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Índice

Apresentaçã o
Duas palavras sobre a polô nia
O nome dela, Elena
Noviciado
Noite escura
Santo abandono
Pequena vitima
Voltar para varsó via
"E assim que eu trato meus amigos"
A grande missã o
Amor nã o é amado
A imagem do misericordioso Jesus
Con idencias
Uma festa
Ordem para escrever seu diá rio
Joã o Paulo II e a divina misericó rdia
Uma pergunta
Para a casa do Pai com a cruz
Epı́logo
Bibliogra ia
Santa Faustina Kowalska

Jose maria fernandez

Apresentaçã o
A vida humilde e simples de Faustina Kowalska que nasceu em Swinice
(Poló nia) e no baptismo recebeu o nome de Elena, nã o é muito
conhecida em Espanha, por isso estamos entre os primeiros
descobridores dela, e nã o é conhecida por vá rios motivos que nó s vai
expor atravé s desta biogra ia simples.
Depois de uma infâ ncia e juventude dedicada ao serviço domé stico para
nã o ser um peso para a famı́lia e para ela dar uma contribuiçã o,
conseguiu entrar na Congregaçã o da Mã e de Deus da Misericó rdia em
1924 para silenciar a voz interior que vinha do aos sete anos, ela a
incentivou a se tornar religiosa. Nesta congregaçã o deu todos os passos
necessá rios até chegar à dedicaçã o total com a pro issã o perpé tua.
A sua vida se desenvolve dentro da congregaçã o em quase os mesmos
trabalhos que exerceu na vida secular quando estava ao serviço de
diferentes famı́lias, mas na nova vida ela os realiza sob "santa
obediê ncia", como padeiro, no cozinha, na cozinha, enfermaria, no
jardim ... custe o que custar. Mas escreve no seu Diário 82: «Nã o me
deixarei levar pelo trabalho a ponto de me esquecer de Deus. Vou
passar todos os meus momentos livres aos pé s do Mestre escondido no
Santı́ssimo Sacramento. Ele me ensinou desde os mais tenros anos ».
Apesar de ser uma pessoa quase analfabeta segundo os parâ metros
humanos, nela se cumpriu o que o Deuteronô mio nos diz: «O Senhor te
viu e te escolheu, nã o porque é s o povo mais numeroso entre todos os
povos, porque é s o mais pequeno de todos. Porque o Senhor te amou
»(7,7-8). E no Novo Testamento Jesus nã o prestou atençã o aos mais
humanamente preparados, mas a simples pescadores e pessoas
irrelevantes. Os desı́gnios de Deus.
Dotada de graças sobrenaturais e de uma grande intimidade com o
Senhor, alé m do dom de ler a consciê ncia das pessoas, sua vida se
ocupava na oraçã o pelos pecadores. Mas a caracterı́stica particular
deste santo era lembrar ao mundo inteiro o Amor misericordioso de
Deus. Ele escreveu um diário com mais de 600 pá ginas no qual coletou
todas as mensagens que vieram de Jesus.
Se a cada momento histó rico, e sobretudo, quando o mundo passa por
uma crise de cunho espiritual, social ou polı́tico que ameaça o ser
humano, Deus envia uma ou mais pessoas que saem dessa crise
oferecendo a palavra adequada, curativa A Irmã Faustina foi a pessoa
destinada por Deus a erguer a sua voz no meio de duas guerras
mundiais e a gritar ao mundo inteiro que a resoluçã o dos con litos nã o
se chegará com armas, mas acolhendo o Amor misericordioso. Jesus lhe
dirá : «A humanidade nã o encontrará a paz enquanto nã o se voltar com
con iança à misericó rdia divina» (Diário, 132).
Esta mensagem que nos chega atravé s da Irmã Faustina nã o é para um
momento especial, mas necessá ria nos nossos dias e sempre. Como
pecadores que somos, precisamos sempre de reconciliaçã o e
misericó rdia com os outros e com Deus, ricos de misericó rdia, como
nos recordou o Papa Joã o Paulo II na sua encı́clica, o grande promotor
deste dom de Deus à humanidade, como veremos. O dogma da Divina
Misericó rdia foi muito importante para o Papa Joã o Paulo II, tanto que
ele pró prio foi beati icado e canonizado na sua festa, no primeiro
domingo apó s a Pá scoa.
Na apresentaçã o desta biogra ia usaremos pouco as nossas palavras, ao
invé s, deixaremos que seja a pró pria Irmã Faustina que, atravé s do
seu Diário , nos mostre a obra da graça na sua vida, bem como a
mensagem de que foi a depositá ria da mundo.
Quando se trata de penetrar na vida dos santos, uma certa modé stia
vem a algué m especialmente se, como Irmã Faustina, Deus os conduziu
pelos caminhos do misticismo, porque entã o nossas palavras nã o
passam de um murmú rio, nada mais do que oferecem luz, talvez só
sirvam para obscurecer e obscurecer sua doutrina e mensagem. Daı́ o
nosso convite a nos aproximarmos da verdadeira fonte, dos seus
escritos e, especialmente, do seu Diário, onde escreveu as mensagens
que ouviu de Jesus, e inclui vá rias referê ncias à segunda vinda de Cristo
e ao juı́zo inal, reminiscentes das cartas de Sã o Joã o (1Jo 2,18): «Assim
surgiram muitos anticristos; Por isso sabemos que é a ú ltima vez.
***
Poucos meses antes de publicar esta biogra ia de Santa Faustina
Kowalska, o Papa Francisco trouxe a bula do jubileu da misericó rdia,
intitulada Misericordiae vultus (O rosto da misericó rdia), datada em
Roma em 11 de abril, vigı́lia do segundo domingo de Pá scoa ou Divino A
misericó rdia, «como tempo propı́cio para a Igreja, para tornar mais
forte e e icaz o testemunho dos ié is» (MV 3).
“Por outro lado - continua o Papa - é triste ver como a experiê ncia do
perdã o em nossa cultura está cada vez mais esmaecida. Até a pró pria
palavra à s vezes parece evaporar. Sem o testemunho do perdã o, poré m,
resta apenas uma vida esté ril e esté ril, como se vivesse em um deserto
desolado ” (MV 10).
Ao mesmo tempo, convida-nos «neste jubileu a que a Igreja será
chamada a sarar ainda mais estas feridas, a acalmá -las com o ó leo da
consolaçã o, a enfaixá -las com misericó rdia e a curá -las com a
solidariedade e a devida atençã o» (MV 15).
Mas sobretudo o que ele diz sobre o nosso santo biografado: «Que a
nossa oraçã o se estenda també m a tantos santos e beatos que izeram
da misericó rdia a sua missã o de vida. Em particular, o pensamento vai
para o grande apó stolo da misericó rdia, Santa Faustina
Kowalska. Aquela que foi chamada a entrar nas profundezas da
misericó rdia divina, interceda por nó s e conceda-nos viver e caminhar
sempre no perdã o de Deus e na con iança inabalá vel no seu amor
” (MV 24).

Duas palavras sobre a polô nia

"Onde o amor vai mais longe,


mais raiva o dirige" Versos de Karol Wojtyla aos 20 anos

Antes de entrar na exposiçã o da vida da nossa bió grafa, parece


oportuno dizermos algumas palavras sobre a situaçã o em que se
desenrolaram os acontecimentos e a vida da Irmã Faustina.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que a Polô nia sempre foi um paı́s
fortemente marcado por sua tradiçã o religiosa. Bento XVI,
comemorando a eleiçã o para a Sé de Pedro de Joã o Paulo II em 16 de
outubro de 2006, lembrou aos poloneses como seu antecessor amava a
Polô nia nã o apenas "como uma mã e que lhe deu a vida na fé e fez
crescer no amor por Cristo e para seus irmã os ». Mas ele també m a
amou como uma comunidade sempre unida em torno dos pastores,
exposta no passado ao sofrimento de vá rias perseguiçõ es, mas sempre
iel aos valores do Evangelho. Quanto orou e como trabalhou
arduamente para que a Poló nia recuperasse a liberdade! E quando isso
aconteceu, nã o parou de se apressar para que seus compatriotas
aprendessem a viver na liberdade dos ilhos de Deus e nã o dos ilhos
deste mundo, “para que preservassem a fé ” e Bento XVI os convidou
para "permanecer forte na fé .
Os polacos amam a sua terra, a sua pá tria, mas é um amor que nã o se
fecha por fronteiras e por um nacionalismo cego, mas antes que se
projeta para todos os povos. A irmã Faustina amava seu povo e seu
paı́s. Freqü entemente, ouvia de Jesus e de sua mã e, a Virgem Maria, o
convite a rezar por sua naçã o e até a dedicar uma hora de adoraçã o por
dia, que nã o podia receber de seu superior. As palavras que ouviu foram
estas: "Reza de todo o coraçã o, em uniã o com Maria, e tenta també m
neste tempo fazer a Via Sacra". Noutra ocasiã o, sem que soubé ssemos o
nome da cidade, Jesus disse à Irmã Faustina que rezasse por uma
importante cidade da Poló nia para nã o lhe in ligir o mesmo castigo de
Sodoma e Gomorra: «Minha ilha, junta-te a mim no sacrifı́cio e oferece
o meu Sangue e as minhas feridas a meu Pai, em expiaçã o pelos pecados
daquela cidade. Repita tudo isso sem interrupçã o durante a Santa
Missa. Faça isso por sete dias. No inal desta oraçã o, ele viu Jesus
resplandecente e começou a implorar por sua naçã o e pela cidade
enquanto pedia sua bê nçã o. Jesus a abençoou e disse: “Graças a você ,
abençoo todo o seu paı́s”.

Anti-semitismo
Na dé cada de 1930, do sé culo passado, ondas de anti-semitismo
chegaram da Alemanha porque muitos judeus se refugiaram na Polô nia
que viviam em paz com os nativos. Mas isso nã o foi nada mais do que o
primeiro passo para outros mais avassaladores e devastadores, eles
começaram a boicotar empresas judaicas e até mesmo consultas
mé dicas.
Em 1 de setembro de 1939, a Polô nia é invadida pela Alemanha e a
cidade de Danzig é anexada como um primeiro passo para abrir um
corredor para chegar à Romê nia, apreender o petró leo e o trigo da
Ucrâ nia. Nã o há nada que a Polô nia possa fazer para defender sua
soberania. Por sua vez, a Uniã o Sovié tica estava preocupada com a
rapidez com que a Alemanha estava agindo, por isso chegaram a um
pacto entre as duas potê ncias da é poca: a URSS ocuparia pouco mais da
metade da Polô nia e o resto da Alemanha. A Polô nia foi praticamente
anulada. Na verdade, a Segunda Guerra Mundial estourou.
A repressã o mais cruel foi apresentada com palavras so isticadas como
"Nova Ordem" e à frente desta "Ordem" ningué m menos que Hitler
colocou Hans Frank, um homem sem coragem, sanguiná rio e
assassino. Impô s um controle severo e quem nã o se submetia a ele era
punido até com a morte ou deportaçã o. A fome era galopante e os
poloneses tinham que se contentar com um pouco de pã o amanhecido
todos os dias e algumas batatas.
Quando Hans Frank assumiu o cargo de governador-geral, ele entrou
em Cracó via pela porta da frente, na frente da qual se lia as palavras: "Si
Deus pro nobis, quis contra nos?" (Se Deus está conosco, quem está
contra nó s?) Essas palavras foram uma premoniçã o para os invasores
ou uma con irmaçã o para os invadidos? Os eventos irã o con irmar isso.
Em 6 de novembro de 1939, os professores foram convocados pelas
autoridades alemã s para uma assemblé ia que levou à deportaçã o em
massa dos mais respeitá veis homens da ciê ncia para o campo de
concentraçã o de Sachswznhausen. Se isso aconteceu no campo polı́tico-
intelectual, o mesmo aconteceu no campo religioso: a Igreja passou à
clandestinidade porque as autoridades alemã s estavam prontas para as
repressõ es mais severas.
O arcebispo Sapicha convidou Frank para jantar e ofereceu-lhe nã o
algumas iguarias suculentas, que estavam fora de alcance, mas pã o
amanhecido, algumas batatas e um nescafé . Era o que os poloneses que
tinham tanta sorte jantavam, outros, nem isso. Mas a liçã o nã o o
capturou ou o criminoso nã o quis capturá -lo. Ele havia recebido o
slogan de que a Polô nia deveria desaparecer e nã o mais existir. Os
judeus també m tiveram sua parte; Alé m do que revisamos antes, era
necessá rio dar um passo adiante e exterminá -los sem compaixã o. Junto
com 1,2 milhã o de poloneses, 300.000 judeus foram deportados à força
para o Oriente. O Shoah é um genocı́dio como outros no sé culo 20, mas
com uma conotaçã o especial: uma construçã o idó latra contra o povo
judeu. Nã o é um problema geopolı́tico, há també m uma questã o
religioso-cultural. Todo judeu morto foi um tapa no Deus vivo em nome
dos ı́dolos. Com seu comportamento, os nazistas tentaram apagar a
concepçã o judaico-cristã de vida.
Enquanto isso, o que estava acontecendo na outra metade da Polô nia,
ocupada pela URSS? A Rú ssia nada tinha a invejar a Alemanha em
termos de repressã o. As deportaçõ es foram realizadas para a Sibé ria
para um "campo de reeducaçã o". Mais uma vez, que cinismo nas suas
palavras! Novamente, o lobo em pele de cordeiro. Como um sinal de
tanta barbá rie, vamos relembrar os tristemente famosos tú mulos de
Katyn. Em 5 de março de 1940, pelo menos 22.000 policiais foram
mortos e, para piorar, 61.000 familiares foram deportados para o
Cazaquistã o.
A falta de razã o da força será demonstrada pelos alemã es na noite de
18 de janeiro de 1945, quando tiveram que ceder à invasã o do Exé rcito
Vermelho que chegou a Cracó via. Antes de se retirar, os alemã es
dinamitaram a ponte de Debniki.
Tiago nos diz que “a fé posta à prova gera constâ ncia. Vede, pois, que
esta constâ ncia se torne perfeita, para que sejais homens perfeitos para
os irrepreensı́veis, nada faltando »(Tiago 1: 3-4). Isso aconteceu no
sé culo passado com a Polô nia, a naçã o "sempre iel". Apesar de
experimentar os falsos "paraı́sos humanos", fascistas e comunistas
resultaram em inú meras vı́timas. Muitos deles foram má rtires que
deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo e na sua Igreja. Entre eles,
Sã o Maximiliano Kolbe (1894-1941), sacerdote franciscano declarado
"o santo do sé culo XX". Ele foi morto de fome em uma cela de puniçã o
em Auschwitz, tendo voluntariamente trocado sua vida pela de um pai
de famı́lia. A isso se deve acrescentar o beato Jerzy Popieluszko, capelã o
do famoso sindicato polonê s Solidariedade. Seu compromisso e
trabalho pastoral com os trabalhadores oprimidos irritaram as
autoridades que o torturaram até a morte. Seus restos mortais estã o no
museu do porã o da igreja de San Estanislao. Em 2010 foi beati icado na
presença de sua mã e. Na dé cada de 1930, outro má rtir polonê s, os
restos mortais do jesuı́ta André s Bobola, foram transferidos para
Varsó via. A eles devemos acrescentar nossa biogra ia e o Papa Joã o
Paulo II, todos eles hoje já canonizados.
Nã o podemos encerrar este capı́tulo sem lembrar que, em 16 de
outubro, Hans Frank, o outrora implacá vel governador da Polô nia,
subiu à forca. Anteriormente, ele reconheceu seus pró prios crimes e
pediu perdã o, admitindo que tinha um "demô nio" dentro dele e que
havia encontrado Deus. Em vez disso, Deus veio ao seu encontro com
sua grande misericó rdia, que é a maneira pela qual Deus entra no
pensamento e na vida das pessoas. La «verdad sobre Dios» está inscrita
en el espı́ritu de todas las personas y por mucho que nos opongamos no
lograremos borrarlo del corazó n humano: «Nos hiciste, Señ or, para ti, y
nuestro corazó n está inquieto hasta que no descanse en ti» ( Santo
Agostinho).
Joã o Paulo II escreveu em 1987: «Se eu olhar para a minha juventude,
para aquela juventude dos anos de ocupaçã o - anos terrı́veis, anos de
pesadelo (os anos da guerra mundial e depois governados por um
regime ateu) - vejo que o fonte da “força impactante” foi precisamente a
Eucaristia ». Embora nã o tivessem a liberdade que é sinó nimo de futuro
e de horizonte, numa palavra, quando tudo parecia condenado ao
desaparecimento, voltamos a recorrer a Wojtyla que escreveu nesta
situaçã o: «só o amor pode contrariar o destino ... raio de luz cai sobre os
coraçõ es e esclarece as trevas de geraçõ es. Deixe um jato de força
invadir a fraqueza.
Diante das maiores di iculdades, é admirá vel o que um homem de boa
vontade pode fazer pela fé . Por im, ouçamos o que Solzenicyn escreveu
no gulag: «Agora acredito em mim e nas minhas forças capazes de tudo
sobreviver ... Compreendi por experiê ncia pró pria que as circunstâ ncias
externas da vida de um homem nã o só nã o se esgotam, mas isso mesmo
em si nã o de ine, nem constitui o essencial da vida.

A fonte de água viva


Um povo nã o é formado apenas por boa vontade ou por certas
circunstâ ncias favorá veis ou desfavorá veis que possa encontrar. Há algo
mais, algo sobrenatural que o forma e constitui e esta é sua religiã o. A
Polô nia sempre foi um povo religioso. A Catedral de Cracó via é o
santuá rio nacional dedicado aos Santos Venceslau e Estanislau. Situado
em uma colina à s margens do rio Vı́stula, foi durante sé culos o local
onde os reis poloneses foram coroados. Seis quilô metros ao sul de
Cracó via está o Convento da Divina Misericó rdia que foi convertido em
um santuá rio no sé culo 19, que é o lugar onde este dogma foi revelado à
santa freira Faustina Kowalska em 1931.
Na Poló nia existem outros santuá rios dedicados à Divina Misericó rdia:
o convento das Irmã s da Misericó rdia, onde Santa Faustina teria tido a
sua primeira visã o. Mas, sobretudo, na cidade de Czestochowa, a 240
quilô metros de Varsó via, é o que é para os poloneses o centro espiritual
e sı́mbolo de sua fé e identidade. O objeto de veneraçã o é o ı́cone
milagroso de Nossa Senhora, que se encontra na capela da Madona
Negra, dentro do mosteiro de Josna Gó ra (montanha resplandecente) e
que segundo a tradiçã o foi pintado pelo evangelista Lucas sobre uma
prancha de madeira feita por Jesus ele pró prio na sua carpintaria e
descoberto por Santa Helena, que o trouxe para a Europa, e mais tarde
chegou à Poló nia em 1382.
O ı́cone é um convite à meditaçã o. Representa Maria segurando o
menino Jesus em seu braço esquerdo. Muitos milagres sã o atribuı́dos a
ele, o mais famoso dos quais ocorreu em 1655, quando um exé rcito
invasor se retirou apó s as oraçõ es fervorosas dos soldados poloneses. E
um centro de peregrinaçã o movimentado ao longo do ano, mas os dias
3 de maio e 26 de agosto sã o especiais, pois é a data em que se
comemora a dedicaçã o de Marı́a Reina de Bolonia.

O nome dela, Elena

“Eu te louvo, Pai, Senhor do céu


e da terra, porque ocultaste
estas coisas dos sábios e entendidos
e as revelaste aos simples” (Mt 11,25).

