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A questão LGBT e as divergências no


Movimento Comunista Internacional
16 de maio de 2023

Por Gabriel Landi Fazzio – membro do Comitê Central e do Comitê


Regional-SP do PCB

“72) Defendemos a construção de um movimento LGBT que compreenda classe em


seu sentido marxista, isto é, não de modo idealista. Em outras palavras,
reivindicamos a heterogeneidade da classe trabalhadora e a articulação dos
interesses particulares das LGBTs que em sua maioria constituem a classe
trabalhadora. […]
73) Partindo da premissa de que a luta contra as opressões deve estar inserida na
luta anticapitalista e anti-imperialista, devemos buscar construir um campo
socialista revolucionário no movimento LGBT.”
XVI Congresso do PCB

Aspectos gerais da discussão

Os artigos recém-publicados dos camaradas Carlos Arthur [1] (citando o camarada


turco Kemal Okuyan, do TKP) e Ivan Pinheiro [2] contribuíram para reavivar na
literatura do movimento comunista brasileiro a discussão sobre uma série de
questões de princípio (teórico-!losó!cas e historiográ!cas, podemos dizer). Só por
essa contribuição, ambos camaradas já merecem uma efusiva saudação – pois, como
já indicava Lênin, sem literatura revolucionária comum não pode haver atividade
revolucionária comum. Em seu artigo, o camarada Carlos Arthur se propõe a elencar
aqueles que considera os cinco maiores desvios político-ideológicos que o
Movimento Comunista Internacional deve enfrentar e superar no próximo período:

1) o etapismo estratégico;
2) o nacional–chauvinismo;
3) o doutrinarismo e a in"exibilidade tática;
4) a LGBTfobia e a transfobia;
5) o moralismo quanto às drogas.

Em sua intervenção, o camarada Ivan discorre principalmente a respeito dos


primeiros três desvios, fazendo considerações que me parecem irretocáveis no que
diz respeito aos problemas do etapismo, do chauvinismo e da assim chamada
“in"exibilidade tática” no atual quadro do MCI. No entanto, tratando em especial da
“questão da LGBTfobia”, o camarada confessa “ter pouco acúmulo sobre este
debate” e sua “ignorância a respeito”, de modo que lhe “pareceu exagero o que ele
[Carlos Arthur] chama de ‘atrasada concepção LGBTfóbica e transfóbica no interior
dos Partidos Comunistas do mundo’ e, assim sendo, soou”-lhe “estranha sua
proposta de que o PCB priorize tornar-se a vanguarda da luta contra estes desvios
que considera haver no Movimento Comunista Internacional.”

Quando um camarada admite de boa fé sua falta de acúmulo em uma determinada


questão, sobre a qual foi forçado a debruçar-se parcialmente devido a outros temas
que pretendia debater, é sempre instrutivo que a oportunidade seja utilizada para
fazer efetivamente avançar o acúmulo geral de nossa discussão a respeito desta
questão especí!ca, corrigindo assim não só esse camarada, mas o conjunto do
movimento revolucionário.

Mas, antes de abordar a “questão LGBT” propriamente dita, valeria a pena re"etir
sobre um aspecto metodológico da discussão. Embora o camarada Carlos Athur
elabore uma lista de cinco desvios especí!cos que considera os “maiores”, e o
camarada Ivan discorde de que todos têm o mesmo “peso político”, pouco se
discute sobre os critérios para medir a “grandeza” de um desvio político-ideológico.

Sem um critério de!nido, a discussão resvala no formalismo: caímos em um debate


sobre o “estatuto teórico” das questões, o “nível de abstração” delas etc. E nesse
âmbito, de fato, há grandes diferenças: enquanto o “etapismo”, o “nacional-
chauvinismo” e a “in"exibilidade tática” são desvios que dizem respeito aos
objetivos mais gerais do movimento comunista e suas mediações práticas, as duas
outras questões se referem a dramas muito mais imediatamente concretos da vida
das amplas massas da classe trabalhadora. Nesse segundo “tipo”, na verdade,
poderíamos elencar inúmeros outros problemas que, mal compreendidos, resultam
em graves desvios: não só o machismo e o racismo, cuja ausência na discussão até
aqui salta aos olhos, mas também o fortalecimento do militarismo, da consciência
religiosa, do pequeno-empreendedorismo etc. – além de toda uma outra série de
questões que, repetimos, podem dar margem a graves desvios oportunistas e
esquerdistas, se mal formuladas. Como dizia Lênin:

“Não há nem pode haver uma forma de luta política, uma situação política que
não acarrete o risco de desvios. Se não houver instinto de classe revolucionário,
se não houver uma visão do mundo integral que esteja ao nível da ciência, se
não houver (diga-se sem pretender suscitar a cólera dos camaradas neo-
iskristas) juízo na cabeça, então é perigosa tanto a participação nas greves –
pode conduzir ao ‘economicismo’ -; como a participação na luta parlamentar –
pode acabar no cretinismo parlamentar […]” [3]

Mas encerrar o debate aqui, seria cair numa discussão escolástica, desligada da
práxis social, medindo e comparando a importância de “valores universais”,
diferenciando as “questões históricas maiores” e as “questões menores do dia a dia”
– o que signi!caria, no !m das contas, virar de ponta cabeça o problema teórico-
político da conexão entre a exploração e opressão cotidiana sofrida pelo
proletariado e os objetivos revolucionários !nais dessa mesma classe. Para uma
análise concreta da importância histórica de cada uma dessas questões, o nosso
critério deve ser a própria atividade revolucionária. Não se trata de debater qual
desvio é “pior em si”, mas sim quais desvios são mais in"uentes, quais desvios mais
imediatamente desorganizam e desarmam ideologicamente o movimento
comunista, quais desvios mais di!cultam ao movimento comunista a realização de
seus objetivos !nais, por meio da sua “fusão” ao movimento operário e popular no
curso de uma luta revolucionária etc.[4]

É no terreno desse critério, me parece, que devemos encarar o problema. Nesse


sentido, em primeiro lugar, concordo com o camarada Ivan quando considera
exageradas as críticas à “in"exibilidade tática” de alguns partidos comunistas. O
“excesso de "exibilidade” parece um problema muito mais grave no MCI
contemporâneo.

Mas, ainda assim, esse enquadramento do debate produz uma série de confusões –
não haveria outros desvios mais graves, ou ao menos tão graves quanto esses (já
citei alguns)? Mesmo entre esses cinco, haveria alguma gradação de importância?
Ou interconexões internas? Por exemplo: é possível pensar no nacional-chauvinismo
em separado do etapismo? Ambos não constituem, ainda mais nesses tempos em
que rufam os tambores das guerras nacionais, desvios reformistas que caminham
de mãos dadas em inúmeros países? Ou: é possível pensar no problema da “guerra
às drogas” sem pensar no racismo e no militarismo?

Esse modo de ranquear os desvios, me parece, abriu as portas para que o camarada
Ivan cometesse um grande equívoco: buscando diferenciar o signi!cado
internacional de uns desvios em comparação com outros, acabou por secundarizar
um em relação a outros. Digo isso porque, de fato, nesse sentido limitado (o
signi!cado internacional de cada desvio), vejo sim uma diferença entre as questões
elencadas – não quanto à sua importância em abstrato, mas quanto ao seu
enquadramento à luz das atuais polêmicas do MCI.

Em outras palavras: as questões que estabelecem uma relação conceitual direta


com os problemas da estratégia e da tática socialista do movimento comunista
(envolvidas nos três primeiros problemas elencados) são questões que hoje
delineiam grandes diferenciações no interior do MCI, demarcando de modo nítido –
vide as resoluções do XVI Congresso do PCB [5] – um bloco revolucionário. São
questões que traçam linhas de demarcação. Infelizmente, contudo, não se pode
dizer o mesmo da questão LGBT: nesse caso, encontramos não apenas organizações
revolucionárias que nutrem concepções profundamente errôneas, mas também as
organizações etapistas que se dividem desde o !erte com concepções liberais
essencializantes [6] até o chafurdar no lamaçal do “feminismo radical” transfóbico.

Nesse sentido, são de fato desvios de diferentes tipos: os primeiros são desvios que
distinguem campos no Movimento Comunista Internacional; os últimos
representam desvios amplamente difundidos em ambos campos. Uns que
demarcam linhas nítidas entre a política revolucionária e a política possibilista; o
outro, não – o que, poderíamos dizer em algum sentido, torna esse desvio ainda
mais grave e digno de atenção, pelo quão difundidos são!

