é a minha vontade, o ‘V’ maiúsculo é a vontade de
Deus. Quando estas duas vontades se chocam, há a
cruz. Vocês querem eliminar a cruz? Então identifi-
quem a sua vontade com a de Deus, o qual quer que
vocês sejam santos. É simples, não? Não resta senão
obedecer!”20
Entendeu? Na caminhada de libertação que es-
tamos fazendo, é muito importante contarmos com
a presença do Glorioso São Miguel, e seguirmos os
seus passos, dando a Deus o primeiro lugar na nos-
sa vida, e seguindo-O, fazendo a Sua vontade. Quem
como Deus? Ninguém! Ao final do nosso livro, va-
mos meditar por 10 dias na figura deste grandioso
Arcanjo, e de como ele e os santos podem nos ajudar
na nossa caminhada espiritual.

20 LORIT, Sérgio. Kolbe. Herói e mártir do campo de extermínio de


Auschwitz. Sertanópolis (PR): Calvariæ Editorial, 2022, p. 138.

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Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Glorioso Arcanjo São Miguel, dai-me a graça de imitar
sua humildade e decisão de servir a Deus. Não permi-
tais que o veneno do orgulho manche a minha alma.
Defendei-me e ensinai-me a usar a arma da adoração
a Deus. Convosco escolho a vontade de Deus, que é
sempre boa, agradável e pacífica. Amém! 

58
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Capítulo 5

Dias difíceis e o clamor


aos Santos Anjos

Como já temos falado ao longo destas medita-


ções, os dias em que vivemos estão particularmente
difíceis. A Serva de Deus Ir. Lúcia dos Santos, viden-
te de Nossa Senhora em Fátima, já dissera em uma
entrevista ao Cardeal Carlo Cafarra que “a batalha
final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre
o matrimônio e a família”.21 E isso não é percebido
somente com relação às famílias.
Se formos ver como estão as coisas no nos-
so mundo e na nossa sociedade, percebemos que
dias difíceis estão presentes. O número de suicídios
tem aumentado, sobretudo entre jovens22. Grandes

21 IRMÃ Lúcia: Batalha final entre Cristo e Satanás será sobre fa-
mília e matrimônio. Acidigital, 14 jun. 2016. Disponível em: <https://
www.acidigital.com/noticias/irma-lucia-batalha-final-entre- cris-
to-e-satanas-sera-sobre-familia-e-matrimonio-66002>. Acesso
em: 11 mai. 2022.

22 DELGADO, Malu.A preocupante alta de suicídios entre jovens


brasileiros. Deutsche Welle [online], Berlim, 1 out. 2021. Disponível
em <https://www.dw.com/pt-br/a-preocupante-alta-de- suic%C3
%ADdios-entre-jovens-brasileiros/a-59374207>. Acesso em: 24
abr. 2023.

60
desastres naturais têm se tornado ainda mais fre-
quentes, como as chuvas em São Sebastião em
202323, a morte de 153 jovens que comemoravam
o Halloween em Seul, na Coréia do Sul24. Isso tudo
sem falar nos ataques e assassinatos das crianças, nas
nossas escolas.
Os dias difíceis estão diante de nós, e só não en-
xerga quem não quer ver. Enfrentamos a pandemia,
que levou muitos de nossos entes queridos, e jogou
um sem número de pessoas no pânico e no desespe-
ro, bem como em dificuldades financeiras, ainda não
superadas. Quantas pessoas têm enfrentado angústia
e depressão na sequência aos eventos pandêmicos?
No Brasil, dados revelam aumento de 25% nas enfer-
midades mentais25.

23 CHUVAS: chega a 57 o número de mortes na tragédia de


São Sebastião. Correio Braziliense [online], Brasília, 24 fev. 2023.
Disponível em <https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/
2023/02/5076107-chuvas-chega-a-57-o-numero-de-mortes-na-
-tragedia-de-sao-sebastiao.html>. Acesso em: 24 abr. 2023.

24 CHOI, Soo-hyang; KIM, Daewoung e KIM, Hongji. Coreia do Sul


busca respostas após morte de 153 pessoas em festa de Hallowe-
en. CNN Brasil [online], 30 out 2022. Disponível em <https:// www.
cnnbrasil.com.br/internacional/coreia-do-sul-busca-respostas-
-apos-morte-de-153-pessoas-em-festa-de-halloween/>. Acesso
em 24 abr. 2023.

25 BRASIL vive uma segunda pandemia, agora na Saúde Men-


tal. Conselho Federal de Enfermagem, 13 out. 2022. Disponível em
<http://www.cofen.gov.br/brasil-enfrenta-uma- segunda-pande-
mia-agora-na-saude-mental_103538.html>. Acesso em 24 abr.
2023.

61
Diante de dias assim tão difíceis, como estes que
vivemos, quando problemas aparecem de todos os
lados, a resposta não pode vir dos nossos esforços
humanos apenas, não pode vir somente dos nossos
recursos materiais, mas a resposta virá, sobretudo, se
a isto juntarmos a oração. Porque, diante de situa-
ções tão dramáticas, precisamos rezar — Deus ou-
ve nossa oração e envia o Seu auxílio para cada um
de nós. Você já experimentou o socorro dos Santos
Anjos? Já pediu ajuda a eles naquilo que você tem
que fazer?
Se acompanharmos o que houve com São Pedro,
enquanto ele estava preso, e o auxílio dos Santos
Anjos, poderemos perceber como nos dias difíceis
do mundo e da nossa vida o Senhor pode enviar os
Santos Anjos para nos ajudarem em nossas aflições.
“Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes man-
dou prender alguns membros da Igreja para os mal-
tratar. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão
de João. Vendo que isso agradava aos judeus, man-
dou prender Pedro. Eram então os dias dos pães sem
fermento. Mandou prendê-lo e lançou-o no cárcere,
entregando-o à guarda de quatro grupos, de quatro
soldados cada um, com a intenção de apresentá-lo ao
povo depois da Páscoa. Pedro estava assim encerra-
do na prisão, mas a Igreja orava sem cessar por ele a
Deus” (At 12,1-5).
São Pedro estava preso, por causa da pregação
do Evangelho, e a guarda que era feita sobre ele era

62
grande (quatro grupos de quatro soldados cada um
estavam a guardá-lo). Contudo, a Igreja orava sem
cessar por ele. É a oração quem nos dá a resposta de
Deus, que envia o socorro dos Anjos para nos aju-
darem. Entre os inúmeros testemunhos de socorro
dos Santos Anjos aos santos, há este da proteção que
recebeu a gloriosa mártir Santa Inês:
“Santa Inês nasceu numa rica família cristã de
Roma durante as perseguições de Diocleciano, no
fim do século III. Sendo muito bonita em sua ado-
lescência, era pretendida pelos melhores partidos de
Roma. Mas desde a infância consagrara sua virginda-
de a Deus, e por isso recusava todos seus pretenden-
tes. Um deles, para vingar-se do que julgava desdém
da donzela, a denunciou como cristã ao governador.
Recusando-se a adorar os ídolos, Inês foi condenada
a ser levada nua a uma casa infame. A santa virgem
respondeu ao seu juiz: ‘Vós me ameaçais de me levar
para um lugar infame, para aí expor minha pure-
za; isso eu não temo, porque eu tenho um Anjo co-
migo, que é um dos inumeráveis servidores de meu
Esposo, por quem eu sou guardada, e que tomará
minha defesa de um modo maravilhoso’.
E realmente, logo que ela foi obrigada a entrar
nesse lugar de infâmia, encontrou um Anjo para de-
fendê-la e uma veste mais branca que a neve, que
serviu para cobri-la; o próprio lugar foi iluminado
por uma luz muito brilhante. Todos os que entra-
vam naquele aposento com intuitos pecaminosos

63
retornavam convertidos. Entretanto seu acusador,
negando-se a ver todas as evidências da proteção
celeste, tentou agarrá-la, sendo morto instantanea-
mente pelo Anjo. A pedido do pai do infeliz, Inês ob-
teve de Deus a ressurreição do rapaz, operada atra-
vés do Anjo. Convertido este, enfim, foi com Inês
martirizado”26
Certa vez, recebemos um testemunho no
Exército de São Miguel de uma pessoa que morava
num sobrado, em cima de um banco. Chegaram as-
saltantes com explosivos para detonar e roubar aque-
la agência bancária. Os moradores tentaram entrar
em contato com a polícia, mas não conseguiram.
Disse ela: “quando, enfim, sabíamos que só tínha-
mos Deus e a milícia celeste por nós, resolvemos
colocar em prática a nossa fé.” Começaram a rezar e
não pararam mais. Como fruto da oração, a bomba
milagrosamente não explodiu. Vou deixar agora vo-
cê ler o que a própria pessoa testemunhou.
“Um vizinho relatou que ao retirarem a bomba,
ele questionou a um dos policiais o que havia ocorri-
do, o policial respondeu que não poderia dar detalhes
devido às investigações, mas que só poderia dizer
que Deus amava muito os donos daquela casa. (Isto)
porque o artifício montado para a explosão continha
muita dinamite, capaz de derrubar o prédio, prova-
velmente porque a quadrilha era inexperiente, e que

26 SOLIMEO, Plínio Maria. Os anjos na vida dos santos. São Paulo:


Artpress, 2007, p. 29.

64
eles não sabiam como, mas o pavio da bomba havia
apagado com um tamanho já muito próximo de ex-
plodir! A bomba estava dentro da máquina, dentro
do banco, não havia possibilidade de vento ou na-
da apagá-la! Eles não sabiam explicar e nas palavras
do próprio policial: ‘Deus ama muito os donos des-
sa casa’ foi a explicação que encontraram! Hoje eu
carrego esse pavio, um pequeno pedaço que sobrou,
dentro da minha bolsa e sempre testemunho o mi-
lagre dizendo que ‘a fé é capaz de mover montanhas
e apagar bombas’.”
Voltando à história de São Pedro, vemos que não
havia como ele fugir, mas Deus realiza o impossí-
vel aos olhos humanos. Lembramo-nos daquilo que
Jesus havia dito: “Jesus olhou para eles e disse: ‘Aos
homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possí-
vel’” (Mt 19,26). O povo de Deus rezou, e Deus en-
viou o Seu Santo Anjo em socorro de Pedro.
“Na noite anterior que Herodes ia apresentá-lo
dormia Pedro entre dois soldados, ligado com duas
cadeias. Os guardas, à porta, vigiavam o cárcere. De
repente, apresentou-se um anjo do Senhor, e uma
luz brilhou no recinto. Tocando no lado de Pedro,
o anjo despertou-o: ‘Levanta-te depressa’ — disse
ele. Caíram-lhe as cadeias das mãos. O anjo orde-
nou: ‘Cinge-te e calça as tuas sandálias’. Ele assim o
fez. O anjo acrescentou: ‘Cobre-te com a tua capa e
segue-me’. Pedro saiu e seguiu-o, sem saber se era
real o que se fazia por meio do anjo. Julgava estar

65
sonhando. Passaram o primeiro e o segundo postos
da guarda. Chegaram ao portão de ferro, que dá para
a cidade, o qual se lhes abriu por si mesmo. Saíram
e tomaram juntos uma rua. Em seguida, de súbito, o
anjo desapareceu. Então, Pedro tornou a si e disse:
‘Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente
o Seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de tu-
do o que esperava o povo dos judeus’. Refletiu um
momento e dirigiu-se para a casa de Maria, mãe de
João, que tem por sobrenome Marcos, onde muitos
se tinham reunido e faziam oração” (At 12,6-12).
Como a Igreja orava por São Pedro, nós, que es-
tamos atravessando dias difíceis, devemos também
rezar unidos, pois a oração unida gera muitos frutos
e ainda mais graças.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Sob a proteção dos Santos Anjos me entrego a vós,
Senhor Deus dos Exércitos. Creio firmemente que o
vosso poder e misericórdia é maior do que todas as
tribulações que enfrento nos dias difíceis. Uno-me a
todos os santos que viveram em intimidade com seu
Anjo da Guarda e, recorro ao meu guardião celestial,
a fim de que a minha vida e a da minha família seja
guardada sob a proteção do Arcanjo São Miguel e de
toda a Milícia Celeste. Amém!

67
PARTE II

CONHECENDO
COMO O INIMIGO
AGE NO MUNDO
São Miguel,
voltando-se aos anjos,
ilumina-os, confirma
os bons, fortalece os
fracos, conforta os
indecisos e pela fé
vence os rebeldes.
Capítulo 6

Descobrindo as
estratégias do demônio

Neste capítulo do livro, quando iniciamos es-


sa segunda parte, vamos nos esforçar para apren-
der como vencer as astúcias do inimigo em nossas
vidas, e como contar, para isso, com o auxílio dos
Santos Anjos e dos Santos do Céu. O primeiro pon-
to, e mais importante, é ter noção de que existe um
combate espiritual. É claro que não devemos ver as
causas espirituais em todas as coisas. Uma vontade
humana má formada realiza atos maus e de pecado,
por decisão de seu livre-arbítrio. Há fatores que in-
fluenciam, como a história de vida da pessoa, tem-
peramentos, traumas sofridos, decisões tomadas que
afetam o curso seguinte da vida. Contudo, você e eu
temos de reconhecer que há um componente espiri-
tual em nossas batalhas, e que precisamos estar aten-
tos diante de uma dificuldade espiritual.
O Pe. Rufus Pereira, conhecido exorcista in-
diano, falecido em 2012, foi vice-presidente da
Associação Internacional dos Exorcistas, e tinha uma
vasta experiência de décadas rezando por exorcismo

71
e libertação. Tive a graça de acompanhá-lo por três
vezes no Evento Misericórdia Brasil, um encontro de
clamor por cura e libertação que realizamos anual-
mente em Fortaleza (CE). Na sua experiência, ele ga-
rantia que muitas vezes as pessoas pensam que estão
com dificuldades e problemas espirituais, mas na
realidade o problema tem uma etiologia (origem) na-
tural ou psicológica. Assim, ele me orientou algumas
vezes que, no caso de orações de libertação, é muito
importante o discernimento do ministro de oração
para saber qual a causa do problema, mas muitas ve-
zes lembrava que um problema físico ou emocional
poderia estar ligado a um problema espiritual, no
qual poderia ser percebida uma ação do inimigo.
Num dos atendimentos nos quais eu o acom-
panhei, uma mulher estava com sinais exteriores
de agressividade, de dores, e procurara o Pe. Rufus
para dizer que precisava de um exorcismo. Na mi-
nha inexperiência, logo achei que se tratava de uma
situação grave de envolvimento com o inimigo.
Conversando com ela, o padre foi descobrindo que,
na realidade, o grande problema que aquela mulher
tinha era uma grande rejeição da parte de seus pais,
que gerava tantas dificuldades. Ele, então, não a con-
duziu a uma oração de libertação, mas a uma oração
de perdão, durante a qual ela conseguiu dar o perdão
aos seus pais, e a uma oração de cura interior, levan-
do-a a reconhecer e experimentar o amor de Deus.
Ela, ao final da oração, sorria extremamente agra-
decida, e lágrimas de alegria banhavam a sua face.

72
Logo que ela se afastou, o padre disse-me: “Viu? O
demônio queria enganá-la mantendo-a presa ao seu
rancor e rejeição. Ele não tinha uma ação direta so-
bre ela, como uma possessão, mas tentava-a, para
que não desse o perdão tão necessário. Depois foi a
experiência tão bela do amor de Deus.”
Desta forma, seguindo as indicações do Pe.
Rufus Pereira, podemos começar a perceber quais
são as áreas da nossa vida que podem cair sob a in-
fluência do ataque do inimigo. A primeira delas é a
vontade. Assim ensina o Pe. Rufus:
“E de que maneira o Demônio influencia e ata-
ca a nossa vontade? Ataca-nos por meio dos hábi-
tos compulsivos de pecado. É assim que nós os cha-
mamos quando estudamos Teologia. Na psicologia,
esse comportamento é chamado de compulsão. De
uma certa forma, nos tornamos escravos do pecado,
e dessa maneira a nossa vontade fica sob o poder do
mal. Uma vez dominados, nós não conseguimos sair
da situação, por mais que tentemos. Nós podemos
ver, no mundo de hoje, tremendos hábitos compul-
sivos de pecado, sendo um deles o vício das drogas.
Quando a pessoa se vicia, fica praticamente impossí-
vel conseguir sair sozinha. O outro é o alcoolismo, o
maior mal do mundo atual. Preste atenção ao imen-
so prejuízo causado nas famílias cujo pai é alcoóla-
tra. Há também hábitos repulsivos de perversão se-
xual. Tome, por exemplo, o abuso sexual de crianças.
É horrível perceber, ao ler os jornais, que o abuso se-
xual de crianças tem se tornado uma epidemia até

73
mesmo em países supostamente católicos. É o pe-
cado de destruir a vida de crianças como fez o rei
Herodes. Mas, além dos hábitos, temos também os
incontáveis casos de aborto que são, claramente, obra
de Satanás. É uma imitação do trabalho de Herodes,
que destruiu crianças indefesas. Eu menciono esses
quatro exemplos para que percebamos como Satanás
está sempre por trás dessas coisas.”27
Em segundo lugar, Pe. Rufus esclarece que o
inimigo tenta atacar o nosso raciocínio, e isso por
meio de falsas doutrinas, por meio do culto a ele
mesmo, e por meio das insistentes movimenta-
ções rumo ao ateísmo. É já uma grande vitória pa-
ra o inimigo quando alguém declara que “Deus
não existe”! Vamos tratar do ataque do inimigo na
mente de cada um de nós com bastante atenção nos
nossos capítulos.
Em terceiro lugar, o inimigo quer atacar as
nossas emoções. “Mesmo em cólera, não pequeis.
Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento”
(Ef 4,26). Já São Paulo nos esclarece do risco que
temos se não damos atenção às nossas emoções,
que podem se tornar terreno fértil para a ação do
inimigo em nossas vidas. “Não dê oportunidades
ao Demônio. Com frequência, ele usa essa sua rai-
va para fazer coisas erradas, para matar, para vio-
lentar. Portanto, as nossas emoções podem ser ca-
nais pelos quais o Demônio nos ataca. Tome, por
27 PEREIRA, Rufus e MENDES, Márcio (org.). Eu lhes trago melhora e
cura. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2019, p. 52-53.

74
exemplo, as tendências negativas ou o medo. Com
frequência, o Maligno nos incita a sentir medo pa-
ra nos subjugar. Nós devemos pegar todas as nossas
emoções e colocá-las sob o poder do Espírito Santo,
a fim de não abrir as portas das nossas emoções
para Satanás.”28
Em quarto lugar, o inimigo pode atacar o nos-
so corpo. Conto ainda mais uma experiência que
tive acompanhando o Pe. Rufus. Uma senhora que
ele atendeu queixava-se de dor de cabeça violenta há
mais de 20 anos. Ela já havia frequentado os médicos
mais renomados, os melhores psicólogos e psiquia-
tras, e a dor de cabeça não passava nem mesmo com
morfina. O Pe. Rufus olhou-me e disse em inglês:
“isso é um sinal que pode evidenciar um problema
de ordem espiritual, uma ação do inimigo, quando
médicos e psicólogos não conseguem resolver nem
achar a causa do problema”. Após conversar com
ela, Pe. Rufus descobriu um envolvimento com fal-
sas doutrinas no seu passado. Fez com ela uma breve
oração de libertação e de renúncia ao inimigo, de-
pois invocou sobre ela o Espírito Santo, e a dor de ca-
beça da mulher cessou completamente. Havia ali um
componente espiritual, que precisava de uma oração
de libertação.
Porém, o Pe. Rufus sempre dizia que o problema
físico é sempre o menor. O mais importante, insistia

28 PEREIRA, Rufus e MENDES, Márcio (org.). Eu lhes trago melhora


e cura. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2019, p. 55.

75
ele, é viver uma vida na graça de Deus, renuncian-
do ao pecado e participando dos sacramentos, bem
como curar o nosso interior. Segundo ele, graças
de cura física chegavam logo que os dois primei-
ros pontos (arrependimento e confissão, seguida de
oração pedindo pela cura interior) aconteciam.
“Cada alma vale para Deus, mais do que va-
le uma mina de ouro para os homens. Por isso que
o Evangelho afirma: ‘Há mais alegria no céu por
um só pecador que se converte’ (Lc 15, 7). Basta
uma alma convertida para que o Céu faça uma
grande festa.
Por isso que nós somos diferentes dos animais.
Eles possuem uma vida finita, nós possuímos uma
alma infinita. Por mais que os bichos mereçam cui-
dados, por serem criaturas de Deus e importantes
para a preservação da natureza, nenhum deles pode-
rá ser igualado ao ser humano, o único que foi criado
à imagem e semelhança de Deus. Logo, um cristão
jamais pode tratar um bichinho de estimação como
se fosse uma pessoa, pois pecaria gravemente.
Os exorcistas afirmam que, durante os exorcis-
mos, os demônios se manifestam emitindo sons de
animais, ou imitando os seus gestos. O possesso che-
ga a rastejar como uma serpente, pular como um
macaco, urrar como um urso, latir como um cachor-
ro, uivar como um lobo. Por que? Porque o homem
sem a vida na graça é apenas um animal que pensa.
Somente a vida na graça é que nos torna filhos de

76
Deus e homens perfeitos. O inimigo quer roubar
essa graça das nossas almas, estimulando o pecado
e arrastando muitos filhos de Deus para o inferno.
Por isso a importância do Batismo, da Eucaristia, da
Confissão, da oração, da penitência, de tudo aquilo
que nos aproxima da graça do Senhor. Vivendo na
graça, estamos em paz. Longe da graça, estamos em
trevas, ou seja, nas garras do Maligno.”29
Enfim, Pe. Rufus dizia que o inimigo poderia
atacar casas e bens, pessoas ligadas a nós, relaciona-
mentos, sobretudo dentro da família, e pessoas em
alguma posição de liderança. Sobre esses outros as-
suntos, iremos trabalhar com calma nos próximos
capítulos. É importante que possamos já ter noção
de como o inimigo pode nos atacar.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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29 VERDE, Gabriel Vila. A adversária da serpente. O auxílio de Maria


no combate ao Mal. Lorena (SP): Editora Cléofas, 2021, p. 28.

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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Glorioso São Miguel Arcanjo, vinde combater em meu
favor, desfazendo todas as estratégias do inimigo que
insiste em influenciar a minha vontade, o meu racio-
cínio, as minhas emoções, e o meu corpo. Pelo poder
do sangue de Jesus, dai-me a graça da libertação em
todas as áreas da minha vida. Amém!  

78
Capítulo 7

O fim dos tempos


e a ação crescente
do inimigo

Há alguns dias atrás, eu comentei com uma se-


nhora sobre uma notícia que eu tinha contado em
uma das nossas lives de oração, convocando a todos
que rezássemos pelas nossas famílias. Um filho ha-
via tirado brutalmente a vida da própria mãe em São
Paulo, e ela me respondeu imediatamente: “É o fim
dos tempos!” O que qualquer um de nós pode per-
ceber é que o mistério da iniquidade tem crescido
bastante em nossos dias (cf 2Ts 2 e Mt 24,12). Já fa-
lamos brevemente de sinais da intensidade da ação
do inimigo, ou, como podemos dizer seguindo as pa-
lavras de São Paulo, do crescimento do mistério da
iniquidade.
Em Mt 24,12, Jesus diz que, ante o progresso
crescente da iniquidade, a caridade de muitos es-
friará. Quando o Senhor diz “progresso crescente
da iniquidade”, se formos olhar no original grego a
palavra iniquidade, a palavra que está lá é “anomia”.

80
Esta palavra existe também no português e, embo-
ra pouco utilizada, significa, segundo o Dicionário
Michaelis da Língua Portuguesa: “Ausência de lei ou
regra; anarquia”. Ou ainda “Estado da sociedade no
qual os padrões normativos de conduta e crença têm
enfraquecido ou desaparecido.”30
É muito importante entendermos bem isso que
foi dito por Jesus. Ele disse que diante do progresso
crescente da “anomia”, a caridade de muitos esfria-
rá. A ausência de normas e regras básicas, mínimas,
tem mostrado o quão longe podemos ir na negação
das verdades que estão baseadas na Lei Natural, das
verdades mais básicas que cada um aprende por evi-
dência. Verdades da Biologia relativas aos seres hu-
manos, verdades relativas à família. Hoje em dia essa
ausência de regras, esses padrões normativos de con-
duta que têm enfraquecido ou desaparecido, num
discurso de que “essa é a minha verdade”, e tem feito
com que muitas pessoas fiquem na apatia. Ouvimos
tantas vezes palavras como essas: “hoje em dia é di-
ferente”, “não precisa mais casar”, “o que importa
é o amor. Se eles se amam, qual é o problema?” E
por aí vai… Parece que aquilo que Jesus e a Igreja
têm ensinado a dois mil anos de verdades reveladas
precisa mudar. E a Igreja tem sofrido perseguição.
Já perceberam como muitos tendem a dizer que os

30 ANOMIA. In: MICHAELIS, Dicionário Brasileiro da Língua Portu-


guesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2023. Disponível em:
<https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/ portu-
gues-brasileiro/anomia/>. Acesso em: 25 abr. 2023.

81
ensinamentos da Igreja são retrógrados, que precisa
mudar muita coisa, adaptar-se, rever…
Como a Igreja nos diz, por meio do Catecismo
da Igreja Católica: “Antes do advento de Cristo,
a Igreja deve passar por uma provação final que
abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que
acompanha a peregrinação dela na terra desvenda-
rá o ‘mistério de iniquidade’ sob a forma de uma
impostura religiosa que há de trazer aos homens
uma solução aparente a seus problemas, à custa da
apostasia da verdade. A impostura religiosa supre-
ma é a do Anticristo, isto é, a de um pseudo- mes-
sianismo em que o homem glorifica a si mesmo em
lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.”31
Aqui temos descrito o avanço da iniquidade que
temos percebido com nossos próprios olhos. Como
Jesus teve que passar pela sua Paixão, também a
Igreja, sua Esposa, deve passar por esses momen-
tos de perseguição e tribulação, como de fato já es-
tá acontecendo. Deus tem levantado movimentos de
oração ao redor do mundo, e tem feito isso também
no Brasil. Como acontece no Exército de São Miguel
e em vários outros movimentos de oração, temos in-
sistido que, diante do crescimento do mistério da
iniquidade, a resposta deve vir pela oração.
“Portanto, essa é uma luta, é um combate que
existe desde a criação do mundo, e certamente só

31 Catecismo da Igreja Católica, 675.

82
chegará ao seu fim no último dia, quando Jesus
Cristo estabelecer um Mundo Novo, com uma hu-
manidade renovada! Enquanto esse mundo novo é
estabelecido, depende de cada um de nós estarmos
atentos a esse Combate Espiritual que nos precede.
Viveremos dia a dia essa luta contra o Maligno,
contra o Mundo e contra nós mesmos! Mas é uma
luta que não deve nos trazer dúvidas quanto a quem
sairá vencedor, pois Cristo Jesus já venceu essa luta
por cada um de nós. O que acontece agora é que
Deus pacientemente espera que cada um de seus fi-
lhos O reconheça como Senhor, e que todos voltem
o seu coração a Ele.”32
Assim, a resposta, além de orarmos, deve ser de
uma oração para que a caridade de Deus cresça em
nossos corações. Se a caridade de muitos esfriará,
por causa do que estamos vivendo de avanço do
mistério da iniquidade, é justamente a hora em que
devemos clamar mais ainda para experimentarmos
o amor de Deus, e crescermos na manifestação des-
se amor aos outros. Somente um coração que expe-
rimenta o amor do Pai por nós pode conseguir amar,
pois vai amar com o amor de Deus.
Deus está nos convidando à adoração a Seu Filho
Jesus Cristo, presente no Santíssimo Sacramento —
prática cada vez mais comum nos últimos tempos,

32 GESUALDO, Danilo. Livres de todo mal. Desmascarando o inimi-


go. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2022, p. 81.

83
que nos leva a crescer na experiência do amor d’Ele
por nós e da nossa resposta a Ele. Isso nos ajuda a
seguir firmes na verdade da fé, bem como ardentes
na caridade, a vermos Jesus nos outros, como Ele
próprio nos ensinou: “a mim o fizestes” (Mt 25,40).
Acompanhemos o que diz Mons. Stephen Rossetti,
renomado exorcista da Arquidiocese de Washington,
nos Estados Unidos:
“Normalmente é muito difícil conseguir que
uma pessoa plenamente possessa vá à missa. Tantas
vezes quanto encorajamos a pessoa, o possesso sen-
te uma repulsa preternatural à Eucaristia. ‘K’ não
foi exceção.
Não podíamos conseguir que ela fosse à Santa
Missa, sem praticamente arrastá-la para a Igreja. E,
então, sentar-se durante toda a missa era doloroso,
ou mesmo impossível.
Depois de meses de exorcismos, ela estava muito
melhor, mas levá-la para a capela ainda era uma luta
enorme. Por fim, finalmente pudemos marcar uma
missa particular para ela, seu pai e seu tio. Durante
três dias antes da missa programada, ela se mani-
festou quase que constantemente. Os demônios sa-
biam o que estava planejado e se tornaram furiosos.
Eles a manipularam e a todos os outros, tentando sa-
botar o evento, mas ninguém se rendeu.
Quando chegou o dia, sua família, não tão fa-
cilmente, a arrastou para a capela. Ela estava sen-
tada entre dois grandes membros da família que

84
a mantiveram no lugar. Então começou a missa.
Enquanto a missa avançava, ela continuava gritan-
do: ‘Você está me matando’! Ela disse que lhe doía
o estômago e sentiu náuseas. Ela se debateu muitas
vezes. Tínhamos um balde por perto e ela vomitou
uma espuma branca dentro do balde. Quando o
Evangelho foi lido, ela reagiu violentamente. (Devo
admitir que foi difícil para que eu me concentrasse).
Então, chegou a hora da comunhão. Após muito
convencimento, e finalmente após um comando de
seu pai, ela abriu a boca. Quando me aproximei com
a Hóstia Sagrada, ela gritou: ‘Você está me queiman-
do’! Eu coloquei a Hóstia na boca dela. Ela bateu e
tentou cuspir para fora, mas seu pai a manteve cala-
da. Mais tarde, ela disse que a Hóstia tinha gosto de
‘cinzas’. Depois que a missa terminou, ela voltou a si
mesma. Ela disse que os demônios haviam desapare-
cido (pelo menos temporariamente) e que ela estava
em paz. Ela riu, brincou e sorriu.
Satanás, sem querer, é testemunha de tudo o que
é sagrado. Ele se torce quando asperge com água
benta; ele se encolhe ao ver um crucifixo abençoado;
mas, definitivamente, ele grita ao entrar em contato
com a Eucaristia. Nós, de nossa parte, também tes-
temunhamos a santidade da Eucaristia. Ajoelhamo-
nos diante da Eucaristia guardada no sacrário; ado-
ramos a presença real de Jesus durante a adoração
eucarística; recebemos o Corpo e o Sangue de Jesus
na Missa com grande reverência. Como escreveu São

85
Tomás: Como somos abençoados por receber o ‘pão
dos anjos’! (Panis Angelicus)”33
Assim nos lembramos da vitória final de Deus,
como explica o Catecismo da Igreja Católica: “A
Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta
derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em
sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se
realizará por um triunfo histórico da Igreja segun-
do um progresso ascendente, mas por uma vitória
de Deus sobre o desencadeamento último do mal,
que fará sua Esposa descer do Céu. O triunfo de
Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do
Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico des-
te mundo que passa.”34

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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33 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #182: Satan Witnesses to the


Sanctity of the Eucharist. Catholic Exorcism. 20 mar. 2022. Dispo-
nível em <https://www.catholicexorcism.org/post/exorcist- diary-
-182-satan-witnesses-to-the-sanctity-of-the-eucharist>. Acesso
em 10 mai. 2023. [tradução nossa]

34 Catecismo da Igreja Católica, 677.

86
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Pelo auxílio do Poderoso Arcanjo São Miguel, vos pe-
ço Senhor, que todos os ataques do inimigo sejam re-
pelidos, que sua ação não penetre em minha vida e
no seio da minha família. Dai-me um grande amor
pela Eucaristia, um ardente desejo da oração e que o
Espírito me ilumine na luta contra os espíritos do mal. 
Amém!

87
Capítulo 8

A ação sem disfarces


do inimigo — o satanismo

Comentávamos no capítulo anterior do avanço


do mistério da iniquidade, e percebemos algo que,
antigamente, acontecia de forma mais velada tem
acontecido de forma aberta, o que tem chamado
a atenção de muitos católicos. Nos dias 28 a 30 de
abril de 2023, aconteceu num hotel renomado na ci-
dade de Boston, nos Estados Unidos, aquela que é
chamada por eles mesmos de “a maior conferência
do satanismo no mundo” — SatanCon. O evento foi
promovido por uma associação chamada “O Templo
Satânico”, que escolheu a data, coincidente com as
celebrações pascais da Igreja Católica, para come-
morar algumas datas importantes no calendário do
satanismo.
Essas práticas, que eram escondidas há um bom
tempo, feitas em segredo em casas e centros, às ve-
zes sem nenhuma indicação do lado de fora, agora
estão sendo feitas abertamente, e até em congresso
num grande hotel. No Brasil, proliferam escolas de

89
bruxaria e magia, que querem popularizar a práti-
ca. Fomentados por livros, revistas, pela internet e,
sobretudo, pela utilização intensa das redes sociais,
muitas pessoas têm se aproximado do ocultismo e
acabam por mergulharem profundamente neste
mundo obscuro. Até mesmo as crianças têm sido al-
vo de ataques da parte do inimigo, na populariza-
ção do grotesco e do satanismo por meio de festas
do Halloween.
Em 2021, foi beatificada a mártir Beata Laura
Mainetti, uma religiosa morta no ano 2000 por três
meninas adolescentes num ritual satânico na Itália35.
Quiseram cada uma dar seis punhaladas na freira,
para fazer juntas o número 666, símbolo do inimi-
go. As assassinas depois disseram que o que mais
as motivou a reconhecer o crime “não foi pela vi-
são do sangue, nem pela força bruta que elas mes-
mas não imaginavam ter, mas sim pelas palavras de
perdão que a vítima pronunciou no momento da
morte, preocupando-se apenas com o mal que as
moças estavam fazendo a si mesmas com esse gesto.
Assim, a irmã Maria Laura Mainetti morre, rezando
e perdoando”36.

35 FREIRA morta por adolescentes satanistas é beatificada no


domingo. ACIDigital, 05 jun. 2011. Disponível em: <https://www.aci-
digital.com/noticias/freira-morta-por-adolescentes-satanistas-e-
beatificada-no-domingo-38166>. Acesso em: 10 mai. 2023.

36 PETTITI, Gianpiero e FLOCCHINI, Emilia. Beata Maria Laura (Te-


resina Elsa) Mainetti, Vergine e martire. Santi e beati. 08 jun. 2021.
Disponível em <https://www.santiebeati.it/Detailed/ 93514.html>.
Acesso em: 10 mai. 2023. [tradução nossa].

90
Ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A ido-
latria não diz respeito somente aos falsos cultos
do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé.
Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe ido-
latria quando o homem presta honra e veneração
a uma criatura em lugar de Deus, quer se trate de
deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo),
do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do
Estado, do dinheiro etc.
‘Não podeis servir a Deus e ao dinheiro’, diz Jesus
(Mt 6,24). Numerosos mártires morreram por não
adorar ‘a Besta’, recusando-se até a simular seu cul-
to. A idolatria nega o senhorio exclusivo de Deus; é,
portanto, incompatível com a comunhão divina.”37
Um sacerdote que trabalha com acolhimento de
pessoas com dificuldades de dependência química
deu um testemunho esclarecedor, que transcrevo
aqui:
“[…] um dos jovens que havia passado por uma
de nossas casas me ligou chorando e com voz trê-
mula, dizendo-me que estava em um hospital e que
precisava da minha ajuda. Perguntei a ele o que ti-
nha acontecido e ele me disse que havia tentado o
suicídio. De início sofri um impacto, pois o conhe-
cendo bem, sabia que tal atitude não condizia com a
sua pessoa. A esse primeiro telefonema sucederam-
-se outras conversas em que fiquei sabendo, com de-
talhes, o que realmente havia acontecido.

37 Catecismo da Igreja Católica, 2113.

91
Nosso jovem tinha se envolvido com um grupo
da sua idade, entre 18 a 20 anos, e com ele passou a
frequentar lugares, e pelo que me confidenciou não
eram poucos, em que se praticava o ocultismo. Ele
me disse que achava aquilo tudo muito legal. Todo
mundo vestia-se de preto, trocava o dia pela noite, se
reunia para ler livros esotéricos e de bruxarias. […] À
medida que o tempo passava, as coisas se intensifica-
vam cada vez mais e foi quando começaram a ‘invocar
Satanás’ em rituais de consagração. Completamente
obcecado, como ele dissera, por ideias satânicas, de-
cidiu ‘sacrificar a sua vida a Satanás’ pulando do úl-
timo andar de sua casa, com um arame de aço preso
ao pescoço. O mais impressionante é que ele já havia
planejado antecipadamente o seu suicídio, verifican-
do o lugar, o horário que sua família não estivesse em
casa, a resistência do arame que usaria para prender
o seu corpo. Graças à intervenção poderosa de Deus,
no momento em que ele se jogou, sua irmã, que es-
tava em casa, escutou o barulho e correu para ver o
que era e viu o seu corpo se debatendo na parede,
pendurado pelo pescoço. Gritando, ela começou a
chamar pelos vizinhos que rapidamente acorreram e
puderam, assim, salvar a sua vida.
A partir desse ocorrido, comecei a me interessar
mais pelo assunto e então percebi que esse não era
um fato isolado. Infelizmente, a maioria deles não te-
ve um final feliz.”38

38 SOBREIRO, GIlson. Desmascarando o inimigo. São Paulo: Palavra


& Prece, 2009, p. 13-14.

92
Essa realidade tem envolvido muitos dos nossos
jovens e adultos, e falo com você: talvez algum co-
nhecido seu, ou alguma pessoa da sua família tenha
demonstrado interesse pelo oculto. Neste caso, é im-
portante perceber os meios pelos quais o inimigo se
utiliza para divulgar suas ideias mais recentemente,
que são as músicas com invocações claras ao inimi-
go, jogos interativos e sites de internet que oferecem
com facilidade acesso às informações e, é claro, o
contato fácil por meio de redes sociais com pessoas
envolvidas nisso. Há sinais que podem demonstrar,
embora não sejam conclusivos, um interresse pelas
coisas ocultas: mudanças repentinas de comporta-
mento, interesse por músicas de conteúdo satânico,
tristeza persistente, roupas pretas, automutilações,
dentre outras. Diante dessa situação, a pergunta que
você pode se fazer é: “E agora, o que fazer? Como
conseguir que aconteça a libertação da influência do
inimigo, se alguém já foi agarrado por ele?”
Para Deus, nada é impossível. Há alguns anos
atrás, trouxemos para contar o seu belo testemunho
de conversão o ex-satanista Zachary King (este tes-
temunho impactante pode ser encontrado com faci-
lidade na internet). Ele foi um dos altos sacerdotes
da Igreja de Satanás, tendo começado no satanismo
com a idade de apenas 10 anos, mergulhando cada
vez mais até se tornar um sumo sacerdote. Ele conta
que aos 15 anos já tinha cometido pecados contra
cada um dos 10 mandamentos, e foi cada vez mais

93
adentrando em pecados e em invocações ao inimigo,
até o momento em que achava que não havia mais
volta e que sua alma estaria para sempre condena-
da. Porém, aconteceu que a graça de Deus chegou
à sua vida por meio de uma mulher, que era tam-
bém ministra de cura e libertação, a qual foi comprar
uma joia, na joalheria onde ele trabalhava. Ela disse
que daria a ele uma medalha milagrosa, e que Nossa
Senhora queria que ele fizesse parte de seu Exército.
Naquele instante, Zachary teve uma experiência pro-
funda e real com Jesus e com a Santíssima Virgem,
tomou consciência dos seus pecados, e começou a
partir daí a trilhar um belíssimo caminho de conver-
são. Hoje em dia ele dedica a sua vida para denun-
ciar às pessoas os males do satanismo e falar sobre a
graça tremenda que é viver na comunhão com Deus.
Conto este testemunho de forma breve pa-
ra mostrar que não há caso perdido para Deus.
Poderíamos até pensar que, no caso de alguém co-
mo Zachary, não havia mais saída, mas sempre há
uma saída quando contamos com a graça de Deus.
Temos recebido vários testemunhos de libertação
das pessoas que têm clamado a Deus as graças, por
meio das lives de oração do Exército de São Miguel.
A oração chega a lugares onde não imaginamos que
ela chegasse, e alcança uma grande mudança nos co-
rações. Mas, como rezar? Devemos pedir o socorro
intenso de Deus, e podemos fazer isso por meio dos
Santos Anjos e do Glorioso São Miguel Arcanjo. No
próximo capítulo, vamos falar mais sobre isso.

94
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração: 
Poderoso Arcanjo São Miguel, pela vossa humildade e
fidelidade a Deus, já vencestes o inimigo uma vez. Vos
suplico que venha novamente derrotá-lo para que não
continue a implantar o mal do satanismo no mundo.
Protege os nossos jovens e crianças de toda influência
do mal e liberta-os de toda opressão. Amém!

95
Capítulo 9

O socorro essencial de
São Miguel e dos Anjos

“Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande che-


fe, o protetor dos filhos do seu povo. Será uma épo-
ca de tal desolação, como jamais houve igual des-
de que as nações existem até aquele momento” (Dn
12,1). Nessa passagem do livro de Daniel, o Senhor
dá uma resposta aos problemas dramáticos de inva-
sões e perseguições sofridas pelo povo judaico. E a
resposta é que Ele enviará Miguel para este tempo de
grande angústia entre o povo.
Após os dois últimos capítulos, poderíamos pen-
sar que estávamos sozinhos, neste grande combate
espiritual. Diante de situações difíceis, precisamos
de auxílios que possam ser decisivos e, no comba-
te espiritual, o auxílio de São Miguel Arcanjo e dos
Santos Anjos se mostra especialmente eficaz para
nos ajudar no nosso combate.
Provavelmente você já ouviu falar e já rezou vá-
rias vezes aquela oração: “São Miguel Arcanjo, de-
fendei-nos no combate…”, que, inclusive, é parte

97
integrante da oração do Terço do Combate. Porém,
talvez não saiba a origem desta oração. Quem a es-
creveu foi ninguém menos que o próprio Papa Leão
XIII. Assim, o Pe. Gabriele Amorth narra o fato:
“Como é que nasceu esta oração? Transcrevo
um artigo que foi publicado na revista Ephemerides
Liturgicae escrito pelo Pe. Domenico Pechenino, em
1955, nas p. 58-59. ‘Não me lembro exatamente do
ano. Uma manhã, o grande Pontífice Leão XIII ti-
nha celebrado a Santa Missa e estava a assistir a uma
outra de ação de graças, como de costume. De repen-
te, viu-se ele virar energicamente a cabeça, depois de
fixar qualquer coisa intensamente, sobre a cabeça
do celebrante. Mantinha-se imóvel, sem pestanejar,
mas com uma expressão de terror e de admiração,
tendo o seu rosto mudado de cor. Adivinhava-se ne-
le qualquer coisa de estranho, de grande.
Finalmente voltando a si, bate ligeira, mas ener-
gicamente com a mão, levanta-se. Dirige-se ao seu
escritório particular. Os mais próximos seguem- no
com preocupação e ansiedade. E perguntam-lhe em
voz baixa: Santo Padre, não se sente bem? Precisa de
alguma coisa? Responde: Nada, nada.
Daí a uma meia hora manda chamar o Secretário
da Congregação dos Ritos, e estendendo-Ihe uma
folha de papel, manda fazê-la imprimir e enviar a
todos os Ordinários do mundo. Que assunto conti-
nha? A oração que rezávamos no fim da missa com
o povo, com a súplica a Maria e a invocação ardente
ao Príncipe das milícias celestes, implorando a Deus

98
que precipite Satanás no inferno’. Naquele escrito or-
denava-se igualmente que as orações fossem rezadas
de joelhos.”39
São Miguel Arcanjo foi invocado pelo próprio
Pontífice, para que viesse socorrer a Santa Igreja dos
ataques do inimigo, e é por isso que nós percebe-
mos tanta eficácia nesta oração, que buscamos rezar
diariamente, invocando a presença e a ação de São
Miguel para nos ajudar. O Pe. Nicola Ricci, grande
divulgador da devoção a São Miguel, escreveu no seu
livro:
“Considere como a vida do justo outra coisa não
é senão um contínuo combate. Combate não con-
tra inimigos visíveis e carnais, mas combate terrível
contra inimigos espirituais e invisíveis: potestades,
principados, espíritos maus que continuamente
preparam ciladas para a vida da alma. Contra estes
inimigos, a batalha é contínua e muito difícil é a vi-
tória. A vitória, porém, é assegurada, contando-se
com o favor de São Miguel Arcanjo. Como disse o
profeta, em favor dos justos que temem a Deus, ele
manda os seus anjos, os quais, protegendo os justos,
torna-os vencedores. Ele manda uma tropa, uma
guarnição, um pelotão de anjos, que acampam ao re-
dor dos justos como um exército, ou, como explica
São Jerônimo, cercam-nos dando a volta e, se o de-
mônio anda como um leão faminto ao redor de sua
presa, console-se, ó alma justa, pois São Miguel já
39 AMORTH, Gabriele. Um exorcista conta-nos. Lisboa: Edições
Paulinas, 2000, p. 43-44.

99
mandou os seus anjos ao seu redor; fique sossegada,
pois não será conquistada pelo demônio.”40
Assim defende São Miguel os que a Ele se con-
fiam: “Frei Comano, da Ordem dos Pregadores, afe-
tado por uma enfermidade maligna enquanto se en-
contrava em lugares pagãos, estava morrendo sem
poder receber os santos sacramentos. Veio, então,
uma grande multidão de demônios para pegar a
sua alma; mas eis que chegou logo em sua defesa o
Arcanjo Miguel com clareza e esplendor admirável,
e lhe disse: ‘Filho, não tenha medo. Eu sou Miguel, e
o defenderei dos demônios’. Logo fugiram apavora-
dos os demônios, e o santo religioso expirou placida-
mente, como refere Tomás de Cantimpré.”41
E quando clamamos o socorro dos Santos Anjos,
seja para proteger-nos dos ataques espirituais, seja
para ajudar-nos nas tarefas do dia a dia, podemos
contar sempre com o seu valioso auxílio. Podemos
perceber isso na vida do mártir São Policarpo, que
era muito devoto dos Santos Anjos. Durante uma de
suas viagens, aconteceu este fato:
“Viajava por um deserto lugar, e vindo a noite teve
que se acolher ao primeiro albergue que encontrou.

40 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quaresma


de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Instituto
Hesed, 2021, p. 106.

41 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quaresma


de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Instituto
Hesed, 2021, p. 155.

100
Lá por alta madrugada, dormia o Santo despreocu-
padamente quando ouve que alguém o chama:
‘Policarpo, Policarpo’. — E o santo bispo: ‘Quem
me quer?.’ — E a voz prosseguiu: ‘Levanta-te e fo-
ge depressa, pois dentro em pouco desabará este
albergue’.
Logo se pôs de pé o santo, despertou o compa-
nheiro, que era um moço chamado Camério, e o
convidou a levantar-se incontinente. Mas o pobre
Camério, cansado e dominado pelo sono lhe disse:
‘Mas meu santo pai, para que tanta pressa?… Mal en-
tramos no primeiro sono! Se quereis ler as Escrituras
e meditá-las como costumais, está bem, meditai-as
embora, mas deixai-me dormir a mim’.
Calou-se Policarpo e voltou para o quarto. Mas
apenas entrou nele, a mesma voz se fez ouvir, igual-
mente intimando a que se retirasse o mais depressa
possível. Desta vez foi o santo com mais resolução a
Camério, e ordenou que se levantasse. Ainda assim
disse este, não sem espírito:
‘Enquanto Policarpo estiver dentro desta casa,
tenho plena confiança em Deus que ela não cairá’.
‘Sim, respondeu o santo, e Deus precisamente que
quer que nós nos salvemos. Para isto enviou-me um
anjo que nos diz que partamos já daqui.
Não tinha ainda acabado de falar quando
lhes aparece o santo anjo e pela terceira vez man-
da a ambos que deixem o albergue. Assustado, en-
tão, Camério pulou para fora do leito e antes que

101
S. Policarpo chegasse à porta do albergue já ele esta-
va em plena estrada…
Uma vez ambos na estrada, trataram de afastar-
-se. Poucos passos andados, ouviram o estrondo do
albergue que desmoronava. Cheios de reconheci-
mento ajoelharam-se onde estavam, e Policarpo, le-
vantando os olhos ao céu, rendeu graças a Deus.”42
Os Santos Anjos nos auxiliam em nossos comba-
tes e necessidades. Basta que clamemos o seu socorro
e cresçamos na intimidade com eles.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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42 FERRETTI, Augusto, S.J. Os Santos Anjos da guarda. Sertanópolis


(PR): Calvariæ Editorial, 2021, p. 138-139.

102
Oração: 
Príncipe das Milícias Celestes, Valente Arauto do Deus
Altíssimo, vinde e socorrei-nos nas nossas aflições e
tribulações. Vinde com todos os Santos Anjos e ajudai-
-me a combater a ação dos demônios que insistente-
mente armam ciladas contra os filhos da Igreja. Dai-
nos a força e o poder que vem de Deus para vencer em
todos os combates. Amém!

103
É preciso invocar
com devota fé a
São Miguel, e logo
virá a consolação
para todas as
tribulações.

105
Capítulo 10

Por que o ódio aos


cristãos que buscam
viver a verdade da fé?

O escritor eclesiástico do Século II, Tertuliano,


dizia que “o sangue dos mártires é a semente de no-
vos cristãos”43. A Igreja, desde a morte de Nosso
Senhor Jesus Cristo, tem testemunhado a fé e o se-
guimento de seu Salvador não somente com as pala-
vras e com o ensinamento, mas com a própria vida.
Desde o protomártir Santo Estêvão, até os numero-
sos mártires dos dias de hoje, muitos cristãos têm
demonstrado a sua fé em Jesus, pagando, às vezes,
com a própria vida.
Em pleno século XXI, não podemos dizer que o
cristianismo encontra já aceitação em todo o globo;

43 TERTULIANO, Apologético 50,13. In ASSIS, Raymundo Damasce-


no. Homilia da Celebração Eucarística da Beatificação da Serva de
Deus Isabel Cristina Mrad Campos. Barbacena (MG), 10 dez. 2022.
Disponível em <https://www.causesanti.va/content/dam/cause-
santi/santi-e-beati/ Homilia-da-Beatificacao-de-Isabel-Cristina.
pdf>. Acesso em 26 abr. 2023.

106
muito pelo contrário, aumenta cada vez mais o ódio
aos cristãos e à verdade do Evangelho. Alguns ata-
ques cometidos contra cristãos nos últimos tempos
têm se mostrado particularmente alarmantes. No dia
21 de abril de 2019, dia de Páscoa, no Sri Lanka,
foram perpetrados vários atentados a Igrejas e al-
vos cristãos, totalizando 258 mortos e mais de 500
feridos, o que chocou a população mundial. A res-
posta, seguindo o exemplo de Jesus, foi de perdão. O
Cardeal Ranjith, Arcebispo da Capital, Colombo, em
uma entrevista, explicou:
“Recordemos que não houve nenhuma reação,
nem mesmo imediatamente após os ataques, em um
momento em que as pessoas estavam particularmen-
te feridas espiritual e fisicamente por essa violência.
Poderiam ter reagido e não o fizeram: prevaleceu a
razão e não os sentimentos. E também agora é assim.
Isso acontece por causa daquela atitude cristã de sa-
ber perdoar até mesmo aqueles que fizeram algo er-
rado. Na Páscoa celebramos a crucificação de Jesus,
recordando que ele próprio rezou por aqueles que
agiram contra ele. Esse sentimento de perdão vem
ao coração de toda pessoa que sofreu. Naturalmente,
no entanto, que essas pessoas têm o direito de saber
pelo menos quem fez isso e por que eles realizaram
os ataques.”44

44 AQUILINO, Giada. Sri Lanka recorda as vítimas dos atentados


de 21 de abril de 2019. Vatican News, Roma, 21 abr. 2020. Disponível
em: <https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-04/ sri-
-lanka-um-ano-atentados-pascoa-cardeal-ranjith.html>. Acesso
em: 26 abr. 2023.