Elena nasceu na aldeia de Glgowice, na atual provı́ncia de Konin e dois


dias depois foi batizada na paró quia de St. Casimir em Swinicez, onde
se chama Elena. Seus pais sã o Stanislaus Kowalska, da aldeia de
Swinicez, e Marian Babel, da aldeia de Mniewie. Quando eles se
casaram, eles se estabeleceram em Glagowieg. O pai, alé m de trabalhar
no campo, trabalha como carpinteiro, à s vezes privando-se do sono
necessá rio. Apesar de tudo, muitas vezes o fruto de tanto trabalho nã o
bastava para alimentar uma famı́lia que crescia em nú mero de
membros.
Seu trabalho o acompanhava com oraçõ es, muitas vezes
cantadas. Quando isso aconteceu, sua esposa disse-lhe que icasse
quieto porque ele ia acordar os ilhos que dormiam em paz, mas ele
respondeu dizendo: “A primeira obrigaçã o é com Deus”. Sua fé era
simples, mas profunda. Ele tinha ideias claras sobre a educaçã o de seus
ilhos, tanto na ordem espiritual quanto nos valores humanos. Alé m da
oraçã o diá ria em casa, no domingo, toda a famı́lia assiste à Eucaristia
que é celebrada na paró quia; e em termos de valores humanos
defendiam: justiça, ordem, disciplina, respeito pelos outros e pela sua
propriedade. Se alguma vez foi necessá rio corrigir, foi feito acima de
tudo fazendo o recalcitrante reconsiderar seu comportamento para que
ele mesmo extraı́sse as consequê ncias e visse o quã o errada foi sua
açã o. Como diz o livro de Prové rbios: "Vergonha e vergonha para os que
rejeitam a disciplina, honra para os que aceitam a correçã o" (Pv 13:18).
Um de seus ilhos, que se tornará um grande organizador da Igreja
paroquial, dirá : “Como no caso da religiã o, papai era muito exigente
conosco e com Elena, pelo que agora somos muito gratos”.
Sua esposa nã o estava muito atrá s. Ela trabalhou duro ajudando o
marido onde podia. Ele levava comida quente diariamente para o local
onde estava trabalhando e voltava para casa com um carregamento de
lenha nas costas. Nã o é surpreendente que seus ilhos tenham seguido
os bons conselhos e principalmente o exemplo de seus pais.
Elena foi a terceira entre oito irmã os, que foram treinados com muita
disciplina, sendo um grande exemplo de vida espiritual, principalmente
seu pai. Desde pequena foi ensinada a fazer oraçõ es curtas e quando
cresceu orou com toda a famı́lia. Embora as crianças nã o costumem
passar muito tempo orando, porque se cansam, Elena, desde muito
jovem, se sentiu chamada a falar ao cé u. Prova disso foi um sonho que
teve aos 5 anos. Sua mã e lembra que naquela é poca Elena disse à
famı́lia: “Eu estava caminhando de mã os dadas com a Mã e de Deus em
um lindo jardim”. Muitas vezes, mesmo antes dos sete anos, ela
acordava à noite e se sentava na cama e sua mã e a via orando. E apesar
de aconselhá -la a voltar a dormir para nã o enlouquecer, a menina
respondeu: "Ah, nã o, mã e, meu anjo da guarda deve ter me acordado
para orar". Faustina diz-nos no seu Diário: «Desde os sete anos sentia o
apelo supremo de Deus, a graça da vocaçã o à vida consagrada. Aos sete
anos, pela primeira vez, ouvi a voz de Deus em minha alma, ou seja, o
convite a uma vida mais perfeita. No entanto, nem sempre obedeci à
voz da graça. Nã o encontrei ningué m que me esclarecesse estas coisas
» (Diário 7). Isso aconteceu durante a oraçã o das Vé speras, durante a
exposiçã o do Santı́ssimo Sacramento.

Elena tinha aproximadamente 9 anos quando se preparou para receber


os dois sacramentos da iniciaçã o cristã : a con issã o e a comunhã o, que
realizou na paró quia de San Casimir. A mã e lembra que antes de sair de
casa, no dia da primeira comunhã o, beijou as mã os dos pais em sinal de
desculpa pelo quanto os havia ofendido. Desde entã o, ele se confessou
semanalmente. Esse gesto de beijar as mã os de seus pais é um costume
polonê s e ele o fez mesmo que seus irmã os nã o o izessem.
Ela era uma pessoa que nã o sentia falta das necessidades da casa, por
isso estava sempre disposta a ajudar na cozinha, ordenhar as vacas e
cuidar dos irmã os. Só pô de ir à escola aos 12 anos, pois a ocupaçã o
alemã havia fechado as escolas. Na primavera de 1919, todos os alunos
mais velhos foram noti icados a deixar as faculdades para dar lugar à s
crianças mais novas.

Sem o essencial
Com a Primeira Guerra Mundial, toda a Polô nia sofreu as consequê ncias
da destruiçã o, fome e pobreza. A famı́lia Kowalska nã o foi exceçã o e
sofreu necessidades extremas a ponto de nã o poder ir à missa no
domingo por Elena porque ela nã o tinha um vestido adequado. Mas ele
substituiu a missa rezando com seu livro de oraçõ es durante a
missa. Nesse momento ele nã o poderia ser incomodado ou
comissionado algum trabalho, era o tempo dedicado a Deus.
Quando ela mal tinha quinze anos, ela disse à mã e: “Mã e, papai trabalha
muito, mas mesmo assim nã o preciso usar no domingo. De todas as
garotas da minha idade, sou a que tem o pior vestido. Eu já deveria
estar ganhando dinheiro sozinho.
A mã e, que já havia prometido que suas duas ilhas mais velhas
trabalhariam como empregadas domé sticas, pensou um pouco e disse:
"Entã o, minha ilha, vá em nome de Deus".
Faustina mal conseguiu gozar a adolescê ncia porque aos 15 anos
começou a trabalhar como empregada domé stica. Junto com seu
trabalho, ele intensi icou seus momentos de oraçã o que duraram até
tarde da noite, entã o sua saú de começou a debilitar-se e ele decidiu
largar o primeiro emprego. Ela se apresentou à mã e e disse-lhe que
deveria entrar para um convento, mas o pai disse-lhe que nã o tinha
dinheiro para pagar o seu dote. Elena respondeu: "Padre, nã o preciso
de dinheiro, o pró prio Jesus escolherá o convento para mim."
Nova tentativa de trabalho sempre atormentada por uma misteriosa
voz interior que repetia: "Deixe o mundo e vá para o convento".
O pedido de autorizaçã o para entrar no convento foi repetido vá rias
vezes, mas a resposta foi sempre a mesma. Ouçamos as suas palavras:
«O dé cimo oitavo ano da minha vida, pedido insistente aos meus pais
de autorizaçã o para entrar num convento; uma recusa categó rica de sua
parte. Depois dessa recusa entreguei-me à s vaidades da vida sem
prestar atençã o à voz da graça, embora a minha alma nã o encontrasse
satisfaçã o em nada. Os contı́nuos chamados da graça foram um grande
tormento para mim, poré m, tentei extingui-los com distraçõ es. Evitei
Deus dentro de mim e com toda a minha alma inclinei-me para as
criaturas. Mas a graça divina venceu a minha alma » (Diário 8).
Desde os sete anos, sentia dentro de si a voz do Senhor chamando-o
para uma vida mais perfeita, mas nem sempre a apoiou. Ele vai se
arrepender ao longo da vida de nã o ter encontrado ningué m para
esclarecer aquele anseio interior pela vida de consagraçã o a Deus e à
qual nã o soube responder por vá rios motivos, que veremos mais tarde,
alé m de sua vontade. Diante de tantas oposiçõ es e di iculdades, parecia-
lhe que o que sentia nã o era a vontade de Deus que seguisse o caminho
da consagraçã o ao Senhor e procurou silenciá -lo. Embora ouvisse
dentro de si a censura de Jesus: "Até quando me fará s sofrer, até quando
me enganará s?" (Diário 5).

A última dança
O tempo passou e ele atingiu a maioridade. Mais uma vez, ele vai para
sua famı́lia para obter permissã o para entrar em um convento e
novamente recebe uma recusa. Foi neste mesmo ano que teve uma
experiê ncia que marcará toda a sua vida. Ela foi convidada para uma
festa junto com sua irmã Jose ina, no parque de Veneza, na cidade de
Lodz perto da Catedral de Santo Estanislau. Lucina Strzelecka, que mais
tarde se consagraria ao Senhor nas monjas Ursulinas com o nome de
Irmã Julia, també m participou desta dança.
Vamos ver como ele relata essa dança: “Uma vez, junto com uma das
minhas irmã s, fomos a um baile. Quando todos se divertiam muito,
minha alma sofria tormentos internos. No momento em que comecei a
dançar, de repente vi Jesus ao meu lado. A Jesus martirizado, despojado
de suas vestes, coberto de feridas, dizendo-me estas palavras: "Até
quando me fará s sofrer, até quando me enganará s?" Naquele momento
os tons alegres da mú sica cessaram, a companhia em que eu estava
desapareceu de meus olhos, Jesus e eu permanecemos. Sentei-me ao
lado de minha querida irmã , escondendo o que estava acontecendo
dentro de mim, simulando uma dor de cabeça. Um momento depois,
deixei meu companheiro e minha irmã em silê ncio e fui para a Catedral
de Santo Estanislau em Kostka. Estava escurecendo, havia poucas
pessoas na catedral. Ignorando o que acontecia ao meu redor, prostrei-
me na cruz diante do Santı́ssimo Sacramento e pedi ao Senhor que se
dignasse a me dizer o que fazer a seguir.
Entã o ouvi estas palavras: "Vá imediatamente para Varsó via, lá você
entrará em um convento." Eu me levantei da oraçã o, fui para casa e
preparei as coisas necessá rias. Como pude, confessei à minha irmã o
que tinha acontecido na minha alma, disse-lhe para se despedir dos
meus pais e com apenas um vestido, nada mais, cheguei a Varsó via ».
Ela estava completamente confusa no meio de uma grande cidade e
sem ningué m que conhecia, entã o ela se entregou à Virgem para guiá -la
e dizer-lhe para onde ir. Ele se ajoelhou e começou a orar a Deus para
revelar sua vontade a ele. Enquanto rezava, ouviu estas palavras: «Vai
ao sacerdote e conta-lhe tudo; ele lhe dirá o que fazer.

A resposta
A resposta veio-lhe por intermé dio de um pá roco da paró quia de
Santiago Apó stol, nos arredores de Varsó via, a quem se dirigira. No inal
da celebraçã o da Eucaristia, falou com um sacerdote que o enviou à
senhora Lipzye, com quem viveu um ano. “Naquela é poca - escreve em
seu Diário - tive que lutar contra muitas di iculdades, mas Deus nã o me
poupou sua graça. Meu desejo pelo divino estava icando cada vez
maior. Re iro-me a duas di iculdades principais. A primeira é que esta
dona Lipzye, embora muito piedosa, nã o entendeu a felicidade que a
vida consagrada traz e em sua bondade começou a projetar outros
planos de vida para mim, mas senti que ela tinha um coraçã o tã o
grande que nada poderia preencher it » (Diário 15). Enquanto morava
com esta senhora, ele visitou vá rios conventos, mas todas as portas
estavam fechadas para ele. Estamos no mê s de julho de 1924.
A outra di iculdade, muito dolorosa na verdade, foi quando sua irmã
Genevieve veio visitá -la para persuadi-la a voltar para casa. Ela nã o
volta para a casa dos pais, mas escreve uma carta aos pais dizendo que
já está internada em um convento e que só precisa ganhar um pouco de
dinheiro para entrar. Depois de uma noite em Varsó via, sua irmã voltou
para casa, mas sem a irmã . Momento triste para seus pais vendo
Genevieve sozinha sem sua irmã Elena. Embora com o coraçã o partido
por esta decisã o, escreverá no seu Diário: «Senti-me imediatamente
feliz; Pareceu-me que estava entrando na vida do paraı́so. Uma ú nica
oraçã o brotou do meu coraçã o, uma oraçã o de agradecimento
” (Diário 17).

A porta abre
A primeira porta entreaberta é a da Congregaçã o da Mã e de Deus da
Misericó rdia. O superior está disposto a aceitá -lo, mas primeiro ela
deve receber um pequeno dote. Visto que ele nã o tem uma ú nica
moeda, ele deve trabalhar em regime de servidã o para obtê -la. Nã o é
que a madre superiora, Michael, coloque o dote antes da vocaçã o, mas
que a pobreza em que a Polô nia se encontrava també m afetou a
comunidade, porque antes ela havia dito a Elena para ir à capela e
perguntar a Jesus se ele aceitaria ela naquela comunidade. A pró pria
Elena nos conta que foi até a capela e perguntou a Jesus: "Senhor desta
casa, você me aceita?" Imediatamente ouvi a voz: "Sim, eu te aceito,
você está no meu coraçã o." Quando voltei da capela, a Madre Superiora
perguntou-me: "Bem, o Senhor te acolheu?" E eu respondi: «sim». E a
mã e continuou: “Se o Senhor te aceitou, eu també m te aceito”.
O facto de ter sido aceite na Congregaçã o da Mã e de Deus da
Misericó rdia, já era uma amostra do que deveria ser toda a sua vida:
viver esta misericó rdia em si mesma e anunciá -la ao mundo inteiro.
Mas ele ainda teve que esperar até receber o dote. Depois de meio ano,
ela voltou ao convento onde fora admitida para dar sessenta zlotys para
icarem com ela, como haviam combinado. Mas ningué m sabia da
histó ria até que Madre Michael, que nã o estava mais em casa, ao
receber uma carta com a notı́cia, se lembrou do que se tratava. A partir
desse momento, o depó sito "bancá rio" continuou a crescer, tudo para
chegar logo ao dote. Faustina nã o se importa em trabalhar como criada,
já o fazia há muito tempo. Em um ano de serviço, ele consegue o dote
exigido e pode entrar na congregaçã o para realizar seu sonho de toda a
vida. No seu diário escreve: «Parecia-me que estava a entrar no
paraı́so. Uma ú nica oraçã o brotou do meu coraçã o, açã o de graças
” (Diário 17).
Logo aquele "paraı́so" se tornou uma tentaçã o muito forte. Pareceu-lhe
que nã o havia muito tempo para orar ali. O trabalho prevaleceu sobre a
oraçã o ou Faustina, devido à sua formaçã o precá ria, confundiu
a oração com o tempo a ela dedicado?
O pró prio divino Mestre sairá ao seu encontro para con irmar que
segue o caminho que empreendeu: «Tanta dor me causará s se
abandonares esta Congregaçã o. Chamei-vos aqui e nã o a outro lugar, e
tenho muitos agradecimentos preparados para vó s » (Diário 19).
Em 2 de agosto de 1925, a Festa de Nossa Senhora dos Anjos entrou na
congregaçã o como postulante. No ano anterior ela já havia feito o voto
de castidade perpé tua ao Senhor, como ela mesma conta: “Com as
palavras simples que luı́ram do meu coraçã o, iz o voto de castidade
perpé tua a Deus. A partir daquele momento senti uma intimidade
maior com Deus, meu marido. Naquela é poca iz uma pequena cela no
meu coraçã o onde estava sempre com Jesus » (Diário 16).

Noviciado

“Deus escolheu o que o mundo considera loucura


para humilhar os sábios” (1Cor 1,27)

A Congregaçã o das Irmã s da Caridade da Mã e de Deus, na qual Elena foi


admitida, nasceu em Laval (França) em 1818 e sua fundadora foi Teresa
Rondeau. O carisma desta congregaçã o veio para a Polô nia graças a Ewa
(Sulkowska) Condessa de Potocka em 1862. Quanto ao propó sito, esta
congregaçã o aponta para a imitaçã o de Jesus Cristo em sua
misericó rdia para com todos os tipos de misé rias espirituais e humanas
e, de um De forma especial, está focado na reabilitaçã o de mulheres
jovens perdidas. Junto com a imitaçã o de Jesus Cristo em sua
misericó rdia está també m a devoçã o a Maria, Mã e da misericó rdia. Até
1962, os membros da congregaçã o eram os diretores e cooperadores. O
trabalho dos diretores era instruir e ensinar mulheres e meninas no
verdadeiro espı́rito cristã o. Ao contrá rio, os cooperadores ajudavam
nas tarefas domé sticas e com suas oraçõ es, sacrifı́cios e
morti icaçõ es. Faustina pertencia a este ú ltimo grupo.
Até agora, na Congregaçã o das Irmã s da Caridade, o tempo do noviciado
dura dois anos assim distribuı́dos: durante o primeiro ano, denominado
"canô nico", por ser exigido pelo Có digo de Direito Canô nico, as noviças
tê m oportunidade de se aprofundar sua vida espiritual atravé s da
meditaçã o e outras prá ticas religiosas, estudar as regras da
congregaçã o, as Constituiçõ es, bem como o signi icado dos votos e da
prá tica das virtudes, especialmente a virtude da humildade. Junto com
isso, eles estudam os fundamentos da fé para compartilhar com os
outros. Nesse momento, eles nã o devem fazer estudos formais ou
empregos excessivamente pesados, apenas se concentrar no que foi
dito acima. No segundo ano de noviciado, podiam estudar ou trabalhar,
sempre sob a direçã o de uma Irmã Professora, alé m de praticar
exercı́cios religiosos e espirituais. Se apó s este perı́odo de prova ela for
considerada digna de ser admitida à pro issã o religiosa, emite os votos
de pobreza, castidade e obediê ncia por um ano. Votos que se renovam
por cinco anos até a pro issã o perpé tua.
No inı́cio de 1926 foi enviada ao noviciado de Jozefow, na Croá cia, para
terminar o postulantado, e em 30 de abril tomou o há bito religioso
como noviça, recebendo o nome de Faustina Santı́ssimo Sacramento.
Para quem a observa externamente, nada teria traı́do sua
extraordiná ria e rica vida mı́stica. Desempenhava as suas funçõ es com
fervor, respeitava ielmente todas as regras do convento, era serena e
piedosa, mas ao mesmo tempo natural, alegre, cheia de amor
benevolente e desinteressado pelo pró ximo.
Toda a sua vida se concentrou em caminhar com irmeza para alcançar
a uniã o mais elevada e plena com Deus e em uma colaboraçã o abnegada
com Jesus na obra da salvaçã o das almas. Se ele deixou o mundo, nã o foi
para se refugiar num falso paraı́so, mas para se entregar inteiramente
ao Senhor: Estou aqui, para fazer a tua vontade; faça comigo o que você
quiser. «Meu Jesus - dirá no seu Diário - tu sabes que desde muito cedo
quis ser uma grande santa, isto é , quis amar-te com um amor tã o
grande como nenhuma alma jamais te amou» (1372) .
O estilo de vida austero e os jejuns exaustivos que praticava antes de
entrar no convento debilitaram tanto o seu corpo que, ainda postulante,
foi enviada para o spa Skolimov, perto de Varsó via, para recuperar a
saú de. Depois do primeiro ano de noviciado, começaram as
experiê ncias mı́sticas extremamente dolorosas, as da chamada noite
escura, e depois os sofrimentos espirituais e morais relacionados com a
missã o que o Senhor lhe con iou.
O noviciado é o perı́odo de tempo em que a candidata, no nosso caso,
procura discernir e veri icar a sua vocaçã o segundo as Constituiçõ es e
as normas da Congregaçã o a que quer pertencer, para viver as virtudes
humanas e cristã s de uma forma mais perfeita. forma, atravé s do estudo
da palavra de Deus e da oraçã o.