Uma “medição da gravidade” de um desvio (se não deseja se limitar uma pregação
moral esterilizante contra “qualquer possibilidade de erro”, uma busca por
“militantes perfeitos”, “organizações perfeitas” etc.) só pode signi"car isso: a
urgência da solução de uma questão teórica e prática, a urgência da correção de
uma determinada orientação errônea. Nesse sentido, então, embora as questões
elencadas pelo camarada Carlos Arthur sejam de “diferentes naturezas”, sem
dúvida todas elas tocam em polêmicas candentes do movimento comunista
internacional contemporâneo.

A “questão LGBT”

Sobre a LGBTfobia, o camarada Ivan a"rma: “não imagino que, entre comunistas, se
trate de uma fobia, que subentende aversão, rejeição, escárnio, preconceito e até
mesmo perseguição ao seu objeto.” De fato, o termo “LGBTfobia” padece dessa
limitação “psicologizante” aparente. Quando debatemos racismo e machismo, ainda
que o aspecto da “fobia” (individual ou social) possa surgir na discussão, é bem
evidente de partida que tratamos de fenômenos sociais, não apenas da psicologia
individual (ainda que, também no uso desses dois termos, predominem
interpretações culturalistas, que resvalam para a mesma concepção idealista da
questão).

Mas, verdade seja dita, mesmo essas re!exões “conceituais” não nos permitem
fugir do fato de que, ao longo de muitas décadas, grandes parcelas do movimento
comunista internacional sustentaram posições efetivamente LGBTfóbicas. Em uma
breve recapitulação da história dessa polêmica no MCI, registramos que o primeiro
impulso positivo da revolução de 1917 – que revogou as leis czaristas que
criminalizavam a homoafetividade e nomeou Gueórgui Tchitchérin, homossexual
reconhecido, para o importante cargo de Comissário do Povo para as Relações
Exteriores, em 1919 – não foi profundo o su"ciente para sustentar-se de modo
duradouro. Não tardaria para que posições francamente reacionárias a esse
respeito começassem a se disseminar em meio ao Movimento Comunista
Internacional.

No início da década de 1930, a homossexualidade começou a ser vista, em alguns


círculos importantes do Estado e do Partido Comunista soviéticos, como resultado
da decadência moral e ideológica da burguesia. A comunista alemã Clara Zetkin
contrapôs a essa tendência conservadora no interior do movimento comunista
russo e internacional. Seu esforço foi em vão. Não apenas as relações sexuais entre
homens foram criminalizadas na URSS em 1934 como, na mesma época, Máksim
Górki escreveu: “Nos países fascistas, a homossexualidade, açoite da juventude,
!oresce sem o menor castigo; no país onde o proletariado alcançou o poder social,
a homossexualidade tem sido declarada delito social e é severamente castigada. Na
Alemanha já existe um lema que diz: ‘Erradicando os homossexuais, desaparece o
fascismo’”.

O Comissário do Povo para a Justiça, Nicolái Krilênko, em 1936, assim se exprimiu:


“As massas trabalhadoras acreditam nas relações normais entre os sexos […]. Quem
fornece a principal clientela para esse assunto (homossexualismo)? As massas
trabalhadoras? Não! Os desclassi"cados, os resíduos da sociedade ou
remanescentes das classes exploradoras.” A segunda edição da Grande
Enciclopédia Soviética (1952) agora dizia: “A origem do homossexualismo está
ligada às condições sociais cotidianas. Para a esmagadora maioria das pessoas que
se entregam ao homossexualismo, essas perversões cessam assim que encontra um
ambiente social favorável”. [7]

A esse respeito, a Reconstrução Revolucionária do Movimento Comunista


Internacional faria bem em voltar seus olhos para Cuba, um país cujo governo em
poucas décadas passou da LGBTfobia semi-institucional para uma autocrítica
vigorosa e profunda por parte de seus próprios dirigentes (Fidel Castro incluso),
passando a encampar uma legislação de vanguarda no tema – o Código das Famílias,
em Cuba, é hoje sem sombra de dúvidas o mais avançado do mundo. [8] O Estado
socialista é hoje um aliado objetivo da população LGBT cubana.
Trata-se, portanto, de mais do que “diferenças no trato desta questão entre os
PCs”. De fato, se hoje poucos PCs sustentam concepções tão reacionárias sobre a
questão LGBT como as de Górki e Krilênko, citadas acima, e muitos apenas
“subestimam” as implicações da questão LGBT para a luta de classes, talvez isso seja
um avanço – mas um “avanço” insu"ciente, aquém das necessidades históricas da
luta política do proletariado!

