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Caro aluno

O Hexag Medicina é, desde 2010, referência na preparação pré-vestibular de candidatos às


melhores universidades do Brasil.
Ao elaborar o seu Sistema de Ensino, o Hexag Medicina considerou como principal diferen-
cial em relação aos concorrentes sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas
e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
Você está recebendo o livro Estudo Orientado. Com o objetivo de verificar se você aprendeu
os conteúdos estudados, este material apresenta nove categorias de exercícios:
• Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha para iniciar o processo de fixa-
ção da matéria dada em aula.
• Fixação: exercícios de múltipla escolha que apresentam um grau de dificuldade médio,
buscando a consolidação do aprendizado.
• Complementar: exercícios de múltipla escolha com alto grau de dificuldade.
• Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais ves-
tibulares do Brasil.
• Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano,
preparando o aluno para esse tipo de exame.
• Objetivas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios de múltipla escolha das universi-
dades públicas de São Paulo.
• Dissertativas (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp): exercícios dissertativos da segunda fase
das universidades públicas de São Paulo
• Uerj (exame de qualificação): exercícios de múltipla escolha que possibilitam a consolida-
ção do aprendizado para o vestibular da Uerj.
• Uerj (exame discursivo): exercícios dissertativos que possibilitam a consolidação do apren-
dizado para o vestibular da Uerj.
Visando a um melhor planejamento dos seus estudos, os livros de Estudo Orientado rece-
berão o encarte Guia de Códigos Hierárquicos, que mostra, com prático e rápido manu-
seio, a que conteúdo do livro teórico corresponde cada questão. Esse formato vai auxiliá-lo
a diagnosticar em quais assuntos você encontra mais dificuldade. Essa é uma inovação
do material didático. Sempre moderno e completo, trata-se de um grande aliado para seu
sucesso nos vestibulares.
Bons estudos!

Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA
Aulas 35 e 36: Concordância verbal I 4
Aulas 37 e 38: Concordância verbal II 24
Aulas 39 e 40: Concordância nominal 42
Aulas 41 e 42: Regências nominal e verbal 54
Aulas 43 e 44: Crase 68

LITERATURA
Aulas 35 e 36: Modernismo no Brasil: 2ª fase - Prosa 86
Aulas 37 e 38: Modernismo no Brasil: 3ª fase 103
Aulas 39 e 40: Poesia no Brasil: 1960 - 1980 118
Aulas 41 e 42: Prosa no Brasil: 1960 - 1980 129
Aulas 43 e 44: Literatura lusófona contemporânea: percepções críticas sobre
a lusofonia 143
GRAMÁTICA
1e8
AULAS 35 E 36
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 25, 26 e 27

CONCORDÂNCIA VERBAL I

E.O. Aprendizagem O Brasil exultou. E 25logo o 26governo brasileiro recebe


os 19emissários de 7Ford como costuma receber os ame-
ricanos em geral: de braços abertos. Começa o trabalho.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A mata resiste, mas 1......... 23Ao passo que os tratores
Conversar pressupõe um diálogo produtivo entre as 28
vão fazendo a 8derrubada para a clareira, 27já as casas
pessoas. Significa dizer que conversar é um processo começam a surgir, o hospital, os postos de higiene, as
cooperativo entre interlocutores. quadras de tênis, as mansões dos diretores. Dentro da
Leia o texto abaixo, que representa uma conversa. floresta amazônica, 12o ianque fizera surgir uma nova
cidade. E tudo 2........ como 11convinha. Três mil caboclos
trabalhavam; um milhão de pés de seringueira eram
plantados. A floresta 36arquejava, mas cedia. E 30quan-
do, decorridos 29apenas dois anos, as seringueiras co-
meçam a despontar em pelotões, em 37batalhões, em
regimentos, ninguém 31mais tem 32dúvida sobre o 20des-
fecho da luta.
Entretanto, Ford ia recebendo e lendo relatórios. E es-
tes contavam histórias diferentes das que figuravam
nos frontispícios dos jornais: definhavam as seringuei-
ras pelo excesso de sol e pela falta de umidade e de
humo. Estavam murchando ao sol da região. À falta de
proteção das sombras da floresta tropical, o 35exército
de seringueiras de Mr. Ford 3........ ao sol. 38Triunfava o
desordenado da selva contra a 39disciplina do seringal.
Devemos concluir daí que 9na Amazônia seja 24de todo
impossível 21estabelecer florestas homogêneas ou que o
33
grande vale seja de todo impróprio para o florescimen-
1. (IFSP) No trecho “a gente pode ter conversas literá- to de uma grande 34civilização? 17Ainda não. Por enquan-
rias”, substituindo-se o sujeito por outro de primeira to, a conclusão a tirar é outra. Na verdade, o que se fez
pessoa do plural, no tempo pretérito perfeito, o resul- nas margens do Tapajós foi transplantar para o trópico
tado é o seguinte: a técnica, os métodos e os processos 13de resultados
a) podemos ter conversas literárias.
14
comprovados apenas em climas temperados ou frios –
b) podíamos ter conversas literárias. a ciência e a técnica do cultivo da terra próprias para os
c) poderíamos ter conversas literárias. trópicos estão ainda em fase empírica e 22elementar.
d) pudemos ter conversas literárias. Adaptado de: MOOG, Vianna. Bandeirantes e pioneiros; paralelo entre
e) pudéssemos ter conversas literárias. duas culturas. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1969. p. 27.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 2. (UFRGS) A derrubada da mata amazônica e o plantio


de seringais são tratados, ao longo do texto, por meio
Por volta de 1928, Henry Ford debatia-se com uma ideia de imagens militares, como em exército de seringueiras
fixa: queria encontrar uma fórmula salvadora para o pro- (ref. 35).
blema do suprimento da borracha para sua indústria.
Estava cansado de aturar os 4preços que os ingleses de Assinale com M as imagens que se referem à mata e
Ceilão 10lhe impunham. Como? 15Plantando borracha na com S aquelas que se aplicam aos seringais.
Amazônia. Não havia o súdito 5inglês Henry 6Wickham ( ) arquejava (ref. 36)
transportado às escondidas para a Inglaterra as mudas
( ) batalhões (ref. 37)
da seringueira da Amazônia? Tudo estava em organizar
seringais homogêneos em terras 18apropriadas. 16Por ( ) Triunfava (ref. 38)
conseguinte, rumo ao Brasil, rumo à Amazônia. ( ) disciplina (ref. 39)

4
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, recem não estar 23na frase, mas que atuam como se
de cima para baixo, é 24
lá estivessem.
a) S – M – S – S. Adaptado de: POSSENTI, Sírio. Malcomportadas línguas.
b) M – S – M – S. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 85-86.
c) M – M – S – M.
3. (UFRGS 2019) De acordo com o autor do texto, a
d) M – S – S – M.
explicação para a concordância verbal da frase ‘Pessoal,
e) S – M – M – S.
leia o livro X’ (ref. 5) está relacionada ao fato de a con-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: cordância verbal se fazer com um sujeito não expresso
nem fonética nem ortograficamente.
1
Recebi consulta de um amigo que tenta 2deslindar se-
Assinale a alternativa em que se encontra outro exem-
gredos da língua para estrangeiros que querem aprender
plo desse mesmo fenômeno gramatical de que trata o
português. 3Seu problema: “se digo em uma sala de aula: autor do texto.
‘Pessoal, leiam o livro X’, como explicar a concordância?
4
Certamente, não se diz 5‘Pessoal, leia o livro X’". a) Meninos, vocês se comportem.
b) Chegaram e saíram em seguida esses meninos.
Pela pergunta, vê-se que não se trata de fornecer regras
para corrigir eventuais problemas de padrão. Trata-se c) Gente, chegaram as pizzas!
de entender um dado que ocorre regularmente, mas d) Gurizada, já terminaram a prova?
que parece oferecer alguma dificuldade de análise. e) Guria, tu já leu o livro que o professor indicou?
Em primeiro lugar, é óbvio que se trata de um pedido TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
(ou de uma ordem) mais ou 6menos informal. Caso con-
trário, não se usaria a expressão “pessoal”, mas talvez Leia atentamente o texto a seguir que servirá de base
“Senhores” ou “Senhores alunos”. para a(s) questão(ões) a seguir.
Em segundo lugar, não se trata da tal concordância ideo- As pessoas se ofendem com quem é autêntico
lógica, nem de silepse (hipóteses previstas pela gramáti-
Marcel Camargo
ca para explicar concordâncias mais ou menos excepcio-
nais, que se devem menos a fatores sintáticos e mais aos “Ser autêntico virou ofensa pessoal. Ou a criatura faz parte
semânticos; 7exemplos correntes do tipo “A gente fomos” do rebanho, ou é um metido a besta.” (Martha Medeiros)
e “o pessoal gostaram” se explicam por esse critério).
Como se pode saber que não se trata de concordância Uma de nossas características enquanto seres humanos
ideológica ou de silepse? A resposta é que, 8nesses casos, gregários vem a ser a necessidade de interação com o
o verbo se liga ao sujeito em estrutura sem vocativo, dife- próximo e, para tanto, precisamos ser aceitos. É na comu-
rentemente do que acontece 9aqui. E em casos como “Pe- nicação com o mundo que nos rodeia que amadurecemos
dro, venha cá”, “venha” não se liga a “Pedro”, 10mesmo nossas ideias e nos tornamos capazes de agir frente ao
que pareça que sim, porque Pedro não é o sujeito. que nos desagrada. Em determinadas situações, é em gru-
11
Para tentar formular uma hipótese 12mais clara para po que nos fortaleceremos e nos motivaremos a continuar.
o problema apresentado, 13talvez 14se deva admitir que Essa necessidade de aceitação é mais forte entre os
o sujeito de um verbo pode estar apagado e, mesmo adolescentes, que querem se autoafirmar junto àque-
assim, produzir concordância. O ideal é que se mostre les com os quais se identifica, ou mesmo junto aos que
que o fenômeno não ocorre só com ordens ou pedi- julgam descolados. A maturidade vem nos tranquilizar
dos, e nem só quando há vocativo. Vamos por partes: nesse sentido, facilitando nossa conformidade com
a) 15é normal, em português, haver orações sem sujeito o que somos e temos, tornando-nos mais aptos a nos
expresso e, mesmo assim, haver flexão verbal. 16Exem- aceitar, a sermos o que pulula aqui dentro.
plos 17correntes são frases como “chegaram e saíram Infelizmente, muitos não conseguem encontrar a pró-
em seguida”, que todos conhecemos das gramáticas; pria individualidade, incapazes que são de se tornarem
b) sempre que há um vocativo, em princípio, o sujeito seres autônomos, com vontades e desejos próprios,
pode não aparecer na frase. É o que ocorre em “me- permanecendo dependentes do julgamento alheio en-
ninos, saiam daqui”; mas o sujeito pode aparecer, pois quanto viverem. Passam a vida seguindo o rebanho ho-
18
não seria estranha a sequência “meninos, vocês se mogêneo do que é comum, socialmente disseminado
comportem”; c) 19se 20forem aceitas as hipóteses a) e como o certo, do que é da maioria, menos de si próprio.
b) (diria que são fatos), não 21seria estranho que a frase Lutam contra si mesmos, deixando adormecidos seus
“Pessoal, leiam o livro X” pudesse ser tratada como se sonhos e aspirações, por medo da censura alheia.
sua estrutura fosse “Pessoal, vocês leiam o livro x”. Se a Isso porque não é fácil viver as próprias verdades, cor-
palavra “vocês” não estivesse apagada, a concordância rer atrás do que faz o nosso coração vibrar, dizer o que
se explicaria normalmente; d) assim, o problema 22real sentimos, exprimir o que pensamos, haja vista o policia-
não é a concordância entre “pessoal” e “leiam”, mas a mento ostensivo de gente que critica agressivamente
passagem de “pessoal” a “vocês”, que não aparece na qualquer um que não siga o rebanho dos ditames e con-
superfície da frase. venções sociais já cristalizadas. Hoje, ser alguém único,
Este caso é apenas um, dentre tantos outros, que nos autêntico, verdadeiro consigo mesmo, é ofensivo e pas-
obrigariam a considerar na análise elementos que pa- sível de ataques condenatórios por parte da sociedade.

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Até entendemos a homogeneidade nas vestimentas e lin- 6. (Espcex (Aman) 2016) Assinale a alternativa que
guajares de adolescentes, porém, a vida adulta nos impõe apresenta uma oração correta quanto à concordância.
nada menos do que viver o que se é, lutar pelo que se acre-
a) Sobre os palestrantes tem chovido elogios.
dita, fazer o que se gosta, sem ferir ninguém, mas agin-
b) Só um ou outro menino usavam sapatos.
do de acordo com o que pulsa dentro de cada um de nós.
Agradar a maioria, enquanto se vive em desagrado íntimo, c) Mais de um ator criticaram o espetáculo.
equivale a uma tortura diária e injusta. Nascemos livres d) Vossa Excelência agistes com moderação.
para sermos nós mesmos, porque não há nada mais belo e) Mais de um deles se entreolharam com espanto.
e prazeroso do que uma vida sem mentiras e frustrações.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Fonte: http://www.contioutra.com/pessoas-se-ofendem-
com-quem-e-autentico/. 27 abr. 2017. Cientistas americanos apresentaram ontem resultados
4. (UTFPR 2018) Assinale a alternativa que reescreve preliminares de uma vacina contra o fumo. O medica-
adequadamente o trecho a seguir, retirado do texto, mento impede que a nicotina – componente do tabaco
eliminando a inadequação nele presente e preservando que causa dependência – chegue ao cérebro. Em ratos
o sentido: “Essa necessidade de aceitação é mais forte vacinados, até 64% da nicotina injetada deixou de atin-
entre os adolescentes, que querem se autoafirmar junto gir o sistema nervoso central.
O Globo,18/12/99
àqueles com os quais se identifica...”
a) Nos adolecentes, que querem se autoafirmar junto 7. (Ifal) Com relação à concordância verbal no último
aqueles com os quais se identifica, a necessidade de período do texto, é correto afirmar que
aceitação é mais forte. a) o verbo teria de ficar no plural concordando com o
b) Esta necessidade de aceitação são mais fortes en- número percentual, que é núcleo do sujeito e está no
tre os adolescentes, que querem se alto afirmarem plural;
junto aqueles quando se identificam. b) é admissível a concordância no singular, porque o
c) Essa necessidade de aceitação é mais forte no ado- substantivo que especifica o número está no singular;
lescente, que quer se autoafirmar junto àqueles com c) a concordância só é admitida no singular, haja vista
os quais se identifica. “nicotina” ser o núcleo do sujeito;
d) No adolescente, onde querem se autoafirmar jun- d) a concordância no singular está errada, uma vez que
to àqueles com que se identificam, a necessidade de o sujeito é “Em ratos vacinados”;
aceitação é mais forte. e) o verbo fica necessariamente no plural, independente
e) Esta necessidade de aceitação é mais forte quando da flexão do substantivo que o especifique, se o sujeito é
adolescentes, porque querem se autoafirmar junto um número percentual acima de 1%
com aqueles em que se identifica.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
5. (IFSP) Leia o trecho abaixo para responder à questão.
“Tu não percebes o drama dos meninos carvoeiros nas O texto abaixo apresenta inadequações, de acordo com
ruas do Recife, teu pensamento voa em outra direção, a norma padrão. A(s) questão(ões) a seguir analisa(m)
por isso não vou escrever-te.” alguns desses problemas.

De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e No caminho de Montevideo, dirigindo pela rota beira-
com a gramática normativa e tradicional, se o pronome -mar obrigatóriamente voce vai passar pelo porto de
tu do trecho acima fosse substituído por Vossa Senho- Montevideo, lá existe um mercado muito sofisticado
ria, ter-se-ia o disposto em uma das alternativas abaixo. com ótimos restaurantes. Vale [à pena] uma parada
Assinale-a. para almoçar no El Palenque, um dos melhores res-
taurantes do Uruguai para comer carnes, é incrivel lá
a) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos dentro! Paramos para conhecer, mas não almoçamos no
carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento voa El Palenque dessa vez, pois estavamos com o almoço
em outra direção, por isso não vou escrever-lhe. marcado na Bodega Bousa e depois a visita a vinico-
b) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos la. Seguimos viagem pela rota 5 em direção a Bodega
carvoeiros nas ruas do Recife, vosso pensamento voa Bousa (fique atento as placas, pois voce pode passar
em outra direção, por isso não vou escrever-vos. despercebido por elas).
c) Vossa Senhoria não percebeis o drama dos meni- (http://cozinhachic.com/diario-de-viagemmontevideo-
nos carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento vinicolas-e-restaurantes).
voa em outra direção, por isso não vou escrever-lhe.
d) Vossa Senhoria não percebeis o drama dos meni- 8. (UTFPR) A expressão: ... pois você pode passar desper-
nos carvoeiros nas ruas do Recife, vosso pensamento cebido por elas, está reescrita, corretamente em:
voa em outra direção, por isso não vou escrever-vos. a) pois você pode passar desapercebido por elas.
e) Vossa Senhoria não percebe o drama dos meninos b) pois elas podem passar por você desapercebido.
carvoeiros nas ruas do Recife, seu pensamento voa c) pois elas podem passar desapercebido por você.
em outra direção, por isso não vou escrever-te. d) pois elas podem passar despercebidas por você.
e) pois você pode passar por elas despercebido.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: criança e do adolescente, de modo que a integridade psí-
quica deve ser sempre resguardada, no afeto e no respei-
Leia o artigo de opinião a seguir e responda à(s) ques- to à dignidade da pessoa humana, desde seu nascimento.
tão(ões) a seguir.
Adaptado de: SENGIK, K. B. Jornal de Londrina. 14 set. 2014.
Ponto de vista. ano 26. n. 7.855. p. 2.
A Lei Bernardo e o assédio moral na família
9. (Uel) Sobre os recursos linguísticos utilizados no tex-
O caso do menino Bernardo Uglione Boldrini chocou o
to, assinale a alternativa correta.
Brasil. Ainda sem julgamento, a história do homicídio do
menino de apenas 11 anos de idade, que tem como prin- a) Em “surge preocupação”, no primeiro parágrafo,
cipais suspeitos o pai, a madrasta e a assistente social mesmo que o substantivo fosse flexionado no plural,
amiga da família, trouxe à tona diversos assuntos, em o verbo se manteria no singular.
especial, a convivência familiar. As versões dos acusados b) Em “surge preocupação”, no primeiro parágrafo,
são diversas e contraditórias, mas a principal questão o substantivo exerce a função de complemento do
reside em torno do tratamento interpessoal dentro da verbo.
entidade familiar. Nesse tocante, surge preocupação com c) Em “sente prazer de hostilizar, humilhar”, no se-
a situação que muitas famílias vivenciam de tratamento gundo parágrafo, o verbo “humilhar” complementa o
cruel ou degradante, que a Lei Bernardo repudia. sentido de “prazer”.
d) Em “tratar de forma cruel o outro”, no segundo
A Lei Bernardo, antiga Lei Palmada, eterniza o nome de parágrafo, o adjetivo se refere tanto à “forma” quan-
Bernardo Boldrini. Em vida, o menino chegou a recla- to a “o outro”.
mar judicialmente dos maus-tratos sofridos no ambien-
e) No terceiro parágrafo, o termo “disciplina” é um
te familiar, demonstrando que, antes de sua morte físi-
substantivo concreto.
ca noticiada, Bernardo já estava sofrendo o chamado
homicídio da alma, também conhecido como assédio TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
moral. O assédio moral é conduta agressiva que gera
a degradação da identidade da vítima assediada, en- A(s) questão(ões) a seguir estão relacionada(s) ao texto
quanto o agressor sente prazer de hostilizar, humilhar, abaixo.
perseguir e tratar de forma cruel o outro. Justamente
essa conduta que o Art. 18-A do ECA, trazido pela Lei 4
À porta do Grande Hotel, pelas duas da tarde, 14Chagas
Bernardo, disciplina na tentativa de proteger a criança e Silva 6postava-se de palito à boca, como 19se tivesse
e o adolescente de tais práticas. descido do restaurante lá de cima. Poderia parecer, pela
estampa, que somente ali se comesse bem em Porto
O assédio moral possui várias denominações pelo Alegre. 8Longe 21disso! A Rua da Praia que 23o diga, ou
mundo, como bullying, mobbing, ijime, harassment, e é 22
melhor, que o dissesse. 24O faz de conta do 7inefável
caracterizado por condutas violentas, sorrateiras, cons- personagem 5ligava-se mais à 25importância, à moldura
tantes, que algumas vezes são entendidas como ino- que aquele portal lhe conferia. 15Ele, que tanto marcou
fensivas, mas se propagam insidiosamente. A figura do a rua, tinha 27franco acesso às poltronas do saguão em
assédio moral na família surge exatamente quando o que se refestelavam os importantes. Andava 28dentro de
afeto deixa de existir dando espaço à desconsideração um velho fraque, usava gravata, chapéu, bengala sob o
da dignidade do outro no dia a dia. Demonstrando, as- braço, barba curta, polainas e 10uns olhinhos apertados
sim, que, embora haja necessidade de afetividade para na 1_________ bronzeada. O charuto apagado na boca,
que surja uma entidade familiar, com o desaparecimen- para durar bastante, 29era o 9toque final dessa composi-
to do sentimento de afeto surgem situações de violên- ção de pardavasco vindo das Alagoas.
cia, inclusive a psíquica.
Chagas e Silva chegou a Porto Alegre em 1928. 16Fi-
A gravidade é majorada no âmbito da família, eis xou-20se na Rua da Praia, que percorria com passos
que ela é principal responsável pelo desenvolvimen- lentos, carregando um ar de 12indecifrável importân-
to da personalidade de seus membros e do afeto, cia, tão ao jeito dos grandes de então. 17Os estudantes
elemento agregador. tomaram conta dele. Improvisaram comícios na praça,
carregando-o nos braços e 11fazendo-o discursar. Dava
A morte da alma do menino Bernardo ainda em vida, re- discretas mordidas 33e consentia em que lhe pagassem
sultado de tratamento degradante, diário e sorrateiro, o cafezinho. Mandava imprimir sonetos, que "trocava"
que culminou na morte física, faz refletir sobre a impor- por dinheiro.
tância da família no desenvolvimento da personalidade Não era de meu propósito 31ocupar-me do "doutor"
de seus membros, de modo a valorizar a existência do Chagas 34e, sim, de como se comia bem na Rua da Praia
afeto para que não haja na entidade familiar a figura de antigamente. Mas ele como que me puxou pela man-
do assédio moral. ga e levou-me a visitar casas por onde sua imaginação
O assédio moral na família, ou psicoterror familiar, deve de longe esvoaçava.
ser amplamente combatido, principalmente pelo papel Porto Alegre, sortida por tradicionais armazéns de es-
exercido pela família de atuar no desenvolvimento da pecialidades, 30dispunha da melhor matéria-prima para

7
as casas de pasto. 18Essas casas punham ao alcance dos c) 47% diz ter posição política de direita."
gourmets virtuosíssimos "secos e molhados" vindos de d) 47% dizem ter posição política de direita."
Portugal, da Itália, da França e da Alemanha. Daí um e) 1% dos eleitores não souberam responder à pesquisa."
longo e 2________ período de boa comida, para regalo
dos homens de espírito e dos que eram mais estômago TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que outra coisa. A(s) questão(ões) a seguir está(ão) relacionada(s) ao
Na arte de comer bem, talvez a 26dificuldade fosse a da texto abaixo.
escolha. Para qualquer lado que o passante se virasse,
encontraria salões ornamentados 3_________ maiores Muita gente que ouve a expressão “políticas linguísti-
ou menores, tabernas 35ou simples tascas. A Cidade 32di- cas” pela primeira vez pensa em algo 1solene, formal,
vertia-se também 13pela barriga. oficial, em leis e portarias, em autoridades oficiais, e
pode ficar se perguntando o que seriam leis sobre lín-
Adaptado de: RUSCHEl, Nilo. Rua da Praia. Porto guas. De fato, há leis sobre línguas, mas as 2políticas
Alegre: Editora da Cidade, 2009. p. 110-111.
linguísticas também podem ser menos 3formais – e nem
10. (UFRGS) Se a expressão Os estudantes (ref. 17) fosse passar por leis propriamente ditas. Em quase todos os
substituída por Um estudante, quantas outras altera- casos, figuram no cotidiano, 4pois envolvem não só a
ções seriam necessárias, para fins de concordância, na gestão da linguagem, mas também as práticas de lin-
passagem entre as linhas 19 e 21? guagem, e as crenças e valores que circulam a respeito
5
delas. Tome, por exemplo, a situação do 6cidadão das
a) 1. classes confortáveis brasileiras, que quer que a escola
b) 2. ensine a norma culta da língua portuguesa. 7Ele folga
c) 3. em saber que se vai exigir isso dos candidatos às va-
d) 4. gas para o ensino superior, mas nem sempre observa
e) 5. ou exige o mesmo padrão culto, por exemplo, na ata
de condomínio, que ele aprova como está, 8desapegada
da ortografia e das regras de concordância verbais e
E.O. Fixação nominais 9preconizadas pela gramática normativa. Ele
acha ótimo que a escola dos filhos faça 10baterias de
1. (UFPR) Assinale a alternativa que reescreve o texto exercícios para fixar as normas ortográficas, mas pouco
a seguir de acordo com a norma culta, mantendo-lhe se incomoda com os problemas de redação nos enun-
o sentido. ciados das tarefas dirigidas às crianças ou nos textos de
Os presídios não é uma forma de mudar o ponto de vis- comunicação da escola dirigidos à comunidade escolar.
ta de qualquer pessoa que esteja lá presa, um marginal Essas são políticas linguísticas. 11Afinal, onde há gente,
que já fez de tudo na vida não é que vai preso que ele há grupos de pessoas que falam línguas. Em cada um
vai mudar totalmente. desses grupos, há decisões, 12tácitas ou explícitas, sobre
como proceder, sobre o que é aceitável ou não, e por aí
a) Os presídios não é uma forma de mudar o ponto
afora. Vamos chamar essas escolhas – 13assim como 14as
de vista de qualquer pessoa que esteje lá preso. Um
discussões que levam até 15elas e as ações que delas re-
marginal que já fez de tudo na vida não é porque vai
sultam – de políticas. Esses grupos, pequenos ou gran-
preso que ele vai mudar totalmente.
des, de pessoas tratam com outros grupos, que por sua
b) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto vez usam línguas e têm as suas políticas internas. Viven-
de vista de qualquer pessoa que esteja lá presa, um do imersos em linguagem e tendo constantemente que
marginal que já fez de tudo na vida não é que vão lidar com outros indivíduos e outros grupos mediante
preso que vão mudar totalmente. o uso da linguagem, não surpreende que os recursos
c) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto de vis- de linguagem lá pelas tantas se tornem, eles próprios,
ta de quem esteja lá preso. Não é porque foi preso que um tema de política e objetos de políticas explícitas. Como
marginal que já fez de tudo na vida vai mudar totalmente. 16
esses recursos podem ou devem se apresentar? Que
d) Presídio não é uma forma de mudar o ponto de vista funções eles podem ou devem ter? Quem pode ou deve
das pessoas presas, um marginal não vai mudar total- ter acesso a 17eles? Muito do que fazemos, 18portanto,
mente por tudo que já fez na vida e então vai preso. diz respeito às políticas linguísticas.
e) Os presídios não são uma forma de mudar o ponto Adaptado de: GARCEZ, P. M.; SCHULZ, L.
de vista de qualquer pessoa presa. Um marginal que já Do que tratam as políticas linguísticas.
fez de tudo na vida vai preso e vai mudar totalmente. ReVEL, v. 14, n. 26, 2016.

2. (ESPM) Dada uma frase, assinale a continuação cuja 3. (UFRGS) Se a expressão políticas linguísticas (ref. 2)
CONCORDÂNCIA VERBAL transgrida o que preceitua a fosse para o singular, quantas outras alterações seriam
norma culta: necessárias no período para manter-se a concordância?
a) 1.
"Pesquisa Datafolha mostra que perfil conservador do b) 2.
brasileiro continua forte: c) 3.
a) 47% do eleitorado diz ter posição política de direita." d) 4.
b) 47% dos eleitores dizem ter posição política de direita." e) 5.

8
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil ocu-
pa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quando
O acesso 1à Educação é o ponto de partida o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do
Mozart Neves ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos
desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça,
A Educação tem resultados profundos e abrangentes não se conhece nada melhor do que a Educação.
no desenvolvimento de uma sociedade: contribui para
Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-
o crescimento econômico do país, para a promoção da educacao-e-o-ponto-de-partida/>.
igualdade e bem-estar social, e também tem impactos Acesso em: 20 mar. 2017)
decisivos na vida de cada um. Um deles, por exemplo,
é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita 4. (IFSUL) Se a palavra desafio (referência 15) fosse
__________ alguns anos pelo economista Marcelo Neri flexionada no plural, quantas mais alterações seriam
mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasilei- necessárias na frase para manter a correção sintática?
ro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo
a) Uma.
também mostrou que quem completou o Ensino Fun-
b) Duas.
damental tem 35% a mais de chances de ocupação que
um analfabeto. Esse número sobe para 122% na com- c) Três.
paração com alguém que tenha o Ensino Médio e 387% d) Quatro.
com Ensino Superior.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Diante disso, o direito do acesso 2à Educação é o ponto
de partida na formação de uma pessoa e, consequen- Havia naquele cemitério uma sepultura em torno .......
temente, no desenvolvimento e prosperidade de uma 4
a imaginação popular tecera lendas. Ficava ao lado da
nação. 3Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil capela, perto dos grandes jazigos, e 8consistia numa
nas duas últimas décadas4, 5ainda 6há 7importantes de- lápide cinzenta, com a inscrição já ........ apagada por
safios a superarmos no que tange esse direito. Se 8por baixo duma cruz em alto-relevo. Seus devotos acredi-
um lado conseguimos universalizar o atendimento es- tavam que a alma cujo corpo ali jazia tinha o dom de
colar no Ensino Fundamental, temos 9ainda, por outro obrar 5milagres como os de Santo Antônio. Floriano leu
lado, 2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos a inscrição:
fora da escola. Isso corresponde ______ um país do ta- Antônia Weber – Toni – 1895-1915. Talvez ali estivesse o
manho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a ponto de partida de seu próximo romance...
universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos) e
do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos). Um jovem novelista visita o cemitério de sua terra e fica
Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 particularmente interessado numa sepultura singela a
milhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam que a superstição popular 9atribui poderes milagrosos.
e nem trabalham, a chamada 11“geração nem-nem”, Vem-lhe então o desejo de, 6através da magia da fic-
para trazê-12los de volta __________ escola e, poste- ção, trazer de volta à vida aquela morta obscura. 11Sai
riormente, 13incluí-los no mundo do trabalho. Isso é à procura de habitantes mais antigos e a eles pergunta:
essencial para um país que passa por um bônus demo- “Quem foi Antônia Weber?” Alguns nada sabem. Ou-
gráfico que se completará, 14segundo os especialistas, tros contam o pouco de que 10se lembram. Um teuto-
em 2025. O país, para seu crescimento econômico e -brasileiro sessentão (Floriano já começava a visualizar
sua sustentabilidade, não poderá abrir mão de ne- as personagens, a inventar a intriga), ao ouvir o nome
nhum de seus jovens. da defunta, fica perturbado e fecha-se num mutismo
No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil ressentido. 12“Aqui há drama”, diz o escritor para si
tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matricu- próprio. 13E conclui: “Este homem talvez tenha amado
lados nesse nível de ensino. Em conformidade com o Antônia Weber...”. Ao cabo de várias tentativas, conse-
Plano Nacional de Educação (PNE), o país precisará do- gue arrancar dele 7uma história fragmentada, cheia de
brar esse percentual nos próximos dez anos, ou seja, reticências que, entretanto, o novelista vai preenchen-
chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da com- do com trechos de depoimentos de terceiros. Por fim,
plexidade dessa meta, esse era o percentual previsto de posse de várias peças do quebra- cabeça, põe-se a
no PNE que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que armá-lo e o resultado é o romance duma tal Antônia
haja perda de qualidade com essa expansão – que a Weber, natural de Hannover e que emigrou com os pais
educação básica melhore significativamente, tanto em para o Brasil e estabeleceu-se em Santa Fé, onde...
acesso como em qualidade, tomando como referência Mas qual! – exclamou Floriano, parando à sombra dum
os atuais índices de aprendizagem escolar. plátano e passando o lenço pela testa úmida. Ia cair de
O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, novo nos alçapões que seu temperamento lhe armava.
caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir de-
14
Os críticos não negavam mérito a seus romances, mas
afirmavam que em suas histórias ........ o cheiro do suor
cisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que
humano e da terra: achavam que, quanto à forma, eram
separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo
tecnicamente bem escritas; quanto ao conteúdo, porém,
seu Produto Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mun-
tendiam mais para o artifício que para a arte, fugindo
dial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu

9
sempre ao drama essencial. Pouco lhe importaria o que ser bom viver em hotel, 15e conta que, toda vez que faz
outros pensassem se ele próprio não estivesse de acordo reparos 3__________ comida, mamãe diz que ele deve ir
com essas restrições. Chegara à conclusão de que, em- para um hotel, onde pode reclamar e exigir. De repente o
bora a perícia não devesse ser menosprezada, para fazer fascínio se transforma em alarme, 16e ele observa que se
bom vinho era necessário antes de mais nada ter uvas, eu vivo em hotel não posso ter um cão em minha compa-
e uvas de boa qualidade. No caso do romance a uva era nhia, o jornal disse uma vez que um homem foi proces-
o tema – o tema legítimo, isto é, algo que o autor pelo sado por ter um cão em um quarto de hotel. Confirmo
menos tivesse sentido, se não propriamente vivido. 4
__________ proibição. Ele suspira 17e diz que então não
viveria em um hotel nem de graça.
Adaptado de: VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento: o retrato.
v. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 331-333.
Adaptado de: VEIGA, José J. Entre irmãos. In: MORICONI,
Ítalo M. Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século.
5. (UFRGS) Se substituíssemos Os críticos (ref. 14) por Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 186-189.
A crítica, quantas outras alterações seriam necessárias,
6. (UFRGS) Se as expressões perguntas (ref. 21), as per-
no texto, para fins de concordância?
guntas (ref. 22) e as respostas (ref. 23) fossem substituí-
a) 1. das, respectivamente, por uma pergunta, a pergunta e a
b) 2. resposta, quantas outras alterações seriam necessárias
c) 3. no texto, para fins de concordância?
d) 4. a) 1.
e) 5. b) 2.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: c) 3.
d) 4.
O menino sentado à minha frente é meu irmão, assim e) 5.
me disseram; e bem pode ser verdade, ele regula pelos
dezessete anos, justamente o tempo em que estive sol- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
to no mundo, sem contato 5nem notícia.
O texto a seguir foi extraído de uma crônica de Affonso
A princípio quero tratá-lo como intruso, mostrar-lhe Romano de Sant’Anna, cronista e poeta mineiro. Profes-
1
__________ minha hostilidade, não abertamente para sor universitário e jornalista, escreveu para os maiores
não chocá-lo, 11mas de maneira a não lhe deixar dúvida, jornais do País. “Com uma produção diversificada e con-
como se lhe 6perguntasse com todas as letras 18: que sistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se des-
direito tem você de estar aqui na intimidade de minha taca como teórico, como poeta, como cronista, como pro-
família, entrando nos nossos segredos mais íntimos, fessor, como administrador cultural e como jornalista.”
dormindo na cama onde eu dormi, lendo meus velhos
livros, talvez sorrindo das minhas anotações à margem, Porta de colégio
tratando meu pai com intimidade, talvez discutindo a
minha conduta, talvez até criticando-a? 12Mas depois Passando pela porta de um colégio, me veio a sensação
vou notando que ele não é totalmente estranho. De re- nítida de que aquilo era a porta da própria vida. Banal,
pente fere-me 2__________ ideia de que o intruso tal- direis. Mas a sensação era tocante. Por isso, parei, como
vez 7seja eu, que ele 8tenha mais direito de hostilizar-me se precisasse ver melhor o que via e previa.
do que eu a ele 19, que vive nesta casa há dezessete Primeiro há uma diferença de 1clima entre 6aquele ban-
anos. O intruso sou eu, não ele. do de adolescentes espalhados pela calçada, sentados
Ao pensar nisso vem-me o desejo urgente de enten- sobre carros, em torno de carrocinhas de doces e refri-
dê-lo e de ficar amigo. Faço-lhe 21perguntas e noto a gerantes, e aqueles que transitam pela rua. Não é só
sua avidez em respondê-las, 13mas logo vejo a inuti- o uniforme. Não é só a idade. É toda uma 2atmosfera,
lidade de prosseguir nesse caminho, 22as perguntas como se estivessem ainda dentro de uma 8redoma ou
parecem-me formais e 23as respostas forçadas e com- aquário, numa bolha, resguardados do mundo. Talvez
placentes. não estejam. Vários já sofreram a pancada da separação
dos pais. 7Aprenderam que a vida é também um exer-
Tenho tanta coisa a dizer, mas não sei como começar, até
cício de separação. 9Um ou outro já transou droga, e
a minha voz parece ter perdido a naturalidade. Ele me
com isso deve ter se sentido (equivocadamente) muito
olha 20, e vejo que está me examinando, procurando de-
adulto. Mas há uma sensação de pureza angelical mis-
cidir se devo ser tratado como irmão ou como estranho,
turada com palpitação sexual, que se exibe nos gestos
e imagino que as suas dificuldades não devem ser meno-
sedutores dos adolescentes.
res do que as minhas. 24Ele me pergunta se eu moro em
uma casa grande, com muitos quartos, e antes de respon- Onde estarão 4esses meninos e meninas dentro de dez
der procuro descobrir o motivo da pergunta. 25Por que ou vinte anos?
falar em casa? 14E qual a importância de 9muitos quar- 5
Aquele ali, moreno, de cabelos longos corridos, que pa-
tos? Causarei inveja nele se responder que sim? 26Não, rece gostar de esporte, vai se interessar pela informática
não tenho casa, há 10muitos anos que tenho morado em ou economia; 5aquela de cabelos louros e crespos vai ser
hotel. Ele me olha, parece que fascinado, diz que deve dona de boutique; 5aquela morena de cabelos lisos quer

10
ser médica; a gorduchinha vai acabar casando com um dade dos sistemas naturais em manter sua estrutura e
gerente de multinacional; 5aquela esguia, meio bailari- funcionamento.
na, achará um diplomata. Algumas estudarão Letras, se Os ambientes que as atividades humanas dominam
casarão, largarão tudo e passarão parte do dia levando ou criaram – incluindo nossas áreas de vida urbanas e
filhos à praia e à praça e pegando-os de novo à tardinha suburbanas, nossas terras cultivadas, nossas áreas de
no colégio. [...] recreação, plantações de árvore e pesqueiros – são
Estou olhando aquele bando de adolescentes com eviden- também ecossistemas. O bem-estar da humanidade
te ternura. Pudesse passava a mão nos seus cabelos e con- depende de manter o funcionamento desses sistemas,
tava-lhes as últimas histórias da carochinha antes que o sejam eles naturais ou artificiais. Virtualmente toda
3
lobo feroz as assaltasse na esquina. Pudesse lhes diria da- a superfície da Terra é, ou em breve será, fortemente
qui: aproveitem enquanto estão no aquário e na redoma, influenciada por pessoas, se não completamente sob
enquanto estão na porta da vida e do colégio. O destino seu controle. 3Os humanos já usurpam quase metade
também passa por aí. E a gente pode às vezes modificá-lo. da produtividade biológica da biosfera. Não podemos
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Affonso Romano assumir essa responsabilidade de forma negligente.
de Sant’Anna: seleção e prefácio de Letícia Malard. 4
A população humana se aproxima da marca de 7 bi-
Coleção Melhores Crônicas. p. 64-66.
lhões, e consome energia e recursos, e produz rejeitos
7. (Uece) No trecho, “Primeiro há uma diferença de cli- muito além do necessário ditado pelo metabolismo bio-
ma entre aquele bando de adolescentes espalhados lógico. Essas atividades causaram dois problemas rela-
pela calçada, sentados sobre carros, em torno de car- cionados de dimensões globais. O primeiro é o seu im-
rocinhas de doces e refrigerantes, e aqueles que tran- pacto nos sistemas naturais, incluindo a interrupção de
sitam pela rua” existe um caso de concordância verbal processos ecológicos e a exterminação de espécies. O
curioso. No trecho “aquele bando de adolescentes es- segundo é a firme e constante deterioração do próprio
palhados pela calçada, sentados sobre carros”, há um ambiente da espécie humana à medida que pressiona-
sintagma nominal cujo núcleo é bando, um substantivo mos os limites dentro dos quais os ecossistemas podem
coletivo que vem seguido de uma expressão no plural se sustentar. 5Compreender os princípios ecológicos é
que o especifica: de adolescentes. um passo necessário para lidar com esses problemas.
RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de
Observe o que é dito a seguir.
Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p. 15. (Adaptado).
I. Em casos como esse, a regra geral da gramática norma-
tiva é a seguinte: com o substantivo coletivo, a concordân- 8. (Ueg) No trecho “Os humanos já usurpam quase
cia se faz no singular. Por essa ótica, no texto, deveríamos metade da produtividade biológica da biosfera. Não
ter a seguinte estrutura: aquele bando de adolescentes podemos assumir essa responsabilidade de forma ne-
espalhado pela calçada e sentado sobre carros. gligente” (ref. 3), os períodos apresentam pessoas ver-
II. A gramática faculta a seguinte possibilidade: se o co- bais diferentes. O uso da primeira pessoal do plural, no
letivo vier seguido de uma expressão no plural que o segundo período, constitui um recurso linguístico por
especifique, o adjetivo ou o particípio que forma essa meio do qual o autor
expressão pode ir para o plural ou ficar no singular: a) assume ser parte da comunidade humana e, conse-
aquele bando de adolescentes espalhados pela calçada, quentemente, responsável pelo modo como ela tem ex-
sentados sobre carros. plorado os recursos naturais;
III. Empregar o singular ou o plural nesses casos fica a b) evidencia sua concordância sobre o modo como os
critério do usuário da língua. Esses dois tipos de con- humanos usam, de forma desequilibrada e devastadora,
cordância variam livremente, independente de possí- os recursos da terra;
veis motivações. c) retira de si a responsabilidade sobre o modo como os
Está correto o que se afirma em recursos da biosfera têm sido consumidos pelas socieda-
a) I e II apenas. des urbanas e suburbanas;
b) I, II e III. d) conclama a humanidade à invenção de tecnologias
c) I e III apenas. que possibilitem a descoberta de novos organismos e a
d) II e III apenas. criação de novos bens de consumo;

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 9. (IFSUL) Assinale a alternativa correta quanto à con-
cordância verbo-nominal.
OS HUMANOS SÃO UMA PARTE IMPORTANTE DA BIOSFERA a) Boa parte das pessoas ainda se sentem desconfortá-
As maravilhas do mundo natural atraem a nossa curiosi- veis com relação aos imigrantes.
dade sobre a vida e tudo que nos cerca. Para muitos de b) Nem a violência nem o preconceito contribui para o
nós, nossa curiosidade sobre a Natureza e os desafios fortalecimento da nação.
de seu estudo são razões suficientes. 1Além disso, con- c) Tanto o opressor quanto o oprimido sofre, embora não
tudo, nossa necessidade de compreender a Natureza consiga se expressar.
está se tornando mais e mais urgente, 2à medida que d) Violência, agressão e preconceito, nada podem demo-
o crescimento da população humana estressa a capaci- vê-los de seus propósitos.

11
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: outras fontes renováveis de energia”, a falta de concor-
1
Desenvolveu-se nos Estados Unidos, nos 2meios inte- dância será sanada se a expressão “os recursos naturais”
lectuais 3que defendem as minorias, a ideia do "poli- for substituída por “jazidas minerais”.
ticamente correto" - ou seja, a substituição de termos b) Na frase “Os fatos apontados pelos órgãos de controle
com conotação preconceituosa por outros carregados indicam que podem ter havido irregularidades na gestão
de positividade. Assim, a própria palavra "negro" não dos projetos financiados com recursos públicos”, todos
seria desejável, devendo-se preferir "afro-americano". os verbos estão flexionados de acordo com a norma pa-
O mesmo vale para 4várias outras palavras, como "de- drão da língua portuguesa.
ficiente", "solteirão" - em suma, todo termo que possa c) A frase “Os ingredientes que encomendava era o mes-
dar a entender uma falha, um defeito. E isso se acentua mo semanalmente, razão por que seria de imaginar que
quando comunidades fortes - como os homossexuais da fosse suficiente para a fermentação de cinquenta litros
Califórnia - interferem em roteiros de filmes, ou 5quan- de cerveja” apresenta desvios da norma padrão quanto
do 6figuras históricas são condenadas mediante crité- à concordância nominal, mas não há desvios da norma
rios morais fora de 7sua época (como sucedeu quando padrão quanto à concordância verbal.
um condado da Luisiana resolveu que nenhuma 8escola
d) Na frase “Estima-se que, em Portugal, cerca de dois
9
pública de 10sua jurisdição deveria ostentar o nome de
terços dos cães tenham sido infectados com o parasita
quem tivesse 11possuído escravos - o que eliminava, por
denominado Leishmania infantum nos últimos anos, em-
exemplo, Thomas Jefferson). 12Tudo isso parece exage-
bora muitos deles não manifestem a doença”, os verbos
rado e, no Brasil, é apresentado como ridículo .............,
“tenham” e “manifestem” concordam com os respecti-
há que destacar o que é positivo no chamado politica-
mente correto: a ideia - óbvia para qualquer linguista, vos sujeitos na terceira pessoa do plural.
psicólogo ou psicanalista - de que a linguagem não é 2. (Acafe) Assinale o texto que mais se ajusta à
neutra, mas expressa, produz e reproduz uma visão de norma-padrão escrita.
mundo. Se a linguagem não se limita a traduzir fatos,
mas tende a expressar 13pontos de vista, 14é preciso a) Se eu fosse o prefeito de Floripa, iria criar um espaço
expô-los e eventualmente combatê- 15los. Aqui 16está o novo de lazer e entretimento tipo os que se tem no Par-
que a zombaria contra 17o politicamente correto dissi- que das Nações, em Lisboa, Portugal, do lado continen-
mula: 18ele reage contra velhas ideias conservadoras. O tal da Ilha, onde estão a Capitania dos Portos, o estaleiro
que dizem ainda hoje nossos livros escolares, a despei- Shaefer, uma fábrica de gelo e uma favela.
to de elogiáveis iniciativas (inclusive oficiais), sobre o b) Seria cômico não fosse Lula o que incitaria quando ha-
negro e o índio? Quantos preconceitos não rodam por via ostracismo ou crise no governo jogando nordestino
19
aí, moldando a mente das crianças assim como mol- contra sulistas, culpando a elites pela crise, mas isentan-
daram as nossas? Antes de se zombar dos exageros de do seus comparsas e agora que roubaram e repassaram
certos movimentos norte-americanos, não seria preciso para seu filho e nora 2 milhões, todos como inocentes.
romper a cumplicidade que ata nossa opinião pública c) Estão pensando em elaborar outra Lei para que com-
a quem incita à violência nas rádios matutinas, a quem portamento como este do Conselheiro sejam conside-
ridiculariza e humilha a mulher nos programas de hu- rados nobres e ao invés de apontar punições, apontem
mor? Se alguma 20cultura pode dar-se ao luxo de achar para reconhecimento e valorização, inclusive com afas-
21
risível o excesso nos direitos humanos, 22não é 23a nos- tamento remunerado em dobro até que esteja apto para
sa, 24certamente. aposentadoria.
(Adaptado de: RIBEIRO, R.J. A sociedade contra o social.
d) Em uma entrevista concedida por Dilma para 4 ou 5
São Paulo: Cia das Letras, 2000.)
jornalistas da RBS, em resposta a uma pergunta sobre o
10. (UFRGS) Se substituíssemos a expressão "Tudo isso" lazer da Presidente, ela respondeu que gostava de tran-
(ref. 12) por "Esses fatos", quantas outras palavras da sitar, altas horas da noite, incógnita, pelas ruas quase
frase teriam de sofrer ajustes de concordância? desertas de Brasília, pilotando uma motocicleta.
a) Uma. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
b) Duas.
c) Três. Leia o texto para responder à(s) questão(ões) a seguir.
d) Quatro.
O sequestro das palavras
e) Cinco.
Gregório Duvivier

E.O. Complementar Vamos supor que toda palavra tenha uma vocação pri-
1

meira. A palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da


transformação e da troca, e desde pequena 2servia para
1. (Acafe 2018) Sobre concordância verbal e concordân-
descrever o processo de mutação de uma coisa em ou-
cia nominal, assinale a afirmativa correta. tra coisa que não deixou de ser, na essência, a mesma
a) Na frase “O governo brasileiro extinguiu a Renca (Re- coisa 3– quando a coisa é trocada por outra coisa, não
serva Nacional de Cobre e Associados) para que possa é mudança, é substituição. A palavra justiça, por exem-
ser melhor exploradas nessa área os recursos naturais e plo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade

12
(sim, foi um ménage): 4servia para tornar igual aquilo TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que tinha o direito de ser igual 5mas não estava sendo
Leia o texto abaixo para responder à(s) quest(ões) a
tratado como tal.
seguir.
6
No entanto as palavras cresceram. E, assim como as
Os celulares
7
pessoas, 8foram sendo contaminadas pelo mundo
__________ sua volta. As palavras, 9coitadas, não sabem Resolvi optar pela forma de plural, pois vejo tanta gente
escolher amizade, não sabem dizer não. A liberdade, por agora com, pelo menos, dois. O que me pergunto é como
exemplo, é dessas palavras que só dizem sim. Não nas- se comportaria a maioria das pessoas sem celular, como
ceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a depen- viver hoje sem ele? Uma epidemia neurótica grave ata-
dência, o poder, o dinheiro 10– mas não se espante se caria a população? Certamente! Quem não tem seu
você vir __________ liberdade vendendo absorvente, celular hoje em dia? Crianças, cada vez mais crianças,
desodorante, cartão de crédito, empréstimo de banco. lidam, e bem, com ele. Apenas uns poucos retrógrados,
A publicidade vive disso: dobrar as melhores palavras
avessos ao progresso tecnológico. A força consumista
sem pagar direito de imagem. Assim, você 11verá as pa-
do aparelho foi crescendo com a possibilidade de suas
lavras ecologia e esporte juntarem-12se numa só para
crescentes utilizações. Me poupem de enumerá-las, pois
criar o EcoSport 13– existe algo menos ecológico ou es-
só sei de algumas. De fato, ele faz hoje em dia de um
portivo que um carro14? Pobres palavras. Não 15tem ad-
tudo. Diria mesmo que o celular veio a modificar as rela-
vogados. Não precisam assinar termos de autorização
ções do ser humano com a vida e com as outras pessoas.
de imagem. Estão aí, na praça, gratuitas.
Até que não custei tanto assim a aderir a este telefo-
Nem todos aceitam que as palavras 16sejam sequestra-
das ao bel-prazer do usuário. A 17política é o campo de ninho! Nem posso deixar de reconhecer que ele tem
guerra onde se 18disputa a posse das palavras. A “éti- me quebrado uns galhos importantes no corre-corre da
ca”, filha do caráter com a moral, transita de um lado vida. Mas me utilizo dele pouco e apenas para receber
para o outro dos conflitos, assim como a Alsácia-Lorena, e efetuar ligações. Nem lembro que ele marca as horas,
e não sem guerras sanguinárias. Com um revólver na possui calendário. É verdade, recebi uns torpedos, e com
cabeça, é obrigada __________ endossar os seres mais dificuldade, enviei outros, bem raros. Imagine tirar fotos,
amorais e sem caráter. A palavra mudança, que sempre conectá-lo à internet, ao Facebook! Não quero passar
andou com __________ esquerdas, foi sequestrada pe- por um desajustado à vida moderna. Isto não! No com-
los setores mais conservadores da sociedade 19– que putador, por exemplo, além dos e-mails, participo de
fingem querer mudar, quando o que querem é trocar rede social, digito (mal), é verdade, meus textos, faço lá
20
(para que não se mude mais). 21A Justiça, coitada, foi algumas compras e pesquisas... Fora dele, tenho meus
cooptada por quem atropela direitos e desconhece a cartões de crédito, efetuo pagamentos nas máquinas
igualdade, confundindo-a o tempo todo com seu primo, bancárias e, muito importante, sei de cabeça todas as
o justiçamento, filho do preconceito com o ódio. minhas senhas, que vão se multiplicando. Haja memória!
Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da de- Mas, no caso dos celulares, o que me chama mesmo a
mocracia com a mudança, 22está escondida num porão: atenção é que as pessoas parecem não se desgrudar
23
emprestaram suas 24roupas __________ palavra gol- dele, em qualquer situação, ou ligando para alguém, ou
pe, que desfila por aí usando seu nome e seus documen- entrando em contato com a internet, acompanhando o
tos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, ago- movimento das postagens do face, ou mesmo brincan-
niza na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso do com seus joguinhos, como procedem alguns taxistas,
lutar por elas. naqueles instantes em que param nos sinais ou em que
Texto publicado em 21 mar. 2016. Disponível em: <http://www1.
o trânsito está emperrado.
folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170- Não há como negar, contudo, que esta utilização cons-
o-sequestro-das-palavras.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2016. tante do aparelhinho tem causado desconfortos sociais.
Comenta a Danuza Leão: “Outro dia fui a um jantar com
3. (IFSUL) Quanto à sintaxe de concordância, é correto mais seis pessoas e todas elas seguravam um celular.
afirmar que Pior, duas delas, descobri depois, trocavam torpedos
a) a expressão “foram sendo contaminadas” (ref. 8) entre elas.” Me sinto muito constrangido quando, num
está na terceira pessoa do plural para concordar com grupo, em torno de uma mesa, tem alguém, do meu lado,
o núcleo do sujeito “pessoas” (ref. 7); falando, sem parar, pelo celular. Pior, bem pior, quando
b) o verbo “disputar” (ref.18) está na terceira pessoa estou só com alguém, e esta pessoa fica atendendo li-
do singular para concordar com o núcleo do sujeito gações contínuas, algumas delas com aquela voz abafa-
“política” (ref. 17); da, sussurrante... Pode? É frequente um casal se sentar
c) na referência 15, o verbo “ter” deveria estar gra- a uma mesa colada à minha, em um restaurante e, de-
fado com o uso do acento diferencial para marcar a pois, feitos os pedidos aos garçons, a mulher e o homem
terceira pessoa do plural; tomam, de imediato, os seus respectivos celulares. E
d) o verbo “emprestar” (ref. 23) está no plural para ficam neles conversando quase o tempo todo, mesmo
estabelecer concordância com roupas (ref. 24), núcleo após o início da refeição. Se é um casal de certa idade,
podem me argumentar, não devia ter mais nada para
do sujeito.
conversar. Afinal, casados há tanto tempo! Porém, vejo
também casais bem mais jovens, com a mesma atitude,

13
consultando, logo ao se sentarem, os celulares para ver TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
o movimento nas redes sociais, ou enviando torpedos, a
maior parte do tempo. Clima de namoro, de sedução, é Leia o texto abaixo para responder às questões.
que não brotava dali. Talvez, alguém parece ter murmu-
rado, em meu ouvido, assim os casais encontraram uma 27
Aumenta o número de adultos que não consegue fo-
maneira eficiente de não discutirem. Falando com pes- car sua atenção em uma única coisa por muito tempo.
soas não presentes ali. A tecnologia a serviço do bom
37
São tantos os estímulos e tanta a pressão para que o
entendimento, de uma refeição em paz. entorno seja completamente desvendado que apren-
demos a ver e/ou fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Mas vivencio sempre outras situações em que o uso 34
Nós nos tornamos, à semelhança dos computadores,
do celular me prende a atenção. Entrei em um consul-
pessoas multitarefa, não é verdade?
tório médico, uma senhora aguardava sua vez na sala
de espera. Deu para perceber que ela acabava de desli-
41
Vamos tomar como exemplo uma pessoa dirigindo.
gar seu aparelho. Mas, de imediato, fez outra chamada.
4
Ela precisa estar atenta aos veículos que vêm atrás,
Estava sentado próxima a ela, que falava bem alto. A ao lado e à frente, à velocidade média dos carros por
ligação era para uma amiga bem íntima, estava claro onde trafega, às orientações do GPS ou de programas
pela conversa desenrolada, desenrolada mesmo. Em que sinalizam o trânsito em tempo real, 6às informa-
breves minutos, não é por nada não, fiquei sabendo de ções de 29alguma emissora de rádio que comenta o
alguns “probleminhas” da vida desta senhora. Não, não trânsito, ao planejamento mental feito e refeito 9vá-
vou aqui devassar dela, nem a própria me deu autoriza- rias vezes do trajeto 20que deve fazer para chegar ao
ção para tal... Afinal, sou uma pessoa discreta. Não pude seu destino, aos semáforos, faixas de pedestres etc.
foi evitar escutar o que minha companheira de sala de 35
Quando me vejo em tal situação, 19eu me lembro que
espera... berrava. Para não dizer, no entanto, que não 14
dirigir, 45após um dia de intenso trabalho no retorno
contei nada, também é discrição demais, só um peque- para casa, já foi uma atividade prazerosa e desestres-
no detalhe, sem maior surpresa: ela estava a ponto de sante.
estrangular o marido. O homem, não posso afiançar, 18
O uso da internet ajudou a transformar nossa manei-
aprontava as suas. Do outro lado, a amigona parecia ra de olhar para o mundo. Não 23mais observamos os
estimular bem a infortunada senhora. De repente, me detalhes, 1por causa de nossa ganância em relação a
impedindo de saber mais fatos, a atendente chama a novas e diferentes informações. Quantas vezes sentei
senhora, chegara a sua hora de adentrar ao consultório em frente ao computador 44para buscar textos sobre
do médico. Não sei como ela, bastante exasperada, iria um tema 38e, de repente, 24me dei conta de que estava
enfrentar um exame, na verdade, delicado. Não deu para em 39temas 15que em nada se relacionavam com meu
vê-la sair pela outra porta. É, os celulares criaram estas tema primeiro.
situações, propiciando já a formação do que poderá vir a
Aliás, a leitura também sofreu transformações pelo
ser chamado de auditeurismo, que ficará, assim, ao lado
nosso costume de ler na internet. 16Sofremos de uma
do antigo voyeurismo.
tentação permanente de 43pular palavras e frases in-
(UCHÔA, Carlos Eduardo Falcão. Os celulares. teiras, apenas para irmos direto ao ponto. O proble-
In: ______. A vida e o tempo em tom de conversa. 1ª ma é que 22alguns textos exigem a leitura atenta de
Ed. Rio de Janeiro: Odisseia, 2013. P. 150-153.)
palavra por palavra, de frase por frase, para que faça
4. (Esc. Naval) Assinale a opção em que a reescritura da sentido. 5Aliás, não é a combinação e a sucessão das
frase, flexionada no plural, manteve-se coerente e ple- palavras que dá sentido e beleza a um texto?
namente de acordo com a modalidade padrão da língua 3
Se está difícil para nós, adultos, focar nossa atenção,
portuguesa. imagine, caro leitor, para as crianças. 2Elas já nasceram
a) “Nem posso deixar de reconhecer que ele tem me neste mundo de 8profusão de estímulos de todos os
quebrado uns galhos importantes [...].” (2º §) / Nem tipos; elas são exigidas, desde o início da vida, a dar
podemos de reconhecermos que eles tem nos quebra- conta de várias coisas ao mesmo tempo; elas são es-
do uns galhos importantes... timuladas com diferentes objetos, sons, imagens etc.
b) “Nem lembro que ele marca as horas, possui calen- 46
Aí, um belo dia elas vão para a escola. Professores e
dário.” (2º §) / Nem nos lembramos que eles marcam
pais, a partir de então, querem que as crianças pres-
as horas, possuem calendário.
tem atenção em uma única coisa por muito tempo. 36E
c) “[...] sei de cabeça todas as minhas senhas, que vão
se multiplicando. Haja memória!” (2º §) / ...sabemos quando elas não conseguem, reclamamos, levamos ao
de cabeça todas as nossas senhas, que vão se multipli- médico, arriscamos hipóteses de que sejam portado-
cando. Hajam memórias! ras de síndromes que exigem tratamento etc.
d) “[...] vivencio sempre outras situações em que o uso 42
A maioria dessas crianças sabe focar sua atenção,
do celular me prende a atenção.” (5º §) / ... vivencia- sim. Elas já sabem usar programas complexos em seus
mos sempre outras situações em que o uso do celular aparelhos eletrônicos, 10brincam com jogos desafian-
nos prendem as atenções. tes que exigem atenção constante aos detalhes e, se
e) “Não sei como ela, bastante exasperada, iria enfren- deixarmos, 21passam horas em uma única atividade de
tar um exame, na verdade, delicado.” (5º §) / Não sabe- que gostam.
mos como elas, bastante exasperadas, iriam enfrentar
uns exames, na verdade, delicados.
17
Mas, nos estudos, queremos que elas prestem 26aten-

14
ção no que é preciso, e não no que gostam. 28E isso, sociedade perdeu a obviedade e naturalidade, quando,
caro leitor, exige a árdua aprendizagem da autodisci- no contexto da globalização, tornaram-se manifestas
plina. Que leva tempo, é bom lembrar. diversas formas de socialidade completamente des-
32
As crianças precisam de nós, pais e professores, para vinculadas do estado-nação: a “explosão” da comple-
começar a aprender isso. Aliás, 31boa parte desse tra- xidade social, no momento em que outras agências de
balho é nosso, e não delas. produção de significados (as religiões, o mercado, a in-
dústria cultural, etc.) competem com o estado-nação, o
12
Não basta mandarmos que elas prestem atenção:
que acaba por minar irreversivelmente sua centralidade
33
isso de nada as ajuda. 13O que pode ajudar, por exem-
e capacidade de integração social.
plo, é 40analisarmos o contexto em que estão 7quando
precisam focar a atenção 25e organizá-lo para que seja LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Ficção televisiva e
identidade cultural da nação. In: Revista AlceuNº 20. Rio de
favorável a tal exigência. 11E é preciso lembrar que
Janeiro: Editora PUC--Rio, 2010. p. 11-12. Disponível em:
não se pode esperar toda a atenção delas por muito <http://revistaalceu.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.
tempo: 30o ensino desse quesito no mundo de hoje é htm?sid=32>. Acesso em: 21 jul. 2015. Adaptado.
um processo lento e gradual.
a) O texto apresenta duas visões distintas que, hoje,
SAYÃO, Rosely. “Profusão de estímulos”.
Folha de São Paulo, 11 fev. 2014 – adaptado. encontram-se relacionadas ao conceito de nação. Es-
tabeleça a diferença entre elas.
5. (Col. naval) Em “A maioria dessas crianças sabe focar b) Com relação ao trecho abaixo, faça o que é solici-
sua atenção, sim.” (ref. 42) o verbo pode ir para o singu- tado a seguir.
lar ou para o plural. Em que opção tal situação também
se aplica? A relação identificatória entre estado-nação e socieda-
de perdeu a obviedade e naturalidade, quando, no con-
a) Só um ou outro adulto consegue focar sua atenção
texto da globalização, tornaram-se manifestas diversas
em uma única coisa.
formas de socialidade completamente desvinculadas
b) Segundo pesquisa, sessenta por cento da juventu- do estado-nação.
de brinca com jogos desafiantes que exigem atenção.
c) Qual de vocês sabe usar programas complexos em i) Justifique o emprego da forma verbal “tornaram-se”
seus aparelhos eletrônicos? na 3ª pessoa do plural.
d) É cada vez maior o número de crianças que não ii) Reescreva o trecho, iniciando-o por “É possível que”.
presta atenção a uma única coisa. Faça as modificações necessárias.
e) Falaram o educador e o pai sobre a profusão de
estímulos a que as crianças são submetidas. 2. (PUC-RJ) A imaginação
A imaginação é provavelmente a maior força a atuar
sobre os nossos sentimentos – maior e mais constan-
E.O. Dissertativo te do que influências exteriores, como ruídos e visões
amedrontadores (relâmpagos e trovões, um caminhão
1. (PUC-RJ) Há dois aspectos imprescindíveis a qual- em disparada, um tigre furioso), ou prazer sensual dire-
quer discurso que queira, hoje, tratar do significado to, inclusive mesmo os intensos prazeres da excitação
da nação. sexual. O que esteja realmente acontecendo é, para um
O primeiro é relativo à dimensão simbólica da ideia de ser humano, apenas uma pequena parte da realidade;
nação, entendida menos como território, mais como a maior parte é o que ele imagina em conexão com as
repertório de recursos identitários. Sobre o papel de vistas e sons do momento.
constructo cultural e simbólico que a ideia de nação A imaginação constitui o seu mundo. O que não quer
representa, temos autores que convergem sobre a ar-
dizer que seu mundo seja uma fantasia, sua vida um
bitrariedade de sua gênese (a nação como invenção
sonho, nem qualquer outra coisa assim, poética e pseu-
histórica arbitrária, de Gellner; como invenção da tra-
dofilosófica. Isso significa que o seu “mundo” é maior
dição, de Hobsbawm; como comunidade imaginada, de
Anderson). Porém, independentemente do reconheci- do que os estímulos que o cercam; e a medida deste,
mento de sua função ideológica ou de legitimação po- o alcance de sua imaginação coerente e equilibrada. O
lítica, o que hoje se enfatiza na ideia de nação é a forte ambiente de um animal consiste das coisas que lhe atu-
carga simbólica e o caráter cultural que carrega. Dizer, am sobre os sentidos. Coisas ausentes, que ele deseje
então, que os sentimentos de pertencimento são cul- ou tema, provavelmente não têm substitutos em sua
turalmente construídos não significa necessariamente consciência, como as imagens de tais coisas na nossa,
que eles se fundem em manipulações mistificadoras ou mas aparecem, quando por fim o fazem, como satisfa-
subficções arbitrárias. O acento recai, sobretudo, na sua ções de necessidades imperiosas, ou como crises em
capacidade de fundar uma comunidade emocional, de seu espreitar e reagir mais ou menos constante. [...]
agir como conectores de um “nós” nacional. No centro da experiência humana, portanto, existe sem-
O segundo aspecto é relativo à separação que se ve- pre a atividade de imaginar a realidade, concebendo-
rifica, no contexto contemporâneo, dos vínculos que -lhe a estrutura através de palavras, imagens ou outros
pareciam indissoluvelmente ligar sociedade e estado símbolos, e assimilando-lhe percepções reais à medida
nacional. A relação identificatória entre estado-nação e que surgem – isto é, interpretando-as à luz das ideias

15
gerais, usualmente tácitas. Esse processo de interpre- 4. (PUC-RJ) Leia.
tação é tão natural e constante que sua maior parte
decorre de modo inconsciente. Platão defendeu, no Banquete, em Fedra e em outros tex-
LANGER, Suzanne K. Ensaios filosóficos. São Paulo: Cultrix,
tos, a existência de um espírito místico ou furor enviado
1971. p.132-133; 135-136. Apud ARANHA, M. L. de pelo céu, através do qual uns poucos eleitos se “inspira-
Arruda & MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução vam”: “As maiores bênçãos vêm por intermédio da lou-
à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2003. p. 367. cura, aliás, da loucura que é enviada pelo céu.” Possuídas
assim por visões transcendentais ou por conhecimentos
a) Segundo o texto, quais são os dois componentes transcendentais, 1essas pessoas desfrutavam de uma
usados pelas pessoas para interpretar o mundo? “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais.
b) Há dois desvios gramaticais no período abaixo. Re-
A concepção freudiana do gênio era bastante diferen-
escreva-o, fazendo as devidas correções.
te. Não era uma dádiva dos deuses, mas resultado dos
Coisas ausentes não interferem no comportamento processos do inconsciente; não vinha de cima, mas de
dos animais, onde eles só temem o que lhes desper- dentro, das profundezas. [...]
tam os sentidos.
A “arte” e a habilidade artística, mais que a inspiração,
3. (PUC-RJ) Leia. eram consideradas a marca do artista ou do escritor, e
as estruturas de patronagem do mundo das letras tradi-
De um lado, a loucura existe em relação à razão ou, pelo cional proviam fortes argumentos a favor da conformi-
menos, em relação aos “outros” que, em sua generali- dade social, em vez de excentricidade do artista.
dade anônima, encarregam-se de representá-la e atri- 2
Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” vi-
buir-lhe valor de exigência; por outro lado, ela existe
sionário estivessem em baixa em terrenos críticos. Mas
para a razão, na medida em que surge ao olhar de uma
a teoria clássica, modificada pela psicologia empirista
consciência ideal que a percebe como diferença em re-
do Iluminismo, insistia que a imaginação não deveria ser
lação aos outros. A loucura tem uma dupla maneira de
obstinada, idiossincrática e visionária, mas residir na só-
postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do
lida formação dos sentidos e ser temperada pelo juízo. O
outro lado e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é
verdadeiro gênio era um impulso orgânico saudável para
diferença imediata, negatividade pura, aquilo que se
a combinação das matérias-primas da mente.
denuncia como não-ser, numa evidência irrecusável; é
uma ausência total de razão, que logo se percebe como PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de
tal, sobre o fundo das estruturas do razoável. Sob o Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.81-82.
olhar da razão: 1a loucura é individualidade singular a) A palavra que apresenta comportamentos distin-
cujas características próprias, a conduta, a linguagem, tos nos trechos em destaque. Estabeleça a diferença
os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se entre os dois empregos.
pode encontrar no não-louco; em sua particularidade i. “essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divi-
ela se desdobra para uma razão que não é termo de re- na”, que as elevava acima dos mortais” (ref. 1)
ferência mas princípio de julgamento; a loucura é então ii. “Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gê-
considerada em suas estruturas do racional. nio” visionário estivessem em baixa em terrenos crí-
FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. Tradução: ticos.” (ref. 2)
José Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. p.203. b) Mantendo o mesmo sentido, reescreva a passagem
em destaque, de acordo com o que é pedido:
a) Com relação ao trecho “A loucura tem uma du- O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante
pla maneira de postar-se diante da razão: ela a segunda metade do século XVII, passou-se a
está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu criticar, condenar e massacrar qualquer coisa
olhar.”, extraído do texto, faça o que é pedido a seguir: que fosse considerada irracional.
i. identifique o referente de cada um dos pronomes des-
• Use o verbo “efetuar” no lugar do verbo “passar”;
tacados, iniciando a sua resposta da seguinte forma:
O referente do pronome ______________________ • Substitua cada um dos verbos assinalados pela for-
___________________________. ma nominal correspondente no plural.
• Faça outras modificações que julgar necessárias em
ii. indique um conectivo que poderia ser empregado no função das alterações propostas.
lugar dos dois pontos.
O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segun-
b) Comprovando com dados do próprio trecho, explique da metade do século XVII, ________________________
por que o verbo distinguir foi flexionado na 3ª pessoa ________________________________.
do plural em “a loucura é individualidade singu-
lar cujas características próprias, a conduta, a
linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma
daquilo que se pode encontrar no não-louco”
(ref. 1).

16
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: é, no final, uma desconfiança, explicitada pelos entrevis-
tados, ainda maior em relação aos adultos.
Geração Canguru Outro estudo, desta vez patrocinado pela MTV, detectou
Gilberto Dimenstein um início de tendência entre os jovens de insatisfação
diante de pais extremamente permissivos. Estão deman-
Ao mapear novas tendências de consumo no Brasil, pu- dando adultos mais pais do que amigos. Para complicar
blicitários acreditam ter detectado a "Geração Cangu- ainda mais a insegurança das crianças e dos adolescen-
ru". São jovens bem-sucedidos profissionalmente, têm tes, a violência nas grandes cidades leva os pais, com-
entre 25 e 30 anos de idade e vivem na casa dos pais. O preensivelmente, a pilotar os filhos pelas madrugadas,
interesse neles é óbvio: compõem um nicho de consu- para saber se não sofreram uma violência. Brincar nas
midores com alto poder aquisitivo. ruas está desaparecendo da paisagem urbana, ajudando
Ainda na "bolsa" da mãe, eles mostram que mudaram a formar seres obesos, presos ao computador.
as fronteiras entre o jovem e o adulto. Até pouquíssi- Há pencas de estudo mostrando como a brincadeira,
mo tempo atrás, um marmanjão de 30 anos, enfiado na dessas em que nos sujamos, ralamos o joelho na árvo-
casa dos pais, seria visto como uma anomalia, suspei- re, ajuda a desenvolver a criatividade, o senso de au-
to de algum desequilíbrio emocional que retardou seu tonomia e de cooperação. É um espaço de estímulo à
crescimento. imaginação.
O efeito "canguru" revela que pais e filhos estão mu- Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com
tuamente mais compreensivos e tolerantes, capazes autonomia, se não souber lidar com a frustração. Muito
de lidar com suas diferenças. Para quem se lembra dos se estuda sobre a importância da resiliência – a capa-
conflitos familiares do passado, marcados pelo choque cidade de levar tombos e levantar como um elemento
de gerações, os "cangurus" até sugerem um grau de educativo fundamental.
civilidade. Não é tão simples assim.
Professores contam, cada vez mais, como os alunos não
Estudos de publicitários divulgados nas últimas sema- têm paciência de construir o conhecimento e desistem
nas indicam um lado tumultuado – e nem um pouco
logo quando as tarefas se complicam um pouco. Por
saudável – dessa relação familiar. Por trás das frias es-
isso, entre outras razões, os alunos decepcionam-se ra-
tatísticas sobre tendência do mercado, a pergunta que
pidamente na faculdade que exige mais foco em pou-
aparece é a seguinte: até que ponto os brasileiros mais
cos assuntos.
ricos estão paparicando a tal ponto seus filhos que pro-
duzem indivíduos com baixa autonomia? Os educadores alertam que muitos jovens têm dificul-
dade de postergar o prazer e buscam a realização ime-
Ao investigar uma amostra de 1.500 mães e filhos, no
diata dos desejos; respondem exatamente ao bombar-
Rio e em São Paulo, a TNS InterScience concluiu que
deamento publicitário, inclusive na ingestão de álcool,
82% das crianças e dos adolescentes influenciam for-
como vamos testemunhar, mais uma vez, nas propa-
temente as compras das famílias. A pressão é especial-
gandas de cerveja neste verão. Daí o risco de termos
mente intensa nas classes A e B, cujas crianças, segundo
os pesquisadores, empregam cada vez mais a estraté- "cangurus" que fiquem cada vez mais na bolsa (e no
gia das birras públicas para ganhar, na marra, o objeto bolso) dos pais.
de desejo. P.S. – Em todos esses anos lidando com educação co-
Com medo das birras, as mães tentam, segundo a pes- munitária, posso assegurar que uma das melhores coi-
quisa, driblar os filhos e não levá-los às compras, espe- sas que as escolas de elite podem fazer por seus alu-
cialmente nos supermercados, mas, muitas vezes, aca- nos é estimulá-los ao empreendedorismo social. É um
bam cedendo. Os responsáveis pelo levantamento da notável treino para enfrentar desafios. Enfrentam-se
InterScience atribuem parte do problema ao sentimen- em asilos, creches e favelas os limites e as carências.
to de culpa. Isso porque, devido ao excesso de traba- Conheci casos e mais casos de alunos problemáticos
lho, os pais ficam muito tempo longe de casa e querem que mudaram sua cabeça ao desenvolver uma ação
compensar a ausência com presentes. comunitária e passaram, até mesmo, a valorizar o
aprendizado curricular.
Uma pesquisa encomendada pelo Núcleo Jovem da Abril
detectou que muitos dos novos consumidores vivem http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd121205.htm

uma ansiedade tamanha que nem sequer usufruem o


5. (UFJF) Leia novamente:
que levam para casa. Já estão esperando o produto que
vai sair. É ninfomania consumista. Jovens relataram que
“Todos sabemos como é difícil alguém prosperar, com
nunca usaram, nem mesmo uma vez, roupas que adqui-
autonomia, se não souber lidar com a frustração.”
riram. Aposentam aparelhos eletrodomésticos compra-
dos recentemente porque já estariam defasados. a) Explique a concordância entre o sujeito e o verbo
na parte acima destacada.
Psicólogos suspeitam que essa atitude seja uma fuga
para aplacar a ansiedade e a carência, provocadas, em b) Compare a concordância acima (Todos sabemos)
parte, pela falta de limite. Imaginando-se modernos, pais com: “Todos sabem como é difícil...”. Qual é a prin-
tentam ser amigos de seus filhos e, assim, desfaz-se a cipal diferença no impacto discursivo produzido
obrigação de dizer não e enfrentar o conflito. O resultado pelas duas formas? Justifique sua resposta.

17
E.O. Objetivas autoridades. Conta-se que o visconde de Suaçuna, na
sua casa-grande de Pombal, mandou enterrar no jardim

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) mais de um negro supliciado por ordem de sua justiça
patriarcal. Não é de admirar. Eram senhores, os das ca-
sas-grandes, que mandavam matar os próprios filhos.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Um desses patriarcas, Pedro Vieira, já avô, por descobrir
que o filho mantinha relações com a mucama de sua
Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia o trecho predileção, mandou matá-lo pelo irmão mais velho.
do livro Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre.
(In: Silviano Santiago (coord.). Intérpretes do Brasil, 2000.)
Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza,
capela, escola, oficina, santa casa, harém, convento de 1. (Unifesp 2019) A forma verbal destacada deve sua
moças, hospedaria. Desempenhou outra função impor- flexão ao termo sublinhado em:
tante na economia brasileira: foi também banco. Dentro
a) “Deu-me lá alguma cousa para guardar?” (2º pa-
das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos ou mosai-
rágrafo)
cos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias,
ouro, valores. Às vezes guardavam-se joias nas capelas, b) “Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus
enfeitando os santos. Daí Nossas Senhoras sobrecarre- valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à
gadas à baiana de teteias, balangandãs, corações, cava- morte súbita do depositário.” (2º parágrafo)
linhos, cachorrinhos e correntes de ouro. Os ladrões, na- c) “Desempenhou outra função importante na eco-
queles tempos piedosos, raramente ousavam entrar nas nomia brasileira: foi também banco.” (1º parágrafo)
capelas e roubar os santos. É verdade que um roubou o d) “os grandes proprietários, nos seus zelos exagera-
esplendor e outras joias de São Benedito; mas sob o pre- dos de privativismo, enterraram dentro de casa as
texto, ponderável para a época, de que “negro não devia joias e o ouro do mesmo modo que os mortos queri-
ter luxo”. Com efeito, chegou a proibir-se, nos tempos dos.” (2º parágrafo)
coloniais, o uso de “ornatos de algum luxo” pelos negros. e) “Às vezes dinheiro dos outros, de que os senhores
Por segurança e precaução contra os corsários, contra os ilicitamente se haviam apoderado.” (2º parágrafo)
excessos demagógicos, contra as tendências comunistas
dos indígenas e dos africanos, os grandes proprietários, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
nos seus zelos exagerados de privativismo, enterraram
Leia o trecho do livro Em casa, de Bill Bryson, para res-
dentro de casa as joias e o ouro do mesmo modo que os
ponder à(s) questão(ões) a seguir.
mortos queridos. Os dois fortes motivos das casas-gran-
des acabarem sempre mal-assombradas com cadeiras
Quase nada, no século XVII, escapava à astúcia dos que
de balanço se balançando sozinhas sobre tijolos soltos
adulteravam alimentos. O açúcar e outros ingredientes
que de manhã ninguém encontra; com barulho de pra-
caros muitas vezes eram aumentados com gesso, areia
tos e copos batendo de noite nos aparadores; com al-
e poeira. A manteiga tinha o volume aumentado com
mas de senhores de engenho aparecendo aos parentes
sebo e banha. Quem tomasse chá, segundo autorida-
ou mesmo estranhos pedindo padres-nossos, ave-marias,
des da época, poderia ingerir, sem querer, uma série de
gemendo lamentações, indicando lugares com botijas de
coisas, desde serragem até esterco de carneiro pulve-
dinheiro. Às vezes dinheiro dos outros, de que os senho-
rizado. Um carregamento inspecionado, relata Judith
res ilicitamente se haviam apoderado. Dinheiro que com-
Flanders, demonstrou conter apenas a metade de chá; o
padres, viúvas e até escravos lhes tinham entregue para
resto era composto de areia e sujeira. Acrescentava-se
guardar. Sucedeu muita dessa gente ficar sem os seus
valores e acabar na miséria devido à esperteza ou à mor- ácido sulfúrico ao vinagre para dar mais acidez; giz ao
te súbita do depositário. Houve senhores sem escrúpulos leite; 1terebintina ao gim. O arsenito de cobre era usa-
que, aceitando valores para guardar, fingiram-se depois do para tornar os vegetais mais verdes, ou para fazer
de estranhos e desentendidos: “Você está maluco? Deu- a geleia brilhar. O cromato de chumbo dava um brilho
-me lá alguma cousa para guardar?” dourado aos pães e também à mostarda. O acetato de
chumbo era adicionado às bebidas como adoçante, e o
Muito dinheiro enterrado sumiu-se misteriosamente.
chumbo avermelhado deixava o queijo Gloucester, se
Joaquim Nabuco, criado por sua madrinha na casa-
não mais seguro para comer, mais belo para olhar.
-grande de Maçangana, morreu sem saber que destino
tomara a ourama para ele reunida pela boa senhora; e Não havia praticamente nenhum gênero que não pu-
provavelmente enterrada em algum desvão de parede. desse ser melhorado ou tornado mais econômico para
[…] Em várias casas-grandes da Bahia, de Olinda, de o varejista por meio de um pouquinho de manipulação e
Pernambuco se têm encontrado, em demolições ou es- engodo. Até as cerejas, como relata Tobias Smollett, ga-
cavações, botijas de dinheiro. Na que foi dos Pires d’Ávi- nhavam novo brilho depois de roladas, delicadamente,
la ou Pires de Carvalho, na Bahia, achou-se, num recanto na boca do vendedor antes de serem colocadas em expo-
de parede, “verdadeira fortuna em moedas de ouro”. sição. Quantas damas inocentes, perguntava ele, tinham
Noutras casas-grandes só se têm desencavado do chão saboreado um prato de deliciosas cerejas que haviam
ossos de escravos, justiçados pelos senhores e manda- sido “umedecidas e roladas entre os maxilares imundos
dos enterrar no quintal, ou dentro de casa, à revelia das e, talvez, ulcerados de um mascate de Saint Giles”?

