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ESTADO DO MARANHÃO

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

QUARTA CÂMARA CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL nº 29.370/2009 – São Luís


Relator : Desembargador Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA
Revisor : Desembargador JAIME Ferreira de ARAÚJO
Apelantes : Fernando Lisboa Ferreira Lima e Consuelo Lisboa Ferreira
Lima
Advogado : Dr. Márcio Antônio de Carvalho Rufino
Apelado : Ministério Público
Promotor : Dr. Luís Fernando Cabral Barreto Júnior
Apelado : Estado do Maranhão
Procurador : Dr. Miguel Sales Pereira Veras

Acórdão nº : 95.101/2010

EMENTA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMÓVEL. TOMBAMENTO.


NULIDADE. COISA JULGADA. ALTERAÇÕES ILEGAIS.
RESPONSABILIDADE. 1. A existência de coisa julgada material
obsta a pretensão de nulidade do tombamento. 2. Alterações
promovidas em imóvel tombado fora dos limites consentidos pela
Administração colocam-se de maneira contraditória ao
ordenamento, ofendendo situações juridicamente tuteladas e
gerando responsabilidade civil. 3. Recurso conhecido e
improvido. Unanimidade.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os Senhores


Desembargadores da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do
Maranhão, por votação unânime e de acordo com o parecer da Procuradoria Geral
de Justiça, em conhecer e negar provimento ao Recurso, nos termos do voto do
Desembargador Relator.
Participaram do julgamento, além do Relator, os Senhores Desembargadores
ANILDES de Jesus Bernardes Chaves CRUZ e JAIME Ferreira de ARAÚJO.
Funcionou pela Procuradoria-Geral de Justiça o Dr. Teodoro Perez Neto.
São Luís (MA), 14 de setembro de 2010

Desemb. Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA


Relator
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RELATÓRIO – Desemb. Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA (relator):


Trata-se de Apelação (ApCív) interposta contra a sentença proferida pelo Juízo da
2ª Vara da Fazenda Pública da Capital, que condenou José Salustiano da Silva Filho
a restaurar o imóvel de que é locatário, condenando-o, ainda, ao pagamento das
custas processuais e dos honorários dos Procuradores do Estado e dos advogados
dos Apelantes, fixando a verba em R$ 6 mil, para cada (fls. 392/401).
Em suas razões, os Apelantes suscitam a nulidade do Decreto Estadual nº
10.089/86, que promoveu o tombamento do imóvel objeto da Ação Civil Pública
(ACP), por inobservância das exigências previstas na Lei Estadual nº 3.999/78,
mormente quanto à sua notificação sobre a referida limitação administrativa.
Alegam que as alterações no imóvel foram realizadas com autorização do órgão
competente, para adequá-lo à atividade comercial, e se coadunam com aquelas
realizadas nos demais prédios localizados na Rua Grande. Aduzem que a
reconstituição arquitetônica trará prejuízos financeiros, pois mudanças que tornem o
imóvel incompatível com a atividade comercial impedem a locação do bem. Por
fim, suscitam a nulidade da sentença, pois o proprietário de parte do imóvel não
compôs a lide. Requerem seja provido o Recurso (fls. 410/419).
Em contrarrazões, o Apelado sustenta que a ação declaratória está prescrita e
que a ausência de notificação não prejudica o tombamento. Reafirma a
responsabilidade dos Apelantes quanto à promoção de indevidas alterações no
imóvel, sustentando que as reformas executadas não equivalem àquelas aprovadas
pelo órgão competente. Requer o improvimento do Recurso (fls. 441/460).
O Parecer Ministerial é pelo conhecimento e improvimento do Apelo (fls.
466/476).
É o relatório.

VOTO – Desemb. Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA (relator): Presentes os


requisitos intrínsecos de admissibilidade, concernentes ao cabimento e legitimidade,
assim como os pressupostos extrínsecos relativos à tempestividade, regularidade
formal e preparo, passo à verificação do interesse recursal dos Apelantes.
Apesar de a sentença ter condenado exclusivamente o locatário José
Salustiano da Silva Filho, o fato de o comando judicial incidir sobre o imóvel de
titularidade dos ora Apelantes qualifica-lhes o interesse, mormente porque a
responsabilidade pela conservação dos bens tombados é solidária (Lei Estadual
5.082/90, art. 21, fl. 485), obrigação comungada esta que deu lastro ao
litisconsórcio facultativo (CPC, art. 46 I). Por ser útil a irresignação e necessário o
apelo para alcançar a providência desejada, conheço do Recurso.
A pretensão de nulidade do tombamento do imóvel foi solapada no
julgamento da ApCív 29.371/2009 por esta Colenda Câmara que, naquela
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oportunidade, verificou a ocorrência da prescrição, tendo em conta que a ação


declaratória “foi ajuizada somente em 9/4/2007, quando já decorridos mais de vinte
anos do Decreto Executivo 10.089/1986, publicado no Diário Oficial do Estado em
11 de março de 1986”. O Acórdão nº 89.763/2010 considerou que referida ação tem
“nítido cunho desconstitutivo ou constitutivo negativo, uma vez que visa anular o
tombamento do imóvel”, hipótese em que incide a norma do art. 1º do Decreto
20.910/32, o qual dispõe sobre a prescrição quinquenal. Sobre a quaestio, há coisa
julgada material (CPC, art. 467).
No que tange à legalidade das alterações promovidas no imóvel objeto da
lide, reputo bastantes as conclusões exaradas pelo Departamento do Patrimônio
Histórico, Artístico e Paisagístico do Maranhão que, nos pareceres técnicos nº
18/2004 (fls. 254/256) e 54/2004 (fls. 297/303), concluiu pela existência de diversas
alterações no imóvel, “todas sem anuência do DPHAP-MA” (fls. 255 e 299). Os
Apelantes, portanto, desbordaram dos limites consentidos pela Administração,
realizando obras para além daquelas devidamente autorizadas. Colocaram-se de
maneira contraditória ao ordenamento, ofendendo situações juridicamente tuteladas,
pelo que emerge sua responsabilidade civil ( NORONHA, Fernando. Direito das
obrigações. 2. ed. rev. atual. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 471).
In casu, a violação dirige-se a um bem imóvel de significativo valor
histórico, social e cultural, portador de referência à identidade, à ação e à memória
brasileiras (CF, art. 216 caput). Parte integrante do patrimônio cultural maranhense,
referida edificação foi objeto de tombamento, dentre cujos efeitos está a restrição à
sua modificabilidade (Decreto-lei 25/1937, art. 89). Assim, a mutilação da coisa
tombada para atender a interesses meramente comerciais do locatário e dos
Apelantes malfere o caráter público da proteção ambiental, princípio este vinculado
ao da primazia e indisponibilidade do interesse público, cujo fundamento reside na
natureza do meio ambiente como “bem de uso comum do povo” (CF, art. 225
caput).
Ante o exposto, e de acordo com o Parecer Ministerial, conheço e nego
provimento ao Recurso, nos termos da fundamentação supra.
É como voto.
Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado
do Maranhão, em 14 de setembro de 2010.

Desemb. Paulo Sérgio VELTEN PEREIRA


Relator

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