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E ste culto, que cada vez mais se in-
cende e se estende por toda parte,
com toda razão podemos considerar
um inapreciável dom que o Verbo en-
carnado e salvador nosso, como único
mediador da graça e da verdade entre o
Pai celestial e o gênero humano, conce-
deu à sua mística esposa nestes últimos
séculos.
Assim, pois, gozando deste inesti-
mável dom, a Igreja pode manifestar
mais amplamente o seu amor ao divino
Fundador, e cumprir mais fielmente a
exortação que o evangelista São João
põe na boca do próprio Jesus Cristo:
“Se alguém tem sede, venha a mim e
beba. O que crê em mim, como diz a Escri-
tura, do seu seio correrão rios de água viva.”
Ora ele dizia isto, falando do Espírito que
haviam de receber os que cressem nele.
jo 7, 37-39
Aos que escutavam essas palavras
de Jesus, pelas quais ele prometia que
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do seu seio haveria de manar uma fonte
de água viva, certamente não lhes era di-
fícil relacioná-las com os vaticínios com
que Isaías, Ezequiel e Zacarias profeti-
zavam o reino do Messias, e com a sim-
bólica pedra que, golpeada por Moisés,
de maneira milagrosa haveria de jorrar
água.
Apresentamos aqui as citações bíblicas
completas enumeradas por Pio XII, sempre
na tradução do Pe. Matos Soares, edição de
1927, atualizando apenas a ortografia.
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Portanto, aí mesmo, por causa da falta
de água, o povo teve sede, e murmurou
contra Moisés, dizendo:
— Por que nos fizeste sair do Egito,
para nos fazer morrer de sede a nós e aos
nossos filhos e aos nossos animais?
E Moisés clamou ao Senhor, dizendo:
— Que farei eu a este povo ? Pouco
falta que ele me não apedreje.
E o Senhor disse a Moisés:
— Caminha adiante do povo, e toma
contigo alguns dos anciãos de Israel, e toma
na tua mão a vara, com que feriste o rio, e
vai. Eis que eu estarei lá diante de ti sobre
a pedra de Horeb: e ferirás a pedra, e dela
sairá água, para que o povo beba.
Moisés assim fez na presença dos an-
ciãos de Israel. E pôs àquele lugar o nome
de Tentação, por causa da murmuração dos
filhos de Israel, e porque eles tentaram ao
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Senhor, dizendo: “O Senhor está no meio de
nós, ou não?”
ex 17, 1-7
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— Porque vós não me crestes para me
santificardes diante dos filhos de Israel, não
introduzireis estes povos na terra que eu
lhes darei.
Esta é a água da contradição, onde os
filhos de Israel altercaram contra o Senhor,
e onde (o Senhor) foi santificado entre eles.
nm 20, 7-13
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e fez-me dar a volta por fora até à porta ex-
terior, que olhava para o oriente; e vi que as
águas jorravam do lado direito.
Saindo para a banda do oriente, o
homem, que tinha um cordel na mão, mediu
mil côvados, e fez-me atravessar a água, que
me dava pelos tornozelos. Mediu outros mil
côvados, e (ali) fez-me atravessar a água
que me dava pelos joelhos; mediu outros mil
côvados, e fez-me atravessar a água que me
dava pelos rins e mediu outros mil côvados,
e era já uma torrente que eu não pude atra-
vessar, porque se tinham empolado as águas
daquela profunda torrente, de modo que
não se podia passar a vau. Então disse-me:
— Bem o viste, filho do homem.
E fez-me sair, e reconduziu-me à borda
da torrente.
Tendo eu, pois, tornado para trás,
eis que se viam sobre a borda da torrente
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muitíssimas árvores de um e outro lado. E
disse-me:
— Estas águas, que saem para os mon-
tões de saibro do oriente, e que descem
para a planície do deserto, entrarão no
mar (Morto), e sairão dele, e as águas (do
mar) ficarão saudáveis. E todo o animal vivo
que anda a rasto, viverá por toda a parte,
onde chegar a torrente, e haverá ali peixes
em abundância, depois que lá chegarem
estas águas, e terá saúde e vida tudo aonde
chegar esta torrente.