18
O pão era particularmente atingido. Em seu romance de 3. (Unifesp) "- Quem advoga a liberdade da educação
1771, The expedition of Humphry Clinker, Smollett defi- não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia todo,
niu o pão de Londres como um composto tóxico de “giz, o que lhes der na veneta."
2
alume e cinzas de ossos, insípido ao paladar e destrutivo Substituindo-se "Quem" por "As pessoas que", obtém-se:
para a constituição”; mas acusações assim já eram co-
a) As pessoas que advoga a liberdade da educação
muns na época. A primeira acusação formal já encontra-
não querem dizer que as crianças devam fazer, o dia
da sobre a adulteração generalizada do pão está em um
todo, o que lhes der na veneta.
livro chamado Poison detected: or frightful truths, escri-
to anonimamente em 1757, que revelou segundo “uma b) As pessoas que advogam a liberdade da educação
autoridade altamente confiável” que “sacos de ossos não quer dizerem que as crianças devam fazer, o dia
velhos são usados por alguns padeiros, não infrequente- todo, o que lhes derem na veneta.
mente”, e que “os ossuários dos mortos são revolvidos c) As pessoas que advogam a liberdade da educa-
para adicionar imundícies ao alimento dos vivos”. ção não quer dizer que as crianças devam fazer, o dia
todo, o que lhes der na veneta.
(Em casa, 2011. Adaptado.)
d) As pessoas que advogam a liberdade da educação
1terebintina: resina extraída de uma planta e usada na não querem dizer que as crianças devam fazer, o dia
fabricação de vernizes, diluição de tintas etc.
todo, o que lhes der na veneta.
2alume: designação dos sulfatos duplos de alumínio e metais alcalinos, e) As pessoas que advogam a liberdade da educação
com propriedades adstringentes, usado na fabricação de corantes, papel, não querem dizerem que as crianças devam fazer, o
porcelana, na purificação de água, na clarificação de açúcar etc. dia todo, o que lhes derem na veneta.
2. (Unesp 2018) “O acetato de chumbo era adicionado TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
às bebidas como adoçante” (1º parágrafo)
INSTRUÇÃO: As questões seguintes estão relacionadas
Preservando-se a correção gramatical e o seu sentido ao seguinte anúncio de jornal:
original, essa oração pode ser reescrita na forma:
LOJA DE CALÇADOS FEMININO
a) Adicionava-se o acetato de chumbo às bebidas
como adoçante. Vende-se 3 lojas bem montadas
b) Adiciona-se o acetato de chumbo às bebidas como tradicionais, nos melhores Pontos
adoçantes. da Cidade. Ótima Oportunidade!
c) Eram adicionadas às bebidas como adoçante o F: (__) xxx-xxxxxx
acetato de chumbo.
(O Estado de S.Paulo, 15.08.2002)
d) Adicionam-se às bebidas como adoçante o acetato
de chumbo. 4. (Unifesp) De acordo com as normas gramaticais, par-
e) Adicionavam-se às bebidas como adoçante o ace- ticularmente no que se refere às regras de concordân-
tato de chumbo. cia, o título deste anúncio deveria ser
a) LOJAS DE CALÇADOS FEMININO, porque, na sequ-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ência, o texto fala em "3 lojas".
b) LOJAS DE CALÇADOS FEMININOS, porque, na se-
No ensino, como em outras coisas, a liberdade deve
quência, o texto fala em "3 lojas".
ser questão de grau. Há liberdades que não podem ser
toleradas. Uma vez conheci uma senhora que afirmava c) LOJA DE CALÇADOS FEMININOS, porque o título
não especifica as outras duas lojas "bem montadas"
não se dever proibir coisa alguma a uma criança, pois
de calçados, implicitamente, masculinos.
ela deve desenvolver sua natureza de dentro para fora.
"E se a sua natureza a levar a engolir alfinetes?" inda- d) LOJA FEMININA DE CALÇADOS, porque o título
guei; lamento dizer que a resposta foi puro vitupério. não se relaciona com o restante do anúncio.
No entanto, toda criança abandonada a si mesma, mais e) LOJA DE CALÇADOS FEMININO, tal como aparece
cedo ou mais tarde engolirá alfinetes, tomará veneno, no anúncio, porque o vocábulo "FEMININO" apenas
cairá de uma janela alta ou doutra forma chegará a mau especifica o tipo de calçado comercializado pelas lo-
fim. Um pouquinho mais velhos, os meninos, podendo, jas à venda.
não se lavam, comem demais, fumam até enjoar, apa- 5. (Fuvest) A única frase que NÃO apresenta desvio em
nham resfriados por molhar os pés, e assim por diante relação à concordância verbal recomendada pela nor-
- além do fato de se divertirem importunando anciãos, ma culta é:
que nem sempre possuem a capacidade de resposta de
Eliseu. Quem advoga a liberdade da educação não quer a) A lista brasileira de sítios arqueológicos, uma vez aceita
dizer que as crianças devam fazer, o dia todo, o que lhes pela Unesco, aumenta as chances de preservação e sus-
der na veneta. Deve existir um elemento de disciplina tentação por meio do ecoturismo.
e autoridade: a questão é até que ponto, e como deve b) Nenhum dos parlamentares que vinham defendendo o
ser exercido. colega nos últimos dias inscreveram-se para falar durante
os trabalhos de ontem.
(Bertrand Russell, Ensaios céticos.)

19
c) Segundo a assessoria, o problema do atraso foi resol- Nota preliminar
vido em pouco mais de uma hora, e quem faria conexão
para outros Estados foram alojados em hotéis de Cam- 1 – Em todo o momento de atividade mental acontece
pinas. em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo
d) Eles aprendem a andar com a bengala longa, o equi- tempo que temos consciência dum estado de alma, te-
pamento que os auxilia a ir e vir de onde estiver para mos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que
onde entender. estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer,
entendendo por paisagem, para conveniência de frases,
e) Mas foram nas montagens do Kirov que ele conquis-
tudo o que forma o mundo exterior num determinado
tou fama, especialmente na cena "Reino das Sombras",
momento da nossa percepção.
o ponto alto desse trabalho.
2 – Todo o estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo
o estado de alma é não só representável por uma paisa-
E.O. dissertativas gem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós
um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) agita. Assim uma tristeza é um lago morto dentro de nós,
uma alegria um dia de sol no nosso espírito. E — mesmo
que se não queira admitir que todo o estado de alma é
1. (Fuvest 2018) Leia o texto. uma paisagem — pode ao menos admitir-se que todo o
estado de alma se pode representar por uma paisagem.
A complicada arte de ver
Se eu disser “Há sol nos meus pensamentos”, ninguém
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou compreenderá que os meus pensamentos estão tristes.
ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que
ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos 3 – Assim tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do
meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma
cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! En- paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas
tretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer paisagens. Ora essas paisagens fundem-se, interpene-
aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. tram- se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele
Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo
– num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste
olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia
como num dia de chuva – e, também, a paisagem exterior
visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajusta-
sofre do nosso estado de alma – é de todos os tempos di-
dos, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar
zer-se, sobretudo em verso, coisas como que “na ausência
vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De re-
da amada o sol não brilha”, e outras coisas assim.
pente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou
em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo Obra poética, 1965.
aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões...
Paisagem holandesa
Agora, tudo o que vejo me causa espanto."
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me le- Não me sais da memória. És tu, querida amiga,
vantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Uma imagem que eu vi numa 1aguarela antiga.
Elementares", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Ce-
Era na Holanda. Um fim de tarde. Um céu lavado.
bola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a aco-
Frondes abrindo no ar um pálio recortado...
meteu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda
disse de uma cebola igual àquela que lhe causou as- Um moinho à beira d’água e imensa e desconforme
sombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, A pincelada verde-azul de um barco enorme.
você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os A casaria além... Perto o cais refletindo
poetas ensinam a ver". Uma barra de sombra entre as águas bulindo...
Rubem Alves, Folha de S.Paulo, 26/10/2004. Adaptado. E, debruçada ao cais, olhando a tarde imensa,
Uma rapariguinha olha as águas e pensa...
a) Segundo a concepção do autor, como a poesia pode É loira e triste. Nos seus olhos claros anda
ser entendida? A mesma paz que envolve a paisagem da Holanda.
b) Reescreva o trecho “Agora, tudo o que vejo me causa Paira o silêncio... Uma ave passa, 2arminho e 3gaza,
espanto.”, substituindo o termo sublinhado por “Naque-
À flor d’água, acenando adeus com o lenço da asa...
la época” e empregando a primeira pessoa do plural.
Faça as adaptações necessárias. É a saudade de Alguém que anda extasiado, a esmo,
Com a paisagem da Holanda escondida em si mesmo,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Com aquela rapariga a sofrer e a cismar
A(s) próxima(s) questão(ões) focaliza(m) um excerto de Num pôr de sol que dá vontade de chorar...
um comentário de Fernando Pessoa (1888-1935) e um Ai não ser eu um moinho isolado e tristonho
poema de Olegário Mariano (1889-1958). Para viver como na paz de um grande sonho,

20
A refletir a minha vida singular TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Na água dormente, na água azul do teu olhar...
A seguir, poema do repentista cearense Patativa do As-
Toda uma vida de poesia, 1957. saré (1909-2002) e uma passagem do livro O discípulo
de Emaús de Murilo Mendes (1901-1975):
1. aguarela: aquarela.
2. arminho: pele ou pelo do arminho; muito alvo, muito branco, alvura
Brasi de Cima e Brasi de Baxo
(sentido figurado).
3. gaza: tecido fino, transparente, feito de seda ou algodão. [...]
Inquanto o Brasi de Cima
2. (Unesp) “Em todo o momento de atividade mental
Fala de transformação,
acontece em nós um duplo fenômeno de percepção”.
Industra, matéra prima,
Na oração transcrita, que inicia o comentário de Fer- Descobertas e invenção,
nando Pessoa, explique por que, sob o ponto de vista
No Brasi de Baxo isiste
gramatical, a forma verbal “acontece” está flexionada
na terceira pessoa do singular. O drama penoso e triste
Da negra necissidade;
3. (Fuvest) Leia o texto. É uma cousa sem jeito
E o povo não tem dereito
Ditadura / Democracia
Nem de dizê a verdade.
A diferença entre uma democracia e um país totalitário
é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém No Brasi de Baxo eu vejo
vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cida- Nas ponta das pobre rua
dão de uma ditadura o que acha do seu país, ele respon- O descontente cortejo
de sem hesitação: “Não posso me queixar”. De criança quage nua.
Vai um grupo de garoto
Millôr Fernandes, Millôr definitivo: a bíblia do caos.
Faminto, doente e roto
a) Para produzir o efeito de humor que o caracteriza, Mode caçá o que comê
esse texto emprega o recurso da ambiguidade? Justi- Onde os carro põe o lixo,
fique sua resposta. Como se eles fosse bicho
b) Reescreva a segunda parte do texto (de “Mas” até Sem direito de vivê.
“queixar”), pondo no plural a palavra “cidadão” e
fazendo as modificações necessárias. Estas pequenas pessoa,
4. (Fuvest) Observe este anúncio. Estes fio do abandono,
Que veve vagando à toa
Como objeto sem dono,
De manêra que horroriza,
Deitado pela marquiza,
Dromindo aqui e aculá
No mais penoso relaxo,
É deste Brasi de Baxo
A crasse dos marginá.

Meu Brasi de Baxo, amigo,


Pra onde é que você vai?
Nesta vida do mendigo
Que não tem mãe nem tem pai?
Não se afrija, nem se afobe,
O que com o tempo sobe,
O tempo mesmo derruba;
Tarvez ainda aconteça
Que o Brasi de Cima desça
a) Na composição do anúncio, qual é a relação de
sentido existente entre a imagem e o trecho “quem é E o Brasi de Baxo suba.
e o que pensa”, que faz parte da mensagem verbal?
Sofre o povo privação
b) Se os sujeitos dos verbos “descubra” e “pensa” es-
Mas não pode recramá,
tivessem no plural, como deveria ser redigida a frase
utilizada no anúncio? Ispondo suas razão
Nas coluna do jorná.

21
Mas, tudo na vida passa,
Antes que a grande desgraça Gabarito
Deste povo que padece
Se istenda, cresça e redrobe, E.O. Aprendizagem
O Brasi de Baxo sobe
E o Brasi de Cima desce. 1. D 2
. B 3
. D 4
. C 5
. A

Brasi de Baxo subindo, 6. E 7


. B 8. D 9. C 10. B
Vai havê transformação
Para os que veve sintindo
Abondono e sujeição. E.O. Fixação
Se acaba a dura sentença
E a liberdade de imprensa 1. C 2. C 3. C 4. C 5
. C
Vai sê legá e comum,
Em vez deste grande apuro,
6
. E 7
. A 8
. A 9
. A 10. E
Todos vão tê no futuro
Um Brasi de cada um.

Brasi de paz e prazê, E.O. Complementar


De riqueza todo cheio,
1. D 2
. D 3. C 4. E 5. E
Mas, que o dono do podê
Respeite o dereito aleio.
Um grande e rico país
Munto ditoso e feliz, E.O. Dissertativo
Um Brasi dos brasilêro, 1.
Um Brasi de cada quá,
a) A primeira visão relaciona-se aos aspectos simbóli-
Um Brasi nacioná
cos e culturais capazes de unir emocionalmente uma
Sem monopolo istrangêro. comunidade. A outra diz respeito ao fato de que os
(Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva). Cante lá que eu membros de uma sociedade passam a se organizar a
canto cá. 6.ªEd. Crato: Vozes/Fundação Pe. Ibiapina/Instituto Cultural partir de questões específicas, revelando a diversida-
do Cariri. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1986.) de de valores sociais.
b) i. Ela concorda com o sujeito “diversas formas de
O Discípulo de Emaús
socialidade”, cujo núcleo (formas) está no plural.
A harmonia da sociedade somente poderá ser atingida Isto ocorre porque o verbo “tornar-se” é classificado
mediante a execução de um código espiritual e moral como transitivo direto, o qual, quando empregado na
que atenda, não só ao bem coletivo, como ao bem de voz passiva sintética, deve concordar com o sujeito.
cada um. A conciliação da liberdade com a autoridade é, ii. É possível que a relação identificatória entre es-
no plano político, um dos mais importantes problemas. tado-nação e sociedade tenha perdido a obviedade
A extensão das possibilidades de melhoria a todos os e naturalidade, quando, no contexto da globalização,
membros da sociedade, sem distinção de raças, credos tornaram-se manifestas diversas formas de socialida-
religiosos, opiniões políticas, é um dos imperativos da de completamente desvinculadas do estado-nação.
justiça social, bem como a apropriação pelo Estado dos
instrumentos de trabalho coletivo. 2.

(Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio de a) Segundo o texto, os componentes utilizados para a
Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.) interpretação do mundo são: a imaginação decorrente
de estímulos oriundos da própria realidade e a inter-
5. (Unesp) Como Patativa imita o linguajar do povo, pretação dessa realidade.
seu discurso poemático incorpora regras gramaticais b) Os desvios estão indicados em negrito. Coisas au-
desse linguajar, que não são as mesmas da norma cul- sentes não interferem no comportamento dos animais,
ta. Estabeleça a diferença entre a concordância verbal pois eles só temem o que lhes desperta os sentidos.
utilizada pelo poeta nos versos Onde os carro põe o
lixo, / Como se eles fosse bicho e a que se observa na 3.
norma culta. a)
i. O referente do pronome se é loucura e o do pro-
nome seu, razão.
ii. Pois, porque, já que, visto que, uma vez que.
b) O verbo está concordando com características
próprias.

22
4. b) Mas se você perguntar a quaisquer cidadãos de
a) Em i, a palavra que é um pronome relativo – in- uma ditadura o que acham do seu país, eles respon-
troduz a oração adjetiva e substitui “loucura divina” dem sem hesitação: “Não podemos nos queixar”.
nessa oração. Em ii, a palavra que é uma conjunção in- 4.
tegrante - serve como elo sintático, ligando as orações.
b) O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a a) A imagem de um rosto feliz inserida numa im-
segunda metade do século XVII, efetuaram-se críticas, pressão digital transmite a ideia da singularidade de
condenações e massacres a qualquer coisa que fosse pensamento e personalidade de cada morador de São
considerada irracional. Paulo o qual, provavelmente, expressará as caracte-
rísticas positivas da cidade ao ser inquirido sobre o
5. assunto.
a) O uso da primeira pessoa no termo verbal “sabe- b) Descubram quem são e o que pensam os morado-
mos” indica que o pronome indefinido “todos” faz res de São Paulo.
parte de uma locução pronominal indefinida em que 5. A variante popular privilegia a economia vocabular e, frequen-
o pronome “nós” está subentendido (todos nós), for- temente, como no caso do verso citado, flexiona apenas o artigo
mando uma silepse de pessoa. e o pronome, por considerá-los suficientes para a compreensão
b) A preferência por esse tipo de concordância permi- da frase. As regras gramaticais obrigam à concordância do ver-
te perceber a inclusão do autor na ideia que apresen- bo com o seu sujeito (“põem” e “fossem”) ou deste com o seu
ta, o que não aconteceria se usasse a forma “todos predicativo (“bichos”), assim como os determinantes com o de-
sabem”, na medida em que o verbo na terceira pes- terminado (“onde os carros põem o lixo”).
soa do plural conferiria noção vaga e indeterminada
a quem compartilha dessa opinião.

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. B 2
. A 3
. D 4. B 5
. A

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) Segundo Rubem Alves, a poesia resulta da inten-
sificação da sensibilidade que estimula a percepção
de tudo que nos rodeia, de maneira a conferir novos
significados aos seres e objetos: “Os poetas ensinam
a ver".
b) Substituindo o termo sublinhado por “Naquela
época” e empregando a primeira pessoa do plural,
a frase poderia apresentar as seguintes configura-
ções: Naquela época, tudo o que vimos nos causou
espanto. Ou, naquela época, tudo o que víamos nos
causava espanto.

2. A concordância verbal prevê que o verbo seja conjugado con-


forme o número e pessoa do sujeito. Na oração dada, o sujeito
do verbo “acontecer” é “um duplo fenômeno de percepção”,
cujo núcleo é o substantivo “fenômeno”; desse modo, sendo
o sujeito correspondente à terceira pessoa do singular, o verbo
deve concordar com ele.

3.
a) A frase “Não posso me queixar” permite duas in-
terpretações: o cidadão não reclama da situação por-
que está contente com o sistema ou, então, porque
ele está sujeito a um regime totalitarista em que a
censura o impede de manifestar a sua insatisfação.

23
1e8
AULAS 37 E 38
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 25, 26 e 27

CONCORDÂNCIA VERBAL II

E.O. Aprendizagem que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir


a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é nin-
guém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo
1. (EEAR 2019) Assinale a frase com erro de concordân-
que não era ninguém...
cia verbal:
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu
a) Que me importavam as questões complexas e ex-
ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que es-
tensas?
tava falando com um colega, ainda menos importante.
b) Nem a mentira nem o dinheiro o aproximaram de
seu pai. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia tra-
c) Não faltará, para a festa de Ana, pessoas que gos- balho noturno. Era pela madrugada que deixava a reda-
tem dela. ção do jornal, quase sempre depois de uma passagem
d) Proibiu-se a venda direta e lojas de produtos im- pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um
portados na movimentada avenida. dos exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da
máquina, como pão saído do forno.
2. (IFCE) De acordo com a norma culta padrão de con- Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às ve-
cordância verbal, está correta a frase da opção
zes me julgava importante porque no jornal que levava
a) Deve existir outras formas de se conquistar um para casa, além de reportagens ou notas que eu escre-
grande amor. vera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu
b) Aqui, precisam-se de vendedoras. nome. O jornal e o pão estavam bem cedinho na porta
c) Vende-se casas de veraneio em Fortaleza. de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi uma
d) Cada um de nós derramamos o café no vestido lição daquele homem entre todos útil e entre todos ale-
de Laura. gre; “não é ninguém, é o padeiro!”.
e) Os Estados Unidos ainda são uma nação poderosa.
E assoviava pelas escadas.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: (Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro:
Editora do Autor, 1960. Adaptado)
O padeiro
3. (IFSP) Assinale a alternativa em que o verbo em des-
Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho a chaleira taque está empregado de acordo com a norma padrão.
no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento
− mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo ins- a) A modéstia e a alegria do padeiro surprendia o
tante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da cronista.
véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não b) Fazia dias que os padeiros tinham iniciado “a gre-
é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que ve do pão dormido”.
suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando c) Era altas horas da madrugada, quando o cronista
o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido saía da oficina levando um exemplar do jornal.
conseguirão não sei bem o que do governo. d) Antigamente haviam padeiros que levavam o pão
Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é diretamente à casa dos fregueses.
tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembran- e) Para os profissionais que mantém o bom humor, o
do de um homem modesto que conheci antigamente. trabalho torna-se menos desgastante.
Quando vinha deixar pão à porta do apartamento ele
apertava a campainha, mas, para não incomodar os mo- 4. (PUC-Campinas 2018) Palavras do texto inspiraram as
radores, avisava gritando: frases que seguem, que devem, entretanto, ser conside-
radas independentes dele. A frase que está em concor-
– Não é ninguém, é o padeiro!
dância com a norma-padrão da língua é:
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar
aquilo? a) Deviam haver, naquele tempo, uns três ou quatro
canais, restrito a uma programação de cinco ou seis
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aqui-
horas por dia, que passaria, mais tarde a ocupar
lo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a cam-
24 horas.
painha de uma casa e ser atendido por uma emprega-
da ou por uma outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz b) Tendo surgido o celular, o que não tardou foram as
mudanças de hábitos, entre eles, bastante notável, a

24
falta de discrição com que as pessoas conversam, em porta, televisão de tela plana, mesa, cadeira e armário,
alta voz, em espaços públicos. quadro para afixar papéis e fotos, além de geladeiras.
c) Muitos jovens que não crêm que existiu um mundo Encontra-se lá uma ampla biblioteca, ginásio de espor-
sem TV, dificilmente acreditarão que os celulares po- tes, campo de futebol, chalés para os presos receberem
dem um dia não existirem. os familiares, estúdio de gravação de música e oficinas
d) Seja quais forem as formas de entretenimento que de trabalho. Nessas oficinas são oferecidos cursos de
a TV propicia, todas, possivelmente sem excessão, formação profissional, cursos educacionais, e o traba-
têm audiência garantida, o que mantém a publicida- lhador recebe uma pequena remuneração. Para contro-
de que paga os custos da programação. lar o ócio, oferecer muitas atividades, de educação, de
e) Se jovens se entreterem com filmes de qualidade, trabalho e de lazer, é a estratégia.
existe grandes possibilidades que venham a se inte- A prisão é construída em blocos de oito celas cada (al-
ressar por outras formas de arte. guns dos presos, como estupradores e pedófilos, ficam
em blocos separados). Cada bloco tem sua cozinha. A
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: comida é fornecida pela prisão, mas é preparada pelos
próprios detentos, que podem comprar alimentos no
Noruega como Modelo de Reabilitação de Criminosos
mercado interno para abastecer seus refrigeradores.
O Brasil é responsável por uma das mais altas taxas Todos os responsáveis pelo cuidado dos detentos de-
de reincidência criminal em todo o mundo. No país, a vem passar por no mínimo dois anos de preparação
taxa média de reincidência (amplamente admitida, mas para o cargo, em um curso superior, tendo como obriga-
nunca comprovada empiricamente) é de mais ou menos ção fundamental mostrar respeito a todos que ali estão.
70%, ou seja, 7 em cada 10 criminosos voltam a come- Partem do pressuposto que, ao mostrarem respeito, os
ter algum tipo de crime após saírem da cadeia. outros também aprenderão a respeitar.
Alguns perguntariam "Por quê?". E eu pergunto: "Por A diferença do sistema de execução penal norueguês
que não?" O que esperar de um sistema que propõe em relação ao sistema da maioria dos países, como o
reabilitar e reinserir aqueles que cometerem algum tipo brasileiro, americano, inglês, é que ele é fundamentado
de crime, mas nada oferece, para que essa situação re- na ideia de que a prisão é a privação da liberdade, e
almente aconteça? Presídios em estado de depredação pautado na reabilitação e não no tratamento cruel e
total, pouquíssimos programas educacionais e laborais na vingança.
para os detentos, praticamente nenhum incentivo cul- O detento, nesse modelo, é obrigado a mostrar progres-
tural, e, ainda, uma sinistra cultura (mas que diverte sos educacionais, laborais e comportamentais, e, dessa
muitas pessoas) de que bandido bom é bandido morto forma, provar que pode ter o direito de exercer sua li-
(a vingança é uma festa, dizia Nietzsche). berdade novamente junto à sociedade.
Situação contrária é encontrada na Noruega. Conside- A diferença entre os dois países (Noruega e Brasil) é a
rada pela ONU, em 2012, o melhor país para se viver seguinte: enquanto lá os presos saem e praticamente
(1º no ranking do IDH) e, de acordo com levantamento não cometem crimes, respeitando a população, aqui os
feito pelo Instituto Avante Brasil, o 8º país com a menor presos saem roubando e matando pessoas. Mas essas
taxa de homicídios no mundo, lá o sistema carcerário são consequências aparentemente colaterais, porque
chega a reabilitar 80% dos criminosos, ou seja, apenas a população manifesta muito mais prazer no massacre
2 em cada 10 presos voltam a cometer crimes; é uma
contra o preso produzido dentro dos presídios (a vin-
das menores taxas de reincidência do mundo. Em uma
gança é uma festa, dizia Nietzsche).
prisão em Bastoy, chamada de ilha paradisíaca, essa
reincidência é de cerca de 16% entre os homicidas, es- LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista, diretor-presidente do Instituto
tupradores e traficantes que por ali passaram. Os EUA Avante Brasil e coeditor do Portal atualidadesdodireito.
com.br. Estou no blogdolfg.com.br.
chegam a registrar 60% de reincidência e o Reino Uni-
do, 50%. A média europeia é 50%. ** Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga
e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
A Noruega associa as baixas taxas de reincidência ao
fato de ter seu sistema penal pautado na reabilitação FONTE: Adaptado de http://institutoavantebrasil.com.br/
e não na punição por vingança ou retaliação do crimi- noruega-como-modelo-de-reabilitacao-de-criminosos/.

noso. A reabilitação, nesse caso, não é uma opção, ela Acessado em 17 de março de 2017.
é obrigatória. Dessa forma, qualquer criminoso poderá
ser condenado à pena máxima prevista pela legislação 5. (Espcex (Aman) 2018) Assinale a alternativa em que
do país (21 anos), e, se o indivíduo não comprovar estar o emprego do verbo "haver" está correto.
totalmente reabilitado para o convívio social, a pena a) Haverá nove dias que ela visitou os pais.
será prorrogada, em mais 5 anos, até que sua reintegra-
b) Brigavam à toa, sem que houvessem motivos.
ção seja comprovada.
c) Criaturas infalíveis nunca houve nem haverão.
O presídio é um prédio, em meio a uma floresta, decora-
do com grafites e quadros nos corredores, e no qual as d) Não ligue, caso hajam desavenças entre vocês.
celas não possuem grades, mas sim uma boa cama, ba- e) Morávamos ali há quase cinco anos.
nheiro com vaso sanitário, chuveiro, toalhas brancas e

25
6. (IFSC) Assinale a única alternativa na qual está correta a concordância verbal, segundo a norma padrão da língua
portuguesa.
a) Aconteceu alguns fatos muito estranhos no ano passado.
b) Nem faziam dois meses que ela se fora.
c) A retirada das tropas levariam algum tempo ainda.
d) Foi conseguido muitas doações para os desabrigados.
e) Se houvesse interessados, ele venderia o barco.

7. (Insper) Na edição 2177, de 11/08/2010, a revista Veja publicou a reportagem Falar e escrever bem: rumo à vitória,
com dicas para não “tropeçar” no idioma durante uma entrevista de emprego.

Identifique a alternativa que apresenta uma explicação INADEQUADA para a correção feita.
a) Houve algumas dificuldades: o verbo “haver”, no sentido de “existir” é impessoal e não admite flexão.
b) O chefe bloqueou meu último pagamento: deve-se empregar um sinônimo, pois o verbo “reter” é defectivo.
c) Seguem anexos dois trabalhos: é preciso estar atento à concordância verbal e nominal.
d) Já faz cinco anos: quando indica tempo decorrido, o verbo “fazer” deve permanecer no singular.
e) Se eu dispuser de uma boa equipe: o verbo “dispor” deve seguir a conjugação do verbo “pôr”.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: a método de ensino e imperativo de convivência supos-


tamente democrática.
Eu acuso No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas
Meu dever é falar, não quero ser cúmplice. (...) (Émile Zola) que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não
bate, que traumatiza”. A coisa continuou: 8”Não 13re-
Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de prove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois 9”te-
casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo mos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. 14Aliás,
Horizonte, um estudante processa a escola e o profes- 10
”prova não prova nada”. Deixe o aluno 11”construir
sor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensan-
morais ao ter que virar noites estudando para a prova do bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal
subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do de contas, ele está pagando...
estudante foi ter que... estudar!). 7
E como a estupidez humana não tem limite, a avaca-
A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, amea-
16
lhação geral epidêmica, travestida de “novo paradig-
ças constantes (...). O ápice desta escalada macabra não ma” 12(Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores:
poderia ser outro. “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar
O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhe-
sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e cimento é ser ‘crítico’.” (...)
filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irres- 15
Estamos criando gerações em que uma parcela con-
ponsabilidade que há muito vem tomando conta dos siderável de nossos cidadãos é composta de adultos
ambientes escolares. mimados, despreparados para os problemas, decepções
Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa esca- e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e,
lada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mun-
senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada do lhes deve algo”.

26
Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cra- 8. (Epcar (Cpcar)) Assinale a alternativa em que a flexão
vou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem de número proposta NÃO está de acordo com a norma
no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha padrão da língua.
e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar. a) Uma multidão de filhos tiranos será despejada na
Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos to- vida como adultos eternamente infantilizados.
dos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento b) Tudo isso e muito mais farão parte do devido pro-
humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser cesso legal.
condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo c) Qualquer um de nós podemos ser os próximos por
isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, quaisquer motivos.
que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo
d) Milhares de casos de desrespeito parecia anuncia-
Ministério Público. 5A acusação penal ao autor do homi-
rem fartamente a tragédia.
cídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a
licença devida ao célebre texto de Émile Zola, EU ACUSO 9. (Acafe) Assinale a frase correta quanto à concordân-
tantos outros que estão por trás do cabo da faca: cia verbal.
EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende re- a) Como faziam anos que meu marido tinha morrido,
lativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e contratei três empregados que era suficiente para cui-
vice-versa; (...) dar da fazenda.
EU ACUSO os burocratas da educação (...) b) Compraram-se alguns equipamentos necessários à
EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, adequação da nossa indústria às atuais exigências de
(...), 6cujo boleto hoje vale muito mais do que seu suces- mercado.
so e sua felicidade amanhã; (...) c) Talvez possam haver soluções melhores do que es-
EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunida- tas, mas nenhuma delas foram sugeridas até agora.
de dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, as- d) Ainda não havia soado 11 horas da noite, quando
sim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos bateu à porta: eram três meninos das redondezas.
colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Uma multidão de filhos tiranos, que se tornam alu-
nos-clientes, serão despejados na vida como adultos VELHO MARINHEIRO
eternamente infantilizados e totalmente desprepara-
dos, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, Homenagem aos marinheiros de sempre...
quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e de- e para sempre.

cepções do dia a dia. 28


Sou marinheiro porque um dia, muito jovem, estendi
1
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de meu braço diante da bandeira e jurei lhe dar minha vida.
grandeza, estes jovens mostram cada vez menos prepa-
Naquele dia de sol a pino, com meu novo uniforme
ro na delicada e essencial arte que é lidar com aquele
branco, 21senti-me homem de verdade, como se estives-
ser complexo e imprevisível que podemos chamar de
se dando adeus aos tempos de garoto. 29Ao meu lado,
“o outro”.
as vozes de outros jovens soavam em uníssono com a
A 2infantilização eterna cria a seguinte e horrenda ló- minha, vibrantes, e terminamos com emoção, de peitos
gica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de estufados e orgulhosos. 5Ao final, minha mãe veio em
adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se minha direção, apressada em me dar um beijo. 20Acari-
não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, ciou-me o rosto e disse que eu estava lindo de unifor-
a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa me. 6O dia acabou com a família em festa; 11eu lembro-
é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna -me bem, fiquei de uniforme até de tarde...
vítima. (...) Quando eu era criança, eu batia os pés no
Sou marinheiro, porque aprendi, naquela Escola, o sig-
chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. 17Portanto, você
nificado nobre de companheirismo. 7Juntos no sofri-
pode ser o próximo.”
mento e na alegria, um safando o outro, leais e amigos.
Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer Aprendi o que é civismo, respeito e disciplina, no prin-
motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A cípio, exigidos a cada dia; depois, como parte do meu
facada 3ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos ser e, assim, para sempre. 23A cada passo havia um novo
nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repen- esforço esperando e, depois dele, um pequeno suces-
sarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modis- so. 26Minha vida, agora que olho para trás, foi toda de
mos e 4invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que pequenos sucessos. A soma deles foi a minha carreira.
podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos 19
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que era no-
as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, vamente aluno. Todos sabiam das coisas mais do que
responsabilidade, disciplina e estudo de verdade. eu havia aprendido. Só que agora me davam tarefas,
incumbências, e esperavam que eu as cumprisse bem.
(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes –
2
Pouco a pouco, passei a ser parte da equipe, a ser
adaptado) Igor Pantuzza Wildmann, Advogado – Doutor em chamado para ajudar, a ser necessário. 8Um dia vi-me
Direito. Professor universitário. Fonte: Jornal Impacto. ensinando aos novatos 12e dei-me conta de que me tor-

27
nara marinheiro, de fato e de direito, um profissional! pre, indo aonde o mar encontra o céu... e, se São Pedro
32
O navio passou a ser minha segunda casa, onde eu estiver no portaló, direi:
permanecia mais tempo, às vezes, do que na primeira. – Sou marinheiro, estou embarcando.
Conhecia todos, alguns mais até do que meus paren-
tes. Sabia de suas manhas, cacoetes, preocupações e de Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: leitura e produção de texto.
seus sonhos. Sem dar conta, meu mundo acabava no Rio de Janeiro: Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8)
costado do navio.
Glossário
9
A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo navio, 14é
- Portaló: abertura no casco de um navio, ou passagem
uma das coisas mais belas, que só há entre nós, em mais
junto à balaustrada, por onde as pessoas transitam
nenhum outro lugar. 24Por isso sou marinheiro, porque
para fora ou para dentro, e por onde se pode movimen-
sei o que é espírito de navio.
tar carga leve.
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos um duro
danado no mar, em serviço, postos de combate, ades- 10. (Esc. Naval) Que opção obedece, plenamente, à mo-
tramento de guerra, dia e noite. 30O interessante é que dalidade padrão da língua portuguesa?
em toda nossa vida, 15quando buscamos as boas recor-
a) Já percebeu-se, desde o período de formação ma-
dações, elas vêm desse tempo, das viagens e dos navios.
rinheira, que eram ingentes as dificuldades enfrenta-
16
Até 13as durezas por que passamos são saborosas 1ao
das no mar pelos jovens nautas.
lembrar, talvez porque as vencemos e fomos adiante.
b) Por que infringiram regras internacionais de na-
É aquela história dos pequenos sucessos. vegação, alguns navios estrangeiros pagarão multas
A volta ao porto era um acontecimento gostoso, sempre extraordinárias e serão impedidos de sair do porto.
figurando a mulher. Primeiro a mãe, depois a namorada, c) Pode existir conceitos de corporativismo, os quais
a noiva, a esposa. Muita coisa a contar, a dizer, surpre- privilegiam ao bem de cada um e podem ser respon-
sas de carinho. A comida preferida, o abraço apertado, sáveis pela derrocada da instituição militar.
o beijo quente... e o filho que, na ausência, foi ensinado d) Mal se apresentaram à nova comissão, formada
a dizer papai. por oficiais, os jovens marinheiros passaram por um
31
No início, eu voltava com muitos retratos, principal- árduo e acurado treinamento.
mente quando vinha do estrangeiro, depois, com o e) Houveram velhos marinheiros que preferiam per-
tempo, eram poucos, até que deixei de levar a máquina. manecer em seus navios, mesmo durante longo tem-
10
Engraçado, 22vocês já perceberam que marinheiro ve- po, a serem afastados do mar.
lho dificilmente baixa a terra com máquina fotográfica?
Foi assim comigo.
34
Hoje os navios são outros, os marinheiros são outros -
sinto-os mais preparados do que eu era - mas a vida no
E.O. Fixação
mar, as viagens, os portos, a volta, estou certo de que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
são iguais. Sou marinheiro, por isso sei como é.
Filosofar para preservar
Fico agora em casa, querendo saber das coisas da Ma-
rinha. E a cada pedaço que ouço de um amigo, que leio,
O modelo consumista de produção da atualidade é eco-
que vejo, me dá um orgulho que às vezes chega a en-
cida em sua natureza e antiecológico em sua finalidade
talar na garganta. 4Há pouco tempo, voltei a entrar em
um navio. Que coisa linda! 35Sofisticado, limpíssimo, nas Alfeu Trancoso *
mãos de uma tripulação que só pode ser muito com-
petente para mantê-lo pronto. 33Do que me mostraram Filosofar é fazer pensar, refletir sobre como gerenciar
eu não sabia muito. Basta dizer que o último navio em melhor nossas escolhas cotidianas. Essa arte do bem
que servi já deu baixa. 17Quando saí de bordo, parei no pensar deve orientar nossas emoções e condecorar nos-
portaló, voltei-me para a bandeira, inclinei a cabeça... e, sas conquistas. Pensar para não sofrer, eis um dos lemas
minha garganta entalou outra vez. centrais dessa atividade interrogante que tem por fina-
lidade nos fazer encontrar a sabedoria do feliz. Por ser
Isso é corporativismo; não aquele enxovalhado, que sig-
uma arte, todos a desejam, mas apenas uns poucos a
nifica o bem de cada um, protegido à custa do desmere-
atingem. E esses são os sábios, aqueles que conseguem
cimento da instituição; mas o puro, que significa o bem
monitorar com destreza as artimanhas do viver, fugin-
da instituição, protegido pelo merecimento de cada um.
do das seduções do efêmero e dos negativismos atuais.
27
Sou marinheiro e, portanto, sou corporativista. Sabemos que muita gente não gosta de pensar, mas po-
Muitas vezes 25a lembrança me retorna aos dias da ati- demos aprender a gostar dessa atividade, já que todo
va e morro de saudades. 18Que bom se pudesse voltar amor é um aprendizado, fruto de um persistente esfor-
ao começo, vestir aquele uniforme novinho — até um ço. Não existe gratuidade na vida. Toda pessoa doadora
pouco grande, ainda recordo — Jurar Bandeira, ser bei- sabe disso. Ela dá porque recebe, ama porque é amada.
jado pela minha falecida mãe... Há outro desafio fundamental para a vida que o ser
3
Sei que, quando minha hora chegar, no último instante, humano teima em não assumir em sua amplitude: as
verei, em velocidade desconhecida, o navio com meus implicações ecológicas da nossa relação com o planeta.
amigos, minha mulher, meus filhos, singrando para sem- Conseguimos avanços significativos na esfera da políti-

28
ca e da educação, em geral, mas na área dos sistemas d) Amanhã, vão haver aulas de informática durante
econômicos pouca coisa foi conquistada. O sistema glo- todo o período de aula.
bal de produção continua agindo como se os objetivos a e) Houveram casos significativos de contaminação no
alcançar fossem os mesmos de 200 anos atrás. O frenesi hospital da cidade.
do crescimento a qualquer custo atinge todos os recan-
tos da Terra. A roda acelerada desde o século XIX não 3. (IFSP) Assinale a alternativa correta de acordo com a
pode parar. Para haver riqueza, é preciso produzir, con- norma padrão:
sumir, obter lucro, criar mais trabalho, produzir e repetir a) Fazem quinze dias que os camponeses não colhem
tudo de novo numa ciranda sem fim. Acreditam que, nada.
quanto mais consumirmos, mais trabalho criamos,mais b) Era esperada, na fazenda, vinte toneladas de grãos.
o país pode se desenvolver. O modelo consumista de c) Houveram, no sítio, fortes chuvas que destruíram
produção da atualidade é ‘ecocida’ em sua natureza e a plantação.
antiecológico em sua finalidade. O planeta não mais d) É necessário que todos, inclusive o agricultor, seja
suporta tamanha pressão sobre os seus já limitados re- favorável à preservação.
cursos. Os ecologistas lançam pelos quatro cantos do
e) Haviam feito os lavradores o plantio adequado das
mundo seus gritos de alarme. Mas os donos do poder sementes.
industrial tapam os ouvidos a essas lamentações. É im-
possível pensarmos em crescimento e sustentabilidade TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
num sistema em que a obsolescência é planejada e o
desperdício é o motor da reposição. Quase todos agem A falácia do mundo justo e a culpabilização das vítimas
como se os recursos fossem ilimitados. É lógico que to-
Por Ana Carolina Prado
dos nós precisamos consumir, mas consumo para suprir
nossas necessidades e não para satisfazer o poço sem “É claro que o cara que estuprou é o culpado, mas as
fundo dos nossos desejos. Todo o sistema global de pro- mulheres também ficam andando na rua de saia cur-
dução atual aposta na ideia de que o supérfluo é mais ta e em hora errada!”. “O hacker que roubou as fotos
importante do que o necessário. dessas celebridades nuas está errado, mas ninguém
Concluindo, podemos afirmar que a reflexão filosófica mandou tirar as fotos!”. “Se você trabalhar duro vai ser
nos ajuda a encontrar uma luz no meio do túnel antes bem-sucedido, não importa quem você seja. Quem mor-
que o dique se rompa e a inundação esmague todos. reu pobre é porque não se esforçou o bastante.” Você
Filosofar é apontar expectativas e, nesse aspecto, todas sabe o que essas afirmações têm em comum?
as pessoas de bom senso devem, com urgência, utilizar Há algum tempo falei aqui sobre como os humanos têm
a reflexão para propor novos caminhos ou uma saída diversas formas de se enganar em relação à ideia que
para o impasse civilizatório em que nos encontramos. têm de si mesmos, quase sempre para proteger sua au-
Urge lutarmos por uma sociedade mais verde, mais in- toestima ou para saciar sua vontade de estar sempre cer-
terativa com a natureza. Devemos saber que a luta eco- tos. Mas nosso cérebro não nos engana só em relação a
lógica não é somente uma luta para a preservação da como vemos a nós mesmos: temos também a tendência
espécie humana, mas de todas as espécies do planeta, de nos iludir em relação aos outros e à vida em geral. E as
já que somos fios da mesma rede interativa que forma frases acima exemplificam uma maneira como isso pode
o tecido da vida na Terra. acontecer: por meio da falácia do mundo justo.
Por exemplo, embora os estupros raramente tenham
(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas qualquer coisa a ver com o comportamento ou vesti-
Disponível em: <http://www.revistaecologico. menta da vítima e sejam normalmente cometidos por
com.br>. Acesso em: 10 set. 2013. um conhecido e não por um estranho numa rua deserta,
a maioria das campanhas de conscientização são volta-
1. (CFTMG) Se pluralizarmos o termo grifado, o verbo das para as mulheres, não para os homens — e trazem
também deverá ir para o plural em: a absurda mensagem de “não faça algo que poderia
a) Não existe gratuidade na vida. levá-la a ser violentada”.
b) Para haver riqueza, é preciso produzir, consumir, ob- Em um estudo sobre bullying feito em 2010 na Universi-
ter lucro, criar mais trabalho, (...) dade Linkoping, na Suécia, dos adolescentes culparam
c) Há outro desafio fundamental para a vida que o ser a vítima por ser “um alvo fácil”. Para os pesquisadores,
humano teima em não assumir em sua amplitude: (...) esses julgamentos estão relacionados à noção — am-
d) Concluindo, podemos afirmar que a reflexão filosófi- plamente difundida na ficção — de que coisas boas
ca nos ajuda a encontrar uma luz no meio do túnel (...) acontecem a quem é bom e coisas más acontecem a
quem merece. 1A tendência a acreditar que o mundo é
2. (Espcex (Aman)) Marque a única alternativa em que o assim é chamada, na psicologia, de falácia do mundo
emprego do verbo haver está correto. justo. “Não importa quão liberal ou conservador você
a) Todas as gotas de água havia evaporado. seja, alguma noção dela entra na sua reação emocional
b) Elas se haverão comigo, se mandarem meu primo sair. quando ouve sobre o sofrimento dos outros”, diz o jor-
nalista David McRaney no livro “Você não é tão esper-
c) Não houveram quaisquer mudanças no regulamento.

29
to quanto pensa”. 4Ele acrescenta que, embora muitas 5. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa cujo período
pessoas não acreditem conscientemente em carma, no está de acordo com a norma culta da Língua.
fundo ainda acreditam em alguma versão disso, adap- a) Precisa-se vendedores.
tando o conceito para a sua própria cultura.
b) Cercou-se as cidades.
E dá para entender por que somos levados a pensar c) Corrigiu-se o decreto.
assim: viver em um mundo injusto e imprevisível é
d) Dominou-se muitos.
meio assustador e queremos nos sentir seguros e no
controle. 3O problema é que crer cegamente nisso leva e) Aclamaram-se a rainha.
a ainda mais injustiças, como o julgamento de que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
pessoas pobres ou viciadas em drogas são vagabun-
das [...], que mulher de roupa curta merece ser maltra- Adiante seguiu a Justiça
tada ou que programas sociais são um desperdício de
dinheiro e uma muleta para preguiçosos. Todas essas Maria Berenice Dias
crenças são falaciosas porque partem do princípio de
Durante séculos, ninguém 1titubeava em responder: fa-
que o sistema em que vivemos é justo e cada um tem
mília, só tem uma – a 2constituída pelos sagrados laços
exatamente o que merece.
do matrimônio. Aos noivos era imposta a obrigação de se
2
[...] a falácia do mundo justo desconsidera os inúmeros multiplicarem até a morte, mesmo na tristeza, na pobre-
outros fatores que influenciam quão bem-sucedida a za e na doença. Tanto que se falava em débito conjugal.
pessoa vai ser, como o local onde ela nasceu, a situa-
Esse modelito se manteve, ao menos na 3aparência,
ção socioeconômica da sua família, os estímulos e si- 4
_____ expensas da integridade física e psíquica das
tuações pelas quais passou ao longo da vida e o acaso.
mulheres, que se mantinham dentro de casamentos
5
Programas sociais e ações afirmativas não rompem o 5
esfacelados, pois assim exigia a sociedade. Tanto que
equilíbrio natural das coisas, como seus críticos podem o casamento era indissolúvel. As pessoas até podiam
crer — pelo contrário, a ideia é justamente minimizar os se desquitar6, mas não podiam se casar de novo. Caso
efeitos da injustiça social. 6Uma pessoa extremamente encontrassem um par, 7tornavam-se 8concubinos e alvos
pobre pode virar a dona de uma empresa multimilio- de punições.
nária, mas o esforço que vai ter de fazer para chegar
lá é muito maior do que o esforço de alguém nascido As mudanças foram muitas: vagarosas, mas significativas.
em uma família rica que sempre teve acesso à melhor As causas9, incontáveis. No entanto, o resultado foi um
educação e a bons contatos. “Se olhar os excluídos e se
10
só. O conceito de família mudou, se esgarçou. O casa-
questionar por que eles não conseguem sair da pobreza mento perdeu a sacralidade e permanecer dentro dele
deixou de ser uma imposição social e uma obrigação legal.
e ter um bom emprego como você, está cometendo a
falácia do mundo justo. Está ignorando as bênçãos não Veio o 11divórcio. Antes, porém, o 12purgatório da sepa-
merecidas da sua posição”, diz McRaney. ração, que exigia que se identificassem causas, 13punin-
do-se os culpados. A liberdade total de casar e descasar
Em casos de abusos contra outras pessoas, como
chegou somente no ano de 2006.
bullying ou estupro, a injustiça é ainda maior, pois eles
nunca são justificados — e aí a falácia do mundo justo A lei regulamentava exclusivamente o casamento. Punia
se mostra ainda mais perversa. Portanto, toda vez que com o silêncio toda e qualquer modalidade de estrutu-
você se sentir movido a dizer coisas como “O estupra- ras familiares que se afastasse do modelo “oficial”.
dor é quem está errado, é claro, mas…”, pare por aí. O E foi assumindo a responsabilidade de julgar que os
que vem depois do “mas” é quase sempre fruto de uma 14
juízes começaram a alargar o conceito de família. As
tendência a ver o mundo de uma forma distorcida só mudanças chegaram 15_____ Constituição Federal, que
para ele parecer menos injusto. enlaçou no conceito de família, outorgando-lhes espe-
cial proteção, outras estruturas de convívio. Além do
Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs>.
casamento, trouxe, de forma exemplificativa, a união
Acesso em: 02 set. 2014 (Adaptado)
estável entre um homem e uma mulher e a chamada
4. (CFTMG) “Há algum tempo falei aqui sobre como os família parental: um dos pais e seus filhos.
humanos têm diversas formas de se enganar em rela- Adiante ainda seguiu a Justiça. Reconheceu que o rol
ção à ideia que têm de si mesmos, quase sempre para constitucional não é exaustivo, e continuou a reconhe-
proteger sua autoestima ou para saciar sua vontade de cer como família outras estruturas familiares. Assim
estar sempre certos.” as famílias anaparentais, constituídas somente pelos
Os verbos “haver” e “ter”, em destaque, foram empre- filhos, sem a presença dos pais; as famílias parentais,
gados, respectivamente, com o sentido de decorrentes do convívio de pessoas com vínculo de pa-
rentesco; bem como as famílias homoafetivas, que são
a) existência/posse. as formadas por pessoas do mesmo sexo.
b) posse/existência. O reconhecimento da homoafetividade como união es-
c) tempo decorrido/posse. tável foi levado 16_____ efeito pelo Supremo Tribunal
d) tempo decorrido/existência. Federal no ano de 2011, em decisão unânime e histó-
rica. Agora esta é a realidade: 17homossexuais casam18,
têm filhos19, ou seja20, podem constituir família.

30
Ativismo judicial? Não, interpretação da Carta Consti- 8. (ESPM) Em uma das opções abaixo, o verbo HAVER é
tucional segundo um punhado de princípios fundamen- impessoal e, por isso, não deveria estar no plural. Assi-
tais. É a Justiça cumprindo o seu papel de fazer justiça, nale-a:
mesmo diante da lacuna legal. a) Traficantes da Favela do Alemão haviam ordenado
Da inércia, passou o Legislativo21, dominado por autoin- o fechamento do comércio local, como represália à
titulados profetas religiosos22, a reagir. morte de um deles.
Não foi outro o intuito do Estatuto da Família, que aca- b) Por haverem patrimônio ilegal, muitos políticos fo-
ba de ser aprovado pela comissão especial na Câmara ram indiciados na investigação da Operação Lava Jato.
dos Deputados (PL 6.583/2013). 23Tentar limitar o con- c) Até aqueles que estiveram envolvidos em tráfico de
ceito de família à união entre um homem e uma mulher, influência se haverão com a Polícia Federal.
além de 24afrontar todos os princípios fundantes do Es- d) Em início de temporada, times grandes da Capital
tado, impõe um retrocesso social que irá retirar direitos não se houveram bem nos jogos da última rodada.
de todos aqueles que não se encaixam neste conceito e) Em São Paulo e no Rio, houveram casos de policiais
limitante e limitado. espancados por jovens mascarados nos protestos de rua.
Mas 25_____ mais. Proceder ao cadastramento das en-
tidades familiares e criar Conselhos da Família é das TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
formas mais perversas de excluir direito à saúde, à
assistência psicossocial, à segurança pública, que são TRABALHO ESCRAVO É AINDA UMA REALIDADE NO BRASIL
asseguradas somente às entidades familiares reconhe-
cidas como tal. Limitar acesso à Defensoria Pública e à Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a
tramitação prioritária dos processos à entidade familiar correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o
definida na lei, às claras tem caráter punitivo. mantém submisso a uma situação de exploração.
O conceito de família mudou. E onde procurar a sua de- O trabalho escravo ainda é uma violação de direitos
finição atual? Talvez na frase piegas de Saint-Exupéry: humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi as-
na responsabilidade decorrente do afeto. sumida pelo governo federal perante o país e a Orga-
nização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que
(Fonte: Zero Hora, Caderno PrOA, 27-09-2015 – Adaptação)
fez com que se tornasse uma das primeiras nações do
6. (Imed) Caso na referência 17, o vocábulo homosse- mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contem-
xuais fosse passado para o singular, quantas outras al- porânea em seu território. Daquele ano até 2016, mais
terações deveriam ser feitas a fim de manter a concor- de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações
dância da frase? análogas à de escravidão em atividades econômicas
nas zonas rural e urbana.
a) Duas.
Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O tra-
b) Três.
balho escravo não é somente uma violação trabalhista,
c) Quatro. tampouco se trata daquela escravidão dos períodos
d) Cinco. colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos
e) Seis. humanos não prende mais o indivíduo a correntes, mas
compreende outros mecanismos, que acometem a dig-
7. (IFSP) Concordância é o mecanismo pelo qual as pa- nidade e a liberdade do trabalhador e o mantêm sub-
lavras alteram suas terminações para se adequarem misso a uma situação extrema de exploração.
harmonicamente na frase. Considerando o conceito de
Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficiente
concordância e a norma padrão da Língua Portuguesa,
para configurar uma situação de trabalho escravo:
associe as colunas indicando a alternativa que ordena
corretamente as frases e a avaliação dos eventos de TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se sub-
concordância: meter a condições de trabalho em que é explorado, sem
possibilidade de deixar o local seja por causa de dívi-
I. Nós nos conhecíamos haviam anos.
das, seja por ameaça e violências física ou psicológica.
II. Nós nos conhecíamos havia anos.
JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai além
III. É proibido a entrada. de horas extras e coloca em risco a integridade física do
IV. É proibida a entrada. trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insu-
( ) a concordância verbal está correta. ficiente para a reposição de energia. Há casos em que o
descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador
( ) há um erro de concordância verbal.
também fica impedido de manter vida social e familiar.
( ) há um erro de concordância nominal.
SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais re-
( ) a concordância nominal está correta.
ferentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel
a) II, I, III, IV. e ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de
b) I, II, III, IV. forma abusiva e descontados do salário do trabalhador,
c) II, III, I, IV. que permanece sempre devendo ao empregador.
d) IV, III, II, I. CONDIÇÕES DEGRADANTES: um conjunto de elementos
e) III, IV, I, II. irregulares que caracterizam a precariedade do traba-

31
lho e das condições de vida sob a qual o trabalhador é 9. (IFPE) No que diz respeito à sintaxe de concordância e
submetido, atentando contra a sua dignidade. à de regência, assinale a opção CORRETA.
Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são mi- a) Em “Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são ne-
grantes que deixaram suas casas em busca de melhores cessárias ações que incidam na vida do trabalhador [...]”
condições de vida e de sustento para as suas famílias. (9º parágrafo), o verbo sublinhado está corretamente
Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de flexionado em concordância ao sujeito posposto.
aliciadores ou migram forçadamente por uma série de b) Em “[…] mais de 50 mil trabalhadores foram li-
motivos, que podem incluir a falta de opção econômi- bertados de situações análogas à de escravidão[…].”
ca, guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os (1º parágrafo), a locução verbal grifada foi pluraliza-
trabalhadores provêm de diversos estados das regiões da por concordar o termo “trabalhadores”, mas seria
Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem correto flexioná-la no singular em concordância com
ser migrantes internacionais de países latino-america- a expressão de quantidade “mais de”.
nos – como a Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além c) Em “No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao
do Haiti e do Oriente Médio. Essas pessoas podem se trabalho escravo rural são homens” (6º parágrafo), o
destinar à região de expansão agrícola ou aos centros verbo sublinhado foi pluralizado para concordar com o
urbanos à procura de oportunidades de trabalho. substantivo “pessoas”, mas estaria correto flexioná-lo
Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em no singular em concordância com a porcentagem.
atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, d) Em “Muitas vezes, o trabalhador submetido ao tra-
a produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, balho escravo consegue fugir da situação de exploração
soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação tam- [...].” (7º parágrafo), a regência do termo grifado tam-
bém é verificada em centros urbanos, principalmente bém estaria correta se exercida pela preposição “com”.
na construção civil e na confecção têxtil. e) Em “No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos
No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho es- estados [...]” (4º parágrafo), houve incorreção no uso da
cravo rural são homens. Em geral, as atividades para preposição. A fim de respeitar a regência verbal, nesse
as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem contexto, deveria ser realizada pela preposição “a”.
força física, por isso os aliciadores buscam principal-
mente homens e jovens. Os dados oficiais do Programa TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Seguro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre
os trabalhadores libertados, 72,1% são analfabetos ou POR QUE TODO MUNDO NÃO FALA A MESMA LÍNGUA?
não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental.
Porque as línguas foram surgindo nas várias regiões do
Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho mundo de forma independente. Algumas têm a mesma
escravo consegue fugir da situação de exploração, origem, como o hindu, o sueco, o inglês e o português.
colocando a sua vida em risco. Quando tem sucesso Elas vieram de uma grande língua comum, chamada
em sua empreitada, recorre a órgãos governamentais proto-indo-europeu, que há milhares de anos era fala-
ou organizações da sociedade civil para denunciar a da na Ásia.
violação que sofreu. Diante disso, o governo brasilei- Esse idioma deu origem a quase todas as línguas oci-
ro tem centrado seus esforços para o combate desse dentais e algumas orientais. “Supõe-se que o indo-eu-
crime, especialmente na fiscalização de propriedades ropeu tenha sido uma língua só, que foi se diferencian-
e na repressão por meio da punição administrativa e do com o tempo”, explica o professor de linguística
econômica de empregadores flagrados utilizando mão Paulo Chagas de Souza, da Universidade de São Paulo.
de obra escrava.
É que as línguas são vivas – elas se transformam com
Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retor- o uso. Mesmo as que vieram de uma raiz comum foram
nar à sua cidade de origem, onde as condições que sendo modificadas pouco a pouco pela prática de cada
o levaram a migrar permanecem as mesmas. Diante grupo falante, que seleciona os termos adequados ao
dessa situação, o indivíduo pode novamente ser ali- seu ambiente e à sua cultura. Os esquimós, por exem-
ciado para outro trabalho em que será explorado, per- plo, criaram palavras capazes de descrever 40 tons de
petuando uma dinâmica que chamamos de “Ciclo do branco. Esses termos não fazem o menor sentido para
Trabalho Escravo”. um povo que mora no deserto, concorda?
Para que esse ciclo vicioso seja rompido, são neces- O Império Romano teve uma forte função na difusão
sárias ações que incidam na vida do trabalhador para e na construção de muitas das línguas que são faladas
além do âmbito da repressão do crime. Por isso, a er- hoje. Naquela época, na região de Roma, falava-se o
radicação do problema passa também pela adoção de latim, uma língua derivada do proto-indo-europeu que
políticas públicas de assistência à vítima e prevenção floresceu na região do Lácio.
para reverter a situação de pobreza e de vulnerabilida- À medida que o império avançava, conquistando novos
de de comunidades. territórios, esse idioma foi sendo imposto aos povos do-
minados, mas não sem sofrer influência das línguas lo-
Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo
é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em: <http://www.
cais, com mudanças de pronúncia e enxertos de palavras.
cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/trabalho-escravo- Com o enfraquecimento do domínio dos césares, essas
e-ainda-uma-realidade-no-brasil/>. Acesso: 19 mar. 2017. diferenças foram se intensificando e construindo dialetos,

32
que se transformaram em idiomas próprios. Foi assim que Mas, em matéria de amor romântico, melhor ainda do
surgiu o português, o italiano e o francês, por exemplo. que ir em busca da literatura dos séculos 18 e 19 é ir 5à
Hoje, são faladas 7.099 línguas ao redor do mundo, se- fonte primária 6: a literatura europeia medieval, verda-
gundo o compêndio Ethnologue, um livro que cataloga deira fonte do amor romântico. A literatura conhecida
os idiomas do nosso planeta desde 1950. Mas a gente como amor cortês.
não ouve a maioria delas: mais de 90% dessas línguas es- Especialistas no assunto, como o suíço Denis de Rouge-
tão na boca de apenas 6% dos habitantes da Terra. O res- mont, suspeitavam que a literatura medieval criou uma
tante da população mundial usa menos de 400 idiomas. verdadeira expectativa neurótica no Ocidente sobre o
que seria o amor romântico em nossas vidas concre-
OLIVEIRA, Fábio. Por que todo mundo não fala a mesma língua?
Disponível em:http://super.abril.com.br/sociedade/por-que-todo- tas, fazendo com que 7sonhássemos com algo que, na
mundo-não-fala-a-mesma-lingua/amp/>. Acesso em: 04 maio 2019. verdade, nunca existiu como experiência universal. 8Dos
castelos da Provence francesa do século 12 ao cinema
10. (IFPE) As afirmativas a seguir apresentam reflexões de Hollywood, teríamos perdido o verdadeiro sentido
sobre a sintaxe de concordância da língua portuguesa. do amor medieval, que seria uma doença da qual deve-
Analise-as e marque a única que faz uma avaliação COR- mos fugir como o diabo da cruz.
RETA sobre a sintaxe de concordância do texto. Para além dos céticos e crentes, a literatura medieval
a) Em “Mas a gente não ouve a maioria delas” (7º de amor cortês é marcante pela sua descrição do que
parágrafo), o verbo foi registrado no singular para seria esse pathos amoroso. Uma doença, uma verdadei-
concordar com a expressão “a gente”, continuaria, ra desgraça para quem fosse atingindo em seu coração
portanto, conjugado na terceira pessoa do singular se por tamanha tristeza. André Capelão, autor da época
o sujeito da frase fosse o pronome “nós”. (Tratado do Amor Cortês, ed. Martins Fontes), sintetiza
b) Em “Naquela época, na região de Roma, falava-se esse amor como sendo uma 9"doença do pensamento".
o latim” (4º parágrafo), o sujeito do verbo “falar” é Doença essa que podemos descrever como uma forma
indeterminado e o “-se” é índice de indeterminação, de obsessão em saber o que ela está pensando, o que
por isso o verbo foi corretamente conjugado na ter- ela está fazendo nessa exata hora em que penso nela,
ceira pessoa do singular. com o que ela sonha à noite, como é seu corpo por bai-
c) Em “esse idioma foi sendo imposto aos povos xo da roupa que a veste, o desejo incontrolável de ouvir
dominados” (5º parágrafo), a locução verbal também sua voz, de sentir seu perfume. Mas a doença avança:
poderia estar no plural para concordar com o referen- sentir o gosto da sua boca, beijá-10la por horas a fio.
te “povos dominados”. 11
Mas, quando em público, jamais deixe ninguém saber
d) Em “Foi assim que surgiu o português, o italiano que se amam. Capelão chega a supor que desmaios fe-
e o francês, por exemplo” (6º parágrafo), houve um mininos poderiam ser indicativos de que a infeliz es-
deslize na concordância, pois o sujeito da oração é taria em presença de seu desgraçado objeto de amor
composto (“o português, o italiano e o francês”), e o inconfessável. A inveja dos outros pelos amantes, ape-
verbo, deveria, portanto, estar no plural para estabe- sar de 12condenados a 13tristeza pela interdição sempre
lecer concordância. presente nas narrativas (casados com outras pessoas,
e) Em “há milhares de anos era falada na Ásia” (1º pa- detentores de responsabilidades públicas e privadas),
rágrafo), o verbo grifado está conjugado de forma ade- se dá pelo fato que se trata de uma doença encantado-
quada, pois o verbo “haver” indicando tempo passado ra quando correspondida.
é impessoal, não devendo ser pluralizado, portanto. Nada é mais forte do que o desejo de estar com alguém
a quem você se sente ligado, mesmo que a milhares de
quilômetros de distância, sem poder trocar um único
E.O. Complementar olhar ou toque com ela.
O erro dos modernos românticos teria sido a ilusão de
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: que esses medievais imaginariam o amor romântico
numa escala universal e capaz de 14conviver com um
A doença do amor apartamento de dois quartos, pago em cem anos.
Luiz Felipe Pondé Não, o amor cortês seria algo que deveríamos temer
justamente por seu caráter intempestivo e avassalador.
Existe de fato amor romântico? Esta é uma pergunta Sempre fora do casamento, teria contra ele a condena-
que ouço quando, em sala de aula, estamos a discutir ção da norma social ou religiosa que, aos poucos, 15le-
questões como literatura romântica dos séculos 18 e varia as suas vítimas à destruição, psicológica ou física.
19. 1Quando o público é composto de pessoas mais ma- Para os medievais, um homem arrebatado por esse
duras, a tendência é um certo ceticismo, muitas vezes amor tomaria decisões que destruiriam seu patrimônio.
elegante, apesar de trazer nele a marca eterna do de- A mulher perderia sua reputação. Ambos viriam, neces-
sencanto. sariamente, a morrer por conta desse amor, fosse ele
Quando o público é mais 2jovem há uma tendência em batalha, por obrigação de guerreiro, fosse fugindo
maior de crença no amor romântico. 3Alguns diriam que do horror de trair seu melhor amigo com sua até en-
4
essa crença é típica da idade jovem e inexperiente, as- tão fiel esposa. Ela morreria eventualmente de tristeza,
sim como crianças creem em Papai Noel. vergonha e solidão num convento, buscando a paz de

33
espírito há muito perdida. A distância física, social ou d)
moral, proibindo a realização plena desse desejo inces-
sante como tortura cotidiana.
O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou alguns tex-
tos ao tema, entendia que a literatura medieval descre-
via o embate entre virtude e desejo, sendo a desgraça
dos apaixonados a maldição de ter que 16pôr medida e)
nesse desejo 17(nesse amor fora do lugar), em meio à
insuportável culpa de estar doente de amor.
Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de
2016 na Folha de S. Paulo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
luizfelipeponde/2016/05/1771569-a-doenca-do-
amor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016.
Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões) a seguir.

1. (IFSUL) A concordância verbo-nominal correta está Laivos de memória


presente em:
“... e quando tiverem chegado, vitoriosamente,
a) Existe muitas obras medievais que retratam o an- ao fim dessa primeira etapa,
gustiante sofrimento dos amantes apaixonados. mais ainda se convencerão de que
abraçaram uma carreira difícil,
b) Desde a Idade Média, fazem séculos que a tradição
árdua, cheia de sacrifícios,
do amor cortês paira no imaginário ocidental. mas útil, nobre e, sobretudo bela.”
c) Nos encontros ocasionais, beijavam-se os aman-
tes por horas a fio, desejando a eternidade daquele (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964)
momento.
Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia,
d) Na literatura medieval, foi descrito os embates entre
tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adoles-
virtude e desejo que atormentavam os apaixonados.
cente soube suportar com bravura.
2. (CPS) A concordância verbal está de acordo com a Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e
norma-padrão da língua portuguesa em da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da
a) O peão e o agricultor, por motivo de força maior, região serrana fluminense. A motivação que me levava
plantará o milho aqui. a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele mo-
b) Falta setenta dias para começar a colheita do café mento, suficientemente forte para respaldar a decisão
nas encostas. tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo
de então se tornara pequeno demais para as minhas
c) O engenheiro ou arquiteto visitará o loteamento
amanhã. aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizon-
tes que iam muito além das montanhas que circundam
d) São uma hora e quarenta e nove minutos precisamente.
minha terra natal.
e) Vende-se terras extensas naquelas regiões longínquas.
Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar
3. (IFSP) De acordo com a norma padrão da Língua Por- desperta nos corações dos jovens?
tuguesa e a gramática normativa, com relação às con- Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas,
cordâncias verbal e nominal, observe as placas apre- ainda que dolorosas – e despedidas são sempre doloro-
sentadas e, em seguida, assinale a alternativa correta. sas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas
a) de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco
a pouco iriam se converter em realidade.
Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das
Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como
integrantes de mais uma Turma desse tradicional esta-
belecimento de ensino da Marinha do Brasil.
b) Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito
dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não
posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado
espaço em nossos corações, era naquele momento
substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos.
E o sentimento de perda, experimentado por ocasião
c) das despedidas, provara-se equivocado: às nossas ca-
ras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família
Naval, composta pelos recém-chegados companheiros;
e às respectivas cidades de nascimento, como a minha
bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a
bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra

34
dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Ville- singrando as extensas massas líquidas que formam os
gagnon em meio à sublime baía de Guanabara. grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que
Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz banham os recortados litorais, com passagens, visitas e
convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval. arribadas em um sem-número de enseadas, baías, bar-
Seis anos de aprendizagem científica, humanística e, ras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos
sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de au- quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com
las, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela, mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis.
cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida, Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas,
atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais, não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos
que deixaram marcas indeléveis. proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos,
Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimen- principalmente graças ao contato com povos diferentes
tos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmen- e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes
te distantes, em meio a saudosos devaneios. totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos
Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preli- amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga
minares com a vida de bordo e as primeiras idas para o Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka.
mar – a razão de ser da carreira naval. Como foi fascinante e delicioso navegar por todos es-
Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras ses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova ense-
descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza! ada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto
especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara
Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonha-
Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas
do embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa!
que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial
Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, ti-
do descobrimento”.
vemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um
cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum- (CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista
-navegação da Marinha Brasileira. de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado)

Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o pri- 4. (Esc. Naval) Assinale a opção em que a concordân-
meiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida cia do verbo ser justifica-se pela mesma regra ob-
profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Taman- servada em: “[...] Tudo são flores e ilusões [...]” (13º
daré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da parágrafo)
Turma do CN-62/63 e da EM-64/67.
a) Dez anos velejando sempre será muito tempo de
Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou
viagem.
conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apre-
sentar para servir a bordo de um navio de nossa Esqua- b) O que aconteceu de importante na viagem foram
dra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de os desafios.
instrução como Aspirante e Guarda-Marinha, quando as c) O navio já atracou, o mais seriam especulações
responsabilidades eram restritas a compromissos curri- sem sentido.
culares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a d) Eram quase vinte horas quando os tripulantes de-
pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do sembarcaram.
status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável es- e) Durante uma perigosa travessia, todo ele é olhos
critor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita e ouvidos.
propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício.
Coincide exatamente com a adolescência, primavera TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a
despontar as responsabilidades, as agruras de novos Como prevenir a violência dos adolescentes
cargos, o acúmulo de deveres novos”.
“(...) Quando deparo com as notícias sobre crimes he-
E esses novos cargos e deveres novos, que foram se diondos envolvendo adolescentes, como o ocorrido
multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, dei- com Felipe Silva Caffé e Liana Friedenbach, fico pro-
xariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa fundamente triste e constrangida. Esse caso é conse-
memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses quência da baixa valorização da prevenção primária
e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando da violência por meio das estratégias cientificamente
ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integran- comprovadas, facilmente replicáveis e definitivamente
tes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. muito mais baratas do que a recuperação de crianças
Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, re- e adolescentes que comentem atos infracionais graves
passar tantas lembranças, tantos termos expressivos, contra a vida.
tanta gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos Talvez seja porque a maioria da população não se deu
tão intensamente vividos a bordo de inesquecíveis e conta e os que estão no poder nos três níveis não este-
saudosos navios... jam conscientes de seu papel histórico e de sua respon-
E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem sabilidade legal de cuidar do que tem de mais impor-
aproveitados anos de embarque, de centenas de dias tante à nação: as crianças e os adolescentes, que são o
de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar, futuro do país e do mundo.

35
A construção da paz e a prevenção da violência depen- to da Criança e do Adolescente e conforme orientações
dem de como promovemos o desenvolvimento físico, da ONU. Mas o tempo máximo de três anos de reclusão
social, mental, espiritual e cognitivo das nossas crianças em regime fechado, quando a criança ou o adolescente
e adolescentes, dentro do seu contexto familiar e co- comete crime hediondo, mesmo em locais apropriados
munitário. Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, e com tratamento multiprofissional, que urgentemen-
realizada de maneira sincronizada em cada comunida- te precisam ser disponibilizados, deve ser revisto. Três
de, com a participação das famílias, mesmo que estejam anos, em muitos casos, podem ser absolutamente in-
incompletas ou desestruturadas (...)” suficientes para tratar e preparar os adolescentes com
“(...) Em relação às crianças e adolescentes que come- graves distúrbios para a convivência cidadã. (...)”
teram infrações leves ou moderadas – que deveriam ser Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista;
mais bem expressas – seu tratamento para a cidadania foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral
deveria ser feito com instrumentos bem elaborados e da Criança. (Folha de S Paulo, 26/11/2003.)

colocados em prática, na família ou próxima dela, com


5. (Ifal) Tomando como base o mesmo fragmento a se-
acompanhamento multiprofissional, desobstruindo as
guir, é correto afirmar que:
penitenciárias, verdadeiras universidades do crime. (...)”
“(...) A prevenção primária da violência inicia-se com a “Trata-se, portanto, de uma ação intersetorial, realizada
construção de um tecido social saudável e promissor, de maneira sincronizada em cada comunidade, com a
que começa antes do nascer, com um bom pré-natal, participação das famílias, mesmo que estejam incom-
parto de qualidade, aleitamento materno exclusivo até pletas...” (3º parágrafo).
seis meses e o complemento até mais de um ano, vaci-
nação, vigilância nutricional, educação infantil, princi- a) o verbo tratar em: “trata-se” poderia estar no
palmente propiciando o desenvolvimento e o respeito plural, indiferentemente, uma vez que é um caso de
à fala da criança, o canto, a oração, o brincar, o andar, o concordância especial.
jogar; uma educação para a paz e a nãoviolência. b) o verbo tratar deveria estar no plural por apresen-
A pastoral da criança, que em 2003 completa 20 anos, tar um sujeito explícito.
forma redes de ação para multiplicar o saber e a soli- c) A 3ª pessoa do singular do verbo referente é que
dariedade junto às famílias pobres do país, por meio de está correto, porque concorda com o sujeito: “uma
mais de 230 mil voluntários, e acompanhou no terceiro ação intersetorial”.
trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão de crianças me- d) A 3ª pessoa do singular é que está correto, uma
nores de seis anos e 80 mil gestantes, de mais de 1,2 vez que o “se” que o acompanha é classificado como
milhão de famílias, que moram em 34.784 comunidades pronome apassivador.
de 3.696 municípios do país. e) O verbo “tratar” não deve ir para o plural, porque
O Brasil é o país que mais reduziu a mortalidade infan- o “se” indica a indeterminação do sujeito.
til nos últimos dez anos; isso, sem dúvida, é resultado

E.O. Dissertativo
da organização e universalização dos serviços de saúde
pública, da melhoria da atenção primária, com todas as
limitações que o SUS possa ainda possuir, da descentra-
lização e municipalização dos recursos e dos serviços 1. (FGV) Leia o texto.
de saúde. A intensa luta contra a mortalidade infantil,
a desnutrição e a violência intrafamiliar contou com a (...) expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira
contribuição dessa enorme rede de do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de
solidariedade da Pastoral da Criança. (...)” Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prós-
peros, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e
“(...) A segunda área da maior importância nessa pre-
venção primária da violência envolvendo crianças e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze
adolescentes é a educação, a começar pelas creches, amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
escolas infantis e de educação fundamental e de nível Acresce que chovia – peneirava uma chuvinha miúda,
médio, que devem valorizar o desenvolvimento do ra- triste e constante, tão constante e tão triste, que levou
ciocínio e a matemática, a música, a arte, o esporte e a um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta enge-
prática da solidariedade humana. nhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha
As escolas nas comunidades mais pobres deveriam ter cova: – “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós
dois turnos, para darem conta da educação integral podeis dizer comigo que a natureza parece estar cho-
das crianças e dos adolescentes; deveriam dispor de rando a perda irreparável de um dos mais belos carac-
equipes multiprofissionais atualizadas e capacitadas a teres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio,
avaliar periodicamente os alunos. Urgente é incorporar estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem
os ministérios do Esporte e da Cultura às iniciativas da o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua
educação, com atividades em larga escala e simples, e má que lhe rói à natureza as mais íntimas entranhas;
baratas, facilmente replicáveis e adaptáveis em todo o tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado”.
território nacional. (...)” Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte
“(...) Com relação à idade mínima para a maioridade pe- apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláu-
nal, deve permanecer em 18 anos, prevista pelo Estatu- sula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o

36
undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias nem as A noção de Trabalho Decente é uma tentativa de ex-
dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como pressar, numa linguagem cotidiana, a integração de ob-
quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. jetivos sociais e econômicos, reunindo as dimensões do
emprego, dos direitos no trabalho, da segurança e da
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
representação, em uma unidade com sentido e coerên-
a) Identifique uma expressão do texto por meio da cia interna quando considerada na sua totalidade.
qual o narrador manifesta sua ironia. Justifique. Qual é a diferença entre o conceito de Trabalho Decente
b) Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis e conceitos mais tradicionais, como o de trabalho de
dizer comigo que a natureza parece estar chorando qualidade? Sua principal novidade é ser multidimen-
a perda irreparável de um dos mais belos caracteres sional, ou seja, acrescentar à dimensão econômica, re-
que têm honrado a humanidade. presentada pelo conceito de um emprego de qualidade,
Reescreva esse trecho, fazendo as modificações ne- novas dimensões de caráter normativo, de segurança e
cessárias, de acordo com as seguintes instruções: de participação/representação (MARTINEZ, 2005).
- substitua “vós” por “vocês”; É importante assinalar que essa diferença conceitual
- mantenha os verbos no mesmo modo e tempo; determina diferentes políticas, ou melhor, uma dife-
- substitua as palavras sublinhadas por sinônimos rente articulação de políticas em termos de emprego
adequados ao contexto. e mercado de trabalho e destas com as políticas eco-
nômicas e sociais. A integração e a coerência entre a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: política sociolaboral e a política econômica são essen-
ciais para a geração de Trabalho Decente. Enquanto a
Texto 1 política econômica cria condições para o crescimento e
a geração de empregos, a política sociolaboral, integra-
O conceito de Trabalho Decente da com a política econômica, cria as condições para que
o emprego gerado incorpore as distintas dimensões do
Trabalho Decente, para a OIT (Organização Internacio- conceito de Trabalho Decente (LEVAGGI, 2006).
nal do Trabalho), é um trabalho produtivo e adequada-
Ao definir a promoção do Trabalho Decente como o as-
mente remunerado, exercido em condições de liberda-
pecto central e integrador de toda a sua estratégia, a OIT
de, equidade e segurança, e que seja capaz de garantir
reafirma o seu compromisso com o conjunto dos traba-
uma vida digna a todas as pessoas que dependem do
lhadores e trabalhadoras e não apenas com aqueles que
seu trabalho para viver. Trata-se, portanto, do trabalho
têm um emprego regular, estável, protegido – no setor
que permite satisfazer às necessidades pessoais e fa-
formal ou estruturado da economia. A promoção do Tra-
miliares de alimentação, educação, moradia, saúde e
balho Decente (ou a redução dos déficits de Trabalho De-
segurança. É também o trabalho que garante proteção
cente) é um objetivo que deve ser perseguido também
social nos impedimentos ao exercício do trabalho (de-
em relação ao conjunto das pessoas – homens, mulhe-
semprego, doença, acidentes, entre outros) e assegura
res e jovens – que trabalha à margem do mercado de
renda ao chegar à época da aposentadoria (Conferencia
trabalho estruturado: assalariados não regulamentados,
Internacional del Trabajo, 1999).
tradutores por conta própria, terceirizados ou subcontra-
É um trabalho no qual as relações entre cada trabalha- tados, trabalhadores a domicílio, etc. Todas as pessoas
dor ou trabalhadora e seus empregadores ou empre- que trabalham têm direitos – assim como níveis mínimos
gadoras estão devidamente regulamentadas por lei, de remuneração, proteção e condições de trabalho –,
especialmente no que se refere aos direitos fundamen- que devem ser respeitados. Essa noção, portanto, inclui
tais no trabalho, e autorreguladas através de acordos o emprego assalariado, o trabalho autônomo ou por con-
negociados em um processo de diálogo social em di- ta própria, o trabalho a domicílio, assim como a ampla
versos níveis, o que implica o pleno exercício do direito gama de atividades realizadas na economia informal e
da liberdade sindical, assim como o fortalecimento das na economia de cuidado (RODGERS, 2002).
diferentes instituições da administração do trabalho e Existe uma forte relação entre o conceito de Trabalho
das formas de representação e organização dos atores Decente e a noção da dignidade humana. Com efeito,
sociais (MARTINEZ, 2005). tal como discutido por Rodgers (2002), o trabalho é o
A noção de Trabalho Decente integra, portanto, as dimen- âmbito para o qual confluem os objetivos econômicos
sões quantitativa e qualitativa do emprego. Ela propõe e sociais das pessoas. O trabalho supõe produção e
não só medidas de geração de postos de trabalho e de rendimentos. Mas significa, também, integração social,
enfrentamento do desemprego, mas também de supera- identidade e dignidade pessoal. O vocábulo decente
ção de formas de trabalho que se baseiam em atividades expressa algo que é ao mesmo tempo suficiente e de-
insalubres, perigosas, inseguras e/ou degradantes ou que sejável. Um Trabalho Decente significa um trabalho no
geram renda insuficiente para que os indivíduos e suas qual o seu rendimento e as condições em que este se
famílias superem situações de pobreza. Tal conceito de exerce estão de acordo com as nossas expectativas e as
trabalho afirma a necessidade de que o emprego esteja da comunidade, mas não são exageradas, estão dentro
também associado à proteção social e à noção de direi- das aspirações razoáveis de pessoas razoáveis. [...]
tos do trabalho, entre eles os de representação, associa- Trata-se do trabalho exercido atualmente e de suas ex-
ção, organização sindical e negociação coletiva. pectativas de futuro; das condições em que este se exer-

37
ce; do equilíbrio entre a vida doméstica e a vida familiar; dera uma impressão bastante penosa: sempre que os
de um trabalho que permita manter os filhos na escola, homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía lo-
evitando que eles sejam levados ao trabalho infantil. grado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só
Trata-se da igualdade de gênero e raça/etnia, da igual- serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às
dade de reconhecimento e da possibilidade de que as vezes decorava algumas e empregava-as fora de propó-
mulheres, os negros e outros grupos discriminados pos- sito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele
sam optar e assumir o controle sobre as suas próprias vi- usar conversa de gente rica? Sinhá Terta é que tinha uma
das. Trata-se das capacidades pessoais para competir no ponta de língua terrível. Era: falava quase tão bem como
mercado, manter-se em dia com as novas tecnologias e as pessoas da cidade. Se ele soubesse falar como Sinhá
preservar a saúde – física e mental. Trata-se de desenvol- Terta, procuraria serviço noutra fazenda, haveria de ar-
ver as qualificações empresariais, de receber uma parte ranjar-se. Não sabia. Nas horas de aperto dava para ga-
equitativa da riqueza que se ajuda a criar e de não ser guejar, embaraçava-se como um menino, coçava os coto-
objeto de discriminação. Trata-se de poder expressar-se e velos, aperreado. Por isso esfolavam-no. Safados. Tomar
ser ouvido no lugar de trabalho e na comunidade. as coisas de um infeliz que não tinha onde cair morto!
Não viam que isso não estava certo? Que iam ganhar
Adaptado de ABRAMO, Laís. Trabalho Decente, informalidade com semelhante procedimento? Hem? Que iam ganhar?
e precarização do trabalho. IN: DAL ROSSO, Sadi e FORTES,
José Augusto Abreu Sá (org.). Condições de trabalho no RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de
limiar do século XXI. Brasília: Épocca, 2008. p. 40-41. Janeiro: Record, 1986. p.95-97.