O primeiro teste
Durante este perı́odo de noviciado, Faustina teve a primeira forte
tentaçã o, uma espé cie de "noite escura" como se entende na vida
espiritual, que veremos mais tarde em que consistia. A mestra das
noviças era Ir. Marı́a Josefa Estefanı́a Brzoza, uma prudente diretora
enviada a Laval para observar a formaçã o das noviças in loco e absorver
o espı́rito da Congregaçã o. Durante o desempenho de sua posiçã o como
amante novata, ela foi um modelo exemplar que liderou pelo
exemplo; ela era exigente e ao mesmo tempo carinhosa com as
noviças. No capı́tulo geral da congregaçã o em 1934, ela foi nomeada
conselheira geral. Ela sabia como compreender as maneiras como a
Providê ncia e o Espı́rito queriam conduzir a irmã Faustina. Ela
percebeu que o que estava acontecendo com a Irmã Faustina nada mais
era do que uma tentaçã o do demô nio para fazê -la desistir de sua
intençã o de consagrar-se ao Senhor; Ele sabia como explicar ao seu
endereço o que signi icava a tentaçã o. Ser tentado nã o signi ica ser
pecador, porque até o nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo diabo
no deserto, como nos dizem os Sinó pticos (Mt 4,1ss; Mc 1,12; Lc 1,2-
3). O importante nã o é a tentaçã o, mas sim nã o sucumbir a ela. O que
esta pá gina evangé lica nos diz é que em nossa vida teremos tentaçõ es,
mas que devemos vencê -las com a ajuda da graça. Por outro lado, é o
que pedimos cada vez que rezamos o Pai Nosso: "Nã o nos deixes cair
em tentaçã o e livra-nos do mal"; E por isso que no inal dessas
tentaçõ es, "os anjos serviram" a Jesus porque ele havia saı́do delas com
louvor.
Certa ocasiã o, a mestra noviça disse-lhe estas palavras: «Deixa que o
Senhor empurre o barco da tua vida para as profundezas insondá veis
da tua vida interior» (Diário 55). Você també m se lembrará de algumas
palavras das conversas com a mã e Mestre; No inal do noviciado disse:
«Que a tua alma se diferencie particularmente pela sua simplicidade e
humildade. Caminhe pela vida de criança, sempre con iante, sempre
cheia de simplicidade e humildade, feliz com tudo, feliz com tudo. Onde
quer que outras almas estejam assustadas, você , irmã , passa em
silê ncio graças à simplicidade e à humildade. Lembre-se por toda a vida
que, da mesma forma que as á guas descem das montanhas aos vales, as
graças do Senhor descem apenas sobre as almas humildes » (Diário 55).
Em vez de batatas, rosas
Alé m disso, a Irmã Faustina nã o gozava de boa saú de e sofria de
grandes debilidades, pelo que, enquanto estava na cozinha, a histó ria
das batatas pingando se tornava mais pesada a cada dia e, apesar de ela
querer evitá -la, a certa altura tornou-o insuportá vel. Reclamou disso ao
seu con idente, Jesus, de quem ouviu estas palavras: "A partir de hoje
será mais fá cil para você , porque Eu o fortalecerei". Baseando-se nessas
palavras, à noite, ele correu para pegar a panela e ergueu-a com
facilidade. Quando ela descobriu o pote, em vez de batatas, ela viu
buquê s de rosas. O pró prio Jesus lhe explicará a visã o: "Troquei o seu
trabalho á rduo por um buquê das mais belas lores, e o perfume delas
sobe ao meu trono." De agora em diante, ele tentará fazer esse trabalho
diariamente, porque entendeu que isso agradava ao Senhor.
Graças a esta preciosa ajuda, Faustina conseguiu sair desta tentaçã o
com louvor, embora nunca se exime de que, em outras ocasiõ es, o
inimigo volte com insistê ncia ao ataque. No inal do noviciado, e depois
de um retiro espiritual de oito dias, ele faz os primeiros votos
temporá rios de castidade, pobreza e obediê ncia na presença do Bispo
Sã o Responder e cinco anos depois ele fará os votos perpé tuos.
A partir deste momento ela está disposta a ir onde a obediê ncia a
mandar: Cracó via, Plock e Vilna serã o os lugares onde ela prestará seus
serviços como cozinheira, jardineira e porteira ou o que for
preciso. Para quem, como ela, viveu uma vida espiritual intensa,
encontrou Deus, na expressã o de Santa Teresa de Jesus, “mesmo entre
as panelas”. Tudo se exercitou no convento com o maior recolhimento,
mas ao mesmo tempo com alegria e amor. Quando surgia alguma
di iculdade ou con lito, ela procurava enfrentá -lo com as seguintes
palavras: «Queridas irmã s, nã o percamos a paz por uma pequena
coisa. Trabalhemos para satisfazer Jesus ».
Com tantas mudanças, de uma casa para outra, pode parecer que Irmã
Faustina gostava de ser um pouco viajante e estar sempre em lugares
diferentes. Mas erramos se pensamos assim, porque as mudanças
foram extremamente difı́ceis e difı́ceis para ele, embora nunca tenha
resistido porque descobriu nelas a vontade do Senhor. A Superiora
Geral, Madre Micaela, dirá mais tarde que a ú nica irmã que foi
designada a muitas mudanças sem nunca reclamar foi a Irmã Faustina.
O que distingue os santos é que cumprem os seus deveres com fervor,
observando ielmente todas as regras do convento, com recolhimento e
piedade, mas ao mesmo tempo com naturalidade e alegria, cheios de
amor benevolente e desinteressado. Toda a sua vida está voltada para
caminhar em direçã o à perfeiçã o cristã , por meio da uniã o com
Deus. Irmã Faustina escreverá em seu Diário: "Meu Jesus, tu sabes que
desde muito cedo quis ser uma grande santa, isto é , quis te amar com
um amor tã o grande como nenhuma alma jamais te amou" (1372 )
Os tempos de recreaçã o eram especialmente felizes para a Irmã
Faustina, especialmente quando estavam no exterior. Ele vibrava com a
contemplaçã o da natureza e erguia as mã os para o cé u exclamando em
voz alta: "O Deus, in initamente bom, quã o maravilhosas sã o as tuas
obras!"
Tudo isso nã o brotou apenas de dons puramente naturais, nem de um
costume adquirido desde muito jovem, mas de uma simbiose perfeita
de natureza e graça onde é difı́cil distinguir quando ambos agem e
quando apenas um deles. O que podemos a irmar é que sua vida teve
como foco sempre caminhar em uniã o com Deus e tendo em vista a
salvaçã o das almas.
O Senhor a encheu de muitas graças extraordiná rias: os dons da
contemplaçã o e do conhecimento profundo do misté rio da misericó rdia
divina, visõ es, revelaçõ es, estigmas ocultos, dons de profecia, de leitura
nas almas humanas e noivado mı́stico. Apesar de tantos dons, era uma
pessoa com os pé s no chã o, como escreve: «Nem as graças, nem as
revelaçõ es, nem os ê xtases, nem qualquer outro dom concedido à alma
me aperfeiçoam, mas a comunhã o interior do alma com Deus ... A minha
santidade e perfeiçã o consistem na ı́ntima uniã o da minha vontade com
a vontade de Deus » (Diário 1107).
Nã o sabemos se Irmã Faustina leu Sã o Paulo na primeira Carta aos
Corı́ntios, onde o apó stolo a irma que: todos os dons de Deus, sem
amor, sã o inú teis.

Noite escura
«Provemo-nos a nós próprios ou ao Senhor,
que o sabe fazer bem» (Santa Teresa de Jesus)

«Filho, se decides servir ao Senhor –disse o Sirá cida–, prepara a tua


alma para a prova. Endireite o seu coraçã o e ique irme, em tempos de
infortú nio nã o se preocupe. Apegue-se a ele e nã o se afaste, para que
tenha um bom sucesso nos seus ú ltimos dias. Tudo que vier no seu
caminho, aceite, e nos contratempos do teste seja paciente. Porque o
ouro é testado no fogo, e os eleitos do Senhor na fornalha da
humilhaçã o ”(2,1-5).
Na histó ria sagrada, ningué m se tornou amigo de Deus ou entrou no
caminho da santidade sem antes ter passado pelo deserto da luta com
Deus como Jacó (Gn 32,26ss). Uma fé que nã o é posta à prova e
atormentada pela dú vida, pelo absurdo ... nã o é uma fé verdadeira. A fé
autê ntica é continuar esperando contra a esperança.
No livro de Judite encontramos as seguintes palavras: “Lembre-se de
como nossos pais foram testados para ver se realmente serviam a
Deus. Lembre-se de como Abraã o, nosso pai, foi testado; e, puri icado
por muitas tribulaçõ es, tornou-se amigo de Deus. Da mesma forma,
Isaque, Jacó , Moisé s e todos os que agradavam a Deus permaneceram
ié is a ele em meio a tantos sofrimentos ”(Jdt 8,21-23).
Cada vez que a Bı́blia fala do encontro de uma pessoa com Deus, o faz
em relaçã o a algum sacrifı́cio ou algo que ela teve que abandonar, ou
uma tarefa geralmente desagradá vel que ela teve que realizar. A tı́tulo
de exemplo, citemos Moisé s: “Nã o tenho facilidade de falar, nem antes,
nem desde que falaste com o teu servo ... Senhor, manda quem
quiseres” (Ex 4, 10-12). O mesmo acontece com Jeremı́as: «'Oh, Senhor
Deus! Olha, nã o sei falar, sou jovem.' Mas o Senhor respondeu a
ele. "Nã o diga: eu sou jovem! Porque para onde eu te mandei, você irá ; e
tudo o que eu te mandar dirá s ”(Jr 1,7).
A nossa Faustina també m viveu momentos de densas trevas,
sofrimentos espirituais e morais que afetaram a missã o que o Senhor
lhe con iara. A estes sofrimentos espirituais e morais juntaram-se os
fı́sicos: uma tuberculose para a qual teve de passar vá rios meses no
hospital Pradwik duas vezes na Croá cia.
Ningué m melhor do que ela pode descrever em que consistia aquela
"noite escura" ou alma de vı́tima, que durou seis meses. Por isso
citamos a seguir o nú mero 22 do seu diário: «No inal do primeiro ano
de noviciado, a minha alma começou a escurecer. Nã o sentia nenhum
conforto na oraçã o, a meditaçã o vinha com grande esforço, o medo
começou a tomar conta de mim. Penetrei mais fundo e tudo o que vi foi
uma grande misé ria. També m vi claramente a grande santidade de
Deus, nã o ousei levantar os olhos para ele, mas caı́ como pó a seus pé s e
implorei sua misericó rdia.
Quase seis meses se passaram e o estado de minha alma nã o mudou em
nada. Nossa querida mã e Professora me encorajou nesses momentos
difı́ceis. Tive a ideia de dirigir-me a Santa Teresinha do Menino Jesus, de
quem sou muito devoto com uma novena. No quinto dia, ele apareceu
para mim em um sonho; mas como se ele estivesse na terra, e começou
a me consolar: “Nã o se preocupe com o que está acontecendo com
você ”, disse ele, “mas aumente a sua con iança em Deus. Eu també m
sofri muito ”, mas nã o dei muito valor a essas palavras.
No entanto, esse sofrimento estava aumentando cada vez mais. O
segundo ano de noviciado se aproximava. Quando pensei que deveria
fazer os votos, minha alma estremeceu. Ele nã o entendia o que estava
lendo, nã o conseguia meditar. Pareceu-me que minha oraçã o nã o
agradou a Deus. Quando me aproximei dos santos sacramentos,
pareceu-me que ofendi a Deus ainda mais. No entanto, o confessor nã o
me permitiu omitir uma ú nica Sagrada Comunhã o. Deus trabalhou em
minha alma de uma maneira ú nica. Nã o entendi absolutamente nada do
que o confessor estava me dizendo. As simples verdades da fé
tornaram-se incompreensı́veis, minha alma sofreu sem poder encontrar
satisfaçã o em parte alguma. Houve um momento em que tive a forte
impressã o de que fui rejeitado por Deus. Essa ideia terrı́vel perfurou
completamente minha alma. Nesse sofrimento, minha alma começou a
agonizar. Ele queria morrer, mas nã o conseguiu. A ideia me veio: para
que reivindicar virtudes? Por que me morti icar se tudo é desagradá vel
a Deus? Como disse à Madre Mestra, recebi a seguinte resposta: “Você
deve saber, irmã , que Deus a deseja para uma grande santidade. E um
sinal de que Deus quer tê -la no cé u, bem perto de si. Irmã , con ie muito
no Senhor Jesus ”.
Essa terrı́vel ideia de ser rejeitado por Deus é um tormento que os
condenados realmente sofrem. Recorreu à s feridas de Jesus, repetiu as
palavras de con iança, poré m, essas palavras se tornaram um tormento
maior. Apresentei-me diante do Santı́ssimo Sacramento e comecei a
dizer a Jesus: Jesus, você disse que antes que uma mã e esqueça seu ilho
recé m-nascido, Deus se esquece de seu ilho, e mesmo que ela se
esqueça, eu, Deus, nã o esquecerei meu ilho. Ei Jesus, como minha alma
geme? Aceite ouvir os gemidos dolorosos de sua garota. Em ti con io, ó
Deus, porque o cé u e a terra passarã o, mas a tua palavra dura para
sempre. No entanto, nã o encontrei alı́vio por um instante.

Escuridão total
E como se nã o bastasse, continua no seguinte nú mero: «Um dia, quando
acordei, enquanto me colocava na presença de Deus, o desespero
começou a invadir-me. A escuridã o total da alma. Lutei tanto quanto
pude até o meio-dia. Nas horas da tarde, medos verdadeiramente
mortais começaram a se apoderar de mim, as forças fı́sicas começaram
a me abandonar. Corri para a cela, ajoelhei-me diante do cruci ixo e
comecei a implorar por misericó rdia. No entanto, Jesus nã o ouviu meus
chamados. Senti-me completamente despojado das minhas forças
fı́sicas, caı́ por terra, o desespero apoderou-se de toda a minha alma,
sofri realmente dores infernais, que nã o diferem em nada das do
inferno ».
Para quem nã o percorreu estes caminhos de intimidade com Deus,
estas palavras da Irmã Faustina podem parecer crué is e
incompreensı́veis, mas Santa Teresa de Jesus, que muito sabe disso, nos
dirá : «Sei por experiê ncia como é doloroso este teste é ., requer mais
coragem do que todas as provaçõ es do mundo ”e ela as havia
experimentado fortemente em sua vida inicial.
Mas Deus nã o nos deixa sozinhos na tribulaçã o, embora pareça que ele
se esconda ou desapareça, ele está ao lado daquele que é testado. Assim
sucedeu à Irmã Faustina, como ela escreve: «De repente, quando tenho
consentido em fazer o sacrifı́cio de todo o coraçã o e de todo o
entendimento; a presença de Deus me cobria, parecia-me que morria
de amor ao ver o seu olhar ».
Santo abandono

Senhor, para quem iremos?


Tens as palavras da vida eterna » (Jn 6,68)

Quando tudo ao nosso redor parece absurdo e nã o há saı́da, o santo
abandono nas mã os de Deus é o ú nico recurso. Vejamos como Faustina
explica o seu modo de proceder: «A fé está exposta ao fogo, a luta é
dura, a alma se esforça, persevera com Deus com um ato de
vontade. Com a permissã o de Deus, Sataná s segue em frente, a
esperança e o amor sã o colocados à prova. Essas tentaçõ es sã o terrı́veis,
Deus sustenta a alma secretamente. Ela nã o sabe, pois do contrá rio nã o
poderia resistir. E Deus sabe o que isso pode enviar à alma. A alma é
tentada à descrença a respeito das verdades reveladas, à insinceridade
diante do confessor. Sataná s diz a ele: "Olha, ningué m vai entender
você , por que falar sobre tudo isso?" Palavras que a apavoraram
ressoam em seus ouvidos e parece que as fala contra Deus. Veja o que
você nã o gostaria de ver. Ouça o que você nã o quer ouvir, e é terrı́vel
nã o ter o confessor especialista nessas horas. Ela suporta todo o peso
sozinha; mas dentro do que está em seu poder, você deve procurar um
confessor experiente, porque você pode quebrar sob esse peso, e
muitas vezes você está no limite.
“Todos esses testes sã o duros e difı́ceis. Deus nã o os dá a uma alma que
nã o foi previamente admitida a uma comunhã o mais profunda com Ele,
e nã o desfrutou das doçuras do Senhor, e Deus també m tem seus
objetivos insondá veis para nó s nisso. Muitas vezes, Deus també m
prepara a alma para projetos futuros e grandes obras. E ele quer testá -
lo como ouro puro, mas ainda nã o é o im do teste. Ainda há a prova das
provaçõ es, ou seja, [sentir] a rejeiçã o total de Deus ».

A prova dos testes


Quando a alma sai vitoriosa das provas anteriores, embora talvez
tropeça, mas continua a lutar e com profunda humildade clama ao
Senhor: Salva-me porque eu perco. E ele ainda está apto para lutar.
Agora, uma terrı́vel escuridã o envolve a alma. A alma só vê em si os
pecados. O que ele sente é terrı́vel. Ela está completamente abandonada
por Deus, sente-se o objeto de seu ó dio e está à beira do desespero. Ela
se defende o melhor que pode, tenta despertar con iança, mas a oraçã o
é um tormento ainda maior para ela, parece-lhe que empurra Deus para
uma raiva maior. Ele é colocado em um pico muito alto que está à beira
de um precipı́cio.
A alma anseia sinceramente por Deus, mas se sente rejeitada. Todos os
tormentos e tormentos do mundo nada sã o comparados à sensaçã o em
que está submerso, ou seja, a rejeiçã o por parte de Deus. Ningué m pode
aliviar isso. Ela vê que está sozinha, ela nã o tem ningué m em sua
defesa. Ela levanta os olhos para o cé u, mas sabe que nã o é para ela,
tudo está perdido para ela. De uma escuridã o ele cai em outra
escuridã o ainda maior, parece-lhe que perdeu Deus para sempre,
aquele Deus que ele tanto amou. Esse pensamento lhe causa um
tormento indescritı́vel. No entanto, ele nã o está satisfeito com isso, ele
tenta olhar para o cé u, mas em vã o; isso lhe causa um tormento ainda
maior.
Ningué m pode iluminar tal alma se Deus quiser mantê -la nas trevas. Ela
sente essa rejeiçã o de Deus muito vividamente, de uma forma
aterrorizante. Gemidos dolorosos brotam de seu coraçã o, tã o dolorosos
que nenhum padre pode entendê -los se nã o tiver passado pela mesma
coisa. Nisto a alma ainda sofre sofrimentos do espı́rito maligno. Sataná s
zomba dela: “Veja, você ainda será iel? Aqui está a recompensa, você
está em nosso poder ». Mas Sataná s tem tanto poder sobre essa alma
quanto Deus permite: Deus sabe o quanto podemos resistir. E o que
você ganhou ao se morti icar? E o que você conquistou sendo iel à
regra? Por que todos esses esforços? Você foi rejeitado por Deus. A
palavra "rejeitado" torna-se um fogo que penetra cada nervo até a
medula ó ssea. Corre por todo o seu ser. O momento supremo da prova
está chegando. A alma já nã o procura ajuda em lado nenhum, fecha-se e
perde tudo de vista e é como se aceitasse este tormento da rejeiçã o: «E
um momento que nã o posso de inir. E a agonia da alma. Quando aquele
momento começou a se aproximar de mim pela primeira vez, fui
libertado dele em virtude da santa obediê ncia. Quando a Mestra das
Noviças me viu, assustou-se e mandou-me confessar; mas o confessor
nã o me entendeu, nã o experimentei nem uma sombra de alı́vio. O Jesus,
dá -nos sacerdotes com experiê ncia.

Quando eu disse que experimentei os tormentos do inferno na minha


alma, ele respondeu que estava tranquilo para a minha alma, porque ele
viu na minha alma uma grande graça de Deus. Poré m, eu nã o entendia
nada disso e nem um pequeno raio de luz penetrou em [minha] alma.
Agora começo a sentir falta de força fı́sica e nã o consigo mais cumprir
as tarefas. Já nã o consigo esconder os meus sofrimentos: embora nã o
diga uma palavra sobre o que sofro, apesar da dor que se re lecte no
meu rosto, me trai e a Superiora disse que as irmã s vã o ter com ela e lhe
dizem que quando me vê em na capela, eles tê m pena de mim, estou tã o
horrı́vel. Poré m, apesar dos esforços, a alma nã o consegue esconder
esse sofrimento.
Jesus, só tu sabes como a alma geme nestes tormentos, submersa nas
trevas, e com tudo o que tem fome e sede de Deus, como lá bios
queimados [sede] de á gua ». Ele morre e queima; ele morre uma morte
sem morrer, isto é , ele nã o pode morrer. Seus esforços nã o sã o
nada; está sob uma mã o poderosa. Agora sua alma está sob o poder do
Justo. Cessam todas as tentaçõ es externas, tudo o que a rodeia ica em
silê ncio, como um moribundo, ela perde a percepçã o do que tem à sua
volta, toda a sua alma está reunida sob o poder do Deus justo e trê s
vezes santo. Rejeitado por toda a eternidade. Este é o momento
supremo e só Deus pode colocar uma alma a tal prova, porque só Ele
sabe que a alma é capaz de suportá -lo. Quando a alma se encontra
totalmente impregnada por este fogo infernal, cai em desespero: «A
minha alma viveu este momento em que estava só na cela. Quando a
alma começou a entrar em desespero, senti que minha agonia estava
chegando, entã o peguei um pequeno cruci ixo e o segurei com
força; Senti que o meu corpo se ia separar da alma e embora quisesse ir
aos Superiores, já nã o tinha forças fı́sicas, disse as ú ltimas palavras,
con io na Tua misericó rdia e pareceu-me que tinha levou Deus a uma
raiva ainda maior, e eu afundei no desespero, e apenas de vez em
quando um gemido doloroso saı́a de minha alma, um gemido sem
consolo. A alma em agonia. E parecia-me que já estaria nesse estado,
porque nã o o teria saı́do com as minhas pró prias forças ». Cada
memó ria de Deus é um mar indescritı́vel de tormentos, mas há algo na
alma que anseia fervorosamente por Deus, mas parece-lhe que é apenas
para fazê -la sofrer mais. A memó ria do amor com que Deus a rodeava
antes é um novo tormento para ela. Seu olhar a perfura completamente
e tudo foi queimado por ela em sua alma.