107
Não têm havido somente ataques como este na
Ásia, mas também em outras partes do mundo. Na
África, ser cristão é bastante perigoso, e em alguns
países a cifra de ataques é impressionante. Somente
na Nigéria, país situado na África Ocidental, mais de
50.000 cristãos foram mortos nos últimos 14 anos45,
com ataques a aldeias, escolas e igrejas, sequestros e
até mesmo violações e raptos de mulheres para casa-
mentos forçados. Ataques semelhantes têm aconte-
cido também na Índia, no Paquistão, na Indonésia, e
em vários outros locais.
No Ocidente, o ataque direto é mais raro, embo-
ra aconteçam casos como o assassinato na França do
Pe. Hamel, de 85 anos de idade, degolado por mem-
bros do grupo terrorista ISIS46, e ataques como a per-
seguição feita pelo próprio Estado, como acontece na
Nicarágua, com expulsão de religiosas que cuidavam
de crianças47 e com o encarceramento e expulsão de

45 NIGÉRIA: Mais de 50 mil cristãos foram mortos por causa de


sua Fé nos últimos 14 anos. Gaudium Press, São Paulo, 19 abr. 2023.
Disponível em: <https://gaudiumpress.org/content/nigeria-mais-
-de-50-mil-cristaos-foram-mortos-por-causa-de-sua-fe-nos-ul-
timos-14- anos/>. Acesso em: 26 abr. 2023.

46 DE ANGELIS, Andrea. Há cinco anos o assassinato do Padre


Hamel, um mártir da fraternidade. Vatican News, Roma, 26 jul.
2021. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/ igreja/
news/2021-07/padre-hamel-franca-martir-fraternidade.html>.
Acesso em: 26 abr. 2023.

47 ERPEN, Jackson. Depois de expulsas da Nicarágua, Missioná-


rias da Caridade chegam à Costa Rica. Vatican News, Roma, 08
jul. 2022. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/igreja/
news/2022-07/missionarias-caridade-expulsas-nicaragua-che-

108
padres e até mesmo de bispos, arrancados à força de
suas residências48.
O ataque maior aos cristãos, hoje em dia, é à vi-
vência da integridade da nossa fé. Numa sociedade
marcada pelo relativismo, onde a verdade é substi-
tuída pela “minha verdade”, está cada vez mais difí-
cil ser católico e manifestar publicamente a sua fé de
forma coerente. O Papa Bento XVI já dizia:
“No pensamento moderno desenvolveu-se uma
visão redutiva da consciência, segunda a qual não
há referências objetivas no determinar o que vale e
o que é verdadeiro, mas é antes cada indivíduo, com
as suas intuições e experiências, a ser o metro de me-
dida. Como se cada um possuísse a própria verdade,
uma sua moral.
A consequência mais óbvia é que a religião e a
moral tendem a ser confinadas ao âmbito do sujeito,
do privado: a fé, com seus valores e seus comporta-
mentos, já não tem direito a um lugar na vida pú-
blica e civil. Portanto, se por um lado, dá-se uma
grande importância na sociedade ao pluralismo e
à tolerância, por outro, a religião tende a ser gra-
dualmente marginada e considerada irrelevante e,
em certo sentido, alheia ao mundo civil, como se

gam-costa-rica.html>. Acesso em: 26 abr. 2023.

48 MASOTTI, Adriana. Tirado à força do Arcebispado, Dom Rolando


Álvarez em prisão domiciliar em Manágua. Vatican News, Roma, 19
ago. 2022. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/ pt/igre-
ja/news/2022-08/nicaragua-bispo-rolando-alvarez-policia.html>.
Acesso em: 26 abr. 2023.

109
fosse preciso limitar sua influência na vida humana.
Pelo contrário, para nós, os cristãos, o verdadei-
ro significado da ‘consciência’ é a capacidade huma-
na para reconhecer a verdade, e, antes que nada, a
oportunidade de escutar sua chamada, de procurá-la
e de encontrá-la”49.
Existem os mártires da fé e, na nossa caminhada
rumo à libertação do mal, devemos buscar ser tes-
temunhas da verdade do Evangelho com nossas ati-
tudes, esclarecendo sempre aquilo que a Igreja tem
ensinado como verdade de fé nestes quase dois milê-
nios de existência. Lembrando que ser testemunhas
no mundo de hoje equivale a ser mártir, até porque,
em língua grega, a tradução de testemunha é justa-
mente mártir. Testemunhar a verdade, por exemplo,
da defesa da vida e da dignidade da pessoa humana,
desde a concepção até a morte, pode acarretar mul-
ta e prisão. O mundo tem ódio dos cristãos!
No dia 06 de dezembro de 2022, na cidade de
Birmingham, na Inglaterra, uma mulher foi pre-
sa porque rezava em silêncio diante de uma clínica
de aborto. “‘É totalmente injusto que eu tenha si-
do revistada, presa, interrogada e acusada simples-
mente por orar na privacidade da minha própria
mente’, disse Isabel após a prisão. ‘Ninguém deveria

49 O PAPA pede aos cristãos que professem a fé e façam o bem


em resposta a crise moral. ACIDigital, 21 jan. 2011. Disponível em:
<https://www.acidigital.com/noticias/o-papa-pede-aos-cristaos-
-que-professem-a-fe-e-facam-o-bem-em-resposta-a-crise-mo-
ral-19899>. Acesso em: 26 abr. 2023.

110
ser criminalizado por pensar e rezar em um espaço
público no Reino Unido’. Birmingham introduziu a
‘zona de censura’ como medida para penalizar quem
participa de qualquer ato ou tentativa de aprovação
ou desaprovação do aborto, próximo aos centros on-
de ele é realizado.”50
Seguindo o mesmo caminho, em 2021, “o frade
franciscano Pe. Fidelis Moscinski, CFR, foi preso e
arrastado para fora de uma instalação de aborto no
sábado, 27 de novembro em White Plains, Nova York,
durante uma ‘ação de resgate’ promovida pelo mi-
nistério Red Rose Rescue (Resgate Rosa Vermelha).
A clínica em questão mata bebês até 24 semanas
no útero. A polícia prendeu o padre e duas outras
pessoas por aconselharem e rezarem por mulheres
dentro de uma clínica de aborto. Vários conselheiros
também atuavam na calçada, fora das instalações.”51

50 INGLESA é presa por rezar em silêncio em frente a centro de


aborto. ACIDigital. 21 dez. 2022. Disponível em: <https://www.aci-
digital.com/noticias/inglesa-e-presa-por-rezar-em-silencio-em-
frente-a-centro-de-aborto-34368>. Acesso em 10 mai. 2023.

51 POLÍCIA prende padre e fieis que rezavam em clínica de aborto


em NY. Church Pop. 07 dez. 2021. Disponível em: <https://pt.chur-
chpop.com/policia-prende-padre-e-fieis-que-rezavam-em- clini-
ca-de-aborto-em-ny/>. Acesso em 10 mai. 2023.

111
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Dai-me, Senhor, pelo auxílio das preces de São Miguel,
o dom da fortaleza e da coragem, para que não haja
em minha alma o medo de testemunhar a fé. Aumentai
em todos os cristãos, o zelo e o amor pelo Evangelho,
para que possamos testemunhar, mesmo que ao preço
de sangue, a fé que recebemos e que nos faz alcançar a
vitória. Amém! 

112
Capítulo 11
Como combater o
inimigo — Armadura
do Cristão

Temos visto nos últimos capítulos como o inimi-


go tem estendido a sua atuação ao longo do tempo e
como, nestes momentos em que estamos vivendo, o
mistério da iniquidade tem se tornado cada vez mais
presente — é hora de aprendermos como enfrentar
o inimigo. Em primeiro lugar, antes de mais nada,
vamos considerar um ponto muito importante. Se,
numa batalha, sabemos que o inimigo é mais inte-
ligente, mais bem preparado e mais experiente do
que nós, devemos nos preparar bem. Assim acon-
tece nas batalhas humanas e assim acontece também
nas batalhas espirituais. O inimigo é mais inteligente
que nós (claro, pois tem uma inteligência angélica,
como anjo decaído que ele é), é mais bem preparado,
pois nos estuda e observa desde o início das nossas
vidas, conhecendo os nossos pontos fracos e, além
disso, é mais experiente que nós (desde os nossos

114
primeiros pais, Adão e Eva, o inimigo tem ganhado
experiência ao perseguir os seres humanos).
Precisamos de equipamentos de defesa e prote-
ção, bem como de armas de ataque para o combate
espiritual. Para isso, vamos seguir os passos de São
Paulo, como ele nos ensina na Carta aos Efésios, 6:
“Finalmente, irmãos, fortalecei-vos no Senhor,
pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura
de Deus, para que possais resistir às ciladas do de-
mônio. Pois não é contra homens de carne e sangue
que temos de lutar, mas contra os principados e po-
testades, contra os príncipes deste mundo tenebro-
so, contra as forças espirituais do mal (espalhadas)
nos ares. Tomai, portanto, a armadura de Deus, pa-
ra que possais resistir nos dias maus e manter-vos
inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai
alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo
vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados
de prontidão para anunciar o Evangelho da paz.
Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que pos-
sais apagar todos os dardos inflamados do Maligno.
Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do
Espírito, isto é, a Palavra de Deus” (Ef 6,10-17).
O primeiro ponto da armadura é o cinturão da
verdade. E como precisamos viver uma vida na ver-
dade, pois o demônio é o pai da mentira (cf. Jo 8,44)!
Quantas vezes muitos têm aquele costume de dar o
chamado “jeitinho brasileiro”, contar uma pequena

115
mentira… E se esquecem de que isso é uma grande
brecha no combate espiritual. O inimigo pesca em
águas turvas, e a mentira é uma grande abertura
que é dada na vida daquele que combate espiritual-
mente. A verdade será nossa defesa.
O segundo ponto é a couraça da justiça. E aqui
é importante prestar atenção: a Bíblia diz que São
José era um homem justo (Mt 1,19). O mais santo
dos seres humanos, após a Santíssima Virgem Maria,
recebe da Bíblia o elogio de ser justo. E a justiça é
dar o que é devido aos outros; o trabalhador merece
que lhe seja pago o justo salário. É também ter jus-
tiça em nossas palavras, ao falar dos outros. Muitas
vezes a nossa língua se apressa bastante em falar
mal dos outros, e em algumas vezes sem conferir
a veracidade dos fatos, colocando-nos como injus-
tos, e abrindo mais uma brecha na nossa armadura.
Você já pensou como podemos mudar a nós mesmos
e aprendermos a falar bem dos outros? Talvez você
diga: “Irmão, mas não tem como falar bem do meu
cunhado!”. Veja o que Ivonne Ream nos ensina:
“Você pode imaginar um mundo onde todos nós
vivemos com a atitude de querer ver o bem e nun-
ca ficar preso no ‘mal’ ou no negativo? Falar bem
de outros é definitivamente um hábito que pode ser
uma virtude – ou pode ser tóxico. E o pior ou o mais
perigoso é que o cérebro se acostume com qualquer
um dos dois que escolhemos realizar, o que pode

116
nos levar a desenvolver um hábito de pensar e falar
negativamente.
Falar bem dos outros nos leva a ignorar suas
imperfeições ou falhas e a louvar suas virtudes, qua-
lidades, dons e talentos. Não é que estamos tentan-
do encobrir seus defeitos, mas queremos ajudá-los
para que suas virtudes possam levá-los a melhorar
em outras áreas também.
Falar mal dos outros é quando dizemos algo
negativo, independentemente de ser verdade ou
mentira. Se somos honestos, pode ser mais difícil se
concentrar em encontrar o bem, tanto em nós mes-
mos como nos outros. Pode parecer que os defeitos
saltam à frente e o bem está mais escondido. Mas de-
ve ser o contrário, porque, por natureza, somos bons
e temos mais o bem do que o mal em nós.
Então, faça este exercício para si mesmo: pegue
uma caneta e papel e faça uma lista de suas qualida-
des e defeitos. Eu posso garantir que será mais difícil
para você pensar em seus pontos positivos do que
seus defeitos. E é isso que quero dizer quando falo
sobre ‘procurar o bem’, as coisas positivas. Temos que
trabalhar com isso até se tornar um estilo de vida,
uma virtude.
Algum tempo atrás, para o meu próprio bem,
decidi que, se eu não tivesse nada de bom para fa-
lar sobre alguém, em vez de optar pelo silêncio, ten-
taria achar algo legal e bom nessa pessoa. Mas não
parei aí; queria ir mais longe. Então eu decidi me

117
concentrar em encontrar algo bom em cada pessoa
com quem interagia todos os dias e os informava so-
bre o que vi.
Coisas triviais como cumprimentar o caixa no
supermercado e deixá-la saber que a cor azul fi-
ca bom nela; ou dizer a minha amiga Gaby que ela
parece bonita hoje, ou enviar um texto para minha
amiga Ana Maria para que ela saiba que eu sin-
to falta da alegria de sua companhia agora que ela
se afastou.
Eu tenho vivido desta forma há anos e hoje eu
faço o possível para não criticar as pessoas e não
deixar que alguém seja criticado na minha frente. É
algo que temos que trabalhar todos os dias porque
é muito fácil cair no hábito da negatividade e culpa.
Qual estilo de vida você escolherá? Lembre-se de
que falar sobre os outros — para o bem ou para o mal
— diz mais sobre você do que sobre eles, porque cada
um de nós fala da plenitude do nosso coração.”
Em terceiro lugar, São Paulo fala dos pés calça-
dos com a prontidão para pregar o Evangelho. “Ai
de mim se não pregar o Evangelho” (1Cor 9,16), di-
zia São Paulo, e evangelizar é nossa obrigação. Mas
é mais do que isso. O Beato Bartolo Longo, embora
nascido católico, acabou se desviando da fé recebi-
da na sua infância, após a entrada na universidade,
e seguiu caminho para o espiritismo, chegando até
a frequentar círculos satânicos. Graças à intercessão
e oração de um amigo, ele teve a oportunidade de

118
se converter e buscar viver uma vida de acordo com
a vontade de Deus. Foi, em seguida, atormentado
por uma dúvida acerca da sua própria salvação, de-
pois de levar por tantos anos uma vida péssima. Ele,
então, ouviu uma voz interior que dizia: “Se queres
salvar-te, propague a devoção do Rosário. É uma
promessa da Virgem Maria”. Tomado por emoção,
a partir daí, sua vida foi dedicada a divulgar o Santo
Rosário e a evangelização não parou até a sua mor-
te. Nós também devemos anunciar com as palavras
e com a nossa vida, compartilhar a fé que recebemos
de Deus, dando testemunho do Evangelho.
O quarto ponto da armadura é o escudo da fé. O
escudo é, para o soldado, aquilo que vai defendê-lo
dos ataques dos inimigos. E temos aqui a certeza de
que, se temos fé, nada vai nos abalar e permanece-
remos firmes no Senhor. Há algo de realmente ex-
traordinário que aconteceu na vida do Padre Pio, que
nos mostra como a fé pode nos proteger. Talvez não
sejam direcionadas para nossas casas bombas e mís-
seis, mas recebemos ataques espirituais e são gran-
des as dificuldades que enfrentamos, e a fé é o nosso
escudo.
“Vários pilotos da aviação britânica e norte-ame-
ricana, de várias nacionalidades e religiões diversas,
que, durante a Segunda Guerra Mundial, depois de
8 de setembro de 1943, estavam na área de Bari para
cumprir missões em território italiano, foram teste-
munhas de um fato fora do normal. No cumprimento

119
de suas obrigações, alguns aviadores passaram pela
região de Gargano, perto de San Giovanni Rotondo,
e viram um ‘monge’ no céu que lhes proibia lançar
bombas no local.
Em Foggia e na Apúlia quase toda houve bombar-
deios em várias ocasiões, mas, incrivelmente, na área
de San Giovanni Rotondo (onde vivia o Padre Pio)
não caiu jamais uma bomba. Testemunha direta des-
te fato foi o general da força aérea italiana, Bernardo
Rossini, que, na época, fazia parte do Comando de
Unidade Aérea junto com as forças aliadas.
O general Rossini me referiu que, entre os mili-
tares, falava-se de um ‘monge’ que aparecia no céu e
fazia os aviões se retirarem. Muitos riam, incrédu-
los, diante dessas histórias, mas, devido à ocorrência
repetida dos episódios, e sempre com diferentes pi-
lotos, o general decidiu intervir pessoalmente: assu-
miu o comando de uma esquadrilha de bombardei-
ros para destruir um depósito alemão de munições
que ficava justamente em San Giovanni Rotondo.
Todos estávamos extremamente curiosos para
saber o resultado da operação. Por isso, quando a es-
quadrilha retornou, fomos de imediato encontrar o
general, que, atônito, contou que, logo ao chegar ao
local, tanto ele quanto seus pilotos viram no céu a
figura do ‘monge’ com as mãos elevadas; as bom-
bas se desprendiam sozinhas e caíam num bosque;
e os aviões deram a volta sem qualquer intervenção
dos pilotos.

120
Todos se perguntavam quem era aquele ‘fantas-
ma’ a quem os aviões obedeciam. Ao ouvir dizer que
em San Giovanni Rotondo havia um frade com es-
tigmas, considerado santo pela comunidade, o gene-
ral pensou que talvez fosse ele o ‘monge’ visto no céu
e resolveu comprovar pessoalmente assim que fosse
possível. Quando a guerra acabou, foi esta a primei-
ra coisa que fez. Acompanhado de alguns pilotos, foi
até o convento dos capuchinhos e, ao cruzar o limiar
da sacristia, viu-se diante de vários frades, entre os
quais reconheceu imediatamente aquele que tinha
parado os seus aviões.
O Padre Pio se aproximou e, colocando a mão
sobre seu ombro, disse: ‘Então era você que queria
matar a todos nós?’ O general se ajoelhou diante do
Padre Pio, que, como de costume, tinha lhe falado no
dialeto de Benevento. O general, no entanto, tinha
certeza de que o ‘monge’ lhe falara em inglês. Os dois
se tornaram amigos e o general, que era protestante,
se converteu ao catolicismo”52.
O quinto equipamento de proteção é o capacete
da salvação. São Paulo fala da Salvação e nos lembra-
mos do verdadeiro Evangelho que nos foi ensinado
por Jesus, e guardado pela Igreja como ensinamento
nestes dois mil anos. Temos já tratado destes pontos

52 DAUD, Maria Paola. Como o Padre Pio parava bombardeiros na


Segunda Guerra Mundial em pleno voo! Aleteia, 24 fev. 2017. Dispo-
nível em: <https://pt.aleteia.org/2017/02/24/como-o-padre- pio-
-parava-bombardeiros-na-segunda-guerra-mundial-em-pleno-
-voo/>. Acesso em: 27 abr. 2023.

121
no nosso livro, e como é importante nos lembrarmos
que é o inimigo quem quer mudar aquilo que sem-
pre foi ensinado pela Igreja. Se guardamos o precio-
so depósito da fé (cf. 2Tm 1,14), Deus nos guardará
por meio do capacete da salvação.
Em sexto lugar, São Paulo fala da espada da sal-
vação, que é a Palavra de Deus. Teremos todo um
capítulo falando do poder de libertação que a leitura
e uso da Palavra de Deus traz a nós. Lembramo-nos,
é claro, do glorioso São Miguel e da forma como ele
normalmente é representado, com a sua armadura
de proteção53.

53 “Na indumentária medieval, a armadura era utilizada por sol-


dados em ordem de batalha. Segundo O’Connell e Airey, ela sim-
boliza a coragem, a proteção, a honra e a força, mas também está
relacionada à proteção espiritual que devemos ter ao enfrentar os
inimigos imateriais, conforme nos orienta a epístola aos Efésios.
[…] A armadura do arcanjo é um convite à conversão e ao tempo
de oração, para, unidos a Deus, nos afastarmos das investidas do
maligno. A arma de São Miguel, a espada. Esta arma simboliza a
autoridade e a justiça. Além disso, segundo O’Connell e Airey, no
pensamento religioso, à espada é atribuída a sabedoria e o co-
nhecimento, virtudes que levaram o Arcanjo Miguel a reconhecer a
soberania divina e a travar a batalha contra o adversário soberbo,
defendendo os céus. Num sentido mais simbólico, encontramos
em Hebreus 4,12 a seguinte comparação: ‘Pois a Palavra de Deus é
viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois gu-
mes; penetra até dividir a alma e o espírito, junturas e medulas. Ela
julga as disposições e as intenções do coração’. A Revelação Divina
foi o que colocou os anjos à prova, foi pela palavra que foram tes-
tados e pela espada que se desvelou o que estava oculto no cora-
ção dos anjos pecadores. A corrente em Satanás. Especificamente
na obra de Guido Reni, Miguel aparece segurando uma corrente
sobre Satanás. Para O’Connell e Airey, a corrente é o símbolo da
escravidão e do cativeiro, do cárcere e do aprisionamento. Nesta
representação de Lúcifer acorrentado, pode-se compreender o lu-

122
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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gar ao qual foi destinado com a condenação eterna, aprisionado


na atmosfera tenebrosa. São Miguel subjugando o diabo. Esta é,
definitivamente, a simbologia da imagem de São Miguel Arcanjo,
a vitória do bem sobre o mal. É o que os justos receberão ao con-
duzir sua vida sob as leis do Altíssimo, e foi o que Miguel procla-
mou com seu brado triunfante ao derrotar Lúcifer nos céus: ‘Quem
como Deus?’. Aquele que se une ao Senhor anda pelas veredas da
justiça e obterá a vitória nesta vida e na eterna, pois ‘a vida se en-
contra no caminho da justiça, em cuja direção não existe morte’
(Pr 12,28).” In: BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre
angelologia. São Paulo: Paulus, 2021, p. 57-58.

123
Oração: 
Diante das tantas batalhas espirituais que precisamos
enfrentar, dai-me, Senhor, a graça de viver na verda-
de, na justiça, no amor e na fidelidade ao Evangelho,
dando testemunho da fé e guardando-a com todo zelo,
para que o amor à Palavra de Deus me sustente nos
combates e nos garanta o triunfo perante todo mal que
se levanta contra nós. Amém! 

124
PARTE III

LIBERTANDO SUA
FAMÍLIA E SEUS
RELACIONAMENTOS
DO MAL
Capítulo 12

O inimigo quer destruir


seus relacionamentos

Quando Deus criou o primeiro homem, Adão,


havia colocado árvores e frutos para que deles se ser-
visse. Quando lemos o versículo de Gn 2,18, o Senhor
diz: “Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe
uma auxiliar que lhe seja adequada”. Já no início da
Criação, o Senhor quis que o homem não estivesse
sozinho. Em primeira instância, claro, percebemos a
instituição do matrimônio da parte do Pai do Céu.
Mas podemos também perceber que aqui está ins-
crito o chamado por Deus a vivermos em sociedade.
Viver em sociedade quer dizer ter relacionamentos
com os outros. Não falo aqui, inicialmente, de rela-
cionamentos afetivos que se direcionam ao matri-
mônio, mas de todos os relacionamentos que temos
com nossos pais, filhos, irmãos, vizinhos, colegas de
trabalho, amigos, etc.
Quantos dos nossos relacionamentos são man-
chados por meio de alguma intervenção do inimigo!

127
Durante a minha vida, pude ouvir de várias pessoas
que tinham uma amizade muito duradoura com al-
guma pessoa e, de repente, houve um rompimento
por causa de uma traição, de uma mentira conta-
da por uma terceira pessoa, ou mesmo por causa de
uma invocação do inimigo. É claro que não deve-
mos dar todo o crédito ao inimigo, pensando que ele
é o causador de todas os desentendimentos em ami-
zades e outros relacionamentos. Há a nossa humani-
dade, a nossa decisão em pecar, e o mundo (distante
de Deus) que quer nos levar a discussões e rompi-
mentos. Porém, não podemos ser ingênuos em pen-
sar que o inimigo não está querendo atrapalhar a
obra de Deus em nossas vidas.
Quando há um relacionamento que nos leva a
Deus, que nos aproxima de Deus, é aí que o inimi-
go tenta colocar o seu dedo e atrapalhar e destruir.
Ele faz isso muito bem, gerando problemas de en-
tendimento entre nós. Você já percebeu que muitos
dos nossos problemas de relacionamentos são cau-
sados pela interferência na comunicação? Isto acon-
tece, por exemplo, quando entendemos errado algo
que outra pessoa falou ou, pior, quando no lugar da
comunicação entra a maledicência (chamada por
nós brasileiros muito comumente de “fofoca”). Já vi
amizades de anos serem destruídas pelo inimigo por
causa de pequenos desentendimentos.
Já contei brevemente aqui o testemunho de con-
versão de Zachary King, de ex-satanista para fiel ca-
tólico. Eu queria partilhar algo que ele me contou

128
pessoalmente, uma das suas práticas como satanis-
ta. Uma de suas “missões”, dada pelo inimigo de
Deus, era a de destruir algumas igrejas evangélicas.
Quando perguntei a ele sobre isso, e o porquê de não
atacar a Igreja Católica, ele acredita que não recebera
a “missão” de se infiltrar na Igreja Católica porque
o inimigo entendia que ali ele corria o risco de uma
conversão. Contudo, é interessante aqui perceber al-
go: Zachary disse que o demônio o enviava somente
para igrejas evangélicas que vivessem de forma mais
radical a moral cristã relativa à pureza e à modéstia,
e que levassem as pessoas a ter uma real e profunda
vida de oração e união com Deus. Quanto às outras
igrejas evangélicas, em que se vivia de acordo com
o pensamento do mundo de hoje, de forma liberal
com relação a estes e outros aspectos da sociedade
atual, dizendo que poderiam viver o que desejavam,
contanto que fosse amor, ele simplesmente respon-
deu: “com relação a essas, o inimigo disse que não
atrapalhavam os planos dele”.
A tática dele era a seguinte. Ele se apresentava
a uma igreja evangélica, num carro caro e vistoso,
dizia que tinha chegado há pouco na cidade, e come-
çava a participar dos cultos. Buscava dar boas ofertas
e se esforçava em se aproximar do Pastor Presidente.
Fazia elogios a ele, mostrava uma certa cultura e, em
uns dois meses, já fazia parte do círculo de decisões
da igreja. Aí então se iniciava o seu plano demonía-
co. Ele se aproximava do Vice-Pastor e começava a
dizer que o Pastor Presidente tinha algo contra ele.

129
O Zachary então pedia que não contasse nada, pa-
ra não colocar a amizade deles em risco. Agia com
um dos maiores instrumentos do inimigo: a fofoca.
Fazia o mesmo processo com o Pastor Presidente.
Como resultado, com mais um ou dois meses, have-
ria um grande desentendimento na Igreja, que então
se dividiria em duas. O Zachary dizia então que seu
trabalho estava terminado nessa igreja, pois quando
acontecia a divisão, a Igreja diminuía a força, muitos
adeptos acabavam abandonando a fé, e a desconfian-
ça e o rancor que se implantavam nos corações en-
fraqueciam a vida de oração das duas novas igrejas.
E aí ele partia para outra igreja. Ele contou que, nos
tempos dele de satanista, chegou a dividir e até dis-
solver mais de cem dessas igrejas evangélicas.
Não é impressionante? Um satanista, que está
habituado a fazer feitiços e invocações ao mal, usa-
va a arma mais conhecida do inimigo: a mentira e
a fofoca! Ele é o pai da mentira e foi ele quem pri-
meiro usou da mentira para enganar Adão e Eva.
Quantos dos relacionamentos em nossa vida foram
destruídos por causa de mentiras e fofocas! Conta-
se um fato da vida de São João Bosco, que mostra o
perigo de se destruírem relacionamentos por causa
de conversas que não mostram a verdade:
“Noutra ocasião, teve por companheiro de via-
gem, entre outros, um indivíduo que, pela aparên-
cia, parecia ser caixeiro-viajante. O compartimento
estava quase lotado e o tal, muito falador, passava de
um assunto para outro com volubilidade. Em certo

130
ponto, pôs-se a falar de D. Bosco, de quem dizia bar-
baridades, apesar de não o conhecer nem de vista.
O Santo ouvia calado. Mas quando o tagarela se
pôs a contar que ele era um intrigante e que esban-
java o dinheiro dos outros para enriquecer a família,
resolveu interrompê-lo:
— O senhor está bem certo do que afirma? per-
guntou. Conhece D. Bosco? Conhece a família?
— Se o conheço? Vejo-o quase todos os dias e
conheço muito bem a família. Ele manda sempre
grandes quantias à mãe e ao irmão. Construiu uma
casa na aldeia onde nasceu e passa lá o verão como
um ricaço, com cavalos. carruagens e tudo.
— Pois eu tomo a liberdade de contradizê-lo;
em tudo o que o senhor disse até agora, não há nem
sombra de verdade: é pura invenção.
— Como?!… O senhor me desmente assim?
Quem é para ousar fazê-lo?
Nisso o trem entrou numa estação: outros via-
jantes subiram e dando com D. Bosco, exclamaram:
— Ó D. Bosco! O senhor por aqui? Como vai?
E, com reverência e respeito. beijavam-lhe a mão.
— D. Bosco! sussurravam os presentes. É ele…
ele mesmo.
— Sim, sou eu. E, reatando a conversa de há pou-
co, vejo-me obrigado a declarar que tudo o que este
senhor disse é falsidade e mentira. Minha mãe mor-
reu há anos, depois de se ter sacrificado comigo no

131
Oratório em prol dos órfãos. Meu irmão mora até
hoje na mísera casa onde nascemos e, quanto às ca-
sas, aos cavalos e às carruagens, os tenho tanto quan-
to ele, que viaja como eu de terceira classe.
Todos aplaudiram a defesa do Santo que dali por
diante foi alvo das maiores amabilidades e demons-
trações de simpatia. O falador desapontado e enver-
gonhado mudou de compartimento logo na primei-
ra estação, deixando todos a rir do papel ridículo que
fizera.”54
Além da fofoca, outras armas que o inimigo
utiliza para destruir os relacionamentos são os ciú-
mes e a inveja nos relacionamentos de amizade, por
exemplo.
Mas há outra arma do inimigo para tentar des-
truir os relacionamentos nos dias de hoje. É o exces-
sivo individualismo, manifestado no fechamento de
cada um no seu próprio mundo, sem conviver com
os outros. Lembro-me, quando era criança e adoles-
cente, que era sagrada a hora do café, do almoço e
do jantar. De manhã cedo, como boa família minei-
ra, nós, as crianças, éramos acordados com o chei-
ro do pão de queijo assando e do café sendo coado.
O café tinha de ser rápido, por causa da escola, pois
meu pai tinha que chegar a tempo de nos deixar e
seguir ao trabalho. Na volta, o almoço era junto tam-
bém, sempre com a laranja e a goiabada no final. E à

54 CHIAVARINO, Luiz. Os sorrisos de D. Bosco. São Paulo: Editora


Paulus, 1960, p.182-184.

132
noite, o jantar, muitas vezes a sobra do almoço, e lá
estávamos nós todos de novo. Parece que isso está se
perdendo cada vez mais: tantas respostas precisam
ser dadas no WhatsApp, tantos comentários preci-
samos fazer nas redes sociais, que nos esquecemos
da importância de nos vermos em casa, de conver-
sarmos, de nos relacionarmos como filhos de Deus.
Temos os nossos compromissos, mas temos que es-
colher e não podemos deixar o inimigo agir como ele
tem feito nos nossos relacionamentos. Nos próximos
capítulos, vamos falar mais sobre isso.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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133
Oração:
Pela força e poder do Preciosíssimo Sangue de Jesus,
vos peço, Poderoso Arcanjo Miguel, que extirpeis tudo
aquilo que possa trazer a divisão e a destruição dos
meus relacionamentos. Livra-nos dos males da fofoca
e do individualismo e dai-nos um coração generoso e
atento às necessidades do próximo. Amém!

134
São Miguel, entre os
Anjos o mais perfeito,
entre os Anjos o mais
próximo a Deus, é
o primeiro Serafim
de caridade: a sua
caridade não se pode,
de fato, explicar.
Capítulo 13

O perdão e a oração
irão salvar seus
relacionamentos

“Agora chega”. “Até aqui deu, mas não dá mais


para perdoar. Assim é demais”. Quantas vezes ouvi-
mos essas frases? Quantas vezes nós já dissemos is-
so para nós mesmos, ou para algum amigo? Parece
que temos o dever de perdoar, mas só até um mo-
mento… Chega a um ponto em que muitas vezes
achamos que alcançamos o limite do perdão. Jesus
já tinha ensinado a São Pedro que o perdão não é
somente sete vezes (São Pedro já estava colocando
um limite), mas setenta vezes sete (cf. Mt 18,22):
infinitamente.
Uma vez, durante uma conversa com um sa-
cerdote, ele me disse que conhecera uma senhora já
de considerável idade (próxima aos 80 anos), e que
havia dito a ele uma frase chocante, sobre a falta de
perdão. O esposo dessa senhora a havia traído já há
mais de 40 anos e estavam separados desde então.
Mas essa senhora trazia uma profunda mágoa em

137
seu coração e dizia: “Nem que eu vá pretinha para o
inferno, mas eu não perdoo essa mulher!” Uma pala-
vra dura, e talvez não imaginássemos, mas uma das
causas que pode levar uma pessoa ao inferno é uma
falta de perdão tão grande, por tanto tempo, que
pode ser um pecado grave contra o quinto manda-
mento (Não matar). Queria que você lesse aqui um
dos testemunhos mais fortes que recebemos, e que
mostra como a oração e o perdão são decisivos num
relacionamento.
“Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo e sua
mãe Maria Santíssima. Santa tarde irmãos. Eu sou
uma Madalena alcançada pela misericórdia do
Senhor e venho aqui trazer meu testemunho de que
nós precisamos ficar atentos e vigilantes porque,
num piscar de olhos, pode ser a oportunidade pa-
ra Satanás entrar e nos destruir ou tentar nos des-
truir. Os anjos de Deus, São Miguel, a Virgem Maria
e São José velam por nós constantemente. Eu faço
parte do Exército de São Miguel desde que iniciou,
sempre rezando o Terço do Combate, as quaresmas,
a Novena de Pompeia e, às vezes, rezando o Terço
da Misericórdia, além de ouvir os louvores da irmã
Kelly Patrícia no decorrer do dia, enquanto eu tra-
balho. Nisso eu fui crescendo em graça, sabedoria e
conhecimento da palavra de Deus junto com vocês.
Mas o inimigo sabe onde é o nosso maior ponto fra-
co, onde é o meu maior ponto fraco.
O meu esposo é um homem muito bom, um
homem de Deus, mas infelizmente é muito frio,

138
distante, calado. Então, no final do ano passado,
ele começou a reclamar que não conversava comi-
go porque eu só ficava rezando, que parecia que eu
queria virar irmã. Desde antes de conhecer vocês
ele chegava do serviço e ficava no celular. E assim
continuou, enquanto eu estava ouvindo e rezando.
Então, achando que iria mudar alguma coisa, eu
parei de rezar o Terço do combate com vocês, mas
ele continuou chegando, afastando-se com o celu-
lar e me deixando sozinha. A tristeza tomou conta
do meu coração de tal forma que eu parei de rezar
por completo, não tinha mais desejo de ir à Missa, já
não rezava nem o terço, nem o terço da misericórdia,
nem nada. Uma grande raiva do meu esposo tomou
meu coração, a solidão e a ausência dele aumenta-
vam e, com tudo isso, passei a me sentir viúva de
marido vivo.
Comecei, então, a buscar conversa com pessoas
em aplicativos só para conversar mesmo. Só queria
conversar, ter atenção de alguém e não conversar
só com criança. Mas aquilo foi tomando uma pro-
porção tão grande, que eu comecei a me envolver
com vários homens pelo celular, com fotos, vídeos
e conversas vergonhosas, coisas que não tenho co-
ragem para relatar a vocês, com homens até de fora
do Brasil. E não ficou só aí, mas eu traí meu marido
fisicamente com cinco homens em um espaço de 6
meses, fiz coisas que nunca imaginei fazer, que nem
quando solteira tinha feito. Não me importava com
nada, nem com filhos nem com marido. Orquestrava

139
cada momento de pecado com grande ansiedade e
desejo. Surgiram em mim desejos imundos que sem-
pre tive repulsa e passei a ouvir músicas e ver videos
que machucam e ofendem o meu bom e doce Jesus.
Tudo parecia normal e os desejos em mim foram
aflorados de forma anormal, parecia que algo estava
em mim e me impulsionava a tudo aquilo. Até ima-
ginar a morte do meu esposo pra eu ser livre, eu ima-
ginei. Quanto mais me envolvia na podridão, menos
saudade de Deus eu tinha, nada me escandalizava.
Até que um dia, pela graça divina e pela inter-
venção da Virgem Maria e de São Miguel, a quem ha-
via consagrado meu matrimônio, meu esposo desco-
briu uma pequena parte de tudo. Meu mundo caiu,
meu casamento quase acabou. Eu tinha destruído
meu esposo e minha família. Neste momento me
senti um lixo, o demônio vomitou sobre mim meus
erros e minha queda, um desejo de morte tomou
conta de mim, mas a existência dos meus filhos me
fortalecia. Diante de muitas lágrimas e oração nos-
sa, meu esposo me perdoou, para a glória de Deus,
e nestes oito meses temos lutado pela nossa família
e temos vencido todos os dias. Tem sido uma luta,
uma guerra dura constantemente, mas vencendo a
cada momento.
Quero agradecer ao Exército de São Miguel, pois
mesmo quando eu não estava rezando eu sei que um
exército rezava, adorava e se penitenciava por mim e
por minha família. Graças a esta família orante, hoje

140
meu matrimonio está de pé e Satanás foi derrotado,
em nome de Jesus e pela intercessão e intervenção da
Virgem Maria. Amém”.
Meu Deus! Ainda que o pecado desta filha de
Deus tenha sido tremendo, e tenha se degenerado
em muitos outros pecados, o resgate é possível e, pa-
ra Deus, não há caso perdido. A atitude desse casal
em escolher a oração, e deste esposo em escolher o
perdão, restaurou aquilo que estava perdido. Para
um relacionamento permanecer firme e duradou-
ro no Senhor, a oração e o perdão precisam estar
presentes. Assim nos exorta o Catecismo da Igreja
Católica, sobre o perdão que deve ser dado nas nos-
sas casas.
“É na família que se exerce de modo privilegiado
o sacerdócio batismal do pai de família, da mãe, dos
filhos, de todos os membros da família, ‘na recepção
dos sacramentos, na oração e ação de graças, no tes-
temunho de uma vida santa, na abnegação e na cari-
dade ativa’. O lar é, assim, a primeira escola de vida
cristã e ‘uma escola de enriquecimento humano’. É
aí que se aprende a resistência à fadiga e a alegria
do trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e
mesmo reiterado e, sobretudo, o culto divino pela
oração e oferenda de sua vida.”55
Recentemente esteve em nossa casa de Fortaleza
o Pe. Guido Mottinelli, RCJ, sacerdote exorcista que
mora em Bauru (SP). Contou-nos alguns detalhes da

55 Catecismo da Igreja Católica, 1657

141
experiência da mãe de Santa Maria Goretti, que nor-
malmente não são contados nas biografias da santa.
A grande mártir da castidade perdoou seu assassino,
Alexandre Serenelli, dizendo que rezava para que se
encontrasse com ele no Céu. Mas o que muitas pes-
soas não sabem foi que, na celebração da canoniza-
ção de Santa Maria Goretti, uma mostra tremenda
de perdão marcou as pessoas que ali estavam. Neste
dia, a mãe de Santa Maria Goretti, Assunta, estava
com seus outros filhos, e Alexandre Serenelli tam-
bém estava presente. A mãe de Maria Goretti, como
a filha, já havia perdoado o assassino de sua pequena
Maria, e Alexandre já estava trilhando um caminho
de profunda conversão. Na hora de receber a comu-
nhão das mãos do Papa Pio XII, D. Assunta fez um
sinal para que o papa esperasse. O cerimoniário se
exasperou, mas viu a mãe de Santa Maria Goretti
desaparecer entre o povo. E voltar de mãos dadas
com Alexandre, para que também ele recebesse a co-
munhão das mãos do Papa Pio XII. O assassino de
Santa Maria Goretti, emocionado, percebeu até on-
de estava indo o perdão, não somente da filha, mas
também da mãe que perdera filha tão amada. Assim
escreveu Alexandre Serenelli, aos 80 anos, uma carta
aberta que chegou até nós:
“Tenho quase 80 anos de idade, próximo a con-
cluir a minha jornada. Olhando meu passado, reco-
nheço que na minha primeira juventude trilhei um
falso caminho: o caminho do mal, que me levou
à ruína.

142
Vejo através da imprensa que a maioria dos jo-
vens, sem se incomodarem, seguem o mesmo cami-
nho; eu também não me incomodava. Tinha perto
de mim pessoas de fé e que praticavam o bem, mas
eu não me importava, cego por uma força bruta que
me impulsionava para o mau caminho.
Durante décadas, fui consumido por um crime
passional que hoje me horroriza a memória. Maria
Goretti, hoje santa, foi o anjo bom que a Providência
colocou diante dos meus passos para me salvar. Eu
ainda trago no coração as suas palavras de repreen-
são e perdão. Ela rezou por mim, intercedeu pelo
seu assassino.
Foram quase 30 anos de prisão. Se eu não fosse
menor de idade, teria sido condenado à prisão per-
pétua. Aceitei o julgamento merecido, admiti a mi-
nha culpa. Maria foi realmente a minha luz, a mi-
nha protetora. Com a sua ajuda, comportei-me bem
nos 27 anos de prisão e procurei viver honestamen-
te quando a sociedade me aceitou de volta entre os
seus membros.
Os filhos de São Francisco, os Frades Menores
Capuchinhos das Marcas, com caridade seráfica me
acolheram, não como escravo, mas como a um ir-
mão. Moro com eles há 24 anos e agora vejo o tempo
passar com serenidade, aguardando o momento de
ser admitido à visão de Deus, de poder abraçar meus
entes queridos, de estar perto do meu anjo da guarda
e de sua querida mãe, Assunta.

143
Aqueles que lerem esta carta, que a tenham como
exemplo para escapar do mal e seguir o bem, sempre.
Acho que a religião, com seus preceitos, não é algo
que se pode desprezar, mas é o verdadeiro conforto,
a única via segura em todas as circunstâncias, mes-
mo nas mais dolorosas da vida. Paz e bem. Macerata,
5 de maio de 1961. Alexandre Serenelli”56
Sigamos o exemplo dos santos e dos convertidos,
entendendo sem esquecer que o perdão e a oração
vão salvar os nossos relacionamentos.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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56 A CARTA-TESTEMUNHO arrepiante do assassino de Santa Maria


Goretti aos 80 anos. Aleteia. 24 jul. 2019. Disponível em: <https://
pt.aleteia.org/2019/07/24/a-carta-testemunho-arrepiante-do-
assassino-de-santa-maria-goretti-aos-80-anos/>. Acesso em 11
mai. 2023.

144
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Glorioso São Miguel, confiados em Vossa poderosa
proteção e intercessão, vinde em meu auxílio para que
eu sempre saiba perdoar e rezar por aqueles que me
perseguem e que me magoaram um dia. Jamais per-
mita que o meu coração fique coberto de rancor e in-
gratidão, livrai-me desses males terríveis para a alma.
Amém!

145
Capítulo 14

A batalha do inimigo
para destruir sua família

Nas famílias são formados os futuros sacerdotes,


religiosos, e leigos que vivem profundamente a sua
fé vão trabalhar bastante para a difusão do reino de
Deus. E o inimigo não quer que isso aconteça, mas
quer que cada pessoa se afaste da vida de santidade
e, para isso, uma das armas especiais do inimigo é
atacar as famílias.
Há um grande santo libanês, conhecido pela sua
humildade e pelos extraordinários milagres que se
sucedem junto ao seu túmulo e pela sua intercessão,
desde o dia da sua morte: São Charbel Makhlouf.
Assim dizia ele, sobre o ataque do inimigo à família:
“A família é a base do plano do Senhor, e todas as
forças do mal estão a concentrar todo o seu mal pa-
ra destrui-la, porque sabem que ao destruir a famí-
lia a base do plano divino será abalada. A guerra do
Maligno contra o Senhor é a sua guerra contra a fa-
mília, e a guerra do Maligno contra a família é o fo-
co da sua guerra contra o Senhor, porque a família
é a imagem de Deus, desde o início da criação deste

147
universo. O Maligno está concentrado em destruir
a família, a base do plano de Deus.”57
Já na Sagrada Escritura percebemos como o ini-
migo tem ódio da família, ao lermos o livro de Tobias.
O demônio Asmodeu não queria que Sara consti-
tuísse família, e sempre alcançava que seus maridos
morressem, um após o outro. Foi somente após a in-
tervenção de São Rafael Arcanjo que Sara conseguiu
se casar com aquele que Deus tinha preparado para
ela. “De toda essa narração bíblica, cheia de encan-
to, transparece a predileção e o desvelo de Deus pela
santidade do matrimônio. Permite até que o demô-
nio atue matando os sete primeiros maridos de Sara,
por não serem dignos dela. Certamente haviam con-
traído matrimônio por sensualidade, ou por cobiça,
pois Sara era herdeira única de uma razoável fortu-
na. Mas, tudo isso, que parecia uma maldição divina
sobre Sara, servia aos desígnios da Providência. Deus
queria que Tobias desposasse Sara a fim de constituí-
rem uma família santa cujos filhos fossem a alegria
dos pais por sua insigne virtude: ‘ ... e te asseguro que
te dará filhos que serão para ti como irmãos’ (Tb 6,
19).”58

57 KOSLOSKI, Philip. Como proteger a sua família do diabo, se-


gundo São Charbel Makhlouf. Aleteia, 29 jul. 2022. Disponível em:
<https://pt.aleteia.org/2022/07/29/como-proteger- a-sua-familia-
-do-diabo-segundo-sao-charbel-makhlouf/>. Acesso em: 03 mai.
2023.

58 ARAUTOS DO EVANGELHO. A Criação e os anjos (Coleção Co-


nheça a sua fé — Volume 3). São Paulo: Instituto Lumen Sapientiæ,
2014, p. 189.

148
“O casamento sempre esteve sob o ataque do
Inimigo: se tem alguém que trabalha para fazer
com que tudo acabe na frente de um juiz, com a as-
sinatura do divórcio, esse alguém é Satanás. A união
conjugal foi instituída pelo próprio Criador, tornan-
do-se sacramento de vida e de santificação, o que nos
faz chamá-la de ‘igreja doméstica’. Por isso é tão visa-
da pelo Inimigo!
Se no lar, na vida familiar e no casamento, não há
harmonia, ocorre uma ‘contaminação’ generalizada
de todas as outras searas, e muitos desanimam de tu-
do, afastando-se até de Deus. É justamente isso o que
o Inimigo quer. […] A batalha espiritual não se dá
propriamente entre Deus e Satanás, mas sim entre
nós e o Inimigo, cujo objetivo é nos afastar de Deus.
E a família é um sonho de Deus para a humanidade,
tanto que Jesus nasceu no seio de uma. A Trindade
Santa, ademais, é antes de tudo uma família. Se a fa-
mília acabar, acaba a sociedade.
O Inimigo se interpõe entre os casais e os ins-
pira a disparar flechas de sentimentos tóxicos e ati-
tudes insensatas, transformando o casamento em
uma arena de brigas e discussões na qual nenhum
dos dois ganha e todos perdem. Ao desfazer um
lar, Satanás está destruindo um plano de Deus.”59
Acompanhemos este testemunho que recebemos das
graças derramadas por meio das orações do Exército
de São Miguel.
59 MANZOTTI, Reginaldo. Combate espiritual no dia a dia. Rio de
Janeiro: Editora Petra, 2018, p. 18.b

149
“Graça e paz! Moro no interior de São Paulo,
sou casada há 31 anos e tenho um filho de 29 anos,
casado pela graça de Deus e um neto de 10 meses.
Irmãos, faço parte do Exército de São Miguel des-
de 2019. Sempre fui uma mulher de oração, de mis-
sa e serva da RCC. No ano passado, em outubro,
meu calvário se iniciou. Meu esposo é professor na
prefeitura da nossa cidade há 22 anos e nunca tive-
mos nenhum problema, mas sabemos que o inimi-
go de Deus tem investido nas famílias. Não por me
engrandecer, mas Deus me deu um ministério de
ter sonhos proféticos e isso muitas vezes nos abala
muito, pois isso é muito doloroso, porque nem sem-
pre é algo bom, mas enfim, foi quando começou a
minha batalha.
Como foi triste aquele sonho, pois minhas lu-
tas começaram contra o próprio demônio, que me
enfrentava tentando me destruir. Mas, como sou
consagrada à Virgem de Fátima, ela estava comigo,
sempre me ajudava e então o demônio caía. Daí eu
sempre perguntava a Jesus: ‘o que vai acontecer?’
Foi quando veio a resposta: meu esposo se en-
volveu com uma mulher que era sua aluna; foi uma
batalha infernal, uma luta contra o próprio demô-
nio. Meu esposo começou a ficar estranho e não que-
ria mais continuar com o nosso matrimônio; meu
chão se abriu, ele saiu de casa e foi morar com mi-
nha sogra, só que nossas casas são juntas. Fiz o retiro
de carnaval com vocês e a certeza cada vez mais era
que ele estava sendo enganado pelo mal. Começou

150
a Quaresma, e eu com muita dificuldade levantava
às 3h50 pra rezar o Rosário e era cada dia mais uma
dor, pois eu sabia contra quem eu estava lutando du-
rante a Quaresma. Em lágrimas, eu falava para Jesus
e Maria me ajudarem, pois eu não estava aguentan-
do. Cheguei a perder 11kg, pois nem comer eu con-
seguia; mas entendi que era um sacrifício que tinha
que fazer.
No final da Quaresma, eu disse pra Jesus, em
lágrimas: ‘Jesus eu entrego meu esposo; se for pa-
ra perder para o Senhor, eu aceito, mas pra Satanás,
não’. Deus me respondeu através de vocês, que ca-
da lágrima era colocada num cálice e levada ao céu.
Quando chegou a Páscoa, eu pensei: ‘Deus vai trazer
meu esposo de volta! Irmã, ele voltou no sábado de
aleluia, mas no domingo ele saiu novamente de casa.
Aí começou a Semana da Misericórdia e eu disse pra
Jesus: ‘Senhor, eu preciso viver mais essa semana?’ O
Senhor me respondeu: ‘Sim’! Durante cada pregação,
eu vivia intensamente tudo, na certeza de que Deus
me daria a vitória. Chegou a segunda-feira e nada,
fui ao Santíssimo e lá Jesus me falou no coração: ‘vai
procurar meu filho sacerdote, Thiago!’ Bateu uma
dúvida, mas obedeci e fui. Quando cheguei, disse a
ele que Jesus e Maria tinham pedido pra eu procu-
rá-lo, conversei bastante e ele me disse: ‘Pede para
São José e reze o Terço das Lágrimas, e ele me deu o
seu terço’. Logo que cheguei em casa, fui rezar o ter-
ço, irmã, e ele me liga dizendo que estava voltando.
Em menos de 24 horas, Jesus trouxe meu esposo,

151
transformado e renovado pelo Espírito Santo. Hoje
rezamos juntos todos os dias antes do seu trabalho
e rezamos o Terço do Combate, pela graça de Deus.
Esse é o meu testemunho e peço aos casais: ‘Nunca
desistam do seu matrimônio, pois o que Deus uniu
nenhum homem ou mal pode destruir.’ Quem co-
mo Deus? Ninguém.”
Muitas vezes o inimigo quer semear essas brigas
e discussões, por causa dos ciúmes que acompanham
o casal. Os ciúmes podem, de fato, destruir uma fa-
mília e, para isso, é importante crescer no amor e na
confiança um no outro, na certeza de que Deus aben-
çoa o casal que se esforça para permanecer firme no
Senhor. Brigas e discussões por causa de pequenas
coisas, que podem degenerar em separação.
Certa vez, eu participava como acólito de um
casamento, e tive uma belíssima experiência com
Deus. No início da história do casal, os dois viviam
em segunda união, e em sua casa havia muita dis-
cussão, até que tiveram uma profunda experiên-
cia com Deus e começaram a trilhar um caminho
de volta à Igreja, cujo primeiro fruto dentro de ca-
sa foi a diminuição das brigas. Perceberam o peca-
do de adultério em que viviam, e escolheram que
viver em estado de graça seria a decisão mais im-
portante da sua vida. Devidamente acompanhados
por um sacerdote, decidiram aguardar o processo de
nulidade do casamento de um deles, que os impe-
dia de se casarem, colocando-se nas mãos de Deus e
vivendo em castidade. Já haviam decidido que, se o

152
casamento anterior dele não fosse considerado nulo,
cada um iria trilhar o seu próprio caminho de busca
de santidade. Após um longo processo que demorou
anos para chegar a bom termo, afinal a sentença do
Tribunal Eclesiástico foi de que o casamento ante-
rior dele havia sido nulo, e que poderiam se casar.
Na celebração do matrimônio, os dois estavam mui-
to emocionados, e o padre dizia: “se você quer ser
feliz no matrimônio, aprenda a fazer o outro feliz!
Porém, se você quer ser muito feliz, decida-se a bus-
car a Deus vivendo na sua graça, depois busque fa-
zer o outro feliz!” Receita de felicidade e santidade.
Quando o Arcanjo São Gabriel disse a Nossa
Senhora que ela tinha encontrado graça diante de
Deus (cf. Lc 1,30), a expressão quer dizer primeira-
mente que ela encontrou favor, benevolência dian-
te de Deus. Contudo, há um significado muito mais
profundo. A Virgem Maria é a cheia de Graça. Desde
a sua Imaculada Conceição ela tem a plenitude da
Graça, e intercede por cada um de nós que a pedi-
mos, para que possamos voltar à graça de Deus.
“Essa é uma frase do nosso querido Papa Paulo
VI, que em um de seus discursos no ano de 1972,
disse: ‘Tudo o que nos defende do pecado protege-
-nos do inimigo invisível. A graça é a defesa decisiva.’
Nessa colocação do Papa Paulo VI está o grande
caminho de cura e Libertação que todos nós devemos
traçar quando tratamos das realidades espirituais —
principalmente, quando o que está em questão são

153
as ações extraordinárias do Demônio sobre a vida de
uma pessoa.
Certamente, sobre essas realidades das ações ex-
traordinárias do Demônio, posso afirmar que não há
outro caminho e outra via que não seja viver profun-
damente na graça de Deus!
O grande problema que encontro ao falar so-
bre isso com as pessoas é que, quando explico que
o caminho para a Libertação delas é viver de fato
na graça de Deus, por incrível que pareça, algumas
saem decepcionadas. É possível ver a expressão de
desânimo no rosto de alguns! Parece brincadeira,
mas não é!
Se eu falasse para alguns que seria necessário su-
bir uma grande escadaria de joelhos, rezando o ter-
ço, ou então dar cem voltas em torno da Catedral
da cidade delas rezando o Ofício, e por aí vai, essas
pessoas ficariam mais felizes, do que saber que é ne-
cessário somente viver na graça de Deus para que se
possa combater o Demônio que as oprime.”60

60 GESUALDO, Danilo. Livres de todo mal. Desmascarando o ini-


migo. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2022, p. 200.