TEXTO 2 2. (PUC-RJ) a) Justifique a concordância de gênero empre-


gada em “autorreguladas”, no 2º parágrafo do Texto 1.
Olhou as cédulas arrumadas na palma, os níqueis e as b) Transcreva do último parágrafo do Texto 2 o subs-
pratas, suspirou, mordeu os beiços. Nem lhe restava o tantivo que revela a opressão exercida sobre Fabiano
direito de protestar. Baixava a crista. Se não baixasse, naquele contexto.
desocuparia a terra, largar-se-ia com a mulher, os filhos
c) O verbo haver apresenta comportamentos distin-
pequenos e os cacarecos. Para onde? Hem? Tinha para
tos nas frases a seguir. Explique por quê.
onde levar a mulher e os meninos? Tinha nada!
i) Haviam escapado, e isto lhe parecia um milagre. (2º
Espalhou a vista pelos quatro cantos. Além dos telha- parágrafo do Texto 2)
dos, que lhe reduziam o horizonte, a campina se esten-
ii) Não havia paciência que suportasse tanta coisa.
dia, seca e dura. Lembrou-se da marcha penosa que
fizera através dela, com a família, todos esmolamba- (3º parágrafo do Texto 2)
dos e famintos. Haviam escapado, e isto lhe parecia um 3. (FGV) Leia a charge.
milagre. Nem sabia como tinham escapado.
Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o rouba-
vam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso
a qualquer coisa que era ao mesmo tempo a campina
seca, o patrão, os soldados e os agentes da Prefeitu-
ra. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado,
tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava.
Não havia paciência que suportasse tanta coisa.
Um dia um homem faz besteira e se desgraça.
Pois não estavam vendo que ele era de carne e osso? Ti-
nha obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente,
conhecia o seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, nin- Na fala da personagem, a concordância verbal está em
guém tinha culpa de ele haver nascido com um destino desacordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem
a) Explique por que a concordância na frase está em
que era possível melhorar de situação espantar-se-ia. Ti-
desacordo com a norma-padrão, esclarecendo o que
nha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas
pode levar os falantes a adotá-la.
com rezas, consertar cercas de Inverno a Verão. Era sina.
O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia b) Escreva duas versões da frase da charge: na primei-
família. Cortar mandacaru, ensebar látegos - aquilo esta- ra, substitua a expressão “a gente” por “Nosso clube é
va no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. um dos que”; na segunda, substitua o verbo “ter” pela
Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. locução “deve haver” e passe para o plural a expressão
Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia “uma proposta irrecusável”.
ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe toma- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
vam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas impor-
tantes se ocuparem com semelhantes porcarias. Leia o texto para responder à(s) questão(ões).
Na palma da mão as notas estavam úmidas de suor. Havia já quatro anos que Eugênio se achava no seminário
Desejava saber o tamanho da extorsão. Da última vez sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha escrito
que fizera contas com o amo o prejuízo parecia menor. aos padres pedindo-lhes que permitissem que o menino
Alarmou-se. Ouvira falar em juros e em prazos. Isto lhe viesse passar as férias em casa. Estes porém, já de posse

38
dos segredos da consciência de Eugênio, receando que as 1
Europalia: Festival Internacional de Cultura da Europa,
seduções do mundo o arredassem do santo propósito em que homenageia, este ano, o Brasil.
que ia tão bem encaminhado, opuseram-se formalmente,
e responderam-lhe, fazendo ver que aquela interrupção 5. (Cp2) No terceiro parágrafo do texto, observa-se o
na idade em que se achava o menino era extremamente uso de uma concordância verbal que não obedece à lin-
perigosa, e podia ter péssimas consequências, desvian- guagem formal.
do-o para sempre de sua natural vocação.
a) Transcreva o trecho em que ocorre esse uso.
Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva
b) Reescreva o trecho transcrito no item anterior de
para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmen-
te depois que seu filho andava mofino e adoentado, forma que a concordância fique adequada a um con-
não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a texto formal.
vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau
grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir.
(Bernardo Guimarães. O Seminarista, 1995)
E.O. Objetivas
4. (FGV) Analise a frase inicial do texto: “Havia já qua- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
tro anos que Eugênio se achava no seminário sem visi-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
tar sua família.”
a) Por que os padres não permitiam que Eugênio vi-
sitasse a família? De que argumentos se valeu a mãe
dele para conseguir que o liberassem?
b) Reescreva a frase, conforme as orientações: inicie-a
com “Eugênio”; introduza entre o sujeito e o verbo
a oração indicativa de tempo, substituindo o verbo
“haver” por “fazer”. Realize os ajustes necessários.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Na Bélgica, presidenta destaca diversidade cultural brasileira

Na abertura do Festival 1Europalia, em Bruxelas, a pre-


sidenta Dilma Rousseff fez uma homenagem à diver-
sidade cultural do Brasil, que estará presente em ma- Pegamos os nossos 24.253 km de fronteiras e os esti-
nifestações artísticas e culturais na capital da Bélgica. camos em uma linha reta. Assim, fica possível entender
Segundo ela, são exposições desde a pré-colonização o que acontece em cada canto desse Brasilzão: ______
até a “vanguarda mais experimental em mais de 400 invasões de terra, ______ de drogas e cenários de tirar
atividades envolvendo as mais variadas linguagens ar- o fôlego.
tísticas e manifestações regionais do país”.
Para a presidenta Dilma, a cultura é a expressão maior (http://super.abril.com.br. Adaptado.)
da alma de uma sociedade e, no momento em que o 1. (Unifesp) As lacunas do texto são preenchidas, corre-
mundo precisa reaprender a importância do diálogo, o
ta e respectivamente, por:
Brasil e a América do Sul têm a oferecer a capacidade
de conviver em paz nessa diversidade. a) ocorre – tráfego.
“A diversidade cultural do Brasil integra nossas raízes b) há – tráfico.
históricas. 2Somos um país mestiço, no qual migrantes c) existe – tráfego.
de todas as regiões do mundo somam-se às três ma- d) se vê – tráfego.
trizes onde surgiram o povo brasileiro: a indígena, a e) acontece – tráfico.
europeia e a africana. Eis uma mistura que nos orgu-
lha e define. 3Os brasileiros orgulham-se muito de seu
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
patrimônio cultural e de suas tradições populares, mas
também ousam reinventá-los e reinterpretá-los. Mos-
Poetas e tipógrafos
traremos aqui, na Europalia, 4um pouco dessa cultura
viva em movimento permanente.” Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta
5
A presidenta avaliou ainda que o Festival Europalia João Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa
poderá contribuir para que a Europa supere “os per- de sua crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exer-
calços do momento”. Além disso, acrescentou, “é mais cícios físicos, para “canalizar a tensão”. João Cabral
um passo no aprofundamento do conhecimento mútuo, seguiu o conselho.
fundamental para a construção do mundo mais demo-
Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão,
crático, aberto e plural que todos queremos”.
domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E,
(Disponível em blog.planalto.gov.br. Acesso: com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se
terça-feira, 4 de outubro de 2011.) essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.

39
Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasilei- 3. (Unifesp) A lacuna do início do texto deve ser correta-
ros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e mente preenchida com
de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriquece-
a) À.
ram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fun-
dos ou de um galpão no quintal. b) Há cerca de.
c) Fazem.
O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz
tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama- d) Acerca de.
-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o e) A.
papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas –
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se
não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-
NEM MÉDICO COMPREENDE LETRA DE COLEGA
-os aos subscritores (amigos que se comprometeram a
comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros "Nem mesmo os médicos conseguem, muitas vezes,
não querem nem saber.
entender o diagnóstico escrito pelos colegas durante
Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas o atendimento a pacientes. É isso que mostra uma pes-
de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, quisa realizada na Universidade Federal de São Paulo
Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius (Unifesp).
de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de
O estudo comparou prontuários médicos e comprovou
Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952),
que a letra ilegível impede que médicos da mesma es-
de GuimarãesRosa.
pecialidade cheguem a um diagnóstico igual sobre o
E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallar- quadro clínico do paciente.
mé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, tradu-
zidos por amor. A pesquisa foi tese de mestrado do fisioterapeuta
Maurício Merino Nunes, do Departamento de Informá-
João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu.
tica em Saúde. Ele avaliou o grau de entendimento de
(Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.) prontuários feitos por médicos ortopedistas do grupo
de joelho do Cete (Centro de Traumatologia do Esporte)
2. (Unifesp) Na passagem – O editor artesanal dispõe da Unifesp.
de uma minitipografia e faz tudo: escolhe a tipologia, O prontuário deve ser compreendido por outros pro-
compõe o texto, diagrama-o, produz as ilustrações –, se fissionais para que seja possível dar continuidade ao
a expressão editor artesanal for para o plural, a sequên- tratamento de um paciente. "Se o médico não tem a
cia em destaque assume a seguinte redação, de acordo informação adequada, existe a possibilidade de não
com a norma-padrão da língua portuguesa: fazer o tratamento correto", afirmou Nunes, autor da
a) compõe o texto, diagrama-no, produz as ilustrações. tese. A legibilidade dos prontuários médicos é exigida
b) compõem o texto, diagrama-lo, produz as ilustrações. no código de ética da profissão.
c) compõem o texto, diagramam-no, produzem as ilustrações. A ilegibilidade da letra do médico pode acarretar uma ad-
d) compõe o texto, diagramam-o, produzem as ilustrações. vertência ao profissional. A necessidade de o prontuário
e) compõem o texto, diagramam ele, produz as ilustrações. ser compreensível faz parte do Código de Ética Médica
e de uma resolução do Conselho Federal de Medicina."
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
(Folha de S. Paulo, 09.07.2005. Adaptado.)
_________ dois meses, a jornalista britânica Rowen-
4. (Unifesp) A frase - "Se o médico não tem a informa-
na Davis, 25 anos, foi furtada. Só que não levaram sua
ção adequada, existe a possibilidade de não fazer o tra-
carteira ou seu carro, mas sua identidade virtual. Um
tamento correto..."
hacker invadiu e tomou conta de seu e-mail e – além de
bisbilhotar suas mensagens e ter acesso a seus dados Assinale a frase correta quanto à concordância.
bancários – passou a escrever aos mais de 5 mil con- a) Existem possibilidades de o médico não fazer o
tatos de Rowenna dizendo que ela teria sido assaltada tratamento adequado, caso não tenha informações
em Madri e pedindo ajuda em dinheiro. adequadas.
Quando ela escreveu para seu endereço de e-mail pe- b) É possível que os médicos não façam o tratamento
dindo ao hacker ao menos sua lista de contatos pro- adequado, caso não tenha a informação adequada.
fissionais de volta, Rowenna teve como resposta a co- c) Sem que hajam informações adequadas, o médico
brança de R$ 1,4 mil. Ela se negou a pagar, a polícia não pode não fazer o tratamento correto.
fez nada. A jornalista só retomou o controle do e-mail d) Como não têm as informações adequadas, existe a
porque um amigo conhecia um funcionário do provedor possibilidade de o médico não fazer o tratamento correto.
da conta, que desativou o processo de verificação de
e) Vislumbra-se possibilidades de os médicos não fa-
senha criado pelo invasor.
zer o tratamento adequado, se não tiver as informa-
(Galileu, dezembro de 2011. Adaptado.) ções adequadas.

40
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: que o conheceram, meus senhores, vocês podem dizer
INSTRUÇÃO: As questões seguintes estão relacionadas comigo que a natureza parece estar chorando a perda
ao seguinte anúncio de jornal: irrecuperável de um dos mais belos temperamentos que
têm honrado a humanidade”.
LOJA DE CALÇADOS FEMININO A partir da substituição de “vós” por “vocês”, a con-
Vende-se 3 lojas bem montadas cordância dos verbos com tal sujeito deve ser alterada
tradicionais, nos melhores Pontos para 3ª pessoa do singular: “conheceram” e “podem”;
da Cidade. Ótima Oportunidade! um sinônimo para “irreparável” é “irrecuperável”; um
F: (__) xxx-xxxxxx sinônimo para “caracteres” é “temperamentos”.
(O Estado de S.Paulo, 15.08.2002)
2.
5. (Unifesp) No corpo do anúncio, a expressão "Vende-
-se 3 lojas bem montadas" a) Ao retornarmos ao 2o parágrafo, vemos que “autor-
reguladas” concorda com o substantivo feminino “re-
a) apresenta problema de concordância verbal. De- lações”.
veria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se"
b) A palavra é “extorsão”.
é índice de indeterminação do sujeito, e "lojas" é o
sujeito paciente; c) Em [I], vemos o verbo “haver” na acepção de “ter”
(“tinham escapado”) e compondo uma locução verbal
b) não apresenta problema de concordância verbal
com o verbo “escapar”, por isso, ele é pessoal e flexio-
porque "se" é índice de indeterminação do sujeito, e
na-se para concordar com o sujeito. Já em [II], vemos o
"lojas" é o objeto direto;
verbo “haver” impessoal e na acepção de “existir”.
c) apresenta problema de concordância verbal. De-
veria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se" é 3.
partícula apassivadora, e "lojas" é o sujeito paciente;
a) A expressão “a gente” implica concordância no
d) não apresenta problema de concordância verbal,
singular. O motivo de adotar “a gente temos” se dá
porque "se" é partícula apassivadora, e "lojas" é o
por silepse de número: há concordância ideológica ao
sujeito paciente;
relacionar “a gente” com um grupo de pessoas.
e) apresenta problema de concordância verbal. De-
b) Nosso clube é um dos que têm uma proposta ir-
veria ocorrer na forma "Vendem-se" porque "se"
recusável.
é pronome reflexivo com função sintática de objeto
indireto, e "lojas" é o objeto direto. Deve haver aqui umas propostas irrecusáveis.

4.
Gabarito a) Os padres acreditavam que Eugênio, devido à sua
idade, poderia desistir da vida eclesiástica caso visitas-

E.O. Aprendizagem se a família, uma vez que seria exposto às tentações


mundanas. Sua mãe, no entanto, valeu-se do estado de
1. C 2. E 3
. B 4
. B 5
. A saúde e de ânimo do garoto para que os padres con-
cordassem com uma visita aos familiares após quatro
6. E 7. B 8
. C 9
. B 10. D anos de reclusão.
b) Eugênio, fazia já quatro anos, achava-se no seminá-
rio sem visitar sua família.
E.O. Fixação A oração indicativa de tempo, intercalada entre sujeito
e predicado, mantém o verbo “fazer” no singular por
1
. A 2
. B 3
. E 4. C 5
. C
se tratar de verbo impessoal.
6
. B 7
. A 8. E 9
. A 10. E 5.
a) O trecho é “... onde surgiram o povo brasileiro”, pois
E.O. Complementar o verbo está na terceira pessoa do plural “surgiram”,
ao passo que o sujo está no singular “o povo brasilei-
1
. C 2. C 3. C 4. B 5. E ro”, não havendo, assim, concordância.
b) O correto seria “onde surgiu o povo brasileiro”, pois
E.O. Dissertativo desta forma o verbo “surgiu” passa a ficar no singular,
concordando com o sujeito “o povo brasileiro”.
1.
a) Uma expressão irônica de Brás Cubas é “bom e fiel E.O. Objetivas
amigo”, uma vez que tal pessoa, responsável por um
discurso à beira do caixão, na verdade era um her-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
deiro dele, tendo recebido vinte apólices do defunto.
1. B 2
. C 3
. B 4
. A 5
. C
b) A reescrita do texto, segundo as instruções, é: “Vocês,

41
1e8
AULAS 39 E 40
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 25, 26 e 27

CONCORDÂNCIA NOMINAL

E.O. Aprendizagem “Informaram aos candidatos que, ___________, se-


guiam a comunicação oficial, o resultado e a indicação
do local do exame médico, e que estariam inteiramente
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: à ________ disposição para verificação.”
a) anexo – vossa
b) anexos – sua
c) anexo – sua
d) anexas – vossa
e) anexos – vossa

1. (IFSUL 2019) Na frase: Mas, com o tempo, algumas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
coisas acabaram se invertendo.
Quem ri por último ri Millôr
Se colocássemos a palavra sublinhada no singular,
quantas outras sofreriam alteração? Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e
não via, diante da minha incompetência para com o
a) Uma.
sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter
b) Duas.
a situação.
c) Três.
Em algum momento entre a oitava série e o primeiro
d) Quatro. colegial, todos os meus colegas haviam adotado roupas
2. (IFSC) Assinale a alternativa em que a palavra em diferentes, gírias, trejeitos ao falar e ao gesticular, mas
eu continuava igual – era como se houvesse faltado na
destaque está empregada de forma CORRETA na frase
aula em que os estilos foram distribuídos e estivesse
considerando-se a norma padrão escrita.
condenado a viver para sempre numa espécie de limbo
a) Frederico recebeu uma carta com as fotos anexa. social, feito de incertezas, celibato e moletom.
b) Elas mesmas assumiram a culpa e pagaram o pre- O mundo, antes um lugar com regras claras e uma ra-
juízo. zoável meritocracia, havia perdido o sentido: os bons
c) Os alunos mesmo disseram à professora que que- meninos não ganhavam uma coroa de louros – nem ao
riam ler mais um livro. menos, vá lá, uma loura coroa –, era preciso acordar às
d) Todos os formandos estavam quite com a mensali- 6h15 para estudar química orgânica e os adultos ainda
dade da formatura. queriam me convencer de que aquela era a melhor fase
e) O acidente foi grave. O motorista ficou com o braço da vida.
e a perna quebradas. Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: se-
res de calças bege e pager no cinto, que gastavam seus
3. (ESPM) Assinale a opção em que há uma transgressão dias em papinhos de elevador, sem ambições maiores
às normas de Concordância (nominal ou verbal): do que um carro novo, um requeijão com menos coles-
a) Já passava do meio-dia e meia, quando muitas terol, o nome na moldura de funcionário do mês e in-
competições já tinham sido iniciadas. gressos para o Holiday on Ice no fim de semana.
b) Valor de bens de candidatos à Prefeitura da Capital Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o
superam o declarado à Justiça Eleitoral. recorde jamaicano de consumo de maconha, mas, em
c) Segundo a defesa, é necessário existência de crime vez de ter abertas as portas da percepção – ou o que
de responsabilidade. quer que fizesse com que meus amigos se divertissem
d) Fizeram críticas meio exageradas ao desempenho e passassem meia hora rachando o bico, sei lá, de um
da política externa. amendoim –, só via ainda mais escancaradas as portas
da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu vi
e) Após confrontos, uso de “burquíni”, mistura de bur-
a luz - e a luz veio na forma de um livro; "Trinta anos de
ca com biquíni, é proibido em 12 cidades francesas.
mim mesmo", do Millôr Fernandes.
4. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa que completa A primeira página que eu abri trazia um quadrado em
corretamente as lacunas do período abaixo. branco, com a seguinte legenda: "Uma gaivota branca,

42
trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte muita coisa me intriga: por que cada aparelho de te-
branco. No céu, nuvens brancas esvoaçam e à direita levisão de cada casa, de cada hotel tem um controle
aparecem duas árvores brancas com as flores brancas remoto diferente e 6a gente não consegue usá-los sem
da primavera". Logo adiante estava "O abridor de pedir socorro a alguém?
latas", "Pela primeira vez no Brasil um conto inteira- 7
Olha, tanta tecnologia!... Mas além de 8não terem desco-
mente em câmera lenta" – narrando um piquenique de berto como curar uma simples gripe, 9os elevadores dos
tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente, hotéis ainda não chegaram a uma conclusão de como
esta quadra: "Essa pressa leviana/ Demonstra o incom- assinalar no mostrador que letra deve indicar a portaria.
petente/ Por que fazer o mundo em sete dias/ Se tinha a 10
Será necessária uma medida provisória do presidente
eternidade pela frente?". para uniformizar tal diversidade analfabética.
Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jorna- 11
Outro dia, li que houve uma reunião em Baku, lá no
lístico do Millôr entre 1943 e 1973, compreendi que Azerbaijão, congregando cérebros notáveis para deci-
não estava sozinho em meu estranhamento: a vida era frarem nosso presente e nosso futuro. Pois Jean Bau-
mesmo absurda, mas a resposta mais lógica para a falta drillard 12andou dizendo, com aquela facilidade que os
de sentido não era o desespero, e sim o riso. Percebi, franceses têm para fazer frases que parecem filosófi-
como se não bastasse, que se agregasse alguma graça cas, que o que caracteriza essa época que está vindo
aos meus resmungos poderia fazer daquele incômodo por aí é que o homem, leia-se corretamente homens e
uma profissão. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma mulheres, ou seja, 13o ser humano, foi descartado pela
conta de luz de outra forma. máquina. 14(Isso a gente já sabe quando tenta ligar para
Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, uma firma qualquer e uma voz eletrônica fica mandan-
não ter podido apertar sua mão e agradecer-lhe por ha- do a gente discar isto e aquilo e volta tudo a zero e não
ver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais precisava obtemos a informação necessária.)
escutar, a única verdade que há debaixo do céu: se Deus 15
Deste modo estão se cumprindo dois vaticínios. O pri-
não existe, então tudo é divertido. meiro era de um vate mesmo – 16Vinícius de Moraes,
que naquele poema “Dia da Criação”, fazendo conside-
Antonio Prata. Folha de S. Paulo. 04/04/2012.
rações irônicas sobre o dia de “sábado” e os desígnios
5. (Insper) Embora se utilize de um registro linguístico divinos, diz: “Na verdade, o homem não era necessá-
coloquial na passagem “se divertissem e passassem rio”. É isto, já não somos necessários.
meia hora rachando o bico”, o cronista estabelece, no E a outra frase metida nessa encrenca é aquela da Bí-
termo destacado, a concordância nominal de acordo blia, que dizia que o “sábado foi feito para o homem
com as regras gramaticais. Assinale a alternativa em e não o homem para o sábado”. Isso foi antigamente.
que o uso da palavra “meia” ou ”meio” NÃO está de Pois achávamos que a máquina havia sido feita para
acordo com a norma culta da língua. o homem, mas Baudrillard, as companhias aéreas e as
telefônicas mais os servidores de informática nos con-
a) É meio-dia e meia. venceram de que 17“o homem é que foi feito para a má-
b) Eu estou meia cansada. quina”. 18Ao telefone só se fala com máquinas, e algu-
c) As frutas estão meio caras. mas empresas – esses servidores de informática – nem
d) Acolheu-me com palavras meio ríspidas. seus telefones disponibilizam. 19Estou, por exemplo, há
e) Não me venha com meias palavras. quatro meses tentando falar com alguém no “hotmail”
20
e lá não tem viv’alma, só fantasmas eletrônicos sem
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: rosto e sem voz.
Permita-me, 22eventual e concreto leitor, lhe fazer uma
21
Cadê o papel-carbono?
pergunta indiscreta. Quanto tempo diariamente você
1
Outro dia tive saudade do papel carbono. E tive sauda- está gastando com e-mails? Quanto tempo para apagar
de também do mimeógrafo a álcool. E tive saudade da o lixo e responder bobagens? Faça a conta, some.
velha máquina de escrever. E tive saudade de quando, 23
Drummond certa vez escreveu: “Ao telefone perdeste
no dizer de 2Rubem Braga, a geladeira era branca e o muito tempo de semear”. Ele é porque não conheceu a in-
telefone era preto. ternet, que, tanto quanto o celular, usada desregradamen-
Os mais jovens não sabem nem o que é papel carbo- te é a grande sorvedora de tempo da pós-modernidade.
no ou mimeógrafo a álcool. Mas tive saudade deles, Por estas e por outras é que estou pensando seriamente
ou melhor, de um tempo em que eu não dependia ele- em voltar às cartas, quem sabe ao pergaminho. E a pri-
tronicamente de outros para fazer as mínimas tarefas. meira medida é reencontrar o papel carbono.
Uma torneira, por exemplo, era algo simples. Eu sabia – 24Cadê meu papel carbono?
abrir uma torneira e fazê-la jorrar água. 3Hoje tomar
um banho é uma peripécia tecnológica. 4Hoje até para (SANT’ANNA, Affonso Romano de. Tempo de
tomar um elevador tenho que inserir um cartão eletrô- delicadeza. Porto Alegre: L&PM, 2009

nico para ele se mover. Claro que tem o Google, essa


enciclopédia no computador que facilita as pesquisas
5
(para quem não precisa ir fundo nos assuntos), mas

43
6. (Epcar (Cpcar) 2020) Assinale a alternativa em que a se torna interno e a crítica deixa de ser sociológica,
alteração proposta para o termo em destaque está de para ser apenas crítica. Segundo esta ordem de ideias,
acordo com a norma padrão da Língua. o ângulo sociológico adquire uma validade maior do
a) “Estou (...) há quatro meses tentando falar com que tinha. Em __________, não pode mais ser impos-
alguém no ‘hotmail’...” (ref. 19) - Estou têm quatro to como critério único, ou mesmo preferencial, 25pois a
meses tentando falar com alguém no hotmail... importância de cada fator depende do caso a ser ana-
lisado. Uma crítica que se queira integral deve 26deixar
b) “Permita-me, eventual e concreto leitor...” (ref. 21)
de ser unilateralmente sociológica, psicológica ou 27lin-
– Me permita, eventual e concreto leitor...
guística, para utilizar livremente os elementos capazes
c) “...a gente não consegue usá-los sem pedir socor- de conduzirem a uma interpretação coerente.
ro a alguém?” (ref. 6) - A gente não os consegue usar
sem pedir socorro a alguém? Adaptado de: CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. 9. ed.
d) “Será necessária uma medida provisória do pre- Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
sidente...” (ref. 10) - Do presidente, será necessário
7. (UFRGS 2018) Considere o trecho abaixo extraído do
uma medida provisória.
texto.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: É o que tem ocorrido com o estudo da relação entre a
A(s) questão(ões) a seguir está(ão) relacionada(s) ao obra e o seu condicionamento social, que a certa altu-
texto abaixo. ra chegou a ser vista como chave para compreendê-la,
depois foi rebaixada como falha de visão, — e talvez só
Nada mais importante para chamar a atenção sobre agora comece a ser proposta nos devidos termos (ref. 8).
1
uma verdade do que exagerá-la. 2Mas também, nada Se a palavra relação fosse substituída por vínculo, quan-
mais perigoso, _________ um dia vem 3a 4reação indis- tas outras palavras no trecho teriam de ser modificadas
pensável e 5a relega injustamente para a categoria do para fins de correção gramatical?
erro, até que se efetue a operação difícil de 6chegar a
a) Duas.
um ponto de vista objetivo, sem desfigurá-7la de um
b) Três.
lado nem de outro. 8É o que tem ocorrido com o estudo
da relação entre a obra e o seu condicionamento social, c) Quatro.
que a certa altura chegou a ser vista como 9chave para d) Cinco.
compreendê-la, depois foi 10rebaixada como falha de e) Seis.
visão, — e talvez só agora comece a ser proposta nos
devidos termos. 8. (EEAR) Assinale a alternativa que não apresenta falha
na concordância.
11
De fato, antes se procurava mostrar que o valor e o
significado de uma obra dependiam de ela 12exprimir a) Ainda que sobre menas coisas para nós, devemos ir.
ou não certo aspecto da realidade, e que este aspec- b) As peças não eram bastante para a montagem do
to constituía o que ela tinha de essencial. Depois, che- veículo.
gou-se à posição oposta, procurando-se mostrar que a c) Os formulários estão, conforme solicitado, anexo à
matéria de uma obra é secundária, e que a sua impor- mensagem.
tância deriva das operações formais postas em jogo, d) Neste contexto de provas em que vocês se encon-
conferindo-lhe uma peculiaridade que a torna de fato tram, está proibida a tentativa de cola.
independente de 13quaisquer condicionamentos, so-
bretudo social, considerado inoperante como elemen- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
to de compreensão. 14Hoje sabemos que a integridade Leia o texto, do qual foram retiradas três palavras, e
da obra não permite adotar 15nenhuma dessas visões responda à(s) questão(ões).
_________; e que só a podemos entender fundindo
texto e contexto numa interpretação 16dialeticamente ACHADO NÃO É ROUBADO
íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que 17ex- Fabrício Carpinejar
plicava pelos fatores 18externos, quanto o outro, norte-
ado pela 19convicção de que a estrutura é virtualmente Não ganhava mesada, nem ajuda de custo na infância.
independente, se combinam como momentos 20neces- Eu me virava como dava. Recebia casa, comida e roupa
sários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que lavada e não havia como miar, latir e __________ mais
o 21externo (no caso, o social) importa, não como causa, nada aos pais, só agradecer.
nem como significado, mas como elemento que desem- As minhas fontes de renda eram praticamente duas:
penha certo papel na constituição da estrutura, tornan- procurar dinheiro nas bolsas vazias da mãe, torcendo
do-22se, 23portanto, interno. para que deixasse alguma nota na pressa da troca dos
Neste caso, saímos dos aspectos periféricos da socio- acessórios, ou catar moedas nas ruas e nos bueiros.
logia, ou da história sociologicamente orientada, para A modalidade de caça a dinheiro perdido exigia discipli-
chegar a uma interpretação estética que assimilou a na e profissionalismo. Saía de casa pelas 13h e caminha-
dimensão social como fator de arte. Quando isto se dá, va por duas horas, com a cabeça apontada ao meio-fio
ocorre o 24paradoxo assinalado inicialmente: o externo como pedra em estilingue. Varria a poeira com os pés e

44
cortava o mato com canivete. Fui voluntário remoto do vocratas, em uma sociedade patriarcal, tornaram legí-
Departamento Municipal de Limpeza Urbana. tima também a decisão sobre o corpo da mulher, in-
Gastava o meu Kichute em vinte quadras, do bairro Pe- clusive da sua esposa: bela, recatada e do lar, e da sua
trópolis ao centro. Voltava quando atingia a entrada do ama de leite (a mãe preta), cujo leite afro acalentava
viaduto da Conceição e reiniciava a minha arqueologia seu filho branco.
monetária no outro lado da rua. Advém daí o racismo: o colonizador branco, com a chan-
Levava um saquinho para colher as moedas. Cada tar- cela da religião cristã e da ciência, arrogou para si a
de rendia o equivalente a três reais. Encontrar corren- superioridade racial branca, em detrimento do negro,
tinhas, colares e __________ salvava o dia. Poderia do indígena e do asiático. Nem o questionável 13 de
revender no mercado paralelo da escola. As meninas maio nem o estado democrático de direito superou isso.
pagavam em jujubas, bolo inglês e guaraná. Isso é reproduzido hoje em nível societário. Quem mais
morre nas periferias das cidades brasileiras são negros.
Já o bueiro me socializava. Convidava com frequência o
Alguém cantou num passado recente “todo camburão
Liquinho, vulgo Ricardo. Mais forte do que eu, ajudava a
tem um pouco de navio negreiro”.
levantar a pesada e lacrada tampa de metal. Eu ficava
com a responsabilidade de descer __________ profunde- Advém daí o paternalismo: transplantamos para nossas
zas do lodo. Tirava toda a roupa – a mãe não perdoaria relações humanas as antigas relações típicas de senhor
o petróleo do esgoto – e pulava de cueca, apalpando às escravo, não na acepção nietzschiana (moral do senhor/
cegas o fundo com as mãos. Esquecia a nojeira imaginan- moral do escravo), mas na acepção eugênica herdada do
do as recompensas. Repartia os lucros com os colegas darwinismo social de Spencer, que hierarquizou as raças,
que me acompanhavam nas expedições ao submundo de estando essas associadas ao processo civilizatório de
Porto Alegre. Lembro que compramos uma bola de fute- aculturação do indígena, método descrito de forma pri-
bol com a arrecadação de duas semanas. morosa por Alfredo Bosi em “As flechas do Sagrado”. Os
jesuítas arrogaram para si a responsabilidade por “cuidar
Espantoso o número de itens perdidos. Assim como os
do indígena”, inculcando no colonizado a dependência
professores paravam no meu colégio, acreditava na gre- contínua na esteira da “benevolência” mal intenciona-
ve dos objetos: moedas e anéis rolavam e cédulas voa- da. Mal sabiam os colonizadores que as etnias também
vam dos bolsos para protestar por melhores condições. negociavam, como enunciou Eduardo Viveiros de Castro
Sofria para me manter estável, pois nunca pedia dinhei- em “A inconstância da alma selvagem”: os tupinambás
ro a ninguém. Desde cedo, descobri que vadiar é tam- jamais abriram mão do que lhes era essencial, a guerra.
bém trabalhar duro. Advém daí o genocídio negro: desde 1982 até 2014
Disponível em: < http://carpinejar.blogspot.com.br/2016/06/ foram 1,2 milhões de negros mortos pela polícia nas
achado-nao-e-roubado.html > Acesso em: 22 jun. 2016. periferias, dados da Anistia Internacional. O negro de
hoje é o escravizado de ontem e o corpo reificado de
9. (IFSUL) Há concordância nominal INADEQUADA em: anteontem. Na imprensa de hoje, a morte de um jovem
a) É proibida entrada em bueiros. branco de classe média suscita debates em torno da
violência, ao passo que a morte de um negro é mais
b) O menino achou bastantes moedas no bueiro.
uma estatística. Do mesmo modo que a violência contra
c) Ele escolheu mau lugar e hora para fazer a expe- a mulher é naturalizada e contra a mulher negra duas
dição. vezes mais, pois aprendemos com a “globeleza” que o
d) A primeira e a segunda expedições da tarde eram corpo negro feminino é o veículo do pecado e que o
bem sucedidas. corpo feminino deve ser submetido à vontade do corpo
masculino, estando apto desde sempre a servi-lo.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Advém daí o genocídio indígena, ainda em curso. Rura-
COMPREENDER O BRASIL É DIFÍCIL, MAS NÃO IMPOSSÍVEL listas e posseiros o fazem à luz do dia no Norte e Cen-
tro-Oeste do país. A imprensa fala pouco, o silêncio ce-
Ouvimos muitos comentários de analistas sociais e miterial em torno do tema é um crime confesso, típico
também do senso comum (sobretudo) de que o gran- de quem consente porque se cala.
de mal do Brasil é o “jeitinho brasileiro”, que é atre- Advém daí a corrupção, pois, no processo colonizatório, le-
lado à corrupção. Pois bem, a observação não é de gitimou-se a prática de que tudo tem seu preço, quando até
todo errada, mas esconde outro truísmo aparente. Os mesmo o corpo do outro poderia ser negociado, outrora o
males do Brasil enquanto nação e enquanto Estado escravizado, tempos depois o trabalhador fabril, hoje qual-
assentam-se em dois pilares: o genocídio indígena e a quer alma vulnerável ao consumismo em busca de status.
escravidão africana. Resumo da ópera: a corrupção é um subciclo de dois ciclos
Advém daí o machismo e a cultura do estupro: as ín- maiores: genocídio e escravidão. Por isso esses dois temas
dias foram as primeiras a serem violentadas pelo co- interessam a todos os brasileiros. Enquanto não encarar-
lonizador europeu, o que acabou naturalizando essa mos isso, não avançaremos como povo ou como nação.
abominável prática de invasão do corpo do outro, Victor Martins. Disponível em: http://www.circulopalmarino.
tempos depois aplicando-se o mesmo “método” no org.br/2016/05/compreender-o-brasil-e-dificil-mas-
corpo da mulher negra e da mulher branca. Os escra- nao-impossivel. Acesso em: 14/07/16. Adaptado.

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10. (Upe-ssa 3) No que se refere a alguns aspectos for- agregadora para trocar ideias, para convencer ou ser
mais presentes no texto, analise as proposições a seguir. convencido pelo outro, para manifestar humor, para de-
I. No trecho: “(...) e da sua ama de leite (a mãe preta), sabafar sobre o que angustia a alma, em suma, para
cujo leite afro acalentava seu filho branco.” (2º parágra- falar e para ouvir. A conversa não é a base da terapia?
fo), a substituição da forma verbal ‘acalentava’ por ‘nu- Sei não, mas, atualmente, contar com um amigo para
tria’ acarretará a seguinte alteração na regência: ‘(...) jogar conversa fora ou para confessar aquele temor
e da sua ama de leite (a mãe preta), em cujo leite afro que lhe está roubando o sossego talvez não seja fácil.
nutria seu filho branco.’. O tempo também, nesta vida corre-corre, tem lá outras
II. No trecho: “Quem mais morre nas periferias das ci- prioridades. Mia Couto é contundente: “Nunca o nosso
dades brasileiras são negros.” (3º parágrafo), a forma mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca
verbal destacada está no plural em concordância com o foi tão dramática a nossa solidão.” Até se fala muito,
predicativo plural ‘negros’. mas ouvir o outro? Falo de conversas entre pessoas no
mundo real. Vive-se hoje, parece, mais no mundo digital.
III. No trecho: “Ouvimos muitos comentários (...) de que Nele, até que se conversa muito; porém, é tão diferente,
o grande mal do Brasil é o ‘jeitinho brasileiro’, que é mesmo quando um está vendo o outro. O compartilha-
atrelado à corrupção.” (1º parágrafo), o sinal indicativo mento do mesmo espaço, diria, é que nos proporciona
de crase é opcional, já que o verbo ‘atrelar’, no contexto a abrangência do outro, a captação do seu respirar, as
em que se insere, pode também ser transitivo direto. batidas de seu coração, o seu cheiro, o seu humor...
IV. O segmento destacado no trecho: “Ruralistas e pos- Desse diálogo é que tanta gente está sentindo falta.
seiros o fazem à luz do dia no Norte e Centro-Oeste do Até por telefone as pessoas conversam, atualmente,
país.” (6º parágrafo) exemplifica um caso de próclise; a bem menos. Pelo WhatsApp fica mais fácil, alega-se.
forma enclítica correspondente é ‘fazem-no’. Rapidinho, rapidinho. Mas e a conversa? Conversa-se,
Estão CORRETAS: sim, replicam. Será? Ou se trocam algumas palavras?
a) I e III, apenas. Quando falo em conversa, refiro-me àquelas que se es-
ticam, sem tempo marcado, sem caminho reto, a pula-
b) II e III, apenas.
rem de assunto em assunto. O WhatsApp é de graça,
c) I, III e IV, apenas.
proclamam. Talvez um argumento que pode ser robus-
d) II e IV, apenas.
to, como se diz hoje, a favor da utilização desse instru-
e) I, II, III e IV. mento moderno.
Mas será apenas por isso? Um amigo me lembra: no
E.O. Fixação WhatsApp se trocam mensagens por escrito. Eu sei. En-
tretanto, língua escrita é um outra modalidade, outro
modo de ativar a linguagem, a começar pela não copre-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sença física dos interlocutores. No telefone, não há essa
Encontros e Desencontros copresença física, mas esse meio de comunicação não é
impeditivo de falante e ouvinte, a cada passo, trocarem
Hoje, jantando num pequeno restaurante aqui perto de papéis e até mesmo de falarem ao mesmo tempo,
de casa, pude presenciar, ao vivo, uma cena que já me configurando, pois, características próprias da modali-
tinham descrito. Um casal de meia idade se senta à dade oral. Contudo, não se respira o mesmo ar, ainda
mesa vizinha da minha. Feitos os pedidos ao garçom, que já se possa ver o outro. As pessoas passaram a va-
o homem, bem depressinha, tira o celular do bolso, e ler-se menos do telefone, e as conversas também vão,
não mais o deixa, a merecer sua atenção exclusiva. A por isso, tornando-se menos frequentes.
mulher, certamente de saber feito, não se faz de roga- Gosto, mesmo, é de conversas, de preferência com pou-
da e apanha um livro que trazia junto à bolsa. Começa cos companheiros, sem pauta, sem temas censurados,
a lê-lo a partir da página assinalada por um marcador. sem se ter de esmerar na linguagem. Conversa sem
Espichando o meu pescoço inconveniente (nem tanto, compromisso, a não ser o de evitar a chatice. Com suas
afinal as mesas eram coladinhas) deu para ver que era contundências, conflitos de opiniões e momentos de
uma obra da Martha Medeiros. solidariedade. Conversa que é vida, que retrata a vida
Desse modo, os dois iam usufruindo suas gulodices, sem no seu dia a dia. No grupo maior, há de tudo: o louco,
comentários, com algumas reações dele, rindo com ele o filósofo, o depressivo, o conquistador de garganta, o
mesmo com postagens que certamente ocorriam em saudosista... Nem sempre, é verdade, estou motivado
seu celular. Até dois estranhos, postos nessa situação, para participar desses grupos. Porém, passado um tem-
talvez acabassem por falar alguma coisa. Pensei: devem po, a saudade me bate.
estar juntos há algum tempo, sem ter mais o que con- Aqueles bate-papos intimistas com um amigo tantas
versar. Cada um sabia tudo do outro, nada a acrescen- afinidades, merecedores que nos tornamos da confian-
tar, nada de novo ou surpreendente. E assim caminhava, ça um do outro, esses não têm nada igual. A apreensão
decerto, a vida daquele casal. abrangente do amigo, de seu psiquismo, dos seus sen-
O que me choca, mesmo observando esta situação, timentos, das dificuldades mais íntimas por que passa,
como outras que o dia a dia me oferece, é a ausência faz-no sentir, fortemente, a nossa natureza humana, a
de conversa. Sem conversa eu não vivo, sem sua força maior valia da vida.

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Esses momentos vão se tornando, assim me parece, uma a) transgride as normas de concordância nominal.
cena menos habitual nestes tempos digitais. A pressa, os b) concorda em gênero e número com o elemento
problemas a se multiplicarem, as tarefas a se diversifica- mais próximo.
rem, como encontrar uma brecha para aquela conversa, c) faz uma concordância ideológica, num caso de silepse
que é entrega, confiança, despojamento? Conversa que de número.
exige respeito: um local calminho, sem gritos, vozes es- d) poderia ser substituído pelo termo “combinadas”.
ganiçadas, garçons serenos. Sim, umas tulipas estouran-
e) concorda com todos os termos a que se refere, pre-
do de geladas e uns tira-gostos de nosso paladar a exi- valecendo o masculino plural.
girem nova pedida. Não queria perder esses encontros.
Afinal, a vida está passando tão depressa... 5. (CPS) Assinale a alternativa correta quanto à concor-
Adaptado de: UCHOA, Carlos Eduardo. Disponível dância verbal e nominal.
em: http://carloseduardouchoa.com.br/blog/.
a) Os rapazes que praticam surf mantêm suas pran-
chas muito bem cuidadas.
1. (Col. naval) A concordância do termo destacado em
“Um casal de meia idade se senta à mesa vizinha da b) A nadadora está meia apreensiva, pois a travessia
minha.” (1º parágrafo) está de acordo com a norma-pa- será em mar aberto.
drão da língua. c) Em 2011, farão cinco anos que ele venceu o cam-
peonato paulista de judô.
Em que opção tal fato também ocorre?
d) Elas mesmos foram em busca de patrocínio para a
a) Não é permitida conversa pelo celular neste res- equipe de ginástica.
taurante. e) Afixada no mural estão as listas dos atletas que
b) A mulher ficou meia chateada, pois o marido não participarão da São Silvestre.
parava de usar o celular.
c) Há bastantes pessoas que usam o WhatsApp no Brasil. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
d) Seguem anexas às mensagens meu perfil no aplicativo.
Quando a rede vira um vício
e) Só, sem qualquer amigo mais próximo, muitas pes-
soas se refugiam no mundo virtual. Com o titulo "Preciso de ajuda", fez-se um desabafo aos
2. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que há o integrantes da comunidade Viciados em Internet Anôni-
correto emprego da palavra sublinhada. mos: "Estou muito dependente da web, Não consigo mais
viver normalmente. Isso é muito sério". Logo obteve res-
a) Tens recursos bastante para as obras? posta de um colega de rede. "Estou na mesma situação.
b) Nesta escola, formam-se alunos melhores prepa- Hoje, praticamente vivo em frente ao computador. Preciso
rados. de ajuda." Odiálogo dá a dimensão do tormento provoca-
c) Nas ocasiões difíceis é onde sobressai o verdadeiro do pela dependência em Internet, um mal que começa a
líder. ganhar relevo estatístico, à medida que o uso da própria
d) O homem foi atendido mais bem do que esperava. rede se dissemina. Segundo pesquisas recém-conduzidas
e) Ainda não tinha visto redação mais mal escrita. pelo Centro de Recuperação para Dependência de Inter-
net, nos Estados Unidos, a parcela de viciados representa,
3. (UFSM) nos vários países estudados, de 5% (como no Brasil) a 10%
dos que usam a web — com concentração na faixa dos 15
aos 29 anos. Os estragos são enormes. Como ocorre com
um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvol-
ve uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar on-line por
uma eternidade sem se dar conta do exagero. Ele também
sofre de constantes crises de abstinência quando está
desconectado, e seu desempenho nas tarefas de natureza
A frase que poderia substituir corretamente a inscrição
intelectual despenca. Diante da tela do computador, vive,
na placa, mantendo-se o sentido e a adequação à nor-
aí sim, momentos de rara euforia. Conclui uma psicóloga
ma-padrão, é:
americana: "O viciado em internet vai, aos poucos, per-
a) Postergada a caça! dendo os elos com o mundo real até desembocar num
b) Proibido a caça de árvores! universo paralelo — e completamente virtual".
c) Não é permitida caça! Não é fácil detectar o momento em que alguém deixa
d) Caça promulgada! de fazer uso saudável e produtivo da rede para estabe-
e) É proibido caça! lecer com ela uma relação doentia, como a que se revela
nas histórias relatadas ao longo desta reportagem. Em
4. (ESPM) Na frase: “Analfabetismo, saneamento básico todos os casos, a internet era apenas "útil" ou "diver-
e pobreza combinados explicam 62% da taxa de mor- tida" e foi ganhando um espaço central, a ponto de a
talidade das crianças com até cinco anos no Brasil.” (O vida longe da rede ser descrita agora como sem sentido.
Estadão), o termo sublinhado: Mudança tão drástica se deu sem que os pais atentassem

47
para a gravidade do que ocorria. "Como a internet faz psicólogas, "Os pais não devem temer o computador,
parte do dia a dia dos adolescentes e o isolamento é mas, sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de forma
um comportamento típico dessa fase da vida, a família útil e saudável". Desse modo, reduz-se drasticamente a
raramente detecta o problema antes de ele ter fugido possibilidade de que, no futuro, eles enfrentem o drama
ao controle", diz um psiquiatra. A ciência, por sua vez, vivido hoje pelos jovens viciados.
já tem bem mapeados os primeiros sintomas da doença.
De saída, o tempo na internet aumenta — até culmi- Silvia Rogar e João Figueiredo, Veja, 24 de março de 2010. Adaptado.
nar, pasme-se, numa rotina de catorze horas diárias, de 6. (Col. naval) Em qual das opções foi estabelecida a
acordo com o estudo americano. As situações vividas na concordância nominal correta no trecho destacado?
rede passam, então, a habitar mais e mais as conversas.
É típico o aparecimento de olheiras profundas e ainda a) Em casos de dependência em internet, a avaliação
um ganho de peso relevante, resultado da frequente psicológica é necessária.
troca de refeições por sanduíches — que prescindem de b) Um e outro internautas precisa de limites quanto
talheres e liberam uma das mãos para o teclado. Grada- ao uso da Rede.
tivamente, a vida social vai se extinguindo. Alerta outra c) Haja visto o grande número de viciados em inter-
psicóloga: "Se a pessoa começa a ter mais amigos na net, alguma providência deve ser tomada.
rede do que fora dela, é um sinal claro de que as coisas d) Dado a dependência na Web, muitos jovens estão
não vão bem". comprometendo o convívio social.
Os jovens são, de longe, os mais propensos a extrapolar e) A juventude tem ficado meia prejudicada por causa
o uso da internet. Há uma razão estatística para isso — do uso indevido da Rede.
eles respondem por até 90% dos que navegam na rede,
a maior fatia —, mas pesa também uma explicação de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
fundo mais psicológico, à qual uma recente pesquisa
lança luz. Algo como 10% dos entrevistados (viciados FOLHA – Seus estudos mostram que, entre os mais esco-
ou não) chegam a atribuir à internet uma maneira de larizados, há maior preocupação com a corrupção.
"aliviar os sentimentos negativos", tão típicos de uma O acesso à educação melhorou no país, mas a aversão
etapa em que afloram tantas angústias e conflitos. Na à corrupção não parece ter aumentado. Não se vê mais
rede, os adolescentes sentem-se ainda mais à vontade mobilizações como nos movimentos pelas Diretas ou no
para expor suas ideias. Diz um outro psiquiatra: "Num Fora Collor. Como explicar?
momento em que a própria personalidade está por se ALMEIDA – Esta questão foi objeto de grande contro-
definir, a internet proporciona um ambiente favorável vérsia nos Estados Unidos. Quanto maior a escolariza-
para que eles se expressem livremente". No perfil da- ção, maior a participação política. Mas a escolaridade
quela minoria que, mais tarde, resvala no vicio se vê, também cresceu lá, e não se viu aumento de mobili-
em geral, uma combinação de baixa autoestima com zação. O que se discutiu, a partir da literatura mais re-
intolerância à frustração. Cerca de 50% deles, inclusive, cente, é que, para acontecerem grandes mobilizações,
sofrem de depressão, fobia social ou algum transtorno é necessária também a participação atuante de uma
de ansiedade. É nesse cenário que os múltiplos usos da elite política. No caso das Diretas-Já, por exemplo,
rede ganham um valor distorcido. Entre os que já têm o essa mobilização de cima para baixo foi fundamental.
vicio, a maior adoração é pelas redes de relacionamento O governador de São Paulo na época, Franco Montoro,
e pelos jogos on-line, sobretudo por aqueles em que não estava à frente da mobilização. No Rio, o governador
existe noção de começo, meio ou fim. Leonel Brizola liberou as catracas do metrô e deu pon-
Desde 1996, quando se consolidou o primeiro estudo to facultativo aos servidores. No caso de Collor, foi um
de relevo sobre o tema, nos Estados Unidos, a depen- fenômeno mais raro, pois a mobilização foi mais espon-
dência em internet é reconhecida — e tratada — como tânea, mas não tão grande quanto nas Diretas. Porém,
uma doença. Surgiram grupos especializados por toda é preciso lembrar que Collor atravessava um momento
parte. "Muita gente que procura ajuda ainda resiste à econômico difícil. Isso ajuda a explicar por que ele caiu
ideia de que essa é uma doença", conta um psicólogo. com os escândalos da época, enquanto Lula sobreviveu
bem ao mensalão. Collor não tinha o apoio da elite
O prognóstico é bom: em dezoito semanas de sessões
nem da classe média ou pobre. Já Lula perdeu apoio
individuais e em grupo, 80% voltam a niveis aceitáveis
das camadas mais altas, mas a população mais pobre
de uso da internet. Não seria factível, tampouco dese-
estava satisfeita com o desempenho da economia. Isso
jável, que se mantivessem totalmente distantes dela,
fez toda a diferença nos dois casos. A preocupação de
como se espera, por exemplo, de um alcoólatra em re-
uma pessoa muito pobre está muito associada à so-
lação à bebida. Com a rede, afinal, descortina-se uma
brevivência, ao emprego, à saúde, à própria vida. Para
nova dimensão de acesso às informações, à produção de nós, da elite, jornalistas, isso já está resolvido e outras
conhecimento e ao próprio lazer, dos quais, em socieda- questões aparecem como mais importantes. São dois
des modernas, não faz sentido se privar. Toda a questão mundos diferentes.
gira em torno da dose ideal, sobre a qual já existe um
consenso acerca do razoável: até duas horas diárias, no (Adaptado de: GOIS, Antonio. Mais conscientes, menos
mobilizados. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br//
caso de crianças e adolescentes. Quanto antes a ideia do
fsp/mais/fs2607200914.htm>. Acesso em: 26 jul. 2009).
limite for sedimentada, melhor. Na avaliação de uma das

48
7. (Uel) Observe o seguinte período: “O que se discutiu, mar.” Isto soava assim: amanhã vou te levar ao outro
a partir da literatura mais recente, é que, para acon- lado do mundo, amanhã te ofereço a Lua. Amanhã você
tecerem grandes mobilizações, é necessária também a já não será o mesmo homem.
participação atuante de uma elite política.”. E a cena continuou: resguardado pelo irmão mais velho,
a) Do ponto de vista da norma culta, há um problema de que se assentou no banco do calçadão, o adolescente,
concordância, pois a forma correta de se grafar a expres- ousado e indefeso, caminha na areia para o primeiro
são seria “é necessário”. encontro com o mar. Ele não pisava na areia. Era um
b) Há um problema de pontuação, pois não se deve usar oásis a caminhar. Ele não estava mais em Minas, mas
vírgula para separar o sujeito “grandes mobilizações” do andava num campo de tulipas na Holanda. O mar a pri-
predicado “é necessária também”. meira vez não é um rito que deixe um homem impune.
c) A expressão grifada destaca um erro de concordância Algo nele vai-se aprofundar.
com o sujeito “grandes mobilizações”. E o irmão lá atrás, respeitoso, era a sentinela, o sacerdo-
d) A expressão grifada aparece flexionada em gênero e te que deixa o iniciante no limiar do sagrado, sabendo
número, pois concorda com o sujeito posposto “a parti- que dali para a frente o outro terá que, sozinho, enfren-
cipação atuante”. tar o dragão. E o dragão lá vinha soltando pelas narinas
e) Do ponto de vista da norma culta, pode-se dizer que as ondas verdes de verão. E o pequeno cavaleiro, des-
há uma inadequação, pois o autor usou a expressão “é temido e intimidado, tomou de uma espada ou pedaço
necessária” no lugar da expressão “é precisa”. de pau qualquer para enfrentar a hidra que ondeava
mil cabeças, e convertendo a arma em caneta ou lápis
8. (IFCE) Marque a alternativa sintaticamente correta. começou a escrever na areia um texto que não termi-
a) Vão anexo os formulários. nará jamais. Que é assim o ato de escrever: mais que
um modo de se postar diante do mar, é uma forma de
b) Todos estavam alertas.
domar as vagas do presente convertendo-o num cristal
c) A porta estava meia aberta.
passado.
d) Eu comi meio tomate.
Não, não enchi a garrafinha de água salgada para mos-
e) Inclusa seguem as notas.
trar aos vizinhos tímidos retidos nas montanhas, e fiz
9. (Ifal) Escolha a frase cuja concordância nominal está mal, porque muitos morreram sem jamais terem visto o
correta. mar que eu lhes trazia. Mas levei as conchas, é verdade,
que na mesa interior marulhavam lembranças de um lu-
a) Alguns pseudos-sociólogos se opõem ao Bolsa Fa-
minoso encontro de amor com o mar.
mília.
Certa vez, adolescente ainda nas montanhas, li urna
b) Há partes da floresta que estão menas devastadas
crônica onde um leitor de Goiás pedia à cronista que
que outras.
lhe explicasse, enfim, o que era o mar. Fiquei perplexo.
c) Visto a grande destruição, alguma atitude deve ser
Não sabia que o mar fosse algo que se explicasse. Nem
tomada.
me lembro da descrição. Me lembro apenas da pergun-
d) Seguem anexo os documentos do processo. ta. Evidentemente eu não estava pronto para a respos-
e) Todos devem ficar alerta para a questão do des- ta. A resposta era o mar. E o mar eu conheci, quando
matamento. pela primeira vez aprendi que a vida não é a arte de
responder, mas a possibilidade de perguntar.
10. (Espcex (Aman)) Assinale a alternativa em que a
palavra bastante(s) está empregada corretamente, de Os cariocas vão achar estranho, mas eu devo lhes re-
acordo com a norma culta da Língua. velar: o carioca, com esse modo natural de ir à praia,
desvaloriza o mar. Ele vai ao mar com a sem-cerimônia
a) Os rapazes eram bastantes fortes e carregaram a
que o mineiro vai ao quintal. E o mar é mais que horta e
caixa.
quintal. É quando atrás do verde-azul do instante o de-
b) Há provas bastante para condenar o réu. sejo se alucina num cardume de flores no jardim. O mar
c) Havia alunos bastantes para completar duas salas. é isso: é quando os vagalhões da noite se arrebentam
d) Temos tido bastante motivos para confiar no chefe. na aurora do sim.
e) Todos os professores estavam bastantes confiantes. Ver o mar a primeira vez, lhes digo, é quando Guimarães
Rosa pela vez primeira, por nós, viu o sertão. Ver o mar a

E.O. Complementar primeira vez é quase abrir o primeiro consultório, fazer


a primeira operação. Ver o mar a primeira vez é com-
prar pela primeira vez uma casa nas montanhas: que
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: surpresas ondearão entre a lareira e a mesa de vinhos
e queijos!
Minha amiga me pergunta: por que você fala sempre O mar é o mestre da primeira vez e não para de ondear
nas coisas que acontecem a primeira vez e, sobretudo, suas lições. Nenhuma onda é a mesma onda. Nenhum
as comparar com a primeira vez que você viu o mar? Me peixe o mesmo peixe. Nenhuma tarde a mesma tarde. O
lembro dessa cena: um adolescente chegando ao Rio e mar é um morrer sucessivo e um viver permanente. Ele
o irmão lhe prevenindo: “Amanhã vou te apresentar o se desfolha em ondas e não para de brotar. A contem-

49
plá-lo ao mesmo tempo sou jovem e envelheço. 3. (Ufpe) Segundo a norma padrão da língua portu-
O mar é recomeço. guesa, a alternativa em que as regras da concordância
nominal e verbal foram respeitadas é:
(SANT’ANNA, Affonso Romano de. O mar, a primeira vez.
In:_____. Fizemos bem em resistir: crônicas selecionadas. a) O resultado das mais recentes pesquisas, em anexo,
Rio de Janeiro: Rocco,1994, p.50-52. Texto adaptado.) mostraram índices preocupantes. Faltou soluções mais
decisivas.
1. (Esc. Naval) Que opção obedece, plenamente, à mo- b) Fiquem alerta: nenhum dos programas apresentados
dalidade padrão da língua portuguesa? concederam prioridade à produção do texto escrito.
a) Para muitas pessoas, o barulho das ondas do mar c) Minas Gerais desenvolve pesquisas de ponta na área
ao mesmo tempo fascinam e assustam. da alfabetização. Um novo grupo assumiram, eles mes-
b) Os jovens e os sonhadores, costumam, escrever mo, a coordenação dessas pesquisas.
seus nomes nas areias da praia, indelevelmente. d) Foi passada uma série de informações infundadas: a
c) É extraordinário a alegria e o medo de uma criança, maioria dos alunos lê literatura brasileira. Qual das pes-
ao lembrar da primeira vez que viu o mar. quisas já enfatizou isso?
d) As pessoas urbanas e apressadas não vêm nada e) Os pesquisadores, eles mesmo, em quase sua totali-
demais nas paisagens marítimas. dade, está de acordo em relação à urgência do incentivo
e) Prudência é necessário quando se entra ao mar, à leitura.
transmutado pela ressaca.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
O fragmento de texto abaixo, de André Machado, foi adaptado da seção
Informática etc., do jornal O Globo, de 30 de junho de 2003, p. 2.
Velho papel pode estar com os anos contados
A Vida Antes e Depois do Computador e da Internet
Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu neto lhe per-
guntando o que era papel? Pois é, alguns pesquisadores Professora usa blog2 para informar sobre deficiências.
já estão trabalhando para que esse dia chegue logo. Usar um computador pode de fato dar uma nova di-
A suposta ameaça 7à fibra natural não é o desajeitado mensão ao dia de um deficiente físico. A professora
e-book, mas o papel eletrônico, uma 'folha' que você Marcela Cálamo Vaz Silva, 36, moradora de Guarulhos,
carregaria dobrada no bolso. SP, é tetraplégica desde os seis anos de idade e conta
Ela seria capaz de mostrar o jornal do dia – com vídeos, que a tecnologia mudou sua vida. Ela também cita o
fotos e notícias 8atualizadas –, o livro que você estivesse Motrix e o Dosvox como exemplos de softwares que
lendo ou qualquer informação antes impressa. Tudo ali. ajudam os deficientes, embora seu caso não os exija:
Desde os anos 70, está no ar a 5ideia de papel eletrô- - Nunca usei nenhum software específico para porta-
nico, mas as últimas novidades são de duas semanas dores de deficiência, pois, mesmo com uma lesão num
atrás. Cientistas holandeses anunciaram que estão per- nível muito alto, que me classifica como tetraplégica,
to de criar uma tela com 'quase todas' as propriedades tenho preservados os movimentos de braços, mãos e
do papel: 3leveza, flexibilidade, 4clareza, etc. dedos - explica, por e-mail. Mas posso dizer, com toda
A novidade que deixa o invento um pouco mais palpável segurança, que minha vida se divide em duas fases: an-
está nos transistores. No papel do futuro, eles não serão tes e depois do computador, sobretudo a Internet. Meu
de 6silício, mas de plástico – que é maleável e barato. contato com a rede começou há quatro anos, através
Os holandeses dizem já ter um protótipo que mostra dos chats3. A fase do chat durou uns dois anos e meio
imagens em movimento em uma tela de duas polega- e foi no final dela que descobri o quanto meu mun-
das, ainda que de qualidade 1'meia-boca'. do poderia crescer através da Internet. Mesmo sendo
paraplégica desde os seis anos de idade, meu contato
2
Mas não vá celebrando o fim do desmatamento e do
com outros portadores de deficiências limitara-se aos
peso na mochila. A expectativa é que um papel eletrônico
mais ou menos convincente apareça só daqui a cinco anos. poucos anos em que frequentei a AACD (Associação de
Apoio à Criança Deficiente). Foi através da Internet que
Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. retomei o contato com pessoas com necessidades espe-
Folhateen, p. 10. ciais, como eu, e comecei a me interessar por assuntos
relativos à deficiência, como luta por direitos, precon-
2. (IFCE) A forma adjetiva “... atualizadas...” (ref. 8) está
concordando com os substantivos “fatos e notícias”. ceito, acessibilidade.
Não se observou a concordância nominal em Foi também através de um amigo de chat que Marcela
teve o primeiro contato com o mundo dos blogs (em
a) As mulheres disseram muito obrigadas.
julho, seu blog Maré fará um ano). Hoje, ela é uma blo-
b) Não somos nenhuns coitados.
gueira convicta.
c) Bastantes pessoas vão usar o papel do futuro.
- No início era apenas um blog com assuntos despreten-
d) As novidades da informática custam caro.
siosos. Mas, depois, percebi que o estava direcionando
e) É proibido a entrada de pessoas estranhas.
para informar meus leitores, a maioria formada por pes-
soas sem qualquer tipo de deficiência, sobre tudo que

50
minha experiência como "cadeirante" permitia. Percebi de qualidade, foi apresentada aos trabalhadores.
o quanto as pessoas são mal informadas a respeito de c) Quaisquer deslizes perante o consumidor, nessa
como um portador de deficiência vive e que essa igno- área, provoca problemas para a empresa.
rância se deve à falta de convivência ou de alguém que d) É necessário paciência para poderem os trabalha-
possa dizer a elas como as coisas realmente são. Decidi dores conseguirem seus plenos direitos.
que faria isso em meu blog. e) A ação social, um dos temas mais discutidos
NOTA: 2blog: é uma página web atualizada frequente- atualmente, faz os interessados repensarem a
mente, composta por pequenos parágrafos apresen- política fiscal.
tados de forma cronológica. É como uma página de
notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo,
com um fato após o outro. O conteúdo e tema dos blogs E.O. Dissertativo
abrangem uma infinidade de assuntos que vão desde
diários, piadas, notícias até poesia, fotografias. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

chats: salas virtuais de bate-papo.


3 VAGABUNDO
4. (UFJF) No fragmento "(...) tenho PRESERVADOS os Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
movimentos de braços, mãos e dedos (...)." (20. pará- Fumando meu cigarro vaporoso;
grafo), o ajuste de flexões em "preservados" se explica Nas noites de verão namoro estrelas;
por um processo de: Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso!
a) concordância nominal com "braços".
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro
b) concordância verbal com "movimentos".
Mas tenho na viola uma riqueza:
c) concordância nominal com "movimentos". Canto à lua de noite serenatas,
d) concordância verbal com "braços, mãos e dedos". E quem vive de amor não tem pobreza.
e) concordância nominal com "dedos". (...)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Oito dias lá vão que ando cismado
Na donzela que ali defronte mora.
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que há uma Ela ao ver-me sorri tão docemente!
diferença bastante significativa entre responsabilidade Desconfio que a moça me namora!...
social e ação social. Enquanto o primeiro compreende
uma série de itens nos quais a empresa deve ter com- Tenho por meu palácio as longas ruas;
prometimento ético, com fornecedores, acionistas, em- Passeio a gosto e durmo sem temores;
pregados e o meio ambiente, por exemplo, o segundo Quando bebo, sou rei como um poeta,
se dá exclusivamente na relação da empresa com a co- E o vinho faz sonhar com os amores.
munidade. Entender essas definições é de fundamental
importância para as empresas que já desenvolveram, O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
vêm desenvolvendo ou querem desenvolver alguma
Minha mãe é a lua macilenta,
atividade na área social. (...)
E a preguiça a mulher por quem suspiro.
Há várias explicações para esse processo de conversão
de pensamento das empresas. A mais difundida delas Escrevo na parede as minhas rimas,
é justamente a mais simples e também a mais lógica: De painéis a carvão adorno a rua;
com a redemocratização, as relações tomaram-se mais Como as aves do céu e as flores puras
transparentes. E, na era das comunicações, com a so- Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
ciedade tomando conhecimento de movimentos como (...)
"Ação pela Cidadania Contra a Fome e a Miséria", de
Ora, se por aí alguma bela
eventos como a "Rio 92" e com o crescimento de ONGs,
Bem doirada e amante da preguiça
ao redor do Brasil, nasceu uma cobrança de postura. Co-
Quiser a 2nívea mão unir à minha,
brança essa que é de todos e recai na área social, pela
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.
percepção dos problemas, como pobreza, fome, violên-
cia. Logo, ficaria difícil criar "ilhas de prosperidade" no Álvares de Azevedo
Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.
meio dos problemas.
(Jornal do Commercio: 21/07/2002. Fragmento)
1
ditoso − feliz
2
nívea − branca
5. (Ufpe) A concordância verbal e a nominal estão de
acordo com a norma padrão em: 1. (Uerj) Oito dias lá vão que ando cismado (v. 9)
a) Houveram implicações boas e más naquelas atitu- Justifique a flexão do verbo na terceira pessoa do
des dos empresários de Pernambuco. plural. Em seguida, reescreva o verso, de acordo
com a norma-padrão, substituindo o verbo “ir” pelo
b) Propostas, o mais adequadas possíveis, em termos
verbo “fazer”.

51
2. (IFSP) Leia as charges. 5. (G1 1996) Explique por que as frases de cada par
seguinte têm "comportamento" diferentes quanto a
concordância nominal:
a) Comida é bom.
Uma comida sem gordura é boa à saúde.
b) É proibido entrada.
É proibida a entrada de estranhos.

Gabarito
E.O. Aprendizagem
1. B 2
. B 3
. B 4
. B 5
. B

6
. C 7
. C 8
. D 9
. A 10. D

E.O. Fixação
1
. C 2
. E 3. E 4
. E 5
. A

6
. A 7. D 8
. D 9. E 10. C

a) Explique como se dá o efeito de humor pela lingua-


gem verbal nas duas charges.
E.O. Complementar
b) Reescreva as frases de cada charge, substituindo, 1. E 2. E 3
. D 4
. C 5. E
na primeira, o termo “guerra” por “guerras” e, na
segunda, substituindo “Quem” por “Que pessoas” e
fazendo a correção ortográfica. E.O. Dissertativo
3. (Ufmg) Leia estes cartazes: 1. Justificativa: a forma verbal “vão” concorda com o su-
jeito “oito dias”.
Reescritura: Oito dias lá faz que ando cismado. O verbo fazer
quando se refere a tempo é impessoal, portanto, deve ser usado
sempre no singular.

2.
a) A charge ilustra as disputas judiciais que envolvem
a) Explique, do ponto de vista da gramática normati- os grupos que dominam as tecnologias de comuni-
va, o problema que ocorre na frase apresentada em cação e os detentores de propriedade intelectual
cada um desses cartazes. que potencialmente prejudicam os interesses desses
b) Reescreva a frase apresentada em cada um desses grupos. Como consequência, essas contendas afetam
cartazes, de modo a adequá-la às regras do portu- diretamente a educação por dificultarem a inclusão
guês padrão. digital e contribuem para o baixo grau de escolariza-
ção de grande parte da população.
4. (UFV) Reescreva o texto abaixo, passando MUDANÇA b) “Iniciadas as guerras das patentes foram”; “Que
para o plural e substituindo PROBLEMA por IRREGULA- pessoas vêm lá? Qual a senha?”; “Analfabeto!”.
RIDADES. Faça as alterações estritamente necessárias
para que o texto continue adequado ao uso culto da 3.
língua. a) No primeiro quadro, o termo “meio”, em negrito, é
Uma vez que nesta semana deverá ser providenciada a inadequado, pois o adjetivo deveria concordar com o
MUDANÇA que se fizer necessária na portaria do prédio, substantivo implícito a que se refere (hora) e deveria
pedimos aos senhores condôminos que, quando ocorrer ser substituído por meia para respeitar as regras da
qualquer PROBLEMA relacionado ao recebimento de gramática normativa. No segundo, o pronome oblí-
suas correspondências, comuniquem o fato ao síndico. quo “mim” deveria ser substituído por eu, pronome

52
pessoal reto, sujeito do verbo “fazer”. No terceiro, a
expressão “incluir fora” gera uma contradição, pois
“incluir” significa inserir e o advérbio “fora” apresen-
ta noção de exclusão, o que poderia ser evitado com
a sua substituição por pode me excluir dessa.
b) As frases deveriam ser substituídas por: “já é meio-
-dia e meia”, “isto é para eu fazer” e “pode me ex-
cluir dessa”, respectivamente.

4.
Uma vez que nesta semana deverão ser providen-
ciadas as MUDANÇAS que se fizerem necessárias na
portaria do prédio, pedimos aos senhores condômi-
nos que, quando ocorrerem quaisquer IRREGULARI-
DADES relacionadas ao recebimento de suas corres-
pondências, comuniquem o fato ao síndico.

5.
a) No primeiro caso, o sujeito não está determinado
por artigo e a expressão "é bom" fica invariável. A
presença do artigo na segunda frase faz a expressão
ficar variável.
b) A mesma explicação do item anterior.