“Depois de um longo momento, ao entrar na cela, uma das irmã s me


encontrou quase morta. Ele se assustou e foi até o Mestre que em
virtude da santa obediê ncia ordenou que eu me levantasse do chã o e
imediatamente senti as forças fı́sicas, e me levantei do chã o todo
trê mulo. O Mestre percebeu imediatamente o estado de minha alma,
falou-me da misericó rdia inconcebı́vel de Deus e disse: "Nã o se
preocupe com nada, irmã , eu te ordeno em virtude da santa
obediê ncia." E ele continuou: “Agora vejo que Deus a chama para grande
santidade, o Senhor deseja tê -la perto dele, permitindo que essas
coisas, tã o cedo. Seja iel a Deus, irmã , porque isso é um sinal de que ele
quer tê -la alto no cé u ”. Mas eu nã o entendi qualquer uma destas
palavras » (Diário 98-102).

Pequena vitima

“ Se sofrermos com ele,


também reinaremos com ele” (2Tm 2,12)

O sofrimento é uma grande graça; Por meio do sofrimento, a alma


torna-se como a do Salvador; no sofrimento o amor se cristaliza e
quanto maior o sofrimento, mais puro é o amor.
Durante uma hora particular de adoraçã o, Irmã Faustina teve uma visã o
do que signi ica ser uma pequena vı́tima. Absolutamente tudo que a
partir daquele momento teria que sofrer, tudo passou por seus olhos:
falsas acusaçõ es, a perda do bom nome e muito mais. Quando a visã o
terminou, um suor frio banhou sua testa. Jesus a deixou saber que,
mesmo que ela nã o consentisse com isso, ela seria salva e Ele nã o
diminuiria suas graças e continuaria a manter um relacionamento tã o
ı́ntimo com ela. Mesmo que ele nã o consentisse com esse sacrifı́cio, a
generosidade de Deus nã o diminuiria em nada. Ela estava ciente de que
todo o misté rio dependia dela, com seu livre consentimento para o
sacrifı́cio, no pleno uso de suas faculdades.
Em seguida, ele escreveu o seguinte em seu diário: “De repente, quando
eu tinha consentido a fazer o sacrifı́cio de todo o meu coraçã o e toda
minha compreensã o, a presença de Deus me cobriu. Minha alma estava
imerso em Deus e foi inundado com tanta alegria que eu nã o posso
colocar por escrito até mesmo o menor anedota desta experiê ncia. Eu
senti Sua Majestade me envolver. Eu encontrei-me fundido com
Deus. Eu percebi que Deus estava satisfeito comigo, e reciprocamente, o
meu espı́rito foi afogado nele. Consciente desta uniã o com Deus, senti-
me especialmente amado, e, em troca, eu amei com toda a minha
alma. Um grande misté rio me foi manifestado durante esta
adoraçã o. Um misté rio entre o Senhor e me. Pareceu-me que eu estava
morrendo de amor com a visã o de seu olhar.
Falei muito com o Senhor, sem dizer uma palavra. E o Senhor disse-me:
“Tu é s o deleite do meu coraçã o; A partir de agora, cada um dos seus
atos, o que quer que você faça, mesmo os menores, será um deleite para
os meus olhos ”. Naquele momento me senti consagrado. Meu corpo
humano era o mesmo, mas minha alma era diferente. Deus estava
vivendo nela com seu deleite. Este nã o era um sentimento, mas uma
realidade. Um grande misté rio se realizou entre Deus e eu »(136-137).
No dia 7 de fevereiro de 1937, o Senhor lhe disse: «Exijo de ti um
sacrifı́cio perfeito e como holocausto o sacrifı́cio da vontade; nenhum
outro sacrifı́cio é compará vel a este. Eu mesmo dirijo a sua vida e
organizo tudo para que você seja uma oferenda contı́nua para mim e
você sempre faça a minha vontade, e para completar esta oferenda você
se juntará a mim na cruz. Eu conheço suas possibilidades. Eu mesmo
irei mandar você diretamente muitas coisas e a possibilidade de
execuçã o irá atrasá -lo e fazer você depender de outros; o que os
superiores nã o podem alcançar, vou completá -lo diretamente em sua
alma e no mais secreto fundo de sua alma haverá um sacrifı́cio de
holocausto perfeito, e isso nã o por algum tempo, mas você deve saber,
minha ilha, que este o sacrifı́cio durará até a morte. Mas chegará o
tempo em que eu, o Senhor, cumprirei todos os seus desejos; Tenho
meu prazer em você como em um an itriã o vivo; nã o tenha medo de
nada. Eu estou convosco » (Diário 923).
No mesmo ano, 1937, o Senhor disse-lhe: «Minha ilha, preciso dos
sacrifı́cios por amor, porque só estes tê m valor para mim. E grande a
dı́vida do mundo contraı́da para comigo, as almas puras podem pagá -la
com os seus sacrifı́cios, praticando a misericó rdia espiritualmente
» (Diário 1316). E no seguinte nú mero: «Eu sei, minha ilha, que tu o
compreendes e fazes tudo ao teu alcance, mas escreve-o para muitas
almas que à s vezes sofrem por nã o ter bens materiais, para praticar a
misericó rdia com eles. Poré m, o mé rito muito maior vai para a
misericó rdia espiritual que nã o precisa de autorizaçã o ou celeiro, sendo
acessı́vel a qualquer alma. Se a alma nã o praticar a misericó rdia de
alguma forma, ela nã o obterá minha misericó rdia no dia do
julgamento. Oh, se as almas soubessem acumular tesouros eternos, nã o
seriam julgadas, porque a sua misericó rdia anteciparia o meu
julgamento ”(1317).
E como uma pequena vı́tima, ele se identi icará com Jesus em sua
Paixã o. Disse-lhe Jesus: «As trê s horas roga a minha misericó rdia,
sobretudo pelos pecadores e, mesmo que por um breve momento,
mergulha na minha Paixã o, sobretudo no meu abandono no momento
da minha agonia. Esta é a hora de grande misericó rdia para todo o
mundo. Vou permitir que você penetre em minha tristeza mortal. Nesta
hora nada será negado à alma que o pede pelos mé ritos da minha
Paixã o ... » (Diário 1320).

Voltar para varsó via

“Da prova resulta a paciência,


da paciência a fé irme e
da fé irme brota a
esperança e a esperança não decepciona” (Rm 5, 3-5).

No inal dos dois anos de noviciado, Irmã Faustina foi enviada a


Varsó via no dia 31 de outubro de 1928, no mesmo convento em que
viveu durante o postulado, pronta para trabalhar na cozinha: Voltou
com todo o entusiasmo de uma jovens religiosos. Mas logo sua saú de
começou a piorar. O cuidado e a atençã o de seus superiores eram de
pouca utilidade para ela. Algumas das irmã s, na é poca em que estava na
enfermaria, interpretaram que o seu negó cio era, como dizem: gato
doente, pouco mal e muito tecido, por isso teve que suportar muitos
desprezos, encontrando seu refú gio e consolo no contemplaçã o dos
sofrimentos de Cristo na Paixã o. Ela escreverá : “Quando o pró prio
Senhor quiser estar perto de uma alma e dirigi-la, Ele moverá tudo o
que é externo dela ... Na verdade os superiores eram muito cuidadosos
com os enfermos, mas o Senhor decidiu que eu deveria sentir
abandonado."
Um dia, Madre Micaela disse à Irmã Faustina: «Irmã , pelo teu caminho
os sofrimentos só te fazem sair um pouco da terra. Eu vejo você como
um cruci icado. Mas també m posso ver que Jesus tem uma parte
nisso. Sede ié is ao Senhor » (Diário 14).
As falsas apreciaçõ es que algumas irmã s faziam de seus sofrimentos
nã o tardaram a chegar aos ouvidos da Irmã Faustina, que nã o parava de
aumentar seu sofrimento. E mais uma vez Jesus a tranquilizará : «Nã o
vives para ti, mas para as almas, e as outras almas bene iciarã o com os
teus sofrimentos. O teu sofrimento prolongado vai dar-lhes luz e força
para aceitar a minha vontade ” (Diário 67).
Até uma das irmã s mais velhas se atreveu a culpá -la de que ela
certamente estava se enganando porque Deus se associa da maneira
que Jesus pensava que se associava com ela, apenas com os santos e ela
era uma pecadora. Apreciaçã o totalmente contrá ria ao Evangelho, onde
Jesus a irma claramente que «nã o veio chamar os justos, mas os
pecadores» (Mt 2,17). Com as palavras desta irmã , ela começou a
descon iar de Jesus e um dia perguntou-lhe: "Jesus, você nã o é uma
ilusã o?" Ao que Jesus respondeu: «O meu amor nã o engana a
ningué m» (Diário 29).
Se algumas pessoas conseguem entender o que a graça está fazendo
nelas, outras nã o apenas nã o as entendem, mas també m as julgam
negativamente. Entre essas pessoas havia confessores de quem ele
esperava encontrar luz e conforto. Vejamos o que ela mesma nos diz:
«Quando disse algumas destas coisas ao confessor (refere-se a visõ es e
revelaçõ es), ele disse-me que podiam vir mesmo de Deus, mas també m
podiam ser ilusõ es. Como me mudava com freqü ê ncia, nã o tinha um
confessor permanente, també m tinha uma di iculdade incrı́vel de
explicar essas coisas e orava com ardor para que Deus me desse essa
graça enorme de ter um diretor espiritual. Só o recebi depois dos votos
perpé tuos, quando fui para Vilna. E o padre Sopocko. Deus permitiu-me
conhecê -lo internamente antes de vir para Vilna ». E continua: «Ah, se
eu tivesse o diretor espiritual desde o inı́cio, nã o teria desperdiçado
tantas graças de Deus. O confessor pode ajudar muito a alma, mas
també m pode destruir muito. Oh, como os confessores devem prestar
atençã o à operaçã o da graça de Deus na alma de seus penitentes. E uma
questã o de grande importâ ncia. Pelas graças que estã o na alma, pode-
se conhecer sua estreita relaçã o com Deus ” (Diário 34-35).

Irmã Faustina fala palavras duras contra os confessores que encontrou,


mas re letem a realidade que viveu. Ouçamos as suas palavras: «Só me
lembrarei do que vivi e vivi na minha pró pria alma. Há trê s coisas pelas
quais a alma nã o tira proveito da con issã o nesses momentos
excepcionais.
A primeira é que o confessor pouco conhece dos caminhos
extraordiná rios e se espanta quando uma alma lhe revela os grandes
misté rios que Deus realiza na alma. Este espanto de seu espanto alarma
uma alma sutil e adverte que o confessor está indeciso quando se trata
de expressar sua opiniã o; e se a alma percebe isso, nã o ica sossegada,
mas tem ainda mais dú vidas depois da con issã o do que quantas tinha
antes, porque sente que o confessor a tranquiliza, [mas] ele mesmo nã o
tem certeza. Ou, o que aconteceu comigo, que o confessor, incapaz de
penetrar alguns misté rios da alma, recusa a con issã o, mostra um certo
medo quando aquela alma se aproxima da grade.
Como pode uma alma em tal estado adquirir tranquilidade no
confessioná rio, visto que é tã o sensı́vel a cada palavra do confessor! Na
minha opiniã o, nestes momentos de visitas especiais de Deus na alma,
se [o padre] nã o a compreende, deve encaminhá -la a um confessor com
experiê ncia e conhecimento, ou ele mesmo adquire luzes para dar à
alma o que ela precisa , e nã o simplesmente recusar a sua con issã o,
porque assim a expõ e a um grande perigo e mais do que uma alma pode
abandonar o caminho que Deus queria de uma forma particular. E uma
coisa de grande importâ ncia, porque eu mesmo experimentei, [isto é ]
que já estava começando a vacilar apesar desses dons ú nicos de
Deus; embora o pró prio Deus me tenha assegurado, mesmo assim
sempre quis ter o selo da Igreja.
A segunda coisa é que se o confessor nã o permite que ele se expresse
com sinceridade e mostra impaciê ncia, entã o a alma se cala e nã o diz
tudo e, portanto, nã o se bene icia. O confessor começa a testar a alma e,
sem saber, em vez de ajudá -la, a fere. E isso porque ela sabe que o
confessor nã o a conhece, pois nã o lhe permitiu revelar-se plenamente
em termos de graças, nem de misé ria. Bem, o teste nã o é
apropriado. Fiz alguns testes dos quais ri. Exprimirei melhor isto nas
palavras que o confessor é o mé dico da alma, e como o mé dico, sem
conhecer a doença, pode dar um remé dio adequado? Nunca. Porque
nã o terá o efeito desejado, ou prescreverá muito forte e agravará a
doença e à s vezes, Deus me livre, pode levar à morte, porque [é ] muito
forte.
Digo isso por experiê ncia pró pria, que em alguns casos foi o pró prio
Deus quem me sustentou.
A terceira coisa é que à s vezes o confessor dá pouca importâ ncia à s
pequenas coisas. Na vida espiritual nã o há nada pequeno. As vezes, algo
aparentemente pequeno descobre algo de grande importâ ncia, e para o
confessor é um raio de luz para conhecer a alma. Muitas nuances
espirituais estã o escondidas nas pequenas coisas.
Um edifı́cio magnı́ ico nunca será erguido se jogarmos fora os tijolos. De
certas almas, Deus exige grande pureza, pois lhes envia um
conhecimento mais profundo da misé ria. Iluminados pela luz [que vem]
do alto, eles sabem melhor o que agrada a Deus e o que nã o o agrada. O
pecado está de acordo com o conhecimento e a luz da alma, o mesmo
també m as imperfeiçõ es, embora ela saiba que o que se refere
estritamente ao sacramento é o pecado. Mas estas pequenas coisas tê m
uma grande importâ ncia na aspiraçã o à santidade e o confessor nã o as
pode subestimar. A paciê ncia e a benevolê ncia do confessor abrem o
caminho para os segredos mais profundos da alma. A alma revela quase
inconscientemente a profundidade abismal e sente-se mais forte e
resistente, agora luta com mais coragem, se esforça mais, porque sabe
que deve dar conta disso.
Vou me lembrar de mais uma coisa sobre o confessor. As vezes você tem
que experimentar, tem que testar, tem que fazer exercı́cios, tem que
saber se está lidando com palha, com ferro ou com ouro puro. Cada uma
dessas trê s almas precisa se exercitar de uma maneira diferente. O
confessor deve necessariamente formar uma opiniã o clara sobre cada
um, para saber o que eles podem suportar em determinados
momentos, circunstâ ncias e casos. Quanto a mim, depois de muitas
experiê ncias, quando percebi que eles nã o me entendiam, isso nã o
revelou minha alma e nã o perturbou minha tranquilidade. Mas isso
aconteceu apenas a partir do momento em que todas essas graças
estavam sob o julgamento do confessor instruı́do, instruı́do e
experiente. Agora sei como me comportar em certos casos.
E desejo reiterar trê s palavras à alma que deseja decididamente tender
à santidade e obter frutos, isto é , benefı́cios da con issã o. O primeiro,
total sinceridade e abertura. O mais santo e sá bio confessor nã o pode
infundir à força na alma o que deseja se a alma nã o for sincera e
aberta. A alma insincera e fechada expõ e-se a um grande perigo na vida
espiritual e o pró prio Senhor Jesus nã o se oferece a tal alma de maneira
superior, porque sabe que ela nã o se bene iciaria com essas graças
particulares.
A segunda palavra, humildade. A alma nã o se bene icia adequadamente
do sacramento da con issã o se nã o for humilde. O orgulho manté m a
alma nas trevas. Ela nã o sabe e nã o quer penetrar exatamente nas
profundezas de sua misé ria, mascara-se e evita tudo que a deveria
curar.
A terceira palavra é obediê ncia. A alma desobediente nã o alcançará
nenhuma vitó ria, mesmo que o pró prio Senhor Jesus confesse isso
diretamente. O confessor mais experiente nã o ajudará tal alma. A alma
desobediente se expõ e a grande perigo e nã o fará nenhum progresso na
perfeiçã o e nã o se defenderá na vida espiritual. Deus generosamente
enche a alma de graças, mas a alma obediente ” (Diário 112-113).

"E assim que eu trato meus amigos"

“Eu mal tinha passado por eles


quando encontrei o amor da minha vida,
abracei-o e não vou largá-lo” (Canto 3,4)

Os bió grafos de Santa Teresa de Jesus contam-nos que, a caminho de


uma das suas numerosas fundaçõ es, por aquelas calçadas da larga
Castela, onde o pó do verã o se transforma em lama com a chegada das
chuvas de inverno, a carroça que a transportou até Ela. e uma de suas
irmã s encalhou, e como ela nã o podia sair com a ú nica força da
cavalaria que puxava a carroça, elas tiveram que partir a pé , usando
suas alpargatas e lamacentas, nada favorá vel à saú de da boa Teresa.
. Quem ama de verdade pode ouvir o que nã o parece certo para
algué m. E Teresa, que havia alcançado uma certa familiaridade com
Jesus, nã o parou e disse: "Por que você nos tratou assim?" Ao que Jesus
respondeu: "E assim que trato os meus amigos." Teresa respondeu: "E
por isso que você tem tã o poucos."
Os caminhos de Deus sã o inescrutá veis para nó s. Ele tem sua pró pria
economia e projeto em cada um. Ele conduz alguns santos por um
caminho e outros por outros sem pressã o ou condicionamento,
respeitando a liberdade e a autonomia de cada um, pois isso seria uma
perda para o coraçã o; seria algo contrá rio ao amor que Deus tem por
nó s. Se Deus nos condicionar, Ele nã o encontrará amor no homem, mas
apenas submissã o. E é claro que esta nã o é a atitude de Jesus: «Já nã o
vos chamo servos, mas amigos, porque o servo nã o sabe o que faz o seu
senhor; Chamo-vos de amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai vos
iz saber ”(Jo 15,15).
Irmã Faustina nã o é amiga de Jesus, mas com ele atingiu o noivado
mı́stico em que tudo se torna comum. Como ela mesma confessa: “As
dez horas (da noite) vi o rosto martirizado de Jesus. De repente, Jesus
disse-me estas palavras: «Esperei que partilhasses o teu sofrimento,
pois quem pode compreender os meus sofrimentos melhor do que a
minha mulher?» (Diário 384).
Devemos entender o valor da dor na vida, que nã o é um im em si, mas
um meio para alcançar algo maior. Sofrimento para o sofrimento é
masoquismo e, como tal desumana. O sofrimento deve nos levar a Jesus,
à uniã o com ele e ser partı́cipes de sua co-redentora paixã o: "Eu
preencher na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo", diz
Sã o Paulo sobre si mesmo na Carta aos Colossenses (1, 24). A dor é
como a pé rola preciosa que se encontra e ele vai vender tudo o que tem
e comprá -lo (Mt 13,46). Mais uma vez, Sã o Paulo vai nos dizer,
escrevendo aos Filipenses: "Mas como muitas coisas foram um ganho
para mim, eu considerei uma perda, a im de ganhar Cristo"
(3,5). «Quero que saibam, irmã os, que o que me aconteceu tem sim
contribuı́do para o progresso do Evangelho; para que tenha sido
tornado pú blico em todo o pretó rio e entre todos os outros, que estou
em cadeias de Cristo, ea maioria dos irmã os, estimulados no Senhor por
minhas cadeias, tê m maior destemor em proclamar a Palavra sem medo
"(Flp 1,12 -14). Ela só faz sentido quando o que se consegue com isso é
algo humanamente incalculá vel.
Irmã Faustina nã o é masoquista. Ele compreendeu o valor do
sofrimento junto com o de Jesus, por isso escreve: «O sofrimento é o
maior tesouro da terra, puri ica a alma. No sofrimento, sabemos quem é
nosso verdadeiro amigo. O amor verdadeiro é medido com o
termô metro do sofrimento.