— E os pescadores estarão sobre estas
águas; desde Engadi até Engalim será o en-
xugadouro das suas redes; serão muitíssi-
mas as espécies de seus peixes, e em gran-
díssima abundância como os peixes do mar
grande. Nas suas praias, porém, e nos seus
charcos, não serão salutíferas as águas,
porque serão destinadas para as marinhas
de sal.
— E ao longo da torrente nascerá, nas
suas ribanceiras, dum e outro lado, toda a
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espécie de árvores frutíferas; não lhes cairá
a folha, nem faltará o seu fruto; dá-los-ão
novos todos os meses, porque as suas águas
sairão do santuário, e os seus frutos servi-
rão de sustento, e as suas folhas de remédio.
ez 47, 1-12
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Então um dos anciãos, tomando a pala-
vra, disse-me:
— Estes, que estão revestidos de vesti-
duras brancas, quem são? E donde vieram?
E eu disse-lhe:
— Meu Senhor, tu o sabes.
E ele disse-me:
— Estes são aqueles que vieram de
grande tribulação, e levaram os seus ves-
tidos, e os embranqueceram no sangue do
Cordeiro. Por isso estão diante do trono de
Deus, e o servem de dia e de noite no seu
templo; e o que está sentado sobre o trono,
habitará sobre eles; não terão mais fome
nem sede, nem cairá sobre eles o sol, nem
calor algum; porque o Cordeiro, que está no
meio do trono, os guardará e os levará às
fontes das águas da vida, e Deus enxugará
toda lágrima dos seus olhos.
ap 7, 13-17
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A caridade de Deus foi derramada nos
nossos corações por meio do Espírito Santo,
que nos foi dado.
rm 5, 5
Este estreito vínculo que, segundo a
Sagrada Escritura, existe entre o Espírito
Santo, que é amor por essência, e a ca-
ridade divina, que deve acender-se cada
vez mais na alma dos fiéis, demonstra
abundantemente a todos nós a nature-
za íntima do culto que se deve tributar
ao coração de Jesus Cristo.
É indubitável que nos livros sagra-
dos nunca se faz menção certa de um
culto de especial veneração e amor tri-
butado ao coração físico do Verbo en-
carnado pela sua prerrogativa de sím-
bolo da sua inflamadíssima caridade.
Mas este fato, que cumpre reconhecer
abertamente, não nos deve admirar,
nem de modo algum fazer-nos duvidar
de que a caridade divina para conosco
— razão principal deste culto — é exal-
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tada tanto pelo Antigo como pelo Novo
Testamento com imagens sumamente
comovedoras.
E essas imagens podem ser con-
sideradas como um presságio daquilo
que havia de ser o símbolo e índice mais
nobre do amor divino, a saber: o cora-
ção sacratíssimo e adorável do Reden-
tor divino.
Pelo que se refere ao nosso propó-
sito, bastará recordar o pacto estabele-
cido entre Deus e o povo eleito, pacto
sancionado com vítimas pacíficas — e
cujas leis fundamentais, esculpidas em
duas tábuas, Moisés promulgou (cf. ex
34, 27-28) e os profetas interpretaram.
Esse pacto não se baseava somen-
te nos vínculos do supremo domínio de
Deus e na devida obediência da parte
do homem, mas consolidava-se e vivifi-
cava-se com os mais nobres motivos do
amor.
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Porque também para o povo de
Israel a razão suprema de obedecer a
Deus, devia ser não tanto o temor das
divinas vinganças suscitado nos ânimos
pelos trovões e relâmpagos proceden-
tes do ardente cume do Sinai, mas,
antes, o amor devido a Deus:
Escuta, Israel: O Senhor, nosso Deus, é
o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a
tua alma e com todas as tuas forças. E estas
palavras que hoje te ordeno estarão sobre o
teu coração.
dt 6, 4-6
Não nos deve, pois, causar estranhe-
za que Moisés e os profetas, compreen-
dendo bem que o fundamento de toda
a lei se baseava neste mandamento do
amor, descrevessem as relações todas
existentes entre Deus e a sua nação,
recorrendo a semelhanças tiradas do
amor recíproco entre pai e filhos, ou
do amor dos esposos, em vez de repre-
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sentá-las com imagens severas inspira-
das no supremo domínio de Deus ou na
nossa devida servidão cheia de temor:
Assim como a águia provoca seus filho-
tes a alçarem o vôo e acima deles revoluteia,
assim também (Deus) estendeu as suas
asas e acolheu (Israel) e carregou-o nos
seus ombros.