Aqui, evidentemente, como em toda questão, são possíveis dois tipos de desvios.
Por um lado, é possível um desvio que podemos chamar de economicista, ou
dogmático, que expressa a incapacidade de compreender como o próprio
proletariado é afetado pelas opressões decorrentes de orientação sexual e
identidade de gênero. É um desvio que se manifesta nitidamente na ideia de que as
lutas contra as opressões particulares de determinadas camadas da sociedade
“dividem a classe trabalhadora”. Essa forma de conceber o problema é duplamente
equivocada. Em primeiro lugar, porque invisibiliza por completo as camadas LGBTs
do próprio proletariado. Em segundo lugar, porque mesmo no caso das camadas
não-proletárias atingidas pela LGBTfobia, uma postura de abstenção diante de sua
opressão é absolutamente inaceitável, do ponto de vista do leninismo:

“Não é su"ciente esclarecer os operários sobre sua opressão política (como


não o seria esclarecê-los sobre a oposição de seus interesses em relação aos de
seus patrões). É necessário fazer a agitação a propósito de cada manifestação
concreta desta opressão (como "zemos em relação às manifestações concretas
da opressão econômica). Ora, como esta opressão se exerce sobre as mais
diversas classes da sociedade, manifesta-se nos mais diversos aspectos da vida
e da atividade pro"ssional, civil, privada, familiar, religiosa, cientí"ca etc. etc.
[…]

A consciência da classe operária não pode ser uma consciência política


verdadeira, se os operários não estiverem habituados a reagir contra todo
abuso, toda manifestação de arbitrariedade, de opressão e de violência,
quaisquer que sejam as classes atingidas; a reagir justamente do ponto de vista
social-democrata, e não de qualquer outro ponto de vista. A consciência das
massas operárias não pode ser uma consciência de classe verdadeira, se os
operários não aprenderem a aproveitar os fatos e os acontecimentos políticos
concretos e de grande atualidade, para observar cada uma das outras classes
sociais em todas as manifestações de sua vida intelectual, moral e política; se
não aprenderem a aplicar praticamente a análise e o critério materialista a
todas as formas da atividade e da vida de todas as classes, categorias e grupos
de população.” [Lênin, em Que fazer?]

Não é, portanto, um desvio novo, mas uma nova forma do velho economicismo.
Inclusive, vale lembrar: à época do debate sobre a autodeterminação dos povos,
Lênin de"niu como “economicismo imperialista” a subestimação da luta contra a
opressão nacional-étnica por parte de alguns “esquerdistas”, como até mesmo Rosa
Luxemburgo. Lênin criticou aqueles marxistas que secundarizavam as opressões
nacionais com base na ideia de que “a revolução socialista tudo resolverá! Ou, como
por vezes dizem os partidários das concepções de P. Kíevski: a autodeterminação
sob o capitalismo é impossível, sob o socialismo é supér!ua.” Há quem pense
parecido sobre os temas chamados de “identitários”: é inútil falar deles, pois sob o
capitalismo sempre haverá opressão, e sob o socialismo ela acabará
automaticamente. Não compreendem que a revolução proletária é impossível sem
o empoderamento (não em sentido subjetivista, mas prático: a elevação à condição
de classe dominante) das milhões de pessoas mulheres, negras, LGBT etc., que
compõe concretamente, ao lado de uma camada branca, masculina, heterossexual,
cisgênero etc., a classe trabalhadora! Forjar essa unidade revolucionária da classe
trabalhadora na luta contra toda exploração e toda opressão é a razão de existir do
Partido Comunista, uma vez que essa unidade não se dá espontaneamente, com
cada luta travando seu curso separado e particular.

No caso da questão LGBT, talvez pudéssemos falar então em um “economicismo


patriarcal”. Retornarei a isso mais adiante.