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Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Senhor Jesus Cristo, em tuas mãos confio a minha fa-
mília. dai-nos em espírito de intensa oração e clamor,
fortalece o amor entre nós, para que busquemos todos
os dias a salvação de todos os membros da nossa casa.
Ajudai-nos a superar as divisões, infidelidades, ran-
cores e mágoas, e libertai-nos de todos os males que
afligem a nossa casa. Amém!

155
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Capítulo 15

Minha casa é
morada dos Anjos

Com certeza você já ouviu falar de Santa


Teresinha e de todos os seus ensinamentos — da sua
pequena via que ensina o caminho de santidade a to-
dos. Seus pais, Luís e Zélia Martin, também foram
canonizados pela Igreja e deram um testemunho de
santidade no seu matrimônio. Quando invocamos os
Santos Anjos ao longo da vida e criamos uma inti-
midade com nosso Santo Anjo da Guarda, abrimos
espaço para que Deus possa agir. Assim aconteceu
com Santa Zélia:
“A função do Anjo casamenteiro, descrita no li-
vro de Tobias, não única na Bíblia, tem, de fato, um
precedente no episódio do servo de Abraão guiado
por um Anjo na escolha de uma esposa para Isaac
(cf. Gn 24,7); pode parecer um elemento fantástico
do poema épico, sem nenhuma relação com a rea-
lidade da nossa experiência humana. Mas não é as-
sim: para comprovação, podemos citar o exemplo
da família Martin, pais de Santa Teresa do Menino

157
Jesus. Na origem da união de Zélia Guérin e de Luís
Martin houve indubitavelmente uma ação angélica,
semelhante à descrita no livro de Tobias, ainda que
diversa na modalidade e pelo menos em parte, des-
conhecida aos dois futuros cônjuges. Lemo-la assim
como nos é narrada na História de uma família do
padre Piat: ‘Uma intervenção misteriosa facilitou a
aproximação [de Zélia e Luís]. Um dia em que Zélia
Guérin passava pela ponte de São Leonardo, encon-
trou um jovem cuja nobre fisionomia, andar reser-
vado, porte cheio de dignidade, causaram-lhe uma
grande impressão. Ao mesmo tempo, uma voz inte-
rior murmurava-lhe em segredo: — É este que pre-
parei para você. Logo lhe foi revelada a identidade do
passante: começou assim a conhecer Luís Martin. Os
dois jovens não tardaram em estimar-se e amar-se’.
Surpreendente é a analogia entre a locução interior
ouvida por Zélia Guérin e as palavras tranquiliza-
doras do Anjo a Tobias em referência a Sara: ‘Não
temas: ela te foi destinada desde a eternidade’ (Tb
6,18).”61
Quando se tem intimidade com São Miguel e
os Santos Anjos, fazemos da nossa casa realmente
a morada dos anjos. Às vezes nos esquecemos de
que temos um Santo Anjo da Guarda que zela por
nós e que, se na nossa casa vivem cinco pessoas, isso

61 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Em comunhão


com os Anjos, nossos irmãos e amigos. Belo Horizonte: Editora da
Divina Misericórdia, 2003, p. 211.

158
quer dizer que temos morando conosco mais cinco
Santos Anjos da Guarda velando por nós.
Na década de 1990, eu morava em Belo Horizonte
com meu irmão, enquanto estudávamos na universi-
dade. Morávamos nós dois num pequenino aparta-
mento de um quarto, em frente ao antigo campo do
Atlético Mineiro, no bairro Santo Agostinho, que ho-
je foi substituído por um shopping center. Tínhamos
preparado uma pizza para comermos à noite, já tar-
de, colocamos no forno e fomos deitar um pouco en-
quanto assava. Só que estávamos muito cansados e
“apagamos”. Meu irmão e eu tínhamos o sono mui-
to pesado, e raramente nos levantávamos de noite.
Quando acontecia isso, íamos até o dia seguinte. Já
próximo ao amanhecer, meu irmão acordou e foi
logo na cozinha, embora não tivesse o costume de
tomar água à noite. Porém, sentia que deveria ir lá.
Ao chegar, percebeu um calor na cozinha e olhou o
forno — estava aceso desde a hora do jantar! A pizza,
coitada, já estava somente um pedaço de carvão! A
mangueira de gás passava muito perto do fogão, por
causa do tamanho diminuto da cozinha, e estava já
amolecida, a ponto de se romper. Ele logo desligou
o forno e atribuímos esse grande livramento a uma
intervenção potente dos Santos Anjos. Nesta épo-
ca, meu irmão, o principal responsável pelo meu re-
torno a uma vida de intimidade e comunhão com
Deus, já era uma pessoa de muita oração. Tenho

159
certeza de que seu Santo Anjo da guarda o acordou
para que uma explosão não acontecesse.
Temos dito ao longo do livro que o nosso com-
bate não é contra homens de carne e sangue, mas
contra os espíritos que povoam as regiões celestiais,
como ensina São Paulo na Carta aos Efésios. São
Charbel Makhlouf percebeu como o inimigo queria
atrapalhar os planos de Deus para as famílias e por
isso dava muitos conselhos às pessoas que pediam
por suas famílias, para que permanecessem firmes
no Senhor:
“Guardem as vossas famílias e mantenham-nas
longe dos esquemas do Maligno através da presen-
ça de Deus nelas. Protegei-as através da oração e do
diálogo, compreensão mútua e perdão, honestidade
e fidelidade e, acima de tudo, da escuta. Escutem-
se mutuamente com os vossos ouvidos, os vossos
olhos, o vosso coração, a vossa boca e as palmas
das vossas mãos, e mantenham o barulho do mun-
do longe da vossa casa porque é como uma tempes-
tade furiosa e uma onda violenta — uma vez que
entrem na casa, varrerão tudo e dispersarão todos.
Preservem o calor da família, porque o do mundo
inteiro não o pode compensar.”62

62 KOSLOSKI, Philip. Como proteger a sua família do diabo, se-


gundo São Charbel Makhlouf. Aleteia, 29 jul. 2022. Disponível em:
<https://pt.aleteia.org/2022/07/29/como-proteger- a-sua-familia-
-do-diabo-segundo-sao-charbel-makhlouf/>. Acesso em: 03 mai.
2023.

160
Falemos, então, da oração. Você já pensou que,
se deixamos em nossa casa algo estragado, com pou-
co tempo vermes, moscas, mau-cheiro se instalam?
Assim é quando alguém deixa que sua casa seja lu-
gar de pecado e de brigas, trazendo atitudes de pe-
cado (vídeos pornográficos, adultério, prostituição,
ódio e vingança, roubos, sonegação de impostos),
que acabam por atrair a presença do inimigo. Pelo
contrário, quando rezamos, atraímos a presença
dos Santos Anjos para nossa casa.
“Graças a Deus, quando rezamos, sozinhos ou
com mais alguém, os anjos estão por perto e vibram
com a força que nossa oração produz. Quanto mais
intensa é a oração, mais somos protegidos e orienta-
dos. Assim nossa casa é purificada. O que é bom atrai
a bondade; as coisas más atraem o que é mau.
Se enchermos nossa casa do Bem que é Deus,
ela é santificada e torna-se templo onde Deus habi-
ta. A palavra ‘templo’ vem de um verbo grego que
significa ‘recorte’. Sua casa, portanto, se torna, pela
graça de Deus, um pedacinho do céu; um recorte do
céu. E nesse pedacinho do céu, claro, está o próprio
Deus.
Infelizmente acontece o mesmo se trazemos
coisas más para dentro de nossa casa. Elas transfor-
mam nosso lar em um pedacinho do inferno. Não
é exagero! Assim como, quando oramos, nossa ca-
sa se enche de anjos, e eles entram em ação, tam-
bém quando permitimos que entrem essas coisas
em nossos lares, damos espaço para o diabo e seus

161
anjos decaídos ali habitarem. Então, ao invés de sua
casa ser um lugar de paz, torna-se um campo de
guerra.”63
É também muito importante afastarmo-nos lo-
go do pecado, pois estarmos longe da graça de Deus
nos coloca mais vulneráveis aos ataques do inimigo.
Por causa da fraqueza de nossa natureza humana,
corremos sempre o risco de fraquejarmos e cairmos
em pecados que podem nos afastar de Deus. Se is-
so acontece, não devemos demorar um só instante e
voltar logo à comunhão com Deus, pois assim atrai-
remos cada vez mais a presença dos Santos Anjos à
nossa casa.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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63 ABIB, Jonas. Anjos, companheiros no dia a dia. Cachoeira Paulis-


ta (SP): Editora Canção Nova, 2010, p. 39.

162
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
São Miguel, Chefe da Milícia Celeste, inspirai-me
sempre a recorrer a Vós e aos Santos Anjos. Que eu
possa sempre confiar minha vida e minha família a
Vós, recorrendo a Vossa preciosa amizade e proteção.
Ajudai-me a crescer em intimidade com o meu Anjo
da Guarda, para que em todos os momentos de aflição
e tribulação ele venha intervir em meu favor. Amém!

163
Capítulo 16
Seus filhos estão
protegidos?

Quando eu era criança pequena em Brasília,


mais ou menos aos seis anos de idade, eu tinha dois
passeios preferidos. O primeiro deles era ir ao aero-
porto e, na época, os Boeing 727 e 707 e, de vez em
quando, os imensos DC-10 que pousavam lá faziam
a alegria das crianças no terraço panorâmico, mes-
mo com o barulho quase ensurdecedor daquelas tur-
binas antigas.
Mas havia um outro passeio que encantava as
crianças, que era a visita ao Jardim Zoológico de
Brasília. Uma área imensa, com muitos animais di-
ferentes de tudo o que já tínhamos visto. Ariranhas,
sucuris, girafas, leões, antas, capivaras, além de mui-
tos macacos. É claro que alguns animais mais fero-
zes ficavam em jaulas e áreas isoladas, como é o caso
dos grandes felinos e cobras. Entretanto, na época,
alguns animais ficavam soltos, como era o caso da se-
riema e da ema, e podíamos chegar bem perto deles.
A ema é a maior ave do Brasil, bem maior que uma

165
criança de seis anos. Eu era acostumado a correr
atrás das galinhas dos meus avôs, então achava que
era mais ou menos a mesma coisa. Comecei a correr
atrás da ema, que saiu em disparada com medo de
mim. Depois de uns instantes, creio que a ema per-
cebeu que eu era menor do que ela e parou, virou-se
e então começou a correr atrás de mim. Disparei gri-
tando e, graças ao socorro do meu pai, consegui sair
sem estar ferido.
Naquela altura, enfrentei esta pequena prova, e
contei com a ajuda do meu pai, que me protegeu do
ataque “assustador” da ema (claro, para uma crian-
ça). Mas será que nossos filhos estão protegidos nos
dias de hoje? Múltiplas ameaças contra a vida dos
nossos filhos têm aparecido, e hoje os pais devem
prestar muito mais atenção na forma como educam
e cuidam de seus filhos.
Em primeiro lugar, estão as ameaças à própria
vida dos bebês na barriga de suas mães. Com a le-
gislação favorecendo o aborto sendo insistentemente
promovida e ampliada em vários países, hoje em dia
é muito mais difícil que o bebê consiga sobreviver
aos nove meses de gestação. Isto, não por causa de
problemas de saúde da mãe ou do bebê, mas por cau-
sa do risco de que a mãe termine a gravidez do seu
filho por sua decisão ou por pressão do pai da crian-
ça e familiares64.

64 Alguns sobreviventes de tentativas de aborto mostram como Deus


pode escrever e realizar maravilhas na vida de cada um. “O pe. Luis
Alfredo León Armijos, do Equador, foi ordenado sacerdote com apenas

166
23 anos: uma idade bastante tenra para se receber um sacramento
que exige tanta formação e preparo, mas, ainda assim, dez anos su-
perior à idade da sua própria mãe quando ela ficou grávida em decor-
rência de um estupro. María Eugenia Armijos tinha só 13 anos quando
o dono da casa em que trabalhava como faxineira se aproveitou de
um momento em que ela estava sozinha. A menina estava lá porque
precisava ajudar seus pais a sustentarem 7 crianças. Terminou grávi-
da de mais uma. A própria família de María Eugenia rejeitou não só a
gravidez da adolescente, mas também a própria adolescente: ‘Não
queriam que a criança nascesse. Eles a espancaram, bateram na sua
barriga e deram bebidas a ela, para provocar um aborto’. O relato é do
Pe. Luis Alfredo em pessoa. Era ele aquela criança rejeitada por todos,
menos pela mãe, ainda que vítima de uma violência espúria. María
Eugenia fugiu da cidade equatoriana de Loja para Cuenca, no mesmo
país, onde Luis Alfredo nasceu com problemas respiratórios. Algum
tempo depois, ela teve de voltar para Loja com o bebê. […] ‘Ela acabou
ficando sob os cuidados do próprio estuprador, meu pai, que me reco-
nheceu como filho e disse que iria cuidar de mim. Mas a relação entre
eles não era boa. Tiveram outros três filhos, mas a minha relação com
ele era distante’. Quando fez 16 anos, Luis Alfredo começou a partici-
par da Renovação Carismática: ‘Tive o meu primeiro encontro com
Cristo’. Aos 18 anos, entrou no seminário e, com autorização espe-
cial do bispo devido à pouca idade, recebeu o sacramento da ordem
cinco anos depois. Seus pais já estavam separados quando a mãe
finalmente se encorajou a lhe contar a história da sua concepção. Luis
Alfredo, chocado e indignado, teve a natural reação de julgar o pai e
condená-lo pelo crime, que, além de abominável, tinha permanecido
impune. Com o tempo, no entanto, ele passou a considerar que ‘Deus
lhe permitia ser sacerdote para perdoar, não para julgar’. Anos depois
da sua ordenação, o pe. Luis Alfredo recebeu uma inesperada ligação:
seu pai, que seria submetido a uma cirurgia, estava pedindo que o
filho escutasse a sua confissão sacramental: ‘Ele estava com medo e
me pediu para confessá-lo. Você pode chegar a conhecer a sua pró-
pria história e acabar odiando a sua vida. Pode julgar a Deus, como eu
fiz. Mas descobri que o amor de Deus esteve sempre comigo e cuidou
de mim. O que sinto agora é gratidão. A própria vida é um presente
especial de Deus. Eu podia ter acabado numa lata de lixo, mas recebi
a vida’. […] O Pe. Luis Alfredo ouviu a confissão do seu pai. Depois de
muitos anos, além da absolvição, ele pôde receber a Sagrada Comu-
nhão. ‘Deus me permitiu ser sacerdote para perdoar, não para julgar’.”
(O PADRE nascido de estupro que absolveu o próprio pai: “Sou padre
para perdoar”. Aleteia, 18 jun. 2020. Disponível em: <https://pt.aleteia.
org/2020/06/18/o-padre- nascido-de-estupro-que-absolveu-o-pro-
prio-pai-sou-padre-para-perdoar/>. Acesso em: 03 mai. 2023.)

167
Uma segunda ameaça aos nossos filhos vem dos
recorrentes ataques às crianças nas nossas escolas,
que revela um grande plano do inimigo para ata-
car os mais frágeis, os menores indefesos, as crian-
ças, que são o alvo do inimigo. Além do aborto, es-
tão acontecendo os ataques às escolas, e alguns deles
claramente têm uma motivação de ocultismo. Nos
Estados Unidos, no ano de 2018, foram presas duas
meninas, uma de 11 e a outra de 12 anos, que haviam
tramado um plano de matar 15 outras crianças na
sua escola, beber o seu sangue e depois cometer sui-
cídio. Com elas, foram apreendidas tesouras, facas e
até um cortador de pizza, que seriam usados para es-
quartejar as vítimas. Tudo isso era parte de um ritual
satânico e de oferta ao inimigo de Deus65.
Uma terceira ameaça aos nossos filhos diz respei-
to àquilo que tem sido ostensivamente ensinado em
nossas escolas, por meio de desenhos animados, ví-
deos, filmes e séries. Partindo de uma falsa noção de
liberdade, muitos conteúdos que contradizem aquilo
que a razão pode perceber por uma mera observação
da Biologia, e que contradizem também aquilo que a
Igreja tem ensinado nestes dois mil anos. Assim con-
ta um sacerdote:
“Cito como exemplo certo jogo disponibilizado
via internet, com desafios a serem cumpridos que

65 ARTOW PD: Girls planned to attack and kill at least 15 students.


Fox 13 News — Tampa Bay, 24 out. 2018. Disponível em: <https://
www.fox13news.com/news/bartow-pd-girls-planned-to-attack-
-and-kill-at-least-15-students>. Acesso em: 03 mai. 2023.

168
vão desde assistir a filmes de terror de madrugada
até a prática do suicídio, passando por métodos vio-
lentos de automutilação. Infelizmente, isso ocorreu
até mesmo dentro da comunidade da qual faço parte,
quando uma criança da catequese foi desafiada a se
mutilar com uma navalha e acabou colocando a pró-
pria vida em risco. Se esse jogo não é algo desenvol-
vido por uma mente diabólica, não consigo imaginar
mais nada que o seja.”66
Diante destas situações, devemos clamar a inter-
venção dos Santos Anjos. São José era um homem
justo, que amava a Deus com todo o coração, e por
isso era aberto à intervenção dos Santos Anjos, que
enviavam suas santas inspirações por meio de so-
nhos. Assim aconteceu no episódio da fuga para o
Egito, quando São José foi obediente à admoestação
do Santo Anjo e fez tão longa viagem para proteger
o Salvador.
“Podemos aprender aqui, então, como Deus nos
avisa, por meio do ministério dos Santos Anjos, so-
bre perigos dos quais talvez não estejamos cientes.
Esses avisos podem chegar até nós no último minuto,
para que o diabo não consiga descobrir e frustrar os
planos providenciais de Deus. Além disso, podemos
aprender aqui como nosso Anjo da Guarda pode nos
dar orientações concretas e muito específicas sobre
como evitar os perigos aos quais podemos estar ex-
postos. Observe, então, que o anjo diz a São José
66 MANZOTTI, Reginaldo. Combate espiritual no dia a dia. Rio de
Janeiro: Editora Petra, 2018, p. 44-45.

169
exatamente o que ele deve fazer para evitar a situação
perigosa em que foi colocado pela Providência, ten-
do em vista o cumprimento da profecia: ‘Do Egito
chamei meu Filho’ (Mt 2,15)”.6767
Queria partilhar ainda um testemunho que rece-
bemos de um homem que reza sempre conosco, nas
lives do Exército de São Miguel, sobre o risco que
correm as nossas crianças, e da importância de re-
zarmos aos Santos Anjos para nos mostrarem os pe-
rigos para os nossos filhos.
“Olá irmãos. Sou do Rio de Janeiro, faço parte
do Exército de São Miguel e gostaria de compartilhar
meu testemunho e meu clamor. Meu filho de 6 anos
ficou doente com febre há 15 dias. […] Antes do meu
filho ficar de cama, ele havia se queixado de ter visto
um desenho na escola intitulado de ‘Cachorrinhos
Fantasmas’. Ele não conseguiu dormir naquela noite
e teve vários pesadelos com espíritos escuros que ro-
deavam sua cabeça ao que ele os chamava de ‘bolhas
pretas’. Achei estranho esses acontecimentos, porém
como ficou doente dias depois, tivemos uma semana
cheia e difícil.
Assim que ele começou a melhorar, lembrei do
tal desenho e perguntei à minha esposa se podería-
mos colocá-lo na tela para ver do que se tratava. Não
foi preciso nem 10 segundos para entender do que se

67 HINCKS, O.R.C, Mathew. St. Joseph & the Holy Angels. Circu-
lar Letter Opus Sanctorum Angelorum, Lent 2011. Disponível em
<https://opusangelorum.org/st-joseph-and-the-holy-angels/>.
Acesso em 03 mai. de 2023. Tradução nossa.

170
tratava. Numa festa de Halloween, pessoas de verda-
de invocavam entidades satânicas em uma mesa re-
donda coberta de velas e, de mão dadas, pediam aos
espíritos para conversarem com elas. Uma verdadei-
ra aula de satanismo e bruxaria macaqueada em ‘de-
senho para crianças’ e de classificação livre. Fica aqui
meu clamor para que os pais se atentem até ao que os
filhos estão vendo nas escolas e ao que é apresentado
a eles sem que saibamos. Minha esposa entrou em
contato com a direção e falou do desenho. Eles então
pediram desculpas e se prontificaram a retirar o de-
senho da lista de exibição das crianças. Maria passa
na frente e pisa na cabeça da serpente!”
Por isso, muita atenção àquilo que seus filhos es-
tão vendo.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Bondoso e Poderoso Arcanjo São Miguel, que junta-
mente com os Anjos da Guarda têm a missão de pro-
teger as nossas crianças, vos suplico que guardeis a sua
vida, livrando-as do mal do aborto, das influências
ocultistas, dos males psicológicos e de todas as influên-
cias dos demônios. Ajudai com que os pais possam ser
atentos e zelosos com a educação de seus filhos e lutem
para proteger a sua inocência. Amém!

172
ESCUTE AQUI
Capítulo 17
A autoridade dos pais
na luta contra o mal

É difícil encontrar um exemplo melhor para


mostrar o quanto a oração dos pais é eficaz pelos
filhos do que a história de Santo Agostinho e de sua
mãe, Santa Mônica. Ela rezou por anos a fio, com
lágrimas, e insistia com Deus para a conversão de
seu filho.
“Um dia, lê-se, no livro III das Confissões,
Mônica teve uma visão na qual estava em pé sobre
uma tábua, triste, quando apareceu um jovem e per-
guntou a causa de tanta tristeza. Ela disse: ‘Lamento
a perdição de meu filho’. Ele respondeu: ‘Esteja se-
gura que ele está onde você está’. […] Esta mãe ze-
losa, quase importunando, pediu a um bispo, atesta
Agostinho nas Confissões, que se dignasse a inter-
ceder por seu filho. Vencido pela insistência, ele res-
pondeu com voz profética: ‘Vá tranquila, pois é im-
possível que pereça um filho tão chorado’.”68

68 DE VARAZZE, Jacopo. Legenda Áurea: vida de santos. São Paulo,


Companhia das Letras, 2003, p. 708.

174
Jesus disse certa vez a Santa Faustina Kowalska
(Diário 1397): “A perda de cada alma mergulha-Me
em tristeza mortal. Sempre Me consolas quando re-
zas pelos pecadores. A oração que Me é mais agra-
dável — é a oração pela conversão das almas peca-
doras. Deves saber, Minha filha, que essa oração
sempre é ouvida e atendida.”69
Santa Mônica perseverou em oração pelo seu fi-
lho, grande pecador e, de forma narrativa, podemos
perceber neste sonho de Santa Agostinho a força da
oração de uma mãe por seu filho.
“Assentado ao pé da secular oliveira situada so-
bre uma colina que domina toda a cidade de Tagaste,
norte da África, como de costume, ali estava mais
uma vez Agostinho, horas a meditar, desde o ama-
nhecer até o entardecer. Quando uma suave brisa ba-
lança as folhas e uma doce — e conhecida — voz se
faz ouvir:
— Agostinho, filho querido, tu te santificaste?
— Mãe amada! Estou tentando. Desde que par-
tiste, venho humildemente procurando os caminhos
do Pai.
— Largaste mesmo a boemia, a devassidão, a vi-
da desordenada? Rezei tanto por ti. E aqui continuo
a orar sem cessar. Filho do meu coração.
— Mãezinha. Que vista encantadora! Estás mais
linda ainda. Não imagina como parte meu coração

69 KOWALSKA, S. Faustina. Diário. Curitiba: Editora da Divina Mise-


ricórdia, 1995, p. 358.

175
saber que te causei tantas lágrimas, tanto sofrimen-
to. Nunca pude te agradecer pelos anos que oraste
por mim, três vezes por dia no sacrário, pedindo
que eu me tornasse cristão. Tu aceitas meu tardio
agradecimento?
— Mais 19 anos eu ficaria de joelhos diante do
Senhor, se preciso fosse. Que mãe poderia receber
graça maior do que ver o filho ordenado e agora
bispo?
— Conviveste tão pouco com o filho cristão!
Após aquela cansativa viagem, cortou-me o cora-
ção tua morte em Ostia. Não voltaste comigo para a
nossa África. Fechei-te os olhos e uma tristeza imen-
sa se desfazia em torrentes de lágrimas, tu, que tan-
tos anos chorara para que eu vivesse aos olhos do
Senhor. Agora sarado já o meu coração desta ferida,
derramo diante do meu Deus por ti outra espécie de
lágrimas. Sempre peço a todos que se lembrem de ti
junto ao altar.
— Continua tua missão, filho. Estás no caminho
certo. Deus está contigo.
Mas foi tudo um sonho, Agostinho acordou. O
sol já tinha ido, deixando apenas o calor. A cidade de
Tagaste, lá na frente, se preparava para as primeiras
estrelas. […] E, no entanto, Santa Mônica só pedira
a Deus um ‘filho cristão’. Podia parecer um pedido
simples, mas era um grande pedido. […] Era ‘um ca-
so perdido’, como se diz hoje. Mas Mônica via luz
nas trevas. E perseverou, e não desistiu, e orou, dia

176
e noite, três vezes por dia, indo ao Sacrário pedir ao
Deus vivo piedade, misericórdia, ‘um filho cristão’.
Faz tanto tempo! Mônica viveu nos anos 300, mas
coração de mãe não tem idade, nem tempo, nem
país. Coração de mãe é coração de mãe — ninguém
tem igual.”70
Assim, a maior missão de um pai e de uma mãe,
com relação aos seus filhos, não é dar condições para
uma brilhante carreira, ou permitir uma vida com
todo conforto possível, ou impedir que o filho so-
fra qualquer contrariedade, doença, revés na vida. A
maior missão de um pai e de uma mãe é criar os seus
filhos para o Céu, conduzi-los a Deus.
Recentemente recebi o testemunho de uma mãe
que estava numa luta pela conversão de uma das suas
filhas. Criou-as praticamente sozinha, por causa da
completa omissão do pai, de quem ela posteriormen-
te se separou, e, por causa do trabalho, sempre este-
ve muito ausente. A filha ajudava na Igreja e, com o
passar do tempo, começou a se afastar da vivência
com Deus até se envolver num relacionamento com
outra mulher, distanciando- se cada vez mais da sua
missão na Igreja. Esta mãe guerreira rezou insisten-
temente a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e
a São Miguel, pedindo a Deus o milagre de que sua
filha voltasse à comunhão com Deus na participação

70 FERNANDES, Alexandre. Uma mãe que ora — Santa Mônica. In:


ABDO, Ângela e AGUIRRE, Daniel (org.). Oração de mãe: move o Céu
e conduz a Deus. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova,
2020, p. 65-67.

177
da Santa Missa dominical e na vida na Graça. E foi
por meio de um clamor à Santíssima Virgem Maria
e aos Santos Anjos que ela conseguiu alcançar a vitó-
ria, e sua filha voltou a participar das Santas Missas
dominicais, tendo se confessado, e voltou a receber a
Comunhão em estado de graça.
Os pais não podem ceder à sua autoridade espi-
ritual com relação ao seus filhos. Devem pedir com
insistência a Deus e rezarem aos Santos Anjos e ao
Anjo da Guarda do seu filho que o proteja e guarde
do mal. Não somente que o livre dos perigos físicos,
mas sobretudo que os proteja e os guarde do pecado
e da ação do inimigo infernal.
Queria concluir este capítulo com uma história
impressionante do Pe. Gabriele Amorth, o conheci-
do exorcista de Roma, sobre a influência do inimigo
na vida de uma adolescente e a rapidez, prontidão e
autoridade moral de um pai que a ajudou a se liber-
tar do inimigo.
“Em julho de 1988, Laura tem 14 anos. Vive em
Cassino. Certa noite, uma amiga a convida para sair.
— Aonde vamos?, pergunta Laura.
— Ver uma coisa que você nunca viu, responde
a amiga.
Saem da cidade e penetram num bosque vizi-
nho. Chegam a uma casa. Entram. Dez pessoas en-
capuzadas estão fazendo uma sessão de espiritis-
mo. Invocam espíritos para falar com eles. Poucos
minutos depois, sacrificam ao diabo um animal

178
capturado faz pouco. Laura tem medo, mas não se
atreve a fugir. A amiga segura sua mão e obriga-a a
participar. Tudo dura uma hora. Terminada a ses-
são, que aos olhos de Laura parece um jogo estúpi-
do, mas inócuo, as duas amigas regressam à cidade.
Despedem-se e vão às suas respectivas casas.
Laura entra em sua casa. Seus pais ainda estão
acordados. Dizem-lhe boa noite, mas, como única
resposta, Laura os insulta. Há algo estranho, pois
Laura jamais disse palavrões. E nunca teve com-
portamentos agressivos com os familiares. Nessa
noite, contudo, ninguém pode chegar perto dela.
Perguntam-lhe o motivo dos xingamentos e pa-
lavrões que saem de sua boca para agredir os pais
com maldade. Cospe. Morde. Uiva. Parece outra
pessoa. Parece uma endemoniada.
O pai é católico praticante. Ouviu falar de padre
Cândido, o exorcista de Scala Santa, meu professor.
Assim, não pensa duas vezes. Em plena noite, faz sua
filha subir no carro e parte diretamente para Roma.
Chega a Scala Santa quando ainda não amanheceu.
Desce e espera que os frades abram o portão às seis.
— Preciso do padre Cândido, diz ao primeiro ir-
mão que encontra.
— Para quê?
— Preciso que veja minha filha, diz, mostrando
a menina que tem a seu lado, ameaçadora, lançando
olhares de ódio contra o religioso.

179
— Padre Cândido está indisposto. Deve se diri-
gir ao seu substituto.
Chama-se padre Gabriele Amorth. Este é o en-
dereço de sua casa.
Os dois voltam ao carro e chegam à minha casa.
Esperam que eu acorde. Depois chamam-me. Esta
manhã tenho de fazer dois exorcismos muito difí-
ceis. De modo que deixo pai e filha esperando-me
na portaria. É meio-dia quando me lembram que os
dois têm uma consulta comigo. Estou muito cansa-
do, mas aceito. Digo a mim mesmo:
Dou-lhes uma bênção rápida e chega.
— Bom dia. Como se chama essa menina?,
pergunto.
O pai responde. Há tensão no ambiente. Os dois
estão muito cansados. Mas percebo que há algo mais
que simples cansaço. Começo a bênção. De imediato
sou castigado pela minha imprudência. Aproximo-
me demais de Laura, que dá um salto, agarra meu
pulso e morde-o. Sinto seus dentes afundarem na
minha carne. Grito. Afasto-me. E compreendo que
há algo muito sério.
Concentro-me. Rezo com mais força e atenção.
Bastam dez minutos.
Laura dobra-se sobre si mesma. Parece destruída
por um imenso esforço.
— Como você está, Laura?
— Bem, padre, ela me responde.
— Laura, agora você está livre. Pode ir.

180
Laura se levanta e sai para o pátio. Corre e brinca
perseguindo um balão.
Como foi possível libertá-la em tão pouco
tempo?
Graças ao pai. Ou melhor, à rapidez de seu pai.
As possessões, se atacadas a tempo, não criam raí-
zes. O diabo ensaiou apoderar-se de Laura. Entrou
em seu corpo na sessão espírita. Mas não conseguiu,
em poucas horas, arraigar-se como desejava. Por is-
so foi fácil libertá-la.”71

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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71 AMORTH, Gabriele. O último exorcista: minha batalha contra Sa-


tanás. Campinas (SP): Editora Ecclesiæ, 2012, p. 90-92.

181
Oração:
Senhor Jesus Cristo, que destes autoridade espi-
ritual e temporal aos pais sobre os filhos, dai-me a
graça de conduzir aqueles que me foram confiados
com sabedoria e prudência, com coragem e fortale-
za, guiado por Vossos Santos Anjos. Que os filhos
não se percam por descuido dos pais, mas que cres-
çam em estatura, sabedoria e graça. Amém!

182
São Miguel, levando
o escudo da fé, saiu
no meio do campo de
batalha para defender
a honra de Deus.
PARTE IV

DESMASCARANDO
O INIMIGO MAIS
ASTUTO, SATANÁS,
E PROTEGENDO-SE
DELE
Capítulo 18
Protegendo-se dos
ataques dos invejosos

Se acompanhamos atentamente a leitura do


Livro do Gênesis, podemos perceber que o primeiro
pecado narrado, após o pecado original de Adão e
Eva, foi cometido por um dos filhos dos nossos pri-
meiros pais. O inimigo já tinha tentado Adão e Eva e
continuou a tentar a sua descendência. “Lúcifer, com
sua visão desordenada sobre si mesmo e corrompi-
do por tal pecado, faz com que dentro de si, de suas
decisões e vontades, outros pecados comecem a nas-
cer. Quando ele, já com sua astúcia diabólica, colo-
ca-se frente a Adão e Eva no Paraíso para tentá-los
e fazê-los cair, é certo que a inveja também já havia
invadido o seu ser. Afinal de contas, Adão e Eva, cria-
turas inferiores aos Anjos, foram criados à imagem
e semelhança do Criador.”72 O assassinato de Abel,
cometido pelo seu próprio irmão, Caim, foi um pe-
cado gravíssimo, que teve sua origem no pecado ca-
pital da inveja.

72 GESUALDO, Danilo. Livres de todo mal. Desmascarando o inimigo.


Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2022, p. 47.

187
“Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu
e deu à luz Caim, e disse: ‘gerei um homem com a
ajuda do Senhor’. E deu em seguida à luz Abel, irmão
de Caim. Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim,
lavrador. Passado algum tempo, ofereceu Caim fru-
tos da terra em oblação ao Senhor. Abel, de seu lado,
ofereceu dos primogênitos do seu rebanho e das gor-
duras dele; e o Senhor olhou com agrado para Abel
e para sua oblação, mas não olhou para Caim, nem
para os seus dons. Caim ficou extremamente irrita-
do com isso, e o seu semblante tornou-se abatido. O
Senhor disse-lhe: ‘Por que estás irado? E por que está
abatido o teu semblante? Se praticares o bem, sem
dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se proce-
deres mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-
-te; mas, tu deverás dominá-lo’. Caim disse então a
Abel, seu irmão: ‘Vamos ao campo’. Logo que chega-
ram ao campo, Caim atirou-se sobre seu irmão e o
matou” (Gn 4,1-8).
Assim aconteceu com os irmãos de José do Egito,
que, por inveja, venderam seu irmão aos mercado-
res. Pela Providência de Deus, o seu irmão invejado
foi aquele instrumento para salvar toda a família e
dar origem ao povo de Israel.
Quando falamos de inveja, normalmente, a pri-
meira reação é pensarmos que devemos estar prote-
gidos com relação aos invejosos, que querem fazer
mal a cada um de nós. Em primeiro lugar, entretan-
to, devemos fazer um exame de consciência e ver-
mos se nós não estamos também sendo invejosos

188
em alguma situação da nossa vida. Porque, se uma
pessoa tem a brecha do pecado da inveja em si mes-
ma, fica mais vulnerável a algum ataque ou ma-
nifestação de pessoas invejosas. Ouçamos o que
diz o Catecismo da Igreja Católica acerca deste
pecado capital.
“O décimo mandamento exige banir a inveja do
coração humano. Quando o profeta Natã quis esti-
mular o arrependimento do rei Davi, contou- lhe
a história do pobre que possuía uma única ovelha,
tratada como sua própria filha, e do rico que, apesar
da multidão de seus rebanhos, invejava o primeiro
e acabou roubando-lhe a ovelha. A inveja pode le-
var às piores ações. É pela inveja do demônio que
a morte entrou no mundo. Nós nos combatemos
mutuamente, e é a inveja que nos arma uns contra
os outros... Se todos procuram por todos os meios
abalar o Corpo onde acabaremos? Nós estamos en-
fraquecendo o Corpo de Cristo... Declaramo- nos
membros de um mesmo organismo e nos devoramos
como feras.
A inveja é um vício capital. Designa a tristeza sen-
tida diante do bem do outro e do desejo imoderado
de sua apropriação, mesmo indevida. Quando deseja
um grave mal ao próximo, é um pecado mortal: Sto.
Agostinho via na inveja ‘o pecado diabólico por ex-
celência’. ‘Da inveja nascem o ódio, a maledicência,
a calúnia, a alegria causada pela desgraça do pró-
ximo e o desprazer causado por sua prosperidade.’
A inveja representa uma das formas de tristeza e,

189
portanto, uma recusa da caridade; o batizado lutará
contra ela mediante a benevolência. A inveja provém
muitas vezes do orgulho; o batizado se exercitará no
caminho da humildade: ‘Quereríeis ver Deus glorifi-
cado por vós? Pois bem, alegrai-vos com os progres-
sos de vosso irmão e imediatamente Deus será glori-
ficado por vós. Deus será louvado dirão, porque seu
servo soube vencer a inveja, colocando alegria nos
méritos dos outros’.”73
Não devemos nos esquecer de que o próprio
Satanás teve inveja de Deus, pois queria, no seu or-
gulho, comparar-se com Ele e também ser adorado.
Assim, devemos procurar o socorro de São Miguel,
que foi aquele que derrotou o inimigo no primeiro
combate no Céu e vem em nosso socorro.
“Considere como os demônios têm a vontade
pervertida, de enganar por meio de trapaças, de con-
trolar pela soberba, de confundir pela maldade e pe-
la inveja, de punir pela malícia. Mas o poder de São
Miguel é benevolente e valioso para dirigir o homem
diante das trapaças do demônio; válido para evitar
a submissão a ele, como diz São Boaventura. São
Miguel derruba, conquista, destrói e aniquila suas
trapaças, sua soberba, sua maldade, sua inveja, sua
malícia e a de seus seguidores. Ele foi vitorioso no
Céu, e será sempre vencedor”.74
73 Catecismo da Igreja Católica, 2538-2540.

74 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quaresma


de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Instituto
Hesed, 2021, p. 198.

190
Muitas pessoas têm medo da inveja dos outros
e ficam apavoradas diante de olhares e comentá-
rios invejosos. Sempre que alguém se destaca em
algo nesta vida, essa pessoa terá direcionados para
si olhares invejosos, pois a inveja é própria daque-
les que são medíocres e não têm força para lutar
pelos seus objetivos, nem virtude para se contentar
com aquilo que conseguem. Muitas pessoas dizem:
“fui atacado por mau-olhado”, ou “esse problema foi
causado por olho-gordo”! Mas atenção: o poder do
inimigo é limitado — ele é como um cachorro que
morde apenas os que dele se aproximam. Entretanto,
é importante lembrarmo-nos de que as pessoas in-
vejosas podem ter atitudes de envolvimento com
o mal. Vamos acompanhar este caso narrado pelo
Pe. Rufus:
“Há uma família muito próxima de mim em
Bombaim. Tem dois filhos: um filho não é casado e é
o meu grande ajudante no trabalho de evangelização,
juntamente com sua mãe, que me ajuda muito, na
cura interior e libertação. E eles têm um outro filho,
o mais velho, que é casado, com uma jovem filipi-
na. E eles têm três crianças pequenas. Toda a família
é muito próxima de mim e eu batizei o mais jovem
das crianças, então eu sou o padrinho daquele mais
jovem.
Um dia, eles me pediram que eu viesse à casa de-
les para rezar uma missa pela cura e libertação da
árvore genealógica, porque eles me disseram que
estavam acontecendo problemas com a família. Eu

191
estava querendo ir, mas eu disse a eles: ‘mas vocês
estão próximos do Senhor, vocês estão me ajudando
nesse ministério de libertação com tanto sucesso, vo-
cês não precisam mais desse tipo de oração. Tudo es-
tá em ordem com vocês’. Mas eles insistiram e então
eu fui lá rezar essa missa pela libertação da árvore
genealógica.
Depois da missa, eles trouxeram uma estátua,
uma imagem de Jesus para ser abençoada. Era uma
grande imagem, era uma linda imagem do Sagrado
Coração de Jesus, feita em acrílico, muito cara.
E é estranho dizer que essa imagem foi dada a
esse casal por seus amigos hindus. Ele tem como
seu chefe um hindu e sua esposa é também hindu,
a esposa desse que é muito amiga da família, tu-
do externamente. Mas internamente o caso é dife-
rente. Então, resumindo, esse casal não católico,
mas hindu, deu esse presente católico para essa fa-
mília católica. Então eu pensei: ‘devem ser pessoas
muito boas’.
Então trouxeram a estátua para que eu aben-
çoasse. No momento em que eu comecei a fazer o
sinal da cruz na estátua, então a esposa filipina do
filho mais velho caiu no chão. E parecia que a voz do
inimigo estava falando através dela, na língua hin-
du. E essa jovem filipina não conhece hindu, e era
um hindu perfeito. E parecia a voz da esposa daquele
chefe hindu. E a voz me dizia: ‘eu dei a imagem a es-
se casal porque eu tenho inveja do casamento deles.
Eles parecem um casal tão belo e tão amável. E meu

192
casamento é um desastre. Eu tenho inveja da pros-
peridade deles. E nós temos problemas, um atrás do
outro. Então eu pus uma maldição nessa imagem
para destruir essa família’.
Eu não poderia acreditar se eu não tivesse visto.
E eu agradeci a Deus por ter revelado isso através
daquela jovem. Quando ela voltou à consciência, ela
não sabia o que tinha acontecido e ela perguntava: ‘o
que é que aconteceu comigo? Eu desmaiei?’ E eu não
disse nada a ela.
Aquele jovem é um dos grandes evangelizadores
da Índia, o meu grande ajudante, o meu braço direi-
to na Índia. Ele disse: ‘Padre, a partir do momento
que essa imagem chegou aqui em casa nós não ti-
vermos mais paz na minha família. Eu não posso
nem permanecer mais dentro de casa, eu prefiro fi-
car lá fora. E na minha casa não tem paz. Lá fora eu
me sinto bem. Depois que essa estátua chegou, nós
não rezamos mais. Nós temos discutido dia e noi-
te. Agora nós percebemos porque tudo isso estava
acontecendo’.
E então o que fazer? E eu disse a eles: ‘essa ima-
gem tem que deixar esta casa esta noite. Eu não te-
nho garantias do que vai acontecer com vocês nesta
noite’. No dia seguinte, eles me disseram o que fize-
ram: ‘pegaram martelos e quebraram a imagem em
pedaços. E jogaram no mar. E, a partir daquele dia,
a família voltou ao normal com orações de louvor e

193
ação de graças e tudo mais.”75
Assim, podemos entender que, se uma pessoa
invejosa usa invocações ao inimigo de Deus para fe-
rir a pessoa invejada, neste caso, pode ser necessário
recorrer a uma oração de libertação para que cessem
por efeitos da invocação ao inimigo de Deus.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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75 PEREIRA, Rufus. O Amor e a Verdade nos Libertam de sata-


nás. Padre Rufus. Disponível em: <http://www.padrerufus.net.
br/2012/08/o-amor-e-verdade-nos-libertam-de-satanas.html>
Acesso em 04 mai. 2023.

194
Oração:
Santos Anjos de Deus, vinde com São Miguel libertar-
-nos de toda influência da inveja. Poderoso Arcanjo,
já vencestes a malícia, a inveja e soberba de Satanás
em vossa batalha no céu. Mais uma vez venha triunfar
sobre ele, para que a sua inveja não penetre em mi-
nha vida e não provoque os males que ele tanto deseja.
Com sua humildade e bondade, derruba, conquista,
destrói e aniquila as trapaças, a soberba, a maldade,
a inveja, a malícia do inimigo e de seus seguidores.
Amém!

195
Capítulo 19
O perigo das maldições

A nossa língua é uma parte pequena do nosso


corpo, mas por meio dela podemos tanto abençoar
como amaldiçoar as pessoas. “Maldição” tem a ver
com dizer mal, ou seja, usar a língua para dizer mal
de algo ou de alguém, para invocar por meio de pa-
lavras o mal para alguma pessoa. Nós devemos ser
portadores de bençãos de Deus para as outras pes-
soas, e não portadores do mal. Nossos lábios, cria-
dos por Deus para o louvor e para proclamar as
maravilhas de Deus acabam se tornando membros
para serem usados como murmuração, maledicên-
cia e até mesmo para lançar maldições. O ato de lan-
çar maldições é particularmente grave quando é um
pai, mãe, avô ou avó que faz isso. Assim conta o exor-
cista da Arquidiocese de Washington, nos Estados
Unidos, Mons. Stephen Rossetti:
“Um homem estava passando por um momen-
to particularmente difícil. Embora não estivesse
possuído, há muito tempo ele estava afligido pelo
que parecia ser obsessões demoníacas e sentimen-
tos inabaláveis de inutilidade e desesperança. Ele

197
estava vivendo uma vida cristã exemplar de santi-
dade, mas os tormentos mentais continuavam e, sob
as tensões de sua vida atual, agora havia se tornado
incapacitante.
Ele procurou a ajuda de um padre exorcista que
recomendou algumas orações de libertação, incluin-
do encontrar-se com uma mulher que era ministra
de libertação. Eles discerniram que o homem estava
de fato sofrendo obsessões demoníacas e uma das
causas, para sua surpresa, incluía o fato de ter sido
amaldiçoado por seu pai. Quando criança, ele foi
agredido verbalmente em várias ocasiões por seu
pai, que irracionalmente desabafou sua fúria contra
ele: ‘Diga a esse garoto desgraçado para se calar!’.
Ele prosseguiu com ameaças. A criança se sentiu as-
sustada, sem valor e rejeitada.
A equipe o conduziu através de várias sessões de
libertação que incluíram o perdão de seu pai e di-
zendo formalmente: ‘Rejeito a mentira de que sou
uma criança sem valor’. Em seguida, anularam todas
as maldições enviadas contra ele. Quando as sessões
terminaram, o homem havia recuperado seu equi-
líbrio emocional e encontrado uma nova percepção
de paz interior.
Pe. Gabriele Amorth, o famoso exorcista de
Roma, escreveu: ‘Quando as maldições são ditas com
verdadeira perversidade, especialmente se existe
uma relação de sangue... o resultado pode ser terrí-
vel. Os casos mais comuns que encontrei envolveram

198
pais ou avós que invocavam o mal sobre os filhos ou
netos’.
Pe. Amorth disse que a primeira e necessária
condição no processo de cura é que a pessoa per-
doe os pais. Algumas vezes os pais amaldiçoam in-
tencionalmente uma criança, particularmente se a
criança frustra as expectativas dos pais com relação
ao futuro, tais como casar com uma pessoa ‘inacei-
tável’ ou perseguir uma vocação inaceitável’. Outras
vezes, como neste caso, um pai ou uma mãe descar-
regava sua raiva contra a criança com ameaças, pa-
lavrões e palavras condenatórias. O pai pode gritar:
‘Você nunca vai prestar para nada’. O impacto psi-
cológico e espiritual sobre uma criança não deve ser
subestimado.
Os pais têm uma autoridade e um poder únicos
para abençoar seus filhos. Eles também têm um po-
der único para feri-los… O Papa Bento XVI relatou
suas próprias experiências de infância de ser aben-
çoado por seus pais:
‘Nunca esquecerei a devoção e o carinho com
que meu pai e minha mãe fizeram o sinal da cruz
na testa, na boca e no peito de nós crianças quan-
do saímos de casa, especialmente quando se despe-
diam de nós por muito tempo. Esta bênção foi co-
mo uma escolta que sabíamos que nos guiaria em
nosso caminho. Ela tornou visível a oração de nos-
sos pais, que foi conosco, e nos deu a certeza de que
esta oração foi apoiada pela bênção do Salvador...

199
Creio que esta bênção, que é uma expressão per-
feita do sacerdócio comum dos batizados, deveria
voltar de uma maneira muito mais forte em nossa
vida diária’.”76
Assim, se você está sob o efeito de uma maldição,
a resposta deve ser exatamente o contrário, ou seja,
invocar a Deus para a proteção, pois o bem é sempre
mais forte do que o mal.
Além das maldições ditas contra outras pessoas,
existem casos em que a pessoa amaldiçoa a si mes-
ma, com palavras como: “eu nunca vou conseguir
um emprego”, “eu sou burro demais”, “nasci para so-
frer”, “minha casa nunca vai ter paz” etc.
“Em geral, votos íntimos estão sempre relaciona-
dos a acontecimentos traumáticos da nossa história
ou a situações de sofrimentos que vivemos. Por cau-
sa desses acontecimentos dolorosos, estabelecemos,
conscientemente ou não, uma aliança com aquela si-
tuação de dor. Essas situações, de certa forma, dei-
xaram-nos marcas interiores e, conforme o tempo
foi passando, esses traumas parecem até terem sido
deixados para trás, parece que nos esquecemos de-
les, mas se eles não foram resolvidos interiormente
em nós, não conseguiremos ser homens e mulheres

76 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #212: Cursed by One’s Pa-


rents. Catholic Exorcism. 28 out. 2022. Disponível em <https://www.
catholicexorcism.org/post/exorcist-diary-212-cursed-by-one-
s-parents>. Acesso em 04 mai. 2023.