53
1e8
AULAS 41 E 42
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 25, 26 e 27

REGÊNCIAS NOMINAL E VERBAL

E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A épica narrativa de nosso caminho até aqui


1. (EEAR) Leia:
I. Encontrei a pessoa certa. Quando viajamos para o exterior, muitas vezes passa-
II. Falei sobre os olhos dela. mos pela experiência de aprender mais sobre o nosso
Ao unir as duas orações, subordinando a II a I, manten- país. Ao nos depararmos com uma realidade diferente
do o mesmo sentido que cada uma apresenta e usan-
1
daquela em que estamos imersos cotidianamente, o
do adequadamente os pronomes relativos, tem-se: estranhamento serve de alerta: deve haver uma razão,
um motivo, para que as coisas funcionem em cada lugar
a) Encontrei a pessoa certa sobre cujos os olhos dela de um jeito. Presentes diferentes só podem resultar de
falei. passados diferentes. Essa constatação pode ser um po-
b) Encontrei a pessoa certa sobre os olhos dela falei. deroso impulso para conhecer melhor a nossa história.
c) Encontrei a pessoa certa sobre cujos olhos falei. Algo assim vem ocorrendo no campo de estudos sobre
d) Encontrei a pessoa certa cujos olhos falei. o Sistema Solar. O florescimento da busca de planetas
2. (IFAL) Assinale a alternativa em que há erro de regên- extrassolares – aqueles que orbitam em torno de outras
cia verbal. estrelas – equivaleu a dar uma espiadinha no país vizi-
nho, para ver como vivem “seus habitantes”. Os resul-
a) Marta sempre preferiu azul a vermelho. tados são surpreendentes. Em certos sistemas, os pla-
b) Por ter muitos anos na empresa, Augusto visava à netas estão tão perto de suas estrelas que completam
ascensão a presidente. uma órbita em poucos dias. Muitos são gigantes feitos
c) Há anos, Felipe namora com Júlia. de gás, e alguns chegam a possuir mais de seis vezes a
d) Os candidatos ao exame não podem se esquecer massa e quase sete vezes o raio de Júpiter, o granda-
dos seus documentos pessoais. lhão do nosso sistema. Já os nossos planetas rochosos,
e) Nas férias, costumo assistir a uma série de filmes classe em que se enquadram Terra, Mercúrio, Vênus e
de terror. Marte, parecem ser mais bem raros do que imagináva-
mos a princípio.
3. (IFSP) De acordo com a norma-padrão da Língua A constatação de que somos quase um ponto fora da
Portuguesa e com a gramática normativa e tradicio- curva (pelo menos no que tange ao nosso atual estágio
nal, quanto à regência verbal, assinale a alternativa de conhecimento de sistemas planetários) provocou
incorreta. os astrônomos a formular novas teorias para explicar
a) Aspiramos o ar poluído da carvoaria. como o Sistema Solar adquiriu sua atual configuração.
b) Apenas um sorvete não apetece o menino.
2
Isso implica responder perguntas tais como quando se
c) Custava-me lutar contra a ideia do trabalho infantil. formaram os planetas gasosos, por que estão nas órbi-
tas em que estão hoje, de que forma os planetas rocho-
d) Lembro-me de que vimos os meninos encarapita-
sos surgiram etc.
dos nas alimárias.
e) Não pagaram o salário ao carvoeiro? Nosso artigo de capa traz algumas das respostas que
foram formuladas nos últimos 15 a 20 anos. Embora
4. (IFAL) Assinale a opção em que o verbo visar foi não sejam consensuais, teorias como o Grand Tack, o
usado em desconformidade com as regras de re- Grande Ataque e o Modelo de Nice têm desfrutado de
gência. grande prestígio na comunidade astronômica e ofere-
cem uma fascinante narrativa da cadeia de eventos que
a) Com aquele dinheiro visava a compra de um au-
pode ter permitido o surgimento da Terra e, em última
tomóvel.
instância, da vida por aqui. [...]
b) Sua campanha visou a conquistar os eleitores in-
decisos. (Paulo Nogueira, editorial de Scientific American
– Brasil – nº 168, junho 2016.)
c) Visava àquela nomeação havia anos.
d) O professor visou as provas de seus alunos. 5. (UFPR) Considere a estrutura “daquela em que es-
e) O atirador visara bem o alvo sobre o muro. tamos imersos” (ref. 1) e compare-a com as seguintes:

54
1. o espaço __________ que moramos... 11
Mas, quando em público, jamais deixe ninguém saber
2. a organização _________ que confiamos... que se amam. Capelão chega a supor que desmaios fe-
mininos poderiam ser indicativos de que a infeliz es-
3. a cidade __________ que almejamos...
taria em presença de seu desgraçado objeto de amor
4. os problemas __________ que constatamos nos re- inconfessável. A inveja dos outros pelos amantes, ape-
latórios... sar de 12condenados a 13tristeza pela interdição sempre
Tendo em vista as normas da língua culta, a preposição presente nas narrativas (casados com outras pessoas,
“em” deveria preencher a lacuna em: detentores de responsabilidades públicas e privadas),
a) 1 apenas. se dá pelo fato que se trata de uma doença encantado-
b) 1 e 2 apenas. ra quando correspondida.
c) 2 e 3 apenas. Nada é mais forte do que o desejo de estar com alguém
d) 1, 3 e 4 apenas. a quem você se sente ligado, mesmo que a milhares de
quilômetros de distância, sem poder trocar um único
e) 2, 3 e 4 apenas.
olhar ou toque com ela.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: O erro dos modernos românticos teria sido a ilusão de
que esses medievais imaginariam o amor romântico
A doença do amor numa escala universal e capaz de 14conviver com um
apartamento de dois quartos, pago em cem anos.
Luiz Felipe Pondé
Não, o amor cortês seria algo que deveríamos temer
Existe de fato amor romântico? Esta é uma pergunta justamente por seu caráter intempestivo e avassalador.
que ouço quando, em sala de aula, estamos a discutir Sempre fora do casamento, teria contra ele a condena-
questões como literatura romântica dos séculos 18 e ção da norma social ou religiosa que, aos poucos, 15le-
19. 1Quando o público é composto de pessoas mais ma- varia as suas vítimas à destruição, psicológica ou física.
duras, a tendência é um certo ceticismo, muitas vezes Para os medievais, um homem arrebatado por esse
elegante, apesar de trazer nele a marca eterna do de- amor tomaria decisões que destruiriam seu patrimônio.
sencanto. A mulher perderia sua reputação. Ambos viriam, neces-
Quando o público é mais 2jovem há uma tendência sariamente, a morrer por conta desse amor, fosse ele
maior de crença no amor romântico. 3Alguns diriam que em batalha, por obrigação de guerreiro, fosse fugindo
4
essa crença é típica da idade jovem e inexperiente, as- do horror de trair seu melhor amigo com sua até en-
sim como crianças creem em Papai Noel. tão fiel esposa. Ela morreria eventualmente de tristeza,
Mas, em matéria de amor romântico, melhor ainda do vergonha e solidão num convento, buscando a paz de
espírito há muito perdida. A distância física, social ou
que ir em busca da literatura dos séculos 18 e 19 é ir 5à
moral, proibindo a realização plena desse desejo inces-
fonte primária 6: a literatura europeia medieval, verda-
sante como tortura cotidiana.
deira fonte do amor romântico. A literatura conhecida
como amor cortês. O poeta mexicano Octavio Paz, que dedicou alguns tex-
tos ao tema, entendia que a literatura medieval descre-
Especialistas no assunto, como o suíço Denis de Rouge-
via o embate entre virtude e desejo, sendo a desgraça
mont, suspeitavam que a literatura medieval criou uma
dos apaixonados a maldição de ter que 16pôr medida
verdadeira expectativa neurótica no Ocidente sobre o
nesse desejo 17(nesse amor fora do lugar), em meio à
que seria o amor romântico em nossas vidas concre-
insuportável culpa de estar doente de amor.
tas, fazendo com que 7sonhássemos com algo que, na
verdade, nunca existiu como experiência universal. 8Dos Texto adaptado. Foi publicado em 16 de maio de 2016 na
castelos da Provence francesa do século 12 ao cinema Folha de S. Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.
uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2016/05/1771569-a-
de Hollywood, teríamos perdido o verdadeiro sentido
doenca-do-amor.shtml>. Acesso em: 21 set. 2016.
do amor medieval, que seria uma doença da qual deve-
mos fugir como o diabo da cruz. 6. (IFSUL) Em relação à regência verbo-nominal, é correto
Para além dos céticos e crentes, a literatura medieval afirmar que:
de amor cortês é marcante pela sua descrição do que a) A expressão à fonte primária (ref. 5) exerce a
seria esse pathos amoroso. Uma doença, uma verdadei- função sintática de objeto indireto, complementando
ra desgraça para quem fosse atingindo em seu coração o sentido do verbo ir.
por tamanha tristeza. André Capelão, autor da época
b) O pronome oblíquo la (ref. 10) complementa o
(Tratado do Amor Cortês, ed. Martins Fontes), sintetiza
sentido do verbo beijar, exercendo a função sintática
esse amor como sendo uma 9"doença do pensamento".
de objeto indireto.
Doença essa que podemos descrever como uma forma
de obsessão em saber o que ela está pensando, o que c) Diante da palavra tristeza (ref. 13) deveria haver cra-
ela está fazendo nessa exata hora em que penso nela, se uma vez que o termo condenados (ref. 12) exige
com o que ela sonha à noite, como é seu corpo por bai- a preposição a para introduzir o complemento nominal.
xo da roupa que a veste, o desejo incontrolável de ouvir d) O verbo levar (ref. 15) é transitivo direto, sendo a
sua voz, de sentir seu perfume. Mas a doença avança: expressão as suas vítimas o objeto direto que com-
sentir o gosto da sua boca, beijá-10la por horas a fio. pleta o seu sentido.

55
7. (Unisinos) “de”. Por sinal, os brasileiros da atualidade usam pre-
ferentemente “de onde” a “donde”, mas a confusão
entre “onde” e “aonde” continua e, longe de ser mero
indício de ignorância, é resquício de um uso ancestral,
que na oralidade popular tem passado incólume pelas
reformas gramaticais.
Revista Língua Portuguesa, n.º 114, p. 18, abril de 2015.

Considerando a exposição feita no texto anterior, é de


uso eminentemente popular e contrário às normas gra-
maticais o período:
a) Aonde eu devo levar as meninas amanhã?
b) Onde moram aqueles funcionários?
c) De onde provêm esses andarilhos?
d) Aonde você quer chegar com essa argumentação?
e) Onde você pensa que vai com esse vaso?

9. (IFCE) A regência verbal está incorreta em:


a) Obedeça à sinalização.
b) As enfermeiras assistiram irrepreensivelmente o
(Disponível em: http://edu-infantu.blogspot.com.br/2011/11/tirinhas-
doente.
calvin-haroldo-e-seus-amigos.html. Acesso em: 05 out. 2015) c) Paguei todos os trabalhadores.
d) Todos nós carecemos de afeto.
Considerando o conteúdo do texto, o encadeamento
entre as ideias e o vocabulário, assinale V nas afirma- e) Costumo obedecer a preceitos éticos.
ções verdadeiras e F nas falsas. 10. (FGV-RJ) Levando-se em conta a norma-padrão es-
(  ) Por meio dessa tira, o cartunista defende a tese de crita da língua portuguesa, das frases abaixo, a única
que a autopromoção é fundamental para que as pesso- correta do ponto de vista da regência verbal é:
as sejam bem-sucedidas profissionalmente. a) A cidade tem características que a rendem, ao mes-
(  ) As frases do segundo quadrinho poderiam ser assim mo tempo, críticas e elogios.
organizadas num único período: Eu não preciso estudar, b) Para você evitar o estresse, é imprescindível seguir
nem aprender coisas nem desenvolver habilidades, por- o estilo de vida que mais o interesse.
que isso dá muito trabalho. c) É importante prezar não só a ordem mas também
( ) Na frase interrogativa do terceiro quadrinho, ob- a liberdade.
serva-se uma relação de condicionalidade: saber algo d) Sua distração acarretou em grandes prejuízos para
e ter algum talento (condição) ser bem-sucedido (ideia todo o grupo.
consequente). e) Alguém precisa se responsabilizar sobre a abertura
(  ) No último quadrinho, a regência do verbo “vou” não do prédio na hora combinada.
está de acordo com a norma culta; no entanto, a varie-
dade linguística empregada é coerente com o gênero
textual em que está inserida. E.O. Fixação
A sequência correta, de cima para baixo, é:
1. (IFSP) Analise o texto abaixo.
a) V – F – V – F.
b) F – F – V – F. O pai da Fernanda virá __________ mais cedo hoje.
c) V – V – F – F. Devo __________ a respeito da nota em sua última ava-
d) V – F – F – V. liação? É melhor que __________ informemos o quanto
e) F – V – V – V. antes, para que haja tempo hábil para ___________.
Levando em consideração o uso e a colocação prono-
8. (Fac. Pequeno Príncipe - Medicina) [...] Um exemplo
minal, de acordo com a norma padrão da Língua Por-
da permanência de arcaísmos na fala atual é o uso de
tuguesa, os termos que melhor preenchem, respectiva-
“aonde” e “donde” com sentido estático, isto é, signifi-
mente, as lacunas são:
cando “onde”. [...]. No Renascimento, mesmo clássicos
como João de Barros empregavam as três formas como a) buscar-lhe – conta-lo – o – ajudá-la.
equivalentes, e isso não era considerado erro. b) buscar-lhe – contar-lhe – lhe – ajudar-lhe.
Mais tarde, com a normatização gramatical, decidiu-se c) buscá-lhe – conta-lhe – lhe – ajuda-lhe.
que “aonde” só se emprega com verbos que rejam a d) buscar-lhe – conta-lo – o – ajuda-lhe.
preposição “a” e “donde” só com verbos que rejam e) buscá-la – contar-lhe – o – ajudá-la.

56
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 11
– Você vai pra praia hoje?
André Devinne contemplou o pneu lavado: um bom tra-
Fico Assim Sem Você
balho.
Avião sem asa 12
– Não sei. Falou com a mãe?
Fogueira sem brasa
– Ela está pintando.
Sou eu assim sem você
Futebol sem bola A filha tem o mesmo olhar da mãe, 13quando Laura, da
Piu-Piu sem Frajola janela do ateliê, observa o mar da Barra, transforman-
Sou eu assim sem você do aquela estreita faixa de azul acima da Lagoa, numa
outra faixa, de outra cor, mas igualmente suave, na tela
Por que é que tem que ser assim? em branco. Um olhar que investiga sem ferir – que pa-
Se o meu desejo não tem fim rece, de fato, ver o que está lá.
Eu te quero a todo instante Devinne espreguiçou-se esticando as pernas14. Largou o
Nem mil alto-falantes pano imundo no balde, sentou-se e olhou o céu, o hori-
Vão poder falar por mim zonte, as duas faixas de mar, o azul da Lagoa, vivendo
(...) momentaneamente o prazer de proprietário. Lembrou-
Tô louco pra te ver chegar, -se da lição de inglês – It’s a nice day, isn’t it? – e tentou
Tô louco pra te ter nas mãos. 2 de imediato, mas era tarde: o corpo inteiro se povoou
Deitar no teu abraço, de lembrança e ansiedade, exigindo explicações. Esta-
Retomar o pedaço que falta no meu coração va indo bem, a professora era uma mulher competente,
Eu não existo longe de você agradável, independente. Talvez justo por isso, ele te-
E a solidão é o meu pior castigo nha cometido aquela estupidez. Sem pensar, voltou a
Eu conto as horas pra poder te ver cabeça e acenou para Laura, que do janelão do ateliê
Mas o relógio tá de mal comigo respondeu-3 com um gesto. A filha insistiu:
Claudinho e Buchecha – Pai, você vai pra praia?
2. (IFPE) A regência do verbo “faltar” que aparece no Mudar todos os assuntos.
verso “Retomar o pedaço que falta no meu coração” – Julinha, o que é, o que é? Vive casando 15e está sempre
não está de acordo com o que é indicado pela gramáti- solteiro?
ca normativa padrão que, nesse caso, indica a utilização Ela riu.
da preposição “a”. Sendo assim, o verso ficaria “...que – Ah, pai. Essa é fácil. O padre!
falta ao meu coração”. Desvios como esse são muito
comuns no falar cotidiano. TEZZA, C. O fantasma da infância. Rio de
Janeiro: Ed. Record, 2007. p. 9-10.
Sabendo disso, assinale a única alternativa cuja regên-
cia verbal segue o que preceitua a norma padrão. 3. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche correta-
a) Estou indo no banheiro, depois te ligo. mente as lacunas 1, 2 e 3, nessa ordem.
b) Sai daí, menino! Que eu já aspirei ao pó do tapete. a) lhe – esquecê-la – lhe.
c) Não posso falar agora, estou assistindo o jogo. b) na – esquecer-lhe – lhe.
d) Eu acabei de pagar aquela conta a costureira. c) na – esquecê-la – o.
e) Pedro namora a vizinha da cunhada de Isabela. d) lhe – esquecer-lhe – o.
e) na – esquecê-la – lhe.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
4. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre
André Devinne procura cultivar a ingenuidade – uma propostas de alteração de frases do texto.
defesa contra tudo 1o que 2não entende. 3Pressente: há I. Se não entende (ref. 2) fosse substituído por descon-
alguma coisa irresolvida que 4está em parte alguma, fia, seria necessário substituir o que (ref. 1) por que.
mas os nervos sentem-1. Quem sabe seja uma espé- II. Se está (ref. 4) fosse substituído por ele não localiza,
cie de vergonha. Quem sabe o medo enigmático dos nenhuma outra alteração seria necessária à frase.
quarenta anos. Certamente não é a angústia de se ver III. Se se agarra (ref. 8) fosse substituído por ele se pro-
lavando o carro numa tarde de sábado5, um homem de tege, seria necessário substituir à qual (ref. 7) por com
sua posição. É até com delicadeza que se entrega ao sol a qual.
das três da tarde, agachado, sem camisa, esfregando o
Sem considerar alterações de sentido, quais afirmações
pano sujo no pneu, num ritual disfarçado em que evita mantêm a correção da frase?
formular seu tranquilo desespero. Assim: ele está numa
guerra, mas por acaso6; de onde está, submerso na in- a) Apenas I.
genuidade, 7à qual 8se agarra sem saber, não consegue b) Apenas III.
ver o inimigo. 9Talvez não haja nenhum. c) Apenas I e II.
10
– Filha, não fique aí no sol sem camisa. d) Apenas II e III.
A menina recuou até a sombra. Agachou-se, olhos ne- e) I, II e III.
gros no pai.

57
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 5. (IFCE) O verbo assistimos, na referência 16, apresen-
ta exatamente a mesma regência e, portanto, o mesmo
LITERATURA INDÍGENA sentido que em:
a) O agravo de seu estado aconteceu, dizem, pois o
Ainda não há consenso sobre o uso da expressão Li- médico não o assistiu em tempo hábil.
teratura Indígena. Afinal, sob o conceito de “indígena”
b) Antes da mudança para o nordeste, ela assistiu em
reconhecem-se, atualmente, segundo o censo de 2010
Santos por dez anos.
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
305 grupos étnicos, com culturas e histórias próprias, c) O atendente assistiu a senhora primeiro, por ser
prioridade.
falando 274 línguas. Portanto, encontrar uma denomi-
nação de referência geral não é muito simples. Outras d) A torcida assistiu à partida com muita paixão.
expressões, embora menos usadas, vêm se apresentan- e) Apesar de torcer para o adversário, nossa torcida
do na tentativa de caracterizar esse campo de interesse, assistiu o ferido prontamente.
como Literatura Nativa, Literatura das Origens, Litera-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
tura Ameríndia e Literatura Indígena de Tradição Oral.
Próxima a 1essas, mas já com significado e alcance pró- A ondomotriz é uma forma de energia renovável que
prio, ainda contamos com Literatura Indianista, para se se aproveita da energia das ondas oceânicas. Além de
referir à produção do Romantismo brasileiro do século poder fornecer energia, as ondas também serviram de
XIX de 2temática indígena, como os versos de Primeiros inspiração para Manuel Bandeira compor o poema “A
Cantos (1846) e de Os Timbiras (1857), de Gonçalves onda”.
Dias, e os romances O Guarani (1857) e Iracema (1865),
de José de Alencar. Diante desse quadro, quando usa- A onda
mos, hoje, a expressão Literatura Indígena, uma ques-
a onda anda
tão, necessariamente, ainda se apresenta: quais objetos
aonde anda
3
ela incorpora ou para quais aponta ou tem apontado?
a onda?
Em perspectiva ampla, diríamos que essa produção cul- a onda ainda
tural 4assinala 5textos criativos em geral (orais ou escri- ainda onda
tos) produzidos pelos diversos grupos indígenas, 6edita- ainda anda
dos ou não, incluindo 7aqueles que não se apresentam, aonde?
em um primeiro momento, como 8constituídos a partir aonde?
de um desejo 9especificamente estético-literário inten- a onda a onda
cional, como as narrativas, os grafismos e os cantos em
contextos próprios, ritualísticos e 10cerimoniais. Parte 6. (CPS) No poema, há o emprego do advérbio aonde.
dessa produção ganha visibilidade com os registros Segundo as gramáticas normativas, esse advérbio deve
realizados por antropólogos e pesquisadores em geral. ser utilizado para indicar o local ou destino para o qual
Outra 11parte surge por meio de levantamentos realiza- se vai, ou seja, expressa a ideia de movimento.
dos por professores atuantes em cursos de licenciatura Assinale a alternativa em que o emprego do advérbio
indígena e dos próprios alunos desses cursos, oriundos aonde está de acordo com as gramáticas normativas.
de várias etnias. Estima-se que 1564 professores indíge-
a) Nunca sei aonde te achar.
nas estavam em formação no ano de 2010, em cursos
b) Esta é a casa aonde eu moro.
financiados pelo Programa de Apoio à Formação Supe-
rior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND), c) Informe aonde você está agora.
do Ministério da Educação. d) Não sei aonde o avião aterrissou.
Em perspectiva 12restrita, a expressão Literatura Indí- e) Aonde você pretende levar sua amiga.
gena tem sido utilizada para designar 13aqueles textos
editados e reconhecidos pelo chamado sistema literário 7. (UFU )
(autores, público, 14críticos, mercado editorial, escolas,
Como dizemos concordo com as ideias, devemos
programas governamentais, legislação), como sendo de
dizer: "as ideias com que concordo são sempre as
autoria indígena. Um marco importante se dá em 1980,
menos radicais".
ano de publicação do considerado 15primeiro livro de
autoria indígena com tais características, intitulado As ideias que
Antes o Mundo não Existia, de Umúsin Panlõn & Tola- concordo são
mãn Kenhíri, pertencentes ao povo Desâna, do Alto Rio sempre as
Negro/AM. A partir das licenciaturas indígenas, 16assis- menos radicais.
timos, na década de 1990, ao incremento dessa produ- MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Menas: o certo do errado,
ção editorial. o errado do certo. São
Paulo, 2010. Catálogo de exposição. p. 29.
Carlos Augusto Novais. Universidade Federal de Minas Gerais- A ocorrência de frases como “As ideias que concordo são
UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e
sempre as menos radicais” é comum na conversa espon-
Escrita-CEALE. Acessado em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/
glossarioceale/verbetes/literatura-indigena, 14/03/2016.
tânea de falantes do português brasileiro. Considerando
as informações do quadro, assinale a alternativa em que

58
o emprego do pronome relativo esteja adequado à mo- 30
ora viajante antigo, confrontado com um prodigioso
dalidade escrita formal da língua portuguesa. espetáculo do qual quase tudo lhe escapava 24— ain-
a) O livro o qual a autora foi premiada está esgotado. da pior, inspirava troça ou desprezo 25—, 31ora viajante
moderno, correndo atrás dos vestígios de uma realida-
b) Este é o livro que eu falei dele ontem.
de desaparecida. Nessas duas situações, sou perdedor,
c) O livro cujo o autor foi premiado está esgotado. pois eu, que me lamento diante das sombras, talvez seja
d) O livro do qual falamos ontem está esgotado. impermeável ao verdadeiro espetáculo que está toman-
do forma neste instante, mas 4__________ observação,
8. (CPS) De acordo com a norma-padrão da língua por-
meu grau de humanidade ainda 13carece da sensibilida-
tuguesa, está correta a alternativa:
de necessária. 33Dentro de alguma centena de anos, nes-
a) Naquela região, muitos assinantes preferem o rá- te mesmo lugar, outro viajante pranteará o desapareci-
dio à TV. mento do que eu poderia ter visto e que me escapou.
b) À partir das vinte e três horas, ninguém entrava
no teatro. Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos.
São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44.
c) Os funcionários do museu obedeceram os regula-
mentos. 9. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche correta e
d) Lembrou-se que levaria a mãe à Bienal na cidade respectivamente as lacunas indicadas pelas referências
de São Paulo. 1, 2, 3 e 4 do texto.
e) Assistimos à diversos documentários sobre a Pri- a) que – que – de que – para cuja.
meira Guerra. b) que – de que – de que – cuja.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: c) de que – de que – de que – para cuja.
d) que – que – que – cuja.
Viagens, cofres mágicos com promessas sonhadoras, e) de que – que – que – cuja.
não mais 5revelareis 6vossos tesouros intactos! Hoje,
quando ilhas polinésias afogadas em concreto se trans- 10. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre
formam em porta-aviões ancorados nos mares do Sul, regência.
quando as favelas corroem a África, quando a aviação I. Caso a forma verbal confrontar-nos (ref. 14) fosse
9
avilta a floresta americana antes mesmo de poder substituída por colocar-nos diante, seria necessário
7
destruir-lhe a virgindade, de que modo poderia a pre- substituir a preposição com (ref. 15) pelo emprego de
tensa 10evasão da viagem conseguir outra coisa que crase nesse contexto.
não 14confrontar-nos 15com as formas mais miseráveis II. A substituição da forma verbal criam (ref. 16) por dão
de nossa existência histórica? origem tornaria obrigatório o emprego de crase nesse
18
Ainda 22assim, compreendo a paixão, a loucura, o contexto.
equívoco das narrativas de viagem. Elas 16criam a ilusão III. A substituição da forma verbal partilhar (ref. 17) pelo
daquilo 1__________ não existe mais, mas 2__________ segmento ter acesso tornaria necessário o emprego de
ainda deveria existir. Trariam nossos modernos Mar- crase nesse contexto.
cos Polos, das mesmas terras distantes, desta vez em
forma de fotografias e relatos, as especiarias morais Quais estão corretas?
3
_________ nossa sociedade experimenta uma necessi- a) Apenas I.
dade aguda ao se sentir 11soçobrar no tédio? b) Apenas II.
É assim que me identifico, viajante procurando em vão c) Apenas III.
reconstituir o exotismo com o auxílio de fragmentos e d) Apenas I e III.
de destroços. 19Então, 26insidiosamente, a ilusão começa e) I, II e III.
a tecer suas armadilhas. Gostaria de ter vivido no tem-
po das verdadeiras viagens, quando um espetáculo ain-
da não estragado, contaminado e maldito se oferecia
em todo o seu esplendor. 20Uma vez 12encetado, o jogo
E.O. Complementar
de conjecturas não tem mais fim: quando se deveria vi- 1. (IFPE)
sitar a Índia, em que época o estudo dos selvagens bra-
sileiros poderia levar a conhecê-los na forma menos al-
terada? Teria sido melhor chegar ao Rio no século XVIII?
Cada década para 23trás 29permite 27salvar um costume,
28
ganhar uma festa, 17partilhar uma crença suplementar.
21
Mas conheço bem demais os textos do passado para
não saber que, me privando de um século, renuncio a
perguntas dignas de enriquecer minha reflexão. E eis,
diante de mim, o círculo intransponível: quanto menos
as culturas tinham condições de se comunicar entre si,
menos também os emissários 8respectivos eram capa-
Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/
zes de perceber a riqueza e o significado da diversidade. discovirtual/galerias/imagem/0000000065/0000025206.jpg>.
No final das contas, sou prisioneiro de uma 32alternativa: Acesso em: 22 set. 2015

59
O verbo “assistir” no sentido de “presenciar” ou “ver” IV. Algumas celebrações regionais, como o Vinte de Se-
é transitivo indireto, ou seja, ele exige a preposição “a” tembro, no Rio Grande do Sul, ou o Nove de Julho, em
para que possa receber um complemento. Outros verbos São Paulo, exaltam confrontos históricos __________
da língua portuguesa também possuem mais de uma re- nem todos os brasileiros conhecem, porém, __________
gência a depender do sentido que assumem no contexto. a população local fortemente se identifica.
Sabendo disso, analise, nas frases a seguir, a adequação (GOMES, L. 1889. São Paulo: Globo, 2013. p. 17. Adaptado).
da regência verbal ao que concerne à norma culta da
língua portuguesa. V. Recostado na confortável poltrona, Luís Bernardo via
I. Aspiro a uma vaga na equipe titular. desfilar a paisagem através da janela do trem, observan-
do como aos poucos o céu de chuva __________ deixara
II. Depois de empossado, o governo assistirá na capital.
em Lisboa ia timidamente abrindo clareiras __________
III. Ele está namorando com a prima. espreitava um reconfortante sol de inverno.
IV. Esqueci-me o que havíamos combinado. (TAVARES, M.S. Equador. São Paulo: Companhia
V. Sempre ansiamos a dias melhores. das Letras, 2011. p. 13. Adaptado).

Estão corretas apenas as frases: a) o que, os quais, que, que, os quais, com que, o qual,
em que.
a) II e III.
b) o que, que, que, que, os quais, com os quais, o qual,
b) I e II.
com que.
c) I e III.
c) quem, os quais, que, que, os quais, dos quais, com
d) III e V.
que, que.
e) II e V.
d) que, que, de que, com que, que, de que, que, pelas
2. (Col. Naval) Assinale a opção na qual a regência do quais.
verbo destacado foi utilizada de acordo com a moda- e) quem, que, com que, de que, que, com os quais,
lidade padrão. que, pelas quais.
a) Eu custo a acreditar que existem pessoas despre- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
zando livros em troca de computadores.
b) O professor sempre lembrava de comentar as notí- Leia o texto de referência abaixo para responder à(s)
cias internacionais após a aula. questão(ões) a seguir.
c) Dedicar-se ao trabalho implica, sempre, resultados
eficazes, profícuos e confiáveis. Geração fast-food
d) Todos dizem que este menino puxou o pai quando
o assunto é esportes aquáticos. Falar em persistência é quase como lembrar dos con-
e) Pessoas sensatas preferem muito mais uma boa selhos de nossos avós: “Dê duro agora, meu filho, para
conversa do que um programa de TV. poder descansar depois. Quem planta, colhe”. Nas con-
versas de bar, nas correntes de e-mail e propagandas de
3. (PUC-PR) Leia as sentenças abaixo e assinale a alter- TV, a mensagem é bem outra: a vida é agora, aproveite
nativa que preencha adequadamente as lacunas. cada instante, só o que existe é o presente. De repente,
I. Questões sobre virtude e honra são óbvias demais para parece que ficou difícil escolher uma carreira para toda
ser negadas. Considere-se o debate sobre __________ a vida, permanecer com o mesmo celular ou corte de
seria merecedor da medalha “Coração Púrpura”. Desde cabelo por muito tempo, acreditar em casamento que
1932, o exército dos Estados Unidos outorga essa hon- dure. “Vivemos numa sociedade de consumo, que pro-
raria a soldados feridos ou mortos pelo inimigo durante move um impulso à satisfação de desejos imediatos”,
um combate. diz a psicóloga Maria Sara Dias. (...)
(SANDEL, M. Justiça. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2014, p. 18). Mas se estivermos apenas aproveitando o hoje e mu-
dando de objetivos mais rapidamente, qual é o proble-
II. Indivíduos __________ recebem vacinas fazem ma? Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti,
__________ haja diminuição da circulação do agente em seu livro O Valor do amanhã, o risco é levar uma
infeccioso na comunidade. Ao diminuir o número de vida sem sentido maior. “Isso reduz nossa existência a
pessoas suscetíveis, diminui também a chance de trans- uma espécie de corrida de obstáculos veloz e tecnica-
missão da doença para todos. mente sofisticada, mas rumo a lugar nenhum”, diz.
(Superinteressante, São Paulo: Abril, p. 44-45, set. 2015). (Revista Sorria, jun/jul 2009).

III. No mês anterior ao ataque às Torres Gêmeas do 4. (UTFPR) Analise os itens a seguir retirados do texto,
World Trade Center, em Nova York, o FBI e a CIA re- quanto à regência verbal.
ceberam diversos indicativos __________ algo grande I. É quase como lembrar dos conselhos.
estava sendo tramado, mas não conseguiram conectar
as pistas e prever o atentado. II. Uma carreira para toda a vida.
III. Acreditar em casamento que dure.
(Superinteressante, São Paulo: Abril, p. 35, ago. 2015).
IV. Um impulso à satisfação de desejos.

60
É(são) inadequado(s), segundo a norma padrão: dão uma forma às experiências futuras, fornecendo mo-
a) apenas IV. delos, recipientes, termos de comparação, esquemas de
classificação, escalas de valores, paradigmas de beleza:
b) apenas II.
todas, coisas que continuam a valer mesmo que nos
c) apenas I.
recordemos pouco ou nada do livro lido na juventude.
d) I e IV. Relendo o livro na idade madura, acontece reencontrar
e) II e III. aquelas constantes que já fazem parte de nossos meca-
nismos interiores e 2cuja origem havíamos esquecido.
5. (IFPE) Analise os itens abaixo.
Existe uma força particular da obra que consegue fazer-
I. Já foram comprados todos os remédios de que ele -se esquecer enquanto tal, mas que deixa sua semente.
necessita. A definição que dela podemos dar então será:
II. O médico assistiu, cuidadosamente, ao paciente.
3. “Os clássicos são livros que exercem uma influência
III. Nós chegamos à conclusão de que devemos expor particular quando se impõem como inesquecíveis e tam-
nossa indignação. bém quando se ocultam nas dobras da memória, 3mime-
IV. Todos ficaram abalados com a notícia do acidente. tizando-se como inconsciente coletivo ou individual.”
V. As cópias dos documentos foram anexadas no con- Por isso, deveria existir um tempo na vida adulta de-
trato. dicado a revisitar as leituras mais importantes da ju-
Respeitam as normas de regência nominal e verbal, ventude. Se os livros permaneceram os mesmos (mas
apenas as orações correspondentes aos itens: também eles mudam, à luz de uma perspectiva históri-
a) I, II e III. ca diferente), nós com certeza mudamos, e o encontro é
um acontecimento totalmente novo.
b) I, II, III e IV.
c) I, III e IV. Portanto, usar o verbo ler ou o verbo reler não tem mui-
d) II, III e V. ta importância. De fato, poderíamos dizer:
e) I, III, IV e V. 4. “Toda releitura de um clássico é uma leitura de des-
coberta como a primeira.”
5. “Toda primeira leitura de um clássico é na realidade
E.O. Dissertativo uma releitura.”
A definição 3 pode ser considerada 4corolário desta:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
6. “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer
Leia o texto abaixo para responder à(s) questão(ões) a aquilo que tinha para dizer.”
seguir. Italo Calvino, Por que ler os clássicos.

Por que ler os clássicos? 1. (FGV) Responda ao que se pede.


Comecemos com algumas propostas de definição: a) A que tipo de comportamento de alguns leitores
1.“Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, de clássicos se refere o autor por meio da expressão
se ouve dizer: ‘Estou relendo...’ e nunca ‘Estou lendo...’”. “pequena hipocrisia”? (ref. 1)
Isso acontece pelo menos com aquelas pessoas que se b) Reescreva a frase “e cuja origem havíamos esque-
consideram “grandes leitores”; não vale para a juven- cido” (ref. 2), fazendo as modificações necessárias de
tude, idade em que o encontro com o mundo e com os acordo com as seguintes instruções:
clássicos como parte do mundo vale exatamente como §§ use a forma pronominal do verbo “esquecer”
primeiro encontro. (“esquecer-se”);
O prefixo reiterativo antes do verbo “ler” pode ser uma §§ substitua a forma composta do mesmo verbo
1
pequena hipocrisia por parte dos que se envergonham pela forma simples correspondente.
de admitir não ter lido um livro famoso. Para tranquili-
zá-los, bastará observar que, por maiores que possam TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ser as leituras de “formação” de um indivíduo, resta
sempre um número enorme de obras que ele não leu. Os enunciados de uma obra científica e, na maioria
dos casos, de notícias, reportagens, cartas, diários etc.,
(...)
constituem juízos, isto é, as objectualidades puramen-
2. “Dizem-se clássicos aqueles livros que constituem te intencionais pretendem corresponder, adequar-se
uma riqueza para quem os tenha lido e amado; mas exatamente aos seres reais (ou ideias, quando se
constituem uma riqueza não menor para quem se re- trata de objetos matemáticos, valores, essências, leis
serva a sorte de lê-los pela primeira vez nas melhores etc.) referidos. Fala-se então de “adequatio orationis
condições para apreciá-los.” ad rem”*. Há nestes enunciados a intenção séria de
De fato, as leituras da juventude podem ser pouco pro- verdade. Precisamente por isso pode-se falar, nestes
fícuas pela impaciência, distração, inexperiência das casos, de enunciados errados ou falsos e mesmo de
instruções para o uso, inexperiência da vida. Podem ser mentira e fraude, quando se trata de uma notícia ou
(talvez ao mesmo tempo) formativas no sentido de que reportagem em que se pressupõe intenção séria.

61
O termo “verdade”, quando usado com referência a Na tirinha, tem-se no último balão:
obras de arte ou de ficção, tem significado diverso. De- “Esqueci minha jaqueta.”
signa com frequência qualquer coisa como a genuinida-
Reescreva o período acima, substituindo o verbo esque-
de, sinceridade ou autenticidade (termos que, em geral,
cer por esquecer-se, segundo a norma padrão, manten-
visam à atitude subjetiva do autor); ou a verossimilhan-
do o tempo e o modo da frase acima.
ça, isto é, na expressão de Aristóteles, não a adequação
àquilo que aconteceu, mas àquilo que poderia ter acon-
4. (FGV) 80% dos professores são mestres e doutores -
tecido; ou a coerência interna no que tange ao mundo
ÍNDICE SIMILAR ÀS MELHORES FACULDADES PÚBLICAS
imaginário das personagens e situações miméticas; ou
BRASILEIRAS.
mesmo a visão profunda – de ordem filosófica, psicoló-
gica ou sociológica – da realidade. Até neste último caso, (Texto de anúncio publicitário.)
porém, não se pode falar de juízos no sentido preciso.
Seria incorreto aplicar aos enunciados fictícios critérios O trecho em destaque nesse texto é marcado por que-
de veracidade cognoscitiva. [...] Os mesmos padrões que bra de paralelismo entre os termos relacionados pela
funcionam muito bem no mundo mágico-demoníaco do noção de similaridade.
conto de fadas revelam-se falsos e caricatos quando a) Explique em que consiste essa quebra de paralelis-
aplicados à representação do universo profano da nos- mo no contexto dado.
sa sociedade atual [...]. “Falso” seria também um prédio b) Reescreva o trecho, eliminando essa impropriedade.
com portal e átrio de mármore que encobrissem apar-
tamentos miseráveis. É esta incoerência que é “falsa”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Mas ninguém pensaria em chamar de falso um autêntico
conto de fadas, apesar de o seu mundo imaginário cor- O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição
Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura
responder muito menos à realidade empírica do que o de
(MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país.
qualquer romance de entretenimento.
Seu sentido de inovação tanto em temas como em ma-
Anatol Rosenfeld, literatura e personagem. In: A. Candido et. al. A teriais que elege é sempre de uma sensação extraordi-
personagem de ficção.
nária para o espectador.
* adequatio orationis ad rem: adequação da linguagem ao assunto.
Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos ro-
2. (FGV) Reescreva as seguintes frases do texto, confor- deam e lhes da vida com uma naturalidade impressio-
me a instrução entre parênteses que acompanha cada nante, encontrando liberdade para buscar elementos
uma delas: no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi-
a) “termos que, em geral, visam à atitude subjetiva casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que
do autor” (substitua o verbo “visar” por “ter como está reservada para poucos.
foco”, fazendo as alterações necessárias); Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h.
b) “apesar de o seu mundo imaginário corresponder
muito menos à realidade empírica” (substitua “apesar 5. (FGV) O primeiro parágrafo do texto deve ser reescri-
de” por “embora”, fazendo as alterações necessárias). to, para apresentar maior clareza. Além disso, a regên-
cia do verbo "chegar" contraria a norma culta. Reescre-
3. (CP2) va o parágrafo, com o objetivo de torná-lo mais claro e
adequar a regência do verbo referido.

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A sensível

Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia
ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A
cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia supor-
tar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor
enquanto este cantava alegre – virava para o lado o ros-
to magoado, insuportável, por piedade, não suportando
a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito
com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria
sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria.
(Tirinha postada no blog mulheresqueamamerrado.blogspot.com)
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como
de doença, escolheu um domingo em que o marido

62
viajava para procurar a bordadeira. Era mais um pas- os vaqueiros escravos vencendo pela inteligência, astú-
seio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: cia e cinismo. Chibateava a cupidez, a materialidade, o
passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na sensualismo de doutores, padres, delegados, fazendo-
calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” -os cantar versinhos que eram confissões estertóricas.
que o marido a enganava. Assim foi procurar a borda- O capitão-do-mato, preador de escravos, assombro dos
deira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de moleques, faz-sono dos negrinhos, vai ‘caçar’ os negros
lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se que fugiram, depois da morte do Boi, e em vez de trazê-
meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara -los é trazido amarrado, humilhado, tremendo de medo.
de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recu- O valentão mestiço, capoeira, apanha pancada e é mais
sou- se a bordar a toalha porque não gostava de fazer mofino que todos os mofinos. Imaginem a alegria ne-
ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” gra, vendo e ouvindo essa sublimação aberta, franca,
tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres na porta da casa-grande de engenho ou no terreiro da
era pensar que sempre, desde pequena, fora muito fazenda, nos pátios das vilas, diante do adro da igreja!
limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quar- A figura dos padres, os padres do interior, vinha arrasta-
to meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e da com a violência de um ajuste de contas. O doutor, o
sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” curioso, metido a entender de tudo, o delegado autori-
nada. Senão talvez a perplexidade diante da liberdade tário, valente com a patrulha e covarde sem ela, toda a
da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de galeria perpassa, expondo suas mazelas, vícios, manias,
espera. A liberdade. cacoetes, olhada por uma assistência onde estavam
(Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.) muitas vítimas dos personagens reais, ali subalterniza-
dos pela virulência do desabafo”.
1. (Unifesp) A alternativa em que o enunciado está de Como algumas outras manifestações folclóricas, o
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa e co- bumba-meu-boi utiliza uma forma antiga, tradicio-
erente com o sentido do texto é: nal; entretanto, fá-la revestir-se de novos aspectos,
a) A senhora, pensando na recusa da bordadeira, não atualiza o entrecho, recompõe a trama. Daí “o inte-
sabia se a perdoaria, mas achava melhor esquecer resse do tipo solidário que desperta nas camadas po-
daquilo. pulares”, como o assinala Édison Carneiro. Interes-
b) Ao descer pela rua cheia de lama, a senhora se se que só pode manter-se porque o que no auto se
perguntava aonde é que estava, confusa no lugar que apresenta não reflete apenas situações do passado,
caminhava. “mas porque têm importância para o futuro”. Com
c) Era comum de que a senhora, distraída com sua efeito, tendo por tema central a morte e a ressur-
sensibilidade, fosse roubada, o que lhe fazia levar as reição do boi, “cerca-se de episódios acessórios, não
mãos ao peito em sinal de inquietação. essenciais, muito desligados da ação principal, que
d) A senhora, quando se dispôs a ir à bordadeira, variam de região para região... em cada lugar, novos
esperava que esta não lhe recusasse o trabalho so- personagens são enxertados, aparentemente sem
licitado. outro objetivo senão o de prolongar e variar a brin-
e) A senhora gostava muito de passear, embora ti- cadeira”. Contudo, dentre esses personagens, os que
vesse ainda a impressão que era menina passeando representam as classes superiores são caricaturados,
pela calçada. cobrindo-se de ridículo, o que torna “o folguedo, em
si mesmo, uma reivindicação”.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Sílvio Romero recolheu os versos de um bumba-meu-
-boi, através dos quais se constata a intenção carica-
As questões a seguir tomam por base um fragmento
turesca nos personagens do folguedo. Como o Padre,
do livro Comunicação e folclore, de Luiz Beltrão (1918-
que recita:
1986).
Não sou padre, não sou nada
O Bumba-Meu-Boi “Quem me ver estar dançando
Não julgue que estou louco;
Entre os autos populares conhecidos e praticados no
Secular sou como os outros”.
Brasil – pastoril, fandango, chegança, reisado, conga-
da, etc. – aquele em que melhor o povo exprime a sua Ou como o Capitão-do-Mato que, dando com o negro
crítica, aquele que tem maior conteúdo jornalístico, é, Fidélis, vai prendê-lo:
realmente, o bumba-meu-boi, ou simplesmente boi. “CAPITÃO – Eu te atiro, negro
Para Renato Almeida, é o “bailado mais notável do Bra- Eu te amarro, ladrão,
sil, o folguedo brasileiro de maior significação estética Eu te acabo, cão.”
e social”. Luís da Câmara Cascudo, por seu turno, obser- Mas, ao contrário, quem vai sobre o Capitão e o amarra
vou a sua superioridade porque “enquanto os outros é o Fidélis:
autos cristalizaram, imóveis, no elenco de outrora, o
“CORO – Capitão de campo
bumba-meu-boi é sempre atual, incluindo soluções mo-
dernas, figuras de agora, vocabulário, sensação, percep- Veja que o mundo virou
ção contemporânea. Na época da escravidão mostrava Foi ao mato pegar negro

63
Mas o negro lhe amarrou. nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos
CAPITÃO – Sou valente afamado enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escu-
ro que os outros, e com uma significação estranha no
Como eu não pode haver
corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai
Qualquer susto que me fazem ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou
Logo me ponho a correr”. lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores,
(Luiz Beltrão. Comunicação e folclore. São o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os
Paulo: Edições Melhoramentos, 1971.) fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perce-
ber que eles levam e trazem mensagens, que contam
2. (Unesp) Quem me ver estar dançando. – Mas o negro da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve,
lhe amarrou. na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista voci-
Nos dois versos acima, do exemplo de estrofes de um ferando. Caminha no campo e apenas repara que ali
bumba-meu-boi recolhidas por Sívio Romero, as formas corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai
ver e lhe caracterizam um uso popular. Se se tratasse de o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão.
um discurso obediente à construção formal em Língua Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos
Portuguesa, tais formas seriam substituídas, respectiva- entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja
mente, por eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho ver-
a) vir, o. gonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase
b) vir, a. me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sus-
c) vesse, a. tar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a
marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava
d) visse, te.
que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios.
e) vier, o.
Mas não há nenhuma santidade no operário, e não
3. (Fuvest) A única frase que segue as normas da língua vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente
escrita padrão é: banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o pas-
sar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o
a) A janela propiciava uma vista para cuja beleza mui-
milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado
to contribuía a mata no alto do morro.
e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes
b) Em pouco tempo e gratuitamente, prepare-se para
escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me diri-
a universidade que você se inscreveu.
ge um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu ros-
c) Apesar do rigor da disciplina, militares se mobili- to são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um
zam no sentido de voltar a cujos postos estavam an- minuto será noite e estaremos irremediavelmente se-
tes de se licenciarem. parados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra
d) Sem pretender passar por herói, aproveito para firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de
contar coisas as quais fui testemunha nos idos de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atra-
1968 e que hoje tanto se fala. vessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as
e) Sem muito sacrifício, adotou um modo de vida a formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas,
qual o permitia fazer o regime recomendado pelo atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma
médico. esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia
4. (Fuvest) A televisão tem de ser vista ...... um prisma o compreenderei?
crítico, principalmente as telenovelas, ..... audiência é ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo.
significativa.
Temos de procurar saber ..... elas prendem tanto os te- 5. (Fuvest) Dentre estas propostas de substituição para
lespectadores. diferentes trechos do texto, a única que NÃO está cor-
reta do ponto de vista da norma-padrão é:
Preenchem de modo correto as lacunas do texto, res-
pectivamente, a) “Para onde vai ele, (...)?” = Aonde vai ele, (...)?
a) a nível de/ as quais a/ por que. b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” =
Ao operário não lhe sobra tempo de perceber.
b) sobre/ que/ porquê.
c) sob/ cuja/ por que. c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria
vergonha de chamá-lo de meu irmão.
d) em nível de/ cuja a/ porque.
d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho
e) sob/ cuja a/ porque.
vergonha e vontade de o encarar.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: e) “quem sabe se um dia o compreenderei” = quem
sabe um dia compreenderei-o.
O OPERÁRIO NO MAR

Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem


blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor
do operário está na sua blusa azul, de pano grosso,

64
E.O. Dissertativas mas o rei ainda quis enganar Maíra entregando fogos
que queimavam pouco e não davam luz. Felizmente ali

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) estava Micura experimentando tudo. Provava um e dizia:
– Não, este não serve não; não é o fogo que precisamos.
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Não, este também não é o fogo que precisamos. Não,
este também não é o fogo de verdade. – Afinal, conse-
MAÍRA guiram o fogo verdadeiro e fizeram o trato.
Maíra: - Vocês urubus vão comer carniça com fartura; o
Maíra só descobriu todo o seu poder um dia quando
chefão de duas cabeças vai ficar com uma só, para não
brincava com Micura na praia. Cada um deles tinha, le-
enganar mais ninguém, mas nesta vai usar esse diade-
vantada, uma mão cheia de vaga-lumes para alumiar,
ma vermelho e branco que eu lhe dou agora.
mas a luzinha era muito pouca. Maíra desenhou, assim
mesmo, ali na areia da praia, uma arraia com seu fer- Urubu-rei: – Fiquem com o fogo vocês, mairuns. Mas fa-
rão e tudo. Mas naquela penumbra se distraiu pisou na çam muita carniça pra nós.
arraia desenhada. Foi aquela ferroada! Compreendeu, (Darcy Ribeiro. Maíra.)
então, que podia fazer qualquer coisa:
– Sou Maíra – lembrou – sou o arroto de Deus-Pai. Ele, PROMETEU ACORRENTADO
ambir, agora tem nome: é Mairahú, meu pai. Meu filho Ésquilo
será Mairaíra. – Pegou então a conversar com o irmão,
Micura, sobre o que podiam fazer. (A cena é o pico duma montanha deserta. Chegam Po-
Maíra: - O mundo de Mairahú, meu pai, é feio e triste. Não der e Vigor, que trazem preso Prometeu; segue-os, co-
um mundo bom para a gente viver. Podemos melhorá-lo. xeando, Hefesto, carregando correntes, cravos e malho.)
Micura: – Não vá o Velho se ofender! PODER: Eis-nos chegados a um solo longínquo da terra,
Maíra: – Pode ser. É melhor não fazer nada. caminho da Cítia, deserto ínvio. Hefesto, é mister te de-
sincumbas das ordens enviadas por teu pai, acorrentan-
Micura: – Bobagem. Alguma coisinha podemos fazer.
do este celerado, com liames inquebráveis de cadeias
Maíra: – Vamos, então, tomar dos que têm, o que eles de aço, aos rochedos de escarpas abruptas. Ele roubou
têm, para dar aos que não têm. uma flor que era tua, o brilho do fogo, vital em todas
Micura saltou alegre: – Sim, vamos, primeiro o fogo. Ando as artes, e deu-a de presente aos mortais; é preciso que
com frio e com muita vontade de comer um churrasco. pague aos deuses a pena desse crime, para aprender a
O fogo era do Urubu-rei que mandava na aldeia gran- acatar o poder real de Zeus e renunciar o mau vezo de
de das gentes urubus. Eles só comiam corós de carniça querer bem à Humanidade.
tostados no borralho. Não precisavam tanto do fogo. HEFESTO: Poder e Vigor, a incumbência de Zeus para vós
Usavam mais era luz para ver bem a carniça e o calor está terminada; nada mais vos embarga. Eu, porém, não
para esquentar o corpo nu quando se desvestiam das me animo a agrilhoar à força um deus meu parente a
penas para brincar de gente. um píncaro aberto às intempéries. Todavia, é imperioso
O jeito que os gêmeos encontraram para roubar o fogo foi criar essa coragem; é grave negligenciar as ordens de
matar um veado grande, muito grande, deixá-lo apodrecer meu pai. (...)
para criar bastante bicho-coró e, então, mandar levar uma PODER: Basta! Para que te atardares em lástimas per-
moqueca de corós para o Urubu-rei e convidá-lo para vir à didas? Por que não abominas o deus mais odioso aos
comilança. Assim fizeram. Maíra desenhou um cervo enor- deuses, que entregou aos mortais um privilégio teu?
me, soprou para que vivesse e o matou ali mesmo. Quando
HEFESTO: O parentesco e a amizade são forças formi-
estava bem podre e bichado, mandaram o passarinho que
dáveis.
fala mais línguas, um papagaio, maracanã, atrás do Uru-
bu-rei. Eles ficaram escondidos debaixo da carniça para PODER: Concordo, mas como se podem transgredir as
agarrar o reizão bicéfalo quando ele pousasse. Assim fize- ordens de teu pai? Isso não te infunde medo?
ram. Quando o Urubu-rei estava bem preso, Maíra gritou: HEFESTO: Tu és sempre cruel e audacioso.
– Calma, meu rei. Não tenha medo. Só quero o fogo pro PODER: Lamentos não curam os teus males; não te can-
meu povinho. Todos andam com frio. Só comem o cru. ses à toa em lástimas ineficazes.
Mas se armou a maior das confusões porque o Urubu- HEFESTO: Oh! que ofício detestável!
-rei começou a responder com as duas cabeças, falando (...)
ao mesmo tempo, cada qual dizendo uma coisa. Maíra
HEFESTO: Podemos ir. Seus membros já estão amarrados.
não entendia nada. Aí uma cabeça do Urubu-rei virou-se
para a outra e as duas caíram numa discussão cerrada. O PODER: (a Prometeu) Abusa, agora! Furta aos deuses
tempo ia passando sem que Maíra soubesse o que fazer. seus privilégios para entregá-los aos seres efêmeros!
Afinal, teve a ideia de mandar Micura agarrar o rei-fala- Que alívio te podem dar deste suplício os mortais? Erra-
dor. Levantou, então, suas duas mãos e fez de cada uma dos andaram os deuses em te chamarem Prometeu; tu
delas uma cabeça de urubu com bico e tudo e passou, as- mesmo precisas de alguém que te prometa um meio de
sim, a conversar duro com as duas cabeças do reizão. Só safar-te destes hábeis liames!
deste modo conseguiu que ele mandasse trazer o fogo, (Retiram-se Poder, Vigor e Hefesto.)

65
PROMETEU: Éter divino! Ventos de asas ligeiras! Fontes II. CONTRIBUIR 1. (...) Tomar parte em despesa comum,
dos rios! Riso imensurável das vagas marinhas! Terra, pagar contribuição; dar dinheiro, com outros (para de-
mãe universal! Globo do sol, que tudo vês! Eu vos invo- terminado fim) (...) "Você não contribui para as obras
co. Vede o que eu, um deus, sofro da parte dos deuses! da igreja?" (...) Contribuí com cem reais. Poucos paro-
Contemplai quão ignominiosamente estracinhado hei de quianos deixaram de contribuir. (...)
sofrer pelas miríades de anos do tempo em fora! Tal é a
[C. P. LUFT, Dicionário de regência verbal]
prisão aviltante criada para mim pelo novo capitão dos
a) O período destacado em I apresenta uma incorre-
bem-aventurados! Ai! Ai! Lamento os sofrimentos atu-
ção na regência verbal. Redija-o corretamente, com
ais e os vindouros, a conjeturar quando deverá despon-
base na informação de II.
tar enfim o termo deste suplício. Mas que digo? Tenho
presciência exata de todo o porvir e nenhum sofrimento b) Ainda com base em II, formule uma explicação
adequada para o uso da preposição no período des-
imprevisto me acontecerá. Cumpre-me suportar com a
tacado em I.
maior resignação os decretos dos fados, sabendo inelu-
tável a força do Destino. Contudo, não posso calar nem 4. (Fuvest) "Não tenho dúvidas de que a reportagem
deixar de calar minha desdita. Por ter feito uma dádiva esteja à procura da verdade, mas é preciso ressalvar de
aos mortais, estou jungido a esta fatalidade, pobre de que a história não pode ser escrita com base exclusiva-
mim! Sou quem roubou, caçada no oco duma cana, a fon- mente em documentos da polícia política."
te do fogo, que se revelou para a Humanidade mestra de
todas as artes e tesouro inestimável. Esse o pecado que ("O Estado de São Paulo", 30/08/93)
resgato pregado nestas cadeias ao relento. Das duas ocorrências de DE QUE, no excerto acima, uma
(Teatro Grego. Seleção, introdução, notas e tradução direta está correta e a outra não.
do grego por Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 1964.)
a) Justifique a correta.
1. (Unesp) Muitos verbos, como é o caso de "renunciar", b) Corrija a incorreta, dizendo por quê.
apresentam mais de uma regência, por vezes sem al- 5. (Unicamp) Os trechos que seguem mostram que cer-
teração relevante de significado, de modo que a reali- tas construções típicas do português falado, considera-
zação da regência em cada frase se torna dependente das incorretas pelas gramáticas normativas da língua,
da escolha estilístico-expressiva do escritor. Com base já estão sendo utilizadas na modalidade escrita.
nesse fato:
§§ Concentre sua atenção nas matérias que você tem
a) considerando que na frase "e renunciar o mau vezo maior dificuldade..
de querer bem à Humanidade" o verbo "renunciar"
aparece como transitivo direto, escreva uma frase em (Fovest, 03/01/89)
que o mesmo verbo apareça como transitivo indireto
§§ Uma casa, onde na frente funcionava um bar, foi
e outra em que apareça como intransitivo;
totalmente destruída por um incêndio, na madru-
b) reescreva a seguinte frase de Micura tornando o gada de ontem.
verbo "precisar" transitivo indireto: "Não, este tam-
bém não é o fogo que precisamos". ("O Liberal, Belém", 27/09/89)
a) Transcreva as marcas típicas da linguagem oral pre-
2. (Fuvest) Observe este texto, criado para propaganda sentes nos trechos acima.
de embalagens: b) Reescreva-as de modo a adequá-las às exigências
AO FINAL DO PROCESSO DE RECICLAGEM, AQUELE LIXO da gramática normativa.
DE LATA VIRA LATA DE LUXO, EMBALANDO AS BEBIDAS
QUE TODO MUNDO GOSTA, DAS MARCAS QUE TODO
MUNDO PODE CONFIAR.
a) Reescreva, corrigindo-os, os segmentos do texto
Gabarito
que apresentem algum desvio em relação à norma
gramatical. E.O. Aprendizagem
b) Transcreva do texto um trecho em que apareça um 1. C 2. C 3. B 4. A 5. B
recurso de estilo que torne a mensagem mais expres-
siva. Explique em que consiste esse recurso. 6. C 7. E 8. E 9. C 10. C

3. (Fuvest)
I. O QUE MUDOU NA LEGISLAÇÃO ELEITORAL
E.O. Fixação
1. E 2. E 3. E 4. D 5. D
COMO ERA EM 89
(...) 6. E 7. D 8. A 9. A 10. B
Apenas pessoas físicas podiam fazer doações (...)
'Entidades de classe ou sindicais não podiam contribuir E.O. Complementar
com os partidos. (...)'
1. B 2. C 3. E 4. C 5. B
["Folha de S. Paulo", 3/12/94, 1-8]

66
E.O. Dissertativo 3.
a) Entidades de classe ou sindicais não podiam con-
1. tribuir PARA os partidos.
a) Segundo o autor, “pequena hipocrisia” diz respeito b) Confundiu-se uma preposição que expressa meio
aos “que se envergonham de admitir não ter lido um com outra que indica finalidade.
livro famoso”, ou seja, faz uma alusão ao comporta-
mento de pessoas com bagagem de leitura que, por 4.
algum motivo, não tenham lido determinada obra a) "dúvidas de que". O termo DÚVIDA rege a pre-
consagrada. posição DE.
b) A reescrita da frase é: “e de cuja origem nos es- b) Mas é preciso ressalvar que a história... O verbo
quecêramos”. Ao empregar a forma pronominal do "ressalvar" é transitivo direto, não admitindo prepo-
verbo, é obrigatória a presença da preposição “de”; sição.
já a forma verbal composta no pretérito imperfeito do
Indicativo corresponde ao pretérito mais-que-perfeito 5.
do Indicativo. a) "... nas matérias que você tem maior dificuldade..."
2. "Uma casa, onde na frente funcionava..."
a) “termos que, em geral, têm como foco a atitude b) ...nas matérias em que você tem...
subjetiva do autor”. Uma casa, em cuja frente funcionava...
b) “embora o seu mundo imaginário corresponda
muito menos à realidade empírica”.
3. Segundo a norma padrão, o verbo “esquecer-se” é regido
com a preposição “de”. Assim, a reescrita correta seria: Es-
queci-me da minha jaqueta.
4.
a) Não há quebra de paralelismo na questão. Ocorreu
omissão do termo que é o núcleo do segundo ele-
mento da comparação - o substantivo "índice" ou o
pronome "o", que o substituiria.
b) Possível resposta: "... índice similar ao das melho-
res faculdades públicas brasileiras".
5. O artista Juan Diego Miguel apresenta, no Museu Brasilei-
ro da Escultura (MUBE), a exposição de suas obras que aca-
bam de chegar ao país, intitulada (ou denominada) "Arte e
Sensibilidade".

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. A 3. A 4. C 5. E

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) Transitivo indireto: Ele renunciou aos bens que her-
dara.
Intransitivo: O presidente renunciou.
b) Não, este também não é o fogo de que precisamos.

2.
a) Bebidas DE que todo O mundo gosta, das marcas
EM que todo O mundo pode confiar.
b) O autor utiliza a paronomásia (jogo de palavras,
aproximadas pelos sons e diferentes significados)
como em LIXO e LUXO. Esse recurso é para descrever
a transformação que ocorre com a lata.

67
1e8
AULAS 43 E 44
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 25, 26 e 27

CRASE

E.O. Aprendizagem dos “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter


ao compará-los com seus equivalentes analógicos. O
problema não está na tecnologia, mas na intensidade
1. (EEAR) Assinale a alternativa em que o emprego do dispensada em cada interação. Seja qual for o meio
acento grave, indicador de crase, está correto.
em que ele se dê, o contato entre indivíduos demanda
a) Peça desculpas à seu mestre. tempo, e nesse tempo não é só a informação pura e
b) Atribuiu o insucesso à má sorte. simples que se troca. Festas, conversas, leituras, relacio-
c) Quando a festa acabou, voltamos à casa felizes. namentos, músicas e filmes de qualidade não podem
d) Daqui à quatro meses muita coisa terá mudado. ser acelerados ou resumidos a sinopses. Conversas, ao
vivo ou mediadas por qualquer tecnologia, perdem boa
2. (IFSUL) Quanto às regras de uso da crase, qual a úni- parte de sua intensidade com a segmentação. O tempo
ca frase correta em seu emprego? empenhado em cada uma delas é muito valioso; não
a) Fiquem atentas à homens dominadores. faz sentido economizá-lo, empilhá-lo ou segmentá-lo.
b) Preciso estar pronta até às 13h, senão perderei o O tempo humano (que talvez seja irreal, se o “outro”
voo e todas as conexões. for provado real) é bem mais lento. Nossas vidas são
c) As mulheres discutiram cara a cara acerca da me- marcadas tanto pela velocidade quanto pela lentidão.
lhor forma de obedecer as leis.
[...]
d) O endereço correto é daqui à duas quadras, à es-
querda da avenida principal. Essa quebra da sequência histórica faz com que mui-
tos processos pareçam herméticos ou misteriosos de-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: mais. Quando não há uma compreensão das etapas
componentes de um processo, não há como intervir
O MITO DO TEMPO REAL nelas, propondo correções, adaptações ou melhorias.
Tal impotência leva a uma apatia, em que as condições
O descompasso entre a velocidade das máquinas e a impostas são aceitas por falta de alternativa. Escondi-
capacidade de compreensão de seus usuários leva a um dos seus processos industriais, os produtos adquirem
quadro de ansiedade social sem precedentes. Em blogs, uma aura quase divina, transformando seus usuários
redes sociais, podcasts e mensagens eletrônicas diver- em consumidores vorazes, que se estapeiam em lojas à
sas todos pedem desculpas pela demora em responder procura do último aparelho eletrônico que se proponha
às demandas de seus interlocutores, impacientes como a preencher o vazio que sentem.
nunca. E-mails que não sejam atendidos em algumas Incapazes de propor alternativas ou sugerir mudanças,
horas acabam encaminhados para outras redes, em um os consumidores são estimulados pela publicidade a
apelo público por uma resposta. um gigantesco hedonismo e pragmatismo. A facilida-
No desespero por contato instantâneo, telefones cha- de de acesso à abundância leva a uma passividade e
mam repetidamente em horas impróprias, mensagens a um pensamento pragmático que defende a ideia de
de texto são trocadas madrugada adentro, conversas “vamos aproveitar agora, pois quando acontecer um
multiplicam-se por comunicadores instantâneos e toda problema alguém terá descoberto a solução”, visível na
ocasião – do trânsito ao banheiro, do elevador à cama, forma com que se abordam problemas de saúde, obesi-
da hora do almoço ao fim de semana – parece uma la- dade, consumo, lixo eletrônico, esgotamento de recur-
cuna propícia para se resolver uma pendência. sos e poluição ambiental. Em alta velocidade há pouco
[...] espaço para a reflexão. Reduzidos a impulsos e reflexos,
A resposta imediata a uma requisição é chamada tec- corremos o risco de deixar para trás tudo aquilo que
nicamente de “tempo real”, mesmo que não haja nada nos diferencia das outras espécies.
verdadeiramente real nem humano nessa velocidade. O (Luli Radfahrer. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/
tempo imediato, sem pausas nem espera, em que tudo colunas/luliradfahrer/1191007-o-mito-do-tempo-real.shtml.)
acontece num estalar de dedos é uma ficção. Desejá-lo
não aumenta a eficiência. Pelo contrário, pode ser ex- 3. (UTFPR) Analise o uso da crase no fragmento:
tremamente prejudicial. “Escondidos seus processos industriais, os produtos
Muitos combatem a superficialidade nas relações di- adquirem uma aura quase divina, transformando seus
gitais pelos motivos errados, questionando a validade usuários em consumidores vorazes, que se estapeiam

68
em lojas à procura do último aparelho eletrônico.” imposto de 10% sobre bebidas açucaradas, e sua ven-
Assinale a alternativa em que o emprego da crase se da caiuno primeiro ano. Na França, um imposto sobre
justifica pelo mesmo uso que no fragmento acima. refrigerantes criado em 2012 resultou no declínio gra-
dual do consumo. A Noruega tributa alimentos e bebi-
a) Ela ficou parada à espera de uma oportunidade das açucarados e divulga informações há muitos anos,
para dar sua opinião. com bons resultados. Em março deste ano, o chanceler
b) Os imigrantes sírios voltaram à terra de seus an- britânico George Osborne anunciou a criação de um
tepassados. imposto sobre bebidas açucaradas a ser cobrado de
c) Todos os funcionários do jornal foram à Lapa inau- produtores e importadores de refrigerantes.
gurar a gráfica. 5. Embora tenha havido algum sucesso com a tributa-
d) Dirigia-se àquela população como seu reduto elei- ção, o setor de alimentos e bebidas continua a fazer
toral. pressão contra informar sobre o açúcar adicionado ao
e) A placa indicava que era proibido virar à esquerda consumidor – mais uma vez, exatamente como fizeram
nesta rua. as empresas fumageiras ao combaterem as tentativas
do governo de pôr nas embalagens de cigarros mensa-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
gens alertando para o perigo de fumar (medida adota-
da também no Brasil). Na esteira das preocupações em
AÇÚCAR, O NOVO CIGARRO
relação ao açúcar, o Ministério da Saúde e a Associação
1. Há um setor que vende um produto que faz mal à Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) anun-
saúde do homem. Uma geração atrás, esse era o setor ciaram recentemente que estudam um acordo para
fumageiro, e o produto era o cigarro. Hoje, é o setor reduzir a quantidade de açúcar nos alimentos proces-
alimentício e o produto é o açúcar. O açúcar adicionado sados, semelhante ao que é feito com o sal. A primeira
– não o açúcar natural que existe em frutas e legumes etapa deve começar em 2017, com análise das princi-
– está em tudo. Uma das maiores fontes são bebidas pais fontes de açúcar na dieta dos brasileiros.
como refrigerantes, energéticos e sucos, mas um pas- ECENGARGER, William. AIKINS, Mary S. Açúcar, o novo cigarro
seio pelo supermercado mostra que há açúcar adiciona- (adaptado). Revista Seleções.Disponível em: <http://www.selecoes.
do a pães, iogurtes, sopas, vinhos, salsichas – na verda- com.br/acucar-o-novo-cigarro>. Acesso: 01 out. 2016.
de, a quase todos os alimentos industrializados.
4. (IFPE) Em relação ao uso do acento grave indicati-
2. Esse “açúcar invisível” recebe muitos nomes. Nos Es- vo da crase, observe os termos destacados e analise as
tados Unidos e na Europa, por exemplo, o consumidor afirmativas a seguir.
pode encontrar até 83 nomes diferentes para o açúcar
I. Em “um produto que faz mal à saúde do homem (...)”
adicionado. Sobre esse assunto, Helen Bond, nutri-
(1º parágrafo), o acento grave foi bem empregado, pois
cionista da Associação Dietética Britânica, diz: “É um
há uma palavra feminina determinada pelo artigo defi-
marketing inteligente: palavras como ‘frutose’ fazem
nido “a” e um outro termo que exige a preposição “a”.
pensar que estamos reduzindo o açúcar adicionado,
mas o fato é que estamos polvilhando açúcar branco II. No trecho “são empregadas para se opor à rotula-
sobre a comida.” Outros especialistas afirmam, ainda, gem mais explícita (...)” (3º parágrafo), houve um equí-
que esse açúcar a mais é completamente desnecessário, voco no emprego do acento grave, visto que não há in-
pois, ao contrário do que a indústria alimentícia quer dicação de crase pela utilização dos termos destacados.
que acreditemos, o organismo não precisa da energia III. Em “A Noruega tributa alimentos e bebidas açucara-
de nenhum açúcar adicionado. dos e divulga informações (...)” (4º parágrafo), o acento
3. No Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério grave indicativo da crase deveria ter sido empregado
da Saúde, o açúcar adicionado representa 19% da in- pelo fato de “Noruega” ser um substantivo próprio fe-
gestão total de açúcar do brasileiro. Ainda segundo o minino.
Ministério, o excesso de açúcar na dieta é fator de risco IV. No fragmento “imposto sobre bebidas açucaradas
para o desenvolvimento da obesidade, embora o peri- a ser cobrado de produtores e importadores (...)” (4º
go para a saúde não seja só o desenvolvimento desse parágrafo), não foi empregado o acento grave pelo fato
mal: há indícios que ligam o açúcar a doenças hepáti- de sua utilização antes de verbos ser facultativa.
cas, diabetes tipo 2, cardiopatias e cáries. Ainda assim, V. Em “fazer pressão contra informar sobre o açúcar
o setor de bebidas e alimentos continua a promover o adicionado ao consumidor (...)” (5º parágrafo), se subs-
açúcar, com muita publicidade de seus produtos açuca- tituíssemos a expressão destacada por “as pessoas”,
rados. Grandes quantias também são empregadas para haveria a ocorrência da crase e o acento grave deveria
se opor à rotulagem mais explícita dos produtos e com- ser empregado no vocábulo “as”.
bater o aumento da tributação de alimentos e bebidas Estão CORRETAS apenas as afirmações constantes nos
açucarados. itens:
4. Os defensores da saúde pública levantam a ideia de a) II e III.
que duas abordagens bem-sucedidas na redução do b) I e IV.
hábito de fumar são necessárias no combate ao con- c) II e V.
sumo excessivo de açúcar: a educação do consumidor
d) III e IV.
e a tributação. Em janeiro de 2014, o México criou um
e) I e V.

69
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Patético: que provoca sentimento de piedade ou triste-
za; indivíduo digno da piedade alheia.
ONDE MORA SUA MUITEZA?
5. (IFSUL) Observe esta frase retirada do texto.
A infância é um lugar complexo. Para quem já cresceu, “É nesse espaço que guardamos os joelhos ralados, as
foi aquele espaço em que moramos quando ainda não descobertas, os medos, a alegria e a força que nos im-
tínhamos muita memória. Aqueles dias e noites que se pulsiona para a frente.” (referência 8)
sucediam sem grandes planos em um corpo que mu-
Se a frase for reescrita, substituindo-se o trecho des-
dava diariamente. Muito grande. Muito pequeno. Muito
tacado por “É esse o espaço reservado...”, fazendo as
alto. Muito baixo.
devidas adaptações, em qual das alternativas NÃO há
Quando criança, entediada, 1Alice seguiu um coelho até nenhuma incorreção quanto ao emprego da crase?
sua toca e lá se viu em um espaço totalmente novo. Um
espaço onírico que reproduzia suas ansiedades e ensi- a) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, as
nava-lhe a buscar dentro de si mesma recursos que lhe descobertas, aos medos, a alegria e a força que nos
permitissem seguir em frente. Tentando fazer sentido impulsiona para a frente.
do espaço onde se encontrava, Alice foi protagonista b) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, as
de uma experiência fantástica de descoberta. Ela des- descobertas, aos medos, à alegria e à força que nos
cobriu que viver não é fácil, às vezes a vida é um jogo, impulsiona para a frente.
mas mesmo assim vale a pena. c) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, às
2
Anos mais tarde, já adulta, prestes a embarcar em um descobertas, aos medos, à alegria e à força que nos
casamento arranjado, com um noivo patético, Alice se impulsiona para a frente.
deixa conduzir novamente a esse espaço que lhe é fa- d) É esse o espaço reservado aos joelhos ralados, às
miliar, mas do qual não lembra quase nada. 3É um lugar descobertas, aos medos, a alegria e a força que nos
que fica no jardim, no buraco de uma árvore e, pasmem, impulsiona para a frente.
onde mora um coelho de cartola e relógio!
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
4
É lá que ela, lembrando aos poucos de que já os conhe-
cia, encontra velhos amigos que são rápidos em tecer O ACESSO 1À EDUCAÇÃO É O PONTO DE PARTIDA
críticas a seu respeito, dizendo, inclusive, que ela é a
Alice “errada”. 5Mas é a crítica do Chapeleiro Maluco Mozart Neves
que a atinge em cheio: você não é a mesma de antes,
A Educação tem resultados profundos e abrangentes
você era muito mais “muita”, 6você perdeu sua muite-
no desenvolvimento de uma sociedade: contribui para
za. Lá dentro. Falta alguma coisa. De todas as coisas que
o crescimento econômico do país, para a promoção da
Alice esqueceu de compreender desse lugar, talvez essa
igualdade e bem-estar social, e também tem impactos
seja a que faça mais sentido. 7Talvez isso explique tudo.
decisivos na vida de cada um. Um deles, por exemplo,
Talvez tenha sido isso que ela fora até lá buscar.
é na própria renda do trabalhador. Uma análise feita
A criança que fomos ocupa um espaço dentro de nós, __________ alguns anos pelo economista Marcelo Neri
nesse acúmulo de experiências que é a vida. 8É nesse es- mostrou que, a cada ano a mais de estudo, o brasilei-
paço que guardamos os joelhos ralados, as descobertas, ro ganha 15% a mais de salário. Além disso, o estudo
os medos, a alegria e a força que nos impulsiona para também mostrou que quem completou o Ensino Fun-
a frente. Há espaços mais sombrios, outros mais claros. damental tem 35% a mais de chances de ocupação que
Muitos de nós já esqueceram o caminho para esse lugar. um analfabeto. Esse número sobe para 122% na com-
Estamos ocupados demais com as coisas grandes para paração com alguém que tenha o Ensino Médio e 387%
tentar encontrar uma toca de coelho que nos leve para
com Ensino Superior.
dentro da terra. Então vivemos assim, sempre muito
ocupados, sempre muito atrasados, com coisas sérias e Diante disso, o direito do acesso 2à Educação é o ponto
importantes a fazer. E vagamos. 9Vagamos pelo mundo de partida na formação de uma pessoa e, consequen-
com alguma coisa faltando. Lá dentro. temente, no desenvolvimento e prosperidade de uma
nação. Não obstante os avanços alcançados pelo Brasil
É na infância que mora a nossa muiteza. E é para lá que
nas duas últimas décadas4, 5ainda 6há 7importantes de-
devemos voltar para encontrá-la, sempre que essa pan-
safios a superarmos no que tange esse direito. Se 8por
tomima a qual chamamos de vida adulta nos puxa e
empurra forte demais. um lado conseguimos universalizar o atendimento es-
colar no Ensino Fundamental, temos 9ainda, por outro
LHULLIER, Luciana. Onde mora sua muiteza? In: No coração da
floresta (blog). 08 out. 2013 (adaptado). Original disponível em: lado, 2,8 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos
<https://contesdesfee.wordpress.com/page/2/>. Acesso: 05 ago. 2016. fora da escola. Isso corresponde ______ um país do ta-
manho do Uruguai. O desafio, em termos de acesso, é a
Vocabulário: universalização da Pré-Escola (crianças de 4 e 5 anos) e
Onírico: de sonho e/ou relativo a sonho. do Ensino Médio (jovens de 15 a 17 anos).
Pantomima: representação teatral baseada na mímica Há outro desafio em jogo10: o de como motivar 5,3 mi-
(ou seja, em gestos corporais); por extensão, situação lhões de jovens de 18 a 25 anos que nem estudam e
falsa, representação, ilusão, fraude. nem trabalham, a chamada 11“geração nem-nem”, para

70
trazê-12los de volta __________ escola e, posteriormen- II. Pode-se dizer que as gerações da Idade Média falam
te, 13incluí-los no mundo do trabalho. Isso é essencial às gerações atuais por meio das grandes obras de ar-
para um país que passa por um bônus demográfico que quitetura que exprimem a devoção e o espírito da épo-
se completará, 14segundo os especialistas, em 2025. O ca. (WHITNEY, W. A vida da linguagem. Petrópolis: Vozes,
país, para seu crescimento econômico e sua sustentabi- 2010. p.17).
lidade, não poderá abrir mão de nenhum de seus jovens.
III. À linguagem é uma expressão destinada a transmis-
No Ensino Superior, o 15desafio não é menor. O Brasil são do pensamento.
tem apenas 17% de jovens de 18 a 24 anos matricu-
lados nesse nível de ensino. Em conformidade com o IV. O atendimento a gestantes foi suspenso ontem à tar-
Plano Nacional de Educação (PNE), o país precisará do- de e a Prefeitura pouco pode fazer a curto prazo para
brar esse percentual nos próximos dez anos, ou seja, amenizar a situação.
chegar __________ 33%. Para se ter uma ideia da com- V. Transmita a cada um dos pacientes às instruções ne-
plexidade dessa meta, esse era o percentual previsto cessárias à continuidade do tratamento.
no PNE que se concluiu em 2010. Isso exige – sem que O sinal indicativo de crase está adequadamente empre-
haja perda de qualidade com essa expansão – que a gado na(s) alternativa(s):
educação básica melhore significativamente, tanto em
acesso como em qualidade, tomando como referência a) IV somente.
os atuais índices de aprendizagem escolar. b) I, III e V.
O acesso 16à Educação é, 17portanto, ainda um desafio e, c) II, III e IV.
caso seja efetivado com qualidade, poderá contribuir de- d) I e IV.
cisivamente para que o país 18reduza o enorme hiato que e) II e IV.
separa o seu desenvolvimento econômico, medido pelo
seu Produto Interno Bruto – PIB (o Brasil é o 7º PIB mun- 9. (IFBA) A imagem a seguir representa um cartaz retira-
dial) e o seu desenvolvimento social, medido pelo seu do de um ambiente virtual. Em relação ao uso do acen-
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (o Brasil ocu- to indicativo de crase, a frase presente na imagem está:
pa a 75ª posição no ranking mundial). Somente quando
o país alinhar 19esses índices nas melhores posições do
ranking mundial, teremos de fato um Brasil com menos
desigualdade e menos pobreza. Para que isso aconteça,
não se conhece nada melhor do que a Educação.
Disponível em: <http://istoe.com.br/o-acesso-educacao-
e-o-ponto-de-partida/>. Acesso em: 20 mar. 2017

6. (IFSUL) Para atender à norma culta, as lacunas do texto


devem ser preenchidas, respectivamente, com:
a) a – há – à – a. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/
b) há – a – à – há. toda-letra/crase-parte-i/>. Acesso em: 18 set. 2015

c) à – há – a – à. a) correta, tal como em “Ele caminhava à passo firme”.


d) há – a – à – a. b) incorreta, tal como em “Encontraram-se às 18 horas”.
c) incorreta, tal como em “Esta é a escola à qual se re-
7. (Fatec) Assinale a alternativa que apresenta o correto feriram”.
emprego da crase. d) correta, tal como em “Fui àquela praça, mas não o
encontrei”.
a) Alguns atletas olímpicos irão à São Paulo fazer exa-
e) incorreta, tal como em “Dirigiu-se ao local disposto à
mes médicos periódicos.
falar com o delegado”.
b) À um ano dos Jogos Olímpicos do Rio, é impossível
adquirir alguns ingressos. 10. (Col. Naval) Assinale a opção na qual o acento indica-
c) Nossos atletas, à partir dessa semana, serão sub- tivo de crase foi corretamente empregado.
metidos a novos treinamentos. a) A leitura deve ser um prazer, mas muitos usam um
d) Nenhum atleta dessa delegação pode comer o que tom irônico quando se referem à ela.
deseja o tempo todo, à vontade. b) Às pessoas que leem cabe o papel de ver o mundo
e) A homenagem à João Carlos de Oliveira, o João do de modo claro, especial e lúcido, independentemente
Pulo, resgata a nossa história olímpica. de classe social.
c) Quando os livros perdem espaço para o compu-
8. (PUC-PR) Leia as sentenças e assinale o que se pede tador, a sociedade começa à perder oportunidades
a seguir: ímpares de conhecimento.
I. Em 2014, os brasileiros, confiantes e crédulos, saíram d) Até à Educação pode utilizar-se dos meios ciberné-
a consumir, como se consumo fosse investimento. E o ticos, desde que não abandone os valores primeiros
de sua estrutura.
Estado agora nos convoca à pagar também suas dívi-
e) Quanto à Vossa Senhoria, peço que se retire agora
das, que não são nossas. (Veja. São Paulo: Abril, p. 23, 10
mesmo desse tribunal para não causar maiores cons-
jun. 2015. Adaptado). trangimentos.