Por outro lado, não é raro encontrarmos na esquerda no geral, mas também no MCI,
o caso oposto, de um desvio oportunista, ou culturalista, neste tema. Esse desvio se
expressa na incapacidade de diferenciar a perspectiva proletária de luta contra a
LGBTfobia das perspectivas burguesas e pequeno-burguesas, na tendência a aceitar
acriticamente as formulações predominantes nos movimentos contra a opressão
em cada país, sem formular concepções próprias, marxistas-leninistas. Ou seja: a
incapacidade de compreender que a luta por uma política proletária para o "m da
opressão LGBT signi"ca também uma luta ideológica contra as tendências liberais
ou obscurantistas que predominam não só no movimento LGBT, mas também no
movimento feminista, no movimento negro etc. Nesse caso, encontramos toda uma
série de organizações autoproclamadas marxistas (especialmente as mais
“possibilistas”) que fazem concessões de princípio às palavras de ordem do
feminismo transfóbico, em alguns casos; em outros, às concepções materialistas
metafísicas que a"rmam que a orientação sexual é algo dado biologicamente no
nascimento, e que certas pessoas nascem gays, “por isso mesmo devem ser aceitas”
– numa “inversão liberal” do discurso biológico reacionário, e em uma tentativa
estreita de combater propostas reacionárias com a tal “cura gay” com um
argumento pseudo-materialista. Não me alongarei em exemplos, basta constatar a
existência de inúmeras manifestações possíveis desse desvio. Nesses casos, é bem
comum que uma “fraseologia revolucionária” no campo moral/cultural se combine a
um pragmatismo reformista no plano político.

Valeria aqui destacar, contudo, que o predomínio de tendências liberal-reformistas


não é uma exclusividade dos movimentos contra a opressão LGBT, ou de gênero, ou
racial. Ao contrário: também no próprio movimento sindical não é assim? Também
ali não predominam hoje tendências liberais, “cidadãs”, corporativistas,
economicistas, obreiristas – poderíamos dizer, então, tendências “identitárias” do
movimento operário? Como muito corretamente indicou um camarada:

“O marxismo-leninismo nos ensina que a luta sindical, sozinha, não é garantia


de luta revolucionária. A luta sindical mobiliza as pautas econômicas e
imediatas da classe trabalhadora, e sendo assim, é fundamental. Mas também
é fundamental evoluir das pautas econômicas de cada categoria de trabalho
para um programa político que possa uni"car a classe operária e as demais
classes trabalhadoras em um todo coeso, direcionado à tomada do poder, à
derrubada do Estado burguês, da escravidão assalariada, rumo ao socialismo.
Aqui entra o papel do Partido Comunista.

[…] Se a luta sindical sozinha não garante luta revolucionária, podendo ser
desviada para o peleguismo, a identidade do “trabalhador” também não
garante nada, podendo ser um instrumento desse mesmo peleguismo.

O Partido Comunista deve se preocupar com a unidade da classe trabalhadora.


Isto é certo. Mas a sua fórmula para essa unidade não é a diluição sem
critérios.” [9]

Nesse sentido, portanto, concordo com o camarada Carlos Arthur: o Partido


Comunista Brasileiro, tendo avançado imensamente nos aspectos teóricos dessa
questão, e tendo dado seus primeiros passos vigorosos para a sua solução prática,
com a criação do Coletivo LGBT Comunista, tem muito a contribuir para a
formulação adequada da questão e para a luta ideológica no Movimento Comunista
Internacional. É verdade que nisso não estamos sozinhos: podemos citar o exemplo
do TKP turco, com sua luta secular implacável contra o moralismo religioso, ou o
exemplo do Connoly Youth Movement irlandês etc. Mas isso não signi"ca que
devamos menosprezar o signi"cado de nossas conquistas teóricas e práticas.

Vale destacar aqui, além das Resoluções Congressuais citadas na abertura desse
texto, uma série de notas políticas do Coletivo LGBT Comunista que armam
ideologicamente a militância comunista tanto para a luta contra a opressão quanto
para a luta contra o liberalismo. Citarei apenas um trecho de uma nota, mas muitas
outras podem ser consultadas no site do Coletivo:

“Quando falamos de movimento negro e movimento LGBT, o fundamento do


discurso racista em traços fenotípicos e a crença de que a sexualidade é um
dado inato da personalidade do indivíduo fomentam tal atuação em paralelo
por parte de determinadas organizações. Parte do movimento negro aceita
sem questionamento a concepção da existência de uma ‘raça branca’, também
biológica, que utiliza da exploração e da violência contra a negritude para
manter relações de poder que a bene"cia no seio social. Concepção
semelhante é adotada por parte do movimento LGBT, que entende que
pessoas homossexuais sempre existiram e que ao longo da história foram
sucessivamente silenciadas por integrantes de uma sexualidade dominante, a
heterossexualidade. Ambos entendimentos, portanto, conduzem à ideia de
que a violência contra esses grupos sempre existiu e que sempre esteve
vinculada a traços essenciais ou biológicos, não necessariamente sociais.