Cântico de Moisés, dt 32, 11
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Amei-te com amor eterno; por isso
atrai-te a mim cheio de misericórdia... Eis
vêm dias, afirma o Senhor, em que pactuarei
com a casa de Israel e com a casa de Judá
uma aliança nova: este será o pacto que eu
concertarei com a casa de Israel depois da-
queles dias, declara o Senhor: Porei minha
lei no interior dele e escrevê-la-ei no seu co-
ração, e serei o seu Deus e eles serão o meu
povo...; porque perdoarei a sua culpa e não
mais me lembrarei dos seus pecados.
jr 31, 3.31, 33-34
Com efeito, o mistério da divina reden-
ção é, antes de tudo e pela sua própria
natureza, um mistério de amor: isto é,
um mistério de amor justo da parte de
Cristo para com seu Pai celeste, a quem
o sacrifício da cruz, oferecido com co-
ração amante e obediente, apresenta
uma satisfação superabundante e infi-
nita pelos pecados do gênero humano:
Cristo, sofrendo por caridade e obe-
diência, ofereceu à Deus alguma coisa
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de valor maior do que o exigia a com-
pensação por todas as ofensas feitas a
Deus pelo gênero humano.
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A NATUREZA DA
DEVOÇÃO
NO MANUAL DE ESPIRITUALIDADE
DO PE. AUGUSTE SAUDREAU
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2º Seu amor humano e criado, resi-
dindo na Sua alma humana.
Por este duplo amor, Jesus ama:
1º A Deus, Seu Pai, com um amor
incompreensível;
2º A Maria, Sua Mãe Santíssima, a
Ele mais cara do que todas as
criaturas juntas;
3º A todos os eleitos, cuja bem-
-aventurança Lhe causa tão
grande alegria;
4º Às almas padecentes do pur-
gatório, cujo livramento almeja
mais ardentemente que elas
próprias;
5º À santa Igreja, sua Esposa, que
Ele quer ver gloriosa, santa, ima-
culada (ef 5, 27);
6º Às almas justas para as quais
conseguiu tantas graças pelos
Seus padecimentos e que deseja
santificar cada vez mais;
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7º Aos pecadores por quem der-
ramou todo o Seu sangue e
que Lhe inspiram uma imensa
compaixão.
A devoção ao Coração de Jesus lembra,
pois, em primeiro lugar, o amor deste
Coração adorável; mas ela induz, ao
mesmo tempo, a alma a contemplar
todas as maravilhas de que Ele é o
centro.
Com efeito, diz a Irmã Joly, o Coração
adorável de Jesus é um abismo de tesouros,
de graças e de glória. Impossível considerá-
-lo atentamente muito tempo sem desco-
brir nele coisas infinitas a adorar e amar, a
imitar e receber.
Irmã Joly, religiosa da Visitação de Dijon,
compôs, quando ainda vivia Margarida Maria
e por inspiração desta, o primeiro opúsculo
em que se explicou a devoção ao Sagrado
Coração.
Assim, o Coração de Jesus é a fonte
da vida interior do Salvador, de Seus di-
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vinos sentimentos, de Suas alegrias, de
Suas penas, de Seus desejos, de Seu
ódio ao mal; é o princípio de Suas vir-
tudes, de Sua humildade, de Sua doçura,
até para com Seus inimigos, de Sua obe-
diência, de Sua pureza, de Sua paciência,
de Sua pobreza.
Do Coração de Jesus procedem
todas as graças e todos os favores que o
Salvador reserva para seus fiéis amigos.
Os principais sentimentos que jorram,
por assim dizer, necessariamente da de-
voção ao Sagrado Coração são:
1º a gratidão,
2º a confiança,
3º o amor,
4º o desejo de reparação,
5º a humildade,
6º o desapego e
7º o zelo.
Acabamos de citar o desejo de repa-
ração. A confidente e mensageira do Co-
ração de Jesus, Santa Margarida Maria,
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sempre insistiu na obrigação que temos
de consolá-Lo. É porque, ao mesmo
tempo que Jesus lhe lembrava a subli-
midade de Seu amor, sempre se quei-
xava de não encontrar correspondência
entre os homens.
Eis este Coração que tanto amou aos
homens que nada poupou até consumir-se
para dar-lhes o testemunho do Seu amor, e,
em paga, não recebe da maior parte deles
senão ingratidões.