200
plenamente livres.”77
“É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl
5,1). Não podemos ficar escravos destas más pala-
vras, destes votos íntimos, mas devemos trilhar um
caminho de libertação. O primeiro passo é a toma-
da de consciência que este problema existe. E, de-
pois, renunciar a essas palavras ditas.
“Uma vez que conseguirmos identificar isso, é
necessário que o nosso passado, ainda vivo, seja res-
significado dentro de nós, reescrito. Isso acontece
sempre pela luz do Espírito Santo, que nos ajuda a
nos reconciliarmos com a nossa própria história, a
perdoarmos a nós mesmos, perdoarmos as pessoas e
até mesmo a necessidade de perdoar o próprio Deus.
Esse caminho de reconciliação com nossa própria
história é um passo fundamental para a libertação
completa.
Após essa reconciliação, é necessário que a ora-
ção coloque tudo no seu devido lugar novamente.
É preciso, por meio da oração, pedir que o Senhor
quebre toda a força que essas palavras possam ter
tido sobre nossa vida, pedir que tudo aquilo que
nos prendia à força dessas palavras caiam por terra.
Será necessária também uma Oração de Renúncia
contra esses votos, para que isso seja desvinculado de

77 GESUALDO, Danilo. Você sabe o que é o voto íntimo ou voto


secreto? Canção Nova. Disponível em <https://formacao.cancao-
nova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/voce-sabe-o-que-e-
-o-voto-intimo-ou-voto-secreto/>. Acesso em 04 mai. 2023.

201
nossa vida. Assim como, pessoalmente, por causa de
situações dolorosas e por meio de palavras, fazemos
os votos íntimos, será também por conta da ação do
amor de Deus e por meio de nossas palavras que es-
ses votos serão desfeitos.
Depois desses passos, é necessário que tenha-
mos, agora, a força e a determinação de superarmos
o que antes para nós seria impossível. Começamos a
perceber que, sobre determinadas situações que nos
paralisavam, e talvez nos deixem em pânico, temos
outros sentimentos e reações. É claro que pode sur-
gir aquele medo ou receio de não conseguirmos, mas
podemos ver que haverá uma força para enfrentar-
mos e superarmos tal situação. Força essa que antes
achávamos que não tínhamos.”78

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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78 GESUALDO, Danilo. Você sabe o que é o voto íntimo ou voto


secreto? Canção Nova. Disponível em <https://formacao.cancao-
nova.com/espiritualidade/cura-e-libertacao/voce-sabe-o-que-e-
-o-voto-intimo-ou-voto-secreto/>. Acesso em 04 mai. 2023.

202
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Arcanjo São Miguel, selai os meus lábios para que ne-
nhuma maldição seja lançada aos outros através das
minhas palavras. Dai-me a graça de ser sempre porta-
dor das bênçãos de Deus para as outras pessoas. Que
o Vosso agir me conduza para que eu seja luz e não
trevas. Abençoai-me com Vossa Espada, ajudando-me
a viver retamente segundo a vontade de Deus. Amém!

203
Capítulo 20

Falsas doutrinas

Para começarmos o estudo deste capítulo tão


importante, vamos lembrar de um fato acontecido
na vida do imperador francês Napoleão Bonaparte,
homem conhecido pela sua habilidade bélica e
por sua determinação em expandir os territórios
do Império Francês. Certa vez, diante das grandes
conquistas acontecidas, um soldado teria dito a ele:
“Imperador, pode fundar a nossa religião e a nossa
igreja. Estamos prontos a seguir sua majestade.” Ao
que o imperador respondeu: “Filho, para alguém
inaugurar uma religião e fundar uma igreja, precisa
de duas coisas: primeiro, morrer numa cruz; segun-
do, ressuscitar. A primeira eu não quero e a segunda
eu não posso.”79
“Desde que o trigo do evangelho foi semeado
no chão da humanidade por nosso divino Redentor,
o maligno se apressou em espalhar o joio das falsas

79 AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Jesus Cristo existiu ou foi


um mito? Canção Nova. Disponível em: <https://formacao.cancao-
nova.com/diversos/jesus-cristo-existiu-ou-foi-um-mito/> Acesso
em 11 mai. 2023.

205
doutrinas e das falsas religiões para afastar o povo
da verdadeira Redenção. Só Jesus pode estabelecer
uma Religião e instituir uma Igreja, pois só Ele é o
único homem que também é Deus. Uma Pessoa di-
vina trazendo em Si duas naturezas perfeitamente
harmoniosas: a humana e a divina. Ele provou isso
por Seus inúmeros milagres. Só Jesus tem autorida-
de para nos guiar a Deus Pai, pois só Ele ressuscitou
após morrer numa cruz. Essas são as provas máxi-
mas de Sua divindade e do Seu amor por nós.”80
O Mons. Stephen Rossetti tratou também deste
tópico de falsas doutrinas, e de como o inimigo po-
de se esconder por detrás de alguma coisa aparen-
temente boa, como receber notícias do avô falecido.
Assim ele conta:
“Uma mulher nos procurou em pânico.
Inicialmente, ela estava envolvida com Reiki. Mais
tarde, seu amado avô morreu, então ela tentou en-
trar em contato com ele por meio de escrita automá-
tica. Como ela era canhota, colocou uma caneta na
mão direita e invocou o espírito de seu avô falecido.
A caneta começou a se mover e, ao longo de vários
meses, ela recebeu muitas mensagens amorosas e de
consolo de seu avô falecido, ou assim ela pensava.
Então, as mensagens começaram a ficar ‘estra-
nhas’. Elas se tornaram agressivas e ameaçadoras.

80 AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Falsas doutrinas — seitas e


religiões. Lorena (SP): Editora Cléofas, 2010, p. 15.

206
Ela começou a perceber que, durante todo esse tem-
po, não era o avô amoroso com quem ela estava em
contato. Em vez disso, era um espírito maligno.
Ela ficou aterrorizada! Fizemos com que ela paras-
se imediatamente com essa necromancia (invocação
dos mortos) e confessasse sacramentalmente esse
pecado. Ela renunciou formalmente a essa prática e
fizemos orações de libertação sobre ela. Felizmente,
o espírito maligno se afastou e aparentemente
não voltou.
As pessoas frequentemente me perguntam so-
bre muitas práticas espirituais não cristãs: ioga, reiki,
adoração aos antepassados, tabuleiros ouija, Charlie
Charlie, bruxaria branca e coisas do gênero. ‘O que o
senhor acha?’, me perguntam. A resposta é simples:
se você não está invocando o único Deus verdadeiro
e Jesus, Seu Filho (ou a Virgem Maria, os santos ou
São Miguel e os Santos Anjos), então há apenas uma
outra opção espiritual, que é Satanás.
Se você não estiver invocando os poderes do céu,
então poderá descobrir que os poderes do inferno
estão respondendo ao seu chamado. Invocar divin-
dades pagãs, energias vagas de força vital espiritual,
a mãe terra e outras práticas pagãs é espiritualmente
perigoso. Independentemente da sua intenção, você
está violando o Primeiro Mandamento e isso não vai
acabar bem.”81

81 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary: Whom Are You Dialing? Spiri-


tual Direction. 06 jul. 2021. Disponível em <https://spiritualdirection.
com/2021/07/06/exorcist-diary-whom-are-you-dialing>. Acesso

207
Assim, devemos prestar bastante atenção, pois
Jesus é nosso Salvador. Devemos lembrar sem-
pre aquilo que nos ensina o Catecismo da Igreja
Católica:
“Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a
outros santos. Todavia, a atitude cristã correta con-
siste em entregar-se com confiança nas mãos da pro-
vidência no que tange ao futuro, e em abandonar
toda curiosidade doentia a este respeito. A imprevi-
dência pode ser uma falta de responsabilidade.
Todas as formas de adivinhação hão de ser rejei-
tadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação
dos mortos ou outras práticas que erroneamente se
supõe ‘descobrir’ o futuro. A consulta aos horósco-
pos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de
presságios e da sorte, os fenômenos de visão, o recur-
so a médiuns escondem uma vontade de poder sobre
o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os ho-
mens, ao mesmo tempo um desejo de ganhar para
si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a
honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor,
devemos exclusivamente a Deus.
Todas as práticas de magia ou de feitiçaria com
as quais a pessoa pretende domesticar os poderes
ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um
poder sobrenatural sobre o próximo — mesmo
que seja para proporcionar a este a saúde — são
gravemente contrárias à virtude da religião. Essas

em 05 mai. 2023. [Tradução nossa]

208
práticas são ainda mais condenáveis quando acom-
panhadas de uma intenção de prejudicar a outrem,
ou quando recorrem ou não à intervenção dos de-
mônios. O uso de amuletos também é repreensível.
O espiritismo implica frequentemente práticas de
adivinhação ou de magia. Por isso a Igreja adverte
os fiéis a evitá-lo. O recurso aos assim chamados re-
médios tradicionais não legitima nem a invocação
dos poderes maléficos nem a exploração da creduli-
dade alheia.”82
E agora você talvez esteja se perguntando. “Mas
eu já frequentei diversos lugares onde Jesus não é
adorado e reconhecido, fiz práticas de invocação de
mortos, de entidades, de espíritos, fiz oferendas, ti-
ve muitas outras práticas supersticiosas, atribuindo
poder a cédulas de um dólar na carteira, figa, pé de
coelho, ferradura e outras superstições. E agora?” A
resposta é renunciar. Mais uma vez coloco um ensi-
namento do Mons. Stephen Rossetti sobre o assunto.
“Depois de uma recente sessão de libertação
on-line conosco, uma mulher compartilhou sua
experiência:
‘Pude participar da maioria das sessões e desco-
bri que, a cada uma delas sucessivamente, tenho si-
do cada vez mais capaz de alcançar a cura espiritual.
Por muitos anos, tenho sido afligida por um espírito
maligno que me leva a odiar a Deus e a amaldiçoar
Jesus. Há muito tempo que procuro a libertação.

82 Catecismo da Igreja Católica, 2115-2117.

209
Estou aprendendo a cada sessão como lidar melhor
com os ataques malignos do diabo. Aprendi, em
particular, que devo fazer os 3 R’s… agora sou capaz
de me relacionar com o Senhor Jesus de uma ma-
neira amorosa, sem nenhum sentido da hostilidade,
ressentimento ou raiva anterior’.
Estes três Rs de expulsão de demônios são: re-
jeitar, renunciar e repreender. Em nossas sessões
on-line, assim como em nossos exorcismos solenes
face a face, pedimos às pessoas aflitas que identifi-
quem os espíritos malignos presentes e depois di-
gam os três R’s. Assim, por exemplo, se um indiví-
duo identifica a presença de um espírito maligno de
luxúria, a pessoa então diria: ‘No Santo Nome de
Jesus, eu rejeito, renuncio e repreendo o espírito de
luxúria.”
‘Rejeitar’ é fazer um ato de vontade que diz
com efeito: ‘Eu não quero este espírito malig-
no’. ‘Renunciar’ é devolver quaisquer benefícios
desejados ou recebidos na relação demoníaca.
‘Repreender’ é denunciar com veemência o espírito
maligno. No trabalho de libertação, um passo im-
portante no processo de libertação é cortar a rela-
ção entre o indivíduo e o espírito maligno. Embora
uma simples rejeição fosse provavelmente suficiente,
achamos estes três R’s um pouco mais completos e
decisivos.
Após a pessoa aflita ter rejeitado formalmente
o espírito maligno, o Exorcista pode então invocar
a autoridade da Igreja e mais facilmente expulsá-la.

210
Enquanto todo o processo de expulsão de demônios
pode levar algum tempo, este processo formal de re-
jeitar os espíritos malignos, usando os três R’s, é um
passo importante ao longo do caminho.
Também achei estes três R’s úteis para superar
as tentações normais da vida, que muitas vezes são
alimentadas por espíritos malignos. Sempre que so-
mos tentados, podemos dizer: ‘No santo nome de
Jesus, eu rejeito os espíritos maus de [nomeia a ten-
tação]. Eu os rejeito; renuncio a eles; e repreendo-
-os’. Eu pessoalmente achei isso muito útil. Creio que
outros acharão o mesmo.”83

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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83 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #200: The Three R’s for Cas-
ting Out Demons. Catholic Exorcism. 29 jul. 2022. Disponível em:
<https://www.catholicexorcism.org/post/exorcist- diary-200-the-
-three-r-s-for-casting-out-demons>. Acesso em 05 mai. 2023.
[Tradução nossa]

211
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Senhor Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro,
dai-me a graça de sempre viver na Santa Religião
Católica. Ensinai-me a defender a minha fé contra to-
das as mentiras e seduções das falsas doutrinas. Que
pela luz do Espírito Santo, eu saiba rejeitar, renunciar
e repreender toda mentira e todo mal que existe nas
falsas doutrinas disseminadas pelo inimigo. Amém! 

212
São Miguel apareceu
para defender a honra
de Jesus Cristo; ele
pregou aos anjos a
devida adoração ao
Verbo Encarnado, “E
todos os anjos de Deus
o adorem” (Hb 1,6),
confundiu Lúcifer,
dominou-o e derrotou a
ele e a seus seguidores.
Capítulo 21

Objetos e lugares
contaminados. O valor
da Santa Cruz

Objetos, lugares, animais e plantas podem ser


usados pelo inimigo para de alguma forma atacar os
seres humanos, perturbando-os de alguma forma. É
importante lembrar que o alvo do inimigo não são
nenhumas dessas coisas. O inimigo tem ódio dos se-
res humanos (devemos nos lembrar que o Glorioso
São Miguel derrotou-o após a revelação de Deus aos
anjos que o Verbo iria se encarnar na natureza hu-
mana, e não na natureza angélica). Várias situações
podem ocorrer neste sentido, e é importante fazer o
correto discernimento para não desconfiarmos de
tudo como uma ação do inimigo mas, ao mesmo
tempo, para não sermos enganados por ele achando
que ele não pode agir desta forma.

215
No caso da infestação, ela pode ter acontecido
como consequência de pecados repetidos cometi-
dos em algum lugar. Por exemplo, o Pe. Francesco
Bamonte, presidente da Associação Internacional
dos Exorcistas, esclarece:
“Um critério fundamental para discernir, em
qualquer ocasião, se nos encontramos diante de al-
go que ultrapassa o limite natural, é este: ‘Tudo o
que está além das leis da natureza, se não provém
de Deus, provém de Satanás. Não existem estados
intermediários’. Uma vez excluída, depois de uma ri-
gorosa pesquisa, a causa natural, para compreender
se na origem dos fenômenos elencados existe ou não
existe uma ação extraordinária do demônio, é impor-
tante recordar se aí existe um fato particular, depois
do qual os fenômenos foram iniciados. O conhe-
cimento deste fato nos dará indicações mais claras
para compreender-lhe a possível origem. Por exem-
plo: maldições lançadas sobre aquele lugar; ritos de-
senvolvidos por magos ou feiticeiros que moravam
na casa; delitos cruéis, suicídios ou abortos que se
realizaram naquele lugar (e neste caso são neces-
sários abundantes sufrágios); indivíduos ou seitas
satânicas ou grupos isolados que naquele lugar rea-
lizaram ritos de evocação e de culto ao demônio e
atos sacrílegos e profanações de coisas sagradas (em
todos estes casos são necessárias muitas orações de
reparação); sede de encontro para a organização de
atividades criminosas; presença de algum objeto so-
bre o qual foi realizado um malefício e que depois

216
foi escondido e encontrado naquele ambiente.”84
Neste caso, é muito importante que sejam feitas
orações clamando a libertação da casa, com asper-
são da água benta, bem como a bênção da casa por
um sacerdote. Assim aconteceu com um ministro de
oração:
“Uma família do Distrito Federal me pediu que
a visitasse e fizesse uma oração em sua casa, porque
já fazia alguns anos que aconteciam coisas estranhas.
Eram sons esquisitos, havia uma porta emperrada
no sótão que ninguém conseguia mover mas que, às
vezes, à noite, batia com força sem ter vento algum,
pessoas viam vultos, ouviam vozes e escutavam ba-
rulhos como os de socos na parede. O antigo dono,
por desavenças familiares, morara ali sozinho e, não
suportando os tormentos, tinha cometido suicídio.
Unidos em oração, invocamos o sangue de Jesus so-
bre cada cômodo da casa, rezamos a Deus em cada
ambiente pedindo sua bênção sobre aquele lar.
No dia seguinte, uma moça desconhecida bateu
à porta, pedindo para ver o lugar onde o pai havia
se matado, chorou muito, pediu perdão e também
perdoou o pai falecido. Ela nunca antes havia posto
os pés naquela casa. Mas, pela força da oração que
havíamos feito no dia anterior, algo aconteceu com
ela. Havia sido tocada por Deus, mesmo estando
longe de nós. E Deus a havia trazido para consumar a

84 BAMONTE, Francesco. Possessões diabólicas e exorcismo. São


Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p.75

217
derrota daquele mal. Foi um momento muito bonito
de libertação e perdão. A partir daquela hora, cessou
todo o problema. Tudo se deu num clima de muita
paz e simplicidade, porque para Jesus tudo é muito
simples e Sua presença enche de paz.
Muitas vezes ficamos espantados com nossos
problemas. Achamos que são grandes demais e fi-
camos paralisados ao pensar que não têm solução.
Mas para Jesus não há problemas sem solução, pois
Ele é Deus para quem nada é impossível (cf. Mt
19,26).”85
Atenção! Pode acontecer também o fato de exis-
tir objetos contaminados intencionalmente. Em pri-
meiro lugar, quando empresas ligadas ao inimigo, de
alguma forma, em seus produtos ou em sua publici-
dade, resolvem se aproximar do inimigo. Porém, na-
da como a oração para trazer respostas a cada um de
nós. Trago mais um testemunho que recebemos das
orações do Exército de São Miguel.
“Olá! Hoje me considero uma guerreira do
Exército de São Miguel, essa obra que me resgatou
da tibieza. E eu até pensava que era uma boa católica.
Procurava ser uma pessoa boa, cuidava bem da mi-
nha família, cantava na missa e ia à missa quando eu
‘tinha tempo’. Em maio deste ano conheci o Instituto
Hesed através de um link do Terço do Combate que
minha prima postou no grupo da família. Quando vi

85 MENDES, Márcio. Passos para a cura e libertação completa. Ca-


choeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2017, 144-145.

218
as irmãs cantando, meu Deus!!! Pensei comigo, pare-
ce um coro de anjos, quanta luz, quanta paz!
Confesso que a primeira vez que assisti já era tar-
de e peguei no sono. Mas aquele canal me tocou pro-
fundamente e eu comecei a seguir e descobri tam-
bém o Rosário. No começo, eu não conseguia rezar
na live da madrugada. Eu abria quando acordava e
rezava. Meu sonho sempre foi conseguir rezar um
terço todos os dias e eu nunca conseguia. Quando
vi, estava rezando um Rosário todos os dias! Que
benção! Como minha fé estava cada dia mais vi-
va, como Nossa Senhora estava me transformando
dia a dia!
Passei a ir à missa todos os domingos, me con-
fessei, fiz a formação para consagração total a Maria,
mudei meu modo de vestir, fiz a novena de Nossa
Senhora das Graças, da Imaculada Conceição e,
por último, ontem e hoje acompanhei o Terço do
Combate e o rosário com o padre Fábio Galdino.
Lá no período da novena da Imaculada, o Ir.
Luís Maria propôs que fizéssemos uma faxina em
nossas casas. Cada dia em um cômodo. Assim co-
mo Maria é pura e sem pecado, nossos lares devem
ser limpos e organizados. Aceitei o desafio e come-
cei pelo meu closet. Tirei as roupas da moda, inade-
quadas para mim como consagrada de Maria, tirei
roupas que eu não usava mais para doação, tirei mui-
tas coisas que não me serviam mais e estavam ali só
ocupando espaço… Organizei, limpei, ficou muito

219
lindo! Minha mãe me ajudou e logo eu tinha um am-
biente leve e abençoado.
Ontem à noite no Terço do Combate, o Padre
Fábio exorcizou a água e disse para passar em toda
casa. Assim o fiz. Hoje de manhã novamente. Fui en-
tão guardar umas roupas que foram lavadas e encon-
trei, nas coisas do meu marido, uma camisa com um
símbolo da nova era. Imediatamente tirei do armá-
rio, cortei, rezando e agradecendo ao Espírito Santo
que me guiou para que aquela obra do inimigo fos-
se descoberta. Fui então conferir todas as camisetas
dele, para ver se não tinha mais.
Encontrei várias!!!!! Fiquei chocada com uma
delas de marca famosa que dizia em inglês mais ou
menos assim: ‘Quando eu morrer f*** (palavrão).
Eu irei para o inferno. Não fiz nada para ir para céu
com o Deus morto. Bondade veste branco. Eu gosto
de tempos de trevas e vestes sombrias’.
Eu comecei a passar mal, mãos geladas, corpo
trêmulo. Como é que aquela camiseta satânica esta-
va na minha casa há tanto tempo, anos? E meu ma-
rido a vestia muito! Comecei a cortar todas elas, eu
rezava, eu cantava, eu louvava e agradecia a Deus.
Joguei todas elas no lixo e agradeci a Deus por aquela
libertação. Meu marido estava usando duas delas em
brigas muito sérias, quando ele estava em situações
de perigo.
Louvado seja Deus que liberta seu povo das tre-
vas. Louvado seja Deus pela vida de cada membro

220
do Instituto Hesed que tem sido luz na vida de tantas
pessoas como na minha. Vocês elevam as almas para
mais perto de Deus! Bendito seja Deus pelo dom de
cada um de vocês e também pelo padre Fábio. Deus
os abençoe.”
Antes de encerrarmos, queria ainda contar mais
um caso relatado pelo exorcista Mons. Stephen
Rosseti, e deve fazer nossos olhos ficarem mais aten-
tos a esta realidade às vezes desconhecida.
“Uma de nossas leitoras recomendou que eu
compartilhasse sua história. Ela e sua família fo-
ram as tristes vítimas de maldições ocultas de Vudu.
Como resultado, toda a sua família sofreu muito,
apesar das orações persistentes.
Recentemente, uma boneca de 60 centímetros
foi colocada perto de seu escritório. Eles disseram
que as câmeras de segurança registraram um homem
grande, que parecia estar pulando, colocando o bo-
neco por volta das 4 horas da manhã ao lado do pré-
dio. Eles acreditam que se tratava de um boneco de
vodu amaldiçoado.
Quando o escritório abriu no dia seguinte, um
funcionário chutou o boneco para a rua. Quando
ele chutou a boneca, disse que parecia que ‘ela estava
cheia de pedras duras’ e que machucava seus pés. No
dia seguinte, ele ficou muito doente. Além disso, o
eixo de seu carro quebrou.
Agora, um padre está orando por ele, além
dos cuidados médicos que ele está recebendo.

221
Infelizmente, esse funcionário de escritório não sa-
bia como descartar objetos amaldiçoados.
Recomendamos que as pessoas não toquem em
objetos amaldiçoados com as próprias mãos. Às ve-
zes, as pessoas ficam doentes em decorrência disso.
Normalmente, os leigos podem se livrar desses ob-
jetos. Eles devem usar água benta, pedir a Deus pa-
ra retirar qualquer maldição e se desfazer do objeto
destruindo-o, queimando-o, enterrando-o ou jogan-
do-o em um corpo d’água. O segredo é destruí-lo de
modo que não se pareça mais com o que era. Nesse
momento, todas as maldições e demônios associados
vão embora.
Os objetos podem realmente ser amaldiçoa-
dos. O que dá a eles seu poder maligno é o fato de
o praticante invocar o poder de Satanás, consciente
ou inconscientemente. Ou talvez o objeto tenha se
envolvido em um comportamento pecaminoso fla-
grante. Não sabemos por que Deus permite tal coi-
sa. Mas sabemos que é real porque nós mesmos já
nos deparamos com essa realidade várias vezes.”86

86 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #101: Cursed Objects. Mother


of God. Disponível em <https://motheofgod.com/threads/exorcist-
-diary-website.15808/>. Acesso em 05 mai. 2023. [Tradução nossa].

222
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Pelo auxílio do Poderoso Arcanjo São Miguel, vos pe-
ço Senhor, que ilumine a minha mente para dissipar
da minha vida todos os objetos contaminados que po-
dem estar dentro da minha casa. Que o Arcanjo São
Miguel, valente combatente do mal, me auxilie a ter
discernimento para que toda a contaminação espiri-
tual caia por terra. Amém!

223
Capítulo 22

O poder exorcístico
da Bíblia
Queria começar este capítulo com uma estória
que mostra a importância da Palavra de Deus, e co-
mo devemos valorizá-la:
“Um jovem, ao completar dezoito anos, fez um
pedido ao pai: queria, de presente, um carro zero
quilômetro. Ele acabara de tirar a carteira de mo-
torista e esse era seu maior sonho. O pai organizou
uma festa e convidou os amigos de seu filho. A fa-
mília estava reunida naquela noite especial. O jovem
abraçava os convidados e agradecia os presentes que
recebia. Mas, ansioso, esperava a surpresa do pai, o
carro novo que havia pedido. No meio da festa, o pai
começou a falar: ‘Meu filho, você é a pessoa mais
importante de minha vida. Pensei em comprar um
presente que manifestasse esse carinho que tenho
por você. Espero que goste e guarde para sempre
a carta de amor que Deus nos escreveu.’ Todos fi-
caram curiosos. Que seria? O filho abriu o pacote.
Era a Bíblia Sagrada. A festa acabou. O jovem, re-
voltado e frustrado, jogou a Bíblia no chão e saiu. O
pai, envergonhado e triste, pegou a Bíblia do chão.

225
Desconcertado, desculpou-se pela atitude do filho.
Os anos se passaram. Aquele pai ficou muito
doente e morreu. O filho havia se formado. Estava
bem de vida. Morava bem longe dali. Depois do en-
terro do pai, ele permaneceu mais alguns dias na ca-
sa da família. Arrependido, perguntou para a mãe
onde estava a Bíblia que seu pai lhe dera. Ao abrir a
Palavra de Deus, deparou-se com um bilhete e um
cheque em branco com a assinatura do pai: ‘Meu fi-
lho, esta é uma noite inesquecível para mim! Você
está comemorando seus dezoito anos. Você me pe-
diu um carro zero, mas eu decidi lhe dar o melhor
de todos os presentes: a Palavra de Deus. Ela deve
ser sua maior riqueza, a luz para seus passos, o ali-
mento para sua fome, a água para sua sede. Também
lhe dou um cheque em branco, é para você comprar
o carro que me pediu. Escolha um do seu gosto. Sua
felicidade é minha felicidade.’ Ao terminar de ler o
bilhete, o jovem abraçou a Bíblia e caiu num cho-
ro incontrolável. A mãe o abraçou e o consolou. A
folha do cheque estava amarelada pelo tempo. As
únicas palavras que ele conseguia pronunciar eram:
‘Pai, me perdoe! Pai, me perdoe!’ Mas... era tarde de-
mais. Seu pai não estava mais ali. Havia partido para
a eternidade.”87
Devemos ler e amar a Palavra de Deus o quan-
to antes e, se ainda não começamos, é a hora de

87 JOSÉ, Agnaldo. Os anjos em nossa vida. Rio de Janeiro: Editora


Petra, 2015, p. 97-98

226
começarmos. Quando meditamos no Evangelho a
passagem que narra as tentações de Jesus, após os 40
dias em que Ele passou jejuando no deserto, pode-
mos perceber como as respostas de Jesus ao tentador
foram feitas tendo como base os escritos do Antigo
Testamento. Ou seja: o combate contra o inimigo foi
feito, e a vitória foi alcançada, por meio da Palavra
de Deus.
Já falamos das armas de defesa, quando medi-
tamos a armadura do cristão de Efésios 6. Mas a
Palavra de Deus é uma arma de defesa e de ataque.
Em primeiro lugar, ao tomarmos a Palavra de Deus,
devemos olhar para a nossa vida e ver se estamos vi-
vendo conforme a vontade de Deus, de acordo com
os planos de Deus. Como você está vivendo os ensi-
namentos de Jesus? Esse é o ponto de partida.
A Palavra de Deus não é como as nossas pala-
vras. Dizemos muitas coisas, falamos bastante, mas
são palavras humanas, que falam coisas humanas. A
Palavra de Deus é escrita por Ele, ou seja, Deus é
o seu autor88. Satanás conhece a Palavra de Deus,

88 “As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sa-


grada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo.
Com efeito, a santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera
como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo
Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspi-
ração do Espírito Santo (cfr. Jo 20,31; 2Tm 3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15-16),
têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja”.
In: CONCÍLIO VATICANO II, 1962-1965, Vaticano. Constituição Dog-
mática Dei Verbum. Vaticano: 1965. Não paginado; DV 11. Disponí-
vel em: <https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ ii_vatican_
council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html>.
Acesso em: 05 mai. 2023.

227
mas não crê naquilo que está escrito. Esta é a dife-
rença de cada um de nós para ele. Não conhecemos
tão profundamente a Palavra de Deus, mas acredi-
tamos na Palavra e em seu autor e, por isso, pode-
mos clamar a intervenção e ação de Deus. Não nos
esqueçamos de que “a Palavra de Deus é viva, eficaz,
mais penetrante do que uma espada de dois gumes e
atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e
medulas, e discerne os pensamentos e intenções do
coração” (Hb 4,12). Para percebermos mais do po-
der da Palavra de Deus, vamos ouvir este relato do
Pe. Rufus:
“Eu estava atrasado para vir à missa porque esta-
va atendendo um último caso. Um jovem foi trazido
para mim e, quando eu li no papel, eu vi que ele ti-
nha feito todos os tipos de práticas ocultas. E quan-
do ele sentou diante de mim, eu não estava com me-
do, mas eu estava preocupado porque era um jovem
forte com cabelo grande, como esses jovens hippies,
com argolas nas orelhas, não uma, mas várias, tam-
bém com um piercing de lado, as mãos e os braços
cheios de tatuagem e quando ele se sentou diante de
mim eu pensei: se eu for rezar sobre ele, e o demônio
ficar furioso, ele pode me atacar.
E eu olhei para aquele jovem hoje e pensei: ‘eu
tenho que tomar uma decisão, vou ter que rezar por
ele é agora ou mais tarde?’ Então eu tomei coragem
e impus as minhas mãos sobre a sua cabeça e eu orei
por ele. Para a minha grande surpresa não hou-
ve nenhuma manifestação. Eu fiquei surpreso. Eu

228
pensei nesse caso que deveria ser uma manifestação
violenta e muito demorada.
Então eu fui informado pela pessoa que estava
ajudando de como esse jovem chegou até ele. O se-
minarista deu uma Bíblia para ele. Então esse jo-
vem contou que por um ano todo ele estava lendo a
Bíblia todos os dias. Então eu pensei: ‘é por isso que
não houve manifestação’. Então eu pude perceber,
mais uma vez, como a palavra de Deus por si mesma
tem o poder de cura e de libertação! Portanto, lem-
brem-se do arcanjo Gabriel, ele está nos lembrando
da palavra de Deus.”89
Fenomenal! A leitura diária da Palavra de Deus
libertou aquele homem que invocara o inimigo tan-
tas vezes. Quanto poder exorcístico tem a Palavra
de Deus! Eu disse há pouco que a Palavra de Deus
é uma arma de ataque. Preste atenção! Quando nós
sabemos de cor (a origem da expressão é saber de
coração, no nosso interior, algo que ninguém pode
roubar — “cor” em latim significa coração) algu-
ma palavra da Sagrada Escritura, num momento de
combate espiritual, de tentação mais forte do inimi-
go, ou mesmo em uma situação de opressão, deve-
mos nos lembrar de um versículo que nos ilumina.
Assim, num momento de prova, lembramo-nos:
“Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).

89 PEREIRA, Rufus. O Poder da Palavra e do Louvor para a Cura e


Libertação. Padre Rufus. Disponível em <http://www.padrerufus.
net.br/2012/08/o-poder-da-palavra-e-do-louvor- para_17.html>.
Acesso em 05 mai 2023.

229
Numa tentação de tristeza: “Alegrai-vos sempre no
Senhor. Repito: alegrai-vos! O Senhor está próxi-
mo” (Fl 4,4-5). Se aparece uma grande tribulação e o
inimigo sugere que Deus se esqueceu de nós: “Com
efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos
de Cristo, crescem também por Cristo as nossas con-
solações” (2Cor 1,5). Se o inimigo faz parecer que
fomos rejeitados por Deus: “Pode uma mulher es-
quecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura
pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o es-
quecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49,15). E
por aí vai… Não é mágica, mas é uma experiência
com Deus por meio da Palavra, fruto da convivên-
cia com ele na intimidade.
“É preciso treinar, meditar, orar com a Palavra,
aplicá-la na vida, deixá- la nos questionar e provo-
car a reação da vida nova. Necessitamos, dia após
dia, empunhar esta espada espiritual, pois ela está
sobrecarregada de força e de poder de Deus, para
que, quando a usarmos, ela neutralize toda a força
do mal: ‘Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil
para ensinar, para argumentar, para corrigir, para
educar conforme a justiça. Assim, a pessoa que é de
Deus estará capacitada e bem preparada para a boa
obra” (2Tm 3,16-17).
Temos que nos apoderarmos com responsabi-
lidade dessa arma poderosa na nossa luta contra
Satanás e seus demônios, pois fomos munidos pe-
lo Senhor para vencermos, e só sairemos derrota-
dos desta luta espiritual se não nos adestrarmos na

230
utilização da armadura de Deus, em especial, a es-
pada do Espírito.
Deus nos levantou para vencermos, e com Ele
caminharemos em vitória, reconquistando para o
Reino de Deus tudo aquilo que o Diabo tentou rou-
bar. É a hora de assumirmos uma posição no comba-
te e experimentarmos a vitória que vem do Senhor.”90

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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90 LUIS, Roger. E se nós orarmos? Cachoeira Paulista (SP): Editora


Canção Nova, 2018, p. 195-196.

231
Oração:
Glorioso São Miguel, na batalha travada no céu,
vencestes o inimigo com a espada do Espírito que é a
Palavra de Deus. Vem em nosso socorro, ajuda-me a
amar verdadeiramente a Palavra de Deus, a ter um
encontro pessoal a cada dia com Jesus. Que a Bíblia
possa ser em meu lar uma arma poderosa de exorcis-
mo do espírito do mal. Amém!

232
Capítulo 23

Não se deixe derrotar


pelo desânimo

No último capítulo dessa parte do nosso livro


que fala dos ataques espirituais, eu queria falar de
um dos ataques mais insidiosos do inimigo, que é o
desânimo. Este ataque é terrível porque quer afastar
a pessoa afligida da comunhão com Deus, quer afas-
tar a pessoa da fonte de vida, que é a oração. Santa
Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, fala assim sobre a
oração, que é a fonte da nossa vida espiritual: “co-
mo Sua Majestade (Deus) compreendeu a nossa fra-
queza, atendeu a todos por ser quem é. Mas Ele não
disse: ‘Venham uns por este caminho e outros por
aquele’. Em vez disso, foi tão grande a Sua miseri-
córdia que a ninguém impediu de procurar chegar a
essa fonte de vida e dela beber. Bendito seja Ele para
sempre!”91

91 TERESA DE JESUS, S. Caminho de Perfeição, 20,1. In: TERESA DE


JESUS, S. Obras Completas. São Paulo: Edições OCD e Edições
Loyola, 1995, p. 360.

234
O desânimo pode bater à porta do coração de
alguém, quando algo que se pede a Deus acaba de-
morando meses, anos… Parece que a oração não
está tendo efeito, não está alcançando o coração de
Deus. Pode acontecer o desânimo diante de fracas-
sos repetidos, após os quais nos sentimos sem forças
para tentar de novo. Pode surgir também o desâni-
mo diante de sofrimentos repetidos e insistentes, que
parecem não passar.
“Temos um terrível Inimigo que deseja nos ator-
doar pelas tristezas. Satanás e seus anjos diabóli-
cos fazem de tudo para que fiquemos tristes, de-
primidos, sem esperança e não creiamos no amor.
Querem que nos sintamos derrotados, fracassa-
dos, presos e inertes em nossas dores, amarrados
nas decepções e mágoas, acorrentados nos remor-
sos, prisioneiros dos erros do passado para, assim,
conseguirem o seu intento principal que é nos fazer
sentir desamparados e desesperados. O demônio
sabe que a ‘alegria do Senhor é a nossa força’ (cf. Ne
8,10). É seu objetivo nos distanciar de Deus e nos
manter separados d’Aquele que é o nosso Libertador
e Consolador.”92
E é por isso que não podemos desistir. O pro-
feta Elias tinha enfrentado já grandes provas e so-
brevivera a todas. Era o único profeta de Deus que
restava em Israel, pois a megera Jezabel, casada com

92 TANNUS, Roberto. Vi tuas lágrimas, vou curar-te. Goiânia: Editora


Gólgota e Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2022, p.
23.

235
o Rei Acab, tinha trazido para o reino de Israel o cul-
to a Baal e Astarte, e somente Elias estava exortando
o povo a permanecer firme na aliança. Foi quando
Elias resolveu fugir, para preservar a própria vida (cf.
1Rs 19). Sua situação estava muito difícil, e o desâ-
nimo se apresentou com toda a sua força. Foi aí que
Deus enviou o Seu anjo para consolá-lo, para prote-
gê-lo e guardar. O Pe. Nicola Ricci, grande especia-
lista no estudo dos anjos e na devoção a São Miguel,
esclarece uma opinião altamente considerada de que
o anjo que confortou Elias foi ninguém menos que
São Miguel:
“É ele (São Miguel) quem conforta e consola o
coração medroso, como observa São Bernardo, aju-
da-o no agir, quer dizer, aperfeiçoa o coração do
justo, torna-o livre e resolvido no agir, eliminando
qualquer dificuldade. Faz com a alma justa como
fez com Elias, perseguido por Jezabel, o qual estava
aborrecido, debilitado, deitado sob um junípero, e
pedia a Deus para morrer; pois parecia-lhe tão difí-
cil viver com tantas perseguições. São Miguel, apa-
recendo-lhe, reanima, revigora, consola e conforta-
-o, dizendo-lhe: levanta-te, come e caminha; Elias,
revigorado, prosseguiu a sua viagem até o monte de
Deus. Da mesma forma, São Miguel proporciona à
alma justa restauração, vigor, conforto; e fala: ‘levan-
ta- te, come e caminha’. Levanta-te, para superar as
dificuldades; come, ou seja, saboreie as suaves delí-
cias da graça, e caminha vivamente pela via da santa

236
lei para subir o monte da perfeição”93
Veja como Deus nos socorre e nos auxilia nos
nossos desânimos e nas nossas tribulações, que mui-
tas vezes parecem continuar tanto, enviando o so-
corro dos Santos Anjos para nos ajudarem! Sempre
devemos ter a certeza de que o Santo Anjo está ao
nosso lado.
“Depois de ter sofrido um violento ataque diabó-
lico, Santo Pio de Pietrelcina queixou-se com o seu
Anjo da Guarda: ‘...Queixei-me disto com o Anjinho
e esse, depois de me admoestar, acrescentou: —
Agradece a Jesus que te trata como quem foi eleito
para acompanhá-lo de perto na subida do Calvário;
ó alma confiada por Jesus aos meus cuidados, eu vejo
com alegria e íntima comoção essa atitude de Jesus
para contigo... Eu, que na santa caridade, muito de-
sejo o teu bem, fico cada vez mais feliz vendo-te nes-
te estado. Jesus permite estes assaltos do demônio
porque a sua piedade te torna caro a Ele; Ele quer,
portanto, que te pareças com Ele nas angústias do
deserto, do horto e da cruz. Defende-te, afasta sem-
pre com desprezo as malignas insinuações; e quan-
do as tuas forcas não forem suficientes para alcan-
çar essa meta, não te aflijas, dileto do meu coração,
eu estou perto de ti.”94
93 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quares-
ma de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Insti-
tuto Hesed, 2021, p. 101.

94 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Em comunhão


com os Anjos, nossos irmãos e amigos. Belo Horizonte: Editora da
Divina Misericórdia, 2003, p. 158-159.

237
O Santo Anjo da Guarda está, sim, ao nosso la-
do. Não devemos nos esquecer nem desanimar, mas
caminhar ao lado dele com perseverança. Convido
você a contemplar mais uma das grandes graças que
Deus derramou por meio do Exército de São Miguel.
“Santa noite irmãos e irmãos. A paz do nosso
amado senhor Jesus Cristo. Me chamo Fernanda e
sou de Brasília. Eu dei meu testemunho, há um tem-
po atrás, de uma graça recebida a respeito de uma ne-
gativa de uma execução judicial pelo STJ. Que graça!
Como eu havia testemunhado, perdi minha mãe
por uma morte súbita em meio a uma viagem, se-
te dias antes do meu aniversário. Após muitas bata-
lhas, hoje eu posso dizer: ‘eu sou uma guerreira do
Exército de São Miguel’!
Jesus, Nossa amada mãezinha Maria, os Santos
Anjos e todos os nossos amigos santos, me salvaram
através de vocês irmãos. Venho enfrentando muitas
provas, mas sigo firme, irmãos. Sempre em nosso
amado Rosário, Pompeia, Terço da misericórdia e o
nosso exército de São Miguel, escutando a palavra e
mantendo a leitura diária da Bíblia. Quantas bênçãos
irmãos! A maior delas: minha conversão diária! Esó
tenho a agradecer vocês irmãos.
Bom, final de novembro de 2019, eu fiquei de-
sempregada. Trabalhava para a minha irmã e um dia
ela chegou discutindo comigo por algo que nem mes-
mo eu entendi. Ela me pagava um valor para ajudar
nas minhas contas e o tirou, e também me demitiu.

238
Desmoronei. Não pelo dinheiro (claro que isso me
deixaria muito mal financeiramente), mas o que me
machucou foi a atitude da minha irmã. Minha irmã
ainda me disse: ‘Quero ver você conseguir se manter.
Você vai afundar, não dará conta.’
Mas eu não desisti e reforcei as orações. Rezei
mais, me aproximei mais da Bíblia, passei a ir às
missas diariamente, passei a me confessar semanal-
mente, passei a visitar Jesus todos os dias no sacrá-
rio, e a paz fez morada em mim.
Contas atrasadas, sem ter o que comer em casa,
perdendo meu carro; motivos não faltavam para eu
desistir da fé. Mas eu não aceitei o desânimo, eu me
agarrei em Deus e em nossa Mãe Maria. Eu sabia,
irmãos, eu sabia que Deus viria em meu socorro.
Sempre repetia a Maria: ‘Nunca se ouviu dizer que
um filho seu que recorre a seu auxílio e socorro fosse
por Vós desamparado.’
Precisava urgente de um emprego. Precisava me
manter firme nas orações para pedir a conversão da
minha família. E… Nossa Mamãe do Céu veio em
meu auxílio! Consegui um emprego. Do lado da mi-
nha casa, do jeitinho que sempre pedi em minhas
orações. Que graça alcançada irmãos! Parei de re-
zar? Não! E sabem por que? Porque eu entendi que
a vontade de Deus é maior e melhor do que a mi-
nha vontade. E vocês acham que as graças pararam
por aí?

239
A maior graça chegou! Minha sobrinha, afastada
da igreja, me mandou uma mensagem (do nada, sem
eu pedir), pedindo para eu levá-la para a missa, por-
que ela estava sentido falta da Santa Missa!
Meu Deus!!!!! Como expressar a alegria que eu
senti? Não tem como explicar irmãos! Ela se confes-
sou e domingo iremos à Santa Missa. Que graça! O
tempo de Deus é perfeito! Quando ele começa uma
obra, ele não para pela metade. Deus é bom todo
tempo! Todo tempo, Deus é bom!
Não recebemos as graças porque somos perfei-
tos. Recebemos as graças porque aprendemos, com
vocês irmãos, a confiar e a entregar a nossa vida a
Deus! Aprender que o tempo de Deus é melhor do
que o nosso, é o segredo.
Não desistam! Mesmo com as provações, eu
continuo passando por várias provações, irmãos, e
muitas. Algumas provações, só um milagre de Deus
para resolvê-las. Mas não desistam! Redobrem as
orações! Entreguem! Confiem em nosso Deus e em
nossa mãezinha! Eles nos escutam! Eles nos susten-
tam! Permaneçam firmes! Agradeçam as provações.
Elas nos ensinam o caminho de Jesus e para Jesus. O
deserto é a nossa escola. E é lá que as nossas graças
chegam. Vamos firmes na quaresma!
Amo vocês irmãos! Espero conhecê-los um dia.
Amo cada um do exército de São Miguel! Somos uma
família abençoada por Jesus e Maria. Com amor e
carinho, Fernanda.”

240
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Glorioso São Miguel, vinde em meu auxílio para que
vivendo sob a Vossa proteção, eu seja capaz de lutar
contra todo o desânimo que possa vir a bater à porta
do meu coração. Dai-me forças para vencer as triste-
zas e que eu jamais permita que a desesperança acor-
rente o meu coração. Amém!

241
PARTE V

DERROTANDO
O NOSSO MAIOR
INIMIGO
Capítulo 24

O maior problema
da nossa vida

Começamos mais uma parte do nosso cami-


nho de libertação do mal, com o auxílio dos Santos
Anjos. E agora chegamos ao ponto mais importan-
te, que é o de tomarmos consciência do maior ini-
migo de nossas almas, do maior problema que de-
vemos enfrentar. São João da Cruz, o grande doutor
místico, nos esclarece que “todos os danos recebidos
pela alma procedem de seus já citados inimigos, isto
é: mundo, demônio e carne. O mundo é o inimigo
que menos dificuldades oferece. O demônio é o mais
obscuro de entender. A carne é o mais tenaz deles e
suas arremetidas duram enquanto durar o homem
velho. Para vencer qualquer destes inimigos, é mis-
ter vencê-los os três e, enfraquecendo um, se enfra-
quecem os outros dois, e, vencidos estes três, cessa a
guerra para a alma.”95

95 JOÃO DA CRUZ, S. Cautelas. In: JOÃO DA CRUZ, S. Obras Comple-


tas. Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 1991, p. 114.

243
Falamos já do mundo e do demônio, que querem
nos afastar de Deus. Mas agora falaremos do nos-
so maior e mais difícil inimigo, que está em nós: o
nosso pecado. Antes de mais nada, vamos buscar no
Catecismo da Igreja Católica a definição de pecado,
conforme a Doutrina da Igreja nos apresenta:
“O pecado é uma falta contra a razão, a verdade,
a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro
para com Deus e para com o próximo, por causa de
um apego perverso a certos bens. Fere a natureza do
homem e ofende a solidariedade humana. Foi defi-
nido como ‘uma palavra, um ato ou um desejo con-
trários à lei eterna’.”96
Em primeiro lugar, é importante percebermos
que o pecado é uma derrota na nossa caminhada
com Jesus para o Céu. Estamos combatendo na nos-
sa vida o homem velho, pedindo a Deus que faça re-
nascer o homem novo em nós, pois o nosso processo
é renunciar às obras da carne para viver as obras do
Espírito. Assim, quando o inimigo nos tenta e acaba-
mos caindo em pecado, experimentamos uma pro-
funda derrota e o inimigo grita vitória diante de nós.
Deus espera que reconheçamos o nosso pecado e, as-
sim, ele possa trabalhar em nossas almas libertando-
-nos de todos os pecados.
“Os pecados podem se constituir em fonte de
doenças e infelicidade. De início, o pecado pode
dar prazer, parece bom e agradável. No entanto, seu

96 Catecismo da Igreja Católica, 1849.

244
final é a morte. O pecado pode nos levar à morte fí-
sica e espiritual. É preciso romper com todos os laços
do pecado, pois são eles a principal causa das nossas
desgraças e nos separam de Deus, o Único em quem
podemos ter a alegria perfeita e perene: ‘Não, não é a
mão do Senhor que é incapaz de salvar, nem seu ou-
vido demasiado surdo para ouvir, são vossos pecados
que colocaram uma barreira entre vós e vosso Deus.
Vossas faltas são o motivo pelo qual a Face se oculta
para não vos ouvir’ (Is 59,1-2). O pecado nos causa
uma chaga que pode ser incurável, se não acudida a
tempo. Ele é a principal causa da desorganização da
vida financeira, familiar, afetiva e espiritual.”97
Você já prestou atenção que muitas vezes damos
desculpas para o pecado? Uma mulher pode dizer
que acabou perdendo a paciência com seu esposo,
mas explica: “o senhor, sabe, né, irmão? O meu es-
poso é muito bagunceiro, deixa tudo desarrumado!”
Na realidade, ela perdeu a paciência porque não sou-
be, aos poucos, ajudar o seu esposo a perceber que a
bagunça a feria, e que atitudes simples do dia a dia
poderiam mudar isso. Outro caso: Um homem faz
uma ultrapassagem perigosa, numa curva, com linha
dupla amarela, colocando a sua vida e a de outros
em risco. E depois diz: “não tem condições! Com um
carro lento desse jeito na minha frente, numa rodo-
via… É um absurdo! Alguém precisa multá-lo. Tive
que ultrapassar na curva para não chegar atrasado!”

97 TANNUS, Roberto. Rompendo as cadeias: Novena de Libertação.


Goiânia: Editora Gólgota, 2017, p. 51.

245
E, na realidade, o carro à frente estava dentro dos li-
mites de velocidade permitido pela via, e o homem
que fez a ultrapassagem, esse sim é que precisava de
uma multa, por ter ultrapassado em local proibido.
E pecou por ter sido imprevidente (talvez tenha sido
até preguiçoso) e não ter saído no horário.
“Afinal, quando as pessoas nos provocam a pe-
car, elas estão apenas revelando as nossas fraquezas.
Se, por exemplo, eu tiver que abrir as janelas e por
isso acabo pegando um resfriado, mas os outros que
estão no mesmo ambiente não ficam, significa que o
fato de eu abrir as janelas revelou uma fraqueza em
mim. Se você me provocar e por isto eu fico com
raiva, a culpa não será sua. Você estará apenas me
revelando uma fraqueza que está dentro de mim.
Significa que não sou ou não estou forte o suficien-
te para resistir à sua provocação. É por isso que o
Cardeal Suenens disse: ‘No momento em que eu per-
ceber que sou um pecador, então poderei iniciar mi-
nha caminhada rumo à santidade’.”98
O nosso Santo Anjo da Guarda ajuda-nos tre-
mendamente na nossa caminhada de reconhecimen-
to do pecado e de encontro com o Pai das misericór-
dias. Muitas vezes acabamos negligenciando as faltas
mais leves (vamos falar sobre isso nos próximos ca-
pítulos). Por agora, ouçamos essa narrativa da gran-
de Santa Gemma Galgani que nos ensina a obedecer
ao nosso Santo Anjo da Guarda.
98 VELLA, Elias. O leão que ruge ao longo do caminho. São Paulo:
Editora Palavra & Prece, 2007, p. 78.

246
“Também à Santa Gemma Galgani, como ela
mesma nos deixou escrito, não faltavam as repro-
vações angélicas que julgava, às vezes excessivas e
implacáveis:
‘O Anjo da Guarda... começou a se fazer de meu
mestre e guia: me repreendia toda vez que eu co-
metesse alguma falta, me ensinava a falar pouco e
só quando fosse interrogada!… Me ensinava a ter
os olhos baixos. E, até na igreja, me repreendia com
força dizendo-me:
— É assim que se fica na presença de Deus?.
E, em uma ocasião, o Anjo da Guarda se fez sé-
rio e severo: eu não soube adivinhar a causa, mas
ele, a quem nada posso esconder, me perguntou, em
tom severo, o que eu estava fazendo. E aqui me re-
cordou dois pecados cometidos no decorrer do dia.
Deus meu, que severidade! Pronunciou estas pala-
vras muitas vezes: ‘Envergonho-me de ti’.
Não nos causa admiração este comportamento
do Anjo da Guarda: se tenha presente que ele age
sempre em perfeita concordância com o querer di-
vino, do qual é uma providencial manifestação. De
quem mais recebeu, exigir-se-á mais (cf. Lc 12, 48),
por isto aos Santos mais agraciados pelos excepcio-
nais dons místicos é exigida uma perfeição mais alta.
O Anjo de Santa Gemma Galgani, ardente de ze-
lo pela glória de Deus e desejando que, da perfeição,
a sua protegida não subtraísse nem mesmo uma mí-
nima parte com as suas imperfeições, lhe comunicou

247
uma vez estes avisos, como escreve no seu diário: ‘O
Anjo da Guarda disse-me para pegar um papel e es-
crever aquilo que ele me ditaria. Eis tudo: ‘Recorda,
minha filha, que quem verdadeiramente ama Jesus,
fala pouco e suporta tudo. Ordeno-te, da parte de
Jesus, de não dizer nunca o teu parecer, a não ser que
te peçam; de nunca fazer com que os teus sentimen-
tos prevaleçam, mas de ceder logo aos sentimentos
alheios. Tens que obedecer pontualmente ao teu con-
fessor e a quem ele quiser que tu obedeças. Quando
tiveres cometido qualquer falta, acusa-te sem esperar
que te peçam. Enfim, recorda-te de guardar os olhos
e pensa que o olho mortificado verá as belezas do
Céu’.”99
Impressionante quanta atenção com a alma de
Santa Gemma, quanto cuidado com a sua protegida.
Ainda que não tenhamos a mesma graça que Santa
Gemma, de ver e ouvir com nossos sentidos o nosso
Santo Anjo, devemos ser sempre dóceis às suas ins-
pirações, pois a sua missão é levar- nos para o Céu e,
para isso, devemos morrer para o pecado.