71
E.O. Fixação do qual sempre partiremos sem as malas.
Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.
br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estrangeir
os/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19 out. 2015
SOMOS TODOS ESTRANGEIROS
1. (IFSUL) A alternativa que completa corretamente as
Volta e meia, em nosso mundo redondo, colapsa o frágil lacunas do texto, respectivamente, é
convívio entre os diversos modos de ser dos seus ha-
bitantes. 1Neste momento, vivemos uma nova rodada a) a – a – à.
2
dessas com os inúmeros refugiados, famílias fugitivas b) à – à – a.
de suas guerras civis e massacres. Eles tentam entrar c) a – à – a.
na mesma Europa que já expulsou seus famintos e ju- d) à – a – à.
deus. Esses movimentos introduzem gente destoante
no meio de outras culturas, estrangeiros que chegam TIRA PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
falando atravessado, comendo, amando e rezando de
outras maneiras. Os diferentes se estranham.
Fui duplamente estrangeira, no Brasil por ser uruguaia,
em ambos os países e nas escolas públicas por ser judia.
A instrução era tentar mimetizar-se, falar com o menor
sotaque possível, ficar invisível no horário do Pai Nosso
diário.
Certamente todos conhecem esse sentimento de sentir-
-se estrangeiro, ficar de fora, de não ser tão autêntico
quanto os outros, ou não ser escolhido para o que re-
almente importa. Na 3infância, tudo é grande demais,
amedronta e entendemos fragmentariamente, como
recém-chegados. Na puberdade, perdemos a familiari-
dade com nossos familiares: o que antes parecia natural
começa __________ soar como estrangeiro. 4Na 5ado-
lescência, sentimo-nos estranhos __________ quase (Disponível em: <www.depositodetiras.com.br>. Acesso em out. 2015)
tudo, andamos por aí enturmados com os da mesma
idade ou estilo, tendo apenas uns aos outros como cúm- 2. (IFSUL) A crase presente na fala do último quadrinho
plices para existir. baseia-se na regra gramatical que prescreve utilizar
O fim desse desencontro deveria ocorrer no começo da crase:
vida adulta, quando trabalhamos, procriamos e toma- a) antes de substantivo concreto.
mos decisões de repercussão social. Finalmente 6deve-
b) antes de palavra feminina regida pela preposição "a".
ríamos sentir-nos legítimos cidadãos da vida. 7Porém,
julgamos ser uma fraude: 8imaginávamos que os adul- c) depois de pronome demonstrativo.
tos eram algo maior, mais consistente do que sentimos d) depois de verbo transitivo direto.
ser. Logo em seguida disso, já começamos a achar que
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
perdemos o bonde da vida. O tempo nos faz estrangei-
ros __________ própria existência.
Quando a 1economia 2política clássica nasceu, no Rei-
Uma das formas mais simples de combater todo esse no Unido e na França, ao final do século XVIII e início
9
mal-estar é encontrar outro para chamar de diferen- do século XIX, a questão da distribuição da renda já
te, de inadequado. 10Quem pratica o bullying, quer seja se encontrava no centro de todas as análises. Estava
entre alunos ou com os que têm hábitos e aparência claro que 3transformações radicais entraram em curso,
distintos do seu, conquista momentaneamente a ilusão propelidas pelo crescimento 4demográfico sustentado
da legitimidade. Quem discrimina arranja no grito e na – inédito até então – e pelo início do êxodo rural e da
violência um lugar para si. Revolução Industrial. Quais seriam as consequências so-
Conviver com as diferentes cores de pele, interpretações ciais dessas mudanças?
dos gêneros, formas de amar e casar, vestimentas, reli- Para Thomas Malthus, que 5publicou em 1798 seu Ensaio
giões ou a falta delas, línguas faz com que todos sejam sobre o princípio da população, não restava dúvida: a
estrangeiros. Isso produz a mágica sensação de inclusão superpopulação era uma ameaça. Preocupava-se espe-
universal: 11se formos todos diferentes, ninguém precisa cialmente com a situação dos franceses 1 vésperas da
sentir-se excluído. Movimentos migratórios misturam po- Revolução de 1789, quando havia miséria generalizada
vos, a eliminação de barreiras de casta e de preconceitos no campo. 6Na época, a França era 7de longe o país mais
também. Já pensou que delícia se, no futuro, entender- populoso da Europa: por volta de 1700, já contava com
mos que na vida ninguém é nativo. 12A existência de cada mais de 20 milhões de habitantes, enquanto o Reino Uni-
um é como um barco em que fazemos um trajeto ao final do tinha pouco mais de 8 milhões de pessoas. A 8popula-

72
ção francesa se expandiu em ritmo crescente ao longo do protesto, mas sua resposta foi um tuite apontando o
século XVIII, aproximando-se dos 30 milhões. Tudo leva Oscar como o equivalente branco do BET (Black Enter-
a crer que esse 9dinamismo demográfico, desconhecido tainment Television), prêmio anual dedicado a artistas
nos séculos anteriores, contribuiu para a 10estagnação negros. Agora, recai sobre ele a responsabilidade de fa-
dos salários no campo e para o aumento dos rendimen- zer coro 6às críticas de colegas como Spike Lee e 7o ca-
tos associados à 11propriedade da terra, sendo, portanto, sal Will e Jada Pinkett Smith – que não irão à 8cerimônia
um dos fatores que levaram 2 Revolução Francesa. 12Para em protesto –, mas só o suficiente para não espantar o
evitar que torvelinho 13similar vitimasse o Reino Unido, público.
Malthus argumentou que 14toda assistência aos 15pobres Há pressão do canal ABC sobre Rock para reverter a
deveria ser suspensa de imediato e a taxa de natalidade queda acentuada de audiência do ano passado (15%)
deveria ser severamente controlada. ainda maior entre a população negra (20%) segundo
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os seus Princí- a consultora especializada Nielsen. Segundo Reginald
pios de economia política e tributação, preocupava-se Hudlin, um dos produtores-executivos da transmissão
com a 16evolução do preço da terra. Se o crescimento da da cerimônia – e também negro –, o espectador deve
população e, 17consequentemente, da produção agrícola esperar piadas sobre a controvérsia. 9“A Academia es-
se prolongasse, a terra tenderia a se 18tornar escassa. De pera que ele faça isso”, declarou ao programa de TV
acordo com a lei da oferta e da procura, o preço do bem “Entertainment Tonight”. “Os membros estão anima-
escasso – a terra – deveria subir de modo contínuo. No dos com a possibilidade, porque sabem que é disso que
limite, 19os donos da terra receberiam uma parte cada precisam. 10Sabem que é o desejo do público.”
vez mais significativa da renda nacional, e o 20restante Além de Rock, a produção do Oscar já anunciou a par-
da população, uma parte cada vez mais reduzida, 21des- ticipação de 11 negros na cerimônia, entre eles Whoopi
truindo o equilíbrio social. De fato, 22o valor da terra Goldberg, Quincy Jones e Kerry Washington. A escolha
permaneceu alto por algum tempo, mas, ao longo de sé- reflete os recentes esforços da Academia, anunciados
culo XIX, caiu em relação 3 outras formas de riqueza, à pela presidente, a afro-americana Cheryl Boone Isaacs,
medida que diminuía o peso da agricultura na renda das para se diversificar.
nações. 23Escrevendo nos anos de 1810, Ricardo não po- Folha de São Paulo, SP, 28/02/2016. Autora: Maria Clara Moreira.
deria antever a importância que o progresso tecnológico
e o crescimento industrial teriam ao longo das décadas 4. (IFCE) Sobre o emprego do acento indicativo de crase,
seguintes para a evolução da distribuição da renda. observe as afirmações a seguir.
Adaptado de: PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de I. É possível substituir às por a na referência 1 sem pre-
M. B. de Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p.11-13. juízo ao sentido da frase e sem transgressão às regras
de emprego do acento grave.
3. (UFRGS) Assinale a alternativa que preenche correta- II. Transpondo a expressão às críticas (referência 6) para
mente as lacunas 1, 2 e 3, nesta ordem. o singular, teríamos a impossibilidade de realização da
a) às – à – a. crase, devendo, portanto, retirar o acento grave.
b) as – à – a. III. Mesmo substituindo o termo cerimônia por evento,
c) às – à – à. na referência 8, seríamos obrigados a manter o acento
d) às – a – à. indicativo de crase.
e) as – a – a. IV. Na referência 3, não ocorre crase em a constatação
porque a regência do verbo anteceder está sendo utili-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: zada como transitiva direta nesse texto, como compro-
va seu outro objeto direto o anúncio, na referência 2.
Apresentador Chris Rock fica à revelia de polêmica so- É(são) verdadeira(s):
bre racismo no Oscar
a) I e IV.
Quando Chris Rock, 51, apresentou o Oscar pela primei- b) apenas III.
ra vez, em 2005, 20% dos indicados 1às categorias de c) I, II, III e IV.
atuação eram negros. Naquele ano, foram lembrados d) apenas I.
Jamie Foxx, Don Cheadle, Morgan Freeman e Sophie e) I e II.
Okonedo. As vitórias históricas de Halle Berry e Denzel
Washington em 2002 – primeira e única vez em que as 5. (IFCE) No título do texto, o uso do acento grave se
estatuetas de melhor ator e atriz foram para negros – justifica pela regra da crase:
também estavam frescas na memória. a) obrigatória antes de pronomes pessoais.
Onze anos depois, a história é outra. O anúncio da volta b) obrigatória antes de nomes masculinos.
de Rock como apresentador da 88ª edição do prêmio c) proibida antes de verbos.
antecedeu o 2anúncio dos indicados e 3a constatação de d) facultativa antes de pronomes possessivos femi-
que, pelo segundo ano consecutivo, 4não havia negros ninos.
nas categorias de atuação. 5Muito se especulou que o e) obrigatória nas locuções prepositivas com palavra
comediante poderia abrir mão do cargo como forma de feminina.

73
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: tiveram a inépcia de inventar uma arma, mediante a
qual um transviado facilmente lhes escapa das unhas.
O ANJO RAFAEL
É justamente o que vou fazer.
Machado de Assis
Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com
Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado estes três elementos reduzirei a minha vida ao nada.
das mulheres e aborrecido dos credores, 1o dr. Antero Não levo nem deixo saudades. Morro por estar enjoado
da Silva determinou um dia despedir-se deste mundo. da vida e por ter certa curiosidade da morte.
Era pena. O dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadá-
e podia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade ver, os jornais escreverão a notícia do acontecimento, e
é que para isso fora necessário proceder a uma comple- um ou outro fará a esse respeito considerações filosó-
ta reforma dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso ficas. Importam-me bem pouco as tais considerações.
herói que o defeito não estava em si, mas nos outros; Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas
cada pedido de um credor inspirava-lhe uma apóstrofe linhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os ri-
contra a sociedade; julgava conhecer os homens, por ter madores de ocasião encontrarão assunto para algumas
tratado até então com alguns bonecos sem consciência;
estrofes.
pretendia conhecer as mulheres, quando apenas havia
praticado com meia dúzia de regateiras do amor. O dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em al-
guns lugares a pontuação, fechou o papel em forma de
O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para
carta, e pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo.
isso foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e
entrou em casa, que era à rua da Misericórdia. Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um
traço de impiedade, a bucha que meteu no cano da pis-
Davam então quatro horas da tarde.
tola foi uma folha do Evangelho de S. João.
O dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na
Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à janela, res-
mesa.
pirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas:
– A viagem é longa, disse ele consigo, e eu não sei se há
– Até já.
hotéis no caminho.
E saindo da janela acrescentou mentalmente:
Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir
dormir a sesta e não o último sono. 2O próprio criado – Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza
reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui, e
nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. estou feito um punhado de pó. É bem possível que no
No fim dele, quando o criado lhe trouxe o café, Antero futuro século sirva este meu invólucro para macadami-
proferiu paternalmente as seguintes palavras: zar a rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer
3
– Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis de ser pisado por alguns pés bonitos.
que lá estão, são teus. Vai passar a noite fora e não vol- Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava
tes antes da madrugada. mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho.
– Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro. 6
– Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cár-
– Vai. cere, disse ele.
Pedro apressou-se a executar a ordem do amo.
7
Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as per-
nas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e
O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu
segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano
um volume do Dicionário filosófico e começou a ler.
entre os dentes.
Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A
leitura do dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à
daí a algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de
o livro. um curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O ra-
paz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar
Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma
a quem quer que fosse. Contudo, por maior que seja a
agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno
tranquilidade de um homem quando resolve abandonar
inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer
a vida, é-lhe sempre agradável achar um pretexto para
e agradecer ao céu.
prolongá-la um pouco mais.
4
O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para
O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a
escrever. 5Não tinha parentes, nem amigos a quem deixar
porta.
carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer
a respeito dele a sua última palavra. Travou da pena e 6. (IFCE) No fragmento “Depois sentou-se numa ca-
escreveu as seguintes linhas: deira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à ameri-
Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de cana, firmou os cotovelos, e segurando a pistola com
animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes” (re-
ordinário a fuga é impossível. Mas estes animais meus ferência 7), na expressão em destaque deve-se usar
semelhantes tão traiçoeiros e ferozes como os outros, crase porque

74
a) a cadeira era americana. a) Voltou à casa dos pais.
b) o autor vê o protagonista como um astro de b) O garoto deu o recado à mãe.
Hollywood. c) Regressou à terra natal.
c) a mesa foi feita nos Estados Unidos. d) Serviu o frango à cubana.
d) se subtende que o autor quer dizer à “moda” ame- e) Foi morto à bala.
ricana.
e) o autor faz uma crítica à mania dos brasileiros de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
copiar tudo o que vem dos Estados Unidos.
FELICIDADE CLANDESTINA
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Clarice Lispector
OS DOIS VIAJANTES NA MACACOLÂNDIA
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessiva-
Monteiro Lobato mente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enor-
me, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como
Dois viajantes, transviados no sertão, depois de muito se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por
andar, alcançam o reino dos macacos. cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer
Ai deles! Guardas surgem na fronteira, guardas ferozes criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai
que os prendem, que os amarram e os levam à presença dono de livraria.
de S. Majestade Simão III. Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniver-
El-rei examina-os detidamente, com macacal curiosida- sário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos
de, e em seguida os interroga: entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai.
– Que tal acham isto por aqui? Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde
morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás
Um dos viajantes, diplomata de profissão, responde
escrevia com letra bordadíssima palavras como “data
sem vacilar:
natalícia” e “saudade”.
– Acho que este reino é a oitava maravilha do mundo.
Sou viajadíssimo, já andei por Seca e Meca, mas, pala- Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era
vra de honra! Nunca vi gente mais formosa, corte mais pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa
brilhante, nem rei de mais nobre porte do que Vossa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavel-
Majestade. mente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.
Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo.
Simão lambeu-se todo de contentamento e disse para Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações
os guardas: a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe em-
– Soltem-no e deem-lhe um palácio para morar e a mais prestados os livros que ela não lia.
gentil donzela para esposa. E lavrem incontinenti o de- Até que veio para ela o magno dia de começar a exer-
creto de sua nomeação para cavaleiro da mui augusta cer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente,
Ordem da Banana de Ouro. informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de
Assim se fez e, enquanto o faziam, El-rei Simão, risonho Monteiro Lobato.
ainda, dirigiu a palavra ao segundo viajante: Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se fi-
– E você? Que acha do meu reino? car vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E com-
Este segundo viajante era um homem neurastênico, pletamente acima de minhas posses. Disse-me que eu
azedo, amigo da verdade a todo o transe. passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o em-
Tão amigo da verdade que replicou sem demora: prestaria.
– O que acho? É boa! Acho o que é!… Até o dia seguinte eu me transformei na própria espe-
rança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num
– E que é que é? – interpelou Simão, fechando o sobre-
mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
cenho.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo.
– Não é nada. Uma macacalha… Macaco praqui, maca-
Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa.
co prali, macaco no trono, macaco no pau…
Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos,
– Pau nele – berra furioso o rei, gesticulando como um disse-me que havia emprestado o livro a outra menina,
possesso. Pau de rachar nesse miserável caluniador… e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquia-
E o viajante neurastênico, arrastado dali por cem mu- berta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo
nhecas, entrou numa roda de lenha que o deixou moído me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulan-
por uma semana. do, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas
de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do
7. (IFCE) No trecho “Guardas surgem na fronteira, guar- livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais
das ferozes que os prendem, que os amarram e os le- tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me es-
vam à presença de S. Majestade Simão III”, existe crase perava, andei pulando pelas ruas como sempre e não
pela mesma razão que em: caí nenhuma vez.

75
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em
filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No mim. Eu era uma rainha delicada.
dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o li-
sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta cal- vro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
ma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu vol- Não era mais uma menina com um livro: era uma mu-
tasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no lher com o seu amante.
decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia
Com base no texto acima, responda à(s) questão(ões)
se repetir com meu coração batendo.
a seguir.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia
que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorres- 8. (Efomm) Uma situação de crase FACULTATIVA aparece
se todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar na opção:
que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho.
a) (...) lá estava eu à porta de sua casa (...)
Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes aceito: como se
quem quer me fazer sofrer esteja precisando danada- b) Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem
mente que eu sofra. de tarde (...)
c) (...) perversidade de sua filha desconhecida e a me-
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar
nina loura em pé à porta (...)
um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve
comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de d) Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia
modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não sequer.
era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob e) Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia
os meus olhos espantados. emprestado o livro a outra menina (...).
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu
sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda O SEQUESTRO DAS PALAVRAS
e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu ex-
plicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, Gregório Duvivier
entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora
Vamos supor que toda palavra tenha uma vocação pri-
achava cada vez mais estranho o fato de não estar en-
meira. A palavra mudança, por exemplo, nasceu filha da
tendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se
transformação e da troca, e desde pequena servia para
para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este
descrever o processo de mutação de uma coisa em ou-
livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
tra coisa que não deixou de ser, na essência, a mesma
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que coisa – quando a coisa é trocada por outra coisa, não é
acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha mudança, é substituição. A palavra justiça, por exem-
que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de plo, brotou do casamento dos direitos com a igualdade
perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura (sim, foi um ménage): servia para tornar igual aquilo
em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi que tinha o direito de ser igual 5mas não estava sendo
então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma tratado como tal.
para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E No entanto as palavras cresceram. E, assim como
para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo qui- as pessoas, foram sendo contaminadas pelo mundo
ser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo __________ sua volta. As palavras, coitadas, não sabem
tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, gran- escolher amizade, não sabem dizer não. A liberdade,
de ou pequena, pode ter a ousadia de querer. por exemplo, é dessas palavras que só dizem sim. Não
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, nasceu de ninguém. Nasceu contra tudo: a prisão, a de-
e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse pendência, o poder, o dinheiro – mas não se espante se
nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sem- você vir __________ liberdade vendendo absorvente,
pre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro desodorante, cartão de crédito, empréstimo de banco.
grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o pei- A publicidade vive disso: dobrar as melhores palavras
to. Quanto tempo levei até chegar em casa, também sem pagar direito de imagem. Assim, você verá as pala-
pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração vras ecologia e esporte juntarem-se numa só para criar
pensativo. o EcoSport– existe algo menos ecológico ou esportivo
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não que um carro? Pobres palavras. Não tem advogados.
o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas de- Não precisam assinar termos de autorização de ima-
pois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de gem. Estão aí, na praça, gratuitas.
novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer Nem todos aceitam que as palavras sejam sequestra-
pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara das ao bel-prazer do usuário. A política é o campo de
o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as guerra onde se disputa a posse das palavras. A “ética”,
mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina filha do caráter com a moral, transita de um lado para o
que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clan- outro dos conflitos, assim como a Alsácia-Lorena, e não
destina para mim. Parece que eu já pressentia. Como sem guerras sanguinárias. Com um revólver na cabeça,

76
é obrigada __________ endossar os seres mais amorais dos trabalhadores de modo a proporcionar o máximo de
e sem caráter. A palavra mudança, que sempre andou conforto, segurança e desempenho eficiente. Entre os
com __________ esquerdas, foi sequestrada pelos se- riscos ergonômicos, aqueles que têm maior relação com
tores mais conservadores da sociedade – que fingem o uso de computadores são: exigência de postura inade-
querer mudar, quando o que querem é trocar(para que quada, utilização de mobiliário impróprio, imposição de
não se mude mais). A Justiça, coitada, foi cooptada por ritmos excessivos, trabalho em turno noturno, jornadas
quem atropela direitos e desconhece a igualdade, con- de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade.
fundindo-a o tempo todo com seu primo, o justiçamen- A exposição do trabalhador ao risco gera o acidente,
to, filho do preconceito com o ódio. cuja consequência, nesses casos, tem efeito mediato,
Já a palavra impeachment, recém-nascida, filha da de- ou seja, ela se apresenta ao longo do tempo por ação
mocracia com a mudança, está escondida num porão: cumulativa desses eventos sucessivos. É como se, a
emprestaram suas roupas __________ palavra golpe, cada dia de exposição ao risco, um pequeno acidente,
que desfila por aí usando seu nome e seus documen- imperceptível, estivesse ocorrendo. As consequências
tos. Enquanto isso, a palavra jornalismo, coitada, ago- dos acidentes do trabalho desse tipo são as doenças
niza na UTI. As palavras não lutam sozinhas. É preciso profissionais ou ocupacionais.
lutar por elas. Já para os profissionais que têm o computador como ins-
Texto publicado em 21 mar. 2016. Disponível em: <http://www1. trumento de um trabalho diário, a prevenção dos riscos
folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2016/03/1752170- ergonômicos relacionados ao seu uso deverá ser motivo
o-sequestro-das-palavras.shtml>. Acesso em: 06 abr. 2016. de atenção e interesse, observando, entretanto, que a
legislação e as normas técnicas estão inseridas no con-
9. (IFSUL) Para atender à norma culta, as lacunas do texto
texto maior de uma avaliação completa do ambiente de
devem ser preenchidas, respectivamente, com:
trabalho. O bem-estar físico e psicológico dos trabalha-
a) a – à – à- as – à. dores reflete no seu desempenho profissional e é resulta-
b) à – a – a – as – à. do de uma política global de investimento em segurança,
c) à – a – à – às – a. saúde e meio ambiente. O fundamental para os usuários
d) a – à – a –às – a. de computadores é saber que há procedimentos básicos
para se evitar acidentes no trabalho, mesmo quando esse
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: trabalho se concentra em uma relação homem-máquina
aparentemente amigável e isenta de riscos, desenvolvida
COMPUTADORES PROVOCAM ACIDENTES DO TRABALHO? em escritórios ou mesmo em casa.

Durante muito tempo, a segurança do trabalho foi vista MATTOS, Ricardo Pereira de. Adaptado. Disponível em: <http://www.
ricardomattos.com/artigo.htm#saude>. Acesso em: 09 jun. 2016.
como um tema que se relacionava apenas ao uso de ca-
pacetes, botas, cintos de segurança e uma série de outros 10. (IFPE) Na Língua Portuguesa, o acento grave indi-
equipamentos de proteção individual contra acidentes. cativo da crase é utilizado para marcar a fusão da pre-
No entanto, a evolução tecnológica se fez acompanhar posição a com os artigos definidos femininos a e as,
de novos ambientes de trabalho e de riscos profissionais com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s),
a eles associados. Muitos desses novos riscos são pouco aquilo, a e as e com o “a” do pronome relativo a qual
ou nada conhecidos e demandam pesquisas cujos resul-
e as quais. A gramática normativa de nossa língua, no
tados só se apresentam após a exposição prolongada
entanto, afirma que o uso desse acento é facultativo
dos trabalhadores a ambientes nocivos a sua saúde e
em algumas situações. Assinale a alternativa em que o
integridade física. Hoje, o setor de segurança e saúde no
referido acento também poderia ter sido utilizado, sem
trabalho é multidisciplinar e tem como objetivo principal
comprometer o sentido do trecho.
a prevenção dos riscos profissionais. O conceito de aci-
dente é compreendido por um maior número de pessoas a) “como se, à cada dia de exposição ao risco, um pe-
que já identificam as doenças profissionais como conse- queno acidente, imperceptível, estivesse ocorrendo”.
quências de acidentes do trabalho. (4º parágrafo)
A relação homem-máquina, que já trouxe enormes be- b) “À relação homem-máquina, que já trouxe enor-
nefícios para a humanidade, também trouxe um gran- mes benefícios para a humanidade, também trouxe
de número de vítimas. Entre as máquinas das novas um grande número de vítimas”. (2º parágrafo)
relações profissionais, os computadores pessoais têm c) “Entre os riscos ergonômicos, àqueles que têm
uma característica ímpar: nunca, na história da huma- maior relação com o uso de computadores são”. (3º
nidade, uma mesma máquina esteve presente na vida parágrafo)
profissional de um número tão grande e diversificado d) “pesquisas cujos resultados só se apresentam
de trabalhadores. após a exposição prolongada dos trabalhadores a
Diante desses fatos, muitas dúvidas têm sido levantadas ambientes nocivos à sua saúde e integridade física”.
sobre os riscos de acidentes no uso de computadores; (1º parágrafo)
entre eles, destacam-se os chamados riscos ergonômicos. e) “à prevenção dos riscos ergonômicos relacionados
A Ergonomia é uma ciência que estuda a adequação das ao seu uso deverá ser motivo de atenção e interesse”.
condições de trabalho às características psicofisiológicas (5º parágrafo)

77
E.O. Complementar a pouco iriam se converter em realidade.
Em março de 1962, desembarcávamos do Aviso Rio das
O texto abaixo apresenta inadequações, de acordo com Contas na ponte de atracação do Colégio Naval, como
a norma padrão. A(s) questão(ões) a seguir analisa(m) integrantes de mais uma Turma desse tradicional esta-
alguns desses problemas. belecimento de ensino da Marinha do Brasil.
Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo o peito
No caminho de Montevideo, dirigindo pela rota beira- dos novos e orgulhosos Alunos do Colégio Naval, não
-mar obrigatóriamente voce vai passar pelo porto de posso negar que a tristeza, que antes havia ocupado
Montevideo, lá existe um mercado muito sofisticado espaço em nossos corações, era naquele momento
com ótimos restaurantes. Vale [à pena] uma parada substituída pelo contentamento peculiar dos vitoriosos.
para almoçar no El Palenque, um dos melhores res- E o sentimento de perda, experimentado por ocasião
taurantes do Uruguai para comer carnes, é incrivel lá das despedidas, provara-se equivocado: às nossas ca-
dentro! Paramos para conhecer, mas não almoçamos no ras famílias de origem agregava-se uma nova, a Família
El Palenque dessa vez, pois estávamos com o almoço Naval, composta pelos recém-chegados companheiros;
marcado na Bodega Bousa e depois a visita a viníco- e às respectivas cidades de nascimento, como a minha
la. Seguimos viagem pela rota 5 em direção a Bodega bucólica Bom Jardim, juntava-se, naquele instante, a
Bousa (fique atento as placas, pois voce pode passar bela e graciosa enseada Batista das Neves em Angra
despercebido por elas). dos Reis, como mais tarde se agregaria à histórica Ville-
(http://cozinhachic.com/diario-de-viagemmontevideo- gagnon em meio à sublime baía de Guanabara.
vinicolas-e-restaurantes).
Ao todo foram seis anos de companheirismo e feliz
1. (UTFPR) Em relação ao emprego da crase, assinale a convivência, tanto no Colégio como na Escola Naval.
alternativa que corrige as inadequações existentes no Seis anos de aprendizagem científica, humanística e,
texto. sobretudo, militar-naval. Seis anos entremeados de au-
a) à visita, a vinícola, às placas. las, festivais de provas, práticas esportivas, remo, vela,
cabo de guerra, navegação, marinharia, ordem-unida,
b) à vinícola, à Bodega Bousa, as placas.
atividades extraclasses, recreativas, culturais e sociais,
c) a pena, à visita, às placas.
que deixaram marcas indeléveis.
d) a pena, à vinícola, à Bodega Bousa, às placas.
Estes e tantos outros símbolos, objetos e acontecimen-
e) a pena, à Bodega Bousa, as placas. tos passados desfilam hoje, deliciosa e inexoravelmen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: te distantes, em meio a saudosos devaneios.
Ainda como alunos do Colégio Naval, os contatos preli-
LAIVOS DE MEMÓRIA minares com a vida de bordo e as primeiras idas para o
“... e quando tiverem chegado, vitoriosamente, mar – a razão de ser da carreira naval.
ao fim dessa primeira etapa, Como Aspirantes, derrotas mais longas e as primeiras
mais ainda se convencerão de que descobertas: Santos, Salvador, Recife e Fortaleza!
abraçaram uma carreira difícil, Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o tão sonha-
árdua, cheia de sacrifícios, do embarque no Navio-Escola. Viagem maravilhosa!
mas útil, nobre e, sobretudo bela.” Nós, da Turma Míguens, Guardas-Marinha de 1967, ti-
(NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964) vemos a oportunidade ímpar e rara de participar de um
cruzeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta Circum-
Há quase 50 anos, experimentei um misto de angústia, -navegação da Marinha Brasileira.
tristeza e ansiedade que meu jovem coração de adoles- Após o regresso, as platinas de Segundo-Tenente, o pri-
cente soube suportar com bravura. meiro embarque efetivo e o verdadeiro início da vida
Naquela ocasião, despedia-me dos amigos de infância e profissional – no meu caso, a bordo do cruzador Taman-
da família e deixava para trás bucólica cidadezinha da daré, o inesquecível C-12. Era a inevitável separação da
região serrana fluminense. A motivação que me levava Turma do CN-62/63 e da EM-64/67.
a abandonar gentes e coisas tão caras era, naquele mo- Novamente um misto de satisfação e ansiedade tomou
mento, suficientemente forte para respaldar a decisão conta do coração, agora do jovem Tenente, ao se apre-
tomada de dar novos rumos à minha vida. Meu mundo sentar para servir a bordo de um navio de nossa Esqua-
de então se tornara pequeno demais para as minhas dra. Após proveitosos, mas descontraídos estágios de
aspirações. Meus desejos e sonhos projetavam horizon- instrução como Aspirante e Guarda-Marinha, quando as
tes que iam muito além das montanhas que circundam responsabilidades eram restritas a compromissos curri-
minha terra natal. culares, as platinas de Oficial começariam, finalmente, a
Como resistir à sedução e ao fascínio que a vida no mar pesar forte em nossos ombros. Sobre essa transição do
desperta nos corações dos jovens? status de Guarda-Marinha para Tenente, o notável es-
Havia, portanto, uma convicção: aquelas despedidas, critor-marinheiro Gastão Penalva escrevera com muita
ainda que dolorosas – e despedidas são sempre doloro- propriedade: “... é a fase inesquecível de nosso ofício.
sas – não seriam certamente em vão. Não tinha dúvidas Coincide exatamente com a adolescência, primavera
de que os sonhos que acalentavam meu coração pouco da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois começam a

78
despontar as responsabilidades, as agruras de novos sais relacionados a dengue, a chikungunya e ao zika.
cargos, o acúmulo de deveres novos”. b) Convém não confundir a habitação voltada a mo-
E esses novos cargos e deveres novos, que foram se radia própria, mesmo que irregular, com a ação de es-
multiplicando a bordo de velhos e saudosos navios, dei- peculadores, que, às vezes, invadem às áreas de pre-
xariam agradáveis e duradouras lembranças em nossa servação permanente e vendem até barracos prontos.
memória. Com o passar dos tempos, inúmeros Conveses c) Temos que aprender à punir com o voto todos os
e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se incorporando corruptores, da direita a esquerda, ano a ano, inde-
ao acervo profissional-afetivo de cada um dos integran- pendentemente da cor partidária.
tes daquela Turma de Guardas-Marinha de 1967. d) Rosamaria recebeu do Juizado Militar a opção da
Ah! Como é gratificante, ainda que melancólico, repas- liberdade vigiada e pôde sair da cadeia, embora a li-
sar tantas lembranças, tantos termos expressivos, tanta beração tivesse fortes limitações como proibição de
gíria maruja, tantas tradições, fainas e eventos tão in- deixar a cidade, de chegar a casa após as 22h e de
tensamente vividos a bordo de inesquecíveis e saudo- trabalhar.
sos navios...
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
E as viagens foram se multiplicando ao longo de bem
aproveitados anos de embarque, de centenas de dias NO AEROPORTO
de mar e de milhares de milhas navegadas em alto mar,
singrando as extensas massas líquidas que formam os Viajou meu amigo Pedro. Fui levá-lo ao Galeão, onde
grandes oceanos, ou ao longo das águas costeiras que esperamos três horas o seu quadrimotor. Durante esse
banham os recortados litorais, com passagens, visitas e tempo, 1não faltou assunto para nos entretermos, em-
arribadas em um sem-número de enseadas, baías, bar- bora não falássemos da vã e numerosa matéria atual.
ras, angras, estreitos, furos e canais espalhados pelos Sempre tivemos muito assunto, e não deixamos de
quatro cantos do mundo, percorridos nem sempre com explorá-lo a fundo. Embora Pedro seja extremamente
mares bonançosos e ventos tranquilos e favoráveis. parco de palavras, e, a bem dizer, não se digne de pro-
Inúmeros foram também os portos e cidades visitadas, nunciar nenhuma. Quando muito, emite sílabas; o mais
não só no Brasil como no exterior, o que sempre nos é conversa de gestos e expressões pelos quais se faz
proporciona inestimáveis e valiosos conhecimentos, entender admiravelmente. É o seu sistema.
principalmente graças ao contato com povos diferentes Passou dois meses e meio em nossa casa, e foi hóspede
e até mesmo de culturas exóticas e hábitos às vezes ameno. Sorria para os moradores, com ou sem motivo
totalmente diversos dos nossos, como os ribeirinhos plausível. Era a sua arma, não direi secreta, porque os-
amazonenses ou os criadores de serpentes da antiga tensiva. A vista da pessoa humana lhe dá prazer. Seu
Taprobana, ex-Ceilão e hoje Sri Lanka. sorriso foi logo considerado sorriso especial, revelador
Como foi fascinante e delicioso navegar por todos es- de suas boas intenções para com o mundo ocidental e
ses cantos. Cada novo mar percorrido, cada nova ense- oriental, e em particular o nosso trecho de rua. Fornece-
ada, estreito ou porto visitado tinha sempre um gosto dores, vizinhos e desconhecidos, gratificados com esse
especial de descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara sorriso (encantador, apesar da falta de dentes), abonam
Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das quilhas a classificação.
que o atravessam. Cada marinheiro tem a ilusão cordial Devo dizer que Pedro, como visitante, nos deu trabalho;
do descobrimento”. tinha horários especiais, comidas especiais, roupas es-
(CÉSAR, CMG (RM1) William Carmo. Laivos de memória. In: Revista peciais, sabonetes especiais, criados especiais. Mas sua
de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50. Texto adaptado) simples presença e seu sorriso compensariam providên-
cias e privilégios maiores.
2. (Esc. Naval) Assinale a opção em que o uso do acento Recebia tudo com naturalidade, sabendo-se merece-
grave, indicativo de crase, é facultativo. dor das distinções, e ninguém se lembraria de achá-lo
a) “[...] novos rumos à minha vida.” (2º parágrafo) egoísta ou importuno. Suas horas de sono – e lhe apraz
b) “[...] resistir à sedução e ao fascínio [...].” (3º pa- dormir não só 2à noite como principalmente de dia –
rágrafo) eram respeitadas como ritos sagrados, a ponto de não
c) “[...] às nossas caras famílias de origem [...].” (6º ousarmos erguer a voz para não acordá-lo. Acordaria
parágrafo) sorrindo, como de costume, e não se zangaria com a
d) “[...] às respectivas cidades de nascimento [...].” gente, porém nós mesmos é que não nos perdoaríamos
(6º parágrafo) o corte de seus sonhos.
e) “[...] às vezes totalmente diversos [...].” (17º pa- Assim, por conta de Pedro, deixamos de ouvir muito
rágrafo) concerto para violino e orquestra, de Bach, mas também
nossos olhos e ouvidos se forraram à tortura da tevê.
3. (Acafe) Assinale a alternativa correta quanto ao acen- Andando na ponta dos pés, ou descalços, levamos trope-
to indicador de crase. ções no escuro, mas sendo por amor de Pedro não tinha
a) Em tempos de doenças transmitidas à seres huma- importância.
nos pelo mosquito Aedes aegypti, médicos de todo o Objetos que visse em nossa mão, requisitava-os. Gos-
país dirigem-se à Curitiba para estudar temas transver- ta de óculos alheios (e não os usa), relógios de pulso,

79
copos, xícaras e vidros em geral, artigos de escritório, Seu sentido de inovação tanto em temas como em ma-
botões simples ou de punho. Não é colecionador; gosta teriais que elege é sempre de uma sensação extraordi-
das coisas para pegá-las, mirá-las e (é seu costume ou nária para o espectador.
sua mania, que se há de fazer) pô-las na boca. Quem Juan Diego sensibiliza-se com os materiais que nos ro-
não o conhecer dirá que é péssimo costume, porém du- deam e lhes da vida com uma naturalidade impressio-
vido que mantenha este juízo diante de Pedro, de seu nante, encontrando liberdade para buscar elementos
sorriso sem malícia e de suas pupilas azuis — porque no fauvismo de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi-
me esquecia de dizer que tem olhos azuis, cor que afas- casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma arte que
ta qualquer suspeita ou acusação apressada, sobre a está reservada para poucos.
razão íntima de seus atos. Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h.
Poderia acusá-lo de incontinência, porque não sabia
distinguir entre os cômodos, e o que lhe ocorria fazer, 1. (FGV) Comente o emprego do sinal indicativo de cra-
fazia em qualquer parte? Zangar-me com ele porque se no trecho - Exposição: de 03 de agosto à 02 de se-
destruiu a lâmpada do escritório? Não. Jamais me vol- tembro das 10 às 19h.
tei para Pedro que ele não me sorrisse; tivesse eu um
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
impulso de irritação, e me sentiria desarmado com a
sua azul maneira de olhar-me. Eu sabia que essas coi- MEU AMIGO MARCOS
sas eram indiferentes à nossa amizade — e, até, que a O generoso e divertido companheiro de crônicas
nossa amizade lhe conferia caráter necessário de prova;
Conheci Marcos Rey há mais de vinte anos, quando so-
ou gratuito, de poesia e jogo. Viajou meu amigo Pedro.
nhava tornar-me escritor. Certa vez confessei esse dese-
Fico refletindo na falta que faz um amigo de um ano de
jo à atriz Célia Helena, que deixou sua marca no teatro
idade a seu companheiro já vivido e puído. De repente
paulista. Tempos depois, ela me convidou para tentar
o aeroporto ficou vazio.
adaptar um livro para teatro. Era O RAPTO DO GAROTO
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. DE OURO, de Marcos. Passei noites me torturando sobre
Reprod. Em: Poesia completa e prosa. as teclas. Célia marcou um encontro entre mim e ele, pois
Rio de Janeiro: José Aguilar, 1973. p.1107-1108.
a montagem dependia da aprovação do autor. Quando
4. (IFCE) Na referência 2, a expressão “à noite” é cra- adolescente, eu ficara fascinado com MEMÓRIAS DE UM
seada por ser uma locução adverbial formada por uma GIGOLÔ, seu livro mais conhecido. Nunca tinha visto um
escritor de perto. Imaginava uma figura pomposa, em
palavra feminina. O uso do acento indicativo de crase
cima de um pedestal. Meu coração quase saiu pela boca
está incorreto em:
quando apertei a campainha. Fui recebido por Palma, sua
a) O homem de meia-idade usava sapatos à Luís XV. mulher. Um homem gordinho e simpático entrou na sala.
b) Acordei às sete horas da manhã. Na época, já sofria de uma doença que lhe dificultava
c) Meu irmão veio ontem à Fortaleza. o movimento das mãos e dos pés. Cumprimentou-me.
d) Estou me referindo àquele atentado que ocorreu Sorriu. Estava tão nervoso que nem consegui dizer "bo-
no Oriente Médio. a-tarde". Gaguejei. Mas ele me tratou com o respeito
que se dedica a um colega. Propôs mudanças no texto.
e) A minha revolta é ligada à do meu país.
Orientou-me. Principalmente, acreditou em mim. A peça
5. (Col. Naval) Assinale a opção INCORRETA no que se re- permaneceu em cartaz dois anos. Muito do que sou hoje
fere ao emprego do acento grave. devo ao carinho com que me recebeu naquele dia.
(WALCYR CARRASCO, PÁG. 98 - VEJA SP, 14 DE ABRIL, 1999.)
a) Sempre que os pais atribuem à escola muitas res-
ponsabilidades, algo está errado. 2. (FGV) Certa vez confessei esse desejo à atriz Célia
b) Ensinar à distância é uma tarefa árdua, mas bas- Helena...
tante desafiadora para todos nós. Justifique o uso do sinal de crase em à, nesse trecho.
c) Por motivos óbvios, todos sabem que as redações
devem, sempre, ser redigidas à mão. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
d) Cabe à sociedade auxiliar na construção da cida-
Havia já quatro anos que Eugênio se achava no semi-
dania de crianças e de jovens, em qualquer tempo.
nário sem visitar sua família. Seu pai já por vezes tinha
e) Se a escola entrega à população uma educação de escrito aos padres pedindo-lhes que permitissem que
qualidade, jovens e crianças têm um futuro promissor. o menino viesse passar as férias em casa. Estes porém,
já de posse dos segredos da consciência de Eugênio,

E.O. Dissertativo receando que as seduções do mundo o arredassem do


santo propósito em que ia tão bem encaminhado, opu-
seram-se formalmente, e responderam-lhe, fazendo ver
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
que aquela interrupção na idade em que se achava o
O artista Juan Diego Miguel apresenta a exposição menino era extremamente perigosa, e podia ter pés-
Arte e Sensibilidade, no Museu Brasileiro da Escultura simas consequências, desviando-o para sempre de sua
(MUBE) de suas obras que acabam de chegar no país. natural vocação.

80
Uma ausência, porém de quatro anos já era excessiva Ali dentro animava o pensamento,
para um coração de mãe, e a de Eugênio, principalmen- Esta fronte era bela. Aqui nas faces
te depois que seu filho andava mofino e adoentado, Formosa palidez cobria o rosto;
não pôde mais por modo nenhum conformar-se com a Nessas órbitas — ocas, denegridas! —
vontade dos padres. Estes portanto, muito de seu mau Como era puro seu olhar sombrio!
grado, não tiveram remédio senão deixá-lo partir.
Agora tudo é cinza. Resta apenas
(Bernardo Guimarães. O Seminarista, 1995)
A caveira que a alma em si guardava,
3. (FGV) Observe as reescritas do texto e responda con- Como a concha no mar encerra a pérola,
forme solicitado entre parênteses. Como a caçoula a mirra incandescente.
a) Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pedin-
Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;
do-lhes à permissão para que o menino viesse passar
Por que repugnas levantá-la agora?
as férias em casa. / ... opuseram-se formalmente à
Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!
ideia, e responderam de forma negativa inicialmente.
Quanta vida ali dentro fermentava,
(Justifique se os usos do acento indicativo da crase
Como a seiva nos ramos do arvoredo!
estão ou não de acordo com a norma-padrão.)
E a sede em fogo das ideias vivas
b) Para um coração de mãe porém uma ausência de
Onde está? onde foi? Essa alma errante
quatro anos já era excessiva... (Pontue o texto e justi-
Que um dia no viver passou cantando,
fique a pontuação realizada.)
Como canta na treva um vagabundo,
4. (FGV) Considere as frases: Perdeu-se acaso no sombrio vento,
Como noturna lâmpada apagou-se?
I. "O rapaz estava chateado, pois chegou à moça e disse
que não era mais possível continuar o namoro". E a centelha da vida, o eletrismo
Que as fibras tremulantes agitava
II. "O rapaz estava chateado, pois chegou a moça e dis- Morreu para animar futuras vidas?
se que não era mais possível continuar o namoro".
a) Que interpretação se pode dar a cada uma das Sorris? eu sou um louco. As utopias,
frases, levando em conta as expressões "à moça" e Os sonhos da ciência nada valem.
"a moça"? A vida é um escárnio sem sentido,
b) Do ponto de vista sintático, qual a função que exer- Comédia infame que ensanguenta o lodo.
cem as expressões "à moça" e "a moça"? Há talvez um segredo que ela esconde;
Mas esse a morte o sabe e o não revela.
5. (UFF) Os túmulos são mudos como o vácuo.
Desde a primeira dor sobre um cadáver,
Quando a primeira mãe entre soluços
Do filho morto os membros apertava
Ao ofegante seio, o peito humano
Caiu tremendo interrogando o túmulo...
E a terra sepulcral não respondia.
A prática da gramática não deve estar desvinculada da
percepção das diferenças na produção de sentido, en- (Poesias completas, 1962.)
caminhadas pela língua no processo de comunicação.
1. (Unesp) [...] e aspiram à vida isenta de compromissos
Explique as diferentes regências do verbo "combater" com valores do passado.
e as decorrentes produções de sentido no contexto em
Na frase apresentada, a colocação do acento grave so-
que se inserem:
bre o “a” informa que:
"Combateremos a sombra. Com crase e sem crase."
a) o “a” deve ser pronunciado com alongamento, já
que se trata de dois vocábulos, um pronome átono e

E.O. Objetivas uma preposição, representados por uma só letra.


b) o “a”, por ser pronome átono, deve ser sempre co-
locado após o verbo, em ênclise, e pronunciado como
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) um monossílabo tônico.
A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base um frag- c) o verbo “aspirar”, na regência em que é empre-
mento de Glória moribunda, do poeta romântico brasi- gado, solicita a preposição “a”, que se funde com o
leiro Álvares de Azevedo (1831-1852). artigo feminino “a”, caracterizando uma ocorrência
de crase.
É uma visão medonha uma caveira? d) o “a”, como artigo definido, é um monossílabo
Não tremas de pavor, ergue-a do lodo. átono, e o acento grave tem a finalidade de sinalizar
Foi a cabeça ardente de um poeta, ao leitor essa atonicidade.
Outrora à sombra dos cabelos loiros. e) o termo “de compromissos com valores do passa-
Quando o reflexo do viver fogoso do” exerce a função de adjunto adverbial de “isenta”.

81
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: b) Enquanto Cuba monopolizava as atenções de um
clube, do qual nem sequer pediu para integrar, a situ-
Leia esta notícia científica:
ação dos outros países passou despercebida.
Há 1,5 milhão de anos, ancestrais do homem moderno c) Em busca da realização pessoal, profissionais esco-
deixaram pegadas quando atravessaram um campo la- lhem a dedo aonde trabalhar, priorizando à empresas
macento nas proximidades do Ileret, no norte do Quê- com atuação social.
nia. Uma equipe internacional de pesquisadores desco-
d) Uma família de sem-teto descobriu um sofá dei-
briu essas marcas recentemente e mostrou que elas são
xado por um morador não muito consciente com a
muito parecidas com as do “Homo sapiens”: o arco do
pé é alongado, os dedos são curtos, arqueados e alinha- limpeza da cidade.
dos. Também, o tamanho, a profundidade das pegadas e) O roteiro do filme oferece uma versão de como
e o espaçamento entre elas refletem a altura, o peso e conseguimos um dia preferir a estrada à casa, a pai-
o modo de caminhar atual. Anteriormente, houve outras xão e o sonho à regra, a aventura à repetição.
descobertas arqueológicas, como, por exemplo, as feitas
na Tanzânia, em 1978, que revelaram pegadas de 3,7 mi- 5. (Unifesp)
lhões de anos, mas com uma anatomia semelhante à de
macacos. Os pesquisadores acreditam que as marcas re-
cém-descobertas pertenceram ao “Homo erectus”.
Revista FAPESP, nº 157, março de 2009. Adaptado.

2. (Fuvest) No trecho “semelhante à de macacos”, fica


subentendida uma palavra já empregada na mesma
frase. Um recurso linguístico desse tipo também está
presente no trecho assinalado em:
a) A água não é somente herança de nossos prede-
cessores; ela é, sobretudo, um empréstimo às futuras
gerações.
b) Recorrer à exploração da miséria humana, infe-
lizmente, está longe de ser um novo ingrediente no
cardápio da tevê aberta à moda brasileira.
c) Ainda há quem julgue que os recursos que a na-
tureza oferece à humanidade são, de certo modo,
inesgotáveis.
d) A prática do patrimonialismo acaba nos levando à
cultura da tolerância à corrupção.
e) Já está provado que a concentração de poluentes
em área para não fumantes é muito superior à reco-
mendada pela OMS.

3. (Fuvest) A frase em que todos os vocábulos destaca-


dos estão corretamente empregados é: (Bill Watterson. O mundo é mágico: as aventuras
de Calvin & Haroldo. 2007. Adaptado.)
a) Descobriu-se, HÁ instantes, a verdadeira razão POR
QUE a criança se recusava À frequentar a escola. Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti-
b) Não se sabe, de fato, PORQUÊ o engenheiro pre- vamente, as lacunas da tira.
feriu destruir o pátio A adaptá-lo as novas normas.
a) Por que – à – a – porquê.
c) Disse-nos, já A várias semanas, que explicaria o POR-
QUE da decisão tomada ÀS pressas naquela reunião. b) Porquê – a – a – por que.
d) Chegava tarde, PORQUE precisava percorrer A pé c) Por que – à – à – porque.
uma distância de dois À três quilômetros. d) Por quê – à – à – porque.
e) Não prestou contas À associação de moradores, e) Por quê – a – a – porque.
não compareceu À audiência e até hoje não disse
POR QUÊ.

4. (Fuvest) A única frase que NÃO apresenta desvio em


Gabarito
relação à regência (nominal e verbal) recomendada
pela norma culta é: E.O. Aprendizagem
a) O governador insistia em afirmar que o assunto 1. B 2. B 3. A 4. E 5. C
principal seria "as grandes questões nacionais", com
o que discordavam líderes pefelistas. 6. D 7. D 8. E 9. E 10. B

82
E.O. Fixação 5. As regências do verbo "combater" como transitivo direto e
intransitivo, respectivamente, passam a ideia de:
1. A 2. B 3. A 4. A 5. E a) A "sombra" representa o termo passivo (objeto
6. D 7. B 8. D 9. B 10. D direto), ou seja, aquilo que será combatido – não ha-
verá crase.
b) A "sombra" representa o modo como será com-
E.O. Complementar batido, portanto tem função de adjunto adverbial de
1. D 2. A 3. D 4. C 5. B modo – haverá crase.

E.O. Dissertativo E.O. Objetivas


1. Em: "de 03 de agosto à 02 de setembro", indicativa de datas, (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
está pressuposta a palavra "dia", que é masculina e, portanto,
não será precedida do artigo "a". Não ocorre, pois, crase e por 1. C 2. E 3. E 4. E 5. D
consequência não se emprega o sinal indicativo de sua ocorrência.
Já na segunda parte do enunciado, na expressão de horas (das 10
às 19h), a palavra "horas" é feminina, e o artigo que a precede
está presente antes da primeira indicação (das= de+as) e também
antes da segunda indicação (às= a+as).
O emprego do sinal indicativo de crase é inadequado na primeira
ocorrência, na indicação do dia, e é adequado na segunda, na
indicação de horas.
2. O acento grave justifica-se, pois o verbo CONFESSAR exige a
preposição a; e o artigo a, que acompanha o substantivo ATRIZ.
3.
a) Em “Seu pai já por vezes tinha escrito aos padres pe-
dindo-lhes à permissão para que o menino viesse passar
as férias em casa”, o uso do acento indicativo de crase
não está de acordo com a norma-padrão, uma vez que
o verbo “pedir”, em tal ocorrência, apresenta bitransiti-
vidade: seu objeto indireto é o pronome oblíquo “lhes”,
em referência a “aos padres”, e o objeto direto é “a
permissão”. Desse modo, não há acento indicativo de
crase, posto ocorrer apenas artigo antes do substantivo
“permissão”; o correto é “pedindo-lhes a permissão”.
Em “... opuseram-se formalmente à ideia, e responderam
de forma negativa inicialmente.”, o emprego do acento
indicativo de crase está de acordo com a norma-padrão,
uma vez que o verbo “opor-se” é transitivo indireto, cujo
termo regido apresenta preposição “a”; considerando
que o núcleo do objeto indireto é um substantivo femi-
nino acompanhado por artigo, há ocorrência de acento
indicativo de crase: “opuseram-se (...) à ideia”.
b) O texto pontuado é “Para um coração de mãe, porém,
uma ausência de quatro anos já era excessiva...”. A pri-
meira vírgula é justificada pela inversão dos termos da
oração: o complemento nominal “para um coração de
mãe” antecede o sujeito e o predicado; já a segunda vír-
gula é justificada pelo emprego da conjunção “porém”,
coordenada adversativa, que requer tal pontuação logo
em seguida a ela.
4.
a) Da primeira frase, entende-se que o autor da de-
claração foi o rapaz, da segunda, entende-se que foi
a moça a autora da declaração.
b) Na primeira frase, "à moça" funciona como adjun-
to adverbial do verbo "chegou", indicando a quem se
dirigia o rapaz. Na segunda, "a moça" tem a função
de sujeito do mesmo verbo.

83
LITERATURA
5e6
AULAS 35 E 36
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 15, 16 e 17

MODERNISMO NO BRASIL: 2ª FASE – PROSA

E.O. Aprendizagem vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha,


estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe
uma ninharia.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o
gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio apa-
Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. lavrada e foi consultar a mulher. Sinhá Vitória mandou os
Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concen-
quentura da terra. Montado, confundia-se com o cava- trou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies,
lo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano
monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as
operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam
Graciliano Ramos, Vidas secas das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual:
a diferença era proveniente de juros.
1. No texto, a descrição do personagem Fabiano aponta
para as seguintes características, EXCETO: Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto,
sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a
a) adaptação do personagem ao meio natural. mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel
b) identificação com o animal. do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
c) caráter antissocial. estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando
d) comportamento primitivo e espontâneo. o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
e) revolta devido a sua condição familiar. Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. que, o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
As questões a seguir tomam por base uma passagem Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
do romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ra- Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à
mos (1892–1953). toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atre-
vimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia
TRECHO I lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor,
mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da
Contas mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher.
Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas
e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e ape- pedia desculpa e jurava não cair noutra.
nas se limitava a semear na vazante uns punhados de
Graciliano Ramos. Vidas secas.
feijão e milho, comia da feira, desfazia–se dos animais, São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.)
não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de
um cabrito. TRECHO II
Se pudesse economizar durante alguns meses, levanta-
Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chega-
ria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não
ra naquele estado, com a família morrendo de fome,
se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de
comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a
o produto das sortes.
mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha es-
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando es- cura, pareciam ratos — e a lembrança dos sofrimentos
pichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia
passados esmorecera.
em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de
rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom ponta, esgaravatou as unhas sujas. Tirou do aió um pe-
pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, ver- daço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de mi-
melho, o pescoço inchando. De repente estourava: lho, acendeu-o ao binga, pôs-se a fumar regalado.
– Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode — Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bi- certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando
chos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para

86
bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado c) “Tirei mandioca de chãs
em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha que o vento vive a esfolar
os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia e de outras escalavradas
em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, pela seca faca solar”
encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
(João Cabral de Melo Neto, em “MORTE E VIDA SEVERINA”)
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, al-
guém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, d) “Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando
murmurando: de retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão da
vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele velho
— Você é um bicho, Fabiano.
juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria a copa
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um hospitaleira na desolação cor de cinza da paisagem “
bicho, capaz de vencer dificuldades.
(Rachel de Queiroz, em “O QUINZE”)
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte,
até gordo, fumando o seu cigarro de palha. e)“Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco (...)
— Um bicho, Fabiano.
Este açúcar era cana
(Graciliano Ramos, VIDAS SECAS. Rio de Janeiro,
Martins Editora, 1960, p. 20-21) e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
2. (Cesgranrio) Toda época literária mantém um diálogo no regaço do vale.”
com fases anteriores, tanto em relação à escolha temá-
(Ferreira Gullar em “O AÇÚCAR”)
tica quanto em relação ao aproveitamento de recursos
formais. Qual a observação INCORRETA na relação entre 4. Escrito por Graciliano Ramos em 1938, “Vidas Secas”
os estilos de época? é uma obra-prima do modernismo e mesmo de toda
a) A poesia da década de 1930 filia-se à experiência a literatura brasileira. Trata-se de narrativa pungente,
do Parnasianismo. onde o drama do nordestino, tangido de seu lar pela
b) O romance de 30 aprofunda a perspectiva do Realismo. inclemência da seca, é contado de forma árida, seca e
bastante realista, numa sintonia bastante eficaz entre
c) A poesia concreta valoriza os processos lúdicos do
forma e conteúdo.
Barroco.
O texto a seguir é um excerto de “Vidas Secas”:
d) O Modernismo de 22 redimensiona a preocupação
nacionalista do Romantismo. “Olhou a catinga amarela, que o poente avermelhava.
e) A poesia de 45 rompe com a liberdade formal do Se a seca chegasse, não ficaria planta verde. Arrepiou-
Modernismo. -se. Chegaria, naturalmente. Sempre tinha sido assim,
desde que ele se entendera. E antes de se entender,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO antes de nascer, sucedera o mesmo – anos bons mistu-
rados com anos ruins. A desgraça estava em caminho,
“Além do horizonte, deve ter talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele
Algum lugar bonito para viver em paz marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando
Onde eu possa encontrar a natureza seixos com as alpercatas – ela se avizinhando a galope,
Alegria e felicidade com certeza. com vontade de matá-lo.”
Lá nesse lugar o amanhecer é lindo RAMOS, Graciliano. “Vidas Secas”.
com flores festejando mais um dia que vem vindo São Paulo: Martins. s/d. 28a ed., p. 59.
Onde a gente possa se deitar no campo Assinale a afirmativa que indica uma característica do
Se amar na selva, escutando o canto dos pássaros.” modernismo e do estilo do autor, tomando por base a
Roberto e Erasmo Carlos estão falando de um lugar leitura do texto.
ideal, de um ambiente campestre, calmo. a) Há um extremo apuro formal, onde se destacam as
3. (UFPE) Nos poemas, contos e romances cuja temática metáforas, sobretudo as hipérboles, em absoluta conso-
é nordestina, a literatura moderna apresenta a NATU- nância com a prolixidade do texto.
REZA quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos frag- b) O estilo direto do texto está sintonizado com a nar-
mentos não justifica esta afirmação? rativa, que descreve uma cena de grande movimenta-
a) “Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, fica- ção e presença de personagens.
riam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente c) O texto é seco e direto, confrontando um cenário de
para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, exuberância natural com um personagem tímido, reser-
brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos.” vado e de poucas ambições.
(Graciliano Ramos, em “VIDAS SECAS”). d) O texto é direto, econômico, interessa mais a angús-
tia interior dos personagens do que seus próprios atos.
b) “Há uma miséria maior do que morrer de fome no
deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã.” e) A fatalidade da situação é explorada ao limite má-
ximo, com a natureza pactuando com as angústias do
(José Américo de Almeida, em “A BAGACEIRA”)
personagem, mas, ao final, subjugando–se.

87
5. Ficou conhecido como “Geração de 30”, na prosa mo- c) O romance focou o regionalismo, principalmente o
dernista, um grupo de escritores que refletiu a problemá- nordestino, onde problemas como a seca, a migração,
tica político–social do Brasil da época. os problemas do trabalhador rural, a miséria, a igno-
rância foram ressaltados. Além do regionalismo, desta-
Não faz parte de tal geração:
caram-se também outras temáticas; surgiu o romance
a) Graciliano Ramos. urbano e psicológico, o romance poético-metafísico e a
b) José Lins do Rego. narrativa surrealista.
c) Jorge Amado. d) As características comuns às obras literárias brasileiras
d) João Guimarães Rosa. desse período são: a ruptura com a linguagem pomposa
parnasiana; a exposição da realidade social brasileira; o
e) Rachel de Queiroz.
regionalismo; a marginalidade exposta nas personagens
6. (ITA) Sobre o romance Capitães de areia, de Jorge e associação aos fatos políticos, econômicos e sociais.
Amado, é incorreto afirmar que: 2. (PUC-RS) A única alternativa que apresenta duas
a) se trata de um livro cuja personagem central é co- obras de Graciliano Ramos é:
letiva, um grupo de meninos de rua, e isso o aproxima a) Menino do engenho – Angústia.
de O cortiço. b) O quinze – Fogo morto.
b) as principais personagens masculinas são Pedro c) Infância – A bagaceira.
Bala, Sem Pernas, Volta Seca, Pirulito e Professor, e a d) Memórias do Cárcere – Jubiabá.
figura feminina central é Dora. e) Vidas Secas – Caetés.
c) há uma certa herança naturalista, visível na precoce
e promíscua vida sexual dos adolescentes. 3. (UCS) A seca é metáfora recorrente na literatura, es-
pecialmente no segundo período modernista. Assinale
d) os vestígios românticos aparecem em algumas ce-
a alternativa correta em relação às obras que apresen-
nas de jogos e brincadeiras infantis e na caracteriza- tam cenas que caracterizam a brutal realidade dos reti-
ção de Dora. rantes nordestinos.
e) todos os meninos acabam encontrando um bom a) O Quinze, de Raquel de Queirós; Vidas Secas, de
rumo na vida, apesar das dificuldades. Graciliano Ramos
b) Menino de Engenho, de José Lins do Rego; Grande

E.O. Fixação
Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
c) A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade;
Os Sertões, de Euclides da Cunha.
1. (Acafe) Considerando o contexto histórico descrito d) Um Lugar ao Sol, de Erico Verissimo; A Legião Es-
no texto a seguir, assinale a alternativa CORRETA quan- trangeira, de Clarice Lispector.
to à produção literária no Brasil. e) Capitães da Areia, de Jorge Amado; Urupês, de
“Na Europa, a segunda Revolução Industrial promove- Monteiro Lobato.
ra modificações profundas. Inovações tecnológicas de- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
senvolveram a produção em massa de bens diversos.
Sinhá Vitória
As cidades cresceram muito (em detrimento do cam-
po), e formou-se um proletariado que logo começou Sinhá Vitória tinha amanhecido nos seus azeites. Fora
a organizar-se politicamente. E, dentro desse contexto, de propósito, dissera ao marido umas inconveniências
as artes mudaram: a belle époque assiste a uma suces- a respeito da cama de varas. 1Fabiano, que não esperava
são de movimentos artísticos revolucionários.” semelhante desatino, apenas grunhira: – “Hum! hum!” E
amunhecara, porque realmente mulher é bicho difícil de en-
LAFETÁ, 1982, p. 99
tender, 4deitara-se na rede e pegara no sono. Sinhá Vitória
a) Na literatura rompeu–se com a tradição clássi- andara para cima e para baixo, procurando em que desaba-
ca, imposta pelo período árcade, e apresentaram-se far. Como achasse tudo em ordem, queixara-se da vida. 2E
novas concepções literárias, dentre as quais podem agora vingava-se em Baleia, dando-lhe um pontapé.
ser apontadas: a observação das condições do esta- Avizinhou-se da janela baixa da cozinha, viu os meni-
do de alma, das emoções, da liberdade, desabafos nos entretidos no barreiro, sujos de lama, fabricando
sentimentais, valorização do índio, a manifestação bois de barro, que secavam ao sol, sob o pé-de-turco,
do poder de Deus através da natureza acolhedora e 5não encontrou motivo para repreendê-los. Pensou
ao homem, a temática voltada para o amor, para a de novo na cama de varas e mentalmente xingou Fa-
saudade, o subjetivismo. biano. Dormiam naquilo, tinha-se acostumado, mas
b) Os escritores brasileiros abordaram a realidade sena mais agradável dormirem numa cama de lastro
social do país, destacando a vida nos cortiços, o pre- de couro, como outras pessoas.
conceito, a diferenciação social, entre outros temas. O 7
Fazia mais de um ano que falava nisso ao marido. 3Fa-
homem é encarado como produto biológico passando biano a princípio concordara com ela, mastigara cál-
a agir de acordo com seus instintos, chegando a ser culos, tudo errado. Tanto para o couro, tanto para a
comparado com os animais (zoomorfização). armação. Bem. Poderiam adquirir o móvel necessário

88
economizando na roupa e no querosene. 6Sinhá Vitória quando caio em mim estou mordendo os beiços a ponto
respondera que isso era impossível, porque eles ves- de tirar sangue.
tiam mal, as crianças andavam nuas, e recolhiam-se De longe em longe sento-me fatigado e escrevo uma
todos ao anoitecer. Para bem dizer, não se acendiam linha. Digo em voz baixa:
candeeiros na casa.
— Estraguei a minha vida, estraguei-a estupidamente.
RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro; A agitação diminui.
São Paulo: Record; Martins, 1975. p. 42–43.
— Estraguei a minha vida estupidamente.
4. (UFF) A partir do texto acima, identifique a alterna-
tiva que contém a característica correta em relação à TEXTO II
análise da obra de Graciliano Ramos e à sua inclusão na “... vou deitar ao papel as reminiscências que me vie-
ficção regionalista dos anos 30. rem vindo. Deste modo, viverei o que vivi.”
a) Valorização do espaço urbano e das relações de poder.
6. (Fatec) Com relação à linguagem, observamos no
b) Ênfase em aspectos pitorescos da paisagem nordestina.
texto de Graciliano Ramos que:
c) Utilização de linguagem predominantemente
metafórica. a) há alternância de períodos breves e longos com pre-
d) Atitude crítica e comprometida frente à realidade social. dominância da subordinação entre as orações; esse é
um recurso de que se vale o autor para expressar as
e) Opção preferencial por personagens pertencentes
relações de causa e consequência entre os fatos.
à classe dominante.
b) a linguagem próxima da oralidade (e por isso mes-
5. Considere os seguintes itens, nos quais, em passa- mo permeada de incorreções gramaticais) é respon-
gens extraídas do romance Vidas secas, de Graciliano sável por um estilo descuidado, característica da obra
Ramos, identifica–se o procedimento do narrador ao desse autor.
reproduzir as falas dos personagens. c) o emprego frequente do ponto final tem como
I. “Nesse ponto um soldado [...] bateu familiarmente resultado a quebra da sequência lógica; fraciona a
no ombro de Fabiano: – Como é camarada? Vamos jo- linguagem da mesma forma que é fracionada a reali-
gar um trinta-e-um lá dentro?” (discurso direto). dade que o autor quer retratar.
II. “Tinham deixado os caminhos, cheios de espinhos e d) o autor utiliza períodos breves, obtendo o máxi-
seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama mo de efeito com o mínimo de recursos; prefere usar
seca e rachada que escaldava os pés.” (discurso indireto). substantivos a adjetivos.
III. “Isso lhe dera uma impressão bastante penosa: e) na descrição do espaço e do tempo, o escritor se-
sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras leciona o máximo de detalhes a fim de retratar fiel-
difíceis, ele saia logrado.” (discurso direto). mente a realidade, aumentando, com esse recurso, a
sensação de veracidade.
IV. “Agora [Fabiano] queria entender–se com Sinhá
Vitoria a respeito da educação dos pequenos. E eles TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
estavam perguntadores, insuportáveis. Fabiano dava–
se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Naquele momento a ideia da prisão dava-me quase
Tinha? Não tinha.” (discurso indireto livre). prazer: via ali um princípio de liberdade. Eximira-me do
A identificação foi feita corretamente em: parecer, do ofício, da estampilha, dos horríveis cumpri-
mentos ao deputado e ao senador; iria escapar a outras
a) I e II.
maçadas, gotas espessas, amargas, corrosivas. Na ver-
b) I e IV. dade suponho que me revelei covarde e egoísta: várias
c) II e III. crianças exigiam sustento, a minha obrigação era per-
d) III e IV. manecer junto a elas, arranjar-lhes por qualquer meio
o indispensável. Desculpava-me afirmando que isto se
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. havia tornado impossível. Que diabo ia fazer, persegui-
TEXTO I do, a rolar de um canto para outro, em sustos, mudando
o nome, a barba longa, a reduzir-me, a endividar-me? Se
...encontro-me aqui em São Bernardo, escrevendo. a vida comum era ruim, essa que Luccarini me oferece-
As janelas estão fechadas. Meia-noite. Nenhum rumor ra num sussurro, a tremura e a humilhação constante,
na casa deserta. dava engulhos. Além disso eu estava curioso de saber
a arguição que armariam contra mim. Bebendo aguar-
Levanto-me, procuro uma vela, que a luz vai apagar-se.
dente, imaginava a cara de um juiz, entretinha-me num
Não tenho sono. Deitar-me, rolar no colchão até a ma-
longo diálogo, e saía-me perfeitamente, como sucede
drugada, é uma tortura. Prefiro ficar sentado, concluin-
em todas as conversas interiores que arquiteto. Uma
do isto. Amanhã não terei com que me entreter.
compensação: nas exteriores sempre me dou mal. Com
Ponho a vela no castiçal, risco um fósforo e acendo-a. franqueza, desejei que na acusação houvesse algum
Sinto um arrepio. A lembrança de Madalena persegue- fundamento. E não vejam nisso bazófia ou mentiras: na
-me. Diligencio afastá-la e caminho em redor da mesa. situação em que me achava justifica-se a insensatez. A
Aperto as mãos de tal forma que me firo com as unhas, e cadeia era o único lugar que me proporcionaria o mínimo

89
de tranquilidade necessária para corrigir o livro. O meu se deitou pedra na rua – um telegrama; porque o de-
protagonista se enleara nesta obsessão: escrever um putado F. esticou a canela – um telegrama.
romance além das grades úmidas pretas. Convenci-me Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
de que isto seria fácil: enquanto os homens de roupa
GRACILlANO RAMOS
zebrada compusessem botões de punho e caixinhas de
tartaruga, eu ficaria longas horas em silêncio, a consul- RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962.
tar dicionários, riscando linhas, metendo entrelinhas
nos papéis datilografados por dona Jeni. Deixar-me- O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na
-iam ficar até concluir a minha tarefa? Afinal a minha época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado
pretensão não era tão absurda como parece. Indivíduos ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o
tímidos, preguiçosos, inquietos, de vontade fraca habi- texto chama a atenção por contrariar a norma prevista
tuam-se ao cárcere. Eu, que não gosto de andar, nunca para esse gênero, pois o autor:
vejo a paisagem, passo horas fabricando miudezas, em- a) emprega sinais de pontuação em excesso.
brenhando-me em caraminholas, por que não haveria de b) recorre a termos e expressões em desuso no português.
acostumar-me também? c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para
(Graciliano Ramos, MEMÓRIAS DO CÁRCERE) conotar intimidade com o destinatário.
d) privilegia o uso de termos técnicos, para demons-
7. (Fatec) Considere as seguintes afirmações sobre a trar conhecimento especializado.
obra de Graciliano Ramos: e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com for-
I. Uma das características da ficção do Autor é a cons- te carga emocional.
trução do herói problemático, cujo traço marcante é
2. (Enem) A velha Totonha de quando em vez batia no
a não aceitação do mundo, nem dos outros, nem de
engenho. E era um acontecimento para a meninada...
si próprio.
Que talento ela possuía para contar as suas histórias,
II. O texto extraído de MEMÓRIAS DO CÁRCERE ilustra com um jeito admirável de falar em nome de todos os
a linguagem despojada de Graciliano Ramos, marcada personagens, sem nenhum dente na boca, e com uma
pela sintaxe clássica, de períodos curtos, como se en- voz que dava todos os tons às palavras!
contra, também, em VIDAS SECAS e em SÃO BERNARDO. Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e
III. A relação conflituosa do narrador com o meio fami- adivinhações. E muito da vida, com as suas maldades
liar e o social é o que distingue MEMÓRIAS DO CÁRCE- e as suas grandezas, a gente encontrava naqueles he-
RE (obra autobiográfica e histórica) de SÃO BERNARDO róis e naqueles intrigantes, que eram sempre castiga-
(obra de ficção). dos com mortes horríveis! O que fazia a velha Totonha
IV. O tom regionalista de Graciliano Ramos marca-se es- mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus des-
pecialmente em VIDAS SECAS, romance sobre a opres- critivos. Quando ela queria pintar um reino era como
são, tanto da natureza (que impõe os rigores da seca) se estivesse falando dum engenho fabuloso. Os rios e
quanto dos que detêm o poder. florestas por onde andavam os seus personagens se
pareciam muito com a Paraíba e a Mata do Rolo. O seu
Quanto a essas afirmações, devemos concluir que: Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco.
a) apenas a I, a II e a IV estão corretas.
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de
b) estão corretas a I, a II e a III, somente. Janeiro: José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).
c) estão corretas a I e a II, apenas.
d) somente a III e a IV estão corretas. Na construção da personagem "velha Totonha", é pos-
sível identificar traços que revelam marcas do processo
e) apenas a II e a III estão corretas.
de colonização e de civilização do país. Considerando o
texto acima, infere-se que a velha Totonha:

E.O. Enem a) tira o seu sustento da produção da literatura, apesar


de suas condições de vida e de trabalho, que denotam
1. (Enem) Exmº Sr. Governador: que ela enfrenta situação econômica muito adversa.
Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela b) compõe, em suas histórias, narrativas épicas e
Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928. realistas da história do país colonizado, livres da in-
fluência de temas e modelos não representativos da
[...]
realidade nacional.
ADMINISTRAÇÃO c) retrata, na constituição do espaço dos contos, a civili-
Relativamente à quantia orçada, os telegramas custa- zação urbana europeia em concomitância com a repre-
ram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro consi- sentação literária de engenhos, rios e florestas do Brasil.
derável. Não há vereda aberta pelos matutos que pre- d) aproxima-se, ao incluir elementos fabulosos nos contos,
feitura do interior não ponha no arame, proclamando do próprio romancista, o qual pretende retratar a realida-
que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas de brasileira de forma tão grandiosa quanto a europeia.
históricas ao Governo do Estado, que não precisa dis- e) imprime marcas da realidade local a suas narrativas,
so; todos os acontecimentos políticos são badalados. que têm como modelo e origem as fontes da literatura
Porque se derrubou a Bastilha – um telegrama; porque e da cultura europeia universalizada.

90
3. (Enem) A velha Totonha de quando em vez batia no 10
Outros permaneceram junto a mim, ou vão reapare-
engenho. E era um acontecimento para a meninada. (..) cendo ao cabo de longa ausência, alteram-se, comple-
andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, tam-se, avivam recordações meio confusas − e não vejo
como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noi- inconveniência em mostrá-los.
tes (..) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma (...)
memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos,
E aqui chego à última objeção que me impus. 13Não
intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. resguardei os apontamentos obtidos em largos dias
(..) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e e meses de observação: num momento de aperto fui
adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era obrigado a atirá-los na água. 6Certamente me irão fa-
a cor local que ela punha nos seus descritivos. (..) Os rios zer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase
e as florestas por onde andavam os seus personagens se me inclino a supor que foi bom privar-me desse ma-
pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu terial. 17Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consul-
Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. tá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com
(José Lins do Rego. Menino de engenho) rigor a hora exata de uma partida, 11quantas demora-
das tristezas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de
A cor local que a personagem velha Totonha colocava em bruma, a cor das folhas que tombavam das árvores,
suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem: num pátio branco, a forma dos montes verdes, tintos
de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas
a) "O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de
que significa isso? 15Essas coisas verdadeiras podem
Pernambuco". não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no
b) "Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e for- esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que
ca e adivinhações". valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se, cresce-
c) "Era uma grande artista para dramatizar. Tinha ram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las.
uma memória de prodigio". 7
Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Levianda-
d) "Andava léguas e léguas a pé, como uma edição de. (...)14Nesta reconstituição de fatos velhos, neste es-
viva das Mil e Uma Noites". miuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter no-
e) "Recitava contos inteiros em versos, intercalando peda- tado. 3Outros devem possuir lembranças diversas. Não
ços de prosa, como notas explicativas". as contesto, mas espero que não recusem as minhas:
4
conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão
de realidade. Formamos um grupo muito complexo,
E.O. UERJ que se desagregou. De repente nos surge a necessi-

Exame de Qualificação
dade urgente de recompô-lo. Define-se o ambiente,
as figuras se delineiam, vacilantes, ganham relevo, a
ação começa. 18Com esforço desesperado arrancamos
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: de cenas confusas alguns fragmentos. Dúvidas terríveis
nos assaltam. De que modo reagiram os caracteres em
Memórias do cárcere determinadas circunstâncias? O ato que nos ocorre,
nítido, irrecusável, terá sido realmente praticado? Não
1
Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, ca- será incongruência? Certo a vida é cheia de incongru-
sos passados há dez anos − e, antes de começar, digo ências, mas estaremos seguros de não nos havermos
os motivos por que silenciei e por que me decido. Não enganado? Nessas vacilações dolorosas, 12às vezes ne-
conservo notas: algumas que tomei foram inutilizadas, cessitamos confirmação, apelamos para reminiscências
e assim, 16com o decorrer do tempo, ia-me parecen- alheias, convencemo-nos de que a minúcia discrepante
do cada vez mais difícil, quase impossível, redigir esta não é ilusão. Difícil é sabermos a causa dela, 8desen-
narrativa. Além disso, julgando a matéria superior terrarmos pacientemente as condições que a deter-
às minhas forças, esperei que outros mais aptos se minaram. Como isso variava em excesso, era natural
ocupassem dela. Não vai aqui falsa modéstia, como que variássemos também, apresentássemos falhas. Fiz
adiante se verá. 2Também me afligiu a ideia de jogar o possível por entender aqueles homens, penetrar-lhes
no papel criaturas vivas, sem disfarces, com os nomes na alma, sentir as suas dores, admirar-lhes a relativa
que têm no registro civil. Repugnava-me deformá-las, grandeza, enxergar nos seus defeitos a sombra dos
9
dar-lhes pseudônimo, fazer do livro uma espécie de meus defeitos. Foram apenas bons propósitos: devo
romance; mas teria eu o direito de 5utilizá-las em his- ter-me revelado com frequência egoísta e mesquinho.
tória presumivelmente verdadeira? Que diriam elas se E esse desabrochar de sentimentos maus era a pior tor-
se vissem impressas, realizando atos esquecidos, repe- tura que nos podiam infligir naquele ano terrível.
tindo palavras contestáveis e obliteradas? GRACILIANO RAMOS
Memórias do cárcere. Rio de Janeiro: Record, 2002.
(...)
O receio de cometer indiscrição exibindo em público 1. (UERJ) As palavras classificadas como advérbios
pessoas que tiveram comigo convivência forçada já agregam noções diversas aos termos a que se ligam na
não me apoquenta. Muitos desses antigos companhei- frase, demarcando posições, relativizando ou reforçan-
ros distanciaram-se, apagaram-se. do sentidos, por exemplo.