Vida e obra, t.ii, pg. 102
In propria venit, diz São João, et sui
eum non receperunt. Ele veio no meio dos
seus e os seus não O receberam (jo 1, 11). O
amor não é amado, exclamava São Fran-
cisco de Assis. Que motivo de tristeza
para um coração amante e que estímulo
para sua generosidade!
Quem compreende bem e sabe pra-
ticar a devoção ao Sagrado Coração,
volta constantemente nas suas medita-
ções, nas suas comunhões, em todo o
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curso de sua vida, a este pensamento:
Amou-me e entregou-se por mim.
Como este pensamento contínuo
dos benefícios de Jesus, de Suas loucu-
ras de amor – mais sábias, no dizer de
São Paulo, que a sabedoria dos homens
(1co 1, 25) – não faria brotar, no coração
do homem, uma viva gratidão?
Como não desejarmos amar
sempre mais a um Deus tão cheio de
amor? E ao vermo-Lo tão mal pago,
tão ofendido por aqueles mesmos por
quem se imolou, como, não ansiar por
consolá-Lo?
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A ENTREGA DE
SANTA MARGARIDA
MARIA ALACOQUE
SEGUNDO O PE. ANDRÉ BELTRAMI
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ída a nossa Santa para gozar das doçu-
ras da oração. Todo o seu prazer era es-
conder-se em algum daqueles bosques,
longe de todo o rumor, a fim de falar
com o seu Deus entre as harmonias dos
passarinhos que cantavam, e o murmú-
rio do regato que corria mansamente.
À porta do castelo erguia-se a
Igreja, toda encoberta de densas árvo-
res. Para lá se dirigia constantemente a
pia virgenzinha, passando longas horas
de joelhos, com as mãos juntas e os
olhos fitos no santo altar. O seu olhar de
águia, penetrando através dos véus do
Tabernáculo, contemplava a beleza so-
berana do seu doce Senhor, de tal modo
que devia fazer grande violência para se
separar daqueles santos lugares e voltar
ao castelo.
Naquelas horas solitárias de oração,
Jesus lhe revela os segredos inefáveis
do seu amor e lhe imergia a alma pre-
destinada num oceano de gozo, fazen-
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do-lhe prelibar instantes de paraíso. E
Jesus começava a bater ao coração de
Margarida, para aí entrar e apoderar-se
inteiramente dele. Pedia-lhe insisten-
temente o lírio da virgindade, essa flor
que lhe é a mais agradável e que eleva
o homem a uma sublimidade tal, que o
torna semelhante aos espíritos celestes.
A pia virgenzinha ainda não sabia
bem o que era castidade e voto, e, en-
tretanto, sentia-se suavemente apressa-
da a prometê-la ao esposo das virgens
e a consagrar-lhe inteiramente alma e
corpo: pressentia que era essa a coisa
mais agradável que lhe podia oferecer.
Por fim, um dia, no momento mais
solene do Santo Sacrifício da Missa,
entre as duas elevações, afervorada
mais que de costume, deixou-se trans-
portar pela celeste fragrância do seu
Jesus e lhe ofereceu a coroa da virgin-
dade, exclamando num surto de entu-
siasmo: Deus do meu coração, consagro-
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-vos a minha pureza; faço voto de perpetua
castidade.
Margarida, já agora, é toda de Jesus
e mais pertence ao Céu do que à terra.
E Jesus, desde aquele dia abençoado,
considerou-a como sua filha predileta
e escondeu-a no seu Coração adorável,
para defendê-la de qualquer profano in-
sulto, concedendo-lhe as mais preciosas
graças.
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breve para a atingir. A dor é aquele agui-
lhão de ouro, que não permite nos dete-
nhamos nas coisas da terra, para men-
digar consolações efêmeras, mas, sem
cessar, nos impele para a pátria celeste,
onde, nos seus eternos esplendores, go-
zaremos alegrias inefáveis...
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MEDITAÇÃO
PARA A HORA SANTA
DO MÊS DE JUNHO
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car a ira divina, pedindo misericórdia pelos
pecadores, como para honrar e suavizar de
algum modo a amargura que senti quando
meus apóstolos me abandonaram: é o que
me constrangeu a lhes repreender o não
terem podido velar uma hora comigo.