O sofrimento se transformou em oração


«O Jesus, obrigado pelas pequenas cruzes quotidianas, pelos
contratempos em que tropeçam os meus propó sitos, pelo peso da vida
comunitá ria, pela má interpretaçã o das [minhas] intençõ es, pelas
humilhaçõ es dos outros, pelos duros comportamento diante de nó s,
pelas injustas suspeitas, pela saú de debilitada e pelo esgotamento das
forças, por repú dio à minha pró pria vontade, pelo aniquilamento do
meu pró prio eu, pela falta de reconhecimento em tudo, pelos
impedimentos feitos à todos os [meus] planos. Agradeço-te, Jesus, pelos
sofrimentos interiores, pela aridez do espı́rito, pelos medos, pelos
medos e pelas dú vidas, pelas trevas e pelas densas trevas interiores,
pelas tentaçõ es e pelas diversas provaçõ es, pelas angú stias que existem.
difı́cil de exprimir e sobretudo por aqueles em que ningué m nos
compreende, pela hora da morte, pelo duro combate durante ela, por
todas as amarguras.
Agradeço-te, Jesus, por teres bebido o cá lice da amargura antes de me
dar para o adoçar. Eis que aproximei meus lá bios deste cá lice de sua
santa vontade; Que seja feito em mim de acordo com sua vontade, que
seja feito em mim o que sua sabedoria estabeleceu desde a
eternidade. Quero beber o cá lice da predestinaçã o até a ú ltima gota,
nã o quero analisar essa predestinaçã o; na amargura, minha alegria, no
desespero, minha con iança. Em ti, ó Senhor, tudo o que dá o teu
Coraçã o paterno é bom; Nã o coloco consolo acima de amargura, nem
amargura acima de consolo, mas agradeço por tudo, ó Jesus. Meu
deleite é contemplar-te, ó Deus Inconcebı́vel. A minha alma está nestas
existê ncias misteriosas, é aı́ que sinto que estou em casa. Eu conheço
bem a morada do meu marido. Sinto que em mim nã o há gota de
sangue que nã o arde de amor por Ti.
O Eterna Beleza, quem te conhece apenas uma vez nã o pode amar mais
nada. Sinto o turbilhã o insondá vel da minha alma e que nada pode
preenchê -la, a nã o ser o pró prio Deus. Sinto-me afundar Nele como um
grã o de areia num oceano sem fundo » (Diário 342-346).
E continua: «Durante uma adoraçã o ao Senhor me pediu para me
oferecer a ele como uma vı́tima de um sofrimento que serviria como
reparaçã o em causa de Deus e nã o só em geral para os pecados do
mundo, mas em particular para o faltas cometidas nesta casa. Eu
imediatamente disse que sim, eu estava disposto. No entanto, Jesus fez-
me saber o que eu tinha que sofrer e num ú nico momento em que ele
apareceu e todo o martı́rio passou diante dos olhos de minha alma. Em
primeiro lugar, as minhas intençõ es nã o seria reconhecido, vá rias
suspeitas e descon iança irã o surgir, todos os tipos de humilhaçõ es e
fracassos, eu nã o enumerá -los todos. Na frente dos olhos da minha alma
tudo parecia como uma tempestade sombrio, a partir do qual um
momento depois raios estavam indo para lançar, o que só estavam
aguardando o meu consentimento. Minha alma icou chocado por um
momento. De repente, o sinal do almoço tocou. Deixei o tremor capela e
indeciso. No entanto, esse sacrifı́cio era sempre diante de mim, porque
eu nã o tinha nem decidiu aceitar isso nem se eu nã o disse ao Senhor. Eu
queria submeter à sua vontade. Se o pró prio Jesus lhe é atribuı́do para
mim, eu estava pronto. Mas Jesus deu a conhecer-me que era eu que
tinha de aceitar voluntariamente e com pleno conhecimento, porque
caso contrá rio, nã o teria sentido. Todo o seu valor consistia em meu ato
voluntá rio na frente dele, mas, ao mesmo tempo que o Senhor fez
saber-me que este estava em meu poder. Ele poderia fazê -lo, mas [ele
pudesse] també m nã o fazê -lo. Naquele momento, eu respondi: “Jesus,
eu aceito tudo, o que você quiser me enviar; Eu con io em vossa
bondade”. Em um instante, senti que com este ato que eu pago uma
grande honra a Deus. Mas eu me armei com paciê ncia. Saindo da capela,
fui imediatamente confrontado com a realidade. Eu nã o quero
descrevê -lo em detalhes, mas nã o havia muito que eu podia suportar, eu
nã o poderia suportar mais uma gota » (Diário 190).

«Vigı́lia de Natal (desde o ano 1924). Pela manhã , durante a Santa


Missa, senti a proximidade de Deus, meu espı́rito submerso em Deus
inconscientemente. De repente, ouvi estas palavras: Tu é s uma morada
agradá vel para mim, o meu Espı́rito está em ti » (Diário 364).

A grande missã o

“Homens, tal como eram


falados da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo ” (2Pe 1,21)

Santa Teresa de Jesus, no Pró logo de Las Moradas, escreve: «Poucas


coisas que a obediê ncia me ordenou me di icultaram tanto quanto
escrever oraçõ es agora: uma coisa, porque nã o me parece que o Senhor
me dê o espı́rito para fazer ou desejar; o outro, por ter a cabeça, há trê s
meses, com um ruı́do e uma fraqueza tã o grandes que até o trabalho
forçado escrevo com dor ». E foi o que Frei Luis de Leó n disse dela que
“o estilo da mã e é a mesma elegâ ncia”.
Quã o difı́cil nã o será para Faustina que, como já vimos, nã o pô de ir à
escola apenas trê s perı́odos por imperativos de pobreza que eram
palpá veis na sua famı́lia e sentirá essa de iciê ncia ao longo da vida e de
uma forma especial. quando o Senhor lhe con ia a grande missã o:
anunciar ao mundo a mensagem da misericó rdia divina. Ele nos
mostrará como se sente profundamente com estas palavras: «Devo
tomar nota dos encontros da minha alma contigo, ó Deus, nos
momentos particulares das tuas visitas. Devo escrever sobre você , ó
inconcebı́vel misericó rdia para com minha pobre alma. Sua santa
vontade é a vida de minha alma. Recebi este mandato daquele que te
substitui por mim, ó Deus, aqui na terra e que me ensina a tua santa
vontade: Jesus, vê como é difı́cil para mim escrever, e que nã o posso
descrever com clareza o que é a minha alma sentimentos. Ai, meu Deus,
a caneta pode descrever coisas para as quais à s vezes nã o há
palavras? Mas você me manda escrever e isso me basta » (Diário 6).

Neste breve escrevendo ele revela o seguinte: sua falta de cultura


literá ria, onde, na lı́ngua original, há erros gramaticais e de estilo; mas,
por outro lado, ela totalmente abandona-se ao Senhor e compromete-se
a grande missã o que lhe foi con iada a ela, que é de uma natureza
extraordiná ria: a mensagem de misericó rdia para o mundo
inteiro. Disse-lhe Jesus: «Eu vos envio a toda a humanidade com a
minha misericó rdia. Eu nã o quero para punir a humanidade sofredora,
mas eu quero curá -lo, abraçá -lo em meu coraçã o misericordioso
» (Diário 1588). «Você é o secretá rio de minha misericó rdia; Eu te
escolhi para esta posiçã o, nesta vida e no futuro " (Diário, 1605)," com o
objectivo de que você dar a conhecer à s almas a grande misericó rdia
que tenho por eles, e que você convidá -los a con iança no abismo da
minha misericó rdia » (Diário 1567). E ele continua: "Minha ilha, dizer
que eu sou o Amor e Misericó rdia em pessoa" (Diário, 374). «Cristo
derrama esta misericó rdia sobre a humanidade enviando o Espı́rito
que, na Trindade, é a Pessoa-Amor. E, nã o é misericó rdia um “segundo
nome” do Amor? » (Mergulhos em mercê 7).
Nela se cumprem as palavras do profeta Isaı́as: «Fiz-te luz das naçõ es,
para que a minha salvaçã o chegue até aos con ins da terra» (Is
49,6). «Formei-te e iz-te aliança do povo para reconstruir o paı́s, para
distribuir heranças devastadas» (Is 49,8).
O objetivo do Diário é transmitir o que nosso Senhor queria, ou seja,
que todo o mundo conhecesse a misericó rdia de Deus. O Diário é um
relato impressionante das subidas e das trevas da alma, é um
testemunho de uma fé difı́cil, mas inabalá vel. E, antes de tudo, um
testemunho de total con iança na in inita misericó rdia de Cristo. Escrita
em seis cadernos, cada frase é uma fonte de conhecimento divino.
Na realidade, embora o que Irmã Faustina nos revela nã o seja nada
novo, visto que o Evangelho é uma norma de vida para todos os tempos
e para todos os homens e esta doutrina já está nele, há circunstâ ncias
da vida em que uma ou outra mensagem deve ressoar com maior
força. A verdade da misericó rdia de Deus nã o é evidente apenas no
Antigo Testamento, nos Salmos e especialmente no Evangelho. A vida,
morte e ressurreiçã o de Jesus é a manifestaçã o da sua misericó rdia
para com os pecadores marginalizados e excluı́dos da sociedade. E
antes de subir ao cé u con ia aos seus discı́pulos o sacramento da
reconciliaçã o: «Aqueles que perdoam os seus pecados estã o perdoados,
e aqueles que os retê m, sã o retidos» (Jo 20,23).
A manifestaçã o da misericó rdia divina, quando é revelada à Irmã
Faustina, está nos primeiros anos do sé culo XX, marcada por duas
guerras mundiais acompanhadas de ó dio, morte e destruiçã o. E
precisamente no meio destas duas guerras que lhe é con iada a
mensagem de misericó rdia. Nã o sã o as armas que trarã o a paz, pois a
violê ncia gera violê ncia. Eles só podem ser evitados pela misericó rdia
de Deus e pela misericó rdia mú tua, porque como Jesus disse ao seu
con idente: "Eu nã o quero punir a humanidade sofredora, mas quero
curá -la, abrace-a no meu coraçã o."
«O que nos trarã o os pró ximos anos? - O Papa Joã o Paulo II questionou
a beati icaçã o da Beata Faustina. Qual será o futuro do homem na
terra? Nã o podemos saber. No entanto, é verdade que, alé m das
novidades, haverá , infelizmente, experiê ncias dolorosas. Mas a luz da
misericó rdia divina, que o Senhor quis voltar a entregar ao mundo com
o carisma da Irmã Faustina, iluminará o caminho, iluminará o caminho
dos homens do terceiro milê nio.
Podemos a irmar que a misericó rdia de Deus faz parte dos sinais dos
tempos. Já o pró prio Papa Joã o XXIII em seu discurso Gaudet Mater
Ecclesia, com o qual abriu o Concı́lio Vaticano II, explicou que a
misericó rdia deve ser a grande bandeira da Igreja para o tempo
presente com estas palavras: «A Esposa de Cristo prefere usar o
remé dio de misericó rdia mais do que severidade. Ela quer atender à s
necessidades atuais, mostrando a validade de sua doutrina ao invé s de
renovar frases. E acrescentou: “A Igreja Cató lica quer mostrar-se uma
mã e amá vel de todos, benigna, paciente, cheia de misericó rdia e
bondade para com os ilhos separados dela”.
Apresentamos o pensamento do atual Papa Francisco, que incide sobre
o mesmo tema da misericó rdia em sua entrevista à Civiltà
Cattolica: «Vejo claramente que o que a Igreja mais precisa hoje é uma
capacidade de curar feridas e doar. calor ao coraçã o dos ié is,
proximidade, proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de
campanha depois de uma batalha. Como é inú til perguntar a um
homem ferido se seu colesterol ou açú car estã o altos! As feridas devem
ser curadas. Falaremos sobre o resto mais tarde. Cure feridas, cure
feridas ... E você tem que começar com o elemental ... Você tem que
acompanhar as pessoas, as feridas precisam ser curadas ».

Amor nã o é amado

«Ele nos amou primeiro e enviou o seu Filho


como vítima pelos nossos pecados:
nisto está o amor» (1Jn 4,10)

Toda a vida de Jesus, desde sua encarnaçã o até sua morte e


ressurreiçã o, nã o teve outro propó sito alé m do perdã o, para nos
perdoar. Mas essa oferta de perdã o exige de nossa parte que a
recebamos, aproximando-nos dele por meio do arrependimento, visto
que Deus está mais disposto a nos oferecer seu perdã o do que nó s para
recebê -lo. Achamos difı́cil aceitar ser perdoados porque somos
incapazes de perdoar a nó s mesmos.
Se quisermos avançar na vida espiritual, devemos rejeitar a ideia de
que nã o somos dignos de ser perdoados. O que é maior, nosso pecado
ou a misericó rdia de Deus? Nã o esqueçamos que a con issã o de nossa
indignidade, mais do que um ato de humildade, pode conter em si um
orgulho sutil. Lembremo-nos das palavras do centuriã o do evangelho
quando se aproxima de Jesus para pedir a cura de seu servo. Logo a
seguir "Nã o sou digno de que entres em minha casa", acrescenta: "mas
uma palavra sua será su iciente para o curar" (Mt 8,8). E Sã o Paulo dirá
mais explicitamente que «onde abundou o pecado, abundou ainda mais
a graça» (Rm 5,2). Deus nã o se deixa vencer pela generosidade.
Outro perigo que nos assombra é considerar Deus como um grande juiz
implacá vel, sempre vigilante para detectar nossas falhas e nos
punir. Tem sido um recurso bastante frequente na pregaçã o manter as
pessoas submissas, ignorando que a puniçã o nunca foi o melhor
remé dio para despertar o amor que é o fundamento do Cristianismo,
alé m de ser diametralmente oposto tanto ao Antigo quanto ao Novo
Testamento.
No Antigo Testamento, o que pode parecer um castigo: o exı́lio do povo
de Israel, deixando-o cair nas mã os dos inimigos, a perda da safra ... nã o
é , mas aparece como um remé dio curativo entã o que reconsidere,
reconheça seu pecado e volte-se para o Senhor de quem você se afastou
curvando-se diante de falsos ı́dolos. As palavras que os profetas mais
repetem sã o precisamente: arrependa-se e volte, seu pecado está
perdoado.
Se você olhar para o Novo Testamento, o perdã o e a misericó rdia
preenchem suas pá ginas. Jesus vai em busca da ovelha perdida, perdoa
o ilho que saiu da casa de seu pai, aproxima-se dos pobres, dos
desamparados, dos coxos, dos cegos ... para levantá -los da
prostraçã o. Santo Irineu disse muito bem: "A gló ria de Deus é que o
homem vive."
Depois desta introduçã o, continuamos a ouvir as queixas de Jesus
porque o amor nã o é amado, porque a sua oferta de misericó rdia nã o é
aceita. O Senhor permitiu que a Irmã Faustina experimentasse como
era particularmente dolorosa para ele a ingratidã o daquelas almas
especialmente escolhidas por Deus. A cada momento pensava na
grande misericó rdia de Deus e na ingratidã o das almas, na dor que lhe
traspassava o coraçã o e compreendia quã o dolorido e ferido era o
coraçã o de Jesus. A Irmã Faustina con idenciará : «Oh, como me magoa a
descon iança da alma. Esta alma reconhece que sou santo e justo, e nã o
acredita que sou misericordioso, nã o con ia na minha bondade
» (Diário 300). E ele a convida: «Ele proclama que a misericó rdia é o
maior atributo de Deus. Todas as obras das minhas mã os estã o
coroadas de misericó rdia » (Diário 301).
«Certa ocasiã o, Jesus fez-me saber que quando lhe peço uma intençã o
que à s vezes me é recomendada, está sempre pronto a conceder as suas
graças, mas nem sempre as almas estã o dispostas a aceitá -las:“ O meu
coraçã o está cheio de grande misericó rdia pelas almas e especialmente
pelos pobres pecadores. Oh, se eles pudessem entender que eu sou para
eles o melhor Pai, que para eles Sangue e Agua luı́ram do meu Coraçã o
como de uma fonte transbordante de misericó rdia; para eles eu vivo no
taberná culo; como Rei da misericó rdia, desejo encher as almas de
graças, mas elas nã o querem aceitá -las. Pelo menos você vem a mim
com a maior freqü ê ncia possı́vel e recebe essas graças que eles nã o
querem aceitar e com isso consolará meu Coraçã o. Oh, quã o grande é a
indiferença das almas por tanta bondade, por tantas provas de
amor. Meu Coraçã o só se recompensa com a ingratidã o, com o
esquecimento das almas que vivem no mundo. Eles tê m tempo para
tudo, simplesmente nã o tê m tempo de vir até mim para agradecer.
Entã o, estou me dirigindo a você s, almas escolhidas, você s també m nã o
entendem o amor do meu Coraçã o? E aqui també m o
meu Coraçã o se decepcionou : nã o consigo encontrar o abandono total
no meu amor. Tantas reservas, tanta descon iança, tanta cautela. Para te
consolar, te direi que há almas que vivem no mundo, que me amam
sinceramente, que em seus coraçõ es ico com alegria, mas sã o
poucas. També m nos conventos há almas que enchem de alegria o meu
Coraçã o. Minhas feiçõ es estã o gravadas neles e é por isso que o Pai
celestial olha para eles com um prazer especial. Eles serã o a maravilha
dos anjos e dos homens. Seu nú mero é muito pequeno, eles constituem
uma defesa perante a justiça do Pai celeste e imploram misericó rdia
para o mundo. O amor e o sacrifı́cio dessas almas sustentam a
existê ncia do mundo. O que dó i mais meu Coraçã o é a in idelidade da
alma escolhida especialmente por mim; essas in idelidades sã o como
espadas que perfuram meu coraçã o ”» (Diário 367).
«Hoje iz um dia de retiro espiritual. Quando estava na ú ltima pregaçã o,
o sacerdote falou sobre o quanto o mundo precisa da misericó rdia de
Deus: [que] estes tempos parecem excepcionais, que a humanidade tem
grande necessidade da misericó rdia e da oraçã o de Deus. Entã o ouvi
uma voz em minha alma: “Aqui estã o as palavras para você , faça tudo ao
seu alcance na obra da minha misericó rdia. Quero que minha
misericó rdia seja venerada; Dou à humanidade a ú ltima mesa da
salvaçã o, ou seja, o refú gio na minha misericó rdia. Meu coraçã o se
alegra com esta festa ”. Depois destas palavras compreendi que nada me
pode libertar deste dever que o Senhor me exige » (Diário 998).
«Jesus me manda fazer uma novena antes da festa da misericó rdia e
devo iniciá -la hoje para a conversã o de todo o mundo e para que a
misericó rdia divina seja conhecida. “Para que cada alma exalte minha
bondade. Desejo a con iança das minhas criaturas, convido as almas a
uma grande con iança na minha misericó rdia insondá vel. Que a alma
fraca e pecadora nã o tenha medo de se aproximar de mim e mesmo que
tenha mais pecados do que grã os de areia na terra, tudo afundará no
abismo da minha misericó rdia ”» (Diário 1059).
Ele escreve: «Tudo o que existe está encerrado no seio da minha
misericó rdia mais profundamente do que uma criança no seio da
mã e. Como a descon iança em minha bondade me machuca. Os pecados
da descon iança sã o os que mais me magoam ” (Diário 1076).
«Que os maiores pecadores [ponham] a sua con iança na minha
misericó rdia. Eles mais do que ningué m tê m o direito de con iar no
abismo da minha misericó rdia. Minha ilha, escreva sobre minha
misericó rdia pelas almas a litas. Almas que se voltam para minha
misericó rdia me deleitam. A essas almas agradeço acima do que
pedem. Nã o posso punir nem mesmo o maior pecador se ele implorar
por minha compaixã o, mas o justi ico em minha misericó rdia
insondá vel e impenetrá vel. Antes de vir como um juiz justo, abro a
porta da minha misericó rdia. Quem nã o quer passar pela porta da
minha misericó rdia, tem que passar pela porta da minha justiça ...
» (Diário 1146).
«Certa vez, quando perguntei ao Senhor como podia suportar tantos
crimes e toda a espé cie de crimes sem os punir, o Senhor respondeu-
me:“ Tenho a eternidade para castigar e agora prolongo o tempo da
misericó rdia, mas ai deles se eles nã o reconhecem este tempo da minha
visita. Filha, secretá ria da minha misericó rdia, nã o só te obrigo a
escrever e a proclamar a minha misericó rdia, mas també m imploro a
graça para eles, para que també m eles adorem a minha misericó rdia
” (Diário 1160).
«Enquanto vivemos, o amor de Deus cresce em nó s. Devemos buscar o
amor de Deus até a morte. Eu soube e experimentei que as almas que
vivem no amor se distinguem por uma grande percepçã o do
conhecimento das coisas divinas, tanto em sua pró pria alma quanto na
alma dos outros. Mesmo as almas simples, sem instruçã o, se distinguem
pela sabedoria ” (Diário 1191).