91
O advérbio destacado é empregado para relativizar o 2
Comer e dormir como um porco! Como um porco! Le-
sentido da palavra a que se refere em: vantar-se cedo todas as manhãs e sair correndo, procu-
a) utilizá-las em história presumivelmente verdadeira? rando comida! 4E depois guardar comida para os filhos,
(ref.5) para os netos, para muitas gerações. Que estupidez! (...)
b) Certamente me irão fazer falta, (ref.6)
5
Coloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei
c) Afirmarei que sejam absolutamente exatas? (ref.7) bastante. Como lhes disse, 6fui guia de cego, vendedor
de doce e trabalhador alugado. Estou convencido de que
d) desenterrarmos pacientemente as condições que a
nenhum desses ofícios me daria os recursos intelectuais
determinaram. (ref.8)
necessários para engendrar esta narrativa. Magra, de
2. (UERJ) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste acordo, mas em momentos de otimismo suponho que há
esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter nela pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou,
notado. (ref.14) pois, superior a mestre Caetano e a outros semelhantes.
Considerando, porém, que os enfeites do meu espírito se
O uso do verbo “julgar”, no fragmento acima, promo-
reduzem a farrapos de conhecimentos apanhados sem
ve uma correção do que estava dito imediatamente escolha e mal cosidos, devo confessar que a superiorida-
antes. Essa correção é importante para o sentido geral de que me envaidece é bem mesquinha.
do texto porque:
(...)
a) questiona a validade de romancear fatos.
Quanto às vantagens restantes – casas, terras, móveis,
b) minimiza o problema de narrar a memória. semoventes, consideração de políticos, etc. – é preciso
c) valoriza a necessidade de resgatar a história. convir em que tudo está fora de mim.
d) enfatiza a dificuldade de reproduzir a realidade. 11
Julgo que me desnorteei numa errada.
3. (UERJ) Essas coisas verdadeiras podem não ser ve- GRACILIANO RAMOS
rossímeis. (ref.15) São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004.
Com a frase acima, o escritor lembra um princípio bá- 4. (UERJ) O personagem reclama de uma vida na qual
sico da literatura: a verossimilhança − isto é, a seme- se dedicou a ações que agora vê como negativas.
lhança com a verdade − é mais importante do que a Essas ações estão melhor descritas em:
verdade mesma. A melhor explicação para este prin-
a) Tentei debalde canalizar para termo razoável esta
cípio é a de que a invenção narrativa se mostra mais
prosa que se derrama como a chuva (ref. 3)
convincente se:
b) E depois guardar comida para os filhos, para os
a) parece contar uma história real. netos, para muitas gerações. (ref. 4)
b) quer mostrar seu caráter ficcional. c) Coloquei-me acima da minha classe, creio que me
c) busca apoiar-se em fatos conhecidos. elevei bastante. (ref. 5)
d) tenta desvelar as contradições sociais. d) fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador
alugado. (ref. 6)
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
5. (UERJ) Comer e dormir como um porco! Como um
7
De repente voltou-me a ideia de construir o livro. porco! (ref. 2)
(...) A repetição das palavras, neste contexto, constitui recur-
1
Desde então procuro descascar fatos, aqui sentado à so narrativo que revela um traço relativo ao personagem.
mesa da sala de jantar (...). Esse traço pode ser definido como:
Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem fim acor- a) carência.
dando lembranças. Outras vezes não me ajeito com b) desespero.
esta ocupação nova. c) inabilidade.
Anteontem e ontem, por exemplo, foram dias perdi- d) intolerância.
dos. 3Tentei debalde canalizar para termo razoável
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
esta prosa que se derrama como a chuva da serra, e
o que me apareceu foi um grande desgosto. 8Desgos-
NEM A ROSA, NEM O CRAVO
to e a vaga compreensão de muitas coisas que sinto.
9
Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo perfei- As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua
ta saúde. (...) Não tenho doença nenhuma. significação costumeira, como dizer das árvores e das
O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S. Pedro. flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das
10
Cinquenta anos perdidos, cinquenta anos gastos borboletas nas árvores, quando as crianças são assassi-
sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. nadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita
O resultado é que endureci, calejei, e não é um arra- beleza dos campos e das cidades, quando as bestas sol-
nhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá tas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?
dentro a sensibilidade embotada. Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coi-
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Consumir-se sas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães
uma pessoa a vida inteira sem saber para quê! danados destruíram os trigais e os povos morrem de

92
fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples texto, o sentido de:
e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu a) ameaça.
azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coi- b) alienação.
sas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instan- c) infelicidade.
tes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais
d) cumplicidade.
e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto.
(...) 1Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. (...) Não resguardei os apontamentos obtidos em largos
Como então encontrar palavras inocentes, doces pala- dias e meses de observação: num momento de aperto
vras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me irão
destas palavras, destas frases, elas me soam como uma fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável? Quase
traição neste momento. me inclino a supor que foi bom privar-me desse mate-
(...) rial. Se ele existisse, ver-me-ia propenso a consultá-lo
Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm a cada instante, mortificar-me-ia por dizer com rigor a
um significado neste momento. 2Houve um dia em que hora exata de uma partida, quantas demoradas triste-
eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vo- zas se aqueciam ao sol pálido, em manhã de bruma, a
cábulos, as frases mais trabalhadas. cor das folhas que tombavam das árvores, num pátio
3
Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdure so- branco, a forma dos montes verdes, tintos de luz, frases
bre o mundo. Só o ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, autênticas, gestos, gritos, gemidos. Mas que significa
um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e isso? Essas coisas verdadeiras podem não ser veros-
que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas símeis. E se esmoreceram, deixá-las no esquecimento:
palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo – valiam pouco, pelo menos imagino que valiam pouco.
desde o crepúsculo aos olhos da amada – sem que junto Outras, porém, conservaram-se, cresceram, associaram-
a ele vejamos o perigo que os cerca. -se, e é inevitável mencioná-las. Afirmarei que sejam
absolutamente exatas? Leviandade. (...) Nesta reconsti-
4
Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas
tuição de fatos velhos, neste esmiuçamento, exponho o
seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas be-
que notei, o que julgo ter notado. Outros devem possuir
las, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre
lembranças diversas. Não as contesto, mas espero que
toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a
não recusem as minhas: conjugam-se, completam-se e
pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos tam-
me dão hoje impressão de realidade. (...)
bém, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere.
eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não resta- Rio, São Paulo: Record, 1984.)
ria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã
saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje 8. (UERJ) O fragmento transcrito expressa uma reflexão
só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encon- do autor-narrador quanto à escrita de seu livro contan-
trarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatu- do a experiência que viveu como preso político, durante
ra. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás o Estado Novo.
uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles No que diz respeito às relações entre escrita literária e
que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, realidade, é possível depreender, da leitura do texto, a
contra esses restos de podridão que sonharam esmagar seguinte característica da literatura:
a poesia, o amor e a liberdade! a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais.
(AMADO, Jorge. Folha da Manhã, 22/04/1945.) b) representa uma conscientização do artista sobre
a realidade.
6. (UERJ) O enunciador do texto defende, como modo c) dispensa elementos da realidade social exterior à
de reação às crueldades referidas, a utilização das mes- arte literária.
mas armas dos agressores.
d) constitui uma interpretação de dados da realidade
O trecho em que essa ideia se apresenta mais cla- conhecida.
ramente é:
a) "Sobre toda a beleza paira a sombra da escravi- 9. (UERJ) Por causa da perda das anotações, relatada
dão." (ref. 1) pelo narrador, o texto é impregnado de dúvidas acerca
b) "Houve um dia em que eu falei do amor e encon- da exatidão do que será levantado no livro.
trei para ele os mais doces vocábulos," (ref. 2) O trecho que melhor representa um exemplo dessas
c) "Hoje só o ódio pode fazer com que o amor perdu- dúvidas é:
re sobre o mundo." (ref. 3) a) "Quase me inclino a supor que foi bom privar-me
d) "Jamais as tardes seriam doces e jamais as madru- desse material".
gadas seriam de esperança." (ref. 4) b) "Outras, porém, conservaram-se, cresceram, asso-
ciaram-se, e é inevitável mencioná-las".
7. (UERJ) O uso das palavras "rosa" e "cravo" é recusa-
c) "neste esmiuçamento, exponho o que notei, o que
do pelo enunciador do texto de Jorge Amado.
julgo ter notado".
Essa recusa ocorre, pois essas palavras assumem, no d) "Não as contesto, mas espero que não recusem
as minhas".

93
E.O. UERJ com a alegria de quem tivesse encontrado um roteiro
certo. Sonhara que meu avô estava doente e não pu-

Exame Discursivo dera aguentar o aperreio do sonho. E fugira. Achariam


graça e tudo se acabaria em alegria. Mas cadê cora-
gem para chegar? Já me distanciava pouco da minha
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: gente. O bueiro do Santa Rosa estava ali perto, com
a sua boca em diagonal. Subia fumaça da destilação.
O chefe da estação me olhou de cara feia, e me deu a
Com mais cinco minutos estaria lá. Era só atravessar
passagem e o troco. Bateu com a prata na mesa. Se fos-
o rio. Fiquei parado pensando. O rio dava água pelos
se falsa, estaria perdido. Guardei o cartão com ganância
joelhos. O gado do pastoreador passava para o outro
no bolso da calça. A estação se enchera. Um vendedor
lado. E cadê coragem para agir? E o tempo a se sumir.
de bilhete me ofereceu um. Não desconfiava de mim. O
E a tarde caindo. A casa-grande inteira brigaria comi-
chefe foi que me olhou com a cara fechada. Já se ouvia
go. No outro dia José Ludovina tomaria o trem para
o apito do trem. Cheguei para o lugar onde paravam
me levar. E o bolo, e os gritos de Seu Maciel. Vou, não
os carros de passageiros. E o barulho da máquina se
vou, como as cantigas dos sapos na lagoa.
aproximando. Estava com medo, com a impressão de
que chegasse uma pessoa para me prender. Ninguém Um trem de carga apitou na linha. Tirei os sapatos,
saberia. E o trem parado nos meus pés. Tomei o carro arregaçando as calças para a travessia. A porteira do
num banco do fim, meio escondido. O Padre Fileto me cercado batia forte no mourão2. E no silêncio da tarde,
viu. Tirava esmolas para a obra da igreja. tudo aumentava de voz. (...)
– Não foi para a parada? JOSÉ LINS DO RÊGO
Doidinho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.
– Não senhor, vou ver o meu avô que está doente.
A mesma mentira saída da boca automaticamente. Os Vocabulário:
meninos passavam vendendo tareco1. Quis comprar
1
tareco - biscoito
2
mourão - estaca
um pacote, mas estava com receio. Qualquer movi-
mento de minha parte me parecia uma denúncia. O
1. (UERJ) No texto de José Lins do Rêgo, o narrador
homem do bilhete voltou outra vez me oferecendo.
recorda um episódio de seu passado, em que foi domi-
Num banco da minha frente estava um sujeito me
nado por um sentimento que o acompanhou durante a
olhando. Sem dúvida, passageiro do trem. E me olhan-
viagem de trem e a chegada ao engenho.
do com insistência. Levantou-se e veio falar comigo:
Identifique esse sentimento e as duas situações que o
– Menino, que querem dizer estas letras?
geraram.
– Instituto Nossa Senhora do Carmo.

E.O. Objetivas
– Pensei que fosse “Isto não se conhece”...
Ri-me sem querer. E as outras pessoas acharam graça.
Pedi a Deus que o trem partisse. Por que não partira
aquele trem? Meu boné me perderia. Podia ter vin- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
do de chapéu. Nisto vi Seu Coelho. Entrei disfarçando
para a latrina do trem. E não vi mais nada. Só saí de CONTAS
lá quando vi pelo buraco do aparelho a terra andando.
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezer-
Sentei-me no mesmo lugar. Vi a cadeia, o cemitério.(...)
ros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e
E o Pilar chegando. O Recreio do Coronel Anísio, com a apenas se limitava a semear na vazante uns punhados
sua casa na beira da linha. E a gente já via a igreja. O de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos ani-
trem apitava para o sinal. Passou o poste branco. Saltei mais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a
do trem como se tivesse perdido o jeito de andar. Es- orelha de um cabrito.
condi-me do moleque do engenho. O trem saía deixan-
Se pudesse economizar durante alguns meses, levanta-
do no ar um cheiro de carvão de pedra. Lá se ia Ricardo
ria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não
com os jornais para o meu avô. Faltava-me coragem
se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de
para bater na porta do engenho como fugitivo.
milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
E fui andando à toa pela linha de ferro. Que diria quan- o produto das sortes.
do chegasse no engenho? Lembrei-me então que pela
Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando es-
linha de ferro teria que atravessar a ponte. E desviei-
pichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia
-me para a caatinga. Pegaria mais adiante o mesmo
caminho. Estava pisando em terras do meu avô. O en- em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
genho de Seu Lula mostrava o seu bueiro pequeno, descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E
com um pedaço caído. Que diabo diria no Santa Rosa, rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom
quando chegasse? Era preciso inventar uma mentira. pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, ver-
melho, o pescoço inchando. De repende estourava:
Fiquei parado pensando um instante. Achei a mentira
– Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode

94
viver sem comer. Quem é do chão não se trepa. 2. (Unifesp) Observe a figura a seguir:
Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bi-
chos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para
vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha,
estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe
uma ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o
gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio
apalavrada e foi consultar a mulher. Sinhá Vitória man-
dou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha,
concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias
espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte
Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou A tela de Portinari – A criança morta – tematiza aspecto
que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, marcante da vida no sertão nordestino, frequentemente
diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação castigado pelas secas, pela miséria e pela fome. Os es-
habitual: a diferença era proveniente de juros. critores que se dedicaram também a esse tema foram:
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, a) Graciliano Ramos e José de Alencar.
sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas b) Hilda Hilst e Jorge Amado.
a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no c) Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos
papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano d) José Lins do Rego e Carlos Drummond de Andrade.
perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, e) Erico Verissimo e Cecília Meireles.
entregando o que era dele de mão beijada! Estava di-
reito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar 3. (Fuvest) Um escritor classificou “Vidas secas" como
carta de alforria! “romance desmontável”, tendo em vista sua composi-
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom ção descontínua, feita de episódios relativamente inde-
pendentes e sequências parcialmente truncadas. Essas
que, o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
características da composição do livro:
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
a) constituem um traço de estilo típico dos romances
Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino.
à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. b) indicam que ele pertence à fase inicial de Gracilia-
Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um ca- no Ramos, quando este ainda seguia os ditames do
bra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim primeiro momento do Modernismo.
senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que
ignorância da mulher, provavelmente devia ser ig- dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
norância da mulher. Até estranhara as contas dela. d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica
Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), de Euclides da Cunha, em “Os sertões”.
acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que
não cair noutra. as próprias personagens têm do mundo.
Graciliano Ramos. Vidas secas.
São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES.
1. (Unesp) Lendo atentamente o fragmento de Vidas se-
cas, percebe-se que o foco principal é o das transações [Sem-Pernas] queria alegria, uma mão que o acarinhas-
entre Fabiano e o proprietário da fazenda. Aponte a al- se, alguém que com muito amor o fizesse esquecer o
ternativa que não corresponde ao que é efetivamente defeito físico e os muitos anos (talvez tivessem sido
exposto pelo texto. apenas meses ou semanas, mas para ele seriam sem-
pre longos anos) que vivera sozinho nas ruas da cidade,
a) O proprietário era, na verdade, um benfeitor para hostilizado pelos homens que passavam, empurrado
Fabiano. pelos guardas, surrado pelos moleques maiores. Nun-
b) Fabiano declarava–se “um bruto” ao proprietário. ca tivera família. Vivera na casa de um padeiro a quem
c) O proprietário levava sempre vantagem na partilha chamava “meu padrinho” e que o surrava. Fugiu logo
do gado. que pôde compreender que a fuga o libertaria. Sofreu
d) Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas fome, um dia levaram-no preso. Ele quer um carinho, u’a
não conseguia provar. mão que passe sobre os seus olhos e faça com que ele
possa se esquecer daquela noite na cadeia, quando os
e) Fabiano aceitava a situação e se resignava, por
soldados bêbados o fizeram correr com sua perna coxa
medo de ficar sem trabalho.
em volta de uma saleta. Em cada canto estava um com
uma borracha comprida. As marcas que ficaram nas
suas costas desapareceram. Mas de dentro dele nunca
desapareceu a dor daquela hora. Corria na saleta como

95
um animal perseguido por outros mais fortes. A perna ria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão não
coxa se recusava a ajudá-lo. E a borracha zunia nas suas se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de
costas quando o cansaço o fazia parar. milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
A princípio chorou muito, depois, não sabe como, as lá- o produto das sortes.
grimas secaram. Certa hora não resistiu mais, abateu-se Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando es-
no chão. Sangrava. pichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia
Ainda hoje ouve como os soldados riam e como riu aque- em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão
le homem de colete cinzento que fumava um charuto. descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E
Jorge Amado. Capitães da areia. rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom
pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca aberta, ver-
4. (Unifesp) Considere as afirmações seguintes. melho, o pescoço inchando. De repende estourava:
I. O fragmento do romance, ambientado na cidade de – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode
Salvador das primeiras décadas do século passado, viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
aborda a vida de uma criança em situação de absoluta Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos
exclusão social e violência, o que destoa do projeto li- de Fabiano. E quando não tinha mais nada para vender, o
terário e ideológico dos escritores brasileiros que com- sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava en-
põem a “Geração de 30”. calacrado, e na hora das contas davam-lhe uma ninharia.
II. Valendo-se das conquistas do Modernismo, o roman- Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o
ce apresenta linguagem fluente e acessível ao grande gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio
público, utilizando-se de um português coloquial, sim- apalavrada e foi consultar a mulher. Sinhá Vitória man-
ples, próximo a um modo natural de falar, com o largo dou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha,
emprego da frase curta e econômica. concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias
III. Sem-Pernas é uma personagem que, embora encar- espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte
ne um tipo social claramente delimitado, o do menino Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou
“pobre, abandonado, aleijado e discriminado”, adquire que as operações de Sinhá Vitória, como de costume,
alguma profundidade psicológica, à medida que seu diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação
passado e suas experiências dolorosas vêm à tona. habitual: a diferença era proveniente de juros.
Conforme o texto, está correto o que se afirma apenas em: Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto,
sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a
a) I.
mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel
b) II. do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os
c) III. estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando
d) I e II. o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
e) II e III. Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom
5. (Unifesp) O emprego da figura de linguagem conheci-
que, o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
da como “prosopopeia” (ou “personificação”) põe mais
em evidência a principal razão pela qual Sem-Pernas é Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem.
estigmatizado. O trecho que contém essa figura é: Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à
a) A perna coxa se recusava a ajudá–lo. toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atre-
vimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia
b) Em cada canto estava um com uma borracha comprida.
lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor,
c) (...) depois, não sabe como, as lágrimas secaram. mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da
d) E a borracha zunia nas suas costas (...) mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher.
e) Mas de dentro dele nunca desapareceu a dor da- Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia
quela hora. ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas
pedia desculpa e jurava não cair noutra.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES.
Graciliano Ramos. Vidas secas.
As questões a seguir tomam por base uma passagem São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
do romance regionalista Vidas secas, de Graciliano Ra-
mos (1892–1953). 6. (Unesp) Pouco a pouco o ferro do proprietário quei-
mava os bichos de Fabiano.
Contas A forma verbal queimava, no período acima, apresenta
o sentido de:
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e
a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas a) ignorava.
se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e b) assava.
milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chega- c) destruía.
va a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito. d) marcava.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levanta- e) prejudicava.

96
7. (Unesp) Quem é do chão não se trepa.
Fabiano emprega duas vezes este provérbio para re- E.O. Dissertativas
tratar com certo determinismo sua situação, que ele
considera impossível de ser mudada. Há outros que (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
poderiam ser utilizados para retratar essa atitude de 1. (Unicamp) Ocupavam-se em descobrir uma enorme
desânimo ante algo que parece irreversível. quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao
Na relação de provérbios abaixo, aponte aquele que outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar
não poderia substituir o empregado por Fabiano, em tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma
virtude de não corresponder àquilo que a personagem dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que
queria significar. aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho
hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças
a) Quem nasce na lama morre na bicharia. bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tives-
b) Quem semeia ventos colhe tempestades. se sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao
c) Quem nasceu pra tostão não chega a milhão. espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente
d) Quem nasceu pra ser tatu morre cavando. aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo inter-
e) Os paus, uns nasceram para santos, outros para rogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades
tamancos. que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras
das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a ques-
8. (Unesp) Identifique, entre os quatro exemplos extra- tão intricada. Como podiam os homens guardar tantas
ídos do texto, aqueles que se apresentam em discurso palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão gran-
indireto livre: de soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas
ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas
I. Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros
por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam
e a terça dos cabritos.
imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e
II. – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém medrosos, falavam baixo para não desencadear as for-
pode viver sem comer. ças estranhas que elas porventura encerrassem.
III. Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.82.
arranjar carta de alforria! Sinhá Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria
IV. Não era preciso barulho não. como um pé de mandacaru, secando, morrendo. Que-
a) I e II. ria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura
b) II e III. medonha, as árvores transformadas em garranchos, a
imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a
c) III e IV.
Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos
d) I, II e III. próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que fa-
e) II, III e IV. rejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o
futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
Idem, p.120.

Na planície avermelhada, os juazeiros alargavam duas a) O contraste entre as preciosidades dos altares da
manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia igreja e das prateleiras das lojas, no primeiro excerto, e
inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente as árvores transformadas em garranchos, no segundo,
andavam pouco, mas como haviam repousado bastante caracteriza o conflito que perpassa toda a narrativa de
na areia do rio seco, a viagem progredira bem três lé- Vidas secas. Em que consiste este conflito?
guas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folha- b) No primeiro excerto, encontra-se posta uma questão
gem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos recorrente em Vidas secas: a relação entre linguagem e
pelados da caatinga rala. mundo. Explique em que consiste esta relação na pas-
(Graciliano Ramo, Vidas secas)
sagem acima.
2. (Unicamp) Leia o seguinte trecho do romance Capi-
9. (Fuvest) Tendo em vista a relação, neste texto, en- tães da Areia, de Jorge Amado:
tre o vocabulário e os efeitos de sentido, é INCORRETO
"Agora [Pedro Bala] comanda uma brigada de choque
afirmar que:
formada pelos Capitães da Areia. O destino deles mu-
a) o adjetivo “avermelhada” retrata o rigor do clima. dou, tudo agora é diverso. Intervêm em comícios, em
b) “rio seco”, “galhos pelados”, “caatinga rala” ca- greves, em lutas obreiras. O destino deles é outro. A luta
racterizam um espaço hostil aos viajantes. mudou seus destinos."
c) as palavras empregadas pelo narrador reproduzem Jorge Amado, Capitães da Areia.
as das personagens. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 268.
d) os nomes dos viajantes substituem-se por um ad- a) Explique a mudança pela qual os Capitães da Areia
jetivo substantivado – “os infelizes”. passaram, e o que a tornou possível.
e) a expressão “o dia inteiro” equivale a “todo o dia”. b) Que relação se pode estabelecer entre esse desfecho
e a tendência política do romance de Jorge Amado?

97
3. (Unicamp) Os trechos a seguir foram extraídos de Me- 5. (Unifesp) Fazia um mês que eu chegara ao colégio.
mórias de um sargento de milícias e Vidas secas, respec- Um mês de um duro aprendizado que me custara suores
tivamente. frios. Tinha também ganho o meu apelido: chamavam-
O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara -me de Doidinho. O meu nervoso, a minha impaciência
entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não mórbida de não parar em um lugar, de fazer tudo às
foi sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, carreiras, os meus recolhimentos, os meus choros inex-
de que por certo não poderiam escapar. Nesse tempo plicáveis, me batizaram assim pela segunda vez. Só me
ainda não estava organizada a polícia da cidade, ou chamavam de Doidinho.
antes estava-o de um modo em harmonia com as ten- E a verdade é que eu não repelia o apelido. Todos ti-
dências e ideias da época. O major Vidigal era o rei ab- nham o seu. Havia o Coruja, o Pão-Duro, o Papa-Figo.
soluto, o árbitro supremo de tudo o que dizia respeito Este era o pobre do Aurélio, um amarelo inchado não
a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e sei de que doença, que dormia junto de mim. Vinha um
distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava
parente levá-lo e trazê-lo todos os anos.
caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada
não haviam testemunhas, nem provas, nem razões, nem Em S. João não ia para casa, e só voltava no fim do ano
processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infa- porque não havia outro jeito. A família tinha vergonha
lível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia dele em casa. Nunca vi uma pessoa tão feia, com aque-
o que queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim le corpanzil bambo de papangu. Apanhava dos outros
uma espécie de inquirição policial. Entretanto, façamos- somente com o grito: – Vou dizer a Seu Maciel! – Mas
-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do não ia, coitado. Nem esta coragem de enredo, ele ti-
tempo, em verdade não abusava ele muito de seu poder, nha. Dormia com um ronco de gente morrendo e a boca
e o empregava em certos casos muito bem empregado. aberta, babando. Às vezes, quando eu acordava de noi-
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. te, ficava com medo do pobre do Aurélio. Ouvia falar
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 21. que era de amarelos assim que saíam os lobisomens.
Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu Certas ocasiões não podia se levantar, e dias inteiros
familiarmente no ombro de Fabiano: ficava na cama, com um lenço amarrado na cabeça. E o
– Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá seu Maciel não respeitava nem esta enfermidade am-
dentro? bulante: dava no pobre também.
José Lins do Rego. Doidinho.
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, pro-
curando as palavras de seu Tomás da bolandeira: a) Doidinho, cuja primeira edição é de 1933, é obra
– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contan- inserida no “Regionalismo de 30”. Transcreva um
to, etc. É conforme. fragmento do texto que apresente algum aspecto li-
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era au- gado a essa tendência, justificando sua escolha.
toridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. b) Levante três características da personagem Papa–Figo
Tinha muque e substância, mas pensava pouco, deseja- e, além disso, transcreva um trecho do texto em que fique
va pouco e obedecia. patente que ela era vítima de intolerância no colégio.
Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 28.
a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas 6. (Unicamp) Leia os seguintes trechos de O cortiço e
entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento de Vidas secas:
milícias, e o soldado amarelo, de Vidas secas? O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os
b) Como essas semelhanças e diferenças se relacio- dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas,
nam com as características de cada uma das obras? mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (...).
4. (Fuvest) Leia o seguinte excerto de Capitães da areia, Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula
de Jorge Amado, e responda ao que se pede. viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vigo-
O sertão comove os olhos de Volta Seca. O trem não rosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal
corre, este vai devagar, cortando as terras do sertão. de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos ho- Aluísio Azevedo, O cortiço. Ficção completa.
mens é terrível. Mas estes homens são tão fortes que Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 2005, p. 462.
conseguem criar beleza dentro desta miséria. Que não
farão quando Lampião libertar toda a caatinga, implan- Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chega-
tar a justiça e a liberdade? ra naquele estado, com a família morrendo de fome,
Compare a visão do sertão que aparece no excerto comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um
de Capitães da areia com a que está presente no livro juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a
Vidas secas, de Graciliano Ramos, considerando os se- mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha es-
guintes aspectos: cura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos
a) a terra (o meio físico); passados esmorecera. (...)
b) o homem (o sertanejo). – Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Responda, conforme solicitado, considerando cada um desses Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com
aspectos nas duas obras citadas. certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando

98
bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupa- Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas
do em guardar coisas dos outros. Vermelho, queima- brilharam ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso
do, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; (talvez que Iemanjá tivesse vindo também ouvir a músi-
mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais ca) e a cidade era como que um grande carrossel onde
alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia. Nes-
brancos e julgava-se cabra. se momento de música eles sentiram-se donos da cidade.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, E amaram-se uns aos outros, se sentiram irmãos porque
alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corri- eram todos eles sem carinho e sem conforto e agora
giu-a, murmurando: tinham o carinho e conforto da música. Volta Seca não
– Você é um bicho, Fabiano. pensava com certeza em Lampião nesse momento. Pe-
dro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bi- malandros da cidade. O Sem-Pernas em se jogar no mar,
cho, capaz de vencer dificuldades. onde os sonhos são todos belos. Porque a música saía do
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, bojo do velho carrossel só para eles e para o operário
até gordo, fumando seu cigarro de palha. que parara. E era uma valsa velha e triste, já esquecida
– Um bicho, Fabiano. (...) por todos os homens da cidade.
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Jorge Amado, Capitães da Areia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 68.
Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho,
mas criara raízes, estava plantado. a) De que modo esse capítulo estabelece um contraste
Graciliano Ramos, Vidas secas. com os demais do romance? Quais são os elementos
Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.18–19. desse contraste?
a) Ambos os trechos são narrados em terceira pessoa. b) Qual a relação de tal contraste com o tema do livro?
Apesar disso, há uma diferença de pontos de vista na
9. (Fuvest) O pequeno sentou-se, acomodou nas pernas
aproximação das personagens com o mundo animal
a cabeça da cachorra, pôs-se a contar-lhe baixinho uma
e vegetal. Que diferença é essa?
história. Tinha um vocabulário quase tão minguado como
b) Explique como essa diferença se associa à visão de o do papagaio que morrera no tempo da seca. Valia-se,
mundo expressa em cada romance. pois, de exclamações e de gestos, e Baleia respondia com
7. (Unicamp) Leia a passagem seguinte, de Capitães o rabo, com a língua, com movimentos fáceis de entender.
da areia: Graciliano Ramos, Vidas secas.
Pedro Bala olhou mais uma vez os homens que nas do-
cas carregavam fardos para o navio holandês. Nas lar- Considere as seguintes afirmações sobre este trecho de
gas costas negras e mestiças brilhavam gotas de suor. Vidas secas, entendido no contexto da obra, e responda
ao que se pede.
Os pescoços musculosos iam curvados sob os fardos. E
os guindastes rodavam ruidosamente. a) No trecho, torna–se claro que a escassez vocabular
Um dia iria fazer uma greve como seu pai... Lutar pelo do menino contribui de modo decisivo para ampliar
direito... Um dia um homem assim como João de Adão as diferenças que distinguem homens de animais.
poderia contar a outros meninos na porta das docas a Você concorda com essa afirmação? Justifique, com
sua história, como contavam a de seu pai. Seus olhos base no trecho, sua resposta.
tinham um intenso brilho na noite recém-chegada. b) Nesse trecho, como em outros do mesmo livro, é
por exprimir suas emoções e sentimentos pessoais a
Jorge Amado, Capitães da areia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 88. respeito da pobreza sertaneja que o narrador obtém
o efeito de contagiar o leitor, fazendo com que ele
a) Que consequências a descoberta de sua verdadeira também se emocione. Você concorda com a afirma-
origem tem para a personagem de Pedro Bala? ção? Justifique sua resposta.
b) Em que medida o trecho acima pode definir o contexto
literário em que foi escrito o romance de Jorge Amado? 10. (Unicamp) O excerto a seguir, de Vidas Secas, trata
da personagem Sinhá Vitória:
8. (Unicamp) Leia o trecho a seguir, do capítulo “As luzes Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papa-
do carrossel”, de Capitães da Areia: gaio, era ridícula. Sinha Vitória ofendera-se gravemen-
O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e te com a comparação, e se não fosse o respeito que
começou a música de uma valsa antiga. O rosto sombrio Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetiva-
de Volta Seca se abria num sorriso. Espiava a pianola, mente os sapatos apertavam-lhe os dedos, faziam–lhe
espiava os meninos envoltos em alegria. Escutavam reli- calos. Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, tre-
giosamente aquela música que saía do bojo do carrossel pada nos saltos de meio palmo. Devia ser ridícula, mas
na magia da noite da cidade da Bahia só para os ouvidos a opinião de Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas
aventureiros e pobres dos Capitães da Areia. Todos esta- essas nuvens, curtidos os dissabores, a cama de novo
vam silenciosos. Um operário que vinha pela rua, vendo lhe aparecera no horizonte acanhado. Agora pensava
a aglomeração de meninos na praça, veio para o lado nela de mau humor. Julgava-a inatingível e mistura-
deles. E ficou também parado, escutando a velha música. va-a às obrigações da casa. (...) Um mormaço levan-

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tava se da terra queimada. Estremeceu lembrando-se
da seca (...). Diligenciou afastar a recordação, temen-
E.O. UERJ
do que ela virasse realidade. (...) Agachou-se, atiçou Exame Discursivo
o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o
1. Doidinho, apelido escolar do menino Carlos Melo, relembra
cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio
as sensações que experimentou durante a viagem de regresso
de sarro. Jogou longe uma cusparada, que passou por
ao engenho do avô. A fuga do colégio suscitava-lhe o medo
cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se para
de ser descoberto e insegurança relativamente à reação dos
cuspir novamente. Por uma extravagante associação,
moradores do engenho.
relacionou esse ato com a lembrança da cama. Se o
cuspo alcançasse o terreiro, a cama seria comprada
antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, incli- E.O. Objetivas
nou-se – e não conseguiu o que esperava. Fez várias
tentativas, inutilmente. (...) Olhou de novo os pés es- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
palmados. Efetivamente não se acostumava a calçar 1. A 2. C 3. E 4. E 5. A
sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a. Pés
de papagaio. Isso mesmo, sem dúvida, matuto anda 6. D 7. B 8. C 9. C
assim. Para que fazer vergonha à gente?
Arreliava–se com a comparação. Pobre do papagaio. E.O. Dissertativas
Viajara com ela, na gaiola que balançava em cima do
baú de folha. Gaguejava: – “Meu louro.” Era o que sa- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
bia dizer. Fora isso, aboiava arremedando Fabiano e 1.
latia como Baleia. Coitado. Sinhá Vitória nem queria a) Os trechos do enunciado apresentam, entre outros, o
lembrar–se daquilo. caleidoscópio de sentimentos e emoções da família de
Graciliano Ramos, Vidas secas. Fabiano enquanto observam as festividades de Natal na
Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007, p.41–43. cidade. No primeiro excerto, os meninos maravilham-se
com tantas luzes e gente e assustam-se com o ambiente
a) Por que a comparação feita por Fabiano incomoda da igreja e das lojas que desconheciam. No segundo,
tanto sinhá Vitória? Que lembrança evoca? Sinhá Vitória está aflita com a situação de Fabiano que
b) Tendo em vista a condição e a trajetória de Sinhá se tinha embriagado e ficara deitado no chão, dormindo
Vitória, justifique a ironia contida no nome da per- pesadamente. Em ambos os excertos, está presente o
sonagem. Que outra personagem referida no excerto conflito de quem vive em absoluta situação de precarie-
acima também revela uma ironia no nome? dade e rudeza e estranha o mundo dos mais afortuna-
dos que têm acesso ao “luxo” e à abastança.

Gabarito b) O mundo retratado na obra “Vidas secas” é revelador


do sofrimento dos que vivem em condições sub-huma-
nas no sertão nordestino, submetidos aos rigores do
E.O. Aprendizagem clima e ao isolamento social, o que lhes embota o racio-
cínio e provoca o ressecamento do ser. Assim, num espa-
1. E 2. A 3. E 4. D 5. D ço em que impera o silêncio apenas entrecortado pelos
gritos dos animais, os personagens adquirem as mes-
6. E mas características, tornando-se cada vez mais “bichos”
e menos “gente”. No excerto 2, Sinhá Vitória procura
E.O. Fixação demarcar–se do meio que a cerca (“Se ficasse calada,
seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo”),
1. D 2. E 3. A 4. D 5. B mas a pobreza e a falta de instrução fazem com que
6. D 7. A a distância que a separa das outras pessoas aumente
cada dia mais. Assim, mais do que a seca e a miséria, a
linguagem é que se configura como essência do que nos
E.O. Enem faz humanos: a capacidade de comunicação.
1. E 2. E 3. A 2.
a) A mudança tratada é uma modificação pela qual os
E.O. UERJ Capitães da areia passam: de um grupo de marginais,
eles passam a ser uma grupo que apoia greves e ma-
Exame de Qualificação nifestações populares. Tal alteração é produto da cons-
1. A 2. D 3. A 4. B 5. B cientização pela qual o grupo passara, ao ser liderado
por Pedro Bala e com intensas conexões com o Partido
6. C 7. B 8. D 9. C Comunista.
b) Em “Capitães da areia”, Jorge Amado trata de as-
sunto real e desenvolve temas diversos, como a vida dos
excluídos e suas lutas, o papel da Igreja, das autoridades

100
e da imprensa. Jorge Amado era membro do Partido Co- ou se recolhe ao próprio mundo interior, para sujeitar–se
munista, por isso constrói uma obra de denúncia, com ao mundo que lhe dificulta a existência. Em “Doidinho”,
um discurso ideológico que reflete as suas convicções descreve–se o cotidiano dos alunos do colégio, sujeitos
políticas: transformação social decorrente da conscienti- a humilhações e ao abandono da própria família, como
zação e da luta organizada contra as injustiças. acontecia com Aurélio. No terceiro parágrafo do texto,
3. o leitor é permeável ao sentimento de piedade e medo
a) Tanto o Major Vidigal quanto o soldado amarelo re- que este personagem incute no narrador, principalmente
presentavam a autoridade num círculo social carente de nos trechos “Apanhava dos outros somente com o grito:
recursos jurídicos que limitassem o seu poder, por isso – Vou dizer a Seu Maciel! – Mas não ia, coitado” e “Às
impunham a ordem de forma arbitrária, segundo os seus vezes, quando eu acordava de noite, ficava com medo do
próprios juízes de valor. No entanto, o Major Vidigal fa- pobre do Aurélio. Ouvia falar que era de amarelos assim
zia-o de forma mais moderada e, algumas vezes, justa, que saíam os lobisomens”.
enquanto o soldado amarelo infringia o código de boa b) Papa-Figo era a alcunha de Aurélio, um rapaz doen-
conduta e abusava do poder para humilhar as pessoas. te (“um amarelo inchado não sei de que doença”), feio
b) “Memórias de um sargento de milícias” é uma obra (“Nunca vi uma pessoa tão feia”) e covarde (“Nem esta
descompromissada com crítica social ou denúncia da re- coragem de enredo, ele tinha”). Além de ser vítima de
alidade da época. Trata-se de uma crônica de costumes descriminação da própria família (“A família tinha ver-
em que os personagens de classe média baixa tentam gonha dele em casa”) sofria violência física por parte de
driblar as dificuldades do cotidiano com atitudes nem colegas e do próprio diretor do colégio (“Apanhava dos
sempre muito éticas ou regidas por princípios morais. outros”, “E o seu Maciel não respeitava nem esta enfer-
Já “Vidas secas” pertence ao neorrealismo da literatu- midade ambulante: dava no pobre também”).
ra brasileira, uma obra que pretende denunciar a reali-
dade miserável do nordestino brasileiro, oprimido pelo 6.
meio inóspito em que vive e pelo sistema político a que a) Aluísio Azevedo, expoente da vertente naturalista do
está submetido. Assim, o Major Vidigal, terror de todos Realismo brasileiro no final século XIX, usa termos cien-
os malandros e baderneiros da época, age movido pela tíficos para apresentar os personagens de “O Cortiço”
necessidade de impor a ordem, embora nem sempre os sob uma visão determinista, realçando com objetivida-
seus atos sejam modelo de boa conduta moral. O sol- de a influência do meio no comportamento do homem
dado amarelo, símbolo de repressão e do autoritarismo (“fermentação sanguínea”, ”na lama preta e nutriente
pelo qual é comandado (ditadura Vargas), é oportunista da vida, o prazer animal de existir”). Graciliano Ramos,
e medroso, pois não é forte quando se sabe sozinho, em inserido no Neorrealismo do 2º Tempo do Modernismo
lugar que não domina ou longe da proteção da ditadura, brasileiro, usa recursos como o discurso indireto-livre
como quando, perdido no meio da caatinga, se acovarda para retratar o mundo psicológico de Fabiano, o que re-
diante do gesto ameaçador de Fabiano. sulta numa aproximação com o personagem por revelar
4. as suas inquietudes e conflitos.
a) Em ambas as obras, o cenário é de desolação, inóspito b) Na obra de Graciliano Ramos existe intenção de de-
e incitador à violência, pois o trabalho nas terras calci- núncia ao abordar uma família de retirantes, a sua vida
nadas pelo calor desumaniza as pessoas que ali têm de subumana diante de problemas sociais como a seca, a
lutar pela sua sobrevivência, igualando–as aos animais. pobreza, e a exploração dos trabalhadores no latifúndio
No entanto, não se percebe nas descrições de “Vidas do sertão brasileiro. Enquanto que em “O Cortiço” os
secas” instantes de encantamento e beleza que o per- personagens se revelam através de um comportamento
sonagem Volta Seca exprime em “Capitães da areia” ao semelhante ao do animal nas suas atitudes primárias e
declarar que ali “tudo é lírico, pobre e belo”, nem do de- instintivas, descritas em linguagem objetiva e distante,
vaneio de que a ação do homem poderia “criar beleza” em “Vidas Secas”, o autor demonstra consciência social
naquela miséria. ao responsabilizar as condições adversas que se abatem
b) Em “Capitães de areia”, as crianças abandonadas na sobre eles, enfatizando, através da transcrição de monó-
orla da praia lutam pela sobrevivência em ambiente ur- logos, o aspecto da precariedade da comunicação verbal
bano, sujeitas à crueldade de um sistema opressor que que os isola do mundo ao redor.
as marginaliza e impele ao banditismo. Volta Seca reme-
te às suas origens de cangaço e sonha com o retorno 7.
a uma ação de luta por justiça e liberdade. Em “Vidas a) Ao descobrir que o seu pai tinha sido assassinado
secas”, o sertanejo tem a sua consciência de embotada numa manifestação em defesa dos direitos dos estiva-
pela sede, não só de água, mas também de conhecimen- dores e que sempre se referiam a ele com admiração e
to e de justiça, numa visão de mundo fragmentada que respeito, Pedro Bala começa a adquirir consciência ideo-
o obriga a uma constante capitulação perante o poder lógica e manifesta o desejo de seguir as pisadas do pai,
constituído, incapaz de uma ação violenta. ou seja, tornar–se um líder revolucionário que lutaria
contra as injustiças sociais.
5.
b) “Capitães da Areia” foi publicado em 1937, momen-
a) O regionalismo de 30 analisa a relação do homem co-
to em que o Brasil vivia a ditadura Vargas que reprimia
mum com a realidade opressora em que a figura do “he-
ideias comunistas a que eram associadas as lutas reivin-
rói problemático” luta para vencer a hostilidade do meio dicatórias de diversas classes sociais.

101
8. gonçado de caminhar quando usava sapatos. O fato de
a) O contraste deste capítulo com os restantes do roman- ser comparada a um papagaio fere a sua vaidade femini-
ce estabelece-se, sobretudo, na descrição das sensações na, mas incomoda–a também a lembrança do sacrifício
vivenciadas pelos meninos, o que os remete ao clima de do animal, a situação extrema a que se tinha obrigada
uma infância perdida: enlevo e alegria ao andar no car- para aliviar a fome da família.
rossel, encanto com a música, proteção emocional ao sa- b) É irônico o fato de alguém tão sofredor e miserável ter
berem-se todos irmãos. Essas sensações contrastam com o nome de Vitória. Como Baleia, cachorra magra que vive
as preocupações pela sobrevivência do cotidiano, com a no sertão, o nome da personagem apresenta característi-
existência cruel das situações precárias e de alto risco que cas contrárias à realidade em que vivem.
enfrentavam diariamente. Este capítulo remete as crian-
ças a esse espaço que lhes foi roubado pelas circunstân-
cias adversas do meio em que nasceram (“O rosto som-
brio de Volta Seca se abria num sorriso”, “ escutavam
religiosamente aquela música”, “se sentiram irmãos”).
b) O romance tematiza a infância abandonada, a mar-
ginalização a que é submetida, o descaso e o precon-
ceito que se abatem sobre ela. O contraste evidenciado
no capítulo “As luzes do carrossel” põe em evidência as
injustas condições a que é submetida a criança, que, mes-
mo delinquente, não deixa de ser criança, grupo de seres
frágeis e carentes, meninos abandonados à sua própria
sorte com aspirações e sensações típicas de um universo
infantil. Trata-se de uma obra de denúncia social e, como
tal, evidencia a tese determinista de que o meio influen-
cia o comportamento e contribui para o destino trágico
dessas crianças.
9.
a) A afirmação de que o vocabulário do menino o dis-
tinguia dos animais é improcedente, pois, conforme o
texto, era escasso e a comunicação muito semelhante
(“Tinha um vocabulário quase tão minguado como o do
papagaio”). Em Vidas Secas, o narrador designa os per-
sonagens de “viventes”, homens e animas em luta pela
sobrevivência numa terra árida que os iguala, por isso
a linguagem quase não os diferencia. No trecho, assis-
te–se ao processo zoomórfico do menino que assim se
assemelha ao papagaio com seu vocabulário reduzido,
gesticulando e pronunciando exclamações, para substituir
as frases que não conseguia enunciar. Numa inversão de
papéis, Baleia é dotada de capacidade de entendimento,
num procedimento antropomórfico que permite o diálogo
de um animal com um ser humano.
b) Não, a linguagem é objetiva, clara e sintética, adequa-
da ao ambiente árido em que se desenvolve a narrativa
que reflete a realidade cruel dos retirantes nordestinos. O
narrador apresenta os fatos de forma concisa, descreve
os cenários sem grandes detalhes, apenas os essenciais
para ambientar o personagem e permitir ao leitor a per-
cepção do conflito do homem que, naquelas condições,
tem uma visão fragmentada do mundo e não se entende
a si mesmo. A capacidade do narrador em expressar o
problema da comunicação e a solidão advém sobretudo
do uso do discurso indireto-livre para transcrever pensa-
mentos dos personagens, reveladores de emoções e sen-
timentos comuns a todo o ser humano e com os quais o
leitor se solidariza.
10.
a) Sinhá Vitória sente-se incomodada com a comparação
feita por Fabiano, por este ridicularizar o seu jeito desen-

102
4, 5 e 6
AULAS 37 E 38
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 12, 15, 16 e 17

MODERNISMO NO BRASIL: 3ª FASE

E.O. Aprendizagem da água de copo de água,


da água de cântaro,
dos peixes de água,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. da brisa na água.
7
Domingo ela 4acordava mais cedo para ficar mais tem- Paisagem do Capibaribe (II)
po sem fazer nada. Entre a paisagem
O pior momento de sua vida era 5nesse dia ao fim da (fluía)
tarde: caía em 2meditação inquieta, o vazio do seco de homens plantados na lama;
domingo. Suspirava. 3Tinha saudade de quando era pe- de casas de lama
quena – farofa seca – e pensava que fora feliz. Na ver- plantadas em ilhas
dade por pior a infância é sempre encantada, 6que sus- coaguladas na lama;
to. Nunca se queixava de nada, sabia que as coisas são paisagem de anfíbios de lama e lama
assim mesmo e – quem organizou a terra dos homens? MELO NETO, João Cabral de. “O cão sem plumas”.
[...] 1Juro que não posso fazer nada por ela. Afianço-8vos Barcelona: O Livro Inconsútil, 1950.
que se eu pudesse melhoraria as coisas. Eu bem sei que
2. Da leitura deste poema, podemos destacar:
dizer que a datilógrafa tem o corpo cariado é um dizer
de brutalidade pior que qualquer palavrão. I. a imagem regionalista de denún-
cia da miséria nordestina.
Clarice Lispector, A hora da estrela
II. a arquitetura do poema.
1. Nas alternativas abaixo, transcrevem-se adaptações III. uma poesia engajada na temática social.
de comentários críticos colhidos em bibliografia espe- IV. o cão é o rio que carrega os detritos de sobrados e
cializada. Todos se referem à produção de Clarice Lis- mocambos.
pector, EXCETO: Desses destaques conclui-se que:
a) A linguagem contém como que uma armadilha: a sua a) são corretos os itens I, III e IV.
simplicidade enganosa. Nem pela escolha dos vocábu- b) os itens II e III são incorretos.
los, nem por sua construção frásica parece ultrapassar c) somente o item IV é incorreto.
um tom de coloquialismo e de narração sem surpresas. d) somente o item II é correto.
b) É essa existência absurda, ameaçadora e estranha, e) todos os itens são corretos.
revelando-se nos indivíduos e a despeito deles, o único
fundo permanente de encontro ao qual as personagens TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
se destacam e de onde tiram a densidade humana que
as caracteriza. As questões adiante referem–se ao trecho de Grande
sertão: veredas, de Guimarães Rosa, reproduzido a se-
c) Em sua ficção, o cotidiano é, a partir de certo momen-
guir. Nessa obra, a personagem Diadorim é uma mulher
to, completamente desagregado.
que se faz de homem para entrar no bando de Riobaldo
d) Numa obra literária, para que o jogo da linguagem
– narrador da história – e vingar a morte de seu pai.
tenha a propriedade reveladora, é necessário que a lin-
Riobaldo só descobre isso depois da morte de Diadorim.
guagem, além de ser instrumento da ficção, seja tam-
bém, de certo modo, o seu objeto, como de fato ocorre Mas Diadorim, conforme diante de mim estava parado,
nos textos da autora. reluzia no rosto, com uma beleza ainda maior, fora de
e) O mito poético foi a solução romanesca adotada pela todo comum. Os olhos – vislumbre meu – que cresciam
autora. Uma obra de tão aguda modernidade que, pa- sem beira, dum verde dos outros verdes, como o de ne-
radoxalmente, se nutre de velhas tradições, as mesmas nhum pasto. (...) De que jeito eu podia amar um homem,
que davam à gesta dos cavaleiros feudais a aura do con- meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas
vívio com o sagrado e o demoníaco. armas, espalhado rústico em suas ações?! Me franzi. Ele
tinha a culpa? Eu tinha a culpa?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. 3. As considerações do narrador mostram-no confuso
Paisagem do Capibaribe (I) pelo fato de:
Aquele rio a) estar apaixonado sem ser correspondido.
era como um cão sem plumas. b) não conseguir esconder o seu amor por Diadorim.
Não sabia da chuva azul, c) perceber que nutria por Diadorim um amor homos-
da fonte cor-de-rosa, sexual.

103
d) sentir crescer o amor de Diadorim por ele. 2. (UPF) Só se espiaram realmente quando as malas fo-
e) ser ignorado por Diadorim, que não sabe de seu amor. ram dispostas no trem, depois de trocados os beijos: a
cabeça da mãe apareceu na janela.

E.O.Fixação Catarina viu então que sua mãe estava envelhecida e


tinha os olhos brilhantes.
1. (UNEB) [...] Vinham vindo, com o trazer de comitiva. O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que
dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no
Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a can- seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da
tar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente se-
nem no tom nem no se – dizer das palavras – o nenhum. vero onde não faltava alguma admiração por si mes-
A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os ma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te
espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspec- amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o
to de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de
cores, uma carapuça em cima dos espantados cabelos, sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e repugnân-
e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, cia. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua
tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na
maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem
ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que esperto parecia esforçar-se por dar aos outros alguma
diferentes, elas se assemelhavam. impressão da qual o chapéu faria parte. A campainha
Soroco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em da Estação tocou de súbito, houve um movimento geral
mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma de ansiedade, várias pessoas correram pensando que o
tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse
de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daque- a velha. Ambas se olhavam espantadas, a mala na ca-
les trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta beça de um carregador interrompeu-lhes a visão e um
de Soroco – para não parecer pouco caso. Ele hoje estava rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catari-
calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, bo- na, deslocando-lhe a gola do vestido. Quando puderam
tara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe
atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de perguntar se não esquecera de nada...
dó. Ele espondia: – “Deus vos pague essa despesa...”
– ...Não esqueci de nada? perguntou a mãe.
O que os outros diziam: que Soroco tinha tido muita
paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtor- LISPECTOR, Clarice. Laços de família.
nadas pobrezinhas, era até um alívio. [...] No texto acima, a autora:
Tomara aquilo acabasse. O trem chegando, a máquina
a) emprega palavras comuns, por vezes combinadas
manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem
de modo inesperado, para desvelar a mentira consti-
apitou, e passou, se foi, o de sempre. [...]
tuinte de uma relação familiar feita de frases e ges-
Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desaconteci- tos convencionais.
do, e virou, pra ir–s’ embora. Estava voltando para casa,
b) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma sintaxe
como se estivesse indo para longe, fora de conta.
complexa e difícil para desvelar a mentira consti-
Mas parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia tuinte de uma relação familiar feita de frases e ges-
perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espí- tos cerimoniosos.
rito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir:
c) escolhe um vocabulário nobre e raro e uma sin-
quem ia fazer siso naquilo? Num rompido — ele come-
taxe complexa e difícil para ocultar a mentira cons-
çou a cantar, alterando, forte, mas sozinho para si – e
tituinte de uma relação familiar feita de frases e
era a cantiga, mesma de desatino, que as duas tanto
gestos convencionais.
tinham cantado. Cantava continuando.
d) representa a corrente caótica da consciência de
ROSA, João Guimarães. “Soroco sua mãe, sua filha”. Primeiras uma das personagens, abstendo-se de descrever os
estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olyimpio, s.d. p. 16–18.
comportamentos banais, exteriormente observáveis.
Guimarães Rosa, escritor inserido na chamada Geração e) representa, de modo cinematográfico, os com-
de 45 — Modernismo Brasileiro —, apresenta uma obra portamentos convencionais das personagens, abs-
de cunho universalista. O texto comprova isso porque: tendo-se de revelar o mal-estar interior que alguma
delas possa viver.
a) se trata de uma prosa poética.
b) revela o pitoresco de uma cidade interiorana. 3. (AMAN) Leia o trecho abaixo:
c) é escrito numa linguagem rica em neologismos.
d) enfoca um tema de caráter intimista e ligado à “Não tenho uma palavra a dizer. Por que não me calo,
condição humana. então? Mas se eu não forçar a palavra a mudez me en-
e) evidencia um problema de ordem social que atinge golfará para sempre em ondas. A palavra e a forma se-
os mais pobres. rão a tábua onde boiarei sobre vagalhões de mudez.”

104
O fragmento, extraído da obra de Clarice Lispector, jurou muito contra a ideia. Seria que, ele, que nessas ar-
apresenta: tes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e ca-
a) uma reflexão sobre o processo de criação literária. çadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo,
b) uma postura racional, antissentimental, triste e re- ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de
corrente na literatura dessa fase. légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado
c) traços visíveis da sensibilidade, característica pre- que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra
sente na 2ª fase modernista. beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou
d) a visão da autora, sempre preocupada com o valor pronta.
da mulher na sociedade. Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu
e) exemplos de neologismo, característica comum na e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras pa-
3ª fase modernista. lavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma
recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mas-
Leia o trecho abaixo, de “Morte e Vida Severina”, de cou o beiço e bramou: – “Cê vai, ocê fique, você nunca
João Cabral de Melo Neto. volte!” Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso
para mim, me acenando de vir também, por uns passos.
“– Severino retirante, Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito.
deixa agora que lhe diga: O rumo daquilo me animava, chega que um propósi-
eu não sei bem a resposta to perguntei: – “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua
da pergunta que fazia, canoa?” Ele só retornou a olhar em mim e me botou a
se não vale mais saltar bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim,
fora da ponte e da vida; mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso
(…) pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a ca-
noa saiu se indo – a sombra dela por igual, feito um ja-
E não há melhor resposta caré, comprida longa.
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio, Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma par-
que também se chama vida, te. Só executava a invenção de se permanecer naqueles
ver a fábrica que ela mesma, espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa,
teimosamente, se fabrica,” para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa ver-
dade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que
4. (AMAN) Em relação a esse fragmento, pode-se ainda não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos
afirmar que: nossos se reuniram, tomaram juntamente conselho.
a) trata da impotência do homem frente aos proble- [...]
mas do sertão e da cidade. A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que,
b) Severino representa todos os homens que são la- com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em
tifundiários. si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no
c) reflete sobre as dificuldades que o homem encon- que não queria, só com nosso pai me achava: assunto
tra para trabalhar.
que jogava para trás meus pensamentos. O severo que
d) trata da temática que descarta a morte como solu-
era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele
ção para os problemas.
aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, ca-
e) é um texto bem simples e poético sobre o significa-
lor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem
do do amor da época.
arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: semanas, e meses, e os anos – sem fazer conta do se-ir
do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem
A terceira margem do rio nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem
Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e capim.
sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemu- [...]
nharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha
a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não
tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausên-
figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros,
cia: e o rio-rio-rio, o rio – pondo perpétuo. Eu sofria já o
conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem re-
começo de velhice – esta vida era só o demoramento.
gia, e que ralhava no diário com a gente – minha irmã,
Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços,
meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai
perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de
mandou fazer para si uma canoa.
padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos
Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse,
vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se
para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabri- despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da
cada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o
dever durar na água por uns 20 ou 30 anos. Nossa mãe coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o

105
culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro.
Soubesse – se as coisas fossem outras. E fui tomando
ideia.
E.O. Complementar
1. Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem,
Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a pa-
os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o
lavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos
todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não
doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, tem diabo nenhum. Nenhum! – é o que digo. O senhor
para o aceno ser mais. aprova? Me declame tudo, franco – é alta mercê que
me vejam – é de minha certa importância. Tomara não
Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele fosse... Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído,
apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Es- que acredita na pessoa dele?!
tava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o
que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: O trecho anterior apresenta claras características da
– “Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o linguagem normalmente empregada por ____________
senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, ago- em sua obra.
ra mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo
o seu lugar, do senhor, na canoa! ...” E, assim dizendo, Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna.
meu coração bateu no compasso do mais certo. a) Graciliano Ramos.
Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n’água, pro- b) José Lins do Rego.
ava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de re- c) Raquel de Queiroz.
pente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito d) Jorge Amado.
um saudar de gesto – o primeiro, depois de tamanhos e) João Guimarães Rosa.
anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados
os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento 2. “O período de 1930 a 1945 registrou a estreia de alguns
desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte dos nomes mais significativos do romance brasileiro. As-
de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão. sim é que, refletindo o mesmo momento histórico e apre-
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém sentando as mesmas preocupações dos poetas da década
soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? de 30, encontramos autores que produzem uma literatura
Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando
tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora.”
Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem
em mim, e me depositem também numa canoinha de Não pertence ao período acima:
nada, nessa água que não para, de longas beiras: e, eu, a) Clarice Lispector.
rio abaixo, rio a fora, rio a dentro – o rio.
b) Rachel de Queiroz.
ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro:
José Olympio, Civilização Brasileira, Três, 1974, p. 51–56. c) José Lins do Rego.
d) Graciliano Ramos.
5. (Insper) A respeito da reação da mãe, diante da deci-
e) Jorge Amado.
são do marido, é correto afirmar que ela:
a) revela indignação, uma vez que não compreende o 3. ”O jagunço Riobaldo conta sua vida nos campos
motivo da atitude do marido. gerais, onde tem destaque seu amor por Diadorim. A
b) demonstra apatia, visto que tal atitude não mudou história segue o ritmo dos romances de cavalaria, fu-
radicalmente a rotina familiar. gindo aos padrões do realismo. O livro é uma sucessão
c) manifesta desespero, pois a canoa construída parecia de frases evocativas de Riobaldo, numa cronologia
muito frágil para um rio tão perigoso. própria, frases curtas em que as palavras, frequente-
d) demonstra desgosto, pois aquilo comprovava a sus- mente, aparecem em ordem inversa.”
peita de que ele enlouquecera. O trecho acima refere-se a:
e) mostra-se revoltada, porque o marido usou dos recursos
financeiros da família para construir o barco. a) “São Bernardo”.
b) “Fogo Morto”.
6. (Insper) O sentimento de fracasso do narrador reve- c) “A Bagaceira”.
lado no último parágrafo pela expressão “Sou homem,
d) “Grande Sertão: Veredas”.
depois desse falimento?” tem como causa o aconteci-
mento relatado em: e) “Angústia”.
a) “Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito.” 4.
b) “Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?”
I. Dentre as obras de José Lins do Rego, podemos citar:
c) “Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, MENINO DO ENGENHO, O MOLEQUE RICARDO e USINA.
para saber.”
d) “Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, II. Erico Verissimo é contemporâneo de Raquel de Quei-
só com nosso pai me achava: assunto que jogava para roz e Graciliano Ramos.
trás meus pensamentos.” III. A poesia concreta, ou Concretismo, impôs-se, a partir
e) “Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de 1956, como uma das expressões mais vivas e atuan-
de lá, num procedimento desatinado” tes de nossa vanguarda estética.

106
Quanto às afirmações anteriores, assinale: Algo está errado
a) se todas estão corretas. nesta nossa vida:
b) se apenas I e II estão corretas. ela é uma rainha
c) se apenas II e III estão corretas. e não há quem diga.”
d) se apenas I e III estão corretas. Ferreira Gullar. “Melhores poemas”.
e) se todas estão incorretas. a) Cite dois elementos constitutivos do poema que con-
tribuem para acentuar o seu caráter de apelo “popular”.

E.O. Dissertativo b) Compare os textos e discorra sobre a descrição da


nordestina, considerando:
• as perspectivas diferentes do narrador e sujeito lírico.
1. (UFU) Leia os textos a seguir.
• os aspectos convergentes das opiniões do narrador
e sujeito lírico.
TEXTO A

“Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar
por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou FELIZ ANIVERSÁRIO
de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-se
‘panos’, diziam que vinham do fígado. Disfarçava os pa- A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de
nos com grossa camada de pó branco e se ficava meio Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita sig-
caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um nificava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A
pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeites
saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de paetês e um drapejado disfarçando a barriga sem
de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria
murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem
pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, todos os laços fossem cortados – e esta vinha com o
embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve seu melhor vestido para mostrar que não precisava de
brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas me-
para ela na rua, ela era café frio. [...] Só eu a amo.” ninas já de peito nascendo, infantilizadas com babados
cor--de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovar-
Clarice Lispector. “A hora da estrela”. dado pelo terno novo e pela gravata.
TEXTO B Tendo Zilda – a filha com quem a aniversariante morava
– disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como
“Uma nordestina
numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois
Ela é uma pessoa
de cumprimentar com cara fechada aos de casa, abole-
no mundo nascida. tou–se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico,
Como toda pessoa mantendo sua posição ultrajada. “Vim para não deixar
é dona da vida. de vir”, dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofen-
dida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, ama-
Não importa a roupa relos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude
de que está vestida. tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados
Não importa a alma com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
aberta em ferida. Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá.
Ela é uma pessoa O marido viria depois. E como Zilda – a única mulher
e nada a fará entre os seis irmãos homens e a única que, estava de-
desistir da vida. cidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar
Nem o sol de inferno a aniversariante –, e como Zilda estava na cozinha a
a terra ressequida ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches,
ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos
a falta de amor
de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila
a falta de comida. oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê
É mulher é mãe: para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa
rainha da vida. e uniformizada, com a boca aberta.
De pés na poeira E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia
de trapos vestida hoje oitenta e nove anos.
é uma rainha
LISPECTOR, Clarice. Laços de família.
e parece mendiga: Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, pp. 59–60.
a pedir esmolas
a fome a obriga.

107
2. (PUC-RJ) Há trinta anos morria uma das mais impor- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
tantes escritoras brasileiras – Clarice Lispector. Sua
(...) Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá
obra, composta basicamente de romances e contos,
esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se
representa uma tentativa de decifrar os mistérios da
resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos
criação e a densidade das relações humanas. A partir da
no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das gran-
leitura do fragmento do conto “Feliz aniversário” trans-
des e pequenas horas, não se podendo facilitar – é todos
crito anteriormente, responda à seguinte pergunta: que
contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descui-
relação pode ser estabelecida entre o título do texto e dar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não
o comportamento das personagens? tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa ne-
3. (UFU) Leia o trecho a seguir. nhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa
encantoada – erra rumo, dá em aleijões como esses, dos
“– Severino, retirante, meninos sem pernas e braços. (...)
o meu amigo é bem moço; Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas.
sei que a miséria é mar largo, 5. (UFSCar) Uma das principais características da obra de
não é como qualquer poço: Guimarães Rosa é sua linguagem artificiosamente inven-
mas sei que para cruzá-la tada, barroca até certo ponto, mas instrumento adequado
vale bem qualquer esforço. para sua narração, na qual o sertão acaba universalizado.
– Seu José, mestre carpina, a) Transcreva um trecho do texto apresentado, onde
e quando é fundo o perau? esse tipo de “invenção” ocorre.
quando a força que morreu b) Transcreva um trecho em que a sintaxe utilizada
nem tem onde se enterrar, por Rosa configura uma variação linguística que con-
por que ao puxão das águas traria o registro prescrito pela língua padrão.
não é melhor se entregar?
– Severino, retirante,
o mar de nossa conversa E.O. Enem
precisa ser combatido, 1. (Enem) Tudo no mundo começou com um sim. Uma
sempre, de qualquer maneira, molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.
porque senão ele alaga Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-
e devasta a terra inteira. -história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve.
– Seu José, mestre carpina, Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
e em que nos faz diferença […]
que como frieira se alastre,
Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas
ou como rio na cheia,
continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as
se acabamos naufragados
coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-
num braço do mar miséria?”
-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta
João Cabral de Melo Neto. “Morte e vida severina”.
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato.
Baseado nos versos anteriores, responda. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o
a) Além de ser escrito em versos, o trecho acima apre- que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra
senta outros recursos estilísticos que são usados pela li- mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por
teratura. Cite e exemplifique DOIS desses procedimentos, aí aos montes.
que nos levam a considerar esse trecho como literário. Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado
b) Comente UMA crítica social implícita nesses versos. de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos
poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de.
4. (UFU) A revista “Cadernos de Literatura Brasileira” De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que
perguntou a João Cabral de Melo Neto se haveria al- estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só
gum aspecto de sua obra com o qual a crítica não havia não inicio pelo fim que justificaria o começo — como a
trabalhado, ao que o poeta respondeu: morte parece dizer sobre a vida — porque preciso regis-
“A crítica nunca se preocupa com o humor negro de trar os fatos antecedentes.
minha poesia. Leia “Dois parlamentos”, por exemplo. LISPECTOR, C. A hora da estrela.
É puro humor negro. Em “Morte e vida severina”, tam- Rio de Janeiro: Rocco, 1988 (fragmento).
bém existe humor negro. Você lembra daquele trecho A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompa-
– Mais sorte tem o defunto, nha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada
irmãos das almas, com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da
escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade
pois já não fará na volta
porque o narrador:
a caminhada.”?
a) observa os acontecimentos que narra sob uma óptica
Trecho da segunda cena da obra, em que Severino
distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.
encontra dois homens carregando um defunto.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de inves-
Explique, pelo contexto da obra, o “humor negro” tigar os motivos que levaram aos eventos que a com-
desses versos. põem.

108
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões exis- meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a
tenciais e sobre a construção do discurso. mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer
d) admite a dificuldade de escrever uma história em ra- que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, seden-
zão da complexidade para escolher as palavras exatas. to, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro,
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do
metafísica, incomuns na narrativa de ficção. sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio
há de proteger minha pobreza e minha devoção.
2. (Enem 2016) A PARTIDA DE TREM SUASSUNA, A. O santo e a porca.
Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o
táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Al- Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o
varenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e peste” e “cachorro da molest’a” contribui para:
encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e a) marcar a classe social das personagens.
com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura b) caracterizar usos linguísticos de uma região.
de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora c) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-
d) sinalizar a influência do gênero nas escolhas
-se a um certo ponto – e o que foi não importa. Começa vocabulares.
uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Rece-
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das
beu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do
personagens.
trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que
neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quan- 4. (Enem 2016) Antiode
do a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se
um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa dire- Poesia, não será esse
ção e sentara-se de costas para o caminho. o sentido em que
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: ainda te escrevo:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
flor! (Te escrevo:
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse flor! Não uma
que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia
flor, nem aquela
ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigra-
nado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo bro- flor-virtude – em
che. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini: disfarçados urinóis).
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de
Flor é a palavra
lugar?
flor; verso inscrito
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento). no verso, como as
manhãs no tempo.
A descoberta de experiências emocionais com base no
cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No Flor é o salto
fragmento, o narrador enfatiza o(a): da ave para o voo:
o salto fora do sono
a) comportamento vaidoso de mulheres de condição
quando seu tecido
social privilegiada.
se rompe; é uma explosão
b) anulação das diferenças sociais no espaço público
posta a funcionar,
de uma estação.
como uma máquina,
c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de uma jarra de flores.
gerações diferentes.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição.
d) constrangimento da aproximação formal de pesso- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
as desconhecidas.
e) sentimento de solidão alimentado pelo processo A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da
de envelhecimento. linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse frag-
mento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração
3. (Enem 2016) PINHÃO sai ao mesmo tempo que BE- de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de:
NONA entra. a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
com você. b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá vanguardas do início do século XX.
fora, mas não quero falar com ele. c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções. imagem historicamente ligada à palavra poética.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não! d) uma máquina, levando em consideração a relevância
BENONA: Isso são coisas passadas. do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Es- e) um tecido, visto que sua composição depende de
perava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse elementos intrínsecos ao eu lírico.

109
5. (Enem) Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro Texto II
no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-
O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho -a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe,
e habilidoso. Pergunto: – Zé-Zim. por que é que você não também segue no caminho do Recife. A autoapresenta-
cria galinhas-d’angola, como todo o mundo faz? — Quero
ção do personagem, na fala inicial do texto, nos mos-
criar nada não... – me deu resposta: — Eu gosto muito de
tra um Severino que, quanto mais se define, menos se
mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu,
individualiza, pois seus traços biográficos são sempre
tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou
também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozi- partilhados por outros homens.
nho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos.
Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).
dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá,
nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I)
em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação
de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe. entre o texto poético e o contexto social a que ele faz
ROSA. J. G. Grande Sertão Veredas. Rio de referência aponta para um problema social expresso li-
Janeiro: José Olympio (fragmento). terariamente pela pergunta “Como então dizer quem
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decor- fala/ ora a Vossas Senhorias?”. A resposta à pergunta
rente de uma desigualdade social típica das áreas rurais bra- expressa no poema é dada por meio da
sileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação a) descrição minuciosa dos traços biográficos perso-
de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, nagem-narrador.
destaca-se essa relação porque o personagem-narrador: b) construção da figura do retirante nordestino como um
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, de- homem resignado com a sua situação.
monstrando sua pouca disposição em ajudar seus c) representação, na figura do personagem-narrador,
agregados, uma vez que superou essa condição graças de outros Severinos que compartilham sua condição.
à sua força de trabalho. d) apresentação do personagem-narrador como uma
b) descreve o processo de transformação de um meeiro projeção do próprio poeta em sua crise existencial.
— espécie de agregado — em proprietário de terra. e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, or-
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos gulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.

E.O. UERJ
d) mostra como a condição material da vida do serta-
nejo é dificultada pela sua dupla condição de homem
livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente
com sua posição social, de proprietário de terras.
Exame Discursivo
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
6. (Enem)
Texto I
Texto I – UAI, EU?
O meu nome é Severino, Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale
enterrar minhocas? De como aqui me vi, sutil assim, por
não tenho outro de pia. tantas cargas d’água. No engano sem desengano: o de
Como há muitos Severinos, aprender prático o desfeitio da vida.
que é santo de romaria, Sorte? A gente vai – nos passos da história que vem.
deram então de me chamar Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que sem-
Severino de Maria; pre fui arrimo de pai bêbado. Só que isso se deu, o que
como há muitos Severinos quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que
com mães chamadas Maria, saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tem-
fiquei sendo o da Maria, pos! Eu trabalhava para um senhor Doutor Mimoso.
do finado Zacarias, Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama – olh’alegre,
mas isso ainda diz pouco: justo, inteligentudo – de calibre de quilate de caráter. Bom
há muitos na freguesia, até-onde-que, bom como cobertor, lençol e colcha, bom
por causa de um coronel mesmo quando com dor-de-cabeça: bom, feito mingau
que se chamou Zacarias adoçado. Versando chefe os solertes preceitos. Ordem, por
e que foi o mais antigo fora; paciência por dentro. Muito mediante fortes cálculos,
senhor desta sesmaria. imaginado de ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro
Como então dizer quem fala poder ir ver seus chamados de seus doentes, tinha fecha-
ora a Vossas Senhorias? do um piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à
MELO NETO, J. C. Obras completa.
mão, dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento) Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás, com a

110
maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque, estu- à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde
dante andante. Pois ele comigo proseava, me alentando, o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara
cabidamente, por norteação – a conversa manuscrita. aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha.
Aquela conversa me dava muitos arredores. Ô homem! De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera
Inteligente como agulha e linha, feito pulga no escuro, no Mutum, tinha dito: – “É um lugar bonito, entre 7morro
como dinheiro não gastado. Atilado todo em sagacida- e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de
des e finuras - é de “fimplus”! “de tintínibus”... - latim, qualquer parte; e lá chove sempre...”
o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso, para ele, era fritada de Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e com-
meio ovo. O que porém bem. pridos, se doía de tristeza de ter de viver ali.
(ROSA, João Guimarães. Tutameia: terceiras estórias.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.) Queixava-se, principalmente nos demorados meses chu-
vosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão
Texto II escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem,
qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. – “Oê,
NO MEIO DO CAMINHO ah, o triste recanto...” – ela exclamava. Mesmo assim,
No meio do caminho tinha uma pedra enquanto esteve fora, só com o Tio Terêz, Miguilim pa-
tinha uma pedra no meio do caminho deceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes
tinha uma pedra nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobrir,
no meio do caminho tinha uma pedra. por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cus-
pe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao Tio
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. Terêz que molhasse para ele o lenço; 4e Tio Terêz, quando
Nunca me esquecerei que no meio do caminho davam com um riacho, um 2minadouro ou um poço de
tinha uma pedra grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chi-
tinha uma pedra no meio do caminho fre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado
no meio do caminho tinha uma pedra. d’água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas
chapadas, então Tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.)
cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entre-
laçada com cipós, que era tão formosa. – “É para beber,
1. (UERJ) A obra de Guimarães Rosa, citado como gran- Miguilim...” – Tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria
de renovador da expressão literária, é também reconhe- também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para
cida pela contribuição linguística, devido à utilização de empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho.
termos regionais, palavras novas, não dicionarizadas, o Gostava do Tio Terêz, irmão de seu pai.
que chamamos NEOLOGISMOS, especialmente para ex- 5
Quando voltou para casa, seu maior pensamento era
pressar situações ou opiniões de seus personagens. que tinha a boa notícia para dar à mãe: o que o homem
a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de ne- tinha falado – que o Mutum era lugar bonito... A mãe,
ologismo e explique, em uma frase completa, o seu quando ouvisse essa certeza, havia de se alegrar, ficava
sentido no texto. consolada. Era um presente; e a ideia de poder trazê-lo
b) Compare o adjetivo “inteligentudo” (par. 2) com desse jeito de cor, como uma salvação, deixava-o febril
“barbudo”, “barrigudo”, “sortudo”. Escreva duas até nas pernas. 3Tão grave, grande, que nem o quis dizer
formas da língua padrão – a primeira com duas pa- à mãe na presença dos outros, mas insofria por ter de
lavras; a segunda com uma palavra – que equivalem esperar; e, assim que pôde estar com ela só, abraçou-se a
semanticamente ao neologismo “inteligentudo”. seu pescoço e contou-lhe, estremecido, aquela revelação.
GUIMARÃES ROSA
2. (UERJ) Depois de aposentar-se, José Maria passa a Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
contemplar a natureza e a percebê-la de duas formas
Vocabulário:
diferentes. 1
covoão – baixada estreita e profunda
Transcreva do texto uma passagem que exemplifique 2
minadouro – olho d’água, quase sempre nascente
cada uma dessas percepções. Em seguida, explique a de um córrego ou de um ribeirão

diferença entre elas.


3. (UERJ) Guimarães Rosa se caracteriza pela lingua-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: gem instigante que encanta e desconcerta, permitindo
ao leitor familiarizar-se com o potencial criativo da Lín-
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus gua Portuguesa.
irmãos, 6longe, longe daqui, muito depois da Vereda-do-
-Frango-d’Água e de outras veredas sem nome ou pouco Observe o fragmento do texto:
conhecidas, em ponto remoto, no Mutum. No meio dos
Campos Gerais, mas num 1covoão em trecho de matas, “Tão grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na pre-
terra preta, pé de serra. sença dos outros, mas insofria por ter de esperar;” (ref. 3)
Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia Aponte o significado do prefixo da palavra sublinhada e
saído dali, pela primeira vez: o Tio Terêz levou-o a cavalo, explicite, em uma frase completa, o sentido dessa palavra.

111
E.O. Objetivas java para procurar a bordadeira. Era mais um passeio
que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada.
Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o ma-
rido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de
galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A
O nada que é bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o
marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bordar
Um canavial tem a extensão
a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz!
ante a qual todo metro é vão.
Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo
Tem o escancarado do mar calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que
que existe para desafiar sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa al-
moçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido,
que números e seus afins cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh
possam prendê-lo nos seus sins. pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a
perplexidade diante da liberdade da bordadeira pobre.
Ante um canavial a medida Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.
métrica é de todo esquecida,
Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.
porque embora todo povoado
3. (Unifesp) O emprego do adjetivo “sensível” como
povoa-o o pleno anonimato
substantivo, no título do texto, revela a intenção de:
que dá esse efeito singular: a) ironizar a ideia de sentimento, então destituído de
de um nada prenhe como o mar. subjetividades e ambiguidades na expressão da senhora.
João Cabral de Melo Neto. b) priorizar os aspectos relacionados aos sentimen-
Museu de tudo e depois, 1988. tos, como conteúdo temático do conto e expressão
do que vive a senhora.
1. (Unifesp) Ao comparar o canavial ao mar, a imagem c) explorar a ideia de liberdade em uma narrativa em
construída pelo eu lírico formaliza-se em: que o efeito de objetividade limita a expressão dos
a) uma assimetria entre a ideia de nada e a de anonimato. sentimentos da senhora.
b) uma descontinuidade entre a ideia de mar e a de canavial. d) traduzir a expressão comedida da senhora ante a
c) uma contradição entre a ideia de extensão e a de canavial. vida e os sentimentos mais intensos, como na relação
d) um paradoxo entre a ideia de nada e a de imensidão. com a bordadeira.
e) um eufemismo entre a ideia de metro e a de medida. e) dar relevância aos aspectos subjetivos das relações
humanas, pondo em sintonia os pontos de vista da
2. (Unifesp) Nos versos iniciais do poema – Um canavial senhora e da bordadeira.
tem a extensão / ante a qual todo metro é vão. –, metro
é concebido como: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
a) forma ineficaz de se medir a extensão de um canavial. Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que
b) forma de se medir corretamente um canavial. a emocionou, perguntou–lhe:
c) meio de se dizer mais de um canavial do que só
sua extensão. – E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
d) tradução subjetiva da extensão de um canavial. – Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes
e) meio de se medir a extensão de um canavial que ele mudasse de ideia.
com precisão. – E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. – Macabéa.
Maca – o quê?
A sensível – Bea, foi ela obrigada a completar.
Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia – Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A – Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele
cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia supor- por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vin-
tar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor gasse, até um ano de idade eu não era chamada porque
enquanto este cantava alegre – virava para o lado o ros- não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser cha-
to magoado, insuportável, por piedade, não suportando mada em vez de ter um nome que ninguém tem mas
a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito parece que deu certo – parou um instante retomando o
com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor
sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria. – pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como – Também no sertão da Paraíba promessa é questão de
de doença, escolheu um domingo em que o marido via- grande dívida de honra.

112
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva c) O narrador retarda bastante o início da narração
grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferra- da história de Macabéa, vinculando esse adiamento
gem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, a um auto questionamento radical.
parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de d) Os sofrimentos da migrante nordestina são realça-
que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao lan- dos, no livro, pelo contraste entre suas desventuras
çado recém–lançado–namorado: na cidade grande e suas lembranças de uma infância
– Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor? pobre, mas vivida no aconchego familiar.
Da segunda vez em que se encontraram caía uma chuva e) O estilo do livro é caracterizado, principalmente,
fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se pela oposição de duas variedades linguísticas: lin-
darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de guagem culta, literária, em contraste com um grande
Macabéa parecia lágrimas escorrendo. número de expressões regionais nordestinas.
Clarice Lispector, A hora da estrela.
7. (Fuvest) Considere as seguintes comparações entre
4. (Fuvest) Neste excerto, as falas de Olímpico e Macabéa: “Vidas secas” e “A hora da estrela”:
a) aproximam–se do cômico, mas, no âmbito do livro, I. Os narradores de ambos os livros adotam um esti-
evidenciam a oposição cultural entre a mulher nor- lo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais,
destina e o homem do sul do País. condizente com o mundo de escassez e privação que
b) demonstram a incapacidade de expressão verbal retratam.
das personagens, reflexo da privação econômica de II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as difi-
que são vítimas. culdades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabia-
c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da no e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.
obra, adquirem um sentido de humor e sátira social.
III. A personagem Sinhá Vitória (“Vidas secas”), por viver
d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito isolada em meio rural, não possui elementos de referên-
que opõe os princípios antagônicos do Bem e do Mal. cia que a façam aspirar por bens que não possui; já Ma-
e) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do cabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos
desamparo social e existencial das personagens. da sociedade de consumo.
5. (Fuvest) Devo registrar aqui uma alegria. É que a Está correto apenas o que se afirma em:
moça num aflitivo domingo sem farofa teve uma ines-
a) I.
perada felicidade que era inexplicável: no cais do porto
viu um arco–íris. Experimentando o leve êxtase, ambi- b) II.
cionou logo outro: queria ver, como uma vez em Ma- c) III.
ceió, espocarem mudos fogos de artifício. Ela quis mais d) I e II.
porque É MESMO UMA VERDADE QUE QUANDO SE DÁ e) II e III.
A MÃO, ESSA GENTINHA QUER TODO O RESTO, O ZÉ-PO-
VINHO SONHA COM FOME DE TUDO. E QUER MAS SEM TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
DIREITO ALGUM, POIS NÃO É? Poetas e tipógrafos
Clarice Lispector, “A hora da estrela”.
Vice-cônsul do Brasil em Barcelona em 1947, o poeta João
Considerando-se no contexto da obra o trecho destaca- Cabral de Melo Neto foi a um médico por causa de sua
do, é correto afirmar que, nele, o narrador: crônica dor de cabeça. Ele lhe receitou exercícios físicos,
a) assume momentaneamente as convicções elitistas para “canalizar a tensão”. João Cabral seguiu o conselho.
que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa. Comprou uma prensa manual e passou a produzir à mão,
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos domesticamente, os próprios livros e os dos amigos. E,
da própria Macabéa diante dos fogos de artifício. com tal “ginástica poética”, como a chamava, tornou-se
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a rea- essa ave rara e fascinante: um editor artesanal.
ção de Macabéa frente ao espetáculo. Um livro recém-lançado, “Editores Artesanais Brasilei-
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamen- ros”, de Gisela Creni, conta a história de João Cabral e
te as injustiças sociais e cobrando sua superação. de outros sonhadores que, desde os anos 50, enriquece-
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito anti- ram a cultura brasileira a partir de seu quarto dos fun-
popular, desenvolvendo-a na direção da ironia. dos ou de um galpão no quintal.
O editor artesanal dispõe de uma minitipografia e faz
6. (Fuvest) Identifique a afirmação correta sobre “A
tudo: escolhe a tipologia, compõe o texto, diagrama-
hora da estrela”, de Clarice Lispector:
-o, produz as ilustrações, tira provas, revisa, compra o
a) A força da temática social, centrada na miséria brasi- papel e imprime – em folhas soltas, não costuradas –
leira, afasta do livro as preocupações com a linguagem, 100 ou 200 lindos exemplares de um livrinho que, se
frequentes em outros escritores da mesma geração. não fosse por ele, nunca seria publicado. Daí, distribui-
b) Se o discurso do narrador critica principalmente a pró- -os aos subscritores (amigos que se comprometeram a
pria literatura, as falas de Macabéa exprimem sobretudo comprar um exemplar). O resto, dá ao autor. Os livreiros
as críticas da personagem às injustiças sociais. não querem nem saber.