Este modelo teórico, contudo, falha ao nos explicar as bases materiais que
fundamentam tais relações de violência. A humanidade é um gênero de seres
composta por indivíduos singulares, apresentando uma diversidade de
interesses, sonhos, desejos e características físicas. A questão que resta é
desvelar em que momento um conjunto de tais características deixam de ser
individuais e tornam-se sociais e políticas. Em que momento tornam-se
determinantes ao ponto de cindir a humanidade em grupos que se relacionam
hierarquicamente, e com quais bases materiais e econômicas o discurso que
fundamenta as relações de violência e de exploração é criado.
Compreender as determinações sociais das diferentes identidades políticas é
tarefa fundamental para que os movimentos sociais não confundam seus
inimigos. É identi"cando e combatendo as causas do problema que se pode
estabelecer uma estratégia para sua superação. Enquanto parte desses
movimentos permanecerem eclipsadas pelo discurso essencialista e biológico,
di"cilmente os movimentos sociais formularão políticas que tenham como
objetivo superar de uma vez por todas o racismo e a LGBTfobia.” [10]

Economicismo patriarcal?

“Num velho manuscrito inédito, redigido em 1846 por Marx e por mim, encontro a
seguinte frase: ‘A primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a
mulher para a procriação dos "lhos’. Hoje posso acrescentar: o primeiro
antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento
do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão
de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino.” Engels [11]

“Infelizmente, ainda pode dizer-se de muitos companheiros: ‘Raspa um comunista e


encontrarás um "listeu!’ Evidentemente, deve-se raspar no ponto sensível, em sua
concepção sobre a mulher.” Lênin [12]

Não tenho nenhum apreço particular por esse termo recém-cunhado. Minha
intenção foi apenas, aqui, lançar luz sobre a conexão entre a “questão LGBT” e o
machismo, ou melhor dizendo (em termos mais inequivocamente estruturais), o
patriarcado. A ausência dessa re!exão nos textos dos camaradas demonstra ou
uma parca percepção dos problemas práticos que o machismo ainda acarreta no dia
a dia do movimento comunista [13] ou uma incompreensão teórica dessa conexão
inseparável entre a opressão da mulher pelo homem e a opressão de todas as
orientações sexuais e identidades de gênero que “contrariem” essa superestrutura
de dominação patriarcal e as bases estruturais em que ela se funda (a divisão sexual
do trabalho). Os apontamentos das camaradas do Coletivo Feminista Classista Ana
Montenegro indicam com nitidez essa unidade:

“A luta da comunidade LGBTQI+ é permeada de enfrentamentos na sociedade


de base patriarcal, que normatiza um único tipo de família estruturada na
posse de bens, no controle da reprodução de pessoas e na legitimação de um
Estado que por muito tempo legitima opressões àqueles que compõem os
degraus mais baixos da pirâmide social.” [14]
“Como feministas classistas, entendemos que a categoria ‘gênero’ é uma
construção social que, na sociedade capitalista, tem atribuído distintos papéis a
serem cumpridos, determinados historicamente. A construção da posição
social dos homens e das mulheres oprime e marginaliza quem desvia dos
padrões dominantes, também posicionando as mulheres trans e travestis no
polo da feminilidade explorada pela divisão sexual do trabalho. Portanto,
[comentando a transfobia radfem] entendemos que se opor a grupos que
passam por essas opressões de maneira tão violenta na sociedade brasileira é
não compreender o modo de operação capitalista e do patriarcado, o que é
contrário à análise do materialismo histórico e dialético.” [15]

Uma vez desvelada essa conexão, talvez valeria dizer: seria melhor enquadrar toda
essa discussão sob a rubrica do “chauvinismo” – que o camarada Carlos Arthur
limitou à sua dimensão “nacional”, mas que vai muito além disso! Não à toa, o termo
foi usado diversas vezes pelas mulheres comunistas em sua luta contra o
“chauvinismo masculino”. Não à toa, os e as comunistas negros e negras por
diversas vezes condenaram o “chauvinismo branco”. Com tanto ou mais direito,
caberia ao movimento LGBT comunista falar em um “chauvinismo heterossexual e
cisgênero”. E, não à toa, mais uma vez, todos esses chauvinismo se irmanam e
andam de mãos dadas ao lado do chauvinismo nacional e do chauvinismo militarista
no fenômeno que chamamos, genericamente, de fascismo, a forma acabada do
chauvinismo total.