99 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Em comunhão


com os Anjos, nossos irmãos e amigos. Belo Horizonte: Editora da
Divina Misericórdia, 2003, p. 173.

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Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Para vencer os inimigos da alma: o mundo, o demônio
e a carne, recorro a vós, Poderoso São Miguel, e con-
fiante em seu poder suplico por forças para vencer o
pecado. Envia, Jesus, os Santos Anjos para me ajuda-
rem a combater toda raiz de pecado em minha alma
e todas as consequências que ele deixou em mim. Que
meu anjo da guarda me ajude a fugir das ocasiões que
podem me levar a cair. Amém!

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Capítulo 25

Vícios que paralisam

Os vícios são hábitos de pecado — pecados re-


petidos que acabam dominando a pessoa que os co-
mete. Assim ensina o Catecismo da Igreja Católica:
“O pecado cria uma propensão ao pecado; gera o ví-
cio pela repetição dos mesmos atos. Disso resultam
inclinações perversas que obscurecem a consciên-
cia e corrompem a avaliação concreta do bem e do
mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e a re-
forçar-se, mas não consegue destruir o senso moral
até a raiz.
Os vícios podem ser classificados segundo as
virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos peca-
dos capitais que a experiência cristã distinguiu, se-
guindo S. João Cassiano e S. Gregório Magno. São
chamados capitais porque geram outros pecados,
outros vícios. São o orgulho, a avareza, a inveja, a ira,
a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.”100

100 Catecismo da Igreja Católica, 1865-1866.

251
Queria partilhar com você mais uma história do
Pe. Rufus, que mostra o que pode acontecer quan-
do alguém se deixa levar pelo vício. No caso deste
homem, o alcoolismo, que está ligado ao pecado
da gula:
“Aconteceu, durante a semana de Páscoa, en-
quanto eu ia até as casas que fazem parte da minha
paróquia para abençoar esses lares, que eu bati na
porta de uma delas, toquei a campainha, mas não
obtive resposta. Os coroinhas que estavam comigo
disseram: ‘Padre, não entre nessa casa. Aí mora um
alcoólatra’. Respondi-lhes: ‘Sei disso. Mas ouvi dizer
que ele melhorou e que ele, inclusive, inscreveu-se
no grupo dos alcoólicos anônimos’.
Naquele mesmo momento, a janela da casa vi-
zinha abriu-se e uma mulher apareceu e me disse:
‘Padre, não vá nesta casa! O homem que mora aí é
um porco. Sua casa já está como um chiqueiro!’
Se eu fosse como antes, teria ido embora. Mas,
depois que tive o meu encontro com Jesus de manei-
ra tão pessoal, eu já não era o mesmo. Então, disse
àquela senhora: ‘Minha boa mulher, eu não vim sim-
plesmente abençoar construções. Eu vim abençoar
lares!’
Continuei batendo à porta até que a abriram.
Eu reconheci aquele homem. Era uma das pessoas
mais brilhantes que viviam por ali. Pertencia a uma
das famílias mais proeminentes de Bombaim. O seu

252
sobrinho era professor do seminário. Sua sobrinha
era provincial de uma congregação religiosa. E ele
havia se tornado como que a ovelha negra da famí-
lia devido ao alcoolismo.
Depois de abrir a porta, ele se desculpou pela
demora. Quando entrei em sua grande casa para
ministrar a bênção, percebi que ele realmente vivia
como um porco! Seus olhos avermelhados, cabelos
despenteados. Sua casa parecia mesmo um chiquei-
ro com fezes e vômitos por toda a parte. A não ser
pelos shorts, estava praticamente sem roupas. Na ca-
sa, já não havia móveis.
Depois de dar a bênção e já de saída, refleti so-
bre quanta tristeza ele tinha causado à sua família. O
casamento fora destruído. Perdera seus bens e havia
se tornado pobre. Voltei-me, então, para ele e, cheio
da compaixão de Jesus, falei-lhe com autoridade:
‘Espero que você possa mudar’. Foi tudo o que eu
disse: ‘Espero que você possa mudar!’
Deus ouviu o que eu disse. Jesus ouviu cada uma
de minhas palavras. Maria ouviu esse meu clamor! E
o homem, voltando-se para mim, clamou: ‘Eu quero
mudar! Diga-me como!’. Nunca me esquecerei da-
quelas palavras. Eu não sabia o que fazer. Não sabia
o que responder. Mas Deus, que tudo sabe, já estava
ali presente.
O Espírito Santo conduziu o meu olhar para o
canto daquela grande sala onde havia uma estátua

253
do Sagrado Coração de Jesus. Com os olhos fixos
naquela belíssima imagem, eu o intimei: ‘Quero que
você diga... quero que você prometa a Jesus que, a
partir deste momento, você não vai mais beber nem
sequer uma gota de álcool’.
Até hoje, não sei como aquelas palavras fo-
ram saindo da minha boca. Só posso dizer que foi
o Espírito Santo, Ele é o responsável. Somente o
Espírito Santo poderia colocar tais palavras na mi-
nha boca!
Eu havia acabado de entrar na Renovação
Carismática e senti-me compelido a conduzir aquele
homem para uma oração a Jesus! Em primeiro lugar,
uma oração de arrependimento. Essa foi a primei-
ra coisa: o arrependimento. Depois, a uma oração
em que perdoava as pessoas que o feriram. Em se-
guida, a uma oração em que renunciava a todas as
práticas ocultas das quais ele havia participado. Por
fim, uma oração em que convidava Jesus para que
entrasse em seu coração e o enchesse com o Espírito
Santo. Foi isso o que aconteceu.
Ao sair da casa, eu estava de volta ao normal. E
se, naquele momento, alguém me perguntasse: ‘você
acha que sua oração ajudou aquele homem em algu-
ma coisa?’ Eu certamente teria dito: ‘Acho que não!’
Mas Deus ouviu a oração que fizemos! Deus ouve a
nossa oração. Ele sempre nos ouve! Em todos esses
anos de ministério, eu nunca vi uma oração que não
tenha sido respondida.

254
Um ano mais tarde, eu e os outros quatro padres
da nossa paróquia fomos convidados para uma festa
numa casa famosa. Havia gente por toda a parte. O
anfitrião da festa levantou-se e disse: ‘Vocês devem
estar se perguntando por que eu os convidei para es-
sa festa. Qual é o motivo para festejarmos? Também
devem estar se perguntando por que estamos ser-
vindo somente refrigerante e suco.’ Ele continuou:
‘Porque, um ano atrás, um padre veio até esta casa…’
À medida que ele continuava a contar, meus ca-
belos se arrepiavam. Ele estava se referindo à visita
que lhe fiz exatamente um ano atrás! O homem ha-
via ficado firme à promessa que fez a Jesus. A partir
daquela oração, da minha oração de um ano atrás,
ele não havia mais tocado numa gota de álcool se-
quer. As orações são sempre respondidas! Sempre
respondidas!
Pouco a pouco, aquele senhor foi formando um
grupo de ex-alcoólatras e mais tarde receberia os
agradecimentos do presidente da Índia por seu tra-
balho com eles. Incansável em sua missão, ia em bus-
ca de cada alcoólatra de Bombaim! Tornou-se um
grande escritor, um grande palestrante, um grande
ator! Você pode imaginar quão forte era o testemu-
nho dele! Sempre terminava seu discurso com duas
frases. E é com elas que também eu quero concluir
esta história.
Dizia: ‘Eu agradeço a Deus, meu Pai, que me
deixou cair até as valetas de Bombaim. Se eu não

255
tivesse chegado a tal ponto, nunca teria sabido o
quanto Deus Pai me ama’.”101
Existe esperança. Não há pessoa, por mais gra-
ves que sejam os vícios nos quais ela está vivendo,
que não consiga superar esses vícios com o auxílio
da oração.
A luta contra os pecados capitais deve ser ago-
ra e por toda a nossa vida; uma luta que travamos
em cada instante e, para isso, Deus nos deu como
auxiliar o nosso Santo Anjo da Guarda, que nos da-
rá santas inspirações e nos advertirá quando estiver
em risco de cairmos no pecado, ajudando-nos a nos
libertarmos dos vícios. Vale-nos também o grande
socorro do Arcanjo São Miguel. Acompanhemos a
grande graça dada por ele à Santa Eudóxia, mártir do
início do Cristianismo.
“A grande Caridade de São Miguel Arcanjo res-
plandeceu para com Santa Eudóxia, a célebre pecado-
ra, e depois grande penitente, e finalmente mártir de
Jesus Cristo, no início do século II, sob o reinado do
imperador Trajano. Oriunda da Samaria, veio morar
em Heliópolis, apenas com a finalidade de viver com
maior liberdade as suas depravações. Convertida por
meio do monge São Germano, e após distribuir aos
pobres as suas riquezas, acumuladas às custas dos
seus obscenos trabalhos, e libertando os seus escra-
vos, passou (antes de receber o batismo) sete dias

101 PEREIRA, Rufus e MENDES, Márcio (org.). Eu lhes trago melhora


e cura. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2019, p. 71-75.

256
num quarto em jejuns e orações, sem ver ninguém,
conforme ordem do santo monge. Ele foi visitá-la,
como ela tinha pedido, e logo que ela o viu (eis os
favores de Deus pelas mãos de São Miguel), disse ela
em voz alta:
‘Agradecei a Deus, meu Pai, pelas graças que Ele
quis me conceder, apesar de eu não ser digna. Passei
os seis dias do meu retiro chorando os meus pecados,
e cumprindo exatamente todos os devotos exercícios
que me prescrevestes. No sétimo dia, prostrada com
o rosto no chão, eu me vi, de repente, circundada por
uma grande luz que me deslumbrava. Vi ao mesmo
tempo um jovem vestido de branco, com um ar se-
reno, que, pegando a minha mão, me levantou até o
Céu, onde me pareceu ver uma multidão de pessoas
vestidas como ele, as quais, mostrando uma extre-
ma alegria em me ver, me parabenizaram, pois um
dia faria parte da mesma glória. Enquanto estava
inteiramente ocupada na visão, eu vi um monstro
horrível, que se lamentava com Deus com gritos
horríveis, porque Ele lhe havia tomado uma pre-
sa, que por tantos títulos era dele. Foi quando uma
voz vinda do Céu o afugentou, dizendo que agrada
à bondade infinita de Deus o ter piedade dos pe-
cadores, que se arrependem fazendo penitência.
A mesma voz, me dando esperança de contar com
uma particular proteção pelo resto de minha vida,
ordenou ao meu condutor, que entendi ser o Arcanjo
São Miguel, de me recolocar no lugar, onde eu me
encontrara’. E, de fato, esta nova samaritana foi tão

257
valorosamente protegida por São Miguel, que depois
de uma vida penitente e santa, acompanhada de tan-
tos milagres e estupendas conversões, nela triunfou
finalmente a graça de Jesus Cristo, quando foi deca-
pitada por ter confessado a fé cristã no dia 1º de mar-
ço do ano 114.”102

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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102 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Qua-


resma de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza:
Instituto Hesed, 2021, p. 113-114.

258
Oração:
Santo Anjo da minha Guarda, a qual Deus me deu co-
mo auxiliar. Nesse momento de aflição e angústia que
se instala em minha vida em decorrência dos vícios,
vinde e socorrei-me. Dai-me santas inspirações para
que eu seja liberto de todos os vícios, e esteja atento
para não ofender Nosso Senhor com meus pecados.
Amém!

259
Procure, o Cristão,
a exemplo de São
Miguel, acender no
seu coração um amor
verdadeiro, sincero e
constante ao Divino
Salvador.

261
Capítulo 26

O perigo do pecado
de estimação

Hoje em dia, cada vez mais pessoas têm escolhi-


do ter um animal de estimação — um cachorro de
proteção para a casa, ou mesmo um pequeno cão-
zinho que acompanha o dia a dia da família, os ani-
mais têm feito a alegria de muitas crianças e adultos.
Não há nenhum problema em ter um animal de esti-
mação, mas há grandes problemas em ter um pecado
de estimação.
Mas, afinal, o que é um pecado de estimação?
Normalmente as pessoas chamam de pecado de
estimação os pecados veniais, que a pessoa repete
muitas vezes em suas confissões, e que acabam por
diminuir a caridade, enfraquecendo a pessoa no
seu caminho de santificação. Diante de um pecado
mortal, que o cristão comete deliberadamente, a res-
posta esperada é a de um arrependimento imediato,
e logo a busca da confissão. Assim é que os católi-
cos fiéis buscam fazer. Entretanto, muitos acabam
deixando passar os pecados veniais, “de estimação”,

262
para depois. Assim ensina o Catecismo da Igreja
Católica:
“O pecado venial enfraquece a caridade; traduz
uma afeição desordenada pelos bens criados; impe-
de o progresso da alma no exercício das virtudes e
a prática do bem moral; merece penas temporais. O
pecado venial deliberado e que fica sem arrependi-
mento dispõe-nos pouco a pouco a cometer o peca-
do mortal. Mas o pecado venial não quebra a aliança
com Deus. É humanamente reparável com a graça
de Deus. ‘Não priva da graça santificante, da amiza-
de com Deus, da caridade nem, por conseguinte, da
bem-aventurança eterna’.
O homem não pode, enquanto está na carne,
evitar todos os pecados, pelo menos os pecados le-
ves. Mas esses pecados que chamamos leves, não os
consideras insignificantes: se os consideras insigni-
ficantes ao pesá-los, treme ao contá-los. Um grande
número de objetos leves faz uma grande massa; um
grande número de gotas enche um rio; um grande
número de grãos faz um montão. Qual é então nossa
esperança? Antes de tudo, a confissão…”103
Entendeu? Se não cuidarmos dos pecados ve-
niais “de estimação”, eles podem se tornar pecados
mortais “ferozes”! Hoje, enquanto escrevia este ca-
pítulo, dei uma olhada no jardim do nosso conven-
to aqui em Fortaleza. Estamos fazendo uma obra de
construção da lavanderia e, ao lado da obra, o jardim

103 Catecismo da Igreja Católica, 1863.

263
acabou ficando descuidado, pois será substituído por
outro, ao final da obra. Poucos dias deixamos sem
aparar e sem tirar as ervas daninhas, e o mato já
cresceu; com dificuldade conseguíamos ver a grama
que estava abaixo, pois a tiririca crescera em maior
velocidade. Assim são os pecados veniais delibera-
dos, se não lutamos para vencê-los.
Então vamos, no capítulo de hoje, decidir lutar
contra esses pecados. O passo inicial mais impor-
tante é conhecermos as nossas fraquezas, sabermos
qual é o nosso principal defeito, ou seja, o defeito
dominante. É como a “mãe” dos outros pecados.
Um defeito que vai arrastando os outros.
“Pode ser que você tenha muitos defeitos; a
maioria de nós os tem. Mas fique certo de que há
um que se destaca mais que os outros e que é o seu
maior obstáculo para o crescimento espiritual. Os
autores espirituais descrevem esse defeito como de-
feito dominante.
Antes de mais nada, convém esclarecer a dife-
rença entre um defeito e um pecado. Um defeito é o
que poderíamos chamar ‘o ponto fraco’ que nos faz
facilmente cometer certos pecados e torna mais di-
fícil praticar certas virtudes. Um defeito é (até que
o eliminemos) uma fraqueza do nosso caráter, mais
ou menos permanente, ao passo que o pecado é algo
eventual, um fato isolado que deriva do nosso defei-
to. Se compararmos o pecado a uma planta nociva, o
defeito será a raiz que o sustenta.

264
Todos sabemos que, quando se cultiva um jar-
dim, dá pouco resultado aparar as plantas daninhas
rente ao chão. Se não se arrancam as raízes, cresce-
rão outra vez. O mesmo ocorre na nossa vida com
certos pecados: continuarão a aparecer continua-
mente se não arrancarmos as suas raízes, esse defei-
to do qual nascem.
Os teólogos estabeleceram uma lista de sete de-
feitos ou fraquezas principais, que estão na base de
quase todos os pecados atuais. Chamam-se, ordina-
riamente, os sete vícios ou pecados capitais.”104
Mãos à obra, então! São sete esses defeitos prin-
cipais, contra os quais devemos lutar, a fim de que,
derrotando este pecado, os outros sejam mais facil-
mente vencidos. Assim ensina o Catecismo da Igreja
Católica: “o orgulho, a avareza, a inveja, a ira, a im-
pureza, a gula, a preguiça ou acídia.”105
Há muitos anos atrás acompanhei um jovem,
que partilhava comigo a sua luta para vencer os pe-
cados contra a castidade. Ele caía com frequência,
buscava a confissão, mas pouco tempo depois, re-
caía. Como partilhávamos com certa frequência, eu
sempre o via comer com ansiedade e sofreguidão.
Numa das nossas conversas, perguntei a ele sobre a
gula. Ele me disse que não conseguia refrear a boca,
e comia bastante (tinha, de fato, um perfil físico de

104 TRESE, Leo. A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante, 2021,


p. 72.

105 Catecismo da Igreja Católica, 1866.

265
quem se alimenta mais que o necessário). Propus a
ele que continuasse, é claro, sempre se confessando,
se caísse em algum pecado mortal. Porém, pedi a ele
que começasse uma luta sem trégua contra a gula,
pois tínhamos chegado a um consenso que esse era
o seu defeito dominante, o pecado capital (cabeça).
Ele começou a fazer jejuns às quartas e sextas-feiras.
Lutava contra as ocasiões de pecado contra a gula,
de ter sempre um chocolate na mochila, de comprar
no terminal de ônibus um salgadinho toda vez que
passasse por lá, de não comer somente aquilo de que
gostava ou em quantidade exagerada, de renunciar
ao refrigerante para beber água. O resultado foi que
não somente conseguiu agradar a Deus vivendo uma
vida de mais mortificação, mas acabou vencendo os
pecados recorrentes contra a castidade, que tinham
uma “raiz” na sua gula.
Queria contar aqui um dos sonhos de São João
Bosco. O grande santo italiano tinha sonhos pro-
féticos, e este era um dos meios providenciais com
os quais Deus se utilizava deste sacerdote exemplar
para levar os jovens que ele cuidava para altos ca-
minhos de santidade, como São Domingos Sávio e
o Beato Miguel Rúa. Assim fala o santo sobre uma
visão que teve do inferno, guiado pelo seu Anjo da
Guarda, e de como os adolescentes se dirigiam para
lá por causa dos pecados veniais contra os quais eles
não lutavam:
“O caminho baixava sempre. Continuávamos
nosso trajeto por entre flores e rosas, quando vi os

266
meninos do Oratório pelo mesmo caminho, junta-
mente com muitíssimos outros companheiros que
eu jamais vira antes, caminhando atrás de mim. E
encontrei-me no meio deles. Enquanto os obser-
vava, de repente vi que ora um ora outro caíam, e
em seguida eram arrastados por uma força invisível
rumo a uma horrível encosta que se entrevia à dis-
tância e que daria numa fornalha. Perguntei a meu
companheiro:
— Que é que faz cair esses jovens?
‘Estenderam cordas à maneira de rede. Junto do
caminho puseram tropeços’ (cf. SI 139).
— Aproxime-se um pouco mais — respondeu.
Aproximei-me e vi que os meninos passavam
entre muitos laços, alguns postos à altura do chão,
outros à altura da cabeça. Estes últimos não se viam.
Dessa forma, enquanto caminhavam sem dar-se
conta do perigo, muitos jovens eram colhidos pelos
laços. No momento de ser colhidos davam um salto,
depois caíam no solo com as pernas para o ar e, le-
vantando-se, se punham em desabalada corrida para
o abismo.
Um era agarrado pela cabeça, outro pelo pesco-
ço, outro pelas mãos, por um braço, por uma perna,
pela cintura, e imediatamente depois eram arrasta-
dos. Os laços estendidos pela terra, que mal se po-
diam ver, eram parecidos com estopa. Lembravam
fios de teia de aranha e não pareciam nocivos. Sem
embargo, vi que também os jovens colhidos por tais

267
laços caíam quase todos por terra. Eu estava espanta-
do, e o guia me disse:
— Sabe o que é isso?
— Um pouco de estopa — respondi.
— Menos ainda do que isso, é quase nada —
acrescentou. — É apenas o respeito humano.
Vendo, entretanto, que muitos continuavam a se
enredar nesses laços, perguntei:
— Mas como é que tantos ficam atados por meio
desses fios? Quem é que os arrasta desse modo?
— Aproxime-se mais, olhe e verá. Olhei um pou-
co e disse:
— Não estou vendo nada.
— Olhe um pouco melhor — repetiu.
Segurei então um dos laços, puxei-o para mim
e notei que sua ponta não aparecia, puxei um pouco
mais, mas não conseguia ver onde é que terminava
aquele fio. Pelo contrário, notei que também a mim
ele me arrastava. Segui então o fio e cheguei à boca
de uma espantosa caverna. Parei, porque não queria
entrar naquela voragem. Puxei para mim o fio e per-
cebi que ele cedia um pouquinho. Mas era necessá-
rio fazer muita força. Depois de muito puxar, pou-
co a pouco foi saindo da caverna um monstro feio
e grande que causava repugnância e que segurava
fortemente com as unhas um cabo ao qual estavam
atados todos os laços. Era ele que, mal caía alguém
na rede, imediatamente o puxava para si.

268
É inútil — pensei comigo — competir em força
com esse monstro medonho, porque não sou capaz
de vencê-lo. O melhor é combatê-lo com o sinal da
santa Cruz e com jaculatórias.
Voltei, pois, para junto de meu guia, e ele me
disse:
Você já sabe agora o que é?
— Sim! Já sei, é o demônio que estende esses la-
ços para fazer meus jovens caírem no inferno.
Observei então com atenção os muitos laços e
vi que cada um deles levava escrito seu próprio títu-
lo: laço da soberba, da desobediência, da inveja, da
impureza, do furto, da gula, da preguiça, da ira etc.
Feito isso, coloquei-me um pouco atrás para ob-
servar quais daqueles laços colhiam maior número
de jovens. Eram os da impureza, da desobediência e
da soberba. A este último estavam atados os outros
dois. Além desses, vi muitos outros laços que faziam
grande estrago, mas não tanto como os primeiros.
Sem parar de observar, vi que muitos jovens corriam
mais precipitadamente que os outros, e perguntei:
— Por que essa velocidade?
— Porque são arrastados pelos laços do respeito
humano — respondeu-me.
Olhando ainda mais atentamente, vi que por
entre os laços havia muitas facas espalhadas por
mão providencial, e serviam para cortá-los ou rom-
pê-los. A faca maior era contra o laço da soberba

269
e representava a meditação. Outra faca também
grande, mas um pouco menor, significava a leitura
espiritual bem feita.
Havia também duas espadas. Uma delas indi-
cava a devoção ao Santíssimo Sacramento, espe-
cialmente com a Comunhão frequente. A outra, a
devoção à Nossa Senhora. Havia também um mar-
telo: a Confissão. Havia outras facas, símbolo das
várias devoções, a São José, a São Luís de Gonzaga
etc. Com essas armas não poucos rompiam os laços
quando eram presos ou se defendiam para não ser
atados.”106

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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106 JOÃO BOSCO, S. O Inferno. In: FERREIRA, Antonio da Silva. Aci-


ma e além: os sonhos de Dom Bosco. Brasília: Editora Dom Bosco,
2011, p. 190-192.

270
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Senhor, muitas vezes tenho ignorado os pecados ve-
niais presentes em minha alma, tenho feito confissões
sem o arrependimento devido, porque não tinha se-
não faltas leves para acusar. Vos peço de todo coração
que inflameis a minha alma com a mesma caridade
do Arcanjo São Miguel. Dai-me um grande horror ao
pecado, e uma consciência mais delicada para reco-
nhecer e corrigir as minhas faltas. Amém!

271
Capítulo 27

Passo a passo para


uma confissão bem feita

Depois de falarmos tanto do pecado, dos vícios,


vamos hoje analisar os passos para fazermos uma
boa confissão. Queria começar com mais um dos so-
nhos de Dom Bosco, que são esclarecedores sobre os
nossos pecados e a confissão.
“Estava perto da porta de meu quarto. Quando
saía, a um dado momento olhei em torno e me vi
na igreja, no meio de uma multidão de jovens. A
igreja estava inteiramente cheia. Eram os jovens do
Oratório de Turim, de Lanzo e de Mirabello e outros
muitos que eu não conhecia. Não rezavam, mas pa-
recia que se preparassem para poder se confessar.
Uma quantidade imensa estava apinhada em volta
de meu confessionário, debaixo do púlpito, espe-
rando por mim.
Eu, depois de ter olhado um pouco, me pus a
pensar como poderia fazer para confessá-los to-
dos. Mas temia estar dormindo, a sonhar. E, para

273
assegurar-me de que não dormia, comecei a bater
as mãos. Eu ouvia o rumor delas. Para me certificar
mais ainda, espichei o braço e toquei na parede que
está atrás do meu pequeno confessionário. Assim,
certo de estar acordado, disse:
— Já que estou aqui, confessemos.
E comecei a confessar. Mas logo, vendo tantos
jovens, levantei-me para olhar se havia outros con-
fessores que me ajudassem. Não vendo nenhum, en-
caminhei-me para ir à sacristia para pedir que algum
padre viesse ouvir as confissões.
E eis que vi cá e lá jovens que tinham uma corda
ao pescoço que lhes apertava a garganta.
— Por que aquela corda? — perguntei.
— Tirem-na.
E não me respondiam e me fitavam.
— Vamos — disse a alguém —, vá e tire aque-
la corda. O jovem a quem mandara foi, mas me
respondeu:
— Não posso tirá-la, há alguém por trás que a
segura. Venha ver.
Voltei então os olhos com maior atenção sobre
aquela multidão de jovens e me pareceu ver, por
trás dos ombros de muitos, despontar dois chifres
compridíssimos.
Aproximei-me um pouco mais para ver melhor.
E passando para trás daquele que me estava mais vi-
zinho, vi um bruto animal, com um focinho horrível,

274
em forma de grande gato, com longos chifres, que
apertava aqueles laços. Mas ele abaixava o focinho
e o escondia debaixo das patas, abaixando-se para
não se deixar ver. Eu interrogava este jovem e ou-
tros, pedindo seu nome, e eles não me respondiam.
Interroguei aquele feio animal e ele se escondeu ain-
da mais. Então disse a um jovem:
— Olá! Vá à sacristia e diga ao padre Merlone,
diretor da sacristia, que dê a você a caldeirinha da
água benta!
O jovem voltou logo com a caldeirinha, mas, en-
quanto ia, eu descobria que cada jovem tinha atrás
dos ombros um servidor tão pouco gracioso como o
primeiro, e que ele também sempre mais se enrolava.
Eu temia ainda estar dormindo. Tomei então o as-
persório e perguntei a um daqueles gatões:
— Diga-me, quem é você?
O animal que me olhava alargou a boca, espi-
chou a língua e depois se pôs a ranger os dentes em
ato de atirar-se contra mim.
— Diga-me depressa: o que está fazendo aqui,
bruto animal? Fique furioso como quiser, eu não te-
nho medo de você. Veja, com esta água vou lavá-lo
bem!
O monstro me olhava espavorido. Depois se pôs
a se contorcer de tal modo, que as pernas traseiras
vinham para cima, a tocar os ombros pela frente. E
de novo queria atirar-se sobre mim. Eu o observava
atentamente e vi que tinha na mão vários laços.

275
— Vamos, diga-me: o que está fazendo aqui?
E levantei o aspersório. Ele então se desvenci-
lhou e queria fugir.
— Não vai fugir, não — eu continuava. — Fique
aqui, eu ordeno! Rosnou, e:
— Olhe! — disse, e me apresentava os laços.
— Diga-me, o que são estes três laços? O que
significam?
— Não sabe? Com estes três laços aperto os jo-
vens para que se confessem mal. Com eles eu con-
duzo à perdição nove décimos do gênero humano.
— Como? De que modo?
— Oh, não lhe quero dizer. Você o mostrará aos
jovens.
— Quero saber o que são estes três laços. Fale!
Senão jogo a água benta em você.
— Por piedade, mande-me para o inferno, mas
não jogue dessa água em cima!
— Em nome de Jesus Cristo, fale, então!
Contorcendo-se espantosamente o monstro
respondeu:
— O primeiro modo com o qual aperto este laço
é fazer os jovenzinhos calarem os seus pecados em
confissão.
— E o segundo?
— O segundo é estimulá-los a se confessar sem
arrependimento.

276
— O terceiro?
— O terceiro não lhe quero dizer.
— Como, não me quer dizer? Agora jogo em vo-
cê a água benta... Não, não, não falarei. E se pôs a gri-
tar alto:Como? Não basta? Já falei demais! E voltou
a enfurecer-se.
— Eu quero que você me conte tudo para que
eu avise os diretores! — repetindo a ameaça, levantei
o braço.
Então saíram chamas e depois algumas gotas de
sangue de seus olhos. Disse:
— O terceiro é não tomar firme propósito e não
seguir os avisos do confessor.
— Bruto animal! — gritei-lhe pela segunda vez,
e enquanto queria perguntar-lhe outras coisas e inti-
mar que me revelasse de que modo se poderia reme-
diar aquele grande mal e tornar vãs suas artes, todos
os outros horríveis gatões, que até então estavam es-
condidos, começaram a murmurar. Depois rompe-
ram em lamentações e se puseram a gritar e a colo-
car-se todos contra aquele que tinha falado e fizeram
uma sublevação geral. Diante daquela balbúrdia, vi
que não obteria mais nada de vantajoso daqueles
animais. Aí levantei o aspersório e joguei água benta
sobre aquele gatão que tinha falado:
— Agora, vá embora! — disse-lhe. E ele
desapareceu.
Então joguei a água santa por todas as partes. E,
com grandíssimo estrépito, todos aqueles monstros

277
se deram a precipitosa fuga, uns por uma parte, ou-
tros por outra. Àquele rumor acordei e me achei no
leito.”107
Como esse sonho é esclarecedor. São João Bosco
teve essas revelações importantíssimas sobre a ação
do inimigo que quer nos afastar do Sacramento da
Confissão ou, pelo menos, que nós o façamos de
forma inconsequente e não aproveitemos todas as
graças que ele quer nos derramar.
“Costumam-se mencionar cinco condições para
recebermos dignamente o sacramento da Penitência:
o exame da nossa consciência, a contrição pelos
nossos pecados, o firme propósito de não pecar daí
por diante, a confissão das nossos pecados ao sa-
cerdote e a vontade de cumprir a penitência que o
confessor nos impõe. Omitir qualquer destes pon-
tos pode ocasionar, no pior dos casos, uma confissão
completamente indigna, uma confissão sacrílega; e,
no melhor, uma confissão com menos fruto, em que
a nossa alma receba muito pouca graça.”108
Vamos meditar brevemente sobre estes cinco
pontos, e dedicaremos mais dois capítulos para tra-
tar de forma mais específica, em um deles, sobre co-
mo fazer um bom exame de consciência, e no outro
sobre a importância da penitência.

107 JOÃO BOSCO, S. Confissões malfeitas. In: FERREIRA, Antonio


da Silva. Acima e além: os sonhos de Dom Bosco. Brasília: Editora
Dom Bosco, 2011, p. 94-97.

108 108 TRESE, Leo. A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante,


2021, p. 395.

278
O primeiro passo é um bom exame de consciên-
cia, que deve ser feito sempre antes de nos aproxi-
marmos do confessionário. “O exame de consciência
é o olhar para dentro de nós mesmos para vermos,
com atenção cuidadosa (como indica a palavra exa-
minar), se o nosso coração nos acusa de termos fei-
to uma escolha errada pela falta de amor, por não
amar a Deus ou nosso irmão, imagem de Deus. Para
o exame de consciência, fundamental para a confis-
são, é necessário pedir o auxílio do Espírito Santo
por meio da oração. O Espírito Santo ilumina a nos-
sa consciência e nos ajuda a perceber a verdade den-
tro de nós. Podemos facilmente enganar-nos ou ser-
mos cegos para reconhecer os nossos pecados. Por
isso, pedir a luz da verdade, a graça do Espírito de
Deus, é essencial.”109
O segundo passo é a contrição dos nossos pe-
cados. Assim ensina o Catecismo da Igreja Católica:
“Entre os atos do penitente, a contrição vem em pri-
meiro lugar. Consiste ‘numa dor da alma e detesta-
ção do pecado cometido, com a resolução de não
mais pecar no futuro’.
Quando brota do amor de Deus, amado acima
de tudo, contrição é ‘perfeita’ (contrição de carida-
de). Esta contrição perdoa as faltas veniais e obtém
também o perdão dos pecado mortais, se incluir a
firme resolução de recorrer, quando possível, à con-
fissão sacramental.
109 WAGNER, Leonardo. E jovem… se confessa?! Aquiraz (CE): Edi-
ções Shalom, 2011, p. 16.

279
A contrição chamada ‘imperfeita’ (ou ‘atrição’)
também é um dom de Deus, um impulso do Espírito
Santo. Nasce da consideração do peso do pecado ou
do temor da condenação eterna e de outras penas
que ameaçam o pecador (contrição por temor). Este
abalo da consciência pode ser o início de uma evo-
lução interior e ser concluída sob a ação da graça,
pela absolvição sacramental. Por si mesma, porém, a
contrição imperfeita não obtém o perdão dos peca-
dos graves, mas predispõe a obtê-lo no sacramento
da penitência.”110
O terceiro passo é o firme propósito de não pe-
car daí por diante. “É óbvio que não estamos con-
tritos de um pecado se continuamos dispostos a
cometê-lo novamente, quando tivermos ocasião.
Este propósito de não mais pecar deve, além disso,
abranger todos os pecados mortais, não só os que
se confessaram; e deve incluir todos os pecados ve-
niais que confiamos nos sejam perdoados.”111
O quarto passo é a confissão dos nossos peca-
dos ao sacerdote. É importante lembrar alguns as-
pectos dessa parte. Na confissão, é obrigatório con-
tarmos todos os pecados mortais, mas os pecados
veniais também podem e devem ser contados, a fim
de que ganhemos mais forças na luta contra esse pe-
cado. Devemos contar qual o pecado, não de forma

110 Catecismo da Igreja Católica, 1451-1453.

111 TRESE, Leo. A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante, 2021,


p. 399.

280
genérica (como, por exemplo, pequei contra o sexto
mandamento), mas especificando, bem como quan-
tas vezes o cometemos (se não lembramos exata-
mente, falar aproximadamente), ou se há qualquer
circunstância que tenha influído no pecado. “Assim,
dizer que se roubou um copo dourado não basta, se
porventura esse copo é o cálice da paróquia; neste
caso, ao pecado de roubo acrescenta-se o pecado de
sacrilégio. Não basta dizer que se jurou falso, se o ju-
ramento causou um grave prejuízo a um terceiro nos
seus bens ou na sua fama; neste caso, acrescenta-se a
injustiça ao perjúrio.”112
Se há alguma dúvida sobre o pecado, se foi de
fato mortal ou não, devemos também apresentar ao
sacerdote esta dúvida. É importante buscarmos a hu-
mildade quando formos contar os nossos pecados e
termos profunda sinceridade. “A nossa confissão se-
ria insincera se tentássemos fazê-la usando frases
vagas ou ambíguas, na esperança de que o confessor
não perceba de que é que estamos falando, se andás-
semos por aí buscando um sacerdote meio surdo a
quem escapassem as nossas palavras atropeladas ou
sussurradas; se intercalássemos desculpas e álibis
com a intenção de salvar o nosso amor-próprio.”113

112 TRESE, Leo. A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante, 2021,


p. 410. TRESE, Leo.

113 A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante, 2021, p. 411.

281
O quinto ponto é a penitência que o confes-
sor nos impõe. Assim ensina o Catecismo da Igreja
Católica: “Muitos pecados prejudicam o próximo.
É preciso fazer possível para reparar esse mal (por
exemplo restituir as coisas roubadas, restabelecer
a reputação daquele que foi caluniado, ressarcir as
ofensas e injúrias). A simples justiça exige isso. Mas,
além disso, o pecado fere e enfraquece o próprio pe-
cador, como também suas relações com Deus e com
o próximo. A absolvição tira o pecado, mas não re-
medeia todas as desordens que ele causou. Liberto
do pecado, o pecador deve ainda recobrar a plena
saúde espiritual. Deve, portanto, fazer alguma coisa
a mais para reparar seus pecados: deve ‘satisfazer’ de
modo apropriado ou ‘expiar’ seus pecados. Esta sa-
tisfação chama-se também ‘penitência’.”114 Daqui a
pouco, vamos falar mais sobre isso.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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114 Catecismo da Igreja Católica, 1459.

282
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Senhor, que por bondade e misericórdia, destes a nós
o sacramento da reconciliação, permiti que pela inter-
cessão dos Santos Anjos eu sempre faça bons exames
de consciência, a fim de me acusar de todos os pecados
e confessá-los com o mais profundo arrependimento.
Fazei brotar em meu coração um amor verdadeiro pe-
las coisas do Céu. Amém!

283
ESCUTE AQUI
Capítulo 28

Como fazer um exame


de consciência

O exame de consciência é o passo decisivo pa-


ra fazermos uma boa confissão. Um exame de cons-
ciência bem feito nos ajuda a perceber cuidadosa-
mente onde, quando e como ofendemos a Deus com
os nossos pecados.
“Um bom católico deve ter o costume de, com
frequência, fazer um bom exame de consciência. De
modo geral, essa é uma prática feita em preparação
à confissão. Porém, a importância dela vai além do
aspecto sacramental. Este exame é um exercício que
torna a nossa consciência cada vez mais sensível, ca-
paz de identificar com maior facilidade a verdadeira
intenção por trás dos nossos pensamentos, palavras,
atos e omissões. Por isso, a Igreja orienta que façamos
o exame de consciência não apenas antes de procu-
rar o Sacramento da Penitência, mas diariamente.
Basta dedicar alguns minutos antes de dormir para

285
avaliar 3 pontos sobre a sua conduta durante o dia
que passou:
O que fez de bom? O que fez de ruim? E no que
pode melhorar?
Uma dica é sempre anotar o resultado desta bre-
ve análise em um caderninho particular. Assim, você
não precisará fazer um grande esforço para lembrar
dos seus pecados — sejam eles graves ou veniais —
quando for fazer um exame mais profundo em vista
do Sacramento da Confissão.
A esta preparação, portanto, é recomendável dis-
pensar um tempo maior, já que este exame deve con-
templar cada um dos mandamentos da Lei de Deus
e da Igreja.
Trata-se de uma série de questionamentos que
vão ajudar você a enxergar não apenas os pecados
em si, mas também as más inclinações que te con-
duziram a cometê-los. Ao longo do exame, per-
gunte-se: ‘Onde eu estava quando não estava com
Deus?’
Esta etapa deve levar você a perceber que cada
uma das faltas cometidas — especialmente as de ma-
téria grave — te fez perder o Céu e merecer o inferno.
Esta constatação é o que chamamos de atrição. Mas
os sentimentos de culpa, vergonha ou medo — que
normalmente surgem quando nos deparamos com a
possibilidade da condenação eterna — não são sufi-
cientes para a confissão.

286
É necessário que brotem do coração duas dis-
posições que, juntas, levam à contrição: o profundo
arrependimento por ter ofendido a Deus e o firme
propósito de emenda. Por isso, lembre-se de pedir
ao Espírito Santo que ilumine sua inteligência e o au-
xilie a encontrar meios para combater os maus hábi-
tos e evitar as ocasiões de pecado.”115
Depois dessas considerações, vamos acompa-
nhar um pouco o que o Catecismo da Igreja Católica
nos diz sobre o Exame de Consciência: “Convém
preparar a recepção deste sacramento fazendo um
exame de consciência à luz da Palavra de Deus. Os
textos mais adaptados a esse fim devem ser procu-
rados na catequese moral dos evangelhos e das car-
tas apostólicas: Sermão da Montanha, ensinamentos
apostólicos.”116 O sacerdote norte-americano Leo
Trese nos esclarece com exemplos a importância do
exame de consciência:
“Podemos sentir a inclinação de despachar
um ou outro mandamento demasiado depressa.
Dizemos: ‘O primeiro mandamento? Não adorei ne-
nhum deus falso’. Não, evidentemente. Mas que acon-
tece com as irreverências na igreja, com as distrações
na oração, com um pouco de superstição talvez? ‘O
quinto mandamento? Não matei ninguém’. Não; mas
que acontece com as repreensões em casa, quando
115 EXAME de consciência. Biblioteca Católica, 2023. Disponível
em: <https:// bibliotecacatolica.com.br/blog/formacao/exame-
-de-consciencia/>. Acesso em 09 mai. 2023.

116 Catecismo da Igreja Católica, 1454.

287
começo a gritar e deixo todo mundo ressentido? Que
dizer sobre o rancor que guardo contra fulano e si-
crano? Que dizer sobre a minha secreta esperança de
que fulano ‘se meta na enrascada que andava procu-
rando’? ‘O sexto? Não cometi adultério ou fornica-
ção’. Não, mas que dizer desse olhar curioso na praia,
dessas piadas pesadas no ambiente de trabalho? ‘O
oitavo? Ah, sim! Disse uma ou duas mentirinhas cer-
ta vez’. Sim? E que dizer daquela murmuração dani-
nha que soprei, daquelas reticências e preconceitos
contra essa pessoa de outro país ou raça? Quando de
verdade começarmos a examinar-nos sobre a virtu-
de da caridade, surpreender-nos-á ver que necessita-
mos de mais tempo do que pensávamos.
E que acontece com a honestidade da nossa con-
duta em assuntos de dinheiro, com a justiça com os
subordinados, com a nossa generosidade em repartir
com os menos afortunados os nossos bens materiais?
Que acontece com a nossa plena aceitação de tudo
o que a Igreja ensina? E com a temperança e a so-
briedade na comida e, sobretudo, nas bebidas? (Ou
teremos que embebedar-nos para perceber que não
somos comedidos?) E com o exemplo de vida crista
que devemos dar aos que nos rodeiam?
Não é necessário continuar aqui a lista. Uma
fraqueza a que nos inclinamos é comparar-nos com
o vizinho da frente ou com a vizinha do lado, e con-
cluir que, depois de tudo, não somos tão maus as-
sim. Esquecemos que o único com quem temos o

288
direito de comparar-nos é Jesus Cristo. Ele é o nosso
modelo, ninguém mais.”117
Não há nada melhor para o exame de consciên-
cia e para a dor devida pelos nossos pecados do que
a meditação da Paixão, a contemplação do Crucifixo
e daquilo que Ele sofreu por nós. Segue-se um fato
tremendo da vida do grande São Geraldo Majella, o
seráfico irmão redentorista:
“A vida do irmão coadjutor redentorista, que
veneramos em nossos altares e se chama Geraldo
Majella, está semeada de maravilhas. Regressava, um
dia, ao seu convento. Sua batina muito pobre; seu
chapéu muito velho. Atravessava uma floresta e, com
o pensamento em Deus, murmurava atos de amor.
Andava também por ali um moço com o péssimo in-
tento de assaltar os viajantes para roubar-lhes o di-
nheiro que encontrasse. Viu o jovem religioso e ficou
admirado.
‘Esse homem — dizia — não é um religioso, deve
ser um nigromante, um desses homens que têm trato
com os espíritos do outro mundo e que possuem a
rara virtude de encontrar tesouros nas entranhas da
terra’.
E sem mais, aproxima-se do irmão e diz: — Não
negues: li em teus olhos, todo o teu porte me diz que
és um nigromante. És um feiticeiro poderoso, pos-
suis os segredos da natureza e sabes as entranhas que
guardam tesouros.

117 TRESE, Leo. A fé explicada. São Paulo: Editora Quadrante, 2021,


p. 396-397.

289
O Santo Irmão fitou nele um olhar cheio de sur-
presa e de bondade. Deus fê-lo compreender ime-
diatamente quem era aquele pobrezinho salteador
de estrada que assim falava, e respondeu: — Não te
enganaste. Tenho realmente o segredo de um grande
tesouro. Eu to poderia ensinar, mas... não me atrevo.
Para isso seria mister que fosses homem de multa co-
ragem... mas não sei se o serás...
Sou, sim, replicou o salteador. Não tremo diante
de crime algum; a mim não me espanta nem mes-
mo o diabo. Tenho roubado, matado, enfrentado ini-
migos... Nem o sangue das vítimas, nem o briho das
armas me intimida. Quando quero alguma coisa, eu
a consigo, ainda que tenha que passar por cima de
cadáveres.
Geraldo, o jovem taumaturgo, não se intimidou.
Calmo e bondoso, fixou nele os olhos e disse: — Pois
se és tão valente, segue-me. Garanto que encontrarás
um grande tesouro.
Puseram-se a caminhar. Adiante ia Geraldo, atrás
o moço. Geraldo rezava em voz baixa, o moço ia já
devorando com os olhos da alma o ouro que via em
suas mãos. Assim chegaram ao meio da selva, longe
da estrada. Ali chegados, tirou Geraldo o capote e es-
tendeu-o aberto no chão. O moço olhava assombra-
do. Começava a tremer. Parecia-lhe que de repente
apareceria ali o diabo em pessoa... Mordia os lábios
e todo o seu corpo se agitava com espantoso tremor.
Geraldo olha para ele com grande majestade e diz:

290
Agora ajoelha-te sobre esse manto. O moço ajoe-
lhou- se... Tremia dos pés à cabeça. — Agora junta
as mãos! O moço juntou as mãos e cravou os olhos
aterrados naquele tremendo nigromante.
Naquele solene momento, S. Geraldo tirou do
peito o Santo Cristo, que sempre tinha consigo, e,
pondo-o diante do salteador, disse:
Meu irmão pecador, eu te prometi que encontra-
rias um tesouro sem igual nem no céu nem na terra...
Não vês este Cristo? Não o conheces? É teu Deus:
morreu por ti, por tua salvação, para perdoar teus
pecados, para levar-te para o céu. E tu, infeliz, que
fizeste?
Naquele momento lenta e solenemente lhe ia
recordando todos os seus pecados. E o pobre peca-
dor chorava e soluçava...
S. Geraldo, chegando aquele devoto crucifi-
xo aos lábios do pecador arrependido, diz com voz
enternecedora:
— Beija-o, chora a seus pés todas as tuas cul-
pas e adiarás a graça, acharás a Deus e com Deus,
meu filho, possuirás todos os tesouros. O moço,
desfeito em lágrimas, repetia: ‘Jesus meu, perdão e
misericórdia’.
Esteve, em seguida, alguns dias em retiro no
convento. Fez ali uma confissão geral e encontrou a
paz da alma. Saiu bendizendo a hora em que se en-
contrara com aquele santo irmão.”118
118 ALVES, Francisco, C.Ss.R. Tesouro de Exemplos (Volume I). Petró-
polis (RJ): Editora Vozes, 1958, p. 106-108

291
Que fantástico! Devemos também nós cami-
nharmos rumo ao arrependimento dos nossos peca-
dos e confiança em Deus! Colocaremos como apên-
dice deste livro um exame de consciência preparado
pelo Pe. Duarte Lara, sacerdote exorcista português
da Diocese de Lamego, e que nos ajudará neste pro-
cesso de libertação que estamos empreendendo, com
o auxílio dos Santos Anjos.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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292
Oração:
Dai-me ó Bom Jesus uma consciência profunda da mi-
nha miséria e um desejo ardente de reparar todos os
meus pecados. Ajudai-me, com o auxílio do meu Anjo
da Guarda a examinar a minha consciência todos os
dias, a fim de que eu obtenha um profundo arrependi-
mento pelas ofensas contra Vós, e um firme propósito
de emenda. Socorrei-me em minhas fraquezas e forta-
lecei a minha vontade. Amém!

293
Capítulo 29

A importância da
penitência

Ao estudarmos o Sacramento da Confissão, per-


cebemos que a última parte integrante deste sacra-
mento é a penitência devida pelos nossos pecados.
Diz o Catecismo da Igreja Católica:
“A penitência imposta pelo confessor deve levar
em conta a situação pessoal do penitente e procurar
seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida
do possível, à gravidade e à natureza dos pecados co-
metidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em
obras de misericórdia, no serviço do próximo, em
privações voluntárias, em sacrifícios e principalmen-
te na aceitação paciente da cruz que devemos carre-
gar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos
com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados
uma vez por todas. Permitem-nos também tomar-
-nos co- herdeiros de Cristo ressuscitado, ‘pois so-
fremos com ele’:

295
Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por
nossos pecados, só vale por intermédio de Jesus
Cristo, pois, não podendo coisa alguma por nós
mesmos, ‘tudo podemos com a cooperação daquele
que nos dá força’ (Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o ho-
mem de que se gloriar, mas toda a nossa ‘glória’ está
em Cristo... em quem oferecemos satisfação, ‘produ-
zindo dignos frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que
dele recebem seu valor, por Ele são oferecidos ao Pai
e graças a Ele são aceitos pelo Pai’.”119
Talvez, hoje em dia, quando recebemos a peni-
tência do sacerdote, podemos pensar que nos pe-
de algo difícil demais, quando solicita a oração de
um Santo Rosário completo, ou a visita a algum
enfermo ou pessoa sozinha, ou ainda quando so-
licita a reparação proporcional ao ato de pecado.
Antigamente, os penitentes se lançavam em grandes
penitências para reparar os seus pecados, as quais,
inclusive, poderiam durar toda a vida, como é o caso
de Alexandre Serenelli, o assassino de Santa Maria
Goretti, e do Rei Boleslau II, da Polônia, assassino
do bispo Santo Estanislau de Cracóvia, cuja história
contamos abaixo:
“Numa noite de outono de 1804, um peregrino,
humildemente vestido, batia à porta do convento be-
neditino de Ossiach. Fingiu-se mudo e por sinais pe-
diu que o admitissem naquele mosteiro como criado.
Foi realmente recebido pelo santo abade Frencho e

119 Catecismo da Igreja Católica, 1460.

296
passou oito anos sem falar, desempenhando os mais
humildes serviços e fazendo rigorosas penitências. À
hora da morte, deu-se a conhecer aos monges, dizen-
do: ‘Eu sou Boleslau, rei da Polônia, que entre ou-
tros grandes pecados cometi o de dar morte ao san-
to bispo de Cracóvia, Estanislau, a quem eu mesmo
assassinei junto ao altar, por ter ele censurado meus
cruéis desmandos. O Papa Gregório VII excomun-
gou-me. Depois, arrependido de minhas culpas, fui
a Roma em busca do perdão. Lá me confessei e fui
absolvido; e, para melhor expiar os meus enormes
crimes, passei estes anos fazendo penitências”120.
Assim, a penitência é parte integrante do sa-
cramento da Confissão, mas a nossa vida deve ser
sempre cheia de atos de penitência para reparar os
nossos pecados, e também os pecados de toda a hu-
manidade, que agravam o Sagrado Coração de Jesus
e o Imaculado Coração de Maria. O anjo da paz
apareceu aos pastorinhos de Fátima um ano antes
da Santíssima Virgem Maria, e a sua mensagem foi
de reparação. Ele saudou-os, disse que não tivessem
medo e, então, “o anjo ajoelhou-se diante dos meni-
nos, tocou com a sua fronte o chão e repetiu três ve-
zes: ‘Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos.
Peço-Vos perdão pelos que não creem, não adoram,
não esperam e não Vos amam.’

120 ALVES, Francisco, C.Ss.R. Tesouro de Exemplos (Volume II). Petró-


polis (RJ): Editora Vozes, 1960, p. 257-258.