A imagem do misericordioso Jesus

«Ele é a imagem do Deus invisível,


o primogénito de toda a criatura» (Col 1,15)

Nó s, humanos, achamos difı́ceis os conceitos abstratos. Como o


apó stolo Tomé , precisamos usar os sentidos do corpo: ouvir, ver, tocar,
sentir. Sabendo disso, quando o apó stolo e evangelista Joã o fala da
realidade humana de Jesus, ele se expressa assim: «O que foi desde o
inı́cio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos pró prios olhos, o que
contemplamos, aquilo que tocamos com as nossas pró prias mã os sobre
a palavra da vida, visto que a vida se manifestou, nó s a vimos, dela
testemunhamos e vos anunciamos a vida eterna que foi com o Pai »(1Jo
1,1- 2).
Irmã Faustina recebe a encomenda de pintar a imagem, segundo o
modelo apresentado, no dia 22 de fevereiro de 1931. E a primeira das
muitas revelaçõ es que se referem à sua missã o na vida: ser secretá ria e
mensageira da misericó rdia divina para todos os humanidade. Ela está
em Plock. Ele nã o conhece as té cnicas de pintura, entã o nã o será capaz
de fazê -lo. Isso é um problema para ela, entã o ela decide consultar seu
confessor. Diz-nos com as suas palavras: «Certa vez, esgotada pelas
tantas di iculdades que tive devido ao facto de Jesus me ter falado e
exigido que se pintasse a imagem, decidi irmemente, antes dos votos
perpé tuos, pedir ao Padre Andrasz que prescindisse delas inspiraçõ es
interiores e a obrigaçã o de pintar a imagem. Ao ouvir a con issã o, o
Padre Andrasz deu-me a seguinte resposta: “Nã o te dispenso nada,
irmã , e tu nã o podes escapar destas inspiraçõ es interiores, mas deves
dizer tudo ao confessor, isso é necessá rio, absolutamente necessá rio,
porque senã o ele se desviará apesar dessas grandes graças do
Senhor. No momento você vai se confessar comigo, mas deve saber que
deve ter um confessor permanente, ou seja, um diretor espiritual
” (Diário 52).
Segundo o Diário de Faustina, um dia Jesus disse-lhe: «Pinta uma
imagem segundo o modelo que vê s e assina: Jesus, con io em ti. Quero
que esta imagem seja venerada primeiro na sua capela e depois em
todo o mundo ” (Diário 47). «Prometo que a alma que venera esta
imagem nã o perecerá . També m prometo, já aqui na terra, a vitó ria
sobre os inimigos e, sobretudo, na hora da morte. Eu mesmo o
defenderei como minha gló ria » (Diário, 48).
Irmã Faustina vai ao seu confessor para torná -lo participante da
revelaçã o, mas seu confessor lhe dá a seguinte resposta: "Isto se refere
à sua alma". Ele me disse: "Certamente pinta a imagem de Deus em sua
alma." Quando saı́ do confessioná rio ouvi palavras como estas: «A
minha imagem já está na tua alma. Desejo que haja uma Festa da
Misericó rdia. Desejo esta imagem, que pintareis com pincel, que será
abençoada solenemente no primeiro domingo depois da Pá scoa. Esse
domingo será a festa da misericó rdia. Quero que os padres anunciem
esta minha grande misericó rdia à s almas dos pecadores. Que o pecador
nã o tenha medo de se aproximar de mim. As chamas da minha
misericó rdia estã o queimando clamorosamente para serem
consumidas; Quero derramar sobre todas essas almas ».
Em 1933, depois de ter pedido com insistê ncia ao Senhor que lhe
enviasse bons confessores que o ajudassem no seu caminho espiritual,
pois até à data nã o tinha encontrado quem o compreendesse,
inalmente o Padre Sopocko foi o confessor escolhido por Jesus para
ajudar a Irmã Faustina a faça a vontade de Deus. Padre Sopocko icou
muito impressionado com o novo penitente. Ele notou sua consciê ncia
delicada e sua profunda uniã o com Deus. Os pecados confessados nã o
eram questã o de absolviçã o. Desde o inı́cio, ela revelou as visõ es que
teve, principalmente porque sabia que ele seria seu diretor espiritual e
que assim estaria cumprindo os planos do Senhor. Para provar sua
sinceridade, o padre deu-lhe um teste especial. Por isso a irmã teve
di iculdade em lhe contar suas preocupaçõ es mais ı́ntimas, por isso
decidiu procurar outro confessor. Mas logo depois ele voltou para o
Padre Sopocko pronto para fazer o exame ou prova. A partir de entã o
nã o procuraria mais outro confessor. Quando ela revelou sua alma ao
padre, o padre recebeu um oceano de graças de Jesus e começou a
pensar seriamente sobre a mensagem da irmã .

No mesmo ano de 1933, já em Vilna, seu confessor, o Padre Sopocko,


encomendou ao pintor Eugenio Kazimierowski, que viveu perto do
convento, que sob a direçã o de Irmã Faustina, a quem foi dado duas
semanas consecutivas para dirigir a pintura, realizar a trabalhar. Em
1934, a Irmã Faustina vai chorar porque a imagem da Divina
Misericó rdia nã o é tã o bonito como ela percebeu que em sua visã o. E a
decepçã o sentida por todos aqueles que foram capazes de contemplar
Jesus ou a Virgem. Qualquer representaçã o, nã o importa o quã o bem
feito que seja, nunca pode reproduzir a realidade. Em 1935, quando o
ato jubileu da redençã o foi celebrado, ele foi transferido para Ostra
onde foi venerado até 1937 e foi exibido na igreja de San Miguel de
Vilna. Esta imagem representado muito bem ambos os valores
religiosos e artı́sticos. A febre de imagens da Divina Misericó rdia tinha
sido desencadeada e as irmã s da Mã e de Deus de Misericó rdia
perguntou ao artista Stanislao Batowski para uma pintura para a capela
da mesma Congregaçã o das Irmã s da Divina Misericó rdia em
Varsó via. A imagem era tã o gostava que o Superior Geral pediu outra
para Cracó via. O pintor Adolfo Hyla se aproximou da Congregaçã o das
Irmã s da Divina Misericó rdia, porque ele queria pintar um quadro em
agradecimento por ter escapado ileso na guerra. Como modelo, ela
tinha um carimbo da pintura pintado por Kazimierowski.
Em 7 de março de 1943, a pintura foi abençoada pelo padre
Andrasz. Em 6 de outubro de 1943, també m chegou o que Batowski
havia pintado e surgiu o con lito: qual dos dois quadros iria para a
capela? O de Hyla prevaleceu porque foi pintado como um voto, e se
tornou aquele que se espalhou pelo mundo e ao qual foram atribuı́das
graças especiais.
E Jesus lamenta com a Irmã Faustina: «A descon iança das almas rasga
o meu coraçã o. Ainda mais a descon iança das almas escolhidas me
machuca; apesar do meu amor inesgotá vel, eles nã o con iam em
mim. Nem mesmo minha morte foi su iciente para eles. Ai das almas
que abusam dela! " (Diário 50).

Os dois raios
Voltando à imagem e como deveria ser representada, isso també m foi
revelado à Irmã Faustina. Era 22 de fevereiro de 1931. Ele estava em
sua cela no convento de Plock. «Ao anoitecer, enquanto estava na minha
cela, vi o Senhor vestido com um manto branco. Ele tinha uma mã o
levantada para abençoar e com a outra tocou o manto em seu peito. Da
abertura da tú nica no peito saı́ram dois grandes raios: um vermelho e
outro pá lido ” (Diário 47). O pró prio Senhor explicará o signi icado dos
raios: «O pá lido relâ mpago simboliza a á gua que justi ica as almas. O
raio vermelho simboliza o sangue que é a vida das almas ... Ambos os
raios brotaram das entranhas mais profundas da minha misericó rdia
quando o meu coraçã o moribundo foi aberto na cruz pela lança. Esses
raios protegem as almas da indignaçã o de meu pai. Bem-aventurado
aquele que vive à sua sombra, porque a justa mã o de Deus nã o o
alcançará ” (Diário 299).
Jesus se lamenta com a Irmã Faustina porque: «O meu Coraçã o está
cheio de grande misericó rdia pelas almas e sobretudo pelos pobres
pecadores. Oh, se soubessem compreender que sou para eles o melhor
pai, que para eles sangue e á gua luı́ram do meu Coraçã o como de uma
fonte transbordante de misericó rdia; mas eles vivem no
taberná culo; como Rei da Misericó rdia, desejo encher as almas de
graças, mas elas nã o querem aceitá -las. Pelo menos você vem a mim
com a maior freqü ê ncia possı́vel e recebe essas graças que eles nã o
querem aceitar e com isso você vai consolar o meu coraçã o. Oh, quã o
grande é a indiferença das almas por tanta bondade, por tantas provas
de amor. Meu Coraçã o só se recompensa com a ingratidã o, com o
esquecimento das almas que vivem no mundo. Eles tê m tempo para
tudo, só nã o tê m tempo de vir me agradecer ” (Diário 367).
Joã o Paulo II, em 30 de abril de 2000, por ocasiã o da canonizaçã o da
Irmã Faustina, explicará o que entende por sangue e á gua: “Sangue e
á gua! O nosso pensamento vai para o testemunho do evangelista Joã o,
que, quando um soldado perfurou o lado de Cristo com a sua lança no
Calvá rio, viu sair “sangue e á gua” (Jo 19,34). E se o sangue evoca o
sacrifı́cio da cruz e o dom eucarı́stico, a á gua, na simbologia joanina,
nã o só recorda o Baptismo, mas també m o dom do Espı́rito Santo (cf. Jn
3,5; 4,14; 7,37 - 39).
A á gua é aquela que nos liberta do pecado original no Baptismo e
atravé s dela renascemos para a vida da graça, tornando-nos parte do
corpo de Cristo, que é a Igreja, e, quando pelo pecado, perdemos a
primeira graça, o Sacramento da Reconciliaçã o nos perdoa os nossos
pecados ao preço da paixã o e morte de Cristo na cruz.
O sangue lembra o lado aberto de Jesus. O Catecismo da Igreja Cató lica
expressa este misté rio da Redençã o. «A redençã o chega até nó s antes
de tudo pelo sangue da cruz (cf Ef 1,7; Col 1,13-14; 1Pe 1,18-19), mas
este misté rio opera em toda a vida de Cristo: já na sua encarnaçã o,
porque ao tornar-se pobre nos enriquece com a sua pobreza (cf 2Cor
8,9); na sua vida oculta onde repara a nossa insubordinaçã o com a sua
submissã o (cf Lc 2,51); na sua palavra que puri ica os seus ouvintes (cf
Jn 15,3); nas suas oraçõ es e nos seus exorcismos, pelos quais «tomou as
nossas enfermidades e carregou as nossas enfermidades» (Mt 8,17; cf Is
53,4); na sua ressurreiçã o, pela qual nos justi ica ”(cf Rom 4,25) (n.
517).
A imagem de Jesus Misericordioso é freqü entemente chamada de
imagem da Misericó rdia divina. E justo porque a misericó rdia de Deus
para com o homem se revelou mais plenamente no misté rio pascal de
Cristo. A imagem nã o apenas representa a misericó rdia de Deus, mas é
també m um sinal que deve nos lembrar do dever cristã o de con iar em
Deus e amar ativamente o pró ximo. No fundo - de acordo com a
vontade de Cristo - está a assinatura: “Jesus, eu con io em ti”. «Esta
imagem deve recordar as exigê ncias da minha misericó rdia, porque a fé
sem obras, por mais forte que seja, é inú til» (Diário 742).
Assim entendido o culto à imagem, ou seja, a atitude cristã de con iança
e misericó rdia, o Senhor Jesus vinculou promessas especiais de:
salvaçã o eterna, grande progresso para a perfeiçã o cristã , a graça de
uma morte feliz, e todas as outras graças que foram perguntou com
con iança. «Atravé s desta imagem darei muitas graças à s almas. Por
isso quero que cada alma tenha acesso a ela » (Diário 570).
Se é verdade que esta mensagem está intimamente ligada ao sé culo
passado e anunciada entre duas guerras mundiais, no entanto é uma
mensagem a ser vivida em todos os tempos e em todas as
circunstâ ncias histó ricas, como Jesus con irma à Irmã Faustina: «A
humanidade nã o encontrará paz até que nã o se voltem com con iança
para a misericó rdia divina ” (Diário 132). «Esta imagem deve recordar
as exigê ncias da minha misericó rdia, porque a fé sem obras, por mais
forte que seja, é inú til» (Diário 742).
E necessá rio entender bem o que esta imagem deve signi icar: a
salvaçã o eterna a que todos estamos destinados; um meio oportuno de
avanço espiritual; uma morte feliz e as vá rias graças que se pedem com
fé e con iança. «Atravé s desta imagem encherei as almas de muitas
graças. Por isso quero que cada alma tenha acesso a ela
» (Diário 570). Mais de um milhã o de peregrinos anualmente vê m ao
santuá rio para venerar uma pintura que representa Jesus Cristo como
ele apareceu em visã o. O pró prio Jesus pediu à freira que divulgasse sua
adoraçã o, junto com a expressã o: "Jesus, eu con io em você ".

Con idencias

“Esperei a compaixão, mas foi em vão


consoladores e não encontrei nenhum” (Sl 69,21)

Se o ouro é testado no cadinho, o amor é testado na dor. Irmã Faustina


suportou grandes provaçõ es para que seu amor por Jesus pudesse ser
a irmado como amor incondicional. Chegou a hora das efusõ es mı́sticas
entre esses dois cô njuges. Lendo essas efusõ es mı́sticas, parece que nos
encontramos diante do Câ ntico dos Câ nticos, onde, de forma alegó rica,
Deus manifesta seu amor por seu povo. Neste caso, o amor do amante
por sua amada. Deixe Jesus se expressar a ela:
Você deve se esforçar para manter uma paz profunda em relaçã o à s
suas comunicaçõ es comigo. Vou tirar todas as dú vidas a esse
respeito. Sei que você está em paz enquanto falo com você , mas no
momento em que icar em silê ncio, você começará a ter muitas
dú vidas. Mas quero que saiba que vou a irmar sua alma a tal ponto que,
mesmo que queira ter problemas, nã o os terá . E como prova de que sou
eu quem está falando com você , você irá se confessar no segundo dia do
retiro com o pai que está pregando o retiro; você irá procurá -lo assim
que sua palestra terminar e fará suas perguntas sobre mim. Vou te
responder pelos lá bios dele, entã o seus medos vã o acabar. Durante este
retiro, você observará tanto silê ncio que será como se nã o houvesse
nada ao seu redor. Você falará apenas comigo e com seu
confessor; pedirá penitê ncia aos seus superiores apenas » (Diário 169).
«Minha menina, você é meu deleite, você é a frescura do meu
coraçã o. Eu te concedo tantas graças, quantas você pode tomar. Sempre
que quiseres me agradar, fala ao mundo da minha grande e insondá vel
misericó rdia » (Diário 164).
«No momento as superiores estã o decidindo qual das irmã s será
admitida aos votos perpé tuos. Nem todos obterã o essa graça, mas sã o
eles pró prios os culpados. Quem nã o se bene icia das pequenas graças,
nã o receberá as grandes. Mas para ti, meu ilho, esta graça foi concedida
» (Diário 165).
«Quero que conheças mais profundamente o amor que arde no meu
Coraçã o pelas almas e tu o compreenderá s meditando na minha
Paixã o. Apele à minha misericó rdia pelos pecadores, desejo sua
salvaçã o. Quando você izer esta oraçã o com o coraçã o contrito e com fé
por algum pecador, eu lhe concederei a graça da conversã o. Esta oraçã o
é a seguinte: O Sangue e Agua que brotaram do Coraçã o de Jesus como
fonte de misericó rdia para nó s, eu con io em Vó s » (Diário 186-187).
«Minha ilha, olha para o abismo da minha misericó rdia e honra e honra
esta minha misericó rdia, e faze-o assim: reú ne todos os pecadores do
mundo inteiro e mergulha-os no abismo da minha misericó rdia. Quero
me entregar à s almas, quero almas, minha ilha. No dia da minha Festa
da Misericó rdia, você viajará o mundo inteiro e trará almas fracas à
fonte da minha misericó rdia. Vou curá -los e fortalecê -los » (Diário 206).
«Minha ilha, gosto de ti mais do que tudo atravé s do sofrimento. Em
seus sofrimentos fı́sicos e també m morais, minha ilha, nã o busque a
compaixã o das criaturas. Desejo que a fragrâ ncia de seus sofrimentos
seja pura, sem qualquer mistura. Exijo que você se distancie nã o apenas
das criaturas, mas també m de si mesmo. Minha ilha, quero me deleitar
com o amor do teu coraçã o: amor puro, virginal, intacto, sem
sombra. Minha ilha, quanto mais você amar o sofrimento, mais puro
será o seu amor por mim » (Diário 279).
«O meu coraçã o foi tocado por uma grande compaixã o por ti, minha
querida ilha, quando te vi despedaçada pela grande dor que sofreste ao
deplorar os teus pecados. Vejo o teu amor tã o puro e sincero que te dou
prioridade entre as virgens, tu é s a honra e a gló ria da minha Paixã o ...
vejo cada humilhaçã o da tua alma e nada foge da minha atençã o; Eu
elevo os humildes ao meu trono, porque essa é a minha vontade
” (Diário 282).
«Comporta-te como um mendigo para que, ao receber uma grande
esmola, nã o a recuse, antes dê graças mais cordialmente; e você
també m, se eu lhe conceder graças maiores, nã o as recuse dizendo que
você é indigno. Eu sei; mas você prefere se alegrar e desfrutar, e tirar
tantos tesouros do meu Coraçã o quanto você puder carregar, já que
fazendo isso eu gosto mais de você . Direi-lhe outra coisa: nã o aceite
estas graças apenas para si, mas també m para o seu pró ximo, isto é ,
convide as almas com quem está em contacto a con iar na minha
in inita misericó rdia. Oh, como amo as almas que me foram totalmente
con iadas, tudo farei por elas » (Diário 294).
«Depois da Sagrada Comunhã o ouvi estas palavras: 'Você vê o que você
é por si mesmo, mas nã o tenha medo disso. Se eu revelasse a você toda
a misé ria que você é , você morreria de horror. Você tem que saber,
entretanto, o que você é . Porque você é uma misé ria tã o grande, eu
revelei a você todo o mar da minha misericó rdia. Eu procuro e desejo
almas como a sua, mas sã o poucas; sua grande con iança em mim me
obriga a agradecer continuamente. Você tem grandes e inexprimı́veis
direitos sobre meu Coraçã o, porque você é uma ilha de total
con iança. Você nã o suportaria a imensidã o do amor que tenho por
você , se eu o revelasse aqui na terra em toda a sua plenitude. Costumo
levantar um pouco o vé u por você , mas você deve saber que é apenas
minha graça excepcional. O meu amor e a minha misericó rdia nã o
conhecem limites ”» (Diário 718).
«Hoje ouvi estas palavras:“ As graças que te dou nã o sã o só para ti, mas
també m para um grande nú mero de almas ... E a minha morada está
continuamente no teu coraçã o. Apesar da misé ria que você é , eu me
junto a você e levo sua misé ria e dou-lhe minha misericó rdia. Em cada
alma eu realizo a obra de misericó rdia, e quanto maior o pecador, maior
o direito que ele tem à minha misericó rdia. Quem con ia na minha
misericó rdia nã o perecerá , porque todos os seus negó cios sã o meus e
os inimigos cairã o aos pé s do meu escabelo ”» (Diário 723).
«Minha ilha, se atravé s de ti exijo dos homens o culto da minha
misericó rdia, deves ser a primeira a distinguir-te, con iando na minha
misericó rdia. Exijo de você obras de misericó rdia que devem surgir do
amor para comigo. Você deve ter misericó rdia de seu vizinho sempre e
em todos os lugares. Você nã o pode parar de fazer isso, desculpar-se ou
justi icar-se ».
«Apresento-vos trê s formas de exercer a misericó rdia para com o
pró ximo: a primeira, a açã o; o segundo, a palavra; o terceiro,
oraçã o. Nessas trê s formas está contida a plenitude da misericó rdia e é
o testemunho irrefutá vel de amor por mim. Desta forma, a alma louva e
adora minha misericó rdia. Sim, o primeiro domingo depois da Pá scoa é
a Festa da Misericó rdia, mas a açã o també m deve estar presente e peço
que a minha misericó rdia seja adorada com a celebraçã o solene desta
festa e com o culto da imagem que foi pintada. Por meio desta imagem
concederei muitas graças à s almas; deve recordar aos homens as
exigê ncias da minha misericó rdia, porque a fé sem obras, por mais forte
que seja, é inú til » (Diário 742).
«Quando eu tinha um pouco de medo de icar muito tempo sozinho fora
da Congregaçã o, Jesus disse-me: 'Tu nã o estará s só , porque estou
contigo sempre e em todo o lado; junto ao meu Coraçã o nã o tenha
medo de nada. Eu mesmo sou o arquiteto de sua partida. Você deve
saber que meus olhos seguem cuidadosamente cada movimento do seu
coraçã o. Eu transferi você para aquele lugar isolado para moldar seu
coraçã o de acordo com meus projetos futuros. Do que tens medo? Se
você estiver comigo, quem se atreverá a tocar em você ? Fico muito feliz
que você me comunique seus medos, minha ilha, conte-me tudo com
simplicidade e assim como os homens falam, você me agradará muito
com isso; Eu entendo você , porque eu sou Deus-Homem. Esta
linguagem simples do seu coraçã o é mais agradá vel para mim do que os
hinos escritos em minha homenagem. Saiba, minha ilha, que quanto
mais simples for a sua linguagem, mais você me atrai para você . E
agora, ica calma perto do meu Coraçã o, põ e a caneta no chã o e
prepara-te para sair ”» (Diário 797).
«Hoje o Senhor disse-me: 'Exijo de ti um sacrifı́cio perfeito e como
holocausto o sacrifı́cio da vontade; nenhum outro sacrifı́cio é
compará vel a este. Eu mesmo dirijo a sua vida e organizo tudo para que
você seja uma oferenda contı́nua para mim e você sempre faça a minha
vontade, e para completar esta oferenda você se juntará a mim na
cruz. Eu conheço suas possibilidades. Eu mesmo irei mandar você
diretamente muitas coisas e a possibilidade de execuçã o irá atrasá -lo e
fazer você depender de outros; o que os superiores nã o conseguirã o
realizar, eu mesmo o completarei diretamente em sua alma e no fundo
mais secreto de sua alma haverá um sacrifı́cio de holocausto perfeito, e
isso nã o por algum tempo, mas você deve saber, minha ilha , que este
sacrifı́cio durará até a morte. Mas chegará o tempo em que eu, o Senhor,
cumprirei todos os seus desejos; Tenho em você o meu prazer como um
an itriã o vivo; nã o tenhas medo de nada, estou convosco
”» (Diário 923).