Nesses termos, então, retornando ao começo da discussão, a “questão LGBT” deixa


de aparecer no debate como um problema prático secundário, e revela sua conexão
com o próprio problema estratégico-tático do chauvinismo – ou, entendido em
outros termos, o problema da unidade da classe trabalhadora e da superação na
luta das contradições que a atravessam. Só assim, sob esse enquadramento, o
problema surge em toda sua magnitude histórica, e podemos equacionar o devido
signi"cado estratégico, para o proletariado, da luta contra a homotransfobia, o
machismo e o racismo.

Digo isso tudo, evidentemente, sem qualquer pretensão de ter esgotado o debate,
ou estar isento de qualquer limitação em minha concepção do assunto. Certamente
há muitas e muitos camaradas que dominam todos esses complexos temas muito
mais. Mas considerei importante estabelecer esses pontos de princípios gerais e
introdutórios.
Breves comentários sobre o “moralismo quanto às drogas”

Sem aprofundamentos no tema, gostaria apenas de destacar alguns aspectos da


questão:

Nesses termos especí"cos, a questão parece se apresentar como um problema


moral, subjetivo. É compreensível: já que a guerra aos pobres que se trava a
pretexto da guerra às drogas escandaliza toda pessoa sensível à opressão, o
“moralismo” parece ser a única explicação de um desvio tal qual o menosprezo por
esse tema.

Contudo, assim colocado, faz parecer que o problema das drogas é, principal e
primeiramente, um problema de liberdade de consciência, da liberdade
democrática do uso de substâncias psicoativas etc. Não é a intenção do camarada
Carlos Arthur, visivelmente, que coloca o acento nos aspectos corretos do
problema. Mas ocorre que, de fato, também a incompreensão dessa dimensão do
problema constitui um desvio. Atualmente, a luta ideológica em curso no
movimento pela legalização/discriminalização das drogas exige ir além do problema
da liberdade individual, acentuada pelos setores liberais do movimento em
detrimento da denúncia e do combate à guerra aos pobres propriamente dita.
Felizmente, hoje este movimento aceleradamente pende para a segunda
perspectiva, proletária, em detrimento da perspectiva puramente pequeno-
burguesa do “direito ao uso” sem mais.

Devemos também abordar em nossa propaganda teórica o problema da liberdade e


do uso de substâncias psicoativas, inclusive no sentido de uma propaganda
cientí"ca e materialista. Mas vale frisar que, em nossa agitação, o centro da questão
deve ser o racismo, o militarismo, a guerra aos pobres, e não pode nem deve ser a
“liberdade de escolha” ou não do usuário (que, como o camarada Carlos Arthur
mesmo indicou, pode facilmente levar à conclusão de que é preferível a “liberdade
de escolher a abstinência”, desconsiderando todas as bases materiais do fenômeno
da massi"cação do uso de substância psicoativas em nossa época).

Felizmente, no caso desse desvio, me parece que o movimento proletário


revolucionário brasileiro avançou nos últimos anos muito mais do que frente aos
outros desvios elencados, e a postura demagógica de conciliação com o discurso
religioso sobre as drogas é cada vez mais repudiada pela vanguarda e limitada ao
proselitismo dos reformistas. Trabalhemos para que esse seja um caminho sem
volta, e os comunistas que nutrem quaisquer confusões a esse respeito reti"quem
em tempo seu caminho.

Notas:

[1] https://pcb.org.br/portal2/30248

[2] https://pcb.org.br/portal2/30390

[3] https://www.marxists.org/portugues/lenin/1905/03/30.htm

[4] “A primeira pergunta que surge é a seguinte: como se mantém a disciplina do


partido revolucionário do proletariado? Como é ela comprovada? Como é
fortalecida? Em primeiro lugar, pela consciência da vanguarda proletária e por sua
"delidade à revolução, por sua "rmeza, seu espírito de sacrifício, seu heroísmo.
Segundo, por sua capacidade de ligar-se, aproximar-se e, até certo ponto, se
quiserem, de fundir-se com as mais amplas massas trabalhadoras, antes de tudo
com as massas proletárias, mas também com as massas trabalhadoras não
proletárias. Finalmente, pela justeza da linha política seguida por essa vanguarda,
pela justeza de sua estratégia, e de sua tática políticas, com a condição de que as
mais amplas massas se convençam disso por experiência própria. Sem essas
condições é impossível haver disciplina num partido revolucionário realmente capaz
de ser o partido da classe avançada, fadada a derrubar a burguesia e a transformar
toda a sociedade. Sem essas condições, os propósitos de implantar uma disciplina
convertem-se, inevitavelmente, em "cção, em frases sem signi"cado, em gestos
grotescos. Mas, por outro lado, essas condições não podem surgir de repente. Vão
se formando somente através de um trabalho prolongado, de uma dura
experiência; sua formação é facilitada por uma acertada teoria revolucionária que,
por sua vez, não é um dogma e só se forma de modo de"nitivo em estreita ligação
com a experiência prática de um movimento verdadeiramente de massas e
verdadeiramente revolucionário.” Lênin, Esquerdismo…
https://www.marxists.org/portugues/lenin/1920/esquerdismo/cap01.htm#I