297
Lúcia, Francisco e Jacinta foram incitados por
uma força sobrenatural a prostrar-se igualmente por
terra e a imitar a aparição, repetindo a sua oração.
Continuando, o anjo levantou-se e disse ainda: ‘Rezai
assim! Os sagrados Corações de Jesus e de Maria es-
tão atentos à voz das vossas súplicas.’ Depois, o mis-
terioso mensageiro desapareceu.
Os meninos olharam assustados ao seu redor,
sentindo-se transportados para outro mundo, e re-
fletiram sobre o que tinham experimentado, rezaram
a oração do anjo, que se lhes gravou indelevelmente
na memória. A partir desse dia, Lúcia, Francisco e
Jacinta conversavam entre si principalmente sobre
esta aparição; com gosto levavam as ovelhas aos pra-
dos próximos da colina onde lhes tinha aparecido o
anjo, rezavam com grande devoção a oração que ele
lhes tinha ensinado e constantemente refletiam so-
bre o seu significado. Desta maneira, cresceu neles
o pensamento da expiação interior: acreditar em
Deus, também por aqueles que não acreditam; es-
perar em Deus, também por aqueles que não espe-
ram; amar a Deus, também por aqueles que não O
amam; adorar a Deus, também por aqueles que não
O adoram, pedir a Deus perdão pelos homens que
esquecem a Deus, que já não acreditam nem espe-
ram, nem amam e tão pouco adoram.
Aos meninos tinha-lhes sido inculcada uma ati-
tude essencial e fundamentalmente cristã que lhes
seria sempre familiar, como se a levassem no sangue.
E os três desenvolveram grandiosamente esta atitude

298
expiatória na sua vida: Francisco e Jacinta na manei-
ra como sacrificaram a sua jovem vida, e Lúcia na
sua disposição para a expiação em distintos conven-
tos — e depois no Carmelo de Coimbra.
Algumas semanas depois da aparição angélica,
num dia do verão de 1916, quando os seus pais se
encontravam no descanso do meio-dia, os três me-
ninos brincavam perto do poço no jardim da casa de
Lúcia. De repente, o belo jovem apresentou-se de no-
vo diante deles e exortou-os a rezar, e a rezar muito, e
depois disse-lhes: ‘Os Santíssimos Corações de Jesus
e de Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia.’
O anjo recomendou então aos três pastores que ofe-
recessem a Deus sacrifícios pela conversão dos pe-
cadores e atraíssem assim a paz, especialmente para
a sua pátria. Cada uma destas palavras entrava pro-
fundamente nas suas almas. Agradeceram a Deus de
todo coração por amá-los tanto e escolhê-los para os
Seus planos misteriosos. Prometeram realizar o que
estivesse nas suas mãos para cumprir os desejos de
Deus. A partir desse momento, ofereceram em sacri-
fício todas as suas ações ao Senhor.”121
Que nossa atitude seja de reparação pelos pe-
cados cometidos por cada pessoa desta terra, e que
busquemos consolar os Corações de Jesus e Maria,
que já estão horrivelmente ultrajados por causa de
todos os pecados da humanidade.

121 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 409-410.

299
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Meu Deus, por tantas vezes Vos ofendi, por tantas ve-
zes feri o Vosso Sagrado Coração. Infundi em mim o
desejo ardente de reparar com as penitências necessá-
rias todas as ofensas e feridas que Vos causei. Que São
Miguel venha em meu auxílio para me dar forças para
lutar contra as minhas más inclinações e que eu arre-
pendido ofereça inúmeras penitências não apenas por
mim, mas também pelo mundo inteiro. Amém!

300
Capítulo 30

Como alcançar o
milagre na sua vida

No nosso caminho de libertação, com o auxílio


dos Santos Anjos e de São Miguel, chegamos à nossa
reta final, mas antes de rezarmos os nove dias finais
em honra do grande Arcanjo Miguel, é necessário
trabalharmos dois bloqueios às graças, duas atitu-
des que podem impedir que o processo de cura e
libertação aconteça em nós. A primeira delas é a
murmuração.
“Muitas e muitas vezes vivemos situações na vi-
da em que parece não haver saída ou solução. Nesses
momentos nos desesperamos, nos revoltamos con-
tra as pessoas, contra Deus e até contra nós mesmos,
porque nos enxergamos incapacitados para resolver
esta ou aquela situação. Por exemplo: as portas de
um emprego que não se abrem; um marido alcoó-
latra; um filho ou uma filha viciados; um casamen-
to à beira da ruína; uma mágoa profunda de alguém
que está corroendo seu coração; saudade de alguém

302
muito querido que já foi para a casa do Pai; dificul-
dades nos estudos, no relacionamento familiar; si-
tuação financeira apertada que não permite sair do
‘buraco’; decisões difíceis que você tem de tomar e
que representam um novo rumo de vida que vai ter
reflexos em seu futuro, em sua família, em sua vida
profissional..
Por essas e outras é que precisamos do auxílio do
Senhor. O salmo citado acima nos mostra o caminho
a seguir: ‘.. digam sem cessar aqueles que desejam
vosso auxílio: Glória ao Senhor’ (SI 39,176). Sim!
Este é o caminho! Se você necessita do auxílio pode-
roso de Deus, diga sem cessar: Glória ao Senhor!”122
Parece que, em situações como essas que fo-
ram mencionadas, estamos numa sala escura, nu-
ma situação da qual não conseguimos sair. Nesta
hora, o poder do louvor nos faz despertar para a
luz do Espírito Santo que está guiando nossos pas-
sos. O louvor nos abre para vermos as coisas como
Deus as vê.
Certa vez, há muitos anos atrás, fui confessar-
-me com o saudoso Pe. Luciano Brambilla, um vir-
tuoso padre barnabita italiano com muitos anos de
experiência no Brasil, que então era nosso diretor
espiritual. Dentre os pecados, confessei também mi-
nha murmuração, por causa de uma situação difícil
que eu estava vivendo em um dos apostolados que

122 FASANELLA, Ítalo J. Passanezi. No poder do louvor. São Paulo:


Edições Loyola, 1999, p. 27-28.

303
eu fazia no nosso instituto, e para a qual eu não via
solução. Na própria hora da confissão, voltei a falar
para o padre do meu “desafio”, de como estava difí-
cil aquela situação, e voltei a murmurar, na frente do
padre mesmo. Com seu jeito habitual de nos mostrar
que estávamos errados, ele logo deu-me um beliscão
forte (sentíamos como um pai que corrige seu filho
teimoso), e me disse:
“Sabe, irmão, há algum tempo atrás eu estava
conversando com uma senhora da paróquia. Eu a
via diariamente nas missas, e ela ajudava a limpar a
igreja, mas não a conhecia, pois, àquela altura, eu ti-
nha chegado há pouco tempo em Fortaleza, vindo
de Belém. E ela me contava do seu esposo, que bebia
diariamente e passava o dia no bar, chegava em ca-
sa bêbado, com palavras duras e de reclamação, exi-
gindo comida gostosa, casa limpa, mas que não tra-
balhava, não pagava as contas, e não trazia comida
para casa. Quem trabalhava era ela, como faxineira,
quando surgia a oportunidade. Ela me contou dos
seus dois filhos. O mais velho envolveu-se com tráfi-
co de drogas e estava preso. A mais nova acabou tor-
nando-se prostituta, e ainda morava com eles, mas
trocava o dia pela noite, por causa da prostituição. O
rosto dessa mulher era sereno, e a cada passo dessa
história tão difícil ela louvava ao Senhor, agradecia o
dom da vida, o dom da fé, agradecia a possibilidade
de poder ir à igreja, de ter uma paróquia tão per-
to da casa dela, de ser cristã católica. Depois dessa
conversa, em todas as vezes que nos encontramos,

304
nunca a vi murmurar, mas eu a vi várias vezes louvar
a Deus. E agora diga-me, irmão… O teu problema é
realmente grande?”
É claro que fiquei muito envergonhado, pois
o meu problema era, com certeza, muito peque-
no. Eu tenho me esforçado para aprender a lição.
Recentemente deparei-me com mais uma história do
Mons. Stephen Rossetti, que de novo me fez lembrar
do louvor que devemos ter em meio às tribulações.
Ele relata o caso de uma possessa do demônio, a qual
ele está atendendo, como exorcista.
“Pobre Kate. Ela é espancada e agredida sexual-
mente durante a noite por um grande bando de de-
mônios. Ela acorda regularmente com arranhões,
hematomas e símbolos demoníacos gravados em sua
pele. Durante nossas sessões de exorcismo, os demô-
nios a ameaçam, a agridem e a sufocam. Como es-
tamos perto da libertação total, ela vomita grandes
globos negros, um sinal de que os demônios estão
sendo expulsos.
Não é culpa dela, que ela esteja possuída. Seus
pais a entregaram a Satanás ao nascer, pois eles mes-
mos se submeteram voluntariamente ao Mundo
Negro. A vida para Kate nunca foi boa. Mas eu nun-
ca a ouvi reclamar de seus pais.
Entre as sessões, especialmente depois de um
período difícil, eu a pergunto: ‘Como você está,
Kate?’ A resposta dela é sempre a mesma: ‘Está tudo
bem, padre’. As sessões de exorcismo são intensas e

305
às vezes brutais. No meio delas, quando ela volta a
si mesma por um breve momento, pergunto: ‘Como
você está, Kate?’ Ela sempre se recupera e diz: ‘Está
tudo bem, padre’. E assim continuamos.
Hoje em dia, sempre que me vejo um pouco cer-
cado pelo Maligno ou diante de qualquer tipo de jul-
gamento, encontro-me espontaneamente dizendo:
‘Está tudo bem. Está tudo bem’. Foi a Kate que me
ensinou isso. Ela me inspira.”123
A murmuração é o louvor do demônio. Ensina
o Pe. Marlon Múcio: A murmuração é a ladainha
das trevas, é o ‘Terço do Diabo’. Você é daqueles mo-
toristas que, de dentro do carro e com o vidro fe-
chado, fica xingando os demais? Pois bem, entenda o
óbvio: o chororô só faz mal a quem o ouve! Ou seja,
para você! Mas mesmo que o vidro esteja aberto ou
que você se dê àqueles ‘sinais’ nada gentis ou cris-
tãos, o primeiro prejudicado será você! ‘Devemos fa-
lar na ausência de uma pessoa somente aquilo que
teríamos coragem de dizer na presença dela’ (Santo
Antônio de Lisboa)”124

123 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #221: “It’s all good, Father”.
Catholic Exorcism. 24 dec. 2022. Disponível em <https://www.ca-
tholicexorcism.org/post/exorcist-diary-221-it-s-all-good- father>.
Acesso em 10 mai. 2023.

124 MÚCIO, Marlon. 40 dias transformando maldições em bençãos.


Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova e Taubaté (SP): Edi-
tora Missão Sede Santos, 2015, p. 32.

306
Quando pensamos na passagem de Paulo e Silas
na prisão, que foi aberta por meio do louvor (cf. At
16), entendemos o poder do louvor e podemos per-
ceber que nossas graças ainda não chegaram, porque
não aprendemos a louvar o suficiente.
“Sabe o que é isso? Eles preferiram o louvor a fi-
car se lamentando, mostrando que suas feridas eram
maiores que as dos outros presos, dizendo que tudo
acontecia só com eles, como naquele antigo desenho
animado: ‘Ó dia. Ó vida. Ó azar’. Eles clamaram ao
céu na certeza da fé e com louvores. Glória a Deus
por isso!
Deus quer esta atitude de nós. Quer que preste-
mos atenção e aprendamos com os santos. Devemos
agir com essa fé-certeza, de maneira que brote o
louvor e venha o poder de Deus que liberta de to-
das as cadeias. Assim, aquela chuva de bênçãos
que temos esperado, aquelas promessas do Senhor
que ainda não se cumpriram acontecerão. As res-
postas a nossas orações vão acontecer a partir des-
se momento, pois Deus, em seu infinito amor, es-
pera ansioso para abençoar-nos como resposta de
nosso louvor.
Que lindo! Que lindo é saber que, assim como
eu, você também está descobrindo esse caminho!
Seu coração deve estar pegando fogo como o meu
agora. Isso é obra de Deus que quer renovar sua vida
por inteiro. […] Quando você atinge o céu com seu
louvor, as bênçãos não vêm apenas para você e uma

307
situação específica, mas atingem as pessoas que es-
tão próximas. Você verá que isso é verdade quan-
do essas pessoas que estão mais perto começarem
a mudar o comportamento, atitudes, julgamentos
e a visão sobre você. E não só isso, também mui-
tas outras mudanças você poderá conferir. Faça essa
experiência. Coloque num caderno de orações uma
lista com graças que você precisa receber, problemas
não resolvidos, pessoas que você não consegue per-
doar, o emprego que está difícil de conseguir ou até
mesmo aquela promoção, aquele aumento de salá-
rio, aquela reivindicação, a cura de sua enfermidade
ou de alguém que você conhece. Não se esqueça de
apresentar ao Senhor as pessoas de sua família, seu
marido, esposa, filhos, pais, irmãos, sogros, genros,
noras, cunhados, primos, tios, enteados, padrastos,
madrastas, padrinhos e afilhados, vidas que preci-
sam de cura, de libertação e dignidade. Todas essas
pessoas, com certeza, vão receber a bênção. Não se
esqueça dos outros presos que foram libertos com o
clamor e o louvor de Paulo e Silas. É exatamente isso
que você vai fazer com essa lista. Em cada item, lou-
ve, bendiga e glorifique a Deus. Não tenha receio de
elevar ao céu o seu louvor.”125
Os anjos louvam a Deus sem cessar. Aprendamos
com eles a louvar em todas as situações, em todos
os momentos da nossa vida. “Os anjos, ao cantarem,
olham para o Filho de Deus chagado, que por nós e

125 FASANELLA, Ítalo J. Passanezi. No poder do louvor. São Paulo:


Edições Loyola, 1999, p. 32-34.

308
por amor aos homens realizou a redenção dando a
si mesmo para a redenção dos nossos pecados. Você
também faz parte da letra do louvor entoado nos
céus. O cântico novo é sobre a nossa salvação, é sobre
você. Que forte saber então que, ao adorarem a Deus
nos mais altos céus, os anjos também O agradecem
por ter salvado os homens e feito com que eles pu-
dessem estar mais uma vez em comunhão com o seu
Criador e com suas criaturas. Homens e Anjos foram
feitos para a Glória de Deus.”126

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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126 BRITO, Rafael. O segredo dos anjos. São Paulo: Angelus Editora,
2021, p. 176.

309
Oração:
São Miguel Arcanjo, diante do trono de Deus, junto
com todos os santos anjos, cantais um poderoso hino
de louvor. Vinde em meu socorro, ajuda-me a vencer
o vício da murmuração e a ser uma pessoa de louvor.
Amém!

310
Capítulo 31

Derrotando o medo
com o auxílio dos Anjos

O outro grande bloqueio que nos impede de


alcançarmos as graças para nós é o medo. Quantas
vezes ficamos sem conseguir resolver um problema,
parados diante de uma situação imprevista, ou mes-
mo aniquilados diante da possibilidade de um fra-
casso, por causa do medo que chegou sem avisar.
Vou contar para vocês uma história que aconte-
ceu comigo há alguns anos, e mostra como o auxí-
lio dos anjos é importante para vencermos o medo
que quer nos paralisar. Eu vivia há pouco tempo no
Instituto Hesed, e saí de casa um dia, acompanha-
do de algumas das nossas irmãs, para fazer compras
num atacadista perto do aeroporto, na nossa Kombi,
a qual tínhamos ganhado há pouco tempo. Sempre
que saímos de casa, invocamos o nosso Santo Anjo
da Guarda para nos proteger. As kombis não têm
trava automática, e o modo como travamos é ma-
nual, parecido com os fuscas de antigamente. Pode
ser travada com a chave, mas existe uma forma de

312
travá-la sem a chave, somente abaixando o pino e,
em seguida, fechando a porta enquanto seguramos
a lingueta da fechadura. Como, às vezes, eu me es-
quecia das coisas, sempre recebia a recomendação
dos superiores: “Confira se o carro está trancado!”.
Chegamos no supermercado, saímos do veículo e
eu conferi todas as portas e janelas da kombi. Tudo
trancado!
Após fazermos as compras, eu teria que pegar
um religioso de outra congregação que iria dar uma
formação para toda a comunidade das irmãs, bem
como dos irmãos. Tudo havia sido preparado na-
quele dia na nossa casa, todos adiantaram os ofícios
e organizaram as tarefas, para estar naquela forma-
ção. Quem mora em grandes comunidades sabe co-
mo é difícil organizar o horário de todos para uma
atividade assim. Chegando junto ao carro, coloco
minhas mãos no bolso, e não consigo pegar a cha-
ve. Olho para o banco e lá está ela. A chave estava lá
dentro, trancada. Na mesma hora, surgiu o medo de
ter que chamar um chaveiro, de ter que ligar para
o pregador, de ter que dar satisfação para a comu-
nidade inteira do meu erro, que prejudicaria todo
mundo. Enquanto ainda estava paralisado pelo me-
do, vi um homem com os trajes de segurança que
perguntou: “Algum problema?” Respondi que sim,
e mostrei o motivo: a chave no banco. Ele me disse
que isso acontecia sempre lá, e ele tinha aprendido
como ajudar os clientes em apuros. Pendurada em
uma árvore havia uma linha. Ele me explicou como

313
ele fazia, e em seguida fez um laço, passou pela la-
teral da porta, laçou o pino, levantou-o e… abriu a
porta. Fiquei muito impressionado com a ajuda que
ele me deu, agradeci imensamente, perguntei o seu
nome, e ele me disse: Marcos. Eu ia saindo do esta-
cionamento quando pensei em perguntar se ele pre-
cisava de algo, de alguma ajuda. Voltei, mas não o vi
mais. Perguntei aos outros seguranças onde estava o
Marcos. Disseram-me que não tinha nenhum segu-
rança com este nome. Apontei para a direção onde
estava a kombi e onde eu acabara de vê-lo, mas os
outros seguranças ficaram me olhando, sem enten-
der, garantindo que não trabalhava nenhum segu-
rança chamado Marcos por lá. Ao final, percebi que
tinha sido salvo do meu medo e da confusão que
aconteceria por causa do auxílio dos Santos Anjos.
Não preciso dizer que chegamos em casa cinco mi-
nutos antes do horário, com o pregador, e tudo aca-
bou bem!
Já percebeu que muitas vezes não conseguimos
libertar-nos do mal, e isso acontece porque o medo
ou alguma outra coisa estão impedindo, como uma
barreira, que a libertação aconteça? Vou transcrever
aqui um relato do Mons. Rossetti, muito esclarece-
dor, sobre o que estamos falando sobre o medo:
“Sempre temos alguns casos que andam muito
devagar ou estão parados. A Equipe reza fielmente
com a pessoa atormentada, mas o progresso é pra-
ticamente nulo. Então, sabemos que é hora de dis-
cernir: do que os demônios estão se alimentando?

314
Os demônios se alimentam especialmente de
raiva, falta de perdão, arrogância e desobediência.
Enquanto essas coisas estiverem apodrecendo no
coração da pessoa aflita, os demônios não irão em-
bora. Então, levamos a pessoa a um processo de cura
espiritual para resolver esses problemas. A pessoa
precisa abrir mão desses problemas e permitir que
Jesus cure suas feridas.
Recentemente, estou encontrando outras feri-
das que também impedem o progresso, como a au-
todepreciação e um medo generalizado. Uma das
pessoas atormentadas que estamos atendendo odeia
a si mesma; os demônios estão usando isso como
uma porta para entrar e se agarrar. Uma segunda
pessoa está cheia de medo e se apavora com a me-
nor mudança ou incerteza; sempre que isso acontece,
ele regride e parece que começamos tudo de novo.
Ambos foram encaminhados a um psicoterapeuta
católico para ajudar a curar essas feridas.
Se alimentarmos os demônios, eles não irão
embora. Em um exorcismo, devemos discernir e re-
tirar dos demônios qualquer sustento que estejam
recebendo. Isso os deixará famintos. Por fim, eles
ficarão tão fracos que irão embora.
Suspeito que isso seja verdade em todas as nossas
vidas. Talvez seja bom parar um momento e refletir:
há alguma ferida em nós que alimenta o maligno?

315
Que Jesus cure a todos nós!”127
É por isso que devemos pedir e clamar o socor-
ro dos Santos Anjos para nós. O medo pode e deve
ser vencido, com o auxílio dos Anjos. “No Antigo
Testamento, Eliseu passou por uma situação de
grande perigo de morte. Estava sendo caçado como
inimigo de guerra pela nação vizinha. E, certo dia, ao
amanhecer, seu empregado depara com um exército
ao sair da tenda. Estavam cercados. Nada havia a fa-
zer. O caso estava perdido aos olhos humanos, mas
não aos olhos de Deus.
Eliseu faz uma oração importantíssima em que
pede a Deus a visão espiritual para o seu criado, que
estava desesperado: ‘Senhor, abre-lhe os olhos pa-
ra que veja!’ (2Rs 6,17). E, atendendo a esse pedido,
Deus faz com que o servo de Eliseu veja que à sua
volta havia um número incomparavelmente maior
de combatentes em seus carros de fogo. Era o socor-
ro espiritual, invisível mas real.”128 Deus enviou o
socorro dos Santos Anjos, que ajudaram o profeta e
derrotaram o medo no coração do criado.
Assim aconteceu na vida dos santos. A Beata
Maria Pierina de Micheli, grande apóstola da Sagrada
Face, viu o inimigo se levantar contra este apostolado

127 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary: Don’t Feed The Demons.


Spiritual Direction. 27 abr. 2021. Disponível em <https://spiritualdi-
rection.com/2021/04/27/exorcist-diary-dont-feed-the-demons>.
Acesso em 10 mai. 2023. [Tradução nossa]

128 EREIRA, Rufus e MENDES, Márcio (org.). Eu lhes trago melhora e


cura. Cachoeira Paulista (SP): Editora Canção Nova, 2019, p. 9.

316
pedido a ela por Jesus, e enfrentou um grande medo
diante de várias situações. Assim descreve ela:
“Noite de luta... mas depois Jesus teve piedade
de mim... combatida de todos os modos, como de
suicídio... não podendo mais, lembrei que o padre
tinha me dito que devia chamar o Anjo da Guarda.
Então, supliquei a ele para não me abandonar nas
garras do demônio... o Anjo veio e os demônios fugi-
ram. Passamos um momento de celeste conversação.
O Anjo me disse: ‘não tenhas medo porque quando
combate os demônios, não nos vês, mas muitos an-
jos estão ao teu redor para defender-te’. Eu lhe pedi
para que se fizesse ver, porque, estando sozinha, te-
nho medo. O Anjo acrescentou: ‘se nos visses sem-
pre, não haveria mais sofrimento. Porém, estejas
certa de que se fosse necessário, nos verias. Não vês
agora que eu vim?’.”129

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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129 CÂMARA, José Eduardo. Os anjos na vida dos santos. Histórias e


meditações. Campinas (SP): Editora Ecclesiæ, 2018, p. 20-21.

317
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Meu querido Santo Anjo da Guarda, em meus medos
diários, socorrei-me. Vinde e socorrei-me para que eu
não seja acorrentado pelos meus medos. Sopra sobre
o meu coração o esforço necessário para viver aquilo
que Deus quer de mim, me submetendo a Sua Santa e
preciosa vontade. Amém!

318
‫לֵאָכיִמ‬
Micha'el

321
PARTE VI

NOVENA A
SÃO MIGUEL
Como arremate do nosso caminho de conhe-
cimento e de libertação do inimigo, proponho que
rezemos uma Novena ao Glorioso São Miguel, que
derrotou Satanás no combate no céu e nos ajuda a
derrotar o mal em nossas vidas, combatendo jun-
to com os Santos Anjos em nosso favor, contra o
inimigo. O Senhor nos apresenta a oportunidade
de meditarmos mais profundamente sobre a figura
e a grandeza do Glorioso Príncipe dos Exércitos do
Senhor. Apresentamos a seguir os textos para a me-
ditação. As orações para a novena a São Miguel serão
colocadas no final do livro, em anexo.

323
Capítulo 32

1º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel,
general de Cristo
(Santa Joana D’Arc)

Na pessoa de São Miguel estão perfeitamen-


te unidas a sua grandeza e a sua humildade. Ele é
chamado general de Cristo e Príncipe dos Exércitos
do Senhor, e essas características são derivadas da
sua profundíssima e excelsa humildade. Como a
Santíssima Virgem Maria canta no seu Magnificat,
que Deus derrubou do trono os poderosos e exaltou
os humildes (cf. Lc 1,52), assim temos a aplicação
mais perfeita na pessoa de São Miguel.
Comecemos por apresentar a sua excelsa humil-
dade na grande batalha que aconteceu no céu, on-
de os anjos combateram uns contra os outros, moti-
vados pela soberba de Lúcifer, que deu o seu brado
“Não servirei” (cf. Jr 2,20). Lúcifer fora criado por
Deus e, como todas as coisas criadas, foi criado como

324
fruto da bondade de Deus. Pois Deus não cria nada
que seja mau. Contudo, na sua liberdade, Lúcifer es-
colheu o orgulho e, por causa deste mesmo orgu-
lho e do seu brado de soberba, começou a “arrastar”
um grande número de espíritos celestes para a sua
rebelião.
“A Escritura fala de um pecado desses anjos.
Esta ‘queda’ consiste na opção livre desses espíritos
criados, que rejeitaram radical e irrevogavelmente a
Deus e seu Reino. Temos um reflexo desta rebelião
nas palavras do Tentador ditas a nossos primeiros
pais: ‘E vós sereis como deuses’ (Gn 3,5). O Diabo é
‘pecador desde o princípio’ (1Jo 3,8), ‘pai da menti-
ra’ (Jo 8,44). É o caráter irrevogável de sua opção, e
não uma deficiência da infinita misericórdia divina,
que faz com que o pecado dos anjos não possa ser
perdoado.”130
Diante deste brado tenebroso de Lúcifer, um
anjo humilde dá glória a Deus, e solta o seu brado
de fé: Quis ut Deus? Quem como Deus? Ninguém.
São Miguel “não somente alcançou as prerrogativas
e excelência de que gozou aquele primeiro serafim
(Lúcifer), primogênito dos celestiais espíritos, en-
quanto perseverou em graça, senão que São Miguel
tem outras muitas mais e raríssimas e admiráveis,
porque não somente Deus enriqueceu com grande
porção a pessoa deste glorioso espírito, senão que
lhe deu cargos e ofícios honrosíssimos e de suma

130 Catecismo da Igreja Católica, 392-393.

325
autoridade e excelência.”131
Entre os cargos tão especiais conferidos a São
Miguel, é importantíssimo lembrarmo-nos de que
ele é General de Cristo. General de Cristo porque
segue o seu grande mestre. A grande glória de São
Miguel é justamente estar à sombra do seu Senhor,
a quem ele adora e a quem ele busca satisfazer com
todo o amor.
“A glória de São Miguel não está somente em ser
príncipe e superior dos espíritos celestiais, o que teve
Lúcifer, mas em ser imperador dos anjos e capitão
general dos exércitos de Deus. […] Tantos méritos
se queriam para este título por ser gloriosíssimo e
de suma autoridade, o qual merece São Miguel, pois
não só é cabeça e capitão dos anjos, senão que o me-
receu ser por aquela rara façanha de resistir, vencer
e confundir Lúcifer e alcançar gloriosa vitória sobre
os espíritos rebeldes, naquela memorável batalha
que houve no céu.”132
O grande São Miguel, príncipe dos Exércitos do
Senhor, também convocou Santa Joana D’Arc a guiar
os exércitos franceses e a fazer com que o rei francês
fosse coroado, libertando o país da invasão dos in-
gleses. Foi uma aparição do General dos Exércitos do
Senhor, que não deixou dúvidas da sua convocação.

131 NIEREMBERG, Juan Eusebio. Devoção a São Miguel Arcanjo. Ni-


terói (RJ): Editora Caritatem, 2021, p. 35. Com correções nossas.

132 NIEREMBERG, Juan Eusebio. Devoção a São Miguel Arcanjo. Ni-


terói (RJ): Editora Caritatem, 2021, p. 49.

326
“A transformação de Joana dá-se num encontro
marcante com São Miguel, quando, com ele, aprende
a linguagem dos anjos e, assim, a discernir as apa-
rições angélicas de outras manifestações espirituais.
Durante esses momentos, o arcanjo ordenou que
Joana partisse em auxílio ao rei da França e, com a
ajuda e proteção do general das tropas celestes, com-
batesse ao lado da nação na Guerra dos Cem Anos,
protegendo a França da invasão dos ingleses. Em
seguida, Joana deixa o lar paterno e vai em busca
de sua missão, pois essa era a vontade de Deus.”133
“Destemida e confiante nas orientações do arcan-
jo, Joana D’Arc conduz a tropa e juntos libertam
Orleans. Joana e seu exército vencem inúmeras ba-
talhas, e seu grito ecoa pela França: ‘Por Deus e pela
nação!’. Sua tática militar, baseada no respeito e na
moral, e seu caráter singular a faziam ser admirada
por muitos, de compatriotas a inimigos; a ‘Virgem
de Orleans’ cumpria a vontade de Deus.”134
Quando o juiz interrogou Santa Joana D’Arc
sobre qual foi a primeira voz que ela escutou quan-
do tinha 13 anos, a santa guerreira logo respon-
deu: “‘Era São Miguel a quem vi ante meus olhos.
Não estava sozinho, mas acompanhado pelos anjos
do céu.’

133 BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre angelolo-


gia. São Paulo: Paulus, 2021, p. 156.

134 BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre angelolo-


gia. São Paulo: Paulus, 2021, p. 156 e 158.

327
Diante da seguinte questão — se havia visto real
e corporalmente São Miguel e os anjos — a Virgem
de Orléans confirmou: ‘Vi-os com os meus próprios
olhos, como agora o vejo a si. Quando me deixaram,
chorei, porque desejava que me tivessem levado con-
sigo.’ A seguir transcreve-se o diálogo final entre
Joana d’Arc e o juiz sobre as aparições angélicas.
JUIZ: Você possui algum sinal de que estas apa-
rições sejam de espíritos bons?
JOANA: São Miguel garantiu-o ainda antes que
tivessem chegado as vozes.
JUIZ: Por que sabia que era São Miguel?.
JOANA: Pela maneira de falar e a linguagem dos
anjos; acredito firmemente que foram anjos.
JUIZ: Como reconheceu que se tratava de lin-
guagem dos anjos?
JOANA: Em breve acreditei, e acreditei docil-
mente. Quando São Miguel me apareceu, disse-me
que Santa Catarina e Santa Margarida me visitariam
e que deveria realizar então o que elas me sugeris-
sem, já que tinham recebido a ordem de me guiar e
me aconselhar e eu devia acreditar nelas, pois era a
ordem de Nosso Senhor.
JUIZ: E quando o maligno se mostra em forma
ou aspecto de anjo, como pode reconhecê-lo?
JOANA: No momento conheceria com exati-
dão se se tratava na verdade de São Miguel ou de um
imitador fraudulento. A primeira vez duvidei se seria
na realidade São Miguel. E tive também um grande

328
temor; devia olhá-lo várias vezes até que soube que
era São Miguel.
JUIZ: Por que deu crédito posteriormente, e não
na primeira ocasião?
JOANA: A primeira vez ainda era uma menina e
tive medo. Depois, me ensinou-me e mostrou muitas
coisas, assim firmemente acreditei que fora ele.
JUIZ: Sobre o que a ensinava?
JOANA: Acima de tudo, exortou-me a ser uma
boa menina, e dessa maneira Deus ajudar-me-ia. E
entre outras coisas dizia-me que devia ajudar o rei
de França [...]. E o anjo falou-me de uma grande tri-
bulação na qual se encontrava a França.
JUIZ: Em que forma e figura, grandeza e vestido,
lhe apareceu São Miguel?
JOANA: Apareceu como um verdadeiro nobre.
Sobre os seus vestidos e o resto não direi nada mais.
Acredito nas palavras e obras de São Miguel, que me
apareceu, como acredito que Nosso Senhor sofreu a
paixão e morte por nós. O que me concedeu é o bom
conselho, o consolo e a doutrina que ele me confiou.
(insistindo sobre a bandeira que ela pintara, o
juiz questiona).
JUIZ: Então, são os dois anjos quem guarda o
mundo? Mas, por que não deixou pintar mais anjos,
quando era Nosso Senhor quem lhe ordenou levar a
bandeira?
JOANA: Toda a bandeira foi ordenada por
Nosso Senhor. E as vozes de Santa Catarina e Santa

329
Margarida diziam-me: ‘Toma esta bandeira por or-
dem do Rei do Céu!’ E porque me diziam ‘Toma esta
bandeira por ordem do Rei do Céu!?’, deixei de pin-
tar de cores a Nosso Senhor e aos dois anjos. Tudo
isto o fiz por seu mandato.
JUIZ: Perguntou-lhes se com essa bandeira vai
ganhar todas as batalhas que empreenda e sair vito-
riosa delas?
JOANA: Diziam-me que levasse valorosamente
a bandeira e Deus me ajudaria.
JUIZ: A esperança da sua vitória funda-se na
sua bandeira ou em você mesma?
JOANA: Em Nosso Senhor e em ninguém
mais!”135
Santa Joana D’Arc conseguiu grandes vitórias,
seguindo as orientações do Glorioso Arcanjo São
Miguel. Também nós devemos seguir os passos de
São Miguel nessa caminhada de libertação do mal,
com o auxílio de São Miguel e dos Santos Anjos.
Da mesma forma, hoje, o glorioso São Miguel
Arcanjo te convoca para segui-lo no seu exército.
Nas nossas lutas diárias, nos nossos combates e, so-
bretudo, nos nossos combates espirituais, temos a
possibilidade de lutar com nossas próprias forças,
contra inimigos mais fortes que nós. Muitas das nos-
sas lutas interiores e dificuldades da vida são cau-
sadas pelas nossas próprias fraquezas e pecados,

135 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 312-314.

330
bem como pelas outras pessoas, pelo mundo que
nos rodeia. Mas não devemos nos esquecer de que
o inimigo combate contra nós, atacando-nos por
meio de tentações e de obsessões. Nestes combates,
o Senhor nos concede uma grande graça, que é a de
contarmos com o auxílio do Exército de São Miguel.
Ele segue à nossa frente, mostra-nos o caminho, e
combate por nós com o auxílio dos Santos Anjos, de
quem ele é o príncipe. Confiemo-nos à sua potente
proteção, e seremos por ele guardados e ajudados.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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331
Oração:
Glorioso Arcanjo, ajudai-me e guiai-me pelos cami-
nhos de Deus, assim como guiastes a Virgem Santa
Joana D'Arc. Ajuda-me a ser humilde e obediente à
tua voz e cumprir em tudo a santa e amorosa vonta-
de de Deus. Desejo lutar com todo o Exército de São
Miguel pela glória do Altíssimo e pela salvação das al-
mas. Amém!

332
Capítulo 33

2º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel,
vencedor dos demônios
(Santa Faustina)

No segundo dia da Novena em honra a São


Miguel Arcanjo, queremos meditar na sua grande-
za como vencedor dos demônios. No combate que
aconteceu contra Lúcifer, São Miguel foi vencedor,
derrotando o inimigo, que foi precipitado nos infer-
nos com os demônios que seguiram os seus passos.
Os demônios, entretanto, continuam a perseguir os
filhos de Deus, atormentando-nos das mais diversas
formas. Por isso, é oportuno lembrarmo-nos de que,
como outrora, também hoje São Miguel combate e
derrota o inimigo infernal e seus demônios.
Assim, devemos nos lembrar sempre “da gran-
deza de seu poder contra os maus espíritos, como os

334
destruiu precipitando-os do céu e como os afugenta
agora onde quer que estejam, onde primeiro rompeu
lanças com Lúcifer, ou melhor, em Lúcifer; foi no céu
onde teve com ele dois grandes encontros e batalhas?
A primeira foi com a força da inteligência, pro-
curando colocar-lhe nela quando tanto o descami-
nhou da verdade sua soberba, procurando com ca-
ridade persuadi-lo, com muitas razões que para isso
trouxe de humilhar-se a seu Criador; porém, como
não pôde com a inteligência reduzi-lo à obediência
divina, investiu sobre ele com todas as suas forças,
levado pelo zelo ardente e caridade que o abrasavam,
e por violência o precipitou do céu com todos os que
o seguiram. Desde então São Miguel ficou como ca-
pital inimigo dos espíritos malignos, seu persegui-
dor, seu destruidor e martelo, com suma potestade
para com eles; pois, como se declara no Apocalipse,
quando São João viu São Miguel, que tinha a cha-
ve do Inferno e trazia uma grande corrente na mão,
descer do céu, viu que pegava Lúcifer e o atava com
a corrente e o lançava uma segunda vez no Inferno,
onde o deixou preso e acorrentado por muitos sécu-
los. Isto São Miguel fez no início da Igreja, para que
não estorvasse este dragão infernal a pregação do
Evangelho e a extensão da fé e religião cristãs. Ora,
se tanto poder teve São Miguel contra o maior dos
demônios que o atou como a um cachorro, sem re-
sistência alguma, quanta será a sua autoridade e po-
tência contra os outros demônios, os quais tremem

335
diante da presença deste fortíssimo anjo e dela fo-
gem, como se viu em muitas ocasiões?”136
São Miguel defende-nos nos nossos combates
diários, e a sua intercessão é particularmente eficaz
nos combates que travamos contra os demônios.
“Pois não é contra homens de carne e sangue que te-
mos de lutar, mas contra os principados e potestades,
contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra
as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares”
(Ef 6,12). Este combate espiritual, é claro, também
foi travado pelos santos. Entre os grandes místicos
da Igreja Católica, um dos que sobressai por suas
experiências com os Santos Anjos, e mesmo com
São Miguel, é Santa Faustina Kowalska, canoniza-
da por São João Paulo II, e que recebeu do próprio
Jesus numerosas revelações sobre a devoção à Divina
Misericórdia.
Santa Faustina tinha um relacionamento mui-
to especial com os espíritos celestiais, e era muito
grande a sua intimidade com o seu Anjo da Guarda.
Desde cedo ela o invocava, e era atenta às suas santas
inspirações. “Elena Kowalska — este era o seu no-
me antes de professar os seus votos — desenvolveu, a
partir dos nove anos, quando recebeu a sua primeira
Santa Comunhão, um zelo extraordinário pela ora-
ção. A sua mãe, preocupada, surpreendeu a filha em
várias ocasiões quando no meio da noite rezava ajoe-
lhada no chão; num determinado momento quis pôr
136 NIEREMBERG, Juan Eusebio. Devoção a São Miguel Arcanjo. Ni-
terói (RJ): Editora Caritatem, 2021, p. 125-126.

336
fim a estes exageros e advertiu-a bruscamente: ‘Vais
perder a cabeça com todas as tuas orações’! Mas a
resposta da menina não se fez esperar: ‘Não, ma-
mãe! Creio que o meu anjo da guarda me desperta
para a oração’.”137
Ela tinha uma convivência íntima com seu Anjo
da Guarda, contando também com o seu auxílio pa-
ra executar tarefas do seu dia a dia. Certa vez, uma
das irmãs da sua congregação relatou um fato acon-
tecido enquanto as duas moravam no convento de
Vilnius, capital da Lituânia:
“Quando estávamos juntas em Vilnius, a irmã
Faustina trabalhava no jardim e eu na cozinha; es-
tava sozinha e sobrecarregada. Muitas vezes, de noi-
te, ao apagar as luzes ainda tinha muito para lavar.
Então a irmã Faustina vinha em minha ajuda, em-
bora fosse de saúde débil e estivesse muito cansada.
Mas o seu amor pelo próximo era tão grande que me
ajudava com gosto. Recordo que em certa ocasião
fui enviada pela madre superiora à cidade e a irmã
Faustina devia substituir-me na cozinha. E como me
admirei quando regressei da cidade e a vi sentada
tranquilamente num banco; todo o trabalho estava
terminado. ‘Irmã Faustina’, perguntei-lhe, ‘como foi
isto possível? Quem a ajudou?’ Ela respondeu com

137 WINOWSKA, M., Anrecht auf Barmherzigkeit, Schwester Fausti-


nas Ikone. Friburgo (Suíça): Parvis-Verlag, 1972, p. 27. Apud HOLBÖ-
CK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos e os santos.
Lisboa: Paulus, 2016, p. 357-358.

337
um delicado sorriso: ‘Os anjos ajudaram-me, senão,
não o teria conseguido’.”138
O inimigo buscou atacá-la de todas as formas, e
isso começou sobretudo após o momento em que ela
fez a sua Consagração expiatória, oferecendo-se pe-
los pecadores, em especial por aqueles que perderam
a sua esperança na Divina Misericórdia. “As conse-
quências desta entrega de si mesma pelos pecadores
não se fizeram esperar: a partir deste dia, o diabo en-
trou abertamente na sua vida; com pérfidos ataques
ou moléstias Verdadeiras, começou a persegui-la
com o seu ódio.”139 Foram vários ataques, como este
que a própria santa descreve no seu Diário:
“Jesus deu-me a conhecer como Lhe é agradável
a oração reparadora, dizendo-me: A oração da alma
humilde e amante desarma a ira de Meu Pai e alcan-
ça um mar de bênçãos. Terminada a adoração, na
metade do caminho para a cela, fui cercada por uma
multidão de cães negros e grandes, que pulavam e
uivavam, querendo despedaçar-me. Percebi que não
se tratava de cães, mas de demônios. Um deles disse
com raiva: ‘Por nos teres arrebatado, esta noite, tan-
tas almas, te faremos em pedaços’. — Respondi: ‘Se
essa for a vontade de Deus misericordiosíssimo, po-
dem despedaçar-me, pois eu o mereci com justiça,
138 WINOWSKA, M., Anrecht auf Barmherzigkeit, Schwester Faus-
tinas Ikone. Friburgo (Suíça): Parvis-Verlag, 1972, p. 147. Apud HOL-
BÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos e os
santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 358.

139 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 360.

338
porque sou a mais miserável dos pecadores, e Deus,
sempre santo, justo e infinitamente misericordioso’.
— A essas palavras os demônios responderam to-
dos juntos: ‘Fujamos, porque não está sozinha, mas
com ela está o Onipotente!’ — E desapareceram do
meu caminho como o pó, como o ruído da estrada.
E eu, tranquila, terminando o Te Deum, ia para a cela
refletindo sobre a infinita e incomensurável miseri-
córdia de Deus” (Diário, 320).140
“O Diário de Santa Faustina mostra quanto sata-
nás tem medo da veneração à Divina Misericórdia.
Lemos que, quando por ocasião do encerramento
do Jubileu da Redenção do mundo, em 1935, a ima-
gem de Jesus misericordioso, pintada por Eugeniusz
(Eugênio) Kazimirowski, foi exposta para veneração
pública em Ostra Brama, o demônio manifestou o
seu ódio diante de Faustina:
‘[…] vi o braço de Jesus fazer um movimento e
traçar um grande sinal da cruz. Nesse mesmo dia, à
noite, quando me deitei na cama, vi como essa ima-
gem pairava sobre uma cidade, e essa cidade estava
coberta de fios e de redes. À medida que Jesus ia pas-
sando, cortava todas essas redes e, no fim, traçou um
grande sinal da cruz e desapareceu. Foi então que me
vi cercada por uma multidão de figuras raivosas e in-
flamadas de grande ódio para comigo’ (D. 416).
Quando, na sexta-feira, no dia da memória da
salvífica Paixão de Jesus, após ouvir o sermão do

140 KOWALSKA, S. Faustina. Diário. Curitiba: Editora da Divina Mi-


sericórdia, 1995, p. 115.

339
Pe. Miguel Sopocko sobre a Misericórdia Divina,
Faustina estava voltando para casa, percebeu os espí-
ritos maus que queriam assustá-la:
‘[…] surgiu diante de mim uma multidão de
demônios que me ameaçavam com suplícios terrí-
veis e podiam ouvir-se vozes: — Ela nos roubou tu-
do aquilo que conseguimos com o trabalho de tan-
tos anos. Quando lhes perguntei: — De onde vindes
em tão grande número?
Responderam-me essas figuras maldosas: — Dos
corações dos homens; não nos atormentes’ (D. 418).
Quando Santa Faustina fez em seu Diário um re-
gistro sobre as cinco chagas de Jesus, ouviu satanás
gritar:
‘Ela escreve tudo, escreve tudo, e por isso nós
perdemos tanto! Não escrevas sobre a bondade de
Deus. Ele é justo!’ — E, uivando furioso, desapare-
ceu’ (D. 1338).”141
Ela também contava com a poderosa interces-
são do glorioso São Miguel Arcanjo, que a ajudava
e protegia. “No dia de São Miguel Arcanjo, vi es-
se guia perto de mim. Ele me disse estas palavras:
“Recomendou-me o Senhor que eu tivesse um espe-
cial cuidado por ti. Fica sabendo que és odiada pelo
mal, mas não temas. Quem como Deus!” — E desa-
pareceu. Contudo, continuo a sentir a sua presença

141 SZANIAWSKI, Edmund. O combate de Santa Faustina contra o


inimigo da Misericórdia. Curitiba: Editora Apostolado da Divina Mi-
sericórdia, 2019, p. 20-21.

340
e a sua ajuda” (Diário, 720).142 Peçamos também
nós essa potente intercessão do Glorioso São Miguel
Arcanjo e dos Santos Anjos para nos protegerem e
guardarem dos ataques dos demônios.
“Queres combater, também tu, nas fileiras angé-
licas, em socorro dos irmãos de todo o mundo? Usa a
pequena, mas poderosa arma da oração: é mortífera
contra as forças do inferno. Diz assim: ‘São Miguel
Arcanjo, vencedor dos demônios, com tuas legiões
celestes, liberta da rede satânica todos quantos estão
para ser tragados pelas águas do grande abismo da
sensualidade, da droga e do espírito de violência’.”143

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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142 KOWALSKA, S. Faustina. Diário. Curitiba: Editora da Divina Mi-


sericórdia, 1995, p. 212.

143 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Vi um anjo


de pé no Sol. Guiados pelos Espíritos Celestes cada dia do ano. Belo
Horizonte: Editora da Divina Misericórdia, 2006, p. 85.

341
Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no
Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Glorioso São Miguel, recorro a Vós e aos Santos Anjos
para pedir que vinde em meu socorro e me livre dos
ataques dos demônios. A todo o tempo eles me ron-
dam querendo a perdição da minha alma, não permi-
ta, meu Arcanjo São Miguel! Vinde e socorrei-me sem
demora. Amém!

342
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Capítulo 34

3º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

Consolação do povo
Israelita e
nosso consolador
(Santa Teresinha)

Um dos títulos recebidos por São Miguel em


sua ladainha é o de Consolador do Povo Israelita.
De fato, São Miguel agiu em diversas ocasiões co-
mo protetor e consolador daquele povo que saíra
do Egito rumo à terra prometida. D. Nicola Ricci, o
grande compilador dos feitos de São Miguel, assim
descreve as suas ações para com o povo eleito: “São
Miguel, cheio de caridade, abriu aos hebreus o Mar
Vermelho, deu a Lei por meio de Moisés no Sinai,
fez cair do céu todos os dias o maná no deserto, fez

344
do povo de Israel vencedor contra seus inimigos.”144
São Miguel guiou o povo israelita e o protegeu dos
seus inimigos durante o Êxodo do Egito. Nós pode-
mos imaginar todas as dificuldades que o povo is-
raelita teve, enquanto caminhava da terra da escra-
vidão rumo à terra prometida. E, depois, em tudo o
que passou durante a instalação na terra de Canaã, o
Exílio na Babilônia, a destruição do Templo etc. “Em
todo o processo histórico de sofrimentos, ali estava
de pé diante do Todo-Poderoso, o Arcanjo Miguel
que jamais deixou de apresentar suas súplicas e ora-
ções por Israel.”145
“Como Anjo da Guarda da nação dos Israelitas
e especial representante de Deus diante de seu povo,
São Miguel é apresentado com palavras que revelam
o grande amor divino e a solicitude do Senhor, junto
com os deveres dos homens para com os Anjos da
Guarda em geral”.146 Essas palavras são aquelas de
Êxodo 23, 20-22: “Vou enviar um anjo adiante de ti
para te proteger no caminho e para te conduzir ao
lugar que te preparei. Está de sobreaviso em sua pre-
sença, e ouve o que ele te diz. Não lhe resistas, pois
ele não te perdoaria tua falta, porque meu nome

144 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quares-


ma de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Insti-
tuto Hesed, 2021, p. 73.

145 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo,


Angelus Editora, 2022, p. 172.

146 PARENTE, Pascale. São Miguel. In: REIS, Anderson (org). Os três
arcanjos. Jaú (SP): Editora Imaculada, 2023, p. 22.

345
está nele. Mas, se lhe obedeceres pontualmente, se
fizeres tudo o que eu te disser, serei o inimigo dos
teus inimigos, e o adversário dos teus adversários.”
São Miguel protege e consola os que a ele se con-
fiam. Assim, “considere, cristão, que o ministério de
São Miguel é um ministério de consolação, e quantas
vezes você vê aproximar-se alguma forte e gravíssi-
ma tribulação, e sem demora recorre a São Miguel,
invoca o seu consolador, e é consolado. Os anjos que
a ele são subordinados estão prontos, e os enviará
para confortá-lo. Ele tem inúmeros meios para con-
solá-lo. Florante, um comerciante inglês, cujos na-
vios haviam sido queimados no porto, recorreu a ele,
e São Miguel lhe enviou um peixe, em cujo ventre
encontrou ouro suficiente para construir o mesmo
número de navios e, sobrando-lhe ainda um dinhei-
ro, edificou uma igreja e um mosteiro beneditino em
honra a São Miguel.
Também a Beata Oringa invocou-o e foi conso-
lada, ficando livre das agressões da serpente infer-
nal que ameaçava engoli-la. A São Miguel recorreu o
aflito Rei Malloate da Dinamarca, e teve de volta, vi-
vos, os seus três filhos já quase mortos. A São Miguel
recorreu Alfonso Puccinelli, Bispo de Manfredônia,
na iminente peste do ano 1656, e a cidade foi pou-
pada. Ele visita os enfermos, e os cura, como curou
o Imperador Marciano, consola os desanimados,
faz-se fiança dos pecadores, expulsa os demônios,
que sempre trazem aflições, apaga as paixões arden-
tes, que causam amarguras, convida-nos à santidade,

346
é caminho de consolação, como fala Pantaleão. Qual
é aquela pessoa aflita que, em suas tribulações espi-
rituais ou corporais, invocou São Miguel e honrou o
benéfico príncipe dos anjos, e não foi consolado?”147
O consolo e o socorro de São Miguel aconte-
cem também para com os que estão sofrendo pro-
vas espirituais. Santa Teresinha do Menino Jesus,
no final da sua vida, sofreu uma terrível prova de fé.
Ela estava intercedendo pelos ateus, e por todas as
pessoas que não acreditavam no cuidado de Deus,
e ela mesma acabou por ser provada também nes-
sa área. Seguindo a sua pequena via, ela continuava
confiando na bondade de Deus. Uma de suas últimas
recreações piedosas (parecidas com peças de teatro,
que eram apresentadas em momentos importantes
da vida conventual, por ocasião de alguma celebra-
ção) falava justamente sobre a pessoa de São Miguel:
o Triunfo da Humildade.
“‘Não, a Igreja não triunfará...como ela poderia
resistir ao meu triunfo?’ Santa Teresa de Lisieux deu
a Lúcifer esta frase em sua peça sobre a batalha entre
São Miguel e Lúcifer, ‘O Triunfo da Humildade’. Teresa
argumenta que foi a grande virtude de São Miguel,
a humildade, que acabou derrotando Satanás. Desta
forma, São Miguel Arcanjo […] é um anjo guerrei-
ro de paz, vestido com a armadura das virtudes e
armado com a espada da conversão. Ele é aquele

147 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quares-


ma de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Insti-
tuto Hesed, 2021, p. 125-126.