113
Foi assim que nasceram, em pequenos livros, poemas de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recu-
de – acredite ou não – João Cabral, Manuel Bandeira, sou- -se a bordar a toalha porque não gostava de fazer
Drummond, Cecília Meireles, Joaquim Cardozo, Vinicius ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se”
de Moraes, Lêdo Ivo, Paulo Mendes Campos, Jorge de tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres
Lima e até o conto “Com o Vaqueiro Mariano” (1952), era pensar que sempre, desde pequena, fora muito
de Guimarães Rosa. limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quar-
E de Donne, Baudelaire, Lautréamont, Rimbaud, Mallar- to meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e
mé, Keats, Rilke, Eliot, Lorca, Cummings e outros, tradu- sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia”
zidos por amor. nada. Senão talvez a perplexidade diante da liberdade
João Cabral não se curou da dor de cabeça, mas valeu. da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de
espera. A liberdade.
Ruy Castro. Folha de S.Paulo, 17.08.2013. Adaptado.
Clarice Lispector. Os melhores contos de Clarice Lispector, 1996.
8. (Unifesp) As informações do texto permitem
9. (Unifesp) A narrativa delineia entre as personagens
afirmar que:
da senhora e da bordadeira uma relação de:
a) a edição artesanal, como a praticada por João Ca-
a) cumplicidade, entendida como ajuda entre duas
bral de Melo Neto, permitiu que a cultura nacional
mulheres cujas vidas mostram–se tão distintas.
fosse enriquecida com obras de expressivos escritores.
b) animosidade, marcada pela recusa afrontosa
b) as edições artesanais, como as de João Cabral de
da segunda em atender ao pedido emergencial
Melo Neto, raramente se destinam à produção de
da primeira.
obras literárias para pessoas dos círculos íntimos de
convivência dos autores. c) oposição, determinada pela superioridade social e
econômica da primeira e a liberdade da segunda.
c) a edição artesanal é uma realidade específica do
Brasil, retratando a dificuldade que autores como d) sujeição, fortalecida naturalmente pelas condições
Vinicius de Moraes e Guimarães Rosa tiveram para econômicas da primeira, superiores às da segunda.
publicar suas obras. e) incompreensão, decorrente do desejo da primeira
d) a venda de uma edição artesanal se dá com um de que a segunda trabalhasse num dia de domingo.
grande volume de livros, razão pela qual desperta
grande interesse comercial e cultural dos editores TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
no Brasil.
e) os livreiros normalmente têm pouco interesse por Essa vida por aqui
livros artesanais, como os de Manuel Bandeira e Cecí- é coisa familiar;
lia Meireles, por considerarem-nos uma forma menor mas diga-me retirante,
de expressão artística. sabe benditos rezar?
sabe cantar excelências,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: defuntos encomendar?
sabe tirar ladainhas,
A sensível sabe mortos enterrar?
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida Severina.
Foi então que ela atravessou uma crise que nada pa-
recia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda 10. (Fuvest) Neste contexto, o verso “defuntos encomen-
piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, dar” significa:
mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o
a) ordenar a morte de alguém.
rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – vi-
rava para o lado o rosto magoado, insuportável, por b) lavar e vestir o defunto.
piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de c) matar alguém.
repente comprimia o peito com as mãos enluvadas d) preparar a urna funerária.
– assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem e) orar pelo defunto.
mesmo a simpatia por si própria.
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como
de doença, escolheu um domingo em que o marido E.O. Dissertativas
viajava para procurar a bordadeira. Era mais um pas-
seio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na
1. (Unifesp) Leia o texto.
calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia”
que o marido a enganava. Assim foi procurar a borda- Quando chega o dia da casa cair – que, com ou sem ter-
deira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de remotos, é um dia de chegada infalível, – o dono pode
lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se estar: de dentro, ou de fora. É melhor de fora. E é a só
meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara coisa que um qualquer-um está no poder de fazer. Mes-

114
mo estando de dentro, mais vale todo vestido e perto léguas de viola ou sanfona, ou de qualquer outra quali-
da porta da rua. Mas, Nhô Augusto, não: estava deitado dade de música que escuma tristezas no coração.”
na cama – o pior lugar que há para se receber uma sur- João Guimarães Rosa, “A hora e a vez de Augusto Matraga”, em
presa má. “Sagarana”. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1984, p.359.
E o camarada Quim sabia disso, tanto que foi se en- a) Identifique o casal que vive junto com o protago-
costando de medo que ele entrou. Tinha poeira até na nista da narrativa.
boca. Tossiu. b) Explique o comportamento do protagonista no tre-
– Levanta e veste a roupa, meu patrão Nhô Augusto, cho citado, confrontando-o com sua trajetória de vida.
que eu tenho uma novidade meia ruim, pr’a lhe contar. c) O que há de contraditório no descanso dominical a
E tremeu mais, porque Nhô Augusto se erguia de um que o narrador se refere?
pulo e num átimo se vestia. Só depois de meter na cin-
tura o revólver, foi que interpelou, dente em dente: 3. (Fuvest) Leia este trecho de “A hora da estrela”, de Cla-
rice Lispector, no qual Macabéa, depois de receber o aviso
– Fala tudo! de que seria despedida do emprego, olha–se ao espelho:
Quim Recadeiro gaguejou suas palavras poucas, e ainda Depois de receber o aviso foi ao banheiro para ficar sozi-
pôde acrescentar: nha porque estava toda atordoada. Olhou-se maquinal-
– ... Eu podia ter arresistido, mas era negócio de honra, mente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada,
com sangue só p’ra o dono, e pensei que o senhor podia cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida.
não gostar... Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia
– Fez na regra, e feito! Chama os meus homens! imagem alguma. Sumira por acaso a sua existência físi-
ca? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda
Dali a pouco, porém, tornava o Quim, com nova desola- deformada pelo espelho ordinário, o nariz tornado enor-
ção: os bate-paus não vinham... Não queriam ficar mais me como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se
com Nhô Augusto... e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.
O Major Consilva tinha ajustado, um e mais um, os qua- a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa, não se ver
tro, para seus capangas, pagando bem. Não vinham, refletida no espelho liga-se imediatamente ao aviso de
mesmo. O mais merecido, o cabeça, até mandara dizer, que seria despedida. Projetando essa ausência de reflexo
faltando ao respeito: – Fala com Nhô Augusto que sol no contexto mais geral da obra, como você a interpreta?
de cima é dinheiro!... P’ra ele pagar o que está nos de- b) Também no contexto da obra, explique por que o
vendo... E é mandar por portador calado, que nós não narrador diz que Macabéa pensou “levemente”.
podemos escutar prosa de outro, que seu major disse
que não quer. 4. (Fuvest) No conto “A hora e vez de Augusto Matra-
– Cachorrada!... Só de pique... Onde é que eles estão? ga”, de Guimarães Rosa, o protagonista é um homem
– Indo de mudados, p’ra a chácara do Major... rude e cruel, que sofre violenta surra de capangas inimi-
– Major de borra! Só de pique, porque era inimigo do gos e é abandonado como morto, num brejo. Recolhido
meu pai!... Vou lá! por um casal de matutos, Matraga passa por um lento
João Guimarães Rosa. e doloroso processo de recuperação, em meio ao qual
A hora e vez de Augusto Matraga. recebe a visita de um padre, com quem estabelece o
a) No sertão de Guimarães Rosa, frequentemente faz-se seguinte diálogo:
referência a aspectos de um código de ética, de caráter – Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruin-
tradicional, que rege a vida das personagens. Transcreva dade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?
as duas falas do diálogo em que se menciona uma situ- – Tem, meu filho. Deus mede a espora pela rédea, e não
ação em que esse código não é quebrado. tira o estribo do pé de arrependido nenhum... (...) Sua
b) Indique duas palavras ou expressões presentes nos vida foi entortada no verde, mas não fique triste, de
diálogos entre as personagens que não correspondem modo nenhum, porque a tristeza é aboio de chamar de-
à norma-padrão da língua. Compare o modo como o mônio, e o Reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira
autor emprega a língua nos diálogos e no discurso do de sua algibeira, desde que você esteja com a graça de
narrador, explicando as diferenças entre os dois usos.
Deus, que ele não regateia a nenhum coração contrito.
2. (Unicamp) Leia a seguinte passagem de “A hora e a a) A linguagem figurada amplamente empregada
vez de Augusto Matraga”: pelo padre é adequada ao seu interlocutor? Justifi-
“O casal de pretos, que moravam junto com ele, era quem que sua resposta.
mandava e desmandava na casa, não trabalhando um b) Transcreva uma frase do texto que tenha sentido
nada e vivendo no estadão. Mas, ele, tinham-no visto mou- equivalente ao da frase “não regateia a nenhum co-
rejar até dentro da noite de Deus, quando havia luar claro. ração contrito.”
Nos domingos, tinha o seu gosto de tomar descanso:
batendo mato, o dia inteiro, sem sossego, sem espin-
garda nenhuma e nem nenhuma arma para caçar; e,
de tardinha, fazendo parte com as velhas corocas que
rezavam o terço ou os meses dos santos. Mas fugia às

115
Gabarito E.O. UERJ
Exame Discursivo
E.O. Aprendizagem 1.
1. E 2. E 3. C a) Desfeitio
Na expressão “o desfeitio da vida”, pode-se ressaltar

E.O. Fixação o sentido de que a vida não tem feição ou configu-


ração certa.
1. D 2. A 3. A 4. D 5. A b) Uma dentre as formas:
§§ muito inteligente
6. E
§§ bastante inteligente
§§ bem inteligente
E.O. Complementar §§ deveras inteligente
§§ assaz inteligente
1. E 2. A 3. D 4. A §§ inteligentíssimo
2. O título do conto reflete com ironia o contraste entre a
E.O. Dissertativo concepção tradicional de uma festa de aniversário e o com-
portamento das personagens. As atitudes e os sentimentos
1.
dos membros da família, com exceção da própria aniversa-
a) Linguagem simples, repetições, contrastes (apesar riante, indicam um clima de animosidade, hipocrisia e desa-
de pobre, é rainha da vida). gregação familiar.
b) Para o narrador (primeiro texto), a nordestina só é
vista e amada por ele, não tem valor para a socieda- 3. Movimento para dentro
de. É uma pessoa indefesa, fraca. Uma das possibilidades:
Para o eu lírico (segundo texto), a nordestina, apesar das di- §§ O menino sofria por dentro.
ficuldades da vida, é forte, valente, dona de sua própria vida. §§ O menino não dava sinais aparentes do seu sofrimento.
2. O título é uma ironia, pois há um contraste entre a concep- §§ O menino não queria demonstrar à mãe seu sofrimento.
ção tradicional de uma festa de aniversário e o comportamento
das personagens. As atitudes dos componentes da família de-
monstravam a hipocrisia que havia entre eles, com exceção da
E.O. Objetivas
aniversariante. (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. A 3. B 4. C 5. E
3.
a) uso de conotação e de rimas. 6. C 7. B 8. A 9. C 10. E
Exemplos:
Rimas
“sempre, de qualquer maneira,
E.O. Dissertativas
porque senão ele alaga (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
e devasta a terra inteira”. 1.
Conotação a) “– ... Eu podia ter arresistido, mas era negócio de hon-
“a miséria é mar largo,” ra, com sangue só p’ra o dono, e pensei que o senhor
b) Fome, miséria, desigualdade. podia não gostar... – Fez na regra, e feito! Chama os
meus homens!”. Neste diálogo entre Quim Recadeiro e
4. O humor negro aparece na ironia feita em relação à sorte do
Matraga percebe–se a existência de um código de con-
defunto, que seria melhor do que a dos irmãos das almas, ou
duta do sertão de Minas Gerais onde são ambientadas
seja, morrer é melhor do que a vida que se leva no sertão.
as narrativas de Guimarães Rosa. As ofensas devem ser
5. castigadas com a morte e a vingança deve ser feita indivi-
a) “Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no dualmente pela pessoa ultrajada, ou seja, o conflito deve
vai-vem, e a vida é burra”. envolver apenas ofendido e ofensor. Assim, a atitude de
b) “...a gente perdidos...” Quim Recadeiro é aprovada por Matraga, o que confir-
“...é todos contra o acaso”. ma a justeza do ato.
b) No excerto “novidade meia ruim, pr’a lhe contar”, o
advérbio “meia” é usado no feminino o que contraria
E.O. Enem a norma padrão que considera esta classe invariável.
1. C 2. E 3. B 4. A 5. D Também o verbo resistir é adaptado à oralidade na
transposição da fala em discurso direto (“Eu podia ter
6. C arresistido”). Assim, Guimarães Rosa transporta para os

116
diálogos a forma de falar do sertanejo, carregada de re-
gionalismos e expressões informais, como “fez na regra”,
“cachorrada” e “Só de pique”, ao mesmo tempo que
mantém a linguagem padrão no discurso do narrador, em
uma alquimia verbal que funde erudito e popular.
2.
a) Augusto Matraga, fazendeiro violento e beberrão,
boêmio e desrespeitador, depois de ser espancado
por capangas, rola despenhadeiro abaixo e é socorri-
do por um casal de negros, Quitéria e Serapião.
b) Após ser salvo pelo casal, Matraga resolve peniten-
ciar-se da vida desregrada que levava, dedicando-se ao
trabalho e procurando beneficiar seus salvadores. Esse
comportamento abnegado, desinteressado e bondoso
contrapõe-se ao que Matraga fora no passado.
c) O descanso era viver sem sossego.
3.
a) A ausência da reflexão de Macabéa no espelho re-
presenta falta de importância existencial e social des-
sa personagem alheia a tudo e a si mesma. É um ser
de “existência rala”, metaforizada nas expressões:
“capim”, “feto jogado no lixo”, “café frio”.
b) Macabéa, por não ter tido condições de estudar, por
ser pobre, ter vindo de um lugar totalmente diferente,
não tem consciência da sua condição. Ela não reflete
sobre sua miséria, por isso a expressão “levemente
pensou”, indicando a fragilidade da sua constatação.
4.
a) Sim, pois, penitente, Nhô Augusto se achava dócil
diante do estilo do padre, que era marcado pela mis-
tura de erudição e regionalismo. Entretanto, o regis-
tro metafórico do padre é compreensível em relação
a sua função de orientar os fiéis. Estes, geralmente,
apreciam e recebem a linguagem misteriosa da re-
ligião. Desse modo, as metáforas do padre, sem se
distanciarem do interlocutor, marcam uma distância
necessária entre o sagrado e o profano.
b) A frase é: “ ...não tira o pé de arrependimento nenhum”.

117
5e6
AULAS 39 E 40
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 15, 16 e 17

POESIA NO BRASIL: 1960-1980

E.O. Aprendizagem (  ) Incorporação do espaço gráfico.


(  ) Ruptura com o formalismo da estética anterior.
1. O texto a seguir é um claro exemplo de: ( ) O culto da forma, seja na técnica de composição,
seja na expressividade sonora.
(  ) Misticismo e retomada da tradição formal.
(  ) Metapoética e experimentalismo.
a) II, III, IV, I e V.
b) IV, V, II, I e III.
c) II, III, V, I e IV.
d) IV, II, I, III e V.
e) V, IV, II, I e III.

4. (UFU) lua à vista


brilhavas assim
sobre Auschwitz?
a) poesia-práxis.
b) poema concreto. LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. São
Paulo: Brasiliense, 1987. p. 78.
c) metalinguagem.
d) poesia social. No Haicai acima:
e) poesia dadaísta. a) o eu lírico evoca um dos mais brutais genocídios
do século XX, em que morreram milhares de judeus,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ciganos e homossexuais.
b) o autor elabora uma curiosa contradição entre a
lua e um centro de confinamento militar, relembrando
um dos mais famosos campos de concentração esta-
belecidos na Primeira Guerra Mundial.
c) Paulo Leminski apresenta uma das mais criativas
antíteses da literatura brasileira, ao estabelecer um
contraste surpreendente entre a lua e Auschwitz, fa-
2. (UEG) Para a criação do poema “Lixo”, o autor lança
mão de estímulos visuais: moso campo de concentração do Estado Sérvio.
d) o eu poético estabelece uma intrigante contraposi-
a) complexos.
ção metafórica, evocando tanto a ternura do luar como
b) comutativos.
a crueldade de uma prisão, relembrando um dos mais
c) concêntricos.
famosos campos de extermínio, símbolo da Guerra Fria.
d) contraditórios.
5. (UFF) INIMIGO OCULTO
3. (PUC-PR) A história da poesia brasileira no século XX
pode ser dividida em cinco momentos: dizem que
I. A coexistência do Parnasianismo e do Simbolismo. em algum ponto do cosmos
II. O Modernismo, iniciado oficialmente com a Semana (Le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie)*
de Arte Moderna.
um pedaço negro de rocha
III. A Geração de 45.
do tamanho de uma cidade
IV. O Concretismo. – voa em nossa direção –
V. A poesia contemporânea. perdido em meio a muitos milhares de asteroides
Numere as características abaixo de acordo com essa impelido pelas curvaturas do
divisão e assinale a alternativa que contém a sequência espaço-tempo
encontrada: extraviado entre órbitas

118
e campos magnéticos referência a sacrifícios impostos à população, obrigada a
voa acomodar-se a uma nova ordem econômica.
em nossa direção III. Nos poemas reunidos em Poesia marginal, os auto-
res enfocam a denúncia e a crítica social de uma manei-
e quaisquer que sejam os desvios
e extravios ra sisuda, sem apelar para o humor, pois visam conferir
de seu curso credibilidade ao que é dito.
deles resultará IV. A frase “Vamos substituir o Café pelo Aço” pode ser
matematicamente interpretada como uma referência à abertura do país
a inevitável colisão para a exportação de minérios, defendida por empresá-
rios e pelo Governo à época da Ditadura Militar.
não se sabe se quarta-feira próxima
ou no ano quatro bilhões e cinquenta e dois V. No primeiro e segundo versos, no jogo de palavras
da era cristã “Afirma”, “Firma” e “confirma”, repete-se o segmento
Ferreira Gullar firma; isso pode ser interpretado como uma referência
*(O silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta) à influência das grandes empresas nas políticas estatais.
VI. Na estrofe final, observa-se como Cacaso procura
Identifique a opção que apresenta a explicação ade- desvincular a linguagem das práticas sociais, ao propor
quada para o efeito de sentido resultante do uso lin-
que não há violência nas palavras em si, mas apenas na
guístico especificado.
realidade a que elas se referem.
a) Nos versos “um pedaço negro de rocha” / “voa em
a) II, IV e V.
nossa direção” (versos 4-6), o uso do pronome possessi-
b) I, III e V.
vo “nossa” rompe o vínculo entre o eu lírico e os leitores.
b) Em “dizem que” (verso 1), a expressão do sujeito c) II, V e VI.
gramatical, na terceira pessoa do plural, sem antece- d) I, II e IV.
dente textual claro, evidencia que o eu lírico se vale e) Apenas VI.
de uma outra voz para expressar o fato.
c) Nos versos “e quaisquer que sejam os desvios / e 7. Quanto aos principais representantes da Poesia Mar-
extravios / de seu curso” (versos 14-16), o pronome ginal brasileira, assinale a alternativa que apresente os
possessivo “seu” se reporta ao verso “em algum pon- principais nomes que fizeram parte do movimento lite-
to do cosmos”. (verso 2) rário em questão:
d) O apagamento do objeto direto oracional em “não a) Paulo Leminski, João Cabral de Melo Neto, Arnaldo
se sabe se” (verso 20) inviabiliza a referência a “ini- Antunes e Adélia Prado.
migo oculto”. (título)
b) Clarice Lispector, Adélia Prado, Torquato Neto e
e) A combinação da preposição “de” com o pronome
Paulo Leminski.
“eles”, empregado como pronome possessivo em “deles
resultará” (verso 17), encaminha textualmente as conse- c) Arnaldo Antunes, Ferreira Gullar, Chacal e Waly Salomão.
quências das “curvaturas do espaço-tempo”. (versos 8-9) d) Paulo Leminski, Torquato Neto, Cacaso e Chacal.
e) Francisco Alvim, José Agripino de Paula, Ferreira
6. As aparências revelam Gullar e Clarice Lispector.
Afirma uma Firma que o Brasil
confirma: “Vamos substituir o 8. Sobre a Poesia Marginal, é incorreto afirmar:
Café pelo Aço”. a) Poesia Marginal foi uma designação dada à poesia
Vai ser duríssimo descondicionar produzida pela chamada “geração mimeógrafo”, in-
o paladar cluindo poetas desconhecidos cuja produção literária
Não há na violência estava fora do eixo Rio–São Paulo.
que a linguagem imita b) A Poesia Marginal ficou conhecida por esse nome
algo da violência porque seus poetas abandonaram os meios tradicio-
propriamente dita? nais de circulação das obras, comercializando seus
CACASO. As aparências revelam. In: WEINTRAUB, Fabio (Org). Poesia livros (que eram mimeografados) a baixo custo e ven-
marginal. São Paulo: Ática, 2004. p. 61. Para gostar de ler 39. dendo-os de mão e mão, dispensando assim o traba-
lho das grandes editoras.
Com base na leitura do poema, assinale a(s) proposi- c) Entre suas principais temáticas estava a preocupa-
ção(ões) correta(s) acerca da Poesia Marginal. ção com a forma e com a pesquisa poética. Nota-se
um cuidado extremo em atender aos princípios da
I. Entre as temáticas das quais se ocupou a poesia mar- norma-padrão da língua, produzindo assim uma lite-
ginal da década de 1970, havia espaço para painéis ratura canonicamente aceita pela Academia.
sociais, para a memória afetiva e a pesquisa poética
d) A tradição marginal estendeu-se pelos anos de
e para o registro literário da intimidade. Sem grandes
1980, quando outros recursos foram adotados, tais
exageros, a única regra era atender aos princípios da
como a fotocópia e a produção de fanzines.
norma padrão da língua.
e) Nos Estados Unidos, o termo “poesia marginal” é usa-
II. Os versos “Vai ser duríssimo descondicionar / o pala- do para designar a poesia produzida pelos poetas chama-
dar” podem ser entendidos metaforicamente como uma dos de beats, como Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

119
9. POETAS VELHOS
Bom dia, poetas velhos. E.O. Fixação
Me deixem na boca TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
o gosto dos versos
mais fortes que não farei. CANÇÃO DO VER

Dia vai vir que os saiba Fomos rever o poste.


tão bem que vos cite O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
como quem tê-los e de esconder.
um tanto feito também, 1
Agora ele estava tão verdinho!
acredite.
O corpo recoberto de limo e borboletas.
Percebe-se que o poema de Paulo Leminski  trava um di- Eu quis filmar o abandono do poste.
álogo temporal com os poetas que o antecederam. A O seu estar parado.
respeito do poema é correto dizer que: O seu não ter voz.
a) o diálogo produz uma linguagem que se concentra no O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
plano emotivo, explorando a subjetividade do eu-lírico; as mãos.
b) há uma preocupação do eu lírico sobre seu fazer po- Penso que a natureza o adotara em árvore.
ético, que deseja superar aqueles que o antecederam;
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos
c) em “Dia vai vir que os saiba”, o termo destacado
realiza a coesão referencial, retomando o termo “po- que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
etas”, na primeira estrofe; Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
d) em “mais fortes que não farei”, a negação revela Mas o mato era mudo.
a desistência do eu írico sobre a realização da poesia; Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
e)  Na última estrofe, há uma reverência do eu lírico que procurasse o chão para repouso.
sobre os versos que o antecederam e a ideia de ab- Tivemos saudades de nós.
sorvê-los a ponto de reproduzi-los como seus.
Manoel de Barros
10. LOGIA E MITOLOGIA Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
Meu coração 1
arrulos − canto ou gemido de rolas e pombas
de mil e novecentos e setenta e dois
já não palpita fagueiro 1. (UERJ) O título Canção do ver reúne duas esferas dife-
sabe que há morcegos de pesadas olheiras rentes dos sentidos humanos: audição e visão.
que há cabras malignas que há No entanto, no decorrer do poema, a visão predomina
cardumes de hienas infiltradas sobre a audição.
no vão da unha na alma
Os dois elementos que confirmam isso são:
um porco belicoso de radar
e que sangra e ri a) o imobilismo do poste e a saudade dos tempos
e que sangra e ri passados.
a vida anoitece provisória b) a inclinação do poste e sua adoção pela paisagem
centuriões sentinelas natural.
do Oiapoque ao Chuí. c) a aparência do poste e a suposição do arrulo dos
passarinhos.
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7Letras; d) o silêncio do poste e a impossibilidade de transcri-
São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
ção musical.
O título do poema explora a expressividade de termos
que representam o conflito do momento histórico vivido 2. (UERJ) A memória expressa pelo enunciador do texto
pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, é correto não pertence somente a ele.
afirmar que: Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo
a) o poeta utiliza uma série de metáforas zoológicas emprego de:
com significado impreciso. a) tempo passado e presente.
b) “morcegos”, “cabras” e “hienas” metaforizam as b) linguagem visual e musical.
vítimas do regime militar vigente. c) descrição objetiva e subjetiva.
c) o “porco”, animal difícil de domesticar, representa d) primeira pessoa do singular e do plural.
os movimentos de resitência.
d) o poeta caracteriza o momento de opressão através 3. (UERJ) No poema, o poste é associado à própria vida
de de forte poder de impacto. do eu poético.
e) “centuriões” e “sentinelas” simbolizam os agentes Nessa associação, a imagem do poste se constrói pelo
que garantem a paz social experimentada. seguinte recurso da linguagem:

120
a) anáfora. (  ) É correto afirmar que a capa da revista Época em-
b) metáfora. prega um recurso da poesia concreta.
c) sinonímia. (  ) O processo de construção da manchete de capa da
d) hipérbole. revista Época inclui substituição e acréscimo de ele-
mentos linguísticos, em relação ao texto fonte.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO (  ) O criador da manchete de Época fez um jogo
Os textos 1 (manchete de capa da revista Época de com dois sentidos do termo real, jogo que foi pos-
26/08/2013), 2 (manchete de capa da revista Veja de sível graças à mudança de gênero desse vocábulo.
28/08/2013) e 3 serão analisados em conjunto, na pers- (  ) Na manchete de Época, apresenta-se apenas uma
pectiva da polifonia, do dialogismo e da intertextuali- das funções da linguagem: a função informativa.
dade, isto é, das relações mantidas entre eles.
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência:
Texto 1 a) F – F – V – V – F.
b) V – V – V – V – F.
c) V – F – F – F – V.
d) F – F – F – V – V.

5. (UFU) Leia o poema seguinte e assinale a alternativa


correta.

“Filhos
A meu filho Marcos
Daqui escutei
quando eles
chegaram rindo
e correndo
Texto 2 entraram
na sala
e logo
invadiram também
o escritório
(onde eu trabalhava)
num alvoroço
e rindo e correndo
se foram
com sua alegria

se foram

Só então
Texto 3 me perguntei
Cair das nuvens (expressão popular) por que
1. Espantar-se, surpreender-se (com algo que é muito não lhes dera
diferente do que se pensava ou se desejava); perceber maior
o próprio equívoco ou engano. atenção
2. Decepcionar-se intensamente; desiludir-se. se há tantos
3. Chegar de modo imprevisto; aparecer repentinamente; e tantos
cair do céu. anos
Dicionário Caldas Aulete. não os via
http://aulete.uol.com.br/nuvem#ixzz2ggk52qoh crianças
já que
4. (UECE) Assinale com V ou F, conforme seja verdadeiro
ou falso o que é dito sobre o texto 3. agora
estão os três
(  ) O aviãozinho de papel despencando do alto é um re-
curso para dar mais força de persuasão à manchete, cujos com mais
termos estão dispostos um abaixo do outro, o que su- de trinta anos.”
gere uma queda. Ferreira Gullar. “Melhores poemas”.

121
a) O poeta Ferreira Gullar é um escritor contemporâ- não tornando muito importante o fato de a equação
neo que participou de vários movimentos de restau- homem-mulher dar-se culturalmente na proporção de o
ração da poesia, o que significa renovar sua estrutura, homem conquistar e a mulher ser conquistada. É perti-
sua linguagem. Neste poema, a linguagem prosaica, nente afirmar que:
os versos livres e a emoção espontânea são conquis- a) Estão corretas apenas as afirmativas I e III.
tas do concretismo. b) Estão corretas apenas as afirmativas II e I.
b) Ferreira Gullar passa por várias experiências po- c) Estão corretas apenas as afirmativas II e III.
éticas, encontrando a razão do poema na comoção
d) Estão corretas todas as afirmativas.
lírica. Em acordo com os preceitos da essência lírica,
e) Nenhuma afirmativa está correta.
o poema apresenta distanciamento e objetividade do
sujeito lírico com os fatos descritos.
c) Em entrevista à revista “Língua portuguesa” (São
Paulo: Editora Segmento, 2006, nº 5), o poeta decla- E.O. Complementar
ra que esse poema é fruto de uma circunstância, de TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
um impulso, pois sonhou com a situação descrita nele.
Desta forma, ao descrever o sonho, pode-se afirmar Poema obsceno
que o gênero épico prevalece nesse poema.
d) O olhar do poeta Ferreira Gullar contempla grandes 1 Façam a festa
acontecimentos universais, pequenos fatos do cotidiano, 2 cantem e dancem
cenas da vida doméstica, não raro, imprimindo sobre 3 que eu faço o poema duro
esses episódios a consciência da efemeridade da vida. 4 o poema-murro
Nesse poema, a lembrança de um passado familiar pro- 5 sujo
voca a reflexão dessa consciência. 6 como a miséria brasileira
6. A literatura muitas vezes entendida como também “es- 7 Não se detenham:
paço da confissão” proporciona ao leitor possibilidades 8 façam a festa
de questionamentos de ideias criadas, veiculadas e perpe- 9 Bethânia Martinho
tuadas nas várias práticas socioculturais. A literatura con- 10 Clementina
temporânea se apropria dessa possibilidade de questio- 11 Estação Primeira de Mangueira Salgueiro
namento e investe contra determinadas práticas sociais às 12 gente de Vila Isabel e Madureira
vezes abusivas (inferiorização de sujeitos diante de outros, 13 todos
negação dos diferentes), se compararmos tais práticas aos 14 façam
níveis de diálogos estabelecidos entre as sociedades e
15 a nossa festa
seus membros hoje. Um dos grandes temas que percorre a
literatura brasileira contemporânea diz respeito às formas 16 enquanto eu soco este pilão
como homens e mulheres exercem papéis no corpus social 17 este surdo
em que se inserem. No poema Samba-Canção, Ana Cristi- 18 poema
na Cesar constrói um eu lírico que fala a partir do ponto 19 que não toca no rádio
de vista feminino. Ariano Suassuna descreve ao longo de 20 que o povo não cantará
seu auto a imagem da mulher do padeiro. 21 (mas que nasce dele)
Considerando estes dois textos como produções da li- 22 Não se prestará a análises estruturalistas
teratura brasileira contemporânea (embora haja uma 23 Não entrará nas antologias oficiais
distância temporal em relação aos textos em questão), 24 Obsceno
pode-se dizer que:
25 como o salário de um trabalhador aposentado
I. Os dois sujeitos femininos relacionados no enunciado 26 o poema
acima mantêm comportamentos culturais distintos no
corpus social a que dizem respeito porque estão distan- 27 terá o destino dos que habitam o lado escuro do país
tes um do outro quanto ao fator tempo. 28 – e espreitam.
II. Ariano Suassuna representa em O Auto da Compa- GULLAR, F. Toda poesia.
decida uma mulher que só é rebelde (sexualmente ela São Paulo: Círculo do Livro, s. d. p. 338.
é infiel ao marido) porque ainda presa a regras rígidas
que determinam submissão e fidelidade femininas ao 1. (UEL) Os poemas de Ferreira Gullar se caracterizam
homem, valor aparentemente desconsiderado em Sam- por seu engajamento social.
ba-Canção, uma vez que a mulher ali falando demonstra Assim, em relação ao eu lírico, considere as afirmativas
uma certa autonomia quanto à forma de se relacionar a seguir:
afetivamente com o outro.
I. Solidariza com os trabalhadores e os miseráveis.
III. A linguagem com que se apodera o eu lírico de
II. Considera o carnaval uma festa popular.
Samba-Canção demonstra uma liberdade típica das
mulheres de hoje, que interpretam de forma igualitá- III. Defende a revolução subterrânea.
ria a conquista do outro parceiro, não negando, mas IV. Critica os cantores populares.

122
Assinale a alternativa correta. a) São indicativas da associação, central no livro, entre o
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. individual e o coletivo, o cósmico e o histórico.
b) São indicativas de um procedimento presente no livro,
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
que consiste em demarcar o tempo pelas partes do dia.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
c) São indicativas de um sentimento de solidão que per-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. passa o livro, já que o poema foi escrito no exílio, em
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. Buenos Aires.
2.(UFPR) Leia o texto transcrito abaixo, que pertence ao d) São indicativas do individualismo do poeta, ao reve-
lar sua posição de orgulhoso isolamento das coisas do
livro Muitas vozes, de Ferreira Gullar.
mundo.
MEU PAI

meu pai foi E.O. Dissertativo


ao Rio se tratar de 1. (UFU) Entre as características marcantes de Prosas
um câncer (que seguidas de odes mínimas pode-se ressaltar o olhar
o mataria) mas questionador que vários de seus textos lançam sobre
perdeu os óculos os dilemas da vida urbana contemporânea como é pos-
sível verificar no poema Ao shopping center:
na viagem
Pelos teus círculos
quando lhe levei vagamos sem rumo
os óculos novos nós almas penadas
comprados na Ótica do mundo do consumo.
Fluminense ele Do elevador ao céu
examinou o estojo com pela escada ao inferno:
o nome da loja dobrou os extremos se tocam
a nota de compra guardou-a no castigo eterno.
no bolso e falou:
Cada loja é um novo
quero ver prego em nossa cruz.
agora qual é o Por mais que compremos
sacana que vai dizer estamos sempre nus
que eu nunca estive
nós que por teus círculos
no Rio de Janeiro vagamos sem perdão
Assinale a alternativa correta. à espera (até quando?)
a) Em “Meu pai”, por enfatizar logo na abertura uma da Grande Liquidação.
doença que terminaria por matar um homem, per- PAES, José Paulo. Prosas seguidas de odes mínimas.
cebe-se uma crítica velada ao sistema de saúde do
Identifique e explique, no mínimo, três recursos poé-
Brasil durante o Regime Militar (1964–1985).
ticos usados no texto acima para questionar o senso
b) O caráter narrativo do texto faz com que ele não per- comum que afirma o shopping center como um espaço
tença propriamente ao gênero poético, que se caracteri- de prazer nas grandes cidades.
za por ser a expressão do eu.
c) Ao tratar de um evento cotidiano, Ferreira Gullar TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
renovou a poesia brasileira, de tendência dominante-
Desencontrários
mente espiritual, introduzindo nela temas antes consi-
derados menos nobres.    Mandei a palavra rimar,
d) “Meu pai” é uma exceção no livro Muitas vozes, já que ela não me obedeceu.
nele não surge a forte crítica social que domina o livro.    Falou em mar, em céu, em rosa,
e) Em “Meu pai”, como em outros poemas de Mui- em grego, em silêncio, em prosa.
tas vozes, o poeta lança mão da memória pessoal de    Pareia fora de si,
fatos cotidianos para construir uma reflexão sobre a a sílaba silenciosa
fugacidade da vida.    Mandei a frase sonhar
3. (UFMG) Em “Poema sujo”, de Ferreira Gullar, leem-se, e ela se foi num labirinto
sobre a condição do poeta, as seguintes palavras:    Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército
sozinho na tarde no planeta na história.
para conquistar um império extinto.
Associadas ao poema, essas palavras permitem todas Paulo Leminski. GOES, F e MARING, A. (orgs.). Melhores
as seguintes interpretações, EXCETO: poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.

123
   Mandei a palavra rimar, TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES:
ela não me obedeceu.
Texto 1
   Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa. (v. 1-4) Epitáfio para um banqueiro
negócio
2. No fragmento acima, o emprego da palavra “prosa”
possibilita duas interpretações distintas do verso subli- ego
nhado: uma que reafirma o que ele expressa e outra ócio
que se opõe a ele. Apresente essas duas possibilidades cio
de interpretação. o
PAES, José Paulo. In: ARRIGUCCI JR., Davi. (org.).
3. (UFBA) Textos Melhores poemas de José Paulo Paes. São Paulo: Global, 1998, p. 115.
EMERGÊNCIA Texto 2
Mário Quintana
Levei vários anos até conquistar o ócio, isso é importan-
Quem faz um poema abre uma janela. te para o poeta, ele não pode ter a cabeça virada só para
coisas a resolver. Fiquei muitos anos arrumando minha
Respira, tu que estás numa cela
vida, saldando dívidas, atendendo papagaio. Há oito anos,
abafada,
cheguei aqui pra Mato Grosso, tomei pé aqui. Agora estou
esse ar que entra por ela. vagabundo, tenho direito a isso. Herdei uma fazenda, em
Por isso é que os poemas têm ritmo campo aberto, terra nua, sou fazendeiro de gado, vaca, não
— para que possas profundamente respirar. sou “o rei do boi, do gado” mas vivo bem. Este é o meu
Quem faz um poema salva um afogado. caso: enquanto estava tomando pé da fazenda não escrevi
uma linha. Mas sabemos de outros casos, como o Dostoié-
AGOSTO 1964 vski, que escreveu perseguido por dívidas, ou o Graciliano
Ramos, que além das dívidas ainda tinha família pra criar.
Ferreira Gullar
Barros, Manuel de. Entrevista a André Luís Barros.
Entre lojas de flores e de sapatos, bares, Jornal do Brasil - Caderno Ideias, 24/08/1996, p. 8.
mercados, butiques,
viajo 4. O texto 1, “Epitáfio para um banqueiro”, faz parte de
num ônibus Estrada de Ferro – Leblon. um movimento literário de vanguarda iniciado na década
5 – Volto do trabalho, a noite em meio, de 1950 e conhecido como concretismo ou poesia con-
fatigado de mentiras. creta. Liderado pelos irmãos Augusto e Haroldo de Cam-
O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud, pos e por Décio Pignatari, o concretismo representou
relógio de lilases, concretismo, uma reação à literatura feita no Brasil naquele momento
neoconcretismo, ficções da juventude, adeus, histórico. Indique uma característica que comprova a fi-
10 – que a vida liação do poema de José Paulo Paes a esse movimento.
eu a compro à vista aos donos do mundo.
5. A partir de uma leitura comparativa dos textos 1 e 2,
Ao peso dos impostos, o verso sufoca,
determine o sentido empregado para o termo “ócio”
a poesia agora responde a inquérito policial-militar.
em ambos os textos.
Digo adeus à ilusão
15 – mas não ao mundo. Mas não à vida,
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES
meu reduto e meu reino.
Do salário injusto,
Leia atentamente o poema abaixo, de autoria de Cacaso:
da punição injusta,
da humilhação, da tortura, Há uma gota de sangue no cartão postal
20 – do terror,
eu sou manhoso eu sou brasileiro
retiramos algo e com ele construímos um artefato
finjo que vou mas não vou minha janela é
um poema
uma bandeira a moldura do luar do sertão
a verde mata nos olhos verdes da mulata
In: MORICONI, Italo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros
do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 117 e 267. sou brasileiro e manhoso por isso dentro
Com base na leitura dos poemas Emergência, de Mário da noite e de meu quarto fico cismando na beira
Quintana, e Agosto 1964, de Ferreira Gullar, explique a de um rio
concepção de poesia de cada sujeito poético e destaque, na imensa solidão de latidos e araras
pelo menos, dois recursos linguísticos que constituem lívido
imagens poéticas de cada texto. Justifique sua escolha. de medo e de amor
Antonio Carlos de Brito (CACASO), Beijo na boca.
Rio de Janeiro, 7 Letras, 2000. p. 12.)

124
6. Este poema de Cacaso (1944-1987) dialoga com vá- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
rias vozes que falaram sobre a paisagem e o homem
brasileiros. Justifique a referência ao “cartão postal” do 1
Escusando-me por repetir 2truísmo tão martelado, mas
título, através de expressões usadas na primeira estrofe. movido pelo conhecimento de que 4os truísmos são
parte inseparável da boa retórica narrativa, até porque
7. O poema se constrói sobre uma imagem suposta de a maior parte das pessoas não sabe ler e é no fundo
brasileiro. Qual é essa imagem? muito ignorante, rol no qual incluo arbitrariamente
você, repito o que tantos já dizem e vivem repetindo,
8. Quais as expressões poéticas que desmentem a felici-
como quem usa chupetas: a realidade é, sim, muitíssi-
dade obrigatória do eu do poema?
mo mais inacreditável do que qualquer ficção, pois esta
requer uma certa arrumação 3falaciosa, a que a maioria

E.O. UERJ dá o nome de verossimilhança. Mas ocorre precisamen-


te o oposto. Lê-se ficção para fortalecer a noção estú-

Exame de Qualificação
pida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e
outros adereços que integrariam a vida. Lê-se ficção, ou
mesmo livros de historiadores ou jornalistas, por inse-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: gurança, porque o absurdo da vida é insuportável para
BEM NO FUNDO a vastidão dos desvalidos que povoa a Terra.
1
no fundo, no fundo, João Ubaldo Ribeiro
Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
bem lá no fundo,
2
a gente gostaria 1
escusando-me − desculpando-me
de ver 3nossos problemas 2
truísmo − verdade trivial, lugar comum
resolvidos por decreto 3
falaciosa − enganosa, ilusória
a partir desta data, 3. (UERJ) Para justificar a repetição de algo já conhe-
aquela mágoa sem remédio cido, o autor se baseia na relação que mantém com os
é considerada nula leitores.
e sobre ela − silêncio perpétuo Com base no texto, é possível perceber que essa rela-
ção se caracteriza genericamente pela:
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás, a) insegurança do autor.
lá pra trás não há nada, b) imparcialidade do autor.
e nada mais c) intolerância dos leitores.
d) inferioridade dos leitores.
mas problemas não se resolvem,
4. (UERJ) os truísmos são parte inseparável da boa re-
problemas têm família grande,
tórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas
e aos domingos saem todos a passear
não sabe ler (ref. 4)
o problema, sua senhora
O narrador justifica a necessidade de truísmos pela difi-
e outros pequenos probleminhas
culdade de leitura da maior parte das pessoas.
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras, 2013. Encontra-se implícita no argumento a noção de que o
leitor iniciante lê melhor se:
1. (UERJ) O poeta emprega dois termos diferentes para
se aproximar do leitor: a gente (ref. 2) e nossos (ref. 3). a) estuda autores clássicos.
O emprego de tais termos produz, em relação à percep- b) conhece técnicas literárias.
ção de mundo, o sentido de: c) identifica ideias conhecidas.
a) idealização. d) procura textos recomendados.
b) explicitação. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
c) universalização.
d) problematização. FUNÇÃO

2. (UERJ) A última estrofe apresenta imagens relacio- Me deixaram sozinho no meio do circo
nadas à família.
Ou era apenas um pátio uma janela uma rua uma es-
Em relação ao conjunto do texto, a figuração do casal quina
com seus filhos pequenos remete à ideia de: Pequenino mundo sem rumo
a) angústia. Até que descobri que todos os meus gestos
b) mudança. Pendiam cada um das estrelas por longos fios invisíveis
c) continuidade. E havia súbitas e lindas aparições como aquela das lon-
d) preocupação. gas tranças

125
E todas imitavam tão bem a vida mais alta que eu, finalmente largou a boneca, já tava na
Que por um momento se chegava a esquecer a sua hora, agora deve tá pensando besteira, soube que virou
cruel inocência de bonecas mocinha, ganhou corpo, tenho uma dieta boa pra você,
E eu dizia depois coisas tão lindas a dieta do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta da
E tristes água gelada, essa barriga só resolve com cinta, que cor-
pão, essa menina é um perigo, 1vai ter que voltar antes
Que não sabia como tinham ido parar na minha boca
de meia-noite, o seu irmão é diferente, menino é outra
E o mais triste não era que aquilo fosse apenas um jogo
coisa, vai pela sombra, não sorri pro porteiro, não sorri
cambiante de reflexos
pro pedreiro, quem é esse menino, se o seu pai desco-
Porque afinal um belo pião dançante brir, ele te mata, esse menino é filho de quem, cuidado
Ou zunindo imóvel que homem não presta, não pode dar confiança, não vai
Vive uma vida mais intensa do que a mão ignorada que pra casa dele, homem gosta é de mulher difícil, tem que
o arremessou se dar valor, homem é tudo igual, segura esse homem,
E eu danço tu danças nós dançamos não fuxica, não mexe nas coisas dele, tem coisa que é
Sempre dentro de um círculo implacável de luz melhor a gente não saber, não pergunta demais que ele
Sem saber quem nos olha atenta ou distraidamente do te abandona, o que os olhos não veem o coração não
escuro... sente, quando é que vão casar, ele tá te enrolando, mo-
rar junto é casar, quando é que vão ter filho, ele tá te
(QUINTANA, Mário. Antologia poética.
Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.) enrolando, barriga pontuda deve ser menina, é menina.
DUVIVIER, Gregorio. Folha de São Paulo, 16/09/2013.
5. (UERJ) No poema de Mário Quintana, a vida é uma
encenação num palco ou picadeiro, e o homem um jo- 6. (UERJ) A crônica de Gregorio Duvivier é construída
guete submetido aos caprichos da sorte. em um único parágrafo com uma única frase. Essa frase
Esta ideia é expressa metaforicamente pelo seguinte começa e termina pela mesma expressão: é menina.
trecho: Em termos denotativos, a menina, referida no final do
a) “todos os meus gestos / Pendiam (...) das estrelas texto, pode ser compreendida como:
por longos fios invisíveis” (v. 4 - 5) a) filha da primeira.
b) “por um momento se chegava a esquecer a sua b) ideal de pureza.
cruel inocência de bonecas” (v. 8) c) mulher na infância.
c) “Vive uma vida mais intensa do que a mão ignora- d) sinal de transformação.
da que o arremessou” (v. 15)
d) “E eu danço tu danças nós dançamos” (v. 16)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


E.O. UERJ
É MENINA Exame Discursivo
É menina, que coisa mais fofa, parece com o pai, parece TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES:
com a mãe, parece um joelho, upa, upa, não chora, isso
é choro de fome, isso é choro de sono, isso é choro de Autorretrato falado
chata, choro de menina, igualzinha à mãe, achou, sumiu, Venho de um Cuiabá garimpo e de ruelas entortadas.
achou, não faz pirraça, coitada, tem que deixar chorar, Meu pai teve uma venda de bananas no Beco da
vocês fazem tudo o que ela quer, 2isso vai crescer mi- Marinha, onde nasci.
mada, eu queria essa vida pra mim, dormir e mamar, Me criei no Pantanal de Corumbá, entre bichos do
aproveita enquanto ela ainda não engatinha, 3isso daí chão, pessoas humildes, aves, árvores e rios.
quando começa a andar é um inferno, daqui a pouco Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de
começa a falar, daí não para mais, ela precisa é de um estar entre pedras e lagartos.
irmão, foi só falar, olha só quem vai ganhar um irmão- Fazer o desprezível ser prezado é coisa que me apraz.
zinho, tomara que seja menino pra formar um casal, ela Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me
tá até mais quieta depois que ele nasceu, parece que sinto como que desonrado e fujo para o
ela cuida dele, esses dois vão ser inseparáveis, ela deve Pantanal onde sou abençoado a garças.
morrer de ciúmes, ele já nasceu falante, menino é outra Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo
coisa, desde que ele nasceu parece que ela cresceu, já que fui salvo.
tá uma menina, quando é que vai pra creche, ela não Descobri que todos os caminhos levam à ignorância.
larga dessa boneca por nada, já podia ser mãe, já sabe Não fui para a sarjeta porque herdei uma fazenda de
escrever o nomezinho, quantos dedos têm aqui, qual é gado. Os bois me recriam.
a sua princesa da Disney preferida, quem você prefere, Agora eu sou tão ocaso!
o papai ou a mamãe, quem é o seu namoradinho, quem Estou na categoria de sofrer do moral, porque só
é o seu príncipe da Disney preferido, já se maquia nes- faço coisas inúteis.
sa idade, é apaixonada pelo pai, cadê o Ken, daqui a No meu morrer tem uma dor de árvore.
pouco vira mocinha, eu te peguei no colo, só falta ficar MANOEL DE BARROS. Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.

126
1. (UERJ) Já publiquei 10 livros de poesia; ao publicá-los me morta, se aquecera à voz de uma mulher desconhecida.
sinto como que desonrado e fujo para o A máquina que apenas servia para recados ao armazém
Pantanal onde sou abençoado a garças. (v. 9-11) e informações do Ministério transformara-se então em
A palavra “onde”, sublinhada acima, remete a um ter- instrumento de música: adquirira alma, cantava quase.
mo anteriormente expresso. De repente, sem motivo, a voz emudecera. E o aparelho
Transcreva esse termo. voltou a ser na parede do corredor a aranha de metal,
3
sempre calada. O sussurro da vida, o sangue de suas
Nomeie também a classe gramatical de “onde”, subs-
paixões passavam longe do telefone de Zé Maria...
titua-a por uma expressão equivalente e indique seu
valor semântico. Como vencer a noite que mal começava?
(...)
2. (UERJ) Uma obra literária pode combinar diferentes O telefone toca. Quem será? (...)
gêneros, embora, de modo geral, um deles se mostre
dominante. Era engano! Antes não o fosse. A quem estaria destina-
da aquela voz carregada de ternura? Preferia que dis-
O poema de Manoel de Barros, predominantemente líri- sesse desaforos, que o xingasse.
co, apresenta características de um outro gênero.
(...)
Identifique esse gênero e cite duas de suas característi-
cas presentes no poema. Atirou-se de bruços na cama. E sonhou. Sonhou que
conversava ao telefone e era a voz da mulher de há
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: quinze anos... Foi andando para o passado... Abriu-se-
-lhe uma cidade de montanha, pontilhada de igrejas. E
1
Durante mais de trinta anos, o bondezinho das dez e
quinze, que descia do Silvestre, parava como burro ensi- sempre para trás – tinha então dezesseis anos –, ressur-
nado em frente à casinha de José Maria, e ali encontra- giu-lhe a cidadezinha onde encontrara Duília. Aí parou.
E Duília lhe repetiu calmamente aquele gesto, o mais
va, almoçado e pontual, o velho funcionário.
louco e gratuito, com que uma moça pode iluminar para
Um dia, porém, José Maria faltou. O motorneiro batia a sempre a vida de um homem tímido.
sirene. Os passageiros se impacientavam. Floripes cor-
Acordou com raiva de ter acordado, fechou os olhos
reu aflita a avisar o patrão. Achou-o de pijama, estirado para dormir de novo e reatar o fio de sonho que trouxe
na poltrona, querendo rir. Duília. Mas a imagem esquiva lhe escapou, Duília desa-
– Seu José Maria, o senhor hoje perdeu a hora! Há mui- pareceu no tempo.
to tempo o motorneiro está a dar sinal. (...)
– Diga-lhe que não preciso mais. Toda vez que pensava nela, o longo e inexpressivo inter-
A velha portuguesa não compreendeu. regno* do Ministério que chegava a confundir-se com a
– Vá, diga que não vou... Que de hoje em diante não duração definitiva de sua própria vida apagava-se-lhe
irei mais. de repente da memória. O tempo contraía-se.
Duília!
A criada chegou à janela, gritou o recado. E o bondezi-
nho desceu sem o seu mais antigo passageiro. Reviu-se na cidade natal com apenas dezesseis anos de
idade, a acompanhar a procissão que ela seguia can-
Floripes voltou ao patrão. Interroga-o com o olhar.
tando. Foi nessa festa da Igreja, num fim de tarde, que
– Não sabes que estou aposentado? tivera a grande revelação.
(...) Passou a praticar com mais assiduidade a janela. Quan-
Interrompera da noite para o dia o hábito de esperar to mais o fazia, mais as colinas da outra margem lhe
o bondezinho, comprar o jornal da manhã, bebericar o recordavam a presença corporal da moça. Às vezes che-
café na Avenida, e instalar-se à mesa do Ministério, si- gava a dormir com a sensação de ter deixado a cabeça
sudo e calado, até às dezessete horas. pousada no colo dela. As colinas se transformavam em
seios de Duília. Espantava-se da metamorfose, mas se
Que fazer agora?
comprazia na evocação.
Não mais informar processos, não mais preocupar-se (...)
com o nome e a cara do futuro Ministro.
Era o afloramento súbito da namorada (...).
Pela primeira vez fartava a vista no cenário de águas e
ANÍBAL MACHADO
montanhas que a bruma fundia.
A morte da porta-estandarte e Tati, a garota e outras
(...) histórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1976.
4
Floripes serviu-lhe o jantar, deixou tudo arrumado, e * Interregno: intervalo
retirou-se para dormir no barraco da filha. 3. (UERJ) Depois de aposentar-se, José Maria passa a
2
Mais do que nunca, sentiu José Maria naquela noite a contemplar a natureza e a percebê-la de duas formas
solidão da casa. Não tinha amigos, não tinha mulher nem diferentes.
amante. E já lera todos os jornais. Havia o telefone, é Transcreva do texto uma passagem que exemplifique
verdade. Mas ninguém chamava. Lembrava-se que certa cada uma dessas percepções. Em seguida, explique a
vez, há uns quinze anos, aquela fria coisa, pendurada e diferença entre elas.

127
Gabarito “uma bandeira”, como o estandarte que pode liderar, que pode ir à
frente, na liderança da luta por uma causa social.
4. Espacialização do poema; Predominância da linguagem ge-
E.O. Aprendizagem ométrica e visual; Valorização do conteúdo sonoro das pala-
1. B 2. D 3. D 4. A 5. B vras; Atomização das palavras.
5. O termo ócio é empregado com objetivos diferentes nos dois
6. A 7. D 8. C 9. E 10. D textos. Em “Epitáfio para um banqueiro”, o termo é utilizado
para mostrar criticamente o esvaziamento da vida do banqueiro,
E.O. Fixação a ausência de valores. Na entrevista do poeta Manuel de Barros,
a palavra ócio é empregada para ressaltar o valor da ociosidade
1. D 2. D 3. B 4. B 5. D
como condição fundamental para a criação poética.
6. C 6. O cartão postal fornece, normalmente, uma visão positiva da
realidade retratada e, muitas vezes, reforça visões tradicionais
E.O. Complementar e estereótipos dessa realidade. Cacaso, por um complexo jogo
de intertextualidades, retoma, na primeira estrofe, imagens
1. A 2. E 3. D
consagradas sobretudo pela música e pela literatura (“luar do
sertão“, “a verde mata“, “olhos verdes da mulata”).
E.O. Dissertativo 7. Trata-se da imagem do homem cheio de manhas, “malan-
1. O poema faz uso de várias imagens que associam o shopping dro“ (“finjo que vou mas não vou“), sonhador e avesso ao
ao martírio religioso ou à condenação eterna da alma: “almas trabalho (“fico cismando na beira de um rio”) e que, no geral,
penadas”, “castigo eterno”, “prego em nossa cruz”, “vagamos acredita-se feliz.
sem perdão” são os mais evidentes núcleos de sentido metafórico
presentes no poema que dão ao consumo um caráter doloroso. 8. Expressões como “lívido“ (pálido) e “medo“ opõem-se à ima-
gem de um “eu“ feliz, pois sugerem ao leitor momentos de dor
Também podem-se citar intertextualidades com a bíblia e o infer- e angústia. Pode-se também interpretar que a antítese entre os
no de Dante (Divina comédia), remetendo a aspectos apocalíp- versos “(...) cismando na beira de um rio“ (que sugere algo pra-
ticos. Outros recursos: metonímias, como “almas penadas” para zeroso) e “na imensa solidão de latidos e araras“ (que sugere um
representar os consumidores e “shopping” representando toda a momento que contradiz o anterior) remete para este desmentido.
sociedade de consumo. Pode-se também pensar nos recursos fô-
nicos, como rimas, enjambement, as maiúsculas alegorizantes,
como em “Grande Liquidação” (sugerindo O FIM), entre outros.
E.O. UERJ
2. O poema “Desencontrários” propõe uma reflexão sobre o fa-
Exame de Qualificação
zer poético, sobre o trabalho do poeta com as palavras, que nem 1. C 2. C 3. D 4. C 5. A
sempre obedecem à sua vontade e ao seu comando. Trata-se de
6. A
um tema recorrente no universo da poesia, e Paulo Leminski, nessa
versão para o tema, explora a ambiguidade e a polissemia que as
palavras podem conter, quando articuladas umas com as outras. E.O. UERJ
A primeira interpretação, que reafirma o que diz o verso, é a de Exame Discursivo
que a palavra – instrumento com o que o autor constrói o seu
poema – não obedece à ordem do poeta, pois o vocábulo prosa 1. O pronome relativo “onde” remete a “pantanal”, podendo
significa uma modalidade de texto em que não há rima. A se- ser substituído por “em que” ou “no qual” para indicar o lugar
gunda interpretação, que se opõe ao que diz o verso, é a de que onde acontece a ação enunciada na oração principal.
a palavra obedece ao poeta, pois o vocábulo prosa rima com os 2. Na medida em que enumera fatos em sequência temporal,
vocábulos rosa e silenciosa , presentes na primeira estrofe. como uma síntese de fatos marcantes do seu trajeto de vida, o eu
lírico constrói um poema narrativo em que transparecem as contra-
3. No texto Emergência, o poema é a janela da alma. Atra-
dições (“Aprecio viver em lugares decadentes”, “Fazer o desprezí-
vés do poema, tanto o sujeito lírico quanto o leitor respiram,
vel ser prezado é coisa que me apraz.”) e os conflitos existenciais
libertando-se de um cotidiano opressor. Assim, a poesia é
face ao mundo externo (“Estou na categoria de sofrer do moral,
concebida como libertação, daí as imagens da “cela abafada”
porque só faço coisas inúteis”). O uso da próclise no início de ora-
(sentimentos e fatos da vida que aprisionam o indivíduo) e da
ções (“Me criei no Pantanal de Corumbá”, “Me procurei a vida
“janela” (meio que possibilita a entrada do elemento salvador
inteira”) e a preferência pelo verbo “ter” em vez de “haver” (“No
- “o ar”, ou seja, a poesia). meu morrer tem uma dor de árvore”) denotam linguagem colo-
No texto Agosto 1964, defende-se que a poesia deve estar arti- quial, assim como o verso branco reproduz o ritmo natural da fala.
culada com os problemas do seu tempo, denunciando-os. A poesia
não pode ficar alheia à realidade contemporânea do poeta, mundo 3. José Maria contempla a natureza e percebe-a de duas formas
marcado pela violência social e política. Nesse contexto, a poesia distintas, o que é evidente nas seguintes passagens: “Pela pri-
meira vez fartava a vista no cenário de águas e montanhas que
torna-se “arma de combate” pela transformação da realidade.
a bruma fundia” e “As colinas se transformavam em seios de
Nesse poema, encontram-se imagens como “a poesia agora res- Duília”. Enquanto que na primeira a natureza é apresentada no
ponde a inquérito policial-militar” (a arte vítima da censura), “um seu aspecto físico ou geográfico, na segunda, a percepção da na-
artefato” — a arte como instrumento de luta — e o poema como tureza é influenciada pelo desejo e pelo sonho do personagem.

128
5e6
AULAS 41 E 42
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 15 e 16

PROSA NO BRASIL: 1960-1980

E.O. Aprendizagem ça? Na verdade não há o que dizer; apenas olhar, olhar
como quem reza, e depois, antes que a noite desça de
uma vez, partir.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Rubem Braga. A traição das elegantes. R.J.:
AO CREPÚSCULO, A MULHER Editora Sabiá, 1967, pp.61-63.
Ao crepúsculo, a mulher bela estava quieta, e me deti-
1. (FCMMG) A crônica de Rubem Braga, ao abordar o
ve a examinar sua cabeça com atenção e o extremado
corpo feminino, demonstra:
carinho de quem fixa uma flor. Sobre a haste do colo
fino estava apenas trêmula: talvez a leve brisa do mar; a) atitude compassiva em relação às diferentes fases
talvez o estremecimento de seu próprio crepúsculo. Era da vida.
tão linda assim, entardecendo, que me perguntei se já b) visão crítica no confronto entre privilégios mascu-
estávamos preparados, nós, os rudes homens destes linos e femininos.
tempos, para testemunhar a sua fugaz presença sobre c) perspectiva lírica na contemplação de um ser ex-
a terra. Foram precisos milênios de luta contra a ani- posto à ação do tempo.
malidade, milênios de milênios de sonho para se obter d) viés sociológico mesclado ao lirismo na fixação de
esse desenho delicado e firme. Depois os ombros são um episódio do cotidiano.
subitamente fortes, para suster os braços longos; mas
os seios são pequenos, e o corpo esgalgo foge para a TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
cintura breve; logo as ancas readquirem o direito de ser
graves, e as coxas são longas, as pernas desse escorço
1
José Leal fez uma reportagem na Ilha das Flores, onde
de corça, os tornozelos de raça, os pés repetindo em ficam os imigrantes logo que chegam. E falou dos equí-
outro ritmo a exata melodia das mãos. vocos de nossa política imigratória. 2As pessoas que
Ela e o mar entardeciam, mas, a um leve movimento ele encontrou não eram agricultores e técnicos, gente
que fez, seus olhos tomaram o brilho doce da adoles- capaz de ser útil. Viu músicos profissionais, bailarinas
cência, sua voz era um pouco rouca. Não teve filhos. austríacas, cabeleireiras lituanas. Paul Balt toca acor-
Talvez pense na filha que não teve... A forma do vaso deão, Ivan Donef faz coquetéis, Galar Bedrich é vende-
sagrado não se repetirá nestas gerações turbulentas dor, Serof Nedko é ex-oficial, Luigi Tonizo é jogador de
e talvez desapareça para sempre no crepúsculo que futebol, Ibolya Pohl é costureira. Tudo 15gente para o
avança. Que fizemos desse sonho de deusa? De tudo o asfalto, “para entulhar as grandes cidades”, como diz
que lhe fizemos só lhe ficou o olhar triste, como diria o o repórter.
pobre Antônio, poeta português. O desejo de alguns a
6
O repórter tem razão. 3Mas eu peço licença para ficar
seguiu e a possuiu; outros ainda se erguerão como tor- imaginando uma porção de coisas vagas, ao olhar essas
vas chamas rubras, e virão crestá-la, eis ali um homem belas fotografias que ilustram a reportagem. Essa linda
que avança na eterna marcha banal. costureirinha morena de Badajoz, essa Ingeborg que
Contemplo-a... Não, Deus não tem facilidade para de- faz fotografias e essa Irgard que não faz coisa alguma,
senhar. Ele faz e refaz sem cessar Suas figuras, porque esse Stefan Cromick cuja única experiência na vida pa-
o erro e a desídia dos homens entorpecem Sua mão: rece ter sido vender bombons 11– não, essa gente não
de geração em geração, que longa paciência Ele não vai aumentar a produção de batatinhas e quiabos nem
teve para juntar a essa linha do queixo essa orelha bre- 16plantar cidades no Brasil Central.
ve, para firmar bem a polpa da panturrilha. Sim, foi a
7
É insensato importar gente assim. Mas o destino das
própria mão divina em um momento difícil e feliz. De- pessoas e dos países também é, muitas vezes, insen-
pois Ele disse: anda... E ela começou a andar entre os sato: principalmente da gente nova e países novos. 8A
humanos. Agora está aqui entardecendo; a brisa em humanidade não vive apenas de carne, alface e moto-
seus cabelos pensa melancolias. As unhas são rubras; res. Quem eram os pais de Einstein, eu pergunto; e se
os cabelos também ela os pintou; é uma mulher de nos- o jovem Chaplin quisesse hoje entrar no Brasil acaso
so tempo; mas neste momento, perto do mar, é menos poderia? Ninguém sabe que destino terão no Brasil es-
uma pessoa que um sonho de onda, fantasia de luz en- sas mulheres louras, esses homens de profissões vagas.
tre nuvens, avideusa trêmula, evanescente e eterna. Eles estão procurando alguma coisa12: emigraram. Tra-
Mas para que despetalar palavras tolas sobre sua cabe- zem pelo menos o patrimônio de sua inquietação e de

129
seu 17apetite de vida. 9Muitos se perderão, sem futu- Estão corretas apenas:
ro, na vagabundagem inconsequente das cidades; uma a) I e II.
mulher dessas talvez se suicide melancolicamente den-
b) I, II e IV.
tro de alguns anos, em algum quarto de pensão. Mas é
preciso de tudo para 18fazer um mundo; e cada pessoa c) II e III.
humana é um mistério de heranças e de taras. Acaso d) II, III e IV.
importamos o pintor Portinari, o arquiteto Niemeyer, e) III e IV.
o físico Lattes? E os construtores de nossa indústria,
A questão refere-se à crônica a seguir.
como vieram eles ou seus pais? Quem pergunta hoje,
10e que interessa saber, se esses homens ou seus pais
Meu ideal seria escrever...
ou seus avós vieram para o Brasil como agricultores,
comerciantes, barbeiros ou capitalistas, aventureiros ou
Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada
vendedores de gravata? Sem o tráfico de escravos não
que aquela moça que está doente naquela casa cin-
teríamos tido Machado de Assis, e Carlos Drummond
zenta quando lesse minha história no jornal risse, risse
seria impossível sem uma gota de sangue (ou uísque)
tanto que chegasse a chorar e dissesse — “ai meu Deus,
escocês nas veias, 4e quem nos garante que uma le-
que história mais engraçada!”. E então a contasse para
gislação exemplar de imigração não teria feito Roberto
a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas
Burle Marx nascer uruguaio, Vila Lobos mexicano, ou
para contar a história; e todos a quem ela contasse ris-
Pancetti chileno, o general Rondon canadense ou Noel
sem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la
Rosa em Moçambique? Sejamos humildes diante da
tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio
pessoa humana: 5o grande homem do Brasil de ama-
de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida
nhã pode descender de um clandestino que neste mo-
de moça reclusa, enlutada, doente.
mento está saltando assustado na praça Mauá13, e não
sabe aonde ir, nem o que fazer. Façamos uma política de Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio
imigração sábia, perfeita, materialista14; mas deixemos riso, e depois repetisse para si própria — “mas essa his-
uma pequena margem aos inúteis e aos vagabundos, às tória é mesmo muito engraçada!”. [...] Que nas cadeias,
aventureiras e aos tontos porque dentro de algum de- nos hospitais, em todas as salas de espera a minha his-
les, como sorte grande da fantástica 19loteria humana, tória chegasse — e tão fascinante de graça, tão irre-
pode vir a nossa redenção e a nossa glória. sistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem
seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário
(BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela. do distrito, depois de ler minha história, mandasse sol-
Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963) tar aqueles bêbados e também aquelas pobres mulhe-
2. (ITA) No trecho, Tudo gente para o asfalto, “para en- res colhidas na calçada e lhes dissesse — “por favor,
tulhar as grandes cidades”, como diz o repórter, Rubem se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender
Braga ninguém!”. E que assim todos tratassem melhor seus
I. retrata o ponto de vista do repórter José Leal. empregados, seus dependentes e seus semelhantes em
alegre e espontânea homenagem à minha história. [...]
II. cita José Leal e, com isso, marca a direção argumen-
tativa do seu texto. E quando todos me perguntassem — “mas de onde é
que você tirou essa história?” — eu responderia que
III. concorda com o repórter, segundo o qual os imigran- ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um
tes deveriam trabalhar apenas no campo. desconhecido que a contava a outro desconhecido, e
IV. concorda com o repórter, segundo o qual os imigran- que por sinal começara a contar assim: “Ontem ouvi um
tes são desqualificados por exercerem profissões tipi- sujeito contar uma história...”.
camente urbanas. E eu esconderia completamente a humilde verdade:
Estão corretas apenas: que eu inventei toda a minha história em um só segun-
a) I e II. do, quando pensei na tristeza daquela moça que está
b) I, II e IV. doente, que sempre está doente e sempre está de luto e
c) I e III. sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.
d) II, III, IV. BRAGA, Rubem. In: A traição das elegantes.
e) III e IV. Record: Rio de Janeiro, 1982, p. 93.

3. (ITA) De acordo com o texto, Rubem Braga 4. (G1 - CFTMG) Ao abordar seu próprio processo de es-
I. assevera que os imigrantes qualificados teriam desti- crita, Rubem Braga, em sua crônica, alude a uma impor-
no promissor no Brasil. tante função social da literatura.
II. mostra otimismo em relação aos imigrantes sem pro- Segundo o texto, o que motiva o autor a escrever é uma
fissão definida. preocupação artística de natureza
III. apresenta ideias sobre imigração tanto semelhantes a) humorística.
como avessas às de José Leal. b) transgressiva.
IV. considera que, sem imigração, não haveria algumas c) humanizadora.
das grandes personalidades no Brasil. d) histórico-social.

130
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: escorregando por ela, de costas, sentou-se na calçada,
ainda úmida da chuva, e descansou no chão o cachimbo.
CREC-CREC
Dois ou três passantes rodearam-no, indagando se não
Toda morte é prematura, mas algumas doem mais do estava se sentindo bem. Dario abriu a boca, moveu os
que outras nos que ficam. Até hoje, os amigos lamen- lábios, mas não se ouviu resposta. Um senhor gordo, de
tam a falta que faz a inteligência aguda do José Onofre, branco, sugeriu que ele devia sofrer de ataque.
que partiu cedo demais. Foi o Onofre que, certa vez, re-
agindo à velha máxima de que não se pode fazer ome- Estendeu-se mais um pouco, deitado agora na calçada,
lete sem quebrar ovos, usada para justificar toda sorte o cachimbo a seu lado tinha apagado. Um rapaz de bi-
de violência, disse: 1"É, mas tem gente que não quer gode pediu ao grupo que se afastasse, deixando-o res-
fazer omelete, gosta é de ouvir o barulhinho de cascas pirar. E abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cin-
de ovos se quebrando". 2Segundo o Zé, era preciso dis- ta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou pela
tinguir o sincero desejo de revolução ou mudança da garganta e um fio de espuma saiu do canto da boca.
busca do crec-crec pelo crec-crec. Cada pessoa que chegava se punha na ponta dos pés,
Na véspera das manifestações anunciadas para o dia embora não pudesse ver. Os moradores da rua conver-
7, e ainda no rescaldo das manifestações passadas, a savam de uma porta à outra, as crianças foram acorda-
distinção é vital. 3E não parece difícil: a turma do cre- das e vieram de pijama às janelas. O senhor gordo re-
c-crec é a turma do quebra quebra, identificada pelos petia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda
rostos tapados ou pelo cuidado em não ser identificada. a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na
Mas não é tão simples assim, há mascarados com boas parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao
causas e caras limpas que só estão ali pela baderna, os lado dele.
aficionados do crec-crec como espetáculo de rua. Uma velhinha de cabeça grisalha gritou que Dario es-
4
E, como um complicador a mais, há a natureza indefi- tava morrendo. Um grupo transportou-o na direção do
nida das omeletes pretendidas. "Abaixo tudo!", como táxi estacionado na esquina. Já tinha introduzido no
li num dos cartazes sendo carregados em junho, tem a carro metade do corpo, quando o motorista protestou:
virtude da síntese, mas não parece ser uma reivindica- se ele morresse na viagem? A turba concordou em cha-
ção viável. 5Li que a extrema direita pretende encampar mar a ambulância. Dario foi conduzido de volta e en-
a megamanifestação de sábado e que seu objetivo - costado à parede - não tinha os sapatos e o alfinete de
uma omeletaça - é derrubar a Dilma. pérola na gravata.
De qualquer maneira, pode-se prever mais algumas
(Dalton Trevisan)
cabeças sendo quebradas, como cascas de ovos, nas
manifestações contra tudo e a favor de, do, da... enfim, 6. (FAAP) "Já tinham introduzido no carro a metade do
depois a gente vê – que vem por aí. corpo, quando o motorista protestou: se ele morresse
VERÍSSIMO, Luis Fernando. Disponível em: http://www.estadao.com.br/ na viagem?"
noticias/ impresso, crec-crec-, 1071510,0.htm.
O protesto do motorista revela:
Acesso em: 08 de setembro de 2013.(adaptado)
a) egoísmo de quem não quer "dor-de-cabeça"
5. (G1 - IFBA) O sentido produzido pelo cronista Luis Fer- b) piedade de quem se sente solidário
nando Veríssimo, no texto, revela que c) precaução de quem tem experiência
a) as manifestações anteriores e a manifestação do dia d) cuidado de quem sugere o transporte de ambulância
7 foram caracterizadas por pessoas usando máscaras, a e) bom-senso de quem espera a presença da polícia
fim de realizar depredações e badernas nas ruas, fato
que não as distingue. 7. (FAAP) Depois que você leu o texto, não é difícil iden-
b) existem reivindicações contra tudo nas manifesta- tificar sua temática:
ções, como no cartaz “Abaixo tudo”, sem especificar,
suas causas desencadeiam um movimento unificado e a) solidariedade com os dramas alheios
soberano. b) hipocrisia sentimental, falso pesar em face da des-
c) os manifestantes não estavam interessados no quebra graça alheia
quebra. Alguns mascarados se infiltraram nas manifesta- c) crítica ao atendimento médico nas grandes cidades
ções e ocasionaram a baderna. d) participação de todos quando a cidade é pequena
d) os espaços depredados representam os sinceros dese- e provinciana
jos dos manifestantes por mudanças ávidas e revolução.
e) a pressa nas grandes cidades, que leva ao cansaço
e) a sociedade encontra-se perdida, sem propostas con-
e à morte
cretas para reivindicar durante as manifestações.
8. (FAAP) Predomina neste texto:
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
a) a dissertação
UMA VELA PARA DARIO b) a descrição
Dario vinha apressado, o guarda-chuva no braço es- c) a narração
querdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o pas- d) o estilo epistolar
so até parar, encostando-se à parede de uma casa. Foi e) o teor poético

131
9. (Ufjf-pism 1 2019) A experiência da cidade a) Romantismo e infância.
(Fernando Sabino) b) Tecnologia e violência.
c) Modernidade e tradição.
A coisa que mais o impressionou no Rio foram os bon-
d) Transporte e educação.
des. Não pode ver um bonde, fica maravilhado: nunca
e) Deslumbramento e euforia.
pensou que existisse algo de tão fantástico.
Se ele quiser andar de fasto, ele pode? 10. (UECE) Arthur da Távola é escritor atual. Também o é:
Andar de fasto, na sua linguagem de menino do interior a) Adolfo Caminha
de Minas, é andar para trás. Tem outras expressões es- b) Bernardo Guimarães
quisitas: sungar é levantar; pra riba é pra cima; pramo-
c) Fernando Sabino
de é para, por causa, etc. Mas eu também sou mineiro:
d) Júlio Ribeiro
Pramode o bonde andar de fasto tem que sungar os
bancos e tocar para riba. Ele fica olhando. Olha tudo
com atenção. Tem oito anos mas bem podia ter cinco ou
seis, de tal maneira é pequenino. Bem que a cozinheira E.O. Fixação
dizia: Tenho um filho que é deste tamaninho. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
E levava a mão à altura do joelho. Chama-se Valdecir.
Ninguém acerta com seu nome, nem ele próprio: Var- O pavão
dici, diz, mostrando os dentes. No dia em que chegou
fiquei sabendo que nunca tivera ao menos notícia da E considerei a glória de um pavão ostentando o esplen-
existência de uma cidade, além do arraial onde nasce- dor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo
ra. Nunca vira luz elétrica ou água corrente, ainda mais livros, e descobri que aquelas cores todas não existem
telefone ou elevador. Abria a torneira e ficava olhan- na pena do pavão.
do. Quando tinha água era capaz de inundar o edifício. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas
Quando não tinha, divertia-se tocando a campainha da
d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma.
porta da rua – e para alcançá-la precisava arrastar uma
O pavão é um arco-íris de plumas.
cadeira. As da sala de estar têm a marca de seus pés
até hoje. A cozinheira atendia ao chamado, dava-lhe um Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atin-
safanão, arrastava-o para a cozinha. Ele ficava olhando: gir o máximo de matizes com o mínimo de elementos.
nunca vira um fogão a gás. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério
é a simplicidade.
[...]
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha ama-
Arranjei-lhe um lugar num colégio interno, a pedido da
da; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e de-
mãe. Ele concordou em ir, desde que fosse de bonde. E
lira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz
lá se foi, certa manhã, na beirada do banco, descobrin-
do maravilhas em cada esquina. de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
[...] Rio, novembro, 1958.
FONTE: BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana.
Não sei por quê, saiu do colégio; acabou indo morar
Rio de Janeiro: Record, 1996.
com os tios em Santa Teresa, numa casa de cômodos. Vocabulário:
Um dia, abro o jornal e leio a notícia: um homem matara Matiz: colorido obtido da mistura ou
o vizinho do quarto, que tentara violentar um menino. combinação de várias cores num todo.
Foi arrolado como testemunha! Voltou para minha casa Suscitar: fazer nascer ou aparecer; criar.
e já trazia nos olhos a perplexidade dos escandalizados
pela vida. 1. (G1 - cftmg) Analisando o texto de Rubem Braga, afir-
ma-se que a(o)
Agora regressa à sua terra. Vai crescer, tornar-se homem
como os que aqui conheceu, ou apenas envelhecer e a) leitura é um processo transformador da vivência
morrer apoiado no cabo de uma enxada, como seus sujeito-leitor.
ancestrais. Leva da cidade a notícia de meia dúzia de b) linguagem utilizada apresenta-se como jornalísti-
coisas fantásticas – bonde, televisão, elevador, telefone ca, clara e objetiva.
– cuja lembrança irá talvez se apagando com o tempo. c) relação de submissão entre o natural e o humano
Esquecerá depressa este homem que aqui viu, cercado é essencial para arte.
de mecanismos, moderno e civilizado, que o abrigou
d) narrador reage melancolicamente à correspondên-
alguns dias e a quem devolveu a infância. Apenas não
cia entre o pavão e o artista.
esquecerá tão cedo seu primeiro conhecimento do ho-
mem, animal feroz. 2. (G1 - cftmg) "Metalinguagem: a linguagem utilizada
(SABINO, Fernando. A companheira de viagem. para descrever outra linguagem ou qualquer sistema de
Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 71-74.) significação: todo discurso acerca de uma língua (...)".
De acordo com o texto, os elementos que melhor evi- FONTE: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário
denciam “a experiência da cidade”, mencionada no tí- Aurélio da língua portuguesa. 2ª. ed. revista e aumentada.
tulo, são: Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1986, p. 1126.