[5] ““129) É preciso fortalecer o bloco revolucionário em articulação no


interior do movimento comunista internacional
internacional, que se reúne anualmente no
Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, assim como contribuir
para a construção do polo revolucionário dos Partidos Comunistas da América
Latina, com inserção su"ciente no movimento operário-popular para barrar a
ofensiva imperialista-capitalista no nosso continente e tirar a direção da classe das
mãos da socialdemocracia. Isso não obstante, é fundamental avançar no sentido de
buscarmos construir um espaço permanente de articulação entre os PC’s da
América Latina, com o objetivo principal de coordenar lutas comuns.

130) O PCB respeita a diversidade de opiniões existente no atual Movimento


Comunista Internacional e busca estabelecer um diálogo com todos os partidos
comunistas do mundo, para trocar avaliações acerca dos processos políticos em
curso e coordenar ações comuns contra a ofensiva burguesa. No entanto, o PCB
deve privilegiar aproximações e ações políticas com os partidos do bloco
revolucionário, que se articulam em espaços como a Iniciativa Comunista
Europeia e a Revista Comunista Internacional
Internacional, preservada a nossa autonomia
política.

131) O PCB considera que é negativo para a classe trabalhadora que os Partidos
Comunistas abram mão de defender o programa revolucionário proletário para
abraçar programas reformistas pequeno-burgueses, seja em nome da “unidade
contra o neoliberalismo”, seja pela “unidade antifascista”. A experiência recente do
nosso país e toda a história do movimento comunista internacional demonstram
nitidamente que, ao invés de gerar um acúmulo de forças, o que isso gera na prática
é o desarmamento político, ideológico e real da classe trabalhadora. A desilusão
gerada pelo não cumprimento das promessas da socialdemocracia é um dos fatores
que contribui para a chegada do fascismo ao poder e a sua aceitação por parte das
massas populares, como já nos apontava a Internacional Comunista antes do
estabelecimento da linha das Frentes Populares, de colaboração com a
socialdemocracia.”
XVI Congresso do PCB:
https://drive.google.com/"le/d/1F_5SvtoZsxCyfsp6dx1gek0kMYEoDTvX/view

[6] https://lgbtcomunista.org/2021/02/02/racismo-lgbtfobia-e-a-armadilha-da-
identidade/

[7] https://pcdob.org.br/noticias/os-marxistas-e-a-homossexualidade/

[8] https://pcb.org.br/portal2/29264
[9] https://lavrapalavra.com/2023/02/01/notas-sobre-a-questao-lgbt-e-o-
movimento-comunista/

[10] https://lgbtcomunista.org/2021/02/02/racismo-lgbtfobia-e-a-armadilha-da-
identidade/
Vide também:
https://lgbtcomunista.org/category/nota-politica/

[11] https://www.marxists.org/portugues/marx/1884/origem/cap02.htm

[12] https://www.marxists.org/portugues/zetkin/1920/mes/lenin.htm

[13] https://coletivominervinocom.wordpress.com/2023/05/03/a-violencia-de-
genero-nas-esquerdas/

[14] https://anamontenegro.org/cfcam/2020/09/23/existimos-e-resistimos-dia-da-
visibilidade-bissexual/

[15] https://anamontenegro.org/cfcam/2021/07/27/feministas-classistas-contra-a-
transfobia-e-em-defesa-da-populacao-trans/

C ATEGORIA GER AL (HT TPS://PCB.ORG.BR/PORTAL2/C ATEGORY/GER AL)

TAG 3B (HT TPS://PCB.ORG.BR/PORTAL2/ TAG/3B)

16 DE MAIO DE 2023

 Segue a luta contra a exploração Solidariedade ativa à camarada So!a


capitalista! Manzano!
(https://pcb.org.br/portal2/30398) (https://pcb.org.br/portal2/30404) 

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PCB, a critério dos editores (Secretariado Nacional do CC). Quando não assinados por
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