347
que serve apropriadamente à Santíssima Trindade e
à Mãe de Deus, cujo próprio exemplo de humildade
inspira a todos os outros, inclusive Miguel. ‘Eu fui
derrotado! Eu fui derrotado!” Lúcifer finalmente
cai na derrota na peça de Teresa.’148
Santa Teresinha permaneceu firme no Senhor,
e a peça Triunfo da Humildade demonstra a con-
fiança que a própria autora tinha no socorro de São
Miguel para as suas aflições, e de como ele é sinal
do socorro que o próprio Jesus nos dá. Assim escre-
ve ela: “Sou Miguel / Venho do Céu. / Minhas ir-
mãs queridas / Ride do inferno irado / Não receeis
as suas fúrias / Pois Jesus combate por vós”149. Em
meio às nossas tribulações, quantas vezes podemos
contar com o auxílio fiel e o consolo constante de São
Miguel Arcanjo! Ele nos consola em nossas aflições,
pois combate em nome e com a autoridade de Nosso
Senhor Jesus Cristo.

148 DAY, James. Who is like God? Saint Michael the Archangel
guards and protects us. Orange County Catholic, 01/11/2021. Dispo-
nível em <https://www.occatholic.com/who-is-like-god/>. Acesso
em 20 de abr. de 2023. [tradução nossa]

149 TERESA DO MENINO JESUS, S. Triunfo da Humildade, cena 2. In.


Obras Completas. Marco de Canaveses (Portugal): Edições Carme-
lo, 1996, p. 1025.

348
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
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Oração:
São Miguel, consolador do povo israelita, assim como
protegestes o povo que saiu do Egito rumo à terra pro-
metida, protege-me e conduz-me pelo caminho da vi-
da, para que eu também alcance a graça de chegar à
pátria celeste e viver eternamente cantando as alegrias
do Senhor. Amém!

349
Capítulo 35

4º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel e a força


da Eucaristia
(Pe. Pio)

A devoção a São Miguel Arcanjo conduz-nos


para um amor cada vez mais ardente a Deus. O seu
brado “Quem é como Deus?” leva-nos sempre a dar
glória a Deus, a reconhecer a grandeza de Deus co-
mo Criador, e a nossa pequenez como Criaturas.
Assim, damos glória a Deus sobretudo quando são
celebrados os sacramentos, entre os quais tem espe-
cial destaque a Santa Missa.
“‘Do trono saíam relâmpagos e vozes e trovões, e
diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo: São os
sete espíritos de Deus’ (Ap 4, 5). Estes sete espíritos
de fogo que queimam como lâmpadas acesas dian-
te do Senhor, nos lembram a menorah que se tinha
diante do Santo dos Santos no templo. Estes são os

351
nossos irmãos Príncipes Serafins, que são abrasados
pelo fogo do Senhor e que possuem como primeiro
entre eles o maravilhoso Miguel.
Este fogo é o amor de Deus. A missão dos sera-
fins será aquela de nos abrasar e fazer nossa alma ar-
der de desejo por Deus. Neste sentido, é interessante
ver o ensinamento de São Boaventura, chamado de
‘Doutor seráfico’, a respeito da missão de São Miguel
em nossas vidas.
Segundo o santo franciscano, a missão de
Miguel é aquela de conduzir-nos a amar a Deus as-
sim como ele ama. Fazendo dele o nosso Sumo Bem
e única fonte de nossa felicidade. Miguel também
nos joga no fogo do amor de Deus que ele mesmo
é imerso, ele, no caminho em nos conduzir a Jesus,
nos ensina os benefícios de ter o coração aceso e
queimando de amor para com o Senhor.
Ainda nesta linha exegética em que se entende
Miguel como um Serafim, existe uma antiga lada-
inha do Arcanjo que o invoca assim:
São Miguel, Príncipe dos Serafins, rogai por nós.
São Miguel, Sol esplêndido de amor, rogai por nós.
São Miguel, primeira chama do ardentíssimo ze-
lo, rogai por nós.
São Miguel, ministro da divina Clemência de
Deus, rogai por nós?!”150

150 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo,


Angelus Editora, 2022, p. 210-211.

352
Um devoto de São Miguel tem profunda devo-
ção à Santíssima Eucaristia, e busca não somente
participar da Santa Missa todo domingo, mas inclu-
sive nos outros dias feriais, bem como prolongar esse
momento de união com Jesus Eucarístico, buscando
fazer companhia a Ele nas visitas ao tabernáculo e na
adoração ao Santíssimo Sacramento.
Padre Pio é grande devoto de São Miguel desde
a infância. “Sua brincadeira preferida era a procis-
são e, nas proximidades do Natal, divertia- se cons-
truindo pequenas figuras de barro para o presépio,
sobretudo a do Arcanjo Miguel, de quem sempre foi
muito devoto durante toda a vida.”151 E, como frade
capuchinho, estava subordinado à província de São
Miguel Arcanjo. Além disso, durante a maior parte
de sua vida, habitou no convento de San Giovanni
Rotondo, cidade localizada a poucos quilômetros da
célebre gruta de São Miguel. O Pe. Ladislao Suchy,
reitor do Santuário do Monte Gargano, esclarece:
“Diz-se que o Padre Pio sempre teve este dese-
jo: visitar a gruta de São Miguel. Ele expressou esse
desejo a seu superior que, assim que os frades ter-
minaram seus exames, organizou a viagem a Monte
Sant’Angelo para honrar o santo padroeiro da pro-
víncia religiosa dos Capuchinhos, tanto para re-
compensar os estudantes que acabavam de terminar
seus exames, quanto para agradar ao Padre Pio. Às
três horas da manhã, do dia 3 de julho de 1917, o
151 LEITE, Silvana C. Padre Pio: crucificado por amor. São Paulo: Edi-
ções Loyola, 1999, p. 15.

353
grupo partiu de San Giovanni Rotondo para Monte
Sant’Angelo. Naquela época, as estradas estavam mal
dispostas e, portanto, era necessário percorrer cerca
de vinte e seis quilômetros. Diz-se que o Padre Pio
percorreu uma boa distância, mas depois, sofrendo
como estava, foi obrigado a tomar a carroça. Pelo ca-
minho, ele recitou o Santo Rosário e algumas lada-
inhas em honra de Nossa Senhora, a quem ele tanto
amava, e de São Miguel. Na entrada do santuário,
ele foi tomado de intensa emoção e depois parou
em devota e profunda meditação aos pés do altar
de São Miguel. A partir daquele dia, sua devoção ao
Príncipe celestial teve um impulso evidente e maior.
Cada ano ele fazia uma Quaresma de preparação
para a festa do Arcanjo.”152 E disse ainda:
“Padre Pio disse: ‘Antes de vir até aqui...vá até
Monte Sant’Angelo e invoque a ajuda e proteção do
Arcanjo Miguel….’. O Padre Pio considerava São
Miguel um amigo precioso que o apoiou em suas
duras batalhas contra o demônio. Cada um de nós
na vida tem uma luta... mas a nossa é uma luta vi-
toriosa porque Cristo ressuscitou. Ele é vitorioso...
e nós, com Ele, somos vitoriosos. Às vezes perde-
mos o sentido do nosso caminho... mas São Miguel
nos lembra o caminho certo a seguir e nos convida

152 SERAGO, Nina. “San Michele e Padre Pio ci ricordano il gius-


to sentiero da percorre…” Tele Radio Padre Pio. Disponível em: <ht-
tps://https://www.teleradiopadrepio.it/san-michele-e- padre-pio-
ci-ricordano-il-giusto-sentiero-da-percorre/>. Acesso em: 19 de
abril de 2023. [tradução nossa]

354
a todos a entrar na gruta para mergulhar na intimi-
dade do amor e da misericórdia do Senhor.”153
Padre Pio é conhecido pela sua união à Santíssima
Eucaristia. “Sua alegria maior era a celebração da
Santa Missa, que ele estendia por muito tempo, le-
vando alguns fiéis a reclamar. Numa carta escrita a
seu diretor espiritual, em 18 de abril de 1912, Padre
Pio revela sua alma de sacerdote: ‘Terminada a Missa,
detive-me um pouco com Jesus, para a ação de gra-
ças. Oh, como foi suave o colóquio com o Paraíso
esta manhã! Não teria palavras para descrever tudo;
ocorreram coisas que não podem ser traduzidas em
linguagem humana sem perder seu sentido profun-
do e celestial. O coração de Jesus e o meu, permi-
ta-me a expressão, fundiram- se. Já não eram dois
corações que batiam, mas um só. Meu coração havia
desaparecido como uma gota d’água que desaparece
no mar’.”154
Assim, seguindo os passos do Padre Pio, ao re-
zarmos essa novena ao Glorioso São Miguel Arcanjo,
queremos pedir ao Senhor a graça de crescermos
num amor ardente a Ele, e numa união com o
Sacramento do Amor, com a Santíssima Eucaristia.

153 SERAGO, Nina. “San Michele e Padre Pio ci ricordano il giusto


sentiero da percorre…” Tele Radio Padre Pio. Disponível em: <https://
https://www.teleradiopadrepio.it/san-michele-e- padre-pio-ci-ri-
cordano-il-giusto-sentiero-da-percorre/>. Acesso em: 19 de abril
de 2023. [tradução nossa]

154 LEITE, Silvana C. Padre Pio: crucificado por amor. São Paulo: Edi-
ções Loyola, 1999, p. 29-30.

355
É importante, além de elencar a devoção de Padre
Pio ao Arcanjo São Miguel e de sua união a Jesus
Eucarístico, apresentarmos também o exemplo de
outro santo do sul da Itália, o seráfico São Geraldo
Majella, também ele grande devoto de São Miguel
Arcanjo.
“Aos oito anos, levado por irresistível impulso
interior, S. Geraldo Majella ajoelhou-se, com os de-
mais fiéis, à Sagrada Mesa, mas o Sacerdote negou-
-lhe a Comunhão e fê-lo desviar do Altar. Era ele
muito pequeno e estavam ainda bem longe de apare-
cer aquelas normas, com as quais S. Pio X convidaria
a multidão das criancinhas a abeirarem-se da Mesa
Santa, embora com idade inferior à de Geraldo. O
pequeno, confuso e aflito, retirou-se para o lado, e
desfez-se em lágrimas. Porém o Coração de Cristo
não ficou insensível à dor daquele seu filhinho que-
rido. Durante a noite seguinte aparece a Geraldo
o Arcanjo S. Miguel e dá-lhe a comungar a Hóstia
branquinha e consagrada, que trazia nas mãos
angelicais.
‘Ontem, o Padre não quis dar-me a Comunhão
— confidenciou Geraldo, candidamente, à Senhora
Manuela Vetronícia e a outros íntimos de Casa —
mas esta noite S. Miguel Arcanjo trouxe-me a
Comunhão.’ Quando, já religioso e próximo da mor-
te, lhe foi imposto por obediência que revelasse os
segredos da sua alma, Geraldo não fez mais que re-
petir o que declarara em pequeno.

356
Comenta o seu biógrafo: ‘Ora, aquela ingênua
simplicidade infantil, sincera como a Verdade, uni-
da à sabedoria do homem maduro em santidade e
que foge até da sombra da mentira, não bastará pa-
ra fazer desaparecer toda a dificuldade em aceitar a
narração do fato como crível. Além disso, é digno
de nota que Geraldo deu sempre o lugar de honra à
imagem do Arcanjo e cresceu em devoção para com
ele desde que das suas mãos comungou.”155 Que nós
possamos seguir o exemplo de São Miguel, bem co-
mo dos grandes santos devotos do Arcanjo potente,
e fazer o nosso propósito de crescer no amor e na
união a Jesus Eucarístico.
“‘Outro Anjo veio postar-se junto ao altar, com
um turíbulo de ouro. Deram-lhe uma grande quan-
tidade de incenso para que oferecesse com as ora-
ções de todos os santos sobre o altar de ouro que está
diante do trono de Deus’ (Ap 8,3).
Como preparação à Santa Missa, pede a assis-
tência daqueles liturgos celestes, que são os Anjos.
Dirige-te em particular ao Arcanjo São Miguel, com
esta prece extraída de uma antiga novena popular
em sua honra:
‘Gloriosíssimo Arcanjo Miguel, que estás à di-
reita de nossos altares para levar ao trono de Deus
nossas orações e sacrifícios, assiste-me, te peço,
em todos os exercícios de piedade cristã, a fim de

155 SIENA, Giovanni. Padre Pio e os anjos. Porto: Editora Educação


Nacional, 1960, p. 114-115.

357
que, cumprindo-os com constância, recolhimen-
to e fé, mereça ser, por tuas mãos, apresentado ao
Altíssimo e por ele recebido como incenso, em odor
de agradável Suavidade’.”156

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


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156 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Vi um anjo


de pé no Sol. Guiados pelos Espíritos Celestes cada dia do ano. Belo
Horizonte: Editora da Divina Misericórdia, 2006, p. 223.

358
Oração:
São Miguel, convosco quero aprender a amar Jesus na
Santíssima Eucaristia. Fazei com que a minha alma
seja abrasada pelo fogo do amor ardente por Nosso
Senhor. Ó querido Arcanjo Miguel, conduzi-me até
Jesus e ajudai-me a buscá-lo com maior desejo, inspi-
rando a importância de visitar e adorar Nosso Senhor
no Santíssimo Sacramento. Amém!

359
Se levar como
modelo do teu viver
a vida imaculada da
Santíssima Virgem,
especialmente a
sua pureza e a sua
humildade, será
particularmente
protegido por
São Miguel.

361
Capítulo 36

5º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel e
a força da Cruz
(São Francisco)

Para um devoto de São Miguel, é importante


lembrar que a vitória de Jesus aconteceu por meio
de sua morte na Cruz. “E quando eu for levantado
da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,32).
E ainda: Na Cruz, Jesus mostra o seu reinado (cf.
Catecismo da Igreja católica, 440). “Sepultados com
ele no batismo, com ele também ressuscitastes por
vossa fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos
mortos. Mortos pelos vossos pecados e pela incir-
cuncisão da vossa carne, chamou-vos novamente à
vida em companhia com ele. É ele que nos perdoou
todos os pecados, cancelando o documento escri-
to contra nós, cujas prescrições nos condenavam.
Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz.

362
Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao
ridículo, triunfando deles pela cruz” (Cl 2,12-15).
É pela Cruz que somos salvos e remidos. Foi
na Cruz que Nosso Senhor alcançou para cada um
de nós a possibilidade de irmos ao Céu. Por isso, a
Cruz marca a nossa vitória e a derrota de Satanás.
“Com este sinal vencerás!” — Essa foi a frase dita
por São Miguel ao imperador Constantino, quando
da sua batalha contra Maxêncio, ao apresentar-lhe a
Santa Cruz como sinal de vitória. O imperador co-
locou o sinal da Cruz nas bandeiras de seu exérci-
to, o qual alcançou importante vitória contra os seus
inimigos. “Em circunstâncias similares, o rei Afonso
Henriques de Portugal (que se tornou membro lei-
go da Ordem da Santa Cruz) ganhou uma batalha
importante contra os mouros no supostamente in-
vencível Castelo de Ourém, depois que São Miguel
apareceu-lhe, prometendo sua ajuda. Isso levou à
consagração de toda a nação a São Miguel em 1140
por São Teotônio, co-fundador da Ordem da Santa
Cruz.”157 Muitas das ilustrações e esculturas de São
Miguel representam-no segurando uma cruz, como
sinal de que ele combate sob as ordens de Jesus.
Foi também por meio da Santa Cruz que
São Miguel alcançou para o povo que vivia no

157 WAGNER, O.R.C, Pe. William. Devotion to St. Michael the Ar-
changel: Part 2. Circular Letter Opus Sanctorum Angelorum, Advent
2011. Disponível em <https://opusangelorum.org/devotion- to-st-
-michael-the-archangel-part-2/>. Acesso em 19 de abril de 2022.
[Tradução nossa].

363
monte Gargano uma libertação prodigiosa. No ano
de 1656, uma grave epidemia de peste ameaçava as
pessoas que viviam naquela região do sul da Itália.
Muito devoto de São Miguel Arcanjo, o Arcebispo
Alfonso Puccinelli suplicou o auxílio a São Miguel
que protegesse o povo de sua arquidiocese do flagelo
da peste.
“Ao entardecer do dia 22 de setembro, duran-
te um momento de oração no palácio episcopal em
Monte Sant’Angelo, o arcebispo Puccinelli foi sur-
preendido por um evento extraordinário. Surgindo
como um terremoto, São Miguel apresenta-se relu-
zente ao fiel arcebispo, que, fascinado, ouve atenta-
mente as instruções da criatura celeste: ‘Saiba que eu,
Arcanjo Miguel, rezei a Santíssima Trindade: onde
quer que as pedras da caverna sejam guardadas com
devoção, a peste se afastará dos homens. Ao aben-
çoar as pedras, você vai inscrever o sinal da cruz so-
bre elas, com o meu nome’. Ordenou-lhe então que
consagrasse as pedras da caverna marcando-as com
o sinal da cruz e as iniciais de Miguel Arcanjo - MA.
E os devotos, que com fé conservassem as pequenas
pedras, ficariam imunes à contaminação. Obediente
às palavras de São Miguel, o arcebispo e inúmeros
devotos receberam a orientação como uma promes-
sa, o que de fato aconteceu. A cidade foi liberta da
epidemia, e as pedras enviadas a amigos ou paren-
tes fora da região também protegeram todos aque-
les que as possuíam.”158
158 BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre angelolo-
gia. São Paulo: Paulus, 2021, p. 78.

364
São Miguel Arcanjo está unido ao mistério da
Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! “Uma an-
tiga tradição no monte Gargano que remete ao ano
de 1675, quando a peste dominava a região, traz um
ritual todo peculiar: a benção com a espada de São
Miguel. Tal espada se encontra nas mãos da imagem
venerada no monte. A cada ano, no dia 29 de setem-
bro, a espada sai em procissão nas mãos do reitor do
santuário ou do bispo diocesano, tendo ao lado a re-
líquia da cruz e ao centro o Santíssimo Sacramento.
Essa benção dada a todo o mundo tem uma
simbologia profunda. A espada se encontra ao la-
do da relíquia da cruz em um relicário de cristal.
Mas ao centro de ambas se encontra o Santíssimo
Sacramento, que para nós é a presença real do pró-
prio Cristo.
Tal rito é vinculado à adoração a Jesus sacramen-
tado, fazendo-nos entender que a arma que Miguel
usa sempre será a adoração devida a Deus, colocan-
do-o no centro de sua vida.
Ao fim de tudo, a adoração e o louvor a Deus
constituem-se como a arma mais eficaz contra o
Maligno. Ter um coração adorador é a essência de
todo cristão batizado. Portanto, revestir-se da ar-
madura de Deus é ter uma atitude constante de res-
peito, veneração, adoração e serviço a Deus e aos
irmãos.”159

159 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo,


Angelus Editora, 2022, p. 162-163.

365
Também durante a recente pandemia do
Coronavírus, foi feita uma procissão com a espada
de São Miguel, ladeada pela relíquia da Santa Cruz e
pela própria presença eucarística de Jesus, clamando
o fim das mortes por causa da doença que atingiu
todo o mundo.
“No Domingo de Ramos, a cidade italiana de
Gargano invocou São Miguel Arcanjo contra o co-
ronavírus. A espada do arcanjo foi carregada por pa-
dres em uma pequena procissão. A espada é retira-
da do seu relicário apenas uma vez por ano, no dia
de São Miguel Arcanjo, em 29 de setembro. Porém,
a crise gerada pelo coronavírus provocou orações
urgentes. A espada foi carregada em procissão jun-
to com o Santíssimo Sacramento e uma relíquia da
Santa Cruz.
O Il Timione, um jornal católico italiano, descre-
veu o evento como ‘de grande impacto’, tanto ‘em ter-
mos de fé quanto de história’. O Padre Ladislao Suchy
invocou o príncipe da hoste celestial:
‘Hoje queremos invocá-lo porque, como no
passado, nos vários momentos de provação, de de-
sastres naturais e até de peste, nossos antepassados
o invocaram e sempre tiveram sua ajuda. Sua inter-
cessão trouxe uma salvação prodigiosa para o Monte
Sant’Angelo durante o período da praga de 1656.
Hoje, invocamos sua intercessão junto ao Senhor pa-
ra salvar não apenas o Monte Sant’Angelo, mas toda

366
a Itália, todos os de Gargano e o mundo inteiro desta
epidemia.’”160
É importante lembrarmo-nos de que foi numa
Quaresma em honra de São Miguel Arcanjo que o
poverello São Francisco de Assis recebeu as Santas
Chagas. “Francisco tinha ido ao monte Alverne para
se preparar — como era seu costume — para a fes-
ta do santo arcanjo Miguel, a quem venerava muito,
mediante um jejum de quarenta dias. Concluída a
festividade da Exaltação da Santa Cruz, Francisco
ainda se achava na contemplação do sofrimento do
Jesus na cruz. Depois de uma noite de oração, bri-
lhou sobre ele uma luz sobrenatural; e viu em êxtase
uma coroa de brancos raios ardentes e uma figura
semelhante a um serafim com seis asas, crucificado,
com os braços estendidos e os pés juntos, duas asas
sobre a cabeça, duas estendidas para o voo e duas co-
brindo o seu corpo. Quando o santo, pela alegria e
o susto recebidos, voltou a estar consciente, encon-
trou as cinco chagas no seu próprio corpo.”161
São Francisco de Assis era muito devoto de São
Miguel, e conta-se que desejava muito seguir em pe-
regrinação à Gruta de São Miguel do Monte Gargano.

160 KNAP, Patty. Cidade italiana invoca a proteção da espada de


São Miguel contra o coronavírus. Aleteia. 16 abr. 2020. Disponível em:
<https://pt.aleteia.org/2020/04/16/cidade-italiana-invoca-a-pro
tecao-da-espada-de-sao-miguel-contra-o-coronavirus/>. Acesso
em 11 mai. 2023.

161 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 292.

367
Ele chegou a ir até aquele lugar, mas acabou parando
antes de entrar na gruta, por se considerar indigno
de entrar em lugar tão sagrado e misterioso. “Entre
estas visitas (à Gruta de São Miguel), ficou justamen-
te conhecida e cuja memória é ainda viva, a visita de
São Francisco de Assis, que veio aqui em preparação
à Quaresma de 1221. A tradição diz que ele, con-
siderando-se indigno de entrar na gruta sagrada,
teria parado na entrada, fazendo um sinal da cruz
sobre uma pedra”162. Isto após ter ficado grande pe-
ríodo de tempo prostrado em oração.
São Francisco de Assis “[…] venerava de mo-
do muito especial, além dos anjos da guarda, o san-
to arcanjo Miguel, como afirma Tomás de Celano:
‘Miguel tem a tarefa de apresentar as almas huma-
nas perante Deus; por isso devemos venerá-lo mais
do que a outros anjos.’ Em sua honra, São Francisco
guardava severamente o jejum desde o dia da
Assunção de Maria até a festividade do arcanjo (29
de setembro). E exortava cada membro da sua famí-
lia religiosa a honrar este príncipe angélico, a ofere-
cer e sacrificar algo especial em louvor e agradeci-
mento a Deus.”163

162 STANZIONE, Marcello. San Michele, patrono universale della


Chiesa. Milão: Edizioni Sugarco, 2014, p. 168. [tradução nossa]

163 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 295.

368
Neste dia da nossa novena ao Glorioso São
Miguel Arcanjo, devemos com insistência clamar
que, pelo poder da Santa Cruz de Nosso Senhor
Jesus Cristo, sejam afastados os males da nossa vida,
por intercessão do Glorioso São Miguel Arcanjo.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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369
Oração:
São Miguel Arcanjo que pelo poder da Santa Cruz,
destruístes inúmeros males que se apoderavam sobre
o povo, venha também em socorro da minha fraque-
za e me ajude a vencer todos os males pelo poder da
Cruz de Cristo. Ajuda-me também a amar a cruz no
momento das provas, para poder triunfar com Jesus.
Amém!

370
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Capítulo 37

6º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel,
protejei-nos
nas tentações
(Santo Antão)

Entre as ações do inimigo para tentar desviar-


-nos do caminho para o Céu, as mais comuns e expe-
rimentadas por cada cristão são as tentações. Desde
o pecado original, nossa natureza humana é marcada
pelas tentações do diabo, que quer nos fazer pecar e
ofender a Deus. Em última instância, quer que não
nos salvemos e sigamos os seus passos rumo ao in-
ferno. Cada um de nós é mais ou menos tentado em
todos os momentos de sua vida. Ensina o Catecismo
da Igreja Católica: “‘Instigado pelo Maligno, desde
o início da história, o homem abusou da própria
liberdade.’ Sucumbiu à tentação e praticou o mal.

372
Conserva o desejo do bem, mas sua natureza traz a
ferida do pecado original. Tornou-se inclinado ao
mal e sujeito ao erro: O homem está dividido em si
mesmo. Por esta razão, toda a vida humana, indivi-
dual e coletiva, apresenta-se como uma luta dramá-
tica entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas.”164
Quantas são as tentações que cotidianamente nos
acometem, contra as quais devemos travar um in-
tenso combate!
Certa vez, uma das fundadoras do nosso Instituto
Hesed, a Madre Jane, teve uma experiência com
Deus. Ela viu uma pedreira, e vários demônios que
estavam trabalhando naquela pedreira, esculpindo
com formões, martelos e outros instrumentos uma
bela escultura. Ela se aproximou e viu que a escultura
era sua própria alma e que havia um mestre de obras.
Quando ela olhou para saber quem era este mestre
de obras, ela percebeu que era Jesus. E, assim, enten-
deu que os ataques do inimigo a cada um de nós,
sobretudo por meio das tentações, são permitidos
por Jesus para que nos tornemos fortes e caminhe-
mos rumo à santidade. Este combate acontece nas
pequenas coisas do dia a dia, quando o inimigo quer
nos instigar a passar na frente do outro em uma fi-
la, a não ser verdadeiro, contando uma mentira para
“escapar” de uma situação difícil, a dormir mais um
pouquinho, mesmo sabendo que é hora de levantar.

164 Catecismo da Igreja Católica, 1707.

373
É claro, o diabo quer, sobretudo, nos levar a pe-
car mortalmente, afastando-nos da graça de Deus.
O Catecismo da Igreja Católica ainda exorta: “Esta
situação dramática do mundo, que ‘inteiro está sob
o poder do Maligno’ (1Jo 5,19), faz da vida do ho-
mem um combate: Uma luta árdua contra o poder
das trevas perpassa a história universal da huma-
nidade. Iniciada desde a origem do mundo, vai du-
rar até o último dia, segundo as palavras do Senhor.
Inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre
para aderir ao bem; não consegue alcançar a unida-
de interior se não com grandes labutas e o auxílio da
graça de Deus.” 165
“A recomendação geral é resistir nos princípios
da tentação, não a deixando crescer, nem ficando
ocioso, nem deleitando-se nela à espera de poder eli-
miná-la depois de um tempo: não a eliminará. Por
isso, a alma deve lançar-se na oração, nas jaculató-
rias e, se preciso, recorrer a jejuns. É muito encoraja-
dor considerar que Deus está a ver o combate e que
não deixará de ajudar e premiar quem a Ele humil-
demente recorre, pondo em prática uma resposta
adequada. Assim, a tentação confirmará o santo, e
como diz o salmista: ‘O mal que ele causou voltará
sobre a sua cabeça; e a sua iniquidade recairá sobre
a sua fronte’.”166

165 Catecismo da Igreja Católica, 409.

166 ASSOCIAÇÃO CULTURAL TUDO INSTAURAR EM CRISTO. Defen-


dei-nos do Inimigo. Lisboa: ACTIC, 2013, p. 62.

374
Eis o nosso combate e, para isso, ajuda-nos mui-
to o auxílio dos Santos Anjos e, sobretudo, do glorio-
so São Miguel Arcanjo. “Considere como é vontade
de Deus que, na terra, São Miguel seja glorificado
por causa da sua poderosa proteção, pois Deus quer
que a Ele recorramos em todas as nossas necessida-
des. Como o Faraó, que elevando José ao trono do
Egito, quando a fome afligia aquelas províncias, e os
povos vinham pedir alimentos, ele, embora fosse o
soberano, mandava-os a José: ‘ide a José’ (Gn 41,55).
Da mesma forma, Deus fala aos povos oprimi-
dos pelas calamidades: ‘recorrei a São Miguel’, em
cujas mãos eu pus a chave dos meus tesouros ‘ide a
Miguel’. Deus quer que, nas tentações, se recorra a
São Miguel, em cujas mãos está a resposta da vitó-
ria sobre as potências infernais. E sem dúvida deseja
que se recorra a São Miguel, ao qual deu o poder de
iluminar a terra”167.
Para o combate contra as tentações, faz-se neces-
sário o uso das virtudes, entre as quais brilha a vir-
tude da humildade. São Miguel Arcanjo, o Arcanjo
da humildade, tem muito a nos ensinar. Ele “[…] faz
sobressair mais esta humildade, a grandeza de sua
natureza, em que foi criado, e os muitos dons so-
brenaturais com que o Senhor o enriqueceu, com os
quais podia exaltar-se em pensamento e envaidecer-
-se, como fez Lúcifer. Mas esta foi grande glória deste

167 RICCI, Nicola. As grandezas de São Miguel. A poderosa Quares-


ma de São Miguel. Socorro em tempo de angústia. Fortaleza: Insti-
tuto Hesed, 2021, p. 210-211.

375
grande espírito: que, tanto mais Lúcifer se exaltou,
ele mais se humilhou e rebaixou até o abismou do
nada, e se sujeitou a Deus, por cuja grandeza, atô-
nito, repetia aquelas palavras: ‘Quem como Deus?
Quem como Deus?’ Com esta consideração ele re-
sistiu à tentação que lhe pôde causar o mau exem-
plo que Satanás lhe deu e ensinou-nos um modo
excelentíssimo de resistir a toda tentação, porque é
muito bom considerar que nada, nem ninguém, é
como Deus e que sua glória e serviço estão acima
de tudo.”168
“A terceira prova de Jesus (nas tentações do de-
serto) exalta ainda mais o poder da palavra. Ao le-
vá-lo a um monte alto, Satanás lhe propõe todos os
reinos da Terra, se este lhe adorar. O Senhor usará a
palavra que define também Miguel:
‘Vai-te, Satanás, pois está escrito: adorarás ao
Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto’ (Mt
4,10).
Assim sendo, Jesus nos ensinou que adoração
nada mais é do que relação exclusiva e singular para
com Deus. Somente a Ele prestarás culto e adoração.
A nenhum outro deveremos devotar a nossa vida.
Quem é Miguel senão aquele que diante das tenta-
ções e presunções do inimigo se levantou e reorde-
nou a adoração no Céu? Veja que a palavra como
espada coloca em ordem o caos levantado, expulsa

168 NIEREMBERG, Juan Eusebio. Devoção a São Miguel Arcanjo. Ni-


terói (RJ): Editora Caritatem, 2021, p. 142.

376
para longe as presunções do maligno e nos coloca
em nosso lugar.
Portanto, a espada do Arcanjo nada mais é do
que a capacidade de ter uma decisão cirúrgica, direta
e rápida, diante das seduções do mundo. A ousadia
do diabo em pedir ao Filho de Deus que lhe adore
beira a loucura. Mas este é o efeito que o pecado
da soberba exerce naqueles que dele vivem. Jesus,
ao responder ao demônio que somente a Deus pres-
tarás culto, lhe recorda que também os espíritos
malignos devem se ajoelhar e submeter-se a Ele en-
quanto Filho de Deus.”169
No combate contra as tentações, sempre é útil e
importante mirarmos o exemplo dos santos. Entre
os grandes combatentes, brilha a figura de Santo
Antão, pai dos monges do deserto. A sua vida bem-
aventurada serviu de luz para os monges do Egito
e cristãos de toda a sua época, a ponto de Santo
Atanásio, o grande apologeta do Egito, ter pedido a
sua intercessão no difícil combate contra os arianos.
Em um dos episódios da vida de Santo Antão, po-
demos compreender a importância de permanecer-
mos em estado de graça, que é a nossa maior defesa
contra o inimigo. Não será uma barreira contra as
tentações, pelo contrário, a vida de alguém que es-
tá em estado de graça é repleta de ocasiões de ten-
tações. Porém, somos fortificados pela graça para
dizermos não ao inimigo e sim à vontade de Deus.
169 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo,
Angelus Editora, 2022, p. 161-162.

377
Assim aconteceu com Santo Antão:
“Viajando por outro deserto, encontrou um pra-
to de prata e pôs-se a dizer consigo: ‘Como este prato
está aqui, onde não se vê vestígio humano? Se um
viajante o tivesse derrubado não teria deixado de
perceber tão grande ele é. Isso, diabo, é um artifício
da sua parte, mas você nunca poderá mudar minha
vontade’. E, ao dizer isso, o prato desapareceu como
fumaça. Pouco tempo depois, encontrou uma gran-
de massa de ouro puro, mas fugiu dela como se fosse
fogo. Chegou assim a uma montanha, onde passou
vinte anos, durante os quais se tornou ilustre por
inúmeros milagres.
Uma vez, quando estava em êxtase, viu o mun-
do inteiro cheio de redes enlaçadas umas nas ou-
tras e exclamou: ‘Ó, quem poderá se soltar delas?’.
E ouviu uma voz dizer: ‘A humildade’. Outra vez,
os anjos começaram a erguê-lo no ar, mas vieram os
demônios e impediram-no de passar, argumentando
com os pecados que cometera desde o nascimento.
Os anjos disseram aos demônios: ‘Vocês não devem
contar as faltas que foram apagadas pela misericór-
dia de Cristo, mas se sabem de outras que ele tenha
cometido desde que se fez monge, apresentem-nas’. E
como não podiam apresentar nada, Antão foi livre-
mente elevado pelos anjos antes de ser novamente
colocado no solo.”170

170 DE VARAZZE, Jacopo. Legenda Áurea: vida de santos. São Paulo,


Companhia das Letras, 2003, p. 172.

378
Os anjos normalmente não elevam fisicamente
as pessoas, mas intercedem por nós para vencermos
as tentações. Contemos com o seu auxílio poderoso,
invocando sobretudo o grande São Miguel Arcanjo,
príncipe dos Exércitos do Senhor, para que possa-
mos vencer as tentações que nos acometem.

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379
Oração:
Meu Senhor, são tantas as tentações que sofremos em
nossa vida. Enviai Vossos Anjos para combater em
meu favor. O inimigo quer me derrotar, mas eu sei
Senhor que os Vossos Anjos virão em meu socorro, pa-
ra que eu não caia em tentação. Humildemente Vos
peço a proteção de São Miguel Arcanjo, em cujas mãos
está a resposta da vitória sobre as potências infernais.
Amém!

380
Capítulo 38

7º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel,
protetor dos exorcistas
e vencedor das batalhas
espirituais
(São Bento)

O cristão está imerso numa batalha espiritual e


algumas vezes o inimigo, além das tentações, que é
a forma comum com a qual ele quer nos afastar de
Deus, age de forma extraordinária. Estas ações ex-
traordinárias são o campo de trabalho do sacerdote
que exerce o ministério do exorcismo. O exorcista
não pode conferir a si mesmo esse ministério, mas
ele o faz somente com uma provisão canônica de
um bispo da Igreja, considerando a gravidade e se-
riedade do assunto em questão. Assim, sobre a ação

382
extraordinária do demônio em nossos tempos, ex-
plica o Presidente da Associação Internacional dos
Exorcistas, Pe. Francesco Bamonte:
“Por ação extraordinária do demônio entende-
-se uma sua particular intervenção sobre a maté-
ria. Quando é exercida em lugares, casas, objetos,
define-se ‘infestação demoníaca local’, quando ao
invés é exercida sobre ou dentro do corpo de uma
pessoa define-se, segundo as diversas formas, ‘ve-
xação’, ‘obsessão’ ou ‘possessão demoníaca’; os limi-
tes, porém, entre uma forma e a outra nem sempre
são claros: é possível o seu entrelaçar-se ou soma-
rem-se na mesma pessoa, com uma gama de per-
turbações de gravidade e natureza variadas. A ação
dos demônios sobre a matéria é rara, por este moti-
vo é definida também com o termo ‘extraordinária’.
Precisamos, todavia, reconhecer que no nosso tem-
po está aumentando, por causa dos contatos cada
vez mais frequentes da parte do povo com o mundo
do ocultismo e de tudo o que gira ao redor disso.”171
O Pe. Bamonte fala sobre a ação do demônio so-
bre coisas inanimadas (casas, terrenos, objetos), que
se chama infestação, e se manifesta de diversas for-
mas, sobretudo quando não se encontram, após um
estudo bastante cuidadoso, nenhuma forma de se ex-
plicarem tais fenômenos com explicações naturais,

171 BAMONTE, Francesco. Possessões diabólicas e exorcismo. São


Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 67-68.

383
auxiliadas pela ciência172. Já as vexações “são agres-
sões físicas a uma pessoa por ação dos demônios,
com cortes ou queimaduras, arranhões, pontadas,
mordidas, pauladas, golpes que deixam marcas, in-
chaços e chagas sangrentas, fratura de ossos. Tudo
isso acontece também sob os olhos de quem even-
tualmente se encontra assistindo.”173 Fenômenos co-
mo esses podem ser lidos nas biografias dos santos,
como Padre Pio e o Cura D’Ars.
Existem também as obsessões demoníacas.
“Para evitar confundi-las com as patologias psiquiá-
tricas, alguns preferem defini-las com o termo de
‘vexações demoníacas mentais (ou psíquicas)’ ou en-
tão ‘vexações demoníacas internas (ou interiores)’;
outros com o termo ‘infestação demoníaca pessoal’.
Todavia, […] é possível que o componente maléfico
e o componente psíquico sejam simultâneos.
As obsessões demoníacas são aqueles casos de
agressão do demônio nos quais, mesmo não blo-
queando, durante as crises, a faculdade intelectual
e a livre vontade da pessoa, ele consegue não obs-
tante comunicar à mente (imaginação e memória)

172 Sugerimos para uma compreensão mais aprofundada do as-


sunto em questão a leitura e estudo atento do livro do Pe. Ba-
monte sobre o assunto: BAMONTE, Francesco. Possessões diabó-
licas e exorcismo. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2007. É bastante
esclarecedor, não somente com relação ao fenômeno, bem como
sobre as possíveis causas que levaram a uma infestação demoní-
aca local.

173 BAMONTE, Francesco. Possessões diabólicas e exorcismo. São


Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 79.

384
pensamentos ou imagens obsessivas, às vezes racio-
nalmente absurdas, mas tais que a vítima não está
em condições de afastar. A pessoa sente-se atormen-
tada por uma ideia fixa, por uma imagem que perce-
be como estranha a si e que procura de todo modo
afastar. Ela se imprime profundamente na sua mente
e no seu espírito — quase como se fosse uma forma
que se imprime na cera — a ponto de parecer real-
mente sua.
As obsessões podem ser de diversas formas e de
diversos graus e intensidade e podem chegar até o
ponto de dominar completamente a mente de uma
pessoa. Nesse caso, manifestam-se como fortíssimas
e prolongadas tentações. ‘Elas podem tomar toda a
atenção da pessoa e são insistentes, malgrado uma
resistência decidida e bem situada, às vezes também
heróica. Podem ser absurdas tentações dos sentidos
(alimentares ou sexuais), mas sobretudo são contra
Deus e todos os aspectos religiosos que nos man-
têm ligados a ele. Só o abandonar-se a Deus ajuda a
não sucumbir nessa submersão e o exorcismo vem
a propósito para libertar dessa violência exterior ou
interior’. Frequentemente as ideias como também as
sensações obsessivas são acompanhadas pela con-
vicção de serem malucas e a pessoa se toma sempre
mais preocupada, triste, prostrada e desesperada.”174
Há, porém, a possessão demoníaca que “não é um
desdobramento da personalidade, como acontece no
174 BAMONTE, Francesco. Possessões diabólicas e exorcismo. São
Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 83-84.

385
caso de doença psíquica. Trata-se, ao invés, de uma
espécie de ‘substituição temporária’ da pessoa, du-
rante a qual entram outras mais fracas. Durante a
crise, estando bloqueada a vontade, a pessoa não é
minimamente responsável por qualquer ação que
realize. Junto com estes, pode se manifestar toda
uma ampla gama de fenômenos de gênero variado.
[…] A pessoa possessa quase sempre sofre vexações
físicas, que no entanto provêm da ação do demônio
no interior do corpo. A elas pode associar-se a ob-
sessão, mas quem tem vexações ou obsessões demo-
níacas não é necessariamente também possesso.”175
Diante de tais ações extraordinárias do inimi-
go de Deus, é muito útil o ministério de um exor-
cista. Entretanto, não são todas as dioceses onde se
pode encontrar um sacerdote exorcista e, por isso,
é importante que se procure fazer orações de liber-
tação, num grupo de oração, seja ele presencial, ou
por meio de um momento de oração que aconte-
ça de forma on-line, como aqueles do Exército de
São Miguel.
São Miguel Arcanjo é o protetor dos exorcistas,
e isto fica claro porque foi ele quem primeiramente
derrotou o inimigo, e o expulsa de nossas casas e de
nossas vidas. O Mons. Stephen Rossetti esclarece o
quanto é importante invocar São Miguel para a nos-
sa proteção:

175 BAMONTE, Francesco. Possessões diabólicas e exorcismo. São


Paulo: Editora Ave-Maria, 2007, p. 90-91.

386
“Eu estava treinando um novo exorcista que,
no início, dizia o Rito de Exorcismo metodicamen-
te, mas sem entusiasmo. Eu disse a ele: ‘Você preci-
sa olhar o demônio nos olhos e ordenar que ele vá
embora!’ Um exorcista precisa ser infundido com o
espírito poderoso e intenso de São Miguel Arcanjo.
Foi Miguel quem se levantou dos coros de anjos fiéis
e liderou com vigor o ataque contra Lúcifer e suas le-
giões. Seu grito de guerra foi: ‘Quis ut Deus?’, ou seja,
‘Quem como Deus?’ Lúcifer havia ousado desafiar
o Todo-Poderoso e São Miguel ardia em uma justa
cólera. Assim como Jesus expulsou os vendilhões do
Templo, Miguel empunhou a Espada da Verdade e
expulsou Lúcifer.
Foi-nos dado a entender que, até hoje, São
Miguel está espiritualmente presente em todos
os exorcismos. Além disso, entendemos que pe-
lo menos um, e talvez mais, das Potestades do céu
(um anjo poderoso e de alto escalão) está ao lado
do exorcista na batalha diária em favor do posses-
so. Juntos, o exorcista e esses anjos poderosos con-
tinuam o ministério de Jesus de expulsar o mal de
nosso mundo.”176
Queria contar ainda mais uma história do co-
nhecido exorcista de Roma, Pe. Gabriele Amorth.
Ele foi chamado para visitar e abençoar uma casa

176 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary: The Spirit Of St. Michael.


Spiritual Direction. 27 sep. 2021. Disponível em <https://spiritualdi-
rection.com/2021/09/27/exorcist-diary-the-spirit-of-st-michael>.
Acesso em 12 mai. 2023. [Tradução nossa]

387
de família, antes dele começar o seu ministério de
exorcismo, pois nesta casa aconteciam fenômenos
estranhos:
“[…] eram ouvidos passos de pessoas que não
existiam; eram encontrados, sob o travesseiro ou
sob a soleira da janela ou sobre o banco do carro,
três moedas, ou três raminhos, ou três pedrinhas;
acontecia frequentemente de encontrar o pente ou
o creme dental dentro da geladeira; durante as refei-
ções, a tampa da água mineral se colocava próxima
à mulher; esta mulher, e somente ela, via de costas
um belo jovem loiro que caminhava pela casa ou nos
prados circundantes. O homem havia avisado a po-
lícia, pensando que alguém quisesse lhe fazer pro-
vocações; mas depois de muitos dias de inúteis vigi-
lâncias, os soldados haviam desistido, pensando que
se tratasse de imaginação ou alucinações de mentes
doentias.
Fui rapidamente. Enquanto vestia a túnica, a
mulher se colocou à parte, olhando-me com olhos
ameaçadores. Comecei a orar, dando a bênção com
água benta; algumas gotas, caídas sobre a mulher,
provocaram reações impensáveis, porque a mulher
se colocou logo a gritar que a água santa queimava.
Fiquei petrificado e recomendei ao marido:
— É uma coisa séria; acompanha tua mulher ao
exorcista da Diocese.
No dia seguinte, foram ao exorcista encarregado,
que disse logo que se tratava de um caso grave, uma

388
verdadeira e própria possessão diabólica.”177
Foram vários exorcismos feitos na mulher, que
havia ficado possessa por causa de um homem que
não queria o casamento, fez um grande feitiço, e ela
ficou possuída exatamente no dia do seu casamento.
“Nas últimas orações de exorcismo aconteceram
dois fatos estranhos. Sobre a fronte da mulher se de-
senhou uma cruz com vermelho descolorido. Pensei
que fosse batom ou alguma coisa parecida. Seu ma-
rido, tocando aquela cruz, viu que era sangue. Nós
lhe perguntamos a razão daquilo, e nos foi dada uma
resposta desconcertante:
— É o sangue de um bebê de quatro dias, que me
foi oferecido pela mãe, que é minha adepta, no meu
templo.
Ficamos desconcertados e horrorizados.
O segundo fato é este. Durante um exorcismo, o
Demônio me disse:
— Vai ver o que fiz ao seu espantalho.
No jardim da casa tinha uma imagenzinha de
Nossa Senhora. Fiz sinal ao marido da mulher pa-
ra ir vê-la. Ao voltar, me disse que a Nossa Senhora
tinha lágrimas de sangue. Terminado o exorcismo,
fomos todos juntos ao jardim para ver. Constatei
eu também aquele fato. Era sangue que descia dos
olhos dela. Pegamos uma Polaroid e tiramos diversas

177 AMORTH, Gabriele. Memórias de um exorcista. A minha vida em


luta contra Satanás. Maringá (PR): Editora Humanitas Vivens, 2011,
p. 31.

389
fotografias que ainda as conservo. Limpamos o ros-
to da Imagem; mas, no dia seguinte, o mesmo fato
se repetiu.
No dia 10 de dezembro, o Diabo prometeu que
no dia seguinte, ‘no dia do seu Senhor’ (era um do-
mingo) à tarde, durante o exorcismo, iria embora pa-
ra sempre. No dia seguinte, por volta das 15h30, fui
até aquela casa. Assim que iniciei a oração, o Diabo
começou a gritar:
— Vejo São Miguel vindo com a espada desem-
bainhada... Eis que está vindo e eu não posso fugir.
E quem é aquela mulher em meio à luz? Está vindo!
Eu gritei:
— É Nossa Senhora! E ele prosseguiu:
— Tem uma grande luz... Há doze estrelas e a
lua sob os pés...
— Não posso mais, não posso mais ficar.
Depois se ouviu um grito como eu nunca tinha
ouvido em minha vida.
A mulher, saída do estado de transe, se desper-
tou perguntando:
— O que aconteceu? Nós lhe gritamos:
— Terminou, terminou!
E nos abraçamos, comovidos.”178
Muitas vezes é importante clamar a intercessão
dos santos, que pedem por aqueles que se confiam

178 AMORTH, Gabriele. Memórias de um exorcista. A minha vida em


luta contra Satanás. Maringá (PR): Editora Humanitas Vivens, 2011,
p. 40-41.

390
a eles. Dentre esses, merece especial atenção o san-
to patrono dos exorcistas, o Patriarca dos Monges,
São Bento.
São Bento já estava imbuído de fé na existência
dos Santos Anjos, e tanto é assim que pede no capítu-
lo 19 da sua Regra que os monges cantem na certeza
de que estão diante dos anjos de Deus. Mas é sobre-
tudo nas suas ações de libertação que São Bento é
conhecido.
“Recordamos também que o Papa Gregório
Magno menciona nos seus Diálogos (l. II, caps. 16
e 30, principalmente) a atividade exorcista de São
Bento, por meio da qual impedia o primeiro anjo
caído, o ‘inimigo antigo’, de exercer a sua influên-
cia maligna sobre os homens. Na oração, em visões
e também à maneira de ameaça sentida fisicamente,
observou o mal, que sob a influência do diabo e dos
outros espíritos malignos — de cuja existência esta-
va convencido — tinha êxito nos problemas quoti-
dianos, assim como nos grandes movimentos anti-
cristãos. Ante esta realidade, São Bento depositava
a sua grande confiança na cruz salvadora de Jesus
Cristo e no amparo dos anjos bons que permanece-
ram fiéis a Deus. Esta defesa contra o mal, herança
de um espírito verdadeiramente beneditino, encon-
tra um reflexo na medalha de São Bento (Cruz de
São Bento), que se conta entre os objetos de devoção
mais antigos da Igreja”.179

179 HOLBÖCK, Ferdinand. Summa Angelorum. Unidos com os anjos


e os santos. Lisboa: Paulus, 2016, p. 188.

391
Pedimos a intercessão do grande patriarca São
Bento, que neste dia de oração da nossa novena a São
Miguel Arcanjo interceda também pela nossa prote-
ção física e espiritual, e que o inimigo seja afastado
das nossas vidas e das nossas casas, protegendo-nos
de todas as suas artimanhas, colocando-nos a salvo,
sob sua proteção.

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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392
Oração:
Senhor, que pela intercessão de São Miguel e dos
Santos Anjos, todas as batalhas espirituais que travam
a minha vida possam ser vencidas pelo poder e pela
graça divina. Afaste de mim e da minha casa todo es-
pírito demoníaco que deseja a perdição da minha al-
ma e da minha família, livrai-nos ó Deus das ciladas e
tentações do inimigo infernal. Amém!

393
São Miguel,
defendei-me no
combate, para que
eu não pereça no
tremendo juízo.

395
Capítulo 39

8º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel,
luz das almas para
levá-las ao céu
(Lourenço Maiorano,
o grande devoto de São
Miguel e Santo Anselmo)

Um dos títulos de São Miguel, presente em sua


ladainha, é o de “luz e confiança das almas”. Em pri-
meiro lugar, a luz e a confiança das almas significam
a missão que o Arcanjo Miguel tem de levar as almas
dos eleitos para o Céu. Cada um de nós, cristãos,
que perseveramos, buscando viver na graça de Deus,
seguindo os mandamentos e em atitude de oração,
esperamos um dia chegarmos ao Céu, que é a meta
da nossa existência terrena. A forma como vivermos

396
aqui nesta terra terá como consequência a nossa vida
na eternidade. Há apenas duas opções definitivas: o
Céu ou o Inferno. O Purgatório é apenas transitório,
para aquelas almas que irão para o Céu, mas ainda
precisam de um tempo para purificarem-se das pe-
nas devidas pelos seus pecados. Por conseguinte, a
ação de São Miguel é conduzir as almas para o Céu.
Assim canta a Santa Igreja nas preces das
Vésperas, na Liturgia das Horas do dia 29 de setem-
bro, Festa dos três Arcanjos: “Que o arcanjo São
Miguel conduza para a luz santa em que habitais,
as almas de todos os fiéis defuntos”180. Sobre o cui-
dado de São Miguel em levar as almas para o Céu,
explica o teólogo Nieremberg:
“Parece que, assim como os chefes de alguns co-
légios, igrejas e comunidades têm direito de apre-
sentar os que quiserem para que neles entrem, as-
sim também foi dado a São Miguel, como patrono
da Igreja, o privilégio de apresentar os que hão de
entrar na Igreja triunfante. É grande glória de São
Pedro ter as chaves do céu, mas São Miguel tem di-
reito para que a abram e deem entrada a todos os
que ele apresentar; e já que ele não tem as chaves do
céu, tem sua entrada aberta e livre.
São Miguel não tem as chaves do céu porque não
o quer fechado, por sua grande piedade para com
o gênero humano, mas tem as chaves do Inferno,

180 Preces das Vésperas da Festa dos Santos Arcanjos Miguel, Ga-
briel e Rafael. LITURGIA DAS HORAS. v. IV. Petrópolis: Vozes. São
Paulo: Paulinas/Paulus/Ave Maria, 1999, p. 1328.