132
Considerando-se a explicação acima, pode-se inferir tantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua
que o texto de Rubem Braga casa, para onde fugiu gritando por socorro. É permitido
a) utiliza o vocábulo "luz" com sentido diverso, revelan- entrar na área adversária tabelando com uma Kombi.
do a predominância do processo de metalinguagem. Se a bola dobrar a esquina é córner*.
b) aborda a temática metalinguística, uma vez que se DAS PENALIDADES – A única falta prevista nas regras
volta para o cotidiano ao descrever os desejos do nar- do futebol de rua é atirar um adversário dentro do buei-
rador. ro. É considerada atitude antiesportiva e punida com
c) apresenta uma configuração metalinguística pelo de- tiro indireto.
sejo de realizar a obra de arte de maneira condensada.
DA JUSTIÇA ESPORTIVA – Os casos de litígio serão re-
d) apresenta características amorosas, expressando a
solvidos no tapa.
ilusão comum a todo processo artístico relativo à me-
talinguagem. *córner = escanteio
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: (Publicado em Para Gostar de Ler. v.7. SP: Ática, 1981)

Futebol de rua 3. (G1 - IFPE) A crônica é um gênero literário que trata


Luís Fernando Veríssimo de uma temática do cotidiano, como o futebol. Quanto
à abordagem dada a esse tema, o texto
Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. (I)
Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar a) faz uma comparação entre o futebol de rua e a
do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de pelada, depreciando a segunda.
rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é b) informa que é uma prática desportiva exclusiva das
o Maracanã em jogo noturno. (II) Se você é homem, bra- cidades do Brasil.
sileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falan- c) retrata a brincadeira e a liberdade das crianças ao
do. (III) Futebol de rua é tão humilde que chama pelada jogarem o futebol de rua.
de senhora. Não sei se alguém, algum dia, por farra ou d) afirma que o futebol de rua é o Futebol de Verdade,
nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. por ser jogado de forma espontânea.
Elas seriam mais ou menos assim: e) explica por que as mães, os vizinhos e crianças não
DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamen- gostam do futebol de rua.
te esférica. Até uma bola de futebol serve. No deses-
pero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, 4. (G1 - IFPE) Considerando o tipo textual da crônica,
uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, analise as proposições abaixo.
que sairá correndo para se queixar em casa. (...) I. É um texto descritivo que indica as características e
DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, lite- os elementos envolvidos em um jogo de futebol de rua.
ralmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, II. Trata-se de um texto injuntivo (instrucional), carac-
camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira terizado por verbos no modo imperativo, que indicam
do seu irmão menor, e até o seu irmão menor, apesar como se deve jogar o futebol de rua.
dos seus protestos. (IV) Quando o jogo é importante, re- III. Possui sequências narrativas que contam o desen-
comenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguen- volvimento de um jogo de futebol de rua.
tarem o impacto. (...) IV. É um texto predominantemente argumentativo, pois
DO CAMPO – O campo pode ser só até o fio da calçada, o autor de forma irônica defende uma opinião sobre o
calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro lado futebol de rua.
e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é V. Apresenta sequências injuntivas, pois se assemelha a
jogar-se só no meio da rua. um manual de instruções que explica as regras do fute-
DA DURAÇÃO DO JOGO – (V) Até a mãe chamar ou es- bol de rua.
curecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até al- Estão corretas, apenas:
guém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
a) I, II e V
DO JUIZ – Não tem juiz.
b) I, III e V
(...)
c) II e III
DAS SUBSTITUIÇÕES – Só são permitidas substituições: d) II e IV
a) No caso de um jogador ser carregado para casa pela e) III, IV e V
orelha para fazer a lição.
b) Em caso de atropelamento. 5. (G1 - IFPE) Em relação ao registro linguístico usado na
crônica, assinale a alternativa correta.
DO INTERVALO PARA DESCANSO – Você deve estar brin-
cando. a) A linguagem é formal, como se verifica pela pre-
DA TÁTICA – Joga-se o futebol de rua mais ou menos sença de um termo estrangeiro – córner.
como o Futebol de Verdade (que é como, na rua, com re- b) A linguagem é informal, visto que o texto é perme-
verência, chamam a pelada), mas com algumas impor- ado de gírias, como “pelada”.

133
c) A linguagem é culta, dado o uso de termos jurídicos 8. (Ufrgs) Considere as seguintes afirmações sobre o li-
como “litígio” e “penalidades”. vro Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu.
d) A linguagem é coloquial, uma vez que predomina o I. Os contos apresentam as características marcantes
vocabulário comum, do dia a dia. da prosa de Caio Fernando Abreu: tom confessional, lin-
e) A linguagem é rebuscada, dada a presença de ter- guagem coloquial e perspectiva intimista.
mos eruditos - “esférica” e “reverência”. II. Os contos trazem referências explícitas à geração da
década de 1970 e ao contexto histórico brasileiro.
6. (G1 - IFPE) O texto tem como principal finalidade co-
municativa III. A estrutura do livro é dividida em duas partes, O
mofo e Os morangos, justificando, pois, seu título.
a) estabelecer as regras do futebol de rua evitando
possíveis conflitos. Quais estão corretas?
b) sugerir regras que padronizem o futebol de rua a) Apenas I.
como um esporte. b) Apenas III.
c) criticar a forma como o futebol de rua é jogado, c) Apenas I e II.
sem regras claras.
d) Apenas II e III.
d) relatar as regras que são comumente usadas no
futebol de rua. e) I, II e III.
e) explicar as regras do futebol de rua para quem de- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
seja aprendê-lo.

7. (UFG) Leia o trecho apresentado a seguir.


A impassibilidade com que o grupo vencido recebeu a
derrota desconcertou o velho: estavam tramando algu-
ma coisa. Mas não o pegariam desprevenido. Conhecia
de perto a astúcia dos que viviam do outro lado da
montanha. […]
Após um mês de ausência, para desapontamento ge-
ral, Roque Diadema regressou. Fazia-se acompanhar de
numerosa comitiva, onde predominavam os mecânicos
[…].
[…] Enquanto isso, na aldeia, o clima era de mal-estar
e desconfiança. […] Pressentiam que chegara a hora de
se livrarem dos forasteiros. […]
Não encontraram resistência. […] Contudo, exigiram a
imediata demolição das construções.
O ultimato não perturbou Roque Diadema. Buscou a
pasta e dela retirou diversas escrituras.
— Aproveitei minha viagem para adquirir os terrenos.
Sou hoje proprietário de dois terços da área urbana do
povoado.
RUBIÃO, Murilo. A diáspora. Obra completa. São Paulo: Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dan-
Companhia das Letras, 2010. p. 146; 147; 148. çava agora, acompanhando o movimento dele. Assim:
quadris, coxas, pés, onda que desce olhar para baixo,
A relação entre o enredo do conto “A diáspora”, de voltando pela cintura até os ombros, onda que sobe,
Murilo Rubião, e o processo brasileiro de modernização, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça
impulsionado a partir do século XIX, se expressa na e encarar sorrindo. Ele encostou o peito suado no meu.
a) localização geográfica do povoado, que determina Tínhamos pelos, os dois. Os pelos molhados se mistura-
um processo de urbanização calcado na segregação. vam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto,
b) questão da especulação imobiliária, que é visível falou qualquer coisa. O que, perguntei. Você é gosto-
na organização social do povoado antes da chegada so, ele disse. E não parecia bicha nem nada: apenas um
de Diadema e seu grupo de construtores. corpo que por acaso era de homem gostando de outro
c) oposição entre novo e antigo, que se reflete no pro- corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu
jeto de construção de uma ponte e na consequente estendi a mão aberta, passei no rosto dele, falei qual-
instabilidade social na aldeia. quer coisa. O que, perguntou. Você é gostoso, eu disse.
Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem
d) estruturação do povoado em bases capitalistas,
gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de
que reforça as ideias modernizadoras dos forasteiros.
homem também.
e) destituição do líder do povoado, que se assemelha
a golpes políticos motivados por reformas urbanas. (Adaptado de: ABREU, C. F. Terça-feira gorda. In: . Morangos
mofados. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 51.)

134
9. (UEL) A obra Morangos mofados, de Caio Fernando painha de uma casa e ser atendido por uma emprega-
Abreu, caracteriza-se por conter da ou por uma outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz
a) discussões referentes à alta cultura, com destaque que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir
para a incorporação de formas literárias tradicionais. a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é nin-
guém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo
b) referências à guerrilha dos anos 60, em sintonia
que não era ninguém...
com o contexto político da época.
c) artifícios narrativos modernos, tais como a desindi- Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu
viduação nominal e diálogos dinâmicos. ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que es-
tava falando com um colega, ainda menos importante.
d) cenas de forte violência sexual, responsáveis, inclu-
Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia tra-
sive, pela má recepção crítica da obra do autor.
balho noturno. Era pela madrugada que deixava a reda-
e) personagens com nomes fortes a fim de reforçar a ção do jornal, quase sempre depois de uma passagem
presença da violência nos contos. pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um
10. (UEL) Consideradas as fotos e o trecho do conto de dos exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da
Caio Fernando Abreu, é correto afirmar: máquina, como pão saído do forno.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às ve-
a) Em cerca de 60 anos, a sociedade perdeu seus
zes me julgava importante porque no jornal que levava
valores morais, mas a opressão do homem sobre a
para casa, além de reportagens ou notas que eu escre-
mulher se mantém.
vera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu
b) A homossexualidade passou recentemente a ter
nome. O jornal e o pão estavam bem cedinho na porta
espaço na mídia, condenando comportamentos e in-
de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi uma
centivando preconceitos.
lição daquele homem entre todos útil e entre todos ale-
c) A arte permite a reflexão a respeito das contra- gre; “não é ninguém, é o padeiro!”.
dições dos valores sociais e das transformações de
E assoviava pelas escadas.
padrões morais.
d) O amor, hetero ou homossexual, perdeu seu espa- (Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro:
ço para as perversões sexuais exibidas pela mídia e Editora do Autor, 1960. Adaptado)
retratadas na literatura.
1. (G1 - IFSP) De acordo com o texto, é correto afirmar
e) As interdições sociais são permitidas nas festivida-
que o cronista
des, principalmente no carnaval e em comemorações
cívicas. a) estava ciente, por ser jornalista, das reivindicações que
os padeiros faziam ao governo.
b) se irrita por ter de tomar seu café com pão dormido,
E.O. Complementar pois a qualidade do alimento não era a mesma.
c) se recorda, naquela manhã, do padeiro que vem diaria-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: mente deixar o pão à porta de seu apartamento.
d) admira o padeiro que vem assoviando pelas escadas
O padeiro do prédio para avisar aos moradores que já trouxe o pão.
e) se orgulhava, quando rapaz, de ter alguns textos de sua
Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho a chaleira
autoria publicados no jornal em que trabalhava.
no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento
− mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo ins- 2. (G1 - IFSP) Considere as afirmações sobre o texto.
tante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da
I. O cronista, embora se baseie em uma experiência par-
véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não
ticular e cotidiana, relata os fatos de forma impessoal
é bem uma greve, é um lockout, greve dos patrões, que
e neutra.
suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando
o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido II. A facilidade de compreensão do texto ocorre porque
conseguirão não sei bem o que do governo. o cronista desrespeita a linguagem padrão, optando
pela linguagem coloquial.
Está bem. Tomo meu café com pão dormido, que não é
tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembran- III. O texto apresenta o discurso indireto e há a recons-
do de um homem modesto que conheci antigamente. tituição dos eventos marcada pelas recordações do cro-
Quando vinha deixar pão à porta do apartamento ele nista.
apertava a campainha, mas, para não incomodar os mo- É correto o que se afirma em
radores, avisava gritando: a) I, apenas.
– Não é ninguém, é o padeiro! b) III, apenas.
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar c) I e II, apenas.
aquilo? d) II e III, apenas.
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aqui- e) I, II e III.
lo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a cam-

135
3. (G1 - IFSP) Pela leitura do penúltimo parágrafo, pode- O homem do censo entrará pelos bangalôs, pelas pen-
-se concluir que a lição aprendida pelo cronista foi um sões, pelas casas de barro e de cimento armado, pelo
exemplo de sobradinho e pelo apartamento, pelo cortiço e pelo ho-
a) respeito, pois o padeiro entregava o pão procurando tel, perguntando:
não acordar os fregueses que ainda estavam dormindo - Quantos são aqui?
àquela hora. Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
b) cidadania, pois o padeiro, ao participar da greve, mos- - Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente,
trou ao cronista que era um trabalhador consciente de só há pulgas e ratos.
seus direitos.
E outro:
c) humildade, pois a atitude do padeiro de gritar “não
é ninguém” opõe-se à vaidade do cronista por escrever - Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta
para um jornal. sogra e algumas baratas. Tome nota de seus nomes, se
d) modéstia, pois o padeiro explica ao cronista que am- quiser. Querendo levar todos, é favor... (...)
bos, além de trabalharem à noite, exercem atividades E outro:
importantes para a sociedade. - Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a
e) generosidade, pois, embora o padeiro estivesse atra- vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais
sado em suas entregas, deteve-se para responder à per- sairá de meu quarto e de meu peito!
gunta do cronista. Rubem Braga. Para gostar de ler, v. 3.
4. (G1 - IFSP) A expressão − pão dormido − foi empre- São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).
gada com sentido
O fragmento anterior, em que há referência a um fato
a) denotativo, indicando que os padeiros, por causa da sócio-histórico - o recenseamento -, apresenta caracte-
greve, adulteraram a receita do pão. rística marcante do gênero crônica ao
b) denotativo, indicando que o pão entregue aos mora-
a) expressar o tema de forma abstrata, evocando
dores estava fora de validade.
imagens e buscando apresentar a ideia de uma coisa
c) conotativo, indicando que o pão a ser consumido não
por meio de outra.
estava fresco.
b) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os
d) conotativo, indicando que os padeiros reduziram o
personagens em um só tempo e um só espaço.
trabalho noturno durante a greve.
e) conotativo, indicando que a massa do pão precisa c) contar história centrada na solução de um enigma,
descansar para que o fermento aja. construindo os personagens psicologicamente e reve-
lando-os pouco a pouco.
5. (Ufrgs 2014) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as d) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, vi-
seguintes afirmações sobre os contos de Murilo Rubião. sando transmitir ensinamentos práticos do cotidiano
( ) Todos apresentam uma epígrafe bíblica que está para manter as pessoas informadas.
relacionada com as temáticas dos contos. e) valer-se de tema do cotidiano como ponto de parti-
( )Todos podem ser considerados como fantásticos e da para a construção de texto, que recebe tratamento
não têm relação com a realidade brasileira. estético.
( ) Cariba, o protagonista do conto A cidade, é preso TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
por ser a única pessoa que faz perguntas na cidade.
( ) O título do conto O lodo pode ser interpretado me- Para falar e escrever bem, é preciso, além de conhecer
taforicamente, já que é a forma como o psicanalista o padrão formal da Língua Portuguesa, saber adequar
descreve o inconsciente de Galateu. o uso da linguagem ao contexto discursivo. Para exem-
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, plificar este fato, seu professor de Língua Portuguesa
de cima para baixo, é convida-o a ler o texto "Aí, Galera", de Luís Fernando
Veríssimo. No texto, o autor brinca com situações de
a) F – V – V – F.
discurso oral que fogem à expectativa do ouvinte.
b) V – F – V – V.
AÍ, GALERA
c) F – F – F – V.
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereoti-
d) F – V – F – V.
pação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de
e) V – V – V – F. futebol dizendo "estereotipação"? E, no entanto, por
que não?
E.O. Enem - Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos de-
1. (Enem) São Paulo vai se recensear. O governo quer mais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus
saber quantas pessoas governa. A indagação atingirá lares.
a fauna e a flora domesticadas. Bois, mulheres e algo- - Como é?
doeiros serão reduzidos a números e invertidos em es- - Aí galera.
tatísticas. - Quais são as instruções do técnico?

136
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de avó. Na nossa família, frisava, lançado em redor olhares
contenção coordenada, com energia otimizada, na zona complacentes, lamentando os que não faziam parte do
de preparação, aumentam as probabilidades de, recu- nosso clã. [...]
perado o esférico, concatenarmos um contragolpe agu- Quando Margarida resolveu contar os podres todos que
do com parcimônia de meios e extrema objetividade, sabia naquela noite negra da rebelião, fiquei furiosa.
valendo-nos da desestruturação momentânea do siste- [...]
ma oposto, surpreendido pela reversão inesperada do
É mentira, é mentira!, gritei tapando os ouvidos. Mas
fluxo da ação.
Margarida seguia em frente: tio Maximiliano se casou
- Ahn?
com a inglesa de cachos só por causa do dinheiro, não
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem
passava de um pilantra, a loirinha feiosa era riquíssima.
calça.
Tia Consuelo? Ora, tia Consuelo chorava porque sentia
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
falta de homem, ela queria homem e não Deus, ou o
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental,
convento ou o sanatório. O dote era tão bom que o con-
algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma
vento abriu-lhe as portas com loucura e tudo. “E tem
pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéti-
mais coisas ainda, minha queridinha”, anunciou Mar-
cas?
garida fazendo um agrado no meu queixo. Reagi com
- Pode.
violência: uma agregada, uma cria e, ainda por cima,
- Uma saudação para a minha progenitora.
mestiça. Como ousava desmoralizar meus heróis?
- Como é?
TELLES, L. F. A estrutura da bolha de sabão.
- Alô, mamãe!
Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não Representante da ficção contemporânea, a prosa de
corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser Lygia Fagundes Telles configura e desconstrói modelos
algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sa- sociais. No trecho, a percepção do núcleo familiar des-
bota a estereotipação? cortina um(a)
- Estereoquê?
a) convivência frágil ligando pessoas financeiramente
- Um chato?
dependentes.
- Isso.
b) tensa hierarquia familiar equilibrada graças à pre-
(Correio Braziliense, 13/05/1998)
sença da matriarca.
2. (Enem 1998) O texto retrata duas situações relacio- c) pacto de atitudes e valores mantidos à custa de
nadas que fogem à expectativa do público. São elas: ocultações e hipocrisias.
a) a saudação do jogador aos fãs do clube, no início da d) tradicional conflito de gerações protagonizado
entrevista, e a saudação final dirigida à sua mãe. pela narradora e seus tios.
b) a linguagem muito formal do jogador, inadequada à e) velada discriminação racial refletida na procura de
situação da entrevista, e um jogador que fala, com de- casamentos com europeus.
senvoltura, de modo muito rebuscado.
c) o uso da expressão "galera", por parte do entrevista-
dor, e da expressão "progenitora", por parte do jogador. E.O. UERJ
d) o desconhecimento, por parte do entrevistador, da
palavra "estereotipação", e a fala do jogador em "é pra
Exame de Qualificação
dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça". TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
e) o fato de os jogadores de futebol serem vítimas de es-
tereotipação e o jogador entrevistado não corresponder A palavra
ao estereótipo. Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito −
3. (Enem) A expressão "pegá eles sem calça" poderia como não imaginar que, sem querer, 4feri alguém? Às
ser substituída, sem comprometimento de sentido, em vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma
língua culta, formal, por: hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. 1Im-
prudente 5ofício é este, de viver em voz alta.
a) pegá-los na mentira. 11
Às vezes, também a gente tem o 6consolo de saber
b) pegá-los desprevenidos. que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém
c) pegá-los em flagrante. a se 9reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de
d) pegá-los rapidamente. cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de
e) pegá-los momentaneamente. fazer alguma coisa boa.
Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez
4. (Enem) Tudo era harmonioso, sólido, verdadeiro. No
bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter
princípio. As mulheres, principalmente as mortas do ál-
sido alguma frase 7espontânea e distraída que eu disse
bum, eram maravilhosas. Os homens, mais maravilho-
com naturalidade porque senti no momento − e depois
sos ainda, ah, difícil encontrar família mais perfeita. A 3
esqueci.
nossa família, dizia a bela voz de contralto da minha

137
Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e
o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer E.O. Dissertativo
o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse,
batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; A ÚLTIMA CRÔNICA
que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo,
outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para
um pouco alto durante uma transmissão de jogo de fu- tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou
tebol... mas o canário não cantava. adiando o momento de escrever. A perspectiva me as-
susta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distra-
mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no
ída, e assobiou uma pequena frase melódica de Bee-
cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da
thoven − e o canário começou a cantar alegremente.
vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto
Haveria alguma 8secreta ligação entre a alma do velho
da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visa-
artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?
va ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do
2
Alguma coisa que eu disse distraído − talvez palavras acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas pa-
de algum poeta antigo − foi 10despertar melodias es- lavras de uma criança ou num incidente doméstico, tor-
quecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gen- no-me simples espectador e perco a noção do essencial.
te soubesse que de repente, num reino muito distante,
Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu
uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse
bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas café enquanto o verso do poeta se repete na lembrança:
pobres choupanas e as suas remotas esperanças. "assim eu quereria o meu último poema". Não sou po-
eta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar
RUBEM BRAGA
PROENÇA FILHO, Domício (org.). Pequena antologia fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem crô-
do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.
nicas.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sen-
1. (UERJ) Alguma coisa que eu disse distraído − talvez
tar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo
palavras de algum poeta antigo − foi despertar melo-
da parede de espelhos. A compostura da humildade, na
dias esquecidas dentro da alma de alguém. (ref.2)
contenção de gestos e palavras, deixa-se acentuar pela
O cronista revela que sua fala ou escrita pode conter presença de uma negrinha de seus três anos, laço na
algo escrito por “algum poeta antigo”. cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se ins-
Ao fazer essa revelação, o cronista se refere ao seguinte talou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas
recurso: curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao re-
a) polissemia. dor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa
b) pressuposição. a instituição tradicional da família, célula da sociedade.
c) exemplificação. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar
d) intertextualidade. a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro
2. (UERJ) Imprudente ofício é este, de viver em voz que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom,
alta. (ref.1) inclinando-se para trás da cadeira, e aponta no balcão
O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu próprio, um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar
o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adjetivo “im- olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardas-
prudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz se a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o
alta”. O sentido dessa metáfora, relativa ao ofício de pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A
escrever, pode ser entendido como: mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se
a) superar conceitos antigos. da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o gar-
b) prestar atenção aos leitores. çom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do
c) criticar prováveis interlocutores. balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no
pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma
d) tornar públicos seus pensamentos.
pequena fatia triangular.
3. (UERJ) O episódio do canário traz uma contribuição A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa
importante para o sentido do texto, ao estabelecer de coca-cola e o pratinho que o garçom deixou a sua
uma analogia entre a palavra do escritor e a música frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três,
assobiada pela amiga. pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa a um dis-
A inserção desse episódio no texto reforça a seguinte creto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e
ideia: brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma
a) a intolerância leva o artista ao isolamento. caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também,
atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa
b) a arte atinge as pessoas de modo inesperado.
além de mim.
c) a solidão é remediada com soluções artísticas.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta
d) a profissão envolve o artista em conflitos desne-
caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve
cessários.

138
a coca-cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Com E depois, arrumar as malas.
o gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no már- - Escutei que a gente vai se mudar outra vez, vai mes-
more e sopra com força, apagando as chamas. Imediata- mo? perguntou minha pajem Maricota. Estávamos no
mente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, can- quintal chupando os gomos de cana que ela ia descas-
tando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: cando. Não respondi e ela fez outra pergunta: Sua tia
"parabéns pra você, parabéns pra você... " Depois a mãe vive falando que agora é tarde porque a Inês é morta,
recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha quem é essa tal de Inês?
agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e
Sacudi a cabeça, não sabia. Você é burra, Maricota res-
põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com
mungou cuspinhando o bagaço. (...)
ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o
farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos - Corta mais cana, pedi e ela levantou-se enfurecida:
pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intima- Pensa que sou sua escrava, pensa? A escravidão já aca-
mente do sucesso da celebração. De súbito, dá comigo bou!, ficou resmungando enquanto começou a procurar
a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se pertur- em redor, estava sempre procurando alguma coisa e eu
ba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas saía atrás procurando também, a diferença é que ela
acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. sabia o que estava procurando, uma manga madura?
Jabuticaba? Eu já tinha perguntado ao meu pai o que
Assim eu quereria a minha última crônica: que fosse
era isso, escravidão. Mas ele soprou a fumaça para o
pura como esse sorriso.
céu (dessa vez fumava um cigarro de palha) e começou
(Fernando Sabino. Para Gostar de Ler - Vol. V, editora Ática) a recitar uma poesia que falava num navio cheio de ne-
gros presos em correntes e que ficavam chamando por
1. Segundo o autor, onde estão os assuntos que mere-
cem uma crônica? Deus. Deus, eu repeti quando ele parou de recitar. Fiz
que sim com a cabeça e fui saindo, Agora já sei.
2. Que fato do dia inspirou o autor? (Lygia Fagundes Telles, Invenção e Memória.)

3. (ITA) Leia a seguir a tira de Luís Fernando Veríssimo, 1. (Unifesp) O texto de Lygia Fagundes Telles apresenta
publicada no jornal "O Estado de S. Paulo" de 16/7/2000, marcas características do projeto literário da autora, li-
e explique como se dá o efeito cômico. gado à ficção
a) do realismo fantástico.
b) documentária urbano-social.
c) regionalista.
d) metafísica.
e) intimista e psicológica.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Ultimamente ando de novo intrigado com o enigma de


Capitu. Teria ela traído mesmo o marido, ou tudo não
passou de imaginação dele, como narrador? Reli mais
uma vez o romance e não cheguei a nenhuma conclu-
E.O. Objetivas são. Um mistério que o autor deixou para a posteridade.

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) (Fernando Sabino, O bom ladrão.)

2. (Unifesp) Considere as afirmações sobre o que diz o


TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: narrador do texto de Sabino:
I. O mistério a que ele se refere decorre de uma narra-
QUE SE CHAMA SOLIDÃO tiva ambígua, na qual há uma constante oscilação en-
tre a possibilidade - ou não - de Capitu ter cometido o
Chão da infância. Algumas lembranças me parecem fi-
adultério.
xadas nesse chão movediço, as minhas pajens. Minha
mãe fazendo seus cálculos na ponta do lápis ou mexen- II. No romance a que ele se refere, o triângulo amoroso
do o tacho de goiabada ou ao piano; tocando suas val- é formado por Capitu, Escobar e Quincas Borba.
sas. E tia Laura, a viúva eterna que foi morar na nossa III. A sua frase final denuncia-o convicto de que Capitu
casa e que repetia que meu pai era um homem instável. não traiu o marido.
Eu não sabia o que queria dizer instável mas sabia que Está correto o que se afirma apenas em
ele gostava de fumar charutos e gostava de jogar. A tia
a) I.
um dia explicou, esse tipo de homem não consegue pa-
rar muito tempo no mesmo lugar e por isso estava sem- b) II.
pre sendo removido de uma cidade para outra como c) I e II.
promotor. Ou delegado. Então minha mãe fazia os tais d) I e III.
cálculos de futuro, dava aquele suspiro e ia tocar piano. e) II e III.

139
E.O. Dissertativas visto. Tinha visto centenas de milharais - mas é diferen-
te. Um pé de milho sozinho, em um canteiro, espremido,

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) junto do portão, numa esquina de rua - não é um núme-
ro numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas
raízes roxas se agarram no chão e suas folhas longas e
1. (Fuvest) Leia o seguinte texto, para atender ao que
verdes nunca estão imóveis. Detesto comparações sur-
se pede: realistas - mas na glória de seu crescimento, tal como
Conversa de abril o vi em uma noite de luar, o pé de milho parecia um
É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. cavalo empinado, as crinas ao vento - e em outra ma-
Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe drugada parecia um galo cantando.
pelas estradas confusas de caminhões e poeira e explo- Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que
sões. Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de mi-
vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os lho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor
seres humanos neste tempo de primavera? Deixai-me de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão fir-
estirar o corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi-me. me, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer
As montanhas, já vos descreverei as montanhas. nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria
Rubem Braga* que fazem bem. É alguma coisa de vivo que se afirma
*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto
FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que
Guerra Mundial. O fragmento acima pertence a uma de vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um
suas crônicas desse período. rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.

a) Reescreva o seguinte trecho, dando-lhe caracterís- (Dezembro, 1945. Rubem Braga)


ticas narrativas e empregando a terceira pessoa do
3. (Fuvest) No início do texto, o cronista se diz "pobre";
plural, em lugar da segunda:
no final, afirma-se "rico".
“Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que
vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem Confronte as duas asserções e interprete as ideias trazi-
os seres humanos neste tempo de primavera?” das ao texto por esses adjetivos.
b) Tendo em vista as informações contidas no excer-
4. (Fuvest) O cronista afirma que nunca tinha visto um pé
to, o início do texto – “É abril” – é coerente com
de milho; no entanto, andara por milharais sem conta.
o emprego do pronome este, em “neste tempo de
primavera”? Explique. Há contradição em suas palavras? Esclareça o problema.

2. (Fuvest) Em um piano distante, alguém estuda uma TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
lição lenta, em notas graves. (...) Esses sons soltos, inde-
A PALAVRA
cisos, teimosos e tristes, de uma lição elementar qual-
quer, têm uma grave monotonia. Deus sabe por que "Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito -
acordei hoje com tendência à filosofia de bairro; mas como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às
agora me ocorre que a vida de muita gente parece um vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhecer, uma
pouco essa lição de piano. Nunca chega a formar a linha hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Impru-
de uma certa melodia. Começa a esboçar, com os pon- dente ofício é este, de viver em voz alta.
tos soltos de alguns sons, a curva de uma frase musical; Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que
mas logo se detém, e volta, e se perde numa incoerên- alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a
cia monótona. Não tem ritmo nem cadência sensíveis. se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada
Rubem Braga, "O homem rouco". dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer
a) O autor estabelece uma associação poética entre a alguma coisa boa.
vida de muita gente e uma lição de piano. Esclareça Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez
o sentido que ganha, no contexto dessa associação, bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter
a frase "Nunca chega a formar a linha de uma certa sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse
melodia". com naturalidade porque senti no momento - e depois
b) "Deus sabe por que acordei hoje COM TENDÊNCIA esqueci.
À FILOSOFIA DE BAIRRO". Reescreva essa frase, subs- Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e
tituindo a expressão destacada por outra de sentido o canário não cantava. Deram-lhe receitas para fazer
equivalente. o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse,
batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: perto quando trabalhasse em sua máquina de costura;
Sou um ignorante, um pobre homem de cidade. Mas eu que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo,
tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as outro canário cantador; até mesmo que ligasse o rádio
suas folhas além do muro - e é um esplêndido pé de um pouco alto durante uma transmissão de jogo de fu-
milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha tebol... mas o canário não cantava.

140
Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraí- VOCABULÁRIO
arazóia – variante de araçóia, saiote de penas usado pelas mulheres
da, e assobiou uma pequena frase melódica de Beetho-
indígenas.
ven - e o canário começou a cantar alegremente. Have- bogari – arbusto, trepador, cultivado em jardins, que apresenta flores
ria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista alvas, de perfume penetrante.
morto e o pequeno pássaro cor de ouro? tapiz – tapete.
viração – vento brando e fresco, aragem, brisa.
Alguma coisa que eu disse distraído - talvez palavras de
algum poeta antigo - foi despertar melodias esquecidas APELO
dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubes-
se que de repente, num reino muito distante, uma prin- Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa.
cesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom
coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi
choupanas e as suas remotas esperanças." ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o pra-
(BRAGA, Rubem. "A Palavra". In: AI DE TI, COPACABANA! to na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
5ª ed., Rio de Janeiro, Sabiá, 1963, pp. 195/196) Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A no-
tícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali
5. (Unesp) Qual é a ideia principal da crônica de Rubem no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a
Braga que tem como título "A Palavra"? casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo.
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com
os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só,
LEITO DE FOLHAS VERDES sem o perdão de sua presença e todas as aflições do dia,
como a última luz na varanda.
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos? E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa
Da noite a viração, movendo as folhas, do tempero na salada - o meu jeito de querer bem. Acaso
Já nos cimos do bosque rumoreja. é saudade, Senhora? As suas violetas, na janela, não lhes
poupei água e elas murcham. Não tenho botão na ca-
E sob a copa da mangueira altiva misa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas?
Nosso leito gentil cobri zelosa Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os
Com mimoso tapiz de folhas brandas, outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Se-
Onde o frouxo luar brinca entre flores. nhora, por favor.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco, (TREVISAN, Dalton. "II - Os Mistérios de Curitiba", In OS
Já solta o bogari mais doce aroma! DESASTRES DO AMOR - Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968)
Como prece de amor, como estas preces, 6. (Unesp)
No silêncio da noite o bosque exala.
a) Articulado o sentido de ausência, manifesta-se, no
Brilha a lua no céu, brilham estrelas, texto de Gonçalves Dias e no de Dalton Trevisan, o sen-
Correm perfumes no correr da brisa, timento amoroso. Porém, isso se constrói sob perspec-
A cujo influxo mágico respira-se tivas, ou pontos de vista, distintas em cada texto. Qual
Um quebranto de amor, melhor que a vida! o aspecto básico dessa diferença?
A flor que desabrocha ao romper d'alva b) O imperativo e o vocativo são utilizados no final do
Um só giro do sol, não mais, vegeta: texto "Apelo" e no final de "Leito de Folhas Verdes".
Eu sou aquela flor que espero ainda Entretanto, a ação sugerida por esses recursos em cada
Doce raio do sol que me dê vida. um dos textos é diferente. Explique essa diferença.
Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento; Gabarito
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca viram, E.O. Aprendizagem
Não sentiram meus lábios outros lábios, 1. C 2. A 3. D 4
. C 5
. E
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram. 6. A 7
. B 8
. C 9
. B 10. C
Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma; E.O. Fixação
Também meu coração, como estas flores, 1. A 2
. C 3
. C 4
. B 5
. D
Melhor perfume ao pé da noite exala!
6. D 7. C 8
. C 9
. C 10. C
Não me escutas, Jatir! Nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! Lá rompe o sol! Do leito inútil E.O. Complementar
A brisa da manhã sacuda as folhas!
1. E 2. B 3
. C 4 C 5
. B
(DIAS, Gonçalves. OBRAS POÉTICAS, II, p.17)

141
E.O. Enem 5. As palavras têm uma força que transcende as intenções de
quem as enuncia.
1. E 2. B 3
. B 4
. C
6.

E.O. UERJ a) No poema de Gonçalves Dias a perspectiva é femi-


nina e no texto de Trevisan, masculina.
Exame de Qualificação b) No poema o eu lírico pede a Tupã que apague os
1. D 2
. D 3. B vestígios da espera vã. Em "Apelo" pede-se o retorno
da ausente diretamente a ela.

E.O. Dissertativo
1. Fora dele mesmo.

2. A celebração singela de um aniversário.

3. O efeito cômico encontra-se na última frase: "Lava as mãos


antes de vir para a mesa". A situação é que o marido estava
lendo "as notícias do Brasil", e a mulher solicita-lhe que lave
as mãos, mas não pelo papel jornal, e sim pelo conteúdo das
"notícias do Brasil": imoralidade, corrupção...

E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. E 2. A

E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) Uma das possibilidades de reescrita é:
“Ele disse que tinha no bolso um caderno de notas e
perguntou se queriam que lhes descrevesse aquelas
montanhas e vales, e o que faziam os seres huma-
nos naquele tempo de primavera”.
b) Por estar o autor no Hemisfério Norte, local onde
se encontrava como correspondente da Segunda
Guerra Mundial, o mês de abril corresponde à esta-
ção da Primavera. Dessa forma, o uso do pronome
“neste” está correto, uma vez que se refere ao tem-
po presente em relação à anunciação.

2.
a) A frase significa que muitas pessoas não concluem
aquilo a que se propõem, constroem uma vida sem
harmonia, sem sentido.
b) Deus sabe por que acordei hoje com vontade de
refletir sobre assuntos triviais.
3. Pobre, no texto, está empregado no sentido de pouco fértil,
pouco produtivo, associado a "homem da cidade", dá a ideia
de infertilidade da vida urbana típica. Rico, associado a "la-
vrador", remete à fertilidade encontrada na vida rural, ainda
que numa rua da cidade.

4. O cronista diferencia o pé de milho sozinho individualizado


e independente dos pés de milho coletivizados na forma "mi-
lharal", sem individualidade.

142
5e6
AULAS 43 E 44
COMPETÊNCIAS:

HABILIDADES: 15, 16 e 17

LITERATURA LUSÓFONA CONTEMPORÂNEA:


PERCEPÇÕES CRÍTICAS SOBRE A LUSOFONIA

E.O. Aprendizagem a) identificar a causa do comportamento observado.


b) oferecer um exemplo do comportamento observado.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES: c) fazer uma comparação em relação ao comporta-
mento observado.
A fronteira da cultura d) apresentar uma circunstância oposta ao comporta-
mento observado.
Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades da
Universidade Eduardo Mondlane. Os meus colegas pro- 2. (G1 - cp2 2019) O texto de Mia Couto se encerra com
fessores queixavam-se da progressiva falta de prepa- uma frase que sintetiza suas ideias: “Essa gente parece
ração dos estudantes. Eu notava algo que, para mim, condenada a não ter rosto e falar pela voz dos outros.”
era ainda mais grave: uma cada vez maior distanciação (ref. 6)
desses jovens em relação ao seu próprio país. Nesse excerto, o vocábulo destacado deve ser entendi-
1
Quando eles saíam de 2Maputo em 3trabalhos de cam- do em sentido
po, esses jovens comportavam-se como se estivessem a) denotativo, pois se refere à anatomia.
emigrando para um universo estranho e adverso. Eles
b) denotativo, pois se refere à identidade cultural.
não sabiam as línguas, desconheciam os códigos cultu-
c) conotativo, pois se refere à anatomia.
rais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo.
Alguns sofriam dos mesmos fantasmas dos explorado- d) conotativo, pois se refere à identidade cultural.
res coloniais: as feras, as cobras, os monstros invisíveis. 3. (UEL) A questão refere-se ao romance O outro pé da
Aquelas zonas rurais eram, afinal, o espaço onde vive- sereia, de Mia Couto.
ram os seus avós, e todos os seus antepassados. Mas Algumas expressões idiomáticas da língua portugue-
eles não se reconheciam como herdeiros desse patri- sa são recriadas no romance, como ocorre no seguinte
mônio. O país deles era outro. Pior ainda: eles não gos- fragmento:
tavam desta outra nação. E ainda mais grave: sentiam
vergonha de a ela estarem ligados. A verdade é sim- a) “O navio é uma ilha habitada por homens e seus
ples: esses jovens estão mais à vontade dentro de um fantasmas”.
videoclipe de Michael Jackson do que no quintal de um b) “Quem tem insônia é o peixe que só adormece na
camponês moçambicano. frigideira”.
O que se passa, e isso parece inevitável, é que estamos c) “É que isto, em Vila Longe, vai de animal a pior”.
criando cidadanias diversas dentro de 4Moçambique. d) “A melhor maneira de mentir é ficar calado”.
E existem várias categorias: há os urbanos, moradores e) “As mãos eram um incêndio”.
da cidade alta, esses que foram mais vezes a 5Nelspruit
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
que aos arredores da sua própria cidade. Depois, há uns
que moram na periferia, os da chamada cidade baixa. E
Ayoluwa, a alegria do nosso povo
há ainda os rurais, os que são uma espécie de imagem
desfocada do retrato nacional. 6Essa gente parece con- Quando a menina Ayoluwa, a alegria do nosso povo,
denada a não ter rosto e falar pela voz de outros. nasceu, foi em boa hora para todos. Há muito que em
Texto de Mia Couto adaptado do livro nossa vida tudo pitimbava. Os nossos dias passavam
Pensatempos (Lisboa: Caminho, 2005). como um café sambango, ralo, frio e sem gosto. Cada
dia era sem quê nem porquê. E nós ali amolecidos, sem
2
Maputo: capital de Moçambique.
3
trabalhos de campo: trabalho de pesquisa realizado fora da universidade.
sustância alguma para aprumar nosso corpo. Repito:
4
Moçambique: país africano. tudo era uma pitimba só. Escassez de tudo. Até a na-
5
Nelspruit: cidade turística da África do Sul. tureza minguava e nos confundia. Ora aparecia um sol
desensolarado e que mais se assemelhava a uma bola
1. (G1 - cp2 2019) Ainda no primeiro parágrafo do texto, murcha, lá na nascente. Um frio interior nos possuía en-
Mia Couto apresenta sua tese a respeito do comporta- tão, e nós mal enfrentávamos o dia sob a nula ação da
mento dos jovens para os quais dava aula. estrela desfeita. Ora gotejava uma chuva de pinguitos
Em relação a esse posicionamento, o segundo parágra- tão ralos e escassos que mal molhava as pontas de nos-
fo cumpre a função de sos dedos. E então deu de faltar tudo: mãos para o tra-

143
balho, alimentos, água, matéria para os nossos pensa- vinha de nossos lamentos. E em uma dessas noites de
mentos e sonhos, palavras para as nossas bocas, cantos macambúzia fala, de um estado tal de banzo, como se
para as nossas vozes, movimento, dança, desejos para a dor nunca mais fosse se apartar de nós, uma mulher,
os nossos corpos. a mais jovem da desfalcada roda, trouxe uma boa fala.
Os mais velhos, acumulados de tanto sofrimento, olha- Bamidele, a esperança, anunciou que ia ter um filho.
vam para trás e do passado nada reconheciam no pre- A partir daquele momento, não houve quem não fosse
sente. Suas lutas, seu fazer e saber, tudo parecia ter se fecundado pela esperança, dom que Bamidele trazia
perdido no tempo. O que fizeram, então? Deram de cla- no sentido de seu nome. Toda a comunidade, mulheres,
mar pela morte. E a todo instante eles partiam. E, com homens, os poucos velhos que ainda persistiam vivos,
a tristeza da falta de lugar em um mundo em que eles alguns mais jovens que escolheram não morrer, os pe-
não se reconheciam e nem reconheciam mais, muitos quenininhos que ainda não tinham sido contaminados
se foram. Dentre eles, me lembro de vô Moyo, o que totalmente pela tristeza, todos se engravidaram da
trazia boa saúde, de tio Masud, o afortunado, o velho criança nossa, do ser que ia chegar. E antes, muito an-
Abede, o homem abençoado, e outros e outros. Todos tes de sabermos, a vida dele já estava escrita na linha
estavam enfraquecidos e esquecidos da força que tra- circular de nosso tempo. Lá estava mais uma nossa des-
ziam no significado de seus próprios nomes. As velhas cendência sendo lançada à vida pelas mãos de nossos
mulheres também. Elas, que sempre inventavam formas ancestrais.
de inventar e vencer a dor, não acreditavam mais na
Ficamos plenos de esperança, mas não cegos diante
eficácia delas próprias. Como os homens, deslembra-
de todas as nossas dificuldades. Sabíamos que tínha-
vam a potência que se achava resguardada partir de
suas denominações. E pediam veementemente à vida mos várias questões a enfrentar. A maior era a nossa
que esquecesse delas e que as deixasse partir. Foi com dificuldade interior de acreditar novamente no valor da
esse estado de ânimo que muitas delas empreenderam vida... Mas sempre inventamos a nossa sobrevivência.
a derradeira viagem: vovó Amina, a pacífica, tia Sele, Entre nós, ainda estava a experiente Omolara, a que ha-
a mulher forte como um elefante, mãe Asantewaa, a via nascido no tempo certo. Parteira que repetia com
mulher de guerra, a guerreira, e ainda Malika, a rainha. sucesso a história de seu próprio nascimento, Omolara
Com a ida de nossos mais velhos ficamos mais desam- havia se recusado a se deixar morrer.
parados ainda. E o que dizer para os nossos jovens, a E no momento exato em que a vida milagrou no ventre
não ser as nossas tristezas? de Bamidele, Omolara, aquela que tinha o dom de fazer
E até eles, os moços, começaram a se encafuar den- vir as pessoas ao mundo, a conhecedora de todo ritu-
tro deles mesmos, a se tornarem infelizes. Puseram-se al de nascimento, acolheu a criança de Bamidele. Uma
a matar uns aos outros, e a tentarem contra a própria menina que buscava caminho em meio à correnteza das
vida, bebendo líquidos maléficos ou aspirando um tipo águas íntimas de sua mãe. E todas nós sentimos, no ins-
de areia fininha que em poucos dias acumulava e en- tante em que Ayoluwa nascia, todas nós sentimos algo
durecia dentro de seus pulmões. Ou então se deixavam se contorcer em nossos ventres, os homens também.
morrer aos poucos, cada dia um pouquinho, descrentes Ninguém se assustou. Sabíamos que estávamos parindo
que pudesse existir outra vida senão aquela, para vi- em nós mesmo uma nova vida. E foi bonito o primeiro
verem. As mães, dias e noites, choravam no centro do choro daquela que veio para trazer alegria para o nosso
povoado. A visão dos corpos jovens dilacerados era a povo. O seu inicial grito, comprovando que nascia viva,
paisagem maior e corriqueira diante de nossos olhos. acordou todos nós. E partir daí tudo mudou. 8Tomamos
O milagre da vida deixou de acontecer também, ne- novamente a vida com as nossas mãos.
nhuma criança nascia e, sem a chegada dos pequenos, Ayoluwa, alegria de nosso povo, continua entre nós,
tudo piorou. As velhas parteiras do povoado, cansadas ela veio não com a promessa da salvação, mas também
de esperar por novos nascimentos, sem função, haviam não veio para morrer na cruz. Não digo que esse mundo
desistido igualmente de viver. Tinham percebido na es- desconsertado já se consertou. Mas Ayoluwa, alegria
cassez dos partos, que suas mãos não tinham mais a do nosso povo, e sua mãe, Bamidele, a esperança, con-
serventia de aparar a vida. Nenhuma família mais feste- tinuam fermentado o pão nosso de cada dia. E quando
java a esperança que renascia no surgimento da prole. a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o
As crianças foram esquecidas, ficando longe do coração outro espia o tempo procurando a solução.
dos grandes. E os pequenos, os que já existiam, como
Mandisa, a doce, Kizzl, a que veio para ficar, Zola, a pro- 4. (G1 - IFCE 2019) O texto lido é um conto de Con-
dutiva, Nyame, o criador, Lutalo, o guerreiro, Bwerani, o ceição Evaristo, doutora em Literatura Comparada pela
bem-vindo, e os bem novinhos, alguns sem palavras ain- Universidade Federal Fluminense (UFF) e representan-
da na boca, só faziam chorar. Pranto em vão, já que os te da contracorrente literária que busca consolidar a
pais, entregues às suas próprias tristezas, desprezavam identidade negra por meio de escritos afirmativos, ou
as de seus rebentos. O nosso povoado infértil morria à seja, por meio de narrativas que pretendem desfazer
míngua e mais e mais a nossa vida passou a desespe- a imagem estereotipada do negro escravo, largamente
rançar ... fixada pela literatura tradicional. Dessa forma, a fim de
À noite, quando reuníamos em volta de uma foguei- legitimar a imagem positiva da cultura negra africana,
ra mais de cinzas do que de fogo, a combustão maior o conto faz referência

144
a) à estrutura patriarcal da tribo. que, antes, florescia. [...] O único intruso era o tempo,
b) à organização igualitária da comunidade. que nossa rotina deixara crescer e pesar.
c) às relações sociais baseadas na dominância. [...] Deixem-me agora evocar, aos goles de lembrança.
d) ao poder econômico. Enquanto espero que ele volte, de novo, a este pátio.
e) ao processo de proteção da propriedade privada. Recordar tudo, de uma só vez, me dá sofrimento. Por
isso, vou lembrando aos poucos. Me debruço na varan-
5. (G1 - IFCE 2019) A língua portuguesa de que faz uso da e a altura me tonteia. Quase vou na vertigem. Sabem
Conceição Evaristo no conto Ayoluwa, a alegria do nos- o que descobri? Que minha alma é feita de água. Não
so povo apresenta-se em sua versão simples e acessí- posso me debruçar tanto. Senão me entorno e ainda
vel. No entanto, a autora faz ressoar a voz da comunida- morro vazia, sem gota.
de negra africana por meio de um elemento linguístico
Porque eu não sou por mim. Existo refletida, ardível em
que é o(a)
paixão. Como a lua: o que brilho é por luz de outro. A luz
a) etimologia dos nomes dos personagens. desse amante, luz dançando na água. Mesmo que sur-
b) utilização de várias figuras de linguagem. ja assim, agora, 30 distante e fria. Cinza de um cigarro
c) referência à simbologia do nascimento. nunca fumado.
d) utilização de expressões coloquiais. Pedi-lhe que viesse uma vez mais. Para que, de novo, se
e) relato de história ficcional. despeça de mim. E passados os anos, tantos que já nem
cabem na lembrança, eu ainda choro como se fosse a
primeira despedida. Porque esse adeus, só esse aceno
E.O. Fixação é meu, todo inteiramente meu. Um adeus à medida de
meu amor.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: [...] 1Toda a vida acreditei: amor é os dois se duplica-
rem em um. Mas hoje sinto: ser um é ainda muito. De
A despedideira
mais. Ambiciono, sim, ser o múltiplo de nada, Ninguém
no plural.
Há mulheres que querem que o seu homem seja o Sol. O
meu quero-o nuvem. Há mulheres que falam na voz do Ninguéns.
seu homem. O meu que seja calado e eu, nele, guarde (COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo:
meus silêncios. Para que ele seja a minha voz quando Companhia das Letras, 2009. p.51-54.)
Deus me pedir contas. [...]
Há muito tempo, me casei, também eu. Dispensei uma 1. (G1 - CMRJ 2019) O texto de Mia Couto aborda, gene-
vida com esse alguém. Até que ele foi. Quando me ricamente, o insucesso de relações amorosas.
deixou, já não me deixou a mim. Que eu já era outra, Esse enfoque genérico é reforçado pelo uso do seguinte
habilitada a ser ninguém. Às vezes, contudo, ainda me recurso textual:
adoece uma saudade desse homem. Lembro o tempo
a) discurso em 1ª pessoa.
em que me encantei, tudo era um princípio. Eu era nova,
dezanovinha. b) marcas de interlocução.
c) não nomeação das personagens.
Quando ele me dirigiu palavra, nesse primeiríssimo dia,
dei conta de que, até então, nunca eu tinha falado com d) posicionamento crítico da narradora.
ninguém. O que havia feito era comerciar palavra, em e) determinação de tempo e de espaço.
negoceio de sentimento. Falar é outra coisa, é essa pon-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
te sagrada em que ficamos pendentes, suspensos sobre
o abismo. Falar é outra coisa, vos digo. Dessa vez, com
Línguas que não sabemos que sabíamos
esse homem, na palavra eu me divinizei. Como perfume
em que perdesse minha própria aparência. Me solvia na Recordo um episódio que sucedeu comigo. Em 1989,
fala, insubstanciada. fazia pesquisa na Ilha da Inhaca quando desembarcou
Lembro desse encontro, dessa primogênita primeira nessa ilha uma equipe de técnicos das Nações Unidas.
vez. Como se aquele momento fosse, afinal, toda minha 1
Vinham fazer aquilo que se costuma chamar de “edu-
vida. Aconteceu aqui, neste mesmo pátio em que agora cação ambiental”. Não quero comentar aqui como esse
o espero. Era uma tarde boa para gente existir. O mundo conceito de educação ambiental esconde muitas vezes
cheirava a casa. O ar por ali parava. A brisa sem voar, uma arrogância messiânica. A verdade é que, munidos
quase nidificava. Vez voz, os olhos e os olhares. Ele, em de boa-fé, os cientistas traziam malas com projectores
minha frente todo chegado como se a sua única viagem de slides e filmes. Traziam, enfim, aquilo que na sua lin-
tivesse sido para a minha vida. guagem designavam por “kits de educação”, na ingê-
No entanto, algo nele aparentava distância. [...] nua esperança de que a tecnologia é a salvação para
Nesse mesmo pátio em que se estreava meu coração problemas de entendimento e de comunicação.
tudo iria, afinal, acabar. Porque ele anunciou tudo nesse Na primeira reunião com a população surgiram curiosos
poente. Que a paixão dele desbrilhara. Sem mais nada, mal-entendidos que revelam a dificuldade de tradução
nem outra mulher havendo. Só isso: a murchidão do não de palavras, mas de pensamento. No pódio esta-

145
vam os cientistas que falavam em inglês, eu, que traduzia local porque
para o português, e um pescador que traduzia de por- a) o inglês e o português têm menos diversidade se-
tuguês para a língua local, o chidindinhe. Tudo começou mânticas, por isso não têm palavras que transmitam os
logo na apresentação dos visitantes (devo dizer que, por mesmos sentidos que os termos em chidindinhe.
acaso, a maior parte deles eram suecos). “Somos cientis- b) o português tem um léxico mais diversificado que o
tas”, disseram eles. Contudo, a palavra “cientista” não chidindinhe, por isso consegue transmitir os mesmos
existe na língua local. O termo escolhido pelo tradutor sentidos que o inglês.
foi inguetlha que quer dizer feiticeiro. Os visitantes sur- c) a dificuldade de compreensão entre suecos e mo-
giam assim aos daquela gente como feiticeiros brancos. çambicanos falantes de chidindinhe deveu-se à falta
O sueco que dirigia a delegação (e ignorando o estatu- de habilidade do tradutor.
to com que acabara de ser investido) anunciou a seguir: d) a tradução não foi bem sucedida devido a questões
“Vimos aqui para trabalhar na área do Meio Ambiente”. predominantemente de ordem cultural.
Ora, a ideia de Meio Ambiente, 2naquela cultura, não
existe de forma autônoma e não há palavra para de- 3. (G1 - IFCE) Dos trechos seguintes, retirados de obras
signar exatamente 3esse conceito. O tradutor hesitou e literárias variadas, apresenta exemplo de aliteração
acabou escolhendo a palavra Ntumbuluku, que quer di- a) “Minha terra tem campos de futebol onde cadáve-
zer várias coisas mas, sobretudo, refere uma espécie de res amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos.”
Big Bang, o momento da criação da humanidade. Como (Fernando Bonassi – Cena 9, canção do exílio)
podem imaginar, os ilhéus estavam fascinados: a 4sua pe- b) “Ninguém, porém, avivou músculo que fosse. Por-
quena ilha tinha sido escolhida para estudar um assunto que, logo ali, o mutante mutilado, em total mutismo, se
da mais nobre e elevada metafísica. começou a enredar pelo suporte do microfone.” (Mia
Já no período de diálogo, o mesmo sueco pediu à as- Couto – A carteira de crocodilo)
sembleia que identificasse os problemas ambientais que c) “Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo para
mais perturbavam a ilha. A multidão entreolhou-se, per- vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz
plexa: “Problemas ambientais?”. falta a ninguém.” (Clarice Lispector – A hora da estrela)
d) “Ser mulher, desejar outra alma pura e alada / para
E após recíprocas consultas as pessoas escolheram o poder, com ela, o infinito transpor; / sentir a vida triste,
maior problema: a invasão das 5machambas pelos tin- insípida, isolada / buscar um companheiro e encontrar
guluve, os porcos do mato. Curiosamente, o termo tin- um senhor...” (Gilka Machado – Ser mulher...)
guluve nomeia também os espíritos dos falecidos que e) “Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de
adoeceram depois de terem deixado de viver. Fossem tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três
espíritos, fossem porcos, o consultor estrangeiro não se anos. Magro. Ar um tanto palerma.” (Monteiro Lobato
sentia muito à vontade no assunto dos tinguluve. Ele ja- – O colocador de pronomes)
mais havia visto tal animal. A assembleia explicou: os tais
porcos surgiram misteriosamente na ilha, reproduziram- As duas próximas questões referem-se ao romance O
-se na floresta e agora destruíam as machambas. outro pé da sereia, de Mia Couto.
–– Destroem as machambas? Então, é fácil, vamos aba-
4. (UEL) A crítica literária tem aproximado o moçambi-
tê-los!
cano Mia Couto do brasileiro Guimarães Rosa, em par-
A multidão reagiu com um silêncio receoso. Abater es- ticular pelo fato de ambos empregarem neologismos
píritos? Ninguém mais quis falar ou escutar fosse o que em suas obras.
fosse. E a reunião acabou abruptamente, ferida por uma
No trecho “as mãos calosas, de enxadachim”, extraído
silenciosa falta de confiança. Já noite, um grupo de ve-
do conto “Fatalidade”, de autoria do autor brasileiro,
lhos me veio bater à porta. Solicitavam que chamasse os
o neologismo “enxadachim” é construído pelo mesmo
estrangeiros para que o assunto dos porcos fosse escla-
processo de formação de palavras utilizado pelo autor
recido. Os consultores lá vieram, admirados pelo facto de
moçambicano para a criação de
lhes termos interrompido o sono.
a) vitupérios.
–– É por causa dos porcos selvagens.
b) bebericava.
–– O que têm os porcos?
c) tamanhoso.
–– É que não são bem-bem porcos...
d) mudançarinos.
COUTO, Mia. Línguas que não sabemos que sabíamos. IN: E se Obama e) malfadado.
fosse africano? São Paulo: Cia. Das Letras, 2009. Fragmento.
Disponível em: http://www.companhiadasletras. 5. (UEL) Assinale a alternativa em que as palavras, reti-
com.br/trechos/13116.pdf radas do romance, correspondem a verbos originados
5
Terrenos agrícolas para produção familiar. de substantivos.

2. (G1 - cftrj) Em Moçambique, que tem o português a) Anfitriando e parentear.


como língua oficial, são faladas mais de 25 línguas dis- b) Bonitando e descrucificar.
tintas, dentre elas o chidindinhe. No texto de Mia Cou- c) Anfitriando e desanimista.
to, escritor moçambicano, percebe-se que há um claro d) Bonitando e parentear.
problema de tradução entre o português e essa língua e) Descrucificar e desanimista.

146
E.O. UERJ 2. (UERJ) Ao dizer que o pai sofria de sonhos (ref. 2) e
não que ele sonhava, o autor altera o significado cor-

Exame de Qualificação rente do ato de sonhar.


Este novo significado sugere que o sonho tem o poder
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: de:
a) distrair
O tempo em que o mundo tinha a nossa idade b) acalmar
c) informar
5Nesse entretempo, ele nos chamava para escutarmos
seus imprevistos improvisos. 1As estórias dele faziam d) perturbar
o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mun-
do. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a 3. (UERJ) Este texto é uma narrativa ficcional que se re-
boca antes do desfecho. 9Éramos nós que recolhíamos fere à própria ficção, o que caracteriza uma espécie de
seu corpo dorminhoso. 6Não lhe deitávamos dentro da metalinguagem.
casa: ele sempre recusara cama feita. 10Seu conceito A metalinguagem está melhor explicitada no seguinte
era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza trecho:
de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer
a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe até ficar maior que o mundo. (ref. 1)
encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de ma-
b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
nhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece
transabertos. (ref. 2)
que os insectos gostavam do suor docicado do velho
Taímo. 7Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em c) E nos juntávamos, todos completos, para escutar as
sua pele. verdades que lhe tinham sido reveladas. (ref. 3)
− Chiças: transpiro mais que palmeira! d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (ref. 4)
Proferia tontices enquanto ia acordando. 8Nós lhe sacu- 4. (UERJ) Um elemento importante na organização do
díamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós,
texto é o uso de algumas personificações.
incomodado por lhe dedicarmos cuidados.
Uma dessas personificações encontra-se em:
2Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos
transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. a) Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminho-
Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava: so. (ref. 9)
− Venham: papá teve um sonho! b) Seu conceito era que a morte nos apanha deitados
sobre a moleza de uma esteira. (ref. 10)
3E nos juntávamos, todos completos, para escutar as
verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia c) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. (ref. 8)
notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas d) Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois
previsões que nem havia tempo de provar nenhuma. Eu mundos. (ref. 11)
me perguntava sobre a verdade daquelas visões do ve-

E.O. Objetivas
lho, estorinhador como ele era.
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.
E assim seguia nossa criancice, tempos afora. 4Nesses
anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo es- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
tava num outro mundo inexplicável. 11Os mais velhos
faziam a ponte entre esses dois mundos. (...) 1. (Unicamp) Leia o seguinte trecho da obra Terra So-
nâmbula, de Mia Couto, extraído do Sexto caderno de
Mia Couto Kindzu, subintitulado O regresso a Matimati.
Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.
Lembrei meu pai, sua palavra sempre azeda: agora, so-
1. (UERJ) A escrita literária de Mia Couto explora diver- mos um povo de mendigos, nem temos onde cair vivos.
sas camadas da linguagem: vocabulário, construções Era como se ainda escutasse:
sintáticas, sonoridade. - Mas você, meu filho, não se meta a mudar os destinos.
O exemplo em que ocorre claramente exploração da Afinal, eu contrariava suas mandanças. Fossem os napa-
sonoridade das palavras é: ramas, fosse o filho de Farida: eu não estava a deixar o
a) Nesse entretempo, ele nos chamava para escutar- tempo quieto. Talvez, quem sabe, cumprisse o que sem-
mos seus imprevistos improvisos. (ref. 5) pre fora: sonhador de lembranças, inventor de verdades.
b) Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre Um sonâmbulo passeando entre o fogo. Um sonâmbulo
recusara cama feita. (ref. 6) como a terra em que nascera. Ou como aquelas foguei-
c) Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua ras por entre as quais eu abria caminho no areal.
pele. (ref. 7) (Mia Couto, Terra Sonâmbula. São Paulo:
d) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos. (ref. 8) Companhia de Bolso, 2015, p. 104.)

147
Na passagem citada, a personagem Kindzu recorda os d) forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e acei-
ensinamentos de seu pai diante do estado desolador tação da verdadeira orientação sexual do companheiro.
em que se encontrava sua terra, assolada pela guerra, e) ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa
e reflete sobre a coerência de suas ações em relação que o atinge ao perceber que sua demonstração de cora-
a tais ensinamentos. Levando em consideração o con- gem colocara o companheiro em risco.
texto da narrativa do romance de Mia Couto, é correto
afirmar que: Observe a imagem e leia o texto, para responder à(s)
questão(ões).
a) A demanda realizada por Kindzu e que é relatada
em seus cadernos funciona como uma forma de fuga
para a personagem Muidinga, que se aliena da reali-
dade da guerra pela leitura dos cadernos, indicando de
modo inequívoco a função social da literatura.
b) A narrativa contida nos cadernos de Kindzu, lida por
Muidinga e Tuahir, representa o universo onírico e se
contrapõe à realidade objetiva das duas personagens,
razão pela qual ambas as narrativas aparecem no li-
vro de modo intercalado, sem, necessariamente, haver
uma interseção entre elas.
c) Segundo a personagem Kindzu, a sua terra, sonâm- O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo trans-
bula como ele, seria um lugar da sobreposição entre mitir-lhe o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo
sonho e realidade, tal como ocorre na narrativa que re- esvaía-se para o solo do Mayombe, misturando-se às
gistra em seus cadernos, em que é impossível o estabe- folhas em decomposição.
lecimento de uma delimitação entre o onírico e o real. [...]
d) O sonho, sugerido pelo termo “sonâmbulo”, con- Mas o Comissário não ouviu o que o Comandante disse.
trapõe-se à realidade da guerra, sugerida pela palavra Os lábios já mal se moviam.
“fogo”; terra sonâmbula seria, pois, um lugar em que A amoreira gigante à sua frente. O tronco destaca-se do
os limites entre realidade e sonho aparecem bem de- sincretismo da mata, mas se eu percorrer com os olhos
limitados e no qual as personagens estão condenadas o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se à folha-
definitivamente à miséria da guerra. gem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se des-
2. (Fuvest 2021) taca, se individualiza. Tal é o Mayombe, os gigantes só
o são em parte, ao nível do tronco, o resto confunde-se
I na massa. Tal o homem. As impressões visuais são me-
– Traiste-me, Sem Meda. Tu traíste-me. nos nítidas e a mancha verde predominante faz esbater
(...) progressivamente a claridade do tronco da amoreira gi-
Sabes a que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. gante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepos-
Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me tas, mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda
só, cama tu. Um solitária do Mayombe. (...) Desprezo- se afirma, debatendo-se. Tal é a vida.
-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) [...]
Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, Os olhos de Sem Medo ficaram abertos, contemplando
pais não serei um falhada como tu. o tronco já invisível do gigante que para sempre desa-
parecera no seu elemento verde.
Pepetela, Mayombe. Adaptado. Pepetela, Mayombe.
II 3. (Fuvest) Considerando-se o excerto no contexto de
– Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um Mayombe, os paralelos que nele são estabelecidos en-
imbecil. E quis igualar o inigualável. tre aspectos da natureza e da vida humana podem ser
Pepetela, Mayombe. interpretados como uma
Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas a) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem
entre as personagens Comissário e Sem Medo em mo- Medo e a seu dilema característico entre a valorização
mentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Co- do indivíduo e o engajamento em um projeto eminen-
missário revelam, respectivamente, temente coletivo.
b) caracterização flagrante da dificuldade de aceder ao
a) incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por
plano do raciocínio abstrato, típica da atitude pragmáti-
pertencerem a linhagens diferentes, e superação de
ca do militante revolucionário.
sua hostilidade tribal.
c) figuração da harmonia que reina no mundo natural,
b) decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu em contraste com as dissensões que caracterizam as re-
favor na conversa com Ondina, e desespero diante do lações humanas, notadamente nas zonas urbanizadas.
companheiro baleado.
d) representação do juízo do Comissário a respeito da
c) suspeita de traição de Ondina e tomada de consciên- manifesta incapacidade que tem o Comandante Sem
cia de que isso não passara de uma crise de ciúme dele. Medo de ultrapassar o dogmatismo doutrinário.

148
e) crítica esclarecida à mentalidade animista – que tende 2. (Fuvest) Leia o excerto de Mayombe, de Pepetela, no
a personificar os elementos da natureza – e ao tribalis- qual as personagens “dirigente” e Comandante Sem
mo, ainda muito difundidos entre os guerrilheiros do Mo- Medo discutem o comportamento do combatente cha-
vimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). mado Mundo Novo. As indicações [d] e [C] identificam,
respectivamente, as falas iniciais do “dirigente” e do
4. (Fuvest) Consideradas no âmbito dos valores que são Comandante Sem Medo, que se alternam, no diálogo.
postos em jogo em Mayombe, as relações entre a ár-
vore e a floresta, tal como concebidas e expressas no [d] (...) A propósito do Mundo Novo: a que chamas tu
excerto, ensejam a valorização de uma conduta que ser dogmático?
corresponde à da personagem [C] – Ser dogmático? Sabes tão bem como eu.
a) João Romão, de O cortiço, observadas as relações que – Depende, as palavras são relativas. Sem Medo sorriu.
estabelece com a comunidade dos encortiçados. – Tens razão, as palavras são relativas. Ele é dema-
b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo em vista suas siado rígido na sua conceção da disciplina, não vê as
práticas de beneficência junto aos pobres de Paris. condições existentes, quer aplicar o esquema tal qual
c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que ele se o aprendeu. A isso eu chamo dogmático, penso que é a
integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e verdadeira aceção da palavra. A sua verdade é absoluta
vizinhos. e toda feita, recusa-se a pô-la em dúvida, mesmo que
fosse para a discutir e a reforçar em seguida, com os
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em especial ao com-
dados da prática. Como os católicos que recusam pôr
pletar sua trajetória de politização.
em dúvida a existência de Deus, porque isso poderia
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de Augusto perturbá-los.
Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era
o valentão do lugar. – E tu, Sem Medo? As tuas ideias não são absolutas?
– Todo o homem tende para isso, sobretudo se teve

E.O. Dissertativas uma educação religiosa. Muitas vezes tenho de fazer


um esforço para evitar de engolir como verdade univer-

(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) sal qualquer constatação particular.


a) Que relação se estabelece, no excerto, entre a for-
1. (Unicamp) Leia abaixo dois excertos de Terra Sonâm- ma dialogal e as ideias expressas pelo Comandante
bula, de Mia Couto. Sem Medo?
“Muidinga não ganha convencimento. Olha a planície, b) No plano da narração de Mayombe, isto é, no seu
tudo parece desmaiado. Naquele território, tão despido modo de organizar e distribuir o discurso narrativo,
de brilho, ter razão é algo que já não dá vontade.” emprega-se algum recurso para evitar que o próprio
(...) romance, considerado no seu conjunto, recaia no
“– Sabe, miúdo, o que vamos fazer? Você me vai ler dogmatismo criticado no excerto? Explique resumi-
mais desses escritos. damente.
– Mas ler agora, com esse escuro? 3. (Fuvest) Leia o texto e responda ao que se pede.
– Acendes o fogo lá fora.
– É por isso que faço confiança nos angolanos. São uns
– Mas, com a chuva, a lenha toda se molhou.
confusionistas, mas todos esquecem as makas* e os
– Então vamos acender o fogo dentro do machimbom-
rancores para salvar um companheiro em perigo. É esse
bo. Juntamos coisa de arder lá mesmo.
o mérito do Movimento, ter conseguido o milagre de
– Podemos, tio? Não há problema?
começar a transformar os homens. Mais uma geração
– Problema é deixar este escuro entrar na cabeça da
e o angolano será um homem novo. O que é preciso é
gente. Não podemos dançar nem rir. Então vamos para
ação.
dentro desses cadernos. Lá podemos cantar, divertir.”
(Mia Couto, Terra Sonâmbula. Rio de Janeiro: Pepetela, Mayombe.
Record, 1993, p.10 e 152.) *“makas”: questões, conflitos.
a) No primeiro excerto, descreve-se a relação da per- a) A fala de Comandante Sem Medo alude a uma
sonagem com o espaço narrativo. questão central do romance Mayombe: um objetivo
Considerando o conjunto do romance, caracterize a político a ser conquistado por meio do Movimento.
identidade narrativa de Muidinga em relação a esse Qual é esse objetivo?
espaço e explique por que o território era “despido b) As “makas” e os “rancores” dos angolanos reper-
de brilho”. cutem no modo como o romance é narrado? Explique.
b) No segundo excerto, o diálogo das duas perso-
nagens principais do romance aborda a questão da 4. (Fuvest 2020) — Que farás se eu continuar a andar?
leitura e sua função para a situação existencial dos — perguntou o Comissário.
protagonistas. Explique o que seriam os “escritos” e — Das duas, uma: ou te prendo ou te acompanho. Estou
“cadernos” mencionados e por que neles os protago- indeciso. A primeira repugna-me, nem é justa. A segun-
nistas poderiam “cantar e divertir”. da hipótese agrada-me muito mais, mas não avisei na
Base nem trouxe o sacador.

149
(...) A mulher baixou os olhos como que pedindo perdão.
—Nunca me prenderias! É. Ela teve mais dois filhos, mas não tinha ninguém
— Achas que não? também! Homens também? Eles haveriam de ter outra
O Comissário deitou o cigarro fora. vida. Com eles tudo haveria de ser diferente. Maria, não
— Que vais fazer a Dolisie, João? te esqueci! Tá tudo aqui no buraco do peito...
Pela primeira vez, Sem Medo chamara-o pelo nome. O homem falava, mas continuava estático, preso, fixo
Pepetela, Mayombe.
no banco. Cochichava com Maria as palavras, sem en-
tretanto virar para o lado dela. Ela sabia o que o ho-
a) Identifique o evento diretamente relacionado à mu- mem dizia. Ele estava dizendo de dor, de prazer, de
dança de tratamento entre Comissário e Sem Medo. alegria, de filho, de vida, de morte, de despedida. Do
b) “Sem Medo” não é um apelido aleatório. Justifique buraco-saudade no peito dele... Desta vez ele cochichou
a afirmação com base em elementos do desfecho do um pouquinho mais alto. Ela, ainda sem ouvir direito,
romance. adivinhou a fala dele: um abraço, um beijo, um carinho
no filho. E logo após, levantou rápido sacando a arma.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Outro lá atrás gritou que era um assalto. Maria estava
com muito medo. Não dos assaltantes. Não da morte.
Maria
Sim da vida. Tinha três filhos. O mais velho, com onze
(Conceição Evaristo) anos, era filho daquele homem que estava ali na frente
com uma arma na mão. O de lá de trás vinha recolhendo
Maria estava parada há mais de meia hora no ponto de
tudo. O motorista seguia a viagem. Havia o silêncio de
ônibus. Estava cansada de esperar. Se a distância fosse
todos no ônibus. Apenas a voz do outro se ouvia pedin-
menor, teria ido a pé. Era preciso mesmo ir se acostu-
do aos passageiros que entregassem tudo rapidamente.
mando com a caminhada. Os ônibus estavam aumen-
O medo da vida em Maria ia aumentando. Meu Deus,
tando tanto! Além do cansaço, a sacola estava pesada.
como seria a vida dos seus filhos? Era a primeira vez
No dia anterior, no domingo, havia tido festa na casa da
que ela via um assalto no ônibus. Imaginava o terror
patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do pernil
das pessoas. O comparsa de seu ex-homem passou por
e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as
ela e não pediu nada. Se fossem outros os assaltantes?
frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora. Es-
Ela teria para dar uma sacola de frutas, um osso de per-
tava feliz, apesar do cansaço. A gorjeta chegara numa
nil e uma gorjeta de mil cruzeiros. Não tinha relógio al-
hora boa. Os dois filhos menores estavam muito gripa-
gum no braço. Nas mãos nenhum anel ou aliança. Aliás,
dos. Precisava comprar xarope e aquele remedinho de
nas mãos tinha sim! Tinha um profundo corte feito com
desentupir o nariz. Daria para comprar também uma
faca-laser que parecia cortar até a vida.
lata de Toddy. As frutas estavam ótimas e havia melão.
As crianças nunca tinham comido melão. Será que os Os assaltantes desceram rápido. Maria olhou saudosa e
meninos gostavam de melão? desesperada para o primeiro. Foi quando uma voz acor-
dou a coragem dos demais. Alguém gritou que aquela
A palma de umas de suas mãos doía. Tinha sofrido um
puta safada conhecia os assaltantes. Maria assustou-se.
corte, bem no meio, enquanto cortava o pernil para a
Ela não conhecia assaltante algum. Conhecia o pai do
patroa. Que coisa! Faca-laser corta até a vida!
seu primeiro filho. Conhecia o homem que tinha sido
Quando o ônibus apontou lá na esquina, Maria abaixou dela e que ela ainda amava tanto. Ouviu uma voz: Ne-
o corpo, pegando a sacola que estava no chão entre as gra safada, vai ver que estava de coleio com os dois.
suas pernas. O ônibus não estava cheio, havia lugares. Outra voz ainda lá do fundo do ônibus acrescentou: Cal-
Ela poderia descansar um pouco, cochilar até a hora da ma gente! Se ela estivesse junto com eles, teria descido
descida. Ao entrar, um homem levantou lá de trás, do também. Alguém argumentou que ela não tinha desci-
último banco, fazendo um sinal para o trocador. Passou do só para disfarçar. Estava mesmo com os ladrões. Foi
em silêncio, pagando a passagem dele e de Maria. Ela a única a não ser assaltada. Mentira, eu não fui e não sei
reconheceu o homem. Quanto tempo, que saudades! por quê. Maria olhou na direção de onde vinha a voz e
Como era difícil continuar a vida sem ele. Maria sen- viu um rapazinho negro e magro, com feições de meni-
tou-se na frente. O homem assentou-se ao lado dela. no e que relembrava vagamente o seu filho. A primeira
Ela se lembrou do passado. Do homem deitado com ela. voz, a que acordou a coragem de todos, tornou-se um
Da vida dos dois no barraco. Dos primeiros enjoos. Da grito: Aquela puta, aquela negra safada estava com os
barriga enorme que todos diziam gêmeos, e da alegria ladrões! O dono da voz levantou e se encaminhou em
dele. Que bom! Nasceu! Era um menino! E haveria de direção a Maria. A mulher teve medo e raiva. Que mer-
se tornar um homem. Maria viu, sem olhar, que era o pai da! Não conhecia assaltante algum. Não devia satisfa-
do seu filho. Ele continuava o mesmo. Bonito, grande, o ção a ninguém. Olha só, a negra ainda é atrevida, disse
olhar assustado não se fixando em nada e em ninguém. o homem, lascando um tapa no rosto da mulher. Al-
Sentiu uma mágoa imensa. Por que não podia ser de guém gritou: Lincha! Lincha! Lincha!... Uns passageiros
outra forma? Por que não podiam ser felizes? E o me- desceram e outros voaram em direção a Maria. O moto-
nino, Maria? Como vai o menino? cochichou o homem. rista tinha parado o ônibus para defender a passageira:
Sabe que sinto falta de vocês? Tenho um buraco no pei- Calma, pessoal! Que loucura é esta? Eu conheço esta
to, tamanha a saudade! Tou sozinho! Não arrumei, não mulher de vista. Todos os dias, mais ou menos neste ho-
quis mais ninguém. Você já teve outros... outros filhos? rário, ela toma o ônibus comigo. Está vindo do trabalho,

150
da luta para sustentar os filhos... Lincha! Lincha! Lincha! trução de um futuro. A causa de o território ser “despi-
Maria punha sangue pela boca, pelo nariz e pelos ou- do de brilho” seria justamente a situação de violência e
vidos. A sacola havia arrebentado e as frutas rolavam pobreza decorrentes da guerra civil. Isso se manifesta,
pelo chão. Será que os meninos gostam de melão? por exemplo, no local (machimbondo) onde se desenro-
Tudo foi tão rápido, tão breve. Maria tinha saudades la parte desse eixo narrativo.
do seu ex-homem. Por que estavam fazendo isto com b) Os cadernos mencionados no segundo trecho são
ela? O homem havia segredado um abraço, um beijo, encontrados por Muidinga próximos do cadáver de
um carinho no filho. Ela precisava chegar em casa para Kindzu, e contêm o relato de sua vida. Trata-se do se-
transmitir o recado. Estavam todos armados com facas- gundo eixo narrativo do romance, que aborda os anos
-laser que cortam até a vida. Quando o ônibus esvaziou, da Guerra Civil e questões da tradição cultural moçam-
quando chegou a polícia, o corpo da mulher já estava bicana. A descoberta dos cadernos de Kindzu e a sua
todo dilacerado, todo pisoteado. leitura pelo protagonista sugerem o poder da ficção em
Maria queria tanto dizer ao filho que o pai havia man- reconfigurar, por meio da imaginação, as identidades
dado um abraço, um beijo, um carinho. vulneráveis das personagens em trânsito por um país
devastado pela guerra, propiciando a evasão da reali-
(EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas;
dade imediata e uma breve celebração da vida
Fundação Biblioteca Nacional, 2016. p. 39-42.)
2.
5. (UFJF-PISM 1 2019) O conto “Maria”, de Conceição
Evaristo, representa diversas formas de violência vi- a) A forma dialogal e as ideias expressas pelo Coman-
vidas na sociedade brasileira. Além da cena final de dante Sem Medo convergem, uma vez que diálogo
linchamento e do assalto no transporte coletivo, há supõe troca (de ideias, opiniões, conceitos) e não im-
menções à violência nas relações de trabalho. Retire do posição. Assim também é a fala do Comandante Sem
texto uma passagem que comprove esse tipo de violên- Medo, que revela respeito à pluralidade: “para evitar de
cia e explique. engolir como verdade universal qualquer constatação
particular”.

Gabarito b) Sim. No plano da narração de Mayombe emprega-se


um discurso polifônico, que se revela um recurso para
evitar que o próprio romance recaia no dogmatismo cri-
E.O. Aprendizagem ticado no excerto. A voz do narrador principal se mistura
com a de diversas personagens e vários posicionamen-
1. B 2
. D 3
. C 4
. B 5
. A tos políticos são apresentados.
3.
E.O. Fixação a) O objetivo político do Comandante Sem Medo é a
1. C 2. D 3
. B 4. D 5
. A libertação de Angola da opressão colonialista, através
da luta dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular
E.O. UERJ de Libertação de Angola) contra as tropas portuguesas.
b) Sim, as “makas” e os “rancores” dos angolanos são
Exame de Qualificação perceptíveis nas falas dos diversos personagens, na ex-
1. A 2
. D 3. A 4. B posição dos sentimentos e reflexões do grupo revelado-
res das contradições e conflitos que permeavam uma

E.O. Objetivas organização ideologicamente heterogênea.


4.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
a) O diálogo acontece entre Sem Medo e o Comissário
1. C 2
. B 3. A 4. D
depois que este ficar sabendo do encontro da noiva,
Ondine, com André e decide sair da base para ir tirar
E.O. Dissertativas satisfação com ela em Dolisie, sem pedir autorização
ao comandante. Sem Medo tenta impedi-lo de forma
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) afetuosa por entender o estado emocional em que se
1. encontrava, tratando-o pelo nome, João.
b) Sem Medo é um guerrilheiro angolano que luta con-
a) Muidinga, personagem que faz parte de um dos ei-
tra o colonialismo luso e morre em ação de combate de
xos da narrativa, contada em terceira pessoa, está em
forma heroica, retardando o avanço das tropas portu-
busca de sua identidade pessoal após ter sido acome-
guesas e, assim, permitir a fuga dos companheiros. Ao
tido por uma enfermidade. O percurso da personagem
optar pelo sacrifício da própria vida, Sem Medo mostra
no espaço narrativo do romance remete à situação his-
a coragem do herói que leva até as últimas consequên-
tórica de Moçambique, destruída pela guerra e também
cias a defesa dos ideais de libertação do povo angolano.
passando por problemas de identidade social e cultural,
devendo recuperar seu passado na perspectiva da cons-

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5. No trecho “No dia anterior, no domingo, havia tido festa
na casa da patroa. Ela levava para casa os restos. O osso do
pernil e as frutas que tinham enfeitado a mesa. Ganhara as
frutas e uma gorjeta. O osso a patroa ia jogar fora.”, vemos
menções à violência nas relações de trabalho, já que Maria
trabalhou em um domingo na casa da patroa e recebeu, em
troca, apenas uma gorjeta e restos da comida que foi servida
na festa, revelando um abuso de sua força de trabalho.

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