Uma festa

“Justos, louvado seja o Senhor, o louvor é


próprio dos santos” (Sl 33,1)

“O povo de Deus - diz-nos o Catecismo da Igreja Cató lica -, desde a Lei


mosaica, ixou festas a partir da Pá scoa, para comemorar as açõ es
maravilhosas do Deus salvador, para lhe agradecer, perpetuar a sua
memó ria e ensinar os novas geraçõ es para conformar com eles a sua
conduta. No tempo da Igreja, situado entre a Pá scoa e Cristo, já
realizada de uma vez por todas, e sua consumaçã o no reino de Deus, a
liturgia celebrada em dias ixos é toda permeada pela novidade do
misté rio de Cristo ”(1164).
O Senhor Jesus, na mesma data em que encomendou a pintura do
quadro, 22 de fevereiro de 1931, ordenou que se realizasse uma festa
com estas palavras: “Quem me dera que houvesse uma festa da
Misericó rdia. Quero que esta imagem que você vai pintar com o pincel
seja abençoada solenemente no primeiro domingo depois da
Pá scoa; aquele domingo deveria ser a festa da misericó rdia
” (Diário 49).
Irmã Faustina també m está encarregada de como deve consistir esta
festa. Alé m de ser um dia de agradecimento a Deus: «Minha ilha, fala ao
mundo inteiro da minha inconcebı́vel misericó rdia. Desejo que a Festa
da Misericó rdia seja um refú gio e abrigo para todas as almas e
especialmente para os pobres pecadores. Naquele dia, as entranhas da
minha misericó rdia estã o abertas. Eu derramo um mar de graças sobre
as almas que se aproximam da fonte de minha misericó rdia. A alma que
confessa e recebe a Sagrada Comunhã o obterá o perdã o total dos
pecados e penalidades. Naquele dia, todas as comportas divinas estã o
abertas, atravé s das quais luem as graças. Que nenhuma alma tema
aproximar-se de mim, mesmo que seus pecados sejam
escarlates. Minha misericó rdia é tã o grande que em toda a eternidade
nenhum intelecto humano ou angelical irá penetrá -la. Tudo o que existe
saiu das entranhas da minha misericó rdia. Cada alma com respeito a
mim, por toda a eternidade, meditará no meu amor e na minha
misericó rdia. A festa da misericó rdia saiu das minhas entranhas, desejo
que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da
Pá scoa. A humanidade nã o conhecerá a paz até que se volte para a fonte
da misericó rdia » (Diário 699).
E em outra ocasiã o lhe con idenciará : «As almas morrem apesar da
minha paixã o amarga. Eu ofereço a você a ú ltima mesa da salvaçã o, ou
seja, a festa da minha misericó rdia. Se nã o adorarem a minha
misericó rdia, morrerã o para sempre » (Diário 965).
A festa nã o é apenas um dia de adoraçã o especial a Deus no misté rio da
misericó rdia, mas també m o momento em que Deus enche todas as
pessoas de graças. «Desejo», disse o Senhor Jesus, «que a festa da
misericó rdia seja um refú gio e abrigo para todas as almas e, sobretudo,
para os pobres pecadores» (Diário 699). Almas morrem apesar de
minha Paixã o amarga. Eu ofereço a você a ú ltima mesa da salvaçã o, ou
seja, a festa da minha misericó rdia. Se nã o adorarem a minha
misericó rdia, morrerã o para sempre » (Diário 965).
Para cumprir as promessas que oferece, algumas condiçõ es sã o
exigidas: con iança em Deus; Ame seu vizinho; estado de graça e
receber a comunhã o. «Nesse dia, os sacerdotes devem falar à s almas da
minha in inita misericó rdia» (Diário 570).
O fato de a festa da misericó rdia ser celebrada no segundo domingo de
Pá scoa se deve ao fato de que em nenhum momento o misté rio pascal
de Cristo e seu amor pela humanidade se revelaram mais
plenamente. Nesse dia, a liturgia da palavra apresenta-nos o Evangelho
de Sã o Joã o (20,13-29) no qual, sintetizando, é recordado: "A paz esteja
convosco!" que Jesus deseja seus apó stolos; a comissã o de “perdoar
pecados” e, inalmente, a bê nçã o ou felicidade de “quem crê sem ter
visto”.
Mas temos que saber em que consiste essencialmente esta festa, que
deveria ser uma espé cie de vida cristã e nã o uma devoçã o: «A festa da
misericó rdia, portanto, deve ser vista neste contexto como uma ocasiã o
que serve de forte atracçã o para os pecadores aproveite as promessas
que Jesus lhes oferece nesta celebraçã o que os leva a con iar que Ele os
encontrará como o pai do ilho pró digo. Mostrar essa con iança por
cumprir as condiçõ es para receber o perdã o dos pecados e penalidades
naquele dia como um segundo batismo, será para algumas almas a
oportunidade de se reconciliar com Deus. Isso permitirá que ele os
apresente “resplandecentes para si mesmo; sem mancha, nem ruga,
nem nada parecido, mas sede santos e imaculados ”(Ef 5,27), e assim
serã o salvos”.

Ordem para escrever seu diá rio


“Estas coisas foram escritas para que
acredites que ele é o Cristo, o Filho de Deus,
e por esta fé possas ter a vida eterna” (Jo 20,31).

Irmã Faustina está em Vilna quando o Padre Miguel Sopocko a con ia


para escrever o seu Diário. O pró prio pai explicará o motivo de tal
recomendaçã o: “Naquela é poca eu era professor no seminá rio e na
Faculdade de Teologia da Universidade Stefan Batory de Vilna. Ele nã o
teve tempo de ouvir suas longas con idê ncias no
confessioná rio; Recomendei que ele as escrevesse em um caderno e me
desse para ler de vez em quando. Assim nasceu o Diário ». Este mesmo
pai recomendou que os nomes das irmã s nã o
aparecessem no Diário . Mas nem todo o cré dito deve ser atribuı́do ao
Padre Sopocko, porque no mesmo Diário encontramos a ordem de Jesus
para escrevê -lo. Digamos que esse pai foi o meio que Deus usou para
realizar esta obra.
Nos exercı́cios espirituais que fez durante oito dias em Vilna, depois de
uma pregaçã o pô de ouvir estas palavras de Jesus Cristo: “Estou
convosco. Durante esses exercı́cios espirituais, considerarei sua paz e
sua coragem, para que suas forças nã o falhem para o cumprimento de
meus propó sitos. Portanto, durante esses exercı́cios, você apagará
totalmente a sua pró pria vontade e toda a minha vontade será realizada
em você . Você tem que saber que isso vai custar muito a você , entã o
escreva em uma pá gina em branco estas palavras: "A partir de hoje
minha pró pria vontade nã o existe em mim, e risque-a." Em outra
pá gina, escreva estas outras palavras: "A partir de hoje, faço a vontade
de Deus em todos os lugares, sempre e em tudo." Nã o tenha medo de
nada, o amor lhe dará forças e facilitará a sua realizaçã o » (Diário 372).
E noutra ocasiã o o Senhor dirigirá -lhe uma pequena repreensã o: «Nã o
escreveste neste caderno tudo sobre a minha bondade para com os
homens; Eu desejo que você nã o omita nada; Quero que o seu coraçã o
se baseie na tranquilidade total » (Diário 459).
No dia 23 de janeiro de 1937, ela mesma nos diz que naquele dia nã o
tinha vontade de escrever, mas que ouve uma voz em sua alma que diz:
«Minha ilha, você nã o vive para si, mas para as almas. Escreva para o
bem deles. Você conhece a minha vontade de escrever, muitas vezes
con irmada pelos confessores. Você sabe do que eu mais gosto e se tiver
dú vidas sobre minhas palavras, você sabe a quem deve perguntar. Eu
concedo a ele luz para julgar minha causa, meu olho o protege. Minha
ilha, na frente dele você tem que ser como uma menina cheia de
simplicidade e sinceridade, coloque a opiniã o dele antes de todos os
meus pedidos, ele vai te guiar de acordo com a minha vontade; Se ele
nã o permitir que você atenda aos meus pedidos, ique tranquilo, nã o
vou julgá -lo por isso; este assunto permanecerá entre mim e ele. E
preciso obedecer » (Diário 895).
Em outra ocasiã o o Senhor lhe disse: «As almas morrem apesar da
minha Paixã o amarga. Eu ofereço a você a ú ltima mesa da salvaçã o, ou
seja, a festa da minha misericó rdia. Se você nã o adorar minha
misericó rdia, você morrerá para sempre. Secretá rio da minha
misericó rdia, escreve, fala à s almas desta minha grande misericó rdia,
porque se aproxima o dia terrı́vel, o dia da minha justiça » (Diário 965).
Por muito tempo, Irmã Faustina nã o registrou seus estados espirituais
nem as graças que o Senhor lhe concedeu, pois só depois que o Padre
Sopocko a perguntou é que ela começou a escrever suas
experiê ncias. Numa viagem que o Padre Sopoko fez à Terra Santa, nesse
espaço de poucas semanas, ao que parece, foi por inspiraçã o ou
sugestã o de um anjo que Irmã Faustina quebrou o seu primeiro Diário.

Seu novo diário


Ao retornar, o Padre Sopoko ordenou-lhe como penitê ncia que o
reescrevesse, para que fossem acrescentadas algumas outras
experiê ncias que nã o puderam ocorrer antes.
Há uma certa desordem cronoló gica neste novo Diário . Isso nã o deve
nos surpreender por causa de sua pouca preparaçã o para a escola. O
que nos deve interessar nã o é a questã o literá ria, mas sim descobrir a
mensagem que ele nos quer transmitir.
El Diario que sor Faustina escribió durante los ú ltimos cuatro añ os de
su vida por un claro mandato del Señ or Jesú s tiene forma de memorial,
en el que la autora registra, al corriente y en retrospectiva, todos los
detalles de los «encuentros» de su alma com Deus. Para extrair a
essê ncia de sua missã o dessas notas, uma aná lise cientı́ ica cuidadosa
foi necessá ria. O que foi feito pelo conhecido e proeminente teó logo, pai
e professor Ignacy Rozycki. Sua extensa aná lise foi resumida na
dissertaçã o intitulada "Divina Misericó rdia. Linhas fundamentais de
devoçã o à divina Misericó rdia ». A luz desta obra, veri ica-se que todas
as publicaçõ es antes dele, dedicadas à devoçã o à divina Misericó rdia
transmitida pela Irmã Faustina, contê m apenas alguns elementos desta
devoçã o, por vezes acentuando questõ es sem importâ ncia para ela.
O diário revela a profundidade de sua vida espiritual. Uma leitura
atenta desses escritos permite conhecer o alto grau de uniã o de sua
alma com Deus, permite saber até que ponto Deus se doou à sua alma e
també m mostra seus esforços e lutas no caminho da perfeiçã o cristã . O
Senhor a encheu de muitas graças extraordiná rias: os dons da
contemplaçã o e do conhecimento profundo do misté rio da misericó rdia
divina, as visõ es, as revelaçõ es, os estigmas ocultos, os dons da profecia,
da leitura nas almas humanas e do noivado mı́stico.

Joã o Paulo II e a divina misericó rdia

«Deus, que é rico em misericórdia,


mostrou-nos o seu amor» (Ef 2,4)

No dia 11 de maio de 1934, a Irmã Faustina tinha escrito: «Uma manhã ,


depois de ter aberto a porta para deixar sair o nosso povo (o povo) que
trazia o pã o, entrei por um momento na capelinha, para visitar um
minuto a Jesus e para renovar as intençõ es do dia. O Jesus, hoje todos os
sofrimentos, as morti icaçõ es, as oraçõ es, eu os ofereço ao Santo Padre
para que aprove esta festa da misericó rdia. Mas, Jesus, ainda tenho uma
palavra a dizer a você . Estou muito surpreso que você está me
ordenando para falar sobre esta festa da misericó rdia, enquanto esta
festa, eles me dizem, já existe, entã o por que eu deveria falar sobre isso?
E Jesus me respondeu: “Quem, entre o povo, a conhece? Ningué m. E
mesmo aqueles que devem proclamá -lo e ensinar à s pessoas essa
misericó rdia, muitas vezes nã o o sabem; Por isso, desejo que a imagem
seja solenemente abençoada no primeiro domingo depois da Pá scoa e
venerada publicamente, para que toda alma a conheça ”».
Deus nã o tem pressa, tem a eternidade diante de si e realiza seus
desı́gnios no momento certo ou quando chega a plenitude. Este Papa
encarregado de levar a cabo o que Irmã Faustina pediu naquela
pequena capela do seu convento foi precisamente Joã o Paulo II.
O Cardeal Karol Wojtyla foi um grande conhecedor da Irmã Faustina
Kowalska, porque enquanto ainda era Arcebispo de Cracó via, em uma
sessã o solene, presidida por ele mesmo, o processo de informaçã o
diocesano foi encerrado e as atas desse processo foram enviadas a
Roma. E 20 de setembro de 1967. Ele concluirá esse processo enquanto
ainda era cardeal em 1967.
A partir deste momento, ao chegar à sede de Pedro com o nome de Joã o
Paulo II, ele se tornou um apó stolo infatigá vel da misericó rdia de Deus
e um profundo conhecedor da teologia que continha o manuscrito
original dos religiosos humildes e até analfabetos. do ponto de vista
puramente humano.
Este manuscrito havia sido banido pelo Concı́lio Vaticano II como
medida prudencial, uma vez que as traduçõ es feitas dele nã o re letiam
com precisã o sua doutrina e porque o texto original nã o pô de ser
acessado devido ao regime polı́tico que entã o prevalecia na
Polô nia. Será o mesmo Karol Wojtyla que em 1978 revogou a proibiçã o
que permanecia irme até aquele momento, precisamente meio ano
apó s ter sido eleito papa.
«A mensagem da divina Misericó rdia sempre esteve muito pró xima e
muito estimada por mim, e ele, em certo sentido, forjou a imagem deste
ponti icado», disse o Papa no tú mulo da Irmã Faustina em 1997.
Nã o podemos ignorar que foi precisamente Joã o Paulo II quem escreveu
a encı́clica, a segunda do seu ponti icado, em 1980 Dives in
misericordia e quem instituiu a festa da divina Misericó rdia.
Na ú ltima viagem à sua pá tria, cujo tema foi precisamente a Divina
Misericó rdia, disse: «Aqui em Cracó via, em Lagiewniki, teve uma
revelaçã o particular. Daqui, graças ao serviço humilde de uma
testemunha inusitada, Santa Faustina, ressoa a mensagem evangé lica
do Amor misericordioso de Deus. Nesta mesma viagem, consagra
també m o santuá rio à misericó rdia divina e ao mundo inteiro e a irma:
«Este fogo da misericó rdia deve transmitir-se ao mundo. Na
misericó rdia de Deus o mundo encontra a paz e a felicidade do homem
».
Sã o Joã o diz-nos que Deus é amor, mas ao mesmo tempo misericordioso
porque os dois conceitos sã o insepará veis e foi o que Joã o Paulo II
tentou transmitir durante o seu ponti icado. Foi precisamente na noite
do sá bado da oitava da Pá scoa, quando a Igreja Cató lica iniciou no
mundo a celebraçã o do Domingo da Divina Misericó rdia quando, desde
o seu leito de morte, participou na ú ltima celebraçã o eucarı́stica: a do
Domingo da Divina Misericó rdia. antes de retornar aos braços
misericordiosos do pai.
Antes tinha escrito uma mensagem para ser lida a quantos
participaram na Praça de Sã o Pedro no Domingo da Divina
Misericó rdia, onde, entre outras coisas, disse: «O Senhor ressuscitado
oferece o seu amor que perdoa, reconcilia e abre à alma esperança. Este
misté rio de amor está no centro da liturgia dominical in albis de
hoje , dedicada ao culto da Divina Misericó rdia. A humanidade, embora
pareça perdido e dominado pelo poder do mal, do egoı́smo e do medo,
o Senhor ressuscitado oferece como presente o seu amor que perdoa,
reconcilia e abre a alma à esperança. E o amor que converte os coraçõ es
e dá paz. Quanta necessidade o mundo tem de compreender e acolher a
misericó rdia divina! Essas feridas dolorosas, que oito dias antes ele fez
tocar o incré dulo Tomé , revelam a misericó rdia de Deus, que amou o
mundo tanto até dar o seu Filho unigê nito. Senhor, que com a tua morte
e ressurreiçã o revelas o amor do Pai, nó s acreditamos em ti e hoje
repetimos com con iança: Jesus, eu con io em ti! Tenha misericó rdia de
nó s e do mundo inteiro. Que nó s, ajudados por Maria, compreendamos
o verdadeiro sentido da alegria pascal que se funda nesta certeza:
Aquele que a Virgem carregou no seu seio, que sofreu e morreu por nó s,
ressuscitou verdadeiramente. Aleluia!". Maravilhoso testamento
espiritual que Joã o Paulo II nos deixou.

Na homilia do entã o cardeal, e depois Bento XVI, disse de Joã o Paulo II


que ele era “o inté rprete para nó s do misté rio pascal como misté rio da
misericó rdia divina. Ele escreve em seu ú ltimo livro: “o limite imposto
ao mal é , em ú ltima instâ ncia, a misericó rdia divina” (Memória e
Identidade 70).

Uma pergunta

«De forma fragmentada


e de muitas maneiras, Deus falou
aos nossos pais através dos profetas;
nestes últimos tempos,
ele nos falou por meio de seu Filho ” (Hb 1,1-3).