397
como se diz no Apocalipse, porque não o quer aber-
to, para que não saiam de lá os homens (Ap 12). E,
assim, lemos que o uso que teve destas chaves não
foi outro que fechar o Inferno e selá-lo, pelo que
diz São João que, depois de haver algemado Lúcifer
e o lançado no abismo, fechou e selou o Inferno
sobre ele.
Este ofício de apresentar as almas no céu São
Miguel merece por sua grande caridade para com
o gênero humano, pela qual lhe foi concedido por
Deus que, já que lhe ordenou expulsar os homens
do paraíso, execução de tanto rigor, ele também fos-
se quem os restituísse ao paraíso celestial; e sem dú-
vida quando este caritativo espírito se viu obrigado
a expulsar em Adão todo gênero humano daquele
lugar de deleites a este vale de lágrimas, pediria sua
restituição muito aperfeiçoada, e Deus, que costuma
remediar as coisas pelos mesmos instrumentos me-
diante os quais se perderam, outorgou-lhe que fosse
meio para introduzir os homens no céu, já que o foi
para desterrá-los do paraíso.”181
No Céu não há ódio, rancor, aflição. Mas há
grande bondade no coração dos que lá vivem, Santos
Anjos e santos. Assim descreve o Pe. Rossetti:
“Lúcifer, o ‘portador da luz’ original, foi criado
mais alto do que os outros anjos, com inteligência,
brilho e poder extraordinários. Mas, para ele, isso

181 NIEREMBERG, Juan Eusebio. Devoção a São Miguel Arcanjo. Ni-


terói (RJ): Editora Caritatem, 2021, p. 119-120.

398
não era suficiente. Ele não podia aceitar o que Deus
daria aos humanos. Ele não podia aceitar que o Filho
encarnado se tornasse humano e morresse por eles.
A luz em Lúcifer, que agora é chamado de Satanás,
transformou-se em escuridão. O louvor a Deus em
seu coração foi substituído pela raiva.
Santa Faustina teve uma visão das sete torturas
do inferno. A última era o ódio a Deus, palavras vis,
maldições e blasfêmias. Da boca de Satanás e das al-
mas condenadas saem toda uma infinidade de ata-
ques de fúria contra Deus. Eles culpam Deus por
seu destino infernal.
Por outro lado, os que foram salvos estão cheios
de gratidão e ação de graças. Eles estão sempre:
‘Cantando ao Senhor (...) em [seus] corações, dando
graças sempre e por tudo’ (Ef 6,19-20). Os místicos
que tiveram um vislumbre do céu frequentemente
falam da música celestial de inúmeras almas louvan-
do a Deus com alegria e dando graças.
Um grande sinal dos Eleitos nesta Terra é um co-
ração agradecido. Não é por acaso que a palavra para
o grande sacramento da Igreja vem do grego, eucha-
ristia, ‘ação de graças’.
Uma parte essencial de um exorcismo é curar
a raiva e a falta de perdão embutidas no coração
dos possuídos. Eu os conduzo por um breve ritual
de perdão. ‘Repita comigo’, eu digo, ‘No santo no-
me de Jesus, eu perdoo de bom grado [insira os no-
mes] e peço a Deus que os abençoe’. Como dizem as

399
Escrituras, ‘Abençoe aqueles que o perseguem, aben-
çoe-os e não os amaldiçoe’ (Rm 12,14). Sem deixar
de lado a raiva interior e a maldição dos outros, te-
nho pouca esperança de que o possuído, ou qualquer
pessoa, seja libertado.
Em nossos dias, vemos ondas de raiva e vio-
lência varrendo a terra. Às vezes, fico desanimado
com o rumo de nossa nação. Mas no Dia de Ação
de Graças, um mar de almas se reuniu ao redor da
mesa para agradecer ao Criador. Pareceu-me ouvir
um eco da canção do céu. E comecei a agradecer.”182
Santo Anselmo, doutor da Igreja, narra uma in-
tervenção prodigiosa de São Miguel para defender
um religioso que se confiara aos seus cuidados.
“Diz-se que, em uma ocasião, Santo Anselmo
contou sobre um religioso piedoso que recebeu
grandes tentações do demônio quando estava quase
morrendo. O inimigo se apresentou a ele acusando-o
de todos os pecados que havia cometido antes de seu
batizado tardio, mas São Miguel Arcanjo também
apareceu e lhe respondeu que todos esses pecados
foram apagados com o batismo. Em seguida, satanás
acusou o religioso dos pecados cometidos depois do
batismo e São Miguel replicou que esses foram per-
doados com a confissão geral que havia feito antes de
professar.

182 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary #166: An Echo of Heaven’s


Song. Catholic Exorcism, 28 nov. 2021. Disponível em: <https://www.
catholicexorcism.org/post/exorcist-diary-166-an-echo- of-the-
-song-of-heaven>. Acesso em 12 mai 2023. [tradução nossa]

400
O maligno, então, o acusou das ofensas e negli-
gências de sua vida religiosa, mas o arcanjo alegou
que essas tinham sido perdoadas por suas confis-
sões e por todos os bons atos que fez em sua vida
religiosa, de modo especial pela obediência ao seu
superior. Em seguida, acrescentou que o que tinha
ficado por expiar havia sido feito através do sofri-
mento da doença que o religioso viveu com resigna-
ção e paz.”183
Além, é claro, de ser aquele que conduz as almas
para o Céu, São Miguel Arcanjo protege as almas
a ele confiadas aqui nesta terra, e inclusive age por
meio de grandes prodígios para proteger aqueles que
a ele se recomendam. Isso pode ser percebido no tre-
mendo episódio acontecido no Monte Gargano, na
segunda aparição de São Miguel naquela região ita-
liana, conhecida por abrigar o mais notável dos san-
tuários em honra do Príncipe dos Exércitos Celestes.
“A cidade de Siponto estava sitiada pelas tropas
do rei bárbaro Odoacro, quando o bispo sipontino
(São) Lorenzo Maiorano obteve uma trégua de três
dias. Durante esse período, o bispo reuniu o povoa-
do, requerendo muitas orações, jejuns e penitências.
Logo após, subiu ao monte e orou com muita fé a
São Miguel, suplicando a libertação de seus fiéis. Na
alvorada do terceiro dia, estava o religioso a rezar

183 OS SANTOS dizem: são Miguel Arcanjo, o defensor dos mori-


bundos. Acidigital, 29 set. 2022. Disponível em: <https://www.aci-
digital.com/noticias/os-santos-dizem-sao-miguel-arcanjo-o- de-
fensor-dos-moribundos-67468>. Acesso em: 19 abr. 2023.

401
quando apareceu Miguel mostrando-lhe a vitória,
ordenando-lhe que não atacasse o inimigo antes
das 16 horas, a fim de que o sol pudesse testemu-
nhar a sua autoridade. Os sitiados, confiantes na vi-
são do bispo de Siponto, saíram da cidade imbuídos
pelo espírito da batalha. O céu estava sereno, mas
rapidamente armou-se uma grande tempestade, e,
acompanhados de trovoadas e impetuosos raios, os
sipontinos venceram seus inimigos. Essa vitória ob-
tida pelas tropas sipontinas sobre as forças do bárba-
ro Odoacro ocorreu no dia 8 de maio, e São Miguel
é homenageado todos os anos quando os italianos
comemoram o triunfo sobre seus oponentes.”184
São Lourenço Maiorano, que é conhecido pela
sua grande devoção ao Arcanjo São Miguel e por sua
participação nos acontecimentos iniciais que cul-
minaram na dedicação da Basílica de São Miguel
na Gruta do Monte Gargano, confiou o seu povo
aos cuidados de São Miguel e não foi decepcionado.
Tenhamos, pois, uma grande confiança na potente
intercessão de São Miguel Arcanjo, que ajuda-nos a
seguir nos nossos combates espirituais, com a certe-
za de que virá em nosso auxílio quando necessitar-
mos do seu apoio e proteção.

184 BURNETT, Loo. São Miguel Arcanjo. Um tratado sobre angelolo-


gia. São Paulo: Paulus, 2021, p. 74-75.

402
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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Oração:
Pela Vossa intercessão, Arcanjo São Miguel, que eu
busque agradar a Deus e viver conforme a Sua Santa
e Perfeita Vontade. Tu que és, ó São Miguel, a luz e a
confiança das almas, conduzi-me no fim da vida ao
Céu. No grande dia, desejo ser apresentado a Deus por
Vós, para que lá eu habite eternamente. Amém!

403
Capítulo 40

9º DIA DA NOVENA A SÃO MIGUEL

São Miguel, que nos


guia ao derrubar
nossas muralhas
(Josué)

Neste último dia da Novena ao Glorioso São


Miguel, queremos pedir a intercessão do Príncipe
dos Exércitos do Senhor para que todas as muralhas
da nossa vida interior, familiar, profissional, de toda
essa caminhada de libertação do mal, e que ainda não
foram derrubadas, sejam finalmente derrubadas.
Vamos seguir os passos de uma das suas mani-
festações mais conhecidas, feita ao grande guerrei-
ro Josué, como é narrado nas Sagradas Escrituras.
Muitos estudiosos da doutrina católica acerca dos
anjos reconhecem no encontro de Josué e o anjo

405
do Senhor, narrado em Js 3,13-16, a figura de São
Miguel Arcanjo, de fato, ele diz que é o Príncipe dos
Exércitos do Senhor, e este título é atribuído a São
Miguel.
Acompanhemos passo a passo a narrativa, para
percebermos como São Miguel ajudou Josué e co-
mo poderá nos ajudar também a derrubar as mura-
lhas que impedem a ação de Deus em nossas vidas.
“Josué encontrava-se nas proximidades de Jericó.
Levantando os olhos, viu diante de si um homem de
pé, com uma espada desembainhada na mão. Josué
foi contra ele: ‘És dos nossos – disse ele – ou dos
nossos inimigos?’. Ele respondeu: ‘Não! Venho co-
mo chefe do exército do Senhor’. Josué prostrou-se
com o rosto por terra e disse-lhe: ‘Que ordena o meu
Senhor a seu servo?. E o chefe do exército do Senhor
respondeu: ‘Tira o calçado de teus pés, porque o lu-
gar em que te encontras é santo’. Assim fez Josué” (Js
5,13-16).
Em primeiro lugar, devemos nos recordar que o
grande libertador do povo Israelita, Moisés, falecera
há pouco, e havia passado a guia do povo de Israel a
Josué, que deveria enfrentar uma das suas mais di-
fíceis tarefas. Diante dele estava a grande cidade de
Jericó, com suas muralhas praticamente intransponí-
veis. Josué era já experiente na guerra, mas o que ele
poderia fazer com um exército, até certo ponto pou-
co numeroso, que habitava em tendas, diante de uma
cidade que tinha grandes e altas muralhas?

406
É nesta hora que vem em socorro dele o glo-
rioso São Miguel Arcanjo. Na tradução que nor-
malmente usamos, da Bíblia Ave Maria, não aparece
uma palavra que está no original hebraico: “Aqui es-
tou”. Sabemos que a oração é imediatamente respon-
dida quando pedimos algo ao Senhor. E, no caso dos
Santos Anjos, o auxílio é imediato. Diante das preo-
cupações de Josué, há uma pronta resposta de Deus
por meio do envio de São Miguel, anjo guardião de
Israel, Príncipe dos Exércitos do Senhor.
São Miguel pede a Josué que tire as sandálias dos
pés, sinal de que está diante de uma manifestação ce-
lestial. Como antes já havia acontecido com Moisés,
também com Josué, Deus vem em socorro do seu
povo, mas agora vem em socorro por meio do Chefe
dos Exércitos do Senhor. Devemos sempre nos lem-
brar de que a Deus damos glória. Confiamos nEle e
Ele age por nós. Ele é o defensor do Povo de Deus e
o nosso defensor.
Josué enfrentou os inimigos que estavam en-
trincheirados em uma cidade amuralhada. Também
nós temos muitas muralhas a enfrentar nas nossas
vidas. A imagem das muralhas é clara, para que pos-
samos entender aquilo que na nossa vida parece in-
transponível aos olhos humanos, aquilo que parece
inalcançável, se olhamos com nossas próprias for-
ças humanas, mas aquilo que para nós parece im-
possível não é impossível para Deus. Devemos sem-
pre nos recordar daquilo que disse o Anjo Gabriel

407
à Santíssima Virgem Maria: “Para Deus, nada é im-
possível”! (Lc 1,37)
“Prostrado com o rosto por terra, Deus lhe dá a
orientação de rodear a cidade com trombetas e cân-
ticos de louvor. Por sete vezes ele assim o fez. No úl-
timo dia, as muralhas caíram diante do forte brado
que os Israelitas lançaram contra Jericó. Então, qual
foi a arma que derrubou as muralhas? A adoração
e o Brado.
Sim, mesmo brado que no Paraíso foi ecoado
entre as fileiras dos anjos por Miguel, o Arcanjo
ensinou aos israelitas. As muralhas na eternidade
de resistência do Dragão infernal ruíram e Miguel
comandante dos anjos aprendeu com a adoração e
o louvor que sempre será o Senhor a vencer nossas
guerras, sendo assim, a ajuda que Miguel deu aos is-
raelitas foi o que ele em sua vida e existência com-
preendeu: ser, a cada instante, um adorador incansá-
vel e inflado de amor pelo Senhor.
Algo ainda que nos remete a Miguel na tomada
da terra prometida são as trombetas soadas pelos is-
raelitas. São sete estas que colocam em abalo as es-
truturas dos inimigos de Deus. Miguel é familiar em
tocar o shofar ou as trombetas, porque sendo o pri-
meiro dos arcanjos, será ele que ao toque da trombe-
ta anunciará a vinda gloriosa do Senhor que ressus-
citará os justos. Assim diz o apóstolo Paulo:
‘Pois dada a ordem, com a voz do Arcanjo e o res-
soar da trombeta de Deus, o Próprio Senhor descerá

408
dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão pri-
meiro’ (1Ts 4,16).
Com a história de Josué, aprendemos algo que
servirá para toda a nossa vida: Na angústia e na
provação não se desespere. Em tuas guerras, mes-
mo que os inimigos pareçam maiores que você, não
desanime. O Exército de Deus é maior e mais pode-
roso que o dos nossos inimigos. Miguel deseja nos
ensinar a essência da nossa existência: nascemos
para adorar.”185
Apresente ao Senhor neste momento aquilo que
tem parecido para você como dificuldade grande,
como algo a ser superado. Neste último dia da nos-
sa novena, após vivermos este tremendo momento
de oração, devemos confiar que o Senhor envia São
Miguel para nos ajudar em nossas batalhas. Mais do
que as trombetas e do que o brado do povo de Israel,
foi a potente intercessão do Glorioso São Miguel que
fez as muralhas de Jericó caírem.
Neste último dia da Novena ao Glorioso São
Miguel, apresente ao Senhora quais as muralhas de
vícios, de pecados, de afastamento de Deus precisam
ser derrotadas em sua vida. Confie esta causa, esta
grande muralha que precisa ser derrubada, à ação de
São Miguel, que com certeza virá em seu auxílio.

185 BRITO, Rafael. Miguel, o guardião do lugar secreto. São Paulo,


Angelus Editora, 2022, p. 54.

409
Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante
o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Oração:
São Miguel, socorro muito certo, vem com a Vossa for-
ça derrubar as muralhas da minha vida interior, fa-
miliar, profissional, libertando-me do mal. Vinde em
meu auxílio para que eu não me desespere diante das
adversidades e veja sempre a esperança de dias melho-
res. Amém!

410
Capítulo 41

FESTA DE SÃO MIGUEL

São Miguel, amado


em todo o Brasil e em
todo o mundo

Chegamos ao último capítulo da nossa caminha-


da de libertação do mal, com o auxílio de São Miguel
e dos Santos Anjos. Aprendemos muito, rezamos
muito, e o Senhor veio em nosso auxílio. Começo
apresentando mais um caso do Mons. Rossetti:
“Eu encorajo fortemente aqueles atormentados
por demônios a assistir regularmente à missa. Mas
sei que é difícil para eles, especialmente para os ple-
namente possessos. Quando alguém está possesso,
há uma espécie de interpenetração dos corpos dos
possessos com os demônios. Assim, os possessos fre-
quentemente sentirão um pouco do que os demô-
nios sentem. Assim, suas vidas, às vezes, serão um
inferno vivo — literalmente.

412
Por exemplo, quando colocados em contato com
qualquer coisa sagrada, os possuídos normalmente
dirão que sentem uma dor horrível. Eles dirão que
a água benta fria está ardendo. Quando olham para
um crucifixo, seus olhos sentirão como se estivessem
em ‘chamas’. Ao encontrar um padre ou uma Igreja
Católica, eles poderão sentir um ódio intenso.
Eu pedi ao ‘David’, que antes pertencia a um cul-
to satânico e que agora está possesso, para dar o me-
lhor de si para assistir à missa dominical. Ele tenta
corajosamente, mas só conseguiu assistir uma vez
a cada poucos meses, quando muito. Ele disse que,
quando pôde participar, ‘não consegui dizer as ora-
ções enquanto estive lá ou responder a elas como to-
dos os outros fazem’.
David acrescentou: ‘É uma tortura estar lá, com
todas as imagens e os quadros que me rodeiam’. Ele
continuou: ‘Todo o povo e o padre rezando é um ba-
rulho tão alto que me deixa muito irritado’. E con-
cluiu: ‘Quando eles dizem a oração de São Miguel,
eu posso ouvir os demônios gritando. É tão horrível,
assustador e doloroso’.
Eu amo os sacramentos da Igreja. Eles nos ins-
piram e nos fortalecem. Mas eles também servem a
uma importante função de expulsão do inimigo: são
abomináveis aos demônios e ajudam a expulsá-los.
Notei especialmente o comentário de David sobre a
oração de São Miguel: ela assusta os demônios, cau-
sa-lhes dor intensa e eles gritam em agonia. Serei

413
mais dedicado no uso desta oração em nossas futu-
ras sessões de exorcismo.”186
Quanta graça de cura e libertação é derramada
sob a poderosa intercessão do Glorioso São Miguel.
Percebemos isso a cada dia nas nossas lives de ora-
ção, por meio dos vídeos publicados. O Brasil tem
sido conquistado por essa devoção a São Miguel
Arcanjo. Nossas terras brasileiras já encontraram
paz, em meio às lutas fratricidas da década de 1930,
por meio da intercessão pacificadora de São Miguel
Arcanjo. O Pe. Márcio Giordany Almeida, Reitor da
Basílica de São Miguel Arcanjo, na cidade de São
Miguel Arcanjo (SP), conta como isso aconteceu
em um livro dedicado ao assunto, e resume assim os
acontecimentos:
“A cidade de São Miguel Arcanjo, no interior de
São Paulo, está situada a 180 km de São Paulo. A ci-
dade nasceu diante dessa devoção, antes de ser um
município já existia uma capela e uma fé ativa no
coração do povo que ali morava. Essa capelinha se
tornou uma paróquia e em 1886 recebeu seu primei-
ro padre, depois em 1889 foi que aquele vilarejo se
transformou numa cidade.
Em 1932, aconteceu a Revolução Constitucio-
nalista entre o estado de São Paulo e o Brasil, e nesse

186 ROSSETTI, Stephen. Exorcist Diary: Demons Tortured By St.


Michael Prayer. Spiritual Direction. 27 set. 2022. Disponível em
<https://spiritualdirection.com/2022/09/27/exorcist-diary- de-
mons-tortured-by-st-michael-prayer>. Acesso em 12 mai. 2023.
[Tradução nossa]

414
processo houve muita morte e destruição; chegando
até a cidade de São Miguel Arcanjo montaram uma
trincheira e falaram para os munícipes saírem da ci-
dade que iria acontecer uma batalha.
Tomaram a casa paroquial e tornaram ela um
quartel general. Pediram para que o padre saísse da
casa, mas o padre se recusou porque se aproximava
a festa de São Miguel Arcanjo e ele precisava rezar
com o seu povo.
No dia 29 de setembro de 1932 com a trincheira
de combate armada e os exércitos prontos para guer-
rear, eis que surgiu um clarão no céu e um homem
avisa sobre o final da Guerra. Este fato está compro-
vado por um documento que diz que no dia 29 de se-
tembro de 1932 aconteceu um armistício dando fim
ao combate violento.”187
“Os canhões não abriram fogo. A infantaria fi-
cou em seu lugar. A cavalaria descansou. Já desar-
mado, de corpo e de espírito, o capitão, acompa-
nhado de seus subalternos, entrou na cidade de São
Miguel Arcanjo. Cidade vazia, encolhida, amedron-
tada. Pequena. Uma casa ali, outra acolá. O capitão
procurou uma igreja. Pretendia agradecer a graça do
fim da guerra. Entrou na igreja modesta, mas aco-
lhedora. Quando se deparou com a imagem de seu

187 ADRE Márcio Almeida fala da devoção a São Miguel Arcanjo


em podcast. Rádio Aparecida. 29 set. 2022. Disponível em: <ht-
tps://www.a12.com/radio/noticias/padre-marcio-almeida-fala-da-
-devocao-a-sao-miguel-arcanjo-em-podcast>. Acesso em 12 mai.
2023.

415
padroeiro, de espada em punho, exclamou: ‘Foi ele!
Foi esse o «homem» que eu vi! Foi ele que disse que
a guerra havia acabado’!
Desconcertado, o capitão se jogou ao chão dian-
te da imagem imponente do santo. Admitiu que foi
vencido. O Santo Guerreiro o impediu de consu-
mar a última vitória da guerra. Calou os canhões e
as metralhadoras. Evitou a destruição de São Miguel
Arcanjo. Em sinal de reconhecimento de que foi ven-
cido pelo santo, o capitão fez um gesto surpreenden-
te, como revelou, em conversa comigo, o diácono
José Antônio de Góes. […]
‘Meu pai disse que os soldados pediram para
o padre Olegário Barata abrir a igreja para eles re-
zarem. Eles entram na pequena igreja. Quando o
Dilermando de Assis se deparou com a imagem de
São Miguel ficou meio assustado, atônito, juntamen-
te com os outros soldados. Era ele que havia anuncia-
do o fim da guerra! Quando ele foi embora, deixou o
espadim dele em cima do altar e pediu ao padre para
levar o estandarte de São Miguel Arcanjo. Fizeram
uma troca de presentes.”188
São Miguel nos lembra da grande graça de ser-
mos adoradores de Deus, e nos aproxima cada vez
mais de viver uma intimidade grande com Ele, de
viver uma vida que realmente valha a pena, unido
a Deus, por meio dos sacramentos, da vivência na

188 ALMEIDA, Márcio. São Miguel Arcanjo. O Santo Guerreiro da Re-


volução de 1932. São Paulo: Angelus Editora, 2022, p. 101-104.

416
Graça de Deus, e por meio de uma oração que trans-
forme a sua experiência cotidiana. Convido-o a re-
zar conosco nas lives do Exército de São Miguel e
experimentar o poder da intercessão de São Miguel
Arcanjo. E a bradar, como o Pe. Gabriele Amorth nos
ensina, se o inimigo de Deus vier nos perseguir:“Es-
tou envolto no manto de Maria. Que podes fazer
contra mim?
Tenho ao meu lado o arcanjo São Miguel. Tenta
lutar contra ele.
Tenho o meu anjo da guarda, que vela para que
eu não seja tocado; tu não podes fazer nada”189.
“Se nos convertermos, converteremos também o
mundo com o certeiro socorro da graça divina e dos
Espíritos eleitos de Deus, isto é, com o socorro da-
quele exército do qual Miguel é o inseparável ‘gene-
ralíssimo’, como foi definido, o chefe (cf. Js 5,14) que
combate juntamente com os ‘seus Anjos’ (Ap 12,7)
gritando ‘Quem como Deus’?, profissão de absoluta
fidelidade ao Altíssimo, repetida pelas miríades dos
Espíritos bem-aventurados e oposta ao grito ‘não
serviremos’ de Satanás e dos seus anjos.
Podemos, então, inseridos no terceiro milênio,
avançar com plena confiança de conseguir para nós,
e para tantos irmãos nossos, mesmo numa época

189 7 CONTUNDENTES afirmações do exorcista mais famoso des-


te século sobre o diabo. Aleteia. 09 jun. 2020. Disponível em: <ht-
tps://pt.aleteia.org/2020/06/09/7-contundentes-afirmacoes-do-
exorcista-mais-famoso-deste-seculo-sobre-o-diabo/>. Acesso em
12 mai. 2023

417
de densas trevas mundiais como a nossa, ‘o selo do
Deus vivo’ (Ap 7,2) gravado pelo Anjo na nossa fron-
te, sinal de filiação divina e penhor de futuro conví-
vio com a ‘multidão imensa’ (Ap 7,9) de eleitos ‘de
todas as nações, tribos, povos e línguas... trajados
com vestes brancas, e eternamente exultantes diante
do trono de Deus e do Anjo.”190

Qual foi o propósito que você recebeu hoje durante


o Rosário da madrugada? Anote-o aqui!
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Qual foi a mensagem especial que Deus te deu no


Rosário de hoje? Escreva abaixo para se recordar! 
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190 MOSTEIRO CARMELO DE SÃO JOSÉ — LOCARNO. Em comu-


nhão com os Anjos, nossos irmãos e amigos. Belo Horizonte: Editora
da Divina Misericórdia, 2003, p. 162.

418
Oração:
Glorioso São Miguel, que graça viver todos esses dias
convosco. Obrigada por me amparar, proteger e cui-
dar. Que assim como Vós, eu possa sempre amar e
glorificar a Deus, me aproximando do Pai para viver
uma intimidade cada vez maior com Ele. Inspirai-me
a buscar os Santos Sacramentos e que as minhas ora-
ções sejam frutuosas e me conduzam a uma eternida-
de de grande felicidade no Céu. Amém!

419
APÊNDICE
Novena a São Miguel
Arcanjo, a ser rezada de
20 a 28 de setembro
(Pe. Oliveiros de Jesus Reis)

Em cada dia rezamos nove Glórias ao Pai, em


honra da Santíssima Trindade ,para agradecer todos
os dons e graças concedidas a cada Anjo dos nove
coros angélicos, sobretudo a graça insigne de terem
sido fiéis com São Miguel e de não seguirem as sedu-
ções de Lúcifer. A seguir lemos o ponto de meditação
com o exemplo. Terminamos com a Ladainha de São
Miguel, e a Consagração a ele.

1° dia
São Miguel, cheio de graças Divinas

Se Deus encarregou São Miguel de guardar, ali-


mentar e defender os seus irmãos que peregrinam
neste mundo, encheu-o de graças para poder cum-
prir esse dever, quer na ordem sobrenatural, quer nos
bens do corpo e do espírito, devemos recorrer cheios

422
de confiança a este Mensageiro Celeste que sabe bem
quanto o Senhor e Pai nos ama, a ponto de entregar
o Seu Filho Unigênito, feito Homem por nosso amor,
e tantos trabalhos e sofrimentos até à morte da Cruz.
Oh! como São Miguel gosta que o invoque-
mos em todos os nossos problemas do Corpo e do
Espírito. Como ele se sente feliz em servir Cristo nos
Seus membros que somos nós!
Exemplo: Aparição de São Miguel em Roma.
No ano de 590 da nossa era, a peste invadiu a cidade
de Roma e as pessoas morriam às centenas em cada
dia e já não havia gente suficiente para enterrar os
cadáveres que se empilhavam nas ruas. O Papa São
Gregório Magno governava a Igreja, e para aplacar o
flagelo, organizou uma procissão com a imagem de
Nossa Senhora trazida da Igreja de Ara Coeli e que,
segundo a tradição, foi pintada por São Lucas.
Quando estava já perto da Igreja de São Pedro,
apareceu São Miguel com uma espada de onde cor-
ria sangue e meteu-a na bainha, como sinal de ter
cessado o flagelo que inundara Roma de desolação.
Basta dizer que cerca de 800 pessoas morreram, só
durante a procissão. Quando São Gregório viu o
Arcanjo meter a espada na bainha ouviu à volta do
quadro da Santíssima Virgem, que ele próprio con-
duzia, os cânticos dos Anjos. O Papa entoou, então,
o hino Regina Coeli e os Anjos cantavam com ele:
“Rainha dos Céus alegrai-vos, Aleluia, porque aquele
que mereceste trazer em Vosso Seio ressuscitou co-
mo disse, Aleluia.” O Papa juntou depois ao hino e

423
mandou que sempre se cantasse: “Rogai por nós a
Deus, Aleluia.”
Foi graças à Santíssima Virgem e a São Miguel
que Roma ficou livre da peste. Foi em memória deste
milagre que neste local se construiu uma Igreja cha-
mada Regina Coeli, e a Mole de Adriano passou a
chamar-se Castelo do Santo Anjo e sobre ele colocou
uma estátua de São Miguel que se pode ver até hoje.

Oração:
São Miguel Arcanjo, nosso intercessor junto a Jesus e
Maria, vinde socorrer-nos nas nossas enfermidades do
corpo e da alma.

2° dia
São Miguel, baluarte da verdadeira Fé

Sem Fé, diz a Escritura Santa, é impossível agra-


dar a Deus e ainda “a salvação está na adoração do
Pai e do Seu enviado Jesus Cristo. Há uma só Fé, um
só batismo, porque há um só Deus”, diz São Paulo.
“Ide, pregai o evangelho a todas as criaturas, bati-
zai-as, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
ensinai-as a cumprir tudo o que Eu vos mandei”.  

424
Jesus disse: “Quem acreditar e for batizado será
salvo; quem não acreditar será condenado”. Surgirão
falsos Cristos e falsos profetas, seduzindo a muitos,
fazendo tais prodígios que até os eleitos se perderão,
se não for uma graça especial do Pai. Vivemos no
tempo de apostasia oficial dos estados e dos indiví-
duos. Grande parte dos cristãos comportam-se co-
mo pagãos. Tantas religiões, e uma só é verdadeira,
a Religião Católica, Apostólica e Romana! Peçamos
a São Miguel que nos ilumine e fortifique, para que,
haja o que houver, fiquemos firmes na Santa Fé, até
a morte.
Exemplo: São Bonifácio, nascido na Inglaterra,
foi enviado pelo Papa no ano de 719 para evange-
lizar a Alemanha. Consagrado Bispo e com a ajuda
de vários sacerdotes colaboradores, fundou e restau-
rou várias cristandades na Baviera, na Turíngia e na
Francônia. Sofreu muitas perseguições dos pagãos
e também de vários cristãos hereges. Quando pre-
gava na Turíngia, com a alma minada de desgostos
e de cansaços, São Miguel apareceu com a cruz na
mão, consolando-o e encorajando-o a que defendes-
se e pregasse a Fé Católica, pois em breve receberia
a recompensa. Foi martirizado pelos pagãos e a sua
alma liberta foi receber a recompensa eterna. O seu
corpo foi sepultado em Fulda, e ele, antes do martí-
rio, mandou levantar na Turíngia, em ação de graças,
uma Igreja em honra de São Miguel.

425
Oração:
São Miguel, conforto dos Apóstolos de Cristo, ob-
tendo-nos alegria e constância na Missa de levar o
Evangelho às almas.

3° dia
São Miguel, socorro muito
certo em todos os males

Nas necessidades e males do corpo que por ve-


zes tanto dificultam o serviço de Deus e nos tiram a
boa disposição para praticar a caridade, recorramos
a São Miguel cheios de confiança, pois o Senhor o
constituiu com o seu poder intercessor, como remé-
dio para todos os males.
Exemplo: O Bispo Equilínio conta que o Duque
de Senigallia, atacado de lepra, tinha gasto somas e
somas de dinheiro com os médicos e tinha perdido
totalmente a esperança de curar a sua doença. São
Miguel apareceu-lhe duas vezes e disse-lhe que vi-
sitasse o seu Santuário de Brendal, na costa italia-
na do Adriático, e aí obteria a sua cura. Descalço,
acompanhado de sua esposa, o duque empreendeu
a jornada. Apenas transpôs a porta da Igreja, foi mi-
lagrosamente curado, e todas as pústulas desapare-
ceram, ficando a carne limpa e jovem. Chorando

426
de como-ão, se postou junto a imagem do Arcanjo,
agradecendo-lhe tão grande graça. O seu reconheci-
mento foi tão profundo que ele e a esposa quiseram
terminar os dias que lhes restavam de vida naquele
lugar. Distribuíram metade dos seus bens aos pobres,
a outra metade entregaram ao templo de São Miguel
para manter o seu culto.

Oração:
São Miguel, nosso grande amigo, socorrei-nos e curai-
-nos dos males do corpo e da alma para podermos ser-
vir a Deus com alegria.

4° dia
São Miguel, socorro dos moribundos

A Igreja, pela voz oficial dos seus Pontífices,


constituiu São Miguel padroeiro dos moribundos e
auxilio nas tentações que o demônio costuma infligir
às almas nos últimos momentos. O diabo, sabendo
que os nossos destinos eternos dependem da manei-
ra como morremos e que só se morre uma vez, re-
dobra de audácia mesmo junto das almas virtuosas,
tentando-as pelo orgulho, pelo desespero, pela luxú-
ria etc.
A Igreja chama a São Miguel o porta-estandarte
da salvação e na liturgia da Missa pede a São Miguel

427
“que introduza as almas dos que deixaram este mun-
do na Luz Celeste”.
Na oração final de Leão XIII, se pede que o glo-
rioso Arcanjo precipite no inferno a Satanás e aos
outros espíritos malignos que andam no mundo pa-
ra perdição das almas. E no Ofício da Agonia, tam-
bém pede expressamente o auxílio de São Miguel.
Oh! como será consoladora e cheia de confiança
a morte daqueles que em vida honraram São Miguel
e pediram a sua assistência, sobretudo para a difícil
hora do passamento para o outro mundo! “Em defe-
sa dos seus servos moribundos”, diz São Boaventura.
“Manda Nossa Senhora e o Príncipe São Miguel com
todos os Anjos, para que imediatamente vão defen-
dê-los das investidas dos demônios e recebam as
almas de todos os que a Ela continuamente se têm
encomendado”.
Santo Anselmo conta que um religioso muito
devoto de São Miguel foi tentado na hora da morte
pelo demônio, por três vezes e que também três ve-
zes o defendeu o glorioso Arcanjo, aparecendo-lhe
e confortando-o. Na primeira vez, o demônio quis
desalentá-lo mostrando-lhe os pecados cometidos
antes do Batismo, pois recebera esse Sacramento já
adulto. São Miguel consolou o seu devoto dizendo
que o Batismo tudo tinha apagado. A segunda tenta-
ção, que desalentou grandemente o moribundo, foi o
diabo ter-lhe mostrado os pecados cometidos depois
do Batismo. São Miguel disse que estes tinham sido
perdoados pelo Sacramento a Penitência. A terceira

428
tentação foi de lhe ter mostrado, num grande livro,
todas as suas faltas contra a Regra. Mas São Miguel
respondeu que tudo tinha sido apagado pelas suas
penitências, pela sua obediência e paciência. O Santo
Arcanjo consolou-o e foi assim que ele conduziu a
alma do seu devoto e a introduziu na Pátria Celeste.

Oração:
Ó São Miguel a quem tantas vezes invoquei em vida,
eu sei que estareis presente na hora da minha morte,
ajudando-me a vencer os ataques do Maligno e que
sairei triunfante deste mundo com a vossa ajuda.

5° dia
A devoção a São Miguel,
sinal de predestinação

Ninguém sabe com certeza absoluta, a não ser


por revelação Divina direta, autêntica, se fará par-
te do número dos eleitos, se o seu nome está escrito
no Céu. Mas além disso há sinais que, indiretamente,
nos dizem que terminaremos bem a nossa carreira se
perseverarmos em certos atos que os teólogos cha-
mam sinais de predestinação. Os mais comuns são:
a perseverante devoção a Nossa Senhor, a São José,
a caridade com os irmãos necessitados, entre eles de
modo especial as almas do Purgatório; a resignação

429
nos sofrimentos, o amor à Santa Missa etc., e ainda a
devoção a São Miguel, que é a família Divina. Tal co-
mo se diz que nunca se perderá um devoto de Nossa
Senhora, de São José e das almas do Purgatório, tam-
bém podemos dizer que não se perderá um devoto
de São Miguel. Ele não esquecerá, de modo especial,
os que o honram e propagam o seu culto, pois amor
com amor se paga.
Exemplo: No livro que publiquei “O Purgatório
e as almas que sofrem”, vem narrado o que a Irmã
Gabriela, por licença de Deus, contou sobre algo
dos mistérios do Purgatório, onde ela estava e en-
tre outras coisas o seguinte: “Maria Santíssima vem
ao Purgatório em todas as suas festas e São Miguel
acompanha-A e voltam para o Céu com muitas al-
mas. O demônio usa de toda a raiva contra os mo-
ribundos. Deus permite este combate entre ele e a
alma, mas não permite que uma alma que lhe foi de-
dicada em vida, pereça nestes últimos momentos. As
pessoas que amaram Nossa Senhora em vida rece-
bem dela grandes graças nestas últimas lutas. O mes-
mo sucede com os que foram devotos de São José, de
São Miguel e outros Santos. Não é possível fazer-vos
compreender o grande amor que São Miguel tem pe-
lo seu Divino Mestre e o que Deus por sua vez tem
por São Miguel, como também o amor e a piedade
que o Santo Arcanjo nos dá”. 

430
Oração:
São Miguel, nosso Amigo Celeste, à vossa proteção me
confio e a vós me consagro com tudo o que me perten-
ce, para que sejais vós mesmo a governar-me e a diri-
gir os meus passos. Levai-me como os pais levam ao
colo os seus filhos. Quero descansar no vosso coração
amigo.  Amém.

6° dia
São Miguel, consolo e auxílio
das almas do Purgatório

São Miguel, como nos ensina a liturgia da Missa


dos Defuntos, é o encarregado por Deus de conduzir
as almas do Purgatório para a Luz Divina. Aos seus
devotos ele retribui a sua dedicação e amor, inspiran-
do-lhes em vida sentimentos de piedade, caridade e
boas obras, com os seus irmãos vivos e defuntos e,
na hora da morte, obtendo-lhes a graça da contrição
perfeita, de modo a não caírem no Inferno nem no
Purgatório. Se forem para este lugar de purificação,
além de os consolar com a sua presença, inspira as
pessoas a que sufraguem neste mundo as almas que
ele de modo especial, por um motivo de gratidão,
quer libertar o mais depressa possível.

431
Exemplo: E ainda a mesma Irmã Gabriela, que já
citei, disse a Soror Maria da Cruz, sua antiga supe-
riora: “No dia da sua festa litúrgica, São Miguel vem
ao Purgatório e volta para o Céu com muitas almas,
sobretudo aquelas que foram suas devotas em vida”.
Tendo Soror Maria da Cruz perguntado qual
a melhor maneira de glorificar São Miguel, Soror
Gabriela respondeu: “A melhor forma de o glorifi-
car, no Céu e na Terra, é recomendar o mais possível
a devoção às almas do Purgatório e fazer conhecer
a grande missão que ele tem junto as almas que ali
sofrem”.

Oração:
Ó meu querido irmão São Miguel, obtende-me do
Senhor a graça de vos amar e de manifestar-vos o meu
amor, sufragando e fazendo que outros sufraguem as
almas do Purgatório, sobretudo pela Santa Missa, o
terço oferecido a Nossa Senhora nesta intenção e a ca-
ridade com os pobres.

7° dia
São Miguel, Anjo da Paz

A paz é tranquilidade na ordem, diz Santo


Agostinho. Ordem com Deus, no cumprimento da
Sua Lei, ordem com o próximo, na caridade fraterna
de uns com os outros, por amor de Deus.

432
Como as nações são constituídas por indivíduos
que vivem em comum, a paz não pode existir nelas se
não existir na maioria dos indivíduos. A época apo-
calíptica em que vivemos é época de guerras genera-
lizadas. Grande parte do mundo caiu no ateísmo prá-
tico, ou num cristianismo relaxado na fé e na moral.
Por isso, a Missão de São Miguel é a de restabelecer
pela conversão dos corações a Deus, a paz prometida
por Jesus num só rebanho e num só Pastor. A luta
sangrenta entre o bem e o mal, entre São Miguel e sa-
tanás, terminará pela vitória de São Miguel. Muitos,
que não se queiram converter, perecerão.
Compete a São Miguel, como executor das or-
dens de Maria, a grande Medianeira junto do Único
Medianeiro necessário, nosso Senhor Jesus Cristo,
preparar para Deus um povo perfeito. Grandes puri-
ficações serão necessárias. Os homens que se afastam
de Deus e nada querem com Ele, suscitarão guerras
e mais guerras. Mas os bons fiéis, com a ajuda de São
Miguel, preparam o triunfo do Imaculado Coração
de Maria prometido em Fátima.
Nossa Senhora deu Jesus ao mundo na
Encarnação e na Paixão e Morte da Cruz, da-Lo-á
em plenitude no fim dos tempos, pois ajudou a pre-
parar a vitória do Evangelho sobre todo o erro e so-
bre o ateísmo. Não é em vão que o Apocalipse, ao
apresentar a figura de Maria na Mulher vestida de
sol e o Dragão que luta contra ela e os seus filhos,
põe logo São Miguel em luta contra o Dragão, isto é,
Satanás. O triunfo será de São Miguel.

433
A Santa Igreja, nos seus documentos oficiais,
chama a São Miguel Chefe dos Exércitos Celestes; o
Anjo da Vitória: Anjo da Paz. Ele estabeleceu a Paz
no Céu derrotando os Anjos rebeldes. Ele estabele-
ce a Paz na Terra quando roga a Deus pelos homens
e pelas nações e quando antes do Juízo Final, sair
triunfante do Anticristo e do Dragão infernal.
Exemplo: Um sacerdote francês escreveu a se-
guinte carta: “nas vésperas do ataque alemão de 14
de julho de 1918, havia à volta da minha paróquia
um depósito de três milhões de projéteis. Durante
dois meses, os aviões alemães não cessaram de lan-
çar bombas e projéteis que caíam por todos os lados.
Em face do perigo, pus a minha paróquia debaixo
da proteção de São Miguel. Coloquei a sua imagem
na cadeira paroquial e rezei todos os dias o peque-
no exorcismo de Leão XIII, prometendo ainda en-
tronizar na Igreja uma bela imagem de São Miguel
caso fôssemos livres de desastres semelhantes aos
que tinham sucedido e se multiplicavam nas regiões
à nossa volta, onde as bombas caiam, arruinando fa-
zendas, casas, matando tanta gente. Bastava que uma
das bombas tivesse caído sobre o depósito explosivo
que estava na nossa paróquia e tudo ficaria reduzido
a um montão de ruínas e ninguém com vida. Passou
a tormenta, foi assinado o armistício e enquanto à
nossa volta tanta desgraça sucedeu, em nossa região
nem uma bomba caiu, com espanto e alegria de to-
dos. Em cumprimento da nossa promessa, uma ima-
gem do grande Arcanjo São Miguel foi solenemente
entronizada na Igreja.

434
Oração:
São Miguel Anjo da Paz, pacificai a nossa alma de tu-
do que a atormenta. Dai a Paz à nossa Pátria. Dai a
Paz ao mundo.

8° dia
São Miguel, nosso advogado

Nos tribunais, antes de ser proferida a sentença


condenatória, é obrigatório haver sempre um advo-
gado de defesa, em favor do réu, que procure libertá-
-lo ou pelo menos diminuir o rigor da justiça, obten-
do misericórdia. Deus, Nosso Senhor e Pai, institui
Nossa Senhora, São José e São Miguel, como espe-
ciais advogados dos homens remidos pelo Sangue
do Seu Filho Jesus, o Verbo Encarnado. Oh! como
São Miguel procura atenuantes dos pecados dos seus
irmãos que peregrinam por este mundo! Ele incita-
-os a que orem e façam boas obras e, de modo espe-
cial, que o tomem por protetor e advogado, que fa-
çam obras em sua honra, que socorram as almas do
Purgatório. Ele sabe bem que, se apresentar algo que
tenha sido feito em sua honra, em propaganda do
seu culto, o amor de Jesus Cristo resultará em bene-
fício salvador dos que foram fiéis às suas inspirações
e seus devotos.

435
Exemplo: A poucos quilômetros de Sena, na
Itália, existiu a Abadia denominada São Galgano.
Embora esta se encontre atualmente em ruínas, tem
ainda vestígios da sua antiga grandeza. Pertenceu a
Ordem de Cister. O título foi-lhe dado para honrar a
Galgano Guidotti que, tendo nascido de uma famí-
lia católica e muito devota de São Miguel, ao chegar
o tempo próprio, fez-se cavaleiro e pondo de lado
a educação que recebeu, passou a levar vida disso-
luta, encharcado nos vícios. Converteu-se, porém,
em virtude de um sonho que teve. São Miguel apa-
receu e dirigindo-se a uma senhora que reconheceu
ser a sua mãe, pediu que desse o filho para o alis-
tar na milícia Celeste. A mãe acedeu, gostosa e cheia
de alegria.
Outro sonho que teve em seguida, do mesmo gê-
nero, com São Miguel, convenceu-o a mudar de vida,
pois viu o glorioso Arcanjo conduzindo-o pela mão
a fim de o consagrar à Milícia do Céu. Vendeu tudo
o que tinha e se retirou para o local onde mais tarde
foi edificada a abadia. A mãe propôs-lhe casamento
com uma jovem bela e rica. Mas Galgano, falando
com ela, convenceu-a a deixar o mundo como ele e
a se tornar freira. Ela fundou um convento para re-
ligiosas e ele, depois do regresso de uma peregrina-
ção a Roma, entrou como irmão oblato na Ordem de
Cister, entregando-se à oração e à penitência, santi-
ficando-se rapidamente, protegido por São Miguel.
Morreu com 33 anos de idade em 3 de dezembro de
1181.

436
Oração:
São Miguel, amigo, protetor e mestre da virtude que
santifica os vossos devotos, obtende-me a graça da
Santidade.

9° dia
São Miguel, nossa alegria e esperança

A alegria que se experimenta, quando se vê o re-


sultado das nossas orações, faz esquecer de pronto
tudo o que sofremos até recebermos o que pedimos.
Não mais consideramos os motivos de angústia e lá-
grimas e só brotam dos nossos lábios e do nosso co-
ração sentimentos de ação de graças e regozijo. Os
fatos da história mostram como São Miguel enche de
gozo celeste a alma dos que nele confiam e assidua-
mente recorrem à sua proteção, não desistindo de o
invocar.
Exemplo: Clotônio, Bispo da Sicília, na Itália, re-
zava todos os dias de joelhos uma oração em hon-
ra de São Miguel e aplicava a penitência quaresmal,
obrigatória para os cristãos, em honra do glorio-
so Arcanjo. Na véspera da Festa em honra de São
Miguel, apareceu e disse que sua devoção era muito
agradável e que tinha obtido do Senhor para ele, três
graças. Pediu-lhe, o devoto Bispo: “que os meus pais
saiam das chamas do Purgatório se lá estiverem; que

437
vós, meu querido São Miguel, me assistais na hora da
minha morte; e que me façais entender toda a gran-
deza do Mistério da Encarnação”.
Terás o que pedes, disse o glorioso Arcanjo. Com
efeito, logo viu os pais saírem do Purgatório, agrade-
cendo-lhe, cheios de reconhecimento. Compreendeu,
também, cheios de alegria, os mistérios contidos na
Encarnação do Verbo, que se fez Homem por nosso
Amor, sua morte também foi santa. A oração que o
Bispo rezava era esta: “O glorioso São Miguel, chefe
dos exércitos celestes, vencedor dos demônios, chefe
admirável da Santa Igreja, grande pela vossa nature-
za e pelas vossas virtudes, livrai aqueles que vos im-
ploram de toda a adversidade e fazei-os progredir,
dia a dia, no serviço do Senhor. São Miguel, chefe da
Igreja, rogai por nós”.

Oração:
São Miguel, nosso amigo celeste, à vossa prote-
ção me confio e a vós me consagro com tudo o que me
pertence, para que sejais vós mesmo a governar-me e
a dirigir os meus passos. Levai-me como os pais levam
ao colo os seus filhos. Quero descansar no vosso cora-
ção amigo.

438
Oração Oficial de
São Miguel Arcanjo
(Pequeno Exorcismo do Papa Leão XIII)

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate,


sede o nosso refúgio contra as maldades e as ciladas
do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pe-
dimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino
poder, precipitai no inferno a satanás e a todos os es-
píritos malignos, que andam pelo mundo para per-
der as almas. Amém.

439
Orações da Quaresma
de São Miguel

A partir do dia 15 de agosto, dia da Assunção de


Nossa Senhora até o dia 28, véspera do dia de São
Miguel Arcanjo, rezamos a Quaresma de São Miguel
Arcanjo.
Para se preparar para esta quaresma é necessário:
— Acender uma vela abençoada diante de uma
imagem ou estampa de São Miguel;
— Oferecer uma penitência durante os 40 dias;
— Fazer o sinal da cruz;
— Rezar todos os dias: oração inicial, ladainha
de São Miguel e consagração a São Miguel. Se dese-
jar, pode rezar também o Terço de São Miguel (tam-
bém chamado de Coroa Angélica).
 
Oração inicial
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate,
sede o nosso refúgio contra as maldades e as cila-
das do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o
pedimos, e vós, príncipe da milícia celeste, pela vir-
tude divina, precipitai ao inferno a satanás e a todos
os espíritos malignos, que vagueiam no mundo para

440
perdição as almas. Amém.
Sacratíssimo Coração de Jesus, tende piedade de
nós! (3x)
 
Ladainha de São Miguel
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Jesus Cristo, ouvi-nos.


Jesus Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus,
tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade
de nós.
Trindade Santa, que sois um único Deus,
tende piedade de nós.

Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.


São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino,
rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória,
rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo Príncipe dos exércitos

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do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima
Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, ro-
gai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja
militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, ro-
gai por nós.
São Miguel, luz dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos Cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo
estandarte da Cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último
momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as
adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna,
rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no
Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber
as almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, nosso Príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso Advogado, rogai por nós.

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Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,
atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós.
Oremos: Rogai por nós, ó glorioso São Miguel,
Príncipe da Igreja de Cristo, para que sejamos dig-
nos de Suas promessas. Amém.
 
Oração: Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bên-
ção sempre nova, e concedei-nos, pela intercessão de
São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar
riquezas do Céu e a trocar os bens do tempo pelos
da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os
séculos dos séculos. Amém.
 
Ao final, reza-se:
Um Pai Nosso em honra de São Gabriel.
Um Pai Nosso em honra de São Miguel Arcanjo.
Um Pai Nosso em honra de São Rafael.
 
Oremos: Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe
dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vence-
dor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus,
nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja ex-
celência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos
livrar-nos de todos os males, nós todos que recorre-
mos a vós com confiança, e fazei pela vossa incom-
parável proteção, que adiantemos cada dia mais na
fidelidade em servir a Deus.

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Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, prín-
cipe da Igreja de Jesus Cristo.
R. Para que sejamos dignos de suas promessas.
Amém.
 
Oração: Deus, todo poderoso e eterno, que por um
prodígio de bondade e misericórdia para a salvação
dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja
o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dig-
nos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de
todos os nossos inimigos, a fim de que, na hora da
nossa morte, nenhum deles nos possa inquietar, mas
que nos seja dado de sermos introduzidos por ele
na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade,
pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Amém.
 
Consagração a São Miguel Arcanjo
Gloriosíssimo Príncipe das hierarquias angélicas,
valente arauto do Deus Altíssimo, zeloso campeão da
glória do Senhor, terror dos anjos rebeldes, amor e
delícia dos anjos fiéis, meu diletíssimo Arcanjo São
Miguel, desejando pertencer ao número dos vossos
devotos e servos, hoje me ofereço a Vós, dou-me e
consagro-me a Vós. Coloco a minha pessoa, a mi-
nha família e os meus bens sob a Vossa potentíssima
proteção. É muito pouca coisa a oferta que Vos fa-
ço, sendo eu um miserável pecador, mas não duvido
que Vós quereis aumentar o fervor no meu coração

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e proteger aquele que a Vós recorre. Recordai aquele
que hoje se coloca sob o Vosso patrocínio e de hoje
em diante protegei-me, assisti-me em todas as difi-
culdades da minha existência terrena, alcançai-me o
perdão dos meus muitos e graves pecados, a graça
de amar de todo o coração o meu Deus, o meu doce
Salvador Jesus e a minha doce Mãe, Maria, e impe-
trar-me os auxílios necessários para obter a coroa da
glória. Defendei a minha alma contra todos os seus
inimigos e quando chegar a hora de deixar este mun-
do, vinde então, príncipe gloriosíssimo, assistir-me
na luta final, e que o Vosso gládio potente afaste para
longe, para os abismos da morte e do inferno, o anjo
apóstata e soberbo que derrotastes em combate no
céu. Amém. 

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