A bem-aventurada foi fiel a esta hora
de adoração, e o Coração de Jesus, que
nunca se deixa vencer em generosidade,
soube recompensá-la por inumeráveis
favores.
Daí é que vem o costume, entre as
almas fervorosas, de consagrar a oração
uma hora da noite da quinta para a sex-
ta-feira, a fim de honrar as dores do Co-
ração de Jesus no Jardim das Oliveiras.
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agradará ao Coração do divino Mestre;
entretanto é melhor fazer na hora indi-
cada por Jesus Cristo, ou ao pôr-se do
sol ou depois disto. O lugar e a postura
não são de rigor; é indiferente que seja
na igreja, em casa, no caminho: que se
fique de joelhos, em pé ou sentado.
É também permitido dividir esta
hora em diversos exercícios de piedade,
por exemplo: pode-se ler durante um
quarto de hora algumas reflexões sobre
a Paixão; um segundo quarto de hora
seria empregado em meditar o que se
leu; o terceiro, em fazer a Via-Sacra; o
quarto, em rezar a coroa das sete dores
de Nossa Senhora.
Numa palavra, cada qual pode rezar
as orações mais convenientes à sua de-
voção. É então o momento favorável
para orarmos pela santa Igreja, pelo
nosso santo Padre o Papa, por nossa fa-
mília, pela propagação da fé, pela con-
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versão dos pecadores, pelos agonizan-
tes, pelas almas do purgatório, etc.
Vê-se que a Hora Santa, assim com-
preendida, pode muito facilmente se
praticar em comum no santuário da fa-
mília; destarte tornar-se-á ainda mais
agradável ao Coração de Jesus, que
disse no Evangelho: Quando dois ou três
entre vós estiverem reunidas em meu nome,
estarei no meio deles (mt 18, 20).
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Chorará então com Jesus estes pe-
cados, fazendo fervorosos atos de con-
trição. Depois, confessa-os ao padre
como se fosse a Jesus Cristo mesmo.
Enfim, cumpre a penitência imposta, e
toma de novo a resolução de não cair
mais nas faltas que causaram tantas
amarguras a este Coração tão digno de
amor. Aí está um excelente método para
se fazer a Hora Santa e a confissão: e
quão fácil, proveitoso, e ao alcance de
todos!
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nhão nesse dia, sendo a Hora Santa sua
preparação natural.
Também, não deixemos de animar
os fiéis, ainda os mais ocupados, a ofe-
recer esta homenagem ao divino Cora-
ção que tanto nos ama. A Hora Santa
será para nós escola das maiores vir-
tudes, tesouro de graças inapreciáveis,
fonte de consolações não raramen-
te necessárias neste vale de lágrimas,
enfim penhor de proteção especial da
parte do Coração de Jesus.
Então o Salvador não dirá mais com
o Profeta: Eu busquei quem me consolasse
e não encontrei (sl 68, 21); mas verá em
nós a realização desta palavra do Espíri-
to Santo: Ele será consolado em seus servos
(2mac 7, 6).
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MÊS DE JUNHO
CORAÇÃO DE JESUS
AFLIGIDO POR CAUSA DOS
PECADOS DO MUNDO
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Seria muito, alma fiel, consagrar
cada mês uma hora a esta medita-
ção tão salutar? Jesus trazia todos os
homens no seu Coração, porque ele
amava todos. Mas sendo eles todos
pecadores, que eram para o Coração
amante de Jesus, senão cruéis espinhos
que o dilaceravam, segundo o pensa-
mento de Santo Agostinho?
É, portanto, verdade que nós temos
sido os algozes desse Coração amabilís-
simo, e algozes mais cruéis do que aque-
les que rasgaram o corpo do Salvador.
Com efeito, procurai no Jardim das Oli-
veiras, e não achareis nem algozes para
o flagelar, nem espinhos, nem cravos, e,
entretanto, o sangue divino corre. Ele
teve, diz São Lucas, um suor de sangue
que corria na terra em forma de gotas
de chuva (lc 22, 44). Qual pode ser a
causa deste suor?
É a previsão de seu suplício que o
lança nestas agonias? Não, porque ele
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se ofereceu espontaneamente a pade-
cê-lo (is 53, 7). Ah, não busquemos aqui
outra causa que os nossos pecados. Da
mesma sorte que o lagar faz correr o
vinho da uva, assim nossos pecados fi-
zeram correr o sangue das veias sagra-
das de Jesus Cristo.