Talvez alguns dos nossos leitores tenham sido questionados: Se nã o


"devemos esperar por outra revelaçã o pú blica antes da gloriosa
manifestaçã o de nosso Senhor Jesus Cristo", como nos diz Dei Verbum 4,
que valor deve ser dado a essas u outras revelaçõ es? O Catecismo da
Igreja Cató lica dá -nos a resposta: “Ao longo dos sé culos houve as
chamadas revelaçõ es“ privadas ”, algumas das quais foram
reconhecidas pela autoridade da Igreja. Estes, entretanto, nã o
pertencem ao depó sito da fé . Sua funçã o nã o é "melhorar" ou
"completar" a Revelaçã o de initiva de Cristo, mas ajudar a vivê -la mais
plenamente em determinado momento da histó ria. Guiados pelo
Magisté rio da Igreja, os sentimentos dos ié is (sensus idelium) sabem
discernir e acolher o que nestas revelaçõ es constitui um autê ntico
apelo de Cristo ou dos seus santos à Igreja.
A fé cristã nã o pode aceitar "revelaçõ es" que pretendem superar ou
corrigir a Revelaçã o da qual Cristo é a plenitude. E o caso de certas
religiõ es nã o cristã s e també m de certas seitas recentes que se baseiam
nessas “revelaçõ es” ”(n. 67).
O que Faustina Kowalska nos revela nas revelaçõ es sobre o amor
misericordioso de Deus nã o é novidade, pois se expressa de mil e uma
maneiras na Sagrada Escritura. Mas adquirem certo valor em certas
circunstâ ncias histó ricas, como a nossa, em que a violê ncia, o ó dio e as
armas mais so isticadas semeiam destruiçã o e morte. E por isso que é
necessá rio tirar o pó daquela verdade tã o consoladora da misericó rdia
de Deus como ú nico caminho que conduz à paz.
Joã o Paulo II fez eco a esta exigê ncia na sua encı́clica Dives in
misericordia: “Precisamos de olhar para trá s, para este misté rio: é
impelido por mú ltiplas exigê ncias da Igreja e do homem
contemporâ neo; E exigida també m pelas invocaçõ es de tantos coraçõ es
humanos, com seus sofrimentos e esperanças, suas angú stias e
expectativas ” (DM 1). O Papa expressa o desejo que o levou a
apresentar a sua carta encı́clica: para que “estas consideraçõ es
aproximem o misté rio de todos e que seja ao mesmo tempo um apelo
vibrante da Igreja à misericó rdia que o homem e o mundo
contemporâ neo tê m tanta necessidade. E eles tê m uma necessidade,
embora muitas vezes nã o saibam » (DM 2).
Com pouca familiaridade que temos com o Antigo Testamento, notamos
como o que mais se destaca é a “experiê ncia peculiar da misericó rdia
de Deus”. Quando Moisé s se dirige a Deus, o faz apelando à
misericó rdia: "Deus de ternura e graça, tardio em irar-se e rico em
misericó rdia e idelidade" (Ex 34,6). O mesmo farã o os profetas quando
tiverem que corrigir o povo por seu abandono do Deus verdadeiro por
causa dos falsos ı́dolos. E se nos voltarmos para o livro de Salmos, o
encontraremos cheio de expressõ es da misericó rdia de Deus. A tı́tulo de
exemplo, recordemos o Salmo 136, onde se repete o refrã o ad nauseam:
«A sua misericó rdia é eterna».
Voltando novamente a Dives in misericordia, lemos: “Deste modo, a
misericó rdia é de certa forma oposta à justiça e em muitos casos revela-
se nã o só mais poderosa, mas també m mais preocupada com
ela” (DM 4).
Se formos ao Novo Testamento, a misericó rdia de Deus se re lete no
canto do Magni icat, quando Maria exclama: "A sua misericó rdia atinge
os seus ié is de geraçã o em geraçã o" (Lc 1,50). Toda a vida de Jesus é
uma manifestaçã o da misericó rdia do Pai, que “torna o Pai presente
como amor e misericó rdia”. As pará bolas do Bom Samaritano (Lc 10,30-
37), a do ilho pró digo (Lc 15,11-32), que seria mais estritamente
chamada de pai bom e misericordioso; ou do bom pastor (Jo 10,11-
16). Na pará bola da mulher apanhada em adulté rio (Jo 8,1-11), depois
que todos os acusadores se foram, Santo Agostinho diz com muita
precisã o, como é frequente nele quando faz os seus comentá rios, que
Jesus e a mulher icaram para trá s. face a face pecaminosa: "misé ria e
misericó rdia."
Quando Joã o Batista envia seus discı́pulos a Jesus para que se
identi ique e diga se é ou nã o "aquele que há de vir ou temos que
esperar outro", Jesus responde por meio das obras que realiza: "o cego
vê , Os coxos andam, os leprosos sã o puri icados, os surdos ouvem, os
mortos ressuscitam, os pobres sã o evangelizados ”(Lc 7, 18-22). O
evangelho de Lucas é o evangelho da misericó rdia.
O Papa Joã o Paulo II, comentando as palavras do Livro da Sabedoria:
"Nã o odeias nada do que criaste" (Sb 11,24), a irma que "estas palavras
indicam o fundamento profundo da relaçã o entre justiça e misericó rdia
em Deus, em suas relaçõ es com o homem e com o mundo. Eles estã o
nos dizendo que devemos buscar as raı́zes vitais e as razõ es internas
desse relacionamento, voltando ao "começo"; no pró prio misté rio da
criaçã o ” (DM 4).
Nã o podemos separar a misericó rdia de Deus de sua idelidade. Seu
amor é superior até mesmo à pró pria criaçã o, segundo as palavras que
encontramos no pró prio Isaı́as: “Os montes tremerã o, os morros serã o
abalados; Mas a minha bondade para convosco nã o desaparecerá , nem
a minha aliança de paz vacilará , diz o Senhor, todo aquele que se
compadece de vó s »(Is 54,10). Israel deve regressar à sua terra para se
estabelecer como povo e Jeremias põ e na boca de Deus estas palavras:
«Com amor eterno te amei, por isso te guardei no meu favor» (Jr 31,3).
Por sua vez, Sã o Paulo, que passou por toda espé cie de provaçõ es e
perigos, ao escrever aos Romanos fala da sua certeza de salvaçã o:
“Quem nos pode separar do amor de Cristo? Tribulaçã o, angú stia,
perseguiçã o, fome, nudez, perigo, espada? ... Porque estou convencido
de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as potestades, nem a altura nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura poderá para nos separar do amor que Deus manifestou
por nó s em Cristo Jesus nosso Senhor ”(Rm 8: 35-38).

Para a casa do Pai com a cruz


"Venha e participe
da alegria do seu Senhor" (Mt 25:23)

Como vimos, a vida da Irmã Faustina foi marcada pela dor e pelo
sofrimento nos seus aspectos espirituais, estigmá ticos e fı́sicos. Ele se
ofereceu como uma pequena vı́tima pela salvaçã o de almas. Durante
uma hora particular de adoraçã o, Deus revelou à Irmã Faustina o que
ela deveria sofrer: falsas acusaçõ es, a perda do bom nome e
outros. Quando esta visã o terminou, um suor frio banhou sua
testa. Jesus a fez saber que mesmo que ela nã o consentisse, ela seria
salva e ele nã o diminuiria suas graças e continuaria a manter um
relacionamento ı́ntimo com ela. A generosidade de Deus nã o diminuiria
em nada. Ciente de que todo o misté rio dependia dela, consentiu
livremente com o sacrifı́cio, plenamente consciente do que implicava
esta espé cie de pacto que lhe era pedido.
Ele vai escrever em seu diário: “De repente, quando eu tinha consentido
em fazer o sacrifı́cio com todo meu coraçã o e todo meu entendimento, a
presença de Deus me cobriu, pareceu-me que eu estava morrendo de
amor ao ver sua misericó rdia . "
Durante a Quaresma desse mesmo ano, 1933, experimentou no pró prio
corpo e no coraçã o a Paixã o do Senhor, recebendo os estigmas de forma
invisı́vel. Isso só era conhecido pelo seu confessor e ela o narra assim:
“Um dia, durante a oraçã o, vi uma grande luz e dela saı́ram raios que
me envolveram completamente. De repente, senti uma dor muito forte
nas mã os, nos pé s e no lado do corpo, e senti a dor da coroa de
espinhos, mas por muito pouco tempo ».
Mais tarde, quando a Irmã Faustina adoeceu com tuberculose, doença
que a levaria à morte, voltou a viver os sofrimentos da Paixã o do
Senhor. Isso se repete todas as sextas-feiras e, à s vezes, quando ele
encontra uma alma que nã o estava em estado de graça, pois goza deste
dom de ler as consciê ncias. Embora nã o fosse muito frequente, os
sofrimentos foram dolorosos e de curta duraçã o, pois ele nã o os teria
suportado sem uma graça especial de Deus.
Irmã Faustina poderia muito bem repetir as palavras de Sã o Paulo:
"Nó s sempre e em toda parte transportam os sofrimentos da morte de
Jesus em nossos corpos, para que a vida de Jesus també m se manifeste
em nó s" (2Cor 4,10). De certa forma, ela sentiu "co-redentora" com
Cristo. Ele escreve: «O amor deve ser recı́proco. Como o Senhor Jesus
bebeu toda a amargura para mim, entã o eu, sua esposa, para dar a
minha prova para ele, vai aceitar toda a amargura " (Diário, 389). E
continua: «Tudo o que nã o é nada comparado a você . Os sofrimentos, os
retrocessos, as humilhaçõ es, os fracassos, as suspeitas que enfrentamos
sã o espinhos que in lamam meu amor por você , Jesus. Louco e
irrealizá vel sã o os meus desejos. Eu quero esconder de você que eu
estou sofrendo. Eu nunca quero ser recompensado pelos meus esforços
e boas obras, oh Jesus, você é a minha recompensa. Você é o su iciente
para mim, oh tesouro do meu coraçã o. Eu gostaria de compartilhar os
sofrimentos do meu vizinho, esconder meus sofrimentos no meu
coraçã o, nã o só antes do meu vizinho, mas antes de você , oh Jesus. O
sofrimento é uma grande graça. Atravé s do sofrimento da alma torna-se
semelhante ao Salvador, amor cristaliza no sofrimento. Quanto maior o
sofrimento, o amor mais puro torna-se " (Diário, 57).
Numa ocasiã o, Jesus disse-lhe: «Nã o vives para ti, mas para as
almas. Outras almas se bene iciarã o de seus sofrimentos. Os vossos
sofrimentos prolongados dar-lhes-ã o luz e graça para aceitarem a
minha vontade ” (Diário 67).
Nos ú ltimos anos de sua vida, aumentaram os sofrimentos internos, a
chamada noite passiva do espı́rito e as enfermidades do corpo:
desenvolveu-se uma tuberculose que atacou seus pulmõ es e seu
aparelho digestivo. Por causa disso, ela foi internada no Hospital
Pradnik em Cracó via duas vezes, durante vá rios meses.
Esgotada isicamente, mas totalmente adulta de espı́rito, misticamente
unida a Deus, ela morreu no cheiro da santidade em 5 de outubro de
1938, com a idade de 33 anos, dos quais viveu 13 no convento. O seu
funeral realizou-se dois dias depois, na festa de Nossa Senhora do
Rosá rio, que nesse ano era a primeira sexta-feira do mê s. Seu corpo foi
enterrado no cemité rio comunitá rio em Cracó via. Durante o processo,
ele foi transferido para a capela.
O amor de Deus é a lor e a misericó rdia é o fruto.

Epı́logo
Dados biográ icos
25 de agosto de 1905 - a irmã Faustina nasceu na aldeia de Glgowiec
(hoje provı́ncia de Konin).
27 de agosto de 1905 - é batizada na paró quia de Sã o Casimiro em
Swinice Warckie (diocese de Wloclawek), e recebe o nome de
Elena.
1912 - Ouve na alma, pela primeira vez, o apelo à vida consagrada.
1914 - faz a primeira comunhã o.
1917 - começa a educaçã o primá ria.
1919 - começa a trabalhar na casa de alguns amigos de sua famı́lia, os
Bryszewski, em Aleksandró w.
30 de outubro de 1921 - recebe o sacramento da Con irmaçã o
administrado por Dom Vicente Tymieniecki em Aleksandró w
Ló dzki.
1922 - volta à casa da famı́lia para pedir permissã o aos pais para entrar
no convento, mas é negada.
Outono de 1922 - Elena vai para Ló dz e trabalha durante um ano para
pagar o dote exigido.
Julho de 1924 - vai a Varsó via para entrar num convento, o da
Congregaçã o da Mã e de Deus da Misericó rdia, e é recomendado
receber um pequeno dote.
1º de agosto de 1925 - Apó s um ano de trabalho, e já com o dote, é
aceita e inicia o postulado.
23 de janeiro de 1926 - vai para o noviciado de Cracó via.
30 de abril de 1926 - Recebe o há bito e é imposto em nome de Faustina.
Março-abril de 1927 - Ele passa por um perı́odo de "noite espiritual"
que dura nã o menos que um ano e meio.
16 de abril de 1928 - Na Sexta-feira Santa, um fogo ardente envolve a
noviça sofredora, que esquece os sofrimentos que está sofrendo e
conhece claramente os sofrimentos de Cristo por ela.
30 de abril de 1928 - Termina o noviciado e depois de um retiro de 8
dias faz os primeiros votos temporá rios.
10 de outubro de 1928 - Ela vai para a casa da congregaçã o em
Varsó via, na rua Zytnia, para trabalhar como cozinheira.
21 de fevereiro a 11 de junho de 1929 - Vai a Vilna para substituir uma
irmã que deve fazer a terceira provaçã o.
Junho de 1929 - ela é enviada para a recé m-fundada casa da
congregaçã o em Varsó via, Rua Hetmanska.
Entre 7 de julho de 1929 e maio de 1930 - realiza diversos cultos nas
diversas casas da congregaçã o.
22 de fevereiro de 1931 - Em uma visã o, o Senhor diz a ela para pintar
um quadro conforme o padrã o que ela vê .
Novembro de 1932 - Em Varsó via, ele faz a terceira provaçã o e faz os
votos perpé tuos em 1º de maio de 1933 perante o Bispo Estanislau
Respond.
2 de janeiro de 1934 - Primeira visita ao pintor E. Kazimirowski
encarregado de pintar a imagem da Misericó rdia divina, que será
concluı́da em junho de 1934. Irmã Faustina chora porque o Senhor
Jesus pintado nã o é tã o belo como ela o viu.
11 de maio de 1936 - Ele deixa Derdy e vai para Cracó via para icar lá
até sua morte.
9 de dezembro de 1936 - 27 de março de 1937 - Estadia no hospital
Pradnik.
2 de setembro de 1938 - Em uma visita ao hospital, o padre Sopocko a
encontra em ê xtase.
5 de outubro de 1938 - As 23 horas, Irmã Maria Faustina Kowalska
passa para a vida eterna.
25 de novembro de 1966 - Os restos mortais da Irmã Faustina sã o
transferidos do cemité rio das Irmã s da Mã e de Deus da
Misericó rdia em Cracó via.
20 de setembro de 1967 - Em uma sessã o solene presidida pelo Cardeal
Karol Wojtyla, o processo de informaçã o diocesana foi encerrado e
a ata foi enviada a Roma.
18 de abril de 1993 - Irmã Faustina é beati icada por Joã o Paulo II e em
30 de abril de 2000 é canonizada pelo pró prio Joã o Paulo II em
Roma, no primeiro domingo apó s a Pá scoa, festa da misericó rdia.

***
Oferecemos a seguir alguns subsı́dios para a oraçã o e re lexã o de
nossos leitores:

CONSIDERAÇOES
Que a alma em dú vida leia essas consideraçõ es sobre a misericó rdia
divina e torne-se con iante.

Misericó rdia divina, que brota do seio do Pai, eu con io em ti.


Misericó rdia divina, atributo supremo de Deus, eu con io em você .
Misericó rdia divina, misté rio incompreensı́vel, em Vó s con io.
Misericó rdia divina, fonte que brota do misté rio da Santı́ssima
Trindade, eu con io em Vó s.
Misericó rdia divina, insondá vel para todo entendimento humano ou
angelical, eu con io em você .
Misericó rdia divina, da qual toda a vida e felicidade brotam, eu con io
em você .
Misericó rdia divina, mais sublime que os cé us.
Misericó rdia divina, fonte de milagres e maravilhas.
Misericó rdia divina, abrangendo todo o universo.
Misericó rdia divina, que desce ao mundo na Pessoa do Verbo
Encarnado.
Misericó rdia divina, que luiu da ferida aberta do Coraçã o de Jesus.
Misericó rdia divina, encerrada no Coraçã o de Jesus por nó s e
especialmente pelos pecadores.
Misericó rdia divina, impenetrá vel na instituiçã o da Hó stia Sagrada.
Misericó rdia divina, na instituiçã o da Santa Igreja.
Misericó rdia divina, no sacramento do Santo Batismo.
Misericó rdia divina, em nossa justi icaçã o por Jesus Cristo.
Misericó rdia divina, que nos acompanha ao longo da vida.
Misericó rdia divina, que nos envolve especialmente na hora da morte.
Misericó rdia divina, que nos concede vida imortal.
Misericó rdia divina, que nos acompanha em cada momento de nossa
vida.
Misericó rdia divina, que nos protege do fogo infernal.
Misericó rdia divina, na conversã o de pecadores inveterados.
Misericó rdia divina, espanto para os anjos, incompreensı́vel para os
santos.
Misericó rdia divina, insondá vel em todos os misté rios de Deus.
Misericó rdia divina, que nos resgata de toda misé ria.
Misericó rdia divina, fonte de nossa felicidade e deleite.
Misericó rdia divina, que do nada nos chamou à existê ncia.
Misericó rdia divina, que abrange todas as obras de suas mã os.
Misericó rdia divina, coroa de todas as obras de Deus.
Misericó rdia divina, na qual todos estamos imersos.
Misericó rdia divina, doce consolo para coraçõ es angustiados.
Misericó rdia divina, a ú nica esperança das almas desesperadas.
Misericó rdia divina, refú gio de coraçõ es, paz diante do medo.
Misericó rdia divina, alegria e ê xtase das almas sagradas.
Misericó rdia divina, que infunde esperança perdida e toda
esperança (Diário 949).

ORAÇAO

O Deus eterno, em quem a misericó rdia é in inita e o tesouro de uma


compaixã o inesgotá vel, dirige-nos o teu olhar bondoso e aumenta a tua
misericó rdia em nó s, para que nos momentos difı́ceis nã o nos
desesperemos nem desanimemos, mas, com grande con iança,
deixemos submetemo-nos à tua santa vontade, que é o pró prio amor e a
misericó rdia (Diário 950).

ORAÇAO A SAO FAUSTINA

Foi assim que o entã o Papa Joã o Paulo II apresentou esta oraçã o:

«A voz de Maria Santı́ssima, a" Mã e da Misericó rdia ", à voz desta
nova Santa, que na Jerusalé m celeste canta a misericó rdia com
todos os amigos de Deus, unamos també m, nossa Igreja peregrina,
a nossa voz.
E tu, Faustina, dom de Deus no nosso tempo, dom da terra da
Poló nia a toda a Igreja, nos permite perceber a profundidade da
misericó rdia divina, ajuda-nos a vivê -la na nossa vida e a
testemunhá -la aos nossos irmã os. e irmã s. Que sua mensagem de
luz e esperança se espalhe por todo o mundo, mova pecadores à
conversã o, elimine rivalidades e ó dios, e abra homens e naçõ es à
prá tica da fraternidade. Hoje, nó s, ixando, juntamente convosco, o
nosso olhar no rosto de Cristo ressuscitado, fazemos nossa a vossa
oraçã o de con iante abandono e dizemos com irme esperança:
"Cristo, Jesus, eu con io em ti".

Bibliogra ia

Bento XVI, Joã o Paulo II, meu amado predecessor, San Pablo, Madrid 2007.

Elzbieta, S., Do quotidiano fez uma vida extraordiná ria: Santa Faustina Kowalska. Apó stolo da
Divina Misericó rdia, Levante, Granada 2003.

Iaria, R., Santa Faustina e la divina Misericordia, San Paolo, Cinisello Balsamo 2003.

Juan Pablo II, Dom e misté rio, BAC, Madrid 1996; Homilia no domingo, 30 de abril de
2000; Homilia no domingo, 22 de abril de 2001.

Kowalska, MF, Diá rio: A divina misericó rdia em minha alma, Levante, Granada 2003; Cartas de
Santa Faustina, Levante, Granada
2006; http://www.corazones.org/santos/faustina_diario.pdf (editora dos Padres
Marianos da Imaculada Conceiçã o da Bem-Aventurada Virgem Maria).

Michalenko, S., Biogra ia de Ir. Faustina, Biblioteca Espiritual.

Sasiadek, J., Cosı̀ straordinaria, cosı̀ normale! Vita di santa Faustina Kowalska, apostola della divina
Misericordia, San Paolo, Cinisello Balsamo 2006.

Sopocko, M., Gesù con ido in te! Le preghiere della divina Misericordia, San Paolo, Cinisello
Balsamo 20032.

Svidercoschi, GF, History of Karol, International University Editions, Madrid 2003.

Indice
Apresentação
Duas palavras sobre a polônia
O nome dela, Elena
Noviciado
Noite escura
Santo abandono
Pequena vitima
Voltar para varsóvia
"É assim que eu trato meus amigos"
A grande missão
Amor não é amado
A imagem do misericordioso Jesus
Con idencias
Uma festa
Ordem para escrever seu diário
João Paulo II e a divina misericórdia
Uma pergunta
Para a casa do Pai com a cruz
Epílogo
Bibliogra ia

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