Quantas vezes não temos contri-
buído para esta aflição aumentando o
peso de nossas faltas? Ah, pesemos aqui
a malícia do pecado, a fim de maldizer
para sempre o que tanto afligiu o Cora-
ção deste bom Senhor.
O pecador aflige o Coração de
Jesus, porque desonra a Deus (rm 2, 23),
cuja glória o Salvador veio restabelecer.
Não renuncia, com efeito, à graça santi-
ficante e à amizade divina por uma in-
digna satisfação? Se o homem consen-
tisse em perder a amizade divina para
ganhar um reino, e até o mundo inteiro,
certamente faria imenso mal, porque a
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amizade de Deus vale mais que o mundo
e mil mundos.
Mas por que o pecador ofende a
Deus? Por um pouco de terra, por um
movimento de cólera, por um prazer
brutal, por um fumo, por um capricho.
Quando o pecador se põe a deliberar
se consentirá ou não no pecado, toma,
digamos assim, a balança na mão, para
ver o que pesa mais, o que é preferível,
a graça de Deus, ou essa paixão, esse
fumo, esse prazer; quando em seguida
dá seu consentimento, declara, quanto
o pode fazer, que essa paixão, esse
prazer, valem mais que a amizade de
Deus!
Não é isto desonrar a Deus? O pe-
cador aflige também o Coração de
Jesus, porque entrega-se ao poder do
demônio, cujo império o Salvador veio
destruir. Quando a alma consente no
49
pecado, diz a Deus: Senhor, retirai-vos de
mim (jó 21, 14).
Ela não o diz com a boca, mas de
fato, porque sabe que Deus não pode
ficar com o pecado: pecando, ela o
obriga então a separar-se. E expulsando
a Deus de seu Coração, faz entrar nele
imediatamente o demônio para tomar-
-lhe posse. Pela mesma porta pela qual
sai Deus, entra o inimigo que vem es-
tabelecer-se como senhor no lugar de
Deus.
Quando se batiza um menino, o
Coração de Jesus se regozija porque o
padre intima ao demônio a ordem de
sair dessa alma e dar o lugar ao Espírito
Santo. Mas quando o homem consente
no pecado, o Coração divino se aflige,
porque o pecador diz a seu Deus que
saia de sua alma e cede o lugar ao demô-
nio. Não é isto restabelecer o império de
Satanás, destruído pela Redenção?
50
Enfim, o que aflige o Coração de
Jesus é que o pecador o obriga a pro-
nunciar sobre sua cabeça a fatal sen-
tença de condenação: Retira-te de mim,
maldito, vai para o fogo eterno (mt 25,
41). Desgraçado daquele que rejeita as
graças que Jesus Cristo lhe granjeou
por tantos trabalhos e dores!
Ah, seu maior tormento no infer-
no será pensar que Deus, para atraí-lo
a seu amor, deu sua vida sobre uma
cruz, e que ele, de seu motu proprio, quis
se perder, e de modo irreparável para
sempre! Durante toda a eternidade! Ó
eternidade!
Prática
Oferecerei muitas vezes ao eterno Pai
as aflições do Coração de Jesus, em re-
paração de meus pecados e de todo o
mundo.
51
Afetos e súplicas
Assim, meu Jesus, não foi a vista dos
açoites, dos espinhos e da cruz, que vos
causaram tanta aflição no Jardim das
Oliveiras, foi a vista de meus pecados,
cada um dos quais acabrunhou vosso
Coração com tanta dor e tristeza, que
vos fez suar sangue e vos reduziu à
agonia. Eis aqui como respondi ao amor
que me testemunhastes morrendo por
mim.
Ah, dai-me parte da dor que sen-
tistes por causa de meus pecados no
Jardim das Oliveiras, a fim de que esta
dor me conserve em aflição durante
todo o resto de minha vida. Ó meu terno
Redentor, pudesse eu agora vos conso-
lar, por meu arrependimento e amor,
tanto quanto vos tenho afligido!
Do fundo da minha alma me arre-
pendo, ó amor meu, de ter preferido a
vós satisfações miseráveis: disto me ar-
52
rependo, ó meu Jesus, e amo-vos sobre
todas as coisas.
Apesar de meus pecados, sei que
me pedis meu amor: Amareis, dizeis, o
Senhor vosso Deus de todo vosso Coração e
de toda vossa alma (mt 22, 37). Sim, meu
Deus, eu vos amo de todo o meu cora-
ção, eu vos amo de toda a minha alma:
dai-me vós mesmo todo o amor que de
mim quereis.
Se outrora procurei a mim mesmo,
quero agora procurar somente a vós:
conhecendo que me tendes amado
mais do que os outros, quero também
vos amar mais que os outros. Atrai-me
sempre, meu Jesus, atrai-me cada vez
mais a vosso amor pelo odor de vossos
perfumes, isto é, pelos doces atrativos
de vossa graça.
Dai-me, numa palavra, a força de
corresponder a ternura de um Deus
para com um verme da terra ingrato e
53
infiel. Ó Maria, Mãe de misericórdias, as-
sisti-me com vossas orações.
Oração jaculatória
Eterno Pai, perdoai-me pelos mereci-
mentos do Coração de Jesus.
Exemplo
Santa Rosa de Lima teve o feliz desti-
no de tornar-se esposa do Coração de
Jesus. Um dia em que ela estava cer-
cada de alguma de suas companheiras,
veio uma borboleta, que, voando algum
tempo a sua esquerda, pousou sobre
seu coração. Depois de ter estado aí
alguns instantes numa atividade contí-
nua, voou, deixando na roupa da virgem
donzela um coração perfeitamente
desenhado.
Todas as pessoas presentes nota-
ram com surpresa esta pintura miste-
riosa, mas sem compreenderem sua
significação. Rosa também não compre-
54
endeu. Somente ouviu uma voz que lhe
dizia: Rosa, dá-me teu coração.
Um dia, Jesus Cristo lhe apareceu
com sua divina Mãe, e disse-lhe esta
palavra, a mais suave e amável que um
Deus pode dirigir à sua criatura: Rosa
de meu coração, sede para sempre minha
esposa fiel.
Para não perder a lembrança de
tão grande benefício, ela formou o de-
sígnio de mandar fazer para si um anel
nupcial. Rosa comunicou este projeto
a seu irmão, sem lhe falar do que su-
cedera. Este bom irmão, desejando ver
logo cumprida a vontade de Rosa, tirou
medida no dedo dela e desenhou o anel
num papel, ornando-o com um pequeno
medalhão representando Jesus Cristo.
Restava só tratar-se da insígnia que
devia cercá-lo. Rosa, com o olhar, con-
sultava a seu irmão; este não fez esperar
sua decisão: tomou a pena e escreveu
estas palavras: Rosa de meu coração, sede
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minha esposa. Grande foi o espanto desta
santa donzela, vendo seu irmão repro-
duzir, sem o saber, as mesmas palavras
que Jesus Cristo lhe dirigira na maravi-
lhosa aparição com que a honrara.
Ela foi esposa fiel, porque, não obs-
tante ficar no mundo, amou a Jesus
Menino, a Jesus nos tormentos, e a
Jesus na Eucaristia, de um modo supe-
rior ao que nos é possível imaginar. Na
idade de quatorze anos já ela comunga-
va três vezes por semana. Rosa prepara-
va-se para o divino banquete, como se
cada vez fosse a última de sua vida.
Não há neste mundo, dizia ela, prazer,
nem gozo que possa dar uma ideia da ale-
gria que sinto no delicioso festim, em que
minha alma faminta come a carne de meu
Deus.
Por um efeito de sua devoção para
com o Santíssimo Sacramento, ela as-
sistia cada dia a todas as missas que se
diziam na igreja dos dominicanos. Nos
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dias em que havia exposição do San-
tíssimo, ficava em adoração desde a
manhã até a tarde.
Quando se nomeava o Santíssimo
Sacramento na conversação, ela inclina-
va a cabeça; um de seus mais deliciosos
prazeres era ouvir exaltado pelos pre-
gadores este inefáveis mistérios. Não
contente em ornar os tabernáculos com
flores naturais que ela cultivava no seu
jardim, fazia artificiais em beleza surpre-
endente. Uma parte de suas noites era
consagrada a esta ocupação, reservan-
do o dia para trabalhar para sua família,
que não tinha grande fortuna.
A feliz esposa o Coração de Jesus
deixou a terra para receber a coroa das
virgens, em 1617.
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